UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA
ÁREA DAS CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES - ACH
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PPGEd) - MESTRADO
IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA ESCOLA: alunos adolescentes analisam o
problema
ROBERTA APARECIDA VARASCHIN
JOAÇABA – SC
2016
ROBERTA APARECIDA VARASCHIN
IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA ESCOLA: alunos adolescentes analisam o
problema
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Educação (PPGEd) - Mestrado,
Área das Ciências das Humanidades – ACH, da
Universidade do Oeste de Santa Catarina -
UNOESC, como um dos requisitos para a
obtenção do grau de Mestre em Educação, sob
orientação da Professora Drª. Maria Teresa
Ceron Trevisol.
JOAÇABA – SC
2016
V288i Varaschin, Roberta Aparecida
In(disciplina) no cotidiano da escola: alunos adolescentes
analisam o problema. / Roberta Aparecida Varaschin. UNOESC,
2016.
97 f.; 30 cm.
Orientadora: Profª. Dra. Maria Teresa Ceron Trevisol
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Oeste de
Santa Catarina. Programa de Mestrado em Educação,
Joaçaba,SC,2016.
Bibliografia: f. 85 – 88.
1.Indisciplina Escolar. I.Título
CDD- 371.58
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Alvarito Baratieri – CRB-14º/273
Dedico esse trabalho aos dois grandes amores da minha vida:
PAI e MÃE! Foi o amor, o respeito e o colo deles que
permitiram eu me tornar a pessoa que sou hoje e a ter coragem
de conquistar os meus sonhos.
RESUMO
Atualmente a temática sobre indisciplina tem ganhado notória repercussão e
preocupação segundo educadores e estudiosos do comportamento humano. A
indisciplina como problema sempre existiu no meio escolar, porém despertou maior
interesse científico nas últimas três décadas. Como fenômeno que gera dúvidas,
preocupações e problemas em muitas esferas, a indisciplina atinge escolas públicas e
privadas e em todas as faixas etárias dos alunos envolvidos no contexto escolar. Esta
dissertação nasceu por solicitação da secretaria municipal de educação e da direção de
uma escola localizada no meio oeste catarinense. O objetivo principal foi investigar
como os alunos do 8º ano compreendem o problema da indisciplina, as causas e as
consequências desse problema para o cotidiano escolar. Trata-se de um estudo
exploratório, de natureza qualitativa no qual foi realizado um questionário utilizando a
ferramenta on line google docs com 23 (vinte e três) alunos. Em seguida os alunos
foram entrevistados e vivenciaram durante três sessões a aplicação de um jogo
psicopedagógico intitulado “Falando sobre a indisciplina”. Para o procedimento de
análise e tratamento dos dados foi utilizado a técnica da análise de conteúdo. Os
principais autores utilizados para possibilitar a compreensão desta problemática na
escola foram: Aquino (1994); Caeiro e Delgado (2005); Oliveira (2011); Parrat-Dayan
(2015); Rego (1994) e Vasconcellos (2009) e outros. Os dados coletados após a análise
permitem afirmar que para os alunos do 8º ano a indisciplina é entendida como condutas
antissociais vivenciadas pelos próprios alunos tidas como: brigar, bater em outras
pessoas, descumprir regras e desrespeito com colegas, professores e com os
pais/cuidadores. 61% dos alunos relataram ser do próprio aluno a culpa pelos atos
indisciplinados tendo como fatores propulsores os psicossociais se sobrepondo aos
fatores pedagógicos. As consequências se registram com prejuízo no ensino
aprendizagem e na relação professor/aluno. Outro dado revelado segundo o relato de
96% dos alunos é sobre os encaminhamentos que a escola precisa direcionar. Para estes
alunos os atos de indisciplina merecem punição para que quem os tenha cometido,
aprenda a ter respeito e que em momentos futuros comportamentos indisciplinados
sejam evitados. A escola faz uso de ações punitivas como proposta de enfrentamento da
indisciplina, porém não eficazes, segundo os alunos.
Palavras-chave: Indisciplina. Indisciplina na escola. Comportamentos indisciplinados.
Causas da indisciplina. Consequências da indisciplina.
ABSTRACT
Nowadays, the topic about indiscipline has gained remarkable impact and concern
according to educators and human behavior scholars. The indiscipline as a problem has
always existed in the school environment; however it has awakened more scientific
interest in the last three decades. As a phenomenon that creates doubts, concerns and
issues in many fields, the indiscipline reaches public and private schools and in all age
groups of the students involved in the school environment. This work was born by
request of the municipal board of education and the direction of a school located in the
Midwest of Santa Catarina. The main goal was to investigate how the eighth grade
students understand the indiscipline issue, the causes and the consequences of this
problem to the school routine. This is an exploratory study of a qualitative nature in
which a questionnaire was administered using the tool on line google docs with 23
(twenty-three students. Afterwards the students were interviewed and they experienced
the application of a psychopedagogic game entitled “talking about indiscipline” during
three sessions. The analyses and data treatment procedure used the content analyses
technique. The main authors employed to enable this issue comprehension in the school
were: Aquino (1994); Caeiro and Delgado (2005); Oliveira (2011); Parrat-Dayan
(2015); Rego (1994) e Vasconcellos (2009) and others. The data collected after the
analyses allows it to state that for the eighth grade students, the indiscipline is
understood as antisocial behavior experienced by the students themselves such as:
fighting, hitting others, disobeying the rules and disrespecting the classmates, teachers
and the parents/guardians. 61% of the students reported being the student
himself/herself the guilty for the unruly actions having the propelling psychosocial
factors overlapping the pedagogic factors. The consequences are recorded with
teaching-learning and teacher/student relationship loss. According to the 96% of the
students another given fact is about the referrals the school needs to direct. For these
students the unruly actions deserve punishment for those who committed them, making
them learn to be respectful and avoid future unruly behavior. The school makes use of
punitive actions as indiscipline facing proposal, but it is not effective, according to the
students.
Key words: Indiscipline. Indiscipline in school. Unruly behavior. Indiscipline causes.
Indiscipline consequences.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 O que é indisciplina para você? .............................................................. 59
Gráfico 2 Quando acontecem atos de indisciplina na escola, de quem é a culpa? 69
Gráfico 3 Atos de indisciplina merecem punição? ................................................. 75
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Gênero e idades ........................................................................................ 21
Tabela 2 Com quem mora ....................................................................................... 58
Tabela 3 Dê exemplos de indisciplina .................................................................... 61
Tabela 4 Por que você acha que a indisciplina acontece? ...................................... 65
Tabela 5 Por quê? ................................................................................................... 75
Tabela 6 Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola? ............ 77
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12
1. 1 OBJETIVOS ..................................................................................................... 18
1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 18
1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 18
1.2 QUESTÕES DE PESQUISA ............................................................................ 19
2 INDICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E
TÉCNICOS..............................................................................................................
20
2.1 TIPO DE PESQUISA......................................................................................... 20
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA............................................................ 20
2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ............................................... 22
2.3.1 Questionário inicial ........................................................................................ 22
2.3.1.1 Perguntas ..................................................................................................... 22
2.3.2 Entrevista ........................................................................................................ 23
2.3.2.1 Roteiro .......................................................................................................... 23
2.3.3 Elaboração, organização de um jogo psicopedagógico .............................. 23
2.3.3.1 Roteiro ......................................................................................................... 24
2.3.3.2 Sessões de aplicação do jogo ....................................................................... 25
2.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ....................................... 29
3 A INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: EM BUSCA DA
COMPREENSÃO DO PROBLEMA ..................................................................
31
3.1 DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA ESCOLA ............................................ 31
3.2 CAUSAS DA INDISCIPLINA INDISCIPLINA ..........................................
3.3 CONSEQUENCIAS DA INDISCIPLINA .....................................................
38
47
3.4 ENCAMINHAMENTOS EM RELAÇÃO AO PROBLEMA ........................ 51
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................... 57
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS SUJEITOS ......................................................... 57
4.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE .......................................................................... 58
4.2.1 Categoria 1: Conceituando o problema da indisciplina na escola ........... 58
4.2.2 Categoria 2: Causas da indisciplina ............................................................ 64
4.2.3 Categoria 3: Consequências da indisciplina .............................................. 72
4.2.4 Categoria 4: Encaminhamentos em relação ao problema ........................ 74
CONSIDERAÇÃO FINAIS ................................................................................. 82
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 85
ANEXO A – PARECER COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ................... 89
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 94
ANEXO C – TERMO DE ASSENTIMENTO – ALUNOS MENORES DE
IDADE .....................................................................................................................
96
1 INTRODUÇÃO
O fenômeno da indisciplina embora já se apresente como velho conhecido é
considerado como um tema de difícil abordagem e não apresenta uma relevância teórica
tão nítida em que se pode constatar pelo pouco número de obras que se dedicam de
maneira explícita à problemática (AQUINO, 1994).
A indisciplina está apresentada de forma significativa tanto em escolas públicas
e privadas. “Vale lembrar que, embora diferentes significados sejam atribuídos à
problemática e até mesmo os próprios objetivos educacionais subjacentes a ambas
possam ser distintos, elas parecem sofrer o mesmo tipo de efeito”, não se tratando de
um desprivilegio da escola pública e sim ao contrário (AQUINO, 1994, p. 40).
Considera-se, que falar de indisciplina é falar de um assunto cotidiano nas
escolas. O assunto da indisciplina está presente nas conversas dos alunos, dos
professores, equipe técnica-administrativa, pais e na sociedade como um todo. A mídia,
por sua vez, tem cada vez mais se pronunciado e divulgado reportagens e matérias sobre
a temática da indisciplina.
Em relação à escola, Aquino (1994) enfatiza que pelos relatos dos professores
pode-se constatar que a questão disciplinar, é na atualidade, uma das dificuldades
prioritárias quanto ao trabalho escolar. Segundo relato dos professores, “o ensino teria
como um de seus obstáculos centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em
termos como: bagunça, tumulto, falta de limites, maus comportamentos, desrespeito às
figuras de autoridade etc” (AQUINO, 1994, p. 40).
Na esfera da mídia, Estrela (2002, p. 132) afirma “que os meios de comunicação
social tendem a reforçar a associação entre indisciplina, violência e delinquência, o que
é uma generalização abusiva, pois a indisciplina escolar, na maior parte dos casos, não é
violência e muito menos delinquência.”
Corroborando com Estrela (2002), a autora Guimarães (1994, p.73), descreve
sobre os conceitos de indisciplina, disciplina e violência:
13
[...] todo ato ou dito contrário à disciplina que leva à desordem, à
desobediência, à rebelião constituir-se-ia em indisciplina. A disciplina
enquanto regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao
funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.), implica na
observância a preceitos ou normas estabelecidas. A violência, por sua vez,
seria caracterizada por qualquer ato violento que, no sentido jurídico,
provocaria, pelo uso da força, um constrangimento físico ou moral.
Considerando o que foi exposto anteriormente sobre o fato da indisciplina se
apresentar como uma temática que necessita de pesquisa e que é de fundamental que se
estabeleça sempre mais discussões a esse respeito, como também da necessidade das
escolas em abordar a problematização e trabalho que almejem em relação ao tema
indisciplina é que nasceu um dos desejos em construir esta pesquisa.
Esta pesquisa também foi fomentada a partir de uma solicitação da Secretaria
Municipal de Educação quando solicitado que fosse realizado um trabalho com uma
turma que estava apresentando problemas sérios relacionados a indisciplina. Antes de
qualquer intervenção foi-se conhecer o que esta turma de alunos adolescentes
compreende como indisciplina.
Como psicóloga me sinto motivada em pesquisar o comportamento humano e
também envolver-me na intervenção necessária para promover o bem estar das pessoas
e dos grupos com qualidade de vida. De modo geral, tem-se encontrado no Brasil o
interesse, por parte de estúdios do comportamento humano e educadores, em estudar a
indisciplina.
Ao sinalizar na minha atuação como psicóloga a intervenção, perante a escola
destaca-se que as propostas de intervenção no contexto escolar têm-se apresentando
incipientes e, em sua maioria, não oportunizam “voz e vez” aos alunos, no sentido de
possibilitar a esses sujeitos sua compreensão sobre o contexto escolar, o cotidiano desta
instituição e das relações que ocorrem neste contexto, sejam entre professor e aluno;
entre alunos; professor e direção; direção e funcionários, entre outras (TREVISOL et al,
2011). Esta ausência de espaço de diálogo e de manifestação dos alunos na avaliação do
cotidiano da escola pode estar relacionada a reprodução de uma característica comum na
escola que é de considerar o aluno como o problema, o indisciplinado.
A intenção maior deste trabalho de dissertação, além do interesse em contribuir
com os estudos sobre indisciplina, propõe uma leitura desta temática a partir do
conhecer a compreensão da indisciplina por adolescentes do 8º ano de uma escola
pública municipal.
14
Para ratificar este propósito registra-se que no levantamento efetuado como
“estado da arte” da temática relacionada à indisciplina escolar, no Portal da Capes,
identificou produções que datam o ano de 1910. Até 1978 identificou-se 13 publicações;
e, após 2008, uma ampliação deste número para 298 publicações. Considerando o
descritor “indisciplina na escola” evidenciou-se 4 publicações até o ano de 1998,
entretanto, depois do ano de 2010 houve uma ampliação para 55 publicações referentes
a temática.
Dentre as publicações verificou-se que, cada vez mais, cresce trabalhos que
objetivam a intervenção sobre a forma disfuncional de relacionamentos que se dão
dentro do contexto escolar. Cita-se trabalhos de autores como Veiga (2007), Abramovay
e Rua (2002), Antunes (2013), Aquino (1996), Estrela (2002), Garcia (2009), Amado e
Freire (2002), Jesus (1996; 2008) e Torres (2015).
Nesse sentido, do contingente de trabalhos identificados, considerando o
levantamento realizado e utilizando-se como critério de seleção os que tivessem relação
com o tema dessa dissertação, selecionou-se 5 (cinco) trabalhos para situar o “estado da
arte” da discussão a respeito da temática da indisciplina na escola. Na sequência,
explicita-se alguns elementos que colaboram para a compreensão do problema em foco.
Entre os trabalhos selecionados, destaca-se o estudo intitulado A Indisciplina
Escolar na Perspectiva de Alunos, dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação, Stricto Sensu, Mestrado em Educação, da Universidade Tuiuti do Paraná em
31 de março de 2008. A autoria é de Mônica Aparecida de Macedo Golba. O objetivo
deste trabalho foi analisar a perspectiva de um grupo de alunos da oitava série, do
Ensino Fundamental, de uma escola da Rede Pública Estadual, na cidade de Cândido de
Abreu, Paraná, sobre indisciplina escolar. Como caminho metodológico essa pesquisa
se sustentou no trabalho de campo o qual foi desenvolvido por meio de uma pesquisa
etnográfica. Recorreu-se a esse método pelo fato da autora entender que o “objeto a ser
investigado – a indisciplina escolar na perspectiva de um grupo de alunos – solicita uma
investigação com as características apresentadas por esse tipo de pesquisa” (GOLBA,
2008, p. 52). Ainda, segundo Oliveira (apud GOLBA, 2008, p. 52), justifica o uso deste
método pelo fato de que o mesmo ”permite um olhar não apenas para o fenômeno
situado, mas também para determinantes não explícitos, porém não menos importantes
para a sua compreensão”. A pesquisadora traz em suas considerações finais que pela
fala dos alunos a indisciplina assume caráter legítimo e com significado. O significado
atribuído é de natureza pedagógica, quer dizer, a indisciplina denuncia a fragilidade da
15
prática do professor como a ausência de planejamento e de organização das aulas, e,
também, por consequência, a fragilidade do currículo. A leitura sobre indisciplina feita
pelos professores dos alunos investigados se diverge da leitura que esses alunos fazem
da indisciplina, ou seja, para esses professores a indisciplina estaria relacionada ao
comportamento dos alunos.
Outro trabalho analisado foi a dissertação de mestrado intitulada (In) Disciplina
na Escola: Cenas da Complexidade de um Cotidiano Escolar da autoria de Cândida
Maria Santos Daltro Alves da Universidade Estadual de Campinas (Faculdade de
Educação) datado de 2002.
Segundo Alves (2002, p. 19)
A temática desta investigação surgiu por se considerar que tal questão, no
cotidiano das salas de aula, tem se constituído em uma das maiores
dificuldades encontradas por muitos educadores em sua prática educativa.
Esta dificuldade se constitui em motivo de preocupação para instituições
escolares, profissionais da educação de um modo geral, e pais. Esta realidade
presente, nas salas de aula, tem deixado estes profissionais impotentes e sem
saber o que fazer diante de tal preocupação.
Esta produção acadêmica objetivou “investigar se o conteúdo das aulas dos
professores, a metodologia por eles utilizada para trabalhar tais conteúdos e os tipos de
relações interpessoais presentes em uma sala de aula influenciam os comportamentos
indisciplinados” (ALVES, 2002, p. 22). Como cenário de pesquisa, o campo de
investigação foi o cotidiano de uma sala de aula de 5a série do Primeiro Grau, de uma
escola pública, estadual de Primeiro e Segundo Graus, no município de Piracicaba/São
Paulo. O tipo de investigação desenvolvido foi de cunho descritivo. A autora salienta
que para responder as perguntas de pesquisa foi-se utilizada a metodologia basicamente
de natureza qualitativa. Para a coleta de dados foram utilizados instrumentos como:
entrevista, descrições das observações das aulas dos professores e dos comportamentos
de alunos e professores e análises dos comportamentos observados. O trabalho finalizou
apresentando alguns caminhos para a reflexão sobre a indisciplina na sala de aula.
Identificou-se a necessidade de se reinventar o trabalho pedagógico realizado
diariamente e o papel do professor neste processo de mudança e o compromisso com os
alunos. Observou-se, ao finalizar a dissertação, também, a necessidade de valorizar o
conhecimento que o aluno traz para a escola a partir da sua história de vida, objetivando
uma aprendizagem significativa. A indisciplina não é de responsabilidade somente de
alunos e alunas, caso contrário, teríamos uma leitura reduzida e fragmentada do
16
contexto escolar. Finalizando, a estudiosa destaca que a principal intenção do seu
trabalho foi contribuir com a discussão referente ao tema da indisciplina pela
perspectiva de análise dos conteúdos escolares, as metodologias de aulas e as relações
interpessoais.
Em seguida foi analisada a tese de doutorado apresentada na Faculdade de
Educação da Universidade Estadual de Campinas da autoria de Maria José de Morais
Pereira intitulada Disciplina-Disciplinamento: da Vara de Marmelo à Cadeirinha do
Pensamento do ano de 2003. Como objetivo o trabalho buscou entender os problemas
disciplinares, através do tempo (1900-2000). O trabalho pautou-se, metodologicamente
na pesquisa documental em que foram pesquisados os registros escolares de quatro
escolas publicas de duas cidades de Minas Gerais - três escolas de Ensino Fundamental
e uma Escola Normal. Verificou-se na análise dos arquivos de três escolas do Ensino
Fundamental até a década de 60 imagens de professoras boazinhas e dedicadas e de
alunos educados, obedientes e estudiosos. Também, observaram-se imagens assim em
textos literários em que a professora se caracteriza como a segunda mãe, irmã mais
velha, primeira namorada, entre outras. Assim, foi possível construir a imagem
edificante da professora do passado. Constatou-se, ainda, a partir da análise dos
documentos que a escola do passado com intuito de salvaguardar a moral, bons
costumes e a disciplina escolar eliminava, de forma cruel, os alunos que não se
enquadravam no ambiente escolar considerado harmonioso.
