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Informação Rural para Pequenos Produtores Flávia Batistela Tonin Resumo Avaliar como os pequenos produtores de 14 municípios da região de Itapetininga, no interior de São Paulo, se informam sobre notícias rurais foi o objetivo desta pesquisa. A metodologia utilizada baseou-se na leitura teórica sobre o tema, levantamento de dados do local e entrevistas com lideranças. Na região pesquisada, a partir dos dados, constatou-se que os pequenos produtores, aqueles com uma propriedade média de 50ha e baixa produtividade, têm difícil acesso à informação. Primeiro porque não há veículos voltados a suas necessidades e segundo por características próprias do produtor como individualismo, desconfiança e desinteresse. A comunicação entre as pessoas é método mais eficaz para transmitir informação. Entre os meios de comunicação conhecidos, o rádio já foi um dos principais veículos, porém foi superado pela audiência da televisão e sua programação de massa. Notícias impressas tem uma eficiência reduzida pela baixa escolaridade do tipo de produtor em pesquisa e difícil divulgação. Em qualquer iniciativa de comunicação três variáveis devem ser levadas em consideração: o interesse do público, o comprometimento das lideranças e o cuidado com a estruturação e informações da mensagem. Objetivos O objetivo da pesquisa é avaliar como os pequenos produtores rurais da região de Itapetininga, no interior de São Paulo, se informam sobre notícias ligadas ao meio rural. Pretende-se entender como é o perfil deste produtor, como são as relações entre eles, avaliar os veículos existentes e qual o resultado que proporcionam quanto à informação rural. Depois de estudada a região pretende-se sugerir algumas idéias que possam orientar para a produção de um veículo que atenda as expectativas de comunicação e traga bons resultados. Metodologia Para delimitação do objeto de estudo que contasse com número representativo de pequenos produtores rurais, a pesquisa utilizou como parâmetro a divisão feita pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo em Escritórios de Desenvolvimento Regionais (EDRs). As divisões compreendem municípios com características físicas, econômicas sociais e de produção semelhantes, o que facilitaria o trabalho. O EDR de Itapetininga foi escolhido por contar com cerca de 80% de produtores rurais com pequenas propriedades e uma produção por unidade não tão significativa, o que os caracteriza como de pequeno porte. Inicialmente foi feita a pesquisa junto às fontes teóricas para discussão sobre a definição de rural e a comunicação no meio rural, principalmente o jornalismo nos últimos anos. Já na descrição da região, a fonte oficial mais atualizada encontrada foi o Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária (Lupa) – estatísticas agrícolas do Estado de São Paulo 1995/96, organizado pela Coordenadoria e Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (SAA). Foram executadas entrevistas semi-estruturadas com as lideranças da região que participassem de alguma organização rural. Elas foram selecionadas por estarem em maior contato com os produtores e contarem com informações práticas do dia-a-dia rural. Por ser uma pesquisa

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Informação Rural para Pequenos Produtores

Flávia Batistela Tonin Resumo

Avaliar como os pequenos produtores de 14 municípios da região de Itapetininga, no interior

de São Paulo, se informam sobre notícias rurais foi o objetivo desta pesquisa. A metodologia utilizada baseou-se na leitura teórica sobre o tema, levantamento de dados do local e entrevistas com lideranças. Na região pesquisada, a partir dos dados, constatou-se que os pequenos produtores, aqueles com uma propriedade média de 50ha e baixa produtividade, têm difícil acesso à informação. Primeiro porque não há veículos voltados a suas necessidades e segundo por características próprias do produtor como individualismo, desconfiança e desinteresse. A comunicação entre as pessoas é método mais eficaz para transmitir informação. Entre os meios de comunicação conhecidos, o rádio já foi um dos principais veículos, porém foi superado pela audiência da televisão e sua programação de massa. Notícias impressas tem uma eficiência reduzida pela baixa escolaridade do tipo de produtor em pesquisa e difícil divulgação. Em qualquer iniciativa de comunicação três variáveis devem ser levadas em consideração: o interesse do público, o comprometimento das lideranças e o cuidado com a estruturação e informações da mensagem. Objetivos

O objetivo da pesquisa é avaliar como os pequenos produtores rurais da região de Itapetininga,

no interior de São Paulo, se informam sobre notícias ligadas ao meio rural. Pretende-se entender como é o perfil deste produtor, como são as relações entre eles, avaliar os veículos existentes e qual o resultado que proporcionam quanto à informação rural. Depois de estudada a região pretende-se sugerir algumas idéias que possam orientar para a produção de um veículo que atenda as expectativas de comunicação e traga bons resultados. Metodologia

Para delimitação do objeto de estudo que contasse com número representativo de pequenos produtores rurais, a pesquisa utilizou como parâmetro a divisão feita pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo em Escritórios de Desenvolvimento Regionais (EDRs). As divisões compreendem municípios com características físicas, econômicas sociais e de produção semelhantes, o que facilitaria o trabalho. O EDR de Itapetininga foi escolhido por contar com cerca de 80% de produtores rurais com pequenas propriedades e uma produção por unidade não tão significativa, o que os caracteriza como de pequeno porte.

Inicialmente foi feita a pesquisa junto às fontes teóricas para discussão sobre a definição de rural e a comunicação no meio rural, principalmente o jornalismo nos últimos anos. Já na descrição da região, a fonte oficial mais atualizada encontrada foi o Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária (Lupa) – estatísticas agrícolas do Estado de São Paulo 1995/96, organizado pela Coordenadoria e Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (SAA). Foram executadas entrevistas semi-estruturadas com as lideranças da região que participassem de alguma organização rural. Elas foram selecionadas por estarem em maior contato com os produtores e contarem com informações práticas do dia-a-dia rural. Por ser uma pesquisa

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exploratória com objetivo de avaliar a informação na região não houve necessidade de instituir hipóteses para comprovação.

Capítulo I – O meio rural 1.1 - Rural X Urbano

Pode parecer simples a delimitação entre rural e urbano para aqueles que pretendem iniciar um estudo sobre qualquer um desses ambientes. A idéia básica é: quem mora na cidade é urbano e aqueles que vivem no campo são classificados como rurais. Porém, esta diferença não é tão fácil. Existem muitas características específicas que interferem na definição desses dois universos. A opinião é confirmada pela pesquisadora Maria Isaura Pereira de Queiroz (1978:46), quando diz que um dos maiores problemas dos pesquisadores que desejam limitar seus trabalhos seja no meio urbano ou rural no Brasil, é a definição. “Não se trata de uma delimitação fácil e, desse ponto de vista, os estudiosos das ciências humanas compartilham de uma situação que é geral na problemática sociológica”. Ou seja, a delimitação não está restrita apenas a residência dessas pessoas, mas a um conjunto de características que formam seu ambiente e sua personalidade.

Para ela (1978:51), a divisão de uma disciplina nos qualificativos de rural e urbano serve somente para fins didáticos e de pesquisa. “Significa que, ao estudar processos e equilíbrios de regiões e de sociedades globais, a perspectiva será a dos grupos agrários ou a dos grupos urbanos, predominantemente, mas não exclusivamente.” Ou seja, o meio rural não pode nunca ser estudado em si mesmo, mas deve ser visto como parte de um conjunto social, e de mesma forma os estudos urbanos. "Os processos que se dão entre ambos, e que devem contribuir para sua melhor definição, são da mais alta importância, pois poderão dar o diagnóstico mais seguro do que constitui hoje a estrutura global brasileira", completa.

Para explicar como se deu esta relação de interdependência no Brasil, é preciso que seja feita uma avaliação desde o início da formação do país. A colonização brasileira pelos portugueses contribuiu para que a diferenciação entre rural e urbano não fosse tão imediata como na América espanhola. Os Espanhóis quando vieram colonizar sua “parte de direito” no novo mundo depararam com uma sociedade já organizada, principalmente no México. Como conta Pereira de Queiroz, (1978:276) os espanhóis encontraram uma civilização complexa e já formada com tecnologia desenvolvida e partiram para a dominação utilizando a guerra.

Para os portugueses o problema foi diferente. Eles não tinham uma civilização já organizada para dominar, mas um território imenso que deveriam ocupar para que garantissem a sua posse. Pereira de Queiroz comenta que a população era relativamente pouco numerosa, dispersa, estruturada em grupos de pequeno porte, de tecnologia pobre, nômades e, portanto, desconheciam as cidades. Além disso, os centros urbanos não se faziam necessários, a Coroa Portuguesa preferiu fragmentar o território entre donatários de grandes porções de terra. Não houve o favorecimento a criação de cidades, mas a dispersão dos colonos. Pereira de Queiroz (1978:280) diz: “criou-se, assim, um ritmo de vida que foi específico da sociedade brasileira durante largo tempo, (...) ritmo composto por períodos sucessivos de concentração da população nas cidades e nas vilas nos momentos de festas religiosas ou de algum acontecimento marcante e a dispersão pelas propriedades rurais”.

No Brasil, a primeira idéia de diferenciação entre campo e cidade foi conseqüência da vinda da Corte Portuguesa para o país em 1808. “Viver na cidade passou a ter valor, na medida em que se confundia com “viver na Corte”, em contato com os “grandes” do poder”, explicou Pereira de Queiroz (1978:281). A intensificação da diferença entre campo e cidade veio 14 anos depois com a independência do país. O ato exigiu uma ampliação rápida da administração pública e uma nova importância às capitais das províncias.

