inquerito policial - dr. wilson dias

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  Professor: Wilson da Silva Dias PONTO III - INQUÉRITO POLICIAL I - CONCEITO É o procedimento administrativo (não é processo), de natureza inquisitiva (não há contraditório) conduzido pela polícia judiciária, objetivando colher provas da materialidade e autoria de infração penal, devendo ser reduzido a instrumento escrito. Obs . 1:  - Polícia Administrativa ou de Segurança ou Preventiva ou Ostensiva: - Polícia Judiciária ou Repressiva: O art. 4º atribui à polícia judiciária a função de instaurar o inquérito, com a ressalva contida no parágrafo único, onde possibilita a investigação por outros órgãos, conforme previsão em lei específica (Ex Corregedoria de Justiça e do MP, quando forem investigados juiz ou promotor de justiça, respectivamente). Obs. 2: A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO Há divergência na doutrina e na jurisprudência quanto a legitimidade do Ministério Público para proceder investigações e diligencias visando a propositura da ação penal. Existem julgados afirmando que o Ministério Público não pode instaurar IP ou Procedimento Investigatório Criminal Supletivo, por absoluta falta de previsão constitucional e legal pois o art. 26, IV da Lei 8.625/93 e o art. 129, VIII permite apenas que o Ministério Pùblico requisite diligências investigatórias ou a instauração de Inquérito Policial e que nos termos do artigo 9º da LC 75/93 o controle externo da atividade policial não autoriza ao Ministério Público exercer atividade investigatória (STF, 2ª Turma, ROHC 81.326-7/DF, rel. Min. Nelson Jobim, DJ 1º/08/2003, julgado em 06/05/2003; HC 89.837, Rel. Min. Celo de Mello, j. em 20/10/09, 2ª Turma do STF, DJE de 20/11/09; HC 97.969, Rel. Min. Ayres Brito, j. em 01/02/2011, 2ª Turma do STF, DJE de 23/05/2011). Por outro lado há outras decisões do STJ e de turmas do STF reconhecendo a legitimidade do MP para proceder a investigações e diligências visando a propositura da ação penal, sob o fundamento de que se o MP pode o mais (oferecer ação penal), deduz-se que, também, pode o menos (colher provas) até porque a atribuição da polícia judiciária prevista no artigo 4º do CPP não exclui a de outras autoridades administrativas conforme expressa o parágrafo único do mencionado artigo 4º do CPP (STJ (RHC 12208/SP, julg. 19/03/02, DJU 22/04/02; STJ, 5ª Turma, HC 12.685-MA, Rel. Gilson Dipp, DJ 11/06/2001, EJSTJ, 31/252; STJ, 5ª Turma, HC 37693/SC, Rel. Min. Félix Fischer, DJ 22/11/2004).

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Professor: Wilson da Silva Dias

PONTO III - INQUÉRITO POLICIAL

I - CONCEITO

É o procedimento administrativo (não é processo), de natureza inquisitiva(não há contraditório) conduzido pela polícia judiciária, objetivando colher

provas da materialidade e autoria de infração penal, devendo ser reduzido ainstrumento escrito.

Obs . 1:   - Polícia Administrativa ou de Segurança ou Preventiva ouOstensiva:- Polícia Judiciária ou Repressiva:O art. 4º atribui à polícia judiciária a função de instaurar o inquérito, com aressalva contida no parágrafo único, onde possibilita a investigação poroutros órgãos, conforme previsão em lei específica (Ex Corregedoria de

Justiça e do MP, quando forem investigados juiz ou promotor de justiça,respectivamente).

Obs. 2: A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICOHá divergência na doutrina e na jurisprudência quanto a legitimidade doMinistério Público para proceder investigações e diligencias visando apropositura da ação penal.Existem julgados afirmando que o Ministério Público não pode instaurar IPou Procedimento Investigatório Criminal Supletivo, por absoluta falta de

previsão constitucional e legal pois o art. 26, IV da Lei 8.625/93 e o art. 129,VIII permite apenas que o Ministério Pùblico requisite diligênciasinvestigatórias ou a instauração de Inquérito Policial e que nos termos doartigo 9º da LC 75/93 o controle externo da atividade policial não autoriza aoMinistério Público exercer atividade investigatória (STF, 2ª Turma, ROHC81.326-7/DF, rel. Min. Nelson Jobim, DJ 1º/08/2003, julgado em 06/05/2003;HC 89.837, Rel. Min. Celo de Mello, j. em 20/10/09, 2ª Turma do STF, DJEde 20/11/09; HC 97.969, Rel. Min. Ayres Brito, j. em 01/02/2011, 2ª Turma doSTF, DJE de 23/05/2011).

Por outro lado há outras decisões do STJ e de turmas do STFreconhecendo a legitimidade do MP para proceder a investigações ediligências visando a propositura da ação penal, sob o fundamento de que seo MP pode o mais (oferecer ação penal), deduz-se que, também, pode omenos (colher provas) até porque a atribuição da polícia judiciária prevista noartigo 4º do CPP não exclui a de outras autoridades administrativas conformeexpressa o parágrafo único do mencionado artigo 4º do CPP (STJ (RHC12208/SP, julg. 19/03/02, DJU 22/04/02; STJ, 5ª Turma, HC 12.685-MA, Rel.Gilson Dipp, DJ 11/06/2001, EJSTJ, 31/252; STJ, 5ª Turma, HC 37693/SC,

Rel. Min. Félix Fischer, DJ 22/11/2004).

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-No início de abril de 2009 (HC 91.661-PE, 2ª turma, rel. Min. Ellen Gracie,Informativo nº 538) o STF admitiu a investigação de provas de autoria ematerialidade por parte do Ministério Público, ouvindo testemunhas e vítimaainda mais que os delitos teriam sido praticados por policiais. No mesmo

sentido HC nº 96.638, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 02/12/2010, 1ªTurma do STJ, Informativo 611.Há grande possibilidade do plenário do STF enfrentar este tema (PoderInvestigatório do Ministério Público) no decorrer deste ano.Ver também: ADIN 3806 (ADEPOL questionando a Resolução 13 do CNMP)e ADIN 3309 (ADEPOL alegando a inconsticionalidade de alguns dispoitiviosda Lei Complementar do MP).

II - FINALIDADE

“Visa à apuração da existência de infração penal e à respectiva autoria, a fim

de que o titular da ação penal disponha de elementos que o autorizam apromovê-la”. (F.C.T.F.).III - ATIVIDADES NECESSÁRIAS AO INQUÉRITO

Ouvir testemunhas, tomar declarações da vítima, proceder exame de corpode delito, realizar buscas e apreensões, acareações, reconhecimentos, ouseja, desenvolver todas as atividades necessárias para esclarecer o fatodelituoso.

IV- CLASSIFICAÇÃO DOS INQUÉRITOS

1-Inquérito Policial:  presidido privativamente por Delegado de Políciadestina-se à apuração de infrações penais, exceto as militares. Nada impedeque apure infração penal considerada de menor potencial ofensivo (art. 61 daLei 9.099/95 c/c art. 2º, parágrafo único, da Lei 10.259/01), ainda que a leipreveja, para estes casos, lavratura do Termo Circunstanciado deOcorrência: . ... 2. Não obstante a regra de que nos feitos de competênciados juizados especiais criminais se deva proceder à lavratura do termocircunstanciado, a Lei 9.099/95, a teor do seu art. 77, § 2º, não veda ainstauração do inquérito policial nas hipóteses em que a complexidade ou ascircunstâncias do caso não permitam a formulação da denúncia. 3. Ordemdenegada. (STJ – HC n° 41.348/SP – Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa – 6a.

Turma – DJ de 22.08.05)

2-Inquéritos extrapoliciais:  são inquéritos elaborados por autoridadesoutras que não as policiais, conforme previsto em lei específica, nos termosdo art. 4º, parágrafo único, do CPP.a- Inquérito Policial Militar (IPM): apurar existência de crimes da alçada daJustiça Militar (Dec. Lei 1002/69 - CPPM). O STF (B.I. 66) entendeu quepode haver IPM nos crimes dolosos contra a vida de civil, praticado pormilitar, sem prejuízo de paralelo inquérito instaurado pela polícia civil (ADIN

1494).

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b- Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI - Lei 1.579/52) - Possuempoderes de investigação próprios das autoridades judiciais  –  art. 58, §2º,CF/88.

 A CPI não pode determinar interceptação telefônica e busca e apreensãodomiciliar (reserva de jurisdição), bem como decretar prisão preventiva,

determinar seqüestro, indisponibilidade e apreensão de bens. A CPI, por atofundamentado, pode determinar quebra de sigilos bancário, fiscal etelefônico, e, ainda, busca e apreensão não domiciliar.... A cláusula constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobredeterminadas matérias, como a busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), ainterceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) - traduz a noção de que, nessestemas específicos, assiste ao Poder Judiciário, não apenas o direito deproferir a última palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de dizer, desde logo,a primeira palavra, excluindo-se, desse modo, por força e autoridade do que

dispõe a própria Constituição, a possibilidade do exercício de iguaisatribuições, por parte de quaisquer outros órgãos ou autoridades do Estado.(STF – MS n° 23.452/RJ – Rel. Min. Celso Melo – Pleno – DJ de 12.05.00, p.20)c-Inquérito Civil (Lei 7.347, 24-7-85):  presidido por membro do MinistérioPúblico e objetiva encontrar elementos necessários à propositura da açãocivil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, aoconsumidor, a bens e direitos intelectuais etc.d-Inquérito a cargo do próprio juiz (judicial): Inquérito Judicial. Previsto naantiga Lei de Falência (art. 103 a 108) e no próprio CPP (art. 509) foi abolidopela Lei n° 11.101/05 (nova Lei de Falências) que acabou com o inquérito

 judicial, embora cite-o em seu art. 192, § 1°, mas por evidente falta detécnica legislativa.

 Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede arecuperação judicial, o Ministério Público, verificando a ocorrência dequalquer crime previsto nesta Lei, promoverá imediatamente a competenteação penal ou, se entender necessário, requisitará a abertura de inquérito

 policial.e-Inquérito no STF: Ver RISTF art. 43 e Súmula 397.

f- Inquérito instaurado pela Câmara dos Deputados ou pelo SenadoFederal:Súmula 397 do STF.g-Inquérito instaurado pela Polícia Federal para expulsão deestrangeiro: Lei 6.815/80, art. 70.h- Crime cometido por magistrado: LOMAN (LC 35/79, art. 33, parágrafoúnico).i-Crime cometido por membro do Ministério Público:  LONMP (Lei8.625/93, art. 41, parágrafo único).

V - NATUREZA DO INQUÉRITO

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- É peça de índole administrativa e investigatória, de caráter informativo,preparatório da ação penal, que faz parte da primeira fase da atividadepersecutória. Assim, não sendo o IP ato de manifestação do poder

 jurisdicional, mas mero procedimento informativo (informatio delicti ),destinado a formação da opinio delicti , pelo MP, não há que se falar em

nulidade do IP, mesmo porque ele é dispensável para a propositura da açãopenal ( art.27 do CPP).O que pode haver é a nulidade, apenas, do auto de prisão em flagrante oude determinados atos como, por exemplo, a nulidade do interrogatório,quando obtida confissão mediante tortura etc.

VI - CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

São características próprias do inquérito policial:Inquisitorial   –  a autoridade detém todo o poder de direção do IP e o

investigado é objeto da investigação, não lhe sendo concedida a garantia docontraditório.Formal ou escrito  –  exigência legal de que as peças sejam reduzidas aescrito e assinadas pela autoridade policial.Sistemático  – documentação da investigação nos autos de forma a retratar areconstrução probatória dos fatos, na seqüência em que a mesma se deu.Discricionário  –  a autoridade tem liberdade de agir dentro dos limites dasgarantias constitucionais e processuais, não estando atrelada a formapreviamente determinada na busca das informações. Discricionariedade nãoé arbitrariedade.Unidirecional   –  apuração dos fatos objetos da investigação, não havendo

 juízo de valor.Sigiloso  –  é a discrição necessária à apuração do fato ou exigido pelointeresse da sociedade. Significa a prevalência do interesse público sobre oprivado.O sigilo não alcança o juiz e o MP.O sigilo do IP alcança o advogado???Segundo entendimento majoritário da doutrina (Ada Pellegrini, Tourinho,Dinamarco etc.) o sigilo do inquérito policial não se estende ao advogado,

pois o § 1º, número “1”, do art. 7º da Lei 8.906/94, trata do sigilo, para oadvogado, apenas, em relação aos processos sob regime de segredo de

 justiça. Assim, não foi excepcionada a regra do inc. XIV do mesmo artigo, oqual assegura ao advogado direito de ter vista de inquérito policial emandamento.O STJ entendeu que sendo decretado o sigilo judicialmente, o mesmo seestende ao advogado (BI 143, RMS 12516, julg. 20/08/02), sob ofundamento de que se é possível haver o sigilo até em relação ao processo,com mais razão deve-se admitir no IP, o qual possui natureza inquisitiva.

Mais recentemente, em 03/12/02 (BI 157), o STJ entendeu pela existência do

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sigilo para o advogado, se decretado judicialmente, desde que não impliqueem restrição da liberdade ou ao patrimônio dos investigados, porque nestescasos a CF assegura o contraditório.O STJ, em recente decisão, entendeu que o sigilo do IP alcança o advogado:... Não é direito líquido e certo do advogado o acesso irrestrito a autos de

inquérito policial que esteja sendo conduzido sob sigilo, se o segredo dasinformações é imprescindível para as investigações. O princípio da ampladefesa não se aplica ao inquérito policial, que é mero procedimentoadministrativo de investigação inquisitorial. Sendo o sigilo imprescindívelpara o desenrolar das investigações, configura-se a prevalência do interessepúblico sobre o privado. Recurso desprovido. (STJ – RMS 17.691/SC – Rel.Min. Gilson Dipp – 5ª. Turma – DJ de 14.03.05, p. 388).

 A questão, contudo, foi decidida pelo STF, ao julgar o HC 82.354-8/PR, em10/08/2004, tendo entendido que o art. 5°, inciso LXIII, da CF/88 assegura

ao investigado o direito de silêncio e de assistência de advogado, de formaque tanto o indiciado quanto o advogado têm a faculdade de consultar oinquérito policial, mesmo porque o artigo 7°, inciso XIV, da Lei 8.906/94 nãorestringiu o direito do advogado de acesso ao inquérito policial que tenhasido decretado o seu sigilo. Fundamentou-se ainda no sentido de que ointerrogatório é forma de defesa direta , assegurada constitucionalmente (art.5º, LXIII), por isso o investigado tem o direito de acesso ao IP, a fim de quepossa se inteirar dos fatos e exercer de forma plena o seu direito desilêncio/defesa direta, decidindo se lhe é melhor responder ou não asperguntas que lhe forem formuladas. No entanto, ressalvou que o direito doadvogado não alcança as diligências em curso, como as interceptaçõestelefônicas, cuja publicidade evidentemente obviaria em fracasso. ... 3. Aoponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma garantia constitucionaldo indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura, quando preso, e pelomenos lhe faculta, quando solto, a assistência técnica do advogado, que estenão lhe poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do inquéritosobre o objeto do qual haja o investigado de prestar declarações. 4. O direitodo indiciado, por seu advogado, tem por objeto as informações jáintroduzidas nos autos do inquérito, não as relativas à decretação e às

vicissitudes da execução de diligências em curso (cf. Lei nº 9.296, atinenteàs interceptações telefônicas, de possível extensão a outras diligências);dispõe, em conseqüência a autoridade policial de meios legítimos para obviarinconvenientes que o conhecimento pelo indiciado e seu defensor dos autosdo inquérito policial possa acarretar à eficácia do procedimentoinvestigatório. (STF – HC n° 82.354/PR – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – 1ª.Turma – DJ de 29.04.04, p. 42).- Em ses são pl enária ocorr id a em 02/02/09 o STF ed ito u a SÚMUAVINCULANTE nº 14 que reco nhece o ac esso aos au tos do inq uérito

pol ic ia l por parte do advogado do indic iado com o direi to con st i tuc ional

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dos invest igados - “É direito do defensor, no interesse do representado,ter acesso amplo aos elemento s de pro va que, já documentados empro cedim ento inv estigatório realizado po r órgão c om competênc ia depo li ci a jud ic iária, d igam respeito ao exercíc io do direito de defesa.”. 

VII - ATRIBUIÇÃO PARA O INQUÉRITOEntendido aqui como o poder de um funcionário em conhecerdeterminado assunto, presidindo o inquérito.

O art. 144, § 4º, da CF/88 dispõe que o IP deverá ser presidido pordelegado de carreira, o que impede a nomeação de delegados “calça curta”,ressalvando-se os inquéritos policiais militares. A atribuição, freqüentemente,é distribuída em função do lugar (ratione loci ), porém, nos centros em que aspolícias estão especializadas, faz-se a distribuição da atribuição por matéria(ratione materiae).

Delegacias Circunscricionais (ou distritais): estão subordinadas emgrupos a uma Delegacia Regional.Inquérito elaborado por autoridade que não tenha atribuição em

razão da matéria (ratione materiae),  não anula o trabalho, apenas o MPpedirá a remessa dos autos a Comarca onde irá tramitar o processo.

 A atribuição para a lavratura do auto de prisão em flagrante é da autoridadepolicial do lugar onde ocorrer a prisão, ainda que outro seja o local do crime(arts. 290 e 308 do CPP).

VIII - NOTITIA CRIMINIS

É o meio pelo qual é dado conhecimento à autoridade estatal (polícia, MPou magistrado) da prática de uma infração penal.Espécies:de Cognição imediata ou notícia direta - quando o conhecimento dainfração penal decorre de atividades rotineiras da autoridade policial: exp: porpublicação popular, pela delação de terceiros ou outras formas ocasionais(instaura-se o IP através de portaria);de Cognição mediata ou notícia indireta -  a Autoridade policial éoficialmente informada por requerimento ou representação do ofendido,

requisição do MP, Juiz ou Ministro da Justiça (instaura-se o inquérito combase no requerimento ou requisição apresentados - delação postulatória);de Cognição coercitiva - o conhecimento decorre da prisão em flagrante(instaura-se o inquérito com base no auto de prisão em flagrante).

IX - OBRIGAÇÃO DE ATENDIMENTO DA REQUISIÇÃO

 A Autoridade Policial, em princípio, não poderá deixar de cumprir àsrequisições do juiz ou do MP, exceto nos seguintes casos (segundo parte da

doutrina):

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extinção de punibilidade e ilegitimidade do requerente (ação penal privada)

X - INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICACONDICIONADA

1 - CONDIÇÕES- Art. 5º, § 4º - somente será iniciado o inquérito se ocorrer a representaçãodo ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça à Autoridade Policial.- Não se admite a  delatio criminis  nesse caso, o que torna sem efeito oparágrafo 3º do art. 5º.- Representação  - é a manifestação da vontade da vítima ou do seurepresentante legal para que o Estado dê início à persecutio criminis.- A representação pode ser oral, mas terá que ser reduzida a termo.- Representação feita ao juiz: será remetida a Autoridade Policial,acompanhada de requisição.- Prazo para a representação  (regra geral): 6 meses a partir da data deinvestidura do direito e conhecimento do autor do crime (decadencial) e,excepcionalmente, 3 meses, a contar da publicação da ofensa, nos crimesde imprensa (art. 41, § 1º, da Lei 5.250/67).- Legitimidade para a representação - é da vítima ou quem tiver qualidadepara representá-la (art. 24, § 1º, CPP).- Se a vítima for menor de 18 anos, a representação está a cargo do seurepresentante legal, sem prejuízo de a mesma exercer seu direito derepresentação ao completar 18 anos, pois se trata de dois direitos, nostermos da súmula 594 do STF.Requisição do Ministro da JustiçaHipóteses: crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil(art. 7º, parágrafo 3º, b, do CP); contra o Presidente da República: se calúniaou difamação (parágrafo único do art. 145 CP); Lei de Imprensa: crimescontra a honra de Ministros, Chefes de Estado ou Governo Estrangeiro, etc.;Código Penal Militar: outras hipóteses.Não está sujeita a prazo decadencial, podendo ser feita até a prescrição docrime.

XI - O INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA

- Art. 5º, parágrafo 5º, do CPP: somente a pessoa com o direito à ação penalprivada é que poderá requerer a instauração do inquérito, não podendo omesmo ser instaurado de ofício.

Mulher casada

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Terminada a colheita das provas far-se-à um relatório dos fatos apurados,remetendo-se os autos de inquérito ao juiz.

XIV - PROVIDÊNCIAS DO MP AO RECEBER O INQUÉRITO- Depois de entregue o inquérito ao Promotor, este tomará uma das

seguintes providências:- oferece denúncia;- promove o arquivamento;- requer a volta à polícia para novas diligências, quando imprescindíveis paraa oferta da denúncia (art. 16, CPP).- requer que os autos permaneçam em cartório, aguardando providência davítima no prazo previsto em lei, quando se tratar de ação penal privada.1 - JUIZreceber ou não a denúncia;

concordar ou não com o arquivamento;concordar, sem criar embaraços, com a volta dos autos para novasdiligências requeridas pelo MP.

