intelectuais e a classe dirigente no brasil

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  • 8/11/2019 Intelectuais e a Classe Dirigente No Brasil

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    Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920 1945)

    Fichamento e discusso

    Estvo Barros Chaves RA. 490792Luiz Felipe de Oliveira RA. 491080

    Texto

    No texto Intelectuais brasileira, publicado em 2001 pela Companhia das

    Letras, Sergio Miceli discorre, de forma vanguardista, sobre a vida dos intelectuais

    brasileiros diacronicamente, comeando sua anlise em 1920 e prolongando ela aos dois

    decnios posteriores. Com, tal escopo, fica evidente que o autor ir focar nas grandes

    revolues sociais que aconteceram no Brasil no perodo aqui falado, o que inclui a

    semana de arte moderna e a Revoluo de 30. Para o autor, essas mudanas sociais so

    relevantes na medida em que elas alteram o modo pelo qual os intelectuais iriam

    escolher quando as circunstncias no os foravam para uma direo suas

    ocupaes.

    exatamente este fator o fio condutor de toda a argumentao da obra. Miceli

    descreve o modo pelo qual as mudanas polticas e culturais de uma sociedade em

    efervescncia e com forte processo modernizador em voga, a brasileira, no perodo que

    precedeu a Revoluo de 30, fizeram com que se formasse uma nova estrutura de classe

    e, consequentemente, se reformulassem o acesso s carreiras dirigentes. So a essas

    carreiras dirigentes que os intelectuais da poca buscavam ascender de uma forma ou de

    outra, comumente engajados em partidos polticos, no mercado do livro ou na prestaode servios pblicos, conforme estudado pelo autor.

    Alcanar uma determinada carreira no era to simples na velha repblica, de

    fato, as ocupaes de prestgio e destaque social eram monopolizadas pelas elites

    dominantes que perpetuavam o seu controle ao inserir seus filhos, como intelectuais,

    nessas posies; eram as relaes sociais que determinavam a produo cultural. Nos

    termos de Bourdieu, isso significa dizer que o capital cultural era atrelado ao social. Em

    um primeiro momento, aqueles poucos indivduos abastados que poderiam fazer umafaculdade tinham o seu ingresso garantido nas profisses estudadas por Miceli,

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    principalmente no Estado, que agora vivia um processo de burocratizao da mquina

    pblica. Porm, com a implementao de universidades e a consequente democratizao

    da educao, os cargos se tornam mais escasso, e surge uma disputa por essa

    possibilidade de ascenso social. Esse rearranjo causado por uma mudana estrutural

    muda os termos do intelectualismo no pas.

    A produo cultural estava, portanto, extremamente atrelada ao poder, sendo que

    o seu momento de maior desenvolvimento ocorre simultaneamente crise poltica

    mais especificamente a crise de hegemonia. Sempre houve uma relao entre o Estado e

    os intelectuais, mas aps a revoluo a necessidade do poder pela cultura aumentou

    drasticamente, tendo em vista o desejo do novo governo de construir uma identidade

    nacional, pautada em valores tipicamente brasileiros, o que significou menos uma buscapor tais valores dentro da nossa sociedade e sim uma rearticulao artstica da histria

    para servir construo de um orgulho nacionalista.

    Quanto metodologia, Miceli pioneiro ao se desligar de uma produo textual

    prescrita pela Escola Paulista de Sociologia, baseada em Marx, Weber e Durkheim, e

    produzir um estudo que tem como base a obra de um outro intelectual, bem mais

    contemporneo, a saber, Bourdieu. Constri os seu texto sobre as bases tericas deste

    autor, obtendo os dados para a confeco do estudo de biografias e autobiografias (estas

    estudadas com a inteno de observar como o intelectual legitimava suas escolhas ao

    procurar, em sua histria, predisposies ao seu campo de atuao). Assim, no

    avaliando as relaes sincrnicas de atores sociais dentro de um determinado recorte

    que Miceli faz a obra aqui descrita, como era comum na escola paulista, mas faz uma

    anlise diacrnica, que busca entender no relaes datadas em diferentes momentos

    histricos, mas como um mesmo ator se posiciona socialmente com o passar do tempo,

    tendo como base os desdobramentos profissionais de tal ator, que sempre umintelectualde uma forma ou de outra.

    Perguntas

    1. Srgio Miceli, ao objetificar a produo intelectual como fora poltica e

    demanda das classes dirigentes, no constri uma viso funcionalista desses

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    artistas, colocando-os como construo social e negligenciando a

    subjetividade artstica?

    2. A criao de cursos, universidades e mdias pelas classes dirigentes buscava

    manter e, posteriormente, recuperar a dominao dessas poltica e culturalmente.

    Muitos desses veculos se mantem at hoje. Isso uma evidncia de que as

    classes dirigentes ainda controlam a produo cultural brasileira?

    3. A transformao da produo intelectual, demarcada pela Semana de Arte

    Moderna, fez com que, dentre outras coisas, se desenvolvesse uma arte brasileira

    e no importada. Ser, ento, que esse nacionalismo (exemplificado na figura de

    Oswald de Andrade) influenciou no populismo?

    4. Pensando a partir do texto, o capital social e o cultural esto intrinsicamente

    ligados naquela poca. E hoje, isso se mantem?

    5. A metodologia utilizada por Srgio Miceli foi a melhor, observando a partir da

    biografia dos autores e deixando de lado a produo intelectual em si?