A estudiosa Lilianne Blauth Baú na sua dissertação de mestrado pela
Universidade do Oeste Paulista com o título A Indisciplina e o Processo de Ensino
Aprendizagem: Um Estudo no Ensino Fundamental (2011), objetivou estudar o
fenômeno da indisciplina em sala de aula e sua relação com a ação docente, sob o olhar
dos professores. De cunho empírico, buscou indicativo de respostas a questões
relacionadas à indisciplina escolar. Foram aplicadas atividades de observação em sala
de aula, pesquisa documental e verificação dos resultados e relatórios do Conselho de
Classe. Na finalização da dissertação a autora identificou o que a literatura apresenta: o
meio social e familiar é importante para o desenvolvimento de atitudes adequadas na
escola pela criança. Também se pode identificar que se faz necessário a releitura dos
documentos normativos e a redefinição de papéis, responsabilidades e direitos de todos.
Outro ponto de problematização é verificar a não autoridade do professor para resolver
conflitos e casos de “alunos indisciplinados”, constando que todos esses alunos são
encaminhados para a equipe pedagógica resolver seus problemas, entretanto, essa
17
reação do professor raramente atinge resultados positivos. O rendimento escolar se
relaciona aos registros de indisciplina ou desinteresse, pois os alunos que deixam de
fazer lições são os alunos que provavelmente não encontram significado no que está
sendo ensinado.
Por fim, Márcia Aparecida da Silva Pereira com o trabalho intitulado
Indisciplina Escolar: Concepções dos Professores e Relações com a Formação Docente
do ano de 2009 pela Universidade Católica Dom Bosco desenvolveu sua dissertação
com intuito de investigar como os professores concebem a indisciplina escolar, a que
atribuem, como lidam e o que percebem sobre a sua formação para lidar com esse
problema. A pesquisa se apresenta como qualitativa, de caráter descritivo-explicativo.
Como procedimento de coleta de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada. A
maioria dos entrevistados se referem ao fenômeno como comportamento inadequado do
aluno frente às regras ou normas da escola. As causas são apontadas por fatores de
ordem psicológica, social e do campo pedagógico. Entendem que o diálogo é a forma
mais eficaz, entretanto, utilizam outras formas para lidar com a indisciplina do aluno
como ameaças e perda de pontos nas avaliações. “A maioria dos professores situa as
causas e a solução do problema em instâncias externas à sala de aula, contudo atribui a
si mesmos e à escola a responsabilidade de resolvê-lo. ” (PEREIRA, 2009, p. 78). A
formação do professor para atuar em contextos de indisciplina escolar se pauta na
experiência cotidiana – vida familiar e estudantil – e não como tema a ser contemplado
nos cursos de formação inicial e continuada.
Dentre os trabalhos selecionados para compor o estado da arte, percebe-se que
ambos se propõem a investigar e discutir como estão se configurando as relações entre
as pessoas dentro e fora do contexto escolar. Propõem-se a compreender ainda, se o
conteúdo das aulas e metodologia de ensino influenciam em comportamentos
indisciplinados e se estes problemas disciplinares apresentam diferença ao longo da
história escolar, não apenas das escolas que constituíram a amostra dos estudos
realizados, mas percorrendo o caminho histórico em que a escola se desenvolveu.
Pode-se perceber a partir dos estudos identificados que muitas perguntas
circulam na sociedade e no meio escolar sobre a indisciplina, tais como: qual o maior
fator da indisciplina escolar ou da violência juvenil? Tentativas de respostas como falta
de valores familiares, morais, escolares, sociais, ainda, falta de perspectivas quanto ao
futuro e movimento de transição de uma fase de desenvolvimento infantil para
18
adolescência, configuram os apelativos explicativos na sociedade, seja ela escolar como
civil.
Nesse sentido, cabe ressaltar que há uma carência de estudos que buscam
compreender o problema da indisciplina na escola a partir da manifestação dos alunos
que frequentam a escola e que, muitas vezes, somente eles, são considerados
indisciplinados. Considerando esse aspecto, a investigação em curso objetiva avançar na
compreensão do problema da indisciplina buscando o posicionamento de alunos
adolescentes vinculados ao 8º ano do ensino fundamental. Esses alunos, desse ano
letivo, com histórico de manifestações de indisciplina no convívio do cotidiano, podem
oportunizar dados, constatações, leituras da realidade escolar privilegiadas favorecendo
a compreensão do problema.
A investigação realizada apresenta-se social e cientificamente relevante pelo fato
de que a indisciplina tem se caracterizado, segundo vários estudiosos, pais e
professores, como o principal problema nas escolas.
Considerando os elementos apresentados o problema de pesquisa se refere a
como alunos do 8º ano do ensino fundamental, vinculados a uma instituição pública
municipal, localizada no meio oeste catarinense, compreendem o problema da
indisciplina, causas e consequências desse problema para o cotidiano escolar?
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Investigar como alunos do 8º ano do ensino fundamental, vinculados a uma
instituição pública municipal localizada no meio oeste catarinense, compreendem o
problema da indisciplina, causas e consequências desse problema para o cotidiano
escolar.
1.1.2 Objetivos Específicos
a) Analisar, considerando a compreensão de alunos do 8º. ano do ensino
fundamental, as causas que promovem a indisciplina na escola.
b) Identificar como os alunos compreendem as consequências da indisciplina
para si mesmos e para o cotidiano da escola.
19
c) Verificar como os alunos avaliam os encaminhamentos tomados pela escola
para resolver o problema e o que eles proporiam com esse mesmo propósito.
1.2 QUESTÕES DE PESQUISA
a) Quais são as causas da indisciplina na escola segundo a compreensão dos
alunos do 8º. ano do ensino fundamental?
b) Como os alunos compreendem as consequências da indisciplina para si
mesmos e para o cotidiano da escola?
c) Como os alunos avaliam os encaminhamentos tomados pela escola para
resolver o problema e o que eles proporiam com esse mesmo propósito?
Considerando a problemática e a intenção de compreendê-la este trabalho está
organizado primeiramente com a Introdução em que se apresentam o tema, problema,
objetivos e questionamentos norteadores desta investigação. Em seguida apresenta-se o
capítulo correspondente aos procedimentos metodológicos e técnicos. No terceiro
capítulo está apresentado o referencial teórico que abordará “A indisciplina no cotidiano
da escola: em busca da compreensão do problema” e suas subdivisões: Disciplina e
indisciplina na escola; Causas da indisciplina; Consequências da indisciplina e
Encaminhamentos em relação ao problema. E no quarto estão apresentados os
resultados com sua análise e discussão dos dados. E finalizando o trabalho as
considerações finais.
2 INDICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TÉCNICOS
“A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para
responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal
estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema” (GIL,
2010, p. 1). Para tanto, a definição de pesquisa está em ser um procedimento racional e
sistemático que objetiva proporcionar respostas aos problemas que são propostos.
Este capítulo tem como objetivo apresentar os procedimentos metodológicos
utilizados para esta pesquisa.
2.1 TIPO DE PESQUISA
Trata-se de um estudo exploratório, de natureza qualitativa. A pesquisa
qualitativa se preocupa com o aprofundamento da compreensão de uma organização,
um grupo social, etc. Neste método de pesquisa busca-se “explicar o porquê das coisas,
exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e a trocas
simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-
métricos e valem de diferentes abordagens” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32).
Minayo (2003) enfatiza que na pesquisa qualitativa se trabalha com um conjunto
de motivos, significados, crenças, aspirações, valores e atitudes, correspondendo a um
espaço mais profundo das relações, dos fenômenos e processos que não se podem
apresentar reduzidos à operacionalização de variáveis.
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
A pesquisa foi realizada com 23 alunos do 8º. ano do ensino fundamental de
uma escola pública municipal de uma cidade do meio oeste catarinense. A escolha
desses alunos foi por indicação da escola, por se tratarem de alunos que estavam
apresentando problemas de indisciplina.
21
A escola municipal selecionada localiza-se em Caçador (SC). Esta escola atende
538 alunos, desde a educação infantil até os anos finais do ensino fundamental. A opção
por esta escola e por esse grupo de alunos, matriculados no 8. ano, se deve,
inicialmente, pelo aceite e interesse da secretaria municipal de educação no
desenvolvimento da atividade de pesquisa nesta instituição considerando os problemas
de indisciplina que são observados no cotidiano da escola, envolvendo, principalmente
alunos adolescentes. A escola recebeu e assinou um termo de assentimento concordando
com a realização da investigação nessa instituição.
O projeto de pesquisa dessa dissertação foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP/Unoesc) e recebeu aprovação pelo parecer consubstanciado número
1.647.714. (Anexo A)
O perfil dos alunos participantes desse trabalho se descreve com uma faixa etária
de 12 a 15 anos de idade como se pode verificar na tabela 01 a seguir:
Tabela 1 – Gênero e idades
Gênero Idades
12 anos 13 anos 14 anos 15 anos Total %
Feminino 3 5 1 1 10 43,48
Masculino 2 9 1 1 13 53,52
Total 5 14 2 2 23 100,00
% 21,74 60,87 8,7 8,7 100,00
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
A maioria dos alunos, perfazendo um total de 13 participantes (53,52%) são do
sexo masculino e as participantes do sexo feminino correspondem a 10 alunas
(43,48%).
A faixa etária predominante é de 13 anos de idade contabilizando 60,87% do
total dos participantes, seguido do percentil 21,74% que corresponde a faixa etária dos
12 anos de idade. Os menores percentis referem-se aos alunos com a idade de 14 anos e
de 15 anos sendo 1 aluno de cada gênero.
22
2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Os alunos que participaram da referida investigação receberam um termo de
consentimento livre esclarecido (Anexo B) a ser assinado por seus pais e/ou
responsáveis, e termo de assentimento (Anexo C) manifestando sua concordância em
que os mesmos participem do trabalho de pesquisa, em suas diversas etapas.
Sendo assim, o caminho metodológico foi composto das seguintes etapas:
2.3.1 Questionário inicial
O questionário foi composto por perguntas abertas e fechadas objetivando uma
primeira coleta de informações e conhecimentos de como os alunos compreendem o
problema da indisciplina. Este questionário foi elaborado e aplicado utilizando a
ferramenta on line Google docs. O objetivo desse procedimento é de diagnóstico, de
recolha de dados a respeito dos alunos e de compreensão dos mesmos sobre a temática
indisciplina. A recolha de dados por meio desse instrumento (questionário inicial) e da
entrevista oportunizou a organização do jogo psicopedagógico. Na sequência,
explicitam-se as questões que compuseram o questionário:
2.3.1.1 Perguntas:
1) Qual é o seu nome?
2) Qual é a sua idade?
3) Com quem você mora?
4) O que é indisciplina para você?
5) Dê exemplos de indisciplina.
6) Por que você acha que a indisciplina acontece?
7) Quando acontece atos de indisciplina na escola, de quem é a culpa?
8) Atos de indisciplina merecem punição?
( ) Sim ( ) Não
Por quê?
9) Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola?
10) O que significa um comportamento indisciplinado para você?
23
2.3.2 Entrevista
Para aprofundar os dados obtidos no questionário inicial foi utilizado como
técnica complementar a entrevista semi-estruturada.
Foram realizadas 23 (vinte e três) entrevistas com os alunos do 8º ano,
considerando uma série de condições (além da indicação da escola) como a
identificação de sujeitos que sejam essenciais, segundo o ponto de vista do investigador,
para o esclarecimento do assunto em foco, facilidade de contato com as pessoas e
disponibilidade dos indivíduos para as entrevistas (TRIVIÑOS, 1995).
Ainda, segundo Triviños (1995, p. 146) esta técnica se caracteriza como sendo
a mais rica e flexível quando se realiza uma pesquisa. A entrevista semi-estruturada “ao
mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas
possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias,
enriquecendo a investigação”. Noutras palavras, esta técnica fomenta a participação do
entrevistado na elaboração do conteúdo da pesquisa, pois lhe permite seguir
espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco
principal colocado pelo pesquisador, e a habilidade deste último, por consequência se
justifica no direcionamento das ações, sem restringir a inclusão de novos dados, embora
exerça seleção criteriosa baseada na delimitação do problema de investigação.
As questões que compuseram o roteiro das entrevistas foram:
2.3.2.1 Roteiro:
1) O que é indisciplina para você?
2) O que provoca a indisciplina?
3) Quem está envolvido nas situações de indisciplina? Por quê?
4) O que um ato indisciplinado quer demonstrar?
2.3.3 Elaboração, organização de um jogo psicopedagógico “Falando sobre a
indisciplina”
Objetivou-se com o jogo a vivência dos alunos com situações de indisciplina na
escola para possibilitar que eles falassem e refletissem sobre a temática proposta.
Acredita-se que alternativas como as da organização desse jogo possam ser
24
utilizadas como elemento de reflexão de cenas do cotidiano, tomada de consciência dos
elementos do problema indisciplina e, por meio dessa troca de posicionamentos,
concordância com alguns encaminhamentos e discordância em relação a algumas
posturas dos alunos e profissionais da escola se poderia perspectivar mudanças de
comportamento.
Este jogo foi constituído por um conjunto de cenas a partir do que foi expressado
pelos alunos no questionário inicial e nas entrevistas. Organizou-se 03 conjuntos de
cenas envolvendo situações de indisciplina vividos em diferentes contextos dentro da
escola. Em cada uma das sessões de aplicação do jogo foi oportunizado aos alunos um
desses conjuntos.
O jogo solicita a ação dos alunos no sentido de organizarem a sequência de
cenas que não possuem, de antemão, uma ordem pré-estabelecida. Os alunos são
divididos em grupos de até quatro alunos de ambos os sexos. Cada grupo recebe - 6
(seis) cartas e a partir destas cartas os alunos compõem uma sequência que conta a
história sugerida com início, meio e fim.
O jogo permite liberdade e autonomia dos participantes no sentido de
explicitarem sua compreensão e leitura da situação manifestada na sequência de cenas.
Esse aspecto relacionado a autonomia dos alunos na ação de jogar é algo que merece
destaque considerando, também, a faixa de idade dos participantes (adolescência), e
suas condições de desenvolvimento: cognitivo, emocional, social, moral, entre outros
aspectos. Cabe ressaltar que do ponto de vista cognitivo, considerando o estágio de
desenvolvimento cognitivo operatório formal, conforme explicitado por Piaget (1983)
esse é o período em que o pensamento se caracteriza como hipotético-dedutivo, e que o
desejo de elaborar hipóteses e pensar em relação as mesmas se faz presente nos
participantes.
Na sequência segue o questionário que os alunos responderam após a aplicação
do jogo psicopedagógico:
2.3.3.1 Roteiro
1) Como vocês avaliam o posicionamento dos (as) alunos (as) que estão no foco
das duas sequências de cenas? Concordam com o posicionamento assumido por eles
(as)?
2) Por que você escolheu esta sequência de cenas?
25
3) A ação dos (as) alunos (as) poderia ser considerada indisciplinada? Se sim,
por quê?
4) Vocês concordam com o posicionamento assumido pelo (a) professor (a)?
Justifique a sua resposta.
5) Atitudes como essa merecem punição? Justifiquem a resposta.
6) Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola?
7) Vocês acreditam que funciona a maneira como a sua escola resolve as
situações de indisciplina? Por quê?
O Jogo foi aplicado em 3 (três) sessões de 45 (quarenta e cinco) minutos que
aconteceram seguindo um direcionamento como pode-se ler descrito nas sessões abaixo.
Os desenhos foram feitos pela professora Daiana Antunes.
2.3.3.2 Sessões de aplicação do jogo:
26
1ª sessão: descreve uma situação em que há a disputa de uma cadeira por dois
colegas de classe, dentro da sala de aula, e o posicionamento do professor, como se
pode ver:
A)
B)
27
2ª sessão: situação que apresenta desentendimento entre os alunos e o
posicionamento do professor.
A)
B)
28
3ª sessão: Desentendimento entre os alunos com a professora por causa do uso
do celular e o posicionamento da direção da escola.
A)
B)
29
Cada sessão foi dividida em 3 (três) momentos:
A. No primeiro momento da sessão – 15 minutos – os alunos conversaram entre
si no grupo e organizam as cenas considerando uma sequência acordada entre os
participantes.
B. No segundo momento da sessão – 10 minutos – aconteceu a socialização e as
arguições referentes as cenas organizadas por cada grupo, quais motivos levaram os
alunos a construírem determinada sequência, as inquietações que se deram no momento
de jogar, entre outros questionamentos e reflexões delineadas no momento da
socialização. Este momento justifica-se pela troca do que foi trabalhado em cada
pequeno grupo com todos os demais da turma.
C. No terceiro momento da sessão – 20 minutos – está previsto a leitura e
preenchimento de um questionário que objetiva a reflexão do que foi trabalhado no jogo
e explanado no momento da socialização. A resposta deste questionário configurou os
dados de análise do jogo.
2.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados foi realizada a partir dos dados coletados por meio dos
instrumentos: questionário com finalidade de diagnóstico, entrevistas, aplicação do jogo
psicopedagógico e questionário utilizado após as sessões de aplicação do jogo.
No que se refere a análise do questionário inicial foi utilizado o próprio
aplicativo Google docs e a análise das planilhas que o mesmo organiza a partir dos
dados preenchidos em formulário específico criado com esta finalidade.
A análise dos dados, segundo Souza Júnior et al (2010, p. 34), apresenta como
objetivo compreender o que foi coletado, "confirmar ou não os pressupostos da pesquisa
e ampliar a compreensão de contextos para além do que se pode verificar nas aparências
do fenômeno."
Foi efetuada a análise do conteúdo das respostas a partir da organização de
categorias dos dados coletados e também, estas categorias, fazem relação com os
objetivos de pesquisa, a saber:
Categoria 1: Conceituando o problema da indisciplina na escola. Esta categoria
analisa o entendimento dos alunos sobre a indisciplina no contexto ao qual estão
inseridos dentro da escola. As questões que possibilitaram os dados para análise desta
30
categoria foram: 1. O que é indisciplina para você? 2. Dê exemplos de indisciplina. 3. A
ação dos (as) alunos (as) poderia ser considerada indisciplinada? Se sim, por quê?
Categoria 2: Causas da indisciplina. Analisa a compreensão dos alunos referente
as causas que promovem a indisciplina na escola. As questões que possibilitaram os
dados para análise desta categoria foram: 1. Por que você acha que a indisciplina
acontece? 2. O que provoca a indisciplina? 3. Quando acontecem atos de indisciplina na
escola, de quem é a culpa? 4. Quem está envolvido nas situações de indisciplina? Por
quê? 5. Por que você escolheu esta sequência de cenas?
Categoria 3: Consequências da indisciplina. Teve como objetivo conhecer como
os alunos percebem as possíveis consequências advindas de um comportamento
indisciplinado. As questões que possibilitaram os dados para análise desta categoria
foram: 1. O que um ato indisciplinado quer demonstrar?
Categoria 4: Encaminhamentos em relação ao problema. O objetivo foi
conhecer como os alunos entendem e o que opinam sobre os encaminhamentos tomados
pela escola para resolver o problema. As questões que possibilitaram os dados para
análise desta categoria foram: 1. Atos de indisciplina merecem punição? Por quê? 2.
Atitudes como essa merecem punição? Justifique a resposta. 3. Como são resolvidas as
situações de indisciplina na sua escola? 4. Você concorda com o posicionamento
assumido pelo (a) professor (a)? 5. Você acredita que funciona a maneira como a sua
escola resolve as situações de indisciplina? Por quê? 6. Como são resolvidas as
situações de indisciplina na sua escola?
