instruÇÃo sobre o estudo dos padres da igreja na …

32
CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA (DOS SEMINÁRIOS E DOS INSTITUTOS DE ESTUDO) INSTRUÇÃO SOBRE O ESTUDO DOS PADRES DA IGREJA NA FORMAÇÃO SACERDOTAL ROMA 1989

Upload: others

Post on 19-Nov-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA

(DOS SEMINÁRIOS E DOS INSTITUTOS DE ESTUDO)

INSTRUÇÃO

SOBRE O ESTUDO DOS PADRES DA IGREJA

NA FORMAÇÃO SACERDOTAL

ROMA 1989

Traduzido Por

Marcelo Massao eClemente Natal

Deseja mais conteúdo sobre Patrística?https://www.facebook.com/padresigreja

https://venibrasil.com.br/

http://paisdaigreja.com.br/

INTRODUÇÃO

1. Em consideração à necessidade particular hodierna do estudo da teologia nos Institutos de

formação sacerdotal, esta Congregação, após tratar a seu tempo do estudo dos Pais da Igreja em sua

globalidade1, agora decide dedicar a presente Instrução a alguns problemas relacionados a este

assunto.

O convite a cultivar mais intensamente a patrística nos Seminários e nas Faculdades teológicas

poderia talvez surpreender alguém. Com efeito, alguém pode perguntar: por que professores e

alunos são convidados a voltarem-se para o passado quando hoje, na Igreja e na sociedade, existem

tantos problemas sérios a serem resolvidos com urgência? Uma resposta convincente a essa

pergunta pode ser encontrada se olha-se globalmente a história da teologia, se consideram-se

cuidadosamente algumas características do clima cultural de hoje e se se presta atenção às

necessidades profundas e às novas orientações da espiritualidade e do cuidado pastoral.

2. A revisão dos vários estágios da história da teologia revela que a reflexão teológica nunca

renunciou à presença tranquilizadora e orientadora dos Padres. Ao contrário, sempre existiu a viva

consciência que nos Padres há qualquer coisa de singular, de irrepetível e de permanentemente

válido, que continua a viver e resiste à fugacidade do tempo. Como o Sumo Pontífice João Paulo II se

expressou a esse respeito, “da vida bebida nos seus Padres ainda hoje vive a Igreja; e sobre as

estruturas postas pelos seus primeiros construtores ela ainda hoje é edificada, na alegria e na pena

do seu caminho e do seu trabalho quotidiano”2.

3. A consideração do clima cultural atual traz à tona as muitas analogias que ligam o tempo presente

à era patrística, apesar das diferenças óbvias. Como outrora, ainda hoje um mundo está se pondo

enquanto outro está nascendo. Como outrora, ainda hoje a Igreja realiza um delicado discernimento

de valores espirituais e culturais, em um processo de assimilação e purificação, que lhe permite

manter sua identidade e oferecer, no complexo panorama cultural de hoje, as riquezas que a

expressão humana da fé pode e deve dar ao nosso mundo3. Tudo isso constitui um desafio para a

vida de toda a Igreja e, em particular, para a Teologia, que, para cumprir adequadamente suas

tarefas, não pode deixar de alimentar-se das obras dos Padres, da mesma forma que se alimenta da

Sagrada Escritura.

4. Finalmente, a observação da realidade eclesial de hoje mostra como as necessidades da assistência

pastoral geral da Igreja e, em particular, as novas correntes de espiritualidade requerem alimento

sólido e fontes seguras de inspiração. Diante da esterilidade de tantos esforços, voltamos

espontaneamente a pensar naquele sopro fresco de verdadeira sabedoria e de autenticidade cristã,

que emana das obras patrísticas. É um sopro que já contribuiu, mesmo recentemente, para o

aprofundamento de numerosos problemas litúrgicos, ecumênicos, missionários e pastorais, que,

recebidos pelo Vaticano II, são considerados para a Igreja de hoje uma fonte de encorajamento e luz.

1 No documento sobre “A formação teológica dos futuros sacerdotes”, de 22 de fevereiro de 1976, n. 85-88.

2 JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Patres Ecclesiae, 2 de janeiro de 1980: AAS 72 (1980), p.5.

3 PAULO VI, Carta Encíclica Ecclesiam Suam, de 6 de agosto de 1964: AAS 56 (1964), p. 627-628.

Os Padres, portanto, ainda demonstram sua vitalidade e ainda têm muitas coisas a dizerem para

quem estuda ou ensina teologia. É por esse motivo que a Congregação para a Educação Católica

está agora se voltando para os responsáveis pela formação sacerdotal para oferecer-lhes algumas

reflexões úteis sobre a situação atual dos estudos patrísticos (I), sobre suas motivações mais

profundas (II), sobre seus métodos (III), em seu planejamento concreto (IV).

I - ASPECTOS DA SITUAÇÃO ATUAL

Como ponto de partida, toda discussão sobre os temas mencionados pressupõe o conhecimento da

situação em que os estudos patrísticos se encontram hoje. É de se perguntar, portanto, que lugar

lhes é reservado hoje na preparação dos futuros sacerdotes e quais são as diretrizes da Igreja nesse

sentido.

1. OS PADRES NOS ESTUDOS TEOLÓGICOS DE HOJE

5. O estado atual da patrística nos Institutos de formação sacerdotal está estritamente conectado às

condições gerais do ensino teológico: com seu cenário, sua estrutura e inspiração fundamental; com

a qualidade e preparação específica dos professores, com o nível intelectual e espiritual dos alunos,

com o estado das bibliotecas e, em geral, com a disponibilidade dos meios didáticos. A sua situação,

portanto, não é a mesma em todo lugar: ela difere não apenas de um país para outro, mas também

difere nas várias dioceses de cada uma das nações. Contudo, podem caracterizar-se a respeito disso,

em nível da Igreja universal, tanto alguns aspectos positivos, como também certas situações e

tendências, que apresentam por vezes problemas para os estudos eclesiásticos.

6. a) A inclusão da dimensão histórica na obra científica dos teólogos, realizada no início deste

século, chamou a atenção, entre outras coisas, também para os Padres da Igreja. Isso se mostrou

extraordinariamente frutífero e proveitoso, não apenas porque possibilitou um melhor conhecimento

das origens cristãs, da gênese e evolução histórica de várias questões e doutrinas, mas também

porque o estudo dos Padres encontrou alguns estudiosos verdadeiramente eruditos e inteligentes,

que souberam colocar em evidência o vínculo vital que existe entre a tradição e os problemas mais

prementes do momento atual. Graças a esse acesso às fontes, os trabalhos longos e cansativos da

pesquisa histórica não permaneceram fixos em uma mera investigação do passado, mas

influenciaram as orientações espirituais e pastorais da Igreja hodierna, indicando o caminho para o

futuro. É natural que a aproveitar mais disso tenha sido a teologia.

7. b) Esse interesse pelos Padres continua hoje, embora em condições um tanto diferentes. Apesar de

um notável declínio geral na cultura humanística, há um despertar no campo patrístico, que envolve

não apenas estudiosos ilustres do clero religioso e diocesano, mas também numerosos

representantes do laicato. Nestes últimos tempos vão se multiplicando publicações de ótimas

coleções patrísticas e de monografias científicas, as quais são um indício forte, muito evidente, de

uma verdadeira fome do patrimônio espiritual dos Padres, um fenômeno consolador que não deixa

de refletir positivamente também nas Faculdades de teologia e nos Seminários. Apesar da evolução

ocorrida nos campos teológico e cultural em geral manifesta certas deficiências e diversos obstáculos

à seriedade do trabalho, que não devem ser ignorados.

8. c) Não faltam concepções ou tendências teológicas que, contrariamente às indicações do Decreto

«Optatam totius» (n. 16), prestam pouca atenção aos testemunhos dos Padres e, em geral, à Tradição

eclesiástica, limitando-se ao confronto direto dos dados bíblicos com a realidade social e com os

problemas concretos da vida, analisados com o auxílio das ciências humanas. Essas são correntes

teológicas, independentemente da dimensão histórica dos dogmas e para as quais os imensos

esforços da patrística e da Idade Média não parecem ter nenhuma importância. Nesses casos, o

estudo dos Padres é reduzido ao mínimo e praticamente envolvido na rejeição global do passado.

Como pode ser visto no exemplo de várias teologias de nosso tempo, destacadas da corrente da

Tradição, nesses casos a atividade teológica é reduzida a um “biblicismo” puro ou torna-se prisioneira

de seu horizonte histórico, adaptando-se às várias filosofias e ideologias da moda. O teólogo,

praticamente abandonado a si mesmo, acreditando fazer teologia, na realidade apenas faz

historicismo, sociologismo, etc... achatando o conteúdo do Credo para uma dimensão puramente

terrena.

9. d) Se reflete negativamente também uma certa unilateralidade nos estudos patrísticos, que se

observa hoje em vários casos nos métodos exegéticos. A exegese moderna, que conta com a ajuda

da crítica histórica e literária, lança uma sombra sobre as contribuições exegéticas dos Padres, que

são considerados simplistas e, em essência, inúteis para um conhecimento profundo das Sagradas

Escrituras. Essas orientações, enquanto empobrecem e distorcem a mesma exegese, rompendo sua

unidade natural com a Tradição, sem dúvida diminuem a estima e o interesse em obras patrísticas. A

exegese dos Padres, por outro lado, poderia abrir nossos olhos para outras dimensões da exegese

espiritual e hermenêutica que complementariam a dimensão histórico-crítica, enriquecendo-a com

intuições profundamente teológicas.

10. e) Além das dificuldades advindas de certas orientações exegéticas, devemos também mencionar

as que surgem de concepções distorcidas da Tradição. De fato, em alguns casos, em vez da

concepção de uma Tradição viva, que progride e se desenvolve com o avanço da história, há outra

rígida demais, às vezes chamada de "integrista", que reduz a Tradição à repetição de modelos

passados e a torna um bloco monolítico e fixo, que não deixa lugar para o desenvolvimento legítimo

e a necessidade da fé de responder às novas situações. Dessa maneira, é fácil criar preconceitos

contra a Tradição enquanto tal, que não favorecem um acesso sereno aos Padres da Igreja.

Paradoxalmente, a própria concepção da tradição viva eclesiástica repercute-se de um modo

desfavorável sobre a apreciação da época patrística, quando os teólogos, ao insistirem no valor igual

de todos os momentos históricos, não levam suficientemente em conta a especificidade da

contribuição fornecida pelos Padres ao patrimônio comum da Tradição.

11. f) Além disso, muitos estudantes de teologia de hoje, vindos de escolas técnicas, não possuem

esse conhecimento de línguas clássicas, o que é necessário para uma abordagem séria das obras dos

Padres. Consequentemente, o estudo de patrística nos institutos de formação sacerdotal é bastante

afetado pelas mudanças culturais atuais, caracterizadas por um crescente espírito científico e

tecnológico, que quase exclusivamente favorece os estudos das ciências naturais e humanas,

negligenciando a cultura humanística.

12. g) Finalmente, em vários institutos de formação sacerdotal, os programas de estudo são tão

sobrecarregados com várias novas disciplinas consideradas mais necessárias e mais “atuais”, que não

há espaço suficiente para a patrística. Portanto, por consequência, devem contentar-se com algumas

horas por semana, ou soluções improvisadas dentro da estrutura da história da Igreja antiga. A essas

dificuldades é frequentemente adicionada a falta de coleções patrísticas e recursos bibliográficos

apropriados nas bibliotecas.

2. OS PADRES NAS DIRETRIZES DA IGREJA

A discussão sobre o estado atual dos estudos patrísticos não estaria completa se as normas oficiais

da Igreja não fossem mencionadas. Elas, como será visto, trazem em clara luz os valores teológicos,

espirituais e pastorais contidos nas obras dos Padres, com a intenção de render frutos para a

preparação dos futuros sacerdotes.

