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VIII PRÊMIO TESOURO NACIONAL DE MONOGRAFIA Tema: Dívida Pública INDICADORES ESTOCÁSTICOS DE RISCO NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA (Retirado pela Esaf) outubro de 2003

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VIII PRÊMIO TESOURO NACIONAL DE MONOGRAFIA

Tema: Dívida Pública

INDICADORES ESTOCÁSTICOS DE RISCO NO PROCESSO

DE PLANEJAMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA

(Retirado pela Esaf) outubro de 2003

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO .......................................................................................................3

2 – PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA DÍVIDA PÚBLICA.........4

2.1- Aspectos teóricos da relevância do gerenciamento ativo da Dívida Pública ....5

2.2- Processo geral de planejamento estratégico da dívida pública ........................8

3 - INDICADORES DE RISCO DA DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL - DPF ...................14

3.1- Indicadores financeiros tradicionais da Dívida Pública...................................15

3.2 - Breve descrição dos indicadores estocásticos ..............................................17

3.3 - Geração dos Cenários Estocásticos..............................................................18

3.4 - Cost-at-Risk - CaR.........................................................................................22

3.5 - Precificação dos títulos na simulação do refinanciamento do CaR ...............25

3.6 - Cash-flow at Risk - CfaR ...............................................................................29

3.7 - Budget-at-Risk - BaR.....................................................................................30

4 - RESULTADOS EXPERIMENTAIS.......................................................................31

4.1 - Calibração dos Parâmetros do Modelo..........................................................32

4.2 - Estimação do parâmetro de risco λ ...............................................................35

4.3 - Cost-at-Risk - CaR........................................................................................36

4.4 - Cash-flow at Risk - CfaR ...............................................................................44

4.5 - Budget-at-Risk...............................................................................................45

4.6 – Indicadores estocásticos de risco como parte do processo decisório do

planejamento estratégico.......................................................................................47

4.7) Limitações do modelo e sugestões de melhoria.............................................51

5 - CONCLUSÕES ....................................................................................................52

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................54

ANEXO 1 - Metodologia de Cálculo das Estatísticas da DPF ...................................56

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ANEXO 2 - Gráficos do CaR (2004)..........................................................................58

ANEXO 3 - Gráficos do Cash-Flow at Risk – CfaR ...................................................59

ANEXO 4 - Tabelas do Budget-at-Risk - BaR ...........................................................60

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1 - INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o tema "dívida pública" vem ganhando crescente

importância, tanto por parte dos governos e organismos internacionais, como no

meio acadêmico. A principal razão para esse interesse são os efeitos perversos de

um elevado endividamento público sobre o nível de atividade econômica, o que vem

sendo sentido em diversos países.

Nesse contexto, um dos temas mais relevantes é o gerenciamento de risco de

dívida pública. Apesar de a mais importante contribuição da literatura econômica

para o tema, a “Equivalência Ricardiana”, afirmar a irrelevância de uma

administração ativa do passivo público, este trabalho contesta a assertiva,

demonstrando que uma administração ativa é, de fato, relevante. Por conseqüência,

o planejamento estratégico e o gerenciamento de riscos também se tornam tarefas

muito importantes.

Pode-se afirmar que as principais ferramentas para o planejamento

estratégico, e para o gerenciamento de riscos de dívida pública são os indicadores

econômico-financeiros, dentre os quais encontram-se os do tipo estocástico, bem

como, os objetivos gerais da administração do passivo público, que podem ser tanto

definidos pelo Ministro da Fazenda, como por meio de referenciais previamente

discutidos e aprovados, também chamados de Benchmarks.

Nesse sentido, este trabalho visa verificar a aplicabilidade dos indicadores

estocásticos de risco, classe especial dos indicadores econômico-financeiros, no

processo de planejamento de dívida pública, explicitando suas limitações, e

propondo aperfeiçoamentos ao modelo.

O trabalho está dividido em três partes. Na primeira (capítulo 2) é

apresentado o processo geral de planejamento estratégico, onde são discutidos os

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principais conceitos teóricos envolvidos no debate sobre dívida pública, quando se

mostrará a inaplicabilidade prática da Equivalência Ricardiana. Após a breve

fundamentação teórica, é apresentado o processo geral de planejamento estratégico

de dívida pública, onde as principais questões são discutidas.

Na segunda parte (capitulo 3) é apresentado o modelo teórico do

gerenciamento de risco atualmente utilizado, bem como, discutidos os seus

principais indicadores. Nessa seção, há uma ênfase na descrição dos indicadores

estocásticos, como poderá ser constatado.

A terceira seção (capítulo 4) trata do exercício onde será ilustrado como os

indicadores são utilizados, bem como, sua importância no processo de análise de

estratégias de refinanciamento. O exercício se baseia na simulação de seis

diferentes estratégias de refinanciamento, cada qual, com uma porcentagem de

Letras Financeiras do Tesouro – LFT, e de Letras do Tesouro Nacional - LTN, que

devido às suas características, apresentarão resultados distintos. Ao final do

capítulo, demonstra-se o papel dos indicadores estocásticos no processo decisório

de planejamento estratégico de dívida pública, além de apresentar as limitações

encontradas no modelo, e propor sugestões de aperfeiçoamento.

2 – PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA

DÍVIDA PÚBLICA

O debate geral sobre o processo de planejamento estratégico da dívida

pública pode ser dividido em dois tópicos igualmente importantes: a) a

fundamentação teórica que justifica o gerenciamento ativo da Dívida Pública, e b) o

processo geral de planejamento estratégico de dívida pública, onde são

apresentados os principais debates sobre o tema.

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2.1- Aspectos teóricos da relevância do gerenciamento ativo da

Dívida Pública

Há na literatura econômica pelo menos duas abordagens distintas a respeito

do impacto da alteração dos impostos, ou do nível de endividamento do Governo, na

demanda agregada da sociedade.

A primeira abordagem, baseada no paradigma Keynesiano tradicional,

entende que uma redução da carga tributária que impactasse o nível de

endividamento, teria um efeito positivo e imediato sobre o consumo dos agentes,

afetando a demanda agregada da Sociedade.

Já a segunda abordagem, conhecida como "Equivalência Ricardiana",

defende, a partir de algumas hipóteses, que os agentes não alterariam a sua

decisão de consumo atual, em razão de uma redução da carga tributária que

elevasse o nível de endividamento do Setor Público, já que um aumento do nível de

endividamento hoje, corresponderia a uma elevação da carga tributária no futuro.

Em vista disso, os agentes poupariam o excedente, com o objetivo de compensar a

futura carga tributária mais elevada. Nesse sentido, seria irrelevante a decisão entre

elevar impostos ou o nível do endividamento público, e um gerenciamento ativo da

Dívida Pública seria irrelevante.

Pode-se afirmar então que a discussão sobre a importância do gerenciamento

ativo da Dívida Pública, bem como, a forma como ele deve ser realizado, passa pelo

relaxamento das hipóteses da Equivalência Ricardiana.

Há três condições, das quais, a Equivalência Ricardiana depende: a) os

agentes devem possuir um horizonte infinito de planejamento, b) devem existir

mercados completos e, c) os impostos são não distorcivos (Lump Sum Taxes).

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Outro importante conceito utilizado na discussão da relevância de uma gestão

ativa de Dívida Pública é o de Tax Smoothing. Segundo este conceito, uma

estratégia de Tax Smoothing minimizaria o valor presente dos custos relacionados à

tributação, sendo assim a estratégia que otimizaria os resultados tributários.

Considerando a inexistência de Lump Sum Taxes1, além da característica de

convexidade da função de peso morto, pode-se afirmar que a estratégia de Tax

Smoothing é aquela que otimiza a distribuição intertemporal dos tributos.

Assim, estabelece-se uma relação entre a distribuição dos impostos no tempo

e o nível do endividamento público, o que enfraquece sensivelmente a hipótese de

Equivalência Ricardiana, concluindo-se que, ao contrário do que a Equivalência

Ricardiana afirma, o gerenciamento ativo da Dívida Pública é, de fato, relevante.

Entretanto, a principal dificuldade da adoção de uma estratégia tributária de

Tax Smoothing é a incerteza relacionada às variáveis econômicas que afetam o

resultado financeiro do Governo. Dessa forma, o acompanhamento de algumas

variáveis econômicas, como o nível das taxas de juros, do Produto Interno Bruto -

PIB, além das receitas e despesas do Governo também se torna relevante.

Dado a incerteza dessas variáveis, manter uma estratégia de Tax Smoothing

entre diferentes "estados-da-natureza", e entre diferentes períodos, se tornauma

tarefa bastante complexa.

Assim, o gestor de Dívida Pública deve buscar uma estratégia de

endividamento, via alteração na composição da Dívida Pública, que reduza o risco

de alterações inesperadas no orçamento, decorrentes da incerteza de algumas

variáveis econômicas, dentro de uma estratégia de Tax Smoothing.

1 A principal característica desse tipo de tributo é ser não distorcivo.

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O problema passa a ser então encontrar os instrumentos que imunizem as

flutuações das variáveis econômicas (variáveis aleatórias), evitando alterações

inesperadas nos impostos. Evidentemente, a natureza e a magnitude dos choques

nas variáveis econômicas são muito importantes, e devem ser particularmente

analisados2.

Há ainda duas outras importantes discussões em relação à Dívida Pública,

considerando seu o poder de sinalização quanto à credibilidade da atuação do

Governo, bem como, sua utilização como fator de correção de imperfeições de

mercado (mercados incompletos).

A discussão sobre o poder de sinalização da atuação do Governo no

gerenciamento da Dívida Pública refere-se à utilização de instrumentos de

endividamento visando transmitir a idéia de comprometimento com objetivos de

política econômica. Um caso exemplar seria o da emissão de títulos indexados à

inflação em um regime de metas de inflação, ou de títulos cambiais em um regime

de câmbio fixo.

Pode-se afirmar que esse tipo de política de endividamento traz alguns

problemas para o gestor de Dívida Pública, já que cria restrições adicionais à

determinação de uma composição ótima, além de poder sinalizar, até mesmo o

contrário do desejado, em situações específicas.

Em relação à utilização da Dívida Pública para corrigir distorções de mercado,

considerando que mercados incompletos são geralmente ineficientes, há na

literatura justificativa teórica para alguma forma de intervenção, já que estruturas

adequadas de Dívida Pública e de estrutura tributária poderiam reduzir a ineficiência

do Mercado, via compartilhamento de riscos. 2 Há grande produção de trabalhos empíricos nos Debt Offices de vários países, onde se tenta identificar quais são os choques mais importantes para cada país, e a partir dessa informação, qual seria a estrutura ótima de Dívida Pública.

