inovaÇÃo em pequenas empresas e...
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INOVAÇÃO EM PEQUENAS EMPRESAS
E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
LOCAL
ALTINA SILVA OLIVEIRA (UENF)
Manuel Antonio Molina Palma (UENF)
O objetivo deste artigo é identificar as inovações nos produtos,
possessos, organizacionais e em marketing introduzidas por pequenas
empresas, associando o processo de inovação e o desenvolvimento
econômico local. O foco de análise da pesquuisa são as confecções de
Raposo, sétimo distrito de Itaperuna-RJ. Para alcançar o objetivo
proposto foi realizado um estudo multicasos, em três empresas da
localidade. Os resultados encontrados parecem indicar que as
inovações desenvolvidas nessas empresas geram benefícios para os
atores locais e visibilidade da região no cenário econômico. O que
comprova a importância da micro e pequena empresa no
desenvolvimento local de regiões periféricas e interioranas.
Palavras-chaves: desenvolvimento; inovação; pequenas empresas.
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
O crescente interesse despertado pela economia regional emana, em parte, do crescimento das
cidades, das migrações rurais/urbanas e intra-urbana, bem como da concentração da atividade
econômica e dos desequilíbrios regionais dela resultantes. As cidades constituem um foco de
concentração da atividade e de irradiação das inovações.
As localidades devem ser vistas como espaços ativos dotados de cultura, história, recursos
humanos e materiais diferenciados. Nessa perspectiva a inovação e os formatos institucionais
se sobressaem como elementos centrais, tanto para o entendimento quanto para as políticas de
desenvolvimento local. (DINIZ, 2001)
A relação da pequena empresa com o desenvolvimento econômico local está na necessidade
da formação de identidade e de diferenciação das regiões e das comunidades. Para isso são
necessárias estratégias que as tornem competitivas dando ênfase aos aspectos culturais e de
desenvolvimento comunitário. Além da capacidade de se especializar naquilo que consiga
estabelecer vantagens comparativas efetivas e dinâmicas, decorrentes do seu estoque de
atributos e da capacidade local de promoção continuada de sua inovação.
As micro e pequenas empresas no contexto de inovação e desenvolvimento local
principalmente em regiões periféricas e interioranas assumem um papel de destaque já que em
muitos desses lugares a atividade exercida por elas acaba sendo a mola propulsora que faz
girar a economia local.
O papel das micro e pequenas empresas, no desenvolvimento de regiões e países, vem motivando
estudo no que tange a relação entre pequena empresa, inovação e desenvolvimento local dentre
alguns autores podemos destacar : Rovere (1999), Martinelli e Joyal (2003), Gomes (2005) e Vaz
(2005) .
Em razão dessa discussão o presente trabalho tem objetivo de identificar inovações nos
produtos, possessos, organizacionais e em marketing introduzidas por pequenas empresas,
examinando um pouco mais de perto o caso das confecções do Distrito de Raposo em
Itaperuna, Rio de Janeiro. A fim de elucidar o seguinte questionamento: Quais tipos de
inovações vem sendo desenvolvidas por essas empresas, a fim de promover o
desenvolvimento regional?
2. Desenvolvimento Econômico Local, inovação e pequenas empresas.
A definição de desenvolvimento econômico local do Banco Mundial é de um trabalho
conjunto de indivíduos, objetivando atingir o crescimento econômico sustentável que possa
trazer benefícios econômicos e melhoria da qualidade de vida para a comunidade da região. O
Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) afirma que o desenvolvimento
econômico local é feito através da ampliação do foco de atuação para outras áreas, como
saúde, saneamento, educação, a título de exemplo. (RODRIGUES E OLIVEIRA, 2006).
Pensar em desenvolvimento local é, antes de qualquer coisa, pensar na participação da
sociedade local no planejamento contínuo da ocupação do espaço e na distribuição dos frutos
do processo de crescimento.
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De acordo com Hann et al. (2001) o foco do conceito “Desenvolvimento Econômico Local”
está voltado para o desenvolvimento das potencialidades econômicas locais existentes, que se
encontram tanto em empresas formais, quanto na multidão de micro empreendimentos,
cooperativas e outros grupos associativos de produção e serviço, estimulando redes de
cooperação vertical e horizontal, e dando ênfase à inclusão dos atores econômicos
marginalizados na articulação das cadeias produtivas ao nível do território. Busca-se gerar
uma dinâmica endógena de desenvolvimento, ou um grau de autonomia capaz de garantir a
continuidade ou sustentabilidade do processo local de desenvolvimento.
