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Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo Marcelo Hector Sabbagh Haddad Análise dos mecanismos REDD+ e seus benefícios no Brasil: um estudo de caso na Ilha do Marajó – PA, Brasil São Paulo 2013

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Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

Marcelo Hector Sabbagh Haddad

Análise dos mecanismos REDD+ e seus benefícios no Brasil: um estudo de caso na Ilha do Marajó – PA, Brasil

São Paulo

2013

Marcelo Hector Sabbagh Haddad

Análise dos mecanismos REDD+ e seus benefícios no Brasil: um estudo de caso na Ilha do Marajó – PA, Brasil

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Tecnologia Ambiental.

Data da aprovação ____/_____/_______

___________________________________ Prof. Dr. Marcio Augusto Rabelo Nahuz (Orientador) IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

Membros da Banca Examinadora: Prof. Dr. Marcio Augusto Rabelo Nahuz (Orientador) IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

Prof. Dr. Marcelo Theoto Rocha (Membro) USP – Universidade de São Paulo

Prof. Dr. Eduardo Soares de Macedo (Membro) IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

Marcelo Hector Sabbagh Haddad

Análise dos mecanismos REDD+ e seus benefícios no Brasil: um estudo de caso na Ilha do Marajó – PA, Brasil

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Tecnologia Ambiental.

Área de Concentração: Mitigação de Impactos Ambientais.

Orientador: Prof. Dr. Marcio Augusto Rabelo Nahuz

São Paulo Maio/2013

Ficha Catalográfica Elaborada pelo Departamento de Acervo e Informação Tecnológica – DAIT

do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT

H126a Haddad, Marcelo Hector Sabbagh

Análise dos mecanismos REDD+ e seus benefícios no Brasil: um estudo de caso na Ilha do Marajó – PA, Brasil. / Marcelo Hector Sabbagh Haddad. São Paulo, 2013. 138p.

Dissertação (Mestrado em Tecnologia Ambiental) - Instituto de Pesquisas

Tecnológicas do Estado de São Paulo. Área de concentração: Mitigação de Impactos Ambientais. Orientador: Prof. Dr. Marcio Augusto Rabelo Nahuz

1. REDD+ 2. Carbono florestal 3. Crédito de carbono 4. VCS (Verified Carbon Standard) 5. Redução de emissões 6. Gás de efeito estufa – GEE 7. Tese I. Nahuz, Márcio Rabelo, orient. II. IPT. Coordenadoria de Ensino Tecnológico III. Título 13-46 CDU 614.72(043)

DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado a todos aqueles que já lutaram pela preservação do meio ambiente, na esperança de que em algum dia, a humanidade possa conviver em harmonia com a natureza.

Aos que estão hoje nessa batalha: obrigado por acreditarem e pelos seus esforços. Espero que cada vez mais possamos ver os resultados de nossas ações e que cada conquista não seja tão festejada como uma vitória, e sim encarada como uma simples ação no caminho certo: a de fazer bem ao próximo.

AGRADECIMENTOS

Gostaria inicialmente de agradecer a Deus, por me fornecer condições de elaborar este trabalho e permitir ter uma família que sempre me incentivou e apoiou. Em especial, agradeço a meus pais, Hector e Arlete, e a minha irmã Helene, por todo o amor e carinho. Também agradeço a Deus pelas grandes amizades da vizinhança, colégio, faculdade e empregos que se formaram ao longo da minha vida.

Um agradecimento especial a Lap Chan e Stefano Merlin, pela confiança, pela permissão do uso de dados, e pelo incentivo ao desenvolvimento deste trabalho. Também agradeço ao meu orientador, Marcio Nahuz, pela paciência e por toda a aprendizagem em nossas várias reuniões.

Aos meus amigos, colegas profissionais e de mestrado, Cézar Alves e Flávia Takeuchi, pela força e companheirismo. Também agradeço àqueles que contribuíram enormemente para a elaboração desta dissertação, tanto pelo conhecimento, conselhos ou revisões: Adriana Berti, Beatriz Kiss, Beto Borges, Bruna Botti, Camila Vaccari, Cecília Michellis, Celly Kelly, Cinthia Caetano, David Swallow, Diego Serrano, Divaldo Rezende, Felipe Ho, Felipe Sanchez, Filipe Luth, Ernesto Cavasin, Gabriel Piza, Heloísa Mota, Jonathan de Jesus, Julia Spinasse, Larissa Tega, Leonardo Costa, Luiz Manfré, Magno Maciel, Maria Fernanda Pelizzon, Mariana Carriles, Mariana Fieri, Mariana Santos, Naomi Kawasaki, Rafael Borgheresi, Rafael Kupper, Renzo Puentes, Robert Hein, Silvia Cruz, Simone Carvalho, Tasso Azevedo, Thales Carra, Thiago Othero, Tiago Lima e Warwick Manfrinato.

Finalmente, muito obrigado a todos que, mesmo aqui não citados, me apoiaram durante o desenvolvimento deste trabalho.

RESUMO

Os mecanismos REDD+ têm como finalidade reduzir as emissões de GEE

provenientes do desmatamento e degradação das florestas, bem como conservar e aumentar os estoques de carbono florestal. Cerca de 77% do total das emissões brasileiras de CO2 são advindas do setor de mudança do uso da terra e florestas. Em 2009, a criação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) instituiu metas nacionais para diminuir a emissão destes gases, com foco principal na redução do desmatamento. Visto que projetos florestais de créditos de carbono são um importante meio para ajudar no cumprimento das metas estabelecidas, este trabalho tem como principal objetivo identificar, por meio de uma pesquisa exploratória, os benefícios da aplicação dos mecanismos REDD+ no Brasil. Assim, as características relevantes ao desenvolvimento de cada um dos mecanismos que compõem REDD+ (Florestamento, reflorestamento e revegetação – ARR, Melhoria no manejo florestal – IFM, e Redução de emissões por desmatamento e degradação – REDD) foram levantadas para cada bioma brasileiro e analisadas conforme as regras do Verified Carbon Standard (VCS), pelo fato deste Standard deter o domínio do mercado de carbono florestal. Concluiu-se neste trabalho que o bioma Amazônia é aquele que dispõe das melhores condições para aplicação dos mecanismos REDD+ no Brasil. A partir desta constatação, um estudo de caso localizado na Ilha do Marajó, Estado do Pará, é apresentado com o intuito de exemplificar a aplicação de projetos REDD+ conforme os requerimentos do VCS. Após o levantamento da caracterização ambiental e socioeconômica da região de estudo, todos os mecanismos se mostraram aplicáveis à área. Além disso, este estudo de caso indicou que os mecanismos propostos são modelos capazes de assegurar o equilíbrio entre a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que contribuem para a melhoria da qualidade de vida das comunidades envolvidas nos projetos. Palavras-chave: REDD+; VCS; Carbono florestal; Créditos de carbono.

ABSTRACT

An analysis of REDD+ mechanisms and their benefits in Brazil: a case study from

Marajó Island – PA, Brazil

REDD+ mechanisms are designed to reduce GHG emissions resulting from deforestation and degradation of forests, as well as conserving and increasing forest carbon stocks. In Brazil, approximately 77% of the total CO2 emissions come from the land-use change and forestry sector. In 2009, the creation of the National Policy on Climate Change established national goals for reducing the gases, with the main focus on reducing deforestation. Given that forest carbon projects have an important role to play in achieving the established goals, this study has the main aim of identifying the benefits of applying REDD+ mechanisms in Brazil by means of exploratory research. Thus, the characteristics relevant to the development of each of the mechanisms composing REDD+ (Afforestation, reforestation and revegetation – ARR; Improved forest management – IFM; and Reduced emissions from deforestation and degradation – REDD) were identified for each Brazilian biome and analyzed in accordance with the rules of the Verified Carbon Standard (VCS), because this Standard dominates the forest carbon market. This study concludes that the Amazon biome is the one possessing the best conditions for application of the REDD+ mechanism in Brazil. Based on this observation, a case study in Marajó Island (Ilha do Marajó), Pará State, is presented in order to provide an example of REDD+ project application in accordance with VCS requirements. Following a socio-economic and environmental analysis of the study area, all the mechanisms were shown to be applicable to the area. Furthermore, this case study indicates that the proposed mechanisms represent a model capable of delivering a balance between environmental conservation and economic development, as well as helping to improve the quality of life of communities involved in the projects. Keywords: REDD+; VCS; Forest carbon; Carbon credits.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Emissões antrópicas globais dos principais gases de efeito estufa em 2004, com um total de 49 GtCO2e emitidas naquele ano. ........................................ 19

Figura 2. Área de floresta primária na América do Sul entre 1990 a 2010, em milhões de hectares .......................................................................................................... 22

Figura 3. Tipos de reservatórios de carbono .................................................................. 24 Figura 4. Participação nas emissões nacionais dos setores de atividades inventariados

no ano de 2005, considerando-se o PAG ....................................................... 28 Figura 5. Evolução do preço dos créditos de carbono no MDL ...................................... 36 Figura 6. Volumes históricos contratados por tipo de projeto em MtCO2e ..................... 37 Figura 7. Localização e tipo de projetos que venderam créditos florestais em 2011

(MtCO2e) ......................................................................................................... 37 Figura 8. Participação dos Standards no mercado de créditos de carbono florestal em

2011 ................................................................................................................ 40 Figura 9. Ciclo do projeto de carbono no VCS ............................................................... 47 Figura 10. Comparação entre os cenários do projeto e de linha de base para projetos

REDD, IFM e ARR ........................................................................................ 49 Figura 11. Fluxograma para avaliação da adicionalidade em projetos Afolu ................. 52 Figura 12. Produção em m³ de madeira em tora na Amazônia Legal e Brasil ............... 69 Figura 13. Quantidade de PFNM extraídos de florestas naturais por ano ...................... 80 Figura 14. Metas para redução dos índices de desmatamento no bioma Amazônia em

cada quadriênio até 2017 .............................................................................. 83 Figura 15. Localização da área de estudo na Ilha do Marajó ....................................... 102 Figura 16. Cobertura florestal na área de referência em 1993 ..................................... 104 Figura 17. Cobertura florestal na área de referência em 2001 ..................................... 104 Figura 18. Redução de emissão de GEE gerada por REDD na área de estudo .......... 109 Figura 19. Redução de emissão de GEE gerada por IFM na área de estudo .............. 110 Figura 20. Redução de emissão de GEE gerada por ARR na área de estudo ............ 111 Figura 21. Cinturão e Zona de Gestão de Vazamento para a área de estudo ............. 117 Figura 22. Distribuição da redução de emissão total de GEE gerada por REDD+ na área

de estudo, em tCO2e ................................................................................... 121

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Emissões brasileiras divididas por setores de atividades em 2005 ................ 28 Tabela 2. Prazos finais de validação para projetos Afolu no VCS .................................. 51 Tabela 3. Porcentagem das distintas fitofisionomias em relação à cobertura vegetal

existente no bioma em 2002 .......................................................................... 62 Tabela 4. Estimativa da emissão média de carbono por hectare desmatado em cada

bioma brasileiro .............................................................................................. 63 Tabela 5. Estoque de carbono em MtC para as florestas naturais por bioma, divididos

por compartimento, para o ano de 2010 ........................................................ 64 Tabela 6. Situação em 2009 da cobertura vegetal de cada bioma brasileiro e sua

respectiva taxa de desmatamento anual ........................................................ 65 Tabela 7. Evolução da taxa média de desmatamento anual no bioma Amazônia, por

período, entre 1996 a 2012 ............................................................................ 66 Tabela 8. Áreas protegidas em km² de todas as categorias de UCs no Brasil divididas

por bioma ....................................................................................................... 68 Tabela 9. Incremento médio anual da biomassa florestal acima do solo dividido por

bioma (em ts/ha.ano) ..................................................................................... 75Tabela 10. Relação média entre a biomassa abaixo e acima do solo dividido por

bioma ........................................................................................................... 76Tabela 11. Projeção das emissões nacionais de GEE para o ano de 2020 ................... 85Tabela 12. Aplicabilidade do mecanismo REDD nos biomas brasileiros ....................... 91Tabela 13. Aplicabilidade do mecanismo ARR nos biomas brasileiros .......................... 93Tabela 14. Estimativa da proporção de cada bioma brasileiro elegível para os

mecanismos REDD+ no VCS....................................................................... 95Tabela 15. Custo anual com as principais atividades de conservação e restauração

florestal ....................................................................................................... 113Tabela 16. Análise comparativa financeira do projeto IFM com o cenário de linha de

base ........................................................................................................... 113Tabela 17. Análise do buffer da área de estudo ........................................................... 115Tabela 18. Redução de emissão de GEE gerada por REDD na área de estudo ......... 119Tabela 19. Redução de emissão de GEE gerada por IFM na área de estudo ............. 120Tabela 20. Redução de emissão de GEE gerada por ARR na área de estudo ............ 120Tabela 21. Redução de emissão de GEE gerada pelos mecanismos REDD+ na área de

estudo no período 2003 a 2046 ................................................................. 121

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACR American Carbon Registry Afolu Agriculture Forestry and Other Land Use ALM Agriculture Land Management ARR Afforestation, Reforestation and Revegetation BMV Brasil Mata Viva C Carbono CAR Climate Action Reserve CCB Climate Community and Biodiversity CER Certified Emission Reduction CH4 Metano CIMGC Comissão Interministerial de Mudanças Globais do Clima

CMP Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to the Kyoto Protocol

CO2 Dióxido de carbono CO2e Dióxido de carbono equivalente Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente COP Conference of the Parties DAP Diâmetro à Altura do Peito DCP Documento de Concepção do Projeto FSC Forest Stewardship Council GEE Gases de Efeito Estufa HFC Hidrofluorcarbono IDH Índice de Desenvolvimento Humano IFM Improved Forest Management IMA Incremento Médio Anual IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change ISO International Organization for Standardization MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MMA Ministério do Meio Ambiente

N2O Óxido nitroso OMM Organização Meteorológica Mundial ONU Organização das Nações Unidas PAG Potencial de Aquecimento Global PFC Perfluorcarbono PFNM Produtos Florestais Não Madeireiros PL Projeto de Lei PMFS Plano de Manejo Florestal Sustentável PNMC Política Nacional sobre Mudança do Clima Pnuma Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPCaatinga Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Caatinga PPCDAm Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia

PPCerrado Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado

ppm Partes por milhão RED Reducing Emissions from Deforestation REDD Reduced Emissions from Deforestation and Degradation

REDD+ Reduced Emissions from Deforestation and Degradation plus conservation, sustainable management of forests and enhancement of forest carbon stocks

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural SF6 Hexafluoreto de enxofre SFB Serviço Florestal Brasileiro SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza tC/ha Tonelada de carbono por hectare tCO2e Tonelada de dióxido de carbono equivalente Ts Tonelada seca UC Unidade de Conservação UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change VCS Verified Carbon Standard VCU Verified Carbon Unit VER Voluntary Emission Reduction VVB Validation/Verification Body

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 14 2.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 14 2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 14 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 15 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 17 4.1 Efeito Estufa e Protocolo de Kyoto .................................................................... 17 4.2 Mudança do Uso da Terra e Florestas .............................................................. 20 4.3 As Emissões Brasileiras de GEE na Mudança do Uso da Terra e Florestas ..... 26 4.4 História do REDD+ ............................................................................................ 30 4.5 Mercados de Créditos de Carbono para Projetos Florestais ............................. 33 4.5.1 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ............................................................ 33 4.5.2 Mercado Voluntário de Carbono ........................................................................ 34 4.6 Standards Utilizados para Projetos Florestais ................................................... 38 4.7 Verified Carbon Standard (VCS) ....................................................................... 40 4.8 Mecanismos de REDD+ no VCS ....................................................................... 42 4.9 Características do VCS para Desenvolvimento de Projetos REDD+ ................. 45 4.9.1 Ciclo do Projeto de Créditos de Carbono no VCS ............................................. 45 4.9.2 Requerimentos Gerais do VCS para Projetos REDD+ ...................................... 48 4.9.3 Elegibilidade do Projeto REDD+ no VCS .......................................................... 50 4.9.4 Adicionalidade para Projetos REDD+ no VCS ................................................... 51 4.9.5 Permanência e Análise do Buffer em Projetos REDD+ no VCS ........................ 53 4.9.6 Gestão de Vazamentos em Projetos REDD+ no VCS ....................................... 55 4.9.7 Avaliação dos Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais em Projetos REDD+

no VCS .............................................................................................................. 57 4.9.8 Medição e Monitoramento em Projetos REDD+ no VCS ................................... 58 4.9.9 REDD+ Jurisdicional e Sistemas Aninhados ..................................................... 59 4.10 Principais Características do Brasil para Desenvolvimento de Projetos

REDD+ .............................................................................................................. 61 4.10.1 Florestas e Estoque de Carbono nos Biomas Brasileiros .................................. 61 4.10.2 O Desmatamento nos Biomas Brasileiros ......................................................... 64 4.10.3 As Áreas Protegidas e REDD+ .......................................................................... 67 4.10.4 A Demanda por Madeira e o Manejo Florestal .................................................. 69 4.10.5 Áreas Degradadas e sua Recuperação Florestal .............................................. 73 4.11 REDD+ e Biodiversidade ................................................................................... 77 4.12 REDD+ e Implicações Sociais ........................................................................... 78 4.13 Contexto das Políticas Públicas de REDD+ no Brasil ....................................... 81 5 O REDD+ E SEU DESENVOLVIMENTO NO BRASIL ..................................... 87 5.1 Aplicação dos Mecanismos REDD+ no Brasil segundo o VCS ......................... 87 5.1.1 Reduced Emissions from Deforestation and Degradation (REDD) .................... 87 5.1.2 Improved Forest Management (IFM) ................................................................. 89

5.1.3 Afforestation, Reforestation and Revegetation (ARR) ....................................... 89 5.2 Análise da Aplicabilidade dos Mecanismos REDD+ nos Biomas Brasileiros

segundo o VCS ................................................................................................. 91 5.3 Benefícios da Aplicação dos Mecanismos REDD+ no Brasil............................. 96 6 ESTUDO DE CASO ........................................................................................ 102 6.1 Aplicabilidade dos Mecanismos REDD+ na Área de Estudo conforme os

requisitos do VCS ............................................................................................ 106 6.1.1 Elegibilidade .................................................................................................... 106 6.1.2 Linha de Base .................................................................................................. 108 6.1.3 Adicionalidade ................................................................................................. 112 6.1.4 Análise do Buffer ............................................................................................. 114 6.1.5 Gestão de Vazamentos ................................................................................... 116 6.2 Estimativa de Geração de Créditos de Carbono por REDD, IFM e ARR na Área

de Estudo ........................................................................................................ 118 6.3 Benefícios da Aplicação dos Mecanismos REDD+ na Área de Estudo ........... 122 7 CONCLUSÃO.................................................................................................. 124 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 130

12 1 INTRODUÇÃO

Detentor da maior área de floresta tropical do mundo, o Brasil tem ocupado uma posição de destaque no que se refere à mitigação das mudanças do clima. Justifica-se o presente trabalho devido ao fato de que o crescimento econômico brasileiro vem ocorrendo, em grande proporção, à custa da exploração dos recursos naturais e degradação do meio ambiente. Além da perda de biodiversidade e destruição de ecossistemas, o desmatamento e a não restauração florestal liberam estoques de carbono armazenados nas florestas e no solo, emitindo gases de efeito estufa (GEE) que contribuem com o aquecimento global. Os mecanismos de redução de emissões por desmatamento e degradação, conservação, manejo florestal sustentável e aumento dos estoques de carbono florestal – REDD+ surgem como alternativas, pois tornam compensatórios a revegetação de áreas degradadas e a conservação de florestas frente ao desmatamento e degradação. Deste modo, valora-se também os múltiplos co-benefícios advindos destas atividades. Assim, por meio do mercado de carbono, aumentam-se as chances de garantir a competitividade de ações sustentáveis em relação ao padrão tradicional de ocupação, que hoje é considerado mais rentável.

Os mecanismos REDD+ englobam projetos que possuem o objetivo de reduzir as emissões de GEE provenientes do desmatamento e degradação florestal, bem como de conservar e aumentar os estoques de carbono nas florestas.

Outros possíveis benefícios importantes obtidos por meio da implantação dos mecanismos REDD+ são as melhorias proporcionadas às comunidades afetadas pelos projetos, promovendo a educação, capacitação e aprimoramento no acesso a serviços locais. Estes benefícios oferecem as ferramentas necessárias para permitir a diversificação das fontes de renda das comunidades, com base especialmente no uso sustentável dos recursos naturais, incentivadas por meio de programas de manutenção. Por este motivo, mesmo que atividades dos projetos tenham um prazo determinado para terminar, é esperado que se mantenham auto-sustentáveis por um longo período.

Além disso, considerando-se as metas voluntárias de redução de emissão de GEE adotadas pelo Brasil em 2009 por meio da Lei 12.187/09 (BRASIL, 2009b), que

13 institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), e que ao redor de 77% das emissões brasileiras de CO2 são advindas da mudança e uso do solo e florestas (BRASIL, 2010c), os mecanismos aqui propostos podem ser importantes ferramentas para alcançar estes objetivos.

Finalmente, deseja-se demonstrar por meio de um estudo de caso, que os mecanismos REDD+ promovem a sustentabilidade em seus três eixos: a parte econômica, gerada pelos créditos de carbono; a parte social, por meio dos benefícios para a comunidade local; e a parte ambiental, pela conservação, reflorestamento e adoção de técnicas mais eficientes de manejo florestal, com a consequente redução das emissões de GEE.

14 2 OBJETIVOS

Os objetivos da pesquisa estão materializados em geral e específicos.

2.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo geral identificar os benefícios da aplicação dos mecanismos REDD+ no Brasil, a fim de valorar financeiramente projetos de manutenção e aumento dos estoques de carbono florestal que resultam na redução das emissões de GEE oriundas das atividades de mudança do uso do solo e florestas, que respondem pela maior parte das emissões brasileiras.

2.2 Objetivos Específicos

Considerando os objetivos específicos, almeja-se o seguinte:

• Levantar as taxas de desmatamento, crescimento da vegetação e a situação do manejo florestal de cada bioma brasileiro;

• Analisar as especificidades do Verified Carbon Standard (VCS) para projetos florestais de créditos de carbono;

• Indicar os biomas brasileiros que melhor se aplicam aos mecanismos de REDD+ segundo as condições do VCS;

• Apresentar um estudo de caso em um dos biomas identificados, conforme os requisitos do VCS.

15 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De acordo com os princípios indicados por Gil (2002), este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, pois colabora com a melhor interpretação do tema, deste modo contribuindo para a sua implementação. A coleta de dados adotada foi por pesquisa bibliográfica e análise de documentos específicos da área do estudo de caso.

Conforme este procedimento, depois de realizada as etapas de identificação, localização e análise das fontes, foi feita a leitura interpretativa do material bibliográfico. De acordo com Gil (2002), este tipo de leitura tem a finalidade de conferir um significado mais amplo ao tema mediante sua ligação com as informações contidas nas fontes analisadas.

Ainda conforme Gil (2002), um estudo de caso consiste em uma investigação profunda de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, com o objetivo de proporcionar uma visão global do tema. O estudo de caso deste presente trabalho é caracterizado como instrumental, pois possui o propósito de auxiliar na melhor percepção e compreensão do assunto, e assim, em um melhor entendimento.

Primeiramente, foram analisados os diferentes Standards para elaboração de projetos de créditos de carbono florestal. A partir disto, focou-se no Verified Carbon Standard (VCS) a fim de analisar os requisitos para elaboração de projetos REDD+.

Além disso, realizou-se a contextualização das fontes de emissão de GEE no Brasil, com abordagem principal nas atividades de mudança do uso do solo e florestas. Foi feita a exploração e seleção dos dados necessários para a elaboração de projetos REDD+ no Brasil. Estes dados consistiram, principalmente, das seguintes análises por bioma: percentual de cobertura florestal; estoque de carbono florestal; taxa de desmatamento; condições de manejo florestal; e Incremento Médio Anual (IMA). A partir disto, foi possível identificar quais biomas brasileiros são mais adequados à aplicação de projetos REDD+ dentro do VCS, bem como apresentar os principais benefícios relacionados.

Ao mesmo tempo, foi analisado o contexto legal de REDD+ no Brasil, no qual inserem-se as metas nacionais de redução de emissão de GEE, estabelecidas pela

16 PNMC - Lei 12.187/09 (BRASIL, 2009b). Assim, foi examinada a contribuição dos projetos florestais de créditos de carbono para a redução destas emissões.

Finalmente, a partir de um estudo de caso nas áreas da empresa Ecomapuá Conservação Ltda., localizadas na Ilha do Marajó, Estado do Pará, analisou-se a aplicabilidade dos mecanismos REDD+ conforme os requisitos do VCS. Como resultado, são descritos os principais benefícios advindos destes projetos.

Assim, este trabalho foi elaborado conforme a seguinte ordem de atividades:

• Análise dos Standards no mercado de carbono florestal;

• Enfoque no VCS e análise dos requisitos deste Standard para elaboração de projetos REDD+;

• Pesquisa e análise dos seguintes dados, por bioma: percentual de cobertura florestal, estoque de carbono florestal, taxa de desmatamento, IMA, e condições de manejo florestal;

• Análise do contexto legal de REDD+ no Brasil, abrangendo as metas nacionais de redução de emissão de GEE instituídas pela PNMC;

• Identificação dos biomas com melhores condições de aplicação de projetos REDD+ no Brasil, segundo o VCS;

• Apresentação de um estudo de caso no bioma Amazônia a fim de analisar a aplicabilidade dos mecanismos REDD+ atendendo aos requisitos do VCS;

• Indicação e caracterização dos principais benefícios alcançados com a implantação dos mecanismos propostos para a região.

17 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 Efeito Estufa e Protocolo de Kyoto

Existem naturalmente gases em nossa atmosfera que absorvem parte da radiação refletida da superfície para a atmosfera. Essa propriedade, denominada efeito estufa, mantém a temperatura média global. Os principais GEE considerados pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (1997) são: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6), as famílias dos perfluorcarbonos (PFCs) e dos hidrofluorcarbonos (HFCs). Cada GEE tem uma absorção de radiação infravermelha diferente, ou seja, contribui distintamente para o efeito estufa. Esta propriedade é chamada de Potencial de Aquecimento Global (PAG), ou global warming potential em inglês, que atribui à molécula de CO2 um valor de referência para os dos demais GEE. Deste modo, o potencial de aumento do efeito estufa por um determinado GEE em 100 anos é comparado com a mesma quantidade de CO2 emitida em um mesmo período de tempo, denominado CO2 equivalente (CO2e) (MIGUEZ, 2000).

As concentrações atmosféricas globais dos GEE, principalmente de CO2, CH4 e N2O, aumentaram bastante em consequência das atividades humanas desde a Revolução Industrial em 1750. Atualmente, estes valores ultrapassam em muito os valores pré-industriais determinados com base em testemunhos de gelo de milhares de anos. O aumento global da concentração de CO2 se deve principalmente ao uso de combustíveis fósseis e à mudança do uso da terra, enquanto que para o metano e óxido nitroso, pela agricultura (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007).

O aumento da população mundial em ritmo quase exponencial e a busca constante por um nível de vida comparado ao dos países desenvolvidos trouxeram sérios impactos negativos. O sistema econômico atual demorou a perceber a estreita ligação entre a economia, qualidade de vida e o meio ambiente. O aumento da demanda por energia, espaço, água, alimento, matéria-prima, juntamente com uma maior geração de resíduos, são alguns dos impactos decorrentes do aumento

18 populacional, acarretando em uma crescente pressão sobre as florestas. Isto resulta consequentemente em um proporcional aumento de emissões de GEE, já que quase todas as atividades humanas geram e emitem algum destes gases.

Até meados da década de 1950, poucos cientistas sociais e economistas preocupavam-se com a relação entre o crescimento econômico e o meio ambiente. As preocupações com o uso sustentado dos recursos naturais só ganharam força e passaram a ocupar um lugar na pauta de discussões no cenário internacional na década de 1970, após a publicação do Relatório do Clube de Roma e da Conferência de Estocolmo. Esta última previu o esgotamento destes recursos e apontou como única saída limitar o crescimento populacional e econômico em nível mundial (MEADOWS et al., 1972).

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC) foi criado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em 1988. Esta organização tem como objetivo estudar e publicar informações técnicas e socioeconômicas dos impactos e riscos relevantes à humanidade, visando criar mecanismos para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas globais (AVILA, 2007).

Segundo o Intergovernmental Panel on Climate Change (2000), os impactos econômicos, sociais e ambientais decorrentes do aquecimento global afetarão todos os países, porém, serão sentidos de maneira diferenciada em cada região. A maioria dos impactos será negativa trazendo enormes prejuízos para a humanidade. Para tentar solucionar este problema ambiental, a Organização das Nações Unidas (ONU) vem debatendo o tema em conferências internacionais (ROCHA, 2003).

Diante das diversas preocupações ambientais, aparece em destaque a intensificação do efeito estufa e aquecimento global, principalmente após o 2º Relatório do IPCC em 1995. Em 2007, o IPCC publicou seu quarto relatório, afirmando que onze anos dentre 1995 e 2006 foram os mais quentes já registrados desde o início do registro instrumental da temperatura da superfície global, em 1850. Além disto,

19 destacou as atividades humanas como o principal motivo deste aumento da temperatura (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007).

A Figura 1, que segue, detalha as participações dos principais GEE no total mundial emitido em 2004, correspondente a 49 GtCO2e. Nota-se que a maior emissão de GEE refere-se à queima de combustíveis fósseis para geração de energia e processos industriais. A mudança do uso da terra e florestas (principalmente desmatamento) também contribuiu com uma importante parcela, ao redor de 17% do total de emissões no ano de 2004.

Figura 1. Emissões antrópicas globais dos principais gases de efeito estufa em 2004, com um total de 49 GtCO2e emitidas naquele ano.

