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PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA 1 GENE HALOTANO E SUA RELAÇÃO COM A DEPOSIÇÃO DE GORDURA INTRAMUSCULAR EM SUÍNOS Renata Barbosa Andrade 1 Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP. 38400-902, Uberlândia MG. [email protected]. Luana Ribeiro Alves 2 [email protected]. Robson Carlos Antunes 3 [email protected]. Resumo: O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito do gene halotano (Hal) sobre a deposição de gordura intramuscular (GIM) na carcaça de 144 suínos de duas linhagens HalNn e HalNN. A avaliação do gene Hal, foi feita pela mensuração da GIM. Os resultados foram analisados estatisticamente, concluindo que o gene Hal não provoca efeito na deposição de GIM dos suínos. Palavras-chave: gene halotano, gordura intramuscular, suínos. 1 - INTRODUÇÃO A expansão do consumo da carne suína surgiu gradativamente através de três etapas que contribuíram para a melhoria dos animais. A primeira etapa ocorreu através da substituição do suíno produtor de gordura pelo suíno tipo carne, mudança induzida pelo mercado e promovida pela seleção fenotípica individual. A segunda etapa foi caracterizada pela inclusão de testes de progênie e índices de seleção mais eficientes e capazes de promover maior ganho genético, com utilização de cruzamentos. A terceira etapa constituiu o avanço em relação aos marcadores do genoma suíno que é uma das espécies que mais tem se beneficiado com as novas descobertas. Com o auxilio da moderna genética genômica, características relacionadas ao produto final podem ser selecionadas, podendo analisar e modificar aspectos como a qualidade da carne, que representa uma das principais preocupações dos consumidores, cada vez mais exigentes. Com tantas mudanças torna-se necessário que a indústria suinícola produza um produto com a qualidade compatível aos anseios dos consumidores, sendo esta conseqüência da junção dos fatores ambientais e genéticos. Defeitos nos fatores genéticos e variações ambientais determinam a velocidade e extensão dos eventos bioquímicos pos mortem, resultando em uma carne de qualidade inferior denominada PSE (pale, soft and exsudative). Tal carne representa um problema sério para a indústria, uma vez que possui baixa retenção de água, palidez, perda excessiva de exsudato, extrema flacidez, acarretando uma maior perda de peso, portanto menor rendimento para a industrialização, além de ser rejeitadas pelos consumidores. A carne PSE é caracterizada a partir da rápida queda do pH, 45 minutos (inferior a 5,8), e está ligada à presença do gene Halotano (Hal) nos animais, que quando exposto a fatores estressantes durante o transporte ao frigorífico, jejum, dieta hídrica e manejo de condução, determi- ___________ 1- Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 2-Acadêmica do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 3-Docente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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Page 1: Influência do Gene Halotano sobre a deposição de Gordura ... · GENE HALOTANO E SUA RELAÇÃO COM A DEPOSIÇÃO DE GORDURA INTRAMUSCULAR EM SUÍNOS Renata Barbosa Andrade1

PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA

1

GENE HALOTANO E SUA RELAÇÃO COM A DEPOSIÇÃO DE GORDURA

INTRAMUSCULAR EM SUÍNOS

Renata Barbosa Andrade

1

Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, 1720, CEP. 38400-902, Uberlândia – MG.

[email protected].

Luana Ribeiro Alves2

[email protected].

Robson Carlos Antunes3

[email protected].

Resumo: O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito do gene halotano (Hal) sobre a deposição de

gordura intramuscular (GIM) na carcaça de 144 suínos de duas linhagens HalNn e HalNN. A

avaliação do gene Hal, foi feita pela mensuração da GIM. Os resultados foram analisados

estatisticamente, concluindo que o gene Hal não provoca efeito na deposição de GIM dos suínos.

Palavras-chave: gene halotano, gordura intramuscular, suínos.