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A economia rural financiou o crescimento e desenvolvimento do meio urbano. O capital excedente proveniente das monoculturas, principalmente o café, geraram capital que foi investido na cidade, principalmente para que os padrões, costumes e cultura européias pudessem ser "copiados" pela elite dominante que detinha este excedente. Pereira de Queiroz (1978/59) explica que: “O desenvolvimento do café constituiu a base do processo para as áreas do Rio de Janeiro e de São Paulo em fins do século XIX. (...) Não é possível, pois, compreender o desenvolvimento ou não de uma cidade brasileira, nessa época, sem investigar a que meio rural pertence”. Como conseqüência do atendimento às novas necessidades, a agricultura também desempenhou importante papel na industrialização, principalmente como, financiadora, concentradora de mão-de-obra e geradora de um mercado de bens de consumo. "A dialética da complementaridade, que definira as relações, no Brasil, entre meio agrário e meio urbano, passou finalmente a definir também as relações entre industrialização e movimento agrário, dois fluxos aparentemente contrários, mas que na verdade se afirmam pouco a pouco um em função do outro", diz a pesquisadora (1978:288). Com a prioridade da sociedade pelo meio urbano e suas atribuições, pouco a pouco houve uma inversão de dominação do urbano pelo rural, para a submissão do rural pelo urbano. "Enquanto, no período anterior, o termo independente economicamente fora o setor agrário, que gerava capital para o setor industrial, neste segundo momento, o setor industrial é o termo independente gerador de capital", diz Pereira de Queiróz. (1978/289). Como exemplo pode-se ilustrar com a modificação tecnológica dada as produções agrícolas, transformando até sua maneira de cultivo, para que o produto atenda a demanda industrial. Além da saída de investimentos de pessoas da cidade para o campo.

A industrialização e o uso de tecnologia são vistas como determinantes para a situação "atrasada" do rural e a "modernidade" das áreas urbanas. Para Pereira de Queiroz (1978:265), existe esta visão, pois os pesquisadores não tiveram o costume de considerar as relações de dependência e influência mútua entre campo e cidade, mas verificaram paralelamente como estes universos se desenvolveram. Essas pessoas, acabaram por "considerar que se tratavam de duas sociedades bastante díspares, que podiam se interinfluenciar, porém que constituíam duas ‘coisas’ de essência diversa, que não se misturavam, ou quando se misturavam, os elementos rurais constituíam ‘sobrevivências’ no meio citadino, os elementos citadinos constituíam ‘inovações’ no meio rural. Tinham-se sempre em mente o ‘atraso’ da sociedade rural em relação à sociedade urbana". Esta colocação de problemas era similar as relações imaginadas entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, entre metrópoles e colônias.

A pesquisadora resolve essa questão dizendo que estas colocações "defeituosas dos problemas sociológicos" foram tomadas por base, pois partiram de um raciocínio dedutivo e não do exame da realidade e preocupação com as características sociais.

Para José Graziano da Silva (1999:03), a dicotomia entre urbano e rural está ligada a procurar representar, as classes sociais que contribuíram para o aparecimento do capitalismo ou a ele se opunham na Europa do século XVII, e não propriamente ao corte geográfico. "É a partir daí que o urbano passou a ser identificado como novo, com o progresso capitalista das fábricas, e os rurais como o velho e o atraso no sentido que procuravam impedir o progresso das forças sociais", diz Silva.

Restringindo a pesquisa para as explicações sobre o "atraso rural", Benno Galjart (1976:57) sugere que as idéias de "tradicional" e "moderno" não explicam a falta ou presença do desenvolvimento agrícola. Ele afirma que os agricultores não tinham o desenvolvimento agrícola por "deixarem de lado as inovações, mas pela ausência de cooperação e solidariedade, pela falta de responsabilidade pelas facilidades e serviços que tinham em comum com os outros e pelo ideal de se transformarem em grandes proprietários que se tornariam ricos por algum tipo de monocultura".

Galjart aconselha que esses dois conceitos sejam deixados de lado para que o estudo seja feito em cada caso em especial, avaliando os fatores sociológicos que impedem o desenvolvimento. Ele

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classifica os fatores em três categorias: Ignorância (produtor rural que não sabe fazer outra coisa além daquelas que têm feito até agora). Impotência (ele sabe o que poderia fazer, mas é incapaz de fazê-lo, quer por razões financeiras quer por outras razões). Desinteresse (ele sabe o que deveria fazer, e objetivamente pode fazê-lo, mas não quer; certos valores e atitudes o retém). De acordo com ele, essa característica podem ser combatidas, respectivamente, com disseminação do conhecimento, mudanças estruturais referentes ao crédito e doutrina cultural.

1.2 - O Rural

Apesar da interdependência, campo e cidade mantiveram traços que lhes são peculiares em períodos antigos ou contemporâneos. "Eles apresentam-se como dois fatos que podem ter áreas que se recobrem, enquanto outras permanecem distintas; que ora convergem em seus processos internos, ora divergem; que as vezes se associam em complementariedade e outras se opõem. Mas através de todos estes fluxos e refluxos, mantém sua identidade", disse Pereira de Queiroz (1978:308).

Com o passar do tempo é possível verificar algumas diferenças quantitativas e qualitativas entre os dois universos - rural e urbano. Em um análise, Pitirim Sorokin, Carlo Zimmerman e Charles Gaalpin (1981:198) explicam que "muitas diferenças entre o mundo rural e o mundo urbano tornam-se bastante claras em estágios mais adiantados de desenvolvimento". Eles salientam que a diferenciação não ocorre a partir da definição de uma característica sociológica apenas, mas de um conjunto de elementos semelhantes que constrói a realidade de cada mundo.

A primeira diferença apontada é a maior atividade das pessoas do meio rural com trabalhos agrícolas em comparação com as pessoas urbanas, porém, será constatado adiante que esta é uma característica que está se modificando na sociedade rural. Apesar da alteração que será vista no ramo de atuação, a maioria das pessoas continua trabalhando com agricultura e residindo nos mesmos lugares. As áreas que vivem contam tradicionalmente com maior espaço e não sofrem com os limites das construções como na cidade. Em conseqüência, os habitantes rurais carregam uma relação mais direta com a natureza e também estão mais expostos as flutuações climáticas.

Por ter sua origem na atividade agrícola, a concentração das pessoas no campo é menor do que na cidade. O trabalho agrário requer do agricultor um pedaço considerável de terra para que possa trabalhar. A atividade agrícola exige um cuidado intensivo do lavrador, não permitindo que ele se concentre em regiões distantes ao seu campo de plantio. "Por isso existe, e sempre existiu, uma correlação negativa entre o tamanho da comunidade e a percentagem da população ocupada na agricultura", informaram os pesquisadores em texto elaborado (1981:202). O que nos permite concluir que no campo a densidade populacional é menor do que na cidade. Outro dado apontado pelos pesquisadores é que a comunidade rural tende a ser mais homogênea em suas características psico-sociais do que a população das comunidades urbanas. Entende-se como características psico-sociais a linguagem, crenças, opiniões, tradições, padrões de comportamento entre outros. Sorokin, Zimmerman e Gaalpin (1981:203) argumentam que a cidade é composta pela mistura de migrantes de áreas extraordinariamente diferentes, além disso, o que influencia na heterogeneidade de características psico-sociais urbanas são a maior estratificação social e divisão de trabalho da cidade. Os pesquisadores comentam que no campo não existe tanta diferenciação das pirâmides que descrevem a sociedade, pois a comunidade agrícola não mantém e "envia para a cidade" os indivíduos que se tornam excessivamente ricos ou pobres, ou que aspirem fama e atividades que a comunidade rural não pode proporcionar.

A mobilidade, desde ir ao trabalho ou viajar nas férias, mudar de casa ou emprego e classe social é mais intensiva na comunidade urbana do que na rural. Os autores consideram que a população rural também muda menos de emprego do que a maioria da população urbana, isso quer dizer que existe uma herança de trabalho dos pais para com os filhos. Outro ponto proposto é que as instituições

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que poderiam fornecer uma circulação vertical para o indivíduo estão na cidade. "Mesmo que alguns casos um indivíduo, enquanto permanece no campo, obtenha sucesso acumulando dinheiro ou fazendo algo proeminente, tal indivíduo, para se tornar realmente proeminente tem que obter a ratificação da cidade", explicam os pesquisadores (1981:207).

Uma das características mais marcantes da população rural é sua relação interpessoal mais intensa do que nas cidades. "Uma vez que as comunidades rurais são menos volumosas e menos densamente povoadas e que a sua população é menos móvel, é de se esperar que o número de pessoas distintas que um agricultor encontra e com quem ele estabelece um contato intencional ou não, intensivo ou extensivo, e no número de contatos por indivíduo, deva ser muito inferior àquele de um urbanita". Os moradores urbanos têm maior número de relações porque a cidade nasceu pela necessidade de interações e troca. Porém, apesar da maior relação com as pessoas, a tendência do morador urbano é que suas relações sejam mais impessoais do que um indivíduo rural, pelo número de pessoas, curto tempo de convivência e grau de importância que dá a cada uma. Suas relações estão marcadas por uma maior superficialidade, padronização e mecanização. Os pesquisadores concluem (1981:223): “O sistema de interação de um urbanita é superficial e totalmente mecânico. Ele deixa escapar o mais importante, a personalidade e individualidade humana, ou o "corpo e alma" do homem. O sistema de interação rural é menos diversificado externamente e tem um número menor de padrões (...). Ele é mais carregado de uma inseparável atitude emocional, trazida à tona pelas peculiaridades do indivíduo em interação”.

