14 esclarecimentos sobre redd

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Esclarecimentos sobre REDD+ 14

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Esclarecimentos

sobre REDD+ 14

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“REDD+ é uma proposta que veio de cima para baixo”

A primeira proposta oficial para um possível mecanismo de REDD+ (que na época

ainda era conhecida como “Desmatamento Evitado”) veio da Costa Rica e Papua

Nova Guiné (com apoio do Brasil), em 2005, durante a 11ª. Conferência das Partes

(COP 11). Estes países, detentores de florestas tropicais enxergaram no mercado

de carbono uma alternativa para captar recursos e, assim, financiar um processo de

contenção dos vetores e causas que estavam (e continuam) levando ao

desmatamento e a degradação florestal. Ou seja, pode-se dizer que o REDD+

surgiu mais por uma demanda de “baixo para cima", a partir de países do Sul para

países do Norte, do que de “cima para baixo”. Independente de "de onde veio" a

proposta, a adesão ao REDD+ é voluntária, seja ela em nível de país,

estado, projeto e/ou comunidade.

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“O REDD+ implica em restrições e proibições para as comunidades… É

comum proibir que membros da comunidade cortem uma árvore para fazer

uma canoa ou uma casa, e também de caçar e pescar… as vezes, se proíbe

também de fazer coleta de produtos da floresta como frutas, plantas

medicinais e alimentos”: .

É necessário separar os "bons" dos "maus" projetos de REDD+. Atualmente existem,

por exemplo, propostas de "salvaguardas socioambientais" para REDD+, que se

aplicam inclusive em níveis de países e estados, e que visam justamente impedir o

desenvolvimento de "maus" projetos, ou de efeitos perversos/indesejáveis que

desrespeitem os direitos de comunidades ou que forneçam ameaças ao meio

ambiente. O Brasil possui um dos melhores exemplos no desenvolvimento dessas

salvaguardas de forma participativa, que foi liderado pelo GTA, Imaflora e contou a

participação ativa de diversas organizações e representações da sociedade brasileira.

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Dessa forma, vale a pena ver o REDD+ também pela ótica dos bons projetos, ou seja,

aqueles que atendem a princípios e salvaguardas socioambientais e, de preferência,

possuam certificação de padrões reconhecidos como CCBA, VCS ou outros.

Os ditos “maus projetos” dificilmente obterão o crivo nacional ou a certificação durante

a sua implementação, para obter apoio internacional e obter recursos de empresas e

investidores sérios.

Nesse sentido, bons projetos de REDD+ consideram, antes de mais nada, as formas

de uso do solo e das florestas pelas comunidades que habitam as áreas do projeto. As

comunidades devem elaborar um plano de atividades e determinar o quanto vão

utilizar das florestas, incluindo retirada de madeira, de produtos florestais não

madeireiros, ou mesmo a conversão de áreas para a produção (sim, isso é permitido

pelo REDD+!) e isso será contemplado nos cálculos de emissões de carbono.

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O REDD+ representa, ainda, uma oportunidade para melhorar as práticas produtivas

(dos roçados, extrativismos, etc.), permitindo com que as comunidades continuem

com as suas atividades tradicionais de coleta de plantas medicinais, alimentos de

forma mais eficiente.

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“Os projetos de REDD costumam determinar que mulheres e homens de

comunidades não podem mais usar as florestas como usavam antes. Isso

significa uma violação da sua cultura, tradição e modo de vida. Proibir a

comunidade de produzir seu próprio alimento do seu modo não só

desrespeita seus costumes e conhecimento tradicional, mas ameaça

também a sobrevivência...”:

Nenhum “bom projeto” de REDD+ com certificação independente pode apresentar

atividades que desrespeitem as culturas tradicionais. O modo tradicional de uso da

floresta deve ser reconhecido e valorizado. Áreas de roçado, ou que venham a ser

utilizadas para subsistência, devem ser abordadas da forma apropriada pelo projeto.

Assim, o proponente do projeto de REDD+ deve definir áreas de uso das comunidades

e não contabilizá-las como elegíveis a geração de créditos de carbono – criando assim

um ambiente flexível, permitindo que as populações continuem e até melhorem suas

atividades produtivas, como sempre fizeram.

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“REDD significa ter controle sobre o território das comunidades. Os que

promovem os projetos REDD querem ter o controle sobre a área do projeto,

pois precisam comprovar, para aqueles que os financiam, que o

desmatamento na área foi reduzido e que o perigo proporcionado pela

comunidade foi controlado”:

O direito de propriedade da terra está garantido por esferas muito superiores àquelas

de projetos de REDD+, como a Constituição Federal do Brasil, por exemplo. O controle

sobre determinada área que está dentro de um projeto de REDD+ nunca será

“transferido” para uma instituição externa à revelia dos atores que tradicionalmente

e/ou legalmente detém o direito sobre aquelas áreas, até porque, em alguns casos

brasileiros, como as em Terras Indígenas por exemplo, se configuraria como uma ação

inconstitucional que deverá ser combatida pelas autoridades brasileiras.

