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Novembro de 2015 TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014 X-1 X DÍVIDA PÚBLICA 10.1 Enquadramento Legal A Dívida Pública na CGE compreende as obrigações financeiras assumidas com entidades públicas e privadas, excluindo as das empresas públicas e restantes administrações, dentro ou fora do território nacional, em virtude de leis, contratos, acordos e realização de operações de crédito, pelo Estado. Compete ao Ministério das Finanças celebrar, em representação do Estado, acordos de contratação de dívida pública interna e externa e zelar pela sua implementação, gerir a dívida pública interna e externa e garantir a correcta cobrança e contabilização dos contravalores gerados pela utilização de financiamentos externos, nos termos das alíneas q), s) e t) do n.º 1 do artigo 3 do Decreto Presidencial n.º 2/2010, de 19 de Março, que define as atribuições e competências do Ministério das Finanças. No Ministério das Finanças, a Direcção Nacional do Tesouro (DNT) é o órgão que executa as funções acima indicadas. Relativamente à Dívida Pública, a DNT tem, nos termos do artigo 8 do Estatuto Orgânico do Ministério das Finanças, aprovado pela Resolução n.º 18/2011, de 16 de Novembro, da Comissão Inter-ministerial da Função Pública, de entre outras funções, zelar pelo equilíbrio financeiro do Estado (alínea b)), assegurar a mobilização de recursos para o financiamento de défice do Orçamento do Estado (alínea k)), gerir as operações de crédito público (alínea m)), garantir a cobrança e a correcta contabilização de contravalores gerados pela utilização dos financiamentos externos (alínea o)), negociar e assegurar a celebração de acordos que impliquem o endividamento do Estado (alínea s)), gerir a dívida pública interna e externa e garantir a elaboração, implementação e actualização da Estratégia da Dívida Pública e do quadro da sua sustentabilidade (alínea t)). O Relatório da Dívida Pública, emitido pela DNT, sobre o exercício económico de 2014, analisa a carteira da dívida pública, incluindo os indicadores de custo e risco associados, a evolução do stock e serviço da dívida e o endividamento público do País, em termos de créditos contraídos, desembolsos e acordos de reestruturação efectuados. Ainda sobre o exercício económico de 2014, a DNT produziu, uma análise da sustentabilidade da Dívida Pública, em Setembro do mesmo ano. A análise da sustentabilidade faz a avaliação da dívida dentro de um cenário base e apresenta um conjunto de indicadores e cenários de choques macroeconómicos. Os indicadores de dívida pública aqui apresentados diferem dos do Relatório da Dívida Pública porque incluem também a Dívida contraída pelas Empresas Públicas com aval e garantia do Estado, à semelhança da metodologia adoptada pelo FMI. A CGE deve conter informação sobre a dívida pública, incluindo a indirecta, consubstanciada em avales e garantias, sobre os activos e passivos financeiros e patrimoniais do Estado, nos termos do disposto na alínea e) do artigo 47 da Lei n.º 9/2002, de 12 de Fevereiro, que cria o Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) e sobre o enquadramento orçamental das Parcerias Público-Privadas, nos termos do disposto no número 1 do artigo 24 da Lei n.º 15/2011, de 10 de Agosto. A Lei n.º 1/2014, de 24 de Janeiro, que aprova o Orçamento do Estado de 2014, estatui, nos n.ºs 1 e 2 do artigo 9, as condições em que o Governo está autorizado a contrair empréstimos

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Page 1: X DÍVIDA PÚBLICA 10.1 Enquadramento Legal - cabri-sbo.org · analisa a carteira da dívida pública, incluindo os indicadores de custo e risco associados, a evolução do stock

Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-1

X – DÍVIDA PÚBLICA

10.1 – Enquadramento Legal

A Dívida Pública na CGE compreende as obrigações financeiras assumidas com entidades

públicas e privadas, excluindo as das empresas públicas e restantes administrações, dentro ou

fora do território nacional, em virtude de leis, contratos, acordos e realização de operações de

crédito, pelo Estado.

Compete ao Ministério das Finanças celebrar, em representação do Estado, acordos de

contratação de dívida pública interna e externa e zelar pela sua implementação, gerir a dívida

pública interna e externa e garantir a correcta cobrança e contabilização dos contravalores

gerados pela utilização de financiamentos externos, nos termos das alíneas q), s) e t) do n.º 1

do artigo 3 do Decreto Presidencial n.º 2/2010, de 19 de Março, que define as atribuições e

competências do Ministério das Finanças.

No Ministério das Finanças, a Direcção Nacional do Tesouro (DNT) é o órgão que executa as

funções acima indicadas. Relativamente à Dívida Pública, a DNT tem, nos termos do artigo 8

do Estatuto Orgânico do Ministério das Finanças, aprovado pela Resolução n.º 18/2011, de 16

de Novembro, da Comissão Inter-ministerial da Função Pública, de entre outras funções, zelar

pelo equilíbrio financeiro do Estado (alínea b)), assegurar a mobilização de recursos para o

financiamento de défice do Orçamento do Estado (alínea k)), gerir as operações de crédito

público (alínea m)), garantir a cobrança e a correcta contabilização de contravalores gerados

pela utilização dos financiamentos externos (alínea o)), negociar e assegurar a celebração de

acordos que impliquem o endividamento do Estado (alínea s)), gerir a dívida pública interna e

externa e garantir a elaboração, implementação e actualização da Estratégia da Dívida Pública

e do quadro da sua sustentabilidade (alínea t)).

O Relatório da Dívida Pública, emitido pela DNT, sobre o exercício económico de 2014,

analisa a carteira da dívida pública, incluindo os indicadores de custo e risco associados, a

evolução do stock e serviço da dívida e o endividamento público do País, em termos de

créditos contraídos, desembolsos e acordos de reestruturação efectuados.

Ainda sobre o exercício económico de 2014, a DNT produziu, uma análise da sustentabilidade

da Dívida Pública, em Setembro do mesmo ano. A análise da sustentabilidade faz a avaliação

da dívida dentro de um cenário base e apresenta um conjunto de indicadores e cenários de

choques macroeconómicos. Os indicadores de dívida pública aqui apresentados diferem dos

do Relatório da Dívida Pública porque incluem também a Dívida contraída pelas Empresas

Públicas com aval e garantia do Estado, à semelhança da metodologia adoptada pelo FMI.

A CGE deve conter informação sobre a dívida pública, incluindo a indirecta, consubstanciada

em avales e garantias, sobre os activos e passivos financeiros e patrimoniais do Estado, nos

termos do disposto na alínea e) do artigo 47 da Lei n.º 9/2002, de 12 de Fevereiro, que cria o

Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) e sobre o enquadramento

orçamental das Parcerias Público-Privadas, nos termos do disposto no número 1 do artigo 24

da Lei n.º 15/2011, de 10 de Agosto.

A Lei n.º 1/2014, de 24 de Janeiro, que aprova o Orçamento do Estado de 2014, estatui, nos

n.ºs 1 e 2 do artigo 9, as condições em que o Governo está autorizado a contrair empréstimos

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

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internos e externos. O artigo 11 desta lei autoriza o Governo a emitir garantias e avales, no

valor de 15.783.500 mil Meticais1.

10.2 – Considerações Gerais

De acordo com o preceituado no n.º 1 do artigo 27 da Lei n.º 9/2002, de 12 de Fevereiro, se a

proposta do Orçamento do Estado não for aprovada, no início do ano económico a que se

destina, é reconduzido o do ano anterior, mas não é estabelecido em que medida o Governo

pode autorizar a emissão e contratação de dívida pública flutuante, fundada, directa e indirecta,

nem de que forma os empréstimos públicos realizados deverão integrar, com efeitos de

ratificação, o Orçamento do Estado do exercício a que respeitam.

O Manual de Registo da Dívida, da DNT, trata das operações de gestão da dívida pública, por

via da substituição das diferentes modalidades de empréstimo, do reforço das dotações para a

amortização de capital ou pagamento antecipado, total ou parcial, de empréstimos já

contraídos.

Do mesmo modo, incorpora informação sobre a conversão de empréstimos existentes, nos

termos e condições da emissão ou do contrato, ou por acordo com os respectivos titulares,

quando as condições correntes dos mercados financeiros assim o aconselharem.

Todavia, estas e outras operações que integram a gestão da dívida pública, directa e indirecta,

ainda não mereceram o devido enquadramento normativo a nível de uma Lei Quadro de

Gestão da Dívida Pública.

Da avaliação do circuito de emissão de Obrigações do Tesouro, verificou-se que, em 2014, a

DNT não comunicou aos Operadores Especializados de Obrigações do Tesouro (OEOT’s) os

valores das emissões colocadas, as respectivas taxas de juro e as quantidades atribuídas a cada

subscritor.

Pela primeira vez, a CGE apresenta informação sobre os avales e garantias prestadas no ano.

Ainda em 2014, o Estado emitiu cartas de conforto a favor de diversas entidades para permitir-

lhes a contracção de empréstimos bancários.

10.3 – Análise Global

A DNT estabelece como visão, no documento, “Estratégia de Médio Prazo para Gestão da

Dívida Pública 2012-2015”, manter a dívida pública do País sustentável e reduzir,

gradualmente, a dependência externa, através do alargamento da base tributária, da

capitalização do sector produtivo e da promoção do mercado interno de capitais.

Na “Análise de Sustentabilidade da Dívida Pública 2014”, a DNT indica que apesar de

Moçambique continuar com risco moderado de sobreendividamento público externo e os

rácios de sustentabilidade abaixo dos limites fixados no cenário base (sem consideração de

choques macroeconómicos), é necessária moderação no endividamento externo público em

relação aos anos precedentes, tendo presente que a dívida pública externa se encontra

vulnerável aos choques de crescimento do PIB, investimento directo estrangeiro e taxas de

câmbio. A DNT salienta a importância da gestão da dívida pública, e da capacitação de

1 A Lei de Revisão do Orçamento do Estado para 2014 (Lei n.º 22/2014, de 2 de Outubro) não trouxe, nesta

matéria, alteração ao orçamento inicial.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-3

planificação dos projectos de investimento público, a par da necessidade imperiosa da

materialização da produção do Gás Natural Liquefeito, com vista a garantir a externalização

positiva do PIB e das receitas do Estado.

Outra referência a salientar na supracitada análise de sustentabilidade é o papel dos

empréstimos não concessionais (com grau de concessionalidade abaixo dos 35% ou

mercantis).

Em 2014, o stock da dívida externa era composto por 79,6% de credores bilaterais, tendo-se

registado um aumento em relação ao exercício de 2013, e 20,4% de credores multilaterais, de

que resultou numa redução em relação ao exercício económico de 2013.

O “Plano de Endividamento Interno” produzido anualmente pela DNT refere “a necessidade

de promover a poupança do público e estimular o desenvolvimento do mercado de capitais

doméstico”. O Governo apresenta, neste documento, a sua intenção de emitir os títulos

públicos regularmente e de forma pré­calendarizada, diversificando, gradualmente, as suas

características em termos de maturidades e taxas de juro, mediante o desenvolvimento do

mercado, no sentido de promover o aumento de confiança nos títulos públicos por parte de

potenciais investidores, sua circulação e dispersão no mercado de capitais.