13. a) Entre essas diretrizes, as indicações do Concílio Vaticano II, relativas ao método de ensino

teológico e o papel da Tradição na interpretação e transmissão da Sagrada Escritura, ocupam o

primeiro lugar.

No n. 16 do Decreto “Optatam Totius”, o método exegético é prescrito para o ensino da dogmática,

de modo nenhum em contraste com a necessidade de aprofundar os mistérios da teologia e de “ver

o seu nexo mediante a especulação, tendo por mestre Santo Tomás” ib.): método que em sua

segunda etapa se consagra a ilustrar a contribuição dos Padres da Igreja Oriental e Ocidental para “a

Interpretação e transmissão fiel de cada uma das verdades reveladas”.

Esse método, tão importante para a compreensão do progresso dogmático, foi confirmado pelo

recente Sínodo Extraordinário dos Bispos em 1985 (ver Relatio finalis II, B, n. 4).

14. A importância que os Padres têm para a teologia e, de um modo particular, para a compreensão

da Sagrada Escritura, também é muito clara em algumas declarações da Constituição “Dei Verbum”

sobre o valor e o papel da Tradição:

“A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas (...).

a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de

Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos (...) donde resulta assim que a

Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso,

ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência” (n. 9).

Como podemos ver, a Sagrada Escritura, que deve ser “a alma da teologia” e “seu fundamento

perene” (cfr. n. 24), forma uma unidade inseparável da Sagrada Tradição, “um único depósito da

palavra de Deus confiada à Igreja (...) que não pode existir independentemente” (n.10). E são

precisamente “as afirmações dos Santos Padres” que “testemunham a presença vivificadora desta

Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante” (n. 8). Portanto, ainda

hoje, apesar do inegável progresso feito pela exegese moderna, a Igreja “esforça-se por conseguir

uma inteligência cada vez mais profunda da Sagrada Escritura, para poder alimentar continuamente

os seus filhos com os divinos ensinamentos; por isso, vai fomentando também convenientemente o

estudo dos Santos Padres do Oriente e do Ocidente, bem como das Sagradas Liturgias” (n. 23).

15. b) A Congregação para a Educação Católica, na “Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis” e

no documento “A formação teológica dos futuros sacerdotes”, reafirma as prescrições do Concílio

Vaticano II, mencionadas anteriormente, destacando alguns aspectos importantes:

Diante de certas tendências minimalistas da teologia dogmática, insiste-se sobre a integridade e

completude do método exegético4, ilustrando sua validade, os valores didáticos5, assim como as

condições necessárias para sua correta aplicação6; a este respeito, é feita uma referência explícita à

etapa patrístico-histórica7.

De acordo com a “Ratio fundamentalis”8, os professores e estudantes devem aderir com plena

fidelidade à palavra de Deus na Sagrada Escritura e na Tradição, baseando-se em seu vívido

significado "sobretudo das obras dos Santos Padres". Eles merecem uma grande estima, porque "seu

trabalho pertence à tradição viva da Igreja, à qual, por disposição providencial, trouxeram

contribuições de valor duradouro em tempos mais favoráveis à síntese da fé e da razão" 9. Uma

abordagem mais ampla dos Padres pode, portanto, ser considerada o meio mais eficaz para

descobrir a força vital da formação teológica10 e, acima de tudo, para inserir-se no dinamismo da

Tradição, “que preserva de um individualismo exagerado, garantindo objetividade do pensamento”11 

Para que essas exortações não permaneçam uma letra morta, algumas normas para o estudo

sistemático de patrística foram divulgadas no documento acima mencionado “Formação teológica de

futuros sacerdotes” (n. 85-88).

16. c) Os impulsos dados ao estudo dos Padres pelo Concílio e pela Congregação para a Educação

Católica foram acentuados nas últimas décadas em várias ocasiões pelos Sumos Pontífices. Suas

intervenções, como as de seus antecessores, se distinguem pela variedade de tópicos e incisividade

na atual situação teológica e espiritual:

“O estudo dos Padres, de grande utilidade para todos, é imperativo para quem se preocupa com a

renovação teológica, pastoral e espiritual promovida pelo Concílio e nela quiser colaborar. Neles, de

fato, existem constantes que são a base de toda renovação autêntica” 12. O pensamento patrístico é

cristocêntrico13; é um exemplo de uma teologia unificada, viva, amadurecida em contato com os

4 Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, n. 79.

5 A formação teológica dos futuros sacerdotes, n. 89, 93.

6 Ibid., n. 90, 91.

7 Ibid., n. 92 4b.

8 Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, n. 86.

9 A formação teológica dos futuros sacerdotes, n. 48.

10 Ibid., n. 74.

11 Ibid., n. 49.

12 PAULO VI, Carta a sua Emcia. O Cardeal Michele Pellegrino para o centenário da morte de J.P. Migne, 10 de maio de 1975: AAS 67 (1975), p. 471.

13 JOÃO PAULO II, Aloc. Sono lieto, aos Professores e alunos do Instituto Patrístico “Augustinianum”, 8 de maio de 1982: AAS74 (1982), p. 798: “Colocar-se portanto na escola dos Padres quer dizer aprender a conhecer melhor Cristo e a conhecermelhor o homem. Este conhecimento, cientificamente documentado e provado, ajudará enormemente a Igreja na missão depregar a todos, como ela faz incansavelmente, que só Cristo é a salvação do homem”.

problemas do ministério pastoral14; é um excelente modelo de catequese15, fonte para o

conhecimento das Sagradas Escrituras e Tradição16, bem como do homem total e da verdadeira

identidade cristã17. Os Padres “são, de fato, uma estrutura estável da Igreja e, para a Igreja de todos

os séculos, cumprem uma função perene. De modo que todo anúncio e magistério subsequente, se

quiser ser autêntico, deve lidar com o seu anúncio e magistério; todo carisma e todo ministério

devem recorrer à fonte vital de sua paternidade; e cada uma das novas pedras adicionadas ao

edifício... deve ser colocada nas estruturas já colocadas por eles, e com elas ser soldada e

conectada”18.

Não faltam incentivos para o estudo mais intenso da patrística. Eles são numerosos e bem motivadas.

Agora, para tornar essas solicitações ainda mais explícitas, considera-se útil explicar algumas de suas

razões.

II - PORQUE ESTUDAR OS PADRES

17 É óbvio que os estudos patrísticos só poderão atingir o nível científico necessário e trazer os frutos

desejados, apenas com a condição de serem cultivados com seriedade e amor. De fato, a experiência

ensina que os Padres abrem suas riquezas doutrinárias e espirituais somente àqueles que se

esforçam para adentrar em sua profundidade através de uma familiaridade contínua e assídua com

eles. Portanto, professores e alunos precisam de um compromisso real, pelas seguintes razões

principais:

1) Os Padres são testemunhas qualificadas da Tradição; 2) Eles nos deram um método teológico que

é ao mesmo tempo luminoso e seguro; 3) Seus escritos oferecem uma riqueza cultural, espiritual e

apostólica, que os torna grandes mestres da Igreja de ontem e de hoje.

1. TESTEMUNHAS PRIVILEGIADAS DA TRADIÇÃO

18. Entre as várias qualificações e funções que os documentos do Magistério atribuem aos Padres, há,

em primeiro lugar, o de testemunhas privilegiadas da Tradição. No fluxo da Tradição viva, que

continua desde o início do cristianismo, através dos séculos até os dias atuais, eles ocupam uma

posição muito especial, o que os torna inconfundíveis em comparação com os outros protagonistas

da história da Igreja. Eles são de fato os que lançaram as traves mestras das estruturas da Igreja,

juntamente com atitudes doutrinais e pastorais que permanecem válidas para todos os tempos.

14 PAULO VI, Alocução I Nostri passi, na inauguração do Instituto Patrístico “Augustinianum”, 4 de maio de 1970: AAS 62(1970), p. 425: “Como pastores, os Padres sentiram a necessidade de adaptar a mensagem evangélica à mentalidadecontemporânea e de nutrir-se a si próprios e ao povo de Deus com o alimento da verdade da Fé. Isto fez com que para elescatequese, teologia, Sagrada Escritura, liturgia, vida espiritual e pastoral se unissem numa unidade vital e que eles não falassemsó à inteligência, mas a todo o homem, no que diz respeito ao pensar, ao querer, ao sentir”.

15 JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Catechesi tradendae, 16 de outubro de 1979: AAS 71 (1979), p. 1287, n.12.

16 JOÃO PAULO II, Alocução Sono lieto, aos professores e alunos do Instituto Patrístico “Augustinianum”, 8 de maio de 1982:AAS 74 (1982), p. 796s.

17 Ibid., p. 797s.

18 JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Patres Ecclesiae, 2 de janeiro de 1980: AAS 72 (1980), p. 6.

19. a) Em nossa consciência cristã, os Padres aparecem sempre ligados à Tradição, tendo sido,

naquela época, protagonistas e testemunhas. Eles estão muito próximos da pureza das origens;

alguns deles foram testemunhas da Tradição apostólica, a fonte da qual a própria Tradição se origina;

especialmente os do primeiro século podem ser considerados autores e expoentes de uma tradição

“constitutiva”, da qual em tempos posteriores haverá a conservação e a explicação contínua. De

qualquer forma, os Pais transmitiram o que receberam “ensinaram à Igreja o que aprenderam na

Igreja”19; “o que encontraram na Igreja, guardaram; o que eles aprenderam, ensinaram; o que

receberam dos Padres, transmitiram aos filhos”20. 

20. b) Historicamente, a era dos Padres é o período de algumas primícias importantes do

ordenamento eclesial. Foram eles a fixar “todo o cânone dos Livros Sagrados”21, a compor as

profissões basilares da fé ("regulae fidei"), a elucidar o depósito da fé no confronto com as heresias e

à cultura de seu tempo, dando assim origem à teologia. Além disso, eles ainda são os que lançaram

os fundamentos da disciplina canônica ("statuta patrum", "traditiones patrum") e criaram as primeiras

formas da liturgia, que continuam sendo um ponto de referência obrigatório para todas as reformas

litúrgicas posteriores. Os Padres deram assim a primeira resposta consciente e refletida à Sagrada

Escritura, formulando-a não tanto como uma teoria abstrata, mas como uma prática pastoral diária

de experiência e ensino, no coração das assembleias litúrgicas, reunidas para professar a fé e celebrar

o culto do Senhor ressuscitado. Foram, assim, os autores da primeira grande catequese cristã.

21 c) A Tradição, de que os Padres são testemunhas, é uma Tradição viva, que demonstra a unidade

na variedade e continuidade no progresso. Isso pode ser visto na pluralidade de famílias litúrgicas,

tradições espirituais, disciplinares e exegético-teológicas existentes nos primeiros séculos (por

exemplo, as escolas de Alexandria e Antioquia); tradições diferentes, mas unidas e enraizadas todas

no firme e imutável fundamento comum da fé.

22 d) A Tradição, portanto, como foi conhecida é vivida pelos Padres, não é como um bloco

monolítico, imóvel e esclerosado, mas, antes, um organismo pluriforme e pulsante da vida. Uma

práxis de vida e de doutrina que conhece, de uma parte, também incertezas, tensões, a busca às

apalpadelas, e por outro lado decisões tempestivas e corajosas, assim como respostas de grande

originalidade e importância decisiva. Seguir a Tradição viva dos Padres não significa agarrar-se ao

passado como tal, mas aderir, com um senso de segurança e liberdade de arranque na linha da fé,

enquanto se mantém diante das vistas, constantemente, o fundamento: o que é essencial, o que dura

e não muda. É uma lealdade absoluta, em muitos casos trazida e comprovada "usque ad sanguinis

effusionem", ao dogma e aos princípios morais e disciplinares que demonstram sua função

insubstituível e sua fecundidade precisamente nos momentos em que novas coisas estão surgindo.

