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Indíce 1 – Por autor e painéis temáticos
Adriana da Rocha Silva Dutra ............ 520 Alan Dutra de Melo ........................... 132 Alarcon Agra do Ó ............................. 399 Alex Juarez Müller ............................... 68 Alex Sandro Pail Curval...................... 120 Alexandra Vaz Viana ......................... 217 Alexandre Pereira Maciel .................. 139 Alexandre Vergínio Assunção ............ 200 Aline Abreu Migon dos Santos .......... 152 Aline Carmes Krüger ......................... 289 Aline Montagna da Silveira................ 256 Álisson Sousa Castro ......................... 423 Alvaro Hernán Acosta Páez ............... 508 Amanda Basílio Santos ...................... 211 Amanda Mensch Eltz......................... 245 Ana Inez Klein ................................... 381 Ana Lúcia G. Meira ............................ 268 Ana Paula de Andrea Dametto .......... 270 Ana Stela de Negreiros Oliveira ......... 474 Ana Utsch ......................................... 214 Anauene Dias Soares ......................... 500 Anderson Pires Aires ......................... 183 André Dal Bosco Carletto .................. 336 André Farias Cavaco .......................... 512 André Jacques Martins Monteiro ...... 354 André Winter Noble .......................... 378 Andrea de Oliveira ............................ 300 Andrea Gonçalves dos Santos ............. 52 Andréa Lacerda Bachettini ................ 306 Andrea Maio Ortigara ....................... 113 Ângela Mara Bento Ribeiro ............... 432 Angélica Bersch Boff ........................... 87 Ariel Ortega ...................................... 393 Aristeu Elisandro Machado Lopes ....... 66 Benedito Walderlino de Souza Silva .. 124 Bruna Rajão Frio ............................... 384 Bruno Blois Nunes ............................... 18 Camila Chaves Rael Laurett ............... 388 Camila Warpechowski ....................... 158 Carolina Ritter ................................... 173 Carolina Schwaab Marçal .................. 230 Cristiane Bartz Ávila .......................... 459 Cristiéle Santos de Souza .................. 386 Cristina Jeannes Rozisky .................... 223 Daniela Feter .................................... 367 Daniela Maria Alves Pedrosa ............ 101 Daniele Baltz da Fonseca ................... 206 Daniele Behling Luckow .................... 220 Daniele Borges Bezerra ..................... 110 Danielle do Carmo ............................ 498
Danilo Kuhn da Silva.......................... 347 Dhion Carlos Hedlund ......................... 47 Diandra Maron ................................. 515 Diogo Madeira .................................. 405 Eduardo R. Palermo .......................... 484 Eduardo Roberto Jordão Knack ......... 447 Elaine Binotto Fagan ......................... 456 Elis Regina Barbosa Angelo ............... 415 Elis Regina Barbosa Angelo ............... 439 Eliza Furlong Antochevis ................... 178 Érica Teixeira Isidoro Pereira ............. 331 Etiene Meyer Johannsen ................... 466 Éverton Quevedo ............................. 285 Fabio Galli Alves ............................... 277 Fabrício Locatelli Ribeiro ................... 171 Felipe Moreira Azevedo .................... 142 Felipe Radünz Krüger ........................ 351 Felipe Sousa Neves Andrade ............... 56 Fernanda Tomiello .............................. 63 Fernando Gonçalves Duarte ................ 40 Francielle Moreira Cassol .................... 78 Francine Morales Tavares Ribeiro ..... 472 Frantieska Huszar Schneid .................. 81 Gabriela Neves Frizzo ........................ 510 Genivalda Cândido da Silva ............... 341 Gilda Maria Wolf Amaya ................... 479 Giovane Rodrigues Jardim ................. 359 Gisele Dutra Quevedo ....................... 107 Glauber de Lima ................................ 338 Guilherme Pinto de Almeida ............. 186 Gustavo Meyer ................................. 463 Helena de Araujo Neves .................... 192 Helissa Renata Gründemann ............. 369 Iloir da Rosa Escoval .......................... 240 Imgart Grützmann ............................ 372 Ingrid Orlandi Meira .......................... 164 Isabel Halfen da Costa Torino ............ 263 Isadora Nuñez de Mattos .................. 361 Ivana Morales Peres dos Santos ........ 130 Janaina Schvambach ........................... 90 Janaina Silva Xavier ........................... 291 Janaina Vedoin Lopes ........................ 317 Jaqueline Marcos de Araujo .............. 481 Jeferson Dutra Salaberry ................... 136 João Henrique Ribeiro Barbosa .......... 43 João Paulo Oliveira Huguenin ............ 503 José Cláudio Alves de Oliveira ........... 375 José Fernando Rodrigues Jr. ................ 59 Juliani Borchardt ............................... 453 Jussara Vitória de Freitas .................... 16
Karen Velleda Caldas ......................... 168 Karin Christine Schwarzbold ................ 21 Keli Cristina Scolari ............................ 260 Larissa Maria de Almeida Guimarães . 426 Larissa Patron Chaves ....................... 249 Laura Caroline de Carvalho da Costa . 161 Laura Ibarlucea Dallona..................... 116 Leonardo de Carvalho Prozczinski ..... 227 Leonora Romano .............................. 147 Letícia Nedel ..................................... 322 Letícia Nörnberg Maciel ................... 364 Lorena Alves Mendes ........................ 429 Luiane Soares Motta ......................... 407 Luzia Costa Rodeghiero ..................... 195 Maira Cristina Grigoleto .................... 489 Manuela Ilha Silva ............................. 303 Manuelina Maria Duarte Cândido ..... 295 Mara Denise Nizolli Rodrigues ............. 36 Marcelina das Graças de Almeida...... 242 Marcelo Cachioni .............................. 420 Marcelo Pimenta e Silva .................... 344 Maria Clara Lysakowski Hallal.............. 84 María Teresa Barbat.......................... 435 Mariana Garcia Junqueira ................. 311 Marilene Corrêa Maia ....................... 517 Marina Assunção Gois Rodrigues ...... 496 Marina Furtado Gonçalves .................. 14 Marina Gowert dos Reis ...................... 45 Mateus de Moura Rodrigues ............... 49 Matheus Rocha Moreira ..................... 27 Maurício Martini ............................... 155 Maurício Signorini Dias ..................... 349 Maurício Silva Gino ............................. 97 Michel Platini Fernandes da Silva ...... 298 Micheli Martins Afonso ..................... 333 Mirella de Jesus Honorato ................. 314 Miriam Francisca Rodrigues Couto .... 506 Murad Jorge Mussi Vaz .................... 234 Nadia Miranda Leschko ..................... 274 Natália Araújo de Oliveira ................. 442 Natália Martins de Oliveira Gonçalves523 Noris Mara P. M. Leal - ...................... 319 Olivia Silva Nery ................................ 396 Pablo Fabião Lisboa .......................... 122 Patricia Peruzzo Lopes ...................... 104 Paula Garcia Lima.............................. 209 Paulo Ricardo Muller ......................... 237 Pedro de Alcântara Bittencourt César 494 Priscila Kamilynn Araujo dos Santos .. 492 Raquel von Randow Portes ............... 253 Rebecca Corrêa e Silva ...................... 327 Renata Azevedo Requião .................. 410
Renata Barbosa Ferrari Curval ............. 25 Renata Cardozo Padilha ...................... 71 Rildo Bento de Souza ........................ 357 Rodrigo Pinnow .................................. 54 Rodrigo Vivas .................................... 266 Rogério Piva da Silva ......................... 402 Rojane Nunes ................................... 382 Romelia Gama Avilez ........................ 525 Rosangela Cristina Ribeiro Ramos ..... 232 Rossanna Prado .................................. 93 Rubens da Costa Silva Filho ................. 23 Sérgio Renato Lampert ....................... 30 Severino Cabral Filho ........................ 293 Simone Sola Bobadilho ..................... 181 Stéfano Nascimento Fonseca ........... 127 Talita Corrêa Vieira Silva ................... 203 Tassiane Mélo de Freitas ................... 325 Tatiana Carrilho Pastorini Torres ....... 198 Tatyana do Nascimento .................... 445 Tayrine Barcelos de Freitas Gomes .... 188 Thayse Fagundes ................................ 75 Thiago Sevilhano Puglieri .................... 33 Valdir Jose Morigi ............................. 469 Valéria Raquel Bertotti ...................... 280 Vania Inês Avila Priamo ..................... 450 Yussef Daibert Salomão de Campos .. 418
Indíce 2 – Por títulos e painéis temáticos
MESA 1 - Ciência e preservação: a tecnologia como ferramenta para a conservação do patrimônio. ............................................................................................................................ 13
A tinta ferrogálica: a importância dos exames para determinar metodologias de tratamento...................................................................................................................... 14
Laboratório Cinema e Conservação: Conservação Preventiva e Gerenciamento da Informação...................................................................................................................... 16
Fontes Primárias e Internet: o uso da ferramenta para uma pesquisa sobre dança de corte, na França, nos séculos XVI ao XIX .......................................................................... 18
A capacitação como forma de preservar a memória cultural ........................................... 21
A biblioteca universitária como espaço de memória ........................................................ 23
Tecnologia utilizada para retardo na degradação de azulejos de fachada ........................ 25
Gerenciamento de exposições com elevado valor sócio econômico em função da conservação das obras expostas com foco para deficientes visuais. ................................. 27
O repositório digital como instrumento para preservação e acesso ao patrimônio arquivístico documental .................................................................................................. 30
Microscopia Raman aplicada à conservação e autenticação de obras de arte .................. 33
Representação gráfica digital aplicada à conservação e a restauração dos bens culturais 36
Restauro em Taxidermia: mamíferos do acervo do Museu Carlos Ritter .......................... 40
Dietilditiocarbamato de sódio como alternativa para a limpeza de produtos de corrosão em bens culturais feitos de ligas de cobre ....................................................................... 43
Preservação Patrimonial e a Cibercultura: mobilização no ciberespaço através da rede social Facebook ............................................................................................................... 45
O Patrimônio Fotográfico de Santa Maria em ambiente digital ........................................ 47
Patrimônio documental digital: políticas de segurança e preservação para o processo judicial eletrônico ............................................................................................................ 49
O acesso e preservação da memória institucional da FURG através do ICA-AtoM ............ 52
Livro Digital Comemorativo aos 70 anos do ICBNA: As novas tecnologias preservando a história da inserção cultural estadunidense em Porto Alegre. .......................................... 54
Estudo do impacto potencial das mudanças climáticas na biodeterioração de estruturas de madeiras no patrimônio cultural edificado do Vale Histórico Paulista ......................... 56
Aleijadinho 3D: tecnologia na difusão e preservação do patrimônio cultural .................. 59
MESA 2- Fotografia, cultura material e patrimônio imaterial ................................................. 62
Fotografia sequencial e colagem: fragmentos espaço-temporais da paisagem do Bairro Laranjal ........................................................................................................................... 63
Bagé sitiada: fotografia e memória da Revolução Federalista de 1893 no sul do Rio Grande do Sul .............................................................................................................................. 66
As representações fotográficas de São Leopoldo e Taquara na obra “O Rio Grande do Sul” de Alfredo R. da Costa ..................................................................................................... 68
A inserção de acervos fotográficos em repositórios institucionais.................................... 71
A revelação do balneário de Cabeçudas,Itajaí/SC, pela fotografia. ................................... 75
O patrimônio imaterial Santamariense em imagens: a Romaria de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças ....................................................................................... 78
Fotografia como lugar de memória: imagens de matrimônio compartilhadas .................. 81
