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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ÁREA DAS CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES - ACH PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGEd) - MESTRADO IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA ESCOLA: alunos adolescentes analisam o problema ROBERTA APARECIDA VARASCHIN JOAÇABA SC 2016

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

ÁREA DAS CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES - ACH

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGEd) - MESTRADO

IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA ESCOLA: alunos adolescentes analisam o

problema

ROBERTA APARECIDA VARASCHIN

JOAÇABA – SC

2016

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ROBERTA APARECIDA VARASCHIN

IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA ESCOLA: alunos adolescentes analisam o

problema

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Educação (PPGEd) - Mestrado,

Área das Ciências das Humanidades – ACH, da

Universidade do Oeste de Santa Catarina -

UNOESC, como um dos requisitos para a

obtenção do grau de Mestre em Educação, sob

orientação da Professora Drª. Maria Teresa

Ceron Trevisol.

JOAÇABA – SC

2016

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V288i Varaschin, Roberta Aparecida

In(disciplina) no cotidiano da escola: alunos adolescentes

analisam o problema. / Roberta Aparecida Varaschin. UNOESC,

2016.

97 f.; 30 cm.

Orientadora: Profª. Dra. Maria Teresa Ceron Trevisol

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Oeste de

Santa Catarina. Programa de Mestrado em Educação,

Joaçaba,SC,2016.

Bibliografia: f. 85 – 88.

1.Indisciplina Escolar. I.Título

CDD- 371.58

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Alvarito Baratieri – CRB-14º/273

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Dedico esse trabalho aos dois grandes amores da minha vida:

PAI e MÃE! Foi o amor, o respeito e o colo deles que

permitiram eu me tornar a pessoa que sou hoje e a ter coragem

de conquistar os meus sonhos.

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RESUMO

Atualmente a temática sobre indisciplina tem ganhado notória repercussão e

preocupação segundo educadores e estudiosos do comportamento humano. A

indisciplina como problema sempre existiu no meio escolar, porém despertou maior

interesse científico nas últimas três décadas. Como fenômeno que gera dúvidas,

preocupações e problemas em muitas esferas, a indisciplina atinge escolas públicas e

privadas e em todas as faixas etárias dos alunos envolvidos no contexto escolar. Esta

dissertação nasceu por solicitação da secretaria municipal de educação e da direção de

uma escola localizada no meio oeste catarinense. O objetivo principal foi investigar

como os alunos do 8º ano compreendem o problema da indisciplina, as causas e as

consequências desse problema para o cotidiano escolar. Trata-se de um estudo

exploratório, de natureza qualitativa no qual foi realizado um questionário utilizando a

ferramenta on line google docs com 23 (vinte e três) alunos. Em seguida os alunos

foram entrevistados e vivenciaram durante três sessões a aplicação de um jogo

psicopedagógico intitulado “Falando sobre a indisciplina”. Para o procedimento de

análise e tratamento dos dados foi utilizado a técnica da análise de conteúdo. Os

principais autores utilizados para possibilitar a compreensão desta problemática na

escola foram: Aquino (1994); Caeiro e Delgado (2005); Oliveira (2011); Parrat-Dayan

(2015); Rego (1994) e Vasconcellos (2009) e outros. Os dados coletados após a análise

permitem afirmar que para os alunos do 8º ano a indisciplina é entendida como condutas

antissociais vivenciadas pelos próprios alunos tidas como: brigar, bater em outras

pessoas, descumprir regras e desrespeito com colegas, professores e com os

pais/cuidadores. 61% dos alunos relataram ser do próprio aluno a culpa pelos atos

indisciplinados tendo como fatores propulsores os psicossociais se sobrepondo aos

fatores pedagógicos. As consequências se registram com prejuízo no ensino

aprendizagem e na relação professor/aluno. Outro dado revelado segundo o relato de

96% dos alunos é sobre os encaminhamentos que a escola precisa direcionar. Para estes

alunos os atos de indisciplina merecem punição para que quem os tenha cometido,

aprenda a ter respeito e que em momentos futuros comportamentos indisciplinados

sejam evitados. A escola faz uso de ações punitivas como proposta de enfrentamento da

indisciplina, porém não eficazes, segundo os alunos.

Palavras-chave: Indisciplina. Indisciplina na escola. Comportamentos indisciplinados.

Causas da indisciplina. Consequências da indisciplina.

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ABSTRACT

Nowadays, the topic about indiscipline has gained remarkable impact and concern

according to educators and human behavior scholars. The indiscipline as a problem has

always existed in the school environment; however it has awakened more scientific

interest in the last three decades. As a phenomenon that creates doubts, concerns and

issues in many fields, the indiscipline reaches public and private schools and in all age

groups of the students involved in the school environment. This work was born by

request of the municipal board of education and the direction of a school located in the

Midwest of Santa Catarina. The main goal was to investigate how the eighth grade

students understand the indiscipline issue, the causes and the consequences of this

problem to the school routine. This is an exploratory study of a qualitative nature in

which a questionnaire was administered using the tool on line google docs with 23

(twenty-three students. Afterwards the students were interviewed and they experienced

the application of a psychopedagogic game entitled “talking about indiscipline” during

three sessions. The analyses and data treatment procedure used the content analyses

technique. The main authors employed to enable this issue comprehension in the school

were: Aquino (1994); Caeiro and Delgado (2005); Oliveira (2011); Parrat-Dayan

(2015); Rego (1994) e Vasconcellos (2009) and others. The data collected after the

analyses allows it to state that for the eighth grade students, the indiscipline is

understood as antisocial behavior experienced by the students themselves such as:

fighting, hitting others, disobeying the rules and disrespecting the classmates, teachers

and the parents/guardians. 61% of the students reported being the student

himself/herself the guilty for the unruly actions having the propelling psychosocial

factors overlapping the pedagogic factors. The consequences are recorded with

teaching-learning and teacher/student relationship loss. According to the 96% of the

students another given fact is about the referrals the school needs to direct. For these

students the unruly actions deserve punishment for those who committed them, making

them learn to be respectful and avoid future unruly behavior. The school makes use of

punitive actions as indiscipline facing proposal, but it is not effective, according to the

students.

Key words: Indiscipline. Indiscipline in school. Unruly behavior. Indiscipline causes.

Indiscipline consequences.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 O que é indisciplina para você? .............................................................. 59

Gráfico 2 Quando acontecem atos de indisciplina na escola, de quem é a culpa? 69

Gráfico 3 Atos de indisciplina merecem punição? ................................................. 75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Gênero e idades ........................................................................................ 21

Tabela 2 Com quem mora ....................................................................................... 58

Tabela 3 Dê exemplos de indisciplina .................................................................... 61

Tabela 4 Por que você acha que a indisciplina acontece? ...................................... 65

Tabela 5 Por quê? ................................................................................................... 75

Tabela 6 Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola? ............ 77

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12

1. 1 OBJETIVOS ..................................................................................................... 18

1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 18

1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 18

1.2 QUESTÕES DE PESQUISA ............................................................................ 19

2 INDICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E

TÉCNICOS..............................................................................................................

20

2.1 TIPO DE PESQUISA......................................................................................... 20

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA............................................................ 20

2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ............................................... 22

2.3.1 Questionário inicial ........................................................................................ 22

2.3.1.1 Perguntas ..................................................................................................... 22

2.3.2 Entrevista ........................................................................................................ 23

2.3.2.1 Roteiro .......................................................................................................... 23

2.3.3 Elaboração, organização de um jogo psicopedagógico .............................. 23

2.3.3.1 Roteiro ......................................................................................................... 24

2.3.3.2 Sessões de aplicação do jogo ....................................................................... 25

2.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ....................................... 29

3 A INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: EM BUSCA DA

COMPREENSÃO DO PROBLEMA ..................................................................

31

3.1 DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA ESCOLA ............................................ 31

3.2 CAUSAS DA INDISCIPLINA INDISCIPLINA ..........................................

3.3 CONSEQUENCIAS DA INDISCIPLINA .....................................................

38

47

3.4 ENCAMINHAMENTOS EM RELAÇÃO AO PROBLEMA ........................ 51

4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................... 57

4.1 CARACTERÍSTICAS DOS SUJEITOS ......................................................... 57

4.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE .......................................................................... 58

4.2.1 Categoria 1: Conceituando o problema da indisciplina na escola ........... 58

4.2.2 Categoria 2: Causas da indisciplina ............................................................ 64

4.2.3 Categoria 3: Consequências da indisciplina .............................................. 72

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4.2.4 Categoria 4: Encaminhamentos em relação ao problema ........................ 74

CONSIDERAÇÃO FINAIS ................................................................................. 82

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 85

ANEXO A – PARECER COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ................... 89

ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 94

ANEXO C – TERMO DE ASSENTIMENTO – ALUNOS MENORES DE

IDADE .....................................................................................................................

96

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1 INTRODUÇÃO

O fenômeno da indisciplina embora já se apresente como velho conhecido é

considerado como um tema de difícil abordagem e não apresenta uma relevância teórica

tão nítida em que se pode constatar pelo pouco número de obras que se dedicam de

maneira explícita à problemática (AQUINO, 1994).

A indisciplina está apresentada de forma significativa tanto em escolas públicas

e privadas. “Vale lembrar que, embora diferentes significados sejam atribuídos à

problemática e até mesmo os próprios objetivos educacionais subjacentes a ambas

possam ser distintos, elas parecem sofrer o mesmo tipo de efeito”, não se tratando de

um desprivilegio da escola pública e sim ao contrário (AQUINO, 1994, p. 40).

Considera-se, que falar de indisciplina é falar de um assunto cotidiano nas

escolas. O assunto da indisciplina está presente nas conversas dos alunos, dos

professores, equipe técnica-administrativa, pais e na sociedade como um todo. A mídia,

por sua vez, tem cada vez mais se pronunciado e divulgado reportagens e matérias sobre

a temática da indisciplina.

Em relação à escola, Aquino (1994) enfatiza que pelos relatos dos professores

pode-se constatar que a questão disciplinar, é na atualidade, uma das dificuldades

prioritárias quanto ao trabalho escolar. Segundo relato dos professores, “o ensino teria

como um de seus obstáculos centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em

termos como: bagunça, tumulto, falta de limites, maus comportamentos, desrespeito às

figuras de autoridade etc” (AQUINO, 1994, p. 40).

Na esfera da mídia, Estrela (2002, p. 132) afirma “que os meios de comunicação

social tendem a reforçar a associação entre indisciplina, violência e delinquência, o que

é uma generalização abusiva, pois a indisciplina escolar, na maior parte dos casos, não é

violência e muito menos delinquência.”

Corroborando com Estrela (2002), a autora Guimarães (1994, p.73), descreve

sobre os conceitos de indisciplina, disciplina e violência:

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[...] todo ato ou dito contrário à disciplina que leva à desordem, à

desobediência, à rebelião constituir-se-ia em indisciplina. A disciplina

enquanto regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao

funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.), implica na

observância a preceitos ou normas estabelecidas. A violência, por sua vez,

seria caracterizada por qualquer ato violento que, no sentido jurídico,

provocaria, pelo uso da força, um constrangimento físico ou moral.

Considerando o que foi exposto anteriormente sobre o fato da indisciplina se

apresentar como uma temática que necessita de pesquisa e que é de fundamental que se

estabeleça sempre mais discussões a esse respeito, como também da necessidade das

escolas em abordar a problematização e trabalho que almejem em relação ao tema

indisciplina é que nasceu um dos desejos em construir esta pesquisa.

Esta pesquisa também foi fomentada a partir de uma solicitação da Secretaria

Municipal de Educação quando solicitado que fosse realizado um trabalho com uma

turma que estava apresentando problemas sérios relacionados a indisciplina. Antes de

qualquer intervenção foi-se conhecer o que esta turma de alunos adolescentes

compreende como indisciplina.

Como psicóloga me sinto motivada em pesquisar o comportamento humano e

também envolver-me na intervenção necessária para promover o bem estar das pessoas

e dos grupos com qualidade de vida. De modo geral, tem-se encontrado no Brasil o

interesse, por parte de estúdios do comportamento humano e educadores, em estudar a

indisciplina.

Ao sinalizar na minha atuação como psicóloga a intervenção, perante a escola

destaca-se que as propostas de intervenção no contexto escolar têm-se apresentando

incipientes e, em sua maioria, não oportunizam “voz e vez” aos alunos, no sentido de

possibilitar a esses sujeitos sua compreensão sobre o contexto escolar, o cotidiano desta

instituição e das relações que ocorrem neste contexto, sejam entre professor e aluno;

entre alunos; professor e direção; direção e funcionários, entre outras (TREVISOL et al,

2011). Esta ausência de espaço de diálogo e de manifestação dos alunos na avaliação do

cotidiano da escola pode estar relacionada a reprodução de uma característica comum na

escola que é de considerar o aluno como o problema, o indisciplinado.

A intenção maior deste trabalho de dissertação, além do interesse em contribuir

com os estudos sobre indisciplina, propõe uma leitura desta temática a partir do

conhecer a compreensão da indisciplina por adolescentes do 8º ano de uma escola

pública municipal.

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Para ratificar este propósito registra-se que no levantamento efetuado como

“estado da arte” da temática relacionada à indisciplina escolar, no Portal da Capes,

identificou produções que datam o ano de 1910. Até 1978 identificou-se 13 publicações;

e, após 2008, uma ampliação deste número para 298 publicações. Considerando o

descritor “indisciplina na escola” evidenciou-se 4 publicações até o ano de 1998,

entretanto, depois do ano de 2010 houve uma ampliação para 55 publicações referentes

a temática.

Dentre as publicações verificou-se que, cada vez mais, cresce trabalhos que

objetivam a intervenção sobre a forma disfuncional de relacionamentos que se dão

dentro do contexto escolar. Cita-se trabalhos de autores como Veiga (2007), Abramovay

e Rua (2002), Antunes (2013), Aquino (1996), Estrela (2002), Garcia (2009), Amado e

Freire (2002), Jesus (1996; 2008) e Torres (2015).

Nesse sentido, do contingente de trabalhos identificados, considerando o

levantamento realizado e utilizando-se como critério de seleção os que tivessem relação

com o tema dessa dissertação, selecionou-se 5 (cinco) trabalhos para situar o “estado da

arte” da discussão a respeito da temática da indisciplina na escola. Na sequência,

explicita-se alguns elementos que colaboram para a compreensão do problema em foco.

Entre os trabalhos selecionados, destaca-se o estudo intitulado A Indisciplina

Escolar na Perspectiva de Alunos, dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação, Stricto Sensu, Mestrado em Educação, da Universidade Tuiuti do Paraná em

31 de março de 2008. A autoria é de Mônica Aparecida de Macedo Golba. O objetivo

deste trabalho foi analisar a perspectiva de um grupo de alunos da oitava série, do

Ensino Fundamental, de uma escola da Rede Pública Estadual, na cidade de Cândido de

Abreu, Paraná, sobre indisciplina escolar. Como caminho metodológico essa pesquisa

se sustentou no trabalho de campo o qual foi desenvolvido por meio de uma pesquisa

etnográfica. Recorreu-se a esse método pelo fato da autora entender que o “objeto a ser

investigado – a indisciplina escolar na perspectiva de um grupo de alunos – solicita uma

investigação com as características apresentadas por esse tipo de pesquisa” (GOLBA,

2008, p. 52). Ainda, segundo Oliveira (apud GOLBA, 2008, p. 52), justifica o uso deste

método pelo fato de que o mesmo ”permite um olhar não apenas para o fenômeno

situado, mas também para determinantes não explícitos, porém não menos importantes

para a sua compreensão”. A pesquisadora traz em suas considerações finais que pela

fala dos alunos a indisciplina assume caráter legítimo e com significado. O significado

atribuído é de natureza pedagógica, quer dizer, a indisciplina denuncia a fragilidade da

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prática do professor como a ausência de planejamento e de organização das aulas, e,

também, por consequência, a fragilidade do currículo. A leitura sobre indisciplina feita

pelos professores dos alunos investigados se diverge da leitura que esses alunos fazem

da indisciplina, ou seja, para esses professores a indisciplina estaria relacionada ao

comportamento dos alunos.

Outro trabalho analisado foi a dissertação de mestrado intitulada (In) Disciplina

na Escola: Cenas da Complexidade de um Cotidiano Escolar da autoria de Cândida

Maria Santos Daltro Alves da Universidade Estadual de Campinas (Faculdade de

Educação) datado de 2002.

Segundo Alves (2002, p. 19)

A temática desta investigação surgiu por se considerar que tal questão, no

cotidiano das salas de aula, tem se constituído em uma das maiores

dificuldades encontradas por muitos educadores em sua prática educativa.

Esta dificuldade se constitui em motivo de preocupação para instituições

escolares, profissionais da educação de um modo geral, e pais. Esta realidade

presente, nas salas de aula, tem deixado estes profissionais impotentes e sem

saber o que fazer diante de tal preocupação.

Esta produção acadêmica objetivou “investigar se o conteúdo das aulas dos

professores, a metodologia por eles utilizada para trabalhar tais conteúdos e os tipos de

relações interpessoais presentes em uma sala de aula influenciam os comportamentos

indisciplinados” (ALVES, 2002, p. 22). Como cenário de pesquisa, o campo de

investigação foi o cotidiano de uma sala de aula de 5a série do Primeiro Grau, de uma

escola pública, estadual de Primeiro e Segundo Graus, no município de Piracicaba/São

Paulo. O tipo de investigação desenvolvido foi de cunho descritivo. A autora salienta

que para responder as perguntas de pesquisa foi-se utilizada a metodologia basicamente

de natureza qualitativa. Para a coleta de dados foram utilizados instrumentos como:

entrevista, descrições das observações das aulas dos professores e dos comportamentos

de alunos e professores e análises dos comportamentos observados. O trabalho finalizou

apresentando alguns caminhos para a reflexão sobre a indisciplina na sala de aula.

Identificou-se a necessidade de se reinventar o trabalho pedagógico realizado

diariamente e o papel do professor neste processo de mudança e o compromisso com os

alunos. Observou-se, ao finalizar a dissertação, também, a necessidade de valorizar o

conhecimento que o aluno traz para a escola a partir da sua história de vida, objetivando

uma aprendizagem significativa. A indisciplina não é de responsabilidade somente de

alunos e alunas, caso contrário, teríamos uma leitura reduzida e fragmentada do

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contexto escolar. Finalizando, a estudiosa destaca que a principal intenção do seu

trabalho foi contribuir com a discussão referente ao tema da indisciplina pela

perspectiva de análise dos conteúdos escolares, as metodologias de aulas e as relações

interpessoais.

Em seguida foi analisada a tese de doutorado apresentada na Faculdade de

Educação da Universidade Estadual de Campinas da autoria de Maria José de Morais

Pereira intitulada Disciplina-Disciplinamento: da Vara de Marmelo à Cadeirinha do

Pensamento do ano de 2003. Como objetivo o trabalho buscou entender os problemas

disciplinares, através do tempo (1900-2000). O trabalho pautou-se, metodologicamente

na pesquisa documental em que foram pesquisados os registros escolares de quatro

escolas publicas de duas cidades de Minas Gerais - três escolas de Ensino Fundamental

e uma Escola Normal. Verificou-se na análise dos arquivos de três escolas do Ensino

Fundamental até a década de 60 imagens de professoras boazinhas e dedicadas e de

alunos educados, obedientes e estudiosos. Também, observaram-se imagens assim em

textos literários em que a professora se caracteriza como a segunda mãe, irmã mais

velha, primeira namorada, entre outras. Assim, foi possível construir a imagem

edificante da professora do passado. Constatou-se, ainda, a partir da análise dos

documentos que a escola do passado com intuito de salvaguardar a moral, bons

costumes e a disciplina escolar eliminava, de forma cruel, os alunos que não se

enquadravam no ambiente escolar considerado harmonioso.

