inteligência cultural resumos

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Inteligência cultural Artigo: Cultura – Abreu Definição de Cultura: tudo aquilo que é produzido a partir da inteligência humana. Está presente desde os povos primitivos em seus costumes, sistemas, leis, religião, em suas artes, ciências, crenças, mitos, valores morais e tudo aquilo que compromete o sentir, o pensar e o agir das pessoas. Destaca-se que cultura tem íntima ligação com o ser humano, suas ações e suas reações, portanto, extremamente ligada ao fim da profissão militar, uma profissão do campo social por excelência. (site Brasil Escola) Dicionário Michaelis: Aplicação do espírito a uma coisa; estudo. Desenvolvimento intelectual. Aurélio: Conjunto dos conhecimentos adquiridos; a instrução, o saber: uma sólida cultura. / Sociologia Conjunto das estruturas sociais, religiosas etc., das manifestações intelectuais, artísticas etc., que caracteriza uma sociedade: a cultura inca; a cultura helenística. / Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das ciências. / Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito. Consciência cultural> Cultural awareness pode ser traduzido como “consciência cultural”. Trata-se de um conhecimento genérico de uma cultura ou sociedade específica, não significando um nível de conhecimento elevado ou vivência. Aborda aspectos tangíveis, como vestimentas, culinária, esportes típicos, idioma e arquitetura, dentre outros; e intangíveis, como tolerância às mudanças, noção de tempo e de espaço, crenças, sentimento de justiça e semântica das palavras. Cultural Awareness e as Operações Militares > A guerra, encarada como um fenômeno social, supõe que exércitos de diferentes países irão interagir. Sejam como oponentes, sejam como aliados. Assim, espera-se que existam diferenças culturais onde os comandantes deverão encontrar formas de mitigá-las visando ao cumprimento da missão. Destaca-se que nos conflitos

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Page 1: Inteligência Cultural RESUMOS

Inteligência cultural

Artigo: Cultura – Abreu

Definição de Cultura: tudo aquilo que é produzido a partir da inteligência humana. Está presente desde os povos primitivos em seus costumes, sistemas, leis, religião, em suas artes, ciências, crenças, mitos, valores morais e tudo aquilo que compromete o sentir, o pensar e o agir das pessoas. Destaca-se que cultura tem íntima ligação com o ser humano, suas ações e suas reações, portanto, extremamente ligada ao fim da profissão militar, uma profissão do campo social por excelência. (site Brasil Escola)

 Dicionário Michaelis: Aplicação do espírito a uma coisa; estudo. Desenvolvimento intelectual.

Aurélio: Conjunto dos conhecimentos adquiridos; a instrução, o saber: uma sólida cultura. / Sociologia Conjunto das estruturas sociais, religiosas etc., das manifestações intelectuais, artísticas etc., que caracteriza uma sociedade: a cultura inca; a cultura helenística. / Aplicação do espírito a uma coisa: a cultura das ciências. / Desenvolvimento das faculdades naturais: a cultura do espírito.

Consciência cultural> Cultural awareness pode ser traduzido como “consciência cultural”. Trata-se de um conhecimento genérico de uma cultura ou sociedade específica, não significando um nível de conhecimento elevado ou vivência. Aborda aspectos tangíveis, como vestimentas, culinária, esportes típicos, idioma e arquitetura, dentre outros; e intangíveis, como tolerância às mudanças, noção de tempo e de espaço, crenças, sentimento de justiça e semântica das palavras.

Cultural Awareness e as Operações Militares > A guerra, encarada como um fenômeno social, supõe que exércitos de diferentes países irão interagir. Sejam como oponentes, sejam como aliados. Assim, espera-se que existam diferenças culturais onde os comandantes deverão encontrar formas de mitigá-las visando ao cumprimento da missão. Destaca-se que nos conflitos assimétricos e de longa duração o assunto torna-se mais percuciente.Em um outro nível, encontram-se as operações de paz capitaneadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Nesse tipo de operação militar de não-guerra, o valor da consciência cultural cresce de importância por razões óbvias.

Níveis de Cultural Awareness

Page 2: Inteligência Cultural RESUMOS

O conceito de human intelligence (HUMIT), que envolve o conhecimento e o apoio em áreas que até então eram consideradas dispensáveis para o estamento militar: antropologia, sociologia, psicologia etc, que auxiliam o comandante Operacional em diferentes aspectos, revelando-lhe motivações e reações do aliado e do inimigo em função de atitudes militares tomadas. Depreende-se, então, que o comandante Operacional deve possuir características diferentes de um comandante Tático ao desempenhar suas funções nesse nível da guerra. A experiência dos EUA demonstrou que algumas características são essenciais para o comandante Operacional:

• criatividade;• adaptabilidade;• paciência; e• sensibilidade social.

Exemplo de aplicação dos conceitos na missão da Costa do Marfim

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PAPA FRANCISCO

PAPA REÚNE LÍDER ISRAELENSE E PALESTINO PARA REZAR PELA PAZENCONTRO OCORRE SEMANAS APÓS TER FRACASSADO NEGOCIAÇÃO PATROCINADA PELOS EUAPublicado: 8 de junho de 2014 às 16:19 - Atualizado às 16:20

Em gesto histórico pela paz no Oriente Médio, o papa Francisco recebeu no Vaticano os

presidentes de Israel e da Autoridade Palestina para orações neste domingo (8), semanas

depois de ter fracassado a última rodada de conversações patrocinadas pelos EUA. O

convite para o encontro foi feito de forma inesperada durante a viagem de Francisco em

maio à Terra Santa, como uma iniciativa para aproximar israelenses e palestinos.

O presidente de Israel, Shimon Peres, foi o primeiro a chegar ao hotel no Vaticano onde

mora o papa, seguido pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas. Francisco os

recepcionou calorosamente e teve encontros privados com cada um deles antes de seguir

para o jardim do Vaticano para as orações.

