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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A EXECUCAO DAS SENTENCA S CONDENATORIAS por NORBERTO DE FRANCO MEDEIROS FILHO ORIENTADOR: Jean Marc 2007.1

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A EXECUCAO DAS SENTENCAS CONDENATORIAS

por

NORBERTO DE FRANCO MEDEIROS FILHO

ORIENTADOR: Jean Marc

2007.1

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A EXECUCAO DAS SENTENCAS CONDENATORIAS

por

NORBERTO DE FRANCO MEDEIROS FILHO

Monografia apresentada ao curso de pós graduação em processo civil da Universidade Candido Mendes como exigência para aprovação da mesma.

Orientador(a): Jean Marc

2007.1

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À família, a melhor coisa que um homem pode ter.

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Agradecimentos

Com certeza devo agradecimentos a muitas pessoas, sendo certo

que cada uma delas colaborou e apoiou-me de alguma forma diferente.

Entretanto, as pessoas que mais me apoiaram foi a minha família e a

minha noiva Claudia Gostaria de agradecer ainda meus colegas de

turma que sempre me propiciaram boas discussões jurídicas.

Meus colegas de escritório não poderiam ficar de fora desta

página, afinal eles me ensinaram a realidade, a prática, demonstraram-

me o direito e a vida real.

Por fim, não poderia esquecer do corpo docente da pós graduação

que abriu para mim as portas do Direito Processual Civil de uma maneira

mais ampla.

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RESUMO

Os diferentes tipos de sentença dão inicio ao estudo deste

trabalho. Primeiro discorre-se sobre a classificação trinária e, depois,

analisa-se a classificação quinária. Nesta parte do trabalho nossa

preocupação foi demonstrar seus efeitos, e evidenciar suas diferenças.

Posteriormente, damos grande atenção à sentença condenatória.

Abordamos o surgimento de dois processos, sendo um, de

conhecimento e o outro de execução. Abordamos a instauração de um

processo de execução subseqüente para o vencedor obter o seu

crédito. Falamos nas inovações e peculiaridades do artigo 461 do

Código de Processo Civil. Por fim, discorremos sobre as inovações

trazidas pela Lei 11.232/2005, aludindo suas vantagens e

desvantagens.

PALAVRAS-CHAVE

1.Sentença, 2.Reforma do Código de Processo Civil, 3. Lei

11.232/2005

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Sumário

1. Introdução 7

2. Classificação das Sentenças 9

2.1 Classificação Tradicional 10

2.1.1 Sentenças declaratórias 10

2.1.2 Sentenças constitutivas 11

2.1.3 Sentenças condenatórias 12

2.2 Classificação quinária 13

2.2.1 Sentença mandamental 13

2.2.2 Sentença executiva 15

3. Sentença Condenatória (execução antes da lei 11.232/2005) 16

3.1 Eficácia, Título Executivo e Segurança Jurídica 16

3.2 Histórico 19

3.3 A crise do cumprimento da sentença condenatória através do

processo de execução

22

4. Artigo 461 28

5. A lei 11.232/2005 32

5.1 O novo procedimento 33

5.1.1 A liquidação 33

5.1.2 O cumprimento da sentença 34

5.1.3 As modificações sofridas pela execução provisória 36

5.2 Desvantagens 36

5.3 Vantagens 38

6. Conclusão 40

7. Bibliografia 42

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

A descrença na efetividade da tutela jurisdicional encontra-se

efetivamente presente na nossa sociedade.

Não só o cidadão leigo quanto à ciência do Direito, mas

também, os próprios operadores desta ciência, que atuam diretamente

no contencioso, consideram, com toda razão, que o Poder Judiciário,

muitas vezes, não presta a devida tutela jurisdicional, haja vista as

formalidades e burocracias impostas pela Lei.

Neste diapasão, a necessidade de se reformar as normas

processuais tornou-se um novo desafio para os operadores do Direito.

Almejava-se alcançar uma forma, um procedimento, onde o vencedor,

que detém uma sentença condenatória a seu favor, pudesse

realmente obter o crédito devido de forma célere e perspicaz, mas,

obviamente, sem violar direitos e garantias fundamentais do devedor.

Como resposta a essas necessidades surge a Lei 11.232/2005,

que alterou o código de processo civil no que diz respeito a execução

dos títulos executivos judiciais.

O cumprimento da sentença condenatória e a clássica dicotomia

conhecimento e execução são matérias que devem ser profundamente

analisadas pela doutrina, de modo que a prestigiada efetividade do

processo saia do papel e passe a estar efetivamente presente na

prática.

Assim, o tema posto neste despretensioso trabalho foi escolhido

em virtude da novidade que cerca a lei 11.232/2005, e frente à sua

importância no direito processual, haja vista que a mencionada Lei

surge com a promessa de dar plena efetividade à sentença

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condenatória, concedendo ao credor uma execução mais célere do

crédito inadimplido.

Por tais motivos, foram, primeiramente, abordados neste

trabalho os tipos de sentenças existentes no sistema processual,

inclusive, diferenciando-se a sentença condenatória da sentença

mandamental e da executiva lato sensu, para demonstrar,

pontualmente, os diferentes efeitos propiciados por cada sentença.

Posteriormente, analisamos as inovações trazidas pela nova Lei

ao processo civil pátrio.

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CAPÍTULO 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS

Para, realmente, compreendermos a questão concernente ao

fim do processo de execução da sentença condenatória, mister

estudarmos, primeiramente, as espécies de tutela a serem concedidas

pelas sentenças.

Da mesma forma, para melhor entender as espécies de tutela,

antes é importante atentar-se para a clássica distinção, elaborada pela

doutrina processual pátria, entre sentença definitiva e sentença

terminativa, pois apenas uma delas será, aqui, pontualmente

analisada.

Como é cediço, as sentenças terminativas “não resolvem o

objeto do processo”1, tendo em vista a imprestabilidade da relação

processual firmada2, ao passo que as sentenças definitivas resolvem o

objeto do processo, eis que contêm uma resolução de mérito.

Ou seja, a definitiva acolhe ou rejeita o pedido do demandante

(ou se funda nas outras hipóteses do art. 269 do CPC) e a terminativa,

sem resolver o mérito, põe fim ao processo.

Sendo assim, urge aferir que, neste capítulo, iremos apenas

discorrer sobre as classificações das sentenças definitivas, pois

somente estas concedem uma tutela jurisdicional ao demandante.

Cumpre também destacar que só serão também aqui analisadas as

sentenças de procedência do pedido, pois, as de improcedência serão

sempre classificadas como declaratórias - classificação que veremos

adiante.

1 SANTOS, Amaral. apud CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil, vol. 1. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, pg. 374.

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2.1 Classificação Tradicional

Como já visto, a sentença pode ser classificada como

terminativa ou definitiva. Agora trataremos da classificação mais

importante das sentenças, pois nela leva-se em conta a espécie de

tutela que a sentença concede à parte.

Neste passo, destaque-se que dois tipos de classificações de

sentenças: a classificação tradicional (trinária) e a classificação

quinária.

