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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS
AFETIVOS NA APRENDIZAGEM
Por: Rosana Sarpa Schöpke Soares
Orientador:
Prof: Carly Machado
Rio de Janeiro 2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS
AFETIVOS NA APRENDIZAGEM
Apresentação de Monografia à Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial para a
obtenção do grau de especialista em
psicopedagogia
Por: Rosana Sarpa Schöpke Soares
2
Agradecimentos
.
Meus agradecimentos sinceros à toda a
minha família pelo amor e apoio incondicional
e à minha orientadora,, Carly Machado, pelas
dicas preciosas. À minha irmã Regina pelo
incentivo e paciência, na fase final deste
trabalho. As minhas amigas da faculdade,
Hérica, Fernanda e Zaira, por todos os
trabalhos, apoio, auxílio, estudos e diversões
que tivemos juntas. .
3
Dedicatória
Dedico esta monografia aos meus amados
filhos Thiago e Diogo, ao meu neto Rennan,a
quem tanto amo, aos meus pais, irmãos e
minha nora Flávia.
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RESUMO
Este trabalho apresenta uma oportunidade para aprofundarmos o estudo
sobre os aspectos afetivos que interferem no processo de ensino-
aprendizagem, os chamados vínculos emocionais que se estabelecem desde o
nascimento e que influenciam na construção da personalidade, do auto-
conceito e da autoestima do sujeito.
A aprendizagem, na verdade, está relacionada com a articulação dos
fatores internos e externos do sujeito, portanto, torna-se um fator relevante a
postura do professor e da família ao lidar com a criança perante o erro, pois um
dos pontos que mais interferem no prazer e desejo de aprender é a forma
como os pais e professores lidam com o erro. A frustração com o erro pode
levar a criança a criar formas defensivas de rejeição da tarefa.
As teorias de aprendizagem de Piaget, Vygotsky, Freud, Wallon e alguns
seguidores correlacionam o desenvolvimento da afetividade com a
aprendizagem. É assim que o trabalho psicopedagógico busca uma melhoria
no processo cognitivo a partir da construção de um vínculo positivo que visa o
aumento da autoconfiança do sujeito.
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METODOLOGIA
O trabalho será desenvolvido a partir de um estudo qualitativo de cunho
bibliográfico em que, por meio desta metodologia, serão vistos os aspectos
afetivos e os acontecimentos históricos educacionais, tendo como ponto
fundamental a questão afetiva na formação do indivíduo e a sua vinculação
com o processo educacional.
Acreditamos que através da análise e compreensão dos estudos
realizados em livros e periódicos que tratam deste tema, proporcionaremos um
esclarecimento maior sobre a questão, de modo a oferecer melhorias no
desempenho profissional.
Algumas obras que farão parte deste estudo qualitativo são: Vencendo
as Dificuldades de Aprendizagem Escolar, de Maria Lúcia Lemme Weiss e Alba
Weis; Psicopedagogia Clínica, de Maria Lúcia Lemme Weis; Educação: A
solução está no afeto, de Gabriel Chalita e Aprendizagem, Linguagem e
Pensamento, cujos organizadores são Luiza Helena Leite Ribeiro do Vale e
Francisco Assumpção Junior.
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SUMÁRIO
RESUMO ........................................................................................................... 4
METODOLOGIA ................................................................................................ 5
SUMÁRIO .......................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
CAPÍTULO I A INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA
APRENDIZAGEM .............................................................................................. 9
1.1 – Desenvolvimento do autoconceito e autoestima ............................... 9
1.1.1 – Sigmund Freud ......................................................................... 9
1.1.2 – Henri Wallon ........................................................................... 11
1.1.3 – Jean Piaget e Lev Semionovitch Vygotsky ............................. 14
1.2 – Protoaprendizagem relacionando-a com os estudos de Winnicott .. 18
1.3 - Aprendizagem na visão de Visca ..................................................... 20
1.3.1 - Os quatro estágios da aprendizagem na visão de Visca ........ 21
1.3.2 - Três tipos de obstáculos da aprendizagem na visão de Visca 21
1. 4 - A aprendizagem no âmbito familiar ................................................. 22
CAPÍTULO II Aprendizagem escolar e a relação professor x aluno ................. 25
2.1 – Escola como agente socializador .................................................... 25
2.2 – Modalidade de Aprendizagem ......................................................... 26
2.3 – A importância do vínculo professor x aluno ..................................... 28
CAPÍTULO III Intervenção psicopedagógica nos conflitos afetivos da
aprendizagem .................................................................................................. 34
CONCLUSÃO .................................................................................................. 40
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 43
7
INTRODUÇÃO
Serão abordados, neste estudo, as contribuições de Jean Piaget, Lev
Semionovitch Vygotsky, Sigmund Freud e Henri Wallon sobre a influência dos
aspectos afetivos na aprendizagem da criança. Também levaremos em conta
as abordagens de outros psicólogos, filósofos, médicos e pedagogos que
contribuíram para o conhecimento da importância da afetividade no ensino-
aprendizagem
De fato, esta discussão é de fundamental importância. Eis porque, na
teoria psicanalítica, estudaremos o obstáculo epistemofílico que se encontra na
área dos vínculos afetivos que o sujeito estabelece com os objetos e as
situações de aprendizagem. Quando esses vínculos são inadequados podem
impedir ou dificultar a aprendizagem. Os conceitos são muitos e vão desde a
teoria piagetiana da inteligência à teoria psicanalítica de Freud.
A preocupação de Piaget, por exemplo, é com o “sujeito epistêmico”, ou
seja, é estudar os processos de pensamento presentes desde a infância até a
idade adulta. Na teoria de Piaget, a afetividade cumpre o papel de fonte de
energia para o funcionamento da inteligência.
Do século XVII até o início do século XX, a aprendizagem estava ligada
ao condicionamento, visava enquadrar o comportamento de todos os
organismos num sistema unificado de leis. Ivan Pavlov, médico russo, em 1903
publicou o resultado de suas pesquisas com cães em laboratórios e
casualmente descobriu que certos sinais provocavam a salivação e a secreção
estomacal no animal, reação que só deveria ocorrer quando houvesse ingestão
de alimentos. Esses resultados foram chamados de reflexo condicionado, que
podia ser adquirido através de experiência e poderia ter um papel importante
no comportamento humano e na educação. Essa pesquisa tornou-se a base
para uma corrente psicológica, o behaviorismo, fundada em 1913 por John
Watson.
Para Vygotsky, psicólogo russo, um dos conceitos mais importantes é o
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da Zona de Desenvolvimento Proximal, que é definida como a distância
entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da
solução independente do problema, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto
ou em colaboração com companheiros mais capazes. A linguagem tem o papel
de construtor e de propulsor do pensamento. O aprendizado adequadamente
organizado resulta em desenvolvimento mental. O pensamento é gerado pela
motivação, isto é, por nossos desejos e necessidades, nossos interesses e
emoções. Portanto, podemos concluir que existem dois tipos de condições de
aprendizagem: as externas, referindo-se ao aspecto social, cultural em que o
sujeito está imerso, e as internas, ligadas ao corpo como organismo mediador
da ação. A dimensão afetiva é o ponto central, na psicogenética de Henri
Wallon, no ponto de vista da construção da pessoa e do conhecimento.
Diante do exposto e para elucidação da influência dos aspectos afetivos
no processo ensino-aprendizagem, são discorridos no primeiro capítulo desse
trabalho os aspectos afetivos que podem interferir no processo de ensino-
aprendizagem, as primeiras aprendizagens no âmbito familiar e a importância
desta relação para o desenvolvimento do autoconceito e autoestima. O capítulo
II discorre sobre o papel do professor e como se processa as interações na
relação professor e aluno, que envolvam a questão da afetividade na
aprendizagem. O capítulo III discorre sobre como se processa a intervenção
Psicopedagógica nos conflitos afetivos da aprendizagem.
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CAPÍTULO I
A INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS AFETIVOS NA
APRENDIZAGEM
1.1 – Desenvolvimento do autoconceito e autoestima
Grandes pensadores do século passado começaram a dar atenção e
maior valor aos primeiros anos de vida do ser humano. Jean Piaget ressaltou
na infância as estruturas que possibilitavam ao ser humano adquirir o
conhecimento e a interpretação do mundo e Sigmund Freud nos apresentou o
funcionamento do psiquismo infantil, que é constituído nesta fase pela
presença do inconsciente e o relacionamento afetivo com os outros. Outros
teóricos também contribuíram com trabalhos fundamentais na Educação
Infantil, dentre eles, Jorge Visca, Lev Semenovich Vygotsky
Cada indivíduo é único e sua personalidade se desenvolve sofrendo
influências genéticas e ambientais. Cada ser participa de um contexto social,
portanto, seus conceitos também serão formados mediante as relações
socioculturais e as influências que sofrem destas relações. Os fatores que
compõem a individualidade do ser humano, além da genética, são o
background cultural, as experiências que são vivenciadas durante a vida e suas
crenças, cujos valores e princípios os particularizam como indivíduo.