1 - INTRODUÇÃO

A expansão do consumo da carne suína surgiu gradativamente através de três etapas que

contribuíram para a melhoria dos animais. A primeira etapa ocorreu através da substituição do

suíno produtor de gordura pelo suíno tipo carne, mudança induzida pelo mercado e promovida pela

seleção fenotípica individual. A segunda etapa foi caracterizada pela inclusão de testes de progênie

e índices de seleção mais eficientes e capazes de promover maior ganho genético, com utilização de

cruzamentos. A terceira etapa constituiu o avanço em relação aos marcadores do genoma suíno que

é uma das espécies que mais tem se beneficiado com as novas descobertas.

Com o auxilio da moderna genética genômica, características relacionadas ao produto final

podem ser selecionadas, podendo analisar e modificar aspectos como a qualidade da carne, que

representa uma das principais preocupações dos consumidores, cada vez mais exigentes. Com tantas

mudanças torna-se necessário que a indústria suinícola produza um produto com a qualidade

compatível aos anseios dos consumidores, sendo esta conseqüência da junção dos fatores

ambientais e genéticos.

Defeitos nos fatores genéticos e variações ambientais determinam a velocidade e extensão

dos eventos bioquímicos pos mortem, resultando em uma carne de qualidade inferior denominada

PSE (pale, soft and exsudative). Tal carne representa um problema sério para a indústria, uma vez

que possui baixa retenção de água, palidez, perda excessiva de exsudato, extrema flacidez,

acarretando uma maior perda de peso, portanto menor rendimento para a industrialização, além de

ser rejeitadas pelos consumidores.

A carne PSE é caracterizada a partir da rápida queda do pH, 45 minutos (inferior a 5,8), e

está ligada à presença do gene Halotano (Hal) nos animais, que quando exposto a fatores

estressantes durante o transporte ao frigorífico, jejum, dieta hídrica e manejo de condução, determi-

___________

1- Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

2-Acadêmica do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal de

Uberlândia (UFU).

3-Docente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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nam uma liberação mais rápida de cálcio sarcoplasmático após a sangria levando a uma queda

acelerada do pH.

Em relação ao pH inicial e perda de líquido por gotejamento, estudos comprovaram que

suínos recessivos para o gene halotano (nn) foram sempre estatisticamente diferentes dos suínos

heterozigotos para o mesmo gene halotano (Nn) e dos suínos normais para o gene halotano (NN).

Suínos do genótipo halotano Nn e NN diferiram estatisticamente, sendo o pH inicial mais baixo nos

suínos heterozigotos (Nn), cuja carne também apresentou uma maior perda de líquido. Diferenças

entre raças e sexos não possuem relevância quando comparado com o efeito do halotano, sendo um

efeito deletério sobre a qualidade da carne suína, apesar de aumentar o percentual de carne magra

da carcaça.

A gordura intramuscular é outra característica muito observada pelos consumidores da carne

suína. Devido à grande exigência do mercado consumidor cada vez mais preocupado com a saúde,

principalmente com os níveis de colesterol, os criadores aliaram-se à ciência, investindo em vários

cruzamentos de raças e no aprimoramento das rações dadas aos animais, com o intuito de diminuir

as porcentagens de gordura da carne suína.

Sabe-se que no suíno, 70% da gordura está concentrada abaixo da pele, no toucinho. Apenas

20 a 22% da gordura estão entre os músculos e 2 a 4%, chamada de gordura intramuscular ou

marmoreio, está no interior dos mesmos, dando o sabor e a maciez característicos, aumentando a

sensação de suculência na carne. Tal suculência é a sensação de umidade observada nos primeiros

movimentos de mastigação, devido à rápida liberação de líquido pela carne e, também, da sensação

de suculência mantida, devido principalmente à gordura intramuscular que estimula a salivação.

Com isso, a gordura intramuscular se torna essencial, atuando também em seu sabor. Sua ausência

resulta em uma carne seca e com sabor menos acentuado características não desejáveis pelo

consumidor, que prefere uma carne “magra”, porém saborosa.

Desta forma, sabendo que a ausência da gordura intramuscular interfere na qualidade da

carne e que esta qualidade pode ser alterada pela presença de carne PSE e conseqüentemente da

presença do gene halotano, resta saber se a ausência da gordura intramuscular também é um fato

predisponente a presença do gene halotano, e a partir do conhecimento deste gene em rebanhos

suínos, estratégias de produção podem ser traçadas para atender o mercado consumidor com carne

de melhor qualidade.

