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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 0

EMPREENDEDORISMO FEMININO

EM PORTUGAL, 2014

www.ifdep.pt

EMPREENDEDORISMO FEMININO

um olhar sobre Portugal, 2014

www.ifdep.pt

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EMPREENDEDORISMO FEMININO

um olhar sobre Portugal

IFDEP, 2014

www.ifdep.pt

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IFDEP Research, 2014 3

Agradecimentos

O IFDEP Research agradece a todas as entidades que contribuíram de forma ativa para o

desenvolvimento do presente estudo.

Entre os muitos contributos recebidos cumpre-nos destacar o envolvimento das seguintes pessoas /

entidades:

Alberto Terrível

Ana Terrível

Carla Roque

Célia Barros

Cláudia Cruz

Maartje Vens

Nelson Leite Sá

Paulo Lourenço

Rita Mendes

Rui Marinha

Rui Vais

Susana Pereira

Teresa Rebelo

Ação Social - Câmara Municipal do Cadaval

Câmara Municipal de Lagoa

CSPVC (Centro Social Paroquial da Vera Cruz)

Junta de Freguesia de Paranhos

Junta de Freguesia de São Victor

Serviço de apoio às atividades económicas - Câmara Municipal de Faro

SEIVA (Associação ao Serviço da Vida)

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Ficha Técnica

Título

Empreendedorismo Feminino, um olhar sobre Portugal

Autoria

IFDEP - Instituto para o Fomento e Desenvolvimento do Empreendedorismo em Portugal

Departamento de Research

www.ifdep.pt

Cândida Marinha, Lígia Silva, Miguel Carreto, Pedro Terrível, Tiago Costa

Edição

Novembro de 2014

Nº de Exemplares

400

Apoio

POAT - Programa Operacional de Assistência Técnica

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Índice

Introdução ............................................................................................................................................................... 7

1. O Empreendedorismo ..............................................................................................................................11

1.1 O conceito de empreendedor – da origem à atualidade ........................................................11

1.2. O perfil empreendedor .......................................................................................................................14

1.3. O processo empreendedor................................................................................................................17

1.4. A realidade empreendedora em Portugal ...................................................................................21

2. Empreendedorismo e Género ...............................................................................................................25

2.1. A presença feminina no mercado de trabalho e a igualdade de género .......................26

2.2. Estrutura empresarial no feminino .................................................................................................28

2.3. Conciliação trabalho-família .............................................................................................................31

2.4. Motivações femininas no processo de empreender ...............................................................33

2.5. Limitações e obstáculos ao empreendedorismo feminino ...................................................34

3. Metodologia ...............................................................................................................................................36

3.1. Construção e validação do instrumento de recolha de dados: questionário................37

3.2. Acordo inter-juízes................................................................................................................................39

3.3. Recolha de dados ..................................................................................................................................40

3.4. Construção e validação do instrumento de recolha de dados: entrevista .....................41

3.5. Entrevista a empreendedoras ...........................................................................................................41

3.6. Entrevista a entidades promotoras do empreendedorismo feminino .............................42

3.7. Hipóteses de trabalho .........................................................................................................................42

3.8. Testes Estatísticos ..................................................................................................................................44

4. Caracterização da amostra .........................................................................................................................46

5. Resultados e Discussão................................................................................................................................50

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6. Reflexões gerais ..........................................................................................................................................79

7. Medidas de estímulo e conselhos para mulheres empreendedoras .....................................84

Bibliografia.............................................................................................................................................................88

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Introdução

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Introdução

O Empreendedorismo é comummente associado a iniciativa, inovação,

possibilidade de fazer coisas novas e/ou de maneira diferente, assim como a capacidade de

assumir riscos. Subentende-se, portanto, que as pessoas empreendedoras estão prontas

para agir, desde que existam condições favoráveis e o apoio necessário.

Para compreender melhor este fenómeno no público feminino surge o

Empreendedorismo Feminino – um olhar sobre Portugal. Este estudo nasce no âmbito do

Programa PORTUGAL POSITIVO, desenvolvido pelo IFDEP (Instituto para o Fomento e

Desenvolvimento do Empreendedorismo em Portugal), com o apoio do POAT (Programa

Operacional de Assistência Técnica).

Com uma grelha de objetivos voltada para o sentido prático do empreendedorismo

feminino, como sendo (i) caracterizar o perfil empreendedor da população feminina em

Portugal; (ii) compreender a forma como a população feminina vê o fenómeno do

empreendedorismo; (iii) identificar os fatores impulsionadores, os motivos e os

constrangimentos associados à criação de um negócio próprio; (iv) conhecer a opinião que

a população feminina possui acerca do processo de criação de uma empresa; (v)

compreender em que medida as iniciativas desenvolvidas em prol do empreendedorismo

feminino estão a chegar ao público-alvo; (vi) analisar em que medida a população feminina

está preparada, do ponto de vista dos conhecimentos e competências, para empreender;

(vii) caracterizar o nível de conhecimento acerca dos diferentes meios de financiamento

disponíveis no mercado, assim como identificar quais os mais usados pelas

empreendedoras; (viii) Analisar o conhecimento relativo a programas de apoio ao

empreendedorismo feminino e espaços de suporte à criação de empresas; (ix) compreender

quais as medidas de apoio ao empreendedorismo mais valorizadas pela população

feminina; e, ainda, (x) reunir sugestões, propostas pelas inquiridas, de medidas de promoção

e incentivo ao empreendedorismo feminino.

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

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Para dar resposta a estes objetivos, o relatório apresenta escalas de medida

quantitativa e qualitativa, pois apenas dessa forma conseguiríamos assegurar a resposta a

todos os objetivos. Para o efeito, fazemos uma abordagem inicial por intermédio de revisão

teórica acerca do empreendedorismo como um todo, estreitando para o

empreendedorismo feminino e terminando na realidade empreendedora feminina na

Europa e em Portugal. Posteriormente, apresentamos o design estatístico do estudo,

seguido dos resultados, discussão e reflexões gerais. Como etapa final – e tendo por base

toda a investigação – apresentamos as medidas de estímulo ao empreendedorismo

feminino, bem como conselhos direcionados às empreendedoras, propostos pela equipa

do IFDEP Research.

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1 O Empreendedorismo

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

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1. O Empreendedorismo

O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século XXI mais

do que a Revolução Industrial foi para o século XX.

Jeffry Timmons, 1990

1.1 O conceito de empreendedor – da origem à atualidade

O empreendedorismo é considerado um dos principais mecanismos promotores do

desenvolvimento da economia, inovação e bem-estar. Como processo dinâmico de

mudança, visão e criação, tem como base a identificação de oportunidades e novas soluções

por parte do empreendedor, com o objetivo de suprir necessidades das pessoas.

Do francês entrepreneur - aquele que assume riscos e inicia algo novo - um

empreendedor é alguém com capacidade de criar uma nova forma de uso dos recursos,

para realização de uma ideia ou projeto pessoal, assumindo riscos e responsabilidades,

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inovando continuamente (Longenecker & Moore, 1998). Schumpeter (1978) acrescenta,

ainda, a ideia de empreendedor como responsável por processos de destruição criativa, que

resultam na criação de novos métodos de produção, novos produtos e novos mercados.

O primeiro cientista, de que há registo, a desenvolver o termo empreendedor foi

Richard Cantillon (1680?–1734), que possibilitou o reconhecimento destes indivíduos como

contribuintes importantes na criação de valor económico na sociedade (Van Praag, 1999).

Complementarmente à definição de Cantillon, Jean-Baptiste Say (1767-1832) acrescentou à

ocupação do empreendedor, a aplicação de conhecimento para a criação de um produto

para consumo humano, considerando o trabalho do empreendedor, um tipo superior de

trabalho, necessário para o desenvolvimento das indústrias e dos países (Van Praag, 1999).

Posteriormente, o economista neoclássico Alfred Marshall (1842-1924), considerou

que a principal função do empreendedor seria o fornecimento de produtos e a promoção

simultânea de inovação e progresso. Para Marshall, o empreendedor detinha a

responsabilidade máxima no interior da organização e deveria exercer todo o seu controlo

em todos os processos, o que implicaria alertar continuamente para a necessidade de inovar

e de procurar novas oportunidades, tendo em conta, também, a minimização dos custos.

Além disso, o autor considerava que a capacidade para se ser empreendedor dependia dos

antecedentes familiares, da educação e da capacidade inata do indivíduo, sublinhando que

o empreendedor deveria ser um líder natural entre os Homens.

O ponto de viragem no estudo deste conceito deu-se com Joseph Schumpeter

(1883-1950), um dos mais importantes economistas do século XX, que recusou a visão

predominante até então, que identificava o empreendedor como o gestor da empresa,

sujeito a um grande risco para que os seus objetivos fossem atingidos. Schumpeter (1947)

defendeu que o empreendedor devia ser o líder da empresa e o inovador, representando a

força motriz do sistema económico. Interpretou a inovação como um processo endógeno,

ou seja, que permite fazer mais com a mesma quantidade de recursos. Considerou que a

inovação criada pelo empreendedor representa uma renovação no sistema económico,

destruindo o equilíbrio existente e criando um novo equilíbrio – o empreendedor como

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agente de mudança na economia. O autor definiu-o, ainda, como alguém extremamente

versátil, com competências técnicas de produção e capitalistas de reunião de recursos

financeiros, assim como com competências de organização de operações internas e de

realização de vendas do produto.

Seguindo a linha de pensamento de Schumpeter, Drucker (1959) defendia o

empreendedorismo inovador como principal condutor de muitas mudanças em contextos

de negócio, indústria e economia. Contudo, o seu grande contributo para o estudo deste

tema deu-se com a introdução do conceito de risco, defendendo que a capacidade de

arriscar é a única via para melhorar o desempenho de um empreendedor. Porém, os riscos

tomados deveriam ser conhecidos e compreendidos, de modo a serem minimizados. Assim,

um planeamento a longo prazo seria essencial, correspondendo a um processo contínuo de

tomada de decisões empreendedoras, com o melhor conhecimento possível das suas

possibilidades de sucesso no futuro, organizando os esforços necessários para atingir os

objetivos e, desta forma, medir os seus resultados, através de um feedback organizado e

contínuo (Drucker, 1959).

Kirzner (1973), economista com influência da Escola Austríaca de Economia1,

convergindo com as ideias de Schumpeter, considerou que os empreendedores raramente

atingem uma posição de equilíbrio. Tal acontecimento derivaria dos erros que poderiam

cometer, o que colocaria em causa o alcance dos lucros pretendidos. Contudo, esses erros

poderiam ser facilmente transformados em novas oportunidades de lucro e, essas novas

oportunidades, posteriormente, tornar-se-iam em novos erros, apelando sempre à

necessidade de mudança e à alteração daquilo que precisaria de ser descoberto. Kirzner

(1973), não considerava necessário no empreendedor a presença de determinadas

características de personalidade ou de alguma competência especial, sublinhando apenas a

necessidade de um tipo de conhecimento técnico.

1 A Escola Austríaca de Economia é um movimento específico do pensamento económico, fundado por Carl

Menger, após a publicação de Grundsätze em 1871 (Feijó, 2000).

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À semelhança dos autores anteriores, também Mises (1998) corrobora a linha de

pensamento de Schumpeter, esclarecendo que, apesar das funções de gestão se

encontrarem subentendidas nas funções desempenhadas por um empreendedor, as

atividades de gestão não compõem na totalidade as funções do empreendedor. Esta

diferenciação de funções centra-se ainda, segundo o autor, na capacidade preditiva e

antecipatória do empreendedor em determinar o sucesso ou o insucesso de certos eventos,

indo ao encontro das necessidades do consumidor. Assim, cada empreendedor representa

um aspeto diferente das necessidades dos consumidores, seja através de um produto novo

ou de uma forma diferente de produzir um produto já existente.

Desde então até à atualidade, poucos têm sido os autores a destacarem-se pela

introdução de novas ideias neste tema. Grande parte das interpretações relativas ao

empreendedorismo combina as características do empreendedor, os processos que fazem

parte da atividade empreendedora e os resultados dessa atividade. Em suma, o

empreendedorismo é definido pela identificação de oportunidades e consequente criação

de uma nova atividade económica, através da criação de uma nova organização,

combinando a inovação, a capacidade de arriscar e a pró-atividade – características estas,

muitas vezes consideradas como alicerces de um perfil empreendedor.

1.2. O perfil empreendedor

O estudo do empreendedorismo, e consequentemente, do empreendedor – dois

constructos conceptualmente indissociáveis –, tem atraído um interesse cada vez maior nos

últimos anos. É notório o esforço e investimento crescentes de Governos e Instituições em

desenvolver um perfil empreendedor na população, assim como em criar mecanismos de

suporte a novas empresas, seja através de linhas de crédito e incubadoras tecnológicas,

espaços de coworking, consultoria financiada e até eventos para a promoção de redes de

negócios.

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Paralelamente, tem surgido um crescente interesse académico à exploração do

perfil do empreendedor. São vários os estudos realizados neste âmbito, desde a criação de

instrumentos para medir o perfil empreendedor (Cunha, 2004; Pereira et al., 2004), passando

por medições de intenção empreendedora (Gatewood, Shaver, Powers, & Gartner, 2002;

Peterman & Kennedy, 2003; Segal, Borgia, & Schoenfeld, 2005; Wang & Wong, 2004), até a

avaliações com foco nas questões da empresa (Greatti, 2004), bem como o seu desempenho

financeiro (Hindle & Cutting, 2002).

Na presente investigação, avaliaremos o perfil empreendedor através de uma base

conceptual vasta, assente nas definições encontradas na literatura, extraindo, destas,

características atitudinais comuns, explicita ou implicitamente referidas. Assim,

procuraremos identificar na amostra em análise as competências listadas abaixo.

