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Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgado não comentado por ter menor relevância para concursos públicos: REsp 1.443.110-PR. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Não há violação à reserva de plenário na decisão que decreta a nulidade de ato administrativo por violação à CF/88. DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS (PENSÃO POR MORTE) Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte mesmo que a lei previdenciária não a inclua no rol de dependentes. SERVIÇOS PÚBLICOS Permissão de serviços públicos concedida sem licitação. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Competência para julgar ação de improbidade envolvendo verbas transferidas pela União ao Município por meio de convênio. Prazo prescricional. Não se aplica à sentença de improbidade a remessa necessária prevista no art. 19 da Lei de Ação Popular. FGTS Não se aplica a taxa progressiva de juros às contas do FGTS de trabalhadores avulsos. DIREITO CIVIL DIREITOS DA PERSONALIDADE Direito à imagem. DIREITO EMPRESARIAL CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL Denúncia do contrato e concessão de aviso prévio. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE GUARDA Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte mesmo que a lei previdenciária não a inclua no rol de dependentes.

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Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgado não comentado por ter menor relevância para concursos públicos: REsp 1.443.110-PR.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Não há violação à reserva de plenário na decisão que decreta a nulidade de ato administrativo por violação à

CF/88.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS (PENSÃO POR MORTE) Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte mesmo que a lei previdenciária não a inclua no

rol de dependentes. SERVIÇOS PÚBLICOS Permissão de serviços públicos concedida sem licitação. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Competência para julgar ação de improbidade envolvendo verbas transferidas pela União ao Município por meio

de convênio. Prazo prescricional. Não se aplica à sentença de improbidade a remessa necessária prevista no art. 19 da Lei de Ação Popular. FGTS Não se aplica a taxa progressiva de juros às contas do FGTS de trabalhadores avulsos.

DIREITO CIVIL

DIREITOS DA PERSONALIDADE Direito à imagem.

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL Denúncia do contrato e concessão de aviso prévio.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

GUARDA Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte mesmo que a lei previdenciária não a inclua no

rol de dependentes.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL CITAÇÃO A juntada aos autos de procuração com poderes especiais supre a citação que ainda não havia sido realizada. RESPOSTA DO RÉU Não há revelia se o réu apresenta apenas reconvenção, mas na qual refuta os argumentos expostos na inicial. ASTREINTES Execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada. EXECUÇÃO FISCAL Requisitos do mandado de intimação da penhora. PROCESSO COLETIVO A associação pode propor ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF mesmo que os associados residam

em outro local. ACP pode servir como instrumento processual para cobrança de valores indevidamente cobrados de consumidores.

DIREITO PENAL

MOEDA FALSA (ART. 289 DO CP) Aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP. FALSIFICAÇÃO DE PAPÉIS PÚBLICOS (ART. 293 DO CP) É dispensável a constituição definitiva do crédito tributário para sua consumação.

FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299 DO CP) Falsa declaração de hipossuficiência não é crime.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI O assistente de acusação tem direito à réplica mesmo que o MP não a exerça. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA Encontro fortuito de provas.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PENSÃO POR MORTE Termo inicial do benefício. Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte mesmo que a lei previdenciária não a inclua no

rol de dependentes.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Não há violação à reserva de plenário na decisão que decreta a nulidade de ato administrativo

por violação à CF/88

O STJ afirmou que não há ofensa à cláusula da reserva de plenário quando o órgão fracionário do Tribunal reconhece, com fundamento na CF/88 e em lei federal, a nulidade de um ato administrativo fundado em lei estadual, ainda que esse órgão julgador tenha feito menção, mas apenas como reforço de argumentação, à inconstitucionalidade da lei estadual.

No caso concreto, o Tribunal de Justiça, por meio de uma de suas Câmaras (órgão fracionário) julgou que determinado ato administrativo concreto que renovou a concessão do serviço público sem licitação seria nulo por violar os arts. 37, XXI, e 175 da CF/88 e a Lei n. 8.987⁄95. Além disso, ele mencionou, como mais um argumento, que a Lei Estadual que autorizava esse ato administrativo seria inconstitucional.

Não houve violação porque o ato administrativo que foi declarado nulo não era um ato normativo. Ademais, a menção de que a lei estadual seria inconstitucional foi apenas um reforço de argumentação, não tendo essa lei sido efetivamente declarada inconstitucional.

STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.435.347-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/8/2014 (Info 546).

Controle difuso de constitucionalidade No chamado controle difuso de constitucionalidade, também adotado pelo Brasil, ao lado do controle abstrato, qualquer juiz ou Tribunal pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo no caso concreto. No entanto, se o Tribunal for fazer essa declaração, deverá respeitar a cláusula de reserva de plenário. Cláusula de reserva de plenário A chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se um Tribunal for declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatória que essa declaração de inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do Plenário ou do órgão especial deste Tribunal. Esta exigência da cláusula de reserva de plenário tem como objetivo conferir maior segurança jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando-se que, dentro de um mesmo Tribunal, haja posições divergentes acerca da constitucionalidade de um dispositivo, gerando instabilidade e incerteza. A reserva de plenário é também conhecida como regra do full bench, full court ou julgamento en banc e está prevista no art. 97 da CF/88 e no art. 480 do CPC:

Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

Art. 480. Arguida a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do poder público, o relator, ouvido o Ministério Público, submeterá a questão à turma ou câmara, a que tocar o conhecimento do processo.

Exceções à cláusula de reserva de plenário Existem duas mitigações à cláusula de reserva de plenário, ou seja, duas hipóteses em que o órgão fracionário poderá decretar a inconstitucionalidade sem necessidade de remessa dos autos ao Plenário (ou órgão especial):

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a) quando o Plenário (ou órgão especial) do Tribunal que estiver decidindo já tiver se manifestado pela inconstitucionalidade da norma; b) quando o Plenário do STF já tiver decidido que a norma em análise é inconstitucional. Essas exceções estão também consagradas no parágrafo único do art. 481 do CPC:

Art. 481 (...) Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a arguição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

O que o STJ decidiu no julgado noticiado no Info 546? O STJ afirmou que não há ofensa à cláusula da reserva de plenário quando o órgão fracionário do Tribunal reconhece, com fundamento na CF/88 e em lei federal, a nulidade de um ato administrativo fundado em lei estadual, ainda que esse órgão julgador tenha feito menção, mas apenas como reforço de argumentação, à inconstitucionalidade da lei estadual. No caso concreto, o Tribunal de Justiça, por meio de uma de suas Câmaras (órgão fracionário) julgou que determinado ato administrativo concreto que renovou a concessão do serviço público sem licitação seria

nulo por violar os arts. 37, XXI, e 175 da CF/88 e a Lei n. 8.987⁄95. Além disso, ele mencionou, como mais um argumento, que a Lei Estadual que autorizava esse ato administrativo seria inconstitucional. Não houve violação porque o ato administrativo que foi declarado nulo não era um ato normativo. Ademais, a menção de que a lei estadual seria inconstitucional foi apenas um reforço de argumentação, não tendo essa lei sido efetivamente declarada inconstitucional.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS (PENSÃO POR MORTE) Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte, mesmo que a lei

previdenciária não a inclua no rol de dependentes

Importante!!!

Se um segurado de regime previdenciário for detentor da guarda judicial de uma criança ou adolescente que dele dependa economicamente, caso esse segurado morra, esse menor terá direito à pensão por morte, mesmo que a lei que regulamente o regime previdenciário não preveja a criança ou adolescente sob guarda no rol de dependentes. Isso porque o ECA já determina que a guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários (§ 3º do art. 33). Logo, havendo previsão expressa no ECA pouco importa que a lei previdenciária tenha ou não disposição semelhante.

Vale ressaltar que o ECA prevalece mesmo que seja mais antigo que a lei previdenciária porque é considerado lei específica de proteção às crianças e adolescentes.

STJ. 1ª Seção. RMS 36.034-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/2/2014 (Info 546).

Vide comentários ao julgado no capítulo sobre ECA.

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SERVIÇOS PÚBLICOS Permissão de serviços públicos concedida sem licitação

I – Declarada a nulidade de permissão outorgada sem licitação pública ainda antes da CF/88, é possível ao magistrado estabelecer, independentemente de eventual direito a indenização do permissionário, prazo máximo para o termo final do contrato de adesão firmado precariamente.

II – A retomada do serviço pela Administração não depende do prévio pagamento de eventual indenização, que deverá ser pleiteada pela empresa nas vias ordinárias.

III – Em ação civil pública movida para anular permissões para a prestação de serviços de transporte coletivo concedidas sem licitação e para condenar o Estado a providenciar as licitações cabíveis, não cabe discutir eventual indenização devida pelo Estado ao permissionário.

STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.435.347-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/8/2014 (Info 546).

Imagine a seguinte situação adaptada: A empresa “X” era permissionária de um serviço público estadual. Ocorre que essa permissão foi feita sem que tivesse havido prévia licitação. A permissão foi concedida antes da CF/88, mas já na vigência da atual Carta, foram praticados atos administrativos prorrogando a permissão. Diante disso, o Ministério Público ajuizou ação civil pública pedindo a declaração de nulidade do ato de permissão, a retomada do serviço pela Administração Pública e que esta realizasse licitação para nova delegação. A empresa, ao se defender, alegou que, antes de o serviço ser retomado pela Administração Pública, ela deveria ser indenizada pelos investimentos realizados. A concessão deverá ser extinta?

SIM. Segundo o art. 37, XXI, da CF/88 e o art. 2º, II, da Lei n. 8.987/95, a concessão de serviço público deverá ser precedida de licitação. Logo, se a concessão for feita sem a observância de tal exigência haverá a nulidade do ato. É possível que o juiz conceda um prazo durante o qual a permissão continuará válida a fim de permitir que o Poder Público se organize e faça um novo certame? SIM. Declarada a nulidade de permissão outorgada sem licitação pública ainda antes da CF/8888, é possível ao magistrado estabelecer, independentemente de eventual direito a indenização do permissionário, prazo máximo para o termo final do contrato de adesão firmado precariamente. Vale ressaltar, no entanto, que esse prazo não pode ser muito alto. Conforme já decidiu o STF em situação análoga, não há respaldo constitucional que justifique a prorrogação da licitação além do prazo razoável para a realização dos devidos procedimentos licitatórios. A segurança jurídica não pode ser confundida com conservação do ilícito (STF. Plenário. ADI 3521, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 28⁄09⁄2006). Passado o prazo, caso não tenha sido ainda realizada a licitação, a Administração Pública deverá retomar a prestação do serviço? SIM. Extinto o contrato de concessão por decurso do prazo de vigência, cabe ao Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a realização de nova licitação, a fim de assegurar a plena observância do princípio da continuidade do serviço público.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6

Para que a Administração retome a prestação do serviço ela deverá indenizar previamente a empresa? NÃO. A retomada do serviço pela Administração não depende do prévio pagamento de eventual indenização, que deverá ser pleiteada pela empresa nas vias ordinárias (STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1139802/SC, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, julgado em 12/04/2011). Assim, declarada a nulidade da concessão outorgada sem licitação pública, não se pode condicionar o termo final do contrato ao pagamento prévio de eventual indenização, cabendo ao Poder Público a retomada imediata da prestação do serviço, até a realização de nova licitação. A empresa requerida na ACP poderá pleitear o recebimento da indenização nesta mesma ação? NÃO. A ação civil pública é o instrumento processual destinado à defesa judicial de interesses difusos e coletivos, permitindo a tutela jurisdicional do Estado com vistas à proteção de certos bens jurídicos. Por meio desta ação, reprime-se ou previne-se a ocorrência de danos ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio público, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, dentre outros, podendo ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Assim, não cabe neste tipo de ação, em que se busca a tutela do bem coletivo, a condenação do Estado em indenizar o "réu", no caso, a permissionária de serviço público, na indenização dos investimentos realizados. Isso deverá ser pleiteado em ação autônoma. Ainda que fosse pertinente discutir isso na ACP, a empresa tem direito de ser indenizada? NÃO. O ajuste firmado entre a empresa e o Estado constitui um contrato de permissão de caráter precário, feito sem licitação, de forma que o permissionário submeteu-se a todos os riscos inerentes de tal prática feita ao arrepio da lei. Segundo a jurisprudência do STJ, para que se pudesse cogitar de indenização aos permissionários seria indispensável que tivesse sido realizado prévio procedimento licitatório. Em outras palavras, era indispensável o cumprimento dos ditames constitucionais e legais, com a realização de prévio procedimento licitatório para que se pudesse cogitar de indenização à permissionária, o que não ocorreu no presente caso.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Competência para julgar ação de improbidade envolvendo verbas transferidas pela União ao

Município por meio de convênio

De quem será a competência para julgar ação de improbidade em caso de desvio de verbas transferidas pela União ao Município por meio de convênio?