Assim, objetivou-se no presente trabalho avaliar o efeito do gene halotano sobre a deposição

de gordura intramuscular em carne de suínos híbridos comerciais, abatidos em frigorífico sob

inspeção oficial.

2 - REVISÃO DE LITERATURA

2.1. - Gene Halotano

A suinocultura mundial está passando por grandes mudanças, nas quais os consumidores

possuem uma maior capacidade de discriminação e não aceitam carnes de qualidade inferior,

fazendo com que a indústria de carne torne disponível um produto com a qualidade sensorial

compatível com a demanda e os requisitos dos consumidores. (BRIDI et al. 2003).

Por décadas, a indústria e o comércio da carne suína preocuparam-se com a produção de

carcaças com grande quantidade de carne. Atualmente o mercado não busca apenas quantidade, o

sistema de produção busca também metas para qualidade de carne.

Segundo Cameron (1993), citado por Antunes (1997), a qualidade da carne pode ser

classificada através de características organolépticas, tecnológicas, higiênicas e nutricionais. Dentre

essas características, as organolépticas e as de qualidade tecnológica estão relacionadas com a carne

PSE, que por sua vez está ligada à predisposição ao estresse suíno.

O estresse suíno é resultante de fatores como o exercício, a cópula, o transporte, a

desmama, o manejo, a mistura com outros animais, o abate, agentes anestésicos, cafeína, rianodina

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e relaxantes musculares não despolarizantes que individualmente ou juntos, podem desencadear

uma síndrome em suínos, chamada Síndrome do Estresse Suíno. (ANTUNES 1997).

Segundo Fujii et al. (1991), citado por Antunes (1997) o aparecimento da Síndrome do

Estresse Suíno (PSS) está associado à presença do chamado gene halotano que codifica para canais

liberadores de cálcio (CRC) do retículo sarcoplasmático do músculo esquelético. Atualmente

acredita-se que um defeito do cálcio seja responsável pela elevação do mesmo a nível

sarcoplasmático, o que desencadeia a Síndrome do Estresse Suíno. Esta elevada concentração de

cálcio, provocada pelo gene halotano, poderia prolongar a estimulação da atividade contráctil do

músculo e quebra de glicogênio, resultando em exacerbação do metabolismo e produção de calor.

Devido esta elevada produção de calor, a mesma também é denominada de Hipertermia Maligna

(MacLENNAN, e PHILLIPS 1992; ANTUNES 1997).

Sabe-se que o gene halotano, encontra-se no cromossomo 6 e tem efeito pleiotrópico sobre a

susceptibilidade ao estresse, conteúdo de carne na carcaça e qualidade da carne, sendo que em

homozigose recessiva (nn) esse gene está associado com o aparecimento das características de carne

pálida, mole e exudativa (PSE). (SWATLAND, 1982; SATHER et al., 1991; GEERS et al., 1994;

ANTUNES 1997). Suínos com a condição PSE apresentam queda brusca do pH inicial.

Quando em heterozigose (Nn), o gene halotano mantém relação com a diminuição da

qualidade de carne (BASTOS 2001). Desta forma observa-se que o gene halotano não afeta

somente a qualidade da carne de suínos homozigotos recessivos (nn) levando à carne PSE, como

também afeta a qualidade da carne de carcaças suínas heterozigotas (Nn). (SATHER et al., 1991).

Segundo Smet et al. (1996), o genótipo halotano é o fator determinante sobre a qualidade da

carne em relação à condição PSE. Através de seus estudos, suínos recessivos para o gene halotano

(nn) foram sempre estatisticamente diferentes dos suínos heterozigotos para o gene halotano (Nn).

Para o pH inicial e perda de líquido por gotejamento, suínos do genótipo halotano Nn e NN

diferiram significativamente, sendo o pH inicial mais baixo nos suínos heterozigotos (Nn), cuja

carne também apresentou uma maior perda de líquido. Os resultados de Smet et al. (1996)

mostraram que a qualidade da carne de suínos heterozigotos não é melhor do que a de suínos

sensíveis ao estresse (nn), quando abatidos nas mesmas condições.

