infraestrutura na república popular da china: impactos sobre a

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1 I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015 Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a Defesa e a Segurança nacional e regional Pedro Vinícius Pereira Brites 1 Bruna Coelho Jaeger 2 Resumo: Este artigo tem como tema a correlação entre infraestrutura, defesa e segurança da China. Assim, tem como objetivo principal analisar em que medida a construção de infraestrutura nacional e integrada aos vizinhos impacta sobre a defesa e a segurança do país. A China iniciou um processo de modernização militar que procura aumentar a eficiência, a qualidade e a tecnologia das suas Forças Armadas. Em termos infraestruturais, o país vem ampliando sua rede de transportes, energia e comunicações no âmbito interno e regional. Assim, procura-se avaliar em que medida esses processos (modernização defensiva e infraestrutural) são complementares. Para tal, o trabalho é estruturado em quatro seções. A primeira dedica-se a uma análise sobre o papel da infraestrutura para segurança e defesa. A segunda aborda a política de defesa e segurança da China, a fim de identificar os principais objetivos e medidas adotadas. A terceira seção realiza um balanço chinesa, tanto da instalada, quanto dos projetos em desenvolvimento. Por fim, no sentido de conjugar os esforços, a última seção analisa como os projetos de infraestrutura nacional ou integrada aos vizinhos contribuem para as políticas de defesa e segurança da China. Palavras-chave: República Popular da China; Infraestrutura; Segurança e Defesa; Ásia; Estados Unidos. 1 Introdução Este trabalho tem como tema a correlação entre a construção de infraestrutura, defesa e segurança na República Popular da China. Desse modo, tem como objetivo primordial analisar em que medida a construção de infraestrutura nacional e integrada aos vizinhos impacta sobre a defesa e a segurança do país. Em outros termos, avalia se existe complementaridade entre os objetivos estratégicos e defensivos do país e os projetos infraestruturais desenvolvidos e em desenvolvimento. A hipótese principal é que as principais obras de infraestrutura finalizadas ou ainda em fase de execução no país cumprem uma função dual: atendem aos objetivos primários de sustentação ao desempenho econômico e auxiliam na estabilização de regiões tanto internamente quanto no entorno estratégico do país. Para atingir seu objetivo, o trabalho está estruturado em quatro seções. A primeira seção procura estabelecer uma breve discussão conceitual acerca das relações entre infraestrutura, segurança e defesa. A segunda seção inventaria os objetivos estratégicos da China e os desafios securitários enfrentados pelo país. Assim, estabelece um panorama dos elementos que condicionam a inserção internacional do país e vem pautando a Política 1 Doutorando em Estudos Estratégicos Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). E-mail: [email protected]. 2 Mestranda em Estudos Estratégicos Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected]. Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES).

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Page 1: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

1 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a Defesa e a

Segurança nacional e regional

Pedro Vinícius Pereira Brites1

Bruna Coelho Jaeger2

Resumo: Este artigo tem como tema a correlação entre infraestrutura, defesa e segurança da China. Assim, tem

como objetivo principal analisar em que medida a construção de infraestrutura nacional e integrada aos vizinhos

impacta sobre a defesa e a segurança do país. A China iniciou um processo de modernização militar que procura

aumentar a eficiência, a qualidade e a tecnologia das suas Forças Armadas. Em termos infraestruturais, o país

vem ampliando sua rede de transportes, energia e comunicações no âmbito interno e regional. Assim, procura-se

avaliar em que medida esses processos (modernização defensiva e infraestrutural) são complementares. Para tal,

o trabalho é estruturado em quatro seções. A primeira dedica-se a uma análise sobre o papel da infraestrutura

para segurança e defesa. A segunda aborda a política de defesa e segurança da China, a fim de identificar os

principais objetivos e medidas adotadas. A terceira seção realiza um balanço chinesa, tanto da instalada, quanto

dos projetos em desenvolvimento. Por fim, no sentido de conjugar os esforços, a última seção analisa como os

projetos de infraestrutura nacional ou integrada aos vizinhos contribuem para as políticas de defesa e segurança

da China.

Palavras-chave: República Popular da China; Infraestrutura; Segurança e Defesa; Ásia; Estados Unidos.

1 Introdução

Este trabalho tem como tema a correlação entre a construção de infraestrutura, defesa

e segurança na República Popular da China. Desse modo, tem como objetivo primordial

analisar em que medida a construção de infraestrutura nacional e integrada aos vizinhos

impacta sobre a defesa e a segurança do país. Em outros termos, avalia se existe

complementaridade entre os objetivos estratégicos e defensivos do país e os projetos

infraestruturais desenvolvidos e em desenvolvimento. A hipótese principal é que as principais

obras de infraestrutura finalizadas ou ainda em fase de execução no país cumprem uma

função dual: atendem aos objetivos primários de sustentação ao desempenho econômico e

auxiliam na estabilização de regiões tanto internamente quanto no entorno estratégico do país.

Para atingir seu objetivo, o trabalho está estruturado em quatro seções. A primeira

seção procura estabelecer uma breve discussão conceitual acerca das relações entre

infraestrutura, segurança e defesa. A segunda seção inventaria os objetivos estratégicos da

China e os desafios securitários enfrentados pelo país. Assim, estabelece um panorama dos

elementos que condicionam a inserção internacional do país e vem pautando a Política

1 Doutorando em Estudos Estratégicos Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e

professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER).

E-mail: [email protected]. 2 Mestranda em Estudos Estratégicos Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

E-mail: [email protected]. Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior (CAPES).

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2 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

Externa e de Segurança do país. A terceira seção avalia o panorama da infraestrutura nacional

e regional da China, com vistas a verificar os principais objetivos que têm orientado a

construção de projetos de infraestrutura, bem como o papel do Estado nessa construção. Por

fim, a quarta seção, no intuito de cruzar os dois esforços analíticos precedentes, verifica se há

complementaridade entre os objetivos estratégicos do país e a infraestrutura. As obras de

infraestrutura escolhidas para análise, nomeadamente, a ferrovia Qinghai-Tibet, o gasoduto

Oeste-Leste, a Hidrelétrica das Três Gargantas e a Belt and Road Initiative (OBOR), se

justifica pela magnitude das obras e pelo nível investimentos para sua execução. Por fim,

conclui-se que as principais obras de infraestrutura atendem aos objetivos de consolidação de

integração nacional e de busca por estabilização do entorno estratégico, especialmente em

relação à Ásia Central, Sul e Sudeste Asiático.

2. O Papel da Infraestrutura para a Segurança e Defesa

O termo infraestrutura trata-se do aparato de estruturas físicas e organizacionais

necessárias para o funcionamento de uma sociedade ou de uma empresa, bem como serviços e

instalações necessárias para uma economia funcionar. Pode ser geralmente definida como o

conjunto de elementos estruturais interconectados que fornecem suporte ao desenvolvimento.

No presente trabalho, aborda-se a infraestrutura econômica, que compreende as atividades de

energia, transportes e comunicações. Essas atividades lastreiam a produção de insumos

essenciais para a constituição da atividade produtiva e garantem a distribuição de bens e

serviços1 (COSTA, 2011).

A infraestrutura exerce um papel central na formação e na consolidação do Estado

Nacional, se configurando em uma das vértebras que estruturam a capacidade de competição

sistêmica dos Estados. Por vincular-se à estrutura produtiva dos países, apresenta relação

estreita com os índices de desenvolvimento socioeconômico. Em termos regionais, a

infraestrutura compõe uma paleta de oportunidades para o fortalecimento em bloco dos

Estados. Dessa forma, por um lado, tem uma face estruturante (efeitos socioeconômicos e

desenvolvimentistas) e, por outro, uma face geopolítica (segurança e defesa).

A literatura dominante, neoliberal-comercialista, ao tratar sobre o tema infraestrutura,

aborda somente o viés comercial e seu papel sobre a competitividade econômica de nações e

empresas. Entretanto, o que se propõe no presente estudo é justamente encarar a infraestrutura

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através da sua característica multiplicadora e estratégica3, não somente sobre o comércio, mas

também, especialmente, sobre o desenvolvimento socioeconômico e sobre o tema de

segurança e defesa. O primeiro plano diz respeito à segurança interna, na medida em que o

nível de oferta de infraestrutura impacta sobre a estabilidade social e sobre a redução de

assimetrias regionais. Além disso, a infraestrutura é central para a estratégia de Defesa de um

Estado, visto que é chave para a Logística Nacional e para a mobilização de forças na

logística de guerra. Por fim, considera-se o caráter geopolítico que a infraestrutura apresenta,

principalmente para a disputa e o aproveitamento de territórios, de recursos naturais e

produtivos.

