informativo compromisso e atitude - 5ª edição

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1 INFORMATIVO A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) conquistou re- conhecimento internacional e foi eleita pela ONU como uma das três leis mais avançadas no mun- do no enfrentamento à violência doméstica. O avanço legislativo, entretanto, ainda não representa a garantia de uma vida livre de agres- sões para uma parcela significativa das 100 milhões de brasileiras. Estima-se que uma mulher seja agredida a cada 5 minutos no País; e a cada três pessoas atendidas no SUS (Sistema Único de Saúde) por violência doméstica duas são mu- lheres. Os números revelam tam- bém que até a mais extrema violên- cia – o homicídio – está presente no cotidiano de muitas mulheres: entre 2000 e 2010, em média, a cada 2 horas uma brasileira foi assassinada em condições violentas, segundo o Mapa da Violência 2012. É consenso entre os especialistas ouvidos para a quinta edição do Informativo Compromisso e Atitude que, para diminuir a distância en- tre o texto legal e a efetiva fruição do direito, é preciso democratizar o acesso à Justiça no País. Entre os principais desafios para garantir este acesso estão: a expansão dos serviços no território nacional, a formação de equipes mul- tidisciplinares capacitadas para atuar nestes serviços e a divulgação de in- formações para as próprias mulheres sobre seus direitos e caminhos para acessá-los. É também fundamental a conscientização de todos os envol- vidos nas áreas de Segurança e Justi- ça sobre a grave violação de direitos humanos que é a violência de gênero. Para contribuir diante deste cenário, esta edição especial reúne reportagens, entrevistas, reco- mendações e pesquisas que ajudam a elencar desafios e caminhos para que o Estado se faça presente. Traz também informações so- bre iniciativas que buscam democratizar este acesso. Confira. 2 ENTREVISTA EXCLUSIVA Conselheira do CNJ, a desembargadora Ana Maria Amarante destaca a importância das Coordenadorias Especializa- das em Violência Doméstica que atuam nos TJs estaduais. 3 RECOMENDAÇÕES DA ONU A advogada Silvia Pimentel, inte- grante do Comitê da ONU para coibir a discriminação contra as mulheres, antecipa com exclusi- vidade as recomendações que serão feitas neste ano. UMA PUBLICAÇÃO DA CAMPANHA COMPROMISSO E ATITUDE PELA LEI MARIA DA PENHA Editada pelo INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO - MÍDIA E DIREITOS N o 5 - Fevereiro-Março/2014 ACESSO À JUSTIÇA: Desafi os para efetivar a Lei Maria da Penha nas diferentes realidades em que vivem as brasileiras 4 CAMINHOS A fruição dos direitos continua a demandar uma ampla moderniza- ção dos Sistemas de Segurança e Justiça. 5 DISSEMINAÇÃO Experiência de juizados itinerantes leva o Poder Público às comuni- dades isoladas no País e reforça a necessidade de interiorização da Lei Maria da Penha. 6 AMPLIAÇÃO DO LIGUE 180 Central de Atendimento à Mulher amplia seus quadros e serviços e, além de prestar informações, passa a encaminhar denúncias. 7 ESPECIALIZAÇÃO Núcleos do Ministério Público especializados em violência contra a mulher fomentam atuação em rede. 8 DEFESA DE DIREITOS Defensoria Pública assinala desafios para efetivar direitos na região de fronteira entre o Brasil e a Venezuela. INFORMAÇÃO COMO FERRAMENTA Portal Compromisso e Atitude inaugura seções que reúnem artigos sobre a violência contra as mulheres e a Lei Maria da Penha. Essas matérias - e muito mais - podem ser acessadas na íntegra no Portal Compromisso e Atitude, um espaço na internet a serviço da divulgação de informações e ações relevantes dos parceiros da Campanha: www.compromissoeatitude.org.br

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Esta edição especial reúne reportagens, entrevistas, recomendações e pesquisas que ajudam a elencar desafios e caminhos para que o Estado se faça presente, garantindo acesso à Justiça para assegurar os direitos humanos das mulheres.

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Page 1: Informativo Compromisso e Atitude - 5ª edição

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INFORMATIVO

A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) conquistou re-conhecimento internacional

e foi eleita pela ONU como uma das três leis mais avançadas no mun-do no enfrentamento à violência doméstica. O avanço legislativo, entretanto, ainda não representa a garantia de uma vida livre de agres-sões para uma parcela signi� cativa das 100 milhões de brasileiras.

Estima-se que uma mulher seja agredida a cada 5 minutos no País; e a cada três pessoas atendidas no SUS (Sistema Único de Saúde) por violência doméstica duas são mu-lheres. Os números revelam tam-bém que até a mais extrema violên-cia – o homicídio – está presente no cotidiano de muitas mulheres: entre 2000 e 2010, em média, a cada 2 horas uma brasileira foi assassinada em condições violentas, segundo o Mapa da Violência 2012.

É consenso entre os especialistas ouvidos para a quinta edição do

Informativo Compromisso e Atitude que, para diminuir a distância en-tre o texto legal e a efetiva fruição do direito, é preciso democratizar o acesso à Justiça no País.