Assim, o Gene da Sensibilidade ao gás Halotano (Hal), também conhecido como gene da

Hipertermia Maligna dos Suínos (PMH) ou ainda Síndrome do Estresse Suíno (PSS) caracteriza-se

por causar uma rigidez muscular, aumento do metabolismo aeróbio e anaeróbio e aumento da

produção de calor em resposta aos anestésicos halogenados e vários outros estressores

(RÜBENSAM, 2000). A associação deste gene ao fenótipo indesejável da qualidade da carne

através da ocorrência da carne PSE após o abate é amplamente estudada. (McPHEE ;TROUT, 1995;

DE SMET et al., 1996; PELOSO, 2000).

As alterações provenientes do gene halotano na carne suína têm grande impacto econômico,

uma vez que estas carnes são inadequadas para a industrialização e são de aspecto desagradável ao

consumidor. Além disto, os principais músculos afetados são o lombo e pernil, os principais

músculos da carcaça em termo de venda.

2.2 - Gordura Intramuscular

Segundo Sarcinelli (2007) a carne suína está sendo a proteína de origem animal mais

consumida no mundo. Possui um sabor característico, além de ser rica em nutrientes essenciais

como: cálcio, fósforo, potássio, vitaminas do complexo B e ferro. Cada 100 g de carne suína contêm

1,2 mg desse mineral, sendo que quantidade equivalente de carne de frango possui apenas 0,6 mg

de ferro, contribuindo para obtenção de uma alimentação balanceada. (KLINGER 2001).

A carne suína comercializada com aspecto pálido, menos macia e menos suculenta, tem uma

maior perda de água e uma menor quantidade de gordura intramuscular, traduzindo em uma menor

aceitabilidade, tanto pela indústria como pelo consumidor. (KLINGER 2001). Contudo, melhorar a

qualidade da carne não é fácil, pois esta agrupa diversos fatores, dentre os quais, os fatores mais

interessantes são os tecnológicos e os sensoriais. Algumas características são utilizadas para avaliar

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tais fatores são eles: pH, capacidade de retenção de água, cor e conteúdo de gordura intramuscular.

(SELLIER 1998).

As características referidas acima apresentam herdabilidades que variam de valores baixos a

médios. Dentre todas as características destaca-se o conteúdo de gordura intramuscular, o qual

apresenta uma herdabilidade muito interessante em relação ao melhoramento; 0,5 em média. Além

disso, tais características apresentam correlações genéticas favoráveis entre si, o que garante ganhos

genéticos mesmo trabalhando-se com um grupo reduzido das mesmas. (SELLIER 1998).

Tratando-se do conteúdo da gordura intramuscular, um ponto importante a ser destacado é

que apenas 20 a 22% na gordura da carne suína está entre os músculos ou dentro deles, dando o

sabor e a maciez e 70% da gordura está abaixo da pele, no chamado toucinho. (KLINGER 2001).

Vale ressaltar que apenas a gordura de superfície deve ser retirada, conservando a gordura

intramuscular devido a sua importância, pois ela funciona como uma barreira contra a perda do suco

muscular durante o cozimento, aumentando, portanto a retenção de água pela carne e aumento da

suculência, dando mais sabor a carne. (SARCINELLI 2007).

Dessa maneira, para se alcançar uma efetiva melhoria da característica da carne suína é

preciso ter uma visão do sistema, e não apenas uma visão focada no melhoramento, ficando atento a

outros fatores que além da genética interferem na qualidade da carne. (SARCINELLI 2007).

3 - MATERIAL E MÉTODOS

3.1 - Material Biológico

Foram abatidos 144 animais de duas linhagens diferentes que sabidamente possuiam o gene

halotano, usando 72 animais de cada linhagem. Os animais foram abatidos no Frigorífico Cotrijuí

em São Luiz Gonzaga no Rio Grande do Sul.