O desenvolvimento econômico local não pode ser colocado apenas como uma questão de
restrições de fatores de produção. Demanda a incorporação de inovações tecnológicas e
organizacionais para que se torne um desenvolvimento sustentável, possibilitando garantir
competitividade por longo prazo para uma determinada região (FAURÉ e HASENCLEVER,
2003)
Dessa forma a capacidade de gerar e absorver inovações adquire grande importância para a
competitividade de agentes econômicos devido às rápidas mudanças de mercado, nas
tecnologias e nas formas organizacionais
As inovações geram novos mercados e transformam setores industriais. Estas transformações
tem impacto importante nas expectativas de clientes proporcionando maiores ganhos de
competitividade (CARLOMAGNO e SCHERER, 2009).
Segundo Lemos (2001), a inovação pode ser conceituada como o processo pelo qual
produtores dominam e implementam o projeto e produção de bens e serviços que são novos
para eles, mesmo sendo ou não novos para seus concorrentes. A inovação também não
significa algo inédito e resultante apenas da pesquisa científica, não se refere apenas a
mudanças na tecnologia, incluindo também mudanças organizacionais, relativas às formas de
organização e gestão da produção.
Para fins orientadores deste artigo foi considerada a seguinte tipologia de inovação proposta
pelo manual de Oslo (OECD, 2005):
Inovação de produto: Ocorre quando se introduz um bem ou serviço novo ou significamente
melhorado no que concerne às suas características ou aos usos previstos. Incluem-se
melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares
incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais;
Inovação de processo: ocorre quando se desenvolve um novo método de produção ou quando
uma nova distribuição seja significamente melhorada, incluem-se mudanças significativas de
técnicas, equipamentos e/ ou softwares.
Inovação organizacional: ocorre quando se adiciona um novo método organizacional nas
praticas de negócios da empresa, na organização do seu local do trabalho ou nas relações
externas da empresa.
Inovações de marketing: ocorre quando se implementa um novo método de marketing, com
mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento
do produto, em sua promoção ou na fixação de preços.
O processo de inovação, é entendido como interativo, depende das diferentes características
de cada agente e de sua capacidade de aprender a gerar e absorver conhecimentos, da
articulação de diferentes agentes e fontes de inovação, bem como de ambientes onde estes
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estão localizados e do nível de conhecimentos tácitos existentes nestes ambientes. (LEMOS,
2003).
Em relação às pequenas empresas a inovação pode ser vista como um processo que se
propaga ao longo do tempo, consistindo de uma série de ações e decisões. Ela abrange novos
desenvolvimentos situacionais e introdução de ferramentas derivadas do conhecimento,
artefatos e mecanismos pelos quais as pessoas interagem com seu ambiente, e oferece a
oportunidade de construir uma ponte entre os produtos e serviços baseados na tecnologia
atualmente disponível, e as necessidades, desejos e estilo de vida dos clientes, devendo ser,
pois, considerada como um destacado objetivo da corporação (CARVALHO, 2001).
Isto demanda dos micro-empreendedores novas habilidades técnicas, instalação com
equipamento adequado e mudanças de comportamento, dando ênfase especial ao
desenvolvimento de cultura empreendedora.
Para Hall et al. (2001) no caso do desenvolvimento econômico local, no Brasil, mais
especificamente, essa cultura empreendedora implica a construção de relações de confiança
entre os atores, baseada na cultura e na tradição comunitárias locais; na participação dos
diversos níveis de Governo no provimento do acesso à infra-estrutura, por exemplo; no
fortalecimento da participação direta e das formas institucionais enraizadas no tecido social e,
principalmente, no fortalecimento, resgate ou construção de uma identidade fortemente
enraizada no território, na localidade, como elementos endógenos mobilizadores das
potencialidades locais e de sustentabilidade do desenvolvimento.
O micro-empreender passa a exercer o papel de agente de inovação e mudanças, capaz de
desencadear o crescimento econômico. Isto é muito importante porque significa que
comunidades, através da atividade empreendedora, podem ter a iniciativa de liderar e
coordenar o esforço no sentido do seu próprio crescimento econômico. Acredita-se, com isso,
ser possível alterar a curva da estagnação econômica e social através de indução de atividades
inovadoras, capazes de agregar valores econômicos e sociais (DOLABELA, 1999 apud
GOMES 2005).
É facilmente perceptível a importância dos pequenos empreendimentos em regiões periferias
em nosso país, e como esses contribuem para alavancar o desenvolvimento econômico de
onde estão inseridos.
Para Barros (2008) a contribuição do empreendedor ao desenvolvimento econômico ocorre
fundamentalmente pela inovação que introduz e pela concorrência no mercado.
