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HOSPITAL E MATERNIDADE MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA GERACE, Daniela Neves BARBOZA, Anderson de Sousa INOVAÇÃO NA SOLICITAÇÃO DE HEMOCULTURAS VIA SISTEMA COM CONTROLE DE SOLICITAÇÕES REPETIDAS: IMPACTOS NO HOSPITAL E MATERNIDADE MUNICIPAL Julho 2016

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Page 1: INOVAÇÃO NA SOLICITAÇÃO DE HEMOCULTURAS VIA … · 1. Atua profissionalmente no Hospital e Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro no cargo de gerente operacional do

HOSPITAL E MATERNIDADE MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA

GERACE, Daniela Neves

BARBOZA, Anderson de Sousa

INOVAÇÃO NA SOLICITAÇÃO DE HEMOCULTURAS VIA SISTEMA

COM CONTROLE DE SOLICITAÇÕES REPETIDAS:

IMPACTOS NO HOSPITAL E MATERNIDADE MUNICIPAL

Julho

2016

Page 2: INOVAÇÃO NA SOLICITAÇÃO DE HEMOCULTURAS VIA … · 1. Atua profissionalmente no Hospital e Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro no cargo de gerente operacional do

1. Atua profissionalmente no Hospital e Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro no cargo de

gerente operacional do Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutica. E-mail:

[email protected]

2. Atua profissionalmente no Hospital e Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro no cargo de

coordenador de Tecnologia da Informação e desenvolvimento de software. Email:

[email protected]

INOVAÇÃO NA SOLICITAÇÃO DE HEMOCULTURAS VIA SISTEMA

COM CONTROLE DE SOLICITAÇÕES REPETIDAS:

IMPACTOS NO HOSPITAL E MATERNIDADE MUNICIPAL1

Daniela Neves Gerace 1

Anderson de Sousa Barboza 2

RESUMO

O presente estudo objetiva diagnosticar o impacto financeiro, clínico e operacional

recorrente da implantação de novo sistema para solicitação de hemoculturas criado em

Setembro de 2013 por Equipe Multidisciplinar do Hospital e Maternidade Municipal Doutor

Odelmo Leão Carneiro, localizado no município de Uberlândia/Minas Gerais. Tal sistema foi

criado devido à preocupação com o número crescente de solicitações para Hemoculturas com

coletas seriadas para um mesmo paciente, o que poderia ocasionar um risco de

superdiagnóstico, uso dispensável de antibióticos com consequente seleção de

microrganismos resistentes, além de elevar os custos desnecessariamente. Com este novo

sistema de tecnologia da informação, foi possível observar diminuição do número de

solicitações, gerando impacto financeiro, operacional e clínico positivos. Assim, neste

panorama, pretendemos identificar as causas para solicitações de hemoculturas repetidas; os

impactos na rotina assistencial com tal medida; e a contabilização financeira reduzida com a

implantação do novo sistema.

Palavras-chave: hemocultura; exames laboratoriais; gerência de custo nos serviços de saúde

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ABSTRACT

This study aims to diagnose the financial, clinical and operational impact applicant's

new deployment system for blood cultures request created in September 2013 by

Multidisciplinary Team of the Hospital e Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão

Carneiro, located in Uberlândia / Minas Gerais. Such a system was created because of

concern over the increasing number of requests for blood cultures with collections serially to

the same patient, which could cause a risk of overdiagnosis, unnecessary use of antibiotics

with subsequent selection of resistant microorganisms, in addition to increasing costs

unnecessarily. With this new information technology system, we observed decrease in the

number of requests, generating financial impact, positive operational and clinical. So, in this

scenario, we intend to identify the causes for repeated blood cultures requests; the impacts on

care routine with such a measure; and financial accounting reduced with the new system

Keywords: blood culture; laboratory tests; cost management in the health services.

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1. INTRODUÇÃO

Vivemos tempos de austeridade, os orçamentos dos serviços na área da saúde em

todo o mundo vêm sofrendo crescente pressão para redução de custos e aprimoramento da

eficiência, mantendo sempre a qualidade. O laboratório clínico, por exemplo, não escapou

destas condições. Faz-se necessário a eliminação ou, ao menos, a redução dos desperdícios.

Dados do Departamento de Patologia Humana do Reino Unido (UK) revelaram o custo total

de 2,5 bilhões de Euros anuais gastos com análises clínicas. Ainda quanto aos dados, estima-

se que 25% dos exames solicitados em patologia clínica nestes países são desnecessários, ou

seja são solicitados inadequadamente por múltiplos motivos o que representa enorme

desperdício (FRYER & SMLLIE, 2012).

Ainda neste panorama, Fryer & Smllie (2012), relataram as razões pelas quais 25%

dos exames laboratoriais são solicitados inadequadamente. São múltiplas as causas, as quais

incluem os profissionais solicitantes, o laboratório clínico, bem como pacientes e fatores

sistêmicos. Os profissionais de saúde podem solicitar inapropriadamente testes laboratoriais

por uma ampla gama de razões da medicina não baseados em evidências, incluindo o medo de

litígios (a prevenção de riscos), a falta de experiência, a incerteza, falta de consciência quanto

ao custo das análises, pressão do paciente ou dos colegas e/ou coordenador, ou ainda por falta

de consciência na repetição do teste anteriormente ao intervalo recomendado. As razões

sistêmicas incluem a incapacidade de acessar os resultados anteriores, as limitações técnicas

do laboratório (não confiabilidade dos resultados) e ou tecnologia hospitalar.