Se, pelas regras do convênio, a verba transferida deve ser incorporada ao patrimônio municipal, a competência para a ação será da Justiça Estadual (Súmula 209-STJ).

Ao contrário, se o convênio prevê que a verba transferida não é incorporada ao patrimônio municipal, ficando sujeita à prestação de contas perante o órgão federal, a competência para a ação será da Justiça Federal (Súmula 208-STJ).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.391.212-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/9/2014 (Info 546).

Imagine a seguinte situação hipotética: O Ministério do Planejamento celebrou um convênio com o Município “X” por meio do qual foram transferidos 100 mil reais para a municipalidade com o objetivo de que fossem realizadas políticas públicas naquela localidade. O prefeito teria desviado esses recursos, razão pela qual, além dos aspectos penais, praticou ato de improbidade administrativa.

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A competência para julgar essa ação de improbidade administrativa será da Justiça Federal ou Estadual? Depende. Para que seja definida a competência será necessário examinar as cláusulas dos convênios e a natureza da verba transferida. Nem todas as vezes que um ente federado faz a transferência de verbas para outro isso significará que o dinheiro foi acrescido definitivamente no patrimônio do ente que recebeu. Assim, é preciso analisar se tais recursos foram efetivamente incorporados ao patrimônio do Município:

Se, pelas regras do convênio, a verba transferida deve ser incorporada ao patrimônio municipal, a competência para a ação será da Justiça Estadual.

Ao contrário, se o convênio prevê que a verba transferida não é incorporada ao patrimônio municipal, ficando sujeita à prestação de contas perante o órgão federal, a competência para a ação será da Justiça Federal.

Em suma, deve-se aplicar os entendimentos expostos nas Súmulas 208 e 209 do STJ:

Súmula 208-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal. Súmula 209-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

No caso concreto julgado pelo STJ, ficou demonstrado que as verbas mesmo transferidas para a implementação de política pública na cidade, continuaram sendo recursos federais, ou seja, não foram incorporadas no patrimônio do Município, razão pela qual deveriam ser prestadas contas ao Tribunal de Contas da União. Sendo assim, a competência para julgar a ação de improbidade é da Justiça Federal.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Prazo prescricional

Importante!!!

Nas ações civis por ato de improbidade administrativa, o prazo prescricional é interrompido com o mero ajuizamento da ação de improbidade dentro do prazo de 5 anos contado a partir do término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança, ainda que a citação do réu seja efetivada após esse prazo.

Assim, se a ação de improbidade foi ajuizada dentro do prazo prescricional, eventual demora na citação do réu não prejudica a pretensão condenatória da parte autora.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.391.212-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/9/2014 (Info 546).

Improbidade administrativa Improbidade administrativa é um ato praticado por agente público, ou por particular em conjunto com agente público, e que gera enriquecimento ilícito, causa prejuízo ao erário ou atenta contra os princípios da Administração Pública. A Lei n. 8.429/92 regulamenta os casos de improbidade administrativa e o seu procedimento.

Prescrição Os atos de improbidade administrativa, assim como ocorre com as infrações penais, também estão sujeitos à prescrição. Logo, se os legitimados ativos demorarem muito tempo para ajuizar a ação de improbidade contra o responsável pelo ato, haverá a prescrição e a consequente perda do direito de punir.

Os prazos prescricionais para a propositura da ação de improbidade estão previstos no art. 23 da Lei n. 8.492/92. Confira:

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Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser propostas: I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança; II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.

Desse modo, o prazo prescricional irá variar de acordo com a natureza do vínculo do agente público:

VÍNCULO PRAZO INÍCIO DA CONTAGEM

TEMPORÁRIO (detentores de mandato, cargo em comissão, função de confiança)

5 anos Primeiro dia após o fim do vínculo

PERMANENTE (ocupantes de cargo efetivo ou de emprego público)

O prazo e a o início da contagem serão os mesmos que são previstos no estatuto do servidor para prescrição de faltas disciplinares puníveis com demissão (ex: na Lei 8.112/90 o prazo é de 5 anos, contado da data em que o fato se tornou conhecido, mas leis estaduais/municipais podem trazer regra diferente).

Algumas observações sobre o tema: 1. Se o agente que praticou o ato ímprobo exercia cumulativamente cargo efetivo e cargo comissionado,

o prazo prescricional será regido na forma do inciso II (regra aplicável aos servidores com vínculo permanente) (STJ. 2ª Turma. REsp 1060529/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/09/2009).

2. Se o agente público é detentor de mandato eletivo, praticou o ato de improbidade no primeiro mandato e depois se reelegeu, o prazo prescricional é contado a partir do fim do segundo mandato (e não do término do primeiro) (STJ. 2ª Turma. REsp 1107833/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/09/2009).

3. Se o agente que praticou o ato ímprobo é servidor temporário (art. 37, IX, da CF/88), o prazo prescricional será regido na forma do inciso I.

Qual é o prazo prescricional das ações com relação aos particulares (chamados pela lei de “terceiros”)?

A Lei n. 8.429/92 não tratou sobre o tema. A doutrina majoritária defende que o prazo deverá ser o mesmo previsto para o agente público que praticou, em conjunto, o ato de improbidade administrativa. É a posição de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves. Essa parece ser também a posição do STJ:

(...) Em relação ao terceiro que não detém a qualidade de agente público, incide também a norma do art. 23 da Lei nº 8.429/1992 para efeito de aferição do termo inicial do prazo prescricional. (...)" STJ. 2ª Turma. REsp 1156519/RO, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/06/2013

O prazo prescricional é interrompido com a propositura da ação ou com a citação do réu? Com a simples propositura. Segundo o STJ, nas ações civis por ato de improbidade administrativa, interrompe-se a prescrição da pretensão condenatória com o mero ajuizamento da ação dentro do prazo de 5 anos contado a partir do término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança, ainda que a citação do réu seja efetivada após esse prazo. Assim, se a ação de improbidade foi ajuizada dentro do prazo prescricional, eventual demora na citação do réu não prejudica a pretensão condenatória da parte autora. Existe prescrição intercorrente nas ações de improbidade administrativa? Ex: se, depois de ajuizada a ação, a sentença demorar mais que 5 anos para ser prolatada, poderemos considerar que houve prescrição?

NÃO. O art. 23 da Lei n. 8.429/92 regula o prazo prescricional para a propositura da ação de improbidade administrativa. Logo, não haverá prescrição se a ação foi ajuizada no prazo, tendo demorado, contudo, mais que 5 anos do ajuizamento para ser julgada (STJ. 2ª Turma. REsp 1.289.993/RO, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 19/09/2013).

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Ressarcimento ao erário: imprescritível Para aqueles que praticaram atos de improbidade administrativa existe uma sanção que é imprescritível: o ressarcimento ao erário. Foi a própria CF/88 quem determinou que essa sanção não estivesse sujeita à prescrição e pudesse ser buscada a qualquer momento. Isso está previsto nos §§ 4º e 5º do art. 37:

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. § 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

Em uma prova seria interessante você mencionar que esse é o entendimento do STJ e do TCU:

(...) É pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de que a pretensão de ressarcimento por prejuízo causado ao erário, manifestada na via da ação civil pública por improbidade administrativa, é imprescritível. Daí porque o art. 23 da Lei n. 8.429/92 tem âmbito de aplicação restrito às demais sanções prevista no corpo do art. 12 do mesmo diploma normativo. (...) (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1442925/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/09/2014)

Súmula 282 do TCU: As ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Não se aplica à sentença de improbidade administrativa a remessa necessária

prevista no art. 19 da Lei de Ação Popular

A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa não está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 19 da Lei de Ação Popular (Lei 4.717/65).

STJ. 1ª Turma. REsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/9/2014 (Info 546).

Lei de Ação Popular

A Lei n. 4.717/65 (Lei de Ação Popular) prevê a seguinte regra:

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.

Esse art. 19 instituiu uma remessa necessária específica para a ação popular.

Sentença de carência da ação ou sentença de improcedência: existe reexame necessário. Assim, mesmo que ninguém recorra, o juiz deverá remeter o processo para ser reanalisado pelo Tribunal.

Sentença e procedência: não há reexame necessário. O art. 19 da LAP deve ser aplicado, por analogia, também nos casos de ação civil pública? SIM. Por aplicação analógica, as sentenças de improcedência de ação civil pública sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1219033/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/03/2011).

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O art. 19 da LAP deve ser aplicado, por analogia, também nos casos de ação de improbidade administrativa? NÃO. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa

NÃO está sujeita ao reexame necessário previsto no art. 19 da Lei de Ação Popular (Lei n. 4.717/1965). A ação de improbidade administrativa segue um rito próprio e tem objeto específico, disciplinado na Lei

n. 8.429/1992, não cabendo, neste caso, analogia, paralelismo ou outra forma de interpretação, para importar instituto criado em lei diversa. A ausência de previsão da remessa de ofício, na hipótese em análise, não pode ser vista como uma lacuna da Lei de Improbidade que precisa ser preenchida, especialmente por ser o reexame necessário instrumento de exceção no sistema processual, devendo, portanto, ser interpretado restritivamente.

FGTS Não se aplica a taxa progressiva de juros às contas do FGTS de trabalhadores avulsos

Não se aplica a taxa progressiva de juros às contas vinculadas ao FGTS de trabalhadores qualificados como avulsos. Isso porque o trabalhador avulso não preenche os requisitos legais para tanto.

Com efeito, a legislação de regência, desde a criação do fundo, prevê que a taxa progressiva de juros estaria condicionada à existência de vínculo empregatício, inclusive impondo percentuais diversos a depender do tempo de permanência na mesma empresa.

Por definição legal, inserta no art. 9º, VI, do Decreto 3.048/1999, trabalhador avulso é "aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, ou do sindicato da categoria, assim considerados".

STJ. 1ª Seção. REsp 1.349.059-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/3/2014 (recurso repetitivo) (Info 546).

DIREITO CIVIL

DIREITOS DA PERSONALIDADE Direito à imagem

Configura dano moral a divulgação não autorizada de foto de pessoa física em campanha publicitária promovida por sociedade empresária com o fim de, mediante incentivo à manutenção da limpeza urbana, incrementar a sua imagem empresarial perante a população, ainda que a fotografia tenha sido capturada em local público e sem nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.307.366-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/6/2014 (Info 546).

Imagine a seguinte situação: Determinada construtora fez uma campanha publicitária incentivando a limpeza da cidade. Para isso, colou em todos os seus caminhões, um adesivo com a seguinte frase: “Mantenha sua cidade limpa”, contendo a foto de “João”, sozinho, como pescador, puxando um barco pesqueiro para a praia, com o movimento das ondas, ao fundo, quebrando na areia.

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Devemos considerar três premissas que restaram comprovadas: 1) Não houve prévia autorização para a divulgação da foto; 2) O cartaz tinha evidente fim comercial para a construtora, pois fazia parte de uma campanha publicitária visando incentivar a população da cidade a colaborar com a limpeza pública, vinculando, assim, de forma positiva, a imagem institucional da sociedade empresária contratada pela Prefeitura com a preocupação com a limpeza do Município. 3) Não há conteúdo ofensivo, pejorativo ou vexatório na imagem divulgada. Diante desse caso relatado, indaga-se: João terá direito de ser indenizado pela utilização de sua imagem? SIM. O uso, por sociedade empresária, de imagem de pessoa física fotografada isoladamente em local público, em meio a cenário destacado, configura dano moral mesmo que não tenha havido nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa na divulgação. O dano moral é decorrente tão somente pelo fato de ter sido usada a imagem da pessoa sem a sua autorização. Assim, é cabível compensação por dano moral decorrente da simples utilização de imagem de pessoa física, em campanha publicitária, sem autorização do fotografado. Aplica-se aqui o raciocínio da Súmula 403 do STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. Apenas a título de curiosidade, no caso concreto, a indenização foi fixada em R$ 15.000,00.

