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80 FOTOFILANTROPIA

ÍNDICE

04 EDITORIAL

10 VIVA VOZ

21 CAPA

72 ARTIGOS TÉCNICOS

70 LEGISLAÇÃO

OPINIÃOInovação Social, a Agenda do FuturoPor Diogo VasconcelosParticipação atual de Louise Pulford

Ano Europeu do Voluntariado 2011 - A Força do VoluntariadoPor Elza ChambelParticipação atual de Conceição Zagalo

INTERNACIONALO desabruchar da Inovação Social: abraçar a complexidadePor Indy Johar, Fiorenza Lipparini, Paola Bergamaschi, Filippo AddariiParticipação atual de Filippo Addarii

As consequências de não se olhar convenientemente para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio - O novo papel e responsabilidades das ONG’s e instituições internacionais Por Oliver ConsoloParticipação atual de Pedro Krupenski

A “crise dos refugiados”e o conceito de “segurança humana”Por Rute Baptista

Networking: o caminho paraa inovação e o impactoPor Filippo Addarii

Responsabilidade Social em Portugal: para além das contribuições económicasPor Cláudia Coelho

Empresa Social, Investimento Social e Responsabilidade pelo ImpactoPor Domingos Soares Farinho

47 EXPERIÊNCIASNACIONAISProjeto Marias, Escolinha de Rugby da Galiza, Animais de Rua, Junior Achievement, Noocity, Speak, Welcome Home, Adobe for Women

INTERNACIONAISTwestival, Hotel Panda, Global Sharing Day, Coca-Cola & WWF, Prato Consciente

66 PRÉMIOS & INCENTIVOS

ENTREVISTASPaula GuimarãesMark Kramer - Participação atual de Nathalie BallanHuman Rights WatchVandana Shiva

30 NO CENTROBenita Matofska, The People Who ShareKen Burnett - Participação atual de Madalena da Cunha (Call to Action)Patient InnovationTeresa Ricou

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São já cinco anos de caminho. Cinco anos de testemunhos, entrevistas, histórias que vale a pena serem lembradas. Trazemos algumas destas peças nesta Edição Especial. Mas não nos limitamos a republicá-las, quisemos ir mais longe.

Fomos saber o que era feito dos projetos que demos a conhecer, se a opinião de algumas das mais carismáticas personalidades, sobre os principais temas que fomos tratando, tinha entretanto mudado. Com base no que fomos construindo no Impulso Positivo, quisemos saber, neste número especial, que histórias têm sido vividas para lá das nossas páginas.

A escolha dos artigos que fazem parte desta edição não foi fácil, mas não seria nunca totalmente justa por muito tempo que dedicássemos à tarefa. Existem obviamente muitas histórias e testemunhos que não constam destas páginas, que ficarão para sempre no nosso coração, mas os limites editorias impunham não ir além de dois números em um.

Consideramos que este é um excelente ponto de partida para uma reflexão profunda sobre o caminho percorrido na gestão das organizações sem fins lucrativos, no empreendedorismo e inovação social, na sustentabilidade e respeito pelo planeta em que vivemos, na responsabilidade social das empresas mas também das organizações do terceiro setor.

Melhor poderia ter sido feito em vários campos, mas também outros houve em que fizemos muito melhor do que esperávamos. É hora de refletir, aprender e acertar rumos onde for necessário.Existe uma grande questão que nos move, que está na razão de ser do Impulso Positivo e que procuramos transmitir em cada número que publicamos; neste em especial:

Onde está a nossa Humanidade?

A procura por uma resposta verdadeira à grande questão tem de estar na essência de tudo o que é feito na economia social. E não só.

Boas férias!

Administração Raquel Campos Franco | António Gil Machado • Direção Raquel Campos Franco | rcfranco@impulsopositivo.

com Edição Leonor Rodrigues | [email protected] • Capa Teresa Fontes • Projecto Gráfico Gonçalo

Forte(Brandscape Leisure & Lifestyle, Lda) • Design Gráfico tê[email protected] • Impressão Uniarte Gráfica S.A,

Rua Pinheiro de Campanhã, 342, 4300-414 Porto Assinaturas Paula Moreira • Propriedade Positivagenda – Edições

Periódicas e Multimédia, Lda. • Preço Assinatura anual (6 números): 70€ | Avulso: 12€ Tiragem 5000 exemplares

Redação, Administração e Assinaturas PORTO – R. Gonçalo Cristovão nº 185, 6º 4049-012 PORTO Tel 222 085 009 |

Fax 222 085 010 • Redação, Administração e Assinaturas LISBOA Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6 – 4º andar, 1069-106

Lisboa | Tel. 217 970 029 | Fax. 217 970 030 • Nº Registo ERC 126045 • Depósito Legal 366769/13

EDITORIAL

O PROJETO IMPuLSO POSITIVO É APOIADO POR:

Leonor A. RodriguesGesToRA De PRojeTo IMPuLso PosITIvo

Raquel Campos FrancoDIReToRA exeCuTIvA Do IMPuLso PosITIvo

*Siga-nos em www.impulsopositivo.com

Maio/Agosto 2016

facebook.com/impulsopositivo

twitter.com/impulsopositivo

O IMPuLSO POSITIVO É ESPECIAL

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06 | impulso positivo especial | julho 2016

BREVES

A Economia Social em peso na FIL Nos dias 19, 20 e 21 de maio, teve lugar na FIL - Feira Internacional de Lisboa, o Portugal Inovação Social - Encontro de Empreendedorismo e Inovação que juntou empresas, instituições, entidades de desenvolvimento local, ensino e financiadores.Este foi um evento multidisciplinar constituído por uma Mostra e um Fórum de Debate, que teve como objetivo promover, dinamizar e qualificar  o setor da economia social  como resposta para novos problemas sociais e adequação de serviços às necessidades em prol do desenvolvimento económico e social do país, que se previa receber entre 15.000 e 20.000 visitantes. Os quatro grandes temas do Evento foram as Oportunidades, desafios e riscos da Gestão das Organizações, novas formas e instrumentos de financiamento, o Empreendedorismo e Inovação Social e as novas necessidades e respostas das causas sociais. Simultaneamente ocorreu a Convenção da Rede RSO PT e um Seminário – Mulheres, Inovação e Competitividade.

OIKOS e Fundação Vodafone lançam plataforma inovadora de apoio à agriculturaA oikos – Cooperação e Desenvolvimento e a Fundação vodafone, desenvolveram uma plataforma digital inovadora - SmartFarmer - que contribuirá para o desenvolvimento rural e crescimento económico local, potenciando os circuitos agroalimentares e mercados de proximidade.A plataforma, que estará disponível durante o mês de agosto de 2016, assume uma grande importância para a agricultura, a economia e a sociedade rural, permitindo o contacto direto entre o produtor e o consumidor, estimulando uma maior interação social entre as comunidades rural e urbana, favorecendo uma maior ligação das populações às suas origens, e desempenhando funções que beneficiam os produtores, os consumidores, o ambiente e a economia local.Cerca de 910 toneladas de alimentos são perdidos diariamente, em Portugal, na fase da produção e mais de metade são hortofrutícolas. Apesar disso, segundo dados da Direção Geral de saúde, 50,7% das famílias portuguesas sofrem de algum grau de insegurança alimentar. Esta plataforma poderá contribuir para a redução do desperdício, disponibilizando mecanismos de previsão de compras, bem como os produtores locais poderão doar produtos cuja venda ao público não se tenha concretizado mas que estejam aptos para consumo humano. As entidades registadas para receber este tipo de doações terão de ser organizações sem fins lucrativos.

Os Projetos-bandeira da Iniciativa para a Economia CívicaForam apresentados no dia 6 de julho em Lisboa, no Museu do oriente, os 7 Projetos-bandeira que estão a ser elaborados pelas Comunidades para a Economia Cívica.Os Projetos-bandeira foram apresentados pelas Comunidades para a Economia Cívica, destacando a intervenção dos respetivos Presidentes das Câmaras Municipais e a dos representantes das entidades mais diretamente envolvidas na elaboração dos Projetos.Recorda-se que os Projetos-bandeira são o resultado de um trabalho de um ano das Comunidades na identificação dos problemas e desafios societais complexos que envolveu mais de 160 entidades públicas, privadas e da Economia Social, na configuração de uma Agenda de Inovação e Mudança que visa encontrar soluções inovadoras, sistémicas e que produzem um impacto positivo na vida das pessoas para situações como o despovoamento, o desemprego, a falta de economia endógena, a falta de participação cívica, entre outros.Os Projetos-bandeira estão a ser desenvolvidos no Fundão, Gouveia, Idanha-a-Nova, Lousã, Miranda do Corvo, Penela, vila velha de Ródão.

Ban Ki-moon volta a apelar à urgência de acolher quem foge da guerra"Continuo a insistir na necessidade de assistir e apoiar os sobreviventes de guerra e de garantir as condições adequadas de receção, assim como o acesso ao direito de asilo a todos os que necessitam de proteção internacional", disse Ban Ki-moon numa declaração à agência de notícias grega AMNA.O secretário-geral da Organização das Nações Unidas visitou a Grécia, onde conheceu a situação dos cerca de 60 mil refugiados que se encontram no país.Antes do acordo estabelecido entre a União Europeia (UE) e a Turquia, a 20 de março de 2016, que contempla a devolução de todos os refugiados que cheguem ilegalmente através de mar à UE, Lesbos constituía a principal porta de entrada para a Europa.Desde que este acordo entrou em vigor, o número de chegadas às ilhas gregas reduziu sensivelmente.Atualmente, encontram-se em Lesbos cerca de três mil refugiados à espera de que se processe o seu pedido de asilo ou de serem devolvidos à Turquia, as únicas duas opções existentes para os que já se encontram nas ilhas.

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julho 2016 | impulso positivo especial | 07

BREVES

Dia Mandela”: a importância de construir pontesNo dia 18 de julho, Sete pontes de Lisboa, incluindo viadutos e aquedutos, transformaram-se em "Pontes Mandela", para assinalar o aniversário do líder sul-africano e lembrar os valores da justiça, solidariedade e igualdade.Lisboa, à semelhança de outras cidades do mundo, associou-se às celebrações do "Dia Mandela", com jovens da Academia Ubuntu a realizarem ações simbólicas em várias pontes, viadutos e aquedutos da cidade, numa iniciativa promovida pelo Instituto Padre António vieira (IPAv)."Vamos celebrar simbolicamente a importância de construir pontes, muito personalizado na figura de Nelson Mandela", com ações nas pontes 25 de Abril, vasco da Gama, Aqueduto das Águas Livre, viaduto Duarte Pacheco e nas pontes pedonais na Avenida Brasília, na Rua Marquês da Fronteira e no Bairro do Rego, disse à agência Lusa o presidente do IPAv, Rui Marques.Rui Marques explicou que o tema deste ano se deveu à necessidade de construir pontes, numa altura em que o contexto mundial e europeu está marcado pela fragmentação e pelo conflito."O nosso tempo está muito marcado por grandes forças de fragmentação, basta pensar no 'Brexit', no choque de civilizações ou na crise de solidariedade com os refugiados, para percebermos que o mundo precisa de homens e mulheres que sejam capazes de construir pontes, de ser fator de diálogo, e construtores de paz", sublinhou.Durante a madrugada, os jovens da academia colocaram placas nas pontes, para que Lisboa acordasse com "Pontes Mandela", e distribuiram postais nas estações de comboio do Cais do sodré, entrecampos, sete Rios, Roma/Areeiro e Pragal, com frases do líder histórico, como "Quando alimentamos mais a nossa coragem do que os nossos medos, passamos a derrubar muros e a construir pontes".

Acabar com a violência contra as crianças depende de cada um de nósvários líderes mundiais e jovens ativistas juntaram-se dia 12 de julho na sede das Nações Unidas para o lançamento de uma nova parceria e fundo que visa alcançar esse objetivo. Trata-se da Parceria Global para acabar com a violência contra as Crianças.Como parte da Agenda 2030, os governos do mundo inteiro determinaram o ambicioso objetivo de acabar com a violência até 2030, de maneira a alcançar um mundo em que as crianças cresçam livres de violência e exploração. O objetivo de Desenvolvimento sustentável (oDs) 16.2 é precisamente “Acabar com o abuso, exploração, tráfico e todas as formas de violência e tortura contra crianças”.A cada cinco minutos, uma criança morre como resultado de violência. Estima-se que 120 milhões de raparigas e 73 milhões de rapazes sejam vítimas de violência sexual, e quase mil milhões de crianças sejam sujeitas a punições físicas de forma regular.A Parceria Global para acabar com a violência contra as Crianças apoiará os esforços daqueles que trabalhem para prevenir a violência, proteger a infância e ajudar a construir sociedades seguras para as crianças.

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08 | impulso positivo especial | julho 2016

Aumenta o número de crianças em risco em Portugal

Mais de 73 mil crianças com comportamentos em risco foram acompanhadas, em 2015, pelas Comissões de Proteção de Crianças e jovens. os dados são do relatório anual de avaliação destas comissões, citado pela Rádio Renascença.o número de crianças acompanhadas (73.355) subiu em 336 casos, em relação a 2014. Das crianças acompanhadas em 2015, 28.900 são novos processos, 34 mil transitaram de anos anteriores, e 8.328 são processos reabertos.A violência doméstica é a principal causa que leva ao acompanhamento de jovens, tendo havido mais de 12 mil novas situações em 2015.Nos casos de negligência, como a falta de supervisão e acompanhamento familiar em termos de saúde e educação, houve uma diminuição do número de casos, mas continuam a ser a segunda causa de identificação de jovens em risco.A terceira causa está relacionada com o direito à educação. E, em 2015, houve mais de 6 mil novos casos relativos a pais ausentes, abandono ou insucesso escolar.Mais de dois mil novos casos estão relacionados com outras causas: maus-tratos físicos e psicológicos, abusos sexuais e abandono.Os comportamentos de risco, como o consumo de álcool e estupefacientes aumentaram, correspondendo atualmente a 14,5% dos casos.Mais de 11 mil crianças e jovens acolhidos em instituições em 2015 Em relação ao acolhimento de crianças e jovens em instituições, há cada vez mais a serem acolhidos por problemas de comportamento (48% dos mais de 11 mil casos de acolhimentos em 2015). De acordo com a Renascença, o Governo diz que terá de rever o regime de funcionamento das instituições que fazem este acolhimento.em 2015, 55,6% das crianças e jovens acolhidos (4.830) tinham entre os 12 e os 17 anos. A faixa etária seguinte, dos 18 aos 20, representa 13% dos jovens acolhidos.Quanto maior a idade, mais tempo os jovens ficam institucionalizados, revelam os dados. Apesar de o projeto de vida autónoma dever ser aplicado aos 15 anos, isso dificilmente acontece. É habitual os jovens ficarem a viver em instituições até aos 19, 20 ou 21 anos.

A despedida de um grande Nobel da PazMorreu Elie Wiesel em Nova Iorque aos 87 anos. Wiesel recebeu o Nobel da Paz em 1986 pelo seu papel na manutenção da memória sobre o holocausto dos judeus e pela sua voz crítica em relação a atrocidades como o genocídio no Ruanda ou as matanças na antiga jugoslávia. Defensor dos Direitos Humanos, denunciou o racismo e a violência pelo mundo.“O mundo perdeu uma grande voz moral e os judeus e Israel perderam um forte defensor. Nós, os sobreviventes, perdemos a voz de memória. E eu, pessoalmente, perdi um amigo muito especial”, refere Abraham Foxman, amigo de Wiesel.Elie Wiesel tinha 15 anos quando foi enviado com a família para o campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Aqui morreram a mãe e a irmã mais nova. Posteriormente, esteve no campo de Buchenwald, no leste da Alemanha, onde morreu o pai.As reações à sua morte são muitas. Para Barack Obama ele era “não era apenas o sobrevivente mais proeminente do holocausto: era a memória viva”. Também o Nobel da Paz, josé Ramos-Horta, relembrou o “académico brilhante” e a “grande figura intelectual e moral” na denúncia dos crimes de guerra nazis.

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julho 2016 | impulso positivo especial | 09

Porto procura novas respostas para os problemas dos sem-abrigo

A Câmara do Porto discutiu recentemente um plano que pretende aumentar a capacidade de resposta no apoio às pessoas sem-abrigo. Face à pressão sentida pelas instituições já no terreno, o município articulou com estas um conjunto de medidas que, espera o vereador com o pelouro da Ação social, Manuel Pizarro, vai funcionar como “um complemento” à rede existente, e que incluirá quatro valências: uma nova equipa de rua, um novo espaço de acolhimento de emergência, restaurantes sociais e alojamento de longa duração.Segundo o autarca, o plano, que foi aprovado pela Rede Social do Porto, vai ser posto em prática já neste verão. entretanto o município lançou um concurso, aberto às organizações já no terreno, para criação de uma nova equipa de rua exclusivamente dedicada aos sem-abrigo que, para além do habitual apoio social, tenha uma valência reforçada na área da saúde, capaz de uma primeira intervenção e de encaminhar os casos mais problemáticos para o centro de emergência a criar ou para uma unidade hospitalar, quando possível. O funcionamento desta equipa vai ser custeado pela autarquia, explicou o vereador socialista.Outras das vertentes deste plano é a abertura de um novo espaço de acolhimento temporário, um centro de emergência que permita aliviar a pressão sobre as respostas garantidas por instituições como os Albergues Noturnos do Porto, a Comunidade de São Cirilo ou a Misericórdia, entre outras.Entretanto, a Câmara do Porto e vários parceiros vão criar restaurantes sociais, que paulatinamente substituam o fornecimento de refeições na rua. o primeiro restaurante, a abrir já em julho, em instalações da Ordem do Terço, na zona da Batalha, vai ser gerida pelos voluntários da Casa - Centro de Apoio aos Sem-Abrigo, e contará ainda com o apoio de hotéis na envolvente, que se mostraram disponíveis para fornecer alimentos e até a financiar parcialmente esta atividade. A Rede Social identificou já outras zonas da cidade onde é necessário avançar com serviços semelhantes.O quarto pilar deste plano é a disponibilização de alojamento de longa duração para acomodar os cidadãos que, retirados à rua, estejam em condições de tentar recomeçar as suas vidas. Manuel Pizarro nota que muitos espaços pensados para respostas de curta duração acabam por alojar pessoas durante muito tempo, e já não conseguem dar resposta imediata às necessidades de quem dorme na rua. O autarca espera que, a estes, se sigam outros acordos que permitam criar uma rede de casas disponíveis para pessoas com um nível de autonomia mínimo, ainda que com o necessário acompanhamento social.

É urgente combater o cyberbullyingOito em cada dez jovens de 18 anos reconhecem que as crianças e adolescentes correm risco de abuso sexual na Internet e mais de metade acreditam que os amigos têm comportamentos arriscados online, revelou em junho a Unicef.Num inquérito realizado junto de 10 mil adolescentes de 18 anos em 25 países em todo o mundo, intitulado "Perigos e possibilidades: Crescer online", o Fundo das Nações Unidas para as Crianças (Unicef) conclui que mais de 40% dos jovens começou a usar a Internet antes dos 13 anos."À medida que o acesso à Internet se torna mais fácil, a violência contra as crianças ganha novas dimensões, com consequências profundamente perniciosas e que podem alterar vidas", escreve o diretor adjunto e responsável pela proteção das crianças na organização, Cornelius Williams, no relatório divulgado.Recordando que um em cada três utilizadores da Internet a nível global é uma criança, o responsável lembrou que, a par das oportunidades que cria, a net tem perigos, e sublinhou que "proteger as crianças do abuso e da exploração é assunto de todos".Segundo o inquérito, 53 por cento dos jovens inquiridos concordam firmemente que as crianças e adolescentes correm o risco de serem vítimas de abuso sexual ou de serem usados online, enquanto outros 27% concordam de alguma maneira com essa afirmação.Além disso, mais de metade (57%) acredita que os amigos participam em comportamentos de risco online.Apesar da consciência dos riscos, a grande maioria dos adolescentes (88,7%) acredita saber como evitar situações perigosas online e dois terços acreditam que o bullying através da Internet não os afetará.Seis em cada dez jovens consideram importante ou muito importante conhecer pessoas novas online e dois terços acreditam ser capazes de perceber quando alguém mente sobre a sua identificação na Internet.Questionados sobre a quem recorreriam caso se sentissem ameaçados, os adolescentes escolheram falar com um amigo (54%) ou com os pais (48%) e apenas 19% falariam com um professor.O estudo identificou uma discrepância entre rapazes e raparigas no valor que dão à privacidade e à segurança, com as raparigas mais preocupadas do que os rapazes com a perspetiva de receber comentários ou propostas de índole sexual pela Internet.Com efeito, mais de dois terços (67%) das raparigas concordam fortemente que ficariam preocupadas se alguém lhes fizesse comentários ou propostas sexuais, enquanto nos rapazes a percentagem desce para 46,7%.Para melhor proteger as crianças e jovens dos riscos da Internet, a Unicef deixa uma série de recomendações, dirigidas aos governos e à indústria, mas também aos pais, professores, escolas e aos próprios jovens.Ouvir as crianças e adolescentes através de consultas diretas ou de investigação e incorporar as suas ideias nas políticas, estratégias e programas que visam combater o abuso sexual online é uma das recomendações da Unicef, que apela aos jovens que se apoiem mutuamente e que denunciem a violência online quando exploram as oportunidades disponíveis na Internet.A organização lançou também uma campanha global que visa dar poder aos jovens para combater o abuso online.A campanha, intitulada #Replyforall (#Responderportodos), apela aos adolescentes que partilhem a sua opinião sobre as melhores formas de responder à violência ou aos riscos e que sensibilizem os seus amigos para este tema através das redes sociais.

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10 | impulso positivo especial | julho 2016

VIVA VOZ

Inovação Social, a Agenda do Futuro

Dia 4 de Fevereiro o Conselho Europeu aprovou o novo plano de inovação europeu, uma das iniciativas bandeira da Estratégia Europa 20/20. O novo conceito de “Innovation Union” incorpora a decisão de focalizar os esforços de inovação da Europa nos grandes desafios da sociedade: as alterações climáticas, a segurança energética e alimentar, a saúde e o envelhecimento da população. A Inovação Social é hoje um elemento-chave na política de inovação europeia. Uma opção política acertada e que merece aplauso. Como combater as alterações climáticas, as quais terão uma multiplicidade de impactos, no trabalho, nas cidades, na produção e distribuição? Como reduzir a pobreza e exclusão social, ainda mais acentuadas em períodos de crise como o que vivemos? Como combater a desqualificação, fazendo evoluir o sistema educativo tradicional, burocrático e dirigido centralmente, típico de uma educação “industrial”, própria dos séculos passados? Como aumentar a qualidade de vida dos mais seniores, num País e numa Europa a envelhecer, onde ser idoso significa depressão, isolamento, solidão, que as soluções institucionais têm, tantas vezes, o condão de agravar? Como alterar um sistema de saúde pensado para doenças agudas e tratamentos pontuais, num tempo em que proliferam as doenças crónicas, cujo tratamento depende, em grande medida, da colaboração e empenho do próprio doente ao longo de períodos prolongados? Que tipos de mudanças radicais nos modelos de serviço podem ser introduzidas na administração pública, hoje confrontada com a necessidade de fazer mais com menos? E que novo

papel deve o Estado assumir num mundo em que a lógica do “comando e controlo” é crescentemente substituída pela expectativa de colaboração, de criação coletiva e de participação de cidadãos e da sociedade civil? Como tirar partido da capacidade e inteligência coletiva para imaginar novos futuros possíveis, novas oportunidades de solução? Os desafios são vastíssimos, as novas soluções ainda escassas e sem escala. Daí a pertinência da inovação social, que se traduz em novas ideias ou em novas aplicações de ideias existentes, na resposta a necessidades sociais. Respostas que mobilizem diferentes agentes, públicos, privados e organizações sem fins lucrativos, envolvam os utilizadores e criem inegável valor social. Respostas que combinem efeitos de curto prazo, de combate à crise, com efeitos de médio prazo, para uma retoma sustentável. A atual crise deve ser aproveitada como um ponto de viragem e um momento de criatividade social. Todas as grandes recessões no passado assistiram à emergência de novos sectores e de novas empresas e organizações. E a Inovação

Diogo Vasconcelos e Louise Pulford

Por Diogo vasconcelosParticipação atual de Louise Pulford

REVISTA IP 1JAN/FEV 2011VIVA VOz NACIONAL

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julho 2016 | impulso positivo especial | 11

VIVA VOZ

“Respostas que mobilizem diferentes agentes, públicos, privados e organizações sem fins lucrativos, envolvam os utilizadores e criem inegável valor social.”

Social surge como uma agenda natural no século XXI. No recente livro procurei contribuir para este debate com sete propostas para uma agenda de inovação social. Vou aqui focalizar-me em duas delas.

APRENDER COM O MuNDO Uma das mais importantes evoluções das duas últimas décadas foi a globalização do processo de inovação. Os recursos necessários para inovar estão dispersos, o que impõe a necessidade de desenvolver a capacidade de identificar, ao nível mundial, os melhores componentes, talentos e parceiros. É hoje possível, mesmo a partir de países “improváveis”, criar produtos globais para o mercado global usando talento global. Muitas das inovações, mesmo de cariz social, estão a surgir em países que teimamos em classificar de “emergentes”, sociedades com grandes carências sociais e escassez de recursos que têm um maior incentivo para inovar radicalmente. As inovações radicais podem e devem ser replicadas, mesmo no mundo ocidental, em áreas tão diferentes como o acesso ao crédito (o microcrédito nasceu no Bangladesh e não em Wall Street) ou os pagamentos móveis (o M-Pesa foi criado no Quénia e não em Sillicon Valley). A consequência: se quisermos ousar imaginar novos futuros, temos de ser capazes de melhorar a nossa capacidade de aprender com o mundo - em vez de impor as nossas soluções. Uma globalização que significa colaboração e não estandardização. Criada há quatro anos pela Young Foundatio , Cisco e dezenas de outras entidades, a rede Social Innovation eXchange (SIX) tem a missão de ser um sensor global. Criar uma plataforma global para a inovação social é o objetivo do Dialogue Café, associação que está a desenvolver uma rede internacional de espaços físicos destinados a organizações com objetivos de natureza social – incluindo escolas, universidades, organizações sem fins lucrativos, grupos comunitários e empreendedores sociais. Ligados através de uma

rede global que conecta os diversos cafés em todo o mundo, os Dialogue Cafés serão, por excelência, espaços para inovação e criatividade, com um foco particular no diálogo intercultural, participação cívica e artes, criatividade e cultura.

ESTIMuLAR A AJuDA MúTuA As mais importantes formas de apoio mútuo decorrem da interação voluntária entre as pessoas e não envolvem qualquer transação. Quando, no nosso dia-a-dia, tratamos de alguém doente, proporcionando ajuda a um amigo ou familiar, visitamos um parente idoso, olhamos pela casa do nosso vizinho na sua ausência ou damos simplesmente atenção a um colega, tudo isso faz parte daquilo que David Halpern chama “economia da atenção”. Só uma pequena parte do nosso tempo (estima-se que um quarto) é despendida em trabalho pago. Cerca de dois quartos da nossa vida é gasta em trabalho não pago (cuidar de alguém, arranjar a casa, cozinhar) ou em tempos livres (ler, passear). Um dos maiores desafios das sociedades é criar formas que levem a pessoas a apoiarem-se mutuamente, a começar no âmbito do círculo de confiança onde se movem. As novas redes sociais a que pertencemos têm um enorme impacto em cada um de nós. O que somos é em parte determinado pelas redes em que participamos. Essas redes evoluem ao longo da nossa vida, e são importantes pois ajudam-nos a alcançar o que não conseguiríamos por nós próprios. O Southwark Circle, em Londres, é um bom exemplo, concretizado pela empresa de design de serviços sociais Participle, fundada por Hillary Coton e Charles Leadbeater. Com o apoio do governo, da autarquia e da , este projecto começou pela análise das condições de vida dos cidadãos

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12 | impulso positivo especial | julho 2016

VIVA VOZ

“Diogo Vasconcelos deixou-nos cedo demais”, escrevia Raquel Campos Franco, fundadora do Impulso Positivo em 2011. “Aos 43 anos tinha já um assinalável curriculum, daqueles que marcam realmente a presença no mundo. Foi um grande responsável pela reformulação do conceito de Inovação na União Europeia, integrando a noção de inovação social, um passo essencial para novas políticas. Mas esta é apenas uma das muitas coisas que se pode dizer que o Diogo deixou ao mundo.”Pedimos a Louise Pulford, amiga de Diogo Vasconcelos e sua sucessora enquanto Diretora da SIX - Social Innovation Exchange que falasse um pouco do legado deixado pelo grande impulsionador da Inovação Social na Europa:“Cinco anos depois do "Social" ter sido explicitamente incluído na estratégia de Inovação da Comissão Europeia, foram gastos milhões para se compreender e apoiar projetos de inovação social na União Europeia. A SIX está prestes a celebrar o lançamento de mais um, de grande escala, financiado pela União Europeia, a Comunidade de Inovação Social - mais um esforço para melhorar a nossa capacidade coletiva para resolver alguns dos maiores desafios que enfrentamos hoje.O legado de Diogo não deve ser só celebrado na Europa, mas também enquanto mudança cultural. A colaboração e inteligência coletiva são abraçadas por pessoas que abordam os desafios sociais em todos os setores; humanos centrados no design e envolvimento dos usuários é hoje um lugar-comum para as organizações, governos e empresas. As redes globais, procuram aprender com todas as partes do mundo, incluindo a SIX.Apesar deste progresso, o apelo de Diogo ao poder ainda é necessário. Os desafios sociais que enfrentamos hoje são profundos - a nível mundial, enfrentamos a questão fundamental de como superar as divisões e construir sociedades coesas. Precisamos de uma mudança mais sistémica, e que permita aumentar a proporção de gastos com inovação social. Por isso, enquanto devemos celebrar o contributo de Diogo para o avanço de todo este campo, ainda precisamos de nos lembrar do seu apelo à ação todos

seniores, uma boa parte da população desta zona. A partir dessa análise montou-se a empresa social Southwark Circle, a quem o município delegou competências, e que presta um conjunto de outros serviços ajustados às necessidades específicas dos mais velhos. Qualquer pessoa pode participar ou ser membro desta associação, cujos serviços são prestados pelos próprios idosos. Deixam de ser clientes, passam a ser produtores. Deixam de ser cidadãos passivos, passam a ser participantes. Estamos a falar de serviços facilitados pelos próprios, desde fazer uma pequena reparação em casa como mudar uma lâmpada, compor um autoclismo ou reparar um fogão. O “circle” identifica os talentos de cada um e disponibiliza alguém para prestar esse serviço. Ao prestar esse serviço, reforça os laços da comunidade, sente-se útil, é estimulado, cria novos amigos. Através desta plataforma de entreajuda, deixa de ser um fardo, passa a ser um ativo valioso da comunidade. A tecnologia não resolve problemas, as pessoas resolvem problemas. O que a rede vem permitir é que as pessoas tenham contacto entre si, sem intermediários e sem limites geográficos, mas com base em comunidades de interesse. Para terem acesso à informação e produzirem informação, para partilharem conteúdos, para realizarem ações coletivas - três níveis de envolvimento sucessivamente mais importantes. Esse poder da net pode e deve estar ao serviço do mundo, para dar resposta às questões mais prementes.

“um dos maiores desafios das sociedades é criar formas que levem as pessoas a apoiarem-se mutuamente, a começar no âmbito do círculo de confiança onde se movem.”

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julho 2016 | impulso positivo especial | 13

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Ano Europeu do Voluntariado 2011 - A Força do Voluntariado

Por Elza Chambel, presidente do Conselho Nacional para a Promoção do voluntariadoParticipação atual de Conceição Zagalo

REVISTA IP 5SET/OuT 2011

O Ano Europeu do Voluntariado surge da ação concertada da Aliança, estrutura que reúne as maiores Redes de Voluntariado da Europa. Foi um trabalho meticuloso de dois anos, que culminou com a decisão d Conselho da União Europeia, data de de 27 de novembro de 2009, que proclamou 2011, Ano Europeu do Voluntariado.São vários os considerandos que sustentam esta decisão, todavia, parece relevante destacar o seguinte: “O Ano Europeu das Atividades de Voluntariado que Promovam uma Cidadania Ativa contribuirá para mostrar que o Voluntariado é uma das dimensões fulcrais da cidadania ativa e da democracia, acionando valores europeus como a solidariedade e a não descriminação, contribuindo assim, para o desenvolvimento harmonioso das sociedades europeias”.De facto, os voluntários são cidadãos capazes de encontrar na participação cívica, através de uma cidadania ativa e responsável, um espaço propício à realização da relação solidária com o seu próximo; realizada de forma livre e desinteressada, e simultaneamente, organizada em torna da solução dos problemas que afetam a sociedade em geral, na certeza de que pelo bem de todos e de cada um, todos nós somos verdadeiramente responsáveis.São, por isso, agentes sociais comprometidos com causas, convictos de que a participação de todos é essencial a uma efetiva alteração de comportamentos e mentalidades.Nessa medida, os voluntários constituem um dos mais valiosos recursos ativos de qualquer país, pois, a sua ação - livre e pessoal, impulsiona a alteração da realidade social, o que torna exequível a construção de uma sociedade mais equitativa.A Europa apresenta uma forte tradição de Voluntariado, alicerçada na participação dos cidadãos em organizações da sociedade civil. Contudo, mostra-se necessário que os Estados Membros, modernizem e agilizem as políticas e infraestruturas, em ordem a que um número crescente de pessoas possam ser

voluntários de diferentes formas e em diferentes momentos da sua vida.Vamos encontrar voluntários em domínios tão variados e diversos como a ação social, a saúde, a educação, a cultura, o ambiente, a defesa dos direitos humanos, o desenvolvimento local, a proteção civil, a cooperação para o desenvolvimento, a ajuda humanitária ou a igualdade de oportunidades, entre outros. Podemos por isso afirmar que o Voluntariado constitui uma importante oportunidade de aprendizagem não formal, que promove e desenvolve novas competências nos cidadãos, reforçando o sentimento de pertença à sociedade.O Voluntariado gera capital humano e social e constitui uma via de integração, bem como um fator essencial de melhoria da coesão social.Por todas estas razões e muitas outras, o Ano Europeu do Voluntariado 2011 (AEV - 2011) proporciona à Comissão Europeia a oportunidade de fazer um balanço do Voluntariado na União Europeia e da sua contribuição para a sociedade. Permite também que a Comissão avalie o que a União Europeia e os Estados Membros podem fazer para facilitar e promover o Voluntariado, nomeadamente em situações transfronteiriças.Em Portugal, estabelecemos um Plano de Ação - cingido pelos constrangimentos financeiros conhecidos - norteado pela preocupação de que as ações contempladas não tivessem os seus efeitos restringidos ao presente mas, pudessem também “influenciar” o futuro.Assim, planeamos a replicação da “Volta do Voluntariado” (iniciativa emblemática do AEV -2011) nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, a realização de um seminário sob o título “O Voluntariado nos Países do Mediterrâneo - Uma Identidade Cultural”, a produção de um documentário televisivo de cerca de 50 minutos, sobre o Voluntariado, passível de ser exibido na íntegra ou em excertos, em diferentes iniciativas; e a realização de dois estudos académicos de investigação sobre dois assuntos

Elza Chambel e Conceição Zagalo

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relevantes: a atualização do estudo dobre o Voluntariado em Portugal, realizado há dez anos atrás, por iniciativa do CNPV com a total colaboração do Instituto de Ciências Sociais da Faculdade de Lisboa e um outro que permitirá avaliar o funcionamento dos Bancos Locais de Voluntariado.O Seminário “O Voluntariado nos Países do Mediterrâneo - Uma Identidade Cultural” teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, nos dias 23 e 24 de maio e contou com a participação de especialistas de Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia e Malta, tendo a conferência de abertura sido proferida pelo Prof. Adriano Moreira. Os temas em debate foram, no dia 23, “A Identidade Cultural do Voluntariado - Valores e Conceitos” e no dia 24, o “Voluntariado nos Países do Mediterrâneo - Organização desta Atividade”. A encerrar o segundo dia, teve lugar um fórum, em que os presentes foram desafiados e responder à seguinte pergunta: “O Voluntariado em tempos de crise: que repercussões e desafios?”.As sessões de ambos os dias foram bastante participadas e permitiram a partilha de ideias e experiências entre pares, uma vez que a raiz cultural mediterrânica comum facilita o diálogo, tendo sido expressa a intenção do estabelecimento de futuras parcerias.Relativamente aos estudos académicos, ditou a sua realização a necessidade de atualização do conhecimento sobre o Voluntariado nos últimos dez anos em Portugal: período em que notoriamente, a realidade desta atividade se alterou, por razoes de ordem diversa e que se mostra conveniente conhecer.Quanto à replicação da “Volta do Voluntariado” nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores revelou-se

uma boa aposta, pois esta iniciativa, - a única comum aos 27 Estados membro - granjeou um grande interesse em Portugal, tendo assumido um papel dinamizador de muitas das iniciativas do AEV - 2011.A “Volta” esteve em Lisboa de 3 a 9 de fevereiro, tendo sido visitada por cerca de 6.200 pessoas, com uma média de 900 visitantes por dia. Esta iniciativa da Comissão Europeia foi concretizada em cada um dos países, através de uma programação própria, envolvendo as organizações nacionais com programas no “terreno”.O êxito do certame em Lisboa, mobilizou muitas outras vilas e cidades portuguesas, que estimuladas pela ideia da replicação nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores quiseram também recebê-la. Assim, numa iniciativa exclusivamente portuguesa, a “Volta” decorreu na Madeira de 7 a 9 de junho e de 7 a 9 de outubro nos Açores, com iniciativas em São Miguel e na Terceira. Mas a “Volta” já tinha começado a “girar” no Porto, de 19 a 21 de março, a que se seguiu Oliveira de Azeméis, Mértola, Coimbra, Aveiro, Seia, Barcelos, Setúbal, Santarém, Guarda, Bragança, Vila Nova da Barquinha, Campo Maior, Lamego, Chaves, Évora, Faro, Braga, Leiria, Caldas da Rainha e Beja, sendo previsto que, até ao final do ao, visite, ainda, outras cidades.O documentário de cerca de 50 minutos, com o qual se pretende dar a conhecer diferentes projetos de Voluntariado, de norte a sul do país, tem animado as diversas “Voltas”, projetado em pequenos excertos. A sua exibição integral encontra-se prevista para dia 5 de dezembro, Dia Internacional dos Voluntários.As “Voltas” que por esse país foram acontecendo, deram a conhecer a novos e a menos novos, a importância da ação individual na alteração da realidade social.O Voluntariado permite ao cidadão comum ter um papel ativo na resolução dos problemas que a todos dizem respeito.Mas a dinâmica criada pelo AEV - 2011 na sociedade civil, não se cingiu às “Voltas do Voluntariado”. São muitas as iniciativas que se têm realizado - e continuarão a realizar até, pelo menos, ao final do ano - promovidas por diferentes organizações públicas e privadas, como escolas, hospitais, Misericórdias, associações, empresas, entre outras: uma “contabilidade” que só depois do final

“O Voluntariado gera capital humano e social e constitui uma via de integração, bem como um fator essencial de melhoria da coesão social.”

