o valor probatÓrio do inquerito policial no processo penal · apurar a pratica de uma infração...

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O VALOR PROBATÓRIO DO INQUERITO POLICIAL NO PROCESSO PENAL 1 Tiago Luis Borges Pelloso 2 SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO; 2 INQUÉRITO POLICIAL; 2.1 CONCEITOS E NATUREZA JURÍDICA 2.2 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL; 3 VALOR PROBATÓRIO; 3.1 VALOR DAS PROVAS ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÕES DO ART. 155 DO CPP PELA LEI 11690/2008; 4 CONCLUSÃO; 5 REFERÊNCIAS. RESUMO: O presente trabalho tem por escopo apresentar, o instituto do inquérito policial na doutrina brasileira. Este estudo decorre do histórico do inquérito policial, trazendo alguns comentários a respeito do seu procedimento e natureza jurídica bem como sua característica. No entanto, este artigo como tema principal busca analisar o valor probatório do Inquérito Policial trazendo a discussão doutrinária e jurisprudencial antes e depois da alteração do artigo 155 do Código de Processo Penal pela Lei nº 11.690/2008, pois busca-se, averiguar se os atos gerados na investigação preliminar, sobretudo, no decorrer do inquérito policial, tem a capacidade de ser valorados no âmbito do processo judicial. Tendo como base Constituição Federal que convencionou garantias penais e processuais, como por exemplo, o direito de não gerar provas sem o principio do contraditório e a ampla defesa, pois as provas no inquérito policial têm natureza inquisitória. PALAVRAS CHAVE: Inquérito Policial. Características do Inquérito Policial. Valor Probatório. ABSTRACT: The present work seeks to present the Institute of Police Inquiry in Brazilian doctrine. This study derives from the history of police inquiry, bringing some comments regarding the its procedure and legal nature as well as its characteristic. However, this article seeks to analyze the main theme of the evidential value of the police investigation and bringing the discussion and jurisprudential doutrinaria before and after the amendment of Article 155 of the Code of Criminal Procedure by Law no. 11.690/2008, because it seeks to ascertain whether the acts generated in the preliminary investigation, especially, in the course of police investigation, has the capacity to be valuated in the framework of the judicial process. Taking as a basis the Federal Constitution that conventionally criminal and procedural guarantees, such as the right not to produce evidence without the principle of an adversarial process and the wide defense because the evidence in the investigative nature have police investigation. KEY-WORDS: Police Inquiry. Characteristics of Police Inquiry. Probative value. 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial á obtenção do grau de Bacharel em Direito, do Curso de Direito da Faculdade do Norte Novo de Apucarana FACNOPAR. Orientação a cargo da Prof.ª Esp. Stella Maris Guergolet. 2 Acadêmico do Curso de Direito da Faculdade do Norte Novo de Apucarana FACNOPAR. Turma do ano de 2011. E-mail para contato: [email protected].

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Page 1: O VALOR PROBATÓRIO DO INQUERITO POLICIAL NO PROCESSO PENAL · apurar a pratica de uma infração penal, temos que a sua natureza jurídica é de procedimento meramente administrativo

O VALOR PROBATÓRIO DO INQUERITO POLICIAL NO PROCESSO PENAL1

Tiago Luis Borges Pelloso2

SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO; 2 INQUÉRITO POLICIAL; 2.1 CONCEITOS E NATUREZA JURÍDICA 2.2 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL; 3 VALOR PROBATÓRIO; 3.1 VALOR DAS PROVAS ANTES E DEPOIS DA ALTERAÇÕES DO ART. 155 DO CPP PELA LEI 11690/2008; 4 CONCLUSÃO; 5 REFERÊNCIAS.

RESUMO: O presente trabalho tem por escopo apresentar, o instituto do inquérito policial na doutrina brasileira. Este estudo decorre do histórico do inquérito policial, trazendo alguns comentários a respeito do seu procedimento e natureza jurídica bem como sua característica. No entanto, este artigo como tema principal busca analisar o valor probatório do Inquérito Policial trazendo a discussão doutrinária e jurisprudencial antes e depois da alteração do artigo 155 do Código de Processo Penal pela Lei nº 11.690/2008, pois busca-se, averiguar se os atos gerados na investigação preliminar, sobretudo, no decorrer do inquérito policial, tem a capacidade de ser valorados no âmbito do processo judicial. Tendo como base Constituição Federal que convencionou garantias penais e processuais, como por exemplo, o direito de não gerar provas sem o principio do contraditório e a ampla defesa, pois as provas no inquérito policial têm natureza inquisitória. PALAVRAS CHAVE: Inquérito Policial. Características do Inquérito Policial. Valor Probatório.

ABSTRACT: The present work seeks to present the Institute of Police Inquiry in Brazilian doctrine. This study derives from the history of police inquiry, bringing some comments regarding the its procedure and legal nature as well as its characteristic. However, this article seeks to analyze the main theme of the evidential value of the police investigation and bringing the discussion and jurisprudential doutrinaria before and after the amendment of Article 155 of the Code of Criminal Procedure by Law no. 11.690/2008, because it seeks to ascertain whether the acts generated in the preliminary investigation, especially, in the course of police investigation, has the capacity to be valuated in the framework of the judicial process. Taking as a basis the Federal Constitution that conventionally criminal and procedural guarantees, such as the right not to produce evidence without the principle of an adversarial process and the wide defense because the evidence in the investigative nature have police investigation. KEY-WORDS: Police Inquiry. Characteristics of Police Inquiry. Probative value.

1Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial á obtenção do grau de

Bacharel em Direito, do Curso de Direito da Faculdade do Norte Novo de Apucarana – FACNOPAR. Orientação a cargo da Prof.ª Esp. Stella Maris Guergolet. 2 Acadêmico do Curso de Direito da Faculdade do Norte Novo de Apucarana – FACNOPAR. Turma

do ano de 2011. E-mail para contato: [email protected].

Page 2: O VALOR PROBATÓRIO DO INQUERITO POLICIAL NO PROCESSO PENAL · apurar a pratica de uma infração penal, temos que a sua natureza jurídica é de procedimento meramente administrativo

2

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho possui como objetivo o estudo do Inquérito Policial

com a finalidade de analisar a mudança do artigo 155 do Código de Processo Penal

através da Lei 11690/2008 quanto ao valor probatório.

O Inquérito Policial por ser um processo administrativo, tem o

objetivo de adquirirem dados quanto à materialidade e autoria sobre uma ação

cometida que vá contra o ordenamento jurídico brasileiro.

Justifica-se este artigo em demonstrar a importância do inquérito

policial para que haja a propositura da ação penal, sendo que atualmente verifica-se

que há uma perca sobre seu valor perante alguns doutrinadores por alegar que o

Ministério Público pode assumir as investigações.

