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UNBROKEN PRODUCTIONS Capítulo 29

INIMIGO ÍNTIMO

ÚLTIMO CAPÍTULO

Novela de

Rynaldo Nascimento

Escrita por

Rynaldo Nascimento

Direção Geral

Lucas Posey

Personagens deste capítulo

ADÉLIA

ALESSANDRO

ALIEN

CASSINHO

CLARA

DIOGO

EDUARDO

EMANUEL

ERON

ESTEVÃO

FÁTIMA

GILBERTO

GRAZIELLY

GUGA

HELENA

HERCÍLIA

JEFTER

JUNIOR

KAEL

LAYSA

LOHANE

MÁRCIA

MICHEL

NÁDIA

OLÍVIA

OSÉAS

PEROLA

QUINHA

RAIMUNDA

RAONI

RAÍSSA

REGINA

SALVINO

SOCORRO

SOPHIA

TACILA

THOR

VARELLA

VICTOR

ZUZÚ

Participação Especial:

AGENTE/ ANTENOR/ EMPREGADA/ HOMEM/ IRAN/ MÉDICO/ POLICIAL/ REPÓRTER

INIMIGO ÍNTIMO Capítulo 29 Pag.: 1

CENA 01. CASA DE PRAIA DE GILBERTO. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR. A CÂMERA ABRE EM

HERCÍLIA E REGINA QUE OLHAM PARA GILBERTO, EM PÉ COM A ARMA EM

PUNHO, ASSUSTADO COM A PRESENÇA DELAS E VICTOR, AMARRADO E

SUPER CONSTRANGIDO. ELAS NÃO ACREDITAM NO QUE ESTÃO VENDO.

HERCÍLIA — Mas que inferno é esse? O que tá acontecendo aqui?

REGINA — (ENOJADA) Vocês estão... Vocês dois...

VICTOR — (TENSO) Hercília, pelo amor de Deus! (PARA GILBERTO)

Me tira daqui, me tira daqui!

VICTOR TENTA SE SOLTAR. OLHAR DECEPCIONADO DE HERCÍLIA. GILBERTO

ENCARA REGINA.

REGINA — Além de bandido, traficante... Você é isso, Gilberto? Você me

traindo com Victor. Com o marido de nossa filha, Gilberto?!

GILBERTO — Para de falar, mulher. Você me cansa.

REGINA — Como é que é?

GILBERTO — É isso mesmo. Vocês duas. Duas babacas... Duas idiotas que

não sabem nada sobre mim. Que não me conhecem de verdade.

VICTOR — Me tira daqui, Gilberto!

GILBERTO, EM DESCONTROLE, PARTE COM A ARMA EM DIREÇÃO A VICTOR.

GILBERTO — Nós temos um acordo eterno! Você bem sabe disso. Não tenta

agora, que está na frente da mulherzinha, dá uma de valente pra

cima de mim que cê sabe o que acontece. (OLHA PARA ELAS)

Tão surpresas, né? Tão chocadas em nos pegar assim... Mas já

que pegaram... É isso mesmo que vocês estão pensando!

HERCÍLIA ANDA A PASSOS LENTOS, CARA FECHADA, EM DIREÇÃO A

GILBERTO.

HERCÍLIA — Você não tinha o direito de destruir a minha vida!

GILBERTO — Quem não tinha o direito de ter o que é meu como propriedade é

você, garota!

HERCÍLIA — Você é um louco depravado!

GILBERTO GARGALHA, ANDA COM A ARMA, VICTOR CONSEGUE SE SOLTAR.

VAI RETIRANDO AS COISAS SEM QUE GILBERTO PERCEBA.

GILBERTO — Quem você pensa que é pra me julgar, hein, Hercília?


REGINA — Volta pra cá, minha filha! Eu não aguento mais! Eu quero sair

daqui!

GILBERTO — (GARGALHADA) Fraca! Imbecil! Tá vendo porque eu me

cansei de você, Regina? Por esse seu jeitinho ridículo de

mulher. Eu não suportava mais ter que dividir a mesma cama

com uma vaca ridícula como você.

HERCÍLIA ACERTA UM TAPA NA CARA DE GILBERTO, QUE QUANDO VAI

PUXAR A ARMA. VICTOR ENTRA NA FRENTE.

HERCÍLIA — (ESBRAVEJA) Desgraçado! Desgraçado! Você é um homem

ridículo! Sem ética, sem moral nenhuma, pai! Durante anos

você julgou Helena por ela ter se envolvido com Junior, mas era

um dos chefes da facção, sempre se colocou como um grande

homem da sociedade, mas é um fraco, sem personalidade.

GILBERTO — Cala a boca!

HERCÍLIA — Não vou me calar!

VICTOR — Se afasta dela, Gilberto!

GILBERTO — Você vai ficar do lado/

HERCÍLIA — Falso moralista! Hipócrita!

HERCÍLIA VAI CAMINHANDO PELO QUARTO E PROFESSANDO TUDO,

SOLTANDO TODAS AS PALAVRAS COM FORÇA E MUITA RAIVA.

HERCÍLIA — Todo mundo que te conhece tá te julgando, tá pasmo com o que

a mídia está dizendo... e agora eu te encontro aqui, na maior

bestialidade com o homem que eu amei...

VICTOR VIRA-SE PARA HERCÍLIA QUE O ENCARA COM LÁGRIMAS NOS

OLHOS E MUITO ÓDIO.

HERCÍLIA — Do homem que me fez de otária! (TOM) Otária! Porque eu fui

uma otária! Como eu me deixei me enganar por você, Victor?

Por quê? Porque eu? Porque comigo? O que eu te fiz, cara?

VICTOR SE COMOVE E VAI PARA HERCÍLIA.

VICTOR — Eu não queria, Hercília. Tudo aconteceu de repente... eu, eu,

eu.... eu me deixei levar pelas propostas que seu pai me fazia

e.../

HERCÍLIA ACERTA UM TAPA NA CARA DE VICTOR. REGINA E GILBERTO SE

ENCARAM, TENSOS. ELE VIRA O ROSTO, UM TANTO ENVERGONHADO. A

TODO MOMENTO ELA O OLHA FIRME.


HERCÍLIA — Acabou, Victor! Não adianta mais mentir. (RI/DEBOCHA)

Sabe quem teve lá em casa? Adivinha quem chegou de um

interior que nunca existiu?

VICTOR ENCARA HERCÍLIA JÁ PREVENDO.

HERCÍLIA — Dona Fátima me contou tudo a respeito de sua vida dupla.

VICTOR — (TENTA AGARRAR ELA) Hercília, o que ela/

HERCÍLIA — (BATENDO NELE) Que você era garoto de programa!

(EMPURRA VICTOR QUE CAI) Garoto de programa! Foi

assim, não foi? Foi assim que vocês dois se conheceram...

confessa! Confessa! (BATENDO EM VICTOR) Confessa!

Vagabundo! Eu te odeio! Odeio!

VICTOR — (TENTA SE PROTEGER/SOFRE) Meu amor!/

HERCÍLIA — (CANSADA/CHORA) Desgraçado! Eu me deitava com você...

eu me entreguei a você/

HERCÍLIA CAI POR ALI, EXAUSTA. VICTOR CAÍDO, CHORA, VERGONHA.

VICTOR — Me perdoa! Me perdoa! Eu te amo de verdade! Hercília!

VICTOR VAI PEGANDO NELA, QUE O CHUTA, SE AFASTANDO PELO CHÃO.

VICTOR — Me perdoa, pelo amor de Deus, me perdoa.... nossa filhinha/

HERCÍLIA — (CORTA) Não fala dela!/

VICTOR — Me perdoa!

HERCÍLIA LEVANTA-SE DIANTE DAS GARGALHADAS DE GILBERTO.

GILBERTO — Ai, que cena patética! Levanta desse chão, Victor! Acabou! Tá

na hora mesmo dessa história acabar.

REGINA — Até por que a sua fama, sua reputação, de hoje em diante deixou

de existir, Gilberto.

GILBERTO — Eu não te dou o direito de falar nada sobre mim, sua frigida.

(RI) Uma mulher sem vida como você, realmente, merecia um

belo par de chifres com um macho de verdade!

HERCÍLIA — Tenha mais respeito!

REGINA — Deixa ele falar. Deixa, filha...

GILBERTO — Quer escutar o quê, sua ridícula? Que eu sempre te traí? Te traí

mesmo. Até porque esse nosso casamento não passou de uma


farsa arranjada por aquele velho desgraçado do meu pai! Por

conta dele eu tive que me envolver com você e perder os anos

de gloria da minha vida... Por conta dessa família tradicional eu

perdi meus sonhos, meus melhores sonhos pra viver enfiado

naquela fazenda, naquela cidade... repetindo a vidinha de merda

que ele viveu e que eu tinha que viver. Viver essa vidinha ao seu

lado foi uma merda. (NOJO) Sentir essa sua pele... Nossa!

Como eu implorava ao tempo para que eu pudesse encontrar os

meus amantes... (SE VANGLORIA) machos, Regina! Machos

de verdade... A pele mais dura, que cheira forte... (OLHAR EM

DIREÇÃO A VICTOR) E esse mesmo cheiro eu encontrei

numa única pele. Na dele. Na do meu macho!

REGINA — (ABALADA) Você sempre me traiu, Gilberto! Sempre deu

sinais, eu que nunca quis enxergar... ou você fingia bem. Fazia

tudo pra que a idiota aqui não levasse a situação a frente. Um

verdadeiro ator! Um verdadeiro canalha! Canalha: é isso que

você é! Bandido da pior espécie. (QUERENDO CHORAR) Tô

acabada! Tô me sentindo um lixo, sabia?

GILBERTO — Eu não me importo com o que você sente!

VICTOR — Como cê pode ser tão ruim assim?!

GILBERTO ENCARA VICTOR.

GILBERTO — Tá contra mim?

VICTOR — Eu nunca estive ao seu lado! Eu nunca estive! Eu nunca vou

estar ao lado de um assassino. Um assassino da pior espécie!

GILBERTO PERCEBE QUE VICTOR COMEÇA A SE REVOLTAR CONTRA ELE.

VICTOR — Ele matou Eron! Foi ele quem matou Eron! Matou porque ele

descobriu o nosso segredo!

REGINA E HERCÍLIA SE CHOCAM. GILBERTO GRITA DE ÓDIO.

HERCÍLIA — Assassino! Assassino! Chega!

GILBERTO — Você não tinha esse direito, Victor! Você me traiu! Me traiu!

HERCÍLIA PEGA A ARMA EM SUA BOLSA E APONTA PARA GILBERTO.

HERCÍLIA — Acabou! Acabou!

SLOW. HERCÍLIA MIRA E ATIRA CONTRA GILBERTO QUE SE ESQUIVA E

RECEBE A BALA DE RASPÃO. VICTOR PERCEBE QUE GILBERTO VAI ATIRAR E

SE LANÇA NA FRENTE DE HERCÍLIA. VICTOR RECEBE O TIRO NO PEITO.