Segundo Taveira (1999), no Brasil, o ‘modelo produtivista’ tem norteado as ações no

setor da saúde, desafiando-nos a tratar estes serviços como verdadeiras fábricas de consultas,

exames e altas hospitalares. Isto, aliado aos novos avanços tecnológicos na área da medicina

diagnostica, tem elevado os custos assistenciais, conforme pontuou Nakamura (2000). Nesta

perspectiva, no âmbito da gestão hospitalar, o ideal é a racionalização de uso dos recursos

financeiros para maior eficiência e qualidade na assistência à saúde.

O objetivo deste estudo foi mostrar resultados alcançados com a implantação de

sistema para solicitação dos exames de Hemoculturas, de pacientes internados no Hospital e

Maternidade Municipal Doutor Odelmo Leão Carneiro (HMMDOLC). O sucesso conquistado

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deu-se por vários fatores, tais como: gestão dos dados, criação de protocolo clínico, interação

multissetorial entre diversas áreas do Hospital (Tecnologia da Informação - TI, Serviço de

Controle de Infecção Hospitalar - SCIH, Serviço de Apoio Diagnostico e Terapêutica –

SADT), e, fundamentalmente, o apoio efetivo da Diretoria do HMMDOLC.

O HMMDOLC está localizado em Uberlândia/Minas Gerais, é um hospital geral de

média complexidade, com 258 leitos, sendo 40 (quarenta) de Unidade de Terapia Intensiva

Adulto e 10 (dez) de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, com produção média mensal de

990 (novecentos e noventa) saídas. Foi inaugurado no dia 15 de novembro de 2010. Iniciou

suas atividades assistenciais no dia três de janeiro de 2011, tendo sua implantação de forma

gradativa. É administrado dentro do modelo de contrato de gestão, desde o principio das

atividades em 15 de novembro de 2010, segundo dados da Prefeitura de Uberlândia. A

Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), uma das maiores

entidades filantrópicas do Brasil, fundada em 1933 é a administradora do HMMDOLC desde

sua inauguração.

Desde o principio de funcionamento, a diretoria optou por criar sistema próprio para

operacionalizar o hospital. A criação e implantação deste sistema batizado de MATERNO foi

possível por meio do conhecimento técnico da TI local e apoio efetivo da diretoria técnica e

de enfermagem. No início, tal sistema funcionava apenas para prescrição médica.

Posteriormente foi criado módulo para gestão de leitos e acompanhamento dos cuidados da

enfermagem, intitulada de “Kanban”. Com o sucesso operacional, gradativamente foram

desenvolvidos novos módulos, de acordo com as necessidades gerenciais.

A solicitação dos exames laboratoriais estava disponível no sistema MATERNO

desde o principio, na prescrição médica, em formato diferente do utilizado atualmente. No

início das atividades no HMMDOLC, o médico solicitante acessava a prescrição no ícone

laboratório e era gerado formulário para solicitação de exames com informações do paciente

(Nome, Registro Hospitalar, Data de Nascimento, Unidade de Internação e Leito). Este

pedido era impresso com os dados supracitados, no entanto o médico prescrevia manualmente

as solicitações dos exames laboratoriais para o paciente assistido naquele momento.

Com abertura gradativa dos atendimentos e consequente maior demanda de público,

foi-se observando aumento das solicitações para todos os exames laboratoriais, em especial

para as hemoculturas. Contudo, tal aumento não condizia, de modo geral, com o número de

leitos e taxa de saídas do hospital. Eram solicitadas em média 20 (vinte) hemoculturas por dia

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de modo repetido para os mesmos pacientes. Com isso, incorria-se ao risco de

superdiagnostico, uso dispensável de antibióticos e consequente seleção de microrganismos

multirresistentes, além de elevar os custos desnecessariamente.

O serviço de análises clínicas tem por objetivo fornecer informações aos médicos por

meio de resultados dos exames laboratoriais, proporcionando-lhes subsídios para atuarem na

prevenção, diagnóstico, tratamento, prognóstico e acompanhamento de enfermidades em

geral, dos pacientes assistidos (SBPC, 2016). De acordo com Mugnol & Ferraz – 2006 “da

descoberta da célula ao desenvolvimento das técnicas do ácido desoxirribonucleico (DNA)

recombinante, muito aconteceu para tornar o laboratório clínico um centro de apoio

diagnostico e de tratamento de grande importância na prática da medicina”. Entre as análises

realizadas pelo laboratório clínico, encontra-se a Hemocultura. Trata-se de um exame para a

cultura do sangue, cuja finalidade é a detecção de microrganismos viáveis na corrente

sanguínea, provenientes de sítios conhecidos (pulmão, osso, dente etc.) ou de sítio

desconhecido, processo infeccioso nomeado de bacteriemia (ANVISA, 2004). Segundo Elmor

de Araujo (2012), “bacteriemia é um fenômeno de grande relevância diagnostica, pois

frequentemente está associado a um aumento considerável nas taxas de morbidade e

mortalidade, além de representar uma das mais significativas complicações no processo

infeccioso.”

