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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ BRUNO WELLINGTON FREITAS DE ALMEIDA DA NEGATIVA A COBERTURA SECURITÁRIA AO SEGURADO EMBRIAGADO SOB A TESE DO AGRAVAMENTO DE RISCO CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

BRUNO WELLINGTON FREITAS DE ALMEIDA

DA NEGATIVA A COBERTURA SECURITÁRIA AO SEGURADO

EMBRIAGADO SOB A TESE DO AGRAVAMENTO DE RISCO

CURITIBA

2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

BRUNO WELLINGTON FREITAS DE ALMEIDA

DA NEGATIVA A COBERTURA SECURITÁRIA AO SEGURADO

EMBRIAGADO SOB A TESE DO AGRAVAMENTO DE RISCO

CURITIBA

2014

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BRUNO WELLINGTON FREITAS DE ALMEIDA

DA NEGATIVA A COBERTURA SECURITÁRIA AO SEGURADO

EMBRIAGADO

SOB A TESE DO AGRAVAMENTO DE RISCO

Projeto de trabalho de conclusão de curso apresentada ao curso de direito da faculdade de ciências jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. Geraldo Doni Junior.

CURITIBA

2014

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BRUNO WELLINGTON FREITAS DE ALMEIDA

DA NEGATIVA A COBERTURA SECURITÁRIA AO SEGURADO

EMBRIAGADO

SOB A TESE DO AGRAVAMENTO DE RISCO

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do grau de Bacharel em Direito no Curso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, XXX de dezembro de 2014

___________________________________ Prof. Dr. PhD. Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografia

Curso de Ciências Jurídicas

Universidade Tuitui do Paraná

Orientador: ___________________________

Prof. Geraldo Doni Júnior Universidade Tuiuti do Paraná

___________________________ Prof. Membro da Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná __________________________ Prof. Membro da Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná

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Dedico este trabalho, primeiramente aos meus pais Wellington Mendes de Almeida e

Mercedes Freitas de Almeida que por toda a vida foram minha referência, minha luz

a ser guiada, enfim por serem a minha bússola que sempre trilhou o meu norte, sem

vocês o caminho seria muito mais árduo. Dedico também aos meus irmãos Simone

Freitas de Almeida e Ricardo Freitas de Almeida e ao meu filho Guilherme Almeida,

meu maior orgulho, pois sempre me incentivaram a tornar esse sonho possível. Não

podendo esquecer-se dos meus sobrinhos Isadora, Milena, Renan e Kauã por me

arrancarem sorrisos nas horas mais difíceis.

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Agradeço sempre por esta família maravilhosa que Deus me presenteou, por me

ensinarem as corretas regras da vida e como ser um homem honesto e de bom

caráter.

Agradeço aos companheiros de escritório e de graduação, bem como aos meus

empregadores Dr. Milton Luiz Cleve Küster e Dr. Murilo Cleve Machado e a todo o

corpo docente da UTP que facilitaram a compreensão de vossos conhecimentos,

sem eles, nada disso estaria sendo realizado. Por derradeiro, agradeço

profundamente ao professor orientador Geraldo Doni Júnior, pessoa dotada de um

conhecimento jurídico incrível, o qual jamais o esquecerei. OBRIGADO POR TUDO

MESTRE!

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O trabalho em comento tem primeiramente, o objetivo de analisar o contrato de

seguro, um pouco de sua evolução histórica, bem como seu conceito atual e por

conseguinte, sua importância na sociedade. Por derradeiro, discorre a respeito dos

princípios aplicados ao contrato e principalmente enfoca a questão referente a

negativa da cobertura securitária ao segurado embriagado tendo em vista a

alegação de agravamento do risco, bem como jurisprudência a respeito do tema.

Palavras-chave: Contrato De Seguro; Segurado Embriagado; Negativa De Cobertura

Securitária; Agravamento Do Risco; Jurisprudência

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................3

2. ESCORÇO HISTÓRICO .....................................................................................5

3. DO CONTRATO DE SEGURO ...........................................................................7

3.1 Conceito do Contrato de Seguro .........................................................................8

3.2 Partes do Contrato de Seguro ............................................................................11

3.3 Natureza Jurídica do Contrato de Seguro ..........................................................12

4. PRINCÍPIOS DO CONTRATO DE SEGURO ....................................................14

4.1 Princípio da Boa-Fé ...........................................................................................15

4.2 Princípio do Mutualismo.....................................................................................16

4.3 Princípio da Função Social.................................................................................18

5. A PROBLEMÁTICA DE INTERPRETAÇÃO DO TEMA ...................................20

5.1 Da Embriaguez ..................................................................................................21

5.2 Do Agravamento do Risco .................................................................................23

5.3 Nexo de Causalidade .........................................................................................24

6. DAS INTERPETRAÇÕES JURISPRUDENCIAIS .............................................27

7. CONCLUSÃO ....................................................................................................31

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................32

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1. INTRODUÇÃO

É notória a ascensão do setor securitário, consoante se percebe pelo

aumento de adesão aos contratos de seguro, haja vista a insegurança da sociedade

perante as mais variadas formas de fortuna, a que está sujeita quer de forma

culposa ou dolosa, ou até mesmo por conta das variações climáticas e casos

fortuitos. As pessoas com intuito de protegerem ou assegurarem seus bens, cada

vez mais, procuram as agências seguradoras para tais serviços. Ademais, o

mercado segurador é resultado da capacidade das próprias empresas que o

constituem em se reinventar permanentemente. Com preço acessível, as

seguradoras têm oferecido produtos específicos para as necessidades de cada

cliente, prevendo indenizações para situações corriqueiras como, por exemplo, um

acidente de trânsito e até mesmo para situações inusitadas tais como seguro para

cobrir despesas com funeral de cachorro, arrastão e inclusive seguros de

determinadas partes do corpo.

Por consequência lógica, aumentam também as discussões desses contratos,

seja sobre a interpretação e extensão dos mesmos, bem ainda sobre a validade da

recusa do pagamento de indenização por parte da seguradora, sob vários

fundamentos inclusive, no que se refere a este trabalho.

Dentre as questões mais controvertidas levadas ao judiciário, destaca-se a

discussão acerca do agravamento de risco do segurado, ao pressuposto de diversas

matrizes, como excesso de velocidade pelo qual se incluiu diferentes pretextos como

excesso de velocidade, embriaguez, dirigir sem a carteira de habilitação, empréstimo

do veículo para terceiros, dentre várias outras hipóteses. Nesse sentido, vale dizer

que a seguradora busca convencer o julgador de que o comportamento do segurado

teria provocado o aumento do risco coberto, expondo-se a perigo desnecessário,

comportamento esse excludente da cobertura de seguro. Por tais razões, é

imperioso analisar se é legítima a recusa do pagamento do seguro, diante da

alegação de que houve agravamento do risco, bem como é de suma importância

examinar como vêm decidindo os tribunais a respeito, notadamente o Superior

Tribunal de Justiça.