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O principal questionamento sobre essa teoria diz respeito à dúvida sobre a

possibilidade do Governo estar sujeito às mesmas restrições que geraram

inicialmente a incompletude do Mercado.

Dessa forma, ao se relaxar as hipóteses da Equivalência Ricardiana, verifica-

se a relevância da Política de Endividamento do Governo. Nesse sentido, o gestor

da Dívida Pública deve buscar, no longo prazo, uma composição do passivo público

que esteja em sintonia com o paradigma de Tax Smoothing.

2.2- Processo geral de planejamento estratégico da dívida pública

O planejamento estratégico da dívida pública se refere, de forma sistêmica, a

todas as atividades relacionadas ao processo de refinanciamento do passivo do

Governo, sob o paradigma geral de minimização dos custos de longo prazo, sujeitos

a níveis prudentes de risco.

Antes de aprofundar as discussões sobre o processo teórico geral de

planejamento estratégico, cabe salientar que nem todos os países seguem as

diretrizes expressas, normalmente em função do arcabouço macroeconômico

desfavorável.

De forma geral, o processo de planejamento de dívida pública é elaborado a

partir de alguns passos bem definidos:

• a análise da estrutura atual do portifólio do Governo; • determinação da estrutura desejável para este portifólio, em algum horizonte

temporal desejado; • estimação dos cenários macroeconômicos prováveis, incluindo também a

previsão das receitas e despesas do Governo para o período em análise; • elaboração de estratégias visando refinanciar a necessidade líquida de caixa

do governo; • escolha da estratégia que melhor atenda às necessidades do governo, de

acordo com alguma função objetivo pré-estabelecida • implementação do proposto; • reprogramação mensal e anual; • avaliação do desempenho da estratégia.

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A primeira dificuldade com a qual o gestor de dívida pública se depara é a

determinação da abrangência a ser utilizada para o seu portifólio, já que se pode

analisar somente os passivos públicos (dívida pública), ou, alternativamente, os

ativos e passivos de forma integrada, abordagem conhecida internacionalmente

como Assets and Liabilities Management – ALM. De forma geral, parece haver

consenso na literatura de dívida pública de que esta segunda abordagem é mais

adequada, tendo em vista que explicita o endividamento líquido do Governo.

Definida a abrangência, o passo seguinte é a seleção dos ativos e passivos

que devem compor aquela carteira. De forma geral, são incluídos todos os passivos

públicos, e os ativos financeiros cujos recursos sejam direcionados para o

abatimento da dívida pública.

A próxima etapa é a seleção das variáveis de controle adequadas à avaliação

do portifólio. Tendo em vista que o objetivo principal de dívida pública se expressa

na minimização de custos e de riscos, devem ser adotadas métricas que avaliem a

carteira do Governo, segundo essas restrições.

Em geral, os principais riscos monitorados são os riscos de valor, de

refinanciamento (expresso em termos de concentração de vencimentos, redução

sistêmica dos prazos de vencimentos, e de variação do fluxo de caixa esperado), de

crédito (dos ativos), orçamentário, de fatores contingentes, legais, além de outros

específicos.

Definidas as métricas de avaliação do portifólio, o gestor ainda se depara com

algumas definições fundamentais para a correta elaboração de estratégias de longo

prazo. A primeira é a determinação da forma como o valor dos ativos e dos passivos

será calculada. As metodologias principais são a “Marcação a Mercado” – MtM (do

inglês Mark-to-Market), que se refere à utilização do preço de mercado dos ativos e

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passivos, e a outra, o cálculo do valor da carteira por apropriação, segundo um

critério de competência de exercícios, onde o valor da carteira é calculado

incorporando periodicamente a parcela de juros incorridos no período. Não há um

consenso sobre o tema, mas acredita-se que a primeira alternativa parece ser a

mais apropriada, já que será por esse valor que os ativos e passivos serão

efetivamente negociados.

Outra definição importante é a adoção de variáveis nominais ou reais,

conforme a análise que estiver sendo implementada. No caso de estratégias de

curto prazo, análises em termos nominais parecem ser mais adequadas, já que

envolvem restrições expressas dessa forma. Por outro lado, acredita-se que

variáveis reais são mais apropriadas para o planejamento de longo prazo.

Com a abrangência da análise, e as métricas definidas, o passo seguinte é a

determinação da estrutura desejada para a carteira, conforme horizonte de tempo

determinado.

Pode-se afirmar que o Governo pode adotar horizontes de planejamento de

longo (mais de cinco anos), médio (entre um e cinco anos), curto (até um ano) e

curtíssimo (entre um e três meses) prazos, dependendo dos objetivos a serem

alcançados, e de restrições que impeçam o alongamento do horizonte de

planejamento (do curto para o longo prazo).

De forma geral, o planejamento de prazo mais curto submete-se àquele de

prazo mais longo, desviando-se apenas em função da impossibilidade de execução

do que foi inicialmente previsto.

Distintamente dos planejamentos de médio e de longo prazos, que têm por

objetivo atingir o perfil desejado para a dívida pública, os planejamentos de curto e

de curtíssimo prazos, apesar de seguirem as diretrizes expressas por aqueles,

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normalmente deparam-se com necessidades específicas, que agem no sentido de

desviar o planejamento em elaboração, do inicialmente previsto. Assim, um dos

grandes desafios para os gestores de dívida pública é a composição dos interesses

de longo prazo, com as restrições de curto prazo, especialmente em períodos de

grande volatilidade das variáveis macroeconômicas, quando o horizonte de

planejamento se reduz drasticamente, ou, no caso de economias menos

desenvolvidas, na ausência de um horizonte macroeconômico suficientemente

longo, que viabilize o planejamento3.

Quanto à composição desejada, há algumas maneiras de se obter as

características de um portifólio de longo prazo que sirva como referência para os

formuladores de estratégia. Conforme visto no capítulo anterior, esses referenciais

são chamados de benchmarks, e norteiam as estratégias de endividamento.

Cabe salientar a diferença do benchmark e da estratégia de longo prazo.

Enquanto que o benchmark é uma composição desejável, em um horizonte temporal

determinado (em geral, de longo prazo), a estratégia de longo prazo é o meio

utilizado para, a partir da composição atual do portifólio do Governo, atingir aquela

composição desejada.

O principal desafio para os gestores de dívida pública nessa etapa é a

determinação da composição do portifólio desejável, bem como, dos instrumentos e

prazos utilizados para atingir os objetivos. Os principais debates em relação à

composição da dívida referem-se à utilização de divida interna ou dívida externa, e

no caso da dívida interna, de instrumentos com juros prefixados ou pós-fixados,

além da adoção de instrumentos especiais para outros objetivos de política

econômica, como os títulos referenciados em moeda estrangeira, também chamados

3 Cabe ressaltar que a estimação do que possa ser uma economia de steady-state no Brasil, é atualmente uma tarefa muito complexa, dificultando a elaboração de estratégias de mais de dois anos.

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de cambiais, ou de títulos indexados à inflação, que no longo prazo seriam

equivalentes à titulos prefixados (se analisados em termos de variáveis reais).

Definida a composição desejável, deve-se estimar os cenários esperados, por

meio de modelos macroeconômicos que incorporem as variáveis relevantes para a

dívida pública, bem como, as receitas e despesas futuras do Governo. Acredita-se

que se o horizonte de tempo for superior a um ano, que variáveis em termos reais

possam ser mais adequadas que as nominais.

O passo seguinte é a elaboração das alternativas de refinanciamento do

passivo público. Os principais insumos são a composição desejável no longo prazo,

os vencimentos de dívida pública, e as receitas e despesas do Governo, simulados a

partir dos cenários macroeconômicos. Além disso, é estimada a demanda dos

títulos, tanto em termos de volume financeiro, quanto de prazos dos instrumentos.

De posse desses insumos, calcula-se a necessidade líquida de recursos do

Governo, que, em princípio, expressará o quanto deverá ser refinanciado. Em

seguida, avalia-se a demanda de mercado em termos de volume, instrumentos e

prazos, e propõe-se diferentes estratégias que captem os recursos necessários,

visando suprir a necessidade de caixa do Governo.

Cabe salientar que a parte da estratégia referente ao curto prazo deve ser

melhor detalhada, visando incorporar os aspectos de caixa, liquidez de mercado,

demanda real por títulos, entre outras.

Durante o processo de planejamento estratégico, o gestor de dívida pública

se depara com dificuldades tanto de longo, como de curto prazos. A principal

dificuldade do planejamento de longo prazo se refere à necessidade de um horizonte

macroeconômico de longo prazo bem definido, o que em muitos países em

desenvolvimento, inclusive o Brasil, não é possível de se obter. A consequencia

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imediata é o aumento da incerteza, o que acaba redundando no “encurtamento” do

planejamento para um horizonte mais definido, normalmente de curto-prazo..

Já no curto prazo, o principal desafio para os gestores de dívida é conciliar os

objetivos de longo prazo, com as limitações estimadas da demanda, caixa, liquidez,

entre outras, o que muitas vezes é uma tarefa que não pode ser realizada.

O passo seguinte é a seleção da estratégia a ser implementada. Cabe

salientar que o foco desta monografia é justamente esta etapa do processo de

planejamento, onde será escolhida a estratégia a ser implementada, por meio de

indicadores financeiros, e estocásticos de risco.

De forma geral, o gestor de dívida pública escolhe as estratégias de

financiamento que apresentem o menor custo financeiro, mas que não exponham

demasiadamente o Governo a certos tipos de risco, em especial, o risco de valor, o

de refinanciamento (nas suas três modalidades), além do risco orçamentário.

Visando mensurar adequadamente esses riscos, foram desenvolvidas

métricas específicas, que são utilizadas no processo de decisão entre diferentes

alternativas de estratégia, e que serão analisadas com mais detalhes no capítulo 3.

Em relação ao risco de valor, são analisados simultaneamente a composição

da dívida, por fator de remuneração, o valor do estoque ao final de um período

arbitrário. Além disso, alguns países utilizam um indicador especial que fornece, não

só o valor da perda, mas a probabilidade de ocorrência do evento indesejado pelo

Governo, e que é chamado de Cost-at-Risk (CaR).

Visando minimizar os riscos relacionados ao processo de refinanciamento, os

Governos utilizam três indicadores distintos: o prazo médio, o percentual de

vencimentos em até 12 meses, e o Cash-flow at Risk-CfaR

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O último dos indicadores estocásticos utilizados no processo de planejamento

estratégico é o Budget-at-Risk – BaR. Essa métrica mensura a probabilidade do

valor orçado, e aprovado pelo Congresso Nacional, ser extrapolado, o que poderia

gerar problemas legais para o Governo.