Os Bilhetes do Tesouro são utilizados como instrumento privilegiado para o financiamento e

gestão corrente da tesouraria do Estado, assegurando o equilíbrio dos fluxos de receitas e

despesas, com vista à estabilidade da moeda nacional.

Neste contexto, no exercício em consideração, foram emitidas 12 séries de Bilhetes do

Tesouro, no montante global de 22.200 milhões de Meticais.

As Obrigações do Tesouro são títulos emitidos pelo Estado para financiamento do défice

orçamental, assim como para o refinanciamento e substituição de títulos mais onerosos.

Em 2014, foram emitidas 8 séries de Obrigações do Tesouro, no montante de 5.715.000 mil

Meticais, representados por valores mobiliários escriturais, de acordo com o artigo 3 do

Decreto n.º 5/2013, de 22 de Março, que autorizou o Ministro das Finanças a contraír um

empréstimo interno amortizável até ao valor máximo de 5.715.091,21 mil Meticais.

No que se refere às garantias e avales, no exercício económico de 2014, foram emitidas

garantias e avales no valor total de 12.328.900 mil Meticais.

Foram ainda emitidas cartas de conforto a favor de diversas entidades para permitir-lhes a

contracção de empréstimos bancários.

A variação da Dívida Pública, no período de 2010 a 2014, é apresentada no quadro a seguir.

Quadro n.º X.1 – Dívida Pública - Variação

Dívida

Pública2010

% do

PIB 2011

% do

PIB 2012

% do

PIB 2013

% do

PIB 2014

% do

PIB

Var.

(%)

14/10

Externa 122.754 39,2 127.577 34,9 142.028 34,8 173.022 37,5 222.554 42,3 81,3

Interna 18.747 6,0 22.330 6,1 23.738 5,8 29.726 6,4 34.822 6,6 85,7

Total 141.501 45,2 149.907 41,0 165.766 40,6 202.748 44,0 257.376 48,9 81,9

Fonte: Mapa I-3 da CGE (2010 - 2014).

Memória: PIB 526.495 milhões de Meticais em 2014.

(Em milhões de Meticais)

No quinquénio, a Dívida Pública teve um crescimento de 81,9%.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-4

A Dívida Externa registou um incremento de 81,3% e a Interna, de 85,7%. O ano de 2014

apresenta-se com a maior proporção de Dívida Pública em relação ao PIB, no período em

análise, com 48,9%.

Quadro n.º X.2 – Dívida Pública - Peso

Dívida

Pública2010

Peso

%2011

Peso

%2012

Peso

%2013

Peso

%2014

Peso

%

Externa 122.754 86,8 127.577 85,1 142.028 85,7 173.022 85,3 222.554 86,5

Interna 18.747 13,2 22.330 14,9 23.738 14,3 29.726 14,7 34.822 13,5

Total 141.501 100,0 149.907 100,0 165.766 100,0 202.748 100,0 257.376 100,0

(Em milhões de Meticais)

Fonte: Mapa I-3 da CGE (2010 - 2014).

Em termos de desembolsos, constata-se, no Quadro n.º X.3 e Gráfico n.º X.1, a seguir, que em

2014, os desembolsos da Dívida Externa assumiram um peso superior ao da Dívida Interna,

contrariamente aos anos anteriores, em que os instrumentos de Dívida Interna tiveram maior

relevância. Os desembolsos da Dívida Externa registam, assim, um peso de 63,2%, o que está

em linha com o indicado no documento de “Análise da Sustentabilidade da Dívida Pública

2014” da DNT que prevê um aumento dos desembolsos de 2014 a 2019, ano em que se estima

que o stock da dívida pública atinja o seu valor mais elevado.

Quadro n.º X.3 – Dívida Pública – Desembolsos

Designação 2011Peso

%2012

Peso

%2013

Peso

%2014

Peso

%

Multilateral 6.109.833 14,5 9.988.286 22,5 14.969.263 23,1 10.164.735 12,9

Bilateral 10.189.250 24,1 7.756.307 17,5 14.330.745 22,1 39.781.605 50,4

Total da Dívida Externa 16.299.083 38,5 17.744.593 40,0 29.300.008 45,2 49.946.340 63,2

Obrigações do Tesouro 2.618.617 6,2 3.150.112 7,1 3.158.000 4,9 5.715.000 7,2

Bilhetes do Tesouro 21.500.000 50,9 23.500.000 52,9 31.872.160 49,1 22.200.000 28,1

Outros 1.862.770 4,4 0 0,0 554.633 0,9 1.129.149 1,4

Total da Dívida Interna 25.981.387 61,5 26.650.112 60,0 35.584.793 54,8 29.044.149 36,8

Total da Dívida 42.280.470 100,0 44.394.705 100,0 64.884.801 100,0 78.990.489 100,0

Fonte: Mapa I-3 da CGE (2011 - 2014).

(Em mil Meticais)

Gráfico n.º X.1 – Dívida Pública – Desembolsos

2011 2012 2013 2014

Multilateral 14,5 22,5 23,1 12,9

Bilateral 24,1 17,5 22,1 50,4

Obrigações do Tesouro 6,2 7,1 4,9 7,2

Bilhetes do Tesouro 50,9 52,9 49,1 28,1

Outros 4,4 0,0 0,9 1,4

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

Multilateral Bilateral Obrigações doTesouro

Bilhetes doTesouro

Outros

14,5

24,1

6,2

50,9

4,4

23,1 22,1

4,9

49,1

0,9

2011

2012

2013

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

Multilateral Bilateral Obrigações do Tesouro Bilhetes do Tesouro Outros

14,5

24,1

6,2

50,9

4,4

22,5

17,5

7,1

52,9

0,0

23,122,1

4,9

49,1

0,9

12,9

50,4

7,2

28,1

1,4

E

m

p

e

r

c

e

n

t

a

g

e

m

2011

2012

2013

2014

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-5

Numa análise global da variação da Dívida Pública, incluindo desembolsos, amortização,

cancelamento, perdão e variação cambial, verifica-se no Quadro n.º X.4 que não são apenas os

desembolsos que contribuem para a elevação da dívida pública. Especificamente, no caso da

Dívida Pública Externa, é possível observar o papel das variações cambiais no aumento do

stock sendo de realçar o ano 2012, com cerca de 7.288 milhões de Meticais, entre Dívida

Multilateral e Bilateral. Só nos últimos três anos, o valor de cancelamentos, perdão e variações

cambiais atingiu 14.395 milhões de Meticais2, cerca de 6% do valor da Dívida Pública total, o

que torna relevante a análise do cabaz de moedas que constituem a Dívida Pública e a

avaliação do grau de exposição de Moçambique às flutuações cambiais.

Quadro n.º X.4 - Evolução da Dívida Pública

Credor 2011 Desemb. Amort.

Canc.,

perdão e

var. camb.

2012 Desemb. Amort.Canc., perdão

e var. camb.2013 Desemb. Amort.

Canc.,

perdão e

var. camb.

2014

Multilateral 72.435 9.988 1.156 4.812 86.079 14.969 1.511 1.415 100.952 10.165 1.809 -5.602 103.706

Bilateral 46.196 7.756 520 2.517 55.949 14.331 1.036 2.826 72.070 39.782 1.329 8.326 118.849

Bilhetes do Tesouro 5.500 23.500 24.000 0 5.000 31.872 28.200 0 8.672 22.200 22.200 0 8.672

Obrigaçoes do

Tesouro e outros16.830 3.150 1.201 -41 18.738 3.713 1.124 -1 21.326 6.844 1.891 143 26.422

Total da Dívida

Pública140.961 44.395 26.877 7.288 165.767 64.885 31.871 4.240 203.020 78.990 27.229 2.867 257.649

Fonte : Mapa I-3 da CGE de (2011 - 2014).

(Em milhões de Meticais)

À semelhança de 2013, no Anexo Informativo 6 da CGE, a informação sobre as variações do

stock da dívida, nomeadamente, cancelamento, perdão e variação cambial negativa, de 5.602

milhões de Meticais, no caso da Dívida Multilateral, e positiva de 8.326 milhões de Meticais

no caso da Dívida Bilateral, continua a ser apresentada de forma agregada, impossibilitando

uma análise sobre como é que as variações cambiais, benefícios via cancelamentos ou perdão

da dívida, eventualmente ocorridos, influenciaram as alterações do montante da dívida.

O Tribunal Administrativo reitera a necessidade de a mencionada informação passar a ser

apresentada de forma desagregada, em cumprimento do estatuído no n.º 1 do artigo 46 da Lei

n.º 9/2002, de 12 de Fevereiro, segundo o qual a CGE deve ser elaborada com clareza,

exactidão e simplicidade, de modo a possibilitar a sua análise económica e financeira.

10.4 – Dívida Externa

A Dívida Externa é aquela que é contraída pelo Estado junto de outros Estados, organismos

internacionais, ou outras entidades de direito público ou privado, com residência ou domicílio

fora do País, e cujo pagamento é exigível fora do território nacional.

Esta inclui dois grupos de créditos: os contraídos com organismos internacionais ou outras

entidades de direito público ou privado, designados de multilaterais, e os obtidos junto dos

Estados, denominados bilaterais.

Apresenta-se, no Gráfico n.º X.2, a evolução do stock da Dívida Pública Externa, observando-

se que a distribuição entre a Dívida Bilateral e a Multilateral variou, no quinquénio em

2 7.288+4.240+2.867=14.395.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-6

consideração, tendo, em 2014, a Dívida Bilateral, superado a Multilateral, pela primeira vez,

no período em análise.

No mesmo ano a Dívida Multilateral foi de 3.291,1 milhões de Dólares Americanos (46,6%)

enquanto a Bilateral situou-se em 3.776,8 milhões de Dólares Americanos (53,4%) totalizando

7.067,90 milhões de Dólares Americanos.

Observa-se, ainda, no Gráfico n.º X.2, que, no quinquénio 2010-2014, a Dívida Pública

Externa, que inclui a dívida Multilateral e a Bilateral, tem registado sucessivos aumentos, ao

passar de 3.743,5 milhões de Dólares Americanos, em 2010, para 7.067,9 milhões de Dólares

Americanos, em 2014, um incremento de 88,8%.

Gráfico n.º X.2 – Evolução do Stock da Dívida Pública Externa

2.436,52.679,8

2.926,93.383,1 3.291,1

1.307,01.709,5 1.902,4

2.415,2

3.776,83.743,5

4.389,34.829,3

5.798,3

7.067,9

0,0

1.000,0

2.000,0

3.000,0

4.000,0

5.000,0

6.000,0

7.000,0

8.000,0

2010 2011 2012 2013 2014

Em

Mil

es d

e D

óla

res

Multilateral

Bilateral

Dívida Pública

Externa

O Gráfico n.º X.3 mostra o peso que cada moeda representou nos anos de 2013 e 2014 na

Dívida Pública Externa.

Gráfico n.º X.3 – Stock da Dívida Pública Externa por Tipo de Moeda

Fonte: DNT - Relatório da Dívida Pública de 2014.