XV - QUESTÕES CONTROVERTIDAS / INTERESSANTES

1) Não é indispensável para a propositura da ação penal (arts. 12, 27, 39,parágrafo 5º, e 46, § 1º, CPP e STF RTJ 76/41);2) Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberecurso para o chefe de polícia (Diretor de Polícia) – art. 5º, § 2º do CPP;3) A abertura de Inquérito Policial e o pedido de explicações em juízo nãosuspendem nem interrompem o prazo decadencial de 06 meses para queixa-crime;4) O juiz não pode indeferir pedido do Ministério Público de retorno do IP àDelegacia de Polícia, sob pena de ensejar correição parcial (RT 455/402),pode, contudo, aplicar o art. 28 do CPP, quando a diligência solicitada fordispensável para oferta da denúncia, pois caberia ao Promotor de Justiçautilizar-se da faculdade do art. 47 do CPP;5) Só o juiz pode arquivar o Inquérito Policial, não podendo agir de ofício (RT464/401);

6) O despacho judicial de arquivamento do IP, a pedido do MP, é irrecorrível(exceções: art 7º da Lei 1.521/51; art. 6º, parág. único da Lei 1508/51 e art.12, inc. XI, da Lei 8.625/93), não podendo ser intentada a ação penal, pelomesmo fato, ou desarquivado o IP sem novas provas - súmula 524 STF.Dependendo do fundamento da decisão que determina o arquivamento do IP,

 produz coisa julgada material ( HC 83.346, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j.17/05/2005, 1ª Turma do STF, DJ de 19/08/2005; Inquérito 2934, Rel. Min.Dias Tóffoli, j. 25/11/2011, Plenário do STF, DJE de 22/02/2011);

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7) Arquivado o I.P., não poderá a vítima ofertar ação penal privadasubsidiária sem novas provas, relativo ao mesmo fato, por que não houveinércia do MP;8) Inexiste nulidade do Inquérito Policial, por ser dispensável à propositura daação penal, o que não se confunde com nulidade de flagrante, quando faltar

determinada formalidade. Ver RE 626.600-AgR, Rel. Min. Carmem Lúcia, julgamento de 09/11/2010, 1ª Turma do STF, DJE de 25/11/2010;9) Formas de Arquivamento:Expresso - determinado, por decisão judicial, o arquivamento.Tácito - quando o MP não oferecer denúncia em relação a todos indiciadosou crimes e o juiz não proceder nos termos do art. 28 CPP. - Mirabete e

 Antônio Paganella não admitem o arquivamento tácito, pois o art. 569 doCPP permite o suprimento das omissões da denúncia ou queixa até asentença, e, também, em razão do princípio da obrigatoriedade e porque os

arts. 18 e 28 do CPP exigem decisão fundamentada para o arquivamento doIP. Ademais, o art. 93, IX, da CF/88, exige que toda decisão judicial sejafundamentada, sob pena de nulidade, o que leva a concluir que inexistedecisão judicial tácita ou por omissão. O STF já decidiu nesse sentido,vejamos: “...Inexiste disposit ivo legal que preveja o arquivamentoimplícit o do in quérit o pol ici al, devendo ser o ped ido fo rm uladoexpressamente, a teor do disp osto n o art . 28 do Código Proc essualPenal. Inap lic abi lid ade do p rincípio da in di vi si b ili dad e à ação pena l

 pública.” ( RHC 95.141 , Rel. Min. Ricardo L ewandowski, julgamento em6-10-2009, Primeira Tu rm a, DJE de 23-10-2009.) ”  Também, ultimamente, não se tem admitido mais o arquivamento indireto (quando o promotor deixar de ofertar a denúncia por entender serincompetente o juízo, e não forem adotadas as regras do art. 28 do CPP),sob o fundamento de que somente o poder judiciário decide sobrecompetência, por isso não há conflito entre o juiz e o promotor, de forma queem não concordando com a decisão judicial, sobre a competência para aação penal, deve o promotor recorrer ou se resignar.10) Havendo divergência entre membros do MP sobre a atribuição para a

oferta da denúncia, instaura-se o conflito de atribuições a ser resolvido peloProcurador-Geral de Justiça (art. 10, X, da Lei 8.625/93), desde que não hajapronunciamento judicial .11) O pedido de arquivamento por um representante do MP impede queoutro, que o suceda, ofereça a denúncia, ainda que não proferido odespacho de arquivamento pelo juiz (STF - RT 618/405, TJRS - RT 602/409),sob pena de violação dos princípios do devido processo legal (art. 28, CPP)e do promotor natural (STJ, julg. de 28/04/98 - RT 755/569).12) Havendo conflito de atribuições entre promotores de Estados diferentes,

segundo alguns doutrinadores, compete ao STF dirimir o conflito, nos termos

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do art. 102, I, “f”, da CF/88. O STF  (BI 276, DJU de 08/08/02 e BI 421, de31.03.2006) entendeu o contrário, sob o fundamento de que a questão nãoapresenta potencialidade ofensiva suficiente a colocar em risco o pactofederativo, com a ruptura da harmonia nas relações entre os integrantes doEstado Federal, sendo, pois, da competência do STJ, por haver um conflito

virtual de competência. Na hipótese de a autoridade judiciária emitir juízode valor sobre a proposição do MP, trata-se de conflito concreto  decompetência, a ser decidido, também, pelo STJ (art. 105, I, “d”, CF/88, RT592/397). Já em 2007, o STF, por uma de suas turmas e com a sua novacomposição, passou a decidir no primeiro sentido, ou seja, de lhe competir

 julgar o conflito de atribuições entre membros do MP vinculados a Estadosdistintos ou entre MP estadual e Federal (Pet3631/SP, jgt de 06.12.2007,B.I.491, de 07.12.2007; ACO 853/RJ, jgt de 08.03.2007)13) Quando houver o pedido de arquivamento do IP por sub-procurador da

república, com atuação no STJ, não cabe a adoção das regras do art. 28 doCPP, em face do mesmo atuar como representante do Procurador Geral daRepública.14) A doutrina e jurisprudência não admitem a condenação com base apenasna prova colhida no inquérito policial (se não houve repetição em juizo), dadaa natureza inquisitiva deste, onde não vigoram os princípios do contraditórioe da ampla defesa (RT 426/395, RTJ 67/74 e 59/789).  A Lei 11.690 de09/06/2008 alterou o art. 155 do CPP e expressamente proíbe o juizfundamentar “sua decisão exclusivamente nos elementos informativoscolhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis eantecipadas.”  15)  Indiciamento  –  é o ato formal em que a autoridade policial imputa àdeterminada pessoa a autoria da prática de uma infração penal investigada,segundo os indícios probatórios existentes no IP. Por se tratar de merainformatio delicti, não vincula o MP, ao oferecer a ação penal.16) Quando, no decorrer das investigações, surgir indícios da participaçãode magistrado ou membro do Ministério Público na prática de crime, deverá oIP ser remetido à Corregedoria de Justiça doTribunal a que estiver vinculadoo magistrado (art. 33, parag. único, da LC 35/79), no primeiro caso, e ao

Procurador-Geral no segundo caso (art. 41, parágrafo único, da Lei8.625/93).17) Quando o investigado gozar de foro privilegiado, o IP será presidido pelorelator, o qual poderá requisitar o auxilio da autoridade policial. Não precisa aautoridade policial de autorização do Tribunal para a instauração do IP, salvoquando o investigado for juiz ou promotor (STF, BI 233). A propósito, o STF(HC 82507/SE BI 294) consignou que “a remessa do  inquérito policial aoTribunal não faz deste autoridade investigadora, mas apenas lhe comete asfunções, jurisdicionais ou não, ordinariamente conferidas ao juiz de primeiro

grau”.O STJ, ao contrario, entende que as investigações deverão ser

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presididas pelo Tribunal que competir julgar a autoridade detentora do foroprivilegiado. Diante de alguns abusos cometidos em investigaçõesconduzidas pela policia, o STF sinalizou pela necessidade de autorização doTribunal para o indiciamento da autoridade investigada (Inq 2411 QO/MT,

 julg. 10.10.2007). Nada impede, no caso de prefeito, que o Promotor de

Justiça requisite a instauração do IP (RT 699/312).

PONTO IV – DA AÇÃO PENAL

I – CONCEITOÉ o direito subjetivo, público, autônomo e abstrato de alguém requerer

ao Estado-Jurisdição a prestação jurisdicional à tutela de um direito violadoou na iminência de o ser, ou fazer valer um direito já reconhecido (execução).

II - CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL

São os requisitos mínimos exigidos para que o indivíduo possa requerera tutela do Estado-Jurisdição. O artigo 395, II do CPP com a redaçãoatribuída pela Lei 11.719 de 20/06/08 dispõe que a denúncia ou queixa serárejeitada quando faltar  “condição para o exercício da ação penal” .

 A doutrina as classificam em condições genéricas e condiçõesespecíficas da ação penal (condições de procedibilidade).

1 – CONDIÇÕES GENÉRICAS:

Possibilidade jurídica do pedido

Caracteriza-se quando o pedido for possível de atendimento.

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Conforme observa Fernando Capez “no processo civil o conceito depossibilidade jurídica é negativo, isto é, ele será juridicamenteadmissível desde que, analisado em tese, o ordenamento não o vede.No processo penal seu conceito é aferido positivamente: aprovidência pedida ao poder judiciário só será viável se o

ordenamento, em abstrato, expressamente a admitir.”  A análise sobre a possibilidade jurídica do pedido deve ser feita deacordo com os fatos abstratamente descritos na denúncia, semanalisar as provas porventura existentes.

a)Legit im at io ad causamSó o titular do direito material pode exercitar o direito de ação -legitimação ordinária - , salvo se autorizado por lei a postular emnome próprio direito alheio  –  legitimação extraordinária ou

substituição processual - (art. 100 do CP e art. 6º do CPC c/c art. 3ºdo CPP).No Processo Penal só o Ministério Público é detentor da legitimaçãoordinária da ação penal, sendo o querelante detentor, apenas, da“legitimatio” extraordinária, porque o titular do “ jus  puniendi ” é oEstado, o qual proibiu a autodefesa.

b)Interesse para agirQuando a pretensão deduzida em juízo se apresenta necessária, útile adequada para a satisfação do direito subjetivo, ou seja, quando aparte não pode realizar o seu direito material de outra forma.

 A necessidade funda-se na impossibilidade de ser imposta a penasem o devido processo legal.

 A utilidade traduz-se na eficácia do provimento jurisdicional parasatisfação da pretensão in judicium deducta. Com base nestacondição, a doutrina e parte da jurisprudência estão admitindo aprescrição retroativa pela pena em hipótese (ou em perspectiva, ouvirtual), em que possibilita ao juiz rejeitar a denúncia (art. 395, II, 2ºparte, do CPP), quando as circunstâncias evidenciarem desde logo

que, inevitavelmente, pela pena em concreto, ocorreria a prescriçãoretroativa.

 A adequação cinge-se no uso da via processual correta paraaplicação da sanção penal solicitada

2 - CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DE PROCEDIBILIDADE (exemplificativo):

a)Representação do ofendido ou substituto legal, ou ainda requisição doMinistro da Justiça, na ação penal pública condicionada.

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b)Trânsito em julgado da sentença anulatória de casamento (art. 236,parágrafo único, CP) no único caso de ação privada personalíssima.c)Arquivamento do inquérito, ou absolvição no crime de denunciaçãocaluniosa (art. 339, CP) – STF, HC 82941/RJ, Jugt.º 16/06/2003.d)Laudo pericial homologado nos casos de crimes contra a propriedade

imaterial, se deixar vestígios.

3  – JUSTA CAUSA

 A justa causa, para o mestre Afrânio da Silva Jardim, consistir-se-ia umaquarta condição da ação, e é caracterizada pelo insigne jurista como aexi stência de elem ent os proba tório s mínim os que dão las tro àacusação, am parando a imputação . Assim seria em virtude de que oajuizamento da ação penal já seria suficiente para atingir o estado de

dignidade do acusado.Na ótica de Frederico Marques, é preciso que haja o fumus boni juris para que a ação penal contenha condições de viabilidade. Do contrário,inepta se apresentará a denúncia, por faltar legítimo interesse e,conseqüentemente, justa causa.

É o entendimento também, dentre outros, de Mirabete, Rogério LauriaTucci, Eugênio Pacelli e Paulo Rangel

Guilherme Nucci leciona que a justa causa não é, em si mesmo, umadas condições da ação, mas uma síntese das outras condições da ação.

 Assim, inexistindo uma delas, não há justa causa para a ação penal.Para Tourinho, a justa causa está contida no interesse de agir como

condição da ação penal, que ele chama de interesse legítimo. É a posição deGianpaolo Poggio Smanio.

Por sua vez, o STF e o STJ entendem também que a justa causa, aexemplo de Afrânio da Silva Jardim, é a existência de elementosindispensáveis que autorizam o exercício da ação penal; mas também têmdecidido que há ausência de justa causa nos casos de atipicidade materialcomo, por exemplo, na aplicação do princípio da insignificância.

Em lapidar voto proferido na relatoria do Inq. nº 1.978/PR, o ilustre

Ministro Celso de Melo dá com profundidade o significado da justa causacomo instrumento permissivo para a ação penal:

SUPOSTA PRÁTICA DO DELITO DE CORRUPÇÃOELEITORAL (CE, ART. 299) - FORMULAÇÃO DEDENÚNCIA SEM APOIO EM ELEMENTOSPROBATÓRIOS MÍNIMOS - IMPUTAÇÃO CRIMINALDESVESTIDA DE SUPORTE MATERIAL IDÔNEO -INADMISSIBILIDADE - CONTROLE JURISDICIONAL

PRÉVIO DA PEÇA ACUSATÓRIA - NECESSIDADE

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DA EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS DE CONVICÇÃOMÍNIMOS QUE AUTORIZEM A ABERTURA DOPROCEDIMENTO PENAL EM JUÍZO - AUSÊNCIA,NO CASO, DE BASE EMPÍRICA QUE DÊCONSISTÊNCIA À ACUSAÇÃO CRIMINAL -

DENÚNCIA REJEITADA. - A imputação penal - quenão pode constituir mera expressão da vontadepessoal e arbitrária do órgão acusador – deve apoiar-se em base empírica idônea, que justifique ainstauração da "persecutio criminis", sob pena de seconfigurar injusta situação de coação processual, poisnão assiste, a quem acusa, o poder de formular, em

 juízo, acusação criminal desvestida de suporteprobatório mínimo. O processo penal condenatório -

precisamente porque não constitui instrumento dearbítrio e de opressão do Estado - representa, para ocidadão, expressivo meio de conter e de delimitar ospoderes de que dispõem os órgãos incumbidos daatividade de persecução penal. O processo penal, quese rege por padrões normativos consagrados naConstituição e nas leis, qualifica-se como instrumentode salvaguarda da liberdade do réu, a quem nãopodem ser subtraídas as prerrogativas e garantiasasseguradas pelo ordenamento jurídico do Estado.Doutrina. Precedentes. - Não há justa causa para ainstauração de persecução penal, se a acusação nãotiver, por suporte legitimador, elementos probatóriosmínimos, que possam revelar, de modo satisfatório econsistente, a materialidade do fato delituoso e aexistência de indícios suficientes de autoria do crime.Não se revela admissível, em juízo, imputação penaldestituída de base empírica idônea, ainda que aconduta descrita na peça acusatória possa ajustar-se,

em tese, ao preceito primário de incriminação. -Impõe-se, por isso mesmo, ao Poder Judiciário, rígidocontrole sobre a atividade persecutória do Estado,notadamente sobre a admissibilidade da acusaçãopenal, em ordem a impedir que se instaure, contraqualquer acusado, injusta situação de coaçãoprocessual. (STF – Inq nº 1.978/PR  – rel. Min. Celsode Mello – DJ de 17.08.07, p. 24).

E na esteira desse entendimento, o STJ:

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HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. ART. 89 DA LEI N.º8.666/93. ... AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA.

 AUSÊNCIA DE QUALQUER ELEMENTO INDICIÁRIO.TRANCAMENTO. 1. O regular exercício da ação penal

 – que já traz consigo uma agressão ao status dignitatisdo acusado  – exige um lastro probatório mínimo parasubsidiar a acusação. Não basta mera afirmação deter havido uma conduta criminosa. A denúncia deve,ainda, apontar elementos, mínimos que sejam,capazes de respaldar o início da persecução criminal,sob pena de subversão do dever estatal eminaceitável arbítrio. Faltando o requisito indiciário dofato alegadamente criminoso, falta justa causa para a

ação penal. Precedentes do STJ e do STF. 2. Ordemconcedida para trancar a ação penal em tela somenteem relação ao ora Paciente, tendo em vista a ausênciade elementos probatórios mínimos, os quais, se equando verificados, poderão subsidiar nova denúncia,nos termos do art. 43, parágrafo único, do Código deProcesso Penal. (STJ  –  HC nº 65.501/DF  –  rel. Min.Laurita Vaz – DJ de 29.06.07)

Os tribunais não demonstram ocupar-se em conceituar a justa causacomo condição independente ou não da ação penal.

“... Isso significa, portanto, que, ainda que a condutadescrita na peça acusatória possa ajustar-se, em tese,ao preceito primário de incriminação, mesmo assimesse elemento não basta, só por si, para tornar viávele admissível a imputação penal consubstanciada nadenúncia oferecida pelo Ministério Público...” (voto doMin. Celso de Melo no Inq nº 1.978/PR).

Por fim, com o advento da Lei nº 11.719/08, a justa causa passou a ser,expressamente, instituto a ser observado no juízo de admissibilidade da açãopenal (situação já experimentada na revogada Lei nº 10.409/02), cujaausência leva à rejeição da vestibular acusatória.

Interessante notar que o legislador dessa nova lei optou por dissociar a justa causa das outras circunstâncias que compõem as condições para aação penal. É que o artigo 43 do CPP foi revogado pela Lei 11.719, de20/06/2008 e as hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa foram inseridasface àquela alteração legislativa no artigo 395 do CPP, que agora prevê

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expressamente a ausência de justa causa como hipótese para rejeição dapeça acusatória.

III – FUNDAMENTOS DA AÇÃO PENAL

O Estado chamou a si a tarefa de administrar a justiça, fazendo-o por

meio do processo, que é verdadeiro substitutivo da vingança privada.Passou, então, o Estado, a ser o detentor do monopólio da administração da justiça. Mas é certo que não proibiu, terminantemente, outras formascompositivas de litígios, como a autodefesa e a autocomposição, que sãoformas excepcionais de resolução da lide.

 Assim, o fundamento do direito de ação repousa na proibição daautodefesa, e o seu fundamento jurídico está na Constituição Federal, art.5º, inc. XXXV, que dispõe que a lei não excluirá da apreciação do PoderJudiciário lesão ou ameaça a direito, e no art. 345 do CP, que define e tipifica

o crime de exercício arbitrário das próprias razões.

IV - CLASSIFICAÇÃO DA AÇÃO PENAL:

PúblicaIncondicionada: de exclusividade do MP (independe de manifestação deoutrem)Condicionada: embora de iniciativa do MP, depende de representação doofendido, ou de quem tiver qualidade para representá-lo, ou requisição do

Ministro da Justiça.

Privada: o  jus puniende continua nas mãos do Estado, todavia, porquestão de política criminal, o jus persequendi in judicio é deixado a cargo davítima ou seu representante, que avaliará quanto à conveniência eoportunidade de instauração da persecução penal.Principal: quando a iniciativa para promover a Ação Penal pertence, desdelogo, ao ofendido ou a seu representante legal.Subsidiária da pública: quando a legitimidade surge para o ofendido em

razão do M P não promover a ação penal pública no prazo legal (art. 5º, LIX,CF).Personalíssima: ocorre quando somente a vítima, e mais ninguém, podepropor a ação penal privada (art. 236 CP - ocultação de impedimento paracontrair casamento). Adesiva: quando houver conexão entre crimes punidos mediante ação penalpública e privada.

V - AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA

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É a forma comum de exercício da ação penal promovida exclusivamentepelo Ministério Público e que não se submete à qualquer manifestação devontade da vítima para sua procedibilidade, embora, eventualmente, possasubmeter-se a outras condições de procedibilidade.

 A ação penal é pública incondicionada sempre que a lei, ou a

 jurisprudência, não dispuser de forma expressa sobre qualquer outra formaespecífica para sua promoção, casos em que se utiliza as expressões:“somente se procede mediante queixa”; ou “somente se procede medianterepresentação”; ou “somente se procede mediante requisição do Ministro daJustiça”. 

Nos termos do art. 24, §2º, do CPP, após alteração pela Lei 8.699/93,passaram a ser de ação penal pública todos os crimes praticados emdetrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado ou Município (porexemplo: prática do crime definido no art. 179 CP, em execução movida por

ente público).Princípios regedores da Ação Penal Pública Incondicionada: oficialidade,

obrigatoriedade, indisponibilidade e intranscendência.

É inaplicável à Ação Penal Pública o princípio da indivisibilidade (RHC95.141, Rel. Min. Ricardo Lewandow sk i, j. em 06/10/09, 1ªTurm a do STF,DJE de 23/10/09).

1 - PRAZO PARA DENÚNCIA:

a)Prazos comuns – art. 46 do CPP:Réu solto: 15 diasRéu preso: 05 dias

b)Prazos especiaisCrimes de drogas (art. 54 da Lei nº 11.343/06) e eleitoral (art.357 do CE): 10dias, réu preso ou solto.

Crime contra a economia popular: 2 dias, réu preso ou solto (art. 10, § 2º, daLei 5521/51) .Crime de abuso de autoridade: 48 horas (art. 13 da Lei 4.898/65)

VI - AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO

1 – CONCEITO E GENERALIDADES.

É aquela cujo exercício se subordina a uma condição: manifestação

inequívoca da vontade o ofendido ou de ser representante legal.