1.3 - Novo Rural

Mantendo este perfil discutido pelos pesquisadores, com o passar do tempo e em conseqüência principalmente das modificações econômicas do país, o rural brasileiro se transformou e apresenta-se em blocos que não são restritos apenas as características agrícolas. José Graziano da Silva divide o "novo rural" em quatro subconjuntos: Primeiro em uma agropecuária moderna baseada em commodities, chamado agribusiness brasileiro. Depois, um conjunto de atividades de subsistência que giram em torno da agricultura rudimentar e criação de pequenos animais, que visa manter relativa a superpolução no meio rural. Eles são seguidos por um conjunto de atividades não-agrícolas, ligadas à moradia, lazer, atividades industriais e prestação de serviços e, finalmente, um grupo formado pelo conjunto de novas atividades agropecuárias visando nichos específicos de mercado. "O meio rural brasileiro já não pode mais ser analisado apenas como um conjunto das atividades agropecuárias e agroindustriais, pois ganhou novas funções, agrícolas e não-agrícolas. (...) Um novo ator social desponta nesse novo rural: as famíias pluriativas que combinam atividades na ocupação de seus membros", comenta Silva (1999:X).

O pesquisador justifica a mudança dos rumos do rural brasileiro de uma forma muito simples e convincente. Ele compara a População Economicamente Ativa (PEA) agrícola com a PEA Rural. (A população rural compreende a população agrícola além de outras atividades não-agrícolas). De acordo com os dados das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domicílios (PNADS) relativos aos anos de 1981, 1986 e 1990 o crescimento da PEA Rural é superior a PEA Agrícola, especialmente na segunda metade dos anos 80. No período de 1981 a 1990, a PEA agrícola registrou um crescimento de 0,6% ao ano (a.a.), com taxa negativa nos últimos quatro anos. Já a PEA não-agrícola apresentou um crescimento de 4% a.a. Contrariando aqueles que imaginam que a porcentagem agrícola foi a mesma da porcentagem de pessoas que residem no campo, o crescimento da PEA Rural foi de 1,9% a.a., já a população urbana teve um aumento de 3,6% a.a.

Outra informação que ilustra a mudança das atividades rurais, precisamente do estado de São Paulo, é a distribuição da PEA Rural de acordo com os principais grupos de ocupação nos anos de 1981 a 1990. O produtor agropecuário registrou uma queda de 2,6% a.a. e o trabalhador agropecuário um

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decréscimo de 1,6% a.a.. Já o ramo de ocupação que mais aumentou no período foi o de empresários não-agropecuários (21,6% a.a.) seguido por técnicos com 2º grau e curso superior (18,8% a.a.). Outras categorias como: jardineiros, profissionais agropecuários, trabalhador braçal sem definição, motoristas, trabalhador da agroindústria, trabalhador de comércio, serviço de asseio e vigilantes, empregado doméstico, trabalhador de hotel, bar ou restaurante e professores, apresentaram crescimento acima de 10% a.a. "Em 1990, chama a atenção o fato de que no Sudeste, mais de 40% da PEA rural já estava ocupada em atividades não-agrícolas, com destaque para serviços pessoais e agroindustriais", diz Silva (1999:17). "Como a urbanização do meio rural ocorreu em paralelo á queda dos preços dos produtos agropecuários, o aparecimento de ocupações não-agrícolas passou a ser a 'salvação da lavoura', ou seja, foi a possibilidade de obter ocupações e rendas não-agrícolas que, muitas vezes, impediu o abandono total das propriedades, especialmente pelos membros das famílias rurais", concluiu.

De acordo com o pesquisador, com a avaliação dos números é possível constatar duas idéias. Primeiro que a população rural está partindo para outras atividades além da agricultura para que possa contar com um incremento de renda em seu orçamento pois as rendas agrícolas são muito baixas. Ele informa (1999:18):

Pela análise, para todo o restante do país (excluindo a região centro-oeste) e para todos os demais ramos de atividade, as pessoas ocupadas no meio rural em ramos de atividades não-agrícolas tinham renda média maior do que a dos que trabalhavam em atividades agropecuárias, em 1990. Em alguns ramos, chegava mesmo a ser de quatro a cinco vezes maior, como, por exemplo, no caso das pessoas ocupadas em serviços auxiliares da produção e na administração pública da região sul. (...) No sudeste as rendas médias rurais alcançavam até 37% mais do que as atividades agropecuárias. Para o conjunto do país esse valor é de 32%, ou seja na média as rendas rurais superam em quase um terço a renda per capita das atividades agropecuárias.

A intenção de apresentar estes números é mostrar que a renda das atividades agropecuárias está entre as menores remunerações que se pagavam no país em 1990 e a possibilidade de pluriatividade com ocupações não-agrícolas era fundamental para elevar e também estabilizar as rendas das pessoas residentes no meio rural em todo o país.

Aliado ao problema econômico que desestimulou a atividade, existe a adoção de tecnologias que reduziram drasticamente o emprego no campo e redução da área cultivada. Silva (1999:90) comenta: “O lado perverso do desenvolvimento da agricultura também é marcada pela competição desenfreada, refere-se ao fato de que, ao se conseguirem grandes produções (supersafras) via aumento da produtividade (da terra e do trabalho), muitos agricultores, principalmente os pequenos, e os trabalhadores rurais acabam sendo excluídos do processo produtivo e encontram enormes dificuldades para serem reabsorvidos pelo mercado de trabalho, seja rural ou urbano”.

Geralmente as pessoas, sem perspectiva vêem a possibilidade de renda nas atividades urbanas, porém, as únicas tarefas nas quais conseguem emprego são trabalhos que exigem baixa qualificação, como serviços domésticos, construção civil, pequenos comércios entre outros. "Quando um trabalhador rural é despedido de uma fazenda, tem que arrumar uma outra para morar. Essa migração rural-urbana passo de pequenas cidades do nosso interior é, geralmente, o primeiro passo de uma longa caminhada sem volta rumo à periferia dos grandes centros urbanos do país", explica Silva.

A redução das atividades agrícolas também é fruto das "novas atividades rurais". Silva comenta (1999:17): “A atual crise agrícola - que se traduz por uma queda dos preços das principais commodities, como suco de laranja, café e grãos, e do valor dos imóveis rurais - impôs limites à expansão as tradicionais atividades agropecuárias. Nesse contexto, ganham importância as 'novas atividades rurais' altamente intensivas e de pequena escala”

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O termo “novas” foi colocado, por que as atividades descritas, apesar de já apresentarem um conhecimento antigo, elas não tinham importância econômica até poucos anos. Entre elas estão: piscicultura, criação de aves nobres, rãs, outros animais pra corte, produção orgânica de ervas medicinais, produção orgânica para o mercado internacional diferenciado, produção de verduras e legumes para as redes de supermercado e de fast food, entre outras. Capítulo II - Comunicação Rural 2.1 – Modelos técnicos

A comunicação, de acordo com David K. Berlo,(1997:13) é tudo aquilo que traz uma significação, como fala, escrita, gestos, expressões, ilustrações, ações, símbolos etc. Seu campo de ação é tremendamente amplo e há possibilidade de utilizar as mais variadas formas de atuação para que ela seja implementada. Alguns dos exemplos citados por ele são os jornais, revistas, oratórias, teatro, redator de propaganda, conselheiro de relações públicas, diretor de rádio, televisão e cinema; técnico em audiovisuais, pesquisador de opinião e atitude entre outros.

Ele explica que para se aproximar do conceito de comunicação é preciso entender o comportamento humano. Assim que o ser começa a perceber as coisas, “começamos a influenciar, bem como ser influenciados; a determinar nosso ambiente, bem como sermos determinados por ele.” Em seguida há o início a participação em organizações como família, grupo de amigos, igreja, comunidade etc. “Atuamos uns sobre os outros. A comunicação é a base desta ação recíproca entre os homens”. Belo afirma (1997:21): “Especificando mais: nosso objetivo básico é reduzir a probabilidade de que sejamos simplesmente um alvo de forças externas e aumentar a probabilidade de que nós exerçamos força. Nosso objetivo básico na comunicação é nos tornar agentes influentes, é influenciarmos outros”

A comunicação rural no início em que foi efetivamente aplicada, na década de 50 e 60, assumiu de maneira clara essa posição de “agente influenciador”. O modelo aplicado, chamado difusionismo, entendia comunicação e desenvolvimento quase como sinônimos. Valdir de Castro Oliveira conta que, na época, os inúmeros estudiosos e instituições de desenvolvimento apontavam a comunicação como uma importante variável no processo de modernização da sociedade, particularmente a rural. “Acredita-se que uma maior disponibilidade de meios e mensagens pedagogicamente trabalhados e dirigidos aos agricultores poderia contribuir significativamente para estimular, melhorar e diversificar as lides agrícolas e, conseqüentemente, promover a modernização no campo”, explica Oliveira. (1988:37)

Briant E. Kearl (1979:02) descreve que no processo de difusão, cada pesquisa era dirigida para o delineamento de etapas através das quais os indivíduos, presumidamente, passam, para adotar uma inovação agrícola. Primeiro há o conhecimento, interesse pelo tema apresentado e avaliação; há uma pequena tentativa e em seguida a adoção. A modalidade de comunicação – difusão – teve origem nos Estados Unidos da América, na década de 1940 e tinha por objetivo fornecer subsídios para as práticas de extensão rural no país.

O modelo difusionista é fortemente baseado na idéia do local “atrasado” que recebe todos os benefícios do pólo “moderno”. Uma das principais características, que depois sofreu muitas críticas, é a idéia de comunicação de “fora para dentro”. O modelo era baseado em um processo vertical e unidirecional. Oliveira (1988:39) comenta que o sistema rural era considerado como um pólo passivo e depositário das técnicas e idéias da modernização externamente definidas. Kearl (1979:05) com citações de V.M. Dandekar também critica a comunicação vertical. “O conhecimento tradicional é autoritário, no sentido de que é manipulado de cima para baixo, de uma geração à seguinte, pela tradição da autoridade. De outro lado a ciência moderna é experimental (...). Esta diferença entre conhecimento tradicional e ciência é, provavelmente, esquecida pelos agentes oficiais da extensão (...) o que acaba transformando o conhecimento científico em tradicional.”

