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  Revista Brasileira de Informática na Educação Número 1 1997  INFORMÁTICA EDUCATIVA NO BRASIL: UMA HISTÓRIA VIVIDA, ALGUMAS LIÇÕES APRENDIDAS* Maria Candida Moraes 1  Profª. de Pós-Graduação em Educação (SUC) - PUC/SP Coordenadora Geral do PROINFO/ME C abril/1997 AS PRIMEIRAS INICIATIVAS De acordo com o livro Projeto EDUCOM (Andrade , P. F., & Albuquerque Lima, M. C. M., 1993), documento referencial  que resgata a história e consolida os diferentes fatos que caracterizam a cultura de informática educativa existente no país, as primeiras iniciativas na área tiveram suas raízes plantadas na década de setenta, quando, pela primeira vez, em 1971, discutiu-se o uso de computadores no ensino de Física, em seminário promovido em colaboração com a Universidade de Dartmouth/USA. Informa, também, que as primeiras demonstrações do uso do computador na educação, na modalidade CAI, Computer Aided Instruction , ocorreu no Rio de Janeiro, em 1973, na I Conferência Nacional de Tecnologia Aplicada ao Ensino Superior. Nessa mesma época, o Brasil iniciava os seus primeiros passos em busca de um caminho próprio para a informatização de sua sociedade, fundamentado na crença de que tecnologia não se compra, mas é criada e construída por pessoas. Buscava-se construir uma base que garantisse uma real capacitação nacional nas atividades de informática, em benefício do desenvolvimento social, político, tecnológico e econômico da sociedade brasileira. Uma capacitação que garantisse autonomia tecnológica, tendo como base a preservação da soberania nacional. Na busca de maior garantia de segurança e desenvolvimento da nação, o Brasil, a partir de meados da década de setenta, estabeleceu políticas públicas voltadas para a construção de uma indústria própria. Tais políticas condicionaram a adoção de medidas protecionis tas adotadas pela área. 1  O ponto de vista da autora, bem como suas opiniões, não representam necessariamente a visão oficial ou as opiniões do Ministério da Educação e do Desporto . A Autora foi coordenadora das atividades de informática na educação desenvolvidas pelo MEC no período de 1981 - 1992. Os meus agradecimentos à colaboração dos professores e alunos do Curso de pós-graduação em Educação (SUC), do Núcleo de Formação de Professores e Currículo, PUC/SP.

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  • Revista Brasileira de Informtica na Educao Nmero 1 1997

    INFORMTICA EDUCATIVA NO BRASIL: UMA HISTRIA VIVIDA, ALGUMAS LIES APRENDIDAS*

    Maria Candida Moraes1 Prof. de Ps-Graduao em Educao (SUC) - PUC/SP

    Coordenadora Geral do PROINFO/MEC abril/1997

    AS PRIMEIRAS INICIATIVAS

    De acordo com o livro Projeto EDUCOM (Andrade, P. F., & Albuquerque Lima, M. C. M., 1993), documento referencial que resgata a histria e consolida os diferentes fatos que caracterizam a cultura de informtica educativa existente no pas, as primeiras iniciativas na rea tiveram suas razes plantadas na dcada de setenta, quando, pela primeira vez, em 1971, discutiu-se o uso de computadores no ensino de Fsica, em seminrio promovido em colaborao com a Universidade de Dartmouth/USA. Informa, tambm, que as primeiras demonstraes do uso do computador na educao, na modalidade CAI, Computer Aided Instruction, ocorreu no Rio de Janeiro, em 1973, na I Conferncia Nacional de Tecnologia Aplicada ao Ensino Superior.

    Nessa mesma poca, o Brasil iniciava os seus primeiros passos em busca de um caminho prprio para a informatizao de sua sociedade, fundamentado na crena de que tecnologia no se compra, mas criada e construda por pessoas. Buscava-se construir uma base que garantisse uma real capacitao nacional nas atividades de informtica, em benefcio do desenvolvimento social, poltico, tecnolgico e econmico da sociedade brasileira. Uma capacitao que garantisse autonomia tecnolgica, tendo como base a preservao da soberania nacional.

    Na busca de maior garantia de segurana e desenvolvimento da nao, o Brasil, a partir de meados da dcada de setenta, estabeleceu polticas pblicas voltadas para a construo de uma indstria prpria. Tais polticas condicionaram a adoo de medidas protecionistas adotadas pela rea.

    1 O ponto de vista da autora, bem como suas opinies, no representam necessariamente a viso oficial ou as

    opinies do Ministrio da Educao e do Desporto . A Autora foi coordenadora das atividades de informtica na educao desenvolvidas pelo MEC no perodo de 1981 - 1992.

    Os meus agradecimentos colaborao dos professores e alunos do Curso de ps-graduao em Educao (SUC), do Ncleo de Formao de Professores e Currculo, PUC/SP.

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    Desta forma o Governo Brasileiro deu origem CAPRE - Comisso Coordenadora das Atividades de Processamento Eletrnico, a DIGIBRS - Empresa Digital Brasileira e a prpria SEI - Secretaria Especial de Informtica, que nasceu como rgo executivo do Conselho de Segurana Nacional da Presidncia da Repblica, em plena poca da ditadura militar. Este rgo tinha por finalidade regulamentar, supervisionar e fomentar o desenvolvimento e a transio tecnolgica do setor.

    Com a criao da SEI, como rgo responsvel pela coordenao e execuo da Poltica Nacional de Informtica, buscava-se fomentar e estimular a informatizao da sociedade brasileira, voltada para a capacitao cientfica e tecnolgica capaz de promover a autonomia nacional, baseada em princpios e diretrizes fundamentados na realidade brasileira e decorrentes das atividades de pesquisas e da consolidao da indstria nacional. Entretanto, para o alcance de seus objetivos seria preciso estender as aplicaes da informtica aos diversos setores e atividades da sociedade, no sentido de examinar as diversas possibilidades de parceria e soluo aos problemas nas diversas reas intersetoriais, dentre elas educao, energia, sade, agricultura, cultura e defesa nacional.

    Naquela poca, j havia um consenso no mbito da SEI/CSN/PR de que a educao seria o setor mais importante para construo de uma modernidade aceitvel e prpria, capaz de articular o avano cientfico e tecnolgico com o patrimnio cultural da sociedade e promover as interaes necessrias.

    Mediante articulao da SEI, o Ministrio da Educao tomou a dianteira do processo, acreditando que o equacionamento adequado da relao informtica e educao seria uma das condies importantes para o alcance do processo de informatizao da sociedade brasileira. A partir desta viso, em 1982, o MEC assumiu o compromisso para a criao de instrumentos e mecanismos necessrios que possibilitassem o desenvolvimento de estudos e o encaminhamento da questo, colocando-se disposio para implementao de projetos que permitissem o desenvolvimento das primeiras investigaes na rea.

    Naquele mesmo ano, foram elaboradas as primeiras diretrizes ministeriais para o setor, estabelecidas no III Plano Setorial de Educao e Cultura - III PSEC, referente ao perodo de 1980/1985. Essas diretrizes apontavam e davam o devido respaldo ao uso das tecnologias educacionais e dos sistemas de computao, enfatizando as possibilidades desses recursos colaborarem para a melhoria da qualidade do processo educacional, ratificando a importncia da atualizao de conhecimentos tcnico-cientficos, cujas necessidades tinham sido anteriormente expressas no II Plano Nacional de Desenvolvimento - II PND, referente ao perodo de1975-1979.

    OS PRECURSORES

    De acordo com o livro Projeto EDUCOM, as entidades responsveis pelas primeiras investigaes sobre o uso de computadores na educao brasileira foram as universidades

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    Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Estadual de Campinas - UNICAMP e Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.

    Os registros apontam como instituio pioneira na utilizao do computador em atividades acadmicas a Universidade Federal do Rio de Janeiro, atravs do Departamento de Clculo Cientfico, criado em 1966, e que deu origem ao Ncleo de Computao Eletrnica - NCE. Nessa poca, o computador era utilizado como objeto de estudo e pesquisa, dando ensejo a uma disciplina voltada para o ensino de informtica. A partir de 1973, o Ncleo de Tecnologia Educacional para a Sade e o Centro Latino-Americano de Tecnologia Educacional - NUTES/CLATES, dessa mesma universidade, iniciavam, no contexto acadmico, o uso da informtica como tecnologia educacional voltada para a avaliao formativa e somativa de alunos da disciplina de qumica, utilizando-a para o desenvolvimento de simulaes.

    Ainda em 1973, surgiram as primeiras iniciativas na UFRGS, suportadas por diferentes bases tericas e linhas de ao. Segundo o documento anteriormente citado, o primeiro estudo utilizava terminais de teletipo e display num experimento simulado de fsica para alunos do curso de graduao. Destacava-se tambm o software SISCAI, desenvolvido pelo Centro de Processamento de Dados - CPD, voltado para a avaliao de alunos de ps-graduao em educao. Estas e outras experincias foram sendo realizadas at 1980, utilizando equipamentos de grande porte. O computador era visto como recurso auxiliar do professor no ensino e na avaliao, enfocando a dimenso cognitiva e afetiva ao analisar atitudes e diferentes graus de ansiedade dos alunos em processos interativos com o computador.

    Em 1975, um grupo de pesquisadores da UNICAMP, coordenado pelo Prof. Ubiratan D'Ambrsio, do Instituto de Matemtica, Estatstica e Cincias da Computao, escreveu o documento Introduo de Computadores nas Escolas de 2 Grau, financiado pelo Acordo MEC-BIRD, mediante convnio com o Programa de Reformulao do Ensino (PREMEN/MEC), atualmente extinto.

    Em julho daquele mesmo ano e do ano seguinte, a UNICAMP receberia as visitas de Seymour Papert e Marvin Minsky para aes de cooperao tcnica. Em fevereiro-maro de 1976, um grupo de pesquisadores da UNICAMP visitou o MEDIA-Lab do MIT/USA, cujo retorno permitiu a criao de um grupo interdisciplinar envolvendo especialistas das reas de computao, lingstica e psicologia educacional, dando origem s primeiras investigaes sobre o uso de computadores na educao, utilizando a linguagem Logo. Iniciava-se, naquela oportunidade, uma profcua cooperao tcnica internacional com os renomados cientistas Papert e Minsky, criadores de uma nova perspectiva em inteligncia artificial, e que at hoje vem refletindo na qualidade dos trabalhos desenvolvidos na UNICAMP.

    A partir de 1977, o projeto passou a envolver crianas, sob a coordenao de dois mestrandos em computao. No incio de 1983, foi institudo o Ncleo Interdisciplinar de Informtica Aplicada Educao - NIED/UNICAMP, j com apoio do MEC, tendo o Projeto Logo como o referencial maior de sua pesquisa, durante vrios anos.