O instante fotográfico: os lugares de memória da cidade do Rio Grande do período de Juscelino Kubistchek ........................................................................................................ 84
Pensando a fotografia presente na bibliografia sobre ballet ............................................ 87
A Paisagem Real: reflexões sobre fotografia, memória e arte .......................................... 90
A fotografia de saberes ................................................................................................... 93
Moritvri Mortvis – o papel da fotografia na reconstituição da história dos construtores de túmulos ........................................................................................................................... 97
Feira Livre da Avenida Brasil: o patrimônio cultural que desfila às margens do Paraibuna. ..................................................................................................................................... 101
O revelar de um acervo: cinquenta anos de produção fotográfica de Arthur Adriano Peruzzo ......................................................................................................................... 104
Carnaval de Piratini: a memória da Bicharada do Ari através de fotografias ................... 107
Patrimônio, fotografia e objetos de memória, uma espécie de colecionismo afetivo. .... 110
O cotidiano e o urbano: um estudo sobre a Belle Époque do Rio Grande através do álbum de família do Sr. Jorge Ruffier ........................................................................................ 113
MESA 3 - Direito, Políticas Públicas e Justiça na tutela de Bens Culturais. ........................... 115
El Plan de Gestión del Barrio Histórico de Colonia del Sacramento, un análisis crítico .... 116
“O instrumento jurídico do inventário e sua eficácia como instrumento de salvaguarda do patrimônio histórico cultural na cidade do Rio Grande: o sobrado dos azulejos da família Barbosa de Santa Marta” .............................................................................................. 120
Tombamento dos modos de fazer a Boneca Karajá: Patrimônio Imaterial do Centro-oeste ..................................................................................................................................... 122
A construção do patrimônio nas políticas públicas de salvaguarda cultural do Brasil...... 124
Meios de comunicação no Brasil: uma pluralidade cultural fictícia ................................. 127
As interferências das transformações legislativas no Patrimônio Cultural ...................... 130
Política Cultural Comparada entre Brasil e Uruguay ....................................................... 132
MESA 4 - Arquitetura e Patrimônio ...................................................................................... 135
A identificação de um zoneamento fabril na cidade de Pelotas-RS (1911-1922) ............. 136
ANTIGOS PRÉDIOS E NOVOS MUNICÍPIOS: Patrimônio Arquitetônico Urbano Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu e Arroio do Padre - RS .................................................... 139
Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado pela Etnografia de Rua. ......................................................................................................... 142
INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO URBANO: O CASO DA DISCIPLINA DE ATELIÊ DE ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO IX – CAU/UFSM ......................................... 147
Plantas arquitetônicas em papel translúcido industrial custodiadas por acervos patrimoniais. Metodologia de Caracterização ................................................................ 152
Estudos acadêmicos de reconfiguração do skyline original das antigas “14 casas” da Rua Astrogildo de Azevedo, Santa Maria/RS ......................................................................... 155
Patrimônio Histórico e Acessibilidade: a busca do equilíbrio entre o respeito pela memória e o respeito pelas pessoas ............................................................................................. 158
O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da arquitetura popular paraense ....................................................................................................................... 161
PIRENÓPOLIS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE PATRIMÔNIO, MUSEU E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL................................................................................................................ 164
CONFLITOS TEÓRICO-PRÁTICOS NA RESTAURAÇÃO DO GRANDE HOTEL DE PELOTAS .... 168
Projeto Memória em movimento: Campus I Feevale: uma memória a ser contada ........ 171
Análise da Casa de Máquinas na represa do Arroio Moreira .......................................... 173
O século XIX e o Centro Histórico do Rio Grande ........................................................... 178
O Complexo Rheingantz: os valores desse Patrimônio ................................................... 181
O surgimento dos cemitérios no século XIX - o caso de Pelotas e Jaguarão, Rio Grande do Sul, Brasil. ..................................................................................................................... 183
Pelotas no tempo dos chafarizes ................................................................................... 186
Educação Patrimonial e Urbana como Ferramenta de Proteção do Patrimônio Cultural 188
MESA 5 - Patrimônio Material: histórias e inventários ......................................................... 191
INVENTÁRIO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO PRIVADAS DE PELOTAS-RS CONSTITUÍDO POR MEIO DAS PROPAGANDAS IMPRESSAS (1872-2011) ...................................................... 192
A obra da atriz Carmen Silva para radioteatro: inventário, preservação e acessibilidade. ..................................................................................................................................... 195
Educação Patrimonial: uma proposta de metodologia para o ensino de história ............ 198
Patrimônio Material: design, imagens e inventário do mobiliário do Clube Comercial de Pelotas/RS ..................................................................................................................... 200
Coleções e História dos Museus: A Coleção Adail Bento Costa e o Museu Municipal Parque da Baronesa .................................................................................................................. 203
Inventário das escariolas pelotenses: Preservação das técnicas decorativas em revestimento de paredes............................................................................................... 206
O Almanach de Pelotas e os seus reclames: suportes materiais de questões imateriais . 209
Patrimônio Material: Usos da Igreja de St Mary e St David em Kilpeck, Herefordshire, como uma fonte histórica para o passado. .................................................................... 211
Um Inventário Material: a experiência do Laboratório de História do livro .................... 214
A Arquitetura Protomoderna no Inventário do Patrimônio Histórico de Pelotas ............ 217
Inventário como instrumento de interpretação e planejamento: O plano de preservação do patrimônio arquitetônico de São Lourenço do Sul-RS. .............................................. 220
Estuques artísticos em relevo, conhecer para reconhecer ............................................. 223
Patrimônio Material em Erechim-RS - reconhecimento, divulgação e debate ................ 227
Capela São José: espaço de memória e identidade Cristã- Lasallista em Canoas............. 230
O Acervo Benno Mentz: alguns elementos de sua trajetória como patrimônio histórico-cultural da colonização alemã no Rio Grande do Sul ...................................................... 232
A construção da história da Arquitetura Modernista em Erechim através de recortes de Revistas ......................................................................................................................... 234
MEMÓRIA E PATRIMÔNIO MATERIAL: UM ESTUDO DE CASO DOS CINEMAS EM ERECHIM/RS .................................................................................................................. 237
Uma História sobre Educação Patrimonial: a Arqueologia do Lixo .................................. 240
Moritvri Mortvis – memória, história e patrimônio – os construtores de túmulos do Bonfim, o documentário................................................................................................ 242
O Inventário como perspectiva de pesquisa histórica no Museu Joaquim Francisco do Livramento .................................................................................................................... 245
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA ARTE E DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA DE 1857 A 1910: RETRATOS IMPERIAIS NAS SOCIEDADES PORTUGUESAS DE BENEFICÊNCIA NO RIO GRANDE DO SUL. ........................................................................................................... 249
Estradas e Histórias: A imigração alemã e o processo de urbanização de Juiz de Fora – Minas Gerais ................................................................................................................. 253
A arquitetura moderna em Pelotas: inventário, conhecimento e preservação ............... 256
Estudos das Esculturas em faiança da cidade de Pelotas ................................................ 260
A ESCULTURA DO DEUS MERCÚRIO, DO ALTO DA TORRE DO MERCADO MUNICIPAL DE PELOTAS, RS, BRASIL: A TRAJETÓRIA DE UM SÍMBOLO DIVINO. ..................................... 263
A Exposição Museu Revelado no Museu de Arte da Pampulha: o fardo da história não revelada ........................................................................................................................ 266
Trajetória dos inventários arquitetônicos e urbanos no Rio Grande do Sul..................... 268
A Oficina Metalúrgica de Ernesto Giorgi : artefatos metálicos das primeiras décadas do século XX em Pelotas/RS ............................................................................................... 270
Repercussões Gráficas da Passagem do Graf Zeppelin pelo Brasil: Anúncios Publicados na Imprensa em 1930 ........................................................................................................ 274
A arte decorativa das superfícies murais dos ambientes internos dos prédios ecléticos Pelotenses..................................................................................................................... 277
Guia de Acervos: a representação dos acervos documentais ......................................... 280
MESA 6 - Patrimônio e Museus: interfaces necessárias ........................................................ 284
Hospital Beneficência Portuguesa: Presença e atuação na cotidianidade de Porto Alegre (1854 – 1904) ................................................................................................................ 285
Memória e Patrimônio: as coleções de arte nos museus de Florianópolis - SC ............... 289
PLANO MUSEOLÓGICO: uma ferramenta dos museus para gestão do patrimônio ......... 291
A memória em disputa: o Museu do Algodão de Campina Grande-PB, 1973-2013 ......... 293
Patrimônio, preservação e processo de musealização: interfaces necessárias e um caso concreto de aplicação no Museu da Cidade de Parambu ............................................... 295
Interação, novas mídias e tecnologias da informação e comunicação em exposições museológicas. ............................................................................................................... 298
Museu Nacional do Mar: centro de referência do patrimônio naval brasileiro ............... 300
Instrumentos Paradidáticos em Sala de Aula: Aprender (e Viver) História através de Maquetes Físicas ........................................................................................................... 303
Reservas Técnicas: Algumas Reflexões Sobre o Espaço de Guarda dos Acervos.............. 306
A Expografia dos Tempos na Cidade Contemporânea .................................................... 311
Museus e Memória na Contemporaneidade .................................................................. 314
De prisão clandestina a arquivo de luta pela memória: o caso do Arquivo Provincial da Memória em Córdoba (ARG) ......................................................................................... 317
PROGRAMA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO DO ANGLO: UMA EXPERIÊNCIA DE APROXIMAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E COMUNIDADE ................... 319
As ambivalências do voluntariado: a comissão de voluntários gestores do Museu Nacional de Imigração e Colonização de Joinville ......................................................................... 322