23. e) Os Padres são, portanto, os que testemunhas e garantidores de uma autêntica Tradição

católica, e, portanto, sua autoridade em questões teológicas tem sido e sempre permanece grande.

Quando foi necessário denunciar o desvio de certas correntes de pensamento, a Igreja sempre

recorreu aos Padres como garantia da verdade. Vários Concílios, por exemplo os de Calcedônia e

Trento, começam suas declarações solenes com referência à Tradição patrística, usando a fórmula:

19 AGOSTINHO, Opus imp. c. Jul. 1, 117; PL 45, 1125.

20 Idem, Contra Jul. 2, 10, 34; PL 44, 698.

21 CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dei Verbum, n. 8.

"Seguindo os Santos Padres ... etc". Também são feitas referências a eles nos casos em que o assunto

já foi resolvido por si só com o recurso às Sagradas Escrituras. 

No Concílio de Trento22 e no Vaticano I23 foi declarado explicitamente o princípio de que o

consentimento unânime dos Padres constitui uma regra certa de interpretação da Escritura, um

princípio que sempre foi vivido e praticado na história da Igreja e que é identificado com o da

normatividade da Tradição formulado por Vicente de Lérins24 e, antes, por S. Agostinho.

24 f) Os exemplos e ensinamentos dos Padres, testemunhas da Tradição, foram particularmente

avaliados e valorizados no Concílio Vaticano II, que graças a eles foi capaz de ganhar uma

consciência mais viva de que a Igreja tem de si mesma e identificar o caminho seguro,

particularmente na renovação litúrgica, por um frutuoso diálogo ecumênico e pelo encontro com as

religiões não-cristãs, fazendo com que o antigo princípio da unidade na diversidade e o progresso na

continuidade da Tradição dê frutos nas circunstâncias de hoje.

2. MÉTODO TEOLÓGICO

25 O delicado processo de inserção do cristianismo no mundo da cultura antiga e a necessidade de

definir o conteúdo do mistério cristão em relação às culturas e heresias pagãs, estimularam os Padres

a aprofundar e ilustrar racionalmente a fé com a ajuda das categorias de pensamento melhor

elaborado pelas filosofias de seu tempo, especialmente na refinada filosofia helenística. Uma de suas

tarefas históricas mais importantes era dar vida à ciência teológica e estabelecer a seu serviço

algumas coordenadas e normas procedimentais que se mostraram válidas e frutíferas também para

os séculos futuros, como São Tomás de Aquino, fidelíssimo à doutrina dos Padres, demonstraria em

sua obra.

Nesta atividade dos teólogos, algumas atitudes e momentos particulares são delineados nos Padres,

que são de grande interesse e que também precisam estar presentes hoje nos estudos sagrados:

a) o recurso contínuo às Escrituras Sagradas e ao senso da Tradição;

b) consciência da originalidade cristã, reconhecendo as verdades contidas na cultura pagã;

c) a defesa da fé como bem supremo e o aprofundamento contínuo do conteúdo da Revelação;

d) o senso de mistério e a experiência do divino.

a) o recurso contínuo às Escrituras Sagradas e ao senso de Tradição;

26 l. Os Padres são, em primeiro lugar e essencialmente, comentaristas da Sagrada Escritura:

"divinorum librorum tractatores"25.  É verdade que, do nosso ponto de vista hoje, neste trabalho o

método deles possui certos limites inegáveis. Eles não conheciam e não podiam conhecer os recursos

filosóficos, históricos, antropológicos-culturais, nem as questões de pesquisa, documentação,

elaboração científica disponíveis para a exegese moderna e, portanto, uma parte de seu trabalho

22 Concílio de Trento., ed. Goerressiana, V (Acta II), 91s.

23 Concílio Vaticano I, col. Lac. 7, 251.

24 Comm. primum 2, 10: PL 50, 639, 650.

25 AGOSTINHO, De lib. arb. III, 21, 59; De Trin. II, 1,2: PL 32, 1300; 42, 845.

exegético deve ser considerada caduca. Mas, no entanto, seus méritos para uma melhor

compreensão dos Livros Sagrados são incalculáveis. Para nós, eles continuam sendo verdadeiros

mestres. E pode-se dizer que são superiores, em muitos aspectos, aos exegetas da Idade Média e da

era moderna pois "distinguem-se por uma suave intuição das coisas celestes e por uma admirável

perspicácia com que penetram até às mais íntimas profundidades da divina palavra"26. O exemplo

dos Padres pode, de fato, ensinar aos exegetas modernos uma abordagem verdadeiramente

religiosa das Escrituras Sagradas, bem como uma interpretação que constantemente obedece ao

critério de comunhão com a experiência da Igreja, que percorre a história sob a guia do Espírito

Santo. Quando esses dois princípios interpretativos: religioso e especificamente católico, são

desconsiderados ou esquecidos, os estudos exegéticos modernos resultam muitas vezes pobres e

distorcidos.

A Sagrada Escritura era, para os Padres objeto de veneração incondicional, fundamento da fé, tópico

constante da pregação, alimento da piedade e alma da teologia. Eles sempre sustentaram sua origem

divina, a inerrância, a normatividade, a inesgotável riqueza de vigor para a espiritualidade e a para a

doutrina. Basta lembrar aqui o que escreveu Santo Irineu sobre as Escrituras: elas "são perfeitas,

porque são ditadas pelo Verbo de Deus e pelo seu Espírito"27, e os quatro Evangelhos são "o

fundamento e a coluna da nossa fé"28.

27. 2. A teologia nasceu da atividade exegética dos Padres, "in medio Ecclesiae", e especialmente nas

assembleias litúrgicas, em contato com as necessidades espirituais do Povo de Deus. Aquela exegese,

na qual a vida espiritual se funde com a reflexão teológica racional, sempre visa o essencial, enquanto

permanece fiel a todo o sagrado depósito da fé. É inteiramente centrada no mistério de Cristo, o qual

reenvia a todas as verdades particulares em uma síntese admirável. Em vez de se dispersarem em

numerosos problemas marginais, os Padres tentam abraçar a totalidade do mistério cristão, seguindo

o movimento fundamental da Revelação e a economia da salvação, que vai de Deus, através de

Cristo, à Igreja, sacramento da união com Deus e dispensadora da graça divina, para retornar a Deus.

Graças a este intuito, devido ao vivo senso de comunhão eclesial, à proximidade das origens cristãs e

à familiaridade com as Escrituras, os Padres observam tudo no seu centro, tornando-o presente todo

inteiro em cada uma de suas partes e sempre reconectando a ele as questões periféricas. Portanto,

seguir os Padres em seu itinerário teológico significa colher mais facilmente o núcleo essencial de

nossa fé e o "specificum" de nossa identidade cristã.

28. 3. A veneração e a fidelidade dos Padres em relação aos Livros Sagrados anda de mãos dadas

com a veneração e a fidelidade à Tradição. Consideram-se não senhores, mas servos das Sagradas

Escrituras, recebendo-os da Igreja, lendo-os e comentando-os na Igreja e para a Igreja, de acordo

com a regra de fé proposta e ilustrada pela Tradição eclesiástica e apostólica. Santo Irineu,

supracitado, um grande amante e estudioso dos Livros Sagrados, sustenta que quem quiser conhecer

a verdade deve recorrer à Tradição dos Apóstolos29, e acrescenta que, mesmo que não tivessem nos

deixado as Escrituras, seria suficiente para nossa educação e salvação a Tradição30. O próprio

26 PIO XII, Carta Encíclica Divino Afflante Spiritu, 30 de setembro de 1943: AAS (1943), p. 312.

27 Adversus haereses, 2, 28, 2: PG 7, 805.

28 Ibid., 3,1,1: PG 7, 844.

29 Ibid., 3,3,1: PG 7, 848.

30 Ibid., 3,4,1: PG 7, 855.

Orígenes, que estudou as Escrituras com muito amor e paixão, e trabalhou tanto por sua

compreensão, declara abertamente que somente devem ser consideradas verdades da fé aquelas

que de modo algum se afastem da "Tradição eclesiástica e apostólica"31, fazendo, com isso, da

Tradição a norma interpretativa das Escrituras. Santo Agostinho, depois, que colocava suas "delícias"

na meditação das Escrituras32, enuncia esse princípio, admiravelmente claro e convencido que retorna

novamente à Tradição: "Eu não acreditaria no Evangelho se a autoridade da Igreja Católica não me

levasse a ele"33.

29. 4. Portanto, o Concílio Vaticano II, ao declarar que "A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura

constituem um depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja"34, não fazem nada além de

confirmar um antigo princípio teológico praticado e professado pelos Padres. Esse princípio, que

iluminou e dirigiu toda a sua atividade exegética e pastoral, certamente permanece válido também

para os teólogos e para os pastores de almas de hoje. Segue-se de maneira concreta que o retorno

às Escrituras Sagradas, que é uma das principais características da vida atual da Igreja, deve ser

acompanhado pelo retorno à Tradição atestado por escritos patrísticos, se deseja-se produzir os

frutos esperados.

b) Originalidade cristã e inculturação

30 l. Outra característica importante e muito atual do método teológico dos Padres é que ele oferece

a luz para entender "mais claramente o processo de tornar a fé inteligível, tendo em conta a filosofia

e a sabedoria dos povos"35. De fato, a partir das Escrituras e da Tradição, eles receberam a clara

consciência da originalidade cristã, ou seja, a firme convicção de que o ensino cristão contém um

núcleo essencial de verdades reveladas, que constituem a norma para julgar a sabedoria humana e

distinguir a verdade do erro. Se tal convicção levou alguns deles a rejeitar a contribuição desta

sabedoria e a considerar os filósofos como "patriarcas dos hereges", isso não impediu a maioria deles

de aceitar essa contribuição com interesse e reconhecimento, como procedendo da única fonte de

sabedoria, que é o Verbo. Basta recordar a esse respeito de São Justino Mártir, Clemente de

Alexandria, Orígenes, São Gregorio de Nissa e, em particular, Santo Agostinho, que em sua obra "De

doctrina christiana" traçou um programa para esta atividade: "Se aqueles que são chamados filósofos

disseram que as coisas são verdadeiras e de acordo com a nossa fé (...) não apenas não devem nos

incutir temor, mas (...) devem ser reivindicadas para nosso uso (...). Não é exatamente isso o que

fizeram muitos de nossos bons fiéis? Cipriano, Lactâncio, Vitorino,  Optato, Hilário, para não falar

ainda dos mortos, e uma quantidade inumerável dos Gregos?"36.

2. A este estudo de assimilação se acrescenta um outro, não menos importante e inseparável, que

poderíamos chamar de desassimilação. Ancorados na norma da fé, os Padres aceitaram muitas

contribuições da filosofia greco-romana, mas rejeitando os seus graves erros, evitando, em particular,

o perigo do sincretismo tão difundido na cultura helenística então dominante, bem como do

31 De principis 1, praef. 1; cf. In Mt comm. 46: PG 11, 116; cf. 13, 1667.

32 Confess. 11,2,3: PL 32, 809.

33 Contra ep. Fund. 5,6: PL 42, 976.

34 Constituição Dei Verbum, n. 10.

35 CONCÍLIO VATICANO II, Decreto Ad gentes, n. 32.

36 De doctr. Chr. 2,40,60-61: PL 34, 63.

racionalismo que ameaçava reduzir fé apenas em aspectos aceitáveis pela racionalidade helênica.

"Contra seus grandes erros - escreve Santo Agostinho - a doutrina cristã deve ser defendida"37.