Fonte: Intergovernmental Panel on Climate Change (2007)

Para tratar do aquecimento global e suas possíveis consequências sobre a humanidade, foi estabelecida inicialmente por 154 países, em 1992 durante a Rio-92, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC). A UNFCCC tem como objetivo propor aos países estabilizarem as emissões atmosféricas dos GEE de forma a impedir que atividades antrópicas levem a uma interferência crítica no clima do planeta. A UNFCCC entrou em vigor em 21 de março de 1994 e conta atualmente com 194 países (Partes). Desde então, as Partes realizam conferências anuais, denominadas

N207,9% F-gases

1,1%

CH414,3%

CO2(desf lorestamento, decomposição de

biomassa, etc)17,3%

CO2 (outros)2,8%

CO2 (uso de combustível fóssil)

56,6%

20 Conference of the Parties (COP), para discutir e tentar encontrar soluções para este problema (ROCHA, 2003).

A COP-3 realizada em Kyoto em dezembro de 1997 destaca-se como uma das mais importantes. Durante a sua realização, foi estabelecido um acordo que define as metas de redução de emissão de GEE para os países desenvolvidos (Anexo I), além de critérios e diretrizes para a utilização dos mecanismos de mercado. Este acordo ficou conhecido como Protocolo de Kyoto. No primeiro período deste protocolo, foi estabelecido que os países industrializados deveriam, entre 2008 a 2012, reduzir suas emissões em 5,2% abaixo dos níveis observados em 1990 (ROCHA, 2003).

O Protocolo de Kyoto entrou em vigor em fevereiro de 2005, e a partir deste ano, os países signatários realizam reuniões anuais que ocorrem simultaneamente às COPs, denominadas Conference of the Parties serving as the meeting of the Parties to the Kyoto Protocol (CMP), a fim de estabelecer regras e tomar decisões relacionadas ao protocolo (CDM RULEBOOK, 2012). Atualmente, o Protocolo de Kyoto encontra-se em seu segundo período (2013 a 2020), no qual cada país do Anexo I revisará suas próprias metas de redução de emissão, de acordo com o definido na COP-18/CMP-8, em 2012.

Desta forma, criou-se o mercado de carbono, no qual a moeda é chamada de crédito de carbono. Por meio de um projeto de redução de emissões de GEE, cada tonelada de dióxido de carbono equivalente deixada de ser emitida para a atmosfera corresponde a um crédito de carbono. Assim, países ou empresas que não conseguirem reduzir suas emissões têm a oportunidade de comprar estes créditos, a fim de cumprirem com as metas de redução estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto.

4.2 Mudança do Uso da Terra e Florestas

De acordo com a United Nations Framework Convention on Climate Change (2001), o conceito de floresta pode ser definido como uma área de no mínimo 0,05 a

21 1,0 ha, com cobertura de copa1 de mais de 10-30% e com árvores com o potencial de atingir a altura mínima de 2-5 m na maturidade in situ. Porém, muitos países adotam oficialmente o conceito de floresta definido pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (2004), que está dentro do estabelecido pela UNFCCC: área medindo mais de 0,5 ha com árvores maiores que 5 m de altura e cobertura de copa superior a 10%, ou árvores capazes de alcançar estes parâmetros in situ. Isso não inclui terra que está predominantemente sob uso agrícola ou urbano (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2010).

De acordo com Food and Agriculture Organization of the United Nations (2011), as florestas cobrem cerca de 31% da superfície terrestre, sendo que as florestas tropicais são o domínio mais representativo, correspondendo a 44% do total de florestas no planeta. Apesar da taxa de desmatamento continuar preocupantemente alta, houve uma pequena redução, de 16 milhões para 13 milhões de hectares desmatados por ano nas décadas de 1990 e 2000, respectivamente. A maior taxa de desmatamento em ambos os períodos ocorreu na América do Sul, especialmente nas florestas tropicais.

A América do Sul apresentou uma taxa de desmatamento anual constante nas décadas de 1990 e 2000, da ordem de 0,45% ao ano, sendo a agricultura e urbanização as causas principais desta perda de cobertura florestal. Enquanto isso, a taxa de desmatamento anual global foi ao redor de 0,13%, ou seja, quase 3,5 vezes menor (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011). A Figura 2, a seguir, mostra a perda da área de cobertura florestal primária na América do Sul, entre 1990 a 2010.

1 Cobertura de copa é uma medida obtida por meio da projeção das copas das árvores sobre o

solo, desconsiderando-se a sobreposição entre elas. Com isso, é possível também obter o grau de abertura das copas, ou clareiras, pela diferença entre o tamanho da área medida e o índice de cobertura de copa.

22

Figura 2. Área de floresta primária na América do Sul entre 1990 a 2010, em milhões de hectares

Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nations (2011)

As florestas em áreas protegidas cobrem aproximadamente 13% do total de áreas florestais no mundo, sendo que entre 2000 e 2010, estas áreas cresceram numa taxa de quase 2% ao ano, ritmo quase duas vezes maior que na década de 90 (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2010). Implantar efetivamente estas áreas protegidas em zonas sob alta ameaça antropogênica é uma ótima estratégia para reduzir as emissões de carbono, devendo receber atenção especial no planejamento de investimentos para a conservação regional (SOARES-FILHO et al., 2010). Além disso, este seria um dos meios mais práticos, imediatos e efetivos para combater as mudanças climáticas (RICKETTS et al., 2010).

Apesar de terem quase triplicado em área entre 2005 e 2010, apenas 1% das florestas na África e 3% na América do Sul são manejadas para uso econômico sustentável (INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION, 2011). Devido a fatores econômicos e culturais, nestas regiões ainda prevalece o desmatamento ilegal sem uma eficaz fiscalização, apresentando problemas tanto na governança como na vontade política (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011).

A questão do aquecimento global tem destacado a importância das florestas e do solo no que se refere ao potencial de emissões de GEE. Quando ocorre a conversão de

23 áreas florestadas ou vegetadas para outros usos, considera-se que houve emissões de GEE, causadas pela liberação dos reservatórios de carbono da biomassa florestal, juntamente com a decomposição da matéria orgânica em forma de CO2 (CAMPOS, 2001).

A conversão de floresta tropical em agricultura e pecuária é responsável pela maior parte do desflorestamento global, e consequentemente, tem significativa participação no total de emissões de GEE do planeta (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007). Estas mudanças de uso da terra respondem a pressões econômicas e sociais, para prover alimentos, combustível e produtos de madeira, para subsistência, comercialização ou exportação (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2001). De acordo com The Economics of Ecosystems and Biodiversity (2010), se as taxas de desmatamento em todas as florestas do mundo se reduzissem a zero até 2030, as emissões globais de GEE iriam diminuir entre 1,5 a 2,7 GtCO2 por ano.

As florestas e o solo têm uma importante participação no ciclo do carbono, e consequentemente, na concentração atmosférica do principal GEE, o CO2. Um dos meios de remoção do CO2 da atmosfera ocorre pelo processo de fotossíntese, fixando o dióxido de carbono em compostos reduzidos de carbono, que são armazenados em forma de biomassa, correspondendo a aproximadamente 50% da biomassa seca total presente nas árvores e outros vegetais. Outra parte deste carbono é incorporada ao solo terrestre (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 1997).

A proporção de carbono absorvido pelas florestas está relacionada ao seu crescimento e sua idade, sendo que quando jovens e em fase de crescimento, são capazes de remover carbono em maiores proporções (ALVARENGA; CARMO, 2006). Porém, de acordo com Kollmuss, Zink e Polycarp (2008), florestas maduras possuem uma reserva maior de carbono, pelo fato de aproximadamente 2/3 do carbono em ecossistemas terrestres estar armazenado em profundidade, o que demoraria de anos a décadas para ocorrer em uma floresta jovem.

Reservatórios de carbono são sistemas que tem a capacidade de acumular ou liberar carbono. A quantificação destes reservatórios representa o estoque de carbono

24 contido na área. De acordo com o Intergovernmental Panel on Climate Change (2003), o carbono armazenado em uma floresta está:

• Na biomassa viva acima do solo, que corresponde ao tronco, ramos, casca, folhas, flores e frutos;

• Na biomassa viva abaixo do solo, que inclui parte do tronco e as raízes maiores que 2 mm de diâmetro;

• Na biomassa morta acima do solo, que inclui a madeira morta (biomassa lenhosa morta em pé ou caída sobre o solo, com diâmetro mínimo de 10 cm);

• Na serrapilheira (biomassa morta em vários estágios de decomposição acima do solo);

• No solo, mineral ou orgânico (incluindo turfa), que também inclui as raízes menores que 2 mm de diâmetro.

A Figura 3, que segue, exemplifica os tipos de reservatórios de carbono na biomassa florestal.

Figura 3. Tipos de reservatórios de carbono

Fonte: Couto (2007)

Segundo o Verified Carbon Standard (2012b), outra categoria de reservatório de carbono são os produtos de madeira de longa duração. Estes podem ser aqueles colhidos da floresta, tais como lenha ou troncos, bem como os seus derivados, tais

25 como madeira serrada, compensados, laminados e papel. Os produtos de madeira são considerados um tipo de reservatório porque significativas quantidades de carbono podem estar armazenadas em produtos de madeira, ao invés de serem lançadas na atmosfera durante o desmatamento.

Com base nas definições anteriores, é possível definir também os principais conceitos básicos aplicáveis a projetos florestais envolvendo créditos de carbono, que de acordo com o Verified Carbon Standard (2012d), são:

• Desmatamento: conversão induzida diretamente pelo homem, de terra florestada em terra não florestada;

• Degradação: constante redução da cobertura vegetal e/ou estoques de carbono em uma floresta devido a atividades humanas, porém não resultando em conversão de terra florestada em terra não florestada. Ou seja, florestas que continuam sendo florestas;

• Manejo Florestal: sistema de práticas e atividades para manejo e uso da terra florestal sem redução na sua produtividade futura, visando o atendimento de funções ecológicas, econômicas e sociais relevantes da floresta de uma maneira sustentável (SOLARI PUENTES, 2010; INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION, 2011);

• Florestamento, reflorestamento e revegetação: Atividades que aumentam os estoques de carbono na biomassa lenhosa (e em alguns casos, no solo), por meio do estabelecimento e/ou restauração da cobertura vegetal florestal mediante atividades de plantio, semeadura e/ou regeneração natural com mediação humana, desde que realizado em áreas não florestadas.

Com base nestas definições, e utilizando o conceito de floresta da Food and Agriculture Organization of the United Nations (2004), o qual é adotado pelo Serviço Florestal Brasileiro (2010), 90% de uma floresta pode ser removida antes da área ser considerada desmatada, desde que ainda apresente tamanho mínimo de 0,5 ha, com árvores maiores que 5 m. Assim, a degradação florestal pode tornar-se a uma

26 importante fonte de emissão de CO2, principalmente por ser um precursor do desmatamento.

Além dos impactos no futuro do clima global, o desflorestamento provoca perda de biodiversidade, alterações no ciclo hidrológico, perda e degradação de solos, além da ameaça ao modo de vida e à cultura.

4.3 As Emissões Brasileiras de GEE na Mudança do Uso da Terra e Florestas

A situação atual das florestas brasileiras reflete a história ambiental na qual ela foi sujeita. Desde a ocupação e colonização, passando pelos ciclos econômicos, até ataques recentes à legislação ambiental, o meio ambiente tem sido tratado como um empecilho para atingir o desenvolvimento. Os parágrafos que seguem resumem os comportamentos e pensamentos em relação ao meio ambiente e conservação florestal, que foram excelentemente descritos por Warren Dean em seu livro “A ferro e fogo”, que descreve a história do desmatamento das florestas brasileiras.

Os portugueses tropeçaram em um meio continente, movidos por cobiça e virtude (...). Produziram tamanha devastação entre seus irmãos que, no prazo de um século, quase todos aqueles com quem haviam se deparado estavam mortos e suas sociedades em ruínas. Esse foi o começo, a fundação do povoamento, da colonização e do império, de uma sociedade transferida e imposta (DEAN, 1996, p. 59).

Com este pontapé inicial, a postura brasileira em relação ao meio ambiente e conservação florestal quase não evoluiu depois da independência de Portugal, passando pela monarquia, até o estabelecimento da República, como segue:

Os republicanos costuraram no novo pavilhão nacional o lema positivista “Ordem e Progresso” (...). A “ordem” era tomada no sentido da disciplina em nome da hierarquia social e dos direitos de propriedade. “Progresso” significava a aplicação insensata de tecnologia importada em seu nome. A rápida eliminação da vegetação não lucrativa era a marca definidora de ambos os termos (DEAN, 1996, p.229).

Não é de se duvidar que tantos anos de descaso com a natureza levaram o povo brasileiro a pensar retrogradamente em relação ao ambientalismo, pelo menos até a metade do século XX. São alguns sentimentos desta época: “é nulo o amor por nossas florestas, nula a compreensão do que representam enquanto fator econômico e nula a

27 compreensão das infelizes consequências que derivam de seu empobrecimento e do horror que resultaria de sua completa destruição” (DEAN, 1996, p.256).

Todo este histórico sobre a forma na qual o meio ambiente tem sido tratado no Brasil mostra como há uma enorme dificuldade cultural para o estímulo à conservação florestal e restauração de áreas degradadas. Como mais um capítulo da história das relações humanas com o meio ambiente natural, é provável que apenas se tomarão medidas defensivas após a evidência de um imenso desastre. Uma das conclusões feitas por Dean (1996, p.298) seria que

o ódio secular da vida selvagem, expresso pela maioria dos neoeuropeus brasileiros, conjugado à disposição geral de saquear o patrimônio nacional em proveito privado, como se o país ainda fosse uma colônia (...), talvez sejam suficientes para explicar, em termos gerais, por que a floresta desapareceu.

As florestas nativas também foram muito cobiçadas pelo fornecimento de lenha, cuja importância era, até meados do século passado, fundamental na matriz energética brasileira, sendo a principal fonte de energia primária em nosso país (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2012). A partir de 1970, porém, a lenha foi gradativamente substituída pelos derivados de petróleo, apoiado pelo fato que, à medida que se degradavam as florestas, esta fonte de combustível se distanciava cada vez mais (BRITO, 2007).

No entanto, mesmo com uma considerável participação dos combustíveis fósseis na produção de energia primária, as principais emissões de GEE brasileiras não são advindas do setor industrial ou de geração de energia, e sim da derrubada de florestas e liberação do carbono do solo (BRASIL, 2010c).

Em outubro de 2010, o Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) lançou a Segunda Comunicação Nacional (BRASIL, 2010c), inventariando a emissão de GEE nacional dividida por setores de atividades. Este inventário considera o ano base de 2000, porém adicionalmente são também apresentados os valores referentes aos outros anos do período de 1990 a 2005. Conclui-se por este documento que as emissões brasileiras de GEE aumentaram cerca de 60% entre 1990 e 2005, passando de 1.400 MtCO2e para 2.193 MtCO2e.

28

Ao redor de 77% das emissões brasileiras de CO2 são advindas da mudança de uso do solo e florestas. Se forem contabilizados todos os GEE em forma de carbono equivalente, por meio do PAG, quase 61% das emissões brasileiras resultam da mudança de uso da terra e florestas (BRASIL, 2010c). A Tabela 1, a seguir, demonstra as emissões nacionais divididas pelos setores de atividades inventariados, considerando-se o PAG.

Tabela 1. Emissões brasileiras divididas por setores de atividades em 2005

Setor MtCO2e Participação (%) Energia 329 15,0 Processos Industriais 78 3,6

Agricultura 416 18,9

Mudanças do Uso da Terra e Florestas 1.329 60,6 Tratamento de Resíduos 41 1,9 Total 2.193 100

Fonte: Brasil (2010c)

A Figura 4 exibe a distribuição do total de 2.193 MtCO2e emitidos em 2005, podendo-se verificar a significante participação do setor de atividades de mudança do uso da terra e florestas nas emissões brasileiras (ao redor de 61%), seguido pelo setor agrícola e depois, pelo setor de energia (BRASIL, 2010c). Comparando-se a Figura 4 com a Figura 1, também é possível analisar a diferença da distribuição das emissões brasileiras em relação à observada globalmente, cujas emissões são principalmente advindas do uso de combustíveis fósseis.

Figura 4. Participação nas emissões nacionais dos setores de atividades inventariados no ano de 2005, considerando-se o PAG

Fonte: Brasil (2010c)

29

Como demonstrado pelo Segundo Inventário Nacional de GEE (BRASIL, 2010c), os dois principais setores de atividades responsáveis pela emissão de GEE são a Agricultura e a Mudança do uso da terra e florestas, correspondendo a quase 80% do total das emissões nacionais.

De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro (2010), o conceito de floresta usualmente adotado pelo Brasil é melhor identificado com aquele definido pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (2004). Entre 2000 e 2010, o Brasil foi o país que teve a maior perda líquida de cobertura florestal, atingindo uma média de 2,6 milhões de ha/ano, correspondente à metade do ocorrido mundialmente no período (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011). Isto faz com que o Brasil, juntamente com a Indonésia, sejam os maiores emissores mundiais de GEE devido ao desmatamento (BACCINI et al., 2012).

Outros impactos importantes causados pelo aumento da emissão de GEE devido às atividades agrícolas e mudança do uso do solo e florestas incidem na biodiversidade, na alteração no regime de chuvas, e na própria agricultura, devido à perda de terras aráveis devido à degradação e erosão do solo. Especialmente em relação à biodiversidade, o Brasil possui mais de 20% do número total de espécies do planeta com alto nível endêmico, por isso sendo considerado o país mais biodiverso do planeta (BRASIL, 2012c).

Além disso, o país também abriga uma rica sociobiodiversidade, representada por mais de 200 povos indígenas e por diversas comunidades, que também serão obrigadas a se adaptarem às mudanças climáticas ocasionadas pelas atividades humanas fora de suas fronteiras (BRASIL, 2012c). Desta forma, seguindo o exposto por Busch et al. (2010), projetos de REDD+ no Brasil teriam uma alta eficácia, porque ao mesmo tempo em que evitam que o alto estoque de carbono das florestas tropicais seja liberado para a atmosfera, contribuindo com o aquecimento global, também conservam uma das mais altas biodiversidades existentes no mundo.

O Brasil é um país vulnerável às mudanças climáticas não somente por causa de seus frágeis ecossistemas biologicamente diversos. Um exemplo preocupante destas mudanças nos biomas Amazônia e Pantanal é a tendência de redução da precipitação

30 e ocorrência de secas por um período prolongado, podendo como consequência levar a uma transformação da vegetação tropical em savana. Da mesma forma, esta mudança nos padrões de chuvas, especialmente na Caatinga, pode reduzir a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos disponíveis para a agricultura, agravando os problemas da região (INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION, 2011). Cada bioma será afetado de uma forma específica pelas mudanças climáticas, em geral aumentando a ocorrência de eventos extremos, demandando uma maior capacidade de adaptação do país aos possíveis impactos (BRASIL, 2007b).

4.4 História do REDD+

Tendo em vista as altas taxas de emissões de GEE provocadas pela redução da cobertura florestal, foram iniciadas discussões internacionais, a fim de que projetos que evitem o desmatamento também fossem elegíveis a receber créditos de carbono como incentivo para manter a floresta em pé. A seguir, é apresentado um breve histórico do REDD+, bem como a evolução deste conceito durante as COPs/CMPs (UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE, 2012).

O conceito de REDD surgiu no âmbito da UNFCCC em 2005, durante a COP-11, em Montreal, quando Papua Nova Guiné e Costa Rica, apoiados por oito outros membros da Convenção, apresentaram a proposta de um mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento – RED (ou Reducing Emissions from Deforestation em inglês). Porém, com o amadurecimento dos debates, a proposta evoluiu para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação – REDD (ou Reduced Emissions from Deforestation and Degradation em inglês), passando a considerar também a degradação de florestas. Outra importante atualização foi abranger países que detêm estoques florestais e não apenas aqueles que possuem florestas sob um determinado grau de ameaça (PARKER et al., 2009).

Em dezembro de 2007, a proposta de REDD foi apresentada na COP-13, em Bali, Indonésia, para convencer os 190 signatários (na época) de que evitar o desmatamento ou conservar as florestas naturais poderia ser mais barato do que florestar ou reflorestar. O principal argumento contido nesta proposta foi de que não

31 seria possível deter a destruição das florestas tropicais a menos que fossem criados incentivos para os países que se abstiverem dessa prática (GIACOMELLI SOBRINHO, 2007).

O principal resultado da COP-13 foi chamado de Mapa do Caminho de Bali (Bali Road Map). Neste documento, foi determinada a criação de políticas e incentivos para a redução do desmatamento e degradação de florestas em países em desenvolvimento, juntamente com o estímulo à conservação, manejo e aumento de estoques de carbono florestal. Com isto, a comunidade internacional diferenciou as diferentes abordagens discutidas em Bali, ampliando o conceito para REDD+.

A COP-14 realizada em Poznan, Polônia, em dezembro de 2008, estabeleceu que o REDD+ e seus mecanismos devessem ser parte de um acordo climático pós-2012.

Em dezembro de 2009, a COP-15, realizada em Copenhague, Dinamarca, produziu um documento intitulado “Acordo de Copenhague”. Este documento propôs um comprometimento com a estabilização climática a um aumento máximo de 2°C de temperatura, consistente com concentrações atmosféricas de CO2 abaixo de 450 partes por milhão (ppm). É estabelecido que o REDD+ e seus mecanismos lidarão com um papel importante no cumprimento destas metas, já que dificilmente o limite de 2°C de estabilização do clima será alcançado sem este tipo de projetos. Além disto, foi acordado que incentivos positivos para projetos REDD+ são necessários a fim de permitir a mobilização de recursos financeiros provenientes de países desenvolvidos (ANGELSEN et al., 2009).

Um dos principais resultados da COP-16, realizada em dezembro de 2010 em Cancun, México, foi a criação de um Fundo Verde para o Clima. O objetivo deste fundo é possibilitar e apoiar o aprofundamento de ações de mitigação de mudanças climáticas para países mais afetados, incluindo financiamento substancial para projetos REDD+, adaptação, desenvolvimento e transferência de tecnologia e capacitação. Inicialmente, os países desenvolvidos comprometem-se em mobilizar conjuntamente cerca de US$ 30 bilhões por meio de repasses até 2012. A partir de 2020, a verba deverá chegar a US$ 100 bilhões por ano.

32

A sigla REDD+, que foi primeiramente introduzida no Mapa do Caminho de Bali em 2007, foi melhor definida na COP-16, de modo a abranger ações de mitigação da mudança do clima no setor florestal por meio de cinco atividades:

a) reduzir emissões de desmatamento;

b) reduzir emissões de degradação florestal;

c) conservação do estoque de carbono florestal;

d) manejo florestal sustentável de florestas; e

e) incremento de estoques de carbono nas florestas.

Outro importante avanço durante a COP-16 foi a solicitação aos países em desenvolvimento que, de acordo com as suas capacidades, desenvolvessem uma estratégia ou plano de ação nacional que inclua as estratégias e ações de REDD+. Também, foi sugerida a criação de uma referência nacional dos níveis de emissões florestais, assim como um sistema para o monitoramento das atividades de REDD+ (BRASIL, 2011b).

A COP-17/CMP-7, realizada em dezembro de 2011 em Durban, África do Sul, estabeleceu a base para o segundo período do Protocolo de Kyoto, o qual se iniciou em 2013. Porém, não muito se avançou em relação aos projetos florestais. Ficou decidido que os princípios expressos para projetos florestais na decisão da COP-16/CMP-6 continuarão a valer no segundo período do Protocolo de Kyoto.

Em dezembro de 2012, a COP-18/CMP-8, realizada em Doha, Qatar, instituiu o segundo período do Protocolo de Kyoto, o qual terá vigor até 2020. No entanto, alguns países decidiram não participar deste novo compromisso climático, abandonando o tratado. Ficou estabelecido que até 2014, países do Anexo I irão reexaminar suas metas de redução de emissão a serem adotadas neste segundo período, as quais deverão ser mais rigorosas do que as anteriores. Todavia, pouco se avançou sobre REDD+ e ainda é incerto se estes projetos serão aceitos nesta segunda fase do protocolo.

33 4.5 Mercados de Créditos de Carbono para Projetos Florestais

4.5.1 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

O mercado de créditos de carbono criado pelo Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005, possibilita a utilização de mecanismos de flexibilização para que países do Anexo I atinjam suas metas de redução de GEE. Desta forma, o crédito de carbono passou a ser uma commodity 2 ambiental. Um destes mecanismos de flexibilização é o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permite a comercialização de créditos de carbono entre países do Anexo I e países em desenvolvimento (não-Anexo I). As regras e regulamentações deste mecanismo são ditadas e estabelecidas pela UNFCCC (ROCHA, 2003).

A ideia do MDL é que as empresas em países em desenvolvimento realizem um projeto de créditos de carbono, o qual irá promover a transferência de tecnologia limpa e mais eficiente para estas empresas, que resultarão em menos poluição para o meio ambiente com menos emissão de GEE. Esta tecnologia limpa implementada se tornaria viável com o retorno financeiro da venda dos créditos de carbono (GIACOMELLI SOBRINHO, 2007).

Há 15 escopos de atividades elegíveis no MDL, sendo que para projetos florestais, somente são aceitos o florestamento e o reflorestamento (CDM RULEBOOK, 2012). Atividades de desmatamento evitado e conservação florestal foram excluídas do MDL, por ainda apresentarem muitas controvérsias contra este tipo de projetos. Algumas destas são: incertezas quanto à quantidade de carbono estocado em uma floresta, incertezas na suposição de que em algum momento uma determinada área iria ser desmatada e emitir GEE, incertezas quanto à permanência do carbono estocado por meio da conservação de florestas, incertezas quanto ao vazamento de emissões por estes projetos, entre outras (VIRGILIO et al., 2010).

2 Commodity, em inglês, significa mercadoria, sendo aplicado a produtos de base em estado

bruto (matéria-prima), ou que apresentem um grau mínimo de industrialização. Por serem mercadorias de nível primário, propensas à transformação em etapas de produção, apresentam nível de negociação global, mantendo até certo ponto, um preço universal. Por isso, são suscetíveis a oscilações nas cotações de mercado, com flutuações de preço diárias, baseadas na oferta e na procura globais.

34

No entendimento do MDL, atividades de florestamento e reflorestamento sequestram o CO2 da atmosfera devido ao crescimento das árvores e incremento de biomassa vegetal. Florestamento é a conversão induzida por meio antropogênico, de uma área que não foi florestada por no mínimo 50 anos para uma área florestada. Já o reflorestamento aplica-se a uma área que foi florestada há menos de 50 anos atrás, e que não apresentava cobertura florestal em 31 de dezembro de 1989 (CDM RULEBOOK, 2012).

4.5.2 Mercado Voluntário de Carbono

Como ainda não foram aceitos dentro do MDL, os mecanismos REDD+, que incluem projetos de desmatamento evitado, conservação florestal e aumento de estoques de carbono florestal, são somente uma nova oportunidade dentro do mercado voluntário de carbono. Apesar de este mercado ser bem menor que o MDL, apresenta uma maior flexibilidade e menor complexidade (VIRGILIO et al., 2010). Embora o volume de créditos de carbono transacionados voluntariamente em 2012 tenha representado menos de 5% do negociado no MDL, um crescimento constante em termos de valor negociado foi evidenciado nos três anos anteriores ao analisado (PETERS-STANLEY; YIN, 2013).

Como o próprio nome já diz, o mercado voluntário transaciona créditos de carbono, mas não cumpre com exigências regulatórias. Tanto os compradores de créditos como os desenvolvedores de projetos participam de forma voluntária neste mercado. As regras deste mercado são definidas por Standards, padrões que estabelecem critérios e procedimentos para o desenvolvimento de projetos, embora muitas destas exigências sejam retiradas das regras do MDL. Há diversos tipos de Standards, cada qual delimitando as atividades de projetos elegíveis, os requerimentos específicos e as etapas de aprovação necessárias (PETERS-STANLEY; YIN, 2013).

Os principais compradores de créditos de carbono no mercado voluntário de carbono são empresas privadas, interessadas em sustentabilidade de imagem pública e marketing verde. Este mercado foi criado de modo a atender um nicho de consumidores cada vez mais exigentes, que buscam empresas empenhadas em ações ambientais e responsabilidade social, preferindo produtos com selo que comprove que as emissões

35 de GEE do processo produtivo foram neutralizadas. Outros tipos de compradores do mercado voluntário utilizam os créditos para atender metas voluntárias de redução de emissão estipuladas por cada país fora do Protocolo de Kyoto, que definem qual tipo de Standard será aceito para cumprir tais metas. Porém, poucos países já convencionaram sobre tais metas e seu mercado nacional (PETERS-STANLEY; YIN, 2013).

A maior burocracia, as dificuldades metodológicas, e os custos e tempo necessários para aprovação de projetos MDL fazem muitas vezes o mercado voluntário ser o escolhido por muitas empresas para realizarem os seus projetos de créditos de carbono. Isto ocorre, principalmente, quando o projeto não se enquadra nas regras do MDL, ou quando o projeto é de pequena escala, desta forma não compensando o alto investimento e tempo de espera, necessários para o MDL (PAZ, 2009).

Porém, estas vantagens do mercado voluntário muitas vezes trazem reflexo no preço das unidades de créditos de carbono negociadas. Enquanto que o preço do crédito no MDL é definido como em um mercado de commodities, no voluntário isto acontece na maioria das vezes por meio de um mercado de balcão. Neste tipo de comercialização, os preços são definidos mais abertamente, dependendo do tipo de Standard aplicado, tipo de projeto, safra (ou vintage, em inglês, que corresponde ao ano de geração do crédito), entre outros (PETERS-STANLEY; YIN, 2013).

Normalmente, o preço negociado pela unidade no MDL é maior que o encontrado no mercado voluntário, apesar de recentemente se observar uma tendência de diminuição desta diferença e até mesmo, a inversão dos preços dos créditos entre os mercados. A Figura 5, que segue, exibe a evolução dos preços no MDL desde agosto/08 a dezembro/12 em euros (€), mostrando como o mesmo foi afetado pelas crises mundiais ocorridas no final de 2008 e final de 2011, apresentando uma queda no preço de aproximadamente 82% no período analisado (BARCHART, 2012).

