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www.leonardodemoraesadv.com 1 INQUÉRITO POLICIAL PROFESSOR: LEONARDO DE MORAES 1 - Considerações iniciais O Direito Processual Penal busca o estudo e a normatização da persecução penal. Persecução penal é a perseguição do crime, que possui 2 fases: IP (fase preliminar) e processo. Polícia, nos termos do art. 141 da CF, tem a seguinte classificação: a) Administrativa (ostensiva, de prevenção): visa evitar a prática de crimes. É exercida pela PM, fazendo ronda e se apresentando ostensivamente, através de suas vestes, veículos, presença física, etc, objetivando coibir a infração penal. Entretanto, ocorrendo o crime, surge a próxima espécie. b) Judiciária (repressiva, repressão): atua quando o delito já ocorreu. É exercida pela Polícia Civil (crimes estaduais) e pela Polícia Federal (crimes federais), nos termos do art. 144, §4º, da CF. As finalidades são investigar (buscar indícios de autoria + prova da materialidade (existência) do crime, para que o titular da ação penal decida ou não oferecê-la. Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis;

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INQUÉRITO POLICIAL

PROFESSOR: LEONARDO DE MORAES

1 - Considerações iniciais

O Direito Processual Penal busca o estudo e a normatização da persecução

penal.

Persecução penal é a perseguição do crime, que possui 2 fases: IP (fase

preliminar) e processo.

Polícia, nos termos do art. 141 da CF, tem a seguinte classificação:

a) Administrativa (ostensiva, de prevenção): visa evitar a prática de crimes. É

exercida pela PM, fazendo ronda e se apresentando ostensivamente, através de suas

vestes, veículos, presença física, etc, objetivando coibir a infração penal. Entretanto,

ocorrendo o crime, surge a próxima espécie.

b) Judiciária (repressiva, repressão): atua quando o delito já ocorreu. É exercida

pela Polícia Civil (crimes estaduais) e pela Polícia Federal (crimes federais), nos termos do

art. 144, §4º, da CF. As finalidades são investigar (buscar indícios de autoria + prova da

materialidade (existência) do crime, para que o titular da ação penal decida ou não

oferecê-la.

Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos

seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

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V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§ 4º - Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,

incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia

judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

Obs: A polícia judiciária é estruturada por Delegados de Carreira (concursados e

bacharéis em direito).

Obs2: Polícia civil auxilia o Poder Judiciário e elabora o IP.

2 – Conceito

É o procedimento administrativo preliminar (conjunto de diligências), presidido

pela autoridade policial, que tem por objetivo apurar a autoria e a materialidade

(existência) da infração.

Finalidade: contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação. O

legitimado ativo vai, com base no IP, oferecer ou não ação penal.

O IP funciona como filtro que ajuda ao convencimento do titular da ação. Por

isso, é instrumento meramente informativo.

3 – Natureza Jurídica

Natureza jurídica quer dizer: qual a essência do instituto? Dentro do

ordenamento onde o instituto deve ser enquadrado? O instituto se encaixa em que

classificação?

É mero procedimento administrativo, de caráter informativo ao titular da ação

penal. Rege-se pelas regras dos atos administrativos em geral. Não é processo.

4 – Inquéritos não policiais

- CPI:

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Súmula 397 do STF: O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do

Senado Federal, em caso de crime cometido nas suas dependências,

compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do acusado e a

realização do inquérito.

- IPM: compete a polícia judiciária militar apurar os crimes militares;

- Inquérito civil: presidido pelo MP, visando reunir elementos para a

propositura da ação civil pública;

- Inquérito por crimes praticados por magistrados e membros do MP, que

serão presididos pelos órgãos de cúpula de cada carreira (art. 33 da LOMAN e art. 41 da

LONMP);

- Investigações para quem tem foro por prerrogativa de função: as

investigações correrão no Tribunal onde a respectiva autoridade tem tal prerrogativa. Ex:

se Deputado Federal comete crime, investigação correrá sobre a presidência de um

Ministro do STF;

- Investigações pelo Ministério Público: prevalece a tese de que o MP pode

realizar investigações criminais (inquérito ministerial), pois não se deseja a presidência do

inquérito policial, mas apenas possibilitar a colheita probatória para viabilizar futura ação

penal. O STJ e o STF tem se posicionado a favor das investigações pelo MP:

STJ Súmula nº 234: “A participação de membro do Ministério Público na

fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou

suspeição para o oferecimento da denúncia.

5 - Características

a) Inquisitoriedade

É a Forma de gestão do procedimento, forma de administrar o procedimento.

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A inquisitoriedade se caracteriza pela concentração de poder em uma só

pessoa, que é no Delegado de Polícia.

A consequência é que não há contraditório e nem ampla defesa. Entretanto,

tal posição é criticada atualmente, porquanto o interrogatório realizada no IP é meio de

prova e meio de defesa.

Obviamente, não poderá ser arbitrário, pois deverá observar a CF e lei (ex:

busca e apreensão e interceptação telefônica devem ser precedidas de ordem judicial, não

podendo o Delegado realiza-las de ofício).

b) Discricionariedade

O Delegado se movimenta o IP da forma que entender mais adequada, tendo

em vista a mobilidade do crime. A forma de conduzir a investigação é dada pelo Delegado.