A infraestrutura influencia a segurança interna na medida em que é uma das bases para

o bem estar social de uma população, impactando diretamente sobre o acesso a bens e

serviços fundamentais para qualquer sociedade. Certamente, uma sociedade a qual tenha uma

disponibilidade adequada de infraestrutura econômica e social básica de transportes, energia,

comunicações e produção, bem como de acesso à água tratada e saneamento básico, é menos

propensa a sofrer reivindicações que causem instabilidade social, guerras civis, incursões e

movimentos separatistas. Desse modo, a oferta de infraestrutura, que impacta diretamente

sobre o desenvolvimento social, comercial, produtivo e securitário, não pode ser entendida

apenas como tendo um fim em si mesmo, mas como um mecanismo fundamental para

alicerçar as relações políticas, garantir desenvolvimento econômico e estabilidade social

(OLIVEIRA, 2012).

O impacto do controle da infraestrutura para as capacidades de poder se torna evidente

quando se observa a importância que exerce sobre a Defesa de um Estado ou região,

especificamente no que tange à logística de guerra e à Logística Nacional. O conceito de

Logística Nacional não se deve confundir com o tradicional conceito de logística estritamente

militar, ou logística de guerra. Assim, não se limita somente aos processos de manutenção e

abastecimento do esforço de combate em meio à guerra (OLIVEIRA, 2012). Segundo

Proença Jr. e Duarte (2003), a logística pode ser entendida como um ―meio‖ para se fazer a

guerra, ou seja, o esforço para sustentar a estratégia do Estado. Mais do que isso, serve ao

propósito de possibilitar o deslocamento de forças.

3

Segundo Oliveira (2012), a infraestrutura estratégica é definida por: infraestrutura produtiva (indústrias

centrais), infraestrutura física de geração e distribuição de energia, infraestrutura de transportes (terrestre,

hidroviário e aéreo), e comunicações, seja através de meios físicos (rede de cabos, troncos de fibra óptica) ou

meio eletromagnéticos (da radiodifusão às telecomunicações, incluindo satélites).

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4 I Seminário Internacional de Ciência Política

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Esse deslocamento e reposicionamento das Forças através de Avenidas de Abordagem

e Linhas de Comunicação opera, necessariamente, por meio de infraestrutura adequada. Nesse

sentido, a identificação de Avenidas de Abordagem é importante para que seja possível a

confluência de todas as unidades, procedimentos e cursos de ação que envolvem manobra e

logística a fim de facilitar o deslocamento. Assim, as Avenidas de Abordagem devem ser

observadas a partir de:

(I) Identificação de Corredores de Mobilidade: são áreas relativamente

livre de obstáculos físicos onde uma força pode utilizar princípios de

massa e velocidade, mas que ainda são sujeitos às peculiaridades do

terreno. (II) Qualificação dos Corredores de Mobilidade: devem ser

classificados de acordo com o tamanho ou tipo da força que se

pretende nele acomodar (por exemplo: forças mecanizadas ou

blindadas, infantaria leve ou pesada etc.). Também podem ser

classificados em função de sua importância dada à proximidade do

alvo ou à maior dificuldade ou facilidade de acesso (por exemplo,

rodovias, ferrovias etc.) (III) Agrupar os Corredores de Mobilidade para formar Avenidas de

Abordagem: trata-se de verificar quais Corredores podem ser

articulados em grupamentos que constituem as Avenidas de

Abordagem (DoD, 2009, p. II-14-16).

Embora o conceito de Avenidas de Abordagem refira-se primordialmente às vias

terrestres e aéreas, utiliza-se aqui também para avaliar os rios chineses, pois são o modo de

acesso às linhas interiores de defesa da região, de modo que as ―águas marrons‖ fazem o

papel dos Corredores de Mobilidade. Outro aspecto que relaciona a infraestrutura a segurança

de um Estado é a infraestrutura energética. Oliveira (2012) aborda a Energia como um fator

crucial para a distribuição de poder no Sistema Internacional, na medida em que incide

diretamente sobre a acumulação de poder relativo pelos Estados, alterando o potencial

competitivo e o poder de dissuasão. Dessa forma, é fundamental para a capacidade de defesa

em qualquer guerra moderna, além do impacto que tem sobre o bem estar social e a

decorrente estabilidade. ―Neste processo de competição, os Estados que mais acumularam

poder relativo foram justamente os que utilizaram mais e, de forma eficiente, os recursos e a

infraestrutura energética disponíveis naquele período histórico‖ (OLIVEIRA, 2012, p. 21).

Ademais, a infraestrutura gera efeitos significativos sobre a geopolítica, a segurança

interna e externa, bem como sobre a defesa nacional e regional. É justamente nesse ponto que

reside sua maior virtude. A promoção de infraestrutura voltada apenas para o

desenvolvimento econômico e comercial não garante que ela seja útil aos objetivos

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5 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

geopolíticos e estratégicos de um Estado ou região, na medida em que pode estar

condicionada a interesses privados e externos. Contudo, quando o planejamento de

infraestrutura é pensado visando à segurança e à defesa — devido ao seu uso dual e seus

efeitos multiplicadores — juntamente garante os benefícios socioeconômicos a uma

sociedade. Somente o Estado Nacional pode induzir a construção de infraestrutura no sentido

de conciliar os seus objetivos estratégicos de integração regional e defesa, somando-se o

desenvolvimento social e os ganhos comerciais advindos da maior competitividade que a

infraestrutura propicia.

3. A República Popular da China: um balanço dos objetivos estratégicos e os desafios

securitários

A construção de um balanço dos objetivos estratégicos e dos desafios securitários da

República Popular da China (RPC) passa pela reconstrução descritivo-analítica dos elementos

condicionantes da inserção internacional do país e dos principais eventos que acabaram por

impactar sobre a percepção chinesa de ameaça. Assim, procura-se avaliar de que modo esses

condicionantes foram estabelecidos desde a vitória da Revolução Comunista em 1949 e de

que modo as alterações sistêmicas impactaram sobre o modo como o país procurou orientar

suas ações estratégicas e o processo de desenvolvimento de suas forças de defesa.

A vitória da Revolução Comunista em 1949 representou uma afirmação de um projeto

nacionalista de inserção internacional da China e marcou o fim do período que se iniciara no

século XIX, marcado pela eclosão da Guerra do Ópio (1839-1842), considerado o ―século de

humilhação‖ do país. Assim, pode-se dizer que a vitória do Partido Comunista Chinês

(PCCh) na guerra civil contra o Guomindang (KMT) deu início a um processo de busca por

recuperação nacional e reinserção do país no Sistema Internacional.

É nesse contexto que se definem alguns dos objetivos estratégicos que norteariam a

atuação externa do país e que, grosso modo, se mantêm até os dias atuais. Basicamente, a

RPC surge com quatro objetivos básicos: (I) consolidar o governo revolucionário; (II)

estabelecer o controle da economia; (III) reestabelecer a soberania sobre os territórios do país;

e (IV) inserir a China no Sistema Internacional como potência independente e não-alinhada

(KISSINGER, 2011; ROBERTS, 2012; VISENTINI ET AL, 2013). O primeiro objetivo dizia

respeito a estabelecer as bases políticas do regime comunista. Já o segundo objetivo tinha

como eixo estabelecer a centralização politica e um regime tributário unificado, que segundo

Visentini et al (2013) aproxima a Revolução Comunista Chinesa da essência de todas as

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6 I Seminário Internacional de Ciência Política

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revoluções nacionais já ocorridas. No que tange a esses dois objetivos primários, pode-se

dizer que o PCCh obteve êxito na suas iniciativas. O terceiro objetivo, por sua vez, de

reestabelecer a soberania nacional sobre os territórios perdidos. A Manchúria já havia sido

reintegrada após a ocupação japonesa que se iniciara em 1931, o Tibete e Xinjiang4 foram

reintegrados pelo Exército de Libertação Popular (ELP) em 1950. A Mongólia exterior,

todavia, que havia se tornado independente em 1924, manteve seu status (ROBERTS, 2012).