DIREITO EMPRESARIAL

CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL Denúncia do contrato e concessão de aviso prévio

Não é devida a verba atinente ao aviso prévio – um terço das comissões auferidas pelo representante comercial nos três meses anteriores à resolução do contrato (art. 34 da Lei 4.886/1965) –, quando o fim do contrato de representação comercial se der por justa causa.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.190.425-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/9/2014 (Info 546).

O art. 34 da Lei n. 4.886/65 estabelece a seguinte regra:

Art. 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo outra garantia prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento de importância igual a um terço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos três meses anteriores.

Pela leitura do dispositivo, percebe-se que poderá haver a denúncia do contrato de representação por qualquer das partes, mesmo que sem justo motivo, desde que seja concedido o aviso prévio de 30 dias ou paga indenização ao prejudicado. Essa regra, contudo, não se aplica quando o fim do contrato de representação comercial ocorrer por justa causa. Reconhecida a existência de justa causa, não é necessário que se dê o aviso prévio de 30 dias nem que seja paga a indenização de 1/3 das comissões.

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Segundo explica Rubens Requião, “o aviso prévio é incompatível com a arguição de falta grave cometida pela outra parte. Assim, se cometida falta grave, a denúncia do contrato, seja de agência, seja de representação comercial, terá natureza abrupta, rompendo-se o contrato tão logo a denúncia chegue ao conhecimento da parte faltosa” (REQUIÃO, Rubens Edmundo. Nova regulamentação da representação comercial autônoma. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 153).

Assim, o art. 34 da Lei n. 4.886⁄65 somente incide no caso de denúncia vazia (sem justa causa) do contrato por qualquer das partes, não sendo aplicado nos casos em que uma das partes toma a iniciativa de romper o contrato diante da existência de motivo justo, conforme previsto na lei especial de regência.

ECA

GUARDA Criança ou adolescente sob guarda é considerado dependente para fins de pensão por morte

Importante!!!

Mudança de entendimento!

Se um segurado de regime previdenciário for detentor da guarda judicial de uma criança ou adolescente que dele dependa economicamente, caso esse segurado morra, esse menor terá direito à pensão por morte, mesmo que a lei que regulamente o regime previdenciário não preveja a criança ou adolescente sob guarda no rol de dependentes. Isso porque o ECA já determina que a guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários (§ 3º do art. 33). Logo, havendo previsão expressa no ECA pouco importa que a lei previdenciária tenha ou não disposição semelhante.

Vale ressaltar que o ECA prevalece mesmo que seja mais antigo que a lei previdenciária porque é considerado lei específica de proteção às crianças e adolescentes.

STJ. 1ª Seção. RMS 36.034-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/2/2014 (Info 546).

BENEFICIÁRIOS Em um regime de previdência, seja o regime geral (administrado pelo INSS), seja o regime próprio (destinado aos servidores públicos), quando falamos em beneficiários da previdência, essa é uma expressão que abrange duas espécies: segurados e dependentes.

SEGURADOS DEPENDENTES

São pessoas que, em razão de exercerem um trabalho, emprego ou cargo, ficam vinculadas diretamente ao Regime de Previdência.

São as pessoas que recebem uma proteção previdenciária pelo fato de terem uma relação com o segurado.

Estão vinculados diretamente ao Regime de Previdência.

Estão vinculados de forma reflexa, em razão da relação que possuem com o segurado.

Ex: o servidor público federal, em virtude do cargo por ele desempenhado, vincula-se ao regime próprio de previdência dos servidores federais.

Ex: a esposa do servidor público federal é beneficiária do regime previdenciário próprio na qualidade de dependente.

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DEPENDENTES

O que são os dependentes para fins previdenciários? Os dependentes são pessoas que, embora não contribuindo para a seguridade social, podem vir a receber benefícios previdenciários em virtude de terem uma relação de afeto (cônjuge/companheiro) ou parentesco com o segurado. Quais os benefícios que os dependentes receberão? Quem define isso é a lei. Em geral, todos os regimes de previdência preveem a pensão por morte como um benefício que os dependentes recebem quando ocorre o falecimento do segurado. É o segurado quem escolhe quem são seus dependentes para fins previdenciários? NÃO. A relação dos dependentes é definida pela legislação previdenciária. Assim, não é o segurado quem os indica. É a própria lei quem já prevê taxativamente quem tem direito de ser considerado dependente

(art. 16 da Lei n. 8.213/91). GUARDA

Concessão da guarda para pessoa diversa dos pais A legislação prevê algumas hipóteses em que a criança ou o adolescente pode ser colocado sob a guarda de uma pessoa que não seja nem seu pai nem sua mãe. A concessão da guarda é uma das formas de colocação do menor em família substituta, sendo concedida quando os pais não apresentarem condições de exercer, na plenitude, seus deveres inerentes ao poder familiar, seja por motivos temporários ou permanentes. A concessão da guarda para terceiros implica, necessariamente, a perda do poder familiar pelos pais? NÃO. A concessão da guarda, diferentemente da tutela, “não implica em destituição do poder familiar, mas sim, transfere a terceiros componentes de uma família substituta provisória a obrigação de cuidar da manutenção da integridade física e psíquica da criança e do adolescente.” (ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da Criança e do Adolescente. Comentado artigo por artigo. 6ª ed., São Paulo: RT, 2014, p. 187). Hipóteses Existem três hipóteses em que a guarda poderá ser deferida a outras pessoas que não sejam os pais da criança ou adolescente: a) Quando a criança ou adolescente estiver em processo judicial para ser adotado ou tutelado, situação

em que poderá ser colocado, liminar ou incidentalmente, sob a guarda do adotante ou tutor (art. 33, § 1º do ECA). Nesse caso, a guarda destina-se a regularizar juridicamente a situação de quem já está, na prática, cuidando do menor. O ECA fala que a guarda “destina-se a regularizar a posse de fato”.

b) Quando essa transferência da guarda for necessária para atender a situações peculiares ou para suprir a falta eventual dos pais ou responsável (art. 33, § 2º do ECA). Ex: pais irão fazer uma longa viagem para o exterior, ficando a criança no Brasil.

c) Quando o juiz verificar que nem o pai nem a mãe estão cumprindo adequadamente o dever de guarda do filho, situação em que deferirá a guarda à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade (art. 1.584, § 5º do CC).

Responsabilidades do guardião A pessoa que recebe a guarda, chamada de “guardião” (ou “detentor da guarda”), tem a obrigação de prestar assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente. O guardião, no exercício de suas responsabilidades inerentes à guarda, tem o direito de fazer prevalecer

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suas decisões em relação ao menor, podendo, para isso, opor-se em relação a terceiros, inclusive aos próprios pais da criança ou adolescente (art. 33, caput, do ECA). Criança ou adolescente sob guarda é considerado dependente do guardião Confira o que estabelece o § 3º do art. 33 do ECA:

§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João, avô de Beatriz, de 10 anos, tem a guarda de sua neta, concedida judicialmente. Vale ressaltar que João era servidor público do estado do Mato Grosso. O Estatuto dos Servidores Públicos do Estado de Mato Grosso, editado em 2004, traz, em seu art. 245, a relação das pessoas que podem ser consideradas dependentes dos servidores. O art. 245 não incluiu no rol de dependentes para fins previdenciários o menor sob guarda. João morreu. Beatriz terá direito à pensão por morte? A criança ou o adolescente sob guarda pode ser considerado dependente para fins previdenciários mesmo que a lei que trate sobre o regime de previdência não preveja? SIM. Se o segurado de regime previdenciário for detentor da guarda judicial de criança ou adolescente que dependa economicamente dele, ocorrendo o óbito do guardião, será assegurado o benefício da pensão por morte ao menor sob guarda, ainda que este não tenha sido incluído no rol de dependentes previsto na lei previdenciária aplicável. Segundo decidiu o STJ, o fim social da lei previdenciária é abarcar as pessoas que foram acometidas por alguma contingência da vida. Nesse aspecto, o Estado deve cumprir seu papel de assegurar a dignidade da pessoa humana a todos, em especial às crianças e aos adolescentes, cuja proteção tem absoluta prioridade. O ECA prevê que “a guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários” (§ 4º do art. 33). Conforme assentou o STJ, o ECA não é uma simples lei, uma vez que representa política pública de proteção à criança e ao adolescente, verdadeiro cumprimento do mandamento previsto no art. 227 da CF/88. Ademais, não é dado ao intérprete atribuir à norma jurídica conteúdo que atente contra a dignidade da pessoa humana e, consequentemente, contra o princípio de proteção integral e preferencial a crianças e adolescentes, já que esses postulados são a base do Estado Democrático de Direito e devem orientar a interpretação de todo o ordenamento jurídico. Desse modo, embora a lei previdenciária aplicável ao segurado seja lei específica da previdência social, não menos certo é que a criança e adolescente tem norma específica que confere ao menor sob guarda a condição de dependente para todos os efeitos, inclusive previdenciários. Logo, prevalece a previsão do ECA trazida pelo art. 33, § 3º, mesmo sendo anterior à lei previdenciária.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

CITAÇÃO A juntada aos autos de procuração com poderes especiais

supre a citação que ainda não havia sido realizada

Apesar de não ser tão comum na prática, pode acontecer de o réu, sabendo extraoficialmente que foi ajuizada uma ação contra ele, decidir comparecer espontaneamente nos autos, mesmo antes de ser citado, pedindo acesso ao processo para já preparar sua resposta.

Em geral, o comparecimento espontâneo é feito por meio de advogado que peticiona ao juiz requerendo a juntada aos autos de procuração do réu constituindo-o como causídico.

A apresentação de procuração e a retirada dos autos efetuada por advogado destituído de poderes para receber a citação não configura comparecimento espontâneo do réu (art. 214, § 1º, do CPC).

STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.468.906-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/8/2014 (Info 546).

Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender (art. 213 do CPC). A citação inicial do réu é indispensável para a validade do processo (art. 214). O autor propõe a ação e o juiz determina a citação do réu, que será realizada por um dos seguintes meios: I - correio; II - oficial de justiça; III - edital. IV - meio eletrônico, conforme regulado em lei própria. Apesar de não ser tão comum na prática, pode acontecer de o réu, sabendo extraoficialmente que foi ajuizada uma ação contra ele, decidir comparecer espontaneamente nos autos, mesmo antes de ser citado, pedindo acesso ao processo para já preparar sua resposta. O CPC prevê que o comparecimento espontâneo do réu ao processo supre a falta de citação (§ 1º do art. 214), ou seja, esse ato do requerido funciona como se fosse uma citação. Em geral, o comparecimento espontâneo é feito por meio de advogado que peticiona ao juiz requerendo a juntada aos autos de procuração do réu constituindo-o como causídico. Segundo o STJ, esse comparecimento espontâneo só será válido se o réu tiver conferido ao advogado uma procuração com poderes especiais para receber citação, ou seja, no corpo do instrumento da procuração deve estar expresso que o outorgante (no caso, o réu) confere ao outorgado (advogado) poderes para receber citação. Se a procuração for geral, sem esse poder específico, o comparecimento não será válido, não tendo havido citação.

