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I n t e r n a t i o n a l F i n a n c i a l R e p o r t i n g S t a n d a r d s
J u l h o e A g o s t o d e 2 0 1 0 • N º 1 1
IFRSJournal
Peso dos investidores Os investidores começam a perceber a necessidade
de conhecer mais profundamente as normas IFRS,
e buscam envolver-se nas discussões preliminares de
normas e pronunciamentos contábeis, antes que sejam
publicados. A ideia é saber, com antecedência, como
os reportes financeiros serão impactados Página 7
P o n t o d e v i s t a Governo Federal, Estados e Municípios preparam-se
para adotar normas contábeis internacionais
E n t r e v i s t aHenrique Meirelles, presidente do BC, fala sobre
o crescimento da economia em webcast exclusivo
C o p a d o M u n d o Como está a adoção do IFRS nos países que
venceram as últimas edições do Mundial?
NORMAS • ATIVOS IMOBILIZADOS • TENDÊNCIAS • ATUALIDADES
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E D I T O R I A L
Antes restrita ao círculo de profissionais das áreas contábil
e financeira, a necessidade de conhecer as normas IFRS começa
também a fazer parte do dia a dia dos investidores. Afinal, além
de serem os principais usuários de demonstrações financeiras, esses
stakeholders começam a compreender que, sim, a adoção das normas
contábeis internacionais provoca forte impacto no resultado das
companhias e que, para não serem pegos de surpresa, é vital participar
e interferir nas discussões que antecedem a publicação das normas.
Além desse tema, que você pode ler na reportagem “Peso dos
investidores”, esta edição do IFRS Journal traz ainda entrevista com
Nelson Machado, secretário executivo do Ministério da Fazenda,
e Victor Branco, diretor de Gestão Estratégica da Secretaria Executiva
do Ministério da Fazenda, que falam sobre a adoção de novos padrões
contábeis no setor público. Desta vez não se trata do IFRS, mas
sim das chamadas IPSAS, ou International Public Sector Accounting
Standards, que deverão ser parte do dia a dia contábil do Governo
Federal, Estados e Municípios já a partir de 2012.
A Copa do Mundo, principal assunto dos últimos dias em todo o
mundo, também ganha espaço nesta edição. Fazemos uma análise
de como está a adoção do IFRS nos países que venceram os últimos
mundiais, e vemos que o Brasil é bom de bola também nesse quesito.
Apresentamos também, nesta edição, a nova diagramação do
IFRS Journal. Com layout mais arejado e o uso de uma linguagem menos
técnica – sem, no entanto, perder conteúdo – e mais jornalística,
a publicação busca levar a seus leitores uma edição ainda mais agradável
e diversificada, como a matéria com o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, resultado de webcast coordenado pela Ernst & Young
Global, que traz discussão de temas macroeconômicos
de interesse geral.
Boa leitura!
IFRS para investidores
IFRS Journal é uma publicação destinada a clientes
e colaboradores da Ernst & Young que aborda
questões relevantes para as empresas na migração
para os padrões internacionais de contabilidade
IFRS. As opiniões aqui expressas não devem ser
utilizadas, de maneira isolada, para a tomada de
decisão por parte das empresas. Isto porque existem
particularidades pertinentes a cada empresa que
podem, eventualmente, alterar o enfoque transmitido.
Recomendamos que, antes de a decisão ser tomada,
as empresas discutam esses pontos de vista com seus
consultores. Estamos à disposição para discutir nossas
opiniões e sua aplicação em cada caso concreto.
Mais informações com:
Paul Sutcliffe
Julio Braga Pinto
Fernando Próspero
ou pelo e-mail [email protected].
Revisão técnica:
Idésio Coelho
IFRS Journal é uma
publicação do Departamento
de Comunicação e Gestão de
Marca da Ernst & Young Brasil
Jornalista responsável:
Roseli Loturco
(Mtb 25.529/110/12/SP)
Reportagem: Clarissa Wahl
e Katia Hochman
Projeto gráfico e edição visual:
Alex Rossetto, André Heller
e André Scigliano.
International Financial
Reporting Standards
Julho e Agosto de 2010 • Nº 11
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Governo adota IFRS próprio
Engana-se quem acha que só o mundo empresarial terá que se submeter
ao novo padrão contábil internacional. O “IFRS” bate também às portas do setor
público, mas com formato diferenciado
P O N T O D E V I S T A
IFRS Journal • No setor público,
quais esferas deverão adotar as
normas contábeis? Além do Governo
Federal, os órgãos estaduais e
municipais também deverão seguir
a regulamentação?
Nelson Machado • Na verdade, deve
ficar claro que o setor público está
convergindo para um conjunto de
normas que chamamos de IPSAS, que
não é o IFRS, mas parecido com ele.
Ou seja, ao mesmo tempo em que
o setor privado passa por um processo
de convergência para os padrões
internacionais, o setor público vivencia
essa mesma situação, mas seguindo
outro modelo. E, já respondendo à
pergunta, tanto órgãos federais quanto
estaduais e municipais terão de seguir
essa nova linguagem contábil.
No Brasil, o órgão responsável
por convergir as normas contábeis
internacionais para o nosso ambiente
é o Conselho Federal de Contabilidade
(CFC). Em se falando de uma linha
do tempo, a primeira ação aconteceu
ainda em 2008, quando o Ministério
da Fazenda publicou uma portaria
[Portaria 184] que estabelecia que
o Tesouro Nacional – órgão que tem
Às vésperas de um novo período eleitoral, o Brasil prepara-se para adotar um padrão contábil internacional para suas contas
públicas. Trata-se das normas IPSAS (sigla para International Public Sector Accounting Standards) que, assim como o IFRS – este,
dirigido a companhias do setor privado –, permite a comparabilidade das demonstrações e, de quebra, o ganho de transparência.
Com o prazo de convergência fixado inicialmente para 2012, a adoção dos novos pronunciamentos garante um novo olhar
da população sobre os gastos públicos. Até agora, a sociedade de um modo em geral só tinha acesso ao fluxo financeiro em
relação à entrada e saída de recursos – a conta-corrente – do governo, não permitindo a avaliação detalhada de seus ativos,
balanços patrimoniais e de sua gestão. “No modelo anterior, um governante podia alcançar resultados aparentes e fazer obras
imensas, o que comprometia a geração futura de caixa. A que custo esse serviço foi feito?”, questiona Victor Branco, diretor
de Gestão Estratégica da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda.
