influÊncia dos aspectos afetivos na … · prof: carly machado rio de janeiro 2010 . 1 ... e o...

45
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA APRENDIZAGEM Por: Rosana Sarpa Schöpke Soares Orientador: Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010

Upload: voduong

Post on 31-Aug-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS

AFETIVOS NA APRENDIZAGEM

Por: Rosana Sarpa Schöpke Soares

Orientador:

Prof: Carly Machado

Rio de Janeiro 2010

Page 2: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

1

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS

AFETIVOS NA APRENDIZAGEM

Apresentação de Monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para a

obtenção do grau de especialista em

psicopedagogia

Por: Rosana Sarpa Schöpke Soares

Page 3: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

2

Agradecimentos

.

Meus agradecimentos sinceros à toda a

minha família pelo amor e apoio incondicional

e à minha orientadora,, Carly Machado, pelas

dicas preciosas. À minha irmã Regina pelo

incentivo e paciência, na fase final deste

trabalho. As minhas amigas da faculdade,

Hérica, Fernanda e Zaira, por todos os

trabalhos, apoio, auxílio, estudos e diversões

que tivemos juntas. .

Page 4: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

3

Dedicatória

Dedico esta monografia aos meus amados

filhos Thiago e Diogo, ao meu neto Rennan,a

quem tanto amo, aos meus pais, irmãos e

minha nora Flávia.

Page 5: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

4

RESUMO

Este trabalho apresenta uma oportunidade para aprofundarmos o estudo

sobre os aspectos afetivos que interferem no processo de ensino-

aprendizagem, os chamados vínculos emocionais que se estabelecem desde o

nascimento e que influenciam na construção da personalidade, do auto-

conceito e da autoestima do sujeito.

A aprendizagem, na verdade, está relacionada com a articulação dos

fatores internos e externos do sujeito, portanto, torna-se um fator relevante a

postura do professor e da família ao lidar com a criança perante o erro, pois um

dos pontos que mais interferem no prazer e desejo de aprender é a forma

como os pais e professores lidam com o erro. A frustração com o erro pode

levar a criança a criar formas defensivas de rejeição da tarefa.

As teorias de aprendizagem de Piaget, Vygotsky, Freud, Wallon e alguns

seguidores correlacionam o desenvolvimento da afetividade com a

aprendizagem. É assim que o trabalho psicopedagógico busca uma melhoria

no processo cognitivo a partir da construção de um vínculo positivo que visa o

aumento da autoconfiança do sujeito.

Page 6: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

5

METODOLOGIA

O trabalho será desenvolvido a partir de um estudo qualitativo de cunho

bibliográfico em que, por meio desta metodologia, serão vistos os aspectos

afetivos e os acontecimentos históricos educacionais, tendo como ponto

fundamental a questão afetiva na formação do indivíduo e a sua vinculação

com o processo educacional.

Acreditamos que através da análise e compreensão dos estudos

realizados em livros e periódicos que tratam deste tema, proporcionaremos um

esclarecimento maior sobre a questão, de modo a oferecer melhorias no

desempenho profissional.

Algumas obras que farão parte deste estudo qualitativo são: Vencendo

as Dificuldades de Aprendizagem Escolar, de Maria Lúcia Lemme Weiss e Alba

Weis; Psicopedagogia Clínica, de Maria Lúcia Lemme Weis; Educação: A

solução está no afeto, de Gabriel Chalita e Aprendizagem, Linguagem e

Pensamento, cujos organizadores são Luiza Helena Leite Ribeiro do Vale e

Francisco Assumpção Junior.

Page 7: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

6

SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................... 4

METODOLOGIA ................................................................................................ 5

SUMÁRIO .......................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

CAPÍTULO I A INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA

APRENDIZAGEM .............................................................................................. 9

1.1 – Desenvolvimento do autoconceito e autoestima ............................... 9

1.1.1 – Sigmund Freud ......................................................................... 9

1.1.2 – Henri Wallon ........................................................................... 11

1.1.3 – Jean Piaget e Lev Semionovitch Vygotsky ............................. 14

1.2 – Protoaprendizagem relacionando-a com os estudos de Winnicott .. 18

1.3 - Aprendizagem na visão de Visca ..................................................... 20

1.3.1 - Os quatro estágios da aprendizagem na visão de Visca ........ 21

1.3.2 - Três tipos de obstáculos da aprendizagem na visão de Visca 21

1. 4 - A aprendizagem no âmbito familiar ................................................. 22

CAPÍTULO II Aprendizagem escolar e a relação professor x aluno ................. 25

2.1 – Escola como agente socializador .................................................... 25

2.2 – Modalidade de Aprendizagem ......................................................... 26

2.3 – A importância do vínculo professor x aluno ..................................... 28

CAPÍTULO III Intervenção psicopedagógica nos conflitos afetivos da

aprendizagem .................................................................................................. 34

CONCLUSÃO .................................................................................................. 40

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 43

Page 8: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

7

INTRODUÇÃO

Serão abordados, neste estudo, as contribuições de Jean Piaget, Lev

Semionovitch Vygotsky, Sigmund Freud e Henri Wallon sobre a influência dos

aspectos afetivos na aprendizagem da criança. Também levaremos em conta

as abordagens de outros psicólogos, filósofos, médicos e pedagogos que

contribuíram para o conhecimento da importância da afetividade no ensino-

aprendizagem

De fato, esta discussão é de fundamental importância. Eis porque, na

teoria psicanalítica, estudaremos o obstáculo epistemofílico que se encontra na

área dos vínculos afetivos que o sujeito estabelece com os objetos e as

situações de aprendizagem. Quando esses vínculos são inadequados podem

impedir ou dificultar a aprendizagem. Os conceitos são muitos e vão desde a

teoria piagetiana da inteligência à teoria psicanalítica de Freud.

A preocupação de Piaget, por exemplo, é com o “sujeito epistêmico”, ou

seja, é estudar os processos de pensamento presentes desde a infância até a

idade adulta. Na teoria de Piaget, a afetividade cumpre o papel de fonte de

energia para o funcionamento da inteligência.

Do século XVII até o início do século XX, a aprendizagem estava ligada

ao condicionamento, visava enquadrar o comportamento de todos os

organismos num sistema unificado de leis. Ivan Pavlov, médico russo, em 1903

publicou o resultado de suas pesquisas com cães em laboratórios e

casualmente descobriu que certos sinais provocavam a salivação e a secreção

estomacal no animal, reação que só deveria ocorrer quando houvesse ingestão

de alimentos. Esses resultados foram chamados de reflexo condicionado, que

podia ser adquirido através de experiência e poderia ter um papel importante

no comportamento humano e na educação. Essa pesquisa tornou-se a base

para uma corrente psicológica, o behaviorismo, fundada em 1913 por John

Watson.

Para Vygotsky, psicólogo russo, um dos conceitos mais importantes é o

Page 9: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

8

da Zona de Desenvolvimento Proximal, que é definida como a distância

entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da

solução independente do problema, e o nível de desenvolvimento potencial,

determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto

ou em colaboração com companheiros mais capazes. A linguagem tem o papel

de construtor e de propulsor do pensamento. O aprendizado adequadamente

organizado resulta em desenvolvimento mental. O pensamento é gerado pela

motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e

emoções. Portanto, podemos concluir que existem dois tipos de condições de

aprendizagem: as externas, referindo-se ao aspecto social, cultural em que o

sujeito está imerso, e as internas, ligadas ao corpo como organismo mediador

da ação. A dimensão afetiva é o ponto central, na psicogenética de Henri

Wallon, no ponto de vista da construção da pessoa e do conhecimento.

Diante do exposto e para elucidação da influência dos aspectos afetivos

no processo ensino-aprendizagem, são discorridos no primeiro capítulo desse

trabalho os aspectos afetivos que podem interferir no processo de ensino-

aprendizagem, as primeiras aprendizagens no âmbito familiar e a importância

desta relação para o desenvolvimento do autoconceito e autoestima. O capítulo

II discorre sobre o papel do professor e como se processa as interações na

relação professor e aluno, que envolvam a questão da afetividade na

aprendizagem. O capítulo III discorre sobre como se processa a intervenção

Psicopedagógica nos conflitos afetivos da aprendizagem.

Page 10: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

9

CAPÍTULO I

A INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA

APRENDIZAGEM

1.1 – Desenvolvimento do autoconceito e autoestima

Grandes pensadores do século passado começaram a dar atenção e

maior valor aos primeiros anos de vida do ser humano. Jean Piaget ressaltou

na infância as estruturas que possibilitavam ao ser humano adquirir o

conhecimento e a interpretação do mundo e Sigmund Freud nos apresentou o

funcionamento do psiquismo infantil, que é constituído nesta fase pela

presença do inconsciente e o relacionamento afetivo com os outros. Outros

teóricos também contribuíram com trabalhos fundamentais na Educação

Infantil, dentre eles, Jorge Visca, Lev Semenovich Vygotsky

Cada indivíduo é único e sua personalidade se desenvolve sofrendo

influências genéticas e ambientais. Cada ser participa de um contexto social,

portanto, seus conceitos também serão formados mediante as relações

socioculturais e as influências que sofrem destas relações. Os fatores que

compõem a individualidade do ser humano, além da genética, são o

background cultural, as experiências que são vivenciadas durante a vida e suas

crenças, cujos valores e princípios os particularizam como indivíduo.