(...) o comparecimento espontâneo do réu não tem lugar se a apresentação de procuração e a retirada dos autos foi efetuada por advogado destituído de poderes para receber citação, caso em que o prazo somente corre a partir da juntada aos autos do mandado citatório respectivo. (...) (STJ. 4ª Turma. AgRg no Ag 1176138/MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 09/10/2012)

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Deve-se, por fim, fazer um alerta de ordem prática aos advogados: após ser citado, o réu tem o prazo de 15 dias para oferecer sua resposta (contestação, reconvenção, exceção etc.). Em caso de comparecimento espontâneo por meio de advogado, o prazo para a resposta começa a ser contado do dia em que o advogado fez a juntada aos autos da procuração com poderes específicos para receber citação. Se, após juntar a procuração aos autos, o advogado demora 5 dias para fazer a carga, ele terá perdido 5 dias de defesa. Isso porque, repito, o prazo começa a contar da data em que foi juntada aos autos a procuração (e não da data em que o causídico faz carga dos autos) (STJ. 3ª Turma. REsp 1454841/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/08/2014).

RESPOSTA DO RÉU Não há revelia se o réu apresenta unicamente reconvenção,

mas neste peça refuta os argumentos expostos na inicial

O réu, no prazo para resposta, não ofereceu contestação em peça autônoma, apresentando apenas “reconvenção” na qual refuta, de forma específica e pormenorizada, as alegações expostas na inicial e pede expressamente que seja julgado improcedente o pleito formulado pelo autor.

Desse modo, percebe-se que em uma única peça intitulada de “reconvenção”, o réu apresentou também o conteúdo de uma contestação. Logo, diante de tais peculiaridades, não se pode dizer que tenha havido revelia já que houve a oferta de contestação, apesar de não ter sido apresentada em uma peça autônoma.

O STJ entende que constitui mera irregularidade a apresentação de contestação e de reconvenção em peça única, não se podendo falar que houve revelia.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.994-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/8/2014 (Info 546).

Revelia e seus efeitos O que acontece se o réu é citado, em uma ação que tramita no procedimento ordinário, mas não apresenta contestação? Haverá a revelia. Verificada a revelia, em regra, ocorrem três efeitos: a) Os fatos alegados pelo autor são reputados como verdadeiros (efeito material da revelia) Art. 319. Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente: I - se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; II - se o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público, que a lei considere indispensável à prova do ato. (obs: há outras exceções ao art. 319 fora os casos do art. 320). b) O réu revel não é mais intimado dos atos processuais. Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos, correrão os prazos independentemente de intimação, a partir da publicação de cada ato decisório. Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar. c) Haverá o julgamento antecipado da lide. Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: II - quando ocorrer a revelia (art. 319).

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Tais efeitos nem sempre ocorrerão Esses efeitos são obrigatórios? Sempre que ocorrer a revelia, haverá esses efeitos? NÃO. Tais efeitos ocorrem como regra, mas nem sempre. É possível, inclusive, que haja revelia sem a verificação de qualquer desses três efeitos. Ex: se o réu revel possuir advogado constituído nos autos e a matéria versar sobre direitos indisponíveis. Ademais, o fato de o réu ter sido revel não significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor. Caso concreto julgado pelo STJ Feitas as considerações acima, imagine a seguinte situação adaptada: João ajuizou ação de cobrança contra Pedro, que foi citado para apresentar resposta no prazo de 15 dias (art. 297 do CPC). A mais conhecida forma de resposta do réu é a contestação (art. 300). No entanto, além da contestação, o réu pode apresentar várias outras espécies de resposta, tais como, reconvenção, impugnação ao valor da causa, impugnação à justiça gratuita, exceção de impedimento, exceção de suspeição, exceção de incompetência relativa, entre outras. Em nosso exemplo, não ofereceu contestação em uma peça autônoma, apresentando apenas “reconvenção” na qual pediu, em síntese: a) a improcedência total dos pleitos do autor considerando que a dívida cobrada não existe, conforme se prova pelos documentos juntados; b) a condenação do autor ao pagamento de um débito que ele possui com o réu. O autor apresentou resposta à reconvenção. Após isso, o juiz decretou a revelia do réu e julgou antecipadamente a lide (art. 330, II, do CPC), considerado procedente o pedido de João. Segundo o magistrado, como Pedro não apresentou contestação (mas apenas reconvenção), houve revelia, devendo, portanto, como consequência obrigatória, ser considerados verdadeiros os fatos alegados pelo autor. Além disso, julgou improcedente a reconvenção. Agiu corretamente o juiz ao considerar que houve revelia e presunção de veracidade dos fatos? NÃO. No caso concreto, apesar de não ter sido apresentada uma peça autônoma com o nome de “contestação”, foi oferecida “reconvenção” na qual o réu refutou, de forma específica e pormenorizada, as alegações expostas na inicial. Além disso, na “reconvenção”, o requerido pediu expressamente que fosse julgado improcedente o pleito formulado pelo autor na inicial. Desse modo, percebe-se que em uma única peça intitulada de “reconvenção”, o réu apresentou também o conteúdo de uma contestação. Logo, diante de tais peculiaridades, não se pode dizer que não tenha havido contestação. Houve sim, apesar de não ter sido apresentada em uma peça autônoma. Em um precedente antigo, o STJ já havia decidido nesse sentido. Confira:

“(...) Embora oferecidas em peça única, a contestação e a reconvenção foram completamente separadas dentro do corpo da petição, podendo as duas ser distinguidas ictu oculi. Sendo assim, tal circunstância deve ser considerada mera irregularidade, não se erigindo em nulidade processual.(...)” (STJ. 5ª Turma. REsp 549.587⁄PE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 23⁄03⁄2004)

Assim, constitui-se em mera irregularidade a apresentação de contestação e de reconvenção em peça única, não se podendo falar que houve revelia. Ademais, ainda que tivesse havido revelia, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que ela enseja apenas presunção RELATIVA de veracidade dos fatos narrados na inicial, podendo ser infirmada (enfraquecida) pelos demais elementos dos autos, motivo pelo qual não acarreta a procedência automática dos pedidos iniciais.

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ASTREINTES Execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada

Importante!!!

A multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC, devida desde o dia em que configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação de tutela, somente poderá ser objeto de execução provisória após a sua confirmação pela sentença de mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja recebido com efeito suspensivo.

STJ. Corte Especial. REsp 1.200.856-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014 (recurso repetitivo) (Info 546).

Se o autor ajuíza uma ação pretendendo que o réu seja obrigado a fazer ou não fazer alguma coisa, o juiz, atendidos os requisitos legais, poderá conceder a tutela antecipada, na forma de tutela específica, determinando que o réu adote o comportamento que é objeto da ação. Exemplo hipotético (diferente do caso concreto): “A”, atriz, ingressa com ação de obrigação de fazer contra o site “X”, especializado em celebridades, tendo como pedido (objeto) que o referido site retire de suas páginas fotos íntimas da autora e cuja publicação ela não autorizou. O juiz analisa a petição inicial e entende que é relevante o fundamento da demanda e que há justificado receio de ineficácia do provimento final, razão pela qual concede liminarmente a tutela antecipada determinando que o site retire, em 24 horas, as fotos de suas páginas. Essa decisão interlocutória está fundada no § 3º do art. 461 do CPC:

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (...) § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada.

O juiz, para que sua decisão tenha “força” e desperte no réu a ânsia de cumpri-la, deve determinar alguma medida coercitiva. A mais conhecida delas é a multa cominatória, prevista no § 4º do art. 461 do CPC:

§ 4º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Principais características da multa cominatória (astreinte)

Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de “astreinte” em virtude de ser semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e que lá assim é chamado.

A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação. Trata-se de uma técnica judicial de coerção indireta.

Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito processual.

Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com perdas e danos (§ 2º do art. 461).

Pode ser imposta pelo juiz de ofício ou a requerimento, na fase de conhecimento ou de execução.

Apesar do CPC falar em “multa diária”, a doutrina afirma que essa multa pode ser estipulada também em

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meses, anos ou até em horas.

O valor das astreintes é revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das astreintes é o autor da demanda (REsp 949.509-RS).

A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito ao valor da multa se sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa parte sucumbir, não terá direito ao valor da multa ou, se já tiver recebido, deverá proceder à sua devolução.

Voltando ao nosso exemplo. O juiz concedeu liminarmente a tutela antecipada para que o site retirasse as fotos em até 24 horas, sob pena de multa de 1 mil reais por cada hora de descumprimento. A direção do site recebeu a intimação, mas somente retirou as fotos 41 horas depois. Na sentença, o juiz confirmou a tutela antecipada concedida e julgou procedente o pedido da atriz. As partes não recorreram e foi certificado o trânsito em julgado. O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do trânsito em julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada? Havia três posições principais sobre o tema: 1ª corrente: NÃO. Não é possível a execução provisória das astreintes. É necessário que haja o trânsito em julgado para que elas sejam exigidas. Em suma, somente ao final do processo o beneficiário da multa poderá executá-la. Nesse sentido: AgRg no AREsp 50.196/SP, Min. Arnaldo Esteves Lima, 1ª Turma, julgado em 21/08/2012. 2ª corrente: SIM. É possível a execução provisória das astreintes sem quaisquer condicionamentos, ou seja, com base até mesmo em uma mera decisão interlocutória. Logo após o descumprimento da decisão que fixou a multa é possível ao beneficiário executá-la. Nesse sentido: AgRg no AREsp 50.816/RJ, 2ª Turma, Min. Herman Benjamin, julgado em 07/08/2012. 3ª corrente: é uma posição intermediária entre as duas correntes acima explicadas. O que ela preconiza: É possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela antecipada desde que cumpridos dois requisitos: a) o pedido a que se vincula a astreinte seja julgado procedente na sentença ou acórdão; b) o recurso interposto contra essa sentença ou acórdão não tenha sido recebido no efeito suspensivo. Voltando ao nosso exemplo. O juiz concedeu liminarmente a tutela antecipada para que o site retirasse as fotos em até 24 horas, sob pena de multa de R$ 1 mil por cada hora de descumprimento. A direção do site recebeu a intimação, mas somente retirou as fotos 41 horas depois. Logo, terá que pagar uma multa de R$ 17 mil pelo atraso no cumprimento da obrigação de fazer estabelecida pela decisão judicial. O processo continua e ainda não foi sentenciado. É possível a execução provisória dessa multa de R$ 17 mil? Para a 1ª corrente: NÃO. Somente será possível a execução da multa se o pedido do autor for julgado procedente e houver o trânsito em julgado. Para a 2ª corrente: SIM. É possível a execução provisória das astreintes sem quaisquer condicionamentos, ou seja, com base até mesmo em uma mera decisão interlocutória ainda não confirmada, como foi o caso do exemplo acima. Para a 3ª corrente: ainda não, considerando que não houve sentença julgando procedente o pedido do autor.

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Imagine, então, que é proferida sentença julgando procedente o pedido do autor. O réu recorre e a apelação é recebida em seu duplo efeito (devolutivo e suspensivo), mas ainda não foi julgada. Será possível a execução provisória das astreintes? Para a 1ª corrente: NÃO. Para a 2ª corrente: SIM. Para a 3ª corrente: ainda não, considerando que houve sentença julgando procedente o pedido do autor, no entanto, foi interposto recurso contra essa decisão, tendo ele sido recebido no efeito suspensivo. A apelação é improvida, sendo mantida, portanto, a sentença. O réu não se conforma e interpõe recurso especial e recurso extraordinário, que são recebidos apenas no efeito devolutivo. Será possível a execução provisória das astreintes? Para a 1ª corrente: NÃO. Para a 2ª corrente: SIM. Para a 3ª corrente: SIM, considerando que houve sentença julgando procedente o pedido do autor, confirmada por um acórdão e os recursos interpostos não gozam de efeito suspensivo. Resumindo:

É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DAS ASTREINTES FIXADAS EM TUTELA ANTECIPADA?

1ª corrente: NÃO

Não é possível a execução provisória das astreintes. É necessário o trânsito em julgado para que elas sejam exigidas.

2ª corrente: SIM

É possível a execução provisória das astreintes sem quaisquer condicionamentos, ou seja, com base até mesmo em uma mera decisão interlocutória ainda não confirmada.

3ª corrente: SIM

É possível a execução provisória das astreintes desde que: a) o pedido a que se vincula a astreinte seja julgado procedente na sentença ou acórdão; e b) o recurso interposto contra essa sentença ou acórdão não tenha sido recebido no efeito suspensivo.

