indicadores sociais: instrumento para … · ação, projeto ou programa, ... proteção e...

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1 INDICADORES SOCIAIS: INSTRUMENTO PARA ACOMPANHAMENTO ÀS FAMÍLIAS ASSISTIDAS NOS CRAS DE POÇOS DE CALDAS - MG PENHA, Cintia Bernardes. Eixo Temático: 09 - Gestão Pública e Desenvolvimento Social: Construindo Indicadores RESUMO O presente trabalho objetiva mostrar a importância da criação de um instrumental que contemple indicadores sociais básicos que uma família precisa para ter seus mínimos sociais garantidos, bem como ser um instrumento norteador para acompanhamento familiar que é realizado pelos trabalhadores dos Centros de Referência de Assistência Social, de Poços de Caldas-MG. Objetiva também contar um pouco da experiência que um grupo de técnicos da Secretaria Municipal de Promoção Social, teve ao criar este instrumental. A metodologia de pesquisa utilizada foi estudo de caso, aplicado um questionário elaborado com perguntas estruturadas e teve relato da experiência do pesquisador enquanto participante do grupo. O resultado alcançado foi à criação de um instrumental (Matriz Demanda de Proteção Social), que dará subsídio teórico, técnico e operativo na Gestão da Política Pública de Assistência Social, no que tange ao acompanhamento das famílias em situação e risco e ou vulnerabilidade social. Palavras-Chave: Assistência Social, indicadores sociais. Famílias, vulnerabilidade social, acompanhamento familiar. 1 INTRODUÇÃO A partir da Constituição Federal e da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), a política de assistência social passou a ser respeitada como uma política de proteção social, passando a fazer parte do tripé da seguridade social (Saúde, Assistência Social e Previdência Social), bem como se configura como mecanismo de garantia de um padrão básico de inclusão social às pessoas que dela necessitam. Nesse sentido, ela passou a ser compreendida como direito do cidadão e dever do Estado. Sua definição pode ser encontrada no primeiro artigo da LOAS, LEI Nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

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INDICADORES SOCIAIS: INSTRUMENTO PARA ACOMPANHAMENTO ÀS FAMÍLIAS ASSISTIDAS NOS CRAS DE POÇOS DE CALDAS - MG

PENHA, Cintia Bernardes.

Eixo Temático: 09 - Gestão Pública e Desenvolvimento Social: Construindo Indicadores

RESUMO

O presente trabalho objetiva mostrar a importância da criação de um instrumental que

contemple indicadores sociais básicos que uma família precisa para ter seus mínimos sociais

garantidos, bem como ser um instrumento norteador para acompanhamento familiar que é

realizado pelos trabalhadores dos Centros de Referência de Assistência Social, de Poços de

Caldas-MG. Objetiva também contar um pouco da experiência que um grupo de técnicos da

Secretaria Municipal de Promoção Social, teve ao criar este instrumental. A metodologia de

pesquisa utilizada foi estudo de caso, aplicado um questionário elaborado com perguntas

estruturadas e teve relato da experiência do pesquisador enquanto participante do grupo. O

resultado alcançado foi à criação de um instrumental (Matriz Demanda de Proteção Social),

que dará subsídio teórico, técnico e operativo na Gestão da Política Pública de Assistência

Social, no que tange ao acompanhamento das famílias em situação e risco e ou

vulnerabilidade social.

Palavras-Chave: Assistência Social, indicadores sociais. Famílias, vulnerabilidade social,

acompanhamento familiar.

1 INTRODUÇÃO

A partir da Constituição Federal e da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), a

política de assistência social passou a ser respeitada como uma política de proteção social,

passando a fazer parte do tripé da seguridade social (Saúde, Assistência Social e Previdência

Social), bem como se configura como mecanismo de garantia de um padrão básico de

inclusão social às pessoas que dela necessitam. Nesse sentido, ela passou a ser compreendida

como direito do cidadão e dever do Estado. Sua definição pode ser encontrada no primeiro

artigo da LOAS, LEI Nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

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A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (LOAS, BRASIL, 1993).