No desenvolvimento humano, os aspectos da maturação são: o social,

interação do indivíduo dentro do seu meio; o cognitivo, estrutura intelectual

herdada; o físico, estrutura corpórea, herança fisiológica, e o pessoal, a

construção do eu, da nossa personalidade, o emocional. Vamos conhecer um

pouco mais sobre as teorias desenvolvidas pelos grandes pensadores.

1.1.1 – Sigmund Freud

Segundo Freud, existem três componentes da personalidade presentes

Page 11: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

10

em todos os seres humanos, o id, ego e supergo. O id é a fonte de

energia psíquica (libido) e está ligada ao princípio do prazer. Ele se apresenta

sob a forma de instintos inconscientes de natureza biológica, instinto de

sobrevivência, como a fome, a sexualidade, e impulsos de destruição,

agressividade (instintos de morte). Representa os processos primitivos do

pensamento e constitui, segundo Freud, o reservatório das pulsões.

Inicialmente, ele considerou que todas essas pulsões seriam ou de

origem sexual, ou que atuariam no sentido de autopreservação.

Posteriormente, introduziu o conceito das pulsões de morte, que atuariam no

sentido contrário ao das pulsões de agregação e preservação da vida. O id é

responsável pelas demandas mais primitivas e perversas. O ego permanece

entre ambos, alternando nossas necessidades primitivas e nossas crenças

éticas e morais. É a instância em que se inclui a consciência. Um eu saudável

proporciona a habilidade para adaptar-se à realidade e interagir com o mundo

exterior de uma maneira que seja cômoda para o id e o superego. O superego,

a parte que contra-age ao id, representa os pensamentos morais e éticos

internalizados. A teoria de Freud é que a nossa personalidade é dinâmica e

resulta de duas forças antagônicas: o id e o superego.

Durante os primeiros cinco anos de vida ocorre o processo de

estruturação da personalidade. Esse desenvolvimento se dá através de fases,

que são os chamados estágios psicossexuais.

No primeiro ano de vida, a criança se encontra na fase oral (até aos 12 –

18 meses) e obtém a satisfação por meio da sucção, isto é, as zonas erógenas

se encontram na boca. No segundo e terceiro ano de vida, a criança se

encontra na fase anal (até aos 3 anos) e o amadurecimento do comando

muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente, bem como o sentido

de propriedade relativo aos seus pertences. As habilidades motoras de andar e

falar também são desenvolvidas nesta fase e então modifica-se a sua relação

com o ambiente, tendo a criança agora de lidar com impulsos internos e as

imposições ambientais. Nessa fase o interesse da criança se concentra mais

na eliminação.

Page 12: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

11

Na fase fálica (até aos 6 anos), a criança tem os seus

interesses voltados para os órgãos sexuais e para os prazeres ligados à

exploração e manuseio deles. Nessa fase, a angústia e o medo de castração

nos meninos e o complexo de castração no caso das meninas são

denominados respectivamente como complexo de Édipo/Electra e a criança

passa a identificar-se fortemente com o cuidador do mesmo sexo.

Estabelecendo identificações primárias masculinas e femininas. Na fase da

latência (até aos 12 anos) não há uma reorganização da sexualidade, havendo,

portanto, um acalmar das pulsões. Neste período, estará mais apta a adquirir

novos conhecimentos por meio do amadurecimento intelectual. Na fase genital

(até a idade adulta), as pulsões estão direcionadas para a parte genital do

homem ou da mulher, e o prazer deixa de ser autodirigido. Os interesses

voltam-se para as outras pessoas.

A compreensão das etapas da construção da sexualidade infantil é

importante para que os adultos saibam lidar com as diversas manifestações e

conflitos que venham a surgir nestas fases. De acordo com alguns

pesquisadores que desenvolveram estudos nessa teoria, a insatisfação nessas

etapas dificulta o desenvolvimento saudável da personalidade, que se estrutura

na infância e se consolida na fase adulta.

1.1.2 – Henri Wallon

Henri Wallon, por sua vez, deu maior ênfase à dimensão afetiva, tanto

para a construção da pessoa quanto do conhecimento, iniciando-se num

período que ele denominou de impulsivo-emocional, que se estende ao longo

do primeiro ano de vida. A afetividade fica reduzida praticamente às

manifestações fisiológicas da emoção, que constitui o ponto de partida do

psiquismo.

A sua teoria da emoção é original, pensada como o instrumento típico da

espécie humana para a sobrevivência. Se não fosse pela capacidade do bebê

de mobilizar o ambiente, suas necessidades poderiam não ser atendidas.

Page 13: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

12

Prova dessa capacidade é de como o choro atua de forma intensa na

mãe. Trata-se de uma função biológica que dá origem a traços característicos

da expressão emocional. Wallon a considera social, pois ela fornece o primeiro

e mais forte vínculo entre os indivíduos e supre a falta de articulação cognitiva

do ser.

A atividade emocional é complexa e paradoxal, é simultaneamente

social e biológica em sua natureza. Realiza a transição entre o estado orgânico

do ser e a sua etapa cognitiva, racional, sendo atingida através da mediação

cultural, isto é, social.

A toda alteração emocional corresponde uma flutuação tônica:

modulação afetiva e modulação muscular acompanham-se estreitamente. A

ansiedade infantil, por exemplo, pode gerar no adulto próximo também angústia

ou irritação. Resistir a esta forte tendência implica conhecê-la, isto é,

corticalizá-la, condição essencial para reverter o processo.

Do seu caráter social resulta ainda a tendência que tem para nutrir-se

com a presença dos outros. A sós, entregue a si mesma, a manifestação tende

a se extinguir rapidamente.

A emoção traz consigo a tendência para reduzir a eficácia do

funcionamento cognitivo; neste sentido, ela é regressiva. A qualidade final do

comportamento dependerá da capacidade cortical para retomar o controle da

situação. Para Wallon, a afetividade é componente permanente da ação, e até

mesmo um estado de serenidade deve ser entendido como emocional. Se for

bem sucedido, soluções inteligentes aparecerão e a emoção, mesmo que não

desapareça por completo, ficará reduzida.

A emotividade é diretamente proporcional ao grau de inaptidão, de

incompetência, de insuficiência de meios. Na vida adulta ela costuma aparecer

nas situações adversas, nas circunstâncias novas e quando não se tem

recursos.

O circuito perverso da emoção, surge nos momentos de incompetência

e, então, devido ao seu antagonismo estrutural com a atividade racional,

Page 14: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

13

provoca maior insuficiência. A educação da emoção deve ser incluída

entre os propósitos da ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo

do seu modo de funcionamento.

O caráter contagioso da emoção vêm do fato de que ela é visível, se

apresenta para o exterior através de modificações na mímica e na expressão

facial. As manifestações ruidosas do início da infância (choro, risos, bocejo,

movimento de pernas e braços) atenuam-se, mas a atividade tônica persiste. A

emoção esculpe o corpo, imprime-lhe a forma e consistência, sendo chamado

de atividade “proprioplástica”.

Afetividade e inteligência estão misturadas, e no início, com predomínio

da primeira. A história da construção da pessoa será constituída de momentos

dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos, não paralelos, mas

integrados.

A afetividade, no momento inicial, reduz-se praticamente às suas

manifestações somáticas, é pura emoção. Trata-se de uma afetividade

somática, epidérmica, onde as trocas afetivas dependem inteiramente da

presença de parceiros.

A inteligência constrói a função simbólica, a comunicação se beneficia,

alargando o seu raio de ação. A linguagem é incorporada em sua dimensão

semântica, primeira oral e depois escrita. Instalando-se o que podemos

denominar de forma cognitiva de vinculação afetiva.

A construção do Eu é um processo inacabado e persistirá sempre,

dentro de cada um, o que Wallon chama de “fantasma do outro”. Este drama

ocupa o quarto, quinto e sexto ano, com manifestação de rebeldia e o

negativismo em estado quase puro à sedução do outro, e depois à sua

imitação.

A construção da pessoa é uma autoconstrução. Não há mais nada social

do que o processo através do qual o indivíduo se singulariza, constrói sua

unicidade. Quando supera a dependência imediata da interpessoalidade e

prossegue alimentando-se a cultura.

Page 15: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

14

1.1.3 – Jean Piaget e Lev Semionovitch Vygotsky

Podemos observar nos estudos de Piaget, Wallon e Montessori, que a

criança percorre etapas diferentes nos seu desenvolvimento cognitivo. Na

teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerando como

tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Paralelo ao desenvolvimento

cognitivo está o desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses,

desejos, tendências, valores e emoções em geral. Piaget (2007) aponta quatro

estágios, com diferentes níveis que são os: sensório-motor, pré-operatório,

operações concretas e operações formais. Em cada período do

desenvolvimento, são construídas estruturas cognitivas singulares.