32 3. Graças a esse cuidadoso discernimento dos valores e limites ocultos nas várias formas da

cultura antiga, novos caminhos foram abertos para a verdade e novas possibilidades para o anúncio

do Evangelho. Instruída pelos Padres Gregos, Latinos e Siríacos... a Igreja, de fato “aprendeu, desde

os começos da sua história, a formular a mensagem de Cristo por meio dos conceitos e línguas dos

diversos povos, e procurou ilustrá-la mediante o saber filosófico. Tudo isto com o fim de adaptar o

Evangelho à capacidade de compreensão de todos e às exigências dos sábios”38. Em outras palavras,

os Padres, cientes do valor universal da revelação, começaram a grande obra da inculturação cristã,

como se chamaria hoje. Eles se tornaram o exemplo de um encontro frutífero entre fé e cultura, entre

fé e razão, permanecendo um guia para a Igreja de todos os tempos, comprometida em pregar o

Evangelho a homens de culturas tão diferentes e trabalhar entre eles.

Como pode ser visto, graças a essas atitudes dos Padres, a Igreja se revelou desde o início "por sua

natureza missionária"39, mesmo no nível do pensamento e da cultura, e, portanto, o Concílio Vaticano

II prescreve que "essa adaptação do pregar a palavra revelada deve permanecer a lei de toda

evangelização"40.

c) Defesa da fé, progresso dogmático

33 1. No interior da Igreja, o encontro da razão com a fé ocasionou muitas e longas controvérsias que

interessaram os grandes temas do dogma trinitário, cristológico, eclesiológico, antropológico e

escatológico. Nessas ocasiões, os Padres, ao defenderem as verdades que tocam a própria essência

da fé, foram os autores de um grande avanço no entendimento dos conteúdos dogmáticos,

prestando um serviço válido ao progresso da teologia. Seu munus apologético, exercido com uma

consciente solicitude pastoral, pelo bem espiritual dos fiéis, foi um meio providencial de amadurecer

todo o corpo da Igreja. Como Santo Agostinho disse diante da multiplicação dos hereges: "Deus

permitiu a sua propagação, para que não nos alimentássemos apenas com leite e não

permanecessemos no estado de uma infância grosseira"41 enquanto "muitas perguntas a respeito da

fé, quando são suscitadas pelos hereges com astuta inquietação, para as poder defender contra eles,

são examinadas com mais diligência, compreendidas com mais clareza, pregadas com mais

insistência de modo que a pergunta movida pelo oponente se torna uma oportunidade de

aprendizado"42. 

34 2. Assim, os Padres se tornaram os iniciadores do processo racional aplicado aos dados da

Revelação, os promotores iluminados daquele "intellectus fidei", que pertence à essência de toda

teologia autêntica. A tarefa providencial deles era não apenas defender o cristianismo, mas também

repensá-lo no ambiente cultural greco-romano; encontrar novas fórmulas para expressar uma

37 Retract. 1,1,4: Pl 32, 587.

38 CONCÍLIO VATICANO II, Const. Past. Gaudium et Spes, n. 44.

39 CONCÍLIO VATICANO II, Decr. Ad gentes, n.2.

40 CONCÍLIO VATICANO II, Const. past. Gaudium et spes, n. 44.

41 AGOSTINHO, Tract. in Joh. 36, 6: PL 35, 1666.

42 Idem, De civ. Dei 16, 2,1: PL 41, 477.

doutrina antiga, fórmulas não bíblicas para uma doutrina bíblica; apresentar, em uma palavra, a fé na

forma de um discurso humano, plenamente católico e capaz de expressar o conteúdo divino da

revelação, salvaguardando sempre sua identidade e transcendência. Numerosos conceitos

introduzidos por eles na teologia trinitária e cristológica (por exemplo, ousia, hypostasis, physis,

agenesia, geneis, ekporeusis, etc.) desempenharam um papel determinante na história dos Concílios

e entraram nas fórmulas dogmáticas, tornando-se parte dos nossos atuais instrumentos teológicos.

3. O progresso dogmático que foi realizado pelos Padres não como um projeto abstrato puramente

intelectual, mas na maioria das vezes em homilias, em meio às atividades litúrgicas e pastorais,

constitui um ótimo exemplo de renovação na continuidade da Tradição. Para eles, "a fé católica

proveniente da doutrina dos apóstolos... e recebida através de uma série de sucessões" deve "ser

transmitida sã aos descendentes"43. Por isso foi tratada por eles com o máximo respeito, com total

fidelidade ao seu fundamento bíblico e, ao mesmo tempo, com uma justa abertura de espírito frente

às novas necessidades e às novas circunstâncias culturais: as duas características próprias da tradição

viva da Igreja.

36 4. Esses primeiros esboços de teologia proferidos pelos Padres colocam em evidência algumas de

suas atitudes fundamentais típicas em relação aos dados revelados, que podem ser considerados de

valor permanente e, portanto, também válidos para a Igreja de hoje. Se trata de uma base

estabelecida de uma vez por todas, à qual todas as teologias posteriores devem se referir e, se

necessário, retornar. Se trata de um patrimônio que não é exclusivo de nenhuma Igreja em particular,

mas é muito valioso para todos os cristãos. De fato, remonta aos tempos anteriores à ruptura entre o

Oriente e o Ocidente cristão, transmitindo tesouros comuns de espiritualidade e doutrina; uma mesa

rica na qual os teólogos de várias confissões sempre podem se encontrar. Os Padres são de fato

Padres da Ortodoxia Oriental assim como da teologia católica latina, ou da Teologia dos protestantes

e anglicanos, um objeto comum de estudo e veneração.

d) Senso do mistério, experiência do divino

37 1. Se os Padres demonstraram em tantas ocasiões sua responsabilidade como pensadores e

pesquisadores em relação à Revelação, seguindo, pode-se dizer, o programa do "credo ut intelligam"

e do "intelligo ut credam", eles o fizeram sempre como autênticos homens da Igreja,

verdadeiramente crentes, sem comprometer minimamente a pureza ou, como Santo Agostinho

expressa, a "virgindade"44, da fé. De fato, como "teólogos", eles não recorriam exclusivamente nos

recursos da razão, mas também às propriamente mais religiosos, oferecidos pelo conhecimento de

caráter afetivo e existencial, ancorados na íntima união com Cristo, nutridos pela oração e

sustentados pela graça e pelos dons do Espírito Santo. Em suas atitudes como teólogos e pastores se

manifestava, no mais alto grau, o profundo senso do mistério e a experiência do divino o que os

protegia contra as tentações sempre recorrentes de um racionalismo demasiado, ou de um fideísmo

estéril e resignado.

2. A primeira coisa que impressiona em sua teologia é o sentido vivo da transcendência da Verdade

divina contida na Revelação. Ao contrário de muitos outros pensadores antigos e modernos, eles dão

43 Idem, Tract. in Joh. 37, 6: PL 35, 1672.

44 AGOSTINHO, Serm. 93, 4; 341, 5; etc.: PL 38, 574; 39, 1496.

prova de uma grande humildade diante do mistério de Deus, contido nas Sagradas Escrituras, das

quais eles, em sua modéstia, preferem ser simples comentadores, com cuidado para não acrescentar

nada a ela que possa alterar a sua autenticidade. Pode-se dizer que essa atitude de respeito e

humildade nada mais é do que a consciência viva dos limites intransponíveis que o intelecto humano

experimenta diante da transcendência divina. Basta lembrar aqui, além das homilias de São João

Crisóstomo Sobre a Incompreensibilidade de Deus, o que o bispo de São Cirilo de Jerusalém

escreveu textualmente aos catecúmenos: "Quando se trata de Deus, é uma grande ciência confessar

ignorância"45; assim como, depois dele, o Bispo de Hipona Santo Agostinho dirá sentenciosamente ao

seu povo: "É preferível uma ignorância fiel a uma ciência temerária"46. E, antes deles, Santo Irineu

havia afirmado que a geração do Verbo é inenarrável e que aqueles que afirmam explicá-la

"perderam o uso da razão"47. 

39 3. Dado esse vivo sentido espiritual, a imagem que os Padres nos oferecem é a de homens que

não apenas aprendem, mas também, e acima de tudo, experimentam as coisas divinas, como disse

Dionísio Pseudo-Areopagita do seu “Ieroteo”: "non solum discens sed et patiens divina"48. Na maioria

das vezes, são especialistas da vida sobrenatural, que comunicam o que viram e gostaram na

contemplação das coisas divinas; o que eles conheceram pelo caminho do amor "per quandam

connaturalitatem", como diria São Tomás de Aquino49. Na sua maneira de se expressar, muitas vezes

é perceptível a acentuação de sabor místico, o que revela uma grande familiaridade com Deus, uma

experiência vivida do mistério de Cristo e da Igreja e um contato constante com todas as fontes

genuínas da vida teologal, consideradas por eles como situação fundamental da vida cristã. Pode-se

dizer na linha agostiniana "intellectum valde ama"50, os Padres certamente apreciam a utilidade da

especulação, mas sabem que não basta. No mesmo esforço intelectual para entender a fé, o qual

tornando amigos o que conhece e o que é conhecido51 torna-se, por sua própria natureza, uma fonte

de nova inteligência.  De fato, "nada de bom é perfeitamente conhecido se não for amado

perfeitamente"52.

40 4. Esses princípios metodológicos, que antes de serem expressamente enunciados foram seguidos

e vividos na prática, também foram objeto de reflexões explícitas dos Padres. Basta referir-se, a esse

respeito, a São Gregório Nazianzeno, que na primeira de suas cinco famosas orações teológicas,

dedicadas ao modo de fazer teologia, trata da necessidade da moderação, da humildade, da

purificação interior, da oração. Da mesma forma, Santo Agostinho, que recorda o lugar que a fé

ocupa na vida da Igreja e falando da função que os teólogos desempenham nela, escreve que eles

devem ser "piedosamente instruídos e verdadeiramente espirituais"53. Ele mesmo dá um exemplo

disso quando escreve o De Trinitate, com o objetivo de responder "aos festivos raciocinadores", que,

"desprezando os humildes princípios da fé, se deixam desviar por um amor imaturo e perverso da

razão"54.

45 Catech. 6, 2: PG 33, 542.

46 Serm. 27, 4: PL 38, 179.

47 Adversus haereses, 2, 28, 6: PG 7, 809.

48 De Divinis Nominibus 2,9; PL 3, 674, cf. 648; citado por S. Tomás de Aquino em S. Th. II-II, q. 45, a.2.

49 S.Th. II-II, q.45, a. 2.

50 AGOSTINHO, Ep. 120, 3, 13: PL 33, 459.

51 CLEMENTE ALEX., Stromata 2,9: PL 8, 975-982.

52 AGOSTINHO, De divv. Qq. LXXXIII, q. 35, 2: Pl 40, 24.

53 Ep. 118, 32: PL 33, 448.

54 De Trin. 1,1,1: PL 42, 819

Pelas razões expostas, pode-se dizer que a atividade teológica dos Padres ainda é relevante para nós

hoje. Eles permanecem mestres para os teólogos, como representantes de um momento importante,

decisivo e que não pode ser eliminado da teologia da Igreja, como exemplos da maneira como

realizam sua atividade teológica, como fontes autorizadas e testemunhas insubstituíveis pelos

conteúdos que foram capazes de obter mediante a sua reflexão e meditação sobre o dado revelado.

3. RIQUEZA CULTURAL, ESPIRITUAL E APOSTÓLICA

Os escritos patrísticos se distinguem não apenas por sua profundidade teológica, mas também pelos

grandes valores culturais, espirituais e pastorais que eles contêm. A esse respeito, eles são, depois da

Sagrada Escritura, conforme recomendado no decreto "Presbyterorum Ordinis" (n. 19), uma das

principais fontes de formação sacerdotal e um "alimento frutuoso" que acompanha os sacerdotes

durante toda a vida.