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    Ainda no final da dcada de 70 e princpios de 80, novas experincias surgiram na UFRGS apoiadas nas teorias de Jean Piaget e nos estudos de Papert, destacando-se o trabalho realizado pelo Laboratrio de Estudos Cognitivos do Instituto do Psicologia - LEC/UFRGS, que explorava a potencialidade do computador usando a Linguagem Logo. Esses trabalhos foram desenvolvidos, prioritariamente, com crianas da escola pblica que apresentavam dificuldades de aprendizagem de leitura, escrita e clculo, procurando compreender o raciocnio lgico-matemtico dessas crianas e as possibilidades de interveno como forma de promover a aprendizagem autnoma dessas crianas.

    OS PRIMEIROS SUBSDIOS

    Enquanto isso, a SEI vinha realizando estudos sobre a aplicabilidade da informtica na educao, acompanhando as pesquisas brasileiras em desenvolvimento, e, ao mesmo tempo, enviando tcnicos para o exterior.

    A busca de alternativas capazes de viabilizar uma proposta nacional de uso de computadores na educao, que tivesse como princpio fundamental o respeito cultura, aos valores e interesses da comunidade brasileira, motivou a constituio de uma equipe intersetorial que contou com a participao de representantes da SEI, MEC, CNPq e FINEP, como responsveis pelo planejamento das primeiras aes na rea.

    Como princpio fundamental do trabalho desenvolvido, a equipe reconheceu como prioritrio a necessidade de consulta permanente comunidade tcnico-cientfica nacional, no sentido de discutir estratgias de planejamento que refletissem as preocupaes e o interesse da comunidade nacional. Para tanto, optou pela realizao do I Seminrio Nacional de Informtica na Educao, na Universidade de Braslia, no perodo de 25 a 27 de agosto de 1981, e que contou com a participao de especialistas nacionais e internacionais, constituindo-se no primeiro frum a estabelecer posio, destacando a importncia de se pesquisar o uso do computador como ferramenta auxiliar do processo de ensino-aprendizagem. Deste seminrio surgiram vrias recomendaes norteadoras do movimento e que at hoje continuam influenciando a conduo de polticas pblicas na rea.

    Dentre as recomendaes, destacavam-se aquelas relacionadas importncia de que as atividades de informtica na educao fossem balizadas por valores culturais, scio-polticos e pedaggicos da realidade brasileira, bem como a necessidade do prevalecimento da questo pedaggica sobre as questes tecnolgicas no planejamento de aes. O computador foi reconhecido como um meio de ampliao das funes do professor e jamais como forma de substitu-lo.

    Foi nesse seminrio que surgiu a primeira idia de implantao de projetos-piloto em universidades, cujas investigaes ocorreriam em carter experimental e deveriam servir de subsdios uma futura Poltica Nacional de Informatizao da Educao. Nesse evento, foi recomendado que as experincias atendessem aos diferentes graus e modalidades de ensino e deveriam ser desenvolvidas por equipes brasileiras em universidades de reconhecida

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    capacitao nas reas de educao, psicologia e informtica. Isto, de certa forma, evidencia que o Projeto EDUCOM, teve suas origens a partir desse frum.

    Para melhor caracterizao das aes na rea, o MEC, a SEI e o CNPq promoveram, em agosto de 1982, na Universidade Federal da Bahia, o II Seminrio Nacional de Informtica na Educao, visando coletar novos subsdios para a criao dos projetos-piloto, a partir de reflexes dos especialistas das reas de educao, psicologia, informtica e sociologia.

    Importantes recomendaes norteadoras da Poltica de Informtica na Educao decorreram desse valioso encontro. Dentre elas, a necessidade de que a presena do computador na escola fosse encarada como um recurso auxiliar ao processo educacional e jamais como um fim em si mesmo. Para tanto, propunha-se que o computador deveria submeter-se aos fins da educao e no determin-los, reforando assim a idia de que o computador deveria auxiliar o desenvolvimento da inteligncia do aluno, bem como possibilitasse o desenvolvimento de habilidades intelectuais especficas requeridas pelos diferentes contedos. Recomendou-se ainda que suas aplicaes no deveriam se restringir ao 2 grau, de acordo com a proposta inicial do Governo Federal, mas que procurassem atender a outros graus e modalidades de ensino, acentuando a necessidade do carter interdisciplinar que deveria existir nas equipes dos centros-piloto, como condio importante para garantir a abordagem adequada e o sucesso da pesquisa.

    Outra diretriz relevante norteadora da implantao dos centros-piloto do Projeto EDUCOM foi a adoo de metodologia de planejamento participativo na organizao, realizao e avaliao das experincias de informtica na educao no Brasil. Isto implicou, quando necessrio e oportuno, em consulta e envolvimento de representantes da comunidade tcnico-cientfico nacional, compreendendo tambm professores das secretarias de educao, bem como da equipe tcnico-administrativa, tentando-se evitar marginalizaes e possveis discriminaes.

    Considerando o contexto governamental onde tiveram origem as aes de desenvolvimento da informtica educativa no Brasil, ou seja, ainda no perodo de Governo Militar, tanto a preocupao com a adoo dos enfoques interdisciplinar e humanista quanto a participao da comunidade nas tomadas de deciso, so fatores que merecem o seu devido destaque. Ainda mais se observarmos que os militares, acostumados centralizao do poder, tinham por formao e tradio adotarem procedimentos absolutamente autoritrios, em termos de planejamento e implantao de programas e projetos governamentais. Os projetos de teleducao daquela poca, por sua vez, adotavam a abordagem tecnicista, eram planejados e desenvolvidos sem ouvir a comunidade interessada, descontextualizados, desvinculados de uma realidade poltica e social, sem conhecer os agentes locais, as necessidades de seus beneficirios, bem como a capacidade tcnico-operacional das organizaes envolvidas no subsistema de utilizao dos programas e projetos governamentais.

    importante registrar que com o EDUCOM foi diferente e procurou-se respeitar as recomendaes da comunidade cientfica nacional, pois a equipe coordenadora do Projeto acreditava que a abordagem interdisciplinar permitiria analisar a multidimensionalidade dos

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    problemas envolvidos na questo, examinar os aspectos educacionais em sua complexidade e no apenas sob os enfoques educacional e tecnolgico.

    Aps a realizao do primeiro seminrio, foi criado um grupo de trabalho intersetorial com representantes do MEC, da SEI, do CNPq e da FINEP, para elaborao de subsdios para a um futuro Programa de Informtica na Educao que possibilitasse a implantao dos centros-piloto sugeridos nos referidos encontros e colaborasse no delineamento dos principais instrumentos de ao.

    OS PRIMEIROS PASSOS

    Em dezembro de 1981, foi divulgado o documento Subsdios para a Implantao do Programa Nacional de Informtica na Educao (Brasil, 1982b), que apresentou o primeiro modelo de funcionamento de um futuro sistema de informtica na educao brasileira elaborado pela equipe intersetorial. Esse documento recomendava que as iniciativas nacionais deveriam estar centradas nas universidades e no diretamente nas secretarias de educao, pois era necessrio construir conhecimentos tcnico-cientficos para depois discuti-los com a comunidade nacional. Buscava-se a criao de centros formadores de recursos humanos qualificados, capazes de superar os desafios presentes e futuros ento vislumbrados.

    Esse documento destacava a necessidade de combinao adequada dos fatores de produo em educao, de forma a viabilizar um sistema de ensino realmente adequado s necessidades e realidades regionais, com flexibilidade suficiente para o atendimento s situaes especficas, ao aumento da efetividade no processo de ensino-aprendizagem, elaborao de uma programao participativa a partir dos interesses do usurio Acreditava-se que desta forma estaria sendo garantido o impacto motivacional do programa e o emprego de metodologias inovadoras capazes de melhorar a qualidade da educao brasileira. Esse documento propunha a ampliao e acumulao de conhecimento na rea mediante a realizao de pesquisas para a capacitao nacional, o desenvolvimento de software educativos balizados por valores culturais, scio-polticos e pedaggicos da realidade brasileira, e a formao de recursos humanos de alto nvel.

    Para operacionaliao da proposta, sugeria a criao de uma Comisso Oficial, sob a gide do MEC, com representantes da SEI, CNPq, FINEP e uma Comisso Executiva para exercer a funo mediadora entre a comisso oficial e a comunidade acadmica, os centros-piloto e demais instituies de ensino e pesquisa interessadas. Para o incio dos trabalhos o documento sugeria, em funo dos parcos recursos disponveis, a seleo de cinco universidades representativas das diversas regies brasileiras para a implantao dos referidos centros, bem como o acompanhamento e a avaliao por parte do poder pblico e posterior divulgao de seus resultados.

    Em janeiro de 1983, foi criada, no mbito da SEI, a Comisso Especial n 11/83 - Informtica na Educao, atravs da Portaria SEI/CSN/PR n 001/83. Essa Comisso tinha por

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    finalidade, dentre outros aspectos, propor a orientao bsica da poltica de utilizao das tecnologias da informao no processo de ensino-aprendizagem, observando os objetivos e as diretrizes do Plano Setorial de Educao, Cultura e Desporto, da Poltica Nacional de Informtica e do Plano Bsico de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do pas, alm de apoiar a implantao de centros-piloto, funes estas intrinsecamente afetas ao setor educacional.

    Em maro de 1983, a Secretaria-Executiva da referida Comisso, atendendo recomendaes propostas, apresentava o documento Projeto EDUCOM, que consubstanciou uma proposta interdisciplinar voltada para implantao experimental de centros-piloto como infra-estruturas relevantes para o desenvolvimento de pesquisas, objetivando a capacitao nacional e coleta de subsdios para uma futura poltica setorial.

    Aps sua aprovao, a SEI divulgou o Comunicado SEI/SS n15/83, informando o interesse governamental na implantao de centros-piloto em universidades interessadas no desenvolvimento dessas pesquisas, mediante aes integradas com escolas pblicas, preferencialmente de 2 grau, estabelecendo, inclusive, critrios e formas de operacionaliao do projeto.

    Entretanto, pouco tempo antes, em novembro de 1982, foi criado o Centro de Informtica do MEC - CENIFOR, subordinado Fundao Centro Brasileiro de TV Educativa - FUNTEV, hoje Fundao Roquette Pinto, cujas atribuies regimentais foram posteriormente reformuladas em maro/84, para melhor cumprimento dos requisitos indispensveis ao desenvolvimento e coordenao das atividades na rea, tendo em vista o interesse da Secretaria Geral do MEC em assumir a coordenao do projeto.

    Coube ao CENIFOR a responsabilidade pela implementao, coordenao e superviso tcnica do Projeto EDUCOM, cujo suporte financeiro e delegao de competncia foram definidos em Protocolo de Intenes assinado entre MEC, SEI, CNPq, FINEP e FUNTEV, em julho de 1984.