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Deste modo, o presente estudo visa suscitar reflexões sobre o contrato de

seguro de veículo no Brasil e a recusa ao pagamento da indenização diante da

alegação de que houve o agravamento do risco. Por derradeiro, importante

mencionar que tramita no congresso, projeto de lei que irá dispor sobre o contrato de

seguro1

1 Disponível em: Http://Www.Ibds.Com.Br/Pl18034: No Dia 16 De Dezembro De 2010 Foi

Apresentado Pelo Deputado Rubens Moreira Mendes Outro Projeto De Lei, O Pl 8.034/2010, Cujo Processamento Será Feito Com A Apensação Ao Pl 3.555/2004. Acessado em 06/07/2014.

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2. ESCORÇO HISTÓRICO

Preliminarmente, antes de adentrarmos no estudo sobre o tema, mister citar

um pouco da história do seguro, comentando à respeito do seu surgimento, bem

como, suas formas de prática.

O seguro nasceu da necessidade do homem em controlar o risco. Existem

indícios de que na Babilônia, 23 séculos antes de Cristo, caravanas de cameleiros

que cruzavam o deserto mutualizavam entre si os prejuízos com morte de animais.

Na China antiga e no Império Romano também havia seguros rudimentares, através

de associações que visavam ressarcir membros que tivessem algum tipo de

prejuízo.

“Os comerciantes chineses que se aventuravam a transportar as suas

mercadorias instalando-as em débeis embarcações que desciam pelas correntezas

dos grandes rios continentais e que, para evitar a ruína de alguns deles, distribuíam-

nas de modo a que cada barco contivesse uma parte de cada comerciante, estavam

aplicando o princípio básico do seguro. Se uma embarcação naufragava, a perda

correspondia a uma pequena parte dos bens de cada um. O mesmo pode se dizer

dos comerciantes árabes, que para cruzar desertos e lugares inóspitos distribuíam

os seus bens entre várias caravanas e dentro, da mesma caravana entre diversos

camelos”2.

Com o renascimento e a expansão marítima da época do Mercantilismo a

cobertura aos riscos ganhou nova importância. Tornaram-se comuns operações

chamadas de contrato de dinheiro de risco marítimo que consistia num empréstimo

dado a um navegador, e que previa uma cobrança maior no caso de sucesso da

viagem e o perdão da dívida se a embarcação e a carga fossem perdidas. Foi em

virtude dos seguros marítimos que se desenvolveu a gestão de risco na maior parte

do mundo.

2 Larramendi (1997, p.2)

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Mas o seguro foi criando força e conquistando credibilidade, e foi em Gênova,

por volta de 1347, que o primeiro contrato de seguro foi escrito. Nele continha

inúmeras cláusulas que garantiam ou isentavam os seguradores de pagarem as

indenizações.

No século VXII, o mercado securitário se expandiu e ganhou novos produtos

de cobertura terrestre, especialmente em decorrência do grande incêndio de

Londres de 1666, que destruiu cerca de 25% da cidade. Com a Revolução Industrial,

o seguro acabou se tornando um item praticamente obrigatório em todas as áreas

da atividade humana, afinal, os avanços tecnológicos, as atividades de alto risco e

os novos meios de transportes podem causar prejuízos de proporções

incalculáveis3.

Para Silvio Rodrigues: “O contrato de seguro é desconhecido no direito

romano e surge no direito medieval, como consequência do desenvolvimento da

navegação. De início encontra alguma resistência, não só por se entender que tinha

caráter idêntico ao jogo e a aposta, como também pela falta de segurança que

apresentava, em virtude de fatores vários, entre os quais a frequente falências dos

seguradores, a nenhuma garantia quanto ao recebimento da indenização quando

ocorria o sinistro”4.

“Os seguros começam a se desenvolver no Brasil a partir de 1808, com a

chegada da família Real portuguesa e consequente abertura dos portos às nações

estrangeiras, realizadas por D. João VI. Neste ano, foi autorizado o funcionamento

das primeiras companhias seguradoras brasileiras, ambas com sede na Bahia. A

primeira denominava-se Boa-fé e a segunda Conceito Público”5.

No Código Civil Brasileiro de 1916, a matéria de seguro de coisas e de vida

foi disciplinada nas seções: Das disposições gerais sobre o seguro; Das obrigações

do segurado; Das obrigações do Segurador; Do seguro Mútuo e do Seguro de Vida.

3 Larramedi, I.H De ;Pardo, J.A E Castelo, J. Manual Básico De Seguros. Brasil: Funeseg, Gráfica

Vitória Ltda., 1997. p. 189. 4 Silvio Rodrigues. Direito Civil, vol. 3. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 1.991. p. 373-374.

5 Pedro Alvim, p.547

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3. DO CONTRATO DE SEGURO

Antes de adentrarmos no contrato de seguro em si, cabe tecer que um

contrato é uma convenção, um acordo que se faz entre partes interessadas sob

determinadas condições, é um verdadeiro vínculo jurídico entre dois ou mais sujeitos

de direito correspondido pela vontade, da responsabilidade do ato firmado pela

segurança jurídica em seu equilíbrio social, ou seja, é um negócio jurídico bilateral

ou plurilateral.

É o acordo de vontades, capaz de criar, modificar ou extinguir efeitos. Mister

salientar, que as cláusulas contratuais criam lei entre as partes, porém subordinados

ao Direito Positivo. As cláusulas contratuais não podem estar em desconformidade

com o Direito Positivo, sob pena de serem nulas.

A legislação relativa aos contratos está contida nos artigos 1079 a 1504 do

Código Civil Brasileiro.

Fernando Noronha, em sua obra referente aos Direitos das Obrigações aduz

que:

Não é outra a conclusão a que se chega ao dizer que o contrato é um

instituto jurídico: um “conjunto de princípios e normas que regem uma

determinada relação ou situação jurídica”6

Ainda, no ensinamento de ROPPO:

“O contrato é também um conceito jurídico: uma construção elaborada

(além do mais) “com o fim de dotar a linguagem jurídica de um termo capaz

de resumir, designando-os de forma sintética, uma série de princípios e

regras de direito, uma disciplina jurídica complexa”7

6 Noronha, 2007, P. 12.

7 Roppo, 1988, P. 7.

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Para Clóvis Bevilaqua (1934, p.245), contrato é um “acordo de vontades para

o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos”. Ou ainda, conforme

Washington de Barros é o: “mútuo consentimento de duas ou mais pessoas sobre o

mesmo objeto”*8.

Enfim, as pessoas de uma forma geral, têm sua concepção de contrato como

um acordo de vontades, que gera obrigações para ambas as partes, que

convencionam, por consentimento recíproco, a dar, fazer ou não fazer algo.