Composição da dívida externa por moedas

2014

RMB 11%

FUA 0%

EUR 11%

USD 44%

CNY 8%

SDR 34%

Outros 3%

RMB 11%

EUR 11%

USD 44%

CNY 8%

SDR 34%

Outros 3%

2014

EUR 11%

FUA 11%

USD 27%

CNY 10%

SDR 37%

Outros 4%

2013

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-7

Como se mostra no Gráfico n.º X.3, em 2014, o stock da Dívida Pública Externa assentou,

maioritariamente, em dólares e SDR, representando, só por si, 78,0% da dívida em moeda

estrangeira. No quinquénio, as moedas apresentam a seguinte distribuição:

Quadro n.º X.5 – Distribuição da Dívida em Moeda Estrangeira por Divisas

Moeda 2010 2011 2012 2013 2014

SDR 48 41 44 37 34

USD 31 32 22 27 44

EUR 14 18 15 11 11

Outras: 7 9 18 25 11

FUA 13 11 -

CNY 5 10 8

Residual 0 4 3

Fonte : Relatório da Dívida Pública (2010 - 2014).

SDR - Direitos Especiais de Saque.

FUA - Moeda de Unidade de Conta do FAD.

CNY - Moeda Chinesa.

(Em percentagem)

A distribuição da dívida em moeda estrangeira por divisas, do Relatório da Dívida Pública da

DNT de 2013, não mencionava a existência de empréstimos em CNY e apresentava valores

diferentes para a participação das restantes moedas em relação aos valores agora apresentados,

relativamente a 2013. O Relatório da DNT indicava uma distribuição, em 2013, de SDR, com

41,0%, USD, com 18,0%, e EUR, com 13,0%, números díspares dos agora referidos, para o

mesmo ano.

Em 2014, a moeda com mais peso é o Dólar, com 44,0%. Esta moeda tem apresentado,

sucessivamente, flutuações cambiais desfavoráveis nos últimos anos. De facto, se, em 2011, o

Dólar Americano correspondia a 29,07 Meticais, em 2014, equivale a 31,5 Meticais, o que é

revelador de uma crescente exposição cambial da Dívida Pública Externa.

10.4.1 – Dívida Multilateral

Da informação do Anexo Informativo 6 da CGE de 2014, em que é apresentado o stock da

Dívida Pública Externa, por grupo de credores, reportada a 31 de Dezembro, elaborou-se o

Quadro n.º X.6, a seguir, em que se mostram os valores da Dívida Multilateral com os

diferentes parceiros, de 2010 a 2014, em milhões de Dólares Americanos3.

3 Conversão na base da taxa de câmbio, conforme Relatório Anual da Dívida de 2010 a 2014.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-8

Quadro n.º X.6 – Evolução da Dívida Multilateral

ValorPeso

(%)Valor

Peso

(%)Valor

Peso

(%)Valor

Peso

(%)Valor

Peso

(%)

BADEA 71,8 2,9 76,8 2,9 6,9 77,8 2,7 1,3 79,7 2,4 2,4 88,8 2,7 11,5

BEI 104,7 4,3 122,1 4,6 16,6 128,1 4,4 4,9 121,4 3,6 -5,3 89,9 2,7 -25,9

BID 39,0 1,6 45,3 1,7 16,2 68,1 2,3 50,3 72,6 2,1 6,6 64,6 2,0 -11,0

DBSA-RSA 0,0 0 0,0 0 0 0,0 0 0 1,9 0,1 - 0,5 0,0 -75,4

FAD 480,6 19,7 428,5 16,0 -10,8 605,9 20,7 41,4 673,1 19,9 11,1 538,9 16,4 -19,9

FIDA 106,5 4,4 110,2 4,1 3,4 114,4 3,9 3,8 124,3 3,7 8,7 114,1 3,5 -8,2

IDA 1 494,4 61,3 1 599,6 59,7 7,0 1 808,3 61,8 13,0 2 189,5 64,7 21,1 2 290,6 69,6 4,6

NDF 82,4 3,4 81,9 3,1 -0,6 80,9 2,8 -1,2 80,3 2,4 -0,7 70,2 2,1 -12,6

OPEC 47,4 1,9 41,0 1,5 -13,6 43,3 1,5 5,6 40,5 1,2 -6,6 33,6 1,0 -16,8

FMI 9,7 0,4 174,4 6,5 1 697,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 - - -

BAD - - - - - - - - - - - 1,2 0,0 -

Total 2 436,5 100,0 2 679,8 100,0 10,0 2 926,8 100,0 9,2 3 383,1 100,0 15,6 3 292,3 100,0 -2,7

Câmbio (2014) 1 USD = 31,5 Meticais.

2014 Var.

(%)

14/13

Dívida Multilateral - CGE

2012 Var.

(%)

13/12

Mutuante

20132010 2011 Var.

(%)

11/10

Var.

(%)

12/11

(Em milhões de Dólares)

Fonte: Anexo Informativo 6 da CGE (2010 - 2014).

Contrariamente ao exercício económico de 2013, em que a Dívida Multilateral registou o valor

de 3.383,1 milhões de Dólares Americanos, tendo registado um crescimento de 15,6%, no

presente ano, a Dívida Multilateral passou para 3.292,3 milhões de Dólares Americanos,

sofrendo um decréscimo de 2,7%, relativamente ao ano anterior. Com excepção dos mutuantes

BADEA e IDA, todos os restantes viram os seus valores reduzidos, em relação ao ano de

2013.

Em termos de peso, as dívidas com o IDA e com o FAD representam, no seu conjunto, 86,0%

do total da Dívida Multilateral, em 2014.

10.4.2 – Dívida Bilateral

No Quadro n.º X.7 apresenta-se a Dívida Bilateral, no quinquénio 2010 a 2014. Neste último

ano, a dívida bilateral atingiu o valor de 3.850,7 milhões de Dólares Americanos, o que

corresponde a um aumento de 59,94% em relação ao exercício de 2013, em que a mesma se

situou em 2.415,2 milhões de Dólares Americanos.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-9

Quadro n.º X.7 – Evolução da Dívida Bilateral

ValorPeso

(%)Valor

Peso

(%)Valor

Peso

(%)Valor

Peso

(%)Valor

Peso

(%)

Clube de Paris 484,8 37,1 674,5 39,5 39,1 678,7 35,7 0,6 755,9 31,3 11,4 907,6 23,6 20,1

Áustria 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,3 0,1 0,0 7,8 0,3 490,9 10,6 0,3 35,3

Alemanha 2,2 0,2 0,2 0,0 -90,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 - 0,0 0,0

Brasil 16,6 1,3 15,8 0,9 -4,4 15,2 0,8 -4,1 43,2 1,8 183,9 104,4 2,7 141,8

Espanha 17,0 1,3 6,5 0,4 -61,7 8,9 0,5 36,9 8,7 0,4 -2,2 13,4 0,3 54,1

França 38,4 2,9 36,1 2,1 -6,0 31,9 1,7 -11,7 56,6 2,3 77,3 101,4 2,6 79,0

Japão 128,7 9,8 139,2 8,1 8,2 29,8 1,6 -78,6 42,5 1,8 42,7 66,6 1,7 56,5

Portugal 140,4 10,7 333,2 19,5 137,3 448,3 23,6 34,5 465,8 19,3 3,9 487,3 12,7 4,6

Rússia 141,5 10,8 143,4 8,4 1,3 143,3 7,5 0,0 131,3 5,4 -8,4 124,1 3,2 -5,5

Outros 822,2 62,9 1.035,1 60,5 25,9 1.223,6 64,3 18,2 1.659,3 68,7 35,6 2.943,1 76,4 77,4

Angola 61,5 4,7 30,8 1,8 -50,0 30,8 1,6 0,0 30,8 1,3 0,0 30,8 0,8 0,0

Bulgária 57,8 4,4 57,8 3,4 0,0 57,8 3,0 0,0 57,8 2,4 0,0 57,8 1,5 0,0

China 45,0 0,0 232,1 13,6 415,8 342,5 18,0 47,6 672,0 27,8 96,2 1.358,9 35,3 102,2

Dinamarca 44,9 3,4 56,9 3,3 26,8 86,8 4,6 52,6 78,9 3,3 -9,1 77,8 2,0 -1,5

Hungria 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 77,8 2,0 0,0

Índia 90,9 7,0 111,0 6,5 22,2 128,2 6,7 15,5 154,2 6,4 20,3 169,0 4,4 9,6

Iraque 230,6 17,6 230,6 13,5 0,0 230,6 12,1 0,0 230,6 9,5 0,0 230,6 6,0 0,0

Ex-Jugoslávia 10,0 0,8 3,7 0,2 -62,8 13,5 0,7 0,0 12,0 0,5 -11,1 10,5 0,3 -12,2

Kuwait 37,4 2,9 39,6 2,3 5,8 46,6 2,4 17,6 38,8 1,6 -16,7 37,8 1,0 -2,7

Líbia 208,4 15,9 221,7 13,0 6,4 221,7 11,7 0,0 231,4 9,6 4,4 231,4 6,0 0,0

Polónia 21,7 1,7 21,7 1,3 0,0 21,7 1,1 0,0 21,7 0,9 0,0 21,7 0,6 0,0

Roménia 14,0 1,1 14,0 0,8 0,0 14 0,7 0,0 13,3 0,5 -5,3 12,2 0,3 -8,0

República Checa 0,0 0,0 11,3 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 _ 0,0 0,0

Coreia do Sul 0,0 0,0 3,8 0,2 29,6 1,6 0,0 85,5 3,5 189,1 125,2 3,3 46,5

Fundo Saudita 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 32,3 1,3 0,0 6,5 0,2 0,0

Invest.Internacional - - - - - - - - - - - 495,2 - -

Total 1.307,0 100,0 1.709,5 100,0 30,8 1.902,4 100,0 11,3 2.415,2 100,0 27,0 3.850,7 100,0 59,4

Fonte: Anexo Informativo 6 da CGE (2010 - 2014).

Câmbio (2014) 1 USD = 31,5 Meticais.

Dívida Bilateral - CGE (Em milhões de Dólares)

2014 Var.

(%)

14/13

Mutuante

2012 Var.

(%)

13/12

Var.

(%)

12/11

2010 Var.

(%)

11/10

2011 2013

10.4.3 – Créditos Externos contraídos em 2014

De acordo com o Relatório da Dívida Pública fornecido pela DNT, o Estado Moçambicano

assinou 22 acordos de financiamento em 2014 no total de 1.582 milhões de Dólares

Americanos, dos quais 18, de 1.020 Milhões, correspondem a créditos concessionais, e 4, no

montante 562 milhões de Dólares Americanos, a créditos não concessionais.

À semelhança de 2013, contrariando o previsto na Lei Orçamental, o Estado Moçambicano

continua a contrair empréstimos não concessionais, no limiar dos limites previstos e

recomendados pelo FMI. Tendo em conta que a análise de sustentabilidade coloca o Estado

Moçambicano dentro dos limites, mas circunscrito a um cenário base, é preciso ter em conta

que os empréstimos não concessionais apresentam taxas de juros de mercado (não

subsidiadas) ou delas próximas, maturidades mais curtas e períodos de graça inferiores para o

seu reembolso.

Como já foi sublinhado, a Dívida Pública Externa é constituída por Créditos Externos, acordos

assinados entre dois Estados que resultam no aumento do stock de dívida, apenas no momento

do seu desembolso. Estes Créditos Externos que os Estados contraem, têm como objecto

financiar projectos ou cobrir o défice orçamental, dividindo-se, como indicado atrás, em dois

grupos - concessionais e não concessionais.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-10

É de referir que não obstante os Créditos Externos celebrados em 2014 e sem desembolsos não

contribuírem para o stock da Dívida Pública Externa, criam um potencial nesse sentido, no

futuro.