As mudanças são percebidas pelas evidências comportamentais na

assimilação de novos esquemas funcionais dissimilares. A faixa etária não

deve ser vista como um parâmetro rígido, em razão das diferenças individuais

e a interação com o ambiente social.

O estágio sensório-motor, que vai do nascimento até aos dois anos,

demonstra que a inteligência precede a linguagem. A percepção sensório-

motora leva a criança a formular as imagens mentais que resultarão na

construção da sua linguagem. Ela não utiliza a fala, mas aplica ações. O

conceito de objeto começa a ser desenvolvido e apesar de não vê-lo ou senti-lo

percebe a sua existência.

No estágio pré-operatório, que vai dos três aos seis anos, a criança já

pensa em um objeto, através da imagem do outro. Dispõe de ações

interiorizadas e já possui capacidade simbólica instalada. Mas, ainda não

possui a reversibilidade. Representa as realidades do mundo por meio de

desenhos e brincadeiras. Começa a haver o desenvolvimento da inteligência

não só pelas ações como também pela linguagem. Nessa fase ignora os outros

pontos de vistas e enxerga o mundo sob a sua perspectiva. Não sente

necessidade de dar mais detalhes, acredita que todos saibam do contexto que

está falando. Mas, aos poucos vai reconstruindo essa perspectiva. Nas

pesquisas de Piaget (2007) podemos observar que nesse estágio a criança

Page 16: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

15

aprende a articular as relações com as pré-relações, criando

movimentos funcionais e inteligentes para atingir seus objetivos. A ausência de

reversibilidade e de instrumento de quantificação, nessa fase, faz com que a

criança pense que um copo maior terá maior volume de água do que o outro

menor, mesmo que a quantidade de líquido seja a mesma.

Já no estágio das operações concretas, em torno dos 07 aos 11 anos, a

criança já adquire o conceito de reversibilidade, ou seja, imagina a ação e a

sua reversão. Ainda encontra-se ligada à realidade concreta, e as suas ações

mentais estão organizadas no presente e nas situações que possa vivenciar.

Portanto, é natural que haja dificuldade em fazer atividades que demandem

apenas a abstração.

No último estágio, o das operações formais, com a idade em torno dos

11 anos em diante, a criança ou adolescente já começa a operar abstraindo

fora da suarealidade física, pensando hipoteticamente de maneira lógica e

reversível. Raciocina em termos abstratos, formulando hipóteses para testar as

suas conclusões, independentemente da verdade concreta. Para Vygotsky, a

vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem de ser

biológico em ser humano. É pela aprendizagem nas relações com os outros

que construímos o conhecimento que permitem nosso desenvolvimento mental.

A criança nasce dotada apenas das funções psicológicas elementares, mas

com o aprendizado cultural, parte das funções básicas transformam-se em

funções psicológicas superiores, como a consciência, por exemplo, de um nível

de conhecimento para outro. Vygotsky, desenvolveu o conceito da zona de

desenvolvimento proximal que refere-se ao caminho que o indivíduo percorre

para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se

tornarão funções consolidadas, que estão estabelecidas no seu nível de

desenvolvimento real. A zona de desenvolvimento proximal é um domínio

psicológico em constante transformação. Para Vygotsky, o desenvolvimento da

espécie humana e do indivíduo se baseia, no aprendizado que, direta ou

indiretamente, envolve a interferência de outros indivíduos e a reconstrução

pessoal da experiência e dos significados. A interação é o espaço de

Page 17: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

16

constituição e desenvolvimento do ser humano, descrito como

histórico e cultural, sendo impossível dissociar as dimensões cognitivas e

afetivas dessas interações e dos planos fisiológicos e psicológicos decorrentes.

Piaget e Vygotsky, ambos são construtivista em sua concepção do

desenvolvimento intelectual. Sustentam que a.inteligência é construída a partir

das relações recíprocas, do homem com o meio. Os dois se opõem tanto à

teoria empirista (para a qual a evolução da inteligência é produto apenas da

ação do meio sobre o indivíduo) quanto à concepção racionalista (parte do

princípio de que já nascemos com a inteligência pré-formada). Para Vygotsky,

o meio é sempre revestido de significados culturais. O fator cultural, básico, é

pouco enfatizado por Piaget é a diferença central entre os dois teóricos

construtivistas. Ambos divergem também quanto à seqüência dos processos de

aprendizagem e desenvolvimento mental. Para Vygotsky, é o primeiro que gera

o segundo, o aprendizado adequadamente organizado resulta em

desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de

desenvolvimento. Já Piaget, entende que é o desenvolvimento progressivo das

estruturas intelectuais que nos torna capazes de aprender (fase pré-operatória

ou lógico-formal).

O autoconceito, portanto, está ligado à imagem que temos de nós

mesmos e se refere ao conjunto de características ou de atributos que

utilizamos para nos definir como indivíduo e para nos diferenciar dos demais.A

dimensão valorativa e julgadora do eu, dentro do conhecimento de si mesmo

ou autoconceito, denomina-se auto-estima. A auto-estima é um produto

psicológico, determinado por nossa subjetividade e, que, assim como o

autoconceito, muda de acordo com a idade, os interesses, os aspectos

socioeconômicos e culturais envolvidos. Na etapa entre os quatro e sete anos

para avaliar a auto-estima, cita quatro domínios distintos e relevantes nessas

idades: competência física, competência cognitivo-acadêmica, aceitação por

parte dos iguais e aceitação por parte dos pais. As crianças parecem ser

capazes de descrever como são competentes e hábeis em cada fase destas

dimensões citadas e podem variar sua auto-estima de forma diferenciada em

Page 18: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

17

cada uma delas. Por exemplo, a criança que apresenta alta auto-

estima na competência cognitivo-acadêmica pode apresentar baixa auto-estima

na competência física ou na aceitação por parte dos iguais. As crianças além

de poderem se auto-avaliar em uma série de facetas diferentes, vão

desenvolvendo uma avaliação geral de si mesmas, não-ligada a nenhuma área

de competência específica. Somente a partir do momento em que as crianças

conseguem se auto-avaliar de forma mais desligada e independente de sua

atuação em situações concretas. O desenvolvimento da personalidade e das

emoções entre os dois e os seis anos estão relacionados com os processos

educativos e socializadores que ocorrem no interior da família; compreendendo

que, as influencias na família não devem ser analisados como um processo

unidirecional do adulto para com a criança, mas como um conjunto de

influências bi e multidirecionais. A análise deve partir de uma concepção

sistêmica e ecológica na qual se entende a família como um sistema que, além

disso, não está isolado do ambiente que o rodeia, mas que mantém relações

com outros contextos importantes para o desenvolvimento de seus membros (o

trabalho dos pais, as experiências escolares dos filhos) ao mesmo tempo em

que uns e outros se encontram enquadrados dentro de contextos de influencia

superiores (como o contexto cultural) submetidos a mudanças sociais e

históricas.

As interações que surgem da conduta apego-seguro é a reciprocidade, a

compreensão e a empatia e por intermédio destas relações, “acaba-se

interiorizando uma idéia sobre si mesmo, uma auto-estima, uma capacidade de

iniciativa, de curiosidade e entusiasmo que são muito valorizadas pelos iguais.”

Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a

motivação ou interesse da criança para aprender. O afeto é o princípio

norteador da auto-estima. Após desenvolvido o vínculo afetivo, a

aprendizagem, a motivação e a disciplina como 'meio' para conseguir o

autocontrole da criança e seu bem estar são conquistas significativas.

Page 19: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

18

1.2 – Protoaprendizagem relacionando-a com os estudos de Winnicott

Winnicott observou aproximadamente 60 mil crianças e suas mães,

iniciando suas observações na pediatria e deu-lhes continuidade como

psicanalista.

Nessa observação constatou a dependência absoluta da criança em

relação aos cuidados maternos. Resultando na formulação do estado de não

separação inicial mãe-bebê. Nesta fase, a continuidade do ser é o sentimento

da fusão entre a mãe suficientemente boa e o bebê. A mãe seria considerada

suficientemente boa se conseguisse captar as peculiaridades do bebê, mas

respeitando-as.

“Ela não se confunde com o bebê, não impõe seu gesto,

empresta seu sonhar para que a individualidade se

constitua” (NETO, 2005, p.16)

Aos poucos, a dependência absoluta da criança para com a mãe vai

sendo substituída pela dependência relativa. Inicialmente, existe uma ilusão de

onipotência necessária por parte da mãe, seguida de uma desilusão gradual e,

com isso, o bebê vai ocupando o seu espaço.

Para que o bebê descubra o ambiente e o mundo externo é necessário

que a mãe não prossiga com a ilusão de onipotência e de superproteção.