3 A INDISCIPLINA NO COTIDIANO DA ESCOLA: EM BUSCA DA
COMPREENSÃO DO PROBLEMA
Observa-se na literatura científica publicada uma pluralidade de abordagens e
posicionamentos teórico prático sobre o tema da indisciplina. “Como toda criação
cultural, o conceito de indisciplina não é estático, nem uniforme, nem universal.” Ainda,
“a indisciplina relaciona-se com um conjunto de valores e expectativas que variam ao
longo da história, entre culturas diferentes, nas diferentes classes sociais” (PARRAT-
DAYAN, 2015, p. 19).
Este capítulo tem como objetivo discorrer sobre estas muitas possibilidades de
conceituar a indisciplina, suas causas, consequências e encaminhamentos no contexto
escolar.
3.1. DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA ESCOLA
Segundo Trevisol (et al, 2011, p. 90):
A indisciplina representa um dos principais fenômenos que geram
dificuldades no contexto escolar. Esse fato vem se agravando, de tal forma,
que nem a escola e nem a família conseguem solucionar o problema. O
fenômeno a que estamos nos referindo é caracterizado no contexto escolar e
fora dele, por parte de diferentes autores, de diversas formas; as ideias acerca
desse tema estão longe de serem consensuais. Evidenciamos falta de clareza e
consenso a respeito do significado do termo indisciplina, ou até mesmo de
disciplina. Isso se deve, particularmente, a complexidade do assunto, a
ausência de resultados de pesquisas, a multiplicidade por preconceitos e
mitos do senso comum. (TREVISOL et al, 2011, p. 90)
Corroborando com este posicionamento, Rego (1994) diz que a indisciplina é
um tema que está provocando preocupação nas escolas há muito tempo, porém com
poucas oportunidades de discussão. Vários são os profissionais que pesquisam e
propõem discussões sobre esta temática. Esse contexto de preocupação com o tema
indisciplina envolve professores, técnicos, pais e alguns alunos. Independe se a escola é
pública ou privada, esta temática envolve alunos da educação infantil, ensino
fundamental e médio.
32
Apresenta-se, desde décadas passadas, uma falta de clareza e consenso aos
termos indisciplina e disciplina que de modo geral apresenta uma análise baseada num
discurso pautado pelo senso comum (REGO, 1994). A indisciplina escolar não é tema
recente e sempre esteve circulando entre as paredes educacionais.
Quanto ao termo disciplina, Estrela (2002) diz que este termo apresenta origem
latina e a mesma raiz que discípulo. Com caráter polissêmico, o dicionário registra o
significado da palavra disciplina como um ramo do conhecimento ou matéria de estudo,
dentre muitos significados que ao longo da história tem assumido diversas
significações, como por exemplo: “punição; dor; instrumento de punição; direcção
moral; regra de conduta para fazer reinar a ordem numa coletividade; obediência a essa
regra” (ESTRELA, 2002, p. 17).
A autora destaca ainda, que considerando a multiplicidade de entendimentos e
descrições as quais são apresentadas ao conceito de disciplina, existe uma tendência de
interpretar-se não só como apresentar as regras e a ordem delas decorrentes, mas sim,
como as possíveis sanções ligadas aos desvios e o consequente sofrimento que elas
originam, garantindo assim um status pejorativo ao conceito.
Entretanto, os conceitos de disciplina e de indisciplina se articulam entre si,
sendo este ultimo “definido pela sua negação ou privação ou pela desordem proveniente
da quebra das regras estabelecidas” (ESTRELA, 2002, p. 17). E acrescenta,
As regras e o tipo de obediência que elas postulam são relativas a uma dada
coletividade, vivendo num determinado tempo histórico, e aos corpos sociais
que nela existem. Há, assim, uma disciplina familiar, como há uma disciplina
escolar, militar, religiosa, desportiva, partidária, sindical.... Embora cada tipo
de disciplina tenha a sua especificidade, todos eles se inscrevem num fundo
ético de caráter social que é resultante de uma certa mundivivência,
concorrendo para a harmonia social. Não se pode, assim, falar em disciplina
ou em indisciplina independentemente do contexto sócio-histórico em que
ocorre. Embora alguns conceitos pareçam atravessar os tempos e as
sociedades, é em relação a cada lugar e a cada tempo que assumem o seu
significado específico. (ESTRELA, 2002, p.17)
Michel Foucault, pensador e epistemólogo francês contemporâneo, organiza em
uma de suas obras a trajetória histórica referente as regras e o tipo de obediência
postulados pela coletividade na organização temporal em que os corpos sociais se
apresentavam. O objetivo dele não foi construir a história das mais variadas instituições
disciplinares, mas sim apresentar alguns exemplos e algumas técnicas essenciais que de
modo particular de cada uma, generalizaram-se.
33
Durante a época clássica descobriu-se o corpo humano como objeto e alvo de
poder, ou seja, ilustrando essa característica a figura do soldado que no século XVII era
reconhecido de longe pois levava os sinais naturais de seu vigor e coragem. O corpo,
sinônimo de força e valentia que necessitava aprender o oficio das armas.
Na segunda metade do século XVIII o soldado passou a ser algo que poderia ser
fabricado. Expulsou-se o “camponês” e se construiu “a fisionomia de soldado”:
“lentamente uma coação calculada percorre cada parte do corpo, assenhoreia-se dele,
dobra o conjunto, torna-o perpetuamente disponível, e se prolonga, em silêncio, no
automatismo dos hábitos” (FOUCAULT, 2012, p. 131).
Foucault (2012, p. 132) salienta: “Encontraríamos facilmente sinais dessa grande
atenção dedicada então ao corpo – ao corpo que se manipula, modela-se, treina-se, que
obedece, responde, torna-se hábil ou cujas forças se multiplicam.”
O corpo nesta época e anterior a esta época e em qualquer sociedade, foi
entendido como objeto de investimentos imperiosos e presos a poderes significativos
que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. Apresentou-se, em primeiro
lugar, considerando-se uma escala de controle, que “não se trata de cuidar do corpo, em
massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo
detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao mesmo
nível da mecânica – movimentos, gestos, atitude, rapidez [...]” (FOUCAULT, 2012, p.
132-133).
Interessante perceber que os processos disciplinares, segundo Foucault (2012),
sempre existiram, como por exemplo, em conventos, nos exércitos e nas oficinas. Mas,
é no decorrer dos séculos XVII e XVIII que as disciplinas se tornaram fórmulas gerais
de dominação.
O momento histórico das disciplinas é o momento em que nasce uma arte do
corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem
tampouco aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no
mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e
inversamente (FOUCAULT, 2012, p. 133).
Assim, apresenta-se uma política de coerção – manipulação calculada dos
elementos do corpo, dos gestos e dos comportamentos – nascendo assim uma mecânica
do poder que define como ter domínio sobre o corpo dos outros para que se faça o que
se quer e que também operem como se quer, a partir do uso de técnicas com rapidez e
eficácia que se determina.
34
A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”.
A disciplina aumente as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade)
e diminui essas mesmas forças (...). Em uma palavra: ela dissocia o poder do
corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela
procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potencia que poderia
resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita (FOUCAULT, 2012,
p. 133).
Essa anatomia política, assim chamada pelo autor, não foi uma descoberta e sim
já se encontrava, muito cedo em funcionamento, nos colégios e mais tarde nas escolas
primárias. Direcionaram-se investimentos nos espaços hospitalares e, por muitos anos,
reestruturaram a organização militar. A organização dos espaços é uma das primeiras
formas de atuação disciplinar, ou seja, “a disciplina procede em primeiro lugar à
distribuição dos indivíduos no espaço” (FOUCAULT, 2012, p. 137) e para legitimar
isso que é considerado como “a arte das distribuições”, as técnicas utilizadas são: a
“cerca”, a “clausura”, “localizações funcionais” e a “fila”.
Exemplificando, Foucault relata que a disciplina muitas vezes exige a “cerca”
utilizando-se dos colégios e dos quartéis para descrever esta categoria.
Colégios: o modelo do convento se impõe pouco a pouco; o internato aparece
como o regime de educação senão o mais frequente, pelo menos o mais
perfeito; torna-se obrigatório em Louis-le-Grand1 quando, depois da partida
dos jesuítas, faz-se um colégio-modelo.
Quartéis: é preciso fixar o exército, essa massa vagabunda; impedir a
pilhagem e as violências; acalmar os habitantes que suportam mal as tropas
de passagem; evitar os conflitos com as autoridades civis; fazer cessar as
deserções; controlar as despesas. A ordenação de 1719 prescreve a
construção de várias centenas de quartéis, imitando os já organizados no sul
do país; o encarceramento neles será estrito (FOUCAULT, 2012, p. 137).
Ratificando o exposto acima, segue o texto intitulado como “Recomendações
Disciplinares” escrito no início do século (1922) que demonstra as ideias disciplinares
da época e a forma como a indisciplina era tratada:
Não ha creanças refractarias á disciplina, mas somente alumnos ainda não
disciplinados. A disciplina é factor essencial do aproveitamento dos alumnos
e indispensável ao homem civilisado. Mantêm a disciplina, mais do que o
1 Louis-le-Grand é uma escola secundária pública fundada em 1563 que compreende duas partes distintas:
a tradicional Lycée (800 alunos) e classes preparatórias (900 alunos). Localiza-se no coração do Bairro
Latino de Paris. Rica em história, arquitetura e cultura, esta área é o lar do mais antigo e mais prestigiados
estabelecimentos de ensino na França, como a Sorbonne e do Collége de France.
35
rigor, a força moral do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as
crenças interessadas em algum assumpto útil.
Os alumnos se devem apresentar na escola minutos antes das 10 horas,
conservando-se em ordem no corredor da entrada, para dahi descerem ao
pateo onde entoarão o cântico.
Formados dois a dois dirigir-se-hão depois ás suas classes acompanhados das
respectivas professora, que exigirão delles se conservem em silencio e entrem
nas salas com calma, sem deslocar as carteiras.
Deverão andar sempre sem arrastar com os pé, convindo que o façam em
terça, enviando assim o balançar dos braços e movimentos desordenados do
corpo.
Em classe a disciplina deverá ser severa:
os alumnos manterão entre si silencio absoluto;
não poderá estar de pé mais de um alumno;
a distribuição do material deverá ser rápida e sem desordem;
não deverão ser atirados ao chão papeis ou quaesquer cousas que
prejudiquem a asseio da sala;
sempre que se retire da sala, a turma a deixará na mais perfeita ordem.
No recreio a disciplina é ainda necessária para que elle se torne agradável aos
alumnos bem comportados:
deverão os alumnos se entregar a palestras ou a diversões que não produzam
grande alarido;
deverão merecer attenção especial os alumnos que se excederem em
algazarras com prejuízo da tranquillidade dos demais;
serão retirados do recreio ou soffrerão a pena necessária os alumnos que
gritarem, fizerem correrias, damnificarem as plantas ou prejudicarem o asseio
do pateo com papeis, cascas de fructas, etc;
deverão os alumnos no fim do recreio formar com calma sem correrias, pois
que o toque de campainha PE dado com antecedência necessaria.
Deverão os alumnos lavar as mãos e tomar água no pavimento em que
funccionar a classe a que pertençam.
Não poderão tomar água nas mãos; a escola fornece copos aos alumnos que
não trazem o de seu uso.
Deverão ter todo o cuidado para não molhar o chão, ainda mesmo juncto ás
pias e talhas.
Ao findarem os trabalhos do dia, cada classe seguirá em forma e em silencio
até a escada da entrada, e só descida esta, se dispersarão os alumnos
(BRAUNE apud AQUINO, 1994, p. 42-43).
Aquino (1994) identifica neste texto as correções disciplinares necessárias
primordialmente no que se refere ao controle e ordenação do corpo e da fala. “O
silencio nas aulas é absoluto e, fora delas, contido. Os movimentos corporais, por sua
vez, são completamente esquadrinhados: sentados em sala, e em filas fora dela”
(AQUINO, 1994, p. 43).
Observa-se que a estrutura e funcionamento escolar se espelhava a um quartel e
o professor um superior hierárquico. Ainda,
Uma espécie de militarização difusa parecia, assim, definir as relações
institucionais como um todo.
É presumível, portanto, que as relações escolares fossem determinadas em
termos de obediência e subordinação. O professor não era só aquele que sabia
mais, mas que podia mais porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela.
Sua função precípua, então, passa a ser a de modelar moralmente os alunos,
36
além de assegurar a observância dos preceitos legais mais amplos, aos quais
os deveres escolares estavam submetidos (AQUINO, 1994, p. 43).
”O princípio da “clausura”, segundo Foucault (2012) segue o procedimento
entendido como conhecer, dominar e utilizar. Apresenta características como: cada
indivíduo no seu lugar, evitar distribuições por grupos, desarticular implantações
coletivas. “O espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quando corpos ou
elementos há a repartir” (FOUCAULT, 2012, p. 138). É importante saber sobre as
presenças e ausências, saber como e onde encontrar os indivíduos e poder vigiar o
comportamento de cada pessoa a todo instante, como também apreciá-lo e sancioná-lo.
E finaliza: “Solidão necessária do corpo e da alma, dizia um certo ascetismo: eles
devem, ao menos por momentos, defrontar-se sós com a tentação e talvez com a
severidade de Deus” (FOUCAULT, 2012, p. 138).
Para Foucault (2012) “localizações funcionais”, refere-se a lugares determinados
que seja definidos e que apresentam como função satisfazer não só à necessidade de
vigiar, mas também de romper as comunicações perigosas e de criar um espaço útil.
Quanto às características que o colocar-se em “fila” representa, Foucault (2012,
p. 174) diz: “A disciplina, arte de dispor em fila, e da técnica para a transformação dos
arranjos. Ela individualiza os corpos por uma localização que não os implanta, mas os
distribui e os faz circular numa rede de relações.”
No século XVIII, a ordenação por fileiras, começou a definir a grande forma de
repartição dos indivíduos na ordem escolar, sendo: filas de alunos nas salas de aula, nos
pátios, nos corredores e também, as colocações atribuídas a cada aluno em relação a
cada tarefa e a cada prova. Também em relação as colocações obtidas, por este aluno, a
cada semana, de mês em mês e de ano em ano. O alinhamento das classes por idades
umas depois das outras e a sucessão dos assuntos ensinados e das questões organizadas
segundo uma ordem de dificuldade crescente. “E, nesse conjunto de alinhamentos
obrigatórios, cada aluno segundo sua idade, seus desempenhos, seu comportamento,
ocupa ora uma fila, ora outra [...]” (FOUCAULT, 2012, p. 141).
A organização de um espaço serial foi uma das grandes modificações
técnicas do ensino elementar. Permitiu ultrapassar o sistema tradicional (...).
Determinando lugares individuais tornou possível o controle de cada um e o
trabalho simultâneo de todos. Organizou uma nova economia do tempo de
aprendizagem. Fez funcionar o espaço escolar como uma máquina de ensinar,
mas também de vigiar, de hierarquizar, de recompensar (FOUCAULT, 2012,
p. 142).
37
As disciplinas, as quais organizam as “celas”, “lugares” e as “fileiras”, criaram
espaços de complexidade, garantindo ao mesmo tempo a obediência dos indivíduos, a
marcação de lugares e a indicação de valores, como também uma melhor economia do
tempo e dos gestos.
“No século XIX, a escola implicava disciplina e castigo, ou seja, o ensino exigia
disciplina e a disciplina exigia castigo. Quem era disciplinado era submisso e obediente,
quem era indisciplinado era rebelde e desobediente” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 18-
19).
Considerando estas colocações apresentadas por Foucault, a autora Fernanda
Loiola Barbosa (2012) enaltece que a forma como se pensa a disciplina na escola não é
fruto do acaso e sim do constructo construído ao longo da história, e acrescenta dizendo
que o conceito de disciplina é relativo a um dado tempo e a um dado espaço.
Da mesma forma, sobre a indisciplina Rego (1994) diz que quando se trata de
conceituar ou até mesmo problematizar sobre indisciplina, as ideias estão longe de
serem consensuais. Isso se dá pela complexidade do assunto e falta de pesquisas que
possam refinar esta temática e, sobretudo à multiplicidade de interpretações que o tema
encerra. A autora acrescenta que o conceito de indisciplina não é estático, universal e
nem uniforme, como toda criação cultural se apresenta.
Para a estudiosa o conceito de indisciplina “[...] se relaciona com o conjunto de
valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e
numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes instituições e até
mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo” (REGO, 1994, p. 84).
Sabe-se, também, que numa perspectiva individual a palavra indisciplina pode se
dar com diferentes sentidos, os quais dependerão das vivências de cada pessoa e do
contexto em que forem aplicadas.
Como decorrência, os padrões de disciplina que pautam a educação das crianças
e jovens, assim como os critérios adotados para identificar um comportamento
indisciplinado, não somente se transformam ao longo do tempo como também se
diferenciam no interior da dinâmica social (REGO, 1994, p. 84).
Rego (1994) enaltece que considerar a formulação sobre o conceito de
indisciplina como processo dinâmico de formação e transformação na história na
humanidade, bem como as diversas conotações que o termo pode sugerir na sociedade
atual não significa “a impossibilidade de admitir um núcleo relativamente estável de
aspectos e relações que designam a noção de indisciplina, compartilhável por todas as
38
pessoas que a utilizam” (REGO, 1994, p. 84). Pois, este mesmo núcleo comum se
espelha a inúmeros enfoques, interpretações, entendimentos e redefinições. Sendo
assim, Rego (1994, p. 85) enfatiza: “considerarmos relevante refletirmos sobre os
significados geralmente atribuídos na nossa sociedade, especialmente no meio
educacional, à palavra indisciplina”.
Parrat-Dayan (2015, p. 8) afirma que “a indisciplina é uma infração ao
regulamento interno, é uma falta de civilidade e um ataque às boas maneiras. Mas,
acima de tudo, a indisciplina é a manifestação de um conflito e ninguém está protegido
de situações desse tipo” e são dificuldades que aparecem em todos os níveis de
escolaridade.
Como disciplina a autora supracitada enfatiza que:
Consiste num dispositivo e num conjunto de regras de conduta destinadas a
garantir diferentes atividades num lugar de ensino. A disciplina não é um
conceito negativo; ela permite, autoriza, facilita, possibilita. A disciplina
permite entrar na cultura da responsabilidade e compreender que as nossas
ações têm consequências. Quem olha para a disciplina como algo negativo
não entende o que é. Ser disciplinado não é obedecer cegamente; é colocar a
si próprio regras de conduta em função de valores e objetivos que se quer
alcançar (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 8).
E mais, é necessário trabalhar com a heterogeneidade dos alunos em sala de aula
e dentro da escola. È importante que o professor assuma a postura de ajudar os alunos a
internalizarem de forma progressiva as regras para adquirir o sentido da
responsabilidade. (PARRAT-DAYAN, 2015)
3.2. CAUSAS DA INDISCIPLINA
Segundo Parrat-Dayan (2015, p. 55) a indisciplina se apresenta estatisticamente
com aumento na atualidade e não há apenas uma causa única ou uma causa principal
para isso. Sugere-se que a indisciplina está “associada a normas e regras sociais e
morais”.
A autora analisa as causas da indisciplina da seguinte maneira:
39
A massificação fez com que alunos de diferentes culturas frequentassem a
escola. Por isso, a causa da indisciplina poderia ser atribuída ao fato de
normas, referências, maneiras de ser e costumes possuírem aspectos
diferentes de uma cultura para outra e de os alunos não conhecerem as
normas da cultura do professor. Além do mais, no interior de uma mesma
cultura, a sociedade também mudou e os pais tornaram-se menos autoritários
e mais permissivos. Isso poderia ser visto como outra causa da indisciplina.