42 a) Os Padres latinos, gregos, siríacos e armênios, além de contribuírem para a herança literária de

suas respectivas nações, são - ainda que cada um de maneira e extensão muito diferentes - como

que os clássicos da cultura cristã que, fundada e construída por eles, leva para sempre o sinal

indelével de sua paternidade. Diferentemente das literaturas nacionais, que expressam e moldam o

gênio de cada um dos povos, a herança cultural dos Padres é verdadeiramente "católico", universal,

porque ensina como se tornar e como se comportar como homens retos e cristãos autênticos. Por

seu profundo senso do sobrenatural e pelo discernimento dos valores humanos em relação à

especificidade cristã, suas obras foram, nos séculos passados, uma excelente ferramenta formativa

para gerações inteiras de sacerdotes e permanecem indispensáveis ainda para a Igreja hoje.

43 b) Do ponto de vista cultural, é de grande importância o fato de numerosos Padres terem

recebido uma excelente formação nas disciplinas das antigas culturas grega e romana, das quais

receberam as altas conquistas civis e espirituais, enriquecendo os seus tratados, as suas catequeses e

a sua pregação. Eles, imprimindo o selo cristão na antiga "humanitas" clássica, foram os primeiros a

construir a ponte entre o Evangelho e a cultura profana, traçando um programa cultural rico e

exigente para a Igreja, que influenciou profundamente os séculos seguintes e, em particular, toda a

vida espiritual, intelectual e social do medievo55. Graças ao seu magistério, muitos cristãos dos

primeiros séculos tiveram acesso às diversas esferas da vida pública (escolas, administração, política)

e o cristianismo foi capaz de aprimorar o que foi encontrado no mundo antigo, purificar o que era

menos perfeito e contribuir por seu lado, à criação de uma nova cultura e civilização inspirada no

Evangelho. Voltar às obras dos Padres significa, portanto, para os futuros sacerdotes, alimentar-se

das mesmas raízes da cultura cristã e compreender melhor seus deveres culturais no mundo de hoje.

44 c) Quanto à espiritualidade dos Padres, já foi apontado no parágrafo anterior como toda a sua

teologia é eminentemente religiosa, uma verdadeira "ciência sagrada" que, enquanto ilumina a

mente, edifica e aquece o coração. Aqui, além dos elementos e aspectos estritamente teológicos, é

bom enfatizar alguns comportamentos e atitudes morais resultantes de suas obras como coeficientes

fundamentais da expansão progressiva, muitas vezes silenciosa, do fermento evangélico na

55 A esse respeito exerceram uma grande influência sobretudo duas obras de S. Agostinho: De civitate Dei e De doctrina christiana.

sociedade pagã, e depois permaneceu para sempre impressionado no consciência e no próprio rosto

da Igreja. Muitos dos pais eram "convertidos"; o sentido da novidade da vida cristã estava unido neles

à certeza da fé. A partir disso, uma "vitalidade explosiva", um fervor missionário, um espírito de amor

que inspirou as almas ao heroísmo da vida pessoal e social cotidiana, foi lançado nas comunidades

cristãs de sua época, especialmente com a prática das obras de misericórdia, esmola, cuidado dos

doentes, das viúvas, dos órfãos, a estima pela mulher e por toda pessoa humana, a educação dos

filhos, o respeito pela vida nascente, a fidelidade conjugal, o respeito e a generosidade no tratamento

dos escravos, a liberdade e a responsabilidade perante o poder público, a defesa e o apoio aos

pobres e oprimidos, e com todas as formas de testemunho evangélico exigidas pelas circunstâncias

do lugar e do tempo, às vezes levadas ao sacrifício supremo do martírio. Com a conduta inspirada

nos ensinamentos dos Padres, os cristãos se distinguiam do mundo pagão que os circundava,

expressando sua novidade de vida nascida de Cristo ao abraçar os ideais ascéticos da virgindade

"propter regnum coelorum", do desapego dos bens terrenos, da penitência, da vida monástica

eremítica ou comunitária, nos moldes dos "conselhos evangélicos" e na espera vigilante do Cristo que

vem. Também muitas formas de piedade privada (como oração em família, oração diária, prática dos

jejuns) e comunitária (por exemplo, a celebração do domingo e das principais festas litúrgicas, como

a participação nos acontecimentos salvíficos, a veneração da SS.ma Virgem Maria, as vigílias, os

ágapes, etc.) datam da era patrística e recebem seu preciso significado teológico-espiritual dos

ensinamentos dos Padres.

Portanto, é claro que a assídua familiaridade dos seminaristas com as obras dos Padres não deixará

de fortalecer sua vida espiritual e litúrgica, lançando uma luz particular sobre sua vocação,

enraizando-a na tradição milenar da Igreja e colocando-a em comunicação direta com a riqueza e a

pureza das origens. Ao mesmo tempo, ajudá-lo-ás a descobrir o homem em sua unidade e

totalidade: reconhecer e seguir esse ideal superior de humanidade unificada e integrada no

desenvolvimento harmonioso de valores naturais e sobrenaturais, que é o modelo da antropologia

cristã.

45 d) Outra razão para o fascínio e interesse nas obras dos Padres é que elas são nitidamente

pastorais: isto é, compostas com finalidades pastorais. Seus escritos são catequeses e homilias, ou

refutações de heresias, ou respostas a consultas, ou exortações espirituais ou ainda manuais

destinados à instrução dos fiéis. A partir disso, vemos como os Padres se sentiam empenhados nos

problemas pastorais de seu tempo. Eles exerciam o ofício de professores e de pastores, buscando,

em primeiro lugar, manter o Povo de Deus unido na fé, no culto divino, na moral e na disciplina.

Muitas vezes eles procediam colegialmente, trocando entre si cartas doutrinais e pastorais, a fim de

promover uma linha comum de conduta. Eles se preocupavam com o bem espiritual não apenas de

suas igrejas particulares, mas também de toda a Igreja. Alguns deles se tornaram defensores da

ortodoxia e pontos de referência para os outros bispos do mundo católico (por exemplo, Atanásio

nas lutas anti-arianas e Agostinho nas lutas anti-pelagianas), personalizando, de alguma forma, a

consciência viva da Igreja.

46 e) Não se pode deixar no escuro o fato que, em sua ação pastoral, os Padres, oferecendo aos

observadores um rico panorama dos mais variados problemas culturais e sociais de seu tempo, ainda

assim eles sempre os enquadram, por assim dizer, em coordenadas nitidamente espirituais. Eles estão

preocupados com a integridade da fé, o fundamento da justificação, para que ela floresça na

caridade, o vínculo da perfeição e que a caridade crie o homem novo e a história nova. Tudo em sua

ação pastoral e em seus ensinamentos remonta à caridade e a caridade ao Cristo, caminho universal

da salvação56. Eles tudo referem a Cristo, recapitulação de todas as coisas (Irineu), deificador dos

homens (Atanásio), fundador e rei da cidade de Deus, que é a sociedade dos eleitos (Agostinho). Em

sua perspectiva histórica, teológica e escatológica, a Igreja é o Christus totus, que "corre, e correndo,

realiza sua peregrinação, entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, desde a época

de Abel, o primeiro justo morto pelo irmão ímpio, até o fim dos tempos"57. 

47 Se agora quisermos resumir os motivos que nos levam a estudar as obras dos Padres, podemos

dizer que eles foram, depois dos Apóstolos, como Santo Agostinho disse com razão, os plantadores,

os aspersores, os construtores, os pastores, os nutridores da Igreja, a qual pôde crescer através de

sua ação vigilante e incansável58. Para que a Igreja continue a crescer, é indispensável ter um

conhecimento profundo de sua doutrina e de seu trabalho, que se destaca por ser ao mesmo tempo

pastoral e teológico, catequético e cultural, espiritual e social, de uma maneira excelente e pode se

dizer única em relação a quanto aconteceu em outros períodos da história. É precisamente essa

unidade orgânica dos vários aspectos da vida e da missão da Igreja que torna os Padres tão atuais e

fecundos para nós também.

III - COMO ESTUDAR OS PADRES

48 A partir das reflexões precedentes sobre a situação atual e as razões mais profundas dos estudos

patrísticos, surge espontaneamente a pergunta sobre sua natureza, seus objetivos e o método a ser

seguido para promover sua qualidade. Numerosas tarefas são necessárias para professores e alunos

a esse respeito, que precisam ser mais esclarecidas e explicitadas, para que seja possível realizar um

trabalho formativo sólido que responda às solicitações da renovação desejada, promovida com base

nas diretrizes do Concílio Vaticano II.

I. A NATUREZA DOS ESTUDOS PATRÍSTICOS E OS SEUS OBJETIVOS

49 a) É muito importante que este setor de estudos eclesiásticos seja claramente delimitado de

acordo com sua natureza e finalidade e seja inserido organicamente no contexto das disciplinas

teológicas. Divide-se em duas esferas intercomunicantes, que se ocupam do mesmo objeto sob

diferentes aspectos: por um lado, a Patrística, que trata do pensamento teológico dos Padres, e, por

outro, a Patrologia, que tem como objeto a vida e os escritos dos mesmos. Enquanto o primeiro é

estritamente de natureza doutrinal e tem muita relação com a dogmática (mas também com teologia

moral e teologia espiritual, as Escrituras Sagradas e a Liturgia), o último se move bastante no nível da

investigação histórica e das informações biográficas e literárias e tem uma conexão natural com a

História da Igreja antiga. Por seu caráter teológico, Patrística e Patrologia se distinguem da literatura

cristã antiga, uma disciplina não-teológica e pode-se dizer, literária, que estuda os aspectos

estilísticos e filológicos dos escritores cristãos antigos.

50 B) Ao lidar com os estudos patrísticos, é preciso antes de tudo perceber a autonomia da Patrística-

Patrologia, como uma disciplina independente, com seu método, dentro do corpo das disciplinas,

56 AGOSTINHO, De civ. Dei 10, 32, 1-3: PL 41, 312s.

57 Ibid., 18, 51, 2: PL 41, 614; cf. CONC. VAT. II, Const. Lumen gentium, n.8.

58 Contra Jul., 2,10,34: PL 44, 698.

que é objeto do ensino teológico. Sua autonomia, como área da teologia, no qual os princípios do

método histórico-crítico são rigorosamente aplicados, é um elemento adquirido e, como tal, deve ser

percebido pelo aluno.

51 C) Em particular, espera-se que a Patrologia apresente uma boa visão geral dos Padres e de suas

obras, com suas características individuais, situando sua atividade literária e pastoral no contexto

histórico. Dado seu caráter histórico informativo, não há nada que o impeça de utilizar a colaboração

do professor de História eclesiástica, quando isso é exigido pelas necessidades de uma melhor

economia do tempo disponível ou pela escassez de professores. Se necessário, também pode ser

reservado mais espaço para o estudo privado dos alunos, referindo-os à consulta de bons manuais,

dicionários e outros subsídios bibliográficos.

52 d) Por seu lado, a Patrística, para cumprir satisfatoriamente o que lhe compete, deve aparecer

como uma disciplina autônoma, cultivando uma estreita colaboração com a dogmática. De fato,

ambas as disciplinas são chamadas pelo Decreto "Optatam totius" (n. 16) para ajudar e enriquecer

uma à outra, desde que permaneçam autônomas e fiéis a seus métodos específicos. O dogma

realiza, sobretudo, um serviço de unidade. Como em todas as disciplinas teológicas, o dogma

oferece à patrística a perspectiva unificante da fé, ajudando-a a sistematizar resultados parciais e

apontando o caminho para a pesquisa e o ensino dos professores. O serviço da patrística à

dogmática consiste em delinear e especificar o trabalho de mediação da revelação de Deus realizada

pelos Padres na Igreja e no mundo de seu tempo. É uma questão de descrever, com total respeito à

especificidade do método histórico-crítico, o quadro da teologia e da vida cristã da era patrística em

sua realidade histórica. Por este motivo, o ensino de Patrística, como expresso no documento "A

formação teológica de futuros sacerdotes", deve tender, entre outras coisas, "a dar uma noção da

continuidade do discurso teológico, que responde aos dados fundamentais, e sua relatividade, que

corresponde a aspectos e aplicações particulares" (n. 87).