A estudiosa Lilianne Blauth Baú na sua dissertação de mestrado pela

Universidade do Oeste Paulista com o título A Indisciplina e o Processo de Ensino

Aprendizagem: Um Estudo no Ensino Fundamental (2011), objetivou estudar o

fenômeno da indisciplina em sala de aula e sua relação com a ação docente, sob o olhar

dos professores. De cunho empírico, buscou indicativo de respostas a questões

relacionadas à indisciplina escolar. Foram aplicadas atividades de observação em sala

de aula, pesquisa documental e verificação dos resultados e relatórios do Conselho de

Classe. Na finalização da dissertação a autora identificou o que a literatura apresenta: o

meio social e familiar é importante para o desenvolvimento de atitudes adequadas na

escola pela criança. Também se pode identificar que se faz necessário a releitura dos

documentos normativos e a redefinição de papéis, responsabilidades e direitos de todos.

Outro ponto de problematização é verificar a não autoridade do professor para resolver

conflitos e casos de “alunos indisciplinados”, constando que todos esses alunos são

encaminhados para a equipe pedagógica resolver seus problemas, entretanto, essa

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reação do professor raramente atinge resultados positivos. O rendimento escolar se

relaciona aos registros de indisciplina ou desinteresse, pois os alunos que deixam de

fazer lições são os alunos que provavelmente não encontram significado no que está

sendo ensinado.

Por fim, Márcia Aparecida da Silva Pereira com o trabalho intitulado

Indisciplina Escolar: Concepções dos Professores e Relações com a Formação Docente

do ano de 2009 pela Universidade Católica Dom Bosco desenvolveu sua dissertação

com intuito de investigar como os professores concebem a indisciplina escolar, a que

atribuem, como lidam e o que percebem sobre a sua formação para lidar com esse

problema. A pesquisa se apresenta como qualitativa, de caráter descritivo-explicativo.

Como procedimento de coleta de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada. A

maioria dos entrevistados se referem ao fenômeno como comportamento inadequado do

aluno frente às regras ou normas da escola. As causas são apontadas por fatores de

ordem psicológica, social e do campo pedagógico. Entendem que o diálogo é a forma

mais eficaz, entretanto, utilizam outras formas para lidar com a indisciplina do aluno

como ameaças e perda de pontos nas avaliações. “A maioria dos professores situa as

causas e a solução do problema em instâncias externas à sala de aula, contudo atribui a

si mesmos e à escola a responsabilidade de resolvê-lo. ” (PEREIRA, 2009, p. 78). A

formação do professor para atuar em contextos de indisciplina escolar se pauta na

experiência cotidiana – vida familiar e estudantil – e não como tema a ser contemplado

nos cursos de formação inicial e continuada.

Dentre os trabalhos selecionados para compor o estado da arte, percebe-se que

ambos se propõem a investigar e discutir como estão se configurando as relações entre

as pessoas dentro e fora do contexto escolar. Propõem-se a compreender ainda, se o

conteúdo das aulas e metodologia de ensino influenciam em comportamentos

indisciplinados e se estes problemas disciplinares apresentam diferença ao longo da

história escolar, não apenas das escolas que constituíram a amostra dos estudos

realizados, mas percorrendo o caminho histórico em que a escola se desenvolveu.

Pode-se perceber a partir dos estudos identificados que muitas perguntas

circulam na sociedade e no meio escolar sobre a indisciplina, tais como: qual o maior

fator da indisciplina escolar ou da violência juvenil? Tentativas de respostas como falta

de valores familiares, morais, escolares, sociais, ainda, falta de perspectivas quanto ao

futuro e movimento de transição de uma fase de desenvolvimento infantil para

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adolescência, configuram os apelativos explicativos na sociedade, seja ela escolar como

civil.

Nesse sentido, cabe ressaltar que há uma carência de estudos que buscam

compreender o problema da indisciplina na escola a partir da manifestação dos alunos

que frequentam a escola e que, muitas vezes, somente eles, são considerados

indisciplinados. Considerando esse aspecto, a investigação em curso objetiva avançar na

compreensão do problema da indisciplina buscando o posicionamento de alunos

adolescentes vinculados ao 8º ano do ensino fundamental. Esses alunos, desse ano

letivo, com histórico de manifestações de indisciplina no convívio do cotidiano, podem

oportunizar dados, constatações, leituras da realidade escolar privilegiadas favorecendo

a compreensão do problema.

A investigação realizada apresenta-se social e cientificamente relevante pelo fato

de que a indisciplina tem se caracterizado, segundo vários estudiosos, pais e

professores, como o principal problema nas escolas.

Considerando os elementos apresentados o problema de pesquisa se refere a

como alunos do 8º ano do ensino fundamental, vinculados a uma instituição pública

municipal, localizada no meio oeste catarinense, compreendem o problema da

indisciplina, causas e consequências desse problema para o cotidiano escolar?

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Investigar como alunos do 8º ano do ensino fundamental, vinculados a uma

instituição pública municipal localizada no meio oeste catarinense, compreendem o

problema da indisciplina, causas e consequências desse problema para o cotidiano

escolar.

1.1.2 Objetivos Específicos

a) Analisar, considerando a compreensão de alunos do 8º. ano do ensino

fundamental, as causas que promovem a indisciplina na escola.

b) Identificar como os alunos compreendem as consequências da indisciplina

para si mesmos e para o cotidiano da escola.

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19

c) Verificar como os alunos avaliam os encaminhamentos tomados pela escola

para resolver o problema e o que eles proporiam com esse mesmo propósito.

1.2 QUESTÕES DE PESQUISA

a) Quais são as causas da indisciplina na escola segundo a compreensão dos

alunos do 8º. ano do ensino fundamental?

b) Como os alunos compreendem as consequências da indisciplina para si

mesmos e para o cotidiano da escola?

c) Como os alunos avaliam os encaminhamentos tomados pela escola para

resolver o problema e o que eles proporiam com esse mesmo propósito?

Considerando a problemática e a intenção de compreendê-la este trabalho está

organizado primeiramente com a Introdução em que se apresentam o tema, problema,

objetivos e questionamentos norteadores desta investigação. Em seguida apresenta-se o

capítulo correspondente aos procedimentos metodológicos e técnicos. No terceiro

capítulo está apresentado o referencial teórico que abordará “A indisciplina no cotidiano

da escola: em busca da compreensão do problema” e suas subdivisões: Disciplina e

indisciplina na escola; Causas da indisciplina; Consequências da indisciplina e

Encaminhamentos em relação ao problema. E no quarto estão apresentados os

resultados com sua análise e discussão dos dados. E finalizando o trabalho as

considerações finais.

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2 INDICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICOS

“A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para

responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal

estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema” (GIL,

2010, p. 1). Para tanto, a definição de pesquisa está em ser um procedimento racional e

sistemático que objetiva proporcionar respostas aos problemas que são propostos.

Este capítulo tem como objetivo apresentar os procedimentos metodológicos

utilizados para esta pesquisa.

2.1 TIPO DE PESQUISA

Trata-se de um estudo exploratório, de natureza qualitativa. A pesquisa

qualitativa se preocupa com o aprofundamento da compreensão de uma organização,

um grupo social, etc. Neste método de pesquisa busca-se “explicar o porquê das coisas,

exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e a trocas

simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-

métricos e valem de diferentes abordagens” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32).

Minayo (2003) enfatiza que na pesquisa qualitativa se trabalha com um conjunto

de motivos, significados, crenças, aspirações, valores e atitudes, correspondendo a um

espaço mais profundo das relações, dos fenômenos e processos que não se podem

apresentar reduzidos à operacionalização de variáveis.

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A pesquisa foi realizada com 23 alunos do 8º. ano do ensino fundamental de

uma escola pública municipal de uma cidade do meio oeste catarinense. A escolha

desses alunos foi por indicação da escola, por se tratarem de alunos que estavam

apresentando problemas de indisciplina.

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A escola municipal selecionada localiza-se em Caçador (SC). Esta escola atende

538 alunos, desde a educação infantil até os anos finais do ensino fundamental. A opção

por esta escola e por esse grupo de alunos, matriculados no 8. ano, se deve,

inicialmente, pelo aceite e interesse da secretaria municipal de educação no

desenvolvimento da atividade de pesquisa nesta instituição considerando os problemas

de indisciplina que são observados no cotidiano da escola, envolvendo, principalmente

alunos adolescentes. A escola recebeu e assinou um termo de assentimento concordando

com a realização da investigação nessa instituição.

O projeto de pesquisa dessa dissertação foi submetido ao Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP/Unoesc) e recebeu aprovação pelo parecer consubstanciado número

1.647.714. (Anexo A)

O perfil dos alunos participantes desse trabalho se descreve com uma faixa etária

de 12 a 15 anos de idade como se pode verificar na tabela 01 a seguir:

Tabela 1 – Gênero e idades

Gênero Idades

12 anos 13 anos 14 anos 15 anos Total %

Feminino 3 5 1 1 10 43,48

Masculino 2 9 1 1 13 53,52

Total 5 14 2 2 23 100,00

% 21,74 60,87 8,7 8,7 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

A maioria dos alunos, perfazendo um total de 13 participantes (53,52%) são do

sexo masculino e as participantes do sexo feminino correspondem a 10 alunas

(43,48%).

A faixa etária predominante é de 13 anos de idade contabilizando 60,87% do

total dos participantes, seguido do percentil 21,74% que corresponde a faixa etária dos

12 anos de idade. Os menores percentis referem-se aos alunos com a idade de 14 anos e

de 15 anos sendo 1 aluno de cada gênero.

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22

2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Os alunos que participaram da referida investigação receberam um termo de

consentimento livre esclarecido (Anexo B) a ser assinado por seus pais e/ou

responsáveis, e termo de assentimento (Anexo C) manifestando sua concordância em

que os mesmos participem do trabalho de pesquisa, em suas diversas etapas.

Sendo assim, o caminho metodológico foi composto das seguintes etapas:

2.3.1 Questionário inicial

O questionário foi composto por perguntas abertas e fechadas objetivando uma

primeira coleta de informações e conhecimentos de como os alunos compreendem o

problema da indisciplina. Este questionário foi elaborado e aplicado utilizando a

ferramenta on line Google docs. O objetivo desse procedimento é de diagnóstico, de

recolha de dados a respeito dos alunos e de compreensão dos mesmos sobre a temática

indisciplina. A recolha de dados por meio desse instrumento (questionário inicial) e da

entrevista oportunizou a organização do jogo psicopedagógico. Na sequência,

explicitam-se as questões que compuseram o questionário:

2.3.1.1 Perguntas:

1) Qual é o seu nome?

2) Qual é a sua idade?

3) Com quem você mora?

4) O que é indisciplina para você?

5) Dê exemplos de indisciplina.

6) Por que você acha que a indisciplina acontece?

7) Quando acontece atos de indisciplina na escola, de quem é a culpa?

8) Atos de indisciplina merecem punição?

( ) Sim ( ) Não

Por quê?

9) Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola?

10) O que significa um comportamento indisciplinado para você?

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23

2.3.2 Entrevista

Para aprofundar os dados obtidos no questionário inicial foi utilizado como

técnica complementar a entrevista semi-estruturada.

Foram realizadas 23 (vinte e três) entrevistas com os alunos do 8º ano,

considerando uma série de condições (além da indicação da escola) como a

identificação de sujeitos que sejam essenciais, segundo o ponto de vista do investigador,

para o esclarecimento do assunto em foco, facilidade de contato com as pessoas e

disponibilidade dos indivíduos para as entrevistas (TRIVIÑOS, 1995).

Ainda, segundo Triviños (1995, p. 146) esta técnica se caracteriza como sendo

a mais rica e flexível quando se realiza uma pesquisa. A entrevista semi-estruturada “ao

mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas

possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias,

enriquecendo a investigação”. Noutras palavras, esta técnica fomenta a participação do

entrevistado na elaboração do conteúdo da pesquisa, pois lhe permite seguir

espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco

principal colocado pelo pesquisador, e a habilidade deste último, por consequência se

justifica no direcionamento das ações, sem restringir a inclusão de novos dados, embora

exerça seleção criteriosa baseada na delimitação do problema de investigação.

As questões que compuseram o roteiro das entrevistas foram:

2.3.2.1 Roteiro:

1) O que é indisciplina para você?

2) O que provoca a indisciplina?

3) Quem está envolvido nas situações de indisciplina? Por quê?

4) O que um ato indisciplinado quer demonstrar?

2.3.3 Elaboração, organização de um jogo psicopedagógico “Falando sobre a

indisciplina”

Objetivou-se com o jogo a vivência dos alunos com situações de indisciplina na

escola para possibilitar que eles falassem e refletissem sobre a temática proposta.

Acredita-se que alternativas como as da organização desse jogo possam ser

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24

utilizadas como elemento de reflexão de cenas do cotidiano, tomada de consciência dos

elementos do problema indisciplina e, por meio dessa troca de posicionamentos,

concordância com alguns encaminhamentos e discordância em relação a algumas

posturas dos alunos e profissionais da escola se poderia perspectivar mudanças de

comportamento.

Este jogo foi constituído por um conjunto de cenas a partir do que foi expressado

pelos alunos no questionário inicial e nas entrevistas. Organizou-se 03 conjuntos de

cenas envolvendo situações de indisciplina vividos em diferentes contextos dentro da

escola. Em cada uma das sessões de aplicação do jogo foi oportunizado aos alunos um

desses conjuntos.

O jogo solicita a ação dos alunos no sentido de organizarem a sequência de

cenas que não possuem, de antemão, uma ordem pré-estabelecida. Os alunos são

divididos em grupos de até quatro alunos de ambos os sexos. Cada grupo recebe - 6

(seis) cartas e a partir destas cartas os alunos compõem uma sequência que conta a

história sugerida com início, meio e fim.

O jogo permite liberdade e autonomia dos participantes no sentido de

explicitarem sua compreensão e leitura da situação manifestada na sequência de cenas.

Esse aspecto relacionado a autonomia dos alunos na ação de jogar é algo que merece

destaque considerando, também, a faixa de idade dos participantes (adolescência), e

suas condições de desenvolvimento: cognitivo, emocional, social, moral, entre outros

aspectos. Cabe ressaltar que do ponto de vista cognitivo, considerando o estágio de

desenvolvimento cognitivo operatório formal, conforme explicitado por Piaget (1983)

esse é o período em que o pensamento se caracteriza como hipotético-dedutivo, e que o

desejo de elaborar hipóteses e pensar em relação as mesmas se faz presente nos

participantes.

Na sequência segue o questionário que os alunos responderam após a aplicação

do jogo psicopedagógico:

2.3.3.1 Roteiro

1) Como vocês avaliam o posicionamento dos (as) alunos (as) que estão no foco

das duas sequências de cenas? Concordam com o posicionamento assumido por eles

(as)?

2) Por que você escolheu esta sequência de cenas?

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3) A ação dos (as) alunos (as) poderia ser considerada indisciplinada? Se sim,

por quê?

4) Vocês concordam com o posicionamento assumido pelo (a) professor (a)?

Justifique a sua resposta.

5) Atitudes como essa merecem punição? Justifiquem a resposta.

6) Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola?

7) Vocês acreditam que funciona a maneira como a sua escola resolve as

situações de indisciplina? Por quê?

O Jogo foi aplicado em 3 (três) sessões de 45 (quarenta e cinco) minutos que

aconteceram seguindo um direcionamento como pode-se ler descrito nas sessões abaixo.

Os desenhos foram feitos pela professora Daiana Antunes.

2.3.3.2 Sessões de aplicação do jogo:

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1ª sessão: descreve uma situação em que há a disputa de uma cadeira por dois

colegas de classe, dentro da sala de aula, e o posicionamento do professor, como se

pode ver:

A)

B)

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2ª sessão: situação que apresenta desentendimento entre os alunos e o

posicionamento do professor.

A)

B)

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3ª sessão: Desentendimento entre os alunos com a professora por causa do uso

do celular e o posicionamento da direção da escola.

A)

B)

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Cada sessão foi dividida em 3 (três) momentos:

A. No primeiro momento da sessão – 15 minutos – os alunos conversaram entre

si no grupo e organizam as cenas considerando uma sequência acordada entre os

participantes.

B. No segundo momento da sessão – 10 minutos – aconteceu a socialização e as

arguições referentes as cenas organizadas por cada grupo, quais motivos levaram os

alunos a construírem determinada sequência, as inquietações que se deram no momento

de jogar, entre outros questionamentos e reflexões delineadas no momento da

socialização. Este momento justifica-se pela troca do que foi trabalhado em cada

pequeno grupo com todos os demais da turma.

C. No terceiro momento da sessão – 20 minutos – está previsto a leitura e

preenchimento de um questionário que objetiva a reflexão do que foi trabalhado no jogo

e explanado no momento da socialização. A resposta deste questionário configurou os

dados de análise do jogo.

2.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados foi realizada a partir dos dados coletados por meio dos

instrumentos: questionário com finalidade de diagnóstico, entrevistas, aplicação do jogo

psicopedagógico e questionário utilizado após as sessões de aplicação do jogo.

No que se refere a análise do questionário inicial foi utilizado o próprio

aplicativo Google docs e a análise das planilhas que o mesmo organiza a partir dos

dados preenchidos em formulário específico criado com esta finalidade.

A análise dos dados, segundo Souza Júnior et al (2010, p. 34), apresenta como

objetivo compreender o que foi coletado, "confirmar ou não os pressupostos da pesquisa

e ampliar a compreensão de contextos para além do que se pode verificar nas aparências

do fenômeno."

Foi efetuada a análise do conteúdo das respostas a partir da organização de

categorias dos dados coletados e também, estas categorias, fazem relação com os

objetivos de pesquisa, a saber:

Categoria 1: Conceituando o problema da indisciplina na escola. Esta categoria

analisa o entendimento dos alunos sobre a indisciplina no contexto ao qual estão

inseridos dentro da escola. As questões que possibilitaram os dados para análise desta

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categoria foram: 1. O que é indisciplina para você? 2. Dê exemplos de indisciplina. 3. A

ação dos (as) alunos (as) poderia ser considerada indisciplinada? Se sim, por quê?

Categoria 2: Causas da indisciplina. Analisa a compreensão dos alunos referente

as causas que promovem a indisciplina na escola. As questões que possibilitaram os

dados para análise desta categoria foram: 1. Por que você acha que a indisciplina

acontece? 2. O que provoca a indisciplina? 3. Quando acontecem atos de indisciplina na

escola, de quem é a culpa? 4. Quem está envolvido nas situações de indisciplina? Por

quê? 5. Por que você escolheu esta sequência de cenas?

Categoria 3: Consequências da indisciplina. Teve como objetivo conhecer como

os alunos percebem as possíveis consequências advindas de um comportamento

indisciplinado. As questões que possibilitaram os dados para análise desta categoria

foram: 1. O que um ato indisciplinado quer demonstrar?

Categoria 4: Encaminhamentos em relação ao problema. O objetivo foi

conhecer como os alunos entendem e o que opinam sobre os encaminhamentos tomados

pela escola para resolver o problema. As questões que possibilitaram os dados para

análise desta categoria foram: 1. Atos de indisciplina merecem punição? Por quê? 2.