Entre os principais desa� os para garantir este acesso estão: a expansão dos serviços no território nacional, a formação de equipes mul-tidisciplinares capacitadas para atuar nestes serviços e a divulgação de in-formações para as próprias mulheres sobre seus direitos e caminhos para acessá-los. É também fundamental a conscientização de todos os envol-vidos nas áreas de Segurança e Justi-ça sobre a grave violação de direitos humanos que é a violência de gênero.

Para contribuir diante deste cenário, esta edição especial reúne reportagens, entrevistas, reco-mendações e pesquisas que ajudam a elencar desa� os e caminhos para que o Estado se faça presente. Traz também informações so-bre iniciativas que buscam democratizar este acesso. Con� ra.

2 ENTREVISTA EXCLUSIVAConselheira do CNJ, adesembargadora Ana Maria Amarante destaca a importância das Coordenadorias Especializa-das em ViolênciaDoméstica que atuamnos TJs estaduais.

3 RECOMENDAÇÕES DA ONUA advogada Silvia Pimentel, inte-grante do Comitê da ONU para coibir a discriminação contra as mulheres, antecipa com exclusi-vidade as recomendações que serão feitas neste ano.

UMA PUBLICAÇÃO DACAMPANHA COMPROMISSO E ATITUDE PELA LEI MARIA DA PENHAEditada pelo INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO - MÍDIA E DIREITOS

No 5 - Fevereiro-Março/2014

ACESSO À JUSTIÇA:Desa� os para efetivar a Lei Maria da Penha nas

diferentes realidades em que vivem as brasileiras

4 CAMINHOSA fruição dos direitos continua a demandar uma ampla moderniza-ção dos Sistemas de Segurança e Justiça.

5 DISSEMINAÇÃOExperiência de juizados itinerantes leva o Poder Público às comuni-dades isoladas no País e reforça a necessidade de interiorização da Lei Maria da Penha.

6 AMPLIAÇÃO DO LIGUE 180Central de Atendimento à Mulher amplia seus quadros e serviços e, além de prestar informações, passa a encaminhar denúncias.

7 ESPECIALIZAÇÃONúcleos do Ministério Públicoespecializados em violência contra a mulher fomentam atuação em rede.

8 DEFESA DE DIREITOSDefensoria Pública assinala desa� os para efetivar direitos na região defronteira entre o Brasil e a Venezuela.

INFORMAÇÃOCOMO FERRAMENTAPortal Compromisso e Atitudeinaugura seções que reúnemartigos sobre a violência contra asmulheres e a Lei Maria da Penha.

Essas matérias - e muito mais - podem ser acessadas na íntegra no PortalCompromisso e Atitude, um espaço na internet a serviço da divulgação

de informações e ações relevantes dos parceiros da Campanha: www.compromissoeatitude.org.br

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No 5 - Fevereiro-Março/2014

Conselheira do CNJdestaca importância dasCoordenadorias Especializadase da interiorização da Justiça

Para a desembargadora Ana Maria Amarante, do Conselho Nacional de Justiça, o Poder Judi-ciário tem avançado na especialização e estru-

turação para efetivar a Lei Maria da Penha, mas ain-da tem importantes desa� os para garantir acesso à Justiça para as brasileiras.

Entre eles, a conselheira destaca: é preciso interio-rizar a Justiça, ampliando o número e a distribuição das Varas e Juizados de Violência Doméstica e Fami-liar contra a Mulher (JVDFM) no território nacional.

A conselheira lembra ainda que “não só a Justiça, mas todos aqueles que de alguma forma trabalham nessa área devem primar pela especialização”. Nes-se sentido, aponta a importância da criação das Co-ordenadorias Estaduais das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar no âmbito dos Tribunais de Justiça, conforme recomenda a Reso-lução CNJ nº 128, como instâncias estratégicas para a especialização, atuação em rede e engajamento do Poder Judiciário no enfrentamento à violência de gênero. Con� ra a entrevista:

Qual é a importância das Coordenadorias Estaduais das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar na garantia da efetividade da Lei Maria da Penha?

Como órgão permanente de assessoramento à Presidência dos Tri-bunais de Justiça, a Coordenadoria exerce papel fundamental, já que é responsável pela busca do aprimoramento da estrutura do Judiciário, suporte e capacitação de magistrados e servidores, promoção da articu-lação interna e externa do Poder Judiciário, coleta e informação de dados estatísticos, dentre outras atividades. Todas estas ações, se exercidas, fazem com que haja maior e melhor acesso à Justiça, adequação e espe-cialização de serviços e formação de rede – fatores que contribuem para garantir a efetividade da Lei Maria da Penha.

Quais ações de apoio aos agentes do Poder Judiciário já foramdesenvolvidas para melhoria da prestação jurisdicional?

É bem verdade que algumas dessas Coordenadorias ainda ca-recem de estruturação física e de pessoal. Porém, como fruto desse funcionamento, já foi possível perceber a sua importância na rea-lização de seminários e cursos de capacitação de juízes, servidores e instituições parceiras na busca de especialização. E também contri-buem para a divulgação da Lei Maria da Penha, com integrantes do Poder Judiciário e parceiros realizando ciclos de palestras em escolas e outros organismos governamentais ou não-governamentais.