2. O MÉTODO

53 a) O estudo de Patrologia e Patrística, em sua primeira fase informativa, pressupõe o uso de

manuais e outros subsídios bibliográficos, mas quando se trata de lidar com os delicados e

complexos problemas da teologia patrística, nenhum desses subsídios pode substituir o recurso

direto aos textos dos Padres. De fato, é através do contato direto do professor e do aluno com as

fontes que a Patrística deve ser ensinada e aprendida, especialmente no nível acadêmico e em cursos

especiais. No entanto, dadas as dificuldades que os alunos costumam encontrar, será bom

disponibilizar textos bilíngues das edições, desde que notórios por sua seriedade científica.

54 B) O estudo científico dos textos deve ser abordado com o método histórico-crítico, de maneira

semelhante à aplicada nas ciências bíblicas. No entanto, é necessário que, no uso desse método, seus

limites também sejam indicados e que seja integrado, com cautela, pelos métodos da análise literária

moderna e da hermenêutica, com uma adequada "manuductio" do aluno para compreendê-los,

avaliá-los e servir-se deles. Sendo uma disciplina teológica, que em todas as suas etapas procede "ad

lumen fidei", a liberdade de pesquisa não deve reduzir seu objeto de investigação no âmbito da pura

filologia ou da crítica histórica. De fato, a teologia positiva deve reconhecer, como primeiro

pressuposto, o caráter sobrenatural de seu objeto e a necessidade de se referir ao Magistério. Os

estudantes devem, portanto, tomar consciência de que o rigor do método, indispensável para a

validade objetiva de qualquer pesquisa patrística, não exclui uma direção prévia da viagem nem

impede a participação ativa do pesquisador que, de acordo com seu "sensus fidei", se coloca e

prossegue em uma atmosfera de fé.

55 C) A pureza do método mencionado também exige que o pesquisador e o aluno estejam livres de

pré-julgamentos e preconceitos, que no campo da patrística geralmente se manifestam em duas

tendências: a de estar materialmente ligada aos escritos dos Padres, desprezando a tradição viva da

Igreja e considerando a Igreja pós-patrística até hoje em declínio progressivo; e o de instrumentalizar

dados históricos em uma atualização arbitrária, que não leva em conta o progresso legítimo e a

objetividade da situação.

56 d) Razões científicas e também práticas, como por exemplo, para um uso mais racional do tempo,

sugira a conveniência da colaboração entre as disciplinas envolvidas mais diretamente aos Padres. O

contato interdisciplinar tem seu locus primário na dogmática, onde é realizada a síntese, mas  pode

vir a beneficiar outras numerosas disciplinas (teologia moral, teologia espiritual, liturgia e, em

particular, as Escrituras Sagradas), que precisam ser enriquecidas e renovadas pelo recurso às fontes

patrísticas. As formas concretas de tal colaboração variarão de acordo com as circunstâncias; outras

possibilidades e necessidades nesse sentido se dão no nível dos cursos institucionais e outras ainda

nos cursos de especialização acadêmica.

3. EXPOSIÇÃO DA MATÉRIA

57 a) A matéria, objeto do curso de Patrística-Patrologia é aquela codificada pela prática escolar e

tratada pelos livros clássicos: a vida, os escritos e a doutrina dos Padres e dos escritores eclesiásticos

da antiguidade cristã; ou, em outras palavras, o perfil biográfico dos Padres e a exposição literária,

histórica e doutrinária de seus escritos. A vastidão da materia, no entanto, impõe, nesse sentido, a

necessidade de limitar sua amplitude, recorrendo a certas escolhas.

58 b) O professor deve antes de tudo transmitir aos alunos o amor dos Pais e não apenas o

conhecimento. Para isso, é necessário insistir mais no contato com as fontes do que nas informações

biobibliográficas. Para isso, é preciso escolher entre as diferentes formas de apresentação da matéria,

que são substancialmente as quatro seguintes:

1. O modo analítico, que envolve o estudo de cada um dos Padres: um caminho quase impossível,

dado o número deles e o tempo necessariamente limitado reservado a esse ensino;

2. O panorâmico, que visa dar uma visão geral da era patrística e de seus representantes: caminho

útil para uma introdução inicial, mas não para um contato com as fontes e um aprofundamento

delas;

3. O monográfico, que insiste sobre alguns dos Padres mais representativos, particularmente

adequado para ensinar concretamente o método de os conhecer e aprofundar seu pensamento;

4. O temático, finalmente, que examina algum tópico fundamental e acompanha seu

desenvolvimento através de obras patrísticas.

59 c) Uma vez feita essa primeira escolha, será necessário fazer outra, a dos textos a serem lidos,

examinados e explicados. É preferível que a escolha recaia inicialmente em textos que tratem

principalmente de questões teológicas, espirituais ou pastorais ou catequéticas ou sociais, que

geralmente são as mais atraentes e as mais fáceis, deixando as doutrinas mais difíceis, para um

segundo momento. Eles serão cuidadosamente estudados na reunião contínua entre professor e

aluno, em aulas, conversas, nos seminários, nas informações. Assim nascerá aquela familiaridade com

os Padres, que é o melhor fruto do ensino. A verdadeira coroação do trabalho formativo é alcançada,

no entanto, apenas se o aluno chegar a fazer alguns amigos entre os Padres e assimilar seu espírito.

60 d) Os estudos patrísticos não podem prescindir de um sólido conhecimento da história da Igreja

que possibilite uma visão unificada dos problemas, dos eventos, das experiências, das aquisições

doutrinárias, espirituais, pastorais e sociais nas várias épocas. Desse modo, percebe-se que o

pensamento cristão, que se começa com os Padres, não termina neles. Daqui resulta que o estudo da

patrística e da patrologia não pode desconsiderar a tradição posterior, incluindo a tradição

escolástica, em particular no que diz respeito à presença dos Padres nessa tradição. Somente assim

podemos ver a unidade e o desenvolvimento que existem nela e também entender o sentido do

recurso ao passado. De fato, aparecerá não um arqueologismo inútil, mas como um estudo criativo

que nos ajuda a conhecer melhor nossos tempos e a nos preparar para o futuro.

IV - DISPOSIÇÕES PRÁTICAS

Como resulta claramente do que foi explicado acima, os estudos patrísticos constituem um

componente essencial e um tema estimulante do ensino teológico e de toda a formação sacerdotal.

Portanto, é necessário tomar as medidas apropriadas para promovê-los, para que possam ocupar um

lugar nos Seminários e nas Faculdades de teologia que corresponda à sua importância.

61 1. Tocando esses estudos diretamente para fins do ensino teológico, eles devem ser considerados

como disciplina principal, que se deve ensinar separadamente com seu método e com a matéria que

lhe é própria. Exceto pelo que foi dito acima sobre "Patrologia" (n. 51), essa matéria não pode ser

identificada nem com a História da Igreja nem com a história do dogma ou, ainda menos, com a

literatura cristã antiga.

62 2. Deve-se prestar a devida atenção à Patrologia-Patrística na "Ratio institutionis sacerdotalis" e

nos programas de estudo relacionados, definindo cuidadosamente seus conteúdos e métodos e

atribuindo-lhes um número suficiente de horas por semana. Não parece excessivo que o ensino que

se estenda, no mínimo, por pelo menos três semestres, com duas horas por semana.

63 3. Nas Faculdades de teologia, além dos cursos institucionais normais do primeiro Ciclo, sejam

organizados seminários com exercícios oportunos e sejam promovidos trabalhos escritos sobre

temas patrísticos. No segundo Ciclo de especialização, haja o cuidado de estimular o interesse

científico dos alunos por meio de cursos e exercícios especiais, através dos quais eles podem adquirir

um conhecimento profundo dos vários tópicos metodológicos e doutrinários e se preparar para o

futuro trabalho de ensino. Essas qualificações podem ser aperfeiçoadas ainda mais no terceiro Ciclo

com a preparação das teses sobre argumentos patrísticos.

64 4. Nos Institutos de formação sacerdotal, o ensino da Patrologia-Patrística deve ser atribuído

àqueles que obtiveram especialização nesse assunto dos Institutos criados para esse fim, como por

exemplo. o Instituto Patrístico "Augustinianum" em Roma. De fato, convém que o professor tenha a

capacidade de acessar diretamente às fontes com um método justo, tendo em vista uma

apresentação completa e equilibrada do pensamento dos Padres, e poder julgar os trabalhos de seus

colegas sobre o assunto com critério maduro, e que possua as qualidades humanas e religiosas

como fruto da sua familiaridade com os Padres a serem comunicadas aos outros.

65. 5. Note-se que essa especialização tem valor não apenas para o ensino da Patrologia-Patrística,

mas também é muito útil para o ensino da teologia dogmática, para efetivamente realizar ações

catequéticas, espirituais e litúrgicas assinalado pela sabedoria e equilíbrio ético-espiritual dos Padres.

66 6. É claro que o estudo dos Padres também exige ferramentas e auxílios adequados, como por

exemplo. uma biblioteca bem equipada do ponto de vista patrístico (coleções, monografias, revistas,

dicionários), bem como o conhecimento das línguas clássicas e modernas. Dadas as deficiências

conhecidas dos estudos humanísticos nas escolas hodiernas, será necessário fazer todo o possível

para reforçar o estudo do grego e do latim em nossos Institutos de formação.

CONCLUSÃO

67 Esta congregação, ecoando a voz do Concílio e dos Sumos Pontífices, desejava chamar a atenção

dos Exmos. Bispos e dos Superiores Religiosos sobre um assunto de grande importância para a sólida

formação de sacerdotes, para a seriedade dos estudos teológicos, para a  eficácia da ação pastoral

no mundo contemporâneo. À sua consciente responsabilidade e ao seu grande amor pela Igreja,

confia as considerações feitas e as disposições tomadas para que, na medida do possível, tenda a

realizar o ideal de formação adequado aos presbíteros de nosso tempo, também a esse respeito. Por

fim, ela formula o voto de que um estudo mais cuidadoso dos Padres conduza todos a uma maior

assimilação da Palavra de Deus e a uma juventude renovada da Igreja, que teve e tem neles os seus

mestres e modelos.

Roma, do Palácio das Congregações, 10 de Novembro de 1989, na festa de São Leão Magno.

WILLIAM Card. BAUM.

Prefeito

JOSÉ SARAIVA MARTINS

Arcebispo Titular de Tuburnica

Secretário

APÊNDICE

A. Sobre A Atualização Dos Termos Patrística e Patrologia

O interesse pelos ensinamentos dos Padres da Igreja marca os tempos atuais com o retorno àsfontes originais do cristianismo. Como antecedente determinante juntamente com o movimentolitúrgico, o movimento patrístico foi fundamental para a convocação e a celebração do ConcílioVaticano II, que não cessou de afirmar o valor inquestionável dos Padres da Igreja para a renovaçãoda fé nos dias atuais. Ao lado da história dos dogmas, a Igreja acredita na contribuição dos Padresda Igreja para “a interpretação e a transmissão fiel de cada uma das verdades da Revelação” (cf.Optatam Totius n.16).

1 Nomenclatura

Com os avanços da pesquisa teológica, as terminologias elementares relacionadas às CiênciasPatrísticas se multiplicaram e se diversificaram, de maneira que a concessão dos conceitos acaboupor ser redefinida, fazendo com que o termo “patrística” reunisse elementos conceituais maisabrangentes. Até então, era comum dizer que a patrística era o estudo que se ocupava dopensamento teológico dos padres da Igreja, enquanto patrologia se mantinha na perspectiva dapesquisa sobre a vida e os escritos dos mesmos autores (cf. Cong. Educação Católica, 1990, n.49).Desta forma, patrística se redefine como termo técnico utilizado para determinar a ciênciaresponsável por analisar e interpretar o conjunto dos documentos antigos entre o século I A.D. e osprimeiros sinais claros da metodologia medieval.