GILBERTO REAGE AO PERCEBER QUE ATINGIU SEU AMADO.


SONOPLASTIA: LOVE ON THE BRAIN – RIHANNA.

VICTOR CAMBALEIA ATÉ IR AO CHÃO. REAÇÕES DESESPERADAS DE

GILBERTO E HERCÍLIA. HERCÍLIA SE ABAIXA E TENTA FAZER COM QUE

VICTOR REAJA. CÂMERA NO OLHAR DELE. VAI SE APROXIMANDO CADA VEZ

MAIS. OLHAR PERDIDO, DE DOR. HERCÍLIA GRITA COM O CORPO DO MARIDO

SOBRE ELA. REGINA VÊ GILBERTO VIR PARA O CORPO DE VICTOR, FECHA OS

OLHOS E, AO ABRIR, VÊ A ARMA QUE O ESPOSO ABANDONOU.

PRONTAMENTE, REGINA PEGA A ARMA E VAI ANDANDO LENTAMENTE ATÉ

GILBERTO, ENQUANTO VICTOR MORRE SOBRE HERCÍLIA. SONOPLASTIA

OFF. REGINA ENCOSTA O CANO DA ARMA NA CABEÇA DE GILBERTO.

GILBERTO ENCARA HERCÍLIA NOS OLHOS AO SENTIR A ARMA EM SUA

CABEÇA. TENSÃO. CLOSES ALTERNADOS ENTRE OS OLHARES. CORTE

RÁPIDO PARA:

CENA 02. RODOVIA ILHÉUS-ITACARÉ. EXTERIOR. NOITE.

TOMADA ÁEREA DA RODOVIA. CARROS DE POLÍCIA INDO EM DIREÇÃO A

ITACARÉ. SIRENES LIGADAS. TAKES NAS VIATURAS: EMANUEL EM UM

CARRO A PARTE GUIANDO OS DEMAIS POLICIAIS. CORTE PARA:

CENA 03. CASA DE PRAIA DE ERON. SALA. INTERIOR. NOITE.

SOCORRO ABRE A PORTA. ALESSANDRO ENTRA. BEIJO NA MÃE.

ALESSANDRO — Bença, mainha!

SOCORRO — Deus te abençoe, meu filho!

ALESSANDRO — E Eron?

SOCORRO — Tá na varanda com o... o namorado dele.

ALESSANDRO — (ESTRANHA) Namorado? Que namorado, mainha?

SOCORRO DÁ DE OMBROS. ALESSANDRO VAI ATÉ O LOCAL INDICADO.

CORTE PARA:

CENA 04. CASA DE PRAIA DE ERON. VARANDA. EXTERIOR. NOITE.

KAEL BEIJA ERON. SORRIEM.

ERON — Obrigado por não ter atirado em mim. Por ter confiado em mim.

KAEL — Se não fosse o teu incentivo, cara, eu não conseguiria sair das

ruas. Obrigado por salvar a minha vida também.

KAEL FAZ UM CARINHO EM ERON. ALESSANDRO CHEGA. ESTRANHA KAEL.

ERON LEVANTA-SE.


ERON — Esse daqui é Alessandro... Alessandro, esse é Kael. O rapaz que

me deu a oportunidade de estar aqui hoje vendo tudo que tá

acontecendo lá naquela casa.

ALESSANDRO — Foi ele o cara que ia atirar em você?

KAEL — O próprio! Mas agora nós estamos juntos nessa. Eron é meu

companheiro.

ALESSANDRO FICA EM CHOQUE COM A REVELAÇÃO, MAS...

ALESSANDRO — Bom... Enfim... Fiz tudo que cê me pediu!

ERON — Ótimo. E a polícia?

ALESSANDRO — Vim na frente pra ver de camarote a casinha daquele bandido

caindo. Delegado Emanuel tá a caminho!

ERON ENCARA PARA CASA DE GILBERTO.

ERON — Maravilha! Notícia maravilhosa, meu amigo! Mas eu me

adiantei e tudo que ele mais temia tá acontecendo agora. Fora

outros acontecimentos que nos muni cada vez mais de provas

para acabar de vez com Gilberto.

ALESSANDRO — Do que cê tá falando?

ERON — Hercília e Regina.

ALESSANDRO — (ASSUSTADO) Hercília tá lá?

ERON — E uma hora dessas já deve estar sabendo de tudo.

EM ALESSANDRO PREOCUPADO. CORTE PARA:


HERCÍLIA NO CHÃO, UM TANTO MAIS AFASTADA DO CORPO DE VICTOR.

GILBERTO DEITADO EM POSIÇÃO FETAL, ABALADO, PERDIDO E REGINA EM

PÉ, ARMA APONTADA PARA ELE.

GILBERTO — Eu e Eron tivemos um caso por muito tempo. Foram anos de

saidinhas, viagens... alguns encontros nas quartas... Eu pensei

que com ele, eu ficaria na clandestinidade pra sempre... mas

meu desejo só aumentava. Eu sentia a necessidade de procurar

homens.

REGINA — Por que nunca me deixou seguir a minha vida, Gilberto?

GILBERTO VAI LEVANTANDO E ENCARA REGINA.


GILBERTO — Eu não podia permitir que as pessoas me apontassem na rua. Eu

não podia permitir que a minha família fosse destruída por conta

dos meus desejos, das minhas taras. Eu fiz tudo por força da

minha vontade, dos meus impulsos desenfreados.... E agora tudo

acabou! (OLHA PARA VICTOR) E agora eu matei ele.

(CHORA) Eu matei!

HERCÍLIA LEVANTA E ENCARA O PAI.

HERCÍLIA — Eu quero que você vá pro inferno! Cê vai pagar por tudo de

ruim que nos causou... Por tudo mesmo! A vida dá voltas,

Gilberto. Todas as pessoas que você feriu, toda droga que foi

vendida por sua legião de bandidos.... tudo será cobrado! E vai

ser pesado carregar essa sozinho. Nós não estaremos lá!

GILBERTO CAI EM SI, CHORA.

GILBERTO — Regina!

REGINA — Minha vontade é de atirar em sua cabeça e acabar com toda essa

dor dentro de mim.

SONOPLASTIA: SIRENES DA POLÍCIA. MUITO BARULHO. LUZES JÁ INVADEM

O QUARTO. GILBERTO SE ASSUSTA, LEVANTA.

REGINA — Mas eles vão fazer o dever certo que é colocar você, pra sempre,

atrás das grades, longe de gente de bem, de gente que realmente

sabe o que é amar, o que é ter uma família... família essa que

você, seu hipócrita, tanto defendia! Seus falsos valores serão

enclausurados com a dor de sentir que não tem volta, Gilberto!

Por que, afinal de contas, quem perdeu foi você!

CHUTE NA PORTA. A POLÍCIA INVADE. GILBERTO LEVANTA AS MÃOS.

POLICIAL — Mãos pra cima! Mãos pra cima! A senhora deixa essa arma no

chão. Agora. (PARA HERCÍLIA) A senhora também.

POLICIAIS ENCOSTAM GILBERTO CONTRA A PAREDE. HERCÍLIA SOFRE

MUITO E ABRAÇA REGINA. EMANUEL ENTRA E VÊ O CORPO DE VICTOR.

EMANUEL — Um crime ocorreu neste lugar!

GILBERTO VAI SENDO ALGEMADO.

GILBERTO — Fui eu, delegado! Eu matei o meu homem!

GILBERTO ENCARA A FAMÍLIA, ENCARA EMANUEL, QUE SE APROXIMA

DELE.

EMANUEL — Gilberto Rodrigues, a casa caiu! Cê tá preso!

REGINA E HERCÍLIA, ABRAÇADAS E ABALADAS, O ENCARAM SEM PENA. EM

GILBERTO ACABADO.


CENA 06. ITACARÉ. RUA. EXTERIOR. NOITE.

MUITA MOVIMENTAÇÃO DE POPULARES. CARROS DE POLÍCIA ALI. CARRO

DO IML ACABA DE CHEGAR. SOCORRO E ALESSANDRO ENTRE OS

POPULARES.

ALESSANDRO — Eu vou até lá, mainha!

SOCORRO — Eu vou esperar daqui!

ALESSANDRO SE AFASTA. CORTE RÁPIDO PARA:


PERITOS TIRANDO AS FOTOS HABITAIS PARA A PERÍCIA. O CORPO DE

VICTOR É COLOCADO EM UM SACO PRETO E LACRADO. LOGO EM SEGUIDA,

ELE É LEVADO PELOS TÉCNICOS. POLICIAIS POR ALI. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 08. ITACARÉ. RUA. EXTERIOR. NOITE.

EMANUEL E DOIS POLICIAIS SAEM DA CASA COM GILBERTO ALGEMADO,

APENAS DE CUECA. POPULAÇÃO APLAUDE A AÇÃO DA POLICIA. LOGO EM

SEGUIDA, REGINA SAI COM HERCÍLIA, AS DUAS VÃO SENDO AMPARADAS

POR POLICIAIS. ALESSANDRO CORRE ATÉ ELAS.

ALESSANDRO — Hercília!

AO VÊ-LO, HERCÍLIA CHORA E O ABRAÇA. CHORA MUITO. CÂMERA EM

GILBERTO QUE, ENVERGONHADO, VAI OLHANDO PARA TODOS ATÉ VER

SOCORRO QUE SE APROXIMA DELE.

SOCORRO — Seu Gilberto! Eu quero que o senhor morra na cadeia! Que o

senhor pague por ter mandado matar a minha Isabelle! Bandido!

Assassino! Assassino!

SOCORRO COSPE NA CARA DE GILBERTO. POPULAÇÃO COMEÇA A VAIÁ-LO.

GILBERTO FICA ATORDOADO, OLHA PARA SOCORRO QUE VAI FICANDO

DISTANTE. GILBERTO EM DESESPERO AO VER O POVO. OLHA PARA TODOS

OS LADOS, QUANDO DE REPENTE, DE RELANÇE, ELE VÊ ERON SORRINDO

ENTRE VÁRIOS ROSTOS QUE LHE ACUSAM. AO FECHAR OS OLHOS E ABRÍ-

LOS NOVAMENTE, GILBERTO NÃO VÊ MAIS A FIGURA DE ERON E FICA

PERDIDO. UMA MÃO FORTE DE POLICIAL ABAIXA A CABEÇA DE GILBERTO E

O COLOCA NUMA VIATURA. EM GILBERTO. CORTE PARA:

CENA 09. ITABUNA. GERAIS. EXTERIOR. NOITE.

TOMADA RÁPIDA DE POUCOS PONTOS DE ITABUNA. CLIMA TENSO. CARROS

DE POLÍCIA SUBINDO ALGUNS MORROS E ADENTRANDO FAVELAS NA

CIDADE. BATIDA DE POLICIAIS EM ALGUNS PONTOS. JOVENS E ADULTOS

SENDO DETIDOS EM PONTOS DA CIDADE. CORTE PARA:


CENA 10. DELEGACIA. SALA. INTERIOR. NOITE.