Neste momento, surge o eu e o não-eu, e a criança começa a ter

identidade e sentir-se real. A partir de uma elaboração da realidade externa há

afirmação do “eu sou”, ocorrendo depois a afirmação do “você é”.

A criança, neste momento, inicia a transicionalidade, que é um processo

maturacional ligado à transição da dependência absoluta para a dependência

relativa. Nesse momento, a criança escolhe aquilo que Winnicott chamou de

“objeto transicional”. O importante aqui é como a criança usará esse objeto,

pois ele servirá para fazer a separação entre a mãe e o bebê, permitindo que o

processo de separação seja tolerada nos momentos de ausência da mãe

Page 20: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

19

(quando for trabalhar, por exemplo). Não deve haver a substituição

destes objetos, para evitar a ruptura da experiência de familiaridade e

continuidade. Quando o processo transcorre com sucesso o objeto transicional

será substituído pelo espaço transicional que implicará no desenvolvimento de

sua capacidade criativa.

O objeto transicional é tratado com amor e agressividade pela criança.

Esta sendo realizada, em parte, a substituição da mãe. Conforme Winnicott, a

agressividade não está relacionada somente com a frustração mas também

com a busca do objeto.

“Quando a mãe suporta ser destruída e recriada na fantasia

da criança como objeto subjetivo, ela permanece viva e

presente e, então, é novamente buscada pela criança, que

continuará destruindo-a e recriando-a no brincar.

(PARENTE, 2005, p.26)

Fazer brincando faz parte deste processo de elaboração e a família

também deve participar da brincadeira com a criança. Deve haver um equilíbrio

nesta brincadeira, a criança não deve brincar sempre sozinha e nem deve

depender sempre de alguém para brincar.

Quando falamos em “aprender brincando”, podemos observar que a

família desempenha um papel decisivo nas primeiras aprendizagens da

criança, pois o ensinar deve ser de forma lúdica e não imposto como

obrigações e imposições. Os primeiros estímulos da criança deveriam ser

recebidos em casa, antes de entra na escola.

O vínculo emocional que os pais estabelecem com seus filhos serve

como modelo para relacionamentos futuros, seja no convívio familiar ou extra-

familiar. Crianças com conduta de apego-seguro mostram maior capacidade

para compreender suas próprias emoções, apresentam conduta amigável e

maior disposição em expressar um estado de ânimo positivo frente às

frustrações que surgem nas relações sociais.

As interações que surgem da conduta apego-seguro é a reciprocidade, a

Page 21: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

20

compreensão e a empatia e por intermédio destas relações, “acaba-se

interiorizando uma idéia sobre si mesmo, uma auto-estima, uma capacidade de

iniciativa, de curiosidade e entusiasmo que são muito valorizadas pelos iguais.“

1.3 - Aprendizagem na visão de Visca

Um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a

Epistemologia da Psicopedagogia foi Jorge Pedro Luiz Visca, nasceu em

Baradero, província de Buenos Aires, em 14 de maio de 1935 e propôs estudos

que chamou de Espistemologia Convergente. Jorge Visca faleceu em 2000

deixando sua marca inconfundível especialmente no que diz respeito à teoria

da prática psicopedagógica clínica.

Epistemologia Convergente, que é uma conceitualização acerca da

aprendizagem que, a partir das contribuições das escolas psicanalística

(Freud), piagetiana (Piaget), e da Psicologia social (Pichon Riviere), facilitou a

compreensão dos aspectos afetivos, cognoscitivos e do meio, que podem

interferir na aprendizagem. Podemos dizer que é o resultado da assimilação

recíproca de conhecimentos fundamentados no construtivismo, no

estruturalismo construtivista e no interacionismo.

Segundo Visca, a inteligência se constrói a partir da interação do sujeito

com as circustâncias com o meio social (1991, p.47). O professor e o contato

com outras crianças são essenciais para a construção do conhecimento. Para

obter uma boa aprendizagem não basta apenas ter um bom desenvolvimento

no aspecto cognitivo, pois fatores de ordem afetiva e social podem interferir de

forma positiva ou negativa.

A relação do sujeito com o objeto de aprendizagem revela a existência

de vínculos positivos e negativos, que possuem diferentes níveis de

intensidade.

Page 22: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

21

1.3.1 - Os quatro estágios da aprendizagem na visão de Visca

- Aprendizagem Protoaprendizagem è É o resultado da interação da

criança com a mãe, sendo, portanto, o estágio das primeiras relações

vinculares. Mãe é que dá sentido a criança, com o choro a mãe vai atendendo

a necessidade da criança.

- Aprendizagem Deuteroaprendizagem è Aprendizagem já não é mais

só com a mãe. Consiste no contato do sujeito que alcançou a

protoaprendizagem com o grupo familiar que lhe possibilitou adquirir uma

precoce visão dos objetos animados e inanimados

- Aprendizagem Assistemática è Elaborada por meio do vínculo entre

o sujeito e a comunidade restringida, o que lhe permite adquirir conhecimentos

que ainda não são os da instituição educativa. Toda aprendizagem dentro de

casa, fora de casa, pracinha;

- Aprendizagem Sistemática è Resulta da interação do sujeito com as

instituições. (Sampaio, 2009) .

1.3.2 - Três tipos de obstáculos da aprendizagem na visão de Visca

- Obstáculo epistêmico è refere-se a uma estrutura cognitiva defasada

em relação à idade cronológica;

- Obstáculo epistemofílico è falta de amor pelo conhecimento,

gerados pelo medo; 1º) indiscriminação entre o sujeito e o objeto de

conhecimento, 2º) agressão pelo objeto, 3º) perder o que já foi adquirido.

Aparecem diante a nova aprendizagem;

Obstáculo funcional è corresponde a causas emocionais e estruturais.

Dificuldade para antecipar, mesmo com nível intelectual ótimo.

Portanto, é preciso estarmos atentos aos sintomas que são

Page 23: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

22

apresentados pelos alunos, que podem ser os causadores da

dificuldade de aprendizagem escolar. É importante um diagnóstico

psicopedagógico, que tem a intenção de descobrir a causa do seu

aparecimento.

As vezes a percepção de que há algo errado também pode partir do

próprio aluno, que começa a se sentir incomodado com as críticas que começa

a receber, seja na escola, no seu meio social ou na própria família. O meio em

que ele vive pode acabar deflagrando as suas fragilidades.

Todo sintoma deve servir de alerta para que alguma providência seja

tomada.

1. 4 - A aprendizagem no âmbito familiar

As primeiras aprendizagens do sujeito acontecem no âmbito familiar. As

primeiras conquistas da criança também são no seio familiar. Por isto, quanto

mais estímulos a criança recebe, mais oportunidades ela terá de desenvolver

novas habilidades.

“Munhoz (2005, p.180) diz: que é observando a interação

existente entre os membros da família que podemos

compreender como se dá a circulação do conhecimento e o

acesso à aprendizagem, visto que como cada membro

familiar tem uma forma própria de aprender e operar ao

construir o próprio conhecimento, ou seja, uma modalidade

de aprendizagem que o permite se aproximar do

desconhecido, para agregá-lo ao saber.”

Conforme Fernández, a modalidade de aprendizagem é o resultado das

experiências de aprendizagem do indivíduo em interação com o grupo familiar.

A família deve estimular o pensamento da criança, deve ajudá-la a pensar com

autonomia. É importante ouvir suas indagações e questionamentos, mas deve-

se permitir que ela faça suas escolhas e se responsabilize por elas, orientando

Page 24: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

23

quando necessário e na medida certa.

Quando a autoria do pensamento da criança é podada pela família, pode

haver reflexo negativo na aprendizagem do sujeito. Neste caso o sujeito poderá

mostrar-se submisso e inseguro na tomada de decisão.

A família deve participar ativamente da educação da criança,

acompanhando o que acontece na escola. Numa sociedade em transformação,

onde a família vem apresentando uma nova constituição, não sendo mais

aquela formação tradicional, onde o pai era o provedor, a mãe era a do lar e a

que acompanhava diariamente as primeiras aprendizagens da criança, onde

suas conquistas eram comemoradas e estimuladas para que novas habilidades

fossem adquiridas. Ao longo do tempo vem se consolidando uma nova

formação de família, a mãe que era a ”cuidadora”, ingressa no mercado de

trabalho e passa também a sofrer as conseqüências do novo mercado que se

apresenta, onde a instabilidade e insegurança se instalam, com a velocidade

da tecnologia que muda muito rápido há necessidade de estar constantemente

se aprimorando e se capacitando para as novas práticas do mercado,

conseguindo sobreviver os que apresentam versatilidade. O vínculo

empregatício já faz parte do passado, onde existia uma “estabilidade” que um

bom desempenho garantiria uma aposentadoria tranqüila.