Paralela às fontes bíblicas que compõem o material de uma ciência própria para o estudo dasSagradas Escrituras, a documentação desta fase patrística também pode ser classificada como fontespatrísticas, o que será estabelecido pelo material literário, iconográfico, topográfico, epigráfico ouarqueológico quando essas informações se relacionarem e representarem elementos que elucidem arealidade social ou religiosa daquele período.

Por definição, cabe à arqueologia cristã identificar, decifrar e explicar as fontes cristãs mais antigasencontradas, por exemplo, nos sarcófagos, nas catacumbas, quando essas começam a identificar apresença do fenômeno religioso cristão, nas estátuas, em objetos comuns à vida antiga e, em grandeescala, na função que as diversas edificações possuíam para culto, domicílio, administração, caridadesocial, entre outros. A lápide fúnebre de Abércio se associa aos mais importantes achadosarqueológicos de todos os tempos e lidera a lista dos documentos mais valiosos para o cristianismo(MORESCHINI, 1995, p.307). O Bispo de Hierápolis morreu em 216 dC. Três anos antes de sua morte,ele mandou construir a própria inscrição mortuária, enriquecendo-a de alusões cristológicas eeclesiológicas, transmitindo um sentimento claro de devoção das igrejas espalhadas pelo mundo emrelação à igreja romana, discursando sobre a eucaristia e sobre um possível grupo homogêneo deescritos paulinos e, por fim, datando-a e assinando-a. Por isso, a lápide de Abércio também échamada de Regina Scriptarum, encontrando-se no acervo permanente do museu paleocristão doVaticano.

Por sua vez, o conceito “patrologia” deve ser entendido como o produto dogmático e o conteúdoortodoxo presente nos ensinamentos dos escritores antigos, independente da sua função dentro oufora do âmbito eclesiástico. Por outro lado, face aos movimentos inovadores e heréticos que

estabeleceram uma releitura independente, distorcida e falsa do ensinamento que Jesus e osApóstolos tinham instituído, a comunidade dos fiéis cristãos entendeu que o critério de autenticidadeincontestável a ser seguido era o critério “antiguidade cristã”, cuja aplicação não se baseava tanto emaspectos temporais, senão nos elementos fundamentais da verdade doutrinal estabelecida pelasraízes judaicas e cristãs.

Já a terminologia “Padres da Igreja” fora cunhada pela primeira vez em contexto protestante, peloteólogo alemão Johann Gerhard no ano de 1637, com a finalidade de defender uma pressupostaantiguidade dos conceitos teológicos dos Reformadores contra os dogmas católicos. Reavaliandoeste conceito a partir do critério de antiguidade cristã, a Igreja Católica o incorporou ao seu linguajarteológico, para indicar a autenticidade da fé cristã verificada no desenvolvimento da doutrinacatólica. No Brasil, Padres da Igreja se tornou a tradução utilizada com mais frequência pelas editorase autores católicos, ao passo que os livros e artigos protestantes tendem a traduzir o mesmo termopor “Pais da Igreja”. Compreende-se “História da Igreja” como a forma de reconstrução aproximativados eventos da antiguidade cristã cujas menções se fundamentam em dados literários presentes emdocumentos antigos. Todavia, essa reconstrução patrística exige cautela para que os conceitosantigos não sejam mal interpretados ou sejam aplicados às situações hodiernas como regras gerais,já que o acesso dos mesmos eventos históricos através da literatura se limita a basear-se emaproximadamente vinte por cento dos documentos cujos títulos foram citados nos livros dos Padresda Igreja, o que quer dizer que oitenta por cento dos livros citados pelos escritores antigos nãochegaram até nós (GRECH, 2005, p.37). Alguns erros se tornam comuns na avaliação das fontespatrísticas, seja pelo anacronismo, quando o juízo é feito fora do contexto em que o texto foi escrito,seja quando um dado do passado é proposto de maneira arbitrária pelo fundamentalismo históricodaqueles que tentam retomar situações passadas já obsoletas ou estruturas caducas.

Fala-se ainda de “Literatura patrística” para designar as formas literárias pesquisadas por aqueles queprocuram entender as regras da tipologia, das alegorias, da retórica e da pedagogia que ampliam epossibilitam maior entendimento daquilo que os escritores antigos queriam dizer ao redigir seustextos. Obras originais e traduções valiosíssimas enriquecem o conjunto da Literatura patrístrica numcenário linguístico tão vasto como os limites geográficos do cristianismo antigo. Essas obras foramproduzidas nas seguintes línguas: grego, latim, siríaco, copto, armênio, etíope, georgiano, árabe epaleoeslavo.

2 Classificação e tendências

Em geral, os critérios para se identificar um Padre da Igreja são antiguidade, aprovação eclesiástica,santidade de vida e ortodoxia (SANTINELLO, 1973, p.6). A princípio, os limites do período patrísticoeram estabelecidos até Isidoro de Sevilha ( 636) para o ocidente e até João Damasceno ( 749) para� �

o Oriente. No entanto, ao perceber a continuidade e a evidência da metodologia patrística emperíodos que alcançam a produção literária da corte de Carlos Magno, estudos recentes revisamesses limites, propondo-os até o século IX (LUISELLI, 2003, p.9-17).

Os Padres Apostólicos são os primeiros personagens da patrística, assim denominados porque eramdiscípulos dos Apóstolos de Cristo. As principais e mais antigas obras são: “A Carta de Barnabé”, “OPastor de Hermas”, as cartas de Clemente de Roma, o epistolário em sete obras de Inácio deAntioquia, as cartas de Policarpo de Esmirna, “Papias” e a “Didaqué”, também conhecida como a“Doutrina dos Apóstolos”. Destaca-se, assim, o enfoque dado às estruturas e às reflexões eclesiásticas

destes textos, dos quais podem ser extraídas informações importantes sobre os aspectos sociais queenvolviam as reuniões dos cristãos em suas celebrações domiciliares e o vasto cenário dosministérios exercidos nessas celebrações. O tema da importância irrefutável do episcopado aparececonstantemente tratado nestas obras. Assim, nos escritos dos Padres Apostólicos nota-se aquilo queos estudiosos normalmente chamam de autoconsciência cristã, ou seja, o modo pelo qual os cristãosse distanciavam das práticas religiosas do paganismo, do gnosticismo e do judaísmo, formandoassim uma religião com elementos claramente distintos.

A geração sucessiva enfrentou as grandes perseguições do Império Romano no segundo século,enquanto os cristãos eram acusados de oposição à ordem pública (pax deorum), já que os fiéis daIgreja se opunham a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, recusando-se a observar os princípiosgovernamentais por meio dos quais se acreditava que fosse preservado o bem-estar dos cidadãos. Aapologética cristã nasce da necessidade de defender os acusados de cristianismo nos tribunais daperseguição. Quanto aos autores apologetas ou apologistas, citam-se são Justino, Taciano,Atenágoras, Melitão de Sardes, Irineu de Lião, Hipólito de Roma, Orígenes, Tertuliano, Cipriano,Lactâncio, entre outros.

Após o período mais duro das perseguições por volta do final do terceiro século, a comunidadeprimitiva teve que se preocupar em salvaguardar a fé face à intensificação das questões teológicas epolíticas. Ora, Orígenes e Clemente de Alexandria promovem as suas obras no Oriente, enquanto doOcidente, já latinizado, surgem importantes obras como as redigidas por Tertuliano. Muitas questõespermanecem em aberto dada a dificuldade e a obscuridade para as quais os textos bíblicos nãoofereciam maiores explicações. Destarte, a tipologia, enquanto antecipação dos eventos históricos, ea alegoria, enquanto significado dos elementos dos textos (SIMONETTI, 1985, 14), mostram, porexemplo, que Jesus morre com a coroa de espinhos, como fora antecipado tipologicamente pelocordeiro que aparece preso aos arbustos no sacrifício de Isaac, ou que o cordão – toalha ou panopara Clemente de Roma e outros – de cor vermelha que Raab pendurara sobre sua janelarepresentaria a alegoria do sangue de Cristo para a salvação dos pecadores. Nem todos os termosbíblicos, todavia, compreendem o vasto conteúdo do mistério revelado por Cristo à sua Igreja, comopode ser observado durante a polêmica ariana, motivo pelo qual o Concílio de Niceia foi proclamadopelo Imperador Constantino em 325. A questão que colocou Ário e os cristãos de doutrina ortodoxauns contra os outros versava sobre a divindade e sobre a procedência de Jesus Cristo do Pai, emforma de insuficiente terminologia bíblica que os opositores apresentavam para defender a suaopinião. Para os padres conciliares de Niceia, a melhor forma de resolver aquele impasse foi apromulgação de um símbolo de fé, ou seja, a produção de diretrizes que esclarecessem o modoortodoxo de se crer e de se ensinar a fé da Igreja. Todos os esforços dos padres conciliarestrouxeram à luz o termo “consubstancial”, que não se encontrava na Bíblia, mas se prestava paraajudar no discernimento da verdade que a Igreja sempre tinha pregado sobre a divindade do Filhode Deus. Entre os Padres mais famosos deste período, destacam-se Eusébio de Cesareia, Atanásio eHilário de Poitiers.

Notáveis também foram os Padres da Capadócia – Basílio Magno, Gregório de Nissa, GregórioNazianzeno e João Crisóstomo – que exerceram um papel fundamental para o entendimento da fétrinitária na segunda metade do século IV. De fato, na obra “Contra Eunômio”, de são Basílio,aparece claramente a questão sobre a divindade do Espírito Santo, contra cuja visão os heregesestabeleciam que, assim como o Filho, o Espírito Santo também era uma criatura da divindade. Oscapadócios responderam às ameaças contra o Espírito Santo e se tornaram referências essenciais

para o Concílio de Constantinopla em 381, no qual foi proclamado o símbolo que até hoje éconhecido como credo niceno-constantinopolitano.

Depois dos concílios de Niceia e Constantinopla, celebrou-se em Éfeso o concílio que pôs emdiscussão, entre outros temas, o dogma da theotókos, sobre Maria, Mãe de Deus no ano de 431.Com isso, o cristianismo ficou dividido entre aqueles que aceitavam a interpretação ortodoxa deCirilo de Alexandria, pela qual o concílio de Éfeso declarou que Maria é a mãe de Deus, e a posturaherética de Nestório, que insistia em negar a maternidade de Maria em relação à divindade de Cristo,por isso, a Virgem só deveria ser conhecida como “mãe de Cristo” na opinião dos hereges. Osproblemas teológicos inerentes a essa questão eram tipicamente cristológicos, enquanto oentendimento dos nestorianos promovia grandes obstáculos para a compreensão da verdadeiradivindade de Cristo, repetindo assim os erros do arianismo e do sabelianismo. Vencido pelosargumentos de Cirilo, Nestório foi deposto da sede de Constantinopla. Infelizmente, o nestorianismorecebeu diversos adeptos por toda a antiguidade.