Atitudes como essa merecem punição? Justifique a resposta. 3. Como são resolvidas as

situações de indisciplina na sua escola? 4. Você concorda com o posicionamento

assumido pelo (a) professor (a)? 5. Você acredita que funciona a maneira como a sua

escola resolve as situações de indisciplina? Por quê? 6. Como são resolvidas as

situações de indisciplina na sua escola?

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3 A INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: EM BUSCA DA

COMPREENSÃO DO PROBLEMA

Observa-se na literatura científica publicada uma pluralidade de abordagens e

posicionamentos teórico prático sobre o tema da indisciplina. “Como toda criação

cultural, o conceito de indisciplina não é estático, nem uniforme, nem universal.” Ainda,

“a indisciplina relaciona-se com um conjunto de valores e expectativas que variam ao

longo da história, entre culturas diferentes, nas diferentes classes sociais” (PARRAT-

DAYAN, 2015, p. 19).

Este capítulo tem como objetivo discorrer sobre estas muitas possibilidades de

conceituar a indisciplina, suas causas, consequências e encaminhamentos no contexto

escolar.

3.1. DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA ESCOLA

Segundo Trevisol (et al, 2011, p. 90):

A indisciplina representa um dos principais fenômenos que geram

dificuldades no contexto escolar. Esse fato vem se agravando, de tal forma,

que nem a escola e nem a família conseguem solucionar o problema. O

fenômeno a que estamos nos referindo é caracterizado no contexto escolar e

fora dele, por parte de diferentes autores, de diversas formas; as ideias acerca

desse tema estão longe de serem consensuais. Evidenciamos falta de clareza e

consenso a respeito do significado do termo indisciplina, ou até mesmo de

disciplina. Isso se deve, particularmente, a complexidade do assunto, a

ausência de resultados de pesquisas, a multiplicidade por preconceitos e

mitos do senso comum. (TREVISOL et al, 2011, p. 90)

Corroborando com este posicionamento, Rego (1994) diz que a indisciplina é

um tema que está provocando preocupação nas escolas há muito tempo, porém com

poucas oportunidades de discussão. Vários são os profissionais que pesquisam e

propõem discussões sobre esta temática. Esse contexto de preocupação com o tema

indisciplina envolve professores, técnicos, pais e alguns alunos. Independe se a escola é

pública ou privada, esta temática envolve alunos da educação infantil, ensino

fundamental e médio.

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Apresenta-se, desde décadas passadas, uma falta de clareza e consenso aos

termos indisciplina e disciplina que de modo geral apresenta uma análise baseada num

discurso pautado pelo senso comum (REGO, 1994). A indisciplina escolar não é tema

recente e sempre esteve circulando entre as paredes educacionais.

Quanto ao termo disciplina, Estrela (2002) diz que este termo apresenta origem

latina e a mesma raiz que discípulo. Com caráter polissêmico, o dicionário registra o

significado da palavra disciplina como um ramo do conhecimento ou matéria de estudo,

dentre muitos significados que ao longo da história tem assumido diversas

significações, como por exemplo: “punição; dor; instrumento de punição; direcção

moral; regra de conduta para fazer reinar a ordem numa coletividade; obediência a essa

regra” (ESTRELA, 2002, p. 17).

A autora destaca ainda, que considerando a multiplicidade de entendimentos e

descrições as quais são apresentadas ao conceito de disciplina, existe uma tendência de

interpretar-se não só como apresentar as regras e a ordem delas decorrentes, mas sim,

como as possíveis sanções ligadas aos desvios e o consequente sofrimento que elas

originam, garantindo assim um status pejorativo ao conceito.

Entretanto, os conceitos de disciplina e de indisciplina se articulam entre si,

sendo este ultimo “definido pela sua negação ou privação ou pela desordem proveniente

da quebra das regras estabelecidas” (ESTRELA, 2002, p. 17). E acrescenta,

As regras e o tipo de obediência que elas postulam são relativas a uma dada

coletividade, vivendo num determinado tempo histórico, e aos corpos sociais

que nela existem. Há, assim, uma disciplina familiar, como há uma disciplina

escolar, militar, religiosa, desportiva, partidária, sindical.... Embora cada tipo

de disciplina tenha a sua especificidade, todos eles se inscrevem num fundo

ético de caráter social que é resultante de uma certa mundivivência,

concorrendo para a harmonia social. Não se pode, assim, falar em disciplina

ou em indisciplina independentemente do contexto sócio-histórico em que

ocorre. Embora alguns conceitos pareçam atravessar os tempos e as

sociedades, é em relação a cada lugar e a cada tempo que assumem o seu

significado específico. (ESTRELA, 2002, p.17)

Michel Foucault, pensador e epistemólogo francês contemporâneo, organiza em

uma de suas obras a trajetória histórica referente as regras e o tipo de obediência

postulados pela coletividade na organização temporal em que os corpos sociais se

apresentavam. O objetivo dele não foi construir a história das mais variadas instituições

disciplinares, mas sim apresentar alguns exemplos e algumas técnicas essenciais que de

modo particular de cada uma, generalizaram-se.

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Durante a época clássica descobriu-se o corpo humano como objeto e alvo de

poder, ou seja, ilustrando essa característica a figura do soldado que no século XVII era

reconhecido de longe pois levava os sinais naturais de seu vigor e coragem. O corpo,

sinônimo de força e valentia que necessitava aprender o oficio das armas.

Na segunda metade do século XVIII o soldado passou a ser algo que poderia ser

fabricado. Expulsou-se o “camponês” e se construiu “a fisionomia de soldado”:

“lentamente uma coação calculada percorre cada parte do corpo, assenhoreia-se dele,

dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se prolonga, em silêncio, no

automatismo dos hábitos” (FOUCAULT, 2012, p. 131).

Foucault (2012, p. 132) salienta: “Encontraríamos facilmente sinais dessa grande

atenção dedicada então ao corpo – ao corpo que se manipula, modela-se, treina-se, que

obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças se multiplicam.”

O corpo nesta época e anterior a esta época e em qualquer sociedade, foi

entendido como objeto de investimentos imperiosos e presos a poderes significativos

que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Apresentou-se, em primeiro

lugar, considerando-se uma escala de controle, que “não se trata de cuidar do corpo, em

massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo

detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo

nível da mecânica – movimentos, gestos, atitude, rapidez [...]” (FOUCAULT, 2012, p.

132-133).

Interessante perceber que os processos disciplinares, segundo Foucault (2012),

sempre existiram, como por exemplo, em conventos, nos exércitos e nas oficinas. Mas,

é no decorrer dos séculos XVII e XVIII que as disciplinas se tornaram fórmulas gerais

de dominação.

O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do

corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem

tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no

mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e

inversamente (FOUCAULT, 2012, p. 133).

Assim, apresenta-se uma política de coerção – manipulação calculada dos

elementos do corpo, dos gestos e dos comportamentos – nascendo assim uma mecânica

do poder que define como ter domínio sobre o corpo dos outros para que se faça o que

se quer e que também operem como se quer, a partir do uso de técnicas com rapidez e

eficácia que se determina.

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A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”.

A disciplina aumente as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade)

e diminui essas mesmas forças (...). Em uma palavra: ela dissocia o poder do

corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela

procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potencia que poderia

resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita (FOUCAULT, 2012,

p. 133).

Essa anatomia política, assim chamada pelo autor, não foi uma descoberta e sim

já se encontrava, muito cedo em funcionamento, nos colégios e mais tarde nas escolas

primárias. Direcionaram-se investimentos nos espaços hospitalares e, por muitos anos,

reestruturaram a organização militar. A organização dos espaços é uma das primeiras

formas de atuação disciplinar, ou seja, “a disciplina procede em primeiro lugar à

distribuição dos indivíduos no espaço” (FOUCAULT, 2012, p. 137) e para legitimar

isso que é considerado como “a arte das distribuições”, as técnicas utilizadas são: a

“cerca”, a “clausura”, “localizações funcionais” e a “fila”.

Exemplificando, Foucault relata que a disciplina muitas vezes exige a “cerca”

utilizando-se dos colégios e dos quartéis para descrever esta categoria.

Colégios: o modelo do convento se impõe pouco a pouco; o internato aparece

como o regime de educação senão o mais frequente, pelo menos o mais

perfeito; torna-se obrigatório em Louis-le-Grand1 quando, depois da partida

dos jesuítas, faz-se um colégio-modelo.

Quartéis: é preciso fixar o exército, essa massa vagabunda; impedir a

pilhagem e as violências; acalmar os habitantes que suportam mal as tropas

de passagem; evitar os conflitos com as autoridades civis; fazer cessar as

deserções; controlar as despesas. A ordenação de 1719 prescreve a

construção de várias centenas de quartéis, imitando os já organizados no sul

do país; o encarceramento neles será estrito (FOUCAULT, 2012, p. 137).

Ratificando o exposto acima, segue o texto intitulado como “Recomendações

Disciplinares” escrito no início do século (1922) que demonstra as ideias disciplinares

da época e a forma como a indisciplina era tratada:

Não ha creanças refractarias á disciplina, mas somente alumnos ainda não

disciplinados. A disciplina é factor essencial do aproveitamento dos alumnos

e indispensável ao homem civilisado. Mantêm a disciplina, mais do que o

1 Louis-le-Grand é uma escola secundária pública fundada em 1563 que compreende duas partes distintas:

a tradicional Lycée (800 alunos) e classes preparatórias (900 alunos). Localiza-se no coração do Bairro

Latino de Paris. Rica em história, arquitetura e cultura, esta área é o lar do mais antigo e mais prestigiados

estabelecimentos de ensino na França, como a Sorbonne e do Collége de France.

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35

rigor, a força moral do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as

crenças interessadas em algum assumpto útil.

Os alumnos se devem apresentar na escola minutos antes das 10 horas,

conservando-se em ordem no corredor da entrada, para dahi descerem ao

pateo onde entoarão o cântico.

Formados dois a dois dirigir-se-hão depois ás suas classes acompanhados das

respectivas professora, que exigirão delles se conservem em silencio e entrem

nas salas com calma, sem deslocar as carteiras.

Deverão andar sempre sem arrastar com os pé, convindo que o façam em

terça, enviando assim o balançar dos braços e movimentos desordenados do

corpo.

Em classe a disciplina deverá ser severa:

os alumnos manterão entre si silencio absoluto;

não poderá estar de pé mais de um alumno;

a distribuição do material deverá ser rápida e sem desordem;

não deverão ser atirados ao chão papeis ou quaesquer cousas que

prejudiquem a asseio da sala;

sempre que se retire da sala, a turma a deixará na mais perfeita ordem.

No recreio a disciplina é ainda necessária para que elle se torne agradável aos

alumnos bem comportados:

deverão os alumnos se entregar a palestras ou a diversões que não produzam

grande alarido;

deverão merecer attenção especial os alumnos que se excederem em

algazarras com prejuízo da tranquillidade dos demais;

serão retirados do recreio ou soffrerão a pena necessária os alumnos que

gritarem, fizerem correrias, damnificarem as plantas ou prejudicarem o asseio

do pateo com papeis, cascas de fructas, etc;

deverão os alumnos no fim do recreio formar com calma sem correrias, pois

que o toque de campainha PE dado com antecedência necessaria.

Deverão os alumnos lavar as mãos e tomar água no pavimento em que

funccionar a classe a que pertençam.

Não poderão tomar água nas mãos; a escola fornece copos aos alumnos que

não trazem o de seu uso.

Deverão ter todo o cuidado para não molhar o chão, ainda mesmo juncto ás

pias e talhas.

Ao findarem os trabalhos do dia, cada classe seguirá em forma e em silencio

até a escada da entrada, e só descida esta, se dispersarão os alumnos

(BRAUNE apud AQUINO, 1994, p. 42-43).

Aquino (1994) identifica neste texto as correções disciplinares necessárias

primordialmente no que se refere ao controle e ordenação do corpo e da fala. “O

silencio nas aulas é absoluto e, fora delas, contido. Os movimentos corporais, por sua

vez, são completamente esquadrinhados: sentados em sala, e em filas fora dela”

(AQUINO, 1994, p. 43).

Observa-se que a estrutura e funcionamento escolar se espelhava a um quartel e

o professor um superior hierárquico. Ainda,

Uma espécie de militarização difusa parecia, assim, definir as relações

institucionais como um todo.

É presumível, portanto, que as relações escolares fossem determinadas em

termos de obediência e subordinação. O professor não era só aquele que sabia

mais, mas que podia mais porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela.

Sua função precípua, então, passa a ser a de modelar moralmente os alunos,

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além de assegurar a observância dos preceitos legais mais amplos, aos quais

os deveres escolares estavam submetidos (AQUINO, 1994, p. 43).

”O princípio da “clausura”, segundo Foucault (2012) segue o procedimento

entendido como conhecer, dominar e utilizar. Apresenta características como: cada

indivíduo no seu lugar, evitar distribuições por grupos, desarticular implantações

coletivas. “O espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quando corpos ou

elementos há a repartir” (FOUCAULT, 2012, p. 138). É importante saber sobre as

presenças e ausências, saber como e onde encontrar os indivíduos e poder vigiar o

comportamento de cada pessoa a todo instante, como também apreciá-lo e sancioná-lo.

E finaliza: “Solidão necessária do corpo e da alma, dizia um certo ascetismo: eles

devem, ao menos por momentos, defrontar-se sós com a tentação e talvez com a

severidade de Deus” (FOUCAULT, 2012, p. 138).

Para Foucault (2012) “localizações funcionais”, refere-se a lugares determinados

que seja definidos e que apresentam como função satisfazer não só à necessidade de

vigiar, mas também de romper as comunicações perigosas e de criar um espaço útil.

Quanto às características que o colocar-se em “fila” representa, Foucault (2012,

p. 174) diz: “A disciplina, arte de dispor em fila, e da técnica para a transformação dos

arranjos. Ela individualiza os corpos por uma localização que não os implanta, mas os

distribui e os faz circular numa rede de relações.”

No século XVIII, a ordenação por fileiras, começou a definir a grande forma de

repartição dos indivíduos na ordem escolar, sendo: filas de alunos nas salas de aula, nos

pátios, nos corredores e também, as colocações atribuídas a cada aluno em relação a

cada tarefa e a cada prova. Também em relação as colocações obtidas, por este aluno, a

cada semana, de mês em mês e de ano em ano. O alinhamento das classes por idades

umas depois das outras e a sucessão dos assuntos ensinados e das questões organizadas

segundo uma ordem de dificuldade crescente. “E, nesse conjunto de alinhamentos

obrigatórios, cada aluno segundo sua idade, seus desempenhos, seu comportamento,

ocupa ora uma fila, ora outra [...]” (FOUCAULT, 2012, p. 141).

A organização de um espaço serial foi uma das grandes modificações

técnicas do ensino elementar. Permitiu ultrapassar o sistema tradicional (...).

Determinando lugares individuais tornou possível o controle de cada um e o

trabalho simultâneo de todos. Organizou uma nova economia do tempo de

aprendizagem. Fez funcionar o espaço escolar como uma máquina de ensinar,

mas também de vigiar, de hierarquizar, de recompensar (FOUCAULT, 2012,

p. 142).

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As disciplinas, as quais organizam as “celas”, “lugares” e as “fileiras”, criaram

espaços de complexidade, garantindo ao mesmo tempo a obediência dos indivíduos, a

marcação de lugares e a indicação de valores, como também uma melhor economia do

tempo e dos gestos.

“No século XIX, a escola implicava disciplina e castigo, ou seja, o ensino exigia

disciplina e a disciplina exigia castigo. Quem era disciplinado era submisso e obediente,

quem era indisciplinado era rebelde e desobediente” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 18-

19).

Considerando estas colocações apresentadas por Foucault, a autora Fernanda

Loiola Barbosa (2012) enaltece que a forma como se pensa a disciplina na escola não é

fruto do acaso e sim do constructo construído ao longo da história, e acrescenta dizendo

que o conceito de disciplina é relativo a um dado tempo e a um dado espaço.

Da mesma forma, sobre a indisciplina Rego (1994) diz que quando se trata de

conceituar ou até mesmo problematizar sobre indisciplina, as ideias estão longe de

serem consensuais. Isso se dá pela complexidade do assunto e falta de pesquisas que

possam refinar esta temática e, sobretudo à multiplicidade de interpretações que o tema

encerra. A autora acrescenta que o conceito de indisciplina não é estático, universal e

nem uniforme, como toda criação cultural se apresenta.

Para a estudiosa o conceito de indisciplina “[...] se relaciona com o conjunto de

valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e

numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes instituições e até

mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo” (REGO, 1994, p. 84).

Sabe-se, também, que numa perspectiva individual a palavra indisciplina pode se

dar com diferentes sentidos, os quais dependerão das vivências de cada pessoa e do

contexto em que forem aplicadas.

Como decorrência, os padrões de disciplina que pautam a educação das crianças

e jovens, assim como os critérios adotados para identificar um comportamento

indisciplinado, não somente se transformam ao longo do tempo como também se

diferenciam no interior da dinâmica social (REGO, 1994, p. 84).

Rego (1994) enaltece que considerar a formulação sobre o conceito de

indisciplina como processo dinâmico de formação e transformação na história na

humanidade, bem como as diversas conotações que o termo pode sugerir na sociedade

atual não significa “a impossibilidade de admitir um núcleo relativamente estável de

aspectos e relações que designam a noção de indisciplina, compartilhável por todas as

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pessoas que a utilizam” (REGO, 1994, p. 84). Pois, este mesmo núcleo comum se

espelha a inúmeros enfoques, interpretações, entendimentos e redefinições. Sendo

assim, Rego (1994, p. 85) enfatiza: “considerarmos relevante refletirmos sobre os

significados geralmente atribuídos na nossa sociedade, especialmente no meio

educacional, à palavra indisciplina”.

Parrat-Dayan (2015, p. 8) afirma que “a indisciplina é uma infração ao

regulamento interno, é uma falta de civilidade e um ataque às boas maneiras. Mas,

acima de tudo, a indisciplina é a manifestação de um conflito e ninguém está protegido

de situações desse tipo” e são dificuldades que aparecem em todos os níveis de

escolaridade.

Como disciplina a autora supracitada enfatiza que:

Consiste num dispositivo e num conjunto de regras de conduta destinadas a

garantir diferentes atividades num lugar de ensino. A disciplina não é um

conceito negativo; ela permite, autoriza, facilita, possibilita. A disciplina

permite entrar na cultura da responsabilidade e compreender que as nossas

ações têm consequências. Quem olha para a disciplina como algo negativo

não entende o que é. Ser disciplinado não é obedecer cegamente; é colocar a

si próprio regras de conduta em função de valores e objetivos que se quer

alcançar (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 8).

E mais, é necessário trabalhar com a heterogeneidade dos alunos em sala de aula

e dentro da escola. È importante que o professor assuma a postura de ajudar os alunos a

internalizarem de forma progressiva as regras para adquirir o sentido da

responsabilidade. (PARRAT-DAYAN, 2015)

3.2. CAUSAS DA INDISCIPLINA

Segundo Parrat-Dayan (2015, p. 55) a indisciplina se apresenta estatisticamente

com aumento na atualidade e não há apenas uma causa única ou uma causa principal

para isso. Sugere-se que a indisciplina está “associada a normas e regras sociais e

morais”.

A autora analisa as causas da indisciplina da seguinte maneira:

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A massificação fez com que alunos de diferentes culturas frequentassem a

escola. Por isso, a causa da indisciplina poderia ser atribuída ao fato de

normas, referências, maneiras de ser e costumes possuírem aspectos

diferentes de uma cultura para outra e de os alunos não conhecerem as

normas da cultura do professor. Além do mais, no interior de uma mesma

cultura, a sociedade também mudou e os pais tornaram-se menos autoritários

e mais permissivos. Isso poderia ser visto como outra causa da indisciplina.

