infiltrações de água de chuva em edificações

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO Escola Politécnica de Pernambuco Especialização em Inspeção, Manutenção e Recuperação de Estruturas IMPORTÂNCIA DO PROJETO ARQUITETÔNICO PARA EVITAR PATOLOGIAS DECORRENTES DE INFILTRAÇÕES DE ÁGUA EM FACHADAS DE EDIFÍCIOS Gibson Ferreira de Queiroz Recife, 2008

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Influência do projeto arquitetônico sobre patologias decorrentes de infiltração de água de chuva nas edificações

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Page 1: Infiltrações de água de chuva em edificações

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

Escola Politécnica de Pernambuco

Especialização em Inspeção, Manutenção e Recuperação de Estruturas

IMPORTÂNCIA DO PROJETO ARQUITETÔNICO PARA EVITAR PATOLOGIAS DECORRENTES DE INFILTRAÇÕES DE ÁGUA EM

FACHADAS DE EDIFÍCIOS

Gibson Ferreira de Queiroz

Recife, 2008

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

ESCOLA POLITÉCNICA DE PERNAMBUCO

ESPECIALIZAÇÃO EM INSPEÇÃO, MANUTENÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS

Gibson Ferreira de Queiroz

IMPORTÂNCIA DO PROJETO ARQUITETÔNICO PARA EVITAR PATOLOGIAS DECORRENTES DE INFILTRAÇÕES DE ÁGUA EM

FACHADAS DE EDIFÍCIOS

Monografia apresentada à Universidade de

Pernambuco para o curso de Especialização em

Inspeção, Manutenção e Recuperação de

Estruturas.

Orientador: Prof. Ângelo Just da Costa e Silva

Recife, 2008

Page 3: Infiltrações de água de chuva em edificações

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Gibson Ferreira de Queiroz

IMPORTÂNCIA DO PROJETO ARQUITETÔNICO PARA EVITAR PATOLOGIAS DECORRENTES DE INFILTRAÇÕES DE ÁGUA EM

FACHADAS DE EDIFÍCIOS

Este Trabalho de Conclusão foi julgado adequado para a obtenção do título de Especialista em Inspeção, Manutenção e Recuperação de Estruturas e aprovado em sua forma final pelo

Professor Orientador e Pelo Curso de Inspeção, Manutenção e Recuperação de Estruturas da Universidade de Pernambuco - Escola Politécnica de Pernambuco.

Recife, abril de 2008

Prof. MSc. Ângelo Just da Costa e Silva

Orientador

Prof. Dra. Eliana Cristina Barreto Monteiro

Coordenadora do Curso

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dra. Eliana Cristina Barreto Monteiro

Prof. MSc. Ângelo Just da Costa e Silva

Prof. MSc. João Manoel Freitas Mota

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À minha Mãe

Pelo eterno incentivo e carinho

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. MSc. Ângelo Just da Costa e Silva pela sua paciência e persistência, viabilizando a realização deste trabalho.

À toda a minha família, especialmente à minha Esposa Sandra pela compreensão, cumplicidade e estímulo nos momentos mais árduos ao longo deste caminho tão profícuo da minha carreira acadêmica e profissional.

A todas as pessoas, que de uma forma ou de outra contribuíram para a materialização deste trabalho.

E, finalmente, ao nosso Pai Celestial, pela saúde e oportunidades que invariavelmente nos propicia com Sua bondade suprema.

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SUMÁRIO

1.

RESUMO .....................................................................................................................

INTRODUÇÃO............................................................................................................

1

2

1.1

1.2

Justificativa..........................................................................................................................Objetivo ............................................................................................................................

3

3

1.3 Escopo do trabalho...................................................................................................... 3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................... 4

2.1 Abordagem sobre a infiltração de água em fachadas............................................... 4

2.1.1 Infiltração de água de chuva....................................................................................... 4

2.1.1.1 Infiltração sobre as paredes externas........................................................................ 4

2.1.1.2 Infiltrações através de esquadrias.............................................................................. 10

2.1.1.3 Infiltrações pela cobertura.......................................................................................... 11

2.1.2 Presença de água de condensação.............................................................................. 12

2.1.2.1 Conceituação da condensação.................................................................................... 12

2.1.2.2 Avaliação do processo de condensação nas vedações das fachadas........................ 13

2.1.3 Infiltração advinda do terreno, por capilaridade..................................................... 14

2.2 Patologias facilitadoras das infiltrações..................................................................... 15

2.2.1 Patologias nas alvenarias............................................................................................ 15

2.2.1.1 Fissuras, trincas, rachaduras...................................................................................... 15

2.2.1.2 Influência das deformações das estruturas de concreto armado............................ 16

2.2. 1.3 Deformações devido a movimentações térmicas....................................................... 17

2.2.1.4 Deformações devido a movimentações higroscópicas.............................................. 18

2.2.1.5 Deformações devidas à retração dos blocos de alvenaria........................................ 19

2.2.1.6 Retração da argamassa das juntas de assentamento dos blocos............................. 19

2.2.2 Patologias no o concreto aparente.............................................................................. 20

2.2.3 Patologias nos revestimentos argamassados (emboço ou massa única).................. 21

2.2.3.1 Fissuras devido a movimentações térmicas nas argamassas................................... 21

2.2.3.2 Fissuras devido à retração da argamassa.................................................................. 21

2.2.4 Patologias nos revestimentos cerâmicos.................................................................... 22

2.2.4.1 Fissuras motivadas por movimentações térmicas..................................................... 22

2.2.4.2

2.2.4.3

Fissuras motivadas pela retração da argamassa de assentamento.........................

Patologias relacionadas com o rejunte das placas....................................................

24

24

2.2.5 Patologias nos revestimentos com pedras naturais................................................... 25

2.2.6 Patologias nos revestimentos em placas pré-moldadas............................................ 26

2.2.7 Patologias na coberta................................................................................................... 27

2.2.7.1 Movimentações térmicas............................................................................................. 27

2.2.7.2 Deficiências da coberta e de impermeabilizações..................................................... 28

Page 7: Infiltrações de água de chuva em edificações

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2.3 Projeto arquitetônico – vícios e omissões................................................................... 28

2.3.1 Revestimentos de fachadas.......................................................................................... 29

2.3.2 Contatos com o solo..................................................................................................... 37

2.3.3 Cobertura..................................................................................................................... 37

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................................... 39

3.1 Considerações gerais................................................................................................... 40

3.2 Fachadas....................................................................................................................... 41

3.2.1 Tijolo aparente............................................................................................................. 41

3.2.2 Fachadas argamassadas pintadas.............................................................................. 42

3.2.3 Fachadas com placas cerâmicas................................................................................. 42

3.2.4 Fachadas com pedras naturais................................................................................... 44

3.2.5 Fachadas com placas de concreto pré-moldado........................................................ 45

3.3 Cobertura..................................................................................................................... 45

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Exemplo de paredes externas e alvenaria de tijolo cerâmico aparente .................................6

Figura 02 – Ilustração da proximidade da orla dos edifício altos do Grande Recife ...............................7

Figura 03 – Detalhes de frisos e proteções de fachadas em antigos imóveis ...........................................8

Figura 04 – Tipos de saliências nas fachadas apresentados por PEREZ (1986) ......................................9

Figura 05 – Falta de cuidados dispensados às lajes e platibandas..........................................................11

Figura 06 – Falta de cuidados dispensados à laje...................................................................................11

Figura 07 – Algeroz mal executado, permitindo infiltrações de água pela abertura exagerada.............12

Figura 08 – Eflorescência devida à infiltração por capilaridade do solo ...............................................14

Figura 09 – Fissura entre a laje e a alvenariano último pavimento (movimento térmico) .....................17

Figura 10 – Desenho esquemático do preenchimento de juntas de movimentação ...............................23

Figura 11 – Edifícios revestidos com placas de concreto pré-moldado .................................................26

Figura 12 – Soltura das placas das fachadas ..........................................................................................29

Figura 13 – Soltura das placas das fachadas ..........................................................................................29

Figura 14 – Inexistência de junta entre materiais diferentes ..................................................................30

Figura 15 – Inexistência de juntas de movimentação.............................................................................30

Figura 16 – Queda de placas devido à ausência de juntas......................................................................30

Figura 17 – Juntas rígidas em lugar de juntas abertas............................................................................30

Figura 18 – Junta de movimentação mal executada e mal recuperada...................................................31

Figura 19 – Selante elástico mal aderido à cerâmica.............................................................................31

Figura 20 – Eflorescência devida a falhas de juntas..............................................................................31

Figura 21 – Piso externo sem juntas de movimentação.........................................................................32

Figura 22 – Espessura de emboço excessiva..........................................................................................32

Figura 23 – Cerâmica inadequada à utilização em fachadas..................................................................33

Figura 24 – Fachada executada com argamassa pintada, casquilho e pastilha.......................................34

Figura 25 – Selante manchando a fachada .............................................................................................34

Figura 26 – Fachada de quartzo pigmentado..........................................................................................35

Figura 27 – Eflorescência na união da viga/vedação .............................................................................35

Figura 28 – Junção de dois tipos de material sem cuidados...................................................................35

Figura 29 – Aparelhos de ar condicionado contribuindo com infiltrações ............................................36

Figura 30 – Tubo de águas pluviais derramando na fachada .................................................................36

Figura 31 – Tijolo deteriorado devido à umidade por capilaridade .......................................................37

Figura 32 – Intensidade de água na parte superior da fachada...............................................................38

Figura 33 – Equipamentos fixados diretamente na fachada...................................................................38

Figura 34 – Algeroz despejando água sobre parede adjacente...............................................................39

Figura 35 – Acesso sacrificado ao ambiente do barrilete.......................................................................39

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Pesquisa do IPT sobre a freqüência do aparecimento dos tipos de umidade........................4

Tabela 02 – Classes de agressividade anbiental, extraída da NBR 6118 (2003)....................................20

Tabela 03 – Absorção de calor, em função das cores ...........................................................................43

Tabela 04 – Largura mínima de juntas para determinadas dimensões de peças ....................................43

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RESUMO

Este trabalho visa destacar, sob o aspecto da elaboração de projetos arquitetônicos de edificações, todas as medidas contributivas, de prevenção contra a infiltração de água pelas fachadas dos edifícios, que se constitui numa das patologias da construção mais comuns e, ao mesmo templo, complexas, envolvendo uma série de variáveis de difícil solução, que demanda a reunião de muito conhecimento, experiência e envolvimento de todos os profissionais partícipes no empreendimento, desde sua concepção, até seu período de utilização.

A água é fonte dos mais variados problemas patológicos que atingem os edifícios e suas partes.

A infiltração de água repercute em problemas diversos, tais como: manchas e eflorescência, deterioração da estrutura do prédio e dos revestimentos, proliferação de fungos diversos, comprometimento estético da edificação e deterioração de materiais porosos solúveis, tais como: forro e paredes de gesso, elementos de madeira, dentre outros.

Entretanto, apesar de uma maior conscientização por parte de todos os profissionais envolvidos no processo de construção, percebe-se uma relativa resistência de arquitetos quanto à tomada de decisão no combate a tais anomalias, negando indiretamente, a sua responsabilidade diante dos projetos por eles elaborados, no tocante a precauções, que desde o berço da obra, poderiam ser tomadas.

Através de pesquisa literária e de trabalhos científicos, levantando e avaliando os fatos que contribuem para a infiltração de água através das fachadas das edificações, torna-se o propósito desse trabalho discernir e relacionar medidas e precauções, no universo arquitetônico, que podem, antecipadamente, evitar uma gama de problemas que atingem diretamente os usuários dos edifícios, sem a pretensão, porém, de dar como esgotado o tema de tão diversificada complexidade.

Este trabalho conclui, enfim, que muitas manifestações patológicas são desencadeadas

através da ausência de projeto, mal concepção, omissões e falta de especificações.

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1. INTRODUÇÃO

Os olhos dos usuários, dos técnicos e afins estão cada vez mais voltados para o desempenho dos sistemas de revestimento das fachadas das edificações. Têm sido alvo de muitos debates, propondo-se mudanças de sua concepção, execução e controle. Isso tudo são preocupações carreadas pela constatação de muitos problemas de descolamento de placas cerâmicas, deterioração de revestimentos argamassados e similares, cada vez mais freqüentes.

Se, por um lado, essa constatação denota uma dose de pessimismo do meio técnico, pelo lado mais otimista, poderia se afirmar que essa detecção deve-se, primordialmente, ao fato de que hoje há elementos e ferramentas científicas que capacitam os especialistas a medir e avaliar as condições de desempenho desses sistemas construtivos com mais propriedade.

De fato os problemas existem, mas não podem ser considerados generalizados, escreveu MEDEIROS (2006), apud CICHINELLI (2006). Ainda sustenta que não é verdade que, devido à elevada incidência de problemas, nesses casos, pode-se concluir que cerâmica em fachada é sempre um perigo.

Segundo FIORITO (1994), as argamassas colantes, por exemplo, começaram a ser pesquisadas nos Estados Unidos a partir de 1945, com o fito da melhor racionalização e qualidade de revestimentos cerâmicos. Escreveu ainda que no Brasil, a pesquisa foi iniciada em 1964. FIORITO (1994) ainda sustenta que, devido às dificuldades de qualificação de mão-de-obra, ao desconhecimento da importância das juntas de assentamento e à ignorância quanto às juntas de dilatação estrutural, unidos à pressa em concluir os serviços, os conhecimentos da arte e técnica de revestir foram se perdendo e, na mesma medida, foram se multiplicando os casos de desprendimentos de peças dos revestimentos.

Componentes imprescindíveis no universo das edificações, as fachadas que assumem, não só o papel da apresentação do imóvel, influindo diretamente em sua avaliação financeira, mas, primordialmente, representam a primeira barreira do edifício contra as ações das intempéries, repercutindo na qualidade do conforto ambiental e de seus elementos constitutivos, tais como: os componentes dos revestimentos, esquadrias, seus elementos estruturais, dentre outros. Esses componentes das obras estão cada vez mais se submetendo a patologias, principalmente vinculadas às ações danosas impostas pela inconveniente presença de água.

Já na década de 80, IOSHIMOTO (1988), citado por OLIVEIRA, MOREIRA e MITIDIERI FILHO (2006) expôs: “Na década de 1980, pesquisas realizadas pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) constataram que em edifícios com um a três anos de idade, 52% dos problemas típicos deviam-se à umidade, e naqueles com quatro a sete anos, os problemas de umidade representavam aproximadamente 86% dos problemas patológicos”.

OLIVEIRA; MOREIRA; MITIDIERI FILHO (2006) ainda afirmaram que em 2004, outro levantamento também realizado pelo IPT constatou que 58% dos problemas patológicos de edifícios com um a quatro anos de idade são relativos à umidade.

Esse quadro mostra o quão complexo é o estudo dos fenômenos patológicos nas fachadas, e incita, cada vez mais, o meio técnico a se envolver com o problema, buscando encontrar soluções e novas técnicas de concepção, aferição e execução de revestimento de fachadas, para que se tornem cada vez mais estanques e seguras.

Importa salientar que o envolvimento do arquiteto nesse processo é inegavelmente imprescindível.

Visando definir um projeto de revestimento, FLAIN (2005) salienta que o projeto de revestimento deve ser um conjunto de aspirações do proprietário e dos usuários, envolvendo necessidades, exigências e procedimentos apresentados de forma compreensível para se proceder à execução. Ainda afirma que se devem levar em consideração, além da estética, todos os fatores intervenientes no comportamento do revestimento ao longo da vida útil da edificação, o processo mais

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adequado de assentamento.

Essa asserção de FLAIN (2005) insinua a grande necessidade da contribuição da arquitetura no que tange ao bom desempenho dos revestimentos, seja na sua qualidade, estanqueidade, etc., registrando, prevendo e prevenindo em projeto, todos os elementos e cuidados necessários à execução da obra, de forma específica e detalhada.

JULIÃO (2006) bem afirma que nenhum outro profissional está mais apto a fazer a coordenação dos projetos complementares do que o arquiteto, pois é ele que representa a vontade e o bolso do cliente.

Com o espírito contributivo, este trabalho se propõe a um mergulho no tema de infiltrações de água pelas fachadas, extraindo de seu conteúdo, uma relevante formatação das medidas e prevenções contra essa patologia de tamanha significância, desde nascedouro das edificações, que é o projeto arquitetônico.

1.1 Justificativa

No meio técnico, ainda prevalece a imagem de que os arquitetos vivem prioritariamente envoltos com os aspectos estéticos e de funcionalidade dos edifícios, em detrimento das questões também importantes, ligadas ao desempenho de todo o sistema construtivo das obras.

A NBR 13532 (ABNT, 1995) define assim, os objetos do projeto de arquitetura: “A concepção arquitetônica da edificação, dos elementos da edificação, das instalações prediais e dos seus componentes construtivos deve abranger a determinação e representação dos aspectos indicados em 3.1.1 a 3.1.3 (edificação e instalações prediais). Os aspectos relacionados com as engenharias dos elementos e instalações da edificação e dos seus componentes construtivos, bem como dos materiais para construção, também devem ser determinados e representados para efeito de orientação, coordenação e conformidade de todas as demais atividades técnicas do projeto”.

