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INTERFACE MÓVEL PARA AMBIENTE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MÉDICA LOPES, Lucas Ribeiro Silva [email protected] MANICA, Heloise (Orientadora) [email protected] Departamento de Informática UEM Resumo. O presente trabalho apresenta um estudo sobre interfaces para aplicações em dispositivos móveis em ambiente de emergência médica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cuja contribuição foi a identificação e definição de melhores práticas para o desenvolvimento de interfaces para aplicações que serão utilizadas num ambiente de emergência por meio de dispositivos portáteis. Neste contexto, para que aplicativos sejam eficientes e auxiliem os profissionais que atuam em situações críticas e de tempo reduzido, as interfaces devem ser cuidadosamente elaboradas, caso contrário, os aplicativos poderão ser rejeitados. Palavras-chave: IHC para Aplicações Móveis, Atendimento Pré-Hospitalar, Informática em Saúde. 1. Introdução As unidades de emergência médica têm papel decisivo na recuperação de pacientes gravemente enfermos. Com o crescimento da demanda pelo serviço, surge a necessidade de estudos que gerem soluções tecnológicas adequadas para apoiar as tarefas de profissionais que atuam nesta área. Diferente das consultas médicas ambulatoriais agendadas em ambientes com estrutura e equipamentos adequados, os atendimentos e procedimentos de urgência e emergência (UE) ocorrem com frequência em locais inapropriados e superlotados com pacientes gravemente enfermos. Neste cenário se o acesso aos documentos para apoiar o atendimento não for fácil e eficiente, este não será realizado. Se profissionais em saúde tiverem dificuldades em realizar uma busca por um documento para sanar uma dúvida, o sistema será rejeitado, apesar da sua funcionalidade. Assim, o uso de dispositivos móveis surge como uma alternativa para apoiar a tomada de decisão durante as atividades de profissionais em qualquer hora e lugar. Porém, seu uso impõe restrições, tais como fonte de energia finita, tamanho da tela e capacidade de processamento reduzidos, fragilidade e baixa área de cobertura apresentadas pela conectividade sem fio.

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INTERFACE MÓVEL PARA AMBIENTE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA MÉDICA

LOPES, Lucas Ribeiro Silva

[email protected]

MANICA, Heloise (Orientadora)

[email protected]

Departamento de Informática – UEM

Resumo. O presente trabalho apresenta um estudo sobre interfaces para aplicações em dispositivos

móveis em ambiente de emergência médica. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cuja contribuição foi a identificação e definição de melhores práticas para o desenvolvimento de interfaces para

aplicações que serão utilizadas num ambiente de emergência por meio de dispositivos portáteis. Neste

contexto, para que aplicativos sejam eficientes e auxiliem os profissionais que atuam em situações

críticas e de tempo reduzido, as interfaces devem ser cuidadosamente elaboradas, caso contrário, os aplicativos poderão ser rejeitados.

Palavras-chave: IHC para Aplicações Móveis, Atendimento Pré-Hospitalar, Informática em Saúde.

1. Introdução

As unidades de emergência médica têm papel decisivo na recuperação de pacientes

gravemente enfermos. Com o crescimento da demanda pelo serviço, surge a necessidade de

estudos que gerem soluções tecnológicas adequadas para apoiar as tarefas de profissionais que

atuam nesta área. Diferente das consultas médicas ambulatoriais agendadas em ambientes com

estrutura e equipamentos adequados, os atendimentos e procedimentos de urgência e

emergência (UE) ocorrem com frequência em locais inapropriados e superlotados com

pacientes gravemente enfermos.

Neste cenário se o acesso aos documentos para apoiar o atendimento não for fácil e

eficiente, este não será realizado. Se profissionais em saúde tiverem dificuldades em realizar

uma busca por um documento para sanar uma dúvida, o sistema será rejeitado, apesar da sua

funcionalidade.

Assim, o uso de dispositivos móveis surge como uma alternativa para apoiar a tomada

de decisão durante as atividades de profissionais em qualquer hora e lugar. Porém, seu uso

impõe restrições, tais como fonte de energia finita, tamanho da tela e capacidade de

processamento reduzidos, fragilidade e baixa área de cobertura apresentadas pela

conectividade sem fio.