Por outro lado, a má interpretação do que seja a permissividade, assim como

do que significa a presença ou ausência de limites, geram condutas difíceis de

controlar (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 55).

Pode-se considerar como causa para a indisciplina duas possibilidades: uma de

origem externa e a outra de origem interna à escola.

Considerando as causas de origem externa tem-se a influência dos meios de

comunicação, o ambiente familiar e a violência social. Situações como o divórcio, o

desemprego, a pobreza, as drogas, entre muitos outros fatores, como ainda a desistência

por parte de alguns pais de educar seus filhos, a violência doméstica, a permissividade

sem limites, agressividade dos pais com os professores, sugerem-se estar na raiz do

problema (PARRAT-DAYAN, 2015).

Ainda, fatores externos como: “a falta de referência numa sociedade

individualista, a perda do sentido da regra e a perda do sentido da obrigação são fatores

que podem explicar a indisciplina” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 56). Os meios de

comunicação contribuem com o aumento da indisciplina quando apresentam pessoas e

instituições que não respeitam as regras. Também, existe o meio audiovisual que

apresenta aos cérebros infantis uma competição da escola com a internet, a TV e o

celular. “Os meios audiovisuais, que constituem o mundo do fácil, do imediato e do

consumo, deixam a escola em segundo plano, já que ela exige esforço”.

As causas internas são visualizadas no ambiente escolar e nas condições de

ensino-aprendizagem, no perfil dos alunos, na relação professor/aluno, como também na

capacidade que os alunos apresentam de adaptação aos esquemas da escola. “A falta de

motivação no aluno, a ausência de regras que permitam uma distribuição equitativa da

comunicação, a falta de consideração com os ritmos biológicos das crianças e a falta de

autoridade do professor são, todas elas, causas de indisciplina” (PARRAT-DAYAN,

2015, p. 56).

Apresentando outra perspectiva, Jesus (2008, p. 22), manifesta que os alunos no

passado se deixavam influenciar pelos professores por aceitarem de maneira pacifica o

estatuto do professor, considerando-os competentes na área de conhecimento da qual se

propunham trabalhar “e também por lhe reconhecerem poder para recompensar ou

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punir, através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina, não sendo

postas em causa as decisões tomadas pelo professor e este nível.”

Para Aquino (1994, p. 43), atualmente, no cenário escolar brasileiro:

Com a crescente democratização política do país e, em tese, a

desmilitarização das relações sociais, uma nova geração se criou. Temos

diante de nós um novo aluno, um novo sujeito histórico, mas em certa

medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem daquele aluno

submisso e temeroso. De mais a mais, ambos, professor a aluno, portavam

papéis e perfis muito bem delineados: o primeiro, um general de papel; o

segundo, um soldadinho de chumbo.

Antunes (2013, p. 19-20) pontua, que “a escola é, indiscutivelmente, um foco de

indisciplina, muitas vezes por sua organização interna, por seus sistemas de sanções,

[...] pelo estilo da autoridade exercida, mas sobretudo pela ausência de clareza como

encara a questão disciplinar”.

Não poucas escolas do país, sobretudo leigas, parecem viver pela exaltação

do “sucesso” de seus alunos, pela “glória” perversa de aulas que aplaudem

apenas a informação, pelo “êxito” enganoso com que se exibe, tal como em

um quartel, como centro disciplinador e onde descaradamente se anuncia e

promete o autoritarismo que coloca às vezes o aluno nas faculdades, mas à

custa de sua irrecuperável robotização. Prepara seus alunos, enfim, para o

sucesso, jamais para a felicidade; para a universidade, jamais para a vida

(ANTUNES, 2013, p.20).

De modo geral, nos últimos anos, a indisciplina escolar, não tem só preocupado

os educadores, também tem despertado interesse de estudos na comunidade que está

envolvida com o tema educação. Ao se tratar de indisciplina se diz que não é uma tarefa

fácil, pois se trata de um problema de ordem social, familiar e pessoal, assim,

evidenciando-se um fenômeno complexo do ponto de vista institucional (ALVES,

2002).

Rego (1994) apresenta sua discussão sobre os temas indisciplina e disciplina

pautados nos estudos do psicólogo russo Lev Semenovich Vygotsky. Salienta que

Vygotsky não escreveu diretamente sobre estes temas, mas que as contribuições da

teoria formulada com base na construção social do sujeito possibilita reflexões com o

plano educacional. Também possibilita ampliar o olhar referente aos temas indisciplina

e disciplina pela via das características psicológicas e socioculturais do aluno, bem

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como instiga inquietações de como se dão as relações entre aprendizado,

desenvolvimento, ensino e educação.

O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático,

uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de

valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes

culturas e numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes

instituições e até mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo.

Também no plano individual a palavra indisciplina pode ter diferentes

sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em que

forem aplicadas (REGO, 1994, p. 84).

Complementando o seu pensamento, Rego (1994) destaca que os padrões de

disciplina e os critérios usados para identificar um comportamento indisciplinado, em

que ambos pautam a educação das crianças e jovens se transformam e se diferenciam ao

longo do tempo no interior da dinâmica social.

Barbosa (2012) salienta que as definições sobre disciplina se apresentam com

uma conotação negativa e como consequência alguns educadores empregam esta leitura

do termo às questões do indisciplinamento com a compreensão de:

(1) regime de ordem imposta ou mesmo consentida; (2) ordem que convém

ao funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.); (3)

relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor; (4) observância

de preceitos ou normas; (5) submissão a um regulamento (FERREIRA, 1986,

p. 595).

E, disciplinar “O ato de sujeitar ou submeter à disciplina: disciplinar uma tropa;

(2) fazer obedecer ou ceder, acomodar, sujeitar, corrigir; (3) procurou disciplinar os

instintos selvagens da criança” (FERREIRA, 1986, p. 595).

Para o termo indisciplina as considerações são: “(1) procedimento, ato ou dito

contrário à disciplina; (2) desobediência, desordem, rebelião.” E, indisciplinado quem

“insurge contra a disciplina” (FERREIRA, 1986, p. 595).

Segundo Rego (1994, p. 85) estas definições sobre disciplina e indisciplina

podem ser definidas de diversas formas:

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É possível, por exemplo, entender que disciplinável é aquele que se deixa

submeter, que se sujeita, de modo passivo, ao conjunto de prescrições

normativas geralmente estabelecidas por outrem e relacionadas a

necessidades externas a este. Disciplinado é, portanto, aquele que obedece,

que cede, sem questionar, às regras e preceitos vigentes em determinada

organização. Disciplinador é, nesta perspectiva, aquele que molda, modela,

leva o indivíduo ou o conjunto de indivíduos à submissão, à obediência e à

acomodação. Já o indisciplinado é o que se rebela, que não acata e não se

submete, nem tampouco se acomoda, e, agindo assim, provoca rupturas e

questionamentos.

Rego (1994) salienta que no meio educacional esta interpretativa dos termos

citados acima é muito difundida, quer dizer: “Costuma-se compreender a indisciplina,

manifesta por um indivíduo ou um grupo, como um comportamento inadequado, um

sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na “falta de educação ou de

respeito pelas autoridades”, na bagunça ou agitação motora” (REGO, 1994, p. 85).

Percebe-se que este entendimento se caracteriza como sendo uma incapacidade

do aluno ou de um grupo de alunos que não conseguem se ajustar às normas e possíveis

padrões de comportamentos esperados.

Entende-se que por se manifestar de forma individual ou grupal, a indisciplina,

se apresenta com características conceituais complexas já que também envolve uma

série de fatores de ordem multidisciplinar e apresenta um ângulo de entendimento

distorcido, ficando longe de um consenso comum, relevando mais alguns aspectos que

outros (REGO, 1994).

As regras se apresentam necessárias, nesta visão, para o ordenamento desejado,

para o ajustamento e/ou controle e coerção do aluno e/ou da classe como um todo. “A

disciplina parece ser vista como obediência cega a um conjunto de prescrições e,

principalmente, como um pré-requisito para o bom aproveitamento do que é oferecido

na escola” (REGO, 1994, p. 85).

Por outro lado, há uma tendência de entender a disciplina como associada a

tirania no campo da educação, assim, “apresentar condutas indisciplinadas pode ser

entendida como uma virtude, já que pressupõe a “coragem de ousar”, de desafiar os

padrões vigentes, de se opor à tirania muitas vezes presente no cotidiano escolar”

(REGO, 1994, p. 86).

Entende-se que a elaboração de parâmetros e diretrizes é visto como prática

autoritária, restritiva e deformadora que objetiva a ameaçar o espírito democrático

dificultando e até impedindo a liberdade e espontaneidade das crianças e jovens.

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A disciplina assume uma conotação de opressão e enquadramento. Portanto,

todas as regras e normas existentes na escola devem ser subvertidas, abolidas

ou ignoradas. Sendo assim, apresentar condutas indisciplinadas pode ser

entendido como uma virtude, já que pressupõe a “coragem de ousar”, de

desafiar os padrões vigentes, de se opor à tirania muitas vezes presente no

cotidiano escolar (REGO, 1994, p. 86).

Existem estudos, ainda, que associam a indisciplina à prática educativa

empregada pela escola, pois entendem estas como decisivas no processo de interação

escolar. Tais práticas não são resultante de manifestação individual, mas sim expressam

os valores contidos em uma sociedade, em diferentes estereótipos gerando conflitos nos

aspectos da pratica escolar. Dessa foram aspectos como indisciplina e práticas escolares

são temas que se relacionam intimamente e se refletem no cotidiano escolar. Ferreira e

Santos (2012, p. 5) “apontam que a estruturação da indisciplina está centrada nas

respostas/contestações dos discentes às normatizações impostas pelas escolas”.

Amado (1998) enfatiza que é possível considerar que os comportamentos na aula

e na escola são uma manifestação e indicativo de que algo vai mal no ponto de vista

pedagógico, psicológico e sociológico, de certa forma a indisciplina é a manifestação de

poder do aluno pra que o professor se manifeste de forma favorável aos seus anseios

pessoais ou coletivos, isso não só contribui como fatores de característica pessoal mas

também conduz para uma ideia dinâmica e interacionista que envolve e desenvolve a

turma, de certa forma grande parte dos estudos relacionados a esta problemática tem

como ponto de partida a sala de aula, de maneira reconhecendo sua responsabilidade,

mas sem um nível de capacidade científica e pedagógica.

Em turmas de 25 ou mais alunos, num sistema educativo que tem vindo a

apresentar tantas dificuldades em conduzir os jovens ao prazer em aprender, à

realização escolar e profissional, os comportamentos de indisciplina podem,

até, ter um lado útil e positivo, sobretudo se encarados como um apelo à

mudança de algo que não deveria existir (VEIGA, 2007, p. 11).

Segundo Brito e Santos (2009, p. 4) "A contrariedade às normas é algo que se

intensifica no cotidiano escolar, pela reincidência de transgressões. Muitas vezes o

mesmo aluno é punido várias vezes, pelo mesmo “ato” e nenhum profissional da

educação se questiona o motivo de isso ocorrer".

Segundo Jesus (2008), na atualidade, devido a múltiplos fatores, alguns alunos,

não se deixam influenciar pelo professor e, em alguns casos, questionam a competência

do professor, acrescido ao descrédito da capacidade de gestão da aprendizagem e da

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disciplina, como também, a desvalorização da escola como fonte de acesso ao saber ou

conhecimento.

Parrat-Dayan (2015, p. 57) afirma que os problemas de indisciplina quando tem

a ver com métodos psicopedagógicos, estes problemas também estão relacionados com

o lugar que a escola ocupa na sociedade. “Dentro dessa multiplicidade de causas, alguns

estudos diferenciam os motivos estruturais, isto é, as inevitáveis fricções entre adultos e

adolescentes, quando os primeiros tentam educar os segundos, e os motivos

conjunturais, próprios do tempo atual”.

Apresentam-se muitos adultos afirmando que o comportamento apresentado

pelos estudantes de hoje é muito pior que o dos estudantes de dez anos atrás. Parrat-

Dayan (2015, p. 57-58) salienta “que os jovens observam o mundo dos adultos e

percebem que o que lhes espera quando terminarem os estudos é uma grande

probabilidade de não encontrar trabalho ou de encontrar empregos mal pagos.” Desta

maneira, perdem o gosto pelo esforço e desconhecem a alegria proporcionada em ver

uma obra concluída.

Ratificando as palavras já descritas, Antunes (2013, p. 19-20) pontua, que “a

escola é, indiscutivelmente, um foco de indisciplina, muitas vezes por sua organização

interna, por seus sistemas de sanções, [...] pelo estilo da autoridade exercida, mas

sobretudo pela ausência de clareza como encara a questão disciplinar”.

Não poucas escolas do país, sobretudo leigas, parecem viver pela exaltação

do “sucesso” de seus alunos, pela “glória” perversa de aulas que aplaudem

apenas a informação, pelo “êxito” enganoso com que se exibe, tal como em

um quartel, como centro disciplinador e onde descaradamente se anuncia e

promete o autoritarismo que coloca às vezes o aluno nas faculdades, mas à

custa de sua irrecuperável robotização. Prepara seus alunos, enfim, para o

sucesso, jamais para a felicidade; para a universidade, jamais para a vida.

(ANTUNES, 2013, p.20)

Por outro lado, Rego (1994, p. 86) alerta para,

que estes temas podem (e devem) ser interpretados de uma outra maneira, já

que, vista sob aqueles ângulos, a questão da indisciplina (ou da disciplina)

pode servir, de um lado, para justificar práticas despóticas e, de outro, para

estimular uma espécie de tirania às avessas, na qual o projeto pedagógico fica

submetido à vontade da criança ou do adolescente.

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Destarte, o modo como se interpreta a indisciplina ou a disciplina implica

diretamente à prática pedagógica pela via da interação estabelecida com os alunos e os

critérios de como avalia-los, mas também pelos objetivos almejados (REGO, 1994).

A indisciplina deve ser concebida como um fenômeno de aprendizagem, diz

Garcia (2001) superando uma condição de anomalia ou problema de comportamento

que deve ser minimizado por mecanismos de controle, entendendo que indisciplina não

é uma questão a ser entendida apenas como característica relativa a comportamento.

Segundo Ferreira e Rosso (2012), a generalidade da indisciplina na escola tem se

expandido por diversos setores que compõe a escola. Devido a diferentes naturezas o

fenômeno da generalidade indisciplina se encontra longe de uma solução, se agravando

pela obrigatoriedade escolar, somada as conjunturas sociais e culturais diferenciadas,

colocando a mostra a falha nas instituições; já a escola por ser um receptor do meio, não

está imune de incógnitas de natureza relacionadas a conflitos de valores e classes

sociais.

Segundo Veiga (2007, p. 10) quando perguntado qual o maior fator da

indisciplina escolar, a resposta é: “para uns é a falta de valores (familiares, escolares e

sociais), para outros a falta de perspectivas quanto ao futuro, para outros um sintoma de

rupturas.” Acrescenta-se a estas possíveis causas, a influência dos órgãos de

comunicação social e o clima de concorrência. Para outros, ainda, “a culpa seria dos

professores, ou seja, quem deveria responder pelos actos de indisciplina dos alunos seria

o professor e não os alunos”.

Caeiro e Delgado (2005) concordam com Veiga e ratificam dizendo que o

sintoma da indisciplina apresenta sua raiz em múltiplos fatores como: sociais,

individuais, familiares e escolares, é claro. Na escola a ênfase se dá na qualidade do

ensino e da relação pedagógica.

Ratificando, Estrela (2002) sinaliza a dificuldade que alguns alunos vivem por

pertencerem a “estratos sociais” desfavorecidos quando se trata da compreensão de

códigos linguísticos. Esta situação pode conduzir o aluno a um processo

desmotivacional e em casos mais graves a provocar rejeição pela escola.

“Neste caso, quando o professor não leva em conta a origem social do aluno

(com os seus hábitos e discursos próprios), pode considerar erradamente alguns

comportamentos como indisciplinados quando apenas prefiguram realidades

subculturais próprias” (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 17-18).

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Estrela (2002) considera as práticas escolares como uma possível causa de

indisciplina dos alunos, entre outras. Diz que a didática utilizada e a relação entre

professor aluno na sala de aula condicionam qual comportamento e posicionamento o

aluno adota em sala de aula.

Segundo Carvalho (apud CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 18) pode-se notar a

partir das principais diferenças entre a didática tradicional e a didática ativa as

exemplificações dos resultados que se espera num contexto de prática escolar:

Papel do aluno

Didáctica tradicional Didáctica activa

Aluno passivo; apenas

receptor do conhecimento

transmitido.

Aluno activo, construtor da

sua própria aprendizagem.

Papel do professor Transmissor do ensino. Facilitador e organizador

de actividades.

Relação com o saber Previamente definido,

programado, fragmentado,

livresco, uniforma,

disciplinar.

Construído, inacabado,

integrado, diversificado,

interdisciplinar, ligado à

experiência quotidiana.

Práticas educativas Ensino colectivo para um

modelo de aluno médio,

tarefas idênticas,

sincronizadas, com a

mesma solução,

predomínio da expressão

escrita.

Ensino individualizado,

trabalho em cooperação,

respeito pelos diferentes

ritmos dos alunos, soluções

diversificadas.

Relações Hierarquizadas. Cooperação, entreajuda.

Disciplina Imposta, coerciva,

consentida.

Negociada, partilhada,

autoconsentida.

Parrat-Dayan (2015) reitera dizendo que a indisciplina não é um fenômeno

atemporal e as causas podem variar. Segundo Draxler especialista da Unesco na área de

educação (apud PARRAT-DAYAN, 2015, p. 58) “vê a indisciplina como contrapartida

do enorme avanço dos direitos dos indivíduos, da democratização generalizada da vida

pública nos últimos trinta anos.” Pois, anteriormente a isto, a estudiosa relata que os

alunos violentos estavam na rua ou eram expulsos, e na sala de aula o que imperava era

a calma “olímpica”, considerando que a repressão era tão severa que aluno algum se

arriscava transgredir as normas.

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47

3.3. CONSEQUÊNCIAS DA INDISCIPLINA

Segundo Veiga (2007) a indisciplina, na atualidade, é vista como um dos

principais problemas nas escolas. “O stress relacionado com a indisciplina é o factor

mais influente no fracasso dos professores, sobretudo nos professores mais jovens e

durante os primeiros dez anos de actividade profissional” (VEIGA, 2007, p. 9).

No mundo todo tem-se diariamente cinquenta milhões de professores que

trabalham com crianças e jovens apesar das situações de violência e de pobreza

existentes, muitas vezes, à volta destes profissionais.

Veiga (2007) relata que num estudo realizado nos E.U.A. por Mendler e Curwin

em 1983, relata que em 15% das escolas das grandes cidades ocorrem graves

comportamentos de indisciplina e o mesmo acontece em 8% de todas as escolas. Outros

estudos apontam que a principal causa do stress dos professores (urbanos e rurais), já

em 1978, era o comportamento indisciplinado dos alunos. “Sabe-se que muitos

professores sofrem imenso com o ambiente de extrema indisciplina que os não deixa

trabalhar nem sentirem-se felizes” (VEIGA, 2007, p. 10).

É evidente que a gestão da indisciplina se apresenta como um problema

complexo que envolve alunos, professores, pais numa exigência na relação que envolva

todos os agentes do processo educativo (CAEIRO; DELGADO, 2005).