A outra questão territorial era a ilha de Taiwan, para onde haviam migrado 2 milhões de

membros do KMT logo após a derrota do partido na guerra civil. O PCCh tentou em vão

reintegrar esse território que possuía uma posição geoestratégica fundamental para a defesa do

país. Historicamente, a ilha de Taiwan (que havia sido conquistada pelos japoneses em 1894)

servira como ponto de apoio para ataque ao território continental da China, bem como para

bombardeios sobre o país durante a II Guerra Mundial. (VISENTINI ET AL, 2013;

KAPLAN, 2014). Assim, com o fracasso parcial do projeto de reintegração nacional

estabelecia-se um impasse que, em grande medida, condiciona a inserção internacional da

China. Cabe destacar a questão das ilhas Diaoyu (Senkaku), Xisha (Paracelso) e Nansha

(Spratly) que revelavam disputas marítimas que de um modo ou de outro pautam as relações

da RPC com seus vizinhos na região5. Por fim, as ilhas de Macau e Hong Kong viriam ser

reintegradas pela via diplomática na década de 1990.

O quarto e último objetivo referia-se à inserção internacional do país. O objetivo

prioritário era adquirir reconhecimento das grandes potências e, para tanto, procurava manter-

se não-alinhado no contexto da Guerra Fria. Afinal, apesar da aproximação político-

ideológica com a URSS, os dois países mantinham disputas fronteiriças em aberto.

Entretanto, com as dificuldades enfrentadas pelo país com o acirramento do ambiente

regional, o país teve de optar pela aproximação com a URSS. Assim, se desenhava o quadro

de desafios securitários que pautariam a inserção internacional da RPC desde 1949: a busca

pela consolidação da integração nacional e estabilização do entorno estratégico. A esse

panorama geopolítico somam-se as experiências traumáticas da Guerra Fria e pode-se, assim,

estabelecer o contexto que condiciona e orienta a política externa de segurança e defesa do

país.

5 As ilhas Diaoyu são ilhas disputadas entre China e Japão desde o século XIX. Já as ilhas Xisha e Nansha,

inicialmente ocupadas pela França, foram incorporadas pelo Japão no curso da II Guerra MundiaL. Os três

conjuntos de ilhas permanecem em disputa até hoje e são elementos de atritos entre a China e Japão, entre China

e Vietnã e entre China, Filipinas, Brunei e Vietnã respectivamente.

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Grosso modo, ao longo da Guerra Fria, pode-se dizer que a ameaça do uso de armas

nucleares contra o país marcou a história da China no que tange à percepção das relações

regionais e internacionais do país e influenciaram no perfil de modernização militar que o pais

vem empreendendo até hoje. A chantagem nuclear ocorreu em ao menos três episódios

decisivos: na Guerra da Coreia (!950-1953), nas duas Crises do Estreito (1954 e 1958) pelos

EUA, e, em 1969, pela União Soviética (ROBERTS, 2012; VISENTINI, 2013).

O desfecho da II Guerra Mundial trouxe alterações geopolíticas estruturais para a

região. A estratégia americana estabelecida no contexto do pós-II Guerra Mundial e da Guerra

da Coreia, seria, ainda hoje, a base para a manutenção de um equilíbrio favorável aos EUA na

região, na medida em que, viabilizaria ofensivas contra qualquer possível candidato

continental a potência hegemônica na Ásia Oriental, mesmo no século XX (CEPIK 2004).

Assim, observa-se que os desdobramentos securitários na península coreana geram

implicações diretas sobre a segurança da RPC. Durante a guerra na península, o comandante

das forças lideradas pelos EUA, Douglas Maccarthur, cogitou o uso de armas nucleares na

fronteira entre China e Coreia do Norte (FRIEDRICH, 2011).

A ameaça do uso de armas nucleares levaria o país a iniciar a construção de uma rede

túneis e procurar a desenvolver capacidades militares mais avançadas. Essa percepção de

necessidade defensiva crescente se ampliou após as crises no Estreito de Taiwan.

Primeiramente, porque ao contrário do que ocorrera na Guerra da Coreia, no caso da crise do

estreito, essa ameaça se dava em virtude de uma questão interna da China e não como reação

a inserção internacional do país (VISENTINI, 2013). Ou seja, a China passava a temer um

ataque nuclear dos EUA, em um contexto no qual, provavelmente, não poderia contar com a

proteção soviética já que se trataria de um assunto interno chinês. Não é por acaso que o

programa nuclear chinês inicia logo após a I Crise do Estreito6 em 1954. Essa situação se

agravou quando da II Crise do Estreito em 1958, durante a qual, novamente, os EUA fizeram

uso da ameaça nuclear para intimidar a China. Cabe destacar que durante a Segunda Crise, a

URSS deu um apoio muito tímido à China, o que reforçou a necessidade de buscar

6 Em 1954, Jiang Jieshi ordenou o envio de 73 mil homens para as ilhas de Jinmen (Kinmen ou Quemoy) e Mazu

(Matsu) e a RPC, em resposta, bombardeou as ilhas (PIKE, 2010; SILVA, 2015). Em dezembro do mesmo ano,

Taipei e Washington assinaram um Tratado de Defesa Mútua, em caso de ataque de Pequim às ilhas de Taiwan e

Penghu, localizada ao sul. Assim, o ataque das forças continentais a Jinmen e Mazu prosseguiu no início de

1955. Entretanto, com a ameaça de uso de armas nucleares e, diante da falta de apoio soviético, a China optou

por recuar (VISENTINI, 2013; PIKE, 2010; SILVA, 2015).

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8 I Seminário Internacional de Ciência Política

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mecanismos para desenvolver capacidades defensivas autônomas7. Especialmente, quando em

1969, durante os atritos fronteiriços entre URSS e China, os soviéticos ameaçaram

nuclearmente a RPC. Assim, pode-se dizer que a noção de isolamento internacional, somada a

vulnerabilidade defensiva do país, fortaleceram as correntes progressistas dentro do PCCh e

acabaram por impulsionar as reformas pragmáticas que seriam adotadas a partir dos anos

1970 (KISSINGER, 2011; ROBERTS; 2012; VISENTINI; 2013; SILVA, 2015).

A mudança na conjuntura internacional, derivada da reorientação estratégica dos

EUA, abriu espaço para que a China avançasse na sua busca por inserção internacional e

fortalecesse um projeto de modernização militar. Com a chegada de Richard Nixon (1969-

1974) ao poder nos EUA e a adoção da Doutrina Guam8, as pressões sistêmicas que

restringiam a aproximação entre os países asiáticos diminuíram abruptamente. Dado esse

novo contexto, os países da região ampliaram o investimento em iniciativas regionais que

acabaram por alterar a configuração do sistema interestatal asiático. Por um lado, isso

permitiu à China se inserir no sistema de subcontratação japonês no Leste Asiático, e assim

alavancar um processo de desenvolvimento industrial e tecnológico. Por outro, engendrou

uma aliança com os Estados Unidos - diante de um quadro de balanceamento contra a URSS -

que possibilitou a reinserção da China no Sistema Internacional simbolizada pela entrada do

país na ONU.

Apesar disso, apenas com a chegada de Deng Xiaoping ao poder, o país adotou um

projeto de modernização alicerçado em reformas estruturais. Assim, quatro setores foram

considerados estratégicos para o projeto de desenvolvimento do país: agricultura, indústria,

ciência e tecnologia e defesa. Cabe destacar que na visão de Deng, havia uma ligação

inexpugnável entre segurança e desenvolvimento nacional. Por isso, o desenvolvimento

econômico adquiriu um caráter estratégico para a defesa do país (KISSINGER, 2011). A

partir de então, a China passou a vivenciar um período de vertiginoso crescimento econômico

que refletiu em um processo de modernização militar. Entretanto, esse processo não ocorreu

de forma equânime, nem entre os distintos setores econômicos, nem entre as regiões do país -

7 Segundo Visentini (2013), essa foi uma das princpiais razões que motivaram a adoção do plano de

modernização do Grande Salto Adiante (1958). Assim, buscava-se implementar um modelo de industrialização

acelerada que pudesse atender às demandas estratégicas do país. 8

A Doutrina Guam ou Doutrina Nixon foi lançada em 1969, pelo então presidente Richard Nixon. Em seu

discurso, Nixon defendeu que os aliados regionais dos Estados Unidos assumissem um papel mais ativo no

custeio de sua própria defesa. Assim, os EUA abriam mão de sua função de provedor da segurança dos seus

aliados. Nesse contexto, os aliados regionais ampliaram sua possibilidade de desenvolver ndústrias bélicas

próprias, já que as empresas estadunidenses estavam atendendo as demandas oriundas das forças armadas que

estavam atuando no Vietnã.