Para discutir a adoção das IPSAS no setor público, esta edição do IFRS Journal entrevista Victor Branco e Nelson Machado
– este último atual secretário executivo do Ministério da Fazenda –, que fazem um balanço das ações adotadas pelo governo
federal até então para adequar a contabilidade brasileira aos novos padrões e aos benefícios da migração.
Confira os principais trechos da entrevista.
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todo o processo, já está mais
adiantada, mas isso não significa
que alguns Estados não poderão
ter experiências melhores.
Na verdade, há uma tendência de
a União ter um enfrentamento mais
tranquilo por ter um quadro de
profissionais mais bem preparados.
E essa é uma característica
fundamental. Para auxiliar Estados e
Municípios nessa formação, estamos
engajados em um esforço de
montagem de treinamentos, que
devem acontecer em todos os Estados
do País. Um colegiado liderado pelo
CFC produz as apostilas e promove
os cursos, enfim, é o responsável por
todo o programa de treinamento.
IFRS Journal • No setor privado,
entre as normas IFRS que mais
impactam o dia a dia das companhias
estão a referente a Instrumentos
Financeiros, Pagamentos Baseados
em Ações e Efeitos das Alterações
em Taxas de Câmbio, entre outras. E
no setor público, quais são as normas
que representam os maiores desafios?
Nelson Machado • O ponto central
que vamos ver a partir da adoção
das IPSAS é o fortalecimento do
conceito de contabilidade patrimonial.
Ao contrário do IFRS, em que o foco
é o reconhecimento das receitas
a partir do momento em que elas
ocorrem, na IPSAS a discussão sobre
a receita não é associada a uma
contraprestação de serviços.
Por exemplo, não existe vinculação
de um tributo a uma determinada
despesa ou prestação de serviço.
A partir do fortalecimento
da contabilidade patrimonial,
os comentaristas começam
a dar maior destaque ao balanço
patrimonial. Até agora, ninguém
estava preocupado com o estoque
de bens e o valor do patrimônio líquido
daquele ente federativo. Qual é o
patrimônio líquido que o próximo
gestor irá receber para administrar?
Essa é uma preocupação fundamental
e que, até agora, nunca havia sido
colocada no radar. E isso passa
a ficar no centro de toda a discussão.
“Há uma tendência de
a União ter um
enfrentamento mais
tranquilo por ter um quadro
de profissionais mais bem
preparado. Para auxiliar
Estados e Municípios nessa
formação, estamos
engajados em um esforço
de montagem de
treinamentos, que devem
acontecer em todos os
Estados do País.”
Victor Branco, diretor de Gestão
Estratégica da Secretaria Executiva
a competência de editar normas para
o setor público – ficaria responsável
pela migração. E esse trabalho
vem sendo feito com afinco. Hoje,
além do Tesouro, também integra
o rol de instituições responsáveis
por esse processo o CFC e doutores
em contabilidade e finanças de
universidades públicas (entre elas,
as Universidades Federais de
Pernambuco, do Rio Grande do Norte
e do Rio de Janeiro).
Vale lembrar que o IFAC [sigla para
International Federation of Accountants,
órgão internacional que edita as normas
para o setor público] já publicou
31 IPSAS. No Brasil, por sua vez, o
CFC já editou 10 normas brasileiras.
IFRS Journal • Qual é o prazo
para que o governo federal, Estados
e Municípios adotem esse novo
conjunto de normas?
Nelson Machado • De novo, vamos
fazer uma linha do tempo: 2008
foi o ano da publicação da portaria;
já em 2009, além da tradução das
31 normas IPSAS, foi feito um grande
trabalho de análise e debates desses
pronunciamentos, por meio de
seminários em todo o País. Em 2010,
esse trabalho de discussão continua
e, além disso, continuamos elaborando
minutas em busca da convergência
total. Em 2011, as normas serão
publicadas e, já a partir de 2012, essas
normas devem ser incorporadas e
tornadas obrigatórias para todos os
entes da Federação: Governo Federal,
Estados e Municípios.
IFRS Journal • Nas três esferas
de governo, qual delas deve
ter mais dificuldades ou enfrentar
maiores desafios na adoção
das normas?
Victor Branco • Na
verdade, podemos
dizer que cada
uma enfrentará
dificuldades
distintas.
A União,
por estar
envolvida em
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Victor Branco • Há uma mudança
significativa na forma cultural de tratar
o patrimônio. Os analistas e a opinião
pública, até agora, não conseguiam
perceber ao certo o valor da boa
gestão porque o que tinham em mãos
era apenas o fluxo financeiro, ou fluxo
de caixa daquele governo. Com isso
não dá para ter uma dimensão do todo.
E, pior, um governante pode alcançar
resultados aparentes, fazer obras
imensas, mas comprometendo as
gerações futuras. A que custo esse
serviço foi feito? Como disse Nelson,
esse é um ponto fundamental, mas que
também gera um enorme esforço antes
de começar a ser feito. Isso porque,
para que se consiga contabilizar o
patrimônio líquido, deve-se ter uma
avaliação de todos os ativos. Quanto
valem nossos recursos naturais? É todo
um trabalho que precisamos fazer.
IFRS Journal • Existem prazos
para a adoção das normas contábeis
no setor público? Em sua opinião,
quando os órgãos federais, estaduais
e municipais estarão preparados
para fazer seus primeiros reportes?
Nelson Machado • O Brasil é um
dos poucos países que têm um plano
de contas unificado e um único órgão
gerador de normas públicas, que
é o Tesouro Nacional. Então, o Brasil
já sai na frente de outros países nessa
aplicação, porque temos uma maior
uniformidade. Nos Estados Unidos,
por exemplo, um certo condado
segue determinada regulamentação,
enquanto outro Estado tem uma
obrigatoriedade totalmente diferente.