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O MP, titular desta ação, só pode dar início se a vítima ou seu representantelegal a autorizarem, por meio de uma manifestação de vontade.Quando a conduta delitiva, além de ofender um interesse público, lesa,também, a esfera íntima da vítima ou um interesse político, de forma que setorna conveniente deixar ao talante da vítima, ou do Ministro da Justiça

(quando for o caso), o início da persecutio criminis.Há, pois, uma colisão de interesses entre a exigência de repressão do autorda conduta delitiva e a vontade da vítima de que a sociedade não tomeconhecimento do fato que lesionou a sua esfera íntima.Por isso, o Estado permite que a conveniência do exercício da ação penalfique a cargo da vítima ou do seu representante legal, evitando, assim, que ostrepitus judicii (escândalo do processo) se torne um mal maior para oofendido do que a impunidade dos responsáveisNeste caso, o crime afeta tão profundamente a esfera íntima do indivíduo que

a lei, a despeito da sua gravidade, respeita a vontade daquele, evitando,assim, que o strepitus judicii  (escândalo do processo) se torne um mal maiorpara o ofendido do que a impunidade dos responsáveis.Há análise do contrapeso entre a impunidade e desgaste inevitável doprocesso.

2 - NATUREZA JURÍDICA DA REPRESENTAÇÃO.

Trata-se de condição objetiva e absoluta de procedibilidade.Sem a representação do ofendido ou, quando for o caso, sem a requisição doMinistro da Justiça, não é possível dar início à persecução penal através dapromoção da ação, e constitui um dos motivos para que o juiz, a teor do quedispõe o art. 395, II, do CPP, rejeite a exordial acusatória.Diferente do que ocorre com a ação privada, onde vige o princípio daindivisibilidade, tratando-se de concurso de pessoas a representação não épessoal, ou seja, não se representa contra Antônio, Beatriz, Carlos etc.Como a representação é uma manifestação de vontade do ofendidoconsistente em autorizar a ação do Ministério Público, essa autorização dá

ao órgão da acusação estatal liberdade de promover a ação em face detodos os que concorreram para o crime, indistintamente.

 A isso dá-se o nome de eficácia objetiva da representação.

3 – DESTINATÁRIO

 A representação pode se destinar à autoridade policial, ao Ministério Públicoou ao Juiz de Direito.4 - CRIMES CUJA AÇÃO PENAL É PÚBLICA CONDICIONADA

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art. 129, caput e § 6º, do CP, c/c art. 88 da Lei 9.099/95  –  lesõescorporais leves e culposas;

ohá divergência jurisprudencial quanto a forma daação penal por crimes de lesões corporais de naturezaleve, tratando-se de crime conceituado como deviolência doméstica ou familiar contra a mulher.

art. 130, § 2º, do CP –  contágio venéreo;

art. 145, parágrafo único, do CP – crimes contra a honra de funcionáriopúblico

oO STF, nos termos da Súmula 714, firmouentendimento de que: é concorrente a legitimidade doofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,

condicionada à representação do ofendido, para aação penal por crime contra a honra de servidor

 público em razão do exercício de suas funções;

art. 145, parágrafo único, do CP – crime de injúria racial (alterado pelaLei nº 12.033/09)

art. 147, parágrafo único, do CP – ameaça;

arts. 213 a 216-A (crimes contra a liberdade sexual), desde que a

vítima seja maior de 18 anos ou não seja considerada vulnerável;art. 15l, § 1º, do CP – violação de correspondência;

art. 152, parágrafo único, do CP  –  violação de correspondênciacomercial;

art. 156, § 1º, do CP – furto de coisa comum;

art. 176, parágrafo único, do CP – (outras fraudes);

art. 182 do CP  –  disposições gerais sobre os crimes contra opatrimônio; e

art. 196, § 2º, do CP – concorrência desleal;

4 - TITULAR DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO.

O ofendido maior de 18 anos. Se menor, ou incapaz, será titular também seurepresentante legal.

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O STF editou a Súmula 594 esposando o seguinte entendimento: os direitosde queixa e de representação podem ser exercidos, independentemente,

 pelo ofendido ou por seu representante legal .Significa que, diante do confl it o d e vontades para o exercício darepres en tação , deverá se aguardar a cessação da incapacidade etária do

ofendido – que, segundo o STF, possui o direito, mas não pode exercê-lo – quando se iniciará para ele o prazo decadencial para o exercício daqueledireito que, via de regra, se esgotará quando o ofendido completar 18 anos e6 meses de idade.

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEASCORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR.OFENDIDA MENOR DE DEZOITO ANOS. DIREITODE QUEIXA. OMISSÃO DO REPRESENTANTELEGAL. QUEIXA DA OFENDIDA AO ATINGIR

DEZOITO ANOS. DECADÊNCIA. SÚMULA 594-STF.CPP, ARTS. 33, 34, 50, PARÁGRAFO ÚNICO, E 52. I.- O direito de queixa poderá ser exercido tanto pelaofendida como pelo seu representante legal. Nahipótese de omissão ou de renúncia deste, a ofendida,ao completar 18 (dezoito) anos, poderá exercer essedireito de queixa, sendo que, nesse caso, o prazodecadencial começará a fluir a partir da data em queela atingir a maioridade penal. Precedente do STF.RECr 94.524-MS, Relator para o acórdão Min. Néri daSilveira. II. - H.C. indeferido. (HC nº 75.697, Relator(a):Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em03/02/1997, DJ 19-09-2003

PP-00031 EMENT VOL-02124-05 PP-00892)

É entendimento também do STJ:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS

SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ART.214 C/C ART. 224, ALÍNEA A, AMBOS DO CP.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EXTINÇÃO DAPUNIBILIDADE. DECADÊNCIA DO DIREITO DEREPRESENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. PRAZOSINDEPENDENTES PARA O OFENDIDO E SEUREPRESENTANTE LEGAL.

I - Os prazos para o exercício do direito de queixaou representação correm separadamente para o

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6 - FORMA

 A representação prescinde de forma especial.O STF e outros tribunais têm declarado a desnecessidade de formalismo narepresentação (RTJ 112/1. 093 e 116/777), admitindo, como tal, simples

manifestações de vontade da vítima, desde que evidenciadoras da intençãode que seja processado o agente. Assim, servem como representação, por exemplo, as declarações prestadasà polícia, pelo ofendido, identificando o autor da infração penal (RT 436/348).

7 – IRRETRATABILIDADE

 A representação é irretratável após o oferecimento da denúncia (art. 25 do

CPP e 102 do CP).Tratando-se de crimes considerados de violência doméstica ou familiar contraa mulher, assim conceituados pela Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha),desde, lógico, que sejam de ação penal pública condicionada, a teor de seuart. 16, a retratação pode se dar até o ato de recebimento da denúncia, emaudiência designada especificamente para essa finalidade.É ainda possível uma espécie de retratação no Juizado Especial Criminalquando, mesmo após a representação e o oferecimento da denúncia, emsede de audiência de instrução e julgamento quando o ofendido venha acompor-se com o autor do fato ou desista  do processo (art. 79 da Lei nº9.099/95).

a)Retratação da retratação

 Admite-se a retratação da retratação, desde que esta se dê dentro do prazooriginal para a representação e que não seja evidenciada a má-fé de quemdetém o direito.Tourinho Filho não admite, pois entende que a retratação implica em renúnciatácita ao direito de representação.

8 - NÃO VINCULAÇÃO

 A representação não obriga o MP a oferecer a denúncia, devendo esteanalisar se estão presentes as demais condições da ação para suapropositura.

VII - AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO DAJUSTIÇA

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É aquela cujo exercício se subordina a uma requisição do Ministro daJustiça, como condição absoluta de sua procedibilidade.Sendo um ato político, essa requisição faz a persecução penal se submeter àconveniência política

1  –  CRIMES CUJA AÇÃO PENAL DEPENDE DE REQUISIÇÃO DOMINISTRO DA JUSTIÇA

São raras as hipóteses em que a lei subordina a persecução penal ao atopolítico da requisição:

a)crime por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil (art. 7º, § 3º, b,do CP);

b)crimes contra a honra cometida contra Chefe de Governo estrangeiro

(art. 141, I, c/c parágrafo único do art. 145 do CP e art. 26 da Lei deSegurança Nacional – Lei nº 7.170/83);

c)crimes contra a honra praticada contra o Presidente da República (art.141, I, c/c art. 145, parágrafo único, do CP);

2 - NATUREZA JURÍDICA DA REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA

Trata-se de condição objetiva e absoluta de procedibilidade. Sem arequisição do Ministro da Justiça, não é possível dar início à persecuçãopenal através da promoção da ação, e constitui um dos motivos para que o

 juiz, a teor do que dispõe o art. 395, II, do CPP, rejeite a exordial acusatória.3 - DESTINATÁRIO

Somente o Ministério Público é destinatário da requisição do Ministro daJustiça. Assim, o inquérito policial prescinde desta condição de

procedibilidade.Se o crime é da competência do STF, STJ ou da Justiça Federal, a requisiçãose destinará ao Procurador-Geral da República, se da competência da justiçacomum estadual, a requisição será destinada ao Chefe do Ministério Públicodo Estado, que poderá remeter ao Promotor de Justiça.

4 - RETRATAÇÃO

 A maioria da doutrina entende que a requisição é irretratável. Há, contudo,

quem entenda ao contrário, como Damásio de Jesus, sustentando que se a

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requisição se submete a uma conveniência política, sua retratação poderiatambém se submeter à mesma conveniência.

5 - PRAZO

Não há prazo decadencial para o exercício da requisição do Ministro daJustiça, podendo tal se dar a qualquer momento, desde que não tenhahavido a extinção da punibilidade do agente como, por exemplo, aprescrição.

VIII - AÇÃO PENAL PRIVADA

É aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere alegitimidade para propor a ação penal à vítima ou seu representante legal,embora reservando para si, em caráter de absoluta exclusividade, o direito depunir.Ocorre nos crimes em que a conduta do agente atinge tão seriamente oplano íntimo e secreto da vítima, ou um interesse que apenas a ela digarespeito, de forma que o Estado deixa ao talante do ofendido a iniciativa pelarepressão do delinqüente.Há nítido predomínio do interesse particular sobre o coletivo, dando o Estadoao ofendido o poder de invocar o exercício de sua força punitiva.O fundamento para a ação penal privada é exatamente o mesmo para arepresentação na ação penal pública condicionada: evitar que o streptus

 judicii  (escândalo do processo) provoque no ofendido um mal maior do que aimpunidade do criminoso, decorrente da não propositura da ação penal.O exercício dessa forma de ação, se dá através da queixa, e ela éreconhecida quando a lei, referindo-se ao crime, dispõe que som ente sepro cede mediante queixa .Excepcionalmente a jurisprudência pode também determinar essa forma deação penal como, por exemplo, no caso da Súmula 714 do STF.

1 - TITULARIDADE DO DIREITO DE QUEIXA

O ofendido (ou seu representante legal) é considerado como substitutoprocessual eis que postula em juízo, em nome próprio, direito de outrem.Trata-se de legitimação extraordinária.Da mesma forma que acontece com relação ao direito de representação nasações penais públicas condicionadas, a titularidade do direito de queixa é doofendido maior de 18 anos e capaz.

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Se menor, ou incapaz, será titular também seu representante legal que,di feren temente da repres entação, deverá po ssui r o s r equ isi tos da leiciv i l p ara tanto .Também aqui aplica-se totalmente a Súmula 594 do STF que esposa oseguinte entendimento: os di reito s de queixa e de represen tação podem

ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seurepresentante legal .Significa que, diante do confl i to d e von tades para o exercício da queixa ,deverá o ofendido aguardar a cessação de sua incapacidade etária para quese inicie o prazo decadencial para o oferecimento da queixa, salvo se, poroutra razão, tiver havido a extinção da punibilidade como, por exemplo, aprescrição.Também, a exemplo da representação, no caso de morte do ofendido, desdeque ela aconteça ainda dentro do prazo decadencial para o oferecimento da

queixa, o direito desta passará, a teor do art. 31 do CPP, ao cônjuge oucompanheiro, ascendente, descendente e irmãos.Não há, necessariamente, uma ordem de vocação sucessória para oexercício do direito de queixa. Assim, nada impede que o irmão o faça, aindaque o ascendente ou mesmo o cônjuge não queira.Contudo, se houver concorrência de vontades para o exercício da queixa, aídeverá se observar a ordem disposta no art. 31 do CPP: cônjuge oucompanheiro, ascendente, descendente e irmão.Desistindo um dos sucessores de prosseguir no pólo ativo da ação ouabandonando-a, a outro se legitima o prosseguimento no prazo de 60 dias(art. 60, II), sob pena de perempção.

a)Hipossuficiência do titular do direito de queixa

No caso de comprovada pobreza a ação penal será proposta pela DefensoriaPública (art. 4º, inc. II, da LC 80/94) ou, na ausência dessa, o juiz nomearáadvogado para o patrocínio da ação penal (art. 32 do CPP).

b)Curador especial

Dispõe o art. 33 do CPP que se o ofendido for menor de 18 anos, oumentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal,ou colidirem os interesses deste com o daquele o direito de queixa poderáser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento doMP, pelo juiz competente para o processo penal .No caso de incapacidade, seja etária, seja mental, pode ocorrer que a vítimanão tenha representante legal, mas não significa que seja sozinho no mundo.

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Isso porque, para fins de queixa (diferente da representação), representantelegal são só aqueles a quem a lei civil considera: pais, tutores e curadores.

 A relação de parentesco, por si só, não transforma o parente que possuiresponsabilidade sobre o incapaz seu representante legal, nos exatos termosdo que a lei civil exige. Assim, por exemplo, uma menor, órfã de pai e mãe,

mas que reside com a avó que ainda não foi nomeada sua tutora, não possuirepresentante legal, embora tenha quem seja por ela responsável. A nomeação do curador especial pode, inclusive, recair na pessoa do parenteque se responsabiliza pelo incapaz.

 A outra circunstância é mais complexa: o menor tem  representante legal,mas seus interesses colidem com os daquele.É o caso, por exemplo, de um pai que difama a própria filha, ou mesmo doavô que a calunia. Na primeira circunstância confunde-se na figura do própriopai o representante legal e o agressor. Não seria razoável exigir-se o pai

oferecendo queixa em face dele mesmo...Já com relação à segunda circunstância, embora não haja na mesma pessoaessa confusão, também não seria razoável exigir que o pai tivesse a isençãoe serenidade suficientes para exercer aquele juízo de proporcionalidade queo leva a decidir o que é melhor: propor a ação ou não.

 Assim também, neste caso, diante dessa falta de absoluta isenção paradecidir sobre a viabilidade da ação o não, a lei permite que o juiz, diantedesse con f l i to material , possa nomear curador especial.

c)Pessoas Jurídicas

 As pessoas jurídicas, que podem ser titulares do direito de ação, serãorepresentados pelas pessoas designadas em seus contratos sociais ouestatutos, e, ainda, na omissão destes, pelos sócios gerentes e diretores.

2 – PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA

a)Conveniência ou oportunidade

Garante ao ofendido absoluto domínio sobre a propositura ou não da açãopenal. Ou seja, ele tem assegurado plena faculdade de decidir sobre o quelhe é mais conveniente.Como esse seu direito é absoluto, i.e., nem a gravidade do crime, como, porexemplo, os casos de estupros que se processam mediante ação privada, eque inclusive são hediondos, o ofendido pode renunciá-lo, expressa outacitamente, levando à extinção da punibilidade, como disposto no art. 107,inc. V, do CP.

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 A renúncia tem efeito extensivo e, tratando-se de concurso de pessoas,concedida a um, a todos aproveita, como, expressamente, dispõe o art. 49 doCPP.Por outro lado, o ofendido também tem assegurado o direito de, dentro doprazo decadencial, escolher o momento que lhe pareça mais oportuno para

propor a ação penal.

b)Disponibilidade

Garante ao ofendido ainda absoluto domínio sobre a continuidade ou não daação penal que já propôs , podendo dela dispor como melhor lhe convier,impedindo que a mesma prolongue até seu final com a entrega da tutela

 jurisdicional.O ofendido, que, como já dito acima,  já propôs a ação penal, pode dela

dispor através de seu perdão, ou mesmo através do abandono oudesistência, situações essas que levam, também, à extinção da punibilidade.No primeiro caso, o do perdão concedido pelo ofendido, que também podeser expresso ou tácito, nos autos ou extra-autos, o ofendido demonstra queperdoou o fato que lhe fora praticado pelo réu. Nesse caso é imperioso que oréu aceite   e concorde   com o perdão que lhe é ofertado. Assim, o perdãocomo instituto de extinção da ação penal e da própria punibilidade é bilateral .O perdão, que também tem efeito extensivo a todos os querelados, salvocom relação aos que não o aceitou, leva à extinção da punibilidade nostermos do art. 107, inc. V, parte final, do CP.Nos demais casos, desistência ou abandono, a ação do querelante éunilateral  e, lógico, independe da vontade do réu. A consequência desse seuato é a mesma da do perdão: extinção da punibilidade, mas, agora, comarrimo no mesmo artigo 107 do CP, mas no seu inciso IV, 3ª figura, que é aperempção.

c)Indivisibilidade

Não podendo se transformar em instrumento de vindita, o direito de açãopenal concedido ao ofendido alcança somente a proteção de sua intimidadee conveniência, para, como já se disse, não fazer com que a ação penal sejaa ela um mal ainda maior do que o que já sofrera pela ação do agente.Contudo, embora plenamente assegurado ao ofendido o direito de propor ounão a ação penal, tratando-se de concurso de pessoas não pode aqueleescolher  em face de quem propô-la. Ou a propõe e face de todos, ou, comrelação àqueles em face de quem não quis fazê-lo, estará renunciando aesse seu direito, e essa renúncia, como já dito, tem efeito extensivo e a todos

alcança.

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Situação que merece aprofundamento é o disposto na parte final do art. 48do CPP que dispõe que o Ministério Público velará pela indivisibilidade daação penal.

 A doutrina, de forma majoritária, entende que não pode o MP aditar a queixapara incluir naquela relação processual quem deixara de figurar no pólo

passivo da ação por opção do querelante.Para Nucci1  A liberdade do Estado-acusação é ampla quando se tratar de

queixa proveniente de ação privada subsidiária da pública, podendo atéincluir co-autores. Mas não pode o promotor substituir-se ao ofendido nodesejo de processar este ou aquele agressor, quando a ação penal forexclusivamente privada. Assim, caso a vítima tenha oferecido queixa contraum co-autor, deixando de fora outro, o Ministério Público, zelando pelaindivisibilidade da ação penal, proporá ao querelante que faça o aditamento,

sob pena de implicar renúncia do direito de queixa contra um deles, passívelde extensão aos demais. Não há cabimento no aditamento feito pelo Estado-acusação para incluir co-autor, a pretexto de zelar pela indivisibilidade, poisestará, isto sim, substituindo a vítima no interesse e na legitimidade de agir..

No mesmo sentido: Damásio, Capez, Nestor Távora e RosmarRodrigues Alencar, Mougenot.

Há, contudo, entendimento diferente. Rangel2 leciona:

Desta forma, não obstante tratar-se de ação penal de iniciativa privada, cujo legitimado, extraordinário, é o ofendido, tem o Ministério Públicolegitimidade para aditar a queixa-crime, desde que não haja renúncia por

 parte do ofendido.

No mesmo sentido: Tourinho, Pacelli (que sustenta que o MP pode aditardiante da percepção de co-réus), Mirabete (diante da não percepção ou

 posterior descoberta de co-réus). A Súmula 16 das Mesas de Processo Penal da Universidade de São Paulodispõe: em face dos princípios que regem a ação privada, não é possível oaditamento à queixa pelo Ministério Público para a inclusão de co-réu.Por fim, o STJ em recente decisão:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.ESTUPRO. ALEGADA INÉPCIA DA QUEIXA.PROLAÇÃO DE SENTENÇA. PRECLUSÃO.PROCURAÇÃO. AUSÊNCIA DE PODERESESPECÍFICOS. QUEIXA ASSINADA PELA VÍTIMA.

1

  Op. cit., p. 2262  Op. cit.,

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DESNECESSIDADE. AÇÃO PENAL PRIVADA. ADITAMENTO. MINISTÉRIO PÚBLICO.POSSIBILIDADE.

...

III - Nos termos do artigo 45 do CPP, a queixapoderá ser aditada pelo Ministério Público, ainda quese trate de ação penal privativa do ofendido, desdeque não proceda à inclusão de co-autor ou partícipe,tampouco inove quanto aos fatos descritos, hipóteses,por sua vez, inocorrentes na espécie.

Ordem denegada. (HC 85.039/SP, Rel. MinistroFELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em05/03/2009, DJe 30/03/2009).

 Assim, velando pela indivisibilidade da ação penal privada, deve o MinistérioPúblico, de forma expressa, exigir a provocação do querelante a fim de queele possa fazer o devido aditamento e, não o fazendo, ou silenciando-se,deve o juiz rejeitar a vestibular acusatória em virtude da renúncia estendidaaos que figuram em seu pólo passivo.Evidentemente que tal não alcança as ações penais privadas subsidiárias dapública eis que sua natureza, como se verá, é diferente.

d)Intranscendência

Da mesma forma que ocorre nas ações penais públicas, a queixa somentepoderá ser ofertada em face daquele a quem se imputa a prática de umainfração penal, não atingindo a ninguém além dele.