Todas essas mudanças na sociedade tiveram reflexo na família, a

insegurança em que os pais vivem e a necessidade de constante adequação

as novas práticas do mercado, fizeram com que a família transferisse para a

escola a adaptação social dos seus filhos e até a aprendizagem das noções

mais básicas de higiene e sexualidade. A formação dessa criança começa a

apresentar uma lacuna que dificilmente será preenchida nesse cenário. A falta

de incentivo dos pais, a falta de incentivo da escola para que os alunos

permaneçam e como a escola não dispõe de um ambiente social adequado,

nem tem o entusiasmo necessário, se a criança não aprender em casa esses

conceitos também não encontrará na escola, tornando-se um círculo vicioso.

A família ao escolher a escola do seu filho não deve pensar apenas no

aspecto cognitivo, não deve ser reducionista em nenhum aspecto, mas ampla,

Page 25: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

24

na direção da formação dos seres humanos completos, críticos e

participativos, na direção da construção da cidadania.

Na família moderna, em numerosos casos, falta o afeto. O aspecto

afetivo apresenta uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual

da criança, pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento. Na teoria de

Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois

componentes: um cognitivo e outro afetivo. Paralelo ao desenvolvimento

cognitivo está o desenvolvimento afetivo do nascimento até a vida adulta,

centrando-se na infância. O afeto inclui sentimentos, interesses desejos,

tendências, valores e emoções em geral. Com suas capacidades afetivas e

cognitivas expandidas através da contínua construção, as crianças tornam-se

capazes de investir afeto e ter sentimentos validados nelas mesmas.

A família apresenta um papel decisivo neste aspecto, a auto-estima

mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse da criança para

aprender. O afeto é o princípio norteador da auto-estima. Após desenvolvido o

vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina como 'meio' para

conseguir o autocontrole da criança e seu bem estar são conquistas

significativas.

Para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adequado

dentro do ambiente escolar, e conseqüentemente no social, é necessário que

haja um estabelecimento de relações interpessoais positivas, como aceitação e

apoio, possibilitando assim o sucesso dos objetivos educativos.

Page 26: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

25

CAPÍTULO II

Aprendizagem escolar e a relação professor x aluno

2.1 – Escola como agente socializador

A escola, por ser o primeiro agente socializador fora do círculo familiar

da criança, deve oferecer todas as condições necessárias para que ela se sinta

segura e protegida. É imprescindível a presença de um educador que tenha

consciência da sua importância não apenas como um mero reprodutor da

realidade vigente, mas sim como um agente transformador e com uma visão

sócio-crítica .

O professor deve procurar conhecer quais são as habilidades e as

fraquezas do aluno para poder desvendar os diferentes processos da

aprendizagem.

A aprendizagem é um processo de aquisição que juntamente com a

maturação, constituem um dos processos fundamentais do desenvolvimento do

sistema nervoso central. Implica uma modificação no sistema nervoso; produz-

se por ação de um estímulo extrínseco ou intrínseco; é um processo no qual o

indivíduo adapta-se às modificações ambientais. Conhecer o sistema nervoso

da criança, sua organização, suas funções, seus períodos críticos ou janelas

de oportunidades, as habilidades cognitivas e emocionais, suas

potencialidades e limitações pode tornar o trabalho de educador mais eficiente,

possibilitando intervenções eficazes para diminuir a incidência das dificuldades

escolares.

Os educadores, que têm no processo de ensino-aprendizagem o seu

objetivo de investigação, deveriam estar interessados na Neuropsicologia, pois

a aquisição de novos comportamentos resultam do funcionamento do cérebro.

A Neuropsicologia se ocupa de atividade biológica relativa ao

funcionamento do cérebro, em especial do córtex. Há pouco tempo dentro do

Page 27: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

26

campo de Neuropsicologia infantil, tem-se desenvolvido uma sub

especialidade chamada Neuropsicologia.da aprendizagem, Neuropsicologia

escolar, Neuropedagogia, Neurodidática ou Neuroeducação. Conforme o

enfoque teórico-prático dos diferentes países.

As competência e habilidades valorizadas e desenvolvidas na Educação

Infantil precisam ser construídas. Apresentamos abaixo os pilares da educação

que a Unesco utiliza para esse desenvolvimento ( Delors, 1999),

- Aprender a ser è acontece a partir do auto-conhecimento, da auto-

estima, desenvolvendo o pensamento crítico e a criatividade, a

responsabilidades de ser, de agir bem.

- Aprender a conhecer è envolve o prazer de conhecer, compreender e

construir.

- Aprender a conviver è desenvolvimento de sociabilidade e

valorização das pessoas, do trabalho em equipe.

- Aprender a fazer è desenvolvimento de habilidades e competências,

aplicação dos conhecimentos, coragem de correr risco de errar, para acertar .

As mudanças são percebidas pelas evidências comportamentais na

assimilação de novos esquemas funcionais dissimilares. A faixa etária não

deve ser vista como um parâmetro rígido, em razão das diferenças individuais

e a interação com o ambiente social.

Na condição de educadores, precisamos estar atentos ao fato de que,

enquanto não dermos atenção ao fator afetivo na relação educador-educando,

corremos o risco de estarmos só trabalhando com a construção do real, do

conhecimento, deixando de lado o trabalho da constituição do próprio sujeito

que envolve valores e o próprio caráter necessário para o seu desenvolvimento

integral.

2.2 – Modalidade de Aprendizagem

O sujeito está em constante interação com o meio, acontecendo

Page 28: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

27

constantes desequilíbrios e equilíbrios, o que contribui para a

adaptação do sujeito a este meio. Portanto, o sujeito se constrói, adaptando-se

ao meio.

Segundo Piaget, este equilíbrio ocorre quando há assimilação e

acomodação. A assimilação ocorre em qualquer nível do desenvolvimento e

consiste na integração de um dado novo a um esquema já existente.

Possibilitando o indivíduo a adaptar-se ao meio, organizar-se e ampliar seus

esquemas. Na acomodação, ocorre a modificação e a transformação desses

esquemas para que seja possível adaptar-se ao meio. Quando há o equilíbrio

entre assimilação e a acomodação, dizemos que houve uma adaptação.

A assimilação e a acomodação acontecem em todo sujeito, mas

naqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem, ocorre a

predominância de um sobre o outro. Abaixo citaremos alguns exemplos de

modalidades de aprendizagem, que surgem em decorrência da inibição

precoce de atividades assimilativo-acomodativas:

- hipoassimilativo è de acordo com Paín, acontece quando os esquemas

de objetos permanecem empobrecidos, resultando um déficit lúdico e criativo.

Andrade(1998, p.93) nos diz que o sujeito tem muito medo de errar quanto de

acertar, porque o erro mostra o quanto é incapaz e o acerto o coloca em lugar

de evidência e destaque, o que leva o sujeito numa situação conflituosa e

pouco confortável;

- hiperassimilação è ocorre uma internalização prematura dos

esquemas com um predomínio lúdico que o impede de permitir a antecipação

de transformações possíveis, o que acaba por desrealizar o pensamento da

criança. (PAÍN, 1992, p.47). Conforme Andrade (1998, p.93) apesar da atitude

questionadora e investigativa deste sujeito que se prende a detalhes, ele não

presta muita atenção à resposta que lhe dão, porque já está formulando outra

pergunta. A aprendizagem se torna difícil, não consegue identificar o que lhe

será útil, não conseguindo apropriar-se do conhecimento e modificar os seus

esquemas. Estes sujeitos apresentam dificuldade de lidar com limites, regras e

estabelecer vínculos;

Page 29: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

28

- hipoacomodação è aparece quando o ritmo da criança não foi

respeitado, nem sua necessidade de repetir a mesma experiência muitas vezes

(PAÍN, 1992, p.47). Para Andrade (1998, p.93), este sujeito tem dificuldade de

estabelecer vínculos tanto em nível emocional quanto em nível cognitivo.

Muitas vezes sendo taxado de preguiçoso, e o aprender/conhecer

representa perigo. Diante do novo assusta-se. A pobreza de contato com a

realidade, que pode estar ligada a situações familiares do início da sua vida, ou

conflitos atuais, impede-o de realizar uma aprendizagem saudável;

- hiperacomodação è surge quando houve superestimulação da

imitação (PAÍN, p.47). A criança, não teve oportunidade de tomar decisões de

trabalhar sua autonomia, tornado-se um sujeito sem iniciativa, pouco criativo,

muito obediente às normas, submisso. Conforme Fernandez (1991, p.110),

muitos “bons alunos” encontram-se nesta posição.

O professor deve estar atento, é importante que ele consiga identificar a

modalidade de aprendizagem do sujeito para que a metodologia utilizada seja

adequada às suas necessidades. O propósito deve ser o de (re)significar sua

aprendizagem.

As mudanças são percebidas pelas evidências comportamentais na

assimilação de novos esquemas funcionais dissimilares. A faixa etária não

deve ser vista como um parâmetro rígido, em razão das diferenças individuais

e a interação com o ambiente social

2.3 – A importância do vínculo professor x aluno

O professor na sala de aula tem a mesma forma de ensinar, mas por

que a aprendizagem não acontece da mesma forma para cada aluno?

