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Informativo 572-STJ (28/10 a 11/11/2015) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL SIGILO BANCÁRIO Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da administração pública. DIREITO ADMINISTRATIVO CONCURSO PÚBLICO Vagas reservadas a pessoas com deficiência. PENSÃO ESPECIAL PARA EX-COMBATENTE Menor sob guarda pode ser considerado dependente. DIREITO CIVIL OBRIGAÇÕES Impossibilidade de capitalização de juros por decorrência da aplicação da imputação do pagamento prevista no art. 354 do CC. RESPONSABILIDADE CIVIL Sentença penal condenatória e sentença cível que reconhece a ocorrência de culpa recíproca. LOCAÇÃO Base de cálculo de multa em caso de cláusula com desconto de bonificação. HIPOTECA Prescrição da obrigação principal e extinção da garantia hipotecária. DIVÓRCIO Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência suportada por mulher no âmbito familiar e doméstico. DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL REGISTRO DE LOTEAMENTO Competência para julgar recurso em impugnação a registro de loteamento urbano. DIREITO EMPRESARIAL FALÊNCIA O protesto do cheque para fins falimentares é obrigatório para se comprovar a impontualidade injustificada. Declaração de extinção das obrigações do falido.

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Informativo 572-STJ (28/10 a 11/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE

DIREITO CONSTITUCIONAL

SIGILO BANCÁRIO Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da administração pública.

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO Vagas reservadas a pessoas com deficiência. PENSÃO ESPECIAL PARA EX-COMBATENTE Menor sob guarda pode ser considerado dependente.

DIREITO CIVIL

OBRIGAÇÕES Impossibilidade de capitalização de juros por decorrência da aplicação da imputação do pagamento prevista no

art. 354 do CC. RESPONSABILIDADE CIVIL Sentença penal condenatória e sentença cível que reconhece a ocorrência de culpa recíproca. LOCAÇÃO Base de cálculo de multa em caso de cláusula com desconto de bonificação. HIPOTECA Prescrição da obrigação principal e extinção da garantia hipotecária. DIVÓRCIO Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência suportada por mulher no âmbito familiar e

doméstico.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

REGISTRO DE LOTEAMENTO Competência para julgar recurso em impugnação a registro de loteamento urbano. DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA O protesto do cheque para fins falimentares é obrigatório para se comprovar a impontualidade injustificada. Declaração de extinção das obrigações do falido.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TRANSAÇÃO JUDICIAL Possibilidade de transação judicial após a publicação do acórdão. RECURSOS Desnecessidade de ratificação do recurso interposto na pendência de julgamento de embargos declaratórios. PROCESSO COLETIVO Afastamento de ofício da presunção de legitimação de associação para propositura de ação coletiva.

DIREITO PENAL

FURTO Momento consumativo. ROUBO Momento consumativo. ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/2003) Atipicidade da conduta de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido com registro vencido. Magistrado que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não comete crime.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA Crime praticado em Banco Postal. NULIDADES Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da administração pública.

DIREITO TRIBUTÁRIO

COFINS Aumento da alíquota da COFINS e sociedades corretoras de seguros.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

AMPARO ASSISTENCIAL Aplicação do art. 34 do Estatuto do Idoso ao benefício requerido por pessoa com deficiência

DIREITO CONSTITUCIONAL

SIGILO BANCÁRIO Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da administração pública

Importante!!!

Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do Ministério Público de informações bancárias de titularidade de prefeitura municipal para fins de apurar supostos crimes praticados por agentes públicos contra a Administração Pública.

É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas de titularidade da Prefeitura Municipal, com o fim de proteger o patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário.

STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/10/2015 (Info 572).

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Imagine a seguinte situação adaptada: O Ministério Público instaurou procedimento de investigação criminal (PIC) para apurar possíveis delitos que estariam sendo praticados pelo Prefeito de um Município do interior. Como uma das diligências, o MP, sem autorização judicial, requisitou do gerente do banco informações bancárias da conta corrente mantida pelo Município naquela agência. Tais informações foram prestadas pelo banco e, com base nelas, descobriu-se a prática de crimes, tendo esses documentos servido como base para o ajuizamento de ação penal contra o Prefeito. A denúncia foi recebida pelo Tribunal de Justiça (art. 29, X, da CF/88). A defesa, no entanto, impetrou habeas corpus junto ao STJ alegando que as provas obtidas eram ilícitas e, portanto, o processo era nulo. Isso porque teria havido quebra do sigilo bancário sem autorização judicial. A tese da defesa foi aceita pelo STJ? NÃO. Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do Ministério Público de informações bancárias de titularidade de prefeitura municipal para fins de apurar supostos crimes praticados por agentes públicos contra a Administração Pública. Sigilo bancário não se aplica para contas públicas O sigilo bancário constitui espécie do direito à intimidade/privacidade, consagrado no art. 5º, X e XII, da CF/88, devendo, portanto, ser protegido. No entanto, as contas bancárias dos entes públicos, em regra, não são albergadas pelo direito à intimidade/privacidade e, em consequência, não são protegidas pelo sigilo bancário. Isso porque, no que tange às contas públicas, o que vigoram são os princípios da publicidade e da moralidade (art. 37 da CF/88). Quando a Constituição fala em intimidade e vida privada, ela está se referindo à pessoa humana, aos indivíduos que compõem a sociedade e às pessoas jurídicas de direito privado. Tais conceitos (intimidade e vida privada) são inaplicáveis aos entes públicos. Precedente do STF envolvendo requisição do TCU Em caso semelhante ao acima explicado o STF decidiu que o TCU poderia requisitar informações bancárias de contas envolvendo recursos públicos. Veja trechos da ementa:

(...) 2. O primado do ordenamento constitucional democrático assentado no Estado de Direito pressupõe uma transparente responsabilidade do Estado e, em especial, do Governo. (...) 3. O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é relativizado quando se está diante do interesse da sociedade de se conhecer o destino dos recursos públicos. 4. Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo bancário a que alude a Lei Complementar nº 105/2001, visto que as operações dessa espécie estão submetidas aos princípios da administração pública insculpidos no art. 37 da Constituição Federal. Em tais situações, é prerrogativa constitucional do Tribunal [TCU] o acesso a informações relacionadas a operações financiadas com recursos públicos. (...) 7. O Tribunal de Contas da União não está autorizado a, manu militari, decretar a quebra de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida cautelar condicionada à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais, do Poder Legislativo. (...) 8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito privado da Administração Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem pública. Inoponibilidade de sigilo bancário e empresarial ao TCU quando se está diante de operações fundadas em recursos de origem pública. Conclusão decorrente do dever de atuação transparente dos administradores públicos em um Estado Democrático de Direito. (...) (STF. 1ª Turma. MS 33340, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/05/2015).

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DIREITO ADMINISTRATIVO

PENSÃO ESPECIAL PARA EX-COMBATENTE Menor sob guarda pode ser considerado dependente

Apenas concursos federais!

As pessoas que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial, assim como seus dependentes, possuem direito a uma pensão especial prevista no art. 53, II e III, do ADCT da CF/88 e na Lei 8.059/90.

A pensão especial é devida ao ex-combatente. Quando ele morre, a pensão é revertida para os seus dependentes (art. 6º da Lei).

O art. 5º da Lei 8.059/90 prevê o rol de dependentes que têm direito ao benefício e nele não inclui o menor sob guarda.

Mesmo com essa omissão, o STJ entendeu que, na hipótese de morte do titular de pensão especial de ex-combatente, o menor de 18 anos que estava sob sua guarda deve ser enquadrado como dependente para efeito de recebimento da pensão especial. Isso porque o art. 33, § 3º do ECA prevê que a guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.

Além disso, dispensa-se o exame de eventual dependência econômica, visto ser presumida por força da guarda do menor pelo instituidor do benefício.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.339.645-MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 3/3/2015 (Info 561).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.550.168-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/10/2015 (Info 572).

Pensão especial de ex-combatente As pessoas que tenham participado de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial, assim como seus dependentes, possuem direito a uma pensão especial prevista no art. 53, II e III, do ADCT da CF/88 e

na Lei n. 8.059/90.

Quem é responsável pelo processamento e pagamento da pensão? O INSS? NÃO. A competência é do Ministério Militar ao qual esteve vinculado o ex-combatente durante a Segunda Guerra Mundial (art. 12). Por essa razão, essa pensão não é considerada um benefício previdenciário.

Quem recebe a pensão? A pensão especial é devida ao ex-combatente. Quando ele morre, a pensão é revertida para os seus dependentes (art. 6º da Lei).

Quem são os dependentes do ex-combatente?

A Lei n. 8.059/90 prevê um rol de dependentes:

Art. 5º Consideram-se dependentes do ex-combatente para fins desta lei: I - a viúva; II - a companheira; III - o filho e a filha de qualquer condição, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos; IV - o pai e a mãe inválidos; e V - o irmão e a irmã, solteiros, menores de 21 anos ou inválidos. Parágrafo único. Os dependentes de que tratam os incisos IV e V só terão direito à pensão se viviam sob a dependência econômica do ex-combatente, por ocasião de seu óbito.

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Imagine agora a seguinte situação hipotética: João foi ex-combatente e, nessa condição, recebia pensão especial. Pedrinho, 12 anos, é neto de João e mora com ele. Na verdade, como os pais de Pedrinho vivem em outra cidade, João é quem cria e educa o neto, possuindo, inclusive, a guarda do menor. João morreu e Pedrinho, orientado pela família, foi até o Exército e pediu para receber a pensão de ex-combatente de seu avô na qualidade de dependente. Em seu requerimento, Pedrinho falou que tinha direito de receber a pensão com base no art. 33, § 3º do ECA:

Art. 33 (...) § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.

Contudo, o pedido foi indeferido sob o argumento de que o menor sob guarda não está previsto no art. 5º da

Lei n. 8.059/90.

O argumento de Pedrinho está correto? O menor sob guarda tem direito à pensão especial como dependente de ex-combatente? SIM. Na hipótese de morte do titular de pensão especial de ex-combatente, o menor de 18 anos que estava sob

sua guarda deve ser enquadrado como dependente (art. 5º da Lei n. 8.059/90) para efeito de recebimento, na proporção que lhe couber, da pensão especial (art. 53, II, do ADCT) que recebia o seu guardião.