JULIÃO (2006) afirma que hoje, ao contrário do que acontecia há algumas décadas, os arquitetos, sobretudo os jovens, têm uma idéia clara de que seu papel social é atender ao homem e não à sua vaidade e está retomando o papel de criador e técnico, a exemplo de arquitetos do passado, como Michelangelo e Leonardo da Vinci.

Esta é a essência deste trabalho: atrair cada vez mais os arquitetos reticentes quanto ao seu imprescindível papel diante das necessidades de uma sociedade, cada vez mais ansiosa por conforto e segurança.

1.2 Objetivo

Esse trabalho visa alertar os profissionais de arquitetura a respeito do impacto das soluções arquitetônicas na ocorrência de patologias decorrentes de infiltração de água pelas fachadas.

1.3 Escopo do trabalho

Através de revisão e pesquisas literárias, artigos técnicos, livros e publicações diversas, este trabalho mergulha, preliminarmente, no tema relacionado com a tipologia e causas das infiltrações de água nas edificações.

Em seguida, avalia patologias sob diversas formas, que propiciam ou favorecem os problemas relacionadas com a água, caracterizando-as e exemplificando através de registros fotográficos diversos.

Paralelamente, extrai, de forma objetiva, os problemas teoricamente relacionados com a forma de execução de revestimentos, piso e cobertura, especificações de seus elementos constitutivos, sob vários aspectos, ilustrados por fotografias, que estejam relacionados, de uma forma ou de outra, com a concepção do projeto arquitetônico, alertando para o perigo de vícios ou omissões, passíveis de serem evitados pelo arquiteto, ainda quando da concepção do projeto.

As considerações finais comparam e filtram todo o conteúdo da pesquisa, relacionando

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cuidados estritamente necessários que o projetista arquitetônico deve ter na elaboração de seu trabalho, no tocante a edificações, para que fiquem claras as diretrizes da obra, revelando e registrando, não só suas intenções no aspecto estético e funcional, como, aliadas a isso, as precauções quanto ao desempenho dos elementos da obra, de barreira ou inibição às infiltrações de água, viabilizando a preservação da forma e de seu desempenho, durante toda a vida útil da edificação.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Abordagem sobre a infiltração de água em fachadas

A presença inconveniente de água dentro das edificações pode ter diversas causas, tais como; resquícios de umidade oriunda da construção, vazamentos de tubulações de água e esgoto, ações espontâneas dos usuários, penetração de água pelas paredes externas e pela coberta, condensação, absorção por capilaridade, dentre outras.

MEDEIROS (1998) afirma: “a consideração de uma falha atribuída à ação da água como patologia de construção traz consigo até componentes culturais e sociais, que interferem na análise dos efeitos que os problemas podem trazer”.

Destacando a complexidade do tema, PEREZ (1986) opina que nem sempre a forma de manifestação do problema está associada a uma única causa; em geral, há um conjunto de causas, sendo uma delas preponderante. Segundo o autor, a freqüência no aparecimento desses tipos de umidade está associada à idade da construção, ao clima, aos materiais e técnicas construtivas aplicadas.

PEREZ (1986) citou que já em 1976, o IPT (Instituto Tecnológico do Estado de São Paulo) realizou no Conjunto Habitacional do Bororé, na cidade de São Paulo, uma pesquisa sobre a umidade na construção, de cujo conteúdo extraiu as seguintes conclusões apresentadas na Tabela 01, sobre a distribuição da freqüência da ocorrência da umidade nas edificações, por tipo:

Tabela 01 – Pesquisa do IPT, sobre a freqüência do aparecimento dos tipos de umidade.

TIPO DE UMIDADE SOBRADOS CASAS TÉRREAS

Umidade de infiltração 69% 41%

Umidade de absorção por capilaridade 15% 41%

Umidade de condensação 10% 18%

Umidade acidental 6% -

Por razões ligadas ao objeto deste trabalho, não se levarão em conta outros motivos da presença de umidade nas edificações, a não ser aqueles relativos a infiltrações, absorção por capilaridade e umidade de condensação.

2.1.1 Infiltração de água de chuva

2.1.1.1 Infiltrações sobre as paredes externas

Para que ocorra infiltração de água através das vedações verticais é preciso, pelo menos, que exista simultaneamente três condições; a lâmina de água na superfície da fachada, aberturas nas vedações, que propiciam a passagem da água e força que impulsiona a água para dentro das paredes, seja através do vento, da força de gravidade ou da sucção capilar, ou todas essas situações. Assim definiu LORDSLEEM JUNIOR (2007).

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PEREZ (1986) acrescenta que as forças resultantes da energia cinética das gotas de chuva empurram a água pelas aberturas das vedações verticais.

Segundo FIORITO (1994), o concreto, argamassa e material cerâmico são pseudo-sólidos. Isto quer dizer que no interior desses materiais encontramos cavidades, vazios, bolhas, poros abertos e fechados, bem como uma rede de canais de reduzidas e variadas dimensões. Então, absorção e permeabilidade, em maior ou menor grau, são características intrínsecas desses materiais. O autor acrescenta que é inadmissível permitir movimentação de água através deles. Esta sim, será uma falha construtiva.

Para PEREZ (1986), a forma e a constituição dos materiais empregados numa edificação é que vão determinar a intensidade dos fenômenos de capilaridade, difusão e absorção de umidade e da ação da força da gravidade na penetração de água em frestas.

GRIMM (1982b), apud MEDEIROS (1998), em conseqüência de uma revisão da literatura, contabilizando 233 artigos e publicações, concluiu que a água penetra por fissuras com abertura superior a 0,1 mm, sendo a sucção capilar importante para aberturas menores que 0,5 mm e que os poros dos blocos e tijolos cerâmicos têm diâmetro em torno de 0,01 mm e fissuras superficiais entre 0,1 e 1 mm.

PEREZ (1986) explica que a porosidade pode ser aberta ou fechada. Quando aberta, há canais de ligação entre os poros, que facilitam a passagem das moléculas de água.

Então, a água pode passar através dos blocos e tijolos, mas seu caminho preferencial é através dos canais existentes nas interfaces bloco-argamassa, portanto, na ligação entre as juntas verticais e horizontais, sustenta MEDEIROS (1998).

JUNGINGER (2003) vale-se de tal afirmação para traçar uma analogia entre os tijolos e as placas cerâmicas de revestimento externo, considerando que entre as placas e o respectivo rejunte, a água segue preferencialmente o caminho através do segundo.

Os estudos de GRIMM (1982b) o levaram às conclusões de profunda significância, dignas de serem relacionadas:

• Paredes simples de alvenaria de tijolos (não revestidas) não são uma barreira permanente contra a ação da água, mesmo sendo bem construídas;

• Paredes de blocos de concreto sem revestimentos são altamente permeáveis a água. A porosidade dos blocos exerce forte influência;

• Alto potencial de retração é outro fator importante nas alvenarias de blocos de concreto, devido ao potencial de fissuração gerado por essas movimentações;

• Paredes compostas (sem vazio interno) passam a ter desempenho razoável quando têm uma folha interna de blocos de concreto com 20 cm de espessura e uma folha externa de 10cm, de tijolos cerâmicos, sendo melhor sempre o uso de paredes duplas, com vazio de, pelo menos, 50mm.

As paredes constituídas de blocos de concreto aparentes são ainda mais passíveis de se submeter a infiltrações de água de chuva, devido à retração do material.

A proteção dessas paredes pode ser feita com películas de hidrofugante. Porém CLARK (1975), apud MEDEIROS (1998) alerta que uma película de silicone, por exemplo, não fecha aberturas maiores que 0,5 mm, embora reduza temporariamente a permeabilidade à água.

Além de tudo, esse mesmo autor sustenta que, após seis meses, uma parede de tijolos, tratada com silicone, tem sua absorção média de água aumentada em 9,5% a 26%. Então, conclui que nesse ritmo, a vida útil desse sistema de proteção não passa dos três anos.

Como as paredes de alvenaria aparente, expostas à ação da água, conforme visto acima, tendem a se saturar rapidamente, é importante salientar que essas devem ser bastante ventiladas e sua pintura de proteção deve ser permeável a vapor, para que rapidamente a água por elas

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absorvidas sejam liberadas sob a forma de vapor. A Figura 01 exemplifica uma edificação com tijolo maciço aparente.

Figura 01 – Exemplo de parede externa em alvenaria de tijolo cerâmico aparente

É, portanto, relativamente fácil assimilar que, como afirmou FISBURN (1938), apud MEDEIROS (1998), os revestimentos argamassados reduzem, mais do que as pinturas, a permeabilidade à água de chuva nas paredes de alvenaria.

Vale salientar que a NBR 13749 (ABNT, 1996) define que a argamassa externa aparente, sem pintura, aplicada sobre base porosa, deve conter materiais hidrofugantes, se usada para revestimento. Mas, se a argamassa hidrofugante não for empregada, deve ser executada pintura específica para esse fim.

Essa norma não obriga a utilização do hidrofugante, mas recomenda a aplicação de alguma pintura com as mesmas características do mesmo.

PEREZ (1986) relata que o CIB (Conseil International du Bâtiment) estabeleceu, na década de 60, o conceito de chuva incidente, como sendo o produto da precipitação pela velocidade do vento. Esse índice que MEDEIROS (1998) diz ser conhecido como DRI (Driving Rain Index), desenvolvido pelos britânicos, pode, segundo os autores, servir como referência para se criarem parâmetros que relacionam as condições de exposição das fachadas e coberturas em determinado local, comparadas com aquelas coletadas dos ensaios de estanqueidade à água de chuva.

Esse índice, segundo LACY (1971), apud MEDEIROS (1998), baseia-se na conclusão, baseada em medições de índices pluviométricos junto a paredes de edificações, de que a quantidade da chuva incidente sobre uma parede é diretamente proporcional ao produto da quantidade de chuva caída pela velocidade do vento durante essa chuva.

De fato, no Brasil não há dados combinados de precipitação de chuva e da velocidade do vento, diferentemente do que ocorre, por exemplo, na Europa, segundo PEREZ (1986).

Diante do obstáculo, a antiga NB 606 (ABNT, 1978) e NBR 7202 (ABNT, 1982), consideram, para avaliar o desempenho das janelas de alumínio, as isopetas das máximas velocidades de rajadas de vento durante uma chuva crítica. O valor da velocidade do vento adotada pela referida norma é de 10% do valor dessas rajadas.

O DRI então, conforme orienta MEDEIROS (1998), deve ser calculado como o produto da precipitação média anual, em mm, pela velocidade do vento em m/s (metros por segundo), dividido por 1.000 e expresso em m²/s (metro quadrado por segundo). Esse índice, portanto pode ser adequado

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a qualquer região do país.

O serviço meteorológico do país fornece a precipitação média anual para qualquer região do país.

As velocidades do vento são extraídas da NBR 6123 (ABNT, 1988), que mapeia e indica no mapa do Brasil as linhas de isopetas, que definem, em cada região, a velocidade básica do vento, que é a velocidade de uma rajada de 3 segundos, excedida em média, uma vez em 50 anos, a 10 metros acima do terreno, em campo aberto e plano. Lembre-se que no cálculo do DRI, essa velocidade entrará na fórmula, com 10% de seu valor.

Para simples ilustração, na cidade de Recife, considerando uma precipitação média anual de 1.550 mm e, captando da NBR 6123 (ABNT, 1988) o valor da velocidade básica (v0) = 35 m/s, obteríamos o seguinte cálculo:

DRI = [(35 m/s x 10%) x 1.550mm] => DRI = 5,42 m²/s

1.000 mm/m

LACY (1971), apud MEDEIROS (1998) ainda definiu três categorias gerais de condições de exposição a penetração d’água : protegida, moderada e severa. Constatou ainda que as partes da fachada mais expostas à penetração de água são aquelas mais próximas das extremidades dos lados (esquinas), chegando a se submeter à intensidade de penetração de água duas vezes maior que nas outras áreas da fachada.

Considera ainda que todas as paredes de prédios localizados a, no máximo, 8 km do mar, de grandes lagos ou de estuários de rios, devem ser consideradas expostas a condições severas.

Esse á o caso da maioria dos edifícios altos localizadas em cidades litorâneas, a exemplo da Região Metropolitana do Recife, como ilustra a Figura 02.

Figura 02 – Ilustração da proximidade da orla dos edifícios altos do Grande Recife

Há influência também relacionada com a localização do edifício com relação a outros prédios circunvizinhos. MEDEIROS (1998) escreve que uma parede está protegida da chuva incidente quando edificações permanentes na vizinhança protegem a parede em todas as direções e possuem

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altura superior ao respaldo da parede equivalente a 1,2 vezes a distância horizontal que as separa.

LACY (1971), apud MEDEROS (1998), que avalia a condição de exposição de paredes a chuva incidente, chegou à conclusões relevantes, que cabe aqui ressalta-las parcialmente : As paredes, cujo DRI é maior que 5,1 m²/s, como também todas as regiões das paredes, próximas às suas extremidades (que distam menos que 1/10 da sua largura, medido a partir da extremidade e a menos que 1/10 da altura, medido a partir do respaldo), as paredes localizadas a, no máximo, 8 km do mar, lago ou rio, devem ser consideradas sob condição de exposição severa.

Acerca da forma que a água penetra nas fachadas, PEREZ (1986) faz um paralelo entre as edificações mais modernas e as mais antigas. Ele afirma que a maneira como a água escorre pelas fachadas não tem sido considerada como objeto de estudo e de projeto.

Afirma que no passado, o conjunto de detalhes tradicionalmente usados nos edifícios salvaram os projetistas de ter que avaliar o que realmente acontecia, quando a chuva incidia sobre as fachadas. Segundo ele, inconscientemente aplicavam nas fachadas detalhes que aprenderam mais pelo aspecto estético do que práticos. Na verdade, afirma que a maior parte daqueles detalhes tinha um efeito prático, pois acabavam com as concentrações de fluxos de água de chuva e faziam descolar a lâmina de água que normalmente se forma sobre as superfícies das paredes. Com isso, a vida útil das edificações era relativamente maior. A Figura 03 exemplifica alguns desses detalhes ainda existentes em casaris mais antigos, mormente na cidade do Recife.

É aceitável supor que, mesmo sem o conhecimento que se tem hoje, sobre o mecanismo da ação de água de chuva sobre as fachadas, os arquitetos e construtores da época agiam intuitivamente na idealização dos detalhes de fachadas, não só primando pela estética, mas, valendo-se talvez de experiência acumulada e lhes repassada através dos anos, intencionando proteger as paredes submetidas à ação da chuva incidente.

Figura 03 – Detalhes de frisos e proteções de fachadas em antigos imóveis

Afirma ainda que os detalhes de proteção das partes superiores dos muros e muretas foram também abandonados, sendo essa exclusão responsável pela degradação precoce desses elementos, pois a água se acumula no topo do muro e penetra na parede.

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Nos tempos modernos, esses detalhes foram, pouco a pouco sendo eliminados pelos arquitetos, e, assim, as falhas tornaram-se aparentes.

Chegou-se à conclusão que os beirais de telhados, as cornijas, etc., salvavam as fachadas de desgastes.

A verdade é que a concentração de água nas áreas externas potencializa a penetração de água na edificação.

A lâmina d’água presente numa parede da fachada, como se viu, associada às forças do vento e da gravidade impõem às gotas de água uma energia cinética capaz de conduzi-la com relativa facilidade para o interior das paredes, desde que haja aberturas para tal.

Como todos os materiais constitutivos dos revestimentos são em maior ou menor grau, permeáveis, conclui-se que é impossível se evitar totalmente a penetração de água de chuva nas fachadas.

Então, como afirma PEREZ (1986), “O segredo para evitar a deterioração das superfícies expostas à água de chuva é um controle eficiente da água que escorre, com a dissipação da concentração da água e a proteção das partes vulneráveis do edifício”.

Os beirais, por exemplo, tão comumente usados nas construções do passado, serviam para impulsionar a água dos telhados para fora das paredes externas, evitando a formação de lâmina d’água, que, movida pelas forças do vento e da gravidade submetem-se a uma energia cinética bastante para ter o potencial de penetração nas aberturas das paredes significativamente elevado.

Dessa forma, a água de chuva que atingia as paredes era quase que exclusivamente aquela impelida pelo vento, formando gotas difusas, como bem observou PEREZ (1986).

Usando-se o mesmo raciocínio, considera-se que frisos executados nas fachadas servem para, em maior ou menor grau, dependendo de sua forma geométrica, afastar, pelo menos parcialmente a lâmina d’água das fachadas.

A Figura 04, apresentada por PEREZ (1986), por si só, ilustra melhor o raciocínio.