Reflexões sobre o processo de musealização dos remanescentes da antiga usina termoelétrica de Arroio dos Ratos (1985 - 1994) ........................................................... 325
“Museu Sensível e Museu no Feminino : mulheres artistas nas exposições museológicas” ..................................................................................................................................... 327
A memória nacional como atrativo turístico: um possível elo entre o Turismo Cultural e os museus históricos brasileiros ......................................................................................... 331
Instituições de memória nas Casas-Museu: a produção de conhecimento como ponto chave na preservação .................................................................................................... 333
Arqueologia nos Museus em Rio Grande - fronteiras silenciosas .................................... 336
Museus, Desenvolvimento e Política ............................................................................. 338
Abordagens e discussões sobre o espaço museal, a patrimonialização e a comunicação cultural: Estudo comparativo entre o Museu dos Ex-votos e a Sala de Milagres do Santuário do Bomfim, em Salvador, Bahia. .................................................................... 341
MESA 7 - Lembrar, esquecer, narrar. .................................................................................... 343
A memória construída pelo jornal Correio do Sul em torno da figura do ex-presidente Emílio Garrastazu Médici ............................................................................................... 344
Memória e cultura pomerana através do (re)conto Dái zuóvan kláina séicha ................. 347
A Memória como Patrimônio: o holocausto a partir da vivência dos povos bálticos ....... 349
Representações do Holocausto nos Quadrinhos ............................................................ 351
A Memória do Lugar e o Estabelecimento da Ordem: Fundamentos Comuns para a Afirmação das Desigualdades ........................................................................................ 354
A memória do esquecimento: a reinvenção do passado em Goiás no início da década de 1990 .............................................................................................................................. 357
Compulsão à Identidade: Memória e Esquecimento ...................................................... 359
Um testemunho do cárcere: o caso Sobrevivente André Du Rap (do massacre do Carandiru) ..................................................................................................................... 361
Descendência Indígena na Colônia Z-3 – Pelotas, RS ...................................................... 364
A imigração judaica em Porto Alegre: Memória e Representação através do Pessach, Roshá Shaná e Iom Kipur. .............................................................................................. 367
“A gente aprendeu brincando”: narrativas sobre o modo de fazer Jurupiga ................... 369
O centenário da imigração alemã (1924) e suas representações em almanaques .......... 372
Cartas ex-votivas: histórias de vidas, memórias social e comunicação ........................... 375
Reforma Alfabética e as sobras da passagem humana sobre a Terra .............................. 378
Questões fundamentais sobre o Esquecimento ............................................................. 381
Narrar, lembrar e esquecer : aposentadoria, envelhecimento e memória coletiva entre ferroviários e policiais militares aposentados ................................................................ 382
Memórias do livro: o Quadro Antigo do Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula nos registros da família Rojas ............................................................................................... 384
O copiador de cartas: memória e narrativa no texto epistolar ....................................... 386
Patrimônio e memória: as narrativas e a construção do espaço urbano e social de Erechim. ........................................................................................................................ 388
Memória e Infância: concepções quanto a infância rio-grandina em 1950. .................... 391
Empoderamento do discurso indigenista, a reivindicação da narrativa de si próprios a partir do projeto “Vídeo nas Aldeias”. ........................................................................... 393
Objetos, memórias e narrativas: a memória de Lyuba Duprat – Rio Grande, RS. ............ 396
Velhice, masculinidade e memória ................................................................................ 399
Notas Introdutórias sobre a História e Biografia de um Pioneiro: Carlos Guilherme Rheingantz, o Primeiro Industrial Gaúcho ...................................................................... 402
Narrativas escritas de José Sérgio L. Guimarães: discussões sobre identidade surda na década de 60 ................................................................................................................. 405
O otimismo e a denúncia: as duas faces das construções poéticas das autoras renascentistas Louïze Labé e Pernette du Guillet ........................................................... 407
De como a Arte Contemporânea nos propõe a lidar com a ausência (Arthur Bispo do Rosário e Leila Danziger) ............................................................................................... 410
MESA 8 - O Patrimônio Cultural Imaterial e suas normativas e instituições patrimoniais na América Latina ..................................................................................................................... 414
Patrimônio Cultural Imaterial : As Festas de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro ....................... 415
O Patrimônio Cultural na Constituinte de 1987/88. ....................................................... 418
Inventário de Bens Culturais Imateriais de Piracicaba - SP ............................................. 420
Da “carne e osso” à “pedra e cal”: compreendendo a inscrição “imaterial” na Constituição Federal do Brasil de 1988 .............................................................................................. 423
Ações de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial em contextos de “hibridismo institucional” ................................................................................................................. 426
As Políticas de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial no IPHAN a serviço da Identidade Nacional Brasileira......................................................................................................... 429
“Compartilhando os bens culturais de Jaguarão-RS-patrimônio imaterial – proposta de educação patrimonial” .................................................................................................. 432
El Payador: desde “Ansina” a Diego Sosa ....................................................................... 435
MESA 9 - Paisagem e cultura: patrimônio, turismo e memória. .......................................... 438
Patrimônio Cultural Imaterial : As Festas de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro ....................... 439
Lugares de memória, lembranças e esquecimentos: um novo olhar para o turismo em Nova Xavantina ............................................................................................................. 442
Mercantilização X Identidade: O caso da Oktoberfest de Rolândia. ................................ 445
História, memória e visualidade urbana em álbuns comemorativos............................... 447
Roteiro Experimental de Turismo “Roda D’água”: modos “de viver e de fazer” em Nova Hartz/RS. ....................................................................................................................... 450
Os benzedores de São Miguel das Missões e a atividade turística .................................. 453
Cartilha didática: Quarta Colônia: terra, gente e história ............................................... 456
Pelotas, passado e presente: Usos dos espaços do Centro Histórico Pelotense. ............. 459
Sertanidades criativas ................................................................................................... 463
A elaboração de pães caseiros como resgate cultural do patrimônio imaterial, na Região de São Gotardo / RS ...................................................................................................... 466
Patrimônio cultural e memória: a Oktoberfest na construção da etnicidade alemã ........ 469
O inventário de Pelotas em 1983. .................................................................................. 472
Trilha Caminhos dos Maniçobeiros: integração da Cultura Imaterial, Turismo e vivência do Patrimônio .................................................................................................................... 474
La deseable injerencia de los patrimonios locales en los procesos de desarrollo urbano de pequeña escala ............................................................................................................. 479
A mercantilização e espetacularização das cidades: O desafio em preservar o patrimônio histórico e cultural ........................................................................................................ 481
Usina de Cuñapirú: patrimonialización, turismo y desarrollo local en la frontera rivera – Livramento. ................................................................................................................... 484
Rua do Porto: um lugar praticante e praticado .............................................................. 489
"Estações ferroviárias de Campinas (SP): estudo sobre a preservação do patrimônio industrial ferroviário e turístico industrial". ................................................................... 492
A composição territorial de Caxias do Sul como oportunidade para a Educação Patrimonial ..................................................................................................................................... 494
Proposta de autogestão do patrimônio comunitário pela associação solidária de mulheres de Quizambú. ................................................................................................................ 496
Memória e metamorfose da paisagem: análise das narrativas sobre a Avenida Goiás .... 498
Turismo e direito como estratégia na preservação do patrimônio arqueológico. ........... 500
A favela como constructo original brasileiro: pelo seu reconhecimento como paisagem cultural.......................................................................................................................... 503
O turismo como desenvolvimento de São José do Barreiro-SP ....................................... 506
Arquitectura, Memoria y Conflicto Armado en Colombia .............................................. 508
Fronteira: limite geográfico que separa. Culturas que se unem. ..................................... 510
O Inepac e a proteção da Paisagem Cultural: o caso de Tarituba, Paraty ........................ 512
Vila Evangelista: Planejamento Urbano e Patrimônio .................................................... 515
A Serra do Curral na paisagem belorizontina: uma interpretação .................................. 517
Memória coletiva como suporte para o Turismo cultural : fronteiras porosas nas Folias de Reis em Nova Friburgo/RJ.............................................................................................. 520
Turismo e patrimônio industrial: memórias, revitalização e (re)significações do complexo ferroviário em Mariana e Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil ............................................ 523
El patrimonio cultural material e inmaterial y sus efectos en la actividad turística de la ciudad de Taxco, Guerrero en México. .......................................................................... 525
MESA 1 - Ciência e preservação: a tecnologia como
ferramenta para a conservação do patrimônio.
CADERNO DE RESUMOS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp
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A tinta ferrogálica: a importância dos exames para determinar metodologias de tratamento
Marina Furtado Gonçalves1
Palavras-chave: Tinta ferrogálica. Exames organolépticos. Exames laboratoriais. Metodologias
de tratamento.
Introdução
A memória coletiva e documentada de uma sociedade representa boa parte do patrimônio
cultural existente. Segundo Edmondson (2002), considera-se que sua importância transcende
os limites do tempo e da cultura, portanto deve-se preocupar com a preservação e
disponibilização destes documentos para as gerações atuais e futuras. São vários os problemas
que podem ocorrer com esse tipo de documentação devido às más condições de
armazenamento e pelo próprio efeito do tempo. Papéis que apresentam escrita em tinta
ferrogálica são ainda mais suscetíveis à deterioração, uma vez que a tinta é um agente
catalisador da degradação, acarretando em danos irreversíveis para o suporte e para a própria
tinta.