A classificação tradicional é a mais aceita na doutrina

processual. Nela, as sentenças se classificam da seguinte forma:

a) sentenças declaratórias

b) sentenças constitutivas

c) sentenças condenatórias

2.1.1 Sentenças declaratórias

Primeiramente, importante destacar que “toda a sentença tem

um conteúdo declaratório, consistente no acertamento da existência

do direito afirmado pelo demandante”3. Vale dizer, toda sentença é

declaratória lato sensu. Ou seja, condenando, constituindo ou

desconstituindo, a sentença detém um conteúdo declaratório.

2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, vol. 1, Rio de Janeiro: Forense 2004, p. 460.3 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil, vol. 1. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 382.

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Esta constatação, além de óbvia, decorre de uma concepção

histórica do Poder Judiciário. Montesquieu, definindo o Juiz como “a

boca da Lei”, como a “boca que pronuncia as sentenças da Lei, seres

inanimados que não podem moderar sua força nem seu vigor”4, deixa

evidente esta característica de toda sentença ser declaratória lato

sensu.

Entretanto, urge destacar que algumas sentenças limitam-se, de

fato, a apenas declarar a existência ou a inexistência de uma relação

jurídica, ou seja, não chegam constituir ou desconstituir um direito,

apenas declaram-no. Estas são as sentenças meramente

declaratórias.5

Nestes casos, a declaração esgota a função jurisdicional

conferindo certeza jurídica a determinada relação, ou conferindo

autenticidade ou a falsidade de um documento, ex vi o artigo 4º do

Código de Processo Civil.

2.1.2 Sentenças constitutivas

A sentença constitutiva “cria, modifica ou extingue um estado ou

relação jurídica”6.

A diferença entre a sentença constitutiva e a declaratória é

patente. Nas palavras de Humberto Theodoro Jr., “enquanto na

sentença declaratória o juiz atesta a preexistência de relações

4 MONTEQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 160.5 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil, vol. 1. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, pg. 382.6 REZENDE FILHO, Gabriel, Curso de direito processual civil, vol. 3. São Paulo: Saraiva, 1957, p. 804.

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jurídicas, na sentença constitutiva sua função é essencialmente

criadora de situações novas”7.

Diante desta característica, a sentença constitutiva opera-se

instantaneamente, ou seja, não necessita de um processo de

execução forçada para gerar efeitos, pois o réu fica sujeito ao

comando da sentença, ela proporciona uma tutela jurisdicional plena.

Temos como exemplo de sentenças constitutivas: as de rescisão

de contrato, as que anulam o de casamento, as que decretam a

separação do cônjuge, entre outras.

2.1.3 Sentenças condenatórias

A conceituação da sentença condenatória é a mais difícil e, por

conseguinte, a mais controvertida dentro das classificações da

sentença.

Depois de inúmeros conceitos elaborados, consideramos a

conceituação do jurista Eduardo Couture uma das mais pertinentes.

Segundo o referido jurista, “sentenças condenatórias são todas as que impõem o cumprimento de uma prestação, seja em sentido positivo (dar, fazer), seja em sentido negativo (não fazer, abster-se)”8.

Gabriel Rezende Filho também conceituou a sentença

condenatória de forma cristalina:

“a sentença condenatória aprecia e declara o direito existente e prepara a execução. Contém, portanto, um comando diverso da sentença declaratória, pois determina que se realize e torne efetiva determinada sanção, isto é, que o vencido cumpra a prestação de

7THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 477.8 COUTURE, Eduardo. Fundamentos do direito processual civil. Buenos Aires: Depalma, 1985, p. 240.

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dar, fazer ou não-fazer, ou de abster-se de realizar certo fato, ou de desfazer o que realizou.”9

Assim sendo, a sentença condenatória, frente ao seu efeito de

condenação, frente à sua imposição, permite a instauração da

atividade executiva, caso a parte que sucumbiu não arque

espontaneamente com a obrigação imposta..

Estes três tipos de conceituação, como já dito, são denominados

como classificação tradicional. Entretanto, parte da doutrina entende

existir mais duas conceituações: sentenças mandamentais e

sentenças executivas. Trata-se, assim, da classificação quinária, que é

fundada na doutrina de Pontes de Miranda. Muitos juristas discordam

deste tipo de classificação, pois consideram que as sentenças

mandamentais e executivas seriam uma subespécie das sentenças

condenatórias.

2.2 Classificação Quinária

2.2.1 Sentença Mandamental

A sentença mandamental tem “por fito preponderante que

alguma pessoa entenda, imediatamente, ao que o Juízo

manda.”10Para tanto, esta sentença detém comandos ”a serem

cumpridos dentro do mesmo processo em que a sentença foi

proferida, dispensando, dessa maneira, a actio, Hildete (...).”11

Luiz Guilherme Marinoni enfrentou a questão:

9 REZENDE FILHO, Gabriel. Curso de direito processual civil, vol. 3. São Paulo: Saraiva, 1957, p. 813.10 MIRANDA, Pontes de. Tratado das ações, tomo 4. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 3.

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“Na sentença mandamental, o juiz atua sobre a vontade do demandado, ordenando sob pena de multa ou sob pena de prisão. Ou seja, a peculiaridade da sentença (técnica) mandamental está na coerção indireta, vale dizer, na força que visa convencer o demandado a observar o conteúdo da sentença.”

Assim sendo, infere-se que a sentença condenatória pura não

depende do cumprimento voluntário do vencido, ao passo que a

condenatória mandamental depende desse cumprimento voluntário..

Busca-se com a sentença mandamental o exato cumprimento,

atraves de meios de coerção, como multas. Tal sentença não levaria a

utilização posterior dos meios de execução, isto e, de sub – rogacao,.

Veja-se, que o parágrafo primeiro do artigo 461 dita que a

conversão em perdas e danos é uma opção do autor, haja vista a

presença expressa dos seguintes verbetes: “somente se converterá...”.

Ou seja, a sentença haverá de ter força expressiva para mandar que o

demandado efetue o comportamento devido. Haverá, em verdade,

uma ordem eivada de autoridade estatal, para que, de fato, o

comprimento seja efetuado.

Infere-se, então, que nestes casos, almeja-se evitar ao máximo

a conversão em perdas e danos, e sim privilegiar o resultado prático

equivalente.

Tanto é assim, que o parágrafo único do artigo 14 do CPC dita

que em caso do descumprimento do inciso V do mencionado artigo,

haverá a aplicabilidade de multa, sem prejuízo da sanção criminal. Ou

seja, busca-se pressionar psicologicamente o demandado para que

cumpra a ordem judicial.

11 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 476.

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Esta é uma característica peculiar da sentença mandamental,

que é o reflexo da intenção do juiz de atuar sobre a vontade do réu,

confira-se os ensinamentos de Humberto Theodoro Jr.:

“Nas mandamentais, outrossim, o desrespeito à ordem judicial, além das medidas executivas usuais, acarretaria responsabilidade penal para a parte que não a cumprisse.”12

A sentença mandamental, conforme visto, será sempre munida

de alguma medida coercitiva, como multa ou prisão civil. Todos estes

aspectos estão presentes pois a sentença mandamental veicula uma

ordem diretamente voltada à parte, para que ela cumpra o que lhe foi

imposto..