Com base nesses indicadores, o gestor de dívida pública decide pela

estratégia que melhor atenda às necessidades do Governo, em termos de custos e

riscos. Deve-se salientar que há certa discricionariedade, devido à fatores subjetivos

indissociáveis do processo.

Escolhida a estratégia, passa-se à etapa de execução do planejado. Tendo

em vista as restrições de curto prazo, há uma reprogramação de curtíssimo prazo

que visa incorporar as restrições exógenas, às diretrizes do planejamento.

Finalmente, é realizada a avaliação do que foi executado, em comparação

com o inicialmente planejado, visando analisar as alterações na estratégia prevista,

sob o ponto de vista do gerenciamento de risco, e do planejamento estratégico. Na

medida do possível, as próximas reprogramações deverão atuar visando restaurar o

inicialmente previsto.

3 - INDICADORES DE RISCO DA DÍVIDA PÚBLICA

FEDERAL - DPF

O gestor de Dívida Pública dispõe de dois tipos distintos de medidas de risco

para a gestão do passivo público: a) os indicadores financeiros tradicionais e, b) os

indicadores estocásticos, também conhecidos como indicadores "at-risk". O segundo

grupo se distingue do primeiro por acrescentar uma informação adicional ao valor

informado: o grau de confiança do resultado encontrado.

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3.1- Indicadores financeiros tradicionais da Dívida Pública

O Tesouro Nacional divulga mensalmente diversos indicadores econômico-

financeiros da Dívida Pública Federal - DPF, que funcionam como sinalizadores da

exposição do Governo Federal junto ao Mercado.

Além dos indicadores divulgados, são calculadas outras estatísticas

gerenciais com o objetivo de subsidiar a atuação dos gestores da DPF. Como a

análise desses indicadores fornece uma percepção de risco da Dívida Pública, pode-

se afirmar que os indicadores econômico-financeiros também são, de certo modo,

indicadores de risco do passivo do Governo.

Os principais indicadores financeiros calculados e divulgados são o estoque

da dívida, o prazo médio, o percentual de vencimentos em 12 meses e a

composição da Dívida Pública.

A análise do estoque fornece uma percepção do risco da variação do valor

nominal da DPF4 entre dois períodos. Cabe salientar que o estoque da dívida refere-

se ao valor presente dos seus fluxos5.

Tão importante quanto o risco de valor, é o risco de refinanciamento, que

mensura possíveis dificuldades que o Tesouro Nacional venha a ter no momento do

refinanciamento de seu passivo. Há, basicamente, três modalidades de risco de

refinanciamento. O primeiro é o risco relacionado a uma elevada concentração de

vencimentos em um período, o segundo é o risco de uma redução sistêmica dos

prazos de vencimento e, o terceiro é o risco de uma elevação inesperada do

desembolso financeiro, no momento do refinanciamento.

4 Um outro indicador de valor da dívida é a relação Dívida Líquida / PIB, que é divulgada pelo Banco Central, e que possibilita uma análise distinta da do estoque. 5 A metodologia de cálculo do estoque encontra-se no anexo 1.

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Considerando uma análise de curto-prazo, o indicador que melhor reflete a

percepção de concentração é o percentual de vencimentos em 12 meses6. Essa

estatística fornece o percentual do estoque (principal e juros) da DPF que vence em

até um ano.

O risco relacionado a um encurtamento sistêmico dos prazos de vencimento

da Dívida é mensurado pelo indicador de prazo médio.7 Cabe salientar que os dois

riscos têm análise bastante distinta, o que será demonstrado com o auxílio de dois

gráficos de maturação de Dívida, abaixo explicitados. Em ambos, o prazo médio é

de 6,5 meses, porém, pode se constatar que, na primeira imagem, a maturação da

Dívida é distribuída de forma uniforme, enquanto que na segunda, há uma grande

concentração de vencimentos nos meses de janeiro e dezembro, o que dificultaria o

refinanciamento do total de vencimentos nesses meses.

Figura 1 – Fluxo de caixa mensal, distribuído de modo uniforme.

0

50

100

JAN

MARMAI

JUL

SETNOV

Figura 2 – Fluxo de caixa mensal, distribuído de modo não uniforme.

0

50

100

150

JAN

MARMAI

JUL

SETNOV

O risco financeiro no momento do refinanciamento refere-se a uma elevação

inesperada do valor a ser desembolsado, o que dificultaria a "rolagem" da dívida. O

6 A metodologia de cálculo do percentual de vencimentos em 12 meses se encontra no Anexo 1. 7 A metodologia de cálculo do prazo médio encontra-se no Anexo 1.

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indicador que mede esse risco é o Cash-flow at Risk - CfaR, que será analisado

detalhadamente mais adiante.

Além do risco de valor e do risco de refinanciamento, a análise da

composição da dívida é outro indicador é relevante na análise de risco já que revela

a distribuição da DPF nos fatores de remuneração da dívida (juros prefixados, juros

flutuantes, cambiais e indexados a preços). Além disso, pode-se analisar a

composição da dívida em termos de dívida denominada em moeda local (dívida

interna) e em moeda estrangeira (dívida externa).

Para tornar a análise de composição mais precisa, deve-se incluir também os

ativos financeiros da União, de forma a verificar os descasamentos entre fatores de

risco, moedas de denominação e entre prazos dos ativos e passivos, de forma a

tentar realizar uma análise integrada do portifólio da União. Essa abordagem

sistêmica, que já foi mencionada anteriormente, é conhecida como "Assets and

Liabilities Management - ALM" (Gerenciamento Integrado de Ativos e Passivos), e é

divulgada internamente pelo Tesouro Nacional, com um caráter gerencial.

3.2 - Breve descrição dos indicadores estocásticos

Apesar de desempenharem bem o papel de quantificadores de risco, os

indicadores financeiros não fornecem uma medida importante para os gestores de

dívida pública: a probabilidade de ocorrência do evento indesejado pelo Governo.

Para sanar esse problema, várias metodologias de mensuração de risco,

baseadas em processos estocásticos, foram criadas e, que respondem à questão da

probabilidade da ocorrência do evento indesejado.

Nesse sentido, foram desenvolvidas basicamente três métricas, baseadas no

risco de variação do valor da dívida, no risco de refinanciamento e no risco

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orçamentário8. A primeira medida é chamada de Cost-at-Risk9 - CaR, a segunda é o

Cash-flow at Risk - CfaR e a última é o Budget-at-Risk - BaR. Em seções posteriores

serão analisados detalhadamente cada um dos indicadores.

As metodologias de cálculo dos três indicadores possuem pontos em comum.

O principal desses pontos se refere à construção dos cenários estocásticos

utilizados nos cálculos. Assim, antes de analisar a metodologia de cálculo de cada

um dos indicadores, será explicado o processo de construção de cenários aleatórios.

3.3 - Geração dos Cenários Estocásticos

De forma geral, as metodologias de cálculo dos indicadores de risco da Dívida

Pública, em especial, o Cost-at-Risk - CaR, o Cash-flow at Risk - CfaR e o Budget-

at-Risk - BaR, se baseiam na simulação do valor do Estoque, e dos fluxos de caixa

da dívida, para um grande número de cenários. Ao final, os valores são tabelados, e

baseado na sua distribuição real (histograma), e no grau de confiança desejado, são

calculados os indicadores.

Como no processo são utilizados muitos cenários distintos (normalmente,

mais de 1000), a utilização de cenários determinísticos seria inviável. Assim, optou-

se por utilizar cenários estocásticos, a partir de modelos específicos para cada

indicador.

Para efeito de simplificação, todos os indicadores econômico-financeiros

utilizados na remuneração dos títulos públicos serão agregados em apenas quatro

grupos: juros prefixados, juros flutuantes, câmbio e inflação.

8 Cabe salientar que o risco orçamentário no Brasil está relacionado à legislação orçamentária, caracterizando-se uma modalidade de risco legal, de forma distinta de outros países onde o indicador tem um caráter de incerteza em relação ao resultado fiscal, em função de alterações nas estimativas financeiras das receitas e despesas inicialmente previstas 9 Bonomo, Costa, La Roque e Silva (2003) sugeriram a alteração do nome Cost-at-Risk para Stock-at-Risk. A alteração provavelmente será implementada, mas neste documento, será utilizado o nome original.

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Além disso, para manter a consistência econômica do modelo, é necessário

que os cenários gerados para cada indicador seja correlacionado com os cenários

correspondentes dos demais indexadores, sob risco do modelo gerar cenários

inconsistentes.

Assim, para o cálculo dos indicadores “at-risk” é necessário que sejam

gerados cenários aleatórios correlacionados de juros, câmbio e inflação (os títulos

prefixados são calculados a partir dos cenários aleatórios de juros).

Os cenários são gerados via simulação de Monte-Carlo, a partir de modelos

de taxas de juros, câmbio e inflação, calibrados com parâmetros históricos ou

determinísticos.

Na geração de cenários de juros são utilizados os modelos CIR e Vasicek10 .

Segue abaixo uma breve descrição dos modelos citados.

Modelo Vasicek:

ztrbar ∂+∂−=∂ .)( σ (1)

Modelo CIR

zrtrbar ∂+∂−=∂ ..)( 5,0σ (2)

onde:

r - Taxa de juros

a - Taxa de reversão da taxa de juros à média de longo-prazo

b - Taxa de juros de longo-prazo

dt - Diferencial em relação ao tempo

σ - Volatilidade

dz - Termo estocástico (dz = tε ), onde ε ~ N(0,1)

10 Esses modelos são dois representantes dos chamados modelos de equilíbrio e possuem a característica de gerar cenários de taxas de juros com reversão para uma "taxa de longo-prazo".

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Para a geração dos cenários aleatórios de inflação é utilizado o Movimento

Browniano Geométrico. A escolha desse modelo decorre principalmente das

características dos fatores de risco envolvidos. Segue abaixo a ilustração do

processo estocástico.

Movimento Browniano Geométrico:

ztSS

∂+∂=∂ .. σµ

(3)

onde,

S - Número-índice de inflação

µ - Taxa de crescimento da inflação esperada

dt - Diferencial em relação ao tempo

σ - Volatilidade

dz - Termo estocástico (dz = tε ), onde ε ~ N(0,1)

Na geração dos cenários aleatórios de câmbio é utilizado um modelo que

incorpora um processo estocástico para a taxa de câmbio real, com reversão a uma

taxa média de longo prazo, muito semelhante aos modelos CIR e Vasicek. A

transformação do câmbio real em nominal utiliza a taxa de variação esperada para a

inflação doméstica, além de uma taxa de crescimento esperada para a inflação

americana. As equações abaixo ilustram o explicado:

Modelo de Câmbio real de longo-prazo:

zcctcbcacc ∂+∂−=∂ ..)( σ (4)

)1()1(

).,( real câmbio de taxa int

extfinal Tt

ππ

θ++

= (5)

onde,

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c - Taxa de câmbio real

ac - Taxa de reversão do câmbio à média de longo-prazo

bc - Taxa de câmbio real longo-prazo

dt - Diferencial em relação ao tempo

σc - Volatilidade

dz - Termo estocástico (dz = tε ), onde ε ~ N(0,1)

θ - Taxa de câmbio nominal

A partir dos parâmetros dos modelos, são gerados os cenários aleatórios

correlacionados, via simulação de Monte Carlo, aonde se utiliza uma matriz de

correlações transformada (técnica SVD), e uma de números aleatórios normalmente

distribuídos (com três colunas - uma para cada fator de risco), de forma que os

números aleatórios utilizados nos três modelos (juros, câmbio e inflação) sejam

correlacionados.