3.1 Conceito De Contrato De Seguro

De princípio, podemos conceituar o seguro como uma operação que toma

forma jurídica de um contrato, em que uma das partes (seguradora) se obriga para

com a outra (segurado/beneficiário), mediante o recebimento de um valor monetário

estipulado (prêmio), a compensá-la (indenização) por um prejuízo (sinistro),

resultante de um evento futuro, possível e incerto (risco) indicado no contrato.

O contrato de seguro é doutrinariamente classificado como consensual,

bilateral, oneroso, formal, de adesão e aleatório. Serão observados na, liberdade de

contratar os princípios de probidade e de boa fé e quando de clausulas ambíguas

adoção de interpretação mais favorável ao contratante. Para o contrato de adesão,

serão questionáveis clausulas leoninas, ou quase unilaterais, feriado a bilateralidade

e a função social do contrato como um todo.

Cesare Vivante, citado por Celso Marcelo de Oliveira, assim define o contrato

de seguro: “Contrato de seguro é aquele pelo qual uma empresa se obriga a pagar

certa soma, dado um evento fortuito, mediante um prêmio calculado segundo as

probabilidades de aquele evento suceder” (2011, p.2).

8 apud, MONTEIRO,2007,p.4.

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9

Para Pontes de Miranda “Contrato de seguro é o contrato pelo qual o

segurador se vincula, mediante pagamento, a ressarcir ao segurado, dentro do que

se convencionou, os danos produzidos por sinistro ou a prestar capital ou renda

quando ocorrer determinado fato concernente a vida humana ou o patrimônio” 9

Fábio Ulhoa Coelho define como sendo “O contrato em que uma parte

(Sociedade Seguradora) se obriga, mediante pagamento de um prêmio, a pagar à

outra parte segurado, ou a terceiros, beneficiários determinada quantia caso ocorra

evento futuro e incerto”

Ademais, podemos entender que o contrato de seguro é o meio pelo qual a

pessoa física ou jurídica, protege seus bens e patrimônios dos riscos provenientes

tanto da natureza ou por ordem humana. O artigo 757, “Caput do Código Civil de

2002 dispõe que “pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o

pagamento do prêmio, a garantir interesse legitimo do segurado, relativo a pessoa

ou a coisa, contra riscos predeterminados”.

Além do código civil, que reserva um capitulo especial sobre o Contrato de

Seguro, ressalta-se o Decreto-Lei nº 73/1996, o qual regulamentou as operações de

seguro e resseguros. O referido Decreto-Lei estabelece que a competência do

Governo Federal para a formulação da política dos seguros privados, bem como

para legislar sobre as normas e para exercer a função fiscalizadora das operações

do mercado nacional, dispondo no art. 2º.

“Art.2° O controle do Estado se exercerá pelos órgãos instituídos neste

Decreto-Lei, no interesse dos segurados e beneficiários dos contratos de

seguro”.

9 Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, 1958.

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10

Neste seguimento, o referido instrumento criou o Sistema Nacional de

Seguros Privados e definiu sua composição, dispondo que o Sistema Nacional de

Seguros constitui-se, vejamos:

Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)

Da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP)

Do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB)

Das Sociedades Autorizadas a operar em seguros privados

A superintendência de Seguros Privados é, de acordo com o Decreto-Lei, o

órgão responsável pelo controle e fiscalização dos seguros. Nesse ínterim o artigo

36 estabelece:

Art. 36. Compete à SUSEP, na qualidade de executora da

política traçada pelo CNSP, como órgão fiscalizador da

constituição, organização, funcionamento e operações das

Sociedades Seguradoras:

(...)

c) fixar condições de apólice, planos de operações e tarifas a

serem utilizadas obrigatoriamente pelo mercado segurador

nacional;

(...)

h) fiscalizar as operações das Sociedades Seguradoras,

inclusive o exato cumprimento deste Decreto-Lei, de outras leis

pertinentes, disposições regulamentares em geral, Resolução

do CNSP e aplicar penalidades cabíveis;

Verifica-se portanto, que a atividade da seguradora sofre forte intervenção

estatal, uma vez que as cláusulas contratadas não são estipuladas a livre

consentimento das seguradoras e sim pela SUSEP, nos termos do artigo 36 Do

Decreto-Lei nº 73/1966.

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3.2 Partes do Contrato de Seguro

São partes necessárias do contrato de seguro o segurado e segurador,

podendo, eventualmente existir a figura do beneficiário, como acontece nos seguros

de vida, no qual o segurado indica um beneficiário para o recebimento do valor do

seguro em caso de evento morte do segurado.

O segurado pode ser pessoa física e jurídica, sendo destinatário final do

serviço de seguro, motivo pelo qual se aplicam as regras consumeristas à relação

entabulada. O segurado paga ao agente segurador um prêmio, com intuito de ver

seu interesses legítimos garantidos dos infortúnios futuros, que podem ou não

ocorrer.

O artigo 757 do Código Civil preceitua que apenas os interesses legítimos do

segurado são passíveis de contratação de seguro, pois assim se evitam discussões

sobre seguro de interesses ilegais, cite-se o seguro que por ventura garantisse a

entrega de determinado carregamento de entorpecentes, logicamente tal contrato é

nulo, face o objeto do mesmo ser ilícito, encontrando empecilho de validade nos

artigos 104 e 757 do Código Civil.

Em relação ao agente segurador, não pode mais existir aquela figura antiga

de mutualismo mútuo, onde os próprios segurados eram seguradores de seus riscos

entre si. Na atualidade, segurador é a pessoa jurídica que recebe o prêmio, assume

o risco e obriga-se a efetivar a contraprestação na ocorrência do sinistro.

Sendo que o artigo 757 do Código Civil em seu parágrafo único assim dispõe:

“Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,

mediante o Pagamento do premio, a garantir interesse legitimo

do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos

predeterminados. § único. Somente pode ser parte, no contrato

de seguro, como Segurador, entidade para tal fim legalmente

autorizada.

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De grande valia mencionar, mesmo não consideradas partes, existe ainda a

figura da Superintendência de Seguros Privados e o Instituto de Resseguros do

Brasil10.

A Superintendência de Seguros Privados é o órgão responsável pelo controle

e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e

resseguro. Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda foi criada pelo Decreto-lei

nº 73, de 21 de novembro de 1966.

O Instituto de Resseguro do Brasil11, Criado em 1939 por Getúlio Vargas tinha

o objetivo de concentrar nas empresas nacionais o resseguro do país, através da

própria empresa e de sua política de retrocessão, em que a maior parte do risco era

repartido entre as seguradoras nacionais. Manteve seu monopólio até 2007, quando

através de Lei Complementar o Congresso Nacional reabriu o mercado

ressegurador brasileiro, e o Instituto de Resseguros do Brasil passou a ser

classificado como ressegurador Local.