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A difusão de informação não pode ser verticalizada. Deve-se conhecer o produtor para saber as informações mais adequadas para atingir o público. De acordo com Liane Matzenbacher em Semear notícia para colher desenvolvimento (2000: 34): “O emissor não é mais o senhor absoluto que defendo o poder, mas sim aquele que discute, ouve e está atento ao seu público, uma vez que este tem o direito de ser informado, mas também o direito de opinar e exigir o que lhe interessa, desenvolvendo desse modo, sua cidadania e direito a liberdade de pensar, de articular, de agir e de reagir, conforme suas convicções”. Prestar atenção na audiência é um dos princípios de comunicação defendidos por Berlo (1997:26). “O objetivo e audiência são inseparáveis. Todo comportamento de comunicação tem como objetivo a obtenção de uma reação específica de uma pessoa específica (ou grupo de pessoas)”. Ele explica que a única justificação para a existência da fonte, para a ocorrência da comunicação é o receptor, alvo de tudo o que é destinado. “Quando escrevemos, o leitor é que tem importância. Quando falamos, é o ouvinte que importa. A preocupação com o receptor é um princípio orientador para qualquer fonte de comunicação”, conclui Berlo. (1997: 59)

Segundo Kearl (1979:06), o processo de difusão falhou em gerar “tanto a rápida modernização da agricultura tradicional quanto um rápido crescimento em produção agrícola”. Ele afirma que os agricultores ficaram impedidos de aceitar inovações, devido a falta de uma tecnologia adaptada à suas possibilidades e recursos financeiros. Outra observação de Kearl (1979:05) foi a pouca importância dada ao trabalho de retro-alimentação. “A retro-alimentação era utilizada para modificar mensagens e não os programas. Pouco era feito para encorajar os agricultores a testarem as práticas recomendadas, com a legítima intenção de deixar sua experiência exercer uma influência nas recomendações práticas, no suporte de instituições ou nos investimentos em pesquisa.”

As críticas dos estudiosos latino-americanos surgiram nas décadas de 60 e 70, informa Oliveira. As considerações tinham dois enfoques básicos. Primeiro que os difusionistas não consideravam os fatores estruturais e políticos das sociedades desenvolvidas e as especificidades culturais do meio rural. Segundo a mecanicidade da comunicação.

Paulo Freire, lembrado por Oliveira (1988:41), diz que a concepção de comunicação na extensão não passa de uma técnica para transmissão unilateral de informações de um pólo a outro. Outos autores citados que concordam com ele são Luiz Ramiro Beltran e Juand Díaz Bordenave (1988:41). O primeiro diz que a corrente difusionista seguia premissas, objetos e metodologias cujo referencial teórico pouco ou nada tinham a ver com a realidade da América Latina. Já Bordenave afirma que tanto as pesquisas como as práticas comunicacionais estiveram mais ligadas à manutenção do status quo do que à perspectiva de transformação estrutural da sociedade.

A partir desta idéia principal – transformação estrutural – os estudiosos propõem um novo modelo com ênfase para a participação. Ele era destinado à área de comunicação para o desenvolvimento, envolvendo diferentes meios de fazê-lo com um denominador comum que era a prática e mudança social. Freire como João Bosco Pinto, também citado por Oliveira, afirmam a importância da participação enfatizando que ela “não deve ser compreendida apenas num sentido funcional e normativo no conjunto da sociedade, mas em sua dimensão conscientizadora e libertadora. Com essa perspectiva, as classes subalternas não recebem passivamente o conteúdo da comunicação, mas constroem (conjuntamente com o agente social) um discurso comum”.

De acordo com Oliveira (1988:44), o modelo baseia no tri-pé: rejeição a comunicação massiva convencional e manipuladora. Busca de formas alternativas de comunicação que propiciem o diálogo e a conscientização dos setores populares. E, por fim, a comunicação como instrumento de transformação estrutural da sociedade. Experiências práticas foram aplicadas em diferentes entidades e lugares como a iniciativa de Mário Kaplun, no Uuguai, com sistema de gravadores de áudio entre os agricultores.

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Sistema parecido com o uso de video, no Peru. No Brasil, Oliveira cita as iniciativas no Vale do Jequitinhonha, MG, pelo curso de comunicação social da PUC/MG.

Porém, a transformação estrutural contou com uma acolhida reservada que não passou de pequenos focos no mapa das ações institucionais. Apesar de não atingir o objetivo e criticar o difusionismo, o modelo de transformação também veio contra a comunicação abrangente dos Meios de Comunicação de Massa (MCM). Nas observações de Oliveira (1988:43), Frank Gerace Larufa afirma que os MCM estavam nas mãos dos opressores e que os conteúdos transmitidos guardavam uma grande distância em relação à realidade concreta vivenciada tanto por camponeses como setores populares. Em 1978, no I Seminário Latino-Americano de Comunicação Participatória, promovido pelo Centro de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal) já se concluiu que “os meios massivos de comunicação não só eram nefastos – política e culturalmente – às classes subalternas, como não ofereciam possibilidades de participação dessas classes no processo comunicacional”.

Outras críticas são aplicadas aos MCM como forma de comunicação no meio rural. Estudiosos levantam outro ponto negativo ligado à prioridade econômica, no qual os MCM são vistos muito mais como uma vitrine cuja maior importância era a comercialização. Oilveira (1988:44).

Com influência ainda do caráter mercadológico, Kearl (1979:07) atenta que o público alvo dos MCM são as audiências urbanas. Em seu texto, ele cita John Fett para explicar sobre como as deficiências afetam o conteúdo agrícola dos MCM na América Latina. “Os veículos são, geralmente, orientados para o meio urbano. O controle dos meios tende a estar nas mãos de pessoas com pouco entendimento e, às vezes, pouca simpatia por lavradores e seus problemas. Mesmo os meios interessados em agricultura tendem a ser mais dedicados aos interesses dos industriais de insumos agrícolas, autoridades do governo e compradores de produtos agrícolas, do que ao produtor mesmo”. No plano acadêmico, de acordo com Oliveira, a decorrência do desenvolvimento econômico do país, nos anos 60, levou ao surgimento de uma crescente literatura sobre o assunto. Assim, deixou-se de estudar apenas um aspecto da realidade comunicacional para ver outros aspectos da comunicação. Com isso, a comunicação rural ganha espaço nas universidades. A partir do final da dos anos 70, as discussões sobre o tema começaram a se tornar mais escassas. Oliveira, levanta a hipótese de que a comunicação rural não ficou isenta aos modismos que marcam a área. “O caráter volúvel de determinadas práticas e correntes teóricas contribuiu para que não fossem aprofundadas as discussões e questões da comunicação rural. Lamentavelmente em um momento rico quando, verificamos o fim do regime militar e, simultaneamente, um boom na oferta de mensagens para o meio rural, principalmente pela televisão”, diz o pesquisador (1988:49). Para concluir ele diz que “se considerarmos que uma das funções precípuas da Universidade é apontar tendências e contribuir para encontrar respostas para os problemas e indagações da sociedade, podemos afirmar que a área de comunicação rural deixou muito a desejar”.

A apresentação dos modelos de comunicação tem por objetivo apresentar características do público e contextualizar para aquilo que já foi trabalhado. O foco desta pesquisa é a comunicação jornalística, ponto que será abordo com as discussões atuais. 2.2 - Veículos de comunicação

Entre os meios jornalísticos tradicionais de comunicação conhecidos televisão (rádio, jornal e internet), o rádio era o que mais atingia os produtores do meio rural. Os pesquisadores César Calônio, Cláudia Santos e Giuseppa Spenillo afirmam (1998:76): “No âmbito da comunicação o rádio desponta como um veículo de amplas possibilidades graças as suas características peculiares, como os baixos custos de produção; as condições físicas necessárias à audiência; alcance da transmissão, de mais fácil captação (...) Junte-se a isso a realidade das camadas populares em nosso país, que são em sua maioria, compostas por pessoas analfabetas ou semi-alfabetizadas”

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Porém, Sérgio Caparelli, citado pelos autores acima (1998:87), afirma que o rádio não se presta mais a sua função educativa. “O rádio rural constitui uma maneira da população que vive no campo tomar contato com informações sobre o que acontece nas cidades (...) Como os programas das rádios rurais não costumam adequar-se às características das comunidades locais, pode-se dizer que a programação tem um caráter massivo, pasteurizado. Além disso, não há espaço para a participação popular, que poderia contribuir na transformação das programações”. Para Jair Borin, (2001:55), no texto Brasil rural na virada do milênio- visão de pesquisadores e jornalistas, com as facilidades que a energia elétrica proporcionou, mesmo a regiões mais remotas, o rádio perdeu sua característica de grande mídia para a população rural. “De manhã, ao acordar, o trabalhador escuta pouco o rádio. Em geral, a estação local passa um programa caipira, de humor. Depois, um informativo, de abrangência regional, com poucas pautas e mal apurado. Mas à noite, após o retorno do trabalho, é televisão direto”. Assim, a penetração da televisão e sua programação massiva tornaram-se o principal meio de comunicação. Borin completa dizendo que, “mesmo em áreas rurais mais remotas, se a família tem acesso à energia, ela procura uma parabólica para sintonizar um canal de televisão, por que só assim as pessoas só fazem parte da sociedade”. Além disso, os meios de comunicação têm como objetivo principal a audiência urbana, o que será apresentado em páginas seguintes. Já os jornais não atingem as populações rurais, pela dificuldade de leitura e acesso dos produtores que residem no meio rural. Outro ponto que interfere na comunicação rural é a influência de outros meios para a comunicação rural. Não são meios de comunicação propriamente ditos, mas exercem grande influência como agentes comunicadores no setor. Sobre as instituições religiosas, Maria Salett Tauk Santos, citada no livro Políticas de Comunicação Rural nos Anos 90 (1998:53), afirma que foi grande a colaboração que a igreja Católica deu ao projeto difusionista modernizador do governo brasileiro, assumindo, inclusive, as funções de agente de extensão rural. Os filhos, também são vistos como uma porta para atingir o produtor rural. “Dentro de um mesmo sistema social alguns de seus componentes, representados no caso, pelos filhos dos agricultores, podem assumir com eficiência o papel de organizadores e integradores, contribuir para o crescimento e o desenvolvimento potencial do grupo e, portanto, serem aproveitados para determinadas ações de capacitação”, conclui o Suzana Perry (1997:20). A partir de um estudo feito com jovens de uma comunidade em Goiás, em um das conclusões, ela (1997:21) viu que "na medida que começaram a construir reputação, sua comunicação com os adultos tornou-se mais fácil, dando-lhes coragem para ampliar sua demonstração de conhecimentos. Perry afirmou também que o comportamento do jovens sofre um entusiasmo de "altos e baixos", o que é preciso ser levado em consideração.