Com toda essa discussão acerca da temática e, sobretudo com a

entrada da Lei nº 11.690/2008, esta pesquisa busca averiguar a relevância do

inquérito policial com a expectativa de avaliar até onde há valor probatório na fase

do Inquérito Policial.

Com a nova redação da mencionada lei, o inquérito policial,

realmente ficou vedada em relação às provas para fundamentarem as decisões

judiciais?. Através desse questionamento será demonstrado se realmente há ou não

admissibilidade e aplicabilidade da nova redação do artigo 155 do CPP quanto ao

valor probatório.

Assim, inicialmente serão evidenciados aspectos históricos do

inquérito policial trazendo seus sistemas processuais, natureza jurídica e

características. Num segundo momento, foram abordado o valor probatório do

inquérito policial trazendo posições doutrinarias e jurisprudências antes e depois da

alteração do artigo 155 do CPP através da Lei nº 11.690/2008.

O trabalho encerra-se com a conclusão obtida através da pesquisa

realizada trazendo os pontos importantes e reflexões acerca do valor probatório do

inquérito policial.

2 INQUÉRITO POLICIAL

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3

O inquérito policial vem a ser um procedimento preparatório, cunho

administrativo, dirigido pela polícia judiciária e direcionado à captação preliminar de

provas para verificar a consumação de uma infração e autoria.

Quanto à definição do que vem a ser o Inquérito policial Nucci

comenta:

Trata-se de um procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo, conduzido pela polícia judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para apurar a prática de uma infração penal e sua autoria. Seu objetivo precípuo é a formação da convicção do representante do Ministério Público, mas também a colheita de provas urgentes, que podem desaparecer, após o cometimento do crime, bem como a composição das indispensáveis provas pré-constituídas que servem de

base à vítima, em determinados casos, para a propositura da ação privada.3

Este procedimento visa auxiliar o Ministério Público como elemento

de informação de forma a embasar o oferecimento da ação penal. Como citado por

Capez:

Inquérito policial e um conjunto de diligencias realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, afim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, art. 4º). Trata-se de um procedimento persecutório de carácter administrativo instaurado pela autoridade policial. Tem como destinatária os imediatos o Ministério Público, titular exclusivo da ação penal pública (CF, art. 129, I),e o ofendido, titular da ação penal privada (CPP.art. 30); como destinatário mediato tem o juiz, que se utilizará dos elementos de informação nele constantes, para o recebimentos da peça inicial e para a formação do seu convencimento

quanto a necessidade de decretação de medida cautelares. 4

Consequentemente em relação à natureza jurídica do inquérito

policial conclui ser ele um procedimento administrativo informativo, prévio, ou seja,

anterior ao processo penal e que tem como finalidade a investigação de infrações

penais de fatos criminosos.5 Como colocado por Pinto:

Sendo o inquérito policial, um ato praticado pelo Estado com vistas a apurar a pratica de uma infração penal, temos que a sua natureza jurídica é de procedimento meramente administrativo de caráter informativo, preparatório da ação penal.

6

3 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal comentado. 13. ed. Rio de Janeiro:

Forense Ltda, 2013, p. 62. 4 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 110.

5PINTO, Carlos Alberto Ferreira. Inquérito policial. 2007. Disponível em:

http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/745383. Acesso em: 23 Ago. de 2015. 6 Ibidem.

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4

Na visão de Greco Filho:

O inquérito policial é uma peça escrita, preparatória da ação penal, de natureza inquisitiva. Sua finalidade é a investigação a respeito da existência do fato criminoso e da autoria. Não é uma condição ou pré-requisito para o exercício da ação penal, tanto que pode ser substituído por outras peças de informação, desde que suficientes para sustentar a acusação. Quem o preside é a autoridade policial, da chamada polícia judiciária, estadual ou federal, que se distingue da polícia preventiva porque atua em face do fato criminoso já ocorrido. A atividade que se desenvolve no inquérito é administrativa, não se aplicando a ela os princípios da atividade jurisdicional, como o contraditório, a publicidade, as nulidades etc.

7

Desta forma, a natureza jurídica do inquérito policial é um

procedimento administrativo como objetivo de informar e que tem como seguimento

a preparação e fundamentação para o início de uma ação penal, com intuito de

buscar a veracidade e esclarecimentos dos fatos, propondo um embasamento legal

dentro da lei para que o Ministério Público ofereça a denúncia do indiciado.

No entanto, há de considerar que o Inquérito Policial é regido por

sistemas processuais, podendo citar o acusatório tendo seu nascimento na Grécia

Antiga, entre os atenienses, e os romanos com o aparecimento da República,

quando o sistema de acusação foi garantido ao povo, permanecendo o julgamento

sob responsabilidade de um tribunal popular pautada na oralidade, publicidade e o

contraditório.8

Esse tipo de sistema tem sua distinção pela presença das partes

distintas opondo-se acusação e defesa em equidade de condições, e ambas se

impondo-se um juiz, de forma imparcial. Aqui, existe uma divisão de papéis de

acusar defender e julgar. O processo distingue-se com legitimo actum trium

pnsonamm.9

O acusatório possui como peculiaridades a oralidade e a publicidade,

onde se aplica o princípio da presunção de inocência. Assim, a ordem era que o réu

o ficasse solto no decorrer do processo. Em relação à iniciativa probatória, o

magistrado não era detentor do poder de definir “de ofício a produção de provas, já

7 GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012

p.92. 8 TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar A.R.C. de. Curso de direito processual penal. 8.ed.

Salvador: JusPodivm, 2013. 9 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. v. único. ver. atual. ampl. 2. ed. Salvador:

.JusPodvim, 2014, p. 45.

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que estas deveriam ser fornecidas pelas partes, prevalecendo o exame direto das

testemunhas e do acusado”.10

Por sua vez o sistema inquisitivo originou-se nos regimes

monárquicos, vindo a aperfeiçoar-se no Direito Canônico, onde assumiu as

legislações da Europa dos séculos XVI a XVIII como opção de troca do sistema

acusatório privado, tendo a vítima a responsável por procurar a repreensão do

acusado afetando desta forma, a defesa social.11

A inquisição foi um método utilizado pelos papas e reis católicos

para perseguir os mouros, judeus ou outros ateus que incomodavam o interesse e a

vontade daqueles. A Inquisição foi levada aos lugares onde a igreja católica possuía

influencia até no Brasil. No início os Tribunais Inquisitoriais não exerciam diferenças

entre crimes eclesiásticos e crimes comuns, porém com o término da influência do

clero começa a surgir distinção entre tais naturezas. 12

De acordo com D’Urso, o Inquérito Policial mesmo com a entrada do

Código de Processo Penal, de 1941, já era motivo de muitas críticas doutrinárias. O

Ministro da Justiça o Sr. Vicente Ráo, exercendo as disposições transitórias da

Constituição de 1934, preparou projeto novamente do novo código de processo

penal, no qual não se tornou lei, contudo sua explanação de motivos refletia muito

bem a reflexão na época, em relação ao inquérito policial, sobretudo, ao sistema

inquisitivo nele adotado13:

Retira-se à polícia, por essa forma, a função que não é sua, de interrogar o acusado, tomar o depoimento de testemunhas, enfim, colher provas sem valor legal; conserva-se-lhe, porém, a função investigadora, que lhe é inerente, posta em harmonia e legalizada pela co-participação do juiz, sem o que o resultado das diligências não pode, nem deve ter valor probatório.