Neste panorama, a partir dos dados referentes aos tipos de exames laboratoriais,

quantidade solicitada e ao custo mensal, gerenciados pelo SADT do HMMDOLC desde

Janeiro de 2011, foi possível diagnosticar aumento do número de solicitações para

Hemoculturas. Vale mencionar que a necessidade da solicitação de exames é multifatorial.

Certamente a complexidade clínica de cada paciente está relacionada a este fato. “Entretanto,

a facilitação para solicitação e realização dos exames e os fatores culturais do médico

possivelmente estão também relacionados ao número de exames solicitados” (MACHADO et

al., 2006).

A partir da interação entre gestor do SADT, coordenação médica do SCIH, gestor da

TI e apoio da diretoria, frente à problemática do alto número de solicitações para

hemoculturas, fez com que em setembro de 2013 fosse criada solicitação 100% informatizada

para todas as culturas, via Sistema MATERNO. Desde então este novo formato permitiu ao

médico identificar hemoculturas solicitadas em andamento com menos de 72 (setenta e duas)

horas, não liberando nova solicitação para hemoculturas repetidas antes do vencimento deste

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prazo. Todo o processo foi validado pela diretoria técnica, diretoria clínica do HMMDOLC,

de acordo com protocolo clínico para Hemoculturas elaborado pelo SCIH.

O protocolo clínico possibilitou orientação da equipe médica quanto às indicações

para solicitação de hemoculturas. Este novo modelo permitiu ainda ao médico a solicitação

sem restrições de um par de hemoculturas (Hemocultura 1ª amostra e Hemocultura 2ª

amostra) por paciente, liberando novas solicitações para o mesmo paciente apenas após 72h

(setenta e duas horas) da solicitação anterior. Quando há suspeita clínica de endocardite,

existe a possibilidade de solicitação de uma 3° amostra de Hemocultura sem restrições. Para

solicitações extras, anteriormente ao prazo pré-estabelecido em protocolo clínico, a liberação

ocorre pontualmente para o paciente em questão, via SCIH.

2. A ANÁLISE DOS DADOS COM METODOLOGIA CRÍTICA

Foi realizado estudo de caso no HMMDOLC, por meio dos Dados gerenciais do

SADT acerca do custo e quantitativo dos exames laboratoriais solicitados mensalmente. Os

dados analisados foram de Janeiro de 2011 até Abril de 2016. A partir de outubro de 2012,

detectado comportamento com tendência do número crescente para as solicitações de

hemoculturas. Nos meses sequenciais, oscilações, com pico de 684 (seiscentos e oitenta e

quatro) hemoculturas solicitadas em abril de 2013, com coletas seriadas de modo repetido

para os mesmos pacientes, incorrendo risco de superdiagnóstico, uso dispensável de

antibióticos com consequente seleção de microrganismos multirresistentes, além de elevar os

custos desnecessariamente. A partir destas informações, em alinhamento o SADT, SCIH e TI

criou-se o sistema com inovação da solicitação das culturas, com controle das amostras de

Hemoculturas em andamento e bloqueio para novas solicitações antes das 72 (setenta e duas)

horas contadas a partir da ultima solicitação. As exceções foram delimitadas em protocolo

clínico de indicação para hemoculturas, elaborado pelo SCIH.

Para a sistematização dos dados, previamente à análise, foi criado para esta pesquisa

um planilhamento no Office Excel, que serviu como indicador de acompanhamento mensal do

quantitativo e do custo para todas as solicitações de todos os exames laboratoriais. Os dados

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foram tabulados utilizando ferramenta da qualidade Análise de Pareto – Curva ABC. Com

esta ferramenta foi possível estratificar tipos de exames solicitados mensalmente (quantidade

por exame, custo unitário, custo por demanda) e organizá-los em três grupos, de acordo com

impacto financeiro mensal. Dados demonstrados na Tabela 1 e Gráficos 1 e 2.

Tabela 1 – Resultado da Análise de Pareto

Resultado da estratificação dos Grupos “A”, “B”, “C” / Análise de Pareto - Curva ABC

Grupos Tipos de Exames

por Grupo

Quantidade

Solicitações*

Impacto financeiro

Grupo A 15 19.337 exames/mês 70%

Grupo B 63 6.996 exames/mês 25%

Grupo C 306 908 exames/mês 5%

*Média calculada de agosto/2015 a fevereiro/2016 – FONTE: Dados gerenciais do SADT-HMMDOLC

Na estratificação dos grupos (“A”; “B”; “C”), demonstrados na tabela acima,

conclui-se nesta perspectiva que exames do grupo “A” são os mais frequentes, ou seja, são as

análises laboratoriais mais solicitadas e apesar de ser um grupo pequeno de apenas 15

(quinze) tipos de exames ao custo unitário variável de R$ 2,69 (potássio) a R$ 46,69

(troponina), possuem uma fatia maior do quantitativo financeiro final, ou seja, 70% do custo

total mensal com o serviço de análises clínicas. O grupo denominado “B” é mais amplo, com

perfil de 63 (sessenta e três) tipos de exames, porém são menos frequentes que o grupo “A” e

por este motivo apresentam um menor valor (25%) do quantitativo financeiro final em

comparação com o grupo anterior. O grupo “C” apresenta a maior diversidade de exames, 306

(trezentos e seis) tipos de exames, porem bem menos frequentes que os demais grupos

apresentados, portando com menor impacto financeiro no quantitativo mensal (5%) com o

serviço de análises clínicas.