Realmente, o art. 5º da Lei n. 8.059/90 não incluiu o menor de 18 anos sob guarda no rol dos

beneficiários da pensão especial. Ele, contudo, tem direito à pensão com base no art. 33, § 3º, da Lei n. 8.069/90 (ECA). O art. 227 da CF/88 exige da família, da sociedade e do Estado a conjugação de esforços no sentido de prestar atendimento prioritário a todos os interesses de crianças e adolescentes. Assim, o ECA se encontra em absoluta sintonia com a diretriz hermenêutica demarcada no plano constitucional, não sendo admissível a exegese de que a pensão especial de ex-combatente, por não possuir natureza previdenciária, afastaria a aplicação da regra prevista no ECA.

Nessa ordem de ideias, do cotejo entre a Lei n. 8.059/90 (art. 5°) e o ECA, este diploma legal, mais benéfico, deve prevalecer, em razão do critério da especialidade.

CONCURSO PÚBLICO Vagas reservadas a pessoas com deficiência

Súmula 552-STJ: O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com deficiência para o fim de disputar as vagas reservadas em concursos públicos.

STJ. Corte Especial. Aprovada em 04/11/2015.

Vagas reservadas para portadores de necessidades especiais A CF/88 determina que um percentual das vagas dos concursos públicos deve ser destinado aos candidatos com deficiência. Ex.: em um concurso para analista judiciário, são oferecidas 100 vagas. A lei dessa carreira determina que 10% das vagas sejam destinadas a portadores de necessidades especiais (PNEs). Logo, 10 vagas desse concurso deverão ser ocupadas por PNEs. Se não houver candidatos deficientes aprovados em número suficiente para preencher essas vagas, o edital poderá prever que essas vagas serão ocupadas por candidatos que não sejam pessoas com deficiência. Veja o texto constitucional:

Art. 37 (...) VIII — a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;

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Percentual no caso de concursos públicos federais Nos concursos públicos realizados no âmbito do Poder Executivo federal, a legislação determina que o edital deverá prever um percentual de, no mínimo 5% e, no máximo, 20% das vagas às pessoas com deficiência. Caso a aplicação do percentual resulte em um número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro número inteiro subsequente, desde que respeitado o limite máximo de 20% das vagas ofertadas. Ex.: concurso público para 12 vagas; edital prevê 10% para pessoas com deficiência (1,2 vagas); logo, 2 vagas serão para PNEs. Além disso, é indispensável que a deficiência apresentada não seja incompatível com o cargo. Tais regras estão previstas no art. 5º, § 2º da Lei nº 8.112/90 e no art. 37 do Decreto nº 3.298/99. A pessoa que possui audição em apenas um dos ouvidos (surdez unilateral) pode ser considerada deficiente para fins de reserva de vaga em concurso público? NÃO. Segundo a jurisprudência do STJ, candidato em concurso público com surdez unilateral NÃO tem direito a participar do certame na qualidade de deficiente auditivo. Por quê? O Decreto nº 3.298/99 regulamentou a Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Em seu art. 4º, o Decreto assim define a deficiência auditiva:

Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: II — deficiência auditiva — perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296/2004)

Perceba, portanto, que, para o Decreto, a deficiência auditiva é a perda bilateral da audição. A redação atual foi dada pelo Decreto nº 5.296/2004, que expressamente acrescentou a palavra “bilateral”. Vale ressaltar que existe um precedente da 2ª Turma do STF no mesmo sentido: MS 29.910 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2011. A pessoa que possui visão em apenas um dos olhos (visão monocular) pode ser considerada deficiente para fins de reserva de vaga em concurso público? SIM. Existe um enunciado do STJ espelhando essa conclusão:

Súmula 377-STJ: O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes.

Esse é também o entendimento do STF: RMS 26071, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 13/11/2007. Diferença de tratamento entre as duas situações Essa distinção acima existe porque o Decreto nº 3.298/99 exige expressamente, para que seja considerada deficiência auditiva, que a surdez seja bilateral (art. 4º, II). Este mesmo Decreto, ao definir deficiência visual (art. 4º, III), não exige que a cegueira seja nos dois olhos. Em outras palavras, o art. 4º do Decreto nº 3.298/99 proíbe que a pessoa com surdez unilateral seja considerada deficiente auditiva, mas permite que a pessoa com visão monocular seja enquadrada como deficiente visual. Dessa forma, a diferença de tratamento foi fixada pelo Decreto com base, supostamente, em critérios técnicos. Para nós, leigos, contudo, resta a sensação de que não há muita razoabilidade nesta distinção.

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Em suma:

Surdez unilateral NÃO é considerada deficiência para fins de concurso público.

Cegueira unilateral É considerada deficiência para fins de concurso público.

DIREITO CIVIL

OBRIGAÇÕES Impossibilidade de capitalização de juros por decorrência da aplicação da imputação do

pagamento prevista no art. 354 do CC

No caso de dívida composta de capital e juros, a imputação de pagamento (art. 354 do CC) insuficiente para a quitação da totalidade dos juros vencidos não acarreta a capitalização do que restou desses juros.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.518.005-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/10/2015 (Info 572).

Imputação do pagamento Imputação do pagamento consiste na indicação da dívida a ser quitada quando o devedor se encontra obrigado por dois ou mais débitos a um mesmo credor e efetua pagamento não suficiente para saldar todas as dívidas. Ex: Heleno deve R$ 100 mil, a título de capital (principal), e mais R$ 20 mil de juros, totalizando R$ 120 mil. Heleno paga R$ 10 mil, que é a única quantia que possui. Deve-se abater este valor do capital ou dos juros? Segundo o CC-2002:

Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.

Desse modo, seguindo a regra geral, tem-se que o valor pago por Heleno será utilizado para abater primeiro os juros. Logo, ele agora deve: R$ 100 mil de capital + R$ 10 mil de juros. Total: R$ 110 mil. Como Heleno não pagou tudo, incidirão novamente juros. Estes juros, contudo, incidirão sobre o principal (R$ 100 mil) e não sobre o total (capital + juros remanescentes - R$ 110 mil). Desse modo, ainda que, por decorrência de pagamento insuficiente para quitar sequer a parte da dívida referente aos juros, o pagamento seja imputado apenas em parte dos juros vencidos (art. 354 do CC), a base de cálculo para juros dos períodos subsequentes continuará a ser tão somente o valor do capital principal, que permanecerá integralmente destacado das parcelas da dívida que se refiram a juros e, portanto, intacto: nem aumentará nem reduzirá. Daí se conclui que a incidência da regra legal de imputação em nada interfere na incidência ou não da capitalização de juros, tratando-se ambos de institutos jurídicos distintos.

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RESPONSABILIDADE CIVIL Sentença penal condenatória e sentença cível que reconhece a ocorrência de culpa recíproca

Importante!!!

Diante de sentença penal condenatória que tenha reconhecido a prática de homicídio culposo, o juízo cível, ao apurar responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento na concorrência de culpas, afastar a obrigação de reparar, embora possa se valer da existência de culpa concorrente da vítima para fixar o valor da indenização.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/9/2015 (Info 572).

Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro atravessou a rua fora da faixa de pedestres sem reparar no trânsito, considerando que estava postando uma foto no Instagram®. João, que vinha dirigindo seu carro, acabou atropelando Pedro, já que estava distraído olhando uma mensagem no Whatsapp®. Pedro faleceu em decorrência do acidente. Esse fato pode ser analisado sob dois aspectos: o penal e o cível. Sob o aspecto penal: João pode responder pelo crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB). Sob o aspecto cível: João pode ser condenado a pagar indenização aos familiares de Pedro. Processos criminal e cível O Ministério Público denunciou criminalmente João e a viúva de Pedro ajuizou ação de indenização contra o causador do acidente. O processo penal tramitou mais rápido e o juiz criminal condenou João. Logo em seguida, o juiz cível prolatou sentença na qual reconheceu que houve concorrência de culpas, ou seja, tanto João como Pedro tiveram culpa pelo acidente. Assim, em virtude disso, o magistrado indeferiu o pedido de indenização. Agiu corretamente o juiz cível? NÃO. Diante de sentença penal condenatória que tenha reconhecido a prática de homicídio culposo, o juízo cível, ao apurar responsabilidade civil decorrente do delito, não pode, com fundamento na concorrência de culpas, afastar a obrigação de reparar. O julgamento criminal interfere na decisão cível? REGRA GERAL: NÃO. Como regra, a responsabilidade civil é independente da criminal. Trata-se do princípio da independência das instâncias (art. 935, primeira parte, CC). EXCEÇÕES: Essa independência é relativa (não é absoluta). Assim, em algumas hipóteses, o julgamento criminal irá influenciar na decisão cível. 1) Se a decisão for condenatória: irá influenciar na decisão cível. Um dos efeitos da condenação é tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (art. 91, I do CP). Logo, o juízo cível não poderá dizer que o fato não existiu ou que o condenado não foi o seu autor. Transitada em julgado a sentença condenatória, ela poderá ser executada, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano (art. 63 do CPP).

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Informativo 572-STJ (28/10 a 11/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9

2) Se a decisão for absolutória: nem sempre irá influenciar na decisão cível. Assim, mesmo o réu tendo sido absolvido no juízo penal, ele pode, em alguns casos, ser condenado no juízo cível a indenizar a vítima. A absolvição criminal pode ocorrer por uma das hipóteses do art. 386 do CPP:

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: I – estar provada a inexistência do fato; II – não haver prova da existência do fato; III – não constituir o fato infração penal; IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; VII – não existir prova suficiente para a condenação.