No desenvolvimento humano, os aspectos da maturação são: o social,
interação do indivíduo dentro do seu meio; o cognitivo, estrutura intelectual
herdada; o físico, estrutura corpórea, herança fisiológica, e o pessoal, a
construção do eu, da nossa personalidade, o emocional. Vamos conhecer um
pouco mais sobre as teorias desenvolvidas pelos grandes pensadores.
1.1.1 – Sigmund Freud
Segundo Freud, existem três componentes da personalidade presentes
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em todos os seres humanos, o id, ego e supergo. O id é a fonte de
energia psíquica (libido) e está ligada ao princípio do prazer. Ele se apresenta
sob a forma de instintos inconscientes de natureza biológica, instinto de
sobrevivência, como a fome, a sexualidade, e impulsos de destruição,
agressividade (instintos de morte). Representa os processos primitivos do
pensamento e constitui, segundo Freud, o reservatório das pulsões.
Inicialmente, ele considerou que todas essas pulsões seriam ou de
origem sexual, ou que atuariam no sentido de autopreservação.
Posteriormente, introduziu o conceito das pulsões de morte, que atuariam no
sentido contrário ao das pulsões de agregação e preservação da vida. O id é
responsável pelas demandas mais primitivas e perversas. O ego permanece
entre ambos, alternando nossas necessidades primitivas e nossas crenças
éticas e morais. É a instância em que se inclui a consciência. Um eu saudável
proporciona a habilidade para adaptar-se à realidade e interagir com o mundo
exterior de uma maneira que seja cômoda para o id e o superego. O superego,
a parte que contra-age ao id, representa os pensamentos morais e éticos
internalizados. A teoria de Freud é que a nossa personalidade é dinâmica e
resulta de duas forças antagônicas: o id e o superego.
Durante os primeiros cinco anos de vida ocorre o processo de
estruturação da personalidade. Esse desenvolvimento se dá através de fases,
que são os chamados estágios psicossexuais.
No primeiro ano de vida, a criança se encontra na fase oral (até aos 12 –
18 meses) e obtém a satisfação por meio da sucção, isto é, as zonas erógenas
se encontram na boca. No segundo e terceiro ano de vida, a criança se
encontra na fase anal (até aos 3 anos) e o amadurecimento do comando
muscular e o controle dos esfíncteres fica mais evidente, bem como o sentido
de propriedade relativo aos seus pertences. As habilidades motoras de andar e
falar também são desenvolvidas nesta fase e então modifica-se a sua relação
com o ambiente, tendo a criança agora de lidar com impulsos internos e as
imposições ambientais. Nessa fase o interesse da criança se concentra mais
na eliminação.
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Na fase fálica (até aos 6 anos), a criança tem os seus
interesses voltados para os órgãos sexuais e para os prazeres ligados à
exploração e manuseio deles. Nessa fase, a angústia e o medo de castração
nos meninos e o complexo de castração no caso das meninas são
denominados respectivamente como complexo de Édipo/Electra e a criança
passa a identificar-se fortemente com o cuidador do mesmo sexo.
Estabelecendo identificações primárias masculinas e femininas. Na fase da
latência (até aos 12 anos) não há uma reorganização da sexualidade, havendo,
portanto, um acalmar das pulsões. Neste período, estará mais apta a adquirir
novos conhecimentos por meio do amadurecimento intelectual. Na fase genital
(até a idade adulta), as pulsões estão direcionadas para a parte genital do
homem ou da mulher, e o prazer deixa de ser autodirigido. Os interesses
voltam-se para as outras pessoas.
A compreensão das etapas da construção da sexualidade infantil é
importante para que os adultos saibam lidar com as diversas manifestações e
conflitos que venham a surgir nestas fases. De acordo com alguns
pesquisadores que desenvolveram estudos nessa teoria, a insatisfação nessas
etapas dificulta o desenvolvimento saudável da personalidade, que se estrutura
na infância e se consolida na fase adulta.
1.1.2 – Henri Wallon
Henri Wallon, por sua vez, deu maior ênfase à dimensão afetiva, tanto
para a construção da pessoa quanto do conhecimento, iniciando-se num
período que ele denominou de impulsivo-emocional, que se estende ao longo
do primeiro ano de vida. A afetividade fica reduzida praticamente às
manifestações fisiológicas da emoção, que constitui o ponto de partida do
psiquismo.
A sua teoria da emoção é original, pensada como o instrumento típico da
espécie humana para a sobrevivência. Se não fosse pela capacidade do bebê
de mobilizar o ambiente, suas necessidades poderiam não ser atendidas.
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Prova dessa capacidade é de como o choro atua de forma intensa na
mãe. Trata-se de uma função biológica que dá origem a traços característicos
da expressão emocional. Wallon a considera social, pois ela fornece o primeiro
e mais forte vínculo entre os indivíduos e supre a falta de articulação cognitiva
do ser.
A atividade emocional é complexa e paradoxal, é simultaneamente
social e biológica em sua natureza. Realiza a transição entre o estado orgânico
do ser e a sua etapa cognitiva, racional, sendo atingida através da mediação
cultural, isto é, social.
A toda alteração emocional corresponde uma flutuação tônica:
modulação afetiva e modulação muscular acompanham-se estreitamente. A
ansiedade infantil, por exemplo, pode gerar no adulto próximo também angústia
ou irritação. Resistir a esta forte tendência implica conhecê-la, isto é,
corticalizá-la, condição essencial para reverter o processo.
Do seu caráter social resulta ainda a tendência que tem para nutrir-se
com a presença dos outros. A sós, entregue a si mesma, a manifestação tende
a se extinguir rapidamente.
A emoção traz consigo a tendência para reduzir a eficácia do
funcionamento cognitivo; neste sentido, ela é regressiva. A qualidade final do
comportamento dependerá da capacidade cortical para retomar o controle da
situação. Para Wallon, a afetividade é componente permanente da ação, e até
mesmo um estado de serenidade deve ser entendido como emocional. Se for
bem sucedido, soluções inteligentes aparecerão e a emoção, mesmo que não
desapareça por completo, ficará reduzida.
A emotividade é diretamente proporcional ao grau de inaptidão, de
incompetência, de insuficiência de meios. Na vida adulta ela costuma aparecer
nas situações adversas, nas circunstâncias novas e quando não se tem
recursos.
O circuito perverso da emoção, surge nos momentos de incompetência
e, então, devido ao seu antagonismo estrutural com a atividade racional,
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provoca maior insuficiência. A educação da emoção deve ser incluída
entre os propósitos da ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo
do seu modo de funcionamento.
O caráter contagioso da emoção vêm do fato de que ela é visível, se
apresenta para o exterior através de modificações na mímica e na expressão
facial. As manifestações ruidosas do início da infância (choro, risos, bocejo,
movimento de pernas e braços) atenuam-se, mas a atividade tônica persiste. A
emoção esculpe o corpo, imprime-lhe a forma e consistência, sendo chamado
de atividade “proprioplástica”.
Afetividade e inteligência estão misturadas, e no início, com predomínio
da primeira. A história da construção da pessoa será constituída de momentos
dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos, não paralelos, mas
integrados.
A afetividade, no momento inicial, reduz-se praticamente às suas
manifestações somáticas, é pura emoção. Trata-se de uma afetividade
somática, epidérmica, onde as trocas afetivas dependem inteiramente da
presença de parceiros.
A inteligência constrói a função simbólica, a comunicação se beneficia,
alargando o seu raio de ação. A linguagem é incorporada em sua dimensão
semântica, primeira oral e depois escrita. Instalando-se o que podemos
denominar de forma cognitiva de vinculação afetiva.
A construção do Eu é um processo inacabado e persistirá sempre,
dentro de cada um, o que Wallon chama de “fantasma do outro”. Este drama
ocupa o quarto, quinto e sexto ano, com manifestação de rebeldia e o
negativismo em estado quase puro à sedução do outro, e depois à sua
imitação.