3 - CRIMES CUJA AÇÃO PENAL É PRIVADA

arts. 138, 139 e 140 do CP  – a calúnia, difamação e injúria, salvo asrestrições do art. 145;art. 161, § 1º, I e II, do CP – alterações de limites, usurpação de águase esbulho possessório, quando não houver violência e a propriedadefor privada;art. 163, caput, parágrafo único e inciso IV, do CP  –  dano, mesmoquando cometido por motivo egoístico ou com prejuízo considerávelpara a vítima;

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art. 164, c/c art. 167, do CP  –  introdução ou abandono de animai empropriedade alheia;art. 179 e parágrafo único, do CP – fraude à execução;art. 184 e 186 do CP – violação de direito autoral, usurpação de nomeou pseudônimo alheio, salvo quando praticados em prejuízo de

entidades de direito;Lei nº 9.279/96  –  crimes contra a propriedade industrial, emconformidade com o art. 199 da mesma lei, excetuando o do art. 191;art. 236 do CP  –  induzimento a erro essencial ou ocultação deimpedimentos para fins matrimoniais (ação penal privadapersonalíssima);

4 - PRAZOO direito de queixa, a exemplo do de representação, deve ser exercidodentro do prazo decadencial de seis meses, contado do dia em que a vítimaou seu representante legal vier a saber quem foi o autor do crime (art. 38 doPP), sob pena de decadência e, consequentemente, da extinção dapunibilidade (art. 107, IV, 2ª figura, CP).

 Adota-se, pois, na contagem do prazo para representação, a regra do art. 10do CP, porque a decadência do direito de representação extingue apunibilidade, por isso trata-se de norma de caráter penal.O prazo para queixa, por ser decadencial, não está sujeito a suspensão porrecessos ou feriados (RT 470/392, 468/371 e 525/389 – art. 797 e 798, CPP).Também, a exemplo da representação, no caso de morte ou ausência

 judicialmente declarada do ofendido, o prazo, caso a decadência ainda nãotenha se operado, começa a correr da data em que o cônjuge oucompanheiro, ascendente, descendente ou irmão, tomar conhecimento daautoria.O prazo para a vítima que tem menos de 18 anos na época do fato, como jádito acima, só começa a correr a partir da data em que completa seu 18º

aniversário.Tratando-se de ação penal privada personalíssima, do crime do art. 236 doCP, o prazo será de 6 meses, mas terá início da data do trânsito em julgadoda sentença cível que anula o casamento.O direito de queixa estará exercido com o protocolo da mesma, e não com odespacho do juiz recebendo-a, eis que a lei fala que a vítima terá 6 mesespara exercer o direito de queixa, nada se refere ao recebimento da mesma.O oferecimento da queixa em juízo incompetente é o suficiente para impedira decadência, pois a incompetência do juízo só anula os atos decisórios.

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No caso do ofendido falecer ou ser declarado judicialmente sua ausência nocurso do prazo decadencial , o direito de queixa, tal como ocorre com arepresentação, a teor do art. 31 do CPP, passa para o cônjuge oucompanheiro, ascendente, descendente e irmão.Caso os sucessores queiram ofertar a queixa, terá preferência o cônjuge,

depois os ascendentes, descendentes e, por fim, irmãos. Para GuilhermeNucci, qualquer dos sucessores está apto a ofertar a queixa-crime,prevalecendo a iniciativa de quem queira ofertá-la, em caso de discordânciaComo já visto, essa ordem de vocação só deve ser observado somente nocaso de mais de um querer promover a ação penal, sendo que o prazo correpara todos, e não individualmente.O prazo para o exercício da queixa pelo CADI, também a exemplo darepresentação, começa a contar a partir do dia em que um deles tomaconhecimento da autoria do fato, caso em que terá todo o prazo à sua

disposição.Se qualquer dos CADI já tinha conhecimento de quem era o autor do fato, oCADI terá somente o restante do prazo que teria o próprio ofendido.Desistindo um dos sucessores de prosseguir no pólo ativo da ação ouabandonando-a, a outro se legitima o prosseguimento no prazo de 60 dias(art. 60, II), sob pena de perempção.

 A queixa tem que ser, necessariamente, apresentada rigorosamente dentrodo prazo decadencial, ainda que seja domingo, feriado ou que fique nadependência do inquérito policial ainda não concluído.Qualquer situação, por mais justificável que pareça, fará com que ocorra adecadência se a queixa não é ofertada no prazo legal.

5 – FORMAS OU ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL PRIVADA

a) Ação penal privada propriamente dita ou exclusivamente privada

O exercício compete ao ofendido ou a seu representante ou, ainda, aos seussucessores.É a forma clássica de ação penal privada, onde se aplicam todos os institutos

 já estudados.

b) Ação penal privada subsidiária da pública

Quando o Ministério Público não se manifesta no prazo legal, seja ação penalpública condicionada ou incondicionada, é intentada a referida ação penalprivada pelo ofendido ou pelo seu representante, havendo verdadeirasubstituição da titularidade daquela ação, bem como da denúncia doMinistério Público pela queixa (art. 29 do CPP; art. 100, parágrafo 3º do CP;

e art. 5º, LIX, da CF).

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Não é cabível nas contravenções, porque a CF se refere a crime.O perdão do ofendido não gera efeitos nesta espécie de ação penal privada,bem como não há o instituto da perempção;O Ministério Público poderá, mesmo diante de sua inércia, se manter no póloativo da ação se, ao ser ofertada a queixa pelo ofendido, aquele a repudiar e,

no mesmo ato, oferecer denúncia que, neste caso, recebe o nome dedenúncia s ubs t i tut iva .Também o Ministério Público, que nessa ação, mais do que custos legis, atuacomo interveniente ob rigatório , reassumirá plenamente sua titularidade(sem necessidade de ofertar nova denúncia) no caso de desídia doquerelante.Não sendo o caso de repúdio da queixa, e de não haver desídia doquerelante, até o final o titular daquela ação será, excepcionalmente, oofendido.

Contudo, nessa forma de ação, por sua natureza pública de fato, o MinistérioPúblico poderá aditar a queixa em todos os seus termos, inclusive para incluirnaquela vestibular pessoas que foram deixadas de fora pelo querelante.

c) Ação penal privada personalíssima

O direito de ação pertence única e exclusivamente ao ofendido ou ao seurepresentante legal, e só há um único caso, atualmente, no direito processualpenal: o do art. 236 do CP que tipifica a conduta de ocultação deimpedimento ou induzimento a erro no casamento, sendo que a titularidadeexclusiva e persnosalíssima é do cônjuge enganado, e o prazo, como visto, éde 6 meses, mas tem por início a data do trânsito em julgado da sentençacível que anula o casamento.Nessa forma de ação, a morte do cônjuge enganado, que é o autor da ação,acarreta a extinção da punibilidade do autor. Por outro lado, se incapazmentalmente ou menor, não haverá a possibildiade de se nomear curadorespecial, devendo se aguardar a cessação da incapacidade ou que o mesmoatinja a maioridade.

d) Ação penal privada adesiva

É a ação penal privada propriamente dita, ou clássica, em processos porcrimes onde há conexão com outro crime de ação penal pública.Haverá duas vestibulares acusatórias no mesmo processo, cada umguardando suas características e princípios próprios. Ex.: roubo em conexãocom estupro, nos casos em que este se processa através da queixa.

6 – OBSERVAÇÕES SOBRE A AÇÃO PENAL PRIVADA

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a) Aditamento

 A queixa poderá ser aditada pelo MP, no prazo de 3 dias (art. 46, § 2º, doCPP), a quem caberá intervir em todos os termos subseqüentes do processo,

sendo que, como já visto, esse aditamento, salvo nos casos de ação penalprivada subsidiária da pública, não poderá incluir naquela relação processualquem o querelante deixou de fazê-lo.Por ser o ato pelo qual o Estado junta a sua vontade à do ofendido (art. 45 e257 do CPP), já que é seu o direito de punir, o Ministério Público poderáaditar a queixa pra incluir na mesma circunstâncias de fato e direito, inclusivecom reflexo na pena.

IX – DENÚNCIA:1) Conceito:- “A denúncia, na técnica processual brasileira, siginica a peça

inaugural da ação penal, quando promovida pelo Ministério Público.”(Tourinho).

- “A denúncia é uma exposição, por escrito, de fatos que constituemem tese um ilícito penal, ou seja, de fatos subsumível em um tipo penal, coma manifestação da vontade de que se aplique a lei penal a quem épresumivelmente o seu autor e a indicação das provas em que se alicerça apretensão punitiva.” (Mirabete).

2) Requisitos (art. 41 do CPP)

3) Prazo para Denúncia:a) Prazos gerais – art. 46 do CPP:Réu solto: 15 diasRéu preso: 05 dias

b) Prazos especiaisCrimes de drogas (art. 54 da Lei nº 11.343/06) e eleitoral (art.357 do CE): 10dias, réu preso ou solto.Crime contra a economia popular: 2 dias, réu preso ou solto (art. 10, § 2º, da

Lei 5521/51) .Crime de abuso de autoridade: 48 horas (art. 13 da Lei 4.898/65)

4) Rejeição da denúncia: o artigo 43 do CPP foi revogado pela11.719/08 e atualmente as hipóteses de rejeição da denúncia ou da queixaestão previstas no artigo 395 do CPP, a saber:a) For manifestamente inépta;b) Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da açãopenal;

c) Faltar justa causa para o exercício da ação penal.

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Obs.: em regra, contra decisão que rejeia denúncia ou queixa cabe recursoem sentido estrito (art. 581, I, CPP), porém cabe apelação nos crimes demenor potencial ofensivo nos juizados criminais (art. 82 da Lei 9099/95) enos crimes de competência originária dos tribunais superiores cabe o recursode agravo (art. 39 da Lei 8038/90).

5) Recebimento da denúncia: em regra, a decisão que recebe a denúncia oua queixa é irrecorrível. Em situações excepcionais é possível anular porHabeas Corpus o recebimento da denúncia e trancar a ação penal.Obs.: são válidos para a queixa  na Ação Penal Privada os mesmosrequisitos da denúncia (art. 41 do CPP), diferenciado apenas comrelação à titularidade e prazo. Com relação a recurso contra orecebimento ou a rejeição da queixa são válidas as mesmasconsiderações mencionadas com relação à denúncia.

PONTO VII - DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DASPRISÕES E DA PRISÃO PROVISÓRIA

I – MEDIDAS CAUTELARES PESSOAIS

1.Consi der ações g erais

 A lei 12.403, de 04/05/2011 que entrou em vigor no dia 04/05/2011 afirmoua natureza cautelar de toda e qualquer prisão antes do trânsito em julgado einstituiu outras modalidades de medidas cautelares pessoais mas diversasda prisão, portanto há duas modalidades de cautelares de natureza pessoal,quais sejam, a) as prisões provisórias e, b) as medidas cautelares, diversasda prisão. Além da liberdade provisória a nova redação do artigo 319 do CPP tráz 09(nove) medidas cautelares diversas da prisão passando a prisão preventiva aser subsidiária. A regra é a liberdade e a exceção são as cautelares restritivas da liberdade(art. 319) e em último caso – 'ultima ratio' é a prisão cautelar. As medidas cautelares (prisão ou diversa da prisão) não poderão serimpostas quando não for cominada à infração pena privativa de liberdade,cumulativa ou isoladamente (art. 283, § 3º do CPP).Para a imposição de medida cautelar diversa da prisão, independentemente

de prévia prisão em flagrante (art. 282, §2º do CPP) ou em substituição aprisão em flagrante faz-se necessário decisão judicial devidamentefundamentada tendo como base os critérios de necessidade e de adequação

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da medida, nos termos dos artigos 282, 283 e 315 do CPP, sendo este últimodispositivo extensivo às cautelares. Em ambas as hipóteses (necessidade eadequação) estamos diante do princípio da proporcionalidade.Em princípio não se recorre à prisão preventiva e sim à medida cautelar

diversa da prisão salvo se verificadas de imediato as hipóteses legais

previstas no art. 312 e 313 do CPP.

II – AS MEDIDAS CAUTELARES, DIVERSAS DAS PRISÕES

1 – Espécies (art. 319 do CPP).

I  –  Comparecimento periódico em juízo para informar e justificar asatividades.II – Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares.

III- Proibição de contato com pessoa determinada.IV- Proibição de ausência da Comarca, para fins de conveniência dainvestigação e da instrução criminal. Obs.: Ver também a proibição de seausentar do país prevista no art. 320 do CPP.V- Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga.Obs.: - Ao contrário das demais cautelares a lei não apresenta a finalidadedo recolhimento domiciliar! Penso que seria mais adequada comosubstitutiva da prisão em flagrante.-Não confundir com a prisão domiciliar prevista no art. 318 do CPP.VI- Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de naturezaeconômica ou financeira.VII- Internação provisória do inimputável ou do semi-imputável.Obs. - dependerá da existência de indícios concretos de autoria e dematerialidade em crimes de natureza violenta ou cometidos medidante graveameaça havendo risco concreto de reiteração criminosa.VIII- Fiança, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar aobstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem

 judicial.Obs.: - cuidaremos com maiores detalhes ao tratarmos da liberdade

 provisória com fiança.IX- Monitoração eletrônica. A lei 12.258/2010 já previa a monitoração eletrônica como incidente deexecução da pena.

2 – Procedimento das cautelares diversas da prisão

I  –  A princípio será cabível a imposição de medidas cautelares excluídosapenas as situações vedadas expressamente pela lei como exemplo os

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crimes para os quais não se admite a pena privativa de liberdade (art. 283, §1º do CPP).II – A lei não menciona a garantia da ordem púbica para fins de imposição demedida cautelar como o faz na prisão preventiva.III  –  As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou

cumulativamente nos termos do art. 282, § 1º do CPP.

IV – Requisitos (necessidade e adequação): Art. 282 do CPP .1 – Necessidade para aplicação da lei penal OU2 – Conveniência da investigação ou da instrução criminal OU3  – Casos expressamente previstos em lei, forma a evitar a prática de

infração penal.Obs.:  A regra é que as novas medidas cautelares tem preferência sobre adecretação da prisão preventiva e esta somente terá espaço quando

inadequadas ou descumpridas aquelas outras medidas cautelares razão peloqual deverá ser observado para a aplicação das medidas cautelares diversasda prisão a adequação da medida à gravidade do crime, às circunstâncias dofato e às condições pessoais do indiciado ou acusado.

V – Quem pode requerer a Medida?1- Na fase de investigação:a) Ministério Públicob) Autoridade Policial.

2 – Na fase processual:a) Ministério Público e querelanteb) Assistente habilitadoc) Juiz, de ofício.

VI  –  A(s) medida(s) aplicadas poderão ser revogados ou substituídasinclusive por outras mais gravosas, no caso de seu descumprimento,incluíndo, em última hipótese a prisão preventiva (art. 282, §§ 4º e 5º doCPP).

VII – A regra é o contraditório antes da decisão judicial que impõe a medidacautelar (art. 282, § 3º) mas poderá ser aplicada a medida 'inaudita alterparte' quando houver risco à efetividade da providência.VIII – Há prazo máximo de duração das cautelares? Entendo que a medidacautelar perdura enquanto presente a necessidade e a urgência e havendosentença absolutória a medida cautelar deve ser revogada conformemandamento contido no art. 386, parágrafo único, II do CPP.

IX – Recursos

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 A lei 12.403/011 não estabeleceu o recurso cabível contra a decisão quedefere ou indefere a medida cautelar todavia, entendo que caberia recursoem sentido estrito com aplicação analógica ao art. 581, V do CPP que prevêa impugnação da decisão que concede liberdade provisória.Excepcionalmente poderá ser impetrado 'habeas corpus' contra a decisão

que imponha medida cautelar sob o fundamento de violação, ainda queindiretamente, à liberdade de locomoção.

VIII – DA PRISÃO

1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

- CONCEITO: “Prisão é a supressão da liberdade individual, medianterecolhimento em estabelecimento prisional”. 

- PRISÃO QUANTO À NATUREZA (V. Greco Filho):Prisão pena: resultante de condenação transitada em julgado, tem finalidaderepressiva;Prisão processual ( prisão provisória): é a que ocorre antes do trânsito em

 julgado de sentença condenatória, podendo ser antes ou durante o processo( tem natureza cautelar) Ex.: prisão preventiva, de pronúncia, para apelar,flagrante, temporária etc.;Prisão Civil: coação executiva visando forçar alguém a cumprir um devercivil (obrigação alimentar e devolução de coisa por depositário infiel);

Prisão Administrativa: coação para impelir alguém a cumprir um dever dedireito público (somente decretada por juiz) - não mais admitida porautoridade administrativa. STF entende que a P.A. propriamente dita foiabolida com a CF/88 (RT 642/375);Prisão disciplinar: transgressões militares e crimes propriamente militares(arts. 5o, LXI e 142, § 2o, CF).

- Carac terísti cas da pr isão cautelar:a) Acessoriedade:

b) Prevent iv idade:c) Inst rumentali dade hipotétic a:d) Provis oriedade:

- PRISÃO EM DOMICÍLIO- Art. 150, § 3o, CP e 293 do CPP, autorizam a entrada e a permanência emcasa alheia (desde que dentro das formalidades legais) para efetuar a prisão.Art. 5o. XI da CF:  somente poderá penetrar na casa quem tiverconsentimento do morador, ou em caso de flagrante delito, desastre ou paraprestar socorro á vítima, ou, ainda, durante o dia, por determinação judicial.

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 A prisão com violação das regras supra caracteriza crime de abuso deautoridade (art. 4o, “a”, Lei 4.898/65). 

- PRISÃO FORA DO TERRITÓRIO DO JUIZ NATURAL.Art. 289: réu no território nacional, em lugar estranho ao da jurisdição, será

deprecada a sua prisão. A Lei nº 12.403/011 acrescentou o art. 289-A ao CPP que é direcionado aoCNJ que aliás já regulamentou a matéria através da Resolução ________.Foi criado um Banco de Dados nacional no Conselho Nacional de Justiçapara registrar todos os mandados de prisão expedidos no país possibilitandoo seu cumprimento independentemente de Carta Precatória desde queregistrado no CNJ.

- PRISÃO ESPECIAL

- Prerrogativa concedida a certas pessoas, pelas funções quedesempenham, grau cultural, serviços honoríficos prestados etc., deaguardarem o julgamento definitivo em local separado dos presos comuns(geralmente em quartel ou outro local adequado).- Leis que enumeram os beneficiários: art. 295 e 296 do CPP, hoje alteradospor outras leis (Leis 799, 2860, 3.313, 4878, 5256, 5.350, 5606, 7102,7.172, 8069, 8.906/94, art. 7º, V e 8625; Lei complementar 35, 75 e 80 etc.).- A Lei 12.403/11 extinguiu a prisão especial para o jurado. Ver artigo 439 doCPP.- Há julgado da 1ª Turma do STF, da relatoria do Min. Ayres Brito, garantido aadvogado o recolhimento em sala de Estado Maior (HC 91.089, j. em04/09/2007; DJ de 18/10/2007).- Período: enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória.- A Lei nº 10.258/2001 definiu como prisão especial apenas o recolhimentoem local distinto da prisão comum, sendo que, na ausência deestabelecimento específico, o preso será recolhido em cela distinta, porémno mesmo estabelecimento prisional para os demais presos comuns.- Artigo 84, §2º da Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal): Espécie de 'prisãopena especial'.

- PRISÃO PROVISÓRIA DOMICILIAR- Nos termos da Lei 5.256/67, é cabível quando não houver estabelecimentoadequado para cumprimento da prisão especial.- O réu não poderá afastar-se de sua residência sem consentimento judicial(o policiamento tem que ser discreto e sem constrangimento).* violação das condições impostas para a concessão: gera a perda dobenefício.

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 A Lei 12.403/011 estabeleceu a prisão domiciliar cautelar tendo em vista acondição pessoal do agente ou pela circunstância de necessidade de seusdependentes (art. 317 e 318 do CPP).

2 - PRISÃO EM FLAGRANTE.

2.1. CONCEITO:Flagrante: é quando o delito está sendo cometido (próprio), havendo acerteza visual do crime, ou ocorra situação definida por lei que leve àpresunção de ter alguém acabado de cometer um crime, o que possibilita aprisão do seu autor, sem mandado e por qualquer pessoa.

2.2. NATUREZA: é uma medida cautelar de natureza processual que

dispensa ordem escrita e é prevista expressamente pela ConstituiçãoFederal (art. 5o, LXI) e pelo CPP (art. 301).

2.3. PRESSUPOSTOS - por ser cautelar exige a presença do:“fumus boni juris”(certeza da materialidade e indícios razoáveis da autoria). “ periculum in mora”(necessidade de fazer cessar a prática criminosa e aperturbação da ordem social).

2.4. ESPÉCIES DE FLAGRANTE (legalidade substancial):Flagrante em sentido próprio (ou real ou verdadeiro ou propriamentedito) - art. 302, I e II:- Inc. I: o agente é surpreendido no ato da execução;- Inc. II:  o agente já esgotou os atos da execução (morte, lesões, danomaterial etc.), encontrando-se ainda no local do fato ou nas suasproximidades (portando armas, roupas sujas de sangue, etc.);Em sentido impróprio (quase  –  flagrante ou irreal)  –  art. 302, III:  éconsiderado em flagrante, aquele que “é perseguido, logo após o crime, pelaautoridade, pelo ofendido ou por outra pessoa, em situação que faça

 presumir ser ele o autor”  - (inc. III).