Competência Autor(es) de referência

Procura e identificação

de oportunidades

“(…) capacidade de identificar, explorar e capturar o valor das

oportunidades de negócio” (Birley & Muzyka, 2001, p. 22).

“A predisposição para identificar oportunidades é fundamental

para quem deseja ser empreendedor e consiste em aproveitar

todo e qualquer ensejo para observar negócios” (Degen, 1989, p.

19).

Orientação para

objetivos

“Os empreendedores não definem apenas situações, mas também

imaginam visões sobre o que desejam alcançar. A sua tarefa

principal parece ser a de imaginar e definir o que querem fazer e,

quase sempre, como irão fazê-lo” (Filion, 2000, p. 3).

“O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, que se

antecipa aos factos e tem uma visão futura da organização”

(Dornelas, 2001, p. 15).

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IFDEP Research, 2014 16

Resolução de

problemas de forma

criativa e inovadora

Longenecker & Moore (1998) referem a capacidade do

empreendedor em criar uma nova forma de uso dos recursos,

assumindo riscos e responsabilidades, inovando continuamente.

Schumpeter (1978) define o empreendedor como responsável por

processos de destruição criativa, que resultam na criação de novos

métodos de produção, novos produtos e novos mercados.

Autoconfiança

Potreck-Rose e Jacob (2006) referem-na como uma postura

positiva com relação às próprias capacidades e desempenho. Inclui

as convicções de saber e conseguir fazer alguma coisa, de fazê-lo

bem, de conseguir alcançar algo, de suportar as dificuldades e de

poder prescindir de determinadas coisas.

Assertividade

Ames e Flinn (2007) indicam que bons níveis de assertividade

devem ser procurados, de forma a permitir o alcance dos objetivos

em relação às tarefas, ao mesmo tempo que preserva e melhora

relacionamento entre as pessoas.

Iniciativa

“Os empreendedores (...) fornecem empregos, introduzem

inovações e estimulam o crescimento económico. Já não os vemos

como provedores de mercadorias e autopeças nada interessantes.

Em vez disso, eles são vistos como energizadores que assumem

riscos necessários numa economia em crescimento, produtiva”

(Longenecker, Moore & Petty, 1997, p. 3).

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Assunção de riscos

calculados

“Indivíduos que precisam contar com a certeza é de todo

impossível que sejam bons empreendedores” (Drucker, 1986, p. 33).

“O passaporte das empresas (…) será a capacidade empreendedora,

isto é, a capacidade de inovar, de tomar riscos inteligentemente,

agir com rapidez e eficiência para se adaptar às contínuas

mudanças do ambiente económico” (Kaufman, 1991, p. 3).

Uso de estratégias de

influência

“Uma vez que os empreendedores reconhecem a importância do

seu contacto face a face com outras pessoas, eles rapidamente e

vigorosamente procuram agir para isso” (Markman & Baron, 2003,

p. 114).

Espírito empreendedor

“Desenvolver o perfil empreendedor é capacitar o aluno para que

crie, conduza e implemente o processo de elaborar novos planos

de vida. (...) A formação empreendedora baseia-se no

desenvolvimento do autoconhecimento, com ênfase na

perseverança, na imaginação, na criatividade, associadas à

inovação” (Souza, Souza, Assis & Zerbini, 2004, p. 4).

Tabela 1.1. Competências preditoras do perfil empreendedor.

1.3. O processo empreendedor

A decisão de empreender é, muitas vezes, referida pelos empreendedores como

tendo ocorrido, aparentemente, por acaso. Contudo, na verdade, esta decorre de fatores

externos, ambientais e sociais, de aptidões pessoais ou de um somatório de todos estes

fatores, que desempenham um papel fundamental no surgimento de uma ideia de negócio

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IFDEP Research, 2014 18

e no crescimento de uma nova empresa. A figura seguinte exemplifica a influência dos

referidos fatores no processo empreendedor:

Figura 1.1. Fatores que influenciam o processo empreendedor (adaptado de Moore, 1986).

Atualmente, o empreendedorismo, particularmente o de inovação tecnológica, tem

sido, em grande parte, o responsável pelo desenvolvimento económico dos países. Este

desenvolvimento económico depende, essencialmente, de quatro fatores críticos de

sucesso, que devem ser analisados, para que melhor se compreenda o processo

empreendedor. O primeiro fator refere-se ao talento empreendedor, em produto da

perceção, dedicação e trabalho. Assim, onde existe talento, existem também oportunidades

de crescimento e desenvolvimento de novos negócios. Somando esta vontade de fazer

Inovação Evento inicial Implementação Crescimento

Fatores Pessoais

Realização pessoal

Assumir riscos

Valores pessoais

Educação

Experiência

Fatores Pessoais

Assumir riscos

Insatisfação com o

trabalho

Despedimento

Educação

Idade

Fatores Sociológicos

Networking

Equipas

Influência familiar

Modelos de sucesso

(pessoas)

Fatores Pessoais

Empreendedor

Líder

Gerente

Visão

Fatores

Organizacionais

Equipa

Estratégia

Estrutura

Cultura

Produtos

Ambiente

Oportunidade

Criatividade

Modelos de sucesso

(pessoas)

Ambiente

Competição

Recursos

Incubadoras

Políticas públicas

Ambiente

Competidores

Clientes

Fornecedores

Investidores

Bancos

Recursos

Políticas públicas

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acontecer a ideias, inovadoras e viáveis, o processo de empreender está pronto a iniciar. O

terceiro fator, os recursos financeiros, será o catalisador do negócio, fazendo com que as

ideias passem a ações; por fim, o componente final, diz respeito ao know-how, ou seja, a

competência para reunir todos os fatores anteriores, tornando o negócio num caso de

sucesso (Tornatzky, L., Batts, Y., McCrea, N. & Quitman, L. 1996). De seguida, na figura,

encontram-se representadas as fases do processo empreendedor:

Figura 1.2. O processo empreendedor (adaptado de Hirsch & Peters, 1998).

Fase I. Identificar e avaliar a oportunidade:

Este processo inicia-se com a identificação de uma oportunidade e análise da sua

potencialidade. Através de, por exemplo, avaliações das necessidades de mercado, da

concorrência e do ciclo de vida do produto, é importante testar a ideia ou conceito de

negócio junto de potenciais clientes, avaliando a sua disposição para adquirir o produto ou

serviço.

Identificar e

avaliar

oportunidade

Desenvolver

plano de negócio

Determinar e

captar recursos

necessários

Gerir empresa

criada

• Criação e

abrangência da

oportunidade

• Valores

percebidos e

reais da

oportunidade

• Riscos e

retornos da

oportunidade

• Oportunidade

versus

habilidades e

metas pessoais

• Situação dos

competidores

1. Sumário

executivo

2. O conceito do

negócio

3. Equipa de

gestão

4. Mercado e

competidores

5. Marketing e

vendas

6. Estrutura e

operação

7. Análise

estratégica

8. Plano

financeiro

9. Anexos

• Recursos

pessoais

• Recursos de

amigos e

parentes

• Business

angels

• Capitais de

risco

• Bancos

• Governo

• Incubadoras

• Estilo de gestão

• Fatores críticos

de sucesso

• Identificar

problemas atuais

e potenciais

• Implementar

um sistema de

controlo

• Profissionalizar

a gestão

• Entrar em novos

mercados

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Esta avaliação permitirá ao empreendedor formular conceções acerca da dimensão

do mercado e de como se encontra (em crescimento, estável ou estagnado), conhecer a

concorrência, e avaliar através de uma análise SWOT2, os pontos fortes e fracos, as ameaças

e as oportunidades.

Fase II. Desenvolver plano de negócio:

O plano de negócio sumarizará todo o negócio, abordando pontos como a

estratégia, o mercado, a concorrência, os fatores críticos de sucesso, a análise económico-

financeira, investimentos, gastos, financiamentos, entre outros. Este planeamento será de

extrema importância para o sucesso do negócio, uma vez que é fundamental que o

empreendedor planeie as ações a realizar e delineie estratégias a seguir.

Fase III. Determinar e captar recursos necessários:

A capacidade de planeamento e de negociação do empreendedor serão

fundamentais nesta fase, para que consiga determinar quais os recursos necessários à

implementação do negócio, assim como para a sua posterior captação de financiamento. O

sucesso desta fase encontra-se em muito dependente da fase anterior.

O financiamento pode ser obtido através de diversas fontes, como crédito bancário,

microcrédito, business angels, apoios estatais, capital de risco, economias pessoais,

familiares e amigos, entre outras.

Fase IV. Gerir empresa criada:

Depois de identificar uma oportunidade de negócio, desenvolver detalhadamente

um plano de negócio, e captar os recursos necessários para iniciar atividade, o

empreendedor debate-se com as questões administrativas e de gestão de todo o processo.

Nesta fase, o empreendedor deverá identificar as suas limitações, recrutar a sua equipa de

2 A Análise SWOT é uma ferramenta de gestão muito utilizada pelas empresas para o diagnóstico estratégico. O

termo SWOT é composto pelas iniciais das palavras Strenghts (Pontos Fortes), Weaknesses (Pontos Fracos),

Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças) (IAPMEI, 2007).

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trabalho e planear as ações, de forma a conjugar eficiência e eficácia, conduzindo o seu

negócio ao sucesso.

Apesar das quatro fases do processo empreendedor se encontrarem representadas

de forma sequencial, elas não são imutáveis. Pode, um empreendedor, não concluir uma

das fases e iniciar imediatamente a seguinte, ou mesmo ter de repetir várias vezes um

conjunto de fases até que alcance a última delas. Este processo pode também ser

considerado um ciclo, encontrando-se o empreendedor numa contínua identificação e

avaliação de novas oportunidades.

1.4. A realidade empreendedora em Portugal

Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2004, apenas 4% da

população adulta portuguesa foi classificada como empreendedora, ocupando assim o 28º

lugar de um ranking de 34 países. Em 2007, o mesmo relatório registou uma significativa

subida da intenção empreendedora em Portugal, indicando uma Taxa TEA (Total

Entrepreneurial Activity)3 de 8,8%, ou seja, 9 em cada 100 adultos estiveram envolvidos em

atividades empreendedoras, sendo que 2/3 dos empreendedores pertenciam ao sexo

masculino. Já em 2012, verificou-se um decréscimo, com uma Taxa TEA de 7,7%, ou seja, 7

a 8 em cada 100 adultos estiveram envolvidos em atividades empreendedoras (GEM

Portugal, 2012).

Em 2013, segundo os dados do Amway Global Entrepreneurship Report4 (AGER),

61% dos portugueses inquiridos via o empreendedorismo como positivo (decréscimo de

3 A Taxa TEA (Total Entrepreneurial Activity) corresponde à proporção de indivíduos em idade adulta (entre os 18

e os 64 anos) que está envolvida num processo de criação ou gestão de um negócio novo e em crescimento, em

cada país participante do GEM (GEM Portugal, 2012). 4 O Relatório Global de Empreendedorismo 2013 foi conduzido pela Amway Europe, em cooperação com o

Instituto de Estratégia, Tecnologia e Organização da Universidade de Munique e com o apoio da consultora GfK

(Research) de Nuremberga. A esta investigação responderam 26.000 indivíduos oriundos dos seguintes países:

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IFDEP Research, 2014 22

6% relativamente a 2012), e 32% admitia a possibilidade de criação de um negócio (menos

7% do que em 2012). Contudo, apesar da forte intenção empreendedora dos portugueses,

a taxa de descontinuidade dos negócios criados é igualmente elevada, confirmando que o

número de empreendedores que decide encerrar os seus negócios está acima da média dos

países com economias baseadas em inovação (Amway Europe, 2014; Palma & Silva, 2014).

Como principais causas da crescente quebra nas intenções empreendedoras dos

portugueses destacam-se a crise económica do país e a elevada aversão ao risco da sua

população. Este medo de falhar que é difundido na cultura portuguesa, contrariamente a

países como os Estados Unidos da América, onde o fracasso é visto como uma oportunidade

de melhoria, faz com que cerca de 83% dos portugueses participantes neste estudo (mais

13% do que a média internacional), apontem o medo de falhar como o principal obstáculo

para não iniciar um negócio próprio (Amway Europe, 2013; Malheiros, Padilha & Rodrigues,

2010).

O medo de falhar por parte dos potenciais empreendedores, deve-se,

essencialmente, às seguintes condicionantes indicadas: encargos financeiros (41%), crise

económica (31%), desemprego (15%), desilusão pessoal/perda de autoestima (14%),

consequências legais e ações judiciais (13%), ser forçado a assumir toda a responsabilidade

(13%), desilusão e perda da família (9%), perda de reputação junto dos amigos, colegas e

parceiros de negócio (6%), não ser dada uma segunda oportunidade (6%) e outros (4%)

(Amway Europe, 2013).

Assim, e apesar do investimento importante que tem sido realizado no

fornecimento de oportunidades e de condições para o desenvolvimento de novos negócios

(e.g. incubadoras, programas financeiros de apoio, transferência de I&D, espaços de

coworking), as normas sociais continuam a não encorajar, na sua maioria, os indivíduos que

queiram desenvolver um negócio (Palma & Silva, 2014).

Alemanha, Áustria, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Espanha, EUA, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Itália,

Japão, México, Polónia, Portugal, Reino Unido, Republica Checa, Roménia, Rússia, Suíça, Turquia e Ucrânia.

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 23

No que respeita à criação de empresas em Portugal, em 2013, foram constituídas

32.723 empresas, a maioria sob forma jurídica de sociedade unipessoal (Racius, 2013).