3.3 Natureza Jurídica dos Contratos de Seguro

Vários são os tipos de contratos, os quais se classificam conforme a sua

natureza jurídica. Segundo ensina José Maria Trepat Cases os contratos são:

“Aleatório: pois não há equivalência entre as prestações e depende de

evento futuro e incerto, entretanto há a corrente que o considera comutativo

por não incorrer, o segurador em risco, são bilaterais, pois cria obrigações

para ambas as partes, bem como são onerosos haja vista que as partes

perseguem vantagens recíprocas; o segurado, a transferência do risco

mediante o pagamento do prêmio e o segurador, o recebimento do prêmio

pela assunção do risco”12

10

Disponível em: Http://Www.Susep.Gov.Br/Menu/A-Susep/Apresentação. Acesso Em 23/09/2014 11Disponível em: Http://Www.Irb-Brasilre.Com.Br/Conheca-O-Irb/Sobre-O-Irb-Brasil-Re/. Acesso Em 23/09/2014. 12

Cases. José Maria. Código Civil comentado: arts. 693 a 817, volume VIII, São Paulo, Atlas, 2003,p.

102

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13

O contrato em sua regra deve ser formal, pois exige instrumento reduzido a

termo, seja a apólice, bilhete de seguro ou, na falta deles, comprovante de

pagamento de prêmio. De execução continuada, tendo que deve-se substituir por

um lapso de tempo, ainda que curto. Deve ser consensual, aperfeiçoa-se com o

simples consentimento das partes.

Quase em sua totalidade, as seguradoras não facultam ao segurado a

discussão das cláusulas, que apenas aceitará, e celebrará o contrato, ou não”,

caracterizando dessa forma como um contrato de adesão.

Ainda destacando-se o contrato de adesão, temos como definição que por

VENOSA:

“É o típico contrato que se apresenta com todas as clausulas predispostas

por uma das partes. A outra parte, o aderente, somente tem a alternativa de

aceitar ou repelir o contrato. Essa modalidade não resiste a uma explicação

dentro dos princípios tradicionais de direito contratual, como vimos: O

consentimento manifesta-se por simples adesão às cláusulas que foram

apresentadas pelo outro contratante”13

No mesmo entendimento leciona Maria Helena:

“Os contratos por adesão constituem uma oposição à ideia de contrato

paritário, por inexistir a liberdade de convenção, visto que excluem a

possibilidade de qualquer debate e transigência entre as partes, uma vez

que um dos contratantes se limita a aceitar as clausulas e condições

previamente redigidas e impressas pelo outro, aderindo a uma situação

contratual já definida em todos os seus termos” 14

Vale referir, ainda, dada a sua importância, que é da natureza jurídica do

contrato de seguro, os princípios da Boa-fé, principio do Mutualismo e por ultimo,

porém não menos importante o principio da Função Social.

13

Silvio de Salvo Venosa, 2008 p.32. 14

Maria Helena Diniz, Tratado Teórico e Prático dos Contratos, 1996, p. 351-378.

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14

4. PRINCÍPIOS DO CONTRATO DE SEGURO

Segundo Miguel Reale “os princípios gerais do Direito podem ser

classificados como princípios monovalentes, ou seja, pressupostos que só valem no

âmbito de determinada ciência, no caso, do Direito”15.

Ainda para RELALE, “trata-se de enunciações normativas de valor genérico,

que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico em sua

aplicação e integração ou mesmo para elaboração de novas normas”16.

A palavra “princípio” vem do latim “principium”, que significa, numa acepção

vulgar, início, começo, origem das coisas. Na ideia de Luís Diez Picazo citado por

Bonavides “onde designa as verdades primeiras”, bem como têm os princípios, de

um lado, “servido de critério de inspiração às leis ou normas concretas desse Direito

positivo” e, de outro, de normas obtidas “mediante um processo de generalização e

decantação dessas leis”17.

Os princípios gerais são normas fundamentais ou generalíssimas do sistema,

as normas mais gerais. O nome de princípios induz em engano, tanto que é velha

questão entre juristas se os princípios são ou não são normas. Os princípios são

normas como todas as demais para sustentar a ideia deque os princípios são

normas, os argumentos vêm a ser dois e ambos válidos.

Na verdade, as regras e os princípios são tidos, pela teoria clássica, como

espécies de norma, de modo que a distinção entre eles constitui uma distinção entre

duas espécies de normas. A regra é editada para ser aplicada a uma situação

jurídica determinada. Já os princípios, ao contrário, são genéricos, porque

comportam uma série indefinida de aplicações.

15Disponível Em: Http://Pt.Wikipedia.Org/Wiki/Princ%C3%Adpios_Gerais_Do_Direito, Apud REALE, Miguel. Lições Preliminares De Direito. 27ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003. Acessado Em 24/09/2014. 16

Idem. 17

Bonavides, Paulo. Curso De Direito Constitucional. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2002, P. 228- 229

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15

A mesmo ideia é corroborada pela teoria de Lorenzetti:

para quem tanto os princípios como as regras se referem ao âmbito do

dever ser e, portanto, são normas. Trata-se de distinguir entre dois tipos de

norma. Os critérios distintivos são, pois, quanto à generalidade, em que os

princípios têm uma generalidade maior que as regras, em relação aos

suportes fáticos, pois não se pode referi a um só caso. De outra forma, os

princípios são gerais também com relação às regras. O segundo critério é

de origem: as regras são criadas, os princípios desenvolvidos, eis que não

se baseiam na decisão de qualquer legislador ou tribunal, mas de uma

questão de conveniência ou oportunidade que se desenvolve

historicamente. O terceiro critério é a referência à ideia de Direito: presente

e explícita nos princípios, pois ordena algo a ser feito na maior medida

possível, dentro das possibilidades jurídicas existentes; são comandos de

otimização; ao passo que nas regras, a ideia de direito está presente e

implícita, podendo ser cumpridas ou não, e, se válidas, devem ser

observadas18

.

4.1 Princípio da Boa Fé

A boa-fé pode ser considerada como algo que deve estar presente em todas

as relações jurídicas e sociais existentes, porém a concepção clássica de contrato

baseada no princípio da autonomia da vontade prevaleceu sobre alguns aspectos e

em certos ordenamentos durante muito tempo, e teve seu apogeu no século XIX.

Este princípio está presente na locução latina pacta sunt servanda que significa a

obrigatoriedade do cumprimento das cláusulas contratuais. Portanto, entendia-se por

este princípio que as partes tinham o poder de estabelecer todo o conteúdo do

contrato. Fica nítida a influência que teve o Liberalismo e o Individualismo neste

instituto.

Principio essencial dotado de suma importância, essencial é a “boa fé”, que

deve existir em qualquer relação jurídica. O referido principio é entendido como uma

norma impositiva de deveres e condutas éticas de ambas as partes, seja no

momento da contratação, bem como no desenrolar do contrato firmado.