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“Para além da família, Elza Chambel deixou mais de meio milhão de voluntários em Portugal. Mas há vidas que nunca se perdem e que nos farão ganhar, a todos, para sempre”, dizíamos no Impulso Positivo em maio de 2015. “Se o Voluntariado em Portugal tiver um rosto é o de Elza Chambel, uma das suas principais impulsionadoras”.Conceição zagalo, um das principais referências nacionais do Terceiro Setor e do desenvolvimento da Responsabilidade Social em Portugal, teve o privilégio de aprender, partilhar e conhecer de perto Elza Chambel. Na edição Especial do Impulso Positivo, pedimos-lhe que falasse um pouco do legado deixado e que devemos lutar por preservar:“Há pessoas que, pela sua riqueza de valores e de pensamento, pelo seu exemplo de integridade e de vida, pela sua liderança e forma de ser, se eternizam em nós. Há pessoas que, de tanto viverem em função dos outros e para eles em exclusivo, estarão sempre presentes e nos marcam a ponto de nos confundirem na noção de espaço e de tempo. Há pessoas que, de tão lúcido, visionário e profundo o seu testemunho, constituem um marco. Há pessoas que não conseguimos descrever, de tão redutoras as palavras para tamanha grandeza de ser. É o caso da Drª Elza Chambel. É isto que me suscita um artigo por si emanado em Ano Europeu do Voluntariado. Passaram cinco anos? Pois poderia ter sido hoje, tão visionário e atual se mantém. A falta que nos faz esta humanista e grande Senhora. A falta que nos faz esta grande percursora e impulsionadora do voluntariado que faz a diferença em Portugal e no mundo. Esta é ocasião para homenagear quem cria tendências, abre caminhos e faz história para a História. Este é momento e espaço para uma palavra de reconhecimento e gratidão a uma Mulher que, em Portugal e além-fronteiras, desbravou caminho, enfrentou adversidades, ultrapassou barreiras, criou condições para combate à pobreza, para dinamização de voluntariado, também empresarial, para defesa de condições de igualdade e de trabalho, para dignificação do ser humano. Às oito décadas de uma vida muito cheia de desafios bem cumpridos e de um sorriso invariavelmente cheio, bonito e rasgado, a Dra. Elza Chambel deixou o país mais pobre. Mas deixou também um legado de obra-feita e um rasto de certeza de que o seu trabalho só pode ser continuado por todos os que com ela tiveram o privilégio de aprender e confirmar que, também em solidariedade, a história se faz em episódios sucessivos e relevados em toda uma miríade de acontecimentos como aqueles reportados neste artigo com que a Impulso Positivo agora nos presenteia.Como escrevi já, tome conta de nós, Minha Querida e Boa Amiga Drª Elza Chambel. E ajude-nos a levar por diante a obra que com tanto amor e dedicação ergueu para todos os que têm a aprender do seu altruísmo, dos seus ensinamentos, do seu testemunho de vida. Tê-la-ei no meu coração e na minha razão como referência de dedicação, de integridade, de alegria, de sentido do outro. Até um dia.”

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do ano poderá ser feita com rigor.Contudo, por tudo o que temos tido oportunidade de assistir ao longo destes dez meses, acreditamos que em Portugal, os objetivos traçados na Decisão do Conselho da União Europeia que proclamou 2011 como o Ano Europeu do Voluntariado, não ficaram no papel. São eles: criar um ambiente propício ao Voluntariado na União Europeia; Dar meios às organizações voluntárias e melhorar a qualidade do Voluntariado; Reconhecer as Atividades de Voluntariado, Sensibilizar as pessoas para o valor e a importância do Voluntariado.E, como refere a mesma Decisão “o potencial das atividades de Voluntariado não foi ainda plenamente explorado”, o slogan do AEV - 2011 continuará a fazer sentido, para além do dia 31 de dezembro: “Sê Voluntário! Faz a Diferença.”.A Comissão Europeia reconhece que o Voluntariado faz parte do tecido social europeu e apoia valores fundamentais da inclusão e de cidadania. Por isso, está a trabalhar com todas as partes interessadas para assegurar ao AEV - 2011 um legado duradouro e pleno de sentido, consolidado nas seguintes conclusões:- O Voluntariado constitui um importante gerador de capital humano e social, uma via para a integração e o emprego, bem como um fator essencial de melhoria da coesão social, sendo uma expressão bem visível da cidadania, na medida em que os voluntários contribuem para modelar a sociedade e ajudar as populações necessitadas.- O seu potencial pode ser mais explorado no âmbito da estratégia Europeia 2020 para o crescimento. Os voluntários são um recurso importante na nossa economia e na nossa sociedade, mas não devem ser considerados como uma alternativa a uma força de trabalho regular.- Promovendo atividades de Voluntariado transfronteiras em cooperação com os Estados Membro e utilizando programas de financiamento comunitários, a União Europeia contribui para a mobilidade e aprendizagem intercultural dos seus cidadãos e reforça a identidade europeia destes últimos.~Concluímos, com sentido de dever (quase) cumprido, desejando os maiores êxitos para o ano de 2012 - “Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações”.

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O desabruchar da Inovação Social: abraçar a complexidade

O Primeiro- Ministro quer conhecê-lo. Ele ouviu falar de um novo método para combater o abandono escolar precoce que você importou dos Estados Unidos. O Governo não fez qualquer progresso e é forçado pela austeridade a cortar no orçamento para a educação. Esta é a sua oportunidade: "Primeiro-Ministro, eu tenho a solução. Não preciso do seu dinheiro. Sou um empreendedor social. Mas preciso do seu apoio público". Precisa do apoio do Primeiro-Ministro para superar a resistência oferecida pela administração das escolas para começar. Sabe que este o irá apoiar financeiramente se o método mostrar resultados.Esta é uma história fictícia mas exemplifica uma dinâmica de inovação típica que Albert Hirshman observou em projetos de desenvolvimento. "A Mão Escondida” (tradução livre de “The Hiding Hand”) - como lhe chamou - é essencialmente uma forma de induzir a ação a partir do erro, o erro de subestimar os custos e dificuldades dos projetos. Ele recoloca na pseudo-imitação, num programa pseudo-compreensivo, um exagero de potenciais benefícios e uma grande narrativa que justifica o esforço."A Mão Escondida" explica o extraordinário aumento de inovação social na Europa assim como os limites que existem na realização da sua ambição de fazer renascer a agenda para o bem público.Depois do fracasso da reforma do Estado Social, na década de 90, uma rede de antigos funcionários públicos apresentou um plano alternativo: empreendedores sociais, instituições sem fins lucrativos e cidadãos trazerem soluções inovadoras pioneiras dirigidas aos serviços públicos. Estes são livres de preconceitos organizacionais, movidos por resultados, entendem os problemas das comunidades e podem mobilizar recursos inexplorados. Era a magia de Silicon Valley aplicada à criação de valor social.A “Mão Escondida” fez o seu trabalho. A União Europeia prestou o seu total apoio juntamente com governos, empresas e fundações. A Young Foundation foi a frente de batalha da campanha. Contudo tivemos de rever a nossa posição. Apesar do apoio político e do financiamento a única coisa que continuou a aumentar na última década foi a desconfiança nas instituições, movimentos populistas e desigualdades.

Será que podemos mesmo esperar que sejam as startups e os inovadores a transformar o Estado Social? Caímos na ilusão de que os indivíduos podem resolver desafios sociais pela força da convicção e do engenho, e gastámos o último ano a experimentar uma nova abordagem à criação de bem público com vista à inovação do sistema.Não existe uma única instituição ou política que possa efetivamente tratar dos males sociais. A colaboração e uma abordagem sistémica são necessárias. Cidadãos, assim como empresas e instituições públicas são repositórios de riqueza coletiva comum (ativos) e passivos comuns (atuais e futuros). Ambos são em grande parte quantificáveis, em termos de valor atual e futuro, dos custos relacionados, das poupanças e das retomas. Mapear os diferentes assuntos que afetam a comunidade, os seus mais variados componentes, as relações interdependentes, as preocupações dos stakeholders e possíveis soluções, significa organizar novas parcerias intersetoriais e interorganizacionais, desenvolvidas em torno de resultados partilhados. Nós chamamos a isso "parcerias para resultados coletivos". Estimar o valor de bens e serviços de interesse público avaliáveis para todos os stakeholders envolvidos na parceria, assim como os custos associados à manutenção, escalonamento, ajuste ou substituição desses mesmos produtos, tal como é exigido por uma situação de mudança, permite-nos construir novos modelos de financiamento e de ação para o desenvolvimento. Chamamos a isso "Townhall Model" porque a abordagem de base coloca o envolvimento cívico no centro do desenvolvimento, com base nos sistemas de financiamento e aceleradores.Um exemplo. Se quiser aumentar o nível de escolaridade num bairro é necessário mapear e intervir em múltiplos fatores que estão a afetar a educação nessa área, tais como investir em nutrição pré-natal através de clubes de pequeno-almoço para aumentar a capacidade de atenção; definir clubes de leitura para orientar alunos; criar associações para apoiar mães adolescentes; organizar círculos de jovens para apoio a pares; e desenvolver nova tecnologia para facilitar a comunicação

Por Indy johar, Fiorenza Lipparini, Paola Bergamaschi, Filippo Addarii1Young FoundationParticipação Atual de Fillippo Addarii

REVISTA IP 26MAR/ABR 2015

1 Filippo Addarii já não faz mais parte da equipa da Young Foundation sendo hoje um dos cofundadores da Plus Value (http://plusvalue.org), empresa de consultoria e investigação especializada em estratégias de impacto social.

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entre pais e professores. As decisões de investimento têm de ser baseadas numa abordagem ao sistema para identificar os pontos de intervenção adequados. Os futuros benefícios e a poupança que advêm da redução do crime, dos custos com a saúde pública e dos custos com o desemprego têm de ser tidos em conta. Estes são " futuros passivos públicos" e reduzi-los por si só justificaria este tipo de investimentos. A próxima vez que encontrar o Primeiro-Ministro não lhe venda uma solução simples. A deceção impede a compreensão clara das implicações a longo prazo da situação, uma verdadeira aprendizagem e comprometimento de todas as partes envolvidas. O momento é propício para que a inovação social floresça e abrace a complexidade dos desafios que esta tem a ambição de abordar.

Um ano depois, convidámos Filippo Addarii, um dos autores, a refletir sobre o artigo escrito nas páginas da Revista Impulso Positivo. Aqui fica:

“Eu estava errado quando escrevi que a inovação social pode funcionar como a "Mão Escondida" de Albert Hirschman para superar os obstáculos à inovação na administração pública e transformar as políticas sociais. Nós precisamos de uma mão bem visível para mudar as instituições e as vidas das pessoas ou passamos a mão para as forças populistas e os seus companheiros de viagem preferidos: insegurança, medo e agitação social.A repartição dos votos no referendo britânico sobre a União Europeia provou que deixamos para trás a maioria das pessoas. Tende-se para a saída dos mais pobres e daqueles que têm menos acesso à educação dos grandes centros urbanos. Eles são os únicos que ganharam pouco com a globalização e todas as outras invenções que povoam a nossa vida diária. Sentindo-se abandonados, estão nas mãos da nostalgia de mitos do passado e da ilusão de que os bons velhos tempos podem regressar. Esta maldição viaja por todos os países ocidentais, como uma epidemia.O único antídoto é uma visão para um mundo melhor que

começa agora. Esta não é apenas uma narrativa mas exige soluções para problemas concretos da vida, dinheiro para pagar por elas e participação para as tornar sustentáveis. Vamos revê-las rapidamente uma por uma.Não faltam soluções na nossa sociedade de inovação. Graças a anos a investir em investigação e educação para todos, a nossa sociedade disfruta do maior número de inovadores e empreendedores, de sempre. Todos os dias surge um novo com uma solução para limpar o plástico dos oceanos; para detetar novas formas de cancro; para traduzir chinês automaticamente.O dinheiro também não é um problema. Nas duas últimas semanas estive na Segunda Conferência do Vaticano sobre investimento de impacto e na primeira reunião do Global Social Impact Investment Steering Group organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Só estes dois momentos reuniram instituições privadas e filantropos individuais com capacidade para investir biliões para resolver problemas sociais, e estão dispostos a fazê-lo.O problema são instituições públicas que não estão aptas a colher tal bonança. As instituições públicas lutam para se reformarem a si mesmas; e nós não podemos deixar tudo para o mercado. Por exemplo, o Portugal Inovação Social foi anunciado em 2014 mas ainda está longe de fazer os investimentos prometidos. A atual administração pública não consegue lidar com um programa tão inovador e o seu fracasso poderia justificar a inércia noutros países.O outro grande obstáculo é a participação popular. O desafio que enfrentamos é de reeducar as pessoas a usarem as suas forças e escaparem do seu papel passivo enquanto eleitores, empregados, e consumidores, nos quais foram relegados durante demasiado tempo. O futuro exige responsabilidade a toda a gente a todos os níveis.Felizmente, projetos como a Iniciativa para a Economia Cívica em Portugal que dá o lugar de condutor de inovação às pessoas e comunidades em todas as cidades rurais, faz-me pensar que ainda temos uma oportunidade.

“A repartição dos votos no referendo britânico sobre a união Europeia provou que deixamos para trás a maioria das pessoas.”

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As consequências de não se olhar convenientemente para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio - O novo papel e responsabilidades das ONG’s e instituições internacionais

Os ODM estão a chegar ao fim, já que o prazo fixado em 2000 foi o ano de 2015. Hoje, nós (ONGs) já temos em conta um cenário pós-2015/pós ODM. Mas como a UE se vangloria de ter alcançado uma boa parte dos ODM, temos de olhar de forma apropriada para os mesmos, para além dos dados, e emitir a nossa avaliação do trabalho feito. O melhor exemplo, para mim, é o Objetivo de erradicar a pobreza.A figura mais famosa é a de que os mil milhões mais pobres vivem com menos de 1,25 dólares por dia. Isto tornou-se um componente essencial dos slogans de campanhas das ONGs, convites para conferências de instituições globais e relatórios dos media. Mas se olharmos mais de perto, vemos que o conceito de viver com 1,25 dólares por dia cobriria, na melhor das hipóteses, aqueles que as Nações Unidas consideram viver em "pobreza extrema". Fora deste estreito cálculo estão outros milhares de milhões - aí está a árvore que esconde a floresta de vários milhares de milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza. E a erradicação da pobreza é o primeiro dos ODM.A realidade é que 2,7 mil milhões de pessoas estão atualmente a viver com menos de 2 dólares por dia - a linha de pobreza das Nações Unidas. E essa é uma figura enganosa para as perceções públicas e políticas acerca da escala da pobreza global. Se adicionarmos as outras centenas de milhões que oficialmente vivem na pobreza em países ricos, a figura da pobreza real é de mais de 3 mil milhões de pessoas. E isto é se olharmos apenas para as credenciais económicas.Mais de 2,6 mil milhões de pessoas, mais de 40% da população mundial, não tem saneamento básico, segundo a Organização Mundial de Saúde. E quase metade da população mundial, cerca de 3 mil milhões de pessoas não tem acesso a gás ou eletricidade para cozinhar. Mais pessoas ainda não gozam dos seus direitos e liberdades, como aqueles que não possuem serviços de saúde, boas oportunidades de educação, ou aqueles que são vítimas de ditaduras e conflitos. No total, se combinarmos os números oficiais da ONU, do Banco Mundial e da OCDE, mais de 60% da população mundial está a lutar pelos seus direitos básicos. Políticas focadas nos chamados mil milhões mais pobres reforçam a perceção errada de que um tratamento social da pobreza é suficiente. Dá a impressão de que o sistema político e económico mundial está a alcançar

as suas promessas, enquanto que, infelizmente, deixa 15% da população (mil milhões mais pobres) para trás. A realidade mostra um quadro diferente. A economia global atual, as instituições internacionais vigentes, com base em acordos e mecanismos intergovernamentais, assim como os governos nacionais, não estão a facultar uma vida digna à maioria da população mundial. Estão a trabalhar para uma minoria de seres humanos (um terço da população mundial).Olhando para o copo de água meio cheio, nós (sociedade civil e algumas instituições, incluindo a União Europeia) conseguimos salvaguardar princípios fundamentais como a luta pela erradicação da pobreza enquanto principal objetivo do Quadro de Cooperação para o Desenvolvimento. Atores e governos do Sul foram chamados para parcerias verdadeiramente igualitárias. A Sociedade Civil comprometida com a agenda de desenvolvimento, conseguiu reconstruir a confiança de instituições e doadores, no papel que desempenhamos enquanto agentes de desenvolvimento no nosso próprio direito.Durante os últimos 10 anos, muitos fora sociais regionais e mundiais contribuíram para conectar milhares de organizações, experiências, boas práticas no mundo inteiro. Milhões de atores locais têm vindo a desenvolver soluções e a criar inovações que dizem respeito a todo o tipo de problemas e desafios em todos os cantos do mundo, a tendência que representa o maior potencial para o futuro.Mas o copo de água meio cheio engloba os seguintes fracassos e desafios: combater a pobreza ao mesmo tempo que se lida com a "extrema riqueza", o acesso aos direitos e serviços básicos, as alterações climáticas, a alteração do consumo e os padrões económicos e de desenvolvimento. A estes desafios acrescentaria: temos de criar novas instituições internacionais democráticas e de construir um ambiente propício para as Organizações da Sociedade Civil.Quase todas as negociações internacionais falharam durante a última década. As pessoas têm cada vez mais dúvidas sobre os modelos de democracia e das instituições atuais, incluindo na União Europeia. O espaço político para a sociedade civil está a diminuir em todo o lado, incluindo na Europa. O mundo nunca foi tão rico (mais 220% nos últimos 20 anos), mas essa riqueza não foi alocada às questões essenciais.

Por Oliver ConsoloDiretor da Confederação europeia das oNG de emergência e Desenvolvimento (CoNCoRD)Participação atual de Pedro Krupenski

REVISTA IP 16JuL/AGO 2013

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Existe um sentimento e perceção crescentes entre a opinião pública de que os "affairs" internacionais são conduzidos por uma liderança económica antidemocrática, institucional e política que resiste a perseguir os interesses de muitos, a que muitos ativistas chamaram "nós, os 99%".A Sociedade civil no mundo inteiro e a CONCORD, apelamos a uma próxima década que alcance as promessas e expectativas da população mundial. Esta ambição exige que as Organizações da Sociedade Civil revejam e adaptem de forma justa as suas estratégias para a mudança.

O COMENTáRIO ATUAL DE PEDRO KRUPENSKI, DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO DA OIKOS E PRESIDENTE DA PLATAFORMA PORTUGUESA DAS ONGD

Numa altura em que começámos já a trabalhar em prol de uma nova Agenda para o Desenvolvimento, Pedro Krupenski falou ao Impulso Positivo sobre a importância que demos aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e o que é obrigatório fazermos de maneira diferente em relação aos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.“Porque foram concebidos nos corredores da ONU e moldados por mãos burocratas sem qualquer auscultação dos seus destinatários principais, os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), durante os seus 15 anos de vida (de 2000 a 2015), malgrados os esforços de consciencialização e sensibilização – tardios – da ONU, de alguns países e da sociedade civil organizada, nunca foram devidamente apropriados por todos nós como objetivos de todos nós, para todos nós. Foram quase sempre percecionados como compromissos assumidos pelos Estados a cumprir pelos Estados. Assentes na divisão artificial do mundo entre o Norte doador e o Sul beneficiário da ajuda, eram estruturalmente desequilibrados (promovendo assim a desigualdade) na medida em que vincularam todos os países do mundo, partindo de situações muitos distintas, a atingir as mesmas mestas em 15 anos.Alheados assim os cidadãos do seu papel no cumprimento e monitorização destes ODM, foi possível, chegados a 2015,

“…apelamos a uma próxima década que alcance as promessas e expetativas da população mundial. Esta ambição exige que as Organizações da Sociedade Civil revejam e adaptem de forma justa as suas estratégias para a mudança”.

determinados países ostentarem elevadas taxas de sucesso no cumprimento de alguns ODM. Foi o caso, por exemplo, do ODM 1 que apregoava a educação básica universal para todos e todas. Alguns países, apenas porque matricularam toda a população em idade escolar no sistema de ensino, puderam – porque os ODM apenas continham indicadores quantitativos – apresentar taxas de 100% de sucesso no cumprimento deste ODM. Se as pessoas efetivamente frequentaram a escola e tiveram acesso a uma educação de qualidade, pouco importou.Alguém dizia que a única coisa que se aprende com a história é que nada se aprende com a história. Contudo, toda regra tem uma exceção a construção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foi uma delas: Os 17 ODS aprovados na Assembleia Geral da ONU em Setembro de 2015, resultaram de uma ampla e demorada auscultação por todo o mundo e são hoje, acabados de aprovar, mais conhecidos do que os ODM eram com o mesmo tempo de vida. São deliberadamente universais mas tendo em conta as especificidades de cada local. Os ODS são hoje os objetivos de todos e para todos. Assim, somos todos convocados, à escala de cada um, a contribuir para o seu cumprimento. Como cidadãos, na escola, no emprego, no mercado, na família, enfim, nas nossas circunstâncias, promovendo a igualdade, a não discriminação, mudando hábitos de produção e consumo, mantendo os outros e a sua dignidade no centro das decisões, todos e todas, temos hoje a oportunidade e a responsabilidade de converter o mundo num local sustentável, um local mais justo em que as dimensões económicas, sociais e ambientais do desenvolvimento estejam em perfeita horizontalidade, em perfeito equilíbrio.Hoje – como nunca – está claro que a hegemonia económica do paradigma atual não pode perpetuamente prevalecer sobre as pessoas e sobre o planeta. Hoje – como nunca – temos que decidir (e agir em conformidade) que as pessoas e o nosso condomínio global têm mais valor do que qualquer riqueza artificial. Os ODS são disso uma afirmação e compromisso formal.”

Oliver Consolo

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CAPA

Paula Guimarães

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22 | impulso positivo especial | julho 2016

Entrevista |Texto: Rita Ribeiro

A convicção é de Paula Guimarães, Presidente do GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial, que defende que esta definição é crucial para estabelecer “parcerias de complementaridade que reduzam as carências de forma eficaz e estruturante, mas sem contribuir para a redução do papel do sector público ou adulterar a natureza das IPSS”. A responsável do GRACE, que é também Diretora do Departamento de Responsabilidade Social do Montepio, conversou com o Impulso Positivo sobre as principais tendências na área da Responsabilidade Social Corporativa em Portugal e ainda sobre a atividade e projetos do GRACE.

“É importante definir bem os campos de atuação das

empresas, das organizações sociais e do Estado”

CAPA

Impulso Positivo (IP): Que tendências importantes apontaria para o futuro da Responsabilidade Social Corporativa em Portugal, num país Pós-Troika e onde os últimos anos têm sido de aumento do número de pessoas carenciadas e redução dos orçamentos das empresas?Paula Guimarães (PG): É importante definir bem os campos de atuação das empresas, das organizações de economia social e do Estado, estabelecendo parcerias de complementaridade que reduzam as carências de forma eficaz e estruturante, mas sem contribuir para a redução do papel do sector público ou adulterar a natureza das IPSS.Há claramente necessidade e potencialidade para convergir nos meios e nos objetivos sob o lema da promoção do empowerment, da preservação da dignidade e da construção de soluções sustentáveis e inclusivas.

IP: Quais os principais desafios para as empresas nesta área nos próximos dois a três anos?PG: Creio que o futuro é promissor, alicerçado na consciência crescente das empresas de que é importante trabalharem em conjunto, partilharem recursos e saberes, apostarem na avaliação do impacto do investimento social e ambiental que realizam e que a Responsabilidade Social é um importante vector transversal da atividade, alinhado com a sua missão e com os seus valores.Os tempos de escassez também apontam caminhos de inovação, de sobriedade e de autenticidade que as empresas podem e devem seguir e que permitirá distinguir o trigo do joio.Apostamos também na informação e formação dos consumidores, dos colaboradores e de todos aqueles que ocupam papéis-chave na cadeia de valor, para que sejam agentes de mudança críticos e conscientes.

REVISTA IP 71º ANIV.

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CAPA

IP: Considera existir uma mudança de mentalidade na forma como as empresas estão a abordar a sua responsabilidade social? Ou ainda não podemos falar de uma tendência significativa?PG: Sem dúvida. O Estudo que o GRACE (ver caixa) promoveu e lançou em 2013 traduz bem a alteração de perspetiva e de atitude das empresas portuguesas e dos seus CEO em matéria de sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa.

IP: De acordo com outro estudo desta área, desenvolvido pela Informa D&B e pela Sair da Casca para 2012, apesar da doarem menos em valor, o número de empresas em Portugal que participam em ações de voluntariado aumentou, tal como aumentou o n?úmero de parcerias e projetos co-construidos. Como comenta estas conclusões?PG: As empresas estão cada vez mais conscientes da necessidade de se envolverem com a comunidade, de participarem ativamente na coesão social e o voluntariado, a cooperação e a partilha de conhecimentos dão corpo a uma efetiva Responsabilidade Social que ultrapassa a concessão de apoios financeiros.

IP: Que mais-valias encontra para as empresas no âmbito das suas políticas de RSC ao adotarem estas políticas de maior envolvimento “humano” num relacionamento também mais duradouro com o terceiro setor – i.e., ao atribuírem maior atenção ao voluntariado de competências, ao estabelecimento de parcerias...?PG: As mais-valias são muitas e evidentes. Os colaboradores das empresas alargam horizontes, testam conhecimentos, partilham

experiências, enriquecem a sua carreira e renovam o orgulho de pertença e as empresas melhoram a sua ligação com o meio envolvente, com retorno ao nível da imagem e do conhecimento do stakeholder cliente.

IP: No âmbito da ação do GRACE, qual a importância do voluntariado de competências, como é que têm sensibilizado as vossas associadas para a importância deste tipo de colaboração e qual tem sido o feedback?PG: Para além de apoiarmos o desenvolvimento dos programas de voluntariado dos nossos associados, onde esta dimensão tem crescente relevância, o GRACE promove duas iniciativas - Projeto Mentores em parceria como ACIDI e o Projeto “Como mobilizar empresas para projetos sociais?”, em parceria com o K’Cidade que visam, respetivamente, a disponibilização de know how dos colaboradores das empresas em prol da integração de imigrantes e da capacitação de dirigentes das ABL.

IP: No âmbito do projeto Mentores – ENGAGE, qual o balanço que faz da iniciativa? Quantos associados estão envolvidos e que expectativas têm quanto ao envolvimento de mais empresas?PG: Decorrido um ano de operacionalização do projeto Mentores – ENGAGE (ver caixa), o balanço que fazemos é extremamente positivo. Neste momento, temos mentores provenientes de 12 empresas associadas e há grandes expectativas que mais associados se juntem a nós, uma vez que o projeto está a ser difundido internamente por mais 21 empresas.

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“As empresas estão cada vez mais conscientes da necessidade de se envolverem com a comunidade, de participarem ativamente na coesão social”.

CAPA

IP: Qual a dimensão da Bolsa de Mentores e da Bolsa de Mentorados e como espera que evoluam?PG: As Bolsas abrangem 49 mentores e 47 mentorados, mas temos expectativa e condições para aumentar o número de adesões, pois é um projeto muito interessante, gratificante a título pessoal e que pode fazer a diferença ao nível da forma como Portugal integra e recebe os seus imigrantes.

IP: O GIRO é outro projeto que o GRACE promove anualmente com as suas associadas, dinamizando o voluntariado empresarial. O que está previsto para este ano e quais as expectativas?PG: Neste ano, o GIRO (ver caixa) continuará a ser a maior iniciativa de voluntariado corporativo em Portugal e esperamos poder alargar o número de beneficiários e atingir os 950 participantes, uma vez que já somos mais de 100 associados. Vamos repetir experiências e inovar noutros campos e esperamos que o Impulso Positivo se junte a nós cobrindo o evento.IP: Que outras iniciativas na área do desenvolvimento social têm planeadas ou em marcha?PG: Vamos alargar a formação e capacitação de dirigentes de economia social a diversos territórios de Lisboa em articulação com o K’Cidade e apoiar iniciativas dos nossos associados neste domínio. Em Março vamos colaborar com a Confederação Portuguesa do Voluntariado na organização de um laboratório sobre voluntariado.

IP: No que concerne a ação do GRACE, qual é o foco estratégico, preocupações e desafios para o próximo Biénio?PG: Diria que apostamos na promoção da sustentabilidade, da partilha de experiências entre empresas e na construção de uma plataforma de conhecimento e prática nesta matéria. Gostaríamos também de estreitar as relações com outras entidades similares em Portugal e no estrangeiro, por forma a acompanhar as tendências neste domínio.

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“Foi reconhecido o papel das empresas na dinamização da economia social, a importância do seu envolvimento e a necessidade de complementarem a atuação do estado sem a substituírem.”(2016)

CAPA

COMO SE FOSSE A CONTINUAçãO DA ENTREVISTA DADA há MAIS DE DOIS ANOS MAS TENDO EM CONTA A hISTóRIA, A EXPERIêNCIA E OS FACTOS DO TEMPO QUE PASSOU, PAULA GUIMARãES RETOMOU A CONVERSA COM O IMPULSO POSITIVO PARA TRêS BREVES QUESTõES:

IP: Já conseguimos definir melhor os campos de atuação das empresas, das organizações sociais e do Estado?PG: Tem havido debate sobre o tema e vontade de encontrar caminhos, mas creio que estamos longe de poder dizer que existem campos de ação definidos para os investidores privados, para o setor público e para a economia social. Todavia, o entendimento e a aproximação foram iniciados. Continua a faltar uma clarificação de questões cruciais para essa delimitação de intervenções – a avaliação de impacto, a diferenciação positiva entre entidades e um planeamento integrado de respostas.

IP: O que é que esperávamos há dois anos que acontecesse e ainda não aconteceu? PG: Uma regulamentação global da lei da economia social, a adaptação à realidade portuguesa de conceitos como as empresas sociais, os social bonds, etc…de modo a aproximar a realidade às novas tendências de gestão e governação, o início do novo paradigma de financiamento comunitário apresentado pelo Portugal Inovação Social.

IP: Quais foram as grandes surpresas no desenvolvimento da economia social nos últimos anos?PG: Foi reconhecido o papel das empresas na dinamização da economia social, a importância do seu envolvimento e a necessidade de complementarem a atuação do estado sem a substituírem. Iniciativas como GRAIS, o Fórum para a Governação Integrada, a Geo fundos e o Programa de Impacto Social permitem colocar em perspetiva uma outra forma de estar e de pensar a economia social, que naturalmente nos deixa otimistas.

IP: E em termos de ações e iniciativas novas?PG: Para além de darmos continuidade a uma extensa frente de projetos, vamos promover uma feira de boas práticas no Porto em Março, lançar workshops para os novos líderes da cidadania empresarial e implementar uma Rede InterUniversidades, de modo a aproximarmos as empresas do ensino superior.

IP: Qual a agenda de encontros temáticos para 2014?PG: Para este ano, temos previsto abordar as temáticas da Responsabilidade Social para PMEs; Avaliação do impacto social; e Responsabilidade Social Interna e envolvimento dos colaboradores.

IP: O prémio GRACE será retomado? Em que prazos e com que objetivos?PG: O Prémio será mantido, mas no contexto desta iniciativa da Rede Inter-Universidades, para que constitua o corolário de um processo mais ambicioso de sensibilização. IP

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O QUE É O GRACE?O GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial é uma associação sem fins lucrativos, que assinala a 25 de fevereiro, 14 anos. Tem como missão a reflexão, promoção e desenvolvimento e iniciativas sobre responsabilidade social corporativa, assumindo o papel de fomentar a participação das empresas no contexto social em que se inserem, através de parcerias que “potenciem impactos visíveis e concretos da atividade da associação em articulação com outras entidades da sociedade civil”. Atualmente, o GRACE conta com 101 associados, incluindo 43 grandes empresas, 39 pequenas e médias empresas, 11 micro empresas e 8 particulares.1Desenvolve várias iniciativas, incluindo o projeto ENGAGE, o projeto GIRO, que é atualmente a maior iniciativa de voluntariado corporativo em Portugal, entre outros, além de promover diversos encontros temáticos e publicações na área de Responsabilidade Social Corporativa. Este ano, entre projetos novos, o GRACE conta promover uma feira de boas práticas no Porto em Março, lançar workshops para os novos líderes da cidadania empresarial e implementar uma Rede Interuniversidades, de modo a aproximar as empresas do ensino superior, e à qual estão já confirmadas as adesões de oito instituições de ensino superior. Quanto aos encontros temáticos, está prevista a realização de três eventos, nomeadamente “Responsabilidade Social para PME’s”, “Avaliação do Impacto Social” e “Responsabilidade Social Interna e Envolvimento dos Colaboradores”.

PROJETO MENTORES – ENGAGE COM BALANçO POSITIVO2Passado um ano da operacionalização do projeto Mentores – ENGAGE, o balanço do GRACE é positivo, com o envolvimento de 49 mentores de 12 empresas associadas e 47 mentorados, números que deverão aumentar, considerando que a iniciativa está a ser difundida internamente por mais 21 empresas.3 O projeto ENGAGE é uma iniciativa europeia de voluntariado de competências, liderada pelo Business in the Community, que é representado em Portugal pelo GRACE. O ENGAGE- Projeto Mentores é desenvolvido em parceria pelo GRACE e pelo ACIDI, IP – Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural no sentido de criar uma rede de mentores voluntários para apoiar a integração dos imigrantes na sociedade portuguesa, sendo os mentores voluntários empresariais das empresas associadas do GRACE. O público alvo são cidadãos imigrantes utilizadores do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) de Lisboa, tendo como principais objetivos a desconstruir barreiras à integração e promover a igualdade de oportunidades; sensibilizar par a riqueza da diferença e da interculturalidade; desconstruir preconceitos e criar espaços de encontro entre imigrantes e autóctones; e ajudar os voluntários a entenderem melhor o mundo e a descentrarem-se de si próprios. O balanço também por parte dos voluntários para ser positivo: “Para se ser mentor não basta ter boa vontade e querer ajudar alguém, sobretudo esta população de imigrantes. São culturas diferentes, visões diferentes, ambições diferentes. É necessária perseverança e, sobretudo, acreditar que pequenas ações e palavras certas na hora certa podem contribuir para o sucesso deste programa”, refere Graça Carvalho Rebôcho, da Fundação PT e uma das mentoras voluntárias no projeto.