Temos informações ainda sobre a participação das Coordenadorias na formação e integração da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher com demais órgãos a� ns em cada unidade da federação, o que é primordial à prevenção e combate a essa violência.

Além disso, algumas Coordenadorias, em parceria com outros órgãos, criaram ou aperfeiçoaram mecanismos de acompanhamento e � scalização do cumprimento das medidas protetivas, que buscam salvaguardar a integridade física e psíquica da mulher. São mecanis-mos importantes, a exemplo do Botão do Pânico no Espírito Santo, da Tornozeleira Eletrônica em Minas Gerais, da Patrulha Maria da Penha no Rio Grande do Sul, dentre outros.

Atualmente, quais são as principais necessidades e quais de-veriam ser as prioridades para assegurar o acesso da mulher vítima de violência doméstica à Justiça?

A Lei Maria da Penha é conhecida por 99% da população bra-sileira, mas recentes pesquisas demonstram certo desconhecimento acerca dos serviços prestados.

A princípio, devem ser intensi� cadas as campanhas para conhecimento não só dos direitos inerentes às mulheres, mas também das formas de aces-so aos serviços, em especial do Sistema de Justiça. Percebe-se, pelas pesqui-sas, que a população ainda tem certo desconhecimento e descon� ança sobre o funcionamento dos serviços de enfrentamento à violência.

Então, penso que os dados de todos os organismos devem ser catalo-gados e informados, assim como os da Justiça, como forma de demons-trar o quanto se tem trabalhado no enfrentamento à violência contra as mulheres, a � m de que esses dados também reforcem a imagem desses organismos e se traduzam em maior con� ança na denúncia dessa violên-cia. Ainda carecemos de mecanismos de controle de dados que possam identi� car melhor as nossas atividades – isso é primordial.

Afora isso, é preciso interiorizar a Justiça. Porém – e não menos importante – não só a Justiça, mas todos aqueles que de alguma forma trabalham nessa área devem primar pela especia-lização. Quando os serviços são especializados, aliás, a demanda eventualmente reprimida tende a aparecer.

Acesse a entrevista com a desembargadora na íntegrano Portal Compromisso e Atitude:http://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

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JENTREVISTA EXCLUSIVA

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INFORMATIVO

A brasileira Silvia Pimentel é advo-gada e cumpriu dois mandatos (2011 e 2012) como presidenta do Comitê

CEDAW (Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres) das Nações Unidas. Ainda integrante do Comitê, a especialista em direitos das mulheres acompanha há anos o desenvolvimento de leis não-discrimina-tórias em diversos países.

Na sua avaliação, o Brasil conquis-tou um avanço legislativo enorme com o processo de transformações que cul-minou na promulgação da Lei Maria da Penha. Os desafios para garantir igual-dade material entre homens e mulheres, entretanto, ainda são muitos. Entre eles estão a necessidade de informar a po-pulação sobre os direitos das mulheres e também a urgência de capacitar os operadores do Direito e de serviços do Poder Público para que eles mesmos não sejam reprodutores de discriminações. É preciso também que o Estado conheça os diversos contextos em que vivem as brasileiras e adote, ainda, meios para mensurar os resultados de suas ações e reavaliar políticas públicas.

Para apontar caminhos nesse sentido, o Comitê CEDAW vem há dois anos preparan-do uma recomendação geral para todos os países que rati� caram a Convenção – que em 1979 foi o primeiro tratado internacio-nal a dispor amplamente sobre os direitos humanos das mulheres.

A expectativa é que a recomendação seja lançada ainda este ano. Em entrevis-ta ao Informativo Compromisso e Atitude,

Silvia Pimentel antecipa alguns dos pon-tos; con� ra:

Obstáculos materiais e culturaisUma das formas de implementar os

direitos é ter aparatos para fazer cumprir as leis. Hoje ainda faltam estruturas físi-cas. Além disso, é preciso considerar outros fatores que podem di� cultar o acesso a essas estruturas.

Em alguns países é necessário, por exemplo, olhar para os casos em que o Poder Judiciário e os governos estão ge-ogra� camente muito distantes do meio rural – pense, por exemplo, nas mulheres ribeirinhas na nossa Amazônia; ou ainda quando as barreiras são colocadas pela discriminação e pelos estereótipos – casos em que as mulheres têm o direito formal de ir ao Judiciário, mas não vão porque, se forem, serão socialmente reprovadas.

A informação é o primeiro passoÉ necessário que as mulheres tenham

noção de seus direitos. É preciso, em pri-meiro lugar, informá-las que têm direitos; em segundo, quais são e que elas podem exigir esses direitos; e, em terceiro, aonde ir para exigi-los.

Para conhecer melhor as recomendações acesse a matéria na íntegra:http://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

É preciso ainda promover a educação em direitos não só para as mulheres, mas para toda a população. Precisamos mostrar que nós, mulheres, não queremos acesso à Justiça porque somos vítimas, mas porque somos su-jeitos de direitos.