Seguidamente, apresenta-se a lista de 24 acordos de empréstimo assinados em 2014, que foi

fornecida pela DNT. Destes, apenas 5 tiveram um desembolso parcial, sendo o respectivo

detalhe apresentado no Quadro X.8 a seguir:

Quadro n.º X.8 - Créditos Celebrados em 2014 com Desembolso

N.º

OrdemCódigo Credor Valor

1 2014003 Eximbank of China 312,0

2 2014010 Caixa Francesa para o Desenvolvimento 44,0

3 2014014 Caixa Francesa para o Desenvolvimento 52,0

4 2014022 IDA 11,7

5 2014038 IDA 54,0

Total 473,7

Fonte: DNT.

(Em milhões de Dólares)

Como se pode observar no quadro, os acordos assinados em 2014, com desembolso, que

contribuem para o stock da dívida, somam 473,7 milhões de Dólares Americanos, de um total

de 1.617,0 milhões de Dólares Americanos, dos acordos celebrados. Deste modo existe um

potencial de acréscimo ao stock da Dívida Externa (com origem no ano de 2014) de 1.143,3

milhões de Dólares Americanos.

O quadro que a seguir se apresenta, detalha os empréstimos já corrigidos quanto à sua

concessionalidade e condições de pagamento, podendo confirmar-se que o Estado

Moçambicano continua a contrair empréstimos não concessionais.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-11

Quadro n.º X.9 – Créditos Externos Contraídos em 2014

N.º Projecto MoedaValor do

Acordo

Valor

USD

milhões

Taxa de

Juro (%)

Encargos

Admnistrativos

(%)

Período

Graça

(Anos)

Maturidade

(Anos)Assinatura

Grant

element

(%)

1 Projecto de Gás-Maputo JPY 17,269,0 170,3 0,01 0 10 40 01/13/14 36,37

2 Construção do Instituto de Ciências de Saúde- Maputo JPY 84 82,8 0,01 0 10 40 1/16/2014 36,37

253,1

3 Reabilitação da Estrada N6 USD 312,4 312,4 1,50 0 7 20 1/13/2014 36,37

312,4

4 Electrificação Rural Niassa - Fase II IBD 5,37 8,29 0 0 7 25 1/13/2014 53,12

5 Aquacultura e Pesca Artesanal IBD 4,55 6,74 0 0 10 28 06/26/14 59,99

6 Aquacultura e Pesca Artesanal USD 5 5 0 0 10 30 06/26/14 63,60

20,03

7 Assistência Técnica no Investimento de Gás e Energia em Grande Escala UA 9,95 14,74 0,75 0,5 10 50 3/25/2014 63,87

8 Emponderamento e Capacitação da Mulher - Fase de Consolidação UA 1,24 1,84 0,75 0,5 10 50 03/25/14 63,87

16,58

9 Expansão do Abastecimento de Água - Maputo SDR 118,8 178 0,75 0 10 40 1/31/2014 59,02

10 Manutenção de Estradas e Pontes-Emenda do Acordo de Financiamento SDR 2,1 3,15 0,75 0 10 40 2/24/2014 59,90

11Manutenção de Estradas e Pontes - Mudanças Climáticas (Fundo Estratégico do

Clima)USD 6,5 6,5 0,75 0 10 40 2/24/2014 60,62

12 Desenvolvimento do Sector Financeiro - FD SDR 8,1 11,9 0,75 0 6 38 8/7/2014 54,36

199,55

13Reabilitação e Melhoramento das Infra-Estruturas de Navegação - Aeroporto

Internacional de MaputoUSD 44 44 0,79 0 4 20 03/03/14 39,67

44

14 Const.of.Fisherries&M.Techn.Polytecnc USD 9,9 9,9 1 0 10 30 05/21/14 51,87

9,9

15 Construção da Estrada N 104 Nampula & Nametil USD 75,4 75,4 0,01 0 15 40 05/26/14 74,77

16 Construção de Aterro - Maputo Matola USD 48,6 48,6 0,01 0 15 40 5/26/2014 74,77

17 Construção do Hospital de Quelimane - Suplemental USD 25 25,0 0,01 0 15 40 12/18/2014 74,77

149

18 Electrificação Rural - Niassa SAR 56.2 15,1 1 0 10 30 6/25/2014 50,18

15,1

1.020

19 Construção e Reabilitação de Infra-Estruturas Rodoviárias MZN 1,1 34,92 9 0 1,3 10 12/24/2014

34,92

20 Barragem Moamba Major USD 320 320 5 0,5 5,5 15,5 7/16/2014 -1,49

320

21 Reabilitação do Porto de Pesca da Beira USD 120 120 2 0 7 20 11/15/14 28,93

120

22 Reabilitação do Aeroporto de Maputo ID 20 25,2 0,99 0 3 13 7/17/2014 14,03

25,2

23 Infra-Estruturas Aeroporto Internacional de Maputo USD 9.98 9,98Libor 6

m+3.51,75 2 10 12/18/2014

10

24 Projecto da Central Térmica de Ressano Garcia (Gás) USD 52 52,0 7 0,25 3 15 5/30/2014 -10,43

52,0

562

1.582

Subtotal

Subtotal

Subtotal

Subtotal

Subtotal

Governo França

BADEA

EXIMBANK of KOREA

Subtotal

Subtotal

Créditos concessionais

JICA Japão

EXIMBANK of CHINA

FAD

IDA

BID

Subtotal

Fonte: Anexo 4 do Relatório da Dívida Pública de 2014 da DNT.

Subtotal

Subtotal

Total concessionais

Total geral

Subtotal

Total não concessionais

Subtotal

Subtotal

Subtotal

EXIMBANK of CHINA

EIB

Governo França

The Saudi Devolop

Creditos não concessionais

ALEMANHA

Banco Comercial e de Investimentos

BRASIL

Subtotal

Dos Créditos Externos contraídos em 2014, da relação deste quadro, foram apresentados, a

seguir, aqueles cujo desembolso parcial ou total foi efectuado em 2014.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-12

Quadro n.º X.10 – Relação dos Empréstimos Celebrados em 2014 com Desembolso

N.º

Ordem

N.º

Emprestim

o

Credor CategoriaValor do emprétismo

Em USD

Stock da Dívida Em

USDMaturidade Finalidade

1 2014003Eximbank of

ChinaBilateral 312.400.000,00 93.713.394,18 20 Anos

Financiamento para o Projecto de

Reabilitação da Estrada N6: Beira

Machipanda

2 2014010

Caixa Francesa

para o

Desenvolvimento

Bilateral 44.000.000,00 7.000.000,00 26 Anos

Reabilitação e Melhoria das Áreas de

Manobra do Aeroporto Internacional de

Maputo

3 2014014

Caixa Francesa

para o

Desenvolvimento

Bilateral 52.000.000,00 39.904.358,31 15 Anos

Financiamento da Participação da empresa

Electricidade de Moçambique, E.P. no

Capital da Central Térmica de Ressano

Garcia, SA

408.400.000,00 140.617.752,49

4 2014022

Associação

Internacional para

Desenvolvimento

(IDA)/WB

Multilateral 11.732.329,08 11.732.329,08 38 AnosPrograma de Gestão de Finanças Públicas

Orientando para Resultados

5 2014038

Associação

Internacional para

Desenvolvimento

(IDA)/WB

Multilateral 54.026.651,22 54.026.651,22 38 Anos Apoio Directo ao Orçamento do Estado

65.758.980,30 65.758.980,30

474.158.980,30 206.376.732,79

Fonte: DNT.

Sub Total Bilateral

Sub Total Multilateral

Total

10.5 – Dívida Interna

A Dívida Interna é a contraída pelo Estado junto de entidades de direito público ou privado,

com residência ou domiciliadas no País e cujo pagamento é exigível dentro do território

nacional.

De acordo com o Mapa I-3 da CGE, a Dívida Interna é constituída pelas rubricas Banco

Central, Bilhetes do Tesouro, Obrigações do Tesouro e Outros. O Quadro n.º X.11, a seguir,

ilustra os valores desagregados da dívida interna no quinquénio 2010-2014.

Quadro n.º X.11 – Evolução do Stock da Dívida Interna no Quinquénio 2010-2014

2010

Valor ValorVar.

%Valor Var.% Valor

Var.

%Valor

Var.

%

Banco Central 3.000.000 3.000.000 0,0 3.000.000 0,0 3.000.000 0,0 3.000.000 0,0 0,0

Bilhetes do Tesouro 5.500.000 5.500.000 0,0 5.000.000 -9,1 8.400.000 68,0 8.400.000 0,0 52,7

Obrigações do Tesouro 4.991.070 7.375.887 47,8 10.525.999 42,7 13.333.999 26,7 17.940.114 34,5 259,4

Outros 5.256.296 6.454.318 22,8 5.212.318 -19,2 4.992.113 -4,2 5.481.919 9,8 4,3

Total 18.747.366 22.330.205 19,1 23.738.317 6,3 29.726.112 25,2 34.822.033 17,1 85,7

(Em mil Meticais)

Dívida Interna

2013 2014 Variaç.

Stock da

Dívida

10/14

2011 2012

Fonte: Direcçao Nacional do Tesouro e Mapa I-3 da CGE (2010-2014).

No exercício económico de 2014, o saldo acumulado da dívida interna foi de 34.822.033 mil

Meticais, dos quais 3.000.000 mil Meticais, referem-se ao reforço do Balanço Cambial do

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X-13

Banco de Moçambique, 8.400.000 mil Meticais, aos Bilhetes de Tesouro, emitidos junto de

outros bancos comerciais e instituições financeiras, 17.940.114 mil Meticais, às Obrigações do

Tesouro e 5.481.919 mil Meticais, a créditos diversos.

Relativamente ao exercício anterior, o saldo acumulado da dívida interna registou um aumento

de 17,1%, em termos nominais, ao passar de 29.726.112 mil Meticais, para 34.821.313 mil

Meticais, com destaque para as Obrigações do Tesouro e outras dívidas, que cresceram 34,5%

e 9,8%, respectivamente.

A variação de 85,7% do stock da dívida interna, no quinquénio 2010-2014, foi

maioritariamente influenciada pelo acentuado crescimento das Obrigações do Tesouro

(259,4%). O stock da dívida de Bilhetes de Tesouro foi estável nos primeiros três anos do

quinquénio e cresceu 68,0%, de 2012 para 2013, não tendo sofrido alterações no último ano. O

stock de outras dívidas internas registou flutuações pouco significativas e, no quinquénio, foi

de 4,3%. O stock da dívida do Banco Central não registou qualquer alteração, no período 2010

a 2014, pois teve origem nos anos 2006 e 2007.

O detalhe de cada um dos itens é apresentado nos pontos seguintes.

10.5.1 – Banco Central

Ao abrigo da Lei n.º 1/92, de 3 de Janeiro, que define a natureza, os objectivos e funções do

Banco de Moçambique como Banco Central da República de Moçambique, preconiza que o

Estado pode contrair empréstimo junto do Banco de Moçambique. O número 1 do artigo 18 da

mesma lei estipula que o Banco poderá conceder, ao Estado, anualmente, crédito sem juros,

sob a forma de conta corrente, em moeda nacional, até ao montante máximo de dez por cento

das receitas ordinárias do Orçamento Geral do Estado arrecadadas no penúltimo exercício.