18

Lorenzetti, Ricardo Luis. Fundamentos Do Direito Privado. São Paulo: Rt, 1998, P. 286

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16

Com isso, a mais celebre das clausulas gerias é exatamente a boa fé objetiva

nos contratos, sendo esta mais útil que deficiente, uma vez que a boa fé é um fato e

uma virtude.

Para Paulo Brasil Dill Soares

“Boa fé objetiva é um standart um parâmetro genérico de conduta. Boa fé

objetiva significa, portanto uma autuação refletida, penando no outro, no

parceiro atual, respeitando seus interesses legítimos, suas expectativas

razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução,

sem causar lesão ou desvantagem excessiva, gerando para atingir o bom

fim das obrigações: o cumprimento do objetivo contratual e a realização de

interesses das partes”19

O artigo 422 do atual Código Civil contempla que “Os contratantes são

obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato como em sua execução, os

princípios de probidade e boa fé”. O segurado deve manter uma conduta sincera e

leal em suas declarações feitas a requerimento da seguradora, sob pena de receber

sanções em procedendo de má fé. Esta de qualquer uma das partes, não se

presume sendo necessária sua comprovação”.

4.2 Princípio do Mutualismo

Constitui a base do seguro, pois a seguradora atua como agente

administradora dos recursos recebidos dos segurados e pagos na ocorrência do

sinistro, portanto o sistema de seguros só é possível mediante corretos cálculos

aritméticos de risco e recebíveis e probabilidades de sinistro.

Importante frisar que a relação de seguro não tem como partes somente um

segurado e a seguradora, e sim a mutualidade de segurados e a diversidade de

seus interesses, como explica a doutrina:

“A operação de seguro implica a organização de uma mutualidade, ou o

19

Disponível em: Http://Www.Conjur.Com.Br/2007-Out-06/Aplicacao_Principio_Boa-Fe_Relacoes_Contratuais : Acesso Em 23/09/2014. Apud, Soares, Paulo Brasil, 2001,P.219-220.

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17

Agrupamento de um número mínimo de pessoas, submetidas aos mesmos

Riscos, cuja ocorrência e intensidade são suscetíveis de tratamento atuarial,

ou previsão estatística segundo a lei dos grandes números, o que permite a

repartição proporcional das perdas globais, resultante dos sinistros, entre

os seus componentes”20

O risco é elemento fundamental no contrato de seguro. Para Carlos Roberto

Gonçalves, o risco é “(…) o acontecimento possível, futuro e incerto, ou de data

incerta, que não depende da vontade das partes”. O autor ainda esclarece que “o

objeto do contrato de seguro é o risco, que pode, em princípio, incidir em todo bem

jurídico”21.

Sobre o assunto em foco é oportuno mencionar também os ensinamentos de

Sérgio Cavalieri Filho, ao lecionar que:

Três são os elementos essenciais do seguro – o risco, a mutualidade e a boa-

fé -, elementos, estes, que formam o tripé do seguro, uma verdadeira, “trilogia”, uma

espécie de santíssima trindade.

Risco é perigo, é possibilidade de dano decorrente de acontecimento futuro e

possível, mas que não depende da vontade das partes. Por ser o elemento material

do seguro, a sua base fática, é possível afirmar que onde não houver risco não

haverá seguro. As pessoas fazem seguro, em qualquer das suas modalidades –

seguro de vida, seguro de saúde, seguro de automóveis etc., porque estão expostas

a risco.

Em apertada síntese, seguro é contrato pelo qual o segurador, mediante o

recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a obrigação de pagar-lhe

uma determina indenização, prevista no contrato, caso o risco a que está sujeito se

materialize em um sinistro. Segurador e segurado negociam as consequências

econômicas do risco, mediante a obrigação do segurador de repará-las22.

20

Fernanda Elaine Huber. O Contrato De Seguro e as Implicações do Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil. Publicada No Juris Síntese Nº 46 – Mar/Abr De 2004. 21

Disponível Em: Http://Www.Direitonet.Com.Br/Resumos/Exibir/95/Seguro-I; Acesso Em 24/09/2014. 22

Cavalieri Filho, P. 404-405.

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18

Segundo se infere da sistemática adotada pelo Código Civil, a

responsabilidade do segurador fica adstrita unicamente aos riscos assumidos e

previstos no contrato. Porém, precisar os danos não é tarefa simples, pois estes

podem decorrer do risco assumido e formalizado no contrato. Podem também

ocorrer fatos que agravem os riscos previstos na apólice, seja em decorrência de

força maior, de atos de terceiro ou, ainda, em virtude de atitudes do próprio

segurado.

4.3 Princípio da Função Social do Contrato de Seguro

Acredita-se que o princípio social do contrato já se fazia presente no século

XVIII, onde os jurisconsultos acreditavam que a alacridade de um interesse

particular denotava a busca pelo bem pessoal, e que a somatória de tais interesses

resultava no interesse comum da sociedade como um todo. A partir desse princípio,

o contrato deixa para trás aquela visão individualista, passando a assumir uma

postura social23.

Cumpre observar que o citado princípio da Função Social do contrato,

encontra-se expresso no Código Civil Brasileiro, em seu artigo 421, cujo enunciado

preceitua. “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função

social do contrato.”

Comentando sobre esse principio, Cláudia Lima Marques aduz que:

“a nova concepção de contrato é uma concepção social deste instrumento

jurídico, para a qual não só o momento da manifestação da vontade

(consenso) importa, mas onde também e principalmente os efeitos do

contrato na sociedade serão levados em conta e onde a condição social e

econômica das pessoas nele envolvidas ganha em importância”24

.

23

Disponível em Http://Www.Jurisway.Org.Br/V2/Dhall.Asp?Id_Dh=13143. Apud, Tartuce, Flávio. Função Social Dos Contratos. São Paulo: Método, 2007. Acesso Em 24/09/2014. 24

Marques, Cláudia Lima. Contratos No Código De Defesa Do Consumidor. 3. Ed. São Paulo : Rt, 1991. P. 101.

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19

Neste interim, segundo Gabriela Diegues em seu trabalho de Conclusão de

Curso, pela Universidade Federal do Paraná.

Significa colocar o interesse social em predominância ao interesse privado,

significa que o particular não poderá exercer arbitrariamente sua

capacidade de contratar, devendo observar interesses sociais e limites

legais, primordialmente aqueles impostos pela Constituição de Federal,

tanto princípios implícitos, quanto explícitos. No âmbito das obrigações, o

exercício da liberdade contratual com inobservância ao preceito da função

social caracteriza abuso de direito. (..) O contrato essencialmente a

promover a circulação de propriedade e riqueza não pode ser usada para

violar os direitos eleitos como fundamentais em nosso ordenamento jurídico.

