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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 INTERNACIONALIZAÇÃO DO SETOR LÁCTEO: A BUSCA PELA CONSOLIDAÇÃO [email protected] Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais GIULIANA APARECIDA SANTINI; DANIELE FERNANDA BOSISIO MOURA PEDRA; GESSUIR PIGATTO. UNESP/ CAMPUS EXPERIMENTAL DE TUPÃ, TUPÃ - SP - BRASIL. Internacionalização do setor lácteo: a busca pela consolidação Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo As estatísticas mundiais do setor lácteo demonstram que o Brasil detém posições de destaque em todos os segmentos dessa cadeia produtiva: possui o 3º maior rebanho de gado leiteiro do mundo, ocupa a 6º posição no âmbito da produção mundial, e é o 3º maior produtor de queijo. Nos últimos cinco anos, o Brasil também ampliou sua participação no comércio mundial desses produtos, desde 2004, especificamente, quando as exportações passaram a ser crescentes. A produção nacional do leite atingiu um índice de crescimento de 4% a.a., entre os anos de 1999 a 2008, superando a taxa de crescimento populacional do país e o próprio consumo per capita do leite. Em relação ao consumo, apesar de ter havido um crescimento significativo nesse índice, após a estabilização econômica e a implantação do Plano Real, o mesmo ainda é baixo comparado ao índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Relacionando-se a produção ao consumo do setor, pode-se observar uma situação de desequilíbrio no país, na relação entre a oferta e o consumo interno de leite (mesmo tendo-se observado aumentos na renda e mudanças no comportamento de compra do consumidor). Deste modo, uma das alternativas encontradas pelo setor para se evitar uma ‘crise’ estrutural foi encaminhar o excedente de produção para o mercado externo, aumentando a participação do Brasil no mercado internacional de lácteos, por meio das exportações desses produtos. Assim, o objetivo principal deste artigo se concentra em analisar o processo de internacionalização do setor lácteo nacional, especificamente as exportações. Para tal, de modo específico pretende-se: analisar os fatores que induziram a uma maior dinâmica produtiva e comercial do setor, voltado para as exportações; avaliar a evolução quantitativa e qualitativa das exportações; averiguar se as estratégias de crescimento das empresas estão articuladas para uma maior inserção no mercado externo. Palavras-chaves: leite, estratégia, produção, consumo, exportação Abstract

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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INTERNACIONALIZAÇÃO DO SETOR LÁCTEO: A BUSCA PELA CONSOLIDAÇÃO

[email protected]

Apresentação Oral-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

GIULIANA APARECIDA SANTINI; DANIELE FERNANDA BOSISI O MOURA PEDRA; GESSUIR PIGATTO.

UNESP/ CAMPUS EXPERIMENTAL DE TUPÃ, TUPÃ - SP - BRASIL.

Internacionalização do setor lácteo: a busca pela consolidação Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e

Cadeias Agroindustriais

Resumo As estatísticas mundiais do setor lácteo demonstram que o Brasil detém posições de destaque em todos os segmentos dessa cadeia produtiva: possui o 3º maior rebanho de gado leiteiro do mundo, ocupa a 6º posição no âmbito da produção mundial, e é o 3º maior produtor de queijo. Nos últimos cinco anos, o Brasil também ampliou sua participação no comércio mundial desses produtos, desde 2004, especificamente, quando as exportações passaram a ser crescentes. A produção nacional do leite atingiu um índice de crescimento de 4% a.a., entre os anos de 1999 a 2008, superando a taxa de crescimento populacional do país e o próprio consumo per capita do leite. Em relação ao consumo, apesar de ter havido um crescimento significativo nesse índice, após a estabilização econômica e a implantação do Plano Real, o mesmo ainda é baixo comparado ao índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Relacionando-se a produção ao consumo do setor, pode-se observar uma situação de desequilíbrio no país, na relação entre a oferta e o consumo interno de leite (mesmo tendo-se observado aumentos na renda e mudanças no comportamento de compra do consumidor). Deste modo, uma das alternativas encontradas pelo setor para se evitar uma ‘crise’ estrutural foi encaminhar o excedente de produção para o mercado externo, aumentando a participação do Brasil no mercado internacional de lácteos, por meio das exportações desses produtos. Assim, o objetivo principal deste artigo se concentra em analisar o processo de internacionalização do setor lácteo nacional, especificamente as exportações. Para tal, de modo específico pretende-se: analisar os fatores que induziram a uma maior dinâmica produtiva e comercial do setor, voltado para as exportações; avaliar a evolução quantitativa e qualitativa das exportações; averiguar se as estratégias de crescimento das empresas estão articuladas para uma maior inserção no mercado externo. Palavras-chaves: leite, estratégia, produção, consumo, exportação Abstract

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The milk sector worldwide statistics show that Brazil detain emphasizing positions in all segments of this production chain: it has the third biggest milk cattle in the world, it occupy the sixth largest producer of milk in the world, and it’s the third biggest cheese producer. In the last five years, Brazil also increasing your participation of milk products in world trade, since 2004, specifically, when the exports began to be increasing. The national production of milk hit an index increasing of 4% year, between 1999 to 2008, exceeding the population increasing rate of the country and the per capita consumption of milk. In relation of consumption, although there has been a significant increasing in this index, after the economic stabilization and implantation of Plano Real, the consumption is still lower compared to the index advised for the Worldwide Health Organization (OMS). Linking up the production and the consumption of milk, we can observe a lack of equality in the relation between the production and the consumption of the milk in the country (even observing an increasing in the earning and consumer buying behavior changes). This way, one of the alternatives found by the sector to try to avoid a structural crisis was sending the excess of production for the market trade, increasing the Brazilian participation in the international market of dairy products, thought exports of these products. So, this article mainly aim is to analyze the internationalization process of national milk sector, specifically the exports. To do that, intends in a specific way to: analyze the factors that led to a more productive and dynamic business sector, towards exports; to evaluate the quantitative and qualitative evolution of exports, verify if the growth strategies of the companies are linked to greater integration into the foreign market. Key Words: Milk, strategy, production, consumption, exportation. 1. INTRODUÇÃO

Dentre as diversas cadeias produtivas que representam a base de produção do país, a cadeia produtiva do leite pode ser considerada uma das mais complexas e representativas do agronegócio brasileiro.

As estatísticas mundiais do setor demonstram que o Brasil detém posições de destaque em todos os segmentos dessa cadeia produtiva. O país possui o 3º maior rebanho de gado leiteiro do mundo, com 20,9 milhões de cabeças; ocupa a 6ª posição no âmbito da produção mundial, e é o 3º maior produtor de queijo, mercado sob domínio da União Européia e Estados Unidos, responsáveis por mais de 75% da produção do mundo (LEITE...,2008). No ano de 2008, o país alcançou uma produção de aproximadamente 28,8 milhões de toneladas métricas, ficando atrás respectivamente da União Européia, dos Estados Unidos, da Índia, China, e Rússia (USDA, 2008).1 Um dos maiores índices de produção, comparativamente aos maiores produtores mundiais.

Além disso, o país também ocupa posição de destaque no ranking mundial de produção de alguns subprodutos, como no de manteiga (9ª posição) e no segmento de leite em pó (4ª e 8ª posição em leite em pó integral e desnatado, respectivamente). E todos esses resultados são obtidos por meio de uma média de produtividade por animal relativamente baixa, quando comparada com os indicadores de outros importantes países produtores, o que expressa o potencial de desenvolvimento do setor no Brasil (LEITE...,2008).2 1 Resultados preliminares da produção de leite no ano de 2008, de acordo com os dados publicados pelo United States Department of Agriculture (USDA, 2008). 2 Em 2008, a estimativa de produtividade/ animal no Brasil foi de 1,7 mil toneladas métricas, bem abaixo dos Estados Unidos, com um índice de 9,28 (USDA, 2008).

