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Informativo 542-STJ (27/06/2014)– Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.373.438-RS; 1.431.155-PB; REsp 1.184.621-MS. Leia-os ao final deste Informativo. ÍNDICE Direito Administrativo Prazo da ação de revisão de aposentadoria no serviço público. Direito Civil Legitimidade do espólio para ação de cobrança de indenização securitária que deveria ter sido recebida pelo de cujus. Cumulação de pensão por morte previdenciária com indenização por danos materiais paga pelo autor do crime. Seguro de veículo e agravamento do risco pela condução por motorista não habilitado. Direito de manter o plano de saúde caso seja demitido sem justa causa. imóveis locados por empresa pública. Pagamento de direitos autorais pela execução de músicas em casamento. Rescisão de compra e venda de imóvel urbano e indenização por acessões ou benfeitorias feitas sem licença da prefeitura. Direito do Consumidor Competência para julgar demanda e consumidor por equiparação. Prazo prescricional em caso de danos decorrentes do extravio de talão de cheques pelo banco. Estatuto da Criança e do Adolescente Transferência de adolescente infrator para outra unidade de internação. Direito Processual Civil Correção monetária deve incluir os índices de deflação. Ausência de impugnação e inexistência de preclusão na alegação dessas matérias em sede de apelação. Direito Penal Princípio da insignificância e furto de óculos de 200 reais. Perdão judicial e homicídio culposo na direção de veículo automotor. Direito Processual Penal Suposta contradição entre as respostas fornecidas pelo Conselho de Sentença. Direito Tributário REFIS e tese da parcela ínfima. Direito Previdenciário Acidente de trabalho atípico e competência da Justiça Estadual para julgar a ação previdenciária.

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Page 1: ÍNDICE - dizerodireitodotnet.files.wordpress.com · Legitimidade do espólio para ação de cobrança de indenização securitária que deveria ter sido recebida pelo de cujus. Cumulação

Informativo 542-STJ (27/06/2014)– Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.373.438-RS; 1.431.155-PB; REsp 1.184.621-MS. Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE Direito Administrativo Prazo da ação de revisão de aposentadoria no serviço público.

Direito Civil Legitimidade do espólio para ação de cobrança de indenização securitária que deveria ter sido recebida pelo de

cujus. Cumulação de pensão por morte previdenciária com indenização por danos materiais paga pelo autor do crime. Seguro de veículo e agravamento do risco pela condução por motorista não habilitado. Direito de manter o plano de saúde caso seja demitido sem justa causa. imóveis locados por empresa pública. Pagamento de direitos autorais pela execução de músicas em casamento. Rescisão de compra e venda de imóvel urbano e indenização por acessões ou benfeitorias feitas sem licença da

prefeitura.

Direito do Consumidor Competência para julgar demanda e consumidor por equiparação. Prazo prescricional em caso de danos decorrentes do extravio de talão de cheques pelo banco.

Estatuto da Criança e do Adolescente Transferência de adolescente infrator para outra unidade de internação.

Direito Processual Civil Correção monetária deve incluir os índices de deflação. Ausência de impugnação e inexistência de preclusão na alegação dessas matérias em sede de apelação.

Direito Penal Princípio da insignificância e furto de óculos de 200 reais. Perdão judicial e homicídio culposo na direção de veículo automotor.

Direito Processual Penal Suposta contradição entre as respostas fornecidas pelo Conselho de Sentença.

Direito Tributário REFIS e tese da parcela ínfima.

Direito Previdenciário Acidente de trabalho atípico e competência da Justiça Estadual para julgar a ação previdenciária.

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Informativo 542-STJ (27/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2

DIREITO ADMINISTRATIVO

Prazo da ação de revisão de aposentadoria no serviço público

Importante!!!

O prazo para que o servidor público proponha ação contra a Administração Pública pedindo a revisão do ato de sua aposentadoria é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/1932.

Após esse período ocorre a prescrição do próprio fundo de direito.

STJ. 1ª Seção. Pet 9.156-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 28/5/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação: João, servidor público federal, aposentou-se em 2008. Alguns anos depois, João, orientado por um colega do sindicato, percebeu que o seu tempo de contribuição foi calculado de forma equivocada e que ele deveria ter se aposentado com proventos maiores. Diante disso, indaga-se: João, agora em 2014, poderá ajuizar uma ação buscando a revisão de sua aposentadoria? Qual é o prazo da ação de revisão de aposentadoria do servidor público?

1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO

O prazo é decenal (10 anos), com base no art. 103,

caput, da Lei n. 8.213/91. Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo.

O prazo é quinquenal (5 anos), com fulcro no art. 1º do Decreto 20.910/32: Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.

Qual entendimento prevaleceu? O prazo prescricional é de 5 (cinco) anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/32. Para o STJ, a pretensão de revisão do ato de aposentadoria tem como termo inicial do prazo prescricional a concessão do benefício pela Administração. Após se passarem mais de 5 anos entre a aposentadoria do servidor e o ajuizamento da ação, ocorre a prescrição do fundo de direito. Principais argumentos:

O prazo previsto no art. 103 da Lei n. 8.213/91 é aplicável às aposentadorias concedidas pelo Regime Geral da Previdência Social (RGPS), não se aplicando para os benefícios concedidos nos regimes próprios dos servidores públicos (RPPS).

A CF/88 estabelece que os requisitos e critérios fixados para o RGPS serão aplicáveis ao regime de previdência dos servidores públicos apenas no que couber (§ 12 do art. 40).

Em outras palavras, as regras de previdência dos trabalhadores em geral só serão aproveitadas para a previdência dos servidores públicos de forma subsidiária, ou seja, quando não houver regramento específico sobre determinado tema. Por isso, o constituinte utilizou a expressão “no que couber”.

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No caso do prazo para a ação de revisão, existe uma norma específica que prevê o prazo prescricional de 5 anos para as demandas que envolvem relações de cunho administrativo, tais como as ações propostas pelos servidores públicos contra a Administração Pública. Logo, não se pode dizer que exista

lacuna, razão pela qual se afasta a adoção do prazo decenal previsto no art. 103 da Lei n. 8.213/91. O prazo é decadencial ou prescricional? O prazo é prescricional. A ação de revisão da aposentadoria tem como objetivo obrigar a Administração Pública a fazer uma nova aposentadoria e a pagar as parcelas pretéritas. Logo, é uma ação que veicula uma obrigação de fazer e de pagar. O que se está em jogo, portanto, é um direito subjetivo do aposentado, ou seja, um direito que para ser concretizado precisa da atuação de devedor em favor do credor.

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA

Os prazos prescricionais estão relacionados com as ações prestacionais (direitos subjetivos), isto é, ações condenatórias, executivas lato sensu e mandamentais. Direito subjetivo é aquele que confere ao titular o poder de exigir do devedor uma prestação de dar, fazer ou não fazer.

Os prazos decadenciais estão relacionados com ações constitutivas (direitos potestativos). Direito potestativo: é aquele que não depende de uma prestação a ser realizada pela outra parte. Pode ser exercido independentemente da atuação da outra parte. Ex: o advogado tem o direito potestativo de renunciar ao mandato.

Ressalte-se que o art. 103 da Lei n. 8.213/91 fala em “prazo de decadência”. Se for cobrada a redação literal do dispositivo em uma prova objetiva, pode marcar como correta. No entanto, diversos doutrinadores criticam o legislador nesse ponto e afirmam que se trata de um prazo prescricional (e não decadencial), sendo um equívoco da lei. Prescrição do “fundo de direito” x prescrição “de trato sucessivo” Existe uma classificação da prescrição que a divide em:

Prescrição do fundo de direito (prescrição nuclear)

Prescrição progressiva (Prescrição de obrigações de trato sucessivo)

Ocorre quando o direito subjetivo é violado por um ato único, começando aí a correr o prazo prescricional que a pessoa lesada tem para exigir do devedor a prestação. Esgotado esse prazo, extingue-se a pretensão e o credor não mais poderá exigir nada do devedor. Em palavras mais simples, é aquela que atinge a exigibilidade do direito como um todo. Ex: o devedor combinou de pagar a dívida em uma só vez, em fev/2008. Se ele não pagou, iniciou-se o prazo prescricional, que terminou em fevereiro/2013.

Ocorre quando a obrigação do devedor é de trato sucessivo, ou seja, contínua. Em outras palavras, o devedor, periodicamente, deve fornecer aquela prestação ao credor. Toda vez que não o faz, ele viola o direito do credor e este tem a pretensão de exigir o cumprimento. Em palavras mais simples, é aquela que atinge apenas as parcelas (e não o direito como um todo). Ex: o devedor combinou de pagar uma indenização ao credor até o fim de sua vida. Essa verba é paga em prestações (fev/2008, fev/2010, fev/2012 etc). Imagine que ele não tenha pago nenhuma. A prescrição quanto a fev/2008 e fev/2010 já ocorreu. Persistem, no entanto, a prestação de fev/2012 e as seguintes.

Deve-se chamar atenção para o fato de que o STJ afirmou que, passados os cinco anos, haverá a prescrição do próprio fundo de direito.

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A Corte entendeu que a aposentadoria do servidor público é concedida por um único ato (ato complexo) e que, a partir dessa concessão, inicia-se a pretensão do aposentado de exigir a sua revisão. Superado esse prazo de 5 anos, extingue-se não apenas a pretensão de receber as parcelas em atraso, mas também o próprio “fundo de direito”, ou seja, não há mais como fazer a revisão. Logo, nesse caso, não se aplica o raciocínio exposto na súmula 85 do STJ:

Súmula 85-STJ: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação.