Saiba mais sobre o Programa em https://mentores.acm.gov.pt/

“Os tempos de escassez também apontam caminhos de inovação, de sobriedade e de autenticidade que as empresas podem e devem seguir e que permitirá distinguir o trigo do joio”

1 No final de 2015, o GRACE contava com 136 associados, 59 dos quais grandes empresas, 63 Pequenas e Médias Empresas (PME), 11 microempresas e três empresas municipais, abrangendo vários setores e áreas de negócio.2 Depois do sucesso do projeto-piloto, desenvolvido pelo ACM em parceria com o GRACE, o Programa Mentores para Migrantes foi posteriormente alargado a toda a sociedade.3 Nos dois anos de duração deste projeto-piloto, realizaram-se 31 processos de mentoria a imigrantes. As principais áreas de intervenção do Programa são a “Qualificação e procura de emprego”, “Empreendedorismo”, Saúde”, “Parentalidade”, “Reagrupamento Familiar”, “Habitação”, “Cidadania e Participação”, “Interculturalidade e Direitos Humanos”, “Tempos Livres e Informações Gerais” e “Economia Familiar”.

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Mark Kramer

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“Os negócios e as questões sociais não têm de estar em lados opostos”

Mark Kramer, co-autor com Michael Porter do artigo publicado no início de 2011 na Harvard Business Review, “Creating Shared Value”, esteve em Portugal para participar na reunião anual de quadros da Sonae. O artigo que já fez correr muita tinta, já deu muito que pensar e dá cada vez mais que fazer, sugere uma nova forma de olhar para o capitalismo. Propõe, acima de tudo, uma nova forma de olhar os negócios, as relações e interligações entre empresas, Estado e Terceiro Setor. Mark Kramer afirma ainda que é importante e possível as empresas desempenharem um novo papel na melhoria das condições sociais de todos.

REVISTA IP 10JuL/AGO 2012

Impulso Positivo (IP): Quais os pontos principais que quis focar na sua intervenção na reunião de quadros da Sonae?Mark Kramer (MK): Penso que a Sonae já tem feito muito para criar Valor Partilhado em muitas das suas empresas. Contudo, penso que existem ainda oportunidades para a Sonae fazer mais e realmente encontrar novas oportunidades de crescimento que tratem também de questões sociais. A Sonae é composta por muitas empresas espalhadas por muitos pontos do globo e as oportunidades que vai encontrar no mundo dos negócios em cada um destes locais vão ser muito diferentes. O que eu espero é ter conseguido encorajar a Sonae a ir ainda mais longe, pensando não só em Responsabilidade Social, Sustentabilidade e Filantropia, que a Sonae já faz, mas pensando em novas oportunidades de negócio que atendam às necessidades dos

Entrevista |Texto: Leonor Rodrigues Fotos: Mariana Themudo

mercados emergentes, das populações com baixos rendimentos e que ajudem a resolver problemas sociais fora do contexto habitual da própria empresa.

IP: O que é que recomenda que uma empresa como a Sonae faça para melhorar o seu desempenho?MK: Embora seja já uma empresa de alto desempenho, apesar da recessão económica que se vive e das dificuldades inerentes, a Sonae tende a pensar sobre a responsabilidade corporativa e sustentabilidade ainda de uma forma tradicional, sendo líder nesta matéria em Portugal. Penso que existem hoje novas oportunidades à medida que a empresa entra cada vez mais nos mercados emergentes e aposta na internacionalização, para criar uma nova linha de negócios capaz de criar valor partilhado.

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IP: No que é que consiste a Criação de Valor Partilhado?MK: “Valor Partilhado” trata da interseção do mundo dos negócios e da sociedade acerca de uma ideia. Por um lado, as empresas podem ser uma peça fundamental na resolução de problemas sociais e podem-no fazer a uma escala e com um poder de sustentabilidade que a maioria das organizações não lucrativas não tem. As empresas podem ainda trazer um grau de eficácia e inovação que a maioria dos governos não tem. Por isso, quando deixamos os problemas sociais unicamente nas mãos das Organizações sem fins lucrativos e dos Governos, penso que estamos a perder uma grande oportunidade das empresas desempenharem um papel muito mais importante. Assim, por um lado, Valor Partilhado é sobre as empresas desempenharem um papel mais importante.Por outro lado, o maior desafio que enfrentamos hoje em torno das alterações climáticas, da eficácia energética, da superação da pobreza, representa um tremendo conjunto de oportunidades de negócio, novas linhas de trabalho com as quais as empresas podem fazer dinheiro. E se, durante muito tempo, a dimensão social foi considerada periférica para levar o negócio avante, hoje começa a fazer parte do cerne da estratégia empresarial.Por isso, nós vemos tremendas oportunidades para as empresas melhorarem a sua rentabilidade e endireitarem o seu posicionamento competitivo começando a construir fatores sociais e ambientais na sua estratégia e nas suas linhas de produtos e inovação. Assim, Valor Partilhado em última análise é sobre juntar estas duas coisas: ver as empresas como um ator fundamental na ajuda à resolução de problemas sociais e ver nos problemas sociais uma oportunidade de melhorar, aumentar e rentabilizar negócios.

IP: O conceito de Valor Partilhado deve ser incorporado de forma diferente por países desenvolvidos e por países mais pobres?MK: Penso que as oportunidades nos países emergentes são diferentes das que existem em países desenvolvidos, mas existem oportunidades em ambos. Vemos muitas oportunidades nos mercados emergentes para descobrir novos caminhos para alcançar as populações com baixos rendimentos, novos produtos que vão ao encontro das suas necessidades, novos canais de distribuição, novas atividades da cadeia de valor. E existe aqui uma grande oportunidade para a inovação. Por exemplo, estive num painel na Rio +20 com um representante da Mahindra & Mahindra, um grande grupo empresarial na Índia. Mahindra Finance, uma subsidiária de Mahindra & Mahindra, percebeu

que a habitação rural era um mercado substancialmente carente. Como resposta, criou uma nova entidade corporativa chamada Mahindra Rural House Finance (MRHC), que alavancou o conhecimento de mercado da Mahindra Finance, mas também criou um modelo de negócio completamente novo. Este permitiu que se apostasse no financiamento habitacional rural e atender especificamente ao segmento de baixo rendimento, indo de encontro de uma realidade muito concreta de uma população que, por exemplo, em vez de poder pagar o financiamento todos os meses, só o podia fazer de acordo com as épocas de colheita. Em nenhuma das suas dimensões este negócio se parece com um financiamento dito normal, mas a verdade é que se trata de um negócio muito lucrativo e que vai ao encontro de uma enorme necessidade.No mundo desenvolvido as necessidades são diferentes. Muitas dessas necessidades andam à volta de poupar energia, reduzir o consumo de água, entre outras. Vemos programas como o Dow Powerhouse Solar Shingle, que procura novas formas de aproveitar a energia solar a preços cada vez mais acessíveis e trabalha muito mais em mercados desenvolvidos do que em mercados emergentes. Existe uma startup nos EUA, chamada Revolution Food que fornece alimentos locais e saudáveis para os almoços escolares. Estes são exemplos em países desenvolvidos. Por isso, encontramos muitos exemplos em países desenvolvidos e emergentes, são dois mundos diferentes mas ambos têm muitas necessidades.

IP: O que é que mudou desde a publicação do paper “Creating Shared Value” na harvard Business Review?MK: Mudou muita coisa. A ideia foi muito mais além do que aquilo que eu ou o Michael Porter esperávamos. Houve conferências sobre Valor Partilhado em todos os continentes do mundo, mesmo em países comunistas como o Vietnam, países anteriormente comunistas como a República Checa, países que nós nunca esperámos que acolhessem a ideia de Valor Partilhado. Vimos ainda organizações sem fins lucrativos, atores do terceiro setor interessados em aprender como poderiam trabalhar com as empresas para criar Valor Partilhado em vez de simplesmente conseguirem doações a título de caridade. A Coca-Cola tem trabalhado, por exemplo, com o Global Fund, a Fundação Bill and Melinda Gates e o Yale Health Leadership Institute para aumentar o acesso a medicamento vitais na Tanzânia. Utilizando a sua experiência em cadeias de abastecimento, a Coca-Cola juntou-se ao Tanzania's Medical Stores Department para desenvolver uma nova estratégia de

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distribuição, redesenhar processos fundamentais, e treinar mais de 50 funcionários das lojas de medicamentos. Esta iniciativa foi vista pela própria empresa como um emocionante “Triângulo de Ouro”, tendo revelado o potencial vasto e inexplorado de empresas, governos e organizações sem fins lucrativos para colaborarem criativamente juntos.Por outro lado vimos ainda Governos, que expressaram interesse em saber que tipos de políticas poderiam adotar, que possam promover a criação de Valor Partilhado nas empresas do seu país.Aquilo que mudou é o reconhecimento crescente de que os negócios e as questões sociais não têm de estar em lados opostos, mas que existe uma oportunidade de criar lucro através da resolução de problemas sociais, uma oportunidade para as empresas serem um ator construtivo na resolução dos problemas do mundo.Durante muito tempo existiu um pressuposto por parte dos grandes investidores de que, se estamos a fazer uma coisa boa não se pode estar realmente a ganhar dinheiro, e um pressuposto da parte de ativistas e elementos do terceiro setor que se estamos a ganhar dinheiro, não podemos realmente estar a fazer algo bom. O que o conceito de Valor Partilhado está a fazer é a superar os preconceitos e a demonstrar que é possível ganhar dinheiro e fazer o bem, e que estas atividades se reforçam mutuamente. Penso que foi isto que o artigo começou a mudar.

IP: Portugal tem uma taxa de desemprego de 15,2% (Eurostat Abr/Mai2012). O Capitalismo como nós o conhecemos acabou? Deixou de ser um caminho viável para aqueles que têm de começar agora a sua vida profissional?MK: Não tenho a certeza se concordo que o capitalismo acabou. Acho que se trata de um grave problema, obviamente, não só em Portugal mas em toda a Europa e nos EUA num grau muito

significativo. Acho que uma das formas de sair do problema será através da inovação, da criação de novos negócios e empresas. E penso que as empresas sociais, que ajudam a resolver os problemas sociais, são de facto uma nova avenida de conhecimento e inovação. Vemos também empresas que apostam verdadeiramente na formação de pessoas. Por exemplo, o Excelsior Jobs Program, paga a pessoas para fazerem cursos na faculdade, em áreas nas quais necessitam. Não é uma promessa de emprego, mas a empresa acredita que em poucos anos, terá crescido e terá, por exemplo, engenheiros disponíveis para trabalhar. Assim, pagam algum dinheiro agora, não para contratar as pessoas, mas para as ajudar a tirarem um curso e em três, quatro anos estarem disponíveis para serem contratados, caso a economia comece a crescer e a expandir-se. Encontram-se realmente muitas soluções inovadoras, contudo não acho que existam respostas simples.

IP: O que é que recomendaria àqueles que começam agora a sua vida profissional?MK: A primeira coisa que eu recomendaria é que procurem por oportunidades em empresas que estão a pensar em criar Valor Partilhado, não apenas em ser socialmente responsáveis ou filantrópicas, mas que querem ir realmente mais além. Existem muito poucas pessoas formadas em ambas as questões, empresarial e social. Um dos graves problemas que vemos é que existe uma divergência real entre pessoas que vêm do terceiro setor e pessoas que vêm da área dos negócios. “Valor Partilhado” trata-se de pessoas que entendem ambos os setores, que compreendem ferramentas e análises da área dos negócios e entendem também as questões sociais e têm trabalho feito com pessoas em questões sociais. Assim, parte do meu conselho é que procurem oportunidades de desenvolverem competências

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combinadas, não só formação em negócios, não só competências para desenvolver o típico trabalho do terceiro setor, mas combinarem ambas as experiências.

IP: Até que ponto é que o conceito de Valor Partilhado está realmente apto a reinventar o capitalismo?MK: Há muito a mudar para que isso aconteça. A comunidade de investidores tem de entrar no conceito. Gestores e investidores precisam de pensar a longo prazo o sucesso do negócio para fazerem outro tipo de investimentos a curto prazo. Se isso acontecer, o conceito de Valor Partilhado será altamente sedutor e aí poderá levar à reinvenção do capitalismo. Estamos a trabalhar para criar uma iniciativa de Valor Partilhado, que contará com cursos de formação e estudos de caso, em Business Schools e na Academia, que irão fornecer as ferramentas necessárias às empresas que queiram prosseguir este caminho. Estamos em conversações com a Casa Branca nos EUA e com o Governo da Índia, entre outros governos, para que possam criar políticas de promoção de Valor Partilhado nas suas políticas e planos de ação. Muita coisa tem de mudar, mas penso que, para um artigo que foi publicado há apenas um ano e meio, existe já um tremendo interesse mundial em descobrir como delinear e semear estas ideias.

IP: Uma vez que a criação de Valor Partilhado pode ter um papel importante na prosperidade do desenvolvimento económico a nível mundial, o que é que pode ser feito para promover e fazer proliferar este conceito?MK: Para além de tudo o que já mencionei, precisa de ser falado nas Business Schools, nas Escolas de Serviço Social e nas Escolas de Políticas Públicas. É preciso criar um quadro de recomendações para os Governos, de como estes podem promover o Valor Partilhado nas empresas. É preciso criar melhores ferramentas de mensuração que permitam às empresas não só medir o seu impacto social e o impacto do seu negócio mas que compreendam a ligação entre os dois e a sua interdependência. São ambas importantes mas precisam de ser criados novas ferramentas relacionadas com a mensuração de Valor Partilhado. Penso que as empresas precisam de ser capazes de se unirem, de falarem sobre adotar estas ideias para as próprias empresas, sobre as mudanças na cultura empresarial que advirão das mesmas, e de ser capazes de aprender umas com as outras como se faz isto. A comunidade de investidores precisa de incorporar o conceito e começar a pensar no retorno a longo prazo, começando realmente a documentar o benefício para os investidores de investimentos a longo prazo, padrões e iniciativas de Valor Partilhado.

IP: Muhammad Yunus, identifica dois tipos de Social Business: "Que se concentra em empresas que lidam apenas com objetivos sociais" e "pode assumir qualquer negócio rentável, desde que se trate de propriedade dos pobres e dos desfavorecidos, que podem ganhar ao receber dividendos ou por algum benefício direto ou indireto". Por sua vez, a Ashoka defende a construção de Cadeias de Valor híbridas, “que permitam que as ONG e empresas colaborem, compitam, e aprendam a servir mercados de baixos rendimentos com novos modelos de negócio para que todos os indivíduos possam beneficiar de produtos e serviços fornecidos pela economia formal de uma maneira que melhore as suas vidas”. Até que ponto Criar Valor Partilhado se cruza com estes dois conceitos?MK: Penso que o Valor Partilhado certamente vai ao encontro do segundo conceito e nós vemos as parcerias entre ONGs e empresas efetivamente como Modelos Híbridos de Negócio.

O que o conceito de Valor Partilhado está a fazer é a superar os preconceitos e a demonstrar que é possível ganhar dinheiro e fazer o bem…”

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PASSADOS QUATRO ANOS DA ENTREVISTA EXCLUSIVA DE MARK KRAMER AO IMPULSO POSITIVO, PERGUNTáMOS A NAThALIE BALLAN, FUNDADORA DA EMPRESA DE CONSULTORIA EM ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL SAIR DA CASCA, SE ESTARIAM AINDA EM LADO OPOSTOS OS NEGóCIOS DAS QUESTõES SOCIAIS:

“Nunca achei que estivessem em lados opostos. As questões sociais, nomeadamente as relações laborais, os direitos humanos, as ligações com as comunidades, sempre afetaram o mundo dos negócios e foram afetadas pelos seus impactos. Também não acho que os negócios e as questões sociais tenham interesses divergentes, porque como diz o World Business Council for Sustainable Development, não há negócios de sucesso em sociedades falidas. Há empresas mais transparentes e abertas ao diálogo, há investidores mais exigentes, há melhores e piores práticas. E deve haver uma Sociedade (nós todos) informada, que premeia os melhores comportamentos. Se olharmos para esta questão no sentido de comparar um setor empresarial lucrativo e motivado pelo lucro e um setor social non profit motivado pelo bem, tenho uma esperança e uma dupla perspetiva: a esperança que se deixe o mais rapidamente possível este tipo de visão simplista e redutora, insultuosa para os dois setores. Para o setor empresarial porque parece que as pessoas que o lideram são diferentes e muito piores do que as pessoas do setor social por definição. Para o terceiro setor porque parece que é gerido por pessoas simpáticas mas afinal sem grande preocupação com os aspetos de sustentabilidade financeira. Os preconceitos têm uma vida longa, este é agravado pelos preconceitos ideológicos, políticos e às vezes religiosos que o sustentam. Em França e em Portugal, mais dos que nos países anglo saxónicos. De um lado estou a ver, na Europa, muito mais convergências, parcerias e entrecruzamento entre os atores. Os nossos clientes pedem para desenharmos projetos de negócios inclusivos, começam a olhar para o investimento de impacto. As empresas em Portugal manifestam um maior interesse… mas no final do dia os investimentos continuam a ser reduzidos e não se aproveitam todas as oportunidades que poderiam existir se houvesse uma estratégia de Valor Partilhado em oposição a “projetos”, por definição pontuais. Ainda existe uma visão muito paternalista e pouco estruturada que leva a uma grande dispersão de recursos, fora do âmbito do negócio. Do lado das entidades sociais, não consigo traçar uma tendência, há muitas nuances. No fundo existe um maior conhecimento do mundo empresarial mas ainda uma enorme capilaridade e falta de organização em clusters que podiam ajudar a ter mais influência e eficiência.”

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Provavelmente, muitos dos exemplos de Valor Partilhado em que pensamos não são necessariamente negócios em si mesmo para os pobres mas que acabam por os alcançar. Quando nos focamos em Valor Partilhado concentramo-nos essencialmente em grandes empresas nacionais ou multinacionais e fazemos isso porque achamos que estas podem ter um impacto à escala que pequenas empresas e ONGs tipicamente não podem. Assim, há muito bem que vem de pequenas empresas sociais ou empresas pequenas pertencentes a trabalhadores e estes têm certamente que ser encorajados a continuar. Contudo, penso que Muhammad Yunus deixa de fora, na conceptualização inicial, com a identificação dos dois tipos de Social Business, o papel que as grandes empresas nacionais e multinacionais podem desempenhar para influenciar para melhor as condições sociais.

IP: Independentemente de todos os conceitos, o que é que é mais urgente começar por fazer para superar as necessidades sociais que se vivem em todo o mundo?MK: Acho que o mais urgente é começar a construir um alinhamento e uma rede de colaboração entre os setores. Neste momento temos atores do terceiro setor que fazem cada um a sua coisa, sendo que existem imensos atores muito pequenos. Temos negócios em que cada um procura salvaguardar os seus próprios interesses individuais sem qualquer visão coerente sobre como resolver os problemas sociais que afetam empresas, governos, cidadãos e a própria sociedade. O mais importante é começar a construir plataformas e visões comuns, parcerias transversais a todos os setores que permitam aos diferentes atores encontrarem níveis de interesse mútuos e trabalharem juntos para superar essa visão. IP

" ... no final do dia os investimentos continuam a ser reduzidos e não se aproveitam todas as oportunidades que poderiam existir se houvesse uma estratégia de Valor Partilhado em oposição a “projetos”, por definição pontuais". (Nathalie Ballan, 2016)

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"Fazer com que a realidade corresponda à retórica" *

A Human Rights Watch é uma das maiores organizações mundiais dedicada à defesa dos Direitos Humanos. Vivências aterradoras e irreais são denunciadas, tornadas públicas, combatidas e erradicadas graças ao trabalho incessante que a Human Rights Watch desenvolve em mais de 90 países. O Impulso Positivo quis saber mais sobre Direitos Humanos pela voz de quem conhece a realidade mundial, e falou com Emma Daly, Diretora de Comunicações da organização.

REVISTA IP 17SET/OuT2013

Impulso Positivo (IP): Quais são os grandes desafios que enfrentamos hoje pelo Respeito dos Direitos humanos?Emma Daly (ED): Fazer com que a realidade corresponda à retórica. Mesmo os governos repressivos têm muitas vezes as leis de proteção de direitos nos livros, mas a realidade no terreno é justamente o oposto. Poucos, se é que algum, são os governos que praticam plenamente o que pregam. Um assunto relacionado com isso é o pensamento «os fins justificam os meios», muito comum nos círculos de poder e diretamente contrário aos princípios dos direitos humanos. Esta é a forma como os ditadores justificam as suas ações quando reconhecem os seus crimes em tudo – a repressão é justificada pela perigos representados por potências estrangeiras ou instigação interior. É também a forma como as autoridades americanas têm tentado justificar abusos em operações de contraterrorismo – tortura ou vigilância generalizada são justificados pela necessidade de impedir que aconteça outro 11 de setembro. É possível referir muitos outros exemplos. Em termos de questões específicas, eu diria que a discriminação, a falta de liberdade política, o conflito sectário, a negação dos direitos da terra – especialmente onde os recursos estão em jogo, a conduta desumana em tempo de guerra, e uma falta de responsabilidade são tudo questões prementes. Responsabilizar é absolutamente central: não é possível acabar com graves crimes contra os direitos humanos, a menos que se levem os seus responsáveis à justiça.

IP: O que é urgente fazer ?ED: Acabar com os ataques contra civis por todo o lado na Síria, referir a situação ao Tribunal Criminal Internacional para assegurar que é feita justiça pelas vítimas do passado e que é criado um efeito de dissuasão contra ataques futuros. Assegurar o respeito pelos direitos do regime democrático no Egito e assegurar a responsabilização de todos os líderes pelos abusos do passado, incluindo o regime militar atual e interino, o governo eleito do Presidente Mohamed Morsy, e os 30 anos de ditadura de Hosni Mubarak. Exortar a Rússia a acabar com a repressão contra a sociedade civil e impedir a discriminação contra as pessoas LGBT. Pressionar a Coreia do Norte a abandonar o totalitarismo e fechar os campos gulag, acabar com o uso da tortura e de todas

as execuções, empreender grandes reformas para permitir as liberdades políticas e civis, e assegurar a distribuição justa e adequada de alimentos. Instar os Estados Unidos da América a fechar Guantánamo e a passar a julgar os casos de terrorismo nos tribunais federais. Proteger os civis na República Democrática do Congo, especialmente as mulheres e as crianças em situação de risco de violência sexual. Consagrar a igualdade jurídica para as mulheres na Arábia Saudita. Dizer à União Europeia para reformar as suas políticas de imigração. A Human Rights Watch trabalha em mais de 90 países, e existem questões urgentes para resolver em muitos deles.

IP: O que é que a sociedade civil tem de interiorizar para que a luta pelos direitos humanos se torne mais eficaz?ED: Compreender que o respeito pelos direitos humanos é fulcral para criar sociedades justas, igualitárias e estáveis. Existe uma necessidade premente de se criarem grandes alianças e de se começar a trabalhar em conjunto para que a mudança seja efetivamente eficaz.

IP: Considera que existe uma falta de bom senso por parte dos países ricos em relação às verdadeiras atrocidades que ocorrem nos países mais pobres?ED: Não sei. A Human Rights Watch é uma das organizações independentes dedicadas à defesa e proteção dos Direitos Humanos mais importantes do mundo. Não recebemos qualquer dinheiro governamental, mas somos financiados por indivíduos e fundações de todo o mundo. Muitos dos nossos doadores vivem nos países mais ricos e estão certamente bem cientes das atrocidades que ocorrem em todo o mundo, razão que os leva a optar por investir na Human Rights Watch.

IP: Será que existe também uma falta de noção nos países desenvolvidos em relação à violação dos direitos humanos nos seus próprios países?ED: As pessoas do mundo desenvolvido ou mundo ocidental podem pensar que os abusos dos direitos humanos acontecem em terras distantes, devastadas pelas guerras ou sob regimes ditatoriais, mas todos os governos violam direitos. Mesmo nas

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“…não é possível acabar com graves crimes contra os direitos humanos, a menos que se levem os seus responsáveis à justiça.”

Anna Neistat, diretora associada do Programa e da divisão de Emergências, entrevista vítimas de conflitos étnicos no Quirguistão.

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democracias que funcionam bem, e estão estabelecidas há muito tempo, existe o perigo da "tirania da maioria" e de violação dos direitos das minorias vulneráveis ou dos grupos impopulares. É por essa razão que a Human Rights Watch trabalha nos Estados Unidos da América, na União Europeia, Japão e em muitos outras regiões e países desenvolvidos. As proteções dos direitos humanos pelos tribunais nacionais muitas vezes começam e acabam com os cidadãos desses países. No mundo atual isso já não é suficiente, como a polémica mundial em torno das práticas de vigilância dos Estados Unidos da América acabou de deixar bem claro. A Human Rights Watch não recebe dinheiro governamental exatamente para poder garantir a nossa independência e capacidade de investigar os abusos dos direitos humanos onde quer que ocorram.

IP: Os governos são muitas vezes os primeiros a violar os direitos humanos dos cidadãos. O que é que podemos fazer para minimizar esse risco?ED: Precisamos de garantir que os governos são responsabilizados pelos seus povos, por organizações nacionais de direitos humanos, por uma imprensa livre e através de eleições livres e justas, por outros governos e organizações multilaterais como as Nações Unidas, a União Africana, o Tribunal Inter-Americano de Direitos Humanos. Nós acreditamos que dar destaque aos abusos, reportar os factos, utilizar os media para investigar, são algumas das melhores formas de envergonhar os responsáveis para que assim acabem com os abusos. Nenhum governo, ainda que seja repressivo, gosta de ser envergonhado em público. Também é importante identificar que funcionários num determinado governo estão genuinamente comprometidos com os direitos humanos - e há quase sempre algum - e encontrar formas de ampliar os seus esforços e trabalhar contra aqueles funcionários que violam os direitos humanos ou fecham os olhos.

IP: Quais foram os últimos programas lançados pela human Rights Watch para erradicar as violações de direitos humanos? Que resultados foram alcançados?ED: A Human Rights Watch tem trabalhado intensamente no âmbito dos direitos dos deficientes desde 2010, e estabeleceu um

programa autónomo de direitos das pessoas com deficiência em abril de 2013. Nos últimos três anos fizemos grandes avanços para documentar os abusos contra os mais de mil milhões de pessoas com deficiência no mundo inteiro. Publicámos mais de 15 relatórios, incluindo sobre as barreiras à educação, a violência contra mulheres e crianças com deficiência, a negação do direito de voto e abuso em hospitais psiquiátricos. O nosso corpo forte e crescente de trabalho para tratar uma ampla gama de direitos dos deficientes teve um impacto concreto. Por exemplo, em resposta ao nosso relatório sobre barreiras à educação para crianças com deficiência no Nepal, o governo começou a desenvolver um currículo para as crianças com deficiência intelectual. Seguindo o nosso relatório sobre os abusos contra pessoas com deficiência mental no Gana, o governo tem tomado medidas para melhorar a monitorização dos serviços de saúde mental do governo e da comunidade.

IP: O que devemos aprender com a crise atual na Síria e os vários pontos de vista dos governos ao redor do mundo?ED: Até o momento, a ação do Conselho de Segurança da ONU, que poderia aliviar a crise na Síria, foi bloqueada por um ou dois governos com poder de veto. É claro que o Conselho de Segurança da ONU deve adotar medidas que assegurem que a ajuda humanitária seja entregue a todos os civis que necessitam, referir a situação na Síria ao Tribunal Penal Internacional, impor um embargo de armas ao governo e grupos rebeldes e impor sanções financeiras direcionadas contra os acusados das mais graves violações dos direitos humanos.

IP: O que é que a sociedade civil pode e deve fazer diante de uma crise como esta?ED: Pressionar os seus próprios e outros governos a agir para proteger os civis em todas as regiões da Síria, e prestar assistência aos refugiados e outras pessoas em risco. Mobilizar os cidadãos para exigir justiça pelos abusos e cooperar com outros grupos para entender os problemas, elaborar possíveis soluções, e tomar medidas complementares para atingir resultados. Os próprios grupos da sociedade civil da Síria também fizeram esforços extraordinários para documentar os abusos. IP

* Leia a entrevista na íntegra em www.impulsopositivo.com

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“Precisamos de nos concentrar na vida”

Vandana Shiva, uma das maiores referências internacionais na defesa de um mundo são, falou em exclusivo com o Impulso Positivo sobre os riscos que corremos, as calamidades que provocamos e cometemos, as soluções que temos nas mãos e como ainda vamos a tempo de mudar. Por um mundo melhor. Para todos.

REVISTA IP 28JuL/AGO 2015

Impulso Positivo (IP): Quais são os grandes desafios globais atuais?Vandana Shiva (VS): A crise Ecológica da erosão da Biodiversidade, o esgotamento da água, a desertificação, as alterações climáticas, a crise económica de um modelo que beneficia um por cento da população, e as consequências sociais do desemprego, das agitações e conflitos civis e das migrações forçadas.

IP: Quais são os principais ultrajes cometidos pelos líderes mundiais nesta área?VS: Continuarem a fomentar e a proclamar a doença do neoliberalismo como a cura e militarizarem a sociedade.

IP: O que é urgente parar?VS: A nossa sobrevivência comum exige que façamos uma transição de ciclos viciosos de violência para ciclos virtuosos de não-violência, de economias negativas de morte e destruição para economias de vida que sustentem a vida na terra e as nossas vidas, de políticas negativas e culturas que estão a levar à aniquilação mútua para as democracias que incluem preocupação com toda a vida e a participação da mesma.

IP: As questões ambientais e a ganância or recursos naturais estão por trás de algumas das maiores calamidades mundiais. Pode falar um pouco sobre isso?VS: Este é um dos temas abordados no Manifesto Terra Viva, publicado este ano pela Navdanya Foundation. A guerra na Síria e o terrorismo do Boko Haram foram gerados, entre outras coisas, pelas alterações climáticas. O modelo agrícola industrial atual tem sido um verdadeiro fracasso. Completamente interligado a isso está o modelo económico dominante, que se baseia na extração e nunca na reintegração, em sistemas económicos que são destruidores de vida e que causa a extinção de espécies animais e vegetais, o que eventualmente levará ao colapso do ecossistema. Este modelo é para o benefício de poucos e é a causa de injustiça económica, de uma instabilidade perigosa, da pobreza desesperante, fome e desemprego. Pela primeira vez na história da humanidade, o futuro da espécie humana já não é mais certo: as catástrofes climáticas, conflitos e guerras estão a empurrar-nos para a beira de um colapso ecológico, económico e social.

IP: Podemos inverter esta situação?VS: Podemos escolher outro caminho. Um caminho baseado em cidadania global e na partilha de recursos, um caminho que aponta para uma economia circular com base na regeneração de recursos. A agricultura desempenha um papel fundamental dentro desta nova visão. A nova agricultura restaura a fertilidade da terra através de práticas agrícolas orgânicas regenerativas. Isso irá assegurar que os agricultores recebem uma remuneração justa, permitindo-lhes, assim, permanecer nas suas terras, enquanto continuam a fornecer alimentos para as cidades e comunidades. Este novo caminho troca um processo linear de exploração da terra e dos recursos naturais por um processo circular com base a reintegração e regeneração, o que por sua vez vem garantir resiliência, sustentabilidade, justiça e paz. Esta nova agricultura é parte de um processo que visa redefinir os próprios conceitos de democracia e liberdade. Este processo é capaz de gerar tanto uma nova economia como uma nova democracia, a que chamo Democracia da Terra.

IP: O que é a Democracia da Terra?VS: Em ecologia integral, a sustentabilidade e a justiça social são inseparáveis. Tal como refere a recente Encíclica do Papa Francisco, Laudate Sí, "uma verdadeira abordagem ecológica torna-se numa abordagem social: ela deve integrar questões de justiça em debates sobre o ambiente, de maneira curar tanto o choro da Terra como o choro dos pobres". Isto para mim é a Democracia da Terra.

IP: Que responsabilidades temos enquanto cidadãos comuns?VS: O nosso primeiro dever é recuperar os nossos direitos. Podemos começar com a comida e com a água. Precisamos de deixar de ser consumidores para sermos Cidadãos da Terra e praticar a Democracia da Terra.

IP: A que de deve esta falta de consciência global da situação da Terra?VS: Deve-se a uma visão do mundo que fragmenta os nossos pensamentos, que nos separa da natureza e uns dos outros e ainda uma indústria de media que gera ficções e distrações.

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UM ANO DEPOIS, PERGUNTáMOS A VANDANA ShIVA CONSEGUIA VER FRUTOS DO TRABALhO TãO DURO QUE TEM VINDO A DESENVOLVER E SE PODÍAMOS TER ESPERANçA EM MUDAR, DE FACTO, O MUNDO. A RESPOSTA PRAGMáTICA E EXIGENTE NãO TARDOU:

“Nas últimas cinco décadas, tenho dedicado a minha vida a proteger a Terra e os direitos das pessoas de partilharem os seus dons comuns, pelo bem estar de todos. As nossas ações tiveram impacto. A biodiversidade está a substituir a "monocultura da mente". A localização está a substituir a globalização enquanto categoria condutora de como nos governamos a nós próprios e moldamos as nossas economias. Os cidadãos tornaram-se ativos ao assumir o poder das empresas.Ao longo dos anos o movimento tem crescido e os movimentos fragmentados começaram a ver as ligações.Ao mesmo tempo, as forças de destruição também se intensificaram. Tornaram-se mais violentas, mais antidemocráticas, mais gananciosas. Embora em menor número, estão a tentar controlar cada aspeto das nossas vidas - as nossas sementes, os nossos solos, a nossa água, o nosso ar, a nossa comida, a nossa democracia.Apesar da intensidade e concentração de forças destrutivas, eu vejo esperança, porque eu, conscientemente, cultivei-a. Eu cultivei-a ao salvando sementes de esperança e plantando jardins de esperança, tanto na realidade como na imaginação. Todos os dias eu pergunto a mim própria como é que eu poderei ser a mudança que queremos ver.É o poder da nossa imaginação, o poder da nossa vontade, o poder da nossa consciência como cidadãos da Terra que nos dá o poder de criar outro mundo baseado na democracia da Terra. Nós somos uma humanidade, num planeta. Essa é a nossa força. Essa é a nossa esperança.”

"Em ecologia integral, a sustentabilidade e a justiça social são inseparáveis.”

Vandana Shiva

CAPA

IP: O que é que os governos podem começar por fazer para darem início a um verdadeiro trajeto sustentável?VS: Os Governos podem começar por seguir o exemplo do Butão adotando o indicador de "Felicidade Interna Bruta" em vez do "Produto Interno Bruto" (PIB). Também podem começar a consultar mais os seus povos, como a Grécia.

IP: E nós, enquanto cidadãos comuns, o que podemos começar a fazer?VS: De forma consciente tornarmo-nos Cidadãos da Terra, tomando conta da Terra e uns dos outros. Comece um jardim. Transforme os resíduos alimentares e toda a matéria orgânica em composto, capaz de contribuir para a fertilidade do solo, cultive uma horta e contribua para a agricultura urbana em área inutilizadas da cidade. Selecione e recicle resíduos para ajudar a reduzir os gases de efeito de estufa. Em zonas rurais, façam a recolha de biomassa para evitar a queima de galhos produzidos pela poda uma vez que esta prática, para além de produzir CO2 e contribuir para o efeito de estufa é um desperdício de material, uma vez que a biomassa pode ser utilizada como adubo, pellets, celulose para produção de papel, entre outras coisas. Aposte em práticas agrícolas que evitem o contínuo cultivo da terra como a permacultura ou a agricultura sinérgica.

IP: Existe muita informação sobre estas matérias mas ao mesmo tempo uma grande inércia generalizada para agir corretamente. Porquê?VS: Estamos muito focados no medo e na negatividade. Precisamos de nos concentrar na vida, celebrar a vida, envolvermo-nos numa ação criativa e construtiva, não importa quão pequena seja.

IP: O que é que o público em geral não entende e é urgente compreender sobre o impacto devastador do estilo de vida que temos hoje?VS: Que tudo está interligado. Quando nós comemos comida industrial, estamos a contribuir para a destruição da água e do solo, contribuímos para as alterações climáticas, empurramos pequenos agricultores para o suicídio, e destruímos a nossa própria saúde.

IP: Qual será o nosso futuro a curto e médio prazo?VS: Se continuarmos no caminho dominante, a humanidade não tem futuro. Se mudarmos e adotarmos a Democracia da Terra, longe da ganância e do consumismo, longe da dominação pelo que é economicamente poderoso, tanto a terra como as pessoas vão florescer. IP

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NO CENTRO

“O PROBLEMA NO MUNDO É A ESCASSEz DE PARTILhA” *

uma manhã, Benita Matofska acordou e pensou: “É isso! O problema no mundo é que existe uma escassez de partilha!”. Mas pensou também que é possível dar resposta a esta escassez. uma das maiores dinamizadoras da economia da partilha no Reino unido e uma ativista acérrima, em todas as dimensões da sua vida, de partilhar, Benita é fundadora da organização “The People Who Share” e foi a mentora do Global Sharing Day, que em 2013 chegou a 70 milhões de pessoas em 192 países de todo o mundo. A Impulso Positivo entrevistou esta empreendedora social quando esteve em Lisboa, por ocasião do Greenfest.