Por outro lado, a má interpretação do que seja a permissividade, assim como
do que significa a presença ou ausência de limites, geram condutas difíceis de
controlar (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 55).
Pode-se considerar como causa para a indisciplina duas possibilidades: uma de
origem externa e a outra de origem interna à escola.
Considerando as causas de origem externa tem-se a influência dos meios de
comunicação, o ambiente familiar e a violência social. Situações como o divórcio, o
desemprego, a pobreza, as drogas, entre muitos outros fatores, como ainda a desistência
por parte de alguns pais de educar seus filhos, a violência doméstica, a permissividade
sem limites, agressividade dos pais com os professores, sugerem-se estar na raiz do
problema (PARRAT-DAYAN, 2015).
Ainda, fatores externos como: “a falta de referência numa sociedade
individualista, a perda do sentido da regra e a perda do sentido da obrigação são fatores
que podem explicar a indisciplina” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 56). Os meios de
comunicação contribuem com o aumento da indisciplina quando apresentam pessoas e
instituições que não respeitam as regras. Também, existe o meio audiovisual que
apresenta aos cérebros infantis uma competição da escola com a internet, a TV e o
celular. “Os meios audiovisuais, que constituem o mundo do fácil, do imediato e do
consumo, deixam a escola em segundo plano, já que ela exige esforço”.
As causas internas são visualizadas no ambiente escolar e nas condições de
ensino-aprendizagem, no perfil dos alunos, na relação professor/aluno, como também na
capacidade que os alunos apresentam de adaptação aos esquemas da escola. “A falta de
motivação no aluno, a ausência de regras que permitam uma distribuição equitativa da
comunicação, a falta de consideração com os ritmos biológicos das crianças e a falta de
autoridade do professor são, todas elas, causas de indisciplina” (PARRAT-DAYAN,
2015, p. 56).
Apresentando outra perspectiva, Jesus (2008, p. 22), manifesta que os alunos no
passado se deixavam influenciar pelos professores por aceitarem de maneira pacifica o
estatuto do professor, considerando-os competentes na área de conhecimento da qual se
propunham trabalhar “e também por lhe reconhecerem poder para recompensar ou
40
punir, através das avaliações e das estratégias de gestão da indisciplina, não sendo
postas em causa as decisões tomadas pelo professor e este nível.”
Para Aquino (1994, p. 43), atualmente, no cenário escolar brasileiro:
Com a crescente democratização política do país e, em tese, a
desmilitarização das relações sociais, uma nova geração se criou. Temos
diante de nós um novo aluno, um novo sujeito histórico, mas em certa
medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem daquele aluno
submisso e temeroso. De mais a mais, ambos, professor a aluno, portavam
papéis e perfis muito bem delineados: o primeiro, um general de papel; o
segundo, um soldadinho de chumbo.
Antunes (2013, p. 19-20) pontua, que “a escola é, indiscutivelmente, um foco de
indisciplina, muitas vezes por sua organização interna, por seus sistemas de sanções,
[...] pelo estilo da autoridade exercida, mas sobretudo pela ausência de clareza como
encara a questão disciplinar”.
Não poucas escolas do país, sobretudo leigas, parecem viver pela exaltação
do “sucesso” de seus alunos, pela “glória” perversa de aulas que aplaudem
apenas a informação, pelo “êxito” enganoso com que se exibe, tal como em
um quartel, como centro disciplinador e onde descaradamente se anuncia e
promete o autoritarismo que coloca às vezes o aluno nas faculdades, mas à
custa de sua irrecuperável robotização. Prepara seus alunos, enfim, para o
sucesso, jamais para a felicidade; para a universidade, jamais para a vida
(ANTUNES, 2013, p.20).
De modo geral, nos últimos anos, a indisciplina escolar, não tem só preocupado
os educadores, também tem despertado interesse de estudos na comunidade que está
envolvida com o tema educação. Ao se tratar de indisciplina se diz que não é uma tarefa
fácil, pois se trata de um problema de ordem social, familiar e pessoal, assim,
evidenciando-se um fenômeno complexo do ponto de vista institucional (ALVES,
2002).
Rego (1994) apresenta sua discussão sobre os temas indisciplina e disciplina
pautados nos estudos do psicólogo russo Lev Semenovich Vygotsky. Salienta que
Vygotsky não escreveu diretamente sobre estes temas, mas que as contribuições da
teoria formulada com base na construção social do sujeito possibilita reflexões com o
plano educacional. Também possibilita ampliar o olhar referente aos temas indisciplina
e disciplina pela via das características psicológicas e socioculturais do aluno, bem
41
como instiga inquietações de como se dão as relações entre aprendizado,
desenvolvimento, ensino e educação.
O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático,
uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de
valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes
culturas e numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes
instituições e até mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo.
Também no plano individual a palavra indisciplina pode ter diferentes
sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em que
forem aplicadas (REGO, 1994, p. 84).
Complementando o seu pensamento, Rego (1994) destaca que os padrões de
disciplina e os critérios usados para identificar um comportamento indisciplinado, em
que ambos pautam a educação das crianças e jovens se transformam e se diferenciam ao
longo do tempo no interior da dinâmica social.
Barbosa (2012) salienta que as definições sobre disciplina se apresentam com
uma conotação negativa e como consequência alguns educadores empregam esta leitura
do termo às questões do indisciplinamento com a compreensão de:
(1) regime de ordem imposta ou mesmo consentida; (2) ordem que convém
ao funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.); (3)
relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor; (4) observância
de preceitos ou normas; (5) submissão a um regulamento (FERREIRA, 1986,
p. 595).
E, disciplinar “O ato de sujeitar ou submeter à disciplina: disciplinar uma tropa;
(2) fazer obedecer ou ceder, acomodar, sujeitar, corrigir; (3) procurou disciplinar os
instintos selvagens da criança” (FERREIRA, 1986, p. 595).
Para o termo indisciplina as considerações são: “(1) procedimento, ato ou dito
contrário à disciplina; (2) desobediência, desordem, rebelião.” E, indisciplinado quem
“insurge contra a disciplina” (FERREIRA, 1986, p. 595).
Segundo Rego (1994, p. 85) estas definições sobre disciplina e indisciplina
podem ser definidas de diversas formas:
42
É possível, por exemplo, entender que disciplinável é aquele que se deixa
submeter, que se sujeita, de modo passivo, ao conjunto de prescrições
normativas geralmente estabelecidas por outrem e relacionadas a
necessidades externas a este. Disciplinado é, portanto, aquele que obedece,
que cede, sem questionar, às regras e preceitos vigentes em determinada
organização. Disciplinador é, nesta perspectiva, aquele que molda, modela,
leva o indivíduo ou o conjunto de indivíduos à submissão, à obediência e à
acomodação. Já o indisciplinado é o que se rebela, que não acata e não se
submete, nem tampouco se acomoda, e, agindo assim, provoca rupturas e
questionamentos.
Rego (1994) salienta que no meio educacional esta interpretativa dos termos
citados acima é muito difundida, quer dizer: “Costuma-se compreender a indisciplina,
manifesta por um indivíduo ou um grupo, como um comportamento inadequado, um
sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na “falta de educação ou de
respeito pelas autoridades”, na bagunça ou agitação motora” (REGO, 1994, p. 85).
Percebe-se que este entendimento se caracteriza como sendo uma incapacidade
do aluno ou de um grupo de alunos que não conseguem se ajustar às normas e possíveis
padrões de comportamentos esperados.
Entende-se que por se manifestar de forma individual ou grupal, a indisciplina,
se apresenta com características conceituais complexas já que também envolve uma
série de fatores de ordem multidisciplinar e apresenta um ângulo de entendimento
distorcido, ficando longe de um consenso comum, relevando mais alguns aspectos que
outros (REGO, 1994).
As regras se apresentam necessárias, nesta visão, para o ordenamento desejado,
para o ajustamento e/ou controle e coerção do aluno e/ou da classe como um todo. “A
disciplina parece ser vista como obediência cega a um conjunto de prescrições e,
principalmente, como um pré-requisito para o bom aproveitamento do que é oferecido
na escola” (REGO, 1994, p. 85).
Por outro lado, há uma tendência de entender a disciplina como associada a
tirania no campo da educação, assim, “apresentar condutas indisciplinadas pode ser
entendida como uma virtude, já que pressupõe a “coragem de ousar”, de desafiar os
padrões vigentes, de se opor à tirania muitas vezes presente no cotidiano escolar”
(REGO, 1994, p. 86).
Entende-se que a elaboração de parâmetros e diretrizes é visto como prática
autoritária, restritiva e deformadora que objetiva a ameaçar o espírito democrático
dificultando e até impedindo a liberdade e espontaneidade das crianças e jovens.
43
A disciplina assume uma conotação de opressão e enquadramento. Portanto,
todas as regras e normas existentes na escola devem ser subvertidas, abolidas
ou ignoradas. Sendo assim, apresentar condutas indisciplinadas pode ser
entendido como uma virtude, já que pressupõe a “coragem de ousar”, de
desafiar os padrões vigentes, de se opor à tirania muitas vezes presente no
cotidiano escolar (REGO, 1994, p. 86).
Existem estudos, ainda, que associam a indisciplina à prática educativa
empregada pela escola, pois entendem estas como decisivas no processo de interação
escolar. Tais práticas não são resultante de manifestação individual, mas sim expressam
os valores contidos em uma sociedade, em diferentes estereótipos gerando conflitos nos
aspectos da pratica escolar. Dessa foram aspectos como indisciplina e práticas escolares
são temas que se relacionam intimamente e se refletem no cotidiano escolar. Ferreira e
Santos (2012, p. 5) “apontam que a estruturação da indisciplina está centrada nas
respostas/contestações dos discentes às normatizações impostas pelas escolas”.
Amado (1998) enfatiza que é possível considerar que os comportamentos na aula
e na escola são uma manifestação e indicativo de que algo vai mal no ponto de vista
pedagógico, psicológico e sociológico, de certa forma a indisciplina é a manifestação de
poder do aluno pra que o professor se manifeste de forma favorável aos seus anseios
pessoais ou coletivos, isso não só contribui como fatores de característica pessoal mas
também conduz para uma ideia dinâmica e interacionista que envolve e desenvolve a
turma, de certa forma grande parte dos estudos relacionados a esta problemática tem
como ponto de partida a sala de aula, de maneira reconhecendo sua responsabilidade,
mas sem um nível de capacidade científica e pedagógica.
Em turmas de 25 ou mais alunos, num sistema educativo que tem vindo a
apresentar tantas dificuldades em conduzir os jovens ao prazer em aprender, à
realização escolar e profissional, os comportamentos de indisciplina podem,
até, ter um lado útil e positivo, sobretudo se encarados como um apelo à
mudança de algo que não deveria existir (VEIGA, 2007, p. 11).
Segundo Brito e Santos (2009, p. 4) "A contrariedade às normas é algo que se
intensifica no cotidiano escolar, pela reincidência de transgressões. Muitas vezes o
mesmo aluno é punido várias vezes, pelo mesmo “ato” e nenhum profissional da
educação se questiona o motivo de isso ocorrer".
Segundo Jesus (2008), na atualidade, devido a múltiplos fatores, alguns alunos,
não se deixam influenciar pelo professor e, em alguns casos, questionam a competência
do professor, acrescido ao descrédito da capacidade de gestão da aprendizagem e da
44
disciplina, como também, a desvalorização da escola como fonte de acesso ao saber ou
conhecimento.
Parrat-Dayan (2015, p. 57) afirma que os problemas de indisciplina quando tem
a ver com métodos psicopedagógicos, estes problemas também estão relacionados com
o lugar que a escola ocupa na sociedade. “Dentro dessa multiplicidade de causas, alguns
estudos diferenciam os motivos estruturais, isto é, as inevitáveis fricções entre adultos e
adolescentes, quando os primeiros tentam educar os segundos, e os motivos
conjunturais, próprios do tempo atual”.
Apresentam-se muitos adultos afirmando que o comportamento apresentado
pelos estudantes de hoje é muito pior que o dos estudantes de dez anos atrás. Parrat-
Dayan (2015, p. 57-58) salienta “que os jovens observam o mundo dos adultos e
percebem que o que lhes espera quando terminarem os estudos é uma grande
probabilidade de não encontrar trabalho ou de encontrar empregos mal pagos.” Desta
maneira, perdem o gosto pelo esforço e desconhecem a alegria proporcionada em ver
uma obra concluída.
Ratificando as palavras já descritas, Antunes (2013, p. 19-20) pontua, que “a
escola é, indiscutivelmente, um foco de indisciplina, muitas vezes por sua organização
interna, por seus sistemas de sanções, [...] pelo estilo da autoridade exercida, mas
sobretudo pela ausência de clareza como encara a questão disciplinar”.
Não poucas escolas do país, sobretudo leigas, parecem viver pela exaltação
do “sucesso” de seus alunos, pela “glória” perversa de aulas que aplaudem
apenas a informação, pelo “êxito” enganoso com que se exibe, tal como em
um quartel, como centro disciplinador e onde descaradamente se anuncia e
promete o autoritarismo que coloca às vezes o aluno nas faculdades, mas à
custa de sua irrecuperável robotização. Prepara seus alunos, enfim, para o
sucesso, jamais para a felicidade; para a universidade, jamais para a vida.
(ANTUNES, 2013, p.20)
Por outro lado, Rego (1994, p. 86) alerta para,
que estes temas podem (e devem) ser interpretados de uma outra maneira, já
que, vista sob aqueles ângulos, a questão da indisciplina (ou da disciplina)
pode servir, de um lado, para justificar práticas despóticas e, de outro, para
estimular uma espécie de tirania às avessas, na qual o projeto pedagógico fica
submetido à vontade da criança ou do adolescente.
45
Destarte, o modo como se interpreta a indisciplina ou a disciplina implica
diretamente à prática pedagógica pela via da interação estabelecida com os alunos e os
critérios de como avalia-los, mas também pelos objetivos almejados (REGO, 1994).
A indisciplina deve ser concebida como um fenômeno de aprendizagem, diz
Garcia (2001) superando uma condição de anomalia ou problema de comportamento
que deve ser minimizado por mecanismos de controle, entendendo que indisciplina não
é uma questão a ser entendida apenas como característica relativa a comportamento.
Segundo Ferreira e Rosso (2012), a generalidade da indisciplina na escola tem se
expandido por diversos setores que compõe a escola. Devido a diferentes naturezas o
fenômeno da generalidade indisciplina se encontra longe de uma solução, se agravando
pela obrigatoriedade escolar, somada as conjunturas sociais e culturais diferenciadas,
colocando a mostra a falha nas instituições; já a escola por ser um receptor do meio, não
está imune de incógnitas de natureza relacionadas a conflitos de valores e classes
sociais.
Segundo Veiga (2007, p. 10) quando perguntado qual o maior fator da
indisciplina escolar, a resposta é: “para uns é a falta de valores (familiares, escolares e
sociais), para outros a falta de perspectivas quanto ao futuro, para outros um sintoma de
rupturas.” Acrescenta-se a estas possíveis causas, a influência dos órgãos de
comunicação social e o clima de concorrência. Para outros, ainda, “a culpa seria dos
professores, ou seja, quem deveria responder pelos actos de indisciplina dos alunos seria
o professor e não os alunos”.
Caeiro e Delgado (2005) concordam com Veiga e ratificam dizendo que o
sintoma da indisciplina apresenta sua raiz em múltiplos fatores como: sociais,
individuais, familiares e escolares, é claro. Na escola a ênfase se dá na qualidade do
ensino e da relação pedagógica.
Ratificando, Estrela (2002) sinaliza a dificuldade que alguns alunos vivem por
pertencerem a “estratos sociais” desfavorecidos quando se trata da compreensão de
códigos linguísticos. Esta situação pode conduzir o aluno a um processo
desmotivacional e em casos mais graves a provocar rejeição pela escola.
“Neste caso, quando o professor não leva em conta a origem social do aluno
(com os seus hábitos e discursos próprios), pode considerar erradamente alguns
comportamentos como indisciplinados quando apenas prefiguram realidades
subculturais próprias” (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 17-18).
46
Estrela (2002) considera as práticas escolares como uma possível causa de
indisciplina dos alunos, entre outras. Diz que a didática utilizada e a relação entre
professor aluno na sala de aula condicionam qual comportamento e posicionamento o
aluno adota em sala de aula.
Segundo Carvalho (apud CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 18) pode-se notar a
partir das principais diferenças entre a didática tradicional e a didática ativa as
exemplificações dos resultados que se espera num contexto de prática escolar:
Papel do aluno
Didáctica tradicional Didáctica activa
Aluno passivo; apenas
receptor do conhecimento
transmitido.
Aluno activo, construtor da
sua própria aprendizagem.
Papel do professor Transmissor do ensino. Facilitador e organizador
de actividades.
Relação com o saber Previamente definido,
programado, fragmentado,
livresco, uniforma,
disciplinar.
Construído, inacabado,
integrado, diversificado,
interdisciplinar, ligado à
experiência quotidiana.
Práticas educativas Ensino colectivo para um
modelo de aluno médio,
tarefas idênticas,
sincronizadas, com a
mesma solução,
predomínio da expressão
escrita.
Ensino individualizado,
trabalho em cooperação,
respeito pelos diferentes
ritmos dos alunos, soluções
diversificadas.
Relações Hierarquizadas. Cooperação, entreajuda.
Disciplina Imposta, coerciva,
consentida.
Negociada, partilhada,
autoconsentida.
Parrat-Dayan (2015) reitera dizendo que a indisciplina não é um fenômeno
atemporal e as causas podem variar. Segundo Draxler especialista da Unesco na área de
educação (apud PARRAT-DAYAN, 2015, p. 58) “vê a indisciplina como contrapartida
do enorme avanço dos direitos dos indivíduos, da democratização generalizada da vida
pública nos últimos trinta anos.” Pois, anteriormente a isto, a estudiosa relata que os
alunos violentos estavam na rua ou eram expulsos, e na sala de aula o que imperava era
a calma “olímpica”, considerando que a repressão era tão severa que aluno algum se
arriscava transgredir as normas.
47
3.3. CONSEQUÊNCIAS DA INDISCIPLINA
Segundo Veiga (2007) a indisciplina, na atualidade, é vista como um dos
principais problemas nas escolas. “O stress relacionado com a indisciplina é o factor
mais influente no fracasso dos professores, sobretudo nos professores mais jovens e
durante os primeiros dez anos de actividade profissional” (VEIGA, 2007, p. 9).
No mundo todo tem-se diariamente cinquenta milhões de professores que
trabalham com crianças e jovens apesar das situações de violência e de pobreza
existentes, muitas vezes, à volta destes profissionais.
Veiga (2007) relata que num estudo realizado nos E.U.A. por Mendler e Curwin
em 1983, relata que em 15% das escolas das grandes cidades ocorrem graves
comportamentos de indisciplina e o mesmo acontece em 8% de todas as escolas. Outros
estudos apontam que a principal causa do stress dos professores (urbanos e rurais), já
em 1978, era o comportamento indisciplinado dos alunos. “Sabe-se que muitos
professores sofrem imenso com o ambiente de extrema indisciplina que os não deixa
trabalhar nem sentirem-se felizes” (VEIGA, 2007, p. 10).
É evidente que a gestão da indisciplina se apresenta como um problema
complexo que envolve alunos, professores, pais numa exigência na relação que envolva
todos os agentes do processo educativo (CAEIRO; DELGADO, 2005).
É claro que os problemas de indisciplina não são coisa recente, mas o seu
grau de agressividade tem-se tornado mais evidente, sobretudo por alguma
incapacidade em se lidar com estes comportamentos, numa sociedade que se
tem revelado permissiva e onde a autoridade do professor é contestada pelos
alunos e encarregados de educação (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 42).