No entanto, no segundo artigo da LOAS, a política traz seus objetivos e, percebe-se,

que aqueles mais significativos estão voltados para a proteção à família, à maternidade, à

infância, à adolescência e à velhice. Assim, entendemos que é a política de assistência social

irá assegurar à família em seus diferentes ciclos etários, provisão de uma vida digna, com

segurança de sobrevivência, autonomia e empoderamento político e social. A família, então,

passou a ser a centralidade da política de assistência social. Uma das ações dessa política está

voltada para o acompanhamento das famílias que vivem em situação de vulnerabilidade

social. Este é realizado pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família, PAIF. O

mesmo está preconizado na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais de 2009: O Serviço de Proteção e Atendimento Integral á Família – PAIF - consiste no trabalho com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. (TIPIFICACAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, Resolução Nº 109 de 11 de novembro de 2009).

O PAIF é executado, obrigatoriamente, dentro dos Centros de Referência de

Assistência Social - CRAS. Este, por sua vez, é uma unidade pública socioassistencial que

possui uma equipe de trabalhadores responsáveis pela execução do PAIF, de serviços e

projetos de proteção social básica e pela gestão articulada no território de abrangência, sempre

sob orientação do gestor municipal.

Uma das grandes dificuldades em planejar um método de acompanhamento familiar é

a disposição de um instrumental que contemple as vulnerabilidades da família que se pretende

acompanhar. Através deste instrumento teriam-se informações precisas que auxiliariam no

planejamento de ações voltadas para proporcionar o combate às vulnerabilidades levantadas,

bem como propiciar o provimento dos mínimos sociais à família.

Atualmente, o município de Poços de Caldas, possui 05 (quatro) Centros de

Referência de Assistência Social - CRAS, um em cada região da cidade (Central, Oeste, Leste

I, Leste II e Sul) e um CRAS volante que atende as famílias da zona rural.

Nesse contexto, o objetivo geral deste relato de experiência é mostrar a importância

de um instrumental que contemple indicadores sociais básicos que uma família precisa para

ter seus mínimos sociais garantidos, bem como ser um instrumento norteador para

acompanhamento familiar. O técnico que acompanhará as famílias terá condições de planejar,

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em conjunto com a família um plano de ação cujo irá focar, isto é, trabalhar aquelas

vulnerabilidades específicas apresentadas no instrumental, contribuindo assim, para uma ação

mais especifica e efetiva, em busca de uma melhor qualidade de vida à família.

2 DESENVOLVIMENTO

Indicador Social

De acordo com Jannuzzi (2002, p5), o Indicador Social é uma medida em geral

quantitativa, dotada de significado social substantivo, utilizado para substituir, quantificar ou

operacionalizar um conceito social abstrato. O autor relata que o indicador social é um recurso

metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre o aspecto da realidade social

ou sobre mudanças que estão ocorrendo. Indicadores tem a finalidade de subsidiar as

atividades de planejamento público e formulação de políticas sociais nas diferentes esferas de

governo, bem como possibilita aprofundamento sobre as mudanças sociais e os determinantes

dos diferentes fenômenos sociais.

Jannuzzi (2002, p7) afirma ainda que a seleção de indicadores é uma tarefa delicada,

pois não existe uma teoria formal que permita orientá-la com estrita objetividade. Assim, é

preciso garantir que existe, de fato, uma relação recíproca entre indicando (conceito) e os

indicadores propostos.

No entanto, percebe-se que os indicadores são elementos utilizados para medir

informações quantitativas e qualitativas coletadas durante e/ou após a implementação de uma

ação, projeto ou programa, visando medir resultados e efeitos de sua implantação. Assim, a

construção de uma planilha que contemple vulnerabilidades de uma pessoa e/ou família, tem a

possibilidade de contribuir para a elaboração de um plano.