3.2 - Mensuração de Gordura Intramuscular

A avaliação da influência do gene Halotano na deposição de gordura intramuscular foi feita

pela mensuração da Gordura intramuscular dos 144 animais, realizada no Laboratório de Nutrição

Animal da Universidade Federal de Uberlândia, tendo como base para o procedimento de

mensuração o Manual de procedimentos analíticos. Utilizando o seguinte:

Equipamentos:

Aparelho extrator tipo Soxhlet ou Goldfisch

Balança analítica (precisão +/- 0,0001)

Balão de fundo chato ou copo Goldfisch

Dessecador com cloreto de cálcio ou sílica gel anidros

Estufa de secagem à 105 ºC (precisão +/- 1°C)

Materiais:

Papel de filtro qualitativo ou cartucho extrator de cerâmica ou celulose

Reagente:

Éter de petróleo

Para o procedimento de análise de gordura pesou-se de 2 a 5 gramas da amostra e transferiu

para cartucho extrator ou cartucho preparado com papel filtro e foi feita a secagem do balão ou

copo em estufa a 105 ºC por uma hora. Foi esfriado em dessecador até a temperatura ambiente, após

foi feito à pesagem e introduzido o cartucho no extrator. Adicionou-se uma quantidade suficiente

de solvente ao balão ou copo, conectando-o ao extrator, ajustando o conjunto ao condensador.

A extração ocorreu por um período mínimo de 6 horas à velocidade de condensação de 120

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a 160 gotas por minuto. Foi recuperado o solvente e completado a secagem do balão ou copo em

estufa a 105 ºC por 30 minutos. Após, ser esfriado em dessecador até a temperatura ambiente e

pesado, foi repetida a operação de secagem até que a diferença entre duas pesagens sucessivas não

fosse superior a 0,1% do peso da amostra.

Para o cálculo baseou-se na fórmula abaixo:

Extrato Etéreo % = A -B x 100

C

Onde: A= Peso do balão ou copo + resíduo em grama

B= Peso do balão ou copo em grama

C= Peso da amostra em grama

3.3 - Genotipagem do Gene Hal e Análise Estatística

Para a genotipagem do gene halotano e sua identificação, foi coletado sangue de 144 suínos,

animais de duas linhagens sendo cada animal identificado nas duas paletas e nos dois membros

posteriores e o sangue (5 mL) no momento de sangria em frascos contendo como anticoagulante

etilenodiaminotetracético (EDTAK3 a 15% - 54 µL/tubo). As amostras de sangue foram

identificadas e congeladas a -20°C para posterior extração do DNA genômico.

A análise do DNA (ácido desoxirribonucléico) ocorreu no Laboratório de Genética da

Universidade Federal de Uberlândia. O DNA genômico foi extraído dos leucócitos sangüíneos

adaptando-se o protocolo de extração de DNA segundo ANTUNES (1997). Este protocolo consta

resumidamente de:

Extração de DNA de acordo com o método descrito em “A Workshop on DNA

Technologies for the Conservation and Selection of Animal Genetic Resouces” (1992), adequado

para um volume de 500µl de sangue total.

Para quantificação do DNA, uma alíquota de 50ul foi diluída em 950µl de H20 ultra pura e a

absorbância determinada através de espectrofotômetro à 260nm. A concentração foi calculada

segundo a fórmula abaixo.

Concentração em µg/ml = A260 X 50X 1000/50

A absorvância foi medida à 280nm para calcular a relação DNA/proteína. Após o cálculo da

concentração original de DNA, o mesmo foi diluído para uma concentração de 25ng/µl e estocado a

-80 ºC. O DNA foi amplicificado através da técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (P.C.R.)