Page 3: Inteligência Cultural RESUMOS

Autoridades do Vaticano têm reiterado que o papa não tem uma agenda política, mas

apenas a vontade de reacender o desejo de paz entre os dois líderes. As orações vão se

concentrar em três temas comuns ao cristianismo, judaísmo e islamismo: o agradecimento

a Deus pela criação, a busca do perdão por erros do passado e rezas a Deus para que a

paz se restabeleça no Oriente Médio. AP

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As 4 gerações de Guerra

Primeira geração (1648-1860) – guerra de linha e coluna. As batalhas eram formais e o

campo de batalha ordenado. A maioria dos distintivos militares surgiram naquela época

(uniformes, continências e graus hierárquicos)

Segunda geração (1ª GM – desenvolvida pelos franceses) - A guerra de segunda geração preservava a cultura da ordem, porém procurou uma solução para a desordem crescente no campo de batalha mediante o uso do fogo concentrado, a maior parte sendo fogo de artilharia indireto. O objetivo era o atrito, e a doutrina foi resumida pelos franceses como sendo “a artilharia conquista - a infantaria ocupa”. O poder de fogo era cuidadosamente sincronizado (usando-se planos e ordens detalhados e específicos) para a infantaria, carros de combate e artilharia em uma “batalha conduzida” onde o comandante era, com efeito, um condutor de orquestra. Nesta segunda geração a obediência ainda era mais importante que a iniciativa, já que a iniciativa poderia colocar em perigo a sincronização. A disciplina era descendente (top-down) e imposta.

Terceira Geração (1ª GM desenvolvida pelos alemãs – Blitzkrieg – guerra de manobra) -

de manobra. A guerra de Terceira Geração é baseada não no poder de fogo e atrito, mas na velocidade, surpresa e no deslocamento mental e físico. Taticamente, durante o ataque, o militar da Terceira Geração procura adentrar nas áreas de retaguarda do inimigo, causando-lhe o colapso da retaguarda para a frente. Ao invés de “aproximar e destruir”, o lema é “passar e causar o colapso”. Na defesa, a ideia é de atrair o inimigo para então cortar-lhe a retirada. A guerra deixa de ser um concurso de empurrar, onde as forças tentam segurar ou avançar uma linha. A guerra de Terceira Geração é não linear. Nesta terceira geração a iniciativa passa a ser mais importante que a obediência. Havia mais autodisciplina e menos disciplina imposta. Foi a quebra da cultura da ordem.

Quarta Geração – ocorre a intensificação da descentralização e da iniciativa. Na guerra de quarta geração o Estado perde o monopólio sobre a guerra. Os militares passam a combater oponentes não-estatais (al Qaeda, Hamas, FARC..). Nesta época vive-se um mundo formado não mais por países, mas sim por culturas.

Page 4: Inteligência Cultural RESUMOS

Para sobreviver, os militares precisam desenvolver mais suas mentes que seus músculos e as tropas precisam se integrar mais às comunidades locais que passam a proporcionar a proteção das tropas. A integração com a comunidade provê a segurança da tropa e permite colher os dados necessários sobre as forças oponentes para combatê-las. Aquele que “vence” nos níveis tático e físico pode perder nos níveis operacional, estratégico, mental e moral, onde se decide a guerra da Quarta Geração. A guerra de Quarta Geração não é algo novo, mas um retorno, especificamente um retorno, à maneira pela qual a guerra funcionava antes do surgimento do estado. As técnicas são as do terrorismo e de guerrilha que tomaram o lugar das forças de Estado.

Nesse contexto, a integração com a comunidade local passa pela necessidade de desenvolvimento da Inteligência Cultural. Fonte MR jan-fev 2005

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Inteligência etnográfica (MR 2007)

A proliferação de redes fortalecidas torna a “inteligência etnográfica” (IE) muito mais importante para os Estados Unidos do que jamais foi.² Entre as redes, a Al-Qaeda é por certo a mais infame, mas há vários outros exemplos do passado recente e do presente tais como o “Diamante de Sangue” e cartéis de droga, que nos levam à conclusão de que tais redes serão um desafio num futuro próximo. Uma vez com acesso, essas redes expandiram-se para modernos sistemas de comunicações e transporte e, principalmente, para as armas de destruição em massa, que são provavelmente uma ameaça muito mais perigosa que qualquer adversário jamais enfrentou.

Lamentavelmente, a estrutura tradicional da inteligência militar dos Estados Unidos e o seu produto de trabalho não estão ajudando a enfrentar essa ameaça. Como o debate recente tem atestado, especialmente no que diz respeito ao Exército, há uma demanda cada vez maior pela inteligência cultural. O Major (R/1) Robert Scales ressaltou a necessidade daquilo que chama de consciência cultural no Iraque: “Eu perguntei a um comandante da 3ª Divisão de Infantaria como tinha o conhecimento da situação operacional (entenda-se inteligência tecnológica, aérea e terrestre) durante a marcha para Bagdá. ‘Eu sabia onde cada tanque inimigo estava enterrado nos subúrbios deTalil,’ele respondeu. ‘O único problema era que os meus soldados tinham que lutar contra fanáticos atirando a pé e em caminhonetes, bem como atirando com AK-47 e lanças-rojões. Eu tinha uma perfeita consciência da situação. O que eu não tinha era conhecimento da cultura local. Grande inteligência técnica sobre a situação... mas o inimigo errado.’”³

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A minha proposta é que se vá além da solicitação da escala geral de consciência cultural e se busque a inteligência etnográfica, o tipo de inteligência que é fundamental na formulação de políticas para a terra incógnita. A terra, nesse caso, é o terreno humano sobre o qual pouco é sabido por aqueles que manipulam os instrumentos do poder nacional. Os Estados Unidos precisam da inteligência etnográfica para combater as redes e conduzir uma contra-insurgência global. Este artigo, por conseguinte, definirá a inteligência etnográfica, discutirá alguns casos que ilustram a necessidade desse tipo de informação e proporá os meios de adquiri-la e processá-la.

Definição de Inteligência Etnográfica

De acordo com a Dra. Anna Simons, da Escola de Pós-Graduação Naval dos Estados Unidos, “o que se entende por inteligência etnográfica é a informação sobre formas nativas de associação, meios locais de organização e métodos tradicionais de mobilização.