Destarte somam-se a este cenário complexo não só o agravamento das condições
de habilidades nas escolas, mas a própria rotina da escola como: elaboração de horários,
organização das turmas e a escolha dos docentes para estas turmas.
Certamente, diz Caeiro e Delgado (2005) que não podem ser desconsiderados os
fatores externos à escola, como é o caso em que a educação familiar exerce forte
influência, bem como a comunidade onde os alunos vivem influencia nas condutas
comportamentais dos alunos.
48
De facto, quando um aluno se porta mal é natural relacionar esse
comportamento com o lar de onde vem, onde a convivência com os pais (que
em muitos casos pouco ou nada valorizam a escola e complementam a
educação dos filhos com violência verbal ou física ou simplesmente
negligenciam as suas necessidades de comunicação), em nada contribuem
para atenuar a desilusão do seu panorama (CAEIRO; DELGADO, 2005, p.
19).
Como consequência rotula-se esse aluno como indisciplinado e mal educado e
ainda “generaliza-se rapidamente entre os docentes que leccionam na mesma turma
igual ideia, contribuindo para alicerçar ainda mais na mente do aluno essa mesma
característica” (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 19).
Segundo Joyce-Moniz (apud CAEIRO; DELGADO, 2005) rotular alguém é
desnecessário e carrega junto com esta ação muitos riscos para o desenvolvimento da
personalidade do aluno e como consequência a possibilidade deste aluno se resignar ou
se revoltar ainda mais.
Para Parrat-Dayan (2015, p. 7-8) é sabido que na escola há barulho como:
cadernos e lápis que caem, ruído de réguas, alunos que se mexem o tempo todo nas suas
carteiras, vozes incessantes, alunos que se xingam e brigam. Alunos que trocam o nome
com outro aluno para fazer piada com o professor, discussão em voz alta e gritos.
Sugere-se um aumento de incivilidade dentro de sala de aula e fora dela. “Para o
docente, essa situação provoca desestabilidade e, às vezes, humilhação. Ela supõe uma
espécie de indiferença em relação ao professor e isso é fonte de angústia para ele”.
O que se exige na atualidade como disciplina escolar passa muito longe do que
tradicionalmente se pedia nos colégios, ou seja, o professor não pode exigir silêncio
total por mais de cinco minutos em sala de aula. Pois o nível de exigência não está
definido e requer a necessidade de construí-lo conjuntamente (PARRAT-DAYAN,
2015).
Em muitas situações, as regras precisam de redefinições para renegociar os
limites do exigível, tanto em matéria de trabalho quanto de disciplina, o que é
uma novidade no ambiente escolar. De maneira mais precisa, a natureza dos
fenômenos de indisciplina mudaram. No barulho tradicional, a transgressão
faz parte da interiorização da regra; no atual, a desordem é difusa e pouco
ritualizada. A regra, no fundo, nem é conhecida. [...] As vozes dos alunos
circulam em diferentes direções e a voz do professor integra este circuito de
linhas cruzadas. Mas, ou o professor encontra alguma forma de deter o ruído,
ou a aula vira uma desordem total. (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 8)
49
Segundo Prairat (apud PARRAT-DAYAN, 2015) os alunos produzem um
“barulho anômico” que significa a incapacidade dos alunos se escutarem por causa das
conversas cruzadas.
Dentro da sala de aula os professores se sentem compelidos a fazer o papel de
mediador entre os alunos para que eles aprendam a conviver entre seus pares. “Mas,
além disso, ele depara-se até com a necessidade de ensinar as normas de conduta
básicas, que deveriam vir da família.” Solicita-se que o professor ministre sua aula
“num ambiente onde a sanção desapareceu, onde os alunos têm que ser aprovados e
onde já não mais se sabe o que é uma regra” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 12).
Os professores se queixam de cansaço por terem que dar conta de muitas coisas
sozinhos. “A cada dia, no começo da aula, deve lutar com o mínimo indispensável, as
crianças não trazem lápis nem caderno e esperam que o professor faça tudo. Ele tem de
emprestar o material, apontar o lápis etc., para evitar os problemas de indisciplina”
(PARRAT-DAYAN, 2015, p. 12).
Toda essa situação acaba gerando mal-estar e criando tensão e por consequência
a indisciplina. Os alunos se apresentam bagunceiros e desrespeitosos com o adulto. O
professor acaba ministrando sua aula como pode e para um público de alunos que
estejam atentos cada vez menor (PARRAT-DAYAN, 2015).
Na sociedade atual a indisciplina assumiu uma forma diversa que em outras
sociedades do passado. Noutros tempos a indisciplina era registrada por um
comportamento de se posicionar contra a norma como um comportamento de
desobediência insolente. Atualmente, ressalta Parrat-Dayan (2015) a indisciplina se
caracteriza por um desconhecimento das regras e por isso gerando uma desorganização
das relações.
Da parte do professor, parece haver medo de pôr limites, de estabelecer
regras claras e simples que possam ser cumpridas, assim, ser considerado
autoritário. Dessa maneira, se antes os alunos podiam ser reféns dos
professores, hoje acontece o inverso: docentes viraram reféns dos alunos,
perdendo assim a autonomia e o respeito que merecem (PARRAT-DAYAN,
2015, p. 15).
Por outro lado, é inerente ao desenvolvimento humano desafiar a autoridade,
mas também é importante conhecer os limites da própria liberdade de ação. “Se
quisermos alunos capazes de pensar e atuar com critério próprio, com capacidade para
tomar decisões livres e adequadas, é necessário reforçar a sua capacidade de
50
autocontrole e autorregulação.” Faz-se urgência potencializar a responsabilidade, a
autoestima e o esforço na prática educativa (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 15).
Ainda, o professor se defronta com o desafio de confrontar-se com o
autoritarismo exercido pelos alunos gerando uma situação de difícil convívio. Estas
situações de confronto estão se tornando frequentes na sala de aula e gerando extrema
preocupação entre os professores, uma vez que o comportamento desafiador do aluno e
a indisciplina de modo geral os afetam e há a possibilidade de se chegar a situações
violentas (PARRAT-DAYAN, 2015).
Professores jovens na carreira e também os mais experientes tem clamado
atenção dos alunos para com as suas palavras. Mas o que percebem é o barulho em sala
de aula: ruídos imprevistos como a queda da régua ou do lápis, a conversa entre os
alunos, etc. Alunos reais, muito diferente do ideal imaginado pelo professor, diz Parrat-
Dayan (2015, p. 16). A turbulência, a indisciplina dos alunos, a agitação e a falta de
autoridade do professor tem delineado os dias em sala de aula. “A indisciplina é um
problema sério, ela não tem forma e segue diferentes caminhos: falar, jogar papeizinhos,
não estudar, não escutar etc”.
Segundo Oliveira (2011, p. 73) da mesma forma “como os professores, muitas
vezes, não sabem como lidar com a indisciplina dos alunos, também não têm clareza, na
relação com eles, sobre quando termina sua autoridade e começa o autoritarismo.” Este
assunto está ligado à indisciplina e necessita de atenção especial por parte dos
estudiosos do tema porque os professores têm muitas dúvidas sobre a questão.
Os professores questionam-se qual é a diferença entre autoridade e autoritarismo
e de quem é o compromisso de colocar as normas de disciplina na escola e também
como delimitar os limites aos alunos. Toda essa situação gera desconforto tanto para
professores quanto para alunos, também porque ainda não se tem um conjunto teórico
suficientemente explicito para orientar como trabalhar com esta situação e nem
delineamento de condutas práticas com soluções as quais foram aplicadas em sala de
aula. Destarte o que se percebe na escola é uma disciplina que se pretende “inculcar”
nos alunos o respeito por determinada ordem mesmo não tendo claro qual é o objetivo
nem menos o caminho para alcança-lo (OLIVEIRA, 2011).
Segundo D’Antola (apud OLIVEIRA, 2011, p. 73):
51
A autoridade deve ser usada para dirigir a classe, pois, quanto mais confiança
os alunos tiverem no professor, enquanto autoridade que dirige um curso
produtivo; que pode manter a disciplina; que tem bom domínio do
conhecimento, mais confiança os alunos terão nas intervenções do professor,
o qual deve utilizar a autoridade dentro dos limites da democracia.
No contexto escolar diz-se que o professor autoritário é o que tenta impor a
ordem na sala de aula mesmo sem a participação do aluno na organização da norma e
que por consequência enfrenta situações de confronto com a classe.
Paradoxalmente à “autoridade autoritária”, a “autoridade liberal”, na
educação, é entendida como uma autoridade democrática ou libertadora, que
requer um trabalho árduo e sistemático de um professor que conduz seus
alunos a tomarem consciência de si, de seus deveres, direitos e
responsabilidades, inicialmente no espaço escolar e, progressivamente, no
meio físico e social em que vivem (OLIVEIRA, 2011, p. 76-77).
Desta forma, para tentar manter a disciplina em sala de aula o professor poderá
optar entre estes dois modelos de atuação: autoritarismo com intuito de coagir os alunos
a obedecerem via imposições e ameaças, ou proporcionar um espaço democrático na
sala de aula para que se priorize a construção das regras no coletivo sabendo que assim
possibilitaria uma forma mais harmoniosa de convivência grupal (OLIVEIRA, 2011).
Entretanto, existe a possibilidade de desencadear conflitos na relação entre o
professor e o aluno utilizando-se qualquer uma das duas formas de disciplinar. No
entanto, o modelo de disciplina que é imposta pelo professor é de extremo desgaste
tanto para o professor quanto para o aluno por se configurar como disputa de poder
(OLIVEIRA, 2011).
3.4. ENCAMINHAMENTOS EM RELAÇÃO AO PROBLEMA
Segundo Moreira (2012) quando se intervém em situações de indisciplina na
escola o objetivo não é apenas de solucionar ou amenizar questões de convivências
entre os alunos e sim atuar na reorganização do desenvolvimento da aprendizagem.
“A intervenção, em contexto de indisciplina, pode ser entendida como estratégia
de atuação que integra diversas práticas pedagógicas, que podem partir tanto da
organização da escola quanto do professor em sala de aula” (MOREIRA, 2012, p. 175).
O processo de intervenção deve ser guiado por ações que apresentem uma visão
mais ampla do problema e que considerem as conexões locais e globais do que acontece
dentro da escola (GARCIA apud MOREIRA, 2012).
52
O que fazer?
O entendimento da questão da disciplina na sua totalidade não vai desfocar
sua manifestação muito concreta em sala de aula. É ai que o educador
enfrenta no dia a dia seu desafio, e caberá a ele, como articulador do
processo, estabelecer relação dialética com a totalidade por meio dos
diferentes canais e formas de organização da classe e da escola O problema
da disciplina, então, foi proposto a partir da sala de aula, submeteu-se à
análise mais ampla e voltou a sala, onde será enfrentado com nova
compreensão (VASCONCELLOS, 2009, p. 141).
Para Vasconcellos (2009), é necessário e importante lembrar que intervir nas
questões sobre indisciplina é se mover num campo de alta complexidade. Torna-se
difícil para o educador fazer uma previsão minuciosa nas formas de enfrentamento
justamente por causa da complexidade existente em conceituar e caracterizar a
indisciplina. É sabido que “não há uma relação causal, linear e monolítica; ao contrário,
são inúmeros os fatores que interferem e inúmeras as possibilidades de
reação/elaboração dos sujeitos (alunos e professores, em especial)”
(VASCONCELLOS, 2009, p. 141).
Para Veiga (2007, p. 11) a prevenção da indisciplina requer a família, em
primeiro lugar, e depois a escola, considerando este processo um apelo a cada professor
dentro da escola. “A escola deve assumir a sua responsabilidade na formação da
consciência moral dos jovens, quer através do tipo de conteúdos que ensina, quer
através da maneira como tais conteúdos são transmitidos”.
Noutra perspectiva, pensando nas possibilidades de se intervir sobre a
indisciplina escolar, Moreira (2012) destaca as intervenções centradas no meio escolar,
que se refere ao fato da equipe de professores e administradores planejarem mudanças e
regras claras e as intervenções centradas no indivíduo e sua conduta.
Quando existe uma prática pedagógica de intervenção centrada no meio escolar
considera-se o que os professores entendem por contexto de indisciplina. “É necessário
que a equipe pedagógica da escola coloque em pauta as discussões voltadas à prática
pedagógica de intervenção para que a comunidade escolar reflita sobre essas questões
com o objetivo de amenizar ou até mesmo solucionar situações de indisciplina na
escola” (MOREIRA, 2012, p. 176-177).
Quando se trata da intervenção centrada no indivíduo e na sua conduta, prima-se
em encorajar o aluno e não reprimi-lo. “Trata-se aqui de trabalhar com o aluno
competências cognitivas e condutas educativas” (MOREIRA, 2012, p. 177). As regras
53
no grupo necessitam estar claras em que possam auxiliar o aluno na identificação dos
problemas e na busca de soluções alternativas fazendo com que os alunos tomem
consciência de consequências pessoais e sociais importantes para a boa convivência no
meio no qual está inserido (MOREIRA, 2012). Complementando, Veiga (2007) sinaliza
que os professores precisam levar seus alunos a responder pelos seus atos de maneira
humana, pois é assim que os alunos poderão aprender a tornar-se seres responsáveis.
Tognetta e Vinha (apud MOREIRA, 2012) apresentam o trabalho em grupo
como proposta de intervir na indisciplina tendo como exemplo a definição junto com os
alunos de regras que sejam claras e aprovadas por todos. Desta forma, a regras serão
entendidas como necessárias, pelos alunos, e não como imposição dos adultos para com
eles. Configura-se a regra como responsabilidade e não como obrigatoriedade.
Moreira (2012) diz que a prática pedagógica que se constrói e é exercida dentro
da sala de aula pode objetivar a conquista de uma disciplina que contribua para o pleno
desenvolvimento da aprendizagem.
Segundo Estrela (2002, p. 98):
Quando falha a prevenção e ocorrem comportamentos de indisciplina, há
lugar para a intervenção correctiva do professor. Agir ou não agir e escolher
as formas adequadas de intervenção dependerá essencialmente da leitura que
o professor faz da situação, leitura em que se integram as variáveis referentes
ao aluno e à situação em que o comportamento ocorre, a experiência de
situações análogas e as crenças e teorias implícitas do professor sobre a
educação, o ensino e a (in)disciplina.
É necessário que o professor defina juntamente com a equipe pedagógica da
escola o que é possível fazer para contribuir no processo ensino-aprendizagem do aluno,
em se tratando da questão da disciplina (MOREIRA, 2012).
Contrário na sua argumentação, Garcia (apud MOREIRA, 2012) diz que é
recorrente na literatura a ideia que a indisciplina é um problema atribuído ao aluno e
que a solução seria um adulto que exerce maior responsabilidade. Como possibilidade
de intervenção seria a transformação do aluno e posteriormente se pensar na
recuperação das condições de aprendizagem.
54
Os eventos de indisciplina que ocorrem na escola estão relacionados a um
conjunto de fatores que necessitam de compreensão. Muitas vezes, a maneira
como os professores ensinam aparece desarticulada da realidade dos alunos, e
isso pode contribuir para o surgimento de indisciplina. A prática pedagógica
de intervenção do professor pode consistir em estratégias para a solução ou
amenização desses eventos que surgem na escola, buscando soluções não
apenas imediatas, mas um agir sobre suas causas essenciais (MOREIRA,
2012, p. 178).
Segundo Caeiro e Delgado (2005, p. 41) “a escola e o professor actual não se
podem limitar a transmitir conteúdos, mas também a criar e desenvolver a relação
humana. Sem ela, não existe comunicação entre professor e o aluno. Sem comunicação,
os conhecimentos e os conteúdos não passam”.
Neste campo, a construção de um sistema partilhado de avaliação que previna
a indisciplina tem de considerar o interesse e o envolvimento do aluno nas
tarefas escolares, numa prática que envolve a utilização de estratégias e
métodos adequados. A gestão eficaz na sala de aula deve ser vista como um
procedimento útil nesta prevenção, ao mesmo tempo que tratar o aluno como
pessoa contribui para desenvolver a sua autonomia e autocontrolo (CAEIRO;
DELGADO, 2005, p. 41-42).
Outra questão que envolve o professor e o aluno em sala de aula é o problema da
autoridade na aula, e para trabalhar esta questão, Parrat-Dayan (2015) orienta o
professor a seguir um registro preventivo ou repressivo, quer dizer, no registro
preventivo se faz uso de diferentes condutas como: repetir as regras da aula para que os
alunos tenham presentes e atualizadas as exigências solicitadas, motivar os alunos para
o cumprimento dessas regras, justificá-las, organizar a aula com intuito de distribuir
tarefas, etc. No contrário, quando o registro é repressivo, o tom de voz poderá ser
elevado, vigiar os alunos de maneira constante, ameaça-los, castiga-los, sobrecarrega-
los de trabalho entre outras coisas.
Segundo Parrat-Dayan (2015, p. 57), “o aprendizado da disciplina e da
consequente civilidade pode tomar formas diferentes”, como segue:
55
Pode ser o objeto de um ensino específico dentro da Educação Moral e
Cívica, ou pode ser realizado por meio do convívio. A missão da escola é a
de ensinar alguma coisa aos alunos e fazer todo o possível para que tenham
sucesso. A problemática da educação é fundamental. Todo professor enfrenta
o seguinte dilema: sem pautas de conduta claras e precisas, uma sociedade ou
uma instituição não podem funcionar. Como fazer para estabelecer essas
pautas se a sociedade não as possui, as famílias não as ensinam e os docentes,
muitas vezes, não sabem atuar? Por isso, uma das perguntas mais frequentes
que o professor se faz na aula é: e agora, o que devo fazer? Com relação a
ideia de civilidade, o que surpreende é que a escola deve promover a
civilidade e, ao mesmo tempo, se coloca na posição de pedi-la (PARRAT-
DAYAN, 2015, p. 57).
Em Genebra, por exemplo, foi criado, recentemente, um contrato de boas
maneiras para os alunos do ensino-médio. Esta ação foi realizada, pois os problemas de
indisciplina nesta cidade são considerados de suma importância.
Este contrato de boas maneiras se refere ao respeito com as regras de vida
comum na escola, tais como: não faltar, chegar no horário, respeitar o próximo, ser
amável, respeitar o regulamento, desligar o celular durante a aula, estar sempre com o
material escolar e organizado, etc. A escola por sua vez, “compromete-se a assumir a
tarefa do ensino. O conselho de disciplina pronuncia as sanções que podem ser severas
quando um aluno é excluído do estabelecimento” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 57).
Segundo Caeiro e Delgado (2005, p. 42) não se pode esquecer que a escola tem
papel fundamental na socialização dos alunos, na formação de futuros cidadãos de um
País e na construção da personalidade. “Não se pode contestar que a Escola em si pode
ser responsável por determinadas situações de indisciplina. Logo, cabe à instituição
escolar encontrar estratégias adequadas e prevenir o aparecimento da mesma”.
“Embora tudo isso aponte para uma complexidade de actuações de acordo com
os casos registrados, existem igualmente muitas portas por onde se possam iniciar
actividades e projectos que tenham como resultado, pelo menos, a prevenção dos
comportamentos mais graves” (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 42).
Pode-se citar como possibilidade de ação na escola, a aplicação da didática
ativa2, como descreve Carvalho (apud CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 19). “As
didácticas activas implicam mais os alunos, possibilitando ao professor uma maior
margem de desenvolvimento da autonomia do aluno, da sua responsabilização e
criatividade”.
2 Ver quadro explicativo referente a didáctica tradicional e a didáctica activa segundo Carvalho (apud
CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 18) no item 3.2 deste capítulo.
