inquérito policial

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Nestor Távora- Inquérito Policial 23/04/2014 INQUÉRITO POLICIAL 1- Considerações: o processo penal serve para a persecução penal (que significa dizer, perseguição do crime). A perseguição do crime encontra 2 fases: o inquérito policial e o processo O inquérito é um procedimento administrativo preliminar presidido pela autoridade policial (o nosso delegado, de acordo com o art. 144 da CF), que tem por objetivo apurar a autoria e a materialidade da infração (é a existência da infração). - Tem por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação. Conclusão: Percebe-se que o inquérito servirá para convencer o titular da ação, quanto ao início ou não do processo. 2- Características: 1- o inquérito é procedimento inquisitivo (forma de gestão do procedimento): o inquérito é ingerido com concentração de poder de uma só autoridade (o delegado). Consequência: não há contraditório ou ampla defesa

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Page 1: Inquérito Policial

Nestor Távora- Inquérito Policial 23/04/2014

INQUÉRITO POLICIAL 1- Considerações: o processo penal serve para a persecução penal (que

significa dizer, perseguição do crime).

A perseguição do crime encontra 2 fases: o inquérito policial e o processo

O inquérito é um procedimento administrativo preliminar presidido pela autoridade policial (o nosso delegado, de acordo com o art. 144 da CF), que tem por objetivo apurar a autoria e a materialidade da infração (é a existência da infração).

- Tem por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação.

Conclusão: Percebe-se que o inquérito servirá para convencer o titular da ação, quanto ao início ou não do processo.

2- Características:

1- o inquérito é procedimento inquisitivo (forma de gestão do procedimento): o inquérito é ingerido com concentração de poder de uma só autoridade (o delegado).

Consequência: não há contraditório ou ampla defesa

2- o inquérito é um procedimento discricionário: o delegado conduzirá a investigação da forma que entender mais eficiente.

OBS: os requerimentos apresentados pela vítima ou pelo suspeito podem ser indeferidos, salvo o exame de corpo de delito (art. 158 do CPP).

OBS: mesmo não havendo hierarquia as requisições emanadas do MP e da Magistratura serão obrigatoriamente cumpridas por imposição normativa.

3- o inquérito policial é um procedimento sigiloso: o delegado vai zelar pelo sigilo investigativo em prol da eficiência do inquérito.

OBS: de acordo com o art. 7º, inciso XIV do Estatuto da OAB e de acordo com a Súmula Vinculante 14 do STF o advogado tem direito de acessar os autos da investigação, e eventual obstáculo será combatido com mandado

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de segurança, sem prejuízo do manejo da reclamação constitucional. Vale lembrar, que o advogado não tem acesso as diligências que ainda estão por acontecer.

OBS: Foco na vítima: o juiz poderá decretar o segredo de justiça, de forma que informações do inquérito não poderão ser compartilhadas com a imprensa, nem mesmo pelo delegado.

4- o inquérito é um procedimento escrito : prevalece a forma documental, e os atos produzidos oralmente serão reduzidos a termo.

OBS: Inovação: atualmente as novas ferramentas tecnológicas como a captação do som e da imagem poderão instruir o inquérito policial.

5- o inquérito é um procedimento indisponível: em nenhuma hipótese o delegado poderá arquivar o processo, já que toda investigação iniciada deve ser concluída e encaminhada a autoridade competente.

6- o inquérito é um procedimento dispensável: para que o processo comece não é necessário a prévia realização de inquérito policial.

OBS: Inquéritos não policiais: são aqueles presididos por autoridades distintas da polícia, e que conviverão harmonicamente com o inquérito policial, é o que ocorre com os inquéritos presididos pelas CPI’s e com os inquéritos conduzidos pelo Ministério Público. Vale lembrar, que de acordo com a Súmula 234 do STJ o promotor que investiga não é suspeito ou impedido para atuar na fase processual.

3- Valor probatório: o inquérito tem valor probatório relativo, pois ele serve de base para oferta da petição inicial, mas não se presta sozinho a sustentar sentença condenatória, já que os seus elementos foram colhidos sem contraditório ou ampla defesa.

4- Vícios ou irregularidades: são os defeitos do inquérito ocasionados pelo descumprimento da lei ou dos princípios constitucionais

OBS: Consequências: segundo o STF e o STJ os vícios do inquérito estão adstritos (resumidos) ao próprio inquérito e não tem o condão de contaminar o futuro processo, já que o inquérito é meramente dispensável.

5- Prazo: o delegado estadual deve concluir o inquérito em 10 dias se o suspeito estiver preso (improrrogáveis)

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Se o sujeito estiver solto o delegado deve concluir o inquérito em 30 dias, prorrogáveis por determinação do juiz, pelo tempo e pelas vezes que ele deliberar.