Com a matriz de números aleatórios correlacionados, inicia-se a simulação de

cada fator de risco até o fim do período estipulado para a análise. Como em cada

passo são utilizados números aleatórios correlacionados, os caminhos dos fatores

de risco também serão correlacionados, garantindo, assim, a consistência dos

resultados obtidos. As figuras abaixo mostram os cenários estocásticos gerados,

bem como, a sua distribuição.

Figura 3 – Caminhos estocásticos de juros acumulados, com o histograma correspondente

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3.4 - Cost-at-Risk - CaR

O Cost-at-Risk - CaR é um indicador de risco financeiro que mensura

elevações do valor do estoque total da dívida, em um período específico. O CaR

mede, considerando um certo nível de significância, o máximo valor que o estoque

da dívida poderá atingir, dentro de um período focal determinado (cinco anos, por

exemplo).

Importante salientar que há duas análises possíveis para o CaR, uma

absoluta e outra relativa. Enquanto que o CaR absoluto é calculado a partir da

diferença entre o valor de estoque, ao final do período focal, correspondente ao

percentil desejado, e o estoque inicial da dívida, o CaR relativo refere-se à diferença

entre o valor do estoque, correspondente ao percentil desejado e o valor médio,

ambos ao final do período focal. O Gráfico abaixo ilustra a diferença.

Figura 4 – Histograma descritivo do Cost-at-Risk, com a probabilidade acumulada

A principal utilidade do CaR é subsidiar os gestores de dívida pública a

decidirem entre diferentes estratégias de financiamento, e/ou a verificarem o nível de

risco do estoque atual.

De forma geral, a metodologia de cálculo do CaR se baseia na simulação do

valor do estoque da dívida, para diversos cenários estocásticos distintos. Os

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resultados, ao final do período focal, são tabulados em um histograma e, baseado

no grau de confiança desejado, obtêm-se o custo em risco da dívida.

Conforme exposto anteriormente, o CaR pode ser utilizado tanto para a

estimação do custo em risco do estoque de dívida existente, como também, de

novas estratégias de financiamento. A principal diferença metodológica é que, no

caso da estimação do CaR do estoque, é necessário que sejam realizadas hipóteses

de refinanciamento, enquanto que na simulação de estratégias, são utilizadas as

características das mesmas. Tendo em vista a maior relevância do CaR na seleção

de estratégias de refinanciamento, não será analisada a metodologia de cálculo do

CaR do estoque.

A principal dificuldade de implementação do CaR de uma determinada

estratégia de refinanciamento é que o indicador deve refletir as diretrizes gerais

contidas no planejamento de longo prazo. Nesse sentido, a metodologia de cálculo

do indicador deve inicialmente captar a lógica de construção da estratégia, e

posteriormente, utilizá-las no processo de simulação.

Nesse sentido, o primeiro passo é a formulação da estratégia a ser analisada,

que deverá se basear no estoque atual da dívida, e em um cenário macroeconômico

esperado (determinístico).

O processo de formulação da estratégia não interessa nessa etapa da

discussão. Por ora, são selecionados apenas os insumos relevantes ao cálculo dos

indicadores de risco: maturação esperada, valores financeiros a serem arrecadados,

e as características dos títulos emitidos na estratégia.

Verifica-se, então, a relação entre as novas emissões e a maturação original

da estratégia para o mesmo período. Com isso, tem-se o percentual de

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refinanciamento periódico, por fator de risco. Os percentuais são armazenados em

uma matriz de percentuais de refinanciamento periódicos (mensais)11.

Com a tabela de características dos títulos emitidos, realiza-se a divisão por

fator de risco, dos títulos e prazos, que são armazenados, então, em outra matriz

com as características dos títulos emitidos.

Inicia-se então a simulação utilizando-se os cenários aleatórios anteriormente

gerados. A dívida existente no momento inicial é então carregada de acordo com o

seu fator de risco e, a cada período, verifica-se o total das maturações.

De posse da matriz de refinanciamento, multiplica-se a maturação de cada

fator de risco, pelo percentual refinanciado, obtendo-se a necessidade de

financiamento para cada caminho específico, no período em análise.

De posse desse valor e, utilizando-se da matriz com as características dos

títulos emitidos, são realizadas as emissões para o período específico "i", no

caminho aleatório "n". O procedimento é repetido periodicamente em cada caminho

específico, e posteriormente, para todos os caminhos aleatórios.

Ao final de todos os caminhos aleatórios, os resultados finais do estoque da

dívida são tabulados em um histograma, e dependendo do nível de confiança

desejado, determina-se o CaR12.

No caso dos títulos cujos fatores de risco não foram modelados, adotou-se,

por simplificação, que as suas variações seguirão aquelas do fator de risco mais

semelhante (é o caso do IPC-A que seguirá a variação do IGP e o das moedas Iene

e Euro que seguiram a variação do Dólar americano). 11 Deve-se salientar que no caso dos títulos emitidos na estratégia que não possuam correspondentes na maturação (o que geraria uma indeterminação do tipo divisão por zero), adotou-se como hipótese simplificadora, a utilização do valor financeiro contido na estratégia. 12 Deve-se salientar que o CaR total não corresponde à soma dos CaR individuais, devido ao efeito de diversificação. O CaR total deve ser calculado pela soma do valor final de cada caminho aleatório "n", nos "m" fatores de risco. Essa soma deve ser então tabulada e a partir dos dados do histograma, estimado-se assim o CaR total.

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Os ativos financeiros devem ser incorporados e sensibilizados, reduzindo, em

cada caminho aleatório específico, a necessidade de financiamento no período de

recebimento do fluxo ativo. A inclusão é fundamental já que dependendo da variação

relativa entre os fatores de risco, um ativo pode adquirir grande relevância na

análise.

Um importante ponto a ser salientado refere-se ao cálculo da quantidade de

títulos a serem emitidos mensalmente em cada caminho estocástico "n", de acordo

com a necessidade de financiamento calculada.

Esse ponto pode parecer irrelevante, mas é de grande importância devido à

necessidade de adoção da mesma metodologia de cálculo do estoque, sob pena de

incorrer em significativos erros de análise.

Devido à importância do assunto, a próxima seção tratará, de forma

detalhada, do processo de precificação utilizado no modelo descrito.

3.5 - Precificação dos títulos na simulação do refinanciamento do

CaR

Pode-se afirmar que a precificação dos títulos é uma das partes mais

importantes do modelo. Como há quatro tipos de fatores de risco (taxa SELIC,

prefixado, câmbio e inflação), foi necessário desenvolver metodologias individuais

para cada indexador.

Os títulos cujo fator de remuneração é a taxa SELIC, são os que possuem a

mais simples metodologia de precificação. Como o valor nominal individual desses

títulos é de R$1.000,0013, basta dividir o volume financeiro a ser emitido por esse

13 Por simplificação, adota-se a hipótese de que as datas de emissão coincidem com a data-base.

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valor, para obter a quantidade necessária. Essa simplificação é adequada já que, na

prática, o deságio de emissão desses títulos é irrelevante14.

A metodologia de precificação dos títulos prefixados é um pouco mais

complexa e se baseia nas fórmulas já conhecidas de estrutura a termo das taxas de

juros dos modelos CIR e Vasicek. A principal inovação é a utilização de um

parâmetro λ, chamado "prêmio de risco", que tem por objetivo ajustar a yield curve

gerada àquela observada no mercado financeiro.

Esse λ tem por objetivo tornar a curva gerada neutra ao risco15. Segue abaixo

o processo geral, neutro ao risco, bem como, as fórmulas de precificação dos títulos

prefixados:

Processo Geral Vasicek Neutro ao Risco:

ztrbar ∂+∂−=∂ .)( * σ (6)

abb σλ

−=* (7)

onde:

λ - Prêmio de risco

Precificação neutra ao risco do modelo Vasicek:

)().,().,(),( trTtBeTtATtP −= (8)

aeTtB

tTa )(1),(−−−

=

(9)

( )

−+−

=

aTtB

a

batTTtB

eTtA

4),(2

),(22

2

2*2

),(

σ

σ

(10)

14 Desde junho de 2002, as LFT vêm apresentando um deságio de emissão que varia de 0,5% a 1,3%, dependendo do prazo do título. Apesar disso, essa diferença não nos parece justificar a adoção, neste momento, de uma metodologia de apuração do PU das LFT mais sofisticada. 15 O λ é obtido com o auxílio do Teorema de Girsanov, a partir da transformação do Processo de Wiener referente à r(t). Para maiores detalhes, verificar Silva, M.E. (2001).

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Processo Geral CIR Neutro ao Risco:

ztrbar ∂+∂−=∂ .)( ** σ (11)

λ+= aa* (12)

λ+=

abab .* (13)

( ) 22 2σλγ ++= a (14)

onde:

λ - Prêmio de risco

Precificação neutra ao risco do modelo CIR:

)().,().,(),( trTtBeTtATtP −= (15)

γλγ γ

γ

2)1)(()1(2),( )(

)(

+−++−

=−

tT

tT

eaeTtB (16)

22

)(

2))((

2)1)((2),(

σ

γ

λγ

γλγγ

ab

tT

tTa

eaeTtA

+−++=

−++

(17)

A metodologia de precificação dos títulos, cujo fator de remuneração seja a

inflação, segue a lógica daquela adotada corriqueiramente pelo Mercado Financeiro.

Basicamente, calcula-se um "cupom de inflação", que é simplesmente a curva

prefixada, descontada a expectativa de inflação para o período considerado16. Essa

curva reflete o custo de oportunidade do mercado para esse fator de risco.

16 Adota-se a simplificação de que os títulos prefixados e remunerados por índices de preços têm a mesma rentabilidade ex-ante.

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Logicamente, o deságio de emissão e, por conseqüência, a quantidade de

títulos, dependerá de o título ter, ou não, cupons de juros/amortização parciais e, do

seu prazo até o vencimento.