2.2.2 Sentença executiva

A sentença executiva e aquela que determina sua própria execução,

almeja realizar a transformação da realidade, substituindo a atividade ou

conduta negada pelo demandado, enquanto a mandamental visa que o

demandado atenda, imediatamente, ao que foi determinado pelo Juízo.

Por outro lado, comparando a sentença condenatória pura com

a condenatória executiva, Luiz Guilherme Marinoni aludiu o seguinte:

“A sentença executiva tem “força executiva”, ao passo que a sentença condenatória apenas abre a oportunidade para o uso dessa “força do Estado”, a qual somente pode entrar em ação após o seu inadimplemento.”13

12 THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 476,

13 MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: RT, 2004, p. 291.

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CAPÍTULO 3 - Sentença Condenatória (execução antes da lei

11.232/2005)

3.1. Eficácia, Título Executivo e Segurança Jurídica

A sentença condenatória é um título executivo por excelência.

Teori Albino Zavascki elucida esta assertiva de forma impecável:

“Considerando que a execução tem por finalidade fazer atuar norma jurídica concreta formalmente identificada e que o título executivo é a representação documental dessa norma, não é difícil saber a razão pela qual se afirma que a sentença civil condenatória é título executivo por excelência. É que nela a norma jurídica a ser executada não apenas vem expressa de modo completo (exceto, eventualmente, no que se refere à liquidez da prestação) mas com o mais elevado grau de certeza juridicamente possível, conferido pela certificação prévia em processo cognitivo jurisdicional.”14

Como já visto, a sentença condenatória se distancia das outras,

porque contém uma aplicação de uma condenação à parte

sucumbente.

Detendo estas características, sem sombras de dúvidas, a

sentença aparecerá como título executivo. Antes da nova lei, a

sentença ensejava um novo processo de execução forçada. Ou seja, a

sentença e “o documento que contém a relação jurídica, de que se

irradia a obrigação”15, e, portanto, poderia servir de base para um

processo de execução.

Este embasamento concedido pela sentença condenatória

reflete não só a identificação da norma jurídica individualizada, mas,

também, a conseqüência decorrente do disposto na norma. Assim

14 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de execução. São Paulo: RT, 2004, p. 288.15 MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil, tomo 9, São Paulo: Forense, 1976, p. 222.

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sendo, aplicando-se a norma abstrata no caso concreto, e alcançando-

se uma conseqüência lógica desta aplicação, a sentença condenatória

autorizará o vencedor a executar o vencido. Anteriormente a lei

11232/2005, em um primeiro momento determina-se no caso concreto,

através do processo de conhecimento, a condenação a ser imposta ao

perdedor levando-se em conta os fatos e as normas jurídicas;

posteriormente, em caso de descumprimento voluntário da sentença, o

vencedor, através do processo de execução, alcançará,

eventualmente, a condenação determinada.

Vale dizer, que a inexistência do título não permitia ao credor

satisfazer o seu crédito através do processo de execução.

O Poder Judiciário, somente prolatará uma sentença portadora

de uma condenação quando julgar um processo de conhecimento, no

qual serão ouvidas ambas as partes (respeitando o contraditório),

serão analisadas todas as provas produzidas, e interpretar-se-ão as

normas do ordenamento aplicáveis no caso levando-se em conta suas

peculiaridades. Ou seja, o juiz necessitará de uma ampla cognição

para identificar os fatos e concretizar a norma abstrata, para, somente

após, permitir qualquer execução forçada, através do surgimento do

título executivo judicial.

Para ilustrar o assunto, cumpre trazer a hipótese explanada por

Teori Albino Zavascki:

“Tomemos um exemplo. O choque entre dois automóveis, com danos recíprocos, é suporte fático para a incidência da norma estabelecida no artigo 159 do Código Civil: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.” Ocorrido o fato, a incidência do preceito normativo abstrato é automático, de modo que, independentemente da vontade dos envolvidos, surge norma jurídica concreta, estabelecendo relação obrigacional de reparação de prejuízos. A identificação de tal norma supõe imputação da culpa, com o conseqüente posicionamento dos envolvidos nos pólos ativo e passivo da relação obrigacional, e

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apuração dos danos e do seu montante, que é a prestação devida. (...) Estabelecendo-se controvérsia a respeito de qualquer dos aspectos assinalados, estará instalada crise identificação da norma, a demandar, para a sua solução, intervenção estatal. Mediante atividade cognitiva, o Poder Judiciário, definirá, por sentença, o conteúdo da norma concretizada, indicando os elementos da relação jurídica dela decorrente, seus sujeitos e sua prestação.”16

Ou seja, ocorridos os fatos e instaurada a lide, o Estado irá

resolvê-la, através de um processo de conhecimento, valendo-se da

produção de todas as provas necessárias, e prolatará uma sentença

concretizando o conteúdo de determinada norma, impondo

eventualmente uma condenação.

Com efeito, essa sentença condenatória, que impõe o

cumprimento de uma obrigação de dar, fazer e não fazer, autoriza o

vencedor a executar o vencido. Ou seja, a eficácia desta sentença é

condenatória, pois autoriza a execução do vencido com o

aparecimento do título executivo judicial17.

Assim sendo, diante da existência de um título executivo,

oriundo de um processo de cognição, poderá, então o credor instaurar

a execução do seu crédito. Observe-se que, o Estado nada poderá

fazer contra o devedor, caso o credor se mantenha inerte. É

necessário que este provoque o Judiciário munido do seu título líquido,

certo e exigível. A segurança jurídica e a sofisticação do nosso

sistema processual restam, assim, flagrantes.

Entretanto, inobstante o prestigio à segurança jurídica conferida

pelo nosso sistema, a necessidade de promover um processo de

execução – frente à restrita eficácia da sentença condenatória –

vinha sendo amplamente criticada pelos operadores do Direito, haja

16 ZAVASCKI, Teori Albino. Título executivo e liquidação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 54.17 ASSIS, Araken de. Manual da execução. São Paulo: RT, 2005, p. 76.

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vista sua formalidade e burocratização, que dificultavam o alcance da

eficácia plena da jurisdição e do efetivo acesso à Justiça.

Nesta linha, adota-se as eloqüentes palavras de Teori Albino

Zavascki no sentido de que a autonomia do processo de execução:

“Depende, na verdade, de opção política do legislador, que, atento para a natureza instrumental do processo, deve dotá-lo de formas e procedimentos adequados ao fim a que se destina: a realização segura, célere e efetiva do direito material.”18

Diante das legítimas críticas perpetradas pela doutrina (que

serão aqui oportunamente vislumbradas) torna-se imprescindível

observar adiante o histórico referente às decisões prolatadas pelo

Judiciário após a revolução francesa para melhor compreensão da

dicotomia conhecimento/execução.