REVISTA IP 20MAR/ABR 2014

Entrevista |Texto: Leonor Rodrigues e Rita Ribeiro Fotos: Greenfest

Benita Matofska

Impulso Positivo (IP): Como e quando teve a ideia de fundar a organização “The People Who Share”?Benita Matofska (BM): A ideia é de 2010. Estava a trabalhar na “Global Entrepreneurship Week” e estava muito interessada na área do empreendedorismo social e na forma como este permite alcançar o bem no mundo, e construir negócios em torno das pessoas e do planeta. Queria dedicar a minha vida a fazer do mundo um lugar melhor. Depois de alguns meses a pensar nisso, a palavra partilha (“sharing”) estava sempre a surgir-me. E uma manhã acordei e pensei: é isso! O problema no mundo é que existe uma escassez de partilha! Comecei a pensar que se partilhássemos responsabilidade, não teríamos a destruição planetária que temos; se partilhássemos competências e tempo na nossa comunidade, conheceríamos os nossos vizinhos e estaríamos a construir comunidades mais fortes e mais unidas. Se partilhássemos recursos de forma equilibrada, estaríamos a “atacar” estas situações reais de termos uma população em crescimento num planeta com recursos finitos. Partilhar é a solução, e essa ideia estava sempre comigo. Mas, fundamentalmente, o que é preciso acontecer é uma mudança de cultura e o que era necessário era uma organização.

IP: Como é que passou da ideia à fundação de uma organização como a “The People Who Share”?BM: Cheguei à conclusão de que não existia uma organização

para fazer campanha para a construção de uma economia de partilha. Foi assim que aconteceu. A “The People Who Share” nasceu oficialmente em janeiro de 2011. Muito rapidamente conseguimos ter muitos voluntários e começámos a organizar eventos locais, em que juntávamos as pessoas para esta experiência de partilha. As mudanças culturais acontecem porque as pessoas têm uma experiência positiva e isso leva-as a querer repetir. E por isso, de forma muito suave e local, começámos com esta partilha entre pessoas e cada vez que tínhamos um destes eventos, tínhamos mais pessoas a comparecer. E isso foi realmente o início de todo o movimento.

IP: E a sua vida, também mudou?BM: A minha vida mudou por completo. Outro momento determinante foi quando decidi que queria lançar o National Sharing Day (Dia Nacional da Partilha). Podíamos ter uma semana ou um dia inteiro para celebrar a partilha e fazer com que as pessoas se envolvessem na campanha num dia específico, então pensei: vamos fazer algo chamado o National Sharing Day. E muitos me disseram: Estás louca? Fazer uma campanha nacional, sem dinheiro, com recursos muito limitados – na altura, apenas uma ou duas pessoas estavam a trabalhar comigo. Mas o pior que poderia acontecer era apenas algumas pessoas partilharem e isso não era assim tão terrível. Organizámos alguns eventos e construímos uma rede com 45 organizações, que realizou atividades em todo

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NO CENTRO

Benita Matofska revelou recentemente ao Impulso Positivo que “muito embora a aprendizagem da partilha seja ainda um trabalho em progresso, a Economia de Partilha tem revelado um crescimento vinte vezes mais rápido do que aquele que seria expectável”. Hoje, “28% da população adulta do mundo inteiro já é preparada para partilhar e participa na Economia de Partilha e só na Europa a Economia de Partilha representa 28 mil milhões de euros de transações”. No futuro, “estima-se que em 2025 muitas das áreas da Economia de Partilha serão decisivas nalguns sectores da Economia, e que o valor total de 5 setores da Economia de Partilha chegue aos 303 mil milhões de euros”. A fundadora de “The People Who Share” explica que “as pessoas estão a escolher viver segundo a Economia de Partilha movidas por novas gerações que não têm qualquer problema em partilhar”.

o Reino Unido. O que aconteceu foi que no dia, à hora de almoço, estávamos no Twitter de forma global e as pessoas estavam a “twitar-nos” das Filipinas, da Ucrânia, de todos os cantos do mundo, a dizer que gostariam de ter um Dia Nacional de Partilha. Foi aí que pensámos, vamos ser globais. Assim, em 2012, fizemos o primeiro Global Sharing Day. Construímos uma rede com 165 parceiros globais, que alcançaram mais de 60 milhões de pessoas e 147 países e tivemos atividades em todo o mundo. Em 2013 já envolvemos mais de 200 organizações parceiras e chegámos a mais de 70 milhões de pessoas em 192 países. E continuamos a ser uma organização sem fins lucrativos, uma empresa social e fundamentalmente gerida por voluntários. Em 2013, tivemos alguns patrocinadores corporativos. Enfim, estes foram alguns momentos chave.

IP: Quando começou a Economia da Partilha no Reino Unido, como é que foi? Em Portugal ainda não temos esse “hábito”...BM: Em 2011, quando falava da economia de partilha, as pessoas pensavam que estava a falar uma língua estrangeira. Não faziam ideia do que é que eu estava a falar. Lembro-me de quando utilizamos o hash tag no “SharingEconomy” no Twitter, fomos os primeiros a fazê-lo. Havia um pequeno nicho de pessoas que percebiam do que se tratava, de que havia um movimento de consumo colaborativo. Mas a economia de partilha explodiu nos últimos dois anos e, em especial no último ano, vimos muita atividade nesta área. A tecnologia veio facilitar a partilha de bens e por outro lado temos também a proliferação das redes sociais, em que é normal partilhar o que acontece na nossa vida. A economia da partilha veio para ficar e é fabuloso como está a caminhar para um lugar de primeira linha.

IP: Mas quem pode adotar esta postura/políticas? As pessoas, as empresas, ONG’s?BM: Fundamentalmente, a economia da partilha aplica-se a todos os segmentos. É para indivíduos, comunidades, empresas, ONG, IPSS, empresas públicas: é multissetorial. Estamos a falar, fundamentalmente, de fazer o mundo funcionar melhor. Não ter uma situação em que temos recursos desperdiçados e um mundo destruído. Falamos de um sistema, de uma economia em círculo fechado em que não existe desperdício. Tudo é regenerado para um propósito. É disso que se trata na economia de partilha- mas é também sobre uma sociedade saudável e feliz. De ligar as pessoas, de sabermos quem são os nossos vizinhos, onde estão, os seus nomes e estarmos ligadas a elas. As pessoas começam a ligar-se e a reconhecer-se como seres humanos, construímos comunidades sustentáveis.

IP: Pode dar-nos um exemplo de uma entidade do setor privado que pratica a economia de partilha com sucesso?BM: Existem muitos exemplos de empresas a fazê-lo. No Reino Unido, a Marks & Spencer, que tem uma iniciativa chamada “shwopping”, e que permite às pessoas devolver roupa à loja para reciclar, que seria deitada fora. No ano passado, reciclaram mais de 2 milhões de peças de roupa. E essa roupa foi toda doada à Oxfam. Outro exemplo é a B&Q que tem uma iniciativa chamada Street Club, que permite às pessoas também partilhar roupas nas suas

ruas. O Marriott Hotel Group fez uma parceria com uma empresa chamada LiquidSpace, em que os espaços não utlizados no hotel são arrendados a empreendedores. É extraordinário. As empresas estão a começar a reconhecer que, em última análise, a economia da partilha está a mudar o futuro do negócio. E os negócios não podem estar fora desta economia. Com a tecnologia, as pessoas podem negociar de igual para igual, de pessoa para pessoa. As empresas mais inteligentes estão a reconhecer que precisam de facilitar que essa partilha aconteça. Particularmente no setor automóvel, por exemplo, a BMW, a AVIS, HERTZ, estão todos a entrar no mercado de partilha de carros, porque reconhecem que essa é a tendência. IP: Que conselhosdaria às pessoas que não aderiram à economia da partilha, mas gostariam de fazê-lo?BM: Envolver-se na economia da partilha é viver de forma inteligente, é sobre como utilizamos as coisas que temos. É sobre fazer mais com menos. Estes são tempos difíceis para muita gente em todo o mundo e este é o momento para sermos mais inteligentes, para todo este movimento de quanto mais partilharmos, mais temos. No último verão, na minha família, fizemos uma troca de casa por duas semanas com uma família italiana. E foi extraordinário. Além do dinheiro que poupámos, quando chegamos lá, tivemos toda a informação fabulosa deixada pela família sobre os melhores sítios para levar as crianças, restaurantes, mercados, etc. Além de contribuirmos para a economia local, tivemos umas férias muito mais interessantes, porque vivemos como os locais e experimentámos tudo o que o país tem para oferecer e enquanto turista poderíamos não ter essa vantagem. Quando voltámos a casa, tínhamos comida no frigorífico, uma garrafa de vinho, presentes para as crianças: quanto mais partilhamos, mais temos. É verdade. Para as pessoas que estão nervosas em envolver-se na economia da partilha, é preciso saber que é um modo de vida mais inteligente, de termos as coisas que precisamos. O maior obstáculo que temos que superar é a confiança – para as pessoas partilharem, têm que ter confiança. IP

* Leia a entrevista na íntegra em www.impulsopositivo.com

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NO CENTRO

“AS PESSOAS DOAM PARA CAUSAS ATRATIVAS” *

IP: Uma das principais questões nesta área é “Como fazer o matching entre as necessidades das organizações e as motivações dos potenciais doadores”? KB: Acho que a Madalena (da Call do Action) tem toda a razão em dizer que em Portugal não se está a explorar todo o potencial de doações do público, que não está habituado a receber mensagens ponderosas e emocionais. Quando o fazemos, as doações aumentam. No Reino Unido, se olharmos para a economia como um todo, as organizações sem fins lucrativos têm feito muito melhor que as empresas, porque se tornaram muito profissionais, melhoraram a comunicação e as pessoas dão. E basta olharmos para coisas como o tsunami no sudeste Asiático, o terramoto no Haiti, e vemos como as pessoas doam para causas “atrativas”. O difícil é “construir a causa” o melhor possível e torná-la apelativa para as pessoas por razões óbvias.

IP: O que significa isso, de “construir a causa”? KB: Lembro-me uma vez de estar a falar com um responsável por uma instituição de investigação sobre cancro. Não é uma investigação interessante, é muito técnica, muito complexa, por isso não temos uma boa história para contar. E a minha reação foi: “isso é um disparate!”. Investigação não é um cientista a olhar para tubos de ensaio, investigação em cancro é sobre “tempo” – “Quanto mais tempo eu terei para viver com a minha família?”. É claro que eu espero que a investigação encontre cura para a doença, para que eu tenha mais tempo para estar com os meus netos. É assim que temos que apresentar a mensagem, de uma forma que as pessoas digiram bem. Falava há pouco com uma senhora cuja organização está a construir uma casa para crianças desprotegidas. Ela perguntava-me: “Como podemos angariar dinheiro para isso depois da casa já estar construída? Como podemos continuar a angariar dinheiro depois?” E eu respondi-lhe que não iam pedir dinheiro para uma casa. Com o dinheiro vão comprar tijolos, eletricidade, e canalização, móveis, etc. E disse-lhe: “O que vocês realmente estão a fazer é a construir um lugar seguro para que essas crianças se desenvolvam”. E essa é uma luta que continuará, mesmo depois da casa estar construída. Estaremos então a angariar dinheiro para permitir que a criança vulnerável

possa desenvolver-se, aprender e ter uma oportunidade na vida. Dessa forma as pessoas darão dinheiro.

IP: Trata-se então de aprender a contar histórias? KB: Sim, trata-se de projetar as nossas histórias sobre como ajudar as pessoas. Talvez tivesse sido útil que nesta conferência eu tivesse contado ainda mais histórias, porque se torna mais fácil de perceber. Há pessoas que depois das histórias me vêm dizer “Ah. Isso é a mudança de 90 graus!”.

IP: O que significa essa “mudança de 90 graus”?KB: É realmente ver o nosso trabalho de uma forma que atraia o doador. Às vezes as organizações tornam-se obcecadas por elas próprias. Olhamos para os relatórios de algumas organizações sem fins lucrativos e aparece o Presidente e o responsável financeiro e vêm-nos dizer que reorganizaram o sistema informático… Isso é aborrecido. As pessoas não ligam, e as organizações não são isso. O que as pessoas querem saber é: “Como é que o meu dinheiro está a transformar a vida de alguém?”. Essa é a mudança de 90 graus. É difícil! As pessoas normalmente não o fazem. E há 25 anos que falo nisto.

IP: No nosso país as pessoas dão menos que as empresas. KB: Fico bastante surpreendido se assim for realmente. Mas também pode ser que as pessoas em Portugal não tenham ainda sido muito encorajadas a dar. Pode haver aí uma diferença cultural, mas quando viajamos e olhamos para diferentes culturas ao nível da angariação de fundos as pessoas dão mais que as empresas. Depende se incluímos ou não as doações nas Igrejas, para as artes e a educação, para a comunidade. Portanto pode ser que as metodologias sejam diferentes. Seja como for têm aqui uma grande oportunidade de fazer aumentar as doações individuais. A minha experiência é que as empresas não são muito generosas, porque quando há uma recessão, por exemplo, a primeira coisa a cortar é nas doações. Não são usualmente doadores consistentes, não o fazem por razões filantrópicas, mas para terem benefícios para o negócio. Julgo que o que há a fazer em Portugal é elevar o profissionalismo, atrair jovens comunicadores talentosos para a

“As pessoas doam para causas atrativas” por isso devemos aprender a “construir” as nossas causas, disse-nos Ken Burnett num dos intervalos do 3º Seminário de Fundraising da Call to Action. Ken Burnett é um especialista mundial em Angariação de Fundos e foi o convidado principal do seminário. O Impulso Positivo esteve no Seminário da Call to Action e conversou com Ken Burnett.

REVISTA IP 3MAI/JuN 2011

Entrevista |Texto: Raquel Campos Franco Fotos: Patrício Miguel

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NO CENTRO

área da angariação de fundos, e colocar perante os Portugueses o leque de atividades que podem apoiar. Não numa base de que isso custará muito dinheiro, mas na base de que tirará prazer nesse papel de vir a ser doador.

IP: Em que medida a transparência e o reporte sobre as aplicações dadas aos fundos é realmente relevante para os indivíduos? KB: Acho que hoje em dias as pessoas esperam poder confiar, e a confiança é muito importante nalguns países, como por exemplo a India. Um doador indiano doará com mais probabilidade a uma organização britânica pelas antigas ligações coloniais, do que a uma Indiana. Não sei porquê… Se olhamos para algumas das organizações cristãs na India, 80% dos seus apoiantes são hindus, porque acreditam que uma organização cristã se guiará por determinados princípios.

IP: Isso baseia-se em confiança construída através dos tempos… KB: Sim. Eu acho que cabe às organizações sem fins lucrativos alimentar essa confiança, serem abertas, serem transparentes, e realmente acho que é uma forma de construir relações. Quando as pessoas veem que se pode confiar na organização, confiam. Deve-se publicar a carta de princípios, se a tiverem, deve-se dizer que agradeceremos a doação no espaço de 48 horas por não queremos que a pessoa se preocupe se o dinheiro chegou ao sítio certo ou não. E as pessoas dirão “isso é uma coisa boa”. Dessa forma constrói-se uma relação, mas isto não acontece da noite para o dia.

IP: E o que pensa dos rankings de organizações sem fins lucrativos, construídos para ajudar os doadores a decidirem quem apoiar? KB: Essas iniciativas surgem por uma série de boas razões. Mas muitos dos critérios que têm para dizer que uma causa é melhor que a outra são um pouco enviesados. Não gosto da ideia de um intermediário a interferir na relação entre a organização e o doador. Acho que as organizações sem fins lucrativos têm que se regular elas próprias, pelo seu comportamento. Não me agrada a ideia do Governo ou outras organizações dizerem a quem os doadores devem dar dinheiro. Porque isso impede-me a mim, organização sem fins lucrativos, de apresentar e demonstrar a minhas razões. Torna a doação muito impessoal.

IP: Sim, mas a tarefa de escolher a quem doar, mesmo para uma empresa, não é fácil. KB: Não é, realmente. Mas eu não gosto que outras organizações se coloquem entre o doador e a organização beneficiária. Eu gosto que o doador veja para onde vai o seu dinheiro. Porque considero que a melhor coisa que conseguimos fazer é responder à questão “Que diferença fez a minha doação?”. A organização, no meu ponto de vista, não é a quem o doador dá dinheiro, a organização é como um camião que carrega a ajuda para onde é necessária. Depois há outra situação - com iniciativas como a Kiva pode-se realmente cortar a organização intermediária da doação, fazendo ligação direta entre o doador e o financiador, mas isso acarreta todos os tipos de perigos. Fazer isso em escala, e garantir que o projeto funciona devidamente, é uma ameaça. Eu acho que as organizações sem fins lucrativos internacionais, em particular as grandes, tornaram-se complacentes, perderam a sua direção em alguns casos. Não sei como organizações como a Kiva estão neste momento, acho que começaram muito bem, mas acho que têm lidado com vários problemas. Acho que o caminho a seguir é nós,

na nossa organização reconhecermos qual é o nosso papel, que é sermos o agente do doador e o agente da causa, e juntar esses dois.

IP: Quais os conselhos que gostaria de dar aos portugueses sobre o tema da angariação de fundos? KB: Acho que a maioria deles perguntará: “Por onde começar?” Há tantas coisas que posso dizer em termos de conselhos práticos… Começo por sugerir o seguinte: focalizem-se no básico. Assentem os alicerces básicos e não se preocupem muito em fazer elaborados exercícios de planeamento estratégico. Têm primeiro que aprender a andar antes de saber correr, não é? Tornar-se bom em ser “amigo dos doadores”, saber agradecer devidamente e dominar os aspetos simples da angariação de fundos. Além disso eu recomendaria vivamente eventos como este, porque é fantástico ver 250 pessoas ligadas à angariação de fundos, passarem um dia numa atividade como esta. A Call to Action tem que ser encorajada a continuar a fazer destes encontros. E a partir daí deveria surgir uma associação portuguesa de fundraisers. Esse é o primeiro passo para se construir uma profissão considerada, que tenha boas práticas, ganhando a confiança do público e credibilidade. E de repente as pessoas começarão a compreender melhor esta área e o seu trabalho. Acho que todos devemos suportar esse tipo de iniciativa. E acho que também deveriam olhar para além de Portugal porque aprenderão muito com as pessoas que têm outras experiências. Não só para os EUA e Reino Unido, mas outros países e partilhar práticas. IP

* Leia a entrevista na íntegra em www.impulsopositivo.com

hOJE, PASSADOS CINCO ANOS, MADALENA DA CUNhA, RELEU A ENTREVISTA QUE KEN BURNETT DEU AO IMPULSO POSITIVO, PRECISAMENTE NUM DOS SEMINáRIOS ORGANIzADOS PELA CALL TO ACTION DA QUAL É FUNDADORA E FALOU SOBRE O QUE É QUE LEVA ALGUÉM A DOAR EM PORTUGAL.

“Nós portugueses estamos a mudar e a nossa cultura de dar está também a mudar. Podemos mesmo dizer que estamos a caminhar para o envolvimento emocional de uma forma muito eficaz. Com tantas solicitações que temos atualmente para acudir tantos problemas e causas, somos sempre mais sensíveis àquilo que mais nos toca no coração e vamos percebendo que as pessoas não são todas iguais e nem todas vão dar para o mesmo. A maravilha disto é que haverá sempre aqueles que mais se identificam com a nossa causa e missão e o segredo do sucesso é encontrá-los. Para isso o fundraising tem muito boas ferramentas para conseguirmos ter uma base de contactos para começarmos a trabalhar...e depois só temos que comunicar centrados na envolvência emocional, no resultado final que criamos no nosso público-alvo, na mudança de vida que vamos conseguir criar com o nosso próprio donativo.Ou seja: segredo? Não pedir um donativo para o que vamos fazer, mas pedir um donativo convidando a pessoa a fazer parte da mudança na vida das pessoas que o nosso projeto consegue fazer. Usar histórias, envolver a pessoa nessa história, e fazê-la querer fazer parte do  “final feliz”  dessa história... e sempre de forma muito simpática e tratando cada pessoa como única, especial e essencial”.

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NO CENTRO

“CADA PACIENTE OU CUIDADOR É UM POTENCIAL INOVADOR”

A primeira plataforma do mundo para a partilha de soluções inovadoras que ajudem a melhorar a qualidade de vida e a ir ao encontro das necessidades reais de doentes é portuguesa. Desde fevereiro, para além dos contributos de doentes e cuidadores a Patient Innovation contou com os contributos de profissionais de saúde e membros de associações de doentes dos quatro cantos do mundo.Falámos com os Project Leaders da Patient Innovation, Pedro Oliveira, fundador do projeto e Helena Canhão.

REVISTA IP 21MAI/JuN 2014

IP: Como e quando nasceu a Patient Innovation?Pedro Oliveira e helena Canhão: Este projeto resultou da nossa investigação multidisciplinar, iniciada em 2011, sobre o papel doentes no desenvolvimento de soluções médicas eficazes. O projeto Patient Innovation, www.patient-innovation.com, parte da premissa de que existe em cada doente e cuidador um enorme potencial inovador, já que ao lidar diariamente com desafios que as suas patologias colocam às suas vidas, estes desenvolvem frequentemente soluções muito inovadoras, sob a forma de novos tratamentos ou equipamentos médicos. São indivíduos que estão sob grande pressão para vencer a doença e isso dá-lhes muita motivação para inovar. Foi isso mesmo que concluímos através da nossa investigação empírica com doentes crónicos. Depois chegámos à conclusão que as soluções desenvolvidas pelos doentes acabam frequentemente ‘perdidas’ e não chegam a ajudar outros pacientes. A principal vantagem desta plataforma é precisamente facilitar a partilha dessas soluções.

IP: A plataforma tem vindo a adaptar-se à medida que se vai apercebendo das necessidades reais dos utilizadores?PO e hC: Sim, a versão 0 da plataforma foi apresentada aquando do seu lançamento a 7 de Fevereiro de 2014, com algum conteúdo já introduzido. Mas a alimentação dos conteúdos é essencialmente efetuada pelos utilizadores e por isso à medida que cresce e que novas soluções, comentários e informações são introduzidos, é necessário adaptar separadores e a distribuição e organização da plataforma para que ela seja simples de consultar e utilizar. Este processo tem estado a ser desenvolvido e teremos uma nova versão da plataforma muito em breve.

IP: Que tipo de utilizadores tem aderido?PO e hC: São essencialmente doentes e cuidadores e provêm dos quatro cantos do mundo. Há também muitos utilizadores que são profissionais de saúde e membros de associações de doentes.

IP: Que resultados já foram obtidos?PO e hC: Conseguimos criar e lançar a plataforma que é a primeira a ter como objetivo principal a divulgação e difusão de soluções inovadoras em saúde, desenvolvidas pelos utilizadores. Algumas das soluções são verdadeiramente engenhosas e podem ser desde simples hábitos a produtos de engenharia altamente sofisticados. Todos com o objetivo comum de resolver problemas específicos com que os utilizadores se vão deparando à medida que convivem com a sua doença ou a dos seus familiares. Neste momento estão

disponíveis dezenas de soluções na plataforma. Existe também um espaço para discussão de ideias na secção "Fórum" e estamos a trabalhar em conteúdos de informação sobre Saúde.

IP: Que impacto pretendem ter na vida das pessoas e das organizações a curto e médio prazo?PO e hC: Os utilizadores que desenvolvem soluções raramente as divulgam, porque o seu objetivo é resolver o problema e não comercializar um produto. Mas algumas dessas soluções podem resolver problemas com que muitos se debatem e podem ser verdadeiramente úteis, melhorando por exemplo o desempenho de atividades e a qualidade de vida dos doentes. Dos avanços na Investigação em Saúde e na Medicina tem resultado o aumento da esperança de vida da população em geral, e o aumento da sobrevida de doenças crónicas que permanecem incuráveis e causam complicações mas cuja mortalidade diminuiu. Há por isso cada vez mais uma franja da população que tem problemas de saúde e incapacidade mas que não requer cuidados diferenciados hospitalares.

IP: Como é que se tem vindo a lidar com essa nova franja da população?PO e hC: Durante as últimas décadas as organizações e instituições de saúde e a sociedade têm desenvolvido com sucesso, cuidados cada vez mais especializados e muito caros para tratar doenças. Mas

Pedro Oliveira

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NO CENTRO

Passados dois anos da entrevista dada ao Impulso Positivo, Pedro Oliveira, falou ao Impulso Positivo da evolução surpreendente da Patient Innovation e dos grandes marcos que foram alcançados ao longo do caminho:“Recentemente ultrapassámos as 600 soluções publicadas, oriundas de mais de 30 países. Estas inovações representam um leque diversificado de equipamentos e estratégias, desde próteses robóticas, a dispositivos impressos em 3D, a aplicações móveis, exosqueletos e pequenas dicas para adaptar instrumentos como bengalas, etc.Novos acontecimentos e iniciativas marcaram a evolução do projeto Patient Innovation, dos quais destacamos a primeira cerimónia dos Patient Innovation Awards, que organizámos em 2015 na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, tendo premiado seis inovadores, oriundos dos EUA, Canadá, Israel, Reino Unido e Portugal, que partilharam as suas soluções com a comunidade Patient Innovation. Também nesta altura imprimimos uma mão 3D que demos ao Nuno, um menino de sete anos que nasceu sem a mão esquerda. Este ano, a cerimónia terá lugar no Web Summit Lisboa, no Meo Arena, a 10 de novembro. Desta vez foram premiados sete inovadores, também eles de diversos países: Reino Unido, EUA, Rússia, Israel e Holanda.Em Fevereiro de 2016 participámos, a convite do governo do Dubai, no World Government Summit 2016, um evento que reuniu 4000 líderes de governos de todo o mundo e que selecionou 11 inovações de todo o mundo para serem expostas na Summit. O Patient Innovation foi a única inovação portuguesa e a única na área da saúde.Mas talvez um dos acontecimentos mais marcantes tenha sido o convite do Science Museum de Londres para participarmos numa exposição de inovações DIY “do it yourself”. A exposição foi inaugurada a 6 de Julho 2016 em Bona e 7 de Julho em Londres e visitará 29 cidades da Europa, passando por Lisboa a partir de janeiro de 2017. Estima-se que seja visitada por milhões de pessoas.Em termos técnicos, a plataforma do Patient Innovation tem sido constantemente melhorada: No design, na navegabilidade, nas funcionalidades, na melhoria de conteúdos e nas traduções, de modo a ser mais user friendly, para que consigamos chegar melhor e a mais pessoas.”

a proporção crescente de indivíduos que não são saudáveis mas que ao mesmo tempo não requerem um cuidado especializado de um internamento agudo hospitalar, não está coberta nesta organização de cuidados de saúde da maioria dos países ocidentais, incluindo Portugal. Muitas vezes estes casos são denominados "casos sociais", mas de facto são "casos de saúde" candidatos a soluções alternativas de cuidados de saúde que não temos disponíveis. Por outro lado, as unidades de ambulatório estão sobrecarregadas com marcações que visam "apenas" a monitorização de uma patologia já previamente identificada ou do efeito de um medicamento, por exemplo. Com as novas tecnologias disponíveis, varias consultas poderiam ser evitadas, caso se desenvolvessem equipamentos e estratégias para comunicação à distância entre utilizadores e serviços prestadores de saúde. A plataforma Patient Innovation pode contribuir no futuro para a resolução ou melhoria de alguns destes problemas que são hoje questões incontornáveis quando se discute o futuro dos cuidados de saúde.

IP: A Patient Innovation é já uma plataforma internacional?PO e hC: Desde o início que a Plataforma apesar de ter "sede" na Universidade Católica Portuguesa em Lisboa (UCP), é uma plataforma internacional. O trabalho liderado pelo Professo Pedro Oliveira da UCP surgiu na linha de trabalhos anteriores em inovação pelo utilizador desenvolvidos em colaboração com o Professor Eric von Hippel do MIT, EUA. A plataforma informática teve o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, da Fundação Peter Pribilla e do programa CMU Portugal e foi desenvolvida em parceria com a innosabi na Alemanha. Um grande número de soluções foi desenvolvido por doentes ingleses, americanos, canadianos e de vários países europeus, incluindo naturalmente Portugal. Temos recebido apoios de associações de doentes sediadas em todos os continentes e o advisory board inclui personalidades americanas, um premio Nobel inglês e outro israelita. Outro aspeto importante é a tradução dos conteúdos. A plataforma foi desenhada para o utilizador escrever e ler os conteúdos na sua língua de origem, independentemente da língua em questão, o que é possível devido a um processo de tradução automática. Portanto a plataforma é verdadeiramente internacional.

IP: De que forma se poderão contornar, por exemplo, os problemas linguísticos, já para não falar nos burocráticos?PO e hC: Os linguísticos passam pela tradução referida no ponto anterior. Relativamente aos burocráticos, com a net disponível em todo o mundo, a questão do acesso à plataforma é simples. Colocam-se problemas regulamentares e éticos que foram abordados em estrito respeito pela lei portuguesa.

IP: O tipo de informação partilhada por pessoas individuais e por organizações é tendencialmente diferente. Podemos procurar a informação que desejamos tendo, por exemplo em conta, esta distinção ou outras?PO e hC: A organização da informação e a forma de a obter quando se consulta a plataforma, é essencial para o sucesso dessa mesma plataforma. Estamos a desenvolver motores de busca de forma a que os utilizadores consigam encontrar toda a informação que lhes seja útil, permitindo a busca através do nome da patologia, da incapacidade associada, de sintomas, sinais, etc.

IP: A Patient Innovation tem recebido o apoio e o reconhecimento de referências nacionais e internacionais. Quem são e quais as mais-valias que apontam?PO e hC: O projeto recebeu apoios de ilustres membros da comunidade científica como o de Richard J. Roberts, prémio Nobel em Fisiologia ou Medicina em 1993; Aaron Ciechanover, prémio Nobel em Química em 2004, os professores do MIT, Robert Langer e Eric von Hippel, o Diretor do MIT Media Lab, Joy Ito, entre outros reputados cientistas de várias áreas do conhecimento, doentes de patologias várias e mais de 20 associações de doentes de diversas partes do mundo. IP

Helena Canhão

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NO CENTRO

TERESA RICOUDA LUz DA RIBALTA PARA OS BASTIDORES,

PARA FAzER BRILhAR OS JOVENS A primeira mulher palhaço da europa e uma figura incontornável nas artes e cultura, Teresa Ricou criou o Chapitô há 30 anos como forma de intervir socialmente através das artes, principalmente junto de jovens mais desfavorecidos ou desintegrados da sociedade. uma força da natureza, Teresa Ricou contou ao Impulso Positivo o que a motiva, e como os jovens, hoje muito desencantados com a sociedade, podem encontrar no Chapitô uma alternativa construtiva e positiva.

REVISTA IP 6NOV/DEZ 2011

Quem entra no Chapitô percebe de imediato a energia que este emana. Um espaço apelativo que foi crescendo naturalmente, multicolor, vivo, positivo. A timoneira é Teresa Ricou, mais conhecida por Tété, frontal, comunicativa e fazedora de impossíveis, dedicada à causa dos jovens há mais de 30 anos. “Faço os impossíveis, mas se todos fizéssemos os possíveis, nada seria, de facto, impossível”, começa por dizer quando recebe o Impulso Positivo. Tété, nome artístico, foi a primeira mulher palhaço na Europa, a “única que naquela altura (há cerca de 30 anos), ousou pintar a cara e fazer o transformismo na sua profissão. Fiz uma carreira artística brilhante”, diz, entre risos. Mas a sua forte consciência social impediu-a de se dedicar apenas a si própria. “Quando comecei a ter sucesso na minha carreira artística, achei que tinha que dar também oportunidades a todos. Sentia-me responsável pelo estado da nação e achava que, com a minha profissão, era capaz de ensinar outros. A questão era: como poderia ser um veículo de comunicação com as populações mais desfavorecidas?”Simples: começou a dar formação e a fazer o que então se chamava de animação cultural em bairros desfavorecidos de Lisboa, tendo sido convidada, nesse percurso, para fazer animação em dois centros educativos onde os jovens estão “privados de convívio social, ou seja, onde estão jovens detidos por delitos”. “Ao entrar para esses centros, comecei a montar equipas, a fazer o plano pedagógico” e “quando dei conta, este envolvimento estava de tal forma avultado, que necessitava de uma organização de fundo”, conta Teresa Ricou.Então, “em vez de continuar o meu caminho para a luz da ribalta”, diz, bem-humorada, “optei por fazer brilhar os outros”, e “criei este monstro” que hoje é o Chapitô.Na sua função social, o Chapitô tem como principal objetivo a integração de jovens em situação de risco e vulnerabilidade social através das artes, atuando numa lógica de articulação entre as três áreas do projeto, nomeadamente social, cultural e de formação.Entre outros projetos – como a animação social nos centros educativos, que continua a ser parte do trabalho do Chapitô -, esta IPSS acolhe, em regime de residência aberta, jovens que são libertados desses centros educativos ou com outros problema de integração, dando-lhes “um espaço alternativo, onde todos cabem, de forma positiva e construtiva”. “Muitos dos jovens que ficam connosco vêm de ambientes e famílias completamente desestruturados, e nós estamos a tentar

estruturá-los noutra família, que é aqui a casa. São bem tratados, têm presentes, têm acesso a cultura, aprendem a viver em liberdade”, explica Teresa Ricou.Mas vai desde logo, ressalvando, que “viver em liberdade não é viver sem regras. Se os jovens são desregulados na sociedade, são triturados por ela. Aqui somos muito exigentes, se bem que de forma construtiva, com incentivos, estímulos, com oportunidades. Todos podem errar, mas o erro tem que ser reposto constantemente. Aqui tentamos encontrar um lado construtivo, aqui os jovens têm de estar em constante concertação social, com eles, com a vida, com o espaço exterior, com os amigos, que são muitas vezes, a sua nova família”.Por isso, quem mora na casa do Chapitô, paga, ainda que um valor simbólico, a sua estadia, assim como as aulas que frequenta. E é também no Chapitô que podem conseguir o dinheiro para as suas despesas, para desenvolver o sentido de responsabilidade. “Se não têm dinheiro para pagar a casa, e estamos a falar de um preço completamente simbólico, os jovens podem ir fazer «frente de casa», lavar a loiça do restaurante, trabalhar na esplanada, enfim ser útil para o funcionamento da nossa economia social.

Teresa Ricou é a mentora do projeto Chapitô

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NO CENTRO

Passados 5 anos de Teresa Ricou ter dado esta entrevista exclusiva ao Impulso Positivo, perguntámos-lhe se a sua visão sobre o trabalho que desenvolve e a sociedade tinha mudado. Deixamos-lhe aqui o seu testemunho.“O Chapitô persiste e reforça a preocupação e empenho em prosseguir a sua missão - o circo e as artes ao serviço da inclusão e na formação e qualificação humanas - prestando serviço às pessoas e à sociedade, ao bairro e ao mundo, no sentido do aprofundamento da vida social e solidária.A justiça social e o compromisso com os mais deserdados (económica, cultural e socialmente) fazem parte do código genético do Chapitô. Falamos de uma missão social fundadora, que já vem da pré-história do Chapitô. É uma proposta humanista e centrada no desenvolvimento pessoal e social que tem sido, e continua a ser, desde a fundação do Chapitô, um traço fundador e uma marca identitária do projeto.O projeto Chapitô mantém uma relação dinâmica com a sociedade e os meios culturais onde se insere, guiando-se por princípios de solidariedade e equidade, onde as artes desempenham um papel central e gerador na valorização pessoal e social, na ação educativa, na sociabilização cívica e na construção de futuros desejáveis.A maturidade ativa adquirida ao longo de mais de três décadas pelo Chapitô, tem vindo a aprofundar-se nas diversas iniciativas desenvolvidas no âmbito do seu projeto social, firmadas em parcerias alargadas a nível nacional e internacional e reforçada com a partilha dos resultados com diversas organizações e entidades, visando a inovação e a sustentabilidade no amplexo das respostas prosseguidas.Todo este edifício conceptual e, sobretudo, praxiológico, vivencial, é um lugar criado para gerar “luminosidades”. Porque continuo a acreditar, com o mesmo empenhamento e sentido de responsabilidade, que a mudança do mundo se faz nestas redes tecidas pela “arte do viver autêntico”.