Objetos cujo suporte é o papel foram produzidas com tinta ferrogálica, desde o final da Idade
Média até o início do século XX (ANDRADE, 2000). Os danos provocados por essa tinta ao
suporte de papel são irreversíveis e de difícil tratamento, devido à hidrólise ácida e à oxidação
catalisada pelos íons metálicos. Segundo Neevel e Reissland (1997), a degradação visual do
papel pela tinta ferrogálica dá-se por quatro estágios, assim descritos: fluorescência de halos
nas áreas da tinta quando iluminadas com radiação ultravioleta com comprimento de onda
igual a 365nm; leve migração da tinta para o verso do papel; intensa migração da tinta para o
verso do papel; rupturas e perdas do suporte nas áreas da tinta.
A presença de ferro em uma tinta não é indício suficiente para caracterizá-la como ferrogálica.
Estudos em diversos manuscritos demonstraram que nos vários locais analisados a quantidade
de ferro detectada não apresenta uma diferença substancial entre a tinta e o papel,
(BICCHIERI, 2008) não caracterizando assim uma tinta ferrogálica.
Metodologia e resultados
A partir dos exames visuais, sob luz reversa e ultravioleta é possível observar os primeiros
indícios se uma tinta é ferrogálica ou não, percebendo as tipologias de degradação. O teste
qualitativo não destrutivo para íons livres de Fe (II) fornece a primeira indicação sobre um dos
componentes da tinta que é o ferro, sob sua forma catalisadora da oxidação degradativa. Esse
exame fornece também dados para a escolha da metodologia de tratamento dos documentos,
assim como o teste de solubilidade, o de pH e o de tempo de absorção de água pelo papel.
Para conhecer sobre os componentes do papel e das tintas procede-se com exames que
requerem equipamentos mais especializados que fornecem resultados precisos e confiáveis
1 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bacharel em Conservação-
Restauração de Bens Culturais Móveis pela UFMG, Mestranda em Artes – Conservação
Preventiva/Tecnologia da Obra de Arte pela UFMG. [email protected]
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como a Fluorescência de Raios X, Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de
Fourier e de Espalhamento de Luz Raman (Micro-Raman).
Conclusões
Antes de se aplicar qualquer metodologia de tratamento é necessário conhecer o objeto a ser
conservado/restaurado e a identificação das técnicas e materiais utilizados é o primeiro passo
a ser dado. Determinar se realmente trata-se de tinta ferrogálica e correlacionar suas
tipologias de degradação são importantes passos para saber qual tratamento deve-se adotar,
mesmo que se opte por um não tratamento. Existem vários exames disponíveis e, dependendo
da viabilidade e acesso aos equipamentos, devem-se escolher ensaios não destrutíveis e que
forneçam resultados precisos. Os exames químicos permitem a determinação do tipo de tinta,
fibra e carga presentes no papel, porém os exames organolépticos e por imagem são
importantes para identificar as tipologias de degradação, lembrando que nem sempre um
teste irá gerar um resultado definitivo, ou seja, a somatória de dados é que pode resultar em
um diagnóstico assertivo.
Para o tratamento desenvolvido por Neevel (1995), um dos mais adotados atualmente, que
utiliza fitato de cálcio e bicarbonato de cálcio, é de grande importância que se tenha certeza
de que se trata de tinta ferrogálica e que se identifique a tipologia de degradação. Desta
maneira, os ensaios realizados em laboratório, mesmo os mais simples, mostram-se essenciais.
Referências
ANDRADE, Gessonia Leite de. A corrosão do suporte celulósico pela tinta ferrogálica. Anais da
Abracor. X Congresso da ABRACOR - São Paulo-SP. 2000.
BICCHIERI, M. el al. All that is iron-ink is not always iron-gall! Journal Raman Spectroscopy
2008; 39:1074-1078.
EDMONDSON, Ray. Memory of the World: General Guidelines (Revised edition 2002). Paris:
UNESCO, 2002. 72 p.
NEEVEL, Johann G. Phytate: a potential conservation agent for the treatment of ink corrosion
caused by iron gall inks. Restaurator, v. 16, p. 143-160, 1995.
NEEVEL, Johann G.; REISSLAND, Birgit. The ink corrosion project at the Netherlands Institute
for Cultural Heritage: a review. In: Proceedings Workshop on Iron-gall Ink Corrosion,
Amsterdam, 1997. p. 37-46.
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Laboratório Cinema e Conservação: Conservação Preventiva e Gerenciamento da Informação
Jussara Vitória de Freitas2
Evandro José Lemos da Cunha3
Luiz Antônio Cruz Souza4
Palavras-chave: Conservação Preventiva. Gerenciamento de Riscos. Película Cinematográfica.
Introdução
A pesquisa buscou identificar, através de exames e diagnósticos pontuais, o processo ideal de
tratamento do acervo de películas cinematográficas da Escola de Belas Artes da Universidade
Federal de Minas Gerais, e, ainda, procurou detectar os fatores que comprometem a
integridade das obras e elaborar uma proposta de conservação preventiva e
acondicionamento desse acervo, para elaboração de um diagnóstico com base nos conceitos
da ciência da conservação. Pretendeu-se ainda auxiliar na formação de equipe multidisciplinar
para o exercício da prática de manuseio e conservação desse conjunto de obras, por meio da
estruturação do Laboratório de Cinema e Conservação para a guarda desse acervo fílmico. Esse
Laboratório acondiciona todo acervo da instituição em diferentes suportes e formatos, para
uso acadêmico e institucional. O estudo de gerenciamento de risco do acervo foi precursor da
elaboração desta proposta.
A conservação preventiva engloba todos os procedimentos relacionados à preservação dos
variados suportes fílmicos, com a finalidade de manter as informações contidas nos
documentos. Tais procedimentos correspondem aos princípios, métodos e técnicas de
produção e organização, armazenagem, e utilização dos arquivos, tratando os documentos
desde sua origem até o destino final.
A constante falta de recursos financeiro e humanos que afeta a maioria das instituições
detentoras de acervos acaba por protelar o aprimoramento de sua segurança; e, ainda, a falta
de conhecimento sobre o assunto conduz ao agravamento do problema, pois, não raro, são
implementadas “melhorias” que não contemplam o aspecto da segurança do acervo. É
importante que esse assunto seja cada vez mais discutido e estudado por profissionais
responsáveis por essas instituições. O crescente surgimento de coleções de repercussão
internacional, no Brasil, deveria ser acompanhado de uma preocupação com o aprimoramento
da proteção desses objetos expostos, tanto os pertencentes à própria instituição promotora,
quanto a outras instituições. Para isso, o estudo do gerenciamento de riscos desempenha um
papel fundamental no que diz respeito à proteção patrimonial, e que, aliado ao trabalho do
conservador, proporciona segurança a todo o acervo da instituição.
Metodologia e resultados
2 MS. Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected]
3 Dr. Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected]
4 Dr. Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected]
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Após a realização dos estudos de gerenciamento de riscos, diante dos fatores apresentados,
ficou evidente a necessidade de implementar ações de preservação e conservação preventivas
no acervo fílmico da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. O acervo
ganha um novo espaço denominado Laboratório Memória e Cinema, destinado à guarda de
toda a coleção, nos seus diferentes suportes: películas, fitas magnéticas, slides, roteiros,
fotografias, cartazes e toda a documentação correlata aos fundos ali depositados.
O espaço ganha mobiliário em melhores condições, iluminação apropriada, novas embalagens
de polietileno para abrigar os filmes, embalagens de poliéster para fotografias, embalagens de
entretela para outros suportes e é instalado sistema de refrigeração. O sistema de catalogação
proposto foi adotado pela instituição, bem como a implantação do gerenciamento da
informação (banco de dados), que proporciona melhor circulação e registro das informações
ali contidas. Os equipamentos que compõem o acervo do Fundo Igino Bonfioli receberam
tratamento especial, foram higienizados e acondicionados e depois foram incorporados à
coleção.
Na etapa de catalogação, foi realizada a análise física do suporte, a identificação do conteúdo
da obra e, ainda, levantamento sobre informações relativas à realização da obra como: título
original, data de produção e de lançamento, país de origem, créditos, sinopse, tipo de material
etc.
Conclusões
Nesta pesquisa, procurou-se apresentar soluções viáveis para problemas cotidianos
enfrentados por conservadores. Conhecendo os fatores que causam a degradação do acervo
fílmico, podemos protegê-lo, indo direto ao centro do problema, e sem dúvida alguma, para
prolongar a vida útil desses bens culturais.
No que diz respeito à conservação preventiva e à restauração, ficou evidente que são
atividades com finalidades distintas e que, nas últimas décadas, tem-se enfatizado mais a
prática da conservação preventiva, e menos a restauração propriamente dita.
Referências
BAER, Norbert S.; BANKS, Paul N. Poluição do ar em interiores: efeitos sobre os materiais. In:
MENDES, Marylka. 2006.
BARBOZA, Kleumanery de Melo. Tecnologia construtiva: estado de conservação e ações para a
preservação de um oratório mineiro. Monografia (Especialização em Conservação e
Restauração) – Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
FISHER, M.; ROBB, A. 2ª ed. Indicações para o cuidado e a identificação da base de filmes
fotográficos. Projeto conservação preventiva em bibliotecas e arquivos, 2001.
GÜTHS, S.; SOUZA, L. A. C.; PEREIRA, F. O. R. Sistema de gerenciamento térmico para
conservação de coleções. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CONSERVADORES E
RESTAURADORES DE BENS CULTURAIS (ABRACOR), IX. Anais do... p. 36-39, Salvador/BA, 1998.
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Fontes Primárias e Internet: o uso da ferramenta para uma pesquisa sobre dança de corte, na França,
nos séculos XVI ao XIX
Bruno Blois Nunes
Elisabete Leal (orientadora)
Palavras-chave: Biblioteca Nacional da França. Fontes Primárias. Internet. Patrimônio
Documental. Dança.