Figura 04 – Tipos de saliências nas fachadas apresentados por PEREZ (1986)

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PEREZ (1986) afirma ainda que: “alguns estudos têm mostrado que pequenas saliências, de pequenas dimensões, perpendiculares ao plano da parede, nas superfícies externas, conseguem reduzir em mais de 50% o volume de água que escorre sobre as mesmas”.

Afirma ainda que o acúmulo de água nas superfícies de um edifício depende também da dinâmica do impacto das gotas sobre a superfície. No choque das gotas de chuva com as paredes, a capacidade de acúmulo de água em sua superfície é inversamente proporcional à dureza da superfície, inversamente proporcional ao tamanho da gota e inversamente proporcional à existência ou não de uma camada de água, e, conforme a intensidade da chuva incidente aumenta, o volume de água que escorre sobre a superfície diminui. Essa sua afirmativa paradoxal, que insinua ser apenas uma constatação, leva o autor a crer que, devido à força de impacto sobre a parede, proporcional à intensidade da chuva incidente, parte da água se desprende da parede, reduzindo a vazão do escorrimento de água na superfície.

É de relevante consideração a afirmativa de PEREZ (1986) de que as superfícies lisas propiciam a concentração do fluxo de água sobre a parede, provocando desgastes diferenciais e, ao contrário; as superfícies rugosas provocam o espalhamento desses fluxos, permitindo uma distribuição mais homogênea e diminuindo os desgastes diferenciais.

2.1.1.2 Infiltrações através de esquadrias

As esquadrias têm as finalidades de proporcionar a ventilação dos ambientes internos, de iluminação natural dos interiores da edificação, além de constituir-se num componente estético dos edifícios.

Aquelas localizadas nas fachadas dos prédios devem assumir, além de tudo, o papel de estanqueidade a água de chuva.

LORDSLEEM JUNIOR (2007) relaciona as condições para que ocorra infiltração de água através das vedações verticais, ou seja: a necessidade da existência simultânea de três condições (a lâmina de água na superfície da fachada, aberturas nas vedações, que propiciam a passagem da água e força que impulsiona a água para dentro das paredes), que são integralmente válidas também com relação às esquadrias.

OLIVEIRA; MOREIRA; MITIDIERI FILHO (2006) destacam que a interface entre paredes e esquadrias, particularmente janelas, são também regiões vulneráveis, podendo apresentar frestas e destacamentos.

De fato, COSTA E SILVA (2007), acerca das frestas existentes na interface entre sistema de revestimento e o contramarco da janela (quadro de alumínio ou de ferro orientativo de dimensionamento do vão da esquadria), diz que essa falha construtiva, muito comum, em revestimentos cerâmicos ou de pedras naturais (granito, mármore, etc.) proporciona um caminho livre para a infiltração da água e repercute no futuro em aparecimento de mofo e bolor.

Acrescenta que esse fato é um problema de difícil diagnóstico, uma vez que a esquadria, que serve de suporte para a janela, normalmente encobre esses pontos de contato, entre o contramarco e o revestimento, de forma que a sua visualização torna-se impossibilitada, sem uma prévia remoção da esquadria.

Os problemas construtivos que agravam o problema de infiltrações de água pelas esquadrias se revelam na inclinação inversa (para dentro) do revestimento adjacente ao contramarco das esquadrias, o não preenchimento do rejuntamento das placas de revestimento, junto ao contramarco, inclusive a não observância para a largura mínima da junta de rejuntamento, previamente dimensionada, o assentamento inadequado dos contramarcos, deixando seus ângulos forçadamente distorcidos, dentre outros.

É importante observar que há sempre a possibilidade da infiltração de água de chuva através da própria esquadria, devido a falhas de dimensionamento ou de montagem. É de fundamental importância o dimensionamento das janelas a serem utilizadas nas edificações, e esse procedimento depende de diversas características da edificação e áreas circunvizinhas, assim como as condições de

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clima, rugosidade do terreno (vide NBR 6123; ABNT, 1988), localização do imóvel, e, no caso de edifícios mais altos, é necessário avaliar as pressões do vento locais.

A adequação das esquadrias às cargas mecânicas a que deverão se submeter influi diretamente sobre as suas condições de estanqueidade, indubitavelmente.

2.1.1.3 Infiltrações pela cobertura

Mesmo que as fachadas recebam todo o tratamento indispensável à sua estanqueidade à ação da água de chuva, pode-se detectar a presença de água no interior das paredes e dos ambientes internos da edificação, desde o térreo, até o pavimento mais alto, se, cuidados especiais no sentido da eficaz impermeabilidade de todos os elementos da cobertura não forem devidamente tomados.

Sendo desnecessário ater-se na necessidade de um sistema de coberta adequadamente dimensionado e executado, como também de todas as lajes e superfícies aparentes serem adequadamente impermeabilizadas e protegidas, pois os temas estão fora do escopo deste trabalho, apesar de terem influência indireta sobre o problema de infiltração de água pelas paredes externas, vale salientar que há de se evidenciar a necessidade de cuidados especiais no dimensionamento e execução das platibandas, arremates de borda de lajes superiores, das calhas e algerozes.

Os detalhes de proteção das partes superiores dos muros e muretas, que segundo PEREZ (1986) foram abandonados, conforme já destacado neste trabalho, deve se estender, por analogia, às platibandas, pois, sem a devida proteção superior há degradação precoce desse elementos e, pelo topo das platibandas a água que se acumula, penetra para o interior da parede. É necessário colocar-se uma proteção, com inclinação para dentro da cobertura, com as devidas pingadeiras (respingadores) de borda, direcionando a água que ali cai, na vertical, sem que escorra pelas superfícies, uma vez que são pontos de acúmulo de poeira, fuligem, etc., e, escorrendo sobre as fachadas, provocam manchas.

Pelos mesmos motivos, idêntico cuidado deve ser dispensado às bordas das lajes, que, ao contrário do que se constata comumente nos edifícios, conforme ilustra as Figuras 05 e 06, nunca devem prescindir de anteparo em todo seu perímetro, com os mesmos cuidados dispensados às platibandas. Além disso, a saída de água superficial acumulada nessas lajes deve ser direcionada para uma tubulação previamente dimensionada, conectada à tubulação de águas pluviais do prédio.

Figura 05 – Falta de cuidados dispensados às lajes e platibandas Figura 06 – Falta de cuidados dispensados à laje

É importante salientar que a face interna das platibandas são, a exemplo das paredes de fachadas expostas à ação da água de chuva. Portanto, devem ser adequadamente impermeabilizadas ou

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revestidas nas mesmas condições que as superfícies externas.

Os rufos (algerozes) além de devidamente impermeabilizados e dimensionados estruturalmente e dimensionalmente de acordo com as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) devem ter altura mínima sobre as telhas e respingador (pingadeiras) em suas bordas, para evitar a penetração de água de chuva, impulsionada pelo vento, através da abertura entre eles e as telhas.

A Figura 07 mostra trechos de rufos inadequadamente dimensionados e/ou executados. Mostra também fissuras no algeroz, prova de dimensionamento estrutural deficiente. Na mesma figura, percebe-se também a inexistência de impermeabilização nas peças.

Figura 07–Algeroz mal executado, permitindo infiltrações de água pela abertura exagerada

2.1.2 Presença de água de condensação

2.1.2.1 Conceituação da condensação

“O ar atmosférico contém sempre certa quantidade de vapor d’água, o qual, quando a atmosfera está límpida, se encontra no estado de vapor superaquecido. Enquanto a mistura vapor/água não se torna saturada, com formação de neblina, nuvens, etc., podemos considera-la como uma mistura gasosa” (MAGALHÃES,1977).

A umidade relativa do ar é a relação entre o peso do vapor d’água contido por m³ de ar úmido e o peso de vapor d’água que o mesmo conteria caso estivesse saturado (MAGALHÃES,1977).

MEDEIROS (1998) define a umidade relativa do ar (UR) como a razão entre a pressão de vapor de uma mistura qualquer de vapor de água e ar pela pressão de vapor de uma mistura saturada à mesma temperatura.

De uma forma ou de outra, equivalentes, pode-se dizer que a umidade relativa é associada à quantidade de vapor de água presente no ar, que pode saturar à mesma temperatura.

Esses conceitos de umidade relativa do ar são de relevante importância para a avaliação da presença de umidade nas paredes das fachadas das edificações, pois, condicionado a duas variantes (quantidade de vapor e temperatura), o ar, em determinado ponto no espaço, pode se transformar em água originária da condensação. Essa transformação termodinâmica implica em conseqüências deletérias às vedações dos edifícios, muitas vezes de difícil solução.

A condensação é o fenômeno que ocorre no ar atmosférico, em determinado ambiente, quando a umidade reativa do ar atinge o limite de 100% (ponto de saturação). A partir daí, o vapor começa a se condensar, ou seja, transformar-se em água, devido ao decréscimo da temperatura, com a

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quantidade de vapor d’água constante ou com a elevação da quantidade de vapor, sob a temperatura constante.

MEDEIROS (1998) conceitua o “ponto de orvalho” num determinado ambiente, como aquele momento em que a umidade relativa do ar é 100%, e, qualquer ínfima diminuição da temperatura ambiente, implicará em condensação do ar naquele ambiente.

2.1.2.2 Avaliação do processo de condensação nas vedações das fachadas

Como se viu, os parâmetros para a ocorrência da condensação em determinado ambiente são a temperatura e a umidade do ar.

MEDEIROS (1998) observa que a alteração desses parâmetros pode ocorrer de forma natural, pelas transformações nas condições atmosféricas, ou artificialmente, pela ação dos usuários das edificações ou através de processos industriais. Por isso, o fenômeno ocorre com maior intensidade nesses ambientes.

No Brasil, a umidade alta de regiões do país e as falhas de projeto que dificultam a ventilação, podem ser apontadas como principais causas dos problemas devido à condensação (PEREZ, 1886).

MEDEIROS (1998) exemplifica de forma clara, uma das situações em que as condições atmosféricas provocam nas paredes dos edifícios o fenômeno da condensação: quando um período de clima quente segue um período frio, parte significativa dos elementos do edifício, ainda aquecida, permanece fria por algumas horas. Isso ocorre, por exemplo, com as estruturas e alvenarias de vedação. No caso de paredes espessas, o tempo de aquecimento pode até levar alguns dias. Quando o ar aquecido e úmido entra em contato com as superfícies ainda frias desses elementos, que estão abaixo do ponto de orvalho, o vapor de água presente no ar, condensa. Mas, logo que as paredes se aquecem, sua temperatura excede aquela do ponto de orvalho, a condensação cessa e a umidade formada pela condensação evapora.

Valendo-se do exemplo acima, pode-se concluir que os edifícios que se compõem de materiais esbeltos, menos densos, etc., se submetem menos à condensação originária de eventuais mudanças bruscas de temperatura ambiente.

Como já citado, os usuários podem também contribuir para o fenômeno da condensação.

Pessoas emanam naturalmente, umidade de seus corpos. MEDEIROS (1998) afirma que pessoas sedentárias, por exemplo, exalam um litro de água sob forma de vapor. As atividades físicas podem contribuir com até quatro litros de água em vapor para o ambiente, por pessoa.

Todas as atividades dos usuários que se envolvem a água no estado líquido, contribuem, de forma decisiva para o aumento da umidade relativa do ar em determinado ambiente.

MEDEIROS (1998) define que nos ambientes onde a temperatura supera os 20° C e a umidade fica acima de 60% por longos períodos, há um grande risco de condensação.

Nas áreas frias das moradias, tais como banheiros, cozinhas, etc., acontece com freqüência, segundo MEDEIROS (1998), a formação de condensação nas superfícies mais frias daqueles ambientes, onde há azulejo, cerâmica, espelho, etc. Nos banheiros, quando há banho quente e existe uma deficiência de ventilação interna para dissipar o vapor presente no ambiente, a condensação assume proporções ainda maiores.

A água utilizada em todas as etapas de construção dos prédios também contribui para eventuais situações de condensação. Acontece que, segundo MEDEIROS (1998), parte dessa água permanece nos elementos construtivos por alguns meses após a conclusão da obra. Essa água tende a se evaporar, em maior volume, para os ambientes internos dos edifícios. Preferencialmente em regiões frias acontece a condensação, principalmente, à noite.

É relevante ressaltar, devido ao tema central deste trabalho, que as tubulações de água gelada e de drenos de aparelhos para ar condicionado, embutidas nas paredes das edificações, se não isoladas termicamente, transformam-se no que PEREZ (1986) denomina de ponte térmica, ou seja, devido à sua baixa temperatura, são passíveis de condensação.

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MEDEIROS (1998) ainda alerta para as seguintes situações que devem ser seriamente levadas em conta na elaboração de um projeto arquitetônico; Se o lado externo de uma parede é permeável a umidade ou ocorre ventilação atrás de uma parede impermeável, a condensação não é problemática, pois a umidade pode evaporar gradualmente para o ar externo. Se a face externa da parede é impermeável, a umidade de condensação tende a se acumular dentro da parede e pode saturar os materiais. Se a umidade do ar interno for alta, o problema torna-se ainda mais grave.

Se a parede interna tem uma barreira de vapor (subtendendo-se que o lado interno é mais aquecido, sobretudo no inverno), esse fato poderá prevenir a passagem de vapor de água para dentro da parede, desde que ela esteja totalmente protegida.

2.1.3 Infiltração advinda do terreno, por capilaridade

“Em Física, chama-se capilaridade à propriedade dos fluidos de subir ou descer em tubos muito finos. Esta capacidade de subir ou descer resulta da capacidade de o líquido molhar ou não a superfície do tubo. Quando um líquido entra em contato com uma superfície sólida, esse vai ser sujeito a dois tipos de força que atuam em sentidos contrários: a força de adesão e a força de coesão. A força de adesão tem a ver com a afinidade do líquido com a superfície sólida e atua no sentido de o líquido molhar o sólido. A força de coesão tem a ver com a coesão do próprio líquido e atua no sentido oposto. Se a força de adesão for superior à de coesão, o líquido vai interagir favoravelmente com o sólido, molhando-o e formando um menisco. Se a superfície sólida for um tubo de raio pequeno, como um capilar de vidro, a afinidade com o sólido é tão grande que o líquido sobe pelo capilar” (TIOSAN, 2008).

A água existente no lençol freático e na água de chuva que se infiltra no terreno e a que se acumula junto às paredes pode se infiltrar nas paredes através do fenômeno da capilaridade, de forma ascendente, provocando, muitas vezes o esfarelamento e eflorescências nos rodapés das paredes e eterna presença de umidade nas faixas inferiores das edificações, repercutindo danos materiais e à saúde dos usuários daqueles imóveis, pois, a continuidade da umidade provoca também a criação de colônias de fungos e bolor. A Figura 08 ilustra como exemplo, eflorescência na parte inferior da parede.

Figura 08 – Eflorescência devida à infiltração por capilaridade do solo (Fonte: COSTA E SILVA, 2007)

Existe ainda a umidade oriunda do fenômeno da capilaridade através de paredes fronteiriças, de condensação de calhas, por acúmulo de água de chuva em laje junto às paredes e até em paredes adjacentes a tanques, reservatórios, piscinas, etc.

Em algumas situações, a umidade existente no rodapé de paredes, devido ao fenômeno da capilaridade, não é perceptível. Isso acontece muito em situações de revestimento de paredes com material relativamente impermeável e há uma relativa drenagem interna através, por exemplo, de tijolos cerâmicos furados e, ao mesmo tempo, a intensidade da ascensão da água por capilaridade é

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relativamente baixa e a água não migra para a fachada da parede.

Então, a eventual de percolação de água pelas paredes, oriunda do fenômeno da capilaridade pode ser mais facilmente evitada com a criação de uma barreira de impermeabilização, interrompendo esse fluxo de água ascendente, como será tratado mais adiante.

2.2 Patologias facilitadoras das infiltrações

A infiltração de água pelas fachadas é de certa forma, inevitável. MEDEIROS (1998) corrobora com essa afirmativa, expressando que a água não pode ser eliminada da construção. Seus efeitos devem ser controlados.

PEREZ (1986) explica que os problemas com água sempre existiram; alteram-se a intensidade, freqüência e tipologia.

E MEDEIROS (1998) reforça que o emprego da palavra “impermeável” ou a expressão “à prova d’água” deve ser considerado inadequado quando se trata de vedações, possuindo inclusive, no seu entender, “erro conceitual”.

Nesses termos, cabe ao projetista, ao executor e ao profissional de manutenção das obras, a tomada de medidas preventivas e corretivas no sentido de dificultar, obstacular, dissipar e desviar toda o fluxo de água penetrante e danoso ao sistema construtivo.

Essa função é envolta de alto grau de complexidade, diante dos muitos itens componentes da árdua tarefa e ainda do desconhecimento do processo de muitos fenômenos ligados à percolação de água, sob as diversas formas, através das paredes e das peças estruturais de uma edificação.

A tomada de providências no sentido de preservar a obra dos malefícios da água penetrante não se resume apenas ao controle desse fluxo d’água.