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Entretanto, tão bem como apresentar a importância do setor lácteo na conjuntura mundial, é importante fazer referência à trajetória assumida pelo setor no decorrer dos anos até o alcance da posição de desenvolvimento vivenciada. E nesse sentido, pode-se dizer que o setor lácteo brasileiro foi marcado por 2 grandes períodos, sendo estes responsáveis por importantes modificações que contribuíram (e ainda continuam a contribuir) com a nova reestruturação e dinâmica assumida pelo setor.

O primeiro período, vigorado até finais da década de 1980, foi caracterizado por um amplo controle do governo sobre o setor, consistindo no tabelamento de preços, mais especificamente na definição dos preços de produção e de consumo de leite, como também na fiscalização das importações brasileiras sob produtos lácteos.

A partir de 1990, o Brasil deixou o modelo de substituição de importações, que caracterizava uma economia fechada para o mercado internacional e passou a praticar um modelo de desenvolvimento mais aberto, inserindo-se na economia internacional. Assim, o setor lácteo nacional passou a vivenciar um novo período, que provocaria a princípio, a mudança em sua regulamentação (liberalização de preços do leite e de seus derivados), culminando de fato com a reestruturação agroindustrial (SCHIAVI et al, 2006).

Após a implantação do Plano Real, as primeiras mudanças que puderam ser observadas estiveram relacionadas com o aumento de consumo de lácteos, o que fez com que as indústrias buscassem novos fornecedores de matéria-prima, lançassem novos produtos, integrassem novos canais de escoamento da produção e estabelecessem a adoção de um conjunto de estratégias que trariam importantes conseqüências para a atividade.

Observou-se um processo de concentração, tanto no segmento de processamento quanto em relação aos produtores rurais e cooperativas. No meio empresarial, ocorreram aquisições e fusões de empresas nacionais de grande e médio porte, por parte das grandes empresas multinacionais estrangeiras, ocorrendo também substituição de matéria-prima nacional pela importada (caso as condições de preços internacionais e câmbio estivessem favoráveis), aumento das exigências técnicas e seleção de produtores. No que se refere aos produtores rurais, o processo de reestruturação se caracterizou pela busca de ganhos de produtividade na produção pecuária, pelo aumento na escala mínima de produção e pela redução do rebanho e do número de propriedades (SCHIAVI et al, 2006).

Neste processo de seleção e especialização de produtores por parte das indústrias, uma grande parcela de produtores - especificamente os que não utilizavam os procedimentos de produção desejados -, acabou sendo expulsa deste mercado.

A indústria de laticínios passou então, a conduzir uma série de transformações, como por exemplo, possibilitar a aquisição de tanques de resfriamento pelos produtores, por meio de sua intermediação financeira, e também induzir a adoção de tecnologia intensiva de pastagens e aprimoramentos na gestão das unidades produtivas, contribuindo para a competitividade do setor lácteo nacional (NOGUEIRA, 2007).

Neste movimento de reestruturação, é importante ressaltar a influência que este processo trouxe para a ocorrência de alguns acontecimentos posteriores vivenciados no setor; sobre este aspecto cabe fazer referência ao posicionamento do setor na balança comercial brasileira.

Durante muitos anos o setor de lácteos no Brasil sempre foi voltado essencialmente para atender o mercado interno, e mesmo assim, ainda não podia ser considerado auto-suficiente no abastecimento dos produtos, tendo que importar os produtos de outros países para complementar as necessidades de consumo interno. Por este motivo, o Brasil foi

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considerado um tradicional importador de lácteos, acarretando conseqüências negativas para o país, uma vez que só a participação no mercado externo por meio de importações, possibilitou à balança comercial brasileira de produtos lácteos apresentar grandes déficits.

A partir de 1998 o setor lácteo brasileiro iniciou sua participação no mercado externo por meio de exportações, entretanto por ser incipiente, esta participação não foi capaz de equilibrar o saldo da balança comercial brasileira de produtos lácteos, apresentando saldo negativo até o ano de 2003, quando o déficit brasileiro passou a ser menos expressivo

Após 1999, com a desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, somado ao pequeno crescimento da economia brasileira e a elevada carga tributária, com reflexos negativos sobre as margens da indústria, fez com que as empresas e cooperativas do setor despertassem interesse pela busca de oportunidades em novos mercados. Neste momento, as importações de produtos lácteos passaram a ser desestimuladas, ao passo que as exportações passaram a ser mais expressivas em todos os setores da economia (CARVALHO; CARNEIRO e STOCK, 2006). Assim, foi a partir do ano de 2000 que as exportações brasileiras de produtos lácteos começaram a se tornar mais significativas.

Com o estímulo propiciado pela economia brasileira, que apresentava uma conjuntura de preços internos mais baixos comparativamente aos praticados no mercado externo (acrescido do fato da moeda desvalorizada permitir maiores ganhos na troca com o câmbio), atrelado à possibilidade de atrair novos mercados e obter lucratividade, possibilitou que a produção brasileira de lácteos passasse por crescimentos a fim de atender este novo mercado.

A rápida expansão ocorrida na produção brasileira, que apresentou no ano de 2004 um crescimento de aproximadamente 5% em relação ao ano de 2003, conseguiu substituir as importações, e equilibrou a balança comercial de lácteos, introduzindo o país de forma mais significativa no mercado internacional nos anos seguintes.

Assim, em 2004 as exportações de produtos lácteos proporcionaram que a balança comercial brasileira desses produtos passasse de um déficit de US$ 359,8 milhões em 2000, para o primeiro superávit de US$ 11,4 milhões (NOGUEIRA, 2007).

Essa mudança ocorrida no saldo da balança comercial de produtos lácteos, fez com que o setor lácteo nacional tomasse novos rumos, possibilitando maior participação no mercado internacional por meio das exportações destes produtos, contribuindo com a geração de superávits na balança comercial do setor, além de proporcionar oportunidades de consolidação do setor lácteo brasileiro no mercado externo.

Deste modo, diante desta nova atuação do setor lácteo nacional - iniciada em 2004 e que se perdura até os dias atuais -, o objetivo principal deste artigo se concentra em analisar o processo de internacionalização do setor lácteo nacional, especificamente as exportações. Para tal, de modo específico pretende-se: analisar os fatores que induziram a uma maior dinâmica produtiva e comercial do setor voltado para as exportações; avaliar a evolução das exportações (se ocorreu tanto em aspectos quantitativos como qualitativos); averiguar se as estratégias de crescimento das empresas estão alinhadas, ou de alguma forma articuladas a uma maior inserção no mercado externo. A análise da evolução das exportações será realizada para o período de 2004 a 2008, em virtude do período em que o setor passa a se tornar mais expressivo nas exportações de produtos lácteos e, conseqüentemente, apresentar superávits comerciais.

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O artigo está estruturado em quatro seções. Na segunda seção, após essa introdução, são descritos os materiais e métodos empregados para a realização da pesquisa. Na terceira seção é realizada uma revisão bibliográfica acerca das teorias que discutem a internacionalização para o país e as estratégias utilizadas pelas empresas para se internacionalizarem. A quarta seção trabalha com os principais resultados e discussões do trabalho, especificamente, com os fatores relacionados à oferta e demanda (de modo mundial e nacional) que conduziram ao processo exportador; resultados da evolução da exportação recente, ou seja, de 2004 a 2008; também são discutidos nesta seção os principais investimentos produtivos das empresas, os quais possam estar articulados a uma maior inserção no mercado externo. A quinta e última seção apresenta algumas considerações finais pertinentes, com base nas análises realizadas. 2. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da pesquisa que originou este artigo utilizou-se primeiramente como metodologia de pesquisa uma revisão bibliográfica sobre as principais linhas teóricas que orientarão e fundamentarão o objetivo principal do artigo. Neste sentido, foi desenvolvido um referencial teórico sobre noções estratégicas e internacionalização, em que será abordada a importância da internacionalização para o país – repercutindo na entrada de divisas e as estratégias que podem ser utilizadas para as empresas se internacionalizarem.