14

O projeto de Código de Processo Penal de 1936 tinha por finalidade

estabelecer no Brasil os juizados de instrução de acordo com os modelos existentes

em certos países europeus, sobretudo, o modelo francês. A partir desse momento,

propunha os defensores desse mecanismo que as prerrogativas quanto ao modelo

de “instrução provisória” aceitado no Brasil desde 1871 são muito superiores uma

10

Ibidem, p. 45. 11

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 12

TORRES, Laertes de Macedo. Estudos sobre execução penal. São Paulo: SOGE, 2000, p. 102. 13

D'URSO, Luíz Flávio Borges. O inquérito policial: eliminá-lo ou prestigiá-lo? Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1047>. Acesso em 17 set. de 2015. 14

D'URSO, Luíz Flávio Borges. Op. cit.

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vez que oferecem “ao magistrado apreciar ao vivo e com presteza os elementos

delituosos, e ao indiciado maiores garantias.”15

No sistema inquisitivo, não há a obrigatoriedade de que haja uma acusação realizada por órgão público ou pelo ofendido, sendo lícito ao juiz desencadear o processo criminal ex officio. Nesta mesma linha, faculta-se ao magistrado substituir-se às partes e, no lugar destas, determinar, também por sua conta, a produção das provas que reputar necessárias para elucidar o fato.

16

Nesse sistema processual existe a centralização dos papeis de

acusação e julgamento concentrada em uma pessoa apenas assim, a imparcialidade

do juiz acaba ficando gravemente afetada, pois o juiz, de ofício, inicia à ação,

protege o réu e, realiza o julgamento.17

O acusado acaba não tendo segurança no curso do processo

criminal dando margem a exageros processuais. Justamente devido a essa situação,

o processo não é público, sendo sigiloso cominado ao magistrado através de ato

discricionário de fundamentação adequada18

O sistema inquisitório te, como principal característica a junção dos

papéis processuais sendo que o juiz julga, é defensor e acusador, ou seja, esta

centralizada em uma única pessoa; como na visão do doutrinador Rangel “o próprio

órgão que investiga e o mesmo que pune. No sistema inquisitivo, não há separação

de funções, pois o juiz inicia a ação, defende o réu, ao mesmo tempo. Julga-o.” 19

Para o doutrinador Nestor Távora:

O princípio inquisitivo é caracterizado pela inexistência de contraditório e de ampla defesa, com concentração das funções de acusar, defender e julgar em uma figura única (juiz). O procedimento é escrito e sigiloso, com o início da persecução, produção da prova e prolação de decisão pelo magistrado.

20

15

PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 5. ed., Niterói: Impetus, 2008, p. 78. 16

AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014, p. 44. 17

CAPEZ, Fernando. Op. cit. 18

AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Op. cit. 44. 19

RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 15 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 47. 20

TÁVORA, Nestor E ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 8 ed. Mato Grosso: JusPODIVM, 2013 , p.40

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7

Com o passar do tempo o Estado assumiu a função de investigação,

hoje representada pela polícia judiciária na função das autoridades policiais, sendo

este o encarregado das diligências a serem conduzidas durante o inquérito policial

como se refere o decreto Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, onde veio a

determinar no art. 4º, que “ A polícia judiciária será exercida pelas autoridades no

território de sua respectiva circunstância e terá por fim a apuração das infrações

penais e de sua autoria.” 21

Contudo, até o momento, o inquérito policial compõe a persecução

criminal estatal brasileira, sendo um mecanismo relevante quanto a contribuição às

atividades de repressão ao crime de forma que em regra, as denúncias oferecidas

no Brasil tem por fundamento inquéritos policiais.22

No Estado brasileiro historicamente surgiu três tipos de sistemas

processuais penais sendo estes o sistema inquisitório, sistema acusatório e logo

com o passar do tempo surgiu o sistema misto. Entretanto, os sistemas se baseiam

em métodos para uma pacificação e solução dos problemas penais dentro de um

Estado em seu ordenamento jurídico.

O sistema inquisitivo tem como peculiaridades a carência de

normas de igualdade e de liberdade processuais, o processo escrito e secreto, a

concepção do processo em fases e por estimulo oficial e a confissão como prova

apto para a condenação. O sistema inquisitivo possui falta do contraditório; a

atuação, pelo magistrado, das funções de denuncia, defesa e julgamento; a

possibilidade de sujeitar o indiciado a sofrimentos, com a finalidade de se adquirir

sua confissão; a falta de segurança ao acusado; a maneira de completa

dependência do indiciado, levando em consideração como um objeto; ou seja,

sistema inquisitivo é o inverso do sistema acusatório.23

Contudo o sistema acusatório possua a garantia do contraditório,

onde indicado e acusador, então em situação de igualdade, o processo se torna

publico, tendo o povo como fiscalizador. Acusação, defesa e julgamento são

realizados por pessoas distintas, havendo a possibilidade de o processo ser oral ou

21

BRASIL. Presidência da República. Código de processo penal. Disponível<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 21 Ago. 2015. 22

HOLANDA, Marcos de. Influência da investigação policial no contraditório processual. 2008. Disponível em www.bdjur.stj.jus.br. Acesso em: 12 out 2015 23

TÁVORA, Nestor E ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Op. cit.

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escrito. Em contrapartida há direitos e deveres para as partes acusadora e acusada.