Por este motivo, os requerimentos do advogado ao Delegado podem ser

negados, como oitiva de testemunhas, diligências, etc. Entretanto, atuação de autoridade

desta forma dará enseja a investigação mal feita, tornando-o mais legítimo.

Obs: O exame de corpo de delito (prova do crime que deixa que vestígios) é o

único requerimento do advogado (indiciado ou vítima) que não pode ser negado pelo

Delegado, segundo art. 158 do CPP:

Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame

de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do

acusado.

Juiz e MP requisitam (ordem) diligências, e se o Delegado não cumpre porque

não quer responderá por prevaricação (não é Desobediência, pois este delito não se aplica

a funcionários públicos, mas apenas aos particulares).

Há posições firmes, a qual me filio, que aduzem que o fato do MP (como órgão

acusador) requisitar provas e o indiciado requerer (pedir) viola o princípio da igualdade,

pois está concedendo mais armas ao órgão acusador em total prejuízo para a defesa.

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IP não tem rito, pois é discricionário.

c) Escrito

Prevalece no IP a forma documental, de modo que os atos produzidos

oralmente serão reduzidos a termo.

O CPP é de 1941 e naquela época só havia papel. Hoje, por autorização do CPP,

havendo estrutura tecnológica, os atos do IP poderão ser documentados, inclusive com

captação de som e imagem (filma o depoimento).

d) Sigilosidade

Todos os livros falam que o objetivo é apenas a eficiência da investigação,

contribuindo para melhor elucidar o crime. Objetivo antigo.

Ocorre que, na verdade a sigilosidade tem o objetivo de preservar a imagem de

quem é presumidamente inocente, impedindo que a imprensa divulgue imagens daqueles

que ainda são investigados.

Atualmente, IP deve ser protegido da imprensa, pois a notícia de que alguém

cometeu crime (em tese) leva a formação de senso comum de que já é culpado, sem que

exista sequer processo. Isto se dá pois é natural do ser humano discriminar (discriminação

cultural) quem é indiciado ou quem é réu, sendo este o pior julgamento possível, pois não

admite contraditório, ampla defesa. Assim, informação de investigação não deve vazar

para a imprensa, sob pena de fulminar a imagem de quem é presumivelmente inocente.

Existem dois tipos de sigilo (classificação):

d.1) Sigilo externo: é aplicado aos terceiros desinteressados, que é a imprensa e a

população.

d.2) Sigilo interno: aplicado aos interessados. É frágil, pois não atinge o juiz, o MP e ao

advogado, de modo que o advogado tem direito a acessar os autos do IP das provas que já

foram documentadas (não tem direito de participar de investigação que ainda não fora

realizada, como ir a determinado local ou ver a ocorrência de uma perícia).

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Ferramentas para combater o arbítrio: Art. 7º, XIV, Estatuto da OAB e Súmula

vinculante 14 do STF, dão ao advogado o direito de acessar aos autos. Se não tiver acesso,

caberá MS e/ou reclamação constitucional (esta direto ao STF):

Súmula vinculante 14: É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO

REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ

DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR

ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO

EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA;

Art. 7º, XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem

procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento,

ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar

apontamentos;

O sigilo deve ser visto em prol da vítima e seus familiares (lembrar do caso

Nardoni, pois a imprensa veiculou, sem qualquer base, que a vítima fora violada

sexualmente pelo próprio pai). Por isso, o juiz pode decretar o segredo de justiça na

expectativa de preservar a vítima, para que informações do IP não sejam compartilhadas

com a imprensa, nos termos do art. 201, §6ª, do CPP:

Art. 201, § 6º: O juiz tomará as providências necessárias à preservação da

intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo,

inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados,

depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito

para evitar sua exposição aos meios de comunicação.

e) Oficialidade

O IP é conduzido por uma autoridade, que é o Delegado.

f)Oficiosidade

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O IP é instaurado de ofício pela autoridade policial, sem depender de

provocação. Entretanto existem algumas ressalvas:

- Ação penal pública condicionada à representação (tem de haver representação

da vítima para instaurar IP, como se dá no crime de estupro);

- Ação penal privada (tem de haver requerimento vítima para instaurar IP).

g) Indisponibilidade

Em nenhuma hipótese o Delegado poderá desistir do IP, ou seja, não lhe cabe

arquivar a investigação, nos termos do art. 17 do CPP:

Art. 17 - A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de

inquérito.

Consequência: todo o IP iniciado deverá ser concluído e remetido à autoridade

competente.

O arquivamento só de dá após parecer do MP e decisão do juiz.

i) Dispensabilidade (art. 39, §5º)

Para que o processo se inicie não é necessária a prévia realização do IP.

Art. 39, 5º - O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com

a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover

a ação penal, e, neste caso, oferecerá a Denúncia no prazo de 15 (quinze)

dias.

Por isso existem inquéritos não policiais, que são aqueles presididos por

autoridades estranhas à Polícia Judiciária, como o inquérito parlamentar (presidido pelas

CPI’s) e o inquérito ministerial (o MP pode presidir inquérito, como recomenda para um

crime praticado por policial – polícia investigando polícia não dá).