Conforme demonstra análise abaixo, cuja tabela provém dos dados gerenciados pelo

SADT, percebemos que a hemocultura está no grupo dos quinze exames de maior custo

mensal com o serviço de análises clínicas, denominado “Grupo A”. Ocupa a 4ª posição

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quando comparado custo total mensal por demanda com demais exames do mesmo grupo. Os

gráficos servem como comparativos de diferentes modalidades de exames para esta

investigação.

Gráfico 1 – Exames do Grupo A (70% de impacto no custo total com o serviço de Análises

Clínicas) / Média solicitada mensalmente

*Média calculada de agosto/2015 a fevereiro/2016. FONTE: Dados gerenciais do SADT-HMMDOLC

Legenda: HEMO: Hemograma; K: Potássio; Na: Sódio; CRE: Creatinina; URE: Uréia; PCR: Proteína C Reativa; Mg: Magnésio;

GASO: Gasometria arterial e venosa; TAP: Tempo Protrombina; TTPA: Tempo Tromboplastina Parcial Ativada; HEMOC: Hemocultura;

LAC: Lactato; HIV: imunoensaio de 4ª geração; CULT VIG: Cultura de Vigilância; TROP: Troponina.

Gráfico 2 – Exames do Grupo A (70% de impacto no custo total com o serviço de Análises

Clínicas) / Média do Custo Mensal

*Média calculada de agosto/2015 a fevereiro/2016. FONTE: Dados gerenciais do SADT-HMMDOLC Legenda: HEMO: Hemograma; K: Potássio; Na: Sódio; CRE: Creatinina; URE: Uréia; PCR: Proteína C Reativa; Mg: Magnésio;

GASO: Gasometria arterial e venosa; TAP: Tempo Protrombina; TTPA: Tempo Tromboplastina Parcial Ativada; HEMOC: Hemocultura;

LAC: Lactato; HIV: imunoensaio de 4ª geração; CULT VIG: Cultura de Vigilância; TROP: Troponina.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

Qu

anti

dad

e d

e E

xam

es

Exames Grupo A - Demanda Mensal

R$ 0,00

R$ 5.000,00

R$ 10.000,00

R$ 15.000,00

R$ 20.000,00

R$ 25.000,00

R$ 30.000,00

R$ 35.000,00

Cu

sto

po

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em

and

a d

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xam

es

Exames Grupo A - Média do Custo Mensal

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O Sistema MATERNO foi criado pela TI do HMMDOLC com apoio da diretoria e

conhecimento operacional dos gestores de cada área na criação dos módulos. A prescrição

médica foi o primeiro módulo desenvolvido. Posteriormente o sistema foi implementado

absorvendo todas as informações necessárias pertinentes ao período de hospitalização do

paciente. Em setembro de 2013 o desenvolvimento do módulo para solicitação 100%

informatizada dos exames de cultura. (Figura 1).

Figura 1- Módulo para solicitação de Exames de Cultura. Versão criada em setembro de 2013

FONTE: Software Sistema MATERNO HMMDOLC. Desenvolvimento TI – HMMDOLC

Em outubro de 2015, houve atualização do sistema para solicitação dos exames,

incluindo a partir desta data os demais exames laboratoriais (bioquimica, hematologia,

hormonios, sorologia, imunologia, parasitologia e urinalise). Nesta atualização mantivemos a

proposta adotada para as hemoculturas, com bloqueio para solicitações repetidas antes de 72h

(setenta e duas horas) desde a ultima solicitação, conforme Figura 2.

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Figura 2- Módulo para solicitação de Exames Laboratoriais. Desenvolvimento em outubro de

2015/ Versão atual

FONTE: Software Sistema MATERNO HMMDOLC – Desenvolvimento TI- HMMDOLC

3. RESULTADOS COM O SISTEMA: DA REDUÇÃO DE PEDIDOS

E CUSTOS AOS IMPACTOS CLÍNICOS

O pedido médico impresso gerado para esta nova solicitação de hemoculturas garante

a identificação segura do paciente com os três descritores (nome, registro hospitalar e data de

nascimento) eleitos no protocolo de identificação do HMMDOLC. (Figura 3)

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Figura 3 – Pedido médico para solicitação Exames Laboratoriais, gerado a partir do sistema

MATERNO.