Introdução
O trabalho, ora apresentado, trata do uso da tecnologia da Internet para a viabilização de uma
pesquisa histórica, cujas fontes não se encontram no Brasil. Esse estudo é realizado através de
pesquisa em fontes primárias da metade do século XVI até o início do século XIX, no site da
Biblioteca Nacional da França. Por meio desse acesso tecnológico é possível que se faça uma
pesquisa sobre a dança, na corte francesa, no período mencionado, o que justifica a utilização
dessa tecnologia.
Metodologia e resultados
Está sendo realizada uma pesquisa histórica sobre as danças de corte na França, cujas fontes
não estão no Brasil. Esse é o principal desafio a ser superado graças a Internet. Pode-se hoje
acessar documentos, arquivos, fotos, músicas, vídeos dos mais diversos locais do mundo.
Interessa-nos, nessa apresentação, mostrar a potencialidade do uso da Internet em pesquisas
histórica cujas fontes primárias não se encontram no Brasil.
As bibliotecas e arquivos, instituições que tem o dever de preservar seu acervo histórico,
também se utilizam da Internet como meio de disponibilizar seus documentos ao público em
geral e com isso reduzir o manuseio decorrente da pesquisa in loco. Com poucos cliques, obras
do século XVI e XVII, por exemplo, podem ser acessadas em instituições de guarda de acervos
históricos espalhadas pelo mundo todo. Uma das últimas Bibliotecas que entrou na era digital
foi a Biblioteca Apostólica Vaticana, em janeiro de 2013. É sobre essa facilidade de pesquisa
que trata esta apresentação.
A historiografia da dança não é ampla, mesmo na França. Em geral encontra-se variado livros
sobre a história geral da dança, cuja abordagem não é pautada por uma rigorosa pesquisa
histórica. Muitas vezes os livros sobre a dança acabam por serem redundantes, se
autorreferindo e não realizando uma pesquisa original. Entre os livros gerais sobre dança de
salão encontram-se: National Rhythms, African Roots de John Charles Chasteen, Learn to
Dance de Colette Redgrave e Fundamentos de dança de salão da Bettina Ried, Dança: bem-
estar e autoconfiança de Cínthia Ceribelli.
Outro tipo de bibliografia sobre dança é a que trata de gêneros musicais específicos, como:
Caribbean Currents: Caribbean Music from Rumba to Reggae de Peter Manuel e Kenneth Bilby,
The Book of Salsa de César Miguel Rondón, Samba de Gafieira: a história da dança de salão no
Brasil de Marco Antônio Perna e Maxixe: a dança excomungada de Jota Efegê.
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Algumas dessas obras, tanto os livros gerais quanto os específicos, são inclusive manuais de
dança, apresentando passos para aprender a dançar. A historiografia sobre a dança de corte é,
portanto, falha e foi necessário realizar uma pesquisa em fontes primárias, o que será
mostrado a seguir.
Com o avanço da Internet, foi encontrada uma solução: através da utilização da tecnologia das
bibliotecas virtuais, do acesso ao site da Biblioteca Nacional da França, foram encontrados
manuscritos, livros e imagens produzidos nos séculos em questão que servirão de fontes
primárias para meu trabalho. Além de ter acesso a uma infinidade de documentos que são
preservados, existe a possibilidade de fazer o download desses documentos, em sua
totalidade, gratuitamente. Foi possível encontrar livros como Orchésographie et traicté en
forme de dialogue, par lequel toutes personnes peuvent facilement apprendre et practiquer
l'honneste exercice des dances de Thoinot Arbeau e um documento que trata da Implantação
da Real Academia de Dança em Paris, em 1663.
Foi o avanço da tecnologia que permitiu a disponibilização dessas fontes primárias,
possivelmente, reprodução realizada por meio de scanner. O uso do mesmo, copiando os
documentos para um espaço online, evita o manuseio excessivo de obras bastante
prejudicadas pela ação do tempo. Algumas obras têm, no seu original, difíceis interpretações
seja por alguns serem manuscritos, pela fonte tipográfica ser de tamanho reduzido e pelo
francês arcaico. Entretanto, a maioria delas possui total condição de tradução e pesquisa para
o projeto.
Conclusões
Os resultados finais ainda não são conclusivos, pois farão parte de um projeto de pesquisa
mais aprofundado e que levará um tempo maior de pesquisa na área. Contudo, os resultados
encontrados até agora são satisfatórios, pois demonstram rápido acesso a essas obras
originais, o custo zero para obtenção dessas fontes que são, acima de tudo, patrimônio
cultural da França.
Referências
ARBEAU, Thoinot. Orchésographie et traicté en forme de dialogue, par lequel toutes
personnes peuvent facilement apprendre et practiquer l'honneste exercice des dances.
Langres: Thoinot Arbeau, 1589
CERIBELLI, Cínthia. Dança: bem-estar e autoconfiança. São Paulo: Escala, 2008.
CHASTEEN, John Charles. National Rhythms, African Roots. Albuquerque: Universtiy of New
Mexico, 2004.
EFEGÊ, Jota. Maxixe: a dança excomungada. 2.ed. Rio de Janeiro: Funarte, 2009.
Etablissement de l'Académie royale de danse en la ville de Paris. Paris: Pierre Le Petit, 1663.
MANUEL, Peter; BILBY, Kenneth; LARGEY, Michael. Caribbean Currents: Caribbean Music
from Rumba to Reggae. Philadephia: Temple University, 2006.
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PERNA, Marco Antônio. (Org.) 200 Anos de Dança de Salão no Brasil – Vol.1. Edição do Autor,
2011.
______. (Org.) 200 Anos de Dança de Salão no Brasil – Vol.2. Edição do Autor, 2012.
______. (Org.) 200 Anos de Dança de Salão no Brasil – Vol.3. Edição do Autor, 2012.
______. Samba de Gafieira: a história da dança de salão brasileira. 2. ed. Edição do autor,
2005.
REDGRAVE, Colette. Learn to Dance: A Step-by-Step Guide to Ballroom and Latin Dances. UK:
Parragon Books, 2008.
RIED, Bettina. Fundamentos de Dança de Salão. São Paulo: Phorte, 2005.
RONDÓN, César Miguel. The Book of Salsa: a chronicle of urban music from Caribbean to New
York City. North Carolina: The University of North Carolina, 2008.
Biblioteca do Vaticano é aberta a internautas. Disponível em:
<www.folha.uol.com.br/tec/1223635-biblioteca-do-vaticano-e-aberta-a-internautas.shtml>.
Acesso em: 15 set. 2013.
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A capacitação como forma de preservar a memória cultural
Karin Christine Schwarzbold5
Jorge Eduardo Barcelos6
Palavras-chave: Memória e Patrimônio, Patrimônio Documental, EaD, FURG, Arquivística.
Introdução
Este trabalho tem como foco de pesquisa o uso de ambientes virtuais de ensino –
aprendizagem (AVEA) na capacitação de servidores com a finalidade de preservar o patrimônio
documental da Universidade Federal do Rio Grande- FURG (FURG).
Apesar de existir desde 1969 foi apenas com a adesão da Instituição ao Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) que se criou a
unidade Arquivo Geral. Uma das primeiras iniciativas tomada a realização de um diagnóstico
onde formulários foram aplicados em todos os órgãos da universidade. Como resultados
obtidos com o diagnóstico encontram-se: a falta de espaço físico, ambientes inadequados para
conservação da documentação e a falta de noções/orientações sobre arquivamento.
Com base nessa necessidade, foi realizado em 2010 um curso de capacitação para servidores
da instituição. Foram encontradas algumas dificuldades em relação ao local das aulas, tais
como: proximidade com o local de trabalho (servidores pertencentes a três campi distintos),
disponibilidade do ambiente durante todos os dias do curso, disponibilidade de equipamentos
como data-show no local. Além disso, durante o curso, vários servidores tiveram que desistir,
pois eram necessários em seus ambientes de trabalho. Pensa-se então na possibilidade de se
realizar essa capacitação na modalidade à distância.
Assim, surge a problemática que norteia esse trabalho: como efetivar a sensibilização dos
servidores das IFES , através de uma capacitação à distância, e dessa forma, contribuir para a
preservação do patrimônio documental institucional?
Metodologia e resultados
Esta pesquisa é considerada aplicada, por sua natureza, e qualitativa, quanto à forma de
abordagem do problema. Minayo (2001), explica que a pesquisa qualitativa trabalha com o
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. De acordo com
Barros e Lehfeld (2000), a pesquisa aplicada tem como motivação a necessidade de produzir
conhecimento para aplicação de seus resultados, com o objetivo de “contribuir para fins
práticos, visando à solução mais ou menos imediata do problema encontrado na realidade”
(p78).
Também foi adotada a pesquisa bibliográfica e foi justamente nesse momento que tomou-se
conhecimento da obra de Eboli (2004, p 51) onde a mesma sugere dez etapas para concepção
5 Especialista em Gestão de Arquivos (UFSM), Arquivista da Universidade Federal do Rio Grande- FURG,
6 Discente do Curso de Arquivologia, FURG, [email protected]
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de uma ação de educação corporativa que naturalmente se tornaram os passos metodológicos
usados para a implantação dessa proposta.
1. Envolver e comprometer a alta administração com o processo de aprendizagem
2. Definir o que é crítico para o sucesso
3. Realizar diagnóstico das competências críticas empresariais, organizacionais e
humanas
4. Alinhar o sistema de educação à estratégia de negócios
5. Definir público-alvo
6. Avaliar e ajustar os programas existentes contemplando as competências críticas
definidas
7. Conceber ações e programas educacionais presenciais e/ou virtuais sempre orientados
para a necessidade do negócio
8. Avaliar tecnologia de educação disponível
9. Criar um ambiente e uma rotina de trabalho propício à aprendizagem
10. Estabelecer um sistema eficaz de avaliação dos resultados obtidos com investimento e
treinamentos
Conclusões
Está proposta ainda se encontra em andamento. Como conclusões parciais podemos citar a
aceitação junto à administração com relação a aplicação do curso e a sua grande relevância, a
procura pelos servidores. Apesar de estar na metade já se verificou um aumento nas
solicitações de informações junto ao Arquivo Geral e um ganho, apesar de pequeno, mas
fundamental, que foi a inclusão, junto ao material disponível no almoxarifado, de clipes
plásticos.