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Para o STF (posição consolidada), MP pode sim investigar (não presidir Inquérito

Policial, mas sim inquérito ministerial). A CF traz implicitamente o poder de investigar para

o MP. É a aplicação da teoria dos poderes implícitos, pois como a CF dá ao MP o poder de

processar, também dá (implicitamente) o poder de investigar (quem pode o mais pode o

menos). Existe, assim, a convivência harmônica com o IP, podendo até tramitar os dois ao

mesmo tempo.

Consequências do inquérito ministerial:

- o promotor que investiga não é suspeito e nem está impedido de atuar na

fase processual (entendimento da Súmula 234 do STJ);

- O STF se valeu da teoria dos podes implícitos, pois se o MP tem o poder de

processar, implicitamente poderá investigar, nos termos do art. 129, I, CF:

Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

Entretanto, tal posição é criticada, porquanto não existem regras a serem

seguidas para as investigações pelo MP, que só investiga quando quer e o que quer,

normalmente casos midiáticos.

6 – Prazo para a conclusão do IP

1) IP conduzido pela Polícia Estadual:

- Se o suspeito estiver preso: 10 dias. Prazo improrrogável, de modo que sendo

ultrapassado a prisão deverá ser relaxada.

- Se o suspeito estiver solto: 30 dias, prorrogáveis pelo tempo e pelas vezes que

entender necessárias, pois a lei fala apenas que poderá ser prorrogado. Mas para isto é

preciso de requerimento do Delegado e autorização do juiz, nos termos do art. 10 do CPP.

Apesar da ausência de previsão, é necessária a oitiva do MP, porque este já pode estar

satisfeito com o material já colhido.

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Art. 10 - O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o

indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente,

contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a

ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trinta) dias, quando estiver solto,

mediante fiança ou sem ela.

2) IP conduzido pela Polícia Federal:

- Se o suspeito estiver preso: 15 dias, prorrogáveis 1 vez por mais 15 dias, desde

que haja requerimento do Delegado e autorização do juiz, nos termos do art. 66 da Lei

5.010/66).

- Se o suspeito estiver solto: 30 dias, prorrogáveis pelo tempo e pelas vezes que

entender necessárias, dependendo de requerimento do Delegado e autorização do juiz

(igual a Polícia Estadual).

Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias,

quando o indiciado estiver prêso, podendo ser prorrogado por mais quinze

dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e

deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo.

Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do

inquérito, a autoridade policial deverá apresentar o prêso ao Juiz.

3) IP para apurar crimes previstos na Lei de Drogas:

- Se o suspeito estiver preso: 30 dias, que podem ser duplicados, a

requerimento do Delegado, parecer do MP e autorização do juiz.

- Se o suspeito estiver solto: 90 dias, que podem ser duplicados, a requerimento

do Delegado, parecer do MP e autorização do juiz, nos termos do art. 51, da Lei 11.343/06:

Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o

indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.

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Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser

duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido

justificado da autoridade de polícia judiciária.

4) Inquérito para apurar crimes militares:

- Se o suspeito estiver preso: 20 dias, sem prorrogação.

- Se o suspeito estiver solto: 40 dias, prorrogáveis por mais 20 pela Autoridade

Militar Superior (e não pelo juiz), nos termos do art. 20 do CPPM:

Art. 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado

estiver prêso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a

ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver

sôlto, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito.

Prorrogação de prazo

1º Este último prazo poderá ser prorrogado por mais vinte dias pela

autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos exames ou

perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligência, indispensáveis à

elucidação do fato.

O pedido de prorrogação deve ser feito em tempo oportuno, de modo a

ser atendido antes da terminação do prazo.

5) IP para apurar crimes contra a Economia Popular:

Suspeito preso ou solto, o prazo será de 10 dias, não admitindo prorrogação, de

acordo como o art. 10, §1º, da Lei 1.521/51:

Art. 10. § 1º. Os atos policiais (inquérito ou processo iniciado por portaria)

deverão terminar no prazo de 10 (dez) dias.

Como é feita a contagem do prazo do IP:

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Se o indiciado estiver preso, o prazo é contado na forma do art. 10 do CP, ou

seja, inclui-se o dia do começa na contagem (o dia em que efetivamente foi preso será

incluído). Trata-se de norma processual penal material, pois lida com a liberdade.

Se o indiciado estiver solto, o prazo é contado pelo art. 798, §1º, CPP, excluindo

o dia do começo.

Nucci aduz que é possível o sistema de compensação no prazo: para indiciado

preso, a persecução penal terá prazo de 15 dias (10 para o IP e 5 para denúncia). Assim, se

a Polícia encerrar o IP em 12 dias (fora do prazo), mas o MP oferecer denúncia em 2, o

prazo de 15 da persecução penal não fora ultrapassado e não haveria constrangimento

ilegal por excesso de prazo. Posição absurda, por flagrante violação ao prazo estabelecido

em lei e ao devido processo legal, em prejuízo do imputado.

7 – Valor probatório

O IP tem valor probatório relativo (valor probatório frágil), pois precisa de

confirmação pelas provas colhidas durante o processo. Serve apenas como sustentação da

ação penal, não se prestando sozinho para embasar condenação, já que os seus

elementos foram colhidos de forma inquisitiva (sem contraditório).