Clãs, tribos, sociedades secretas, o sistema hawala, irmandades religiosas, todas representam formas nativas ou latentes de organização social disponíveis aos nossos adversários em toda parte não-ocidental e, ao mesmo tempo, cada vez mais ocidentalizada do mundo. Essas formas criam redes que são invisíveis para nós, a não ser que estejamos procurando por elas de uma forma específica. Essas organizações apresentam-se para nós de uma maneira com a qual não estamos familiarizados. Elas são impossíveis de serem ‘vistas’ou monitoradas e, muito menos, mapeadas sem atenção consistente e treinamento adequado.”4

A inteligência etnográfica é a melhor forma de verdadeiramente conhecermos uma sociedade e, por isso mesmo, o melhor instrumento para deduzirmos as intenções de seus membros. “Formas nativas de associações e meios locais de organização não nos são conceitos estranhos. A nossa própria cultura desenvolveu, o que chamamos de “análise da rede social”, para mapear essas associações e suas formas de organização.5 Essas regras não escritas e as conexões entre pessoas, invisíveis para nós, formam os elementos-chave do tipo de informação que, de acordo com o Gen Scales, os comandantes em combate estão agora necessitando. Em razão dessas regras e conexões formarem “os métodos tradicionais de mobilização” utilizadas para conseguir apoio aos objetivos dos Estados Unidos ou para opô-los, elas exigem constante atenção do Governo e das Forças Armadas dos Estados Unidos.6

Colocado de uma forma simples, a inteligência etnográfica constitui-se em descrições de uma sociedade que nos permitem fazer sentido das interações pessoais, traçar as conexões entre pessoas, determinar o que é importante para elas e antecipar como elas reagiriam a determinados acontecimentos. Como os Estados Unidos não estão mais enfrentando um inimigo simples e monolítico,

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nossos interesses nacionais se encontram dentro de um confuso caldeirão em diferentes locais e sociedades. Cada um desses elementos tem sua própria “forma latente de organização social”, que criam redes que não podemos ver ou mapear e diante das quais podemos muitas vezes ser vítimas, a não ser que nós agressivamente persigamos a inteligência etnográfica.7

(O artigo traz ainda 3 estudos de casos)

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Organização da Inteligência no combate da contra-insurgência

(MR 2007)

Os comandantes devem entender o povo e o governo da nação hospedeira, as pessoas envolvidas na insurgência e as condições que causam esse movimento. Eles têm de entender as percepções, valores, crenças, interesses, o processo de tomada de decisões dos indivíduos e dos grupos. Esses requisitos são a base que norteia os esforços da coleta de informações.

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MR 2009 – Competência Cultural Militar Sustentável

Uma abordagem defende a mudança abrangente. Esse método levaria em consideração todas as críticas ao adestramento cultural militar e à análise de Inteligência, aplicando a doutrina recente aos programas de longo prazo de análise do terreno cultural e do conhecimento. Obrigar as forças singulares a enxergar o terreno cultural como um elemento de igual valor ao do terreno militar — sem abandonar as capacidades centrais de combate — asseguraria o tipo de foco abrangente na cultura que o Exército e o Corpo de Fuzileiros Navais aplicaram à teoria da guerra de mobilidade nos anos 90.

O outro lado do debate, representado pelos defensores do Sistema de Terreno Humano (Human Terrain System — HTS), requer uma solução imediata na forma de pessoal não previsto na estrutura organizacional, novos equipamentos e aplicação direta de apoio acadêmico externo. Em essência, o HTS acrescenta aos Estados- Maiores combatentes uma camada paliativa de conhecimentos especializados em ciências sociais e capacidade de obtenção de apoio a distância contratado. Essa proposta de “construir um novo império” é baseada na premissa de que os Estados-Maiores são, em geral, incapazes de resolver problemas culturais complexos por conta própria.

A abordagem de HTS é incompatível com a doutrina em vigor e ignora as últimas melhorias nas capacidades culturais militares. Os Estados-Maiores militares dos EUA provaram ser capazes de tirar proveito do terreno cultural

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nas pequenas guerras no início do século XX, no Vietnã, e, contrariamente à sabedoria popular, no Afeganistão e no Iraque. Quaisquer que fossem as fraquezas de capacidade cultural, elas sempre se mostravam mais evidentes no começo dos conflitos de baixa intensidade, mas eram corrigidasmais tarde, conforme osguerreiros se adaptavam ao ambiente. Esses fracassos de primeira rodada ocorrem porque não se mantém o foco no adestramento e na educação cultural entre conflitos.

Além disso, a prática de desdobrar acadêmicos em uma zona de combate talvez mine as próprias relações que as forças militares tentam construir, ou mais precisamente, reconstruir, com uma comunidade de ciências sociais que é, em geral, desconfiada em relação às Forças Armadas dos EUA desde a era do Vietnã.

A doutrina combinada pós-11 de Setembro enfatiza a solução para as fraquezas sistêmicas identificadas no adestramento, na educação e na inteligência culturais: soldados, fuzileiros navais e Estados-Maiores combatentes devem se tornar peritos no terreno cultural. As considerações relativas ao terreno cultural devem ser incorporadas em todo o espectro do adestramento e das operações militares. O foco excessivo colocado pelo Departamento de Defesa no extremamente caro Sistema de Terreno Humano ocorre e pode continuar a ocorrer às custas, precisamente, dos programas de longo prazo que desenvolverão esse nível abrangente e obrigatório de perícia.

O fato de não reorientar o foco do esforço para programas de competência cultural sustentável levará, no fim, a outra onda de fracassos operacionais de primeira rodada, com os quais os Estados Unidos mal podem arcar.

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MR 2009

Joe deixa o bigode crescer, porque agora sabe que os iraquianos gostam das pessoas com bigodes e têm dificuldade em confiar nos que não têm.

——Capitão Travis Patriquin, “How to win in Al-Anbar”.1

(p. 90) O líder influente deve entender esse tipo de pessoa e suas necessidades básicas, ambições e costumes. Esse tipo de conhecimento está alicerçado em uma boa formação básica.

As exigências da tecnologia tornaram a nossa educação altamente especializada, aumentando a profundidade dos nossos conhecimentos e reduzindo o campo de conhecimento geral. Em operações distintas do combate de alta intensidade, o êxito não é obtido mediante a aplicação precisa

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de um conhecimento técnico detalhado, seja pilotando aeronaves seja dirigindo um planejamento. Depende de relações interpessoais com uma ampla variedade de pessoas. Um bom líder tem de conhecer a natureza humana, seus instintos e motivações. Tem de fazer mais que respeitar uma religião; tem de demonstrar conhecimento de seus princípios básicos. As decisões coletivas implicam considerações ideológicas e religiosas. Um líder que aspira a exercer uma liderança influente em um ambiente complexo deve ter um conhecimento básico de Filosofia e Ciência Política. Não basta reconhecer que há outras culturas, esse é um pressuposto básico; para ser eficaz, é preciso ter familiaridade com a cultura estrangeira. O estudo do ambiente físico também é um fator muito útil nas relações interpessoais. A interação das pessoas com seu ambiente molda seu comportamento. Um líder deve saber sobre a agricultura em um ambiente rural, ser capaz de avaliar a produção de uma área industrial e entender as relações sociais em mutação de um ambiente urbano. O líder influente também deve saber como reagir em cada situação, seja em uma reunião com camponeses tradicionais seja durante uma refeição de trabalho com políticos e funcionários de alto escalão. Deve utilizar sua preparação e suas qualidades naturais para mostrar seus recursos intelectuais e seu conhecimento do ambiente; mas também deve preparar especificamente sua capacidade de comunicação.