- logo após: Perseguição logo após par a prática do crime deve ser entendidacomo a imediata e contínua. Alguns determinam até 24 horas; a boa doutrinadeixa para a interpretação do juiz;Flagrante presumido ou ficto (art. 302, IV)- quando a pessoa é encontrada (não é perseguida) na posse de coisas queo indique como autor de um delito acabado de cometer.pressuposto: encontro logo depois do crime.- logo depois: Não há perseguição contínua. Segundo o Prof. Nucci “trata-sede uma situação de imediatidade, que não comporta mais do que algumas

horas para findar-se.

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2.5. FLAGRANTE EM CRIME PERMANENTE E CRIME HABITUALCrime permanente- Preconiza o art. 303 que o agente encontra-se em flagrante delito enquanto

não cessar a permanência”. Crime habitual: embora de difícil ocorrência, porque exige-se a prova dareiteração de atos que tipificam o delito, admite-se o flagrante em caso decomprovar a habitualidade, pela ocorrência simultânea dos atos ou pelaprévia lavratura de auto de verificação da prática dos atos. Ex.: “prisão deresponsável por bordel onde se encontram inúmeros casais para fimlibidinoso” - (MIRABETE). A jurisprudência admite, também, quando oflagrante é precedido de um auto de verificação lavrado pela autoridadepolicial.

2.6. FLAGRANTE EM CRIME DE AÇÃO PENAL PRIVADA OU PÚBLICACONDICIONADAQuando não efetuada pela vítima, ou seu representante legal, a lavratura doauto e a manutenção da prisão ficam condicionadas à manifestação devontade do ofendido ou do ministro da Justiça, que deverá ocorrer em 24horas (prazo para lavratura do flagrante/entrega da nota de culpa).

2.7. FLAGRANTE PREPARADO OU PROVOCADO- é o flagrante que utiliza um agente provocador para instigar o mecanismocausal da infração, objetivando prender a pessoa no ato da execução damesma, evitando a consumação.Quando a preparação do flagrante tornar impossível a sua consumação,não há crime (Súmula 145 do STF), equiparando-se, a conduta, ao crimeimpossível.

2.8- FLAGRANTE ESPERADOQuando a autoridade ou a vítima apenas deixam o sujeito agir, semprovocação ou induzimento, prendendo-o no momento da realização do fato(Damásio). Se não houver a consumação, responde o agente por crimetentado.

2.9- FLAGRANTE PRORROGADO OU RETARDADOÉ a situação prevista no art. 2.º , II, da Lei 9.034/94, que permite o policial

retardar a prisão em flagrante delito nos crimes praticados por organizaçãocriminosa, a fim de aguardar o momento mais eficaz para a colheita da

prova.

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2.10- SUJEITOS DA PRISÃO EM FLAGRANTE (Art. 301 do CPP)a) – Sujeito at ivo:  É a pessoa que efetua a prisão.- Flagrante facultativo: Pode ser realizado por qualquer pessoa do povo.- Flagrante compulsório ou coercitivo: É realizado pelas autoridades policiais

e seus agentes. Estão obrigados a agir.b)  – Sujeito Passivo:   Em regra, qualquer pessoa pode ser presa emflagrante delito.

* EXCEÇÕES:

I – Não podem ser presos em flagrante:- Os menores de 18 anos eis que são inimputáveis (Art. 228 da CF, Art. 27do CP e arts. 106 e 207 do ECA).- Diplomatas estrangeiros, em virtude de tratados e convençõesinternacionais (Art. 1º, I, do CPP).- O Presidente da República (Art. 86, §3º da Constituição Federal).- O agente que socorre a vítima de acidente de trânsito (Lei 9.503/97  – Código de Trânsito Brasileiro).- A pessoa que se apresenta à autoridade, após o cometimento do delito.II – Só podem ser presos em flagrante por crime inafiançável:- os membros do Congresso Nacional (art. 53, § 2º, da CF).- os deputados estaduais (art. 27, §1º, da CF).- os magistrados (Art. 33, II, da LOMAN) e os membros do Ministério Público(art. 40,III, da LONMP).-os advogados, por motivo de exercício da profissão (Art. 7º, §3º, da Lei8.906/94).

c)  – Au tori dade competente para a lavratur a do Au to de Prisão em

Flagrante:- Art. 290: a lavratura do flagrante compete à autoridade do local da prisão enão do local do crime;

Obs.: por não exercer atos de jurisdição, não existe, para a autoridadepolicial, a incompetência “rationi-loci ”, portanto, é válido auto de flagrante dolugar do crime (ou diverso).

2.11- PRAZO PARA LAVRATURA DO AUTO

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- A lei 11.449 de 15/01/07 que alterou o artigo 306 do CPP dispõe que o autodeve ser encaminhado ao juiz dentro de 24 horas logo este é o prazo para alavratura do auto.

2.12- AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE (PASSOS)

1º) comunicar a família ou pessoa indicada pelo preso (art. 5o, LXIII);2º) ouvir o condutor (agente policial, ofendido ou particular);3º) ouvir no mínimo duas testemunhas ( podem ser policiais e até o própriocondutor);4º) interrogatório do acusado (pode ficar calado pelo art. 5o, LXIII), nostermos do art. 185 e ss.5º) ver nova redação do “caput” e do parágrafo 3º do art. 304, do CPP, dada

pela Lei nº 11.113, de 13 de Maio de 2005: “art. 304: Apresentado o preso àautoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo,  suaassinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do presoem seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e aointerrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, apóscada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, oauto.Parágrafo 3º: quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não

 puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duastestemunhas que tenham ouvido sua leitura na presença deste.”  

Obs.: Não mais há necessidade de nomear curador ao réu menor de 21anos face as disposições do novo Código Civil.

6º) comun icação imediata da p risão ao ju iz competen te, que nos term osda Lei nº 12.403/011 que altero u o CPP (art. 310) ao receber o autodeverá fundamentadamente:  a) relaxá-la, se for ilegal ou viciada (art. 310, Ido CPP); ou b) substituí-la por uma ou mais medidas cautelares, diversas da

 prisão (art. 310, II e art. 321 do CPP), quando não for cabível e adequada a

 prisão preventiva; ou c) decretar a prisão preventiva quando presentes osseus requisitos e foram insuficientes as demais cautelares (art. 310, II doCPP); ou d) conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, asmedidas cautelares previstas no art. 319 conforme disposto no artigo 321 ousimplesmente conceder liberdade provisória sem imposição de outrasmedidas cautelares 'ex-vi' do previsto no parágrafo único do artigo 310 doCPP.7º) flagrante ilegal (fora das formalidades exigidas);

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- A falta de testemunhas do flagrante não impede a lavratura do auto,contudo deverão assinar, pelo menos, duas testemunhas da apresentaçãodo preso à autoridade (testemunhas instrumentárias) - art. 304 , § 2º, CPP.Obs.: autuação em flagrante determinada pelo Juiz, obstaráa participação do mesmo na ação penal resultante (parte final do art. 307 ).

8º se fundada a suspeita contra o conduzido, culminará com o recolhimentodo mesmo à prisão (304);

Obs.: - do relaxamento da prisão em flagrante pelo juiz cabe recurso emsentido estrito (art.581, V);

- A lei nº 11.449, de 15/01/07 alterou o artigo 306 do CPP para determinarque além do envio do auto de prisão em flagrante ao juiz fosse tambémencaminhada cópia do mesmo para a Defensoria Pública caso o

autuado não informe o nome de seu advogado (§ 1º do referidodispositivo). Agora também o Ministério Público deverá ser comunicadoimediatamente quanto a prisão de qualquer pessoa conforme novaredação dada ao artigo 306, 'caput' do CPP pela Lei 12.403/011.

2.13- NOTA DE CULPA- prazo da emissão: dentro de 24 horas, com o motivo da prisão, nome dastestemunhas e do condutor (art. 306, § 2º do CPP e, a omissão gera orelaxamento da prisão.

3 - PRISÃO PREVENTIVA

3.1- CONCEITO: É espécie de prisão cautelar, em que é decretada asegregação do acusado antes da sentença penal condenatória irrecorrível,por conveniência da instrução criminal, como garantia da ordem pública oueconômica e ou para assegurar a aplicação da lei penal, desde que se tenhaa certeza da materialidade e indícios razoáveis da autoria.

Obs.: Ser primário e de bons antecedentes, ter residência fixa, curso

superior etc., não impedem à prisão preventiva, desde que a decretaçãoseja para atingir os objetivos e os fundamentos do art. 312.

3.2. PRESSUPOSTOS LEGAIS OU REQUISITOS (“fumus boni iuris” ou“fumus commissi delicti e “periculum in mora” ou “periculum libertatis”

 – Art. 312 do CPP)3.2.1. “Fumus boni iuris” ou “fumus commissi delicti”  a) – Prova da existência do crime (materialidade)b) – Indícios suficientes da autoria.

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3.2.2. “Perículum in mora” ou “periculum libertatis” (Circunstâncias qu eautor izam a p risão p reventiv a ou fundamentos ou requ isit os fático s  – Ar t. 312 do CPP):a)  –  Garantia da ordem pública: - gravidade da infração; - prevenção denovos crimes; - credibilidade da justiça; - “satisfação do sentimento de justiça

da sociedade” (STJ); - clamor público segundo o STJ, embora o STFdiscorde; - periculosidade. Obs.: Não tem natureza instrumental ou seja nãose destina a proteger o processo penal, na realidade seria um instrumento – 

 perigoso, para alguns – de controle social.b) – Garantia da ordem econômica: A lei antitruste (Lei nº 8.884 de 11/06/94,art. 86) alterou a redação do artigo 312 do CPP, para incluir comocircunstância que também autoriza a prisão preventiva.  –  Crimes contra aordem econômica, tributária e o sistema financeiro.c)  –  Conveniência da instrução criminal (cautela instrumental ou

instrumentalidade quadrada): Segundo o Prof. Eugenio Pacelli seria a prisão“decretada em razão de pertubação ao regular andamento do processo”.d) – Garantia da aplicação da lei penal (cautela instrumental): - cautela final; -risco de fuga.

3.3- CASOS DE ADMISSIBILIDADE OU DE CABIMENTO OU HIPÓTESESLEGAIS (art. 313 do CPP, com a nova redação dada pela Lei 12.403/011)* Presentes os pressupostos (fumus boni juris e periculum in mora  - art.312), será admissível em:a) - todos os crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdademáxima superior a 4 (quatro) anos, ou seja, independe se é reclusão oudetenção;

b) - se o réu tiver sido condenado por outro crime doloso, com sentençatransitada em julgado.Obs.: não prevalecerá a condenação anterior se já estiver decorrido mais de5 anos entre a data de cumprimento ou extinção da pena e a infraçãoposterior, computado o período de prova da suspensão ou do livramentocondicional, se não ocorrer revogação.

c) - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei nº11.340 de 07/08/06  –  Lei Maria da Penha), criança, adolescente, idoso,enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidasprotetivas de urgência.

d) quando o réu tiver identidade duvidosa ou quando não fornecer elementossuficientes para esclarecer a identidade mas a liberação será imediata umavez promovida a identificação. Nesta hipótese caberia a prisão preventiva

mesmo em se tratando de crime culposo o que seria uma manifesta

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desproporcionalidade pois o artigo 44, I do CP autoriza a substituição dapena corporal para os crimes culposos!

Obs.: - Os requi si tos previs tos nos artig os 312 (sit uações fáticas) e313(requisi tos n orm ativos) do CPP somente serão exig ido s quando a

prisão prevent iva for decretada autonomamente como medida cautelarind ependente da p risão em flagrante o u c om o c onversão do flagrante(art. 310, II) e forem ins ufic ientes as d emais cautelares.

- Nov a hipótese de p ri são p reven tiva (art . 282, § 4º e art . 312, parágr afoún ico do CPP con fo rm e nova redação atr ibuída pela L ei 12.403/011): Apr isão p revent iva será decr etada subsi d iari amente em su bs tit uição acautelares previamente impostas e eventualmente descumprid as. Nestecaso não se exige a presença das h ipóteses de cabimento do artig o 313

do CPP (requis i tos normat ivos) pois basta o descumpr imento damedida imp os ta e a necessid ade da pr isão a qu e se refere o art ig o 312do CPP.

3.4- CASOS EM QUE NÃO SE ADMITEM A PRISÃO PREVENTIVA- não se permite a prisão preventiva quando se tratar de contravençãopenal;- quando comprovado pelo juiz a presença das excludentes de ilicitude(legítima defesa etc.) - art. 314;- quando se tratar de crimes culposos, ressalvada a hipótese do parágrafoúnico do artigo 313 do CPP (réu não devidamente identificado).

3.5- DECRETAÇÃO (momento)- em qualquer fase do inquérito ou do processo (nova redação do art. 311 doCPP). Com o advento da Lei 11.719/08 entendemos que a prisão preventivapode ser decretada até mesmo após proferida a sentença penalcondenatória, desde que demonstrada a cautelaridade isto, face ao novoparágrafo único do artigo 387 do CPP ao dispor que o juiz, ao proferirsentença condenatória...”decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção

ou, se for o caso imposição da prisão preventiva ou de outra medida cautelar,sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser interposta.” ;- pode ser decretada antes da conclusão do inquérito inclusive comoconversão do flagrante, desde que presentes os pressupostos.- réu pronunciado, com liberdade provisória, somente devido a fatossupervenientes é que poderá ser decretada.Se o MP devolve os autos para diligências, entende-se que não cabe prisãopreventiva, pois se não existem elementos da materialidade e autoria paradenúncia, também não há para prisão preventiva.

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Em princípio não se recorre a prisão preventiva e sim a outras medidascautelares salvo quando inadequadas e insuficientes ou em caso dedescumprimento das outras medidas cautelares (art. 282, §§ 4º e 6º, art. 310,II e parágrafo único do art. 312 do CPP).

3.6- QUEM PODE REQUERER A MEDIDA?O MP (requerimento);O querelante (requerimento);A Autoridade Policial (representação);O assistente da acusação:  Incluído na reforma de 2011 (Lei 12.403). Háevidente equívoco legitimar o assistente da acusação a requerer prisão

 preventiva na fase de investigação pois nos termos do art. 268 do CPP oassistente somente se habilita nos autos após o recebimento da denúncia.

Obs.: O juiz pode, de ofício na fase processual, decretar a prisão preventiva.3.7- RECURSOS

 Art. 581 - “Caberá recurso em sentido estrito da decisão que indeferirrequerimento de prisão preventiva ou relaxar prisão em flagrante” (v). Quando o juiz revogar a prisão preventiva, a jurisprudência tem admitido o

uso de mandado de segurança para emprestar efeito suspensivo ao recursoem sentido estrito.

3.8- REDECRETAÇÃO Art. 316 - permite ao juiz decretar novamente a prisão preventiva, senecessário.

3.9- APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEAnão impede a prisão preventiva nos casos em que a lei autoriza (art. 317).O juiz poderá revogar ou substituir a prisão preventiva sempre por decisãodevidamente fundamentada (art. 315 do CPP).

4 - PRISÃO TEMPORÁRIA

4.1- UTILIZAÇÃO: medida acauteladora que visa restringir a liberdade delocomoção, por tempo determinado, destinada a possibilitar as investigaçõesa respeito de crimes graves, durante o inquérito policial;- Legislação: Lei n.º 7.960, de 21.12.89; decorrente da Medida Provisória n.º111, de 24/11/89 e artigo 283 do CPP conforme nova redação atribuída pelaLei 12.403/2011.Somente decretada pela autoridade judiciária.

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Com o advento da Lei 12.403/011 a prisão temporária deve ser evitada esomente será imposta quando inadequadas e insuficientes as cautelaresdiversas da prisão.

4.2- PRAZO: 5 dias, prorrogáveis por igual período.

Crimes hediondos, tortura, terrorismo e tráfico ilícito de entorpecentes :prazo de 30 dias, prorrogável por igual período (Art. 2º, § 3º , Lei 8.072/90) .Obs.: Prazo determinado.

4.3- FUNDAMENTOS (Lei 7.960)- quando imprescindível para as investigações do inquérito policial (art. 1o, I);- quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementosnecessários ao esclarecimento de sua identidade (inc.II);- quando fundadas razões da autoria e participação nos seguintes crimes:

homicídio doloso, seqüestro ou cárcere privado, roubo, extorsão medianteseqüestro, estupro, atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia comresultado morte, envenenamento de água potável ou substância alimentíciaou medicinal qualificado pela morte, quadrilha ou bando, genocídio, tráfico dedrogas e crimes contra o sistema financeiro;O despacho tem que ser fundamentado. A jurisprudência, na maioria, tem firmado entendimento que a prisãotemporária só é decretada quando se tratar dos crimes previstos no inc. III epresente pelo menos um dos requisitos delineados nos incisos I e II, sob

pena de ser admitida a prisão de testemunha ou até da vítima, o que levariaao absurdo.- Tourinho e Mirabete entendem que os requisitos são alternativos, por suavez o Prof. Scarance sustenta que é necessária a presença de todas ashipóteses arroladas no art. 1° (cumulativos) e o professor Greco leciona queos requisitos são alternativos, desde que presentes os requisitos da prisão

 preventiva.- Não cabe Prisão Temporário somente para ouvir o investigado. Vide HC95.009, Plenário do STF, Rel, Min. Eros Grau, j. 06/11/2008, DJE de19/12/2008.

4.4- MOMENTO DE DECRETAÇÃO E PROCEDIMENTO- da ocorrência do fato até o recebimento da denúncia (depois de instauradaa ação, tratar-se-á de prisão preventiva);- o despacho que decretar deverá ser prolatado dentro de 24 horas (comfundamentos), e será expedido em 2 vias (como nota de culpa);- Os presos temporários deverão ficar separados dos outros elementos;- Poderá ser decretada “em face da representação da autoridade policial ou

de requerimento do MP” (não pode ser decretada “de off ic io ” pelo juiz).

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- Quando requerida pelo Delegado é indispensável à oitiva do MP.

PONTO IX - LIBERDADE PROVISÓRIA

1 - CONCEITO:

Liberdade provisória é o instituto que permite ao acusado aguardar o julgamento em liberdade, ficando ou não sujeito a determinadas obrigações,que asseguram a sua presença ao processo sem a imposição da prisãoprovisória.Sendo a Prisão Provisória uma cautela, tem-se a liberdade provisória comocontra-cautela de natureza pessoal.  Distingue-se do relaxamento de prisão, pois este ocorre quando houvervício no auto de prisão em flagrante, o que leva à liberdade do preso sem aimposição de obrigações ou deveres.

- A Lei 12.403/011 cri ou um a série de medidas cau telares di vers as dapr isão que pod erão ser apli cadas an tes ou depoi s da p risão emflagrante o que fatalmente mud a o conc eito da l iberdade provis ória até po rque a fiança foi erig ida a espécie de m edid a cau telar d iver sa dapr isão (art. 282, § 1º e art. 319, VIII) e, com is so a liber dade pro vi sór iaseria mais uma form a de res tituição da lib erdade a um agente que tenhasido preso em flagrante ou em virtud e de prevent iva.- Dispõe o art. 5º, LXVI da CF que ninguém será levado à prisão nemmantido nela quando a lei permitir a liberdade provisória com ou sem fiança.

Cabimento:- Prisão em flagrante e agora também na Prisão Preventiva.

Em regra, é admitida em todos os crimes e trata-se de direito subjetivo dopreso (art. 5º, LXVI, CF/88).Ver Lei 11.464 de 28/03/2007 que alterou a Lei dos crimes hediondos (Lei

8.072/90). A Lei 11.464/07 publicada em 29 de Março de 2007 alterou a leidos crimes hediondos permitindo a liberdade provisória sem fiança embora afiança continue a ser proibida nos termos do artigo 5º, XLIII da CF.É vedada a liberdade provisória nos crimes de lavagem de dinheiro (Lei9.613/98, art. 3º). A lei 9.034/95 dispõe que não cabe liberdade provisóriaaos agentes que tenham intensa e efetiva participação em organizaçãocriminosa. A vedação ap ri orística de concessão da liberdade provisóriaé repelida pela jurisprudência do STF pois o “legi sl ado r não podesubsti tu ir -se ao ju iz n a aferição da ex is tênci a de s it uação de realnecess id ade capaz de viab il izar a uti li zação, em c ada si tu açãoocorrente, do instrumento de tutela cautelar penal” ( HC 94.404, Rel. Min.Celso de Melo, j. em 18/11/2008, 2ª Turma, DJE de 18/06/2010). Emsentido contrário: HC 89.143, Rel. Min. Ellen Gracie, j. em 10/06/2008, 2ªTurma, DJE de 27/06/2008.O artigo 44 da Lei 11.343/06 veda Liberdade Provisória sem fiança para oscrimes previstos nos artigos 33, 'caput', e § 1º, e 34 e 37 daquela lei mas

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criou-se um conflito pois a Lei 11.464 de 28/03/07 (altera a lei dos crimeshediondos) é posterior e não mais veda a liberdade provisória sem fiança

 para crimes hediondos.Curiosamente a 2ª Turma do STF vem entendendoque a lei 11.464/07 não alcança os dispositivos legais que cuidam do crimede tráfico de drogas qual seja a proibição de liberdade provisória sem fiança

 prevista no artigo 44 da lei 11.343/06 ( HC 101.259, Rel. Min. Dias Tóffoli, j.em 01/12/2009, 1ª Turma, DJE de 05/02/2010; HC 93.302, Rel. Min.Carmén Lúcia, j. em 25/03/2008, Plenário, DJE de 09/05/2008). Emsentido contrário: HC 100.185, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. em08/06/2010, 2ª Turma, DJE de 06/05/2008; HC 99.717, Rel. Min. RicardoLewandowski, j. em 09/11/2010, 1ª Turma, DJE de 25/11/2010.