GILBERTO, APENAS DE CUECA, DIANTE DAS CÂMERAS DE INÚMEROS

JORNALISTAS LOCAIS E REGIONAIS. POLICIAIS ARMADOS E ENCAPUZADOS

AO LADO DELE. ABRE EM UM REPÓRTER LOCAL.

REPÓRTER — Acaba de ser conduzido para a delegacia de Itabuna, o

empresária Gilberto Rodrigues, proprietário do Hotel Costa

Cacau. Empresário do ramo turístico, muito importante de nossa

Região, Gilberto é acusado de ser o chefe de uma quadrilha da

cidade que comada o tráfico de drogas. Ao ser encontrado em

sua casa de praia, Gilberto confessou ter matado o seu genro e

amante, Victor Menezes.

MAIS FOTOS NO ROSTO DE GILBERTO. CÂMERA EM EMANUEL.

EMANUEL — Nós chegamos até Gilberto através de uma denúncia anônima.

Quanto a droga, nós encontramos na fazenda do acusado todo

arsenal para o refine de cocaína, droja já embalada, no pino,

pronta pra comercialização. Sem contar que foi com a ajuda da

irmã dele que conseguimos apreender boa parte desse material

que já estava pronto para ir para as ruas.

REPÓRTER — Foi um verdadeiro quebra nessa quadrilha, hein, delegado? E

quem diria: chefiada por um homem aparentemente ilibado da

sociedade itabunense.

EMANUEL — Pra você ver. Mas nós estamos trabalhando para trazer

tranquilidade ao povo de Itabuna. E eu garanto: nós vamos

conseguir!

EMANUEL AGRADECE E SE AFASTA. GILBERTO VAI SENDO CONDUZIDO.

MAIS FOTOS.

FADE OUT.

CENA 11. ÔNIBUS. INTERIOR. NOITE.

FADE IN. ABRE NO CELULAR DE JÚNIOR QUE USA UM DISFARCE. ELE

ASSISTE A PRISÃO DE GILBERTO.

JUNIOR — Filho de uma puta do caraí! Vai ficar preso pra larger de ser

safado! Tirou onda cá minh acara durante muito tempo… me

julgava enquanto enchia meu bolso de grana, ladrão! Hipócrita!

Ainda por cima é viado! (RI) Viadão! Gilberto viadão!

JUNIOR ESTRANHA O ÔNIBUS PARAR. PESSOAL VÊ AS LUZES DA POLÍCIA. EM

JUNIOR AFLITO. CORTE RÁPIDO PARA:


CENA 12. RODOVIA. EXTERIOR. NOITE.

ALGUNS CARROS PARADOS. POLICIAIS VÃO AVERIGUANDO A CARTEIRA DE

CADA MOTORISTA, ANALISA ALGUMAS MALAS DE CARROS. PESSOAS

ESPERANDO A ABORDAGEM. UM POLICIAL SE APROXIMA DO ÔNIBUS ONDE

JÚNIOR SE ENCONTRA, NO LETREIRO: VILA VELHA.

MOTORISTA ABRE A PORTA DO ÔNIBUS.

POLICIAL — Boa noite, campeão! Nós estamos averiguando todos os carros.

Queira, por gentileza, se retirar do veículo e abrir a mala do

mesmo.

O MOTORISTA LOGO DESCE DO ÔNIBUS. POLICIAL FAZ SINAL PARA DOIS

POLICIAIS ENTRAREM NO ÔNIBUS, ENQUANTO UM OUTRO TRÁS O

CACHORRO QUE ENTRA NA MALA DO ÔNIBUS E VAI CHEIRANDO AS

BAGAGENS. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 13. ÔNIBUS. INTERIOR. NOITE.

PASSAGEIROS COMENTAM A AÇÃO DA POLICIA. ALGUMAS CRIANÇAS ESTÃO

TENSAS. DOIS POLICIAIS ENTRAM. JUNIOR APERTA A ARMA QUE ESTÁ EM

SUA CINTURA.

POLICIAL — Só os homens descem! Todos os homens descend para

averiguação!

JUNIOR VIRA O ROSTO. TENSO. SEGURA A ARMA. OS HOMENS VÃO

LEVANTANDO E ACOMPANHAM A POLÍCIA. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 14. RODOVIA. EXTERIOR. NOITE.

CACHORRO FICA PRESO A ALGUMAS BAGAGENS. POLICIAIS ABREM E

ENCONTRAM TABLETES DE MACONHA. VÁRIOS HOMENS SENDO

REVISTADOS PELOS POLICIAIS. JUNIOR, AINDA NO ÔNIBUS, DESCE

VAGAROSAMENTE SEM SER PERCEBIDO.

POLICIAL — De quem é a bagagem? Quem é o dono dessa porcaria?

JUNIOR DESCE DO ÔNIBUS COM A ARMA EM PUNHO E ATIRA CONTRA OS

POLICIAIS. OS HOMENS QUE ESTAVAM SENDO REVISTADOS SE ASSUSTAM E

TUDO TORNA-SE UMA CONFUSÃO. POLICIAIS REVIDAM. JUNIOR ATIRA MAIS.

ALGUNS INOCENTES SÃO ATINGIDOS. JUNIOR ATINGE UM POLICIAL NA

CABEÇA E CORRE PARA O OUTRO LADO DO ÔNIBUS, INDO NA DIREÇÃO

CONTRÁRIA DA RODOVIA. ATÉ QUE MOSTRA A ARMA PARA UM HOMEM QUE

ESTÁ EM UMA MOTO.

JUNIOR — Perdeu, mano! Perdeu! Desce da moto! Desce da moto,

desgraça!


TAPÃO NA CARA DO HOMEM QUE CAI DA MOTO, QUANDO JUNIOR SOBE NA

MESMA, E VAI FUGIR, POLICIAIS JÁ SURGEM EM MOTOS. JUNIOR ATIRA,

ACELERA, MAS RECEBE DIVERSOS TIROS. A MOTO FAZ ZIG ZAG E JUNIOR

CAI SENDO ATINGIDA PELA MESMA. JUNIOR ROLA PELA RODOVIA

RETORCENDO TODO O SEU CORPO. CÂMERA EM CLOSE DE IMPACTO:

PESCOÇO QUEBRADO, MUITO SANGUE SAINDO DA BOCA E OLHOS

ARREGALADOS. SANGUE SE ESPALHA NA PISTA. SIRENES DE POLÍCIA. LUZES

SOBRE O CORPO DELE. NO IMPACTO DO CORPO TODO RETORCIDO, A

CÂMERA VAI SE AFASTANDO. ERGUE-SE ATÉ UM TAKE DA NOITE SOBRE A

MATA ATLÂNTICA E A LUA ENQUANTO LÁ EMBAIXO APENAS OS SONS E AS

LUZES.

FADE OUT.

CENA 15. MANSÃO DE GILBERTO. SALA. INTERIOR. NOITE.

FADE IN. ADÉLIA, OSÉAS E HELENA SUPER PREOCUPADOS. PORTA SE ABRE.

REGINA E HERCÍLIA CHEGAM COM ALESSANDRO. HELENA CORRE PARA

ELAS E TODAS SE ABRAÇAM CHORANDO.

HERCÍLIA — Foi horrível, minha irmã!

HELENA — Eu imagino! Mas acabou! Acabou!

ADÉLIA SE APROXIMA DE REGINA. AMBAS EM CHORO. ADÉLIA CONFORTA A

OUTRA EM UM ABRAÇO.

REGINA — Gilberto acabou com o que restava de mim, Adélia.

ADÉLIA — Ele vai pagar, Regina. A partir de agora é com a polícia.

OSÉAS — Nós só não entendemos como aconteceu a morte de Victor.

HELENA — Ele estava envolvido nos esquemas de Gilberto?

HERCÍLIA — É muito duro pra mim contar isso pra vocês, mas daqui a pouco

a cidade inteira estará sabendo. Victor e Gilberto tinham um

caso de anos.

REAÇÃO DE TODOS.

ADÉLIA — Um caso? Você tá dizendo que… o meu irmão… Gilberto é

gay?

REGINA — Nós flagramos Victor e Gilberto. Durante a discussão eles

confessaram. Gilberto confessou que me traiu durante todo o

nosso casamento. Ele me humilhou de tal forma que/

HELENA AGARRA A MÃE.


HELENA — Não diz mais nada, mainha! Não diz mais nada, meu amor! Não

sofra mais por ele… Não sofra mais, mainha!

EM TODOS ABALADOS.

HERCÍLIA — Eu preciso avisar a dona Fátima!

ALESSANDRO — Você quer mesmo encontrar essa mulher, Herícilia?

HERCÍLIA ENCARA ALESSANDRO. CORTE PARA:

CENA 16. CASA. INTERIOR. NOITE.

FÁTIMA REAGE AOS GRITOS DIANTE DE CASSINHO, RAIMUNDA,

ALESSANDRO E HERCÍLIA. TODOS EM UMA CASA IMPROVISADA APÓS O

ATAQUE DE MARIA PAULA.

HERCÍLIA — Eu tinha a obrigação de contar tudo o que aconteceu para a

senhora, dona Fátima, depois de ter se importado em me contar

a verdade sobre o seu filho!

FÁTIMA — (GRITA) Oh, Senhor! Oh, Jeová! Mataram meu filho, Senhor!

O espírito da perversão levou meu menino!

HERCÍLIA — Era isso. Eu vou embora.

CASSINHO — Obrigado, Hercília.

RAIMUNDA VAI ATÉ FÁTIMA. HERCÍLIA OLHA COM PENA PARA O

SOFRIMENTO DE FÁTIMA E SAI COM ALESSANDRO.

FÁTIMA — Eu preciso ver o meu filho! Eu quero o meu Victor!

RAIMUNDA — Você vai ver o seu filho, minha irmã! Meu Deus! Faz alguma

coisa, Cassinho.

CASSINHO SAI DE CASA RAPIDAMENTE. EM RAIMUNDA CONSOLANDO

FÁTIMA. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 17. IML. INTERIOR. NOITE.

FÁTIMA CAMINHA COM O AMPARO DE RAIMUNDA E CASSINHO. O MÉDICO

LEGISTA ABRE A GELADEIRA E O CORPO DE VICTOR FICA EXPOSTO DIANTE

DE FÁTIMA QUE CHORA E AGARRA RAIMUNDA. EM SLOW: O SOFRIMENTO

DELA. RAIMUNDA CHORA COM A IRMÃ. FÁTIMA TREME, MAS TOCA NO

CORPO DO FILHO. GRITO DESESPERADOR DE MÃE. NO SOFRIMENTO DELA.

FUNDE COM:


CENA 18. DELEGACIA. INTERIOR. NOITE.