Posteriormente, como forma de analisar os fatores que induziram a uma maior dinâmica produtiva e comercial do setor voltado para as exportações e avaliar a evolução das exportações (se ocorreu tanto em aspectos quantitativos como qualitativos), foi utilizado como metodologia de pesquisa os métodos quantitativos, a partir da coleta de dados secundários referente à oferta (produção e importação) e demanda (consumo e exportação) dos produtos lácteos. Visando dar suporte a estas informações, foram realizadas análises descritivas, com base em métodos qualitativos pesquisados.

O Método Quantitativo, de acordo com Richardson et al. (1999) apud Marconi e Lakatos (2004) é caracterizado pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informação, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas. Boudon (1989, p. 24) em seus estudos realizados sobre os métodos em sociologia ressalta que “[...] as Pesquisas Quantitativas podem ser definidas como as que permitem recolher, num conjunto de elementos, informações comparáveis entre um elemento e outro”.

A pesquisa contemplou uma análise de dados de 5 anos, compreendendo o período de 2004 a 2008, especificamente em virtude do período em que o setor passa a apresentar superávits comerciais

Como meio de averiguar se as estratégias de crescimento das empresas do setor lácteo estão alinhadas, ou de alguma forma articuladas a uma maior inserção no mercado externo, foi realizada a pesquisa bibliográfica e qualitativa, a fim de obter maiores informações sobre a dinâmica do setor e a importância da atuação das empresas processadoras de lácteos, em termos de seus investimentos produtivos e estratégias utilizadas para atuar no mercado externo.

As abordagens qualitativas são especialmente úteis para determinar as razões ou os porquês. Deste modo, a pesquisa qualitativa tem se mostrado uma alternativa bastante interessante, enquanto modalidade de pesquisa em uma investigação científica, pois além de contribuir com a realização do trabalho de pesquisa, é útil para firmar conceitos e

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objetivos a serem alcançados, e dar sugestões sobre variáveis a serem estudadas com maior profundidade (ACEVEDO e NOHARA, 2006).

Segundo Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Este tipo de pesquisa procura explicar um problema a partir de dados secundários existentes, o que permite conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado, sobre o assunto em estudo.

Para o levantamento e coleta de dados (quantitativos e qualitativos) foram utilizados como base de dados, os trabalhos acadêmicos já existentes (monografias, dissertações e teses); artigos de jornais; periódicos e informações de trabalhos realizados por instituições específicas do setor, como a Embrapa Gado de Leite, o Milkpoint, Sistema Alice Web, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), United States Department Of Agriculture (USDA) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Com a obtenção e a coleta de dados e informações secundárias, por meio das pesquisas (quantitativa e qualitativa) sobre o setor, e o levantamento bibliográfico, os mesmos foram compilados e posteriormente analisados, de modo que foi possível diagnosticar os principais fatores que induziram a uma maior dinâmica produtiva e comercial do setor, voltado para as exportações, tão bem como averiguar se as estratégias de crescimento das empresas estiveram/ estão alinhadas, ou de alguma forma articuladas, a uma maior inserção no mercado externo.

3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 A importância da internacionalização para o país

Com a abertura de mercados e o avanço da tecnologia nos principais países do mundo, durante a década de 1990, um novo cenário competitivo passou a ser determinante para as empresas. Os negócios tornaram-se globais, e as empresas, pressionadas pelo efeito da globalização e pelo aumento da competitividade internacional, necessitaram repensar suas direções estratégicas, a fim de manterem os mercados internos e expandirem os negócios no mercado internacional.

Essa competitividade tornou-se uma questão de sobrevivência para as companhias atuantes na década de 1990, pois sem ela seus mercados internos até então protegidos, podiam ser absorvidos por competidores internacionais. Contudo, tornando-se mais competitivas, estas empresas poderiam almejar competir em novos mercados no exterior, disseminando seus produtos, além de contribuir com o desenvolvimento econômico do país de origem (ALEM e CAVALCANTI, 2005 apud RICUPERO e BARRETO 2007).

Deste modo, observa-se que uma das alternativas encontradas pelas empresas - para o seu crescimento e desenvolvimento - é a Internacionalização. Segundo Cintra e Mourão (2005) apud Ricupero e Barreto (2007), a internacionalização pode ser compreendida como o processo de concepção do planejamento estratégico e sua respectiva implementação, para que uma empresa passe a operar (seja produzindo ou comercializando) em outros países diferentes daquele no qual está originalmente instalada.

Assim, pode-se observar a existência de alguns motivos que influenciam as empresas a se internacionalizar. De acordo com Cintra e Mourão (2005), estes motivos se concentram nos objetivos de ultrapassar barreiras tarifárias e/ou não-tarifárias; o próprio

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estímulo por parte do governo; a necessidade de desenvolver tecnologia; a cultura da empresa e a diplomacia econômica.

Em pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral em 1996, apontou-se como principal razão para uma empresa se internacionalizar, a necessidade de estar próximo ao cliente para ajustar a especificação do produto, melhorar a logística de fornecimento ou brindar serviços de assistência técnica. Outros fatores destacados relacionam-se a conquista de novos mercados; a obtenção de ganhos de escala; aumento de especialização; disponibilidade de fontes internacionais de financiamento; necessidade de ajuste às regulamentações do mercado local; acesso à rede de fornecedores; possibilidade de reagir ao comportamento da concorrência e o fortalecimento da base financeira, possibilitando novos investimentos e desenvolvimentos tecnológicos (RICUPERO e BARRETO 2007).

No caso específico de empresas brasileiras, os principais motivos observados para realizarem a internacionalização consistem no crescimento (busca de novos mercados); risco (redução do risco cambial e minimização da exposição provocada por dívidas); custo (aproveitamento de economias de escala de produtos e processos para a redução de custos); vantagens locacionais (acesso a insumos ou proximidade a mercados consumidores); barreiras de entrada (minimização de barreiras de acesso a mercados desejados ou já cativos); cadeia de suprimentos (manter-se na cadeia em que já se está inserido) (CYRINO e PENIDO 2007).

Os autores Cyrino e Penido (2007), a respeito da internacionalização de empresas brasileiras, acreditam que os efeitos são muito positivos, pois as empresas passam a competir em vários mercados, fortalecendo suas posições no mercado local, contribuindo na geração de mais empregos, em ganhos de competitividade e na obtenção e desenvolvimento de tecnologia.

À medida que mais empresas se internacionalizam, o processo evolui e traz benefícios ao país e aos brasileiros. Além da ampliação de mercado, as multinacionais brasileiras, por exemplo, trazem conhecimento, tecnologia e novos processos, contribuindo para um melhor posicionamento estratégico, melhorando os fornecedores com exigências de padrão global, transferindo estes conhecimentos para o mercado local, ou seja, para a sociedade brasileira (CYRINO e PENIDO 2007). 3.2 Estratégias utilizadas para a internacionalização Para participar em outros mercados e garantir a competitividade internacional, as empresas buscam a internacionalização, para tal é necessário que estas empresas se utilizem de estratégias específicas aos seus objetivos. Assim, dentre o conjunto de estratégias existentes, cabe à empresa selecionar a melhor estratégia para se internacionalizar.

Para Cintra e Mourão (2005) apud Ricupero e Barreto (2007), as opções de uma empresa interessada na internacionalização resumem-se em 3 estratégias, tais como a utilização de uma trading company; o estabelecimento de um escritório de vendas no exterior ou de concessionárias (ou subsidiárias); ou ainda a formação de uma joint venture.