Dessa forma, é necessário minimizar as chances de problemas provenientes dessas

restrições acontecerem e além de um sistema que atenda as necessidades é preciso uma

atenção especial no desenvolvimento da interface do mesmo. Não é suficiente ter um sistema

de apoio se o mesmo não possuir uma boa interface, que colete informações específicas ao

contexto da aplicação e proporcione ao usuário informação relevante em tempo hábil e de fácil

acesso. Uma interface ambígua e mal organizada não é capaz de sanar a dúvida, gera

desconforto ao usuário e não traz informações eficientes em tempo hábil, acarretando na

inutilização do sistema e possível atendimento inadequado ao paciente.

Para atingir o objetivo de construir uma interface que atenda às demandas citadas, é

necessária a utilização dos conhecimentos de Interface Humano Computador (IHC) e seguir

padrões já validados. Esses conhecimentos apontam boas práticas para desenvolvimento de

interface, entre eles métodos para alcançar bom índice em usabilidade e ergonomia,

considerando as características específicas ao domínio do problema.

O presente trabalho teve como objetivo estudar e identificar, entre os principais

padrões de desenvolvimento de interface propostos na literatura, aqueles que são mais

adequados para aplicações que serão utilizadas no ambiente de emergência médica. A

principal contribuição é uma compilação das principais características que uma interface para

o desenvolvimento de aplicativos nesta área deve apresentar.

Este artigo está organizado como segue. Na seção 2 é introduzida a área de IHC, com

foco em dispositivos móveis. A seção 3 aborda brevemente tecnologias e aplicações em

ambiente de urgência e emergência. Nesta seção apresentam-se exemplos do uso de

tecnologias na área da saúde e suas principais características. Em seguida, na seção 4,

apresentam-se sugestões de melhores práticas para o desenvolvimento de interfaces no

contexto desta pesquisa, organizadas por tipos de padrões de design que especificam boas

práticas para o desenvolvimento de interfaces móveis.

Por fim, a seção 5 conclui este artigo, ressaltando a importância de uma experiência

positiva, que encoraje novas explorações pelo sistema e que possibilite um profissional da

saúde utilizar o aplicativo como uma ferramenta que apoie seu trabalho.

2. Interface Humano Computador (IHC) para Dispositivos Móveis

Ao passo que a tecnologia torna-se uma área de estudo transversal às outras, cresce a

importância da avaliação de interfaces homem-computador para verificação da qualidade,

eficiência e efetividade dessas interfaces (CHAN, 1996).

Com essa expansão a avaliação de interfaces passou a ser feita informalmente e sem o

conhecimento necessário até por usuários leigos e que, em caso de resultado negativo, levam o

sistema ao desuso.

Utilizar as técnicas de avaliação de interface como aplicação de questionários,

formulários e métodos heurísticos e empíricos busca verificar o que é uma interface de

qualidade e de fácil adaptação para o usuário através da constatação da ausência ou presença

de problemas. Outra técnica de IHC bastante útil é o auxílio de um especialista para avaliar se

a interface atende ou não os requisitos e o quanto difícil será o aprendizado da ferramenta por

usuários, no caso desse trabalho, por profissionais do ambiente médico.

Entre os pontos de atenção para o desenvolvimento de interfaces para aplicativos

móveis estão (GOMO, 2013):

Seja Rápido

o Desenvolva um sistema que carregue rápido e tenha textos fáceis de ler.

o Priorize conteúdo e recursos que os usuários de dispositivos móveis mais

precisam. Use as ferramentas de análise para pesquisar quais são os recursos

mais acessados.

o Reduza grandes blocos de texto e use itens com marcadores para facilitar a

leitura.

Facilite o Preenchimento de Dados

o O usuário deve ser capaz de atingir seus objetivos utilizando um teclado virtual

e sem mouse.

o Reduza o número de etapas necessárias para concluir uma operação.

o Mantenha os formulários curtos, se um campo não for essencial para a

operação, não o exiba.