    A partir desse momento, o MEC assumiu a liderana do processo de informatizao da educao brasileira, procurando organizar-se para o cumprimento de suas novas obrigaes. Um dos argumentos utilizados para a transferncia do Projeto EDUCOM para o MEC, era o de que informtica na educao tratava de questes de natureza pedaggica relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, envolvendo escolas pblicas brasileiras e universidades, na busca de subsdios para uma futura poltica para o setor educacional. Pesava, tambm, nessa deciso a questo financeira, pois apesar do acordo firmado entre os organismos governamentais e o prprio estmulo para a implantao do Projeto ter se originado na prpria SEI, esta secretaria no havia previsto no seu oramento o montante de recursos capazes de dar a devida sustentao financeira ao projeto, em termos de contrapartida negociada com o MEC. Assim, coube ao Ministrio da Educao, apesar de inmeras dificuldades, garantir a sua operacionalizao.

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    Em 3 de outubro de 1984, foram firmados os primeiros convnios para o incio das atividades de implantao dos centros-piloto, entre a FUNTEV/MEC e as Universidades Federais do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Estadual de Campinas.

    Entretanto, em maro de 1985, com a finalizao do governo militar, profundas alteraes funcionais ocorreram na administrao federal com conseqentes mudanas de orientao poltica e administrativa.

    Nessa poca, a nova administrao da FUNTEV/MEC iniciou a operao desmonte do CENIFOR, alegando o seu desinteresse na pesquisa, relegando os centros-piloto do Projeto EDUCOM a uma situao financeira difcil e insustentvel. A partir desse momento, comeou o descumprimento da sustentao financeira do projeto por parte do prprio MEC, iniciando um processo de disputa interna de rgos que pretendiam assumir a coordenao do setor.

    Lamentavelmente, desde o incio do EDUCOM, e em decorrncia de alteraes funcionais e interferncias de grupos interessados em paralisar a pesquisa em favor de uma possvel abertura do "mercado educacional de software junto s secretarias de educao, a questo do suporte financeiro transformou-se no maior problema, prejudicando, nos mais diferentes momentos, a continuidade do projeto. Apesar dos percalos, interesses velados, e tentativas de obstruo da pesquisa, o Projeto EDUCOM cumpriu o seu papel, como pode ser observado no documento anteriormente referenciado. Na realidade, se mais no foi feito, foi porque os organismos governamentais deixaram de cumprir parte de suas obrigaes financeiras, apesar dos diversos protocolos firmados e do interesse e iniciativa de implantao do Projeto partir do prprio Governo Federal.

    PROGRAMA DE AO IMEDIATA EM INFORMTICA NA EDUCAO

    Em fevereiro de 1986, logo aps a criao do Comit Assessor de Informtica na Educao - CAIE/MEC, presidido pelo secretrio-geral do MEC, iniciou-se uma nova fase. Este Comit foi constitudo por elementos de reconhecida competncia tcnico-cientfica no pas, provenientes de diferentes seguimentos da sociedade.

    Em abril do mesmo ano, o Comit recomendou a aprovao do Programa de Ao Imediata em Informtica na Educao de 1 e 2 graus (Brasil, 1987a), objetivando a criao de uma infra-estrutura de suporte junto s secretarias estaduais de educao, a capacitao de professores, o incentivo produo descentralizada de software educativo, bem como a integrao de pesquisas que vinham sendo desenvolvidas pelas diversas universidades brasileiras. Pretendia-se, tambm, a consignao de recursos financeiros no oramento do Ministrio da Educao, para o exerccio de 1987, necessrios ao suporte operacional e continuidade das aes em desenvolvimento.

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    O Programa de Ao Imediata, utilizando a abordagem sistmica no planejamento de suas aes, apresentou um elenco de projetos voltados para o atendimento s funes bsicas referentes ao uso/aplicao da tecnologia, produo, pesquisa, ao desenvolvimento de recursos humanos, alm do atendimento s funes de apoio relativas ao fomento, disseminao e divulgao da tecnologia de informtica educativa. Como importante estratgia de ao, propunha a convergncia de esforos do setor educacional em busca de autonomia tecnolgica no pas e capacitao nacional para que a sociedade brasileira fosse capaz de assumir o comando do seu prprio processo de informatizao, colaborando para o pleno desenvolvimento do pas.

    Uma das primeiras aes decorrentes do lanamento desse Programa, em 1986, foi recomendar a avaliao do Projeto EDUCOM, e que foi realizada por uma comisso de especialistas de alto nvel. Ao final do relatrio, a comisso alertava que os centros-piloto vinham desenvolvendo as atividades que se propuseram, no havendo dvidas quanto s suas reais possibilidades para a consecuo de suas metas, no obstante os atrasos no repasse das verbas, a descontinuidade da oferta de bolsas por parte do CNPq, a falta de apoio financeiro da FINEP e SEI que haviam se retirado do processo, alm dos descompassos existentes no nvel de coordenao administrativa do Projeto.

    O relatrio solicitava a manuteno e o revigoramento do apoio tcnico e financeiro aos centros-piloto, maior intercmbio entre os pesquisadores e que as atividades de pesquisa fossem a tnica principal desses centros, na busca de conhecimentos seguros que subsidiassem futuras decises polticas e possibilitassem condies de respostas na antecipao de problemas e no reconhecimento de seus limites.

    Em maio de 1987, a Secretaria de Informtica do MEC assumiu a responsabilidade de conduo das aes de informtica na educao e, consequentemente, a coordenao e superviso tcnica do Projeto EDUCOM. Em julho de 1987, aps um perodo de total ausncia de financiamento, foram transferidos recursos para as entidades gestoras dos centros-piloto depois de um longo perodo de carncia.

    A implementao do Programa ocorreu, portanto, a partir de 1986, mediante a aloca de novos recursos para a pesquisa, o lanamento do 1 Concurso Nacional de Software Educativo e a implementao do Projeto FORMAR, operacionalizado atravs de dois cursos de especializao em informtica na educao, em nvel de ps-graduao lato sensu, realizados na UNICAMP, em 1987 e 1989, dedicados aos professores das diversas secretarias estaduais de educao e das escolas tcnicas federais.

    A partir desse novo perodo, vislumbrou-se a possibilidade de acelerar o desenvolvimento do setor, sob as bnos do novo Comit, aproveitando o apoio e interesse do ento secretrio-geral do Ministrio. Desta forma, iniciou-se um novo perodo de consultas comunidade, motivado pela necessidade de elaborar um plano para a rea. Isto deu ensejo realizao da Jornada de Trabalho de Informtica na Educao (Brasil, 1987b), em Florianpolis, em novembro de 1987, que contou com a participao de profissionais envolvidos com a pesquisa e produo na rea, bem como com profissionais de escolas e empresas que atuavam no setor. Como resultado desse profcuo encontro foi produzido um

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    documento com recomendaes para formulao da poltica trienal para o setor, posteriormente submetida aprovao do Comit Assessor do MEC.

    O fato do pas no dispor de conhecimento tcnico-cientfico nessa rea fez com que o Ministrio da Educao optasse por iniciar as atividades mediante o desenvolvimento de pesquisa nas universidades, para posterior disseminao de seus resultados, mediante capacitao dos professores dos sistemas estaduais de ensino pblico. O inicio da capacitao dos professores foi feito pelo Projeto FORMAR, atravs da UNICAMP e que contou com a colaborao dos vrios centros-piloto do Projeto EDUCOM. Os professores formados tiveram como compromisso principal projetar e implantar, junto secretaria de educao que o havia indicado, um Centro de Informtica Educativa - CIEd, a ser implementado mediante apoio tcnico e financeiro do Ministrio da Educao que, por sua vez, no pretendia impor mecanismos e procedimentos, apenas oferecer o devido respaldo tcnico-financeiro necessrio consecuo dos objetivos colimados.

    Coube a cada secretaria de educao definir os rumos de sua proposta, de acordo com a capacidade tcnico-operacional de sua equipe e possibilidades de formao de recursos humanos. Ao Ministrio da Educao, competiu o repasse dos recursos necessrios, a cooperao tcnica entre os pesquisadores dos centros-piloto do Projeto EDUCOM e os professores das secretarias de educao, alm do fornecimento dos equipamentos necessrios, de acordo com as especificaes propostas pelo Comit Assessor do MEC.

    No perodo de 1988 e 1989, dezessete CIEd foram implantados em diferentes estados da Federao. Atualmente existem 20 CIEd, sendo que cada centro coordena subcentros e laboratrios. Cada CIEd alm de coordenar a implantao de outras unidades, tambm cuidava da formao de recursos humanos para a implementao das atividades no mbito estadual. Alm de atribuies administrativas, esses centros se transformaram em ambientes de aprendizagem informatizados integrados por grupos interdisciplinares de educadores, tcnicos e especialistas, suportados por programas computacionais de uso aplicao da informtica na educao e tinham como propsito atender a alunos e professores de 1 e 2 graus e de educao especial, alm de possibilitar o atendimento comunidade em geral. Os CIEd constituram-se em centros irradiadores e multiplicadores da tecnologia da informtica para as escolas pblicas brasileiras, os principais responsveis pela preparao de uma significativa parcela da sociedade brasileira rumo a uma sociedade informatizada.

    Ao final de 1988, a Organizao dos Estados Americanos - OEA, atravs de seu Departamento de Assuntos Educativos, reconhecendo o esforo brasileiro nesta rea, convidou o Ministrio da Educao a apresentar um projeto de cooperao multinacional envolvendo outros pases latino-americanos. Iniciava-se, ento, naquela poca, a primeira cooperao tcnica internacional com o Mxico, financiada pela OEA, para avaliao do projeto de informtica educativa na rea de educao bsica: Projeto COEEBA.

    Uma das primeiras aes de cooperao internacional proposta pelo Brasil foi a realizao de uma Jornada de Trabalho Luso Latino-Americana de Informtica na Educao, realizada em Petrpolis, em maio de 1989, para identificao de possveis reas de interesse comum relacionadas pesquisa e formao de recursos humanos, capazes de subsidiar um

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    futuro projeto internacional sob a chancela da OEA. Essa jornada adotou como princpios norteadores do trabalho a participao, integrao, solidariedade e adequao das propostas s realidades de cada pas, bem como o respeito multiculturalidade e diversidade cultural, como requisitos fundamentais de qualquer iniciativa de cooperao na rea. Estiveram presentes representantes de 15 pases, incluindo Portugal e pases africanos que, mesmo no estando sob a jurisdio americana, solicitaram participao.

    As recomendaes obtidas foram consubstanciadas em documento prprio e serviram de base elaborao de um projeto multinacional de Informtica Aplicada Educao Bsica, envolvendo oito pases americanos e que foi apresentado OEA, em 1989, em Washington, e aprovado para o perodo 90-95. Cumpre esclarecer que o projeto ficou paralisado aps 1992, tendo em vista a falta de pagamento da quota anual brasileira que, por sua vez, condiciona a participao do Brasil, impossibilitando, assim, a realizao das atividades previstas e acordadas com os demais pases, prejudicando a liderana latino-americana conquistada pelo Brasil, o que foi muito lamentado pelos pases integrantes do Acordo de Cooperao Tcnica firmado.