A construção da pessoa é uma autoconstrução. Não há mais nada social
do que o processo através do qual o indivíduo se singulariza, constrói sua
unicidade. Quando supera a dependência imediata da interpessoalidade e
prossegue alimentando-se a cultura.
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1.1.3 – Jean Piaget e Lev Semionovitch Vygotsky
Podemos observar nos estudos de Piaget, Wallon e Montessori, que a
criança percorre etapas diferentes nos seu desenvolvimento cognitivo. Na
teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerando como
tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Paralelo ao desenvolvimento
cognitivo está o desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses,
desejos, tendências, valores e emoções em geral. Piaget (2007) aponta quatro
estágios, com diferentes níveis que são os: sensório-motor, pré-operatório,
operações concretas e operações formais. Em cada período do
desenvolvimento, são construídas estruturas cognitivas singulares.
As mudanças são percebidas pelas evidências comportamentais na
assimilação de novos esquemas funcionais dissimilares. A faixa etária não
deve ser vista como um parâmetro rígido, em razão das diferenças individuais
e a interação com o ambiente social.
O estágio sensório-motor, que vai do nascimento até aos dois anos,
demonstra que a inteligência precede a linguagem. A percepção sensório-
motora leva a criança a formular as imagens mentais que resultarão na
construção da sua linguagem. Ela não utiliza a fala, mas aplica ações. O
conceito de objeto começa a ser desenvolvido e apesar de não vê-lo ou senti-lo
percebe a sua existência.
No estágio pré-operatório, que vai dos três aos seis anos, a criança já
pensa em um objeto, através da imagem do outro. Dispõe de ações
interiorizadas e já possui capacidade simbólica instalada. Mas, ainda não
possui a reversibilidade. Representa as realidades do mundo por meio de
desenhos e brincadeiras. Começa a haver o desenvolvimento da inteligência
não só pelas ações como também pela linguagem. Nessa fase ignora os outros
pontos de vistas e enxerga o mundo sob a sua perspectiva. Não sente
necessidade de dar mais detalhes, acredita que todos saibam do contexto que
está falando. Mas, aos poucos vai reconstruindo essa perspectiva. Nas
pesquisas de Piaget (2007) podemos observar que nesse estágio a criança
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aprende a articular as relações com as pré-relações, criando
movimentos funcionais e inteligentes para atingir seus objetivos. A ausência de
reversibilidade e de instrumento de quantificação, nessa fase, faz com que a
criança pense que um copo maior terá maior volume de água do que o outro
menor, mesmo que a quantidade de líquido seja a mesma.
Já no estágio das operações concretas, em torno dos 07 aos 11 anos, a
criança já adquire o conceito de reversibilidade, ou seja, imagina a ação e a
sua reversão. Ainda encontra-se ligada à realidade concreta, e as suas ações
mentais estão organizadas no presente e nas situações que possa vivenciar.
Portanto, é natural que haja dificuldade em fazer atividades que demandem
apenas a abstração.
No último estágio, o das operações formais, com a idade em torno dos
11 anos em diante, a criança ou adolescente já começa a operar abstraindo
fora da suarealidade física, pensando hipoteticamente de maneira lógica e
reversível. Raciocina em termos abstratos, formulando hipóteses para testar as
suas conclusões, independentemente da verdade concreta. Para Vygotsky, a
vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem de ser
biológico em ser humano. É pela aprendizagem nas relações com os outros
que construímos o conhecimento que permitem nosso desenvolvimento mental.
A criança nasce dotada apenas das funções psicológicas elementares, mas
com o aprendizado cultural, parte das funções básicas transformam-se em
funções psicológicas superiores, como a consciência, por exemplo, de um nível
de conhecimento para outro. Vygotsky, desenvolveu o conceito da zona de
desenvolvimento proximal que refere-se ao caminho que o indivíduo percorre
para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se
tornarão funções consolidadas, que estão estabelecidas no seu nível de
desenvolvimento real. A zona de desenvolvimento proximal é um domínio
psicológico em constante transformação. Para Vygotsky, o desenvolvimento da
espécie humana e do indivíduo se baseia, no aprendizado que, direta ou
indiretamente, envolve a interferência de outros indivíduos e a reconstrução
pessoal da experiência e dos significados. A interação é o espaço de
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constituição e desenvolvimento do ser humano, descrito como
histórico e cultural, sendo impossível dissociar as dimensões cognitivas e
afetivas dessas interações e dos planos fisiológicos e psicológicos decorrentes.
Piaget e Vygotsky, ambos são construtivista em sua concepção do
desenvolvimento intelectual. Sustentam que a.inteligência é construída a partir
das relações recíprocas, do homem com o meio. Os dois se opõem tanto à
teoria empirista (para a qual a evolução da inteligência é produto apenas da
ação do meio sobre o indivíduo) quanto à concepção racionalista (parte do
princípio de que já nascemos com a inteligência pré-formada). Para Vygotsky,
o meio é sempre revestido de significados culturais. O fator cultural, básico, é
pouco enfatizado por Piaget é a diferença central entre os dois teóricos
construtivistas. Ambos divergem também quanto à seqüência dos processos de
aprendizagem e desenvolvimento mental. Para Vygotsky, é o primeiro que gera
o segundo, o aprendizado adequadamente organizado resulta em
desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de
desenvolvimento. Já Piaget, entende que é o desenvolvimento progressivo das
estruturas intelectuais que nos torna capazes de aprender (fase pré-operatória
ou lógico-formal).
O autoconceito, portanto, está ligado à imagem que temos de nós
mesmos e se refere ao conjunto de características ou de atributos que
utilizamos para nos definir como indivíduo e para nos diferenciar dos demais.A
dimensão valorativa e julgadora do eu, dentro do conhecimento de si mesmo
ou autoconceito, denomina-se auto-estima. A auto-estima é um produto
psicológico, determinado por nossa subjetividade e, que, assim como o
autoconceito, muda de acordo com a idade, os interesses, os aspectos
socioeconômicos e culturais envolvidos. Na etapa entre os quatro e sete anos
para avaliar a auto-estima, cita quatro domínios distintos e relevantes nessas
idades: competência física, competência cognitivo-acadêmica, aceitação por
parte dos iguais e aceitação por parte dos pais. As crianças parecem ser
capazes de descrever como são competentes e hábeis em cada fase destas
dimensões citadas e podem variar sua auto-estima de forma diferenciada em
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cada uma delas. Por exemplo, a criança que apresenta alta auto-
estima na competência cognitivo-acadêmica pode apresentar baixa auto-estima
na competência física ou na aceitação por parte dos iguais. As crianças além
de poderem se auto-avaliar em uma série de facetas diferentes, vão
desenvolvendo uma avaliação geral de si mesmas, não-ligada a nenhuma área
de competência específica. Somente a partir do momento em que as crianças
conseguem se auto-avaliar de forma mais desligada e independente de sua
atuação em situações concretas. O desenvolvimento da personalidade e das
emoções entre os dois e os seis anos estão relacionados com os processos
educativos e socializadores que ocorrem no interior da família; compreendendo
que, as influencias na família não devem ser analisados como um processo
unidirecional do adulto para com a criança, mas como um conjunto de
influências bi e multidirecionais. A análise deve partir de uma concepção
sistêmica e ecológica na qual se entende a família como um sistema que, além
disso, não está isolado do ambiente que o rodeia, mas que mantém relações
com outros contextos importantes para o desenvolvimento de seus membros (o
trabalho dos pais, as experiências escolares dos filhos) ao mesmo tempo em
que uns e outros se encontram enquadrados dentro de contextos de influencia
superiores (como o contexto cultural) submetidos a mudanças sociais e
históricas.
As interações que surgem da conduta apego-seguro é a reciprocidade, a
compreensão e a empatia e por intermédio destas relações, “acaba-se
interiorizando uma idéia sobre si mesmo, uma auto-estima, uma capacidade de
iniciativa, de curiosidade e entusiasmo que são muito valorizadas pelos iguais.”
Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a
motivação ou interesse da criança para aprender. O afeto é o princípio
norteador da auto-estima. Após desenvolvido o vínculo afetivo, a
aprendizagem, a motivação e a disciplina como 'meio' para conseguir o
autocontrole da criança e seu bem estar são conquistas significativas.
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1.2 – Protoaprendizagem relacionando-a com os estudos de Winnicott
Winnicott observou aproximadamente 60 mil crianças e suas mães,
iniciando suas observações na pediatria e deu-lhes continuidade como
psicanalista.