GILBERTO ASSINA TODO SEU DEPOIMENTO DIANTE DE EMANUEL. POLICIAL

O LEVA DALI. CORTE DESCONTÍNUO: GILBERTO SAI DA SALA DO DELEGADO

E É RECEPCIONADO POR MAIS FOTOS. JORNALISTAS TENTAM AVANÇAR,

MAS SÃO CONTIDOS POR POLICIAIS. GILBERTO SEGUE FIRME, OLHAR DURO,

FRIO… CORTE DESCONTÍNUO: GILBERTO CAMINHA POR UM LONGO

CORREDOR E É COLOCADO EM UMA CELA ÚMIDA E FÉTIDA.

GILBERTO — Eu não posso ficar nesse lugar! Eu não vou ficar aqui! Chamem

meu advogado! Meu advogado! Ei! Ei!

O POLICIAL SE AFASTA. GILBERTO ANDA PELA CELA EM DESESPERO. TOCA

NAS GRADES, BATE NELAS, GRITA DESESPERADO.

GILBERTO — Eu não vou ficar nesse lugar! Eu não vou ficar aqui!

GILBERTO CAI NO CHÃO DA CELA. OLHA PARA OS LADOS, NÃO VÊ

NINGUÉM. SOZINHO, DEITA-SE NO CHÃO E, CHEIO DE ÓDIO, DÁ UM GRITO

PROFUNDO.

FADE OUT.

CENA 19. ITABUNA. GERAIS. EXTERIOR. DIA.

FADE IN. TOMADA AÉREA DA CIDADE. TAKES DA MOVIMENTAÇÃO

HABITUAL; CRIANÇAS BRINCAM NA PRAÇA CAMACÃ NO CENTRO, JOVENS

NO SKATE NA ALAMEDA DA JUVENTUDE. O RIO CACHOEIRA ATÉ ESTÁ BEM

MAIS CHEIO QUE O NORMAL. SOBRE BELÍSSIMAS IMAGENS DE ITABUNA.

LEGENDA: DIAS DEPOIS.

CENA 20. RESTAURANTE. INTERIOR. DIA.

LOCAL SOFISTICADO. REGINA E SALVINO COMEM ENQUANTO CONVERSAM.

ELA AINDA UM TANTO ABATIDA.

SALVINO — E como você está, minha irmã?

REGINA — Levando a vida. Hoje tenho que ir até Ilhéus negociar a venda

do Hotel.

SALVINO — São muitas dívidas?

REGINA — Inúmeras. Mas graças a Deus estou recebendo a ajuda de muita

gente importante. Adélia não me deixou na mão. E tem

Alessandro, também, ele tem sido muito importante pra gente

neste momento.

SALVINO SEGURA A MÃO DELA.

SALVINO — Quero te dizer que você é muito importante pra mim, viu?


REGINA — Obrigado, irmão! Eu ainda estou muito abalada com tudo que

ouvi de Gilberto.

SALVINO — Soube que ele mandou te chamar.

REGINA — Não quero mais olhar na cara dele. Estou liberta dele. Quero que

ele me esqueça.

SALVINO — E quando será o julgamento?

REGINA — Não me importa saber, Salvino! Quero esquecer Gilberto. Não

vou ficar me vitimizando, me diminuindo depois de tudo que

aconteceu. Eu não sou aquela mulher fraca que ele tanto pensou.

Tá na hora de eu mudar a minha vida.

SALVINO — É assim que se fala.

REGINA — Já estou preparando o divórcio. Vou me reconstruir. Você vai

ver.

SALVINO — Eu tenho certeza que vai. Você vai ser muito feliz, minha irmã!

Você merece!

REGINA SEGURA A MÃO DE SALVINO COM CARINHO.

REGINA — Agora vamos comer, estou morrendo de fome!

SALVINO — vamos.

REGINA — Me conte de você… Soube que está cheio de projetos!

E ELES VÃO CONVERSANDO FOR A DO ÁUDIO. CORTE PARA:

CENA 21. MANSÃO BIANCHINNI. SALA. INTERIOR. DIA.

ZUZÚ E PEROLA SÃO SERVIDAS PELA EMPREGADA.

PEROLA — Obrigada!

EMPREGADA — Dona Perola, tem um homem subindo para falar com a senhora.

ZUZÚ — Que homem, criatura? Como cê deixa um homem subir sem

nem saber quem é? Tá lesa, é?

EMPREGADA — Ele disse que é o pai dos filhos da senhora, dona Perola!

PEROLA — O quê?

ZUZÚ — Tá louca? Só pode ser um bandido! O pai de Diogo e Raíssa tá

morto! Eron morreu, seu burra!


CAMPAINHA. PEROLA LEVANTA, TENSA.

PEROLA — Que brincadeira de mal gusto é essa? Só pode ser armação de

Raíssa!

PEROLA VAI ATÉ A PORTA.

ZUZÚ — Não abra que pode ser bandido!

PEROLA — Isso é brincadeira de Raíssa, mainha! Quer ver?

PEROLA ABRE A PORTA E DÁ DE CARA COM ERON. REAÇÃO ATÔNITA DE

PEROLA. ZUZÚ CAI SENTANDA.

ZUZÚ — Pega minha pílula que eu tô ficando louca!

ERON — Perola! Como vai?!

PEROLA ASSUSTADA, NÃO DIZ NADA. LEVA A MÃO A BOCA.

ERON — Eu sei que você pensava que eu estava morto. Mas tudo não

passou de um plano.

PEROLA — Eron?! Meu Deus! Eron… (SE REVOLTA/PARTE PRA

CIMA) Desgraçado! Onde cê tava esse tempo todo?!

ERON — (CONTROLANDO-A) Calma! Calma!

PEROLA — Nosso filho tá preso! Minha vida virou um inferno enquanto cê

tava brincando de se seconder, seu maldito!

ERON SEGURA PEROLA COM FORÇA.

ERON — Eu não estava brincando, Perola! Eu fui ameaçado! Gilberto

tentou me matar!

PEROLA — Você sabe onde seu filho tá agora? Diogo tá preso por culpa do

seu amante! Inclusive, Eron, você me traia com Gilberto! Com

seu compadre! Que nojo de você!

PEROLA BATE MAIS EM ERON, QUE A SEGURA FIRME E DIZ:

ERON — Para! Eu vim aqui justamente pra resgatar o nosso filho!

RAÍSSA VEM DO QUARTO E VÊ O PAI. ATÔNITA.

ERON — Raíssa, minha filha!

RAÍSSA — (EMOCIONADA) O senhor tá vivo, painho! Tá vivo!

ERON ERGUE OS BRAÇOS E RAÍSSA CORRE PARA ELE. PEROLA CHORA, ANDA

PELA SALA. ZUZÚ EM CHOQUE.

ZUZÚ — Tem certeza que é de carne e osso?


PEROLA — É ele, sim, mainha! Esse desgraçado!

ERON — Nós temos que ir até a delegacia, Perola!

PEROLA — Diogo já foi transferido pro presídio!

ERON — Antes eu tenho que dar a cartada final em Gilberto! Eu tenho

provas de que ele matou Muriel, o sobrinho!

ERON E PEROLA SE ENCARAM. CORTE PARA:

CENA 22. DELEGACIA. SALA DE EMANUEL. INTERIOR. DIA.

EMANUEL, ASSISTE O VÍDEO FEITO POR ERON, DIANTE DE PEROLA E ERON.

EMANUEL — Muito grave! O video mostra explicitamente o crime. Mais um

pra lista de Gilberto.

ERON — É isso, delegado! Tá tudo aí. A última prova!

EMANUEL — Como você conseguiu viver por anos recolhendo provas contra

ele?

ERON — Gilberto me usou! Ele sabia que descobri todas as

irregularidades da CAVERNA e tentou acabar comigo. Mas pro

azar dele, eu estou bem vivo pra vê-lo atrás das grades.

EMANUEL — Mas pelo que soube, houve o seu enterro!

ERON — Houve! Mas não era o meu corpo… Não era eu quem estava lá.

Era um boneco. O caixão se quer foi aberto.

PEROLA — Realmente, não abriram o caixão, pois ficamos sabendo que o

corpo estava em estado de decomposição.

ERON — Essa é a verdade, delegado!

EMANUEL — Que história!

ERON — O que mais me dói é ver que o meu filho acabou se envolvendo

com esses marginais que lutaram para me apagar, que mataram

Isabelle pra atingir meu auxiliar… Essa dor que eles me

causaram não tem perdão! (P) Eu preciso falar com meu filho,

delegado! Eu preciso ver o meu Diogo no presídio!

EMANUEL — Eu vou entrar em contato com o diretor do presídio. Você vai

poder conversar com o seu filho, Eron.

EM ERON. CORTE PARA:


CENA 23. PRESÍDIO. CELA. INTERIOR. DIA.

DIOGO E RAONI EM UMA CELA.

RAONI — Mano, fala com tua coroa pra dar o recado pra minha. Manda

minha coroa aparecer aqui, mano!

DIOGO VAI COM UM AGENTE. CORTE PARA:

CENA 24. PRESÍDIO. SALA. INTERIOR. DIA.

ERON DE COSTAS. PEROLA EM PÉ. PORTA SE ABRE E DIOGO ENTRA. VÊ

PÉROLA.

DIOGO — É você? Veio fazer o quê aqui? Quem é esse cara?

ERON VIRA-SE PARA DIOGO. REAÇÃO DE DIOGO.

DIOGO — Que porra é essa?

ERON — Tô vivo, filho! Tô vivo!

DIOGO ENCOSTA-SE POR ALI. NÃO ACREDITA.

DIOGO — (EMOCIONADO) Meu pai! Meu pai tá vivo! Meu pai!

TEMPO EM DIOGO SEM ACREDITAR ATÉ QUE… DIOGO CORRE PARA O PAI E

O ABRAÇA COM MUITA FORÇA. CHORAM JUNTOS.

DIOGO — Me tira desse inferno, painho! Me tira daqui, por favor! Essa

mulher me deixou vir parar aqui… só você, painho… só você

me tira daqui… eu sei que só você pode me ajudar!

PEROLA — Não fala isso de mim, Diogo! Eu sou sua mãe!

ERON — Não culpe a sua mãe pelos seus erros, Diogo!

DIOGO — Ela me odeia! Sempre me odiou!

ERON AGARRA O FILHO.

ERON — Nós dois te amamos, meu filho! Nós erramos muito em sua

criação, mas nós te amamos… a culpa é minha… a culpa é

minha de você estar neste lugar. Se eu pudesse voltar no tempo,

meu filho!

DIOGO CHORA E ABRAÇA O PAI.

DIOGO — Eu não aguento mais esse lugar! Eu não aguento mais pensar em

tudo que penso… minha mente tá doente, pai! Minha cabeça

pesa… minha mente… eu matei a minha mina, pai… eu não

presto!

ERON AGARRA O FILHO COM MAIS AMOR.


DIOGO — Eu mereço o inferno! O inferno!

PEROLA AGARRA O FILHO POR TRÁS.

PEROLA — Nós não vamos te abandonar nunca mais, Diogo! Nunca mais,

meu filho!