3.2 Histórico

Para compreendermos porque ate pouco tempo

necessitavamos, no caso de uma condenação, mover dois processos

(conhecimento e execução) para recebermos a tutela jurisdicional,

mister observar os interesses da burguesia em limitar o poder dos

juizes após a revolução francesa.

Àquela época, a burguesia, buscando consolidar a ideologia

liberal e ainda desconfiada com certos resquícios do poderio da

nobreza, ditava certos limites ao Poder Judiciário. Veja-se que não

bastava uma separação dos três Poderes, almejava-se também um

Judiciário com poderes limitados.

A sentença declaratória reflete esta ideologia liberal burguesa.

Dizer que o juiz é a boca da lei, conforme aludido por Montesquieu, na

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obra O Espírito das Leis, é dizer que o juiz apenas declara a lei, julga

conforme dita a lei.

Definir o juiz desta maneira expressa a verdadeira preocupação

que se tinha em garantir a liberdade dos cidadãos e, ao mesmo tempo,

delimitar os poderes de intervenção do Estado. Ou seja, havia “o

predomínio absoluto do valor segurança, em detrimento do valor

justiça.”19

Diante deste quadro, almejava-se restringir o poder do juiz, pois

existia uma evidente desconfiança da burguesia para com os

magistrados, pois estes detinham fortes laços com a nobreza. Limitar o

poder do juiz a apenas declarar a lei nos julgamentos das lides não foi

a única forma encontrada para limitar o poder do Judiciário. Uma outra

forma de limitação foi restringir a atividade executiva do juiz. Ou seja,

além de o juiz apenas se ater a declarar a lei nas sentenças, também

não detinha o poder de imperium, de dar força executiva às suas

decisões.20 Montesquieu já prevenia que, caso detivesse força

executiva, o juiz seria um opressor.

Esta preocupação iniciou a cediça separação entre o

conhecimento e a execução. Esta separação “teve o propósito de

evitar que o Juiz concentrasse, no processo de conhecimento, os

poderes de julgar e de executar.”21

Nesta conjuntura, a sentença condenatória passou a constituir

apenas uma parcela da tutela jurisdicional, de forma que, para a tutela

ser completa, dever-se-ia mover um processo de execução forçada

(vale dizer, a tutela concedida no processo de conhecimento só seria

18 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 34.19 SILVA, Ovídio A. Batista da. apud, MARINONI, Luiz Guilherme, Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: RT, 2004, p. 38.20 MARINONI, Luiz Guilherme, Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: RT, 2004, p. 38.21 MARINONI, Luiz Guilherme, Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: RT, 2004, p. 39.

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completa caso o condenado pagasse espontaneamente o valor da

condenação.)

Assim sendo, necessitava-se de dois processos para receber

uma tutela jurisdicional completa, um de conhecimento e outro de

execução. Esta necessidade de se utilizar de dois processos era muito

bem vista pela doutrina, pois existia uma “estreita ligação entre a

liberdade individual e o rigor das formas processuais.”22

Além disto, esta separação é oriunda do princípio da

neutralidade do juiz, que refletia também o respeito e a dignidade da

lei. Neste ponto, Ovídio Batista elucida bem a questão:

“O princípio que prescreve a neutralidade do Juiz, no curso da demanda, é o mesmo que impede a existência simultânea de conhecimento e execução, pois o eventual conteúdo executório, numa ação que, pela doutrina, haveria de ser exclusivamente de conhecimento, permitiria a concessão de tutela executiva antecipada, sob forma de liminar, como ainda hoje se dá com nossas ações possessórias de tipo interdital. E isto seria atribuir ao Juiz uma faculdade incompatível com a exigência de sua neutralidade. Seria conceder-lhe poder para ordenar, antes de estar em condições de aplicar a Lei. Em última análise, seria outorgar-lhe uma dose de discricionariedade inconciliável com a função que o Estado lhe reserva.”23.

Destarte, separando-se de forma estanque o conhecimento da

execução, valorizava-se a segurança jurídica do cidadão, em

detrimento da própria justiça, na medida em que a execução nunca

precederia a cognição. Vale dizer, somente após a ampla cognição

dos fatos e das normas, poder-se-ia executar. Veja-se como está em

evidência a idéia de elevar a segurança jurídica.

Aliás, esta concepção de prestigiar a segurança em detrimento

da justiça fica ainda mais evidente quando se infere que nunca poderia

22 DENTI, Vitório. MARINONI, Luiz Guilherme, Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: RT, 2004, p. 44.23 SILVA, Ovídio A. Batista da. Jurisdição e execução. São Paulo: RT, p. 106.

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ocorrer um julgamento com base em uma simples verossimilhança,

pois agindo assim “estaria o Juiz a conceder alguma espécie de tutela

processual a quem a Lei não atribuíra direito algum”.24

Verdade seja dita, a ideologia liberal desenvolveu um sistema

perfeito para limitar o poder do juiz, e, conseguintemente, garantir e

defender as liberdades individuais tão prezadas naquele momento.

Estando o juiz estritamente atrelado aos procedimentos ditados

pela lei, evitar-se-ia que o seu livre arbítrio viesse prejudicar as

garantias e liberdades individuais. O poder de imperium dá ao juiz e às

suas decisões um caráter cogente de imposição, cuja recusa de

cumprimento pode acarretar fortes sanções. Uma vez estabelecido

que a sentença condenatória dependia de meios executivos tipificados

em lei, retirava-se do magistrado seu poder de coerção sobre a

condenação. Ou seja, o poder de imperium – que é exercido para

conceder maior efetividade às decisões – passou a ser mitigado frente

ao formalismo procedimental para que o juiz, sob o manto do terceiro

poder estatal, não viesse a violar direitos e garantias individuais.

Diante deste quadro, vê-se, novamente, que a separação do

processo de conhecimento e o processo de execução é uma técnica

processual apurada, levando-se em conta a sua anterior e real

intenção de mitigar o poder de imperium do juiz.

3.3 A crise do cumprimento da sentença condenatória através do processo

de execução

O legislador, fiel ao pensamento de Liebman, adotou uma

evidente correlação entre a sentença condenatória e o processo de

execução.

24 SILVA, Ovídio A. Batista da. Jurisdição e execução. São Paulo: RT, p. 106.

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23

Assim, a sentença condenatória encerrava o processo de

conhecimento e possibilita o início de um novo processo, em que se

realizarão as atividades necessárias para efetivar a condenação

anteriormente imposta.

Ou seja, sem o processo de execução ( que era um “novo”

processo), a sentença condenatória não tinha eficacia.

Destarte, o que se verificava, sem grandes esforços, era que a

sentença condenatória era a mais ineficiente de todas as formas de

tutela jurisdicional, eis que tinha minúsculo efeito para fora do

processo, notadamente quando se levava em conta que a realização

dos seus efeitos dependia do processo de execução.