Completando as formas de penetração em um mercado internacional, Kotabe e Helsen (2000) apud Machado e Liboni (2004) destacam ainda a exportação, o licenciamento, o franchising, o contrato de produção, aquisição e a implantação de subsidiárias.

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As exportações, por exemplo, se subdividem em 2 formas, podendo estas serem diretas ou indiretas. A forma direta de comercializar pode ser realizada por meio do contato direto do exportador com o importador, venda por intermédio de agente de exportação ou representante do importador, filial de vendas no exterior, vendas pelos correios ou por comércio eletrônico (PLANEJANDO..., 2009a).

Na exportação indireta, a empresa utiliza os serviços de outra empresa, ou seja, um intermediário estabelecido em seu próprio país, cuja função é encontrar compradores para os seus produtos em outros mercados. Esta modalidade requer a participação de uma empresa mercantil, que adquire mercadorias de indústrias ou produtores no mercado interno para posterior exportação (PLANEJANDO..., 2009b).

Esta forma de exportar pode ser realizada por meio de consórcios de exportação3, venda a empresas comerciais exportadoras e a trading companies4, venda no mercado interno para outras empresas que exportam por sua conta, ou por representantes de compradores externos localizados no mercado interno5 (PLANEJANDO..., 2009b).

Outra importante estratégia de internacionalização, o licenciamento, pode ser compreendida pelo processo na qual a empresa licenciadora oferece alguns ativos a uma empresa estrangeira licenciada, recebendo, em contrapartida, royalties pela sua utilização. Trata-se de uma das formas mais rentáveis de penetração em mercados estrangeiros, uma vez que não exige muitos recursos das empresas, além de permitir contornar as barreiras à importação (HITT; IRELAND e HOSKISSON, 2008).

Outra forma de penetração que se assemelha muito ao licenciamento é o franchising; este é caracterizado por um acordo comercial entre duas partes (franqueado e franqueador), em que o franqueador permite ao franqueado o direito de utilizar o negócio e a marca registrada do produto ou serviço em troca do pagamento de royalties (KOTABLE e HELSEN, 2000 apud MACHADO e LIBONI, 2004).

O contrato de produção é a forma de penetração em que a empresa negocia com um fabricante local a industrialização de partes de um produto inteiro, a fim de obter a redução de custos, por meio da utilização de processos de produção de mão-de-obra intensiva, viáveis em países com baixos padrões salariais (MACHADO e LIBONI, 2004).

De todas as estratégias já citadas, a constituição de uma joint venture, segundo Cintra e Mourão (2005) é a única estratégia que cria um envolvimento mais forte entre as empresas, estabelecendo um método de cooperação entre empresas independentes. Mais especificamente, esta estratégia consiste no compartilhamento de capital e outros recursos de uma empresa estrangeira com sócios locais, empresas e/ou autoridades, com a finalidade de estabelecer uma nova empresa no mercado-alvo, sem deixar de existir em seus mercados originais. Os principais benefícios observados nesta modalidade

3 União de micro, pequenas e médias empresas, regida por uma entidade estabelecida juridicamente, sem fins lucrativos, na qual as empresas exportadoras vão trabalhar em conjunto, com o objetivo de atingir um determinado mercado, promovendo a exportação. 4 Caracteriza-se na venda feita pelo produtor de sua mercadoria a empresas comerciais exportadoras, estas que se beneficiam devido à facilidade de acesso a mercados já estabelecidos, em vista de seu know how e de seus contratos. 5 Diz respeito a empresas que ainda não exportam diretamente seus produtos, mas que transferem a outras seus produtos, por meio da venda, a fim de serem exportados.

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concentram-se no potencial de retorno do capital investido e no maior controle sobre as operações (CASSAR, 2004).

Outra forma de acessar o mercado internacional é por meio de aquisições. Estas são responsáveis por proporcionar acesso rápido a um novo mercado e por proporcionar às empresas que a realizam, a expansão internacional mais rápida e maior em relação às outras estratégias (HITT; IRELAND e HOSKISSON, 2008).

Quando as empresas pretendem realizar sua internacionalização com controle total do negócio, outra estratégia importante deve ser enfatizada, a estratégia de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), caracterizada pelo estabelecimento de subsidiárias da matriz da empresa no mercado desejado, ou somente uma planta desenvolvida para executar processos de montagem de produtos, exportados do país de origem para o país de destino. Esta estratégia é definida como a de maior risco, porém a de maior potencial de lucros e menor distância em relação ao cliente final (CASSAR, 2004).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Fatores conducentes da dinâmica exportadora

Para a compreensão da dinâmica exportadora do setor lácteo, a análise será centrada em aspectos gerais de oferta e demanda, uma vez que objetiva-se avaliar de que forma os fatores produtivos e comerciais, seja do mercado interno ou externo, tem induzido o processo exportador.

Em âmbito mundial, a produção de leite tem sido crescente - com uma taxa de crescimento de 8,3% no período de 2004 a 2008 -, puxada principalmente pela produção de alguns principais países produtores, como é o caso da China e do Brasil, com um índice de crescimento na produção para o período, de 66% e 23%, respectivamente. O incremento na produção mundial também permitiu um maior consumo de produtos lácteos no mundo; não para o leite fluido somente (pelo contrário, este produto apresentou uma das menores taxas de crescimento, 4%), mas principalmente para subprodutos, como é o caso do queijo (crescimento de 9%) e a manteiga (19%) (USDA, 2008).

No que tange à participação do Brasil, pode-se afirmar que este também vem acompanhando essa dinâmica produtiva e comercial. A produção nacional alcançou crescimento significativo nas últimas décadas. Na última década (1999 a 2008), foi possível sair de uma produção de 19 bilhões de litros, para uma produção de 28,8 bilhões de litros, apresentando um índice de crescimento de aproximadamente 52%, ou seja, a maior taxa de crescimento, comparado às décadas anteriores (IBGE, 2007; USDA, 2008). Somente entre os anos de 2006 a 2008, essa taxa cresceu a uma média de 6% ao ano, com estimativas de 5% para o ano de 2009 (USDA, 2008). Ao mesmo tempo, em 2007 o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) do setor lácteo passou de R$ 6 bilhões, para R$ 16 bilhões, ou seja, um crescimento de mais de 160% (CNA, 2008).

As taxas de crescimento da produção (de em média 4% a.a., entre os anos de 1999 a 2008) foram muito expressivas, superando inclusive, a taxa de crescimento populacional do país, de aproximadamente 1,5% ao ano, totalizando 184 milhões de habitantes. A mesma relação também pode ser aplicada ao consumo per capita do leite; apesar de ter havido um crescimento significativo nesse índice, após a estabilização econômica e a implantação do plano real – no período de 1997 a 2006 -, o índice de consumo permaneceu

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em patamares ainda baixos, ou seja, inferior a 140 littros/habitante/ano6 (IBGE, 2007; ALVIM e MARTINS, 2006).

Por outro lado, segundo Nogueira et al (2006), a produção brasileira de leite encontra-se em fase de expressivo crescimento, superando em cerca de 60% a produção da Nova Zelândia (importante exportador de leite), além de ser 2,8 vezes maior que a produção da Argentina.

Dentre os fatores responsáveis pelo crescimento expressivo da produção brasileira de leite, estão aqueles de ordem técnico e econômico. Os fatores técnicos estão relacionados ao aumento da produtividade média, atrelada ao importante papel da pesquisa agrícola, advinda da área zootécnica e das inovações tecnológicas que melhoraram a eficiência do uso dos fatores de produção.

A ocorrência de alguns fatores de ordem econômica também exerceu significativa participação neste processo. A maior abertura comercial da economia brasileira, aliada à consolidação do Mercosul, contribuiu para o crescimento da demanda por produtos lácteos pelos consumidores brasileiros. A abertura permitiu ao consumidor o acesso a produtos antes considerados supérfluos ou com preços que impediam o acesso de grande maioria dos consumidores. No caso específico do MERCOSUL, com a taxa de câmbio favorecendo a Argentina, aumentou ainda mais o peso das importações de produtos lácteos básicos, como manteiga, queijos tradicionais e leite em pó (WILKINSON, 1995).