É um país no qual cada Estado tem
suas próprias leis e deliberações, o
que não reflete o ambiente brasileiro,
que é totalmente ligado ao Governo
Federal. Outra coisa é que não vamos
aplicar cegamente as IPSAS. É claro
que a busca é pela convergência, mas
isso não significa que as normas não
poderão ser alteradas. Temos de tentar
adequar o conteúdo à nossa realidade.
IFRS Journal • O principal apelo
das normas IFRS é o de permitir
a comparabilidade entre os reportes
financeiros de companhias em todo
o mundo. E no setor público, quais
seriam as principais motivações?
Nelson Machado • Creio que
a comparabilidade, assim como no
setor privado, é a principal motivação.
Esse foi o objetivo do Governo
brasileiro ao aceitar dar início
ao processo de convergência com
as normas internacionais.
Victor Branco • A comparabilidade,
no setor público, é tão importante
quanto em qualquer outro segmento.
Por exemplo, o manual de estatísticas
fiscais do FMI, que mede a saúde
financeira de um país, será feito com
base nesses padrões contábeis. E isso
poderá nortear questões como custo
de capital e decisões sobre juros de
empréstimos – exatamente da mesma
forma que uma empresa do setor
privado. E essa comparabilidade
fatalmente melhorará a transparência
e a evidenciação do patrimônio, como
falamos anteriormente.
IFRS Journal • A partir de 2012,
as normas contábeis para o setor
público serão obrigatórias. Existe a
possibilidade de o governo federal ou
algum Estado específico conseguir
reportar já no ano que vem? E, para
aqueles que não adotarem as novas
regras, existirão penalidades?
Nelson Machado • Não acredito
que dê tempo, mesmo porque
um processo dessa envergadura
deve ser feito com calma.
Já em relação às penalidades,
quem deve dizer se os entes da
Federação aplicaram corretamente
ou se devem receber sanções
pela não aplicação é o órgão
de controle que ficará responsável
por essa verificação. Essa é
uma questão para os tribunais. n
“O Brasil é um dos
poucos países que têm
um plano de contas
unificado e um único
órgão gerador de normas
públicas, que é o
Tesouro Nacional. Então,
o Brasil já sai na frente
de outros países nessa
aplicação, porque temos
uma maior uniformidade.”
Nelson Machado, secretário executivo
do Ministério da Fazenda
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R E P O R T A G E M
O peso dos investidores É crescente o número de investidores brasileiros e
estrangeiros que dão sugestões em pronunciamentos
contábeis que estão ainda em audiência pública
Por Clarissa Wahl
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“As normas contábeis
são muito antigas, já
existem há mais de uma
década no exterior.
Já no Brasil, chegou
em forma de lei somente
em 2008. Ou seja,
podemos dizer que, além
do aspecto cultural,
a pouca familiaridade
com o padrão contábil
também interferiu
no nível de participação
dos investidores na
elaboração das novas
normas contábeis.”
Idésio Coelho sócio de Auditoria da Ernst & Young
Foi-se a época em que os investidores
eram meros coadjuvantes do mercado
financeiro. Por serem os principais
usuários das demonstrações que
empresas de capital aberto publicam,
esses stakeholders começam a
ampliar sua participação e interferência
nas discussões que antecedem a
publicação de normas contábeis, feitas
por órgãos nacionais e internacionais
de contabilidade.
Para aproveitar essa onda positiva,
o International Accounting Standards
Board (IASB) anunciou que, há cerca
de dois meses, criou, em seu website,
uma seção específica para que
investidores possam dar seus inputs.
“Qualquer pessoa em qualquer lugar
do mundo pode dar sugestões sobre as
normas que ainda estão classificadas
como Exposure Draft”, explica Amaro
Gomes, membro brasileiro do IASB.
Até o fechamento desta edição, haviam
sido enviadas 237 cartas-comentário
para a direção do comitê.
Já no Brasil, o Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC)
também desenvolveu, em seu website,
área exclusiva para receber
comentários. Em seção intitulada
“Audiência Pública”, o site do CPC
permite que os usuários dos reportes
façam suas considerações e sugestões
sobre pronunciamentos em audiência.
Nesse caso, os comentários devem
ser encaminhados por e-mail ou carta
ao próprio comitê ou diretamente
à Superintendência de Normas
Contábeis e de Auditoria da Comissão
de Valores Mobiliários (CVM).
Apesar de o comitê não disponibilizar
o número de cartas-comentário
que recebe mensalmente, a entidade
publica em seu site um relatório
do período em que cada um dos
pronunciamentos ficou em audiência.
E, para cada um dos argumentos
postados, o comitê faz um breve
resumo dos comentários que
foram enviados e o porquê foram –
ou não – acatados. Desde que os
pronunciamentos começaram a ser
publicados, 65 audiências públicas
já foram realizadas.
Investidores em xeque
Desde janeiro de 2008, quando a
aplicação parcial das normas contábeis
internacionais teve início no Brasil,
as demonstrações financeiras das
companhias passaram por mudanças
bruscas, deixando os investidores
de mau humor. Empresas pertencentes
a diferentes segmentos de atuação
viram seus principais números ganhar
e perder zeros, tiveram de alterar sua
forma de reportar lucros e prejuízos
e, ao final das contas, ainda ser alvo da
desconfiança de analistas de mercado.
Empresas e investidores estão
cientes de que as mudanças nas regras
de contabilidade podem resultar
em um profundo impacto sobre os
resultados relatados. Por essa razão,
começam a vislumbrar a importância
de sugerir mudanças e opinar
sobre o potencial das novas regras.
O impacto pode ser visto pela adoção
das normas IFRS nos resultados
de certas empresas brasileiras.
Por exemplo, no auge dos dias mais
conturbados, a companhia aérea
TAM noticiou que, em 2009, segundo
o BR Gaap, a empresa registrou
lucro de R$ 1,3 bilhão, ante prejuízo
de R$ 1,5 bilhão do ano anterior.
Já pelo padrão IFRS, o lucro foi
de R$ 435,7 milhões, ante prejuízo
de R$ 1,4 bilhão em 2008.