Leis estaduais O tema acima explicado ainda irá gerar muita polêmica e certamente chegará ao STF. Isso porque muitas leis estaduais e municipais, ao tratarem sobre o regime previdenciário de seus servidores, preveem prazos de 10 anos para a revisão das aposentadorias. É o caso, por exemplo, do art. 46-A da Lei Complementar 30/2001, do Estado do Amazonas. O prazo de prescrição de demandas judiciais é matéria relacionada com direito civil e processual, assuntos cuja competência para legislar é privativa da União (art. 22, I, da CF/88). Logo, essas leis estaduais/municipais são, a meu ver, inconstitucionais por preverem prazos diferentes do Decreto 20.910/32, que foi recepcionado pela CF/88 com status de lei ordinária. O STJ, mesmo sem adentrar na discussão sobre a constitucionalidade ou não dessas leis regionais/locais, tem aplicado o prazo prescricional de 5 anos também para ações de revisão de aposentadoria de servidores públicos estaduais. Confira esse precedente:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. REVISÃO DE APOSENTADORIA. INCLUSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO. ATIVIDADE ANTERIOR INSALUBRE. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. OCORRÊNCIA. ART. 1º DO DECRETO 20.910/32. 1. A jurisprudência do STJ reconhece a prescrição do fundo de direito nas ações em que se visam rever ato de aposentadoria para inclusão do tempo de serviço insalubre, quando decorridos mais de cinco anos entre o ato de concessão e o ajuizamento da ação, nos termos do art. 1º do Decreto n. 20.910/32. 2. Na espécie, o ato que concedeu a aposentadoria da servidora pública estadual foi publicado em 27.8.1998, e a ação somente foi proposta em 2009, após, portanto, o prazo prescricional de cinco anos. 3. Recurso especial provido. STJ. 2ª Turma. REsp 1254894/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/06/2011.

Para fins de concurso, a informação que devemos guardar é a seguinte: O prazo para que o servidor público proponha ação contra a Administração Pública pedindo a revisão do ato de sua aposentadoria é de 5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/1932. Após esse período, ocorre a prescrição do próprio fundo de direito. STJ. 1ª Seção. Pet 9.156-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 28/5/2014 (Info 542).

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DIREITO CIVIL

Legitimidade do espólio para ação de cobrança de indenização securitária que deveria ter sido recebida pelo de cujus

O espólio possui legitimidade para ajuizar ação de cobrança de indenização securitária decorrente de invalidez permanente ocorrida antes da morte do segurado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.407-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 8/5/2014 (Info 542).

O que é a herança? A herança é o conjunto de bens deixado pela pessoa falecida. Caracteriza-se, por força de lei, como sendo bem imóvel, universal e indivisível. A herança é formada automaticamente pela morte e somente será dissolvida quando houver a partilha. O que é o espólio? O espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora dele. Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para praticar atos jurídicos (ex: celebrar contratos, no interesse da herança) e tem legitimidade processual (pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual) (FARIAS, Cristiano Chaves. et. al., Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 1396). Quem representa o espólio em juízo (quem age em nome do espólio)?

Se já houve inventário: o espólio é representado em juízo pelo inventariante.

Se ainda não foi aberto inventário: o espólio é representado pelo administrador provisório (art. 985, CPC). Fixados estes conceitos, imagine a seguinte situação hipotética: João tinha contratado um seguro contra invalidez. Após sofrer um acidente, João torna-se inválido. Logo, ele teria direito de receber a indenização da seguradora. Ocorre que um mês após o fato, antes de ter tido tempo de requerer o seguro, João morre. Diante disso, indaga-se: o espólio de João tem legitimidade para pleitear judicialmente o valor da indenização do seguro? SIM. O espólio possui legitimidade para ajuizar ação de cobrança de indenização securitária decorrente de invalidez permanente ocorrida antes da morte do segurado. Isso porque o direito à indenização de seguro por invalidez é meramente patrimonial, ou seja, submete-se à sucessão aberta com a morte do segurado, mesmo sem ação ajuizada pelo de cujus. Assim, o espólio é parte legítima para a causa, pois possui legitimidade para as ações relativas a direitos e interesses do de cujus. Ademais, não só os bens, mas também os direitos de natureza patrimonial titularizados pelo de cujus integram a herança e, assim, serão pelo espólio representados em juízo.

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Cumulação de pensão por morte previdenciária com indenização por danos materiais paga pelo autor do crime

É possível a cumulação do benefício previdenciário de pensão por morte com pensão civil ex delicto.

O benefício previdenciário é diverso e independente da indenização por danos materiais ou morais, porquanto ambos têm origens distintas. Este, pelo direito comum; aquele, assegurado pela Previdência. A indenização por ato ilícito é autônoma em relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima receba.

STJ. 4ª Turma. REsp 776.338-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 6/5/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação hipotética: João, na época capitão do Exército, foi morto por Pedro. Maria, esposa de João, passou a receber pensão por morte, benefício previdenciário pago pela União. Algum tempo depois, Maria propôs ação civil ex delicto (ação de ressarcimento de dano causado pela prática de crime) contra Pedro pedindo, dentre outras verbas, o pagamento de uma pensão mensal, nos termos do inciso II do art. 948 do CC:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Na contestação, Pedro alegou que Maria não teria direito de receber essa pensão mensal, tendo em vista que já percebe pensão por morte paga pela União. Segundo alegou o réu, se ela recebesse as duas pensões, haveria bis in idem. Ademais, como Maria passou a receber a pensão após o falecimento de seu marido, não se poderia dizer que ela sofreu prejuízo material com a morte, sendo indevida a indenização com base no art. 948 do Código Civil. A tese do réu pode ser acolhida? NÃO. É plenamente possível a cumulação do benefício previdenciário de pensão por morte com a pensão civil ex delicto. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que o benefício previdenciário é diverso e independente da indenização por danos materiais ou morais, considerando que têm origens distintas. Assim, a indenização por ato ilícito é autônoma em relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima receba.

Seguro de veículo e agravamento do risco pela condução por motorista não habilitado

Caso a sociedade empresária segurada, de forma negligente, deixe de evitar que empregado não habilitado dirija o veículo objeto do seguro, ocorrerá a exclusão do dever de indenizar se demonstrado que a falta de habilitação importou em incremento do risco.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.816-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/5/2014 (Info 542).

Nomenclaturas utilizadas nos contratos de seguro Risco: é a possibilidade de ocorrer o sinistro. Ex: risco de morte. Sinistro: o sinistro é o risco concretizado. Ex: morte. Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora, no qual estão previstos os

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riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.

Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva em consideração os riscos cobertos.

Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro). Imagine a seguinte situação adaptada: Determinada sociedade empresária contratou com a seguradora seguro de acidentes para os veículos utilizados nos serviços da empresa. Um dos funcionários da empresa, sem autorização ou ciência do responsável, pegou um dos veículos para realizar um serviço e acabou se envolvendo em um acidente com terceiro. Foi realizada perícia e constatou-se que o causador do acidente foi o funcionário da empresa, que agiu com inaptidão (imperícia) na condução do veículo. A empresa acionou o seguro pedindo a indenização prevista na apólice. Ocorre que a seguradora recusou-se a pagar sob a alegação de que o funcionário da empresa que estava conduzindo o veículo não tinha carteira de habilitação e que esse fato foi determinante para o acidente, já que ficou comprovado que o sinistro resultou da imperícia do condutor. O STJ aceitou o argumento da seguradora? SIM. Caso a sociedade empresária segurada, de forma negligente, deixe de evitar que empregado não habilitado dirija o veículo objeto do seguro, ocorrerá a exclusão do dever de indenizar se demonstrado que a falta de habilitação importou em incremento do risco. Isso porque, à vista dos princípios da eticidade, da boa-fé e da proteção da confiança, o agravamento do risco decorrente da culpa in vigilando da sociedade empresária segurada, ao não evitar que empregado não habilitado se apossasse do veículo, tem como consequência a exclusão da cobertura (art. 768 do CC), haja vista que o apossamento proveio de culpa grave do segurado. O agravamento intencional do risco, por ser excludente do dever de indenizar do segurador, deve ser interpretado restritivamente, notadamente em face da presunção de que as partes comportam-se de boa-fé nos negócios jurídicos por elas celebrados. Por essa razão, entende-se que o agravamento do risco exige prova concreta de que o segurado contribuiu para sua consumação. Assim, é imprescindível a demonstração de que a falta de habilitação, no caso concreto, gerou um incremento (aumento) do risco. Na hipótese em tela, havia prova pericial atestando que o acidente foi causado por imperícia do condutor. Logo, o STJ entendeu que a ausência da carteira de habilitação (no caso concreto) serviu para agravar o risco, sendo, portanto, causa excludente do dever de indenizar.

Direito de manter o plano de saúde caso seja demitido sem justa causa

Os trabalhadores demitidos sem justa causa têm direito a manter, pelo período máximo de 24 meses, o plano de saúde com as mesmas condições que gozavam durante o contrato de trabalho, desde que assumam o pagamento integral da contribuição.

O empregado, ao ser demitido sem justa causa, deve ser expressamente comunicado pelo ex-empregador do seu direito de permanecer no plano. Enquanto não for informado e não passar o prazo de opção, ele não poderá ser desligado do plano.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.237.054-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 22/4/2014 (Info 542).

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Imagine a seguinte situação: Antônio era empregado de um banco e possuía plano de saúde oferecido aos funcionários da instituição. Antônio foi demitido sem justa causa e deseja continuar no plano de saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava. Ele possui esse direito?

SIM. Tal previsão está na Lei n. 9.656/98 (que trata sobre os planos de saúde):

Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do contrato de trabalho sem justa causa, é assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.