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“... argumentam que o carbono liberado quando se queima uma árvore é

parecido com o carbono que é liberado quando empresas queimam, por

exemplo, o petróleo..”:

O efeito de 1 tCO2 liberado por desmatamento ou por queima de combustíveis

fósseis é exatamente o mesmo sob a ótica do clima. As emissões provenientes do

desmatamento e conversão de florestas são atualmente responsáveis por cerca

de 15% das emissões mundiais de gases do efeito estufa (GEE). Esta é uma das

principais justificativas da urgência em se buscar formas de conter as emissões

provenientes do desmatamento. Cabe destacar que quando se evita a emissão de

carbono das florestas, se previne também a perda de recursos da biodiversidade

e de serviços ambientais

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“Governos e empresas justificam que podem continuar queimando o

petróleo, sem que isso afete o clima, se eles pagarem alguém para não

liberar carbono”:

REDD+ não irá funcionar somente através de "mercados de emissões". Atualmente

se propõe que o mecanismo seja financiado por uma combinação de investimentos

públicos e privados. Um exemplo disso é a doação de U$ 1 bilhão do Governo da

Noruega para o Fundo Amazônia (a maior transação de REDD+ já realizada até o

momento), que no caso não transfere nenhum direito de emissão para o Governo

doador. Ainda assim, os mecanismos de “offset” que permitiriam a compensação de

emissões de países desenvolvidos através do REDD+, quando vierem a ser regulados

pela Convenção do Clima, deverão ter um limite máximo em relação a meta do

comprador (por exemplo 10-20%) para evitar que as metas de países ricos sejam

cumpridas integralmente, ou mesmo em sua maior parte, por países tropicais.

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“O projeto REDD costuma criar divisão na comunidade”:

Um pré-requisito para um “bom projeto” de REDD+ é a execução de ações prévias

ao projeto, como por exemplo o processo de “Consentimento livre, prévio e

informado” - que deve contar com ampla apresentação do projeto dentro da

comunidade, visando o levantamento de comentários e sugestões. Este processo

permite ajustar as atividades do projeto de acordo com as demandas e

necessidades das comunidades habitantes daquela área – fomentando assim um

projeto que gere benefícios adicionais, mensuráveis e verificáveis para as

comunidades. Além disso, uma robusta estratégia de distribuição dos benefícios e

garantia de transparência em todos os processos, deve também ser acordada

entre todos aqueles envolvidos no projeto.

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“Os projetos REDD costumam empregar pessoas da própria comunidade

para que sejam guardas florestais. Sua tarefa é vigiar outros membros da

comunidade....O REDD coloca um contra o outro, um para vigiar o outro”:

A geração de empregos, tais como os de guardas florestais, pode sim estar dentro

de um projeto de REDD+, caso as comunidades envolvidas no projeto tomem essa

decisão. Essa estratégia visa empoderar as populações locais para que possam

desenvolver as atividades de seu projeto de REDD+ de forma autônoma, sem

depender, por exemplo, de consultores externos. No entanto, caso essa atividade

venha ser implementada, a adesão do "guarda" deve ser definida pelas próprias

comunidades e contar com a aprovação de todos os envolvidos, respeitando suas

próprias regras de convívio e uso da terra. Ou seja, se houver de fato a

fiscalização, esta será de acordo com as regras definidas e acordadas pelas

próprias comunidades.

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“O projeto REDD não ajuda a resolver problemas comuns da comunidade.

Os promotores do projeto de REDD só têm um único objetivo central:

‘vender’ o carbono”:

O objetivo central de um projeto de REDD+ é reduzir o desmatamento e a

degradação florestal, promovendo o desenvolvimento social das comunidades

envolvidas. Assim, após verificar a redução do desmatamento em relação a uma

linha de base, o projeto pode acessar recursos por meio da venda dos créditos de

carbono, para aplicá-los de acordo com as prioridades sociais e ambientais

definidas pelo projeto. Porém, apenas o mecanismo REDD+ não pode,e não

pretende, resolver todos os problemas de todas as comunidades. Problemas

sociais devem ser tratados e solucionados prioritariamente por políticas públicas

em níveis superiores a de um projeto local.