As fórmulas abaixo demonstram a metodologia utilizada para calcular o

"cupom de inflação" usado na precificação dos títulos remunerados por esse fator de

risco.

Precificação dos títulos remunerados por índices de preços:

)1(),(T)(t, inflação de Cupom

µ+=

TtR (18)

A última metodologia de precificação se refere aos títulos cambiais. O modelo

desenvolvido é muito semelhante ao modelo utilizado para os títulos remunerados

por índices de preços. A principal diferença diz respeito à forma com que a

desvalorização cambial esperada é calculada.

Enquanto é utilizada a taxa de variação do Browniano para os títulos

remunerados pela inflação, no modelo de câmbio foi introduzida uma metodologia

baseada na inflação interna e externa e num modelo próprio de câmbio real de longo

prazo, muito semelhante ao CIR/Vasicek.

A lógica do modelo de desvalorização cambial se baseia na criação de um

modelo de taxa de câmbio real com reversão a uma média de longo prazo. Tendo

em vista o caráter didático do trabalho, os parâmetros desse modelo estão sendo

obtidos atualmente de forma determinística17, já que é necessário aperfeiçoar a

metodologia de estimação estatística, em decorrência das características das séries

históricas brasileiras.

17 Não há empecilhos teóricos para a estimação estatística dos parâmetros.

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Com base nas equações (4) e (5), e nas taxas de crescimento da inflação

doméstica e externa, calcula-se a taxa de desvalorização a ser utilizada na

precificação dos títulos cambiais.

inicial

final

θθ

=∆

(19)

)1(),(T)(t, cambial Cupom

∆+=

TtR (20)

3.6 - Cash-flow at Risk - CfaR

O Cash-flow at Risk - CfaR é um dos indicadores de risco de refinanciamento.

A principal preocupação quando se analisa esse tipo de indicador é verificar se há

risco de que o Tesouro Nacional possa não ter recursos suficientes para honrar sua

dívida, em função de não conseguir refinanciar os vencimentos em um período

específico. O CfaR mede, considerando um certo grau de significância, o valor

máximo que cada fluxo de caixa específico poderá atingir em seu vencimento.

De forma distinta do CaR, o CfaR é muito utilizado pelas instituições

financeiras, já que fornece, ao gestor da carteira de ativos, uma noção de

sensibilidade dos fluxos de caixa, com a vantagem de atribuir ao valor calculado,

uma probabilidade de ocorrência.

A metodologia de cálculo do CfaR é bem mais simples do que a do CaR.

Inicialmente, agrupamos os fluxos de caixa ativos e passivos, por fator de risco, a

cada período18. O resultado é um fluxo de caixa líquido, por fator de risco.

18 importante salientar que o período utilizado é arbitrário - podemos considerar como período um dia, um ano, ou qualquer outra periodicidade, dependendo da análise a ser realizada

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O valor de cada fluxo de caixa líquido é então simulado para os "n" cenários

estocásticos e os resultados são tabulados em um histograma. De acordo com o

nível de confiança desejado, obtém-se então o CfaR19.

3.7 - Budget-at-Risk - BaR

O último indicador estocástico de risco é o Budget-at-Risk - BaR. Esse

indicador mede o risco orçamentário ao qual o gestor de dívida pública está

submetido. É importante salientar que a definição do que seja risco orçamentário no

Brasil é diferente do que outros países atribuem a esse conceito, devido às

características da legislação brasileira.

Segundo a Constituição de 1988, o Governo (Executivo) deve encaminhar ao

Congresso Nacional, até trinta e um de agosto do ano anterior, o orçamento

estimativo das despesas para o ano seguinte (Lei Orçamentária Anual - LOA). O

Congresso, por outro lado, tem até o final do ano (trinta e um de dezembro) para

aprovar o orçamento enviado pelo Executivo.

Depois de aprovado pelo Congresso, o Executivo não poderá gastar mais do

que o inicialmente orçado, a menos que consiga aprovar créditos adicionais (um

processo geralmente demorado).

Dessa forma, caso o gestor de dívida pública se depare com uma elevação

não prevista dos custos da dívida, que sejam superiores ao orçado, há o risco de

que não se possa pagar as dívidas que estiverem vencendo, mesmo que haja

recursos financeiros em caixa, por falta de dotação orçamentária.

19 Cabe notar que o total do CfaR no período, não corresponde à soma dos CfaR de cada fator de risco, devido ao efeito de diversificação. Para solucionar o problema, deve-se somar os valores obtidos para cada caminho aleatório "n", nos "m" fatores de risco e no período "t", e então tabular os dados obtendo o CfaR total para o período, de acordo com o nível de confiança desejado.

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Apesar de reversível por meio da solicitação de créditos adicionais, a

reversão do problema tem um custo político bastante elevado, levando o gestor da

dívida a ter muito cuidado na elaboração do orçamento.

A metodologia de cálculo do BaR é muito semelhante à do CfaR. A principal

diferença é que os fluxos de caixa são agrupados em períodos normalmente de um

ano, obedecendo o ano civil, período para o qual o orçamento é aprovado, e

explicitados mensalmente e por origem (dívida interna e dívida externa).

Adicionalmente, é realizada a comparação do orçamento aprovado pelo

Congresso (informado como insumo do modelo) com os dados do histograma. Com

isso, tem-se a noção de qual é o percentil correspondente àquele valor, fornecendo

ao gestor de dívida pública, instrumentos para se preparar para uma eventual falta

de orçamento.

4 - RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Com base nos modelos explicados, serão realizados exercícios que simularão

o processo de cálculo dos indicadores estocásticos de risco, bem como, sua

participação no processo de planejamento estratégico de dívida pública.

Basicamente, serão simuladas seis estratégias distintas de refinanciamento,

baseadas na emissão de dois tipos de títulos: LFT (com prazo de cinco anos) e LTN

(com prazo de um ano). A primeira estratégia consistirá da emissão de 100% de

LFT. Na segunda serão emitidos 80% de LFT e 20% de LTN, aumentando a

composição de LTN em cada estratégia, em 20%, até atingir 100% na sexta

estratégia.

Realizadas as simulações, serão confrontados os resultados de custo e risco,

além de outros indicadores, quando serão analisados os trade-offs das estratégias,

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de forma análoga à prática usual do planejamento estratégico de dívida pública. Ao

final, os modelos serão avaliados quanto à sua capacidade de resposta às

necessidades de mensuração.

4.1 - Calibração dos Parâmetros do Modelo

Conforme explicado anteriormente, é necessário que sejam gerados cenários

estocásticos correlacionados de juros, câmbio e inflação, a partir de uma simulação

de Monte-Carlo, cujos parâmetros serão calculados por calibração estatística.

O primeiro passo, é calcular as correlações entre a taxa SELIC, o dólar e o

IGP-M, utilizando como técnica de cálculo, a Análise da Volatilidade dos Resíduos20.

Considerando uma "janela" de dados a partir de janeiro de 199921, foi

calculada a matriz de correlações abaixo.

Tabela 1 – Matriz de correlação entre as taxas de juros, câmbio e inflação. Juros Inflação Câmbio

Juros 1,000000 0,558896 -0,101179

Inflação 0,558896 1,000000 0,036523

Câmbio -0,101179 0,036523 1,000000

Para que os modelos se comportem adequadamente é necessário realizar a

estimação dos parâmetros a serem utilizados na geração dos caminhos aleatórios.

Com base na literatura22, a estimação desses parâmetros para os modelos de juros

pode ser feita por meio do Generalized Method of Moments (Método dos Momentos

Generalizados) - GMM23.

20 Diversas técnicas de estimação de volatilidade foram testadas com resultados semelhantes (GARCH, EWMA, etc.). 21 A escolha dessa "janela" de observações decorre da descontinuidade de política econômica ocorrida no Brasil naquela data. 22 Overbeck L., Rydén, T. (1997) 23 Já foram realizadas simulações com outras técnicas (OLS) e obteve-se resultados semelhantes.

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Entretanto, após gerar os resultados com essa técnica, observou-se que o

parâmetro de taxa de juros de longo-prazo não era estatisticamente significativo24.

Além disso, os parâmetros obtidos não pareciam refletir as expectativas de mercado,

gerando resultados bastante divergentes dos cenários macroeconômicos

esperados25.

Além disso, o modelo CIR gerou resultados com maior qualidade que o

modelo Vasicek. Assim, preferiu-se adotar, nesse exercício, este modelo com

parâmetros determinísticos26. A tabela abaixo informa os parâmetros utilizados.

Modelo CIR

Tabela 2 – Parâmetros estimados do modelo CIR (juros). PARÂMETRO VALOR

Taxa de reversão à média de LP (a) 0,0023105

Taxa de juros de LP (b) 0,0003783

Volatilidade (σ) 0,0004000

/1 os parâmetros são calculados para períodos de um dia.

Cabe salientar que o parâmetro de taxa de reversão à média, se refere à

velocidade na qual as taxas de juros atingirão a média de longo prazo, e pode ser

transformado em um indicador de "vida média" (expresso em dias úteis), de mais

fácil interpretação, já que se refere ao número de dias em que as taxas atuais

estarão na "metade do caminho" até a taxa de longo prazo. No presente caso, a vida

média corresponde a aproximadamente 300 dias úteis.

Já a taxa de juros de LP corresponde a uma estimativa de que, no longo

prazo, os juros nominais tenderão a um valor médio de 10% ao ano. Por fim, a

volatilidade corresponde a uma volatilidade anual de 0,6%. 24 Problemas semelhantes são encontrados em outros trabalhos que utilizam dados brasileiros, em razão da grande volatilidade dos indicadores, bem como, de diversas quebras estruturais. 25 Ao que tudo indica, a principal razão dos parâmetros do modelo divergirem das expectativas deve-se à grande volatilidade dos indicadores de juros, inflação e câmbio, no período considerado. 26 Gerados a partir do relatório Focus, do Banco Central do Brasil.

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Os cenários de inflação são gerados, conforme descrito anteriormente, a

partir do Movimento Browniano Geométrico. A seleção dos parâmetros de taxa de

crescimento µ e de volatilidade σ foi realizada de forma determinística, com o auxílio

do relatório Focus, publicado pelo Banco Central do Brasil, que fornece estimativas

de mercado das variáveis macroeconômicas, bem como, das suas trajetórias ao

longo do tempo, o que gera uma precificação, pelo modelo, de boa qualidade, se

comparada àquela de mercado.

Parâmetros dos cenários de Inflação:

Tabela 3 – Parâmetros estimados do Movimento Browniano Geométrico (inflação). PARÂMETRO VALOR

Taxa de crescimento esperado(µ) 0,0785

Volatilidade (σ) 0,0120

/1 parâmetros anuais

A explicação dos parâmetros do modelo de inflação são mais simples que as

do modelo de juros. A taxa de crescimento esperado µ se refere à taxa de variação

anual esperada da inflação. Ou seja, espera-se, em média, uma inflação anual de

7,85%. A volatilidade, dessa expectativa é de 1,2% ao ano.