DIOGO — A senhora deve estar feliz, né?

PEROLA — Não, não… Pelo contrário!

ERON — Nós só queremos o seu bem, filho! Eu voltei justamente pra te

ajudar, pra tá do seu lado…

DIOGO — Onde cê tava, painho? Por que me abandonou? Por quê?

ERON — Me perdoa, meu filho! Me perdoa por tudo!

ERON CHORA COPIOSAMENTE E O ABRAÇA. NELES. NO SOFRIMENTO. CORTE

PARA:

CENA 25. ILHÉUS. EXTERIOR. DIA.

TOMADA BELÍSSIMA DAS PRAIAS DE ILHÉUS. ÔNIBUS ENTRANDO E SAINDO

DO TERMINAL URBANO. MOVIMENTAÇÃO DE TRANSEUNTES E

CONGESTIONAMENTO. QUINHA CAMINHA PELO CALÇADÃO DE ILHÉUS,

SUAS MUAMBAS AO LADO.

QUINHA — Olha, olha, olha, olha as mu,mu,mu…. Mu,mu,mu… muamba

da gaguinha de Ilhéus!

QUINHA, TODA AMIGÁVEL, VAI FALANDO COM AS PESSOAS, TIRA FOTO COM

OUTRAS.

CORTE DESCONTÍNUO: PARA DIANTE DA CATEDRAL E SENTA NA

ESCADARIA, EM SEGUNDO PLANO A BELA PAISAGEM DA PRAIA E DO

VESÚVIO, TURISTAS TIRANDO FOTOS.

QUINHA — Cá, cá, cá… cá, cá… Cadê minha aposta?!

QUINHA MEXE NA BOLSA E ENCONTRA O CARTÃO DA LOTERIA.

QUINHA — Achei! Já, já, já, já, pensou eu, eu, eu, rí, rí, rí… rica?!

QUINHA PEGA O CELULAR E VAI CONFERINDO AS DEZENAS. VAI

ENLOUQUECENDO A CADA NÚMERO.

QUINHA — Ganhei! Ganhei!

QUINHA JOGA AS MUAMBAS PARA CIMA E CORRE FESTEJANDO. PESSOAL

OLHANDO EM VOLTA. CORTE PARA:


CENA 26. APART. CLARA. SALA. INTERIOR. DIA.

ANTIGO APART. DE GUGA. CLARA LIMPANDO ALGUNS MÓVEIS. OLÍVIA

USANDO O COMPUTADOR. BATIDAS NA PORTA. OLÍVIA ABRE E QUINHA JÁ

ENTRA RODOPIANDO.

QUINHA — Chê, chê, chê, chê, chê, chê chega de, de, de… de, de, de… de

pobreza! Tô rica! Tô rica!

OLÍVIA PEGA O JOGO E CONFERE.

OLÍVIA — Tá rica mesmo! Acertou todos os números!

CLARA PULA COM QUINHA.

CLARA — Arrasou, Quinha!

QUINHA — E, e, e, e… agora? O que eu faço com tanto dinheiro, minha

gente?

OLÍVIA — (INTERESSEIRA) Agora a gente gasta essa grana comprando

tudo. Vamos logo no shopping dar uma repaginada, mudar esse

look, e comprar umas roupas pra mim, também.

QUINHA — Olha, olha, olha, olha pra, pra, pra, pra, pra essa interesseira!

(AGARRA OLÍVIA) Mas é claro!!! Nossa vi, vi, vi… vi, vi,

vi… vida vai mudá, meninas!!!!

E ELAS PULAM DE ALEGRIA. COMEMORAM A VALER. FUSÃO COM:

CENA 27. ITABUNA. GERAIS. EXTERIOR. NOITE.

ANOITECE AO SOM DE HARD TIMES. A CIDADE DE ITABUNA SE ILUMINA, UM

CLIMA MELHOR. NOITE SEM TENSÃO. TAKES DA EFERVECÊNCIA DO BAIRRO

SÃO CAETANO. TAKES DA RUA ALTOS & BAIXOS. CORTE PARA:

CENA 28. CASA DE TACILA. QUARTO DO CASAL. INTERIOR. NOITE.

JEFTER AINDA ACAMADO, MAS BEM MELHOR, JÁ MAIS ATIVO. TACILA DÁ

COMIDA NA BOCA DELE. AINDA ENFAIXADO.

JEFTER — Não vejo a hora de tirar essas faixas todas. Já me sinto bem

melhor.

TACILA — Tem que continuar assim por mais uma semana.

JEFTER — Queria mesmo era pegar meu caminhão, sair por essas

estradas… e tu vai comigo!

TACILA — Oxe, homem!

JEFTER — (SAFADO) Não quer?


TACILA — Quero sim.

TACILA E JEFTER SE BEIJAM. ELE COME MAIS UM POUCO.

JEFTER — E a pessoa lá que doou o sangue pra me salvar, hein, Tacila? O

médico não quis me dizer… parece que a pessoa não quis se

identificar. Tu sabe quem é?

TACILA — (SEM JEITO) Sei, sim, homem!

JEFTER — Oxe, pois me conte!

TACILA DEIXA O PRATO POR ALI. SE EMOCIONA.

TACILA — Eu fiquei muito aflita quando soube que tu precisava daquele

sangue e só uma pessoa podia te salvar. Fiquei na dúvida se

procurava ou não, mas fui… E pedi. Pedi que a filha salvasse o

pai.

JEFTER PARA. SURPRESO.

JEFTER — O sangue… o sangue que tá em mim é o de/

TACILA — De Lohane, homem… de nossa filha!

JEFTER SE RECOSTA NOS TRAVESSEIROS. NELE, SURPRESO.

TACILA — Pode me julgar, eu sei que cê vai fazer isso!

JEFTER — Me leva pra falar com ela.

TACILA — Quê?

JEFTER — Me leva lá, mulher!

JEFTER COM VONTADE DE CHORAR.

TACILA — Eu não vou te levar. Você vai armar confusão. Eu nem deveria

ter te contado isso/

JEFTER — (GRITA) Me leva lá agora!

EM TACILA. CORTE PARA:

CENA 28. DELEGACIA. SALA DO DELEGADO. INTERIOR. NOITE.

THOR DIANTE DO DELEGADO, VÊ O VÍDEO GRAVADO POR ERON DO

MOMENTO EM QUE GILBERTO MATA MURIEL. THOR BALANÇA A CABEÇA

NEGATIVAMENTE, VIRA O ROSTO ALGUMAS VEZES.

THOR — Pra mim chega, doutor!


EMANUEL — (DESLIGANDO) Como eu falei pra você, Thor. O seu irmão

foi assassinado dessa forma. Gilberto, em depoimento,

confessou os motivos.

THOR — Muriel teve esse fim por conta da ambição dele, delegado! Meu

irmão foi capaz de armar a morte dos meus pai e do meu irmão

pra herder a fortuna e chegar na Costa Cacau, como conseguiu.

Agora já se sabe como.

EMANUEL — Amanhã cedo vamos resgatar o corpo de seu irmão. Pode nos

acompanhar pra fazer o reconhecimento?

THOR — (INDIFERENTE) Não preciso fazer reconhecimento nenhum. O

video é o suficiente. (LEVANTA) Tenho que ir, delegado!

Muriel pra mim é caso encerrado!

EMANUEL ASSENTE. THOR O CUMPRIMENTA E SAI. CORTE PARA:

CENA 29. RUA DE ITABUNA/PRAÇA. EXTERIOR. NOITE.

THOR PILOTA SUA MOTO. CÂMERA FLAGRA O CHORO DELE. TAKES DE THOR

CORTANDO OS CARROS. CORTE DESCONTÍNUO: THOR NA BEIRA RIO,

CAMINHA A CHORAR. PESSOAS CIRCULANDO, CORRENDO, OUTRAS

MALHANDO, ENQUANTO ELE VAI CAMINHANDO A CHORAR. INSERIR

FLASHBACK: MOMENTOS DE AMELINHA E TOURO. CASAL FELIZ, FAMÍLIA

UNIDADE… MOMENTOS DE PROMOÇÃO NO FRIGORÍFICO, ALMOÇOS,

RESENHAS E BRINCADEIRAS, EM MEIO A LEMBRANÇA DA MORTE DOS PAIS E

DE MURIEL CONFESSANDO A ARMAÇÃO. VOLTA AO TEMPO PRESENTE EM

THOR QUE SENTA EM UM BANCO DA PRAÇA CAMACÃ, PESSOAL POR ALI,

COMEM, SE DIVERTEM, E ELE SOFRE. NA SOLIDÃO DE THOR. CORTE PARA:

CENA 30. QUARTINHO. INTERIOR. NOITE.

ALIEN SENTADO NUMA CAMA IMPROVISADA. THOR DIANTE DELE.

ALIEN — Gilberto matou Muriel?

THOR — Matou. Vão recolher o corpo dele amanhã.

ALIEN — Chegou o momento de eu voltar pro presídio.

THOR — Não, cara! Tá maluco? Oxe! Que voltar pra presídio, nada. Tu

vai embora. Já esquematizei tudo. Eu vou botar uma grana em

tua mão e/

ALIEN SEGURA NAS MÃOS DE THOR. SORRI.

ALIEN — Obrigado, meu irmão! Mas não. Eu vou voltar pro presídio. (P)

Querendo ou não eu disparei à arma.


THOR — Mas não foi por querer.

ALIEN — No entanto, acabou matando. (SORRI TRISTE) Obrigado por

acreditar em mim. Obrigado!

ALIEN ABRAÇA THOR E OS DOIS SE EMOCIONAM. CORTE PARA:

CENA 31. CASA DE THOR. SALA. INTERIOR. NOITE.

LOHANE VEM DA COZINHA E ABRE A PORTA. TACILA E JEFTER. LOHANE

ENCARA O PAI. SURPRESA.

LOHANE — Vocês?

JEFTER — Tamo incomodando?

LOHANE — (SEM ENTENDER/OLHANDO PARA TACILA) Não, é que…

JEFTER VAI ENTRANDO. TACILA O AJUDA.

JEFTER — Então, sua mãe me contou o que tu fez por mim… Lohane.

LOHANE — Mãe! Eu não queria que a senhora contasse… eu sabia que/

JEFTER — Calma!

LOHANE O ENCARA.

JEFTER — Eu vim aqui te agradecer. Vim te pedir muito obrigado pelo

gesto de ter me salvado.

LOHANE — Eu faria qualquer coisa pra salvar você.

JEFTER — Obrigado! Eu… Eu vou retribuir esse gesto. Pode apostar que

vou. (SEM JEITO) Agora me leva pra casa, Tacila!

TACILA — Claro!

LOHANE SE EMOCIONA E FICA A OLHAR O PAI SAIR COM A MÃE. TACILA

SORRI PARA LOHANE. LOHANE PULA DE FELICIDADE APÓS A SAÍDA DELES.

NELA. CORTE PARA:

CENA 32. CASA DE SOPHIA. SALA. INTERIOR. NOITE.