NUMA FREIRA leciona:

“Já a função social desperta no homem a prática da solidariedade, no caso,

exercida pela proteção econômica que oferece aos bens que formam a

riqueza social e realizada pela respectiva reparação no caso de insolvência

ou acontecimento fortuito, quando ligados a transações necessárias à vida

de coletividade, com o que fomenta o continuo progresso da sociedade”25

Em outras palavras, podemos definir a Função Social do contrato de seguro,

como concernente não só as partes envolvidas e sim relativo à comunidade, ao

conjuntos dos cidadãos como um todo.

25

Numa Freire, P.60-61.

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20

5. A PROBLEMÁTICA DE INTERPRETAÇÃO DO TEMA

Novas estatísticas mostram que a violência no trânsito é a segunda

maior causa de morte no país, à frente até de homicídios, um efeito do desrespeito

às leis e da má qualidade dos motoristas. Costumam-se apontar a precariedade das

estradas, a infraestrutura deficiente, a falta de ciclovias e as falhas na sinalização

como as causas para as tragédias no asfalto. Também se afirma que os carros

vendidos por aqui, que não passam nos padrões de segurança europeus, são

verdadeiras armadilhas letais sobre rodas. Todos esses fatores aumentam os riscos,

mas a maior razão para o massacre no trânsito é que nós, brasileiros, dirigimos

muito mal. Mais de 95% dos desastres viários no país são o resultado de uma

combinação de irresponsabilidade e imperícia. A estimativa coloca o Brasil entre os

países com a maior taxa de mortalidade no trânsito. Uma pesquisa realizada por

uma equipe do Programa Acadêmico sobre Álcool e outras Drogas da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com vítimas fatais de acidentes de trânsito,

mostrou que o álcool estava presente em cerca de 75% dos casos.

No Brasil, a questão é tão grave que o Ministro da Saúde, Artur Chioro,

afirmou que os acidentes envolvendo motoristas que consumiram álcool ao volante

já são epidemia no país.

Antes da Lei Seca, em vigor a 4 anos no Brasil, o número de acidentes e

mortes causados pela imprudência crescia de forma avassaladora. Em São Paulo,

por exemplo, chegou-se a 50 mil ocorrências de acidentes seguidos de morte em

todos os 645 municípios de São Paulo de 2001 a 2010. Com a tolerância zero da Lei

Seca e mais fiscalização este número baixou para 16% na capital e 7,2% nos

demais municípios segundo pesquisa da USP em Agosto de 2012.

Os números mostram uma queda no número de acidentes e mortes no trânsito em

decorrência do álcool, mas muito longe ainda do que se espera26.

26

Disponível em: Http://Destrave.Cancaonova.Com/Bebida-E-Direcao-Uma-Combinacao-Fatal/#Sthash.L4exhooy.Dpuf. Acesso em 23/09/2014.

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21

É incontroverso, diante dos inúmeros estudos realizados, afirmar que

estando sob o efeito do álcool perde-se totalmente, ou em grande parte, a

capacidade neuromotora, por exemplo; Um obstáculo que parece estar a 10 metros

para uma pessoa alcoolizada, na verdade, está muito mais próximo do que ela

possa imaginar, é sabido que os reflexos já não respondem de forma tão rápida e

eficaz, dando oportunidade a ocorrência dos acidentes envolvendo o trânsito, além

de causar dificuldade de concentração no individuo. Os efeitos podem até variar em

sua intensidade, de acordo com o tipo físico e estatura, mas o fato é que todos são

afetados após a ingestão de bebidas alcoólicas.

5.1 Da Embriaguez

Antes de adentramos no referido subtítulo, importante destacar a importância

da embriaguez ao Direito, seja em qualquer área do nosso ordenamento jurídico.

No Direito Penal conforme leciona Francesco Carrara a embriaguez é

encarada sob o prisma de sua motivação27:

“Sendo voluntária (o sujeito embriaga-se com a intenção de romper os freios morais

ou criar coragem, por exemplo), ou culposa (quando a pessoa não queria o efeito de

perder o controle dos sentidos, mas ainda assim ingere a substância inebriante), a

perda da noção dos fatos não exime a responsabilidade - e sendo autor de fato

delituoso, responderá integralmente por suas consequências.

A embriaguez pode, ao contrário, ser motivo de isenção da responsabilidade ou

redução da pena se, quando o fato delituoso se deu, o indivíduo não podia

compreender sua gravidade e consequências, motivada por uma embriaguez

dita acidental, causada por caso fortuito (a pessoa não queria ingerir a substância

inebriante) ou força maior (quando o indivíduo é obrigado a ingerir a substância).

Excluirá a responsabilidade se a perda da razão (entendimento) for completa;

reduzirá a pena, se for parcial essa perda da capacidade de discernimento.

Por outro lado, no caso da embriaguez preordenada (quando o agente

deliberadamente se embriaga com a finalidade específica de cometer um delito),

incidirá a agravante do artigo 61, II, alínea "l", do Código Penal, cujo quantum será

arbitrado pelo juiz em análise das circunstâncias de cada caso.”

27

Carrara, Francesco. Programa De Derecho Criminal, P. 34 Apud Bitencourt, Cezar R. Obra Citada, P. 300.

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22

No Direito Civil, no estado de embriaguez não habitual, o agente é

considerado absolutamente incapaz para os atos civis, por não poder exprimir

totalmente a sua vontade. Também pode ser uma das razões elencadas para a

separação, podendo ainda causar a interdição do bêbado contumaz.

Para o Direito do Trabalho, pode motivar a demissão por justa causa,

conforme preceitua o art. 482 da CLT, no qual trata-se a embriaguez habitual ou em

serviço.

Reporta-se a medicina a uma lenda árabe28, dividindo os 3 graus de

embriaguez em fases caracterizadas pelos seguintes animais: O macaco, o leão e o

porco, senão vejamos:

1. Fase de excitação (macaco) - a pessoa apresenta um comportamento

inquieto, falante, mas ainda consciente de seus atos e palavras e além

disso às vezes consegue atingir níveis de persuasão - por estar mais

eloquente - que talvez não fosse capaz antes.

2. Fase de confusão (leão) - quando o embriagado torna-se

eventualmente (dependendo do temperamento da pessoa) nocivo: fica

voluntarioso, age irrefletida e violentamente.

3. Fase super aguda (porco) - dá-se a embriaguez completa,

provocando o coma ou sono, onde o perigo representado dá-se apenas

quanto ao próprio indivíduo que, sem mais freios, cai em toda parte,

descuida completamente de sua higiene, como o bêbado contumaz.

Embora o art. 165 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro) preveja sanções

administrativas para o condutor de veículo que for flagrado sob efeito de bebida

alcoólica, bem como o art. 306 do CP (Código Penal) no qual prevê inclusive pena

de restrição a liberdade do motorista, o nosso judiciário, corriqueiramente tem

julgado procedente o pleito inicial dos segurados, mesmo comprovado que o

segurado encontrava-se em estado de embriaguez no momento do evento danoso.