Essa maior oportunidade também está fortemente ligada ao crescimento real da renda do consumidor, em decorrência dos ganhos obtidos com o Plano Real. O fim do tabelamento dos preços, e a queda da inflação, se constituíram em fatores muito importantes para a mudança da regulamentação do setor lácteo no Brasil e, conseqüentemente, provocaram a reestruturação agroindustrial.

Neste período, a abertura dos mercados e o consumo mais significativo de lácteos exigiram das indústrias maior competitividade em custos e novas capacidades gerenciais e mercadológicas, obtidas por meio de novos fornecedores de matéria-prima, novos produtos, novos canais de escoamento da produção (WILKINSON, 1995).

Desta forma, pode-se afirmar que o Brasil vem acompanhando a tendência mundial de crescimento de consumo, o que pode ser comprovado pela força do setor lácteo, na participação do volume de bebidas consumidas. Em 2004, o leite foi o segundo produto mais consumido no Brasil, no segmento de bebidas, representando 24% de participação desse mercado; também apresentou um consumo per capita (de leite e derivados) de 130,9 litros/habitante/ano, um dos maiores e mais expressivos desde 1990 (CASTRO et al, 2006). No período de 2004 a 2008, o consumo de outros produtos também se elevou como é o caso do queijo, que alcançou um índice de crescimento de 34%; o de manteiga, 8%; leite em pó desnatado, 23% e leite em pó integral, 19% (USDA, 2008).

Entretanto, é importante destacar que mesmo que o consumo de leite no Brasil venha se elevando - uma vez que esse consumo também está relacionado a um hábito cultural, já que 90% dos domicílios consomem leite no café da manhã -, o consumo per capita ainda está muito distante dos 175 litros/habitante/ano, recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A média de consumo do Brasil também é baixa

6 No Brasil, o consumo per capita de leite e derivados é de em média 135 litros/habitante/ano, sendo este índice de consumo 49% menor que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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quando comparada com a média de consumo dos países vizinhos, como a da Argentina (220 litros/habitante/ano) e do Uruguai (215litros/habitante/ano) (CASTRO et al, 2006).

As idéias até aqui apresentadas, em termos de produção e consumo do setor levam à reflexão de uma situação de desequilíbrio no país, na relação entre a oferta e o consumo interno de leite (mesmo tendo-se observado, na última década, aumentos na renda e mudanças no comportamento de compra do consumidor, optando também por produtos de maior valor agregado). Assim, uma das alternativas encontradas pelo setor para se evitar uma ‘crise’ estrutural (promovida pelo excesso de oferta) foi encaminhar o excedente de produção para o mercado externo, aumentando a participação do Brasil no mercado internacional de lácteos, por meio das exportações desses produtos.

Sobre este aspecto, é interessante comentar que, durante muitos anos a balança comercial do setor foi deficitária, em virtude do Brasil ser considerado um tradicional importador de lácteos, uma vez que o mesmo não era auto-suficiente na produção de leite, tendo que importar os produtos de outros países para complementar as necessidades de consumo interno do país.

Esta situação começou a ser modificada a partir de 2004, quando as importações de produtos lácteos passaram então a ser substituídas pelas exportações, as quais se tornaram crescentes. Assim, a balança comercial brasileira de produtos lácteos modificou-se completamente, passando de um déficit de US$ 359,8 milhões em 2000, para o primeiro superávit de US$ 11,4 milhões em 2004 (NOGUEIRA, 2007).

Em 2008, as importações totalizaram 78,3 mil toneladas a US$ 213,1 milhões, ao passo que as exportações totalizaram 148,6 mil toneladas e US$ 540,8 milhões, o que proporcionou a geração de um recorde no saldo da balança comercial de produtos lácteos, com um saldo positivo de US$ 327,7 milhões (MORUZZI, 2009).

Essa mudança no saldo da balança comercial de produtos lácteos foi proporcionada por fatores produtivos, econômicos e comerciais, os quais contribuíram decisivamente para este avanço. Dentre estes fatores, além da própria expansão ocorrida na produção nacional do leite, que possibilitou que o produto passasse a ser exportado de forma mais significativa, destaca-se a alta dos preços no mercado internacional, que fez com que os produtos lácteos brasileiros se tornassem mais competitivos. Em meados de 2007, o preço do leite em pó desnatado (principal commodity láctea transacionada mundialmente) alcançou o valor de US$5 mil/ tonelada métrica; o pico mais alto desde a década de 1970 (USDA, 2008). O maior consumo da China, principalmente, pressionou aumentos de preços em anos mais recentes, uma vez que o consumo de leite por parte dos chineses aumentou 3,5 vezes entre 2001 e 2007 (NASSAR, 2007).

Também merece destaque a exigência do Brasil, amparado pela Câmara do Comércio Exterior (Camex) na aplicação de direitos antidumping7 sobre as importações desleais de leite em pó provenientes da União Européia e da Nova Zelândia, além da fixação de preço mínimo para o leite em pó oriundo da Argentina e do Uruguai. A adoção de medidas antidumping pelo Brasil, não se tratam apenas de uma ação protecionista à produção nacional, mas sim, visam neutralizar a deslealdade de comércio como um todo, colocando o produtor brasileiro em igualdade de condições de competição em relação os 7 Dumping é uma prática comercial de caráter desleal, que consiste em uma ou mais empresas de um país venderem seus produtos por preços bem inferiores aos respectivos preços de produção, em outro país. Assim, o direito antidumping é aplicado às importações e acrescentado ao imposto de importação existente, para neutralizar o efeito do prejuízo ou ameaça de prejuízo causado pela aplicação de práticas de dumping.

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terceiros mercados. Essas medidas são necessárias, uma vez que a competição injusta em mercados domésticos impede o crescimento da produção, bem como a possibilidade do Brasil e de outros países se tornarem exportadores (VILELA, 2004).

Em termos comerciais, é de grande relevância destacar a atuação da Serlac Trading SA8, que trouxe grande contribuição para o desenvolvimento do setor lácteo brasileiro no mercado internacional. No ano de 2004, as exportações da trading foram de US$ 23 milhões, respondendo por quase metade do total de vendas externas do setor (VILELA, 2004).

Em 2002, no primeiro ano de operação da trading, os mercados prioritários de atuação foram os países do Norte da África (Árgélia, Tunísia e Egito) e da América Latina (México, Venezuela e Peru); a receita gerada durante o ano totalizou 2 milhões de reais. Já em 2005, a empresa passou a exportar para 60 países, quase todos em desenvolvimento, entre eles, Nigéria, Angola, Argélia, Cuba, Iraque e Venezuela, exportando o equivalente a 42 milhões de dólares (PADUAN, 2006).

Em 2008, as exportações da trading totalizaram US$ 112 milhões, sendo considerada a maior empresa exportadora brasileira do setor lácteo. Para 2009, a trading pretende aumentar ainda mais suas exportações, logo que no início do ano fechou contrato com cerca de 20 novos clientes nos países do Oriente Médio e Norte da África, contribuindo assim, para a disseminação dos produtos lácteos brasileiros em novos mercados (PAGEL, 2009).

Assim, diante da nova situação vivenciada pelo setor (aumento das exportações e diminuição das importações), culminando, conseqüentemente, em um novo posicionamento assumido pelo país, é de grande relevância analisar a evolução das exportações brasileiras de lácteos, desde 2004 até 2008, tanto em termos quantitativos (volumes e valores exportáveis) como qualitativos (tipos de produtos exportados e países destinos). 4.1.1. Análise da evolução das exportações

O Brasil participa no comércio mundial (exportações e importações) de produtos lácteos com um amplo portfólio de produtos; são 25 classificações de produtos, de acordo com os dados do Sistema Alice Web. No período analisado, de 2004 a 2008 foram exportados um total de 462.759.211 kg de produtos lácteos brasileiros, dos quais geraram uma receita de mais de US$ 1.120.736.450 (Free on Board – FOB).