Criámos um mercado de trabalho interno”, explica Teresa Ricou, que deu nota de que a casa funciona como uma verdadeira comunidade e até as compras são feitas em conjunto.Aliás, mais do que um mercado de trabalho interno, o Chapitô é gerido de forma a ser autossustentável: “Trabalhamos de noite para reunir fundos para manter o projeto social. Temos um restaurante, a loja com produtos reciclados, espetáculos, entre outras valências”, além da prestação de serviços de animação cultural para empresas, explica Teresa Ricou. Além do alojamento e de todas as atividades ocupacionais e de formação artística, acima de tudo, “damos estímulo, força de oportunidade e força de trabalho, e acesso a muitas coisas, como a cultura e a educação”.

JOVENS ESTÃO áVIDOS DE ORIENTAÇÃOPara Teresa Ricou, “os jovens estão ávidos de serem orientados, de quem saiba mais do que eles, de quem os ensine, de quem os aceite e de quem lhes reconheça competências”.Na sua opinião, “todos temos capacidades, e para muitos miúdos que vêm para a casa, o reconhecimento destas capacidades é o mais importante. Saber valorizá-las e projetá-las de forma positiva para o seu futuro, seja numa arte, seja num ofício ligado às artes, como uma costureira ou um carpinteiro de cena. Não se trata apenas de formar artistas. E a nós adultos, cabe-nos dar-lhes o acompanhamento, a oportunidade, mostrar que é possível, que ele conseguiu, que não é uma exceção. Aqui no Chapitô, as exceções são os que ficam pelo caminho”.Mas, para isso, é crucial “ter amplitude de comunicação, de entrega, de parceria, de cumplicidade”, que na opinião de Teresa

Ricou é um dos males das faixas adultas da sociedade e a razão pela qual muitos jovens se encontram hoje desencantados e mesmo deprimidos. “A relação entre os jovens e os adultos tem que ser séria. Os adultos não podem falhar. Quando somos os primeiros a falhar, como é que queremos que os jovens não falhem? Temos que, enquanto adultos, falar verdade e estar todos no mesmo barco, sérios na relação com os miúdos. Eles são muito sérios naquilo que fazem e temos que responder na mesma moeda, e de forma positiva e construtiva”.Na sua opinião, “há atualmente um egoísmo e um consumismo exacerbado instalado entre os adultos. As pessoas estão muito viradas para si próprias, para os seus próprios direitos e não para os direitos que todos conquistámos, e temos que ser nós a dar incentivos aos jovens, estimulá-los, mostrar-lhes que podem existir oportunidades”. Da parte que lhe compete e no projeto do Chapitô, “fazemos sempre os impossíveis. Temos um trabalho exaustivo. Apostamos numa formação com qualidade e com intensidade. Temos uma responsabilidade muito grande, para lhes responder da melhor maneira, e sabemos que não podem ter mais uma frustração quando tantas coisas na vida já lhes falharam em tão tenra idade. Têm que sair daqui casos de sucesso”! Quando damos oportunidades, é uma revelação – temos que dar o nosso lugar e fazê-los brilhar. Temos que ter a capacidade de estar na penumbra, nos bastidores, para fazer os outros brilhar, os que são realmente reis, e aqui na casa são os miúdos. Temos de nos encontrar uns com os outros de forma positiva, de nos conseguirmos integrar. O outro é sempre uma descoberta”, termina. IP

Helena Canhão

Animação pela equipa do Chapitô

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EXPERIÊNCIAS

ADOBE FOR WOMEN

A Arquitetura Sustentável fala português“Há 20 anos, o arquiteto mexicano Juan José Santibañez, ajudou 23 mulheres pobres a construírem as suas próprias casas. Concebeu os desenhos, ajudou-as nos trabalhos e o resultado foi um sucesso”. Foi assim que surgiu a inspiração.

Depois, o atelier português de arquitetura blaanc bordeless architecture e o atelier CaeiroCapurso, sediado no México, quiseram relançar o projeto, juntaram-se e criaram a Associação Adobe for Women (www.adobeforwomen.pt). A junção não podia ser mais frutífera, e hoje dão cartas no âmbito da arquitetura sustentável, através da qual querem combater a pobreza por esse mundo fora. “De um modo geral, o que nos preocupa são os problemas de habitação e da pobreza no mundo e a crescente destruição dos recursos naturais”, explica Carmo Caldeira, uma das fundadoras da Associação. “É aflitivo o número de pessoas que vivem em más condições de habitação e esse número aumenta de dia para dia. Para muitos, ter um sítio a que possam chamar casa, com o mínimo de condições, é um sonho que nunca se irá realizar. Para além disso, o consumo desenfreado de matérias-primas por parte da indústria de construção, faz com que o arquiteto tenha um papel realmente preponderante, pela sua responsabilidade na procura de soluções mais sustentáveis e mais humanas”.Duas décadas depois de Juan José Santibañez ter dado o exemplo, a Associação começou em março passado a construir a primeira de 23 casas sustentáveis, energeticamente eficientes, construídas com materiais locais e tendo um custo total de 3.830,84€, na aldeia indígena de San Juan Mixtepec, no estado de Oxaca, no México.A razão por terem optado por intervir no México não foi deixada ao acaso e, como explica Carmo Caldeira, prende-se precisamente com o fator inspirador. “Fazia todo o sentido começar pelo México, uma vez que tudo teve início quando o Arquiteto Santibañez nos falou sobre o projeto que tinha realizado há 20 anos, sentindo-nos assim animados a fazê-lo de novo. Para além disso, a região de San Juan Mixtepec é considerada como uma das mais pobres do México, necessitando particularmente de iniciativas como esta. Finalmente, como parte da equipa se encontra nessa zona, isto garante que assim conseguirão assegurar o acompanhamento de todo o processo”.O enfoque nas mulheres também tem uma razão especial e específica de ser quando se fala em San Juan Mixtepec. Há já alguns anos que esta aldeia, à semelhança de outras no México, tem enfrentado um fenómeno de migração masculina. Muitos desses homens infelizmente nunca chegam a regressar. Esta situação particular agrava a já frágil situação das mulheres que, abandonadas, se veem obrigadas a educar os seus filhos, e na maioria das vezes sem acesso a cuidados de saúde ou habitação. A participação ativa destas mulheres neste projeto faz com que

gradualmente sejam verdadeiros agentes de mudança das suas próprias vidas. “A velha e sábia máxima «Não lhes dês o peixe, ensina-os a pescar» traduz exatamente o que estamos a tentar fazer junto das mulheres a quem se destina a associação. As mulheres participam muito ativamente no processo de construção, sendo ajudadas por um mestre-de-obras e pelas visitas quinzenais de alguns membros da associação e de voluntários. Elas dividem-se em 4 equipas de 5 pessoas, sendo que assim todas se ajudam em tudo. Enquanto duas equipas trabalham na obra, as outras duas estarão no seus afazeres diários”, explica Carmo Caldeira. Até agora, a Associação conta quase exclusivamente com donativos e apoios individuais, sob a forma financeira mas também de trabalho voluntário, traduzido na passagem de dezenas de pessoas dos 5 continentes por Oxaca.O projeto abarca ainda uma forte componente ecológica e energeticamente eficiente, inovadora e capaz de provar que o futuro passa por respeitar o ambiente. Para além das casas serem construídas com materiais regionais e biodegradáveis, a conversão da energia solar em eletricidade, o reaproveitamento da água da chuva, a utilização de compostagem e o incentivo à continuação da utilização dos fornos tradicionais e energeticamente eficientes – Estufa Lorena, fazem com que estas casas sejam realmente um modelo de sustentabilidade e eficiência energética.A Adobe for Women quer dar um passo bem dado de cada vez, e por isso, quando abordada sobre o futuro, Carmo é clara: “É neste projeto específico que estamos agora inteiramente focados, pois queremos primeiro terminá-lo muito bem terminado, antes de pensar em próximos projetos. Claro que adoraríamos poder desenvolver um projeto em Portugal, ou num país de língua portuguesa, onde existem com certeza realidades semelhantes a esta, e onde é necessário e urgente ajudar a melhorar as condições de vida das pessoas. Mas queremos basear a Associação em construir realidades e não ideias bonitas de ouvir e contar”.Para além de Portugal, países como Brasil e o Gana são alguns dos possíveis destinos no futuro desta Associação.

REVISTA IP 6NOV/DEZ 2011

Em Agosto de 2015, a Adobe for Women dav a por terminado o projeto no México não havendo até momento sinais de se replicar o mesmo noutros locais:“Pouco mais de quatro anos depois de ter sido criado, o Projecto Adobe for Women encontra-se finalmente  concluído. Em Junho de 2015 as últimas janelas e portas foram instaladas e agora cada uma das 23 casas está pronta para ser habitada.Este projecto teve o apoio na construção de centenas de voluntários, oriundos não só do México mas de todo o mundo, que foram até Oaxaca para participar na construção destas  casas juntamente com os RootStudio e outros tantos voluntários regulares.Para todos eles a nossa gratidão.”

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EXPERIÊNCIAS

PROJETO MARIAS

Negócio social cria emprego para mulheres de bairros desfavorecidosO projeto Marias foi lançado em novembro passado, visando potenciar a empregabil idade de mulheres de meios sociais desfavorecidos no setor dos serviços domésticos. Ideia original do empreendedor social Gustavo Brito, o projeto está a ser gerido pela Pressley Ridge1 e conta com o financiamento da Fundação EDP, tendo como objetivo a criação de 62 postos de trabalho em dois anos.

Precisa de serviços de limpeza, cuidados de roupa, serviços de cozinha? Por algumas horas semanais, a “part-time” ou tempo inteiro? As Marias procuram ser a resposta para esta procura, permitindo que as mulheres de bairros sociais desfavorecidos com experiência em serviços domésticos possam criar o seu emprego e autonomizar o seu projeto de vida.O projeto foi lançado em novembro passado, contando com o apoio da Fundação EDP na qualidade de financiador, e sendo gerido pela Pressley Ridge, embora a ideia original remonte a 2010. O empreendedor social Gustavo Brito foi criador deste projeto na sua génese, inicialmente desenvolvido na Cova da Moura.”Se, por um lado, identificámos a existência de uma enorme procura de serviços domésticos por parte de habitantes, profissionalmente ativos e “abastados”, da região de Lisboa; por outro, deparámo-nos com uma grande oferta, na Cova da Moura, de mão-de-obra especializada e com experiência comprovada, mas que se encontra em situação de desemprego ou emprego precário”, explica Gustavo Brito ao Impulso Positivo.Assim, o projeto-piloto “surge como plataforma agregadora destas duas necessidades com vista a mitigar a ineficiência do mercado de trabalho que parece justificar a “assimetria de informação” e, por outro, pretende preparar um caminho autónomo para mulheres adultas e ativas, permitindo-lhes encontrar o seu projeto de vida profissional e pessoal interrompido por um contexto económico e social difícil”, explica Gustavo Brito. A fase piloto teve um balanço positivo e permitiu “verificar a atratividade do modelo de negócio junto do mercado”, mas também “permitiu preencher o horário de trabalhadoras até ao nível por si desejado, permitindo-lhes um aumento dos rendimentos mensais auferidos”. Mas esta fase inicial mostrou também “a necessidade de profissionalização da

gestão do mesmo”, o que levou ao lançamento desta nova etapa, “dotando o projeto de recursos, procedimentos e ferramentas que permitam obter uma maior escala na criação de emprego e posteriormente criar um modelo de empregabilidade em escala, replicando a experiência iniciada na Cova da Moura a outros territórios”, sublinha Gustavo Brito.Arranca, assim, em novembro de 2011, a nova fase do projeto Marias, sendo gerida pela Pressley Ridge, com a existência de um gestor operacional a tempo inteiro. Nos dois primeiros meses desta nova fase, estão já em carteira 14 marias e 9 clientes, com as perspetivas de evolução deste negócio social a serem otimistas. “Até agora, a promoção do programa e dos serviços das Marias tem sido feito apenas por passa a palavra, estando previsto para breve um reforço da divulgação do projeto pelos próprios parceiros junto do seu núcleo de colaboradores interno e outras formas de divulgação mais abrangentes”, revela Raquel Santiago, da Pressley Ridge e encarregue da gestão deste projeto. O projeto pretende que mulheres provenientes de meios socialmente desfavorecidos da Grande Lisboa, neste momento originárias de bairros como a Cova da Moura ou o Casal da Mira, e com experiência na área de serviços domésticos, possam encontrar o seu projeto profissional e pessoal, assegurando a sua autonomia e sustentabilidade financeira. A seleção e recrutamento está assente em critérios de exigência, sendo estas senhores selecionadas e posteriormente formadas para responderem com eficácia às suas funções. As trabalhadoras integradas neste projeto são sujeitas a um processo de recrutamento, em que um dos critérios é já ter experiência em trabalhos domésticos e outro é apresentar duas a três referências de trabalhos anteriores. A meritocracia é um valor de base deste conceito, conforme explica Gustavo Brito: “A meritocracia

1. O Projeto Marias foi gerido pela Pressley Ridge até janeiro de 2014.

REVISTA IP 7JAN/FEV 2012

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EXPERIÊNCIAS

é normalmente associada a empresas exigentes e cargos bem remunerados, mas não vejo porque não seja aplicável em qualquer área: da alta finança aos serviços domésticos. Acredito mesmo que a capacidade de se “separar o trigo do joio” no mercado de trabalho é um dos caminhos de solução para a problemática do desemprego. Temos que ser capazes de levar quem necessita de um dado serviço a encontrar mais facilmente quem o preste bem e tenha provas dadas de qualidade. Também no Projeto Marias há que promover a excelência: convidar as melhores, avaliar o desempenho, promover a aprendizagem, e exigir a boa performance”.Depois de recrutadas, existe todo um trabalho de formação regular a ser desenvolvido, com o principal objetivo de “trabalhar competências sociais e pessoais”, explica Raquel Santiago.“A formação não pretende ser de cariz técnico, porque a experiência já estas mulheres têm. Na formação são trabalhadas as competências sociais e pessoais, com vista a melhorar o relacionamento com os clientes. Por exemplo, dicas tão simples como deixar uma nota de aviso na eventualidade de chegar mais tarde”, acrescenta a gestora do projeto. Além do recrutamento, formação e monitorização da performance das Marias, esta última com vista a manter os níveis de confiança com os clientes, a Pressley Rige está ainda encarregue de agilizar todos os processos administrativos. As trabalhadoras integradas neste projeto são consideradas colaboradoras por conta de outrem, a cargo do cliente particular, que assume a responsabilidade enquanto entidade empregadora ao nível da celebração de contrato de trabalho, contribuições para a Segurança social, contratação de seguro de acidentes de trabalho, e pagamento às trabalhadoras. O projeto, no entanto, facilita ao máximo o cumprimento de todas essas responsabilidades, tendo para o efeito desenhado uma oferta do tipo “chave-na-mão”.A Fundação EDP é mecenas exclusivo deste projeto, que nas palavras de Guilherme Collares Pereira, Diretor de Inovação Social da Fundação EDP, se trata de “um verdadeiro projeto de inovação social, que pretende vir a ser uma Empresa Social, i.e. visando o lucro, o retorno financeiro para reembolsar os sócios do capital investido e com os futuros excedentes

reinvestidos na expansão do negócio, em benefício dos beneficiários e da comunidade onde a empresa atua”. A Fundação EDP financia a totalidade dos custos fixos do projeto, durante os dois primeiros anos, período em que o objetivo é constituir uma carteira de clientes que permita assegurar a empregabilidade de 62 Marias. Conforme explicou Raquel Santiago, este volume de trabalho permitirá ao projeto autonomizar-se financeiramente depois deste apoio da Fundação EDP. Para já, o balanço é positivo. De acordo com a Pressley Ridge, a procura por parte das senhoras que procuram integrar a carteira de oferta de serviços é elevada. Estão a ser desenvolvidos todos os esforços para conseguir captar mais clientes e, mais do que isso, conseguir cruzar as necessidades dos clientes com a carteira de Marias que o projeto gere.Kátia Almeida, Diretora da Pressley Ridge, sublinha que “o projeto Marias aposta na competência e no profissionalismo, procurando criar oportunidades para o enquadramento profissional de uma forma digna e capacitante. A Pressley Ridge, como elo de ligação entre o cliente e as Marias, procura o melhor emparelhamento possível e tem um papel ativo e predominante no desenvolvimento familiar, social, pessoal e profissional desta senhoras”. E acrescenta: “O objetivo do programa é autonomizar estas senhoras e isso não passa só por lhes dinamizar as oportunidades a nível profissional. Temos dado também grande atenção às necessidades que possam ter na sua vida familiar e pessoal”. IP

O Projeto Marias acabou por evoluir para um modelo de negócio social, com vista à sua auto sustentabilidade. Em cinco anos, permitiu inserir mais de uma centena de mulheres num quadro de plena legalidade laboral. Traduziu-se em inequívocas mais-valias sociais mas não provou ser um negócio social com capacidade para se autonomizar financeiramente pelo que terminou em Julho de 2015.

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No filme Invictus, onde é retratado o esforço de Mandela para fortalecer o seu país destruído pela guerra, Mandela apela: “O perdão liberta a alma. Ele remove o medo. É por isso que é uma arma tão poderosa”. Mandela utilizou o Rugby para que os sul-africanos pudessem aprender a perdoar e assim começar a refazer as suas vidas, a sua autoestima. A Escolinha de Rugby da Galiza (ERG) fez o mesmo e todos os anos dezenas de crianças em risco de exclusão, através do Rugby, percorrem um caminho saudável de integração na comunidade. Segundo Maria Gaivão, presidente da ERG, o que se pretende é que «os jogadores aqui aprendam a aceitar a diferença, a saber o que é “ser equipa” e a gozar de um maior envolvimento nas suas vidas por parte da família e da própria comunidade».

A ERG, da Santa Casa da Misericórdia de Cascais, nasceu em 2006 ligada ao projeto desportivo do ATL da Galiza para integrar crianças e adolescentes oriundos da freguesia do Estoril e arredores: “Começámos este caminho apoiados pelo coordenador desportivo do ATL, Prof. Rómulo, por um grupo de 8 jovens voluntários e determinados e com a mão amiga do Prof. Henrique Garcia”, explica Maria Gaivão. A missão nunca foi mais que “Integrar na sociedade crianças e adolescentes em risco de exclusão através do Rugby”. «O que nos atraiu desde o início foi saber que, ao escolher a modalidade Rugby, esta seria fundamental para trabalhar a equipa na aceitação dos limites e em simultâneo para reforçar o autocontrolo, a entreajuda, o “ser e fazer equipa”, a aceitação e integração da diferença, dentro e fora do campo. O Rugby faz isso, pois trata-se de uma equipa em que gordos, altos, magros, baixos, brancos, negros, ou ciganos têm lugar, fazem equipa e essa equipa luta e tem um projeto ao longo do ano.» A ação da ERG nunca passou só por colocar o desporto na vida destas crianças: “Sabíamos que teríamos de responder transversalmente

EXPERIÊNCIAS

ESCOLINhA DE RUGBY DA GALIzA

Escolinha de Rugby da Galiza

a todas as necessidades dos nossos jogadores”, e é por esta razão que hoje todos os que são acolhidos pela ERG podem também contar com uma intervenção alimentar, na área da saúde, psicológica e escolar. O forte impacto da ERG na vida destes pequenos grandes jogadores acabou por ter também um grande impacto nas suas famílias. «No início os pais diziam-nos “eles andam à luta no campo” ou “o meu filho vem com nódoas negras “. Depois e porque sentem e percebem que a Escolinha traz um reforço e rotinas para os filhos, começaram a perceber e a interessar-se pela dinâmica. Passados 3 anos está organizada e a funcionar a Associação das Famílias da ERG que as ajuda a assumirem com maior intensidade o seu papel principal de educadores.» Hoje a “equipa técnica” conta já com uma direção técnica composta por 7 pessoas, 1 Coordenador Desportivo, 11 Treinadores, 4 Fisioterapeutas, 1 supervisora e 2 Coordenadoras da Sala de Estudo, 35 explicadores em regime de voluntariado, 15 “hospedeiras” que dão apoio aos mais novos em dias de torneios e convívios, 1 médico voluntário e, pelo menos, mais 72 voluntários que dão apoio à biblioteca, ao gabinete de informática, ao gabinete desportivo, à organização de eventos de angariação de fundos, no transporte dos jogadores e no apoio à sustentabilidade do projeto. Esta grande equipa, dia após dia, treina, motiva e capacita cerca de 150 crianças e adolescentes, dos 5 aos 18 anos, provenientes dos mais diferentes cantos do mundo – Portugal,

REVISTA IP 2MAR/ABR 2011

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EXPERIÊNCIAS

«os jogadores aqui aprendem a aceitar a diferença, a saber o que é “ser equipa” e a gozar de um maior envolvimento nas suas vidas por parte da família e da própria comunidade».

Guiné, Cabo Verde, Senegal, Brasil, Roménia, Rússia – e que hoje vivem maioritariamente no Bairro do Fim do Mundo. O sucesso crescente que se fortalece todos anos com a vontade e a magia da “equipa técnica” e a alegria contagiante destas crianças tem conseguido fazer com que muitas outras pessoas, instituições e empresas possam ver um bocadinho deles neste projeto. “Todo este trabalho é reforçado pela rede de parceiros, essenciais à nossa estratégia de intervenção – Câmara Municipal de Cascais, Junta de Freguesia do Estoril, Centro de Saúde, Agrupamento de Escolas de S. João do Estoril, Federação Portuguesa de Rugby, Associação de Rugby do Sul, Escola Superior de Saúde de Alcoitão, Banco Alimentar contra a Fome, Instituto de Empreendedorismo Social, Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação EDP e a grande militância de inúmeros voluntários comprometidos”. O percurso percorrido pela ERG faz com que já tenham surgido outras Escolinhas noutros pontos do país. «Nos últimos 3 anos foram aparecendo escolinhas influenciadas pela imagem ERG na zona de Setúbal, Lisboa, Peniche, Porto e Vila Nova de Gaia. Neste momento, em parceria com a Fundação EDP e com o Instituto de Empreendedorismo Social, estamos a ultimar o “modelo de Escola de Rugby” com o objetivo de promover a sua replicabilidade a nível nacional. Para além disso acompanhamos atualmente a formação da Escolinha de Rugby de S. João Da Talha.» A ERG quer continuar a ir “mais alto e mais longe” e Maria Gaivão sugere que façamos todos o mesmo: «O importante é que a sociedade civil perceba que está nas suas mãos a resolução dos problemas que afetam cada vez mais pessoas. É tempo de nos mobilizarmos e tomarmos o problema como nosso, “pondo mãos à obra” e trabalhando juntos. A força do acreditar e confiar alimenta, reforça e dá coragem para o caminho.» IP

Maria Gaivão, Presidente da Escolinha de Rugby da Galiza sobre a qual alguns diriam que é a grande inspiração, motivação e alma do projeto, contou ao Impulso Positivo o que é feito da Escolinha nos dias de hoje:“Desde  2011 a ERG tem vindo a crescer a um ritmo lento mas sustentado especialmente nos afetos entre todos os que a constroem. Alargámos a intervenção aos escalões dos SUB 16, 18 e escalão feminino por vontade dos jogadores que aqui quiseram permanecer. Em 2014 avançámos para uma equipa mista de jogadores da Galiza e do St. Julian’s Rugby Club em SUB 18, os quais neste momento com o nome da JAGUAR’s (Julian’s and Galiza United at Rugby), participam no campeonato nacional e na taça de Portugal. Demos assim um passo importante na inclusão de jovens oriundos de realidades sociais tão diferentes e ao mesmo tempo rentabilizámos recursos humanos, técnicos e espaciais.Apoiámos o lançamento da Escolinha de Rugby da Trofa no Porto.Estamos a entrar nas escolas com a proposta de criação de núcleos de rugby especialmente junto de crianças e adolescentes mais vulneráveis.Procuramos a auto sustentabilidade da Galiza que pela sua dimensão e transversalidade de intervenção exige recursos materiais e humanos adequados e especializados.Tal como em 2016 continuamos diariamente a entregar tudo o que temos e somos na certeza de que Nosso Senhor nos protege e sabe o que é melhor para nós.”

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A Associação Animais de Rua nasceu em 2005, quando um grupo de amigos se juntou com o objetivo de angariar fundos para esterilizar uma colónia de gatos de rua que vivia em condições muito precárias na cidade do Porto. Conseguiram-se os fundos e todos os gatos da colónia foram esterilizados e desparasitados. A diferença na qualidade de vida desses animais, aliada às histórias cruéis das atrocidades que se fazem aos animais de rua ou abandonados, fez com que decidissem criar um grupo de trabalho para esterilização de animais de rua ou carenciados.

Passados já 6 anos a Animais de Rua conta com uma equipa de 3 pessoas a trabalhar em part-time e full-time e cerca de 100 voluntários, distribuídos pelos 4 Núcleos da Associação (Porto, Lisboa, Lagos e Viseu). Continuam a lutar para apoiar a captura e esterilização de animais de rua, que são posteriormente libertados no seu meio através do desenvolvimento de atividades de CED (Capturar-Esterilizar-Devolver). Complementam assim o trabalho das associações de proteção animal que acolhem e encaminham para adoção animais abandonados. A Associação acredita que a solução para o problema das matilhas e colónias de animais silvestres que

Capturar, esterilizar e devolver

procriam no domínio público sem qualquer tipo de controlo passa por este tipo de intervenção. Desde o início da sua atividade que a Animais de Rua sobrevive exclusivamente graças ao trabalho voluntário e a donativos de pessoas que acreditam na importância do trabalho que desenvolve, como forma de combater o sofrimento dos animais abandonados. Mas se efetivamente muitos são aqueles que querem ajudar, muitos têm sido também os esforços da Associação, que tem desenvolvido um trabalho bastante sólido e completo no que diz respeito à captação de recursos. A Associação tem apostado na diversificação de formas de apoio para que todos possam contribuir para esta causa, tendo em conta diferentes possibilidades, gostos e formas de estar. Assim, as formas de apoio variam desde os tradicionais donativos por transferência e programas de apadrinhamento de uma colónia ou de um animal de rua (www.animaisderua.org/apadrinhar), aos mais atuais meios como o número solidário da Associação (760 300 161) ou a aquisição de peças na Loja Virtual www.animaisderua.org/loja ou nos blogs http://artesanatoanimaisderua.blogspot.com/ e http://artesanatoanimaisderua.blogspot. com/. É possível ainda ajudar a partir de voluntariado nos mais diversos formatos ou a partir de donativos em género, da divulgação em blogs, sites ou páginas das redes sociais daquilo que se tem feito, e da impressão e distribuição do panfleto de apadrinhamento ou de cartazes dos animais que a Associação tem para adoção. A Animais de Rua tem ainda apelado ao apoio de médicos veterinários, pois o trabalho desenvolvido só é possível graças à colaboração destes a preços especiais ou gratuitamente. Neste momento, a Associação conta apenas com o apoio de 25 clínicas veterinárias a nível nacional, o que faz com que o campo de ação não seja tão abrangente quanto o desejado.

ANIMAIS DE RUAREVISTA IP 3MAI/JuN 2011

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EXPERIÊNCIAS

“Só através da mudança de mentalidades iremos ver chegar o dia em que todos os animais serão tratados de acordo com o respeito que merecem.”

A Associação conta hoje com 5 Entidades Apoiantes e 5 Patrocinadores permanentes que permitem fortalecer a organização todos os dias, sendo que o mesmo se aplica às 9 parcerias que a ajudam a realizar um trabalho diário mais completo, mais organizado, com mais valor.Sem o apoio de todos, não seria possível esterilizar 6254 animais até ao final de Maio deste ano e é por isso que a Animais de Rua tem o cuidado de agradecer de forma clara, pessoal e pública a todos quantos passam pelo seu caminho. Outro dos cuidados da Associação que certamente fideliza aqueles que a apoiam está na transparência e clareza dos resultados alcançados. Em 2009, por exemplo, a Animais de Rua trabalhou em 13 distritos de Portugal, tendo tido despesas no valor de € 89.000 mas às quais foi possível fazer frente graças aos € 91.500 provenientes de donativos, do Merchandising que desenvolveu e das Campanhas e Eventos que organizaram. No ano de 2010 novos objetivos foram alcançados e os resultados obtidos serão divulgados brevemente.O caminho percorrido já vai longe, mas a Animais de Rua tem hoje vontade de fazer cada vez mais tratando dignamente os animais, mas também sensibilizando a população para esta problemática. Num futuro muito próximo, a Associação pretende acima de tudo, como explica Sofia Silva “continuar a promover e desenvolver a aplicação do método CED (Capturar-Esterilizar-Devolver) em mais autarquias portuguesas, até que seja este o método usado a nível nacional, em alternativa ao método de captura e abate usado no nosso país há mais de 30 anos e que, para além de ser cruel e desumano, se tem demonstrado absolutamente ineficaz”. Esta causa de excelência aliada a trabalho de excelência não deixa ninguém indiferente. IP

MARIA PINTO TEIXEIRA CONTOU AO IMPULSO POSITIVO COMO TEM CRESCIDO A ANIMAIS DE RUA DESDE 2011.

“Desde 2011, a Animais de Rua tem vindo a sofrer um processo de evolução significativo.Temos neste momento núcleos a funcionar no Porto, Aveiro, Lisboa, Sintra, Faro, Lagos e S. Miguel e protocolos de cooperação com 9 autarquias. Esterilizámos já cerca de 20.000 animais em todo o território nacional.Apesar de o nosso foco continuar a ser o controlo populacional de animais errantes através da aplicação do método Capturar-Esterilizar-Devolver (CED), temos vindo a desenvolver vários outros projetos complementares. Exemplo disso é o Projeto da Praia de Faro, um projeto pioneiro no mundo, que tivemos o privilégio de desenvolver em parceria com a Change For Animals Foundation e com o apoio da Câmara Municipal de Faro e da Junta de Freguesia de Montenegro. Este projeto piloto, que visa a sua replicação noutras zonas do país e mesmo noutros países, visou não apenas a esterilização de todos os animais errantes residentes na Península do Ancão, mas também o desenvolvimento de um estudo científico sobre a eficácia do método Capturar-Esterilizar-Devolver (CED) e o seu impacto nas comunidades humanas e na sua atitude relativamente aos animais. É um projeto que se desenvolve ao longo de 3 anos e que nos tem trazido muitos desafios e momentos de aprendizagem e do qual muito nos orgulhamos, pela diferença efetiva que está a fazer na qualidade de vida de cerca de 300 animais na Praia de Faro.Tivemos a oportunidade de dar o nosso contributo para sensibilizar os portugueses para o flagelo do abandono de animais de companhia, através do lançamento de uma Campanha Publicitária televisiva com o apoio da empresa Mindshare e de diversos atores (Rita Blanco, João Reis, Cláudia Cadima, Manuel Marques, Joana Seixas), que teve um impacto muito superior ao esperado e que nos encheu de esperança nos resultados da evolução positiva que o movimento de proteção animal tem sofrido ao longo dos últimos anos, em Portugal e no Mundo.Estamos também a desenvolver um programa educativo, cujo primeiro passo foi o lançamento do livro Pimpão, com prefácio da Ana Galvão, que, através das aventuras do cachorro Pimpão, visa transmitir aos mais jovens os valores do respeito e amor pelos animais e que está ter grande recetividade por parte das escolas e autarquias.Estas iniciativas, bem como a nossa participação em diversos fóruns e eventos nacionais e internacionais de partilha de conhecimentos sobre as diferentes áreas da proteção animal, surgem da nossa convicção de que o trabalho de proteção animal apenas faz sentido quando é aberto à comunidade e exercido em proximidade com as pessoas. Só através da mudança de mentalidades iremos ver chegar o dia em que todos os animais serão tratados de acordo com o respeito que merecem.”

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A Junior Achievement Portugal (JAP) está há 7 anos1 a educar crianças e jovens para serem empreendedores. Criar uma cultura de empreendedorismo no nosso país, desde os primeiros anos de vida das crianças, passando pelos jovens do ensino secundário às universidades é o objetivo da JAP. Erica Nascimento, Diretora Regional Centro/Sul da JAP, conversou com o Impulso Positivo sobre os projetos e objetivos desta organização.

Em Portugal, desde 2005, a congénere portuguesa da Junior Achievement – a maior e mais antiga organização mundial de educação, sem fins lucrativos - leva às escolas programas que desenvolvem nas crianças e jovens o gosto pelo empreendedorismo. Surgiu com o objetivo de “criar no nosso país uma cultura de empreendedorismo, desde os primeiros anos de vida das crianças, passando pelos jovens do ensino secundário às universidades”, começa por explicar Érica Nascimento. Nas palavras desta responsável, o balanço não podia ser mais positivo. “É fantástico”, sublinha. “Acreditamos que já mudámos muitas mentalidades” e que “estamos a investir em jovens que terão muitas mais oportunidades de vencerem numa economia global”. Mas fica o repto: “ainda queremos mudar muitas mais mentalidades”. “Aprende-se a ser empreendedor. É isto que defendemos. Não se nasce empreendedor, aprende-se” e “os portugueses são tão empreendedores como quaisquer outros jovens, se forem estimulados e orientados desde cedo”.Os alunos que passam pelos programas da Junior Achievement “têm uma atitude de vida diferente. Arriscam mais, trabalham mais, inovam mais, não têm medo de expor e sabem o que os espera no mercado de trabalho”, características que são ainda mais evidentes em alunos que têm a oportunidade de receber mais do que um programa JAP ao longo da sua vida escolar. De forma mais concreta, Érica Nascimento explica que o impacto dos programas da JA está provado e com resultados muito claros. “Os alunos fazem escolhas melhores e mais acertadas ao longo da vida; têm mais apetência e aptidão para virem a criar as suas próprias empresas; conhecem as suas competências, valores, interesses e desenvolvem-nos ao longo dos anos”. Além disso, “têm mais vontade de virem a participar em ações de voluntariado, têm melhores ganhos e mais literacia financeira”.O sucesso reside, de acordo com esta responsável, na metodologia utilizada, partilhada pela Junior Achievement em todo o mundo. “Levar empresários a serem parceiros dos professores, levar o mundo empresarial ao mundo escolar e vice-versa, é cada vez mais, nos dias de hoje, prioritário”. Ao longo destes sete

Empreender aprende-se

anos, mais de 111.500 alunos já tiveram uma experiência Junior Achievement em Portugal, envolvendo 5.420 professores e 5.465 voluntários, sobretudo do mundo empresarial.Este sucesso tem decorrido também do facto de as empresas e outras organizações, fulcrais nesta construção de empreendedorismo, acompanharem esta preocupação cada vez maior com o setor da educação, com enfoque na educação para o empreendedorismo. O apoio das empresas aos programas realizados pela JAP – onde se podem incluir nomes como a Sonae ou a MasterCard – gera-se precisamente neste reconhecimento. “Cada vez mais as empresas percebem, nos seus processos de recrutamento, que os candidatos não estão suficientemente preparados quando saem das escolas e universidades, tendo tido apenas contacto com o ensino tradicional corrente”. É por isso “fundamental querer ser mais e fazer mais, querer ser diferente, melhor. E a participação em programas de empreendedorismo, de inovação, de voluntariado, desenvolve neles competências que preenchem necessidades daquelas empresas”, remata Érica Nascimento.

SABER CANALIZAR E ORIENTAR A INQuIETuDE DOS JOVENS Estimular uma cultura de empreendedorismo nas crianças e jovens é uma preocupação sempre constante na JAP e é um fator especialmente relevante no atual contexto de crise. “Momentos como o que vivemos atualmente trazem uma insegurança e medo até, que podem levar os jovens a agirem e a saírem da sua zona de conforto. A quantidade de informação acessível

JUNIOR AChIEVEMENTREVISTA IP 9MAI/JuN 2012

1. Em 2012. Hoje a Junior Achievement Portugal atua em Portugal há 10 anos.

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a todos, mesmo aos jovens mais desligados do mundo que os rodeia, fá-los ter preocupações que nunca antes tinham tido. Percebem a quantidade de despedimentos, de empresas a fecharem, a taxa de desemprego em Portugal, e principalmente a do desemprego jovem, e não ficam indiferentes. Percebem que não basta serem bons, têm que ser muito bons se querem fazer a diferença, qualquer que venha a ser a sua atividade profissional futura”, diz Érica Nascimento. E como é que mobilizam jovens, naturalmente irrequietos, em torno desta cultura do empreendedorismo? “Os jovens têm que ser muito estimulados a colocar em prática aquilo que aprendem na escola. Essa inquietude dos jovens tem que ser bem canalizada e orientada.” E este é o papel fundamental dos voluntários que colaboram com a JAP: “Estruturar ideias, pensamentos, inquietações dos alunos e levá-los a bom porto”. E estas ideias, não têm que ser necessariamente ideias de negócio, até porque “é fundamental saber transmitir uma ideia, saber colocar um projeto no papel, conseguir planear etapas e concretizar ações”. “O mundo atual está em mudança constante e a educação tem que conseguir acompanhar essa mudança, sobretudo para que a escola continue (ou volte a ser) apelativa para os jovens. Têm que ser feitos projetos muito práticos, mais focados para objetivos concretos, que estimulem a criatividade e energia dos alunos, que tenham resultados rápidos, imediatos e visíveis. É isto que os alunos procuram, e a escola é o sítio ideal para os alunos aprenderem, fazendo e errando. É fundamental estimular a aprendizagem pelo erro, que é pouco comum ainda em Portugal”, remata Érica Nascimento.