É claro que os problemas de indisciplina não são coisa recente, mas o seu

grau de agressividade tem-se tornado mais evidente, sobretudo por alguma

incapacidade em se lidar com estes comportamentos, numa sociedade que se

tem revelado permissiva e onde a autoridade do professor é contestada pelos

alunos e encarregados de educação (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 42).

Destarte somam-se a este cenário complexo não só o agravamento das condições

de habilidades nas escolas, mas a própria rotina da escola como: elaboração de horários,

organização das turmas e a escolha dos docentes para estas turmas.

Certamente, diz Caeiro e Delgado (2005) que não podem ser desconsiderados os

fatores externos à escola, como é o caso em que a educação familiar exerce forte

influência, bem como a comunidade onde os alunos vivem influencia nas condutas

comportamentais dos alunos.

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De facto, quando um aluno se porta mal é natural relacionar esse

comportamento com o lar de onde vem, onde a convivência com os pais (que

em muitos casos pouco ou nada valorizam a escola e complementam a

educação dos filhos com violência verbal ou física ou simplesmente

negligenciam as suas necessidades de comunicação), em nada contribuem

para atenuar a desilusão do seu panorama (CAEIRO; DELGADO, 2005, p.

19).

Como consequência rotula-se esse aluno como indisciplinado e mal educado e

ainda “generaliza-se rapidamente entre os docentes que leccionam na mesma turma

igual ideia, contribuindo para alicerçar ainda mais na mente do aluno essa mesma

característica” (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 19).

Segundo Joyce-Moniz (apud CAEIRO; DELGADO, 2005) rotular alguém é

desnecessário e carrega junto com esta ação muitos riscos para o desenvolvimento da

personalidade do aluno e como consequência a possibilidade deste aluno se resignar ou

se revoltar ainda mais.

Para Parrat-Dayan (2015, p. 7-8) é sabido que na escola há barulho como:

cadernos e lápis que caem, ruído de réguas, alunos que se mexem o tempo todo nas suas

carteiras, vozes incessantes, alunos que se xingam e brigam. Alunos que trocam o nome

com outro aluno para fazer piada com o professor, discussão em voz alta e gritos.

Sugere-se um aumento de incivilidade dentro de sala de aula e fora dela. “Para o

docente, essa situação provoca desestabilidade e, às vezes, humilhação. Ela supõe uma

espécie de indiferença em relação ao professor e isso é fonte de angústia para ele”.

O que se exige na atualidade como disciplina escolar passa muito longe do que

tradicionalmente se pedia nos colégios, ou seja, o professor não pode exigir silêncio

total por mais de cinco minutos em sala de aula. Pois o nível de exigência não está

definido e requer a necessidade de construí-lo conjuntamente (PARRAT-DAYAN,

2015).

Em muitas situações, as regras precisam de redefinições para renegociar os

limites do exigível, tanto em matéria de trabalho quanto de disciplina, o que é

uma novidade no ambiente escolar. De maneira mais precisa, a natureza dos

fenômenos de indisciplina mudaram. No barulho tradicional, a transgressão

faz parte da interiorização da regra; no atual, a desordem é difusa e pouco

ritualizada. A regra, no fundo, nem é conhecida. [...] As vozes dos alunos

circulam em diferentes direções e a voz do professor integra este circuito de

linhas cruzadas. Mas, ou o professor encontra alguma forma de deter o ruído,

ou a aula vira uma desordem total. (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 8)

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Segundo Prairat (apud PARRAT-DAYAN, 2015) os alunos produzem um

“barulho anômico” que significa a incapacidade dos alunos se escutarem por causa das

conversas cruzadas.

Dentro da sala de aula os professores se sentem compelidos a fazer o papel de

mediador entre os alunos para que eles aprendam a conviver entre seus pares. “Mas,

além disso, ele depara-se até com a necessidade de ensinar as normas de conduta

básicas, que deveriam vir da família.” Solicita-se que o professor ministre sua aula

“num ambiente onde a sanção desapareceu, onde os alunos têm que ser aprovados e

onde já não mais se sabe o que é uma regra” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 12).

Os professores se queixam de cansaço por terem que dar conta de muitas coisas

sozinhos. “A cada dia, no começo da aula, deve lutar com o mínimo indispensável, as

crianças não trazem lápis nem caderno e esperam que o professor faça tudo. Ele tem de

emprestar o material, apontar o lápis etc., para evitar os problemas de indisciplina”

(PARRAT-DAYAN, 2015, p. 12).

Toda essa situação acaba gerando mal-estar e criando tensão e por consequência

a indisciplina. Os alunos se apresentam bagunceiros e desrespeitosos com o adulto. O

professor acaba ministrando sua aula como pode e para um público de alunos que

estejam atentos cada vez menor (PARRAT-DAYAN, 2015).

Na sociedade atual a indisciplina assumiu uma forma diversa que em outras

sociedades do passado. Noutros tempos a indisciplina era registrada por um

comportamento de se posicionar contra a norma como um comportamento de

desobediência insolente. Atualmente, ressalta Parrat-Dayan (2015) a indisciplina se

caracteriza por um desconhecimento das regras e por isso gerando uma desorganização

das relações.

Da parte do professor, parece haver medo de pôr limites, de estabelecer

regras claras e simples que possam ser cumpridas, assim, ser considerado

autoritário. Dessa maneira, se antes os alunos podiam ser reféns dos

professores, hoje acontece o inverso: docentes viraram reféns dos alunos,

perdendo assim a autonomia e o respeito que merecem (PARRAT-DAYAN,

2015, p. 15).

Por outro lado, é inerente ao desenvolvimento humano desafiar a autoridade,

mas também é importante conhecer os limites da própria liberdade de ação. “Se

quisermos alunos capazes de pensar e atuar com critério próprio, com capacidade para

tomar decisões livres e adequadas, é necessário reforçar a sua capacidade de

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autocontrole e autorregulação.” Faz-se urgência potencializar a responsabilidade, a

autoestima e o esforço na prática educativa (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 15).

Ainda, o professor se defronta com o desafio de confrontar-se com o

autoritarismo exercido pelos alunos gerando uma situação de difícil convívio. Estas

situações de confronto estão se tornando frequentes na sala de aula e gerando extrema

preocupação entre os professores, uma vez que o comportamento desafiador do aluno e

a indisciplina de modo geral os afetam e há a possibilidade de se chegar a situações

violentas (PARRAT-DAYAN, 2015).

Professores jovens na carreira e também os mais experientes tem clamado

atenção dos alunos para com as suas palavras. Mas o que percebem é o barulho em sala

de aula: ruídos imprevistos como a queda da régua ou do lápis, a conversa entre os

alunos, etc. Alunos reais, muito diferente do ideal imaginado pelo professor, diz Parrat-

Dayan (2015, p. 16). A turbulência, a indisciplina dos alunos, a agitação e a falta de

autoridade do professor tem delineado os dias em sala de aula. “A indisciplina é um

problema sério, ela não tem forma e segue diferentes caminhos: falar, jogar papeizinhos,

não estudar, não escutar etc”.

Segundo Oliveira (2011, p. 73) da mesma forma “como os professores, muitas

vezes, não sabem como lidar com a indisciplina dos alunos, também não têm clareza, na

relação com eles, sobre quando termina sua autoridade e começa o autoritarismo.” Este

assunto está ligado à indisciplina e necessita de atenção especial por parte dos

estudiosos do tema porque os professores têm muitas dúvidas sobre a questão.

Os professores questionam-se qual é a diferença entre autoridade e autoritarismo

e de quem é o compromisso de colocar as normas de disciplina na escola e também

como delimitar os limites aos alunos. Toda essa situação gera desconforto tanto para

professores quanto para alunos, também porque ainda não se tem um conjunto teórico

suficientemente explicito para orientar como trabalhar com esta situação e nem

delineamento de condutas práticas com soluções as quais foram aplicadas em sala de

aula. Destarte o que se percebe na escola é uma disciplina que se pretende “inculcar”

nos alunos o respeito por determinada ordem mesmo não tendo claro qual é o objetivo

nem menos o caminho para alcança-lo (OLIVEIRA, 2011).

Segundo D’Antola (apud OLIVEIRA, 2011, p. 73):

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A autoridade deve ser usada para dirigir a classe, pois, quanto mais confiança

os alunos tiverem no professor, enquanto autoridade que dirige um curso

produtivo; que pode manter a disciplina; que tem bom domínio do

conhecimento, mais confiança os alunos terão nas intervenções do professor,

o qual deve utilizar a autoridade dentro dos limites da democracia.

No contexto escolar diz-se que o professor autoritário é o que tenta impor a

ordem na sala de aula mesmo sem a participação do aluno na organização da norma e

que por consequência enfrenta situações de confronto com a classe.

Paradoxalmente à “autoridade autoritária”, a “autoridade liberal”, na

educação, é entendida como uma autoridade democrática ou libertadora, que

requer um trabalho árduo e sistemático de um professor que conduz seus

alunos a tomarem consciência de si, de seus deveres, direitos e

responsabilidades, inicialmente no espaço escolar e, progressivamente, no

meio físico e social em que vivem (OLIVEIRA, 2011, p. 76-77).

Desta forma, para tentar manter a disciplina em sala de aula o professor poderá

optar entre estes dois modelos de atuação: autoritarismo com intuito de coagir os alunos

a obedecerem via imposições e ameaças, ou proporcionar um espaço democrático na

sala de aula para que se priorize a construção das regras no coletivo sabendo que assim

possibilitaria uma forma mais harmoniosa de convivência grupal (OLIVEIRA, 2011).

Entretanto, existe a possibilidade de desencadear conflitos na relação entre o

professor e o aluno utilizando-se qualquer uma das duas formas de disciplinar. No

entanto, o modelo de disciplina que é imposta pelo professor é de extremo desgaste

tanto para o professor quanto para o aluno por se configurar como disputa de poder

(OLIVEIRA, 2011).

3.4. ENCAMINHAMENTOS EM RELAÇÃO AO PROBLEMA

Segundo Moreira (2012) quando se intervém em situações de indisciplina na

escola o objetivo não é apenas de solucionar ou amenizar questões de convivências

entre os alunos e sim atuar na reorganização do desenvolvimento da aprendizagem.

“A intervenção, em contexto de indisciplina, pode ser entendida como estratégia

de atuação que integra diversas práticas pedagógicas, que podem partir tanto da

organização da escola quanto do professor em sala de aula” (MOREIRA, 2012, p. 175).

O processo de intervenção deve ser guiado por ações que apresentem uma visão

mais ampla do problema e que considerem as conexões locais e globais do que acontece

dentro da escola (GARCIA apud MOREIRA, 2012).

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O que fazer?

O entendimento da questão da disciplina na sua totalidade não vai desfocar

sua manifestação muito concreta em sala de aula. É ai que o educador

enfrenta no dia a dia seu desafio, e caberá a ele, como articulador do

processo, estabelecer relação dialética com a totalidade por meio dos

diferentes canais e formas de organização da classe e da escola O problema

da disciplina, então, foi proposto a partir da sala de aula, submeteu-se à

análise mais ampla e voltou a sala, onde será enfrentado com nova

compreensão (VASCONCELLOS, 2009, p. 141).

Para Vasconcellos (2009), é necessário e importante lembrar que intervir nas

questões sobre indisciplina é se mover num campo de alta complexidade. Torna-se

difícil para o educador fazer uma previsão minuciosa nas formas de enfrentamento

justamente por causa da complexidade existente em conceituar e caracterizar a

indisciplina. É sabido que “não há uma relação causal, linear e monolítica; ao contrário,

são inúmeros os fatores que interferem e inúmeras as possibilidades de

reação/elaboração dos sujeitos (alunos e professores, em especial)”

(VASCONCELLOS, 2009, p. 141).

Para Veiga (2007, p. 11) a prevenção da indisciplina requer a família, em

primeiro lugar, e depois a escola, considerando este processo um apelo a cada professor

dentro da escola. “A escola deve assumir a sua responsabilidade na formação da

consciência moral dos jovens, quer através do tipo de conteúdos que ensina, quer

através da maneira como tais conteúdos são transmitidos”.

Noutra perspectiva, pensando nas possibilidades de se intervir sobre a

indisciplina escolar, Moreira (2012) destaca as intervenções centradas no meio escolar,

que se refere ao fato da equipe de professores e administradores planejarem mudanças e

regras claras e as intervenções centradas no indivíduo e sua conduta.

Quando existe uma prática pedagógica de intervenção centrada no meio escolar

considera-se o que os professores entendem por contexto de indisciplina. “É necessário

que a equipe pedagógica da escola coloque em pauta as discussões voltadas à prática

pedagógica de intervenção para que a comunidade escolar reflita sobre essas questões

com o objetivo de amenizar ou até mesmo solucionar situações de indisciplina na

escola” (MOREIRA, 2012, p. 176-177).

Quando se trata da intervenção centrada no indivíduo e na sua conduta, prima-se

em encorajar o aluno e não reprimi-lo. “Trata-se aqui de trabalhar com o aluno

competências cognitivas e condutas educativas” (MOREIRA, 2012, p. 177). As regras

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no grupo necessitam estar claras em que possam auxiliar o aluno na identificação dos

problemas e na busca de soluções alternativas fazendo com que os alunos tomem

consciência de consequências pessoais e sociais importantes para a boa convivência no

meio no qual está inserido (MOREIRA, 2012). Complementando, Veiga (2007) sinaliza

que os professores precisam levar seus alunos a responder pelos seus atos de maneira

humana, pois é assim que os alunos poderão aprender a tornar-se seres responsáveis.

Tognetta e Vinha (apud MOREIRA, 2012) apresentam o trabalho em grupo

como proposta de intervir na indisciplina tendo como exemplo a definição junto com os

alunos de regras que sejam claras e aprovadas por todos. Desta forma, a regras serão

entendidas como necessárias, pelos alunos, e não como imposição dos adultos para com

eles. Configura-se a regra como responsabilidade e não como obrigatoriedade.

Moreira (2012) diz que a prática pedagógica que se constrói e é exercida dentro

da sala de aula pode objetivar a conquista de uma disciplina que contribua para o pleno

desenvolvimento da aprendizagem.

Segundo Estrela (2002, p. 98):

Quando falha a prevenção e ocorrem comportamentos de indisciplina, há

lugar para a intervenção correctiva do professor. Agir ou não agir e escolher

as formas adequadas de intervenção dependerá essencialmente da leitura que

o professor faz da situação, leitura em que se integram as variáveis referentes

ao aluno e à situação em que o comportamento ocorre, a experiência de

situações análogas e as crenças e teorias implícitas do professor sobre a

educação, o ensino e a (in)disciplina.

É necessário que o professor defina juntamente com a equipe pedagógica da

escola o que é possível fazer para contribuir no processo ensino-aprendizagem do aluno,

em se tratando da questão da disciplina (MOREIRA, 2012).

Contrário na sua argumentação, Garcia (apud MOREIRA, 2012) diz que é

recorrente na literatura a ideia que a indisciplina é um problema atribuído ao aluno e

que a solução seria um adulto que exerce maior responsabilidade. Como possibilidade

de intervenção seria a transformação do aluno e posteriormente se pensar na

recuperação das condições de aprendizagem.

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Os eventos de indisciplina que ocorrem na escola estão relacionados a um

conjunto de fatores que necessitam de compreensão. Muitas vezes, a maneira

como os professores ensinam aparece desarticulada da realidade dos alunos, e

isso pode contribuir para o surgimento de indisciplina. A prática pedagógica

de intervenção do professor pode consistir em estratégias para a solução ou

amenização desses eventos que surgem na escola, buscando soluções não

apenas imediatas, mas um agir sobre suas causas essenciais (MOREIRA,

2012, p. 178).

Segundo Caeiro e Delgado (2005, p. 41) “a escola e o professor actual não se

podem limitar a transmitir conteúdos, mas também a criar e desenvolver a relação

humana. Sem ela, não existe comunicação entre professor e o aluno. Sem comunicação,

os conhecimentos e os conteúdos não passam”.

Neste campo, a construção de um sistema partilhado de avaliação que previna

a indisciplina tem de considerar o interesse e o envolvimento do aluno nas

tarefas escolares, numa prática que envolve a utilização de estratégias e

métodos adequados. A gestão eficaz na sala de aula deve ser vista como um

procedimento útil nesta prevenção, ao mesmo tempo que tratar o aluno como

pessoa contribui para desenvolver a sua autonomia e autocontrolo (CAEIRO;

DELGADO, 2005, p. 41-42).

Outra questão que envolve o professor e o aluno em sala de aula é o problema da

autoridade na aula, e para trabalhar esta questão, Parrat-Dayan (2015) orienta o

professor a seguir um registro preventivo ou repressivo, quer dizer, no registro

preventivo se faz uso de diferentes condutas como: repetir as regras da aula para que os

alunos tenham presentes e atualizadas as exigências solicitadas, motivar os alunos para

o cumprimento dessas regras, justificá-las, organizar a aula com intuito de distribuir

tarefas, etc. No contrário, quando o registro é repressivo, o tom de voz poderá ser

elevado, vigiar os alunos de maneira constante, ameaça-los, castiga-los, sobrecarrega-

los de trabalho entre outras coisas.

Segundo Parrat-Dayan (2015, p. 57), “o aprendizado da disciplina e da

consequente civilidade pode tomar formas diferentes”, como segue:

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Pode ser o objeto de um ensino específico dentro da Educação Moral e

Cívica, ou pode ser realizado por meio do convívio. A missão da escola é a

de ensinar alguma coisa aos alunos e fazer todo o possível para que tenham

sucesso. A problemática da educação é fundamental. Todo professor enfrenta

o seguinte dilema: sem pautas de conduta claras e precisas, uma sociedade ou

uma instituição não podem funcionar. Como fazer para estabelecer essas

pautas se a sociedade não as possui, as famílias não as ensinam e os docentes,

muitas vezes, não sabem atuar? Por isso, uma das perguntas mais frequentes

que o professor se faz na aula é: e agora, o que devo fazer? Com relação a

ideia de civilidade, o que surpreende é que a escola deve promover a

civilidade e, ao mesmo tempo, se coloca na posição de pedi-la (PARRAT-

DAYAN, 2015, p. 57).

Em Genebra, por exemplo, foi criado, recentemente, um contrato de boas

maneiras para os alunos do ensino-médio. Esta ação foi realizada, pois os problemas de

indisciplina nesta cidade são considerados de suma importância.

Este contrato de boas maneiras se refere ao respeito com as regras de vida

comum na escola, tais como: não faltar, chegar no horário, respeitar o próximo, ser

amável, respeitar o regulamento, desligar o celular durante a aula, estar sempre com o

material escolar e organizado, etc. A escola por sua vez, “compromete-se a assumir a

tarefa do ensino. O conselho de disciplina pronuncia as sanções que podem ser severas

quando um aluno é excluído do estabelecimento” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 57).

Segundo Caeiro e Delgado (2005, p. 42) não se pode esquecer que a escola tem

papel fundamental na socialização dos alunos, na formação de futuros cidadãos de um

País e na construção da personalidade. “Não se pode contestar que a Escola em si pode

ser responsável por determinadas situações de indisciplina. Logo, cabe à instituição

escolar encontrar estratégias adequadas e prevenir o aparecimento da mesma”.

“Embora tudo isso aponte para uma complexidade de actuações de acordo com

os casos registrados, existem igualmente muitas portas por onde se possam iniciar

actividades e projectos que tenham como resultado, pelo menos, a prevenção dos

comportamentos mais graves” (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 42).

Pode-se citar como possibilidade de ação na escola, a aplicação da didática

ativa2, como descreve Carvalho (apud CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 19). “As

didácticas activas implicam mais os alunos, possibilitando ao professor uma maior

margem de desenvolvimento da autonomia do aluno, da sua responsabilização e

criatividade”.