Se levado em comparação as exportações dos produtos lácteos ocorridas no ano de 2004 em relação às exportações ocorridas no ano de 2008, pode-se observar uma evolução muito expressiva de 416,6% em valor e 97,5% em volume exportado, ao passo que as importações apesar de apresentarem evolução no mesmo período analisado 179,5% em valor e 44,5% em volume, foram baixas em relação aos índices das exportações, o que corrobora a diminuição das importações brasileiras de lácteos e o crescimento da participação dos produtos lácteos brasileiros no mercado externo.

8 A Serlac Trading SA é uma trading setorial especializada em produtos lácteos, que foi criada no ano de 2002, por meio de uma associação entre a empresa de comércio exterior Sertrading e cinco das maiores empresas do setor lácteo brasileiro. Os produtos por ela exportados são: o leite condensado, o leite em pó integral, o leite longa vida e o leite evaporado.

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De todos os produtos exportados, somente 10 se destacaram em volume e em valor exportado, sendo eles, respectivamente: o leite em pó, o leite condensado, o leite modificado, outros cremes de leite, o leite em pó parcialmente desnatado, outros leites em pó, o iogurte, o leite em pó sem adição de açúcar, o leite em pó com teor de arsênio e leite integral. Juntos estes produtos foram responsáveis por 98,7% do volume total exportado e por 99,3% do valor gerado no acumulado dos 5 anos em análise.

Se levado em consideração apenas os dois principais produtos exportados no período (leite em pó e leite condensado), os mesmos já apresentam quase que a totalidade, entre todos os outros produtos exportados, representando 76% do volume e 78% do valor.

Somente em 2008, as exportações dos produtos lácteos (dos 25 produtos listados) totalizaram 137.795.211 kg e US$ 498.270.278, o que significou um aumento de 43,5% em volume e 80,9% em valor, frente ao total exportado em 2007. O leite em pó manteve-se como o principal produto exportado em volume, com 81.630.834 kg (59,2% do total), e em valor representou 74,5% do total exportado, com US$ 371.402.197, sendo a Venezuela responsável pela compra de 72,3% do produto, no valor total de US$ 280 milhões. Acrescentando-se as exportações de leite condensado e leite modificado, este valor passa a ser ainda mais expressivo, totalizando um volume de mais de 90% e um valor de aproximadamente 95%.

Estes dados levam a concluir que, as exportações brasileiras de produtos lácteos é bastante heterogênea - uma vez que se observa na pauta exportadora de lácteos, produtos de menor e maior valor agregado -, porém, extremamente concentrada em dois principais produtos: leite em pó e leite condensado.

Com o intuito de facilitar o entendimento da análise e demonstrar os principais países destinos dos 10 principais produtos exportados e a representatividade que estes países possuem em relação ao valor e ao volume exportado de cada produto, foi elaborado um quadro resumo.

Quadro 1: Principais produtos lácteos exportados (em volume e em valor) e seus respectivos países

destinos para o período de janeiro de 2004 a dezembro de 2008.

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Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do sistema AliceWeb (2009).

Como se pode observar, as exportações brasileiras de produtos lácteos são mais

expressivas (tanto em termos de volume como em valor) para os países da África, seguida dos países da América do Sul e também para alguns países da Ásia, Estados Unidos e Europa. Na realidade, são 124 os países destinos das exportações brasileiras, havendo, entretanto, uma concentração em relação ao número de países consumidores.

Dentre os países da África, merece destaque a Argélia, que conforme pode ser observado no quadro 1, foi um dos mais importantes países de destino de 5 dos principais produtos lácteos exportados pelo Brasil (leite condensado, leite em pó parcialmente desnatado, outros leites em pó, leite em pó com teor de arsênio e leite integral).

Na América do Sul, os países Chile, Uruguai, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina são importantes compradores dos produtos lácteos brasileiros, entretanto, a Venezuela apresenta maior destaque neste processo, logo que se constitui no principal destino de diversos produtos lácteos brasileiros, como o leite em pó, leite modificado, leite integral, creme de leite, iogurte entre outros produtos.

Em relação à participação de países da Ásia e da Europa no processo de importação de produtos lácteos brasileiros, pode-se dizer que a mesma ainda é pequena. No período analisado, a participação dos países europeus nas importações é atrelada à Espanha e Portugal, que importaram do Brasil, respectivamente 48 kg e 5.102 kg de leite em pó; à Itália, que importou 134 kg de creme de leite; Portugal, que importou 1.369 kg de iogurte, e à Alemanha, que participou das exportações brasileiras adquirindo 3 kg de leite modificado. Apesar de o mercado europeu ter uma baixa representatividade nas exportações do Brasil, há potencial de expansão das vendas para esse mercado. A produção de leite na União Européia aumentou em menos de 1% no período de 2004 a 2008, com tendência de crescimento ínfimo também para o ano de 2009, e em termos de consumo, apesar de a demanda por leite fluido ter se reduzido, o consumo por derivados lácteos é crescente no bloco, como para queijos, manteiga e leite em pó integral.

Produto Principais países de destino

Representatividade dos principais países

compradores, na categoria de exportação por produto

Volume Valor Leite em pó Venezuela, Angola, Trinidad e Tobago e EUA 65% 65%

Leite condensado Argélia, Cuba, Senegal, Iraque, Israel e

Mauritânia 52% 52%

Leite modificado África do Sul, Equador, Colômbia, Argentina e

Venezuela 73% 63%

Outros cremes de leite Filipinas, Venezuela e EUA 83% 83% Leite em pó parcialmente

desnatado Chile, Argélia, Cuba e África do Sul 62% 59%

Outros leite em pó Venezuela, Argélia e Coréia 68% 60%

Iogurte Argentina, Venezuela e Uruguai 87% 84% Leite em pó sem adição de

açúcar Haiti, Cuba e Nigéria 63% 65%

Leite em pó com teor de arsênio Argélia e Coréia 57% 54%

Leite integral Venezuela, Argélia e Angola 84% 82%

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Na Ásia, há de considerar que em países como a China e a Índia, o consumo vem crescendo em patamares acima da taxa de crescimento da produção.9 Acrescido do fato de serem países com pouca disponibilidade de terra para produções agropecuárias, o Brasil se torna também potencial exportador a essas regiões. E nesse quesito, limitações de espaço físico para produção, os maiores exportadores do setor – Nova Zelêndia, União Européia, Austrália e Estados Unidos – também enfrentarão restrições para ampliação de produção, além do fato de trabalharem com custos de produção mais altos e estarem no limite de produtividade.

Nas importações efetuadas pelos países da América do Norte, o Canadá e o México participaram adquirindo respectivamente 19.483kg de leite em pó sem adição de açúcar e 14.810kg de leite modificado no período de 2004 a 2008. Além da participação destes países, é de grande importância destacar a atuação dos EUA, que dentre os 10 principais produtos lácteos exportados pelo Brasil, teve participação em todos, sendo esta mais significativa para o leite em pó, em que o país contribuiu com aproximadamente 10% do volume e do valor total exportado do produto no mesmo período analisado.

Por meio destes dados pode-se concluir que o Brasil apresentou evoluções crescentes não só nas exportações de produtos lácteos, mas também na ampliação de países destinos das exportações desses produtos. Essa evolução deveu-se à capacidade produtiva do país (geradora de grandes excedentes exportáveis); à competitividade dos preços dos produtos, esforços despendidos para a melhoria da qualidade dos produtos, e profissionalismo na gestão dos negócios.