OS PROGRAMASA JAP tem programas “compartimentados” em três áreas: dirigidos ao ensino básico, secundário e universitário. Neste primeiro caso, são desenvolvidos 5 programas – A Família, A Comunidade, A Europa e Eu, É o Meu Negócio, e Economia para o Sucesso, cobrindo um leque de idades entre os 6 e os 15 anos. No ensino universitário, desenvolve-se o Start Up Programme – para jovens entre os 18 e os 30 anos-, no âmbito do qual os alunos operam uma empresa e adquirem competências que os preparam para o mundo do trabalho. Já para o Ensino Secundário, considerando jovens entre os 15 e os 21 anos, existem a “Enterprise without borders”, o “Bancos em Ação”, o “Braço Direito” – sendo este um dos programas em que a Sonae participa – ou o “Innovation Challenge”, este último um dos programas que conta com o apoio da Mastercard. No final de abril, teve lugar o “MasterCard Innovation and Creativity Challenge”, um business contest com a duração de um dia, dirigido aos jovens, e que reuniu 100 estudantes para um estimulante e criativo workshop empresarial.Existe ainda “A Empresa”, o programa bandeira da JA. Neste programa, alunos do ensino secundário, ao longo de um ano letivo, desenvolvem competências empreendedoras através das etapas de um ciclo empresarial completo. Fazem-no com o apoio de um professor e de um voluntário do mundo empresarial. O programa tem o apoio da comissão europeia e em Portugal o Alto Patrocínio do Presidente da República. A competição, cuja final teve lugar no fim de maio, é o evento que reúne as melhores mini-empresas criadas a nível nacional. É o grande momento a que todos os alunos esperam chegar. Sagrou-se vencedora, de um total de 130 alunos de norte a sul do pais e 20 equipas que competiram no ano letivo, a ICTUS da ATEC, Matosinhos, um negócio de torneiras que permitem combater o desperdício dos componentes e da energia. A equipa vencedora vai representar Portugal na competição europeia, este ano, em Bucareste, na Roménia, entre 19 e 21 de julho. IP

A celebrar os 10 anos da organização, Erica Nascimento, CEO da Junior Achievement Portugal (JA Portugal) contou ao Impulso Positivo como tem vindo a crescer o projeto ao longo dos anos.“A Junior Achievement Portugal (JA Portugal) leva às escolas uma educação empreendedora, mais prática e com as mãos na massa, com o objetivo de aprender, fazendo. A componente do erro é fundamental ser abordada e vivida, idealmente, nos ambientes controlados e protegidos como são as escolas e universidades – é isso que a JA propõe. Em Portugal, ainda há muito receio de errar, da exposição ao falhanço e da possibilidade de os outros terem conhecimento. Queremos minimizar esse medo e a forma de como os nossos jovens olham para as oportunidades. A Junior Achievement e a Comissão Europeia recomendam que os alunos tenham ao longo do seu percurso académico, 3 contactos com experiências de educação para o empreendedorismo, em contexto de sala de aula, ambiente de escola ou universidade - encurtando assim a distância entre a realidade académica e a empresarial. Após 10 anos de atividade, a JA Portugal inquiriu ex-alunos que passaram por alguns dos nossos programas, no sentido de avaliar o impacto da ação da organização no segmento, e os resultados não podia ser mais claros: desenvolveram competências, que a maioria usa diariamente, reconhecem a importância do voluntariado, foram positivamente influenciados a ultrapassar obstáculos, a lidar com incerteza, a criar um negócio, a aprender, a relacionarem-se com os colegas, a definir estratégias, a trabalhar em equipa, a avaliar o potencial de uma ideia e a serem mais criativos. Num balanço, de 10 anos de atividade atingimos muitas marcas importantes: chegámos aos 200.000 alunos que tiveram, pelo menos, uma experiência Junior Achievement, fomos anfitriões da maior competição europeia universitária da JA Europe, lançámos o primeiro estudo de impacto da nossa organização, entre muitas histórias de sucesso dos nossos alunos, durante e após os nossos programas. Queremos continuar contribuir para a diminuir as elevadas taxas de desemprego jovem, encurtando a distância entre as competências que os nossos jovens aprendem nas escolas e as que são necessárias no mundo empresarial. Prepará-los para a Economia Digital, que segundo dados da Comissão Europeia, apenas 2% das empresas europeias aproveitam as oportunidades digitais a 100%, e onde, em 2020, faltarão mais de 800 mil profissionais ICT com as competências necessárias em todos os setores.”

EXPERIÊNCIAS

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EXPERIÊNCIAS

Em 2009, o brasileiro Pedro Monteiro e os portuenses Samuel Rodrigues e José Ruivo conheceram-se no interior do estado do Rio de Janeiro, durante um curso de permacultura. Na Primavera de 2013, já em Portugal, os três resolveram montar uma horta no pátio do prédio onde trabalhavam, no centro do Porto, mas não encontravam os equipamentos adequados para isso. Decidiram, então, juntar esforços e experiências em arquitetura e permacultura e construir os seus próprios equipamentos. 

Não foi preciso muito tempo para perceberem que funcionava e que poderiam ir mais além, como explica Leonor Babo da Noocity: “Pouco tempo depois já partilhavam legumes e ervas aromáticas que cresciam aos montes numa série de caixas e sistemas. Os protótipos foram evoluindo e os três perceberam que poderiam transformá-los em produtos, a ideia amadureceu e em Setembro do mesmo ano nascia oficialmente a Noocity Ecologia Urbana e o seu primeiro produto, a Noocity Growbed um sistema de horta com sub-irrigação”. A Noocity quer oferecer aos cidadãos urbanos a alternativa de criarem os seus próprios sistemas sustentáveis, mais parecidos com os processos cíclicos naturais, através de equipamentos eficientes e acessíveis que permitem às pessoas produzir alimentos na cidade de forma simples e ecológica. “O sistema de produção e consumo de alimentos atual é insustentável por ser um processo linear que, por um lado, consome e esgota recursos e, por outro, produz e acumula resíduos. Numa conjuntura de degradação ambiental e de cultura de junk food, cuidar de nós mesmos e do meio ambiente permite caminhar em direção a cidades e comunidades mais saudáveis e resilientes”.

Horta urbana portuguesa, com certeza

OS PRODuTOS DO PRESENTE E DO FuTuRO NOOCITyHoje, em paralelo com a afirmação da marca Noocity Ecologia Urbana, o principal projeto é a comercialização e distribuição da Noocity Growbed, uma cama de cultivo com sistema de sub-irrigação (auto rega), fácil de montar e de baixa manutenção, permitindo plantar uma grande variedade de legumes, frutos e ervas em qualquer lugar como uma varanda, um pátio ou uma cobertura. Para além de criar e desenvolver equipamentos para agricultura urbana, a Noocity acredita que a educação tem um papel importante na desmistificação da sua prática, aproximando os cidadãos urbanos à natureza. É por isso que dedica uma parte do seu tempo a criar e partilhar material didático exclusivo sobre vegetais e os princípios básicos de agricultura biológica bem como outras práticas sustentáveis. Na Biblioteca da plataforma online da Noocity (www.noocity.com), é possível encontrar uma série de informação sobre várias plantas e como cultivar, tudo explicado de uma forma simples, prática e com um design altamente apelativo. O mesmo se pode dizer da secção Magazine onde, para além de artigos e entrevistas sobre os temas mais variados relacionados com a agricultura urbana é possível encontrar receitas e dicas sobre como melhor aproveitar os produtos da horta.Contudo a Noocity não quer ficar por aqui. “Queremos seguir caminho no desenvolvimento de mais soluções eficientes para os agricultores urbanos e, nessa perspetiva, pretendemos vir a realizar um conjunto de equipamentos que feche um ciclo de produção e reutilização de recursos e resíduos”, afirma Leonor Babo. “Neste momento, temos na mira a viabilização de um compostor que, incorporado na nossa Noocity Growbed, permitirá ao cidadão urbano ter um sistema único com auto-rega e auto-fertilização”. Para além disso, um secador solar de escala doméstica, um sistema de recolha das águas das chuvas e uma estufa são alguns dos produtos que estão também em desenvolvimento o que não só virá complementar o Noocity Growbed como sustentar a criação de um ciclo de produção próprio.

NOOCITYREVISTA IP 28JuL/AGO 2015

“Acreditamos que praticar Agricultura urbana é assumir uma atividade inspiradora, ecológica e produtiva.”

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EXPERIÊNCIAS

O CRESCIMENTO DA NOOCITyQuando tudo começou, os responsáveis pelo “nascimento” da Noocity sentiam de facto uma necessidade de desenvolver o equipamento imaginado e foi isso que fez com que se superasse a cada dia um processo “longo e muito cuidado para criar uma solução e, mais tarde, um produto que fosse realmente relevante e pertinente”. Hoje é ponto assente que valeu a pena e os resultados alcançados até ao momento vão “um pouco além das expetativas”, como confirma Leonor. Os comentários e elogios feitos e o facto de se sentir que está a “responder a uma necessidade real de citadinos por todo o mundo” faz com que o sentimento partilhado por esta equipa seja altamente inspirador. A confirmação da aposta acertada da Noocity revelou-se uma vez mais recentemente através de uma campanha de crowdfunding. “O maior desafio, superado, foi a recente campanha de crowdfunding que realizamos na plataforma Indiegogo através da qual fizemos chegar Noocity Growbeds aos Estados Unidos, Singapura, Austrália, França, Itália, Inglaterra e muitos outros” conta Leonor Babo. Hoje a Noocity está assim espalhada pelo mundo.Depois de quase 300 clientes oriundos de 38 países diferentes, esta equipa quer continuar a “oferecer soluções, eficientes, eficazes e relevantes para quem quer viver a cidade de uma forma diferente, mais consciente, sustentável e próxima à natureza”. Para além de ser uma forma original de repensar os espaços inutilizados e não produtivos como as coberturas, as varandas ou os pátios, transformando-os em lugares de convívio e abundância, trata-se de cultivar alimentos, pessoas e famílias mais saudáveis, estabelecer sintonia com o ritmo da natureza e fortalecer laços comunitários. “Acreditamos que praticar Agricultura Urbana é assumir uma atividade inspiradora, ecológica e produtiva.”A falta de espaço, de tempo ou de orientação prática já não são desculpa. Tem tudo para fazer com que a sua varanda dê certo.

Passado um ano, perguntámos a Leonor Babo da Noocity, como é que a repercussão nos media, o reconhecimento público e os prémios tem influenciado o percurso deste negócio social em expansão.“Graças a uma crescente preocupação ambiental, atenção com a alimentação, saúde e alguma angústia com as condições de vida atuais nas grandes cidades, o tema das hortas urbanas e da ecologia urbana tem merecido bastante destaque nos media. Nesse sentido, a Noocity acaba por sair muito beneficiada pois, além da solução que apresenta, pensada para o meio urbano com uma utilização fácil e eficiente, é um projeto que representa, em certa medida, um movimento de mudança que, a par de outras soluções e projetos é fruto de uma vontade de pensar o futuro do nosso planeta.Neste início de percurso, e como startup que somos, tem sido essencial para o nosso crescimento, todas as reportagens e noticias que referem a Noocity, não só no sentido de divulgar o projeto mas também como veiculo para reforçar a marca, um ponto nevrálgico para o nosso crescimento.Temos também procurado reconhecimento e apoio através de plataformas e prémios. Obtivemos o segundo lugar no The Venture da Chivas, ganhamos o Pitch Day da Uptec, que nos permitiu o acesso a investimentoe, mais recentemente, ganhámos o Prémio Nacional das Industrias Criativas da Super Bock e Serralves que, além do prémio e reconhecimento, nos permitirá representar Portugal em Novembro no Creative Business Cup em Copenhaga.”

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EXPERIÊNCIAS

Hoje é possível conhecer ou reconhecer o Porto seguindo os passos de quem vive os cantos e paisagens únicas da cidade. A WelcomeHOME Tours disponibil iza percursos em tour l iderados por sem-abrigo qualif icados para serem “condutores locais”. Não vai querer perder.A WELCOMEHOME TOuRS E A SuA ORIGEMA WelcomeHOME Tours é um serviço turístico que disponibiliza percursos em tour liderados por sem-abrigo formados para serem “condutores locais”. Este é também o projeto âncora da WelcomeHOME - Cooperativa de Solidariedade Social orientada para o apoio a pessoas em situação de sem-abrigo com possibilidades de empregabilidade. Depois de ter tido conhecimento deste tipo de iniciativas como a Unseen Tours e a Underground Tours em cidades como Londres e Utrecht, Alfredo Costa, atual Presidente da Cooperativa, achou que seria interessante implementar a ideia no Porto.

APOIAR A MuDANÇA DE VIDA DOS SEM-ABRIGO DA CIDADEHelena Pizarro, vice-presidente da WelcomeHOME explica que a Cooperativa pretende “incentivar este grupo a desenvolver rotinas ocupacionais, estimular a aquisição de formação por parte destas pessoas, disponibilizar formação adequada, assegurar a efetiva adaptação destes cidadãos aos projetos, promover a inserção no mercado de trabalho assim como a sociabilização dos sem-abrigo com a restante comunidade”.“Um dos maiores desejos dos nossos formandos é tornarem-se independentes da Segurança Social e viver do seu próprio trabalho e esforço”, acrescenta. Neste sentido, a WelcomeHOME proporciona remunerações acrescidas, resultante do trabalho desenvolvido pelos formandos na Cooperativa.Indiretamente a Cooperativa contribui claramente para o aumento da autoestima, da força de vontade e do ânimo para regressar ao mundo trabalho, para além de ajudar a voltar a sistematizar na vida destes sem-abrigo as rotinas e os objetivos de vida a concretizar.

O FEEDBACK DOS TuRISTAS“O feedback tem sido bastante positivo! As pessoas gostam do Porto apresentado de uma forma muito particular. Quando os "condutores locais" contam as suas histórias e memórias na cidade, os turistas ficam sempre interessados em saber mais, porque muitas vezes são esses pormenores que fazem com que as pessoas se envolvam na cidade e a sintam de uma forma diferente. Já aconteceu serem turistas portuenses e se identificarem com

O Porto que o sem-abrigo revela

as memórias contadas durante o percurso e ficarem bastante entusiasmados por reavivarem esses tempos”, explica Helena.“É bastante interessante observar a reação de muitos portuenses quando estão a ser conduzidos pela cidade, nas nossas Tours, porque ou desconhecem a História de determinados locais ou, pura e simplesmente, não conheciam o local e ficam maravilhados!”

AS MAIS-VALIAS DA CuLTuRA NO PROCESSO DE INCLuSÃO SOCIALA WelcomeHOME considera, antes de mais, que “a formação orientada para esta população é um fator muito importante para a inclusão social. Torná-los mais interessados nas diversas temáticas, torná-los mais conscientes e mais informados e preparados para enfrentar o mercado de trabalho, para que possam ter outra atitude e postura perante o mundo, nos nossos dias”. A Vice-Presidente acrescenta que “especificamente em relação à WelcomeHOME Tours, a questão cultural é definitivamente uma mais-valia. Foi essa aprendizagem conjunta, entre formadores e formandos, da História da cidade do Porto, que vai desde os conteúdos históricos, a História oral, ou seja, memórias dos cidadãos, o conhecimento profundo das ruas e vielas, que nos permitiu desenvolver este projeto, iniciar o projeto-piloto e ter disponível um serviço turístico que permite a esta população ter uma remuneração daí resultante para que seja possível, passo a passo, desprender-se da Segurança Social.

WELCOME hOMEREVISTA IP 13SET/OuT 2014

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RESuLTADOS ALCANÇADOSAté ao momento, para além da criação oficial da Cooperativa WelcomeHOME, já estão disponíveis no mercado 2 Tours o que permite abranger dois sem-abrigo. O projeto não tem passado despercebido e diversos meios de comunicação social têm feito questão de o divulgar.Os próximos passos deverão ser a criação de pelo menos mais uma Rota e de “pacotes” para Empresas e Escolas.A WelcomeHOME ambiciona ainda gerar mais emprego e consequentemente envolver um número maior de sem-abrigo e angariar fundos para o desenvolvimento e implementação de novos negócios sociais

PONTOS FORTES E DIFICuLDADES ENCONTRADAS NO DESENVOLVIMENTO DESTE PROJETOA Cooperativa aponta como pontos fortes desta iniciativa “a resposta a uma necessidade sentida na cidade do Porto, quer pela população sem-abrigo quer pelo sector do turismo, o empenho e motivação dos formandos e “condutores locais” e o empenho e profissionalismo dos formadores, para além da visibilidade dada à cidade do Porto, a nível europeu e mundial. Sublinha ainda a criação de “sinergias e o desenvolvimento de um ecossistema entre diferentes entidades de economia social, a valorização do projeto por grande parte da sociedade, o fator inovador e diferenciador da iniciativa e a curiosidade dos turistas”.Algumas das dificuldades sentidas estão relacionadas com a sazonalidade a relação entre os “condutos locais” com os guias-interpretes, as dificuldade inerentes à formação de adultos, com diferentes especificidades, a necessidade de aprendizagem de diferentes línguas e o “reduzido número de pessoas sem-abrigo com perfil de empregabilidade aptos para a inserção no mercado de trabalho”.

PASSADOS DOIS ANOS DE DARMOS A CONhECER A WELCOMEhOME NAS PáGINAS DA IMPULSO POSITIVO,

PERGUNTáMOS A hELENA PIzARRO QUAIS SãO AS GRANDES DIFICULDADES SENTIDAS PARA LEVAR AVANTE UM PROJETO DE INOVAçãO SOCIAL EM PORTUGAL.

“Em relação à WelcomeHOME, as maiores dificuldades centram-se nos recursos. Temos as Tours a funcionar e Merchandising próprio à venda em lojas no Porto e em plataformas online. No entanto, as receitas daí provenientes não são ainda suficientes para cobrir todo o investimento necessário para a criação de novos negócios, visto uma Cooperativa ter despesas fixas associadas. Temos que lutar muito para tornar o sonho da sustentabilidade da Cooperativa numa realidade.Apostámos na área do Turismo, para empregar sem-abrigo com perfil de empregabilidade, pois considerámos ser um nicho de mercado interessante no Porto. Os negócios que “desenhámos” requerem formação específica para esta população bem como para cada negócio em si. Implicam recursos humanos e financeiros. Paralelamente, a maioria destes negócios implicam espaços físicos, em zonas estratégicas. Os valores estão bastante inflacionados, e não somos ainda capazes de os suportar, sendo obrigados a apresentar o projeto às mais variadas Entidades na esperança de obter ajuda, financeira ou em géneros específicos. Associado a isto surge outra dificuldade com que, ultimamente, nos temos debatido bastante – a burocracia. Para tudo são precisos requerimentos, pedidos de autorização, de isenção, uma série de informação, desmesurada nalguns casos. Depois de enviados a quem de direito, por vezes têm de percorrer uma quantidade, excessiva a meu ver, de departamentos, de ser submetidos a avaliação e, se no final tivermos nota positiva, terá que ser assinado por várias pessoas. Procedimentos que demoram vários meses tornando-se, para nós, uma eternidade.Mas este é o preço a pagar para conseguirmos fazer mais e melhor pela WelcomeHOME enquanto Cooperativa, pela população com quem e para quem trabalhamos e pelo Porto, o qual acreditamos que muito poderá ganhar com o trabalho que pretendemos desempenhar.”

“Para tudo são precisos requerimentos, pedidos de autorização, de isenção, uma série de informação, desmesurada nalguns casos.”

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EXPERIÊNCIAS

Das necessidades sentidas por alguns membros fundadores aquando das suas experiências enquanto emigrantes, nasceu a oportunidade de lutar contra a exclusão social dos imigrantes e de ultrapassar barreiras culturais e l inguísticas. A solução? Transformar aquela conversa entre pessoas de diferentes nacionalidades, onde se tenta aprender alguma palavra na l íngua dos outros ou curiosidades sobre as diferentes culturas que ali se cruzam, numa aula de l ínguas.

Impulso Positivo (IP): Como e quando nasceu o Projeto Speak?hugo Menino Aguiar (hMA): Percebemos que Leiria tinha migrantes mas que não nos cruzávamos com eles. Vivíamos em círculos paralelos de vida. Além disso, alguns membros fundadores tinham a experiência de estarem no estrangeiro e sentirem dificuldade em se integrarem nas cidades onde viveram por não saberem falar a língua do país mas também por não terem oportunidades de conviver com os residentes locais. Estávamos conscientes de que havia um desafio na integração de migrantes nas cidades onde vivem e que se estavam a perder oportunidades. Também tínhamos percebido em alguns eventos pelo mundo fora que, quando um grupo de pessoas de nacionalidades diferentes se encontra pela primeira vez, é sempre comum a curiosidade de aprender alguma coisa sobre a língua ou países dos outros e a vontade de ensinar alguma coisa sobre a sua língua ou cultura. Tudo isto, aliado à curiosidade sobre o mundo, o gosto por viagens, línguas, e pela diversidade levou-nos até à ideia do SPEAK.

IP: O que é o SPEAK?hMA: SPEAK é um projeto que cria oportunidades de pessoas de nacionalidades diferentes se encontrarem, aprenderem e ensinarem línguas e culturas. Mais tarde estudámos melhor o problema da exclusão sociocultural e os desafios de integração nas cidades atuais e validamos a nossa solução, que continuamos a melhorar, sempre com o objetivo de maximizar a sua eficiência. O SPEAK existe para resolver ou contribuir para a resolução, em escala, de um problema social bem identificado, a exclusão sociocultural, um problema transversal a várias cidades de Portugal e do Mundo. Este problema social existe devido a várias causas como a incompreensão cultural, ignorância ou estigmas. As consequências deste problema são diversas e passam pela xenofobia, criminalidade, desemprego, entre muitas outras.

IP: Qual é o fator inovador do SPEAK?hMA: No âmbito deste projeto foi desenvolvida uma solução inovadora para combater as causas principais do problema, ou seja, a falta de oportunidades de encontro social e a barreira linguística entre pessoas de origens diferentes, e transformar as pessoas que sofrem no dia-a-dia com o problema, em parte fundamental da solução. O SPEAK é um intercâmbio de línguas e de culturas onde

Aprender Línguas e Culturas do Mundo

pessoas, de diferentes origens, aprendem e ensinam línguas e culturas. São estas pessoas que quebram preconceitos, barreiras, que fazem amigos, que promovem e disseminam a valorização pela diversidade cultural. Os professores do SPEAK são voluntários.

IP: Como tem evoluído o negócio ao longo de tempo?hMA: Em 2012, tivemos 135 participantes, em 2013 foram 276, em 2014 contámos com 528 e a previsão é de que vamos chegar aos 1200 em 2015, sendo que neste momento estamos com 429 e ainda não passaram 3 meses.

IP: Que objetivos foram já alcançados?hMA: Formámos uma equipa de parceiros e investidores sociais fundamentais para que possamos seguir a nossa missão social, entre os quais a Fundação EDP, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Luso-Americana e a Associação Fazer Avançar. Já conseguimos replicar a experiência para 4 cidades, nomeadamente, Caldas, Cascais, Coimbra e Lisboa. Conseguimos fazer um plano de capacitação e de treino para os professores voluntários que funciona bem. Já conseguimos remunerar alguns migrantes em cursos profissionais e ajudá-los a conseguirem emprego. Conseguimos criar 4 postos de trabalho.

IP: Como se pode participar no SPEAK?hMA: As inscrições devem ser feitas em www.speak.social e têm um preço de 25 euros. Este valor é pago na totalidade logo no início e dá acesso a todo o curso, com duração de 18 horas e aos eventos. Temos uma exceção para os alunos de Português, para quem a inscrição é gratuita, tendo apenas de pagar os 25 euros como caução, valor que é devolvido no final, se frequentarem pelo menos 10 aulas. Os professores voluntários podem inscrever-se gratuitamente nos cursos do SPEAK.

SPEAKREVISTA IP 26MAR/ABR 2015

hugo Menino Aguiar, fundador do SPEAK, falou passado um ano de concedida esta entrevista com o Impulso Positivo para contar como tem evoluído o projeto: “Conseguir alinhar retorno financeiro e impacto torna a nossa organização mais resiliente e robusta pois funciona num mercado competitivo e é incentivada a entregar um serviço de elevada qualidade. Em troca, se tivermos sucesso, as recompensas são a ausência de um esforço contínuo de angariação de fundos, independência financeira e foco na missão social. Para o fazer temos que crescer em número de inscrições. A tecnologia é chave porque pode permitir fazê-lo sem termos que crescer proporcionalmente os custos fixos. A maior parte dos participantes SPEAK consegue pagar o valor simbólico. O crescimento do número de beneficiários também representa um crescimento de retorno financeiro. Neste momento estamos em 5 cidades Portuguesas. Temos uma comunidade de 4.060 pessoas de 104 países diferentes que organizam eventos e ajudam-se entre si. Este ano estamos perto das 1.000 inscrições para experiências de aprendizagem de 18 horas em 12 línguas diferentes. Prevemos terminar o ano com 2.000 inscrições o que representa um crescimento quase de 100% relativamente ao ano anterior. Entre hoje e o final de 2017 esperamos crescer de 5 para 12 cidades onde acreditamos que o SPEAK pode fazer maior diferença e ajudar mais.”

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O Twestival® é um movimento global que utiliza as redes sociais, em prol de boas causas, interligando comunidades num bom evento num único dia, para promover uma boa causa.

Tudo nasceu de uma simples ideia: se cidades pudessem colaborar numa escala internacional, porém trabalhando a nível local, o impacto dessa colaboração poderia vir a ser espetacular. Hoje o Twestival é a maior iniciativa de fundraising através das redes sociais, até à data, sendo que desde 2009, foram angariados mais de 1.2 milhões de dólares para 137 causas em todo o mundo. Aquilo que foi um pequeno evento em Londres em 2008, transformou-se num movimento global sem precedentes com iniciativas em mais de 200 cidades do mundo, de Buenos Aires a Bangalore, Seattle a Seoul e de Hong Kong a Honolulu. Em 2009, Amanda Rose, impulsionadora do movimento, sabia que queria manter os elementos idênticos ao primeiro evento: prazos apertados para gerar buzz, garantir apoio e voluntários a partir da comunidade Twitter e garantir que 100% das doações iriam diretamente para determinada causa. Era fundamental escolher uma causa clara, simples e universal, capaz de unir as pessoas no Twitter, em todo o mundo. O Twestival Global inaugural aconteceu dia 12 de Fevereiro de 2009, arrecadando um total de 264.000 dólares, em 202 cidades de todo o mundo, para apoiar quem ajuda mil milhões de pessoas em todo o mundo que não têm acesso a água limpa e potável. Através da organização charity: water, esta angariação resultou em 55 poços para mais de 18.000 pessoas na Etiópia, Uganda e Índia. Em Setembro do mesmo ano aconteceu também o primeiro Twestival Local, permitindo que várias cidades espalhadas pelo mundo arrecadassem fundos e promovessem uma causa diretamente ligada à própria comunidade. A organização explica no site a dinâmica de envolvimento e transparência para o Twestival Local: “Motivamos os voluntários para que envolvam a comunidade no Twitter e em outras redes e assim recebam dela sugestões de organizações sem fins lucrativos registadas que operem nas suas cidades, cujos programas apresentem um impacto direto na comunidade local. A decisão sobre a instituição de caridade destinatária será tomada por consenso entre a equipa organizadora que, em seguida, enviará um formulário de aprovação da instituição sem fins lucrativos para a equipa global, que irá certificar se esta atende à visão e às normas do Twestival. O Twestival não se associa a causas que sejam abertamente políticas, religiosas ou que não tenham transparência ao demonstrar o impacto de doações”. Este primeiro Twestival Local aconteceu em 133 cidades e apoiou 135 instituições locais. Para 2010 ficou definido que a causa a apoiar seria a Educação, pois do ponto de vista de Amanda Rose, as consequências de 72 milhões de crianças não irem à escola em todo o mundo vão muito mais além daquilo que podemos compreender. Assim, dia 25 de Março foram angariados 400.000 dólares em mais de 175 cidades e os esforços reunidos no Twestival Global 2010 permitiram apoiar projetos levados a cabo pela Concern Worldwide, organização mundial

Twestivalcom uma abordagem bastante rica, extensa e humilde e que tem conseguido chegar a algumas das crianças mais vulneráveis do mundo, no Malawi, Liberia, Haiti e Burundi. Este ano (2011), o Twestival Local foi o único foco de interesse da organização. Aconteceu dia 24 de Março e contou com a participação de pelo menos 150 cidades dos 5 continentes. Os 565.928.12 dólares angariados permitirão apoiar 140 causas ligadas às áreas dos Serviços Humanos, Saúde, Educação, Arte e cultura, Meio Ambiente, Proteção dos Animais, Desporto e Tecnologia. A depender do interesse de voluntários e do sucesso da iniciativa, o Twestival Global voltará em 2012. Apesar de neste momento ainda não ter sido tomada nenhuma decisão relativamente ao tema de um possível Twestival Global 2012 o melhor é estar atento às novidades no Twitter e no site www.twestival.com, e aproveitar para se começar a preparar para se juntar a esta iniciativa.

TWESTIVALREVISTA IP 3MAI/JuN 2011

O Twestival deixou de existirA 29 de janeiro de 2014 Amanda Rose, Fundadora do Twestival publicava uma mensagem de despedida na página do movimento da qual publicamos alguns trechos.

“Quando tive a ideia em setembro de 2008 de fazer um evento em Londres para utilizadores locais do Twitter e de o transformar numa campanha solidária global, nunca imaginei que acabássemos a angariar mais de 1.8 milhões de dólares para mais de 300 organizações sem fins lucrativos do mundo inteiro… exigiu muito trabalho duro e envolveu centenas de voluntários…O Twestival foi uma das primeiras redes a unir e distribuir pessoas por eventos offline e nos primeiros tempos, também introduziu muita gente, incluindo organizações sem fins lucrativos ao poder das redes socias para o bem social. Hoje o Twitter assim como outras redes sociais são conhecidas pelas suas capacidades de ligar pessoas a causas que lhes interessam e, nalguns casos tornou-se realmente uma força pela mudança na sociedade. Foi uma emoção fazer parte dessa história precoce.Todas as boas festas têm eventualmente que acabar. Depois de muita reflexão, parece que chegou o momento certo para dar descanso à marca Twestival. Claro que as ligações entre pessoas que se conheceram através do Twestival permanecem e enquanto indivíduos, não nos sentimos menos comprometidos em apoiar o importante trabalho das organizações sem fins lucrativos.Se alguém estiver interessado em levar avante um evento como o Twestival, ficaremos felizes por incentivar e ceder alguns recursos para que isso aconteça - a única poisa que pedimos é que encontre um nome diferente para evitar confusões.Muitas pessoas têm escrito sobre o Twestival focando-se no seu impacto nas redes sociais ou no fundraising. Mas para mim, tudo se resume a uma coisa: o poder da comunidade.Obrigada por transformar uma pequena ideia num movimento”.Amanda Rose, Founder of Twestival (@amanda)

INTERNACIONAL

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Quando se fala no Hotel Panda em Budapeste, fala-se em pioneirismo no que toca à abordagem da inclusão em ambiente de trabalho.

O Hotel panda é um hotel de 3 estrelas em Budapeste que, à primeira vista, em nada se diferencia de outros. A diferença encontra-se no facto de 95% dos colaboradores deste hotel serem portadores de deficiência. Esta história peculiar começa quando Bela Kocsy e a sua família compraram o Hotel Panda em Budapeste. Um amigo seu tinha desenvolvido um tumor no cérebro que lhe tinha tirado a visão. Bela decidiu ajudar o amigo oferecendo-lhe a oportunidade de trabalhar algumas horas na receção do Hotel. Foi clara a evolução positiva do seu bem-estar e autoestima.Através do amigo, Bela conheceu outras pessoas portadoras de deficiência que compreendeu poderem vir a desempenhar um bom papel no hotel. Assim, decidiu concentrar o seu recrutamento apenas em pessoas com deficiência contando para isso com o apoio do governo húngaro que cobre entre 10 a 80% do salário de pessoas com deficiência.O apoio do governo não fez do Hotel Panda um organismo “subsídio-dependente” mas permitiu adaptar o espaço e formar os novos colaboradores de uma forma adequada e sistemática.Hoje, o Hotel Panda emprega pessoas com deficiências diversas, desde pessoas com deficiência auditiva a utilizadores de cadeira de rodas, bem como pessoas com deficiências físicas (poliomielite, amputações, lesões da coluna, etc.) ou com problemas de saúde mental.A gerência do hotel tem em conta a deficiência de cada colaborador, e por essa razão utiliza métodos de comunicação diferentes, adequados a cada um deles, como falar lentamente para permitir a leitura labial, escrever instruções, ou demonstrar presencialmente a tarefa que deve ser cumprida.Todo o espaço de trabalho, assim como dois dos quartos são totalmente acessíveis, o que faz com que, não só o “staff” com problemas de mobilidade, como também potenciais clientes portadores de deficiência encontrem aqui um espaço particularmente sensível às suas necessidades.Bela está hoje orgulhoso da sua equipa que diz ter um forte sentido de compromisso e muita vontade de trabalhar, para além de terem excelentes competências interpessoais, o que logicamente ajuda quando se trata de lidar com hóspedes. Bela reforça ainda que este lugar não é uma instituição social. Exige aos seus colaboradores trabalho de alta qualidade, a única diferença é que o padrão criado tem em atenção as aptidões pessoais de cada um deles.O Hotel Panda é hoje uma instituição de formação de adultos representando um papel fundamental na formação e educação das pessoas com deficiência. O hotel funciona em parceria com ONGs como a Federação Nacional das Associações de Pessoas com Deficiência, A Fundação Salva Vita, The Visual Foundation, SINOSZ e o Centro de Reabilitação para Deficientes,

Hotel Panda: naturalmente inclusivo

que cobrem numerosas deficiências e necessidades das pessoas com deficiência. Estas organizações enviam pessoas para o hotel para realizarem estágios de 3 meses e o hotel passa um certificado de como foram treinados no Hotel Panda. Este esquema tem-se revelado bastante eficaz no que diz respeito à obtenção de empregos por parte de pessoas com deficiência noutros hotéis.O hotel quer ser um bom exemplo para outras empresas e muito particularmente para outros hotéis. Contribuindo para a abertura do mercado de trabalho às pessoas com deficiência, o Hotel Panda promove ainda os chamados “Disability Open Days”, para os quais convidam empresas multinacionais a operar em Budapeste a conhecerem pessoas com deficiência à procura de oportunidades de trabalho. Algumas pessoas conseguiram encontrar trabalho em empresas como a IBM depois de eventos como este.Para além disso, o Hotel Panda faz apresentações noutras empresas sobre como trabalhar com pessoas portadoras de deficiência. Os responsáveis admitem que o trabalho com pessoas com deficiência é difícil, mas ao mesmo tempo, um trabalho muito gratificante. No início estas empresas têm muitas questões e medos no que diz respeito a empregar pessoas com deficiência, mas o Hotel Panda organiza eventos subsequentes nos quais estão presentes elementos governamentais que explicam a legislação e o apoio que o Governo Húngaro oferece às empresas que empregam pessoas com deficiência.O trabalho de excelência e de coração a favor da inclusão fez do Hotel Panda merecedor de vários prémios e distinções não só na Hungria como em toda a Europa, como o Prémio Europeu de Iniciativa Empresarial 2011.No meio da pequena grande revolta social que a boa prática de Bela Kocsy provocou, o Hotel Panda ainda duplicou os seus lucros, provando que é possível combinar metas sociais com um desempenho empresarial de sucesso.

hOTEL PANDAREVISTA IP 7JAN/FEV 2012

INTERNACIONAL

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Em 2013, o segundo ano em que se realizou, o dia global da partilha, num a tradução livre do Global Sharing Day, envolveu mais de 70 milhões de pessoas em 192 países de todo o mundo. Este ano é celebrado a 1 de junho. Portugal ainda não aderiu, mas ficou a promessa de o fazer no último Greenfest.