Repare que, para o trabalhador continuar tendo direito, deverá cumprir duas exigências: a) Ter sido demitido sem justa causa; b) Assumir o pagamento integral das parcelas. O trabalhador terá direito de continuar com o plano de saúde por um tempo máximo de 24 meses,

conforme prevê o § 1º do art. 30 da Lei n. 9.656/98. Se antes de completar os 24 meses, o consumidor for admitido em um novo emprego, também perderá o direito de continuar com as mesmas condições no plano de saúde (§ 5º do art. 30). Empregado deve ser informado sobre esse direito O STJ decidiu que o empregado demitido sem justa causa deve ser expressamente comunicado pelo ex-empregador do seu direito de optar, no prazo de 30 dias a contar de seu desligamento, por se manter vinculado ao plano de saúde em grupo, desde que assuma o pagamento integral. Esse dever do empregador está previsto na Resolução Normativa 279 da ANS, de 24/11/2011. Trata-se de aplicação do dever de informação, nascido do princípio da boa-fé objetiva, expressamente acolhido pelo ordenamento pátrio no art. 422 do CC. O que acontece caso não exista prova de que o empregado foi comunicado sobre esse direito? Se não houver prova efetiva de que foi dada a oportunidade ao ex-empregado de permanecer, ele não poderá ser desligado do plano pela operadora.

Incidência da Lei n. 8.245/91 aos imóveis locados por empresa pública

Importante!!!

As empresas públicas são dotadas de personalidade jurídica de direito privado e, ressalvadas as hipóteses constitucionais, sujeitam-se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive nas relações jurídicas contratuais que venham a manter.

Assim, se uma empresa pública realiza contrato de locação comercial de imóvel de sua propriedade, sendo o imóvel locado bem de natureza privada, o contrato locatício firmado também é de natureza privada, e não administrativa, submetendo-se à Lei de Locações.

O art. 1º, “a”, “1” da Lei n. 8.245/91 somente exclui do seu âmbito as locações de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas. Logo, as empresas públicas e sociedades de economia mista submetem-se à Lei n. 8.245/91.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.224.007-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/4/2014 (Info 542).

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Informativo 542-STJ (27/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9

Ponto comercial Algo muito importante na atividade empresarial é o “ponto comercial”. Ponto comercial é a localização do estabelecimento empresarial. Pensando nisso, o direito protege o ponto comercial. Uma das formas de proteção ocorre por meio da ação renovatória. Ação renovatória A ação renovatória garante ao locatário o direito de renovar o contrato de locação empresarial, mesmo contra a vontade do locador, desde que presentes certos requisitos. Desse modo, a ação renovatória tem por finalidade a renovação compulsória (obrigatória) do contrato de locação empresarial, estando prevista na Lei nº 8.245/91 (Lei de Locações). Requisitos da ação renovatória Segundo o art. 51 da referida Lei, nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito à renovação do contrato, por igual prazo, desde que sejam cumpridos os seguintes requisitos cumulativos: I – o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por escrito; II – o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por prazo determinado; III – o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos escritos deve ser de cinco anos; IV – o locatário deve estar explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos. Para garantir este direito, caso o locador não queira renovar a locação, o locatário poderá ajuizar a ação renovatória. Se a ação renovatória for julgada procedente: a locação é renovada. Se a ação renovatória for julgada improcedente: Sendo julgada improcedente a ação, a locação comercial não será renovada e o juiz determinará a desocupação do imóvel alugado no prazo de 30 dias, desde que haja pedido na contestação:

Art. 74. Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver pedido na contestação. (Redação dada pela Lei nº 12.112/2009)

Contrato de locação de imóveis e sua abrangência

A locação de prédios urbanos rege-se pela Lei n. 8.245/1991. A locação de prédios rústicos é regulada pelo Estatuto da Terra.

Como regra, toda locação de imóvel urbano é regida pela Lei n. 8.245/91. A própria Lei n. 8.245/91, no entanto, prevê algumas situações nas quais a locação de imóvel urbano será regulada pelo Código Civil ou por leis especiais:

Art. 1º (...) Parágrafo único. Continuam regulados pelo Código Civil e pelas leis especiais: a) as locações: 1. de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas; 2. de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamento de veículos; 3. de espaços destinados à publicidade; 4. em apart-hotéis, hotéis-residência ou equiparados, assim considerados aqueles que prestam serviços regulares a seus usuários e como tais sejam autorizados a funcionar; b) o arrendamento mercantil, em qualquer de suas modalidades.

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Diante disso, indaga-se: se uma empresa pública aluga um imóvel que lhe pertença para um particular,

esse contrato será regido pela Lei n. 8.245/91? SIM. As empresas públicas são dotadas de personalidade jurídica de direito privado e, ressalvadas as hipóteses constitucionais, sujeitam-se ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive nas relações jurídicas contratuais que venham a manter (Decreto-lei 200/1967 e a art. 173, § 1º, da CF/88). Assim, se uma empresa pública realiza contrato de locação comercial de imóvel de sua propriedade, sendo o imóvel locado bem de natureza privada, o contrato locatício firmado também é de natureza privada, e não administrativa, submetendo-se à Lei de Locações.

Repare que o art. 1º, “a”, 1 somente exclui do âmbito da Lei n. 8.245/91 as locações de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas. Logo, as

empresas públicas e sociedades de economia mista submetem-se à Lei n. 8.245/91.

Se o locatário obedecer os requisitos do art. 51 da Lei n. 8.245/91, ele terá direito à renovação da locação comercial? SIM. Se a empresa pública realizou contrato de locação comercial de imóvel de sua propriedade, ela não pode escusar-se de renovar o contrato na hipótese em que o locatário tenha cumprido todos os requisitos exigidos pela Lei de Locações (Lei 8.245/1991) para garantir o direito à renovação. Assim sendo, tendo o locatário obedecido a todos os requisitos exigidos na referida lei para garantir o direito à renovação do contrato, não é possível à locadora escusar-se da renovação.

Pagamento de direitos autorais pela execução de músicas em supermercado

É devido o pagamento de direitos autorais ao ECAD pela transmissão radiofônica de músicas em supermercado, quando essas forem executadas sem autorização de seus autores, independentemente da obtenção de lucro direto ou indireto pelo estabelecimento comercial.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.152.820-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/6/2014 (Info 542).

É devida a cobrança de direitos autorais pela execução de músicas em supermercado? SIM. É devido o pagamento de direitos autorais ao ECAD pela transmissão radiofônica de músicas em supermercado, quando essas forem executadas sem autorização de seus autores, independentemente da obtenção de lucro direto ou indireto pelo estabelecimento comercial. A cobrança pode ser feita com base no art. 68 da Lei nº 9.610/98:

Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções públicas. (...) § 2º Considera-se execução pública a utilização de composições musicais ou lítero-musicais, mediante a participação de artistas, remunerados ou não, ou a utilização de fonogramas e obras audiovisuais, em locais de frequência coletiva, por quaisquer processos, inclusive a radiodifusão ou transmissão por qualquer modalidade, e a exibição cinematográfica. § 3º Consideram-se locais de frequência coletiva os teatros, cinemas, salões de baile ou concertos, boates, bares, clubes ou associações de qualquer natureza, lojas, estabelecimentos comerciais e industriais, estádios, circos, feiras, restaurantes, hotéis, motéis, clínicas, hospitais, órgãos públicos da administração direta ou indireta, fundacionais e estatais, meios de transporte de passageiros terrestre, marítimo, fluvial ou aéreo, ou onde quer que se representem, executem ou transmitam obras literárias, artísticas ou científicas. § 4º Previamente à realização da execução pública, o empresário deverá apresentar ao escritório central, previsto no art. 99, a comprovação dos recolhimentos relativos aos direitos autorais.

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Trata-se de entendimento sumulado no STJ:

Súmula 63 do STJ: São devidos direitos autorais pela retransmissão radiofônica de músicas em estabelecimentos comerciais.

Multa

Além da cobrança dos direitos autorais, a Lei n. 9.610/98 prevê o pagamento de multa para o caso de execução das músicas sem autorização. Confira:

Art. 109. A execução pública feita em desacordo com os arts. 68, 97, 98 e 99 desta Lei sujeitará os responsáveis a multa de vinte vezes o valor que deveria ser originariamente pago.

No entanto, segundo o STJ, essa multa somente deve ser aplicada se ficar provada a existência de má-fé e da intenção ilícita de usurpar os diretos autorais.

Rescisão de compra e venda de imóvel urbano e indenização por acessões ou benfeitorias feitas sem licença da prefeitura

Importante!!!

Em ação que busque a rescisão de contrato de compra e venda de imóvel urbano, antes de afastar a indenização pelas benfeitorias ou acessões realizadas sem a obtenção de licença da prefeitura municipal (art. 34, parágrafo único, da Lei 6.766/1979), é necessário apurar se a irregularidade é insanável.

• Se a irregularidade pela falta de licença puder ser sanada e a construção e benfeitorias puderem ser mantidas no imóvel: haverá direito de o possuidor ser indenizado, descontando-se eventuais multas e outras despesas que o vendedor tenha na Prefeitura para regularização.

• Se a irregularidade não puder ser sanada e a construção e benfeitorias tiverem que ser retiradas: NÀO haverá direito de o possuidor ser indenizado.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.191.862-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/5/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação hipotética: João celebrou contrato de promessa de compra e venda com determinada incorporadora. Por meio do contrato, a incorporadora (promitente vendedora) comprometeu-se a vender a João um imóvel no loteamento “Jardim Feliz”. Em contrapartida, João obrigou-se a pagar o valor de 96 mil reais, parcelados em 48 meses. Ao final, tendo sido efetuado todo o pagamento, a empresa transferiria a propriedade do bem. Durante a vigência do contrato, João já ficaria na posse do imóvel. Ação de rescisão João cumpriu regularmente sua obrigação durante 10 meses. A partir daí, deixou de pagar as prestações. Diante disso, a empresa propôs ação de rescisão do contrato, cumulada com reintegração na posse e perdas e danos. Direito de retenção João apresentou contestação na qual afirma que já construiu uma casa no terreno e, por isso, pede o direito de retenção pelas acessões e benfeitorias realizadas no local.