Contudo, estudos realizados pela Comissão Europeia ao longo dos anos, indicam ainda

Portugal como um dos países com maior percentagem de pessoas que destacam diversos

obstáculos à criação de uma empresa. A complexidade do processo e a falta de informação

são, ainda, os fatores mais referenciados, ao contrário da complexidade administrativa, que

tem vindo a diminuir – este fenómeno poderá ser explicado pelas diversas iniciativas criadas

pelo governo português, como a Empresa na hora.

Apesar de todas estas condicionantes, como foi já anteriormente referido, 32% da

população inquirida pelo AGER 2013 admite a possibilidade de criação de um negócio. Na

base desta intenção encontram-se diversas motivações, que se distinguem, geralmente,

entre motivações internas e motivações externas. As motivações internas - denominado

empreendedorismo por oportunidade – estão ligadas à imagem do empreendedor clássico

que procura independência e realização profissional e pessoal. No que se refere às

motivações externas – empreendedorismo por necessidade – os indivíduos procuram

segurança perante a falta de alternativas, como uma situação de desemprego prolongada.

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2 Empreendedorismo

e Género

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 25

2. Empreendedorismo e Género

ARTIGO 13º

Princípio da Igualdade

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou

isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem,

religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social

ou orientação sexual.

(Constituição da República Portuguesa, 1976)

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IFDEP Research, 2014 26

2.1. A presença feminina no mercado de trabalho e a igualdade

de género

Vista até então como inapta para trabalhar fora de casa, foi entre os séculos XVIII e

XIX que a presença significativa da mulher no mercado de trabalho se iniciou. Com a

Revolução Industrial e o aumento da procura de trabalhadores, a incorporação da mão-de-

obra feminina aumentou exponencialmente. Porém, as condições de trabalho às quais eram

submetidas e os salários que recebiam eram desiguais, dando já, neste período, origem a

reivindicações de igualdade de jornada de trabalho e direitos do trabalho (Amorim &

Batista, 2010).

Também a 1ª e 2ª Guerras Mundiais – ocorridas entre 1914-1918 e 1939-1945,

respetivamente – desempenharam um papel fundamental na feminização do mercado de

trabalho. Com a prolongada ausência e a elevada taxa de mortalidade da força de trabalho

masculina, tornou-se imprescindível a contratação de mulheres para funções que antes

eram desempenhadas exclusivamente por homens, permitindo-lhes um reforço da sua

presença no mercado de trabalho, e, consequentemente, uma voz mais forte na defesa dos

seus direitos e busca de igualdade de oportunidades (Olivieri, 2007).

Em Portugal, e já no século XX, as diversas transformações políticas, sociais e

económicas, ocorridas a partir da década de 70, provocaram alterações profundas a vários

níveis. Das mais importantes, destacam-se: na saúde, com a generalização do acesso aos

cuidados médicos; na educação, com a diminuição da taxa de analfabetismo; na estrutura

social, com o desenvolvimento da classe média, decorrente da implementação da

democracia, do aumento dos hábitos de consumo e do acesso a melhores condições de

vida; e, na cidadania, expressa, não só pelos partidos políticos, como também pelo

associativismo relacionado com questões como a igualdade de género (Lisboa, Frias, Roque

& Cerejo, 2006).

A par de todas estas mudanças, também o posicionamento da mulher no mercado

de trabalho, assim como o tratamento jurídico e reconhecimento da igualdade de direitos

entre homens e mulheres, sofreram alterações essenciais com a implementação da

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IFDEP Research, 2014 27

democracia em Portugal. A diminuição significativa das taxas de nupcialidade e de

natalidade, acrescida do aumento das taxas de divórcio e de novas formas familiares e de

conjugalidade, transformaram o papel da mulher na sociedade, sendo que o contrato social

de género5 em vigor foi ultrapassado. Desta forma, a presença feminina no mercado de

trabalho reforçou-se, tornando-se, não só comum, como também essencial, como forma de

suprir as novas necessidades familiares (Guerreiro & Pereira, 2006). Para este reforço,

contribuíram também o aumento das qualificações académicas das mulheres, a

terciarização da economia e consequente crescimento de profissões ocupadas por

mulheres, bem como o desenvolvimento de profissões associadas às novas tecnologias de

informação e de comunicação (Rodrigues & Oliveira, 2007).

Assistiu-se a uma massificação das mulheres no mercado de trabalho, o que

originou a necessidade de uma série de transformações profundas neste contexto. Essas

mudanças fizeram sentir-se ao nível da flexibilidade de horários, da necessidade dos

colaboradores em conciliar um trabalho remunerado com a família e da introdução de novas

tipologias de trabalho, excluindo algumas das características do modelo tradicional

taylorista (e.g. dedicação exclusiva ao trabalho, necessidades do colaborador ignoradas)

(Rato, Madureira, Alexandre, Rodrigues & Oliveira, 2007).

Perante a nova realidade, o estudo e o reconhecimento da igualdade de género6

passou a ter uma importância acrescida, não só nos vários domínios da vida social, como

também a nível profissional. A igualdade de género compreende a igualdade de direitos e

liberdade ao nível de oportunidades de participação, reconhecimento e valorização de

mulheres e de homens em todos os domínios da sociedade (e.g. económico, laboral,

pessoal).

5 Este tipo de “contrato social de género” pressupunha apenas o salário do homem para o sustento da família, que

era o chefe do núcleo familiar. A mulher era responsável pelas tarefas domésticas e educação dos filhos, cabendo

ao homem a tomada de todas as decisões. Esta desigualdade estava presente não só no interior das famílias, como

também na sociedade em geral (Guerreiro & Pereira, 2006). 6 O género remete para as diferenças sociais, entre as mulheres e os homens, com base nas suas representações

sociais (e.g. crenças, valores e/ou ideias). Como tal, o género é a forma como a sociedade vê e interpreta o papel

das pessoas do sexo masculino e do sexo feminino.

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IFDEP Research, 2014 28

Segundo Guerreiro e Pereira (2006), a promoção da igualdade de género, a nível

profissional, pode ser efetivada através de: 1) atribuição de um peso idêntico de homens e

mulheres nas várias categorias profissionais; 2) realização de processos de recrutamento

não discriminatórios relativamente ao género; 3) atenuação da associação de determinadas

profissões a um sexo específico; 4) remuneração igualitária para mulheres e homens; 5) igual

acesso à educação e ações de formação profissional; 6) situações contratuais equivalentes

para ambos os sexos; 7) utilização integral de licenças parentais pelos dois progenitores.

Apesar de todo o caminho já percorrido em direção à igualdade, a participação das

mulheres na economia é ainda vulnerável, o que pode ser comprovado pelos maiores

índices de desemprego e prevalência de contratos de trabalho de duração limitada, níveis

salariais inferiores, reduzida ocupação de cargos de chefia e de topo, e menores

possibilidades de progressão na carreira (Marques & Moreira, 2011).

Estudos apontam para uma diferença cada vez maior entre o que auferem homens

e mulheres, em Portugal. Em 2011, esta diferença fixou-se nos 15%, sendo que em 2010

encontrava-se nos 13% e em 2000 era de 8%. Esta variação coloca Portugal na dianteira dos

membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com

maior agravamento da diferença salarial (PwC, 2014). No mesmo sentido, apontam os dados

divulgados pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, afirmando

que a remuneração média mensal das mulheres corresponde a 81,5% da dos homens, pelo

que a disparidade salarial se traduz em 18,5% em desfavor das mulheres. Também o

Eurostat, com uma forma de cálculo diferente, indica uma diferença de 15,7% em 2012.

2.2. Estrutura empresarial no feminino

A promoção do empreendedorismo feminino como combate à desigualdade, assim

como forma de desenvolvimento de um potencial económico a explorar, tem sido, desde

há alguns anos, um objetivo da generalidade das instituições e governos europeus. A

educação, cada vez mais voltada para o empreendedorismo, facilita a adoção de atitudes

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IFDEP Research, 2014 29

empreendedoras e conduz ao aumento da atividade empreendedora, como meio de

mobilização das mulheres na vida económica. Também a União Europeia tem

desempenhado um papel crucial no apoio ao empreendedorismo feminino, fomentando o

autoemprego e apoiando soluções inovadoras, através de mecanismos financeiros e

formativos.

Contudo, os principais indicadores do Programa Operacional Potencial Humano

(POPH, 2007-2013) já disponíveis apontam, ainda, para uma participação insuficiente das

mulheres, relativamente aos homens, em indústrias de alta e média tecnologia e outros

serviços de ciência e tecnologia (Marques & Moreira, 2011). Não obstante, a presença de

mulheres ativas profissionalmente tem aumentado gradualmente em Portugal, como se

pode verificar na tabela seguinte:

1981 2001 2011 2013

H M Total H M Total H M Total H M Total

Ativos

(milhares) 2523 1843 4367 2907 2434 5342 2837 2590 5428 2724 2560 5284

% 57,8 42,2 100 54,4 45,6 100 52,3 47,7 100 51,6 48,4 100

Tabela 2.1. População ativa em Portugal (Fonte: INE, PORDATA).

No que se refere à ocupação de cargos diretivos, a diferença torna-se mais

significativa, com uma baixa percentagem de mulheres em posições de poder. Estas são,

muitas vezes, vítimas do fenómeno de glass ceiling, correspondente à dificuldade em evoluir

na escala hierárquica independentemente das qualificações (Lipovetsky, 1997). Segundo

Archer e Lloyd (2002), embora as mulheres tenham habilitações elevadas, a maioria ocupa

cargos inferiores aos homens, algo que acontece também em Portugal, como é possível

verificar na tabela seguinte.

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IFDEP Research, 2014 30

Total H % M %

Quadros Superiores da Administração Pública 5.390 3.356 62.3 2.034 37.7

Diretores-Gerais 71.721 54.219 75.6 17.502 24.4

Outros Diretores 19.801 13.467 68.0 6.334 32.0

Diretores e Gerentes de Pequenas Empresas 205.297 137.583 67.0 67.714 33.0

Tabela 2.2. Cargos de direção ocupados por sexo, em 2001 (Fonte: INE).

Segundo dados do GEM referentes a Portugal (GEM, 2012), em 2012, a Taxa TEA

(Total Entrepreneurial Activity) de empreendedores do sexo masculino correspondia a 9,3%,

enquanto, no sexo feminino, se situava nos 6,2%. Apesar disso, o rácio empreendedores /

empreendedoras diminuiu relativamente a 2011, passando de 2,23% para 1,51%, pelo que,

pode concluir-se, o país progride no sentido da paridade, e, mais do que isso, a Taxa TEA

global de Portugal aumentou como resultado de um acréscimo do número de mulheres

empreendedoras - em 2011, a Taxa TEA feminina era de apenas 4,7%, ao passo que a

masculina era de 10,5%.

A situação profissional das mulheres como empreendedoras, em 2013, traduzida

como trabalhadora por conta própria como empregadora, é apresentada na tabela seguinte,

que por sua vez é elucidativa da situação profissional dos trabalhadores portugueses.

Situação na profissão Mulheres

(milhares)

Homens

(milhares)

Por conta de outrem 1.771,2 1.780,3

Por conta própria como isolado 293,2 435,7

Por conta própria como empregador 73,7 165,9

Familiar não remunerado 18,8 14,8

Total 2.156,9 2.396,7

Tabela 2.3. Estrutura do emprego segundo a situação na profissão (Fonte: Estatísticas do emprego, 3º

trimestre de 2013, INE).

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 31

Ao analisar o quadro anterior a diferença existente entre homens e mulheres que

trabalham por conta de outrem não é significativa. Todavia, o número de trabalhadores por

conta própria como isolado e de trabalhadores por conta própria como empregador

apresenta uma diferença marcante entre os dois sexos. Estes resultados apontam para uma

maior incidência de homens com negócios próprios do que mulheres, corroborando a

necessidade de continuar a apoiar e promover iniciativas empreendedoras para as

mulheres.

2.3. Conciliação trabalho-família

Perante as atuais exigências profissionais e o papel igualitário que mulheres e

homens detêm em todos os setores da sociedade, torna-se fundamental a introdução de

práticas de conciliação trabalho-família.

Legalmente, não é considerada a existência de diferenciação de tarefas entre

cônjuges, e o valor do trabalho profissional é equiparado ao do trabalho com os filhos e a

família (CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, 2009). A necessidade da

conciliação trabalho-família reflete-se, por parte das mulheres, na dificuldade de progredir

profissionalmente e, por parte dos homens, na dificuldade de reconhecimento dos seus

direitos na esfera privada e nas responsabilidades familiares.

Vários estudos revelam que, apesar de os homens trabalharem em média mais

horas do que as mulheres em atividades remuneradas, o tempo despendido por elas em

trabalhos não remunerados é muito superior ao dos homens. Um estudo divulgado pela

OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) em 2014, indica que

as mulheres realizam uma quantidade maior de trabalho não remunerado, sendo essa

diferença de aproximadamente o dobro. Acrescenta ainda que, apesar de nos últimos 50

anos os homens terem assumido cada vez mais as tarefas domésticas e os cuidados

familiares, estes ainda não foram assumidos por completo.

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IFDEP Research, 2014 32

No que se refere à realidade portuguesa, existe uma grande lacuna de informação,

dada a inexistência de dados estatísticos que permitam traçar um retrato atualizado. O

último inquérito realizado em Portugal remonta a 1999 e está esquematizado no quadro

seguinte.

Tabela 2.4. Diferenças de ocupação entre homens e mulheres, durante um dia de semana (Continente, 1999),

(Fonte: Torres, Vieira Silva, Monteiro e Cabrita., 2005).

Aqui, estão explicitadas as horas ocupadas por mulheres e homens portugueses em

várias atividades do dia-a-dia, demonstrando que, apesar da diferença entre homens e

mulheres não ser significativa, ainda existe. O resultado mais expressivo reflete um aumento

considerável, para as mulheres, de 2,5 horas de trabalho doméstico e de cuidado com os

filhos relativamente aos homens. Apesar da participação das mulheres no mercado de

trabalho ter vindo a aumentar, o crescimento da participação dos homens na vida familiar

não é proporcional.