- Delegado federal: se o suspeito estiver preso o prazo para concluir o inquérito será de 15 dias, prorrogáveis uma vez por mais 15 dias, se o juiz determinar.Se o suspeito estiver solto delegado deve concluir o inquérito em 30 dias, prorrogáveis por determinação do juiz, pelo tempo e pelas vezes que ele deliberar.

6- Indiciamento: indiciar nada mais é do que informar ao agente que as investigações convergem na sua pessoa, pois ele passou a ser o principal suspeito.

OBS: O art. 15 do CPP exigindo a nomeação de curador aos indiciados entre 18 e 21 anos está tacitamente revogado, pois estas pessoas são absolutamente capazes.

7- Incomunicabilidade: era a possibilidade do preso no inquérito não ter contato com terceiros por determinação do juiz, pelo prazo máximo de 3 dias e sem prejuízo do acesso do advogado

OBS: Filtro constitucional: com o advento do art. 136 da CF que não tolera a incomunicabilidade, nem mesmo durante o Estado de Defesa resta concluir que o art. 21 do CPP não foi recepcionado ( revogação tácita).

8- Procedimento:

1ª etapa: início

- Portaria: é a peça escrita que demarca o início da investigação policial

OBS: Notícia Crime: é a comunicação da ocorrência do delito a autoridade que possui atribuição para agir.

- Legitimidade: destinatários: DELEGADO – MP - JUIZ

Ativa: vítima (representante legal): noticiam o crime por meio de um requerimento

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OBS: Denegação: neste caso caberá recurso administrativo ao chefe de polícia.OBS: Nos crimes de ação privada e de ação pública condicionada a instauração do inquérito pressupõe a manifestação de vontade do legítimo interessado.

- Legitimidade ativa: MP/ JUIZ: Neste caso eles apresentarão uma requisição (ordem) e o delegado estará obrigado a investigar

2ª etapa: Evolução do Inquérito: os arts. 6º e 7º do CPP apontam uma série de diligências que podem ou devem ser cumpridas pelo delegado, para melhor aparelhar a investigação.

OBS: o suspeito não pode ser obrigado a participar da reconstituição do crime. Além disso, não haverá reconstituição que ofenda a moralidade e a ordem pública.

OBS: admite-se ainda nas hipóteses legais a realização da identificação criminal, que é composta de fotografia, impressão digital e até mesmo colheita de material genético para realização de DNA.

3ª etapa: Encerramento: o inquérito acaba com o relatório – relatório é a peça descritiva que reúne as diligências realizadas na investigação e eventualmente justifica as que não foram feitas por algum motivo relevante.

- Concluído o inquérito os autos são encaminhados para o JUIZ OBS: nada impede que o inquérito seja remetido diretamente ao MP

- O JUIZ vai encaminhar o inquérito para o MP (vai abrir vistas ao MP)- O MP tem 3 alternativas: A- é possível que ele entenda que exista indícios de autoria e da materialidade. Então o MP vai oferecer a denúncia, para que tenha início o processo; B- o promotor pode entender que não existem indícios de autoria ou da materialidade, mas ele enxerga esperança de que esses elementos sejam

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rapidamente colhidos. O promotor vai requisitar novas diligências, que sejam imprescindíveis ao início do processo.

C- ele pode entender que não há crime a apurar, ele vai requerer o arquivamento da investigação (inquérito).O promotor vai requerer o arquivamento ao JUIZ, neste caso o juiz pode concordar com o pedido e homologar o pedido.

OBS: Advertência: percebe-se que o arquivamento é feito por ato complexo, ou seja, cabe ao juiz decidir apreciando requerimento do MP.

É possível que o juiz venha a discordar do pedido de arquivamento, ele vai invocar o art. 28 do CPP remetendo os autos ao Procurador Geral do MP. Neste caso, o procurador poderá oferecer a denúncia; poderá designar outro membro do MP para denunciar ou poderá insistir no arquivamento e o juiz estará obrigado a arquivar.

OBS: Súmula 524 do STF x art. 18 do CPP- Segundo o Supremo na sua súmula 524 o arquivamento do inquérito não faz coisa julgada material, tanto que se surgirem novas provas, enquanto o crime não estiver prescrito o promotor terá aptidão para oferecer a denúncia.Já o art. 18 do CPP autoriza que a polícia cumpra diligências mesmo durante o arquivamento na esperança de colher prova nova que viabilize a denúncia.

OBS: Termo Circunstanciado Ocorrência De acordo com o art. 69 da Lei nº. 9.099/95 o termo circunstanciado de ocorrência é a investigação simplificada para apurar as infrações de menor potencial ofensivo (os crimes com pena de até 2 anos e as contravenções penais).

OBS: Atualmente o delegado ao emitir certidão só fará referência aos processos com sentença transitada em julgado.