- O STF na ADIN nº 3.112 de 2007 (julgado de 02/05/2007, relator Min.Ricardo Lewandowski) declarou a inconstitucionalidade do artigo 21 e

 parágrafos únicos dos artigos 14 e 15 da Lei 10.826 de 22/12/2003 (Lei dodesarmamento) que proibia a liberdade provisória para os crime capituladosnos artigos 16, 17 e 18 daquela Lei e proibia a concessão de fiança para oscrimes de porte legal de arma de fogo de uso permitido e de disparo de armade fogo, não obstante a pena mínima culminada para ambos os crimesautorizar o benefício.

2 - DA PROVISORIEDADE DECORRE:revogável a qualquer momento, se vinculada;vigora apenas até o trânsito em julgado da sentença final.:

3.1- LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA (arts. 310 parágrafo único e321 do CPP)

a) - Com vinculação (obrigação de comparecimento aos atos do processo): Art. 310, parágrafo único, com a nova redação dada pela Lei 12.403/011.- se o agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III docaput do art. 23 do Código Penal (Excludentes de ilicitude).* Por analogia in bonan parte, aplica-se também às causas excludentes de

ilicitude previstas na Parte Especial (art. 128, I e II; 142, I, II e III; 146, § 3º; Ie II; 150, § 3º I e II, etc.);  não cabe para as excludentes de culpabilidade(dirimentes).

 A hipótese do parágrafo único do artigo 310 do CPP trata-se da únicaespécie de liberdade provisória distinta das medidas cautelares previstas noartigo 319 do CPP e, o juiz só impõe uma única condição que é ocomparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogação sendo

 pois INCABÍVEL a aplicação de qualquer modalidade de medida cautelar prevista no artigo 319 inclusive a fiança

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b) Com a possibilidade de imposição de medidas cautelares do artigo319 do CPP: Art. 321 do CPPquando o juiz verificar a inocorrência de qualquer das hipóteses queautorizam a prisão preventiva (art. 311 e 312).

* Neste caso o juiz impõe as medidas cautelares (art. 319 do CPP) presentesos seus requisitos (artigo 282) com exceção da fiança se o juiz entenderdesnecessária ou se a fiança for expressamente proibida nos termos dosartigos 323 e 324.

* Ver inaplicabilidade do Art. 321 do CPP (liberdade provisória sem fiança)em se tratando de organizações criminosas, crimes contra economia popular,crimes de sonegação fiscal (art. 325, §2º do CPP) e de lavagem de dinheiro(Lei 9613/98). Entendo que não há razoabilidade para a proibição e viola o

 princípio do estado de inocência.* aplicável às infrações afiançáveis e inafiançáveis, primários ou reincidentes,com bons ou maus antecedentes;- contra denegação cabe “HC”, e da decisão que concede cabe recurso emsentido estrito (art. 581, V);- outros casos admissíveis: art. 350; art. 413 §3º (redação dada pela Lei11.689 de 09/06/2008) e Art. 387, parágrafo único do CPP (redação atribuídapela Lei 11.719 de 20/06/2008).

3.2- LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇAa) - Fiança : é caução que visa oferecer meios para assegurar o cumprimentode uma obrigação. É garantia real, no processo penal (art. 330), nãoexistindo mais fiança fidejussória;- é direito subjetivo constitucional do acusado, onde o preso, mediantepagamento de caução e cumprindo certas obrigações, poderá ficar livre até otrânsito em julgado de sentença condenatória;É contracautelar à prisão provisória.Com o advento da Lei 12.403/011 a fiança foi erigida a uma dasmodalidades de medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP) epoderá ou não s er imposta ju ntamente com ou tra medida cautelar  (art.282, §1º e art. 319, § 4º do CPP). A fiança visa assegurar o comparecimento do acusado aos atos do

 processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência àordem judicial (art. 319, VIII do CPP). A fiança prestada servirá em caso de condenação, ao pagamento dascustas, da indenização à vítima ou seus sucessores, da prestação pecuniáriae da multa (art. 336 do CPP).

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b) Mom ento de con ces são : desde a prisão em flagrante até o trânsito em julgado da sentença;- a fiança não depende de requerimento e pode ser imposta de ofício após oflagrante nos termos do art. 310, II ou em outras ocasiões demonstrada anecessidade e a adequação da medida, 'ex-vi' do disposto no art. 282, §§ 2º

e 6º do CPP.

Incabível durante a execução da pena.

c) - Inafi ançabi lid ade:- Com o advento da Lei 12.403/011 em regra a imposição da fiança é cabívelpara todos os crimes ressalvadas as situações vedadas pelos artigos 283,§1º, 323 e 324 do CPP, quais sejam:

I) crimes aos quais não seja imposta pena privativa de liberdade (art. 283,§1º);II) crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,terrorismo, definidos como hediondos e crimes cometidos por gruposarmados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o EstadoDemocrático (art. 323 do CPP);III)àqueles que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ou infringido,sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e328 do CPP (art. 324);IV)d) em caso de prisão civil ou militar (art. 324);V) quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão

 preventiva (art. 324)

Obs.:  - A Lei 7.291/84, em seu art. 9º, §2º proibe fiança para a contravençãode aposta sobre corridas de cavalos fora do hipódromo mas não há dúvidasque tal dispositivo viola o princípio da razoabilidade até porque se trata deinfração penal de menor potencial ofensivo.- O STF na ADIN nº 312 de 2007 declarou a inconstitucionalidade dos

 parágrafos únicos dos arts. 14 e 15 da Lei 10.826 de 22/12/2003 que

afirmavam serem inafiançáveis os crimes de porte legal de armas de fogo deuso permitido e de disparo de arma de fogo.

d) - Valo r d a Fiança (ar t. 325 c om a nova redação atr ib uída pela L ei12.403/011):- A Lei 12.403/011 aumentou de forma significativa o valor da fiança,possibilitando inclusive que seja aumentada em até mil vezes.- Os valores serão fixados em salários mínimos, nos limites:

Pena privativa de liberdade até 4 anos: de 1 a 100 salários mínimos;

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Pena privativa de liberdade superior a 4 anos: de 10 a 200 saláriosmínimos.

Obs.: - se a situação econômica do réu recomendar, a fiança poderá serdispensada, na forma do art. 350 do CPP ou poderá ser reduzida até o

máximo de 2/3 dos valores citados para efeitos de fiança, ou aumentada ematé 1.000 (mil) vezes (art. 323, §1º e incisos).D.1) Valor da fiança para os crimes contra a economia popular (colarinhobranco) e sonegação fiscal (Lei 8.035 de 27.04.90):- somente pode ser concedida pelo juiz e após a lavratura do auto deflagrante;- limite de 10 mil a cem mil vezes o BTN da data do crime;- poderá esse limite ser reduzido de até nove décimos ou aumentado até odécuplo.

* ficou proibida a liberdade provisória, sem fiança, para esses crimes.

e) - Arbit ramento* O art. 326 impõe que se observe:- natureza da infração;- condições pessoais de fortuna e vida pregressa;- periculosidade e;- valor das custas.

f) - Dispensa : art. 350 permite que:- O juiz dispense por motivo de pobreza, sem dispensar as obrigações dosarts. 327 e 328 e a outras medidas cautelares, se for o caso.

g) - Competênci a para a Concessão (art . 322 do CPP)- autoridade policial: nos casos de infração cuja pena privativa de liberdademáxima não seja superior a 4 (quatro) anos.* se ocorrer demora ou recusa, o indiciado ou alguém por ele, podepeticionar para o juiz que deverá decidir em 48 (quarenta e oito) horas (art.

335).- crimes cuja pena máxima supera a 4 (quatro): somente o juiz podeconceder, tendo prazo de 48 horas para decidir;- competência originária dos tribunais: cabe ao relator arbitrar a fiança (art.2º, Lei 8.038/90 c/c art. 1º da Lei 8.658/93);

O MP deve ser ouvido após a decisão sobre o pedido de fiança(art. 333).

h) – Ob rigações do afiançado deco rren tes da fiança:  Arts. 327, 328 e 341

do CPP.

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i ) - Cas sação (ar t. 338):- quando concedida indevidamente, bem como quando houverdesclassificação para crime inafiançável.

 j) - Quebramento (A rt. 341):- em caso de descumprimento da condições fixadas (art.s 327 e 328)- quando o réu devidamente intimado deixar de comparecer a algum ato doprocesso, sem motivo justo;praticar, deliberadamente ato de obstrução ao andamento do processodescumprir medida cautelar eventualmente imposta com a fiança;resistir injustificadamente a ordem judicial;

praticar nova infração penal dolosa* a quebra somente é decretada pelo juiz;

Conseqüências da QUEBRA (art. 343 do CPP):- perda da metade do valor recolhido, podendo o juiz impor outras medidascautelares mais gravosas e se for necessário poderá decretar a prisãopreventiva.

* da decisão que julga quebrada a fiança cabe recurso em sentido estrito

(inclusive por terceiro, fiador), que suspende a perda da metade do valor dafiança;* a perda da metade do valor da fiança em caso de quebramento é sempreirreversível (mesmo se absolvido), sendo recolhida ao Tesouro Federal (346);* se condenado, a outra metade responde pelas custas, multa e oressarcimento do dano;- quebramento da fiança: gera revelia, prisão e impede nova fiança;- julgado procedente o recurso interposto (342):* o acusado é posto em liberdade;* e a parte declarada perdida volta a integrar a fiança;

k) - Perda ou perd imento do valor total da fiança (Art . 344 do CPP):- Quando o condenado não se apresentar à prisão (após trânsito em julgadode sentença condenatória);- é de competência exclusiva do juiz (cabe recurso em sentido estrito, comefeito suspensivo) art.584.

l) - Refo rço da fiança (Ar t. 340 do CPP): Ocor re quan do a fiança foiarbitrada a meno r ou quando houver depreciação do bem deixado em

garantia.

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m) - Modal idades d e fiança (Art. 330 do CPP)- Por depósito;- Por h ipo teca.

PONTO V - CITAÇÕES E INTIMAÇÕES

I - CITAÇÃO

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1 - CONCEITO: “É o ato processual no qual o réu toma conhecimento da existência deuma ação penal em seu desfavor e além disso é a forma usada para chamá-lo paraoferecer defesa prévia naquela ação” (Tourinho).- não existe no inquérito policial;- é ato essencial no processo (ausência gera nulidade absoluta) art. 564, III;- não se admite a citação na pessoa de seu representante legal (deve ser feita

diretamente ao acusado, ainda que menor de 21 ou insano mental, salvo, neste últimocaso, quando houver a nomeação de curador antes da citação);- citação incompleta: nulidade relativa (é sanável se não argüida nas alegaçõespreliminares);- comparecimento do réu em juízo supre a falta ou defeito da citação (art. 570 CPP);

* Não existe no Processo Penal a citação, por carta com AR ou por telefone. A Lei11.719 de 20/06/2008 alterou o CPP (art. 362) e passou a admitir a citação por horacerta na forma do CPC quando o réu se oculta para não ser citado.

2 - CLASSIFICAÇÃO:2.1- REAL (pessoal ou in facie): realizada na pessoa do próprio acusado.2.2- FICTA (presumida): realizada por editais.

3 - EFEITOScompletar a instância ou seja a relação jurídica processual (art. 363 com a redaçãoestabelecida pela Lei nº 11.719/2008);pode causar revelia (Art. 367 do CPP);Obs.: difere do processo civil quanto a:* o que previne o juízo é a distribuição é não a citação;não interrompe a prescrição.

4 - FORMAS DE CITAÇÃO4.1- POR MANDADO (é regra - art. 351). Quando o réu reside na Comarca.- Exceções: citação de militar (358) e em legação estrangeira (369 - alterado pela Lei9.271/96)

4.1.1. REQUISITOS INTRÍNSECOS DA CITAÇÃO POR MANDADO: O mandado deveconter os requisitos do Art. 352 do CPP.

4.1.1- REQUISITOS EXTRÍNSECOS (art. 357 - dizem respeito à função do oficial de justiça ao citar o réu):leitura do mandado;entrega da contrafé (dia, hora e lugar);não há na lei exigência da assinatura do citado.Não pode ser realizada pelo escrivão.Momento: a qualquer dia e hora, inclusive aos domingos e feriados (art. 797).4.2- POR PRECATÓRIA (Arts. 353 a 356 do CPP):- usada para réu residente fora da jurisdição do juiz processante (353).Precatória itinerante: quando o juiz deprecado inicialmente constata que o réu seencontra em outra jurisdição, quando então remeterá os autos para efetivação dasdiligências (355).Cabe precatória por carta telegráfica, com firma reconhecida e mencionada pela

expedição (356).

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4.3- CITAÇÃO DE MILITAR- feita através do chefe do serviço (juiz oficia com as indicações indispensáveis aomandado).* por edital - somente quando o superior do acusado declarar estar o mesmo em lugarignorado.

4.4- CITAÇÃO DE PRESO- Havia divergência nos tribunais e na doutrina quanto a dispensa da citação pormandado (o STJ entendia que bastava a requisição do preso ao chefe doestabelecimento) porém a Lei 10.792 de 1º/12/03 alterou o Art. 360 do CPPdeterminando a citação pessoal do réu preso.

4.5- FUNCIONÁRIO PÚBLICO- por mandado, porém, é notificado também ao chefe da repartição pública (Art. 359) -(não vale para magistrado).

4.6- CITAÇÃO POR CARTA ROGATÓRIA: - Se o réu estiver no estrangeiro em lugarconhecido ou se encontrar fixado em legação estrangeira, será citado mediantecarta rogatória, suspendendo o curso da prescrição até o seu cumprimento segundoprevisões contidas nos artigos art. 368 e 369.- A Lei 11.900/09 criou o artigo 222- A do CPP, que determina que as “cartas rogatórias sóserão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parterequerente com os custos de envio”. - em lugar  não sabido, adota-se as regras da citação por edital (art. 366, alterado pelaLei 9.271/ 96).

4.7- CITAÇÃO POR CARTA DE ORDEM

- determinada pelos tribunais aos juizes de instância inferior, nos processos de suacompetência originária.

4.8. CITAÇÃO POR HORA CERTA: Com o advento da Lei 11.719 de 20/06/2008 quealterou o Art. 362 do CPP, agora existe a citação por hora certa no processo penalquando o réu se oculta para não ser citado, devendo ser aplicado as regras dos arts. 227e 229 do CPC. Se o réu não comparece o juiz deve nomear defensor dativo.-  A diligência à residência do réu e a entrega da contra-fé efetiva o ato citatório. Comobem diz Eugênio Pacelli (Curso de Processo Penal, 15ª Edição) “ A expedição de carta,telegrama ou radiograma, ainda que considerada integrante do ato, não interfere nacontagem do prazo para a resposta escrita, cujo início, então, será a data designada pelo

oficial para o novo comparecimento, com a entrega da contra-fé.”  

4.9 - CITAÇÃO POR EDITAL (FICTA)   - ARTS. 361, 363, §§ 1º e 4º, Art.365 e 366,“caput” com as alterações procedidas pela Lei 11.719 de 20/06/08. - quando não é possível localizar o citando;- quando esgotados todos os esforços para o chamamento pessoal do imputado.

4.9.1 - CASOS DE EMPREGO (Atualmente somente a hipótese do art. 361)- o réu não é encontrado (prazo de 15 dias);- lugar inacessível (prazo de 15 a 90 dias). Obs .: O inciso I do art. 363 do CPP foirevo gado pela L ei 11.719/08.

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- quando incerta a pessoa do acusado (prazo 30 dias). Obs.: O inc iso II do art. 363 doCPP foi r evogado pela Lei 11.719/08.

Súmula 351-STF:  é nula a citação por edital, de réu preso na mesma unidade daFederação em que o juiz exerce jurisdição.

5- CONSEQUÊNCIAS DA CITAÇÃO POR EDITAL - LEI 9.271/96

5.1 - NÃO COMPARECENDO O RÉU E NÃO CONSTITUINDO ADVOGADO:O processo será suspenso até o comparecimento do réu ou a extinção da punibilidade(o STF já decidiu que não se aplica o disposto no art. 366 aos crimes cometidos antes daentrada em vigor da Lei 9271/96 – 17/06/1996).Segundo a doutrina majoritária (Damásio) suspende o curso do prazo prescricional peloprazo de prescrição prevista para o crime, mas depois o prazo prescricional volta a sercontado, computado o prazo já transcorrido entre o último ato de interrupção daprescrição e a data do despacho do juiz determinando a suspensão da prescrição (nãoalcança os crimes praticados antes da vigência da Lei 9.271, de 17/04/96). Aliás, este éo entendimento do STJ, que r ecentemente editou a Súmula nº 415 afirmando que “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da penacominada.” O Supremo Tribunal Federal não acolhe aquela doutrina de Damásio e a jurisprudência do STJ pois afirma que “a indeter minação do prazo da suspensãonão constitui, a rigor, hipótese de imprescritibilidade: não impede a retomada docurso da prescrição, apenas a condiciona a um evento futuro e incerto, situaçãosubstancialmente diversa da imprescritibilidade.... não cabe, nem mesmo sujeitar operíodo de suspensão de que trata o artigo 366 do Código de Processo Penal aotempo da prescrição em abstrato, pois, do contrário, o que se teria, nessahipótese, seria uma causa de interrupção, e não de suspensão” (RE 460971 / RS,Relator Min. Sepúlveda Pertence, julgado de 13/02/2007, publicado no DJ em30/03/2007).

 Poderá ser antecipada a produção de provas urgentes (a prova testemunhal éconsiderada urgente nas situações do art.225 CPP).Será decretada a prisão preventiva se presentes os requisitos do art. 312 do CPP, nãohavendo a restauração do instituto da prisão preventiva obrigatória, segundo doutrinamajoritária.Não se aplicam as regras supra quando se tratar do crime de lavagem ou ocultação debens, direitos ou valores (art. 2º,§ 2º, da Lei 9.613/98) mas há divergências na doutrina e jurisprudência. Entendo que com o advento da Lei 11.719/08 o disposto no artigo 366 doCPP, em especial quanto à exigência de suspensão do processo e do prazoprescricional, deve ser aplicado a todos os procedimentos penais de primeira instância.

6 - RÉU COMPARECE OU CONSTITUI DEFENSOR: o processo tem prosseguimento.Em se tratando de citação por edital comparecendo pessoalmente o acusado ou odefensor constituído começa a correr o prazo de 10 dias para a resposta à acusação(defesa prévia) conforme prevê o parágrafo único do art. 396 do CPP e § 4º do art. 363,face as alterações ao CPP procedidas pela Lei 11.719 de 20/06/08..

I - INTIMAÇÃO1 - CONCEITOS:Intimação: é a ciência dada à parte, durante o processo, da prática já ocorrida de umato, despacho ou sentença;Notificação: é a ciência de um ato que se deve realizar.depois de citado, o réu também será intimado ou notificado durante o processo.

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2 - FORMAS DE INTIMAÇÕES (E NOTIFICAÇÕES)Regra: será observado, no que for aplicável, o disposto para a citação (art. 370).

2.1- NORMAS PRÓPRIAS (específicas): após a vigência da Lei 9.271/96.

a) Intimação d o defenso r CONSTITUIDO, do ad vo gado do querelan te e do

ass is ten te (A rt . 370, §§ 1º e 2º do CPP):através de publicação no órgão oficial (DJ), incluindo o nome do advogado e doacusado, sob pena de nulidade.* não havendo órgão de publicação na comarca; intima-se:- pelo escrivão (poderá ser feita ainda quando haja órgão de publicação oficial, caso quedispensará a publicação);- por mandado;- por via postal, com AR.- ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação (exp.: fax, email, telefone, etc. -com certidão nos autos)

b) Intim ação do Mini stério Públi co , do defenso r nomeado (dativo ) ou def ensorpúblico:a intimação deve ser pessoal (art. 370, § 4o do CPP , e art. 41, IV da LC 8.625/93) - oSTF (B.I. n.º 115 - HC 76.915, julg. 17-06-98) entendeu que o Ministério Público pode serintimado através de publicação na imprensa, no Juizado Especial Criminal (art. 82, § 4º,da Lei n.º 9.099/95).

* A intimação, também, pode ser feita pelo juiz, às partes e testemunhas presentes,quando estiver adiando ato de instrução (lavrar-se-á termo nos autos - 372)Súmula 155 STF: falta de intimação é nulidade relativa (sanável); nas intimações ou notificações de funcionário público, não ocorre nulidade por falta decomunicação do mandado ao chefe da repartição.* No caso de expedição de Carta Precatória para a realização de determinado ato éexigida a intimação da expedição da referida Carta (art. 222 do CPP), mas não da datadesignada pelo juízo deprecado para a realização do ato.

2.2. - ÉPOCA DAS INTIMAÇÕES (E NOTIFICAÇÕES): em qualquer dia e horário,inclusive nos sábados, domingos e nas férias forenses (art. 797).- Súmula 310 do STF: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicaçãocom efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feiraimediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia que se

seguir.”  3 - REVELIA

- A revelia não impede a presença física do réu revel, se o mesmo comparecer semser citado.

Correntes doutrinárias admitem que deva o mesmo ser notificado de todos os atos doprocesso, tão logo desaparecido a contumácia (há decisões divergentes).