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especialmente, pois, o litoral obteve um crescimento econômico muito mais acentuado em

relação às regiões do oeste do país (Xinjiang e Tibete, por exemplo).

O final da Guerra Fria alterou o contexto regional. Os EUA, que haviam estabelecido

uma aliança com a China, passaram a adotar uma postura crítica em relação ao país. O

incidente de Tiannamenn em 1988, deu indícios dessa nova conjuntura. Assim, encerrava-se a

Guerra Fria na Ásia e iniciava um novo contexto estratégico, no qual os EUA adotaram uma

postura ofensiva contra a China. Um indicador desse processo é o crescimento dos gastos

militares na RPC que aumentaram cerca de dez vezes o longo da década de 1990, em virtude

do acirramento da situação regional (LIFF; ERICKSON, 2013).

A percepção da unipolaridade dos EUA implicou em reações por parte dos países

asiáticos. A China passou a buscar uma aproximação maior com os países vizinhos,

especialmente após a crise asiática de 1997. A formação do ASEAN + 3 (China, Japão e

Coreia do Sul), em grande medida, representa um projeto de ―asianização da Ásia‖ ou

―afirmação asiática‖ (HUNTINGTON, 1997; KISSINGER, 2011). Ou seja, diante de um

quadro de ampliação da atuação dos Estados Unidos e aumento da pressão dos organismos

internacionais para uma adequação ao receituário neoliberal, a China buscava apoiar-se nos

aliados regionais para contrabalançar essa mudança desfavorável.

Em termos geopolíticos, a constituição da Organização para Cooperação de Xangai

em 2001 marca uma nova fase das relações da China com a Rússia e aproxima a RPC de uma

política direcionada à Ásia Central e ao Oriente Médio. Assim, pode-se dizer que a OCX

representa, por um lado, um novo episódio de balanceamento nas relações tripolares entre

EUA, Rússia e China; e, por outro, reflete a intenção chinesa de consolidar iniciativas que

fortaleçam o controle do país sobre regiões ainda não plenamente inseridas no projeto

nacional de desenvolvimento no oeste do país. Cabe lembrar que essas regiões, especialmente

Xinjiang e o Tibete convivem com movimentos separatistas, sendo que em Xinjiang trata-se

de movimento ligado ao fundamentalismo islâmico. Cabe salientar, que o aprofundamento da

aproximação entre China e Rússia que vinha avançando desde meados dos anos 1990,

decorreu da postura do governo George W. Bush com relação ao Leste Asiático. Em primeiro

lugar, adotou uma postura de confrontação contra a China, simbolizada pelo incidente da ilha

de Hainan9. Em segundo lugar, deteriorou as relações com a Coreia do Norte incluindo o país

no chamado ―eixo do mal‖ - o que levou a uma ampliação da tensão na península.

9 Incidente na ilha de Hainan, em que um avião norte-americano de coleta de dados se chocou contra um caça J-8

chinês.

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Entretanto, com as mudanças na conjuntura internacional a partir dos atentados de 11

de setembro, o Grande Oriente Médio e a contenção dos grupos fundamentalistas terroristas

tornou-se prioridade geopolítica na agenda securitária dos EUA (PECEQUILO, 2011). É

nesse contexto que pode-se dizer que houve uma aproximação ocasional entre China, Estados

Unidos e Rússia em torno de um inimigo comum. Já no governo Hu Jintao, a China deu

prioridade para a construção de um ambiente regional mais estável, focando na ideia de

―desenvolvimento pacífico‖. Conceito desenvolvido por Hu e Wen Jiabao (premiê chinês)

para contrapor a ideia de ascensão defendida por vários autores e que levava a expectativa de

uma postura confrontacionista.

A RPC, nesse período, focou na defesa da multipolaridade. Basicamente, o país

orientou seus esforços em duas grandes linhas de ação. A primeira procurava ampliar a

participação do país em fóruns e arranjos multilaterais, como, por exemplo, a negociação das

Seis Partes (que trata da questão nuclear norte-coreana), os BRIC, Forum Regional da

ASEAN dentre outras iniciativas (ZHANG, 2010). Paralelamente, o país procurava avançar

na construção de uma rede acordos de cooperação bilaterais com os vizinhos do sul e do

sudeste asiático. Nesse sentido, a RPC procurava assegurar um entorno estratégico

estabilizado ao passo que centrava seus esforços na manutenção de seu crescimento

econômico.

Outro aspecto fundamental para a compreensão dos aspectos estratégicos da inserção

chinesa diz respeito a sua segurança energética. Para a China, que integra-se cada vez mais à

economia global e depende do fornecimento externo de recursos naturais - especialmente

energéticos - para manter o seu ritmo de crescimento que ainda mantém-se em

aproximadamente 7% ao ano, a China se vê diante de três alternativas. A primeira é garantir o

seu acesso às linhas marítimas de comunicação (SLOCs). Para tanto, a China precisa

assegurar que os estreitos do Sudeste Asiático, como o de Málaca, não sejam bloqueados às

suas embarcações. A segunda diz respeito à construção de vias terrestres. Além dos gasodutos

e oleodutos originários em grande parte da Ásia Central, o país tem construído rodovias e

ferrovias que ligarão o leste ao oeste do país e aos países vizinhos (KARIMOV, 2013). A

última é uma mistura das duas primeiras, na medida em que o transporte marítimo é realizado

até alguma região anterior (a Oeste) do Sudeste Asiático e, posteriormente, os recursos sejam

transportados por dutos – como aqueles que cruzam Paquistão e Mianmar – até a China.

No que tange à primeira alternativa, a China lança mão de uma dupla estratégia.

Através da intensificação do comércio e da participação nas instituições regionais, a China

Page 11: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

11 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

aumenta a interdependência entre ela e os países do Sudeste Asiático. Deve-se lembrar que

com a entrada em vigor do Acordo de Livre-Comércio ASEAN-China, em 2010, a China se

consolidou como principal parceiro comercial dos países do bloco. Em termos de perfil de

forças, a China foca no desenvolvimento de capacidades assimétricas de combate.

Basicamente, vem solidificando um projeto de construção de capacidades A2/AD (anti-

acesso/negação de área) com vistas a viabilizar capacidades defensivas para o país em dois

teatros fundamentais: o estreito de Taiwan e a península coreana. Com o desenvolvimento de

aeronaves com mísseis balísticos antinavio e tecnologia stealth, a modernização da sua

marinha – inclusive dos submarinos e dos navios de escolta – e a ocupação e o

estabelecimento de bases militares em ilhas disputadas, o país vem avançando na construção

de meios para agir igualmente no Sudeste Asiático (MCDEVITT, 2010). O desenvolvimento

militar proposto está claramente vinculado à aquisição de capacidades militares de alta

tecnologia, estando a Marinha no cerne desse processo de modernização. Em 2004, foram

definidas as novas missões para as Forças Armadas da China: 1) servir como uma importante

fonte de força para o Partido Comunista consolidar sua posição política; 2) fornecer sólidas

garantias de segurança para sustentar o desenvolvimento econômico nacional; 3) prover

suporte estratégico para resguardar os interesses nacionais; e 4) desempenhar um papel na

promoção do desenvolvimento comum (ERIKSON, GOLDSTEIN & LORD, 2010;

CORDESMAN & HAAS, 2013). A partir desse contexto, a China iniciou um processo de

modernização militar que procura aumentar a eficiência, a qualidade e a tecnologia do ELP. A

modernização inclui a aquisição de capacidades de A2/AD, desenvolvimento de mísseis

balísticos, ampliação do alcance operacional, capacidades estratégicas e projeção de poder

além de Taiwan.

Segundo Cordesman & Haas (2013), em termos empíricos, esse processo refletiu-se

nas seguintes mudanças em cada uma das Forças. A) Exército: desenvolvimento de unidades

digitalizadas; mecanização das unidades motorizadas; melhoria dos sistemas de combate, com

forças de assalto embarcadas anfíbias pesadas e leves; artilharia tem desenvolvido novos tipos

de armas e munições, o que permite o desenvolvimento de capacidades para operações de

precisão que integram funções de reconhecimento, controle, ataque e capacidades de acesso.