28

Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Embriaguez#Gradua.C3.A7.C3.A3o_e_concep.C3.A7.C3.A3o_m.C3.A9dica). Acesso em 24/09/2014.

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23

Comumente as seguradoras alegam a exclusão de sua responsabilidade

prevista no contrato, afirmando que houve o agravamento do risco pelo segurado,

diante da embriaguez do condutor.

5.2 Do Agravamento de Risco

Conforme decisão proferida pelo Magistrado Des. Dr. Ney Wieddemann

Neto, no Recurso de Apelação nº 70056176720 do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul, “o agravamento de risco nada mais é, do que uma das técnicas

utilizadas para estabelecer o valor do seguro, ou seja, o prêmio. São circunstâncias

que aumentam a intensidade ou a probabilidade da ocorrência do risco assumido

pelo segurador”. No caso em tela, o agravamento de risco no contrato de seguro de

automóveis está relacionado à embriaguez.

Nos termos do art. 768 do CC, o segurado perderá o direito à garantia se

agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. O agravamento deve possuir

uma relevância capaz de romper o equilíbrio contratual, ou seja, a proporção entre o

risco assumido e o prêmio pago, equação esta que apenas pode ser resolvida com a

análise do caso concreto.

A lei brasileira não cogita se o agravamento é realizado de boa ou má-fé.

Simplesmente veda qualquer agravamento, sob pena de perda do direito ao seguro.

Assim o agravamento dos riscos pelo contraente ou terceiro com direito ao seguro

constitui infração contratual, porque existe o dever de abstenção. Se ocorre que o

risco se agrave culposamente, certamente se estará diante da resilidade do contrato.

A teoria do agravamento do risco não pretende por limites à liberdade do

segurado, mas deseja apenas impedir que a seguradora sofra as consequências da

modificação introduzida livremente pelo Segurado no estado do risco.

Assim quando o segurado, sob efeito de álcool, conduz o veículo, comete

infração contratual, pois está agravando os riscos assumidos do contrato, além de

infringir os artigos 306 e 165, do CTB, e o artigo 768, do Código Civil.

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24

O fato é que o estado de embriaguez é tese amplamente defendida pelas

seguradoras para fins de exclusão de sua responsabilidade, e, em poucas decisões,

alguns Tribunais também possuem este entendimento. Todavia, trata-se de

entendimento não acolhido pelo STJ, para quem a embriaguez, por si só, não afasta

o dever de pagar a indenização.

Em outras palavras, a ingestão de bebida alcoólica, por si só, não comprova

que o segurado tenha agido diretamente de forma a aumentar o risco, pois a

jurisprudência é firme ao assegurar a necessidade de se demonstrar que a

embriaguez, para configurar o agravamento do risco, deve ser determinante para a

ocorrência do acidente.

5.3 Do Nexo De Causalidade

O nexo de causalidade relaciona-se com o vínculo entre a conduta ilícita e o

dano, ou seja, o dano deve decorrer diretamente da conduta ilícita praticada pelo

indivíduo, sendo, pois, consequência única e exclusiva dessa conduta ou seja o

nexo causal é elemento necessário para se configurar a responsabilidade civil do

agente causador do dano.

Neste sentido, Caio Mário da Silva Pereira sobre as doutrinas referentes ao

tema alude:

É estabelecer, em face do direito positivo, que houve uma violação do

direito alheio e um dano, e que existe um nexo causal, ainda que presumido

entre uma e outro. Ao juiz cumpre decidir com base nas provas que ao

demandante incumbe produzir29

.

Na responsabilidade subjetiva o nexo de causalidade de é formada pela culpa

genérica ou lato sensu que inclui o dolo e a culpa estrita (art.186 C.C.)

29

Mario, Caio. 2007, p. 323.

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25

Na responsabilidade objetiva o nexo de causalidade é formado pela conduta,

cumulada com a previsão legal de responsabilização sem culpa ou pela atividade de

risco*30.

É entendimento pacífico em doutrina que o Código Civil Brasileiro adotou a

teoria da causalidade adequada já conhecida do Direito Penal. Por tal teoria

somente causas ou condutas relevantes para a produção do dano são capazes de

gerar o dever de indenizar.

Ademais, leciona Silvio de Salvo Venosa:

“O conceito de nexo causal, nexo etimológico ou relação de causalidade

deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É

por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador

do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva

dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que

experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso

ao responsável, não há como ser ressarcida”31

.

Para o STJ, não basta o teste do bafômetro e a consequente comprovação da

embriaguez. Cabe à seguradora comprovar cabalmente o nexo de causalidade.

Embora o Tribunal não mencione explicitamente como comprovar o nexo de

causalidade, acredita-se que seria o caso da análise de sinais psicomotores, como

condução anormal (ziguezague), caminhar com dificuldade, fala arrastada, que

podem ser identificados por um policial, agente de trânsito ou médico, desde que

corroborados por testemunha não ligada a órgãos de trânsito.

A simples prova do teor alcoólico na concentração do sangue, geralmente,

não se mostra suficiente para se estabelecer como nexo causal com o dano sofrido,

principalmente pelo fato do álcool não exercer idêntico grau de influência na

capacidade psicomotora em todos os indivíduos.

30

Ver art. 927, parágrafo único do Código Civil Brasileiro de 2002. 31

Venosa, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. Vol.4. 3°Ed. São Paulo: Atlas S.A., 2003.

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26

O estado de embriaguez e o dano sofrido não se mostram suficientes para

elidir a responsabilidade da seguradora com a consequente exoneração de

pagamento da indenização prevista no contrato. Requer-se a comprovação de que

houve voluntário e consciente agravamento do risco por parte do segurado.

Conforme se observa a seguinte decisão proferida pela Terceira Turma do Superior

Tribunal de Justiça.

EMENTA: (…) a embriaguez do segurado, por si só, não enseja a exclusão

da responsabilidade da seguradora prevista no contrato, ficando

condicionada a perda da cobertura à efetiva constatação de que o

agravamento de risco foi condição determinante para a ocorrência do

sinistro32

.

32

STJ, Terceira Turma, AgRg no AREsp 281255 / MG, Relator Ministro Sidnei Beneti, julgado em 16/04/2013.

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27

6. DAS INTERPRETAÇÕES JURISPRUDENCIAIS

Todavia, por ser um tema extremamente controvertido, e considerando que os

juízes julgam de acordo com seu convencimento motivado, nada impede que

decisões controvertidas continuem a ser proferidas, dependendo sempre da analise

do caso concreto e das provas produzidas no processo.

Nesse interim, vejamos algumas decisões favoráveis aos segurado:

APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DE VIDA. AÇÂO DE COBRANÇA.

ACIDENTE DE TRÂNSITO.

NEGATIVA DE PAGAMENTO DA COBERTURASECURITÁRIA.