Enquanto isto, no mercado voluntário, os preços médios negociados apresentaram uma queda bem menor, de aproximadamente 14% entre 2008 e 2012, convertendo-se os valores em Euros (€) utilizando-se a respectiva cotação da época. O preço médio negociado em 2012 foi de € 4,58 (PETERS-STANLEY; YIN, 2013).

36

Figura 5. Evolução do preço dos créditos de carbono no MDL

Fonte: Barchart (2012)

Segundo Peters-Stanley e Yin (2013), de todas as transações que ocorreram no mercado voluntário em 2012, 32% foram provenientes de projetos florestais (REDD+). Destes, os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e Florestamento, Reflorestamento e Revegetação (ARR), que serão melhores definidos no tópico 4.8 a seguir, foram aqueles que apresentaram o maior crescimento. Estes mecanismos alcançaram em conjunto, em 2011, o fornecimento de ao redor de 83% do total de créditos florestais negociados (PETERS-STANLEY; HAMILTON; YIN, 2012).

Além disso, em 2011, o volume transacionado no mercado florestal chegou a 25,6 MtCO2e, comparado a apenas 6,5 MtCO2e em 2008. Ou seja, a negociação de créditos provenientes de projetos REDD+ apresentou um aumento de 4 vezes em 3 anos. A Figura 6 apresenta a evolução dos volumes de créditos de carbono florestais comercializados, separados por tipo de projeto. Os projetos REDD dominaram o mercado de créditos florestais em 2010, enquanto os projetos ARR predominaram em 2011 (PETERS-STANLEY; HAMILTON; YIN, 2012).

37

Figura 6. Volumes históricos contratados por tipo de projeto em MtCO2e

Fonte: Peters-Stanley, Hamilton e Yin (2012)

Ainda de acordo com Peters-Stanley, Hamilton e Yin (2012), apesar de grande redução entre 2010 e 2011, os projetos localizados na América Latina continuaram dominando o mercado florestal, fornecendo 7,7 MtCO2e, ou aproximadamente 32% de todos os créditos florestais negociados. Dentre todos os países, o Brasil apresentou amplo domínio de mercado, com ao redor de 30% do volume total de créditos florestais negociados no mundo. A Figura 7 demonstra a comparação dos volumes de créditos florestais negociados em 2010 e 2011, separado por localização e tipo de projeto.

Figura 7. Localização e tipo de projetos que venderam créditos florestais em 2011 (MtCO2e)

Fonte: Peters-Stanley, Hamilton e Yin (2012)

38

A partir das Figuras 6 e 7, pode-se verificar que a demanda do mercado por créditos de carbono de projetos florestais têm demonstrado um forte aumento. Isto ocorre principalmente para créditos provenientes do continente latino americano, em destaque o Brasil, onde justamente localiza-se a maior concentração de florestas tropicais do mundo sob a maior taxa de desmatamento.

4.6 Standards Utilizados para Projetos Florestais

De acordo com Peters-Stanley, Hamilton e Yin (2012), os principais Standards utilizados para desenvolver projetos de créditos de carbono florestais no mercado voluntário são:

a. Climate Action Reserve (CAR): utilizado para desenvolver projetos de carbono na América do Norte. Permitem projetos de florestamento, reflorestamento, melhoria no manejo florestal, desmatamento evitado e melhoria nas práticas agrícolas.

b. International Organization for Standardization (ISO) 14064: a ISO lançou em 2006 uma série de normas que foram designadas pelo código ISO 14064. Em conjunto com o MDL, fornece regras para o monitoramento, a quantificação e para a elaboração do relatório de redução de emissões de GEE em inventários e projetos.

c. Verified Carbon Standard (VCS): com mais de 25% do mercado florestal em 2011, é o principal Standard utilizado para projetos florestais (PETERS-STANLEY; HAMILTON; YIN, 2012). Tem os princípios baseados na ISO 14064, permitindo a utilização de metodologias aprovadas no MDL, no CAR e pelo próprio VCS, englobando assim todos os tipos de projetos florestais.

d. Climate Community and Biodiversity (CCB): é um Standard adicional3, logo não contabiliza créditos de carbono. Tem o objetivo avaliar os aspectos sociais e ambientais em projetos de redução de GEE provenientes da mudança e uso do

3 Um Standard adicional analisa apenas a contribuição do projeto quanto aos benefícios

socioambientais e promoção da sustentabilidade. Desta forma, deve agir em conjunto com outro Standard para contabilização dos créditos gerados. Mais informações no tópico 4.9.1 que segue.

39

solo. Principalmente utilizado em conjunto com o VCS, teve participação de mais de 15% dentro do mercado florestal em 2011 (PETERS-STANLEY; HAMILTON; YIN, 2012).

e. Plan Vivo: compreende projetos de pagamentos por serviços ambientais direcionados para pequenos agricultores e comunidades rurais que dependem dos recursos naturais para subsistência. Engloba projetos de restauração e conservação florestal, manejo florestal e sistemas agroflorestais.

f. American Carbon Registry (ACR): fundada em 1996, é uma das mais antigas plataformas dedicadas a projetos de carbono. Também tendo os princípios baseados na ISO 14064, engloba projetos de florestamento/reflorestamento de áreas degradadas, desmatamento evitado, melhoria no manejo florestal e melhoria nas práticas agrícolas.

g. CarbonFix/Gold Standard: aplica-se a projetos relacionados com o florestamento, reflorestamento, regeneração natural e sistemas agroflorestais, que possuem um compromisso demonstrado com a responsabilidade sócio-econômica e ecológica. Em setembro de 2012, o CarbonFix foi comprado pelo Gold Standard, um dos principais Standards do mercado voluntário, que além de realizar a contabilização do carbono, avalia também a sustentabilidade do projeto (PETERS-STANLEY; YIN, 2013).

h. Brasil Mata Viva (BMV): é um Standard brasileiro de pagamentos por serviços ambientais, provendo recursos para o incentivo à preservação e à introdução de tecnologias sustentáveis à produção rural, além de recomposição e recuperação de áreas degradadas, preservando deste modo as florestas e biodiversidade.

i. SOCIALCARBON: é um Standard adicional desenvolvido no Brasil, criado a partir da aplicação da metodologia do Carbono Social. Por meio de indicadores de sustentabilidade, é possível mensurar as contribuições do projeto para com o desenvolvimento sustentável, podendo-se assim comparar esta situação em cada período de verificação por meio de um gráfico em forma de hexágono. Para tanto, os desenvolvedores devem buscar uma melhoria contínua.

A Figura 8, que segue, apresenta a participação dos

descritos no mercado de créditos de carbono florestal em 2011, em termos de créditos negociados. É possível observar que o VCS teve a maior participação do mercado, sendo o principal StandardSTANLEY; HAMILTON; YIN, 2012). Além disso, é importante notar que o MDL não é um Standard do mercado voluntário e somente aceita projetos de florestamento e reflorestamento.

Figura 8. Participação dos em 2011

Fonte: Peters

4.7 Verified Carbon Standard

Fundado em 2005, o VCS é um programa de contabilizaçfinalidade de verificar e emitir créditos de carbono no mercado voluntário. é reconhecido mundialmenteremoções são reais, mensuráveis, independente, conservadoratransparentemente listadose em sua versão 03, atualizado pela última vez em março de 2011.

Com ao redor de 42 o VCS foi o Standard que mais teve participação no mercado voluntário de carbono em

A Figura 8, que segue, apresenta a participação dos Standardsdescritos no mercado de créditos de carbono florestal em 2011, em termos de créditos negociados. É possível observar que o VCS teve a maior participação do mercado,

Standard utilizado para desenvolver projetos florestais (PETERSSTANLEY; HAMILTON; YIN, 2012). Além disso, é importante notar que o MDL não é

do mercado voluntário e somente aceita projetos de florestamento e

Participação dos Standards no mercado de créditos de carbono florestal em 2011

Fonte: Peters-Stanley, Hamilton e Yin (2012)

Verified Carbon Standard (VCS)

Fundado em 2005, o VCS é um programa de contabilizaçfinalidade de verificar e emitir créditos de carbono no mercado voluntário.

mundialmente por assegurar que a redução de emissões de GEE e remoções são reais, mensuráveis, adicionais, permanentes, verificadasindependente, conservadoramente estimadas, com número

listado em um banco de dados central. O programa se em sua versão 03, atualizado pela última vez em março de 2011.

42 MtCO2e transacionadas e projetos distribuídos em que mais teve participação no mercado voluntário de carbono em

40

Standards previamente descritos no mercado de créditos de carbono florestal em 2011, em termos de créditos negociados. É possível observar que o VCS teve a maior participação do mercado,

utilizado para desenvolver projetos florestais (PETERS-STANLEY; HAMILTON; YIN, 2012). Além disso, é importante notar que o MDL não é

do mercado voluntário e somente aceita projetos de florestamento e

no mercado de créditos de carbono florestal

Fundado em 2005, o VCS é um programa de contabilização de GEE com a finalidade de verificar e emitir créditos de carbono no mercado voluntário. Este Standard

emissões de GEE e suas , verificadas de forma

, com número de série individual e programa VCS encontra-

se em sua versão 03, atualizado pela última vez em março de 2011.

e transacionadas e projetos distribuídos em 53 países, que mais teve participação no mercado voluntário de carbono em

41 2012, com um total de 53% (PETERS-STANLEY; YIN, 2013). Deste modo, o VCS é um dos principais Standards do mercado voluntário de carbono. Como já demonstrado anteriormente na seção 4.6, o mercado florestal dentro do mercado voluntário de carbono também foi dominado pelo VCS (Figura 8).

Por este motivo, neste trabalho será dado maior enfoque ao VCS para analisar as regras e condições de aplicação dos mecanismos REDD+ no Brasil.

Atualmente, há 15 escopos de atividades elegíveis para serem realizadas dentro do VCS. Para o desenvolvimento de projetos de créditos de carbono florestais, deve-se utilizar o escopo 14, Agriculture Forestry and Other Land Use (Afolu). De acordo com Verified Carbon Standard (2012b), existem 6 categorias elegíveis dentro do escopo Afolu:

• ARR: Florestamento, Reflorestamento e Revegetação (ou Afforestation, Reforestation and Revegetation em inglês);

• ALM: Manejo de Solos Agrícolas (ou Agriculture Land Management em inglês);

• IFM: Melhoria no Manejo Florestal (ou Improved Forest Management em inglês);

• REDD: Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (ou Reduced Emissions from Deforestation and Degradation em inglês);

• WRC: Conservação e Restauração de Zonas Úmidas (ou Wetland Restoration and Conservation em inglês);

• AcoGS: Conversão Evitada de Campos Naturais e Vegetação Arbustiva (ou Avoided Conversion of Grasslands and Shrublands em inglês).

Dentre estas categorias, aquelas que se enquadram dentro dos mecanismos REDD+ são ARR, IFM e REDD, pois englobam as atividades que reduzem as emissões provindas do desmatamento e degradação florestal e também, que aumentam os estoques de carbono florestal por melhoria no manejo florestal e/ou por florestamento, reflorestamento ou revegetação (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012d). Este trabalho engloba estas 3 categorias de projetos dentro do escopo Afolu, conforme considerado por Verified Carbon Standard (2012b).

42

O VCS possui uma ligação com o MDL e o CAR, reconhecendo as metodologias aprovadas nestes programas para uso no próprio VCS. Além disto, o VCS permite a utilização de Standards adicionais, como o CCB ou o SOCIALCARBON, que possuem regras mais específicas para mensurar os benefícios sociais e ambientais advindos dos projetos. Isto faz com que tais benefícios se tornem mais visíveis, e os seus efeitos possam ser potencializados, podendo assim trazer um efeito positivo na comercialização dos créditos.

4.8 Mecanismos de REDD+ no VCS

Seguindo os princípios de REDD+ definidos na COP-16, os mecanismos de mitigação da mudança do clima que podem ser aplicados ao setor florestal no VCS são:

• REDD: Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (ou Reduced Emissions from Deforestation and Degradation em inglês)

Valorização da floresta em pé, correspondente à redução de emissões de GEE por diminuir ou evitar o desflorestamento e a degradação florestal, desde que em áreas com riscos demonstráveis de possível alteração no uso do solo, onde a biomassa florestal será perdida. Inclui principalmente projetos de desmatamento evitado e conservação florestal (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012d). Espera-se que com estes projetos, possam ser gerados benefícios adicionais ao aumento ou manutenção dos estoques de carbono, como por exemplo, a conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos, bem como a melhoria das condições de vida de populações tradicionais (VIRGILIO et al., 2010).

O REDD pode ser separado em dois tipos de projetos. O primeiro engloba atividades que reduzem ou evitam o desmatamento planejado e autorizado legalmente a ocorrer. Desta forma, é preciso que esteja devidamente documentada a intenção de promover o desflorestamento, sendo assim possível identificar os responsáveis pela supressão da floresta. Neste tipo de projeto, é conhecido o tamanho da área que iria ser desmatada e a partir disto, pode ser calculada a quantidade de redução de

43 emissões a serem geradas pelo projeto de conservação florestal (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b; SHOCH; EATON; SETTELMYER, 2013).

Já o segundo tipo é para atividades que reduzem ou evitam o desmatamento e/ou degradação não planejados ou ilegais. Nesta categoria, os agentes de desmatamento são resultantes da pressão socioeconômica sobre a floresta, combinado com a falta de fiscalização por órgãos governamentais e falha de direitos de propriedade sobre a terra (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b; SHOCH; EATON; SETTELMYER, 2013).

Desta maneira, para se determinar a área que seria desmatada caso não houvesse a interferência do projeto, é utilizada uma evidência indireta. Um exemplo seria a utilização do comportamento histórico de avanço do desmatamento em uma ampla região no entorno do projeto, denominada área de referência. Analisando-se esta tendência no período histórico considerado, utiliza-se de alguma técnica de regressão para estimar a projeção futura do desmatamento. Outro método indireto existente para realizar esta estimativa chama-se modelagem, na qual é estimada a taxa de desmatamento em função do comportamento futuro esperado dos agentes de desflorestamento mais prováveis de ocorrer na região do projeto (VIRGILIO et al., 2010).

Para a projeção futura do desmatamento, é importante observar o comportamento do desmatamento e/ou degradação não planejados em uma região específica. Estes podem apresentar uma configuração de fronteira ou mosaico, avançando de uma forma determinada ou espalhada, respectivamente (SHOCH; EATON; SETTELMYER, 2013).

• IFM: Melhoria no Manejo Florestal (ou Improved Forest Management em inglês)

Projetos dentro desta categoria abrangem atividades que aprimoram as práticas empregadas no manejo florestal sustentável e que consequentemente, aumentam e conservam o estoque de carbono em florestas manejadas (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012d).

Uma condição essencial para projetos IFM é que a floresta após o corte ainda continue se enquadrando na definição de floresta, tanto antes como depois da

44 implementação das melhorias propostas. Além disto, a área do projeto deve ter sido designada, sancionada ou aprovada para realizar o manejo florestal por um órgão regulamentar nacional ou local (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b).

Para que seja possível comparar as práticas empregadas no manejo florestal antes e depois da implementação do projeto, é necessário ou ter-se evidência do histórico da operação do manejo florestal na própria área, ou basear-se na experiência do proponente do projeto em outras áreas, desde que esta evidência seja de pelo menos cinco ou mais anos. Caso nunca tenham sido realizadas atividades na área do projeto, ou se a entidade a realizar o manejo florestal na área seja nova e sem histórico de operação, deve-se tomar em conta o que for mais conservador: ou a prática comum da região, ou os requerimentos legais exigidos para a região (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b).

De acordo com Olander e Ebeling (2011) e Verified Carbon Standard (2012b), as principais atividades que resultam na melhoria do manejo florestal são:

a) Substituição da exploração convencional para uma de impacto reduzido;

b) Proteção de florestas que estão sendo exploradas por madeireiras legalizadas, ou que seriam exploradas, desde que tenham sido legalmente autorizadas4;

c) Extensão da idade de rotação ou do ciclo de corte da floresta;

d) Conversão de florestas pouco produtivas para florestas de alta produtividade.

Alguns casos específicos exigem atenção para determinar se um projeto se enquadra como IFM ou REDD. Caso seja evitada a degradação ilegal ou não autorizada de uma floresta, o projeto é classificado como REDD. Da mesma forma, um projeto que resulta na conservação florestal por meio da introdução de um plano de manejo florestal sustentável não é considerado um projeto de IFM, senão de REDD, pois na ausência do projeto, a área seria convertida em uma área não florestada. Além

4 Este tipo de projeto evita a degradação planejada. Porém, se as atividades madeireiras

ocasionam o desmatamento e consequente conversão da área para uma terra não florestada, a proteção desta floresta se enquadra como REDD que evita o desmatamento planejado.

45 disto, projetos que focam somente na redução do uso do fogo na área de manejo florestal não são elegíveis para IFM (SHOCH; EATON; SETTELMYER, 2013).

• ARR: Florestamento, Reflorestamento e Revegetação (ou Afforestation, Reforestation and Revegetation em inglês)

Aborda desta vez atividades que restauram a cobertura florestal por meio de plantio, semeadura e/ou regeneração natural com assistência humana (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012d). Desta forma, ocorre um aumento nas taxas de sequestro de carbono e/ou redução da emissão de GEE. Entram nesta modalidade projetos que envolvem o florestamento, reflorestamento e revegetação em áreas não florestadas, que de preferência estejam degradadas, desde que não apresentassem antes do início da implantação do projeto, cobertura por ecossistemas nativos por um período pré-determinado (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b).

Por meio da taxa de crescimento das árvores utilizadas no plantio, é possível calcular o acréscimo nos estoques de carbono na área do projeto. Este valor é então comparado com o que aconteceria na ausência do projeto ARR, obtendo-se assim a redução das emissões geradas pelo plantio. Muitas vezes, presumem-se que, na ausência das atividades de plantio, os estoques de carbono da área não iriam sofrer alterações no futuro, adotando-se deste modo os mesmo valores considerados antes do projeto (VIRGILIO et al., 2010).

Projetos de ARR podem incluir a extração de madeira dentro da área de plantio, desde que sejam demonstradas atividades de replantio e/ou assistência à regeneração natural, a fim de que haja a manutenção dos estoques de carbono no projeto (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b).

4.9 Características do VCS para Desenvolvimento de Projetos REDD+

4.9.1 Ciclo do Projeto de Créditos de Carbono no VCS

O ciclo de um projeto de créditos de carbono, desde a sua concepção até a venda de créditos, depende do tipo de mercado aplicado. A seguir, encontram-se as

46 etapas aplicáveis a projetos VCS. Embora não esteja descrito, é altamente aconselhável realizar um estudo de viabilidade antes do início do projeto, para assim garantir que o mesmo é elegível e viável tanto técnico como economicamente.

a) Elaboração do Documento de Concepção do Projeto (DCP): é o documento principal do projeto, e deve seguir uma metodologia aprovada pelo VCS, MDL ou CAR. Dentre os principais tópicos, deve conter: a descrição do projeto, sua duração e período de geração de créditos, as condições da linha de base, a análise de adicionalidade, o plano de monitoramento, a quantidade de redução de emissões estimada, o vazamento das emissões, os impactos ambientais, os comentários de stakeholders5, a titularidade dos créditos, entre outros. É elaborado uma única vez durante o tempo de vida do projeto.

b) Validação por uma Validation/Verification Body (VVB): deverá ser realizada por uma empresa de terceira parte, acreditada pelo VCS. Tem o objetivo de auditar o projeto de carbono, também analisando a conformidade do DCP com as regras aplicáveis, metodologia e avaliar se o projeto está realmente acontecendo. Esta etapa é realizada uma única vez durante o tempo de vida do projeto.

c) Elaboração do Relatório de Monitoramento: deve ser baseado no plano de monitoramento descrito no DCP, indicando a quantidade de redução de emissões alcançada pelo projeto em um determinado período de tempo. É elaborado sempre que se deseja obter créditos de carbono, de acordo com a duração do projeto e período de obtenção de créditos descritos no DCP.

d) Verificação por uma VVB: deverá ser realizada periodicamente por uma empresa de terceira parte acreditada pelo VCS sempre após a elaboração de cada relatório de monitoramento. Tem o objetivo de auditar o relatório de monitoramento, também analisando sua conformidade com o DCP e seu

5 Stakeholders são as partes interessadas pelo projeto, compreendendo todos os envolvidos ou

afetados pelo mesmo. O sucesso de um projeto depende da participação de suas partes interessadas e por isso, é necessário assegurar que suas expectativas e necessidades sejam conhecidas e consideradas pelos desenvolvedores do projeto. Isto faz com que se permita achar um equilíbrio de forças e minimizar riscos e impactos negativos na sua execução.

47

plano de monitoramento, regras aplicáveis, metodologia e avaliar se o projeto está realmente acontecendo.

e) Registro e Emissão de Verified Carbon Units (VCUs): cada crédito de carbono recebe então um número de série e é emitido dentro de um sistema de registro, que evita a dupla contagem dos créditos no mercado.

A Figura 9, que segue, exibe o ciclo do projeto de carbono dentro do VCS. O crédito de carbono dentro do Mercado Voluntário recebe a nomenclatura Voluntary Emission Reduction (VER), sendo que especificamente para o VCS, recebe o nome de Verified Carbon Unit (VCU).

Figura 9. Ciclo do projeto de carbono no VCS

Fonte: Elaboração própria

Na maioria das vezes, o tempo necessário para completar todo o ciclo do projeto de carbono é menor no VCS do que no MDL. Ao mesmo tempo, o risco de rejeição de um projeto no VCS tende a ser menor, pois além de não necessitar a revisão por um Comitê Executivo antes do registro, a validação normalmente é mais simples. Deste modo, o retorno financeiro no VCS, apesar de menor pelo preço de venda mais baixo, é alcançado mais rapidamente e com uma maior chance de sucesso.

A análise da contribuição à sustentabilidade para o país é outro diferencial entre os dois mercados. O MDL possui uma etapa específica para avaliar a sustentabilidade do projeto, que no Brasil, é feita pela Comissão Interministerial de Mudanças Globais do Clima (CIMGC). Porém, no VCS, esta etapa não é aplicável. Por este motivo, existem

e)

a) Elaboração DCP

b) Validação

c) Monitoramento

d) Verificação

Registro e Emissão de VCUs

48 Standards adicionais (alguns dos quais exemplificados anteriormente no tópico 4.6), focados justamente em analisar a sustentabilidade do projeto, agindo em conjunto com outro utilizado para contabilização dos créditos. Embora tenha que ser feita uma validação para cada Standard utilizado, isto resulta na maioria dos casos, em um melhor preço do crédito negociado dentro do mercado voluntário.

Geralmente, a escolha de se utilizar Standards adicionais acaba por se tornar mais eficaz que a análise de sustentabilidade do MDL, pois desta forma, esta avaliação deverá ser realizada a cada período de verificação, enquanto no MDL, deverá ser vista somente na época da validação do projeto.

4.9.2 Requerimentos Gerais do VCS para Projetos REDD+

O VCS desenvolveu requerimentos e regras específicas para projetos do escopo Afolu (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b), os quais serão melhor detalhados na sequência. Para tanto, foram também utilizados os guias para desenvolvimento de projetos REDD no VCS (SHOCH; EATON; SETTELMYER, 2013) e para desenvolvimento de projetos florestais (OLANDER; EBELING, 2011).

Os requisitos para projetos REDD+ diferem de acordo com o tipo de atividade a ser desenvolvida, ou especificamente, o tipo de cenário de linha de base que é evitado. Este cenário representa o que aconteceria na ausência do projeto e a partir dele, é possível determinar se um projeto é ou não elegível à atividade de REDD+. Para saber qual a linha de base mais aplicável para uma determinada região, diferentes cenários prováveis de ocorrer na ausência do projeto devem ser comparados, sendo adotado aquele mais suceptível de suceder, tendo em vista o histórico da região e a análise dos agentes de desmatamento. Além disto, esta é também a base para a análise da adicionalidade, descrita adiante.

Conhecendo o cenário de linha de base do projeto, é possível realizar a quantificação dos créditos de carbono gerados pela atividade de REDD+, calculado pela diferença entre as emissões da linha de base e as emissões verificadas em decorrência do projeto. A Figura 10 exemplifica a comparação entre os cenários do projeto (linha tracejada) e de linha de base (linha contínua) para projetos REDD, IFM e

49 ARR. A área formada entre as duas linhas é exatamente a redução de emissões geradas por cada tipo de projeto.

Figura 10. Comparação entre os cenários do projeto e de linha de base para projetos REDD, IFM e ARR

Fonte: Elaboração própria

Por meio da Figura 10, também é possível analisar as diferenças entre cada tipo de projeto. A Figura 10.a) REDD, mostra que o projeto de conservação florestal resulta em uma menor perda do estoque de carbono na área do projeto do que ocorreria no cenário de linha de base, cuja perda varia de acordo com uma determinada taxa de desmatamento anual estimada para o projeto.

Já a Figura 10.b) IFM, mostra o caso de uma melhoria no manejo florestal utilizado na linha de base, pois no cenário do projeto, há um incremento no estoque de carbono para que este seja mantido a cada ciclo de corte (demonstrado pelos picos no gráfico). Contudo, na linha de base, não há manutenção do estoque de carbono na área do projeto, resultando em sua perda ao longo dos ciclos de corte, até um determinado ponto em que não seja mais viável continuar com esta exploração.

10.a) REDD

10.c) ARR

10.b) IFMEstoque de Carbono na

área do projeto(tC/ha)

Anos

Redução deemissão gerada

pelo projeto

Estoque de Carbono na

área do projeto(tC/ha)

Anos

Redução de emissão gerada pelo

projeto

Estoque de Carbono na

área do projeto(tC/ha)

Anos

Redução deemissão gerada

pelo projeto

50

A última Figura 10.c) ARR, indica uma atividade de reflorestamento, resultando em um maior aumento do estoque de carbono na área do projeto do que aconteceria na linha de base. É possível perceber também neste gráfico, a questão da desaceleração do crescimento natural da biomassa quando as árvores alcançam uma determinada idade, conforme descrito pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (2003).

Conhecendo a linha de base, é possível selecionar a metodologia aplicável para o projeto. Cada metodologia possui critérios de aplicabilidade que devem ser atendidos para que ela possa ser utilizada por um projeto específico, devendo este também estar consistente com os requerimentos do Verified Carbon Standard (2012b). É a metodologia que estabelece as regras de medição e contabilização dos GEEs para tipos e circunstâncias específicos do projeto.

4.9.3 Elegibilidade do Projeto REDD+ no VCS

Para serem elegíveis, os projetos devem demonstrar as condições de linha de base e a análise de adicionalidade, a qual será detalhada na sequência. Além disto, a sua implantação não deverá conduzir a violação de qualquer lei aplicável, independente desta ser ou não cumprida. Não são elegíveis projetos que converteram ecossistemas nativos para gerar créditos, ou projetos em locais onde houve desmatamento há menos de 10 anos antes do início da implementação do projeto. Ademais, o proponente do projeto deve demonstrar o controle total sobre a área do projeto por meio de provas documentais, as quais incluem o mapeamento, a fim de estabelecer conclusivamente o direito de utilização da área.

As condições de linha de base devem ser revalidadas a cada 10 anos durante a subsequente verificação, devido ao fato de que as projeções de desmatamento e práticas de manejo florestal podem ter sofrido variações que são difíceis de prever a longo prazo.

Projetos do escopo Afolu que envolvem a extração de madeira e/ou corte de árvores devem contabilizar esta perda de estoque de carbono e reduzi-las da redução de emissões geradas e consequentemente, dos créditos de carbono obtidos. Além disso, estes projetos devem demonstrar que haverá replantio ou assistência à

51 regeneração natural a fim de que haja a manutenção do estoque de carbono proporcionado pelo projeto.

Outro critério de elegibilidade de projetos dentro do escopo Afolu é quanto ao período no qual o projeto pode ser validado, que depende do início das atividades do projeto, ou seja, quando se iniciou a redução de emissões de GEE. A Tabela 2 expõe os prazos finais de validação para projetos Afolu no VCS. Isto evita que sejam elegíveis projetos que não consideraram os créditos de carbono desde a sua concepção, pois provavelmente teriam ocorrido invariavelmente.

Tabela 2. Prazos finais de validação para projetos Afolu no VCS

Data de início do projeto Prazo final de validação

Entre 01/01/2002 e 08/03/2008 Até 08/03/2013 Após 08/03/2008 Até 5 anos após a data de início do projeto

Fonte: Verified Carbon Standard (2012b)

A maioria dos projetos do escopo Afolu pode ter um tempo de vida, ou período creditício, variando entre 30 e 100 anos, podendo ser renovados até quatro vezes, desde que o total não exceda 100 anos. A data de início do período creditício será geralmente a mesma que a data de início das atividades do projeto. Contudo, o término do período creditício, especialmente para projetos do escopo Afolu que envolvam a exploração de madeira, deve englobar ao menos um ciclo completo de corte, caracterizado pela reentrada na área de corte.

4.9.4 Adicionalidade para Projetos REDD+ no VCS

Uma etapa crucial para todos os projetos REDD+ é demonstrar a adicionalidade, ou seja, provar que são adicionais ao que teria ocorrido no cenário de linha de base ou a algum outro comum na região (chamado business as usual em inglês). Em outras palavras, deve-se evidenciar que o projeto REDD+ não seria viável na ausência dos recursos financeiros provenientes da venda dos créditos de carbono gerados pelo projeto.

Em geral, atividades que já vêm sendo executadas, ou que seriam implementadas de qualquer maneira, não são consideradas adicionais. O mesmo

52 acontece com projetos realizados somente devido ao atendimento de uma exigência legal, ao menos que se demonstre por meio de evidências concretas, que esta lei não é cumprida por falta de fiscalização ou cobrança por parte dos órgãos governamentais.