Simplifique a Navegação

o Minimize a rolagem e mantenha um visual somente vertical. Use uma

hierarquia clara em menus e evite sobreposições.

o Ajude os usuários a navegarem sempre destacando os botões “voltar” e

“início”.

o Deixe sempre uma caixa de pesquisa em destaque para páginas complexas.

o Permita que os usuários salvem pesquisas comuns.

o Mantenha os principais recursos acessíveis o máximo possível.

Lembre-se dos Polegares

o Use botões grandes e centralizados e proporcione espaço extra para evitar

cliques acidentais.

Ofereça Visibilidade

o Crie contraste entre o pano de fundo e o texto.

o Verifique se o conteúdo cabe na tela e pode ser lido sem aumentar o zoom.

o Use tamanhos e cores para indicar a prioridade de links/botões.

Ainda sobre otimização para o desenvolvimento de interfaces de dispositivos móveis,

são boas práticas, segundo DUARTE (2009):

o Utilizar telas ocultas dispostas como slides, com botões laterais e superior para

"trazê-las para frente" funcionam bem nestes dispositivos, pois aumentam a área de

trabalho do usuário.

o Prover resumos do conteúdo antes da visualização de versões integrais, para que o

usuário veja se este realmente o interessa, antes de selecioná-lo.

No fim do ciclo de desenvolvimento de um sistema móvel, é necessário testar a

aplicação e a usabilidade de sua interface para o máximo de situações possíveis e incluir o

maior número possível de usuários. Esses testes podem ser feitos em aparelhos ou em

emuladores como dotMobi (http://dotmobi.com) ou mobiForge (http://mobiforge.com).

3. Tecnologia em Ambiente de Urgência e Emergência

Os smartphones, notebooks e tablets são dispositivos portáteis com processador, tela,

memória e poder de conectividade. A crescente popularização desses aparelhos, aliado à

redução dos custos de fabricação e venda dos mesmos e à evolução das redes de comunicação,

faz com que a cada dia surjam novas aplicações nas diversas áreas do conhecimento, onde está

incluída a área da saúde (MANICA, 2009 apud BAUMGART; LU, 2005).

Segundo MANICA (2009 apud GARRITY; ENAM, 2006), ficou evidente uma

tendência de crescimento global do uso de dispositivos portáteis pelos profissionais em saúde.

Este uso é acentuado principalmente entre os profissionais mais jovens e aqueles que

trabalham em grandes hospitais de países desenvolvidos. Estima-se que médicos e enfermeiros

chegam a ocupar metade das suas jornadas de trabalho, consultando, recuperando e

armazenando informações. Desta forma, dada à natureza móvel das atividades dos

profissionais da área de saúde, a computação móvel está se tornando um importante aliado

para a atividade médica. Uma análise sobre os investimentos recentes dos hospitais em

tecnologia revelou um interesse crescente na implantação de redes sem fio, na aquisição de

dispositivos móveis, na integração dos sistemas de gestão existentes e no desenvolvimento de

novas aplicações (SOTO, 2006).

Também de acordo com MANICA (2009), a necessidade de informações

disponibilizada para profissionais da saúde durante o atendimento aos pacientes pode ocorrer

em diferentes momentos e tipos de ambientes. Em especial, dispositivos portáteis são

essenciais para atendimentos realizados fora dos hospitais, onde o acesso a informações é

dificultado, principalmente, pela ausência de infraestrutura necessária. Um exemplo é o

serviço de atendimento de urgências e emergências móvel, que ocorre em locais variados

como domicílio dos pacientes, locais públicos, áreas rurais, dentre outros. Segundo IDEAL

(2013), em média 95% das emergências ocorre fora dos ambientes hospitalares.

De acordo com SOUZA(2006, apud Lee et al., 2005), o ambiente do usuário afeta

inclusive a escolha de dispositivo móvel, devendo trabalhar sob as condições normais de

trabalho do usuário, bem como em condições extremas (como calor, frio, umidade, seca e luz

natural e artificial).

Nesse contexto, é importante identificar os aspectos do ambiente físico de trabalho e as

características e limitações do dispositivo móvel. Fatores como iluminação e nível de barulho

devem ser considerados pelos desenvolvedores, caso contrário, poderão se opor à mobilidade

do dispositivo e facilidade de uso da interface.