Esta dependência ocorria no nosso sistema, uma vez que este

foi elaborado com primazia na segurança jurídica, de modo a se evitar

um abuso por parte do Judiciário do poder de imperium.

De fato, sob esta ótica, vê-se que o procedimento elaborado

atingia à sua finalidade, na medida em que a sentença condenatória

só viria a ser executada caso o credor da obrigação provocasse o

Poder Judiciário, instaurando um processo subseqüente e autônomo

denominado de processo de execução.. O Judiciário não poderia de

ofício impor o cumprimento da condenação por ele imposta.

A separação do processo de conhecimento do processo de

execução figurava um sistema eficaz e complexo, que atendia às suas

necessidades, pois, em realidade, conseguiu-se diminuir o poder de

imperium dos juízes, valorizando, realmente, a segurança dos

jurisdicionados.

Não é difícil relembrar como o Judiciário era mal visto, assim

como não é difícil entender as razões que levaram o Judiciário deter

esta maléfica fama.

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Soma-se ao exposto, a incessante busca de se garantir as

liberdades individuais, homenageando-se a livre vontade humana, e

repreendendo-se as imposições postas pelo Estado. Neste cenário,

surge, como conseqüência, o dogma da intangibilidade da vontade

humana, no qual o Estado nunca poderia se sobrepor à liberdade do

cidadão.

Neste sentido, confira-se as palavras de Candido Rangel

Dinamarco:

“A resistência do obrigado sempre foi muito respeitada, ao longo dos tempos, como óbice intransponível à efetivação das obrigações de fazer ou de não fazer, por obra dos órgãos judiciários. O dogma daintangibilidade da vontade humana, zelosamente guardado nas tradições pandectistas francesa, fazia o mundo aceitar que “toute oblugacion de faire, ou de ne pas faire, se resout en dommages et entérêts, en cas d`inexecution de la part du déboteur” (art. 1.142 do Código Civil francês).”25

Neste diapasão, via-se a dificuldade de executar as imposições

postas pelo Estado, através do Judiciário.

A dificuldade da execução tornou-se ainda maior quando esta

cuidava-se de uma obrigação de fazer ou não fazer, pois, nestes

casos, o cumprimento da ordem imposta pelo juiz dependia da

conduta pessoal e da vontade do demandado.

Diante disto, ao mesmo tempo em que se privilegiava a livre

vontade humana e a restrição ao poder de imperium, prestigiava-se a

burocracia, frente ao formalista procedimento do processo de

execução, e vigorava, sob o pavor dos vitoriosos, o famoso ditado

popular, “ganha mas não leva”.

Assim sendo, com o passar dos anos, viu-se que, se por um

lado o processo de execução autônomo atingia o seu fim primordial de

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estabelecer a segurança jurídica, por outro lado, a Justiça não vinha

sendo feita, ferindo de morte o próprio direito material.

Diante desta situação emblemática, os operadores do direito se

viram compelidos a melhor analisar a questão. Confiram-se as

palavras, novamente, de Candido Rangel Dinamarco sobre o limite da

manifestação da vontade:

“Foi preciso muita tenacidade de pensadores como Chiovenda e Calamandrei, notadamente em especulações sobre a obrigação de prestar declaração de vontade, para que viesse a ter curso a distinção entre infungibilidade natural e infungibilidade jurídica. Hoje considera-se integrada em nossa cultura a idéia de que em nada interfere na dignidade da pessoa, ou em sua liberdade de querer ou não querer, qualquer mecanismo consistente na produção, mediante atividades estatais imperativas, da situação jurídica final a que o cumprimento da obrigação de fazer ou de não-fazer deveria ter conduzido.”26

Verificou-se que as imposições estatais, quando não abusivas

ou não lesionavam direito e garantias fundamentais, em nada violavam

a liberdade dos indivíduos.

Chegou-se também ao consenso que medidas para imposição

das ordens, que buscavam, eminentemente, impor uma pressão para

o cumprimento, também não violavam nenhum direito ou garantia.

Aliás, observe-se que o próprio Poder Judiciário, com o passar

do tempo, passou a ser mais respeitado, perdendo aos poucos a sua

maléfica fama, o que não trazia mais motivos para haver manifestas

preocupações quanto à falta de segurança jurídica.

Na verdade, a falta de segurança jurídica passou a ser inversa,

a desconfiança na justiça passou a ter outros motivos.

25 DINAMARCO, Candido Rangel. Tutela jurisdicional. Revista de Processo, nº 81. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996, p. 220.26 DINAMARCO, Candido Rangel. A Reforma da reforma. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 220.

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26

Em virtude da cediça morosidade e burocratização da máquina

judiciária, este Poder passou a ter a pecha de privilegiar o réu, o

devedor, na medida em que, mesmo o demandante obtendo êxito com

sua ação, este não conseguiria, de fato, obter o resultado desejado,

pois inúmeras eram, e são, as formas de protelar a efetivação da

justiça.

Assim, os detentores do direito material eram quem, na verdade,

não respiravam os ares da segurança jurídica, pois concluíam, com

toda a razão, que ganharam, mas não levaram.

Neste passo, as pessoas muitas vezes deixavam de recorrer ao

Judiciário, não só pela ignorância quanto aos seus direitos, mas

também porque achavam ineficaz tal medida.

Neste quadro, verificou-se a inadequação da eficácia da

sentença condenatória frente à sua necessidade de instaurar um

processo subseqüente, a fim de que a condenação imposta seja

satisfeita. Assim sendo, como não poderia deixar de ser, alguns

processualistas já demonstravam suas irritações, sustentando a

necessidade de se alterar este procedimento que primava pela

dependência do processo de conhecimento em face do processo de

execução.

Sendo assim, para se evitar que o processo sepultasse o direito

material, negando-lhe efetividade, passou-se a admitir a formatação

das sentenças diferenciadas a partir do direito material, mesmo que

não expressamente previstas na Lei.

O Código de Processo Civil, visando evitar essa problemática,

mesmo antes da lei 11.232/2005, previa exemplos de ações

executivas lato sensu, como por exemplo:

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“a ação de depósito (que tem por fim exigir a restituição da coisa depositada” – CPC, art. 910 –, e na qual “julgada procedente a ação, ordenará o juiz a expedição de mandado para a entrega” – art. 904), a ação de reintegração de posse (em que há a expedição de mandado de reintegratório – CPC art. 928), ação de busca e apreensão de bens alienados fiduciariamente (com mandado de apreensão – Decreto 911, de 01.10.1969, art. 3 o.) a ação de despejo (com mandado de desocupação – Lei 8.245, de 18.10.1991, art. 65).” 27

Ou seja, o próprio Código de Processo Civil já detinha,

disposições no sentido de ceder à sentença a possibilidade de ser

executiva lato sensu de forma a preservar o direito material para que

este não sofresse nenhum óbice na sua efetivação. Entretanto, as

aludidas previsões restavam insuficientes, pois essas não eram as

únicas hipóteses em que se necessita de uma sentença capaz de ter

imediata eficácia. Vale dizer, que o Código era muito tímido nesta

questão.