O sistema acusatório tem como característica a imparcialidade e ampla defesa.24

No ordenamento jurídico brasileiro, o sistema adotado ´o sistema

acusatório, devido os direitos e garantias fundamentais asseverados pela

Constituição Federal de 1988, como o contraditório e a ampla defesa, empregadoss

ao processo penal. Nesse sentido é a lição da doutrina pátria.25

Em relação ao sistema processual penal adotado no Brasil é

discutível, não há posição uniforme. A doutrina e a jurisprudência majoritária citam o

sistema acusatório. Porém, há os que entendem ser um sistema misto ou inquisitivo

garantista26 Para os favoráveis do sistema acusatório, consiste em inúmeras

cláusulas da Constituição Federal, sobretudo, as que mencionam sobre a

obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX) e as garantias da

isonomia processual (art. 5.º, I), do juiz natural (art. 5.º XXVII e LIII), do devido

processo legal (art. 5.º, LIV), do contraditório, da ampla defesa (art. 5.º, LV) e da

presunção de inocência (art. 5.º, LVII).27

Para aqueles que mencionam que, mesmo a Constituição Federal

apresenta normas relacionadas ao sistema acusatório, o direito brasileiro

resguardou vestígios do sistema inquisitivo na legislação infraconstitucional, como

por exemplo, a capacidade do juiz em produzir provas ex officio, prevista no art. 156

do CPP e sancionada em inúmeras disposições do CPP e da legislação

complementar.28

O sistema acusatório adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro

onde juiz exercerá funções de órgão julgador e de garantidor da preservação da

aplicação de todas as garantias fundamentais das partes e logo abaixo encontra-se

o acusador; que tem como papel principal colher todas as provas e elementos aptos

para a denúncia do indiciado ou não, deste modo analisando os fatos, atos e provas

produzidas na fase de investigação criminal da autoria desta infração penal e por

último a defesa, ou seja, órgão defensor e terá com viés principal a realização da

defesa do acusado, com vigência da efetividade dos princípios contraditórios e da

ampla defesa. Deste modo no sistema acusatório à separação de funções, presença 24

Ibidem. 25

CAPEZ, Fernando. Op. cit. 26

AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Op. cit. p. 46. 27

Ibidem. 28

Ibidem.

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do contraditório, o réu passa a ser sujeito de direito e há limitação do poder de

investigação. 29

O sistema acusatório, de acordo com o art. 129, I, da Constituição

Federal é adotado, devido às funções de acusar, defender e julgar são

desempenhadas por indivíduos diferentes, e segundo Távora e Alencar, como

peculiaridades fundamentais, pois:

Separação entre as funções de acusar, defender e julgar, conferidas a personagens distintos. Os princípios do contraditório, da ampla defesa e da publicidade regem todo o processo; o órgão julgador é dotado de imparcialidade; o sistema de apreciação das provas é o livre convencimento motivado.

30

Ou seja, o inquérito policial vem a ser toda diligência, pela autoridade

policial, dentro de uma conduta estabelecida por uma norma vigente, com base em

uma ética profissional perante o Estado em seu dever, com a finalidade de elucidar e

esclarecer, a forma e a autoria do causador do ato criminoso.

2.1 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

Neste tópico serão analisadas as características principais do

inquérito policial, trazendo as suas peculiaridades e descrição.

2.2.1 Escrito

O que o inquérito e procedimento escrito e regra. Conforme o código de

Processo Penal em Art. 9o “Todas as peças do inquérito policial serão, num só

processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela

autoridade.”31 Isso significa que forma escrita e meio de registro das informações no

curso do inquérito policial, sendo possível de forma acessória que outros meios

como o áudio e vídeo podem ser utilizados como registro de informação no inquérito.

Para aprovar seguramente seu objetivo de apresentar as devidas

informações aos sujeitos processuais, as peças do inquérito precisam ser feitas por

29

RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 15 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 49. 30

TÁVORA, Nestor E ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Op. cit. p.43. 31

BRASIL. Presidência da República. Código de Processo Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 23 ago. 2015,

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escrito. O emprego de outros métodos de registros no inquérito foi expressamente

permitida pela reforma feita ao Código de Processo Penal, através da Lei 11.719/08,

que traz no art. 405, §1° a possibilidade de, “Sempre que possível, o registro dos

depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas” ser “feito pelos

meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar,

inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações”.32

2.2.2 Sigilo

Inquérito Policial não permite publicidade devido a segurança que se

julga na inocência do investigado e da necessidade de manter o sucesso das

investigações. É entendido que expor um indivíduo como suspeita ou denunciada

pela imprensa acaba trazendo questionamentos errôneos, efeitos venenosos quanto

a sua imagem. Desta forma, quando existe publicidade da investigação é latente que

fica mais fácil a manipulação de informações concernentes ao ato delituoso. É

também uma maneira de autodefesa primitiva exercida pelo investigado para

garantir seu status libertatis.33

O sigilo conforme Art. 20. “A autoridade assegurará no inquérito o

sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”.34

Deste modo estabelece que autoridade policial vá cuidar do sigilo

necessário para bom andamento da investigação exigido pelo interesse publico,

como nos casos de menores sendo necessário o sigilo, não sendo esta modalidade

de pratica ser concreta, pois, a casos que deve ser elucidados as informações como

no fato de retrato falado do investigado, temos ainda a questão do sigilo para os

advogados, na Súmula Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal em seu

entendimento que e “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso

amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento

investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam

respeito ao exercício do direito de defesa.”35

32

JESUS, Damásio E. de. op cit. 2010 33

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo e execução penal. 3. ed., São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2007. 34

BRASIL. Presidência da República. Código de processo penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 23 ago. 2015, 35

BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante 14. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1230. Acesso em: 23 ago. 2015.

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Versa a estabelecer o direito dos advogados representado o

investigado ter pleno acesso aos altos do inquérito policial somente daquilo que já

esta nele documentado, não tendo este o advogado acesso às provas que não estão

concluídas e não documentadas nos autos.

Há o sigilo externo que oponível a coletividade as pessoas em geral

não tendo acesso ao inquérito e sigilo interno e oponível a indiciado não tendo

acesso aos autos, e apesar desse sigilo algumas naturalmente terão acesso aos

autos do inquérito policial devido a participação diretamente da investigação ou

devida a sua função publica.

2.2.3 Oficialidade

O inquérito policial e procedimento oficial instaurado no âmbito da

policia judiciária e presidido pelo delegado de policia, um agente do Estado sendo

assim não se cogita a instauração do inquérito no âmbito privado, mesmo ainda que

seja de sua. Como se refere Capez “mesmo que a titularidade da ação penal seja

atribuída ao ofendido36”.

