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Internação de adolescentes cresce 28% no Brasil, contrariando o que esperava o ECA O Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei, apresentado recentemente pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), mostra que o número de internações de adolescentes em unidades de privação de liberdade cresceu 28% entre 2002 e 2006, passando de 9.555 para 15.426 internos. Como resultado, mantém-se o quadro de superlotação dos 366 estabelecimentos existentes. No País todo há um déficit de 3.396 vagas. Os estados com maiores problemas são Pernambuco, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. No território mineiro e no Paraná, inclusive, há 685 jovens em cadeias públicas comuns. Os dados, levantados na primeira quinzena de agosto do ano passado, invertem a lógica do Estatuto da Criança e do Adolescente, . O ECA prevê prioridade para as medidas em meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviços) e dispõe que a internação deve ser a última alternativa para lidar com o adolescente em conflito com a lei. Se essa regra fosse cumprida, ao invés de crescer, a quantidade de internações deveria ser reduzida gradualmente. Especialistas apontam diversas razões para este aumento, desde a suposta periculosidade dos jovens que cometem infrações – que levaria os juízes a preferirem a internação – até a má qualidade das ações desenvolvidas em meio aberto. O fato é que o Brasil hoje gasta muito mais em privação de liberdade, e os governantes deverão reverter esse quadro para cumprir o Sistema Nacional de que completa 18 anos este mês Atendimento Socioeducativo (Sinase), o novo plano de diretrizes para a política nacional de atendimento aos adolescentes em conflito com a lei e que prevê a primazia das medidas em meio aberto. Estudos desmentem o argumento de que os jovens estão mais perigosos, o que poderia elevar o número de internações. Em São Paulo, estado com o maior número de adolescentes privados de liberdade (6.059, ou 39,2%), dados da Secretaria de Segurança Pública revelam que a participação de menores de 18 anos em crimes graves no ano de 2003 não alcançou 1% das ocorrências. De 9.150 casos de homicídios dolosos naquela época, 89 envolveram adolescentes (0,97%). Quem trabalha diretamente na área dos jovens em conflito com a lei explica que, em delitos nos quais a vítima é ameaçada, mas não sofre nenhum tipo de violência, o juiz deve analisar o caso e, se possível, dar preferência às medidas de meio aberto. “Esse tipo de regime tem maior potencial ressocializador para o adolescente que não tem antecedentes. Interná-lo pode criar um estigma, um perfil criminal que irá estimular sua progressão na criminalidade”, diz Karyna Sposato, coordenadora do Instituto das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud). Mas, segundo a especialista, o que acontece hoje é uma “automatização” do Judiciário. “A grande maioria dos roubos é feita com armas de fogo, o que pode justificar a internação. O critério é dado pelo juiz. Mas muitas vezes essa decisão é automática, como se na lei isso fosse obrigatório. Às vezes, por causa do roubo de um objeto insignificante, interna-se o adolescente”, critica. Por: Agência de Notícias do Direito da Infância Publicação da Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves Ano 6 - n°17 - Julho, Agosto e Setembro de 2008

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Internação de adolescentes cresce 28% noBrasil, contrariando o que esperava o ECA

O Levantamento Nacionaldo Atendimento Socioeducativo aoAdolescente em Conflito com a Lei,apresentado recentemente pelaSecretaria Especial de DireitosHumanos da Presidência daRepública (SEDH), mostra que onúmero de in ternações deadolescentes em unidades deprivação de liberdade cresceu 28%entre 2002 e 2006, passando de9.555 para 15.426 internos. Comoresultado, mantém-se o quadro des u p e r l o t a ç ã o d o s 3 6 6estabelecimentos existentes. NoPaís todo há um déficit de 3.396vagas. Os estados com maioresproblemas são Pernambuco, RioGrande do Sul e Minas Gerais. Noterritório mineiro e no Paraná,inclusive, há 685 jovens em cadeiaspúblicas comuns.

Os dados, levantados naprimeira quinzena de agosto do anopassado, invertem a lógica doEs ta tu to da Cr iança e doAdolescente,

. O ECA prevê prioridadepara as medidas em meio aberto(liberdade assistida e prestação deserviços) e dispõe que a internaçãodeve ser a última alternativa paralidar com o adolescente em conflitocom a lei. Se essa regra fossecumprida, ao invés de crescer, aquantidade de internações deveriaser reduzida gradualmente.