SOPHIA, QUINHA, OLÍVIA E CLARA PULAM DE FELICIDADE.

SOPHIA — Ai, como eu estou feliz por você, sua gaga chata!

QUINHA — Tur, tur, turbinada! Agora sim eu sô, sô, sô rica!

OLÍVIA — Tá toda besta!


CLARA — A gente veio aqui porque Quinha quer te fazer uma proposta,

Sophia!

SOPHIA — Proposta? Que proposta, sua louca?

QUINHA — Tá, tá, tá, tá, tá, tá tava pen, pen, pensano… e agora que, que,

que, que, que, que eu sô rica… eu quero ostentação!

SOPHIA — Ual! E eu entro onde?

CLARA — Quinha quer comprar o espaço onde era a CAVERNA!

OLÍVIA — E reabrir a caverna em grande estilo! Agora dominada pelas

mulheres!

CLARA — vamos botar aquilo pra funcionar de verdade, sem a sombra de

painho!

QUINHA — Tó, tó, tó… topa?

SOPHIA — Tamo junto!

E ELAS SE UNEM COM AS MÃOS. GRITAM. PULAM FELIZES. NA ALEGRIA

DELAS.

FADE OUT.

CENA 33. ITACARÉ. GERAIS. EXTERIOR. DIA.

FADE IN. TAKES AÉREOS. CORTE PARA:

CENA 34. FUNDOS DA CASA DE PRAIA DE GILBERTO. EXTERIOR. DIA.

PERITOS VÃO CAVANDO O LOCAL ONDE MURIEL FOI ENTERRADO. LOCAL

CERCADO COM FITAS DE ISOLAMENTO. FOTOGRAFIAS. CORTE

DESCONTÍNUO: O CORPO DE MURIEL É ENCONTRADO. MAIS FOTOGRAFIAS.

EMANUEL E OS DEMAIS TAMPAM O NARIZ. CÂMERA VEM ATÉ REVELAR

MURIEL EM ESTADO DE DECOMPOSIÇÃO. FOTOGRAFIAS E MAIS

FOTOGRAFIAS. EFEITO. CORTE DIRETO PARA:

CENA 35. MANSÃO DE GILBERTO. SALA. INTERIOR. DIA.

ABRE NA FOTO DE MURIEL NO TABLET NAS MÃOS DE HELENA. REGINA AO

LADO DELA.

HELENA — Que horrível! O corpo de Muriel! A bee ficou acabada!

REGINA — Deixa de loucura e desliga isso.

HELENA DEIXA O TABLET DE LADO. PEGA HEITOR E VAI ATÉ A MÃE. HEITOR

DÁ OS BRAÇOS PARA REGINA.


HELENA — Agora que Junior morreu, mainha, eu não tenho mais por que

esconder.

REGINA — Esconder o quê?

HELENA — A paternidade de Heitor.

REGINA REAGE.

HELENA — Heitor não é filho de Junior!

REGINA — O que cê tá me dizendo, sua irresponsável? Como esse menino

não é filho de Junior? Heitor… esse menino é filho de quem,

Helena?

CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 36. RESTAURANTE PANELA DE BAIRRO. INTERIOR. DIA.

PESSOAL COMENDO. GARÇONS SERVINDO A FEIJOADA – PRATO DO DIA.

HELENA ENTRA COM HEITOR E REGINA. TACILA NO CAIXA.

REGINA — Bom dia!

TACILA VÊ HELENA.

TACILA — Bom dia! O que cê tá fazendo aqui, Helena?

HELENA — Eu vim na paz, dona Tacila! Tô até querendo bater o rango

nessa feijoada da senhora.

HELENA PÕE HEITOR NA MESA E SE SENTA. TACILA A OLHA REPROVANDO.

REGINA — Eu vim porque preciso conversar com seu filho Michel.

MICHEL VEM DA COZINHA E VÊ HELENA COM HEITOR. HELENA FICA TODA

ACESA QUANDO VÊ MICHEL, QUE TAMBÉM FICA BALANÇADO. HEITOR DÁ

OS BRAÇOS PARA MICHEL QUE CORRE ATÉ O MENINO.

REGINA — Parece até que o menino sabe!

HELENA — Heitor sempre foi chegado em Michel!

TACILA — Sabe do que?

MICHEL — Oxe! Que eu tava morrendo de saudade de tu.

HELENA — Deixa que eu conto, mainha! Michel, eu vim aqui pra pedir

perdão a vocês pelo que Junior fez. Eu tenho uma parcela de

culpa nessa história toda.

TACILA — Tem mesmo. Jefter quase morreu.


MICHEL — Mas graças a Deus painho tá vivo!

HELENA — Me perdoa, dona Tacila! É sério… eu errei, Michel errou… mas

quem nunca errou nessa vida. Tá que foi um tiro, mas seu Jefter

tá vivo, tá bem… E tem mais… Acho que a senhora vai ter que

me perdoar de uma forma ou de outra.

TACILA — Oxe! Por quê?

HELENA — Heitor é teu neto, dona Tacila!

MICHEL FICA ATÔNITO.

MICHEL — Como é que é? Tá brincando comigo, Helena?

HELENA — Tô não! Pode fazer dna que tu vai ver. Heitor é teu filho,

Michel! Né de Junior não.

MICHEL, SURPRESO, SE EMOCIONA COM HEITOR NO COLO. TACILA SE

EMOCIONA.

MICHEL — É meu filho, mainha! Meu filho! Heitor!

MICHEL VIBRA COM O GAROTO NO COLO. REGINA E HELENA SORRIEM.

TACILA SE APROXIMA DE HELENA E SEGURA A MÃO DELA. SORRIEM UMA

PARA OUTRA ENQUANTO CHORAM. NELES. CORTE PARA:

CENA 37. PRAIA. EXTERIOR. DIA.

AO SOM DE HARD TIMES, TAKES BONITOS DE UMA PRAIA NO SUL DA BAHIA.

ALESSANDRO MERGULHA NO MAR AO LADO DE HERCÍLIA. SE DIVERTEM

MUITO ATÉ QUE EMERGEM UM DIANTE DO OUTRO. SORRIEM E SE BEIJAM.

SE AFASTAM E MERGULHAM NOVAMENTE.

CORTE DESCONTÍNUO: HERCÍLIA SAI CORRENDO DO MAR. ALESSANDRO A

AGARRA.

ALESSANDRO — Tá fugindo de mim, é?

HERCÍLIA — Tô não!

ALESSANDRO DÁ UM BEIJÃO BEM GOSTOSO, NAQUELA PEGADA SAFADA.

ALESSANDRO — Faz tempo que não sentia esse teu gosto. Tava com saudade!

HERCÍLIA — Também! Com muita saudade! Obrigado por estar comigo.

Obrigado.

ALESSANDRO — Conta sempre comigo.

ALESSANDRO ABRAÇA HERCÍLIA E VOLTAM A SE BEIJAR. CÂMERA SE

AFASTANDO DELES. PANORÂMICA DA BELEZA LOCAL.


CORTE PARA:

CENA 38. PRESÍDIO. EXTERIOR. DIA.

TOMADA DA FRENTE DO PRESÍDIO DE ITABUNA. TEMPO. MOTO DE THOR

CHEGA. ALIEN DESCE DA MOTO.

THOR — Tá certo do que tá fazendo?

ALIEN — Tô sim! Obrigado!

ALIEN E THOR SE ABRAÇAM. ALIEN RESPIRA FUNDO, FECHA OS OLHOS E

TOMA CORAGEM. CAMINHA EM DIREÇÃO AO PRESÍDIO SOB O OLHAR DE

THOR QUE SE EMOCIONA. ALIEN ACENA PARA O OUTRO E BATE NA

ENTRADA DO PRESÍDIO. NO CLOSE DE THOR. CORTE PARA:

CENA 39. PRESÍDIO. ENTRADA. INTERIOR. DIA.

POLICIAIS E O DIRETOR DO PRESÍDIO DIANTE DE ALIEN QUE ERGUE OS

BRAÇOS PARA SER ALGEMADO.

ALIEN — Eu estou me entregando!

TODOS SE ENCARAM E ALIEN É ALGEMADO. TEMPO. ALIEN VAI

CAMINHANDO COM OS POLICIAIS. CÂMERA FICA NA IDA DE ALIEN PELO

LONGO CORREDOR. CORTE PARA:

CENA 40. ITABUNA/ILHÉUS. GERAIS. EXTERIOR. DIA.

DIAS E NOITES SE PASSAM SOBRE A PAISAGEM DE ITABUNA E ILHÉUS.

ALTERNÂNCIA DE CLIPE: MOVIMENTAÇÃO DOS CARROS E PESSOAS NAS

DUAS CIDADES, A RODOVIA QUE LIGA AS DUAS, A CLANDESTINIDADE DAS

PESSOAS QUE VENDEM SEUS CORPOS, O USO DE DROGAS NOS BARES DE

ITABUNA E ILHÉUS, OS JOVENS CORRENDO SOBRE A AREIA DA PRAIA, AS

PESSOAS COMUNS QUE SE DROGAM E DEPOIS VÃO TRABALHAR

NORMALMENTE.

LEGENDA: SEMANAS DEPOIS.

A DINÂMICA DO TRÁFICO NOS MORROS DE ITABUNA E ILHÉUS E AÇÃO

EFETIVA DA POLÍCIA. ALESSANDRO PROMOVE ALGUMAS CAMPANHAS DE

CONSCIENTIZAÇÃO ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS EXPOSTAS NAS ESCOLAS

DAS DUAS CIDADES. HERCÍLIA CONTRIBUE COM O TRABALHO DO AMADO.

SE BEIJAM. TAKES E MAIS TAKES DA POLÍCIA AGINDO. NA TELEVISÃO, NOS

JORNAIS, NA INTERNET AS NOTÍCIAS EXPLODEM. SONOPLASTIA OFF. CORTE

RÁPIDO PARA:


CENA 41. PRESÍDIO. PÁTIO. INTERIOR. DIA.

GILBERTO, GUGA, NÁDIA E ESTEVÃO SÃO COLOCADOS, CADA UM, EM

CARROS SEPARADOS. CARROS DE SEGURANÇA DO ESTADO DA BAHIA SAEM

DO PRESÍDIO. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 42. POUSADA DE LUXO. EXTERIOR/INTERIOR. DIA

SOBE MÚSICA: BOTA, BOTA – MC ELVIS E MC TROIA. TAKES DE UMA

POUSADA. COQUEIROS, PISCINAS TEMÁTICAS, ACADEMIAS, MUITA GENTE

SARADA, PESSOAS DA ALTA RODA. ABRE EM VARELLA DANDO

PITOQUINHAS EM LAYSA. VARELLA SE AFASTA E LAYSA OLHA PARA OUTRO

HOMEM QUE ESTÁ NA PISCINA. CÂMERA REVELA LAYSA SE INSINUANDO.