2.3 - O jornalismo rural hoje Um das maiores discussões sobre a deficiência do jornalismo rural atual está na prioridade que os meios de comunicação, que se propõem a cobrir o rural, dão a determinados setores da cadeia produtiva. A opinião é expressa em um texto do Ministro dos Estados do Desenvolvimento Agrário de 2001, Raul Betens Jungmann Pinto, também incluído no documento Brasil rural na virada do milênio – a visão de pesquisadores e jornalistas. Ele comenta que no Brasil o jornalismo especializado está quase na totalidade relacionado ao campo patronal e, de uma forma geral “o campo aceito é o patronal, tecnológico, ligado à exportação e à grande escala” (2001:06). Jungmann comenta que é preciso um esforço para mostrar a importância da agricultura, o que não implica em um manifesto antipatronal, pois há espaço para os dois grupos. O que não é bom, segundo ele, é o preconceito que ainda impera sobre a agricultura familiar. Ele acredita que uma forma de chamar a atenção para a sua importância é mostrar alguns pontos importantes e cita como exemplo a geração de empregos.

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Outra crítica direcionada aos meios de comunicação destinados a este segmento é a pouca profundidade em que tratam o tema. Ricardo Abramovay (2001:25)comenta no mesmo texto de discussão que: “A imprensa peca pela superficialidade quando discute temas relacionados ao desenvolvimento rural em seu conjunto, fixando-se apenas no debate sobre o protecionismo.” Para Cláudio Cerri (2001:32) a imprensa especializada “hesita diante de uma fronteira cada vez mais difusa e se acomoda. Esse tipo de jornalismo é pouco questionador em seu conjunto e se contenta com um espaço cada vez mais desprestigiado dentro das empresas e no mercado editorial”. Além disso, ele lembra que a maioria dos veículos vê apenas o jornalismo como um entroncamento de safras e insumos. Um dos únicos veículos que dá margem para o rompimento com esta visão reducionista é o programa Globo Rural da TV Globo. Cerri comenta (2001:63): “De qualquer forma, a crise de identidade no jornalismo rural não poupa logotipos ou tiragens. É generalizada. As empresas de comunicação, de uma forma geral, têm dificuldade compreensível de enxergar a urgência de um reposicionamento profundo nesse segmento”.

Já José Eli acredita que o problema não é tanto em relação ao jornalismo especializado. Para ele é mais importante pensar caminhos que ajudem os meios de comunicação a passar para a sociedade em geral uma visão menos distorcida da realidade rural, pois estas prejudicam a formulação de políticas para o desenvolvimento rural.

Cerri e Ulisses Capozoli justificam a grande importância dada aos números de safras e insumos com a origem do jornalismo rural. Eles lembram que o jornalismo rural é uma variante do jornalismo econômico, que se expandiu após o “milagre econômico” no regime militar. Portanto, a abordagem deste tipo de jornalismo é elitista e economicista, voltada aos interesses dos grandes grupos econômicos. Além disso, Jair Borin (2001:54) afirma que o jornalismo nasceu nos centros urbanos e sob os interesses dos moradores desses centros que eram elitistas.

O jornalismo brasileiro, até o início do século XX, se expressava em poucos jornais, editados em algumas das principais cidades (...) Em geral, os grandes jornais, como O Estado de São Paulo, eram fundados por grupos de produtores de café, ou de empresários ligados ao comércio. Esses jornais refletem apenas os interesses dessas oligarquias, mas não cobrem o interior do país, onde estava implantada a base produtiva dessa economia. Ela só olhava a economia pelo ângulo dos grandes proprietários e corretores de café e não pelo lado de quem está envolvido diretamente na produção. Padecemos desse mal até hoje. A nossa imprensa, dita do interior, do ponto de vista de conteúdo, é inexpressiva.

Além da visão elitista, para Borin (2001:57) diversas análises comprovam que a mídia persegue o espetáculo. “A espetacularização da notícia acaba favorecendo essa visão urbana da sociedade, com destaque para a violência, o crime, a droga, o consumismo, o adolescente agressor etc. No meio rural, como estes problemas não ocorrem com tanta intensidade, sua cobertura é marginal na imprensa”. Outro ponto é a visão equivocada que assimila rural a um meio atrasado. Borin (2001:54) comenta também que é muito difícil que o jornalismo passe a se preocupar mais com o mundo rural, pois existe um preconceito da imprensa como um todo. “Há um preconceito na grande imprensa, que identifica o rural com o atraso social. (...) Fora das áreas de grande exportação, a agricultura praticamente não existe. O rural social é retratado como o conflito entre um trabalhador retrógado, que teima em provocar o governo, ou o caipira atrasado e supersticioso”. O jornalista afirma que a agricultura “de fundo de quintal” torna-se uma preocupação a partir do momento que ela infringe as questões ambientais, o que é uma visão importada dos Estados Unidos e Europa. Para Borin, a visão nacional seria tentar compreender que há uma massa de famílias que querem continuar no campo e ter uma atividade compensadora.

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Para alterações, o privilégio de uma cobertura mais ampla enfrenta diferentes problemas. O mais óbvio e simples é a sustentação financeira dos veículos. A quem vender anúncios? Por exemplo, para Borin, não há um programa jornalístico que faça a interação entre o centro de pesquisa, a extensão e o usuário desses benefícios decorrentes do avanço tecnológico e desperte interesse comercial. “Falta dinamizar essas informações, mas tenho dúvida se alguém vai querer patrocinar isso”, afirma (2001:56).

Porém, Cerri (2001:63)acredita que as dificuldades “são terríveis, mas não intrasponíveis”. A hegemonia do agribusiness já não é absoluta e o produtivismo a qualquer custo já não é mais aceito sem questionamento. Esse modelo barateou custos dos alimentos, mas foi responsável por situações de calamidade e pânico sanitário. Problemas como a febre aftosa e encelofapatia espongiforme (vaca louca) que destruíram principalmente os rebanhos europeus chamaram a atenção para este ponto. “Em outras palavras, a ‘vaca louca’ desvelou a lógica louca e exclusiva do lucro na produção de alimentos (...) Depois da ‘vaca louca’, o rural nunca mais era olhado como um mero entroncamento de safras e insumos. A crise dos rebanhos europeus devolveu-lhe a dignidade de um elo redescoberto entre a saúde do homem e da natureza. Isso muda tudo”, afirma Cerri. Capítulo III – EDR Itapetininga 3.1 - A região

A região escolhida para a pesquisa foi delimitada pelo Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Itapetininga, município localizado a 170 km da capital, no sudoeste do Estado de São Paulo. Além de Itapetininga, O EDR compreende os municípios de Alambari, Angatuba, Campina do Monte Alegre, Capão Bonito, Cesário Lange, Guareí, Porangaba, Quadra, Ribeirão Grande, São Miguel Arcanjo, Sarapuí, Tatuí e Torre de Pedra.

Os dados mais atualizados encontrados sobre a região foram do Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária (Lupa) – estatísticas agrícolas do Estado de São Paulo 1995/96, organizado pela Coordenadoria e Assistência Técnica Integral (Cati), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado (SAA). Segundo o Lupa, a EDR conta com uma área total de 10.782 Unidades de Produção Agropecuárias (upas), o que corresponde a uma área de 653.979,50 hectares. O tamanho médio das propriedades é de 60,65 ha sendo que a grande maioria se concentra em unidades com menos de 100 ha. No total são 9.647 upas, ou 89,47%, com menos de 100 ha, equivalente a uma área total de 198.065,70 ha. Dessas, 8.647 upas são formadas por uma área de até 50 ha. A maior concentração está nas propriedades com de 20 ha a 50 ha (2.328 upas). Existem 961 unidades de até 500 ha e 174 com mais de 500 ha. O valor médio de produção da EDR de Itapetininga é de R$ 259.272.960,41, o que equivale a 2,56% do montante produzido no Estado, de acordo com as safras de 1997/1998 e 1999. Com essa participação a região se coloca na 17ª posição entre 35 EDRs em que São Paulo se divide. O produto mais representativo da região, na safra de 1998/1999, foi a batata com 25%, seguida pelos citros (10,85%), feijão (10,04%), frutas (9,30%), hortaliças, cebola e alho (8,40%), milho (8,19%), ovos (7,87%), carne bovina (5,43%) e aves (4,97%). Nas safras anteriores (1996/1997 e 1997/1998) os produtos não alteram a colocação de participação, apenas oscilaram no montante produzido.

