informativo beija-flor - 2010 - #3

3
O Festival Nordestino de Teatro tem a importância de ser o mais tradicional en- contro de grupos de teatros de todo o Nordeste. Além de ser uma amostra do que é produzido em todos os es- tados da região, o intercâm- bio entre os grupos promove também a discussão das di- ficuldades de fazer teatro em cada localidade. As propostas de apresen- tações enviadas à produção do FNT para a Mostra Nordes- tina de Teatro parecem refle- tir as dimensões da produção teatral em cada estado: enquanto Pernambuco, por exemplo, enviou 24 propostas de espetáculos, esta- dos como Alagoas e Sergipe envia- ram apenas três, cada um. Os mo- tivos desse con- traste geralmente vem de problemas que são comuns à maioria dos grupos de teatro do Nordeste. Para Graça Freitas, dire- tora da peça “As Três Irmãs”, representante do Ceará, es- tado que enviou quatro pro- postas de espetáculos para a Mostra, uma das maiores di- ficuldades do teatro é a falta de uma cultura por parte da sociedade em apreciar os es- petáculos teatrais, o que faz com que uma peça não tenha condições de subsistir. “Eu acho que falta investimento, mas é algo maior, é uma coisa cultural. A sociedade precisa sentir a necessidade do teatro para que ele possa se auto- -sustentar”, afirma Graça. Na Bahia, um dos estados que mais enviou propostas, o teatro tem recebido cada vez mais atenção tanto do setor público quanto da iniciativa privada e da sociedade baia- na, como conta Hebe Alves, diretora da peça “Uma Vez, Nada Mais”. O que auxiliou bastante o crescimento da produção cênica no estado foi a criação da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, primeiro curso de nível superior em teatro no Nordes- te. “Ela (a Escola de Teatro) sempre teve participação muito expressiva no movimento te- atral de Salvador. O investimento na formação qua- lificada de atores, autores e produ- tores, alimenta essa demanda de espetáculos”, indica Hebe. O tratamento que a pro- dução teatral sempre teve no Nordeste brasileiro nunca foi suficiente para que o teatro tivesse autonomia. Embora a situação esteja mudando em determinados locais, como na Bahia, ainda pode-se perce- ber certo descaso com a arte teatral. Seja pela falta de in- vestimentos públicos ou mes- mo pela falta de interesse da população em reconhecer a importância de espetáculos artísticos, o teatro ainda pre- cisa percorrer um longo cami- nho para ter a sua arte aplau- dida como merece. Desafios para o teatro nordestino FOTO: DIVULGAÇÃO Mostra apresenta até sexta-feira espetáculos nordestinos e diretores refletem sobre as dificuldades enfrentadas pelos grupos da região A sociedade precisa sentir a necessidade do teatro para que ele possa se auto- sustentar Beija-Flor XVII FNT - Nº3 I 07 de setembro de 2010 Informativo do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga

Upload: liga-experimental-de-comunicacao

Post on 27-Mar-2016

216 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Ediçao #1 do informativo do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, publicado no dia 7 de setembro de 2010.

TRANSCRIPT

O Festival Nordestino de Teatro tem a importância de ser o mais tradicional en-contro de grupos de teatros de todo o Nordeste. Além de ser uma amostra do que é produzido em todos os es-tados da região, o intercâm-bio entre os grupos promove também a discussão das di-ficuldades de fazer teatro em cada localidade.

As propostas de apresen-tações enviadas à produção do FNT para a Mostra Nordes-tina de Teatro parecem refle-tir as dimensões da produção teatral em cada estado: enquanto Pernambuco, por exemplo, enviou 24 propostas de espetáculos, esta-dos como Alagoas e Sergipe envia-ram apenas três, cada um. Os mo-tivos desse con-traste geralmente vem de problemas que são comuns à maioria dos grupos de teatro do Nordeste.

Para Graça Freitas, dire-tora da peça “As Três Irmãs”, representante do Ceará, es-tado que enviou quatro pro-postas de espetáculos para a Mostra, uma das maiores di-ficuldades do teatro é a falta de uma cultura por parte da sociedade em apreciar os es-petáculos teatrais, o que faz com que uma peça não tenha condições de subsistir. “Eu acho que falta investimento, mas é algo maior, é uma coisa cultural. A sociedade precisa sentir a necessidade do teatro

para que ele possa se auto--sustentar”, afirma Graça.