Para minimizar as surpresas que vêm
com a divulgação das demonstrações,
os órgãos que ditam as regras
contábeis no Brasil e no exterior
começam a empreender esforços
no sentido de envolver mais
os investidores nas discussões
das normas, ou seja, antes de serem
publicadas. “A ideia é que os
investidores comecem a participar
mais ativamente da elaboração das
normas. No exterior, a participação
é bem mais expressiva em comparação
ao Brasil, mas certamente por
aqui também essa posição deve ser
crescente”, explica o professor
Fernando Galdi, da Fundação Instituto
de Pesquisas Contábeis, Atuariais
e Financeiras (FIPECAFI).
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Entre os benefícios de se ampliar
as discussões, segundo profissionais
do setor, está o de evitar a rejeição
do mercado às normas. Nesse
sentido, ao permitir a discussão, o
órgão que edita os pronunciamentos
garante que profissionais como
analistas de mercado e investidores
conheçam com antecedência os
pontos que mais podem gerar impacto
no dia a dia contábil e financeiro
das companhias e, de quebra, sugiram
ajustes que podem não representar
grandes mudanças normativas,
mas uma diferença substancial
em sua aplicação.
Busca por sugestões consistentes
A participação dos investidores
deve ser comemorada, mas resta
saber se suas sugestões terão
peso, ou seja, consistência técnica.
Segundo relatório anual da Bolsa
de Valores de São Paulo (Bovespa),
o número de consultas de investidores
cresce a cada ano. Em 2007, o
número de profissionais que entrou
em contato com a bolsa para tirar
dúvidas ou esclarecimentos sobre
o mercado chegou a 2,7 mil contatos.
Já em 2008, ano mais recente em
que pesquisa foi divulgada, o número
chegou a 3,3 mil ligações – ou seja,
um crescimento de 25% em relação
ao ano anterior.
Um número crescente de consultas
significa que, se os investidores
não conhecem em profundidade
os conceitos técnicos do mercado,
ao menos demonstram interesse em
buscar informações que possibilitem
maior segurança na tomada de
decisões. Segundo Galdi, da FIPECAFI,
os analistas e investidores estão
cada vez mais sofisticados e, sim, têm
interesse e sabem opinar. A demanda
por cursos específicos em IFRS vem
crescendo ano a ano, comprovando
o interesse de profissionais por
informações contábeis que podem
influenciar diretamente na tomada
de decisões das companhias em que
investem. Desde que foram lançados,
ainda em 2008, os treinamentos
promovidos pela Ernst & Young
em diversas capitais do País já
atraíram cerca de 2,1 mil participantes
– dos quais 41% CFOs, diretores
financeiros, controllers e gerentes
financeiros de companhias de médio
e grande portes.
A participação dos investidores,
segundo o professor da FIPECAFI,
é fundamental porque os investidores
já conhecem as deficiências que
existiam no ambiente anterior
e, portanto, sabem o que precisa
mudar. “Eles são os principais
usuários das demonstrações
financeiras. E é a qualidade e
transparência desses reportes que
irão auxiliar o investidor a tomar
a melhor decisão sobre onde alocar
seus recursos”, argumenta Galdi.
Segundo Idésio Coelho, sócio
de Auditoria da Ernst & Young
e representante do Instituto dos
Auditores Independentes do Brasil
(Ibracon) no CPC, um dos fatores
que contribuíram para a menor
participação dos investidores
nas discussões foi o menor tempo
de convivência com as normas IFRS.
“As normas contábeis são muito
antigas, já existem há mais de uma
década no exterior. Já no Brasil,
chegaram em forma de lei somente
em 2008. Ou seja, podemos dizer
que, além do aspecto cultural, a pouca
familiaridade com o padrão contábil
também interferiu”, aponta Coelho.
No entanto, as perspectivas são
positivas, conforme explica Vânia
Borgerth, vice-presidente do
Instituto Brasileiro de Relações com
Investidores no Rio de Janeiro
(Ibri - RJ). “Apesar de haver uma
questão cultural quando se fala
da falta de interesse dos brasileiros
em opinar nas normas, a expectativa
é que, a médio e longo prazo,
com o fortalecimento do mercado
de capitais, essa situação seja
revertida, o que é uma ótima notícia”,
completa Vânia. n
Brasil ganha pontos no cenário
internacional
“A ideia é que os
investidores comecem
a participar mais
ativamente da elaboração
das normas. No exterior,
a participação é bem
mais expressiva em
comparação ao Brasil,
mas certamente por
aqui também essa posição
deve ser crescente.”
Fernando Galdi Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais
e Financeiras (FIPECAFI)
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E N T R E V I S T A
Brasil ganha pontos no cenário
internacional“O Brasil pode se tornar a quinta maior economia do mundo
até 2020.” A frase é do presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, que afirma ainda que o País começa a ser
essencial para a saúde financeira de alguns dos maiores grupos
corporativos internacionais com subsidiárias no Brasil
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Ernst & Young • Como o Brasil lidou
com a recente crise mundial?
Meirelles • O Brasil era um dos
países que, até a caída do banco
Lehman Brothers, era considerado
como dissociado da crise. E isso
porque, até setembro de 2008, estava
crescendo rapidamente. Do terceiro
trimestre de 2007 ao mesmo período
de 2008, o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) do País chegou
a 7,1%; a demanda doméstica estava
crescendo mais de 9%; as taxas de
investimento alcançavam 20%; nosso
sistema financeiro estava bastante
saudável; o Brasil tinha reservas
monetárias de mais de US$ 200
bilhões; a taxa de inflação estava
sob controle; a taxa de endividamento
público estava nos menores níveis
O Brasil pode se tornar a quinta maior economia do mundo até 2020, e seu
posicionamento diante do cenário de adversidades é um dos pontos fortes
a ser destacado na história do País, segundo Henrique Meirelles, convidado a
participar de webcast exclusivo produzido pela Ernst & Young em Nova York.
O fato de o País ter feito a lição de casa em relação aos princípios econômicos
não o livrou de entrar em recessão e perder 800 mil postos de trabalho,
mas possibilitou um retorno mais rápido aos níveis pré-crise. “O Banco
Central agiu de forma muito precisa nos canais de transmissão da crise,
provendo liquidez em moeda estrangeira e local, e também nos mercados
futuros. Como resultado disso, os mercados tornaram-se funcionais
rapidamente e o crédito voltou aos níveis anteriores”, explicou ele.