Horas ocupadas em diversas atividades

durante o dia de semana

Horas ocupadas

pelos homens

Horas ocupadas

pelas mulheres

Diferenças de

horas

Trabalho pago (incluindo deslocações) 9.0 8.1 +0.9

Lazer e cuidados pessoais 3.1 2.3 +0.8

Trabalho doméstico e cuidado com os

filhos e outros familiares 1.3 3.8 -2.5

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IFDEP Research, 2014 33

2.4. Motivações femininas no processo de empreender

O empreendedorismo feminino é um fenómeno em fase embrionária, e, por isso,

ainda pouco explorado, principalmente no que se refere às motivações para empreender.

Ainda assim, estudos realizados indicam que as motivações primárias das mulheres são

bastante similares às dos homens, passando essencialmente por fatores económicos,

perceção de oportunidades de mercado, independência, autorrealização e insatisfação com

o emprego (Greene, Brush & Gatewood, 2007). Porém, a motivação revela-se

profundamente influenciada por fatores ambientais, o que faz com que, muitas vezes, o

contexto determine a origem dessa motivação. Veja-se, por exemplo, a diferença entre

estudos realizados com mulheres empreendedoras nos Estados Unidos da América, Reino

Unido e Dinamarca, em que as motivações estão essencialmente ligadas ao

empreendedorismo por oportunidade – apesar de, cada vez mais, ser também

impulsionado pela necessidade de conciliar trabalho e família –, e estudos semelhantes,

realizados com mulheres empreendedoras da Polónia, Lituânia e Ucrânia, que indicam o

desemprego e a falta de perspetivas como fatores determinantes na decisão de

empreender, remetendo para o empreendedorismo por necessidade (Machado, St-Cyr,

Mione & Alves, 2003); Organização Internacional do Trabalho, 2004).

Os estudos realizados apontam, ainda, motivações específicas da população

feminina, e que se prendem com as dificuldades em ascender na carreira profissional, as

políticas organizacionais vigentes nas empresas e a dificuldade em conciliar trabalho e

família (Machado et al., 2003; Weiler y Bernasek, 2001 in Patterson, 2007). Com a criação do

próprio emprego, muitas mulheres esperam alcançar maior autonomia e independência a

nível da tomada de decisões, maior flexibilidade de horários e maior disponibilidade, e assim

gerir de forma mais ágil as responsabilidades profissionais e familiares (Greene et al. 2007).

Esta possibilidade de conciliação trabalho-família é um dos motivos mais recorrentes para

um indivíduo criar o seu negócio, importante e comum aos dois sexos, contudo, no caso

das mulheres, torna-se ainda mais necessário, como comprovado pelos resultados

desfavoráveis apresentados no ponto anterior.

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IFDEP Research, 2014 34

2.5. Limitações e obstáculos ao empreendedorismo feminino

O fomento do empreendedorismo feminino é fundamental, não só para a melhoria

da competitividade e inovação na economia mundial, mas também, através do estímulo à

criação do próprio emprego/empresa, para a prevenção e proteção face ao desemprego.

Contudo, e apesar dos progressos da última década, na Europa, a exploração do potencial

empreendedor das mulheres encontra-se ainda aquém do desejável, principalmente no que

se refere a atividades empreendedoras de cariz inovador, que são as que mais contribuem

para o desenvolvimento de uma sociedade de conhecimento (Marques & Moreira, 2011).

Apesar do elevado número de mulheres com grau de ensino superior, estas tendem

a desenvolver os seus negócios em setores de atividade de serviços ou comércio, em

detrimento de áreas estratégicas de desenvolvimento científico e intelectual, o que sugere

que se encontram pouco envolvidas em atividades que lhes permitam mobilizar todo o seu

potencial e assumir posições de responsabilidade e decisão (GEM, 2010).

Esta questão foi explorada num estudo realizado pela Comissão Europeia (2008),

que aponta como principais limitações ao empreendedorismo feminino focado na inovação

os obstáculos económicos, de contexto, e soft. Os primeiros obstáculos referem-se à

necessidade de um investimento superior nesta área, o que poderá constituir uma limitação,

uma vez que a mulher tende a ser vista como menos credível em termos de financiamento

do que o homem; os segundos, os obstáculos de contexto, dizem respeito às escolhas

educacionais seguidas no sistema de ensino, e às perspetivas e estereótipos enraizados na

sociedade em relação à mulher, à ciência e à inovação; por fim, os obstáculos soft, que

resultam da falta de acesso a redes de negócios, modelos a seguir, capacidades

empreendedoras e formação empresarial (Marques & Moreira, 2011).

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3 Metodologia

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 36

3. Metodologia

A presente investigação, realizada pela equipa IFDEP Research, possui duas

vertentes: descritiva e exploratória. A componente descritiva consiste na recolha, análise e

interpretação dos dados numéricos decorrentes do questionário. Já a componente

exploratória – com o objetivo de procurar padrões ou ideias, recorrendo à análise de

conteúdo – foi materializado através das questões de resposta aberta, presentes no

questionário de recolha de dados, bem como pelas entrevistas a empreendedoras ou

entidades associadas ao empreendedorismo feminino.

Na revisão teórica, foram várias as plataformas utilizadas. Realçamos como mais

relevantes na nossa investigação a Biblioteca do Conhecimento Online (b-on); os Serviços

de informação EBSCO; a Social Science Citation Index (SSCI) – contido na base de dados Web

of Science, pertencente à plataforma Web of Knowledge; a OvidSP; e a Proquest. Estes

motores de pesquisa permitiram reunir os principais artigos e publicações acerca do tema

e, a partir dos mesmos, elaborar a componente teórica.

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Relativamente aos dados estatísticos existentes e apresentados ao longo da

componente teórica, os mesmos foram, essencialmente, retirados das fontes de informação

do INE (Instituto Nacional de Estatística); da PORDATA (Base de Dados de Portugal

Contemporâneo); do RACIUS.COM (informações empresariais online); do POPH (Programa

Operacional do Potencial Humano); do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional);

da Amway Europe; da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento

Económico); e da UE (União Europeia).

3.1. Construção e validação do instrumento de recolha de dados:

questionário

No sentido de proceder à recolha e posterior análise dos dados, foi necessário

construir e validar um instrumento que nos permitisse identificar e reunir a informação

relevante para compreender o fenómeno do empreendedorismo em toda a sua extensão

(perfil empreendedor; contactos com o tema; noção dos apoios/incentivos existentes;

vantagens constatadas e obstáculos a contornar). Note-se que o desenvolvimento deste

tipo de instrumentos deve ser um processo cuidado, quer pela importância que apresentam

as análises feitas decorrentes da sua aplicação, quer pela possível replicação do instrumento,

em estudos similares futuros.

Desta forma, adotámos a metodologia de criação de um instrumento de avaliação,

postulada por DeVellis (2003) e Netemeyer, Bearden e Sharma (2003) [adaptação de 7 para

5 pontos, mediante a natureza do estudo a realizar]: 1) análise teórica da temática a ser

investigada – no caso, o empreendedorismo – com o intuito de poder definir, de forma

clara, o objeto de medida; 2) início da construção do instrumento, traduzindo-se na escolha

e/ou criação de um conjunto diverso de itens que refletem o propósito do questionário

previamente definido (DeVellis, 2003), bem como na análise dos diferentes itens que se

encontram na amostra, devendo filtrar-se os mesmos de acordo com o cumprimento de

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IFDEP Research, 2014 38

alguns critérios7 (DeVellis, 2003); 3) definição do formato da medição – qual o tipo de escala

a colocar no questionário, que melhor recolhe a informação pretendida (entre as várias

possibilidades, optou-se por questões fechadas, na sua maioria); 4) necessidade de se

submeterem os itens construídos/adaptados a revisão por parte de peritos. Este momento

relaciona-se com a verificação da existência de validade facial e de conteúdo8; e 5)

aperfeiçoamento final do instrumento, relativamente aos itens e à dimensão do

instrumento.

Uma vez asseguradas as premissas de validação do instrumento, são, agora,

apresentadas as questões nele existentes.

Assim, de modo a averiguar os dados sociodemográficos dos inquiridos, foi

construído um conjunto de questões que englobou as variáveis: ano de nascimento; estado

civil; nacionalidade; local de residência; habilitações literárias; situação profissional; e

sentimento face à situação económica.

Posteriormente, por forma a dar resposta aos nossos objetivos, produzimos um

conjunto de questões que passaram pela definição de atitude empreendedora;

empreendedorismo como primeira opção; motivos para a criação de um negócio próprio; ter

alguma ideia de negócio; sentir-se preparada para iniciar um negócio próprio;

constrangimentos na criação de um negócio; processo de constituição de empresas; primeira

vez que ouviu falar de empreendedorismo; contacto com iniciativas sobre empreendedorismo

no estabelecimento de ensino; entendimento acerca de temáticas sobre criação de um

negócio; nível de conhecimento sobre conteúdos de gestão; conhecimento de soluções de

7 Evitar itens demasiado longos (quanto maior o item maior a sua complexidade e menor a sua clareza); a

dificuldade de leitura dos itens deverá ser adequada à população alvo; evitar múltiplas negativas na construção de

itens; evitar o uso de mais do que uma ideia por item; evitar o uso de pronomes e de outras situações passíveis de

criar ambiguidade; evitar o uso de adjetivos em vez de nomes (DeVellis, 2003). 8 Utilizou-se o CVC (Coeficiente de Validação de Conteúdo) para avaliar os itens colocados no instrumento,

mediante três critérios de avaliação: clareza da linguagem, relevância teórica, pertinência prática (Hernández-Nieto,

2002). Solicitámos, deste modo, a uma equipa de peritos que, individualmente, avaliasse os itens do instrumento,

pontuando-os de 1 a 5, consoante os critérios acima referidos. Os valores obtidos, sujeitos a um conjunto de

operações aritméticas, indicam-nos o CVC (quer de cada item, quer no total dos três critérios). Para existir validade,

os scores obtidos devem ser iguais ou superiores a 0.80 – o que se verificou.

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financiamento; financiamento na criação de um negócio; espaços de suporte à criação de

empresas; medidas de apoio ao empreendedorismo; programas de apoio ao

empreendedorismo feminino que conhece ou já teve contacto; empreender comparativamente

ao empreendedorismo masculino; razões que dificultam empreender no feminino; e razões

que facilitam empreender no feminino.

Por fim, em forma de escala intervalar de cinco pontos (extremos Nunca-Sempre),

abordámos o Perfil de Empreendedor (em nove dimensões – Busca de Oportunidades,

Orientação para Objetivos, Resolução de problemas, Assertividade, Iniciativa, Assunção de

Riscos, Autoconfiança, Estratégias de Influência, Espírito empreendedor, cada uma com três

itens correspondentes), como forma de possibilitar a análise de um perfil médio da nossa

amostra.

3.2. Acordo inter-juízes

Ao planear o método de recolha de dados com recurso à construção de um

questionário, deve pensar-se em procedimentos que garantam indicadores confiáveis. A

decisão vai depender do desenho da pesquisa e da seleção de instrumentos de medidas

adequados e precisos. Para que tal aconteça é necessário validar esses mesmos

instrumentos. O objetivo da validação não é mais do que verificar se o instrumento mede

exatamente o que se propõe a medir. Isto é, avalia a capacidade de um instrumento medir

com precisão o fenómeno a ser estudado.

Sempre que é necessário criar um questionário, vários tipos de enviesamentos

podem ocorrer. Com vista à sua minimização é frequente o recurso a mais do que um juiz

para categorizar os mesmos dados, analisando-se posteriormente o seu grau de acordo e

consequentemente a fiabilidade da classificação. Entre os vários índices de acordo inter-

juízes mencionados na literatura, o coeficiente kappa (Cohen, 1960) é referido como o mais

frequentemente utilizado quando as variáveis em estudo são nominais. Assim sendo, o

IFDEP Research constituiu um grupo de juízes composto por dois estudantes universitários,

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IFDEP Research, 2014 40

dois docentes universitários, um docente de língua portuguesa, dois empreendedores, uma

advogada, e, ainda, um coordenador de uma entidade ligada à inovação e ao

empreendedorismo. Com este painel, foi possível construir um questionário válido e preciso.

De realçar que, em momentos de indecisão – fruto, muitas vezes, da heterogeneidade do

painel –, prevaleceu a opinião da equipa IFDEP Research.

3.3. Recolha de dados

Se por um lado a validação do questionário é importante, por outro a forma de

fazê-lo chegar ao público não o é em menor escala. Para isso – e tendo em linha de conta

que o objetivo é chegar ao maior número de sujeitos possível – a equipa IFDEP Research

utilizou uma plataforma online de recolha de dados. De entre algumas soluções existentes

no mercado, a nossa opção recaiu sobre o Survey Monkey. Este último apresenta-se como

sendo o principal fornecedor mundial de soluções de questionário pela Web, que é

merecedor da confiança de milhões de empresas e organizações. Com recurso à versão

GOLD da plataforma, foi-nos mais fácil aceder a um maior número de funcionalidades, das

quais destacamos (i) envio para o público-alvo do link para aceder ao questionário; (ii)

incorporar o questionário no site do IFDEP; (iii) enviar o questionário por email aos

inquiridos; (iv) adicionar o questionário à página do Facebook; (v) compartilhar o link do

questionário no Twitter; (vi) obter resultados em tempo real; (vii) análise de texto facilitada;

(viii) colocar logótipos empresariais e de apoios comunitários; e, ainda, (ix) integração dos

dados no SPSS.