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PONTO V - CITAÇÕES E INTIMAÇÕES

I - CITAÇÃO1 - CONCEITO: “É o ato processual no qual o réu toma conhecimento da existênciade uma ação penal em seu desfavor e além disso é a forma usada para chamá-lo paraoferecer defesa prévia naquela ação” (Tourinho). - A citação é feita uma única vez eis que, após a sentença penal condenatória, não seráfeita nova citação para a execução penal, pois se trata apenas de uma nova fase da“persecutio criminis”; - É o juiz quem determina a citação, e, em regra, é cumprida pelo oficial de Justiça;- É ato essencial no processo (ausência gera nulidade absoluta) art. 564, III;- Não se admite a citação na pessoa de seu representante legal (deve ser feita

diretamente ao acusado);- Citação incompleta: nulidade relativa (é sanável se não arguida nas alegaçõespreliminares);- Comparecimento do réu em juízo supre a falta ou defeito da citação (art. 570 CPP);- Pode ocorrer do réu tomar conhecimento da acusação antes de ser citado, como nosprocessos da competência originária dos Tribunais (Lei nº 8.038/90 c/c art. 1º da Lei nº8.658/93), nos crimes de responsabilidade de funcionário público da competência do juizsingular (art. 514 do CPP), em que o acusado por primeiro é notificado para apresentardefesa preliminar escrita antes do recebimento da denúncia, porém, uma vez recebida adenúncia, a citação é indispensável.

* Não existe no Processo Penal a citação por carta com AR ou por telefone. A Lei11.719 de 20/06/2008 alterou o CPP (art. 362) e passou a admitir a citação por horacerta na forma do CPC quando o réu se oculta para não ser citado.

2 - EFEITOS DA CITAÇÃO:

- O único efeito da citação no processo penal é instaurar a relação jurídica processual oucompletar a instância (art. 363 do CPP, com a redação dada pela Lei 11.719/2008).- Pode causar revelia (art. 367 do CPP).- Não previne a jurisdição, não interrompe a prescrição e não induz litispendência.

3 – CONSEQUÊNCIAS DO NÃO ATENDIMENTO À CITAÇÃO:

- Se o réu, citado pessoalmente, deixar de comparecer em juízo (contumácia), provoca arevelia nos termos do art. 367 do CPP, ou seja, a causa penal prossegue sem que o réuseja mais intimado ou notificado quanto aos demais atos do processo, salvo no caso decondenação (art. 392 do CPP).

4 - CLASSIFICAÇÃO:2.1- REAL (pessoal ou in facie): realizada na pessoa do próprio acusado.2.2- FICTA (presumida): realizada por editais.

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5 - FORMAS DE CITAÇÃO5.1- POR MANDADO (é regra - art. 351). Quando o réu reside na Comarca.- Exceções: citação de militar (358) e em legação estrangeira (369 - alterado pela Lei9.271/96)

5.1.1. REQUISITOS INTRÍNSECOS DA CITAÇÃO POR MANDADO: O mandado deveconter os requisitos do Art. 352 do CPP.

5.1.2. REQUISITOS EXTRÍNSECOS (art. 357 - dizem respeito à função do oficial de justiça ao citar o réu):leitura do mandado;entrega da contrafé (dia, hora e lugar);não há na lei exigência da assinatura do citado.Não pode ser realizada pelo escrivão.Momento: a qualquer dia e hora, inclusive aos domingos e feriados (art. 797).5.2- POR PRECATÓRIA (Arts. 353 a 356 do CPP):- usada para réu residente fora da jurisdição do juiz processante (353).Precatória itinerante: quando o juiz deprecado inicialmente constata que o réu seencontra em outra jurisdição, quando então remeterá os autos para efetivação dasdiligências (355).Cabe precatória por carta telegráfica, com firma reconhecida e mencionada pelaexpedição (356).

5.3- CITAÇÃO DE MILITAR- feita através do chefe do serviço (juiz oficia com as indicações indispensáveis aomandado).

* por edital - somente quando o superior do acusado declarar estar o mesmo em lugarignorado.

5.4- CITAÇÃO DE PRESO- Havia divergência nos tribunais e na doutrina quanto a dispensa da citação pormandado (o STJ entendia que bastava a requisição do preso ao chefe doestabelecimento) porém a Lei 10.792 de 1º/12/03 alterou o Art. 360 do CPPdeterminando a citação pessoal do réu preso.

5.5- FUNCIONÁRIO PÚBLICO- por mandado, porém, é notificado também ao chefe da repartição pública (Art. 359) -

(não vale para magistrado).5.6- CITAÇÃO POR CARTA ROGATÓRIA: - Se o réu estiver no estrangeiro em lugarconhecido ou se encontrar fixado em legação estrangeira, será citado mediantecarta rogatória, suspendendo o curso da prescrição até o seu cumprimento segundoprevisões contidas nos artigos art. 368 e 369.- em lugar  não sabido, adotam-se as regras da citação por edital (art. 366, alterado pelaLei 9.271/ 96).- a Carta Rogatória é cumprida pelas vias diplomáticas (art. 783 do CPP).- a Lei 11.900/09 criou o artigo 222- A do CPP, que determina que as “cartas precatóriassó serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a

parte requerente com os custos de envio”. 

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5.7- CITAÇÃO POR CARTA DE ORDEM- determinada pelos tribunais aos juizes de instância inferior, nos processos de suacompetência originária.

5.8. CITAÇÃO POR HORA CERTA: Com o advento da Lei 11.719 de 20/06/2008 que

alterou o Art. 362 do CPP, agora existe a citação por hora certa no processo penalquando o réu se oculta para não ser citado, devendo ser aplicado as regras dos arts. 227e 229 do CPC. Se o réu não apresenta resposta, o juiz deve nomear defensor dativo.- A diligência à resistência do réu e a entrega da contrafé efetiva o ato citatório. Comobem diz Eugênio Pacelli (Curso de Processo Penal, 15ª edição), “A expedição de carta,telegrama ou radiograma, ainda que considerada integrante do ato, não interfere nacontagem do prazo para a resposta escrita, cujo início, então, será a data designada pelooficial para o novo comparecimento, com a entrega da contrafé”. 

5.9 - CITAÇÃO POR EDITAL (FICTA)   - ARTS. 361, 363, §§ 1º e 4º, Art.365 e 366,“caput” com as alterações procedidas pela Lei 11.719 de 20/06/08. 

5.9.1. Segundo Tourinho, “é a citação ficta, também chamada de citação presumida, queé feita por meio da imprensa e de afixação do edital à porta ou no átrio do edifício ondefunciona o juízo”. 

5.9.2. Hipóteses legais de citação por edital (atualmente somente a hipótese do art.361)

a – Réu em local incerto e não sabido: art. 361 do CPP. Obs: o prazo do edital é de 15(quinze) dias.

b  – Réu que se encontra em lugar inacessível: art. 363, I, do CPP, revogado pela Lei11.719/08.c – Réu com identificação incerta: art. 363, II, do CPP, revogado pela Lei 11.719/08.

5.9.3. Requisitos da citação editalícia: art. 365 do CPP.

5.9.4. Artigo 366 do CPP com a alteração dada pela Lei nº 9.271/96.

5.9.4.1. Segundo aquele dispositivo legal, se o réu, citado por edital, não comparecer ounão constituir advogado, o processo será suspenso, assim como o curso do prazoprescricional, todavia, fica possibilitada a produção de provas urgentes e a decretação daprisão preventiva do acusado.

5.9.4.2. Não se aplica o artigo 366 do CPP nos casos de crime de lavagem ou ocultaçãode bens, direitos e valores, previsto na Lei de Lavagem de Dinheiro (art. 1º da Lei nº9.613, de 03/03/1998), mas há divergências na doutrina e jurisprudência.

5.9.4.3. O artigo 366 do CPP contém regras de caráter processual e penal (normahíbrida ou mista) e o STF já decidiu que não se aplica o disposto no artigo 366 aoscrimes cometidos antes da entrada em vigor da Lei nº 9.271/96.

5.9.4.4. E o período de suspensão do prazo prescricional? O Supremo Tribunal Federal

não acolhe aquela doutrina de Damásio ao afirmar que “a indeterminação do prazo da

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suspensão não constitui, a rigor, hipótese de imprescritibilidade: não impede a retomadado curso da prescrição, apenas a condiciona a um evento futuro e incerto, situaçãosubstancialmente diversa da imprescritibilidade... não cabe, nem mesmo sujeitar operíodo de suspensão de que trata o artigo 366 do Código de Processo Penal ao tempoda prescrição em abstrato, pois, do contrário, o que se teria, nessa hipótese, seria umacausa de interrupção, e não de suspensão”. (RE 460971/RS, Relator Min. Sepúlveda

Pertence, julgado de 13/02/2007, publicado no DJ em 30/03/2007).

5.10. Observações quanto à citação editalícia:

- A citação por edital somente ocorre quando esgotados todos os meios de localizar oacusado.- É nulo o interrogatório realizado antes do prazo estabelecido no edital.- Súmula 351 do STF: “É nula a citação por edital, de réu preso na mesma Unidade daFederação em que o juiz exerce jurisdição.” - O professor Tourinho Filho entende o artigo 365, V, do CPP, fala em contagem do prazodo edital a partir do dia da publicação na imprensa ou, quando não houver, do dia da sua

afixação na entrada da sede onde funcionar o juízo, logo, deve este ser incluído como oprimeiro dia na contagem do lapso temporal, porém, o STF já firmou posição de quedeve incidir a regra geral prevista no artigo 798, § 1º, c/c a Súmula 310 do STF, ou seja,não computando o dia do começo porém incluindo o do vencimento.- Súmula 366 do STF: “Não é nula a citação por edital que indica o d ispositivo da leipenal, embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que sebaseia.” 

CASOS DE EMPREGO (Atualmente somente a hipótese do art. 361)- o réu não é encontrado (prazo de 15 dias);

- lugar inacessível (prazo de 15 a 90 dias). Obs .: O inciso I do art. 363 do CPP foirevo gado pela L ei 11.719/08.- quando incerta a pessoa do acusado (prazo 30 dias). Obs.: O inc iso II do art. 363 doCPP foi r evogado pela Lei 11.719/08.Súmula 351-STF:  é nula a citação por edital, de réu preso na mesma unidade da

Federação em que o juiz exerce jurisdição.

6- CONSEQUÊNCIAS DA CITAÇÃO POR EDITAL - LEI 9.271/965.1 - NÃO COMPARECENDO O RÉU E NÃO CONSTITUINDO ADVOGADO:O processo será suspenso até o comparecimento do réu ou a extinção da punibilidade

(o STF já decidiu que não se aplica o disposto no art. 366 aos crimes cometidos antes daentrada em vigor da Lei 9271/96 – 17/06/1996).Segundo a doutrina majoritária (Damásio) suspende o curso do prazo prescricional peloprazo de prescrição prevista para o crime, mas depois o prazo prescricional volta a sercontado, computado o prazo já transcorrido entre o último ato de interrupção daprescrição e a data do despacho do juiz determinando a suspensão da prescrição (nãoalcança os crimes praticados antes da vigência da Lei 9.271, de 17/04/96). Poderá ser antecipada a produção de provas urgentes (a prova testemunhal éconsiderada urgente nas situações do art.225 CPP).Será decretada a prisão preventiva se presentes os requisitos do art. 312 do CPP, nãohavendo a restauração do instituto da prisão preventiva obrigatória, segundo doutrina

majoritária.

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Não se aplicam as regras supra quando se tratar do crime de lavagem ou ocultação debens, direitos ou valores (art. 2º,§ 2º, da Lei 9.613/98) mas há divergências na doutrina e jurisprudência.

7 - RÉU COMPARECE OU CONSTITUI DEFENSOR:  o processo temprosseguimento. Em se tratando de citação por edital comparecendo pessoalmente o

acusado ou o defensor constituído começa a correr o prazo de 10 dias para a resposta àacusação (defesa prévia) conforme prevê o parágrafo único do art. 396 do CPP e § 4º doart. 363, face as alterações ao CPP procedidas pela Lei 11.719 de 20/06/08.

8 – CITAÇÃO DO PRESO:

Havia divergência nos tribunais e na doutrina quanto à dispensa da citação por mandado(o STJ entendia que bastava a requisição do preso ao chefe do estabelecimento), poréma Lei nº 10.792, de 1º /12/03, alterou o art. 360 do CPP, determinando a citação pessoaldo réu preso.

9 – CITAÇÃO DO MILITAR:

-  A art. 358 do CPP: “a citação do militar far -se-á por intermédio do chefe do respectivoserviço.” - O juízo processante expede um ofício requisitório ao chefe do serviço onde o militar seencontra, devendo constar no ofício os mesmos requisitos do mandado de citação (art.352), cabendo ao respectivo chefe do serviço dar ciência ao réu de todos os termos dacitação.

10 – CITAÇÃO DO FUNCIONÁRIO PÚBLICO:

- O funcionário público deve ser citado pessoalmente, mas o art. 359 do CPP exige queseja notificado o chefe da repartição a que estiver subordinado de que em tal dia, hora elugar aquele funcionário público deverá comparecer para ser interrogado.

I - INTIMAÇÃO1 - CONCEITOS:Intimação: é a ciência dada à parte, durante o processo, da prática já ocorrida de umato, despacho ou sentença;

Notificação: é a ciência de um ato que se deve realizar.depois de citado, o réu também será intimado ou notificado durante o processo.2 - FORMAS DE INTIMAÇÕES (E NOTIFICAÇÕES)Regra: será observado, no que for aplicável, o disposto para a citação (art. 370).

2.1- NORMAS PRÓPRIAS (específicas): após a vigência da Lei 9.271/96.

a) Intimação d o defenso r CONSTITUIDO, do ad vo gado do querelan te e doass is ten te (A rt . 370, §§ 1º e 2º do CPP):

através de publicação no órgão oficial (DJ), incluindo o nome do advogado e doacusado, sob pena de nulidade.

* não havendo órgão de publicação na comarca; intima-se:

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- pelo escrivão (poderá ser feita ainda quando haja órgão de publicação oficial, caso quedispensará a publicação);- por mandado;- por via postal, com AR.- ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação (exp.: fax, email, telefone, etc. -com certidão nos autos)

b) Intimação do Mini stério Públ ic o, do defenso r nomeado (dati vo ) ou defenso rpúblico:a intimação deve ser pessoal (art. 370, § 4o do CPP , e art. 41, IV da LC 8.625/93) - oSTF (B.I. n.º 115 - HC 76.915, julg. 17-06-98) entendeu que o Ministério Público pode serintimado através de publicação na imprensa, no Juizado Especial Criminal (art. 82, § 4º,da Lei n.º 9.099/95).

* A intimação, também, pode ser feita pelo juiz, às partes e testemunhas presentes,quando estiver adiando ato de instrução (lavrar-se-á termo nos autos - 372)Súmula 155 STF: falta de intimação é nulidade relativa (sanável); nas intimações ou notificações de funcionário público, não ocorre nulidade por falta decomunicação do mandado ao chefe da repartição.* No caso de expedição de Carta Precatória para a realização de determinado ato éexigida a intimação da expedição da referida Carta (art. 222 do CPP), mas não da datadesignada pelo juízo deprecado para a realização do ato.

2.2. - ÉPOCA DAS INTIMAÇÕES (E NOTIFICAÇÕES): em qualquer dia e horário,inclusive nos sábados, domingos e nas férias forenses (art. 797).- Súmula 310 do STF: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicaçãocom efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feiraimediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia que seseguir.”  

3 - REVELIA- A revelia não impede a presença física do réu revel, se o mesmo comparecer semser citado.

Correntes doutrinárias admitem que deva o mesmo ser notificado de todos os atos doprocesso, tão logo desaparecido a contumácia (há decisões divergentes).

OBSERVAÇÕES:

- No caso de expedição de Carta Precatória para a realização de determinado ato, éexigida a intimação da expedição da referida Carta (art. 222 do CPP), mas não da datadesignada pelo juízo deprecado para a realização do ato.- As intimações podem ser feitas inclusive nas férias forenses (art. 797 do CPP).- Súmula 310 do STF: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação comefeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feiraimediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil quese seguir.” 

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Direito Processual Penal

Professores: Alderico Rocha Santos / Wilson Dias

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PONTO VI – COMPETÊNCIA

1 – CONCEITO

Competência é a medida e o limite da Jurisdição, é a delimitação do PoderJurisdicional. Para Paulo Rangel, competência é o espaço legislativamentedelimitado, dentro do qual o órgão estatal, investido do poder de julgar, exerce sua jurisdição.

2 – PRORROGAÇÃO E DELEGAÇÃO DA COMPETÊNCIA

 A prorrogação da competência significa a transferência da competência para outro juízo que, inicialmente, apresentava-se incompetente. Pode se dar de formavoluntário ou necessária. A primeira ocorre nos casos de competência ratione loci quando ocorre a preclusãodo direito de opor a exceção de incompetência. A segunda ocorre por umimperativo legal como, por exemplo, no caso de conexão ou continência. A delegação da competência é a interação entre os juízes e os tribunais, no sentidode se auxiliarem mutuamente, onde um transfere ao outro a atribuição de suacompetência. Na delegação não há a transferência do poder de julgar ou prática deatos decisórios, mas, apenas, de atos processuais e de instrução.Ocorre de duas formas: delegação externa e delegação interna. Na primeira o ato é

praticado em juízos diferentes como as Cartas Precatórias e as de Ordem. Nasegunda a delegação se dá no processo, quando um juiz passa ao outro suacompetência. É o caso de substituições, auxílios etc.

3  –  CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA ADOTADOS PELOCÓDIGO DE PROCESSO PENAL

- “Art. 69 determinará a competência jurisdicional:I – O lugar da infração;II – O domicílio ou residência do réu;

III – A natureza da infração;IV – A distribuição;V – A conexão ou continência;VI – A prevenção;VII –  A prerrogativa de função.” 

4 - COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO (Ratione Materiae)

4.1. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA NA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL

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Direito Processual Penal

Professores: Alderico Rocha Santos / Wilson Dias

68 

- Para definir a competência ratione materiae por primeiro tem que ser verificado seo julgamento compete à jurisdição comum ou especial.

4.1.1. Jurisdições ou justiças especiais:

a) Justiça Eleitoral: para o julgamento de infrações penais dessa natureza (Art. 118a 121 da Constituição Federal).

b) Justiça Militar: para processar e julgar os crimes militares definidos em lei (art.124 e art. 125, § 4º, da Constituição Federal). A emenda constitucional 45, de31/12/2004, alterou o art. 125, §§ 3º e 5º, ao estabelecer que a Justiça MilitarEstadual, em primeiro grau, é composta de dois órgãos, quais sejam Juízes deDireito do Juízo Militar e Conselhos de Justiça, cabendo ao primeiro julgar oscrimes militares praticados contra civis e ao segundo julgar os demais crimesmilitares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for um civil.

c) Justiça do Trabalho: (art. 111 a 117 da Constituição Federal). Em matéria nãopenal.

4.1.2. Jurisdição ou justiça comum ou ordinária:

a) Justiça Federal: A competência está disciplinada no art. 109 da ConstituiçãoFederal – matérias de interesse da União.b) Justiça Estadual: É fixada por exclusão, ou seja, lhe compete julgar todas ascausar que não forem de competência das jurisdições especiais e federal(competência residual).c) Juizados Especiais Criminais: (arts. 24 e 98, I, da Constituição Federal).

4.2. CRITÉRIOS PARA A FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DAINFRAÇÃO.

- Art. 74 do Código de Processo Penal: “A competência pela natureza dainfração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo acompetência privativa do Tribunal do Júri.” 

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§ 1º: Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts.121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal,

consumados ou tentados.” 

- Júri Federal:

- O latrocínio é crime contra o patrimônio, portanto, conforme preceitua aSúmula nº 603 do STF: “ A competência para  o processo e julgamento dolatrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.” - “Essa tarefa é realizada pelas leis de organização judiciária (federal ouestadual), que vão determinar a competência do juiz, podendo estabelecercritérios variados para a divisão (qualidade da pena, elemento subjetivo docrime, natureza da infração – crime ou contravenção – bem jurídico protegidopela lei penal comum ou especial etc).” (Mirabete). 

4.3. QUESTÕS ESPECIAIS:

a) Justiça Comum Federal (Art. 109, IV, da Constituição Federal).- Processar e julgar os crimes cometidos contra bens, serviços ou interessesda União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Inclusiveos crimes dolosos contra a vida (art. 4º, Decreto-lei 253/67), ressalvados os

crimes eleitorais, os militares e as contravenções penais

- Crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionadoscom a função (Súmula 147 do STJ).

- Crime cometido por funcionário público federal no exercício de suasfunções.

- Crimes de falsificação de documento e de falso testemunho perante a

Justiça do Trabalho (Súmula 165 do STJ).

  Crime contra a organização do trabalho, desde que atingido direito decategoria profissional ou de trabalhadores (Súmula 115 do STJ – antigo TRF).Todavia, em 2006, o STF, no RE 398041/PA, de 30/11/06, decidiu ser dacompetência da Justiça Federal o julgamento do crime previsto no art. 149 doCP (crime de redução a condição análoga à de escravo).

- Crimes de ingressos ou permanência irregular de estrangeiro (art. 338 doCódigo Penal e art. 125 da Lei nº 6.815/80).

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- Crimes contra a fauna: somente quando o fato atingir bens e interesses daUnião (art. 109, IV, da Constituição Federal).

- Crime de contrabando ou descaminho (Súmula 151 do STJ): prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens.

- Crime de uso de documento falso em estabelecimento de ensino superior(RE 193941, de 23/02/96, do STF). Conforme a Súmula nº 104 do STJ, competeà Justiça Estadual o julgamento dos crimes de falsificação e uso dedocumento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.

- Crimes conexos da competência da Justiça Estadual e da Justiça Federal,não se aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do CPP (Súmula 122 do STJ). 