Incisos I e IV: a sentença penal absolutória faz coisa julgada no cível (vincula o juízo cível). Incisos II, III, V e VII: mesmo com a sentença penal absolutória, a pessoa pode ser condenada no juízo cível. Inciso VI: pode fazer coisa julgada no cível ou não, dependendo do caso (vide art. 188 do CC). Desse modo, como, no caso concreto, o juízo criminal condenou o réu, esta decisão irá influenciar no processo cível. Veja o que diz a doutrina sobre o tema: "(...) de nada adianta o réu, no cível, alegar que não teve culpa ou não foi autor, ou que o fato não existiu, ou mesmo que agiu em legítima defesa. Se já foi condenado criminalmente é porque já se lhe reconheceu o dolo, ou a culpa, não podendo ser reexaminada no juízo cível" (GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 465). Mas o fato de o juízo cível entender que houve concorrência de culpas tem alguma importância? SIM. Como houve condenação no juízo criminal, o juízo cível não poderá afastar a obrigação de reparar, ou seja, terá que condenar o réu. No entanto, o fato de ter havido concorrência de culpa terá sim importância porque o juízo cível poderá reduzir o valor da indenização com base nisso. Confira:

(...) A culpa concorrente é fator determinante para a redução do valor da indenização, mediante a análise do grau de culpa de cada um dos litigantes, e, sobretudo, das colaborações individuais para confirmação do resultado danoso, considerando a relevância da conduta de cada qual. O evento danoso resulta da conduta culposa das partes nele envolvidas, devendo a indenização medir-se conforme a extensão do dano e o grau de cooperação de cada uma das partes à sua eclosão. (...) (STJ. 4ª Turma. REsp 1307032/PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/06/2013)

LOCAÇÃO Base de cálculo de multa em caso de cláusula com desconto de bonificação

Na hipótese em que, na data de vencimento, o valor do aluguel seja cobrado com incidência de desconto de bonificação, a multa prevista para o caso de atraso no pagamento deverá incidir sobre o valor do aluguel com o referido desconto.

STJ. 4ª Turma. REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/8/2015 (Info 572).

Imagine a seguinte situação hipotética: João é inquilino (locatário) de um apartamento pertencente a Pedro (locador). No contrato está previsto que o valor do aluguel é de R$ 1.200, mas se houver pagamento até o dia do vencimento, haverá um abatimento (desconto) e o valor é reduzido para R$ 1.000. A isso se chama de "bônus de pontualidade" ou "desconto de bonificação ". No contrato também é prevista multa de 10% em caso de atraso.

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Informativo 572-STJ (28/10 a 11/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10

Esse desconto de bonificação é válido? SIM. Nos termos do art. 17 da Lei nº 8.245/91, as partes têm liberdade para convencionar o aluguel, prevalecendo o que elas contrataram, de acordo com seus interesses e necessidades, sendo vedada, apenas, a estipulação em moeda estrangeira e a vinculação à variação cambial ou ao salário mínimo. Desse modo, o desconto para pagamento pontual do aluguel (abono de pontualidade) é, em princípio, liberalidade do locador, em obediência ao princípio da livre contratação, representando um incentivo concedido ao locatário, caso venha a pagar o aluguel em data convencionada. Referido bônus tem, portanto, o objetivo de induzir o locatário a cumprir corretamente sua obrigação de maneira antecipada. João atrasou o pagamento. Surgiu, então, uma dúvida: o valor de 10% da multa deverá incidir sobre o valor cheio (R$ 1.200) ou sobre o valor com desconto (R$ 1.000)? Sobre o valor com desconto. Na hipótese em que, na data de vencimento, o valor do aluguel seja cobrado com incidência de desconto de bonificação, a multa prevista para o caso de atraso no pagamento deverá incidir sobre o valor do aluguel com o referido desconto. A incidência da multa sobre o valor cheio somente seria permitida se o valor do desconto fosse para pagamentos em data anterior à do vencimento. Ex: o vencimento é dia 05; para quem paga até o dia 05, o valor é R$ 2.000; no entanto, para quem paga até o dia 01, há um desconto e o aluguel será de R$ 1.700; a multa, contudo, somente incide se a pessoa pagar depois do dia 05 (data do vencimento); neste exemplo, o valor da multa poderia incidir sobre o valor cheio (R$ 2.000), isso porque aqui teríamos realmente um desconto para pagamentos antes do vencimento. Se, contudo, o desconto é para pagamentos dentro do vencimento, na verdade, o valor com desconto é o preço real do aluguel e, sobre ele é que deve incidir a multa.

HIPOTECA Prescrição da obrigação principal e extinção da garantia hipotecária

A prescrição da pretensão de cobrança da dívida extingue o direito real de hipoteca estipulado para garanti-la. A hipoteca, no sistema brasileiro, é uma garantia acessória, seguindo, portanto, a sorte (o destino) da obrigação principal. Assim, prescrita a pretensão derivada da obrigação principal, não persiste a garantia hipotecária (art. 1.499 do CC).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.861-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/10/2015 (Info 572).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "X" contraiu uma dívida com a empresa "Y". A credora exigiu uma garantia real, tendo a devedora oferecido um imóvel em hipoteca. A hipoteca é uma espécie de direito real de garantia disciplinada nos arts. 1.473 a 1.505 do Código Civil. Se a parte que deu o bem em hipoteca não cumprir a sua obrigação, o credor poderá executar a hipoteca, hipótese na qual o imóvel dado em garantia será alienado e o valor obtido utilizado para pagar o débito. Prescrição da dívida O prazo para pagamento da dívida venceu, mas, apesar disso, a empresa "Y" (credora) não ajuizou ação cobrando o crédito nem executou a hipoteca. Passaram-se 5 anos, tendo havido a prescrição da pretensão de cobrança da dívida (art. 206, § 5º, I, do CC). Diante disso, indaga-se: ocorrendo a prescrição da pretensão de cobrança da dívida, o que acontece com a hipoteca? A hipoteca é extinta. A prescrição da pretensão de cobrança da dívida extingue o direito real de hipoteca estipulado para garanti-la.

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Tendo havido a prescrição da pretensão de cobrança da dívida, pode-se dizer que houve a extinção da obrigação principal, devendo a hipoteca ser igualmente extinta, nos termos do art. 1.499 do CC:

Art. 1.499. A hipoteca extingue-se: I - pela extinção da obrigação principal;

A hipoteca, no sistema brasileiro, é uma garantia acessória, seguindo, portanto, a sorte (o destino) da obrigação principal. Assim, prescrita a pretensão derivada da obrigação principal, não persiste a garantia hipotecária.

DIVÓRCIO Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência

suportada por mulher no âmbito familiar e doméstico

A extinção de medida protetiva de urgência diante da homologação de acordo entre as partes não afasta a competência da Vara Especializada de Violência Doméstica ou Familiar contra a Mulher para julgar ação de divórcio fundada na mesma situação de agressividade vivenciada pela vítima e que fora distribuída por dependência à medida extinta.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.030-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/10/2015 (Info 572).

Imagine a seguinte situação hipotética: Em janeiro/2015, durante uma discussão, João ameaçou de morte sua esposa Francisca. A vítima procurou a Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher. A juíza deferiu diversas medidas protetivas de urgência, com base no art. 22 da Lei Maria da Penha, dentre elas que João fosse afastado do lar e que não se aproximasse de Francisca a menos de 500m. Em março/2015, Francisca, por meio de advogado, ingressou com ação de divórcio, que foi distribuído, por dependência, para a Vara Especializada de Violência Doméstica. Foi correta essa distribuição do divórcio por dependência? A Vara Especializada em Violência Doméstica pode julgar também ação de divórcio? SIM. O art. 14 da Lei nº 11.340/2006 consagra a competência híbrida (criminal e civil) da Vara Especializada da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para o julgamento e execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Confira:

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Assim, a juíza da Vara de Violência Doméstica ficou responsável por julgar tanto o crime de ameaça como também o pedido de divórcio, nos termos do art. 14 da Lei nº 11.340/2006: Acordo que pôs fim ao processo criminal Em maio/2015, foi realizada uma audiência para tratar sobre o crime de ameaça, tendo havido acordo homologado pela juíza por meio do qual Francisca decidiu retratar-se da representação oferecida, nos termos do art. 16 da Lei nº 11.340/2006:

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

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Diante disso, indaga-se: a Vara de Violência Doméstica continuará competente para julgar o divórcio? SIM. A extinção de medida protetiva de urgência, diante da homologação de acordo entre as partes, não afasta a competência da Vara Especializada de Violência Doméstica ou Familiar contra a Mulher para julgar ação de divórcio fundada na mesma situação de agressividade vivenciada pela vítima e que fora distribuída por dependência à medida extinta. O legislador conferiu competências cíveis e criminais à Vara Especializada em Violência Doméstica com o objetivo de permitir que o mesmo magistrado pudesse ter conhecimento amplo da situação de violência doméstica e familiar praticada contra a mulher, fazendo com que pudesse sopesar as repercussões jurídicas nas diversas ações civis e criminais que foram originadas direta ou indiretamente desse mesmo fato. O problema foi que a lei, ao estabelecer, no art. 14, a competência cível da Vara Especializada de Violência Doméstica contra a Mulher, não especificou quais seriam as ações que deveriam ali tramitar. Diante disso, o STJ afirmou que a Vara Especializada da Violência Doméstica será competente para as ações de natureza civil (notadamente, as relacionadas ao Direito de Família) quando a causa de pedir dessas demandas tiver relação (decorrer) com a prática de violência doméstica ou familiar contra a mulher. No caso concreto, a ação de divórcio estava diretamente relacionada com a situação de violência vivenciada pela mulher, de forma que, mesmo extinto o processo criminal, a demanda cível deverá continuar tramitando no Juizado de Violência Doméstica.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

REGISTRO DE LOTEAMENTO Competência para julgar recurso em impugnação a registro de loteamento urbano

Compete à Corregedoria do Tribunal de Justiça ou ao Conselho Superior da Magistratura (e não a órgão jurisdicional de segunda instância do Tribunal de Justiça) julgar recurso intentado contra decisão de juízo que julga impugnação ao registro de loteamento urbano. Quem define se é a Corregedoria ou o Conselho Superior é o Regimento Interno do TJ ou a Lei de Organização Judiciária do Estado.

Esse recurso é um recurso administrativo (não se trata de apelação).

STJ. 4ª Turma. REsp 1.370.524-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 28/4/2015 (Info 572).

Lei nº 6.766/79 A Lei nº 6.766/79 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e prevê os requisitos necessários para que seja feito um loteamento. Loteamento é a subdivisão da gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, logradouro público ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes (art. 2º, § 1º da Lei). Projeto de loteamento A pessoa interessada em fazer um loteamento (loteador) deverá primeiramente aprovar o projeto junto à Prefeitura. Pedido de registro do loteamento Aprovado o projeto de loteamento ou de desmembramento, o loteador deverá submetê-lo ao Registro Imobiliário dentro de 180 dias, sob pena de caducidade da aprovação, acompanhado dos documentos exigidos pelo art. 18 da Lei nº 6.766/79.