A influência é acima de tudo uma questão de comunicação. O líder influente deve ser capaz de se relacionar com os demais agentes, estabelecer um clima de diálogo quando for possível e interagir com honestidade e sinceridade, sem arrogância. A cooperação é mais fácil quando já foi estabelecido um canal de comunicação.

(p. 91) Não basta reconhecer que há outras culturas, esse é um pressuposto básico; para ser eficaz, é preciso ter familiaridade com a cultura estrangeira.

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(MR maio 2007)

TRADOC: O Novo Centro Cultural do Exército

Major Remi Hajjar, Exército dos EUA

Uma parte importante da transformação que está acontecendo no exército dos eUa envolve sua campanha de conhecimento cultural, que procura melhorar a capacidade do soldado em entender e dar importância a fatores culturais. Se os primeiros conflitos da Guerra Contra o Terrorismo alertavam sobre o futuro, a

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necessidade de entender culturas estrangeiras passou a assumir um nível sem precedentes de significação. As análises contemporâneas cada vez mais identificam as populações estrangeiras como centros de gravidade, fato que ressalta a importância da iniciativa do conhecimento cultural.1

Um marco importante na promoção do conhecimento cultural no Exército dos EUA é o surgimento do novo Centro de Cultura do Comando de Adestramento e Doutrina do Exército dos EUA (US Army Training and Doctrine Command — TRADOC) localizado no Centro de Inteligência do Exército dos EUA (US Army Intelligence Center — USAIC) no Forte Huachuca, arizona.2

O Centro de Cultura foi inaugurado em 1o de fevereiro de 2006, embora tivesse começado uma parte significativa do treinamento em conhecimento cultural e apoio ao Exército bem antes de ter iniciado suas atividades. O objetivo principal do Centro é apoiar o desenvolvimento e o treinamento de conhecimento cultural e divulgar relevantes experiências de culturas, conhecimento e produtos por intermédio do exército e, principalmente, pelo Departamento de Defesa.3

Outras propostas do Centro incluem treinamento intercultural, educação, pesquisa, colaboração entre intelectuais militares e civis e organização de aspectos físicos e virtuais. A medida que o Centro amadurece, espera-se que ele influa no surgimento de novos centros culturais no Exército, Forças Singulares e Departamento de Defesa. A concepção do Centro em atribuir importância ao conhecimento cultural, a fim de melhorar o desenvolvimento das operações militares, incluem quatro níveis que pressupõem o entendimento de uma determinada cultura. Esses níveis vão da instrução básica ministrada aos soldados mais modernos aos militares de mais alta patente, os tomadores de decisões. Os princípios preliminares do Centro prevêem:

• o desenvolvimento de produtos culturais sobre o Oriente Médio e Sudeste da Ásia (com ênfase acentuada no oriente médio);

• o desenvolvimento, refinamento e avaliação de padrões de adestramento;

• a produção de instrutores proficientes para o

ensino de cultura;

• a expansão de iniciativas em andamento sobre o espaço cibernético, a construção de uma biblioteca digital e de um sítio cultural para apoiar a “Universidade de inteligência militar”; e

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• a efetivação de parcerias entre instituições civis e militares que contribuem para o Centro.4

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Department of the Army *TRADOC Pamphlet 525-3-7

Headquarters, United States Army

Training and Doctrine Command

Fort Eustis, Virginia 23604

21 May 2014

Military Operations

THE U.S. ARMY HUMAN DIMENSION CONCEPT

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O exercício do comando exige soldados e civis do Exército hábeis em compreender as variáveis de informação política, militar, econômica, social, infra-estrutura, meio ambiente físico, e do tempo (PMESII-PT). Profissionais do Exército devem entender e empregar os aspectos humanos da área de operações para aumentar a probabilidade de sucesso da missão. Desenvolver a compreensão a respeito da importância da cultura é um elemento essencial das operações do século 21 entre os parceiros de uma ação unificada. Tal compreensão é necessária para Soldados e civis do Exército desdobrados para interagir efetivamente com uma ampla gama de entidades como as dos outros serviços norte-americanos armados, agências de governo dos EUA, as forças da coalizão, grupos humanitários, militares da nação anfitriã, organizações não governamentais e da população civil indígena, entre outros. Os líderes devem, portanto, ser hábeis em formação de equipe, dinâmica de grupo, na comunicação verbal e na não-verbal quando se trabalha com parceiros em ação unificada. Essas habilidades são igualmente importantes para entendermos como a natureza das diversidades da população dos Estados Unidos impacta a composição do Exército em gênero e origens culturais. Soldados e civis do Exército devem ser capazes de interagir profissionalmente com os subordinados, colegas e líderes de variadas origens culturais e étnicas.

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MR Mar 2007

46 Evitando uma Abordagem Padronizada às Culturas Diversificadas

Tenente-Coronel Laura R. Varhola, Exército dos EUA e

Major Cristopher H. Varhola, Reserva, Exército dos EUA

Alguns anos atrás, um grupo de monitores de uma operação de cessar-fogo, preparando-se para ir às Montanhas Nuba no Sudão, recebeu no Pentágono um briefing da situação que iriam encontrar.Ao final, um monitor perguntou sobre a criminalidade e a violência econômica na área. O oficial encarregado, pacientemente explicou que o conflito no Sudão era entre cristãos e muçulmanos e que a criminalidade não era motivo de preocupação. Sua resposta refletia uma abordagem comum no exame de conflitos, subestimava a necessidade de integrar o entendimento cultural no espectro das operações militares. A realidade no Sudão e de outros países é que fatores econômicos, políticos e religiosos não podem ser examinados isoladamente. Naquela área do Sudão, por exemplo, a competição entre pastores e agricultores tinha dimensões políticas, religiosas e militares. A tensão econômica emoldurava uma grande parte do conflito e a crescente violência econômica era, simplesmente, a maior ameaça ao cessar-fogo.