2 Ver quadro explicativo referente a didáctica tradicional e a didáctica activa segundo Carvalho (apud

CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 18) no item 3.2 deste capítulo.

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Como consequência da aplicação desta didática, nota-se a clareza dos objetivos

que se quer atingir, escolha adequada de quais meios utilizar e das técnicas, adequação à

psicologia dos alunos e cuidado na estruturação do conteúdo.

A integração destas práticas activas na sala de aula permitirá outros

resultados na atitude e motivação dos alunos, dado o maior envolvimento em

tarefas com sentido e objectividade para si próprios. Em tais casos, o

cumprimento das regras a observar é compreendido e legitimado, ou porque

foram definidas com a sua participação ou porque sabem, em cada momento,

o que lhes é lícito fazer (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 19).

Segundo Tavares (apud CAEIRO; DELGADO, 2005) convidar os alunos a

participarem e a tomar responsabilidade na vida da escola e na sala de aula contribui

para que a escola seja mais agradável aumentando a probabilidade dos alunos

apresentarem comportamentos desejáveis.

É importante acreditar no potencial de progressão do aluno e nas suas

possibilidades se caracteriza como um passo positivo de atuação e assim vai-se criando

neste aluno uma melhor autoestima e favorecimento progressivo de modificações dos

comportamentos indisciplinados no contexto escolar (CAEIRO; DELGADO, 2005).

Bandura (apud CAEIRO; DELGADO, 2005) diz que da mesma forma que

comportamentos indisciplinados são aprendidos os de disciplina também o são, desde

que os acontecimentos que os antecedem sejam alterados ou vice-versa, bem como se o

professor portar-se com consonância entre o que diz e o que faz. “De facto está

comprovado que um aluno tem maior tendência para revelar um comportamento

indisciplinado quando não acha a escola suficientemente satisfatória para o levar a fazer

um esforço” (Jesus apud CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 20).

Pedro-Silva (2013) apresenta soluções que podem ser postas em prática com o

objetivo de equacionar o problema da indisciplina são fáceis de serem ditas, entretanto

difíceis de serem concretizadas levando-se em conta uma série de razões. Dentre estas

razões se percebe que muitas vão além da competência oferecida pelos diversos

profissionais que se envolvem com estas questões, outra é estas ações demandam de

tempo e são dependentes de mudanças internas, por exemplo: ter respeito pelo aluno e

exigir dele o mesmo respeito.

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4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

O capítulo que segue objetiva apresentar os dados que emergiram no campo.

Esta descrição apresentar-se-á por categorias distintas uma das outras, que por outro

lado, estas categorias tendem a se convergir em suas provocativas e pontos de

discussão.

As respostas do questionário inicial obtidas via formulário eletrônico do Google

Docs estão apresentadas nas tabelas e gráficos que seguem. As respostas coletadas pelas

entrevistas estão apresentadas pelas falas dos alunos que foram caracterizados desde

EA1 (Entrevista Aluno 1) até EA23 (Entrevista Aluno 23) e as respostas coletadas

pelo questionário aplicado após o jogo psicopedagógico estão apresentadas como JA1

(Jogo Aluno 1) até JA23 (Jogo Aluno 23).

A partir dos dados coletados no campo, 4 (quatro) foram as categorias que se

delinearam, relacionando-se com os objetivos desta pesquisa: 1. Categoria conceito de

indisciplina; 2. Categoria causas de indisciplina; 3. Categoria consequências da

indisciplina; e 4. Categoria: encaminhamentos em relação ao problema.

4.1 CARACTERÍSTICAS DOS SUJEITOS

Este trabalho foi desenvolvido com 23 alunos frequentadores de uma escola

pública municipal localizada na cidade de Caçador no meio oeste catarinense.

Oportunizar aos alunos o falar e refletir sobre estas temáticas dentro e fora das

suas vidas escolares, na atualidade, tem-se caracterizado necessário e oportuno para que

estes jovens possam se sentir partícipes da construção de suas próprias histórias.

O perfil dos alunos participantes desse trabalho se descreve com uma faixa etária

de 12 a 15 anos de idade como se pode contemplar na tabela 1 no capítulo 2 (dois)

intitulado “Indicação dos Procedimentos Metodológicos e Técnicos”.

Para conhecer um pouco mais sobre os alunos, foram questionados com quem

estes moram:

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Tabela 2 – Com quem mora

Respostas Total %

Com a mãe, apenas 2 8,7

Com o pai, apenas 1 4,35

Com os pais e irmãos 14 60,87

Com o pai e os irmãos 1 4,35

Com a avó, apenas 2 8,7

Com os tios e a avó 1 4,35

Com os avós 1 4,35

Com a tia 1 4,35

Total 23 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

O convívio relacional dos alunos, em casa, na sua maioria se dá com os pais e

irmãos, como se pode observar na tabela acima: 14 deles (60,87%). Em seguida se

destaca o convívio apenas com a mãe (2 participantes 8,7%) e apenas com a avó,

também 2 participantes (8,7%).

4.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE

Segue-se com a apresentação e análise das respostas dos alunos ao questionário

inicial respondido via formulário eletrônico do Google Docs, entrevistas e respostas

coletadas pelo questionário aplicado após o jogo psicopedagógico.

4.2.1 Categoria 1: Conceituando o problema da indisciplina na escola

A indisciplina tem-se apresentado na escola como um dos mais importantes

problemas da atualidade. Na escola em que esta pesquisa foi realizada não foi diferente.

Quando perguntado sobre o que significa a indisciplina, os alunos responderam:

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Grafico 1 – O que é indisciplina para você?

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

Percebe-se que todas as respostas, com exceção de uma (falta de alguma coisa

desejada) correspondem a conceitos de indisciplina associados a condutas antissociais.

Segundo Rego (1994, p. 85) no meio educacional esta visão é bastante

difundida.

Costuma-se compreender a indisciplina, manifesta por um indivíduo ou um

grupo, como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia,

intransigência, desacato, traduzida na “falta de educação ou de respeito pelas

autoridades”, na bagunça ou agitação motora. Como uma espécie de

incapacidade do aluno (ou de um grupo) em se ajustar às normas e padrões de

comportamento esperados.

Ainda, segundo esta perspectiva de entendimento do comportamento

inadequado, toda manifestação de inquietação, discordância, questionamento,

desatenção e conversa por parte dos alunos é definido como indisciplina.

Para estes alunos a indisciplina se pauta no referencial do próprio aluno, ou seja,

um aluno indisciplinado é aquele que possui “uma conduta desviante em relação a uma

norma explícita ou implícita” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 21).

Segundo Parrat-Dayan (2015), as especulações acerca da conduta e perda da boa

educação por parte dos jovens não é de hoje e sim há muito tempo que se pode

encontrar registro desta constatação. Há uma perspectiva de se explicar a indisciplina

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seguindo estas constatações relatadas pelos alunos participantes desta pesquisa, quer

dizer, configura-se uma afirmação de que os jovens de hoje pensam apenas em si

próprios e que perderam qualquer forma de respeito por seus pais, pelas pessoas mais

velhas e pelos professores.

“A perda de marcos de referência com relação ao comportamento é uma

constante da convivência entre gerações. Porém, a deterioração da situação nas escolas é

real. Há mais reclamações dos professores e as agressões verbais e físicas contra eles

multiplicam-se” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 23).

Durante a entrevista, também se pode identificar que a compreensão dos alunos

sobre indisciplina segue o conceito de um comportamento inadequado que se traduz na

falta de respeito, má educação, descumprimento das regras e etc.

Apresentam-se as seguintes respostas dos alunos na entrevista:

Má educação, não ter respeito com ninguém. (EA1)

[...] é falta de educação, com os professores, com tudo. A professora

esses dias foi falar uma coisa os pias brigaram com a professora, a

professora só estava falando que não era para fazer (...) é isso é falta

de educação ficar falando essas coisas para a professora, depois ela

está ali para ensinar a gente e não para ficar ouvindo falta de educação

com ela. (EA2)

Quando não respeita os professores, ou que fala alguma coisa que seja

de má educação, algo assim, para mim é isso. (EA3)

[...] é faltar com respeito com as pessoas e destruir as coisas. (EA5)

É má educação, “tipo” se a pessoa xingar você assim, e você já querer

brigar assim, isso é indisciplina pedir para ir no banheiro e não deixar

e pegar e sair sem permissão do professor, isso ai é indisciplina.

(EA16)

É não obedecer aos pais, a escola, as regras. (EA9)

Para mim é não obedecer aos professores os pais, as pessoas que mais

mandam assim e não obedecer às regras. (EA19)

Da mesma maneira, pode-se contemplar esta perspectiva de entendimento do

referido conceito nos exemplos sobre indisciplina apresentados pelos alunos na tabela 3

que segue:

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Tabela 3– Dê exemplos de indisciplina

Respostas Total %

Palavrões e xingamentos 6 26,1

Brigas 3 13

Desobedecer ordens de professores durante as

aulas

2 8,7

Raiva 1 4,35

Uma pessoa que atrapalha o respeito e a

educação

1 4,35

Falta de educação 1 4,35

Desobediência, teimosia 1 4,35

As duas partes querendo falar ao mesmo tempo

ai da conflito e brigas e indisciplina

1 4,35

Tratar mal os professores e alunos 1 4,35

Xingar, bater e desrespeitar os pais 1 4,35

Bullying 1 4,35

Quebrar um vidro 1 4,35

Não respondeu 1 4,35

Outras 2 8,7

Total 23 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

A maioria das respostas, 26,1% se refere a atitudes inadequadas do tipo agressão

verbal. Brigar e desobedecer a ordens dos professores durante as aulas, também se

destacam. Todavia, todas as respostas se associam a falta de obediência, a teimosia, má

comportamento e atitudes consideradas inadequadas para um espaço que teoricamente

se apresentaria como lugar de respeito, acolhimento e educação para as pessoas, um

lugar chamado escola. Estes dados também puderam ser constatados por Golba (2008)

na sua pesquisa sobre a indisciplina na perspectiva de alunos.

Segundo Parrat-Dayan (2015) estas condutas traduzidas como exemplos de

indisciplina se manifestam em situações particulares e não existe uma regra em que se

apresentem da mesma maneira, configurando um problema. Em alguns momentos é um

grupo de alunos que se alienam e desestabilizam a dinâmica da aula com condutas

como: resistências às atividades propostas, desafio verbal, brincadeiras insolentes em

relação ao professor, etc.

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Pedro-Silva (2012, p. 21) diz que o termo indisciplina na maioria das vezes é

usado para designar comportamentos que se apresentem contrários à regra, à norma e à

lei. “No caso da escola, significa que todas as vezes em que os alunos desrespeitarem

alguma norma desta instituição serão vistos como indisciplinados.”

Segundo Vasconcellos (2009, p. 162-163):

No âmbito escolar, enorme gama de problemas de indisciplina tem origem no

desrespeito. [...] Neste momento, gostaríamos de abordar o aspecto do

desrespeito que não costuma ser tão facilmente veiculado ou nem sequer

admitido: o da escola/professor em relação aos alunos. [...] Objetivamente, e

com frequência, a indisciplina dos alunos é uma reação ao desrespeito, aos

coeficientes de poder não adequadamente equacionados pelo professor.

Diante desse equívoco, não é muito razoável esperar que o aluno levante a

mão e argumente: “Professor, gostaria de pôr em questão nossa relação,

tendo em vista a percepção de que entramos num processo de reificação, no

qual minhas potencialidades ontológicas e epistemológicas estão sendo

subestimadas”... Os educandos não conseguem verbalizar de maneira clara,

porém encontram algum caminho para manifestar que as coisas não vão bem

(querem sair a todo momento da sala de aula, ficam conversando fora do

assunto, não fazem as lições, agridem o colega ou o professor).

Para Aquino (1994, p. 40) as definições sobre indisciplina e os exemplos de

indisciplina apresentados pelos alunos desta pesquisa se endossam na fala dos

professores que também entendem este problema como uma dificuldade fundamental no

trabalho escolar. Para estes professores “o ensino teria como um de seus obstáculos

centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em termos como: bagunça,

tumulto, falta de limite, maus comportamentos, desrespeito às figuras de autoridade

etc”.

O entendimento sobre o conceito da indisciplina baseado na figura do aluno

sobre o olhar psicológico de uma carência psíquica do aluno, noutras palavras,

O reconhecimento da autoridade externa (do professor, no caso) pressupõe

uma infraestrutura psicológica, moral mais precisamente, anterior à

escolarização. Esta estruturação refere-se à introjeção de determinados

parâmetros morais apriorísticos, tais como: permeabilidade a regras comuns,

partilha de responsabilidades, cooperação, reciprocidade, solidariedade etc.

Trata-se, pois, do reconhecimento da alteridade enquanto condição sine qua

non para a convivência em grupo e, consequentemente, para o trabalho em

sala de aula (AQUINO, 1994, p. 45).

Sugere-se que o aluno atual carece de tais parâmetros supracitados. Este aluno

estaria acometido por agressividade/rebeldia, ou apatia/indiferença, ou desrespeito/falta

de limites.

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Percebe-se que a forma como os alunos conceituam a indisciplina está

diretamente relacionado a como estes alunos se organizam no dia a dia. O jogo poderia

ser organizado com duas possibilidades de sequências como se pode constatar no

capítulo 2. Entretanto, todos os alunos organizaram as sequências de cenas nas três

sessões da maneira como segue. Todas as sequências vêm ao encontro de como eles

definiram o conceito de indisciplina e de como a exemplificaram.

Na 1ª sessão descreveu uma situação de disputa de uma cadeira por dois colegas

de classe, dentro da sala de aula, e o posicionamento do professor.

Na 2ª sessão a situação apresentou o desentendimento entre os alunos e o

posicionamento do professor.

E na 3ª sessão o desentendimento entre os alunos com a professora por causa do

uso do celular e o posicionamento da direção da escola.

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Quando perguntado no questionário após a aplicação do jogo psicopedagógico

se: A ação dos (as) alunos (as) poderia ser considerada indisciplinada? Se sim, por quê?

As respostas foram endossam o discurso das entrevistas:

Sim, porque eles discutiram com a professora. (JA1)

Indisciplinada sim, porque eles estão mexendo durante o horário de

aula. (JA2)

Sim, porque existe uma regra que eles não cumprem. (JA3)

Sim. Estão fazendo briga por tudo. (JA10)

Sim, não se comportaram. (JA21)

Segundo Estrela (2002, p. 17) “O conceito de indisciplina relaciona-se

intimamente com o de disciplina e tende normalmente a ser definido pela sua negação

ou privação ou pela desordem proveniente da quebra das regras estabelecidas”.

O conceito de indisciplina também pode ser configurado como um fenômeno

transversal as unidades conceituais – professor/aluno/escola – quando se toma de forma

isolada como recortes do pensamento, noutras palavras, “indisciplina é mais um dos

efeitos do entre pedagógico, mais uma das vicissitudes da relação professor-aluno, para

onde afluem todas essas “desordens” anteriormente descritas.” (Aquino, 1994, p. 49)

4.2.2 Categoria 2: Causas da indisciplina

A escola como agencia socializadora é influenciada por toda uma transformação

histórico-social e pelas mudanças pedagógicas que por consequência interferem nas

atitudes dos professores e nos comportamentos dos alunos. Também existem outros

fatores que são determinados por este contexto e que sim, prejudicam a relação

professor/aluno e que podem direcionar ações que terminem em indisciplina

(OLIVEIRA, 2011).

Destarte que esses fatores não atuam com a mesma intensidade no

comportamento do aluno e isso dependerá das circunstancias e realidade de cada aluno e

de cada escola. Podem ser fatores internos ou externos a esta instituição (OLIVEIRA,

2011).

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Desta forma, apresentar-se-ão quais as causas da indisciplina segundo os alunos

da escola pesquisada e quais são os influenciadores de acordo com a realidade destes

alunos.

Perguntou-se:

Tabela 4 – Por que você acha que a indisciplina acontece?

Respostas Total %

Porque tem pessoas que não tem educação 5 21,7

Por talvez ser revoltado com alguma coisa 4 17,4

Por namorada 1 4,35

Porque os pais não tomam conta de seus filhos

como deveriam

1 4,35

Porque não sabem se respeitar 1 4,35

Porque alguns alunos não aceitam serem

contrariados

1 4,35

Porque as vezes os pais querem proteger

demais e os filhos acham que já sabem de tudo

e também muita manha

1 4,35

Quando a pessoa não houve e não faz sua

obrigação

1 4,35

Porque as pessoas sofrem por alguma coisa 1 4,35

Porque as pessoas se revoltam um pouco 1 4,35

Talvez pela falta de carinho 1 4,35

Por falta de respeito 1 4,35

Por não ter medo das punições 1 4,35

Acho que as vezes por falta de cobrança por

parte dos pais

1 4,35

Outras 2 8,7

Total 23 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

Percebe-se das respostas apresentadas na tabela a existência de múltiplos fatores

que podem ser organizados em dois eixos: fatores psicossociais e fatores pedagógicos.

Como fatores psicossociais encontram-se os de ordem da família sinalizados

pelas respostas: Porque os pais não tomam conta de seus filhos como deveriam; Porque

as vezes os pais querem proteger demais e os filhos acham que já sabem de tudo e

também muita manha; Acho que as vezes por falta de cobrança por parte dos pais.

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Ainda como fatores psicossociais, mas na ordem da carência afetiva

apresentam-se as seguintes respostas: Por talvez ser revoltado com alguma coisa; Por

namorada; Porque as pessoas sofrem por alguma coisa; Porque as pessoas se revoltam

um pouco; Talvez pela falta de carinho.

Como fatores pedagógicos as respostas são: Porque tem pessoas que não tem

educação; Porque não sabem se respeitar; Porque alguns alunos não aceitam serem

contrariados; Quando a pessoa não houve e não faz sua obrigação; Por falta de

respeito; Por não ter medo das punições.

Oliveira (2011) diz que o aluno chega a escola levando consigo suas

inseguranças, angústias, traumas, entre outros componentes que são fruto de uma

herança recebida no convívio familiar, além, claro da educação recebida na sociedade.

Quero chamar a atenção para o fato de que muitas famílias se encontram

desorientadas. Os familiares às vezes se agridem diante das crianças, e alguns

são alcoólatras, drogados, violentos ou ausentes, e não sabem como impor

limites e esclarecer às crianças que elas têm direitos mas, também, deveres a

cumprir (OLIVEIRA, 2011, p. 49).

A autora pode constatar esse fato numa das pesquisas que realizou. A aluna

apresentava muitos problemas de comportamento e os pais não compareciam quando

chamados. Constatou-se que tanto o pai quanto a mãe eram usuários de droga e

deixavam a menina a sua própria sorte. Por outro lado, existe o fato de

pais/responsáveis que estão fora de casa trabalhando ou à procura de trabalho e por

consequência não lhes sobra tempo para darem atenção a estas crianças. (OLIVEIRA,

2011)

Em geral, em casos como esses, as crianças passam o dia todo sozinhas, em

casa ou na rua. E os pais/responsáveis transferem para a escola toda, ou quase

toda, a responsabilidade da educação de seus filhos: estabelecer limites e

desenvolver hábitos básicos. Fica a cargo do professor ensinar às crianças

desde amarrar os sapatos, dar iniciação religiosa, até estabelecer limites que

já deveriam vir esclarecidos de casa (OLIVEIRA, 2011, p. 49).