A ferramenta de adicionalidade do VCS segue um processo gradual envolvendo primeiramente a identificação de cenários de uso alternativos da terra, posteriormente a análise de investimentos ou barreiras, e por último, a análise de prática comum, conforme indicado na Figura 11 (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012e).

Figura 11. Fluxograma para avaliação da adicionalidade em projetos Afolu

Fonte: Verified Carbon Standard (2012e)

a. Etapa 1: Identificação de cenários de uso da terra alternativos ao projeto

É necessário provar que o cenário de linha de base é o cenário mais provável de ocorrer entre as alternativas que foram identificadas, de acordo com o critério de seleção apresentado na metodologia aplicável para o projeto REDD+. Estes cenários alternativos devem ser confiáveis e viáveis para a área do projeto, levando em consideração as circunstâncias nacionais ou sub-nacionais relevantes, devendo também ser consistentes com as leis e regulamentos aplicáveis.

Etapa 1. Identificação de cenários de uso da terra alternativos ao projeto VCS Afolu

Determinação do cenário de linha de base

Etapa 2. Análise de Investimento

Etapa 3. Análise de Barreiras

Atividade de projeto proposta não é adicional

Etapa 4. Análise de Prática Comum

Atividade de projeto proposta é adicional

NãoNão NãoNão

SimSimSim

Não

53

b. Etapas 2 ou 3: Análise de investimento ou de barreiras, respectivamente

Depois de identificado o cenário de linha de base mais provável para o uso da terra, é necessário identificar os obstáculos que impedem a realização do projeto REDD+ por meio de uma análise de investimento ou de barreiras. A análise de investimento deve demonstrar que o projeto REDD+, na ausência das receitas dos créditos de carbono, é menos atraente financeiramente do que qualquer um dos outros cenários de uso da terra identificados. Alternativamente, a análise de barreiras pode ser usada para demonstrar que existem barreiras (tecnológica, institucional, social, ecológica, etc.) que impedem que o projeto ocorra, podendo estas serem superadas pela receita dos créditos de carbono.

c. Etapa 4: Análise de prática comum

Nesta última análise, deve-se demonstrar que o projeto REDD+ não é uma prática comum em sua região, pois caso contrário, não seriam necessários recursos financeiros para o seu desenvolvimento. Se houverem na região atividades semelhantes às do projeto REDD+ proposto, é necessário identificar as diferenças essenciais entre elas.

Caso estas três etapas sejam satisfeitas, o projeto é considerado adicional, tendo assim condições de ser desenvolvido no VCS.

4.9.5 Permanência e Análise do Buffer em Projetos REDD+ no VCS

Um dos pontos mais criticados em projetos florestais, o conceito de permanência está relacionado ao tempo em que, ou o carbono estocado na floresta madura, ou o carbono armazenado por sequestro devido ao crescimento das árvores, irá permanecer na floresta, sem ser liberado para a atmosfera novamente. Devido a incertezas do que irá suceder à floresta no futuro, há o risco da não permanência do carbono, podendo ocorrer emissões de GEE na área do projeto em períodos futuros depois que os créditos já tenham sido emitidos em períodos anteriores.

Por este motivo, projetos dentro do escopo Afolu devem estimar os riscos dos estoques de carbono de serem eliminados devido à fragilidade do projeto e/ou eventos de perda, tais como incêndio ou doença. Este procedimento é chamado de análise do

54 buffer, no qual uma parte dos créditos gerados pelo projeto, dependendo de seu grau de risco, deve ser inserida em uma conta separada que não pode ser negociada, chamada de conta do buffer. Desta forma, previne-se contra a não permanência do estoque de carbono na área do projeto. Assim sendo, o número total de créditos gerados pelo projeto sempre será maior que o número de créditos emitidos e negociados. É uma conta única que detém os créditos de buffer para todos os projetos do escopo Afolu, administrada pelo VCS (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012a).

Os projetos devem realizar esta análise de risco de não permanência dos créditos na validação, e posteriormente, a cada verificação, porque a classificação de risco pode ter mudado ao longo do tempo de vida do projeto. Os projetos que demonstram a sua longevidade, sustentabilidade e capacidade de mitigar os riscos, são elegíveis para a liberação de créditos da conta do buffer e inclusão na conta do projeto. Esta análise de risco deve ser realizada ao mesmo tempo e pela mesma VVB que está validando ou verificando o projeto (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012a).

A ferramenta de análise do buffer do VCS divide os riscos do projeto em três distintas categorias: riscos internos (por exemplo, a capacidade de gerenciamento de projetos ou a viabilidade financeira), riscos naturais (por exemplo, a ocorrência de incêndios e pragas) e riscos externos (por exemplo, os conflitos de posse da terra). A ferramenta fornece orientação detalhada sobre como atribuir uma pontuação para cada um dos riscos descritos, que são então somados para se chegar a uma pontuação total para cada categoria de risco. A pontuação geral para um projeto determina a classificação de risco do projeto e, consequentemente, o número de créditos que o desenvolvedor do projeto deve depositar na conta do buffer (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012a).

Por meio desta ferramenta, as retenções destinadas à conta do buffer devido ao risco de não-permanência do carbono em um projeto podem variar de 10 a 60 porcento da sua geração líquida de créditos de cabono 6 . Caso um projeto obtenha uma

6 A geração líquida de créditos de carbono é a redução das emissões na área do projeto,

calculada somente pela diferença entre os estoques de carbono presentes na linha de base e no cenário do projeto. A geração líquida não considera demais reduções de emissões que podem ter ocorrido pelo projeto.

55 classificação de risco superior a 60%, isto significa uma alta chance de fracasso, tornando assim o projeto inelegível (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012a).

Desta forma, esta conta do buffer sempre irá manter uma reserva de créditos adequada aos riscos de cada projeto, suficiente para cobrir perdas inesperadas por alguma falha ocorrida. Esta análise trouxe uma maior confiabilidade aos projetos florestais do VCS, principalmente aos compradores destes créditos, que têm a garantia de que suas emissões de GEE foram neutralizadas de forma permanente, ou que suas metas de redução de emissão foram atingidas de forma segura.

Quando ocorre um evento de perda em um determinado projeto, os créditos depositados pelo mesmo na conta do buffer são colocados “em espera”, em uma quantidade equivalente àquela estimada pela perda ocorrida. Dependendo da extensão da perda, ou seja, se ocorreu uma emissão de GEE maior do que o projeto tinha estimado que iria reduzir, estes créditos “em espera” são cancelados. Se não houver créditos na conta de buffer deste projeto suficientes para cobrir este evento de perda, outros créditos da conta geral do buffer serão cancelados (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012a). Desta forma, este evento de perda é compensado, evitando assim ter que ressarcir um comprador dos créditos deste determinado projeto, negociados em uma ocasião passada.

4.9.6 Gestão de Vazamentos em Projetos REDD+ no VCS

Além da análise de risco de não permanência dos créditos, os projetos dentro do escopo Afolu devem criar uma zona de gestão de vazamentos advindas do projeto. Vazamentos, também conhecidos como fugas, ou leakage em inglês, são classificados como emissões de GEE atribuídas ao projeto, porém que ocorrem fora de seus limites. Existem principalmente dois tipos de vazamentos: vazamento de mercado, quando um projeto reduz a produção de uma determinada commodity, desequilibrando o mercado e deslocando a produção desta commodity para outro local; e vazamento devido ao deslocamento de atividades de uso e ocupação do solo, quando os agentes de desmatamento simplesmente se movem para uma área fora do projeto e continuam suas atividades.

56

Estas zonas de gestão de vazamentos podem minimizar o deslocamento de atividades de uso e ocupação do solo para áreas fora do projeto. Desta forma, a produção de bens e serviços poderá ser mantida nestas zonas, tais como a produção agropecuária ou o direcionamento de fatores sócio-econômicos que impulsionam mudanças no uso e ocupação do solo na região.

Atividades que podem diminuir os vazamentos do projeto são encorajadas a ocorrerem nestas zonas de gestão de vazamentos, tais como práticas agrícolas sustentáveis, sistemas agroflorestais, recuperação de áreas degradadas, produção de produtos não madeireiros, ecoturismo, entre outros. É recomendado que estas atividades sejam associadas à abertura de oportunidades econômicas para as comunidades locais, estimulando assim a proteção da floresta, tais como emprego de guardas-florestais, atividades de educação ambiental e uso sutentável da floresta, entre outros.

No entanto, se ocorrerem vazamentos do projeto que sejam mensuráveis e consideráveis, devido tanto ao desequilíbrio de mercado ou ao deslocamento de atividades de uso e ocupação do solo, as mesmas devem ser contabilizadas e deduzidas dos créditos gerados pelo projeto. Porém, estas deduções muitas vezes trazem a segurança e credibilidade dos benefícios do projeto.

A depender do tipo de projeto, algumas ações para monitorar o vazamento são necessárias. Para projetos ARR, é preciso monitorar o uso de maquinários e transportes necessários para o plantio. Para projetos IFM, deve-se provar que outras áreas de manejo florestal não pertencentes ao projeto, porém dentro da operação do mesmo proponente, não apresentaram um aumento em suas atividades. Para projetos REDD, deve-se provar que, quando o agente de desmatamento pode ser identificado, outras áreas sob sua responsabilidade não sofreram alterações. Se o agente de desmatamento não pode ser identificado, deve-se realizar o monitoramento do cinturão de vazamento, que corresponde às áreas florestadas ao redor e próximas ao projeto susceptíveis ao vazamento.

57 4.9.7 Avaliação dos Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais em Projetos REDD+ no VCS

Apesar de ser um Standard mais focado na contabilização dos créditos, o VCS requer que sejam identificados os potenciais impactos sociais, econômicos e ambientais decorrentes de seus projetos, devendo também detalhar as medidas e estratégias para mitigação destes impactos. Além disto, é necessário exercer uma consulta a uma parcela significativa das comunidades dependentes da área do projeto.

O desmatamento e degradação evitados, a melhoria no manejo florestal ou o reflorestamento em áreas degradadas podem afetar as comunidades que dependem ou utilizam a área para seu sustento. Assim, torna-se necessário incorporá-las de algum modo no projeto, pois são um fator crítico para o sucesso da atividade. Garantir a adequada compreensão e engajamento das partes envolvidas e interessadas é importante por razões éticas, sendo também a base para um bom desempenho do projeto. Deste modo, incorpora-se o conhecimento local e fortalecem-se os compromissos de longo prazo, colaborando-se consequentemente com a sustentabilidade (VIRGILIO et al., 2010).

Além disso, é possível que projetos REDD+ resultem em significativos benefícios para as comunidades locais, na forma de criação de oportunidades alternativas de renda, direito ao uso da terra, educação e formação complementar. Estas atividades podem, por sua vez, ajudar a reduzir a pressão sobre as florestas nativas, assim minimizando os riscos do projeto e consequentemente, diminuindo os créditos depositados na conta do buffer. O VCS recomenda que estas atividades benéficas às comunidades se estabeleçam nas zonas de gestão de vazamento dos projetos.

Projetos florestais de créditos de carbono também são uma oportunidade para assegurar os benefícios ambientais às comunidades, tais como conservação da biodiversidade, manutenção de serviços ambientais e proteção dos recursos hídricos. Ao mesmo tempo, isto poderá ajudar a evitar os impactos das mudanças climáticas nestas comunidades.

No entanto, depois de validado, o VCS não requer que os projetos avaliem novamente os impactos ambientais e sócio-econômicos. A fim de analisar a

58 sustentabilidade contínua do projeto e demonstrar os impactos positivos advindos de suas atividades, é recomendado que se utilize Standards adicionais ao VCS, tais como o CCB ou o SOCIALCARBON.

4.9.8 Medição e Monitoramento em Projetos REDD+ no VCS

Monitoramento refere-se ao processo de medição das emissões tanto na área do projeto como na área de vazamento após a implementação do projeto, ocorrendo geralmente antes da verificação. Estas medições são então comparadas com as emissões de linha de base previamente projetadas para determinar a redução de emissões de GEE geradas pelo projeto.

O plano de monitoramento de um projeto seguirá o que foi determinado no DCP. Porém, são as metodologias que estabelecem as componentes de monitoramento, especificando os procedimentos e itens que devem ser medidos, tais como a cobertura florestal, os reservatórios de carbono e as fontes de emissão de GEE.

Deste modo, o monitoramento irá medir, por meio de trabalho de campo e imagens de satélite, os estoques de carbono na floresta (ou na área a ser florestada) em cada reservatório de carbono incluído no projeto, assim como as mudanças ocorridas nestes estoques.

Os estoques de carbono dependem do tipo de floresta, já que um mesmo projeto pode englobar diferentes fisionomias florestais. O trabalho de campo é necessário para realizar esta medição durante o monitoramento. Normalmente, com o auxílio de métodos de amostragem, são realizadas as medições da altura e do diâmetro à altura do peito (DAP) das árvores vivas para determinar a biomassa viva acima do solo. A coleta e análise de solo, serrapilheira e madeira morta irão fornecer os estoques de carbono nestes outros reservatórios, enquanto a biomassa abaixo do solo normalmente é calculada utilizando equações ou uma relação com a biomassa viva acima do solo.

Já a etapa de rastreamento das mudanças no uso e ocupação do solo e na cobertura florestal é realizada por meio da análise de imagens de satélites de diferentes pontos no tempo, sendo possível observar as alterações ocorridas em cada fisionomia florestal. Algumas tecnologias de sensoriamento remoto mais avançadas podem

59 também ajudar na etapa de medição do estoque de carbono, assim diminuindo o trabalho de campo (VIRGILIO et al., 2010).

A não ser que esteja especificado na metodologia utilizada, a frequência mínima de monitoramento varia de uma vez ao ano até a cada 5 ou 10 anos. Porém, na prática, para estabelecer este intervalo, os desenvolvedores do projeto devem comparar os custos estimados de monitoramento e verificação com a receita esperada da venda dos créditos que serão gerados durante o período de monitoramento do projeto.

No entanto, a frequência do monitoramento também pode ser estabelecida de acordo com o grau de risco do projeto. Caso aconteçam quaisquer perdas imprevistas de estoque de carbono devido a um evento, é necessário que o monitoramento seja realizado o antes possível.

Por isso, o monitoramento também permite capturar qualquer vazamento e/ou não permanência do carbono no projeto, deste modo sendo possível realizar os ajustes necessários quanto à dedução na geração de créditos e/ou depósito na conta do buffer.

4.9.9 REDD+ Jurisdicional e Sistemas Aninhados

Esta iniciativa faz com que projetos isolados de REDD+ se aninhem, ou seja, se integrem para um nível jurisdicional, permitindo um maior alinhamento com as políticas e legislações nacionais. Desta forma, também é possível conectar estes projetos independentes a uma meta nacional de redução de emissão de GEE, fornecendo assim um significativo potencial de mitigação das mudanças climáticas pelo setor florestal.

A depender das características do país, o nível jurisdicional pode ser categorizado em nacional e subnacional, este que por sua vez, pode ser dividido em estadual ou regional. Nestas escalas mais amplas, podem ser desenvolvidos critérios para o estabelecimento de linhas de base e níveis de referência estaduais, regionais ou nacionais, tanto para aprimorar o processo e reduzir os custos, quanto para garantir consistência e integridade ambiental para os projetos REDD+.

De acordo com Brasil (2011b), os projetos isolados de REDD+ possuem uma importante função, pois têm a capacidade de atrair e investir recursos do setor privado com uma maior agilidade. Ao mesmo tempo em que promovem a redução do

60 desmatamento, fornecem importantes lições em termos técnicos, metodológicos e políticos para replicação das experiências, contribuindo desta forma com o desenho e aperfeiçoamento de sistemas nacionais (BRASIL, 2011b).

O VCS lançou em outubro de 2012 um conjunto de diretrizes para serem utilizadas pelas jurisdições para estabelecerem sistemas aninhados, ou seja, programas integrados de REDD+. Com isto, pretende-se diminuir incertezas nas abordagens, garantindo que todos os projetos e outras atividades de REDD+ em uma determinada jurisdição sejam desenvolvidos utilizando linhas de base consistentes, de acordo com políticas e programas nacionais e/ou subnacionais, que objetivam a redução das emissões. Além disto, este programa irá promover a minimização do risco de vazamentos por meio do monitoramento das emissões em toda a área da jurisdição, aumentando-se desta forma a confiança mundial em projetos REDD+ (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012c).

Outro propósito deste sistema é garantir que a redução de emissões geradas por um determinado projeto ganhem escala para um nível jurisdicional, seja nacional ou subnacional. Desta forma, estes créditos de carbono poderão ser inseridos dentro de um sistema nacional de registro, que por sua vez irá promover uma justa distribuição dos benefícios entre os participantes dos projetos, minimizando-se também os riscos de dupla contagem.

No entanto, no Brasil, as iniciativas de REDD+ ainda encontram-se desarticuladas. Para Moutinho et al. (2011), de nada adiantará o Brasil fomentar o desenvolvimento de inúmeros projetos REDD+, sem que estes estejam regulados e submetidos a um regime nacional que os integrem de maneira ordenada, em concordância com as metas nacionais de redução de emissão de GEE.

Apesar de alguns Estados brasileiros já possuírem uma política estadual de mudanças climáticas instituindo ou fazendo a ligação com REDD+, outros sequer citam estes mecanismos. Esta discordância demonstra a falta de um marco legal regulatório sobre o assunto em âmbito nacional a fim de guiar a implementação de tais políticas estaduais (SANTOS et al., 2012).

61

No entanto, o Estado do Acre está no caminho de implantar um sistema jurisdicional de REDD+, sendo um dos mais avançados no Brasil e um exemplo para o mundo. Este sistema, além de estar em consonância com a PNMC, visa criar diversos níveis de referência estadual para fisionomias florestais, estoques de carbono, taxas de desmatamento e degradação, manejo e restauração florestal. Além disso, propõe também fornecer detalhes das atividades de mudança do uso do solo que pressionam as florestas em cada região do Estado, com o intuito de facilitar a análise de adicionalidade. Desta forma, este programa jurisdicional tende a incentivar e agilizar o desenvolvimento de projetos REDD+ no Estado, a fim de conservar as florestas, diminuir as emissões e atrair receitas de créditos de carbono (ALENCAR et al., 2012).

4.10 Principais Características do Brasil para Desenvolvimento de Projetos REDD+

Nos tópicos que se seguem, são apresentados os principais dados e características para o desenvolvimento de projetos REDD+ no Brasil.

4.10.1 Florestas e Estoque de Carbono nos Biomas Brasileiros

De acordo com Baccini et al. (2012), as florestas brasileiras armazenam a maior porção de todo o carbono armazenado nas florestas tropicais do mundo, representando em torno de 23% do total. Porém, este estoque de carbono encontra-se desigualmente distribuído entre os biomas, desde valores atingindo mais que 275 tC/ha em algumas regiões da Amazônia, até ao redor de 4,3 tC/ha em determinadas áreas no Pampa (BRASIL, 2010c).

O estoque de carbono varia de acordo com o tipo de vegetação, apresentando geralmente um maior valor nas florestas mais densas (BACCINI et al., 2012). Segundo Brasil (2012f), seguindo o conceito adotado pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (2004) referente à definição de florestas (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2010), aproximadamente 79% da cobertura vegetal existente no país em 2002 poderia ser classificado como floresta e 20% não apresentava uma categoria florestal. O 1% restante se enquadrava como áreas de transição e formações pioneiras.

62 A Tabela 3 apresenta a porcentagem das distintas fitofisionomias em relação à cobertura vegetal existente no bioma em 2002.

Tabela 3. Porcentagem das distintas fitofisionomias em relação à cobertura vegetal existente no bioma em 2002

Bioma Fitofisionomia Florestal

Fitofisionomia Não Florestal

Amazônia 95,03% 4,97%

Caatinga 38,86% 61,14% Cerrado 60,80% 39,20% Mata Atlântica 80,84% 14,24%

Pampa 13,02% 55,74% Pantanal 5,84% 94,16% Brasil 79,06% 20,30%

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Brasil (2012f)

Desta forma, os biomas caracteristicamente florestais são a Amazônia e Mata Atlântica. O Cerrado apresenta mais da metade de sua cobertura vegetal enquadrada como floresta, enquanto a Caatinga, um pouco mais de 1/3. Os biomas Pampa e Pantanal são aqueles que menos possuem vegetação definida como floresta, apresentando outras fitofisionomias características.

Brasil (2010c) realizou matrizes de transição entre as categorias de uso da terra entre 1994 e 2002, analisando a área de cada transição observada por bioma e as emissões líquidas de CO2 correspondentes. A partir destas matrizes, foi possível estimar a média das emissões de CO2 por hectare desmatado em cada bioma. Para isto, foram inicialmente delimitadas as seguintes categorias como floresta:

a) Floresta Não Manejada; b) Floresta Manejada; c) Floresta com extração seletiva. Em seguida, as seguintes categorias foram consideradas como desmatamento,

as quais representaram aproximadamente 95% do total das emissões ocorridas nas transições entre categorias de uso da terra e floresta no Brasil:

63

a) Pastagem plantada; b) Área agrícola; c) Área urbana; d) Reservatórios (área manejada). Deste modo, selecionaram-se apenas as transições entre as categorias de

floresta que resultaram em categorias de desmatamento. Com as áreas destas transições e suas respectivas emissões, estimou-se para cada bioma, a emissão média de carbono por área desmatada, conforme apresentado na Tabela 4. É importante ressaltar que estes valores não correspondem ao estoque de carbono do bioma, e sim a apenas uma estimativa média do carbono que é liberado pelo desmatamento de um hectare de floresta por bioma. Vale notar que os números apresentados podem variar muito dentro dos biomas, pois cada um compreende diversos tipos de fisionomias florestais. Portanto, em nível de projeto, é necessária uma análise mais detalhada.

Tabela 4. Estimativa da emissão média de carbono por hectare desmatado em cada bioma brasileiro

Bioma Emissão de carbono por hectare desmatado (tC/ha)

Amazônia 135,1 Cerrado 74,0 Caatinga 20,1 Mata Atlântica 97,1 Pampa 83,7 Pantanal 54,3 Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Brasil (2010c)

Com os dados expostos na Tabela 4, é possível analisar que os biomas Amazônia e Mata Atlântica são aqueles que apresentam as maiores emissões de carbono por hectare desmatado devido às suas características florestais predominantes.

O estoque de carbono em um bioma varia de acordo com o carbono armazenado nos distintos reservatórios de sua vegetação. Considerando-se apenas as florestas naturais do Brasil, de acordo com o Serviço Florestal Brasileiro (2012), o bioma Amazônia possuía em 2010, ao redor de 76% do estoque de carbono total do país. Este também foi o bioma que mais perdeu carbono estocado entre 1990 e 2010, ao redor de

64 7 MtC. Porém, neste mesmo período, o Cerrado perdeu ao redor de 30% de seu estoque, o qual foi o maior índice dentre todos os biomas. A Tabela 5, que segue, apresenta o estoque de carbono em MtC para as florestas naturais por bioma, dividido por compartimento, no ano de 2010. Além disso, também é apresentada nesta tabela uma comparação com o ano de 1990, mostrando que o Brasil perdeu aproximadamente 10% de seu estoque de carbono florestal em 20 anos.

Tabela 5. Estoque de carbono em MtC para as florestas naturais por bioma, divididos por compartimento, para o ano de 2010

Compartimento Amazônia Caatinga Cerrado Mata Atlântica Pampa Pantanal Brasil

Biomassa Acima do Solo 46.445 1.541 2.518 3.903 420 248 55.075

Biomassa Abaixo do Solo 6.733 416 2.040 703 76 345 10.313

Biomassa Morta 3.610 68 233 105 11 32 4.059

Serrapilheira 1.871 85 274 127 14 29 2.400 Solo 36.336 1.644 9.851 2.778 299 1.235 52.143 Total 94.995 3.754 14.916 7.616 820 1.889 123.990 Comparação do estoque de carbono total por bioma em relação ao ano de 1990

-7% -11% -30% -4% -8% -14% -10%

Fonte: Serviço Florestal Brasileiro (2012)

4.10.2 O Desmatamento nos Biomas Brasileiros

Uma das principais formas de combate ao desmatamento no Brasil são os mecanismos de comando e controle, tal como a fiscalização efetiva, que obrigue o cumprimento da legislação ambiental juntamente com uma maior presença do Estado. Porém, de acordo com Moutinho et al. (2011), isto não se mostra efetivado na maioria das regiões do país, pois a fragilidade do governo em cumprir estes deveres em comparação com outras metas sociais e interesses econômicos, tem colocado o Brasil entre os maiores desmatadores do mundo (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011).

65

Considerando-se a área original dos biomas brasileiros, de acordo com o MCTI e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a taxa de desmatamento anual no Brasil entre 2002 a 2009, foi da ordem de 0,4% ao ano (BRASIL, 2013a, 2012f). Este valor foi similar ao ocorrido no continente sul americano no mesmo período, de 0,45% ao ano (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011).

Entre 2002 e 2009, os biomas que apresentaram as maiores taxas de desmatamento anual em relação à sua cobertura original foram o Cerrado, Pantanal e Amazônia, respectivamente. Porém, os que tiveram a maior perda de área de cobertura vegetal original foram respectivamente os biomas do Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia, apesar do Pampa já ter sido mais de sua metade devastado. A Mata Atlântica foi mais de ¾ desmatada, enquanto o Cerrado e Caatinga estão quase 50% desmatados. A Tabela 6 resume a situação da cobertura vegetal de cada bioma em 2009, e também, a referente taxa de desmatamento anual entre 2002 a 2009 comparado com a área original do bioma.

Tabela 6. Situação em 2009 da cobertura vegetal de cada bioma brasileiro e sua respectiva taxa de desmatamento anual7

Bioma Área (km²) Desmata-mento até 2009 (km²)

Desmata-mento até 2009 (%)

Desmata-mento entre 2002 a 2009

(km²)

Taxa de desmatamento

anual entre 2002 a 2009 (% ao ano)

Amazônia 4.196.943 745.805 17,77% 118.494 0,40% Cerrado 2.039.386 983.392 48,22% 92.684 0,65% Mata Atlântica 1.103.961 837.906 75,90% 2.990 0,04% Caatinga 826.411 377.009 45,62% 16.035 0,28% Pampa 177.767 96.208 54,12% 2.514 0,20% Pantanal 151.313 23.151 15,30% 4.467 0,42% Brasil 8.495.781 3.063.470 36,06% 237.184 0,40%

Fonte: Brasil (2012f) e Brasil (2013a)

Com os dados apresentados na Tabela 6, também é possível verificar que até 2009, praticamente 36% da área do país já foi desmatada e convertida para outros usos, ou seja, aproximadamente 3 milhões de km². Ainda de acordo com Brasil (2012f) e 7 O MMA (BRASIL, 2012f) e o MCTI (BRASIL, 2013a) consideram a supressão da vegetação

nativa como desmatamento, mesmo se a cobertura original não se caracterize como floresta.

66 Brasil (2013a), apesar das taxas de desmatamento na maioria dos biomas terem diminuído nos últimos anos, a tendência é a expansão da fronteira agropecuária em direção aos remanescentes florestais e a consequente eliminação dos mesmos.

Especificamente em relação ao bioma Amazônia, desde 2003, as taxas de desmatamento são levantadas principalmente por classificação digital de imagens com a utilização do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (PRODES). Esta tecnologia gera resultados mais rápidos quando comparados aos métodos de monitoramento implantados nos demais biomas, permitindo assim obter informações mais atualizadas (BRASIL, 2013a). Observa-se que as taxas de desmatamento anuais no bioma Amazônia apresentam um ritmo decrescente, com uma redução de aproximadamente 69% entre os períodos 1996-2005 e 2010-2012, conforme disposto na Tabela 7, a seguir.

Tabela 7. Evolução da taxa média de desmatamento anual no bioma Amazônia, por período, entre 1996 a 2012

Período Taxa média de

desmatamento anual (mil km²/ano)

Redução comparada ao

período anterior (%)

Redução comparada ao

período inicial (%) 1996 a 2005 19,6 - - 2006 a 2009 11,6 41% - 2010 a 2012 6,0 48% 69%

Fonte: Brasil (2013a)

No entanto, embora tenha ocorrido uma clara queda do desmatamento na Amazônia entre 2010 e 2012, conforme apresentado anteriormente na Tabela 7, de acordo com Martins et al. (2013), o desmatamento verificado no bioma entre agosto de 2012 e maio de 2013 aumentou 89% em relação ao período anterior (agosto de 2011 a maio de 2012). Este fato demonstra que o desmatamento no bioma Amazônia ainda não está totalmente controlado.

Para Moutinho et al. (2011), uma das soluções existentes para praticamente colocar fim ao desmatamento seria aprimorar as ações de governança de comando e controle, combinadas a uma política de incentivos e compensações por prestação de serviços ambientais, mediadas pelos mecanismos REDD+. Desta forma, os resultados

67 poderiam alterar o rumo histórico do desenvolvimento e crescimento econômico das regiões mais vulneráveis ao desmatamento do Brasil.

4.10.3 As Áreas Protegidas e REDD+

Para que os mecanismos REDD+ tenham sucesso no Brasil, um dos principais instrumentos governamentais para a preservação de ecossistemas, diminuição do desmatamento e consequentemente das emissões de CO2, seria por meio da criação de áreas protegidas e terras indígenas (RICKETTS et al., 2010).

As áreas protegidas no Brasil classificam-se em públicas e privadas. As primeiras dividem-se em Unidade de Conservação (UC) e terras indígenas. Já as privadas são aquelas estabelecidas pelo Código Florestal (áreas de preservação permanente e áreas de reserva legal, de acordo com BRASIL, 1965), ou também, reservas criadas voluntariamente, definidas como Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN).

Especialmente em relação às UCs, estas dividem-se em várias categorias de proteção integral ou de uso sustentável. Podem ser legalmente criadas pelos governos federal, estaduais e municipais, a fim de proteger áreas de importância biológica e cultural ou de beleza cênica, ou mesmo para assegurar o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações tradicionais (BRASIL, 2012h). O processo de criação de uma UC também leva em conta o mapa de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira (BRASIL, 2007a), enfocando áreas de grande importância biológica que estão sob forte pressão antrópica.