Principais argumentos: A multa só deve ser paga à parte que sagrar-se definitivamente vencedora na demanda. Logo, deve-se aguardar o final do processo. A mera ameaça de aplicação da multa, ao final, já é suficiente para provocar uma pressão psicológica no devedor.

Principais argumentos: Para que a multa possa cumprir sua função coercitiva é necessário que ela possa ser exigida imediatamente. Condicionar a exigência da multa ao trânsito em julgado iria enfraquecer a pressão psicológica que as astreintes devem causar.

Principais argumentos: Os dispositivos legais que exigem o trânsito em julgado referem-se apenas aos processos coletivos. Desse modo, não há determinação legal para que se aguarde o fim do processo para se cobrar as astreintes. Por outro lado, não é admissível a execução da multa com base em mera decisão interlocutória (que tem cognição sumária e precária), sendo necessário

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que a liminar que as fixou seja confirmada em sentença ou acórdão para garantir maior segurança.

Na doutrina: Cândido Rangel Dinamarco Luiz Guilherme Marinoni

Na doutrina: Cássio Scarpinella Bueno Fredie Didier Jr.

Na doutrina: Não encontrada referência.

No passado, já houve julgados acolhendo as três correntes, no entanto, agora o tema está pacificado. Qual o entendimento finalmente adotado pelo STJ? 3ª corrente. Segundo decidiu a Corte Especial do STJ, em recurso repetitivo, a multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC, devida desde o dia em que configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação de tutela, somente poderá ser objeto de execução provisória após a sua confirmação pela sentença de mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja recebido com efeito suspensivo. Para o STJ, essa posição prestigia a segurança jurídica e evita que a parte se beneficie de quantia que, posteriormente, venha a ser considerada indevida. Logo, aguardando-se mais um pouco para se permitir a execução de tais valores reduz-se também o inconveniente de um eventual pedido de devolução (repetição de indébito) que, por vezes, não se mostra exitoso. Ademais, o termo "sentença", assim como utilizado nos arts. 475-O e 475-N, I, do CPC, deve ser interpretado de forma restrita, razão pela qual é inadmissível a execução provisória de multa fixada por decisão interlocutória em antecipação dos efeitos da tutela, ainda que ocorra a sua confirmação por acórdão. Esclareça-se que a ratificação de decisão interlocutória que arbitra multa cominatória por posterior acórdão, em razão da interposição de recurso contra ela interposto, continuará tendo em sua gênese apenas a análise dos requisitos de prova inequívoca e verossimilhança, próprios da cognição sumária que ensejaram o deferimento da antecipação dos efeitos da tutela. De modo diverso, a confirmação por sentença da decisão interlocutória que impõe multa cominatória decorre do próprio reconhecimento da existência do direito material reclamado que lhe dá suporte, o qual é apurado após ampla dilação probatória e exercício do contraditório. Dessa feita, o risco de cassação da multa e, por conseguinte, a sobrevinda de prejuízo à parte contrária em decorrência de sua cobrança prematura, tornar-se-á reduzido após a prolação da sentença, ao invés de quando a execução ainda estiver amparada em decisão interlocutória proferida no início do processo, inclusive no que toca à possibilidade de modificação do seu valor ou da sua periodicidade.

EXECUÇÃO FISCAL Requisitos do mandado de intimação da penhora

Na execução fiscal, para o que mandado de intimação da penhora seja válido é necessário que:

a) a intimação do executado ocorra de forma pessoal; e

b) o mandado contenha expressa menção do prazo legal para o oferecimento de embargos à execução.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.269.069-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/4/2014 (Info 546).

Conceito Execução fiscal é... - a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações)

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- para cobrar do devedor - créditos (tributários ou não tributários) - que estão inscritos em dívida ativa. A execução fiscal é regida pela Lei nº 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC. O procedimento da execução fiscal é especial e bem mais célere que o da execução “comum”. Petição inicial A execução fiscal começa com a petição inicial proposta pela Fazenda Pública, que é uma peça processual muito simples, normalmente de uma ou duas páginas indicando apenas: I - o Juiz a quem é dirigida; II - o pedido; e III - o requerimento para a citação. A petição inicial deverá ser instruída com a Certidão da Dívida Ativa (CDA), que dela fará parte integrante, como se estivesse transcrita. A petição inicial e a CDA poderão constituir um único documento, preparado inclusive por processo eletrônico. Despacho do juiz (art. 7º da LEF) Se a petição estiver em ordem, o juiz irá proferir um “despacho” deferindo a inicial e determinado que o executado seja citado. Opções do executado: Depois de citado, o executado terá um prazo de 5 dias para adotar uma das seguintes opções: 1º) pagar a dívida cobrada; 2º) garantir a execução; 3º) não pagar nem garantir. Penhora Se o executado não pagar nem garantir a execução, o juiz determinará a penhora de bens. Penhora é o ato pelo qual são apreendidos bens do devedor que serão utilizados para satisfazer o crédito executado. Penhora de bens do executado e embargos Se os bens do executado forem penhorados, ele poderá apresentar embargos? SIM, a penhora é uma forma de garantir o juízo. Logo, estando garantido o juízo, o executado poderá oferecer embargos à execução. Nos embargos, o executado deverá alegar toda matéria útil à defesa, requerer provas e juntar os documentos e rol de testemunhas, se assim desejar (§ 2º do art. 16). Qual é o prazo para que o executado ofereça embargos? 30 dias. O prazo para os embargos começam a contar quando? Segundo o art. 16 da LEF, o prazo para que o executado ofereça embargos são contados: I - do depósito; II - da juntada da prova da fiança bancária ou do seguro garantia; III - da intimação da penhora.

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O prazo para os embargos são contados da data em que o devedor foi intimado da penhora ou da data em que foi juntado aos autos o mandado de intimação da penhora? Da data da intimação da penhora. Segundo entendimento pacífico do STJ, o termo inicial para a oposição de embargos à execução fiscal é a data da efetiva intimação da penhora, e não a da juntada aos autos do mandado cumprido (REsp 1.112.416⁄MG, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 9⁄9⁄2009). Mandado de intimação da penhora deve ser pessoal e mencionar o prazo dos embargos Na execução fiscal, para que o mandado de intimação da penhora seja válido é necessário que: a) a intimação do executado ocorra de forma pessoal; e b) o mandado contenha expressa menção do prazo legal para o oferecimento de embargos à execução. A intimação da penhora é feita na pessoa do devedor que, em tese, é leigo, razão pela qual no mandado deverá estar escrito, expressamente, o prazo que ele dispõe para se defender (apresentar embargos), com o objetivo de que o executado possa dimensionar tempo de que dispõe para contratar um advogado.

PROCESSO COLETIVO A associação pode propor ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF mesmo que os

associados residam em outro local

A entidade associativa (associação), ainda que possua abrangência local – e não âmbito nacional – poderá, se assim desejar, ajuizar a ação coletiva em favor de seus associados contra a União na Justiça Federal do DF, independentemente do lugar do território nacional onde tenha ocorrido a lesão ao direito vindicado.

A Justiça Federal do DF foi escolhida pela CF/88 para funcionar como uma espécie de juízo universal, sendo competente para apreciar as ações judiciais intentadas contra a União mesmo que os fatos tratados na demanda não tenham ocorrido lá e ainda que os beneficiários residam em outro local. Isso está previsto no art. 109, § 2º, da CF/88.

O art. 2º-A da Lei n. 9.404/97 estabelece que a sentença coletiva “abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator”. A Justiça Federal do DF, como visto, tem competência em todo o território nacional, pois, a critério do autor, pode ser instada a processar e julgar qualquer demanda ajuizada em desfavor da União (art. 109, § 2º, da CF/88). Logo, os efeitos da sentença a ser proferida pelo Juízo Federal de Brasília alcançarão, naturalmente, os associados da autora, mesmo que não morem no Distrito Federal.

STJ. 1ª Seção. CC 133.536-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 14/8/2014 (Info 546).

Imagine a seguinte situação adaptada: A Associação dos Oficiais de Justiça do TRT da 2ª Região SP ajuizou uma ação ordinária coletiva pedindo que a União assegurasse determinado direito à classe. A ação foi proposta originalmente perante a Justiça Federal de 1ª instância do Distrito Federal. O juiz federal do DF, no entanto, entendeu que não seria competente para conhecer da ação. Ao fundamentar sua decisão, afirmou que a entidade-autora tem sede em São Paulo⁄SP e que representa judicialmente os seus associados que atuam também em São Paulo (Oficiais de Justiça do TRT⁄2ª Região).

Além disso, o magistrado invocou o art. 2º-A da Lei n. 9.494/97 que diz que a sentença terá eficácia apenas para os associados que tiverem domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator da decisão. Confira o dispositivo:

Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator.

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O STJ concordou com a decisão do juiz? NÃO. O STJ decidiu que a entidade associativa (associação), ainda que possua abrangência local – e não âmbito nacional –, como no caso concreto, poderá, a seu critério, ajuizar a ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF, independentemente do lugar do território nacional onde tenha ocorrido a lesão ao direito vindicado.

Como Brasília é a Capital Federal, local onde se situa a sede constitucional da representação política e administrativa do País, a Justiça Federal do DF foi escolhida pela CF/88 para funcionar como uma espécie de juízo universal, sendo competente para apreciar as ações judiciais intentadas contra a União mesmo que os fatos tratados na demanda não tenham ocorrido lá e ainda que os beneficiários residam em outro local. Isso está previsto no art. 109, § 2º, da CF/88:

§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

O art. 2º-A da Lei 9.494/1997, de fato, prevê que a “sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator”. Contudo, é necessário que se dê ao referido art. 2º-A uma interpretação

conforme a Constituição, a fim de seja preservada a validade da normativa da Lei n. 9.494/97 sem que isso implique em violar a regra do § 2º do art. 109 da CF/88.

O art. 2º-A estabelece que a sentença coletiva “abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator”. A Justiça Federal do DF, como visto, tem competência em todo o território nacional, pois, a critério do autor, pode ser instada a processar e julgar qualquer demanda ajuizada em desfavor da União (art. 109, § 2º, da CF/88). Logo, os efeitos da sentença a ser proferida pelo Juízo Federal de Brasília alcançarão, naturalmente, os associados da autora, quais sejam, os Oficiais de Justiça do TRT da 2ª Região.

Em outras palavras, mesmo tendo domicílio em São Paulo, os associados estão dentro do âmbito de competência do Juízo Federal do DF caso optem por lá ajuizar a ação.

A competência constitucional da Justiça Federal do DF para processar e julgar demanda ajuizada em desfavor da União não poderia ser mitigada por lei ordinária. Dessa forma, proposta a ação coletiva contra a União na Justiça Federal do DF, não há que cogitar falta de competência territorial.

PROCESSO COLETIVO ACP pode servir como instrumento processual para cobrança

de valores indevidamente cobrados de consumidores

Sobre esse julgado, é importante que sejam destacadas três conclusões:

I – Em sede de ação civil pública ajuizada por associação civil de defesa do consumidor, instituição financeira pode ser condenada a restituir os valores indevidamente cobrados a título de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de seus serviços.

II – É possível que sentença condenatória proferida em ação civil pública em que se discuta direito individual homogêneo contenha determinações explícitas da forma de liquidação e/ou estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade, desde que essas medidas se voltem uniformemente para todos os interessados. Ex: determinação de que a ré envie correspondência aos beneficiários da decisão, publicação da sentença nos jornais etc.

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III –O Tribunal não pode, de ofício, fundado na aplicabilidade de prazo prescricional maior do que o definido em primeira instância, aumentar o alcance dos efeitos da sentença que reconheceu o direito a ressarcimento de valores cobrados indevidamente ao longo do tempo. Ex: o juiz reconheceu que os beneficiários da decisão poderiam receber as verbas dos últimos 5 anos; o TJ, sem recurso da parte vencedora, ampliou esse prazo para 10 anos, afirmando que prescrição é matéria de ordem pública e que pode ser reconhecida sem provocação. Ocorre que somente pode ser reconhecida de ofício se isso gerar a perda da pretensão, em homenagem à economia processual. No caso concreto, contudo, o reconhecimento de ofício ampliaria o prazo, o que não é admitido.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.953-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/8/2014 (Info 546).