Para além da recolha online, utilizámos a recolha em papel, quer junto da rede de

contactos pessoal e profissional do IFDEP Research, quer através de parcerias a nível

nacional com entidades ligadas ao empreendedorismo, das quais destacamos: Junta de

Freguesia de Paranhos; Junta de Freguesia de São Victor; Serviço de apoio às atividades

económicas - Câmara Municipal de Faro; Ação Social - Câmara Municipal do Cadaval; CSPVC

(Centro Social Paroquial da Vera Cruz); e SEIVA (Associação ao Serviço da Vida).

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3.4. Construção e validação do instrumento de recolha de dados:

entrevista

De entre os vários tipos de entrevistas previstos numa investigação, considerámos

que, para responder às nossas necessidades, a entrevista semiestruturada seria a melhor

opção.

Na entrevista semiestruturada, o investigador tem uma lista de questões ou tópicos

a ser explorados (guião de entrevista), mas a entrevista em si permite uma relativa

flexibilidade. As questões podem não seguir exatamente a ordem prevista no guião e

poderão, inclusivamente, ser colocadas questões que não se encontram no guião, em

função do decorrer da entrevista. Entre as principais vantagens das entrevistas

semiestruturadas, contam-se as seguintes: (i) possibilidade de acesso a uma grande riqueza

informativa (contextualizada através das palavras dos entrevistados e das suas perspetivas);

(ii) possibilidade do/a investigador/a esclarecer alguns aspetos no seguimento da entrevista,

o que a entrevista estruturada ou o questionário não permitem; e (iii) possibilidade de

recolha de muitos e importantes dados, podendo gerar informação quantitativa e

qualitativa.

3.5. Entrevista a empreendedoras

Para complementarmos a informação recolhida através dos questionários,

realizámos entrevistas com empreendedoras. As entrevistas foram previamente agendadas

e na sua base de orientação estavam as seguintes questões: Enquanto empreendedora, qual

o seu papel na promoção/desenvolvimento/defesa do empreendedorismo feminino?; Como

foi a sua experiência de criação do próprio negócio?; Quais os principais constrangimentos

que na sua opinião afetam a criação do próprio emprego (e o empreendedorismo) no público

feminino em Portugal?; Em que medidas apostaria para desenvolver uma atitude mais

empreendedora na população portuguesa?; Quais as características que, na sua opinião, uma

mulher deve ter para ser uma empreendedora de sucesso?; O que a motivou a criar o próprio

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IFDEP Research, 2014 42

negócio?; e, por último, Considera existir, ainda, estereótipos e preconceitos dirigidos à mulher

empreendedora que inibem esse fenómeno?.

3.6. Entrevista a entidades promotoras do empreendedorismo

feminino

Para além das entrevistas a empreendedoras, abordámos entidades que de alguma

forma se encontram associadas à promoção do empreendedorismo feminino. À semelhança

das entrevistas às empreendedoras, as entrevistas às entidades/associações foram

igualmente agendadas previamente. O guião para este público continha as seguintes

questões: Como considera ser a oferta de Programas Femininos de Empreendedorismo em

Portugal?; O que considera que pode ser feito em Portugal para estimular ainda mais este

tipo de empreendedorismo?; Considera que, face ao empreendedorismo masculino, o

empreendedorismo feminino é mais fácil ou mais difícil? Porquê?; Considera existir, ainda,

estereótipos e preconceitos dirigidos à mulher empreendedora que inibem esse fenómeno?;

Considera que por haver um número muito mais significativo de programas de apoio ao

empreendedorismo feminino, está a acentuar-se, indiretamente, a desigualdade de género?;

Ou, por outro lado, vê como uma inevitabilidade para se alcançar mais igualdade entre

homens e mulheres?; Enquanto entidade/associação, qual o vosso papel no

empreendedorismo feminino?; e, por último, Considera que a divulgação é suficientemente

forte para incentivar a aposta no próprio negócio, no universo feminino?.

3.7. Hipóteses de trabalho

Para além das habituais análises descritivas, considerámos interessante fazer

cruzamentos de variáveis, por forma a compreender melhor o fenómeno de

empreendedorismo feminino. Para o efeito, considerámos as seguintes hipóteses de

trabalho:

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IFDEP Research, 2014 43

H1: Existirá uma eventual relação entre o contacto com iniciativas ligadas ao

empreendedorismo, no estabelecimento de ensino, e o facto de as inquiridas se

sentirem preparadas para criar o seu próprio negócio?

H2: Existirá uma eventual relação entre o facto de as inquiridas possuírem uma ideia

de negócio e se sentirem preparadas para criar o seu negócio?

H3: Existirá uma eventual relação entre as inquiridas verem o empreendedorismo como

primeira opção e possuírem uma ideia de negócio?

H4: Existirá uma eventual relação entre o facto de as inquiridas se sentirem preparadas

para criar o seu negócio e o nível de conhecimento de temáticas relacionadas com

gestão?

H5: Existirá uma eventual relação entre o facto de as inquiridas se sentirem preparadas

para criar o seu negócio e o nível de entendimento acerca de questões relativas à

criação de um negócio?

H6: Existirá uma eventual relação entre a idade das inquiridas e os principais motivos

para a criação do próprio negócio?

H7: Existirá uma eventual relação entre a idade das inquiridas e o facto de as

empreendedoras se sentirem preparadas para criar o seu negócio?

H8: Existirá uma eventual relação entre a idade das inquiridas e possuir uma ideia de

negócio?

H9: Existirá uma eventual relação entre as habilitações literárias das inquiridas e o nível

de conhecimento de temáticas relacionadas com gestão?

H10: Existirá uma eventual relação entre o conhecimento das inquiridas acerca do

processo de constituição de uma empresa e se sentirem preparadas para criar o

próprio negócio?

H11: Existirá uma eventual relação entre o facto de as inquiridas se sentirem preparadas

para criar o seu negócio e o conhecimento relativo aos principais espaços de suportes

à criação de empresas?

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IFDEP Research, 2014 44

3.8. Testes Estatísticos

Como já foi destacado, e para dar um conjunto de respostas válidas e objetivas, que

corroborem ou não as hipóteses acima levantadas, recorremos ao cálculo de inferências

estatísticas. Neste caso, dado a natureza das variáveis – dicotómicas e categoriais, na sua

maioria –, bem como a possibilidade de, em muitas questões, a inquirida dar mais do que

uma resposta, foi necessário recorrer a testes não-paramétricos – o Qui-quadrado Aderência

e o Qui-quadrado Contingência. O primeiro remete para a tentativa de averiguar se existem

diferenças estatisticamente significativas nas várias categorias de uma única variável. O

segundo permite cruzar duas variáveis com mais de duas categorias cada, tentando

compreender se existem diferenças estatisticamente significativas nos grupos daí

resultantes. Os pressupostos a cumprir, na utilização deste design, são: aleatorização

amostral; independência das observações e, no caso do qui-quadrado contingência, a

frequência esperada em cada grupo criado não pode ser igual ou inferior a 5. Todos estes

pressupostos foram cumpridos nas inferências realizadas e a apresentar de seguida.

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IFDEP Research, 2014 45

4 Caracterização

da Amostra

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IFDEP Research, 2014 46

4. Caracterização da Amostra

A amostra obtida nesta investigação é constituída por 320 mulheres portuguesas

(oriundas do Continente e das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira), tendo sido

construída através do método de amostragem por conveniência ou acessibilidade (Hill &

Hill, 2005), com recurso a questionário, quer na versão online, quer na versão em papel. A

nossa amostra é representativa da população feminina, com uma margem de erro de 5% e

um nível de confiança de 95%.

Seguidamente, são apresentados alguns dados descritivos da amostra, relativos a

variáveis sociodemográficas – idade, por clusters; estado civil; distribuição por NUTS II;

habilitações literárias e situação profissional.

Nesta amostra, as inquiridas têm entre 17 e 61 anos, com uma média de idades de

31.37.

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IFDEP Research, 2014 47

Na sua maioria, as respondentes são solteiras (57.80%), sendo que existe uma

elevada percentagem de casadas (31.30%). Com pontuações mais reduzidas encontramos

união de facto (6.6%), divorciada (4.10%) e viúva (0.30%).

Na sua maioria, as inquiridas residem no centro do país (57.81%). Na zona norte e

na grande Lisboa também temos um número de respostas assinalável (21.25% e 10.31%,

respetivamente). As restantes zonas pontuam em menor escala, como pode observar-se

pelo quadro seguinte.

30,00

15,00

21,25

18,75

10,31

2,19

2,19

0,31

[17;21]

[22;26]

[27;31]

[32;36]

[37;41]

[42;46]

[47;51]

[57;61]

Idades (%)

57,80

31,30

4,10

6,60

0,30

Solteira

Casada

Divorciada

União de facto

Viúva

Estado Civil (%)

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IFDEP Research, 2014 48

As habilitações literárias predominantes são a licenciatura/bacharelato (53.13%),

seguido do 10º-12º anos (26.56%) e do mestrado (15.63%). As restantes habilitações, em

conjunto, representam menos de 5% da amostra.

Quanto à situação profissional, a maior percentagem das inquiridas são

desempregadas (36.25%). Com percentagem preponderante, temos também estudantes

(26.25%) e empregadas por conta de outrem (21.56%). Com percentagens menos

expressivas, contámos com empresárias (6.88%), profissionais liberais (6.25%) e, ainda,

trabalhadoras-estudantes (2.81%).

21,25

57,81

10,31

6,88

2,19

0,94

0,63

Norte

Centro

Lisboa

Alentejo

Algarve

Madeira

Açores

Distribuição por zona de residência (%)

0,31

0,31

0,94

3,13

15,63

26,56

53,13

7º - 9º anos

Doutoramento

5º - 6º anos

Outro

Mestrado

10º - 12º anos

Licenciatura/bacharelato

Habilitações literárias (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 49

2,81

6,25

6,88

21,56

26,25

36,25

Trabalhadora-estudante

Profissional liberal

Empresária

Empregada por conta de outrem

Estudante

Desempregada

Situação profissional (%)

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IFDEP Research, 2014 50

5 Resultados e

Discussão

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 51

5. Resultados e Discussão

Nesta secção, faremos referência à análise dos dados por nós recolhidos. Mediante os

testes estatísticos já enunciados, apresentaremos os resultados relativos às perguntas

colocadas no questionário, bem como ao cruzamento de algumas questões do mesmo,

sempre que se justificar.

O perfil empreendedor

O perfil empreendedor é um conjunto de competências técnicas e sociais, que

devem existir e ser demonstradas por quem tem comportamentos e atitudes

empreendedoras. Não é, contudo, fácil e objetivo conseguir reunir todas essas

características e analisá-las em simultâneo. Daí que, em qualquer investigação sobre este

tema, os autores optem por algumas competências em detrimento de outras, sem que a

validade e a credibilidade do estudo sejam colocadas em causa. Deste modo, com o intuito

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IFDEP Research, 2014 52

de aferir o perfil empreendedor da amostra em estudo, calculámos as médias ponderadas

de nove dimensões, selecionadas mediante as definições de empreendedorismo e de

empreendedor já apresentadas. São elas: Procura e Identificação de Oportunidades;

Orientação para Objetivos; Resolução de Problemas de forma Criativa e Inovadora;

Autoconfiança; Assertividade; Iniciativa; Assunção de Riscos Calculados e Uso de Estratégias

de Influência e Espírito Empreendedor.

Os resultados revelaram uma pontuação mais elevada nas dimensões Procura e

Identificação de Oportunidades (11.27 pts.), Orientação para Objetivos (10.93 pts.) e

Resolução de Problemas de forma Criativa e Inovadora (10.84 pts.). Por contraponto, as

dimensões Espírito Empreendedor e Autoconfiança, com 9.33 pts. e 8.34 pts., respetivamente,

foram as dimensões que menos pontuaram. Estas diferenças, porém, não são

estatisticamente significativas, demonstrando a pouca diferenciação entre as várias

dimensões.

Para além da pouca diferenciação – e ainda que nenhuma categoria pontue abaixo

do ponto médio da escala (7.5 pts.) – não vemos nos nossos resultados valores médios que

se aproximem do topo da escala (15 pts.) Mediante estes resultados, uma das ilações

possíveis a retirar, prende-se com a baixa autoconfiança que o sexo feminino demonstra, o

8,34

9,33

9,78

10,06

10,34

10,52

10,84

10,93

11,27

Autoconfiança

Espírito empreendedor

Assertividade

Assunção de riscos calculados

Uso de estratégias de influência

Iniciativa

Resolução de problemas de forma criativa e…

Orientação para objetivos

Procura e identificação de oportunidades

Perfil empreendedor (médias) [Escala 0-15 pontos]

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IFDEP Research, 2014 53

que naturalmente leva a alguma retração no momento de arriscar e assumir

responsabilidades, refletindo-se também no espírito empreendedor. Aliado a isso, o facto

de a sociedade não aceitar bem o fracasso que possa advir de uma atitude empreendedora

(ver ponto 1.4 – A realidade empreendedora em Portugal), conduz a que os valores médios,

ainda que não muito baixos, não tenham nenhuma expressão notável.

No entanto, esta perspetiva da cultura portuguesa pode ser alterada. De facto, ao

entrevistarmos alguns elementos ligados ao empreendedorismo feminino apercebemo-nos

de um esforço em alterar essa mesma mentalidade. Apesar da multiplicidade de

características que podem estar associadas a um perfil empreendedor, a “atitude positiva,

saber quando insistir e saber quando precisamos de ajuda” (segundo as palavras de Maartje

Vens, empreendedora), bem como a “energia, fé em si mesmo e no potencial da sua ideia”

(segundo Nelson Leite Sá, ex-coordenador do Clube de Inovação e Empreendedorismo da

ESTESC e empreendedor) constituem ferramentas fundamentais para empreender e alterar

esta mentalidade face ao empreendedorismo feminino.