Nessa observação constatou a dependência absoluta da criança em
relação aos cuidados maternos. Resultando na formulação do estado de não
separação inicial mãe-bebê. Nesta fase, a continuidade do ser é o sentimento
da fusão entre a mãe suficientemente boa e o bebê. A mãe seria considerada
suficientemente boa se conseguisse captar as peculiaridades do bebê, mas
respeitando-as.
“Ela não se confunde com o bebê, não impõe seu gesto,
empresta seu sonhar para que a individualidade se
constitua” (NETO, 2005, p.16)
Aos poucos, a dependência absoluta da criança para com a mãe vai
sendo substituída pela dependência relativa. Inicialmente, existe uma ilusão de
onipotência necessária por parte da mãe, seguida de uma desilusão gradual e,
com isso, o bebê vai ocupando o seu espaço.
Para que o bebê descubra o ambiente e o mundo externo é necessário
que a mãe não prossiga com a ilusão de onipotência e de superproteção.
Neste momento, surge o eu e o não-eu, e a criança começa a ter
identidade e sentir-se real. A partir de uma elaboração da realidade externa há
afirmação do “eu sou”, ocorrendo depois a afirmação do “você é”.
A criança, neste momento, inicia a transicionalidade, que é um processo
maturacional ligado à transição da dependência absoluta para a dependência
relativa. Nesse momento, a criança escolhe aquilo que Winnicott chamou de
“objeto transicional”. O importante aqui é como a criança usará esse objeto,
pois ele servirá para fazer a separação entre a mãe e o bebê, permitindo que o
processo de separação seja tolerada nos momentos de ausência da mãe
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(quando for trabalhar, por exemplo). Não deve haver a substituição
destes objetos, para evitar a ruptura da experiência de familiaridade e
continuidade. Quando o processo transcorre com sucesso o objeto transicional
será substituído pelo espaço transicional que implicará no desenvolvimento de
sua capacidade criativa.
O objeto transicional é tratado com amor e agressividade pela criança.
Esta sendo realizada, em parte, a substituição da mãe. Conforme Winnicott, a
agressividade não está relacionada somente com a frustração mas também
com a busca do objeto.
“Quando a mãe suporta ser destruída e recriada na fantasia
da criança como objeto subjetivo, ela permanece viva e
presente e, então, é novamente buscada pela criança, que
continuará destruindo-a e recriando-a no brincar.
(PARENTE, 2005, p.26)
Fazer brincando faz parte deste processo de elaboração e a família
também deve participar da brincadeira com a criança. Deve haver um equilíbrio
nesta brincadeira, a criança não deve brincar sempre sozinha e nem deve
depender sempre de alguém para brincar.
Quando falamos em “aprender brincando”, podemos observar que a
família desempenha um papel decisivo nas primeiras aprendizagens da
criança, pois o ensinar deve ser de forma lúdica e não imposto como
obrigações e imposições. Os primeiros estímulos da criança deveriam ser
recebidos em casa, antes de entra na escola.
O vínculo emocional que os pais estabelecem com seus filhos serve
como modelo para relacionamentos futuros, seja no convívio familiar ou extra-
familiar. Crianças com conduta de apego-seguro mostram maior capacidade
para compreender suas próprias emoções, apresentam conduta amigável e
maior disposição em expressar um estado de ânimo positivo frente às
frustrações que surgem nas relações sociais.
As interações que surgem da conduta apego-seguro é a reciprocidade, a
20
compreensão e a empatia e por intermédio destas relações, “acaba-se
interiorizando uma idéia sobre si mesmo, uma auto-estima, uma capacidade de
iniciativa, de curiosidade e entusiasmo que são muito valorizadas pelos iguais.“
1.3 - Aprendizagem na visão de Visca
Um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a
Epistemologia da Psicopedagogia foi Jorge Pedro Luiz Visca, nasceu em
Baradero, província de Buenos Aires, em 14 de maio de 1935 e propôs estudos
que chamou de Espistemologia Convergente. Jorge Visca faleceu em 2000
deixando sua marca inconfundível especialmente no que diz respeito à teoria
da prática psicopedagógica clínica.
Epistemologia Convergente, que é uma conceitualização acerca da
aprendizagem que, a partir das contribuições das escolas psicanalística
(Freud), piagetiana (Piaget), e da Psicologia social (Pichon Riviere), facilitou a
compreensão dos aspectos afetivos, cognoscitivos e do meio, que podem
interferir na aprendizagem. Podemos dizer que é o resultado da assimilação
recíproca de conhecimentos fundamentados no construtivismo, no
estruturalismo construtivista e no interacionismo.
Segundo Visca, a inteligência se constrói a partir da interação do sujeito
com as circustâncias com o meio social (1991, p.47). O professor e o contato
com outras crianças são essenciais para a construção do conhecimento. Para
obter uma boa aprendizagem não basta apenas ter um bom desenvolvimento
no aspecto cognitivo, pois fatores de ordem afetiva e social podem interferir de
forma positiva ou negativa.
A relação do sujeito com o objeto de aprendizagem revela a existência
de vínculos positivos e negativos, que possuem diferentes níveis de
intensidade.
21
1.3.1 - Os quatro estágios da aprendizagem na visão de Visca
- Aprendizagem Protoaprendizagem è É o resultado da interação da
criança com a mãe, sendo, portanto, o estágio das primeiras relações
vinculares. Mãe é que dá sentido a criança, com o choro a mãe vai atendendo
a necessidade da criança.
- Aprendizagem Deuteroaprendizagem è Aprendizagem já não é mais
só com a mãe. Consiste no contato do sujeito que alcançou a
protoaprendizagem com o grupo familiar que lhe possibilitou adquirir uma
precoce visão dos objetos animados e inanimados
- Aprendizagem Assistemática è Elaborada por meio do vínculo entre
o sujeito e a comunidade restringida, o que lhe permite adquirir conhecimentos
que ainda não são os da instituição educativa. Toda aprendizagem dentro de
casa, fora de casa, pracinha;
- Aprendizagem Sistemática è Resulta da interação do sujeito com as
instituições. (Sampaio, 2009) .
1.3.2 - Três tipos de obstáculos da aprendizagem na visão de Visca
- Obstáculo epistêmico è refere-se a uma estrutura cognitiva defasada
em relação à idade cronológica;
- Obstáculo epistemofílico è falta de amor pelo conhecimento,
gerados pelo medo; 1º) indiscriminação entre o sujeito e o objeto de
conhecimento, 2º) agressão pelo objeto, 3º) perder o que já foi adquirido.
Aparecem diante a nova aprendizagem;
Obstáculo funcional è corresponde a causas emocionais e estruturais.
Dificuldade para antecipar, mesmo com nível intelectual ótimo.
Portanto, é preciso estarmos atentos aos sintomas que são
22
apresentados pelos alunos, que podem ser os causadores da
dificuldade de aprendizagem escolar. É importante um diagnóstico
psicopedagógico, que tem a intenção de descobrir a causa do seu
aparecimento.
As vezes a percepção de que há algo errado também pode partir do
próprio aluno, que começa a se sentir incomodado com as críticas que começa
a receber, seja na escola, no seu meio social ou na própria família. O meio em
que ele vive pode acabar deflagrando as suas fragilidades.
Todo sintoma deve servir de alerta para que alguma providência seja
tomada.
1. 4 - A aprendizagem no âmbito familiar
As primeiras aprendizagens do sujeito acontecem no âmbito familiar. As
primeiras conquistas da criança também são no seio familiar. Por isto, quanto
mais estímulos a criança recebe, mais oportunidades ela terá de desenvolver
novas habilidades.
“Munhoz (2005, p.180) diz: que é observando a interação
existente entre os membros da família que podemos
compreender como se dá a circulação do conhecimento e o
acesso à aprendizagem, visto que como cada membro
familiar tem uma forma própria de aprender e operar ao
construir o próprio conhecimento, ou seja, uma modalidade
de aprendizagem que o permite se aproximar do
desconhecido, para agregá-lo ao saber.”
Conforme Fernández, a modalidade de aprendizagem é o resultado das
experiências de aprendizagem do indivíduo em interação com o grupo familiar.
A família deve estimular o pensamento da criança, deve ajudá-la a pensar com
autonomia. É importante ouvir suas indagações e questionamentos, mas deve-
se permitir que ela faça suas escolhas e se responsabilize por elas, orientando
23
quando necessário e na medida certa.
Quando a autoria do pensamento da criança é podada pela família, pode
haver reflexo negativo na aprendizagem do sujeito. Neste caso o sujeito poderá
mostrar-se submisso e inseguro na tomada de decisão.