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Em outras palavras, o réu sustentou que era possuidor de boa fé do imóvel e que tem o direito de, antes de ser retirado do local, receber indenização pelas acessões e benfeitorias que fez. Invocou para tanto o

art. 1.219 do CC e o art. 34 da Lei n. 6.766/79:

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeitorias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposição contratual em contrário.

Obs1: apesar de o art. 1.219 do CC e do art. 34 da Lei n. 6.766/79 mencionarem apenas “benfeitorias”, a doutrina majoritária e o STJ entendem que o direito de retenção abrange também as acessões (como é o caso de uma casa construída em um terreno). Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. Resp 1.316.895/SP, julgado em 11/06/2013. Foi o entendimento consagrado na I Jornada de Direito Civil do CJF/STF:

Enunciado 81: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do CC, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.

Obs2: nas ações possessórias, o direito de retenção deverá ser alegado no momento da contestação, sob pena de preclusão (STJ. 3ª Turma. REsp 1.278.094-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/8/2012). Réplica A incorporadora refutou o argumento do réu quanto ao direito de retenção, afirmando que a casa (acessão) e as benfeitorias foram realizadas sem que João tivesse, previamente, obtido alvará do Município. Logo, essa construção e benfeitorias foram feitas de forma irregular, não merecendo ser

indenizadas, conforme previsto no art. 34, parágrafo único, da Lei n. 6.766/79 (Lei do Parcelamento Urbano):

Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente, as benfeitorias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposição contratual em contrário. Parágrafo único. Não serão indenizadas as benfeitorias feitas em desconformidade com o contrato ou com a lei.

Curiosidade: a Lei n. 6.766/79 é também conhecida como Lei Lehmann, em homenagem ao falecido Senador Otto Cyrillo Lehmann, que foi o autor do projeto que deu origem a esse diploma legal. A questão chegou até o STJ. O que decidiu a Corte? Em ação que busque a rescisão de contrato de compra e venda de imóvel urbano, antes de afastar a indenização pelas benfeitorias ou acessões realizadas sem a obtenção de licença da prefeitura municipal

(art. 34, parágrafo único, da Lei n. 6.766/79), é necessário apurar se a irregularidade é insanável. A licença para construir é um requisito imprescindível a qualquer obra realizada em terreno urbano. No entanto, a ausência de licença para construir emitida pela prefeitura municipal é irregularidade que pode ser ou não sanável, a depender do caso concreto:

Se a irregularidade pela falta de licença puder ser sanada e a construção e benfeitorias puderem ser mantidas no imóvel: haverá direito de o possuidor que as realizou ser indenizado.

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Se a irregularidade não puder ser sanada e a construção e benfeitorias tiverem que ser retiradas: NÃO haverá direito de o possuidor que as realizou ser indenizado.

Desse modo, antes de decidir sobre a obrigação de indenizar as acessões e benfeitorias, é necessário apurar a situação junto à Prefeitura e eventual necessidade de demolição da obra. A solução acima tem por objetivo evitar o enriquecimento ilícito de qualquer dos litigantes.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Competência para julgar demanda e consumidor por equiparação

Determinada pessoa teve seu nome inscrito no serviço de proteção ao crédito porque alguém utilizou seu nome em um cheque falsificado para pagar estadia em hotel.

Diante do não pagamento do cheque, o banco levou a protesto o título de crédito.

Essa pessoa negativada será considerada consumidora por equiparação, nos termos do art. 17 do CDC.

Houve um acidente de consumo causado pela suposta falta de segurança na prestação do serviço por parte do estabelecimento hoteleiro que, no caso concreto, poderia ter identificado a fraude.

Logo, sendo a vítima considerada consumidora e sendo o causador do dano um fornecedor de serviços, a ação de indenização poderá ser proposta contra o Hotel no foro do domicílio do autor (consumidor por equiparação), nos termos do art. 101, I, do CDC.

STJ. 2ª Seção. CC 128.079-MT, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/3/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação adaptada: João, ao tentar fazer uma compra a prazo, percebeu que seu nome estava negativado no SERASA. Ao buscar mais informações, soube que um Hotel, localizado em Cuiabá (MT), levou a protesto um cheque que seria seu e que teria sido utilizado para pagar hospedagem. João investigou a fundo o caso e descobriu que alguém falsificou seu talonário de cheques e o utilizou para pagar a conta do referido Hotel. Como não conseguiu receber o valor, o representante do Hotel foi até um tabelionato de protesto e apontou o cheque para protesto, indicando João como devedor. Com o protesto efetivado, o tabelionato comunicou a existência do débito ao SERASA. João ficou muito revoltado com a situação, uma vez que a falsificação era grosseira e, na sua opinião, o Hotel não teve cuidados ao aceitar o cheque e, depois, ao levá-lo a protesto.

João, que mora em São Paulo, quer ajuizar uma ação de indenização por danos morais contra o Hotel. Ele terá que propor a demanda em Cuiabá (MT) ou poderá intentar em São Paulo (SP)? João poderá ajuizar a ação no foro de seu domicílio (no caso, São Paulo).

Por quê? João, no caso concreto, pode ser considerado como consumidor por equiparação (bystander), uma vez que, mesmo não tendo mantido relação de consumo com o Hotel, suportou os danos causados por um acidente de consumo ocasionado pelo fornecedor de serviços. Nesse sentido, ele se enquadra no art. 17 do CDC:

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

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Esse é o entendimento consolidado do STJ. Confira:

(...) 1. Utilização de cheque furtado para a compra de produtos em joalheria, ensejando a inscrição do seu titular no SPC e o protesto da cártula em tabelionato. 2. Enquadramento da vítima no conceito ampliado de consumidor, pois, embora não tenha mantida relação negocial com a empresa demandada, sofreu dano moral causado por defeito na prestação de serviço da empresa recorrente. 3. Aplicação da regra do art. 17 do Código de Defesa do Consumidor. (...) STJ. 3ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1192871/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/09/2012.

Em se tratando de relação de consumo, o consumidor poderá propor a ação no foro de seu domicílio, nos termos do art. 101, I, do CDC:

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste Título, serão observadas as seguintes normas: I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

Prazo prescricional em caso de danos decorrentes do extravio de talão de cheques pelo banco

Prescreve em cinco anos a pretensão de correntista de obter reparação dos danos causados por instituição financeira decorrentes da entrega, sem autorização, de talonário de cheques a terceiro que, em nome do correntista, passa a emitir várias cártulas sem provisão de fundos, gerando inscrição indevida em órgãos de proteção ao crédito.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.883-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 3/4/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação adaptada: O funcionário do banco, por descuido, entregou o talão de cheques de João para Pedro. Este falsificou a assinatura do correntista e passou a emitir diversos cheques como se fosse ele. A situação toda gerou inúmeros prejuízos a João, que acabou com seu nome inscrito nos serviços de proteção de crédito. O banco tem responsabilidade civil nesse caso? SIM. Na hipótese, o serviço mostra-se defeituoso, na medida em que a instituição financeira não forneceu a segurança legitimamente esperada pelo correntista. Isso porque constitui fato notório que os talonários de cheques depositados em agência bancária somente podem ser retirados pelo próprio correntista, mediante assinatura de documento atestando a sua entrega, para possibilitar o seu posterior uso. O Banco tem a posse desse documento, esperando-se dele um mínimo de diligência na sua guarda e entrega ao seu correntista. Aplica-se, ao caso, o entendimento sumulado do STJ:

Súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

Sendo assim, em face da defeituosa prestação de serviço pela instituição bancária, não atendendo à segurança legitimamente esperada pelo consumidor, tem-se a caracterização de fato do serviço, disciplinado pelo art. 14 do CDC. Qual é o prazo prescricional que o cliente possui para ajuizar ação de indenização nesse caso? 5 anos, nos termos do art. 27 do CDC:

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Art. 27. Prescreve em 5 (cinco anos) a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

A contagem desse prazo inicia-se a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

ECA

Transferência de adolescente infrator para outra unidade de internação

O ECA assegura o direito do adolescente privado de liberdade de permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável (art. 124, VI). No entanto, esse direito não é absoluto. Assim, não é ilegal a transferência de um adolescente para uma unidade de internação localizada no interior do Estado em virtude de o centro de internação da capital, onde ele estava, encontrar-se superlotado. Vale ressaltar, ainda, que a família do adolescente também nem residia na capital.

STJ. 6ª Turma. HC 287.618-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/5/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação: Ricardo, adolescente, cumpria medida socioeducativa em uma unidade de internação localizada em Belo Horizonte (MG). Como a referida unidade estava com superlotação, a administração pública transferiu Ricardo para um centro de internação em Unaí, interior de MG. A defesa impetrou habeas corpus requerendo o retorno do paciente a um dos centros de internação da capital, alegando que a transferência desatende os objetivos do Estatuto da Criança e do Adolescente, visto que o local onde se encontra internado, hoje, dificulta o contato da família com o adolescente, em razão da distância.

O que decidiu o STJ? O STJ não concedeu o pedido. A Corte entendeu que a transferência não foi ilegal, já que o estabelecimento onde ele estava internado encontrava-se superlotado. O Ministro reconheceu a importância da família no processo de ressocialização do adolescente, sendo esse um direito previsto no art. 124, VI, do ECA:

Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes: VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;

Apesar disso, esse direito não é absoluto, como nenhum outro o é no Estado Democrático de Direito, podendo ser afastado em casos excepcionais. Não se mostra razoável a manutenção de adolescente em unidade de internação com instalações em estado calamitoso e incapaz de manter e educar o adolescente submetido à medida socioeducativa de maneira adequada, sob o argumento de mantê-lo próximo a sua família a todo custo.