Sabe-se que as fachadas dos edifícios se submetem a diversos tipos de patologia, que, durante sua evolução, propiciam, dentre outros males, a penetração de água de forma mais intensa, pondo abaixo, na maioria das vezes, todos os cuidados iniciais eventualmente tomados, no sentido do controle da infiltração de água através das fachadas. Cabe, portanto aos profissionais da área, operarem preliminarmente, nos cuidados relacionados com esses tipos de patologia nas fachadas e coberturas, pois estão sempre intimamente ligados à desastrosa infiltração de água nas edificações.

A seguir são comentadas diversas patologias ligadas a subsistemas das paredes de vedação nas fachadas dos edifícios, que catalisam os problemas de umidade nas edificações, sem nenhuma pretensão de universalizar os problemas patológicos, devido a sua grande diversidade e quantidade.

2.2.1 Patologias de alvenarias

Os problemas mais significativos nas alvenarias, que influem na maior capacidade de absorção e transporte de água pelo lado interno das paredes são, sem dúvida, as fissuras, trincas e rachaduras e os problemas relacionados com o rejuntamento dos blocos ou tijolos.

2.2.1.1 Fissuras, trincas, rachaduras

Grande contribuinte das patologias relacionadas com a infiltração de água pelas fachadas dos edifícios, a fissura, segundo PFEFFERMANN (1968), apud LORDSLEEN JUNIOR (1998), é uma das principais patologias que incidem nas construções e constitui-se num problema tão antigo quanto a própria existência da construção.

Por referência conceitual, WATANABE (2007) afirma que fissura é o estado em que um determinado objeto ou parte dele apresenta aberturas finas e alongadas na sua superfície. Trinca é o estado em que determinado objeto ou parte dele se apresenta partido, separado em partes. Diz ainda que as trincas podem ser imperceptíveis a olho nu, mas caracterizam-se pelo rompimento de duas partes de determinado material ou parte dele. A rachadura é o estado em que determinado objeto ou

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parte dele apresenta uma abertura de tal tamanho que ocasiona interferências indesejáveis. E dá o exemplo de rachaduras de parede que permitem a entrada de vento e água de chuva, de forma visualmente perceptível.

No conceito do autor, avaliando o que foi dito, as fissuras podem ou não se transformar em trincas e essas podem ou não se transformar em rachaduras, dependendo da tipologia do problema patológico.

LORDSLEEN JUNIOR (1998) afirma ainda que, de modo geral, a fissura pode ser entendida como a manifestação patológica resultante do alívio das tensões entre as partes de um mesmo elemento ou entre dois elementos de contato.

Segundo MEDEIROS (2005), houve uma profunda mudança na maneira de construir no Brasil nos últimos dez anos. O concreto evoluiu, as estruturas e tipologias são mais arrojadas e as alvenarias mais precisas. O processo construtivo não é mais o mesmo. Por isso, novos fenômenos estão sendo observados nas construções. Paredes de vedação estão rompendo, trincas nas alvenarias são visíveis e problemas nos revestimentos são mais freqüentes. Tudo por causa das deformações imediatas e lentas que, se não previstas, desencadeiam as patologias.

De forma objetiva, LORDSLEEN JUNIOR (2007) resume as principais causas da fissuração em alvenarias de vedação, quais sejam; deformações das estruturas de concreto armado, movimentação térmica, movimentação higroscópica e movimentos das fundações.

Com relação às alvenarias ditas estruturais, devem-se acrescentar as fissuras provocadas por variações no caminho das cargas verticais, por cargas concentradas e fissuras na interface das transições.

O autor acrescenta ainda o fenômeno da retração da argamassa de assentamento como passível de provocar fissuras ou micro-fissuras no sistema da alvenaria.

2.2.1.2 Influência das deformações das estruturas de concreto armado

Para OLIVEIRA (2007), os cálculos de estruturas de edifícios esbeltos, hoje comumente adotando-se o sistema de pórticos, não levam em conta a influência que as alvenarias de vedação exercem indiretamente no comportamento da estrutura. Esse fato leva a deformações diferenciadas, entre os elementos de concreto armado e as alvenarias, provocando, inevitavelmente as fissuras, que repercutem em danos comprometedores no sistema de revestimento, que está solidariamente vinculado às alvenarias.

Segundo MEDEIROS (2005), os edifícios de hoje são mais esbeltos, a concepção privilegia grandes vãos, há menos pilares e as lajes apresentam espessuras reduzidas. Tudo isso torna as estruturas mais deformáveis.

Na verdade, toda a concepção das estruturas tem acompanhado as mudanças e exigências do mercado e arquitetura moderna, mas, segundo observa OLIVEIRA (2007), as alvenarias não têm tido a mesma atenção dos projetistas e tecnologistas, e hoje, de certa forma, se executam com os mesmos parâmetros de décadas atrás.

Então, conforme observa MEDEIROS (2005), as patologias mais comuns relacionadas à deformação na estrutura acabam se manifestando na alvenaria, como o esmagamento de blocos, por exemplo.

Hoje, porém, um bom projeto e execução cuidadosa da alvenaria podem torná-la mais apta a absorver os esforços causados pelas deformações, reduzindo o risco de patologias, acentua MEDEIROS (2005). Especificações com dessolidarização das alvenarias com as estruturas, reforço com telas ou similares na interface das alvenarias com as peças estruturais, juntas de controle, são, por exemplo, medidas indispensáveis a um bom projeto de alvenaria, o que será abordado mais adiante.

Medidas cautelosas na execução da estrutura minimizam também os problemas patológicos, mas esse tema - quanto à execução da obra - está fora do escopo deste trabalho.

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2.2.1.3 Deformações devido a movimentações térmicas

Acerca da influência que a temperatura exerce sobre o comportamento do sistema de revestimento de uma edificação, FIORITO (1994) afirma que os revestimentos e suas camadas suportes de argamassa, de alvenaria ou de concreto, sofrem deformações térmicas diferentes, devidas aos seus coeficientes de dilatação e, especialmente, deformações causadas pela temperatura diferencial entre as faces externa e interna dos edifícios ou ainda, pelas condições ambientais de temperatura.

OLIVEIRA (2007) afirma que o tijolo deforma muito menos que o concreto (devido à diferença do coeficiente de dilatação térmica), diante do efeito térmico. Por isso recomendam-se juntas de controle a cada 12 a 16 metros de parede contínua. Afirma ainda que, no caso de blocos de concreto, devido a sua retração, essas juntas devem ser localizadas a cada 6 metros.

A maior vulnerabilidade dos revestimentos e alvenarias à ação das cargas promovidas pelas variações térmicas reside, sem dúvida, nas paredes localizadas nos últimos pavimentos do edifício, sobretudo nos prédio de grande esbeltez (altura relativamente maior para uma mesma área de base).

Segundo LOTURCO (2006), as fissuras que surgem no último pavimento de edificações são muito comuns e têm características bastante específicas em relação à causa e aparência.

Acrescenta que, ao contrário do que acontece nos outros pavimentos, a movimentação nesse caso, é horizontal e decorrente da deformação lateral da laje. A retração durante a cura e a variação térmica são os principais fenômenos desencadeadores da movimentação.

No último pavimento, submetidas às variações térmicas, até as colunas podem ter movimentações horizontais, provocando a soltura das alvenarias, na ligação entre os dois tipos de material.

Devido à movimentação horizontal da laje, em função de sua dilatação térmica, pois aquelas peças estruturais se submetem à maior exposição ao sol, e, portanto, a maiores temperaturas, devido à diferença de coeficiente de dilatação térmica, quebram a ligação entre os dois sistemas (alvenaria x concreto) provocando a fissura. Por isso, é muito comum a presença de fissuras horizontais, perto do teto, denunciando a linha que separa os dois tipos de material.

Esse fenômeno é bem ilustrado pela Figura 09, exemplificando a soltura entre a alvenaria e o conjunto viga/laje imediatamente superior.

Figura 09 – Fissura entre a laje e alvenaria no último pavimento (movimentação térmica)

Nessas circunstâncias, é fácil concluir que, a solução para o problema está relacionada com a amenização do nível de temperatura alta nos elementos localizados no último pavimento.

Uma das medidas imprescindíveis é o isolamento térmico da última laje do prédio.

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Mas, como bem diz LOTURCO (2006), em todos os casos, como o isolamento térmico não extingue a possibilidade de surgirem fissuras, é recomendável permitir a movimentação independente dos elementos. A separação pode ser feita com o apoio da laje em elementos flexíveis, como mantas ou neoprene.

A ligação da alvenaria dos últimos pavimentos, com as peças estruturais superiores, através de espuma de poliuretano ou mastiques consiste também em boa solução para permitir as movimentações diferenciadas.

Vale salientar que, pode também ocorrer a retração das peças estruturais motivadas pela queda brusca de temperatura. O efeito das tensões, porém, é praticamente o mesmo, só que no sentido inverso.

2.2.1.4 Deformações devido a movimentações higroscópicas

As peças cerâmicas, quando saem do forno e entram em contato com o meio ambiente, se submetem a um inchamento, que prossegue após terem sido assentadas. Isso impõe às peças uma tensão, que pode ser relevante para a estabilidade das mesmas, quando em serviço, afirma FIORITO (1994). Segundo ele, tal comportamento é conhecido como dilatação higroscópica ou expansão por umidade (EPU).

Diz ainda que a causa dessa expansão é atribuída à reidratação dos materiais argilosos que compõem o corpo cerâmico.

A maior ou menor capacidade de expansão desses materiais cerâmicos é proporcional à sua capacidade de absorção de água.

No caso de paredes em fachadas, os problemas conseqüentes da expansão por umidade condicionam-se à exposição dos tijolos ou blocos cerâmicos à água. Quando devidamente revestidos, esse problema torna-se minimizado ou quase nulo.

O caso de fachadas com tijolos ou blocos aparentes é o que requer maior atenção, pois essas peças cerâmicas expandem devido à reidratação dos minerais argilosos, excesso de cal e sulfetos presentes na constituição do bloco.

Segundo OLIVEIRA (2007), o excesso de cal e os sulfetos, em contato permanente com a água, podem provocar descascamento. Sabe-se, segundo OLIVEIRA (2007) que esse fenômeno já provocou o colapso inteiro ou parcial de inúmeros edifícios que se apoiavam em embasamentos de alvenaria de tijolo cerâmico furado, totalmente desprotegidos da ação da água sobre eles, inclusive executados sob a forma de “caixão vazio”, onde os espaços sob o piso do térreo não são preenchidos com aterro, mas são completamente vazios e expõem ainda mais a alvenaria dos embasamentos à umidade naquele local sem qualquer tipo de ventilação.

Focando o caso de fachadas com tijolo cerâmico aparente, levando em conta o que GRIMM (1982b), apud MEDEIROS (1998) afirmou, ou seja, que “paredes simples de alvenaria de tijolos (não revestidas) não são uma barreira permanente contra a ação da água, mesmo sendo bem construídas”, entende-se que as paredes de tijolo cerâmico aparente nas fachadas estão sempre vulneráveis ao processo de expansão por umidade.

Levando ainda em conta o que escreveu FISBURN (1938), apud MEDEIROS (1998), quando diz que os revestimentos argamassados reduzem mais que qualquer pintura, a permeabilidade à água e, considerando que, desprotegidos, os tijolos cerâmicos submetem-se, além da passagem de água por esses elementos, às patologias decorrentes da expansão por umidade, o autor considera que, na medida do possível, esse tipo de vedação externa, ou seja, com alvenaria de tijolo cerâmico aparente, pelo menos em edifícios mais altos, onde os serviços de repintura com tintas hidrofugantes impõem maiores dificuldades de execução, ou em outras circunstâncias, não possam ser sistematicamente executados, deve ser evitado.

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2.2.1.5 Deformações devido à retração dos blocos de concreto e similares

O fenômeno da retração relaciona-se com os blocos de concreto, sílico-calcários, concreto celular ou com quaisquer outros tipos em cuja composição contém cimento portland.

FIORITO (1994) resume que a retração ocorre durante a cura (endurecimento) das argamassas, quando há perda de água de amassamento, que se evapora, e no processo das reações de hidratação da argamassa. Isso tudo impõe uma relativa diminuição de volume das peças, repercutindo em fissuras.

Segundo MEDEIROS (1998), esses tipos de bloco têm alto potencial de retração e isso implica em potencial de fissuração gerado por essas movimentações, que, juntando-se ao seu alto grau de permeabilidade, submetem-se, quando aplicados nas paredes de fachadas, a permitir a penetração de água de chuva com relativa facilidade.

Acrescenta ainda que a porosidade dos blocos exerce forte influência nessa sua vulnerabilidade.

Enfim, MEDEIROS (1998) resume que, em qualquer caso, devemos considerar que alvenarias que apresentam fissuras devido a retração, movimentação higroscópica e estrutural, sejam revestidas ou não, criam condições propícias à passagem de água.

Crê o autor que, por motivos acima relatados, não é recomendável, mesmo que protegidas com pinturas impermeáveis, a execução de paredes com blocos de concreto, sílico-calcários e de concreto celular, aparentes.

De qualquer forma, MEDEIROS (1998) afirma que quando bem ventiladas e isoladas, as paredes tendem a perder rapidamente a água absorvida. Por isso é tão importante que as pinturas e películas que eventualmente as recubram sejam permeáveis ao vapor.

2.2.1.6 Retração da argamassa das juntas de assentamento dos blocos

Como acima lembrado, o material constituinte do rejuntamento das alvenarias, que tem em sua constituição o cimento portland, submetem-se sempre ao processo de retração durante a cura da argamassa, o que provoca a inevitável diminuição de seu volume inicial, provocando fissuras ou micro-fissuras em seu volume.

Evidentemente, esse fato impõe maior atenção na constituição da argamassa de rejuntamento das alvenarias, como também na forma de execução das paredes, pois, as fissuras podem, em maior ou menor grau, propiciar a penetração de água pelas fachadas, como também a percolação da umidade através dessas aberturas.

FIORITO (1994) afirma que, mesmo após a secagem da argamassa, e com mais de quatro meses de idade, notam-se variações dimensionais em função do grau higrométrico do ambiente.

Afirma também que argamassas ricas (com maior quantidade relativa de cimento em sua constituição) e espessas estão sujeitas a um processo de fissuração mais acentuado.

FIORITO (1994) realizou ensaios, medindo retração para pasta de cimento e para o seis grupos de argamassas distintas, e chegou a conclusões relevantes para o tema deste trabalho, como por exemplo: de uma forma geral, no caso de obras onde as argamassas secam ao ar, e, considerando os resultados aos 28 dias, pode-se adotar, em média, um valor de retração de 0,6mm/m para as argamassas e 1,5mm/m para a pasta de cimento; aos 7 dias, já ocorreu 65% a 80% da retração a ser medida aos 28 dias.

Considerando que, como já foi anteriormente registrado, onde GRIMM (1989b), apud MEDEIROS (1998), observa que o local mais comum para a infiltração de água de chuva é na ligação entre as juntas horizontais e verticais das alvenarias, concluímos que cuidados especiais quanto ao traço da argamassa e execução devem prioritariamente serem levados em conta, pois o fenômeno da retração amplia a vulnerabilidade da argamassa de rejuntamento dos tijolos em determinados pontos de interseção.

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2.2.2 Patologias do concreto aparente

Muito utilizado na arquitetura moderna, o concreto aparente requer maiores cuidados em seu projeto e execução, independente daqueles também imprescindíveis à garantia da vida útil das peças estruturais e à sua estabilidade, estabelecidos pelas NBR 6118 (ABNT, 2003).

As recomendações contidas na NBR 6118 (ABNT, 2003) relacionam-se exclusivamente com a estabilidade e durabilidade da estrutura, como acima citado, mas, cabe extrair alguns tópicos dessa norma que interferem diretamente nas condições de seu comportamento como parede de fachada.

A NBR 6118 (ABNT, 2003), por exemplo, considera como estado de fissuração inaceitável, para peças de concreto armado convencional, para uma abertura maior que 0,2mm, apenas para a classe de agressividade ambiental (CAA) IV, que 0,3mm, para as CAAs II e III e 0,4mm para a CAA I. Essa definição das classes, vemos na Tabela 02, extraída da NBR 6118.

Tabela 02 – Classes de agressividade ambiental, extraída da NBR 6118 (ABNT, 2003)

CLASSE DE AGRESSIVIDADE

AMBIENTAL

AGRESSIVIDADE

CLASSIFICAÇÃO GERAL DO TIPO DE AMBIENTE

PARA EFEITO DE PROJETO

RISCO DE DETERIORAÇÃO DA

ESTRUTURA

I Fraca Rural Insignificante

Submersa

II Moderada Urbana Pequeno

III Forte Marinha Grande

Industrial

IV Muito forte Industrial Elevado

Respingos de maré

Ora, conforme já foi visto, GRIMM (1982b), apud MEDEIROS(1998) revelou que a água penetra por fissuras com abertura superior a 0,1mm, sendo a sucção capilar importante para aberturas menores que 0,5mm.