3.1 Aplicações móveis em urgência e emergência

Por causa da necessidade relatada anteriormente, diversos aplicativos para a área da

saúde e gerenciamento de urgência e emergência foram desenvolvidos visando melhorar a

qualidade e eficiência dos atendimentos médicos. São exemplos, já em uso comercial: o

Einstein Mobile e o MyAlert.

O primeiro é um aplicativo móvel desenvolvido para o Hospital Israelita Albert

Einstein, motivado pelo, segundo BLACKBERRY (2009), grande tempo de deslocamento dos

médicos pelo hospital, com uma agenda ativa entre cirurgias, emergências e consultas. Para

obter um atendimento com maior qualidade, constatou-se a necessidade de acessar com

rapidez as informações atualizadas sobre pacientes e registros hospitalares independente do

local onde estivessem. A solução desenvolvida consiste em um aplicativo móvel que fornece

acesso ao sistema de gestão de informações utilizando smartphones, e foi organizado nos

seguintes módulos:

Módulo Paciente – Para acessar informações sobre o paciente, dados de

contato, informações cadastrais, histórico do tratamento médico;

Módulo de Exames – Para avaliar resultados de exames de laboratório;

CID 10 – Para acessar o International Classification of Diseases (ICD), um

banco de dados on-line que classifica as doenças e questões de saúde;

Cadastro Médico – Dados dos cadastros médicos e informações sobre

observações feitas por outros médicos (somente aquelas autorizadas).

A solução Einstein Mobile também foi projetada para localizar prontuários de

pacientes, de acordo com seus telefones. Por exemplo: se o médico recebe um telefonema de

um paciente no smartphone, o sistema reconhece a informação de contato do paciente

específico e localiza seus arquivos e prontuários, dando ao médico acesso praticamente

instantâneo a essas informações. Ao mesmo tempo, se o médico estiver examinando o

prontuário do paciente a partir de seu dispositivo móvel, poderá facilmente entrar em contato

com o mesmo, ou outro médico envolvido no caso, clicando no número de telefone para

chamá-los ou no endereço de e-mail para enviar e-mails.

Conforme afirma o Dr. Flavio Takaoka do Hospital Israelita Albert Einstein, “ter

acesso móvel à minha agenda e ao banco de dados dos médicos do hospital é conveniente e

facilita muito meu trabalho no dia-a-dia” (BLACKBERRY, 2009).

Outra opção é a solução da empresa portuguesa Alert, que possui um portfólio de

produtos para ambientes médicos, dentre as ferramentas temos o MyAlert, que possibilita além

do gerenciamento do processo clínico, a integração com diferentes repositórios EMR

(Eletronic Medical Record), que é um registro contendo informações médicas de uma

determinada pessoa e compartilhado entre médicos através de um repositório de dados

(ALERT, 2013).

Na seção 4, será apresentado um catálogo com melhores práticas de desenvolvimento

de interfaces móveis. Essas podem ser aplicadas, por exemplo, na manutenção das interfaces

dos sistemas citados acima e de outros sistemas que existam na área ou durante o

desenvolvimento de novas interfaces e aplicativos.

4. Boas práticas para desenvolvimento de interface

Nessa seção serão apresentadas sugestões para guiar o desenvolvimento de interface

para dispositivos móveis contextualizados em um ambiente de urgência e emergência médica.

As informações apresentadas são baseadas nas características do ambiente de trabalho dos

profissionais da área e também nos padrões de design para aplicativos móveis propostos em

NEIL, 2012. É apresentado como resultado um catálogo com padrões de design, considerados

por essa pesquisa, mais adequados ao domínio da aplicação, e agrupados pelas seguintes

categorias:

Navegação;

Formulários;

Tabelas e Listas;

Convites;

Ajuda.

Em cada categoria, serão citados os padrões mais utilizados, no entanto, apenas serão

comentadas as práticas que forem sugeridas para os sistemas de urgência e emergência médica

em estudo.

4.1 Navegação

A navegação de um aplicativo é representada pelas maneiras como o usuário pode explorar

os recursos do sistema de acordo com suas necessidades. A boa navegação facilita a busca de

informações e o acesso e retorno entre as telas da aplicação de forma intuitiva ao usuário.