É preciso garantir acessoem diferentes realidades

Se, quando precisa ir a uma insti-tuição, a mulher tem que levar os filhos junto por não ter onde deixá-los, muitas vezes ela desiste. A pobreza, por outro lado, também pode impedi-la de pegar um ônibus, trem ou barco para chegar a um serviço, porque nem todas as mulhe-res vivem nas grandes cidades.

Por isso, o Sistema de Justiça precisa conhecer as mulheres do seu país e ter as instituições acessíveis e adaptadas para atendê-las nas situações em que vivem, partindo da ideia de que não existe ‘a mulher’, no geral, mas mulheres vivendo em diferentes contextos.

Conscientização dosoperadores do Direito

Para que, além de existir, os equipa-mentos tenham qualidade, recomenda-mos que todos os partícipes do Sistema de Justiça passem por treinamento pro� s-sional, que vejo como uma construção de capacidades. Esses pro� ssionais precisam internalizar o respeito à ideia de igualda-de de gênero. Essa formação é necessária para evitar que a esfera do Direito seja ela mesma reprodutora do preconceito.

IntegraçãoRecomendamos também a criação de

instituições que integrem serviços legais e sociais – o que estamos chamando de ‘one stop shop’ (um ponto de parada), que é algo parecido com a proposta da Casa da Mulher Brasileira: um único lugar onde as mulheres encontram vários serviços reuni-dos � sicamente.

Comitê da ONU prepara recomendaçãosobre acesso das mulheres à Justiça

DESAFIO INTERNACIONAL

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No 5 - Fevereiro-Março/2014

Buscando entender quais obstáculos impedem que as mulheres em situ-ação de violência tenham acesso à

proteção do Estado prevista nos dispositivos legais, a ONG Cepia – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação realizou um estudo comparativo sobre a aplicação da Lei Maria da Penha em cinco capitais.

O primeiro grande desa� o detectado é a própria inexistência dos serviços e órgãos previstos em lei – ou seja, a insu� ciência da rede de atendimento, aponta a socióloga Wânia Pasinato, coordenadora do estudo. Nos locais em que os serviços e equipes já foram criados, estes ainda enfrentam pro-blemas estruturais e precisam ser fortale-cidos. “Faltam recursos � nanceiros e huma-nos e, por vezes, constatamos a ausência de uma representação institucional de peso”, avalia a advogada Leila Linhares Barsted, coordenadora executiva da Cepia.

Além do número reduzido, os serviços de Segurança e Justiça ainda são pouco co-nhecidos. Na avaliação da ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), em primeiro lugar, as mulheres só podem ter acesso à Justiça se tiverem conhecimento dos seus direitos.

Isso é fundamental, segundo a minis-tra, para o segundo ponto essencial a esse enfrentamento: a denúncia. “Sem denúncia não há crime. A mulher tem que denunciar e, ao mesmo tempo, ter garantia de que este ato vai ter um impacto na situação de agressão sofrida por ela. E aí chegamos a um terceiro ponto muito importante, que é a quebra da impunidade por meio do Esta-do presente”, resume a ministra.

ModernizaçãoUma das principais frentes para garan-

tir o acesso a direitos, segundo gestores, especialistas e operadores do Direito entre-vistados para o Informativo Compromisso e Atitude nº 5, é promover a sensibilização

dos pro� ssionais das áreas de Segurança e Justiça sobre a gravidade do problema da violência de gênero.

Há apenas algumas décadas, o direito a uma vida sem violência era sistemati-camente negado por leis extremamente discriminatórias no País. Um exemplo rela-tivamente recente é o Código Penal brasi-leiro, datado de 1940, que previa a extinção da punibilidade a um estuprador caso ele se casasse com a vítima. A própria Lei nº 9.099/1995, que instituiu os Juizados Es-peciais Criminais destinados a processar os delitos de menor potencial ofensivo, levou à banalização dos casos de violência domésti-ca contra mulheres, propondo, por exemplo, punições alternativas para os agressores, como a doação de cestas básicas ou paga-mento de multas.

Para extirpar o legado negativo de leis discriminatórias, é preciso promover uma atualização da própria doutrina jurídica, uma vez que a assimilação e prática do novo marco legal pelos operadores não aconte-cem de forma imediata.

A pesquisa realizada pela Cepia apon-tou, por exemplo, que um problema co-mum nos Sistemas de Segurança e Justiça é deslocar o foco dos casos de violência para o comportamento das mulheres, culpando a própria vítima pela agressão sofrida.

Além de agravar o trauma causado pela violência, este tipo de prática, segun-do a pesquisa, contribui para que os órgãos desviem a atenção daquele que é o principal problema a ser enfrentado: como moderni-zar o Sistema de Justiça para que ele possa

Lei Maria da Penha continua a demandar uma amplamodernização dos Sistemas de Segurança e Justiça

No Portal Compromisso e Atitude: saiba mais sobre as recomendações resultantes da pesquisa e aavaliação de gestores que atuam nesta frente em http://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

dar respostas efetivas às mulheres?O caminho, indica o estudo, passa pelo

aperfeiçoamento do modo como a Justiça se distribui e se organiza, por meio da re-formulação de procedimentos, criação de novas dinâmicas para os � uxos de docu-mentos e pessoas, e ainda pela articulação entre os Sistemas de Justiça e Segurança e os demais serviços da rede de atendimento.