FONTE: Software Sistema MATERNO HMMDOLC – Desenvolvimento TI- HMMDOLC

O sistema para solicitação das culturas foi implantado dia 02/09/2013. A partir do

mês de outubro de 2013 observou-se queda significativa das solicitações de hemoculturas dos

pacientes internados no HMMDOLC, quando comparada média das solicitações no ano de

2012 e anos posteriores à implantação do sistema, temos dados apresentados no Gráfico 3.

Gráfico 3 – Média Anual de Hemoculturas Solicitadas – 2011 a 2016

FONTE: Dados gerenciais do SADT– HMMDOLC

402

538596

475 482426

326

2011 2012 2013 pré-sistema

2013 pós-sistema

2014 2015 2016

Média anual de hemoculturas solicitadas

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Analisando o Gráfico 3, notamos a média de hemoculturas solicitadas em 2013

(de janeiro a agosto) anteriormente a implantação do sistema, eram de 596 (quinhentas e

noventa e seis) amostras por mês. Com a implantação do módulo para solicitação de culturas

via sistema MATERNO, o número de amostras solicitadas foi reduzido para 475

(quatrocentos e setenta e cinco), nos meses pós-sistema (de setembro a dezembro de 2013). A

diferença foi de 121 (cento e vinte e uma) amostras solicitadas a menos por mês (número de

hemoculturas solicitadas pós-sistema) no ano de implantação do sistema. O estratificado da

demanda mensal pré e pós-sistemas podemos observar no Gráfico 4.

Gráfico 4 – Total mensal de Hemoculturas Solicitadas – Período de Abril/2012 a Abril/2016.

Implantação do Sistema em Setembro de 2013

FONTE: Dados gerenciais do SADT – HMMDOLC

Na análise dos dados do Gráfico 4, concluímos que houve redução importante do

número de solicitação a partir do mês de outubro de 2013 quando foi implantado o sistema.

Observamos solicitações acima da média no período de julho a setembro de 2014, porém

compatível com a produtividade mensal (número de saídas) do HMMDOLC. Posteriormente

mantivemos a média de 426 (quatrocentos e vinte e seis) amostras de hemoculturas solicitadas

no ano de 2015 e 326 (trezentos e vinte e seis) no ano de 2016 até o mês de abril. Desde a

inovação na solicitação das hemoculturas no HMMDOLC mantivemos o número de

hemoculturas solicitadas sempre abaixo da média pré-sistema, ou seja, menor que 596

(quinhentos e noventa e seis) amostras solicitadas por mês.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

abr/

12

jun

/12

ago

/12

ou

t/1

2

dez

/12

fev/

13

abr/

13

jun

/13

ago

/13

ou

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3

dez

/13

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14

abr/

14

jun

/14

ago

/14

ou

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4

dez

/14

fev/

15

abr/

15

jun

/15

ago

/15

ou

t/1

5

dez

/15

fev/

16

abr/

16

Hemoculturas Solicitadas

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Quando comparada demanda e custo com hemoculturas solicitadas desde o ano 2012

até 2016, temos dados apresentados no Gráfico 5 e nas Tabelas 2 e 3. Neste panorama,

notamos que houve redução em média de 24% do número de solicitações, impactando no

custo total para estes exames. No panorama atual, percebemos economia mensal de

aproximadamente R$ 3.515,13 (custo unitário para hemoculturas R$ 24,93) referente à média

de 142 (cento e quarenta e duas) hemoculturas, as quais eram solicitadas desnecessariamente

(pré-sistema) e deixaram de ser solicitadas a partir da implantação do sistema. Contabilizando

a economia gerada desde setembro de 2013, até abril de 2016, notamos economia acumulada

de aproximadamente R$ 83.139,24.

Gráfico 5 – Custo total mensal com Hemoculturas – De Outubro/2012 à Abril/2016.

Implantação do Sistema em Setembro de 2013.

Custo unitário para Hemoculturas: De Outubro/2012 a Dezembro/2012 -> R$ 14,67 / De Janeiro/2013 a Dezembro/2013 -> R$ 16,64

De Janeiro/2014 a Dezembro/2014 -> R$ 17,47 / De Janeiro/2015 a Dezembro/2015 -> R$ 17,81. A partir de Janeiro/2016 R$ 24,93

FONTE: Dados gerenciais do SADT - HMMDOLC

R$ 0,00

R$ 2.000,00

R$ 4.000,00

R$ 6.000,00

R$ 8.000,00

R$ 10.000,00

R$ 12.000,00

R$ 14.000,00

ou

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16

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16Q

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Hemoculturas Solicitadas

Quantidade Hemoculturas solicitadas Custo Total Hemocultura

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Tabela 2 – Hemoculturas solicitadas pré-sistema – Desde outubro/2012 a Agosto/2013