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O pedido de registro de loteamento, disciplinado pela Lei nº 6.766/79, consubstancia procedimento de natureza administrativa, efetuado, inicialmente, perante o Oficial de Registros Públicos, que terá a incumbência de aferir a regularidade dos documentos exigidos no art. 18 do aludido diploma legal.

Estando em ordem a documentação Examinada a documentação e encontrada em ordem, o oficial do registro de imóveis encaminhará comunicação à Prefeitura e fará publicar, em resumo e com pequeno desenho de localização da área, edital do pedido de registro em 3 dias consecutivos (art. 19).

Impugnação No prazo de 15 dias, contados da data da última publicação, o pedido de registro feito pelo loteador poderá ser impugnado por qualquer interessado (art. 19, § 1º). Se houver impugnação de terceiros, o Oficial do Registro de Imóveis intimará o requerente e o Município (ou o Distrito Federal, conforme o caso) para que sobre ela se manifeste no prazo de 5 dias, sob pena de arquivamento do processo. Com tais manifestações, o processo será enviado ao juiz competente para decisão. Quem define o juiz competente é a Lei de Organização Judiciária de cada Estado. Normalmente é o juiz da Vara de Registros Públicos. Decisão do juiz Ouvido o Ministério Público no prazo de 5 dias, o juiz decidirá de plano ou após instrução sumária, devendo remeter ao interessado as vias ordinárias caso a matéria exija maior indagação (art. 19, § 2º). A decisão que julga a impugnação ao registro de loteamento, prevista no §1º do art. 19 da Lei nº 6.766/79, possui natureza administrativa ou jurisdicional? Administrativa. O Poder Judiciário, tal como os demais Poderes, desempenha funções típicas e atípicas. A função típica (predominante) do Poder Judiciário é a atividade jurisdicional. O Judiciário, contudo, possui como função atípica atividades de natureza legislativa (ex: elaborar seu regimento interno) e executiva (ex: administrar o próprio Tribunal). Uma das funções atípicas do Poder Judiciário é a de exercer função correcional e regulatória sobre a atividade registral e notarial, a ser desempenhada pelo Juiz Corregedor, pela Corregedoria do TJ e pelo Conselho Superior da Magistratura. Essa função atípica está consagrada pelo art. 236, § 1º da CF/88:

Art. 236 (...) § 1º - Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

É justamente no desempenho desta função correcional que o Estado-juiz exerce, dentre outras atividades, o controle de legalidade dos atos registrais e notariais, de modo a sanear eventuais irregularidades constatadas ou suscitadas, o que se dará por meio de processo administrativo. Pois bem. No âmbito do procedimento administrativo de registro de loteamento urbano, o Estado-juiz cinge-se, justamente, a analisar a regularidade e a consonância do pretendido registro com a lei, tão-somente. Nessa extensão, e, como decorrência da função correcional/fiscalizatória, o Poder Judiciário desempenha atividade puramente administrativa, consistente, portanto, no controle de legalidade do ato registral.

Sobressai evidenciado, assim, que a atuação do Judiciário, ao decidir a impugnação ao registro de loteamento urbano apresentada por terceiros, não exara provimento destinado a por fim a um suposto conflito de interesses (hipótese em que se estaria diante do exercício da jurisdição propriamente dita), ou mesmo, a possibilitar a consecução de determinado ato ou à produção válida dos efeitos jurídicos perseguidos (caso em que se estaria no âmbito da jurisdição voluntária). Como enfatizado, o Estado-juiz restringe-se a verificar a presença de requisitos exigidos em lei, para a realização do registro, tão-somente.

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O juízo administrativo, restrito à aferição da regularidade e da consonância do pretendido registro com a lei, não pode entrar em questões que demandem maior indagação, caso em que a discussão deve ser remetida às vias ordinárias, ou seja, à via jurisdicional contenciosa. Ora, se a própria lei de regência preconiza que, em havendo controvérsia de alta indagação, deve-se remeter o caso à via jurisdicional, conclui-se, por consectário lógico, que o 'juiz competente' referido na lei, ao solver a impugnação ao registro de loteamento, de modo algum exerce jurisdição, mas sim atividade puramente administrativa de controle de legalidade do ato registral. Tem-se, portanto, que o procedimento de registro de loteamento urbano, de seu nascedouro ao fim, ostenta natureza puramente administrativa. É cabível recurso contra essa decisão do juiz que julga a impugnação? SIM. Esse recurso será uma apelação? NÃO. Será um recurso administrativo. E quem julgará o recurso? Compete à Corregedoria do Tribunal de Justiça ou ao Conselho Superior da Magistratura (e não a órgão jurisdicional de segunda instância do Tribunal de Justiça) julgar o recurso intentado contra decisão de juízo que julga impugnação ao registro de loteamento urbano. Como vimos acima, o procedimento de impugnação ao pedido de registro possui natureza administrativa. Isso vale também para o recurso interposto contra a decisão que julga essa impugnação. Assim, cabe recurso administrativo (e não apelação), da decisão que julga a impugnação ao registro de loteamento, prolatada, no caso dos autos, pelo Juízo de Registros Públicos. Em se tratando de questão essencialmente administrativa, o recurso administrativo será julgado pela Corregedoria do Tribunal ou pelo Conselho Superior da Magistratura. Isso vai depender do que dispõe o Regimento Interno e a Lei de Organização Judiciária de cada Estado.

DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA O protesto do cheque para fins falimentares é obrigatório

para se comprovar a impontualidade injustificada

O protesto tirado contra o emitente do cheque é obrigatório para o fim de comprovar a impontualidade injustificada do devedor no procedimento de falência (art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005) e deve ser realizado em até 6 meses contados do término do prazo de apresentação (prazo prescricional da ação cambial).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.249.866-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/10/2015 (Info 572).

Quem pode requerer a falência do empresário ou da sociedade empresária? A pessoa que requer a falência é chamada de “sujeito ativo” da falência (deve-se lembrar que a falência acarreta um processo judicial). Segundo o art. 97 da Lei nº 11.101/2005, podem requerer a falência do devedor:

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I — o próprio devedor; (Obs.: é a chamada autofalência.) II — o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; (Obs.: ocorre no caso de empresário individual que morre e os seus herdeiros percebem que o falecido estava em situação de insolvência, razão pela qual optam por requerer a falência.) III — o cotista ou o acionista do devedor; (Obs.: ocorre quando o sócio da sociedade empresária (seja ele cotista ou acionista) entende que a empresa está insolvente e que o único caminho é a falência.) IV — qualquer credor. (Obs.: é a hipótese que ocorre em 99% dos casos.) Hipóteses nas quais pode ser requerida a falência: O art. 94 da Lei nº 11.101/2005 prevê que a falência poderá ser requerida em três hipóteses.

I — Impontualidade injustificada Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido de falência. Adotou-se neste inciso o critério da impontualidade injustificada. II — Execução frustrada Quando o devedor é executado por qualquer quantia líquida, mas não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal. A lei presume que o devedor, ao adotar esse comportamento na execução contra si proposta, demonstra estar insolvente. Para o legislador, o devedor praticou um “ato de falência”, ou seja, um ato de quem está em falência. Adotou-se neste inciso o chamado critério da enumeração legal. III — Atos de falência Quando o devedor pratica uma série de atos listados nas alíneas do inciso III do art. 94 da Lei nº 11.101/2005. Aqui a lei também presumiu que o devedor está falido pelo fato de ter praticado algum dos comportamentos descritos na lei. Assim, também se adotou neste inciso o chamado critério da enumeração legal. Imagine agora a seguinte situação hipotética: A empresa "XX" emitiu diversos cheques em favor da empresa "YY". Ocorre que, quando o beneficiário foi sacar, descobriu que não havia fundos. Diante disso, a credora ("YY") deseja pedir a falência da emitente dos cheques ("XX") com base no art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005. A dúvida que surgiu foi a seguinte: para pedir a falência, é necessário que os cheques sejam protestados? SIM. O protesto tirado contra o emitente do cheque é obrigatório para o fim de comprovar a impontualidade injustificada do devedor no procedimento de falência (art. 94, I, da Lei nº 11.101/2005) e deve ser realizado em até 6 meses contados do término do prazo de apresentação (prazo prescricional da ação cambial).

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FALÊNCIA Declaração de extinção das obrigações do falido

O reconhecimento da extinção das obrigações não tributárias do falido, nos termos do art. 158 da Lei nº 11.101/2005 não depende de prova da quitação de tributos.

STJ. 4ª Turma. REsp 834.932-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 25/8/2015 (Info 572).

Extinção das obrigações do falido A empresa "XX" passou por um processo de falência. 5 anos depois da falência, a empresa ajuizou ação declaratória de extinção das obrigações da falência, nos termos do art. 158, III, da Lei nº 11.101/2005:

Art. 158. Extingue as obrigações do falido: (...) III – o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;

O Juiz da Vara de Falências determinou que a empresa juntasse aos autos certidões de quitação fiscal, ou seja, certidões demonstrando que os tributos foram pagos. Essa exigência é lícita? NÃO. O reconhecimento da extinção das obrigações não tributárias do falido, nos termos do art. 158 da Lei nº 11.101/2005, não depende de prova da quitação de tributos. Existem duas espécies de extinção das obrigações do falido: a) com maior abrangência: ocorre quando o falido, além de preencher os requisitos do art. 158 da Lei nº 11.101/2005, também pagou todos tributos que devia. Neste caso, o falido ficará livre tanto das obrigações não-tributárias como também das tributárias; b) em menor extensão: ocorre quando o falido conseguiu atender os requisitos da Lei nº 11.101/2005, mas não pagou todos os tributos que devia. Neste caso, o falido poderá obter uma decisão declarando a extinção de suas obrigações, nos termos do art. 158 da Lei nº 11.101/2005, mas, apesar disso, o Fisco continua com seu direito de cobrar os tributos.

Assim, a decisão do juiz que reconhece a extinção das obrigações do falido, nos termos do art. 158 da Lei nº 11.101/2005, não interfere nas obrigações tributárias, permanecendo a Fazenda Pública com a possibilidade de cobrança de eventual crédito fiscal.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TRANSAÇÃO JUDICIAL Possibilidade de transação judicial após a publicação do acórdão

Importante!!!