Em se falando de concessão de crédito, apesar de a relação entre crédito
e PIB no Brasil ter chegado a 45%, Meirelles não se diz preocupado
com o dado, uma vez que o percentual chega a ser menos da metade
do verificado em outras economias emergentes. De qualquer forma, faz
o registro de que o BC monitora de perto a qualidade da concessão de
crédito por parte dos bancos. “As regras de prudência brasileiras são muito
rigorosas em termos de alavancagem, qualidade do capital, transparência,
alocação de recursos etc. Em resumo, estamos falando de um mercado
muito bem regulado”, diz Meirelles, lembrando que cada transação
é registrada e que todas as instituições financeiras que atuam no Brasil
são auditadas e supervisionadas pelo Banco Central.
Desafios para o crescimento
O presidente do BC, no entanto, afirma que existem gargalos que, se não forem
enfrentados com atenção, podem representar uma ameaça ao crescimento
do País no cenário internacional. Entre eles, Meirelles cita questões relativas
a infraestrutura, capacitação profissional e energia. “Temos de ter a
certeza de que a malha está adequada para suprir as demandas necessárias
ao transporte de bens, com disponibilidade de ferrovias, rodovias e portos.
Outra questão importante diz respeito ao nosso capital humano. Com
o tipo de postos de trabalho que está sendo criado e com as boas tendências
da economia para o futuro, nosso mercado irá demandar profissionais
cada vez mais capacitados. E esse também é um desafio para o governo”,
pontua Meirelles, para quem, com o enfrentamento dessas questões e
a manutenção de políticas macroeconômicas consistentes a médio e longo
prazo, o País ganha ainda mais peso junto aos investidores internacionais.
Nesse sentido, entre os mercados que mais representam oportunidades
para receber aportes de grupos internacionais, segundo análise do
presidente do Banco Central, está o segmento de bens de consumo. Afinal,
diz ele, nos últimos oito anos, cerca de 30 milhões de brasileiros terão
ingressado na classe média. “A média de salários cresceu nos últimos anos
e os programas sociais trouxeram para o mercado consumidor mais de
40 milhões de brasileiros que estavam longe dele. Dessa forma, companhias
que chegam a esse mercado encontram um enorme potencial”, avalia.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Veja, a seguir, alguns dos principais trechos da entrevista concedida
pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles em webcast
produzido pela Ernst & Young em Nova York:
dos últimos anos. Em resumo, o Brasil
estava fazendo sua lição de casa.
A queda do Lehman Brothers, no
entanto, trouxe a crise para o Brasil.
Cerca de 20% do crédito total no Brasil
tinha funding internacional, que entrou
em colapso. Como resultado disso,
registramos um choque de crédito
também no Brasil. A liquidez no mercado
interbancário tornou-se muito restrita e
tivemos também problemas de liquidez
nos mercados futuros, e a produção
industrial caiu 20% em dois meses.
Mas, pelo fato de que lidamos bem com
a economia antes e durante a crise
e fizemos um bom diagnóstico da
situação, o Banco Central agiu de forma
muito precisa nos canais de transmissão
da crise, provendo liquidez em moeda 10
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esses pacotes se tornem efetivos.
O Banco Central Europeu está tomando
ações nesse sentido, mas os mercados
ainda estão bastante céticos.
Independentemente do que esteja
acontecendo, é uma situação complexa.
Haverá uma consolidação fiscal em
muitos países, o que tornará o crescimento
mais lento em toda a Europa.
Não podemos dizer que crise é bom
para alguém, mas o Brasil está ainda
no número de criação de empregos.
O desafio, no entanto, é manter esse
crescimento também no longo prazo.
Ernst & Young • E como alcançar
esses resultados?
Meirelles • O mais importante
é que a inflação esteja sob controle,
e o Banco Central está comprometido
com isso, tomando as medidas
necessárias para que isso aconteça.
Em segundo lugar, o governo
também anunciou cortes de despesas.
Bem, mas o que realmente importa
é que o próximo governo mantenha
o presente conjunto de políticas
econômicas. Se isso for feito,
posso dizer que o Brasil tem todas
as condições de manter sua taxa
de crescimento e enfrentar
mais bem preparado para enfrentar
a crise do que antes.
Ernst & Young • Como o senhor
vê a economia brasileira para
o restante do ano de 2010 e também
no longo prazo?
Meirelles • Para 2010, as projeções
do mercado para o crescimento do PIB
estão por volta de 6%, o que mostra
um crescimento forte. Ou seja, vejo
um ano muito bom, com recordes
Perdemos 800 mil empregos durante
a crise, mas só no ano de 2009 – de
março a dezembro – foi criado 1,2
milhão de postos de trabalho. Ou seja,
o Brasil está caminhando bem.
Ernst & Young • Como o senhor
acha que a crise que ainda assola
a Europa pode influir no desempenho
do Brasil?
Meirelles • Acredito que ainda
é um pouco prematuro fazermos
previsões sobre o que pode acontecer
com a Europa. Os programas de
ajuda governamentais em países
com problemas fiscais têm sua função
se ajudarem a estruturar funding
ou absorver capitais privados, por
exemplo. Bem, o que estou dizendo é
que existem diversas formas para que
“A queda do Lehman Brothers trouxe a crise para o Brasil. Cerca de 20% do crédito total no Brasil tinha funding internacional, que entrou em colapso.
Como resultado disso, registramos um choque de crédito também no Brasil.”
“Acredito que ainda é um pouco prematuro fazermos previsões sobre o que pode acontecer com a Europa. Os programas de ajuda governamentais em países com problemas fiscais têm sua função se ajudarem a estruturar fundingou absorver capitais privados, por exemplo.”
os desafios desse crescimento,
o que significa investimentos em
infraestrutura, transportes, energia,
educação etc.
Em resumo, se o País mantiver seu
conjunto de políticas macroeconômicas,
irá crescer a taxas muito satisfatórias
nos próximos anos. n
Para assistir ao webcast na íntegra,
acesse o site www.ey.com/webcast
e saiba mais.
estrangeira e local, nos mercados
futuros. Como resultado disso,
os mercados tornaram-se funcionais
rapidamente, o crédito voltou
aos níveis anteriores e então, quando
os estímulos fiscais foram aplicados,
houve uma forte pressão, porque
os mercados voltaram a funcionar
novamente.