56
Como consequência da aplicação desta didática, nota-se a clareza dos objetivos
que se quer atingir, escolha adequada de quais meios utilizar e das técnicas, adequação à
psicologia dos alunos e cuidado na estruturação do conteúdo.
A integração destas práticas activas na sala de aula permitirá outros
resultados na atitude e motivação dos alunos, dado o maior envolvimento em
tarefas com sentido e objectividade para si próprios. Em tais casos, o
cumprimento das regras a observar é compreendido e legitimado, ou porque
foram definidas com a sua participação ou porque sabem, em cada momento,
o que lhes é lícito fazer (CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 19).
Segundo Tavares (apud CAEIRO; DELGADO, 2005) convidar os alunos a
participarem e a tomar responsabilidade na vida da escola e na sala de aula contribui
para que a escola seja mais agradável aumentando a probabilidade dos alunos
apresentarem comportamentos desejáveis.
É importante acreditar no potencial de progressão do aluno e nas suas
possibilidades se caracteriza como um passo positivo de atuação e assim vai-se criando
neste aluno uma melhor autoestima e favorecimento progressivo de modificações dos
comportamentos indisciplinados no contexto escolar (CAEIRO; DELGADO, 2005).
Bandura (apud CAEIRO; DELGADO, 2005) diz que da mesma forma que
comportamentos indisciplinados são aprendidos os de disciplina também o são, desde
que os acontecimentos que os antecedem sejam alterados ou vice-versa, bem como se o
professor portar-se com consonância entre o que diz e o que faz. “De facto está
comprovado que um aluno tem maior tendência para revelar um comportamento
indisciplinado quando não acha a escola suficientemente satisfatória para o levar a fazer
um esforço” (Jesus apud CAEIRO; DELGADO, 2005, p. 20).
Pedro-Silva (2013) apresenta soluções que podem ser postas em prática com o
objetivo de equacionar o problema da indisciplina são fáceis de serem ditas, entretanto
difíceis de serem concretizadas levando-se em conta uma série de razões. Dentre estas
razões se percebe que muitas vão além da competência oferecida pelos diversos
profissionais que se envolvem com estas questões, outra é estas ações demandam de
tempo e são dependentes de mudanças internas, por exemplo: ter respeito pelo aluno e
exigir dele o mesmo respeito.
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
O capítulo que segue objetiva apresentar os dados que emergiram no campo.
Esta descrição apresentar-se-á por categorias distintas uma das outras, que por outro
lado, estas categorias tendem a se convergir em suas provocativas e pontos de
discussão.
As respostas do questionário inicial obtidas via formulário eletrônico do Google
Docs estão apresentadas nas tabelas e gráficos que seguem. As respostas coletadas pelas
entrevistas estão apresentadas pelas falas dos alunos que foram caracterizados desde
EA1 (Entrevista Aluno 1) até EA23 (Entrevista Aluno 23) e as respostas coletadas
pelo questionário aplicado após o jogo psicopedagógico estão apresentadas como JA1
(Jogo Aluno 1) até JA23 (Jogo Aluno 23).
A partir dos dados coletados no campo, 4 (quatro) foram as categorias que se
delinearam, relacionando-se com os objetivos desta pesquisa: 1. Categoria conceito de
indisciplina; 2. Categoria causas de indisciplina; 3. Categoria consequências da
indisciplina; e 4. Categoria: encaminhamentos em relação ao problema.
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS SUJEITOS
Este trabalho foi desenvolvido com 23 alunos frequentadores de uma escola
pública municipal localizada na cidade de Caçador no meio oeste catarinense.
Oportunizar aos alunos o falar e refletir sobre estas temáticas dentro e fora das
suas vidas escolares, na atualidade, tem-se caracterizado necessário e oportuno para que
estes jovens possam se sentir partícipes da construção de suas próprias histórias.
O perfil dos alunos participantes desse trabalho se descreve com uma faixa etária
de 12 a 15 anos de idade como se pode contemplar na tabela 1 no capítulo 2 (dois)
intitulado “Indicação dos Procedimentos Metodológicos e Técnicos”.
Para conhecer um pouco mais sobre os alunos, foram questionados com quem
estes moram:
58
Tabela 2 – Com quem mora
Respostas Total %
Com a mãe, apenas 2 8,7
Com o pai, apenas 1 4,35
Com os pais e irmãos 14 60,87
Com o pai e os irmãos 1 4,35
Com a avó, apenas 2 8,7
Com os tios e a avó 1 4,35
Com os avós 1 4,35
Com a tia 1 4,35
Total 23 100,00
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
O convívio relacional dos alunos, em casa, na sua maioria se dá com os pais e
irmãos, como se pode observar na tabela acima: 14 deles (60,87%). Em seguida se
destaca o convívio apenas com a mãe (2 participantes 8,7%) e apenas com a avó,
também 2 participantes (8,7%).
4.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE
Segue-se com a apresentação e análise das respostas dos alunos ao questionário
inicial respondido via formulário eletrônico do Google Docs, entrevistas e respostas
coletadas pelo questionário aplicado após o jogo psicopedagógico.
4.2.1 Categoria 1: Conceituando o problema da indisciplina na escola
A indisciplina tem-se apresentado na escola como um dos mais importantes
problemas da atualidade. Na escola em que esta pesquisa foi realizada não foi diferente.
Quando perguntado sobre o que significa a indisciplina, os alunos responderam:
59
Grafico 1 – O que é indisciplina para você?
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
Percebe-se que todas as respostas, com exceção de uma (falta de alguma coisa
desejada) correspondem a conceitos de indisciplina associados a condutas antissociais.
Segundo Rego (1994, p. 85) no meio educacional esta visão é bastante
difundida.
Costuma-se compreender a indisciplina, manifesta por um indivíduo ou um
grupo, como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia,
intransigência, desacato, traduzida na “falta de educação ou de respeito pelas
autoridades”, na bagunça ou agitação motora. Como uma espécie de
incapacidade do aluno (ou de um grupo) em se ajustar às normas e padrões de
comportamento esperados.
Ainda, segundo esta perspectiva de entendimento do comportamento
inadequado, toda manifestação de inquietação, discordância, questionamento,
desatenção e conversa por parte dos alunos é definido como indisciplina.
Para estes alunos a indisciplina se pauta no referencial do próprio aluno, ou seja,
um aluno indisciplinado é aquele que possui “uma conduta desviante em relação a uma
norma explícita ou implícita” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 21).
Segundo Parrat-Dayan (2015), as especulações acerca da conduta e perda da boa
educação por parte dos jovens não é de hoje e sim há muito tempo que se pode
encontrar registro desta constatação. Há uma perspectiva de se explicar a indisciplina
60
seguindo estas constatações relatadas pelos alunos participantes desta pesquisa, quer
dizer, configura-se uma afirmação de que os jovens de hoje pensam apenas em si
próprios e que perderam qualquer forma de respeito por seus pais, pelas pessoas mais
velhas e pelos professores.
“A perda de marcos de referência com relação ao comportamento é uma
constante da convivência entre gerações. Porém, a deterioração da situação nas escolas é
real. Há mais reclamações dos professores e as agressões verbais e físicas contra eles
multiplicam-se” (PARRAT-DAYAN, 2015, p. 23).
Durante a entrevista, também se pode identificar que a compreensão dos alunos
sobre indisciplina segue o conceito de um comportamento inadequado que se traduz na
falta de respeito, má educação, descumprimento das regras e etc.
Apresentam-se as seguintes respostas dos alunos na entrevista:
Má educação, não ter respeito com ninguém. (EA1)
[...] é falta de educação, com os professores, com tudo. A professora
esses dias foi falar uma coisa os pias brigaram com a professora, a
professora só estava falando que não era para fazer (...) é isso é falta
de educação ficar falando essas coisas para a professora, depois ela
está ali para ensinar a gente e não para ficar ouvindo falta de educação
com ela. (EA2)
Quando não respeita os professores, ou que fala alguma coisa que seja
de má educação, algo assim, para mim é isso. (EA3)
[...] é faltar com respeito com as pessoas e destruir as coisas. (EA5)
É má educação, “tipo” se a pessoa xingar você assim, e você já querer
brigar assim, isso é indisciplina pedir para ir no banheiro e não deixar
e pegar e sair sem permissão do professor, isso ai é indisciplina.
(EA16)
É não obedecer aos pais, a escola, as regras. (EA9)
Para mim é não obedecer aos professores os pais, as pessoas que mais
mandam assim e não obedecer às regras. (EA19)
Da mesma maneira, pode-se contemplar esta perspectiva de entendimento do
referido conceito nos exemplos sobre indisciplina apresentados pelos alunos na tabela 3
que segue:
61
Tabela 3– Dê exemplos de indisciplina
Respostas Total %
Palavrões e xingamentos 6 26,1
Brigas 3 13
Desobedecer ordens de professores durante as
aulas
2 8,7
Raiva 1 4,35
Uma pessoa que atrapalha o respeito e a
educação
1 4,35
Falta de educação 1 4,35
Desobediência, teimosia 1 4,35
As duas partes querendo falar ao mesmo tempo
ai da conflito e brigas e indisciplina
1 4,35
Tratar mal os professores e alunos 1 4,35
Xingar, bater e desrespeitar os pais 1 4,35
Bullying 1 4,35
Quebrar um vidro 1 4,35
Não respondeu 1 4,35
Outras 2 8,7
Total 23 100,00
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
A maioria das respostas, 26,1% se refere a atitudes inadequadas do tipo agressão
verbal. Brigar e desobedecer a ordens dos professores durante as aulas, também se
destacam. Todavia, todas as respostas se associam a falta de obediência, a teimosia, má
comportamento e atitudes consideradas inadequadas para um espaço que teoricamente
se apresentaria como lugar de respeito, acolhimento e educação para as pessoas, um
lugar chamado escola. Estes dados também puderam ser constatados por Golba (2008)
na sua pesquisa sobre a indisciplina na perspectiva de alunos.
Segundo Parrat-Dayan (2015) estas condutas traduzidas como exemplos de
indisciplina se manifestam em situações particulares e não existe uma regra em que se
apresentem da mesma maneira, configurando um problema. Em alguns momentos é um
grupo de alunos que se alienam e desestabilizam a dinâmica da aula com condutas
como: resistências às atividades propostas, desafio verbal, brincadeiras insolentes em
relação ao professor, etc.
62
Pedro-Silva (2012, p. 21) diz que o termo indisciplina na maioria das vezes é
usado para designar comportamentos que se apresentem contrários à regra, à norma e à
lei. “No caso da escola, significa que todas as vezes em que os alunos desrespeitarem
alguma norma desta instituição serão vistos como indisciplinados.”
Segundo Vasconcellos (2009, p. 162-163):
No âmbito escolar, enorme gama de problemas de indisciplina tem origem no
desrespeito. [...] Neste momento, gostaríamos de abordar o aspecto do
desrespeito que não costuma ser tão facilmente veiculado ou nem sequer
admitido: o da escola/professor em relação aos alunos. [...] Objetivamente, e
com frequência, a indisciplina dos alunos é uma reação ao desrespeito, aos
coeficientes de poder não adequadamente equacionados pelo professor.
Diante desse equívoco, não é muito razoável esperar que o aluno levante a
mão e argumente: “Professor, gostaria de pôr em questão nossa relação,
tendo em vista a percepção de que entramos num processo de reificação, no
qual minhas potencialidades ontológicas e epistemológicas estão sendo
subestimadas”... Os educandos não conseguem verbalizar de maneira clara,
porém encontram algum caminho para manifestar que as coisas não vão bem
(querem sair a todo momento da sala de aula, ficam conversando fora do
assunto, não fazem as lições, agridem o colega ou o professor).
Para Aquino (1994, p. 40) as definições sobre indisciplina e os exemplos de
indisciplina apresentados pelos alunos desta pesquisa se endossam na fala dos
professores que também entendem este problema como uma dificuldade fundamental no
trabalho escolar. Para estes professores “o ensino teria como um de seus obstáculos
centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em termos como: bagunça,
tumulto, falta de limite, maus comportamentos, desrespeito às figuras de autoridade
etc”.
O entendimento sobre o conceito da indisciplina baseado na figura do aluno
sobre o olhar psicológico de uma carência psíquica do aluno, noutras palavras,
O reconhecimento da autoridade externa (do professor, no caso) pressupõe
uma infraestrutura psicológica, moral mais precisamente, anterior à
escolarização. Esta estruturação refere-se à introjeção de determinados
parâmetros morais apriorísticos, tais como: permeabilidade a regras comuns,
partilha de responsabilidades, cooperação, reciprocidade, solidariedade etc.
Trata-se, pois, do reconhecimento da alteridade enquanto condição sine qua
non para a convivência em grupo e, consequentemente, para o trabalho em
sala de aula (AQUINO, 1994, p. 45).
Sugere-se que o aluno atual carece de tais parâmetros supracitados. Este aluno
estaria acometido por agressividade/rebeldia, ou apatia/indiferença, ou desrespeito/falta
de limites.
63
Percebe-se que a forma como os alunos conceituam a indisciplina está
diretamente relacionado a como estes alunos se organizam no dia a dia. O jogo poderia
ser organizado com duas possibilidades de sequências como se pode constatar no
capítulo 2. Entretanto, todos os alunos organizaram as sequências de cenas nas três
sessões da maneira como segue. Todas as sequências vêm ao encontro de como eles
definiram o conceito de indisciplina e de como a exemplificaram.
Na 1ª sessão descreveu uma situação de disputa de uma cadeira por dois colegas
de classe, dentro da sala de aula, e o posicionamento do professor.
Na 2ª sessão a situação apresentou o desentendimento entre os alunos e o
posicionamento do professor.
E na 3ª sessão o desentendimento entre os alunos com a professora por causa do
uso do celular e o posicionamento da direção da escola.
64
Quando perguntado no questionário após a aplicação do jogo psicopedagógico
se: A ação dos (as) alunos (as) poderia ser considerada indisciplinada? Se sim, por quê?
As respostas foram endossam o discurso das entrevistas:
Sim, porque eles discutiram com a professora. (JA1)
Indisciplinada sim, porque eles estão mexendo durante o horário de
aula. (JA2)
Sim, porque existe uma regra que eles não cumprem. (JA3)
Sim. Estão fazendo briga por tudo. (JA10)
Sim, não se comportaram. (JA21)
Segundo Estrela (2002, p. 17) “O conceito de indisciplina relaciona-se
intimamente com o de disciplina e tende normalmente a ser definido pela sua negação
ou privação ou pela desordem proveniente da quebra das regras estabelecidas”.
O conceito de indisciplina também pode ser configurado como um fenômeno
transversal as unidades conceituais – professor/aluno/escola – quando se toma de forma
isolada como recortes do pensamento, noutras palavras, “indisciplina é mais um dos
efeitos do entre pedagógico, mais uma das vicissitudes da relação professor-aluno, para
onde afluem todas essas “desordens” anteriormente descritas.” (Aquino, 1994, p. 49)
4.2.2 Categoria 2: Causas da indisciplina
A escola como agencia socializadora é influenciada por toda uma transformação
histórico-social e pelas mudanças pedagógicas que por consequência interferem nas
atitudes dos professores e nos comportamentos dos alunos. Também existem outros
fatores que são determinados por este contexto e que sim, prejudicam a relação
professor/aluno e que podem direcionar ações que terminem em indisciplina
(OLIVEIRA, 2011).
Destarte que esses fatores não atuam com a mesma intensidade no
comportamento do aluno e isso dependerá das circunstancias e realidade de cada aluno e
de cada escola. Podem ser fatores internos ou externos a esta instituição (OLIVEIRA,
2011).
65
Desta forma, apresentar-se-ão quais as causas da indisciplina segundo os alunos
da escola pesquisada e quais são os influenciadores de acordo com a realidade destes
alunos.
Perguntou-se:
Tabela 4 – Por que você acha que a indisciplina acontece?
Respostas Total %
Porque tem pessoas que não tem educação 5 21,7
Por talvez ser revoltado com alguma coisa 4 17,4
Por namorada 1 4,35
Porque os pais não tomam conta de seus filhos
como deveriam
1 4,35
Porque não sabem se respeitar 1 4,35
Porque alguns alunos não aceitam serem
contrariados
1 4,35
Porque as vezes os pais querem proteger
demais e os filhos acham que já sabem de tudo
e também muita manha
1 4,35
Quando a pessoa não houve e não faz sua
obrigação
1 4,35
Porque as pessoas sofrem por alguma coisa 1 4,35
Porque as pessoas se revoltam um pouco 1 4,35
Talvez pela falta de carinho 1 4,35
Por falta de respeito 1 4,35
Por não ter medo das punições 1 4,35
Acho que as vezes por falta de cobrança por
parte dos pais
1 4,35
Outras 2 8,7
Total 23 100,00
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
Percebe-se das respostas apresentadas na tabela a existência de múltiplos fatores
que podem ser organizados em dois eixos: fatores psicossociais e fatores pedagógicos.
Como fatores psicossociais encontram-se os de ordem da família sinalizados
pelas respostas: Porque os pais não tomam conta de seus filhos como deveriam; Porque
as vezes os pais querem proteger demais e os filhos acham que já sabem de tudo e
também muita manha; Acho que as vezes por falta de cobrança por parte dos pais.
66
Ainda como fatores psicossociais, mas na ordem da carência afetiva
apresentam-se as seguintes respostas: Por talvez ser revoltado com alguma coisa; Por
namorada; Porque as pessoas sofrem por alguma coisa; Porque as pessoas se revoltam
um pouco; Talvez pela falta de carinho.
Como fatores pedagógicos as respostas são: Porque tem pessoas que não tem
educação; Porque não sabem se respeitar; Porque alguns alunos não aceitam serem
contrariados; Quando a pessoa não houve e não faz sua obrigação; Por falta de
respeito; Por não ter medo das punições.
Oliveira (2011) diz que o aluno chega a escola levando consigo suas
inseguranças, angústias, traumas, entre outros componentes que são fruto de uma
herança recebida no convívio familiar, além, claro da educação recebida na sociedade.
Quero chamar a atenção para o fato de que muitas famílias se encontram
desorientadas. Os familiares às vezes se agridem diante das crianças, e alguns
são alcoólatras, drogados, violentos ou ausentes, e não sabem como impor
limites e esclarecer às crianças que elas têm direitos mas, também, deveres a
cumprir (OLIVEIRA, 2011, p. 49).
A autora pode constatar esse fato numa das pesquisas que realizou. A aluna
apresentava muitos problemas de comportamento e os pais não compareciam quando
chamados. Constatou-se que tanto o pai quanto a mãe eram usuários de droga e
deixavam a menina a sua própria sorte. Por outro lado, existe o fato de
pais/responsáveis que estão fora de casa trabalhando ou à procura de trabalho e por
consequência não lhes sobra tempo para darem atenção a estas crianças. (OLIVEIRA,
2011)
Em geral, em casos como esses, as crianças passam o dia todo sozinhas, em
casa ou na rua. E os pais/responsáveis transferem para a escola toda, ou quase
toda, a responsabilidade da educação de seus filhos: estabelecer limites e
desenvolver hábitos básicos. Fica a cargo do professor ensinar às crianças
desde amarrar os sapatos, dar iniciação religiosa, até estabelecer limites que
já deveriam vir esclarecidos de casa (OLIVEIRA, 2011, p. 49).
Oliveira (2011) diz que este comportamento dos pais/responsáveis também
sofreu a influencia desestruturante do meio social construída ao longo da história. Por
consequência, percebe-se que a educação oferecida em casa se reflete no como o aluno
vai construir a relação com os colegas e com os professores e que as vezes pode gerar
atitudes indesejáveis na escola culminando em desobediência, falta de respeito com os
67
colegas, professores e outras pessoas, agressividade, entre muitos outros
acontecimentos.