Mesmo após a prolação da sentença ou do acórdão que decide a lide, podem as partes transacionar o objeto do litígio e submetê-lo à homologação judicial. Assim, a publicação do acórdão que decide a lide não impede que as partes transacionem.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.267.525-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/10/2015 (Info 572).

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Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "X" ajuizou ação de indenização contra a empresa "Z", tendo o juiz julgado procedente para condenar a ré ao pagamento de R$ 500 mil. A empresa "Z" interpôs apelação, tendo o Tribunal de Justiça mantido a sentença. Após a publicação do acórdão, durante o prazo para eventual recurso, as partes, em petição conjunta, informaram ao Desembargador Relator que fizeram um acordo por meio do qual a empresa "Z" pagaria apenas R$ 300 mil. Requereram que o acordo fosse homologado e afirmaram que estavam renunciando ao prazo para a interposição de outros recursos. O Desembargador Relator indeferiu o pedido das partes afirmando que, como o acórdão já tinha sido prolatado, a prestação jurisdicional foi devidamente satisfeita, não havendo mais nada a ser feito. O pedido das partes deveria ter sido acolhido? Mesmo após a publicação do acórdão é possível que as partes cheguem a um acordo e requeiram a sua homologação em juízo? SIM. Mesmo após a prolação da sentença ou do acórdão que decide a lide, podem as partes transacionar o objeto do litígio e submetê-lo à homologação judicial. Assim, a publicação do acórdão que decide a lide não impede que as partes transacionem. A tentativa de conciliação dos interesses em conflito é obrigação de todos os operadores do direito desde a fase pré-processual até a fase de cumprimento de sentença. O magistrado tem o dever de, a qualquer tempo, buscar conciliar as partes (art. 125 do CPC 1973 / art. 139, V, do CP 2015). Essa medida atende ao interesse do Estado na rápida solução dos litígios e converge para o ideal de concretização da pacificação social. Logo, não há marco final para implementá-la. Veja o que diz a doutrina sobre o tema: "(...) Não há termo final para a tentativa de conciliação pelo juiz, pois, mesmo depois de proferida a sentença, sendo vedado ao magistrado alterá-la (CPC 463), as partes podem chegar à composição amigável de natureza até diversa da que fora estabelecida na sentença. O término da demanda judicial é sempre interessante e deve ser buscado sempre que possível". (NERY JUNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante. 12. ed. São Paulo: RT, 2012, p. 467)

RECURSOS Desnecessidade de ratificação do recurso interposto

na pendência de julgamento de embargos declaratórios

Importante!!!

Não é necessária a ratificação do recurso interposto na pendência de julgamento de embargos de declaração quando, pelo julgamento dos aclaratórios, não houver modificação do julgado embargado.

Essa conclusão é reforçada pelo art. 1.024, § 5º do novo CPC.

STJ. Corte Especial. REsp 1.129.215-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/9/2015 (Info 572).

Tempestividade Para que um recurso seja conhecido, é indispensável que ele preencha requisitos intrínsecos e extrínsecos. Um dos requisitos extrínsecos de todo e qualquer recurso é a tempestividade. Tempestividade significa que o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei. Todo recurso tem um prazo e, se a parte o interpõe após este prazo, o recurso não será conhecido por intempestividade.

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Imagine o seguinte exemplo hipotético: João é o autor de uma ação contra Pedro. O pedido foi julgado parcialmente procedente em 1ª instância e ambas as partes apelaram ao Tribunal de Justiça, que manteve a sentença. O acórdão do TJ foi publicado no dia 22/04/2015. Quais os recursos que as partes poderiam interpor contra este acórdão do TJ? Em tese, tanto João como Pedro poderiam interpor os seguintes recursos: • Recurso especial • Recurso extraordinário • Embargos de declaração No dia 24/04/2015, João interpôs recurso especial alegando que a decisão do TJ violava lei federal. No dia 25/04/2015, Pedro opôs embargos de declaração afirmando que a decisão do TJ foi omissa quanto a alguns pontos. Quem julgará estes recursos e qual deles deverá ser apreciado por primeiro? O REsp é julgado pelo STJ e os embargos de declaração pelo próprio TJ. Justamente por isso, os embargos devem ser julgados em primeiro lugar e só depois os autos serão remetidos ao STJ para apreciação do REsp. Os embargos de declaração foram julgados conhecidos e improvidos (rejeitados) em 20/05/2015 e o acórdão publicado no dia 23/05/2015. Diante disso, indaga-se: o recurso que havia sido interposto antes da decisão dos embargos de declaração continua valendo e poderá ser conhecido pelo Tribunal ad quem ou a parte que o ajuizou deverá ratificá-lo (confirmá-lo) após os embargos serem julgados? Não é necessária a ratificação do recurso interposto na pendência de julgamento de embargos de declaração quando, pelo julgamento dos aclaratórios, não houver modificação do julgado embargado. STJ. Corte Especial. REsp 1.129.215-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/9/2015 (Info 572). A parte pode, a partir do primeiro dia do prazo, interpor o recurso extraordinário, independentemente da parte contrária ter oposto embargos declaratórios. Assim, não seria necessária a ratificação do RE após o julgamento dos embargos. O recurso extraordinário surge oportuno ainda que pendentes embargos declaratórios interpostos pela parte contrária, ficando a problemática no campo da prejudicialidade se esses últimos forem providos com modificação de objeto. STF. 1ª Turma. RE 680371 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 11/06/2013 (Info 710). Voltando ao nosso exemplo. E se os embargos tivessem sido providos e o resultado do acórdão do TJ houvesse sido alterado, o que João poderia fazer? Neste caso, João terá que ratificar o recurso especial já interposto. Além de ratificar, ele também terá direito de complementá-lo, impugnando o que foi decidido nos embargos em seu desfavor. A isso chamamos de princípio da complementaridade. Confira a lição de Fredie Didier e Leonardo da Cunha sobre este derradeiro ponto: “Vale ressalvar, apenas, a hipótese de, nos embargos de declaração, haver modificação da decisão, sendo, então, possível à parte que já recorreu aditar seu recurso relativamente ao trecho da decisão embargada que veio a ser alterado. É o que se extrai do chamado ‘princípio’ da complementaridade. Não havendo, todavia, modificação no julgamento dos embargos de declaração, a parte que já recorreu não pode aditar ou renovar seu recurso.” (Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3. 11ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 231).

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NOVO CPC: O novo entendimento acima exposto continua válido com o novo CPC? SIM. Na verdade, o novo CPC reforça a nova conclusão ao trazer a seguinte regra:

Art. 1.024 (...) § 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de ratificação.

E a súmula 418-STJ? Vale ressaltar que o entendimento acima explicado é recente. Durante muito tempo o STJ decidiu de forma oposta, tendo, inclusive, editado uma súmula espelhando essa posição. Veja:

Súmula 418-STJ: É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação.

O STJ não cancelou formalmente a súmula 418, mas disse que ela deverá ser reinterpretada, ou seja, deverá sofrer uma releitura. Nas palavras do Ministro Luis Felipe Salomão, "a única interpretação cabível para o enunciado da Súmula 418 do STJ é aquela que prevê o ônus da ratificação do recurso interposto na pendência de embargos declaratórios apenas quando houver alteração na conclusão do julgamento anterior." (REsp 1129215/DF) A verdade, contudo, é que a doutrina sustenta que, com a entrada em vigor do CPC 2015, a súmula 418 do STJ está superada.

PROCESSO COLETIVO Afastamento de ofício da presunção de legitimação de associação para propositura de ação coletiva

Importante!!!

É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente constituída para propositura de ação coletiva?

SIM. Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada de forma indevida ou abusiva, o magistrado poderá, de ofício, afastar a presunção legal de legitimação de associação regularmente constituída para propositura de ação coletiva.

A legitimidade de uma associação para a propositura de ACP pode ser afastada pelo fato de o estatuto da associação ser exageradamente genérico?

SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico tem respaldo na jurisprudência do STJ. Embora a finalidade da associação, prevista no estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser, entretanto, desarrazoada, sob pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse, o que desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo lesado.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2015 (Info 572).

Imagine a seguinte situação adaptada: Determinada associação propôs ação civil pública supostamente defendendo interesses difusos de consumidores. O juiz, de ofício, sem ouvir a ré, indeferiu a petição inicial e extinguiu a ação sem resolução do mérito.

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Informativo 572-STJ (28/10 a 11/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20

Segundo a decisão, existem algumas associações, como seria o caso da autora, que ingressam com diversas ações coletivas, valendo-se da isenção das custas (art. 18 da Lei nº 7.347/85; art. 87 do CDC), buscando indenizações milionárias. Caso consigam ter sucesso, procuram pessoas pela internet para ingressarem com execuções, recebendo honorários por esse serviço. Essas ações foram denominadas de "pseudo ações coletivas", considerando que tais entidades possuem pouquíssimos associados e essas associações são chamadas de "associações de gaveta". Além disso, outro argumento invocado para negar legitimidade à autora foi o fato de que o estatuto da associação, ao tratar sobre suas finalidades, é excessivamente genérico. Com efeito, essa associação afirma que possui por finalidade defender o patrimônio público e social, o meio ambiente, o consumidor, a honra e a dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, a ordem urbanística, os bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Recurso da associação A autora recorreu da decisão alegando que a Lei nº 7.347/85 prevê, em seu art. 5º, V, apenas dois requisitos para que uma associação possa ajuizar ação civil pública: a) que ela esteja constituída há pelo menos 1 ano; b) que ela inclua, entre as suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Logo, como a autora preenchia esses requisitos, não poderia o juiz ter negado a sua legitimidade. Agiu corretamente o juiz? É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente constituída para propositura de ação coletiva? SIM. Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada de forma indevida ou abusiva, o magistrado poderá, de ofício, afastar a presunção legal de legitimação de associação regularmente constituída para propositura de ação coletiva. Presunção de legitimidade das associações Primeiramente, é preciso fazer um registro histórico: o anteprojeto que deu origem à Lei nº 7.347/85, com inspiração no direito norte-americano, previa que o juiz, em todo caso concreto, deveria verificar se a associação possuía representatividade adequada (adequacy of representation). Em outras palavras, o projeto afirmava que o magistrado iria analisar, para aquela situação, se a associação seria legitimada. Essa proposta não prevaleceu e o legislador optou por indicar apenas dois quesitos objetivos (constituição há pelo menos 1 ano + finalidade institucional). Assim, pode-se dizer que o legislador estabeleceu uma presunção de que as associações, desde que preenchidos esses dois requisitos, são sempre legitimadas para propor ACP. Essa presunção legal, contudo, é relativa (presunção juris tantum). Logo, trata-se de presunção que admite prova em contrário. No caso analisado, havia concretos indícios (sintomas) de que a associação autora estava utilizando a ACP de forma abusiva (indevida) e de que ela não teria legitimidade para propor a ação. Mas o juiz poderia ter decidido isso de ofício (sem provocação)? SIM. O art. 125, III, do CPC 1973 (art. 139, III, do CPC 2015) estabelece que é poder-dever do juiz, na direção do processo, prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça. Com base nisso, é plenamente possível que, excepcionalmente, de modo devidamente fundamentado, o magistrado exerça, mesmo que de ofício, o controle de idoneidade (adequação da representatividade) para aferir/afastar a legitimação ad causam de associação. Veja o que diz a doutrina sobre o tema: "(...) Por isso, a adequação da representatividade dos legitimados para a ação civil pública é presumida por lei, e não cabe, em princípio, ao magistrado proceder ao exame deste requisito nos casos específicos.