    PROGRAMA NACIONAL DE INFORMTICA EDUCATIVA

    A partir de todas essas iniciativas foi estabelecida uma slida base para a criao de um Programa Nacional de Informtica Educativa - PRONINFE, o que foi efetivado em outubro de 1989, atravs da Portaria Ministerial n 549/GM. O PRONINFE tinha por finalidade: "Desenvolver a informtica educativa no Brasil, atravs de projetos e atividades, articulados e convergentes, apoiados em fundamentao pedaggica slida e atualizada, de modo a assegurar a unidade poltica, tcnica e cientfica imprescindvel ao xito dos esforos e investimentos envolvidos."

    Apoiado em referncias constitucionais, captulos III e IV da atual Constituio Brasileira, referentes s reas de educao, cincia e tecnologia, o Programa visava apoiar o desenvolvimento e a utilizao da informtica nos ensinos de 1, 2 e 3 graus e educao especial, o fomento infra-estrutura de suporte relativa criao de vrios centros, a consolidao e integrao das pesquisas, bem como a capacitao contnua e permanente de professores.

    Propunha, tambm, a criao de uma estrutura de ncleos distribudos geograficamente pelo pas, a capacitao nacional atravs de pesquisa e formao de recursos humanos, mediante um crescimento gradual em busca de competncia tecnolgica referenciada e controlada por objetivos educacionais.

    Simultaneamente criao do PRONINFE, cuja coordenao passou a ser exercida por uma Comisso Geral de Coordenao subordinada Secretaria Geral do MEC, foram iniciadas gestes junto Secretaria Especial de Informtica do Ministrio de Cincia e Tecnologia - SEI/MCT, visando a incluso de metas e objetivos do Programa como parte integrante do II PLANIN, Plano Nacional de Informtica e Automao, para o perodo de 1991 a

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    1993. O PLANIN foi aprovado pelo Conselho Nacional de Informtica e Automao - CONIN, um colegiado que era constitudo pelos ministros de Estado das diferentes reas setoriais e representantes da indstria nacional, e, posteriormente, transformado em lei.

    A incluso de objetivos, metas e estratgias no PLANIN ocorreu no final de 1990. Acreditava-se que a poltica de informtica na educao deveria tambm estar em consonncia com os objetivos e diretrizes da poltica educacional da rea de cincia e tecnologia, como subsistemas interligados e interdependentes. A incluso das aes do PRONINFE foi importante para viabilizao de financiamentos de diferentes tipos de bolsas de estudos e outros benefcios decorrentes. A rea de Informtica Educativa passou ento a ser um dos destaques do Programa de Capacitao de Recursos Humanos em reas Estratgicas - RHAE, do Ministrio de Cincia e Tecnologia.

    Em seu documento referencial, o PRONINFE fundamentava-se na necessidade de intensa colaborao entre as trs esferas do poder pblico, onde os investimentos federais seriam canalizados, prioritariamente, para a criao de infra-estrutura de suporte em instituies federais, estaduais e municipais de educao, para a capacitao de recursos humanos e busca de autonomia cientfica e tecnolgica para o setor. Seus objetivos e metas atendiam, tambm, aos preceitos constitucionais referentes rea de cincia e tecnologia, solicitando tratamento prioritrio pesquisa cientfica bsica voltada ao bem-pblico e ao progresso da cincia na busca de solues aos problemas brasileiros. Seus objetivos, metas e estratgias vieram tambm a integrar o Plano Nacional de Educao, o Plano Plurianual de Investimentos, desdobrando-se, posteriormente, em metas e atividades de alguns planos estaduais e municipais de educao, na tentativa de assegurar a sua operacionaliao junto s bases estaduais e municipais na esperana de maior fluncia de recursos financeiros por parte das instituies governamentais.

    Dentre suas aes prioritrias destacavam-se as atividades voltadas para capacitao de professores e tcnicos dos diferentes sistemas de ensino, desenvolvimento de pesquisa bsica e aplicada, implantao de centros de informtica educativa, produo, aquisio, adaptao e avaliao de softwares educativos. Pretendia-se, tambm, facilitar a aquisio de equipamentos computacionais por parte dos sistemas de educao pblica, implantao de rede pblica de comunicao de dados, incentivo cursos de ps-graduao na rea, bem como acompanhamento e avaliao do Programa.

    Em 1990, o Ministrio da Educao aprovou o 1 Plano de Ao Integrada -PLANINFE, para o perodo de 1991 a 1993, com objetivos, metas e atividades para o setor, associados a um horizonte temporal de maior alcance. O PLANINFE, assim como o PRONINFE, destacava, como no poderia deixar de ser, a necessidade de um forte programa de formao de professores, acreditando que as mudanas s ocorrem se estiverem amparadas, em profundidade, por um intensivo e competente programa de capacitao de recursos humanos, envolvendo universidades, secretarias, escolas tcnicas e empresas como o SENAI e SENAC.

    A partir de 1992, em funo de gestes realizadas em anos anteriores e de uma firme determinao do Ministro da Educao daquela poca, foi criada uma rubrica oramentria especfica no Oramento da Unio, para o financiamento das atividades do setor. Esta foi uma

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    luta batalhada por mais de cinco anos pela coordenao do Programa, que acreditava em sua importncia para a consolidao das atividades planejadas na rea, para que no ficassem merc de possveis injunes polticas, como de fato ocorreram.

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    CRONOLOGIA

    DATAS FATOS ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Agosto/81 Realizao do I Seminrio de Informtica na Educao, Braslia/DF, UNB. Promoo MEC/SEI/CNPq.

    Dezembro/81 Aprovao do documento: Subsdios para a implantao do programa de Informtica na Educao - MEC/SEI/CNPq/FINEP.

    Agosto/82 Realizao do II Seminrio Nacional de Informtica na Educao, UFBa/Salvador/Bahia.

    Janeiro/83 Criao da Comisso Especial N 11/83- Informtica na Educao, Portaria SEI/CSN/PR N 001 de 12/01/83.

    julho/83 Publicao do documento: Diretrizes para o estabelecimento da Poltica de Informtica no Setor de Educao, Cultura e Desporto, aprovado pela Comisso de Coordenao Geral do MEC, em 26/10/82

    Agosto/83 Publicao do Comunicado SEI solicitando a apresentao de projetos para a implantao de centros-piloto junto as universidades.

    Maro/84 Aprovao do Regimento Interno do Centro de Informtica Educativa CENIFOR/FUNTEV_, Portaria n 27, de 29/03/84.

    Julho/84 Assinatura do Protocolo de Intenes MEC/SEI/CNPq/FINEP/ FUNTEV_ para a implantao dos centros-piloto e delegao de competncia ao CENIFOR.

    Julho/84 Expedio do Comunicado SEI/SS n 19, informando subprojetos selecionados: UFRGS, UFRJ, UFMG, UFPe e UNICAMP.

    Agosto /85 Aprovao do novo Regimento Interno do CENIFOR , Portaria FUNTEV_ n246, de 14/08/85.

    Setembro/85 Aprovao Plano Setorial: Educao e Informtica pelo CONIN/PR.

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    Fevereiro/86 Criao do Comit Assessor de Informtica na Educao de 1 e 2 graus - CAIE/SEPS.

    Abril/86 Aprovao do Programa de Ao Imediata em Informtica na Educao.

    Maio/86 Coordenao e Superviso Tcnica do Projeto EDUCOM transferida para a SEINF/MEC.

    Julho/86 Instituio do I Concurso Nacional de "Software" Educacional e da Comisso de Avaliao do Projeto EDUCOM:

    Abril/86 Extino do CAIE/SEPS e criao do CAIE/MEC.

    Junho/87 Implementao do Projeto FORMAR I, Curso de Especializao em Informtica na Educao, realizado na UNICAMP.

    Julho/87 Lanamento do II Concurso Nacional de Software Educacional.

    Novemb./87 Realizao da Jornada de Trabalho de Informtica na Educao: Subsdios para polticas, UFSC, Florianpolis/SC.

    Novemb./87 Incio da Implantao dos CIEd.

    Setembro/88 Realizao do III Concurso Nacional de Software Educacional .

    Janeiro/89 Realizao do II Curso de Especializao em Informtica na Educao - FORMAR II

    Maio/89 Realizao da Jornada de Trabalho Luso Latino-Americana de Informtica na Educao, promovida pela OEA e INEP/MEC, PUC/Petrpolis/RJ.

    Outubro/89 Instituio do Programa Nacional de Informtica Educativa PRONINFE na Secretaria-Geral do MEC.

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    Maro/90 Aprovao do Regimento Interno do PRONINFE.

    Junho/90 Restruturao ministerial e transferncia do PRONINFE para a SENETE/MEC.

    Agosto/90 Aprovao do Plano Trienal de Ao Integrada - 1990/1993.

    Setembro/90 Integrao de Metas e objetivos do PRONINFE/MEC no PLANIN/MCT.

    Fevereiro/92 Criao de rubrica especfica para aes de informtica educativa no oramento da Unio.

    Abril/ 1997 Lanamento do Programa Nacional de Informtica na Educao PROINFO.

    O MODELO PROPRIAMENTE DITO

    Tanto o Programa de Ao Imediata quanto o PRONINFE, em termos de organizao e funcionamento, visavam a capacitao contnua e permanente de professores dos trs nveis de ensino para o domnio dessa tecnologia em ambientes de ensino e pesquisa, a utilizao da informtica na prtica educativa e nos planos curriculares, alm da integrao, consolidao e ampliao das pesquisas e socializao de conhecimentos e experincias desenvolvidos.

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    Para tanto, foi prevista a criao de uma infra-estrutura de ncleos ou centros distribudos geograficamente pelo pas, localizados em universidades, secretarias de educao e escolas tcnicas federais. Esses ncleos, chamados de centros de informtica na educao, tiveram atribuies de acordo com os seus diferentes campos de atuao, em funo da vocao institucional de sua clientela, constituindo-se em centros de informtica na educao superior- CIES, centros de informtica na educao de 1 e 2 graus - CIEd e centros de informtica na educao tcnica - CIET.

    Em termos de organizao e funcionamento, o Centro de Informtica na Educao Superior - CIES - ficou vinculado a uma universidade, destinando-se realizar pesquisa cientfica de carter interdisciplinar, formar recursos humanos, oferecer suporte aos CIEd e CIET, alm de supervisionar experincias educativas em andamento nos colgios de aplicao. O Centro de Informtica na Educao de 1 e 2 graus - CIEd - ficou subordinado uma secretaria estadual ou municipal de educao, ao Colgio Pedro II, ao Instituto de Educao de Surdos e ao Instituto Benjamim Constant, tendo como funo atender aos professores e alunos de 1 e 2 graus, alunos de educao especial e comunidade interessada. O Centro de Informtica na Educao Tcnica, o CIET, foi vinculado uma escola tcnica federal ou a um centro federal de educao tecnolgica - CEFET, destinando-se formao de recursos humanos, realizao de experincias tcnico-cientficas e atendimento alunos e professores da escola na qual estava inserido.