Cobrança de Taxa de Emissão de Boleto ou Carnê (TEB ou TEC) Quando o consumidor faz uma compra utilizando um financiamento bancário, em alguns casos, esse mutuário recebe um carnê da instituição financeira com vários boletos bancários impressos para ir pagando mensalmente o empréstimo. Até bem pouco tempo atrás, diversas instituições cobravam, além dos encargos normais do mútuo (juros e correção monetária) um valor adicional para bancar os custos de impressão do boleto bancário. Isso é chamado de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) ou Taxa de Emissão de Carnê (TEC). Os órgãos de defesa do consumidor questionavam essa cobrança alegando que ela era abusiva. Veja o que o STJ decidiu sobre o tema em recurso especial repetitivo:

“(...) 1ª Tese: Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. (...) (STJ. 2ª Seção. REsp 1251331/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 28/08/2013)

Feita essa prévia explicação, imagine a seguinte situação adaptada: Determinada associação de defesa dos consumidores propôs ação civil pública contra a instituição financeira “AY” pedindo que ela: a) ficasse proibida de exigir o pagamento de TEB; b) fosse condenada a devolver os valores já cobrados dos consumidores; e c) tome medidas para avisar os consumidores de que eles têm direito à restituição das quantias. O juiz julgou procedentes os pedidos determinando que a instituição ficasse proibida de fazer novas cobranças e que devolvesse os valores já exigidos dos consumidores nos últimos 5 anos. Além disso, a fim de garantir uma maior publicidade da decisão, o magistrado determinou que a instituição disponibilizasse em suas agências e via correspondência a ser encaminhada aos seus clientes, as informações necessárias para que eles pudessem tomar ciência dos valores que tinham direito de receber, publicando, ainda, a sentença em dois jornais de grande circulação. A associação não recorreu contra a sentença. A instituição interpôs recurso de apelação e o TJ manteve a sentença quase na íntegra, modificando, contudo, o prazo prescricional. O juiz reconheceu que o prazo

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prescricional para a restituição dos valores era de 5 anos, ou seja, o banco poderia ser condenado a devolver as quantias pagas de TEB nos últimos 5 anos contados do ajuizamento. O TJ, contudo, mesmo sem recurso da associação, ampliou esse prazo para 10 anos. Como argumento, o TJ afirmou que a prescrição é matéria de ordem pública e que pode ser reconhecida de ofício (art. 219, § 5º do CPC). A questão chegou ao STJ. Vejamos o que decidiu a Corte: É possível que, em sede de ACP, a instituição financeira seja condenada a devolver os valores cobrados a título de TEB (ou TEC)? SIM. Em sede de ação civil pública ajuizada por associação civil de defesa do consumidor, instituição financeira pode ser condenada a restituir os valores indevidamente cobrados a título de Taxa de Emissão de Boleto Bancário (TEB) dos usuários de seus serviços. O pedido de reconhecimento da ilegalidade da TEB caracteriza um interesse coletivo em sentido estrito. Por outro lado, o requerimento para a restituição dos valores indevidamente cobrados a esse título evidencia um interesse individual homogêneo. Para a Relatora, Min. Nancy Andrighi, os dois pedidos podem ser veiculados por meio de ação civil pública. Concluir de modo contrário seria esvaziar quase que por completo a essência das ações coletivas para a tutela de direitos individuais homogêneos, inspiradas nas class actions do direito anglo-saxão e idealizadas como instrumento de facilitação do acesso à justiça, de economia judicial e processual, de equilíbrio das partes no processo e, sobretudo, de cumprimento e efetividade do direito material, atentando, de uma só vez, contra dispositivos de diversas normas em que há previsão de tutela coletiva de direitos, como as Leis 7.347/1985, 8.078/1990, 8.069/1990, 8.884/1994, 10.257/2001, 10.741/2003, entre outras. Foi correta a decisão do juiz que determinou que a instituição adotasse medidas para dar publicidade à decisão e, com isso, os consumidores atingidos pudessem fazer a liquidação dos seus créditos? SIM. É possível que sentença condenatória proferida em ação civil pública em que se discuta direito individual homogêneo contenha determinações explícitas da forma de liquidação e/ou estabeleça meios tendentes a lhe conferir maior efetividade, desde que essas medidas se voltem uniformemente para todos os interessados. Na hipótese específica dos autos, a sentença coletiva manteve o seu caráter genérico, conforme exige o art. 95 do CDC, sendo certo que as condenações acessórias tiveram por objetivo apenas o de conferir maior efetividade à prestação jurisdicional, assegurando que seja dado ao julgado a maior publicidade possível, bem como garantindo a devolução de todo o valor cobrado indevidamente pela Instituição. Foi correta a decisão do TJ que, de ofício, ampliou o prazo prescricional reconhecido pela sentença? NÃO. O Tribunal não pode, sem provocação, fundado na aplicabilidade de prazo prescricional maior do que o definido em primeira instância, aumentar o alcance dos efeitos da sentença que reconheceu o direito a ressarcimento de valores cobrados indevidamente ao longo do tempo. É verdade que, nos termos do art. 219, § 5º, do CPC, o julgador poderá, a qualquer tempo e grau de jurisdição, declarar de ofício a prescrição, ou seja, reconhecer que determinado direito submetido ao crivo do Poder Judiciário encontra-se prescrito, dando azo à extinção do processo com resolução do mérito, nos termos do art. 269, IV, do CPC. Entretanto, essa norma não autoriza o Tribunal a modificar, de ofício, a abrangência temporal dos efeitos da sentença. Para que o TJ ampliasse os efeitos temporais da sentença seria indispensável que a questão tivesse sido aventada no recurso. Isso porque o interesse público que faculta o reconhecimento da prescrição de ofício e a qualquer tempo deriva da inconveniência de se prosseguir com processo em que haja perda do direito de ação, sob pena de se violar o princípio da economia processual. Mas esse interesse público não está presente nas discussões em que se busque, apenas, a extensão (o aumento) do período em que a sentença condenatória produzirá seus efeitos. Nessa hipótese, não se admitirá a intervenção de ofício do juiz, de modo que, inexistente recurso abordando o tema, será defeso ao Tribunal manifestar-se.

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DIREITO PENAL

MOEDA FALSA (ART. 289 DO CP) Aplicação das agravantes do art. 61, II, “e” e “h” do CP

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Nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289, § 1º, do CP), se a nota falsificada é repassada para “ascendente, descendente, irmão ou cônjuge” ou para “criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida”, incidirá as agravantes previstas nas alíneas "e" e "h" do inciso II do art. 61 do CP. Isso o sujeito passivo desse delito não é apenas o Estado, mas também a pessoa lesada com a introdução da moeda falsa.

STJ. 6ª Turma. HC 211.052-RO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/6/2014 (Info 546).

Imagine a seguinte situação adaptada: João, com o objetivo de colocar em circulação, repassou uma nota de 50 reais falsificada para o seu irmão e outra de 100 reais para a sua vizinha, de 62 anos de idade. Descoberto, João foi denunciado e condenado pela prática do crime de moeda falsa, na forma do § 1º do art. 289 do Código Penal:

Art. 289. Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. § 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa. (...)

O juiz, na sentença, aplicou as agravantes tipificadas nas alíneas “e” e “h” do inciso II do art. 61 do CP:

Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: (...) II - ter o agente cometido o crime: (...) e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; (...) h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

Recurso da DPU A DPU, fazendo a assistência jurídica do réu, recorreu contra a sentença afirmando que o bem jurídico tutelado no crime de moeda falsa é a fé pública e que o sujeito passivo é o Estado. Logo, não seria correto dizer que o crime foi cometido contra o irmão do condenado ou contra pessoa maior de 60 anos. Enfim, a situação não se enquadraria nas alíneas “e” e “h” do inciso II do art. 61 do CP. O STJ concordou com a tese da defesa? NÃO. Para o STJ, nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289, § 1º, do CP), é possível a aplicação das agravantes dispostas nas alíneas "e" e "h" do inciso II do art. 61 do CP, tal qual considerou o magistrado.

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Realmente, a fé pública do Estado é o bem jurídico tutelado no delito do art. 289, § 1º, do CP. Isso não significa, todavia, que o Estado seja a vítima exclusiva do delito. Segundo a doutrina, no delito de moeda falsa o “sujeito passivo é o Estado, representando a coletividade, bem como a pessoa lesada. (...)” (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Especial. Vol. 4. 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2014, p. 484). De fato, em virtude da diversidade de meios com que a introdução de moeda falsa em circulação pode ser perpetrada, não há como negar que vítima pode ser, além do Estado, uma pessoa física ou um estabelecimento comercial, dado o notório prejuízo experimentado por esses últimos. A pessoa a quem, eventualmente, são passadas cédulas ou moedas falsas pode ser elemento crucial e definidor do grau de facilidade com que o crime será praticado, e a fé pública, portanto, atingida.

FALSIFICAÇÃO DE PAPÉIS PÚBLICOS (ART. 293 DO CP) É dispensável a constituição definitiva do crédito tributário para sua consumação

É dispensável a constituição definitiva do crédito tributário para que esteja consumado o crime previsto no art. 293, § 1º, III, "b", do CP. Isso porque o referido delito possui natureza FORMAL, de modo que já estará consumado quando o agente importar, exportar, adquirir, vender, expuser à venda, mantiver em depósito, guardar, trocar, ceder, emprestar, fornecer, portar ou, de qualquer forma, utilizar em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria sem selo oficial.

Por ser um crime formal, não incide na hipótese, a Súmula Vinculante 24 do STF, que tem a seguinte redação: “Não se tipifica crime MATERIAL contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.”

STJ. 6ª Turma. REsp 1.332.401-ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/8/2014 (Info 546).

Falsificação de papeis públicos O art. 293, § 1º, III, “b”, do Código Penal prevê o seguinte crime:

Art. 293. Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: (...) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º Incorre na mesma pena quem: (...) III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria: (...) b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de sua aplicação.

Para a maioria da doutrina, esse delito é considerado como sendo uma espécie de crime contra a ordem tributária considerando que esse selo oficial mencionado na letra “b” é uma forma de o Fisco controlar se aquele produto pagou ou não os tributos devidos. Ex: a legislação exige que seja afixado um selo nos cigarros, bebidas destiladas e relógios a fim de que a Receita Federal possa controlar o pagamento do IPI incidentes sobre tais mercadorias.

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Desse modo, o art. 293, § 1º, III, “b”, do Código Penal, para a doutrina majoritária, é um crime tributário. Diante dessa constatação, alguns advogados passaram a sustentar que esse delito somente se consuma quando houver a constituição definitiva do crédito tributário. Essa tese foi acolhida pelo STJ? NÃO. O STJ decidiu que não é necessária a constituição definitiva do crédito tributário para que esteja consumado o crime previsto no art. 293, § 1º, III, "b", do CP. Isso porque o referido delito possui natureza FORMAL, de modo que já estará consumado quando o agente importar, exportar, adquirir, vender, expuser à venda, mantiver em depósito, guardar, trocar, ceder, emprestar, fornecer, portar ou, de qualquer forma, utilizar em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria sem selo oficial. Por ser um crime tributário formal, não incide na hipótese, a Súmula Vinculante 24 do STF, que tem a seguinte redação:

Súmula Vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Nos crimes tributários de natureza formal é desnecessário que o crédito tributário tenha sido definitivamente constituído para a instauração da persecução penal. Essa providência é imprescindível apenas para os crimes materiais contra a ordem tributária, pois, nestes, a supressão ou redução do tributo é elementar do tipo penal.

FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299 DO CP) Falsa declaração de hipossuficiência não é crime

Atenção! Defensoria Pública

É atípica a mera declaração falsa de estado de pobreza realizada com o intuito de obter os benefícios da justiça gratuita.