Especialistas apontamdiversas razões para este aumento,desde a suposta periculosidade dosjovens que cometem infrações –que levaria os juízes a preferirem ainternação – até a má qualidade dasações desenvolvidas em meioaberto. O fato é que o Brasil hojegasta muito mais em privação deliberdade, e os governantesdeverão reverter esse quadro paracumprir o Sistema Nacional de

que completa 18 anoseste mês

Atendimento Socioeducat ivo(Sinase), o novo plano de diretrizespara a polít ica nacional deatendimento aos adolescentes emconflito com a lei e que prevê aprimazia das medidas em meioaberto.

Estudos desmentem oargumento de que os jovens estãomais perigosos, o que poderia elevaro número de internações. Em SãoPaulo, estado com o maior númerode adolescentes privados deliberdade (6.059, ou 39,2%), dadosda Secretaria de Segurança Públicarevelam que a participação demenores de 18 anos em crimesgraves no ano de 2003 não alcançou1% das ocorrências. De 9.150 casosde homicídios dolosos naquelaépoca, 89 envolveram adolescentes(0,97%).

Quem trabalha diretamentena área dos jovens em conflito com alei explica que, em delitos nos quaisa vítima é ameaçada, mas não sofrenenhum tipo de violência, o juiz deve

analisar o caso e, se possível, darpreferência às medidas de meioaberto. “Esse tipo de regime temmaior potencial ressocializadorpara o adolescente que não temantecedentes. Interná-lo pode criarum estigma, um perfil criminal queirá estimular sua progressão nacriminalidade”, diz Karyna Sposato,coordenadora do Instituto dasNações Unidas para a Prevençãodo Delito e Tratamento doDel inqüente ( I lanud) . Mas,segundo a especialista, o quea c o n t e c e h o j e é u m a“automatização” do Judiciário. “Agrande maioria dos roubos é feitacom armas de fogo, o que podejustificar a internação. O critério édado pelo juiz. Mas muitas vezesessa decisão é automática, comose na lei isso fosse obrigatório. Àsvezes, por causa do roubo de umobjeto insignificante, interna-se oadolescente”, critica.

Por: Agência de Notícias do Direito da Infância

Publicação da Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria AlvesAno 6 - n°17 - Julho, Agosto e Setembro de 2008

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Julho, Agosto e Setembro de 2008

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EXPEDIENTE

Esta é uma publicação da Fundação deDefesa dos Direitos

Humanos Margarida Maria Alves.Rua Irineu Joffily, nº 185, Centro

CEP: 58011-110, João Pessoa, PB.Tele-fax: 3221-3014

www.fundacaomargaridaalves.org.br

Jornalista responsável:Aline Oliveira (DRT 1963/PB)

Fotos: arquivo da entidade e banco deimagens na Internet (capa)Tiragem: 1.000 exemplares

Apoio: MisereorImpressão: F&A Gráfica e Editora

[email protected]

Editorial A silenciosa violência contra jovensArtigo de João Batista de LimaMembro do Conselho Municipal de Segurança Pública e Direitos Humanos

Uma grandequantidade desses

crimes fica totalmenteimpune”

Vinte anos depois e temos umBrasil diferente. Em muitospontos, melhor que o de1988. Em tantos outros,igualzinho – e, infelizmente,também pior que em alguns.O marco deste tempo temnome: Const i tu ição daRepública Federativa doBrasil, instrumento quepretendia estabelecer umEstado democrático dedireitos e desenhava oesboço de um país deoportunidades iguais paratodos os brasileiros. Aocompletar duas décadas emoutubro próximo, ela poderácomemorar o fato de terajudado a consolidar umademocracia, mas também sedará conta de que ainda háum longo caminho a ser feito.

Basta ver o que prevê o seuartigo 3°, que define osobjet ivos da Repúbl icaFederativa que se instalavaentão: erradicar a pobreza e amarginalização e reduzir asdesigualdades sociais eregionais. Desnecessáriodizer que ainda estamoslonge desta realidade, muitopor falta de vontade política,sem esquecer dos muitosar t igos que nunca setornaram realidade por faltade regulamentação.