Outro fator importante se dá pelo fato de que muitos alunos apresentam carência
afetiva “pois não puderam contar com os pais para lhes dar carinho nem tampouco lhes
ouvir” (OLIVEIRA, 2011, p. 56).
As respostas apresentadas na tabela 4 são ratificadas pelo discurso dos alunos na
entrevista quando perguntado: O que provoca a indisciplina?
Irritação às vezes. Sei lá, eles se irritam por qualquer coisa, daí brigam
um com o outro. (EA8)
Ah, eu acho que “tipo”, falta de respeito é uma coisa na verdade, que
tem gente, acho que todo mundo tem um pouco de falta de respeito, só
que alguns sabem controlar isso, e alguns simplesmente estão com
algum problema alguma coisa e querem descontar em todo mundo.
(EA12)
Pode ser não ter ganhado carinho, alguma coisa que eles queriam e
não tiveram alguma coisa que gerou isso. (EA14)
Falta de respeito, você começa a se xingar com seus amigos do nada
(EA22)
Nos fatores considerados de ordem pedagógica percebe-se a imposição ou a falta
de limites como descritores dos acontecimentos. Constata-se que o discurso dos alunos
descreve o delineamento deste fator:
Desobediência, “tipo” mandar fazer uma coisa e não quer, acho que é
isso. (EA9)
Ás vezes, os alunos até não saber o que pode e não fazer. Os alunos
mesmo sabendo que não podem fazer, fazem para provocar os
professores às vezes. (EA19)
Não sei. Eu acho que a bagunça mesmo, bagunça e palavreado, é isso.
(EA20)
Sabe-se que:
Comumente, a instituição escolar, entendida como o conjunto de educadores
que nela atuam, e tendo como parâmetro seus próprios princípios e valores,
adota normas que devem ser cumpridas pelos alunos, determinando um
padrão de comportamento aceitável pela instituição. Mas se a escola espera a
criança com as regras preestabelecidas, sendo estas rígidas e incontestáveis,
dificilmente a criança vai se adequar àquilo que a escola espera dela
(OLIVEIRA, 2011, p. 59).
68
É importante que as regras estejam de acordo com a opinião da maioria dos
alunos e se possível de todos os alunos. É um processo que deve acontecer de maneira
democrática em que o aluno se reconhecerá desde que participe da elaboração das
normas. Faz-se necessário “que os alunos tenham consciência da importância do
estabelecimento de regras e que estas devem ser seguidas por eles na sala de aula e na
escola, para proporcionar um ambiente saudável para a aprendizagem” (OLIVEIRA,
2011, p. 61).
De modo geral, Vasconcellos (2009) reitera dizendo que a criação de vínculos
afetivos é o ponto principal para (re) estabelecimento de relações pautadas pelo respeito,
com limites, regras e harmoniosamente organizadas.
O processo de criação de vínculos, de inclusão, pode passar por muitas
mediações: o desejo de ser aceito pelos pais, por exemplo, pode levar o aluno
a respeitar a instituição escolar, à medida que esta é um valor para eles. Aqui,
quanto menos mediações, melhor: o ideal é que o aluno se sinta engendrado
pelo próprio espaço escolar, que por meio dele possa sentir reforçado seu
sentido de pertença à humanidade (VASCONCELLOS, 2009, p. 160).
O estudioso acrescenta dizendo que é possível entender a indisciplina escolar
pela falta de credibilidade dada ao aluno, quer dizer, “uma das maiores agressões que
uma pessoa pode fazer a outra é não acreditar nela” (VASCONCELLOS, 2009, p. 160).
Não acreditar nas possibilidades dos alunos tem-se registrado como sério problema no
enfrentamento das questões da indisciplina, pois, “o aluno ‘sente’ que o professor não
acredita, não confia nele. Isso, de certa forma, o autoriza a agir de qualquer jeito, já que
não se espera o melhor dele mesmo” (VASCONCELLOS, 2009, p. 160).
Vasconcellos (2009) destaca a importância de trabalhar os vínculos entre os
alunos e professores e, também, entre os próprios alunos, pois o vínculo desempenha o
papel fundamental na educação e na disciplina.
Pedro-Silva (2013) endossa a problematização de Vasconcellos salientando que
todas as pessoas são responsáveis pela situação a qual se apresentam as questões e os
porquês da indisciplina. Para ele, quando praticamos a política do “faça o que eu mando
e não faça o que eu faço” (PEDRO-SILVA, 2013, p. 80), há uma intenção ilusória de se
colocar de fora do contexto preocupante em que se deparam as questões
comportamentais na escola.
Acrescenta dizendo que manifestações dessa natureza podem se caracterizar
como fugas, de que em outros tempos não existia indisciplina e assinala que em tempos
69
atrás 50% dos estudantes não chegavam sequer a frequentar o equivalente ao segundo
ano do Ensino Fundamental, e por consequência o índice de alunos indisciplinados eram
muito menores se forem comparadas as estatísticas atuais.
Atualmente, a proposta é outra, mesmo que os alunos não venham a se encaixar
no modelo desejado pelo professor deve ser acolhido pela escola e o professor, por sua
vez, deve auxiliar, de todas as formas, este aluno para que se torne “desejante” de saber
formal.
Em seguida, apresentam-se as respostas para a questão que abordou de quem é a
culpa dos atos indisciplinados. Percebe-se que 61% das respostas dos alunos condizem
que na maioria das vezes a culpa é dos próprios alunos juntando-se a 17% que condiz a
uma ação do aluno e 9% trazem a figura dos pais como responsáveis pelo
comportamento indisciplinado dos filhos.
Gráfico 2 – Quando acontecem atos de indisciplina na escola, de quem é a culpa?
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
Para complementar o entendimento deste gráfico perguntou-se: Quem está
envolvido nas situações de indisciplina? Por quê?
Em seguida podem-se contemplar as respostas descritivas dadas na entrevista as
quais retratam os percentis apresentados no gráfico acima e as prováveis formas de
explicação para tal envolvimento.
70
O da sala mesmo, porque às vezes não tem um bom relacionamento
com os outros e trazem para a escola isso. (EA1)
Os mesmos pias que chama elas, mas as meninas não se envolvem
nessas coisas, mas também não são santas. Ás vezes rola um chamado
assim dos outros, mas é só conversar que já para. Agora já tem umas
meninas assim que já não, que já conversam a base disso, já estão
pensando em lá pra frente surrar a menina porque ela falou sobre isso.
(EA2)
Geralmente é mais alunos, né. Alunos e professores, geralmente. Ah,
eu acho que às vezes é porque não concordaria com a forma do
professor ensinar, ou alguma coisa interpretam da maneira errada. Ou
alguma coisa que o professor fala assim, interpreta de maneira
pessoal, de maneira errada, “tipo” levando para o mau. (EA3)
Os alunos. Os alunos quebram as coisas daí os professores às vezes
querem bater nos alunos.Ah! Por causa de falta de respeito, fica
xingando os professores, chamando de retardado, falam um monte de
coisas, alguns chamam até de filho da puta. (EA5)
Os alunos, não sei por que. (EA8; EA13)
Nos aqui na sala. Porque tem as regras ali né, tem que chegar no
horário certo, não pode trazer celular, não pode mascar chiclete, e a
gente faz, até eu masco chiclete, mas eu jogo, não chega no horário
certo, trazer celular e mexer na aula, e às vezes responder a professora,
isso eu não acho legal. Às vezes a professora está tentando explicar
uma coisa e aquele aluno tá conversando com o outro, ela pede para
ficar sentado no lugar, para de conversar e eles não param. “Tipo” eles
falam não vou, dão risada dela. (EA9)
Alunos, nós. Ah, porque sempre tem aquela correria né, andar pela
sala, dai o professor fica bravo, essas coisas. (EA11)
Ah, eu acho que “tipo” pode haver situações de indisciplina em
qualquer lugar né, mas geralmente na escola é um bom exemplo,
porque falando bem a verdade alguns alunos não gostam de estudar né
e ai eles acham que os professores tem culpa, e dai ficam faltando com
respeito com eles, mas o professor tá lá para ensinar quem quer, quem
quer vai aprender, quem não quiser dai não aprende, mas dai não
precisa atrapalhar os outros e atrapalhar o professor por causa disso.
(EA12)
Ah, até às vezes eu fico indisciplina assim, porque fico bastante
nervoso, dai perco o foco dai acabo discutindo com os professores por
causa de notas porque eu acho que mereço mais e eles não veem os
esforço que a gente está fazendo às vezes também. (EA16)
Os alunos, por bagunça. São os mais bagunceiros, porque dai querem
se aparecer mais. Jogam carteira, caderno, é. (EA20)
71
Ratificando essas respostas, para as causas da indisciplina segundo os alunos,
quando os mesmos relataram nas respostas dada a pergunta: Por que você escolheu esta
sequência de cenas? do questionário após o jogo psicopedagógico.
A culpa é dos alunos porque jogaram todo o lixo no chão. (JA2; JA6;
JA9)
Dos alunos que estavam mexendo no celular durante a aula (JA15)
Dos alunos e acabaram discutindo e perdendo o controle por certos
motivos. (JA22)
Para analisar estes relatos, além do que já foi apresentado por Vasconcellos
(2009), Oliveira (2011) e Pedro-Silva (2013) anteriormente, o próprio estudioso Pedro-
Silva (2013) destaca nas suas contribuições alguns propósitos relacionados a família,
que nos relatos e percentis aparece representada na figura dos pais.
Não se pode esquecer, além disso, que a família – como qualquer outra
agência de socialização – é produto do modelo social em voga; logo, é vítima
das condições objetivas de vida. Dessa forma, culpá-las por todas as mazelas
sociais é desprezar questões como a obrigatoriedade imposta aos pais para
que trabalhem excessivamente, com a finalidade de garantir minimamente a
sobrevivência física dos seus filhos. É também não levar em conta que a
função da escola é a de contribuir para o pleno desenvolvimento da
personalidade do educando (PEDRO-SILVA, 2013, p. 80).
Segundo Caeiro e Delgado (2005) quando se referencia a indisciplina no
contexto escolar, esta envolve os comportamentos do aluno/dos alunos que são
considerados perturbadores das atividades que os professores pretendem desenvolver na
sala de aula. Tais comportamentos se referem a: fazer barulho, sair do lugar sem
autorização, agredir verbal ou fisicamente os colegas, entre muitos outros.
O comportamento indisciplinado também pode estar se caracterizando por
motivos que se pautam no desagrado do aluno em relação às temáticas abordadas na
aula e também como estas temáticas são apresentadas pelo professor. Insatisfação frente
às relações interpessoais permitidas ou promovidas pelo professor na sala de aula, e
ainda, pelo fato de quando o aluno se manifesta como líder perante a turma ao
posicionar-se num enfrentamento ao professor.
72
4.2.3 Categoria 3: Consequências da indisciplina
Considera-se que a indisciplina tem ocupado um espaço cada vez mais
considerável no contexto escolar. Estudiosos tem se proposto estudá-la de maneira
crítica não apenas para defini-la, mas também para compreender o que acontece e quais
possíveis consequências são desencadeadas a partir de situações e/ou comportamentos
indisciplinados dentro da sala de aula e no contexto escolar como um todo
(VASCONCELLOS, 2009).
Para entender as consequências geradas pela indisciplina na compreensão dos
alunos pesquisados perguntou-se durante a entrevista: O que um ato indisciplinado quer
demonstrar?
Segundo os alunos:
Sei lá, às vezes atenção, alguma coisa assim, ou algo assim, “tipo”,
bom não tem como explicar assim, eu acho assim, em minha opinião
assim. É isso ai. Vem, vem claro, por causa que às vezes até um
professor até a diretora fica indisciplinada assim, digamos assim, por
causa que perde a razão, tipo, por causa que fala uma vez, fala a
segunda vez e não obedece dai a gente fica irritado, qualquer um vai
ficar irritado de ficar falando, falando a mesma coisa e ninguém
prestando atenção e dai a gente perde o ser dai, a gente fica
indisciplina como se diz assim. (EA16)
Que....quer demonstrar, como ele pode ser com a melhor forma com o
respeito. Na escola, quer demonstrar falta de respeito quanto aos
diretores, quanto aos professores, em qualquer outro lugar a falta de
respeito com os adultos. (EA17)
Que eles não têm medo do professor, e não tem medo de levar
advertência coisas assim. Primeiro que ele não tem medo, e depois
que eles não obedecem porque eles não sabem as regras, ou eles não
querem obedecer porque não tem medo do professor, das
advertências. (EA19)
Neste relato percebe-se que nas consequências geradas pela indisciplina estão
envolvidos os professores e a direção da escola. Segundo Oliveira (2011, p. 62) “alguns
professores acabam desgastando seu relacionamento com os alunos de tanto pedir que
eles façam silêncio”.
Vasconcellos (2009) enfatiza que a insatisfação decorrente de situações
indisciplinadas vivenciadas dentro da sala de aula tem chegado a tal ponto de
desencadear doenças ocupacionais e até abandono do magistério. Dentre as doenças
73
desencadeadas sinaliza-se o esquecimento, a insônia, medo, tristeza, dor de cabeça,
queda de cabelo, calo nas cordas vocais, entre muitos outros sintomas.
Apresenta-se uma crise grave na disciplina escolar e que questiona a própria
existência da instituição escolar no que se refere ao significado social, ou seja,
questiona-se se a escola é necessária? Quanto a sua existência objetiva interfere nas
dúvidas e descrenças relacionado ao tripé professor, aluno e instalações. Tem-se um
quadro marcado pela desistência de professores por conta de um mal-estar e em alguns
casos segundo Codo (apud VASCONCELLOS, 2009) por síndrome de burnout.
Neste tripé que envolve professor, aluno e instalações também se percebe
segundo Parrat-Dayan (2015, p. 59) que:
Muitas são as crianças que não gostam da escola. São crianças
indisciplinadas porque ficam entediadas, porque são obrigadas a permanecer
na escola e não compreendem nada do que fazem; são alunos agressivos, às
vezes, por serem rejeitados por um sistema que não se adapta aos seus
desejos, alunos em trânsito entre uma família desunida e uma sociedade em
crise, alunos desrespeitosos para com o professor e para com o saber, sem
encontrar interesse nenhum em aprender, alunos que estão em ruptura de
sentido.
A autora enfatiza, ainda, que associada a estas questões está a massificação
fazendo que um número maior de alunos entre na escola e “muitos não tem os
referenciais necessários e ignoram as regras elementares da cultura escolar” (PARRAT-
DAYAN, 2015, p. 60).
Para tanto as consequências se registram, segundo os alunos como:
Para se mostrar mais, “tipo” para ofender, “tipo”, sei lá. (EA1)
Às vezes é falta de atenção dos pais, os pais não dão educação direito,
e daí os filhos ficam fazendo as mesmas coisas que fazem em casa
eles fazem na escola. (EA2)
Quer demonstrar que alguma coisa não está certa, ou que não está de
acordo com alguma coisa, eu acho. (EA3)
Acho que falando palavrão. Acho que chamar mais atenção das
pessoas. (EA4)
Que não tem educação, que os pais falaram, não vá naquele caminho,
não ande com aqueles pias, mas eles não deram ouvido e foram, não
queriam saber, dai entraram lá, e queriam.. quiseram essa vida né.
(EA6)
Desobediência, teimosia. (EA9)
74
É que a pessoa não tem respeito por si mesmo. Por que as pessoas às
vezes elas, às vezes acontece uma coisa lá na casa da pessoa, dai a
pessoa vem e desconta-nos outros né. (EA11)
Ah, eu acho que, talvez ele queira mostrar quando algum aluno, ou
alguma pessoa tenha um ato indisciplinado ele esteja passando por
alguma situação, não tá legal, por isso ela está meio estressada, e dai
acaba fazendo alguma coisa, tanto que ela comete um ato
indisciplinado não porque ela é uma pessoa ruim e sim porque ela
estava em um momento ruim, então eu acho que talvez o ato
indisciplinado queira mostrar que a pessoa esteja passando por um
momento difícil e as outras pessoas tem que investigar isso para
ajudar. (EA12)
Eu acho que a falta de educação. O não respeitar as pessoas e também
falar em uma linguagem mais avançada, mais imprópria. (EA14)
Segundo Aquino (1994, p. 46) estas consequências revelam “um sintoma de
relações familiares desagregadoras, incapazes de realizar a contento sua parcela no
trabalho educacional das crianças e adolescentes”.
4.2.4 Categoria 4: Encaminhamentos em relação ao problema
Segundo Garcia (apud MOREIRA, 2012) tem se apresentado muito nos
encaminhamentos oferecidos pela escola como proposta de trabalhar a indisciplina um
direcionamento da questão tratada enquanto problema atribuído ao aluno. Neste caso é
entendido que a solução cabe a um adulto que apresente maior responsabilidade.
Primeiramente a atuação está na transformação do aluno e num momento posterior
pensar nas possibilidades da recuperação das condições de aprendizagem.
Este é o pressuposto que norteia as respostas apresentadas pelos alunos no
questionário inicial referente aos encaminhamentos que a escola deva organizar para
trabalhar o problema da indisciplina, ou seja, os alunos registram que atos de
indisciplina merecem punição segundo as respostas de 22 dos 23 alunos participantes
desta pesquisa, como se pode verificar no gráfico 3 e em seguida na tabela 5
apresentam-se as justificativas para tal resposta.
75
Gráfico 3 – Atos de indisciplina merecem punição?
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
Tabela 5 – Por quê?
Respostas Total %
Para aprender 2 8,7
Porque faltou educação 2 8,7
Para aprender o respeito 2 8,7
Para não acontecer mais 2 8,7
Porque senão continuará acontecendo
indisciplina
2 8,7
Porque merecem 1 4,35
Porque não é legal 1 4,35
Porque se não forem punidos serão repetidos 1 4,35
Porque é feio praticar indisciplina 1 4,35
Porque se não houver punição irão continuar
fazendo as mesmas coisas
1 4,35
Porque precisa saber que o que está fazendo
está errado
1 4,35
Porque quem fez merece ser “culpado” 1 4,35
76
Porque é ruim cometer indisciplina 1 4,35
Para tentar resolver o problema e mostrar a
quem cometeu a indisciplina que não deve
cometer novamente
1 4,35
Outras 4 17,4
Total 23 100,00
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
As respostas apresentadas pelos alunos para justificar o porque um
comportamento indisciplinado merece ser punido baseiam-se no fato de que é errado e
quem “comete” indisciplina merece ser punido para que não venha mais contecer
supondo que a partir da punição o aluno tenha aprendido como agir e o problema tenha
sido, desta forma, resolvido.
A fala de EA16 descreve o que os alunos querem dizer sobre punir um ato de
indisciplina:
Merecem, merecem, tem que ter castigo, alguma coisa assim,
desconto de ponto que nem os professores usam, ir para a diretoria
ficar lá, por causa que, merece tem que ter algum castigo se não, não
vai aprender e vai continuar fazendo a mesma coisa toda vez que
ocorrer uma discursão ou uma coisa assim.
Punir segundo EA16 é castigar, descontar ponto e ir para a diretoria.
Esta fala também está representada no momento do jogo psicopedagógico
quando todos os alunos responderam “Sim” a pergunta: atitudes como essa merecem
punição? Justifiquem a resposta. As atitudes indisciplinadas dos alunos representados
nas sequencias das cenas merecem punição. Segundo eles por que:
Por que não é correto. A responsabilidade é nossa. (JA22)
Por que o que os alunos fizeram é errado. (JA9)
Por que atrapalha a aula. (JA19; JA21)
77
Por que há a violação de uma regra da escola. (JA3; JA17)
Por que é proibido e para não se repetir. (JA14)
Por que se não forem punidos vão continuar fazendo a mesma coisa.