Assim:

- As provas do IP devem ser renovadas ou confirmadas judicialmente, para que

possam servir de base para a condenação;

- Não é possível a condenação com base em provas exclusivamente colhidas no

IP, nos termos do art. 155 do CPP:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova

produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua

decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na

investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e

antecipadas.

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Provas cautelares (interceptação telefônica, busca e apreensão, etc), não

repetíveis ou não renováveis (ex: perícia, exame de corpo delito, laudo de local de morte

violenta, etc) e produção antecipada de provas poderão servir de base para a condenação.

São necessárias quando existe risco de perecerem e de não poderem mais ser produzidas.

Obs: provas exclusivas do IP podem ser usadas como elementos secundários de

convicção do juiz, reforço conclusão do juiz. O que não pode é fundamentação exclusiva

com as provas do IP.

Na produção antecipada de provas, que é procedimento instaurado perante o

juiz e durante o IP, sob o crivo do contraditório, ocorrerá quando a prova for

imprescindível e que haja indícios de perecimento da mesma, nos termos do art. 225, do

CPP:

Art. 225 - Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por

enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução

criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de

qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

Obs2: Nas provas cautelares o contraditório é postergado para o processo.

8 – Vícios do IP

Segundo STF e STJ, os vícios do IP não tem o condão de contaminar o futuro

processo, já que o IP é peça meramente informativa e dispensável. Consequência: os vícios

do IP são endoprocedimentais, pois eles estão limitados ao próprio inquérito policial, não

se estendendo ao processo.

Posição equivocada, pois se, por exemplo: a ação penal for embasada somente

por IP viciado (justa causa obtida mediante confissão sob tortura, ameaça à testemunhas

etc), os vícios contaminarão sim, pela aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada.

Processo será nulo.

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9 – Peças inaugurais do IP

Em regra, a inauguração se dá através de portaria, que é peça escrita e que

indica o dia, local e hora do fato, nome do autor e da vítima.

Outras peças: auto de prisão em flagrante, requisição do juiz e do MP,

requisição do MJ, requerimento da vítima ou de seu representante legal.

10 – Procedimento

1ª Etapa: PORTARIA, que é a peça escrita que demarca o início da investigação.

1º) Notícia crime (notitia criminis) é a comunicação da ocorrência de um delito

à autoridade que possui atribuição para agir (vulgarmente chamada de queixa).

- Legitimados para receber a notícia crime: Delegado, Ministério Público e juiz.

a) Notícia crime direta (notícia crime de cognição imediata ou espontânea) é

conhecimento do crime através das investigações policiais ou da imprensa.

Obs: Notícia crime apócrifa (notitia criminis inqualificada) é aquilo que

conhecemos como denúncia anônima, e não pode, por si só, dá ensejo à instauração de IP.

Entretanto, segundo o STF, respeitada a devida cautela, funciona como ferramenta válida

para a provocação da atividade policial, devendo apenas a Polícia averiguar se a mesma é

verdadeira.

b) Notícia crime indireta (ou de cognição mediata ou provocada) é o

conhecimento do crime pela autoridade policial por meio de terceiros estranho à polícia. É

prestada por alguém que não integra os quadros da polícia e se identifica. Estes terceiros

podem ser:

- Vítima ou seu representante legal, através de um requerimento (pedido).

Tal requerimento deverá conter a narração dos fatos, o autor do crime ou seus

sinais característicos, rol de testemunhas etc, nos termos do art. 5º, §1º:

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Art. 5º - Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

I - de ofício;

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público,

ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para

representá-lo.

§ 1º - O requerimento a que se refere o nº II conterá sempre que possível:

a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;

b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões

de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os

motivos de impossibilidade de o fazer;

c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e

residência.

Se o delegado se negar a instaurar o inquérito, a vítima ou representante pode

apresentar recurso administrativo dirigido ao superior do delegado (Delegado Geral):

§ 2º - Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito

caberá recurso para o chefe de Polícia.

- Ministério Público ou Juiz, através de requisição (ordem);

- Qualquer do povo, restrita aos crimes de ação penal pública incondicionada.

É chamada de delação e, por óbvio, não dará ensejo à instauração do IP nos crimes de

ação penal pública condicionada e nos de ação penal privada:

§ 3º - Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de

infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por

escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência

das informações, mandará instaurar inquérito.

- Representação da vítima (delatio criminis portulatória): nos crimes de ação

penal pública condicionada à representação, sem esta o IP não poderá ser instaurado

(condição de procedibilidade). Se o IP for instaurado sem representação, a vítima poderá

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impetrar MS por ser seu direito líquido e certo de não ver iniciada investigação seu sua

autorização:

§ 4º - O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de

representação, não poderá sem ela ser iniciado.

- Requisição do MJ: nos crimes de ação penal pública condicionada à requisição,

sem este pedido não serão iniciadas as investigações policiais.

c) Delatio criminis com força coercitiva é extraída da prisão em flagrante, na

qual noticia o crime e já apresenta a pessoa presa. Pode ser notícia crime direta (se a

própria polícia é quem prende) ou indireta (se a prisão em flagrante é realizada por

qualquer particular). (art. 301 do CPP)

2ª Etapa: Evolução, que se dá por meio de diligências determinadas pelo Delegado, dentro

da linha de investigação traçada (discricionariedade). O CPP exemplifica algumas

diligências (art. 6º e 7º) que o Delegado pode determinar, de acordo com a estratégia

investigativa:

Art. 6º - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a

autoridade policial deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e

conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados

pelos peritos criminais;

III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e

suas circunstâncias;

IV - ouvir o ofendido;

V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no

Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser

assinado por 2 (duas) testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;

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VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e

a quaisquer outras perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se

possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual,

familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo

antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que

contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

Art. 7º - Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de

determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução

simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem

pública.