Na Bahia, um dos estados que mais enviou propostas, o teatro tem recebido cada vez mais atenção tanto do setor público quanto da iniciativa privada e da sociedade baia-na, como conta Hebe Alves, diretora da peça “Uma Vez, Nada Mais”. O que auxiliou bastante o crescimento da produção cênica no estado foi a criação da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, primeiro curso de nível superior em teatro no Nordes-

te. “Ela (a Escola de Teatro) sempre teve participação muito expressiva no movimento te-atral de Salvador. O investimento na formação qua-lificada de atores, autores e produ-tores, alimenta essa demanda de

espetáculos”, indica Hebe. O tratamento que a pro-

dução teatral sempre teve no Nordeste brasileiro nunca foi suficiente para que o teatro tivesse autonomia. Embora a situação esteja mudando em determinados locais, como na Bahia, ainda pode-se perce-ber certo descaso com a arte teatral. Seja pela falta de in-vestimentos públicos ou mes-mo pela falta de interesse da população em reconhecer a importância de espetáculos artísticos, o teatro ainda pre-cisa percorrer um longo cami-nho para ter a sua arte aplau-dida como merece.

Desafios para o teatro nordestinoFO

TO: D

IVU

LGA

ÇÃ

O

Mostra apresenta até sexta-feira espetáculos nordestinos e diretores refletem sobre as dificuldades enfrentadas pelos grupos da região

“A sociedade precisa sentir a necessidade

do teatro para que ele

possa se auto-sustentar”

Beija-FlorXVII FNT - Nº3 I 07 de setembro de 2010

Informativo do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga

Todos os caminhos levam a Guaramiranga

Nem só do espetáculo vive o teatro. O público também é um personagem imprescindí-vel sem o qual a peça não se-ria completa. E é por isso que a Caravana do FNT chega, todos os dias, à Praça do Teatro tra-zendo pessoas das cidades do Maciço de Baturité. Essa foi a forma encontrada pela produ-ção do FNT para trazer espec-tadores para as peças que não poderiam vir por conta própria. São enviados aos municípios, diariamente, dois ônibus, cedi-dos pela Casa Civil.

Segundo a produtora Iraci Ferreira, cerca de 350 pessoas serão trazidas pelas caravanas ao longo do Festival, vindas de 8 cidades próximas. Todo ano o FNT recebe muitos espectado-res do Maciço. Antes, porém, os veículos eram organizados pe-los municípios. A novidade des-te ano é que a Caravana conta com ônibus da Casa Civil que o próprio Festival está organizan-do e enviando.

O convite é feito aos respon-sáveis por grupos culturais, que se encarregam de selecionar as pessoas. “Nós acertamos com o município o horário de saída, quantas pessoas virão... Lá, o responsável organiza a turma, o horário e o local de saída e

nos comunica”, conta Iraci.O ônibus chega nas localida-

des agendadas, segundo Iraci, por volta de 18:30, pois as pes-soas vêm assistir aos espetácu-los da Mostra Nordeste. Após a peça, o ônibus volta para deixá-los em casa. A iniciativa está dando certo: já estão con-firmadas caravanas vindas de Aratuba, Baturité, Capistrano, Acarape, Mulungu, Itapiúna e Pernambuquinho. “Logo que a gente entra em contato eles fi-cam com um interesse muito grande”, disse Iraci.

Fábio Melo, diretor do De-partamento de Turismo e Cul-tura de Aratuba, é o respon-sável pela Caravana da sua cidade, que chega a Guarami-ranga hoje. Nela vem o grupo de jovens do teatro e seus pais, funcionários do Departamen-to e artistas. São, no total, 35 pessoas. “O mais importante da Caravana é a oportunidade de acesso ao FNT. Nós não temos ônibus e poucas pessoas têm transporte particular. É uma grande vantagem, essa parce-ria”, revelou Fábio.

De Mulungu virão sábado, segundo Márcio Fernandes, da Secretaria de Cultura do Mu-nicípio, mais de vinte pessoas ligadas às artes cênicas. São

Uma das grandes iniciativas do XVII Festival Nordestino de Teatro é a inclusão da população de cidades vizinhas. Ônibus vão e voltam toda noite trazendo pessoas para assistir à Mostra Nordeste. É a oportunidade para quem não tem acesso ao Teatro prestigiar os espetáculos sem pagar nada

“Eu achei muito interessante porque eu nunca tinha visto uma peça assim. É a primeira vez que eu venho. E es-pero vir de novo.”

(Fernanda Torres, estudante de Itapiúna so-bre a peça “Uma vez, Nada mais)

“A oportunidade de trazer estu-dantes, pessoas que dificilmente tem um acesso ao teatro, prin-cipalmente num festival impor-tante como o de Guaramiranga (...) isso é que é fantástico, isso é que deve ser privilegiado dentro dos festivais.”

(Aldemir [Idhen] Lima, ator e assessor de cultura de Itapiúna)

FOTO: BRUNO SOARES / ECOS

FOTO

: GLE

YSO

N M

OR

EIR

A

FOTO: GLEYDSON MOREIRA

http://agua.art.br/fnt2010/ Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga

As cortinas fecham, o silêncio domina os espaços do Teatro. É chegada a hora da expectativa. Imaginamos tudo: os atores, suas cenas, como eles estarão vestidos, se ficarão bonitos, se o cenário vai impressionar e como iremos reagir. Será que ficarei emocionado com o beijo arreba-tador, ou com a lição de vida, ou com um choro desesperado?