Para falarmos sobre vulnerabilidades, é preciso conceituá-la: (...) o conceito de vulnerabilidade social requer olhares para múltiplos planos, e, em especial, para estruturas sociais vulnerabilizantes. De tal modo, quando se fala em vulnerabilidade social, é relevante que se compreenda que essa é o estado no qual grupos ou indivíduos se encontram, destituídos de capacidade para ter acesso aos equipamentos e oportunidades sociais, econômicas e culturais oferecidos pelo Estado, mercado e sociedade. (PADOIN, VIRGOLIN,2010, p.01).

Todavia, a vulnerabilidade social, apresenta várias expressões da questão social que

um indivíduo ou família encontra-se naquele momento. Para diminuir essas vulnerabilidades

sociais, a política pública de assistência social desenvolve serviços, programa e projetos que

auxiliam as famílias na sua emancipação enquanto cidadãs de direitos.

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Assistência Social e o trabalho com família

A assistência social é uma política pública de direito a quem dela necessitar. E

segundo Mioto: Quando se assume a assistência social como direito de cidadania, considera-se, por um lado, que o acesso dos indivíduos à assistência social não está prioritariamente vinculado às condições de sua família, mas à sua própria condição. Por outro, se desvincula da idéia de falência da família na provisão de bem-estar. Então é quando a política é pensada no sentido de “socializar antecipadamente os custos enfrentados pela família, sem esperar que a sua capacidade se esgote (MIOTO, 2013, p7e8).

Com isso, a assistência social como política de proteção social configura-se como

mecanismo de garantia de um padrão básico de inclusão social. E para isso uma das funções é

o acompanhamento de pessoas e ou famílias que vivem em situação de vulnerabilidade e ou

risco social. Nesse sentido, Di Giovani: ... entende-se por Proteção Social as formas “institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da vida natural ou social, tais como a velhice, a doença, o infortúnio, as privações (…) neste conceito tanto as formas seletivas de distribuição de bens materiais (como a comida e o dinheiro), quanto os bens culturais (como os saberes), que permitirão a sobrevivência e a integração, sob várias formas na vida social. Ainda, os princípios reguladores e as normas que, com intuito de proteção, fazem parte da vida das coletividades”. Desse modo, a assistência social configura-se como possibilidade de reconhecimento público da legitimidade das demandas de seus usuários e espaço de ampliação de seu protagonismo. (DI GIOVANI, 1998 apud BRASIL, 2004, p.31).

E este trabalho com a família (plano de ação - acompanhamento) é realizado no

equipamento Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, por meio do Serviço de

Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF, que consiste no trabalho social com

famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias,

prevenir a ruptura de vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na

melhoria da qualidade de vida: Vivemos uma época como nenhuma outra, em que a mais naturalizada de todas as esferas sociais, a família, além de sofrer importantes abalos internos tem sido alvo de marcantes interferências externas. Estas dificultam sustentar a ideologia que associa a família à ideia de natureza, ao evidenciarem que os acontecimentos a ela ligados vão além de respostas biológicas universais às necessidades humanas, mas configuram diferentes respostas sociais e culturais, disponíveis a homens e mulheres em contextos históricos específicos (SARTI, 2005. p.21).

Logo, o trabalho com família requer considerar algumas dimensões que ultrapassam as

teorias, como por exemplo o sofrimento da família, suas potencialidades, suas

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impossibilidades que não os permitem serem livres para exercerem seus direitos enquanto

cidadãos, bem como ter acesso aos mínimos sociais. Para que o profissional construa junto

com a família um plano de ação que irá sanar ou diminuir as vulnerabilidades apresentadas, é

preciso que o técnico conheça com propriedade a organização da família. Para Mioto (2008,

p. 134), independente das formas que assume, "a família ainda é o espaço privilegiado na