O que melhor define uma atitude empreendedora? (possibilidade de

selecionar até três opções)

Através desta questão, quisemos contabilizar e avaliar quais as características

fundamentais, no entender das inquiridas, que melhor definem uma atitude

empreendedora. Para o efeito, foi calculado um qui-quadrado (aderência), cujos resultados

revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as várias

características apresentadas (Χ2 = 675.082; 12 g.l.; p < 0.001).

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IFDEP Research, 2014 54

De facto, a criatividade, que reuniu a preferência de 69.38% das inquiridas, tende a

ser a característica fundamental para fomentar uma atitude empreendedora. Para além da

criatividade, a iniciativa (49.69%) e a procura de oportunidades (40.31%) são as que mais

pontuam. Por contraponto, o medo e a gestão de tempo aparecem com pontuações muito

baixas – 0.31% e 5.94%, respetivamente.

Vê/viu o empreendedorismo como primeira opção no momento de

integrar o mercado de trabalho?

Quando questionámos à nossa amostra se via o empreendedorismo como primeira

opção, os resultados revelaram uma diferença estatisticamente significativa (Χ2 = 24.835; 1

g.l.; p = 0.000), entre o sim (55.5%) e o não (44.5%).

0,31

5,31

5,94

11,88

19,69

22,81

23,44

26,25

27,50

40,31

49,69

69,38

Medo

Não responde

Gestão de tempo

Desafio aliciante

Gestão do próprio futuro

Independência/ autonomia

Risco

Estabelecimento de metas

Tomada de decisões

Procura de oportunidades

Iniciativa

Criatividade

Atitude empreendedora (%)

55,50

44,50

Sim

Não

Empreendedorismo como primeira opção (%)

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IFDEP Research, 2014 55

Possui alguma ideia de negócio?

Quando questionámos às respondentes se possuíam alguma ideia de negócio, as

respostas penderam claramente para o não (66.60%), contra 33.40% que referiram sim –

ainda que a diferença não seja estatisticamente significativa (Χ2 = 2.199; 1 g.l.; p = 0.138).

Ao cruzarmos as variáveis empreendedorismo como primeira opção com ter ideia de

negócio, foi calculado um qui-quadrado (contingência), cujos resultados revelaram a

existência de diferenças estatisticamente significativas (Χ2 = 21.641; 1 g.l.; p = 0.000).

Os resultados mostraram que o público feminino que vê o empreendedorismo como

primeira opção, já possui, na sua maioria, uma ideia de negócio (75.14%), contra 24.86% que

não possui. Contudo, existe, ainda, uma percentagem considerável de mulheres que não vê

o empreendedorismo como primeira opção, mas mesmo assim possuem ideia de negócio

(49.30%). Este último dado, aliás, foi alvo de análise mais pormenorizada numa questão de

33,40

66,60

Sim

Não

Ter ideia de negócio (%)

75,14

49,30

24,86

50,70

Sim

Não

Em

pre

en

ded

ori

smo

com

o p

rim

eir

a o

pçã

o

Primeira opção*Ideia de negócio (%)

Tem ideia de negócio Não Tem ideia de negócio Sim

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IFDEP Research, 2014 56

resposta aberta. Neste caso, utilizámos como técnica a análise de conteúdo, que

apresentamos de seguida.

Das inquiridas que responderam não ao facto de ver o empreendedorismo como

primeira opção, 19.01% apontam como principal entrave não possuir ainda conhecimentos

e experiência, que lhes permitam criar e gerir um negócio próprio, nomeadamente nas

temáticas mais práticas, fundamentais para empreender. As questões económico-financeiras

destacaram-se também – 15.49% –, quer pelo contexto económico atual, quer pelas

dificuldades de financiamento que o público feminino encara. Com 12.68%, encontra-se o

indicador Medo de falhar, indo ao encontro dos dados apresentados na primeira parte desta

investigação e que merece aqui destaque. Conforme foi referido, o medo de falhar é uma

das principais causas da crescente quebra nas intenções empreendedoras dos portugueses.

Este medo de falhar permanentemente difundido na cultura portuguesa, contrariamente à

cultura de países como os EUA onde o fracasso é visto como uma oportunidade de melhoria,

leva a que 83% dos portugueses apontem o medo de falhar como principal obstáculo para

iniciar um negócio próprio (Amway Europe em 2013).

0,7

2,11

2,82

2,82

4,23

11,27

12,68

15,49

19,01

Falta de apoio técnico

Burocracia/encargos fiscais

Não possuir ideia de negócio

Não considerar o empreendedorismo possível na sua área profissional

Preferência em trabalhar por conta de outrem

Não ter perfil/Não ver o empreendedorismo como prioridade

Medo de falhar

Questões económico-financeiras

Falta de conhecimentos/experiência

Motivos para não empreender (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 57

Quisemos, também, perceber se existia algum efeito relacionado com a idade,

relativamente ao facto de possuírem uma ideia de negócio, cujo cruzamento se revelou

estatisticamente significativo (Χ2 = 47.257; 7 g.l.; p = 0.000).

Os resultados demonstraram uma tendência para, com o avançar da idade, mais

inquiridas terem ideias de negócio. Os elementos da amostra no cluster [17;21] pontuaram

acentuadamente no não (62.5%) – provavelmente por serem as mais jovens. No entanto, foi

o único cluster em que o não sobrepôs-se ao sim. Existe, desta forma, um efeito

tendencialmente positivo entre a idade e ter ideia de negócio, sendo que o resultado mais

elevado surgiu no último cluster, com a totalidade das respondentes a indicar que têm uma

ideia de negócio.

No caso de possuir uma ideia de negócio, esta resultou de? (possibilidade

de selecionar até três opções)

Através desta questão, pretendíamos contabilizar e avaliar quais as principais

influências para elaborar/desenvolver uma ideia de negócio. Para o efeito, foi calculado um

37,50

68,75

75,00

71,67

78,79

100,00

100,00

62,50

31,25

25,00

28,33

21,21

0,00

0,00

[17;21]

[22;26]

[27;31]

[32;36]

[37;41]

[42;46]

[47;51]

Idad

es

po

r cl

ust

er

Idades*Ter ideia de negócio (%)

Tem ideia de negócio Não Tem ideia de negócio Sim

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 58

qui-quadrado (aderência), cujos resultados revelaram a existência de diferenças

estatisticamente significativas entre as várias influências apresentadas (Χ2 = 201.195; 5 g.l.;

p < 0.001).

O gosto pessoal, que reuniu a preferência de 45.94% das inquiridas, tende a ser o

principal alicerce para fomentar e implementar uma ideia de negócio. Para além deste,

destacou-se a identificação de oportunidades de negócio (43.44%). Pela negativa destacou-

se a parca percentagem de respondentes que indicaram atividade desenvolvida por

familiares e amigos (5%).

Quais os motivos a levaram/levariam a querer criar o seu próprio

negócio? (possibilidade de selecionar até três opções)

Com esta questão, pretendíamos contabilizar e avaliar quais os principais motivos

para a criação do próprio negócio. Para o efeito, foi calculado um qui-quadrado (aderência),

cujos resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os

vários motivos apresentados (Χ2 = 480.988; 10 g.l.; p < 0.001).

5,00

28,75

30,00

43,44

45,94

Atividade desenvolvida por familiares e amigos

Necessidade de criação do próprio emprego

Atividade profissional desenvolvida

Identificação de uma oportunidade de negócio

Gosto pessoal

No caso de possuir uma ideia de negócio, esta resultou de: (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 59

A realização pessoal, que reuniu a preferência de 63.13% das respondentes,

apresentou-se como sendo o motivo mais forte para fomentar e implementar uma ideia de

negócio. Para além deste, surgiu a aplicação/valorização de competências pessoais (43.44%)

e a falta de oportunidades atrativas no mercado de trabalho (39.69%) como motivos

igualmente preponderantes. De relevar, ainda, que uma elevada quantidade de motivos se

situou entre os 25% e os 35% da opinião da amostra a este respeito, o que denota uma

distribuição bastante homogénea dos dados (exceção feita a gestão do tempo – 6.86%,

outros casos de sucesso – 5.31%, e influência de família/amigos – 3.75%).

Sente-se preparada para iniciar um negócio próprio?

Os nossos resultados a esta questão apontam que 54,10% do público feminino não

se sente preparada para criar um negócio (Χ2 = 79.690; 1 g.l.; p = 0.000).

3,75

5,31

6,86

25,00

30,00

33,44

33,44

39,69

43,44

63,13

Influência de família/amigos

Outros casos de sucesso

Gestão de tempo

Criação de valor para a sociedade

Autonomia

Perceção de oportunidades de negócio

Melhores perspetivas a nível de rendimento

Falta de oportunidades atrativas no mercado

Aplicação e valorização de competências pessoais

Realização pessoal

Motivos

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 60

Perante estes resultados, revelou-se interessante cruzar as variáveis sentir-se

preparada e ter ideia de negócio, para aprofundar os resultados.

Neste sentido, foi calculado um qui-quadrado (contingência), cujos resultados

revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas (Χ2 = 96.606; 1 g.l.; p =

0.000).

Os resultados obtidos foram ao encontro, no essencial, do esperado (quem se sente

preparada tem ideia de negócio). Assim sendo, apenas 6.90% das inquiridas que se sentem

preparadas afirmaram não ter uma ideia de negócio. No entanto, de ressaltar também que

39.18% das respondentes que não se sentem preparadas mas que afirmaram ter uma ideia

de negócio.

45,90

54,10

Sim

Não

Sentir-se preparada para criar um negócio (%)

93,10

39,18

6,90

60,82

Sim

Não

Pre

para

da p

ara

cri

ar

pró

pri

o n

eg

óci

o

Sentir-se preparada*Ideia de negócio (%)

Tem ideia de negócio Não Tem ideia de negócio Sim

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 61

Espera iniciar o negócio no prazo de quanto tempo?

Relativamente às inquiridas que indicaram sentirem-se preparadas para criar um

negócio, pretendíamos aferir o prazo temporal previsto para a sua concretização. Foi

calculado um qui-quadrado (aderência), cujos resultados revelaram a existência de

diferenças estatisticamente significativas entre as várias hipóteses apresentadas (Χ2 =

104.499; 4 g.l.; p = 0.000).

Os resultados obtidos acabaram por demonstrar que a maioria das respondentes

desta questão já iniciou um negócio próprio (26,70%), o que deve ser considerado como

bastante positivo. Outro dado interessante, é a elevada percentagem de inquiridas que

espera criar o próprio negócio no próximo semestre (37.70%).

Quisemos, novamente, aferir a existência de algum efeito relacionado com a idade,

relativamente ao facto das inquiridas se sentirem preparadas para criar o próprio negócio,

cujo cruzamento se revelou estatisticamente significativo (Χ2 = 61.810; 7 g.l.; p = 0.000).

21,90

13,70

19,20

18,50

26,70

Mais de 12 meses

Entre 7 e 12 meses

Entre 4 a 6 meses

Até 3 meses

Já iniciou

Iniciar negócio no prazo de quanto tempo (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 62

Os resultados demonstraram uma tendência para, com o avançar da idade, as

inquiridas se sentirem mais preparadas. Reflexo disso foram os dois primeiros clusters

([17;21] e [22;26]) pontuarem mais no não, do que no sim (84.95% e 58.33%,

respetivamente). A partir do terceiro cluster passou a existir uma sobreposição progressiva

do sim face ao não, culminando no último grupo com 85.71% das respondentes a indicarem

que se sentem preparadas, contra apenas 14.29% que não se sentem preparadas.

Quais os principais constrangimentos que identifica na criação de um negócio?

(possibilidade de selecionar até três opções)

Esta questão teve como propósito contabilizar e avaliar os principais

constrangimentos para criar um negócio. Assim, foi calculado um qui-quadrado (aderência),

cujos resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as

várias possibilidades apresentadas (Χ2 = 568.140; 9 g.l.; p < 0.001).

15,05

41,67

59,70

61,67

69,70

71,43

85,71

84,95

58,33

40,30

38,33

30,30

28,57

14,29

[17;21]

[22;26]

[27;31]

[32;36]

[37;41]

[42;46]

[47;51]

Idad

es

po

r cl

ust

er

Idades*Sentir-se Preparada (%)

Preparada para criar próprio negócio Não Preparada para criar próprio negócio Sim

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 63

Quanto aos resultados, a situação económica adversa (63.13%) foi a opção mais

selecionada, seguida de dificuldades de financiamento (61.88%) e carga fiscal associada

(50%).

Destacamos também a reduzida percentagem de inquiridas que indicaram

discriminação (1.88%) como um constrangimento ao empreendedorismo, uma vez que,

mesmo com os esforços desenvolvidos, a nível social e cívico, continua a gerar discussão

em redor da discriminação por géneros. Contudo, outro dado obtido na nossa amostra que

contrapõe esta percentagem baixa atribuída à discriminação é a resposta à questão

comparativa da dificuldade de empreender entre géneros, em que aproximadamente 41%

da amostra revela que é Difícil ou Muito Difícil empreender, quando comparado com o sexo

masculino. Para além deste dado, também 42.19% da nossa amostra considera que o

estereótipo feminino é uma das principais dificuldades com que as mulheres se debatem

para empreender. Neste sentido, como refere a empreendedora Maartje Vens, “haverá

sempre quem prefira trabalhar com homens ou mais facilmente acredite nas capacidades

de um homem no papel de líder”, da mesma forma que ainda existe “alguma incerteza na

capacidade de gestão feminina (Ana Terrível, empreendedora).