Para solucionar o problema quanto à sentença poder ter eficácia

executiva lato sensu, e que ocorre a reforma do Codigo de Processo

Civil, no que diz respeito a execução das sentenças condenatórias. A

maior questão e saber que atualmente não existe qualquer função em

termos um processo de execução autônomo.

Realmente, o procedimento anteriormente adotado era

ultrapassado para o nosso ordenamento, e tal assertiva funda-se na

criação do art. 461 do Código de Processo Civil, que demonstrava,

inequivocamente, que nos casos das obrigações de fazer ou não

fazer, a sentença executiva tinha se mostrado muito eficaz e muito

mais prática para efetivar a justiça.

27 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo de execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 45.

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CAPÍTULO 4 – Artigo 461

Diante das razões apontadas, restava, evidente a dificuldade

que o autor da demanda tinha para ver satisfeito o cumprimento da

sentença condenatória prolatada em seu favor.

Em relação às sentenças condenatórias cujo objeto é oferecer

uma tutela específica também não era diferente. Muito pelo contrário,

as tutelas específicas detinham um problema ainda maior, pois o

cumprimento da obrigação de fazer ou de não fazer depende

excessivamente da disposição do obrigado, conforme já dito

anteriormente. Neste ponto, verifica-se também que, nos casos de

tutela específica, o demandante almeja, a priori, que seja a obrigação

cumprida, sendo certo que em quase todas as vezes não é

interessante ao credor da obrigação apenas ser ressarcido, com a

conversão da obrigação imposta em perdas e danos. Neste passo,

trazem-se à colação as palavras de Eduardo Talamini:

“Ambas – “tutela específica” e “obtenção de resultado prático equivalente” – enquadram-se na noção doutrinária de tutela específica, contrapondo-se à conversão em perdas e danos, tutela normalmente genérica (salvo o ressarcimento em forma específica), que é relegada à excepcionalidade (art. 461 parágrafo primeiro). Em síntese, “tutela específica” e “resultado prático equivalente”, referidas pela lei, podem ser identificadas com o resultado específico, o que se teria pelo cumprimento espontâneo do dever de fazer ou não fazer. A ambas opõe-se o ressarcimento – pecuniário ou in natura – dos danos advindos do não cumprimento.”28

Frente a este quadro, na reforma de 1994, o legislador, visando

solucionar a questão, instituiu uma nova forma de obter o cumprimento

28 TALAMINI, Eduardo, Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 226.

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da sentença, que condena o réu em uma obrigação de fazer, ou não

fazer.

Vale dizer, o atual artigo 461 do CPC, é um reconhecimento, por

parte do legislador, que a anterior forma de cumprimento da sentença

condenatória não atendia mais a sua finalidade, na medida em que

inviabilizava a efetividade do processo civil, conforme era idealizado

por Chiovenda, grande tutor da efetividade processual.

O processo para ser efetivo deveria deter uma sistemática que

assegure a quem tem razão, uma situação jurídica igual a que deveria

ter se derivado do cumprimento normal e tempestivo da obrigação.

Arruda Alvim, neste ponto, demonstra a prestabilidade do art.

461 para a referida finalidade:

“E, na medida em que se evidencie a possibilidade de dano ou perigo de perecimento do direito, essa situação deve ser, desde logo e especificamente, protegida, o que é, precisamente, a hipótese do art. 461 (do CPC brasileiro), no que diz respeito às obrigações de fazer e não fazer.”29

Urge destacar que os meios de tutelas específicas não são

estranhos ao nosso ordenamento, entender dessa forma demonstra

patente equívoco sobre o tema. Na verdade, esses meios já existiam,

entretanto, havia uma manifesta carência dos instrumentos

processuais a constranger o réu a cumprir aquilo que foi determinado.

Assim, o artigo 461 surge com esta finalidade, surge para suprir

essa carência. Veja-se nas palavras de Candido Rangel Dinamarco o

que o aludido artigo institui no ordenamento processual:

“(a) dispensa-se a formal instauração de um processo executivo para a execução de sentenças condenando a um fazer ou a uma abstenção, (b) autoriza-se ao juiz impor medidas de pressão

29 ALVIM, Arruda. Obrigações de fazer e não fazer – direito material e processo. Estudos em homenagem ao Ministro Adhemar Fereira Maciel. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 70.

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psicológica destinadas a persuadir o renitente a cumprir, (c) autoriza-se também a alteração do decisum contido na sentença condenatória, com vista a oferecer ao credor um resultado equivalente ao cumprimento da obrigação e (d) autoriza-se ainda a produção do resultado por ato imperativo do próprio Estado-juiz, sem o concurso da vontade do obrigado (medidas de apoio: busca e apreensão, remoção de pessoas ou coisas etc. – infra, n. 173).”30

Ou seja, o artigo 461 traz uma gama de possibilidades para que

a sentença condenatória seja cumprida pelo próprio demandado, de

modo que o direito material não sofra óbices frente ao formalismo

procedimental.

Atualmente, almeja-se uma maior integração entre o direito

material e o direito processual, de forma que este valorize aquele,

assegurando as garantias e os mandamentos do ordenamento

jurídico. Este entrelaçamento enaltece a instrumentalidade e a

efetividade do direito processual.

Assim, o artigo 461 reflete também o “nítido propósito de

adequar os procedimentos às necessidades de situações particulares

do direito material e propiciar meios mais eficientes de tutela

processual.”31

O primeiro passo para trazer maior efetividade ao processo é a

dispensa do processo formal de execução forçada para cumprir a

sentença condenatória.

Ocorre que, além de ter excluído do cumprimento da sentença a

necessidade de mover um processo de execução autônomo, o artigo

461 permitiu a ela deter também uma execução por coerção, cuja

finalidade é pressionar a vontade do obrigado, de forma que as

resistências do réu e de o decurso do tempo não obstassem a

efetividade do processo civil. 30 DINAMARCO, Candido Rangel. A Reforma da reforma. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 222.

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31

A execução por coerção é um reflexo da busca ao cumprimento

efetivo da obrigação. Neste passo, veja-se que o procedimento do

artigo 461 é célere, justamente para atingir a mencionada finalidade.

O juízo intimará o réu da decisão, determinando o cumprimento

da obrigação, devendo este cumpri-la, sob as penas oriundas do

descumprimento de uma decisão judicial (parágrafo único do artigo 14

do CPC), além da imposição de multa e outras medidas de coerção

como a busca e apreensão.

Assim, diante da celeridade e das medidas coercitivas, o artigo

461, acabou com a necessidade de se mover o processo de execução

autônomo para obter-se o cumprimento da sentença condenatória, nos

casos de obrigação de fazer e não fazer.

O art. 461 surge, portanto, com o patente propósito de impor um

novo ritmo e uma nova eficiência ao cumprimento da sentença.

31 THEODORO Júnior, Humberto. Tutela Especifica das obrigações de fazer e não fazer. Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, nº 15. Porto Alegre: RT, 2002, p. 20.