Hemoculturas Solicitadas Pré-Sistema

Mês Quantidade Custo Unitário Custo Total

out/12 565 R$ 14,67 R$ 8.288,55

nov/12 516 R$ 14,67 R$ 7.569,72

dez/12 548 R$ 14,67 R$ 8.039,16

jan/13 601 R$ 16,64 R$ 10.000,64

fev/13 493 R$ 16,64 R$ 8.203,52

mar/13 598 R$ 16,64 R$ 9.950,72

abr/13 684 R$ 16,64 R$ 11.381,76

mai/13 622 R$ 16,64 R$ 10.350,08

jun/13 604 R$ 16,64 R$ 10.050,56

jul/13 598 R$ 16,64 R$ 9.950,72

ago/13 571 R$ 16,64 R$ 9.501,44

MÉDIA PRÉ-SISTEMA 582 R$ 16,10 R$ 9.389,72 FONTE: Dados gerenciais do SADT - HMMDOLC

A continuidade no acompanhamento dos dados apontou permanecia da queda de

amostras solicitadas. Quando comparado custo unitário das hemoculturas no período

pré-sistema (média R$ 16,10) e período atual (R$ 24,96) temos diferença 54,8% superior

atualmente. Nesta perspectiva quando comparamos a demanda de Hemoculturas solicitadas

pré-sistema (média 582 amostras) ao custo total mensal de R$ 9.389,72 (média) e média do

custo pós-sistema (R$ 8.001,79), notamos economia de 15%. Após inovação na solicitação

das hemoculturas, detectamos redução do orçamento destinado para estes exames

laboratoriais, em 15,8% nos quatro primeiros meses pós-sistema (de setembro a dezembro de

2013); 10,4% no ano de 2014; 19,3% no ano de 2015 e 13,4% no ano de 2016, mesmo com os

reajustes anuais dos valores para exames laboratoriais. Conclui-se que a inovação na

solicitação para hemoculturas, com alerta para os médicos quanto às hemoculturas solicitadas

em andamento com menos de 72 (setenta e duas) horas, permitiu importante economia,

coibindo solicitações desnecessárias, proporcionando a redução de desperdícios.

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Tabela 3 – Hemoculturas Solicitadas Pós-Sistema – Desde Setembro/2013 a Abril/2016

Hemoculturas Solicitadas Pós-Sistema

Mês Quantidade Custo Unitário Custo Total Economia

set/13 507 R$ 16,64 R$ 8.436,48 R$ 2.346,24

out/13 446 R$ 16,64 R$ 7.421,44 R$ 2.346,24

nov/13 474 R$ 16,64 R$ 7.887,36 R$ 2.346,24

dez/13 473 R$ 16,64 R$ 7.870,72 R$ 2.346,24

jan/14 485 R$ 17,47 R$ 8.472,95 R$ 2.463,27

fev/14 396 R$ 17,47 R$ 6.918,12 R$ 2.463,27

mar/14 493 R$ 17,47 R$ 8.612,71 R$ 2.463,27

abr/14 435 R$ 17,47 R$ 7.599,45 R$ 2.463,27

mai/14 450 R$ 17,47 R$ 7.861,50 R$ 2.463,27

jun/14 470 R$ 17,47 R$ 8.210,90 R$ 2.463,27

jul/14 539 R$ 17,47 R$ 9.416,33 R$ 2.463,27

ago/14 538 R$ 17,47 R$ 9.398,86 R$ 2.463,27

set/14 529 R$ 17,47 R$ 9.241,63 R$ 2.463,27

out/14 499 R$ 17,47 R$ 8.717,53 R$ 2.463,27

nov/14 489 R$ 17,47 R$ 8.542,83 R$ 2.463,27

dez/14 456 R$ 17,47 R$ 7.966,32 R$ 2.463,27

jan/15 411 R$ 17,81 R$ 7.319,91 R$ 2.511,21

fev/15 418 R$ 17,81 R$ 7.444,58 R$ 2.511,21

mar/15 446 R$ 17,81 R$ 7.943,26 R$ 2.511,21

abr/15 406 R$ 17,81 R$ 7.230,86 R$ 2.511,21

mai/15 465 R$ 17,81 R$ 8.281,65 R$ 2.511,21

jun/15 375 R$ 17,81 R$ 6.678,75 R$ 2.511,21

jul/15 471 R$ 17,81 R$ 8.388,51 R$ 2.511,21

ago/15 468 R$ 17,81 R$ 8.335,08 R$ 2.511,21

set/15 442 R$ 17,81 R$ 7.872,02 R$ 2.511,21

out/15 420 R$ 17,81 R$ 7.480,20 R$ 2.511,21

nov/15 393 R$ 17,81 R$ 6.999,33 R$ 2.511,21

dez/15 393 R$ 17,81 R$ 6.999,33 R$ 2.511,21

jan/16 279 R$ 24,93 R$ 6.955,47 R$ 3.515,13

fev/16 337 R$ 24,93 R$ 8.401,41 R$ 3.515,13

mar/16 313 R$ 24,93 R$ 7.803,09 R$ 3.515,13

abr/16 375 R$ 24,93 R$ 9.348,75 R$ 3.515,13

Média pós-sistema 440 R$ 18,43 R$ 8.001,79 R$ 83.139,24 FONTE: Dados gerenciais do SADT - HMMDOLC

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RESULTADOS POSITIVOS

A implantação do sistema para solicitação das hemoculturas mostrou-se ferramenta

efetiva na queda do número de amostras solicitadas e consequente redução do custo.