Ainda, o número 2 do mesmo artigo estatui que “Os levantamentos do Estado na mesma conta

serão feitos unicamente em representação das receitas orçamentais do respectivo exercício e o

crédito deverá estar liquidado até ao último dia do ano económico em que tiver sido aberto e

não o sendo, o saldo vencerá juros à taxa de redesconto do Banco”.

O saldo da dívida do Estado com o Banco de Moçambique era de 3.000.000 mil Meticais no

final do exercício de 2013. Em 2014, o capital não foi amortizado, razão pela qual o saldo da

dívida não sofreu alteração.

Como se pode observar no Quadro n.º X.12, no exercício de 2014, foi apenas pago o juro total

de 240.000 mil Meticais, respeitante às emissões de 2006 e 2007. Desde que foram feitas estas

emissões de dívida, não ocorreu qualquer amortização de capital pelo Estado. O montante de

juros pagos corresponde a uma taxa de juro de 8,0%.

Quadro n.º X.12 – Serviço da Dívida com o Banco de Moçambique

Amortização Juros Total

Emissão BM 2006 1.500.000 0 0 120.000 120.000 1.500.000

Emissão BM 2007 1.500.000 0 0 120.000 120.000 1.500.000

Total das Emissões 3.000.000 0 0 240.000 240.000 3.000.000

Fonte: DNT.

(Em mil Meticais)

Dívida com o

Banco de Moçambique

Saldo da

Dívida em

31/12/2013

Serviço da Dívida Saldo da Dívida

em

31/12/2014

Desembolso

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X-14

Consta, do Mapa I-3 da CGE de 2014, que esta dívida com o Banco Central surgiu da

necessidade do reforço do Balanço Cambial (regularização da conta flutuante de valores do

Banco de Moçambique).

10.5.2 – Bilhetes do Tesouro

Os Bilhetes do Tesouro são instrumentos de financiamento do Estado e de intervenção

monetária, os quais são emitidos pelo Banco de Moçambique, no quadro das medidas de

política monetária, para financiar défices temporários de Tesouraria do Estado, gerados pela

sazonalidade da receita fiscal ou eventuais atrasos nos desembolsos dos parceiros de

cooperação.

O Decreto n.º 22/2004, de 7 de Julho, estabelece o Regime Jurídico dos Bilhetes de Tesouro, e

nos termos da alínea a) do artigo 6 do mesmo diploma legal, é delegado no Ministro das

Finanças a competência para fixar, por diploma ministerial, o montante máximo de Bilhetes do

Tesouro a ser utilizado durante o exercício económico.

Na sequência da autorização concedida ao Governo, ao abrigo do artigo 9 da Lei n.º 1/2014,

de 24 de Janeiro, que aprova o Orçamento do Estado para o exercício económico de 2014, o

Diploma Ministerial n.º 64/2014, de 9 de Maio, do Ministro das Finanças, estipula o montante

máximo para a emissão de Bilhetes do Tesouro, de 18.000 milhões de Meticais.

Entretanto, através do Diploma Ministerial n.º 214/2014, de 24 de Dezembro, o Ministro das

Finanças fixou em 23.600 milhões de Meticais, o novo limite máximo.

No âmbito destes dois diplomas ministeriais, no exercício em apreço, foram emitidos Bilhetes

do Tesouro, no valor total de 22.200 milhões de Meticais, cujo detalhe, por datas de emissão, é

apresentado no quadro a seguir.

Quadro n.º X.13 – Detalhe dos Bilhetes do Tesouro Emitidos em 2014

Emissão Acumulado

1 27 de Março 1.000 1.000

2 24 de Abril 3.000 4.000

3 30 de Abril 2.400 6.400

4 23 de Maio 1.000 7.400

5 05 de Junho 1.000 8.400

6 30 de Junho 2.400 10.800

7 21 de Agosto 3.000 13.800

8 22 de Setembro 1.000 14.800

9 17 de Outubro 3.000 17.800

10 27 de Outubro 2.400 20.200

11 03 de Novembro 1.000 21.200

12 18 de Novembro 1.000 22.200

22.200 -

Fonte: DNT.

ValorData de Emissão de BT's

(Em milhões de Meticais)

N.º de

Emissões

Total das Emissões

Como se observa no quadro supra, no total de emissões de Bilhetes do Tesouro ocorridas no

exercício económico de 2014, temos as séries de 1.000 milhões de Meticais, em 27 de Março,

de 3.000 milhões de Meticais, em 24 de Abril, e de 2.400 milhões de Meticais, em 30 de Abril,

datas que são anteriores a 9 de Maio, a do Diploma Ministerial n.º 64/2014, de 9 de Maio.

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X-15

Do mesmo modo, o valor máximo de 18.000 milhões de Meticais fixado pelo Diploma

Ministerial ora mencionado, foi ultrapassado no dia 27 de Outubro de 2014, com a emissão de

BT´s no montante de 2.400 milhões de Meticais. Assim, esta e as seguintes emissões, no valor

total de 4.400 milhões de Meticais, emitidas até 18 de Novembro, foram feitas, igualmente,

sem estarem a coberto dos respectivos diplomas, visto que o limite máximo só viria a ser

rectificado para 23.600 milhões de Meticais, em 24 de Dezembro, através do Diploma

Ministerial n.º 214/2014, do Ministro das Finanças.

Assim, não tem cobertura legal as emissões feitas antes dos despachos do Ministro das

Finanças, para o efeito.

10.5.3 – Obrigações do Tesouro

As Obrigações do Tesouro são títulos emitidos pelo Estado para financiamento do défice

orçamental, assim como para o refinanciamento e substituição de títulos mais onerosos.

As emissões, cuja organização, colocação e demais condições constam das respectivas fichas

técnicas, são representadas por valores mobiliários escriturais, autorizadas através do Decreto

n.º 5/2013, de 22 de Março.

O montante máximo autorizado das Obrigações do Tesouro para o exercício de 2014 foi de

5.715.091,21 mil Meticais.

Neste mesmo exercício, foram emitidas Obrigações de Tesouro no valor total de 5.715.000 mil

Meticais, distribuídas em 8 séries, conforme as condições apresentadas no quadro que se

segue.

Quadro n.º X.14 - Condições de Emissão de OT´s em 2014

1.ª 2.ª 3.ª 4.ª 5.ª 6.ª 7.ª 8.ª

Montante

(em mil Meticais)664.000 576.000 312.000 370.000 600.000 2.000.000 800.000 393.000 5.715.000

Data 22/04/2014 21/05/2014 26/06/2014 23/07/2014 21/08/2014 10-02-2014 19/11/2014 12-03-2014

Prazo (anos) 3 3 3 3 3 3 3 3

Taxa de juro a) a) a) a) a) a) a) a)

Cálculo dos juros b) b) b) b) b) b) b) b)

Data de reembolso 22/04/2017 21/05/2017 26/06/2017 23/07/2017 21/08/2017 21/10/2017 19/11/2017 12-03-2017

Pagamento de juros

postecipados

22/Outubro e

30/Abril de

cada ano

21/Novembro e

21/Maio de

cada ano

26/Dezembro e

26/Junho de

cada ano

23/Janeiro e

23/Julho de

cada ano

21/Fevereiro e

21/Agosto de

cada ano

02/Abril e

02/Outubro de

cada ano

19/Maio e

19/Novembro de

cada ano

03/Junho e

03/Dezembro

de cada ano

Fonte: Fichas técnicas.

a) Taxa de juro fixa e estabelecida com base em leilão competitivo das taxas de juro.

b) Diário e numa base de 360 dias, correspondentes a 12 meses de 30 dias cada (ou seja na convenção 30/360).

DescriçãoSérie

Total

No Quadro n.º X.15 apresentam-se, dos anos 2010 a 2014, os dados relativos à dívida inicial,

às obrigações emitidas e aos pagamentos efectuados, do capital e juros.

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X-16

Quadro n.º X.15 – Evolução das Obrigações do Tesouro no Quinquénio

Anos

Dívida

no Início do

Exercício

Emissão de

Novas

Obrigações

Juros AmortizaçãoTotal de

Pagamentos

Dívida

no Final do

Exercício

2010 4.049.869 1.500.000 443.562 554.652 998.214 4.991.070

2011 4.991.070 2.618.617 656.308 233.800 890.108 7.375.887

2012 7.375.887 3.150.112 1.115.354 0 1.115.354 10.525.999

2013 10.525.999 3.158.000 991.991 350.000 1.341.991 13.333.999

2014 13.333.999 5.715.000 1.312.681 1.108.885 2.421.566 17.940.114

Total - 16.141.729 4.519.896 2.247.337 6.767.233 -

(Em mil Meticais)

Fonte: Mapa I-3 da CGE (2010 - 2014).

Como se pode ver, neste quadro, o saldo inicial das Obrigações do Tesouro, era 13.333.999

mil Meticais. Durante o exercício em consideração, foram emitidas Obrigações no valor total

de 5.715.000 mil Meticais e amortizados 1.108.885 mil Meticais, resultando um saldo final de

17.940.114 mil Meticais.

O saldo inicial refere-se a emissões de 2005 e de 2009 a 2013, sendo as amortizações

correspondentes às Obrigações de Tesouro de 2009 (amortizadas na totalidade) e de 2011.

Em relação aos juros, em 2014, foi pago o valor global de 1.312.681 mil Meticais, dos quais

76.630 mil Meticais correspondentes à 1.ª, 2.ª e 3.ª séries de 2014, cujos prazos se iniciaram

em Abril, Maio e Junho de 2014, respectivamente.

No decurso da auditoria realizada à Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), certificou-se

que os juros referentes às séries de 2013 e 2014 foram pagos em conformidade com as

condições previstas nas respectivas fichas técnicas.

O n.º 1 do artigo 9 da Lei Orçamental para 2014 estabelece que os empréstimos internos

observam as seguintes condições:

a) Taxa de juro determinada com base no leilão competitivo de taxas de juro,

condicionada à taxa máxima que minimize o serviço da dívida;

b) Período mínimo de amortização de três anos, com possibilidade de amortização

antecipada.

Estipula o n.º 2 do artigo 10 do Diploma Ministerial n.º 90/2013, de 10 de Julho, do Ministro

das Finanças, que “Do valor global das OT´s adquiridas pelos Operadores Especializados de

Obrigações do Tesouro (OEOT´s), no mínimo 30,0% dos valores mobiliários representativos

das OT´s devem integrar a conta para transacção” e, o n.º 1 do artigo 11 do mesmo diploma,

que “ficam os OEOT´s obrigados a assegurar que a percentagem dos valores mobiliários

representativos das OT´s e integrantes da conta para transacção, sejam dispersos pelo público,

através da Bolsa de Valores de Moçambique”.

Ainda durante a auditoria realizada à BVM, constatou-se que de todos os subscritores das

OT´s emitidas em 2014, apenas o Barclays, SA procedeu à passagem, na íntegra, das séries

por si subscritas.