A família deve participar ativamente da educação da criança,
acompanhando o que acontece na escola. Numa sociedade em transformação,
onde a família vem apresentando uma nova constituição, não sendo mais
aquela formação tradicional, onde o pai era o provedor, a mãe era a do lar e a
que acompanhava diariamente as primeiras aprendizagens da criança, onde
suas conquistas eram comemoradas e estimuladas para que novas habilidades
fossem adquiridas. Ao longo do tempo vem se consolidando uma nova
formação de família, a mãe que era a ”cuidadora”, ingressa no mercado de
trabalho e passa também a sofrer as conseqüências do novo mercado que se
apresenta, onde a instabilidade e insegurança se instalam, com a velocidade
da tecnologia que muda muito rápido há necessidade de estar constantemente
se aprimorando e se capacitando para as novas práticas do mercado,
conseguindo sobreviver os que apresentam versatilidade. O vínculo
empregatício já faz parte do passado, onde existia uma “estabilidade” que um
bom desempenho garantiria uma aposentadoria tranqüila.
Todas essas mudanças na sociedade tiveram reflexo na família, a
insegurança em que os pais vivem e a necessidade de constante adequação
as novas práticas do mercado, fizeram com que a família transferisse para a
escola a adaptação social dos seus filhos e até a aprendizagem das noções
mais básicas de higiene e sexualidade. A formação dessa criança começa a
apresentar uma lacuna que dificilmente será preenchida nesse cenário. A falta
de incentivo dos pais, a falta de incentivo da escola para que os alunos
permaneçam e como a escola não dispõe de um ambiente social adequado,
nem tem o entusiasmo necessário, se a criança não aprender em casa esses
conceitos também não encontrará na escola, tornando-se um círculo vicioso.
A família ao escolher a escola do seu filho não deve pensar apenas no
aspecto cognitivo, não deve ser reducionista em nenhum aspecto, mas ampla,
24
na direção da formação dos seres humanos completos, críticos e
participativos, na direção da construção da cidadania.
Na família moderna, em numerosos casos, falta o afeto. O aspecto
afetivo apresenta uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual
da criança, pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento. Na teoria de
Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois
componentes: um cognitivo e outro afetivo. Paralelo ao desenvolvimento
cognitivo está o desenvolvimento afetivo do nascimento até a vida adulta,
centrando-se na infância. O afeto inclui sentimentos, interesses desejos,
tendências, valores e emoções em geral. Com suas capacidades afetivas e
cognitivas expandidas através da contínua construção, as crianças tornam-se
capazes de investir afeto e ter sentimentos validados nelas mesmas.
A família apresenta um papel decisivo neste aspecto, a auto-estima
mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse da criança para
aprender. O afeto é o princípio norteador da auto-estima. Após desenvolvido o
vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina como 'meio' para
conseguir o autocontrole da criança e seu bem estar são conquistas
significativas.
Para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adequado
dentro do ambiente escolar, e conseqüentemente no social, é necessário que
haja um estabelecimento de relações interpessoais positivas, como aceitação e
apoio, possibilitando assim o sucesso dos objetivos educativos.
25
CAPÍTULO II
Aprendizagem escolar e a relação professor x aluno
2.1 – Escola como agente socializador
A escola, por ser o primeiro agente socializador fora do círculo familiar
da criança, deve oferecer todas as condições necessárias para que ela se sinta
segura e protegida. É imprescindível a presença de um educador que tenha
consciência da sua importância não apenas como um mero reprodutor da
realidade vigente, mas sim como um agente transformador e com uma visão
sócio-crítica .
O professor deve procurar conhecer quais são as habilidades e as
fraquezas do aluno para poder desvendar os diferentes processos da
aprendizagem.
A aprendizagem é um processo de aquisição que juntamente com a
maturação, constituem um dos processos fundamentais do desenvolvimento do
sistema nervoso central. Implica uma modificação no sistema nervoso; produz-
se por ação de um estímulo extrínseco ou intrínseco; é um processo no qual o
indivíduo adapta-se às modificações ambientais. Conhecer o sistema nervoso
da criança, sua organização, suas funções, seus períodos críticos ou janelas
de oportunidades, as habilidades cognitivas e emocionais, suas
potencialidades e limitações pode tornar o trabalho de educador mais eficiente,
possibilitando intervenções eficazes para diminuir a incidência das dificuldades
escolares.
Os educadores, que têm no processo de ensino-aprendizagem o seu
objetivo de investigação, deveriam estar interessados na Neuropsicologia, pois
a aquisição de novos comportamentos resultam do funcionamento do cérebro.
A Neuropsicologia se ocupa de atividade biológica relativa ao
funcionamento do cérebro, em especial do córtex. Há pouco tempo dentro do
26
campo de Neuropsicologia infantil, tem-se desenvolvido uma sub
especialidade chamada Neuropsicologia.da aprendizagem, Neuropsicologia
escolar, Neuropedagogia, Neurodidática ou Neuroeducação. Conforme o
enfoque teórico-prático dos diferentes países.
As competência e habilidades valorizadas e desenvolvidas na Educação
Infantil precisam ser construídas. Apresentamos abaixo os pilares da educação
que a Unesco utiliza para esse desenvolvimento ( Delors, 1999),
- Aprender a ser è acontece a partir do auto-conhecimento, da auto-
estima, desenvolvendo o pensamento crítico e a criatividade, a
responsabilidades de ser, de agir bem.
- Aprender a conhecer è envolve o prazer de conhecer, compreender e
construir.
- Aprender a conviver è desenvolvimento de sociabilidade e
valorização das pessoas, do trabalho em equipe.
- Aprender a fazer è desenvolvimento de habilidades e competências,
aplicação dos conhecimentos, coragem de correr risco de errar, para acertar .
As mudanças são percebidas pelas evidências comportamentais na
assimilação de novos esquemas funcionais dissimilares. A faixa etária não
deve ser vista como um parâmetro rígido, em razão das diferenças individuais
e a interação com o ambiente social.
Na condição de educadores, precisamos estar atentos ao fato de que,
enquanto não dermos atenção ao fator afetivo na relação educador-educando,
corremos o risco de estarmos só trabalhando com a construção do real, do
conhecimento, deixando de lado o trabalho da constituição do próprio sujeito
que envolve valores e o próprio caráter necessário para o seu desenvolvimento
integral.
2.2 – Modalidade de Aprendizagem
O sujeito está em constante interação com o meio, acontecendo
27
constantes desequilíbrios e equilíbrios, o que contribui para a
adaptação do sujeito a este meio. Portanto, o sujeito se constrói, adaptando-se
ao meio.
Segundo Piaget, este equilíbrio ocorre quando há assimilação e
acomodação. A assimilação ocorre em qualquer nível do desenvolvimento e
consiste na integração de um dado novo a um esquema já existente.
Possibilitando o indivíduo a adaptar-se ao meio, organizar-se e ampliar seus
esquemas. Na acomodação, ocorre a modificação e a transformação desses
esquemas para que seja possível adaptar-se ao meio. Quando há o equilíbrio
entre assimilação e a acomodação, dizemos que houve uma adaptação.
A assimilação e a acomodação acontecem em todo sujeito, mas
naqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem, ocorre a
predominância de um sobre o outro. Abaixo citaremos alguns exemplos de
modalidades de aprendizagem, que surgem em decorrência da inibição
precoce de atividades assimilativo-acomodativas:
- hipoassimilativo è de acordo com Paín, acontece quando os esquemas
de objetos permanecem empobrecidos, resultando um déficit lúdico e criativo.
Andrade(1998, p.93) nos diz que o sujeito tem muito medo de errar quanto de
acertar, porque o erro mostra o quanto é incapaz e o acerto o coloca em lugar
de evidência e destaque, o que leva o sujeito numa situação conflituosa e
pouco confortável;
- hiperassimilação è ocorre uma internalização prematura dos
esquemas com um predomínio lúdico que o impede de permitir a antecipação
de transformações possíveis, o que acaba por desrealizar o pensamento da
criança. (PAÍN, 1992, p.47). Conforme Andrade (1998, p.93) apesar da atitude
questionadora e investigativa deste sujeito que se prende a detalhes, ele não
presta muita atenção à resposta que lhe dão, porque já está formulando outra
pergunta. A aprendizagem se torna difícil, não consegue identificar o que lhe
será útil, não conseguindo apropriar-se do conhecimento e modificar os seus
esquemas. Estes sujeitos apresentam dificuldade de lidar com limites, regras e
estabelecer vínculos;
28
- hipoacomodação è aparece quando o ritmo da criança não foi
respeitado, nem sua necessidade de repetir a mesma experiência muitas vezes
(PAÍN, 1992, p.47). Para Andrade (1998, p.93), este sujeito tem dificuldade de
estabelecer vínculos tanto em nível emocional quanto em nível cognitivo.