Além disso, a família do adolescente não morava em Belo Horizonte, mas também no interior (outro Município diferente de Unaí), de forma que o critério adotado pela Administração para transferir o infrator foi razoável, uma vez que, não sendo residente na capital, foi transferido para outra comarca para que os outros adolescentes cujas famílias residam em BH possam continuar ali internados.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Correção monetária deve incluir os índices de deflação

Correção monetária significa atualizar o valor nominal da obrigação, ou seja, manter no tempo o poder de compra original daquela quantia. Com isso, evita-se que as oscilações por causa da inflação façam com que seja diminuído o poder de compra do dinheiro.

Se, no período que se busca fazer a correção monetária, houve índices negativos (deflação), tais índices devem ser também considerados no cálculo final da correção monetária. No entanto, se, no período que se busca fazer a correção, a soma de todos os índices for negativa, não se deve aplicar esse percentual porque senão o credor seria prejudicado e receberia uma quantia menor do que o valor original. O credor seria punido pelo devedor não ter pago no tempo correto. Logo, em tal situação em que a correção monetária for negativa, o credor deverá receber o valor original (valor nominal), sem a aplicação do índice.

O STJ decidiu isso agora em sede de recurso repetitivo, resumindo a tese em uma frase:

“Aplicam-se os índices de deflação na correção monetária de crédito oriundo de título executivo judicial, preservado o seu valor nominal.”

STJ. Corte Especial. REsp 1.361.191-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/3/2014 (recurso repetitivo).

Imagine a seguinte situação: O juiz condenou “X” a pagar 100 mil reais a “Y”, determinando que incida correção monetária com base em um índice chamado Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), que é calculado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas. O juiz determinou na sentença que a correção monetária deveria incidir desde 01/01/2011, data em que venceu a obrigação. Na fase de cumprimento da sentença (em 01/01/2012), no momento em que foi ser realizado o cálculo da correção monetária, percebeu-se que havia meses em que o IGP-M foi positivo (ou seja, deveria ser somada uma determinada quantia ao valor principal) e em outros meses o IGP-M foi negativo. Em virtude da correção monetária, normalmente o valor que será pago ao credor é maior que a dívida principal, considerando que os índices de correção geralmente são positivos. A pergunta, no entanto, é a seguinte: no cálculo da correção monetária, se o índice for negativo, deve-se fazer o cálculo usando esse índice negativo, ou seja, diminuindo o valor principal, ou deve-se apenas utilizar os índices positivos? Exemplo 1:

Jan/11 Fev/11 Mar/11 Abr/11 Mai/11 Jun/11 Jul/11 Ago/11 Set/11 Out/11 Nov/11 Dez/11

Índice 1%

Índice 2%

Índice -1%

Índice 2%

Índice 1%

Índice -1%

Índice -1%

Índice 2%

Índice 2%

Índice 1%

Índice -1%

Índice 2%

Se somarmos apenas os índices positivos: 13% de correção monetária. Se somarmos os índices positivos e negativos: 9% de correção monetária. No cálculo da correção monetária devem ser computados os índices negativos? SIM. Esse é o entendimento do STJ. Logo, segundo a posição do STJ, a correção monetária em nosso exemplo seria de 9%. A correção monetária possui a função de “manter o poder aquisitivo da moeda e recompor seu valor originário corroído pela inflação" (STJ. AREsp 30916/RS). Corrigir o valor nominal da obrigação, portanto, nada mais representa do que manter, no tempo, o seu poder de compra original. O que se verifica no decorrer do tempo, de um modo geral e especialmente na

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história econômica brasileira, é a perda do poder aquisitivo das moedas. Todavia, pode ocorrer – e felizmente também no Brasil esse fenômeno nos últimos tempos também às vezes ocorre – o contrário, ou seja, o fortalecimento do poder de compra (STJ. REsp 1.265.580/RS). Desse modo, os períodos de “deflação”, ou seja, quando o índice foi negativo, também devem ser considerados no cálculo final do valor que será a correção monetária. Em outras palavras, porém com linguagem mais técnica, o STJ afirma que “a sequência histórica do índice de correção deve ser integralmente considerada, sob pena de ser desvirtuado o cálculo final, com atualização global em percentual superior à perda do poder de compra no período” (Min. Maria Isabel Gallotti). O próprio STJ, no entanto, estabelece um limite: se, no cálculo final, a atualização implicar redução do valor principal, deve prevalecer o valor nominal. Assim, se no período que se busca fazer a correção a soma de todos os índices for negativa, não se deve aplicar esse percentual porque senão o credor seria prejudicado e receberia uma quantia menor do que o valor original (valor nominal). Exemplo 2:

Jan/11 Fev/11 Mar/11 Abr/11 Mai/11 Jun/11 Jul/11 Ago/11 Set/11 Out/11 Nov/11 Dez/11

Índice -1%

Índice -2%

Índice 1%

Índice -3%

Índice -1%

Índice 1%

Índice 1%

Índice -2%

Índice -2%

Índice -1%

Índice 1%

Índice -2%

Se somarmos os índices positivos e negativos: -10% de correção monetária. Se aplicássemos esse índice apurado para o período (-10%), o credor não mais receberia R$ 10.000,00 (valor original, por exemplo), mas sim R$ 9.000,00 (valor original com a aplicação da correção monetária). Perceba que o credor seria punido pelo fato de o devedor não ter pago a dívida no dia correto. Logo, numa situação assim, em que a correção monetária apurada no período for negativa, o credor deverá receber o valor nominal, sem a aplicação do índice, ou seja, o credor irá receber o valor nominal (no exemplo acima, 10 mil reais). Posição pacífica do STJ: Depois de decisões divergentes, o STJ pacificou este tema por meio de sua Corte Especial:

A correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta apenas oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica produzindo um resultado que não representa a simples manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. (Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 18.4.2012).

Execução fiscal: ausência de impugnação e inexistência de preclusão na alegação dessas matérias em sede de apelação

Não implica preclusão a falta de imediata impugnação pela Fazenda Pública da alegação deduzida em embargos à execução fiscal de que o crédito tributário foi extinto pelo pagamento integral. A preclusão consiste na simples perda de uma faculdade processual. Nos casos relacionados a direitos materiais indisponíveis da Fazenda Pública, a falta de manifestação não autoriza concluir automaticamente que são verdadeiros os fatos alegados pela parte contrária. Em razão da indisponibilidade do direito controvertido e do princípio do livre convencimento, nada impede, inclusive, que o juízo examine esse tema.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.364.444-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 8/4/2014 (Info 542).

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Execução fiscal Execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor créditos (tributários ou não tributários) inscritos em dívida ativa. A execução fiscal é regida pela Lei nº 6.830/80 (LEF) e, subsidiariamente, pelo CPC. Imagine agora a seguinte situação hipotética: A União ajuizou execução fiscal contra João. Após ser citado, João ofereceu garantia à execução (fez um depósito em dinheiro do valor cobrado). Tendo garantido à execução, João apresentou embargos à execução. Segundo a LEF, nos embargos, o executado poderá alegar toda matéria útil à defesa, requerer provas e juntar os documentos e rol de testemunhas, se assim desejar (§ 2º do art. 16). Embargos de João Em seus embargos, João alegou que já havia quitado integralmente o crédito tributário que estava sendo cobrado na ação. Intimação da Fazenda sobre os embargos Recebidos os embargos, a legislação determina que o juiz mandará intimar a Fazenda para impugná-los no prazo de 30 dias (art. 17). Atenção: a resposta da Fazenda aos embargos opostos pelo executado é chamada de impugnação (esse nome será importante em uma prova prática). Se os embargos versarem sobre matéria de fato que exija outras provas além da documental: o juiz designará audiência de instrução e julgamento. Se os embargos versarem apenas sobre matéria de direito, ou, sendo de direito e de fato, a prova for exclusivamente documental: o juiz não designará audiência de instrução e deverá proferir sentença julgando os embargos no prazo de 30 dias. É a situação que ocorre mais comumente. Ausência de impugnação e sentença extinguindo a execução No caso concreto, a União não apresentou impugnação. Como a Fazenda Pública não refutou a alegação de João, o juiz extinguiu a execução alegando que João pagou a dívida. Segundo afirmou em sua sentença, para o magistrado, deve-se presumir como verdadeira a alegação do executado, já que esta não foi impugnada pela exequente. Apelação A Fazenda Pública interpôs apelação contra a sentença, alegando que o executado pagou apenas uma parte do débito e que ainda existia um saldo remanescente. Contrarrazões Em contrarrazões, João argumentou que a União não mais poderia questionar a alegação de que houve pagamento. Isso porque, como a União não apresentou impugnação, teria havido a preclusão. A tese das contrarrazões está correta? Podemos considerar que a tese alegada pelo embargante foi presumida verdadeira? Diante da ausência de impugnação, haverá presunção de que a dívida tributária foi realmente paga? NÃO. Não implica preclusão a falta de imediata impugnação pela Fazenda Pública da alegação deduzida em embargos à execução fiscal de que o crédito tributário foi extinto pelo pagamento integral. A preclusão consiste na simples perda de uma faculdade processual. Nos casos relacionados a direitos materiais indisponíveis da Fazenda Pública, a falta de manifestação não autoriza concluir automaticamente que são verdadeiros os fatos alegados pela parte contrária.

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Informativo 542-STJ (27/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19

Em razão da indisponibilidade do direito controvertido e do princípio do livre convencimento, nada impede, inclusive, que o juízo examine esse tema. Desse modo, a ausência de manifestação expresa da Fazenda Nacional quanto à suficiência dos valores recolhidos pela parte contrária não faz presumir extinto crédito tributário por pagamento. Nada impede que o juízo, em razão da indisponibilidade do direto controvertido e do princípio do livre convencimento, examinasse o tema.

DIREITO PENAL

Princípio da insignificância e furto de óculos de 200 reais

Aplica-se o princípio da insignificância à conduta formalmente tipificada como furto consistente na subtração, por réu primário e sem antecedentes, de um par de óculos avaliado em R$ 200,00.

STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 44.461-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/5/2014 (Info 542).

Perdão judicial e homicídio culposo na direção de veículo automotor

O perdão judicial não pode ser concedido ao agente de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB) que, embora atingido moralmente de forma grave pelas consequências do acidente, não tinha vínculo afetivo com a vítima nem sofreu sequelas físicas gravíssimas e permanentes.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.455.178-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/6/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação adaptada: Maria, conduzindo seu veículo, envolveu-se em um acidente e, culposamente, causou a morte do motorista de outro carro que não conhecia. A agente foi denunciada pela prática do crime previsto no art. 302 do CTB (homicídio culposo na direção de veículo automotor). Em sua defesa, Maria alegou que o acidente lhe trouxe graves danos físicos e psicológicos. Afirmou que ficou cerca de três meses sem condições de andar e que até hoje apresenta profunda depressão por saber que causou a morte da vítima. Em razão disso, pede o reconhecimento do perdão judicial previsto no art. 121, § 5º do CP:

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Entendendo melhor o perdão judicial O CP prevê que o homicídio culposo pode trazer consequências tão negativas para o agente que não é justo que a ele seja aplicada a pena por esse crime. Desse modo, o juiz, mesmo reconhecendo que existem provas suficientes para condenar o réu, não aplica a ele nenhuma pena, declarando extinta a sua punibilidade. A isso se chama perdão judicial. Ex1: pai que, agindo culposamente, causa a morte de seu amado filho. Ex2: sujeito que, agindo culposamente, causa um acidente no qual um terceiro morre e ele próprio fica tetraplégico.

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Nesses dois exemplos, as consequências do crime atingem o agente de forma tão forte e cruel que a sanção penal é desnecessária e seria até desumana. A vida e o destino já puniram o sujeito. Consequências físicas ou morais Para a aplicação do perdão judicial, o agente responsável pelo crime deve ter sofrido, em razão do fato, graves consequências físicas (ex: tetraplegia) ou morais/psicológicas (ex: perda de um ente querido). Qual é a natureza jurídica do § 5º do art. 121 do CP? Trata-se de perdão judicial, que é uma causa de extinção da punibilidade (art. 107, IX do CP). É possível que o perdão judicial seja reconhecido pelo juiz ainda na fase de inquérito policial ou na decisão de absolvição sumária? NÃO. Prevalece que o perdão judicial apenas pode ser reconhecido no momento da sentença. Isso porque somente será aplicado o perdão judicial se existirem provas suficientes para a condenação, análise que deve ser feita após toda a instrução. Se houver motivos para absolver o réu, deve-se prolatar sentença absolutória (e não de perdão judicial), afinal de contas, se ele não é culpado pelo crime, não tem motivo de ser “perdoado”. Qual é a natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial? A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório (Súmula 18-STJ). Ressalte-se novamente: reconhecido o perdão judicial, não gera nenhum efeito negativo para o réu. Nesse sentido, veja o que diz o art. 120 do CP:

Art. 120. A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de reincidência.

Obs: o perdão judicial é previsto para outros crimes além do homicídio culposo (ex: art. 129, § 8º do CP). É possível aplicar o perdão judicial do art. 121, § 5º do CP ao homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB)? SIM. Essa é a posição do STJ e da doutrina majoritária (Rogério Greco, Nucci, entre outros). No caso concreto acima relatado, o STJ aplicou o perdão judicial para Maria? NÃO. O perdão judicial não pode ser concedido a ré porque ela, embora atingida moralmente de forma grave pelas consequências do acidente, não tinha vínculo afetivo com a vítima nem sofreu sequelas físicas gravíssimas e permanentes. Segundo entendeu o STJ, no caso das graves consequências serem morais/psicológicas, ou seja, atingirem fisicamente outro indivíduo e, por reflexo, o autor do crime, é necessário que a pessoa morta tivesse um laço afetivo com o réu. Entender pela desnecessidade do vínculo seria abrir uma fenda na lei, não desejada pelo legislador. Isso porque, além de ser de difícil aferição o “tão grave” sofrimento, o argumento da desnecessidade do vínculo serviria para todo e qualquer caso de delito de trânsito com vítima fatal. Logo, no caso concreto, não pode ser aplicado o perdão judicial, já que não houve graves consequências físicas a Maria e a vítima do crime não tinha com ela prévia relação afetiva.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Suposta contradição entre as respostas fornecidas pelo Conselho de Sentença

Em um júri, a única tese defensiva do advogado foi a negativa de autoria. No momento da votação, os jurados responderam SIM ao quesito da autoria, ou seja, reconheceram que o réu era o autor do crime, no entanto, responderam SIM para o quesito defensivo obrigatório “o jurado absolve o acusado”.

O juiz entendeu que houve contradição e, por conta disso, repetiu a votação do quesito defensivo.

O STJ não concordou com o procedimento do juiz porque não houve contradição nas respostas fornecidas. Isso porque os jurados podem responder SIM ao quesito defensivo e absolver o acusado por outros motivos diferentes daqueles alegados pelo defensor no Plenário. Logo, mesmo tendo reconhecido a autoria, os jurados poderiam absolver o acusado.

Vale ressaltar, no entanto, que, se houvesse realmente contradição, o juiz deveria ter repetido os dois quesitos conflitantes e não apenas o último deles.

STJ. 5ª Turma. REsp 1.320.713-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/5/2014 (Info 542).

Imagine a seguinte situação adaptada: Caim praticou homicídio doloso contra Abel e foi levado a julgamento pelo plenário do júri. Nos debates orais, o advogado de Caim sustentou uma única tese: negativa de autoria, ou seja, o causídico defendeu que não foi Caim quem atirou em Abel. Votação Concluídos os debates, o juiz, o membro do MP, o advogado e os sete jurados foram para a sala especial para a votação dos quesitos.

Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido. Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes.

Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I – a materialidade do fato; II – a autoria ou participação; III – se o acusado deve ser absolvido; IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.

O juiz togado preparou os seguintes quesitos que foram formulados aos jurados: 1º) Quesito sobre a materialidade do fato: “Em XX, por volta de XX horas, na Rua XX, bairro XX, nesta Comarca, a vítima XXX foi atingida por disparos de arma de fogo, sofrendo as lesões descritas no laudo de fls. XX?” Por meio das cédulas, os jurados responderam SIM.

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2º) Quesito ainda sobre a materialidade do fato: “Essas lesões foram a causa da morte da vítima?” Os jurados também responderam SIM. 3º) Quesito sobre a autoria: “Caim foi o autor dos disparos referidos no primeiro quesito?” Os jurados igualmente responderam SIM a esse quesito. Como os jurados responderam sim para os quesitos da materialidade e autoria, isso significa que disseram que o homicídio aconteceu (materialidade) e que ele foi causado pelo réu (autoria). O juiz, então, formulou mais um quesito: 4º) Quesito sobre a absolvição do réu: “O jurado absolve o acusado?” Quanto a esse quesito, os jurados também responderam SIM. Diante da resposta SIM, o juiz-presidente do Júri falou o seguinte: “Senhores, penso que a resposta dos jurados a esse 4º quesito está em contradição com a resposta dada ao 3º quesito. Isso porque no 3º quesito, os jurados reconheceram a autoria. A única tese defensiva foi a negativa de autoria. Logo, os jurados, ao responderem SIM à tese da absolvição, concordando com a defesa, criam uma contradição com a resposta dada no 3º quesito, no qual já haviam reconhecido a autoria. Não podem os jurados reconhecer a autoria no quesito 3 e absolverem o acusado no quesito 4, já que a única tese defensiva foi a negativa de autoria. Por conta disso, vou perguntar novamente o 4º quesito aos senhores jurados, conforme determina o art. 490 do CPP”.

Art. 490. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra ou outras já dadas, o presidente, explicando aos jurados em que consiste a contradição, submeterá novamente à votação os quesitos a que se referirem tais respostas.

Ao refazer o 4º quesito, os jurados, por maioria, mudaram o resultado anterior e disseram que NÃO. O juiz agiu corretamente? Havia contradição entre as respostas 3 e 4? A pergunta: “o jurado absolve o acusado?” restringe-se unicamente à tese que foi defendida no Plenário pelo advogado? NÃO. Os jurados, ao responderem o quesito “o jurado absolve o acusado?” não estão restringidos à tese que foi defendida pelo advogado no Plenário. Em outras palavras, os jurados, em virtude da íntima convicção que vigora no Júri, podem decidir responder SIM e absolver o réu por outros motivos que não aqueles sustentados pelo defensor. Isso significa que, no caso concreto, os jurados podem ter reconhecido a autoria (no quesito 3) e, mesmo assim, terem querido absolver o acusado (no quesito 4) por outras razões que não precisam ser expostas (exs: ficaram com pena, acharam que a vítima merecia morrer, acharam que só quem pode julgar é Deus etc.). O advogado poderia, por exemplo, sustentar três teses defensivas diferentes no Plenário (exs: legítima defesa, inexigibilidade de conduta diversa, coculpabilidade). O juiz irá formular o quesito “o jurado absolve o acusado?”. Se os jurados responderem SIM, ninguém saberá qual das teses os jurados adotaram para absolver o réu. Pode ser até mesmo que não tenham concordado com nenhuma, mas o tenham absolvido por outro motivo.