história da humanidade onde aprendemos a ser e a conviver". A autora ainda acrescenta: É preciso reconhecer a família como um espaço complexo, que se constrói e reconstrói histórica e cotidianamente por meio das relações e negociações que se estabelecem entre seus membros, entre seus membros e outras esferas da sociedade e entre ela e outras esferas da sociedade, tais como Estado, trabalho e mercado. Reconhece-se que, além de sua capacidade de produção de subjetividades, ela também é uma unidade de cuidado e de redistribuição interna de recursos. Tem um papel importante na estruturação da sociedade em seus aspectos sociais, políticos e econômicos e, portanto, não á apenas uma construção privada, mas também pública. (MIOTO, 2008, p. 3).

Levantada essa necessidade, é importante ressaltar aqui, que a atual gestão da

Secretaria Municipal de Promoção Social de Poços de Caldas, tem grande preocupação

quanto ao trabalho que é executado com as famílias nos CRAS. Através desses espaços, um

grupo de trabalhadores criou um sistema que conseguiu acoplar vários indicadores sociais e

que passou a ser instrumento de elaboração do plano de ação, para acompanhamento familiar.

Relato da experiência do pesquisador

Em junho de 2013, a Secretaria Municipal de Promoção Social de Poços de Caldas

iniciou um Seminário com o objetivo de discutir conceitos, métodos e práticas voltados à

política pública de assistência social. Os profissionais que participaram desse seminário eram

trabalhadores dos CRAS, CREAS, gestão e instituições socioassistenciais. A quantidade de

pessoas participantes do seminário era de aproximadamente 40 pessoas.

A forma utilizada para estudo dos conceitos, métodos e prática, foi a criação de

Grupos de Trabalho, com as seguintes temáticas: Indicadores de Vulnerabilidade Social;

Conceito de Família; Conceito de Pobreza, Vulnerabilidade e Empoderamento; O trabalho

com Famílias; Construção de Metodologia Acompanhamento Familiar e Construção de

Metodologia para Grupos Operativos (para público específico - medidas protetivas às famílias

e ou responsáveis de criança, adolescente e idoso).

Com base nos temas levantados, os trabalhadores se dividiram nos grupos de trabalho,

a partir de suas escolhas. Cada trabalhador teve oportunidade e liberdade de escolher em qual

grupo de trabalho iria se inserir. Os grupos de trabalho se reuniram de fevereiro a novembro

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de 2013. No final de novembro de 2013, foi apresentado o resultado final de cada grupo de

trabalho. Meu interesse foi pelo tema Indicadores Sociais. Éramos cinco colegas, 02

assistentes sociais, 02 psicólogos e um pedagogo. O processo foi gerido de forma

participativa e operativa, em que a tarefa principal se constituiu na criação de uma Matriz de

Vulnerabilidade, que objetivou a caracterização das famílias que iriam ser priorizadas pelo

acompanhamento familiar nos serviços de ponta.

Nossos encontros foram uma vez por semana, nos meses de março e abril. Nos meses

de maio e junho, passamos a nos reunir a cada quinze dias. Em julho, demos uma pausa.

Agosto, setembro e outubro, voltamos a nos reunir a cada quinze dias. Com isso no final de

outubro já estávamos com nosso "produto" pronto.

Nos primeiros encontros, o grupo discutiu o conceito de indicadores sociais, sua

relevância, seus objetivos e também fontes de onde encontrar indicadores sociais. O grupo

teve como fonte bibliográfica norteadora o artigo: "EL EMPODERAMIENTO DE LAS

FAMILIAS DE EXTREMA POBREZA A TRAVES DEL PROGRAMA PUENTE", do professor

Luciano Tomassini e a aluna María Isabel Alvarez, da Universidade de Consepción, no Chile.