O Brasil recuperou-se bem da crise,
após uma recessão de cinco meses.
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reservas de reavaliação deverão
ser mantidos até a sua efetiva
realização ou estornados até
o final do exercício social em que
esta Lei entrar em vigor”, ou seja,
até 31 de dezembro de 2008.
Em 2009, como parte do processo
de conversão, o CPC emitiu o ICPC
10 – Interpretação sobre a aplicação
inicial ao ativo imobilizado e à
propriedade para investimento dos
pronunciamentos técnicos CPCs
27, 28, 37 e 43 – que introduziu
a aplicação do “custo atribuído”
(deemed cost). Esse termo
curioso quer dizer que as empresas,
na data de conversão, têm a
opção de mensurar seus ativos
imobilizados ao valor justo e adotar
este valor como sendo o novo
saldo contábil dos ativos a partir
da data de conversão.
Além disso, de acordo com o
CPC 27, a empresa deve reavaliar
a vida útil de seus ativos
imobilizados, deixando de utilizar
as taxas previstas pela legislação
fiscal e adotando taxas de
depreciação condizentes com
o tempo que espera utilizar esses
ativos. As companhias ainda devem
estabelecer o “valor depreciável”
e o “valor residual” desses ativos.
O valor residual é o valor pelo
qual a empresa espera, ao fim
da vida útil do ativo, recuperar com
sua alienação ou outra forma
de realização. Dessa forma, o valor
depreciável deveria representar
o custo atribuído do ativo subtraído
de seu valor residual na data de
transição às normas internacionais.
Novos desafios na contabilização do ativo imobilizadoPor Fernanda Albuquerque
Gerente da equipe de IFRS
da Ernst & Young Brasil
Terrenos, edifícios, máquinas,
aviões, veículos e móveis
são alguns exemplos de bens
que compõem o grupo de ativos
imobilizados, presente na grande
maioria dos balanços das empresas
brasileiras e em muitos casos
com valores relevantes. Apesar
disso, tradicionalmente, seu
tratamento contábil era adotado
de forma simples e sem maiores
complexidades ou estimativas.
Entretanto, com a chegada
da Lei 11.638/07 e a consequente
adoção das normas internacionais
de contabilidade por meio
dos pronunciamentos do CPC –
especificamente o CPC 27 -
Ativo Imobilizado –, esse cenário
mudou e hoje o ativo imobilizado
é um dos grupos contábeis que
requer maior atenção por parte da
administração das empresas.
Alguns assuntos introduzidos pelos
novos pronunciamentos contábeis
já eram previstos em outros
normativos, como a NPC 07 - Ativo
Imobilizado e a NPC 02 - Estoques,
por exemplo, mas há quem
argumente que o cumprimento
desses normativos emitidos pelo
Ibracon – Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil - era
considerado opcional pelo fato de
não terem sido emitidos pelo CFC –
Conselho Federal de Contabilidade.
O primeiro impacto veio com
a proibição da reavaliação
de ativos fixos, trazida pela Lei
11.638. Além da proibição de
novas reavaliações, a lei determina
que “os saldos existentes nas
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A partir do momento da transição,
as empresas não deverão
mais utilizar o “custo atribuído”,
voltando ao modelo contábil
tradicional conhecido por todos:
custo de aquisição.
A mudança na vida útil, que
terá impacto direto nas taxas
de depreciação, deve ser observada
com atenção pelas empresas,
pois terá resultado direto em seu
lucro tributável ao fim do Regime
Tributário de Transição (RTT),
podendo aumentar ou diminuir
o lucro e afetar diretamente o
valor a recolher a título de imposto
de renda e contribuição social.
Ainda sobre o tema depreciação,
um conceito que chama a
atenção nas práticas internacionais
de contabilidade é o momento
em que se deve iniciar a
depreciação dos itens do ativo
imobilizado. De acordo com a norma
internacional IAS 16 - Property,
Plant and Equipment, esses bens
devem ser depreciados no momento
que se tornam disponíveis para uso
e não quando são efetivamente
utilizados. Sendo assim, peças
sobressalentes específicas (spare
parts) e itens completos em espera
para reposição de um item já em
funcionamento (stand by items)
devem ser contabilizados como
ativo imobilizado e depreciados
em conexão ao ativo principal,
no momento em que são adquiridos
e prontos para o uso.
A nova norma traz ainda
outra novidade: depreciação
de componentes. Os contadores
das companhias deverão trabalhar
em conjunto com os engenheiros
ou operadores de suas máquinas
para entender como elas são
utilizadas e a frequência da
inspeção e reposição de partes
ou componentes desses
equipamentos. Esse conhecimento
será fundamental para determinar
se: a) há componentes com valor
significativo em relação ao valor
total do bem; b) os componentes
identificados têm uma vida útil
menor do que o bem como um todo.
Pode-se destacar esse aspecto
quando falamos de uma aeronave
e seus componentes, como
por exemplo, a turbina. O motor
do avião geralmente necessita
de reparos significativos ou
é substituído antes que sejam
necessários investimentos no casco
da aeronave. Nesse caso, a norma
exige que a turbina seja depreciada
separadamente do casco, e,
para isso, é necessária a alocação
de valores separados para cada
um desses itens.
Um assunto chave para empresas
industriais é a observação
periódica de sua capacidade ociosa,
um esforço conjunto entre a área
contábil ou de controladoria e
a área de produção. Empresas com
capacidade ociosa de produção
– situação vivida por muitas
companhias ao redor do mundo
durante a crise econômica – devem
transferir a parcela da depreciação
do ativo imobilizado equivalente a
essa capacidade ociosa diretamente
para o resultado, como outros
custos operacionais, em vez
de compor o custo dos estoques.
Ainda em relação à produção, os
gastos relevantes com manutenção
de usinas ou linhas de produção
devem ser capitalizados e a sua
vida útil deve ser estimada
baseando-se no tempo até a data
da próxima manutenção. Nesse
momento, caso ainda existam
custos capitalizados da manutenção
anterior, estes devem ser baixados
no resultado do exercício e
os novos custos capitalizados.