Referências
BARROS, Aidil J. da Silveira; LEHFELD, Neide A. de Souza. Fundamentos de metodologia
científica: um guia para a iniciação científica. São Paulo: Makron Books, 2000.
EBOLI, M . Educação corporativa no Brasil: mitos e verdades. São Paulo: Gente 2004.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo:HUCITEC, 2007.
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A biblioteca universitária como espaço de memória
Rubens da Costa Silva Filho7
Palavras-chave: Espaço de memória. Biblioteca universitária. Repositórios institucionais.
Introdução
A memória é o cerne da existência de instituições-memória, como as bibliotecas. De acordo
com Costa (1997), a memória é um elemento primordial no funcionamento das instituições.
Através da memória as instituições se reproduzem no seio da sociedade, retendo apenas as
informações que interessam ao seu funcionamento. No âmbito destas instituições ocorre um
processo seletivo do que deve ser retido e que se desenvolve segundo regras instituídas e que
variam de instituição para instituição.
Nas bibliotecas universitárias o processo de seleção das informações e documentos que devem
ser retidos ou descartados é de suma importância. As bibliotecas universitárias resguardam os
conhecimentos gerados nas instituições de ensino onde estão inseridas, além disso, reúnem,
organizam e disseminam as produções de cunho cultural e técnico-científico no âmbito de suas
instituições.
Metodologia e resultados
A transcendência da memória e do conhecimento humano é materializada nas
bibliotecas, uma vez que estas propõe-se além da preservação, a disseminação do
conhecimento contido em seu acervo,
[...] as bibliotecas abandonam seu estereótipo de depósito do conhecimento para se exibirem como “lugares de memória”, de tradição, de práticas culturais. Em resumo: como espaços onde nosso patrimônio material e imaterial é captado, preservado e disseminado. (SILVEIRA, 2012).
O acesso à memória nas bibliotecas se dá a partir do seu catálogo, que funciona como um guia
até o lugar onde se encontra o documento. Esta busca pelo documento poderá se dar em meio
físico com o uso de fichários ou por meio virtual através de catálogos virtuais que lhe
proporcionarão o acesso ao documento na íntegra ou sua localização em um acervo físico.
A importância das bibliotecas como espaço de memória e representatividade no seio de uma
sociedade é constatada por Oliveira e Santos (2009), onde
A possibilidade do saber e do amadurecimento científico e humano através da aprendizagem tem na Biblioteca um grande símbolo. A quantidade e variedade de livros que estão nela compilam muitos dos resultados da caminhada intelectual da humanidade: as descobertas, os inventos e os escritos, que impulsionaram o desenvolvimento, promoveram o contentamento ou o sofrimento; enfim, tudo que mereceu ou que pôde ser anotado e que, portanto, recebeu a imortalidade, reunido e arquivado num
7 Mestrando em Memória Social e Bens Culturais, UNILASALLE. Bibliotecário-Chefe da Biblioteca da
Escola de Enfermagem da UFRGS, [email protected].
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único espaço físico, porém, ilimitado, como imaginamos que seja “um” universo.
A biblioteca universitária caracteriza-se como espaço da memória científica dentro de uma
universidade, pois é nela que identifica-se como o local onde é reunida a produção científica
gerada na instituição. Além de preservar a memória das universidades, a biblioteca
proporciona a multiplicação do conhecimento gerando através de seu acervo novos
conhecimentos.
No contexto atual, surge com grande eficiência os repositórios digitais institucionais, onde são
armazenadas e disponibilizadas as produções das universidades em meio eletrônico.
Conclusões
A biblioteca como um espaço de preservação do conhecimento humano, naturalmente
identifica-se como espaço de memória, uma vez que a biblioteca universitária como guardiã da
produção científica, intelectual e cultural das universidades. A preservação do acervo histórico
da universidade tem papel fundamental na produção de novos conhecimentos, uma vez que
dissemina as informações já existentes.
Referências
COSTA, Icleia Thiesen Magalhães. Memória institucional: a construção conceitual numa
abordagem teórico-metodológica. 1997. 169f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 1997.
OLIVEIRA, Edileusa Santos; SANTOS, Ana Elizabeth Alves. A inutilidade dos lugares de memória:
a “Biblioteca Verde” de Carlos Drummond de Andrade. Revista Espaço Acadêmico, Maringá,
v.8, n.96, 2009. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/096/96oliveira-
santos.pdf>. Acesso em: 15 jul.2013.
SILVEIRA, Fabricio José Nascimento da. Sendas entre o visível e o invisível: a biblioteca como
“lugar de memória” e de preservação do patrimônio. DataGramaZero - Revista de
Informação, Rio de Janeiro, v.13, n.5, 2012. Disponível em: <
http://www.dgz.org.br/out12/Art_03.htm>. Acesso em: 15 jul. 2013.
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Tecnologia utilizada para retardo na degradação de azulejos de fachada
Renata Barbosa Ferrari Curval8
Naira Maria Balzaretti9
Thais Alessandra Bastos Caminha Sanjad 10
Palavras-chave: Tecnologia, restauro, azulejos, fachada, degradação.
Introdução
O presente trabalho visa apresentar a comparação da degradação física ocorrida em azulejos
portugueses, de fachada, dos séculos XVIII e XIX que estão situados na cidade de Lisboa,
Portugal, Belém do Pará e Rio Grande, Brasil, bem como a tecnologia utilizada para retardo na
degradação física de azulejos de fachada.
Para atingir o objetivo proposto foi necessário: Apresentar tipos e características de três
imóveis onde os azulejos de fachada são encontrados nas cidades do Porto, Belém do Pará e
Rio Grande; apresentar as patologias existentes nas peças a serem estudadas (Porto, Belém do
Pará e Rio Grande), bem como seu efeito e sua causa; conhecer e apresentar as características
físicas e a composição química das amostras em questão, apontando a presença ou ausência
de agentes biológicos e umidade nas peças, assim como a composição das mesmas; tornar a
superfície do azuelejo super hidrofóbica.
Atendendo aos objetivos propostos foi possível desenvolver a aplicação de um produto
inovador e capaz de atender as demandas oriundas dos processos de restauro das
degradações físicas de azulejos de fachada do século XIX, sem alterar as características físicas
das peças, agindo, portanto, de forma diferenciadas dos demais vernizes e produtos
comercializados.
Metodologia e resultados
- Visitação in locco de três cidades com contextualização de azulejos de fachada;
- Mapeamento de patologias existentes em cada uma das três amostras analisadas;
- Difração de Raiox-X utilizado para caracterizar as fases cristalográficas presentes nas três
amostras;
8 Arquiteta e Urbanista, especialista em Patrimônio Histórico pela Universidade Federal de Pelotas,
Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em
Ciências dos Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista CAPES.
9Física, Doutora em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Física da UFRGS.
10 Arquiteta e Urbanista, Doutora pela Universidade Federal do Pará. Curso de Arquitetura e Urbanismo
da UFPA. [email protected]
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- Microscopia Eletrônica de Varredura utilizada para identificar os elementos químicos
presentes nas amostras;
- Medição de ângulo de contato para verificação da capacidade de absorção de água pelas
amostras;
- Testes com o produto para provar a eficiência do mesmo em relação a hidrofobicidade.
Conclusões
Foi possível com a elaboração deste trabalho constatar que a água é o principal agente
causador da degradação física das peças azulejares de fachada do século XIX. Essa umidade
causa vários tipos de degradação, dentre elas a mais frequente é o craquelê, existente em
todas as amostras analisadas.
Alguns produtos são comercializados e aplicados em azulejos de fachada, como o verniz
aquoso, com a finalidade de impermeabilizar os mesmos, mas estes materiais alteram de
forma significativa a aparência dos mesmos, conferindo-lhes tonalidades diferentes das
originais.
Com base nestas informações foi possível desenvolver a aplicação de um produto químico que
torna a superfície dos azulejos (higroscópicas) hidrofóbicas, evitando assim a penetração da
água (principalmente por entre os craquelês) e não alterando de forma alguma as
características físicas das peças.
Referências
- ALCÂNTARA, Dora Monteiro e Silva. Azulejos em Belém do Pará – IPHAN, São Paulo, 2012.
- MIMOSO, J.M.& PEREIRA, S. Sobre a Degradação Física dos Azulejos de Fachada em Lisboa.
Relatório 303/2011. Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Lisboa, 2011;
- SANJAD. Thais A. Bastos Caminha. Azulejaria Histórica em Belém do Pará: Contribuições tecnológicas para réplicas e restauro. UFPA/SEDECT/FAPESPA, 2009.
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Gerenciamento de exposições com elevado valor sócio econômico em função da conservação das
obras expostas com foco para deficientes visuais.
Matheus Rocha Moreira11
Palavras-chave: Conservação. Réplicas. Acessibilidade. Exposições. Gestão de riscos.
Introdução
O trabalho tem a proposta de estudar as relações entre os visitantes com exigências especiais
(deficientes visuais) e as ações de conservação das obras de arte com relevância sócio
econômica. Gerenciar uma exposição com acervo considerado raro é de fundamental
importância para a curadoria e para o espaço expográfico de museus ou galerias que visam
aspectos de acessibilidades propostas por leis governamentais. Segundo MICKALSKI (1990)
existem vários fatores que podem afetar/ danificar as obras de arte que são: degradação
causada por danos físicos, (vibrações, choques, abrasão, etc); ação de agentes biológicos
(fungos, cupins, microorganismos, animais, etc.); vandalismo e roubo; água e umidade
(infiltrações, enchentes, etc.); fogo; sujidades, (provenientes da poeira, poluição, etc.);
radiação ultravioleta – luz natural, ou artificial); flutuações inadequadas de umidade relativa e
variações incorretas de temperatura. Além desses fatores de degradação é importante levar
em consideração a interação homem obra de arte. Mais especificamente a interação
decorrente de ações educacionais em exposições, que ocorrem entre a obra de arte e
deficientes visuais. Atualmente é de extrema relevância pensar na acessibilidade para todos os
visitantes, no entanto, a dificuldade do diálogo entre as peças em questão e a conservação das
mesmas é notória, logo, o profissional de conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis
deve pensar ativamente na solução destes empecilhos. A elaboração de uma exposição deve
conter aspectos de gestão de risco vinculados à acessibilidade, portanto, esse artigo vem
propor métodos que tornam os acervos raros mais acessíveis a todos, destacando assim, o
papel do conservador dentro de uma exposição.