De acordo com Ricketts et al. (2010) e Soares-Filho et al. (2010), a criação de UCs e terras indígenas são uma maneira mais simples e rápida de se implementar uma positiva relação entre mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e proteção do patrimônio natural e cultural.

O conjunto das UCs federais, estaduais e municipais, juntamente com a categoria RPPN, forma o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). A Tabela 8, que segue, apresenta as áreas de todas as categorias de UCs cadastradas dentro do SNUC, divididas por bioma. É possível analisar que, segundo

68 Brasil (2012d), o Brasil possui ao redor de 17% de sua área definidos dentro de alguma categoria de UC, enquanto o bioma Amazônia, entre todos os outros, é o que apresenta o maior percentual de sua área dentro de UCs.

Tabela 8. Áreas protegidas em km² de todas as categorias de UCs no Brasil divididas por bioma

Bioma Amazônia Caatinga Cerrado Mata Atlântica Pampa Pantanal Brasil

Área de UCs (km²) 1.110.051 63.579 166.228 108.291 5.856 6.601 1.460.606 Percentual do Bioma em Áreas Protegidas

26,4% 7,5% 8,2% 9,8% 3,3% 4,4% 17,2%

Fonte: Brasil (2012d)

Além disso, as terras indígenas no país já regularizadas correspondem a mais de 1 milhão de km², que somadas às UCs, fazem com que ao redor de 30% do Brasil esteja dentro de alguma área protegida, excetuando-se aquelas definidas pelo Código Florestal em propriedades privadas (BRASIL, 2012b).

Porém, este carbono estocado em áreas protegidas não está totalmente seguro. Embora a criação de áreas protegidas normalmente reduz as taxas de desmatamento comparadas àquelas da região de entorno, o desmatamento e emissão de GEE muitas vezes continua dentro daquelas com falta de fiscalização, investimento, capacidade de manejo ou incentivo político (RICKETTS et al., 2010). Deste modo, a melhoria na proteção destas áreas já protegidas é também uma importante forma de redução de emissões de GEE, que podem ser alcançadas mediante o retorno financeiro de projetos de REDD+ (SOARES-FILHO et al., 2010).

Entretanto, somente a criação de novas áreas protegidas não será suficiente, pois também deve ser dada atenção às propriedades privadas, a fim de se encorajar melhorias ambientais e sociais no setor florestal e agrícola, promovendo conjuntamente a conservação de ecossistemas. Isto pode ser obtido por meio dos mecanismos REDD+, valorando-se financeiramente tais iniciativas (SOARES-FILHO et al., 2010).

Ainda de acordo com Soares-Filho et al. (2010), os custos provenientes da consolidação de áreas de proteção, juntamente com os lucros que seriam gerados com

69 a sua utilização, poderiam ser parcialmente compensados por meio de um acordo internacional do clima que incluísse REDD+.

4.10.4 A Demanda por Madeira e o Manejo Florestal

Segundo International Tropical Timber Organization (2010), o Brasil é o segundo maior produtor mundial de madeira tropical, com ao redor de 18% da produção mundial. Em torno de 15 milhões de m³ de madeira em tora são produzidos por ano no Brasil, tendo a Amazônia como a principal originadora e fornecedora do país, destinada a um mercado praticamente interno (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2011). Esta produção era em média três vezes maior antes de 1996, quando medidas mais efetivas para redução do desmatamento ilegal na Amazônia começaram a ser realizadas por meio de mecanismos de comando e controle. A Figura 12 ilustra a evolução da produção em m³ de madeira em tora na Amazônia Legal8 e no Brasil entre 1991 e 2009, mostrando uma produção aproximadamente constante a partir de 2000 (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2011).

Figura 12. Produção em m³ de madeira em tora na Amazônia Legal e Brasil

Fonte: Serviço Florestal Brasileiro (2011)

8 O conceito de Amazônia Legal foi instituído em 1953 e seus limites territoriais decorrem da necessidade de planejar o desenvolvimento econômico da região e, por isso, não se resumem ao bioma Amazônico. Possui uma área de ao redor de 5 milhões de km², distribuída total ou parcialmente por 9 estados brasileiros.

70

O mercado mundial para este tipo de produto está cada vez se tornando mais sensitivo em relação à forma como foram produzidas e manejadas, exigindo certificações ambientais como uma medida para não incentivar o comércio de madeira obtida de fontes ilegais. Novas legislações comerciais, juntamente com a preferência de compradores por madeira legalmente verificada, estão sendo desenvolvidas e aplicadas. Como resultado, muitos países e empresas exportadores estão se movendo para adaptar seus sistemas de gestão para atender a essas demandas do mercado (INTERNATIONAL TROPICAL TIMBER ORGANIZATION, 2011).

No entanto, em 2009, foi estimado que a produção de madeira em tora no Brasil oriunda de fontes ilegais girava em torno de 36%, considerando-se os planos de manejo florestais aprovados e as autorizações por desmatamento emitidas (PEREIRA et al., 2010 apud SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2011, p.8). Além disto, a exploração sem planejamento provoca elevados danos à floresta, resultando em desperdício de madeira. Na Amazônia, por exemplo, estimou-se que a exploração florestal sem planejamento danifica em torno de 50,9 árvores a cada árvore extraída, aproximadamente 46% a mais do que a exploração planejada (JOHNS; BARRETO; UHL, 1998).

A exploração de florestas sob o regime de manejo florestal sustentável , tanto de domínio público como de domínio privado, dependerá de prévia autorização do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) pelo órgão ambiental competente. Neste documento técnico são descritos os procedimentos e diretrizes para o manejo florestal da área, visando a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2010). De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro (2011), os biomas Amazônia e Caatinga devem ter uma estratégia de desenvolvimento voltada para o manejo florestal, enquanto o bioma Mata Atlântica para recuperação florestal, e o bioma Cerrado para o uso sustentável de recursos florestais.

No bioma Amazônia, o sistema de manejo florestal é policíclico, baseado em ciclo de corte de no máximo 35 anos. A intensidade máxima de corte é de 30 m³/ha (4 a 6 árvores/ha) em exploração de impacto reduzido, desde que apresente diâmetro mínimo de corte de 50 cm para todas as espécies para as quais ainda não se

71 estabeleceu-se um valor específico. A seleção de árvores é realizada conforme critérios tecnológicos e ecológicos para promover a regeneração das espécies florestais manejadas, proteção do solo e qualidade da floresta remanescente. Desta forma, garante-se a manutenção de pelo menos 10% do número de árvores por espécie na área de efetiva exploração do talhão, respeitados o limite mínimo de manutenção de três árvores por espécie por 100 ha, em cada subdivisão do talhão. Considera-se que a estimativa da produtividade anual da floresta manejada seja de 0,86 m³/ha/ano, assim ao final de 35 anos, já tenha sido possível a recuperação dos 30 m³ anteriormente explorados, fechando-se assim um ciclo (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2010; BRASIL, 2009a).

Já na Caatinga, o manejo florestal é feito com base em sistema monocíclico, com uma rotação estimada entre 12 a 15 anos. Aplica-se o corte raso em talhões anuais, com corte das árvores próximo a sua base para permitir a regeneração por rebrota, que quando recuperada, atinge níveis de diversidade praticamente iguais aos anteriores. Com este sistema, a produção estimada é de até 40,5 m³/ha. Considera-se que a estimativa da produtividade anual da floresta manejada seja de 3 m³/ha/ano, assim ao final de 12 a 15 anos, já tenha sido possível a recuperação dos 40,5 m³ anteriormente explorados, fechando-se assim um ciclo. Embora pequena, a área do bioma Caatinga com PMFS mais que dobrou entre 2005 a 2010, mostrando uma tendência à consolidação do manejo florestal como alternativa de uso sustentável no bioma, principalmente em uma região que tem alta dependência da biomassa florestal para geração de energia (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2010; BRASIL, 2011c).

Quanto às propriedades privadas, o manejo florestal sustentável pode ser realizado excetuando-se nas áreas de preservação permanente. As áreas de reserva legal estabelecidas pelo Código Florestal Brasileiro (BRASIL, 1965) podem ser exploradas para produção de bens e serviços, mediante a aprovação do PMFS pelo órgão ambiental competente. De acordo com o Código Florestal, deve ser mantido como reserva legal, no mínimo:

72

• 80% da propriedade rural localizada em áreas de floresta na Amazônia Legal;

• 35% da propriedade rural localizada em áreas de cerrado dentro da Amazônia Legal;

• 20% da propriedade rural localizada em áreas de floresta ou outras formas de vegetação nativa (incluindo campos gerais) nas demais regiões do país.

De acordo com International Tropical Timber Organization (2011), ao redor de 2,94 milhões de hectares do bioma Amazônia e 295.000 hectares do bioma Caatinga possuem PMFS aprovados. Ou seja, apenas 0,7% da Amazônia e 0,36% da Caatinga estão sendo exploradas sob PMFS, o que equivale a apenas 0,38% da área do Brasil. No entanto, estima-se que do total de PMFS no país, 2,7 milhões de hectares (ou 83%) tenham certificação pelo Forest Stewardship Council (FSC), um dos mais reconhecidos sistemas de certificação florestal, que identifica produtos originados do bom manejo florestal para orientar consumidores responsáveis em suas decisões.

Apesar da importância dos PMFS para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas, a sua execução ainda não é considerada uma prática comum, principalmente devido aos poucos recursos humanos e financeiros para implementar as medidas necessárias (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2012).

De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro (2011), a demanda média de madeira em tora proveniente de florestas nativas brasileiras foi estimada conservadoramente em 21 milhões de m³/ano, necessitando assim uma área de 36 milhões de hectares destinadas para produção de madeira, considerando-se o manejo florestal em um ciclo de 30 anos. Porém, atualmente as UCs de uso sustentável destinadas à produção florestal, com área aproximada de 11 milhões de hectares, não são suficientes para suportar a demanda de madeira proveniente de florestas nativas.

A implantação de mecanismos REDD+ promove a exploração florestal sustentável, pois impulsiona a conservação e o incremento dos estoques de carbono nas florestas ao mesmo tempo em que reduz a pressão por madeira em outras áreas conservadas. Desta forma, consegue-se aliar a manutenção da biodiversidade com o

73 desenvolvimento econômico local. Além disso, os mecanismos REDD+ em florestas manejadas de forma sustentável podem fornecer aos compradores de produtos madeireiros a garantia de aquisição de um produto ambientalmente responsável, atendendo assim esta demanda de mercado que está se estabelecendo (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2012).

4.10.5 Áreas Degradadas e sua Recuperação Florestal

Embora evitar o desmatamento de uma área seja geralmente mais barato do que arcar com os custos de sua restauração florestal, existem casos em que os benefícios advindos da recuperação florestal de áreas degradadas superam em muito os custos da sua execução. Tais projetos de restauração são um meio importante de adaptação às mudanças climáticas (THE ECONOMICS OF ECOSYSTEMS AND BIODIVERSITY, 2010).

Conforme exposto na Tabela 6, aproximadamente 36% da área do Brasil já foi desmatada e convertida para outros usos (BRASIL, 2012f; BRASIL, 2013a). Considerando apenas as áreas de pastagens degradadas, o Brasil possui cerca de 30 milhões de hectares em algum estágio de degradação, ou seja, praticamente 10% do que já foi desmatado no Brasil (BRASIL, 2012a). Esta avaliação pode ser encarada como conservadora, visto que Brasil (2008a) estimou que áreas nestas condições sejam da ordem de 100 milhões de hectares.

Recuperar áreas degradadas de volta às suas condições originais, na maioria das vezes, é uma tarefa árdua, que apresentará resultados significativos somente em longo prazo. A destruição das florestas tropicais, de acordo com Dean (1996, p.23), é irreversível, no âmbito de qualquer escala temporal humana, pois quando é destruída, “a perda em termos de diversidade, complexidade e originalidade não é apenas maior que a de outros ecossistemas: é incalculável”.

A recuperação florestal de áreas degradadas pode ser incentivada por meio dos mecanismos REDD+, pois quando as árvores crescem, sequestram CO2 da atmosfera, acumulando o carbono em forma de biomassa. Deste modo, estes mecanismos poderiam contribuir para suprir a falta de recursos necessários para o plantio e

74 manutenção de florestas nativas (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2003).

De acordo com Solari Puentes (2010), o sequestro de CO2 por área que é realizado por novas florestas é maior do que o feito por florestas adultas, já que as árvores maduras entram em equilíbrio de absorção de carbono entre a fotossíntese e o liberado pela respiração. Por este motivo, projetos de reflorestamento tendem a gerar mais créditos de carbono durante os primeiros anos do plantio, provendo assim um maior retorno financeiro justamente na época em que o reflorestamento é mais dispendioso, devido às etapas iniciais de eliminação dos agentes de desmatamento, correção do solo, plantio e manutenção das árvores, adubação, entre outros.

O Intergovernmental Panel on Climate Change (2003) define as taxas de crescimento da biomassa acima do solo de acordo com os seguintes parâmetros: tipo de formação florestal, condições climáticas da região e altitude. Além disso, estas taxas também são separadas por classes de idade da nova floresta, sendo que é estimado que a biomassa acima do solo possua um maior desenvolvimento durante os primeiros 20 anos. Após isto, esta taxa diminui, pelo fato das árvores desacelerarem o crescimento natural com a idade, até atingirem o equilíbrio quando alcançam o clímax. No entanto, o crescimento em área basal9 continua, na maioria das vezes, em uma taxa constante pela maior parte da vida das árvores (IMAÑA ENCINAS et al., 2005).

Esta taxa de crescimento é indicada pelo incremento médio anual (IMA), que especifica o crescimento da biomassa de uma determinada fisionomia vegetal por unidade de área por ano. Por meio do IMA da biomassa em tonelada seca (ts), é possível calcular a quantidade de CO2 sequestrada por ano por uma vegetação específica em uma determinada área. Para tanto, é necessário multiplicar o IMA por 0,5 para estimar a fração de carbono presente na biomassa seca e posteriormente, por 44/12, que é a razão entre as massas moleculares do CO2 ao carbono (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2003).

9 A área basal é uma área seccional transversal de árvores, comumente utilizando o diâmetro à

altura do peito. Com este parâmetro, pode-se também calcular um valor de cobertura, por árvores, de uma determinada área de superfície do solo. É um bom indicador da densidade de vegetação de um ecossistema.

75

A Tabela 9 apresenta os IMAs para cada bioma brasileiro, considerando-se apenas a biomassa florestal acima do solo, separado por classes de idade e a altitude média da região.

Tabela 9. Incremento médio anual da biomassa florestal acima do solo dividido por bioma (em ts/ha.ano)

Bioma Classe de Idade

IMA (ts/ha.ano) Altitude

< 1.000 m Altitude

1.000 m

Amazônia 20 anos 10 5 > 20 anos 1,9 1,4

Cerrado 20 anos 4 1,8 > 20 anos 1 0,4

Mata Atlântica

Floresta Ombrófila

20 anos 10 5 > 20 anos 1,9 1,4

Floresta Estacional

20 anos 7 5 > 20 anos 2 1,4

Caatinga 20 anos 4 1,8 > 20 anos 1 0,4

Pantanal 20 anos 4 - > 20 anos 1 -

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Intergovernmental Panel on Climate Change (2003)

Por meio do exposto na Tabela 9, é possível observar que os biomas que apresentam os maiores IMAs, e por conseguinte, sequestram a maior quantidade de carbono da atmosfera durante o seu crescimento, são a Amazônia e a Mata Atlântica, desde que localizadas em altitudes abaixo de 1.000 metros, onde o índice pluviométrico é maior. Ao mesmo tempo, são justamente os biomas que possuem os maiores estoques de carbono acima do solo, conforme exposto anteriormente nas Tabelas 4 e 5. No entanto, os biomas que possuem uma estação larga de seca tendem a apresentar um IMA menor, sobretudo quando em altitudes elevadas. O bioma Pampa não foi apresentado na Tabela 9 pelo fato de o Intergovernmental Panel on Climate Change (2003) não fornecer detalhamentos específicos que se encaixem às suas características.

Juntamente com o crescimento da biomassa acima do solo, há também o desenvolvimento das raízes e troncos localizados abaixo do solo, que também são um dos estoques de carbono na vegetação. Como apresentado anteriormente na Tabela 5,

76 o Serviço Florestal Brasileiro (2012) estimou a quantidade de carbono estocada nas florestas naturais, dividida por bioma, por compartimento e por ano. A partir destes dados, é possível identificar uma relação média entre a biomassa abaixo e acima do solo, a qual é apresentada na Tabela 10, que segue. É importante notar que a razão exposta é apenas uma estimativa, sendo portanto necessária uma análise mais detalhada em nível de projeto.

Pode-se observar que os biomas que apresentam um elevado IMA da biomassa acima do solo, tais como a Amazônia e Mata Atlântica, mostram em compensação uma baixa razão com sua biomassa abaixo do solo. Por outro lado, nos biomas Cerrado e Pantanal, o desenvolvimento das raízes pode alcançar quase a mesma proporção da biomassa encontrada acima do solo (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2012).

Tabela 10. Relação média entre a biomassa abaixo e acima do solo dividido por bioma

Bioma Razão biomassa abaixo do solo/acima do solo

Amazônia 0,14 Cerrado 0,81 Mata Atlântica 0,18 Caatinga 0,27 Pampa 0,18 Pantanal 1,39

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Serviço Florestal Brasileiro (2012)

Por meio destes valores, é possível estimar o crescimento de uma determinada vegetação em um projeto de restauração florestal. Porém, de acordo com Uehara e Gandara (2011), para garantir o sucesso do plantio, além de realizar a adequada manutenção para sobrevivência da população, é muito importante o uso de espécies comerciais e o envolvimento da comunidade local. Desta forma, proporciona-se uma possibilidade adicional de geração de renda às famílias envolvidas no projeto.

Outros fatores que podem aumentar o grau de sucesso deste tipo de projeto são o uso exclusivo de espécies nativas de ocorrência regional e a utilização de um alto número de espécies, desde que sejam adaptáveis ao local a ser restaurado. Com isto,

77 promove-se a diversidade e a conservação dos recursos genéticos da região (UEHARA; GANDARA, 2011).

4.11 REDD+ e Biodiversidade

Além da propriedade de armazenamento do estoque de carbono, extremamente fundamental para mitigação das mudanças climáticas, as florestas são abrigo de ao menos 80% da biodiversidade restante do planeta (THE WORLD BANK, 2004). De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica (2010), as cinco principais pressões para a biodiversidade atualmente são: a perda e a degradação dos hábitats, as mudanças climáticas, a poluição, o uso insustentável e sobrexplotação de recursos e, por fim, as espécies invasoras. Segundo Brasil (2007b), o desmatamento e a degradação das florestas tropicais são as principais causas da perda global de biodiversidade.

Devido à rapidez em que estão ocorrendo, as mudanças climáticas, combinadas à mudança no uso e ocupação do solo, ocasionarão impactos além do aumento nas temperaturas. Alguns destes são: o aumento da taxa de extinção de espécies, alteração do ritmo de reprodução de animais e vegetais e/ou a migração de animais, aumento na frequência e no surto de pestes e doenças, entre outros. Por sua vez, em resposta a estas e outras pressões, estas mudanças na biodiversidade podem afetar o clima regional e global, pois alteram a estrutura e funcionamento de ecossistemas e suas interações com os ciclos biogeoquímicos (BRASIL, 2007b).

Projetos florestais envolvendo créditos de carbono caminham juntamente com a conservação da biodiversidade. Conforme Brasil (2007b), a diminuição do ritmo de desmatamento e de degradação florestal pode, além de mitigar a emissão de GEE, preservar serviços ecossistêmicos. Da mesma forma, o aprimoramento do manejo florestal pode aumentar o sequestro de carbono ou minimizar sua perda, e conservar a biodiversidade. Já o florestamento/reflorestamento de áreas degradadas produz geralmente grandes benefícios para a biodiversidade, desde que sejam escolhidas com cuidado as espécies e o ecossistema a ser trabalhado. Perdas significativas de

78 biodiversidade são prováveis de ocorrer caso seja feito o plantio de florestas em campos naturais ou em outros ecossistemas nativos não florestais.

Segundo The Economics of Ecosystems and Biodiversity (2010), projetos REDD+ representam uma importante iniciativa para mitigação dos impactos das mudanças climáticas, apresentando uma série de benefícios adicionais para a biodiversidade e comunidades. É esperado ainda que estes projetos de conservação de ecossistemas promovam o retorno econômico para a comunidade local, bem como a redução da pobreza, também ajudando nas decisões de políticas públicas e investimentos governamentais com o objetivo de preservar a biodiversidade.

De acordo com Strassburg et al. (2012), ao redor de 36.000 espécies de animais e plantas florestais seriam extintas até 2100, sendo que 94% destas poderiam ser evitadas caso o preço do crédito de carbono florestal atingisse US$ 25.00 (atualmente em torno de US$ 9.20 de acordo com Peters-Stanley, Hamilton e Yin (2012)).

Conforme Busch et al. (2010), os países possuidores de alta biodiversidade e elevado endemismo de espécies geralmente localizam-se em florestas tropicais. Além disto, estes países são normalmente detentores de florestas com altos índices de estoque de carbono, desta forma, potencializando sua participação em projetos REDD+.

A perda de biodiversidade e as mudanças climáticas são talvez os dois maiores desafios que a humanidade irá enfrentar no século XXI, e instrumentos econômicos para reduzir o desmatamento podem proporcionar uma significante contribuição para enfrentar ambos os problemas (BUSCH et al., 2010).

4.12 REDD+ e Implicações Sociais

As mudanças climáticas atingirão mais intensamente aqueles que se encontram em extremas condições de pobreza. Os recursos florestais influenciam diretamente os meios de vida de 90% dos 1,2 bilhões de pessoas que vivem nestas condições, além de praticamente toda a população indígena, a qual é totalmente dependente destes recursos (THE WORLD BANK, 2004). Além disto, os serviços ambientais contribuem

79 com aproximadamente 47% a 89% da renda destas pessoas (THE ECONOMICS OF ECOSYSTEMS AND BIODIVERSITY, 2010).

Grandes extensões de florestas remanescentes estão em áreas indígenas, pois segundo Virgilio et al. (2010), estas áreas oferecem maior proteção contra o desmatamento do que outros tipos de áreas protegidas. No entanto, estes mesmos grupos que contribuíram pouco com as alterações climáticas, estão entre os primeiros a enfrentar as suas consequências adversas diretas, devido tanto à relação próxima com o meio ambiente e seus recursos, bem como suas limitadas condições financeiras e institucionais para se adaptarem a estas ameaças. Por estes motivos, estratégias e planos focados para estes povos serão imprescindíveis, já que no Brasil, aproximadamente 12% do território é constituído por terras indígenas regularizadas (BRASIL, 2012b).

Projetos de REDD+ podem simultaneamente abordar as mudanças climáticas e a pobreza rural, ao mesmo tempo em que se conserva a biodiversidade e dá sustentação a serviços ambientais (PARKER et al., 2009). Além disto, estes projetos florestais podem proporcionar uma renda alternativa para as organizações locais envolvidas, com isto aumentando a capacidade das pessoas que dependem da floresta de se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2012). Desta forma, os projetos REDD+ podem também sustentar a cultura e tradição locais (VIRGILIO et al., 2010).

Os produtos florestais não madeireiros (PFNM) consistem na principal fonte de renda e alimento de milhares de famílias que vivem da extração florestal. O principal grupo de PFNM extraídos no Brasil, conforme apresentado na Figura 13, é o alimentício, destinados tanto para subsistência quanto para comercialização (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2010). Além disto, é possível verificar que produção de PFNM permaneceu praticamente constante ao longo dos anos analisados. Os projetos REDD+ tendem a permitir a manutenção da extração destes produtos em mesmo nível, e até mesmo promover um acréscimo em sua produção, sem que haja comprometimento de sua viabilidade e sustentabilidade econômica, social e ambiental.

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Figura 13. Quantidade de PFNM extraídos de florestas naturais por ano

Fonte: Serviço Florestal Brasileiro (2010)

Embora estes benefícios possam ser importantes recursos para que o projeto REDD+ englobe os povos indígenas e a proteção ambiental, de acordo com Long (2012), no Brasil existem dois grandes riscos para estas comunidades que se envolvem no projeto: as limitações ao uso da terra e a divisão dos benefícios financeiros.

O acesso limitado às florestas protegidas pelo projeto pode afetar o uso de recursos florestais para a subsistência dos povos indígenas. Já a distribuição dos benefícios financeiros deve ser feita de forma justa e equitativa, com base no valor dos direitos de uso da terra cedidos pelos povos indígenas e pelo governo federal. Isto porque, embora as terras indígenas sejam inalienáveis, indisponíveis e os direitos sobre elas imprescritíveis, elas são consideradas bens da União e assim, o título da terra pertence ao governo federal brasileiro (LONG, 2012).

Outro desafio é garantir que os recursos sejam usados para beneficiar a tribo usufruinte da terra como um todo ao invés de enriquecerem apenas os seus líderes. Além disto, deve-se tomar cuidado para se respeitar os direitos daqueles que serão os mais afetados pelo projeto, em qualquer uma de suas etapas, para assim aumentarem as chances de se obter um bom resultado a partir do envolvimento destas pessoas (VIRGILIO et al., 2010; LONG, 2012).

Em julho de 2010, a sociedade civil lançou um documento sobre os princípios e critérios de REDD+ no Brasil, com a finalidade de orientar o desenvolvimento de

81 projetos, programas governamentais e auditorias de REDD+ (PRINCÍPIOS ...2012). Atentam para 8 princípios que devem ser atendidos, os quais representam valores relevantes para ações de REDD+ (BRASIL, 2012g).

4.13 Contexto das Políticas Públicas de REDD+ no Brasil

Embora existam mais de 20 políticas públicas do governo federal direcionadas à questão das mudanças climáticas, a maioria delas se destina ao setor de energia, mesmo com ao redor de 77% das emissões brasileiras de CO2 serem advindas da mudança do uso do solo e florestas (BRASIL, 2010c). Apesar de já se encontrar em discussão no Congresso Nacional, ainda não existe uma política pública específica para projetos REDD+ no Brasil (MAY, MILLIKAN e GEBARA, 2011).

A proposta de criação de um sistema nacional de redução de emissões por desmatamento e degradação, conservação, manejo florestal sustentável, manutenção e aumento dos estoques de carbono florestal (REDD+) foi levantada com o PL 195/2011 na Câmara dos Deputados (BRASIL, 2011e), e o PL 212/2011 no Senado (BRASIL, 2011f). Os objetivos destes PLs seriam de regulamentar as ações de REDD+ no Brasil, bem como de criar um sistema nacional de REDD+, que permitiria o desenvolvimento de atividades subnacionais e a integração destas a uma jurisdição nacional em consonância com a PNMC.

Em 2009, foram iniciadas discussões para a criação de uma Estratégia Nacional de REDD+, com o objetivo de incentivar sua implementação a nível nacional. As negociações progrediram após a COP-16, em 2010, em que foi solicitado aos países em desenvolvimento a criarem suas próprias estratégias de REDD+. A estratégia brasileira visa fornecer auxílio financeiro, técnico e tecnológico para o desenvolvimento de ações REDD+. Além disso, esta iniciativa também irá incorporar os 8 princípios levantados pela sociedade civil. O governo pretende chegar à COP-19, ao final de 2013, com esta Estratégia Nacional discutida e aprovada (BRASIL, 2013b).

No entanto, uma das principais ações governamentais neste sentido ocorreu durante as negociações na COP-13, quando o Brasil apresentou um fundo voluntário

82 para financiar o combate ao desmatamento no país. Deste modo, em agosto de 2008, por meio do Decreto 6.527, foi criado o Fundo Amazônia, o qual é gerido pelo BNDES10, que conta com doações para ajudar a monitorar e reduzir o desmatamento, principalmente no bioma Amazônia. Além disto, até 20% dos recursos do Fundo Amazônia podem ser utilizados em outros biomas brasileiros, bem como em outros países tropicais. A Noruega foi o primeiro país a aceitar a proposta e doou US$ 1 bilhão de dólares divididos em parcelas até 2015 (BRASIL, 2008b).

O Brasil só poderá usar estes recursos se mantiver o desmatamento abaixo da média ocorrida entre 1996 e 2005, que foi cerca de 19,6 mil km² por ano (MOUTINHO et al., 2011). De acordo com Brasil (2008b), o Fundo Amazônia foi desenhado para apoiar projetos na área ambiental, dentre eles, aqueles relacionados com REDD+.

Além do Fundo Amazônia, as duas principais políticas públicas destinadas ao tema das mudanças climáticas no Brasil são o Plano Nacional sobre Mudanças do Clima, lançado no final de 2008, e a Política Nacional sobre Mudança do Clima, lançada no final de 2009 (MAY, MILLIKAN e GEBARA, 2011).

• Plano Nacional sobre Mudança do Clima

Em dezembro de 2008, o governo brasileiro lançou o Plano Nacional sobre Mudanças do Clima (BRASIL, 2008a), o qual foi apresentado durante a COP-14. Este Plano define as ações e medidas que podem ser desempenhadas para mitigar as emissões nos setores que mais emitem GEE no Brasil, apresentando as oportunidades e estratégias para aproveitar o potencial de redução de emissões que cada setor pode proporcionar. Além disto, o Plano visa criar condições para a sociedade brasileira se adaptar aos impactos sociais e econômicos provenientes das mudanças climáticas.

Especificamente para o setor florestal, o Brasil assumiu pela primeira vez metas voluntárias de redução de desmatamento. O Plano prevê uma redução constante nas

10 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma empresa pública

federal, sendo um dos principais instrumentos de financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em diversos segmentos da economia, nas dimensões social, regional e ambiental. O BNDES considera a inovação, o desenvolvimento local e regional e o desenvolvimento socioambiental como os aspectos mais importantes do fomento econômico, priorizando investimentos nestes segmentos.