Segundo a Lei Maria da Penha, por exemplo, os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (JVDFM) deveriam ter competência híbrida – ou seja, julgar tan-to questões cíveis quanto criminais. Mas na lógica tradicional de como a Justiça e o Direito se constituíram no País há uma separação en-tre as áreas – estrutura que tem se mantido em boa parte das instituições especializadas na aplicação da Lei Maria da Penha.

“Ao propor essa competência híbrida, a Lei concentra em uma mesma � gura e mes-mo espaço o acesso a esses direitos e amplia, justamente, o acesso das mulheres à Justiça de uma forma efetiva, mais célere e menos burocratizada”, exempli� ca Wânia Pasinato.

Neste cenário, um passo essencial para promover o aperfeiçoamento do Sistema de Justiça e a divulgação da nova doutrina jurídi-ca é a criação e estruturação dos órgãos espe-cializados previstos pela Lei – como as Coor-denadorias de Tribunais de Justiça e Núcleos do Ministério Público e da Defensoria Pública.

“Pela primeira vez foram criados órgãos para cuidar dos direitos das mulheres e pro-mover essa discussão dentro de instituições tradicionais, como os Tribunais de Justiça. São experiências novas, órgãos muito recentes, mas que certamente precisam ser fortaleci-dos, incentivados, multiplicados e acompa-nhados”, recomenda a pesquisadora.

No Portal Compromisso e Atitude: saiba mais sobre as recomendações resultantes da pesquisa e ahttp://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

No Portal Compromisso e Atitude: saiba mais sobre as recomendações resultantes da pesquisa e ahttp://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

CAMINHOS

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INFORMATIVO

Como parte do esforço para assegu-rar a efetividade do acesso à Justiça a mulheres vítimas de violência do-

méstica, duas iniciativas de atendimento móvel foram colocadas em funciona-mento pelo Poder Judiciário em 2013 e, por meio de parcerias entre diferentes atores da rede de enfrentamento, outras três estão previstas para 2014.

No ano passado, o Tribunal de Jus-tiça do Estado do Espírito Santo (TJES) lançou o Juizado Itinerante da Lei Maria da Penha – um ônibus que vai a cidades que não têm varas especializadas ou jui-zados instalados. O Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), por sua vez, implementou o Projeto “Ribeirinho Cidadão”, que atende mulheres das comunidades às margens dos rios Arraiolos, Paru e Chicaia, na região fron-teiriça do Pará com o Amapá e o Suriname.

O TJPA participa ainda de uma ação em parceria com o Ministério da Saúde, a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) e a Caixa Econômica Federal, com o objetivo de expandir o enfrentamento à violência doméstica no interior daquele Estado por meio de barcos (ver box ao lado).

Para 2014, através de parcerias entre diferentes órgãos da rede de enfrenta-mento, está em tratativa a instalação de unidades de atendimento integrado de Justiça em agências-barco na Amazônia, comunidades do entorno de Corumbá (Mato Grosso do Sul) e na Bacia do Rio São Francisco.

Interiorização do Poder JudiciárioA oferta de juizados itinerantes de

violência doméstica se insere no cumpri-mento de diretrizes expedidas pelo Con-selho Nacional de Justiça (CNJ) por meio da Recomendação nº 9/2007 e da Reso-lução nº 128/2011. As experiências têm reforçado ainda um diagnóstico cons-tante entre os operadores do Direito que atuam nessa área: é preciso interiorizar a Lei Maria da Penha, promovendo acesso a direitos para as mulheres brasileiras em

todo o território nacional.“A Justiça tem que ir até a mulher, o

Estado tem que estar presente. E temos que buscar mecanismos para chegar às vítimas”, ressalta a juíza Hermínia Maria Azoury, titular da Coordenadoria Estadual da Mu-lher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do TJES e presidente do Fórum Nacional de Juízes de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Fonavid).

Uma pesquisa divulgada pelo CNJ no ano passado mostrou que, só em termos de Juizados Especializados, o País preci-sava ao menos dobrar seu contingente. Em 2012 havia 66 órgãos especializados e hoje estão em funcionamento 87 uni-dades de aplicação da Lei Maria da Penha (Varas e Juizados). Mas, de acordo com o Conselho, seria preciso atingir um total de 120 para garantir condições mínimas de acesso ao Sistema de Justiça às brasileiras vítimas de violência doméstica.

“A pesquisa indica uma despropor-cionalidade nas cinco regiões do País, sugerindo a necessidade de criação imediata de novas unidades judiciárias, a maioria delas instaladas em cidades limítrofes, do interior e com grande con-centração populacional – procurando, assim, racionalizar a atual demanda”, avalia o desembargador do TJPA, Milton Augusto de Brito Nobre, presidente do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça.