Nessas circunstâncias, é fácil admitir que o concreto armado aparente se submeta à penetração de água de chuva pelas aberturas de seu fissuramento e, dependendo da comunicabilidade interna dessas aberturas, há a possibilidade de a umidade atingir o lado interno das edificações. Essa possibilidade é inversamente proporcional a diversos fatores de projeto e execução da obra, destacadamente, à qualidade do concreto das peças estruturais localizadas nas fachadas, pois, quanto maior a resistência característica do concreto, maior o fechamento dos seus poros interno, e conseqüentemente, menor comunicabilidade entre si (MEHTA; MONTEIRO, 1994).

A patologia mais significativa do concreto armado aparente é, sem dúvida, a oxidação de sua armadura, que, de acordo com sua evolução, implica em fissuras superficiais, até a descamação de trechos de concreto adjacente à armadura oxidada. Esse problema, além de agredir, esteticamente, as fachadas dos prédios, desencadeia um ciclo de patologias, acelerando o processo de oxidação da ferragem das peças, propiciando, cada vez mais a penetração de água de chuva nas fachadas.

Os motivos maiores para esse tipo de patologia são a despassivação da armadura do concreto, devido à penetração de CO2 pela superfície do concreto, como também a penetração de cloretos, sobretudo nas edificações localizadas em áreas marítimas.

A impermeabilidade do concreto aparente, portanto é de fundamental importância, devido a sua porosidade e à possibilidade de da existência de fissuras.

Um concreto aparente, com um fator água/cimento relativamente baixo, implicando em resistência característica alta é de fundamental importância na vida útil de sua face externa, o que interessa a este trabalho. Porém, o autor entende que se faz necessária a sistemática pintura de toda a

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superfície com película impermeabilizante, mas que permita a passagem do vapor, prevendo a evaporação da água acumulada nas eventuais aberturas na superfície e da água oriunda de condensação, quando existente.

2.2.3 Patologias nos revestimentos argamassados (emboço ou massa única)

É importante lembrar que o revestimento das fachadas se compõe de várias camadas que interagem entre si (base de concreto ou alvenaria, chapisco, emboço de regularização, argamassa de assentamento e placas de revestimento), repassando, muitas vezes para as camadas vizinhas os problemas patológicos a que se submetem. Os tipos de patologia mais significativos para a estanqueidade das paredes externas dos edifícios, oriundas, portanto, dos elementos internos (alvenaria, concreto, etc.) que repercutem no revestimento, já foram tratados anteriormente.

No caso de fachadas com revestimentos argamassados, seus componentes, sob forma de camadas, resumem-se à base de concreto ou alvenaria, chapisco e emboço e reboco ou simplesmente a massa única (tipo paulista).

Vale salientar que as patologias possíveis e mais relevantes inerentes exclusivamente a esse tipo de revestimento, que propiciam a penetração e o transporte de água pelo lado interno das paredes são as fissuras, trincas e rachaduras, além daquelas que provocam a deterioração completa ou parcial do revestimento.

2.2.3.1 Fissuras devido a movimentações térmicas nas argamassas

Recapitulando, FIORITO (1994) afirma que os revestimentos e suas camadas suportes de argamassa, de alvenaria ou de concreto, sofrem deformações térmicas diferentes, devidas aos seus coeficientes de dilatação e, especialmente, deformações causadas pela temperatura diferencial entre as faces externa e interna dos edifícios ou ainda, pelas condições ambientais de temperatura.

Vale salientar que as deformações das argamassas, devido às movimentações térmicas agravam-se devido aos vínculos existentes entre os vários tipos de material. As restrições às movimentações térmicas dos revestimentos, por exemplo, residem nas suas extremidades, quando confinados lateralmente e no poder de aderência de sua superfície interna com a base (alvenaria, concreto, etc.), reforçado com a existência do chapisco.

A magnitude das tensões envolvidas é relacionada aos seguintes fatores: intensidade de movimentação, grau de restrição imposto pelos vínculos e capacidade de deformação do material (módulo de elasticidade).

Em determinadas circunstâncias de variação de temperatura, dimensões das placas de argamassa, confinamentos laterais, etc., as forças devido às variações lineares da argamassa, pode haver fissuras na argamassa, quando ela não suporta as tensões de tração (quando dilatada) ou de compressão (quando retraída) imposta por determinada variação térmica.

2.2.3.2 Fissuras devido à retração da argamassa

As considerações levantadas no item 2.2.1.1.5 deste trabalho, relativas à retração de argamassas são plenamente válidas para as argamassas de revestimento.

No caso de revestimento, submetido às forças de retração natural da argamassa, surgem sobre ele tensões de compressão e, quando solidarizado com sua base, o que é o caso de revestimento em fachadas, não pode prescindir dessa ligação, através de, pelo menos, a aplicação do chapisco. Há nessa interface uma tensão de cisalhamento.

FIORITO (1994) observa que, nessas circunstâncias, um equilíbrio final é alcançado pela introdução de forças de tração na argamassa (positiva) e de compressão no suporte (negativa). Nesse caso, as forças estão sempre em equilíbrio e o deslocamento do suporte é igual ao deslocamento da argamassa.

FIORITO (1994) enuncia conclusões de extrema relevância para o escopo deste trabalho:

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• As tensões de tração na argamassa, quando há vínculo com uma camada de suporte e originadas pela sua própria retração, nos conduzem a conclusões construtivas. Nas argamassas ricas ou muito ricas, por terem elevado módulo de elasticidade, deformam-se menos e as tensões de tração permanecem elevadas.

• As tensões de tração que atuam sobre argamassas muito ricas são da ordem de nove a doze vezes maiores do que aquelas que atuam nas argamassas mais elásticas.

• Portanto, nas argamassas ricas e muito ricas há notável influência da retração e, conseqüentemente, essas argamassas estarão mais sujeitas a tensões de tração que causarão trincas e possíveis descolamentos de sua camada de suporte à medida que sua espessura cresce.

• Nas argamassas mais elásticas (menor módulo de elasticidade), as tensões de tração são baixas e praticamente constantes para qualquer que seja a espessura da camada de argamassa, minimizando, portanto, os riscos de trincas ou de desprendimento de sua camada de suporte.

A NBR 13749 (ABNT, 1996) recomenda as seguintes espessuras de argamassa para revestimentos:

• Para paredes internas (mm): 5 < e < 20;

• Para paredes externas (mm): 20 < e < 30;

• Para tetos internos e externos: e < 20.

MEDEIROS (1998) recomenda que no emprego com argamassas mistas, a espessura não deve ser menor que 20 mm, sem apresentar fissuração como base para pintura (abertura inferior a 0,1 mm) e limitada a baixa intensidade (aberturas inferiores a 0,3 mm) como base para cerâmica, sem comprometimento da aderência.

Vale salientar que a NBR 13755 (ABNT, 1996) recomenda para execução de emboços, traços volumétricos de 1:1/2:5 a 1:2:8 (cimento, cal hidratada e areia média úmida).

2.2.4 Patologias nos revestimentos cerâmicos

De modo similar ao que se comentou no item anterior, com relação à abordagem sobre as patologias a que se submetem as argamassas de revestimento, o sistema composto de argamassa de assentamento placas cerâmicas e rejunte, reflete a maioria dos problemas patológicos de que são acometidas as bases (alvenaria, concreto, etc.) e os emboços, principalmente quando essas patologias estão relacionadas com fissuras, trincas e rachaduras.

Preliminarmente, vale observar o que enfatiza COSTA E SILVA (2007), quando lembra que a única norma brasileira que trata de revestimento cerâmico em fachadas, com argamassa colante, a NBR 13755 (ABNT, 1996), limita à área de cada placa cerâmica em 400 cm² e espessura máxima de 15mm. Então, como se pode observar em todo o país, há muitos prédios revestidos com cerâmica e porcelanatos que não se submete a nenhum tipo de norma técnica nacional.

Por motivos como esse, MEDEIROS (1998) afirma que, infelizmente, as normas brasileiras andam sempre a reboque da evolução tecnológica.

Acerca ainda desse assunto, MEDEIROS (2006) afirma, categoricamente, que dimensões acima de 45 x45 cm, começam a extrapolar os limites do conhecimento técnico, com comportamento duvidoso, sendo recomendada a fixação mecânica.

2.2.4.1 Fissuras motivadas por movimentações térmicas

Viu-se anteriormente que as variações de temperatura impõem ao revestimento, inclusive às placas cerâmicas, tensões de tração em seu corpo e cisalhamento na interface entre as placas e sua argamassa de assentamento (por analogia ao que se analisou com relação às argamassas de revestimento e regularização), quando há um acréscimo de temperatura.

Focando o que acontece às placas cerâmicas, essas peças tenderiam a se afastar umas das outras. As juntas tenderiam a se abrir e aí se instalaria o processo de cisalhamento entre a base das

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peças (tardoz) e o material do assentamento das mesmas. Atingida a rutura, as peças se soltariam, observa FIORITO (1994). Note-se que esse comportamento de dilatação é, por si, diferenciado do que acontece com o emboço (argamassa de regularização), pois, nessas circunstâncias as temperaturas de ambos são diferentes e o emboço, nesse caso, se submete a fissuras, com maior facilidade.

Para JUNGINGER (2003) a influência de fenômenos cíclicos (choques térmicos) frente às tensões de cisalhamento decorrentes do “encurtamento” pode se tornar um assunto complexo.

Se analisarmos a dilatação térmica imposta a uma só placa cerâmica, levando em conta que a temperatura externa é relativamente maior que a interna, pois as placas se submetem a maior incidência dos raios solares, pois não são protegidas, a placa, então tende a crescer, mais que sua argamassa de assentamento, criando-se na interface dos dois materiais uma tensão de cisalhamento.

Agora, se imaginarmos um conjunto de placas na fachada, rejuntadas e fixadas no emboço com argamassa, é fácil concluir que, se o rejunte for totalmente rígido ou se as placas estiverem assentadas com juntas secas (juntas uma a outra, sem rejunte) a placa central desse conjunto receberá maior tensão de compressão lateral e de cisalhamento, porque o conjunto se comportará com em estado de flambagem, e essa placa tenderá a se soltar do conjunto. Isso depende, evidentemente, do diferencial de temperatura e, conseqüentemente, da temperatura imposta às placas cerâmicas.

Por isso, é necessário que as placas cerâmicas sejam devidamente rejuntadas e, com argamassa de rejunte com baixo módulo de elasticidade, relativamente flexíveis, para absorver tais tensões e outras impostas ao revestimento, como adiante serão abordadas.

A NBR 13755 (ABNT, 1996) recomenda a execução de juntas de movimentação horizontais nas fachadas, a cada 3 metros de distância ou a cada “pé direito”, na região de encunhamento das alvenarias, e, juntas verticais a cada, pelo, menos, 6 metros de distância entre si.

Conforme lembra COSTA E SILVA (2007), ainda não há norma brasileira sobre a constituição das juntas, mas, baseado nas normas estrangeiras, o meio técnico define que essas juntas devem ter de 15 a 20 mm de espessura, a argamassa de regularização (emboço) das placas de revestimento deve ser cortada a 2/3 de sua espessura, a abertura deve ser preenchida com um limitador de profundidade (poliuretano expandido, por exemplo) e, por fim, deve ser preenchida com um selante elastomérico, cuja espessura deve ser igual à metade da largura da abertura da junta, garantindo-se só a aderência do selante com as laterais das placas de revestimento. A Figura 10 ilustra melhor as recomendações do meio técnico:

Figura 10 – Desenho esquemático do preenchimento de juntas de movimentação.

(Fonte: LOTURCO, 2006)

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JUNGINGER (2003) assevera que a dilatação térmica depende da temperatura e das características da placa em questão, de seus coeficientes de dilatação, etc. Para uma mesma placa, entretanto, cores mais escuras indicam maior absorção de energia, maior aumento de temperatura e maior dilatação, o que resulta no surgimento de tensões mais elevadas sobre a camada de fixação (argamassa de assentamento). Segundo JUNGINGER ((2203), isso contribui para explicar os casos em que um revestimento de fachada sofre colapso apenas nos locais onde estão assentadas placas de cores escuras.

Essa sua observação, obviamente, se refere a locais de climas tropicais, onde a incidência dos raios solares é representativa.

2.2.4.2 Fissuras motivadas por retração da argamassa de assentamento

As argamassas de assentamento das placas cerâmicas têm base cimentícia e por isso se submetem também ao fenômeno de retração anteriormente abordado.

FIORITO (1994) diz que, nessas situações, quando a argamassa de assentamento tende a se retrair, impõe sobre as placas cerâmicas uma tensão de compressão.

As placas, então, tendem a “se aproximar” uma da outra e a tendência é a flambagem de cada placa. Nas extremidades das placas, há tensões de cisalhamento, atuando na interface placa/argamassa. No centro, há tensões de compressão, atuando nas seções transversais das peças. Essa compressão dá origem a componentes transversais das peças, que tendem a arrancar o revestimento da base. A isso se opõe a aderência entre a argamassa e as placas.

Não é finalidade deste trabalho se aprofundar nesse tema, mas, para melhor compreensão, lembremos a fórmula de Euler, que define a carga de flambagem:

Nfl = (3,14)2 EJ , onde, . dfl

2

Nfl = carga, a partir da qual, ocorre a flambagem;

E= módulo de elasticidade da peça;

J = momento de inércia;

dfl= comprimento da peça.

Conclui-se, então, que quanto menor o comprimento da peça, maior a carga de início da flambagem e, conseqüentemente, menor a componente transversal de arrancamento da placa.

Extraem-se daí duas conclusões importantes:

1.ª) Quanto menores as placas de revestimento, menor a tendência de arrancamento devido à retração da argamassa de assentamento;

2.ª) A deformabilidade dos rejuntes é de fundamental importância, pois, ao contrário, transmitirá as cargas de uma peça a outra, aumentando a tensão de arrancamento nessas circunstâncias.

2.2.4.3 Patologias relacionadas com o rejunte das placas

Segundo JUNGINGER (2003), o rejunte é um componente do revestimento cerâmico tão essencial quanto qualquer outro para o desempenho do conjunto. Diz ainda que suas funções estão diretamente relacionadas com as propriedades e características do composto aplicado. Quanto maiores as solicitações a que o revestimento está exposto, maiores os esforços que atuam sobre o rejunte.

O rejunte tem, dentre outras, as funções de composição estética do revestimento, compensação da variação da bitola das placas, vedação do revestimento, permissão da passagem de vapor de água de condensação e de alívio das tensões sobre as placas.

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Os rejuntes podem ser constituídos de argamassas com base de cimento (industrializadas ou produzidos em obra) ou de base orgânica (exemplo: resina epóxica).

Os rejuntes à base de resinas são impermeáveis ao vapor de água. Portanto, seria, como diz JUNGINGER (2003), um erro conceitual aplicá-los em fachadas, pois a função de permeabilidade ao vapor de água é de fundamental importância para o desempenho de uma fachada revestida com cerâmica ou similar.

O tipo de rejunte mais indicado para aplicação em fachadas revestidas com cerâmica é aquele de base cimentícia.

A vedação do revestimento nas fachadas é de primordial importância, pois é função do rejunte impedir a passagem de água e elementos deletérios para o lado interno das placas de revestimento.

As falhas de uniformidade do rejuntamento nas placas de revestimento propiciam a penetração de água nas paredes das fachadas.

O rejunte de base cimentícia submete-se ao fenômeno da retração, o que demanda cuidados especiais em sua constituição. Por isso, não é conveniente a utilização de rejuntes produzidos em canteiro de obra, pois comumente submete-se a muitas falhas em sua constituição.

Os rejuntes industrializados apresentam comumente a vantagem de serem produzidos sob controle mais rígido e esse material se submete a adições químicas e minerais, que lhe conferem propriedades adequadas às características de sua utilização, conferindo homogeneidade, relativa flexibilidade, inibição de retração hidráulica, boa regularidade de coloração, dentre outras, bastando apenas a adição de água para sua devida utilização.

Cuidados especiais, porém, devem ser tomados na escolha do tipo de rejunte adequado à sua finalidade e quanto às especificações no tocante à execução do trabalho de rejuntamento.

A mistura de água em volume superior ao recomendado pelo fabricante, por exemplo, implica em problemas de resistência e retração inadequadas à finalidade do rejunte. Como todo produto cimentício, as propriedades do rejunte também estão intimamente ligadas à relação água/cimento (JUNGINGER, 2003).

O preenchimento dos espaços destinados à aplicação do rejunte deve ser completo, não deixando quaisquer espaços vazios.

2.2.5 Patologias nos revestimentos com pedras naturais

No Brasil, vemos hoje, uma infinidade de edifícios cujas fachadas são revestidas com pedras naturais, sejam elas graníticas, de mármore ou similares.

Segundo FLAIN (2002), o assentamento de pedras naturais pode se dar de duas maneiras básicas: por colagem (adesão físico-química ou aderência mecânica), com ou sem ancoragem de segurança (grampos) e por ancoragem mecânica. Na primeira utiliza-se argamassa convencional, argamassas colantes ou colas especiais; na segunda, componentes metálicos.