Oliveira (2011) diz que este comportamento dos pais/responsáveis também

sofreu a influencia desestruturante do meio social construída ao longo da história. Por

consequência, percebe-se que a educação oferecida em casa se reflete no como o aluno

vai construir a relação com os colegas e com os professores e que as vezes pode gerar

atitudes indesejáveis na escola culminando em desobediência, falta de respeito com os

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colegas, professores e outras pessoas, agressividade, entre muitos outros

acontecimentos.

Outro fator importante se dá pelo fato de que muitos alunos apresentam carência

afetiva “pois não puderam contar com os pais para lhes dar carinho nem tampouco lhes

ouvir” (OLIVEIRA, 2011, p. 56).

As respostas apresentadas na tabela 4 são ratificadas pelo discurso dos alunos na

entrevista quando perguntado: O que provoca a indisciplina?

Irritação às vezes. Sei lá, eles se irritam por qualquer coisa, daí brigam

um com o outro. (EA8)

Ah, eu acho que “tipo”, falta de respeito é uma coisa na verdade, que

tem gente, acho que todo mundo tem um pouco de falta de respeito, só

que alguns sabem controlar isso, e alguns simplesmente estão com

algum problema alguma coisa e querem descontar em todo mundo.

(EA12)

Pode ser não ter ganhado carinho, alguma coisa que eles queriam e

não tiveram alguma coisa que gerou isso. (EA14)

Falta de respeito, você começa a se xingar com seus amigos do nada

(EA22)

Nos fatores considerados de ordem pedagógica percebe-se a imposição ou a falta

de limites como descritores dos acontecimentos. Constata-se que o discurso dos alunos

descreve o delineamento deste fator:

Desobediência, “tipo” mandar fazer uma coisa e não quer, acho que é

isso. (EA9)

Ás vezes, os alunos até não saber o que pode e não fazer. Os alunos

mesmo sabendo que não podem fazer, fazem para provocar os

professores às vezes. (EA19)

Não sei. Eu acho que a bagunça mesmo, bagunça e palavreado, é isso.

(EA20)

Sabe-se que:

Comumente, a instituição escolar, entendida como o conjunto de educadores

que nela atuam, e tendo como parâmetro seus próprios princípios e valores,

adota normas que devem ser cumpridas pelos alunos, determinando um

padrão de comportamento aceitável pela instituição. Mas se a escola espera a

criança com as regras preestabelecidas, sendo estas rígidas e incontestáveis,

dificilmente a criança vai se adequar àquilo que a escola espera dela

(OLIVEIRA, 2011, p. 59).

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É importante que as regras estejam de acordo com a opinião da maioria dos

alunos e se possível de todos os alunos. É um processo que deve acontecer de maneira

democrática em que o aluno se reconhecerá desde que participe da elaboração das

normas. Faz-se necessário “que os alunos tenham consciência da importância do

estabelecimento de regras e que estas devem ser seguidas por eles na sala de aula e na

escola, para proporcionar um ambiente saudável para a aprendizagem” (OLIVEIRA,

2011, p. 61).

De modo geral, Vasconcellos (2009) reitera dizendo que a criação de vínculos

afetivos é o ponto principal para (re) estabelecimento de relações pautadas pelo respeito,

com limites, regras e harmoniosamente organizadas.

O processo de criação de vínculos, de inclusão, pode passar por muitas

mediações: o desejo de ser aceito pelos pais, por exemplo, pode levar o aluno

a respeitar a instituição escolar, à medida que esta é um valor para eles. Aqui,

quanto menos mediações, melhor: o ideal é que o aluno se sinta engendrado

pelo próprio espaço escolar, que por meio dele possa sentir reforçado seu

sentido de pertença à humanidade (VASCONCELLOS, 2009, p. 160).

O estudioso acrescenta dizendo que é possível entender a indisciplina escolar

pela falta de credibilidade dada ao aluno, quer dizer, “uma das maiores agressões que

uma pessoa pode fazer a outra é não acreditar nela” (VASCONCELLOS, 2009, p. 160).

Não acreditar nas possibilidades dos alunos tem-se registrado como sério problema no

enfrentamento das questões da indisciplina, pois, “o aluno ‘sente’ que o professor não

acredita, não confia nele. Isso, de certa forma, o autoriza a agir de qualquer jeito, já que

não se espera o melhor dele mesmo” (VASCONCELLOS, 2009, p. 160).

Vasconcellos (2009) destaca a importância de trabalhar os vínculos entre os

alunos e professores e, também, entre os próprios alunos, pois o vínculo desempenha o

papel fundamental na educação e na disciplina.

Pedro-Silva (2013) endossa a problematização de Vasconcellos salientando que

todas as pessoas são responsáveis pela situação a qual se apresentam as questões e os

porquês da indisciplina. Para ele, quando praticamos a política do “faça o que eu mando

e não faça o que eu faço” (PEDRO-SILVA, 2013, p. 80), há uma intenção ilusória de se

colocar de fora do contexto preocupante em que se deparam as questões

comportamentais na escola.

Acrescenta dizendo que manifestações dessa natureza podem se caracterizar

como fugas, de que em outros tempos não existia indisciplina e assinala que em tempos

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atrás 50% dos estudantes não chegavam sequer a frequentar o equivalente ao segundo

ano do Ensino Fundamental, e por consequência o índice de alunos indisciplinados eram

muito menores se forem comparadas as estatísticas atuais.

Atualmente, a proposta é outra, mesmo que os alunos não venham a se encaixar

no modelo desejado pelo professor deve ser acolhido pela escola e o professor, por sua

vez, deve auxiliar, de todas as formas, este aluno para que se torne “desejante” de saber

formal.

Em seguida, apresentam-se as respostas para a questão que abordou de quem é a

culpa dos atos indisciplinados. Percebe-se que 61% das respostas dos alunos condizem

que na maioria das vezes a culpa é dos próprios alunos juntando-se a 17% que condiz a

uma ação do aluno e 9% trazem a figura dos pais como responsáveis pelo

comportamento indisciplinado dos filhos.

Gráfico 2 – Quando acontecem atos de indisciplina na escola, de quem é a culpa?

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

Para complementar o entendimento deste gráfico perguntou-se: Quem está

envolvido nas situações de indisciplina? Por quê?

Em seguida podem-se contemplar as respostas descritivas dadas na entrevista as

quais retratam os percentis apresentados no gráfico acima e as prováveis formas de

explicação para tal envolvimento.

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O da sala mesmo, porque às vezes não tem um bom relacionamento

com os outros e trazem para a escola isso. (EA1)

Os mesmos pias que chama elas, mas as meninas não se envolvem

nessas coisas, mas também não são santas. Ás vezes rola um chamado

assim dos outros, mas é só conversar que já para. Agora já tem umas

meninas assim que já não, que já conversam a base disso, já estão

pensando em lá pra frente surrar a menina porque ela falou sobre isso.

(EA2)

Geralmente é mais alunos, né. Alunos e professores, geralmente. Ah,

eu acho que às vezes é porque não concordaria com a forma do

professor ensinar, ou alguma coisa interpretam da maneira errada. Ou

alguma coisa que o professor fala assim, interpreta de maneira

pessoal, de maneira errada, “tipo” levando para o mau. (EA3)

Os alunos. Os alunos quebram as coisas daí os professores às vezes

querem bater nos alunos.Ah! Por causa de falta de respeito, fica

xingando os professores, chamando de retardado, falam um monte de

coisas, alguns chamam até de filho da puta. (EA5)

Os alunos, não sei por que. (EA8; EA13)

Nos aqui na sala. Porque tem as regras ali né, tem que chegar no

horário certo, não pode trazer celular, não pode mascar chiclete, e a

gente faz, até eu masco chiclete, mas eu jogo, não chega no horário

certo, trazer celular e mexer na aula, e às vezes responder a professora,

isso eu não acho legal. Às vezes a professora está tentando explicar

uma coisa e aquele aluno tá conversando com o outro, ela pede para

ficar sentado no lugar, para de conversar e eles não param. “Tipo” eles

falam não vou, dão risada dela. (EA9)

Alunos, nós. Ah, porque sempre tem aquela correria né, andar pela

sala, dai o professor fica bravo, essas coisas. (EA11)

Ah, eu acho que “tipo” pode haver situações de indisciplina em

qualquer lugar né, mas geralmente na escola é um bom exemplo,

porque falando bem a verdade alguns alunos não gostam de estudar né

e ai eles acham que os professores tem culpa, e dai ficam faltando com

respeito com eles, mas o professor tá lá para ensinar quem quer, quem

quer vai aprender, quem não quiser dai não aprende, mas dai não

precisa atrapalhar os outros e atrapalhar o professor por causa disso.

(EA12)

Ah, até às vezes eu fico indisciplina assim, porque fico bastante

nervoso, dai perco o foco dai acabo discutindo com os professores por

causa de notas porque eu acho que mereço mais e eles não veem os

esforço que a gente está fazendo às vezes também. (EA16)

Os alunos, por bagunça. São os mais bagunceiros, porque dai querem

se aparecer mais. Jogam carteira, caderno, é. (EA20)

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Ratificando essas respostas, para as causas da indisciplina segundo os alunos,

quando os mesmos relataram nas respostas dada a pergunta: Por que você escolheu esta

sequência de cenas? do questionário após o jogo psicopedagógico.

A culpa é dos alunos porque jogaram todo o lixo no chão. (JA2; JA6;

JA9)

Dos alunos que estavam mexendo no celular durante a aula (JA15)

Dos alunos e acabaram discutindo e perdendo o controle por certos

motivos. (JA22)

Para analisar estes relatos, além do que já foi apresentado por Vasconcellos

(2009), Oliveira (2011) e Pedro-Silva (2013) anteriormente, o próprio estudioso Pedro-

Silva (2013) destaca nas suas contribuições alguns propósitos relacionados a família,

que nos relatos e percentis aparece representada na figura dos pais.

Não se pode esquecer, além disso, que a família – como qualquer outra

agência de socialização – é produto do modelo social em voga; logo, é vítima

das condições objetivas de vida. Dessa forma, culpá-las por todas as mazelas

sociais é desprezar questões como a obrigatoriedade imposta aos pais para

que trabalhem excessivamente, com a finalidade de garantir minimamente a

sobrevivência física dos seus filhos. É também não levar em conta que a

função da escola é a de contribuir para o pleno desenvolvimento da

personalidade do educando (PEDRO-SILVA, 2013, p. 80).

Segundo Caeiro e Delgado (2005) quando se referencia a indisciplina no

contexto escolar, esta envolve os comportamentos do aluno/dos alunos que são

considerados perturbadores das atividades que os professores pretendem desenvolver na

sala de aula. Tais comportamentos se referem a: fazer barulho, sair do lugar sem

autorização, agredir verbal ou fisicamente os colegas, entre muitos outros.

O comportamento indisciplinado também pode estar se caracterizando por

motivos que se pautam no desagrado do aluno em relação às temáticas abordadas na

aula e também como estas temáticas são apresentadas pelo professor. Insatisfação frente

às relações interpessoais permitidas ou promovidas pelo professor na sala de aula, e

ainda, pelo fato de quando o aluno se manifesta como líder perante a turma ao

posicionar-se num enfrentamento ao professor.

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4.2.3 Categoria 3: Consequências da indisciplina

Considera-se que a indisciplina tem ocupado um espaço cada vez mais

considerável no contexto escolar. Estudiosos tem se proposto estudá-la de maneira

crítica não apenas para defini-la, mas também para compreender o que acontece e quais

possíveis consequências são desencadeadas a partir de situações e/ou comportamentos

indisciplinados dentro da sala de aula e no contexto escolar como um todo

(VASCONCELLOS, 2009).

Para entender as consequências geradas pela indisciplina na compreensão dos

alunos pesquisados perguntou-se durante a entrevista: O que um ato indisciplinado quer

demonstrar?

Segundo os alunos:

Sei lá, às vezes atenção, alguma coisa assim, ou algo assim, “tipo”,

bom não tem como explicar assim, eu acho assim, em minha opinião

assim. É isso ai. Vem, vem claro, por causa que às vezes até um

professor até a diretora fica indisciplinada assim, digamos assim, por

causa que perde a razão, tipo, por causa que fala uma vez, fala a

segunda vez e não obedece dai a gente fica irritado, qualquer um vai

ficar irritado de ficar falando, falando a mesma coisa e ninguém

prestando atenção e dai a gente perde o ser dai, a gente fica

indisciplina como se diz assim. (EA16)

Que....quer demonstrar, como ele pode ser com a melhor forma com o

respeito. Na escola, quer demonstrar falta de respeito quanto aos

diretores, quanto aos professores, em qualquer outro lugar a falta de

respeito com os adultos. (EA17)

Que eles não têm medo do professor, e não tem medo de levar

advertência coisas assim. Primeiro que ele não tem medo, e depois

que eles não obedecem porque eles não sabem as regras, ou eles não

querem obedecer porque não tem medo do professor, das

advertências. (EA19)

Neste relato percebe-se que nas consequências geradas pela indisciplina estão

envolvidos os professores e a direção da escola. Segundo Oliveira (2011, p. 62) “alguns

professores acabam desgastando seu relacionamento com os alunos de tanto pedir que

eles façam silêncio”.

Vasconcellos (2009) enfatiza que a insatisfação decorrente de situações

indisciplinadas vivenciadas dentro da sala de aula tem chegado a tal ponto de

desencadear doenças ocupacionais e até abandono do magistério. Dentre as doenças

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desencadeadas sinaliza-se o esquecimento, a insônia, medo, tristeza, dor de cabeça,

queda de cabelo, calo nas cordas vocais, entre muitos outros sintomas.

Apresenta-se uma crise grave na disciplina escolar e que questiona a própria

existência da instituição escolar no que se refere ao significado social, ou seja,

questiona-se se a escola é necessária? Quanto a sua existência objetiva interfere nas

dúvidas e descrenças relacionado ao tripé professor, aluno e instalações. Tem-se um

quadro marcado pela desistência de professores por conta de um mal-estar e em alguns

casos segundo Codo (apud VASCONCELLOS, 2009) por síndrome de burnout.

Neste tripé que envolve professor, aluno e instalações também se percebe

segundo Parrat-Dayan (2015, p. 59) que:

Muitas são as crianças que não gostam da escola. São crianças

indisciplinadas porque ficam entediadas, porque são obrigadas a permanecer

na escola e não compreendem nada do que fazem; são alunos agressivos, às

vezes, por serem rejeitados por um sistema que não se adapta aos seus

desejos, alunos em trânsito entre uma família desunida e uma sociedade em

crise, alunos desrespeitosos para com o professor e para com o saber, sem

encontrar interesse nenhum em aprender, alunos que estão em ruptura de

sentido.

A autora enfatiza, ainda, que associada a estas questões está a massificação

fazendo que um número maior de alunos entre na escola e “muitos não tem os

referenciais necessários e ignoram as regras elementares da cultura escolar” (PARRAT-

DAYAN, 2015, p. 60).

Para tanto as consequências se registram, segundo os alunos como:

Para se mostrar mais, “tipo” para ofender, “tipo”, sei lá. (EA1)

Às vezes é falta de atenção dos pais, os pais não dão educação direito,

e daí os filhos ficam fazendo as mesmas coisas que fazem em casa

eles fazem na escola. (EA2)

Quer demonstrar que alguma coisa não está certa, ou que não está de

acordo com alguma coisa, eu acho. (EA3)

Acho que falando palavrão. Acho que chamar mais atenção das

pessoas. (EA4)

Que não tem educação, que os pais falaram, não vá naquele caminho,

não ande com aqueles pias, mas eles não deram ouvido e foram, não

queriam saber, dai entraram lá, e queriam.. quiseram essa vida né.

(EA6)

Desobediência, teimosia. (EA9)

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É que a pessoa não tem respeito por si mesmo. Por que as pessoas às

vezes elas, às vezes acontece uma coisa lá na casa da pessoa, dai a

pessoa vem e desconta-nos outros né. (EA11)

Ah, eu acho que, talvez ele queira mostrar quando algum aluno, ou

alguma pessoa tenha um ato indisciplinado ele esteja passando por

alguma situação, não tá legal, por isso ela está meio estressada, e dai

acaba fazendo alguma coisa, tanto que ela comete um ato

indisciplinado não porque ela é uma pessoa ruim e sim porque ela

estava em um momento ruim, então eu acho que talvez o ato

indisciplinado queira mostrar que a pessoa esteja passando por um

momento difícil e as outras pessoas tem que investigar isso para

ajudar. (EA12)

Eu acho que a falta de educação. O não respeitar as pessoas e também

falar em uma linguagem mais avançada, mais imprópria. (EA14)

Segundo Aquino (1994, p. 46) estas consequências revelam “um sintoma de

relações familiares desagregadoras, incapazes de realizar a contento sua parcela no

trabalho educacional das crianças e adolescentes”.

4.2.4 Categoria 4: Encaminhamentos em relação ao problema

Segundo Garcia (apud MOREIRA, 2012) tem se apresentado muito nos

encaminhamentos oferecidos pela escola como proposta de trabalhar a indisciplina um

direcionamento da questão tratada enquanto problema atribuído ao aluno. Neste caso é

entendido que a solução cabe a um adulto que apresente maior responsabilidade.

Primeiramente a atuação está na transformação do aluno e num momento posterior

pensar nas possibilidades da recuperação das condições de aprendizagem.

Este é o pressuposto que norteia as respostas apresentadas pelos alunos no

questionário inicial referente aos encaminhamentos que a escola deva organizar para

trabalhar o problema da indisciplina, ou seja, os alunos registram que atos de

indisciplina merecem punição segundo as respostas de 22 dos 23 alunos participantes

desta pesquisa, como se pode verificar no gráfico 3 e em seguida na tabela 5

apresentam-se as justificativas para tal resposta.

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Gráfico 3 – Atos de indisciplina merecem punição?

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

Tabela 5 – Por quê?

Respostas Total %

Para aprender 2 8,7

Porque faltou educação 2 8,7

Para aprender o respeito 2 8,7

Para não acontecer mais 2 8,7

Porque senão continuará acontecendo

indisciplina

2 8,7

Porque merecem 1 4,35

Porque não é legal 1 4,35

Porque se não forem punidos serão repetidos 1 4,35

Porque é feio praticar indisciplina 1 4,35

Porque se não houver punição irão continuar

fazendo as mesmas coisas

1 4,35

Porque precisa saber que o que está fazendo

está errado

1 4,35

Porque quem fez merece ser “culpado” 1 4,35

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Porque é ruim cometer indisciplina 1 4,35

Para tentar resolver o problema e mostrar a

quem cometeu a indisciplina que não deve

cometer novamente

1 4,35

Outras 4 17,4

Total 23 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

As respostas apresentadas pelos alunos para justificar o porque um

comportamento indisciplinado merece ser punido baseiam-se no fato de que é errado e

quem “comete” indisciplina merece ser punido para que não venha mais contecer

supondo que a partir da punição o aluno tenha aprendido como agir e o problema tenha

sido, desta forma, resolvido.

A fala de EA16 descreve o que os alunos querem dizer sobre punir um ato de

indisciplina:

Merecem, merecem, tem que ter castigo, alguma coisa assim,

desconto de ponto que nem os professores usam, ir para a diretoria

ficar lá, por causa que, merece tem que ter algum castigo se não, não

vai aprender e vai continuar fazendo a mesma coisa toda vez que

ocorrer uma discursão ou uma coisa assim.

Punir segundo EA16 é castigar, descontar ponto e ir para a diretoria.