Experiência de juizados itinerantes reforçanecessidade de interiorização da Lei Maria da Penha

Saiba mais sobre as experiências itinerantes acessando as reportagens na íntegra:http://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

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DISSEMINAÇÃO

OPERAÇÃO DE AGÊNCIA-BARCONO PARÁ REVELA DANOS DAVIOLÊNCIA DOMÉSTICA ÀSMULHERES RIBEIRINHAS

A partir de janeiro deste ano, uma iniciativa en-volvendo diversas instituições resultou em uma

nova forma de enfrentar a violência doméstica no interior do Pará: navegando até as mulheres.

A agência-barco atende a população que vive em 16 comunidades do arquipélago do Marajó – mais de 348 mil habitantes de dez municípios.

Em relação à realidade das mulheres da região, a embarcação é parte das estratégias do Programa ‘Mulher, Viver sem Violência’ que buscam interiorizar a Lei Maria da Penha e o acesso de mulheres rurais, do campo, da � o-resta e das águas a direitos.

Coordenadora do Projeto “Promotoras Le-gais Populares”, a advogada Maria Amélia Te-les – mais conhecida como Amelinha – acom-panhou a primeira operação da agência-barco pela região marajoara.

“A população feminina ribeirinha vive em localidades distantes e dispersas, isoladas, o que a faz enfrentar um cotidiano de violência e viola-ções de direitos. Prevalecem o silêncio, o oculta-mento dos hematomas e feridas, a submissão e o medo”, descreve Amelinha.

Na sua opinião, nesse contexto, “o barco signi� ca o impacto e a força necessários para articular novas possibilidades e condições para a proteção dos direitos das mulheres, enfrentando a violência doméstica e familiar e implementando, nos espaços mais distantes, políticas de atendimento”, avalia.

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No 5 - Fevereiro-Março/2014

Apontada por gestores como o serviço com acesso mais democrático, a Cen-tral de Atendimento à Mulher – mais

conhecida como Ligue 180 – se prepara para expandir sua atuação no enfrentamen-to à violência de gênero. Além de orienta-ções, o serviço passará, nos próximos meses, a registrar e encaminhar denúncias de vio-lência contra as mulheres para as autorida-des locais e acionar diretamente os serviços de urgência e emergência.

Segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), o serviço é estratégico pelo seu alcance: com abrangência nacional, pode ser acessado, gratuitamente, 24 horas por dia, de qualquer terminal telefônico – móvel ou � xo, particular ou público – todos os dias da semana, inclusive domingos e feriados. Com isso, desde o início de seu funcionamento, em 2006, até o primeiro semestre de 2013, o Li-gue acumulou 3,36 milhões de atendimentos de chamadas provenientes de mais da meta-de dos municípios brasileiros.

Diante da disseminação do canal e atendendo a uma demanda da população por maior resolutividade, captada nas pró-prias chamadas recebidas, a SPM-PR decidiu ampliar os serviços prestados. “O Ligue dava informações e orientações sobre direitos e serviços, mas não encaminhava as denúncias recebidas e nem acionava diretamente os serviços de urgência. Com essa alteração, a mulher poderá ter uma resposta mais rápida do Estado”, explica a ministra de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci.

A coordenadora da Central de Atendi-mento à Mulher, Clarissa Carvalho, conta que quase um terço das chamadas recebi-das se enquadrava em situações que esca-pavam do escopo do serviço.

“Apesar de divulgarmos o serviço como central de informações, muitas mulheres li-gavam em situação de emergência e deman-davam que o Ligue 180 pudesse atuar nessa parte de urgência característica de um disque--denúncia – como em caso de � agrante, por exemplo, em que alguém precisa de uma via-tura e o serviço adequado seria o 190”, conta.

O que muda no Ligue 180Com a demanda latente, quando lan-

çado em março do ano passado o Programa “Mulher, Viver sem Violência” trouxe como um dos eixos o aporte de R$ 25 milhões para ampliação do serviço. Na prática, o que muda é a criação de novas formas de enca-minhamento das demandas, o tamanho da equipe e a capacidade de registrar e enca-minhar a denúncia já na primeira ligação.

“Hoje a nossa equipe é formada basica-mente por atendentes supervisionadas, que recebem as chamadas, e um grupo de apoio e gestão, que � ca mais focado em atualizar os contatos dos serviços país afora. Com o

No Portal Compromisso e Atitude: saiba mais sobre a expansão do Ligue 180 no exterior:http://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

No Portal Compromisso e Atitude: saiba mais sobre a expansão do Ligue 180 no exterior:No Portal Compromisso e Atitude: saiba mais sobre a expansão do Ligue 180 no exterior:

Com ampliação do Ligue 180, serviço passará aencaminhar denúncias de violência doméstica

PORTA DE ENTRADA

disque-denúncia, vamos ter outro grupo de retaguarda, que trabalhará especi� camen-te com o encaminhamento das denúncias. Esse novo grupo já está estruturado.”

A esta equipe de retaguarda caberá fazer uma revisão dos dados da chamada e encaminhar os relatos consistentes aos sistemas de Segurança e Justiça locais, para que investiguem e intervenham no caso.