A Constituição Federal menciona que a autoridade que preside o

inquérito policial vem a ser órgão oficial do Estado. Esta peculiaridade do inquérito

deriva do princípio da legalidade, sendo que os órgãos da perquirição criminal são

gerados por lei, tendo por base o art. 144 da Constituição.37

O delegado de polícia, entretanto, com amparo na teoria do órgão,

representa o Estado no exercício da atividade investigativa e de segurança pública,

assim, o órgão (delegado) é parte da entidade (Estado), sendo suas manifestações

de vontade consideradas como da própria entidade.38

2.2.4 Oficiosidade

Nos crimes de ação penal pública incondicional, o inquérito policial

poderá ser iniciado de ofício pela autoridade policial. Ou seja, iniciar o inquérito

policial de ofício indica a desnecessidade de manifestação de vontade da vítima ou

36

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 118. 37

PACHECO, Denilson Feitoza. Direito processual penal. Teoria, crítica e práxis. 5. ed.,Niterói:

Impetus, 2008. 38

PACHECO, Denilson Feitoza. Op. cit.

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12

do representante legal para instauração do inquérito policial, conforme nos traz o

Código de processo Penal em seu artigo 5º, I, § 4º e 5º a seguir:

Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

I - de ofício; § 4

o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de

representação, não poderá sem ela ser iniciado. § 5

o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá

proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

39

A autoridade Policial precisa de maneira obrigatória instaurar o

inquérito policial perante o noticiamento de uma infração penal, não importando de

há provocação, devido o princípio da legalidade.40

A oficiosidade é concernente ao fato do inquérito policial ser um

mecanismo instaurado, ou seja, de oficio, independentemente de provocação, como

é feita instauração compulsória, a partir da divulgação da infração penal, com base

no art. 5º, I do Código de Processo Penal, menos nos fatos de infrações penais de

ação penal pública condicionada e de ação penal privada, conforme o art. 5º, §§ 4º e

5º do Código de Processo Penal41

Ou seja, a oficiosidade não e uma característica absoluta

comportando exceções como nos casos o crime de ação pública condicionado e de

crime de ação penal privada ou se há necessidade representação do ofendido ou de

seu representante legal, ainda há a crime de ação penal pública condiciona a

requisição do ministro da justiça.

2.2.5 Discricionariedade

O delegado de polícia preside o inquérito policial definindo as

diligências a serem realizada e as ordens da realização, conforme um juízo de

oportunidade e conveniência. Sendo deste modo realizado a oportunidades que são

possíveis para polícia ou aquilo que acessível dentro competência, já conivência

esta ligada a necessidade da realização daquela diligência, ou seja, se este ato ou

conduta será de importante para elucidação do fato.

39

BRASIL. Presidência da República. Código de processo penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 13 jan. 2015, s/p. 40

TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Op. cit. 41

CAPEZ, Fernando. Op .cit., p. 98.

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13

Conforme art.6 CPP. E a discricionariedade em seu artigo 14 CPP o

delegado pode indeferir diligências há requerimento do ofendido do crime ou do

acusado não sendo abrigado a concedê-las.

Há também diligências que vinculam a autoridade policial sendo

assim obrigatórias que estão elencadas no artigo 158 CPP exame de corpo delito

nas infrações deixam vestígios, salvo no artigo 77 da lei 9099/95 nas infrações de

menor potencial ofensivo. Como também no caso que o delegado está vinculado a

cumprir as diligências que são emanadas pelo poder judiciário ou pelo ministério e

publico, de acordo com o artigo 13 II CPP.42

O delegado de polícia tem livre arbítrio para guiar as investigações da

maneira que entender ser importante para esclarecimento do fato, fazendo um juízo

de chances e conformidades na condução do inquérito policial. O Código de

Processo Penal traz diligências necessárias e facultativas a respeito da autoridade

policial e a probabilidade de recepção a requerimentos da vítima ou do próprio

indiciado.43

Em se tratando de investigações abarcando organizações criminosas

essa peculiaridade do inquérito policial torna-se explícita, conforme a disposição no

art. 2º, II da Lei 9.034/95, que permite a ação controlada, vindo a ser retardamento

da prisão em flagrante.44

Embora o exercício do delegado que só podem ser realizada com a

autorização da autoridade judicial, como interceptação telefônica, busca domiciliar,

incidente de sanidade mental, infiltração de agente de policia na organização

criminosa, ou seja, deste modo o delegado terá que solicitar esta diligência para juiz.

2.2.6 Indisponibilidade

O inquérito policial e indisponível não sendo possível que a

autoridade de polícia possa determina o arquivamento do inquérito. O arquivamento

do inquérito policial nos crimes de ação publica incondicionado, dar se a requerido

do Ministério Publico para que assim o juiz possa realizar a decisão judicial pelo o

arquivamento do inquérito policial ou não, mas com fundamentos legais.

42

CAPEZ, Fernando. Loc. .cit., p. 98 43

TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Op. cit. 44

Ibidem.

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14

Para Feitosa, a Indisponibilidade é também considerada

obrigatoriedade ou legalidade. A persecução criminal é de ordem pública, deste

modo, uma vez dado início a autoridade policial não pode de ela opor-se. Se, no

julgamento inicial de um episódio, o delegado averiguar que o comportamento

descrito não se subsume convencionalmente a qualquer tipo penal precisa, assim,

não instaurar o inquérito policial. No entanto, se no decorrer do inquérito já

instaurado constatar que o episódio não há padrão apropriado em nenhum tipo

penal, ainda assim, precisa nortear o inquérito até seu final, apresentando todo uma

situação fática, para que o titular da ação penal determine a partir daí, não lhe sendo

lícito arquivar o inquérito.45

2.2.7 Inquisitivo

Inquisitivo porque toda ação e controle esta somente em um único

órgão denominado polícia judiciária, representada pela policia civil nos Estado e no

âmbito da união pela policia federal. Conforme Código de Processo Penal em seu

“Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de

suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da

sua autoria.”46 E esclarece ainda na Constituição Federal conforme garante o artigo

144, da Carta Magna em seus parágrafos 1º e 4º.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a. I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

47

45 PACHECO, Denilson Feitoza. Op. cit., p. 162 46

BRASIL. Presidência da República. Código de Processo Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 23 ago. 2015. 47

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:

Senado, 1988.

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15

Para Jesus ao inquérito policial emprega-se o sistema inquisitivo. As

atividades persecutórias no início da fase estão concentrados em uma única

autoridade pública. Nessa etapa existe apuramento de fatos considerados com

comportamentos incriminados e a busca de seu possível autor/autores e

concorrentes, assim, as ocorrências são elementos de investigação compreendendo

quem os exerceu.48

Deste modo pelo fato de o inquérito policial ser inquisitivo não tem

assegurado o princípio do contraditório e da ampla defesa para investigado. No

inquérito só há figura de um acusado, ou seja, não há acusado formal. Este acusado

será indiciado que e o provável autor da infração penal apontado pelo delegado em

decorrência de um despacho de indiciamento proferido pela autoridade policial. O

indiciamento deve estar fundamentado em elementos concretos indicativos da

autoria deste modo desconfiança não e suficiente para indiciamento.