No caso dos cenários estocásticos de câmbio, os parâmetros também serão

gerados de forma determinística, com base no relatório Focus.

Parâmetros dos cenários de câmbio:

Tabela 4 – Parâmetros estimados do modelo de câmbio. PARÂMETRO VALOR

Taxa de reversão à média de LP (ac) 0,0027056

Taxa de câmbio de LP (bc) 3,2000000

Volatilidade (σc) 0,0006000

Taxa de crescimento da inflação doméstica 0,0785000

Taxa de crescimento da inflação externa 0,0040000

/1 os parâmetros são calculados para períodos de um dia.

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35

A interpretação dos parâmetros do modelo de câmbio têm grande

semelhança com aquela do modelo de juros. A interpretação da taxa de reversão à

média é idêntica à do modelo de juros (vida média de aproximadamente 256 dias

úteis). A taxa de câmbio real de longo prazo situa-se em R$ 3,20, e deve ser

interpretada como a taxa de câmbio real para equilibrar o saldo do balanço de

pagamentos, dada a estrutura atual da economia. A volatilidade do câmbio real

corresponde a aproximadamente 16,5% ao ano. Por fim, adota-se como expectativa

anual de inflação doméstica 7,85% e da externa 4,00%.

De posse dos parâmetros, são gerados os cenários aleatórios

correlacionados. Os cenários são então armazenados para uso posterior (no

momento da simulação do CaR).

4.2 - Estimação do parâmetro de risco λ

A estimação do parâmetro λ é realizada a partir de dados cross-section das taxas

futuras do CDI. Com o auxílio de uma ferramenta computacional adequada, estima-

se o λ que minimize o quadrado das diferenças entre os dados do CDI e os obtidos a

partir dos modelos de juros. O λ obtido, e utilizado no exercício foi 0,00033756. O

gráfico abaixo ilustra a curva do CDI e as curvas dos modelos CIR e Vasicek já com

o λ ajustado.

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36

Figura 5 – Calibração do parâmetro λ

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

0 50 100 150 200 250 300 350

Taxa Pré Realizada Valor CIR Valor Vas

4.3 - Cost-at-Risk - CaR

Conforme explicado anteriormente, o CaR mede, dado um grau de confiança,

o valor máximo esperado para o estoque da Dívida, dentro de um período

determinado.

A implementação do modelo se baseia na simulação do valor da dívida,

segundo um critério de estoque, para diversos cenários estocásticos distintos. Os

resultados, ao final do período focal, são tabulados em um histograma, e baseado

no grau de confiança desejado, obtêm-se o custo em risco da Dívida.

O exercício adotará a simplificação de considerar o Estoque total da Dívida

como sendo apenas o referente às LTN, LFT, LFT-A, LFT-B, NTN-C e NTN-D em

Mercado (posição de julho de 2003), e que corresponde, em volume financeiro, a

mais de 93% da DPMFi. Além disso, o período focal será considerado entre julho de

2003 e dezembro de 2004, com posição de CaR em dezembro de 2003 e 2004.

Serão então comparados os CaR absolutos e relativos de seis estratégias

caricatas, com o objetivo de demonstrar o modelo, bem como, ilustrar o processo de

decisão do gestor de Dívida Pública. A tabela 1 abaixo ilustra as estratégias a serem

utilizadas.

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37

Tabela 5 – Estratégias ESTRATÉGIA TÍTULO % PRAZO DO TÍTULO

1 LFT 100 5 anos

LFT 80 5 anos 2

LTN 20 12 meses

LFT 60 5 anos 3

LTN 40 12 meses

LFT 40 5 anos 4

LTN 60 12 meses

LFT 20 5 anos 5

LTN 80 12 meses

6 LTN 100 12 meses

/1 o exercício adotará a simplificação de haver apenas uma emissão mensal.

O primeiro insumo do modelo é a matriz de maturação da dívida pública.

Como nesse exercício será realizada uma análise de apenas um ano e meio

(jul/2003 a dez/2004), a matriz terá aproximadamente 17 meses27. A tabela 2

informa a maturação utilizada:

Tabela 6 – Maturação da DPF – valores em R$ bilhões MÊS Juros

Prefixado

Juros

Flutuantes

Den28. US$ Ref29. US$ Índices de

Preços

TOTAL

ago/03 0,0 16,7 0,0 0,3 0,0 17,1

set/03 0,0 14,0 0,0 3,0 0,2 17,2

out/03 6,0 7,5 0,0 1,4 0,5 15,4

nov/03 0,0 18,1 0,0 0,2 0,0 18,3

dez/03 0,0 25,6 0,0 0,2 0,4 26,2

jan/04 16,5 10,1 0,0 1,4 1,0 29,1

fev/04 0,0 7,6 0,0 4,0 0,0 11,5

mar/04 0,0 3,2 0,0 2,9 0,2 6,3

abr/04 5,0 3,5 0,0 0,2 0,6 9,3

mai/04 0,0 37,7 0,0 1,9 0,0 39,6

jun/04 0,0 19,0 0,0 0,2 0,4 19,7

27 Neste exercício, as maturações ocorrerão a partir de agosto de 2003. 28 Refere-se à dívida denominada em moeda estrangeira, ou seja, a dívida externa. 29 Refere-se à dívida referenciada em moeda estrangeira, ou seja, a dívida cambial interna.

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38

jul/04 4,6 3,4 0,0 1,9 1,0 11,0

ago/04 0,0 20,0 0,0 0,1 0,0 20,1

set/04 0,0 11,6 0,0 0,3 0,2 12,1

out/04 2,0 9,4 0,0 3,9 0,6 15,9

nov/04 0,0 15,1 0,0 2,0 0,0 17,1

dez/04 0,0 13,9 0,0 3,6 0,5 17,9

fonte: STN/COGEP - dados estimados com base em um cenário macroeconômico não oficial - considerar apenas para efeitos

didáticos.

O segundo insumo do modelo é a tabela de estratégias de emissão30. Neste

caso, haverá seis tabelas distintas, uma para cada estratégia.

Tabela 7 – Estratégia 2 MÊS TÍTULO PRAZO FINANCEIRO

(R$ bilhões)

ago/03 LFT 5 anos 13,7

LTN 1 ano 3,4

set/03 LFT 5 anos 13,7

LTN 1 ano 3,5

out/03 LFT 5 anos 12,3

LTN 1 ano 3,1

nov/03 LFT 5 anos 14,6

LTN 1 ano 3,7

dez/03 LFT 5 anos 21,0

LTN 1 ano 5,2

jan/04 LFT 5 anos 23,3

LTN 1 ano 5,8

fev/04 LFT 5 anos 9,4

LTN 1 ano 3,7

mar/04 LFT 5 anos 5,0

LTN 1 ano 1,3

abr/04 LFT 5 anos 7,4

LTN 1 ano 1,9

mai/04 LFT 5 anos 31,7

LTN 1 ano 7,9

jun/04 LFT 5 anos 15,8

LTN 1 ano 3,9

30 Visando explicitar a metodologia de cálculo do CaR, será utilizada apenas a estratégia 2.

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jul/04 LFT 5 anos 8,8

LTN 1 ano 2,2

ago/04 LFT 5 anos 16,1

LTN 1 ano 4,0

set/04 LFT 5 anos 9,6

LTN 1 ano 2,4

out/04 LFT 5 anos 12,7

LTN 1 ano 3,2

nov/04 LFT 5 anos 13,7

LTN 1 ano 3,4

dez/04 LFT 5 anos 14,3

LTN 1 ano 3,6

De posse das duas tabelas, inicia-se o primeiro processamento do CaR, que

trata da incorporação da lógica de construção da estratégia determinística ao

modelo. Essa incorporação se dará com o auxílio de duas tabelas. A primeira

explicitará o percentual de refinanciamento mensal da estratégia, em relação à

maturação31. A segunda dividirá a estratégia, de acordo com os títulos emitidos e

prazos envolvidos.

Cabe salientar que o percentual de refinanciamento é calculado por indicador

(juros, prefixado, câmbio e índices de preços) e não, em relação ao total. Isso ocorre

para tornar o modelo mais aderente à realidade. Além disso, são retirados da

maturação original os fluxos financeiros dos ativos, cujo desembolso ocorra no mês

da maturação. Cabe ressaltar que os ativos também são sensibilizados pelos

caminhos estocásticos, conforme seu fator de remuneração, de forma que o

percentual de refinanciamento se refira a uma necessidade líquida.

31 Visando prevenir o caso de haver estratégia de emissão para um tipo de título, mas não haver maturação daquele fator de risco, o que geraria um problema computacional de divisão por zero, adota-se uma terceira tabela que armazena a informação do valor financeiro de emissão mensal, de forma que na falta do % de refinanciamento, esse valor seja utilizado.

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40

Tabela 8 – Percentual de refinanciamento (estratégia 2) – valores percentuais MÊS Juros

Prefixados

Juros

Flutuantes

Den32. US$ Ref33. US$ Índices de

Preços

TOTAL

ago/03 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

set/03 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

out/03 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

nov/03 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

dez/03 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

jan/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

fev/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

mar/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

abr/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

mai/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

jun/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

jul/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

ago/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

set/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

out/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

nov/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

dez/04 20,0 80,0 0,0 0,0 0,0 100,0

* Se houvesse algum mês sem maturação, o sistema armazenaria o valor financeiro de emissão da estratégia determinística, e

utilizaria diretamente esse valor no refinanciamento do modelo.

A segunda tabela, que divide os títulos de acordo com o prazo e indexador, é

apresentada abaixo:

Tabela 9 – Estratégia 2 transformada para o formato do CaR MÊS TÍTULO PRAZO % em relação ao total do mês

jun/03 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

jul/03 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

ago/03 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

set/03 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

32 Refere-se à dívida denominada em moeda estrangeira, ou seja, a dívida externa. 33 Refere-se à dívida referenciada em moeda estrangeira, ou seja, a dívida cambial interna.

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out/03 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

nov/03 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

dez/03 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

jan/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

fev/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

mar/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

abr/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

mai/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

jun/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

jul/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

ago/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

set/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

out/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

nov/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

dez/04 LFT 5 anos 80%

LTN 1 ano 20%

A interpretação dessas duas tabelas é a seguinte: Um determinado fluxo de

pagamento, ainda do estoque original, é carregado até a data de seu vencimento,

por um caminho aleatório "n", atingindo um valor "x" na data da maturação.