83 taxas de desflorestamento em todos os biomas brasileiros até alcançar o desmatamento ilegal zero, embora não tenha sido estabelecido um prazo final para cumprir tal objetivo (BRASIL, 2008a).

Especificamente para o bioma Amazônia, foi estabelecida uma meta de redução de 40% do desmatamento no período de 2006 a 2009, em relação a uma linha de base obtida do desmatamento anual no período de 1996 a 2005. Posteriormente, é proposta uma redução de 30% nas taxas de desflorestamento em cada um dos dois quadriênios seguintes, relativamente aos quadriênios anteriores, conforme ilustrado na Figura 14, que segue. O Plano também prevê a implementação de planos de ação semelhantes em outros biomas brasileiros, com melhorias nas capacidades de monitoramento do desmatamento e mudança no uso da terra (BRASIL, 2008a).

Figura 14. Metas para redução dos índices de desmatamento no bioma Amazônia em cada quadriênio até 2017

Fonte: Brasil (2008a)

Conforme apresentado anteriormente na Tabela 7, o Brasil vem cumprindo as metas estabelecidas pelo Plano para o bioma Amazônia. Houve a redução de 41% do desmatamento entre 2006 e 2009 comparando-se com a taxa média de desmatamento ocorrida entre 1996 e 2005. Além disso, provavelmente haverá uma redução superior a 30% do desmatamento entre 2010 e 2013 em relação ao quadriênio anterior.

84

No Plano, outra meta proposta para o setor florestal é de acabar com a perda líquida da área coberta por florestas no Brasil até 2015. Para tanto, além das metas propostas de redução constante das taxas de desmatamento nos biomas, é necessário dobrar a área de florestas plantadas até 2020, a fim de totalizar 11 milhões de hectares plantados. Outra condição é de que aproximadamente 18% deste reflorestamento seja com espécies nativas, dando prioridade para o reflorestamento em pastagens degradadas (BRASIL, 2008a).

• Política Nacional sobre Mudança do Clima

Durante a COP-15 no final de 2009, o Brasil apresentou uma meta voluntária de redução de emissão de GEE. Em 29 de dezembro de 2009, a Lei nº 12.187 instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), estabelecendo que o país adota, como compromisso nacional voluntário, a redução de entre 36,1% e 38,9% de suas emissões projetadas até 2020 (BRASIL, 2009b).

Para cumprir estas metas, em abril de 2010 o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima detalhou os planos setoriais de mitigação de emissão de GEE, assim como a redução de emissões a serem atingidas até 2020 por cada setor analisado (BRASIL, 2010b). Para isto, a PNMC incorporou praticamente tudo o que havia sido proposto no Plano Nacional sobre Mudança do Clima em 2008, bem como nas reuniões que antecederam a COP-15.

Dentre as ações de mitigação, as mais significantes são as de redução de 80% dos índices anuais de desmatamento na Amazônia Legal em relação à média verificada entre os anos de 1996 a 2005 (correspondente a 19,6 mil km²), e redução de 40% dos índices anuais de desmatamento no Bioma Cerrado em relação à média verificada entre os anos de 1999 a 2008 (correspondente a 15,7 mil km²) (BRASIL, 2010a). Especificamente para o bioma Amazônia, de acordo com o apresentado anteriormente na Tabela 7, até 2012, houve a redução de 69% do desmatamento em comparação à média ocorrida entre 1996 a 2005, ou seja, o Brasil já conseguiu cumprir 86% da meta estabelecida pela PNMC para o bioma.

De acordo com Brasil (2010b), somente o plano setorial voltado à mitigação das emissões de GEE provenientes do uso da terra irá responder por mais de 60% do

85 compromisso nacional voluntário instituído pela PNMC. Desta forma, mesmo com uma boa parcela da meta já atingida graças à redução do desmatamento na Amazônia, os mecanismos de REDD+ são um importante meio para ajudar no cumprimento das metas exigidas pela PNMC e otimizar os resultados alcançados. Segundo Souza (2013), é importante que exista uma ligação entre REDD+ e uma estratégia nacional para alcance das metas de redução do desmatamento estabelecidas na PNMC.

Em 09 de dezembro de 2010, a PNMC foi regulamentada pelo Decreto nº 7.390 (BRASIL, 2010a). Utilizando-se do Segundo Inventário Nacional (BRASIL, 2010c), foi calculada a projeção das emissões nacionais de GEE para o ano de 2020, estimada em 3.236 MtCO2e, divididos como apresentado na Tabela 11. Com isto, considera-se que em 2020 haverá um aumento de quase 48% nas emissões nacionais de GEE comparado com o ano de 2005 (exposto anteriormente na Tabela 1).

Tabela 11. Projeção das emissões nacionais de GEE para o ano de 2020

Setor MtCO2e Participação (%) Energia 868 26,8 Agropecuária 730 22,6 Mudanças do Uso da Terra e Florestas 1.404 43,4 Processos Industriais e Tratamento de Resíduos 234 7,2 Total 3.236 100

Fonte: Brasil (2010b)

Ainda de acordo com o Decreto nº 7.390/2010 (BRASIL, 2010a), para o Brasil alcançar o compromisso nacional voluntário de redução entre 36,1% e 38,9% de suas emissões projetadas até 2020, será necessário reduzir entre 1.168 MtCO2e e 1.259 MtCO2e do total das emissões estimadas em 2020.

A PNMC também estabeleceu que os planos de ação para prevenção e controle do desmatamento são instrumentos para se alcançar a redução do desmatamento e assim, cumprir com as metas propostas. Os biomas que possuem estes planos mais avançados são a Amazônia, Cerrado e Caatinga, respectivamente o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado) e o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Caatinga (PPCaatinga). Estes planos têm o objetivo de promover a redução dos índices

86 de desmatamento por meio de um conjunto de ações integradas de ordenamento territorial e fundiário, melhorias nas ações de fiscalização e controle ambiental, criação de áreas protegidas e fomento às atividades produtivas sustentáveis (BRASIL, 2012e, 2011a, 2011c).

Estes planos de ação para prevenção e controle do desmatamento nos biomas brasileiros também incentivam a criação de planos estaduais, que irão juntamente com os primeiros, fortalecer as ações para redução do desmatamento em cada bioma no qual está inserido. Alguns Estados já estruturaram e operam uma Política Estadual de Mudanças Climáticas, que além de estar em conformidade com a PNMC, também incorpora o REDD+ (MOUTINHO et al., 2011; BRASIL, 2013b).

De acordo com Moutinho et al. (2011), estas políticas públicas, somadas aos inúmeros projetos pilotos de REDD+ espalhados pelo Brasil, vêm dando indícios de que os mecanismos podem ser uma alternativa viável para a conservação da floresta e a valoração de seus múltiplos co-benefícios. Ainda segundo Moutinho et al. (2011), os mecanismos REDD+ no Brasil são importantes porque só a legislação e o controle podem ser insuficientes para combater o desmatamento e promover a preservação florestal. Isto é exemplificado pelo aumento do desmatamento na Amazônia em 2013, mesmo com a redução verificada entre 1996 a 2012 (MARTINS et al., 2013).

Embora os mecanismos REDD+ possam contribuir com a redução do desmatamento, ainda não há clareza em como estes projetos se encaixarão na PNMC. Por este motivo, o REDD+ jurisdicional e sistemas aninhados, detalhados a seguir, podem fazer com que projetos REDD+ locais sejam incluídos em um regime estadual ou nacional de redução de emissões, alinhados com as políticas e planos de ação estaduais, com os planos por biomas e com a PNMC (MOUTINHO et al., 2011).

87 5 O REDD+ E SEU DESENVOLVIMENTO NO BRASIL

5.1 Aplicação dos Mecanismos REDD+ no Brasil segundo o VCS

A partir dos requerimentos do VCS e das características brasileiras, foi possível selecionar o tipo de projeto dentro de cada mecanismo REDD+ que melhor se aplica aos biomas brasileiros. Desta maneira, nos tópicos que se seguem, são apresentados os cálculos de estimativa da área elegível em cada bioma para elaboração de projetos REDD+ no VCS. Vale ressaltar que os resultados desta análise são apenas estimativas baseadas nos dados apresentados anteriormente, sendo necessário um estudo aprofundado para se determinar a real área elegível por bioma para projetos REDD+.

Para as avaliações a seguir, o ano de 2010 foi considerado como a data de início dos projetos REDD+. Desta forma, conforme Verified Carbon Standard (2012b), locais onde houve desmatamento a partir do ano 2000 não são elegíveis para desenvolvimento de projetos florestais de créditos de carbono.

5.1.1 Reduced Emissions from Deforestation and Degradation (REDD)

Conforme abordado anteriormente, o Brasil é um dos países que mais perdeu cobertura florestal nos últimos 20 anos (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011). Decorrência principalmente da pressão socioeconômica, este desmatamento não obedeceu a um planejamento, com a presença de um efetivo comando e controle do Estado (MOUTINHO et al., 2011). Diante destas condições, o tipo de projeto REDD que melhor se aplica ao Brasil é aquele que reduz ou evita o desmatamento e/ou degradação não planejado ou ilegal.

Um dos métodos para se estimar a geração de créditos de carbono de tal projeto seria por meio da análise histórica do desmatamento, na qual é calculada a taxa anual de desmatamento da região em que o mesmo está localizado. Desta forma, é possível determinar a área que iria ser desmatada anualmente na ausência do projeto REDD, o que equivale à linha de base. A partir do estoque de carbono da floresta conservada, é possível estimar a quantidade de toneladas de CO2e (tCO2e) que deixa de ser emitida por ano para a atmosfera.

88

A área do bioma com potencial para desenvolvimento de projeto REDD

() foi estimada da seguinte forma:

(1)

Em que,

Área: área coberta por cada bioma, em km², conforme apresentado na Tabela 6;

Área desmatada: área desmatada de cada bioma até 2009, em km², conforme apresentado na Tabela 6;

Área em UCs: área de cada bioma constituída por UCs, em km², conforme apresentado na Tabela 8;

Ocorrência florestal no bioma: porcentagem da cobertura vegetal de cada bioma que apresente características florestais, em %, conforme apresentado na Tabela 3.

Conforme o método de monitoramento anual adotado pelo MMA (BRASIL, 2012f) e pelo MCTI (BRASIL, 2013a), cujos resultados estão expostos na Tabela 6, não foram delineadas as áreas que se encontram hoje cobertas por floresta secundária. Deste modo, na estimativa anterior, a exclusão das áreas dos biomas já desmatadas está em conformidade com as regras do Verified Carbon Standard (2012b). A multiplicação pelo percentual da cobertura vegetal do bioma que apresenta características florestais se faz necessária porque projetos REDD somente podem ser elaborados em áreas com fisionomia florestal (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b).

Embora elegíveis para desenvolvimento de projetos REDD, as UCs foram desconsideradas deste cálculo, por já terem a exigência de conservação por força de lei, independentemente dos créditos de carbono. Ou seja, em alguns casos pode ser difícil provar a adicionalidade destes projetos. Por isso, optou-se conservadoramente por excluir estas áreas das estimativas. No entanto, projetos REDD em UCs tendem a resultar em significativos benefícios socioambientais, pois trazem a melhoria na proteção destas áreas de importância biológica e cultural, que em alguns casos, sofrem com a falta de atuação do Estado (RICKETTS et al., 2010). Entretanto, cabe ressaltar

89 que foram incluídas neste cálculo as áreas indígenas e as florestas públicas ainda não destinadas.

5.1.2 Improved Forest Management (IFM)

De acordo com as regras do Verified Carbon Standard (2012b), no Brasil, a aplicação do mecanismo IFM restringe-se às áreas aprovadas para realizar o manejo florestal, as quais, mesmo após o corte, continuam se enquadrando na definição de floresta estabelecida pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (2004). Nas estimativas a seguir, a análise deste mecanismo limitou-se a PMFS localizados em florestas nativas. A partir disto, e também, conforme delimitado pelo Serviço Florestal Brasileiro (2011), somente os biomas Amazônia e Caatinga apresentam condições de realizarem este tipo de projeto, pois possuem uma estratégia de desenvolvimento voltada para o manejo florestal.

Conforme a definição utilizada pelo Brasil, até 90% da cobertura florestal de uma certa área pode ser removida antes de não poder mais se enquadrar como floresta, desde que ainda possua extensão mínima de 0,5 hectare, com árvores maiores que 5 m de altura. Desta forma, na Amazônia, onde o manejo florestal é realizado por corte seletivo, mesmo com a retirada de 4 a 6 árvores por hectare, a área ainda segue dentro da definição da Food and Agriculture Organization of the United Nations (2004).

Na Caatinga, mesmo geralmente explorada por meio de corte raso, a área de manejo em sua totalidade ainda continua se enquadrando na definição de floresta. Isto porque, normalmente, somente um talhão é explorado por ano, o que equivale a uma média de 7,5% do PMFS, considerando-se um ciclo de corte entre 12 e 15 anos. Desta forma, mesmo se as árvores demorarem 12 anos para atingirem 5 m de altura (o que não ocorre no bioma), a área ainda será categorizada como floresta (BRASIL, 2011c).

5.1.3 Afforestation, Reforestation and Revegetation (ARR)

De acordo com Verified Carbon Standard (2012b), para serem elegíveis, projetos ARR devem ser implantados em áreas não florestadas, desde que tenham sido florestas no passado, e terem sido desmatadas há mais de 10 anos antes do início do

90 plantio. Além disso, é dada preferência à implantação destes projetos em áreas que estejam em maior grau de degradação.

Por meio da taxa de crescimento das árvores utilizadas no projeto ARR, dependendo do bioma, classe de idade e altitude, é possível calcular o acréscimo nos estoques de carbono na área do projeto, e assim, estimar o sequestro de CO2 da atmosfera. Este valor é então comparado com o que aconteceria na ausência do projeto ARR, obtendo-se assim a redução de emissões geradas pelo plantio.

Para estimar a área elegível para ARR em cada bioma brasileiro (), foi calculado o percentual do desmatamento no bioma que ocorreu após 2000, a fim de excluir estas áreas das estimativas, conforme Verified Carbon Standard (2012b). Como os dados de desmatamento do MMA (BRASIL, 2012f) e do MCTI (BRASIL, 2013a) estão disponíveis somente a partir de 2002, foi realizada uma regra de três simples para estimar o percentual do bioma desmatado nos 10 anos anteriores a 2010.

A multiplicação pelo percentual da cobertura vegetal do bioma que apresenta características florestais se faz necessária porque projetos ARR não podem ser desenvolvidos em ecossistemas que não tenham sido florestais (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012b).

(2)

Em que,

Área desmatada do bioma até 2009: em km², conforme Tabela 6;

Área desmatada no bioma entre 2002 e 2009: em km², conforme Tabela 6;

: regra de três simples utilizada para converter para 10 anos, o desmatamento

ocorrido em 7 anos;

Ocorrência florestal no bioma: porcentagem da cobertura vegetal do bioma que apresente características florestais, em %, conforme apresentado na Tabela 3.

91 5.2 Análise da Aplicabilidade dos Mecanismos REDD+ nos Biomas Brasileiros segundo o VCS

A partir das principais características do Brasil para desenvolvimento de projetos REDD+, e também, baseado nos requerimentos gerais do VCS para tais projetos, foi possível analisar a aplicabilidade dos mecanismos REDD+ em cada bioma brasileiro. É importante ressaltar que cada bioma compreende diversos tipos de fisionomias florestais e características específicas, portanto, em nível de projeto, é necessária uma análise mais detalhada para estimar a sua real aplicabilidade.

Inicialmente, calculou-se a área elegível para a elaboração de projetos REDD e ARR em cada bioma brasileiro segundo o VCS, conforme apresentado anteriormente no tópico 5.1. Estas áreas foram então comparadas com as respectivas áreas totais dos biomas, para assim poder se dimensionar a aplicabilidade destes mecanismos. Em seguida, somente para efeito de comparação entre os biomas, foram avaliados os IMAs, as emissões de carbono por área desmatada e as taxas anuais de desmatamento, pois estes fatores têm uma relação direta com a quantidade de GEE que é emitida para a atmosfera 11 . Com todos estes valores, pôde-se analisar a aplicabilidade dos mecanismos REDD e ARR em cada bioma brasileiro, de acordo com o VCS. As Tabelas 12 e 13, que seguem, apresentam os resultados para os mecanismos REDD e ARR, respectivamente.

Tabela 12. Aplicabilidade do mecanismo REDD nos biomas brasileiros

11 Especificamente para o bioma Mata Atlântica, o IMA foi obtido por meio da média entre os

valores das florestas ombrófila e estacional, expostos anteriormente.

Bioma Área (km²)Desmata-mento até 2009 (km²)

Área em UCs (km²)

Ocorrência Florestal no bioma

(%)

Área elegível para REDD (km²)

Área florestada remanescente fora

de UCs

% em relação à área do bioma

Emissão de carbono por

área desmatada (tC/ha)

Taxa de desmata-

mento anual entre 2002 e 2009 (%/ano)

Amazônia 4.196.943 745.805 1.110.051 95,03% 2.224.735 53% 135,1 0,40%

Cerrado 2.039.386 983.392 166.228 60,80% 540.978 27% 74,0 0,65%

Mata Atlântica 1.103.961 837.906 108.291 80,84% 127.536 12% 97,1 0,04%

Caatinga 826.411 377.009 63.579 38,86% 149.931 18% 20,1 0,28%

Pampa 177.767 96.208 5.856 13,02% 9.857 6% 83,7 0,20%

Pantanal 151.313 23.151 6.601 5,84% 7.099 5% 54,3 0,42%

92

Os dados apresentados na Tabela 12 exibem a área elegível nos biomas brasileiros com potencial para projetos REDD. Conforme descrito anteriormente, são consideradas apenas as áreas em cada bioma que possuem cobertura vegetal por florestas nativas, desde que estejam fora de UCs.

A partir desta análise, o bioma Amazônia apresenta um grande potencial para desenvolvimento de projetos REDD, pois dentre todos, é o que dispõe da maior quantidade de áreas florestadas nativas que não estejam dentro de UCs, sob uma taxa de desmatamento considerável. Aproximadamente 53% do bioma oferece condições para elaboração de tais projetos, o que corresponde a mais de 2 milhões de km². Além disso, a conservação de suas florestas tende a evitar uma elevada emissão de carbono para a atmosfera, fazendo com que a implantação deste mecanismo no bioma possivelmente gere uma alta quantidade de créditos de carbono.

O bioma Cerrado possui extensas áreas com elegibilidade para projetos REDD, ao redor de 540 mil km². Entretanto, isto representa apenas 27% do bioma, pois quase metade de seus domínios já foi desmatada. Por sofrer pressão da maior taxa de desmatamento do Brasil, um projeto de REDD no Cerrado tende a gerar uma significativa quantidade de redução de emissões, já que suas fisionomias florestais emitem valores representativos de carbono quando desmatadas.

Apesar de somente 12% (equivalente a 127,5 mil km²) da Mata Atlântica possuir elegibilidade para desenvolvimento de projetos REDD, principalmente pelo fato de mais de ¾ de seu território já ter sido desmatada, a alta emissão de carbono decorrente do desmatamento de suas florestas proporciona a este bioma um significativo potencial para este mecanismo. No entanto, devido ao pouco remanescente de áreas florestais e a baixa taxa de desmatamento que estão submetidos, a elaboração de projetos REDD na Mata Atlântica pode ser comprometida por não gerar uma quantidade de créditos de carbono que a viabilize.

Embora a Caatinga possua um baixo percentual de vegetação enquadrada como floresta, este bioma apresenta uma considerável área para desenvolvimento de projetos REDD. Aproximadamente 150 mil km² são elegíveis, o que equivale a 18% do bioma. Contudo, a quantidade de redução de emissões geradas por este mecanismo pode ser

93 afetada pelo fato que pouco carbono tende a ser liberado quando as florestas do bioma são desmatadas.

No entanto, os biomas Pampa e Pantanal são aqueles que apresentam menor disposição para elaboração de projetos REDD no Brasil. Pelo fato de existirem poucas áreas florestadas remanescentes fora de UCs, projetos REDD nestes biomas podem não ser factíveis de aplicação.

A Tabela 13, que segue, expõe dados sobre a aplicabilidade do mecanismo ARR nos distintos biomas brasileiros. É importante ressaltar que nesta análise inicial, foram simplesmente calculadas as áreas elegíveis por bioma, independente de seu atual uso e ocupação. Assim, para cada bioma, excluiu-se das áreas desmatadas até 2009, aquelas que ocorreram há menos de 10 anos, e multiplicou-se pela ocorrência florestal no bioma para selecionar apenas aquelas em ecossistemas florestais. Nesta análise, o IMA considera o incremento da biomassa florestal acima e abaixo do solo. Além disso, optou-se por considerar o IMA somente para altitudes abaixo de 1.000 metros, pois de acordo com Schneeberger e Farago (2003), apenas 7% do território brasileiro apresenta altitudes superiores a 900 metros.

Tabela 13. Aplicabilidade do mecanismo ARR nos biomas brasileiros

De acordo com a Tabela 13, o bioma Mata Atlântica é aquele que apresenta as melhores condições para desenvolvimento de projetos ARR no Brasil. Devido à grande proporção deste bioma que foi desmatada há mais de 10 anos (considerando-se projetos com data de início em 2010), juntamente com o alto IMA de suas florestas, a

20 anos > 20 anosAmazônia 4.196.943 745.805 169.277 95,03% 547.874 13% 11,40 2,17

Cerrado 2.039.386 983.392 132.406 60,80% 517.400 25% 7,24 1,81

Mata Atlântica 1.103.961 837.906 4.271 80,84% 673.911 61% 10,03 2,30

Caatinga 826.411 377.009 22.907 38,86% 137.604 17% 5,08 1,27

Pampa 177.767 96.208 3.591 13,02% 12.059 7% N.D. N.D.

Pantanal 151.313 23.151 6.381 5,84% 979 1% 9,56 2,39

Estimativa desmata-

mento entre 2000 - 2009

(km²)

Ocorrência Florestal no bioma

(%)

Área elegível para ARR (km²)

Área desmatada antes de 2000, que

era floresta

% em relação à área do bioma

IMA (ts/ha.ano) Biomassa acima e

abaixo do soloAltitudes < 1.000 m

Bioma Área (km²)Desmata-mento até 2009 (km²)

94 Mata Atlântica oferece o melhor cenário para projetos ARR no país, com aproximadamente 61% do bioma elegível.

Do total desmatado no bioma Amazônia até 2009, uma significativa parte ocorreu após 2000, desta forma não podendo ser considerado para ARR. Assim, apenas 13% do bioma, o que equivale a quase 550 mil km², encontra-se disponível para desenvolvimento deste tipo de projeto. No entanto, seu alto IMA favorece o sequestro de carbono florestal e consequentemente, a geração de créditos de carbono.

Apesar de o Cerrado possuir a maior quantidade de áreas desmatadas dentre os demais biomas, boa parte deste desmatamento aconteceu há menos de 10 anos. Ainda assim, considerando-se apenas a porção que era definida como floresta, 25% do bioma apresenta elegibilidade para ARR. Apesar do baixo IMA da vegetação no Cerrado, principalmente devido a sua larga estação de seca, há uma alta proporção desta biomassa que se encontra abaixo do solo, desta forma, favorecendo projetos ARR.

O bioma Caatinga requer maior atenção para que projetos ARR sejam viáveis de aplicação. Em comparação com os demais biomas, pouca área é elegível para este tipo de projeto, mesmo com o pouco desmatamento ocorrido após 2000. Este fato, apoiado pela baixa porcentagem de vegetação classificada como floresta, que por sua vez, apresenta um baixo IMA, pode levar ao comprometimento da aplicação de projetos ARR na Caatinga.

Contudo, os biomas Pampa e Pantanal novamente são aqueles que apresentam menor disposição para elaboração de projetos ARR no Brasil. Apesar de uma considerável porção destes biomas ter sido desmatada antes de 2000, pouca área se enquadrava como floresta, o que pode tornar, na maioria das vezes, projetos deste tipo não viáveis de aplicação.

Em relação ao mecanismo IFM, como descrito no tópico 5.1, sua aplicação foi analisada somente em florestas nativas manejadas com PMFS. Assim, este tipo de projeto restringe-se aos biomas Amazônia e Caatinga, pois conforme o Serviço Florestal Brasileiro (2011), estes biomas possuem uma estratégia de desenvolvimento voltada para o manejo florestal.

95

Desta forma, segundo International Tropical Timber Organization (2011), apenas 0,7% da Amazônia e 0,36% da Caatinga possuem PMFS, sendo assim elegíveis para projetos IFM. Pelas maiores dimensões da área com manejo florestal, o bioma Amazônia apresenta o maior potencial para desenvolvimento de projetos IFM no Brasil.

Por meio desta comparação, é possível estimar a proporção de cada bioma brasileiro elegível para a aplicação de cada mecanismo REDD+ no VCS, conforme a Tabela 14 a seguir.

Tabela 14. Estimativa da proporção de cada bioma brasileiro elegível para os mecanismos REDD+ no VCS

Com os resultados expostos na Tabela 14, e comparando-se com a área total do país, aproximadamente 58% do território brasileiro apresenta elegibilidade para algum mecanismo REDD+. O bioma Mata Atlântica é aquele que apresenta a maior proporção de seus domínios elegível para algum dos projetos REDD+, com cerca de 73%, graças ao elevado potencial para o mecanismo ARR. Quase metade do bioma Cerrado e 1/3 da Caatinga são elegíveis para a implantação de um dos mecanismos analisados, enquanto os biomas Pampa e Pantanal possuem menos que 15% de seus territórios adequados para projetos REDD+.

Porém, por meio desta comparação, é possível determinar que o bioma Amazônia é aquele que exibe a maior capacidade para aplicação dos mecanismos REDD+ no Brasil segundo as condições do VCS. Além de permitir a aplicação dos três mecanismos analisados, há um excelente potencial para implantá-los devido à grande quantidade de áreas elegíveis, fazendo com que o bioma Amazônia seja também aquele que pode gerar uma das maiores quantidades de redução de emissões por projetos REDD+ no Brasil.

Bioma REDD ARR IFMAmazônia 53% 13% 0,70%Cerrado 27% 25% -Mata Atlântica 12% 61% -Caatinga 18% 17% 0,36%Pampa 6% 7% -Pantanal 5% 1% -

96 5.3 Benefícios da Aplicação dos Mecanismos REDD+ no Brasil

Os mecanismos REDD+ são modelos capazes de assegurar o equilíbrio entre a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico, com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das comunidades envolvidas nos projetos, bem como da sociedade em geral. Diante disto, os benefícios provindos dos mecanismos REDD+ podem ser divididos em ambientais, econômicos e sociais, que formam juntos, as três dimensões da sustentabilidade.

Ao constituirem melhorias nestas três divisões, espera-se que os projetos proporcionem a sustentabilidade não apenas durante o seu tempo de vida, mas por um longo prazo. A tendência é que a maioria dos benefícios e melhorias gerados se mantenham ativos, mesmo após o término do período de obtenção de créditos de carbono pelas atividades REDD+.

Muitos dos benefícios trazidos pelos projetos REDD+ ocorrerão possivelmente nas suas zonas de gestão de vazamentos, as quais têm o propósito de minimizar o deslocamento dos agentes de desmatamento para outros locais. Estas zonas irão concentrar atividades sócio-econômicas que promovam benefícios ambientais, sendo principalmente voltadas às comunidades afetadas pelos projetos.

• Benefícios Ambientais O desenvolvimento de projetos REDD+ está relacionado com a preservação dos

processos ecológicos essenciais à sociedade humana, ao mesmo tempo em que se preserva a biodiversidade e utiliza-se sustentavelmente dos recursos naturais.

O primeiro passo para elaboração de um projeto REDD+ é a adequação à legislação ambiental pertinente. Desta forma, garante-se que todos os projetos estejam em conformidade com as leis ambientais vigentes, sendo elas da esfera federal, estadual ou municipal.

Além disso, os projetos REDD+, principalmente quando reunidos em sistemas aninhados dentro de um nível jurisdicional, possuem um alto potencial de colaborar para o alcance das metas estabelecidas pela PNMC. Assim, é possível que os mecanismos REDD+ auxiliem a reduzir a elevada participação do setor de mudança e

97 uso da terra e florestas no total de emissões brasileiras. Além disso, estes projetos poderão ajudar o Brasil a sair do grupo de países com os maiores índices de desmatamento do mundo, conservando assim, suas diversas fitofisionomias florestais.

A conservação florestal ocasionada pelo desenvolvimento de projetos REDD produz importantes benefícios ambientais além da mitigação das mudanças climáticas e preservação dos estoques de carbono. A manutenção da biodiversidade brasileira, a qual é uma das maiores do mundo, assim como dos serviços ambientais, dentre eles, a qualidade do solo, do ar e do ciclo hidrológico, são algumas das melhorias que este tipo de projeto pode proporcionar. Ao mesmo tempo, as ações de proteção e monitoramento exigidas pelo mecanismo REDD são uma forma de criar áreas preservadas e diminuir a taxa de desmatamento regional, contribuindo com os planos de ação para prevenção e controle do desmatamento nos biomas.

Projetos IFM normalmente propiciam um menor impacto na exploração, juntamente com o aumento da produtividade em PMFS. Estas práticas resultam na melhor regeneração florestal após a exploração, melhoria da qualidade da floresta remanescente e proteção do solo. Com isto, é esperado que ocorra um baixo impacto na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta, evitando o esgotamento dos recursos naturais do PMFS. Além disso, o mecanismo IFM pode ser um importante meio para incentivar tanto a expansão de PMFS no Brasil, como a adoção de práticas sustentáveis em outras operações de manejo florestal.