Detectou-se aproximadamente 24% de amostras solicitadas desnecessariamente,

anteriormente a implantação deste novo modelo de solicitação, reafirmando estudos anteriores

(ENVIA, 2003) (FRYER & SMLLIE, 2012) os quais apontam de 20% a 25% de desperdício

para exames solicitados desnecessariamente.

Os testes laboratoriais são parte importante na prática médica. A incorporação de

novas tecnologias, novos testes, especialmente na área de biologia molecular, certamente

tende a aumentar ainda mais o número de solicitações em um futuro próximo (XAVIER et al.,

2011).

Uma variedade de fatores interfere na solicitação de exames laboratoriais: a

formação acadêmica do médico, a experiência, o tipo de hospital, tipo de pacientes e

disponibilidade de tecnologia. A facilidade de recursos tecnológicos pode levar o médico a

esquecer da clínica e usar abusivamente recursos disponíveis para o diagnostico dos pacientes.

(ENVIA, 2003)

O uso da tecnologia da informação, relevante na área clínica, entra em destaque

como advento do século XXI, auxiliando na gestão das informações e modelos de economia

na área da saúde. (MUGNOL & FERRAZ, 2006). Soluções em TI são efetivas no auxilio de

redução dos pedidos para exames duplicados dentro do intervalo de reteste pré-estabelecido

(FRYER & SMLLIE, 2012). Esta afirmação comprova efetividade na implantação da

solicitação de Hemoculturas no HMMDOLC. Anteriormente à implantação do sistema para

solicitação das culturas, a média mensal de hemoculturas solicitadas era de 582 (quinhentas e

oitenta e duas) amostras (de outubro de 2012 a setembro de 2013); hoje, ela está em

aproximadamente 342 (trezentas e quarenta e duas) amostras/mês (de fevereiro de 2016 a

abril de 2016). Existia ainda, conforme falamos, hemoculturas solicitadas de forma seriada

para os mesmos pacientes, sem indicação clínica, o que gerava grande volume de resultados

para acompanhamento diário pelo SCIH. Sabemos que resultados positivos de hemoculturas

podem refletir contaminação na coleta ou no processamento. Hemoculturas só devem ser

coletadas com indicação clínica precisa e resultados avaliados com rigor (ANVISA, 2009).

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Fica evidente que este novo modelo impactou diretamente na gestão das

informações pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH). O número excessivo de

hemoculturas coletadas e consequente volume de laudos gerados anteriormente a

setembro/2013 impactava na rotina clinica e administrativa do SCIH.

A coleta para adultos em frascos de hemoculturas utilizados no HMMDOLC, é

recomendada entre volume mínimo de 8 mL ao máximo de 10 mL. A indicação de solicitação

é de um par de amostras por paciente com suspeita de bacteriemia, totalizado volume de

aproximadamente 20 mL por pedido médico. Antes da implantação do sistema tínhamos

muitas coletas seriadas sem indicação clinica.

Coletas excessivas para exames laboratoriais gera perda sanguínea, a qual pode

impactar clinicamente. A perda critica do volume sanguíneo destinado ao laboratório clínico

para análises laboratoriais, está condicionada a alguns fatores, tais como, as patologias prévias

do paciente; tempo de internação; idade; concentração inicial da hemoglobina; bem como

tratamentos recebidos durante período de hospitalização. Estudo estima que durante o período

de internação do paciente haja espoliação sanguínea de aproximadamente 200 mL, destinados

aos exames laboratoriais. Sobretudo pacientes internados com índices hematimetricos

limítrofes podem sofrer perda de sangue clinicamente critica para os testes laboratoriais

(WISSER et al., 2003 ). Além da perda do volume sanguíneo, a coleta é um processo invasivo

e pode ser fator estressante para o paciente. De acordo com protocolo clínico para

hemoculturas do HMMDOLC, amostras devem ser coletadas sempre em pares, de dois sítios

anatômicos diferentes. Preferencialmente são realizadas coletas de acesso venoso periférico

dos membros superiores. O acesso venoso periférico pode ser de difícil acesso, gerando maior

desconforto e ansiedade para o paciente, na tentativa de encontro do melhor sítio de coleta

para punção venosa. Além disso, a coleta de exames laboratoriais pode gerar ansiedade no

paciente e/ou familiar, na expectativa quanto aos resultados. Coletas de exames laboratoriais

também expõem profissionais da saúde ao risco de acidente de trabalho com material

biológico e perfuro cortante.

No contexto ambiental, a redução do número de amostras de hemoculturas

solicitadas desnecessariamente também impactou no decréscimo do volume de resíduo

infectante produzido pelo laboratório de microbiologia. Deixaram de ser solicitadas e

coletadas em média 4.512 (quatro mil quinhentos e doze) hemoculturas nos últimos 32 (trinta

e dois) meses após implantação do sistema. Este resíduo não produzido, o qual não foi gerado

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diante bloqueio no sistema das solicitações repetidas anteriormente ao prazo estabelecido,

poupou descarte de acordo com normas regulamentadoras vigentes no Brasil, (Conselho

Nacional do Meio Ambiente - CONAMA resolução 358 de 29 de abril de 2005 e Resolução

da Diretoria Colegiada - RDC nº 306 de 07 de dezembro de 2004), no meio ambiente de

aproximadamente 681 (seiscentos e oitenta e um) quilogramas de resido infectante

proveniente dos frascos utilizados para coleta das hemoculturas e processamento das análises

pelo laboratório (média de 151 gramas o peso unitário por Frasco BACTEC®). Nesta

perspectiva, a implantação do sistema proporcionou assistência médica pautada com a

sustentabilidade, além de reduzir despesas do laboratório clínico com empresa terceirizada

responsável pelo recolhimento, processamento e descarte do resíduo infectante.