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42

Visando transmitir a lógica de formulação da estratégia original ao CaR, o

sistema recorrerá à tabela 1 para verificar o percentual que foi refinanciado pela

estratégia determinística, naquele fator de risco, no mês da maturação.

De posse desse percentual, o modelo calculará o valor financeiro a ser

emitido naquele momento (percentual de rolagem x valor financeiro da maturação,

calculada no caminho "n"). Em seguida, a tabela 2 será verificada para determinar as

características dos títulos emitidos naquele mês. No exemplo, foi emitido apenas um

tipo de título (100% das emissões foram de LFT, com prazo de cinco anos).

O passo seguinte é calcular a quantidade de títulos que corresponde às

características acima. Como no exemplo em análise, somente foram emitidas LFT e,

conforme já discutido anteriormente, o valor de emissão unitário desses títulos é

sempre de R$ 1.000,00, basta dividir o valor financeiro de emissão por esse valor,

para saber a quantidade de títulos a ser considerada34 no cálculo do estoque (CaR).

Essa rotina é repetida para todos os fluxos do estoque original, das receitas e,

do refinanciamento, de forma que ao final de cada caminho estocástico, se tenha um

valor de estoque.

Ao armazenar todos os estoques, correspondentes aos "n" caminhos, pode-se

traçar um histograma e, calcular a média e o valor correspondente ao percentil

desejado. Com esses dados, obtém-se o CaR absoluto e relativo da estratégia.

A figura abaixo mostra o histograma correspondente ao CaR total referente à

segunda estratégia35.

34 Deve-se lembrar que as metodologias de cálculo dos demais fatores de risco são mais sofisticadas. 35 No anexo 2 serão apresentados os histogramas de todas as estratégias, para que o leitor possa compará-las.

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Figura 6 – Histograma do CaR total – estratégia 2

As tabelas 10 e 11 abaixo resumem os principais indicadores econômico-

financeiros das seis estratégias simuladas. Além disso, também são apresentados o

custo, e o risco (medido pelo CaR relativo) de cada estratégia.

Tabela 10- Comparação dos valores dos indicadores de cada estratégia – posição dez/2003 ESTRATÉGIA Estoque

Prazo

médio

percentual

de vencimentos

em 12 meses

Custo Risco

Estratégia 1 628,54 29,13 32,7% 73,24 6,76

Estratégia 2 628,77 28,89 34,9% 73,47 6,69

Estratégia 3 628,89 26,91 39,0% 73,59 6,56

Estratégia 4 629,01 24,92 43,1% 73,71 6,43

Estratégia 5 629,13 22,94 47,5% 73,83 6,32

Estratégia 6 629,25 20,95 51,2% 73,95 6,28

Tabela 11- Comparação dos valores dos indicadores de cada estratégia – posição dez/2004 ESTRATÉGIA Estoque

Prazo

médio

percentual

de vencimentos

em 12 meses

Custo Risco

Estratégia 1 715,40 34,80 23,2% 160,10 29,74

Estratégia 2 719,53 34,14 26,8% 164,23 29,43

Estratégia 3 723,35 30,65 35,1% 168,05 27,56

Estratégia 4 727,41 26,30 45,1% 172,11 25,65

Estratégia 5 731,92 20,67 57,7% 176,62 23,88

Estratégia 6 736,25 15,14 70,1% 180,95 21,69

HISTOGRAMA TOTALACUMULADO TOTAL

Histograma TOTAL

Variação no valor da carteira (em bilhões)686,71 692,94 699,17 705,40 711,64 717,87 724,10 730,33 736,57 742,80 749,03 755,26 761,49 767,73 773,96 780,19 786,42

Fre

qüência

50

40

30

20

10

0

% A

cum

ula

da

100,00%

80,00%

60,00%

40,00%

20,00%

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44

4.4 - Cash-flow at Risk - CfaR

Conforme afirmado anteriormente, o Cash-flow at Risk - CfaR mensura, dado

um nível de significância, o valor máximo esperado para um determinado fluxo de

caixa, na data de seu vencimento.

As estratégias utilizadas no exemplo anterior serão aproveitadas neste

exercício para calcular o CfaR, demonstrando, na seção 4.6, a forma de analisar os

seus resultados.

Da mesma forma que no exemplo anterior, serão apresentados apenas os

resultados da estratégia 1. Assim, de posse dos cenários estocásticos e da

estratégia a ser simulada, calcula-se o CfaR, para cada vencimento.

O gráfico abaixo ilustra o modelo para os fluxos remunerados pela taxa

SELIC. A barra azul refere-se ao valor de cada fluxo de caixa em julho de 2003. A

barra verde refere-se à variação média esperada, gerada a partir de cenários

estocásticos, para os fluxos de caixa. A soma das barras azul e verde, fornece o

valor médio esperado do fluxo de caixa específico. Por fim, a barra vermelha refere-

se ao CfaR relativo do fluxo de caixa e, a soma com as duas barras anteriores deve

ser interpretada como o valor máximo esperado para aquele fluxo, dado um nível de

confiança desejado (95%).

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45

Figura 7 – Histograma do CfaR total – estratégia 2

Cash-Flow at Risk

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

jul/ 03 ago/ 03 set / 03 out / 03 nov/ 03 dez/ 03 jan/ 04 f ev/ 04 mar/ 04 abr/ 04 mai/ 04 jun/ 04 jul/ 04 ago/ 04 set / 04 out / 04 nov/ 04 dez/ 04Data

Valo

res

(R$

bilh

ões)

VP 07/03 VFM CfaR

4.5 - Budget-at-Risk

A definição do Budget-at-Risk - BaR é muito semelhante à do CfaR, já que é

um caso especial deste. A principal distinção diz respeito à agregação dos fluxos em

dívidas interna e externa, devido à diferença de tratamento dada na elaboração do

orçamento entre esses dois tipos de passivo, além de agregar mensalmente os

fluxos, considerando separadamente os períodos anuais

A tabela 7, e as figuras 8 e 9 abaixo ilustram os valores do BaR, referentes à

estratégia 2.

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46

Tabela 11- Budget-at-Risk (BaR) 2004 (95%)

Mês

Orçamento

Previsto

Orçamento

Simulado

médio

Desvio

Padrão

do BaR

P(Orc Sim >

Orc Prev)

Despesa

Mensal

Acumulada

Margem no

orçamento

previsto

Janeiro 29,05 29,00 0,10 30,9% 29,00 181,00

Fevereiro 11,51 11,40 0,20 28,6% 40,40 169,60

Março 6,34 6,30 0,10 36,3% 46,70 163,30

Abril 9,28 9,30 0,10 59,5% 56,00 154,00

Maio 39,55 39,70 0,70 58,5% 95,70 114,30

Junho 19,67 19,80 0,40 62,4% 115,50 94,50

Julho 11,03 11,00 0,10 39,4% 126,50 83,50

Agosto 20,14 20,30 0,50 62,2% 146,80 63,20

Setembro 12,08 12,10 0,30 53,3% 158,90 51,10

Outubro 15,92 16,00 0,30 60,3% 174,90 35,10

Novembro 17,13 17,20 0,50 55,6% 192,10 17,90

Dezembro 17,94 18,00 0,50 55,2% 210,10 (0,10)

TOTAL 210,00 210,10

Figura 8 – Evolução mensal da probabilidade de extrapolação orçamentária

Probabilidade Mensal de extrapolação do Orçamento

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

pro

bab

ilid

ad

e

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47

Figura 9 – Evolução mensal do orçamento previsto, em comparação com os valores estocásticos

4.6 – Indicadores estocásticos de risco como parte do processo

decisório do planejamento estratégico

Esta seção tem por objetivo harmonizar os resultados anteriores,

demonstrando a contribuição dos indicadores estocásticos à análise e comparação

de diferentes estratégias de financiamento. A primeira análise diz respeito ao trade-

off entre custos e riscos. Na segunda será analisado o risco de refinanciamento. Por

fim, discutir-se-á o risco orçamentário. Ao final da seção, ter-se-á ilustrado o

processo de decisão entre distintas estratégias de refinanciamento, com a

contribuição dos indicadores estocásticos.

A primeira análise a ser realizada em uma estratégia de refinanciamento diz

respeito ao trade-off entre custos e riscos, já que uma abordagem exclusiva dos

custos das estratégias pode levar a uma exposição inesperada a algum fator de

risco.

No presente exercício, foram simuladas seis diferentes estratégias de

refinanciamento e, como esperado, as estratégias com maior participação dos títulos

evolução do orçamento previsto x estocástico médio x estocástico 95%

0

50

100

150

200

250

Janeiro Fevereiro M arço Abril M aio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

R$

bilh

ões

Previsto Médio 95%

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48

prefixados apresentaram risco, mensurado pelo CaR relativo, menor do que aquelas

em que a participação dos títulos remunerados pela taxa SELIC.

Também em relação à análise dos custos, as expectativas foram confirmadas.

Ou seja, as estratégias prefixadas apresentaram maiores custos36 do que aquelas

remuneradas pela taxa SELIC, o que confirma a relação inversa entre custos e

riscos, discutida anteriormente. O gráfico abaixo compara as seis estratégias:

Figura 10 – Gráfico Custo x Risco. Comparação das seis estratégias de refinanciamento

Custo x Risco

155

160

165

170

175

180

185

0 5 10 15 20 25 30 35Ri sc o ( R$ bi l hõe s)

No presente exercício, os custos variaram de R$ 160,0 bilhões (estratégia 1)

até pouco mais de R$ 180,0 bilhões (estratégia 6). Por outro lado, os riscos

situaram-se entre R$ 21,0 bilhões (estratégia 6) e R$30,0 bilhões (estratégia 1).

Esse resultado já era esperado já que, por transferir a incerteza para o

Mercado, as estratégias prefixadas pagam uma espécie de "prêmio", o que as torna

mais caras (maior custo). Por outro lado, as estratégias pós-fixadas, por carregarem

a incerteza da operação, pagam aproximadamente o custo de oportunidade do

Mercado, e, portanto, são mais baratas (menor custo).

A segunda análise a ser realizada pelo gestor de Dívida Pública no processo

decisório entre diversas estratégias de refinanciamento diz respeito ao risco de

36 Adota-se como simplificação que o custo da estratégia seria expresso pela diferença entre os valores do estoque determinístico da dívida em t e t-1. Apesar da simplificação, acredita-se que a métrica traz resultados satisfatórios para a análise em questão.

estratégia 3

estratégia 5

estratégia 6

estratégia 4

estratégia 2

estratégia 1

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49

refinanciamento. Conforme discutido anteriormente, esse risco é expresso de três

maneiras distintas. A primeira se refere a uma grande concentração de vencimentos

em um pequeno intervalo de tempo, e é mensurada pelo percentual de vencimentos

em 12 meses. A segunda diz respeito a um encurtamento sistêmico dos prazos de

vencimento de principal e de juros, e é medido pelo indicador de prazo médio. A

terceira análise objetiva mensurar a incerteza do valor dos fluxos de caixa a serem

desembolsados. Para tanto, utiliza-se, como indicador, o CfaR.