De qua lquer forma, aF u n d a ç ã o c o n t i n u aacreditando que é possívelfazer deste um país deigualdades, em que aC o n s t i t u i ç ã o s e j a , n averdade, o retrato do país emque vivemos.

O constante aumento dacriminalidade em todos os níveis, eem particular a violenta, é umarealidade presente, de forma especialnas cidades de médio e de grandeporte em todos os países do mundo.No Brasil, esse fenômeno tem maiorvisibilidade nos centros urbanos maisdesenvolvidos economicamente, pelofato de a violência nesses centros serexpressa por números absolutos maiselevados, assim como pela formacomo o tema é tratado pela mídia.Desta forma, os habitantes dascidades de menor porte, mesmovivendo situação de intensa violência,de toda ordem, podem se sentirdistantes do clima de permanenteinsegurança que caracteriza a vida dapopulação das grandes metrópoles.Quando tomamos conhecimento deque em cidades como Rio de Janeiro,São Paulo, Vitória e Recife, porexemplo, ocorrem, em cada umadelas, milhares de homicídios por ano,ficamos com a impressão de que emcapitais como João Pessoa aviolência é bem menor.

Entretanto, quando essacomparação é feita através deíndices, que expressam essesnúmeros de maneira proporcional apopulação, passamos a ter umamelhor compreensão do problema. Oíndice universal empregado naspesquisas sobre homicídios é o queindica a quantidade desse tipo deocorrência para cada cem milhabitantes por ano. A média nacionalde homicídios no Brasil em 2003, porexemplo, foi de 23,5, ou seja foramassassinadas 23,5 pessoas para cadagrupo de cem mil habitantes. Nomesmo ano essa médio, em relação aregião sudeste, tida com a maisviolenta, foi de 28,8. Dados fornecidospela Rede de Informação TecnológicaLatino Americana (Ritla), em parceriacom o Instituto Sangari e com osMinistérios da Justiça e da Saúde,informam que, em 2007, as trêscidades mais violentas do país foramRecife com índice de homicídios iguala 90,5; Vitória, com 87,0 e Maceiócom 80,9. Entretanto, São Paulo e Riode Janeiro, normalmenteconsideradas como cidadesv i o l e n t e s , t i v e r a m ,respectivamente essesíndices iguais 44,8 e 31,1.Perceba-se a situação deJ o ã o P e s s o a n e s s econtexto. De acordo comdados da Secretaria deSaúde do Município, em

João Pessoa, em 2005 foramregistrados 318 homicídios, o querepresenta um índice aproximado de49. Ou seja, considerando essesdados, pode-se perceber que em2005 a violência em João Pessoa jáera maior do que a de São Paulo e doRio de Janeiro em 2007. Curiosotambém é que esse índice de JoãoPessoa é superior aos de Natal,Fortaleza e Salvador. Igualmentepreocupante é a constatação de quea maior parte das vítimas dessescrimes é formada por pessoas entre14 e 25 anos. Foram 141 jovensassassinados em João Pessoa em2005, e 131 em 2004. As causasapontadas para esses fatos,considerando o perfil das vítimas edos acusados, são as mais diversas,com ênfase para as questões sociaisrelacionadas com o desemprego, abaixa escolaridade, o desajustefamiliar, a falta de religiosidade eoutras. Ressalte-se, porém, que umagrande quantidade desses crimesfica totalmente impune, criando emseus executores um sentimento detotal impunidade.

Os órgãos encarregados daprevenção e da repressão a esse tipode crime, em que pese o grandeesforço desenvolvido por seusdirigentes, não estão devidamenteaparelhados para cumprirem seuspapéis. É verdade que não se temcomo reduzir a gravidade dessequadro sem adoção de políticassociais de amplos alcances, porém,tais medidas só terão efeitos emlongo prazo. Enquanto isso, éindispensável que se dote as Políciasd o s m e i o s , s o b r e t u d o d einvestigações, para que se possaconter a cadeia da impunidade,principal fator desse tipo de crime, eassim se salvar a vida de uma grandequantidade de jovens.