Justificativa – A preservação e a segurança em museus não se encerram em si mesmas. O que
dá sentido à preservação é a comunicação. Assim, a necessidade da interação homem - obra
de arte será realizada com o desenvolvimento de métodos como replicas, placas táteis e
maquetes, que possuem o intuito de preservar o acervo e promover a arte educação.
Metodologia e resultados
O projeto encontra-se em andamento, porém a metodologia de trabalho iniciou o estudo da
situação da acessibilidade versos a conservação de acervos raros. Foram tomados como base
os teóricos de arte educação embasados na inclusão social. Em seguida alguns estudos e
desenvolvimento de métodos referentes à acessibilidade visual, levando em consideração a
conservação dos acervos expostos e ações ergonômicas que facilitam a acessibilidade. As
inserções da ergonomia e de técnicas como a criação de replicas podem facilitar radicalmente
a participação dos usuários (até então excluídos dos ambientes artísticos culturais). As
11
Design Gráfico/ Conservação Restauração de Bens Culturais Móveis, CECOR/ UFMG, e-mail
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sugestões são basicamente o desenvolvimento de réplicas vinculadas com métodos de
expografia ergonômicos e que visem à conservação da obra de arte e, por fim, a observação do
método proposto. O projeto está em andamento, logo, existem as primeiras respostas que
estão processo de análise.
Conclusões
A utilização de replicas, maquetes, telas táteis são fundamentais para a preservação do acervo
e contribuem em larga escala para a arte educação de deficientes visuais. O projeto ainda
encontra-se em andamento, logo, não existem resultados concretos. O que existe está em
processo de levantamento e produção de gráficos comparativos (brevemente expostos).
As replicas 3D, e em materiais reais (replica perfeita em relação à materiais) possuem um
excelente efeito arte educativo e melhor ainda para a conservação das obras de arte. Na
maioria das vezes nem precisa expor o acervo no mesmo espaço em que se encontram as
replicas, e se estiver exposto, poderá ficar em locais com maior rigor em relação ás condições
ideais de conservação (iluminação/ umidade/ temperatura), ou seja, poderemos criar
microclimas mais eficientes.
Referências
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro:
WVA, 1999.
COHEN, Regina. DUARTE, Cristiane Rose de Siqueira. BRASILEIRO, Alice de Barros Horizonte.
Caderno acessibilidade Ibram: Brasília, 2012.
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Revista do IPHAN, nº 23, Cidade (org. Heloisa Buarque de Holanda), 2004.
ALVEREZ, José Alfonso Ballestero. Multissensorialidade no ensino de desenho a cegos. São
Paulo, 2013.
TOJAL, Amanda Pinto da Fonseca. Museu de arte e público especial. São Paulo, 1999.
MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Trad.: Windyz Brazão Ferreira. Porto
Alegre: Artmed, 2003.
REIS, Marlene Barbosa de Freitas. Educação inclusiva: limites e perspectivas. Goiânia:
Deescubra, 2006.
BEYER, H. O. EducaçãoEspecial: uma reflexão sobre paradigmas. In: Reflexão e Ação, Vol. 6 n.
2 Jul/Dez 1998. Santa Cruz do Sul: Editora da UNISC, 2000.
Sarraf, Viviane. Vista cansada. Artigo publicado no site do Fórum Permanente:
http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.painel/critica/viviane_sarraf>. Acesso
em 22 de setembro de 2007.
VASCONCELOS, Edmilson. Ergonomia na arte contemporânea. Santa Catarina, 2011.
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BALLESTERO-ALVAREZ, J.A. em 2002
MICHALSKI, Stefan. An Overall Framework for Preventive Conservation and Remedial
Conservation. ICOM Committee for Conservation 9th Triennial Meeting Preprints. Dresden,
1990. p. 589-591.
ERHARDT, D. Art in Transit: Material Considerations. In: Art in transit:studies in the transport
of paintings. Proceedings of the International Conference on the packing and transportation
of paintings. September, 9, 10 and 11, 1991, London. Edited by Mecklenburg, Marion F. /
Washington, DC: National Gallery of Art, 1991. p. 25-34.
AMIRALIAN, Maria Lucia T. M. Compreendendo o cego. São Paulo, 1997.
LYPOVETSKY, G. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Ed. Barcarolla, 2004.
- Estatuto de Museus, Lei no 11.904, de 14 de janeiro de 2009.
- DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Sobre Princípios, políticas e práticas na área das
necessidades educativas especiais. Disponível em
http://redeinclusao.web.ua.pt/files/fl_9.pdf> Acesso em: 25/08/2013.
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O repositório digital como instrumento para preservação e acesso ao patrimônio arquivístico
documental
Sérgio Renato Lampert12
Daniel Flores13
Palavras-chave: Patrimônio documental. Repositório digital. Preservação digital.
Introdução
A ideia dos repositórios digitais para preservação dos documentos não é recente, embora os
documentos produzidos digitalmente sejam um fato novo, se comparado com as formas de
registro anteriores. Os arquivos, enquanto instituição, serviam como local para armazenar e
preservar documentos em suporte papel para as gerações futuras. Mais recentemente, no
final do século XX e início do século XXI, multiplicou-se a produção e a utilização de
documentos nato-digitais (produzidos, utilizados e destinados em meio digital), sem a
materialidade contida nos suportes como o papel. Isso significa que o desafio de preservar
esses documentos para as futuras gerações é redobrado.
À luz do exposto, o repositório digital desponta como uma solução para depósito de objetos
digitais, na medida que possibilita armazenar, preservar e dar acesso aos mesmos. Neste
sentido, conforme a Commission on Preservation and Access (CPA) e a Research Libraries
Group (RLG) “os sistemas de repositórios digitais se tornarão rapidamente os responsáveis
pelo acesso de longo prazo à herança social, econômica, cultural e intelectual mundial em
formato digital” (CPA/RLG, 1996 apud SAYÃO, 2011).
Neste contexto, a pesquisa aborda os aspectos relacionados às implicações da utilização do
repositório digital como um recurso para subsidiar o armazenamento, assim como para
promover o acesso por longo prazo aos documentos arquivísticos digitais de caráter
permanente. Para tanto, o estudo envolve princípios e conceitos da arquivística, patrimônio
cultural e documental, bem como da preservação digital.
Este estudo justifica-se por entender que os documentos digitais estão expostos à
obsolescência tecnológica, fragilidade dos suportes, facilidade de serem corrompidos,
impossibilidade de acesso, vulnerabilidade, perda de informações, entre outras adversidades.
Por esta razão, ressalta-se que o desenvolvimento de um ambiente que assegure a
preservação da documentação de caráter permanente, conjugado com iniciativas de
preservação digital, contribuem para garantir confiabilidade, integridade e autenticidade aos
documentos digitais. Em vista disso, Sayão (2004) salienta que preservar significa
tradicionalmente manter imutável e intacto, entretanto, no ambiente digital, preservar
significa, na maioria dos casos, recriar, mudar formatos, renovar mídias, hardware e software.
12 Graduação em Arquivologia (UFSM), Mestrado em Patrimônio Cultural (UFSM), Arquivista do Centro
Universitário Franciscano, [email protected].
13 Graduação em Arquivologia (UFSM), Doutorado em Documentação pela Universidade de Salamanca,
Docente do Departamento de Documentação (UFSM), [email protected].
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Por fim, destaca-se que este estudo faz parte da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação Profissional em Patrimônio Cultural, na linha de pesquisa Patrimônio Documental,
intitulada “Repositório digital para o patrimônio arquivístico documental: subsídio para acesso
e preservação do Diário de Classe”, formulada entre o ano de 2012 e o corrente ano.
Metodologia e resultados
Em termos metodológicos, realizou-se uma pesquisa aplicada, com abordagem qualitativa, de
cunho exploratório e classificada como bibliográfica. A coleta de dados foi obtida por meio de
fichamento bibliográfico e análise de referencial teórico. Os dados foram analisados à luz do
marco teórico da pesquisa, visando aprofundar os conhecimentos referentes à temática do
trabalho, embasando o estudo por meio de subsídios teóricos sólidos, acerca de patrimônio
documental, preservação digital e repositório digital.
Os resultados do trabalho permitiram reunir conceitos acerca de documento digital sob a
perspectiva do patrimônio documental, assim como proporcionaram identificar o repositório
digital como uma solução que possibilita preservar documentos digitais e, ao mesmo tempo,
promover o acesso ao longo do tempo aos mesmos. Da mesma forma, foi possível relacionar
softwares para repositório digital, a fim de apontar suas características e averiguar o
desempenho destes para preservação, acesso e armazenamento de objetos digitais.
Conclusões
Pôde-se, ao término deste estudo, identificar que o repositório digital é caracterizado como
um local para armazenar documentos de maneira segura para o presente e, principalmente,
para o futuro. A partir disso, pode-se garantir que as informações contidas nos documentos
produzam, portanto, efeitos legais, de comprovação administrativa, jurídica ou fiscal, bem
como para fins históricos e de pesquisa, ao mostrar o que se fazia no passado.
Dos softwares de repositório digital relacionados, conclui-se que o DSpace é uma solução
voltada predominantemente para o acesso, disseminação e comunicação científica e
acadêmica. Em contrapartida, conclui-se que o Archivematica tem como objetivo armazenar a
documentação em formato digital, de acordo com os padrões exigidos em relação à
preservação digital, sob a ótica arquivística, visando torná-la acessível a longo prazo.
Não obstante, conclui-se que toda e qualquer intervenção a ser feita em documentos digitais,
deve, impreterivelmente, ser precedida de políticas arquivísticas para garantir o acesso por
longo prazo ao patrimônio arquivístico documental.