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Em algumas hipóteses, porém, a realidade tem demonstrado sintomas de que a legitimação coletiva não se presta ao fundamento que lhe deu causa, seja em virtude de sua utilização indevida ou abusiva por alguns legitimados, seja face à inaptidão para a persecução de determinados interesses. (...) À luz dessa perspectiva, a presunção de legitimidade adequada dos titulares da ação civil pública não se reveste de caráter absoluto, podendo ser ilidida sempre que as circunstâncias do caso suscitem dúvidas sobre a idoneidade do ente coletivo para figurar no pólo ativo da ação. Isso porque, em alguns casos, o ente legalmente previsto como titular da ação civil pública pode carecer de legitimidade para sua propositura. Ainda que, em tese, a legitimidade coletiva prevista na lei esteja coerente com a ordem constitucional, pode ocorrer que, aplicada à hipótese específica, não se verifique a dita harmonia. (...) A justiça da tutela jurisdicional coletiva depende da atuação do órgão jurisdicional, cabendo-lhe dosar, sem exageros, a medida exata da legitimação para agir. Se, de um lado, deve o magistrado abster-se de impor óbices meramente procedimentais aos representantes adequados dos direitos coletivos, compete-lhe, de outra face, exercer o controle da representatividade com o fito de impedir a iniciativa de entes desprovidos de capacidade para atuar em defesa do grupo. Do mesmo modo que não seria justo cercear o acesso à justiça de legitimados dotados de representatividade, também não se poderia permitir que os direitos coletivos fossem defendidos por entes que desconhecessem os reais interesses da coletividade ou que não estivessem aptos a tutelá-los de maneira satisfatória." (DIDIER JR., Fredie; MOUTA, José Henrique; MAZZEI, Rodrigo (Coords.). Tutela jurisdicional coletiva: 2ª série. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 173-174) Por fim, uma última questão: o argumento do juiz de que o estatuto da associação é exageradamente genérico, o que faz com que ela seja ilegítima, é uma tese aceita pelo STJ? SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico tem respaldo na jurisprudência do STJ. O Tribunal já decidiu que, embora a finalidade da associação, prevista no estatuto, possa ser razoavelmente genérica, não pode ser, entretanto, desarrazoada, sob pena de admitirmos a criação de uma associação civil para a defesa de qualquer interesse, o que desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo lesado. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 901.936/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16/10/2008.

DIREITO PENAL

FURTO Momento consumativo

Importante!!!

Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

STJ. 3ª Seção. REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 572).

Em que momento se consuma o crime de furto? Existem quatro teorias sobre o tema: 1ª) Contrectacio: segundo esta teoria, a consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a coisa alheia. Se tocou, já consumou.

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2ª) Apprehensio (amotio): a consumação ocorre no momento em que a coisa subtraída passa para o poder do agente, ainda que por breve espaço de tempo, mesmo que o sujeito seja logo perseguido pela polícia ou pela vítima. Quando se diz que a coisa passou para o poder do agente, isso significa que houve a inversão da posse. Por isso, ela é também conhecida como teoria da inversão da posse. Vale ressaltar que, para esta corrente, o furto se consuma mesmo que o agente não fique com a posse mansa e pacífica. A coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima (inversão da posse), mas não é necessário que saia da esfera de vigilância da vítima (não se exige que o agente tenha posse desvigiada do bem). 3ª) Ablatio: a consumação ocorre quando a coisa, além de apreendida, é transportada de um lugar para outro. 4ª) Ilatio: a consumação só ocorre quando a coisa é levada ao local desejado pelo ladrão para tê-la a salvo.

Qual foi a teoria adotada pelo STF e STJ? A teoria da APPREHENSIO (AMOTIO), segundo a qual se considera consumado o delito de furto quando, cessada a clandestinidade, o agente detenha a posse de fato sobre o bem, ainda que seja possível à vítima retomá-lo, por ato seu ou de terceiro, em virtude de perseguição imediata.

Outras expressões similares que você pode encontrar na sua prova:

A consumação do crime de furto se dá no momento em que a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da vítima e passa para o poder do agente, ainda que por breve período, sendo prescindível a posse pacífica da res pelo sujeito ativo do delito (STJ. 6ª Turma. HC 220.084/MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/12/2014).

Considera-se consumado o crime de furto no momento em que o agente se torna possuidor da res furtiva, ainda que haja perseguição policial e não obtenha a posse tranquila do bem, sendo prescindível (dispensável) que o objeto do crime saia da esfera de vigilância da vítima (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1346113/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 22/4/2014).

Para a consumação do furto, basta que ocorra a inversão da posse, ainda que a coisa subtraída venha a ser retomada em momento imediatamente posterior (STF. 1ª Turma. HC 114329, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1/10/2013).

O STJ, ao apreciar o tema sob a sistemática do recurso especial repetitivo, fixou a seguinte tese: Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição do agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. STJ. 3ª Seção. REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 572).

ROUBO Momento consumativo

Importante!!!

Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida a perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

STJ. 3ª Seção. REsp 1.499.050-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 572).

Em que momento se consuma o crime de roubo? As mesmas quatro teorias explicadas para o caso de furto (contrectacio, apprehensio/amotio, ablatio e ilatio) também se aplicam ao roubo. Para o STF e o STJ, o Brasil adota a teoria da apprehensio (amotio), segundo a qual o crime de roubo se consuma no momento em que o agente obtém a posse do bem, mediante violência ou grave ameaça, ainda que não seja mansa e pacífica e/ou haja perseguição policial, sendo prescindível que o objeto subtraído saia da esfera de vigilância da vítima.

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ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/2003)

Atipicidade da conduta de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido com registro vencido

Importante!!!

Atualize o Info 572-STJ

Não configura o crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003) a conduta do agente que mantém sob guarda, no interior de sua residência, arma de fogo de uso permitido com registro vencido.

Se o agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do prazo é mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal.

Ex: a Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de João, lá encontrou um revólver, de uso permitido. João apresentou o registro da arma de fogo localizada, porém ele estava vencido há mais de um ano. João não praticou crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003).

STJ. Corte Especial. APn 686-AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 21/10/2015 (Info 572).

STJ. 5ª Turma. HC 294.078/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/08/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: A Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de João, lá encontrou um revólver, de uso permitido. João apresentou o registro da arma de fogo localizada, porém ele estava vencido há mais de um ano. João praticou crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003)? O fato de o agente possuir arma de fogo com registro vencido configura crime? NÃO. Não configura o crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003) a conduta do agente que mantém sob guarda, no interior de sua residência, arma de fogo de uso permitido com registro vencido. Se o agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do prazo é mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal. Argumentos:

Não há dolo do agente que procede ao registro e, depois de expirado o prazo, é apanhado com a arma nessa circunstância.

Trata-se de uma irregularidade administrativa. Isso porque se a pessoa possui o registro da arma de fogo de uso permitido, significa que o Poder Público tem completo conhecimento de que ele possui o artefato em questão, podendo rastreá-lo, se necessário. Logo, inexiste ofensividade na conduta.

A mera inobservância da exigência de recadastramento periódico não pode conduzir à incriminação penal. Cabe ao Estado apreender a arma e aplicar a punição administrativa pertinente, não estando em consonância com o Direito Penal moderno deflagrar uma ação penal para a imposição de pena tão somente porque o indivíduo - devidamente autorizado a possuir a arma pelo Poder Público, diga-se de passagem - deixou de ir de tempos em tempos efetuar o recadastramento do artefato. Portanto, até mesmo por questões de política criminal, não há como submeter o paciente às agruras de uma condenação penal por uma conduta que não apresentou nenhuma lesividade relevante aos bens jurídicos tutelados pela Lei nº 10.826/2003, não incrementou o risco e pode ser resolvida na via administrativa.

O direito penal possui caráter subsidiário e de ultima ratio.

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ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/2003) Magistrado que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não comete crime

Importante!!!

O Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 da Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento).

Os Conselheiros dos Tribunais de Contas são equiparados a magistrados e o art. 33, V, da LC 35/79 (LOMAN) garante aos magistrados o direito ao porte de arma de fogo.

STJ. Corte Especial. APn 657-PB, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 21/10/2015 (Info 572).

A Lei n. 10.826/2003, conhecida como “Estatuto do Desarmamento”, define uma série de regras e tipifica alguns crimes relacionados com armas de fogo. Veja o crime previsto no art. 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito):

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Imagine agora a seguinte situação adaptada: A Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de Pedro (Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado), lá encontrou uma pistola, de uso restrito (pistola calibre 9mm). Pedro não tinha autorização para possuir e guardar essa arma de uso restrito, mas argumentou que, por ser Conselheiro do TCE, é equiparado a magistrado e que, portanto, possui porte de arma. Denúncia O Ministério Público não concordou com o argumento e denunciou Pedro pela prática do art. 16 do Estatuto do Desarmamento. Segundo a denúncia, Pedro, mesmo sendo equiparado a magistrado, não poderia possuir uma pistola calibre 9mm. Isso porque, de acordo com a Portaria ComEx n. 209 de 14.3.2014 (do Comando do Exército), os magistrados somente poderão adquirir, para uso particular, armas de uso restrito limitadas aos calibres ponto 357 Magnum e ponto 40. Logo, a pistola calibre 9mm está fora da autorização concedida pela Portaria. A questão foi julgada pelo STJ. Houve crime? NÃO. O Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento).