Quer contribuir coma continuidade dos

nossos projetos?Para ajudar a manter nossos programas

de defesa dos Direitos Humanos,adquira um dos nossos produtos,

seja nosso voluntário ou faça doações naConta 122749-1, Agência 0435-9, Banco Bradesco.

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Quase 2,9 mil beneficiários,sendo 1,5 mil mulheres e mais de1,3 mil atendidos diretamente pelosJuristas Populares, todos elessolucionando, de alguma forma,uma demanda jurídica. Este foi umd o s p r i n c i p a i s r e s u l t a d o s

a l cançados pe la FundaçãoMargarida MariaAlves durante o anode 2007, de acordo com relatórioque foi enviado para a análise daCuradoria das Fundações. Otrabalho envolveu a assessoria acinco entidades e a participação em

Fundação atendeu 2,9 mil pessoas no ano passado

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11 eventos, entre reuniões,seminários e debates para discutirtemas relevantes para a defesa dosDireitos Humanos na Paraíba. Aotodo, foram investidos cerca de R$187 mil, através dos projetos emparceria com Cafod e Misereor.

GERAL

Disponível 74.564,42Caixa -Bancos Conta Movimento R Livres 1,00Bancos Conta Movimento R Restritos 2,00Aplicação Financ Liq Imed R Livres 23.600,16Aplicação Financ Liq Imed R Restritos 50.730,26Almoxarifado 231,00Créditos 1.094,24Aplicaçoes Financ Prazo R Restritos 1.035,18Creditos Tributarios 21,88Outros Valores a Receber 37,18TOTAL DO ATIVO CIRCULANTE 75.658,66

Imobilizado 96.158,27Bens Tangíveis e Intangíveis 102.667,72(-) Depreciação Acumulada (6.509,45)TOTAL DO ATIVO PERMANENTE 96.158,27TOTAL DO ATIVO 171.816,93

Fornecedores e Contas a Pagar 7.558,89Contas e Títulos a Pagar 7.536,87Impostos Taxas e Contribuições 22,02Obrigações Trabalhistas e Sociais 2.359,97Pessoal e Encargos Sociais 2.359,97Recursos Projet Cont Convênios 531.283,76Entidade Internacional 531.283,76Recursos Projetos Aplicados (503.044,40)Recursos Aplic Entid Priv Internacional (503.044,40)Recursos Pend Proj Cont Conv Encerrados 14.949,22Recursos Entidade Internacional 14.949,22TOTAL DO PASSIVO CIRCULANTE 53.107,44

Patrimônio social 118.709,49Fundos de Instituição e Social 12.981,75Superavit ou Deficit Acumulado 109.481,54Superavit ou Deficit do Exercício (3.753,80)TOTAL DO PATRIMÔNIO 118.709,49TOTAL DO PASSIVO 171.816,93

Maria do Socorro Targino PraxedesPresidente

CPF 21989982468

Paulo Rodrigues da SilvaContador CRC-PB 004429/O-7

CPF 38022478415

3.269,91

4.352,80-

-

4.352,80

1.041,991.041,99

-3.269,91

(64.180,01)(64.180,01)92.333,5392.333,53

47.414,64-

-

47.414,6414.949,2214.949,22

1.317,9822,02

-22,02

PASSIVOPASSIVO CIRCULANTE

120.049,49118.709,49

(3.753,80)109.481,5412.981,75

118.709,49

1.340,00

-

4.352,80-

-

ATIVO CIRCULANTE

ATIVO PERMANENTE

120.049,4996.158,27(6.509,45)

102.667,7296.158,27

47.414,64-

1,00--

4.352,80

--

4.351,80-

4.352,80---

1,00--

46.379,46

1.035,18-

46.378,46-

47.414,64--

1.035,18

-1,00-

23.832,16

59,06231,00

-23.600,16

FUNDAÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS MARGARIDA MARIA ALVESRUA IRINEU JOFILLY, 185, CENTRO

JOÃO PESSOA - PBCNPJ 70.133.764/0001-30

23.891,2237,1821,88

-

BALANÇO PATRIMONIALENTIDADE E PROJETOSCONTAS

FUNDAÇÃO CORDAID-CAFOD MISEREORATIVO

4.266,964.266,96

João Pessoa, 31 de dezembro de 2007.