- Crimes cometidos a bordo de navios (só os de grande cabotagem) eaeronaves, salvo os de competência da Justiça Militar (art. 109, IX, daConstituição Federal).

- Tráfico internacional de entorpecente, sendo que a lei 11.343/2006, em seuartigo 70, parágrafo único, proibiu a delegação de tal competência para aJustiça Estadual, quando no local da prática do crime não houver varafederal.

- Crimes à distância (art. 109 da CF): quando previstos em tratadosinternacionais, ainda que se trate de crime militar, segundo entendimento doSTF. Exemplos de crimes previstos em tratados, em que o Brasil é signatário:homicídio contra a criança e adolescente previsto no ECA; tráfico deentorpecentes, de órgãos ou de pessoas; tortura etc.

- Julgar os crimes praticados com grave violação de direitos humanos, caso oSTJ julgue procedente o incidente de deslocamento de competência

suscitado pelo Procurador-Geral da República (Emenda Constitucional nº 45,de 31/12/2004).

- Os crimes políticos previstos na Lei 7170/83 (LSN) figurando o STF comoórgão de segundo grau de jurisdição.

- Os crimes cometidos contra interesses indígenas quando a infração ofendero interesse de toda uma coletividade indígena.

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- Os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro (art. 338 doCP e art. 125 da Lei 6.815/80).

Obs: a Justiça Federal não julga crimes eleitorais e contravenções penais.

b) Justiça Militar

- Conforme determina o art. 125, § 4º, da Constituição Federal, cabe à JustiçaMilitar Estadual processar e julgar os policiais militares e bombeiros militaresnos crimes militares definidos em lei (art. 9º, II, do Código Penal Militar). Veremenda constitucional 45, de 31/12/04, que estabeleceu os dois órgãos daJustiça Militar (Juízes de Direito do Juízo Militar e Conselhos de Justiça).

c) Justiça Comum Estadual

- Crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil (Lei nº 9.299,de 07/08/96).

- Processar e julgar civil acusado da prática de crime contra instituiçõesmilitares estaduais (Súmula 53 do STJ).

- Processar e julgar crime decorrente de acidente de trânsito que envolva

viatura de Polícia Militar, salvo se o autor e vítima forem policiais militares emsituação de atividade (Súmula 6 do STJ).

- Crime de abuso de autoridade praticado por policial militar, mesmo estandoem serviço (Súmula 172 do STJ).

- Crime praticado contra sociedade de economia mista.

- Processar e julgar o Policial Militar por crime de promover e facilitar a fuga

de preso de estabelecimento penal. (Súmula nº 75 do STJ).

- Processar e julgar crime em que indígena figure como autor ou vítima(Súmula 140 do STJ). Obs: se a ação delituosa ????? possui relação com aproteção da coletividade silvícola, a competência é da justiça federal.- Processar e julgar o crime de falsa anotação de Carteira de Trabalho ePrevidência Social atribuída a empresa privada (Súmula 62 do STJ).

- Processar e julgar as contravenções penais, ainda que praticada emdetrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades(Súmula 38 do STJ – inteligência do art. 109, IV, da Constituição Federal).

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5 – COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DA FUNÇÃO (Ratione Personae).

5.1. CASUÍSTICAS:

- Segundo Mirabete “trata-se de competência rat ione personae (em razão dapessoa), ditada pela função da pessoa, bem como a dignidade do cargoexercício e não do indivíduo que a merece. Há pessoas que exercem cargos efunções de especial relevância para o Estado, devendo ser julgados porórgãos superiores da justiça, como medida de utilidade pública. Acompetência, nesse caso, é fundada no princípio da ordem e dasubordinação e na maior independência dos tribunais.” 

5.2. DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

a) Supremo Tribunal Federal  (art. 102, I, “b” e “c” da Constituição Federal):Compete processar e julgar originariamente, nas infrações penais comuns;

- Os próprios ministros do Supremo Tribunal Federal;- Presidente e Vice-Presidente da República;- Membros dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União;- Membros do Congresso Nacional;

- Procurador Geral da República;- Chefe de missão diplomática de caráter permanente;- Ministros de Estado;- Comandantes das Forças Armadas (Em. Constit. 23, de 02/09/99).

b) Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “a”, da Constituição Federal): competeprocessar e julgar, originariamente nos crimes comuns;

- Os governadores dos Estados e do Distrito Federal;

- Os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do DistritoFederal;- Membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal;- Membros dos Tribunais Regionais Federais;- Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais;- Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho;- Membros dos Tribunais de Contas dos Municípios;- Membros do Ministério Público da União que oficiem perante Tribunais.

c) Tribunais de Justiça

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I – Segundo a Constituição Federal (art. 29, X, e 96, III):Processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns, ressalvados oscrimes eleitorais:

- Os prefeitos. Obs: o STF já decidiu que na hipótese de crime praticadocontra bens, serviços ou interesse da União, o julgamento compete aoTribunal Regional Federal e não ao Tribunal de Justiça. Ver Súmula 702 doSTF.- Os juízes locais, ressalvados os crimes eleitorais. Obs: qualquer crimecomum ou federal, doloso contra a vida ou não.- Os membros do Ministério Público Estadual, ressalvados os crimeseleitorais.

II  –  Segundo a Constituição do Estado de Goiás (Art. 46, VIII, alíneas “c” e“d”): 

Processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns:

- O Vice-Governador, Deputado Estadual, Secretários de Estado e oProcurador-Geral da Justiça. Embora esta competência esteja previstaexpressamente na Constituição Estadual, também decorre de previsãoimplícita (princípio da simetria) na Constituição Federal logo prevalece sobre

a competência do júri.

- A mesma constituição estabeleceu que compete ao TJ-GO julgar Delegadosde Polícia, Procuradores do Estado e da Assembleia Legislativa e DefensoresPúblicos, mas o STF já decidiu pela inconstitucionalidade do foro privilegiadopara Delegados de Polícia (ADIN 2587-GO, julg. de 01/12/2004, BI 372).

- Como a competência do TJ-GO para julgar Procuradores do Estado, daAssembleia Legislativa e Defensores Públicos está prevista exclusivamente

na Constituição Federal, não se aplica face ao júri, justiça federal ou a justiçade outro estado-membro, ainda mais que não há previsão implícita naConstituição Federal (princípio da simetria). A questão já foi inclusivesumulada pelo STF (Súmula 721).Obs: O Tribunal de Justiça não poderá julgar os Deputados Estaduais nãosubmetidos à Justiça Comum Estadual. Ex: Crime eleitoral cometido porDeputado Estadual – TRE e crime federal cometido por Deputado Estadual  – TRF.

d) Tribunais Regionais Federais (Art. 108, I, “a”, da Constituição Federal): 

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Processar e julgar originariamente nos crimes comuns, ressalvada acompetência da Justiça Eleitoral:- Os juízes federais, juízes da justiça militar e os juízes da justiça do trabalho;

- Os membros do Ministério Público da União.Obs: O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que na hipótese de crimepraticado por prefeitos, Deputados Estaduais, Vice-Governadores eSecretários de Estado contra bens, serviços ou interesses da União, competeao TRF e não ao Tribunal de Justiça (competência constitucional implícita).

e) Tribunais Regionais Eleitorais (Art. 96, III e Art. 108, I, “a”, da CF). 

- Processar e julgar os juízes e membros do Ministério Público, quando, nafunção eleitoral, cometerem crimes, bem como os prefeitos, Vice-Governador,Secretários de Estado e deputados estaduais, nos crimes eleitorais. VerSúmula 702 do STF.

5.3. OBSERVAÇÕES:

a) Conflito entre a competência originária rat ione personae e a competênciaem razão da matéria:

- A competência por prerrogativa da função sobrepõe-se a qualquer outra,

mesmo à do júri, salvo se foi aquela estabelecida por Constituição Estadual,por lei processual ou de organização judiciária, caso em que prevalecerá acompetência constitucional do tribunal popular, eis que é estabelecida naConstituição Federal e, por tal motivo, não pode ser limitada por norma degrau inferior.

b) E a questão do Deputado Estadual?

c) A exceção da verdade (Exceptio Veritat is)  em crime de calúnia será julgada

pelo Tribunal onde o excepto (querelante) possui foro por prerrogativa defunção (Art. 85 do CPP). A admissão e o processamento da exceptio  ocorreráno juízo onde tramita a queixa.

d) Se alguém comete crime em co-autoria com quem goza de foro“privilegiado”, a competência por prerrogativa de função deste último atrairáo julgamento daquele, a não ser que a competência daquele seja tambémfixada na Constituição Federal, quando então não haverá união de processos.Súmula 704 do STF: “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa edo devido processo legal a atração por continência ou conexão do processodo co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.” Obs:

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O STF mudou o seu entendimento e decidiu que a jurisdição mais graduada atrai acompetência da jurisdição menos graduada, ainda que esta seja estabelecida pelaConstituição Federal, ou seja, decidiu que deve prevalecer a regra do CPP que

determina o julgamento unificado em se tratando de conexão ou continência (HC83.583/PE – DJU, de 07/05/2004; HC 84.465/PI – j. De 26/10/2004, BI 367).

e) A competência especial por prerrogativa de função não se estende aocrime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional (Súmula451 do STF).

f) Em 25/08/99 o STF cancelou a Súmula 39, que previa o foro privilegiadomesmo após o agente ter deixado o cargo, desde que os fatos tivessem sidopraticados durante o exercício da função pública. O STF, em setembro de2005, na ADIN 2.797, julgou inconstitucional a Lei 10.628/02, que alterava oartigo 84 do CPP, que previa o foro privilegiado para ex agente público.

6  –  COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA INFRAÇÃO OU FORO COMPETENTE(rat ione loci):

6.1. CASUÍSTICA:

- Art. 70 do CPP: “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em

que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que forpraticado o último ato de execução.” 

- Fixando a competência pelo lugar da infração, o legislador adotou a teoriado resultado, considerando-se para fins de competência o lugar em que seconsumou a infração.- No caso de procedimento sumaríssimo previsto na Lei nº 9.099/95, oentendimento dominante é que foi adotada a teoria da atividade para definir acompetência (Art. 63 da Lei 9.099/95).

6.2. CRIMES PLURILOCAIS:

- Ocorre quando a ação é praticada num lugar e o evento se dá em outro.Nestes casos há interpretações divergentes na doutrina e na jurisprudência,senão vejamos:

a) Homicídio doloso e culposo:

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- Segundo o STJ e tribunais estaduais a competência é do juízo onde forampraticados os últimos atos de execução e não o da morte da vítima, porém

Mirabete e o STF entendem que tal posicionamento é contra-legem , pois oque determina a competência é o lugar da consumação (morte).

b) Emissão de cheque sem fundo:

- Súmula 521 do STF: “O foro competente para o processo e o julgamento doscrimes de estelionato, sob a modalidade de cheque sem provisão de fundos,é o local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.” 

- Súmula 244 do STJ: “Compete ao foro do local da recusa processar e julgaro crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.” 

c) Estelionato com falsificação de cheque:

- Súmula 48 do STJ: “Compete ao juízo do local da obtenção da vantagemilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificaçãode cheque.” 

d) Apropriação indébita: Dois critérios:

1 – Local da inversão da posse: recusa em devolver a coisa.2 – Local da prestação de contas: onde o agente devia prestar contas à vítima.

e) Uso de documento falso:

- Segundo Damásio e a jurisprudência dominante a competência é do lugardo falso e não de seu uso, todavia, Mirabete entende que “havendofalsificação e uso, a competência deve ser determinada pelo lugar em que foiusado o documento.” 

f) Falso testemunho por precatória:

- Segundo a jurisprudência dominante é o foro do juízo deprecado ocompetente para julgar o crime de falso testemunho ocorrido no cumprimentode carta precatória inquisitória.

g) Crime de Imprensa:

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- Segundo o art. 42 da Lei nº 5.250/67, a competência é do lugar em que foiimpresso o jornal ou periódico e o do local do estúdio do permissionário ouconcessionário do serviço de radiodifusão, bem como o da administração

principal da agência noticiosa. Segundo Tourinho somente é adotado esteforo quando tratar-se de jornal de grande circulação pois “tratando-se depequenos jornais, normalmente impressos n um lugar para circular noutro, o

entendimento é de que o foro é o do lugar em que ele circula.”  

h) Crimes à distância ou de espaço máximo (Art. 70, §§ 1º e 2º do CPP):

A ação e a consumação ocorrem em territórios de países diferentes. Nestecaso, aplica-se o disposto no art. 6º do Código Penal (Teoria da Ubiquidade),ou seja, pelo lugar da ação ou da consumação, verificando-se qual delasocorreu em território brasileiro.

6.3. LOCAL E TERRITÓRIO INCERTOS:

- Art. 70, § 3º, do CPP: “Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumadaou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.” 

7. COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU (Forum domicilli):

7.1. HIPÓTESES:

a) Art. 72, “caput” , do CPP: “Não sendo conhecido o lugar da infração, acompetência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.” Trata-se de foro supletivo ou subsidiário.b) Ação Penal privada exclusiva: Segundo o disposto no art. 73 do CPP oquerelante pode escolher o foro do domicílio ou residência do réu, “ainda

quando conhecido o lugar da infração.” 

7.2. OBSERVAÇÕES

Mirabete leciona que o Código de Processo Penal não define “o qu e sejadom icílio o u que se deve entender p or residênc ia, apli cand o-se, po is, o

dis po sto no Código Civ il. Dom icílio é, port anto , o lu gar o nde a pess oa

'estabelec e a sua residênc ia com ânim o defini tiv o' (art. 31, ou

su bs idi ariamente, o lugar o nde exerça suas ocupações habitu ais (art. 32), o

pon to centro de negócios ou o lugar onde for encontrado (art. 33).”  

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- Em caso de várias residências; domicílio, residência e paradeiro incertos acompetência é fixada por prevenção (art. 72, §§ 1º e 2º do CPP). No caso de

vários co-réus, tendo em vista a omissão do CPP, aplica-se por analogia odisposto no art. 72, § 1º do CPP (critério da prevenção).

8 – COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO:

8.1.: “A competência do juiz firma-se pela distribuição quando na mesmacomarca houver mais de um juiz igualmente competente.” É o disposto noart. 75, “caput”, do CPP. Trata-se de competência do juiz ou juízo (vara) e nãode fixação de foro.

8.2. A distribuição para concessão de fiança, a decretação da prisãopreventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa previne a jurisdição (art. 75, § único do CPP).

9 – COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO:

9.1. OCORRÊNCIA: Art. 83 do CPP: “Verificar -se-á a competência porprevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmentecompetentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos

outros na prática de algum ato no processo ou de medida a este relativa,ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º,71, 72, § 2º e 78, II, letra “c”). 

- É uma forma de deslocamento da competência.

9.2. HIPÓTESES DE PREVENÇÃO:

- arbitramento de fiança;- decretação da prisão preventiva;- pedido de explicações em juízo nos crimes contra a honra (art. 144 do CP eart. 25 da Lei de Imprensa);- Busca e Apreensão;

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- crime continuado ou permanente, praticado em território de mais de uma jurisdição (art. 71 do CPP);- crime praticado no limite entre duas circunscrições e/ou jurisdições ou

quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições (art. 70, § 3ºdo CPP);- se o réu tiver mais de uma residência, se não a tiver ou se está em paradeiroignorado (art. 72, §§ 1º e 2º do CPP).

9.3. HIPÓTESES EM QUE NÃO OCORRE A PREVENÇÃO

- Pedido de Habeas Corp us;

- Remessa de cópia do auto de prisão em flagrante;- Atos de matéria administrativa ou correicional.

9.4. NULIDADE RELATIVA: A não-observância da competência decorrente daprevenção gera nulidade relativa, ou seja, considera-se sanada, se nãoalegada no momento oportuno.Súmula 706 do STF: “É relativa a nulidade decorrente da inobservância dacompetência penal por prevenção.” 

10. COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA

10.1. PECULIARIDADES E EFEITOS:

- Não são causas determinantes mas sim modificativas da competência.- Efeitos da conexão e da continência: A unidade de processos  – simultaneus

processus   – e prorrogação de competência – prorro gat io for i .

10.2. COMPETÊNCIA POR CONEXÃO (Art. 76 do CPP).

10.2.1. CONCEITO: “Conexão é sinônimo de relação, coerência, nexo. Logo,

pode-se dizer que a conexão de que trata o art. 76 é o nexo, a relaçãorecíproca que os fatos guardam entre si, e, em face do vínculo existente entreeles, devem ser apreciados num só processo, possibilitando um só quadroprobatório e, ao mesmo tempo, evitando decisões díspares ou conflitantes.”(Tourinho Filho).

10.2.2. CLASSIFICAÇÃO OU ESPÉCIES DE CONEXÃO (Conexão intersubjetiva  – por simultaneidade; por concurso ou por reciprocidade; Conexão material, ouobjetiva ou lógica ou teleológica e a Conexão probatória ou instrumental).

a) CONEXÃO INTERSUBJETIVA (Art. 76, I, do CPP)

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a.1. Conexão intersubjetiva por simultaneidade ou conexão subjetiva-objetiva oumeramente ocasional (art. 76, I, 1ª parte):

- Ocorre quando duas ou mais infrações houverem sido praticadas ao mesmotempo por várias pessoas reunidas. Ex.: depredação cometida por váriaspessoas reunidas ocasionalmente em um estádio de futebol.

a.2. Conexão intersubjetiva por concurso ou conexão subjetiva concursal (Art. 76, I,2ª parte do CPP):- Ocorre quando duas ou mais infrações são praticadas por várias pessoasem concurso, em tempo e lugares diferentes.

a.3. Conexão intersubjetiva por reciprocidade (Art. 76, I, última parte):- Quando duas ou mais infrações são praticadas por várias pessoas, umascontra as outras. Ex: agressões recíprocas de duas gangues em uma festa.

b) CONEXÃO MATERIAL, OBJETIVA, LÓGICA OU TELEOLÓGICA (Art. 76, II, doCPP):- Se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultaras outras ou para conseguir impunidade ou vantagem a qualquer delas.

c) CONEXÃO INSTRUMENTAL OU PROBATÓRIA (Art. 76, III, do CPP):

- Quando a prova de uma infração ou de qualquer circunstância elementarinfluir na prova de outra infração.

10.3. COMPETÊNCIA POR CONTINÊNCIA (Art. 77 do CPP).

10.3.1. CONCEITO:Segundo Damásio “há continência quando uma causa se insere na outra”. 

- “Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I – duas ou mais pessoas são acusadas pela mesma infração;II  – no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º,53, segunda parte, e 54 do Código Penal.” Hoje, leia-se art. 70, 73 e 74, todosdo CP.

10.3.2. CLASSIFICAÇÃO OU ESPÉCIES DE CONTINÊNCIA

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a) CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO SUBJETIVA (Art. 77, I, do CPP).Quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração.

b) CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO OBJETIVA (Art. 77, II, do CPP):- Quando nos casos de concurso formal (art. 70 do CP), no erro na execução(art. 73 do CP: aberrat io ic tus e no aberratio delict i ou resultado diverso dopretendido (art. 74 do Código Penal).

10.4. CRITÉRIOS OU REGRAS PARA DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA, OUDO “FORUM ATTRACTIONIS” (FORO PREVALENTE). Art. 78 do CPP.

10.4.1. Competência entre Tribunal do Júri e Justiça Comum:Prevalecerá a competência do Júri, ex-vi do disposto no art. 78, I, do CPP.10.4.2. Jurisdições da mesma categoria (Art. 78, II, “a”, “b” e “c” do CPP): 

a) Prevalecerá o lugar da infração de pena mais grave.b) Se as penas forem iguais, prevalecerá a competência do lugar em quehouver ocorrido o maior número de infrações.c) Nos demais casos, a competência será firmada pela prevenção (art. 83).

10.4.3. Jurisdições de diversas categorias (Art. 78, III, do CPP):- Prevalecerá a de maior graduação, inclusive para julgar o crime conexo

(Súmula 704 do STF).

10.4.4. Competência entre jurisdição comum e especial:- Prevalecerá a jurisdição especial, ex-vi do disposto no art. 78, IV, do CPP.

10.5. EXCEÇÕES À REGRA DA UNIDADE DE PROCESSOS E DE JULGAMENTO

10.5.1. Separação obrigatória dos processos (art. 79 do CPP):

a – Concurso entre jurisdição comum e militar.b – Concurso entre jurisdição comum e o Juízo da Infância e da Juventude.c – Superveniência de doença mental a um dos co-réus (art. 152).d – Réu revel citado por edital (art. 366 do CPP) e no caso de co-réu foragido,nos crimes dolosos contra a vida, quando inafiançável.

10.5.2. Separação facultativa dos processos (Art. 80 do CPP):a – Infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou lugares diferentes.b – Excessivo número de acusados, para não prolongar a prisão provisória dealgum(ns) dele(s).c – Outro motivo relevante.

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Direito Processual Penal

10.6. PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA (Perpetuatio jurisdictionis)- Art. 81,“caput”, do Código de Processo Penal:

- Absolvição ou desclassificação em relação à infração que exerceu a v is

atractiva ocorre a perpetuat io jur isdict ion is previsto no art. 81, “caput”, doCPP.

- exceção à prorrogação da competência (Art. 81, parágrafo único do CPP):

No caso de desclassificação, impronúncia ou absolvição sumária a respeitode crime que seria da competência do Tribunal do Júri, deve o juiz remeter osautos, para o processo e julgamento dos demais crimes ao juiz competentepara apreciá-lo.