Atualmente no Brasil a grande maioria do assentamento de pedras naturais acontece por colagem, com ou sem grampos de segurança.

Algumas patologias desse tipo de revestimento assumem papel similar àquelas relacionadas com o revestimento cerâmico, decorrentes de patologias de deformação existente nas bases, de movimentações térmicas nas fachadas e de retração das argamassas de assentamento.

Agravam-se, porém, na medida em que são maiores as dimensões nominais das placas.

Vale lembrar que MEDEIROS (2006) afirma que dimensões de placas cerâmicas acima de 45x45 cm, começam a extrapolar os limites do conhecimento técnico, com comportamento duvidoso, sendo recomendada a fixação mecânica.

Notam-se também em muitos prédios com esse tipo de revestimento, uma abertura de rejunte extremamente limitada. Esse fato, segundo foi anteriormente exposto, contribui na ação

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mecânica de uma placa para as adjacentes, confinando a mesma, agravando os problemas de movimentações térmicas e de retração das argamassas. Além de tudo, a limitada largura de rejunte dificulta a execução do mesmo, e muitas vezes o espaço entre as placas não é completamente preenchido, o que comumente provoca o esfarelamento e queda de trechos de rejunte.

Além das patologias relacionadas com movimentações das placas, observando determinados prédios executados com esse tipo de material, detecta-se a presença de manchas de cor marrom, aparentando escorrimento. Segundo observa COSTA E SILVA (2007), essas manchas são decorrentes do processo de oxidação a que se submeteram os grampos de segurança das placas. Esse tipo de patologia acontece comumente em prédios localizados em regiões marinhas, pois o provável motivo do desencadeamento do processo de corrosão é a ação dos íons cloreto sobre o metal, cujo produto de oxidação (óxido de ferro) é solúvel.

Há de se levar em conta também o que observa FLAIN (2002), quando diz que as pedras normalmente utilizadas como revestimento de fachadas, apresentam maior ou menor porosidade. Certas pedras absorvem praticamente pouca água, enquanto outras podem absorver até 20% de sua massa, o que se torna bastante grave, levando em conta a variação de seu volume diante da absorção de água de chuva.

O tipo de pedra natural deve ser muito levado em conta pelo projetista, pois alguns deles são extremamente inadequados para esse tipo de revestimento em fachadas.

COSTA E SILVA (2007) cita como exemplo o conhecido “mármore travertino”. Segundo ele, esse material apresenta como característica intrínseca uma permeabilidade decorrente de falhas na sua formação geológica, responsáveis pela existência de diversos vazios nas placas, os quais são normalmente preenchidos com massa plástica, tornando-os de difícil percepção pelo lado exterior. Entretanto, com o passar do tempo, podem surgir novos pontos de falhas ou mesmo deficiência na ligação entre essa massa aplicada e a placa, favorecendo a penetração de água.

2.2.6 Patologias nos revestimentos em placas pré-moldadas

Muitas edificações têm em suas fachadas placas de concreto armado pré-moldado.

A Figura 11 mostra um edifício, cujo revestimento é de placas de concreto pré-moldadas.

Figura 11- Edifício revestido com placas de concreto pré-moldado.

Não há norma que regule o revestimento de fachadas com placas de concreto pré-moldado.

Normalmente são assentadas por adesão física, diretamente sobre o emboço de regularização, com ancoragem de segurança (grampos) ou aderência mecânica, e por ancoragem mecânica (mais incomum).

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De qualquer forma, pode-se afirmar que esse tipo de revestimento se submete à possibilidade de patologias idênticas àquelas relacionadas com os revestimentos com pedras naturais, no tocante às movimentações térmicas e higroscópicas.

Há de se alertar, porém, que geralmente essas placas pré-moldadas têm grandes dimensões, agravando o problema de suas movimentações submetidas a tensões de compressão e tração, unidas a seu peso próprio.

Além de tudo seus grampos são geralmente de aço e se submetem à possibilidade de oxidação, que pode deteriorar os grampos de segurança, a ponto de desestabilizar as placas de revestimento.

Essas placas, que geralmente são armadas, têm uma espessura relativamente pequena, a ponto de não haver possibilidade de proteção da armadura contra a penetração de elementos deletérios (cloretos e CO2, por exemplo), que fazem desencadear o processo de corrosão dessas armaduras, podendo provocar manchas ou até desestabilizar as peças de revestimento.

O autor entende que, levando em conta a possibilidade da aplicação desse tipo de placa em fachadas, o seu concreto constituinte deveria ser de alto desempenho, cujo fator água/cimento não deveria superar 0,45, pois só a qualidade do concreto imporia maior vida útil a esse tipo de revestimento.

Devido à sua relativa porosidade, quando submetida a umidade por longos períodos, como é o caso das fachadas, sem película de proteção, submetem-se ao aparecimento de bolor (colônias de fungos que se alojam nos poros do concreto).

É extremamente necessário que as placas de concreto pré-moldado aplicadas em fachadas sejam sistematicamente protegidas com película de proteção, impermeável a água, mas que permita a passagem do vapor, para possibilitar a evaporação da água que se acumular em seus poros.

2.2.7 Patologias na cobertura

2.2.7.1 Movimentações térmicas

As coberturas dos edifícios, sobretudo nas regiões tropicais, são geralmente a áreas da construção que mais se submetem à radiação solar.

Segundo conceitua STORTER (2002), radiação é um mecanismo de troca de calo entre dois corpos, que guardam entre si uma distância qualquer, através de sua capacidade de emitir e de absorver energia térmica. Esse mecanismo de troca é conseqüência da natureza eletromagnética da energia, sem a necessidade de meio de propagação, ocorrendo mesmo no vácuo.

STORTER (2002) sustenta ainda que essa radiação sobre uma superfície qualquer (exemplo: laje de cobertura) promoverá um aumento de sua temperatura.

O valor do acréscimo de temperatura nessas circunstâncias é proporcional ao valor do fator de absorção para radiação solar do revestimento dessa superfície (exemplo: cores escuras têm fator de absorção alto e cores claras, o inverso).

STORTER (2002) continua frisando que as coberturas sofrem mais intensamente a variação térmica natural do que as vedações laterais do edifício. Essa diferença provoca movimentações diferenciadas e, muitas vezes, o fato é agravado pela diferença de coeficientes de dilatação térmica dos dois ou mais tipos de materiais constituintes da cobertura e das paredes de vedação.

Segundo LOTURGO (2006), AS fissuras que surgem no último pavimento têm características bastante específicas em relação à causa e aparência. São resultado de falta de uma concepção cuidadosa da interface entre a alvenaria e a laje de cobertura.

Sustenta ainda que a retração durante a cura e a variação térmica são os principais fenômenos desencadeadores da movimentação.

Na maioria dos casos, não há comprometimento estrutural, porém, essas aberturas, devido às movimentações diferenciadas, propiciam a penetração de água na edificação, repercutindo em várias patologias conseqüentes, com podemos ver em diversos exemplos de obras mal concebidas

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durante a elaboração do projeto e a execução da mesma.

Convém ressaltar que em determinadas situações, a própria laje, nervurada ou de concreto armado, se submete a fissuras em decorrência de movimentações térmicas.

As lajes nervuradas apresentam fissuras longitudinais às suas nervuras, devido, como por exemplo, a fatores relacionados com a diferença dos módulos de elasticidade de dois de seus materiais componentes (blocos e nervuras). Portanto, flexionam-se em amplitudes diferentes, abrindo-se fissuras entre esses dois componentes estruturais. Esse fato não compromete também a estabilidade do sistema estrutural da laje, mas tem aparência desagradável, impõe ao usuário uma pressão psicológica negativa e pode provocar infiltrações de água de chuva para dentro dos ambientes da edificação.

2.2.7.2 Deficiências da coberta e de impermeabilizações

A penetração de água de chuva através da coberta tem razões obvias que são falhas de desempenho em algum ou vários pontos de todo o sistema da coberta.

Sem levar em conta a possibilidade de má execução do sistema e defeito de quaisquer elementos, pois fogem do escopo deste trabalho, as falhas de estanqueidade na coberta muitas vezes deve-se à má concepção do projeto, por definições e especificações equivocadas, primando muitas vezes pelo aspecto estético, com bastante exclusividade, como será comentado adiante.

É de fundamental importância o rigor no atendimento às normas técnicas vigentes, durante a elaboração do projeto, sem prescindir do assessoramento de toda uma experiência baseada em situações de obras anteriores e fundamentalmente, muito estudo acerca do tema.

A cobertura também apresenta, em muitas situações, patologias em sistemas de impermeabilização que propiciam a infiltração de água de chuva para os ambientes internos da obra.

STORTER (2002), acerca do assunto, afirma que um dos principais elementos para o sucesso da impermeabilização é a qualidade da construção e a preparação da estrutura para receber a impermeabilização.

No entanto, ele assevera que muitas vezes se verificam erros construtivos que danificam ou prejudicam seu bom desempenho. E cita alguns exemplos, dos quais alguns são extraídos para simples ilustração: fissuras em lajes, utilização de materiais inadequados para construção de jardineiras e espelhos d’água (tijolos furados, por exemplo), inobservância quanto à natureza de dilatações térmicas distintas entre os diversos materiais de construção, dentre outras.

2.3 Projeto arquitetônico – vícios e omissões

MEDEIROS (2005) informa que para executar uma obra, por mais simples que seja, são necessários, no mínimo, entre sete e oito projetos.

Afirma ainda que projetar hoje em dia, envolve planejamento, integração de etapas e solução de interferências. O setor da construção abraçou essa nova filosofia, a do projeto simultâneo, que valoriza a integração entre os agentes, minimizando a possibilidade de erros, retrabalhos, perdas de eficiência e defeitos.

Com esse espírito e traçando um paralelo com a expressão “vícios da construção”, que, segundo o SINDICONET (2008), “são falhas que tornam o imóvel impróprio para o uso ou lhe diminuem o valor”, a seguir são mostradas ilustrações fotográficas que apresentam várias patologias devidas a inobservância do projeto arquitetônico ou até por omissões de projeto, privilegiando o aspecto estético da obra.

Evidentemente, na seleção dos registros de patologias associadas a deficiências de projeto, não se levou em conta a idade dos prédios fotografados. Por este e por motivos óbvios, não cabe no escopo deste trabalho qualquer tipo de julgamento dos autores dos projetos, até porque, o tema em questão é ainda hoje extremamente carente de normas técnicas reguladoras, e, pior ainda, há décadas passadas, quando não se focava os detalhes construtivos comprometedores, e, a inexistência de normas somada à falta de experiência levavam os projetistas, quando cuidadosos acerca do

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desempenho de todo o sistema, agirem de forma relativamente intuitiva, e, muitas vezes, equivocada.

A tipologia da maioria dos problemas patológicos registrados neste trabalho é, provavelmente, bastante conhecida pela classe dos profissionais que militam na área da construção civil. Entretanto, desta feita, esses registros visam alertar o projetista de arquitetura para o fato de que não pode se desviar de suas funções básicas, afora do contexto estético e funcional.

Fazem parte também dessas suas funções básicas o que bem define o item (3.2) da NBR 13532 (1995) sobre a elaboração do projeto de arquitetura de edificação, que é a “determinação e representação prévias (desenhos e textos) da configuração arquitetônica de edificação, concebida mediante a coordenação e a orientação geral dos projetos dos elementos da edificação, das instalações prediais, dos componentes construtivos e dos materiais de construção”.

2.3.1 Revestimentos de fachadas

Várias patologias dos revestimentos das fachadas estão associadas a uma deficiente elaboração do projeto arquitetônico.

Poderíamos citar como exemplo, a especificação inadequada ou inexistência dela com relação ao tipo de argamassa de assentamento das placas cerâmicas. A ineficiência desse tipo de material compromete a sua aderência com o tardoz (lado oposto) das placas, fazendo com que o sistema não suporte as componentes das tensões transversais às fachadas, sobre as placas, devido a vários motivos já comentados neste trabalho, impondo a soltura das placas, o que impõe grande perigo às pessoas que transitam abaixo delas. O problema se agrava devido a inexistência de juntas de movimentação, conforme mostram as Figuras 12 e 13.

Figura 12- Soltura das placas das fachadas Figura 13- Soltura das placas das fachadas

A NBR 13755 (1996) recomenda da execução de juntas de movimentação horizontais a cada 3m ou a cada pavimento, na altura de ligação entre a alvenaria e o concreto armado e, verticalmente, a cada 6m. Recomenda também a execução de juntas de movimentação entre materiais diferentes nas fachadas. As figuras 14, 15 e 16 registram edificações, algumas relativamente novas, que descumprem tais recomendações da norma.

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Figura 14- Inexistência de junta entre materiais diferentes

Figura 15- Inexistência de juntas de movimentação Figura 16- Queda de placas devido à ausência de juntas

Em alguns casos, o projetista idealiza juntas, apenas por razões estéticas, comprometendo ainda mais o desempenho das fachadas quando define frisos rígidos no lugar onde deveria existir alívio das tensões de movimentações do revestimento, através de abertura de juntas, como é o caso registrado na Figura 17.

Figura 17- Juntas rígidas em lugar de juntas abertas

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Vale observar que esses frisos de granito executados na fachada mostrada na Figura 17, por um lado, compromete a estabilidade mecânica dos elementos das fachadas, por outro lado, porém, representam uma solução interessante para o descolamento da lâmina de água de chuva da parede, diminuindo sua energia cinética e, conseqüentemente, aliviando a força de penetração de água nas eventuais aberturas do revestimento.

As juntas de movimentação, quando existentes, muitas vezes são fruto de uma deficiente especificação e/ou controle e planejamento de execução.

A Figura 18, por exemplo, mostra uma junta de movimentação em fachada de um alto edifício revestido com placas de granito natural, mal executada e um pretenso reparo de pior qualidade.

Figura 18- Junta de movimentação mal executada e mal reparada

Quando são deficientemente executadas as juntas de movimentação, principalmente quando o selante elástico mal aderido ou de dimensões inadequadas, propicia aberturas para a penetração de água de chuva, o problema da falta de estanqueidade da parte é ainda mais grave. Sobre esse fato, MEDEIROS (2006) comenta que, nesse caso, seria até melhor que não houvesse juntas de movimentação.

A Figura 19 mostra claramente a falta de aderência do selante elástico com as laterais das placas cerâmicas e a Figura 20 mostra uma patologia proveniente de juntas mal executadas, que é a eflorescência.

Figura 19- Selante elástico mal aderido à cerâmica

Figura 20- Eflorescência devido a falhas de juntas

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A NBR 13753 (ABNT, 1996) recomenda junta de movimentação nos pisos externos a cada 20 m² ou sempre que uma das dimensões for maior que 4 metros. Onde há mudança de ângulo de planos e na junção de dois ou mais tipos de material, essa norma também recomenda a junta de movimentação (ou dessolidarização).

É muito comum se deparar com pisos externos em edifícios, sem o cumprimento dessas recomendações. Em muitos casos, observa-se descolamento de placas, infiltrações (quando a movimentação impõe à manta de impermeabilização tensões acima de sua capacidade nominal).

A Figura 21 exemplifica a omissão, mostrando um piso externo sem junta de movimentação.

Figura 21- Piso externo sem juntas de movimentação.

Conforme foi visto neste trabalho, as tensões oriundas de movimentações térmicas, e, principalmente aquelas que decorrem de retração de argamassa, são agravadas pela espessura excessivamente alta dos emboços ou de massa única nas fachadas.

Fatores, tais como: largura das peças estruturais, sistema construtivo inadequado, erros de execução na avaliação do prumo (verticalidade) da edificação, detalhes sobressalentes na fachada, dentre outros, implicam muitas vezes em espessura do revestimento das fachadas bastante grande.

Figura 22 mostra uma fachada, onde a oxidação da armadura estrutural expulsou trecho do revestimento, possibilitando avaliar o exagero de espessura de seu emboço.

Figura 22- Espessura de emboço excessiva

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A especificação dos materiais a serem aplicados nos revestimentos deve ter atenção especial do projetista. CICHINELLI (2006) recomenda utilizar apenas os produtos declarados especificamente para uso em fachadas. Os produtos para fachada devem ter: baixa expansão por umidade, não desbotar com a ação da luz do sol e ter superfície de fácil limpeza.

MEDEIROS (2006) diz que, segundo a norma mais respeitada de projeto e execução do mundo, a britânica, o ideal é que a cerâmica usada em fachadas não ultrapasse o índice de 3% de absorção de água. Embora não haja clara recomendação das normas brasileiras, o Centro Cerâmico do Brasil, por ele citado, aconselha o uso de placas que obedeçam a limites de absorção de água inferiores a 6%.

A NBR 13818 (ABNT, 1997) define que o limite de expansão por umidade (EPU) deve ser menor ou igual a 0,6mm/m e deve ter classe de limpabilidade de 4 ou 5.

A Figura 23 mostra claramente tipo de cerâmica inadequadamente especificada para execução em fachadas. Essas placas têm, provavelmente, um índice de expansão por umidade superior a 0,6mm/m, e então se submeteram ao gretamento de seu esmalte, evoluindo para o desgaste generalizado.