438.950,23438.950,23

-

-(438.864,39)

PATRIMÔNIO

-

(438.864,39)

-

-

-1.317,98

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Regularização fundiária em Bayeux beneficia620 famílias e renova esperança de comunidade

D e p o i s d e 1 2 a n o smorando no mesmo endereço, osmoradores da comunidade NovaTrindade, no bairro de MarcosMoura, em Bayeux, finalmentepodem se dizer donos da casa ondem o r a m . O s l o t e s f o r a mregularizados este ano e todas as620 famíl ias receberam osdocumentos de suas casas entre osdias 23 e 25 de abril passado.Agora, além da posse que tiveramao longo de mais de uma década,eles também têm a propriedade doimóvel e a segurança de que nãoserão mais despe jados. Omomento é de festa e de certeza deque agora a comunidade vai podercomeçar a lutar por outros direitos,c o m o i n f r a - e s t r u t u r a m a i sadequada para a região.

De acordo com a JuristaPopular Marilene Dantas de Melo,que é uma das fundadoras dacomunidade, a regularização só setornou concreta depois damobilização conjunta de oitoins t i tu i ções que atuam nacomunidade, entre elas a Igreja, aAssociação Comunitária e váriasentidades de defesa dos DireitosHumanos.Antes disso, todas elas jáhaviam se articulado várias vezespara tentar resolver a questão, massó quando a comunidade resolveureunir todas em uma única ação, osonho se tornou real idade.“Enquanto a gente trabalhou

separado, não funcionou”, lembra.Além das oito instituições, o

último documento enviado aoGoverno do Estado solicitando asolução do problema também foiassinado por representantes detodas as famílias beneficiadas.An tes d isso , as en t idadespesquisaram quais eram asprioridades da comunidade e aeleita foi a documentação dascasas. “Há dois anos enviamos esteofício solicitando que a área fosseregularizada e, apesar de toda aburocracia que enfrentamos aolongo deste tempo, tivemossucesso”, comemora Marilene.

Os terrenos da região ondea Nova Trindade foi erguidapertenciam ao município de Bayeux,mas foram doados ao Governo doEstado como forma de pagamentode dívidas, um acordo feito para queo poder estadual tivesse espaçopara abrigar integrantes doMovimento dos Sem Teto. “Aprefeitura cedeu o terreno, o Estadobancou o material e nós, futurosmoradores, trabalhamos em regimede mutirão”, lembra a Jurista.Apesar disso, a fase final, que seriacolocar os imóveis construídos nonome dos proprietários, nunca foicompletada.

Lembrando do tempo emque chegaram no local, os

Dúvida - Comunidade agora não sabe como vai pagar pelas escrituras das casas

moradores se emocionam. Umadelas é Hilda Maria da Conceição,que enche os olhos de lágrimasquando diz que ajudou a “limpar oterreno”. “Muita gente já morreusem ter esta alegria, mas eu estouaqui para ver este momento”,comemora.

MotivaçãoAlém da conquista da

propriedade de seus imóveis, paraa comunidade, a regularizaçãofundiária trouxe outro ganhoparalelo. “As pessoas renovaram aesperança de que vale a pena lutarpelos seus direitos, perceberamque uma boa articulação de forçasconsegue transpor até a falta devontade política”, observa Marilene.

Agora, o objetivo dosmoradores é conseguir o apoio daprefeitura para poder escriturar ascasas, já que o custo gira em tornode R$ 150, o que é muito para amaioria deles. “Queremos pelomenos abatimento no impostocobrado pela prefeitura”, sugere opresidente da comissão quearticulou a regularização, CíceroFreire dos Santos. Além disso, elesquerem melhorias na infra-estrutura, como o esgotamentosanitário das ruas. Atualmente, osmoradores têm que conviver com aágua das casas correndo a céuaberto, um risco para a saúde.Estrutura - Esgoto corre a céu aberto