Sobre o assunto, os gestores da BVM pronunciaram-se nos seguintes termos: “em 2014, foram

retirados os benefícios fiscais aos títulos de dívida cotados na Bolsa de Valores de

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X-17

Moçambique, o que contribuíu para a fraca procura das Obrigações do Tesouro, por parte dos

investidores, e dificultou a passagem de 30,0% das Obrigações do Tesouro detidas pelos

OEOT´s ao público em geral”.

Deste modo, na auditoria efectuada à BVM, foram validadas as condições de emissão das

OT´s de 2014, nomeadamente, no que respeita à determinação da taxa de juro e período

mínimo de reembolso, com excepção da passagem das OT´s subscritas pelos OEOT´s para o

público, por esta não ter sido efectivada, como atrás se referiu.

Da avaliação do circuito das emissões de OT’s, constatou-se que, em 2014, a DNT não

comunicou aos OEOT’s os valores das emissões colocadas, as respectivas taxas de juro e as

quantidades atribuídas a cada subscritor, contrariamente ao estatuído no artigo 8 do Diploma

Ministerial n.º 90/2013, de 10 de Julho, atrás citado.

A este respeito, o Governo, reagindo em sede do contraditório, afirmou que “Considerando

que a Lei sobre esta matéria é omissa, a prática observada tem sido a divulgação de

resultados de emissão das Obrigações de Tesouro a partir da facilidade electrónica da BVM

interligada aos Sistemas dos OEOT´s e das sessões da BVM”.

O quadro a seguir apresenta a evolução do rácio juros/dívida no quinquénio 2010-2014.

Quadro n.º X.16 – Evolução das Obrigações do Tesouro e

Respectivos Juros no Quinquénio

Obrigações do

Tesouro2010 2011 2012 2013 2014

Var.

(%)

14/10

Dívida 4.991.070 7.375.887 10.525.999 13.333.999 17.940.114 97,1

Juros 443.562 656.308 1.115.354 991.991 1.312.681 87,6

Juros/Dívida % 8,9 8,9 10,6 7,4 7,3 -17,7

(Em mil Meticais)

Fonte: Mapa I-3 da CGE (2010- 2014).

Observa-se que houve, no período de 2010 a 2014, uma variação do rácio juros/dívida para

menos 17,7%, tendo, em 2014, se situado em 7,3%, a mais baixa relação do quinquénio.

10.5.4 – Outra Dívida Interna

Da análise da dívida interna, no exercício de 2014, conforme apresentado no quadro a seguir,

consideram-se, para além das componentes Banco Central, Bilhetes do Tesouro e Obrigações

do Tesouro, já referidas, outras dívidas internas, constituídas pela compensação às

gasolineiras, dívida assumida e o financiamento para a construção de edifícios públicos na

forma de leasing.

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X-18

Quadro n.º X.17 – Outras Dívidas Internas 2014

Amortização Juros Total

Compensação às Gasolineiras 2.946.111 300.430 300.430 2.946.111

Dívida Assumida 109.538 109.562 39.113 148.675 24 0

Vidreira/Cristalaria 109.538 109.562 39.113 148.675 24 0

Leasing - Edifícios Públicos 1.936.464 1.129.149 672.552 264.104 936.655 142.746 2.535.807

Ministério do Trabalho

Ministério da Função Pública 211.138 66.202 17.587 83.789 144.936

Ministério da Juventude e Desportos 13.370 13.370 109 13.479 0

Ministério do Turismo 211.323 66.260 17.602 83.862 145.063

Instituto Nacional de Estatística 703.833 428.550 55.041 483.591 142.746 418.030

Tribunal Administrativo 606.800 98.170 54.535 152.705 508.630

Ministério da Energia 190.000 120.478 23.635 23.635 310.478

Autoridade Tributária de Moçambique 1.008.670 95.595 95.595 1.008.670

Total 4.992.113 1.129.149 782.114 603.646 1.385.760 142.771 5.481.918

Fonte: DNT.

(Em mil Meticais)

Tipos de Dívida/

Entidade

Saldo da

Dívida em

31/12/2013

Serviço da DívidaSaldo da

Dívida em

31/12/2014

Cancelame

nto/

Variação

Cambial

Desembolso

Observa-se, neste quadro, que, no início do exercício de 2014, o saldo de outras dívidas

internas apresentava o valor de 4.992.113 mil Meticais, sendo de 2.946.111 mil Meticais de

compensação às gasolineiras, 109.538 mil Meticais de dívida assumida à empresa

Vidreira/Cristalaria e 1.936.464 mil Meticais na forma de leasing para o financiamento de

edifícios públicos do Ministério da Função Pública, Ministério da Juventude e Desportos,

Ministério do Turismo, Instituto Nacional de Estatística, Tribunal Administrativo e Ministério

da Energia.

Menciona-se, no Mapa I-3 da CGE-2014, o desembolsado de 1.129.149 mil Meticais, no

exercício em apreço, de créditos relativos a (i) subsídio aos combustíveis, (ii) dívida das

empresas Vidreira/Cristalaria, (iii) leasing resultante da construção de edifícios públicos e (iv)

comissões pagas à Bolsa de Valores de Moçambique.

Questionado sobre o assunto no âmbito do pedido de esclarecimentos sobre a CGE-2014, o

Governo afirmou que o valor de 1.129.149 mil Meticais corresponde apenas ao leasing de

construções de edifícios, sendo 120.478 mil Meticais para o Ministério da Energia e 1.008.670

mil Meticais para a Autoridade Tributária de Moçambique.

Para a realização do serviço da dívida foram pagos, no exercício em análise, 1.493.100 mil

Meticais, sendo 782.114 mil Meticais, respeitantes à amortização de capital, e 603.646 mil

Meticais, de juros. Foi amortizada totalmente a dívida assumida pelo Estado, referente à

Vidreira/Cristalaria, bem como a do leasing do Ministério da Juventude e Desportos.

A restante dívida interna saldou-se em 5.481.918 mil Meticais, no final do exercício de 2014,

sendo 2.946.111 mil Meticais de compensação às gasolineiras, montante que não sofreu

alteração em relação ao exercício anterior, e 2.535.807 mil Meticais, no financiamento, em

forma de leasing, de edifícios públicos do Ministério da Função Pública, Ministério do

Turismo, Instituto Nacional de Estatística, Tribunal Administrativo, Ministério da Energia e

Autoridade Tributária de Moçambique.

No Quadro n.º X.17, está em falta a informação relativa ao contrato de leasing para a

construção do edifício do Ministério do Trabalho, que foi celebrado a 29 de Novembro de

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X-19

2007, contemplando 84 prestações mensais, cujo termo é em Outubro de 2014, o que levaria a

que tivesse que fazer parte do quadro quanto ao saldo inicial, amortizações e juros.

10.6 – Operações Financeiras Passivas e o Serviço da Dívida Pública

As Operações Financeiras Passivas compreendem a amortização de empréstimos contraídos

pelo Estado, a regularização de adiantamentos recebidos e a execução de avales ou garantias.

Estas operações integram as rubricas “Empréstimos Externos”, “Empréstimos Internos

Bancários” e “Obrigações Internas”.

No quadro seguinte, é apresentado o resumo dos movimentos que foram registados como

Operações Passivas, no Mapa V da CGE de 2014, relativos ao reembolso do capital dos

empréstimos externos e internos.

Quadro n.º X.18 – Execução das Operações Passivas

Lei n.º

1/2014

Lei n.º

22/2014CGE/2014 Valor % Peso

232 Operações Passivas 6.688.592 5.579.292 5.579.293 5.029.224 90,1 100,0

232001 Empréstimos Externos - - 3.688.293 3.138.224 85,1 62,4

232002 Empréstimos Internos - - 1.891.000 1.891.000 100,0 37,6

Código Designação

Execução

(Em mil Meticais)

Fonte: Mapa A (Lei n.º 1/2014, de 24 de Janeiro, e Lei n.º 22/2014, de 2 de Outubro) e Mapa V da CGE de 2014.

Dotações

Como se pode observar do quadro anterior, a execução das Operações Passivas foi de

5.029.224 mil Meticais, correspondente a 90,1%, tendo contribuído, para tal, os Empréstimos

Externos e Internos, com a execução de 85,1 e 100%, respectivamente.

No quadro seguinte, apresenta-se a informação do Serviço da Dívida Pública, em 2014.

Quadro n.º X.19 – Serviço da Dívida Pública em 2014

Amortização

do CapitalJuros Total

Amortização

do CapitalJuros Total

Externa 3.138.225 2.359.443 5.497.668 17,0 99.626 74.903 174.529

Interna 24.090.999 2.833.487 26.924.486 83,0

Total 27.229.224 5.192.930 32.422.154 100,0

* Os valores em Dólares resultam da aplicação da taxa de câmbio 1 USD = 31,5 Meticais.

Dívida

Pública

Mil Meticais * Mil DólaresPeso

%

Fonte: Mapa I-3 da CGE e auditoria à DNT.

No presente exercício, o Serviço da Dívida Pública foi de 32.422.154 mil Meticais, sendo o

peso da dívida externa e o da interna de 17,0% e 83,0%, respectivamente.

O Serviço da Dívida Externa foi de 174.529 mil Dólares Americanos, um acréscimo de 31.110

mil Dólares Americanos, em relação ao exercício económico de 2013, que registou 143.419

mil Dólares Americanos.

Foram pagos, de juros da Dívida Interna, 2.833.487 mil Meticais, distribuídos da seguinte

forma:

240.000 mil Meticais, referentes à dívida, para efeitos de reforço do balanço cambial

(regularização da conta flutuante de valores do Banco de Moçambique);

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-20

569.820 mil Meticais, referentes a fluxos de BT´s que ocorrem somente a nível de

Operações de Tesouraria;

1.312.681 mil Meticais, de Obrigações do Tesouro; e

710.986 mil Meticais, referentes ao subsídio aos combustíveis, à dívida contraída e

assumida pelo Estado e leasing resultante da construção de edifícios públicos;

Seguidamente, apresenta-se o gráfico ilustrativo da Evolução do Serviço da Dívida Pública,

nos últimos 5 anos.

Gráfico n.º X.4 – Evolução do Serviço da Dívida Pública

Fonte: Mapa I-3 da CGE (2010-2014).

No gráfico acima, verifica-se que o Serviço da Dívida Pública caracterizou-se por uma

tendência crescente, de 2010 a 2013, reduzindo, ligeiramente, o seu valor, em 2014, passando

de 35.842.681 mil Meticais para 32.422.154 mil Meticais, como consequência da quebra

verificada no Serviço da Dívida Interna.

O serviço da Dívida Externa cresceu, no período, e, em 2014, o seu valor foi de 5.497.668 mil

Meticais, um aumento de 19,9%, em relação a 2013.

10.7 – Outras Responsabilidades

10.7.1 – Avales e Garantias

Os Avales e Garantias constituem uma dívida pública indirecta e contingencial, dado que o

Estado assume a responsabilidade, em caso de incumprimento do devedor, de pagar a dívida

ao credor. A probabilidade de ocorrência desta substituição estará dependente da situação

económico-financeira do devedor, que deverá estar sujeita à avaliação, pelo Estado, da maior

ou menor aderência aos planos de viabilidade económica e financeira e da sustentabilidade da

dívida, informações que acompanham o pedido de autorização do empréstimo. A emissão e

0

5,000,000

10,000,000

15,000,000

20,000,000

25,000,000

30,000,000

35,000,000

2010 2011 2012 2013 2014

7,215,096

24,370,600

28,190,422

31,554,935

26,924,486

1,827,443 2,115,874 2,812,1584,285,577

5,497,668

Interna

Externa

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Novembro de 2015

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X-21

gestão dos avales e garantias do Estado são efectuadas pelo Ministério das Finanças, através

da DNT.