A conduta de firmar ou usar declaração de pobreza falsa em juízo, com a finalidade de obter os benefícios da gratuidade de justiça não é crime, pois aludida manifestação não pode ser considerada documento para fins penais, já que é passível de comprovação posterior, seja por provocação da parte contrária seja por aferição, de ofício, pelo magistrado da causa.

STJ. 6ª Turma. HC 261.074-MS, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE), julgado em 5/8/2014 (Info 546).

O delito de falsidade ideológica está previsto no art. 299 do CP:

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

O crime de uso de documento falso, por sua, vez, está tipificado no art. 304:

Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

Documento, para os fins do tipo penal, é o instrumento idôneo a provar um fato independentemente de qualquer verificação ulterior. O documento prova o fato por si só.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 30

Segundo a jurisprudência do STJ, a conduta de apresentar, em juízo uma declaração de pobreza ideologicamente falsa (com informações falsas em seu conteúdo), por si só, não caracteriza o crime do art. 299 do CP considerando que essa “declaração de pobreza” ainda poderá ser impugnada pela outra parte e será analisada pelo juiz, não se enquadrando, portanto, no conceito de documento para fins penais.

Vale ressaltar que este é também o entendimento do STF:

FALSIDADE IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO DE POBREZA PARA FINS DE GRATUIDADE JUDICIÁRIA. Declaração passível de averiguação ulterior não constitui documento para fins penais. HC deferido para trancar a ação penal. (HC 85976, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 13/12/2005).

Muita atenção a este julgado porque se trata de tema constantemente cobrado nas provas, especialmente nos concursos da Defensoria Pública.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI O assistente de acusação tem direito à réplica mesmo que o MP não a exerça

Importante!!!

O assistente da acusação tem direito à réplica, ainda que o MP tenha anuído à tese de legítima defesa do réu e declinado do direito de replicar.

STJ. 5ª Turma. REsp 1.343.402-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/8/2014 (Info 546).

Debates no Tribunal do Júri No dia do julgamento do réu no Plenário do Tribunal do Júri, após ser realizada a instrução (oitiva de testemunhas, interrogatório etc.), tem início a fase de “debates” entre acusação e defesa (art. 476 do CPP). Quem inicia expondo a tese é o MP. Se houver assistente de acusação, este falará logo depois do MP (§ 1º). Deve-se ressaltar que o tempo do MP e do assistente é o mesmo. Quando a acusação concluir, começa a defesa, que terá o mesmo tempo para expor sua tese (§ 3º). Terminadas essas exposições, a acusação pode falar mais uma vez para refutar os argumentos defensivos e reafirmar a sua tese inicial. Trata-se do que chamamos de “réplica”. A réplica é facultativa, ou seja, a acusação pode optar por não utilizá-la. Se a acusação não quiser fazer a réplica, os debates se encerram e inicia-se a etapa de julgamento (obs: a defesa não tem direito de exigir a tréplica se não houver réplica). Se a acusação decidir utilizar a réplica, quando ela encerrar sua exposição, a defesa terá direito de ir para a tréplica, de forma que a defesa fala por último. A dúvida que surge é a seguinte: durante os debates no Tribunal do Júri, se o Ministério Público optar por não utilizar a réplica, o assistente de acusação poderá discordar e exigir a utilização desse tempo? O assistente de acusação tem direito de ir à réplica ainda que o MP não queira? SIM. O assistente da acusação tem direito à réplica, ainda que o MP tenha declinado do direito de replicar. O CPP garante esse direito ao assistente da acusação:

Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 31

Segundo a doutrina, “não havendo réplica do promotor, pode o assistente deduzi-la, ainda que aquele tenha pedido a absolvição” (MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo : Atlas, p. 542). Caso concreto Na situação analisada pelo STJ, após a fala da defesa, o juízo-presidente do Júri indagou à acusação se iria à réplica. O Promotor de Justiça disse que não porque estava convencido de que houve legítima defesa. O assistente de acusação, contudo, pediu para fazer uso da réplica, tendo esse direito sido negado. O réu foi absolvido. O assistente de acusação recorreu e a questão chegou até o STJ que anulou o julgamento por “cerceamento de acusação” e determinou que fosse realizado um novo Júri.

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA Encontro fortuito de provas

A sentença de pronúncia pode ser fundamentada em indícios de autoria surgidos, de forma fortuita, durante a investigação de outros crimes no decorrer de interceptação telefônica determinada por juiz diverso daquele competente para o julgamento da ação principal.

STJ. 5ª Turma. REsp 1.355.432-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/8/2014 (Info 546).

Imagine a seguinte situação adaptada: O Juízo da Vara das Execuções Criminais da Comarca de Tupã⁄SP deferiu a intercepção telefônica do número de aparelho celular utilizado por “R”, um dos líderes do PCC, e que se encontrava cumprindo pena em unidade prisional. No curso da referida interceptação, pelos diálogos mantidos, o magistrado constatou que “R” ordenou o homicídio de algumas pessoas, fato ocorrido na cidade de São Paulo. O juiz remeteu então os diálogos para a Polícia que instaurou inquérito que tramitou na 5ª Vara do Tribunal do Júri da capital. O Ministério Público ofereceu denúncia e o Juízo da 5ª Vara do Tribunal do Júri da capital, após a instrução, com base principalmente nos diálogos, proferiu decisão de pronúncia. A defesa do réu arguiu a nulidade das interceptações considerando que elas foram deferidas por juízo diferente daquele que era o competente para julgar a ação penal. O STJ acolheu a tese de defesa? Houve nulidade da decisão de pronúncia por ilicitude da prova? NÃO. A sentença de pronúncia pode ser fundamentada em indícios de autoria surgidos, de forma fortuita, durante a investigação de outros crimes no decorrer de interceptação telefônica determinada por juiz diverso daquele competente para o julgamento da ação principal. Não há que se falar em incompetência do Juízo que autorizou a interceptação telefônica, tendo em vista que se trata de hipótese de encontro fortuito de provas. Além disso, a regra prevista no art. 1º da Lei 9.296/1996, de acordo com a qual a interceptação telefônica dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, deve ser interpretada com ponderação, não havendo ilegalidade no deferimento da medida por Juízo diverso daquele que vier a julgar a ação principal, sobretudo quando autorizada ainda no curso da investigação criminal.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 32

Serendipidade Percebe-se que, no caso, ocorreu o chamado fenômeno da serendipidade, que consiste na descoberta fortuita de delitos que não são objeto da investigação. A serendipidade (tradução literal da palavra inglesa serendipity), também é conhecida como “descoberta casual” ou “encontro fortuito”. Para Luiz Flávio Gomes, “serendipidade é o ato de fazer descobertas relevantes ao acaso, em forma de aparentes coincidências. De acordo com o dicionário Houaiss, a palavra vem do inglês serendipity: descobrir coisas por acaso.” (http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2586994/artigos-do-prof-lfg-interceptacao-telefonica-serendipidade-e-aceita-pelo-stj).

EXECUÇÃO PENAL Consequências decorrentes da prática de falta grave

Importante!!!

Consequências decorrentes da prática de falta grave:

Progressão: a prática de falta grave interrompe o prazo para a progressão de regime, acarretando a modificação da data-base e o início de nova contagem do lapso necessário para o preenchimento do requisito objetivo.

Livramento condicional: a falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional (Súmula 441-STJ).

Indulto e comutação de pena: o cometimento de falta grave não interrompe automaticamente o prazo para o deferimento do indulto ou da comutação de pena. A concessão desses benefícios deverá obedecer aos requisitos previstos no decreto presidencial pelo qual foram instituídos.

STJ. 3ª Seção. REsp 1.364.192-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/2/2014 (recurso repetitivo) (Info 546).

Falta grave A Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84) prevê um rol taxativo de situações que configuram falta grave do condenado que esteja cumprindo pena privativa de liberdade.

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; II - fugir; III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; IV - provocar acidente de trabalho; V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas; VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei; VII - tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório.

Falta grave acarreta a interrupção da contagem do tempo para a progressão Se o condenado comete falta grave há a interrupção da contagem do tempo para a concessão da progressão de regime. Em outras palavras, a contagem do requisito objetivo é zerada e deve reiniciar-se. Para a jurisprudência do STJ, se assim não fosse, ao custodiado em regime fechado que comete falta grave não se aplicaria sanção em decorrência dessa falta, o que seria um estímulo ao cometimento de infrações no decorrer da execução.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 33

Vejamos o seguinte exemplo: “A” foi condenado a 6 anos por roubo (roubo não é hediondo, salvo o latrocínio). “A” começou a cumprir a pena em 01/01/2010 no regime fechado. Para progredir ao regime semiaberto, “A” precisa cumprir 1/6 da pena (1 ano) e ter bom comportamento carcerário. “A” completaria 1/6 da pena em 31/12/2010. Ocorre que, em 30/11/2010, “A” fugiu, tendo sido recapturado em 15/12/2010. A fuga é considerada falta grave do condenado (art. 50, II, da LEP). Como “A” praticou falta grave, seu período de tempo para obter a progressão de regime irá reiniciar do zero. No caso de fuga, a contagem do tempo é recomeçada a partir do dia da recaptura. Logo, para que “A” obtenha o direito à progressão, precisará cumprir 1/6 do restante da pena período contado a partir de 15/12/2010. Até o dia da fuga, “A” cumpriu 11 meses. Resta ainda 5 anos e 1 mês de pena. Desse período, “A” terá que cumprir 1/6. Conta-se esse 1/6 do dia da recaptura (15/12/2010). Assim, “A” atingirá 1/6 em 19/10/2011. Em suma, o cometimento de falta grave pelo apenado implica o reinício da contagem do prazo para obter os benefícios relativos à execução da pena, inclusive a progressão de regime prisional.

Falta grave não interfere no livramento condicional Vale ressaltar que, no caso do livramento condicional, a falta grave não interrompe o prazo para obtenção do benefício, conforme entendimento sumulado do STJ:

Súmula 441-STJ: A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional.

A falta grave não interfere no livramento condicional por ausência de previsão legal, ou seja, porque a LEP não determinou essa consequência (STJ. 5ª Turma. HC 263.361/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j.em 07/05/2013).

Falta grave não interfere, em regra, na concessão de indulto ou comutação de pena O cometimento de falta grave não interrompe automaticamente o prazo para o deferimento do indulto ou da comutação de pena. A concessão desses benefícios deverá obedecer aos requisitos previstos no decreto presidencial pelo qual foram instituídos. Assim, a prática de falta disciplinar de natureza grave, em regra, não interfere no lapso necessário à concessão de indulto e comutação da pena, salvo se o requisito for expressamente previsto no decreto presidencial.

Consequências decorrentes da prática de falta grave:

EXECUÇÃO PENAL Consequências decorrentes da prática de FALTA GRAVE:

ATRAPALHA NÃO INTERFERE

PROGRESSÃO: interrompe o prazo para a progressão de regime.

REGRESSÃO: acarreta a regressão de regime.

SAÍDAS: revogação das saídas temporárias.

REMIÇÃO: revoga até 1/3 do tempo remido.

RDD: pode sujeitar o condenado ao RDD.

DIREITOS: suspensão ou restrição de direitos.

ISOLAMENTO: na própria cela ou em local adequado.

LIVRAMENTO CONDICIONAL: não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional (Súmula 441-STJ).

INDULTO E COMUTAÇÃO DE PENA: não interfere no tempo necessário à concessão de indulto e comutação da pena, salvo se o requisito for expressamente previsto no decreto presidencial.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 34

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PENSÃO POR MORTE Termo inicial do benefício

A pensão por morte será devida ao dependente menor de dezoito anos desde a data do óbito, ainda que tenha requerido o benefício passados mais de trinta dias após completar 16 anos.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.405.909-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Ari Pargendler, julgado em 22/5/2014 (Info 546)..