Figura 23- Cerâmica inadequada à utilização em fachadas

A escolha do material para revestimento das fachadas é de suma importância para a vida útil das edificações.

As paredes de fachadas revestidas com reboco ou massa única e pintadas com tinta acrílica externamente, como já visto, impedem a passagem de vapor de água e, portanto, dificultam a dissipação da água originária da condensação, para evaporar no ambiente externo.

Por outro lado, a pintura com base PVA, apesar de permitir a passagem do vapor, apresenta porosidade suficiente para propiciar a penetração de água, mesmo que, dependendo do estado da pintura, em menores proporções.

As duas situações possibilitam a proliferação do bolor (fungos) interna ou externamente, respectivamente, agravando-se com o fato de que, segundo LORDSLEEN JUNIOR (2007), as substâncias constituintes da pintura podem conter nutrientes para aqueles micro-organismos, não obstante a preocupação dos fabricantes de tintas em compor seus produtos de pintura com substâncias “fungicidas”.

A Figura 24 mostra uma fachada de um prédio acometida pela presença de bolor. Parte do revestimento é composto de casquilhos, que são placas cerâmicas, sem esmalte, inadequados à utilização em fachadas por todos os motivos anteriormente levantados. A presença de bolor em sua superfície corrobora com a definição do autor.

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Figura 24- Fachada executada com argamassa pintada, casquilho e pastilha

A escolha inadequada do tipo de material a ser utilizado no preenchimento das juntas de dessolidarização e de dilatação pode ocasionar também danos estéticos às fachadas. O silicone, por exemplo, segundo COSTA E SILVA (2007), pode manchar o revestimento, de forma que torna-se muito difícil de ser limpo.

A Figura 25 mostra uma fachada manchada com material do selante elástico.

Figura 25- Selante manchando a fachada

Outro tipo de material que há alguns anos era comumente utilizado em fachadas, eram os grãos de quartzo pigmentados e aglutinados por meio de resina. BAUER (1991), apud BARROS, TANIGUTI, RUIZ et al (1997), através da realização de testes de estanqueidade, diagnosticou a passagem de água através do revestimento, gerada pela deficiência na aplicação da resina empregada como aglomerante de massa.

A Figura 26 mostra exemplo de fachada revestida com esse tipo de material, submetida a bolor, provando a passagem constante de água por aquela superfície.

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Figura 26- Fachada de quartzo pigmentado

MEDEIROS (2006) afirma que é comum encontrar o uso de estruturas pré-moldadas com vedações e revestimentos tradicionais, que não estão adaptados a esse tipo de obra.

O fato é que esse tipo de estrutura, devido às suas formas de apoios e encaixes, são mais deformáveis que as estruturas de concreto convencionais.

As figuras 27 e 28 mostram trechos de fachadas de um edifício recentemente construído com estrutura pré-moldada e revestimento convencional, e já denuncia a incompatibilidade dos materiais, com o aparecimento de eflorescência, justamente na união entre viga e parede de vedação. Além de tudo, a fachada tem elementos decorativos de aço fixo na estrutura e envolto com o revestimento, denunciando a possibilidade de uma patologia no entorno da ligação dos dois materiais distintos. Vale observar que a fachada abre mão de juntas de dessolidarização.

Figura 27- Eflorescência na união da viga/vedação Figura 28- Junção de dois tipos de material sem cuidados

A água de condensação dos aparelhos de ar condicionado de janela também pode contribuir com a umidade danosa às paredes de fachadas dos edifícios.

A Figura 29 mostra, por exemplo, uma localização dos aparelhos na fachada

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inadequadamente projetada, pois a água condensada que escoa dos aparelhos cai num plano horizontal, sujando continuamente as paredes (que são pintadas), provocando bolor e constituindo-se num ponto passível de se submeter a infiltração de água. Poderia se prever um sistema de captação de água dos aparelhos, com tubulação embutida.

Figura 29- Aparelhos de ar condicionado contribuindo com infiltrações

Vemos também adiante, na Figura 30 tubo de quede de águas pluviais despejando direto na fachada, quando poderia se embutir a tubulação, encaminhando-a para a coluna de águas pluviais. Observamos que essa situação já criou bolor e, sobre concreto aparente, como já se comentou, constitui-se propícia a se submeter a infiltração de água.

Figura 30- Tubo de águas pluviais derramando na fachada

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2.3.2 Contatos com o solo

Como anteriormente abordado, o contato direto das alvenarias e revestimentos de uma edificação com o solo, provoca, muitas vezes, a umidade devido à ascendência da água do solo e de infiltração de chuva no terreno próximo, pelo efeito da capilaridade.

A solução para tais problemas é simples; as bases que sustentam as paredes que têm contato direto com o solo devem ser impermeabilizadas, ou, pelo menos, pousar-se sobre concreto rico em cimento, de forma que impeça a passagem da umidade, por capilaridade, às paredes imediatamente acima.

A Figura 31 mostra um rodapé de parede com tijolo cerâmico furado, parcialmente deteriorado, devido à intensa exposição à umidade que ascende por capilaridade.

Figura 31- Tijolo deteriorado devido à umidade por capilaridade

2.3.3 Cobertura

Juntamente com as fachadas, a cobertura é uma das áreas das edificações que mais atenção merecem por parte dos projetistas e executores da obra, pois, como já comentado, se submete a tensões térmicas, à movimentações promovidas pelos deslocamentos horizontais, e, inclusive encurtamentos das estruturas, à incidência direta da chuva, etc. Portanto, cuidados especiais devem ser tomados durante o projeto e execução daquela extremidade superior dos edifícios.

A cobertura, principalmente quando não se submete ao acesso de usuários, fica relegada ao esquecimento, pois alguns projetistas e executores subestimam ou desconhecem todos os problemas a que se submetem, capazes de deteriorar rapidamente o imóvel, subtraindo sensivelmente a sua vida útil.

Além de impermeabilizações mal especificadas e/ou mal executadas, é, muitas vezes para aquela área que se levam a “solução” para uma infinidade de problemas não previstos antecipadamente, como por exemplo, a fixação e instalação de antenas, condensadores de ar condicionado, acesso ao reservatório, ao barrilete, à coberta, etc.

Outro exemplo: desejosos de manter altura máxima das platibandas do edifício, e, muitas vezes sem levar em conta a inconveniente existência de vigas invertidas (vigas com seu corpo acima do nível superior da laje) na laje da coberta, por razões exclusivamente estéticas, compromete-se o sistema da coberta, desobedecendo-se, muitas vezes as recomendações das normas e dos fabricantes de telhas, quanto a inclinações mínimas, altura de calhas, e muitas outras questões.

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A Figura 32 exemplifica a conseqüência de falta de arremates nas platibandas e nas lajes aparentes na coberta, despejando-se constantemente, água de chuva na parte superior das fachadas, provocando sujeira e mofo, revelando pontos de infiltração de água de chuva pela fachada do prédio.

Figura 32- Intensidade de água na parte superior da fachada

A Figura 33 mostra, não só o mesmo problema levantado acima, como um equipamento de ar condicionado fixado diretamente na fachada, comprometendo a estética do prédio e propiciando infiltração de água de chuva.

Figura 33- Equipamentos fixados diretamente na fachada

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Concepções equivocadas de soluções para cobertas podem significar eterna patologia em fachadas, como é o caso da Figura 34, onde observamos que o algeroz mais baixo despeja água diretamente sobre um trecho da parede de fachada adjacente, impondo-lhe umidade intensa nos períodos de chuva.

Figura 34- Algeroz despejando água sobre parede adjacente

Muitas vezes, o projeto arquitetônico não estuda toda a coberta como um sistema único e complexo e deixa a desejar em soluções que implicam no sacrifício dos profissionais de manutenção do prédio, como por exemplo, o que vimos na Figura 35, mostrando o limitadíssimo pé direito do ambiente do barrilete do prédio, cuja manutenção torna-se quase impossível.

Figura 35- Acesso sacrificado ao ambiente do barrilete

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pequena abordagem acima exposta inspira a elaboração de um espelho de conclusões e considerações, que o autor entende como importantes e, em alguns casos, de imprescindível compreensão, para que sirvam de elementos componentes de um bom projeto arquitetônico, plenamente detalhado e bem representado, no tocante à forma de construir, no campo da boa técnica, evitando-se que pequenas falhas e/ou omissões possam implicar em concepção mal entendida pelo executor, desencadeando-se uma série de patologias que no futuro tende a comprometer seriamente o

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desempenho da edificação, impondo prejuízos morais e financeiros, muitas vezes de grandes proporções, a todos os envolvidos no processo do empreendimento.

As considerações que se seguem não intentam serem definitivas e muito menos completas, mas designam-se a servir como pequena colaboração aos arquitetos ainda reticentes quanto a seu papel como projetista, propondo-lhe um novo paradigma na tarefa de projetar e planejar.

Não é objeto desse trabalho qualquer tipo de interferência nas escolhas e definições dos materiais e métodos construtivos, baseada em soluções estéticas e de funcionalidade do uso da edificação, pois essa é uma atribuição exclusiva do lado criador do arquiteto.

3.1 Considerações gerais

O projeto de fachadas, além de outras considerações deve se submeter ao estudo da modulação das placas (quando for o caso) , para a devida redução de cortes, deve ser representado com detalhes de execução e por conjunto gráfico com posicionamento e detalhamento de reforços e de juntas de movimentação. Além disso, deve ter memorial descritivo das características do material a ser usado nas fachadas, além da definição de seus mecanismos de controle.

Em todas as etapas de sua confecção, deve priorizar sempre a compatibilização com os projetos complementares (estrutura, instalações, de esquadrias, de vedações etc.).

No caso de revestimento com placas cerâmicas de granito, etc., deve-se ter o devido cuidado na clara definição do tamanho das placas que encostam no perímetro de esquadrias, atentando para a necessidade da aplicação de mastique elástico entre as placas e o contramarco da esquadria e, para isso, deve ser prevista uma abertura de 8 a 10mm, para que propicie a aplicação desse mastique . Além disso, é recomendável que o revestimento nessa região apresente certa inclinação para o lado externo e o contato entre ele e a janela esteja livre, sem a existência de selantes, de modo que a água acumulada possa escoar para fora do prédio (COSTA E SILVA, 2007).

É importante frisar que a espessura da argamassa de regularização para assentamento das placas ou a massa de emboço/reboco ou massa única, deve girar em torno de 2 a 3 cm. Quando, por motivos de projeto ou outros fortuitos, a espessura ultrapassar esse limite, recomenda-se que seja aplicada tela de reforço, chumbada na base, eletro-soldada com malha de 5cm e fio de 16 BWG (1,6mm). Em situações de ligações entre a alvenaria e estrutura bastante flexível, como nos balanços, por exemplo, esse tipo de tela deve ser também utilizado na interface dos dois tipos de material, chumbado na base.

Seja qual for o tipo de revestimento da fachada, não se pode abrir mão da execução de juntas de movimentação horizontais, localizadas nas proximidades da ligação entre viga e alvenaria, e das juntas de movimentação verticais, a cada 6 metros entre si, nos moldes do que já foi visto anteriormente neste trabalho.

Na interseção entre materiais diferentes e na aresta de mudança de planos das superfícies externas, é recomendável a adoção de juntas de dessolidarização.

MEDEIROS (1998), por outro lado, não recomenda o excesso de juntas, muito menos a adoção de falsas juntas, onde não são necessárias.

Caso seja possível, recomenda-se a adoção de pequenas saliências nas bordas das juntas de movimentação verticais, evitando a grande concentração de água de chuva naquela localidade.

Quando o projeto de um prédio previr em qualquer de seu vértice, um ângulo menor que 90º, é recomendável se prever a execução da junta nessa aresta de interseção, nos mesmos moldes das juntas de movimentação (COSTA E SILVA, 2007).

É muito recomendável, sem abrir mão dos princípios estéticos, que as fachadas tenham detalhes construtivos destinados a expulsar, ou pelo menos, quebrar a velocidade da lâmina d’água sobre as paredes verticais (principalmente se forem excessivamente lisas), com adoção de frisos com respingos ou até desalinhamentos sutis com o mesmo intuito. Estendam-se essas recomendações à

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possibilidade de execução de pingadeiras no trecho de revestimento acima das esquadrias externas, nas bordas de beirais, de mudança de direção da fachada, do plano vertical para o horizontal em ângulo igual ou maior que 90º.

PEREZ (1986) afirma que a adoção dessas medidas acima recomendadas podem reduzir em até 50% o volume de água que escorre por uma determinada fachada.

Não é exagero afirmar que menores vãos em balanço (vão livre, sem apoio) minimizam o inconveniente das fissuras entre blocos e concreto.

Quando o edifício é dotado de aparelhos de ar condicionado tipo “janela” e o volume que abriga esses aparelhos é embutido no corpo do prédio, deve ser prevista a adoção de um sistema de drenagem para escoamento de toda a água de condensação oriunda dos aparelhos, despejando na tubulação de captação de águas pluviais, para evitar que essa água caia sobre a superfície da fachada, provocando a lâmina d’água indesejável.

É indispensável a adoção de vergas e contravergas nas alvenarias das fachadas, no entorno das janelas, sendo que seu prolongamento para fora do vão deve ser, no mínimo de 20cm de comprimento OLIVEIRA (2007).

Focando os problemas ocasionados pela condensação de água, vale lembrar que os ambientes internos, na medida do possível devem ser plenamente ventilados, principalmente os banheiros e cozinha. O autor crê que as dimensões mínimas para janelas exigidas pelos Códigos de Obra das metrópoles deveriam ser um pouco mais extrapoladas, em benefício do conforto ambiental.

Atenção maior deve ser dada à necessidade de ventilação das academias de ginástica.

Ambientes excessivamente úmidos, devido a atividades específicas devem ser ventilados e reforçados com a adoção prévia de um sistema de exaustão.

É importante salientar que os aparelhos de ar condicionado retiram a umidade do ambiente, mas, são raras as situações em que esses aparelhos trabalham ininterruptamente.

Os banheiros sem abertura para o exterior, dotados de exaustores para troca de ar entre o ambiente interno e externo, por motivos óbvios, devem ser evitados.

3.2. Fachadas

Hoje em dia, os edifícios são revestidos com uma variedade de materiais. Este trabalho, porém, limita-se a levar em conta apenas aqueles anteriormente abordados, pois o autor entende que são os mais comumente encontrados nas fachadas de nosso país, e por isso demandam estudos cada vez mais pormenorizados acerca de seu comportamento, diante das patologias ligadas à infiltração de água pelas fachadas das edificações.

3.2.1. Tijolo aparente

As opções mais comuns de fachadas com tijolos aparentes são com a utilização de tijolos cerâmicos, tijolos de concreto e tijolos sílico-calcários.

Como já foi visto, esse tipo de fachada, com parede simples de tijolo aparente, não representa boa barreira contra a ação de água, mesmo sendo bem construída.

Faz-se necessário então que, caso seja uma opção em determinada obra, seja ela totalmente protegida com material hidrofugante, mas que permita a passagem de vapor (Exemplo: hidrofugantes à base de silano-siloxano). Essa pintura deve ser sistematicamente executada em toda a extensão das fachadas, por um prazo máximo de 3 anos entre as intervenções, sendo que antes de cada serviço de pintura, sejam revisados todos os trechos de rejuntamento no lado externo das paredes, recompondo-os adequadamente, eliminando a existência de aberturas.

As alvenarias constituídas de tijolo de concreto ou sílico-calcário são menos recomendadas que as de tijolo cerâmico, devido ao seu alto grau de permeabilidade e ao fenômeno

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acentuado de retração desses tipos de tijolo.

Além de tudo essas paredes devem ser plenamente ventiladas, para dissipar mais rapidamente o vapor de água que ela normalmente expele no processo de evaporação.

GRIMM (1982b), apud MEDEIROS (1998), recomenda que, caso se opte por esse tipo de fachada, devem ser utilizadas paredes duplas, sendo preferencialmente a externa em tijolo cerâmico (9cm de espessura) e a interna em bloco de concreto com 20cm de espessura, com um vazio de 5cm entre elas, com sistema de drenagem, possibilitando a saída de água, rapidamente, do espaço vazio entre as paredes.

O relativo alto custo desse tipo de alternativa deve ser precisamente avaliado, inclusive quanto ao aumento de cargas na estrutura do prédio, pois pode se tornar inviável.

3.2.2 Fachadas argamassadas pintadas

Indiscutivelmente, as paredes de fachada argamassadas representam melhor proteção contra a infiltração de água de chuva que as fachadas constituídas de tijolo ou blocos aparentes.

Entretanto, o projeto não deve abster-se de prever a pintura dessas paredes.

Quanto à constituição da argamassa é recomendável que seja de cimento portland, cal hidratada e areia média. A areia fina não é recomendada, pois representa a necessidade de um maior consumo de cimento para uma mesma resistência, o que implica em retrações mais intensas.