    Discusso

    A primeira pergunta gira em torno da metodologia de Miceli, especificamente

    com o fato do autor no utilizar a obra, mas apenas a biografia do intelectual estudado.

    A discusso gira em torno da dificuldade de entender o autor pelo curto texto estudado,

    j que a leitura proposta foi, por motivos justificveis metodologicamente, apenas a

    introduo e o primeiro captulo do livro Intelectuais brasileira. Alm disso, a

    metodologia do autor desponta da discusso como considerada correta pelas pessoas

    envolvidas por ser a ideal para o objetivo do seu trabalho, a saber, intender como os

    autores chegam s suas posies e no com o que o autor trabalha especificamente.

    Porm, a crtica vlida na medida em que, pensando como Miceli se baseia em

    Bourdieu, este autor foi muito criticado por utilizar tal mtodo de conduo dos seus

    estudos. A crtica Bourdieu era grande, no Brasil, tambm porque ele dissonada dos

    clssicos estabelecidos aqui como nica fonte de inspirao metodolgica; depois do

    advento da Escola Paulista de Sociologia, nada poderia ser feito sem levar em

    considerao Weber, Marx e Durkheim.

    A segunda pergunta fala sobre o modo pelo qual a mdia controlada pelasoligarquias, trazendo para contexto atual todo o desdobramento de poder entre

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    publicaes de cunho intelectual e a classe dirigente do perodo estudado no texto, que

    vai dos primeiros movimentos de contestao do regime oligrquico at o final do

    primeiro governo de Getlio Vargas. Assim, tentou-se observar de que modo

    continuamos a sofrer influncia de grandes grupos na produo intelectual,

    principalmente com as famlias que dominam vrias mdias (foi dado o exemplo da

    famlia Marinho). Posteriormente, a discusso se voltou para o modo como o

    investimento estatal vai de encontro com desejos de grandes produtores, pensando pela

    maneira, mas tambm nos motivos, de uma instituio financiar um projeto, seja tal

    instituio pblica ou privada; voltando-se para como que o programa Cincias sem

    Fronteiras gerido. Uma opinio um pouco discordante, afirmou que, atualmente, existe

    uma maior disseminao e abrangncia da produo cultural, mesmo no ambiente

    governamental existem pessoas voltadas para o desenvolvimento cultural diversificado.

    Para demonstrar a validade da tal opinio, deu-se o exemplo de CDs produzidos no

    nordeste que s existem graas a benefcios governamentais; a importncia disso se d

    por que tais CDs no fazem parte da cultura de massas tida como legtima pela mdia

    nacional.

    A terceira pergunta se estende sobre a construo de uma identidade nacional

    brasileira. Evidenciou-se o modo pelo qual esse processo totalmente artificial e, emparte, voltado para a Europa, ou seja, mesmo quando tentamos nos desvencilhar de

    moldes alheios e neles que nos sustentamos. Tambm se discutiu sobre o processo de

    homogeneizao da cultura brasileira para produzir uma imagem nacional pura, isto ,

    sem todas as variaes empricas encontradas em um territrio to grande quanto o do

    Brasil, com influncias de diversos pases do mundo que se misturaram aos costumes

    locais para, em cada regio, formar modos de vida particulares. Lembrou-se, ainda, de

    como Vargas continuou esse processo de incentivo produo de uma sociedade

    nacional caracterstica.

    A possvel existncia de uma relao intrnseca entre o capital cultural e o social

    ainda na atualidade o assunto da quarta questo. A discusso se volta para pensar os

    artistas que no so bem vistos em um centro at o momento em que uma classe

    dirigente d alguma legitimidade a tal artista, como se ainda houvesse uma ditadura

    cultural voltada para o que alguma elite local possa creditar como de boa qualidade.

    interessante ressaltar que o processo de levar um artista de um centro para outro combase no gosto de uma elite no vai apenas muda-lo de posio geograficamente, mas

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    tambm ir alterar o modo pelo qual ele se apresenta e produz o seu trabalho, em uma

    espcie de adaptao para um novo pblico. Com isso, gerada a pergunta se tal

    popularizao era to ruim ao artista, se o fato de mais pessoas comearem a seguir o

    seu trabalho fizesse com que ele se tornasse menos digno de ser apresentado, at por

    que, afinal, a pretenso do artista muitas vezes atingir o maior nmero de pessoas

    possvel com a sua obra. A rplica vem na inteno de demonstrar que no a

    popularizao, mas a necessidade de ter algum dirigindo a disseminao do trabalho de

    um determinado artista que visto como uma perverso. Por fim, a discusso foi levada

    a pensar em como o vestibular ainda um modo elitista de ingresso na sociedade, em

    que aquele com maior capital social ainda tm uma vantagem gigantesca sobre os

    demais.

    A professora (que era, naquele dia, uma orientanda do Professor Doutor Martins,

    devido a contratempos), adiciona discusso uma questo prpria. A pergunta

    adentrava a questo do modo pelo qual Miceli julga os intelectuais, seus objetos de

    estudo. O consenso foi que uma crtica ao fato do autor julgar seus estudados no justo

    se tivermos em vista a inexistncia de um estudo desprovido de qualquer julgamento,

    principalmente se tratando das cincias humanas. Julgar inerente ao ser humano, no

    h como escapar dessa condio.