Dentre os padrões de navegação primária, ou seja, padrões para o menu principal, destacam-

se: Springboard, Menu de Lista, Abas, Galeria, Dashboard, Metáfora e Megamenu (NEIL,

2012), ilustrados na figura 1.

Figura 1 - Padrões primários de navegação (NEIL, 2012)

Considerando que, no contexto de estudo, algumas funcionalidades devem ser

acessadas de forma mais ágil que outras, sugere-se o padrão Springboard. Esse padrão é

caracterizado por uma página de opções de menu com as principais funcionalidades da

aplicação. Uma vantagem desse padrão é que os springboards podem ter seus layouts

personalizados para indicar maior ou menor importância. Dessa forma, em chamadas à uma

central de emergência, ambulâncias ou consultas às informações de primeiros socorros são

exemplos de funcionalidades que devem ser executadas no menor tempo possível e por isso

seus respectivos botões de acesso devem estar destacados, sugerindo maior relevância. Na

figura 2 é sugerido um layout utilizando o padrão springboard personalizado.

Figura 2 - Ilustração springboard (Balsamiq Mockups Web Demo)

Outra sugestão a destacar na figura 2 é manter um espaçamento que possibilite a distinção

clara entre os botões e, em uma situação que requeira mais agilidade, viabilizar um clique com

maior precisão.

4.2 Formulários

Os formulários são compostos pelos conjuntos de campos que possibilitam a entrada de

dados no sistema. Uma vez que, para dispositivos móveis, o tamanho da tela é reduzido e os

dispositivos de entrada são restritos, os formulários são elementos determinantes para uma boa

avaliação do design de interface. Em ambientes de urgência e emergência, a objetividade e

precisão encontradas no momento de preencher os formulários tornam-se decisivas para o

sucesso do atendimento ao paciente.

Apresentam-se como principais padrões de formulário: Login, Registro, Visão Geral e

Dados, Cálculo, Formulário de Busca, Multipassos e Formulário Longo (NEIL, 2012),

ilustrados na figura 3.

Figura 3 - Padrões de formulário (NEIL, 2012)

Independente da aplicação será utilizado a maioria dos padrões citados, no entanto os

Formulários de Busca necessitam de maior atenção e eles serão mais adequados em momentos

críticos que requerem uma rápida recuperação de conhecimento.

Por exemplo, se um paramédico necessitar fazer uma busca por primeiros-socorros ou

diagnósticos para um determinado quadro clínico, ele deve ser rápido e sem erros para prestar

um atendimento eficaz.

Nos Formulários de Busca, deve-se apresentar o mínimo de campos possíveis para

realizar a pesquisa além de seguir boas práticas para desenvolvimento de formulários como:

rótulos verticais e marcas d’agua para economizar espaço horizontal; sugerir como o usuário

deve preencher o campo; e fornecer preenchimento padrão para os campos em que seja

possível identificá-lo restringe possibilidades e evita que informações recorrentes sejam

preenchidas. Segundo NEIL(2012), a navegação clara e facilidade de retorno após uma

interrupção é importante em formulários de dispositivos móveis, uma vez que ao utilizar essa

tecnologia a possibilidade de distração é maior.

Ao concluir o preenchimento do formulário, deve-se observar a ordem dos botões de

comando, ou seja, um formulário com os botões “Buscar” e “Cancelar” devem ser

apresentados nessa ordem, pois intuitivamente o usuário, devido à pressa em algumas

situações, selecionará o botão da esquerda.

Outro recurso que deve ser usado para auxiliar o preenchimento é o uso de um teclado

que possibilite preenchimento rápido, com função de autocompletar e sugestão de palavras,

como o teclado Swiftkey. Esse modelo de teclado funciona como um teclado normal, mas

trabalha com previsões de texto, mostrando sugestões de palavras enquanto o usuário digita as

letras. Para aumentar a precisão das previsões, deve-se manter na base de dados um dicionário

com padrões de conversação (techtudo, 2012). Observe o teclado modelo swiftkey na figura 4.

Figura 4 - Modelo de teclado virtual swiftkey (techtudo, 2012)

Em telas de cadastros de pacientes ou de medicamentos, também se deve utilizar o

formulário multipassos, que sugere o uso de botões “próximo” e “voltar”, além de mostrar o

passo atual e o número total de passos, a fim de guiar o usuário durante a operação,

informando onde ele está e para onde pode ir.