Muitas vezes sendo taxado de preguiçoso, e o aprender/conhecer
representa perigo. Diante do novo assusta-se. A pobreza de contato com a
realidade, que pode estar ligada a situações familiares do início da sua vida, ou
conflitos atuais, impede-o de realizar uma aprendizagem saudável;
- hiperacomodação è surge quando houve superestimulação da
imitação (PAÍN, p.47). A criança, não teve oportunidade de tomar decisões de
trabalhar sua autonomia, tornado-se um sujeito sem iniciativa, pouco criativo,
muito obediente às normas, submisso. Conforme Fernandez (1991, p.110),
muitos “bons alunos” encontram-se nesta posição.
O professor deve estar atento, é importante que ele consiga identificar a
modalidade de aprendizagem do sujeito para que a metodologia utilizada seja
adequada às suas necessidades. O propósito deve ser o de (re)significar sua
aprendizagem.
As mudanças são percebidas pelas evidências comportamentais na
assimilação de novos esquemas funcionais dissimilares. A faixa etária não
deve ser vista como um parâmetro rígido, em razão das diferenças individuais
e a interação com o ambiente social
2.3 – A importância do vínculo professor x aluno
O professor na sala de aula tem a mesma forma de ensinar, mas por
que a aprendizagem não acontece da mesma forma para cada aluno?
Podemos certamente afirmar que os vínculos formados entre professor e
todos os alunos, não é o mesmo. Cada criança tem um temperamento,
comportamento, família, culturas diferentes. Alunos que apresentam
comportamento inadequado na sala de aula ou que se desconcentram com
29
facilidade, costumam ser chamados à atenção, que, quase sempre,
são carregadas de broncas e ameaças, destruindo a auto-estima da criança, e
um vínculo que é fundamental para a aprendizagem.
A criança ao entrar na escola pela primeira vez, precisa ser muito bem
recebida, porque nessa ocasião dá-se um rompimento de sua vida familiar para
iniciar-se uma nova experiência, e esta deverá ser agradável, para que haja um
reforço da situação.
O aluno quieto, calado também pode estar entre aqueles que não
aprendem bem.
A timidez dos alunos também interfere, pois quase nunca eles se
manifestam, permanecendo com as dúvidas acumuladas, tendo como
conseqüência baixo rendimento. Estes alunos acabam sendo notados
geralmente pelo baixo desempenho apresentado. Em muitos casos não há
nada de errado com seu cognitivo. Normalmente eles recebem o papel de
coadjuvante, ao invés de serem estimulados com recursos diversificados,
mostrando o que fazem de melhor e o papel principal acaba ficando para os
mais extrovertidos e desinibidos.
Todos os alunos são capazes, é claro de maneira diferente, portanto
deve haver m olhar diferenciado do professor para descobrir o que cada um
tem de especial, ajudando-os a desenvolver novas competências.
Muitos professores gostariam de ter na sala de aula, somente alunos
que participassem ativamente, fizessem as tarefas com autonomia, prestassem
atenção à aula, evitando o desgaste de ficar chamando-lhes a atenção o tempo
todo. Com o aluno tendo o comportamento desejado pelo professor, seria um
indício de que a sua aula é boa, mas em contrapartida quando isto não
acontece eles não culpam a si mesmos.
Cabe ao professor um importante papel nas inter-relações escolares. As
características individuais dos professores (autoritário, permissivo, organizado)
e seus traços de personalidade são apontadas como responsáveis por maior
ou menor eficiência como docentes, assim como a predisposição para o
30
magistério.
O professor precisa estabelecer uma relação afetiva com os seus alunos
e perceber que como indivíduo, seus alunos também tem algo a oferecer e que
a aprendizagem se faz por intermédio das interações estabelecidas. O
professor através das suas atitudes oferece uma série de informações ao aluno
que irão contribuir com seu autoconceito. As expectativas que o professor tem
para com seus alunos poderão contribuir sobre seu desempenho. O aluno que
tem suas características valorizadas pelo professor, tende a acentuá-las cada
vez mais, enquanto aquele que se sente rejeitado ou discriminado tende a se
afastar e acaba por ver as expectativas negativas do professor serem
confirmadas. Desta forma, as crianças que apresentam dificuldades de
aprendizagem podem se ver como incompetentes, o que interfere em seu
autoconceito e em sua capacidade de reverter a situação. Socialmente pode
apresentar comportamento de isolamento, dependência, passividade e até
mesmo submissão, por se sentirem menos respeitados e aceitos.
Para realizar as propostas do ensino, o professor deve conhecer bem as
possibilidades de aprendizagens do aluno e suas características individuais,
para que possa adequar a metodologia de ensino ao aluno. O conhecimento
será feito por intermédio da interação e da comunicação, da observação
constante de seus processos de aprendizagem e da reavaliação da proposta a
cada nova fase do processo.
O professor como mediador do processo deve ajudar ou facilitar os
alunos a construir aprendizagens significativas e, para tal, precisa atribuir um
sentido pessoal à aprendizagem para que os alunos compreendam não apenas
o que têm de fazer, mas também por que e para quê. A participação ativa dos
alunos acontece quando estes sentem que podem ter êxito em sua
aprendizagem e para isso devem ser propostas atividades que eles sejam
capazes de resolver com a ajuda necessária, e sejam encorajados pelo esforço
e não pelo resultado.
A metodologia utilizada na sala de aula deve ser criativa, é muito
importante para o processo de ensino-aprendizagem. Além da compreensão,
31
do respeito ao ritmo da criança e da paciência. A aula deve ser
dinâmica para que possa prender a atenção dos alunos, pois crianças com
problemas familiares são propensas a se dispersar mais, bem como crianças
com déficit de atenção.
Alguns professores costumam atribuir problemas de aprendizagem a
conflitos familiares, são problemas que de fato, contribuem muito para
desencadear a dispersão, a falta de concentração, a baixa auto-estima e o
desinteresse pela aprendizagem. Quando isso ocorre tal fato é visto como o
único motivo de fracasso escolar,
O professor deve estar sempre atento à mensagem que está passando
na sala de aula para os seus alunos. Por exemplo, o pensamento de
impaciência se estiver presente na hora de atuar com um aluno, será um
desastre, mas, ao ser consciente de seu pensamento de impaciência, o
professor poderá frear esse pensamento e proporcionar uma ajuda tanto para
si mesmo quanto para o aluno.
Todo o trabalho docente começa primeiro no próprio docente que, se
não tiver domínio de seu campo mental, de seus pensamentos, deixará de
atuar positivamente no interno do aluno. A criança capta muito do sentir
docente.e sente bem que este quer realizar . Na sua prática, o docente deve
estar atento ao seu interno, pois para ajudar alguém deve estar preparado. O
professor é como maestro, deve conduzir sua orquestra de forma que seus
músicos não só sigam a sua regência, mas também saibam tocar seus
instrumentos de forma individual e coletiva.
Apenas o conhecimento da própria profissão não é suficiente para
prover ao professor do muito que ele precisa saber para cumprir da melhor
forma possível esta grande tarefa de educar. O professor deve ser um grande
estrategista, conhecer bem seu campo de atuação para nele atuar com
decisão; saber aonde ele quer chegar e com que elementos pode contar.