Este artigo apresenta relatos do "Programa Puentes". O Programa Ponte é um programa de

política social destinada à extrema pobreza, que começou no Chile, em 2002, pela vontade do

governo. Ele foi elaborado em primeiro lugar para melhorar a qualidade de vida de seus

beneficiários e de outra forma promover a sua autonomia ou auto valencia. Outra fonte

utilizada foi o artigo de Jannuzzi, "Considerações sobre o uso, mau uso e abuso dos

indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas municipais".

Por meio desses levantamentos de dados, nos demais encontros, o grupo iniciou um

estudo sobre os mínimos sociais: o que são esses mínimos sociais e no que eles são

referenciados. O grupo chegou à conclusão que os mínimos sociais são garantias que

asseguram as necessidades básicas de uma pessoa e/ou família que se apresenta em

vulnerabilidade social. Essas necessidades estão baseadas na alimentação, moradia, higiene,

educação, saúde, trabalho, renda e também no processo do perfil familiar, como por exemplo,

relações afetivas, relações com a comunidade, entre outros.

Após esse conceito de mínimos sociais, o grupo de trabalho levantou 05 (cinco)

dimensões importantes para apresentar, para que a partir delas fossem desenvolvidos, de

forma organizada, os indicadores. As dimensões foram: Perfil Familiar, Educação, Saúde,

Habitação, Trabalho e Renda. Esse foi o momento mais tenso do grupo, pois levantar

indicadores gerou grande discussão e desgastes. Afinal, como eleger o indicador social mais

relevante para cada item? A concepção de vulnerabilidade foi estabelecida pelo grupo dentro

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de seu manifesto no campo relacional familiar, sendo composta pela privação, isolamento,

pobreza e violências egressas do ciclo intergeracional de exclusão social, o qual as famílias

que necessitam do apoio da assistência social vivenciam no cotidiano.

Percebendo o desgaste na discussão, o grupo resolveu dividir as dimensões entre os

técnicos. Cada técnico ficou responsável por levantar indicadores sociais para cada dimensão

criada. Alguns indicadores foram corelacionados e extraídos órgãos responsáveis como por

exemplo: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome - MDS, Instituto de

pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,

Ministério da Saúde e Ministério da Educação. Mas muitos indicadores foram criados pelos

próprios técnicos a partir de estudos teóricos e experiências práticas. Os técnicos tiveram

vinte dias para fazer esse levantamento e após esse tempo, o grupo se reuniu e apresentou um

levantamento de 143 indicadores socais. Chegou a hora de o grupo selecionar e/ou acoplar

dois ou mais indicadores.

Nesse momento o grupo percebeu que os indicadores repetiam entre as dimensões, o

que demonstrou a capacidade integrativa do instrumental, o que foi percebido de forma

positiva pelo grupo. Isso foi motivo de alegria entre os técnicos, demonstrando que ambos

tinham conseguido coletivamente entender o conceito de indicadores sociais e sua

importância na construção de um instrumental. O grupo discutiu cada indicador, sua função e

operação em cada dimensão. Com relação aos que eram parecidos ou contabilizavam a

mesma vulnerabilidade em mais de um item, foi discutido qual seria o indicador mais amplo e

adequado para permanecer.

No final da discussão, o grupo chegou ao total de 47 (quarenta e sete) indicadores

sociais. Alguns dos indicadores levantados foram:

-Famílias em situação de violência intrafamiliar e/ou de âmbito doméstico (criança,

adolescente, mulher, idoso, deficiente); famílias com membros que se encontram em situação

de morte; famílias em descumprimento das condicionalidades do Programa Bolsa Família;

-Famílias com um ou mais de seus membros não alfabetizados; famílias não inseridas em

programas de transferência de renda, que se encontram dentro dos critérios de elegibilidade;

-Famílias vivendo com renda per capta inferior a R$ 70,00; famílias vivendo em moradias

ocupadas, cedidas ou alugadas; famílias com um ou mais membros que fazem uso de álcool

e/ou outras drogas ilícitas.