2.2.8 Dispensável

O Inquérito Policial é dispensável, pois se há dados suficientemente

para fundamentar a ação penal, o inquérito tem a faculdade de ser dispensado, por

ter caráter instrumental. Assim, é possível que a ação penal possa ser começada

sem prévia instauração de inquérito policial (art. 39, p. 5º CPP).49

O inquérito policial não é obrigatório para que haja propositura da

ação penal. Deste modo, Capez comenta que “inquérito policial não é fase

obrigatória da persecução penal, podendo ser dispensado caso o Ministério Público

ou o ofendido já disponha de suficientes elementos para a propositura da ação

penal”. O Código de Processo Penal, em inúmeros dispositivos, menciona a

dispensabilidade do inquérito policial.50

Ao mesmo tempo, há julgados que tem conhecimento da

dispensabilidade do inquérito policial “Não é essencial ao oferecimento da denúncia

a instauração de inquérito policial, desde que a peça acusatória esteja sustentada

48

JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado. 24. ed., São Paulo: Saraiva,2010. 49

Ibidem. 50

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 118.

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16

por documentos suficientes à caracterização da materialidade do crime e de indícios

suficientes de autoria’ (RTJ, 76/741)”. 51

A instauração da ação penal no poder judiciário independe da

existência de inquérito policial anterior, sendo como uma das características ser

dispensável, na medida em que o titular da ação penal Ministério Publico tenha

elemento necessário para dar suporte à ação em juízo não sendo deste modo assim

necessário do inquérito policial para produção de informação, ou seja, com provas

suficientes ao Ministério Publico podendo oferecer a denúncia sem a fase do

inquérito policial.

3 VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

3.1 VALOR DAS PROVAS ANTES E DEPOIS DAS ALTERAÇÕES DO ART. 155

DO CPP PELA LEI 11690/2008

O artigo 155 do CPP antes da Lei 11690/2008 trazia a seguinte

redação “ no juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas, serão observadas

as restrições à prova estabelecidas na lei civil”.52

Verifica-se que o artigo 155 do CPP antes da Lei 11690/2008 vem a

ser admissível por ter em mente que a prova adquirida no inquérito obtêm valor

probatório e com isso, acaba sendo integradas no processo para dar início a ação

penal. Porém podem ser contraditadas.

Por outro lado, existem doutrinadores como Nucci que não admitem

as provas como valor probatório antes da vigência da Lei nº 11.690/08. Não aceitam

as provas adquiridas no inquérito policial sem que haja o contraditório.

Se nítida é sua função de garantir o individuo contra acusações injustificadas, servindo a sociedade como leigo célere de busca e colheita de provas perecíveis – via de regra, as perícias -torna-se preciso registrar que não se deve utiliza-lo como fonte legítima de produção de provas, passíveis de substituírem o efeito contraditório que somente em juízo será realizado. [...] logo, cremos despropositada a corrente de pensamento que sustenta serem válidas todas as provas coletadas pela

51

Ibidem. p. 72. 52

BRASIL, Código de Processo Penal. Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm >. Acesso em: 15 nov. 2015.

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policia judiciária, muito embora não sejam elas realmente renovadas diante do juiz [...] .

53

Contudo, é sabido que grande parte da doutrina compreende que na

etapa investigatória são gerados apenas elementos informativos, não estando hábil

a embasar de forma isolada, a sentença penal condenatória.

A Lei nº 11.690/2008 mudou os artigos sobre as provas, trazendo

nova redação ao artigo 155 e seguintes, do Código de Processo Penal, no qual não

fazia nenhuma menção sobre valoração probatória no Inquérito Policial, ao contrário,

acabou gerando um problema sobre a temática, pois ao proibir no artigo 155, onde o

juiz para seu convencimento precisa estar fundado exclusivamente nas provas

adquiridas nessa fase, passou a ser o entendimento dos tribunais vindo a colidir com

os elementos do inquérito policial no decorrer da instrução criminal.

No entanto ao artigo 155 do CPP54, o novo dispositivo comunica que

o magistrado, não deve fundamentar sentença, somente das provas trazidas do

inquérito policial. A prova pode ser empregada se for corroborada por componentes

trazidos em juízo, com procedimento contraditório.55

No texto do artigo mencionado traz a palavra “exclusivamente”. Deste

modo, o legislador acaba dando margem para que o juiz vale-se do inquérito policial,

porém, precisa obter determinados componentes probatórios do processo.56

Sob essa ótica, Lopes Junior traz uma crítica quanto ao dispositivo,

alegando que:

Manteve-se, assim, a autorização legal para que os juízes e tribunais sigam utilizando a versão dissimulada, que anda muito em voga, de “condenar com base na prova judicial cotejada com a do inquérito”. Na verdade, essa fórmula jurídica deve ser lida da seguinte forma: não existe prova no processo para sustentar a condenação, de modo que vou me socorrer do que está no inquérito. Isso é violar a garantia da própria jurisdição e do contraditório.

57

53

NUCCI, Guilherme de Souza. Op. cit. p. 81. 54

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil. 55

FUHRER, Maximiano Roberto Ernesto. A reforma do código de processo penal: comentários e pontos críticos. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 79. 56

Ibidem. p. 81. 57

LOPES JR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 302.

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18

O problema trazido de acordo com Lopes Jr. está na falta do

contraditório na fase investigatória, o que vem a impossibilitar seu emprego,

tornando nulo qualquer sentença que venha fundamentar-se em provas que não

fossem motivadas pela Instrução Criminal.58

Segundo Lima, comenta que caso tivesse a capacidade de ser

lavrada sentença condenatória com fundamento em provas obtidas exclusivamente

na fase pré-processual acabaria sendo uma violação ao artigo 5º, inciso LV da

Constituição Federal.59

Entretanto, menciona-se que estes elementos probatórios, tem a

capacidade de serem empregados de forma subsidiaria, sendo um complemento ao

conjunto probatório de acordo com pronunciamento do STF: ―os elementos do

inquérito podem influir na formação do livre-convencimento do juiz para a decisão da

causa quando complementam outros indícios e provas que passam pelo crivo do

contraditório em juízo‖. (STF, 2ª Turma, RE-AgR n. 425.734/MG, Rel.ª Min.ª Ellen

Gracie, DJ 28/10/2005).60

O inquérito serve para colher informações que acabam sendo

confirmados ou legitimados pela prova judicial e como componente subsidiário para

ajudar o que for verificado em juízo. Não deve, no entanto, embasar uma decisão

condenatória fundada apenas no inquérito policial, vindo a contrariar o princípio do

contraditório.61

De acordo com Nucci o princípio do contraditório quer dizer que:

Toda alegação fática ou apresentação de prova, feita no processo por uma das partes, tem o adversário o direito de se manifestar, havendo um perfeito equilíbrio na relação estabelecida entre a pretensão punitiva do Estado e o direito à liberdade e à manutenção do estado de inocência do acusado.