Esta fala também está representada no momento do jogo psicopedagógico

quando todos os alunos responderam “Sim” a pergunta: atitudes como essa merecem

punição? Justifiquem a resposta. As atitudes indisciplinadas dos alunos representados

nas sequencias das cenas merecem punição. Segundo eles por que:

Por que não é correto. A responsabilidade é nossa. (JA22)

Por que o que os alunos fizeram é errado. (JA9)

Por que atrapalha a aula. (JA19; JA21)

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Por que há a violação de uma regra da escola. (JA3; JA17)

Por que é proibido e para não se repetir. (JA14)

Por que se não forem punidos vão continuar fazendo a mesma coisa.

(JA3)

Tabela 6 – Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola?

Respostas Total %

Conversando com a diretora, as vezes com

advertência

2 8,7

Às vezes eles mandam um papel e eles ficam

em casa

1 4,35

Educando 1 4,35

Com educação e colaboração 1 4,35

Assinando a ata e levando suspensão 1 4,35

Com advertências e conversas com os pais 1 4,35

Chamando os pais 1 4,35

Com a diretora 1 4,35

Com advertência e diálogo com os pais 1 4,35

Chamando os pais, advertência, suspensão ou

conversando

1 4,35

Diretoria ou debates um humilhando o outro 1 4,35

Com gritos 1 4,35

Chamando os pais dos alunos 1 4,35

Ficam sem recreio e sem sair da sala 1 4,35

Sendo levados para a orientação 1 4,35

Se acontecer brigas, normalmente é uma

advertência, eu não sei muito bem

1 4,35

Calma e respeito 1 4,35

Conversando com a diretora ou as supervisoras 1 4,35

Os professores ou diretores conversam com os

alunos

1 4,35

Com advertências 1 4,35

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Com punições e advertências 1 4,35

Depende de quantas vezes já foi cometida, na

primeira vez é resolvida com conversa e se

acontecer mais vezes com punições como

advertências ou suspensões

1 4,35

Total 23 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2015)

Percebe-se nas respostas apresentadas no questionário inicial (tabela 6) que na

escola as situações de indisciplina, na maioria das vezes, são resolvidas de forma

punitiva (Ficam sem recreio e sem sair da sala; às vezes eles mandam um papel e eles

ficam em casa; assinando a ata e levando suspensão; advertência, suspensão). Algumas

respostas sinalizam que a conversa e o diálogo são a maneira que a escola resolve as

situações de indisciplina. Em alguns momentos os alunos também sinalizaram que os

pais são chamados para conversar e a conversa direta com o aluno também aparece

como resposta para resolução do problema, porém, a conversa direta com o aluno está

representada nas respostas com menos incidência se comparada as ações punitivas

citadas anteriormente.

Na entrevista e no questionário após a aplicação do jogo psicopedagógico a fala

dos alunos ratifica as justificativas apresentadas no questionário inicial como se pode

perceber nos relatos que seguem:

Às vezes a gente vai lá falar com elas sobre isso, elas dão suspensão.

(EA2)

Às vezes com advertência, conversa com os pais. (EA3)

Só conversando. E as vezes liga para os pais.(EA4)

Chamando os pais, dando advertência, suspensão, fazendo assinar a

ATA. Os professores também nos xingam bastante, “tipo” de você

fazer bagunça na sala, eles pegam e xingam bastante. Eles falam que é

para a gente parar, que eles vão chamar o pai da gente, que eles vão

levar para a diretoria. (EA5)

Sim, na escola às vezes chama os pais, mas é só com conversa e com

advertência. (EA7)

Eles vão para a diretoria. Dá suspensão. (EA8)

Eles dão advertência mais não adianta! (EA9)

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Debate. “Tipo”, por exemplo, tem vezes que o aluno debate com o

professor e o professor responde, dai meio que param, dai começa a

cochichar baixinho, dai o professor escuta e fica olhando. (EA11)

Indo na diretoria conversando com a P. também, e de vez em quando,

advertência. (EA13)

Quando não da para resolver na boa, dai a gente leva alguma

advertência, suspensão, é chamado pai, mãe se não a gente conversa

normal, dai pede desculpa um para o outro e volta ser amigo normal,

sem briga sem discursão sem nada dai busca sempre estar ajudando

dai. (EA16)

Com respeito e com calma. (EA17)

Nós somos punidos. É, assinar a ATA, isso ai. Ele pega e escreve no

caderno para a mãe e o pai assinar. (EA20)

Quando perguntado no questionário após a aplicação do jogo psicopedagógico

se os alunos concordam com o posicionamento assumido pelo (a) professor (a)? e que

justificassem as suas respostas. Todos disseram que Sim! Que concordavam com o

posicionamento assumido pelo (a) professor (a) e justificaram dizendo:

Se eles tivessem obedecido não precisava ir para a diretoria. (JA1)

Concordo. Sempre chamar a atenção e castigar. (JA2)

Por que ele deu uma bronca nos alunos para eles mudarem. (JA3)

Por que foi justa. (JA4)

Na sala quem manda é ela (a professora). (JA9)

Por que eles (professores) estão cumprindo as regras da escola. (JA14)

Por que mandou para a diretoria. (JA16)

Só chamar a atenção não adianta. (JA17)

Moreira (2012) diz que é importante fazer uma leitura atenta dos contextos de

indisciplina e assim organizar uma intervenção pedagógica que transforme a

organização da dinâmica diária ou mesmo as condições da relação pedagógica. “A

indisciplina serviria de alerta ao professor quanto à necessidade de modificar sua

abordagem em sala de aula, por meio de outra percepção da sua relação com a turma”

(MOREIRA, 2012, p. 176).

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Quando o professor realiza esta leitura do contexto e “percebe a necessidade de

melhorar a disciplina em sala, por exemplo, será importante que possa conectar suas

expectativas com as mensagens e necessidades comunicadas pelos alunos, em uma

direção que atenda ao processo de aprendizagem em curso.” Pois, caso contrário, “uma

intervenção baseada somente em alguma estratégia que pareça eficaz ao docente,

segundo suas expectativas unilaterais”, pode se configurar como uma resposta que não

vem ao encontro daquilo que o contexto de indisciplina está tentando comunicar, por

exemplo (MOREIRA, 2012, p. 176).

Ao intervir num contexto de indisciplina, é interessante que antes, o professor

juntamente com a equipe pedagógica tenha elaborado uma concepção de disciplina e de

indisciplina, para que sejam elencados critérios ao analisar o contexto e também quais

são as influencias que dão origem ao surgimento de indisciplina para que desta maneira,

por consequência, possa se desenvolver estratégias consistentes de intervenção

(MOREIRA, 2012).

Finalizando, foi questionado após a aplicação do jogo psicopedagógico se os

alunos acreditam que funciona a maneira como a sua escola resolve as situações de

indisciplina? Por quê? Todos os alunos responderam que “Não”, a maneira como a

escola está “resolvendo” as situações de indisciplina está se apresentando ineficaz,

como se pode ler nas respostas dos alunos:

Não. Por que em várias vezes eles continuam com a indisciplina.

(JA1)

Não. Porque eles (alunos) continuam fazendo. (JA9)

Não. Por que depois voltam a fazer a mesma coisa. (JÁ 15; JA19;

JA21)

Moreira (2012) enfatiza que direcionar encaminhamentos com a finalidade de

intervenção nas situações de indisciplina apresenta como objetivo não apenas amenizar

ou solucionar as questões na ordem da convivência entre os alunos, mas que deve atuar

na reorganização do desenvolvimento da aprendizagem dos alunos.

Garcia (apud MOREIRA, 2012, p. 175) ressalta que toda intervenção sobre

indisciplina na escola precisa englobar ações de visão mais ampla que se apresentem

“sensíveis e capazes de considerar as conexões locais e globais daquilo que ocorre

dentro da escola”.

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“Assusta muito ver como a escola não muda, ou muda muito lentamente. O

discurso educacional tem mudado com uma velocidade incrível, mas a prática resiste,

perdura,” diz Vasconcellos (2009, p. 142).

A punição como encaminhamento aos problemas da indisciplina ao longo prazo

potencializa ou desenvolve problemas psicológicos e não desenvolve aprendizagem de

novos comportamentos nos alunos. É interessante trabalhar o encantamento no aluno

frente às questões do dia a dia da sala de aula.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A indisciplina não é considerada um problema atual nas escolas de modo geral e

nem tampouco para a escola participante deste trabalho de pesquisa. Entretanto, é nos

últimos anos que se potencializa os debates e as pesquisas relacionadas a esta temática

como se pode constatar no “estado da arte” apresentado nesta dissertação.

Assim, o desafio foi estudar como os alunos do 8º ano desta escola

compreendem este problema da indisciplina, suas causas e consequências para o

cotidiano escolar.

Para a maioria dos alunos do 8º ano a indisciplina esta definida como condutas

antissociais e se pautam na própria referência de aluno. Como exemplo eles citam: o

brigar, o descumprimento de regras, bater em outras pessoas, xingar colegas e

professores e responder pais, amigos e professores.

Esta percepção sobre a indisciplina também se configurou após a apresentação

do jogo psicopedagógico em que os alunos tinham outras possibilidades de desfechos

das histórias, entretanto, todas se caracterizaram seguindo um desfecho que ratifica a

ideia inicial dos alunos sobre a indisciplina.

Segundo a literatura, conceituar a indisciplina a partir desse ponto de vista

configura uma das muitas possibilidades de se definir e problematizar sobre o tema. É

notório que a maneira como os alunos definem e exemplificam se relaciona a maneira

como está configurado para eles o problema tanto pela via comportamental como a

critério de pensamento.

A indisciplina propõe e permite várias interprestações, pois se apresenta

enquanto constructo cultural com componentes que variam conforme o tempo e os

personagens (REGO, 1994).

As causas da indisciplina para estes alunos estão relacionadas a fatores

psicossociais, na maioria das respostas, e por fatores pedagógicos. Relatam, perfazendo

um total de 61% das respostas como sendo do aluno, a culpa pelos atos de indisciplina

que acontecem na escola.

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Nota-se que os alunos conceituaram e delinearam as causas da indisciplina

segundo um modelo psicológico que perdurou até os anos 70 com maior intensidade.

Segundo este modelo a indisciplina se associava a referencias do aluno adaptado ou

inadaptado considerando uma indisciplina associada a condutas antissociais e a

perturbações de personalidade (CAEIRO; DELGADO, 2005).

Os alunos do 8º se veem como principais motivadores de indisciplina na escola,

entretanto surge um questionamento para uma futura pesquisa: para estes alunos as

regras estão claras e como segui-las? Seria possível por parte da escola e dos alunos

trabalharem o que pode e o que não pode de forma democrática e assim ser conhecido

por todos? Os alunos se sentem confortáveis em poder participar de possíveis decisões

em relação ao problema da indisciplina?

Veiga (2007) aponta a necessidade de desenvolver nos alunos um sentimento de

pertencimento à escola como um lócus em que o reconhecimento e a estima sejam

direcionamentos significativos.

Sugere-se que este estudo se fez importante inclusive para poder mostrar aos

alunos quais as outras possibilidades de mapear a indisciplina e suas causas no próprio

contexto escolar em que estão inseridos.

Atualmente, a compreensão das causas do problema da indisciplina se referem

as muitas possibilidades e de modo geral considera-se um aluno bio-psico-histórico-

social.

A escola é a representante da educação formal na sociedade e isso sinaliza que

os alunos que fazem parte desta instituição não estão alienados as forças externas, ou

seja, a educação informal e aos modelos aprendidos no seio familiar. Trazem para a

escola muito do que aprendem e compartilham nas suas famílias e nas relações com

outras pessoas da sociedade.

As consequências vêm ao encontro das causas que segundo os alunos estão

gerando a indisciplina na escola. O fator família tem-se registrado como um dos

principais motivadores do comportamento indisciplinado.

Pois, sugere-se que não poderia ser de maneira diferente considerando que a

família tem enfrentado desafios econômicos e sociais que estão ladeados as

transformações e exigências macrossociais.

Há um prejuízo no ensino aprendizagem e na relação professor/aluno em virtude

de como está apresentada a interferência destes comportamentos indisciplinados na

escola. A postura desrespeitosa tem acarretado consequências negativas no dia a dia das

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atividades acadêmicas e desgaste na relação aluno/aluno e aluno/professor que

necessariamente deve estar em harmonia para o bom desempenho enquanto ser humano

e o próprio desempenho acadêmico.

96% dos alunos dizem que os atos de indisciplina merecem punição para que

quem apresentar comportamentos indisciplinados aprenda a ter respeito porque faltou

com educação e que a punição tenha um efeito de evitar para que os comportamentos

não voltem a acontecer.

Os alunos também sinalizam que a postura adotada pela escola se dá por vias de

punição, entretanto, todos os alunos concordam que a forma como a escola propõe

como resolução da indisciplina não é eficaz.

É importante deixar de conceber, primeiramente, que o aluno indisciplinado é o

problema. Quando se enfatiza que a indisciplina pode mostrar muitas facetas, isso pode

estar significando que é necessário conhecer o que está nas entrelinhas das causas dessa

indisciplina. Noutras palavras, se os alunos estão se reconhecendo como o principal

fator causal dessa disfuncional idade de comportamento na escola é de saber que por

detrás desta manifestação latente tenham-se muitos caminhos a serem percorridos para o

entendimento não apenas das causas, mas de toda complexidade que envolve esta

situação no dia a dia dessa escola.

Sinaliza-se que o trabalhar/intervir na questão indisciplina nesta turma se refere,

primeiramente, a uma desconstrução da identidade dos alunos assumida como

problema.

Como seria a percepção dos professores que atuam no 8º ano a respeito dessa

temática? A sensação ao finalizar esta pesquisa é de ter muito mais perguntas do que

respostas.

Esse trabalho apresentou como êxito, também, a criação e aplicação do jogo

psicopedagógico o qual juntamente com os outros instrumentos metodológicos

possibilitaram aos alunos do 8º ano “vez” e “voz” com relação a problemática da

indisciplina vivenciada no dia a dia escolar.

Enquanto pesquisadora destaco a satisfação em poder contribuir com esse

primeiro passo na tentativa de auxiliar a escola e os alunos do 8º no que se trata da

problemática indisciplina dentro do contexto escolar deles.

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ANEXO A: PARECER COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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ANEXO B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) DESTINADO AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS

Titulo da pesquisa: IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA ESCOLA: alunos adolescentes analisam o problema. Pesquisada Responsável: Roberta Aparecida Varaschin Telefone de contato: (49) 8428-2513 E-mail: [email protected] Período total de duração da pesquisa: Julho de 2015 a Julho de 2016 1. Seu (sua) filho (a): ...................................... está sendo convidado (a) a participar de uma

pesquisa nesta instituição. 2. O propósito da pesquisa é investigar se os alunos do 8º. Ano do ensino fundamental desta

escola compreendem e se percebem como autores na construção de seus relacionamentos intrapessoais e interpessoais, primordialmente a partir de como se apresenta a organização escolar atual; serão sujeitos desta pesquisa todos os alunos do 8º ano matriculados nesta escola, totalizando cerca de 28 alunos.

3. A participação nesta pesquisa envolverá a participação dos sujeitos por meio de resposta a um questionário no início e outro no final da pesquisa, como também a participação em uma entrevista individual e de um jogo. A aplicação dos questionários será feita no laboratório de informática, pois se trata de um formulário eletrônico, a entrevista e aplicação do jogo se dará em sala de aula mediante autorização da escola e termos de consentimento e assentimento devidamente assinados.

4. Não existem riscos ou desconfortos previstos na participação do (a) sua filho (a). 5. A participação de sua filha, não acarretará nenhum preconceito, discriminação ou

desigualdade social. 6. Os possíveis benefícios da pesquisa são a compreensão das disfuncionalidades do

cotidiano escolar e suas implicações nas relações intra e interpessoais e a possibilidade de haver um norte científico para as práticas de intervenção futuras no que tange as relações dentro da escola.

7. Os resultados deste estudo podem ser publicados, mas o nome ou identificação de sua filha não serão revelados;

8. Não haverá remuneração ou ajuda de custo (ressarcimento) pela participação. 9. Quaisquer dúvidas que você tiver em relação à pesquisa ou à participação de sua filha,

antes ou depois do consentimento, serão respondidas por Roberta Aparecida Varaschin, telefone: (49) 8428-2513; ou ainda pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Unoesc/Hust, telefone: (49) 3551-2012.

10. Assim, este termo está de acordo com a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, de 10 de outubro de 1996, para proteger os direitos dos seres humanos em pesquisas. Qualquer dúvida quanto aos direitos de sua filha como sujeito participante em pesquisas, ou se sentir que sua filha foi colocada em riscos não previstos, você poderá contatar o Comitê de Ética em Pesquisa para esclarecimentos;

Li as informações acima, recebi explicações sobre a natureza, riscos e benefícios do

projeto. Assumo a participação de meu filho e compreendo que posso retirar meu consentimento e interrompê-lo a qualquer momento, sem penalidade ou perda de benefício.

Assinatura do pai o responsável ou impressão dactiloscópica. Assinatura: Nome legível: Endereço: RG. Fone: Data: ____/____/____ ................................................................................ Roberta Aparecida Varaschin Data: ____/____/____

Impressão dactiloscópica

I m p r e s s ã o

d a c t i l o s c ó p i c a

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ANEXO C: TERMO DE ASSENTIMENTO – ALUNOS MENORES DE IDADE

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Termo de Assentimento (TA) (no caso do menor) Utilizado quando o sujeito da pesquisa for adolescente – 12 a 19 anos segundo a classificação do

Estatuto da Criança e do Adolescente.

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa “IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA

ESCOLA: alunos adolescentes analisam o problema.” Neste estudo pretendemos investigar se os alunos do 8º. Ano

do ensino fundamental desta escola compreendem e se percebem como autores na construção de seus

relacionamentos intrapessoais e interpessoais, primordialmente a partir de como se apresenta a organização

escolar atual.

Para este estudo adotaremos o(s) seguinte(s) procedimento(s): aplicação de questionário individual no início e no

final da pesquisa aplicado no laboratório de informática, pois se trata de um formulário eletrônico, entrevista

individual e aplicação de um jogo em sala de aula, com autorização da escola.

Para participar deste estudo, o responsável por você deverá autorizar e assinar um termo de consentimento. Você

não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira por participar desse estudo. Você será

esclarecido(a) em qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou recusar-se. O responsável por você

poderá retirar o consentimento ou interromper a sua participação a qualquer momento do estudo em curso. A sua

participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em

que é atendido(a) pelo pesquisador que irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Você não

será identificado em nenhuma publicação. Este estudo apresenta risco mínimo, isto é, o mesmo risco existente em

atividades rotineiras como conversar, tomar banho, ler etc.

Os resultados do estudo estarão à sua disposição quando o mesmo estiver finalizado. Seu nome ou o material que

indique sua participação não será liberado sem a permissão do responsável por você. Os dados e instrumentos

utilizados na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 anos, e após esse

tempo serão destruídos. Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia

será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida a você.

Eu, __________________________________________________, portador(a) do documento de Identidade

____________________, fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de maneira clara. Sei que a qualquer

momento poderei solicitar novas informações junto ao pesquisador responsável listado abaixo, telefone: (49) 8428-

2513, ou ainda com o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Unoesc e Hust, telefone (49) 3551-

2012. Estou ciente que o meu responsável poderá modificar a decisão da minha participação na pesquisa, se assim

desejar. Tendo o consentimento do meu responsável já assinado, declaro que concordo em participar desse estudo.

Recebi uma cópia deste termo assentimento e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Assinatura do(a) menor ou impressão dactiloscópica. Assinatura: Nome legível: Endereço: RG. Fone: Data: ____/_____/_____ ................................................................................ Roberta Aparecida Varaschin Data: ____/____/_____

Impressão dactiloscópica

I m p r e s s ã o

d a c t i l o s c ó p i c a