Em número de animais, em 1996, a região contava com 33.448 cabeças de bovinos dividas em 7.464 upas. Além dos bovinos, a avicultura também tem relevante representatividade na região com 15.455.691 cabeças locadas em 836 propriedades para corte e 1.368.090 cabeças em 1.571 unidades para produção de ovos. Os eqüinos são a quarta maior representação em número de animais com 17.893 cabeças divididas em 4.424 propriedades. Quanto a participação em entidades as informações apontam que 6,75% dos produtores pesquisados fazem parte de cooperativa; 8,02% participam de associações e 20,68% estão envolvidos em sindicatos. Quanto à assistência técnica 63,14% não recorre

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a qualquer tipo de ajuda e apenas 6,56% aproveitam de crédito agrícola. Sobre o nível escolar, 40% concluíram o primário (primeiros quatro anos do ensino fundamental), 7,55% concluíram o ensino fundamental; 8,17% completaram o ensino médio e 14,45% tem curso superior completo.

3.2 - Os produtores

A divisão dos produtores em pequenos, médios e grandes é basicamente definida pelo tamanho da propriedade. Porém, este não é o único parâmetro que deve ser analisado. A produtividade por área, dependendo da cultura, também é um dos fatores que interferem para definir a categoria em que um produtor se enquadra. Justificativa semelhante, é feita por Ávila, Oliveira & Contini (1987: 5) citado em O Produtor Rural de Rui Fernando Frota Tendinha de Pimentel Teixeira,

Pode-se concluir que o pequeno produtor se caracteriza não por uma, mas por um conjunto de qualificações. Pode-se destacar, porém, como as mais importantes, o tamanho da propriedade, associado ao baixo nível de renda. Estas duas características, todavia, deixam de ser absolutas para se tornarem relativas. Assim, um agricultor com pequena área, mas que utiliza alta tecnologia, e que se integra ativamente com o ambiente socioeconômico não pode ser considerado pequeno.

O diretor da Cati na região, José Manuel de Vasconcelos, afirma que a totalidade dos produtores pode ser divida em três categorias: os pequenos que praticamente vivem de subsistência e dificilmente têm acesso à cultura ou financiamentos, também são conhecidos como produtores de agricultura familiar. (neste trabalho será utilizada a expressão “pequenos produtores” para referência àqueles que têm uma propriedade de área relativamente pequena, até 50 ha, e produção baixa). Os médios que participam de atividades, são mais esclarecidos e atuantes e, os grandes produtores. Esses já estão integrados ao "mundo globalizado" e a competitividade. Teoricamente, os primeiros teriam até 100 ha, os médios até 500 ha e os grandes acima deste valor.

Como o foco deste trabalho são os pequenos produtores, será dada uma idéia geral, apenas para contextualização dos médios e grandes. Eles apresentam características semelhantes, o que os difere é a quantidade produzida, capital investido e grau de profissionalização. Geralmente os proprietários que formam esse grupo não moram na zona rural. Eles têm residência na cidade próxima de sua propriedade ou em outro município em que desenvolvem sua principal atividade de renda. Esses produtores são agentes e, na grande maioria das vezes, buscam por suas necessidades. Eles têm técnicos contratados (veterinários, zootecnistas, agrônomos etc) e também contam com o respaldo das empresas de insumos que os abastecem com informação técnica e inovações.

Geralmente, este grupo tem as melhores terras pela aspecto de produtividade. Como têm o respaldo técnico, informação e recursos, eles buscam manter a qualidade, com tratamento adequado para que os solos não sejam desgastados. Na região os grandes se concentram em atividades com citricultura, bataticultura, plantação de cana e milho, além de pecuaristas de corte, o que varia em cada município dentro do EDR. A atividade leiteira também tinha muitos adeptos com grandes investimentos, porém, com as crises enfrentadas pelo produto nos últimos anos, os pecuaristas leiteiros partiram para outra atividade.

Os grandes e médios não são ligados a associações de produtores ou grupos para alavancar os negócios. A informação jornalística rural que já existe no mercado chega com facilidade a esses produtores. Pois eles têm o costume de acompanhar os jornais impressos, que na maioria publicam pelo menos algumas páginas semanais sobre agricultura e pecuária. Além disso, têm acesso a programas de televisão da rede aberta, como Globo Rural, e também canais cuja abrangência é restrita ao sinal e assinatura de seus usuários como Canal Rural, Canal do Boi e outros programas específicos. O acesso a revistas e informativos também estão entre os veículos que fazem parte da "formação rural" destes produtores, além de sites especializados no setor.

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De acordo Vasconcelos, 80% dos proprietários rurais da região podem ser classificados como pequenos produtores. Fisicamente cada propriedade é formada, em média, por 60% de pasto com baixa produtividade, 20% de agricultura e o restante é coberto por mata e área inaproveitável. A produção é diversificada para atender a demanda de subsistência. O donatário tem algumas vacas mistas (animais mestiços usados tanto para leite como corte) de baixa produção, porcos, horta, pomar, animal de tração, aves poedeiras etc. Além do básico para o sustento da família, o pequeno agricultor investe em um único produto de mercado que, teoricamente, seria responsável pelos lucros da propriedade.

Não há a preocupação em cuidados com a degradação dos pastos e outras tecnologias que os produtores maiores utilizam. Uma das causas é a falta de recurso, pois o pequeno não conta com sobra de dinheiro para investir e aprimorar seu negócio. Segundo estatísticas dos líderes regionais entrevistados em Quadra e Cesário Lange, a renda familiar média de uma propriedade rural é de R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais) mensais. Apesar das diferenças de cada município dentro do EDR, a realidade do produtor em geral não é muito diferente. Os entrevistados comentam, que apesar de o morador rural ter custos reduzidos, se comparado com um urbano, o valor médio recebido é baixo para atender as necessidades de toda família. Além de que os gastos aumentaram com a chegada de novos recursos como energia e telefone, porém, o mesmo não aconteceu com sua receita.

Uma das alternativas para o problema econômico seriam os financiamentos. Porém a busca por iniciativa do produtor é quase nula. Primeiro pela burocratização das entidades de crédito, cujo homem rural de pequena escala não encontra muitas facilidades. Em segundo lugar, os líderes comentam, que com o baixo retorno da atividade, há um desestímulo para continuar investir e produzir. Arriscar a propriedade em uma operação financeira é uma das últimas alternativas que os produtores aceitam. Eles têm medo de perder o único bem que lhes resta.

Com a perspectiva pessimista e necessidade de melhorar a renda, as primeiras a deixar a propriedade são as mulheres, tanto as filhas como as esposas. As esposas não saem definitivamente de casa, apenas procuram um trabalho para complementar a renda da família. Já as filhas, com 15 ou 16 anos, deixam a propriedade para a busca de uma vida que atenda suas vontades. Elas têm acesso a televisão o que incute uma necessidade diferenciada daquela prevista por seus pais. Assim, partem para a cidade. Com a vinda, os empregos que conseguem são os mais simples. Normalmente, a filha começa a trabalhar como empregada doméstica e dentro das possibilidades mora no emprego. Quando já está mais ambientalizada à vida urbana, ela inicia um curso noturno e, às vezes, parte para outras atividades. Torna-se atendente de loja, secretária, funcionária pública de serviços simples entre outros exemplos.

Os próximos a deixar a propriedade são os filhos. Eles são atraídos pelos mesmos motivos das moças, além da necessidade de buscar uma esposa, já que com a fuga das jovens, o ambiente torna-se mais masculino. No novo desafio, tanto os homens como as mulheres sofrem com a falta de competitividade que apresentam frente às pessoas que já se formaram e estão acostumadas com a realidade urbana. Eles tentam o sucesso e têm a chance de ser bem sucedidos. Quando conseguem, dificilmente voltam para o campo. Se os pais insistirem em permanecer na zona rural eles ajudam no sustento e assim que falecerem, a propriedade é vendida. Há aqueles que não conseguem bons resultados na vida urbana e retornam para a propriedade rural com a auto-estima enfraquecida.

Na maioria das vezes, os pais não impedem os filhos de sair de casa. A falta de perspectiva faz com que os incentivem a estudar e “ser alguém na vida”. Por mais que tenham vontade de que seus sucessores continuem na propriedade, pensam: "se ficarem aqui serão como eu". Além disso, o fato da esposa trabalhar fora traz novas idéias para casa. Ela tem contato com um mundo diferenciado, de outras perspectivas e remuneração e acredita que os filhos devem investir neste “novo mundo”.

Os líderes comentam também, que além da falta de estímulo que os filhos vêem na atividade dos pais, as escolas não contribuem para que as crianças se estabeleçam na atividade rural e tomem gosto por ela. Não há mais escolas rurais, mas estabelecimentos localizados nas zonas rurais ou uma

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boa rede de transporte para a cidade. Todos preparam as crianças para uma vida urbana. Os entrevistados afirmam que não há obrigatoriedade curricular de matérias específicas para atender este público. "Você acha que a escola da cidade vai perder tempo ensinando associativismo. Ela está em outra realidade", argumentou Vasconcelos. Com o "êxodo jovem", as pessoas que se mantêm na propriedade são mais velhas, cuja média de idade é superior aos 50 anos. Muitos produtores sem retorno financeiro e sem o entusiasmo dos filhos abandonam a atividade para adotar a vida urbana. Eles vendem tudo o que dispõem para que possam morar na cidade. Normalmente, compram uma pequena casa na periferia das cidades e tentam se adaptar. Como pagam preço alto pela diferença de costumes e estabilidade financeira, grande parte não consegue se manter na vida urbana e acabam voltando para o campo. Porém, eles deixam de ser produtores para se tornarem empregados de fazendeiros maiores. Há também aqueles que migram para a cidade, mas não vendem suas terras. Eles arrendam a propriedade para grandes produtores e deixam de ser ruralistas. Assim, acabam vivendo da renda da locação da terra e os filhos são criados na vida urbana. Como exemplo, em Cesário Lange, grande parte das propriedades é utilizada pelos grandes canavieiros. De acordo com os líderes da região, o valor que tiram mensalmente com arrendamento não receberiam se continuassem na propriedade. Na concepção dos entrevistados, esses ex-produtores não voltarão mais para as atividades rurais, nem seus filhos.