B) Aeronáutica: novos tipos de radares; sistemas de informações de comando; mísseis de

média e alta altitude terra-ar; artilharia e mísseis antiaéreos; as aeronaves deixaram de ser

basicamente orientadas para o apoio às tropas terrestres e passaram a ser a principal força de

assalto; helicópteros de transporte e serviços e aumento das capacidades de ataque aéreo, de

Page 12: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

12 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

projeção de forças e de apoio. C) Marinha: aumento das capacidades de dissuasão estratégica

e contra-ataque; ampliação do alcance da capacidade de combate (marinha de águas azuis) e

capacidade de lutar contra ameaças não-convencionais; em termos de sistemas, é o

desenvolvimento de submarinos, fragatas, aviação antinavio, grandes vasos de superfície para

apoio logístico (PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA, 2011).

A segunda possibilidade é simbolizada pelo que se convencionou chamar de ―moderna

rota da seda‖. Há algum tempo, a refundação da ―Rota da Seda‖ tem sido identificada como

um modo de contextualizar as novas relações entre China, Rússia e Estados Unidos com os

países da ―Grande Ásia Central‖ (GAC)10

. A participação chinesa no desenvolvimento de uma

nova ―rota da seda‖ está ligada diretamente ao desenvolvimento do interior do país, uma vez

que demanda a criação de ―hubs‖ comerciais e mesmo industriais e mesmo para que parte da

produção chinesa seja transferida para essas regiões mais afastadas do litoral. Além disso, a

preocupação dos chineses em combater os três males, o separatismo, o terrorismo e o

extremismo.

A partir de 2010, o contexto regional passou a deteriorar. A reorientação da Política

Externa dos EUA para a região, marcada pela política de rebalanceamento da China, ou pivô

asiático, estabeleceu um contexto de endurecimento das relações na Ásia. Além disso, um

foco de tensões se estabeleceu no entorno estratégico da China: o acirramento das relações

bilaterais com o Japão, golpe militar na Tailândia, crises no Mar do Sul da China,

manifestações populares contrárias a acordo bilateral com a China em Taiwan e a favor da

democracia em Taiwan. Toda essa conjuntura, alimentada por um contexto de crise

econômica, evidenciou um quadro de competição estratégica no Leste Asiático (MARTINS,

2014).

No que diz respeito à ação dos EUA, destaca-se o desenvolvimento dos conceitos

operacionais de Air-Sea Battle (ASB) e de Joint Operational Access Concept (JOAC) que

visavam estabelecer mecanismos de neutralização das forças armadas chinesas. Atualmente,

os EUA têm baseado sua ação de balanceamento da China na adoção do recentemente

rebatizado Joint Concept for Accessand Maneuver in the Global Commons (JAM-GC), no

qual adaptaram os preceitos estabelecidos no ASB e na JOAC. Cabe destacar que, segundo

Cepik & Martins (2014), a ausência de uma definição política sobre sua grande estratégia leva

os EUA a condicionarem sua política externa e de segurança a conceitos operacionais (como

10

Segundo Swanstrom (2011), a Grande Ásia Central é composta por Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão,

Turcomenistão, Uzbequistão, Mongólia, Irã, Afeganistão e Paquistão.

Page 13: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

13 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

o JAM-GC), o que aumenta a propensão a instabilidade (POSEN, 2003; PORTER, 2013;

RONIS, 2013). Diante desse contexto, erodem as bases da gestão securitária na Ásia, à

medida que os EUA trabalham com a hipótese de dissolver as capacidades defensivas da

China e estabelecer uma primazia nuclear sobre a região.

Segundo Qi (2013), acelera-se o processo de transição para a multipolaridade. Assim,

a China fica diante de um dilema: necessidade de aprofundar suas capacidades militares e,

simultaneamente, assegurar que as crises regionais não escalem. Nesse contexto, ainda cabe

ressaltar que não se pode abandonar o binômio segurança e desenvolvimento, defendido por

Deng Xiaoping. Apesar do contexto de dificuldades, por outro lado, a China vem se

aproximando de países como o Paquistão e a própria Índia (ambos que recentemente

ingressaram na OCX), em uma ação que atende aos objetivos de segurança energética,

desenvolvimento do interior do país e alinhamento regional.

Por fim, observa-se, portanto, que a República Popular da China enfrenta ainda alguns

dos desafios que surgiram quando da vitória da Revolução Comunista em 1949. A Guerra

Civil não foi concluída e o país ainda carece de condições de assegurar a integração interna.

Por outro lado, a situação na Península Coreana e as ilhas disputadas no Mar do Sul China

permanecem no centro da estratégia securitária do país. Soma-se a isso, desafios que emergem

após a ascensão do país à condição de potência econômica, política e militar. Especialmente, a

necessidade de assegurar um abastecimento energético mínimo, o que implica em diversificar

as fontes de energia e desenvolver capacidades navais que lhe permitam proteger suas linhas

de comunicação marítimas; e, diminuir as assimetrias entre a região litorânea e o interior do

país. Afinal, a manutenção da integridade do território é aspecto central para a manutenção da

condição de afirmação do país no cenário internacional. Por último, destaca-se a questão

relativa ao aumento da competição estratégica na Ásia, decorrente da competição com os

EUA e que incide sobre as demais estruturas securitárias do país.

4 Perfil e Panorama da Infraestrutura Nacional e Regional da China

Essa seção tem como objetivo analisar o atual panorama da infraestrutura na China.

Para tanto, faz-se necessário empreender um breve histórico do desenvolvimento desigual

regional, bem como do modelo de crescimento chinês das últimas décadas. Por conseguinte,

será abordado o perfil do desenvolvimento de infraestrutura nacional e com os vizinhos, com

foco para os transportes e a questão energética. Entende-se que a construção de infraestrutura

na China é um processo complexo, o qual envolve diferentes atores e interesses. Destaca-se o

Page 14: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

14 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

fato de ser um modelo considerado único no mundo, guiado pela centralidade política, pelos

investimentos estatais e pelo incentivo à iniciativa privada, inserindo o país como grande

competidor no atual jogo internacional.

A China encontra-se logo abaixo dos 50º de latitude norte, aproximadamente na

mesma faixa temperada dos Estados Unidos, apresentando o clima e os benefícios que daí

decorrem. Harbin, principal cidade da Manchúria, localiza-se a 45º de latitude, a mesma de

Nova York. Xangai, na desembocadura do Rio Yangtzé, situa-se a 30º, como Nova Orleans.

O Trópico de Câncer corta a extremidade sul da China, do mesmo modo como passa bem

abaixo de Florida Keys (KAPLAN, 2013).

As dimensões territoriais da China são um pouco menos continentais que as dos

Estados Unidos da América. Enquanto que os EUA aproveitam de sua posição insular e do

poder parador da água (MAHAN, 1894), a China enfrentou historicamente ameaças externas

através das estepes eurasianas a norte e a nordeste. Dessa forma, a relação entre os chineses

nativos e os povos manchurianos, mongóis e turcomanos do deserto representa um dos eixos

focais da história chinesa. É devido a isso que as capitais das primeiras dinastias chinesas

eram normalmente construídas no Rio Wei, acima de seu encontro com o Rio Amarelo, onde

não só havia chuvas o suficiente para a agricultura sedentária, como também a população

estava a salvo dos nômades do planalto da Mongólia, contiguamente ao norte (KAPLAN,

2013). A abertura do Grande Canal entre 605 e 611 d.C., interligando os rios Amarelo e

Yangtzé – ou seja, o Norte da China, propenso à escassez, e o Sul, economicamente mais

produtivo – teve, segundo John Keay (2008, p. 13) ―efeito similar ao da instalação das

primeiras ferrovias transcontinentais na América do Norte‖. Nesse sentido, o Grande Canal é

considerado a chave da unidade chinesa, consolidando as bases da geografia agrária do país.

Por outro lado, as desigualdades entre o Norte e o Sul da China são menos latentes se

comparadas àquelas entre o nomadismo pastoril dos planaltos do interior11

e os povoados

baseados na agricultura intensiva do litoral (KAPLAN, 2013).

O desenvolvimento do oeste chinês é questão estratégica para o governo central. As

grandes disparidades socioeconômicas em relação ao litoral ameaçam a estabilidade interna

do país. Há uma correlação direta entre oferta de infraestrutura e desenvolvimento

socioeconômico. Primeiramente, deve-se considerar os grandes efeitos multiplicadores que

infraestrutura tem em toda a economia, alastrando desenvolvimento no setor produtivo e

11

Por interior, entende-se o amplo arco que vai da Manchúria, passando pela Mongólia e pela região de

Xinjiang, até o Tibete.