Outro fator importante no processo de desenvolvimento econômico é a geração de emprego e
renda. Em países em desenvolvimento, as pequenas empresas podem dar uma grande
contribuição para a criação de novos postos de trabalho.
É baseado nessa fundamentação teórica que pressupomos que a inovação desenvolvida por
pequenas empresas pode ser um fator que contribua para desenvolvimento econômico local,
assim pretende-se fortalecer a discussão em torno desse tema.
3. Micro e pequena empresa
Os critérios que classificam o tamanho de uma empresa constituem um importante fator de
apoio às micro e pequenas empresas, permitindo que estabelecimentos dentro dos limites
instituídos possam usufruir os benefícios e incentivos previstos nas legislações.
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Não há unanimidade sobre a delimitação do segmento das micro e pequenas empresas.
Observa-se, na prática, uma variedade de critérios para a sua definição tanto por parte da
legislação específica, como por parte de instituições financeiras oficiais e órgãos
representativos do setor, ora baseando- se no valor do faturamento, ora no número de pessoas
ocupadas, ora em ambos (SEBRAE, 2001)
No Estatuto da Micro e Pequena Empresa, de 1999, o critério adotado para conceituar micro e
pequena empresa é a receita bruta anual, conforme o quadro 1.
Fonte: SEBRAE, 2012
Quadro1: Classificação Micro e Pequena Empresa de Acordo com a Receita Bruta
É importante ressaltar que o regime simplificado de tributação - SIMPLES, que é uma lei de
cunho estritamente tributário, adota um critério diferente para enquadrar micro e pequena
empresa. As mudanças beneficiam diretamente 5,5 milhões de empresas no Brasil. Os limites,
conforme disposto na Medida Provisória 275/05, são:
Fonte: SEBRAE, 2012
Quadro 2: Classificação Micro e Pequena Empresa de Acordo com SIMPLES
O SEBRAE utiliza ainda o conceito de número de funcionários nas empresas, principalmente
nos estudos e levantamentos sobre a presença da micro e pequena empresa na economia
brasileira, conforme os seguintes números.
Fonte: SEBRAE, 2012 Quadro 3: Classificação Micro e Pequena Empresa de Acordo com SEBRAE
Nos levantamentos que têm como fonte de dados o IBGE, as estatísticas sobre micro e
pequenas empresas divulgadas pelo SEBRAE utilizam o critério acima.
O bom desempenho da economia brasileira na última década, aliado às políticas de crédito,
vem impulsionando a ampliação das micro e pequenas empresas (MPEs) no país e
confirmaram a expressiva participação na estrutura produtiva nacional. Entre 2000 e 2010,
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verificou-se aumento do número de estabelecimentos das MPEs e do emprego gerado por
estes estabelecimentos (SEBRAE, 2011).Como demonstrado nos gráficos a seguir:
Fonte: MTE. Rais /Elaboração: DIEESE
Grafico1: Evolução do número de estabelecimentos por porte - Brasil 2000-2010 (em milhões)
Uma importante contribuição das micro e pequenas empresas no crescimento e
desenvolvimento do País é a de servirem de “colchão” amortecedor do desemprego.
Constituem uma alternativa de ocupação para uma pequena parcela da população que tem
condição de desenvolver seu próprio negócio, e em uma alternativa de emprego formal ou
informal, para uma grande parcela da força de trabalho excedente, em geral com pouca
qualificação, que não encontra emprego nas empresas de maior porte.(SEBRAE,2001)
Entre 2000 e 2010, as micro e pequenas empresas criaram 6,1 milhões de empregos com
carteira assinada, elevando o total de empregos nessas empresas de 8,6 milhões de postos de
trabalho, em 2000, para 14,7 milhões, em 2010.
Fonte: MTE. Rais /Elaboração: DIEESE
Gráfico 2: Evolução do número de empregos por porte-Brasil 2000-2010 (em milhões)
O bom desempenho das micro e pequenas empresas demonstrado acima, apenas confirmaram
a sua importância e expressiva participação na economia nacional.
De acordo com Palermo (2002), as micro e pequenas empresas, por sua estrutura mais ágil e
flexível, puderam se adaptar mais rapidamente às sérias transformações ocorridas no mundo.
Com a “tecnologia da informação” e a globalização econômica, surgiram novos segmentos
empresariais, com novos produtos e serviços e, principalmente, uma nova dinâmica de
organização, com a modernização de equipamentos e processos. A informática e as
telecomunicações passaram a ser vitais, flexibilizando as relações empresariais, trabalhistas e
comerciais.