62

Porém, no inquérito policial não há o contraditório. Deste modo, não

havendo o contraditório, as peças adquiridas em inquérito, geralmente em

58

LOPES JR., Aury; Direito Processual processo penal. São Paulo: Ed. Saraiva, 2014. 59

LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de processo penal. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2013, p. 74 60

BRASIL. TRF-2 25/05/2011 - Pág. 288 - Judicial - JFRJ - Tribunal Regional Federal da 2ª Região. STF, 2ª Turma, RE-AgR n. 425.734/MG, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie, DJ 28/10/2005. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/busca?q=RE+AGR+425734%2FMG. Acesso em: 23 nov. 2015. 61

JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado. 24. ed., São Paulo: Saraiva,2010. 62

NUCCI, Guilherme de Souza. Op. cit. p. 37.

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19

depoimento de testemunhas, precisam ser comprovadas em juízo, sob pena de

nulidade do processo.63

Contraditório não é somente alegar e contestar, sobre matéria

controvertida, não é tão somente a contestação que as partes fazem no processo

em relação de direito material, mas, sobretudo, é equidade de chances no processo,

é a semelhante oportunidade de igual tratamento, que está embasada na liberdade

de todos perante a lei.64

O caput do artigo ainda traz como preceito que a prova penal seja

gerada através do contraditório para servir de alicerce às decisões judiciais,

pressupostos estipuladas em que a lei e jurisprudência determinam, como por

exemplo, as provas que abarcam os exames de corpo de delito e periciais, que são

obtidas no decorrer da investigação criminal.65

Admitindo posição adversa ao emprego no processo das provas

geradas na investigação preliminar, para Lopes Junior é definitivamente inaceitável

que as ações cometidas por uma autoridade administrativa, sem a interferência

jurisdicional,“tenham valor probatório na sentença [...] pois o contraditório é

meramente aparente e muitas vezes absolutamente inexistente”.66

Portanto, é passível verificar que a temática possui posicionamentos

variados e controversos, pois Mirabete compreende que há conformidades entre o

probatório adquirido na fase pré-processual com as provas obtidas na fase

processual. Assim, o juiz encontra-se liberado a condenar com fundamento em

prova geradas em investigação preliminar.67

Já no entendimento de Lopes Junior que não acolhe as provas

geradas no inquérito policial que venham a ter como base em uma decisão

condenatória. Para o autor os componentes obtidos pela autoridade administrativa

tem somente valor informativo para a propositura da ação penal.68

Contudo, Avena a respeito do assunto entende que o artigo 155 não

impede que o magistrado de empregar, como embasamento de convicção, as

provas, reunidas na fase investigativa, somente posicionando-se que ele não poderá

63

AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. 64

RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 18 ed.rev atual.e ampl. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2011, p. 17. 65

AVENA, Norberto. Op. cit., p. 105. 66

LOPES JR, op. cit. p.297. 67

MIRABETE, JulioFabrini. Processo penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 68

LOPES JR, op. cit. p.298.

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embasar-se apenas nessas provas. Não impede que venham ser utilizadas como

elementos secundários.69

Para Capez, a mudança da lei 11.690/08 fez com que o artigo 155 do

CPP ficasse expresso de que as provas obtidas no inquérito somente terão valor

relativo, e ainda enfatiza:

O inquérito policial tem conteúdo informativo, tendo por finalidade fornecer ao Ministério Público ou ao ofendido, conforme a natureza da infração, os elementos necessários para a propositura da ação penal. No entanto tem valor probatório embora relativo, haja vista que os elementos de informação não são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, nem tampouco na presença do juiz de direito.

70

Com o ingresso da Lei nº 11.690/2008 acarretou elementos para que

o magistrado busque estabilização maior entre as partes envolvidas no decorrer da

investigação criminal, trazendo no artigo 155 do CPP, que o juiz aplique livremente

sua convicção nas provas geradas em contraditório judicial.

Contudo, o valor probatório mesmo sendo relativo, não é obtido sob o

escudo do contraditório e ainda da ampla defesa e na presença do magistrado.71

As provas uma vez sendo repetidas em juízo, verificam-se que existe

valor probatório relativo, por não terem sido rejeitadas depois do seu colhimento.

Assim Capez traz o seguinte posicionamento:

[...], no entanto, tem valor probatório, embora relativo, haja vista que os elementos de informação não são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa. Assim, a confissão judicial, por exemplo, terá validade como elemento de convicção do juiz apenas se confirmado por outros elementos colhidos durante a instrução processual. Esse entendimento acabou de se tornar letra expressa do art. 155 do CPP, com a redação determinada pela Lei nº 11.690/08.

72

Nesse sentido, já existe posição jurisprudencial do Tribunal do Rio

Grande do Sul acerca do assunto:

“LATROCÍNIO. VALOR DA PROVA OBTIDA NO INQUÉRITO POLICIAL. CONFISSÃO POLICIAL. VALOR CONDENATÓRIO. CONDENAÇÃO MANTIDA. A prova policial só deve ser desprezada, afastada, como elemento válido e aceitável de convicção quando totalmente ausente prova judicial confirmatória ou quando desmentida, contrariada ou nulificada, pelos elementos probatórios colhidos em juízo através de regular instrução. Havendo, porém, prova produzida no contraditório, ainda que menos consistente, pode e deve ser considerada e chamada para, em conjunto

69

AVENA, Norberto. Op. cit. p. 104. 70

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 75. 71

CAPEZ, Fernando. Op. cit. 80. 72

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 19 ed.. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 120.