Vejamos cada uma das providências:

I - Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e

conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - Apreender os objetos: importante, pois todos tais objetos acompanharão os

autos do IP (art. 11, CPP). É indispensável que tais objetos sejam periciados, para verificar a

natureza e eficiência, nos termos art. 175 do CPP:

Art. 11 - Os instrumentos do crime, bem como os objetos que

interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.

Art. 175 - Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a

prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e a eficiência.

III – Colher todas as provas;

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IV – Ouvir a vítima: frise-se que não está compromissada a dizer a verdade, pois

não é testemunha. Mas se der causa a instauração de investigação ou processo contra

pessoa que saber ser inocente, responderá por responderá por denunciação caluniosa (art.

339 do CP):

Denunciação Caluniosa

Art. 339 - Dar causa a instauração de investigação policial, de processo

judicial, intauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação

de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de

que o sabe inocente:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.

A vítima pode ser conduzida coercitivamente a ser ouvida na Delegacia, nos

termos do art. 201, §1º, do CPP:

Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado

sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor,

as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações.

§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o

ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.

V – Interrogatório: terá direito ao silêncio (art. 5º, LXIII, CF), sendo facultado ao

suspeito a presença de advogado. Por esse motivo, não pode a autoridade policial impedir

o acompanhamento do interrogado por advogado:

Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de

permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de

advogado;

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Ressalte-se que o termo de interrogatório deverá ser assinado pelo indiciado e

por 2 testemunhas que tenham ouvido a sua leitura e na presença do indiciado, evitando

distorções entre as declarações e o que fora registrado.

Apesar de haver teses em sentido contrário, não se pode obrigar ao indiciado o

seu comparecimento coercitivo para prestar seu depoimento, em razão da garantia

constitucional ao silêncio (torna sem lógica o comparecimento coercitivo) e por ser o

interrogatório meio de defesa, não se justificando assim o seu comparecimento

obrigatório.

VI – Reconhecimento de pessoas ou coisas, e acareações: quando necessário,

nos termos dos arts. 226 a 230 do CPP:

Art. 226 - Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de

pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:

I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a

descrever a pessoa que deva ser reconhecida;

II - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível,

ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-

se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;

III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o

reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a

verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade

providenciará para que esta não veja aquela;

IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito

pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e

por duas testemunhas presenciais.

Art. 227 - No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as cautelas

estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável.

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Art. 228 - Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o

reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em

separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.

Art. 229 - A acareação será admitida entre acusados, entre acusado e

testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa

ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas

declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.

Art. 230 - Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das

de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer os pontos da

divergência, consignando-se no auto o que explicar ou observar. Se

subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar

onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta

e as da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o

texto do referido auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a

testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para a testemunha

presente. Esta diligência só se realizará quando não importe demora

prejudicial ao processo e o juiz a entenda conveniente.

VII – Realização de exame de corpo de delito e outras perícias necessárias:

sempre que a infração deixar vestígios, a prova da materialidade será feita pelo exame de

corpo de delito. A inexistência deste exame não pode ser suprida pela confissão do réu:

Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame

de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do

acusado.

Excepcionalmente, em não sendo possível tal exame (ex: corpo desaparecido,

corpo jogado ao mar - não justificando a inexistência de médico perito), a materialidade

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poderá ser demonstrada pela prova testemunhal (prova indireta), nos termos do art. 167

do CPP:

Art. 167 - Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem

desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

VIII – Identificação do indiciado e a juntada de folha de antecedentes: a

identificação criminal através dos sinais e dados pessoas serve para diferenciá-lo das

demais pessoas. Antes, mesmo que identificado por documento (identificação civil), o era

criminalmente (súmula 568 do STF).

Com advento da CF/88, o identificado civilmente não será identificado

criminalmente, salva nas hipóteses previstas em lei (art. 5º, LVIII). A primeira lei que

regulamentou foi a 10.054/2000. Entretanto, atualmente a regulamentação se dá pela Lei

12.037/09 (revogou expressamente a antiga Lei), com as seguintes regras:

Art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identificação

criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei.

Art. 2º A identificação civil é atestada por qualquer dos seguintes

documentos:

I – carteira de identidade;

II – carteira de trabalho;

III – carteira profissional;

IV – passaporte;

V – carteira de identificação funcional;

VI – outro documento público que permita a identificação do indiciado.

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Parágrafo único. Para as finalidades desta Lei, equiparam-se aos

documentos de identificação civis os documentos de identificação

militares.

Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer

identificação criminal quando:

I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;

II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente

o indiciado;

III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com

informações conflitantes entre si;

IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais,

segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de

ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério

Público ou da defesa;

V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes

qualificações;

VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da

expedição do documento apresentado impossibilite a completa

identificação dos caracteres essenciais.

Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser

juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que

consideradas insuficientes para identificar o indiciado.

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Art. 4º Quando houver necessidade de identificação criminal, a autoridade

encarregada tomará as providências necessárias para evitar o

constrangimento do identificado.

Art. 5º A identificação criminal incluirá o processo datiloscópico e o

fotográfico, que serão juntados aos autos da comunicação da prisão em

flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de investigação.

Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3o, a identificação criminal

poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil

genético. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012)

Art. 5o-A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser

armazenados em banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por

unidade oficial de perícia criminal.

Art. 6º É vedado mencionar a identificação criminal do indiciado em

atestados de antecedentes ou em informações não destinadas ao juízo

criminal, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.

Art. 7º No caso de não oferecimento da denúncia, ou sua rejeição, ou

absolvição, é facultado ao indiciado ou ao réu, após o arquivamento

definitivo do inquérito, ou trânsito em julgado da sentença, requerer a

retirada da identificação fotográfica do inquérito ou processo, desde que

apresente provas de sua identificação civil. (EM CASO DE NEGATIVA, O

REMÉDIO CABÍVEL É O MANDADO DE SEGURANÇA).

RECONSTITUIÇÃO DO CRIME (REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS):

Art. 7º - Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de

determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução

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simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem

pública.

O indiciado não é obrigado a participar e nem a comparecer à reconstituição

do crime, em razão do princípio da não auto-incriminação (STF). Proíbe-se, assim, a

condução coercitiva.

Frise-se que a ausência a reconstituição não levará a decretação da prisão

preventiva.

Não haverá reprodução simulada quando houver ofensa à moralidade e à

ordem pública. Ex: reprodução simulada no crime de estupro.

3ª Etapa: encerramento. O inquérito se encerra com o relatório, que a peça

essencialmente descritiva, que aponta as principais diligências realizadas e justifica as

diligências que não foram feitas por algum motivo relevante. O Delegado não pode emitir

juízo de valor (o indiciado cometeu o crime, há provas que apontar para o indiciado, por

exemplo), pois a opinião delitiva cabe ao titular da ação penal.

Após o inquérito será remetido ao Ministério Público (em alguns Estados, é

remetido ao Judiciário).

Quando os autos forem emitidos ao MP, este que terá 3 opções:

a) MP percebe que existem indícios de autoria e materialidade: oferecerá denúncia.

b) MP entende que não existem indícios de autoria ou não existe materialidade, mas percebe

que há esperança de que tais elementos possam ser colhidos: requisitará novas

diligências.

c) MP entende que não há crime a apurar ou absolutamente não existem elementos

indiciários contra alguém: pedirá o arquivamento ao juiz (Obs: há violação do sistema

acusatório, pois nesta etapa a opinião delitiva cabe ao MP, não devendo haver

interferência do juiz). Neste caso, o juiz poderá:

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1º) Concordar com o arquivamento, homologando-o. O MP não pode arquivar sozinho e

nem pode o juiz de ofício. Assim, só poderá haver arquivamento se o MP requerer e o juiz

homologar (é ato complexo);

2º) Discordar do arquivamento (art. 28, CPP), remetendo os autos para o PGJ (princípio da

devolução, pois devolve a decisão de não arquivar ao chefe do órgão – trata-se de função

anômala, pois o juiz está fiscalizando o princípio da obrigatoriedade – absurda violação ao

princípio da independência funcional do MP), que terá 4 alternativas:

- Requisitar diligências;

- Ele mesmo oferece denúncia;

- Designar outro membro do MP para oferecer a ação penal (este está obrigado a

oferecer denúncia, pois atua por delegação do PGJ – violação absurda do princípio da

independência funcional);

- Ou pode insistir no arquivamento (neste caso, o juiz estará obrigado a arquivar):

Art. 28 - Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a

denúncia, requerer o arquivamento de inquérito policial ou de quaisquer

peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as

razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao

procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do

Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento,

ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Obs: O arquivamento na Justiça Federal tem pequenas diferenças: se o Juiz

Federal não concordar com o arquivamento, remeterá os autos para a CCR (Câmara de

Coordenação e Revisão do MPF), que apenas opinará sobre a matéria, pois a decisão

caberá ao PGR a quem compete a decisão final. O PGR pode delegar tal função a outro

órgão do MPF ou a própria CCR.

Obs2: Arquivamento nos casos de atribuição originária do PGJ e do PGR: Ex:

Senador investigado pelo PGR e este entende que é caso de arquivamento – neste caso, a

decisão de arquivar do PGJ ou do PGR não possui ninguém acima para remeter. Assim,

quando se tratar de atribuição originária do PGJ ou do PGR, prevalece o entendimento de

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que essa decisão administrativa de arquivamento não precisa ser submetida à análise do

Tribunal, já que este não teria a quem devolver (princípio da devolução). Entretanto, nos

casos em que a decisão de arquivamento for capaz de fazer coisa julgada formal e material é

indispensável a análise do Tribunal competente.

11 – Arquivamento do IP: hipóteses

Apesar da omissão da lei, é possível, da mesma forma, o arquivamento do TCO.