Neste exercício, os valores para o percentual de vencimentos em 12 meses

situaram-se entre 23,2% (estratégia 1) e 71,1% (estratégia 6). Já os valores para o

prazo médio variaram entre 15,1 meses (estratégia 6) e 34,8 meses (estratégia 1).

Pode-se afirmar que esses valores parecem razoáveis já que, nesse

exercício, utilizou-se cinco anos como prazo das LFT, enquanto que o das LTN foi

de apenas um ano. Como todo o processo de refinanciamento foi realizado com

esses dois títulos de prazo definido, a estratégia 1 foi a que mais desconcentrou a

dívida em 12 meses, além de contribuir para um "alongamento" sistêmico do prazo

médio do passivo em análise.

Por outro lado, a análise do CfaR das seis estratégias mostra que a estratégia

1 é a que traz maior incerteza ao valor dos fluxos de caixa futuros, enquanto que na

estratégia 6, essa incerteza é menor.

A razão disso é que a incerteza nos títulos prefixados só ocorre no momento

da emissão, já que, após o leilão de venda, o fluxo de caixa se torna invariável. Por

outro lado, o fluxo de caixa dos títulos pós-fixados, como aqueles utilizados na

estratégia 1, são corrigidos diariamente, o que faz com que a volatilidade dos valores

seja maior. Isso explica a razão da estratégia 1 ser a que maior incerteza traz em

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relação ao valor futuro dos fluxos de caixa, enquanto que na estratégia 6 a incerteza

é menor.

Em relação ao risco orçamentário, por meio do BaR37, observou-se que em

praticamente todas as estratégias houve meses em que o orçamento discutido no

Congresso foi ultrapassado (considerando os valores médios). Com esses dados, o

gestor da dívida pública poderia buscar créditos adicionais, para suprir sua

necessidade de caixa.

De forma geral, o exercício correspondeu a expectativa já que as estratégias

com maior quantidade de títulos prefixados foram as mais caras (medido pelo

estoque determinístico), apesar de menos arriscadas (medida pelo CaR). Apesar

disso, em vista do refinanciamento ter sido realizado com títulos mais curtos (prazos

curtos), os indicadores de prazo médio e percentual de vencimentos em 12 meses,

foram qualitativamente inferiores, em relação às estratégias com juros flutuantes

(LFT).

Percebe-se então, considerando as informações acima, que a decisão de qual

é a melhor estratégia de refinanciamento depende de diversos aspectos, já que há

muitas modalidades de risco a serem minimizadas. A decisão final dependerá dos

objetivos da política de gestão da Dívida expresso em um benchmark, ou em algum

tipo de diretriz do Ministro da Fazenda.

Cabe salientar ainda que, em alguns momentos, pode ser necessário utilizar

outras ferramentas no processo de decisão entre diferentes estratégias de

financiamento, como, por exemplo, o ALM, ou a análise de composição da Dívida.

Além disso, outros aspectos de política econômica podem interferir nas estratégias

37 Os resultados do BaR podem ser vistos no anexo 4.

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de refinanciamento, como, por exemplo, atuar sobre a liquidez do mercado38, ou

então, fornecer hedge (cambial/inflação) a investidores.

4.7) Limitações do modelo e sugestões de melhoria

Pode-se afirmar que os modelos estocásticos discutidos apresentam alguns

inconvenientes que devem ser aperfeiçoados, visando otimizar os resultados. Além

disso, há alguns debates interessantes do ponto de vista do gerenciamento da

Dívida Pública, que serão explicados nessa seção, e que poderiam ser incorporados

no modelo brasileiro.

O primeiro desafio é buscar uma forma alternativa de calibração dos modelos

de juros, já que, com a tecnologia atual, o parâmetro de média de longo prazo não

foi estatisticamente significativo, o que fez com que fossem utilizados parâmetros

determinísticos. A principal dificuldade é a elevada volatilidade das taxas de juros na

"janela" temporal utilizada.

Outra questão a ser enfrentada refere-se à dúvida de que se os indicadores

refletem o que deles se espera. A razão é que há duas medidas geradas pelos

caminhos estocásticos: um número-índice médio e a volatilidade em torno desse

valor. Surge então a dúvida de que se a dispersão obtida (CaR, CfaR, BaR, ...) é útil

se "errarmos o alvo" (número-índice distinto do esperado). Como proposta, sugere-

se que seja realizado um backtesting dos modelos para eliminar dúvidas a respeito

da qualidade dos indicadores.

Um ponto que merece atenção especial refere-se ao indicador estocástico

médio do estoque apresentar uma tendência contrária ao indicador determinístico.

38 Em alguns momentos, o Tesouro Nacional pode atuar em articulação com o Banco Central para reduzir a liquidez do mercado (mercado undersold).

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Esse problema pode ter sido ocasionado por uma má especificação dos parâmetros,

ou então, do próprio modelo, cabendo uma verificação mais detalhada.

Em relação ao modelo desenvolvido para a taxa real de câmbio, é necessário

que o modelo seja aperfeiçoado, visando torná-lo mais próximo da realidade. Outra

sugestão seria o desenvolvimento de rotina para se obter os parâmetros por meio de

um ferramental estatístico.

Tendo em vista que todas as análises foram realizadas com base em

variáveis financeiras nominais, cabe ainda aprofundar a discussão sobre a

pertinência, e o melhor momento para a incorporação das variáveis reais na análise

de risco, já que, ao que tudo indica, parecem mais adequadas.

Por fim, a última sugestão de aperfeiçoamento refere-se ao Budget-at-Risk -

BaR. Como, dependendo do parâmetro de volatilidade dos modelos de juros, a

dispersão dos valores calculados em torno da média é pequena, é bastante comum

que ao se comparar o orçamento oficial do Governo com os valores calculados se

obtenha probabilidades 0% (não ultrapassa) ou 100% (certamente ultrapassa), o que

pode não auxiliar adequadamente o gestor. Outra sugestão seria a incorporação da

probabilidade do orçamento previsto (determinístico) ser ultrapassado em cada mês.

5 - CONCLUSÕES

Conforme discutido anteriormente, o trabalho demonstrou a importância do

planejamento estratégico e do gerenciamento de riscos da Dívida Pública, ao relaxar

as hipóteses da Equivalência Ricardiana, além de utilizar outros argumentos também

relevantes, como o paradigma de "Tax Smoothing", ou a importância do papel do

Governo no sentido de compartilhar e reduzir riscos com o Mercado, num contexto

de mercados incompletos.

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Depois de confirmada a importância do planejamento estratégico da Dívida Pública,

foi discutido o papel dos três indicadores de risco estocásticos utilizados no

planejamento do refinanciamento do passivo do Governo: o Cost-at-Risk - CaR, que

é uma métrica de incerteza do valor do passivo, o Cash-flow at Risk - CfaR, que se

refere à incerteza em relação ao valor dos fluxos de caixa, e o Budget-at-Risk - BaR,

caso especial do CfaR, que é utilizado na análise de risco do processo orçamentário.

Apesar do evidente destaque aos indicadores estocásticos, foi discutida e

apresentada a importância de uma análise sistêmica dos indicadores de risco da

Dívida Pública, sem a qual, poder-se-ia escolher estratégias de refinanciamento que

elevassem a exposição do passivo público a outros tipos de risco.

Para demonstrar a utilização do modelo foram simuladas seis estratégias de

refinanciamento. Em cada estratégia foram utilizados dois títulos (LFT e LTN) com

prazos distintos (5 anos e 1 ano, respectivamente), e com participações percentuais

distintas, que variavam de 0% até 100%, com variação entre uma estratégia e outra

de 20%. Os resultados confirmaram as expectativas com respeito aos diferentes

tipos de riscos, comprovando a aplicabilidade dos indicadores estocásticos.

Com base nos resultados apresentados, comprovou-se a utilidade prática dos

indicadores estocásticos de risco no processo de planejamento estratégico da dívida

pública. Além disso, demonstrou-se mais uma vez a importância de uma análise

sistêmica.

Por fim, foram propostas ações no sentido de aperfeiçoar o modelo, em

função de questionamentos metodológicos encontrados durante as simulações, bem

como, dificuldades com as séries históricas utilizadas.

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6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO 1 - Metodologia de Cálculo das Estatísticas da DPF

1 - Estoque:

=

=

+

=

∆=

=

=

=

n

j pn

j

ii

n

iitotal

j

TIR

fluxos

VNVNA

VNAPU

quantidadePUEstoque

EstoqueEstoque

1

1

)1(

cotação

indexador x

cotação x

x

2 - Prazo Médio

( )

( )∑

=

=

+

×

+=

n

i pn

i

n

ii

pni

TIR

Fluxo

ni

Fluxo

Médioazo

1

1

1

1Pr

=Fluxo pagamento de cupom ou principal;

ni=é o número de dias entre a data fluxo e a data do estoque, com base nos padrões DC 30/360 para os cambiais

e DU/252 para os demais passivos;

TIR = taxa interna de retorno da data de emissão.

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n = número de dias entre a data de referência para o cálculo do prazo médio e a data do fluxo;

p = padrão de contagem de dias 252 ou 30/360, conforme o tipo de título.

3 - Percentual de Vencimentos em 12 meses

∑∑=

totalestoquemesesemVincendoPercentual

Presentes) Valores (em meses 12 em fluxos12

4 - Duração de Repactuação

( )

( )∑

=

=

+

×

+=

n

i pn

i

n

ii

pni

TIR

Fluxo

ni

Fluxo

uração

1

1

1

1oRepactuaçã de D

=Fluxo pagamento de cupom ou principal;

ni=é o número de dias entre a data fluxo e a data do estoque, com base nos padrões DC 30/360 para os cambiais

e DU/252 para os demais passivos;

TIR = taxa interna de retorno da data de emissão.

n = número de dias entre a data de referência para o cálculo do prazo médio e a data do fluxo;

p = padrão de contagem de dias 252 ou 30/360, conforme o tipo de título.

obs: No caso dos títulos remunerados pela taxa SELIC o ponderador ni será equivalente a um dia. No caso dos

títulos remunerados pela TR ou pela Libor, o ponderador ni será equivalente ao número de dias entre a data focal

e a próxima repactuação do título.

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ANEXO 2 - Gráficos do CaR (2004)

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ANEXO 3 - Gráficos do Cash-Flow at Risk – CfaR

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ANEXO 4 - Tabelas do Budget-at-Risk - BaR