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É nesse contexto que está inserida a importância das inovações como fator para o
desenvolvimento local.
4. Metodologia
O método utilizado na pesquisa foi o estudo multicasos, realizados em pequenas empresas de
Raposo no setor de confecções de roupas de dormir.
Para a escolha das empresas foi feito um levantamento pelo pesquisador, já que órgãos como
SEBRAE, FIRJAN e Prefeitura Municipal não dispõem de dados estatísticos sobre a atividade
pesquisada. Foram escolhidas três empresas com mais de cinco anos de fundação. A escolha
de empresas com mais de cinco anos de existência se deu pelo fato de serem empresas que
possivelmente tivessem uma estabilidade e estrutura que lhes permitisse realizar
investimentos em inovações e também um horizonte de tempo de existência que lhes desse
condições de avaliar os efeitos das inovações realizadas, ou da maioria delas.
A pesquisa é qualitativa, sob forma de estudo exploratório, uma vez que busca maiores
informações sobre o tema, de acordo com Cervo e Bervian et al. (2007) A pesquisa
exploratória não requer a elaboração de hipóteses a serem testados no trabalho, restringindo-
se a definir objetivos e buscar mais informações sobre determinado assunto de estudo. Tais
estudos têm por objetivo familiarizar-se com fenômeno ou obter uma nova percepção dele e
descobrir novas idéias.
Como técnica de coleta de dados além do levantamento bibliográfico, utilizou-se entrevistas
não-estruturadas com proprietários ou gerentes das empresas.
A opção pela realização da entrevista não-estruturada se deu pela necessidade de explorar as
questões de forma mais ampla. Na entrevista levantaram-se questões em torno dos seguintes
pontos: quais inovações a empresa desenvolveu, apoio e incentivo e benefícios existentes na
implantação das inovações.
A entrevista foi realizada em três empresas do ramo de confecções em Raposo, sendo duas
com os proprietários e uma com o gerente. No período de 14 a 16 de março de 2012, com
duração de uma hora e meia cada.
A coleta de dados foi feita por intermédio de entrevistas não estruturadas, por que permite
compreender as perspectivas dos respondentes sobre suas experiências e situações (TAYLOR
E BOGDAN, 1984).
Para análise de dados foram adotados conceitos de inovação segundo o Manual de Oslo
apontado na literatura estudada.
5. Unidade de análise: Confecções de Raposo
Raposo é o 7º Distrito de Itaperuna, localizado ao noroeste do Estado do Rio de Janeiro, em
razão das propriedades medicinais presentes nas águas de suas fontes, é uma das estâncias
hidrominerais mais procuradas no Estado. Tem aproximadamente 6.500 habitantes, possui
uma rede hoteleira composta de onze hoteis e pousadas e aproximadamente dois mil leitos
com restaurante.Por fim de semana o local recebe cerca de dois mil turista provenientes de
todos os cantos e o ápice do turismo local é durante a tradicional Festa de Carros de Bois que
acontece sempre no ultimo fim de semana do mês de maio, onde mais de quinze mil turistas
visitam a localidade para presenciar e viver um espetáculo de fé.
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Atualmente as principais atividades econômicas da localidade são as confecções,
principalmente da chamada moda e noite e a exploração comercial das águas minerais. Que
juntas empregam 80% da população.
A atividade das confecções teve inicio na década de setenta para atender necessidades de
demanda local, já que alguns moradores já produziam de forma artesanal e improvisada
produtos para venderem aos turistas na feira de artesanato local.
Atualmente esses confeccionistas para exporem seus produtos trabalham em regime de
associação denominada Associação de artesanato de Raposo, composta por 140 barraqueiros
como são chamados, fabricantes locais e de cidades vizinhas do estado de Minas Gerais. Que
são microempresários, empreendedores individuais e produtores informais.
Essa exposição de forma organizada nos últimos anos vem se tornando um atrativo até maior
que as fontes hidrominerais para os turistas que visitam a localidade por causa de sua
qualidade e baixos preços. O que por sua vez gera renda para os atores envolvidos no
processo contribuindo para desenvolvimento o local.
A comunidade através do turismo buscou meios de estar inserida nesse contexto contribuindo
para o desenvolvimeto e fortalecimento da economia local. Em essência, não é o turismo que
fomenta o desenvolvimento de uma região atrasada, mas sim é o proprio nivel de
desenvolvimento dessa região que converte o turismo em uma atividade favorável ou não a
este processo (SILVA,2010) .
Localizações espaciais possuem diferentes capacidades que influenciam suas perspectivas de
desenvolvimento econômico, no caso de Raposo é um processo de iniciativa local, que
dinamiza e solidariza comunidade, na busca do novo, da identificação e descoberta das
potencialidades locais.