É muito bom torcer pelas personagens, ou odiá-las, com-partilhar seus sonhos, anseios e angústias. Tudo parece ser re-gido por magia. Será mesmo ela a responsável pelo encanto das peças? Serão os atores magos e alquimistas? Não é à toa que ho-mens e mulheres transformam histórias e relatos em dramatur-gia, em arte. É necessário todo um processo de preparação e reflexão das artes cênicas.

É pensando em conscien-tizar e fomentar discussões e questionamentos que o Festival Nordestino de Teatro de Guara-miranga se propõe a ir além das peças criando espaços como o Ciclo de Debates sobre os espe-táculos, Fórum de Pedagogias Teatrais e o VIII Encontro de Ar-tistas Pesquisadores. São nesses lugares que os atores e diretores podem compartilhar suas técni-cas, seus processos de criação e sua mágica. Esses espaços são fundamentais para efetivar o FNT como uma experiência de formação e experimentação da arte teatral.

Informativo Beija-flor XVII FNT

Expediente: Liga Experimental de

ComunicaçãoUniversidade Federal do

Ceará

Profa. Glícia Pontes,Gleydson Moreira, Iane Lara, Joaquim Sobreira, Mariana Freire e

Ranniery Melo

[email protected] / @ligaufc

Passageiros da Cultura

pessoas do grupo de teatro da Secretaria e dos grupos de tea-tro das escolas. “É uma iniciati-va brilhante. É uma ótima forma de divulgar o Festival no Maciço, para que, mais na frente, essas pessoas possam participar e se inscrever com seus próprios meios”, disse Márcio.

Além das caravanas do FNT, o Festival recebe estudantes das escolas do município. O conta-to foi feito por e-mail duas se-manas antes do iníco do evento, quando uma carta-covite foi en-viada à Secretaria de Educação e todas as escolas estaduais do maciço.

Uma semana antes do even-to, as escolas recebem a progra-mação e a sinopse dos espetácu-los. O passo seguinte é agendar a visita com a organização do FNT para viabilizar as cortesias dos estudantes. Ontem, vieram assistir “Uma Vez, Nada Mais” estudantes de escolas das ci-dades de Redenção, Aracoiaba e Baturité. Até o fechamemento desta edição, 10 caravanas de

escolas estavam agendadas até o fim do Festival. “É uma oportuni-dade primorosa que o Festival dá para o Maciço”, diz Amélia Ferrei-ra, produtora do FNT e responsá-vel pelo agendamento.

E para ninguém do Maciço ter a desculpa de não participar do festival, o FNT realiza ainda for-mações fora de Guaramiranga voltadas para a população dos outros municípios. A palestra “O Teatro no Ceará” ocorreu ontem

em Aratuba e passará amanhã pelas cidades de Redenção e Pal-mácia. Enquanto isso, em Baturi-té, o Curso de Expressão Corporal começou dia 5 e dura até o dia 11.

De acordo com Luciano Gomes, Coordenador Geral do Festival, estas formações têm o intuito de “descentralizar as atividades do FNT, atingir um número maior de pessoas e, de alguma forma, con-tribuir para o desenvolvimento da cultura local dessas cidades”.

Editorial

FOTO: SOL COELHO

FNT em cena

@agua2010

14h

18h

21h30

Sala do Mosteiro

Praça do Artesanato

Teatro MunicipalRachel de Queiroz

Teatrinho Rachel de Queiroz

Praça do Teatro

Praça do Teatro

DIA O7/09 (TERÇA-FEIRA)

10h Ciclo de Debates sobre os espetáculosMostra Nordeste

Sala do Mosteiro

Fórum do XVII FNT - Pedagogias teatrais a partir da experiência de grupos e companhias

FNT Para Crianças: Teatro InfantilEspetáculo: Olha o Olho dos Meninos

Grupo: Bricoleiros (CE)Classificação: Livre

Mostra NordesteEspetáculo: Cacuete - A incrível performance de crendices (SE)

Classificação: 12 anos19h

Mostra Guaramiranga em CenaEspetáculo: Andanças de Pedro

Grupo: Artimanhas (CE)Classificação: Livre

23h Música no FNT

0h Espetáculo “Mixórdia” (CE)

PATROCÍNIO APOIO CULTURAL PARCEIROS PROMOÇÃO APOIO INSTITUCIONAL REALIZAÇÃO

AGRADECIMENTO À SECRETARIA DA CULTURA DO ESTADO DA BAHIA

Programe-se