Já as empresas brasileiras com
florestas, criação de animais
ou plantações de culturas diversas
que classificavam e mensuravam
esses ativos no imobilizado,
deverão tratá-los segundo o
CPC 29 - Ativo Biológico e Produto
Agrícola, que possui regras
especificas para reconhecimento
e mensuração. Essa mudança
de tratamento trará impactos
significativos no balanço de várias
empresas no ramo de agronegócio.
Com a chegada do CPC 20 - Custos
de empréstimos, as companhias
devem obrigatoriamente adicionar
ao custo de formação de seus
ativos imobilizados em construção
os custos com empréstimos
e financiamentos, incluindo
a variação cambial sobre os juros
de empréstimos em moeda
estrangeira.
Outra novidade é o teste de
impairment, previsto pelo CPC 01
– Redução ao Valor Recuperável
de Ativos, que é obrigatório
quando há indicação de queda
no valor recuperável dos ativos
da companhia. No caso do ativo
imobilizado, dada a sua relevância
em algumas empresas, esta
avaliação pode trazer impactos
significativos nos balanços
patrimoniais, especialmente em
cenários de crise financeira ou
expectativa de não continuidade
das operações de determinada
linha de produção, por exemplo.
A companhia também deve
se certificar de que essa análise
é documentada anualmente.
Considerando a amplitude das
mudanças na forma de tratamento
do grupo de ativo imobilizado,
as empresas terão que unir esforços
no sentido de aprimorar seus
controles internos, sistêmicos
ou não, assim como aumentar a
interação entre áreas da empresa,
fundamental para garantir
um processo de transição e
posterior gerenciamento de forma
eficiente desses ativos. n
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Brasil, Itália, França, Alemanha,
Argentina, Uruguai, Alemanha e Reino
Unido tem mais em comum do que
suas taças Jules Rimet conquistadas
nos últimos anos. Esses países,
que já venceram uma ou mais Copas
do Mundo, também estão passando
pela experiência de fazer a
adoção do padrão internacional
de contabilidade, IFRS.
O Brasil, dentre esses países, merece
destaque não apenas como o único
pentacampeão do mundo, mas
também em termos da ampla adoção
do IFRS. No final de 2010, todas
as companhias de capital aberto e
aquelas de capital fechado com receita
bruta anual superior a R$ 300 milhões
ou patrimônio total superior a R$ 240
C O P A D O M U N D O
milhões adotarão o IFRS. De acordo
com levantamento da Ernst & Young,
15 empresas nacionais de capital
aberto já reportaram em IFRS
no primeiro trimestre de 2010.
Uma particularidade do Brasil é
o fato de as pequenas e médias
empresas também serem obrigadas
indiretamente a adotar o padrão
contábil internacional. De acordo
com pronunciamento do Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC),
de dezembro de 2009, um universo
de 350 mil empresas de pequeno
e médio porte seria diretamente
impactado pela adoção do IFRS
em suas demonstrações financeiras
referentes a 2010. O CPC também
obriga os contadores a só assinarem
os balanços em conformidade com
o IFRS a partir de 2010. Apesar de
essas empresas não serem obrigadas
a adotar o padrão internacional,
aquelas que recorrerem a operações
junto a instituições financeiras ou ao
Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), assim
como as que estejam envolvidas
em processos de fusões ou aquisições,
tendem a ter um interesse maior
pela adoção da norma.
“Esse será um passo importante
para aumentar e garantir o futuro dos
investimentos estrangeiros no Brasil”,
analisa Sonia Swinney, gerente sênior
de Auditoria da Ernst & Young.
No Velho Continente – onde estão
4 dos 7 campeões de Copas do Mundo
Países vencedores de Copas do Mundo correm
atrás do IFRSPor Katia Hochman
O Brasil, além de ser o único pentacampeão de
futebol do mundo, também está adiantado em termos
de conversão ao padrão contábil internacional
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— os países são os mais adiantados
na adequação de seus GAAPs locais
ao IFRS, quando se leva em
consideração apenas as companhias
listadas em bolsas de valores.
A harmonização das práticas contábeis
foi um dos objetivos estratégicos
da União Europeia (UE), uma vez que
ela permitiria e contribuiria com a
livre circulação de capitais pelos países
da UE. Desta forma, nasceu o IFRS e
os países europeus tornaram-se líderes
em sua adoção, uma vez que já vêm
trabalhando para isso desde 2005.
A transparência e a possibilidade
de comparação inequívoca de dados
que o IFRS proporciona são fatores
importantes para que os países possam
de fato negociar globalmente,
debatidas dificuldades em relação às
normas sobre instrumentos financeiros
— estão relacionados à intervenção
dos governos na infraestrutura
e crescimento de seus países.
Neste sentido, a interpretação
e a aplicação da IFRIC 12 Service
Concessions no Brasil e na Argentina
têm exigido esforços adicionais dos
dois países sul-americanos. Na Europa,
as dificuldades residem na aplicação
da IAS 41 Agriculture, que ainda
não foi amplamente adotada porque
a maioria das empresas rurais
europeias não são listadas e, portanto,
não são obrigadas a aderir ao IFRS.
As normas aplicáveis à propriedade,
instalações e equipamentos também
desafiam os países e atividades que
demandam capital intensivo, que estão
mais habituados a aplicar normas
tributárias do que econômicas.
integrando mercados locais com
internacionais. Nos países emergentes
— como Brasil, Argentina e Uruguai —
a padronização contábil também
contribui para a atração de
investimentos estrangeiros para a
promoção do seu crescimento. O Brasil
está em destaque no ranking global
de companhias mais capitalizadas
e atrativas ao investidor elaborado
pela Ernst & Young: quatro empresas
nacionais estão dentre as 100 mais
atrativas do mundo.
Os fatores que levam o Brasil
e os países europeus a estar mais
adiantados em relação à convergência
ao IFRS passam por: maturidade
do mercado de capitais, transações
internacionais entre mercados de
capitais, importância do comércio
internacional, fatores políticos, nível
de desenvolvimento dos contabilistas,
grau de influência da ONU e OECD,
estabilidade econômica e a importância
que o país confere às questões relativas
à contabilidade e transparência.