Page 15: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

15 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

social. Em relação à agricultura, inversões nas melhorias físicas proporcionam maior acesso à

energia e aos transportes, recursos essenciais para o impulso na produtividade e para a

distribuição dos produtos ao mercado. Para a indústria, a infraestrutura de energia, transportes

e comunicações aparece como um dos pilares básicos que permite a sua existência e

funcionamento. Mais do que isso, a própria capacidade de inovação tecnológica de nações e

empresas depende de infraestrutura para a adequação dos recursos humanos, naturais e

financeiros necessários ao processo. Não há dúvida de que o próprio bem estar de uma

população está condicionado ao acesso a esses recursos, na medida em permite a

disponibilidade de alimento, saúde, educação, lazer e segurança. Dessa forma, a assimetria

econômica entre o leste e o oeste chinês pode ser claramente vista através do histórico vazio

infraestrutural na região interior do país.

O desenvolvimento do oeste da China é um fator estratégico para o governo central e a

manutenção da estabilidade social através do aumento do consumo das massas camponesas.

As assimetrias regionais também são herança do século XIX, devido às políticas imperialistas

de Japão e Inglaterra, as quais concentraram a indústria nascente no litoral (JABBOUR,

2006). Ao longo da Era Maoísta, o isolamento diplomático chinês, somado ao rompimento

com a URSS em 1962, impulsionou o governo a transferir as indústrias para o interior a fim

de diminuir a vulnerabilidade a ataques do exterior. Nesse processo estava inerente a

necessidade de autossuficiência regional, tal como as comunas soviéticas, segundo a qual no

mesmo locus teria lugar a terra, a indústria, a escola, o hospital, etc.

A fim de superar esse gargalo estrutural, a China passou a apostar na

complementaridade regional. O litoral chinês é rico no âmbito comercial e financeiro,

contudo, é pobre em recursos energéticos. Já o interior oeste é rico em recursos energéticos –

detém 52% das fontes energéticas do país, incluindo aí o 2º maior potencial hidrelétrico do

mundo (JABBOUR, 2006). Além disso, na medida em que se desenvolve a região oeste,

impulsiona-se o caminho para Ásia Central, Oriente Médio e Europa.

A China não teria avançado no modelo de crescimento liderado pelas exportações sem

resolver primeiro os gargalos no abastecimento alimentar, a partir do final dos anos 197012

, no

governo Deng Xiaoping (1978-1992). O mesmo pode ser dito em relação às Zonas

Econômicas Especiais (ZEE’s), as quais foram constituídas inicialmente no litoral sul e depois

12

Em 1979 inicia-se a reforma agrícola, através de contratos de responsabilidade entre o Estado e as famílias. Os

incentivos materiais fizeram aumentar muito o volume de produção de cereais, resolvendo o problema de

subsistência alimentar de 1 bilhão de habitantes, além do país tornar-se exportador excedentes alimentícios

(JABBOUR, 2006).

Page 16: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

16 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

foram interiorizadas através do Rio Yangtzé e na região norte. Tanto para a questão agrícola,

quanto em relação às ZEE’, foi fundamental a instalação de uma infraestrutura moderna.

Dessa forma, iniciou-se um processo no qual os recursos investidos no litoral possibilitaram

transferências para o interior, formando uma economia continental crescentemente integrada e

inserida na economia mundial (MAMIGONIAN, 2006). Foi assim que os excedentes

populacionais voltaram suas atividades para setores ligados à indústria rural – as empresas de

cantão e povoado (ECP’s). As ECP’s, pequenas e médias empresas de caráter coletivo, foram

as grandes responsáveis pela disseminação de produtos made in China na segunda metade da

década de 1980. A consequência dessa política de expansão da produção agrícola, de

mercantilização dos excedentes e do dinamismo exportador das ECP’s foi uma transformação

nos padrões de consumo da sociedade chinesa. Sobretudo, isso é resultado de uma estratégia

de desenvolvimento que priorizava investimentos em setores industriais nos quais um

pequeno capital inicial geraria grandes rendimentos, bem como aumentava

extraordinariamente o nível de emprego (JABBOUR, 2006).

Portanto, houve um planejamento equilibrado entre grandes construções de

infraestrutura desde os anos 1990, importações de equipamentos de alta tecnologia e

implantação de indústria mecânica pesada de ponta, através de joint-ventures com

multinacionais do ramo. Conforme foram se estabelecendo novos polos industriais dispersos

por todo o país, a partir das primeiras ZEE’s, a busca por integração de transportes e de

segurança energética em grande escala tornou-se essencial (MAMIGONIAN, 2006).

A crise econômica asiática de 1997 obrigou o Estado a aumentar o investimento

público em infraestrutura a fim de estimular o crescimento econômico nacional sem precisar

recorrer à desvalorização cambial.

A ação estatal concentrou-se no estímulo à agricultura familiar, em

maciços investimentos em infra-estrutura e na utilização das empresas

públicas como ―âncora‖ para a constituição de grandes conglomerados

industriais. Tudo isso foi acompanhado de uma cuidadosa transição do

sistema de preços da antiga economia de comando para a ―nova‖

economia de mercado. (BELLUZZO, 2006, p. 12)

Assim, podemos determinar a continuidade do acelerado crescimento econômico

chinês, basicamente, a três fatores: (I) investimentos públicos em infraestrutura; (II)

incorporação do progresso tecnológico através de joint-ventures; (III) política

macroeconômica e cambial. Entretanto, para que a China possa se estabelecer definitivamente

como uma economia desenvolvida, bem como para garantir a segurança territorial, é crucial

Page 17: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

17 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

que seja dada ênfase na integração da região oeste, a fim de constituir uma economia

continental, tal como os Estados Unidos.

A província de Chongqing pode ser considerada centro dinâmico da expansão para o

oeste. Está localizada a 1.150 km de Xangai, na região centro-oeste do país, no curso médio

do Rio Yangtzé. Em termos de papel e localização, é como Chicago dos EUA (JABBOUR,

2006). Através do Rio Yangtzé é possível navegar para várias localidades do país, como pode

ser visto no Mapa 1, com todos os benefícios de uma grande hidrovia13

. Além disso, conforme

o Mapa 2, Chongqing é ponto convergente com importantes linhas ferroviárias e m mercado

redistribuidor de produtos agrícolas, além disso, seu subsolo é rico em gás natural e carvão.

Mapa 1 – Localização do Rio Yangtzé

Fonte: Updated Yangtze River Maps (2015).

13

O transporte hidroviário é apontado como o meio de transporte mais barato e eficiente, sendo o que consome

menos energia. Além disso, é considerado o mais apropriado para transportar grandes volumes a longas

distâncias. Tais características sobressaltam-se quanto ao transporte de produtos de baixo valor agregado e de

grandes volumes, visto que o custo do transporte representa uma porcentagem significativa do valor

comercializado. O transporte hidroviário interior (THI) costuma se valer de vias naturais preexistentes, o que

reduz o custo de construção de vias, que é elevado em ferrovias e rodovias. O transporte rodoviário é

interessante para distâncias menores — inferiores a 250 quilômetros — em rotas que carecem de hidrovias ou

ligações ferroviárias nas proximidades (MT, 2013). As hidrovias apresentam elevada eficiência energética

considerando-se a relação carga/potência (T/Hp), visto que a capacidade de carga média do modal hidroviário é

de 5 toneladas por HP, no ferroviário é de 0,75 e no rodoviário somente 0,17, ou seja, a hidrovia atinge uma

eficiência energética até 29 vezes maior que o transporte rodoviário (OLIVEIRA, 2012). Além disso, a taxa de

consumo de combustível por tonelada transportada é bastante inferior no modal hidroviário, consumindo apenas

5 litros por tonelada transportada por km útil (TKU), enquanto que o ferroviário consome 10 litros e o rodoviário

chega a consumir 96 litros por TKU (Ibid). Dessa forma, a taxa de emissão de poluentes atmosféricos é muito

inferior através das hidrovias, somente 20 kg de CO² por TKU, contra 34 kg de CO² por TKU nas ferrovias e 116

kg de CO² por TKU nas rodovias (MT, 2010; OLIVEIRA, 2012).