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CAPÍTULO 5 – A Lei 11232/2005

Ser executado é um bom negócio, notadamente quando se sabe

administrar a ineficiência do processo.

A Lei11232/2005 surge visando destituir esta assertiva. Busca-

se, retornando aos primórdios da história, extinguir o processo de

execução para dar efetividade à sentença condenatória. Antes,

buscava-se mitigar o poder de imperium do juiz, agora, almeja-se, em

prol da instrumentalidade e da eficácia, ampliar os efeitos da sentença

condenatória. Por conta disso, hoje o processo de conhecimento vai

ate a efetiva entrega da tutela, havendo assim, atos executivos na

continuidade do processo de conhecimento.

Desta sorte, quer-se imprimindo ao processo e aos seus

procedimentos maior celeridade, simplificando atos e efetivando a

prestação jurisdicional.

A Lei 11.232/2005 segue a linha das anteriores reformas do

Código de Processo Civil, alterando-o de forma pontual.

Neste passo, cite-se, por oportuno, as Leis 8.950 e 9.139,

oriundas da reforma efetuada em 1995. Esta última, a título de

exemplo, modificou todo o procedimento do recurso de agravo,

permitindo, inclusive, a concessão de efeito suspensivo ao referido

recurso, de forma a impedir a freqüente impetração de mandado de

segurança. Daí já se infere a substancial modificação trazida em prol

da instrumentalidade do processo.

Três anos depois, a Lei 9.756 surgia ditando que os recursos

especiais e extraordinários, interpostos contra decisões interlocutórias,

ficariam retidos nos autos, abreviando, portanto, enorme lapso

temporal do trâmite do processo.

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Em 2002, a Lei 10.444, introduziu o parágrafo 7º do artigo 273,

admitindo a fungibilidade entre tutela de urgência satisfativa e tutela de

urgência cautelar.

E, por fim, como já aludido, surge a Lei 11.232/2005 com a

promessa de tornar mais eficiente o cumprimento da sentença

condenatória.

5.1 O novo procedimento

5.1.1 A liquidação

O artigo 475-A, trata da liquidação de sentença. Os dois tipos de

liquidação, tanto por artigo como por arbitramento, são mantidos.

A alteração que a Lei trouxe ao Código de Processo Civil,

quanto à liquidação por arbitramento, é a desnecessidade da

propositura de ação de conhecimento, com a cediça demora na

tramitação. Vale dizer, serão dispensadas a citação, a contestação do

réu, apelação, etc.

Assim, a liquidação de sentença por arbitramento deixa de ser

um processo de conhecimento para ser um procedimento incidental da

execução.

Por outro lado, a liquidação por artigos não sofreu tamanha

modificação, na verdade, ela continuará observando, no que couber, o

procedimento comum (artigo 272 do CPC), haja vista os ditames do

novo artigo 475-F:

“Art. 475-F. Na liquidação por artigos observar-se-á, no que couber, o procedimento comum (art. 272).”

Neste ponto, já surgem dúvidas quanto ao momento em que

será cabível observar o procedimento comum, ou não.

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Outrossim, traz-se destaque a uma outra alteração no incidente

de liquidação. A decisão ali prolatada apenas poderá sofrer a

interposição de agravo de instrumento, consoante preceitua o artigo

475-H. Uma vez que a liquidação deixa de ser um processo de

conhecimento – no qual o juiz prolata uma sentença – para se tornar

um mero incidente, vê-se que o legislador preocupou-se bastante em

esclarecer que o agravo de instrumento será o recurso cabível.

Por derradeiro, observe-se outra alteração, consubstanciada no

artigo 475-A, parágrafo terceiro, que consagra que nos casos de

ressarcimentos por danos causados em acidente de veículo de via

terrestre e cobrança de seguro também por acidente de veículo, é

proibido a sentença ser ilíquida, devendo o magistrado fixar, de plano,

o valor devido, de acordo com seu prudente critério.

5.1.2 O Cumprimento da sentença

A Lei em exame termina, de vez, com a “dupla”, conhecimento e

execução, fazendo deste uma mera fase processual.

Portanto, nos casos de tutela específica continuará

dispensando-se o processo de execução, devendo o demandante

observar o artigo 461 do Código de Processo Civil, enquanto, nos

casos de obrigação por quantia certa, deverá ser observado a referida

Lei (artigo 475-I).

O artigo 475-J traz a tão esperada modificação estabelecendo

que o devedor condenado a pagar determinada quantia, deve efetuá-la

no prazo de 15 dias. Ultrapassado o referido prazo, será somada à

condenação multa de 10% sobre o seu valor, e, sob requerimento do

credor, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.

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Posteriormente, será o devedor intimado, na pessoa de seu

advogado ou do seu representante legal, do auto de penhora e

avaliação, discriminando o valor exeqüendo, para oferecer, nos termos

do parágrafo primeiro do artigo 475-J, impugnação no prazo de 15

dias.

Vale dizer, excluiram-se do ordenamento jurídico os malfadados

embargos de devedor, maior entrave à efetividade da execução no

nosso sistema.

A impugnação não faz surgir um novo processo, pelo

contrario,se instaura dentro do mesmo processo, e em regra sera

recebida sem efeito suspensivo.

Lembramos que os embargos de devedor que anteriormente

eram aplicados nestes casos, tinham efeito suspensivo e eram

processos autônomos.

Somente no caso do prosseguimento da execução gerar um

dano grave de difícil reparação, e que sera dado o efeito suspensivo

para a impugnação.

Seguindo a linha de raciocínio, no prazo de 15 dias, o executado

apresentará impugnação nos mesmos moldes de uma contestação –

ao invés de uma inicial –, que será apreciada no curso da execução, e

somente deterá efeito suspensivo se o Juiz aferir que o

prosseguimento da execução causará grave dano de difícil ou incerta

reparação. Recebida a impugnação, em homenagem ao contraditório,

o juiz abrirá vista pelo mesmo prazo ao exeqüente para manifestar-se

acerca da impugnação.

Quando o Juiz julgar a impugnação, julga um incidente, que sera

uma decisão interlocutoria, podendo sofrer interposição de agravo de

instrumento. No caso, de o executado lograr êxito com a impugnação

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será manejada a apelação, eis que a decisão enfrentada importará na

extinção da execução.

5.1.3 As modificações sofridas pela execução provisória

A grande modificação sofrida pela execução provisória foi

quanto à necessidade, ou desnecessidade, da prestação de caução.

Como sempre foi, ela dar-se-á do mesmo modo que a definitiva.

Consoante preceitua o artigo 475-O, no seu inciso III, a caução

será exigida nos casos de “levantamento de depósito em dinheiro e a

prática de atos que importem alienação de propriedade ou das quais

possa resultar grave dano ao executado.” Nestes casos, a caução

deve ser idônea e arbitrada, de plano, pelo Juiz.

Nos casos de natureza alimentar, ou nos casos de ilícito,

comprovando o exeqüente que se encontra em situação de

necessidade, o crédito no valor de até 60 vezes o salário mínimo

poderá ser levantado sem a prestação de caução, conforme consagra

o artigo 475-O, parágrafo segundo, inciso I.