    Pretendia-se com esses centros a criao de novos ambientes que possibilitassem novas dinmicas sociais de aprendizagem, no sentido de resgatar algo que a educao se propunha h muito tempo e pouco vinha realizando, ou seja, os atos de pensar, aprender, conhecer e compreender, a partir do uso de novos instrumentos. Planejou-se ento a criao de ambientes que, por um lado, possibilitassem o uso de recursos tecnolgicos, usufruindo da interatividade e interconectividade que a mquina faculta, mas, ao mesmo tempo, associados a processos de desenvolvimento humano, que estimulassem autonomia, cooperao, criticidade, criatividade e capacidade decisria, possibilitando, assim, mudanas no paradigma educacional vigente.

    A multiplicao desses ambientes para atendimento clientela de Educao Bsica foi planejada para ser difundida e realizada atravs dos CIEd. Em termos de planejamento, coube aos CIEd, seus subcentros e laboratrios, a adoo de um processo de crescimento gradual e constante, a responsabilidade pela formao da demanda nacional de professores e alunos, em colaborao com as universidades, visando a introduo da informtica no processo de ensino-aprendizagem. Foram concebidos como centros multiplicadores e difusores da tecnologia de informtica para as escolas pblicas e, possivelmente, os maiores responsveis pela disseminao da semente catalisadora dos processos de preparao de uma sociedade informatizada no Brasil.

    Ao CIET competia realizar experincias tcnico-cientficas, capacitar o corpo docente de educao tecnolgica para o uso-aplicao da tecnologia da informtica, colaborar na profissionalizao do aluno em sua rea de especializao, propiciar uma melhor preparao para o mercado de trabalho, favorecer o surgimento de pesquisas visando o desenvolvimento de novas metodologias para o ensino tecnolgico, alm de promover a definio e criao de

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    sistemas, incluindo ambientes, modelos e programas computacionais necessrios educao tecnolgica em suas diversas reas de atuao.

    Ao CIES ou NIES competia realizar estudos e pesquisas cientficas de carter interdisciplinar para a ampliao das bases cientficas e tecnolgicas na rea, em consonncia com as necessidades da comunidade nacional. Pressupunha a construo de ambientes de aprendizagem enriquecidos e adequados ao desenvolvimento cognitivo e scio-afetivo dos alunos, visando a apropriao das novas tecnologias pelas novas geraes. Implicava em modernizar os laboratrios, em desenvolver software utilizando tcnicas de inteligncia artificial, interfaces ergonmicas homem-computador, pesquisar o desenvolvimento de funes cognitivas nos indivduos, criar e desenvolver micro-mundos lingsticos com linguagens artificiais, estudar processos cognitivos e afetivos dos alunos e vrias outras atividades. Competia ainda aos CIES ou NIES o aperfeioamento contnuo da formao profissional, tcnica e cientfica na graduao, ps-graduao e extenso universitria, oferecendo cursos de especializao e atualizao aos professores da rede pblica de ensino que no tinham condies de aprofundar seus conhecimentos sem o amparo e a integrao com a comunidade universitria. Dessa forma, o Programa Nacional de Informtica Educativa - PRONINFE definiu um modelo de organizao e funcionamento para a capacitao das atividades em todas as reas da educao nacional.

    Para coordenao e gerenciamento de suas atividades foi criada uma Comisso Central de Coordenao junto Secretaria-Geral do Ministrio da Educao, constituda por representantes de todas as secretarias-fim do MEC, alm do INEP e da CAPES. Sua finalidade era criar um centro de gerenciamento nacional das atividades desenvolvidas por uma estrutura produtiva de ncleos espalhados por todo pas. O Programa buscava, alm de fomentar as atividades na rea, incentivar, sobretudo, a integrao dos diversos centros constitutivos do sistema, promovendo e articulando os processos de cooperao tcnica e financeira para o setor.

    De acordo com seus documentos, em termos de organizao e funcionamento, o PRONINFE adotava como princpios de ao a descentralizao funcional e geogrfica nos diversos nveis de organizao; o crescimento gradual baseado na experimentao e anlise dos resultados obtidos, orientado pela capacidade de formao dos professores; a importncia pesquisa & desenvolvimento centrados nas universidades e escolas tcnicas federais e a busca de competncia tecnolgica permanentemente referenciada e controlada por objetivos educacionais.

    Para sua operacionaliao apresentava uma estrutura matricial com duas vertentes. Uma relacionada s funes produtivas de pesquisa, produo, uso-aplicao, desenvolvimento de recursos humanos e disseminao. Outra, em funo da clientela, determinava a criao de cinco subprogramas destinados ao ensino fundamental, educao especial, ao ensino mdio, ao ensino superior e educao no-formal. Para cada uma de suas funes havia uma srie de recomendaes sinalizando diretrizes importantes a serem observadas no desenvolvimento das atividades.

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    Na rea da pesquisa, por exemplo, o documento recomendava o desenvolvimento prioritrio da pesquisa bsica e aplicada a ser desenvolvida por equipes interdisciplinares, cujos recursos deveriam ser canalizados para a construo de ferramentas computacionais adequadas ao processo de ensino-aprendizagem, estudos de avaliao do impacto da informtica no setor educacional, bem como levantamento do "estado da arte".

    Em termos de capacitao de recursos humanos, o Programa dava prioridade propostas que fossem democratizantes e no determinadas por interesses industriais e mercadolgicos; baseadas na conscientizao e no no adestramento, envolvendo maior participao da universidade e de outras instituies de ensino superior, enquanto centros de excelncia de ensino, pesquisa e extenso. Recomendava ateno prioritria formao e aperfeioamento de pesquisadores, preferencialmente articulados aos programas de ps-graduao. Sugeria, ainda, que os programas promovessem a articulao entre secretarias de educao, universidades e instituies como SENAI e SENAC, fortalecendo mecanismos de cooperao, intercmbio, bolsas e estgios no Brasil e Exterior.

    De modo geral, na rea de produo de software, o PRONINFE estabelecia como uma de suas diretrizes a criao de equipes interdisciplinares de produo e avaliao de programas educativos computacionais, devidamente qualificadas para anlise de questes sciolgicas, psico-pedaggicas e epistemolgicas. Recomendava, tambm, a produo de sistemas do tipo ferramenta, a aquisio de software educativos por parte dos rgos pblicos, mas devidamente avaliados por grupos de pesquisa com experincia comprovada na rea de produo e/ou avaliao de programas computacionais. Propunha incentivos produo e introduo no mercado educacional de software educativos de qualidade provenientes de grupos de pesquisa de reconhecida competncia, no sentido de gerar padres de qualidade, alm da criao de catlogos, banco de dados e glossrios para disseminao de informaes e consultas na rea.

    No que se refere aos equipamentos, o PRONINFE buscava uma configurao bsica de custo reduzido, que pudesse ser expandida modularmente e capaz de suportar a implantao dos laboratrios das escolas. Pretendia, tambm, incentivar discusses e divulgaes de tendncias pedaggicas baseadas na utilizao de equipamentos produzidos pela indstria nacional, obedecendo padres prprios, buscando, portanto, a definio do equipamento a ser utilizado pela informtica educativa no Brasil, em consonncia com a poltica de reserva de mercado vigente naquela poca. Propunha, ainda, que o MEC atuasse como mediador e indutor do processo de informatizao da educao brasileira, incentivando a indstria nacional a adequar os seus equipamentos aos padres que viessem a ser definidos pela comunidade cientfica nacional em funo de objetivos pedaggicos.

    O Programa apresentava como estratgias importantes a padronizao dos equipamentos, visando conectabilidade, compatibilidade e portabilidade dos sistemas de informaes, a criao de mecanismos que permitissem o conhecimento do processo de informatizao da sociedade e participao da comunidade. Recomendava o desenvolvimento de estudos conjuntos com o Ministrio das Comunicaes para diferenciao tarifria e a criao de ncleos regionais ligados por rede pblica de comunicao de dados.

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    O PRONINFE ainda apresentava uma srie de linhas de aes relacionadas a cada uma das funes bsicas estabelecidas. Na rea de pesquisa, por exemplo, objetivava o apoio tcnico e financeiro a projetos de pesquisas bsica e aplicada a serem desenvolvidas em centros-piloto do Projeto EDUCOM e em outros centros de informtica na educao superior e escolas tcnicas federais. Incentivava a produo de conhecimento interdisciplinar capaz de suportar a formao de recursos humanos, o uso-aplicao da tecnologia e a avaliao de seus resultados, visando a validao dos sistemas desenvolvidos. Destacava, tambm, a importncia do conhecimento da realidade como um fator preponderante para o sucesso dos projetos, a cooperao tcnico-cientfica em mbito nacional e internacional, alm do incentivo a possveis parcerias entre indstrias e universidades para o desenvolvimento de produtos compatveis com as necessidades brasileiras do setor.

    Na funo produo, pretendia desenvolver aes voltadas para a especificao de equipamentos, sistemas e programas computacionais necessrios operacionaliao do projeto, promover o incentivo sua industrializao, bem como a interao entre as universidades e escolas tcnicas com o sistema gerador de produtos e servios de informtica. Pretendia-se, tambm, a criao de modelos de funcionamento de ambientes informticos em educao.

    Na funo uso-aplicao de tecnologia, o Programa propunha a financiar a implantao de centros de informtica em todos os nveis e modalidades de ensino, o desenvolvimento e implantao de bases informacionais destinadas a interligar os diversos ncleos entre si. No desenvolvimento de recursos humanos, pretendia apoiar cursos nas mais diversas modalidades, nos nveis de aperfeioamento, especializao, mestrado, doutorado e ps-doutorado, alm de mecanismos complementares tais como seminrios, estgios, oficinas, etc. Foi tambm prevista a necessidade de articulao intensa entre organismos nacionais e internacionais de cooperao tcnico-cientfica, buscando oferecer bolsas de estudos para os especialistas da rea. Em suas linhas de ao objetivava o apoio tcnico e financeiro para disseminao dos produtos, realizao de congressos, seminrios, simpsios e encontros, bem como editorao de livros e demais publicaes de interesse da comunidade cientfica da rea.

    Tanto o PRONINFE quanto o PLANINFE destacavam a necessidade de um forte programa de formao de professores e tcnicos na rea de informtica educativa, acreditando que nenhuma mudana tecnolgica ocorreria se no estivesse profundamente amparada por um intensivo programa de capacitao de recursos humanos. O PLANINFE recomendava, ainda, que a formao de professores e tcnicos para a utilizao desta tecnologia em educao, levasse em conta o exame das possibilidades e limites do uso da informtica no sistema educacional considerando os aspectos da realidade escolar, as diferenas regionais, o desemprego tecnolgico e a baixa condio de vida.

    Recomendava uma avaliao crtica do significado da informtica na educao, a anlise das conseqncias gerais da informatizao enquanto o uso de tecnologias no neutras e comprometidas com determinado modo de concepo da sociedade. Reforava, tambm, a idia de que tecnologia disposio da educao poderia colaborar para a compreenso dos processos cognitivos do indivduo ao desenvolver conhecimentos, e como pode, a partir dessa tecnologia, poderia ser gerado o novo conhecimento cientfico e crescer

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    em espiral. Promulgava a necessidade de mudanas nos papis da escola, do aluno e professor, e, consequentemente, nos contedos, processos e materiais de ensino-aprendizagem, alegando que no se poderia incorporar o novo, sem reformular o antigo.