Não são todos que deixam a atividade rural. Na verdade isso ocorre em último caso, quando esgotaram todas as possibilidades de sustento com a terra. O que muitos persistentes fazem é a dupla jornada. Continuam trabalhando em sua propriedade, porém para aumento de renda ficam parte do tempo como empregados em sítios e chácaras vizinhas. Outra fonte de renda alternativa são os períodos de colheita em que os grandes proprietários necessitam de mão-de-obra para o trabalho. Há também o movimento contrário de pessoas da cidade que investem no campo o que juntaram e acreditam na possibilidade de ter uma vida mais tranqüila. Esses, junto com os grandes produtores já estabelecidos, são os compradores de terra e empregadores de mão-de-obra. Porém, muitos pecam pelas expectativas exageradas.

A opinião entre os entrevistados é unânime: "Só conseguirão manter a auto-suficiência os pequenos produtores se associarem. Aqueles que resistirem, em pouco tempo, serão extintos". O associativismo e o cooperativismo são as principais idéias pregadas pelos líderes de diferentes instituições para manter o produtor rural no campo. O desafio das instituições é não deixar que o homem do campo saia da atividade que sabe e gosta de fazer para tentar a vida na cidade.

O maior problema enfrentando é a ausência de cultura cooperativista e associativista entre os produtores. Um dos motivos apontados é o traço individualista do produtor rural. Para os líderes essa é uma característica cultural que atravessa gerações, principalmente por que ele aprendeu que o dono de uma propriedade rural precisa ser auto-suficiente. Porém, os entrevistados lembram que a idéia de auto-suficiência foi difundida em um modelo econômico diferente do que se vive atualmente. Antes os vizinhos eram concorrentes e disputavam o mesmo mercado local. Hoje, eles precisam se profissionalizar e se estabelecer como empresa para atingirem outros mercados. A comunidade local deixou de ser abastecida só por eles para receber produtos de diversas regiões e países.

Outro ponto contra o associativismo é a desconfiança do produtor. Ele demora a aceitar que as atividades estão sendo feitas em seu benefício. Além de que pela idade avançada o ruralista pretende encontrar sozinho a solução. Para ele, às vezes, é difícil acreditar em uma técnica totalmente desconhecida pela família ou pelos vizinhos, ou em um “técnico” que aparece em sua propriedade. O que falta para os produtores da região é organização para que possam usufruir de políticas agrícolas que existem e atendem apenas grupos organizados. Se eles não se organizarem não há como conseguirem o mínimo apoio técnico quanto mais equipamentos e subsídios. O trabalho na maior parte da região esta na fase de conscientização dos produtores. Fala-se em maioria, pois no município de São

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Miguel Arcanjo, formado em grande parte por migrantes japoneses, a organização já está avançada. Com a vitivinicultura forte, os produtores perceberam que só teriam força no mercado se agissem em coletividade. Prova do trabalho é a representatividade da cultura de uva na região, de acordo com o Lupa cerca de 700 unidades produtivas trabalham no cultivo de uvas de comer em uma área de 1.061,20 ha. Na concepção desta pesquisa, mesmo com área reduzida, esses agricultores não são vistos como pequenos. Eles já contam com alta produção, acesso a informação e tecnologia graças à organização. O interessante é que seus filhos não buscaram outras atividades, mas aprofundaram-se em profissões técnicas para continuar o trabalho. Voltando para a maioria, a conscientização é a etapa em que os líderes das entidades da região investem no momento. A escolha do tema deve ser cuidadosa. É essencial que os organizadores conheçam muito bem as atividades já desenvolvidas nas propriedades, pois o produtor não investirá em algo novo, que precisará iniciar o cultivo. Seu primeiro passo será testar a técnica no produto excedente e com bons resultados de sua propriedade ou de seus vizinhos ele colocará a atividade em prática. O desenvolvimento e incentivo de lideranças locais também são fundamentais. Além de reunir e motivar as pessoas com a empatia pessoal o líder tem uma credibilidade indiscutível no meio em que está inserido. Outro ponto levantado para acelerar o processo de associativismo é a participação dos “novos investidores urbanos”. Por virem para o campo com uma "cabeça mais aberta", eles aceitam os programas e acabam incentivando os vizinhos. As ações são voltadas a todos os produtores, com maior preocupação aos jovens rurais. Os entrevistados comentam que os jovens têm mais ânimo e disposição para acreditar em novas atividades e com melhores perspectiva irão se manter nas atividades agropecuárias. O trabalho de incentivo a união de produtores desenvolvido pela Cati é dividido em três etapas: a divulgação e levantamento das características do local, incentivo para que se desenvolvam os projetos na propriedade e acompanhamento até que a associação caminhe sozinha. O município de Itapetininga conta com cerca de 2 mil unidades produtivas e inicialmente o trabalho está implantado em apenas dois grupos, de 60 produtores cada, para que desperte o interesse de outros. O trabalho também é realizado por associações e sindicatos rurais das cidades da região. As cidades menores não contam com entidades já estabelecidas, porém aqueles que querem participar estão presentes em municípios vizinhos. A inspiração para muitas destas entidades e produtores vem de experiências dos Estados do sul do país. Basicamente, a idéia é formar grupos de agricultores familiares que procurem produzir em maior escala e agregar valor a determinado produto da agroindústria. 3.3 - Como eles se informam Os entrevistados acreditam que existe informação suficiente para abastecer os produtores o problema é como chegar até eles. A opinião de todos é que a forma mais eficaz para divulgar informação técnica é a ainda é a comunicação interpessoal. Como exemplo, para palestras técnicas há o convite por meio de malas diretas ou programação de rádio, porém é preciso que o "alguém influente" no bairro passe de casa em casa para que apresente o evento, discuta com o produtor e faça com que ele sinta-se compromissado a ir. A dependência da comunicação interpessoal é conseqüência da característica de desconfiança já abordada. As reuniões técnicas são as principais fontes de informação sobre novas tecnologias e pesquisa para os produtores. Se ele participar de todos os eventos organizados pelas diferentes entidades que trabalham com o homem do campo, ou seja, Cati, Sindicatos Rurais, Associações de Produtores e empresas do setor, há pelo menos um encontro sobre determinado assunto por mês para os interessados. O problema enfrentado pelos organizadores é esse: "os interessados". Com a desconfiança e auto-suficiência do produtor é difícil atraí-lo para o evento. Um dos principais fatores que está em

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testes é o horário ideal para cada reunião. Normalmente as palestras são realizadas fora do horário de trabalho. Acontecem durante a semana no período noturno, pois o sábado é dedicado a família. Além do convite pessoal, pelo líder da região ou pela disponibilidade de alguém da entidade promotora, o organizador utiliza características conhecidas do perfil do produtor para despertar o interesse. Às vezes ele comenta que um amigo estará presente, portanto, ele não ficará inibido. Em outras ocasiões, fala que o concorrente estará participando e pela competitividade ele também estará presente. Outra solução, é pedir auxílio para a organização, limpeza ou outra atividade. Já as pessoas chaves de cada bairro são "intimadas" a participar. Além disso, toda a reunião conta com um atrativo festivo, geralmente um almoço, jantar, churrasco ou coquetel. Na maioria dos eventos, não há nenhum material impresso distribuído entre os participantes. Apenas algumas palestras investem na distribuição de folhetos. Eles trazem mensagens simples e de fácil entendimento, utilizando muito desenhos e símbolos conhecidos. Os produtores descritos não têm o hábito de leitura, na maioria das vezes são pessoas com formação escolar incompleta e depois que deixam a escola perdem o interesse por ler. Pelo caráter de baixa escolaridade, a eficiência de mensagens escritas é muito restrita. Além de não terem hábito de leitura, há a dificuldade de acesso ao jornal e distribuição, pois moram em propriedades rurais. Na Associação de Produtores de São Miguel, o jornal bimestral é distribuído em bares dos bairros afastados e alguns exemplares são deixados no balcão de agropecuárias, além da postagem para a lista de endereços da entidade.

Apesar de muitos acreditarem que os veículos impressos são os que menos atingem a população, existe registro de produtores que guardam e colecionam informativos ou matérias e, mesmo que não saibam ler pedem para que o filho leia a notícia. Outro ponto interessante levantado pelos entrevistados é a empatia com o público. Se a pessoa "se vê" no jornal ela presta atenção e guarda. Os suplementos agrícolas de jornais apenas chegam aqueles que moram nas cidades. O rádio ainda é o veículo que mais atinge os produtores, principalmente pela facilidade tecnológica. O produtor pode levá-lo para o trabalho diário e ligar quando achar necessário. Porém ele tem apenas o caráter informativo com notícias curtas. Para o universo rural, o rádio serve para levar recados de alguém da cidade ou no máximo o convite das entidades para algum evento. Em toda região não existe na programação das rádios nada específico para este público. As pautas são gerais e têm preocupação com os ouvintes urbanos.