A recuperação de áreas por meio de projetos ARR proporciona, além do sequestro de CO2 da atmosfera, o restabelecimento do ecossistema florestal. Com isto, contribui-se diretamente para a diminuição da erosão e suas consequências, tais como o assoreamento de rios e a eventual contaminação de lençóis freáticos. Como resultado, ocorre a menor perda de terras aráveis, beneficiando igualmente a agricultura. Além disso, outros benefícios são a preservação dos recursos hídricos e do solo, possibilitando aos poucos, o restabelecimento da biodiversidade no local em recuperação. Lembrando que no VCS, é necessário que o mecanismo ARR seja desenvolvido em locais que tenham sido florestas no passado, pois com isto, evita-se que haja a transformação de ecossistemas.

98

Todavia, em alguns casos, projetos IFM e ARR podem envolver o plantio de espécies exóticas com interesse comercial. Nesta situação, é preciso haver um devido controle quanto a propagação destas espécies para outras áreas, pois esta é uma das principais causas da perda global de biodiversidade.

• Benefícios Econômicos

Os mecanismos REDD+ podem trazer receitas importantes para o Brasil. O país se encontra numa posição privilegiada e está desenvolvendo importantes iniciativas, de modo a aproveitar todo o potencial que esta nova oportunidade econômica pode oferecer.

Considerando-se a evolução do preço médio do crédito de carbono florestal, o qual em 2011 estava em torno de US$ 9.20 (PETERS-STANLEY; HAMILTON; YIN, 2012), o desenvolvimento de projetos REDD+ poderia proporcionar consideráveis fontes de renda, além de elevar a participação do setor florestal brasileiro na economia do país. Com isto, em muitos casos, pode ser compensatória financeiramente a elaboração de projetos REDD+ em áreas elegíveis, que outrora seriam destinadas para fins agropecuários.

Outra importante atividade que pode ser explorada em projetos REDD+ é o ecoturismo, atividade turística baseada na relação sustentável com a natureza, por meio de práticas de conservação e educação ambiental. No Brasil, este segmento do turismo, normalmente associado às comunidades locais, possui uma significativa e crescente participação no total da demanda turística no país (BRASIL, 2011d). Além disso, os projetos REDD+ tendem a incentivar a exploração de PFNM e podem induzir sua inserção em novos mercados, criando desta forma, mais uma alternativa para a criação de empregos e diversificação da renda das comunidades no entorno. Com isto, também são geradas condições para melhora no acesso a serviços locais, como água potável e energia.

Especificamente para o mecanismo IFM, os créditos de carbono provindos destas atividades irão completar a renda de uma área que terá menor exploração por no mínimo 30 anos. De certa forma, isto garante a conservação da área, principalmente num cenário em que, comumente após o término da exploração do primeiro ciclo de

99 corte, ocorre o abandono da área por ter se exaurido seu potencial comercial. Embora o principal lucro em um PMFS seja proveniente da comercialização de madeira, quanto menor o volume explorado, maior será a quantidade de créditos de carbono gerados. Além disso, o desenvolvimento destes projetos resulta num tipo de certificação ambiental quanto à origem da madeira, aumentando a competitividade em mercados que exigem produtos ambientalmente responsáveis.

• Benefícios Sociais

A contribuição para a melhoria da qualidade de vida das comunidades e da sociedade como um todo, bem como a possibilidade de aumento de renda, juntamente com a manutenção das tradições culturais, fazem os mecanismos REDD+ resultar em estratégias sociais com benefícios de longo prazo. Por isso, é importante que todos os stakeholders (governo, entidades, comunidades, empresas, organizações não governamentais e indivíduos) estejam alinhados com os objetivos de longo termo dos projetos.

Como resultado de projetos REDD+, a conservação das florestas promove a manutenção da produção de bens e serviços para comunidades e povos indígenas, os quais dependem fortemente destes recursos para subsistência e geração de renda. A implantação destes projetos também é uma forma de minimizar os impactos das mudanças climáticas nas comunidades, e sobretudo, nos povos indígenas, pois são mais vulneráveis devido a sua estreita relação com os recursos naturais.

Contudo, em muitos casos, os territórios indígenas têm um histórico de baixo desmatamento, fazendo com que a linha de base já seja a conservação florestal. Deste modo, além de possivelmente gerar uma menor quantidade de créditos de carbono, os projetos REDD+ previstos nestes locais poderão ser considerados não elegíveis se requisitos de adicionalidade rigorosos forem exigidos.

Estas condicionantes em relação aos projetos de REDD+ fizeram com que os povos indígenas reunidos durante a Rio+20, em junho de 2012, declarassem: “Repudiamos os contratos de REDD e créditos de carbono, falsas soluções que não resolvem os problemas ambientais e procuram mercantilizar a natureza e ignoram os

100 conhecimentos tradicionais e a sabedoria milenar de nossos povos” (ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL et al., 2012).

Para que esta consideração sobre projetos florestais seja reavaliada, segundo The Economics of Ecosystems and Biodiversity (2010), alguns pontos devem ser discutidos antes que os mecanismos REDD+ se tornem relevantes nas decisões florestais. Tais questões seriam sobre: a distribuição das receitas advindas dos créditos entre os proprietários de terra e o governo; reconhecimento dos direitos das comunidades locais e povos indígenas; e se investidores e/ou governos poderão utilizar os créditos de carbono gerados para cumprir as metas de redução de emissão estabelecidas. Devido a estes motivos, seria necessária uma capacitação adicional em países em desenvolvimento, a fim de tornar os mecanismos REDD+ mais credíveis.

No entanto, a primeira ação de REDD+ dentro de uma terra indígena no Brasil foi o Projeto de Carbono Florestal Suruí, validado em 2012. Desenvolvido pelo próprio povo indígena Paiter Suruí com o apoio de diversas parcerias, prevê a preservação de floresta amazônica na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia. Este território indígena sofre constante ameaça por invasões, extração ilegal de madeira e desmatamento para a agricultura. A área do projeto REDD+ corresponde a 32.000 ha (13% da terra indígena), e as atividades de monitoramento e conservação são executadas pelo próprio povo indígena, formado por cerca de 1.300 pessoas. Utilizando os Standards VCS e CCB, o projeto estima evitar o desmatamento de ao redor de 12.000 ha em 30 anos (2009 - 2038), o que irá reduzir a emissão de quase 7 MtCO2e neste período. Com este projeto, espera-se que haja um fortalecimento da cultura indígena, para assim tornar possível a replicação em outras áreas similares.

Apesar disso, em nível global, muitos povos indígenas e comunidades carentes ainda não recebem as devidas informações sobre o REDD+ e possuem uma influência limitada e indireta sobre a concepção de um projeto de carbono florestal. Por esta e outras razões já descritas, a incorporação de Standards adicionais ajuda a assegurar que ocorra uma adequada consulta e participação das comunidades, além de propiciar uma distribuição apropriada dos benefícios advindos do projeto.

101

Estes Standards irão incentivar o desenvolvedor do projeto a criar alternativas de produção e renda para as comunidades locais, para que estas possam produzir e garantir seu sustento sem desmatamento, por meio da exploração de PFNM e uso sustentável dos recursos naturais. Ao mesmo tempo, atividades de capacitação e educação podem promover a conscientização ambiental daqueles mais dependentes dos recursos naturais da região. Assim, a comunidade local não precisará invadir a área do projeto para geração de renda, atuando desta forma como mais um agente fiscalizador para manutenção da floresta em pé. Desta forma, o projeto terá um menor grau de risco, ou seja, uma menor porcentagem dos créditos será retida na conta do buffer, resultando em uma maior quantidade de créditos de carbono disponíveis para comercialização, com um preço mais elevado.

102 6 ESTUDO DE CASO

A partir da comparação realizada anteriormente (seção 5.2), foi possível identificar que, dentre todos os biomas, aquele que exibe o maior potencial para aplicação dos mecanismos REDD+ no Brasil é a Amazônia. Com isto, apresenta-se um estudo de caso em uma propriedade particular localizada neste bioma, com o objetivo de analisar a aplicação dos mecanismos REDD+ segundo os requerimentos do VCS. Além disso, são relacionados os principais benefícios resultantes destes projetos.

A área de estudo está localizada na região sudoeste da Ilha do Marajó, Estado do Pará, distribuída pelos municípios de Breves, Curralinho e São Sebastião da Boa Vista. São cinco propriedades da empresa Ecomapuá Conservação Ltda., que somam em conjunto, 98.421,5 hectares, conforme apresentado na Figura 15. As áreas estão contidas no sistema geodésico regional WGS 84, UTM Fuso 22 Sul, situadas entre as coordenadas X: 552.379m, Y: 9.838.465m; e X: 632.642m, Y: 9.886.481m.

Figura 15. Localização da área de estudo na Ilha do Marajó

Fonte: Ecomapuá Conservação Ltda. (2013)

103

A empresa adquiriu estas áreas em 2001, e a partir de setembro de 2002, iniciou as atividades visando a sua conservação. Em 2012, o viveiro existente em uma das fazendas foi reativado com o objetivo de produzir mudas para a restauração florestal das áreas desmatadas. Além disso, com o retorno financeiro dos créditos de carbono proveniente das outras atividades implantadas, a empresa pretende realizar o manejo florestal sustentável com exploração de impacto reduzido, planejado para 2017.

Estas datas determinam o início das atividades de REDD, ARR e IFM respectivamente, sendo assim consideradas como a data de início de cada mecanismo REDD+. Estabeleceu-se que a duração de cada projeto seria de 30 anos, inclusive para o mecanismo IFM, pois englobará um ciclo de corte completo.

A fisionomia florestal dominante na região do projeto é composta por Floresta Ombrófila Densa Aluvial (BARROS JÚNIOR, 2001). Os reservatórios de carbono considerados para este estudo de caso são a biomassa viva acima do solo e a biomassa viva abaixo do solo12. Considerando-se ambos os reservatórios de carbono, as características da fisionomia florestal presente na região foram levantadas. De acordo com Nogueira (2008), a estimativa média de estoque de biomassa seca equivale a 360,8 ts/ha. Além disso, segundo o IPCC (2003) e o Serviço Florestal Brasileiro (2012), o IMA da biomassa florestal desta região é estimado em 11,4 ts/ha/ano nos primeiros 20 anos, e em 2,17 para os demais anos.

A área de referência, mostrada na Figura 15, possui ao redor de 10 vezes o tamanho da área do projeto. Nesta escala mais ampla, é possível analisar o desmatamento histórico na região, bem como identificar os principais agentes responsáveis por este desmatamento.

Por meio de uma análise de imagens de satélites do período entre 1993 a 2001, verificou-se que a área de referência perdeu 160.635 hectares de floresta, com a taxa de desmatamento ao redor de 2,36% ao ano. Considerando-se somente a área do projeto, 7.700 hectares foram desmatados a uma média de 1,24% ao ano. No entanto, o desmatamento neste período apresentou uma tendência decrescente. As Figuras 16

12 Como nenhum produto de madeira foi produzido antes do projeto de melhoria no manejo

florestal, o reservatório de carbono de madeira de longa duração não precisa ser considerado.

104 e 17, que seguem, comparam a situação da cobertura florestal na área de referência nos anos 1993 e 2001, respectivamente.

Figura 16. Cobertura florestal na área de referência em 1993

Fonte: Ecomapuá Conservação Ltda. (2013)

Figura 17. Cobertura florestal na área de referência em 2001

Fonte: Ecomapuá Conservação Ltda. (2013)

105

O desmatamento na região é caracterizado como não planejado e envolve principalmente três atividades espacialmente sobrepostas que compõem juntas um ciclo. Primeiramente, ocorre a extração de espécies de árvores de valor comercial por comunidades ribeirinhas para venda às empresas madeireiras da região. Isto é acompanhado pela extração de palmito, utilizado tanto para fins comerciais como para consumo próprio. A etapa final deste ciclo é o desmatamento baseado na derrubada e queimada desta área para agricultura de subsistência (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, 2002a, 2002b).

As comunidades ribeirinhas na área de referência são compostas por famílias praticantes de agricultura de subsistência, cuja principal fonte de renda é o extrativismo vegetal. De acordo com um levantamento feito na área do projeto, todas as 99 famílias distribuídas pelas cinco propriedades vivem nestas condições (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, 2002b). Cada família necessita de cerca de 4 hectares de terra para o cultivo de subsistência. Esta área é utilizada por aproximadamente dois anos e meio e depois abandonada para um pousio de 10 anos (CASARIM et al., 2010).

O contexto socioeconômico da região é retratado por baixos indicadores. Ao redor de 80% destas famílias situam-se abaixo da linha de pobreza. Apenas 21% completou o ensino fundamental, e existe alto nível de analfabetismo. Além disso, muitos residentes não possuem acesso a serviços básicos, tais como saúde, educação, eletricidade e saneamento básico. Em 2010, embora decrescente, a taxa de crescimento populacional permaneceu elevada, ao redor de 2,19% ao ano. No entanto, verifica-se uma melhoria destas condições, pois entre 1991 e 2010, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios que abrangem as áreas do projeto aumentou em mais de 40% (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, 2002b; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013).

O MMA classificou a Ilha do Marajó como uma área prioritária para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, qualificando-a na categoria máxima. Isto se deve principalmente pela extremamente alta importância biológica proporcionada pela combinação de campos naturais e formações florestais sob influência fluviomarinha (BRASIL, 2007a). Além disso, um inventário florestal amostral

106 por conglomerados realizado nas áreas da empresa Ecomapuá Conservação Ltda. identificou 72 espécies de árvores em uma área de apenas 13 ha, com presença significante de espécies comerciais (BARROS JÚNIOR, 2001).

Estas informações levantadas para caracterizar a área de estudo demonstram que os projetos REDD+ aqui propostos podem ser importantes soluções para se lograr a conservação ambiental, ao mesmo tempo em que trazem melhorias socioeconômicas para as comunidades ribeirinhas por meio do manejo e restauração florestal. Desta forma, nos tópicos que seguem são estudadas as condições de aplicabilidade de tais mecanismos no VCS.

6.1 Aplicabilidade dos Mecanismos REDD+ na Área de Estudo conforme os requisitos do VCS

6.1.1 Elegibilidade

A primeira etapa para a elaboração de cada projeto REDD+ na área de estudo é verificar se os mesmos são elegíveis no VCS. Conforme descrito anteriormente, a duração de cada projeto foi estabelecida como 30 anos, pois embora este seja o período mínimo estipulado pelo VCS, fornece condições de renovação futura. As cinco propriedades são de total controle da empresa Ecomapuá Conservação Ltda., e as atividades de projeto REDD, IFM e ARR não conduzem à violação de nenhuma legislação aplicável.

A data de início das atividades de conservação e redução do desmatamento e degradação nas propriedades da empresa foi ao final de 2002. Desta forma, as áreas elegíveis para REDD são aquelas que apresentavam exclusivamente cobertura florestal que não tenha sido desmatada nos 10 anos anteriores a esta data. Com isto, quase 88% da área total, ou aproximadamente 86.270 ha de floresta, se enquadram nos quesitos de elegibilidade para projetos REDD no VCS. Além disso, de acordo com o VCS, o projeto REDD na área de estudo teria que ser validado até 08 de março de 2013.

O manejo florestal com impacto reduzido na área do projeto está previsto para começar a partir de 2017. A introdução voluntária destas melhores práticas no PMFS se

107 enquadra como projeto IFM, pois o objetivo principal não é o de proporcionar a conservação florestal (já feito por REDD), e sim a exploração florestal sustentável. Assim, as atividades que compõem o projeto IFM devem ser validadas dentro de 5 anos após serem implantadas. Do mesmo modo como para REDD, as áreas elegíveis para projetos IFM são aquelas que apresentavam exclusivamente cobertura florestal que não tenha sido desmatada desde 2007. Além disso, é necessário que mesmo após a exploração do PMFS, a área ainda seja classificada como floresta. Com isto, ao redor de 3.100 ha se enquadram nestas condições.

As áreas disponíveis para restauração florestal são limitadas àquelas abandonadas pela população local após o cultivo de subsistência. De acordo com um diagnóstico realizado em 2002 pela Universidade Federal do Pará (2002b), mais de 93% das famílias viviam há mais de 10 anos nas áreas da empresa. Desta forma, como este é um período maior que o de pousio da agricultura, pode-se assumir que a maioria das áreas desmatadas para este fim ocorreu há mais de 10 anos antes de 2002. Além disso, como o viveiro foi implantado em 2012, e nenhuma outra família se deslocou para a área do projeto após a aquisição das terras pela empresa, garante-se que o projeto ARR seria realizado somente em áreas que foram desmatadas antes de 2002, satisfazendo a condição de elegibilidade do VCS.

Considerando que a educação à comunidade faça diminuir a necessidade de abertura de ¾ das áreas anteriormente necessárias pelas famílias para a agricultura, cerca de 1.760 ha estariam disponíveis para elaboração de projetos ARR. Para isto, é necessário que este projeto seja validado até 2017 segundo as regras do VCS.

Desta forma, os três mecanismos REDD+ apresentaram-se elegíveis para a área de estudo conforme requerimentos do VCS, sendo aplicáveis em um total de 91.130 ha, ou quase 93% da área pertencente à Ecomapuá Conservação Ltda. Com cada projeto tendo duração de 30 anos, o período de obtenção de créditos começa em 2003 com o projeto REDD, e se estende até ao final do projeto IFM em 2046, totalizando 44 anos.

Finalmente, para completar a análise de elegibilidade, é necessário verificar as condições de linha de base e adicionalidade de cada mecanismo REDD+, as quais serão descritas na sequência.

108 6.1.2 Linha de Base

De acordo com a análise do histórico do desmatamento na região, é possível estabelecer a linha de base dos mecanismos REDD+ na área de estudo. Esta suposição é comparada com o cenário do projeto, para assim quantificar a redução de emissões geradas por cada atividade.

Na ausência de um projeto REDD, a linha de base mais provável é a continuidade das atividades que ocasionam o desmatamento não planejado pelas famílias residentes na área do projeto. Embora a taxa de desmatamento esteja em um ritmo decrescente, o elevado crescimento populacional verificado nas comunidades torna-se um agravante. A projeção futura do desmatamento para o período 2003-2032, calculada com base no histórico da região e corrigida em função do decorrer do tempo, estimou uma taxa de desmatamento média de 0,17% ao ano na área do projeto. Assim, na ausência do projeto REDD, seriam provavelmente desmatados ao redor de 4.250 ha em 30 anos, ou 5% da área inicial em 2003.

O cenário de projeto REDD é representado pela redução do desmatamento em consequência dos benefícios socioeconômicos às famílias e aos avanços no monitoramento da área, possibilitados pelas receitas provindas dos créditos de carbono. Ainda assim, é esperado que uma parcela dos agentes de desmatamento continue exercendo as mesmas atividades da linha de base, principalmente por ainda não terem recebido os benefícios advindos do projeto proposto. Com base na proporção de famílias favorecidas ao longo do tempo de vida do projeto, estimou-se que o desmatamento neste cenário seria equivalente a 18% do que ocorreria na linha de base.

A Figura 18, que segue, exibe a comparação entre os dois cenários analisados, apresentando a conservação do estoque de carbono e a consequente redução de emissão proporcionada pelo mecanismo REDD na área de estudo. Pode-se comparar o cenário de linha de base, o qual é influenciado pela projeção do desmatamento, com o cenário de projeto, resultando assim na conservação de aproximadamente 630.000 tC em 30 anos.

109

Figura 18. Redução de emissão de GEE gerada por REDD na área de estudo

Fonte: Elaboração própria a partir de Ecomapuá Conservação Ltda. (2013)

Para um projeto IFM, pelo fato de não existirem PMFS na região, a linha de base torna-se aquela estabelecida pela legislação específica sobre o manejo florestal no bioma Amazônia, de acordo com Brasil (2009a). O cenário de projeto IFM considera melhores práticas no PMFS, as quais aumentam e conservam o estoque de carbono na floresta manejada. Isto ocorrerá pela adoção de um manejo de impacto reduzido com menor dano à floresta, juntamente com uma exploração menor do que estipula a legislação, em torno de 18 m³/ha (60% da original). A comunidade local será diretamente envolvida e capacitada para exercer a exploração florestal. Estima-se que as práticas adotadas na área de estudo em decorrência do projeto IFM resultem na redução de 50% da perda de estoque florestal comparada com aquela praticada na linha de base (INSTITUTO FLORESTAL TROPICAL, 2013). Além disso, para ambos os cenários, foi considerado que a produtividade anual da floresta seja de 0,86 m³/ha/ano.

A partir das premissas apresentadas, é estimado que o projeto IFM resulte na conservação de cerca de 30 m³/ha/ano, que leva a uma redução de 63% da perda de carbono florestal que ocorreria nas condições de linha de base em 30 anos. Isto resulta na conservação de quase 40.000 tC em todo o período, conforme a Figura 19, a seguir. Assim, ao final de 30 anos, o projeto IFM ocasiona uma perda de apenas 4% do

110 estoque de carbono inicial presente no PMFS, em comparação a 11% na linha de base, principalmente por causar um dano menor durante a exploração florestal.

Com uma área total de 3.100 ha e ciclo de corte de 30 anos, a área a ser explorada no PMFS a cada ano corresponde a cerca de 100 ha. Embora pequena, a exploração de tal área é uma oportunidade interessante, que possibilita incorporar o manejo florestal no conjunto de práticas adotadas para a região do projeto. No entanto, para que esta produção apresente boa perspectiva de rentabilidade, é necessário que o PMFS seja implantado e a exploração feita com custos baixos. Isto poderá ser conseguido com a capacitação da comunidade e a utilização intensiva de mão de obra, resultando em maior geração de empregos e na redução do desperdício de madeira, além de evitar custos de mecanização ou de combustível. Do mesmo modo, devem ser consideradas opções para diminuir os custos de transporte das toras, bem como devem ser envidados esforços para introduzir espécies menos conhecidas no mercado, como aquelas pouco aproveitadas pela indústria madeireira (GARRIDO FILHA, 2002).

Figura 19. Redução de emissão de GEE gerada por IFM na área de estudo

Fonte: Elaboração própria

A linha de base para um projeto ARR na área de estudo será provavelmente o abandono de cada vez mais áreas desmatadas pela agricultura de subsistência devido ao crescimento da população. Conforme descrito, a área cultivada é abandonada após aproximadamente dois anos e meio de uso, aos quais segue-se um pousio de 10 anos.

111 Segundo Brasil (2010c), o estoque de carbono em áreas de cultivo anual é estimado em 5 tC/ha, e presume-se que não haja o acúmulo de biomassa devido a sua colheita futura (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2003). No entanto, não há a garantia de ocorrer a efetiva regeneração natural da floresta na área abandonada. Mesmo com o aumento do estoque de carbono devido à regeneração natural da floresta, sem a devida assistência da comunidade, este estoque é perdido com a queimada da área após o pousio.

O cenário de projeto ARR irá combinar as atividades de plantio de árvores com a regeneração natural da floresta, a qual será possibilitada pela educação oferecida à comunidade. É esperado também que esta capacitação resulte em uma menor necessidade de abertura de áreas para a agricultura, além de favorecer a exploração de PFNM. No entanto, estima-se que mesmo com estes benefícios, ao redor de 18% das áreas originalmente necessárias ainda continuem a ser abertas pelas famílias. Além disso, a restauração florestal de extensas áreas não é viável, uma vez que poderia reduzir a disponibilidade de terrenos para a produção de alimentos.

A Figura 20 apresenta o acúmulo do carbono sequestrado pelo crescimento da vegetação e a consequente redução de emissão de GEE proporcionada pelo mecanismo ARR na área de estudo. Comparando-se o cenário de projeto com o de linha de base, é estimada a remoção de aproximadamente 180.000 tC em 30 anos.

Figura 20. Redução de emissão de GEE gerada por ARR na área de estudo

Fonte: Elaboração própria

112 6.1.3 Adicionalidade

A análise de adicionalidade foi feita de acordo com a ferramenta de adicionalidade do VCS para projetos Afolu, conforme ordem apresentada anteriormente na Figura 11 (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012e).

a) Etapa 1: Identificação de cenários de uso da terra alternativos ao projeto

Analisando-se as Figuras 16 e 17, pode-se verificar que em apenas 8 anos, as áreas desmatadas na região quase triplicaram, correspondendo a mais de 22% da área de referência em 2001. Isto demonstra o não cumprimento geral da manutenção de no mínimo 80% da área de reserva legal determinada pelo Código Florestal (BRASIL, 1965). Este fato também ajuda a comprovar a prática comum de desmatamento e não recuperação florestal na região, reforçada pela falta de presença do Estado.

Nenhuma das atividades propostas de REDD+ na área de estudo será implementada devido ao atendimento de uma exigência legal. Na época da aquisição das propriedades pela empresa em 2001, quase 90% das áreas apresentavam cobertura florestal, estando assim em conformidade com o Código Florestal (BRASIL, 1965). Além disso, a partir de 2001, a empresa proibiu a extração ilegal de palmito e de madeiras de valor comercial pelas comunidades, permitindo somente a continuidade da prática de agricultura de subsistência, fato que causou revolta na população por afetar suas principais fontes de renda (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, 2002b).

A partir das circunstâncias apresentadas, pode-se inferir que os cenários de linha de base apresentados no tópico 6.1.2 são os mais prováveis de ocorrer na ausência dos mecanismos REDD+.

b) Etapa 2: Análise de investimento

Na sequência, utilizou-se a análise de investimentos para demonstrar que as receitas provenientes da venda de VCUs são essenciais para que as atividades REDD+ possam competir com as alternativas rentáveis de uso da terra identificadas na região.

Por meio de uma análise de custo simples, é possível constatar que os esforços voluntários de conservação (REDD) e restauração florestal (ARR) não iriam gerar proveitos financeiros ou econômicos suficientes que compensassem a sua execução e

113 manutenção. A renda obtida pelos VCUs seria a única gerada por estas atividades, pois não há venda de PFNM, madeira ou outros produtos. As principais despesas anuais com os projetos REDD e ARR estão apresentadas na Tabela 15, a seguir.

Tabela 15. Custo anual com as principais atividades de conservação e restauração florestal

Despesa Custo anual (R$/ano)

Monitoramento por imagens de satélite R$ 27.734,56 Salário para 3 integrantes da comunidade, responsáveis por monitorar o desmatamento, a restauração/regeneração da floresta e o funcionamento do viveiro

R$ 24.408,00

Produção de mudas no viveiro (custo estimado) R$ 5.000,00 Total R$ 57.142,56 Fonte: Ecomapuá Conservação Ltda. (2013)

Mesmo levando-se em consideração a receita provinda do manejo florestal, a comercialização de um baixo volume de madeira obtida por exploração de baixo impacto traria um lucro menor do que aquele permitido pela legislação. De acordo com Barros Júnior (2001), para se obter um lucro de 15%, o valor mínimo calculado da madeira em pé explorável na área foi de R$ 42,44/m³, sendo que aproximadamente 24% deste valor corresponde aos custos das operações de manejo. Considerando que o manejo de baixo impacto proposto pelo projeto IFM reduza pela metade estes custos de operação, o valor mínimo cairia para R$ 37,28/m³. Mesmo com este ganho de R$ 5,16/m³, o menor volume explorado torna o projeto menos atrativo financeiramente do que o cenário de linha de base, com uma receita anual quase 35% menor, conforme exposto na Tabela 16.

Tabela 16. Análise comparativa financeira do projeto IFM com o cenário de linha de base

Características do Manejo Florestal Linha de base Cenário de projeto Volume anual explorado por hectare (m³/ha/ano) 30 18

Volume anual explorado (m³/ano) 3.100 1.860

Receita anual da exploração a um valor de R$42,44/m³ (considerando redução nos custos de operação no cenário de projeto) (R$/ano)

R$ 131.564,00 R$ 88.528,61

114

Assim, os créditos de carbono gerados por REDD, IFM e ARR são fundamentais para que as atividades propostas possam acontecer, pois a renda provinda dos VCUs é essencial para a execução e continuação dos projetos na área de estudo.

c) Etapa 4: Análise de prática comum

As práticas de conservação e restauração florestal em áreas de propriedade privada na Ilha do Marajó, bem como no Estado do Pará, são extremamente raras. Até 2013, com a exceção daquele proposto pela Ecomapuá Conservação Ltda., não haviam projetos deste tipo na Ilha do Marajó. Apesar de existirem alguns projetos de REDD+ no Estado do Pará, a grande maioria está sendo desenvolvida em áreas públicas ou possuem o apoio do governo. Além disso, conforme já descrito, PMFS não são considerados uma prática comum, pois atualmente são insuficientes para atender a toda demanda nacional existente de madeira oriunda de florestas nativas (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2011).

Desta forma, demonstra-se que os mecanismos REDD+ propostos para a área de estudo não são uma prática comum na região e assim, atendem a todas as condições de adicionalidade exigidas pelo VCS.

6.1.4 Análise do Buffer

Os riscos da não permanência dos estoques de carbono na área do projeto foram estimados por meio da ferramenta de análise do buffer do VCS (VERIFIED CARBON STANDARD, 2012a). Com isto, pode ser verificado que os principais riscos da implantação e manutenção dos mecanismos REDD+ propostos são classificados como internos, que englobam a capacidade de gerenciamento, viabilidade financeira e duração do projeto. Porém, alguns impactos positivos destes projetos atuam como ações mitigadoras, diminuindo assim a sua classificação de risco, principalmente no que tange aos riscos externos. Os principais riscos e ações mitigadoras na área de estudo encontram-se listados na Tabela 17, que segue.

Conforme exposto na Tabela 17, a análise do buffer classificou a área de estudo com risco médio, com resultado de 26 pontos, ou seja, 26% dos créditos de carbono gerados devem ser depositados na conta do buffer. No entanto, esta análise deve ser

115 refeita a cada verificação. É provável que, com o retorno financeiro dos créditos de carbono e reinvestimento nos projetos, em especial nas atividades promovidas na zona de gestão de vazamento (descritas no tópico 6.1.5, a seguir), ocorra um melhor gerenciamento, reduzindo consequentemente os riscos da não permanência dos estoques de carbono na área de estudo nas próxima verificações. Com isto, espera-se que uma menor quantidade de créditos seja depositada na conta do buffer.