1,88

10,63

14,06

14,06

27,50

34,69

50,00

61,88

63,13

Discriminação

Aversão ao risco

Falta de formação adequada

Informação difusa/dispersa

Morosidade excessiva e burocracia

Receio do insucesso

Carga fiscal associada

Dificuldades de financiamento

Situação económica adversa

Constrangimentos (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 64

Como considera o processo de constituição de uma empresa?

(possibilidade de selecionar até três opções)

Com esta questão, quisemos avaliar a perceção da nossa amostra acerca dos

processos de criação de empresas. Daí, termos calculado um qui-quadrado (aderência),

cujos resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as

várias características destes procedimentos (Χ2 = 192.862; 6 g.l.; p < 0.001).

No geral, o público feminino caracteriza este processo como sendo burocrático –

escolha de 54.38% das respondentes – juntamente com complexo (46.56%) e moroso

(37.81%). Todavia, quisemos analisar a mesma questão, mas tendo por base o cruzamento

com a variável sentir-se preparada para criar o próprio negócio.

12,19

12,81

14,69

28,13

37,81

46,56

54,38

Simples

Desconheço

Rápido

Acessível

Moroso

Complexo

Burocrático

Processo de constituição de empresa (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 65

Os resultados apontaram num sentido contrário quando as inquiridas se sentem

preparadas para criar o seu negócio. Assim, os itens que mais pontuam são simples (71.79%),

rápido (68.09%) e acessível (67.78%). De notar, ainda, a percentagem de 19.51% da amostra

que, apesar de se sentirem preparadas, desconhecem o processo de criação de uma

empresa.

Onde ouviu falar de empreendedorismo pela primeira vez?

Nesta questão, pretendíamos compreender de que forma o primeiro contacto com

o tema do empreendedorismo se efetivou. Nessa medida, foi calculado um qui-quadrado

(aderência), cujos resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente

significativas (Χ2 = 1492.751; 8 g.l.; p = 0.000).

68,09

30,82

71,79

38,82

67,78

19,51

37,29

31,91

69,18

28,21

61,18

32,22

80,49

62,71

Rápido

Complexo

Simples

Burocrático

Acessível

Desconheço

Moroso

Pro

cess

o C

on

stit

uiç

ão

Em

pre

sa

Processo*Sentir-se preparada (%)

Preparada Não Preparada Sim

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 66

Os resultados mostraram que os meios de comunicação são a opção mais cotada

(36.07%), seguidos do estabelecimento de ensino (34.06%). As restantes opções evidenciam

todas elas percentagens bastante baixas (família – 10.00%; amigos – 5.62%; e local de

trabalho – 8.75%).

No seu estabelecimento de ensino, teve contacto com iniciativas ligadas

ao empreendedorismo?

Através desta questão, tínhamos como intuito analisar a existência de contacto com

iniciativas ligadas ao empreendedorismo no estabelecimento de ensino. Os resultados

revelaram a ausência de uma diferença estatisticamente significativa (Χ2 = 2.813; 1 g.l.; p =

0.094).

4,69

5,62

8,75

10.0

34,06

36.07

Outro

Amigos

Local de trabalho

Família

Estabelecimento de ensino

Meios de comunicação

Onde ouviu falar de empreendedorismo pela primeira vez (%)

45,30

54,70

Sim

Não

Contacto com iniciativas ligadas ao empreendedorismo no

estabelecimento de ensino (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 67

Ainda assim, sublinhamos que, pelo menos na nossa amostra, a maioria indica não

ter tido qualquer contacto com iniciativas ligadas ao empreendedorismo no

estabelecimento de ensino (54.70%). Em sequência, foi calculado um qui-quadrado

(aderência), para aferir se, para as inquiridas que responderam sim na questão anterior,

existiam diferenças estatísticas nos exemplos de iniciativas propostas. A inferência

estatística demonstrou que sim (Χ2 = 138.248; 6 g.l.; p < 0.001).

Assim, quem respondeu sim à questão anterior, apontou em 66.21% dos casos

conferências como primeiro contacto com o tema do empreendedorismo. Sublinhamos,

ainda, os valores manifestados em workshops (44.83%) e unidades curriculares (38.62%),

selecionados no segundo e terceiro lugares, respetivamente.

Como consequência, cruzámos a variável anterior com o facto de as inquiridas se

sentirem preparadas para criar um negócio, cujas diferenças se revelaram estatisticamente

significativas (Χ2 = 4.320; 1 g.l.; p = 0.025).

4,83

8,28

17,24

31,03

38,62

44,83

66,21

Outro

Tertúlias

Concursos

Seminários

Unidades Curriculares

Workshops

Conferências

Iniciativas de contacto (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 68

Concluímos que a maioria da nossa amostra, que teve contacto com iniciativas no

estabelecimento de ensino, não se sente preparada para criar o próprio negócio (60,56%).

Sublinhamos, também, que mesmo as inquiridas que responderam não terem tido contacto

com iniciativas sobre empreendedorismo, apresentaram uma percentagem mais elevada no

sim (51.15%) do que no não (48.85%), relativamente ao facto de se sentirem preparadas para

criar um negócio.

Esta discrepância entre o sim e o não nas inquiridas que tiveram contacto com

iniciativas no estabelecimento de ensino – comparativamente à discrepância no outro grupo

(contacto com iniciativas - não) poderá dever-se ao facto de ao terem contacto com

iniciativas reunirem um maior leque de informações. Este motivo pode levar essas inquiridas

a verem o processo de empreender com maior pormenor/rigor e, portanto, considerarem

que estão menos preparadas.

Empreendedorismo – Temáticas fundamentais.

Para analisar os conhecimentos básicos e o entendimento elementar de algumas

matérias patentes no processo empreendedor, colocámos as seguintes questões às

inquiridas:

39,44

51,15

60,56

48,85

Sim

Não

Co

nta

cto

co

m

inic

iati

vas

Iniciativas* Sentir-se preparada (%)

Preparada para criar próprio negócio Não Preparada para criar próprio negócio Sim

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 69

(i) Qual o seu entendimento acerca dos seguintes assuntos? (Proteção ideia de negócio;

Estudos de mercado; Plano de negócios; Financiamento; Impostos e Contribuições;

Segurança Social; Obrigações legais; Criação formal de uma empresa)

(ii) Qual o seu nível de conhecimento acerca dos seguintes conteúdos? (Legislação

laboral; Marketing; Logística; Vendas/Análise de mercado; Recursos Humanos; Gestão

contabilística e financeira; Estratégia empresarial; Legislação fiscal)

No que concerne aos conhecimentos básicos e ao entendimento elementar de

algumas matérias, patentes no processo empreendedor, note-se que, quando questionadas

acerca do nível de entendimento em matérias como Obrigações Legais, Impostos e

Contribuições, Proteção da Ideia de Negócio e Financiamento, pelo menos 35% das inquiridas

respondeu Mau ou Muito Mau. Em relação aos conhecimentos em áreas como Estratégia

Empresarial, Legislação Fiscal, Vendas/Análise de Mercado e Gestão Contabilística e

Financeira, pelo menos 35% da nossa amostra indicou Mau ou Muito Mau como resposta.

Relativamente a outras áreas – como Marketing, Legislação Laboral, Logística), houve mais

de 30% das inquiridas a assinalar Mau e Muito Mau. Todos estes valores revelaram-se

estatisticamente significativos.

Se contabilizarmos apenas a porção da amostra que indicou sentir-se preparada

para iniciar um negócio, os resultados não são tão demarcados mas ainda assim continuam

preocupantes, uma vez que estamos a olhar para indivíduos que se sentem preparados.

Neste caso, pelo menos 35% das inquiridas respondeu Mau ou Muito Mau no entendimento

em temas como Segurança Social e Obrigações Legais, sendo que mais de 25% respondeu

Mau ou Muito Mau em Proteção da Ideia de Negócio e Impostos e Contribuições.

Relativamente ao conhecimento em temáticas de gestão, mais de 25% das respondentes

indicou Mau ou Muito Mau em Legislação Laboral, Gestão Contabilística e Financeira e

Legislação Fiscal. Em questões sobre Logística e Vendas/Análise de Mercado, mais de 20%

das inquiridas respondeu Mau ou Muito Mau. Todos estes valores revelaram-se, igualmente,

estatisticamente significativos.

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 70

Relativamente à questão das habilitações literárias, existe a tendência – por força

do senso comum – para sublinhar a melhor preparação, a todos os níveis, de quem possui

habilitações superiores. Os resultados obtidos no estudo não corroboram esta afirmação.

Analisando a nossa amostra, cruzámos os dados relativos aos conhecimentos acima

referidos com as habilitações literárias das inquiridas e percebemos que,

independentemente do nível de escolaridade de quem responde, os valores médios não se

diferenciam – isto é, as diferenças não são significativas mediante o grau académico. Assim,

perante os nossos resultados, um grau de formação superior não implica necessariamente

mais conhecimentos e/ou um maior domínio das áreas que remetem para o

empreendedorismo e a criação de um negócio.

Qual(ais) das seguintes soluções de financiamento conhece?

Pretendíamos aferir o conhecimento da nossa amostra relativamente às principais

soluções de financiamento, no âmbito da criação de um negócio. Deste modo, foi calculado

um qui-quadrado (aderência), cujos resultados revelaram a existência de diferenças

estatisticamente significativas entre as várias soluções apresentadas (Χ2 = 416.589; 9 g.l.; p

< 0.001).

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 71

Os nossos resultados mostraram que as soluções de financiamento mais

tradicionais e difundidas, são as mais conhecidas. De forma destacada, surge os apoios

estatais (71.88%), seguido do crédito bancário (68.13%) e do microcrédito (55.63%).

Destacamos, ainda, que 5.31% das inquiridas selecionou a opção nenhuma das

anteriores – o que consideramos uma percentagem preocupante. Será aqui importante a

existência de ações que combatam a desinformação que existe na população feminina

relativamente às soluções de financiamento em particular e ao empreendedorismo/criação

de um negócio em geral (ver ponto 7 – Medidas de estímulo e conselhos para mulheres

empreendedoras).

Na criação de um negócio, que meio(s) de financiamento usou/usaria?

Ao colocarmos esta questão, quisemos compreender quais os meios de

financiamento que os sujeitos usariam na criação de um negócio. Calculámos um qui-

quadrado (aderência), cujos resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente

significativas entre os vários meios apresentados (Χ2 = 324.361; 6 g.l.; p < 0.001).

1,88

5,31

20,63

25,94

44,44

55,63

68,13

71,88

Outro

Nenhuma das anteriores

Capital de risco

Business angels

Linhas de financiamento para PME's

Microcrédito

Crédito bancário

Apoios Estatais

Soluções de financiamento (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 72

O capital próprio foi a opção mais selecionada pelas inquiridas (62.81%). Os

subsídios públicos (41.56%) e o crédito bancário (38.75%), surgem no segundo e terceiro

lugares, respetivamente.

Qual(ais) dos seguintes espaços de suporte à criação de empresas

conhece?

Com esta questão, tentámos compreender qual o conhecimento relativo aos

principais espaços de suporte de criação de empresas. Para o efeito, foi calculado um qui-

quadrado (aderência), cujos resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente

significativas entre as várias propostas apresentadas (Χ2 = 146.567; 5 g.l.; p < 0.001).

5,00

15,00

27,50

38,75

41,56

62,81

Capital de risco

Investidores particulares

Apoio de amigos e família

Crédito bancário

Subsídios públicos

Capital próprio

Meios de financiamento (%)

25,00

32,50

33,75

34,38

50,00

Incubação virtual

Ninhos de empresas

Nenhuma das anteriores

Espaços de coworking

Incubadores de empresas

Espaços de suporte (%)

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 73

Olhando para os resultados, destacaram-se as incubadoras de empresas (50.00%)

como o espaço de suporte mais conhecido. No entanto, o dado mais relevante prendeu-se

com o facto de 33.75% das inquiridas terem selecionado a opção nenhuma das anteriores.

Tentando aprofundar os resultados obtidos na questão anterior, cruzámos esta

variável com sentir-se preparada para criar um negócio, cujo resultado se revelou

estatisticamente significativo (Χ2 = 42,315; 4 g.l.; p = 0.000).

Neste caso, ainda que regra geral exista maior conhecimento dos espaços de suporte

quando as inquiridas indicam que se sentem preparadas, existem quase 30% de mulheres

que se sentem preparadas para criar um negócio, mas que desconhecem qualquer um dos

espaços referidos. Aqui, mais uma vez, é necessário combater a desinformação. Conforme

afirma a empreendedora Maartje Vens, estes espaços, para além de darem apoio, assumem

uma grande importância ao reunir uma “comunidade com espírito empreendedor”,

permitindo “a formação de equipas mais fortes, tornando projetos mais viáveis”.

67,09 65,31 65,14

53,46

29,2532,91 34,62 34,86

46,54

70,75

Incubação virtual Ninhos de empresas Espaços de

coworking

Incubadoras de

empresas

Nenhuma das

anteriores

Espaços de suporte*Sentir-se preparada (%)

Preparada para criar próprio negócio Sim Preparada para criar próprio negócio Não

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 74

Das seguintes medidas, qual(ais) a(s) que considera mais importante(s)

no apoio ao empreendedorismo feminino? (possibilidade de selecionar até três opções)

Através desta questão, pretendíamos contabilizar e avaliar quais as medidas de

apoio ao empreendedorismo que seriam mais relevantes/pertinentes, na perspetiva da

nossa amostra. Para tal, foi calculado um qui-quadrado (aderência) cujos resultados

revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as várias medidas

apresentadas (Χ2 = 282.264; 6 g.l.; p < 0.001).

Os incentivos fiscais (71.56%), na ótica das inquiridas, será uma medida fundamental

para novas incursões no empreendedorismo. Destacamos, igualmente, o apoio de

consultores especializados (53.75%) e a criação de novos instrumentos de financiamento

(52.50%), no segundo e terceiro lugares, respetivamente.