Podemos certamente afirmar que os vínculos formados entre professor e

todos os alunos, não é o mesmo. Cada criança tem um temperamento,

comportamento, família, culturas diferentes. Alunos que apresentam

comportamento inadequado na sala de aula ou que se desconcentram com

Page 30: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

29

facilidade, costumam ser chamados à atenção, que, quase sempre,

são carregadas de broncas e ameaças, destruindo a auto-estima da criança, e

um vínculo que é fundamental para a aprendizagem.

A criança ao entrar na escola pela primeira vez, precisa ser muito bem

recebida, porque nessa ocasião dá-se um rompimento de sua vida familiar para

iniciar-se uma nova experiência, e esta deverá ser agradável, para que haja um

reforço da situação.

O aluno quieto, calado também pode estar entre aqueles que não

aprendem bem.

A timidez dos alunos também interfere, pois quase nunca eles se

manifestam, permanecendo com as dúvidas acumuladas, tendo como

conseqüência baixo rendimento. Estes alunos acabam sendo notados

geralmente pelo baixo desempenho apresentado. Em muitos casos não há

nada de errado com seu cognitivo. Normalmente eles recebem o papel de

coadjuvante, ao invés de serem estimulados com recursos diversificados,

mostrando o que fazem de melhor e o papel principal acaba ficando para os

mais extrovertidos e desinibidos.

Todos os alunos são capazes, é claro de maneira diferente, portanto

deve haver m olhar diferenciado do professor para descobrir o que cada um

tem de especial, ajudando-os a desenvolver novas competências.

Muitos professores gostariam de ter na sala de aula, somente alunos

que participassem ativamente, fizessem as tarefas com autonomia, prestassem

atenção à aula, evitando o desgaste de ficar chamando-lhes a atenção o tempo

todo. Com o aluno tendo o comportamento desejado pelo professor, seria um

indício de que a sua aula é boa, mas em contrapartida quando isto não

acontece eles não culpam a si mesmos.

Cabe ao professor um importante papel nas inter-relações escolares. As

características individuais dos professores (autoritário, permissivo, organizado)

e seus traços de personalidade são apontadas como responsáveis por maior

ou menor eficiência como docentes, assim como a predisposição para o

Page 31: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

30

magistério.

O professor precisa estabelecer uma relação afetiva com os seus alunos

e perceber que como indivíduo, seus alunos também tem algo a oferecer e que

a aprendizagem se faz por intermédio das interações estabelecidas. O

professor através das suas atitudes oferece uma série de informações ao aluno

que irão contribuir com seu autoconceito. As expectativas que o professor tem

para com seus alunos poderão contribuir sobre seu desempenho. O aluno que

tem suas características valorizadas pelo professor, tende a acentuá-las cada

vez mais, enquanto aquele que se sente rejeitado ou discriminado tende a se

afastar e acaba por ver as expectativas negativas do professor serem

confirmadas. Desta forma, as crianças que apresentam dificuldades de

aprendizagem podem se ver como incompetentes, o que interfere em seu

autoconceito e em sua capacidade de reverter a situação. Socialmente pode

apresentar comportamento de isolamento, dependência, passividade e até

mesmo submissão, por se sentirem menos respeitados e aceitos.

Para realizar as propostas do ensino, o professor deve conhecer bem as

possibilidades de aprendizagens do aluno e suas características individuais,

para que possa adequar a metodologia de ensino ao aluno. O conhecimento

será feito por intermédio da interação e da comunicação, da observação

constante de seus processos de aprendizagem e da reavaliação da proposta a

cada nova fase do processo.

O professor como mediador do processo deve ajudar ou facilitar os

alunos a construir aprendizagens significativas e, para tal, precisa atribuir um

sentido pessoal à aprendizagem para que os alunos compreendam não apenas

o que têm de fazer, mas também por que e para quê. A participação ativa dos

alunos acontece quando estes sentem que podem ter êxito em sua

aprendizagem e para isso devem ser propostas atividades que eles sejam

capazes de resolver com a ajuda necessária, e sejam encorajados pelo esforço

e não pelo resultado.

A metodologia utilizada na sala de aula deve ser criativa, é muito

importante para o processo de ensino-aprendizagem. Além da compreensão,

Page 32: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

31

do respeito ao ritmo da criança e da paciência. A aula deve ser

dinâmica para que possa prender a atenção dos alunos, pois crianças com

problemas familiares são propensas a se dispersar mais, bem como crianças

com déficit de atenção.

Alguns professores costumam atribuir problemas de aprendizagem a

conflitos familiares, são problemas que de fato, contribuem muito para

desencadear a dispersão, a falta de concentração, a baixa auto-estima e o

desinteresse pela aprendizagem. Quando isso ocorre tal fato é visto como o

único motivo de fracasso escolar,

O professor deve estar sempre atento à mensagem que está passando

na sala de aula para os seus alunos. Por exemplo, o pensamento de

impaciência se estiver presente na hora de atuar com um aluno, será um

desastre, mas, ao ser consciente de seu pensamento de impaciência, o

professor poderá frear esse pensamento e proporcionar uma ajuda tanto para

si mesmo quanto para o aluno.

Todo o trabalho docente começa primeiro no próprio docente que, se

não tiver domínio de seu campo mental, de seus pensamentos, deixará de

atuar positivamente no interno do aluno. A criança capta muito do sentir

docente.e sente bem que este quer realizar . Na sua prática, o docente deve

estar atento ao seu interno, pois para ajudar alguém deve estar preparado. O

professor é como maestro, deve conduzir sua orquestra de forma que seus

músicos não só sigam a sua regência, mas também saibam tocar seus

instrumentos de forma individual e coletiva.

Apenas o conhecimento da própria profissão não é suficiente para

prover ao professor do muito que ele precisa saber para cumprir da melhor

forma possível esta grande tarefa de educar. O professor deve ser um grande

estrategista, conhecer bem seu campo de atuação para nele atuar com

decisão; saber aonde ele quer chegar e com que elementos pode contar.

“O professor é responsável pelo ambiente de sua sala de

aula, ele deve cuidar para oportunizar a manifestação dos

Page 33: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

32

melhores pensamentos e de sentimentos nobres,

pois, assim a criança se sentirá atraída pelo estudo, porque

se encontrará fortalecida. Este preparo começa na mente

do docente, que deve ordenar seus pensamentos, habituar

o uso da reflexão antes de atuar com o aluno e fazer as

tarefas com gosto. É preciso tornar tudo estimulante, usar

da correção individualmente e em forma de raciocínio. Há

de despertar na criança o interesse pela própria vida, além

de dar elementos para que ela construa o conceito de

estudo.” VIEIRA (2006, pág. 61)

Para a Pedagogia Logosófica, a Lei do Afeto, desempenha um papel

importante no processo da aprendizagem. O afeto aflora a sensibilidade e tudo

que desperta a sensibilidade se torna inesquecível. Há muitas formas de

atuação do professor que podem surpreender os alunos: uma arrumação

diferente da sala de aula, um bilhete com uma bala em suas mesas logo

quando entram na sala; um decalque que o professor pode colar em suas

agendas ou cadernos; um desenho e uma mensagem que o professor desenha

e escreve no quadro antes dos alunos chegarem à sala. Enfim temos muitos

recursos que podem surpreender os alunos. Coisas simples, mas que tem um

significado para os alunos, pois essas pequenas ações, regadas de afeto,

despertam a sensibilidade da criança predispondo-a a aprender, e a se superar

e ser mais feliz. Segundo tais considerações encontramos o professor que usa

a motivação como instrumento metodológica na relação de aprendizagem,

entendendo que esta se realiza na interação entre ele e o aluno, discordando

da posição autoritária que, antes designava esta função. “o afeto é “o princípio

fixador das relações humanas”. Sem o afeto, nada se constrói, porque tudo

desmoronaria. É como se a mente fosse o tijolo e o afeto o cimento que nos

une. O afeto aqui não significa carinho, afago, mas a manifestação sincera para

ajudar o outro ser. Ele é o princípio fixador porque cria o vínculo entre os seres

e, neste caso, entre o professor e aluno. O autor (2003, p.139) também

conceitua o afeto como ”a parte do amor feito consciência...” Isto quer dizer que

Page 34: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

33

o conhecimento faz parte do afeto, ou seja, precisa-se do

conhecimento para se ter afeto. Trata-se aqui do conhecimento que traz uma

nova geração de conceitos, um conhecimento que transcede o que comumente

conhecemos. “Quando fazemos o bem, precisamos saber o quê, o porquê e o

para quê estamos fazendo” (Pecotche, 2003, p.138).

Para que o aluno aprenda é necessário que ele se autorize a aprender,

pois caso contrário, poderá existir um bloqueio de qualquer ordem que

impossibilite esta aprendizagem. A construção do conhecimento no aluno

depende da formação do vínculo positivo de quem aprende, mas para que o

aluno transforme este conhecimento deve haver confiança nesta relação

ensino aprendizagem.