Promovido pela “The People Who Share”, sediada no Reino Unido e criada por Benita Matofska, o Global Sharing Day vai realizar-se este ano, o terceiro em que acontece, no dia 1 de junho. O dia global da partilha assume-se como uma campanha que pretende inspirar as pessoas, de forma alargada, a celebrar a partilha, envolvendo-as através da criação de um dia específico para o fazer. Através de uma rede de parceiros que se associam em todo mundo, são promovidos eventos localmente e a adesão tem sido massiva. No primeiro ano em que foi realizado (2012), o Global Sharing Day chegou a mais de 60 milhões de pessoas, contando com o envolvimento de 165 parceiros em 147 países. No segundo ano, em 2013, com o tema “Partilha de Comida”, já foram mais de 70 milhões de pessoas alcançadas em 192 países, através de mais de 200 entidades parcerias, e mais de 4 milhões de pessoas partilharam uma refeição nesse dia. Conforme explicou Benita Matofska, a impulsionadora desta iniciativa, ao Impulso Positivo, as iniciativas podem incluir eventos das mais diversas dimensões e naturezas. Como por exemplo, um almoço de rua, que a própria Benita promoveu na sua comunidade. De forma muito simples, na sua rua, as pessoas colocaram mesas e juntaram-se num almoço de comunidade. O resultado foi surpreendente: “Temos pessoas a morar naquela rua há 42 anos, que nunca se tinham reunido com outros vizinhos. Tínhamos desde um bebé de 7 dias a uma senhora de 92 anos, o que prova que a partilha “é intergeracional” e pode ser alcançada através de “uma ação muito simples, como juntar as pessoas num almoço”.

Dia para partilhar

Este ano, o tema é “partilha na vizinhança”. O dia marcado é 1 de junho e o objetivo é juntar as comunidades para partilharem o que têm, demonstrando que a maior parte do que necessitamos pode estar mesmo à nossa porta. Na apresentação do evento de 2014, nota-se que existem diversas maneiras através das quais as pessoas podem ligar-se e partilhar no seio das suas comunidades: partilha de ferramentas, de competências locais, vendas de rua, compras coletivas de alimentos ou energia, partilha de sistemas wi-fi, centros comunitários, projetos comunitários de jardinagem, bancos de horas, projetos de partilha de bicicletas ou de boleias de carro. Trocas de roupa, almoços ou picnics, atividades colaborativas de música e artes ou limpeza de parques e jardins também estão na lista de eventos que quem quiser associar-se a este dia poderá organizar. Portugal ainda está de fora dos países que aderiram ao Global Sharing Day, mas o repto para que esta situação se altere foi lançado durante o último Greenfest, em outubro passado. “Ouvimos no Greenfest um pedido para que hajam atividades e esforços no país para este dia (Global Sharing Day). Esta será uma oportunidade ótima para que as pessoas se envolvam na partilha, organizem eventos desde almoços, partilha de roupa ou de competências, entre outras”, referiu Benita Matofska ao Impulso Positivo. E conclui: “há muitas oportunidades para participar na Economia da Partilha e assim que as pessoas começarem a perceber que isto está ligado a uma coisa que liga todo o mundo, irá explodir também em Portugal e o ritmo será extraordinário”.

GLOBAL ShARING DAYREVISTA IP 20MAR/ABR 2014

O sucesso do “Global Sharing Day” ao longo dos anos tem sido de tal ordem que este já se transformou numa “Global Sharing Week” desde 2015 e na edição de 2016 contou com 226 eventos em 70 cidades do mundo inteiro que alcançaram 110 milhões de pessoas.Em 2017 a Global Sharing Week já está marcada de 4 a 10 de junho e Portugal já faz parte do movimento. Saiba tudo sobre a Economia de Partilha em Portugal em www.thepeoplewhoshare.pt.

INTERNACIONAL

“O sucesso do “Global Sharing Day” ao longo dos anos tem sido de tal ordem que este já se transformou numa “Global Sharing Week”

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A parceria entre a WWF e a Coca-Cola continua hoje a ser um sucesso de tal forma que em 2014, esta foi renovada até 2020.O impacto desta parceria de sucesso é também cada vez maior, abrangendo cada vez mais áreas no âmbito da proteção ambiental. Alguns dos últimos grandes feitos alcançados em conjunto passaram pela melhoria do impacto da cadeia de abastecimento apoiando o açúcar sustentável, pela criação de parcerias e definição de metas ambiciosas e mensuráveis para a proteção do Recife Mesoamericano e do rio yangtze, pelo contributo para o diálogo global sobre a água através do programa Water for Our Future, pelo desenvolvimento de projetos piloto de valorização da natureza, de melhoria das ferramentas de medição de impacto ambiental e de padrões de certificação de sustentabilidade com universidades e Escolas de Negócio conceituadas.Mais informações em http://wwfcocacolapartnership.com/

Coca-Cola. uma das marcas mundiais mais poderosas, senão a mais poderosa, muito graças ao facto de conseguir estar em todo o lado, mas também às míticas campanhas de publicidade. Deve ser difícil encontrar alguém que não se lembre de pelo menos um anúncio da Coca-Cola. Ao associar-se à também icónica World Wildlife Fund (WWF), criaram as duas uma campanha poderosa.

Fiel à visão de trabalhar com os melhores, a Coca-Cola associou-se à WWF em 2007 para tornar o seu negócio mais sustentável. Ficaram as duas organizações a ganhar. Com o apoio da WWF, o objetivo da Coca-Cola passa por melhorar a sua eficácia hídrica e reduzir as emissões de carbono nas operações de produção da empresa, e promover as práticas de agricultura sustentável em toda a cadeia de valor da Coca-Cola. Por sua vez, a WWF passa a contar com o apoio da Coca-Cola para estabelecer novos padrões para a indústria, ambicionando impactos significativos à escala global. Antes de mais, as duas organizações procuraram um denominador comum: a Água. A WWF explica a escolha deste denominador na sua página de internet: “A água é fundamental para a WWF e para a Coca-Cola. A missão da WWF é a conservação da natureza e a proteção dos recursos naturais para as pessoas e animais selvagens. Os Ecossistemas de água doce são uma prioridade no trabalho da WWF. Por sua vez, as bebidas são o negócio da Coca-Cola e a água é o principal ingrediente de cada produto que a empresa faz”.A partir daí, criaram-se as metas: conservar as bacias hidrográficas prioritárias, melhorar a eficiência hídrica, reduzir o impacto climático, promover a agricultura sustentável e inspirar a colaboração global.Foi no contexto desta parceria que, em 2011, surgiu a forte campanha mundial Artic Home. A Coca-Cola introduziu no mercado uma edição limitada de latas brancas, tendo como objetivo consciencializar e angariar fundos para ajudar a criar um lugar onde os ursos polares e as pessoas possam prosperar no Ártico. Desde o início da campanha já foram angariados 1,8 milhões de dólares aos quais a Coca-Cola acrescentou 2 milhões.A campanha está a ajudar a promover a visão global da WWF para proteger o Ártico, visão esta que inclui trabalhar com as comunidades indígenas locais, apoiar investigação de ponta, e desenvolver um trabalho adicional de conservação com vários parceiros.O trabalho da WWF a favor do Ártico já não é de agora. Desde 1975, o WWF apoiou a pesquisa sobre os ursos polares e outras espécies do Ártico. Graças ao trabalho desenvolvido desde então, e com o apoio dos mais diversos organismos, hoje é possível rastrear ursos polares através do rádio-colarinho e comunicar visualmente o comportamento e os movimentos do urso polar. O Ártico está num limiar crítico: as taxas de mudança sem

Pôr o Ártico no mapa

precedentes, principalmente as alterações climáticas, levaram a um futuro incerto de importância mundial. Desde 1992, o Programa da WWF Global Artic tem vindo a trabalhar com parceiros em todo o Ártico para combater as ameaças ao habitat e preservar a sua biodiversidade, de forma sustentável.A equipa de pesquisa do Artic Home tem anos de experiência no campo, estudando o urso polar, o Ártico, e como ambos se adaptam e são afetados pelo aquecimento global. Este importante trabalho ajuda a entender o impacto que diferentes ameaças, como o degelo e a poluição, estão a ter em diferentes populações de ursos polares.O que acontece é que esta parceria não só chamou a atenção para esta problemática, como levou as pessoas de todo mundo a preocuparem-se com ela e a fazerem alguma coisa por ela. Para além da edição limitada de latas brancas, a partir da plataforma www.artichome.com é possível não só doar e conhecer cada um dos passos que têm sido dados com o dinheiro doado, como participar em eventos em formato webcast para discutir os esforços que têm sido feitos para proteger o urso polar, aprender de tudo um pouco sobre o urso polar e o Ártico, ter acesso a dezenas de materiais sobre o assunto, aprender 10 formas de ajudar a cuidar do ambiente e até conhecer aprofundadamente Aurora, Nanukic, Neige, Callista, Nita, cinco dos ursos que se pretende salvar.Esta é mais uma prova de que unir esforços permite fazer do mundo, um sítio melhor. Com mais vida.

COCA COLA E WWFREVISTA IP 12NOV/DEZ 2012

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Em 2012, para assinalar o Dia Mundial da Alimentação, a empresa brasileira Ecobenefícios lançou uma campanha altamente inspiradora que pretendia fazer refletir sobre a quantidade assustadora de alimentos que cada um de nós desperdiça diariamente. A campanha baseou-se unicamente em dois elementos: um “prato consciente”, ao qual “faltava um pedaço”, e um vídeo que rapidamente se tornou viral.

Organização: EcobenefíciosProjeto: Prato Consciente

NECESSIDADE IDENTIFICADA:Todos os anos, a Ecobenefícios comemora o Dia Mundial da Alimentação e realiza uma campanha a partir da escolha de um assunto em concreto.Em 2012, decidiu que o tema seria o “desperdício de alimentos”, pois este é um assunto bastante crítico no mundo e, neste caso, a data não serviria para comemorar, mas sim para refletir. O relatório apresentado pela ONU, sobre os dados da fome no mundo, mostra que uma em cada oito pessoas no planeta não tem acesso a alimentos suficientes. Portanto, este foi um grande motivo que levou à criação desta campanha.

DESCRIÇÃO DO PROJETOA campanha teve duas peças principais: o Prato Consciente e o vídeo. Foi escolhido um dia ao acaso para gravar o vídeo. A gravação aconteceu num restaurante na cidade de Porto Alegre (Rio Grande do Sul – Brasil). Os pratos usados diariamente foram trocados por pratos conscientes e o sistema deste restaurante era de buffet. O prato Consciente, com um design 20% mais pequeno que um prato normal, incentivou as pessoas a servirem-se em porções mais pequenas, fazendo com que consumissem toda a quantidade que colocassem no seu prato, sem desperdiçar. As imagens foram gravadas e o vídeo criado. No Dia Mundial da Alimentação – a 16 de outubro – realizou-se o lançamento do vídeo, que foi colocado no YouTube e nas Redes Sociais. Logo na altura a campanha teve um grande destaque, contudo, atingiu o seu auge em agosto quando um internauta português, Pedro Souza, publicou o vídeo na sua página do Facebook, tendo influenciado mais de 500 mil pessoas, que partilharam o vídeo nas suas redes sociais.

RESuLTADOS OBTIDOSNo dia da gravação do vídeo, o restaurante em questão, que costuma colocar 16 sacos de lixo com restos de alimentos,

Pensar menos, comer menos, desperdiçar menos

colocou apenas 4 sacos, revelando que realmente, as pessoas servem-se mais do que precisam.O vídeo já teve mais de 500.000 visualizações no YouTube, foi partilhado mais de 500.000 vezes no Facebook, e diversos opinion makers e pessoas influentes publicaram o vídeo.O grande objetivo da Ecobenefícios é transformar o Prato Consciente numa marca, uma vez que já é considerado um objeto desejado por muitas pessoas. A empresa quer ainda que o Prato Consciente se transforme num símbolo contra o desperdício de alimentos.A campanha foi entretanto aplicada num refeitório de uma empresa brasileira, tendo alcançado, mais uma vez, resultados surpreendentes. Dos aproximadamente 121 quilos de alimentos deitados ao lixo todos os dias, no dia da campanha, em que os pratos do refeitório foram substituídos por Pratos Conscientes, foram deitados ao lixo apenas 58 quilos. Apesar de ainda ser bastante, o desperdício de alimentos foi reduzido para mais de metade.

PONTOS FORTES E FRACOS DO PROJETOO facto de se tratar de um objeto pequeno e de uso diário, facilitou que as pessoas admirassem e quisessem o prato, para além de fazer com que as pessoas se alimentassem de forma correta. Através do vídeo foi possível deixar claro o que acontece no mundo em relação à alimentação. Através desta campanha incentivou-se a reflexão sobre o quanto as pessoas passam fome.Além disso, a escolha musical amigável do vídeo fez com que este se tornasse ainda mais digno de ser partilhado. O pensamento por trás desta abordagem foi: “Já temos tantos factos negativos no mundo, todos os dias deparamo-nos com tragédias, porque não atingir as pessoas de forma suave?”. E foi isso que foi feito.A dificuldade sensível prendeu-se essencialmente com a logística do envio dos pratos uma vez que se tratam de um objeto frágil, e foi necessário ter um cuidado redobrado no embalamento e envio.

PRATO CONSCIENTEREVISTA IP 18NOV/DEZ 2013

INTERNACIONAL

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PRÉMIOS & INCENTIVOS

EM ABERTO

500.000 EuROS PARA QuEM APOIA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

O BPI lançou mais uma edição do Prémio BPI Capacitar para apoio a projetos que visem a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência ou incapacidade permanente.Até dia 31 de Julho, as instituições privadas sem fins lucrativos, com sede em Portugal, poderão candidatar-se à 7ª Prémio BPI Capacitar, com projetos sólidos e inovadores nesta área.O valor total dos donativos a atribuir será, no mínimo, de 500 mil euros, com um 1º prémio cujo montante poderá ir até 200 mil euros e menções honrosas até 50 mil euros cada. Os prémios são atribuídos sob a forma de donativo e sem quaisquer contrapartidas senão a própria execução do projeto. As candidaturas serão avaliadas pela sua qualidade técnica - tendo em linha de conta a relevância, fundamentação e programação dos seus objetivos, a sua abrangência em termos de população alvo e o carácter inovador da sua abordagem - e pela sua sustentabilidade – sendo valorizadas a experiência e solidez da instituição candidata, bem como a adequabilidade e exequibilidade do projeto em termos da sua aplicação de recursos humanos, materiais e financeiros. Criado em 2010, o Prémio BPI Capacitar atribuiu mais de 3,2 milhões de euros a instituições sem fins lucrativos para a implementação de 106 projetos de inclusão social, que abrangem mais de 24 mil beneficiários diretos.

100 MILHõES DE DóLARES PARA QuEM RESOLVER PROBLEMAS DO MuNDO

“Está pronto para resolver um problema?” Esta é a questão que a MacArthur Foundation está a colocar, oferecendo 100 milhões de dólares a uma proposta que consiga resolver um problema global crítico que afete pessoas, lugares ou o planeta. A competição 100&Change, é aberta a organizações com e sem fins lucrativos em qualquer campo de ação de qualquer lugar no mundo. Não é aberta a participantes em nome individual. Qualquer proposta deve conter detalhes do problema a ser resolvido, bem como a forma como o participante o pretende resolver. No vídeo de lançamento a fundação sugere muitas áreas de atuação aplicáveis como as alterações climáticas, segurança alimentar, o desenvolvimento sustentável de comunidades, saúde e diagnóstico, má nutrição, doenças crónicas, crescimento populacional, desigualdades económicas, prevenção de conflitos e governance. Contudo, as propostas para a resolução de qualquer problema serão consideradas. As inscrições estão abertas até dia 2 de setembro e as candidaturas serão aceites até dia 3 de outubro. Os semifinalistas serão anunciados em dezembro. Cada semifinalista receberá acompanhamento de uma equipa de especialistas que questionar e aconselhar os candidatos relativamente a questões técnicas e de implementação. Os finalistas serão conhecidos em meados de 2017, enquanto o grande vencedor será anunciado numa cerimónia que irá decorrer no final desse ano. A MacArtur Foundation é uma das maiores fundações do mundo, e apoia projetos de arte e cultura, comunicação, desenvolvimento económico e comunitário. O seu grande objetivo é "apoiar as pessoas criativas e instituições eficazes empenhadas na construção de um mundo mais justo, verdejante e pacífico". É possivelmente mais conhecida graças ao seu Programa de atribuição de Bolsas que reconhece mais de 25 cidadãos americanos por ano por trabalho criativo de excelência, mas apoia também organizações sem fins lucrativos em 50 países. A nova competição 100&Change será realizada a cada três anos.

ABERTAS AS CANDIDATuRAS AO PRÉMIO CIDADES ACESSíVEIS 2017

Estão abertas as candidaturas ao Prémio Cidades Acessíveis, até dia 8 de setembro. Trata-se de uma competição europeia que visa premiar as cidades empenhadas em proporcionar um ambiente acessível para todos, em especial para as pessoas portadoras de deficiência. O candidato deverá ser uma entidade governamental de uma cidade com pelo menos 50.000 habitantes de um dos Estados-Membros da união Europeia, que promova iniciativas que melhorem a acessibilidade para pessoas com deficiências em 4 grandes áreas: Construções e espaços públicos; Transportes e infraestruturas relacionadas; Informação e comunicação, incluindo Tecnologias da Informação e Comunicação; Instalações e serviços públicos. As candidaturas deverão ser submetidas através do preenchimento de um formulário eletrónico disponível nas línguas inglesa, francesa e alemã. A qualidade linguística não afeta a avaliação das candidaturas. O conteúdo das atividades na área da acessibilidade é o fator determinante para a conquista do prémio por parte das cidades candidatas. Os finalistas serão convidados a estar presentes na cerimónia de entrega do prémio, que terá lugar durante a edição anual da Conferência do Dia Europeu das Pessoas com Deficiência, em Bruxelas, no dia 29 de novembro de 2016. Em 2016, o primeiro prémio foi para Milão (Itália), o segundo para Wiesbaden (Alemanha), e Toulouse (França) ficou em terceiro lugar e obteve uma menção honrosa. Foram ainda atribu+idas duas menções honrosas à cidade de Vaasa (Finlândia) e Kaposvár (Hungria).

PRÉMIO VOLuNTARIADO JOVEM MONTEPIO: CANDIDATuRAS ABERTAS

Foi lançada a VI edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio, um prémio no valor de 5 mil euros, destinado a associações juvenis, associações de estudantes ou organizações sem fins lucrativos que desenvolvem projetos com jovens. O objetivo do Prémio é estimular a criação de projetos inovadores de voluntariado jovem, bem como a promover o empreendedorismo em prol do voluntariado. As candidaturas devem ser formalizadas até 21 de julho, através do envio de documento de informação genérica sobre a organização, documento de informação sobre a vertente de voluntariado na organização, bem como de documento de caraterização da equipa de jovens que, no caso de seleção, participará no “Dia do Voluntariado Jovem”. Sustentabilidade, motivação, participação e localização dos projetos a implementar, são critérios privilegiados para a seleção das cinco candidaturas finalistas, que serão anunciadas na primeira quinzena de setembro. As associações juvenis, associações de estudantes ou organizações sem fins lucrativos que desejem candidatar-se ao Prémio Voluntariado Jovem deverão consultar o respetivo regulamento e preencher o formulário de candidatura. A candidatura e respetiva documentação deverá ser enviada, até 21 de julho, para o email [email protected].

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PRÉMIOS & INCENTIVOS

Já ATRIBUÍDOS

FROTA SOLIDáRIA ENTREGuE A 18 IPSS’S

A Frota Solidária foi etregue no passado dia 14 de julho pela Fundação Montepio, no Mercado da Vila, em Cascais contando com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, e do Conselho de Administração da Fundação Montepio. Este é um importante projeto de cidadania que beneficiará com veículos automóveis especiais e adaptados, 18 IPSS’s das 513 que se candidataram à edição de 2015/2016.Braga, Açores, Madeira, Coimbra, Bragança, Setúbal, Vila Real, Lisboa, Aveiro e Castelo Branco são alguns dos destinos para as viaturas que serão entregues na 9.ª edição da Frota Solidária, que regressa à estrada para responder às necessidades de idosos, crianças, cidadãos sem-abrigo ou portadores de deficiência. A Fundação aplicou 467.000 euros na aquisição e adaptação das viaturas, 280 mil euros por via da Consignação Fiscal. “Pelo facto de este montante ter sido entregue, pelos contribuintes, ao cuidado e gestão da Fundação Montepio, decidiu esta instituição de utilidade pública devolvê-lo à sociedade civil, através da aplicação do referido montante na aquisição de veículos”, pode ler-se em comunicado de imprensa. Desde 2008, a Frota Solidária entregou 162 viaturas solidárias a igual número de IPSS sempre com a missão de apoiar a mobilidade, a inclusão e o combate ao isolamento e à desertificação, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva, coesa e solidária.

Já SÃO CONHECIDAS AS IDEIAS DE ORIGEM PORTuGuESA VENCEDORAS

O projeto Guardiãs do Mar, que pretende proteger o rio Sado e promover o emprego das mulheres pescadoras, venceu o FAZ 2016, anunciou a Fundação Gulbenkian, promotora do concurso de ideias dirigido à diáspora portuguesa. O projeto Guardiãs do Mar – que recebeu 25 mil euros – aborda a temática ambiental e social em conjunto, tendo a pretensão de “responder ao problema da degradação e destruição das pradarias marinhas” e ao seu “impacto no declínio da população de golfinhos do Sado”, por um lado, e combater o desemprego e a “desvalorização social e cultural das mulheres pescadoras”, por outro.Em segundo e terceiro lugares ficaram, respetivamente, o projeto Vtree Solar (15 mil euros), que pretende plantar “árvores” com internet sem fios (wifi), alimentadas por painéis de energia solar fotovoltaica, nos espaços públicos urbanos de grande circulação, e a ideia Jazz’aqui (10 mil euros), que quer promover o jazz português, através de residências artísticas e da criação de um festival de jazz itinerante fora de Portugal.Augusto Pinho, emigrante no Canadá e criador da “Direct Poultry”, empresa de transformação alimentar e comercialização de menus pré-cozinhados e ultracongelados, foi distinguido com o Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa instituído pela COTEC. Os prémios da quinta edição do concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa, iniciativa da Gulbenkian e da COTEC Portugal, foram entregues pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.O concurso no qual pelo menos um dos membros de cada equipa concorrente deverá ser emigrante ou lusodescendente, recebeu 53 candidaturas, que envolveram participantes de 20 países.

ENTREGuES OS PRÉMIOS yOuNG VOLuNTEAMDecorreu no início de julho na Culturgest a cerimónia final do young VolunTeam (yVT) 2015/2016, programa de responsabilidade social da CGD em parceria com a ENTRAJuDA e o apoio da Direção Geral de Educação, que já envolveu 2.185 jovens líderes “embaixadores“ e mais de 9.000 alunos em ações de voluntariado. O programa impactou cerca de 70.000 alunos do secundário e recebeu 31.910 gostos no Facebook, aliás o ponto de encontro privilegiado deste programa. Hoje, foram entregues prémios às cinco escolas vencedoras desta edição. A Escola Secundária Jacôme Ratton conquistou pelo envolvimento e forte mobilização da comunidade no seu Mercado Solidário. À Cooperativa de Ensino Didáxis, distingue-se a sua criatividade, pelo desenvolvimento das taças antibacterianas contra a propagação de doenças entre os animais e a organização das férias divertidas, em cada período de interrupção escolar. À Escola Básica e Secundária de São Roque do Pico, destaca-se o foco na continuidade do projeto e o seu compromisso com o futuro. À Escola Secundária Fernão Mendes Pinto, reconhece-se o espírito crítico dos seus Voluntários bem como o empenho no desenvolvimento de competências, premiando a sua capacidade organização e desenho de projeto. Por fim, mas não menos importante, o grupo da Escola Técnica Profissional do Ribatejo como melhor comunicador, pela aposta na partilha e dinamização do facebook. Desde o seu arranque, o Programa yVT ajudou a que 443 escolas promovessem cerca de 1500 ações, campanhas e projetos, permitindo apoiar 1000 entidades.

PRÉMIO CALOuSTE GuLBENKIAN ENTREGuE NO DIA EM QuE A FuNDAÇÃO CELEBROu 60 ANOS

No dia em que se celebraram os 60 anos da Fundação Calouste Gulbenkian (20 de julho) foi também entregue o Prémio Calouste Gulbenkian 2016 à Fundação Amazonas Sustentável, organização ambiental brasileira que se tem destacado na defesa da floresta do Amazonas e das suas comunidades. O Prémio, no valor de 250 mil euros, foi entregue, no Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação, em Lisboa, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, seguindo-se um concerto pela Orquestra Gulbenkian. A Fundação Amazonas Sustentável é uma organização brasileira não-governamental sem fins lucrativos, que tem como missão a defesa e a valorização da floresta, através do envolvimento sustentável, da conservação ambiental e da melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas do Estado do Amazonas. O júri, presidido por Jorge Sampaio, teve em consideração a importância das questões ambientais, enaltecendo a escolha da Fundação Amazonas Sustentável, por esta representar “um sinal forte” em relação a um ano marcado por um acordo histórico, sobre as alterações climáticas. Este acordo foi negociado em dezembro passado, em Paris, e assinado a 22 de abril, nas Nações unidas, por um número recorde de países, incluindo os EuA e a China, os maiores poluidores do mundo, e visa diminuir o aquecimento global do planeta. A Fundação Amazonas Sustentável – criada em 2007 pelo Banco Bradesco, em parceria com o Governo do Estado do Amazonas – tem vindo a desenvolver um conjunto de programas que, em 2015, envolveram 574 comunidades, beneficiando mais de 40 mil pessoas, segundo a Gulbenkian.

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JÁ VIU?

SITES

Playing for Change é um movimento criado com o intuito de inspirar, ligar e trazer paz ao mundo. A ideia deste projeto surgiu da crença comum e universal de que a música tem o poder de quebrar fronteiras, superar as distâncias e atenuar diferenças entre pessoas. Aqui não importa se as pessoas vêm de diferentes origens geográficas, políticas, económicas, espirituais ou ideológicas, a música tem o poder transcendental de unir a raça humana. É esta a verdade por trás da partilha imensamente rica registada neste site que conta com o envolvimento de crianças e adultos, famosos e desconhecidos, dos quatro cantos do mundo que acreditam e fazem acreditar que é possível mudar o mundo através da música. Deixe-se inspirar.https://playingforchange.com/

Playing for Change

Causes

Causes é um sítio para descobrir, apoiar e organizar campanhas, angariações de fundos, petições, à volta dos temas que mais interessam, onde quer que se esteja, com impacto para cada um de nós e em cada comunidade. Depois de criar um perfil onde revela aquilo com que se preocupa, cada utilizador poderá associar-se a amigos, líderes e comunidades prontos a ajudar, para que juntos possam encontrar uma solução mais rápida e eficaz para problemáticas sociais, políticas e culturais. www.causes.com

On Being é uma premiada rádio pública, um premiado site e organizador de eventos nascido para explorar as animadas questões que estão no centro da humana: o que é que significa ser humano, e como queremos viver? On Being aprofunda estas questões, tendo em conta a sua complexidade e riqueza, em pleno século XXI, em busca da sabedoria, da imaginação e do conhecimento. Vale pena estar atento e ir seguindo os textos e podcasts que preenchem o dia-a-dia de On Being. www.onbeing.org

Esta agência britânica trabalha com empresas, empreendedores e organizações sem fins lucrativos com a missão de criar a mudança e de os destacar para gerarem impacto real. Para além de uma série de serviços como a criação de marcas, o desenvolvimento de estratégias de comunicação ou encontrar soluções para grandes desafios, a Greenhouse tem um extraordinário blog e uma newsletter fantástica e muito "trendy" que pode receber na sua caixa de email todo os dias de manhã, com partilha de experiências e notícias frescas dos mais importantes canais de comunicação mundiais sobre ambiente e sustentabilidade.http://greenhousepr.co.uk/blog

On Being

Greenhouse

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JÁ VIU?

FONTES

A história da adolescente de 17 anos que sobreviveu a um ataque da Al-Qaeda para defender o direito à educação, galardoada com o prémio Nobel da Paz em 2014, chega ao grande ecrã com o documentário ‘He Named Me Malala’ , de Davis Guggenheim “O meu pai deu-me o nome Malala, mas não fez de mim Malala”, ouve-se no trailer do documentário. Recorde-se que Malala foi baleada na cabeça aos 15 anos quando regressava da escola porque defendia que as meninas deviam estudar. Hoje a jovem é uma das ativistas mais proeminentes na defesa do direito à educação.

O criador das bases da enfermagem moderna Florence Nightingale, Michael young, inventor de conceitos como universidade aberta e associações de consumidores ou São Francisco de Assis são três dos exemplos de empreendedores sociais possíveis de encontrar no Manual para transformar o mundo, uma ferramenta para pessoas com ideias que resolvam problemas sociais e que está novamente disponível numa 2ª edição revista e melhorada. Em dez etapas, com capítulos dedicados ao Empreendedor, ao Problema, ao Valor, à Solução, à Sustentabilidade, ao Impacto, à Integração, ao Piloto, à Viabilização e à Comunicação, este guia propõe uma metodologia que desafia a repensar a forma como se constroem soluções para problemas negligenciados da sociedade, disponibilizando as ferramentas e o conhecimento necessários para a construção de um projeto de empreendedorismo social. Disponível na livraria da Fundação Calouste Gulbenkian.

Human é um documentário, uma coleção de histórias e imagens sobre o nosso mundo, que nos leva ao centro da questão: o que significa ser humano. Através destas histórias cheia de amor e felicidade, mas também de ódio e de violência, HuMA N leva-nos a estar frente a frente com o Outro, fazendo-nos refletir sobre as nossas vidas. De histórias de experiências do dia-a-dia às histórias de vida mais inacreditáveis, estes encontros comoventes partilham uma sinceridade rara e sublinham quem somos nós - o nosso lado mais sombrio, mas também o que de mais nobre há em cada um e o que é universal. O nosso planeta é aqui revelado na sua forma mais sublime e como nunca antes foi visto. A música o longo de toda esta viagem é magnífica. O resultado é uma ode à beleza do mundo, que nos leva a respirar e a uma introspeção que se impõe. Existem 11 variações do filme, com diferentes durações, por temas, para serem vistas nos cinemas, na televisão, e na web através do youtube e Google Play gratuitamente. A aventura de Human, até já deu origem a um Movimento cívico. Saiba tudo em www.human-themovie.org

«Transforming our World: the 2030 Agenda for Sustainable Development» é o documento formalmente adotado por 193 países (inclusive Portugal), na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da ONu, realizada em Nova Iorque, entre 25 e 27 setembro de 2015. A partir da adoção desta nova agenda pós-2015 dá-se início a um novo processo – o da implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. A mesma agenda vigorará durante os próximos 15 anos e ditará, em larga medida, a definição das políticas para o desenvolvimento, assente em 17 objetivos e respetivas metas e indicadores. Pode descarregar o documento na íntegra a partir do site https://sustainabledevelopment.un.org.

Documentário “he named me Malala”

Manual para Transformar o Mundo (2ª edição), IES Social Business School

human, de Yann Arthus-Bertrand

Nova Agenda2030 para o Desenvolvimento Sustentável

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JÁ VIU?

LEGISLAçãOLEGISLAçãO

Empresa Social, Investimento Social e Responsabilidade pelo Impacto

uMA BREVE INTRODuÇÃOPode dizer-se, de modo simplificado, que a Economia Social e o seu modelo de financiamento assentam em duas tradições distintas, que surgem, não obstante, quase sempre combinadas ainda que em proporções cambiantes. Por um lado, temos a tradição caritativa, mais antiga, que no mundo ocidental é maioritariamente encarnada pela beneficência de matriz católica e que sustenta uma economia social composta por instituições de solidadariedade social cujo financiamento depende sobretudo de disponibilidade filantrópica. Este modelo contrapõe-se, por outro lado, a uma tendência mais recente de investimento social, em que se utilizam os ensinamentos da intervenção em mercados concorrenciais e a necessária análise de risco e de resultados para estimar o impacto conseguido pelo investimento e assim criar um ecossistema de entidades que competem pelos melhores resultados sociais. A combinação de ambos os modelos ou a preferência clara e explícita pelo segundo implica uma visão sobre o modo como as entidades que prosseguem atividades com fins sociais devem organizar-se e desenvolver o seu trabalho. Para reflexão, em grande parte motivada pela emergência do segundo modelo de financiamento da economia social que acima apresentei, fica a questão de saber quais as formas jurídicas que devem admitir-se na prossecução de fins sociais, em especial quando investidores tradicionais pretendem divergir os seus interesses para áreas de impacto social esperando aí encontrar, pelo menos em parte, entidades que se organizem e desenvolvam através de modelos jurídicos e de negócio semelhantes aqueles que os investidores conhecem dos mercados onde já operam. Nasce a referência ao que vem sendo designado como empresa social.

CONTEXTO NO âMBITO DAS POLíTICAS PúBLICASSe a história da empresa social em Portugal nos mostra algo é a confirmação de dois modelos de economia social. Por um

Por Domingos soares FarinhoProfessor Auxiliar, Instituto de Ciências jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da universidade de LisboaAdvogado, Área de economia e Investimento social,

vieira de Almeida & Associados

lado, encontramos a empresa social de tipo empresa de inserção que, embora com este nome por influência do direito da União Europeia, nunca deixou de se consubstanciar através do modelo tradicional da instituição particular de solidariedade social, quer nas modalidades de misericórdias e mutualidades, quer nas modalidades de associações ou cooperativas de solidariedade social. Por outro, encontramos a empresa social de tipo empresa em carteira elegível. Faz sentido olharmos com um pouco mais de atenção para as características que o Regulamento (UE) n.º 346/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho imputa ao conceito de “empresa em carteira elegível”. São de notar vários aspetos interessantes nesta noção legal que refletem uma orientação de política pública que deve ser prosseguida pelas autoridades portuguesas:− Em primeiro lugar a noção de empresa social que emerge a partir da noção de “empresa em carteira elegível” é bastante mais ampla que a mais antiga noção de empresa social de inserção, que é totalmente consumida pelo primeiro travessão do ponto ii) da alínea d) do n.º 1 do artigo 3.º do Regulamento, o que por sua vez também está em linha com a noção ampla de empresa social adoptada pela União Europeia.− Em segundo lugar, esta noção de empresa social, recortada a partir do regime dos fundos de empreendedorismo social, demonstra a plasticidade da noção para se adaptar a um domínio tradicionalmente ausente das preocupações associadas ao modelo caritativo da economia social.− Em terceiro lugar e justamente devido à influência do modelo de investimento social e de avaliação de impacto, o legislador europeu dá particular atenção ao governo deste tipo de empresas, o que coloca uma ênfase na tarefa regulatória a desempenhar pelas autoridades portuguesas.

Domingos Soares Farinho

REVISTA IP 31JAN/FEV 2016

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JÁ VIU?

“Para conseguir concretizar esta visão inovadora de empreendedorismo social, as políticas públicas e o direito têm uma palavra importante a pronunciar: empresa social.”

A empresa social, evidentemente, no âmbito de uma política pública concertada e unitária, pode e deve servir outras iniciativas plasmadas em regimes jurídicos ainda por desenvolver e referidos na Lei de Bases da Economia Social. Na verdade todas as políticas públicas que tenham por objectivo promover o desenvolvimento da economia social através de mecanismos de mercado clássicos sob formas empresariais devem convergir e ter como referência uma noção jurídica-formal de empresa social, cumprindo o dever previsto para os poderes públicos na alínea c) do n.º 2 do artigo 10.º da Lei de Bases da Economia Social.