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Redução de tempoprocessual e de utilização depapel, além de uma maiortransparência ao longo doprocesso e acesso rápido dequalquer lugar do mundo. Écom estas promessas quedesde março deste ano oTribunal de Justiça daParaíba tornou-se um dosprimeiros do Brasil a adotar oP r o c e s s o E l e t r ô n i c o ,apelidado de E-Jus, nosJu izados Espec ia is . Anovidade, no entanto, temsido alvo de muitas dúvidasprincipalmente por parte dapopulação que pode acessaro Juizado, que permite o

acesso de pessoas sem advogado.O sistema vem atender a

recomendação do ConselhoNacional de Justiça de que todo oPoder Judiciário brasileiro troque osprocessos em pape l pe loseletrônicos até o final do ano quevem. A experiência paraibana estásendo considerada a mais bemsucedida até agora, ganhandoinclusive prêmios e levando seuscoordenadores para daremtreinamentos em outros Estados. “Éum caminho sem volta e umamudança importante a que aspessoas vão ter que se adequar”,considera a juíza leiga do 4° JuizadoEspecial Cível, Anna IzabellaChaves.

Um dos principais pontospositivos do E-Jus é que, com ele, osprazos começam a contar a partirdas audiências e não mais da dataem que o juiz recebe o processo devolta do cartório devidamentecarimbado e protocolado, umtrabalho que poderia durar dias.Com a utilização de assinaturasdigitais e de equipamentos simplesde informática, o processo ganhatempo no encaminhamento e aindaganha outra vantagem: qualqueruma das partes envolvidas pode teracesso aos autos. Em outraspalavras, “não tem mais aquelahistória de ter que procurar osdocumentos ou deles estaremindisponíveis porque uma daspartes está com eles. De qualquer

computador com internet e usandosua senha, o interessado podeacompanhar até todo dia se quiser”.

Mesmo envolvido comtantas promessas de avanço, umdetalhe simples está tornando ofuncionamento do E-Jus bastantecomplicado. Acontece que aparcela da população com acesso àinternet ainda é muito pequena e,para muitos cidadãos, a tecnologiaainda provoca medo. É o caso damaioria dos usuários dos JuizadosEspeciais, por onde a experiênciacomeçou, que recebe ações de até20 salários mínimos dispensando anecessidade de ter um advogadoque represente o interessado. “Aspessoas ainda têm dificuldade deentender como é que não tem maiso papel, como é que vê tudo nocomputador. É muito natural queelas se sintam inseguras”, avaliaIzabella.

Para os servidores etambém para os advogados, o TJpromoveu treinamentos sobre o E-Jus, mas o conselho da juíza é quea própria população busque seinformar e não tenha medo deperguntar, além de orientar aquelesque estão menos esclarecidos. deolho na novidade, o urso de JuristasPopulares vai incluir um rápidotreinamento sobre o tema nomódulo de Organização do PoderJudiciário. E no Fórum Cível, háuma sala onde se pode digitalizaros documentos e receber asprimeiras informações, junto com onúmero do processo, um nome deusuário e uma senha. São estesdados que vão permitir que ocidadão possa acompanhar seuprocesso na internet.

Um detalhe importante éque ninguém pode acessar umaação sem que seja uma das partesenvolvidas, o que garante umamaior privacidade aos documentos.Além disso, a quantidade de papelusado vai, gradativamente sendoreduzida, o que vai fazer com que,só no 4° Juizado, mais de 1,5 milpilhas de papel (equivalente aonúmero de processos) sejamtransformadas em informaçãoeletrônica.

Juizados especiaisaderem ao E-Jus na PB

Como funciona?

1) Qualquer pessoa que tenhauma questão que queira levar paraa Justiça, mas que não passe deum valor de 20 salários mínimos,pode se digirir até o JuizadoEspecial sem precisar deadvogado e buscar o balcão deatendimento

2) Lá, um servidor vai escrever aTomada de Termo, que substitui aPetição Inicial que é feita peloadvogado.

3) A mesma pessoa vai digitalizartodos os documentos levados peloautor da ação e que sejamnecessários no processo.

5) O servidor vai fornecer onúmero do processo, um nome deusuário e uma senha que o autordeve guardar com cuidado. Sãoesses dados que vão permitir oacesso ao processo através dainternet.