“O professor é responsável pelo ambiente de sua sala de
aula, ele deve cuidar para oportunizar a manifestação dos
32
melhores pensamentos e de sentimentos nobres,
pois, assim a criança se sentirá atraída pelo estudo, porque
se encontrará fortalecida. Este preparo começa na mente
do docente, que deve ordenar seus pensamentos, habituar
o uso da reflexão antes de atuar com o aluno e fazer as
tarefas com gosto. É preciso tornar tudo estimulante, usar
da correção individualmente e em forma de raciocínio. Há
de despertar na criança o interesse pela própria vida, além
de dar elementos para que ela construa o conceito de
estudo.” VIEIRA (2006, pág. 61)
Para a Pedagogia Logosófica, a Lei do Afeto, desempenha um papel
importante no processo da aprendizagem. O afeto aflora a sensibilidade e tudo
que desperta a sensibilidade se torna inesquecível. Há muitas formas de
atuação do professor que podem surpreender os alunos: uma arrumação
diferente da sala de aula, um bilhete com uma bala em suas mesas logo
quando entram na sala; um decalque que o professor pode colar em suas
agendas ou cadernos; um desenho e uma mensagem que o professor desenha
e escreve no quadro antes dos alunos chegarem à sala. Enfim temos muitos
recursos que podem surpreender os alunos. Coisas simples, mas que tem um
significado para os alunos, pois essas pequenas ações, regadas de afeto,
despertam a sensibilidade da criança predispondo-a a aprender, e a se superar
e ser mais feliz. Segundo tais considerações encontramos o professor que usa
a motivação como instrumento metodológica na relação de aprendizagem,
entendendo que esta se realiza na interação entre ele e o aluno, discordando
da posição autoritária que, antes designava esta função. “o afeto é “o princípio
fixador das relações humanas”. Sem o afeto, nada se constrói, porque tudo
desmoronaria. É como se a mente fosse o tijolo e o afeto o cimento que nos
une. O afeto aqui não significa carinho, afago, mas a manifestação sincera para
ajudar o outro ser. Ele é o princípio fixador porque cria o vínculo entre os seres
e, neste caso, entre o professor e aluno. O autor (2003, p.139) também
conceitua o afeto como ”a parte do amor feito consciência...” Isto quer dizer que
33
o conhecimento faz parte do afeto, ou seja, precisa-se do
conhecimento para se ter afeto. Trata-se aqui do conhecimento que traz uma
nova geração de conceitos, um conhecimento que transcede o que comumente
conhecemos. “Quando fazemos o bem, precisamos saber o quê, o porquê e o
para quê estamos fazendo” (Pecotche, 2003, p.138).
Para que o aluno aprenda é necessário que ele se autorize a aprender,
pois caso contrário, poderá existir um bloqueio de qualquer ordem que
impossibilite esta aprendizagem. A construção do conhecimento no aluno
depende da formação do vínculo positivo de quem aprende, mas para que o
aluno transforme este conhecimento deve haver confiança nesta relação
ensino aprendizagem.
A crítica negativa tem o poder de alterar o comportamento do aluno.
Triste é o educador que já não acredita mais na capacidade de aprendizado,
que não se debruça para examinar melhor a peculiaridade de cada aprendiz. A
educação é, em todas as suas dimensões, um grande desafio.
34
CAPÍTULO III
Intervenção psicopedagógica nos conflitos afetivos da
aprendizagem
O objeto da Psicopedagogia vai muito além de um “processo de
aprendizagem”; refere-se a um sujeito que aprende, sendo este muito mais do
que um aprendiz, mas sim um ser capaz de conhecer sobre si e sobre o
ambiente do qual é parte constituinte.
No desenvolvimento ensino-aprendizagem, a participação
Psicopedagogia, vai concentrar as explicações dos obstáculos da
aprendizagem em diferentes domínios (orgânico, cognitivo, afetivo e social) do
indivíduo em sua interação com o meio ambiente e, especificamente, no
escolar, é de, inicialmente, procurar conhecer o professor e sua preparação
pedagógica, o projeto político pedagógico da escola e os mecanismos que
usam para alcançar o desenvolvimento ensino-aprendizagem.
No contexto ensino-aprendizagem a criança que apresenta dificuldades
emocionais, poderá ter comprometimento no desempenho das suas atividades
acadêmicas. A interação social que estabelece no ambiente escolar contribui
para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, pois este passa a ser
influenciado pela escala de valores que o grupo adota. E destas interações
sociais o papel que cada um desempenha socialmente será determinado.
Portanto, é necessário analisar quais tipos de conflitos afetivos poderá se
desencadear e quais serão as conseqüências para o seu desenvolvimento.
O diagnóstico psicopedagógico, não passa de uma investigação para
descobrir o que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta
padronizada. É o esclarecimento de uma queixa, que pode ser do próprio
sujeito, da família ou, na maioria da vezes da escola. A intenção da
investigação é a de compreender globalmente a forma de aprender e os
desvios que aparecem no processo do sujeito.
35
Com base na Epistemologia Convergente, Jorge Visca (1987)
propõe um esquema seqüencial diagnóstico flexível, formulados da seguinte
maneira:
- Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (E.O.C.A.) è que
consiste no levantamento do primeiro sistema de hipóteses com definição de
linhas de investigação e escolha de instrumentos, as propostas e materiais
utilizados vão variar de acordo com a idade e a escolaridade do paciente. No
decorrer da EOCA devemos observar tudo o que é dito pelo sujeito, pois
sempre há um aspecto manifesto e outro latente; também fazem parte da
observação o gestual, tom de voz, postura corporal e o não verbal, que podem
ser muito reveladores; bem como o que o sujeito produz no papel. Analisando
todos esses aspectos poderemos ter o primeiro sistema de hipótese. Para os
adolescentes pode ser adotada uma conversação e complementada com
outras atividades. Essas observações devem ser submetidas a uma verificação
mais rigorosa, que fará parte do processo de diagnóstico;
- Testes que consistem no levantamento do segundo sistema de
hipóteses e linha de investigação;
- Anamnese que consiste na verificação e decantação do segundo
sistema de hipóteses, formulação do terceiro sistema de hipóteses, é crucial
para um bom diagnóstico, e normalmente realizada com os pais e devemos
estar muito atento aos detalhes informado, pois muitas vezes são observadas
contradições entre as falas do pais e que observamos nos retratos e relatórios;
- Elaboração do informe psicopedagógico, é avaliativo, deve informar o
Dano, o foco que é a área que está mais no prejuízo, alguns vetores e a
queixa.
Os jogos também são muito importantes no processo de diagnóstico,
pois permitem que o sujeito aproprie-se da vida de forma simbólica. O jogo
proporciona que o sujeito vivencie sentimentos naturais da vida, que irão ajudar
na capacidade de lidar com as regras, o poder, domínio, o prazer, a dor, o
desfazer, o ter que ceder, o dar, o perder, e etc. De acordo com a classificação
36
de Piaget os jogos tem 04 estruturas: Jogo de exercício ou motor ( 0 –
2 anos); Jogo simbólico (2 – 6/7 anos); Jogo de construção (6 anos) e Jogo de
regras (a partir de 07 anos). O teatro também deve ser utilizado em todos os
níveis, sempre que possível, desde as formas mais elementares até as mais
complexas.
O psicopedagogo, atualmente, trabalha no primeiro nível nos processos
educativos com o objetivo de minimizar os problemas de aprendizagem,
focando nas questões didático-metodológicas, e na formação e orientação de
professores, auxiliando-os a adquirir novos procedimentos metodológicos, além
de aconselhamento aos pais. No segundo nível visa minimizar e tratar os
problemas de aprendizagem já instalados, com o objetivo de detectar as
causas dos transtornos e caminhos para eliminá-los. E no terceiro nível, o
objetivo é eliminar os transtornos já instalados. Eliminando um transtorno,
estamos evitando o aparecimento de outro. Ao psicopedagogo cabe saber
como se constitui o sujeito, como este se transforma durante as etapas de sua
vida, quais são os recursos de conhecimento que ele dispoõe e a forma como
ele produz conhecimento e aprende. Há fatores emocionais e afetivos que
influenciam no aprendizado são eles: a atenção e a interação. E esses fatores
podem ser a causa como a conseqüência dos problemas, interferindo na
capacidade de concentração e no comportamento do sujeito.
Psicopedagogo acredita sempre que o desejo de aprender,
característica do ser humano, prevalecerá sobre as condições mais
desfarováveis que possam perturbá-lo. Não devemos dar o diagnóstico de uma
única vez, só após ter visto todo o processo, fechar o círculo, observar várias
vezes e várias situações . Deve-se ter um olhar e uma escuta diferenciada
sobre o processo ensina re aprender. Estabelecer vínculo pedagógico, sempre
positivo, desconsiderar os vínculos negativos. Fazer a devolutiva, fazer os
devidos encaminhamentos e orientações, criando uma linha de ação para
quem possa haver um trabalho transdisciplinar.
O trabalho psicopedagógico vislumbra melhoria no processo cognitivo
acompanhado da construção de um vínculo positivo e o aumento da
37
autoconfiança.
Para Maria Lúcia Lemme Weiss (2009) existe um modismo com relação
a Psicopedagogia, que culmina com a intervenção clínica. Desta forma, há
prejuízo na apuração mais detalhada do contexto em que se apresentou o que
classificamos como problema de aprendizagem e ficando relegando a segundo
plano os problemas oriundos do ensino e da escola.