Page 12: Inteligência Cultural RESUMOS

A cultura tem sido descrita como “discursos múltiplos que, ocasionalmente, se unem em uma grande configuração sistêmica, porém, mais freqüentemente, co-existem dentro de campos dinâmicos de interação e conflito.”¹ A cultura é tão ampla que não pode ser isolada e estudada separadamente de outros fatores sociais tais como história, economia, política, religião e relações que vão de locais a internacionais. Mas tanto na história militar como na literatura da contra-insurgência, as referências à cultura e ao entendimento regional, seguidamente, consistem de uma linha ou parágrafo afirmando que tal conhecimento é importante para o sucesso. No passado, briefings com duração de uma hora, realizados durante a preparação para o desdobramento, sistematicamente não tratavam adequadamente o item cultura, além de diminuir sua importância no planejamento das operações. Agora, principalmente por causa dos desafios no Iraque, há um reconhecimento crescente da necessidade do conhecimento e entendimento da cultura local pelos militares do Exército. As lições aprendidas no Iraque incluem a necessidade de:• continuidade do pessoal e do conhecimento institucional de cada região;• treinamento cultural em nossas instituições educacionais;• diversidade no conhecimento de idiomas;• análise sócio-econômica conduzida durante o processo de planejamento por especialistas regionais; e• um retrospecto feito, em tempo hábil, com especialistas do setor.

[...]

Quem Deveria se Envolver com a Cultura?

O entendimento do papel que a cultura desempenha na sociedade não é uma tarefa fácil, nem adequada às unidades de uma forma ideal. Forças especiais, oficiais de área estrangeira e soldados trabalhando com assuntos civis e operações psicológicas recebem treinamento regional e lingüístico. O nível do treinamento varia, dependendo da região e dos requisitos e prioridades correntes no Iraque e Afeganistão. Não obstante, é comum para “especialistas” em conhecimentos do continente africano não terem nenhum treinamento sobre a áfrica em si e jamais terem se desdobrado em qualquer lugar desse continente. Dessa forma, mesmo que especialistas regionais estejam disponíveis e que sejam efetivamente utilizados, eles poderão não ter a proficiência que a operação demanda. Para compensar essa lacuna, algumas unidades militares usam capelães como especialistas em cultura. Seus comandantes consideram ser um papel adequado a eles, dada à ligação íntima entre religião e cultura. Mas enquanto os capelães têm o papel de conselheiro dos comandantes sobre assuntos religiosos em ambientes de operação militar — atribuição, em geral, desempenhada com grande sucesso no Iraque — ter que lidar com cultura como um todo criaria um dilema para eles: Como separar a religião da cultura? Essa é uma tarefa quase impossível. Os

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componentes da cultura não podem ser isolados uns dos outros e uma análise cultural ampla não é uma área para a qual os capelães foram treinados. Aconselhar sobre assuntos religiosos em uma área de responsabilidade (area of responsability — AOR) é um papel doutrinário vago e leva a pergunta sobre a extensão em que deveriam desempenhar missões interagindo com os nativos, fora das bases militares, já que muitos poderiam ver os capelães como tendenciosos, dogmáticos ou etnocêntricos. Essa é, em última análise, uma decisão de comando e a questão que se coloca aqui é, simplesmente, que os comandantes precisam estar conscientes do potencial de efeitos negativos que podem surgir com o uso de capelães como conselheiros culturais e oficiais de ligação.

Estas missões que fogem do caráter tradicional podem ter efeitos inesperados. Por exemplo, um capelão militar sênior do Exército americano, recentemente solicitou permissão para entrar na Tanzânia para encontrar-se com líderes religiosos importantes do país. Seu objetivo era “[desenvolver] meios nos quais a religião, [um componente] que desempenha um papel crítico nas relações internacionais nessa região, pudesse ser usada como uma força de paz e cooperação.” Sua justificativa para visitar a Tanzânia ia mais longe, “Nós temos enviado doações por meio de outras pessoas para que elas pudessem entrar no Sudeste do Sudão. Nós temos ligações com organizações religiosas e seculares não governamentais (ONGs) por intermédio de nossa área de interesse (area of interest — AOI) para atingir de forma mais eficiente e eficaz objetivos comuns.”5 Essa justificativa, com objetivos humanitários ou não, tem no mínimo uma conotação política e até mesmo militar, já que ONGs cristãs, sem dúvida alguma, provêem fundos para o Exército de libertação do Povo do sudão.ao usar sua posição religiosa para repassar fundos ao Sudão, o capelão estava conscientemente ou não, em busca de objetivos político-religiosos, ao tentar contornar as barreiras impostas pelo Governo americano para impedir tais ações naquele local.

O sistema de governo americano prevê a separação entre Igreja e Estado; dessa forma nenhuma agência governamental tem permissão para realizar trabalho de caráter religioso. Os capelães, no serviço militar dos EUA, são um tipo de anomalia. Como são pagos pelo Governo, especificamente para orientarem os soldados religiosamente, não há como esconder o fato de que defendem a religião. O mau uso da palavra “cruzada” pelos militares americanos e líderes políticos para descrever a guerra no Iraque, pode fazer com que o capelão pareça, aos olhos de árabes e muçulmanos, como um membro de uma cruzada, um jihadista judaíco-cristão (“cruzado” em árabe traduz-se como harb al salibeya; uma guerra da cruz, que pode ser facilmente traduzida como uma “jihad cristã”).6 Em dois casos que observei no Iraque, esse significado foi subestimado por capelães carregando armas, um ato de legalidade questionável, que viola os princípios do bom senso e reforça as impressões de uma guerra religiosa. Por essas razões, designar capelães, que

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são na sua grande maioria cristãos, como peritos em cultura e como os principais agentes para interação cultural poderá dar às atividades americanas uma conotação religiosa nas regiões consideradas. Isso não é uma censura aos capelães, mas um alerta sobre as potenciais probabilidades de problemas, inerentes ao uso de religiosos em outras funções, em contextos político-religiosos. Sobretudo, usar capelães simultaneamente como especialistas culturais e conselheiros acentua as dificuldades, na cadeia de comando militar, de se entender as complexidades da cultura local. Por outro lado, esse fato sublinha a necessidade de analisar metodologicamente os fatores culturais e integrá-los às operações militares.

em árabe traduz-se como harb al salibeya; uma guerra da cruz, que pode ser facilmente traduzida como uma “jihad cristã”).6 Em dois casos que observei no Iraque, esse significado foi subestimado por capelães carregando armas, um ato de legalidade questionável, que viola os princípios do bom senso e reforça as impressões de uma guerra religiosa. Por essas razões, designar capelães, que são na sua grande maioria cristãos, como peritos em cultura e como os principais agentes para interação cultural poderá dar às atividades americanas uma conotação religiosa nas regiões consideradas. Isso não é uma censura aos capelães, mas um alerta sobre as potenciais probabilidades de problemas, inerentes ao uso de religiosos em outras funções, em contextos político-religiosos. Sobretudo, usar capelães simultaneamente como especialistas culturais e conselheiros acentua as dificuldades, na cadeia de comando militar, de se entender as complexidades da cultura local. Por outro lado, esse fato sublinha a necessidade de analisar metodologicamente os fatores culturais e integrá-los às operações militares.