“O Ligue 180 passará a ser resolutivo, ou seja, ele adiantará o processo de registro do BO pela delegacia e também irá transfe-rir diretamente as ligações para os serviços de urgência, agilizando a atuação do Estado e facilitando o acesso das mulheres à Justi-ça”, explica a coordenadora do serviço.

Capilarização nos EstadosA proposta de que a denúncia registra-

da pelo Ligue 180 tenha de fato um acom-panhamento local prevê que as Secretarias de Segurança Pública designem um ponto focal em cada Estado, como Ouvidorias ou os serviços de disque-denúncia locais, quando existentes. Estes pontos se respon-sabilizarão por redistribuir as denúncias recebidas da forma mais apropriada aos serviços disponíveis.

“As Delegacias Especializadas, por exemplo, infelizmente ainda não existem em todas as cidades brasileiras e, mesmo onde existem, nem todas trabalham 24 horas. Então, estamos mapeando essa rede para saber a quem podemos recorrer. A proposta é que o ponto focal distribua a de-manda para o serviço que vá atender mais rapidamente”, explica Clarissa Carvalho.

A parceria que já existe com os Ministé-rios Públicos estaduais – que hoje recebem as reclamações sobre o atendimento nos serviços ou denúncias de cárcere privado que chegam ao Ligue 180 – também deve se alargar com a mudança. O MP passará a receber também o material encaminhado ao ponto focal para que acompanhe os casos desde o início.

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INFORMATIVO

Entre as diversas atribuições designadas pela Lei Maria da Penha ao Ministério Pú-blico para o enfrentamento da violência

contra as mulheres, à instituição foi dada a tarefa de defesa dos “interesses e direitos transindividuais” (artigo 37 do capítulo VII da Lei nº 11.340/2006). Em outras palavras, cabe ao MP cobrar de outras instituições da Rede de Atendimento à Mulher e de si mes-mo ações que garantam o acesso a direitos ao conjunto das mulheres brasileiras.

A Lei dispõe também sobre a necessida-de de serem criados Núcleos de Gênero nos Ministérios Públicos, além das Promotorias Especializadas. Mais do que o atendimento a um dispositivo legal, as experiências dos núcleos estruturados em Estados como Bahia, Pernambuco e Piauí e no Distrito Federal mostram que o órgão tem papel es-tratégico e essencial para que as Promoto-rias Especializadas no Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher façam a necessária articulação e integração com outros serviços do Estado e com as políticas públicas locais. E fomenta também a cons-tituição de equipes multidisciplinares – in-cluindo a participação de assistentes sociais e psicólogos – sensibilizadas à necessidade de promover a igualdade de gênero.

À Promotoria Especializada cabe, prin-cipalmente, mover a ação penal, solicitar que a Polícia Civil inicie ou dê prossegui-mento às investigações, requerer do juiz a concessão de medidas protetivas de urgên-

cia, quando necessárias, e atuar junto às Varas e Juizados Especializados.

Já os Núcleos de Gênero no MP consti-tuem espaços focados na garantia dos direitos humanos das mulheres de forma mais ampla. Podem realizar a � scalização da aplicação das leis pelos estabelecimentos públicos e parti-culares de atendimento à mulher e adotar as medidas administrativas ou judiciais cabíveis, quando constatadas irregularidades ou se ne-cessário para garantir direitos.

É o caso da Bahia, onde o Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (Ge-dem) do MP conta com uma equipe de 12 pessoas e trabalha no monitoramento das políticas, participa de todas as Câmaras Téc-nicas e integra a Rede de Atenção na região metropolitana de Salvador. “A atuação dos promotores da área criminal está voltada para fazer com que a investigação seja rá-pida, que o processo tenha curso e para ga-rantir as medidas protetivas – e o Gedem dá suporte a eles”, de� ne a promotora Márcia Teixeira, coordenadora do Grupo e também presidente da Comissão Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (Copevid), do Conselho Na-cional de Procuradores-Gerais (CNPG).

Na prática, porém, na maior parte das vezes as duas funções se misturam. É o caso, por exemplo, do Núcleo de Apoio

Con� ra a reportagem completa no Portal Compromisso e Atitude e saiba mais sobrea atuação dos Núcleos do MP: http://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

à Mulher (NAM) do MP de Pernambuco, em que o promotor de Justiça João Maria Rodrigues Filho é coordenador do Núcleo e atua também nas ações criminais. “Foi notada a necessidade de o MP não só ofe-recer as ações penais, mas também traba-lhar interna e externamente para divulgar a Lei Maria da Penha”, relata.

Também no Piauí, os dois promoto-res do Núcleo de Promotorias de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar (Nupevid) somam as atribuições e respondem pelas duas Promo-torias Especializadas hoje existentes em Te-resina. “Em razão da dinâmica da violência de gênero, não podemos nos restringir à de-núncia, temos que dar assistência à mulher em situação de violência, tanto do ponto de vista jurídico quanto do psicológico e social”, aponta o coordenador do Núcleo, o promo-tor Francisco de Jesus.