A crítica negativa tem o poder de alterar o comportamento do aluno.

Triste é o educador que já não acredita mais na capacidade de aprendizado,

que não se debruça para examinar melhor a peculiaridade de cada aprendiz. A

educação é, em todas as suas dimensões, um grande desafio.

Page 35: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

34

CAPÍTULO III

Intervenção psicopedagógica nos conflitos afetivos da

aprendizagem

O objeto da Psicopedagogia vai muito além de um “processo de

aprendizagem”; refere-se a um sujeito que aprende, sendo este muito mais do

que um aprendiz, mas sim um ser capaz de conhecer sobre si e sobre o

ambiente do qual é parte constituinte.

No desenvolvimento ensino-aprendizagem, a participação

Psicopedagogia, vai concentrar as explicações dos obstáculos da

aprendizagem em diferentes domínios (orgânico, cognitivo, afetivo e social) do

indivíduo em sua interação com o meio ambiente e, especificamente, no

escolar, é de, inicialmente, procurar conhecer o professor e sua preparação

pedagógica, o projeto político pedagógico da escola e os mecanismos que

usam para alcançar o desenvolvimento ensino-aprendizagem.

No contexto ensino-aprendizagem a criança que apresenta dificuldades

emocionais, poderá ter comprometimento no desempenho das suas atividades

acadêmicas. A interação social que estabelece no ambiente escolar contribui

para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, pois este passa a ser

influenciado pela escala de valores que o grupo adota. E destas interações

sociais o papel que cada um desempenha socialmente será determinado.

Portanto, é necessário analisar quais tipos de conflitos afetivos poderá se

desencadear e quais serão as conseqüências para o seu desenvolvimento.

O diagnóstico psicopedagógico, não passa de uma investigação para

descobrir o que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta

padronizada. É o esclarecimento de uma queixa, que pode ser do próprio

sujeito, da família ou, na maioria da vezes da escola. A intenção da

investigação é a de compreender globalmente a forma de aprender e os

desvios que aparecem no processo do sujeito.

Page 36: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

35

Com base na Epistemologia Convergente, Jorge Visca (1987)

propõe um esquema seqüencial diagnóstico flexível, formulados da seguinte

maneira:

- Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (E.O.C.A.) è que

consiste no levantamento do primeiro sistema de hipóteses com definição de

linhas de investigação e escolha de instrumentos, as propostas e materiais

utilizados vão variar de acordo com a idade e a escolaridade do paciente. No

decorrer da EOCA devemos observar tudo o que é dito pelo sujeito, pois

sempre há um aspecto manifesto e outro latente; também fazem parte da

observação o gestual, tom de voz, postura corporal e o não verbal, que podem

ser muito reveladores; bem como o que o sujeito produz no papel. Analisando

todos esses aspectos poderemos ter o primeiro sistema de hipótese. Para os

adolescentes pode ser adotada uma conversação e complementada com

outras atividades. Essas observações devem ser submetidas a uma verificação

mais rigorosa, que fará parte do processo de diagnóstico;

- Testes que consistem no levantamento do segundo sistema de

hipóteses e linha de investigação;

- Anamnese que consiste na verificação e decantação do segundo

sistema de hipóteses, formulação do terceiro sistema de hipóteses, é crucial

para um bom diagnóstico, e normalmente realizada com os pais e devemos

estar muito atento aos detalhes informado, pois muitas vezes são observadas

contradições entre as falas do pais e que observamos nos retratos e relatórios;

- Elaboração do informe psicopedagógico, é avaliativo, deve informar o

Dano, o foco que é a área que está mais no prejuízo, alguns vetores e a

queixa.

Os jogos também são muito importantes no processo de diagnóstico,

pois permitem que o sujeito aproprie-se da vida de forma simbólica. O jogo

proporciona que o sujeito vivencie sentimentos naturais da vida, que irão ajudar

na capacidade de lidar com as regras, o poder, domínio, o prazer, a dor, o

desfazer, o ter que ceder, o dar, o perder, e etc. De acordo com a classificação

Page 37: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

36

de Piaget os jogos tem 04 estruturas: Jogo de exercício ou motor ( 0 –

2 anos); Jogo simbólico (2 – 6/7 anos); Jogo de construção (6 anos) e Jogo de

regras (a partir de 07 anos). O teatro também deve ser utilizado em todos os

níveis, sempre que possível, desde as formas mais elementares até as mais

complexas.

O psicopedagogo, atualmente, trabalha no primeiro nível nos processos

educativos com o objetivo de minimizar os problemas de aprendizagem,

focando nas questões didático-metodológicas, e na formação e orientação de

professores, auxiliando-os a adquirir novos procedimentos metodológicos, além

de aconselhamento aos pais. No segundo nível visa minimizar e tratar os

problemas de aprendizagem já instalados, com o objetivo de detectar as

causas dos transtornos e caminhos para eliminá-los. E no terceiro nível, o

objetivo é eliminar os transtornos já instalados. Eliminando um transtorno,

estamos evitando o aparecimento de outro. Ao psicopedagogo cabe saber

como se constitui o sujeito, como este se transforma durante as etapas de sua

vida, quais são os recursos de conhecimento que ele dispoõe e a forma como

ele produz conhecimento e aprende. Há fatores emocionais e afetivos que

influenciam no aprendizado são eles: a atenção e a interação. E esses fatores

podem ser a causa como a conseqüência dos problemas, interferindo na

capacidade de concentração e no comportamento do sujeito.

Psicopedagogo acredita sempre que o desejo de aprender,

característica do ser humano, prevalecerá sobre as condições mais

desfarováveis que possam perturbá-lo. Não devemos dar o diagnóstico de uma

única vez, só após ter visto todo o processo, fechar o círculo, observar várias

vezes e várias situações . Deve-se ter um olhar e uma escuta diferenciada

sobre o processo ensina re aprender. Estabelecer vínculo pedagógico, sempre

positivo, desconsiderar os vínculos negativos. Fazer a devolutiva, fazer os

devidos encaminhamentos e orientações, criando uma linha de ação para

quem possa haver um trabalho transdisciplinar.

O trabalho psicopedagógico vislumbra melhoria no processo cognitivo

acompanhado da construção de um vínculo positivo e o aumento da

Page 38: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

37

autoconfiança.

Para Maria Lúcia Lemme Weiss (2009) existe um modismo com relação

a Psicopedagogia, que culmina com a intervenção clínica. Desta forma, há

prejuízo na apuração mais detalhada do contexto em que se apresentou o que

classificamos como problema de aprendizagem e ficando relegando a segundo

plano os problemas oriundos do ensino e da escola.

Quanto ao desvio da aprendizagem, o foco da análise não pode ser

restrito somente ao paciente, mas deve abranger também as suas relações, os

grupos de pertinência, às instituições básicas.

A Entrevista Familiar Exploratório Situacional é um instrumento que é

utilizado por Maria Lúcia para iniciar o diagnóstico psicopedagógico que

consiste em uma entrevista com o criança ou o adolescente, o pai e a mãe. E

tem como objetivos:

- captar as expectativas e as relações familiares com a aprendizagem

informal e a escolar especificamente;

- verificar a visão que se tem das exigências escolares e passadas e

presentes;

- buscar a explicação e a compreensão que possuem do possível

desvio;

- compreender as expectativas sobre o futuro do paciente e a atuação do

terapeuta.

É importante ter a oportunidade de observar o paciente em situações

mais livres e lúdicas para que a sua autonomia seja avaliada.

Busca-se de vários modos, uma apreensão integrada, em relação ao

paciente:

- que articulações utiliza entre os diferentes tipos de conhecimentos

adquiridos por meio de experiências físicas, lógico-matemáticas, emocionais e

sociais;

- que grau de flexibilidade possui no uso dos conhecimentos;

Page 39: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

38

- como está o funcionamento mental (assimilação -

acomodação)

- como desenvolve os aspectos temporais da capacidade de antecipar,

realizar e retroatuar;

- quais suas motivações e interesses dominantes;

- que ansiedades e defesa utiliza;

- qual o ritmo e quais as áreas de expressão da conduta;

- o que concretamente já aprendeu.

Quando se descarta os problemas orgânicos, deve ser avaliado se há

dificuldades emocionais, que interferem no desenvolvimento e no

funcionamento mentais, assim como a péssima vinculação com a

aprendizagem escolar.

As dificuldades cognitivas reais no início da escolaridade podem

dificultar a aprendizagem de alguns conteúdos escolares e, não sendo bem

conduzidos podem desencadear a construção de obstáculos em âmbito afetivo

podem tornar a situação mais complexa.

Quando as dificuldades são mal resolvidas dentro da sala de aula e no

início da vida escolar, anos mais tarde pode se agravar. Nesse caso o

tratamento psicopedagógico consistirá numa intervenção, visando a

reformulação do Modelo de Aprendizagem de modo que os obstáculos sejam

removidos ou redimensionados em função das reais possibilidades do

individuo. A intenção é criar ou recriar o momento de prazer.