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O legislador optou por esse quesito genérico (“o jurado absolve o acusado?”) justamente para permitir que o réu tivesse um número ilimitado de razões pelos quais ele pudesse ser absolvido (e não apenas aquelas alegadas por seu defensor). Desse modo, repetindo: o Conselho de Sentença não se vincula às teses defensivas, podendo absolver o acusado por motivos absolutamente diversos daqueles expostos em plenário pela defesa. Segundo entendeu o STJ em uma situação similar a essa, o juiz, ao determinar que fosse refeita a votação do 4º quesito, a pretexto de contradição, acabou induzindo os jurados a mudarem o voto anterior e a responderem NÃO ao quesito absolutório. Se realmente houvesse contradição, o juiz deveria ter refeito a votação para os dois quesitos (3º e 4º) e não apenas para o 4º. Isso porque, ao refazer a votação apenas para o 4º, o magistrado transmitiu implicitamente a seguinte mensagem aos jurados: ou os senhores mudam esse voto ou continuará havendo uma contradição.

DIREITO TRIBUTÁRIO

REFIS e tese da parcela ínfima (Somente interessa a quem presta concursos federais)

É possível excluir o contribuinte do REFIS, com fulcro no art. 5º, II, da Lei n. 9.964/2000 (inadimplência) caso ele esteja pagando prestações mensais ínfimas se comparadas ao valor total do débito. Isso porque, nesse caso, fica demonstrada a ineficácia do parcelamento para a quitação da dívida.

Desse modo, o STJ entende que é válida a “tese da parcela ínfima” para excluir o contribuinte do REFIS.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.447.131-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/5/2014 (Info 542).

REFIS A Lei nº 9.964/2000 previu a possibilidade de que o devedor de tributos federais pudesse parcelar seus débitos. Esse parcelamento foi chamado de REFIS (“Programa de Recuperação Fiscal”). A Lei estabeleceu que o débito deveria ser pago em parcelas mensais, sendo o valor de cada prestação calculado com base no percentual da receita bruta da pessoa jurídica. Ex: se a empresa fosse optante do SIMPLES, esse valor não poderia ser inferior a 0,3%, de sua receita bruta (art. 2º, § 4º, II, “a”). Imagine agora a seguinte situação adaptada: Determinada pessoa jurídica ingressou no parcelamento do REFIS e iniciou o pagamento das prestações no valor correspondente a 0,3% de sua receita bruta mensal. Ocorre que a Receita Federal constatou que o valor das prestações que estavam sendo pagas era ínfimo se comparado ao total da dívida consolidada da empresa. Em outras palavras, a dívida era enorme e o valor das parcelas muito baixo. Logo, mesmo que se passassem muitos anos, a dívida nunca seria totalmente paga. Diante disso, a Receita Federal excluiu a empresa do REFIS.

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Agiu corretamente a Receita Federal? SIM. A pessoa jurídica pode ser excluída do REFIS quando o valor das parcelas se mostrar irrisório para a quitação do débito. Nesse caso, entende-se que há a ineficácia do parcelamento. Para o STJ, se o valor que está sendo pago pela empresa a título de parcelamento for irrisório, é como se ela não estivesse pagando nada, já que o débito total nunca conseguirá ser quitado. Assim, em tais hipóteses, a Receita Federal poderá excluir a pessoa jurídica do parcelamento como se ela

estivesse inadimplente (art. 5º, II, da Lei n. 9.964/2000). Essa exclusão não está prevista expressamente na Lei. Trata-se de uma construção do Fisco, que ficou conhecida como “tese da parcela ínfima”. Segundo essa tese, não se pode admitir a existência de débito tributário perene, ou até, absurdamente, que o valor da dívida fiscal aumente, tendo em vista o transcurso de tempo e a irrisoriedade das parcelas pagas. A finalidade do parcelamento é a quitação do débito, e não o seu crescente aumento. Nesse passo, ao se admitir a existência de uma parcela que não é capaz de quitar sequer os encargos do débito, não se está diante de parcelamento ou de moratória, mas de uma remissão, pois o valor do débito jamais será quitado. Entretanto, a remissão deve vir expressa em lei, e não travestida de parcelamento, consoante exigência do art. 150, § 6º, da CF/88. Ademais, a fragmentação (fracionamento) do débito fiscal em parcelas ínfimas estimularia a evasão fiscal, pois a pessoa jurídica devedora estaria suscetível a ter a sua receita e as suas atividades esvaziadas por seus controladores, os quais, pari passu, estariam encorajados a constituir nova pessoa jurídica, que assumiria a receita e as atividades desenvolvidas por aqueloutra incluída no REFIS. Esse procedimento de manter a pessoa jurídica antiga endividada para com o Fisco, pagando eternamente parcelas irrisórias, e nova pessoa jurídica desenvolvendo as mesmas atividades outrora desenvolvidas pela antiga, constitui simulação vedada expressamente pelo CTN. Além disso, a pessoa ficaria com a punibilidade suspensa eternamente em relação aos crimes tributários, já que pagaria parcelas ínfimas que nunca levariam à extinção do crédito. Por tudo isso, o STJ entende que é válida a exclusão do contribuinte que aderiu ao parcelamento, mas que somente paga parcelas ínfimas (tese da parcela ínfima).

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Acidente de trabalho atípico e competência da Justiça Estadual para julgar a ação previdenciária

Se determinado vendedor é morto durante um assalto ocorrido na loja, tal evento caracteriza-se como acidente de trabalho atípico (art. 21, II, “a”, da Lei n. 8.213/91).

A ação proposta pela viúva desse vendedor contra o INSS buscando o benefício previdenciário da pensão por morte deve ser julgada pela Justiça Estadual (art. 109, I, parte final, da CF/88).

STJ. 1ª Seção. CC 132.034-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 28/5/2014 (Info 542).

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Imagine a seguinte situação adaptada: João trabalhava como vendedor em uma loja no centro da cidade. Como empregado, João era segurado obrigatório do RGPS. Determinado dia, houve um roubo na loja e João foi morto pelo assaltante. Maria, companheira de João, requereu do INSS o benefício da pensão por morte, o que foi negado. A Defensoria Pública irá ajuizar uma ação em favor de Maria, contra o INSS, pedindo a concessão da pensão por morte. Quem será competente para julgar essa demanda? Justiça ESTADUAL. Mas a ação será proposta contra o INSS (autarquia federal). Por que não se trata de competência da Justiça Federal? Porque essa pensão por morte, apesar de ser um benefício previdenciário, decorreu de óbito causado por um acidente de trabalho. A CF/88 afirmou que as causas relacionadas com acidente de trabalho não devem ser julgadas pela Justiça Federal mesmo que envolvam órgãos ou entidades federais. Trata-se de uma exceção prevista na parte final do inciso I do art. 109. Confira:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Logo, as causas propostas contra o INSS (entidade autárquica federal) são, em regra, de competência da Justiça Federal, exceto as que envolvam acidente de trabalho. E quem julga as causas relacionadas com acidente de trabalho?

Se for proposta contra o INSS (tratando de benefícios previdenciários): a competência será da Justiça ESTADUAL (Súmula 501-STF). Ex: a viúva de João pedindo pensão por morte do INSS.

Se for proposta contra o empregador (tratando sobre a relação de trabalho): a competência será da Justiça do TRABALHO (SV 22-STF). Ex: a viúva de João pedindo indenização por danos morais contra o ex-patrão do falecido.

No presente caso, João foi vítima de um acidente de trabalho? SIM. Existem três espécies de acidente de trabalho (em sentido amplo):

a) Acidente de trabalho TÍPICO (PRÓPRIO): previsto no art. 19 da Lei n. 8.213/91.

b) DOENÇAS EQUIPARADAS (moléstias ocupacionais): trazida no art. 20 da Lei n. 8.213/91.

c) Acidente de trabalho ATÍPICO (IMPRÓPRIO): tipificado no art. 21 da Lei n. 8.213/91. O caso de João pode ser enquadrado como um acidente de trabalho atípico, nos termos do art. 21, II, “a”, da Lei n 8.213/91:

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: (...) II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

Desse modo, o STJ decidiu que o assalto sofrido por João, no local e horário de trabalho equipara-se a acidente do trabalho, devendo o direto à pensão por morte decorrente desse evento ser julgado pela

Justiça Estadual, nos termos do art. 109, I (parte final) da CF/88 c/c o art. 21, II, “a”, da Lei n. 8.213/91.

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EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) O prazo para que o servidor público proponha ação contra a Administração Pública pedindo a revisão

do ato de sua aposentadoria é de 10 anos. ( ) 2) (Procurador BACEN CESPE 2013) Não ocorre a prescrição do fundo de direito nas ações cujo objeto seja

a pretensão de servidor aposentado de rever o ato de sua aposentadoria, para fins de inclusão do tempo de serviço por ele prestado em condições insalubres. ( )

3) O espólio possui legitimidade para ajuizar ação de cobrança de indenização securitária decorrente de invalidez permanente ocorrida antes da morte do segurado. ( )

4) (Juiz Federal TRF2 2014 – adaptada) Não se aplica a ação renovatória se uma das partes é pessoa integrante da administração pública indireta. ( )

5) (Juiz Federal TRF1 CESPE 2011) Compete à justiça federal da capital do estado processar e julgar os litígios decorrentes de acidente do trabalho envolvendo segurado residente em município que não seja sede de vara federal. ( )

6) (Defensoria BA CESPE 2010) Compete à justiça comum dos estados processar e julgar as ações acidentárias, as propostas, pelo segurado, contra o INSS, visando a benefício e aos serviços previdenciários correspondentes a acidente do trabalho. ( )

7) (Defensoria DF CESPE 2013) De acordo com a Lei n. 8.213/1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social, equipara-se ao acidente do trabalho o acidente sofrido pelo segurado do RGPS no local e no horário do trabalho, em consequência de ato de agressão praticado por terceiro. ( )