No exercício em apreço, o Estado emitiu garantias e avales a favor de 3 empresas, a Empresa

Moçambicana de Atum, SA (EMATUM, SA), o Fundo de Estradas e os Aeroportos de

Moçambique, E.P, cujo detalhe é apresentado no quadro a seguir.

Quadro n.º X.20 – Créditos Concedidos com Avales e Garantias do Estado

(Em mil Meticais)

N.º

OrdemEmpresa Valor

1 EMATUM, SA 10.920.000

2 Fundo de Estradas 1.100.000

3 Aeroportos de Moçambique, E.P 308.900

12.328.900

Fonte: DNT e CGE de 2014.

Total

Como se pode observar no quadro acima, as 3 empresas contraíram empréstimos com aval do

Estado, no valor total de 12.328.900 mil Meticais. Este valor encontra-se dentro do limite

fixado pela Lei n.º 1/2014, de 24 de Janeiro, que aprova o Orçamento do Estado de 2014, de

15.783.500 mil Meticais.

No presente exercício, é a primeira vez que a CGE apresenta a informação relativa aos avales

e garantias concedidos pelo Estado, cumprindo o preconizado no artigo 2 da Resolução n.º

17/2015, da Assembleia da República, de 18 de Junho, que aprova a Conta Geral do Estado

referente ao exercício económico de 2013, segundo o qual “O Governo deve observar as

recomendações constantes do Parecer do Tribunal Administrativo, sobre a Conta Geral do

Estado de 2013”.

O Governo, no Relatório sobre os Resultados da Execução Orçamental refere que foi

efectuada uma remodelação do empréstimo de 850 milhões de Dólares Americanos, contraído

pela EMATUM, tendo ficado assumidos pelo Estado 500 milhões de Dólares Americanos e

avalizados 350 milhões de Dólares Americanos.

10.7.2 - Cartas de Conforto

A carta de conforto é uma missiva dirigida a uma instituição de crédito por uma entidade que

detém interesses dominantes ou significativos numa terceira entidade. Nessa carta, a entidade

subscritora afirma ou pressupõe conhecer um compromisso assumido ou a assumir pela

terceira entidade, perante a destinatária. Posto isto, ela conforta ou tranquiliza a instituição de

crédito em causa, quanto à seriedade da recomendada ou quanto ao incumprimento dos

deveres por ela assumidos.

Da auditoria realizada aos Aeroportos de Moçambique, E.P., foi constatado que o Estado

emitiu uma carta de conforto para permitir à empresa contrair um empréstimo bancário de

41.534.260 Dólares Americanos, para a construção do Aeroporto Internacional de Nacala.

Em 2014, o Estado, emitiu cartas de conforto a diversas entidades para permitir a estas a

contratação de empréstimos bancários. Da auditoria realizada à DNT foram solicitadas as

cartas de conforto emitidas pelo Estado no ano de 2014, as entidades e os montantes

autorizados. O detalhe disponível é apresentado no quadro a seguir.

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X-22

Quadro n.º X.21 – Cartas de Conforto Emitidas pelo Estado em 2014

Beneficiário Finalidade Banco Valor

Petromoc, SARLApoio às gasolineiras na importação de

combustíveis.Sindicato de 8 Bancos n.d

Aeroportos de Moçambique, E.P.Reajuste de preço do projecto do

Aeroporto de Nacala.Banco Comercial de Investimentos n.d

Conselho Municipal da Matola Construção do Edifício Sede. Banco Comercial de Investimentos n.d

Empresa Moçambicana de Transportes

Públicos de Maputo/TPM

Importação de peças sobressalentes

para autocarros.Banco Comercial de Investimentos n.d

Instituto de Gestão das Participações do

Estado (IGEPE)

Participação no projecto de montagem

de viaturas.Banco Comercial de Investimentos n.d

Fonte: DNT.

Relativamente a estas cartas de conforto, faltou a informação sobre os valores. A falta destes

impossibilita a análise económica e financeira dos processos.

10.7.3 – Parcerias Público-Privadas

As Parcerias Público-Privadas (PPP´s) correspondem a um empreendimento em área de

domínio público ou em área de prestação de serviço público, no qual, mediante contrato e sob

financiamento, no todo ou em parte, do parceiro privado, este se obriga, perante o parceiro

público, a realizar o investimento necessário e a explorar a respectiva actividade, para a

provisão eficiente de serviços ou bens que compete ao Estado garantir a sua disponibilidade

aos utentes, nos termos da alínea a) do n.º 2 do artigo 2 da Lei n.º 15/2011, de 10 de Agosto,

que estabelece as normas orientadoras de processo de contratação, implementação e monitoria

de empreendimentos de Parcerias Público-Privadas, de projectos de grande dimensão e

concessões empresariais.

O princípio utente-pagador nas PPP´s significa que o preço pago pelos serviços prestados deve

compensar os custos daí decorrentes e proporcionar uma margem de lucro. Os contratos

podem atingir o período de 30 anos, com o máximo de prorrogação de 10 anos, em

determinados condicionalismos, nos termos da alínea a) dos n.os

1 e 2 do artigo 22 da lei acima

referida.

Seguindo a recomendação do Tribunal Administrativo sobre a CGE de 2013, relativamente à

presente Conta, foi reportada a execução e o desempenho das Parcerias Público-Privadas do

exercício económico, cumprindo o disposto no n.º 2 do artigo 24 da lei acima citada, segundo

o qual a Conta Geral do Estado deve reportar a execução e o desempenho das Parcerias

Público-Privadas no final de cada exercício económico.

Contudo, da informação que se indica na CGE, Anexo A, não se indica o tempo da concessão

dos Projectos de Grande Dimensão (PGD) e das Concessões Empresariais (CE), em preterição

do estatuído no n.º 1 do artigo 24 da lei que temos vindo a citar, segundo o qual as PPP’s,

PGD e CE devem ter um enquadramento orçamental apropriado, dada a sua repercussão

traduzida em compromissos plurianuais de longo prazo, com exposição do erário.

Os procedimentos aplicáveis ao processo de contratação, implementação e monitoria dos

empreendimentos de PPP’s, Projectos de Grande Dimensão e Concessões Empresariais, são

estabelecidos através do Regulamento publicado pelo Decreto n.º 16/2012, de 4 de Julho.

Segundo o Anexo A da CGE, “Informação sobre o Desempenho Económico- Financeiro dos

Empreendimentos de Parcerias Público-Privadas”, em 2014, o volume de negócios

representado por estes empreendimentos foi de 4.369 milhões de Meticais.

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X-23

As PPP´s registaram resultados líquidos positivos, no valor de 1.380,6 milhões de Meticais,

pese embora os projectos da Linha Férrea e Serviços Marítimos do Porto de Nacala, do

Corredor Logístico Integrado de Nacala e das Estradas do Zambeze terem registado prejuízos.

No que diz respeito ao Porto da Beira, é o projecto com maior contribuição, tendo atingido, no

ano de 2014, um lucro de cerca de 1.231,5 milhões de Meticais, seguido do Porto de Maputo,

com cerca de 584,5 milhões de Meticais, o equivalente a 89,2% e 42,3% do lucro total,

alcançado pelas PPP´s, respectivamente.

Os Terminais Portuários e Logísticos de Pemba e Palma apresentam uma contribuição de

cerca de 3 milhões de Meticais, sendo esta a menor contribuição. O projecto Águas da Região

de Maputo, que arrecadou receitas no montante de cerca de 1.353,9 milhões de Meticais e com

um lucro de cerca de 22,8 milhões de Meticais, é, em termos de actividade (vendas), a terceira

maior PPP a nível nacional, depois dos Portos da Beira e de Maputo.

Relativamente à geração de emprego, os empreendimentos de PPP’s empregaram no ano em

análise um total de 3.534 trabalhadores, dos quais 64 estrangeiros. Os projectos da área ferro-

portuária empregaram no total 2.202 trabalhadores, o equivalente a 62,3% da massa laboral de

todos os empreendimentos.

10.8 – Défice Orçamental

Défice Orçamental é a diferença entre as receitas e despesas do Orçamento de um dado

período, originando a necessidade de financiamento. O sector público financia os seus défices

orçamentais por duas vias: emissão de títulos de dívida pública (Obrigações do Tesouro e

Bilhetes do Tesouro), que são adquiridos por singulares e empresas, podendo também ser

adquiridos pelo Banco Central, e obtenção de crédito junto do Banco Central. O financiamento

do Défice Orçamental em Moçambique é feito com recurso a donativos e empréstimos

internos e externos. No exercício em apreço, o Governo recorreu aos empréstimos no mercado

interno de capitais, através de Obrigações e Bilhetes do Tesouro, e a empréstimos externos.

O Quadro n.º X.22 e o Gráfico n.º X.5, a seguir, reflectem a evolução dos donativos,

empréstimos externos e internos.

Quadro n.º X.22 – Evolução dos Donativos e Empréstimos Externos e Internos

Designação 2010 Peso 2011 Peso 2012 Peso 2013 Peso 2014 Peso

Donativos 1.083.054 68,9 942.504 61,2 929.672 59,3 1.013.183 48,2 765.285 30,1

Empréstimos Externos 442.739 28,2 507.094 32,9 531.656 33,9 981.904 46,7 1.599.882 62,8

Empréstimos Internos 45.746 2,9 90.080 5,9 107.147 6,8 105.831 5,0 181.429 7,1

Total 1.571.539 100,0 1.539.679 100,0 1.568.474 100,0 2.100.918 100,0 2.546.596 100,0

Fonte: Mapa II-6 da CGE (2010-2014).

(Em mil Dólares)

Taxa de câmbio média anual, 1 USD=32,79 Meticais em 2010, 29,07 Meticais em 2011, 29,41 Meticais em 2012, 29,84 Meticais em 2013 e 31,5 Meticais em

2014.

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X-24

Gráfico n.º X.5 – Evolução dos Donativos e Empréstimos Externos e Internos

Fonte: Mapa II-6 da CGE (2010-2014).

0%

20%

40%

60%

80%

100%

2010 2011 2012 2013 2014

69%61% 59%

48%

30%

28%33% 34%

47%

63%

3% 6% 7% 5% 7%

EmpréstimosInternos

EmpréstimosExternos

Donativos

P

e

rc

e

nt

a

ge

No Quadro n.º X.22 e no Gráfico n.º X.5, é evidente que a composição das fontes de

financiamento do défice orçamental tem vindo a registar um ajustamento gradual, com uma

cada vez menor preponderância da componente de Donativos que, em 2010, 2011, 2012 e

2013, teve um peso de 69,0%, 61,0%, 59,0% e 48,0%, respectivamente, registando, no

exercício em apreço a sua menor comparticipação no quinquénio, com 30,0%.