    PRINCIPAIS PROJETOS

    Na realidade, dentre os vrios projetos e atividades desenvolvidos no pas, integrantes dos referidos Planos e Programas anteriormente descritos, os mais importantes para a criao de uma cultura nacional sobre o uso do computador na educao foram os projetos EDUCOM, FORMAR e CIEd.

    As contribuies do Projeto EDUCOM foram importantes e decisivas para a criao e desenvolvimento de uma cultura nacional de uso de computadores na educao, especialmente voltada para realidade da escola pblica brasileira. De acordo com os livros: Projeto EDUCOM (Andrade, P. F.& Albuquerque Lima, M.C.M. 1993) e Projeto EDUCOM: realizaes e produtos, que descrevem o processo e as principais realizaes dos centros-piloto integrantes do Projeto, confirmou-se a correo da opo governamental em iniciar a informatizao da educao brasileira a partir do desenvolvimento da pesquisa e formao de recursos humanos realizados nas universidades.

    Apesar dos percalos e problemas surgidos na caminhada dos vrios centros - em sua maioria relacionados incerteza quanto a disponibilidade de recursos, indefinies quanto poltica especfica de concesso e manuteno de bolsas de estudo, instalaes fsicas nem sempre adequadas ao trabalho a ser realizado, falta de maior integrao inter e intra-institucional - muito foi realizado em termos de pesquisa, formao de recursos humanos, consultoria, produo de software educativos, teses, dissertaes, livros, conferncias, ensaios e artigos publicados.

    De acordo com os relatrios de pesquisas, o EDUCOM produziu num perodo de 5 anos 4 teses de doutorado, 17 teses de mestrados, 5 livros, 165 artigos publicados, mais de duas centenas de conferncias e palestras ministradas, alm de vrios cursos de extenso, especializao e treinamento de professores. Sistemas de autor e vrios software educacionais foram desenvolvidos, dos quais alguns foram os primeiros colocados em concursos nacionais. Assessoramentos tcnicos foram prestados s vrias secretarias estaduais e municipais de educao, aos comits assessores de programas ministeriais, bem como desenvolvidos programas de cooperao tcnica, nacional e internacional, promovidos pela OEA e UNESCO. Para maior conhecimento da amplitude e qualidade do acervo produzido, recomendamos a leitura dos documentos citados no pargrafo anterior, que registram os principais produtos desenvolvidos e que nos redime da necessidade de nos estendermos em maiores detalhamentos. O que queremos salientar que as principais aes empreendidas pelo Ministrio da Educao, nos ltimos dez anos, decorreram das contribuies das equipes integrantes dos centros-piloto do Projeto EDUCOM e que ainda continua presente trabalhando na rea.

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    Dentre essas aes, destacam-se o Projeto FORMAR, destinado capacitao de professores da rede pblica; os projetos CIEd e CIET, voltados para a implantao de centros de informtica educativa para atendimento s escolas de 1 e 2 graus da rede pblica de ensino e s escolas tcnicas federais; as jornadas de trabalho para o estabelecimento da poltica educacional para a rea, bem como os concursos anuais de software. Enfim, todas estas atividades somente foram possveis graas ao conhecimento gerado no bero do Projeto EDUCOM.

    Cabe, ainda, esclarecer que a institucionalizao do ncleo de pesquisa interdisciplinar em cada universidade que participou do EDUCOM, foi um fato importante para preenchimento de uma lacuna que existia na pesquisa nacional. A medida do sucesso do empreendimento e das pesquisas realizadas pode ser verificada a partir da incorporao de cada centro piloto na universidade hospedeira, transformando-se em ncleo, coordenadoria ou centro, de acordo com as alternativas regimentais de cada instituio universitria, demonstrando, assim, o reconhecimento efetivo da comunidade universitria ao empenho e dedicao de todos aqueles que envidaram esforos para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa.

    O Projeto FORMAR, implementado em 1987, foi criado por recomendao do Comit Assessor de Informtica e Educao do Ministrio da Educao - CAIE/MEC, sob a coordenao do NIED/UNICAMP, e ministrado por pesquisadores e especialistas dos demais centros-piloto integrantes do projeto EDUCOM. Destinava-se, em sua primeira implantao, formao de profissionais para atuarem nos diversos centros de informtica educativa dos sistemas estaduais/municipais de educao. Tratava-se de um curso de especializao de 360 h, planejado de forma modular, ministrado de forma intensiva ao longo de 9 semanas (45 dias teis), com 8 horas de atividades dirias. Seus contedos foram distribudos em 6 disciplinas, constitudas de aulas tericas e prticas, seminrios e conferncias.

    A formao de profissionais propiciada por este projeto foi realizada atravs de trs cursos e atingiu cerca de 150 educadores provenientes das secretarias estaduais e municipais de educao, escolas tcnicas, profissionais da rea de educao especial, bem como professores de universidades interessadas na implantao de outros centros.

    Com a escolha do nome Projeto FORMAR, tnhamos em mente marcar uma transio importante em nossa cultura de formao de professores. Ou seja, pretendamos fazer uma distino entre os termos formao e treinamento, mostrando que no estvamos preocupados com adestramento, ou em simplesmente adicionar mais uma tcnica ao conhecimento que o profissional j tivesse, mas, sobretudo, pretendamos que o professor refletisse sobre a sua forma de atuar em sala de aula e propiciar-lhe condies de mudanas em sua prtica pedaggica, na forma de compreender e conceber o processo ensino-aprendizagem, levando-o a assumir uma nova postura como educador.

    Alguns artigos analisando a experincia do FORMAR foram escritos, tanto sob o ponto de vista docente quanto discente, relatando os aspectos positivos e negativos deste trabalho. Todos foram unnimes em ponderar que os cursos propiciaram uma viso ampla dos aspectos envolvidos na informtica educativa, no que se refere s questes pedaggicas e informticas,

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    possibilitando a cada participante escolher, dentre as diferentes abordagens apresentadas aquela com a qual tivesse maior afinidade intelectual. O material produzido no curso, as experincias realizadas e, principalmente, o currculo e o contedo, segundo Valente, passaram a ser usados como referncias para o desenvolvimento de outros cursos de formao no pas. Sabemos que a prtica desenvolvida e a natural evoluo do conhecimento dela decorrente em si, requerem, hoje, modificaes em termos de planejamento, metodologias e contedos, tendo em vista tambm a rpida evoluo do setor que demanda as adaptaes necessrias.

    Aps a realizao do Projeto FORMAR, dezessete CIEd foram implantados, um em cada estado da Federao. A partir de um crescimento gradual cada CIEd podia criar subcentros e laboratrios, alguns nas capitais e outros no interior dos estados. Um CIEd tinha, em mdia, 15 a 30 microcomputadores por centro. De um centro inicialmente voltado para o atendimento aos alunos, comunidade em geral e formao de professores, o CIEd passou, na maioria dos estados, a ser tambm um ncleo central de coordenao pedaggica das atividades desenvolvidas, a partir da criao de subcentros e laboratrios.

    Como estratgia da poltica ministerial ficou estabelecido que o CIEd deveria ser uma iniciativa do Estado e no do Governo Federal. Ao MEC caberia, alm da formao inicial dos professores indicados pelas secretarias de educao, sensibilizar os secretrios de educao, destacando a importncia da rea e informando-lhes do interesse do Ministrio da Educao na implantao dos referidos centros, da possibilidade de cesso de equipamentos e recursos para custeio das atividades iniciais, alertando, entretanto, que caberia a cada Estado verificar seus interesses e condies de levar adiante tal empreendimento. A manuteno do CIEd e a formao continuada de professores multiplicadores seriam atribuies do Estado, de acordo com a prpria capacidade de gesto de seus recursos humanos, financeiros e materiais.

    Sua concepo foi inspirada no modelo pioneiro desenvolvido pelo Centro de Preparao e Iniciao Cincia da Informtica - CEPIC, da Secretaria de Educao e Cultura de Novo Hamburgo, no Rio Grande do SUL, que foi, durante um certo tempo, um campus avanado de pesquisa e extenso do Projeto EDUCOM/LEC/UFRGS. Tendo em vista o momento de implantao dos CIEd, a pouca disponibilidade de recursos humanos, financeiros e materiais, esta foi a forma mais aberta e democrtica para o incio das atividades no setor, num pas com uma demanda muito grande de alunos e professores a serem atendidos. Um laboratrio normalmente est localizado dentro de uma escola, tendo suas atividades restritas apenas clientela de sua unidade escolar, o centro foi concebido para estar aberto outras escolas e comunidade em geral.

    RESULTADOS PARCIAIS

    A ttulo de ilustrao, apesar das vrias dificuldades apresentadas durante todo o desenvolvimento dos projetos de informtica na educao, reconhecemos que a estratgia de implantao adotada mostrou-se adequada, tendo em vista a prpria capacidade de disseminao e multiplicao dos subcentros e laboratrios por parte de alguns estados e municpios brasileiros. Em Novo Hamburgo/RS, por exemplo, temos hoje, 1 centro e 21 subcentros e laboratrios que vm atendendo quase toda a populao de educao bsica do

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    municpio. No Rio Grande do Sul, alm do CIEd Central, existem 56 subcentros e laboratrios, alm de 414 professores capacitados atuando na rea.

    Na regio Norte, destaca-se o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Estado do Par, onde 35 escolas pblicas, da capital e interior, j desenvolvem atividades de informtica na educao, sendo que 436 professores j esto capacitados na rea. Deste total, a Secretaria Municipal de Educao de Belm implantou 21 laboratrios nas escolas pblicas, que vm atendendo um total de 6 400 alunos. Os projetos desenvolvidos pelas escolas paraenses visam a melhoria da qualidade do processo de aprendizagem, tendo como objetivo converter a informtica num instrumento a servio da inteligncia, do raciocnio e da criatividade dos alunos.

    Na regio Sudeste, o Estado de Minas Gerais vem desenvolvendo um trabalho significativo, onde o CIEd supervisiona 20 laboratrios de informtica educativa instalados em escolas pblicas, e somente nestes dois ltimos anos foram treinados mais de 300 professores da rede pblica estadual, em convnio com o CIES da Universidade Federal de Minas Gerais, gerado no bero do projeto EDUCOM.