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com esta, compor quadro probante suficientemente nítido e preciso. No caso em tela, as confissões extrajudiciais dos envolvidos são apoiadas pelas declarações das vítimas da ameaça e violência que, embora não vendo os rostos dos assaltantes, contaram o ocorrido com os mesmos detalhes dos confessos. Depois, as confissões judiciais ou extrajudiciais valem pela sinceridade com que são feitas ou pelas verdades nelas contida. Aqui, aquelas feitas pelos apelantes, ainda que extrajudicialmente, servem de lastro condenatório, pois são convincentes. DECISÃO: Apelos defensivos desprovidos, por maioria de votos.” (Apelação 70042374447 Rio Grande do Sul , Relator: Sylvio Baptista Neto, Data de Julgamento: 11/08/2011, Sétima Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 11/10/2011) (grifos nossos)

73

O valor probatório do inquérito policial é classificado como sendo

limitado, devido à possibilidade da incidência de defeitos e falhas por pessoas que

não estejam totalmente preparados, os quais, tendo o encargo de obter as provas

que constituirão o inquérito, tem a faculdade de empregar-se da natureza inquisitiva

do inquérito policial, manejando as investigações forma atentatória a finalidade da

imparcialidade e justiça, indo contra, os princípios constitucionais atribuídos ao

acusado, além de infringir a ética adquirida no intróito para o exercício do múnus

público.74

A jurisprudência dos Tribunais tem o entendimento que o inquérito

policial possui valor probatório relativo. Ou seja, conforme o caso concreto e com o

nível de confiança dos dados obtidos no inquérito, uma vez que essas informações

não são adquiridas sob o escudo da ampla defesa e do contraditório. É passível

assegurar que o inquérito policial possui valor probatório, mesmo que pequena em

decorrência de sua natureza inquisitiva.75

5001575 - HABEAS CORPUS - ACÓRDÃO QUE MANTENDO A SENTENÇA EMPRESTOU VALIDADE AO LAUDO PERICIAL - ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO - AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DA DEFESA SOBRE A PERÍCIA TÉCNICA - INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA - 1. A perícia não é um simples indício e sim prova técnica e, por isso, pode ser considerada pelo julgador na sentença, sem que caracterize cerceamento de defesa, pois o acusado, ciente da sua juntada ao inquérito policial que instruiu a ação penal, poderia pugnar por elidi-la. 2. Laudo pericial. Validade. Prova hábil a ser considerada judicialmente para demonstrar a imprudência do paciente que, ao conduzir o seu veículo em velocidade incompatível com o local e as condições do tempo, causou duplo atropelamento do qual resultou a morte

73

BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - Apelação Crime ACR 70042374447 RS (TJ-RS) Relator: Sylvio Baptista Neto, Data de Julgamento: 11/08/2011, Sétima Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 11/10/2011. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Prova+obtida+no+inqu%C3%A9rito+policial. Acesso em: 18 nov. 2015. 74

RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 18 ed.rev atual.e ampl. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2011, p. 17. 75

FUHRER, Maximiano Roberto Ernesto. Op. cit. p. 81.

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de uma das vítimas. (STF - HC 73.647 - SP - 2ª T. - Rel. Min. Maurício Corrêa - DJU 06.09.1996).

76

Em muitos casos há a decadência de prova. O valor probatório do

inquérito policial além de relativo é restrito. Essa restrição de acordo com Mirabete, é

pela constatação de prova judicial ou de componente subsidiário para reforçar o que

for verificado em juízo e, consolidar o livre convencimento do juiz. Assim, é passível

ter compreensão com base no princípio constitucional do contraditório, pois não

seria aceitável embasar-se uma decisão condenatória apoiada somente em inquérito

policial.77

Para aqueles que almejam um Direito mais justo, protestam pela

igualdade, de que exista um balanceamento entre o caráter inquisitória do inquérito

e os direitos constitucionais assegurando o contraditório e da ampla defesa, mesmo

na fase policial. A apreciação do inquérito sob esse prisma, mesmo sendo um

processo informativo, traz benfeitorias para todos. O valor probatório do inquérito

teria credibilidade onde o defensor, poderia desempenhar seu papel constitucional

de atuante necessário à administração da justiça, “fiscalizando o inquérito, quer

complementando-o; e o indiciado seria tratado como sujeito de direitos, respeitadas

as suas garantias legais e constitucionais”.78

4 CONCLUSÃO

Neste trabalho a ideia foi fazer um estudo acerca do inquérito

policial trazendo suas características e o valor probatório através de pesquisa

bibliográfica e jurisprudencial.

No trabalho verificou-se que o inquérito vem a ser um procedimento

administrativo, sendo um processo para muitos doutrinadores desnecessário, porém,

viu-se que através desse mecanismo constata-se que não é um procedimento

imperceptível, ao contrário, possui grande relevância para a propositura da ação

76

BRASIL. Supremo Tribunal Federal de São Paulo. Habbeas Corpus 73647 SP. Relator. Maurício Correa. Julgamento, 07/05/1996. Órgão Julgador. Segunda Turma. Publicação. DJ 06.09.1996.PP 21852. Disponível em: http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/744101/habeas-corpus-hc-73647-sp.Acesso em: 18 nov. 2015. 77

MIRABETE, JulioFabrini. Processo Penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 83. 78

AVENA, Norberto. Op. cit. p. 104.

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penal, sendo blindado por características importantes ao ordenamento jurídico

brasileiro, sendo abarcado por garantias constitucionais.

A Policia Judiciária por ser um órgão que oferece serviços a

sociedade, ao contrário do que ocorria antigamente, onde era empregado como

forma de coerção do governo perante a sociedade, em um Estado Democrático de

Direito que é atualmente, o inquérito policial precisa ser ajustado na legalidade

exercendo as cobranças constitucionais.

Com a Constituição Federal, as peculiaridades do inquérito são

blindadas por garantias constitucionais, porém não sem encontram os princípios do

contraditório e da ampla defesa.

Em relação ao valor probatório na fase do inquérito policial,

observa-se que o tema tem gerado discussões acerca dos doutrinadores quanto a

sua admissibilidade ou não, através da mudança ocorrida pela Lei nº 11.690/2008 ao

Código de Processo Penal no artigo 155, onde não havia de maneira expressa o

impedimento do magistrado em fundamentar suas decisões apenas nas provas

através do inquérito.

Verificaram-se correntes que alegam que existir valor probatório

das provas por ter em mente que elas estão interligadas nos autos podendo ser

contraditadas, e assim não haveria a ofensa ao principio do contraditório. Já outra

corrente alega ser inadmissível adotarem essas provas justamente por não estar

presente o principio do contraditório. E por fim, os que entendem ser aceitável as

provas desde que seja adquirido no inquérito e comprovado em juízo apresentando

deste modo, o valor relativo.

Depois da mudança do dispositivo, essencial verificar a nova

redação, pois o magistrado não poderá embasar-se sua decisão somente nas

provas obtidas na fase de investigação, mas por outro lado, menciona que elas tem

valor no memento em que for decidir.

Conclui-se que esta nova redação não veio a ser uma norma

expressa quanto à vedação das provas obtidas na fase de investigação para

fundamentar as decisões, tornando-se assim uma prova que merece respeito, por

ser aceitas, mesmo não tendo o principio do contraditório como, por exemplo, as

provas cautelares.

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Deste modo, a expectativa é que esses debates doutrinários e

jurisprudenciais sejam sanados, pautadas consecutivamente nas garantias

constitucionais.

5 REFERÊNCIAS

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