(JA3)
Tabela 6 – Como são resolvidas as situações de indisciplina na sua escola?
Respostas Total %
Conversando com a diretora, as vezes com
advertência
2 8,7
Às vezes eles mandam um papel e eles ficam
em casa
1 4,35
Educando 1 4,35
Com educação e colaboração 1 4,35
Assinando a ata e levando suspensão 1 4,35
Com advertências e conversas com os pais 1 4,35
Chamando os pais 1 4,35
Com a diretora 1 4,35
Com advertência e diálogo com os pais 1 4,35
Chamando os pais, advertência, suspensão ou
conversando
1 4,35
Diretoria ou debates um humilhando o outro 1 4,35
Com gritos 1 4,35
Chamando os pais dos alunos 1 4,35
Ficam sem recreio e sem sair da sala 1 4,35
Sendo levados para a orientação 1 4,35
Se acontecer brigas, normalmente é uma
advertência, eu não sei muito bem
1 4,35
Calma e respeito 1 4,35
Conversando com a diretora ou as supervisoras 1 4,35
Os professores ou diretores conversam com os
alunos
1 4,35
Com advertências 1 4,35
78
Com punições e advertências 1 4,35
Depende de quantas vezes já foi cometida, na
primeira vez é resolvida com conversa e se
acontecer mais vezes com punições como
advertências ou suspensões
1 4,35
Total 23 100,00
Fonte: Dados da pesquisa (2015)
Percebe-se nas respostas apresentadas no questionário inicial (tabela 6) que na
escola as situações de indisciplina, na maioria das vezes, são resolvidas de forma
punitiva (Ficam sem recreio e sem sair da sala; às vezes eles mandam um papel e eles
ficam em casa; assinando a ata e levando suspensão; advertência, suspensão). Algumas
respostas sinalizam que a conversa e o diálogo são a maneira que a escola resolve as
situações de indisciplina. Em alguns momentos os alunos também sinalizaram que os
pais são chamados para conversar e a conversa direta com o aluno também aparece
como resposta para resolução do problema, porém, a conversa direta com o aluno está
representada nas respostas com menos incidência se comparada as ações punitivas
citadas anteriormente.
Na entrevista e no questionário após a aplicação do jogo psicopedagógico a fala
dos alunos ratifica as justificativas apresentadas no questionário inicial como se pode
perceber nos relatos que seguem:
Às vezes a gente vai lá falar com elas sobre isso, elas dão suspensão.
(EA2)
Às vezes com advertência, conversa com os pais. (EA3)
Só conversando. E as vezes liga para os pais.(EA4)
Chamando os pais, dando advertência, suspensão, fazendo assinar a
ATA. Os professores também nos xingam bastante, “tipo” de você
fazer bagunça na sala, eles pegam e xingam bastante. Eles falam que é
para a gente parar, que eles vão chamar o pai da gente, que eles vão
levar para a diretoria. (EA5)
Sim, na escola às vezes chama os pais, mas é só com conversa e com
advertência. (EA7)
Eles vão para a diretoria. Dá suspensão. (EA8)
Eles dão advertência mais não adianta! (EA9)
79
Debate. “Tipo”, por exemplo, tem vezes que o aluno debate com o
professor e o professor responde, dai meio que param, dai começa a
cochichar baixinho, dai o professor escuta e fica olhando. (EA11)
Indo na diretoria conversando com a P. também, e de vez em quando,
advertência. (EA13)
Quando não da para resolver na boa, dai a gente leva alguma
advertência, suspensão, é chamado pai, mãe se não a gente conversa
normal, dai pede desculpa um para o outro e volta ser amigo normal,
sem briga sem discursão sem nada dai busca sempre estar ajudando
dai. (EA16)
Com respeito e com calma. (EA17)
Nós somos punidos. É, assinar a ATA, isso ai. Ele pega e escreve no
caderno para a mãe e o pai assinar. (EA20)
Quando perguntado no questionário após a aplicação do jogo psicopedagógico
se os alunos concordam com o posicionamento assumido pelo (a) professor (a)? e que
justificassem as suas respostas. Todos disseram que Sim! Que concordavam com o
posicionamento assumido pelo (a) professor (a) e justificaram dizendo:
Se eles tivessem obedecido não precisava ir para a diretoria. (JA1)
Concordo. Sempre chamar a atenção e castigar. (JA2)
Por que ele deu uma bronca nos alunos para eles mudarem. (JA3)
Por que foi justa. (JA4)
Na sala quem manda é ela (a professora). (JA9)
Por que eles (professores) estão cumprindo as regras da escola. (JA14)
Por que mandou para a diretoria. (JA16)
Só chamar a atenção não adianta. (JA17)
Moreira (2012) diz que é importante fazer uma leitura atenta dos contextos de
indisciplina e assim organizar uma intervenção pedagógica que transforme a
organização da dinâmica diária ou mesmo as condições da relação pedagógica. “A
indisciplina serviria de alerta ao professor quanto à necessidade de modificar sua
abordagem em sala de aula, por meio de outra percepção da sua relação com a turma”
(MOREIRA, 2012, p. 176).
80
Quando o professor realiza esta leitura do contexto e “percebe a necessidade de
melhorar a disciplina em sala, por exemplo, será importante que possa conectar suas
expectativas com as mensagens e necessidades comunicadas pelos alunos, em uma
direção que atenda ao processo de aprendizagem em curso.” Pois, caso contrário, “uma
intervenção baseada somente em alguma estratégia que pareça eficaz ao docente,
segundo suas expectativas unilaterais”, pode se configurar como uma resposta que não
vem ao encontro daquilo que o contexto de indisciplina está tentando comunicar, por
exemplo (MOREIRA, 2012, p. 176).
Ao intervir num contexto de indisciplina, é interessante que antes, o professor
juntamente com a equipe pedagógica tenha elaborado uma concepção de disciplina e de
indisciplina, para que sejam elencados critérios ao analisar o contexto e também quais
são as influencias que dão origem ao surgimento de indisciplina para que desta maneira,
por consequência, possa se desenvolver estratégias consistentes de intervenção
(MOREIRA, 2012).
Finalizando, foi questionado após a aplicação do jogo psicopedagógico se os
alunos acreditam que funciona a maneira como a sua escola resolve as situações de
indisciplina? Por quê? Todos os alunos responderam que “Não”, a maneira como a
escola está “resolvendo” as situações de indisciplina está se apresentando ineficaz,
como se pode ler nas respostas dos alunos:
Não. Por que em várias vezes eles continuam com a indisciplina.
(JA1)
Não. Porque eles (alunos) continuam fazendo. (JA9)
Não. Por que depois voltam a fazer a mesma coisa. (JÁ 15; JA19;
JA21)
Moreira (2012) enfatiza que direcionar encaminhamentos com a finalidade de
intervenção nas situações de indisciplina apresenta como objetivo não apenas amenizar
ou solucionar as questões na ordem da convivência entre os alunos, mas que deve atuar
na reorganização do desenvolvimento da aprendizagem dos alunos.
Garcia (apud MOREIRA, 2012, p. 175) ressalta que toda intervenção sobre
indisciplina na escola precisa englobar ações de visão mais ampla que se apresentem
“sensíveis e capazes de considerar as conexões locais e globais daquilo que ocorre
dentro da escola”.
81
“Assusta muito ver como a escola não muda, ou muda muito lentamente. O
discurso educacional tem mudado com uma velocidade incrível, mas a prática resiste,
perdura,” diz Vasconcellos (2009, p. 142).
A punição como encaminhamento aos problemas da indisciplina ao longo prazo
potencializa ou desenvolve problemas psicológicos e não desenvolve aprendizagem de
novos comportamentos nos alunos. É interessante trabalhar o encantamento no aluno
frente às questões do dia a dia da sala de aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A indisciplina não é considerada um problema atual nas escolas de modo geral e
nem tampouco para a escola participante deste trabalho de pesquisa. Entretanto, é nos
últimos anos que se potencializa os debates e as pesquisas relacionadas a esta temática
como se pode constatar no “estado da arte” apresentado nesta dissertação.
Assim, o desafio foi estudar como os alunos do 8º ano desta escola
compreendem este problema da indisciplina, suas causas e consequências para o
cotidiano escolar.
Para a maioria dos alunos do 8º ano a indisciplina esta definida como condutas
antissociais e se pautam na própria referência de aluno. Como exemplo eles citam: o
brigar, o descumprimento de regras, bater em outras pessoas, xingar colegas e
professores e responder pais, amigos e professores.
Esta percepção sobre a indisciplina também se configurou após a apresentação
do jogo psicopedagógico em que os alunos tinham outras possibilidades de desfechos
das histórias, entretanto, todas se caracterizaram seguindo um desfecho que ratifica a
ideia inicial dos alunos sobre a indisciplina.
Segundo a literatura, conceituar a indisciplina a partir desse ponto de vista
configura uma das muitas possibilidades de se definir e problematizar sobre o tema. É
notório que a maneira como os alunos definem e exemplificam se relaciona a maneira
como está configurado para eles o problema tanto pela via comportamental como a
critério de pensamento.
A indisciplina propõe e permite várias interprestações, pois se apresenta
enquanto constructo cultural com componentes que variam conforme o tempo e os
personagens (REGO, 1994).
As causas da indisciplina para estes alunos estão relacionadas a fatores
psicossociais, na maioria das respostas, e por fatores pedagógicos. Relatam, perfazendo
um total de 61% das respostas como sendo do aluno, a culpa pelos atos de indisciplina
que acontecem na escola.
83
Nota-se que os alunos conceituaram e delinearam as causas da indisciplina
segundo um modelo psicológico que perdurou até os anos 70 com maior intensidade.
Segundo este modelo a indisciplina se associava a referencias do aluno adaptado ou
inadaptado considerando uma indisciplina associada a condutas antissociais e a
perturbações de personalidade (CAEIRO; DELGADO, 2005).
Os alunos do 8º se veem como principais motivadores de indisciplina na escola,
entretanto surge um questionamento para uma futura pesquisa: para estes alunos as
regras estão claras e como segui-las? Seria possível por parte da escola e dos alunos
trabalharem o que pode e o que não pode de forma democrática e assim ser conhecido
por todos? Os alunos se sentem confortáveis em poder participar de possíveis decisões
em relação ao problema da indisciplina?
Veiga (2007) aponta a necessidade de desenvolver nos alunos um sentimento de
pertencimento à escola como um lócus em que o reconhecimento e a estima sejam
direcionamentos significativos.
Sugere-se que este estudo se fez importante inclusive para poder mostrar aos
alunos quais as outras possibilidades de mapear a indisciplina e suas causas no próprio
contexto escolar em que estão inseridos.
Atualmente, a compreensão das causas do problema da indisciplina se referem
as muitas possibilidades e de modo geral considera-se um aluno bio-psico-histórico-
social.
A escola é a representante da educação formal na sociedade e isso sinaliza que
os alunos que fazem parte desta instituição não estão alienados as forças externas, ou
seja, a educação informal e aos modelos aprendidos no seio familiar. Trazem para a
escola muito do que aprendem e compartilham nas suas famílias e nas relações com
outras pessoas da sociedade.
As consequências vêm ao encontro das causas que segundo os alunos estão
gerando a indisciplina na escola. O fator família tem-se registrado como um dos
principais motivadores do comportamento indisciplinado.
Pois, sugere-se que não poderia ser de maneira diferente considerando que a
família tem enfrentado desafios econômicos e sociais que estão ladeados as
transformações e exigências macrossociais.
Há um prejuízo no ensino aprendizagem e na relação professor/aluno em virtude
de como está apresentada a interferência destes comportamentos indisciplinados na
escola. A postura desrespeitosa tem acarretado consequências negativas no dia a dia das
84
atividades acadêmicas e desgaste na relação aluno/aluno e aluno/professor que
necessariamente deve estar em harmonia para o bom desempenho enquanto ser humano
e o próprio desempenho acadêmico.
96% dos alunos dizem que os atos de indisciplina merecem punição para que
quem apresentar comportamentos indisciplinados aprenda a ter respeito porque faltou
com educação e que a punição tenha um efeito de evitar para que os comportamentos
não voltem a acontecer.
Os alunos também sinalizam que a postura adotada pela escola se dá por vias de
punição, entretanto, todos os alunos concordam que a forma como a escola propõe
como resolução da indisciplina não é eficaz.
É importante deixar de conceber, primeiramente, que o aluno indisciplinado é o
problema. Quando se enfatiza que a indisciplina pode mostrar muitas facetas, isso pode
estar significando que é necessário conhecer o que está nas entrelinhas das causas dessa
indisciplina. Noutras palavras, se os alunos estão se reconhecendo como o principal
fator causal dessa disfuncional idade de comportamento na escola é de saber que por
detrás desta manifestação latente tenham-se muitos caminhos a serem percorridos para o
entendimento não apenas das causas, mas de toda complexidade que envolve esta
situação no dia a dia dessa escola.
Sinaliza-se que o trabalhar/intervir na questão indisciplina nesta turma se refere,
primeiramente, a uma desconstrução da identidade dos alunos assumida como
problema.
Como seria a percepção dos professores que atuam no 8º ano a respeito dessa
temática? A sensação ao finalizar esta pesquisa é de ter muito mais perguntas do que
respostas.
Esse trabalho apresentou como êxito, também, a criação e aplicação do jogo
psicopedagógico o qual juntamente com os outros instrumentos metodológicos
possibilitaram aos alunos do 8º ano “vez” e “voz” com relação a problemática da
indisciplina vivenciada no dia a dia escolar.
Enquanto pesquisadora destaco a satisfação em poder contribuir com esse
primeiro passo na tentativa de auxiliar a escola e os alunos do 8º no que se trata da
problemática indisciplina dentro do contexto escolar deles.
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ANEXO A: PARECER COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
90
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93
ANEXO B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) DESTINADO AOS PAIS OU RESPONSÁVEIS
Titulo da pesquisa: IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA ESCOLA: alunos adolescentes analisam o problema. Pesquisada Responsável: Roberta Aparecida Varaschin Telefone de contato: (49) 8428-2513 E-mail: [email protected] Período total de duração da pesquisa: Julho de 2015 a Julho de 2016 1. Seu (sua) filho (a): ...................................... está sendo convidado (a) a participar de uma
pesquisa nesta instituição. 2. O propósito da pesquisa é investigar se os alunos do 8º. Ano do ensino fundamental desta
escola compreendem e se percebem como autores na construção de seus relacionamentos intrapessoais e interpessoais, primordialmente a partir de como se apresenta a organização escolar atual; serão sujeitos desta pesquisa todos os alunos do 8º ano matriculados nesta escola, totalizando cerca de 28 alunos.
3. A participação nesta pesquisa envolverá a participação dos sujeitos por meio de resposta a um questionário no início e outro no final da pesquisa, como também a participação em uma entrevista individual e de um jogo. A aplicação dos questionários será feita no laboratório de informática, pois se trata de um formulário eletrônico, a entrevista e aplicação do jogo se dará em sala de aula mediante autorização da escola e termos de consentimento e assentimento devidamente assinados.
4. Não existem riscos ou desconfortos previstos na participação do (a) sua filho (a). 5. A participação de sua filha, não acarretará nenhum preconceito, discriminação ou
desigualdade social. 6. Os possíveis benefícios da pesquisa são a compreensão das disfuncionalidades do
cotidiano escolar e suas implicações nas relações intra e interpessoais e a possibilidade de haver um norte científico para as práticas de intervenção futuras no que tange as relações dentro da escola.
7. Os resultados deste estudo podem ser publicados, mas o nome ou identificação de sua filha não serão revelados;
8. Não haverá remuneração ou ajuda de custo (ressarcimento) pela participação. 9. Quaisquer dúvidas que você tiver em relação à pesquisa ou à participação de sua filha,
antes ou depois do consentimento, serão respondidas por Roberta Aparecida Varaschin, telefone: (49) 8428-2513; ou ainda pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Unoesc/Hust, telefone: (49) 3551-2012.
10. Assim, este termo está de acordo com a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, de 10 de outubro de 1996, para proteger os direitos dos seres humanos em pesquisas. Qualquer dúvida quanto aos direitos de sua filha como sujeito participante em pesquisas, ou se sentir que sua filha foi colocada em riscos não previstos, você poderá contatar o Comitê de Ética em Pesquisa para esclarecimentos;
Li as informações acima, recebi explicações sobre a natureza, riscos e benefícios do
projeto. Assumo a participação de meu filho e compreendo que posso retirar meu consentimento e interrompê-lo a qualquer momento, sem penalidade ou perda de benefício.
Assinatura do pai o responsável ou impressão dactiloscópica. Assinatura: Nome legível: Endereço: RG. Fone: Data: ____/____/____ ................................................................................ Roberta Aparecida Varaschin Data: ____/____/____
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I m p r e s s ã o
d a c t i l o s c ó p i c a
ANEXO C: TERMO DE ASSENTIMENTO – ALUNOS MENORES DE IDADE
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Termo de Assentimento (TA) (no caso do menor) Utilizado quando o sujeito da pesquisa for adolescente – 12 a 19 anos segundo a classificação do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa “IN(DISCIPLINA) NO COTIDIANO DA
ESCOLA: alunos adolescentes analisam o problema.” Neste estudo pretendemos investigar se os alunos do 8º. Ano
do ensino fundamental desta escola compreendem e se percebem como autores na construção de seus
relacionamentos intrapessoais e interpessoais, primordialmente a partir de como se apresenta a organização
escolar atual.
Para este estudo adotaremos o(s) seguinte(s) procedimento(s): aplicação de questionário individual no início e no
final da pesquisa aplicado no laboratório de informática, pois se trata de um formulário eletrônico, entrevista
individual e aplicação de um jogo em sala de aula, com autorização da escola.
Para participar deste estudo, o responsável por você deverá autorizar e assinar um termo de consentimento. Você
não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira por participar desse estudo. Você será
esclarecido(a) em qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou recusar-se. O responsável por você
poderá retirar o consentimento ou interromper a sua participação a qualquer momento do estudo em curso. A sua
participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em
que é atendido(a) pelo pesquisador que irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Você não
será identificado em nenhuma publicação. Este estudo apresenta risco mínimo, isto é, o mesmo risco existente em
atividades rotineiras como conversar, tomar banho, ler etc.
Os resultados do estudo estarão à sua disposição quando o mesmo estiver finalizado. Seu nome ou o material que
indique sua participação não será liberado sem a permissão do responsável por você. Os dados e instrumentos
utilizados na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 anos, e após esse
tempo serão destruídos. Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia
será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida a você.
Eu, __________________________________________________, portador(a) do documento de Identidade
____________________, fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de maneira clara. Sei que a qualquer
momento poderei solicitar novas informações junto ao pesquisador responsável listado abaixo, telefone: (49) 8428-
2513, ou ainda com o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Unoesc e Hust, telefone (49) 3551-
2012. Estou ciente que o meu responsável poderá modificar a decisão da minha participação na pesquisa, se assim
desejar. Tendo o consentimento do meu responsável já assinado, declaro que concordo em participar desse estudo.
Recebi uma cópia deste termo assentimento e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
Assinatura do(a) menor ou impressão dactiloscópica. Assinatura: Nome legível: Endereço: RG. Fone: Data: ____/_____/_____ ................................................................................ Roberta Aparecida Varaschin Data: ____/____/_____
Impressão dactiloscópica
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d a c t i l o s c ó p i c a