LAYSA LEVANTA E VAI PARA A BEIRA DA PISCINA. O HOMEM FALA ALGUMA

COISA NO OUVIDO DELA E SE AFASTA. CÂMERA REVELA EMANUEL EM

OUTRO PONTO ESTRATÉGICO.

CORTE DESCONTÍNUO: LAYSA VAI SE AGARRANDO COM O HOMEM

ENQUANTO VARELLA SE AJEITA NO QUARTO. VAI COLOCANDO DIVERSOS

BRINQUEDINHOS SEXUAIS SOBRE A CAMA ATÉ QUE LAYSA ENTRA DE VEZ

COM O HOMEM APONTANDO A ARMA PARA A CABEÇA DELA.

HOMEM — Mão pra cima, otário! Perdeu, Tiago Varella!

EMANUEL ENTRA COM OUTROS POLICIAIS. VARELLA TREME E SE MIJA

TODO.

LAYSA — Que frouxo! Varella cê se mijou todinho!

VARELLA — (LEVANTANDO AS MÃOS) Eu me rendo!

EMANUEL — Tá preso, vereador safado! Seus eleitores vão amar conhecer

seus fetiches.

EMANUEL PEGA UM PÊNIS DE PLÁSTICO E MOSTRA PARA VARELLA.

EMANUEL — leva, leva…

LAYSA — (FAZENDO ESCANDALO) Eu sou apenas uma puta! Eu não

sou metida nisso não! Eu sou apenas uma puuuuuuuuta! Me

solta!

LAYSA VAI SENDO LEVADA.

FADE OUT.

CENA 43. ITABUNA. EXTERIOR. DIA.

FADE IN. UMA MULTIDÃO CAMINHA PELA AVENIDA CENTRAL DE ITABUNA

COM FAIXAS PEDINDO A PAZ. OUTROS CARREGAM FAIXAS MOSTRANDO


QUE A VIOLÊNCIA TEM DIMINUÍDO NA CIDADE. ALESSANDRO ENCABEÇA A

MARCHA. HERCÍLIA AO LADO DELE. SOCORRO COM MÁRCIA, RAIMUNDA E

CASSINHO. NO ROSTO DE MUITAS MÃES QUE CAMINHAM COM ELES, A

TRISTEZA. NO ROSTO DE OUTRAS, A ALEGRIA. UM GRUPO DE CRIANÇAS

SOLTAM BALÕES QUE SOBEM ENFEITANDO A PASSEATA. A POLÍCIA

CAMINHA COM A POPULAÇÃO AO LADO DO DELEGADO EMANUEL. CORTE

DESCONTÍNUO: NA PRAÇA, EMANUEL, ALESSANDRO, HERCÍLIA E

VEREADORES DA CIDADE AO LADO DO CARRO DE SOM. POPULAÇÃO

APLAUDE.

ALESSANDRO — Nós estamos aqui reunidos para agradecer a polícia de Itabuna

que tem agido de forma firme contra a crescente violência que

assolava a nossa cidade! Agora nós podemos gritar: os dias de

paz estão voltando! Estamos voltando a viver dias de paz nesta

cidade!!!!! Vamos continuar denunciando! Vamos nos unir cada

vez mais contra esses canalhas, bandidos, safados, de qualquer

instância, que querem tirar a nossa paz… Mas pra isso

precisamos contar com pessoas competentes, que lutem de

verdade por aquilo que acreditam, a exemplo do nosso delegado

Emanuel. Uma salva de palmas pra esse homem que tem nos

ajudado a reverter o quadro da criminalidade em Itabuna.

Vamos gritar paz! Que o grito de paz ecoe, Itabuna!

SOBRE A VOZ DE ALESSANDRO, IMAGENS DE GARÇAS SOBRE O RIO

CACHOEIRA. CORTE PARA:

CENA 44. PRESÍDIO EM SALVADOR. EXTERIOR. DIA.

TAKE DE LOCALIZAÇÃO. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 45. PRESÍDIO. INTERIOR. DIA.

GILBERTO EM UMA CELA LOTADA, DEITADO. DOIS HOMENS SE APROXIMAM

DELE E O CHUTAM.

HOMEM — Levanta daí, coroa! Já te dei a ideia que aqui tu não vai se criar.

Esse lugar é nosso.

GILBERTO — Eu estou cansado, cara! Me deixa dormir um pouco.

ELES RIEM E SEGURAM GILBERTO COM FORÇA.

HOMEM — Tá pensando que manda aqui, é, meu parceiro? Nós tá ligado em

sua caminhada lá por Itabuna… tô ligado que cê financiava o

tráfico lá, mas aqui quem manda é O COMANDO, porra! Vai

ficar pesadão se tu não sair daqui.

GILBERTO — Eu não vou sair!


HOMEM — Ah, não vai não? Ele não vai…

E UM DELES ACERTA O ROSTO DE GILBERTO. GILBERTO TENTA SE

DEFENDER, MAS ACABA APANHANDO MUITO. OUTROS PRESOS GRITANDO.

AGENTES CHEGAM.

AGENTE — Que confusão é essa aqui?

OS HOMENS SOLTAM GILBERTO QUE CAI COM A CARA TODA POCADA DE

PORRADA.

GILBERTO — (DOR) Eles… eles me… me agrediram… eu… eu estava/

O AGENTE PEGA GILBERTO COM FORÇA E O PÕE CONTRA A PAREDE.

AGENTE — Um passarinho me contou que quem começou isso foi você!

GILBERTO — Eu? Você tá mentindo/

AGENTE PRESSIONA O ROSTO DE GILBERTO E DIZ:

AGENTE — Vou te mostrar como é o esquema aqui.

O AGENTE PUXA GILBERTO E O RETIRA DA CELA. PRESOS GRITANDO. OS

QUE BATERAM NELE FICAM RINDO. CORTE DESCONTÍNUO: GILBERTO

SENDO LEVADO.

GILBERTO — Eu não fiz nada! Eu não fiz nada!

O AGENTE BATE NAS COSTAS DELE. GILBERTO GRITA. TEMPO, EM UM

OUTRO CORREDOR, DE CELAS VAZIAS, COM UMA PORTA NO FINAL,

GILBERTO É JOGADO NO CHÃO.

AGENTE — Cê vai pra um lugar bem melhor!

O AGENTE ABRE A PORTA DA SOLITÁRIA. LÁ, RATOS CORRENDO DE UM

LADO PARA OUTRO. LOCAL ÚMIDO, BARATAS, RESTO DE COMIDAS E MUITO

VÔMITO. GILBERTO É JOGADO LÁ DENTRO.

GILBERTO — Me tira daqui!

AGENTES FECHAM A PORTA. GILBERTO ESPANCA A PORTA AOS BERROS.

GILBERTO — Me tira daqui! Me tira daqui!

CÂMERA EM GILBERTO. SONS DE RATOS. GRITOS DE DESESPERO. CORTE

PARA:

CENA 46. CASA DE TACILA. SALA. INTERIOR. DIA.

LOHANE DIANTE DE JEFTER. OS DOIS SENTADOS NO SOFÁ. JEFTER COM UM

ENVELOPE NAS MÃOS.

LOHANE — Eu estou um pouco ansiosa pra saber o que o senhor quer falar

comigo.


JEFTER — Quero te dar um presente, minha filha! Um presente que você

esperou a vida toda.

JEFTER ENTREGA O ENVELOPE. LOHANE SORRI, ANSEIA SABER. VAI

ABRINDO VAGAROSAMENTE ATÉ QUE… A CÂMERA REVELA A CERTIDÃO DE

NASCIMENTO MODIFICADA. LOHANE CHORA.

LOHANE — Não acredito! Mentira!

JEFTER — É verdade, meu amor! Você agora é a minha filha!

LOHANE ABRAÇA JEFTER. CHORAM EMOCIONADOS. LOHANE ALISA O

ROSTO DO PAI COM MUITO CARINHO E O ENCHE DE BEIJOS. CORTE PARA:

CENA 47. MANSÃO DE REGINA. SALA. INTERIOR. DIA.

A PARTIR DE AGORA A MANSÃO SERÁ DE REGINA. A MESMA DESCE A

ESCADA E DÁ DE CARA COM ERON.

REGINA — Eron! Eu já esperava a sua visita. Soube de sua volta!

ERON — Tive uma conversa séria com Hercília por intermédio de

Alessandro.

REGINA — Seja breve, por favor!

ERON — Não precisa me tratar assim, Regina!

REGINA — Como quer que eu o trate, Eron, depois de tudo que você e

Gilberto me fizeram? Eu me abria com você, eu te contava das

minhas suspeitas, das minhas dúvidas… e o que você fazia? Se

deitava com o meu marido!

ERON — Eu sei. Eu fui um canalha, um vagabundo…

REGINA — Ainda bem que você sabe. Agora eu consigo compreender a sua

reação no Rio de Janeiro… Meu Deus! Mas sabe, eu não vou

me culpar, não, Eron! Eu não quero mais carregar o peso do

Gilberto na minha vida. Eu estou muito feliz. Estou amando

novamente.

ERON — Está namorando?

ANTENOR VEM DO CORREDOR DOS QUARTOS, DESCE A ESCADA.

ANTENOR — Regina, meu amor… (VÊ ERON) Desculpa, não sabia que

estava com visita.


REGINA — Eron não tem mais o que fazer aqui. Ele já está de saída. Agora

que ele sabe que eu estou bem, amando um homem de

verdade… ele vai tomar o rumo dele, não é?

ERON FICA CONSTRANGIDO.

ERON — Desculpa qualquer coisa, Regina!

ERON SAI. ANTENOR ESTRANHA, MAS AGARRA REGINA E DIZ:

ANTENOR — Quem é esse cara?

REGINA — Um Inimigo Íntimo. (RI) Esquece ele. Cadê Iran?

ANTENOR — Iran agora que descobriu o São Caetano não sai mais de lá.

REGINA SORRI E BEIJA ANTENOR. CORTE PARA:

CENA 48. RUA ALTOS & BAIXOS. EXTERIOR. DIA.

ABRE EM HELENA AO LADO DE IRAN, UM HOMEM DE SEUS VINTE E OITO

ANOS, DESCOLADO, DE COR AMORENADA. IRAN FILMA CASSINHO.

CASSINHO — É isso que nós faz aqui no bairro. A Central tem mais de uns dez

anos. Comecei de pivete mesmo. Hoje é minha empresa. Mas o

São Caetano tem muita coisa especial. Cê vai gostar!

IRAN ENCERRA A GRAVAÇÃO.

IRAN — Ficou ótimo, Cassinho! Obrigado!

HELENA — Iran vai arrasar nessa pesquisa sobre o bairro.

IRAN — Gente, eu amei esse lugar!

CASSINHO — Amanhã à noite tem A CAVERNA, reinauguração, se quiser

colar comigo…

HELENA — (DEBOCHE) Ih, já senti… Vou sobrar.

IRAN FICA SEM JEITO E PUXA LENINHA.

IRAN — Quer me matar de vergonha na frente dele?