Após o levantamento dos 47 indicadores sociais, o grupo lançou-os na planilha do

Excel. A próxima etapa foi criar uma descrição do que seria cada indicador, visando construir

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uma concepção única para interpretar o dado a ser mensurado. Cada técnico se

responsabilizou em elaborar a descrição dos indicadores criados.

Após esta tarefa foi criado para cada indicador uma legenda de gradação (se aplica,

baixo, médio ou alto), tendo como função ampliar as possibilidades e garantir a capacidade de

priorização da Matriz e sua funcionalidade, de acordo com os riscos e as orientações para a

inclusão da família nos diferentes níveis de proteção social. Para isso, o grupo recorreu a

Tipificação dos Serviços Socioassistencias e outras bibliografias, chegando à conclusão que

os indicadores que apresentavam violação de direitos, instaladas com baixa capacidade da

família de garantir sua função protetiva, estariam alocados no índice alto (peso 1,0). O índice

médio (peso 0,5) apresentava situações constantes e graves, mas havia potencialidades na

família que contribuiriam para sanar a determinada vulnerabilidade. Já o índice baixo (peso

0,1) apresentava situações ocasionais, em que a família apresentava vínculo e potencialidades

de enfrentamento.

Assim, a planilha foi estruturada, sendo desenvolvida com fórmulas no Excel que

proporcionaram uma tabulação dos indicadores sociais, evitando que o técnico realizasse

somas manuais. A Matriz planificada no Excel ficou autoexplicativa e automatizada. Ao

preencher os indicadores sociais, observados na família (família inserida no acompanhamento

familiar - PAIF), a planilha classificava por nível de vulnerabilidade, se a família estava no

nível, baixo, médio ou alto, nas respectivas dimensões observadas.

A partir desta classificação, a Matriz proporciona subsídios para nortear os técnicos da

assistência social na formulação de um plano de ação, para um acompanhamento mais

eficiente e eficaz ao combate das vulnerabilidades da família. A partir de publicações do

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome - MDS, o acompanhamento

familiar “consiste no desenvolvimento de intervenções realizadas em serviços continuados,

com objetivos estabelecidos, que possibilitem à família o acesso a um espaço onde possa

refletir sobre sua realidade, construir novos projetos de vida e transformar suas relações,

sejam elas familiares ou comunitárias.” (Prontuário do SUAS - MDS 2013.)

Após a construção desta planilha, o grupo denominou este instrumental de Matriz de

Vulnerabilidade. Em seguida, iniciou um processo de capacitação junto aos técnicos dos

CRAS, CREAS e instituições socioassistencias, para mostrar como utilizar a Matriz e suas

funcionalidades.

A partir de Janeiro de 2014, o instrumental, Matriz de Vulnerabilidade, passou a fazer

parte do trabalho dos técnicos do CRAS e CREAS. Assim, uma pessoa e/ou família, quando

inserida no PAIF, imediatamente é aplicado este instrumental. É importante relatar que, desde

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a sua implementação, a matriz já foi revisada por duas vezes. Isso demonstra o

comprometimento que os técnicos estão tendo em sua utilização e monitoramento de um

instrumental que encontra-se em avaliação.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões teóricas e os relatos de experiência demonstraram que o indicador social

é medida quantitativa, porém que agrega significados sociais. Logo, ele é um recurso

metodológico capaz de quantificar aspectos de vulnerabilidades sociais que uma família

expressa num dado momento.

Com isso acoplar indicadores sociais que perpassam dentro dos mínimos sociais que

uma família precisa para sobreviver foi uma ideia que surgiu de um grupo de trabalhadores da

Secretaria Municipal de Promoção Social de Poços de Caldas-MG (SMPS). É importante

ressaltar que este grupo de trabalhadores se formou enquanto grupo de trabalho Indicadores

Sociais, oriundo de seminários promovidos pela atual gestão.