Gabarito

1. E 2. E 3. C 4. E 5. E 6. C 7. C

JULGADOS NÃO COMENTADOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CUMULAÇÃO DE DIVIDENDOS E JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO EM AÇÃO POR COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES DE TELEFÔNICAS. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). É cabível a cumulação de dividendos e juros sobre capital próprio nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia. De fato, a despeito da existência de entendimento doutrinário em sentido contrário, deve-se considerar, ontologicamente, que os juros sobre capital próprio (JCP) são, do ponto de vista societário, parcela do lucro a ser distribuído aos acionistas, sendo que, apenas por ficção jurídica, a lei tributária passou a considerá-los com natureza de juros. Assim, a cumulação de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) não configura bis in idem, pois os dois institutos embora tenham a natureza jurídica semelhante do ponto de vista societário, não são idênticos, incidindo cada uma sobre parcelas distintas dos lucros a serem distribuídos aos acionistas. Também não se vislumbra, na cumulação, possibilidade de ofensa ao princípio da intangibilidade do capital social, pois a própria Lei 9.249/1995 (art. 9º, § 1º) condicionou o pagamento à existência de lucros equivalentes ao dobro dos JCP a serem pagos. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.166.142-RS, Quarta Turma, DJe 7/2/2013; AgRg no Ag 1.168.343-RS, Terceira Turma, DJe 18/6/2013. REsp 1.373.438-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/6/2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PAGAMENTO DE DIVIDENDOS E JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO COMO PEDIDOS IMPLÍCITOS. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia, admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio independentemente de pedido expresso. Relativamente à indenização a título de dividendos ao adquirente de linha telefônica, esta Corte Superior definiu, pelo rito do art. 543-C do CPC, que é possível a inclusão dos dividendos na condenação,

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independentemente de pedido expresso (REsp 1.034.255-RS, Segunda Seção, DJe 11/5/2010). É certo que o Direito Processual Civil tem aversão aos pedidos implícitos, pois eles geram surpresa para a contraparte, sacrificando dois pilares do processo civil, que são os princípios do contraditório e da ampla defesa. No CPC vigente, encontram-se poucas hipóteses de pedidos implícitos, como a correção monetária (Lei 6.899/1981), os juros (art. 293), os honorários advocatícios (art. 20, caput) e as prestações que se vencerem no curso da demanda (art. 290), não havendo nenhuma previsão que possa abarcar a inclusão dos dividendos ou dos juros sobre capital próprio (JCP) como pedido implícito. Porém, uma vez aberta exceção à regra processual para se admitir os dividendos como pedido implícito, não há justificativa para se adotar entendimento diverso quanto aos JCP, pois essas verbas têm a mesma natureza para o direito societário. A propósito, a despeito da existência de entendimento doutrinário em sentido contrário, ontologicamente, deve-se considerar que os JCP são, do ponto de vista societário, parcela do lucro a ser distribuído aos acionistas, sendo que, apenas por ficção jurídica, a lei tributária passou a considerá-los com natureza de juros. No entanto, é certo que, embora tenham a mesma natureza, os JCP não são idênticos aos dividendos. As diferenças, porém, entre os dois institutos não justificam um tratamento diverso no que tange aos pedidos no processo. A preocupação com o contraditório, embora extremamente relevante, fica atenuada no caso das demandas de massa, pois tanto os dividendos quanto os JCP são devidos de maneira uniforme para todos os acionistas, de modo que as possibilidades de defesa são as mesmas para os milhares de processos em que se discute a complementação de ações de empresas de telefonia. REsp 1.373.438-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/6/2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO DE DIVIDENDOS E JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO NÃO PREVISTOS NO TÍTULO EXECUTIVO. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Não é cabível a inclusão dos dividendos ou dos juros sobre capital próprio no cumprimento da sentença condenatória à complementação de ações sem expressa previsão no título executivo. Essa questão envolve o princípio da imutabilidade da coisa julgada, que tem sede constitucional. Por essa razão, a jurisprudência desta Corte Superior tem sido unânime em vedar a possibilidade de execução, quer dos dividendos, quer dos JCP, sem previsão expressa no título executivo. Precedentes citados: AgRg nos EDcl no AREsp 106.937-RS, Quarta Turma, DJe 10/9/2012; AgRg no REsp 1.261.874-RS, Terceira Turma, DJe 5/3/2014. REsp 1.373.438-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/6/2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL EM EXECUÇÃO FISCAL DE DÉBITOS PREVIDENCIÁRIOS POR VALOR ABAIXO AO DA AVALIAÇÃO. Em segundo leilão realizado no âmbito de execução fiscal de Dívida Ativa originalmente do INSS e agora da União, é válida a arrematação de bem imóvel por valor abaixo ao da avaliação, exceto por preço vil. Isso porque, nessa situação, incide o regramento especial estabelecido na Lei 8.212/1991, sendo subsidiária a aplicação do CPC. A alienação do bem no segundo leilão por qualquer valor, excetuado o vil, é permitida pelo art. 98, II, da Lei 8.212/1991. Assim, o art. 690, § 1º, do CPC não é aplicável a essa hipótese, pois, ao exigir a alienação do imóvel por valor nunca inferior ao da avaliação, revela-se incompatível com o art. 98 da Lei 8.212/1991. REsp 1.431.155-PB, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/5/2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL MEDIANTE PAGAMENTO PARCELADO EM EXECUÇÃO FISCAL DE DÉBITOS PREVIDENCIÁRIOS. Em segundo leilão realizado no âmbito de execução fiscal de Dívida Ativa originalmente do INSS e agora da União, é válida a arrematação de bem imóvel mediante pagamento parcelado, podendo a primeira parcela ser inferior a 30% do valor da avaliação. Isso porque, nessa situação, incide o regramento especial estabelecido na Lei 8.212/1991, sendo subsidiária a aplicação do CPC. O art. 98, § 1º, da Lei 8.212/1991 permite a alienação do bem no segundo leilão mediante pagamento parcelado do valor da arrematação, na forma prevista para os parcelamentos administrativos de débitos previdenciários (hodiernamente, arts. 10

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e seguintes da Lei 10.522/2002). Assim, o art. 690, § 1º, do CPC não é aplicável a essa hipótese, pois, ao exigir oferta de pelo menos 30% do valor à vista e priorizar a "proposta mais conveniente", revela-se incompatível com o art. 98 da Lei 8.212/1991. REsp 1.431.155-PB, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/5/2014.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL EM EXECUÇÃO FISCAL EM CONDIÇÕES NÃO PUBLICADAS EM EDITAL DE LEILÃO. Em segundo leilão realizado no âmbito de execução fiscal de Dívida Ativa originalmente do INSS e agora da União, caso não publicadas as condições do parcelamento no edital do leilão, é nula a arrematação de bem imóvel por valor abaixo ao da avaliação e mediante o pagamento da primeira parcela em montante inferior a 30% ao da avaliação. Isso porque, nessa situação, incide o regramento especial estabelecido na Lei 8.212/1991, sendo subsidiária a aplicação do CPC. O art. 98, § 2º, da Lei 8.212/1991 determina que todas as condições do parcelamento constem do edital de leilão. A falta dos requisitos do parcelamento do valor da arrematação no edital de leilão gera nulidade na forma do art. 244 do CPC, casos em que a nulidade poderia ser sanada se o ato, realizado de outra forma, alcançasse sua finalidade. Na hipótese, acaso houvesse sido publicada a possibilidade de parcelamento, poderiam acorrer à hasta pública outros licitantes, que foram afastados pelas condições mais duras de arrematação. Embora a arrematação tenha ocorrido, e o preço não tenha sido vil, a falta de publicação das condições do parcelamento no edital de leilão prejudicou a concorrência e, por consequência, o executado, que viu seu bem ser alienado por valor inferior ao que poderia atingir se houvesse outros concorrentes. REsp 1.431.155-PB, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/5/2014.

DIREITO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE DE A REVISÃO DE PLANO DE BENEFÍCIOS DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ATINGIR QUEM AINDA NÃO PREENCHEU TODOS OS REQUISITOS PARA APOSENTADORIA. A alteração regulamentar que implique a instituição do denominado "INSS Hipotético" para o cálculo de benefício pode alcançar todos os participantes do plano de previdência privada que ainda não atingiram todas as condições estabelecidas para elegibilidade previstas no regulamento, não havendo direito adquirido do beneficiário às normas do regulamento vigente na ocasião da adesão à relação contratual. Na previdência privada, o sistema de capitalização constitui pilar de seu regime – baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado –, o qual é de adesão facultativa e de organização autônoma em relação ao regime geral de previdência social. Nessa linha, os planos de benefícios de previdência complementar são previamente aprovados pelo órgão público fiscalizador, de adesão facultativa, devendo ser elaborados com base em cálculos matemáticos, embasados em estudos de natureza atuarial, e, ao final de cada exercício, devem ser reavaliados, de modo a prevenir ou mitigar prejuízos aos participantes e beneficiários do plano (art. 43 da ab-rogada Lei 6.435/1977 e art. 23 da LC 109/2001). Os regulamentos dos planos de benefícios, evidentemente, podem ser revistos em caso de apuração de déficit ou superávit decorrentes de projeção atuarial que, no decorrer da relação contratual, não se confirme, pois no regime fechado de previdência privada há um mutualismo, com explícita submissão ao regime de capitalização. Os desequilíbrios verificados, isto é, a não confirmação de premissa atuarial decorrente de fatores diversos – até mesmo exógenos, como por exemplo a variação da taxa de juros que remunera os investimentos –, resultando em eventuais superávits ou déficits verificados no transcurso da relação contratual, repercutem para o conjunto de participantes e beneficiários. Dessa forma, os vigentes arts. 17, parágrafo único, e 68, § 1º, da LC 109/2001 dispõem que as alterações processadas nos regulamentos dos planos aplicam-se a todos os participantes das entidades fechadas, a partir de sua aprovação pelo órgão público fiscalizador, só sendo os benefícios considerados direito adquirido do participante a partir da implementação de todas as condições estabelecidas para elegibilidade consignadas no regulamento vigente do respectivo plano de previdência privada complementar. REsp 1.184.621-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/4/2014.