    Na cidade de So Paulo, existe o projeto Informtica Educativa da rede municipal de educao, que iniciou os seus trabalhos em 1987. Em 1989, foi redirecionado em termos pedaggicos, na administrao do Prof. Paulo Freire., Hoje, este projeto encontra-se em plena expanso. O setor de Informtica Educativa da Secretaria Municipal de Educao de So Paulo, atende 91 420 alunos, em mais de 200 unidades escolares, tendo cada laboratrio em mdia 20 microcomputadores. Entretanto, em funo da qualidade dos trabalhos desenvolvidos, dos resultados pedaggicos obtidos, do interesse de alunos e professores, a referida Secretaria est implantando outros 300 laboratrios em escolas de Educao Bsica e mais 100 para educao infantil, prevendo a possibilidade de atendimento a mais de 400 mil alunos da rede municipal de ensino. At o final de 1997, segundo relato do coordenador do projeto, pretende-se que todas as escolas pblicas tenham seu laboratrio de informtica educativa em funcionamento, o que significa a possibilidade de atendimento a quase 800 mil alunos, o que eqivale toda a populao da rede municipal de ensino de uma das maiores cidades do planeta.

    No Esprito Santo as atividades de informtica educativa foram iniciadas em 1989, a partir da implantao de um CIEd na capital, que gradativamente foi coordenando a implantao de mais 13 laboratrios na capital e no interior. Atualmente, o estado possui 90 professores especializados na rea, atendendo 9 111 alunos.

    Na regio Centro-Oeste, destaca-se o trabalho do Distrito Federal e do Estado de Gois, sendo que neste ltimo as atividades foram iniciadas somente a partir de 1993, mediante a implantao do primeiro CIEd que, em apenas um ano de atividade, coordenou a instalao de mais 16 laboratrios em escolas do interior e da capital e que esto atendendo a 6 150 alunos de educao bsica, com 188 professores capacitados. No Distrito Federal foram implantados, nos ltimos 10 anos, 1 CIEd e mais 30 laboratrios nas escolas, possuindo 300 professores formados e 30 000 alunos sendo atendidos.

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    Esses dados demonstram que, apesar das dificuldades que certamente ocasionaram maior lentido ao processo, muita coisa foi realizada no pas. E isto no deve ser ignorado pela comunidade educacional brasileira em funo da falta de tradio na realizao de levantamentos estatsticos na rea. A falta de informaes no indica a inexistncia de resultados, ou facilidades para pr-julgamentos, ignorando dados, experincias e trabalhos em andamento e conhecimento da realidade nacional.

    De um modo geral, este foi o modelo de informatizao da educao brasileira proposto pelo Ministrio da Educao at 1995. Em sua essncia mais profunda, o modelo buscava, desde o primeiro momento, a criao de ambientes de aprendizagem, nos quais professores e alunos pudessem experienciar o que o processo pessoal e coletivo de aprendizagem, usando as novas ferramentas oferecidas pela cultura atual. Seja atravs da pesquisa, da formao de recursos humanos e criao dos diferentes centros e subcentros, a grande preocupao da comunidade educacional foi a busca de um novo paradigma educacional capaz de sinalizar mudanas mais profundas tanto na arte de ensinar quanto de aprender.

    ALGUMAS LIES APRENDIDAS

    Como pode ser observado, a dcada de 80 caracterizou-se pela produo de conhecimento tcnico-cientfico na rea, mediante o desenvolvimento de experimentos-piloto em universidades brasileiras e implantao de centros de informtica educativa junto aos diversos sistemas de educao do pas, o que permitiu a criao de uma slida base terica nacional fundamentada na realidade da escola pblica brasileira. Esta fase experimental, desenvolvida por mais de 10 anos, gerou a cultura nacional de uso de computadores na educao brasileira, oferecendo as condies necessrias para que a gesto atual do Ministrio da Educao promova aes de maior envergadura nesta rea. O conhecimento adquirido, a partir dos resultados at ento alcanados traduzidos em pesquisas, metodologias, software, sistemas de autoria e outros produtos, desconhecido por grande parte do publico brasileiro e, principalmente, pela imprensa nacional que continua cobrando, atravs de seus editoriais, a necessidade de desenvolvimento de uma fase piloto na rea.

    Cabe ao Ministrio da Educao esclarecer populao brasileira que a fase experimental, piloto, j teve uma durao maior do que o necessrio e que existem resultados desenvolvidos pelo sistema educacional brasileiro, cujos nmeros no so to inexpressivos quanto se poderia imaginar, o que nos impe, neste momento, a conquista de um patamar mais elevado e nos credencia para o desenvolvimento de aes de grande envergadura nesta rea.

    Mas a histria vivida durante mais de uma dcada de nossa vida profissional exclusivamente dedicada esta rea, nos ensina algumas lies importantes e que valem a pena ser levadas em considerao neste momento.

    O PASSADO CONTRIBUI PARA A CONSTRUO DO PRESENTE

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    Toda construo do passado que permite a reorganizao de uma nova etapa ou estgio de maior desenvolvimento ou complexidade, o que pode ser traduzido, hoje, no lanamento do PROINFO, com metas ambiciosas, avanadas e oportunas e que prevem a formao de 25 mil professores e o atendimento a 6,5 milhes de alunos, no qual a compra de 100 mil computadores apenas um requisito necessrio para a operacionaliao das atividades e no a sua finalidade maior.

    Neste momento, acreditamos que oportuno lembrar que "o futuro evolui a partir do presente (e do passado) e depende das interaes que aconteceram e continuam acontecendo." (Doll,1997) Segundo, Piaget a essncia do crescimento est na interao com o meio ambiente, com a realidade. Tanto na nova biologia, quanto nas mais diferentes reas, seja ela educacional ou empresarial, incluindo aqui a construo do prprio conhecimento, o desenvolvimento decorre de uma sucesso ecolgica em que o estgio atual prepara e inicia o prximo. O passado contribui parcialmente para o estgio seguinte. Disto, podemos inferir que o conhecimento produzido no mbito do Projeto EDUCOM, permitiu a realizao do Projeto FORMAR que, por sua vez, possibilitou a implantao dos vrios CIEd, subcentros e laboratrios atualmente existentes no pas.

    O dilogo entre o construto presente e os problemas da realidade atual que determinaro o prximo estgio do PROINFO, o estgio emergente, que permitir a ampliao de suas futuras metas. O tempo, segundo, Prigogine, irreversvel. Consequentemente, o passado irreversvel, e por sua vez, direciona a evoluo rumo a uma perfeio maior ou a uma complexidade de ordem superior. Para Prigogine (1996) "o tempo e a realidade esto ligados irredutivelmente (...) Negar o tempo, negar o passado, pode ser um consolo ou parecer um triunfo da mente humana, mas sempre uma negao da realidade".

    Os resultados parciais apresentados anteriormente esclarecem a existncia de uma cultura nacional de informatizao da educao centrada na realidade da escola pblica brasileira, e mais - uma cultura de sucesso. Isto pode ser facilmente observado partir da anlise das propostas de informtica na educao apresentadas pelos Estados, que j possuam centros, subcentros e laboratrios funcionando adequadamente e que apresentaram propostas de qualidade superior, em termos filosficos, pedaggicos e operacionais, o que, no mnimo, era de se esperar.

    As metas ambiciosas do atual PROGRAMA somente esto sendo possveis graas cultura existente, gerada em funo da competncia, criatividade e capacidade de resistncia e sobrevivncia dos profissionais de nossas universidades e secretarias de educao, que desenvolveram pesquisas, implementaram projetos contextualizados voltados para os interesses e necessidades de nossa comunidade. Ignorar ou desmerecer este fato um grande equvoco.

    Cumpre lembrar que, desde 1976, profissionais brasileiros que trabalham nesta rea, vm mantendo um intensivo programa de cooperao tcnica com o exterior, acompanhando os acertos e desacertos de projetos desenvolvidos na Frana, Canad, Estados Unidos, Costa Rica, Mxico, Argentina, Chile, Venezuela, Espanha, Grcia; Inglaterra, Rssia, dentre outros. Da mesma forma, especialistas nacionais vm prestando consultoria e cooperao tcnica,

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    apresentando solues a problemas de projetos internacionalmente reconhecidos, como o caso de Costa Rica, cujo acompanhamento e formao de professores vm sendo realizados por pesquisadores brasileiros da Universidade do Rio Grande do Sul. Em 1987, foi prestada cooperao tcnica ao Projeto COEEBA da Secretaria de Educao do Governo Mexicano, e nos anos seguintes, aos Ministrios de Educao de Costa Rica, Uruguai, Colmbia, Paraguai e Chile.

    importante reconhecer todos os esforos dispendidos em cada poca e compreender que a evoluo ocorre a partir da troca de energia entre os diferentes estgios de desenvolvimento que caracterizam um empreendimento.

    O RESPEITO DIVERSIDADE CULTURAL

    Outra varivel importante para sucesso de atividades na rea educacional e que foi uma das tnicas principais de nossos projetos, foi o reconhecimento e o respeito aos valores culturais, scio-polticos e pedaggicos da realidade nacional, incluindo aqui a representatividade das diversas regies do pas. Os projetos foram contextualizados, desenvolvidos em sintonia com os interesses das comunidades locais e regionais.

    Desde o incio, acreditava-se que sistemas educacionais tm maneiras distintas de organizar um processo de inovao. Um pas de dimenses continentais como o Brasil, de grande diversidade regional, cultural e profundas desigualdades sociais, no comporta alternativas nicas e modelos idnticos na formulao de polticas e estratgias para o desenvolvimento de projetos inovadores em educao. Apesar do Ministrio ter proposto a implantao de um modelo organizacional do tipo centro, no caso o CIEd, para todos os estados da Federao e no propriamente a implantao de laboratrios dentro de cada escola, na realidade, cada Estado ou municpio que construa o seu projeto, de acordo com a capacidade operacional das prprias secretarias de educao, em termos de formao de professores, capacidade de atendimento aos alunos, proposta pedaggica e manuteno dos equipamentos.

    Portanto, o respeito autonomia didtico-pedaggica dos sistemas educacionais foi sempre uma condio importante para que surgissem solues diversificadas, flexveis, capazes de incorporar ajustes e reformulaes adaptadas s necessidades dos diferentes segmentos sociais e alunados to heterogneos. De certa forma, foi isto que ocorreu com a maioria dos subprojetos integrantes do EDUCOM, onde cada grupo apresentou a sua proposta, tendo como base o elenco de recomendaes oferecidas pela comunidade acadmica e que serviram como referencial para anlise e julgamento das propostas. No conjunto dos projetos de pesquisa coexistiram diferentes possibilidades e alternativas de uso/aplicao da informtica na educao e que foram sendo redirecionadas em funo da evoluo dos prprios grupos de trabalho. A gerncia nacional do Projeto no impediu o surgimento de diferentes vises, na esperana de que os especialistas pudessem experimentar, comparar, diferenciar e confrontar as diversas concepes.

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    A IMPORTNCIA DE UM MODELO CONSTRUCIONISTA CONTEXTUALIZADO*

    Como foi gerada a cultura nacional? Primeiro, seu surgimento deve-se, dentre outras razes, participao, em momentos oportunos, da comunidade acadmica-cientfica nacional na definio de polticas e estratgias a serem adotadas pelo setor. Segundo, a construo de conhecimento baseado na realizao de algo concreto, de uma experincia concreta, vinculada realidade da escola pblica, ou seja, ela nasceu no local onde o produto seria utilizado. O fato da construo de um projeto de inovao educacional ter partido da pesquisa integrada extenso, antes de sua implementao em larga escala, foi de fundamental importncia, o que possibilitou, no a importao de modelos, mas sim a construo de um modelo construcionista contextualizado.