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MR Set 2009

Mulheres: O Multiplicador de Combate da Guerra Assimétrica

Coronel (Reserva) Clark H. Summers, Exército dos EUA

Esses atores não estatais demonstram que as técnicas e táticas de combate assimétrico podem transcender qualquer país, grupo étnico ou tradição cultural em particular3. Os povos mais pobres podem conduzir a guerra com esses méto-dos, utilizando, de modo criativo, os materiais e recursos à mão e tirando proveito da passagem do tempo para desgastar um oponente que esteja buscando uma vitória rápida, clara e decisiva.

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O combate assimétrico ocorre predomi-nantemente dentro de comunidades e centros populacionais, à medida que os combatentes se empenham em obter o apoio ativo de uma parcela considerável da população civil neutra e a anuência tácita do resto4. O lado que melhor controlar a população civil acabará obtendo a vitória. A chave para controlar comunidades civis consiste na coleta eficaz de informações, no desenvolvimento e manutenção da credibilidade operacional e em uma melhor proteção da Força5.

O Exército dos EUA tem mais tempo de expe-riência em combate assimétrico, em função das operações nos últimos 12 anos, do que em todos os confrontos convencionais de alta intensidade do último século juntos6. Fora a Operação Desert Storm (1991) e a campanha inicial da Operação Iraqi Freedom (2003), todas as operações de combate do Exército dos EUA desde 1953 foram (e continuam a ser) em conflitos assimétricos de baixa e média intensidade. Esse fato, por si só, indica que tais conflitos continuarão a ser a ameaça mais provável (se não a mais perigosa) que o Exército dos EUA enfrentará.

Se o Exército dos EUA só precisasse se preparar para um conflito convencional de alta intensidade, a discussão poderia terminar aqui. No entanto, como foi mencionado, a ameaça mais provável que a Força enfrentará nas próximas décadas não será o tipo de confronto para o qual configuramos as armas combatentes. O combate assimétrico de baixa e média intensidade é baseado na comu-nidade e na população e requer uma coleta de informações eficaz, o desenvolvimento e manu-tenção da credibilidade operacional e uma melhor proteção da Força. Pesquisas recentes indicaram que o uso planejado de militares do sexo femi-nino nesses tipos de ambiente de segurança pode aumentar a efetividade operacional13.

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Estudos conduzidos em apoio à Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (o arcabouço jurídico, dentro do direito internacional reconhecido, voltado a tratar de questões que afetam a paz e segurança da mulher) se valeram de experiências operacionais de estabilização e manu-tenção da paz no Camboja, Kosovo, Timor Leste, Afeganistão, Libéria e República Democrática do Congo. Esses estudos constataram que mulheres, crianças e idosos constituem 80% das pessoas deslocadas internamente e dos civis afetados14. Militares do sexo feminino conseguem colher informações de fontes (mulheres e crianças) aos quais os homens não teriam acesso, em função de restrições culturais15.

Em consequência, a coleta de informações ao longo de todo o espectro da população melhorou o quadro geral de Inteligência16. Desde 2010, frações provisórias ou ad hoc, como as "Lionesses" do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e as Equipes Femininas de Engajamento têm confirmado que o engajamento planejado de mulheres com populações civis produz resultados positivos, incluindo uma tensão menor e mais credibilidade.

Talvez possamos aumentar a proteção da Força, porque uma melhor Inteligência tática e maior credibilidade junto à população civil podem levar à identificação e eliminação de dispositivos explosivos improvisados antes que sejam empregados17.

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Caso sejam corroboradas, essas pesquisas sugerem, fortemente, que o emprego de militares do sexo feminino no ambiente operacional assimétrico dos conflitos de baixa a média intensidade pode melhorar a Inteligência tática, reduzindo, assim, a exposição das tropas a emboscadas e ataques de dispositivos explosivos improvisados, resultando em menos baixas e maior sucesso nas missões. Ao melhorar a confiança e a credibilidade junto à população civil, a interação entre civis e militares no país-anfitrião se torna mais efetiva, reduzindo o tempo necessário para obter o êxito. Isso pode ter um tremendo impacto sobre as Unidades incumbidas de prover segurança de área nesse ambiente especial (Polícia do Exército, Assuntos Civis e Engenharia), assim como outras tropas de apoio ao combate e de apoio logístico que operem no espaço de combate assimétrico.

Conclusão

Este artigo apresentou a hipótese de que as mulheres, como um grupo, costumam ter habili-dades e capacidades que as tornam mais efetivas que os homens em determinadas situações táticas — em particular, na condução de missões de segurança de área, de estabilização e de coopera-ção em segurança. Avaliar e testar essa hipótese está no âmbito de capacidades do Exército dos EUA, sem que seja necessário empregar muitos recursos novos ou enfrentar a confusão que geralmente acompanha os programas de modernização da Força, sendo possível aproveitar os sistemas de gestão de efetivos da Ativa e as capacidades comprovadas do Componente da Reserva. A hipótese será adequada e digna de consideração caso as premissas utilizadas sejam legítimas: que os tipos específicos de missão em que as mulheres são particularmente efetivas continuarão a ser comuns; que há diferenças

fisiológicas consideráveis entre homens e mulheres; e que os EUA continuarão a valer-se de uma Força profissional composta exclusivamente de voluntários para atender às suas demandas militares. Se as premissas forem legítimas e a hipótese mostrar-se válida após uma análise rigorosa e detalhada de dados históricos e atuais, o Exército dos EUA se fortalecerá caso tire pleno proveito das mulheres como um multiplicador de combate.MR