Na aurora do quinto século, a literatura latina da Igreja é enriquecida pelas obras de Ambrósio,Agostinho e Jerônimo. É a fase em que as autoridades eclesiásticas, ou seja, os bispos, se deparamcom situações sociais importantes para a contextualização e o desenvolvimento da vida da Igreja: a)o Império Romano organiza a sua administração governamental a partir dos princípios cristãosestabelecidos pelo edito de Teodósio, em 380, que instituía definitivamente o cristianismo comoreligião oficial do Império. Aliás, a despeito da importância dada ao edito de Milão decretado peloImperador Constantino, em 313, não se pode esquecer que esse edito previa apenas a liceidade docristianismo até aquele momento. O edito de Milão prescrevia ser lícita a religião cristã, enquanto oedito de Teodósio tornava-a oficial para o cidadão romano. b) reforça-se a devoção aos mártirescom a regularização promovida pelos bispos, quando as suas relíquias são transferidas dascatacumbas para os altares das Igrejas, instituindo assim o culto de devoção aos santos, a partir daperspectiva de quem tinha vivido a integridade da fé cristã em todas as suas exigências. c) em 410, osbárbaros chegaram a Roma e determinaram assim, com o seu deslocamento, uma nova forma paraas cidades do Império Romano. Com isso, as necessidades pastorais e teológicas vão sofrerconsequências essenciais que vão determinar o caminho que a Igreja escolherá para a sua missão nomundo.

De suma importância foi o Concílio de Calcedônia, em 451, que defendeu, contra os monofisitas, a féem Jesus Cristo por meio da qual se definia a união das duas naturezas (humana e divina) em umasó pessoa, esclarecendo assim o que a Igreja ensina sobre a união hipostática. Séculos à frente, em681, com o Concílio de Constantinopla III, pôs-se fim às dificuldades do monotelismo e domonoenergismo. Multiplicaram-se, por fim, as grandes homilias e tratados teológicos produzidospelos santos padres sob a luz da graça, da vida moral e sacramental. Neste sentido, PascásioRadberto se insere entre os autores do fechamento do período patrístico com a sua grandiosa eimportante obra sobre a eucaristia intitulada De Corpore et Sanguine Domini em 831.

3 Hermenêutica Patrística

Os Padres da Igreja reconheciam de forma unânime as dificuldades que surgiam da leitura dasSagradas Escrituras e acabaram traçando sendas pelas quais acreditavam que essas dificuldadespudessem ser superadas. Para eles era fundamental respeitar as leis básicas de composição paraentender o verdadeiro sentido que o autor bíblico teria dado ao seu texto. Por isso, em inúmeras

vezes a solução para as dificuldades bíblicas se apoiava no entendimento básico que a gramática e aretórica davam aos mesmos textos. Embora as interpretações bíblicas sejam diversas, em relação àexegese contemporânea, desde os tempos remotos do cristianismo, os leitores das SagradasEscrituras eram instruídos a se perguntar sobre o gênero literário dos textos e a intenção dos autoresao escreverem. A base para a investigação bíblica dos primeiros séculos – como demonstra Irineu deLião – estava na avaliação da veracidade do texto que os cristãos deveriam usar, já que semultiplicavam a pseudo literatura cristã e os escritos apócrifos. Entre outras determinações, ainterpretação bíblica neste momento não podia prescindir da regra de fé da Igreja. Nenhumaproposta de interpretação poderia ser considerada válida se contradissesse os ensinamentos da fécristã, transmitida por Cristo aos seus Apóstolos e pelos Apóstolos às gerações sucessivas.

No terceiro século, o leitor das Sagradas Escrituras é convidado a ler uma mesma perícopeprogressivamente segundo o sentido literário, que o alerta para as circunstâncias materiais alidescritas; segundo o sentido ético, que o coloca diante dos valores morais não necessariamentemencionados no texto; enfim, segundo o sentido espiritual, valor verdadeiro para onde o textoinspirado quer orientar cada homem. A escola de Alexandria – com Clemente e com Orígenes – foi agrande promotora deste método hermenêutico.

Entre as propostas hermenêuticas patrísticas, destacam-se as regras de Ticônio, corrigidas eexplicadas por Agostinho no terceiro livro do De Doctrina Christiana, onde o santo hiponense admiteser necessário partir dos textos claros – cujo entendimento não deixa dúvida – para se entender ostextos obscuros. Segundo Agostinho, não há contradição de gênero algum entre os textos dasSagradas Escrituras. As dificuldades nascem da limitação da linguagem humana, pela qual Deus quistransmitir as suas verdades. Segundo Agostinho, o leitor atento considera, por exemplo, que todosos textos bíblicos tratem da unidade inseparável entre Cristo e a Igreja, achando nesta unidade aresposta às dificuldades e às aparentes contradições bíblicas.

No processo de instrução da fé, o mistagogo desempenha a função de revelar ao catecúmeno osmistérios que esse deve abraçar no momento do batismo. Dada as dificuldades acima mencionadas,o conteúdo da fé cristã é considerado arcano, ou seja, a sua transmissão prevê o acesso àsinformações secretas (mistérios), que apenas os iniciados, isto é, catecúmenos, poderiam receber.Vinte e quatro catequeses mistagógicas de Cirilo de Jerusalém ( 387) chegaram aos tempos�

hodiernos em grupos de textos que descreviam um período pré-catequético no qual os aspiranteseram chamados de ‘iluminados’ e se lhes oferecia uma introdução ao batismo, transmitida em umacatequese. O grupo maior de textos, com 18 catequeses, era referência para os encontros queocorriam durante a quaresma. Enfim, logo após o batismo que era celebrado na noite de Páscoa, 5catequeses eram destinadas aos neófitos na tentativa de expor-lhes o que até então não eramcapazes de entender.

André Luiz Rodrigues da Silva.

Texto Integral Com Referências Bibliográficas Em:

http://paisdaigreja.com.br/patristica-patrologia/ ou

http://theologicalatinoamericana.com/?p=598

B. Um Breve Histórico da Congregação Para A Educação Católica (Dos Seminários E Dos Institutos de

Estudos)

Primeiramente, o que hoje chamamos de Congregação Para a Educação Católica surge com aConstituição Immensa, datada de 22 de Janeiro de 1588, pelo Papa Sisto V eregendo umaCongregação para presidir os estudos das Universidades de Roma e de outras universidades famosasconhecidas ao redor do mundo, entre elas: Bologna, Paris, Salamanca e entre outras.

Em 28 de Agosto de 1824 o Papa Leão XII cria, como atributo para esta Congregação, as escolas doEstado Pontifício; e, a partir de 1870 a Congregação Para a Educação Católica começa a exercer suaautoridade sobre as demais Universidades Católicas, que até então não possuiam uma ligação diretacom esse organismo da Cúria Romana.

Já no papado de Bento XV, em 1915, com um Moto Próprio assinado no dia 4 de Novembro, sãoatribuídos os Seminários à Congregação Para a Educação Católica, deixando de pertencerem àCongregação chamada Consistorial. À partir de então estes seminários entram em conformidadecom a Congregação Para a Educação Católica, ficando ela posteriormente conhecida pelo nomeCongregação Para a Educação Católica (Dos Seminários e Dos Institutos de Estudo).

Ademais, através de um Motu Próprio de Pio XII, de 4 de Novembro de 1941, ficará a Congregaçãoresponsável também pela Pontifícia Obra Para as Vocações Sacerdotais, que recebeu grandeimpulso, o Concílio Vaticano II. Desde então a Congregação recebeu algumas confirmações deatribuições, como, por exemplo, pela Constituição Apostólica Pastor Bonus, de 28 de Junho de 1988,no papado de João Paulo II.

Em 16 de Janeiro de 2013, o Papa Bento XVI, através da Carta Apostólica Ministrorum Institutio,transferirá as atribuições dos Seminários da Congregação Para a Educação Católica para aCongregação Para o Clero, ficando nesta todas atribuições relativas à Vocação, Seleção; FormaçãoHumana, Espiritual, Doutrinal e Pastoral. Mantendo, porém, tudo o que corresponde para aFormação Católica de Filosofia e Teologia ainda sob a responsabilidade da Congregação Para aEducação Católica.

Ainda nesta mudança de Bento XVI a Congregação tem seu nome alterado: de Congregação Para aEducação Católica (Dos Seminários e Dos Institutos de Estudo) para Congregação Para a EducaçãoCatólica Dos Institutos de Estudo. Tendo, atualmente, as seguintes competências atribuídas a ela: Porprimeiro, todas as Universidades, Faculdades, Institutos e Escolas Superiores dos estudos eclesiásticosou civís dependentes de pessoas físicas ou morais eclesiásticas, além de instituições e associaçõescom fins científicos de origem eclesiástica ou ligadas à Igreja.

Em seguida, todas as escolas e instituições de instrução de educação de qualquer grau pré-universitária: creches, colégios, internatos, colégios católicos diocesanos, entre outros; excluíndo-seaqueles institutos de origem Oriental, que ficam a cargo da Congregação Para As Igrejas Orientais EPara A Evangelização Dos Povos.

Nestor Neto

C. Outros Documentos Relevantes

I. Discurso do Papa João Paulo II Durante a Visita Ao Instituto de Patrologia “AUGUSTINIANUM”

“Antes de tudo: os cursos de teologia e de patrologia. Sei que estão ao cuidado de professores de

conhecida competência, eclesiásticos e leigos, e entre os primeiros, além dos agostinianos, membros

de diversas famílias religiosas; e sei que os seguem com interesse, numerosos jovens também eles,

como os professores, pertencentes ao mundo internacional, sinal também isto da universalidade da

Igreja. E é motivo de alegria para mim saber que há também alunos provenientes da Polónia (...)

Tem-se, enfim, a fervorosa actividade da Cátedra Agostiniana empenhada na edição bilingue da

Opera omnia de Santo Agostinho, e ainda num programa de aprofundamento da filosofia e da

espiritualidade agostiniana, que tanta relevância tiveram e ainda têm na cultura cristã.”

Texto Integral Em:

http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1982/may/documents/hf_jp-

ii_spe_19820507_augustinianum.html

II. Discurso do Papa Francisco Aos Professores E Estudantes do Instituto Patrístico “AUGUSTINIANUM”

“Como depositário da grandiosa “escola” agostiniana, baseada na busca da sabedoria, o

Augustinianum foi fundado a fim de contribuir para preservar e transmitir a riqueza da tradição

católica, sobretudo a tradição dos Padres. Esta contribuição é essencial para a Igreja. É-o sempre,

mas especialmente na nossa época, como afirmou São Paulo VI no discurso de inauguração do

Instituto: «O retorno aos Padres da Igreja — disse ele — faz parte daquele remontar às origens

cristãs, sem a qual não seria possível atuar a renovação bíblica, a reforma litúrgica e a nova

investigação teológica preconizada pelo Concílio Ecuménico Vaticano II» (4 de maio de 1970). E

visitando o Instituto em 1982, São João Paulo II confirmou esta exortação dizendo, entre outras

coisas, que «colocar-se na escola dos Padres significa aprender a conhecer melhor Cristo e a

conhecer melhor o homem», e também que «este conhecimento [ajuda] grandemente a Igreja na

[sua] missão» (7 de maio de 1982).”

Texto Integral Em:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2019/february/documents/papa-

francesco_20190216_augustinianum.html

III. Carta Apostólica Patres Ecclesiae Do Sumo Pontífice João Paulo II No XVI Centenário de São

Basílio:

“Padres ou pais foram, e pais continuam a ser para sempre: eles mesmos, de facto, são estrutura

estável da Igreja, e, em favor da Igreja de todos os séculos, exercem uma função perene. De maneira

que todo o anúncio e magistério seguinte, se quer ser autêntico, deve pôr-se em confronto com o

anúncio e o magistério deles; todo o carisma e todo o ministério deve beber na fonte vital da

paternidade deles; e toda a pedra nova, acrescentada ao edifício santo que todos os dias cresce e se

amplifica [4], deve colocar-se nas estruturas já por eles postas e a elas soldar-se e ligar-se.”

Texto Integral Em:

http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1980/documents/hf_jp-

ii_apl_02011980_patres-ecclesiae.html

IV. Links Relevantes (Março 2021):

http://www.patristicum.org/it/storia

https://www.facebook.com/padresigreja

https://venibrasil.com.br/

http://paisdaigreja.com.br/

http://migne.com.br/