Com a implantação do novo sistema, este quadro se reverte: só são coletadas

amostras de hemoculturas criteriosamente indicadas, reduzindo perda desnecessária de

volume sanguíneo, ansiedade do paciente e/ou familiar; risco de acidente com material

biológico por parte da equipe de enfermagem e/ou técnicos do laboratório e redução do

volume de resíduo infectante descartado mensalmente. Tudo isto foi proporcionado pela

redução do número de amostras desnecessárias solicitadas mensalmente, gerando impactos

clínicos, operacionais, ambiental e por consequência, tão importante quanto, a redução de

custo com o serviço de análises clínicas. Apesar disso, reiteramos que todos os resultados

positivos e amostras solicitadas continuam a ser monitorados.

Anteriormente ao sistema MATERNO, tínhamos em média 20 (vinte) hemoculturas

coletadas por dia; após sua implantação, temos a média de 13 (treze) amostras coletadas por

dia. O volume total de hemoculturas solicitadas por mês, pré e pós-sistema foram 582 (média

outubro de 2012 a setembro de 2013) e 440 (média de outubro de 2013 a abril de 2016)

respectivamente, representando redução de 142 (cento e quarenta e duas) amostras solicitadas

a menos por mês. Financeiramente a redução do número de amostras de hemoculturas

solicitadas pré e pós-sistema impactou em 15% a menos nos custos.

O número de amostras deve ser de no mínimo 2 e no máximo 4 amostras por

episódio infeccioso. Um maior número de amostras traz pouco benefício,

aumentando os custos, trabalho e risco de provocar anemia, sem aumento

significativo da positividade (ARAUJO, 2012, p.10, apud Baron, E.J. et al. –

Culturas de Sangue IV. Coordenação ed. E.J. Baron. ASM Press,

Washington D.C, 2005).

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A padronização dos pedidos médicos das culturas impactou positivamente na rotina

de cadastro das solicitações do laboratório e identificação segura do paciente. Pedidos legíveis

em todo conteúdo, com nome, registro hospitalar e data de nascimento do paciente, nome e

quantidade dos exames solicitados e indicação clínica, bem como nome e número de registro

no conselho regional de medicina do solicitante. Esta economia de 15% com análises de

hemoculturas norteou oportunidade de uso desta tecnologia na solicitação de todos os exames

laboratoriais dos pacientes do HMMDOLC, mantendo o mesmo formato, bloqueando novas

solicitações quando ainda tivermos o mesmo exame em andamento. Dados gerenciais do

SADT do HMMDOLC mostram redução em média de 25% no volume de exames

laboratoriais solicitados desde outubro de 2015, impactando em custo, quando este mesmo

sistema foi implantado para todas as solicitações em análises clinicas.

Tendo em vista tal análise geral e específica sobre o impacto deste sistema, notamos,

portanto, que o uso da tecnologia da informação no ambiente hospitalar mostrou-se efetivo no

monitoramento e gestão de custo com as solicitações dos exames de Hemoculturas. Não

podemos perder de vista que, para além da questão financeira, e tão relevante quanto, foi a

qualidade e o cuidado na assistência durante o período de hospitalização do paciente, evitando

dados truncados, repetidos e possíveis danos ao interno, além da redução do volume de

resíduo infectante descartado, poupando o meio ambiente.

5. REFERÊNCIAS

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<http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/correntesanguinea.pdf> Acesso em

21/Mar/2016.

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para controle de Infecção em serviços de Saúde – 2004 – Disponível em

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_microbiologia_completo.pdf> Acesso

em 18/Mar/2016.

ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – Resolução da Diretoria Colegiada

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ASM Press, Washington D.C, 2005. Disponível em

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CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente – Resolução CONAMA 358 de 29 de

abril de 2005. Publicada no DOU nº 84, de 04 de maio de 2005, Seção 1, páginas63-65

<http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_2005_358.pdf>

.Acesso em 01/Jun/2016

ELMOR DE ARAUJO, Maria Rita. Hemocultura: recomendações de coleta, processamento e

interpretação dos resultados. Journal of Infection Control, v. 1, n. 1, p. 8-19,

2012.Disponível em <http://jic.abih.net.br/index.php/jic/article/viewFile/12/11>. Acesso em

15/Mar/2016

EVIA, José Roberto Barba. Utilización inapropiada del laboratorio clínico. Revista

Mexicana de Patología Clínica, v. 50, n. 4, p. 220-3, 2003. Disponível em

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