Deve ser rigorosamente seguida a NBR 13749 (ABNT, 1996), em todo o seu conteúdo.

Quanto à pintura, recomenda-se que a face externa seja pintada com tinta PVA para exterior, base acrílica ou outra qualquer que permita a passagem de vapor de água para o exterior. A adoção de emassamento do revestimento da fachada e pintura com tinta impermeável lisa (acrílica, por exemplo) não é recomendável, pois segundo PEREZ (1986), as paredes lisas aumentam o volume de água nas paredes das fachadas, ainda aumentando sua velocidade de escorrimento, implicando em deterioração mais rápida da pintura e do revestimento.

As paredes internas, pelo menos aquelas das fachadas, devem ser pintadas com tinta impermeável ao vapor d’água.

Vale lembrar que, para evitar um maior volume de água na parede, a pintura deve ter alguma rugosidade, mas esse fato se choca com o fato de que as paredes mais rugosas absorvem mais calor que as lisas, devido à sua superfície específica exposta. Cabe ao projetista discernir sobre o assunto.

Na verdade, não se deve esquecer o que PEREZ (1986) afirma sobre a pintura nas fachadas: “os sistemas de pintura ensaiados pelo IPT (Instituto Tecnológico do Estado de São Paulo), em sua grande maioria, foram insatisfatórios enquanto proteção à penetração de água de chuva”.

MEDEIROS (1998) afirma que, quando possível, dente os métodos tradicionais, a melhor opção é a adoção do revestimento de fachadas com placas cerâmicas.

3.2.3 Fachadas com placas cerâmicas

As placas cerâmicas são geralmente assentadas em emboço (argamassa de regularização). As recomendações para a execução do emboço coincidem com aquelas relacionadas com as argamassas de revestimento das fachadas anteriormente abordadas.

As definições do revestimento cerâmico em fachadas começam normalmente com a escolha das placas, de acordo com suas dimensões e cores.

Quanto a adoção das cores, é importante salientar que cores mais escuras devem ser evitadas, quando em clima tropical, pois absorvem muito mais calor que as claras, impondo maiores movimentações térmicas ao sistema de revestimento.

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Extraindo parte da tabela elaborada por STORTER (2002), quando relaciona a capacidade de absorção de calor em função das cores, a Tabela 04 ilustra melhor o fato.

Tabela 03- Absorção de calor, em função das cores

COR ABSORÇÃO (%)

Branca 20 - 30

Amarela, laranja, vermelha clara 30 – 50

Vermelha escura, verde clara e azul clara 50 – 70

Marrom clara, verde escura, azul escura 70 – 90

Marrom escura, preta 90 - 100

Fachadas com insolação direta requerem maior atenção. Quando possível, devem ser evitadas.

As fachadas contínuas, sem aberturas apresentam-se também com situações relativamente mais desfavoráveis.

As dimensões das placas são de fundamental importância. A rigor, quanto menores as dimensões das placas, maior a quantidade de juntas por metro quadrado de revestimento, que absorvem melhor as tensões sobre as placas, conseqüentemente, menores as tensões de cisalhamento na ligação argamassa de assentamento/ cerâmica, diminuindo a tendência ao arrancamento.

A largura das juntas de assentamento é de grande importância, pois, com bem menor módulo de elasticidade que o das placas cerâmicas, elas absorvem melhor as tensões entre as placas devido a, por exemplo, expansão por umidade (compressão).

A largura apropriada das juntas depende, dentre outros fatores, das dimensões das placas cerâmicas ou de qualquer outro tipo de material.

FIORITO (1994) avaliou numericamente essa questão e chegou a larguras mínimas para algumas dimensões de peças cerâmicas destinadas a aplicação nas fachadas, conforme mostra a Tabela 05.

Tabela 04- Largura mínima de juntas para determinadas dimensões de peças

DIMENSÕES DAS PEÇAS (mm)

LARGURA DAS JUNTAS (mm)

50 x 50 2

100 x 100 3

150 x 150 4

200 x 200 6

300 x 300 8

400 x 400 11

500 x 500 14

Observe-se que placas de maiores dimensões exigem largura de rejunte, às vezes desproporcionais e talvez, esteticamente inadequadas.

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Embora não haja recomendações claras nas normas brasileiras, conforme visto neste trabalho, recomenda-se que as placas cerâmicas destinadas ao revestimento das fachadas devem ter índice de absorção entre 3% a 6%. Índices menores que 3% implicam em outra dificuldade quanto à possibilidade da ancoragem mecânica, pois a pasta cimentícia das argamassas colantes penetra nos poros dessas placas, devido à sua absorção, e apóiam, quando curada a argamassa, as placas, mecanicamente. As argamassas colantes possuem em sua constituição, resinas que complementam o apoio das placas a seu substrato através de colagem química.

Quanto menor o índice de absorção das placas, maior deve ser esse teor das resinas nas argamassas colantes.

Sabe-se que, genericamente, as argamassas se subdividem em tipos AC I, AC II e AC III, em função crescente do teor dessas resinas colantes em sua constituição.

Para a aplicação de placas cerâmicas em fachadas a NBR 13755 (ABNT, 1996) recomenda a utilização da argamassa tipo AC II.

Não existem normas brasileiras regulamentando o assentamento de porcelanato em fachadas, apesar de hoje esse tipo de revestimento ser muito adotado. Usando-se o mesmo raciocínio, os fabricantes de argamassa industrializada recomendam a argamassa colante tipo AC III para assentamento de placas de porcelanato, valendo as mesmas recomendações relativas à aplicação de placas cerâmicas em fachadas.

É importante frisar que o índice de expansão por umidade das placas cerâmicas não deve ultrapassar os 0,6mm/m. Acima disso, há grande possibilidade do gretamento do esmalte da cerâmica, propiciando a entrada de água através essas aberturas criadas pelo problema.

3.2.4 Fachadas com pedras naturais

O dimensionamento das placas de rocha depende do tipo de assentamento a que elas se submeterão. Nesse caso as suas dimensões e espessuras devem ser dimensionadas.

A determinação da espessura pode ser feita através de ensaios do conjunto a ser aplicado.

Vale salientar que esse parâmetro é mais importante quando as placas são assentadas sobre pinos metálicos de apoio, distante da base, o que comumente se chama de fachada ventilada.

Esse alternativa de assentamento é bastante interessante, pois o conjunto barra as forças da ação da chuva sobre a fachada não permitindo sua penetração para dentro do prédio, desde que o sistema seja bem dimensionado e com drenagem bem elaborada, para escoar a água que eventualmente cai por trás das placas, porém sem força para atingir as paredes do prédio (base).

O dimensionamento dos pinos, normalmente de aço inoxidável, submete-se a um cálculo estrutural, levando inclusive em consideração a carga dos ventos sobre o sistema.

Nas obras de vulto, previamente ao projeto, é importante que seja efetuada uma pesquisa da jazida para verificar a capacidade de fornecimento da mesma, levando-se em consideração o atendimento ao cronograma da obra e homogeneidade litológica e estética da rocha (FLAIN, 2002).

As características petrográficas da rocha, que poderão influir em sua durabilidade, suas propriedades físico-mecânicas, seus índices de porosidade e de absorção e as suas alterações de aparência, submetidas a lavagem, expostas às intempéries e assentadas com argamassa, são os parâmetros principais para a escolha do material a ser aplicado na obra.

Contrariando o que ainda é hoje usual, o autor não recomenda o assentamento das placas de pedras naturais diretamente sobre o emboço (sem utilização de argamassa colante), valendo-se apenas da fixação com grampos de segurança. Esse sistema constitui-se numa temeridade, pois observam-se patologias existentes em fachadas onde se utilizaram tal procedimento, quando, por exemplo, os grampos se oxidam e, além de mancharem de forma irreversível as placas, ficam estruturalmente instáveis, passíveis de colapso. Além disso, a argamassa do emboço submete-se a retração com fissuras de formato sem controle, o que pode fragilizar a ligação localizada entre os

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grampos e a argamassa. E, a aderência da argamassa do emboço com as placas é deficiente, pois a argamassa não possui finura bastante para penetrar de forma intensa nos poros do tardoz das placas, fazendo uma ancoragem mecânica.

As placas, quando assentadas com argamassa colante sobre o emboço, com ou sem grampos de segurança, possuem uma melhor estabilidade, porém, nessas circunstâncias, deve haver um especial acompanhamento de todo o processo de assentamento das placas, policiando-se as especificações, valendo-se, inclusive das recomendações da NBR 13755 (ABNT, 1996), adaptada às circunstâncias, e, além disso, submetendo os trechos de fachadas, onde já aplicadas as placas, ao teste de aderência (de arrancamento), in loco, para no mínimo cada 100 metros quadrados de fachada aplicada.

3.2.5 Fachadas com placas de concreto pré-moldado

Valem para esse tipo de material, todas as considerações tecidas no item anterior, reforçando que o autor não recomenda esse tipo de revestimento em fachadas, pelos motivos já elencados neste trabalho.

3.3 Cobertura

O autor crê que é necessário um projeto exclusivo para a área da coberta, plenamente detalhado e especificado, definindo impermeabilizações, isolamento térmico, definição de locais destinados para fixação de antenas, condensadores, como também, definições de acesso à coberta, com espaço livre para movimentação das telhas, madeira e equipamentos diversos para manutenção, acesso fácil e prático às instalações diversas, tais como; barriletes, quadros, etc.

Deve-se também prever ralos para descidas de água de chuva de lajes aparentes, locação do tubo extravasor do reservatório, acesso fácil e seguro ao reservatório, escadas fixas e protegidas e muito mais.

O projeto de impermeabilização, assim como o estrutural, de instalações diversas, etc., deve ser executado por profissional especializado. Isso é fato. Porém, com relação aos sistemas de impermeabilização, por exemplo, há na Associação Brasileira de Normas Técnicas, pelo menos, 33 normas que regulam o tema. É estritamente necessário que o profissional projetista tenha conhecimento de todas elas, pois servem como parâmetros para direcionar o projeto no sentido de adaptar-se à possibilidade da execução de um sistema de impermeabilização de forma mais adequada e eficiente possível.

A coberta deve ser detalhadamente dimensionada e especificada e suas calhas e toda a tubulação de escamento das calhas (verticais e horizontais) devem ser dimensionadas e detalhadas. Seu sistema de impermeabilização deve ser previamente definido, alertando para o fato de que o tipo de revestimento de calhas com manta asfáltica sem proteção mecânica, apenas com película de proteção em alumínio contra os raios solares, não deve ser adotado, pois pelas calhas circulam pessoas que executam manutenção, e, com o passar do tempo, danificarão a película de proteção, por abrasão, e todo o sistema de impermeabilização de deteriorará. Nas lajes aparentes, onde circulam pessoas, não deve ser também utilizado esse material de impermeabilização.

Ao contrário, os rufos (algerozes) podem se submeter a serem impermeabilizados através desse sistema.

No projeto da cobertura deverá ser previsto fácil acesso ao barrilete do reservatório superior, para efeito de manutenção. Da mesma forma, os acessos à coberta e ao reservatório deverão ser fáceis e seguros, sem riscos de acidentes.

É de fundamental importância o isolamento térmico da laje superior do prédio, e, para isso, deve ser prevista altura suficiente. Todo o sistema de isolamento térmico deverá ser previamente dimensionado e detalhado.

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O topo do respaldo (platibanda) deverá ser protegido com chapim ou similar, com pequena inclinação para dentro da coberta.

A estruturação das paredes de platibanda não deverá ser esquecida, sob pena de posterior aparecimento de fissuras comprometedoras. As platibandas deverão estar solidárias à estrutura do prédio, através de pilaretes de concreto armado e cinta corrida de amarração, também em concreto armado. Essas cintas, no futuro, possibilitarão o apoio simples de balancins para manutenção das fachadas.

Deverá ser previsto em local previamente determinado, um layout de previsão para fixação de antenas diversas, sobre bases antecipadamente revistas. Essas bases não deverão impor dificuldades à execução de impermeabilização da laje.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é pretensão deste trabalho a formatação de um sistema de elementos e considerações, sob forma de check list pleno e imutável, necessário à elaboração de um projeto arquitetônico completo, sem omissões ou equívocos. Longe disso, até porque essa tarefa, excessivamente intensa e complexa deve caber a uma equipe de profissionais com incansável e obstinado desejo de fechar todo o bojo de definições, experiências e conclusões, para, interagindo com outras fontes de pesquisa e desenvolvimento, buscar a condição ideal de se representar e especificar a melhor forma de construir, atendendo a todos os anseios da sociedade, que, de uma forma ou de outra, depende do produto final do setor de construção civil.

Evidentemente, o papel do arquiteto nesse suposto grupo de trabalho e pesquisa é indispensável, visto que esse profissional é o agente criador do empreendimento.

Entende-se como projeto arquitetônico o projeto-mãe. É a matriz da materialização do desejo do usuário. E o usuário tem invariavelmente, a expectativa da solução de seus anseios, refletida numa edificação que deverá lhe proporcionar o devido conforto e segurança.

É do projeto arquitetônico que se originam todos os outros complementares, que em tese, devem se propor a garantir a exeqüibilidade do empreendimento, sem qualquer tipo de recriação, de desvirtuamento, etc., que possam alterar o que, na essência já fora preconcebida, com a anuência daquele que, de direito, se utilizará de todos os benefícios que o projeto se propõe a lhe oferecer.

Desta forma, não é difícil concluir que o arquiteto, o verdadeiro criador, deve, se possível em minúcias, planejar, detalhar, especificar e coordenar todas as etapas de complementações do projeto e execução da obra, que deve ser exclusivamente, fruto fiel de sua concepção.

Ele é o natural coordenador de todas as etapas da obra, pois caracteriza-se como o profissional outorgado pelo contratante do empreendimento e seu representante fiel, habilitado para decidir, em todas as fases da construção, sobre as mais adequadas soluções visando o bem estar do pretenso adquirente, em todos os sentidos possíveis.

Cabe ao engenheiro o devido assessoramento consultivo e executivo, no sentido de viabilizar e materializar a virtual criação antecipadamente definida, nos seus mínimos detalhes.

Há uma imensa lista de materiais e técnicas de revestimento de fachadas que são utilizadas em todo o planeta. Suas características são intimamente relacionadas com a cultura, o clima, a disponibilidade de matéria prima, dentre outros fatores.

É humanamente impossível, neste tipo de trabalho, uma abordagem sucinta de todas essas alternativas de técnicas e de materiais, mesmo que os relacionando apenas com o tema de infiltrações de água pelas fachadas.

As discussões sobre esse tema resumem-se aqui aos tipos de revestimento mais comumente utilizados no nosso país, de forma que se torna um trabalho limitado e relativamente sitiado.

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Mesmo concentrado nos revestimentos mais comuns às obras brasileiras, o autor entende que há muito mais o que ser explorado, devido à gama de alternativas de soluções e técnicas idealizadas por todos os profissionais que militam nessa área.

Além do mais, as soluções e recomendações formuladas pelos cientistas, quando não conflitantes entre si, devido ao alto grau de complexidade e de alternâncias nas condições de exeqüibilidade, em função de localização, cultura, e outros fatores influentes, esbarra também na reconhecida deficiência técnica conservadora e inerte da cadeia produtiva. E esse fato não só se refere aos operários de obra, mas a engenheiros e arquitetos ainda despreparados para o exercício de sua profissão no mesmo ritmo do desenvolvimento das técnicas de construir, que, na visão do autor, de três décadas para cá, explodiu no campo do desenvolvimento tecnológico, anelando recuperar-se do atraso inerte que antes existia, mantendo sempre a antiga forma artesanal de produzir edificações.

Então, é preciso que as discussões e estudos desse tema tão complexo e contagiante, saiam do papel, do mundo acadêmico, e invadam os canteiros de obras, passando pela graduação nas universidades, pois as obras estão aí sendo executadas e, muitas vezes, de forma ainda equivocada, pois percebe-se que os pequenos construtores, por exemplo, têm limitado acesso às inovações responsáveis, às pesquisas e aos estudos sérios.

É preciso também uma política contra o analfabetismo tecnológico dos operários da construção, pois são eles que fazem parte da ponta do setor produtivo, e que devem por em prática tudo o que foi idealizado em projeto e especificações.

Há muito espaço para o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa e desenvolvimento no campo das patologias relacionadas com a infiltração de água pelas fachadas, mas convém ressaltar que se constata facilmente que muitos engenheiros mergulham solitários no campo dos estudos, quando a participação dos arquitetos é extremamente importante nesse processo, pois as escolhas de alternativas tecnológicas não podem ser arbitrariamente adotadas, sem o componente das razões estéticas e funcionais da obra.

Enfim, com este trabalho, o autor manifesta o desejo de plantar mais uma semente nesse solo tão fértil, em busca da eficiência na arte de construir, simbolizando um singelo chamamento à aproximação cada vez maior, do engenheiro e arquiteto - dois componentes imprescindíveis à excelência dos resultados no campo da construção civil – em busca de soluções cada vez mais presentes e viáveis nos canteiros de obra.

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