O DIREITO A CONSTITuIR Num contexto de desenvolvimento de uma política pública de promoção da empresa social, o que cabe ao direito no que diz respeito à política legislativa? Em primeiro lugar, parece-me que a importância que é dada pela Comissão Europeia à noção de empresa social e que Portugal reconhece na sua Lei de Bases da Economia Social, ainda que sem utilizar essa designação (que caiu na Assembleia da República aquando da discussão na especialidade) recomenda um tratamento normativo da figura. Em segundo lugar, e consequentemente, tal regime jurídico das empresas sociais deve ser neutro quanto à forma jurídica e agregador de regimes jurídicos, focando-se exclusivamente, nas características da empresarialidade social. Este regime jurídico deve ser uma oportunidade para trazer para o domínio normativo os aspetos inovadores da atuação na economia social através de mecanismos de mercados adaptados às características deste tipo de economia. Estou sobretudo a pensar no que diz respeito ao modo de organização e funcionamento destas empresas, nas regras de bom governo e de delimitação do seu escopo, no modo de financiamento destas entidades e na abertura a mecanismos de financiamento privado que compensem o predomínio do setor público. No caso de um regime jurídico da empresa social e tendo em conta o enquadramento provido pela Lei de Bases da Economia Social e outros aspetos do nosso sistema jurídico, ele deverá conter:− Uma noção legal de empresa social que permita a delimitação do âmbito normativo do regime para efeitos de imputação de outros regimes jurídicos. Essa noção legal deverá estar em linha com a noção de empresa social da Comissão Europeia, devendo acompanhar a noção resultante da alínea d) do n.º 1 do artigo 3.º do Regulamento CE n.º 346/2013 (embora sem a limitação às sociedades comerciais) e que foi utilizada parcialmente no n.º 1 do artigo 4.º da Lei n.º 18/2015;− A admissibilidade de todos os tipos de pessoas coletivas como empresas sociais desde que subsumíveis à noção legal;− Uma limitação legal à distribuição de lucros para as empresas sociais que se queiram constituir como sociedades comerciais. Essa limitação deverá ter como limite máximo os 50% e ser fixado

em articulação com os critérios mensuráveis que determinem a qualificação como empresa social;− A previsão da renovação regular (períodos de 3 ou 4 anos) do estatuto de empresa social através da verificação do preenchimento de critérios mensuráveis, onde avulte a avaliação de impacto social;− A criação de uma referência autónoma às empresas sociais na base de dados da economia social;− A previsão obrigatória de um órgão consultivo, e com eventuais direitos de participação negativos, integrado por partes interessadas (quer internas quer externas) relevantes para os fins prosseguidos pela empresa. CONCLuSõESA economia social é uma parte importante da economia que, como tal, partilha das suas características comuns, embora convoque aspetos novos. Um desses aspetos inovadores é o enfoque no retorno social mais do que no retorno financeiro. Mas este enfoque significa combinação e não exclusão. Significa combinar modos de organização e processos típicos das empresas que buscam o lucro, como fim da sua atividade ou do seu investimento, com modos de organização e processos que maximizem o retorno social, medido de forma rigorosa e objetiva. Esta combinação, sem descartar os modelos clássicos de organização e funcionamento não-lucrativo, assentes em contribuições caritativas e beneficentes, surge a partir de modelos desenvolvidos e experimentados em mercados competitivos adaptados às necessidades a satisfazer para obter os impactos sociais pretendidos e, caso tal seja previsto, a margem de lucro complementar desejada. Para conseguir concretizar esta visão inovadora de empreendedorismo social, as políticas públicas e o direito têm uma palavra importante a pronunciar: empresa social. Ela deve ser o pólo agregador desta visão e também o motor da sua prossecução. Falando a linguagem dos empresários e dos investidores dos mercados clássicos e mais sofisticados, mas apelando também à experiência tradicional nos propósitos reformadores da economia social, a empresa social pode ser o chapéu jurídico-político de que muitos empreendimentos sociais necessitam para conseguir mais e melhor financiamento, mais e melhor escrutínio da sua atividade e mais e melhor desempenho e impacto social.

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ARTIGO TÉCNICO

Networking: o caminho para a inovação e o impacto

No início dos anos 80, Manuel Castells descreveu o poder das redes, e a forma como foram fundamentais para a construção da sociedade contemporânea, que definiu como a “sociedade em rede”. As redes baseadas em novas tecnologias têm desempenhado um papel central em todas as revoluções ocorridas na última década. Para além de terem sido a base de revoluções de várias cores depois do desmantelamento da URSS, onde os media, o twitter e os telemóveis foram as armas com que as pessoas se conectaram para evitar a censura de governos e polícias, também revolucionaram a política amadurecendo as democracias. Todavia, é frequente ouvir que o trabalho em rede é uma perda de tempo e não é trabalho “a sério”. Parece que o Terceiro Setor é indiferente ao poder da rede. Profissionalismo parece ser definido como “sujar as mãos” acima de tudo o resto. Os doadores também não ajudam. As agências de apoio são resistentes aos financiamentos em rede e as organizações da sociedade civil têm sempre de montar um projeto ou uma conferência para garantirem financiamento da Comissão Europeia que, raramente, financia os custos de desenvolvimento ou de gestão de uma rede. Apenas algumas fundações americanas têm assumido este risco. O Civil Society Contact Group, uma plataforma europeia que congrega ONG de diferentes redes especializadas em áreas como o ambiente, os serviços públicos, os direitos humanos e o desenvolvimento, tem sido financiado pela Charles Stuart Mott Foundation e pelo Open Society Institute há muitos anos. Neste contributo, pretendo argumentar que, ao contrário, na nossa sociedade em rede o trabalho em rede tornou-se o core business de qualquer organização ou profissional. Este tipo de trabalho é o caminho para construir a infraestrutura necessária para a partilha de conhecimento, a construção de parcerias além-fronteiras, a avaliação e o apoio dos pares, assim como standards para a indústria. O trabalho em rede é o caminho mais rápido para a inovação e o impacto. O meu testemunho é baseado na experiência. Assim, vou apresentar exemplos, e não apenas teoria, para comprovar a minha tese.

1) TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO Tatiana van Lier lidera a ACLEU, uma organização que tem como objetivo replicar noutros países uma história de sucesso de uma lotaria de códigos postais capaz de aumentar as doações filantrópicas. Van Lier foi trabalhando proactiva e internacionalmente em rede nas últimas décadas com o objetivo de identificar pessoas e países onde fosse possível utilizar este modelo. Nos últimos cinco a lotaria dos códigos postais tinha sido introduzida na Suécia e no Reino Unido. A lotaria sueca

Por Filippo Addarii, Euclid Network1

gerou 100 milhões de euros para organizações sócio caritativas nos últimos quatro anos e as lotarias escocesa e inglesa geraram 6 milhões de libras. Num evento em Lisboa conheci a Tatiana que está agora a liderar o projeto na Eslovénia. Uma história similar aconteceu a Primoz Sporar, diretor de um centro de informação legal para ONG na Eslovénia, e a John Low, CEO da Charity Aid Foundation (CAF), outra instituição financeira britânica dedicada a gerir mais de 1 bilião de libras de donativos todos os anos. Primoz e John conheceram-se numa mesa redonda sobre inovação no financiamento do sector organizada pelo Parlamento Europeu. Primoz levou a ideia da CAF e apresentou-a ao governo Esloveno para que pudesse melhorar o ambiente filantrópico local. Atualmente, a CAF já replicou este modelo em sete países incluindo a Bulgária, a Rússia, a Índia e o Brasil.

2) PARTILHA DE CONHECIMENTO Valerio Melandri, Diretor da fundraising School em Forlí e fundador do festival de angariação de fundos em Itália, foi convocado pelo tesouro italiano para o aconselhar na revisão da legislação sobre apoios fiscais às doações filantrópicas. Valerio teve apenas duas semanas para preparar o artigo sem direito a orçamento para investigação. Melandri lançou um apelo a todas as redes de organizações da sociedade civil. Em menos de duas semanas conseguiu angariar 30 casos de diferentes países industrializados incluindo dos EUA e da Coreia. Valerio foi capaz de provar os benefícios de melhorar a legislação usando exemplos concretos. Uma semana depois, Brigitte Brekke, CEO da Plataforma Norueguesa das ONG, usou o mesmo sistema. Ela respondeu ao apelo do Valerio Melandri e percebeu a simplicidade e o valor do sistema. Assim, usou-o nos seus acordos com o Governo Norueguês. Em ambos os casos a legislação nacional melhorou. 3) CONSTRuINDO PARCERIAS A União Europeia é famosa pelo seu programa Erasmus sobretudo pela oportunidade que dá a jovens universitários de

1. Atualmente, Fillippo Addarii trabalha na PlusValue (www.plusvalue.org), negócio social dedicado à investigação e consultoria especializado em estratégias de impacto social.

REVISTA IP 4JuL/AGO 2011

Filippo Addarii

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ARTIGO TÉCNICO

estudarem noutros países europeus. No entanto, este tipo de oportunidades está bastante limitado para quem está a trabalhar no terreno. Recentemente, foram realizadas experiências-piloto no sentido de testar o valor desta experiência em profissionais. A Comissão Europeia acabou por lançar um Erasmus para jovens empreendedores. Envolvido num destes pilotos do programa Erasmus para jovens Empreendedores, Zsolt Mohacsi, um profissional júnior do Terceiro Setor teve a oportunidade de desenvolver as suas competências através de um intercâmbio de um mês no projeto AHEAD, uma empresa social sedeada em Nápoles (Itália). Este intercâmbio levou a uma colaboração entre Budapeste e Nápoles. Em menos de três meses a organização húngara de Zsolt e a empresa social italiana submeteram três candidaturas conjuntas e começaram a trabalhar numa estratégia comum para expandirem a respetiva atividade na Roménia, Eslováquia e Ucrânia. Apenas um mês de colaboração “frente-a-frente” contribuiu para a consolidação de uma relação de confiança tão forte que abriu novas oportunidades para ambas as organizações. 4) DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA Entrar para uma rede ou o intercâmbio com outros profissionais são oportunidades de aprender mesmo para aqueles com mais experiência: é sempre uma oportunidade de aprendizagem pessoal e profissional. A melhor história que já li foi escrita por Jim Baker, um experiente ativista social britânico na área dos direitos das minorias no domínio laboral e agora CEO da “Age Concern Brighton”. Jim envolveu-se numa atividade de trabalho em rede na Albânia. Podem pensar que um experiente CEO britânico não deve ter muito para aprender, especialmente num país em vias de desenvolvimento, mas é exatamente o oposto. Como escreveu no seu relatório final, foi na Albânia que redescobriu a paixão, raiz da sociedade civil, necessária para conectar com a rede que constitui o seu próprio trabalho. Parece que isto continua esquecido em algumas organizações da sociedade civil de países bem desenvolvidos. Outra história similar foi vivida por Hans Wolters, na altura CEO da Resource Alliance uma das maiores organizações de angariação de fundos no mundo, quando esteve envolvido num processo de formação em defesa de causas para organizações da sociedade civil na Ucrânia. Hans voluntariou-se e a sua tarefa não esteve diretamente relacionada com a sua profissão. Todavia, ele encontrou uma experiência recompensadora, como ele próprio a definiu, na medida em que lhe deu a oportunidade para aproveitar novos desafios e usar a sua experiência em contextos diferentes com jovens extremamente comprometidos.

5) ACESSO AO PODER O trabalho em rede também é a forma mais antiga de fazer contactos nos corredores do poder. Gorka Espiau, líder das relações internacionais do Social Innovation Park em Bilbau, conheceu Paul Adamson, conhecido por ser o lobbyista mais influente em Bruxelas, num evento recente e conseguiu, através dele, obter o número de telemóvel de todos os comissários europeus. Gorka é igualmente fundador do Think-to-do-tank “The Centre” – recentemente comprado por Edelman – e é editor no E! Sharp. Paul ficou tão impressionado com a apresentação do Innovation Park que se ofereceu para o apresentar ao comissário para a Inovação e a investigação. Umas semanas depois, a equipa líder do Park esteve no Gabinete do Comissário a discutir como disseminar esta história de sucesso pelo resto da Europa.

6) MASSA CRíTICA Finalmente, não posso esquecer a história que me tem como personagem principal. Pela primeira vez lidero uma coligação da sociedade civil que forçou a Comissão Europeia a discutir como melhorar a regulação financeira, i.e. a regulação aplicada a todos os fundos desembolsados pela Comissão Europeia todos os anos – mais de 150 milhões de euros. A coligação teve sucesso porque alavancou os seus contactos dentro das instituições europeias e na comunidade com funções de advocacia ou defesa de causas sedeadas em Bruxelas. Uma vez que a Comissão não quis discutir este assunto, a coligação levou a cabo uma consulta independente para apurar as falhas na regulamentação europeia dos fundos, fazendo um levantamento exaustivo das contribuições dos países europeus e não só. Os resultados foram usados para persuadir a Comissão no sentido de criar um grupo de trabalho que envolvesse, simultaneamente, elementos oficiais e da sociedade civil, assim como lançar um processo de consulta pública. A coligação ainda funciona na melhoria da legislação tendo granjeado o apoio transversal de todos os sectores. Esperamos uma alteração histórica até ao final do próximo ano estabelecendo um precedente na forma de fazer política pública. Apesar da especificidade de cada história, todas ilustram o mesmo conceito: todos conseguimos encontrar valor acrescentado através de conexões para além dos limites culturais, geográficos, profissionais e geracionais. É aí que reside a inovação. Temos que assumir o risco.

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ARTIGO TÉCNICO

A “crise dos refugiados” e o conceito de “segurança humana”

Poucos dias após os atentados de 13 de Novembro em Paris, vinte e um Estados norte-americanos vieram anunciar que iriam suspender o programa de acolhimento de refugiados sírios, invocando, para tal, razões de segurança. Também pela Europa se vão ouvindo vozes que apelam ao fecho das fronteiras e ao fim do acolhimento de quaisquer imigrantes. As razões são idênticas às apresentadas do outro lado do Atlântico: a segurança dos cidadãos. Pela mesma razão – a segurança humana - cerca de 70.000 sírios abandonam o seu país a cada mês e encetam uma longa e perigosa viagem até um destino que lhes possam trazer a segurança que perderam em suas casas. Mas que conceito de segurança humana é este que, se por um lado legitima e justifica a existência destes fluxos migratórios, por outro lado os condena a serem vistos como uma ameaça aos países de acolhimento?

No início dos anos 90 do século passado, no “pós-guerra fria”, a segurança deixou de ter uma conceção puramente militarista e centrada no Estado para se focar mais no indivíduo e no seu bem-estar. Em 1993, a Declaração de Bona sobre a Segurança Humana definia este conceito como “a ausência de ameaça à vida humana, estilo de vida e cultura, através da satisfação das necessidades básicas”. Em 1994, o relatório do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) atribuía uma importância universal ao conceito de segurança humana, advogando que as ameaças como o desemprego, a criminalidade e o terrorismo, a toxicodependência, a poluição e a violação de direitos humanos são comuns a todo o mundo e que, ainda que se verifiquem apenas em alguns países, as suas consequências têm o potencial de se estender a muitos outros, não se confinando a fronteiras geográficas ou políticas. Assim, e na senda da proteção desta “segurança humana”, devem privilegiar-se ações com vista à prevenção da ocorrência de tais ameaças e, nestas ações, devem participar todos os países. As ações de prevenção devem focar-se no indivíduo, pois é nas pessoas e como elas vivem que se centra o conceito de segurança humana. Em 2001, a Organização das Nações Unidas estabeleceu a Comissão para a Segurança Humana e, em 2004, a Unidade para a Segurança Humana que tem como objetivo a gestão do Fundo Fiduciário das Nações Unidas para a Segurança que, desde a sua criação em 1999, já financiou mais de 175 projetos em cerca de 70 países.

O conceito de segurança humana - apesar de não haver ainda um acordo quanto ao seu conceito final, entendendo-se, todavia, que ele representa um leque mais restrito de direitos humanos que se consideram basilares a uma vida digna – tem sido, para alguns países, o farol condutor das suas políticas externas e de assistência internacional e humanitária, e de programas políticos no campo da segurança. Todavia, e olhando para o atual panorama daquela a que se apelidou de “crise dos refugiados”, podemos afirmar, sem reservas, que o conceito de “segurança humana” enquanto projeto coletivo com vista a assegurar o bem-estar das pessoas, falhou. E falhou em várias frentes, quanto aos requerentes de asilo e refugiados e quanto às populações dos países de acolhimento.

Falhou, desde logo, em países como a Síria, a Eritreia, o Afeganistão e todos os outros países de onde são originários a maioria dos migrantes que hoje chegam, ou tentam chegar, à Europa. É a situação de guerra e violência – que nenhum país se mostrou efetivamente empenhado em

Por Rute Baptista

envidar esforços para evitar ou apaziguar - que motiva milhares de homens e mulheres da Síria a fugirem do seu país, levando com eles bebés e crianças para uma viagem onde a sobrevivência é uma incógnita. É a situação de violação massiva de direitos humanos – a que a comunidade internacional continua a querer ignorar - que motiva milhares de eritreus a abandonarem o seu país. O mesmo exercício se poderia continuar a fazer, aqui, relativamente ao Afeganistão e demais países de onde fogem, todos os dias, centenas ou milhares de pessoas. É por se sentirem absolutamente inseguros e sem condições minimamente dignas para aí continuarem a viver, que os migrantes, que hoje formam a grande massa humana de refugiados de que todos os dias se fala na comunicação social, abandonam os seus países de origem.

O projeto “segurança humana” continua a falhar quando a União Europeia não cria um canal seguro de passagem dos refugiados, expondo-os a viagens extremamente perigosas onde muitos homens, mulheres e crianças têm perdido as suas vidas. A falência do projeto “segurança humana” é ainda visível quando os países de acolhimento negam a concessão “prima facie” de estatuto de refugiado, apesar da orientação nesse sentido do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados em situações de grande massa de pessoas que foge do seu país por causa de uma guerra e perante a incapacidade de conduzir entrevistas individuais a todos os que buscam proteção internacional. A espera dos requerentes de asilo expõe-nos às mais diversas inseguranças; doenças, violência, fome, etc. Vários têm sido os relatos de organizações humanitárias que apontam práticas, a países como a Turquia e Marrocos, que violam o Direito Internacional. A Turquia tem detido migrantes e requerentes de asilo sem permitir o seu acesso à defesa de um advogado, forçando o seu retorno aos países de origem. Marrocos tem sido acusado de maus-tratos de pessoas que tentam saltar as cercas que rodeiam os

Rute Baptista

REVISTA IP 30NOV/DEZ 2015

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ARTIGO TÉCNICO

enclaves espanhóis. Da mesma forma, em solo europeu, os requerentes de asilo (incluindo crianças e bebés recém-nascidos) têm sido maltratados, vendo-se muitas vezes confinados entre fronteiras, durante longas horas, à chuva e sem acesso a alimentos e bebidas. A falência do projeto alicerçado no conceito de “segurança humana” estende-se também aos países de acolhimento de refugiados. Mais do que a fome, é a exclusão social - uma das maiores ameaças das sociedades ocidentais dos países desenvolvidos - que torna muitas pessoas mais suscetíveis a discursos extremistas e a serem recrutados para atos terroristas. Aliás, os recentes ataques em Paris demonstram isto mesmo. As informações veiculadas até ao momento indicam que todos os terroristas envolvidos são cidadãos da União Europeia, nascidos em solo europeu, que viviam em zonas consideradas socialmente problemáticas. Todavia, os países de acolhimento continuam a ver os refugiados e requerentes de asilo como uma ameaça à sua segurança e coesão social, justificando, assim, a restrição de políticas de acolhimento de refugiados, promovendo sentimentos de ódio, racismo e discriminação contras as comunidades de migrantes de uma determinada nacionalidade ou origem étnica ou religiosa. Mesmo quando lições do passado parecem querer indicar noutro sentido: de todos os 784 000 refugiados que os Estados Unidos da América acolheram desde os eventos do 11 de Setembro, apenas 3 destes foram presos por acusações de planeamento de atos terroristas. Para além disso, parece ser continuamente esquecido o facto de que os requerentes de asilo e refugiados sírios são vitimas do autodenominado Estado Islâmico, sendo vistos pelos membros deste como traidores.O conceito de “segurança humana” enquanto projeto coletivo de índole moral, parece ter efetivamente sucumbido. Todavia, para além das nobres e óbvias razões humanitárias, e de obrigação moral, que poderiam sustentar as políticas de acolhimento de refugiados, subsistem ainda motivos que poderão convencer, eventualmente, os governantes mais céticos aos argumentos de cariz mais filantropo. Contrariamente ao que parece ser sustentado pelos que se opõem ao acolhimento de refugiados – de que estes serão um peso para a economia do país de acolhimento, para o sistema de segurança social, para o mercado de trabalho pois retirarão as oportunidades de emprego aos nacionais do país de acolhimento e provocarão a diminuição dos salários –, países que têm recebido milhares de refugiados sírios, como o Líbano, a Turquia e a Jordânia, têm visto a sua economia crescer. Estudos científicos têm também apontado neste sentido. Um estudo alemão vem afirmar que um país que deixe entrar 1 milhão de refugiados durante 3 anos, verá o seu produto interno bruto (GDP) aumentar em 0,6% até 2020. Um outro estudo conduzido na Dinamarca vem concluir, após analisar um período de 17 anos de acolhimento de refugiados, que não houve qualquer impacto nas oportunidades de emprego para os nativos. Um estudo norte-americano vem também afirmar que o aumento na economia provocado pelo acolhimento de refugiados é 10 vezes superior aos gastos desse país em benefícios sociais a esses mesmos refugiados durante os primeiros anos da sua chegada. No entanto, as vantagens económicas do acolhimento de refugiados estão intrinsecamente relacionadas com o apoio que estes recebem quando chegam ao país de acolhimento. Se um país não disponibiliza ajuda social a quem chega apenas com o pouco que trouxe do país de origem, e com o que foi juntando nos vários países por onde passou na sua fuga a uma realidade de violação de todos os direitos humanos, então, não é expectável que o crescimento da economia do país aconteça se os refugiados não se sentirem integrados e bem acolhidos a ponto de aí quererem refazer as suas vidas e (re)iniciar as suas carreiras profissionais.É preciso dar para receber. E isto é tanto verdade para as questões mais profundas como para as mais prosaicas, como a economia de um país. E se este for o único argumento que colhe no coração mais empedernido daqueles que nos governam, então que seja...

Não passou nem um ano desde a publicação do artigo de Rute Baptista sobre “A “crise dos refugiados” e o conceito de “segurança humana”. A verdade, é que provavelmente este é o tema que mais nos tem feito mudar nos últimos tempo apesar de nada ter sido feito para que a situação de milhões de pessoas em sofrimento profundo mude. A isso, assustadoramente, já parecemos indiferentes. O que nos diz Rute Baptista? “Passados mais de seis meses sobre a redação deste artigo, podemos afirmar que o panorama geral relativo à “crise dos refugiados” continua sem evoluções positivas que nos permitam acreditar que o mundo aprendeu com esta crise humanitária e que está mais sensível ao respeito pelos direitos humanos.

A montante, a atuação da comunidade internacional, junto dos países de origem dos migrantes, continua sem grande expressão e resultados que permitam apaziguar os conflitos que estão na origem dos fluxos migratórios. A jusante, a atuação da União Europeia (UE) enquanto baluarte dos direitos humanos e comunidade de países de acolhimento de refugiados e outros migrantes em busca de proteção internacional, continua desprezável. As ações da UE dos últimos seis meses evidenciam que a preocupação desta comunidade é de proteger a segurança das suas fronteiras e dos seus cidadãos ainda que isso signifique o desrespeito pelos direitos humanos daqueles que aí buscam refúgio à guerra, a perseguições e a outras iminentes violações de direitos basilares. Esta política europeia culminou no acordo assinado com a Turquia, a 18 de Março de 2016 e que prevê, entre outras medidas, enviar de volta para a Turquia os migrantes em situação irregular que tenham saído dos campos de refugiados daquele país em busca de melhores condições de vida na Grécia ou outro país da UE. Está ainda previsto que, por cada sírio reenviado da Grécia para a Turquia, outro sírio que esteja a viver em campos de refugiados turcos será recolocado num país da UE. Finalmente, e entre as mais relevantes medidas constantes neste acordo, a Turquia tem a autorização da UE para tomar todas as medidas necessárias para prevenir novas rotas de migração irregular entre aquele país e a UE. E se as anteriores medidas não fossem já passíveis de comportar várias violações de direitos humanos – a Turquia não tem sido exemplar no tratamento do migrantes, havendo relatórios de organizações humanitárias que indiciam práticas de maus-tratos aos migrantes vedando o seu acesso ao procedimento de asilo e forçando-os a retornar ao seu país de origem –, a permissão para que a Turquia tome todas as medidas necessárias para a prevenção de novas rotas de migração é, no mínimo, assustadora... Ainda no âmbito desta política de proteção dos “nossos”, a UE veio afirmar o seu apoio às autoridades Líbias para conter os fluxos migratórios que partem daquele país. Uma vez mais, as medidas tomadas pela UE face a esta crise humanitária são questionáveis. A Líbia criminaliza a entrada, saída e permanência de migrantes irregulares e permite a sua detenção por tempo indeterminado com vista à sua posterior deportação sem avaliação prévia dos seus pedidos de asilo. As pessoas detidas não têm acesso ao contacto com os seus familiares, advogados ou juízes. As poucas medidas positivas que, eventualmente, tenham sido tomadas no sentido de conferir uma maior proteção aos migrantes – a recolocação de refugiados é uma dessa medidas, embora lhe seja apontada a lentidão com que está a ser feita - não são, efetivamente, suficientes. Consciente dessa incapacidade e/ou falta de vontade, o Secretário-Geral das Nações Unidas propôs um modelo permanente de partilha de responsabilidades no acolhimento e assistência e que visa, entre outras medidas, a reinstalação anual por todos os governos, de pelo menos 10% da população mundial de refugiados. Este modelo será discutido e aprovado, esperemos, em Setembro deste ano.Resta-nos continuar a acreditar que ainda seja possível a União Europeia demonstrar que não esqueceu as suas raízes e os seus ideais humanistas”.

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ARTIGO TÉCNICO

Responsabilidade Social em Portugal: para além dascontribuições económicas

Procurando conhecer melhor as empresas portuguesas, a PwC desenvolveu, em 2012, um estudo sobre a implementação das práticas de responsabilidade social corporativa pelas mesmasi. O estudo desenvolvido teve como objetivo caracterizar as práticas adotadas pelas empresas portuguesas e a forma como estas gerem os aspetos económicos, sociais e ambientais associados ao seu desenvolvimento, incluindo no que se refere ao investimento na comunidade. Sobre este último tema em particular, procurámos, em primeiro lugar, saber se as empresas desenvolviam as suas atividades de acordo com orientações estratégicas, isto é, se os seus esforços se concentravam em áreas de atuação predefinidas, e se os projetos apoiados eram selecionados tendo em consideração os resultados e impacto esperado, assegurando assim a eficácia do investimento da empresa. A conclusão foi que grande maioria das empresas participantes (84%) já compreendeu a importância de definir as suas áreas de atuação estratégicas, mas o mesmo não acontece relativamente à avaliação dos projetos em função dos seus resultados.

Por Cláudia Coelho, Senior Manager de

Sustainable Business Solutions da PwC

Cláudia Coelho

EDuCAÇÃO 91%

CuLTuRA 75%

AJuDA HuMANITáRIA 68%

AMBIENTE 68%

DESPORTO 54%

EMPREENDERISMO SOCIAL 54%

SAúDE 50%

ALIMENTAÇÃO/NuTRIÇÃO 30%

OuTROS 11%

Fonte: Responsabilidade social corporativa em Portugal, PwC, Dezembro 2012

Esta foi a primeira área de melhoria que identificámos nesta matéria: Para assegurar a eficácia do investimento da empresa é essencial fazer a avaliação de cada projeto e garantir o seu alinhamento com a estratégia definida pela empresa. Procurámos também compreender as áreas de atuação eleitas pelas empresas portuguesas, tendo verificado que as atividades de responsabilidade social se concentram nas áreas da educação (91%), cultura (75%), ajuda humanitária (68%) e ambiente (68%).Sobre a forma como as empresas contribuem, embora os apoios financeiros correspondam à maior parte dos montantes totais de apoio, o investimento social engloba um conjunto mais vasto (e, muitas vezes, mais interessante) de formas de contribuição para a sociedade. Para além dos donativos, a empresa poderá desenvolver a sua atividade através do voluntariado ou em géneros ou serviços. Neste tema, verificámos que, nas empresas portuguesas, a percentagem de investimento alternativa aos

donativos é ainda reduzida, quando comparada com as grandes empresas ao nível mundial. Segundo o relatório anuali do LBG - London Benchmarking Group, uma rede internacional de mais de 120 empresas criada em 1994, 27% da contribuição das empresas corresponde a contribuições em géneros (incluindo bens ou serviços pro-bono) e 7% corresponde a tempo de colaboradores. As contribuições financeiras correspondem a cerca de 60%, valor ainda muito inferior à realidade das empresas portuguesas, que concentram o seu contributo nesta forma de atuação. É, por isso, importante reconhecer e divulgar as iniciativas que vão ocorrendo em Portugal em áreas como o voluntariado de competências, ou outras formas de investimento social, incluindo os serviços ou produtos fornecidos em regime de pro—bono. Esta disseminação de informação irá, com certeza, contribuir para que cada vez mais empresas desenvolvam projetos inovadores nesta área, alinhados com as suas competências e áreas de atividade específicas.

VOLuNTARIADO DE COMPETÊNCIAS NA PWC

Tendo em consideração a natureza da PwC, prestadora de serviços profissionais, esta é uma das nossas grandes áreas de aposta ao nível global e um dos pilares da nossa estratégia de Responsabilidade Corporativa. Temos um programa de voluntariado com enfoque no voluntariado de competências, que, em 2012, contou com a colaboração de mais de 47 mil colaboradores, num total de 155 mil horas e 566 mil horas de voluntariado de competências. O voluntariado de competências é o voluntariado assente na disponibilização de know-how, relacionado com a área de negócio, competências e experiências dos colaboradores (não inclui, no entanto, a entrega de um serviço que a empresa preste, situação em que seria classificada de pro bono). Pode incluir desde o apoio a indivíduos (através de formação, mentoring, preparação de CV e entrevistas), a organizações (como fornecedores, ONG, etc.) e é por isso particularmente interessante por permitir fortalecer e melhorar a relação com diversos grupos de stakeholders das organizações e melhorar o seu desempenho.

REVISTA IP 19JAN/FEV 2014

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BENEFíCIOS DESAFIOS DIFICuLDADES

Para os beneficiários:

Aumento das competên-cias de pessoas ou das empresas

Resolução de problemas e otimização de processos, que poderiam não estar ao alcance das empresas se tivessem que pagar por esses serviços

Para os colaboradores:

Sensibilização para diferentes realidades e para aspetos sociais e ambientais

Motivação para continuar o desenvolvimento de ações de voluntariado

Desenvolvimento de novas competências, em parti-cular comportamentais (criatividade, coaching, comunicação, relaciona-mento, liderança, etc.)

Maior envolvimento com a empresa, por via da iden-tificação com os valores e sentido de integração

Possibilidade de todos os colaboradores participarem nestes programas

Avaliação das competências e perfis dos colaboradores

Medição do impacto das iniciativas

Gestão das expetativas

Por vezes, a relação entre os colaboradores e os bene-ficiários intensifica-se de tal forma que há uma vontade em fazer cada vez mais, por vezes além da capacidade da empresa

Conseguir as competências necessárias e adequadas às necessidades dos indivíduos ou organizações

Assegurar a disponibilidade necessária e a alocação dos colaboradores a este tipo projetos

Salvaguardar questões relacionadas com a respon-sabilidade, diferenciando a ação do voluntário da ação da empresa.

ARTIGO TÉCNICO

i. Responsabilidade social corporativa em Portugal, PwC, Dezembro 2012 (www.pwc.pt/pt/sustentabilidade/images/pwc_responsabilidade_social_coporativa_portugal.pdf)

ii. The LBG Annual Review 2013, LBG, Setembro 2013 (www.lbg-online.net/media/24144/130930_lbg_annual_report_approvedi.pdf)

Finalmente, é ainda de destacar a importância da monitorização e medição de resultados da atuação das empresas – a medição do retorno social. De facto, no estudo da PwC acima referido verificou-se que as empresas portuguesas não dispõem ainda de sistemas de gestão e monitorização das ações desenvolvidas, que lhes permitam avaliar os resultados das mesmas e consequentemente, o sucesso das iniciativas que desenvolvem. 65% das empresas não avalia de todo o impacte dos investimentos sociais que efetua, o que permitiria reportar, gerir e avaliar as suas contribuições e

Recursos

Os recuros necessários(tempo, dinheiro, etc)

Resultado

Os resultados mensuráveis

(número de pessoas impactadas, etc)

Consequência

O que é que as pessoas ganham em participar

(competências,conhecimento da

empresa, etc)

Impacto

O que é que as pessoas fazem com esse conhecimento

(mais e melhores empregos, etc)

Valor

O valor criado para a sociedade

(mais contribuintes,menos desemprego,redução da despesa

pública, etc)

impactes das mesmas, de melhor direcionar as suas contribuições.Não obstante cada empresa poder desenvolver a sua própria metodologia e indicadores para efetuar esta monitorização, um grande número de empresas recorre ao LBG, através do qual as empresas utilizam uma linguagem comum de reporte do envolvimento comunitário e determinação do retorno do investimento social. As empresas devem compreender a totalidade dos impactos da sua intervenção, com vista à criação de valor para a sociedade, de forma direta ou indireta. Em suma, é preciso que as empresas olhem para o investimento na comunidade sob uma perspetiva que vá além do contributo financeiro e que implique um envolvimento real com a comunidade e a criação de valor, procurado formas inovadoras e criativas de apoio. Formas que assentem na partilha de know-how, experiências, serviços, instalações etc, que permitam gerar sinergias, em que além do benefício para o individuo ou instituição apoiada seja possível identificar benefícios para a empresa, seja ao nível da reputação, do desenvolvimento dos seus colaboradores, do desenvolvimento do negócio, entre outros. E é preciso que as empresas deem maior importância à medição dos resultados, para que as atividades sejam cada vez mais eficazes e orientadas para o sucesso dos projetos, com benefícios para todos – beneficiários e empresas.

Perguntámos a Cláudia Coelho se hoje, passados dois anos da publicação do artigo “Responsabilidade Social em Portugal: para além das contribuições económicas”, haverá mais esta consciência. Aqui fica o seu contributo:“Face à situação em 2014, assistimos a uma melhoria significativa ao nível da avaliação e seleção dos projetos de responsabilidade social a apoiar em função dos resultados esperados. Esta melhoria resulta de uma disponibilidade de recursos cada vez mais limitada, que leva as empresas a procurar cada vez mais efetuar verdadeiros “investimentos” na sociedade, que potenciem os recursos disponíveis, mediante aplicação em projetos com maior impacto e resultados mensuráveis. Esta preocupação reflete-se nas entidades do setor social e na forma como estas se organizam, já que cada vez é necessário demonstrar a mais valia e os resultados dos projetos a desenvolver ou em curso, através de indicadores quantitativos. Por outro lado, esta limitação de recursos conduziu a uma maior diversificação e criatividade nas formas de apoio, cada vez mais com recurso a contribuições não financeiras e a parcerias entre diversas entidades. São diversos os projetos que surgiram com envolvimento de diversas entidades, cada uma delas contribuindo de forma adaptada à natureza das suas atividades, incluindo voluntariado de competências, contribuições em géneros, etc. De referir ainda que, num contexto nacional complexo do ponto de vista social e económico, estas formas de apoio e investimento na comunidade apresentam vantagens para além da otimização do investimento, nomeadamente   ao nível do envolvimento e motivação dos colaboradores, cada vez mais sensíveis ao que se passa à sua volta.”

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AGENDA

I CONGRESSO DE INTERVENçãO SOCIAL, INOVAçãO E EMPREENDEDORISMO Data: 23 e 24 de setembro de 2016Local: Faculdade de Economia da universidade de Coimbra (FEuC)Organização: Mestrado em “Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo” (MISIE) da Faculdade de Economia da universidade de Coimbra (FEuC) e da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEuC)Info: Sob o tema “Práticas de empreendedorismo e inovação social: perspetivas e estratégias”, o Congresso tem como principais objetivos Conhecer, Aprofundar e Disseminar práticas de empreendedorismo e inovação social levadas a cabo em Portugal, tendo em vista o reforço da importância da Economia Social e da Governação na construção de uma mudança social sustentável.

MêS DO TERCEIRO SETOR - ECONOMIA SOCIAL E SOLIDáRIA EM FOCOData: 22 de Setembro de 2016, 29 de Setembro de 2016, 7 de Outubro de 2016Local: PortoOrganização: A3S em parceria com o Instituto de Sociologia da universidade do PortoInfo: Em 2016 propõe-se que o M3S seja um evento dedicado à temática da Economia Social e Solidária em foco, abordada em várias frentes: políticas, didáticas e orientações/vocações. É um ano particularmente significativo para a A3S que completa os seus 10 anos de existência e decidiu orientar para a temática das perspetivas de desenvolvimento alternativos ancorados no fortalecimento da economia social e solidária.

LANçAMENTO DA SOCIAL INNOVATION COMMUNITY (SIC)Data: 26 e 27 de setembroLocal: BruxelasInfo: Financiada pelo Programa H2020 e executada por um consórcio de 12 organizações líderes em toda a Europa, a SIC terá como base o trabalho desenvolvido pela SIE (Social Innovation Exchange) para envolver, fortalecer e interligar redes de inovação social já existentes incluindo os inovadores do setor público, inovadores sociais digitais, atores da economia social e muito mais.

CONCERTO SOLIDáRIO D’OS AzEITONAS Data: 28 de novembro de 2016 Local: Casa da Música, PortoOrganização: Associação Vida NorteInfo: Os Azeitonas estreiam-se na Sala Suggia da Casa da Música, num concerto solidário a favor da associação Vida Norte. Será uma noite única, em que não faltarão surpresas, os grandes êxitos que têm vindo a marcar a carreira da banda e a boa disposição a que já habituaram o seu público.

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“A vida só se dá para quem se deu.”

Vinícius de Moraes

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Abr

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