EMBRIAGUEZ. AGRAVAMENTO DO RISCO NÃO DEMONSTRADO A

embriaguez do segurado somente conduz à perda da

indenização securitária se for robustamente comprovada e se for

determinante para a ocorrência do sinistro. Inocorrência de comprovação da

embriaguez e que o sinistro tenha sido decorrente do estado etílico. A

embriaguez excludente do seguro deve ser devidamente comprovada pela

seguradora para o afastamento da cobertura. Descaracterização do

agravamento do risco. Á MAIORIA NEGARAM PROVIMENTO AO APELO.33

Ementa: APELAÇÃO CIVEL. SEGUROS. SEGURO DE VIDA. SINISTRO

DE

TRÂNSITO. NEGATIVA DE PAGAMENTO DA COBERTURA SECURITÁRI

A. EMBRIAGUEZ. AGRAVAMENTO DO RISCO NÃO

CONFIGURADO. COBERTURADEVIDA. REFORMA DA SENTENÇA.

APELO PROVIDO.34

33

Apelação Cível Nº 70045215118, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luís Augusto Coelho Braga, Julgado em 24/10/2013 34

Apelação Cível Nº 70058915430, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Giovanni Conti, Julgado em 03/04/2014

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28

Ainda em decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO DE

VEÍCULO - OCORRÊNCIA DE SINISTRO -

NEGATIVA DE PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO -

ALEGAÇÃO DE EMBRIAGUEZ - INEXISTÊNCIA DE PROVA EFETIVA DO

AGRAVAMENTO DO RISCO DEMONSTRADO - DEVER DE INDENIZAR

RECONHECIDO. - Inexistindo comprovação da embriaguez do condutor do

veículo segurado e, por consequência, o agravamento do risco contratado,

não há como desonerar a seguradora de responder pelos prejuízos

decorrentes do acidente envolvendo o automóvel segurado.35

A Jurisprudência é quase que uníssona em afirmar que a indenização

pleiteada em face da seguradora é devida, pelo fato que a embriaguez do segurado

por si só não é considerada como agravante de risco.

Como anteriormente comentado, a simples prova do teor alcoólico na

concentração do sangue, geralmente, não se mostra suficiente para se estabelecer

como nexo causal com o dano sofrido.

Diante disso faz-se a pergunta: Decisões favoráveis aos segurados

embriagados, onde alegam a falta do agravamento de risco e principalmente a

ausência do nexo de causalidade, não estão dando azo ao crescimento da violência

do trânsito, bem como confrontando leis que servem para regular o mesmo e

proteger a sociedade.

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TJ-MG - Apelação Cível AC 10338120119262001 MG - TJ-MG.

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Porém em recente decisão em acórdão de apelação do TJ/PR, vejamos a

ementa:

Órgão: TRIBUNAL DE JUSTIÇA Vara: Seção da 9ª Câmara Cível Comarca:

COMARCA DECURITIBA Publicação de Acórdão 0092 . Processo/Prot:

1134725-0 Apelação Cível . Protocolo: 2013/339600. Comarca: Foro

Regional de Campo Largo da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba.

Vara: 1ª Vara Cível. Ação Originária: 0002614-64.2009.8.16.0026

Reparação de Danos. Apelante: Sul América Cia Nacional de Seguros.

Advogado: Milton Luiz Cleve Küster. Apelado (1): Solange C. Ramos -

Transportes -me, Solange Castagnoli Ramos. Advogado: Adriano Huber

Júnior. Apelado (2): Fnd Transportes Rodoviário Ltda. Advogado: Flávia

Maria Maciel. Órgão Julgador: 9ª Câmara Cível. Relator: Des. Dartagnan

Serpa Sa. Julgado em: 24/04/2014 DECISÃO: Acordam os Magistrados da

9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por

unanimidade, em conhecer e dar provimento ao recurso, nos termos do voto

do relator. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE

DANOS MATERIAIS E LUCROS CESSANTES EM DECORRÊNCIA DE

ACIDENTE DE TRÂNSITO. SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O

PEDIDO INICIAL. CONTRATO DE SEGURO DE VEÍCULO. APLICAÇÃO

DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. AGRAVAMENTO DO

RISCO CONTRATADO. VALIDADE DA CLÁUSULA CONTRATUAL QUE

PREVÊ A EXCLUSÃO DA COBERTURA. EMBRIAGUEZ COMPROVADA.

NEXO DE CAUSALIDADE COM O SINISTRO. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA

DA SEGURADORA.IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA PARCIALMENTE

REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO."Notório o

agravamento do risco pelo segurado que ao conduzir veículo embriagado,

configura conduta reprovável e punível pelo código nacional de trânsito"36

Como se vê o TJ/PR entendeu que a simples embriaguez com as

circunstâncias do próprio acidente é suficiente para estabelecer o nexo causal e

afastar o dever de indenizar.

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TJPR. IX C Cv. Apelação Cível nº 0669060-2. Relator: Sérgio Luiz Patitucci. DJ: 17/09/2010.

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Enfim, o Tribunal local agora começa a entender que a simples embriaguez já

é suficiente para estabelecer o nexo causal necessário. Realmente uma vitória para

as companhias seguradoras, mas principalmente um avanço para sociedade num

todo, hoje tão assolada por mortes no trânsito em decorrência de motorista

irresponsáveis.

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7. CONCLUSÃO

O presente trabalho de conclusão de curso acredita que os problemas e

antíteses doutrinárias e jurisprudenciais existentes nesse tema diminuiriam se a

questão fosse vista sobre o prisma da violência desenfreada no trânsito. Os julgados

deveriam ter consonância principalmente com a tentativa de proteção a vida, sendo

que o motorista embriagado deva sofrer as consequências de seus atos, que no

caso em comento, é o indeferimento da cobertura securitária.

Julgando sob uma ótica estritamente processual e formal, o judiciário da

oportunidade há existência de mais e mais acidentes de trânsitos, uma vez que o

segurado sabe que existe a chance de receber sua indenização mesmo estando em

desacordo com as leis de trânsito brasileiro e colocando em risco a vida dos demais.

Além disso, conforme se viu das analises realizadas nas constantes

evoluções da sociedade, verificou-se que o seguro no geral, também evoluiu, tendo

como base ainda o principia do mutualismo, bem como ficou exibido que apenas o

segurado e segurador são partes do contrato de seguro, existindo ainda a figura do

beneficiário apenas em algumas modalidades securitárias, o qual não é considerado

parte do contrato, porem recebe vantagem econômica caso ocorra o sinistro.

Complementar.....

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8. BIBLIOGRAFIA

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SOARES, Paulo Brasil Dill. Princípios Básicos de Defesa do Consumidor: Institutos de Proteção ao Hipossuficiente. Leme/SP: LED, 2001, p. 219-220. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. Vol.4. 3°ed. São Paulo: Atlas S.A., 2003. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, volume III: Contratos em espécie. 08. Ed São Paulo: Atlas 2008.

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