    Existem, portanto, resultados de pesquisas desenvolvidas no pais por universidades brasileiras e compete ao MEC, neste momento, solicitar esses dados s universidades, s secretarias de educao de Novo Hamburgo, So Paulo, Campinas, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitria, Belm e outras secretarias de educao que desenvolvem trabalhos relevantes na rea. Cabe ao Ministrio da Educao desenvolver, no pas, um levantamento do estado da arte e divulgar amplamente os seus resultados, tanto no mbito nacional como internacional.

    Por que o projeto EDUCOM sobreviveu mesmo sem o aporte de recursos prometidos pelo governo federal? Alm da abnegao, competncia e dedicao dos pesquisadores nele envolvidos, uma das razes encontra-se no fato do EDUCOM ter sido um projeto de pesquisa aplicada, reivindicado pela comunidade acadmica, no qual os pesquisadores reconheciam suas prprias contribuies, alm de sua implementao estar contextualizada na escola _____________________________

    * termo criado por Jos Armando Valente/ Prof . da UNICAMP e da PUC/SP.

    pblica. Foi a que foram geradas as metodologias de trabalho e no nos gabinetes ministeriais, permitindo que o projeto sobrevivesse em condies profundamente adversas, em termos financeiros. A comunidade participou de sua concepo, implementao, acompanhamento e avaliao.

    Da mesma forma, uma das razes pelas quais o sistema francs de informtica na educao apresentou um resultado global decepcionante, envolvendo tambm a compra de 100 mil computadores para serem distribudos para todos os liceus franceses, estava no fato das decises terem sido tomadas em gabinetes ministeriais e, de acordo com P. Lvy (1993) foi "escolhido material de pior qualidade, perpetuamente defeituoso, fracamente interativo, pouco adequado aos usos pedaggicos (...) limitando-se aos rudimentos de um certo estilo de programao, como se fosse este o nico uso possvel do computador." O autor ainda adverte que, em vez de conduzir um verdadeiro projeto poltico, ao mesmo tempo acompanhado e avaliado, um certo ministro quis mostrar imagens de modernizao, e no obteve, efetivamente, nada alm de imagens".

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    Uma das grandes lies a aprender que nada est decidido a priori. Para Lvy (1993), um dirigente precavido sabe que estratgias vitoriosas passam pelos mnimos detalhes tcnicos e que so inseparavelmente polticos e culturais, ao mesmo tempo, em que so tcnicos.

    UMA BOA TEORIA NEM SEMPRE GARANTE UMA PRATICA ADEQUADA

    Aprendemos tambm que uma boa teoria, muita vezes, fracassa na prtica e que nem sempre o que funciona, na prtica, para uns, funciona para outros. Da mesma forma, o que bom para um pas pode no ser adequado para o outro. O mesmo ocore para um estado, regio, municpio, ou mesmo, para uma escola. Da a importncia e necessidade dos projetos serem contextualizados, especialmente no que se refere capacitao de professores.

    Disto decorre que, a anlise das experincias desenvolvidas no pas e no exterior alertam para o fato de que, qualquer inovao educacional, para ser aceita, necessita ser planejada a partir de interesses, necessidades e aspiraes de sua comunidade. Os projetos precisam ser contextualizados, estar em sintonia com os interesses de comunidades regionais e locais, incluindo aqui a proposta pedaggica. O respeito aos valores culturais, scio-polticos e pedaggicos da realidade condio "sine qua non" para garantia de sucesso de qualquer empreendimento. O produto de qualquer empresa para ser aceito, precisa responder aos interesses de sua clientela.

    "SMALL IS BEAUTIFUL"

    O reconhecimento por parte do MEC de que as propostas dependem do interesse de cada Estado, em funo das condies de formao de suas equipes, da capacidade de manuteno de equipamentos e envolvimento de outras instituies colaboradoras, foi um fator importante nessa parceria. Procurou-se, desta forma, atender a uma das recomendaes da comunidade acadmica no sentido de comear pequeno e crescer gradualmente em funo da capacidade operacional de cada secretaria de educao e das possibilidades de capacitao de professores requeridas por esse tipo de trabalho. Vale a pena esclarecer que a expanso dos projetos de informtica educativa foi sempre solicitada pelo Estado e no uma imposio do Governo Federal.

    COOPERAO, DIALOGO E CO-CRIAO

    A experincia desenvolvida no pas, alerta-nos para a importncia do dilogo que dever existir entre as trs esferas do poder pblico e a compreenso de que a transio,

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    independente da natureza do empreendimento, seja empresarial ou educacional, requer mudanas de valores, ou melhor uma transformao em nossos valores, em busca de uma melhor compreenso da qualidade dos relacionamentos, j que o novo paradigma, a partir de sua viso sistmica, exige o funcionamento em rede. Uma rede de relaes, uma teia de conexes e interaes. Qualquer administrador que tentar permanecer em posies rgidas, pouco flexveis e dialgicas, dificilmente alcanar o sucesso desejado. Um projeto de inovao tecnolgica requer uma mudana essencial na viso de mundo subjacente toda estrutura educacional envolvida no processo. Por outro lado, no adianta o MEC dialogar ou construir uma proposta em conjunto com as secretarias estaduais de educao, se essas mesmas secretarias no adotam essa mesma postura em relao s secretarias municpais e s escolas.

    O modelo cientfico da atualidade lembra que qualquer construo sempre coletiva, que nossa evoluo e ser sempre coletiva, em todos os nveis reas, destacando a importncia de se adotar novos conceitos e princpios de administrao voltados para a cooperao, a solidariedade, o respeito e a ateno entre os parceiros alinhados em torno de uma viso comum e de objetivos compartilhados.

    A mudana de valores implica em abertura, dilogo, flexibilidade, horizontalidade nos processos, conscincia de qualidade, orientao voltada para o atendimento aos interesses do aluno, alm do reconhecimento da dimenso estratgica do tempo, reforando a importncia do reconhecimento do momento em que as oportunidades acontecem.

    Independente do porte ou dimenso de qualquer projeto educacional, para que haja garantia de sucesso, Ministrio da Educao, universidades, secretarias, escolas e comunidades de pais e professores devem ser vistos como parceiros, co-autores, co-criadores do processo. Todas essas organizaes existem para oferecer sociedade os servios educacionais que elas necessitam, mas um servio de qualidade. A parceria implica em que as decises devam ser tomadas em consenso, mediante uma comunicao aberta e franca, onde todos somos aprendizes de algo que no conhecemos.

    A imagem autoritria do lder como "chefe que d ordens" simplista e inadequada ao momento presente. Est fora do paradigma atual, velha e arcaica. A liderana est entrelaada formao de cultura. Da a importncia de reconhecermos a cultura existente em qualquer organizao, dar forma sua evoluo como condio essencial para que a liderana ocorra. Novos papis de liderana exigem novas habilidades de lideranas para a construo de uma viso de totalidade, o que tambm requer o reconhecimento de que tudo est em movimento, em processo, algo que no tem fim. O compromisso com o sucesso do empreendimento no pode ocorrer somente entre alguns nveis de uma organizao, mas deve envolver todos os participantes nos mais diferentes nveis, desde dirigentes ministeriais, estaduais e municipais, equipes tcnicas, professores, at alunos e comunidades de pais.

    SEM VONTADE E DECISO POLTICA AS COISAS NO ACONTECEM

    Uma das lies duramente aprendidas, embora possa parecer bvia para muitos, que no adianta termos um belo planejamento no papel, modelos sistmicos bem elaborados, belas

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    teorias fundamentando o projeto, rubrica oramentaria disponibilizando recursos, pois as mudanas e transformaes dependem tambm de um campo individual e no-material de energia viva, como nos alerta o bioqumico Rupert Shaldracke. Palavras e nmeros no papel so componentes materiais, enquanto idealismo, vontade, decises e compromissos polticos, envolvem aspectos imateriais, algo que est no indivduo e so estas coisas que movimentam o mundo, que o leva adiante, que coloca as energias necessrias em movimento para que as mudanas ocorram. Se o dirigente tem viso mope, descompromissado com a comunidade, ou sem viso estratgica em relao direo em que o mundo se movimenta, no adianta ter recursos financeiros disponveis, pois fatalmente sero desviados para outras atividades mais condizentes com o seu grau de miopia e interesses pessoais. Por outro lado, no adianta ter vontade poltica sem poder de deciso sobre a alocao de recursos. Uma coisa depende da outra.

    Foi o que observamos tambm no acompanhamento de todo este processo, pois apesar de existir uma poltica de informatizao da educao brasileira concebida sistemicamente, preocupada com questes relacionadas contextualizao dos projetos e atividades, prevendo conexes e possibilidades de integrao entre os vrios subsistemas, envolvendo aes de cooperao tcnica e o reconhecimento internacional, na prtica, tudo isto no garantiu uma adequada operacionalizao do Programa. O mesmo ocorreu aps a conquista de uma rubrica no oramento da Unio, que ficou disposio dos interesses de novos dirigentes, na maioria das vezes insensveis questo, nem sempre preocupados com a educao. Se muita coisa deixou a desejar nesta rea, deve-se, sobretudo ao descompromisso e viso mope de alguns dirigentes ministeriais, alm de interesses velados de empresas nacionais e estrangeiras procurando desestabilizar o desenvolvimento da pesquisa nacional e a operacionalizao das aes em andamento, em funo de interesses mercadolgicos.

    A VERDADEIRA MOTIVAO ENDGENA AO SISTEMA

    Ao optar pelo investimento em pesquisa, buscou-se construir um processo de mudana mediante o desenvolvimento de um progresso lgico que fosse da descoberta de um modelo sua utilizao. Um modelo que integrasse teoria e prtica, possibilitando processos de descoberta, elaborao, produo e difuso do conhecimento gerado. Partiu-se do pressuposto de que a universidade deveria postar-se diante dos fatos, puxar a histria, construir conhecimentos prprios adequados nossa realidade, que ajudassem a planejar e avaliar as chances de sucesso em relao entrada de computadores na escola pblica brasileira. Acreditava-se que a universidade deveria estabelecer o primeiro dilogo crtico e criativo com a nossa escola, elaborar um modelo prprio com propostas de interveno baseadas em processos emancipatrios, de acordo com a realidade nacional. E foi isto que aconteceu. Diferentes modelos foram construdos, implementados e testados em vrias secretarias de educao, universidades e escolas tcnicas federais, e que, alm de sobreviverem, tambm se multiplicaram, independentes da ausncia de aportes tcnicos e financeiros por parte do Ministrio da Educao, que durante grande parte do tempo, aps sua implantao, ausentou-se do processo.

    E mesmo assim, os centros sobreviveram e foram se multiplicando. Novos professores foram sendo formados e engajando-se no processo. As secretarias foram aume