Quanto ao desvio da aprendizagem, o foco da análise não pode ser
restrito somente ao paciente, mas deve abranger também as suas relações, os
grupos de pertinência, às instituições básicas.
A Entrevista Familiar Exploratório Situacional é um instrumento que é
utilizado por Maria Lúcia para iniciar o diagnóstico psicopedagógico que
consiste em uma entrevista com o criança ou o adolescente, o pai e a mãe. E
tem como objetivos:
- captar as expectativas e as relações familiares com a aprendizagem
informal e a escolar especificamente;
- verificar a visão que se tem das exigências escolares e passadas e
presentes;
- buscar a explicação e a compreensão que possuem do possível
desvio;
- compreender as expectativas sobre o futuro do paciente e a atuação do
terapeuta.
É importante ter a oportunidade de observar o paciente em situações
mais livres e lúdicas para que a sua autonomia seja avaliada.
Busca-se de vários modos, uma apreensão integrada, em relação ao
paciente:
- que articulações utiliza entre os diferentes tipos de conhecimentos
adquiridos por meio de experiências físicas, lógico-matemáticas, emocionais e
sociais;
- que grau de flexibilidade possui no uso dos conhecimentos;
38
- como está o funcionamento mental (assimilação -
acomodação)
- como desenvolve os aspectos temporais da capacidade de antecipar,
realizar e retroatuar;
- quais suas motivações e interesses dominantes;
- que ansiedades e defesa utiliza;
- qual o ritmo e quais as áreas de expressão da conduta;
- o que concretamente já aprendeu.
Quando se descarta os problemas orgânicos, deve ser avaliado se há
dificuldades emocionais, que interferem no desenvolvimento e no
funcionamento mentais, assim como a péssima vinculação com a
aprendizagem escolar.
As dificuldades cognitivas reais no início da escolaridade podem
dificultar a aprendizagem de alguns conteúdos escolares e, não sendo bem
conduzidos podem desencadear a construção de obstáculos em âmbito afetivo
podem tornar a situação mais complexa.
Quando as dificuldades são mal resolvidas dentro da sala de aula e no
início da vida escolar, anos mais tarde pode se agravar. Nesse caso o
tratamento psicopedagógico consistirá numa intervenção, visando a
reformulação do Modelo de Aprendizagem de modo que os obstáculos sejam
removidos ou redimensionados em função das reais possibilidades do
individuo. A intenção é criar ou recriar o momento de prazer.
Hoje com o avanço da teoria e das novas técnicas psicopedagógicas, os
pacientes também questionam sobre a prática da Psicopedagogia clínica e a
visão da aprendizagem escolar. Alba Weiss (2009) traz sua contribuição de
como a informática pode auxiliar para a clínica dos problemas de
aprendizagem.
Alba Weiss (2009), cita a necessidade de nos aprofundarmos na
anamnese, com relação aos embates econômicos o desemprego, que acaba
39
interferindo na escolha da Escola, que sofre com a questão cultural e
as necessidades econômicas. A ampliação da observação do grafismo também
traz uma nova visão, há um empobrecimento na sua criatividade e na sua
representação gráfica. Com o auxílio do terapeuta a informática pode ser um
auxiliar na reformulação da aprendizagem.e no processo de desenvolvimento
cognitivo. A simulação no ambiente digital pode funcionar como um processo
de imaginação que utilizamos mentalmente em algumas situações para prever
ou antecipar as conseqüências das nossas atitudes. O maior ganho com esse
instrumento é a possibilidade de construir um produto e compreender como foi
criado, favorecendo o desenvolvimento do empowerment. Não há a
preconização da utilização deste instrumento como o único, mas sim como
mais um precioso instrumento.
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CONCLUSÃO
Como podemos observar, através do desenvolvimento dos capítulos
apresentados, o autoconceito e a autoestima que o indivíduo constrói nos seus
primeiros anos de vida estarão presentes em toda a sua vida adulta, tendo
interferência direta nas suas relações futuras e no seu processo de ensino-
aprendizagem. Quanto ao primeiro aprendizado, feito ainda no âmbito familiar,
ele tem um papel decisivo no desenvolvimento da autoestima do sujeito e
mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse posterior da
criança para aprender. De fato, o afeto é o princípio norteador da autoestima.
Sem dúvida, os seres humanos diferem uns dos outros em muitos
aspectos, que vão desde a inteligência a certas habilidades motoras; eles
diferem também em interesses e expectativas, e são estas diferenças
individuais, estas singularidades, que passaram a ser consideradas nos últimos
tempos pelos estudiosos que buscam um melhoramento no aprendizado e na
própria formação do indivíduo. Afinal, sem autoestima não apenas o
aprendizado fica prejudicado, mas também as relações com os outros seres
humanos e com o mundo em geral.
Como tivemos a chance de observar, pelo estudo de diversos autores,
tais como Freud, Piaget, Wallon, Vygotsky, etc., não é possível estabelecer leis
psicológicas gerais para serem aplicadas igualmente a todos os seres
humanos. É por isto que cada vez mais se busca adaptar o ensino às
características individuais de cada aluno e é neste contexto que a
psicopedagogia deve atuar mais diretamente, trabalhando em conjunto com os
professores. O objetivo é o desenvolvimento global do indivíduo, que deve
estar em condições de viver em sociedade, mas que não deve ser
negligenciado em prol de modelos que não podem ser atingidos. Cada
indivíduo é um e é este respeito pelas diferenças que deve ser estimulado não
somente pelos psicopedagogos, mas também por todos os que estão
envolvidos na tarefa educativa.
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Se hoje temos mais clareza de que a primeira fase da
educação começa ainda em casa, nem por isto a escola terá menos peso. Ao
contrário, o papel do professor é fundamental, tanto para o bem quanto para o
mal. Eis porque é imprescindível formar professores que estejam em
consonância com esta perspectiva afetiva e emocional da educação, porque
todo ser humano precisa de motivação e de afeto para se desenvolver. A
educação ideal pode ser entendida como uma construção progressiva de
sistemas e de significados compartilhados entre professor e alunos, de modo
que haja paulatinamente uma transferência do controle do professor para eles.
Isto não quer dizer que o professor perca sua autoridade, mas, sim, que os
alunos devem ser trabalhados para se sentirem seguros e no controle de suas
próprias atividades. E isto depende diretamente da motivação e da troca afetiva
que devem permear não apenas as relações de ensino e aprendizagem, mas
todas as relações humanas.
De fato, nem todos os estudiosos pensam do mesmo modo (o que prova
o que já dissemos acima: que cada ser é um universo à parte e, mais ainda,
que o conhecimento deve ser entendido como um soma de forças e não como
uma verdade última proferida por um ou por outro). Vimos, por exemplo, como
Piaget e Vygotsky mesmo sendo ambos teóricos construtivistas, enfatizam
questões diferentes. Piaget enfatiza menos o fator cultural, enquanto que, para
Vygotsky, todo meio é sempre revestido de significados culturais. Logo, em
casa ou na escola, não fugimos dos valores que nos constituem ou, antes,
constituem a sociedade. Freud, por outro lado, dá mais ênfase à construção da
sexualidade infantil, que é, de fato, fundamental em vários aspectos da
construção humana (uma sexualidade malformada pode levar a distúrbios
graves, que tendem a afetar a convivência com os outros), enquanto Wallon
entende a construção do eu como um processo inacabado, que continuará por
toda a nossa vida.
Em suma, como podemos observar o que se pressupunha se confirmou,
de que o autoconceito que o indivíduo tem de si mesmo interferirá em todas as
suas ações, bem como na maneira como os outros o perceberão, ganha toda a
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sua força quando pensamos que são as ações que definem um ser.
Afinal, é a maneira como nos comportamos no mundo que nos evidencia, que
diz quem nós somos. É o autoconceito, ou seja, a imagem que fazemos de nós
mesmos, que nos leva a agir ou a não agir de modo satisfatório diante do
mundo. Eis porque o papel da afeto é tão essencial na produção do eu. Uma
criança que conheceu o amor e a compreensão, que aprendeu a acreditar em
si mesma e no seu potencial, pulsa na mesma freqüência da vida, ou seja, está
certamente mais preparada para o mundo e também para o aprendizado
(porque viver é um aprendizado contínuo), enquanto que as crianças que são
violentadas em sua liberdade, massacradas por pais e professores que
desejam criar modelos e não seres humanos, encontram imensa dificuldade
para se colocarem no mundo, o que também as tornam mais inseguras no
aprendizado, já que conhecer é, sem dúvida nenhuma, um ato de
desbravamento, é um ato de conquista.
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