Importa, ainda, referir o valor de 42.19% para a desburocratização do processo de

criação de empresas. Esta percentagem reflete toda a amostra (sendo que, como referimos

anteriormente, a maioria das inquiridas não se sente preparada para iniciar um negócio e,

por conseguinte, terá menos conhecimento prático relativamente a estas questões), já que

16,88

34,38

42,19

52,50

53,75

71,56

Criação e desenvolvimento de espaços de incubação

Consciencialização da sociedade para a importância do

empreendedorismo

Desburocratização do processo de criação de empresas

Criação de novos instrumentos de financiamento

Apoio de consultores especializados

Incentivos fiscais

Medidas de apoio ao empreendedorismo (%)

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IFDEP Research, 2014 75

as inquiridas que se sentem preparadas para criar um negócio, consideraram que o processo

de criação de uma empresa não é burocrático, mas antes simples, rápido e acessível.

Qual(ais) o(s) programa(s) de apoio ao empreendedorismo feminino

que conhece e/ou já teve contato?

Ao colocarmos esta questão, quisemos compreender qual o conhecimento relativo

a programas de apoio específicos ao empreendedorismo feminino, no âmbito da criação

de um negócio, da nossa amostra. Utilizámos um qui-quadrado (aderência), cujos

resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as várias

soluções apresentadas (Χ2 = 388.165; 7 g.l.; p < 0.001).

De acordo com os nossos resultados, o desconhecimento da existência destes

programas prevaleceu (46.56%). No entanto, no que se refere às vantagens inerentes ao

empreendedorismo feminino, a nossa amostra apresenta cerca de 24% das inquiridas a

indicarem como vantagem a vasta oferta de programas de incentivo ao público feminino.

Fazemos ainda uma referência ao programa FAME (Formação Avançada para

Mulheres Empreendedoras) – desenvolvido pelo IFDEP, no âmbito da medida 7.6 do POPH

– em que 33.13% das respondentes referiram conhecer o mesmo.

2,50

3,14

4,06

5,63

10,94

15,00

33,13

46,56

Outro

Mina - mulheres & ideias

FEMINIS

DoNa empresa

Mulher +

Empreender +

Programa FAME

Nenhum dos anteriores

Programas de empreendedorismo feminino (%)

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IFDEP Research, 2014 76

Das razões indicadas, qual(ais) a(s) que mais dificultam o

desenvolvimento de uma atitude empreendedora no público feminino?

(possibilidade de selecionar até três opções)

Através desta questão, quisemos aferir a opinião do público feminino, no que

concerne às dificuldades que atravessam quando pretendem ter uma atitude

empreendedora. Para o efeito, foi calculado um qui-quadrado (aderência), cujos resultados

revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as várias situações

apresentadas (Χ2 = 189.350; 6 g.l.; p < 0.001).

De facto, a questão financeira – a incerteza de rendimento (44.06%) –, bem como os

preconceitos ainda existentes na sociedade em relação à competência da população

feminina – estereótipo feminino (42.19%) –, aparentam ser as principais dificuldades

experimentadas.

Ainda que a percentagem de falta de apoio familiar seja a mais reduzida das que se

apresentam, o valor não deixa de ser elevado (23.44%).

11,25

23,44

37,50

38,44

42,19

44,06

Nenhum dos anteriores

Falta de apoio familiar

Expectativas da sociedade

Possibilidade de perda de estabilidade financeira

Estereótipo feminino

Incerteza de rendimentos

Dificuldades para empreender (%)

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IFDEP Research, 2014 77

Das razões indicadas, qual(ais) a(s) que considera mais vantajosas para

o desenvolvimento de uma atitude empreendedora no público feminino?

(possibilidade de selecionar até três opções)

Nesta questão, o nosso objetivo foi aferir a opinião do público feminino no que se

refere às vantagens percecionadas para desenvolver uma atitude empreendedora. Nessa

medida, foi calculado um qui-quadrado (aderência), cujos resultados revelaram a existência

de diferenças estatisticamente significativas entre os vários aspetos em consideração (Χ2 =

362.312; 6 g.l.; p < 0.001).

Como é possível analisar pelo gráfico, a realização pessoal foi enfatizada como a

razão mais vantajosa para o desenvolvimento de uma atitude empreendedora (65.31%).

Destacamos também a razão conciliação trabalho-família (45.63%) a surgir em 3º lugar – o

que corrobora os dados apresentados na primeira parte desta investigação (ver ponto 2.3 –

Conciliação trabalho-família).

2,81

24,06

36,88

45,63

53,44

65,31

Nenhum dos anteriores

Oferta de programas de incentivo ao público feminino

Melhores perspectivas de rendimento

Conciliação família-trabalho

Possibilidade de gerir o próprio negócio

Realização pessoal

Vantagens para empreender (%)

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6 Reflexões Gerais

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 79

6. Reflexões gerais

Neste tópico pretendemos focar alguns pontos de análise, resultantes do

cruzamento de dados disponíveis na primeira parte desta investigação (relatórios e estudos

anteriores, relacionados com empreendedorismo) e dos resultados obtidos na nossa

amostra.

Através dos dados do AGER 2013, referidos na primeira parte desta investigação,

61% dos portugueses viam o empreendedorismo de forma positiva, sendo que 32% dos

portugueses admitiam a possibilidade de abrir um negócio. Acresce-se que, para a Amway

Europe (2014), 56% dos jovens portugueses, com idade inferior a 30 anos, demonstram

vontade de criar o seu próprio emprego. Na nossa investigação atingimos, em média,

valores próximos dos referidos relatórios: das 320 inquiridas, 55.5% indicaram o

empreendedorismo como primeira opção na hora de integrar/reintegrar o mercado de

trabalho, e 33.4% afirmaram ter uma ideia de negócio (destes, 26.71% já implementaram

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 80

um negócio e cerca de 38% pensam fazê-lo nos próximos 6 meses), o que, em última

instância, demonstra intenção empreendedora. Mesmo quando analisamos o público

feminino com idades inferiores a 30 anos, os resultados tendem a corroborar o relatório da

Amway – 56.6 % indicaram ter uma ideia de negócio e 50.47% veem o empreendedorismo

como primeira opção na sua integração/reintegração no mercado de trabalho.

Também no AGER 2013 são referidas as principais razões para a quebra da intenção

empreendedora – aversão ao risco e medo de falhar [associados, maioritariamente, dos

encargos financeiros (41%), crise económica (31%), desemprego (15%), desilusão pessoal

(14%), consequências legais (13%), assunção de responsabilidades (13%)]. Na investigação

desenvolvida, os resultados corroboram em parte o relatório AGER: se é certo que o medo

de falhar é bastante acentuado na amostra (resultante, sobretudo, das dificuldades

financeiras – referido por cerca de 61.88% das inquiridas – e da situação económica adversa

– indicada por 63.13% dos respondentes), a aversão ao risco apresenta uma pontuação baixa

– apenas 10.63% da amostra alude a este indicador, como um modo de limitar a aposta no

empreendedorismo.

Por outro lado, num estudo da Comissão Europeia (2008), foram apontadas

algumas limitações ao empreendedorismo feminino, divididas em obstáculos económicos,

de contexto e soft. Os nossos dados corroboram, maioritariamente, grande parte destas

informações: quando sugeridas algumas desvantagens do empreendedorismo feminino, os

fatores que mais pontuam são a incerteza de rendimentos (44.06%) e o estereótipo feminino

(42.19%). Ao fazer este levantamento, mas tendo em conta as respostas relativas ao facto

de se sentirem preparadas ou não para criarem o seu negócio, registou-se uma percentagem

elevada de respondentes que não se sente preparada para criar um negócio e, ao mesmo

tempo, indicaram o estereótipo feminino e as expectativas da sociedade como as principais

limitações a empreender – 55.30% e 57.14%, respetivamente. Também a problemática do

financiamento é uma constante em grande parte das questões que a nossa amostra

respondeu: 61.88% das inquiridas referiu dificuldades de financiamento como um

constrangimento para avançar com o próprio negócio – talvez por isso, 52.5% das inquiridas

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IFDEP Research, 2014 81

sugeriram criação de novos instrumentos de financiamento como uma medida de apoio ao

empreendedorismo. Relativamente à dimensão mais contextual, que no nosso questionário

está mais centrada no estabelecimento de ensino e nas iniciativas de empreendedorismo

existentes, uma elevada percentagem de respondentes não teve contacto com qualquer

iniciativa (54.7%).

Ao longo da primeira parte desta investigação, focou-se a dicotomia

empreendedorismo por oportunidade – empreendedorismo por necessidade. Esta dicotomia

baseia-se nas motivações internas e externas que os empreendedores manifestam. Como

refere Susana Pereira (ACEGIS), “algumas pessoas procuram o empreendedorismo porque

têm uma ideia mas outras procuram o empreendedorismo porque estão desempregadas”.

Analisando a nossa amostra, conferimos que indicadores relacionados com o

empreendedorismo por oportunidade, em média, pontuaram mais que os itens relativos ao

empreendedorismo por necessidade – a realização pessoal, a aplicação/valorização de

competências e a autonomia foram destacadas por 63.13%, 43.44% e 30% da amostra,

respetivamente, enquanto parâmetros como falta de oportunidades atrativas no mercado foi

mencionado por 39.69%.

Ao analisar-se as respostas à questão qual(ais) a(s) razões que considera mais

vantajosas para o desenvolvimento de uma atitude empreendedora no público feminino,

65.31% das inquiridas aponta a realização pessoal e 53.44% indica a possibilidade de gerir o

próprio negócio – levando a uma aproximação, uma vez mais, ao empreendedorismo por

oportunidade.

Relativamente às limitações desta investigação, destacamos o facto de a amplitude

geográfica da nossa amostra não ter atingido o alcance pretendido. É certo que este dado

não compromete a validade dos nossos resultados e que todas as NUTS II estão

representadas, mas uma grande concentração das inquiridas reside na zona centro de

Portugal (57,81%). É uma percentagem considerável que, teoricamente, deveria estar mais

bem distribuída por todo o país.

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 82

Outra limitação prende-se com o número elevado de licenciadas na amostra

(53,13%). Uma maior diversidade de inquiridas nesta dimensão, promoveria um retrato mais

fiel da população em estudo.

Salientamos, também, que a quantidade de questionários inválidos – fruto,

sobretudo, das respostas dadas de forma incompleta – foi um obstáculo ao aumento (e, por

isso, à maior robustez) da amostra constituída.

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 83

Salientamos,

também, que a quantidade de questionários inválidos – fruto, sobretudo, das

respostas dadas de forma incompleta – foi um obstáculo ao aumento (e, por isso,

à maior robustez) da amostra constituída.

7 Medidas de Estímulo e Conselhos

para Mulheres Empreendedoras

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Empreendedorismo Feminino - Um Olhar sobre Portugal

IFDEP Research, 2014 84

7. Medidas de estímulo e conselhos para mulheres

empreendedoras

Após a análise e discussão dos resultados obtidos nesta investigação, o IFDEP

Research sugere como medidas de estímulo ao empreendedorismo feminino:

1. Promover, desde o ensino básico, o desenvolvimento de soft skills, como

criatividade, capacidade de iniciativa e de decisão, através da introdução do

empreendedorismo no contexto escolar, nomeadamente, nos planos curriculares e nas

atividades extracurriculares;

2. Apostar em medidas de sensibilização que permitam a valorização das

competências técnicas e comportamentais das mulheres, promovendo a igualdade de

género;

3. Promover e desenvolver redes de apoio técnico, que permita às empreendedoras

obter o apoio necessário à criação e desenvolvimento de um negócio;

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IFDEP Research, 2014 85

4. Combater a desinformação que existe na população feminina relativamente ao

empreendedorismo e à criação de um negócio;

5. Aproximar a população feminina dos espaços de suporte à criação de um negócio

através da divulgação e dinamização dos mesmos;

6. Reforçar o apoio a programas estruturados de apoio ao empreendedorismo

feminino;

7. Cultivar o espírito do erro como uma aprendizagem e oportunidade de melhoria,

contrapondo o medo de falhar amplamente difundido na cultura portuguesa, responsável

pela crescente quebra nas intenções empreendedoras;

8. Promover a multidisciplinaridade entre futuras empreendedoras, como forma de

desenvolver ideias e negócios mais sólidos;

9. Direcionar e avaliar as políticas e os programas de apoio existentes, de forma a

alcançarem as necessidades da população empreendedora feminina;

10. Criar um espaço online onde seja possível promover e centralizar a partilha de boas

práticas, ideias e recursos para mulheres empreendedoras.

Como forma de orientar as futuras empreendedoras na criação e desenvolvimento

de ideias e negócios de sucesso, consideramos também importante indicar alguns

conselhos:

1. Investir em formação especializada de ordem técnica e comportamental, essencial

à criação e gestão de um negócio;

2. Identificar o fator inovador / diferenciador presente na ideia de negócio;

3. Realizar uma análise profunda e detalhada do mercado;

4. Reconhecer e avaliar os riscos e os retornos da ideia de negócio;

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IFDEP Research, 2014 86

5. Procurar soluções alternativas de financiamento como business angels,

crowdfunding, capital de risco;

6. Reunir uma equipa forte do ponto de vista multidisciplinar;

7. Definir uma estratégica clara de negócio a curto, médio e longo-prazo;

8. Procurar apoio e inspiração em modelos de sucesso;

9. Potencializar todos os recursos disponíveis para a criação de um negócio, como

apoios públicos e privados, espaços de suporte e programas especializados;

10. Desenvolver uma rede de contactos sólida.

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IFDEP Research, 2014 87

Bibliografia

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