Sendo Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual, o agente está equiparado, por simetria constitucional, a magistrado (arts. 73, § 3º, e 75 da CF/88):

Art. 73 (...) § 3º Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40. Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.

A LC 35/79 (LOMAN) garante aos magistrados o direito ao porte de arma de fogo:

Art. 33 - São prerrogativas do magistrado: V - portar arma de defesa pessoal.

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Segundo entendeu o STJ, esse dispositivo não faz distinção entre armas de uso permitido e as de uso restrito. Logo, é atípica a conduta de um magistrado que mantenha sob sua guarda arma ou munição de uso restrito. Norma penal em branco O art. 16 do Estatuto do Desarmamento não explica o que seja arma ou munição de uso restrito. O legislador afirmou que isso deveria ser definido por regulamentação do Poder Executivo. Veja o que diz a Lei nº 10.826/2003:

Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem como a definição das armas de fogo e demais produtos controlados, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos e de valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército. (...) Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso restrito.

O Decreto nº 5.123/2004, que regulamenta o Estatuto do Desarmamento, prevê que competirá ao Comando do Exército definir quais são as pessoas físicas e jurídicas que estarão habilitadas para usar armas de fogo de uso restrito (arts. 11 e 18). Apesar disso, é equivocado imaginar que o Decreto ou a Portaria do Comando do Exército possa restringir a prerrogativa dos magistrados de portarem armas de fogo de uso restrito. Assim, as portarias do Comando do Exército não se aplicam a magistrados, pois invadiriam competência reservada à lei complementar (art. 93 da CF/88), tocando em assuntos relativos a direitos e prerrogativas da magistratura, limitando indevidamente o seu exercício.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA Crime praticado em Banco Postal

Importante!!!

Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar ação penal na qual se apurem infrações penais decorrentes da tentativa de abertura de conta corrente mediante a apresentação de documento falso em agência do Banco do Brasil (BB) localizada nas dependências de agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que funcione como Banco Postal.

STJ. 3ª Seção. CC 129.804-PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/10/2015 (Info 572).

Banco postal O Banco Postal é a marca dos Correios que designa sua atuação como correspondente na prestação de serviços bancários básicos em todo o território nacional. Tem como objetivo levar serviços de correspondente à população desprovida de atendimento bancário e proporcionar acesso ao Sistema Financeiro (conceito disponível no site dos Correios: http://www.correios.com.br/). Em outras palavras, o banco postal é uma agência dos Correios que, além dos serviços postais tradicionais (envio de cartas, encomendas etc.), também oferece alguns serviços bancários, como pagamentos de contas até determinado valor.

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Os bancos postais existem normalmente em municípios do interior onde não há bancos ou onde existem muito poucos em razão dos altos custos para se manter agências nessas localidades. Vale ressaltar que os serviços bancários desempenhados dentro dos Correios serão desenvolvidos por uma instituição financeira, que irá celebrar um contrato com a ECT. Ex: o Banco do Brasil faz um contrato com os Correios para que, dentro das agências desta empresa pública, sejam realizadas algumas operações bancárias. Quem irá realizar tais operações, na realidade, é o Banco do Brasil, mas utilizando-se da estrutura dos Correios. Veja o que diz a Portaria nº 588/2000 do Ministério das Comunicações:

Art. 2º Os serviços relativos ao Banco Postal caracterizam-se pela utilização da rede de atendimento da ECT para a Prestação de serviços bancários básicos, em todo território nacional, como correspondente de instituições bancárias, na forma definida pela Resolução do Conselho Monetário Nacional de n° 2.707, de 30 de março de 2000.

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João, estelionatário, com o objetivo de abrir uma conta bancária, apresentou documentos falsos junto a um Banco Postal localizado dentro de uma agência dos Correios situada no interior do Estado da Paraíba. Vale ressaltar que os serviços desempenhados neste Banco Postal eram realizados pelo Banco do Brasil S/A, que mantinha contrato com a ECT, sendo esta mera correspondente bancária. A funcionária do Banco Postal percebeu a fraude e acionou a polícia, que efetuou a prisão em flagrante de João. Surgiu, no entanto, uma dúvida: de quem será a competência para julgar este delito? De quem é a competência para julgar crimes praticados em detrimento de Banco Postal? Justiça Estadual. Compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar ação penal na qual se apurem infrações penais decorrentes da tentativa de abertura de conta corrente mediante a apresentação de documento falso em agência do Banco do Brasil (BB) localizada nas dependências de agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que funcione como Banco Postal. Apesar de a ECT ser empresa pública federal, ela presta serviços relativos ao Banco Postal como correspondente bancário de instituições financeiras contratantes, às quais cabe a inteira responsabilidade pelos serviços prestados pela empresa contratada, em consonância com o disposto na Portaria 588/2000 do Ministério das Comunicações e, em especial, na forma da Resolução 3.954/2011 do BACEN, segundo a qual o "correspondente [a ECT] atua por conta e sob as diretrizes da instituição contratante [no caso, o BB], que assume inteira responsabilidade pelo atendimento prestado aos clientes e usuários por meio do contratado [...]". Ora, se cabe à instituição financeira contratante dos serviços (no caso, o BB) a responsabilidade pelos serviços bancários disponibilizados pela ECT a seus clientes e usuários, eventual lesão decorrente da abertura de conta corrente por meio da utilização de documento falso atingiria o patrimônio e os serviços da instituição financeira contratante, e não os da ECT. Tanto é assim que, caso a empreitada delituosa tivesse tido êxito, os prejuízos decorrentes da abertura de conta corrente na agência do Banco Postal seriam suportados pela instituição financeira contratante. Desse modo, não há lesão apta a justificar a competência da Justiça Federal para julgar a ação penal. Cuidado Importante que você não confunda o julgado acima com um precedente de Direito do Consumidor no qual o STJ reconheceu a responsabilidade civil dos Correios por danos sofridos por consumidor dentro do Banco Postal. Veja: A ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que foi assaltado no interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço de banco postal. STJ. 4ª Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015 (Info 559).

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Para fins de competência: JUSTIÇA ESTADUAL (o prejuízo final será do Banco e não dos Correios). Para fins de ressarcimento do consumidor: os Correios podem ser chamados a responder para facilitar

o ressarcimento do consumidor (depois de pagar o consumidor, os Correios podem cobrar do banco). OUTROS TEMAS CORRELATOS: Crime ocorrido em correspondente bancário da Caixa Econômica Federal: Justiça ESTADUAL

(...) 2. No caso, cuida-se de assalto a empresa privada que se caracteriza como correspondente bancário Caixa Aqui, isto é, está credenciado junto à Caixa Econômica Federal e autorizado a fornecer serviços e produtos financeiros, porém, com ela não se confunde. 3. Desse modo, não há falar em ofensa a bens, serviços ou interesses da União a atrair a competência da Justiça Federal. (...) (STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 131.474/MA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/03/2014)

Crime ocorrido em casa lotérica (permissionária da CEF): Justiça ESTADUAL

(...) 1. No caso, não obstante os valores que teriam sido indevidamente apropriados, oriundos de operações financeiras realizadas em casa lotérica, devessem ser repassados para a Caixa Econômica Federal, não há prejuízo para a empresa pública, na medida em que as lotéricas atuam na prestação de serviços delegados pela Caixa mediante regime de permissão, isto é, por conta e risco da empresa permissionária. 2. Assim, fica afastada a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento da causa, porquanto não caracterizada a hipótese prevista no art. 109, inciso IV, da Carta Magna. (...) (STJ. 6ª Turma. RHC 59.502/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 25/08/2015)

(...) No caso, trata-se de roubo praticado contra empresa privada permissionária de serviços bancários da Caixa Econômica Federal. Em se tratando de empresa privada permissionária de serviços bancários da CEF, como é o exemplo de casas lotéricas, juridicamente análogo à presente hipótese, é assente o entendimento de que a simples existência de contrato de permissão dos serviços não pressupõe a lesão a bens, serviços ou interesses da empresa pública, diante de roubo perpetrado contra o particular contratante (...) (STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 137.550/SP, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em 08/04/2015).

NULIDADES Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da administração pública

Importante!!!

Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do Ministério Público de informações bancárias de titularidade de prefeitura municipal para fins de apurar supostos crimes praticados por agentes públicos contra a Administração Pública.

É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas de titularidade da Prefeitura Municipal, com o fim de proteger o patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário.

STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/10/2015 (Info 572).

Veja comentários em Direito Constitucional.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

COFINS Aumento da alíquota da COFINS e sociedades corretoras de seguros

(Obs.: este julgado somente interessa aos candidatos a concursos federais que exijam Direito Tributário de forma mais intensa)

As "sociedades corretoras de seguros" estão fora do rol de entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91. Assim, o aumento de 3% para 4% da alíquota da COFINS promovido pelo art. 18 da Lei nº 10.684/2003 não alcança as sociedades corretoras de seguros.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.400.287-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 572).

Lei nº 10.684/2003 A Lei nº 10.684/2003 aumentou a alíquota da COFINS nos seguintes termos:

Art. 18. Fica elevada para quatro por cento a alíquota da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS devida pelas pessoas jurídicas referidas nos §§ 6º e 8º do art. 3º da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998.

O § 6º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, por sua vez, remete ao § 1º do art. 22 da Lei nº 8.212/91. Assim, o art. 18 da Lei nº 10.684/2003 aumentou a alíquota da COFINS para as entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91:

§ 1º No caso de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros privados e de crédito e entidades de previdência privada abertas e fechadas, além das contribuições referidas neste artigo e no art. 23, é devida a contribuição adicional de dois vírgula cinco por cento sobre a base de cálculo definida nos incisos I e III deste artigo.