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Texto Rejane

Nesse sentido, a abordagem do multiculturalismo (MCLAREN, 1997, 2000), em ambientes educacionais militares, deve ser considerada para sustentar os soldados que operam em ambientes pós-modernos, em especial porque como o General James N. Mattis1 assinalou "temos de superar a ideia de que a tecnologia vai mudar a guerra. [porque] A guerra é basicamente um empreendimento humano." (MATTIS apud BORUM, 2011, p. 1). Assim, o terreno humano e as suas implicações devem ser considerados na arena educacional militar, para proporcionar o desenvolvimento e a melhor utilização dos meios técnicos e tecnológicos disponíveis e sua influência na tática, nas operações e na doutrina, Políticas curriculares e práticas didático-pedagógicas, da mesma forma que a tecnologia, dependem dos contextos culturais e políticos, em especial em ambientes militares, onde as decisões têm influencia direta sobre o desenvolvimento das operações militares.. Dessa forma, convencer os comandantes e o alto escalão acerca da necessidade de implementar mudanças socioculturais, na capacitação militar, é um desafio para a organização, não só no Brasil, mas também no exterior, como apontou um oficial do exército holandês em entrevista realizada. Nem sempre tem sido fácil convencer os militares (do general ao soldado) da necessidade de incluir treinamento cultural no currículo militar. Mas depois das várias operações militares no exterior (a partir de 1992: Bósnia, Kosovo, Camboja, Etiópia-Eritreia, Iraque e Afeganistão) a mensagem agora é bem compreendida. (militar do exército holandês) O estudo comprovou a necessidade de (re) pensar a extensão em que o Exército Brasileiro vem preparando seus recursos humanos para enfrentar os desafios socioculturais impostos por cenários pós-modernos (COSTA & CANEN, 2008), com foco nos militares preparados pelo CCOPAB, considerando-se, em especial, as tendências das operações modernas. (SMITH, 2008) O trabalho buscou orientar os agentes, tomadores de decisão, no sentido de resolver a tensão e a oposição entre invenção e inovação na capacitação militar, apontando práticas educativas mais adequadas, para capacitar os soldados a enfrentar as imposições advindas da Revolução em Assuntos Militares, como as mudanças tecnológicas e socioculturais.

Essa estratégia de investigação é especialmente relevante para a pesquisa em ambientes educacionais, pois permite conhecer as perspectivas e vozes de diferentes atores. Por outro lado, a análise documental fornece informações que apresentam, no caso deste estudo, a extensão em que uma instituição da linha de ensino militar bélico do Exército Brasileiro capacita seus

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militares para as operações de paz, considerando as necessidades multiculturais. Essa análise foi realizada a fim de verificar até que ponto o currículo do referido

Centro considerava (ou não) a abordagem multicultural em suas políticas curriculares e práticas didáticas e pedagógicas.

Essa preocupação é significativa, devido à constante interação desses soldados com pessoal civil e militar, de diferentes nacionalidades, culturas, valores e linguagens em missões militares. Como resultado, torna-se importante chamar a atenção para estratégias e políticas públicas adotadas para governar ou administrar os problemas de sociedades culturalmente plurais.

Neste caso, estratégias e políticas educacionais que visem capacitar os soldados para atuar em cenários essencialmente multiculturais e assolados por conflitos étnicos e religiosos, precisam ser cuidadosamente consideradas, principalmente tendo em vista as ameaças impostas às nações que não são tecnológica e economicamente dominante (CASTELLS, 1999), e a mudança na natureza da guerra que, hoje, é conduzida entre o povo, nas cidades, nas vilas, nas ruas e em suas próprias casas. (SMITH, 2008) .

Neste horizonte, este estudo foi fundamentado pela perspectiva do multiculturalismo crítico de McLaren (1997).- mais recentemente conhecido por multiculturalismo pós-colonial/revolucionário (2000), ou multiculturalismo emancipatório (SANTOS, 2001) - porque promove a reflexão sobre a

homogeneização cultural em políticas e práticas educacionais, buscando explorar atividades curriculares e avaliativas que desafiem o etnocentrismo e os preconceitos. Assim, o multiculturalismo, de forma sucinta, é entendido como as respostas das minorias à homogeneização cultural e aos confrontos e às tensões advindas da complexidade da dinâmica multicultural, entendendo, segundo Hall (2000), a distinção teórica entre os termos multicultural e o multiculturalismo.

[...] Multi-cultural é usado como adjetivo. Descreve as características sociais e os problemas de governança apresentados por qualquer sociedade na qual diferentes comunidades culturais convivem juntas e tentam construir uma vida em comum, mantendo algo de sua identidade 'original'. Por outro lado, "multiculturalismo" é um substantivo. Faz referência às estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade que afloram em sociedades multi-culturais. É normalmente utilizada no singular, significando as filosofia e doutrina distintas que ancoram as estratégias multi-culturais. “Multi-cultural”, no entanto, é por definição plural.

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Neste horizonte, gerar oportunidades para que o militar desenvolva competências política e intelectual, e eu acrescentaria, multicultural, torna-se imperioso, por serem consideradas os principais desafios impostos à educação desde o final do século XX. (LIBÂNEO, 2001)

Alinhadas com esse contexto, as diretrizes gerais do Comandante do Exército Brasileiro para o período 2011-2014 (BRASIL, 2010, p 19), assinalam as competências a serem desenvolvidas pela organização, tais como:“[...] contextualizar o ensino, de modo a relacionar conhecimento e tecnologias às decisões e atuações em situações diversas [...] criar cursos para civis na ECEME

[…] ampliar o intercâmbio com o meio acadêmico civil.”

Com o lançamento dessas diretrizes em conjunto com a Política de Defesa Nacional (2005) e a Estratégia Nacional de Defesa (2008), palavras-chave tais como: integração do Exército Brasileiro com a nação, a interação com a comunidade acadêmica civil e a interoperabilidade entre as forças armadas têm sido discutidas no meio acadêmico militar, buscando caminhos possíveis para atender a essas necessidades.

Inicialmente, a maioria parecia acreditar no “jeitinho brasileiro” para compreender a diversidade cultural e para lidar com ela (COSTA & CANEN, 2008), independentemente da capacitação multicultural para a missão:

[…] o brasileiro sempre foi um pouco extrovertido, então sempre brinca, fala, conversa, o que não é característica de outros povos, […] são povos mais sérios [...] a cultura é outra, são mais fechados etc. Isso acabou gerando facilidade prá uns, dificuldades prá outros.

[…] nossa capacidade de adaptação [do militar brasileiro] ela é muito grande, o pessoal se adapta […].

[…] de tudo, essa questão de manter a segurança, é um aspecto positivo, só que é uma questão macro, envolve o Brasil como um todo [...] mas no micro, ali, o ACISO [ações cívico sociais], o contato com as pessoas, a conversa, o dia-a-dia, isso vai fazendo com que eles sintam que o Brasil é um país amigo, que está lá para ajudar. (militar da MINUSTAH)

Outros, no entanto, expressaram a necessidade de realizar um trabalho mais focado na dimensão cultural, durante a capacitação militar, independente da missão.