Através do grupo de trabalho Indicadores Sociais, nasceu uma Matriz de

Vulnerabilidades Sociais, a qual tem servido de instrumento para que o técnico do SUAS,

mais especificamente os técnicos dos CRAS tenham uma visão geral das vulnerabilidades da

família. Por meio dessa matriz, o técnico tem subsídios para priorização de casos mais graves

sobre níveis de complexidade e sobre encaminhamentos para os serviços, programas e

projetos de retaguarda para o acompanhamento familiar sistemático e contínuo.

Proporcionado assim uma maior efetividade quanto a minimização das questões sociais

levantadas na família, fazendo com que a mesma acesse seus mínimos sociais e obtenha uma

melhor qualidade de vida.

A matriz está sendo utilizada pelos profissionais técnicos dos Centros de Referência de

Assistência Social - CRAS que desenvolvem Serviço de Proteção e Atendimento Integral à

Família - PAIF. Após a implementação da matriz como instrumental, a mesma já passou por

duas revisões, inclusive em seu nome, hoje ela é chamada de Matriz Demanda de Proteção

Social. Isso demonstra o comprometimento que os técnicos estão tendo na utilização deste

instrumental e monitoramento de um instrumental que se encontra em avaliação. Como

sugestão para pesquisa futura, sugere-se a real aplicabilidade e efetividade deste instrumental.

4 REFERÊNCIAS

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BRASIL (2004). Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social (PNAS) - Brasília, Secretaria Nacional de Assistência, 2004. BRASIL, Resolução Nº 109 de 11 de novembro de 2009, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília, 2009. BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS – NOB/RH/SUAS. 2006. BRASIL, Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Prontuário SUAS. Brasília, 2013. Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/atendimento/auth/index.php. Acessado em 10.04.2013 CARNEVALLI, Miguel. Desenvolvimento da pesquisa de campo, amostra e formulário para realização de um estudo tipo survey sobre a aplicação do QFD no Brasil. Santa Bárbara do Oeste: UNIMEP, 2001. Disponível em: http://etecagricoladeiguape.com.br/projetousp/Biblioteca/ENEGEP2001_TR21_0672. pdf> Acesso em 18 de novembro de 2013. CESAR, Ana Maria Roux Valentini Coelho. Método do Estudo de Caso (Case Studies) ou Método do Caso (Teaching Cases)? Uma análise dos dois métodos no Ensino e Pesquisa em Administração. 2006. Disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCSA/remac/jul_dez_05/06.pdf. Acessado em: 21.04.2014 JANNUZZI, P. M. Considerações sobre o uso, mau uso e abuso dos indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas municipais. Revista do Serviço Público. Brasília: ENAP, 2002. MIOTO, Regina Célia Tamaso. Famílias e Famílias Práticas e Conversações Contemporâneas. (Organizadores: DUARTE, Marco José de Oliveira; ALENCAR, Mônica Maria Torres de). Ed.Lumen Juris 3° edição, Rio de Janeiro, 2013, p. 07 e 08. POÇOS DE CALDAS (MG). Lei Ordinária nº. 8582, de 10 de agosto de 2009. Oficializa e denomina os Centros de Referência de Assistência Social. <Disponível em: http://pocosdecaldas.mg.gov.br/leis/leisordinarias/leisordinarias_8582.pdf> Acessado em 01 de jul. 2014. SILVA, Maria Jacinta. A centralidade da família na Política de Assistência Social: contribuições para o debate. In: Revista de Política Pública. São Luis: EDUFMA, v. 8, n. 1, jan. / jun. 2004. SARTI, Cynthia Andersen. A Família como Espelho: Um estudo sobre a moral dos pobres. 4. ed. – São Paulo: Cortez, 2005. TOMASSINI, L. ÁLVAREZ, M. I. EL EMPODERAMIENTO DE LAS FAMILIAS DE EXTREMA POBREZA A TRAVES DEL PROGRAMA PUENTE Análise de resumos nas dissertações de mestrado em Política e Governo da Universidad de Concepcón, Chile, 2006.