Tal arquivamento ocorrerá nos seguintes casos:

a) Ausência de pressupostos processuais ou das condições da ação. Ex: Estupro depende

de representação da vítima (condição específica da ação) – se não houver representação o

IP será arquivado.

b) Falta de justa causa (lastro probatório suficiente ao oferecimento da ação penal). Ex:

falta de elementos quanto à autoria.

c) Atipicidade formal ou material do fato. Ex: fato não se adequa nenhuma infração penal.

Ex2: princípio da insignificância.

d) Causa excludente da ilicitude. Obs: o STF (HC 95211) entendeu que o arquivamento

com base neste fundamento só faz coisa julgada formal, de sorte que novas investigações

podem ser iniciadas, pois foi detectado em alguns casos diligências direcionadas com o fim

de reconhecer excludente de ilicitude (ex: caso do Delegado que matou e as investigações

foram direcionada para reconhecer legítima defesa a favor da autoridade policial).

e) Causa excludente da culpabilidade, ressalvada a hipótese de inimputabilidade do art.

26 do CP, já que o suspeito deve ser denunciado, porém, ao invés de ser condenado,

deverá ser aplicada a absolvição imprópria (impõe medida de segurança).

f) Causa extintiva da punibilidade.

11.1 - Coisa julgada na decisão de arquivamento

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Coisa julgada é a decisão judicial contra a qual não cabe mais recurso, tornando

a decisão imutável.

A coisa julgada pode ser formal (imutabilidade da decisão judicial dentro do

processo em que foi proferida – os efeitos da imutabilidade estão restritos ao processo no

qual a decisão foi proferida, sendo endoprocessual, podendo ser iniciadas novas

investigações) ou material (imutabilidade da decisão judicial dentro e fora do processo em

que foi proferida – os efeitos da imutabilidade não estão restritos ao processo no qual a

decisão foi proferida, sendo extraprocessual, não podendo mais ser iniciadas as

investigações).

A coisa julgada material tem como pressuposto a coisa julgada formal.

Das hipóteses acima, faz coisa julgada formal: ausência de pressupostos

processuais ou condições da ação; falta de justa causa; causa excludente de ilicitude

(podem ser realizadas novas investigações, para não ocorrer o absurdo de investigações

direcionadas - corrente do STF).

Das hipóteses acima, faz coisa julgada material: atipicidade formal ou material;

causa excludente de culpabilidade; extinção da punibilidade (salvo certidão de óbito falsa).

11.2 - Desarquivamento do IP e oferecimento da denúncia

Nos casos em que a decisão de arquivamento só faz coisa julgada formal, é

possível que ocorra o desarquivamento do inquérito e o início de novas investigações,

mediante o surgimento de provas novas.

Desarquivamento é reabertura das investigações.

Para o desarquivamento basta a notícia de provas novas. Ex: não saque quem

atirou em B e arquiva o IP – surge nova testemunha e diz que viu quem matou –

desarquivamento e reabre as investigações.

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Art. 18 - Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade

judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá

proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

Obviamente não se confunde o desarquivamento com o oferecimento da

denúncia, pois esta só será possível através do surgimento de provas novas, ou seja,

provas capazes de alterar o contexto probatório.

STF - Súmula nº 524

Arquivamento do Inquérito Policial - Ação Penal Reiniciada - Novas

Provas - Admissibilidade

Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento

do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem

novas provas.

Essas provas novas para oferecimento da ação penal podem ser divididas em:

- Prova formalmente nova: é aquela que já era conhecida, mas ganhou nova

versão após o arquivamento. Ex: testemunha que foi ameaçada no 1º depoimento e no 2º

depoimento falou a verdade.

- Prova substancialmente nova: é aquela que estava oculta na época da decisão

do arquivamento. Ex: arma ou corpo encontrado depois do arquivamento.

Contra a decisão de arquivamento não cabe recurso, em regra. Inclusive, não

cabe ação penal privada subsidiária da pública, pois esta só cabe em caso de inércia do MP.

Ocorre que, existem casos em que do arquivamento caberá recurso:

- Crimes contra a economia popular e contra a saúde pública (Lei 1.521/51, art.

7º): cabível recurso de ofício (reexame necessário):

Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados

em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde

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pública, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo

inquérito policial.

- Contravenção penal do jogo do bicho e corrida de cavalos fora do

hipódromo: cabe RESE (Lei 1.508/51, art. 6º, parágrafo único);

- Arquivamento do IP de ofício: é erro in procedendo do juiz e ato tumultuário

caberá correição parcial;

- Arquivamento nas hipóteses de atribuição originária do PGJ: cabe pedido de

revisão ao Colégio de Procuradores (LOMP Lei 8.625/93, art. 12).

11.3 - Classificação do arquivamento:

a) Arquivamento implícito: ocorre quando o MP deixa de incluir na denúncia

algum fato delituoso (objetivo) ou algum investigado (subjetivo), sem se manifestar

expressamente quanto ao arquivamento. Não é admitido pela doutrina e jurisprudência,

cabe ao juiz aplicar o art. 28 do CPP, remetendo os autos ao PGJ.

Ex: IP traz elementos contra “A” e “B” – O MP denuncia apenas “A”, e não “B” –

teria ocorrido o arquivamento implícito de “B” – os Tribunais não admitem.

b) Arquivamento indireto: ocorre quando o MP entende que não é competente

para a matéria e o juiz entende que há competência para a matéria, de forma que este

recebe tal manifestação como se fosse pedido de arquivamento. Assim, se este entender

que é competente, deve mandar os autos para o PGJ. É admitido pela doutrina e

jurisprudência.