O mesmo acontecerá caso estejam pendentes de julgamento

agravos de instrumento para o Supremo Tribunal Federal e para o

Superior Tribunal de Justiça, ressalvada a hipótese de risco de grave

dano ou difícil reparação. (475-O, parágrafo segundo, inciso II)

5.2 Desvantagens

Nada obstante a intenção do legislador de dar maior efetividade

ao processo civil, a Leio é suscetível de inúmeras críticas, sendo

muitas pertinentes.

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A primeira crítica que se constrói não decorre de uma profunda

análise de suas normas, mas sim da insistência do legislador em

seguir com a mecânica de unir números com letras, conforme ocorreu

de forma ostensiva com o artigo 475.

Sem sombras de dúvidas, esta técnica não reflete uma boa

organização no Código e trará descomunal desconforto.

Por outro lado, verifica-se também que muitas modificações

trazidas foram tímidas. De plano, podemos tomar como exemplo o

caso da liquidação de sentença, cujo procedimento continua

basicamente o mesmo. Nas palavras de Clito Fornaciari Júnior, mestre

em Direito Processual pela PUC/SP, há “de novidade, apenas o fato

de, contra a decisão nela proferida, caber(á) agravo de instrumento”.32

O mesmo ocorreu no artigo 475-L, referente à impugnação

(sucessora dos embargos de devedor), uma vez que as suas

hipóteses de cabimento são quase as mesmas que as dos embargos

de devedor, não havendo muitas novidades neste ponto.

Agrega-se ainda ao exposto o fato de que toda nova matéria

processual, que surge no ordenamento, acarreta inúmeras e

incansáveis discussões. Muitas delas, em verdade, tornam-se debates

sem fim, que acabam por turbar a estabilidade processual, na medida

em que os holofotes focam suas atenções às novidades e à polêmica,

deixando de lado o que, de fato, é relevante. Uma futura discussão

que irá ocupar os doutrinadores, com certeza, serão os problemas

oriundos do novo conceito de sentença, eis que o anterior conceito

resolve inúmeras controvérsias processuais.

Outra crítica a ser feita remete-se aos efetivos problemas no

nosso ordenamento, que continuarão a atrasar o cumprimento da

32 JÚNIOR, Clito Fornaciari. Nova execução: aonde vamos?. Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, nº 33, 2005, p. 44.

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sentença condenatória. Temos como exemplo: a enorme quantidade

de bens impenhoráveis, créditos privilegiados e outros meios capazes

de fraudar a execução.

Luiz Rodrigo Wambier, ao tratar dessa crise do processo de

execução, sinalizou que “há um grande descompasso entre as normas

e a realidade, que delas exige muito mais do que exigia ao tempo de

sua elaboração”.33

De fato, a Lei simplificou certos ritos, mas, realmente, não

alterou o tratamento de certas matérias que realmente são obstáculos

para o efetivo adimplemento do crédito, corroborando para que ainda

prevaleça o “ganha, mas não leva”.

Com efeito, entende-se que as modificações contidas na Lei

podem não atingir a sua finalidade de dar maior efetividade ao

processo.

Infere-se, portanto, que não é só a Lei que é suscetível de

crítica, e sim a reforma processual em si que foi, de fato, tímida e

deixou de enfrentar velhos calos dos credores deste país.

5.3 Vantagens

Indubitavelmente, a Lei surge com a precípua finalidade de

evitar que o vencedor no processo de conhecimento tenha ainda que

se submeter a um longo caminho para, enfim, obter o que a sentença

condenatória concedeu-lhe.

A Lei não é perfeita, e deixou, de enfrentar determinados

problemas, Entretanto, o que importa realmente é que ela ira acelerar

o trâmite da execução.

33 WAMBIER, Luiz Rodrigo. A crise da execução e alguns fatores que contribuem para a sua intensificação – algumas propostas para minimizá-la. Revista Jurídica, nº 316, 2004, pg. 41.

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Basta verificar que a referida Lei, além de terminar por vez com

a necessidade de serem instaurados dois processos, sendo um de

conhecimento e outro de execução, também bane os embargos de

devedor, e em seu lugar, coloca uma simples impugnação, que só terá

efeito suspensivo ocasionalmente. Isto, por si só, já é uma grande

vitória.

Na verdade, extinguiu-se com três processos que arrastavam o

efetivo cumprimento da sentença: o processo autônomo de execução,

o de liquidação de sentença e os embargos de devedor; sendo certo

que estes dois últimos eram, na mais nada menos, que um processo

de conhecimento com direito à citação, réplica, apelação, recurso

especial, etc.

A Lei, em certos pontos, deve ser reconhecida face a seus

acertos.

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CAPÍTULO 6 – Conclusão

Conclui-se que o cumprimento da sentença condenatória sofreu

inúmeras transformações que estamos tenho a oportunidade de

presenciar.

O artigo 461 do Código de Processo Civil já tinha surgido como

um reconhecimento do legislador quanto à ineficácia da separação

entre a execução e o conhecimento. O referido artigo traz uma opção

ao jurisdicionado de executar a sentença condenatória no próprio

processo de conhecimento, trazendo inúmeros artifícios para que o

devedor cumpra com a condenação imposta.

Hoje, completando a reforma do Código de Processo Civil, surge

a Lei 11.232/2005, que termina com o processo de execução por

quantia certa, para por em seu lugar o capítulo “O cumprimento da

Sentença” que consagra a execução como uma fase processual, e não

mais um processo. Vale dizer, o legislador, mais uma vez, traz ao

ordenamento a possibilidade do vencedor executar o sucumbente no

próprio processo de conhecimento.

Verifica-se, portanto, que podemos estar diante de uma

inovação , na qual não se sabe ao certo se a tão esperada reforma

nos trará os malefícios decorrente do excesso de poder do Judiciário,

pois, de forma incontroversa, o legislador está dando ao magistrado o

amplo uso do poder de imperium.

De toda sorte, além dos problemas que ainda não são possíveis

ser previstos, já se verifica que a discussão quanto à classificação das

sentenças voltará a deter maior atenção da doutrina, pois restam

dúvidas, agora, se realmente a classificação trinária é capaz de exaurir

todas os efeitos das sentenças.

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A sentença condenatória, atualmente, não tem mais o condão

de autorizar a instauração de um processo subseqüente, na medida

em que a execução deixou de ser um processo para virar uma fase do

processo de conhecimento.

Vê-se, portanto, que, na verdade, a sentença condenatória

passará a ter os mesmos efeitos da sentença executiva, a qual permite

a execução dentro do processo de conhecimento. Assim, a

classificação, sentença executiva, ao nosso ver, deixa de ser uma

mera espécie do gênero da sentença condenatória, uma vez que a

própria sentença condenatória stricto sensu detém os efeitos da

executiva.

A reforma trazida pela Lei 11.232/2005 trará ainda muitas

discussões . Mas, um passo foi dado para a efetividade do processo.

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