Ganhos com a especializaçãoPara o promotor de Justiça Thiago

Pierobom, coordenador do Núcleo de Gê-nero Pró-Mulher do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a criação dos Núcleos e Promotorias repre-senta “um ganho qualitativo enorme, pois o promotor tem que se sensibilizar para esta temática”, avalia.

O Núcleo do DF foi criado antes mesmo da Lei Maria da Penha e não atua nos pro-cessos criminais. “Uma Promotoria de Vio-lência Doméstica tem uma carga extrema-mente elevada de trabalho. Então, quando se especializa a dedicação à articulação, há um ganho qualitativo”, avalia.

Núcleos especializados doMinistério Público fomentamatuação em redeES

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No 5 - Fevereiro-Março/2014

Outra seção, fruto de uma parceria editorial com oInstituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), reproduz os artigos do Boletim IBCCRIMque tratam temáticas relacionadas à violência contra as mulheres e violência sexual.Con� ra: http://www.compromissoeatitude.org.br/artigos-selecionados-ibccrim

EXPE

DIEN

TEINFORMATIVO

PARCEIROS CAMPANHA COMPROMISSO E ATITUDE PELA LEI MARIA DA PENHAhttp://www.compromissoeatitude.org.br/sobre/parceiros-da-campanha/

www.agenciapatriciagalvao.org.br

Responsável pela edição

Se a violência de gênero já desa� a o Poder Público em seus esforços para garantir acesso à Justiça às brasileiras

de modo geral, em regiões de fronteiras – onde a atuação integrada tem que acon-tecer não apenas entre os vários órgãos locais, mas entre nações que possuem legislações e estruturas governamentais diferentes – as di� culdades crescem. Além de demandar empenho ainda maior para promover a integração entre os serviços da rede de enfrentamento à violência domés-tica e familiar, a situação fronteiriça impõe problemas adicionais ao cotidiano de mui-tas mulheres e também dos representan-tes dos Sistemas de Segurança e Justiça.

“Existe um verdadeiro somatório de ilicitudes que são intensi� cadas na área de fronteira – o que, acrescido ao distan-ciamento dos centros de poder, à falta de educação em direitos e à pobreza, entre outros fatores, gera uma realidade ainda pior para a mulher fronteiriça vitimada pela violência”, assinala a defensora públi-ca de Roraima Jeane Xaud, representante do órgão na Coordenação do Comitê Bi-

nacional de Fronteira Brasil/Venezuela de Combate à Violência contra a Mulher.

Criado em 2012, o Comitê Binacional busca promover a troca de experiências e a cooperação entre Brasil e Venezuela para melhorar o acolhimento à mulher que sofra qualquer tipo de agressão – física, sexual, decorrente do mau atendimento nos serviços públicos e de discriminações em razão do gênero, independentemente da sua nacionalidade. Seu foco de atuação são as cidades fronteiriças – Pacaraima, do lado brasileiro, e Santa Elena de Uairém, no lado venezuelano.

“O Comitê é um instrumento político extremamente importante para garantir o acesso à Justiça às mulheres fronteiri-ças dos dois países, uma vez que, além de empreender ações diretas e especí� cas, estabelece um diálogo permanente entre os dois governos, por intermédio de seus membros-representantes – o que facilita a tomada de decisões, o empreendimento de ações conjuntas e também a criação e

Defensoria Pública assinala desa� os paraefetivar direitos na região de fronteiras

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Con� ra a matéria na íntegra: http://www.compromissoeatitude.org.br/informativo-05/

DEFESA DE DIREITOS

ajustes das políticas públicas internacio-nais voltadas à prevenção e combate da violência de gênero naquela distante re-gião de fronteira”, de� ne a defensora, que é também coordenadora da Comissão de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher do Conselho Nacional de Defensores Públi-cos Gerais (Condege).

O cenário na região desa� a os Poderes Públicos: “os dois países (Brasil e Venezue-la), os dois Estados (Roraima e Bolívar), assim como os dois municípios fronteiri-ços (Pacaraima e Santa Elena de Uairém), além de possuírem altos índices de violên-cia praticada em razão do gênero – dadas as condições geográ� cas, econômicas e culturais – vivenciam, igualmente, pro-blemas sociais bem peculiares, como o trá-� co de mulheres, crianças e adolescentes, trá� co de drogas, prostituição, exploração sexual, mineração ilícita, contrabando etc. Esse somatório desa� a imediata atenção e reação conjunta entre os dois países”, resu-me a defensora.

Portal Compromisso e Atitude inaugura seções com artigos sobre a violência contra as mulheresINFORMAÇÃO COMO FERRAMENTA

Uma delas traz na íntegra todos os capítulos da obra Lei Maria da Penha Comentada em uma Perspectiva Jurídico-Feminista, organizada pela advogada especialista na Lei, Car-men Hein de Campos. Dividido em duas partes, o livro resgata o processo que culminou

na promulgação da Lei nº 11.340/2006 e auxilia na interpretação de seus artigos.Con� ra: http://www.compromissoeatitude.org.br/lei-maria-da-penha-comentada

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