6) Para consultar o andamento doprocesso, o autor (ou qualqueruma das partes) deve entrar nosite do Tribunal de Justiça, atravésdo endereço eclicar no link do E-Jus, que fica dolado esquerdo da tela.

7) É preciso informar o nome dousuário e a senha para entrar nosistema, que vai dar acesso parasaber todos os detalhes doprocesso, inclusive a identificaçãodos servidores responsáveis porcada passo da ação.

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www.tjpb.jus.br

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Via Sacra do Meio Ambiente mobiliza escolas de Tibiri

Reunindo cerca de400 alunos de cincoescolas do bairro deTibiri, os JuristasPopulares de SantaRita realizaram a

segunda versão da Via Sacra doMeio Ambien te na c idade,promovida no dia 6 de junho emparceria com as escolas e repetindoo sucesso de 2007. A atividade fezparte de um projeto mais amplo deeducação ambiental na cidade, queestá focando este ano nas escolas eno trabalho com os alunos da redepública e também da privada. E aprogramação vai ter continuidadeno segundo semestre, quandoserão retomadas as oficinas deeducação ambiental realizadasdentro das próprias escolas,envolvendo as turmas de forma

lúdica no cuidado com o espaçoonde estudam.

A concentração da ViaSacra começou na Praça doChafariz, de onde os alunospartiram em caminhada e fazendoparadas em frente às escolas.Muitos alunos prepararam cartazesalertando sobre a necessidade depreservar as espécies e reduzir aquantidade de lixo produzido. Aatividade seguiu pelas ruas atéchegar na feira, um dos pontos maisproblemáticos de acúmulo de lixo nobairro.

O evento também foimotivado pelo sucesso das oficinasrealizadas nas escolas, utilizandopalhaços e fantoches para ensinar aimportância da defesa do meioambiente. A idéia é mudar a relaçãoentre os estudantes e o espaço da

e s c o l a . A m b o s o s

personagens ajudam as crianças arefletirem sobre como elas estãocuidando da escola, como tratam olixo e a água e o que sabem arespeito da coleta seletiva.

Ao final da atividade, paraaprofundar o trabalho, os Juristasdeixam com os professores algunspanfletos com os mandamentos dom e i o a m b i e n t e , q u e s ã otrabalhados em sala na semanaseguinte. “Para acompanhar osresultados do trabalho, umaprofessora vai participar dasreuniões do núcleo em Santa Ritapara nos repassar se os alunosestão mudando sua atitude emrelação ao ambiente em queconvivem”, expl ica CândidaMoreira, que acompanha a Rede.

- Mas não é só emSanta Rita que os Juristas estãotrabalhando a questão do meio

ambiente. Em Bayeux, otrabalho na feira continua devento em popa e segue pelosegundo semestre. Alémdisso, no dia 18 de maio elestambém abordaram osmoradores da região docemitério do bairro de SãoSeverino para encontraremuma solução para o problemado lixo que se acumula emsuas calçadas. Os Juristaspromoveram um ato público nolocal e, a exemplo do que jáacontece na feira, distribuírampanfletos e mobilizaram ap o p u l a ç ã o . N o m e s m oquarteirão do cemitério funcionauma escola, que está sendoconvidada a assumir junto com oNúcleo o compromisso de reduziro volume de lixo acumulado nolocal.

Bayeux

5 e 6 - Módulo de Direi toConstitucional20 - Encontro Municipal de JuristasPopulares de Bayeux26 e 27 - Módulo de Organização doJudiciário

Acontece

Julho

Agosto16 e 17 - Módulo de Direito Civil I

Encontro Municipal de Santa Rita

18 -Audiência sobre Plano Diretor30 e 31 - Módulo de Direito Civil II

Setembro13 - Oficina doConsumidor13 e 14 -EncontroEstadual daRede de JuristasPopulares

Participação - Comunidade se envolveuna Via Sacra ( ) e nas oficinas em Santa Rita (4)

no trabalho feito emBayeux (1), 2 e 3

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Julho, Agosto e Setembro de 2008

Rede de

Juristas

Populares