Hoje com o avanço da teoria e das novas técnicas psicopedagógicas, os

pacientes também questionam sobre a prática da Psicopedagogia clínica e a

visão da aprendizagem escolar. Alba Weiss (2009) traz sua contribuição de

como a informática pode auxiliar para a clínica dos problemas de

aprendizagem.

Alba Weiss (2009), cita a necessidade de nos aprofundarmos na

anamnese, com relação aos embates econômicos o desemprego, que acaba

Page 40: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

39

interferindo na escolha da Escola, que sofre com a questão cultural e

as necessidades econômicas. A ampliação da observação do grafismo também

traz uma nova visão, há um empobrecimento na sua criatividade e na sua

representação gráfica. Com o auxílio do terapeuta a informática pode ser um

auxiliar na reformulação da aprendizagem.e no processo de desenvolvimento

cognitivo. A simulação no ambiente digital pode funcionar como um processo

de imaginação que utilizamos mentalmente em algumas situações para prever

ou antecipar as conseqüências das nossas atitudes. O maior ganho com esse

instrumento é a possibilidade de construir um produto e compreender como foi

criado, favorecendo o desenvolvimento do empowerment. Não há a

preconização da utilização deste instrumento como o único, mas sim como

mais um precioso instrumento.

Page 41: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

40

CONCLUSÃO

Como podemos observar, através do desenvolvimento dos capítulos

apresentados, o autoconceito e a autoestima que o indivíduo constrói nos seus

primeiros anos de vida estarão presentes em toda a sua vida adulta, tendo

interferência direta nas suas relações futuras e no seu processo de ensino-

aprendizagem. Quanto ao primeiro aprendizado, feito ainda no âmbito familiar,

ele tem um papel decisivo no desenvolvimento da autoestima do sujeito e

mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse posterior da

criança para aprender. De fato, o afeto é o princípio norteador da autoestima.

Sem dúvida, os seres humanos diferem uns dos outros em muitos

aspectos, que vão desde a inteligência a certas habilidades motoras; eles

diferem também em interesses e expectativas, e são estas diferenças

individuais, estas singularidades, que passaram a ser consideradas nos últimos

tempos pelos estudiosos que buscam um melhoramento no aprendizado e na

própria formação do indivíduo. Afinal, sem autoestima não apenas o

aprendizado fica prejudicado, mas também as relações com os outros seres

humanos e com o mundo em geral.

Como tivemos a chance de observar, pelo estudo de diversos autores,

tais como Freud, Piaget, Wallon, Vygotsky, etc., não é possível estabelecer leis

psicológicas gerais para serem aplicadas igualmente a todos os seres

humanos. É por isto que cada vez mais se busca adaptar o ensino às

características individuais de cada aluno e é neste contexto que a

psicopedagogia deve atuar mais diretamente, trabalhando em conjunto com os

professores. O objetivo é o desenvolvimento global do indivíduo, que deve

estar em condições de viver em sociedade, mas que não deve ser

negligenciado em prol de modelos que não podem ser atingidos. Cada

indivíduo é um e é este respeito pelas diferenças que deve ser estimulado não

somente pelos psicopedagogos, mas também por todos os que estão

envolvidos na tarefa educativa.

Page 42: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

41

Se hoje temos mais clareza de que a primeira fase da

educação começa ainda em casa, nem por isto a escola terá menos peso. Ao

contrário, o papel do professor é fundamental, tanto para o bem quanto para o

mal. Eis porque é imprescindível formar professores que estejam em

consonância com esta perspectiva afetiva e emocional da educação, porque

todo ser humano precisa de motivação e de afeto para se desenvolver. A

educação ideal pode ser entendida como uma construção progressiva de

sistemas e de significados compartilhados entre professor e alunos, de modo

que haja paulatinamente uma transferência do controle do professor para eles.

Isto não quer dizer que o professor perca sua autoridade, mas, sim, que os

alunos devem ser trabalhados para se sentirem seguros e no controle de suas

próprias atividades. E isto depende diretamente da motivação e da troca afetiva

que devem permear não apenas as relações de ensino e aprendizagem, mas

todas as relações humanas.

De fato, nem todos os estudiosos pensam do mesmo modo (o que prova

o que já dissemos acima: que cada ser é um universo à parte e, mais ainda,

que o conhecimento deve ser entendido como um soma de forças e não como

uma verdade última proferida por um ou por outro). Vimos, por exemplo, como

Piaget e Vygotsky mesmo sendo ambos teóricos construtivistas, enfatizam

questões diferentes. Piaget enfatiza menos o fator cultural, enquanto que, para

Vygotsky, todo meio é sempre revestido de significados culturais. Logo, em

casa ou na escola, não fugimos dos valores que nos constituem ou, antes,

constituem a sociedade. Freud, por outro lado, dá mais ênfase à construção da

sexualidade infantil, que é, de fato, fundamental em vários aspectos da

construção humana (uma sexualidade malformada pode levar a distúrbios

graves, que tendem a afetar a convivência com os outros), enquanto Wallon

entende a construção do eu como um processo inacabado, que continuará por

toda a nossa vida.

Em suma, como podemos observar o que se pressupunha se confirmou,

de que o autoconceito que o indivíduo tem de si mesmo interferirá em todas as

suas ações, bem como na maneira como os outros o perceberão, ganha toda a

Page 43: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

42

sua força quando pensamos que são as ações que definem um ser.

Afinal, é a maneira como nos comportamos no mundo que nos evidencia, que

diz quem nós somos. É o autoconceito, ou seja, a imagem que fazemos de nós

mesmos, que nos leva a agir ou a não agir de modo satisfatório diante do

mundo. Eis porque o papel da afeto é tão essencial na produção do eu. Uma

criança que conheceu o amor e a compreensão, que aprendeu a acreditar em

si mesma e no seu potencial, pulsa na mesma freqüência da vida, ou seja, está

certamente mais preparada para o mundo e também para o aprendizado

(porque viver é um aprendizado contínuo), enquanto que as crianças que são

violentadas em sua liberdade, massacradas por pais e professores que

desejam criar modelos e não seres humanos, encontram imensa dificuldade

para se colocarem no mundo, o que também as tornam mais inseguras no

aprendizado, já que conhecer é, sem dúvida nenhuma, um ato de

desbravamento, é um ato de conquista.

Page 44: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

43

BIBLIOGRAFIA

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. 18ª ed. São Paulo:

Editora Gente, 2004.

CUNHA, Eugênio. Afeto e aprendizagem – Relação de amorosidade e saber na

prática pedagógica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica

clínica da criança e sua família. 2a reed. Porto Alegre: Artes Médicas,

1991.

FORLENZA NETO, Orestes. “Constituição do si-mesmo e transicionalidade”.

Memória da Psicanálise nº5 – Winnicott. in Viver mente e cérebro, 2005.

LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloísa. Piaget,

Vygotsky, Wallon – Teorias psicogenéticas em discussão. 13ª ed. São

Paulo: Summus Editoral. 1992.

MUNHOZ, Maria Luiza Puglisi. “Educação e família em uma visão

psicopedagógica sistêmica”. in Psicopedagogia: contribuições para a

educação pós-moderna. Petrópolis: Vozes; São Paulo: ABPp, 2004.

PÁDUA, Ivone. Pedagogia do afeto – A pedagogia logosófica na sala de aula.

Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

PAÍN, Sara. Diagnósticos e tratamentos dos problemas de aprendizagem.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

PARENTE, Sonia Maria B. A. “A criação da externalidade do mundo”. Memória

da Psicanálise nº 5 - Winnicott. in Viver mente e cérebro, 2005.

PIAGET, J.; INHELDER, B. A psicologia da criança. 11a ed. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 1990.

Page 45: INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA … · Prof: Carly Machado Rio de Janeiro 2010 . 1 ... e o amadurecimento do comando muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente,

44

RIBEIRO, Luiza Helena Leite; ASSUMPÇÃO Jr., Francisco

(organizadores). Aprendizagem, linguagem e pensamento. Rio de

Janeiro: Wak Editora, 2008.

SAMPAIO, Simaia. Dificuldades de aprendizagem – A psicopedagogia na

relação do sujeito, família e escola. 2a ed. Rio de Janeiro: Wak Editora,

2009.

SÁNCHEZ A.; ESCRIBANO, E. Medição do autoconceito. Trad. Cristina

Murachco. São Paulo: EDUSC, 1999.

VALLE, Luiza Elena Ribeiro. Brincar de aprender – Uni-duni-tê: o escolhido foi

você! Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008.

VIEIRA, Cristina Coronha Lima. Melhores pais, melhores filhos: educar pelo

exemplo: reflexões para pais e professores. Petrópolis: Vozes, 2006.

VISCA, Jorge. Psicopedagogia: novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1991.

WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica. 10ª ed. Rio de Janeiro:

DP&A Editora, 2003.

WEISS, Maria Lúcia Lemme; WEISS, Alba. Vencendo as dificuldades de

aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.