Ex: MP aduz que o crime não é de competência da Justiça Estadual e o juiz

entende que é sim da Justiça Estadual – o MP estaria indiretamente arquivando o IP,

devendo o juiz mandar para o PGJ (art. 28 do CPP).

c) Arquivamento por juízo absolutamente incompetente: para os Tribunais, tal

decisão de arquivamento é capaz de fazer coisa julgada formal e material, a depender do

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fundamento do arquivamento (ex: MP Estadual pede arquivamento em crime militar com

fundamento em atipicidade da conduta, faria coisa julgada formal e material).

Ex: Crime militar (competência da Justiça Militar) foi arquivado por juiz estadual.

12 – Trancamento do IP

É medida excepcional, cabível nos seguintes casos:

- Manifesta atipicidade formal ou material (princípio da insignificância) da

conduta;

- Causa extintiva da punibilidade;

- Ausência de manifestação da vítima requerendo a instauração do IP nos crimes

de ação penal privada ou pública condicionada à representação.

O instrumento a ser utilizado é o Habeas Corpus quando houver risco á

liberdade de locomoção, ou Mandado de Segurança quando não houver risco a liberdade

de locomoção.

13 – Investigação criminal pelo MP

Existem algumas teses contra a investigação ministerial:

- Violação ao sistema acusatório, pois cria desequilíbrio entre acusação e defesa

(paridade de armas);

- MP pode requisitar a instauração do IP e diligências, mas não pode presidir IP;

- A atividade investigatória é exclusiva da Polícia Judiciária (art. 144, §1º, IV, CF);

- Não há previsão legal de instrumento para as investigações do MP, violado

assim o princípio da legalidade;

- Ausência de regras para a condução da investigação ministerial.

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Teses a favor da investigação ministerial (prevalece):

- Não há violação ao sistema acusatório, pois os elementos colhidos pelo MP

serão submetidos ao contraditório judicial. Além disso, a defesa também pode realizar

investigações (investigação criminal defensiva);

- Teoria dos poderes implícitos: origem nos EUA no caso (1819): quando a lei

concede uma atividade fim a determinado órgão ou instituição, a lei também concede a

ele os meios para atingir a tal finalidade. Serve para evitar corporativismo. Adotada pelo

STF;

- Polícia judiciária não se confunde com polícia investigativa: esta ocorre quando

investiga infrações penais; já a polícia judiciária ocorre quando a polícia cumpre

determinações do Poder Judiciário;

- Procedimento investigatório criminal (PIC): é o instrumento de natureza

administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo MP, cuja finalidade é apurar a

ocorrência de infrações penais de natureza pública, fornecendo elementos para o

oferecimento ou não de denúncia;

- Súmula 234 do STJ: “A participação de membro do Ministério Público na fase

investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento

da denúncia.” Implicitamente, admite investigação pelo MP;

- Resolução 13 do CNMP: disciplina investigação criminal pelo MP.

14 – Controle externo da atividade policial pelo MP

Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:

VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei

complementar mencionada no artigo anterior;

É a fiscalização exercida pelo MP em relação à atividade policial, buscando

analisar o andamento das investigações, a preservação dos direitos e garantias

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constitucionais dos investigados ou presos que estejam sob custódia da autoridade

policial, e o se as determinações judiciais estão sendo cumpridas.

Esse controle externo decorre do sistema de freios e contrapesos ligado ao

regime democrático, não acarretando qualquer subordinação dos organismos policiais ao

MP.

Tal controle é exercido das seguintes formas:

a) Difuso: é aquele realizado por membros do MP com atribuições criminais:

- Controle das ocorrências policiais. Ex: A é pego com 2 cigarros de maconha e é

enquadrado como tráfico; desaparecimento de IP´s, etc;

- Prazos de inquéritos policiais. Ex: IP fica 1 ano sem que o Delegado peça

prorrogação.

- Verificação da qualidade dos inquéritos.

- Verificação de bens e valores apreendidos.

- Propositura de medidas cautelares pela autoridade policial.

b) Concentrado: é aquele exercido pelo órgão do MP com atribuições

específicas para o controle externo da atividade policial:

- Propositura de ações de improbidade administrativa.

- Propositura de ação civil pública na defesa de interesses difusos, como

superlotação de delegacias.

- Requisições e recomendações.

- Termo de ajustamento de conduta (TAC).

- Visitas as unidades prisionais.

- Acompanhar as comunicações das prisões em flagrante.

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Resolução nº 20 do CNMP

15 – Investigação criminal defensiva

É o conjunto de atividades investigatórias desenvolvidas pela defesa em

qualquer fase da persecução penal, inclusive antes do oferecimento da peça acusatória,

objetivando a colheita de elementos informativos que possam ser utilizados para

beneficiar o investigado em contra ponto a investigação policial.

É perfeitamente possível, porém o particular não é dotado de poderes

coercitivos, nem tão pouco lhe é permitido violar direitos e garantias fundamentais.

Os depoimentos realizados em cartório são exemplos de investigação feita pela

defesa, requerendo a juntada aos autos.