Com a otimização dos números de ciclos, dos reagentes e da temperatura de anelamento, chegou-se

na seguinte concentração de reagentes: 1,0mM de MgCl2 (cloreto de magnésio), 6 pmoles de cada

“primer”, 50µM de dNTPs, tampão 10x para Taq DNA Pol (200mM Tris- Hcl- pH 8,4, 500 mM

kCl, 0,1 mM EDTA, 1mM DTT), 1, 25 U de Taq DNA polimerase por reação e 100 ng de DNA,

em um volume final de 30µL. As condições de reação foram: desnaturação inicial à 94 ºC por 5

minutos, seguido de 35 ciclos de desnaturação a 94 ºC por um minuto, anelamento à 58°C por 30

segundos, extensão a 72 ºC por 45 segundos. Os “primer” foram os mesmos utilizados por Brenig &

Brem(1992). Após a amplificação, o DNA foi cortado pela enzima de restrição Hhal ou Hinpl e

visualizados em gel de agarose à 2,8% corado com brometo de etílio . A genotipagem foi feita pelo

padrão de bandeamento. Neste padrão os animais NN possuem o sítio de restrição enzimática para a

enzima Hhal nos dois alelos e apresentam duas bandas de 48 pares de bases (pb) e 85 pares de

bases, após a restrição enzimática. Os animais Nn, por outro lado, possuem um dos alelos com a

mutação 1843 (C-----T), que elimina o sítio de restrição enzimática, apresentando uma banda de

133 pb e as duas citadas acima.

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3.4 - Análise Estatística

Os resultados médios de gordura intramuscular dos animais dos dois genótipos Halotano

foram analisados utilizando uma análise de variância em delineamento inteiramente casualisado

(DIC) com dois genótipos (homozigotos dominantes e heterozigotos para o gene halotano)

utilizando o teste de Tukey para comparação entre as médias em nível de 5% de significância, com

a ajuda do software de análise estatística SISVAR (FERREIRA, 2000) tendo como covariável a

umidade.

4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como demonstrado na Tabela 1, não houve diferença estatisticamente (P>0,05) entre a carne

de suínos homozigotos dominantes (HalNN) livres do gene halotano e a dos heterozigotos

portadores de um alelo halotano (HalNn) para a característica gordura intramuscular (taxa de

marmoreio). Entretanto, pesquisas realizadas por Kukoyi et al. (1981), Leach et al. (1996) e Tam et

al. (1998) verificaram que os suínos do genótipo halotano heterozigoto apresentaram menor taxa de

marmorização no lombo que os homozigotos dominantes, resultados diferente ao encontrado no

presente trabalho.

Portanto a carne dos suínos com genótipo HalNN e HalNn não apresentou diferença

estatística para os valores de escore de taxa de marmorização. Esse resultado também foi

encontrado por Van der Wal (1993) e Bridi et al. (1998).

Tabela 1 - Média da quantidade de Gordura Intramuscular nos lombos de suíno em relação as

variáveis analisadas Hal, NN e Nn.

Nota: Teste Tukey para a HAL, em nível 5%

Erro padrão: 0,0667572114518872

5 - CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo indicam que o gene halotano tanto em heterozigose (Nn) como

em homozigose (NN) não provoca efeito na deposição de gordura intramuscular dos suínos, não

havendo diferença em relação à taxa de marmoreio de animais heterozigotos ou em homozigotos

recessivos. Com isso, concluímos que o gene halotano não interfere no grau de deposição da

gordura intramuscular dos suínos, mostrando que a genética neste caso não determinará o

desempenho da taxa de marmoreio e consequentemente as características do produto final que é o

suíno destinado ao abate.

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Variável Média

NN 2.098443 a1

Nn 2.173241 a1

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HALOTHANE GENE AND ITS RELATION WITH INTRAMUSCULAR FAT

DEPOSITION IN PIGS

Renata Barbosa Andrade Federal University of Uberlandia, Av Pará 1720, CEP. 38400-902, Uberlandia - MG. [email protected]

Luana Ribeiro Alves [email protected]

Robson Carlos Antunes

[email protected].

Abstract: The objective of this study was to evaluate the effect of the halothane gene (Hal) on

deposition of intramuscular fat (GIM) in meat from 144 pigs and two strains HalNn HalNN. The

evaluation of the Hal gene was made by measuring the GIM. The results were statistically analyzed,

concluding that the Hal gene does not lead to the deposition of GIM pigs.

Keywords: halothane gene, intramuscular fat, pigs.