Na próxima seção serão avaliados os investimentos produtivos realizados pelas empresas do setor lácteo, como forma de identificar se esses investimentos estão alinhados (ou não) com o potencial de crescimento das exportações, ou até mesmo para consolidar a internacionalização por meio de abertura/ ou aquisições de unidades produtivas em outros países.

4.2 Investimentos produtivos das empresas do setor lácteo

O Brasil possui aproximadamente 1.973 estabelecimentos de captação de leite, concentrados principalmente em três estados: Minas Gerais, com representatividade de 34,4%, São Paulo 13% e Goiás 10,4% (CONEJERO; CÔNSOLI e NEVES 2006). Além da importância desta indústria no que diz respeito à dinamização tecnológica/ gerencial para outras atividades da cadeia produtiva (como discutido anteriormente), vale destacar sua relevância no âmbito econômico nacional, comparativamente a outros setores produtivos.

Entre os anos de 2004 a 2008, essa indústria ocupou entre a 3ª e 4ª posição no ranking de faturamento dos principais setores alimentícios do país, ficando atrás somente da indústria de derivados de carne; beneficiamento de café, chás e cereais, e óleos e gorduras (ABIA, 2006). Na geração de emprego, também merece atenção por ocupar a 12º posição, ficando à frente de setores de destaque, como o da construção civil, têxtil, siderurgia, entre outros (MARTINS, 2006).

9 No período de 2004 a 2008, somente o consumo de leite fluido na Índia sofreu um aumento de 23%, para um incremento na produção de 17%. Acrescido de outros produtos derivados, o consumo dos indianos nesse setor irá demandar importações cada vez maiores.

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Por ser uma indústria que participa de um setor extremamente importante para o desenvolvimento da população – o de alimentos, cujo comportamento de vendas, principalmente para o mercado interno, tende a ser assimétrico em momentos de crise, comparado com outros setores – as empresas de leite e derivados possuem potencial para a realização de investimentos produtivos que atendam a essa demanda. E para aquelas que já são empresas exportadoras, muitos dos investimentos produtivos passam a ser pensados priorizando-se também a ampliação de participação no mercado externo. Dessa forma, observa-se que as estratégias de crescimento das empresas estão sendo direcionadas principalmente para ações de fusões e aquisições, e ampliação própria de suas capacidades produtivas; todas essas estratégias também voltadas para o maior alcance de economia de escala. A economia de escala, fortemente utilizada em laticínios que produzem leite fluído longa vida, é caracterizada como uma estratégia muito importante por possibilitar aumento de lucro através da queda do custo unitário do produto, em conseqüência do aumento do volume de produção em um dado intervalo de tempo (SANDRONI 1989 apud SCALCO 1998).

As fusões e aquisições constituem formas importantes de as empresas se tornarem mais competitivas, ampliando inclusive suas vantagens competitivas para atuação no mercado internacional. Isto porque fusões e aquisições aumentam o porte das empresas, proporcionando maior economia em escala e redução de custos fixos; melhora as condições para captação de recursos externos e permite o estabelecimento de maior rede de agentes, também no exterior, o que facilita as exportações e importações (MAIA, 2007).

Um exemplo recente de fusão ocorrido no setor lácteo envolveu a Laticínios Bom Gosto, com sede em Tapejara (RS) e a Líder Alimentos localizada em Lobato (PR). O negócio foi efetivado por intermédio de uma troca de ações entre os controladores das duas empresas, que juntas somam uma capacidade para processar 3,5 milhões de litros de leite por dia em 17 plantas industriais localizadas no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas gerais e Mato Grosso do Sul. A fusão foi efetuada com o objetivo de garantir ganhos de escala e de margens, além de fortalecer as duas empresas (BUENO, 2008).10 Além dessa estratégia, a Laticínios Bom Gosto anunciou no ano de 2008, uma importante estratégia de internacionalização para o setor de lácteos nacional: a construção de uma fábrica de laticínios no Uruguai, com previsão para operação no segundo semestre do ano de 2009. Esta seria a primeira empresa brasileira de laticínios com fábrica fora do país. O objetivo da criação desta fábrica consiste em ampliar as exportações de produtos lácteos (CANÇADO, 2008). Esse movimento de aquisição em outros países também pode ser visto como uma forma de redução das restrições de acesso a mercados externos. Essa estratégia já vem sendo utilizada no setor de frigoríficos - com a compra de empresas norte-americanas por companhias nacionais -, uma vez que os Estados Unidos mantém barreiras sanitárias quanto à importação de carne do Brasil. No caso do leite, o produto advindo do Uruguai é reconhecido como de maior qualidade no exterior, possibilitando ao Brasil a ampliação de suas vendas a partir daquele país. A conseqüência desse processo a longo prazo seria de que à medida que os importadores mundiais reconhecerem sua confiança à qualidade dos 10 Para a promoção da consolidação e fortalecimento da empresa no mercado de leite e derivados, através da fusão com a Líder Alimentos, a Laticínios Bom Gosto contratou um financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no término de 2008, no valor de aproximadamente R$ 200 milhões.

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produtos advindos de empresas de origem brasileiras, o fluxo comercial a partir do Brasil tenderá a aumentar.

Também nos últimos anos ocorreu uma operação estratégica no plano internacional - implantação de joint venture entre a multinacional Suíça Nestlé com a cooperativa neozelandesa New Zealand’s Fonterra Cooperative Group – que trará conseqüências ao setor lácteo nacional. A joint venture foi firmada em 2002, constituindo-se a companhia Dairy Partners América (DPA). A Fonterra é considerada uma das maiores cooperativas do mundo, possui os menores custos de produção e nesta associação transferiu parte de sua tecnologia para a Nestlé. Por outro lado, a Nestlé tem forte participação de mercado no Chile e na Venezuela, transferindo assim, esta atuação também para a Fonterra (PARCERIA..., 2002). Com a joint-venture a nova empresa, a DPA, passou a atuar no segmento de lácteos nas Américas, e inclusive no Brasil, é atualmente uma das empresas habilitadas a exportar, realizando as exportações.

Há alguns casos em que ao invés de realizar uma fusão ou acordo, a empresa opta pela aquisição de um concorrente. As aquisições se constituem atualmente em uma das principais estratégias adotadas pelas multinacionais e grandes empresas nacionais, que vem atuando na compra de laticínios em várias regiões do país.

Um exemplo de aquisição ocorrida recentemente foi a compra do Laticínio Só Nata, localizado em Votuporanga (SP) pela empresa Lácteos do Brasil, controlada pelo fundo Laep Investments. A empresa Só Nata é detentora da marca Lady, para o leite em caixinha (UHT), e detinha participação de mercado de 3,4% em volume e 2,9% em valor, no interior do Estado (excluindo alguns municípios da Grande São Paulo). O fundo Laep Investments que detém as marcas Glória, Alimba, Lacesa, Kidlat e a Parmalat Brasil, adquiriu o Laticínios Só Nata como parte de sua estratégia de consolidação do setor lácteo e da posição de liderança nacional no segmento de leite UHT (RIBEIRO, 2007).

Outro exemplo ocorreu com a Indústria de Alimentos Nilza, que adquiriu o laticínio Montelac, visando ganhar uma captação adicional de cerca de 400 mil litros de leite por dia, além do ganho de um novo produto em seu portfólio, o leite em pó vendido pela Montelac com a marca Milênio. Assim, a empresa torna-se mais atraente, com maior escala de produção, possibilitando ganho de competitividade (ROCHA, 2008a).

Outra tendência observada no setor é a participação cada vez maior de empresas que atuam em outros setores do agronegócio, como processadoras de carnes (frigoríficos), e que passam a atuar no mercado de lácteos também, com o objetivo de se diversificar e crescer, tornando-se menos vulneráveis e ampliando o mercado de atuação no setor alimentício.