[…] eu acharia interessante se a gente já pudesse, desde já, independente da missão de paz, trabalhar esses conceitos [multiculturais], porque é uma

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realidade que você só vem trabalhar, quando vai para a missão. [...] você não tem muita... [experiência], [...] Então eu acharia interessante se nós pudéssemos, desde já, assim como o idioma, ter algum tipo desse contato, intercâmbios, reuniões multiculturais, que aí seriam interessantes. Aí que eu estou querendo chegar, porque você já teria gente, já, digamos, vendo isso como uma coisa normal. (militar da MINUSTAH, grifos nossos)

[…] [O exército deveria] desenvolver um programa, [...] reforçar essa concepção [de respeito e aceitação das diferenças] […] [porque] nem todos têm essa vivência, por exemplo, o respeito com a outra cultura. A gente pode, também, de uma forma, aliar aquilo que a pessoa traz de bagagem cultural dela, com o conhecimento, vamos dizer, científico, mais organizado, mais direcionado. Se a gente adequar esses dois fatores, nós podemos melhorar esse desempenho, para que a pessoa faça não de uma forma inconsciente, mas de uma forma consciente. (militar da MINUSTAH, grifos nossos).

É assim, faz desse jeito, a cultura é assim, é assado. O que tem é isso, mas não tem nenhum, digamos, exercício prático, de alguém de outra cultura que estivesse ali no momento, para criar algum programa. Isso não houve, o que houve foi uma instrução teórica ali de 50 minutos sobre essa questão [a questão cultural]. (militar da MINUSTAH)

Como observado, embora os soldados reconheçam a importância da capacitação recebida no CCOPAB, preferiam que o planejamento educacional enfatizasse mais a dimensão humana, de forma mais concreta e explícita. No entanto, parece que o CCOPAB já caminha nessa direção, pois como assinalado pelo coordenador do programa de estágio, em entrevista concedida no corrente ano:

[…] Se eu fosse incluir um assunto para quem tá indo para certo ambiente de missão, seria mais voltado para a questão cultural daquele país, que aí já facilita bastante [...] enfatizar a história cultural do país […] uma instrução, um tempo de instrução, falando sobre os aspectos culturais daquele país e as dicas que podem ser seguidas por aqueles que estão lá em missão, [para que] consiga ter um aproveitamento maior no relacionamento e tendo um cuidado com questões culturais, igual já fazem alguns Centros fora do Brasil, focando na cultura. Particularizar a questão do cultural awareness [referindo-se especificamente a relação daqueles em missão com a população local]. Ministrar uma apresentação sobre os aspectos culturais do país. Tem a questão do trato com o restante do staff da missão. Isso aí é um esforço diário, porque você vai lidar com pessoas que não têm tanta consciência cultural e podem ter uma atitude contigo que não seja tão amistosa, por vezes. Às vezes, por falha daquela pessoa contigo, então você vai ter que ter jogo de cintura e respirar.

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Algumas coisas são realmente diferença no tratamento, que pode parecer grosseiro e é uma coisa normal na cultural daquela outra pessoa […].(Coordenador do programa de estágio no CCOPAB)

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27Coleç. Meira Mattos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 31, p. 19-28, jan./abr. 2014

Guerra: no Meio do Povo ou SiMPleSMente irreGular?

War: aMonGSt the PeoPle or JuSt irreGular?

MARCELO OLIVEIRA LOPES SERRANO1

RESUMO12

O artigo analisa o conceito de Guerra no Meio do Povo, proposto pelo general Rupert Smith em seu livro “A Utilidade da Força: A Arte da Guerra no Mundo Moderno”. A Guerra no Meio do Povo seria o novo paradigma da guerra, que teria substituído o anterior, a Guerra Industrial entre Estados. As ideias do Gen Smith terão sua coerência lógica e histórica analisadas em três etapas. Primeiramente, aborda-se o que é considerado como a característica básica do novo paradigma: o mundo marcado por confrontos e conflitos e não mais pela dicotomia guerra e paz do paradigma anterior. Posteriormente, analisa-se a Guerra Industrial entre Estados, a fim de verificar sua coerência como paradigma anterior. Por fim, constituindo o cerne do trabalho, a própria ideia de Guerra no Meio do Povo é analisada, por intermédio de suas seis tendências. O artigo conclui que a guerra, caracterizada pela complexidade dos inúmeros e variáveis contextos nos quais é travada, não pode ser contida em um paradigma. E acrescenta a necessidade de as instituições voltadas à defesa nacional, incluindo o Exército Brasileiro, desenvolverem uma escola de pensamento de defesa eminentemente brasileira, de modo a não mais nos movermos ao sabor de ideias e conceitos elaborados para necessidades que não são as nossas.

Extrato do Texto: O general Rupert Smith esforçou-se para estruturar suas ideias numa teoria da guerra futura. Mas, o resultado inconvincente peca por falta de coerência histórica e lógica. Além dos artifícios criados para atribuir alcance mais amplo a suas ideias; o que ele buscou, realmente, foi fazer a conhecida guerra irregular assumir, por intermédio de um ilusionismo conceitual, a aparência de uma forma nova de guerra. No entanto, esta forma

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aparente, a GMP, permanece basicamente com as mesmas características essenciais da guerra irregular ou insurrecional. O general, na realidade, colaborou com a “fábrica de conceitos”, que produz, em grande parte, ideias novas apenas na aparência (GRAY, 2010).

Isso não significa negar as mudanças na guerra. Não se pode afirmar que as guerras irregulares de hoje sejam exatamente iguais à que os espanhóis empreenderam contra os franceses a partir de 1808. Significa reconhecer que há um cerne imutável de caraterísticas essenciais, envolvido por um conjunto de outras características que mudam em função dos inúmeros e varáveis contextos em que as guerras são travadas. Como Colin Gray salientou, inspirado em Clausewitz, “contrariamente às realidades eternas e universais da guerra (sua primeira natureza), a natureza subjetiva da guerra (sua segunda) sempre muda, embora em diferentes ritmos em diferentes épocas” (GRAY, 2005, p.32).

A última vez em que formações blindadas, apoiadas por artilharia e pela força aérea, se opuseram no campo de batalha foi na Guerra do Yom Kippur em 1973. O General Smith (2008, p.20) destaca o fato de que, desde então, as unidades blindadas ou apoiaram a aplicação da artilharia e do poder aéreo, ou foram empregadas de modo fracionado em apoio à infantaria. Ele conclui que “a utilização do tanque como máquina de guerra organizada em formação, concebida para combater e obter um resultado decisivo, não se verifica há três décadas. Aliás, não é provável que volte a verificar-se, pois as guerras nas quais as formações blindadas poderiam e deveriam ser utilizadas já não são exequíveis”.

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*****A guerra no meio do povo – Gen Castro

Revista Doutrina Militar Terrestre; jan-mar 2013