Tabela 17. Análise do buffer da área de estudo13

Fonte: Adaptado de Ecomapuá Conservação Ltda. (2013)

13 De acordo com Verified Carbon Standard (2012a), o grau de risco de uma categoria geral,

seja ela interna, externa ou natural, não pode ser menor do que zero.

Categoria Sub-categoria Descrição Grau de risco

Risco da Sub-

categoria

Risco da Categoria

A área é vulnerável a invasões pelas famílias que residem dentro e nas proximidades do projeto, agravado pelo fato que as próprias comunidades são as principais agentes de desmatamento

identificados na região

2

A equipe de gerenciamento da Ecomapuá Conservação Ltda. se encontra a mais de 1 dia de viagem do local do projeto 2

Mitigação: A equipe de gerenciamento possui experiência em projetos florestais -2

Considerando-se os créditos de carbono provenientes dos mecanismos REDD+, a análise de fluxo de caixa mostra não ser

atrativa (acima de 10 anos para atingir o ponto de equilíbrio financeiro e baixa taxa interna de retorno), o que pode inviabilizar financeiramente a

execução dos projetos

3

A empresa proponente não dispõe de recursos externos que a auxiliem até o alcance do ponto de equilíbrio financeiro do projeto 3

Longevidade do projeto A duração do projeto é a mínima permitida pelo VCS (30 anos) 18 18

Os recursos naturais da área (madeira e palmito, principalmente) são vulneráveis de extração pela comunidade residente sem a devida

autorização pela Ecomapuá Conservação Ltda.5

Mitigação: Trabalhos feitos com a comunidade no interior das propriedades para diminuir possíveis conflitos de disputa de terra -2

Mitigação: Envolvimento da comunidade residente e ao redor da área do projeto na discussão dos mecanismos REDD+ a serem

implementados0

Mitigação: Geração de impactos socioeconômico positivos às comunidades locais que tiram sustento da área do projeto -5

A média dos indicadores de governança elaborados pelo Banco Mundial classificam o Brasil com pontuação média (entre -0,32 a 0,19) 2

Mitigação: O Estado do Pará faz parte do programa GCF - Força-tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas, visando apoiar

ações de REDD+-2

Riscos Naturais 0 0 0

26

Riscos Externos

Não foram identificados riscos de incêndios, pragas, eventos climáticos extremos, geológicos, ou outros significantes e prováveis de ocorrer

TOTAL

Envolvimento da comunidade -5

26

Posse da terra e acesso à recursos

3

Risco político 0

0

Gestão do Projeto 2

6Viabilidade Financeira

Riscos Internos

116 6.1.5 Gestão de Vazamentos

Tendo em vista que o desmatamento histórico observado na área de referência segue um ciclo que não obedece a nenhum planejamento ou licenciamento, o tipo de vazamento mais provável de ocorrer pela implantação dos projetos REDD+ na área de estudo é aquele devido ao deslocamento de atividades. Em consequência da proibição da extração de madeira e palmito na área do projeto, e visto que a madeira é aquela que apresenta o maior valor comercial, existe a possibilidade de que as comunidades se desloquem para outros locais em busca deste produto (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013). Contudo, com a permissão da prática de agricultura de subsistência pela empresa, não é esperado que esta atividade se transfira para fora dos limites do projeto (ECOMAPUÁ CONSERVAÇÃO LTDA., 2013).

Pelo fato da extração de madeira ser uma atividade lucrativa, que teve grande participação no desmatamento observado na área de referência durante o período histórico analisado, o cinturão de vazamento foi delineado pela análise de custo de oportunidade da madeira. Esta análise consistiu em quantificar as despesas que envolvem a exploração, transporte e processamento deste produto, assim como identificar o preço médio de mercado e a renda líquida obtida, para finalmente poder se calcular a distância máxima que ainda torna lucrativo o deslocamento para realizar tal atividade.

A extração da madeira na área de referência é normalmente feita pela própria comunidade ribeirinha, responsável também pelo transporte das toras para pequenas serrarias espalhadas ao longo dos rios da região. As serrarias geralmente funcionam apenas 6 meses por ano, pela facilidade de escoamento do produto na época de cheia dos rios. O modelo de negócio usualmente adotado entre a comunidade e serrarias é o de divisão do lucro proveniente da venda da mercadoria final nas cidades, ao invés de negociarem diretamente por tora explorada e transportada (ECOMAPUÁ CONSERVAÇÃO LTDA., 2013).

Assim, por meio da análise de custo de oportunidade realizada por Ecomapuá Conservação Ltda. (2013), verificou-se que a distância máxima que ainda compensaria às famílias se deslocar para explorar madeira em áreas fora dos limites do projeto seria

117 em torno de 27 km. Além disso, é esperado que este vazamento acompanhe os principais rios em direção às cidades, principalmente pela facilidade de escoamento do produto. Por este motivo, ao redor destes mesmos rios, foi também estimada uma extensão de 2 km adicionais para ocorrer o vazamento, conforme análise do desmatamento observado ao redor de rios na área de referência. Estes parâmetros permitiram determinar o cinturão de vazamento do projeto, mostrado na Figura 21.

Figura 21. Cinturão e Zona de Gestão de Vazamento para a área de estudo

Fonte: Ecomapuá Conservação Ltda. (2013)

O desmatamento neste cinturão de vazamento deverá ser monitorado a cada verificação, e caso seja atribuído às atividades exercidas pelos mecanismos REDD+ na área de estudo, estas emissões de GEE deverão ser descontadas daquelas reduzidas ou sequestradas pelos projetos.

Além disso, outras possíveis fontes de vazamento em razão dos projetos propostos na área de estudo são pelos transportes e uso de maquinários para o plantio e manejo florestal. É importante destacar que a Ecomapuá Conservação Ltda. não

118 possui outras áreas com PMFS, não sendo portanto necessário monitorar o vazamento em outras propriedades da empresa.

A fim de minimizar os riscos de vazamentos que podem ocorrer em decorrência dos projetos REDD+, a zona de gestão, apresentada na Figura 21, concentra recursos e atividades fornecidos pela empresa voltadas ao bem estar social e econômico das famílias residentes na área. Pelo fato de envolver justamente as comunidades, principal agente de desmatamento na área de referência, estas ações podem, por sua vez, contribuir para a própria permanência dos projetos implantados.

Desta forma, a zona de gestão de vazamento, localizada em uma das propriedades, possui um viveiro florestal para promover a restauração florestal, e uma escola técnica, que além de orientar sobre educação ambiental, visa criar um modelo de capacitação viável e replicável para a agricultura familiar e a exploração de PFNM pelas comunidades. Estas atividades propiciam às famílias oportunidades alternativas de geração de renda (UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA, 2007). Futuramente, nesta zona de gestão, também será fornecida a capacitação local para o manejo florestal sustentável necessário para o projeto IFM.

No entanto, com base na eficácia das atividades realizadas na zona de gestão de vazamento em atender as famílias residentes na área de estudo, estimou-se que aproximadamente 3% do desmatamento que iria ocorrer na linha de base seja deslocado para fora dos limites do projeto (ECOMAPUÁ CONSERVAÇÃO LTDA., 2013).

Com os recursos provenientes dos créditos de carbono, planeja-se a ampliação das atividades oferecidas na zona de gestão e a sua expansão para um maior número de famílias das comunidades. Com isto, também torna-se possível diminuir os créditos depositados na conta do buffer por ajudar a reduzir os riscos de desmatamento.

6.2 Estimativa de Geração de Créditos de Carbono por REDD, IFM e ARR na Área de Estudo

Com base na análise anterior sobre os requerimentos do VCS e sua aplicabilidade para a área de estudo, apresenta-se a seguir uma breve estimativa da

119 redução de emissões de GEE proporcionada por cada mecanismo REDD+. Para tanto, a seguinte fórmula foi utilizada:

(3)

Em que,

RE: estimativa da redução de emissões de GEE geradas pelo projeto, em tCO2e;

: diferença entre as emissões ou remoções de GEE na linha de base e aquelas ocorridas em decorrência do projeto, em tCO2e;

Vazamento: emissões de GEE devidas ao deslocamento de atividades, em tCO2e;

Buffer: avaliação do risco de não permanência do carbono no projeto, em tCO2e.

Pelo fato de se aplicar a quase 88% da área total das propriedades, o projeto REDD é aquele que apresenta o maior potencial de geração de créditos de carbono dentre os demais mecanismos. A partir da projeção anual de desmatamento futuro na área elegível e do estoque de carbono florestal nos reservatórios selecionados, foram calculadas as emissões de GEE na linha de base. Aplicando-se os descontos referentes às emissões de projeto, vazamento e buffer, é estimada uma geração média de 55.000 créditos de carbono por ano a partir de 2003. Assim, para o período de duração do projeto, considerando-se os mesmos fatores descritos, estima-se que as atividades de REDD na área de estudo possam reduzir a emissão total de cerca de 1,6 milhões de tCO2e, conforme apresentado na Tabela 18.

Tabela 18. Redução de emissão de GEE gerada por REDD na área de estudo

Área REDD (ha)

Estoque de

carbono (tC/ha)

Taxa de desmata-

mento anual

(%/ano)

Emissão de linha de base (tCO2e)

Emissão de projeto

(tCO2e)

Vaza-mento (tCO2e)

Buffer (%)

Redução de emissão

gerada por REDD (tCO2e)

86.270 180,4 0,17% 2.910.301 519.489 90.219 26% 1.678.982

O mecanismo IFM, a iniciar-se em 2017, será aplicado a uma área elegível de aproximadamente 3.100 ha. Desta forma, a introdução de melhores práticas de manejo florestal na área de estudo resultará na redução da perda de estoque florestal em relação à linha de base. Comparando-se estes cenários de exploração florestal no

120 PMFS, e aplicando-se os descontos referentes ao vazamento e buffer, é estimada a redução de emissão de aproximadamente 100.000 tCO2e durante o primeiro ciclo de corte do PMFS, que tem o seu término previsto para 2046. Os principais dados para o cálculo da redução de emissão de GEE gerada por IFM estão expostos na Tabela 19.

Tabela 19. Redução de emissão de GEE gerada por IFM na área de estudo

Área IFM (ha)

Redução do estoque florestal na

linha de base

(m³/ha)

Redução do estoque florestal no cenário de

projeto (m³/ha)

Emissão de linha de base (tCO2e)

Emissão de projeto

(tCO2e)

Vaza-mento (tCO2e)

Buffer (%)

Redução de emissão

gerada por IFM (tCO2e)

3.100 59 30 227.423 83.726 7.050 26% 99.286

A remoção de GEE efetuada pelo mecanismo ARR é a mais eficiente, pois apesar da maior quantidade de créditos de carbono gerada por REDD na área de estudo, o projeto ARR pode gerar em média 10 vezes mais créditos de carbono por hectare do que o realizado por REDD ou IFM. Devido ao alto IMA da fisionomia florestal presente na região do projeto, estima-se que em 30 anos, as atividades de restauração florestal e assistência à sua regeneração natural na área elegível removam aproximadamente 460.000 tCO2e da atmosfera, já decrescidas pelas emissões de GEE do projeto, o vazamento e o buffer. Estes dados são apresentados a seguir, na Tabela 20. Assim, ao redor de 15.000 créditos de carbono poderiam ser gerados em média por ano pelo projeto ARR.

Tabela 20. Redução de emissão de GEE gerada por ARR na área de estudo

Área ARR (ha)

IMA (ts/ha.ano) Altitudes < 1.000 m Remoção

do projeto (tCO2e)

Emissão de projeto

(tCO2e)

Vaza-mento (tCO2e)

Buffer (%)

Redução de emissão

gerada por ARR (tCO2e)

20 anos

> 20 anos

1.760 11,4 2,17 805.570 143.794 24.973 26% 464.741

Com isto, de 2003 a 2046, a emissão de aproximadamente 2 milhões de tCO2e poderia ser reduzida pela aplicação dos mecanismos REDD+ nas áreas da empresa Ecomapuá Conservação Ltda. Do total de redução de emissões que poderiam ser geradas, o mecanismo REDD responde por ¾, seguido pelo projeto ARR, com mais

121 que 20%, enquanto o mecanismo IFM representa somente 4% do total. A Tabela 21, que segue, resume a redução de emissão de GEE proporcionada pelos mecanismos analisados no período 2003 a 2046.

Tabela 21. Redução de emissão de GEE gerada pelos mecanismos REDD+ na área de estudo no período 2003 a 2046

Projeto Área (ha) Proporção da área (%)

Redução de emissões (tCO2e)

Redução de emissões por

ano (tCO2e/ano) Participação do total (%)

REDD 86.270 95% 1.678.982 55.966 75% IFM 3.100 3% 99.286 3.310 4% ARR 1.760 2% 464.741 15.491 21% Total 91.130 100% 2.243.009 50.97714 100%

A Figura 22 exibe os resultados obtidos, apresentando a distribuição do total de redução de emissão de GEE gerada por REDD+ na área de estudo.

Figura 22. Distribuição da redução de emissão total de GEE gerada por REDD+ na área de estudo, em tCO2e

Fonte: Elaboração própria

A implantação dos mecanismos REDD+ é elegível em quase 93% da área de estudo pertencente à Ecomapuá Conservação Ltda., em que 95% desta área poderia ser destinada à REDD. A dominância do mecanismo REDD se deve principalmente pela

14 O total de redução de emissões por ano gerado pelos mecanismos REDD+ na área do

projeto considera a divisão em 44 anos (2003 a 2046).

122 grande proporção de áreas florestadas dentro das propriedades, contendo alto estoque de carbono, que sofrem uma considerável pressão por desmatamento. Já o mecanismo IFM apresenta baixa representatividade no total de redução de emissões que podem ser geradas, no entanto possui uma eficiência por área maior do que aquela verificada por REDD. Porém, o destaque ocorre para o projeto ARR, pois apesar de ocupar apenas 2% da área elegível aos projetos REDD+ nas propriedades da empresa, é capaz de gerar mais que 20% da totalidade de redução de emissão de GEE.

6.3 Benefícios da Aplicação dos Mecanismos REDD+ na Área de Estudo

Os benefícios relacionados à implantação de projetos REDD+ combinam os três eixos principais da sustentabilidade. Não é esperado que estes projetos gerem impactos negativos consideráveis na área de estudo. Em razão da estrutura econômica da região basear-se principalmente em meios de subsistência e uso de recursos naturais, o envolvimento das comunidades nos projetos propostos pode trazer avanços ao seu modo de vida, fortalecendo assim o desempenho dos próprios projetos.

O bioma Amazônia sofre com o desmatamento e degradação não controlados, umas das principais causas da perda de sua grande biodiversidade. Particularmente, a Ilha do Marajó, sendo definida como uma área prioritária para conservação pelo MMA, está ameaçada com o avanço dos agentes de desmatamento. A região de referência do projeto, localizada na parte sudoeste da ilha, perdeu mais de 16% de suas florestas em apenas 8 anos. Diante destes fatos, iniciativas que promovem a conservação, restauração e o manejo florestal sustentável resultam em importantes benefícios ambientais para a região e para comunidades que dela dependem para seu sustento.

Além disso, os projetos florestais propostos nesta propriedade privada estão de acordo com a estratégia governamental para a conservação da biodiversidade da Ilha do Marajó, pois além de ajudarem a alcançar este objetivo, incentivam a criação de novos projetos REDD+. Também estão de acordo com o estabelecido pela PNMC, no que se refere à redução das taxas de desmatamento na Amazônia para cumprimento das metas de redução de emissão de GEE.

123

A zona de gestão de vazamentos compreende atividades que beneficiam a comunidade residente no interior da área do projeto, composta por 99 famílias. Em especial, a escola técnica oferece cursos de capacitação e traz recursos para melhorar os meios de produção de bens e serviços destas famílias, que têm forte dependência do extrativismo vegetal para subsistência e geração de renda. No viveiro florestal, são produzidas mudas de espécies nativas para fins ambientais e comerciais, seja para produção de óleos, frutas, demais PFNM ou madeiras. Estas atividades, aliadas à educação e conscientização ambiental, reduzem a necessidade das famílias de extrair madeira e palmito ilegalmente, ou de derrubar e queimar florestas para a agricultura de subsistência. Como consequência, o envolvimento do principal agente de desmatamento nas ações benéficas do projeto faz com que os mesmos se transformem em parceiros e agentes fiscalizadores de desmatamento.

Com isto, os projetos REDD+ e seus benefícios promovem a melhoria do contexto socioeconômico da região, pois propiciam condições para a capacitação técnica, aprimoram os meios de produção agrícola e florestal e oferecem alternativas para a geração de renda. Espera-se que as famílias beneficiadas tornem-se replicadoras dos conhecimentos obtidos, assim resultando na melhora do IDH da região. Isto poderá ser potencializado com a utilização de um Standard adicional ao VCS, que incluirá novos instrumentos de mensuração a fim de avaliar elementos que constituem cada eixo da sustentabilidade do projeto.

Tantos benefícios fazem com que o elemento econômico gerado pela venda de créditos de carbono seja um benefício adicional, que irá contribuir para a manutenção e ampliação destas atividades na área do projeto. Considerando-se o preço do crédito de carbono a US$ 9.20 como indicado anteriormente, no período de duração dos projetos, de 2003 a 2046, os mecanismos REDD+ em conjunto poderiam gerar uma receita bruta superior a US$ 450 mil por ano, a qual pode ser somada àquela proveniente do manejo florestal e da exploração de PFNM. Isto evidencia que projetos REDD+ podem de fato se constituir em uma alternativa atrativa do ponto de vista econômico.

124 7 CONCLUSÃO

Este trabalho teve como principal objetivo analisar os principais benefícios provenientes da aplicação dos mecanismos REDD+ no Brasil, exemplificados em um estudo de caso, após determinados quais biomas apresentariam as melhores condições de aplicabilidade segundo o VCS. Com isto, pretende-se fomentar o desenvolvimento de projetos florestais que envolvam a conservação, o reflorestamento/revegetação ou a adoção das melhores práticas de manejo florestal sustentável. Embora o objetivo principal de um projeto de créditos de carbono seja o de reduzir as emissões de GEE, que contribuem com o aquecimento global, os mecanismos aqui propostos são também oportunidades de se proporcionar múltiplos benefícios socioeconômicos e ambientais para a região em que estão inseridos.

A mudança de uso da terra e florestas é responsável por aproximadamente 17% das emissões globais de GEE, sendo a maior parte proveniente da América do Sul, onde localiza-se justamente a maior perda anual de cobertura florestal. Neste cenário, surgiram as discussões de como projetos florestais poderiam participar do mercado de créditos de carbono. Mesmo após serem amplamente debatidos, os projetos hoje denominados REDD+ ainda não são completamente aceitos no MDL, mas somente no mercado voluntário de carbono. No entanto, devido a sua alta significância no total de emissões, existem cada vez mais possibilidades de serem aprovados para inserção no segundo período do Protocolo de Kyoto.

Em relação ao mercado voluntário, verifica-se uma tendência histórica crescente da demanda por créditos de carbono de projetos florestais. O volume de negócios neste mercado florestal tem duplicado a cada três anos, visto que a principal demanda ocorre por aqueles projetos localizados na América Latina, em destaque no Brasil, que liderou o mercado em 2011. Este fato demonstra a grande oportunidade que o país tem de gerar receitas por meio de créditos de carbono advindos do setor florestal. Ao mesmo tempo, existe um amplo potencial de aumento de participação neste mercado, já que o Brasil possui a maior concentração de florestas tropicais do mundo, que infelizmente está ameaçada pela também maior taxa de desmatamento.

125

Dentre os principais Standards do mercado voluntário, o VCS apresenta amplo domínio, sendo também aquele com a maior participação no mercado de carbono florestal. Além disso, o VCS, por meio de seu escopo Afolu, permite o desenvolvimento de todos os tipos de projetos REDD+, os quais se dividem em mecanismos denominados ARR, IFM e REDD. Por estes motivos, este trabalho analisou os requerimentos e regras deste Standard para elaboração de projetos REDD+, principalmente em aspectos da linha de base, elegibilidade, adicionalidade, análise do buffer, gestão de vazamentos, avaliação de impactos e monitoramento.

Projetos REDD+ podem ser uma das soluções para o Brasil, um país com uma dificuldade histórica de conciliar o seu desenvolvimento com o respeito ao meio ambiente e conservação florestal. Este é um dos motivos pelo qual mais de 60% das emissões nacionais de GEE sejam derivadas da mudança de uso da terra e florestas. Desta forma, apesar de não fazer parte dos países com metas compulsórias de redução de emissão, o Brasil tem grande responsabilidade pelas mudanças climáticas e o aquecimento global.

Mesmo com a redução observada nos últimos anos das taxas anuais de desmatamento nos biomas brasileiros, principalmente na Amazônia, aonde esta taxa diminuiu cerca de 70% em quase duas décadas, o Brasil ainda precisa percorrer um considerável caminho para deixar o infeliz ranking de países com maiores perdas anuais de cobertura florestal. São extremamente preocupantes os fatos de aproximadamente metade dos biomas Cerrado, Caatinga e Pampa, além de mais de 75% da Mata Atlântica, já estarem desmatados, ao mesmo tempo em que os biomas Pantanal, Amazônia e Cerrado apresentam significativas taxas de desmatamento. Torna-se clara a necessidade de uma maior ação do Governo frente às questões ambientais brasileiras, pois o descaso poderá trazer ao país sérias consequências nos âmbitos ambiental, social e econômico.

A principal política pública brasileira voltada à questão de mudanças climáticas é a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC, que estabelece um compromisso nacional voluntário de redução de emissões de GEE, a ser alcançado até 2020. Este foi um dos maiores passos brasileiros junto à UNFCCC e à sociedade global. O principal

126 setor responsável para o cumprimento das metas propostas é o de mudança do uso da terra e florestas, o qual ainda carece de políticas públicas destinadas a esta finalidade.

É muito provável que o Brasil irá alcançar a meta estabelecida pela PNMC, principalmente por conseguir cumprir com a proposta de, em 2020, reduzir a taxa média anual de desmatamento em 80% na Amazônia e 40% no Cerrado. Até 2012, o Brasil já havia atingido mais de 85% da meta estabelecida pela PNMC para o bioma Amazônia. No entanto, considerando estas reduções nas taxas de desmatamento, estes dois biomas provavelmente ainda somarão em 2020 uma perda florestal anual de aproximadamente 13 mil km²/ano. Mesmo sem considerar o desmatamento nos demais biomas, esta elevada taxa ainda possivelmente manterá o Brasil na liderança dos países com maior perda líquida de florestas no mundo em 2020.

Desta forma, instrumentos econômicos que atuam exatamente no setor de mudança do uso da terra e florestas podem ser um importante aliado para, além de auxiliar a atingir os objetivos estabelecidos pela PNMC, potencializar a redução do desmatamento e garantir os benefícios de longo prazo. Visto que já tem o predomínio do mercado de carbono florestal, o Brasil poderia utilizar os mecanismos REDD+ a seu favor para diminuir ainda mais o desmatamento planejado em 2020 e assim, obter uma redução maior do que a almejada pela meta de redução de emissão de GEE. Isto enfatizaria a importância do REDD+ no Brasil e de seus impactos nas negociações sobre mudanças climáticas.

Para isto, um dos melhores artifícios seria a implantação efetiva da Estratégia Nacional de REDD+, a qual está sendo desenvolvida no Brasil. A fim de se obter os melhores resultados, esta estratégia precisa incentivar a elaboração de projetos REDD+ em todas as regiões, tratando de reuni-los quando possível em sistemas aninhados dentro de um nível jurisdicional, que por sua vez esteja alinhado com as metas estabelecidas pela PNMC e demais legislações pertinentes. Integrando-os de maneira ordenada, a redução de emissão de GEE gerada por estes projetos poderá ser inserida dentro de um sistema nacional de contabilização.

Além disso, a estratégia nacional poderia fornecer auxílio para que cada jurisdição crie seus próprios critérios que facilitem e viabilizem o desenvolvimento de

127 projetos REDD+. Assim, poderão ser valorizados, por meio do mercado de carbono, esforços de conservação e aumento de estoques florestais em áreas pequenas, regionalmente isoladas e/ou sem ameaça de desmatamento, as quais de outro modo, seriam financeiramente inviáveis de implantação por gerarem poucos créditos de carbono.

As principais características florestais em cada bioma brasileiro foram levantadas, a fim de realizar apenas uma comparação dos dados básicos necessários para a elaboração de projetos REDD, IFM e ARR no VCS. Este foi apenas um exercício, em que os resultados obtidos não possuem o objetivo de absoluto. Com esta análise, foi possível concluir que o bioma Amazônia é aquele que apresenta a maior capacidade para REDD+ no Brasil, com uma estimativa de mais de 65% do bioma elegível a algum dos seus mecanismos. Além disso, proporciona condições que permitem obter uma considerável quantidade de redução de emissões de GEE.

Outras conclusões encontradas são que a Caatinga é o único outro bioma brasileiro que permite a aplicação de todos os mecanismos REDD+. A Mata Atlântica exibe o maior potencial para o mecanismo ARR no Brasil, sendo elegível a uma grande proporção de seus domínios. O Cerrado apresenta condições interessantes para desenvolvimento de projetos REDD e ARR, com quase 50% de seu território elegível para implantação destes mecanismos. Os biomas Pampa e Pantanal são aqueles com menor disposição para elaboração de projetos REDD+ no Brasil.

É importante ressaltar que cada bioma compreende diversos tipos de fisionomias florestais e características específicas, sendo portanto necessária uma análise mais detalhada para determinação da real aplicabilidade dos mecanismos REDD+ nos biomas brasileiros. Porém, a estratégia nacional e o modelo jurisdicional também podem ser ferramentas úteis para se promover o desenvolvimento de projetos REDD+ em determinadas regiões cujos biomas determinam pouca aplicabilidade.

Além dos benefícios econômicos resultantes da receita dos créditos de carbono, os mecanismos REDD+ proporcionam diversas melhorias nos outros dois eixos da sustentabilidade. Ademais da manutenção dos serviços ecológicos, outro importante benefício ambiental prestado pelos mecanismos REDD+ no Brasil concerne à

128 preservação de uma das maiores biodiversidades do planeta, em intensa ameaça principalmente pelo desmatamento e degradação das florestas. O desenvolvimento dos projetos propostos pode, portanto, atuar em duas grandes vertentes: as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. Além disso, se bem planejados, é também possível gerar inúmeros resultados no âmbito social. As comunidades diretamente afetadas pelos projetos podem obter melhorias em sua qualidade de vida, geração de renda e manutenção de tradições culturais. Para que estes efeitos possam ser intensificados e monitorados, recomenda-se a utilização de um Standard adicional ao VCS (ou qualquer outro que seja empregado), que possa avaliá-los.

No entanto, especificamente quanto ao desenvolvimento de projetos REDD+ em terras indígenas, é importante destacar algumas considerações fundamentais, já que uma grande proporção das áreas elegíveis e com potencial para REDD+ no Brasil se encontram nestas áreas. Tais considerações incluem desde o consentimento e aprovação dos projetos pelos povos envolvidos, à garantia dos direitos ao uso da terra, assim como estabelecer de uma forma clara e equitativa, a distribuição dos benefícios gerados. Com estes assuntos tratados adequadamente, os projetos REDD+ podem tornar-se mecanismos muito importantes para a proteção e a sustentabilidade dos povos indígenas brasileiros e as suas florestas.

O estudo de caso instrumental apresentado neste trabalho pretendeu atender ao seu objetivo básico de auxiliar na melhor compreensão do tema, visando exemplificar a elaboração de projetos REDD+ utilizando o VCS. Localizada no bioma com as melhores condições de aplicabilidade para mecanismos REDD+ no Brasil, a área de estudo é de propriedade privada e está situada na Amazônia, no Estado do Pará. Após o levantamento da caracterização ambiental e socioeconômica da região de estudo, verificou-se que todos os mecanismos REDD+ se mostraram aplicáveis, conforme os requerimentos do VCS.

Foram analisadas, sob requerimentos do VCS, as condições de elegibilidade, linha de base, adicionalidade, buffer e vazamento para projetos REDD, IFM e ARR na área de estudo. A implantação dos mecanismos REDD+ se mostrou elegível a quase 93% da área total, em que REDD poderia ser aplicado à grande maioria. Além disso, os

129 projetos foram considerados adicionais, possuindo um risco médio de não-permanência do carbono, e pouco vazamento estimado por deslocamento do desmatamento.

As atividades REDD+ consideradas na área de estudo envolvem a conservação, restauração e manejo florestal, e serão em grande parte possíveis de execução graças aos benefícios oferecidos à comunidade residente na área. Pelo fato desta comunidade ser também o principal agente de desmatamento da região, o seu envolvimento em ações e benefícios faz com que a mesma se transforme em uma grande aliada dos projetos. Como consequência, espera-se que os mecanismos REDD+ e seus benefícios propiciem uma melhora da qualidade de vida destas famílias, e com isto, possa ocorrer a evolução dos indicadores socioeconômicos da região.

Assim, a aplicação dos mecanismos REDD+ na área de estudo pode gerar, no período de 2003 a 2046, aproximadamente 2 milhões de créditos de carbono, o que equivale a uma receita bruta estimada de quase US$ 450 mil por ano. Esta pode ser uma considerável fonte de renda, principalmente quando combinada àquela proveniente do manejo florestal e da exploração de PFNM.

O estudo de caso apresentado teve a intenção de apontar os principais benefícios gerados pelos mecanismos REDD+ na área de estudo, a fim de retratar aqueles que poderiam ser proporcionados por estes projetos no Brasil. Desta forma, o estudo de caso tratou de mostrar que os mecanismos REDD+ podem ser opções vantajosas ao Brasil, principalmente por serem aplicáveis a quase 60% do país.

Certamente, REDD+ não é a única solução para a conservação e restauração florestal. A integração com outras ações de comando e controle, como o ordenamento territorial e fundiário, a melhoria do monitoramento ambiental, a criação de áreas protegidas, juntamente com planos governamentais que incentivem a proteção e uso sustentável dos recursos florestais, poderão potencializar os resultados dos projetos REDD+, proporcionando deste modo, melhores benefícios ao Brasil.

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