Na região, além das rádios oficiais, que não são muitas, existe influência das rádios ilegais, também conhecidas como "rádios piratas". Elas não contam com informação especializada e sofrem com o difícil acesso dos organizadores, pois estão continuamente mudando de endereço. Para os entrevistados, os horários mais ouvidos pelo público rural são: logo pela manhã entre 5h e 6h, no período do almoço, próximo ao meio dia, e no final da tarde, às 19h. Porém, com a maior facilidade de acesso a televisão o rádio foi substituído pela programação de massa da rede aberta de televisão. Entre os programas assistidos, todos lembram do Globo Rural, apresentado todas as manhãs pela rede Globo de televisão. Porém, não o vêem como um veículo que interfere na vida dos produtores rurais, mas como algo que mostra o que está acontecendo em diferentes regiões. Não serve como uma alternativa de "formação" do produtor rural. O programa da rede Globo é o único lembrado pelos líderes como veículo estritamente de comunicação rural em que a maioria dos produtores tem acesso. As instituições religiosas também são utilizadas para a divulgação de eventos e reuniões no período de missas e cultos em que as pessoas estão reunidas. Normalmente é uma mensagem rápida e pontual. Assim como algumas escolas da região que passam a recados por meio dos filhos. Porém, como já foi apresentado isso acontece em poucos estabelecimentos, pois as crianças são dispersas pelas escolas da cidade.

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A região é abastecida pelos jornais de circulação nacional do país. Os principais são: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Gazeta Mercantil e o Valor. Todos apresentam páginas semanais para informar sobre as atividades agropecuárias. Há jornais locais com, semanalmente, algumas páginas sobre agricultura. Porém as notícias não têm o enfoque regional.

A maioria das revistas do segmento contam com distribuição na região (Globo Rural, DBO, Panorama Rural, A Granja, Escala Rural, Balde Branco). As rádios que têm maior abrangência na região são da cidade de Tatuí, Cesário Lange, e Itapetininga. A televisão todos os canais de rede aberta transmitem com perfeição para a cidade. O programa especializado mais assistido, como comentaram os líderes, é o Globo Rural da rede Globo, porém também há na rede Bandeirantes o Diário Rural. A região também conta com acesso ao Canal do Boi e Canal Rural. Considerações finais Diferente dos modelos de comunicação, como difusionismo e mudança estrutural, que associam comunicação a desenvolvimento ou mudança de uma sociedade, este trabalho apresenta outra concepção. Parte-se do pressuposto que a comunicação rural, mais precisamente o jornalismo tem como objetivo transmitir a informação. A maneira como a comunicação é feita e as mensagens veiculadas podem influenciar o receptor, trazer o desenvolvimento e a mudança na sociedade.

Para que o objetivo de desenvolvimento social seja atingido, a comunicação deve utilizar todas as suas formas possíveis para concluir o processo. Entretanto, na região em pesquisa, o Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Itapetininga, quase nada se aproveita da comunicação jornalística. Não há credibilidade no potencial de difusão e experiências suficientes que permitam criar maneiras corretas para atingir os pequenos produtores. Existem três variáveis que devem ser aliadas a qualquer iniciativa de comunicação: a preocupação com o público, o comprometimento das lideranças e o cuidado com a mensagem.

O público caracterizado pelos pequenos produtores rurais tem características particulares como o individualismo, desconfiança, deficiência de escolaridade, dificuldade para aceitar inovações. Portanto, a mensagem deve ser muito bem estruturada. Quando essas características não são levadas em consideração corre-se o risco de cair nos mesmos erros já cometidos, por modelos anteriores que não conseguiram chegar a um objetivo de sucesso, como citado no capítulo primeiro. As mensagens eram direcionadas ao produtor sem a avaliação de suas expectativas e necessidades. A atenção para o receptor é a chave para o sucesso do processo de comunicação.

Porém, as instituições que centralizam as estratégias não conseguem absorver todas as necessidades do público, já que são poucos para um contato direto com a comunidade. É nessa hora que entra o comprometimento do líder, pessoa de credibilidade e destaque entre os moradores de determinado bairro. Por seu conhecimento local ele pode contribuir com opiniões e sugestões. Além disso, após o material pronto o líder local também terá relevante papel na distribuição. As notícias locais devem ter prioridade na informação veiculada. Não há na região nenhum veículo com enfoque rural que tenha a preocupação em descobrir o interesse do público local, ressaltar acontecimentos da região e demandas do produtor. Os veículos regionais trazem algumas novidades locais, mas não as colocam como prioridade de pauta e investigação. Deve-se investir na comunicação local e aproveitar a empatia com o público. Compreende-se que apenas a publicação de uma foto de um produtor não é a única forma de fazer com que ele “se veja” no veículo. A divulgação de informações que abordem o seu cotidiano e interfiram no seu trabalho também contribuiriam para que ele identifique-se com o veículo proposto. Desta forma, ele poderia ver que as suas dificuldades são comuns (as mesmas de seus vizinhos) e seus problemas não estão restritos a sua propriedade. Já as notícias gerais deste setor devem ser difundidas com importância secundária, não devem ser extintas.

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Com a substituição da idéia de “pequeno produtor” para “agricultura familiar”, a preocupação para as iniciativas das entidades transferiu o foco do homem dono da propriedade para atingir toda a família. A elaboração de mensagens deve seguir a mesma linha. Constatou-se que a comunicação interpessoal no meio rural é o mais eficiente modo de divulgação de idéias e, com certeza, começa entre os membros da família. Eles são comunicadores entre si e fortalecedores das idéias que são difundidas. Com as entrevistas verificou-se que os líderes já têm consciência da importância da família e buscam desenvolver um trabalho com os filhos. Porém, além dos filhos devem pensar em outros membros da família. A mulher também deve ser foco de ações. Elas são as primeiras a deixar a propriedade, o que mostra a iniciativa de buscar por soluções mesmo tendo de enfrentar novos desafios. Além disso, as mulheres ajudam no trabalho diário dos maridos e podem ser determinantes em funções de uma agroindústria. A mídia também deve estar atenta ao crescimento das atividades não-agrícolas executadas pelos produtores para complemento de renda. O meio rural não é mais restrito a atividades agropecuárias e outros segmentos devem ser estudados para avaliar a importância que devem ter na elaboração de uma mensagem. As formas tradicionais do jornalismo (impresso, radiofônico e televisivo) ao contrário do que a maioria dos líderes acredita, podem atingir as pessoas com eficiência se adaptadas ao produtor rural. Considerar que o produtor não tem o hábito da leitura e por isso não produzir material impresso é privar o público de ampliar seus conhecimentos. Para reforçar a importância das mensagens impressas, há experiência de associações que criaram seus folhetos e tem bons resultados. Há os que colecionam para consulta ou mesmo aqueles que não sabem ler e pedem para que os filhos leiam. Com certeza, os veículos impressos não são o melhor meio para atingir diretamente os pequenos produtores, mas influenciam consideravelmente. Se as mensagens escritas forem redigidas de acordo com o público elas perderão o caráter conservador que muitas vezes espanta o leitor. As mensagens devem ser simples e diretas. Devem apresentar uma linguagem acessível ao produtor rural (sem ferir as regras da língua portuguesa), mas de uma forma em que o receptor novamente “se veja” na forma em que está escrito. Desenhos, ilustrações e imagens são alternativas para a elaboração de uma mensagem simples. Para que o jornal consiga “despertar o interesse” do público ele deve chegar até ele. A distribuição é um dos principais entraves das iniciativas para atingir o público. A solução é também se adaptar a situação de isolamento do produtor rural. Apesar da característica de pouca mobilidade física, eles têm a necessidades de pelo menos algumas vezes no mês visitarem a vila próxima, participar de movimentos religiosos, adquirir produtos para casa etc. Os locais estratégicos devem ser aproveitados para a distribuição do material informativo. Como exemplo há a idéia usada em São Miguel Arcanjo de colocar os jornais em bares rurais e casas agropecuárias. Outros locais podem ser descobertos em cada bairro e cabe ao líder local também dar a orientação. Esses aglomerados e locais também devem ser aproveitados para a difusão de informações pontuais, como já é feito nos eventos religiosos. Já o rádio é o veículo que o produto tem uma acessibilidade mais fácil, não tem o problema da distribuição periódica, mas enfrenta a concorrência da televisão. Porém, ele tem superioridade por suas facilidade tecnológica de transmissão e locomoção, além de abordar as informações locais. Durante a programação diária os dirigentes de instituições podem investir na informação pontual, com notícias rápidas sobre a entidade, eventos, cursos e campanhas. A tarefa será como uma assessoria de imprensa, para o abastecimento dos veículos com informações do setor.

Para uma programação mais específica, projetos para as rádios devem ser apresentados para o horário da manhã, por volta das 5h ou 6h. Não há pesquisas na região sobre a audiência, mas acredita-se que nesse horário há a predominância do público rural. No campo o “dia começa cedo”, pois a maioria das atividades dependem do sol. Um exemplo que pode ser tomado por base é o programa

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Globo Rural da rede Globo, o único lembrado pelos entrevistados como de informação rural, que passa todas as manhãs. Por ter alcance nacional a televisão não tem como se adaptar a necessidade local. Porém, com o crescimento das emissoras locais amplia as possibilidades de cobrir os da região.

Mesmo com o perfil de não buscar a informação, o produto precisa saber que pode obter notícias nas entidades que o atendem. Ele deve ter nas associações e sindicatos em que está filiado materiais informativos à disposição como revistas, jornais, vídeos e também acesso a internet. É uma opção caso ele precisar de algo. A partir do momento que ele for até a entidade e não encontrar alguma resposta, ele não tentará novamente. O retorno de uma mensagem bem elaborada não se restringe ao crescimento de tiragem do material, mas a disseminação de idéias que podem ajudar o agricultor a se manter na atividade. Como todo veículo, com o tempo há a conquista de seu público, pois o produto vê aquilo como fonte de informação de sua realidade. Todas as ações propostas fazem com que o produtor não se sinta sozinho, confiado aos limites de sua propriedade para resolver os problemas. O ruralista pode parecer apático no começo, mas participará de algum evento, tentará alguma iniciativa e aos poucos acreditará no que está sendo informado. Bibliografia BERLO, David K. O processo da comunicação – Introdução à teoria e a prática. 8º ed. São

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