CASSINHO — Não percebeu, beeesha burra, que Cassinho tá de frete? Ele

adora uma passivinha assim como a senhora.

IRAN JOGA O CABELO E SAI TODO SEM JEITO. EM CASSINHO OLHANDO PARA

ELE. IRAN OLHA PARA TRÁS E CASSINHO ACENA. CORTE PARA:

CENA 49. PRESÍDIO. SOLITÁRIA. INTERIOR. NOITE.

GILBERTO TOSSE MUITO ENQUANTO ESTÁ CAÍDO NO CHÃO ÚMIDO.

GILBERTO — (FRACO) Me tira daqui! (BATE) Me… me tira…


PORTA SE ABRE E OS AGENTES PÕEM AS LUZES DE SUAS LANTERNAS NO

ROSTO DE GILBERTO.

GILBERTO — Me tira daqui, pelo amor de Deus!

AGENTE — Tá pouco o castigo! Ainda nem começou.

UM DELES PÕE UM PÃO SECO COM UM COPO DE ÁGUA PARA GILBERTO.

GILBERTO SEGURA O PÃO, MORDE ESFOMEADO. QUANDO BEBE A ÁGUA

COSPE TUDO. OS AGENTES RIEM.

GILBERTO — Isso é água de esgoto!

AGENTE — Tá querendo com gás, é?

ELES GARGALHAM. GILBERTO TENTA ESCAPAR, MAS ACABA CAINDO,

FERIDO. OS AGENTES O SEGURAM E DESCEM MAIS PORRADA NELE. CÂMERA

VAI SE AFASTANDO. CORTE PARA:

CENA 50. FAZENDA DE EDUARDO. EXTERIOR. DIA.

ABRE EM EDUARDO CAVALGANDO SEM CAMISA PELO DESCAMPADO. GADO

SENDO TOCADO PELOS SEUS TRABALHADORES. NA ENTRADA DA CASA,

RAIMUNDA E GRAZIELLY VÃO ARRUMANDO A MESA DO ALMOÇO. OSÉAS E

ADÉLIA SAEM DA CASA TRAZENDO OS ALIMENTOS.

OSÉAS — Vocês vão amar a carne de panela que eu faço.

ADÉLIA — É de dar água na boca!

OSÉAS E ADÉLIA SE BEIJAM.

GRAZIELLY — Eu vou pegar o arroz e o feijão tropeiro.

QUANDO GRAZIELLY SE VIRA E SEGURA UMA PANELA, ELA DEIXA A MESMA

CAIR E SENTE-SE TONTA, DESMAIANDO POR ALI. TODOS VÃO PARA CIMA.

ADÉLIA — Meu Deus! Socorro!

OSÉAS — (GRITA) Eduardo! Eduardo!

RAIMUNDA — fala comigo, Grazzy!

EDUARDO CHEGA A CAVALO. PREOCUPADO, ELE DESCE DO MESMO E CORRE

SEGURANDO GRAZZY.

EDUARDO — Grazzy! Grazzy! (SEGURA NO COLO) Dirige pra mim,

Oséas!

EDUARDO COLOCA GRAZIELLY NO CARRO. TODOS PREOCUPADOS. CORTE

RÁPIDO PARA:


CENA 51. CLÍNICA. INTERIOR. DIA.

GRAZIELLY NO LEITO. MÉDICO E EDUARDO.

MÉDICO — (RI) Não há com o que se preocupar. Isso acontece com

qualquer mamãe de primeira viagem!

EDUARDO — (SURPRESO) Minha… Minha Grazzy tá gravida?

GRAZIELLY — Tõ esperando um filho, doutor?

MÉDICO — Pelos meus cáculos, tem umas 9 semanas.

EDUARDO E GRAZIELLY SE ABRAÇAM. EDUARDO ALISA A BARRIGA DA

ESPOSA. ELA CHORA.

EDUARDO — Nós conseguimos, amor! Nós conseguimos!

EDUARDO E GRAZZY SE BEIJAM MUITO.

FADE OUT.

CENA 52. A CAVERNA. INTERIOR. NOITE.

FADE IN. CANHÕES DE LUZES CRUZAM O AMBIENTE. MUITA GENTE

ENTRANDO. PESSOAS CURTINDO OS PAREDÕES ENQUANTO OUTROS BEBEM

OU SE DIRIGEM AO PALCO. QUINHA ENTRA AO LADO DE SOPHIA.

ALESSANDRO FOTOGRAFA. QUINHA FAZ POSE.

SOPHIA — Hoje é sua noite, Quinha! Arrasa!

QUINHA, BEM PIRIGUETE, POSA AO LADO DE CLARA E OLÍVIA.

QUINHA — Sê, sê, sê… sejam bem, bem, bem, bem, bem vindos!

TODOS APLAUDEM QUINHA QUE PEGA UM DRINQUE E CRUZA COM UM

GAROTÃO QUE PEGA NA BUNDA DELA. EM QUINHA PISCANDO PARA O

GAROTO.

CORTE DESCONTÍNUO: NO PALCO, QUINHA E SOPHIA.

SOPHIA — É com imenso prazer que estamos reabrindo A CAVERNA em

grande estilo. A nova proprietária é a gaguinha mais gostosa de

Ilhéus: Quinha!

TODOS APLAUDEM QUINHA QUE PEGA O MICROFONE.

QUINHA — Eu num sô, sô, sô, sô, sô, sô mulér de tá, tá, tá, tá, tá… vixe! Tá

falando! Por isso, eu quero é tra, tra, tra, tra, tra, travessura!

Quero bate bucho, rala xereca! Solta o pan, pan, pan… pan,

pan… pancadão!

TODOS GRITAM. CORTE DESCONTÍNUO: QUINHA CAINDO NO FUNK AO LADO

DE SOPHIA, CLARA E OLÍVIA. QUINHA SE JOGANDO COM OS CALDO MAGGI,


QUINHA JOGANDO CABELO, SUBINDO E DESCENDO, TODA SUADA, BEBE QUE

NEM UMA LOUCA. NA FELICIDADE DELA SENDO LEVADA NOS BRAÇOS DOS

HOMENS. CORTE PARA:

CENA 53. PASSAGEM DE TEMPO.

CENA 54. PRAIA. EXTERIOR. DIA.

LOCAL TODO ORNAMENTADO DE FLORES E MUITAS CORES. CONVIDADOS

VESTIDOS DE BRANCO. SOCORRO, ADÉLIA E OSÉAS, REGINA E ANTENOR,

CASSINHO AO LADO DE IRAN, HELENA E MICHEL, THOR E LOHANE, TACILA E

JEFTER, SALVINO E ZUZÚ, PEROLA, RAÍSSA, MÁRCIA, GRAZZY E EDUARDO

ETC. TODOS PRESTIGIANDO O CASAMENTO DE HERCÍLIA E ALESSANDRO.

HERCÍLIA VAI ENTRANDO COM UM VESTIDO BRANCO AO ESTILO HIPPIE

ENQUANTO ALESSANDRO, QUE VESTE UMA BERMUDA BRANCA E UMA

CAMISA BRANCA BEM LEVE, A AGUARDA MUITO ANSIOSO. HERCÍLIA CHEGA

DIANTE DE ALESSANDRO. O PADRE DÁ A BENÇÃO DELES. TROCA DE

ALIANÇAS. SORRISOS. ALESSANDRO SE EMOCIONA.

ALESSANDRO — Eu te amo, Hercília!

HERCÍLIA — Você é meu parceiro de verdade. Te amo! Te amo!

CORTE DESCONTÍNUO: ALESSANDRO CURTE A FESTA AO AR LIVRE COM

HERCÍLIA. CORREM POR ALI, SE DIVERTEM. HERCÍLIA CORRE PARA O MAR E

ALESSANDRO VAI ATRÁS DELA. CAEM UM SOBRE O OUTRO. OLHARES

APAIXONADOS. O SOL, COMO NUM EFEITO, VAI SE PONDO… AS HORAS SE

PASSAM… SOBRE O PÔR DO SOL, A IMAGEM DELES ABRAÇADOS, FAZEM

CARINHO UM NO OUTRO. SE OLHAM COM TERNURA E TROCAM UM BEIJO

APAIXONADO.

FADE OUT.

CENA 55. PRESÍDIO. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.

FADE IN. SUSPENSE. TRÊS HOMENS CAMINHAM PELO CORREDOR. LOCAL DE

PENUMBRA. ABREM UMA GRADE E CONTINUAM A CAMINHAR. CORTE

RÁPIDO PARA:

CENA 56. PRESÍDIO. SOLITÁRIA. INTERIOR. DIA.

GILBERTO GEME E SENTE MUITO FRIO. RATOS POR ALI. DO LADO DE FOR A,

APENAS UM HOMEM SE APROXIMA. TEMPO. SONS DE CHAVES. GILBERTO SE

MEXE, TOSSE.

GILBERTO — (COM MUITA DIFICULDADE) Me ajuda! Me ajuda!

PORTA SE ABRE LENTAMENTE E A CÂMERA REVELA A ENTRADA DE ERON

VESTIDO DE AGENTE PENITENCIÁRIO. A LUZ ENTRA E GILBERTO SE VIRA,


COM DORES E MUITA DIFICULDADE. GILBERTO SEGURA NA PERNA DO

OUTRO.

GILBERTO — Eu imploro! Não aguento mais! Eu imploro!

ERON VIRA A LANTERNA PARA O ROSTO DE GILBERTO E SE ERGUE ATÉ O

OUTRO. PÕE A LANTERNA EM SEU ROSTO. SORRI DIABÓLICO.

ERON — Surpresa!

GILBERTO ARREGALA OS OLHOS E SE AFASTA. ERON GARGALHA E

LEVANTA E BATE O CASSETETE NA PORTA. GILBERTO REAGE ALTAMENTE

DESCONTROLADO, SURPRESO AO EXTREMO, SENTE FALTA DE AR. MAIS

BATIDAS NA PORTA.

ERON — Xeque-mate!

ERON FECHA A PORTA COM FORÇA E, NA ESCURIDÃO, OUVE-SE O SOM DE

UMA PANCADA BEM FORTE. NO GEMIDO DE GILBERTO. GARGALHADA DE

ERON ECOA. EFEITO FINAL: A TELA ESFUMAÇA EM VERMELHO.

Fim

Quero aproveitar este momento para agradecer e dedicar essa novela ao

Lucas Posey. Obrigado, Lucas, por ter aberto às portas da Unbroken

para mim. Por ter acreditado em minha história! A partir de agora a UP!

Fechará suas portas no MUNDO VIRTUAL de forma triunfante. No

mais, obrigado aos meus leitores. Inimigo Íntimo ficará para sempre

marcada. Até a próxima!

Ah, e cuidado: há inúmeros íntimos que são nossos reais inimigos. Não

se deixem enganar!

Um beijo grande!

Rynaldo Nascimento.

inimigo Íntimo Último capÍtulo - megapro.com.br · kael — se não fosse o teu incentivo, cara,...

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