4.3 Tabelas e Listas

Tabelas e listas são utilizadas para apresentação de dados e, em sistemas web ou desktop,

comumente apresentam esses componentes com um grande número de registros. Para

aplicativos móveis, isso é inviável devido ao já mencionado tamanho reduzido da tela. Ao

desenvolver funcionalidades que utilizem esses recursos de apresentação, é recomendado

revisar a relevância das informações e apresentar somente aquelas que forem imprescindíveis

e de forma agrupada.

Em uma tela de cadastro em um sistema médico, deve-se utilizar para uma listagem a

Tabela sem Cabeçalho, com um filtro dinâmico no topo, visando eliminar a necessidade de

rolagem para encontrar um registro. Observe a tabela mencionada na figura 5.

Figura 5 - Tabela sem Cabeçalho com filtro dinâmico (Balsamiq Mockups Web Demo)

Os principais padrões de tabelas utilizadas por interfaces móveis, de acordo com

NEIL(2012) são: Tabela Básica, Tabela sem Cabeçalho, Coluna Fixa, Visão Geral e Dados,

Linhas Agrupadas, Listas em Cascatas, Indicadores Visuais, Tabela Editável (NEIL, 2012),

ilustrados na figura 6.

Figura 6 - Padrões de Tabelas e Listas (NEIL, 2012)

Como citado acima, é recomendado para as listagens de cadastros, de medicamentos

ou pacientes, por exemplo, a tabela sem cabeçalho, só que ao selecionar um dos registros é

necessário uma forma de expansão. Como na área da saúde encontramos medicamentos

disponibilizados em diferentes dosagens apresenta-se como uma boa opção utilizar a expansão

com linhas agrupadas para o cadastro de medicamentos, de forma que ao expandir um

medicamento da lista sem cabeçalho, onde cada registro contém as principais informações

sobre esse medicamento, serão apresentadas diferentes dosagens em que podemos encontrar o

medicamento selecionado e outras informações mais específicas. Como exemplo, temos a tela

mostrada na figura 7.

Figura 7 - Exemplo de Tabela sem Cabeçalho com Filtro e Linhas Agrupadas (SOTO, 2008)

Da mesma forma, ao expandir um registro da Tabela sem Cabeçalho de um cadastro de

pacientes, também se devem exibir mais detalhes do registro, no entanto o mais adequado é o

padrão de tabela Visão Geral e Dados, pois assim é possível exibir na parte superior uma foto

do paciente e seus dados pessoais como nome, idade, sexo, peso e altura e na parte inferior o

prontuário desse paciente. Através de um botão “Voltar”, será possível retornar a listagem de

pacientes e selecionar outro quando necessário.

Uma boa prática a ser observada durante o desenvolvimento da interface é utilizar

contraste entre os textos e linhas das tabelas, aumentando a legibilidade, para evitar que um

profissional da saúde ao utilizar o dispositivo em condições de baixa luminosidade, tenha

dificuldades ao usar a ferramenta.

Também são boas práticas, aplicar as “listras de zebra”, ou seja, alternar as cores das

linhas da tabela, e manter os dados apresentados em listas e tabelas ordenados, possibilitando

assim que as informações sejam recuperadas mais rapidamente.

Para ordenação deve-se utilizar um componente chamado “Seletor de Ordem”, que é

um padrão de design para ordenações. Considerando que os registros devem sempre estar

ordenados por uma coluna padrão, uma forma de alterar a forma de ordenação é a utilização

desse seletor. Esse componente consiste em um botão próximo ao campo de busca, que abre a

lista com as colunas existentes na tabela, para que sejam escolhidas quais devem influenciar

na ordenação. Esse exemplo de ordenação está ilustrado a seguir na figura 8.

Figura 8 - Exemplo de Seletor de Ordem (Balsamiq Mockups Web Demo)

4.4 Convites

Convites são dicas úteis exibidas na primeira vez que um usuário abre o sistema ou chega

a uma funcionalidade ainda não acessada. No primeiro acesso, se não existir um treinamento

adequado é possível que o usuário tenha uma experiência ruim por não saber como utilizar os

recursos disponíveis e venha a inutilizar o sistema. Um convite pode garantir, através de

simples dicas e apresentações que o usuário receba uma primeira carga de conhecimento sobre

o sistema, tornando essa primeira experiência satisfatória e motivadora para que ele continue

explorando o sistema.