Como exemplo dessas empresas, pode-se citar o Grupo Bertin e a Perdigão, que entraram no setor lácteo com a aquisição das empresas Vigor e Eleva (respectivamente), e a Friboi, que procura oportunidades para entrar no mercado de lácteos. Para a compra da Vigor, o Bertin desembolsou em torno de R$ 400 milhões e a Eleva foi adquirida por R$ 1,35 bilhão, permitindo que a Perdigão saísse da terceira posição e chegasse à liderança do mercado nacional de queijos e leites longa-vida (BRANDÃO, 2008). Essas estratégias diversificadoras dos frigoríficos também trazem oportunidades para o setor lácteo no que diz respeito à internacionalização. A médio e longo prazo, após a consolidação de suas experiências no mercado interno de lácteos, essas empresas (Bertin, Perdigão e outras) poderão realizar sinergias de seus canais de distribuição (já consolidados no mercado internacional), para crescer no mercado de lácteos também fora do Brasil. A mesma

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possibilidade pode se dar com a instalação ou aquisição de fábricas em outros países; estratégia essa já mais amadurecida por parte dessas empresas no setor de carnes.

Até meados de 2008, cerca de R$ 2,3 bilhões foram gastos no Brasil com aquisições de indústrias lácteas. No período, foram feitas cerca de sete compras, incluindo a das marcas Poços de Caldas e Paulista, pela Parmalat. O movimento acompanha a tendência positiva para o setor que, no ano de 2007, foi considerado o setor com maior rentabilidade na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) entre as empresas do agronegócio, e de maior lucro na atividade dentro da porteira (BALDI, 2008). Além dessas estratégias, algumas empresas também estão investindo na ampliação do seu negócio, com construção de novas unidades produtivas. Esse é o caso da Nestlé, que está construindo uma planta produtiva em Palmeira das Missões (RS) para processar 1 milhão de litros de leite por dia e abastecer outras unidades do grupo na América Latina (BRANDÃO, 2008).

Muitos desses investimentos trarão resultados a médio e longo prazo, como aponta Rocha (2008b). Segundo estimativas da Serlac Trading, até 2012 a capacidade de produção de leite em pó no país deverá crescer cerca de 40%, alcançando 700 mil toneladas/ ano. Atualmente, a capacidade instalada para fabricação de leite em pó é de aproximadamente 500 mil toneladas anuais, e o Brasil exporta somente 15% dessa totalidade (ROCHA, 2008b). A tendência é de que com o reaquecimento da demanda mundial de leite por parte de países emergentes (após momento de estabilização da crise financeira de 2009), o Brasil alcance não somente o seu limite de capacidade de produção para este produto, com a venda no mercado externo, como também amplie novos canais de venda, principalmente de produtos mais elaborados, para países da Ásia, Europa e América do Norte.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na última década, o setor de lácteos no Brasil vem apresentando forte expansão, tanto em termos de produção como em consumo. No que diz respeito à oferta, investimentos em tecnologias na área de produção e de processamento tem trazido melhores resultados na produtividade do país, culminando não somente em aumento de produção do leite, como também na fabricação de produtos mais diferenciados. No âmbito da demanda, o aumento da renda após a implantação do Plano Real e o fortalecimento da concorrência (com a entrada de produtos estrangeiros) tem levado os brasileiros a consumir/ experimentar mais leite e derivados. Essa dinâmica de expansão na produção e consumo no Brasil também acompanha o movimento do setor no âmbito mundial, ou seja, oferta e demanda crescentes. Estas são explicadas, no primeiro caso, principalmente, por maiores contribuições de produções da China e Brasil, e no segundo caso, de maior consumo de leite em países em fase de crescimento, como é o caso da China, Índia, Rússia e outros.

A contribuição do Brasil na dinâmica de crescimento do setor lácteo mundial não reside somente em acompanhar (internamente) a tendência de oferta e demanda desses produtos (em âmbito mundial), mas principalmente, em avançar na participação do fluxo do comércio mundial. Pode-se dizer que, nos últimos cinco anos, o setor lácteo veio contribuir ainda mais com o processo de internacionalização da indústria brasileira, não de maneira tão intensa, como no setor de carnes, por exemplo, onde a participação das

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empresas tem se refletido na compra de fábricas em outros países, mas sim, por meio das exportações.

O aumento das exportações nacionais, inicialmente apontado como uma oportunidade para se evitar uma crise estrutural no setor (por excesso de oferta do leite), somado ao incremento do consumo no mercado interno, trouxe mudanças significativas às empresas, principalmente no que diz respeito à adoção de estratégias de crescimento. A adoção destas estratégias – de fusões, aquisições, parcerias entre empresas, e até mesmo, ampliação de capacidades produtivas – dão ao Brasil, condições de fortalecimento em âmbito interno e externo. Assim, pode-se concluir que perante a onda de negócios entre empresas do setor lácteo e de outros setores alimentícios, além de novos investimentos, o setor lácteo tem condições de ser a próxima fronteira do agronegócio brasileiro a conquistar relevância global (a depender é claro, de avanços nas discussões acerca das restrições colocadas no mercado internacional). Isso possibilitará transformar o Brasil, no longo prazo, em um dos maiores países produtores e exportadores de leite e derivados do mundo. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACEVEDO, C. R.; NOHARA, J. J. Monografia no curso de administração. São Paulo: Ed. Atlas, 2006. p.48. ALVIM, R. S.; MARTINS, M. C. Oportunidades de um Brasil exportador. Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Brasília, 2006. Disponível em: < www.cna.org.br/site/down_anexo.php?q=E15_14585ArtigoOportunidadesdeumBrasilExportador.pdf >. Acesso em: 20 set. 2008. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTAÇÃO. Balanço Anual 2005 e Perspectivas para 2006. São Paulo, 2006. 17 p. Disponível em: < http://www.abia.org.br/anexos/BalancoAnual2005.pdf> . Acesso em: 28 jan. 2008. BALDI, N. Setor lácteo vive “boom” com as aquisições entre empresas. Ministério do Planejamento e Gestão. Clipping seleção de notícias. Brasília, 11 abr 2008. Disponível em:<http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2008/4/11/noticia.423342>. Acesso em: 5 fev 2009. BOUDON, Raymond. Os Métodos em Sociologia. Tradução: Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: Ed. Ática, 1989. p.24. BRANDÃO, V. Só falta o leite. Exame. Agronegócio. São Paulo, 7 mai 2008. BUENO, S. Laticínios Bom Gosto e Líder anunciam fusão. Valor Econômico. Agronegócios. São Paulo, 18 nov 2008. CANÇADO, P. Bom Gosto é nova bilionária do leite. O Estado de São Paulo. Economia. São Paulo, 13 abr 2008. CARVALHO, G. R.; CARNEIRO, A. V.; STOCK, L. A. O Brasil no cenário mundial de lácteos. In: Comunicado Técnico 51 EMBRAPA. 1ª ed. Juiz de Fora, out 2006. Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/publicacoes/comunicado/COT51.pdf>. Acesso em: 10 mar 2009. CASSAR, M. Marketing Internacional. In: DIAS, R.; RODRIGUES, W. (org). Comércio Exterior: teoria e gestão. São Paulo: Atlas, 2004. CASTRO, L. T.; et al. Comportamento do consumidor de leite e iogurte. In: CÔNSOLI, M. A.; NEVES; M. F. (coord). Estratégias para o leite no Brasil.1º ed. São Paulo: Atlas, 2006. p.230-247. CINTRA, R.; MOURÃO, B. Perspectivas e estratégias na internacionalização de empresas brasileiras. Focus RI Assessoria e Consultoria em Relações Internacionais. São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.focusri.com.br/artig7.htm>. Acesso em: 20 jan. 2009.

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