Page 18: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

18 I Seminário Internacional de Ciência Política

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Mapa 2 – Chongqing Como Centro Ferroviário

Fonte: Tibet Transport Maps. Disponível em: <http://www.tour-tibet.com/tibetan-maps/transport-maps.html>

Entre 1991 e 2002, foram concluídos 33 projetos ferroviários com

investimentos da ordem de US$ 10,84 bilhões, incluindo 3.084 km de

novas vias e a duplicação de outros 5.830 km. Desses investimentos,

41% foram direcionados ao oeste do país, basicamente para ligar as

capitais provinciais aos cantões e povoados mais distantes. A China

passou a contar com 70 mil km de trilhos, a terceira maior extensão do

mundo. (JABBOUR, 2006, p. 79)

O foco do 12º Plano Quinquenal está na sustentabilidade. Portanto, justificam-se

grandes investimentos no modal de transporte ferroviário de mercadorias, devido à sua

natureza de emissão de carbono relativamente mais baixa. Ademais, o Plano dá ênfase ao fato

de que o sucesso da política para o Oeste é dependente da construção de ligações de

transporte eficazes, bem como do aumento do consumo doméstico (KPMG, 2013). Os

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19 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

objetivos de formação de uma economia continental estão de acordo com as políticas de

integrar de forma mais rápida e eficiente as indústrias centradas no litoral com as ricas

reservas minerais e energéticas do Oeste. Desde o final dos anos 1990, o país assistiu a um

vertiginoso crescimento do modal ferroviário. Contudo, como pode ser visto no Mapa 3, ainda

persiste um vazio no interior chinês.

Mapa 3 – Ferrovias Chinesas

Fonte: Rail Map of China – Wikipedia Commons (2015)

Em relação às rodovias, a situação é muito similar. Anos de crescimento contínuo na

construção de estradas deram à China uma vasta rede de autoestradas e de vias expressas,

especialmente nas regiões orientais do país. Desde 2000, a rede rodoviária da China tem

crescido anualmente mais de 16 por cento, tornando-o o segundo maior país do mundo no

modal, com mais de 75.000 km de vias (KPMG, 2013). Entretanto, a região oeste representa

71,5% da área nacional e conta somente com em torno de 18% da rede viária (JABBOUR,

2006), como pode ser visto no Mapa 4.

Mapa 4 – Rede viária da China 2015

Page 20: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

20 I Seminário Internacional de Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

Fonte: La Historia con Mapas (2015)

Em relação ao petróleo, após a Segunda Guerra Mundial, a China não produzia o

recurso e era dependente de importações. A partir da Revolução Comunista (1949),

independência tornou-se um imperativo e os planos quinquenais de Mao davam altíssima

prioridade ao desenvolvimento da indústria petrolífera14

. Contudo, inesperadamente

encontrou-se um novo campo de petróleo nas planícies do Nordeste, na Manchúria. O campo

foi batizado de Daqing, o que significa ―grande celebração‖ (YERGIN, 2014). A partir da

experiência adquirida, diversos outros campos se seguiram e, em 1975, a China tornava-se

exportadora da commodity. Contudo, em 1993, a produção de petróleo não conseguia mais

acompanhar a crescente demanda doméstica de energia da economia em acelerado

desenvolvimento. Como resultado, a China deixou de exportar petróleo e passou a importá-lo

(YERGIN, 2014). Isso aumentou ainda mais a urgência em modernizar a indústria petrolífera

e reestruturar as grandes empresas (Sinopec, CNPC e CNOOC). Dessa forma, especialmente a

partir do final da década de 1990, a China começou a se expandir internacionalmente na busca

por petróleo a fim de garantir a segurança energética do país. Há companhias de petróleo

chinesas na África, na América Latina, no Cazaquistão, na Rússia, entre outros. A estratégia

de segurança energética visa desenvolver dutos para diversificar, reduzir a dependência de

rotas marítimas e fortalecer as conexões com os países fornecedores.

Ainda assim, atualmente aproximadamente 75% da produção das empresas chinesas

vem de dentro do país, configurando a China como 5ª maior produção doméstica do mundo (à

frente de países como Canadá, México, Venezuela, Kuwait e Nigéria) (YERGIN, 2014).

14

O pessimismo era tanto que alguns especialistas chineses acreditavam que o país deveria se voltar para o óleo

sintético, produzindo petróleo a partir do carvão, como os alemães tinham feito durante a II Guerra Mundial

(YERGIN, 2011).

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21 I Seminário Internacional de Ciência Política

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Assim, há ênfase na aplicação de novas tecnologias e novas abordagens à descoberta e ao

desenvolvimento de recursos petrolíferos. Além disso, há um novo foco em recursos

domésticos que são abundantes, porém ainda pouco desenvolvidos, especialmente o gás

natural e até mesmo o gás de xisto.

São novas realidades comerciais – a China como consumidora de

petróleo cada vez maior, a China como participante cada vez mais

importante na indústria petrolífera mundial. Porém. Há também uma

dimensão de segurança, que surge da dependência crescente para um

país para o qual a ―autonomia‖ foi um imperativo fortíssimo por

tantos anos (YERGIN, 2014, p. 220).

Figura 1 – Estrutura de Consumo de Energia na China em 2011

Fonte: KPMG (2013)

Como será analisado nas seções subsequentes, a estratégia de segurança energética é

fundamental para a China. Além da diversificação de parcerias na produção de petróleo, o

país destaca-se em relação a hidrelétricas e gasodutos. A hidrelétrica de Três Gargantas,

atualmente a maior do mundo, assim como o Gasoduto Oeste-Leste, se inserem no quadro

geral da política chinesa de transformar vantagens naturais do oeste pobre em vantagens

econômicas (JABBOUR, 2006). Ainda, projetos como esse vão ao encontro dos objetivos de

reduzir a produção de energia a partir do carvão, devido aos altos riscos ambientais (KPMG,

2013).

5 Relacionando a Infraestrutura Chinesa com a Segurança e a Defesa do País

Tendo em vista os objetivos estratégicos e securitários que condicionam a inserção

internacional da RPC e os aspectos gerais acerca dos projetos de infraestrutura desenvolvidos

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22 I Seminário Internacional de Ciência Política

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pelo país, procura-se, portanto, avaliar em que medida esses processos (segurança e defesa

nacionais e construção de infraestrutura) são complementares. Cabe ressaltar, conforme

identificado na seção inicial, que a infraestrutura possui um caráter dual. Ou seja, não se pode

entender a construção de infraestrutura como um fim em si, mas como um meio para

promover a ampliação das capacidades do poder do país. Para realizar a análise, serão

avaliados alguns projetos de infraestrutura desenvolvidos ou em desenvolvimento pela RPC e

os impactos que geram sobre três questões essenciais concernentes a segurança nacional: (I)

integração nacional; (II) Segurança Energética; e, (III) Estabilidade do Entorno Estratégico.

No que diz respeito à integração nacional, existe ainda uma grave disparidade entre as

regiões do oeste do país em relação às províncias do leste. Especialmente, nos anos 1990, o

crescimento econômico vertiginoso não implicou em uma diminuição das assimetrias. Cabe

destacar que a reintegração dessas regiões quando da vitória comunista se deu pela ação do

ELP, o que, em grande medida, explica as tendências separatistas que existem nessas regiões.

Tendo como premissa que o subdesenvolvimento, a falta de acesso a bens públicos básicos é

um elemento catalizador de tensões sociais, o governo chinês vê na discrepância em termos de

desenvolvimento um potencial elemento desestabilizador.

Dentre os principais projetos infraestruturais desenvolvidos destacam-se a construção

da ferrovia Tibete-Qinghai e do gasoduto Oeste-Leste. A ferrovia Tibete-Qinghai tem cerca

de 2 mil quilômetros de extensão, estabelecendo uma conexão entre o centro do país e a

província do Tibete. Nesse sentido, possui uma condição singular em termos de obras

infraestruturais, já que é a única obra dessa magnitude que conecta o Tibete ao resto do país.

Além da imensa extensão da ferrovia, outra característica que marca a execução desse projeto

é a tecnologia envolvida. Essa é uma ferrovia construída em grandes altitudes e em

temperaturas muito baixas, assim o desenvolvimento desse projeto habilita o país em termos

tecnológicos na construção de empreendimentos em regiões de geografia difícil. Cabe

destacar que a ferrovia foi concluída ainda no governo do Hu Jintao em 2006, mas existem

projetos que pretendem ampliar as linhas até o Nepal e, possivelmente, até a Índia.