O prazo estipulado pelos países
para adotar o IFRS, além dos fatores
já mencionados, passa também
por decisões de cunho político.
“Os países precisam colocar de um
lado da balança a importância de estar
em compliance com o IFRS para
alavancar a atração de investimentos
estrangeiros e, de outro, o custo-
benefício da conversão para as
empresas e a economia”, afirma Sonia.
Já os motivos como a interação
do modelo contábil com o sistema
tributário e a extensão do universo
de empresas privadas versus estatais
podem atrasar a adoção do IFRS.
Dentre os países que já venceram
uma Copa do Mundo, a Argentina
e o Uruguai são aqueles que
estão menos adiantados em termos
de conversão ao IFRS (veja quadro
na página seguinte).
Desafios
Os principais desafios que os países
vêm enfrentando atualmente para
a adoção do IFRS — superadas as tão
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O IFRS por país campeãoItália • O último campeão
da Copa do Mundo (2006)
está em fase de implementação
do IFRS, seguindo os parâmetros
do IFRS adotado pela União Européia.
Todas as empresas, italianas ou
estrangeiras, listadas em bolsa de
valores precisam adotar o padrão IFRS.
De acordo com a lei italiana, as
empresas não listadas podem adotar
o IFRS voluntariamente se: for uma
subsidiária, associada ou joint venture
de uma companhia listada na Itália
ou se ela prepara demonstrações
financeiras consolidadas. Já as
pequenas empresas italianas não são
autorizadas a adotar o modelo contábil
internacional. O prazo para
convergência parcial ao IFRS na Itália
estava inicialmente previsto para
o segundo semestre de 2009,
mas ele foi prorrogado e a nova data
ainda não foi definida.
França • Na França, país
do craque Zinedine Zidane,
a adoção do IFRS é mandatória para
as companhias listadas e permitida
(mas não exigida) para aquelas que
não são listadas em bolsa de valores.
Os emitentes estrangeiros podem ser
isentos de apresentar demonstrações
financeiras IFRS quando as normas
de contabilidade utilizadas são
consideradas equivalentes pelo AMF
(Autorité des Marchés Financiers).
A convergência ao IFRS, apesar de
estar em andamento no país, esse não
é um tema que esteja na agenda de
prioridade das companhias francesas.
Isto porque as alterações nos padrões
contábeis mexem diretamente
no sistema tributário. Assim, algumas
adaptações do French GAAP ao IFRS
já foram feitas, mas ainda existem
muitas divergências entre o modelo
nacional e o internacional.
Alemanha • Na
Alemanha, o IFRS — na
versão adotada pela União Europeia —
é obrigatório para as demonstrações
financeiras consolidadas. Tanto as
empresas nacionais listadas quanto
as estrangeiras, com ações negociadas
em bolsa de valores, estão sujeitas
às mesmas regras e são obrigadas
a adotar o IFRS. Em 1º de janeiro
de 2010, o German Statutory GAAP
(HGB) foi atualizado para um
padrão mais próximo do IFRS, mas
as diferenças entre o modelo
contábil alemão e o internacional
ainda persistem. O país do craque
Franz Beckenbauer não definiu
um cronograma para a conversão
ao IFRS, ainda que permita a adoção
voluntária por parte das empresas.
Argentina • A
conversão ao IFRS
na Argentina está em andamento.
De acordo com resolução da Comisión
Nacional de Valores (CNV), entidade
local que regula o mercado de
capitais, de dezembro de 2009, as
companhias listadas deverão adotar
o IFRS segundo os parâmetros
do IASB a partir de 2012, sendo
que a conversão é permitida a partir
de 2011. No primeiro momento,
bancos, seguradoras e fundos de
investimento não estão incluídos nessa
obrigatoriedade, uma vez que seus
reguladores não definiram seus planos
e cronograma de adoção.
Uruguai • O Uruguai
passou a adotar o IFRS
em 2007, mas em uma versão
anterior àquela utilizada atualmente,
para as companhias listadas em bolsa
de valores (tanto uruguaias, quanto
internacionais). Assim, o país que
venceu o Brasil no Maracanã em 1950
e foi campeão do mundo, trabalha
com uma dose de “tropicalização”
do padrão contábil internacional,
graças às atualizações das normas
ao longo dos últimos anos.
Atualmente, os uruguaios discutem
soluções que contemplem os ajustes
necessários por conta da inflação
nas demonstrações financeiras. Para
os bancos e demais instituições
financeiras, o GAAP é definido
pelo Banco Central uruguaio e não
sofreu alterações.
Reino Unido • Os prazos
para adoção integral do
IFRS pelo Reino Unido ainda estão
indefinidos. O padrão contábil
internacional é obrigatório para
as empresas listadas em bolsa de
valores (britânicas ou internacionais)
e opcional para aquelas de capital
fechado, com exceção das empresas
de caridade (elas não podem aderir
ao IFRS). Em agosto do ano passado,
o ASB propôs uma discussão
sobre a possibilidade de as empresas
substituírem o UK GAAP pelo IFRS
para pequenas e médias empresas. Por
essa proposta, elas precisariam adotar
o IFRS completo ou a versão para
pequenas e médias a partir de 2012.
Brasil • O Brasil, dentre
os campeões de Copas
do Mundo, é um dos mais adiantados
em relação à convergência ao IFRS.
As demonstrações financeiras
referentes a 2010 das companhias
abertas e também daquelas de capital
fechado com receita bruta anual
superior a R$ 300 milhões ou
patrimônio total superior a R$ 240
milhões já adotarão o IFRS. O País
também estimula um universo de 350
mil empresas de pequeno e médio
porte a adotar o IFRS, mas em
um formato simplificado. As normas
IFRS somam aproximadamente três
mil páginas, já no pronunciamento do
CPC para as pequenas e médias são
cerca de 225 páginas. As principais
diferenças entre o padrão brasileiro
e o internacional se referem
essencialmente à remoção de opções
disponíveis no IFRS emitidas pelo
IASB e os requisitos de divulgação
adicional. Em 2010, as seguradoras
serão obrigadas a adotar o IFRS,
e outras adequações relativas à
convergência terão continuidade. n