Nos primeiros três anos do quinquénio, a componente Donativos teve sempre um peso de mais

de metade do financiamento total, invertendo-se essa situação nos dois exercícios seguintes,

em que o peso da componente Donativos situou-se em 48,0%, em 2013, e 30,0% em 2014.

Isso tem vindo a ser compensado por um aumento da participação dos empréstimos, externos e

internos, que registaram os pesos de 63,0% e 7,0%, respectivamente, em 2014.

No exercício em apreço, a comparticipação dos empréstimos externos registou um aumento de

63,0% em relação ao ano anterior, enquanto os empréstimos internos fixaram-se, no presente

exercício, em 7,0%.

No Quadro n.º X.23 e Gráfico n.º X.6, é apresentada a relação entre os fundos externos que

financiaram o Orçamento do Estado e as despesas pagas, de 2010 a 2014.

Quadro n.º X.23 – Relação entre o Financiamento Externo do Défice e o total das

Despesas

Descrição 2010 2011 2012 2013 2014

Var.

(%)

14/10

Financiamento Externo 41.836 42.140 42.963 59.533 41.662 -0,4

Despesa Total 107.085 127.935 145.245 182.191 227.049 112,0

Funcionamento 59.356 70.989 83.805 95.655 118.470 99,6

Investimento 43.681 51.012 53.457 72.301 87.036 99,3

Operações Financeiras 4.048 5.935 7.983 14.235 21.543 432,1

Financiamento Externo/

Despesa Total (%)39,1 32,9 29,6 32,7 18,3 212,9

Fonte: Mapa I da CGE (2010-2014).

(Em milhões de Meticais)

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X-25

Gráfico n.º X.6 – Relação entre o Financiamento Externo e o total das Despesas

De 2010 a 2012, verificou-se uma tendência decrescente do peso, ao passar de 39,1% para

29,6, tendo, em 2013, registado a proporção de 32,7%, voltando a cair para 18,3%, no ano em

análise, a menor relação entre o Financiamento Externo e a Despesa Total no período em

análise.

10.9 – Sustentabilidade da Dívida

A Sustentabilidade da Dívida ou nível de solvência é a capacidade de um país honrar as suas

responsabilidades relativas ao serviço da dívida, sem prejuízo dos seus objectivos de

desenvolvimento económico e social.

Os indicadores de Sustentabilidade da Dívida baseiam-se num conjunto de dados macro

económicos, nomeadamente, a dívida pública, serviço da dívida, PIB, receitas correntes e nível

de exportações, de que assumem particular enfoque as relativas aos grandes projectos. Os

dados macroeconómicos da análise da sustentabilidade da dívida respeitantes ao período de

2010 a 2014 são apresentados no Quadro n.º X.24.

Quadro n.º X.24 – Dados Macroeconómicos da Dívida

Descrição 2010 2011 2012 2013 2014

Dívida Pública Total 3.890,5 5.156,8 5.636,4 6.794,5 8.170,7

Dívida Externa 3.318,8 4.388,6 4.829,2 5.798,3 7.065,2

Serviço da Dívida Pública Total 275,8 311,1 1.054,2 1.201,1 1.029,3

Serviço da Dívida Externa 55,7 62,9 95,6 143,6 174,5

Receitas Correntes 1.895,9 2.138,6 3.287,9 4.111,7 4.871,4

PIB 9.538,0 12.567,4 13.869,5 15.452,4 17.857,0

Exportações 2.243,1 3.118,3 3.469,8 4.122,6 3.916,4

Exportações (Grandes Projectos) 1.668,1 2.015,3 2.194,5 2.325,4 2.429,5

Fonte: Mapa I-3 e Tabela 4 da CGE (2010-2014).

Câmbio (2014) 1 USD = 31,5 Meticais.

(Em milhões de Dólares)

Como se pode observar no quadro, de 2010 a 2014, regista-se um incremento em relação a

todos os dados de carácter macroeconómico, à excepção do Serviço da Dívida Pública Total e

do valor das Exportações. A Dívida Pública disparou de 6.794,5 milhões de Dólares

Fonte : Mapa I da CGE (2010-2014).

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

2010 2011 2012 2013 2014

39,1

32,929,6

32,7

18,3

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-26

Americanos, em 2013, para 8.170,7 milhões de Dólares Americanos, em 2014, tendo

contribuído para tal a Dívida Externa, com 7.065,2 milhões de Dólares Americanos. O Serviço

da Dívida no presente exercício situou-se em 1.029,3 milhões de Dólares Americanos,

registando uma descida de 171,8 milhões de Dólares Americanos em relação a 2013.

A acompanhar a evolução dos principais dados de carácter macroeconómico, estabelecem-se

alguns indicadores de análise da dívida pública que comparam: (i) o grau de cobertura do PIB

relativamente ao Stock, Serviço da Dívida e Receitas Correntes do Estado, (ii) a proporção das

Receitas Correntes que cobrem o total da Dívida e (iii) o grau de cobertura das Receitas

Correntes pelo Serviço da Dívida, conforme se espelha no Quadro n.º X.25.

Quadro n.º X.25 – Indicadores de Análise da Dívida Pública Total

Descrição 2010 2011 2012 2013 2014

Stock da Dívida/PIB 40,8 41,0 40,6 44,0 45,8

Serviço da Dívida/PIB 2,9 2,5 7,6 7,8 5,8

Receitas Correntes/PIB 19,9 17,0 23,7 26,6 27,3

Receitas Correntes/Dívida 48,7 41,5 58,3 60,5 59,6

Serviço da Dívida/Receita Corrente 14,5 14,5 32,1 29,2 21,1

(Em percentagem)

O rácio Stock da Dívida/PIB, no presente exercício, foi de 45,8%, a maior proporção do

período, significando que a dívida está a crescer a uma proporção maior do que o PIB. A

relação Serviço da Dívida/PIB decresceu de 2013 para 2014, ao passar de 7,8% para 5,8%.

O Quadro n.º X.26, a seguir, apresenta um conjunto de indicadores de sustentabilidade

estabelecidos pelo Banco Mundial e Instituições Internacionais, utilizado pelo FMI na

avaliação da Sustentabilidade da Dívida do Estado Moçambicano.

Os limites apresentados decorrem de um quadro internacional de limites diferenciado

consoante a avaliação do risco dos países seja alto, médio ou baixo. De acordo com o Banco

Mundial, secundado pelo FMI, o Estado Moçambicano apresenta, relativamente ao período em

análise, um nível de risco médio (moderado), assente num conjunto de rácios e avaliações

(cerca de 16, designados CPIA4) que avaliam, em concreto, a situação do País, no quadro das

suas políticas públicas.

Os indicadores têm como objectivo avaliar: (i) liquidez, através do grau de receitas de

exportação necessárias para pagar o Serviço da Dívida (Serviço da Dívida

Externa/Exportações), capacidade do Governo de financiar o Serviço da Dívida através de

recursos próprios (Serviço da Dívida Externa/Receitas Correntes) e (ii) valor actualizado,

através do custo actualizado do Serviço da Dívida em relação às Receitas Correntes (Valor

Actual da Dívida Externa/Receitas Correntes), e a capacidade de reembolso pelas Exportações

(Valor Actual da Dívida Externa/Exportações) e pela Economia (Valor Actual da Dívida

Externa/PIB).

4 Country Policy and Institutional Assessment.

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Novembro de 2015

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO RELATÓRIO SOBRE A CONTA GERAL DO ESTADO DE 2014

X-27

Quadro n.º X.26 – Indicadores de Sustentabilidade da Dívida Pública Externa

2011 2012 2013 2014

40 22,2 29,5 29,6 37,0

150 87,2 116,7 90,9 98,0

250 103,7 116,4 113,4 129,0

20 2,4 3,4 3,4 4,0

30 2,9 3,4 4,3 5,0

Fonte: DNT - Relatório da Dívida Pública de 2011, 2012, 2013 e 2014.

(Em percentagem)

Indicador LimitesAno

Valor Actual da Dívida Externa/ PIB

Valor Actual da Dívida Externa/ Exportações

Valor Actual da Dívida Externa/ Receitas Correntes

Serviço da Dívida Externa/Exportações

Serviço da Dívida Externa/Receitas Correntes

Como se pode observar do Quadro, todos os indicadores da sustentabilidade da Dívida Pública

Externa estão dentro dos limites. Embora os indicadores tenham permanecido dentro dos

limites estabelecidos no presente exercício económico, de uma forma geral, a sua evolução, no

quinquénio, regista uma tendência de aproximação aos limites, sendo de salientar o

crescimento do custo do Serviço da Dívida relativamente à economia, com 37,0%, em 2014.

Na análise dos indicadores de sustentabilidade existem, no entanto, vários pressupostos a

considerar:

a) O cálculo dos indicadores assenta no cenário base, sem considerar o efeito de choques

macroeconómicos.

Os limites estabelecidos assentam numa avaliação do Country Policy and Institutional

Assessment (CPIA) que coloca o país em risco médio, com 3,62, conforme se observa

no Quadro n.º X.27, a seguir, em que se incluem os dados comparativos de alguns

países. A avaliação de risco médio assenta nas políticas públicas e desempenho do país

que não considera eventuais alterações futuras.

Quadro n.º X.27 – Limites Estabelecidos pela CPIA

País 2010 2011 2012 2013 CPIA

Cabo Verde 4,12 4,01 3,92 3,94

Rwanda 3,84 3,82 3,84 3,93

Kenya 3,79 3,79 3,86 3,86

Tanzania 3,75 3,70 3,75 3,76

Uganda 3,77 3,77 3,72 3,72

Ghana 3,88 3,90 3,80 3,68

Mozambique 3,74 3,68 3,73 3,62

Nigeria 3,44 3,43 3,53 3,58

Lesotho 3,45 3,43 3,48 3,47

Ethiopia 3,41 3,46 3,44 3,44

Zâmbia 3,44 3,46 3,46 3,42

Maláwi 3,31 3,27 3,16 3,07

Timor Leste 2,98 3,02 3,02 3,06

São Tome e Príncipe 2,98 3,05 3,05 3,05

Congo 2,89 3,00 3,00 3,04

Os dados mais actualizados referem-se a 2013.

Alto

Médio

Baixo

Fonte: Banco Mundial.

b) Nos indicadores não foram consideradas as garantias e avales a empresas públicas,

constantes da avaliação de sustentabilidade levada a cabo pelo FMI, o que justifica

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Novembro de 2015

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X-28

alguma inconsistência de análise em relação a todos os indicadores que integram o

valor actualizado da Dívida Pública Externa moçambicana;

c) Outro pressuposto importante dos indicadores é que o nível da dívida externa

contempla apenas aquela que já teve desembolsos, como se verificou no ponto (10.4.3

- Créditos Externos). De facto, existem vários créditos externos por desembolsar (aliás,

a maior parte dos créditos de 2014).

Caberá ao Governo realizar uma avaliação e priorização de projectos, no sentido de não

dispersar fundos que possam não ter recuperação económica. Existe uma enorme dependência

da geração de receitas futuras nos projectos de gás natural, pelo que, o correcto equilíbrio entre

o investimento directo externo e o acompanhamento dos lucros por parte da Autoridade

Tributária de Moçambique é de enorme relevância.

Assim, torna-se ainda mais importante a análise de viabilidade económica dos empréstimos

das empresas avalizadas pelo Estado.