Em que consiste a pensão por morte? Pensão por morte é um benefício previdenciário pago pelo INSS aos dependentes do segurado em virtude do falecimento deste. Em suma, quando o segurado morre, seus dependentes passam a ter direito de receber uma pensão mensal. Independe de carência Uma das principais características da pensão por morte é que se trata de um benefício que não depende

de carência para ser concedido (art. 26, I, da Lei n. 8.213/91). Outros benefícios previdenciários que também prescindem de carência: auxílio-reclusão, auxílio-acidente e salário-família. Valor da pensão por morte A pensão por morte será paga no mesmo valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento (100% do salário de benefício) (AMADO, Frederico. Direito Previdenciário Sistematizado. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 565). Qual é o termo inicial da pensão por morte?

Se após a morte o dependente demorou menos que 30 dias para requerer o benefício: a pensão por morte será paga a contar da data do óbito do segurado. Assim, o INSS deverá pagar aos dependentes as parcelas atrasadas retroagindo ao dia em que o segurado morreu.

Se após a morte o dependente demorou mais que 30 dias para requerer o benefício: a pensão por morte será paga a contar da data do requerimento administrativo.

Termo inicial da pensão por morte: Menos de 30 dias para requerer: data do ÓBITO. Mais de 30 dias para requerer: data do REQUERIMENTO. Exceção a essa regra: se o dependente for MENOR, INCAPAZ ou AUSENTE, a pensão por morte será devida desde a data do óbito, ainda que ela tenha sido requerida após 30 dias da data do óbito. Menor: o STJ decidiu que, para fins do termo inicial da pensão por morte, a expressão menor significa o menor de 18 anos. Assim, a pensão por morte será devida ao dependente menor de 18 anos desde a data do óbito, ainda que tenha requerido o benefício passados mais de 30 dias do falecimento. Dessa forma, a menoridade não acaba com 16 anos, de sorte que, mesmo fazendo o pedido após o 16º aniversário, as parcelas atrasadas irão retroagir à data do óbito.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 35

PENSÃO POR MORTE Criança ou adolescente sob guarda tem direito à pensão por morte mesmo que a lei

previdenciária não a inclua no rol de dependentes

Importante!!!

Se um segurado de regime previdenciário for detentor da guarda judicial de uma criança ou adolescente que dele dependa economicamente, caso esse segurado mora, esse menor terá direito à pensão por morte, mesmo que a lei que regulamenta o regime previdenciário não preveja a criança ou adolescente sob guarda no rol de dependentes. Isso porque o ECA já determina que a guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários (§ 3º do art. 33). Logo, havendo previsão expressa no ECA pouco importa que a lei previdenciária tenha ou não disposição semelhante.

Vale ressaltar que o ECA prevalece mesmo que seja mais antiga que a lei previdenciária porque é considerada lei específica de proteção às crianças e adolescentes.

STJ. 1ª Seção. RMS 36.034-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/2/2014 (Info 546).

Vide comentários ao julgado no capítulo sobre ECA.

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:

1) (Promotor MP/PA 2014 FCC) No tocante à improbidade administrativa, a Lei n. 8.429/92 determina que a ação de improbidade, em relação ao servidor titular de cargo efetivo, prescreve no prazo de cinco anos, contados do conhecimento do ato ilícito. ( )

2) (Promotor MP/TO 2012 CESPE) Prescreve em dois anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança a ação destinada a levar a efeito as sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa. ( )

3) (Promotor MP/SC 2014 banca própria) É de cinco anos o prazo prescricional da ação de responsabilização por ato de improbidade administrativa, em se tratando de servidor ocupante de cargo de provimento em comissão, contado a partir de sua exoneração. ( )

4) (Promotor MP/MT 2014 banca própria) Prescreve em cinco anos, com termo a quo no primeiro dia após a cessação do vínculo, se o ato ímprobo for imputado a agente público no exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança. ( )

5) (PGE/MS 2014 banca própria) O prazo prescricional para propor a ação de improbidade administrativa contra ato ímprobo praticado por Prefeito Municipal durante o primeiro mandato começa a fluir a partir do término deste, ainda que o agente político seja reeleito para o segundo mandato. ( )

6) (DPE/AC 2012 CESPE) Antônio tomou posse, em seu primeiro mandato como prefeito municipal, em 1.º/1/2009 e, embora tenha cometido ato de improbidade administrativa enquanto comandava a prefeitura, pretende candidatar-se para o mesmo cargo no pleito de 2012. Nessa situação hipotética, admitindo-se que Antônio seja reeleito e que sua posse para o segundo mandato ocorra em 1.º/1/2013, a contagem do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de improbidade administrativa contra o ato praticado por Antônio na vigência de seu primeiro mandato se inicia A) a partir do término do segundo mandato. B) na data da posse do segundo mandato. C) após cento e oitenta dias da data de posse do segundo mandato. D) a partir do término do primeiro mandato. E) na data da posse do primeiro mandato.

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 36

7) (Juiz TJ/BA 2012 CESPE) Nas ações de improbidade administrativa, é de cinco anos o prazo de

prescrição para ressarcimento do dano ao erário. ( ) 8) (AGU 2012 CESPE) Autorizada a cumulação do pedido condenatório e do de ressarcimento em ação por

improbidade administrativa, a rejeição do pedido condenatório por prescrição não obsta o prosseguimento da demanda relativa ao pedido de ressarcimento, que é imprescritível. ( )

9) O prazo prescricional da ação de improbidade é interrompido com a citação do réu. ( ) 10) O STJ não admite a prescrição intercorrente nas ações de improbidade administrativa. ( ) 11) (Promotor MP/MT 2014 banca própria) Na ação popular, a sentença que concluir pela carência ou pela

improcedência da ação está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal. ( )

12) (DPE/BA 2010 CESPE) Suponha que a DP ajuíze ACP para proteger os direitos de portadores de deficiência física, e que o juiz de primeiro grau julgue improcedente o pedido. Nesse caso, a sentença fica sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal. ( )

13) (DP/DF 2013 CESPE – prova oral) Considere que um indivíduo, preso em flagrante pela suposta prática do crime de furto, tenha sido encaminhado à delegacia e, lá, sem o seu consentimento, tenha sido submetido a entrevista a uma emissora de televisão. Em face dessa situação hipotética, responda, com fundamento na jurisprudência do STJ, aos seguintes questionamentos. a) A ofensa ao direito à imagem materializa-se com a mera utilização da imagem, de forma a individualizar a pessoa, ainda que não tenha caráter vexatório ou não viole a honra ou a intimidade da pessoa? b) Para gerar a obrigação de reparação decorrente do uso indevido do direito personalíssimo de imagem, faz-se necessária a prova da existência de prejuízo ou dano?

14) (Juiz TJBA 2012 CESPE) Nula a citação, o comparecimento espontâneo do réu não supre a necessidade

de repetição do ato citatório. ( ) 15) (Promotor MPDFT 2013 banca própria) No processo de conhecimento, o réu ao ser citado pode

apresentar sua resposta sob três formas: contestação, reconvenção e exceção. Não o fazendo, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. É a revelia, que tem como necessária consequência a procedência do pedido do autor. ( )

16) (Promotor MP/RS 2014 banca própria) A declaração falsa de pobreza para obter os benefícios da justiça gratuita não configura o crime de falsidade ideológica. ( )

17) O assistente da acusação tem direito à réplica, ainda que o MP tenha anuído à tese de legítima defesa do réu e declinado do direito de replicar. ( )

18) (Juiz TJ/DF 2014 CESPE) O condenado que praticar falta grave perderá todos os dias remidos. ( ) 19) (Promotor MP/PE 2014 FCC) O juiz, em caso de falta grave, pode revogar até metade do tempo remido.

( ) 20) (Juiz TJ/AM 2013 FGV) A prática de falta grave pelo apenado, devidamente apurada em procedimento

disciplinar próprio em que foi garantida a ampla defesa, autoriza a regressão do regime para outro mais gravoso. ( )

21) (Juiz Federal TRF2 2014 banca própria) A configuração de falta grave do condenado, na execução da pena privativa de liberdade, em regime fechado, é apta a gerar o seguinte efeito: A) regressão do regime prisional. B) perda parcial dos dias remidos. C) exclusão da assistência médica. D) imposição do trabalho sem remuneração. E) Nenhum dos efeitos acima previstos, embora possa gerar outros.

22) (Juiz TJ/CE 2014 FCC) A falta grave não interrompe o prazo para a progressão de regime. ( )

Informativo 546-STJ (24/09/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 37

23) (Juiz TJ/RN 2013 CESPE) A falta grave interrompe o prazo para a obtenção do livramento condicional. ( ) 24) (Juiz TJ/PE 2013 FCC) A falta grave interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional. ( ) 25) (Juiz Federal TRF1 2013 CESPE) A falta grave cometida pelo preso não interrompe o prazo para a

obtenção de livramento condicional perante o juiz da execução. ( ) 26) (Juiz TJ/PR 2013 banca própria) A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento

condicional. ( ) 27) (Juiz Federal TRF2 2014 banca própria) Quanto à pensão por morte, disciplinada pela Lei nº 8.213/1991,

a pensão será devida com efeito a contar da data de requerimento administrativo, mesmo que o beneficiário seja absolutamente incapaz na data do óbito do instituidor e somente a requeira ao atingir a plena capacidade. ( )

28) A pensão por morte será devida ao dependente menor de dezoito anos desde a data do óbito, ainda que tenha requerido o benefício passados mais de trinta dias após completar 16 anos. ( )

29) (PGM-Recife FCC 2013) A concessão de pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente independe de carência. ( )

30) (AGU 2012 CESPE) A concessão de pensão por morte, auxílio-reclusão e salário-família independe de carência. ( )

Gabarito

1. E 2. E 3. C 4. C 5. E 6. Letra A 7. E 8. C 9. E 10. C

11. C 12. C 13. - 14. E 15. E 16. C 17. C 18. E 19. E 20. C

21. Letra B 22. E 23. E 24. E 25. C 26. C 27. E 28. C 29. C 30. C

JULGADO NÃO COMENTADO

DIREITO TRIBUTÁRIO. APLICABILIDADE DA PENA DE PERDIMENTO A MERCADORIAS IMPORTADAS. A mercadoria importada qualificada como bagagem acompanhada que fora apreendida em zona secundária e desacompanhada de Declaração de Bagagem Acompanhada (DBA) será restituída ao viajante até o limite da cota de isenção determinada pela Receita Federal (art. 33 da IN 1.059/2010 da RFB), aplicável a pena de perdimento em relação à mercadoria que exceda esse limite. Isso porque, conforme dispõe o art. 33 da IN 1.059/2010 da RFB, o viajante procedente do exterior poderá trazer, com a isenção a que se refere o caput do art. 32, em sua bagagem acompanhada (art. 2º, III), livros, folhetos, periódicos, bens de uso ou consumo pessoal e outros bens cujos limites de valor global não ultrapassem os limites da cota de isenção determinada por esse dispositivo normativo. De fato, de acordo com o art. 3º, os “viajantes que ingressarem no território brasileiro deverão efetuar a declaração do conteúdo de sua bagagem, mediante o preenchimento, a assinatura e a entrega à autoridade aduaneira da Declaração de Bagagem Acompanhada (DBA)”. Todavia, o art. 3º-A,caput, dessa mesma Instrução Normativa, determina que estão dispensados de apresentar a DBA de que trata do art. 3º “os viajantes que não estiverem obrigados a dirigir-se ao canal ‘bens a declarar’”. Ocorre que, entre os viajantes que estão obrigados a dirigir-se ao canal “bens a declarar” – e que, portanto, devem apresentar a DBA – enquadra-se o viajante que trouxer “bens cujo valor global ultrapasse o limite de isenção para a via de transporte, de acordo com o disposto no art. 33” (art. 6º, VIII, da IN 1.059/2010 da RFB). Deste modo, se o que está dentro da cota de isenção dispensa declaração de bens, conclui-se que a pena de perdimento só é pertinente aos produtos que, por estarem acima dos limites da cota, venham a configurar dano ao erário, nos termos do art. 689 do Decreto 6.759/2009, já que, quanto a eles, há sim a obrigação de apresentação de declaração e demais formalidades de internação. REsp 1.443.110-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/8/2014.