Claramente, a busca pela integração ferroviária do Tibete possui aspectos geoeconômicos,

mas também incide sobre questões de segurança nacional. Cabe destacar que a presença do

Estado Chinês nessa região sempre foi muito frágil e mesmo que o projeto não resolva a

situação, amplia a integração da região ao país. Mesmo em face de uma hipotética crise

separatista, a ferrovia seria um elemento que contribuiria para a mobilização das forças

nacionais. Ainda no que tange à integração nacional, outro projeto que se destaca é a

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23 I Seminário Internacional de Ciência Política

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construção do gasoduto Oeste-Leste, que integra Xangai à Xinjiang. Essa é uma obra cuja

extensão é de mais de 4300 km e tem como centro aproveitar o potencial energético da

província ocidental. Cabe destacar que o gasoduto possui ramificações que abastecem toda a

costa a leste do país. Por outro lado, Xinjiang apresenta um quadro de instabilidade que

preocupa o comando central do país15

. A articulação dos movimentos separatistas na região

com os movimentos fundamentalistas islâmicos baseados no Oriente Médio estabelece uma

articulação entre a política doméstica e a inserção internacional do país. Afinal, em grande

medida, o Oriente Médio representa um eixo central para o abastecimento energético da RPC.

As questões de segurança energética têm sido um aspecto central da estratégia de

segurança da China. A China ainda sofre com a grande dependência de abastecimento externo

de recursos energéticos, basicamente petróleo e gás natural (OLIVEIRA, 2012). Levando em

consideração que a sustentação da capacidade produtiva e mesmo das capacidades defensivas

depende da manutenção de uma oferta energética estável, observa-se que o país tem orientado

o investimento em direção a construção de capacidades energéticas sólidas, através de um

projeto de diversificação das fontes de importação. Ou seja, vem ampliando a gama de países

que exportam recursos energéticos para o país. Basicamente, tem procurado se aproximar da

Ásia Central, da Rússia, da África e da América Latina. Por outro lado, o país vem

procurando diversificar as fontes energéticas, com vistas a diminuir a dependência dos

hidrocarbonetos. A conclusão de obras como a hidrelétrica Três Gargantas, que se configura

na maior hidrelétrica do mundo, apenas comparável ao potencial hidrelétrico da Usina de

Itaipu no Brasil. Assim, pode-se dizer que a execução dessas obras de infraestrutura atende

aos objetivos energéticos estratégicos do país. Cabe ressaltar que a construção de

infraestrutura em muitos casos não implica em efeitos de uma ordem apenas, já que a

execução dessas obras, além dos benefícios econômicos, gera implicações para a consolidação

da autonomia nacional.

Entretanto, talvez em outros projetos de infraestrutura que mais tem recebido

investimentos por parte da China e, cujos impactos são centrais para a análise das objetivos

estratégicos do país, é a busca pelo estabelecimento da Belt and Road Initiative (OBOR).

Basicamente, a OBOR é composta de dois pilares: a construção de conexões terrestres com a

15 Apesar do aumento das disparidades regionais na década de 1990, a região de Xinjiang, por exemplo, em 22

anos conheceu progresso vertiginoso com o aperfeiçoamento de sua infraestrutura a partir do desenvolvimento

tecnológico, possibilitando-lhe otimizar a descoberta e consequente extração de petróleo e gás natural (estima-se

que 25% das reservas em petróleo e gás da China se encontram ali e que suas reservas de gás são suficientes para

abastecer Xangai por 30 anos). Enormes somas foram investidas pelo governo central em 23 rodovias, sendo 11

delas interprovinciais, somando 33 mil km de estradas abertas (JABBOUR, 2006).

Page 24: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

24 I Seminário Internacional de Ciência Política

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Eurásia (Cinturão Econômico da Rota da Seda - CERS) e o estabelecimento de um aparato

infraestrutural marítimo (Rota da Seda Marítima - RSM). O OBOR foi lançado em 2013 pelo

presidente Xi Jinping, marcando sua viagem por vários países da Ásia Central quando assinou

vários acordos de cooperação energética. Esses projetos são basilares para a inserção

internacional da China tendo em vista o quadro de dificuldades que o país enfrenta na região,

seja pelo acirramento da competição com os EUA, seja pela dificuldade de controlar os

estreitos do Mar do Sul China responsáveis por abastecer a economia do país.

O CERS prevê a construção de uma rede de gasodutos e oleodutos, bem como de

estradas e ferrovias, integrando a China à região do Mar Cáspio e colocando o país no cerne

das disputas geopolíticas pelo controle da massa continental eurasiana – heartland. A RSM,

por sua vez, tem como objetivo estabelecer uma vasta rede de portos e infraestrutura marítima

com vistas a ampliar a conectividade entre os países da região (NATARAJ, 2015). Nesse

sentido, a nova Rota da Seda Marítima procura, por um lado, diminuir a dependência da RPC

do trânsito no Mar do Sul da China, à medida que esses portos localizados no sul e no sudeste

da Ásia se vinculariam às redes de abastecimento do país pelo interior do continente. Por

outro, a RSM procura ampliar a integração das províncias mais a oeste à dinâmica

econômico-produtiva do país, cujo centro geoeconômico localiza-se na costa leste. Nessa

iniciativa, ainda há de se considerar a construção do Corredor Econômico China-Paquistão

(CECP) que integraria o extremo oeste da China ao porto de Gwadar no oeste do Paquistão.

Esse é um exemplo de transbordamento da função primária de um projeto de construção de

infraestrutura. Ao passo que integra os centros produtivos da região, configura-se como

elemento de estabilização nas relações bilaterais entre a China e seus vizinhos.

Por fim, avalia-se que o perfil de desenvolvimento de infraestrutura na China tem

objetivado mais do que simplesmente atender às demandas relacionadas ao crescimento

econômico. Existe um fator estratégico que oriente a escolha dos projetos e a busca por sua

execução. Além disso, a China tem optado por investir em projetos que aliem soluções para a

questão inconclusa da integração nacional e estabilização do entorno estratégico tem sido

priorizados. O que denota uma participação ativa do governo central no planejamento

infraestrutural do país.

6 Considerações Finais

Desde a vitória da Revolução Comunista em 1949, a China vem moldando suas

perspectivas estratégicas acerca das suas necessidades defensivas e do seu papel na região.

Page 25: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

Nesse sentido, observa-se que o processo de consolidação nacional iniciado ao fim da guerra

civil ainda está inconcluso. A manutenção da situação em Taiwan e as dificuldades

enfrentadas para afirmar a soberania sobre seu território, especialmente no oeste, evidenciam

um contexto de busca por estabilização interna ainda em curso.

Nesse contexto, o papel do PCCh tem sido central na estratégia de afirmação nacional.

O governo central tem sido peça fundamental para orientar, planejar e executar

empreendimentos que visam fortalecer as capacidades de poder do país. A infraestrutura,

nesse sentido, constitui-se como elemento vertebrador das capacidades nacionais. Por um

lado, fornece elementos de sustentação econômica (energia, transportes e comunicações); e,

por outro, tem servido para ampliar a presença do Estado em regiões geograficamente mais

distantes do centro dinâmico da economia do país – a costa leste, e viabilizar a integração

regional com a Ásia Central, Rússia, bem como no Sul e Sudeste Asiático. Assim, pode-se

dizer que o balanço preliminar sobre o perfil de construção infraestrutural na China é

complementar à política de defesa do país e a busca pelo cumprimento de seus objetivos

estratégicos.

A estratégia de inserção internacional chinesa é composta por várias frentes. Atribuir a

um elemento apenas seria simplificar um processo complexo. Porém, há de se considerar que

no plano regional a construção de infraestrutura conjunta tem sido um aspecto crucial nesse

processo. O projeto de criação do Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura (AIIB)

representa essa busca por consolidar um perfil de gerenciamento regional calcado na

construção de integração física conjunta. Além disso, o AIIB pode alavancar a liderança da

China na região, já que estabelece alternativas ao Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB)

e ao Banco Mundial (BM), nos quais a RPC não possui grande poder de decisão.

Por fim, cabe destacar que o cenário atual no continente asiático reflete um cenário de

interdependência securitária. Segundo o qual, as instabilidades em uma sub-região geram

implicações imediatas em outras sub-regiões. Diante desse contexto, a China vem procurando

estabelecer mecanismos de estabilização da região e procurando viabilizar a capacidade de

projeção de forças. Especialmente, tendo em vista que o quadro de competição estratégica tem

se acirrado, seja pelo realinhamento das potências regionais, seja pela estratégia de

balanceamento da China adotada pelos EUA.

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Page 26: Infraestrutura na República Popular da China: impactos sobre a

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