Através de convites apresentados em momentos oportunos, é provável que as chances de

uma dúvida ocorrer aos profissionais da saúde sejam menores. Os padrões de convites para

interfaces móveis são: Diálogo, Dica, Tour, Demonstração em Vídeo, Transparência, Primeira

Vez, Persistente e Detectável.

Todos os padrões citados acima são importantes na fase inicial de uso do aplicativo, em

circunstâncias de pressão e necessidade de agir rapidamente, os convites não devem aparecer,

mas durante treinamentos para novos usuários, em condições adequadas, são formas

agradáveis e didáticas de transmitir conhecimento, e um Tour pelas principais funcionalidades

do sistema é essencial para minimizar as chances de que dúvidas apareçam em momentos em

que a tomada de decisão deve ser rápida e precisa.

O Tour oferece uma exploração tela por tela, explorando cada recurso do aplicativo

médico. Esse tour deve estar sempre disponível para manutenção de conhecimento. Para

encorajar os usuários iniciantes a realizarem o Tour não deve ter mais do que seis ou sete

passos, para não tornar a explicação longa, deve possuir uma navegação clara, deixando

explícitos os passos que o compõem e em qual passo o usuário está, bem como uma forma

clara de adiantar e retornar passos.

4.5 Ajuda

Independente do nível de maturidade de uma interface e por mais que um sistema seja

intuitivo, ele deve apresentar alguma forma de ajuda ao profissional da saúde, para utilização

em caso de dúvidas. Para um sistema de apoio à área médica, devemos considerar que

eventualmente usuários leigos utilizarão a ferramenta durante atendimentos, e esses estão mais

propícios à dúvida que usuários experientes. Dessa forma, surge a necessidade de esclarecer

rapidamente essas incertezas e realizar prontamente o atendimento, utilizando-se de todos os

recursos oferecidos pelo sistema móvel.

Considerando a necessidade de disponibilizar esse conteúdo de Ajuda, o mesmo deve ser

disponibilizado de forma clara e que impeça que a dúvida permaneça após esse conteúdo ser

consultado. Para atingir esse objetivo, existem padrões de design que indicam melhores

práticas para disponibilizar esse conteúdo: Como Fazer, Folha de Notas e Tour (NEIL, 2012).

O padrão “Como Fazer” indica que deve existir um conjunto de explicações de como usar

o sistema, apoiadas em imagens do próprio sistema e textos claros e concisos, que de maneira

alguma gere mais dúvidas. Será utilizado esse padrão porque um profissional da saúde durante

um atendimento de emergência estará sob pressão e necessitará de informações sobre como

utilizar seus recursos de forma rápida e simples. Assim uma rápida consulta digitando uma

palavra chave relacionada à dúvida deve retornar tópicos relacionados para consulta. Outra

forma de oferecer o conteúdo de ajuda, mas que deverá ser utilizada em momentos sem a

pressão do atendimento de emergência é o Tour, já citado no conjunto de padrões “Convites”.

5. Conclusão

Durante o desenvolvimento da interface móvel devem ser usados os princípios de

design de interfaces e IHC para proporcionar um melhor aproveitamento do sistema através da

interface e que seja adequada aos elementos específicos do contexto da aplicação. As boas

práticas apresentadas neste trabalho contribuem com o desenvolvimento de uma interface com

boa usabilidade e ergonomia, viabiliza a eficiente recuperação de informações e proporciona

uma boa experiência ao usuário, fazendo com que a ferramenta assuma, cada vez mais, um

papel de caráter decisivo no sucesso dos atendimentos médicos.

Dessa forma, constatou-se que a utilização de padrões de design para IHC em

dispositivos móveis e o desenvolvimento de uma interface específica para as necessidades

específicas do contexto da aplicação, encorajam os usuários a ter novas experiências com o

sistema e aumentam consideravelmente a chance de o aplicativo apoiar com sucesso os

atendimentos de emergência médica.

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