6. Resultados Encontrados
Nessa seção serão apresentados os resultados encontrados a partir da análise feita dos dados
coletados, relacionando as inovações em produto, possesso, organizacional e em marketing
com os benefícios para empresa e localidade. Os dados coletados são apresentados nos
quadros a seguir:
Fonte: Próprio autor Quadro 4: Inovação Produto
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Fonte: Próprio autor Quadro 5: Inovação Processo
Fonte: Próprio autor Quadro 6: Inovação Organizacional
Fonte: Próprio autor Quadro 7:Inovação Marketing
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Principais inovações introduzidas pelas empresas e a contribuição para o desenvolvimento
econômico local:
Fonte: Próprio autor Quadro 8:Contribuição para o desenvolvimento local
É importante considerar que as inovações praticadas por essas empresas tem iniciativa dos
proprietários, impulsionados pela pressão de mercado que os levam a buscar meios de
aumentar a produtividade e se manterem competitivos economicamente. Sem apoio de
instituições destinadas a essa atividade. Nenhuma empresa apontou sindicatos ou associações
como fontes de informação ou apoio especializado para introdução de inovação.
Em relação à organização os empresários entrevistados preferem desenvolver seus próprios
sistemas de produção, mencionando que até buscaram informações, mas consideraram
métodos inadequados para suas empresas, principalmente a implantação de células de
produção. Tendo uma empresa desenvolvido um sistema de meta diária para o funcionário
(costureira). Sendo que quando esta termina sua meta diária está liberada para ir embora ou se
preferir poderá adiantar a meta do dia seguinte, possibilitando assim uma flexibilidade de
horário de saída. Segundo relato, com a implantação desse método houve aumento da
satisfação do funcionário e eliminação de reclamação de volume de trabalho em relação ao
colega.
Os principais benefícios para as empresas obtidos através das inovações foram: 1) produto:
aumento no volume de vendas e valor agregado ao produto; 2) processo: aumento no numero
de empregos, maior circulação de renda; 3) Organizacional: Melhor controle de operações; 4)
Marketing: Aumento no volume de vendas e maior associação por parte do cliente com a
marca, maior divulgação da marca e aumento da satisfação do cliente.
Já a contribuição para o desenvolvimento econômico local se deu por as inovações gerarem
maior circulação de turistas, maior visibilidade externa da localidade com lojas em outros
estados, fidelização do cliente através do relacionamento pós-venda. A inserção de tecnologia
através de máquinas modernas possibilitou o aumento da produção e consequentemente o
aumento no numero de empregos fazendo com que haja maior circulação de renda.
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7. Considerações Finais
A noção de que fatores regionais podem influenciar a capacidade inovadora das pequenas
empresas levou a um interesse crescente na análise da inovação no âmbito regional.
Identificar as principais características e fatores que promovem a atividade de inovação e o
desenvolvimento de setores específicos no âmbito regional pode auxiliar o entendimento dos
processos de inovação e ser válido para a elaboração de políticas e bem como na
caracterização de uma região.
No caso estudado as inovações desenvolvidas pelas pequenas empresas estudadas contribuem
para o desenvolvimento local uma vez que geram empregos e atraem turistas para região em
busca de qualidade e preço baixos. Identificou-se que os empresários agem por iniciativas
próprias, mas demonstram interesse em cooperação quando essa diminui custos e gera
benefícios. A questão dos atores locais é um dos grandes desafios impostos às comunidades
periferias e interioranas.
É preciso concentrar esforços na criação de uma base de conhecimento para os atores
envolvidos no processo de promoção do desenvolvimento para que dessa forma se possa
chegar a uma linguagem comum. Desenvolver as redes relacionais essenciais e ainda
promover a efetiva colaboração estratégica e operativa que poderá proporcionar fortes efeitos
externos.
Portanto nesse caso é necessário que se discuta e formule estratégias de desenvolvimento
regional, cujo sucesso é fundamentalmente determinado pela capacidade dos próprios locais
para absorver as propostas dos ajustamentos interdependentes. Torna-se tênue a fronteira
entre as medidas de política para o desenvolvimento regional e as possibilidades de
desenvolvimento local detidas pelos agentes e resultantes da consciência que os mesmos têm
das suas capacidades e potencialidades.
Feito isso, através da interação nota-se o aumento na possibilidade do desenvolvimento da
capacidade de inovação e ao ampliar as capacidades de inovação também se amplia as
possibilidades do desenvolvimento regional, ganhos econômicos, sociais, ambientais e de
competitividade.
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