As sociedades corretoras de seguros estão incluídas no rol do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91? As sociedades corretoras de seguros sofreram com o aumento da alíquota da COFINS promovida pelo art. 18 da Lei nº 10.684/2003? NÃO. Não cabe confundir as "sociedades corretoras de seguros" com as "sociedades corretoras de valores mobiliários" (regidas pela Resolução BACEN n. 1.655/89) ou com os "agentes autônomos de seguros privados" (representantes das seguradoras por contrato de agência). As "sociedades corretoras de seguros" estão fora do rol de entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei nº 8.212/91. Assim, o aumento de 3% para 4% da alíquota da COFINS promovido pelo art. 18 da Lei nº 10.684/2003 não alcança as sociedades corretoras de seguros.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

AMPARO ASSISTENCIAL Aplicação do art. 34 do Estatuto do Idoso ao benefício requerido por pessoa com deficiência

Importante!!!

Aplica-se o parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), por analogia, a pedido de benefício assistencial feito por pessoa com deficiência a fim de que benefício previdenciário recebido por idoso, no valor de um salário mínimo, não seja computado no cálculo da renda per capita prevista no art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.355.052-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 25/2/2015 (recurso repetitivo) (Info 572).

Benefício mensal de um salário mínimo para pessoa com deficiência ou idoso A CF/88 estabelece, em seu art. 203, V:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...) V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

A fim de dar cumprimento a esse comando constitucional, foi editada a Lei nº 8.742/93 que, em seus arts. 20 a 21-A, disciplinou como seria pago esse benefício. Nomenclatura O art. 20 da Lei nº 8.742/93 denomina esse direito de “Benefício de Prestação Continuada”. Ele também pode ser chamado pelos seguintes sinônimos: “Amparo Assistencial”, “Benefício Assistencial” ou “LOAS”. Em que consiste esse benefício:

Pagamento de um salário-mínimo por mês

à pessoa com deficiência; ou Desde que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

ao idoso com 65 anos ou mais.

Para receber esse benefício, é necessário que a pessoa contribua ou tenha contribuído para a seguridade social? NÃO. Trata-se de um benefício de assistência social, que será prestado a quem dele necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. A assistência social é caracterizada por ser um sistema não-contributivo, ou seja, é prestada independentemente de contribuição.

Quem administra e concede esse benefício? Apesar de o LOAS não ser um benefício previdenciário, mas sim assistencial, ele é concedido e administrado pelo INSS. Vale ressaltar, no entanto, que os recursos necessários ao seu pagamento são fornecidos pela União (art. 29, parágrafo único, da Lei nº 8.742/93). Assim, a competência para julgar ações que discutam esse benefício é da Justiça Federal.

Inacumulável A pessoa que recebe o amparo assistencial não pode receber ao mesmo tempo outro benefício no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória (art. 20, § 4º).

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Renda que a lei considera como sendo insuficiente para subsistência A Lei nº 8.742/93 prevê, no seu art. 20, § 3º:

§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.

Vale ressaltar, no entanto, que esse critério não é absoluto. O Plenário do STF declarou, incidentalmente, a inconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei 8.742/93 (sem pronúncia de nulidade) por considerar que o referido critério está defasado para caracterizar a situação de miserabilidade. O STF afirmou que, para aferir que o idoso ou deficiente não tem meios de se manter, o juiz está livre para se valer de outros parâmetros, não estando vinculado ao critério da renda per capita inferior a 1/4 do salário-mínimo previsto no § 3º do art. 20. STF. Plenário. RE 567985/MT e RE 580963/PR, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgados em 17 e 18/4/2013 (Info 702). Desse modo, como a declaração de inconstitucionalidade foi sem pronúncia de nulidade, o critério definido pelo art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93 continua existindo no mundo jurídico, mas devendo agora ser interpretado como um indicativo objetivo que não exclui a possibilidade de o juiz verificar a hipossuficiência econômica do postulante do benefício por outros meios de prova (STF. 1ª Turma. ARE 834476 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 03/03/2015). É como o STJ também vem decidindo:

(...) O limite legal estabelecido no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 não é critério absoluto, de modo que a necessidade/miserabilidade do postulante pode ser comprovada de outras maneiras. (...) (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1341655/SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 06/08/2013)

(...) A jurisprudência do STJ pacificou-se no sentido de que a limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de provar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para aferir a necessidade, ou seja, presume-se absolutamente a miserabilidade quando demonstrada a renda per capita inferior a 1/4 do salário-mínimo. Orientação reafirmada no julgamento do REsp 1.112.557/MG, sob o rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC). (STJ. 2ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 617.901/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/05/2015)

Desse modo, o que eu queria que você entendesse é que, mesmo após a decisão do STF nos RE 567985/MT e RE 580963/PR, o art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93 continua sendo um dos critérios para se aferir a miserabilidade, sem prejuízo de outros. Assim, na prática, se a renda familiar mensal per capita for superior a 1/4 do salário mínimo e não houver outras provas que atestem a miserabilidade, o benefício assistencial será negado.

Novo § 11 do art. 20 da Lei nº 8.742/93 O legislador, de forma acertada, encampou o entendimento jurisprudencial acima explicado e, por meio da Lei nº 13.146/2015, inseriu o § 11 ao art. 20 da Lei nº 8.742/93 prevendo o seguinte:

§ 11. Para concessão do benefício de que trata o caput deste artigo, poderão ser utilizados outros elementos probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme regulamento.

O que se entende por renda familiar mensal per capita? Como isso é calculado? Normalmente, um assistente social vai até a residência da pessoa que está requerendo o benefício e faz entrevistas com ela e os demais moradores da casa, indagando sobre as fontes de renda de cada, verificando as condições estruturais do lar, os móveis e eletrodomésticos existentes no local etc.

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Após isso, é elaborado um laudo social. A renda familiar mensal per capita é calculada da seguinte forma: soma-se todos os rendimentos dos membros da família que moram na mesma casa que o requerente do benefício e depois divide-se esse valor pelo número de familiares (incluindo o requerente). Ex: Carla (pessoa com deficiência) mora com seus pais (João e Maria) e mais um irmão (Lucas). João e Maria trabalham e ganham um salário mínimo, cada. Cálculo da renda mensal per capita: 2 salários mínimos divididos por 4 pessoas = 2:4). Logo, a renda mensal per capita será igual a 1/2 do salário mínimo. Neste exemplo, a renda familiar mensal per capita será maior do que o teto imposto pelo art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93. Mesmo assim, o juiz poderá conceder o benefício desde que existam outras provas que atestem a miserabilidade da requerente. Não havendo, contudo, tal comprovação, o benefício será negado. O que se entende por família? Para os fins da renda familiar do LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto (art. 20, § 1º). Art. 34, parágrafo único, do Estatuto do Idoso Como vimos acima, o amparo assistencial é um benefício pago aos idosos com mais de 65 anos ou às pessoas com deficiência. Foi dito também que esse benefício está previsto no art. 20 da Lei nº 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social – Loas). Ocorre que o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), norma editada posteriormente, também resolveu tratar sobre o assunto e trouxe a seguinte regra:

Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.

Preste bastante atenção ao que diz o parágrafo único do art. 34:

Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.

O que disse, portanto, o parágrafo único: se o idoso pedir o amparo assistencial e for constatado que alguém de sua família já recebe esse benefício, essa quantia deverá ser excluída da renda familiar per capita. Ex: Maria (65 anos) requereu o amparo assistencial; a assistente social foi até a sua casa e percebeu que lá vivem, além da requerente, João (cônjuge), Pedro, Ricardo e Vitor (filhos). João possui 70 anos e já recebe o LOAS. Pedro ganha 1 salário mínimo enquanto que Ricardo e Vitor não possuem renda. Logo, a renda familiar per capita é de 1 salário mínimo dividido por 5 pessoas, ou seja, a renda familiar per capita é de 1/5 do salário mínimo (inferior, portanto, ao parâmetro do art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/93). O valor recebido por João não entra no cálculo por força do parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso. Repare que, se entrasse, a renda per capita familiar seria superior a 1/4 do salário mínimo. Veja que a regra acima ajuda bastante o idoso que pede o benefício. O parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso pode ser aplicado, por analogia, à pessoa com deficiência que pede o amparo assistencial? Se uma pessoa com deficiência possui em sua família alguém que já recebe o LOAS, é possível excluir esse valor do cálculo da renda mensal per capita, assim como é feito com o idoso? SIM. Aplica-se o parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), por analogia, a pedido de benefício assistencial feito por pessoa com deficiência a fim de que benefício previdenciário recebido por idoso, no valor de um salário mínimo, não seja computado no cálculo da renda per capita prevista no art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/1993.

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Como vimos, esse benefício possui fundamento constitucional (art. 203, V, da CF/88) e a CF/88 não fez distinção de tratamento entre o idoso e o deficiente, tratando-os igualmente. Assim, conclui-se que há uma inaceitável lacuna normativa a desproteger os deficientes vulneráveis, lacuna essa que deve ser suprida com fundamento nos arts. 4º e 5º da LINDB e no parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso. Desse modo, à luz dos princípios da isonomia e da dignidade humana, faz-se necessário aplicar a analogia a fim de que o parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso integre também o sistema de proteção à pessoa com deficiência, para assegurar que o benefício previdenciário, no valor de um salário mínimo, recebido por idoso que faça parte do núcleo familiar não componha a renda per capita prevista no § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/93. RE 580.963-PR Vale ressaltar que o próprio STF já havia declarado a inconstitucionalidade parcial, por omissão, sem pronúncia de nulidade, do art. 34, parágrafo único, da Lei nº 10.741/2003, justamente por ele só prever esse "desconto" para o LOAS requerido pelos idosos, esquecendo-se de tratar das pessoas com deficiência. STF. Plenário. RE 580963/PR, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 17 e 18/4/2013 (Info 702).

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (Promotor MP/BA) No que diz respeito ao momento da consumação do crime de furto, o Supremo

Tribunal Federal adota a corrente da amotio, segundo a qual o furto se mostra consumado quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, mesmo que em curto lapso temporal, independentemente de deslocamento ou posse mansa e pacífica. ( )

2) (Juiz TJ/ES 2012 CESPE) Adota-se, em relação à consumação do crime de roubo, a teoria da apprehensio, também denominada amotio, segundo a qual é considerado consumado o delito no momento em que o agente obtém a posse da res furtiva, ainda que não seja de forma mansa e pacífica. ( )

3) (PGM Salvador 2015 CESPE) O crime de roubo se consuma quando o agente se torna possuidor da coisa subtraída, mediante violência ou grave ameaça, ainda que o objeto subtraído não saia da esfera de vigilância da vítima. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. C