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“O projeto REDD ameaça a permanência da comunidade. Comunidades que

vivem numa área escolhida para um projeto REDD são vistas como um

problema. Elas são convencidas de que precisam preservar a floresta....mas

cuidar da mata é exatamente algo que já sabem fazer e sempre fizeram”:

Cuidar da mata é algo que as comunidades tradicionais sempre fizeram, por isso mesmo

elas podem aderir a projetos de REDD+. Note-se que sob um cenário de “pressão

externa” de desmatamento, as forças podem variar e vir de madeireiros, pecuaristas,

grileiros e mineradores, que aliciam indígenas e moradores de comunidades,

conduzindo-os a venderem madeira e arrendar áreas para atividades degradantes.

Nesse caso, a proposta do REDD+ visa evitar que isso aconteça e as comunidades

continuem protegendo as florestas, mas recebendo um benefício para isso.

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“Não são apenas as comunidades que dependem da mata que sofrem. O projeto

REDD propõe que empresas que poluem, por exemplo, no Canadá, podem

compensar essa poluição financiando floresta em pé e evitando o

desmatamento em outros lugares...Vemos então que não só povos e

comunidades que vivem nas matas tropicais sofrem com projetos REDD. Muitas

vezes, também sofrem comunidades distantes de lugares onde se localizam as

empresas poluidoras que financiam o projeto REDD”:

Porque povos e comunidades “sofrem” com projetos REDD+? Pessoas que vivem em

cidades que possuem termelétricas a carvão, ou próximo a elas, são prejudicadas por

baixa qualidade do ar, etc. Porém, a culpa disso não é do REDD+. Esse tipo de atividade

poluidora deveria ser regulada por políticas públicas regionais/federais, que fomentem a

utilização de energias renováveis, criem linhas de crédito e fomento diferenciadas para

tais empreendimentos, e busquem a diminuição da dependência de combustíveis fósseis.

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“O resultado final: uma injustiça muito grande. Nos projetos REDD em

andamento, sempre vemos um pequeno grupo que consegue beneficiar do

projeto. Entre elas, por exemplo, grandes ONGs, técnicos do Estado,

consultores. Elas se ocupam da coordenação do projeto e das questões

“técnicas” como verificar se, de fato, o desmatamento foi evitado. Muitas

podem entrar nos territórios das comunidades quando querem”.

A adesão ou não a um projeto de REDD+ é voluntária, assim como a decisão de

envolver parceiros técnicos. No desenvolvimento do projeto de REDD+, deve haver um

trabalho específico para verificar se está ou não ocorrendo a redução do desmatamen-

to, pois é isso que irá gerar os recursos para a implementação do projeto e geração de

benefícios às comunidades. No entanto, estas atividades estão cada vez mais difundidas

e, havendo bom nível de capacitação local, parte das atividades podem e devem ser

desenvolvidas pelas próprias comunidades. Um bom exemplo disso é o monitoramento

de carbono desenvolvido pelo próprios Suruís em seu projeto de carbono.

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“...As comunidades afetadas por projetos REDD costumam entendê-lo [o

REDD] facilmente dizendo que há um problema de poluição num lugar

distante da sua comunidade e que os promotores do REDD estão

tentando resolver esse problema dentro do território da comunidade”

A demanda por um projeto de REDD+, ou pela busca de soluções para conter o

avanço do desmatamento em determinada região, deve partir da própria

comunidade ou em estreito acordo com a mesma – e não de uma empresa

poluidora externa, distante da realidade local. O mecanismo REDD+ é uma

alternativa para captação de recursos a partir da verificação da redução do

desmatamento nestas áreas.

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“O que talvez seja difícil ou até impossível de entender em relação ao REDD

é como empresas poluidoras podem afirmar que evitando o desmatamento

num lugar daria a elas a permissão de continuarem poluindo ou destruindo

em outro lugar.”

A busca por uma economia verde, baseada em matrizes energéticas limpas e

renováveis, deve ser incentivada por uma mudança na postura dos governos e

sociedades. Os projetos de REDD+ podem contribuir com a mitigação das mudanças

climáticas, uma vez que o desmatamento corresponde por cerca de 15% das

emissões globais de gases de efeito estufa (no Brasil, essa fração é da ordem de

55% das emissões nacionais). Se nada for feito, no entanto,as empresas poluidoras

continuarão a poluir e o desmatamento continuara a ocorrer.

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Por fim, vale destacar que o modelo de desenvolvimento adotado por países

“ricos”, que basicamente abriram mão de suas florestas para dar lugar a atividades

econômicas mais rentáveis, não deve ser replicado em países que ainda contam

com grande cobertura florestal. Precisamos encontrar uma estratégia de

desenvolvimento de base florestal, que valorize os conhecimentos tradicionais e

gere uma nova lógica econômica que permita remunerar a conservação das

florestas tropicais.