Referências
SAYÃO, L. F. OAIS – Open Archival Information System. 2004. 1 diapositivo, color. Disponível
em:
<http://www.documentoseletronicos.arquivonacional.gov.br/Media/publicacoes/oais.pdf>.
Acesso em: 07 jan. 2013.
________________. Repositórios Digitais Confiáveis: Conceitos, Tecnologias e Padrões. In:
Fórum de Ciência e Tecnologia: Repositórios Confiáveis de Documentos Arquivísticos Digitais,
2011, Campinas. Disponível em:
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<http://foruns.bc.unicamp.br/Arquivos%20Bibioteca%20Virtual/Palestras/11-
08/Prof.%20Say%C3%A3o%20-%20Repositorios-confi%C3%A1veis-agosto-2011-unicamp.pdf>.
Acesso em: 07 jul. 2013.
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Microscopia Raman aplicada à conservação e autenticação de obras de arte
Thiago Sevilhano Puglieri14
Dalva Lúcia Araújo de Faria15
Palavras-chave: Microscopia Raman. Conservação preventiva. Autenticação de obras de arte.
Química forense.
Introdução
A importância tanto social quanto econômica do patrimônio histórico, artístico e cultural levou
à necessidade de adoção de metodologias para sua conservação e, uma vez que os processos
químicos, físicos e biológicos envolvidos no decaimento desses bens são muitos, com a
necessidade do entendimento desses, surgiu a Ciência da Conservação.
Genericamente, os aspectos químicos das pesquisas na área de patrimônio histórico podem
ser classificados em: (i) aqueles que visam sua conservação; (ii) os que visam sua restauração e
(iii) aqueles que objetivam a identificação de fraudes e falsificações. Qualquer que seja o
aspecto considerado, a abordagem deve considerar a complexidade química dos objetos, o
ambiente no qual se encontram e suas manipulações sofridas, sendo essencial a comparação
das informações obtidas com outras provenientes de estudos realizados em condições
controladas.
Em qualquer um dos aspectos mencionados, é indispensável a utilização de alguma técnica de
caracterização química capaz de identificar inequivocamente as substâncias químicas
presentes e que seja não invasiva e não destrutiva, tanto pelo valor da obra quanto pelo valor
forense da amostra, garantindo a possibilidade de análises futuras para realização de contra-
provas. Nesse contexto, portanto, é que a microscopia Raman se destaca, pois ainda
acrescenta a possibilidade de análises com elevada resolução espacial, permitindo estudos de
componentes com dimensão da ordem de poucos μm.
Considerando-se o exposto, este trabalho tem como objetivos mostrar e discutir alguns
exemplos de estudos de casos que foram realizados durante os últimos anos, no Laboratório
de Espectroscopia Molecular do IQUSP, empregando-se microscopia Raman em análises de
conservação e autenticação de obras de arte.
Metodologia e resultados
Nosso laboratório tem se envolvido em estudos de conservação e restauração desde meados
da década de 1990, sendo aqui apresentados alguns exemplos de estudos realizados nos
últimos 5 anos (Figura 1).
14 Químico, Mestre em Físico-Química, Instituto de Química da Universidade de São Paulo,
15 Química, Doutora em Química, Instituto de Química da Universidade de São Paulo, [email protected]
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(a) (b) (c)
FIGURA 1 – Desenho sobre papel atribuído à Tarsila do Amaral (a), pintura a óleo atribuída a Amedeo Modigliani (b) e escultura policromada de Pb do Museu do Oratório de Ouro Preto - MG (c).
No primeiro caso, Fig. 1a, o objetivo era a verificação de autenticidade e no segundo, Fig. 1b, a
determinação da paleta empregada pelo pintor, enquanto no último caso, Fig. 1c, buscava-se
elucidar o processo de degradação e consequentemente propor estratégias de mitigação.
Para a verificação de autenticidade e determinação da paleta, a caracterização dos pigmentos
por microscopia Raman, junto do uso de mapeamento Raman, mostrou que a composição
química do desenho atribuído à Tarsila do Amaral[1] não é compatível com a data atribuída ao
mesmo, enquanto que no caso da pintura atribuída a Amedeo Modigliani[2], os espectros
Raman mostraram uma composição química condizente com o período histórico em que o
artista viveu e, junto de outras informações históricas, indicaram a autenticidade da obra.
Quando o interesse era a investigação da fonte de degradação, além da caracterização dos
produtos de corrosão, ensaios com simulações em ambientes controlados em laboratório
foram necessários.
Das esculturas policromadas de Pb do Museu do Oratório[3], formiato de chumbo e diferentes
carbonatos foram identificados como produtos de corrosão. Como é sabido que formiato de
Pb é formado tanto por ácido fórmico quanto por formaldeído[4] e que esses poluentes são
liberados por diferentes materiais[5], simulações em laboratório foram realizadas e mostraram
que o processo de degradação nesse caso foi causado pela tinta utilizada na base do
mostruário de vidro onde a obra era exposta. Além disso, simulações alertaram para os riscos
associados ao uso de produtos de limpeza irregulares no interior de museus.
Conclusões
Os exemplos aqui reportados evidenciam a importância da abordagem interdisciplinar na
investigação do patrimônio histórico, artístico e cultural, mostrando a importância da
microscopia Raman, inclusive na proposição de estratégias de mitigação do decaimento desses
bens.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Ricardo Ribenboim, Alex Ribeiro, Luiz Antônio Cruz Souza, à equipe do
Museu do Oratório, FAPESP, CNPq e Capes.
Referências
[1] DE FARIA, Dalva L. A. e PUGLIERI, Thiago S. Um exemplo de aplicação da Microscopia
Raman na autenticação de obras de arte. Química Nova (Impresso), v. 34, p. 1323-1327, 2011.
[2] Artigo em redação.
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[3] DE FARIA, Dalva L. A.; PUGLIERI, Thiago S. e SOUZA, Luiz A. C. Metal Corrosion in
Polychrome Baroque Lead Sculptures: a Case Study. Journal of the Brazilian Chemical Society,
v. 24, p. 1345-1350, 2013.
[4] (a) DE FARIA, Dalva L. A.; CAVICCHIOLI, Andrea e PUGLIERI, Thiago S. Indoors lead
corrosion: Reassessing the role of formaldehyde. Vibrational Spectroscopy, v. 54, n. 2, p. 159-
163, 2010. (b) NIKLASSON, Annika; JOHANSSON, Lars-Gunnar e SVENSSON, Jan-Erik.
Atmospheric corrosion of lead - The influence of formic acid and acetic acid vapors. Journal
of the Electrochemical Society, v. 154, n. 11, p. C618-C625, 2007.
[5] THICKETT, David e LEE, L. R. Selection of Materials for the Storage or Display of Museum
Objects. The British Museum Occasional Paper, v. 111, 2004.
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Representação gráfica digital aplicada à conservação e a restauração dos bens culturais
Mara Denise Nizolli Rodrigues16
Francine Morales Tavares Ribeiro17
Jeferson Dutra Salaberry18
Palavras-chave: Representação gráfica. Ferramentas digitais. Documentação e registro.
Conservação Iconográfica.
Introdução
Este trabalho propõe apresentar e discutir os procedimentos de documentação como
ferramentas essenciais no processo de conservação e restauração de bens culturais; de forma
especifica a representação gráfica através da ferramenta CAD e também a documentação por
imagem.
No processo de reconhecimento, documentação, conservação e restauração dos bens culturais
o pesquisador deve estar amparado por registros que possibilitem um maior entendimento
sobre o objeto trabalhado, conseqüentemente, estes recursos servirão como subsídios para a
intervenção no bem cultural, também será útil como fonte histórica primária. (LEÃO, 2013)
O presente paper tem como referencial teórico a conservação iconográfica, disciplina que tem
longa história, nascida com a redescoberta das antiguidades durante o Renascimento italiano,
desenvolvida até o século XIX através dos antiquários, que estudavam os monumentos,
representando-os graficamente e organizando publicações. Ela contribuiu, no final do século
XVIII, para a criação da disciplina de História da Arte. (CHOAY, 2001)
Conservação Iconográfica
A conservação iconográfica consiste na representação gráfica dos bens reconhecidos como
portadores de valores culturais. O método vem se desenvolvendo dentro da disciplina mais
ampla da conservação e restauração, principalmente a partir da primeira metade do século
XIX, com as restaurações estilísticas de Violet Le-Duc.
A existência da conservação iconográfica se justifica pela impossibilidade de preservar os
monumentos do passado em razão da degradação, da falta de políticas públicas de
conservação real e/ou do interesse econômico mais forte de substituir os bens culturais,
16
Acadêmica do Curso Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Móveis na Universidade
Federal de Pelotas (UFPel), [email protected]
17 Graduação em Administração de Empresas (UFPel), Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas (PPGMSPC/UFPel), Técnica
Administrativa na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) [email protected]
18 Graduação em Arquitetura e Urbanismo (UFPel), Mestrado em Arquitetura e Urbanismo
(PROGRAU/UFPel), Técnico em Restauro na Universidade Federal de Pelotas (UFPel),
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principalmente os monumentos arquitetônicos, continuamente trocados por novos, deixando
os objetos e construções antigas de existir.
Para os grandes monumentos nacionais a conservação iconográfica não é tão importante
quanto para os pequenos monumentos regionais, pois aqueles têm a sua conservação real
garantida, já que governo algum vai deixar ruir os grandes palacetes tombados a nível federal,
representativos de uma “identidade nacional”. Por outro lado, muita coisa desaparece
diariamente. Como exemplos, podemos citar edificações industriais (Fig. 1), residências,
conjuntos de casas operárias e os importantes revestimentos antigos de fachadas e interiores
(bens integrados) (Fig. 2). Muitos bens culturais significativos podem facilmente desaparecer, e
são realmente destruídos, sem jamais terem sido conhecidos/reconhecidos.
Figura 1: Retificação das fachadas da antiga cervejaria Sul Rio-Grandense. Pelotas. RS.
Fonte: SALABERRY, J. D., SILVA, A. B. A., 2010.
Essa ferramenta também é significativa para o estudo das antigas técnicas de construção,
como a documentação do “cimento penteado”, revestimento de fachada do início do século
XX que dia a dia é substituído. Também significativo é o registro das pinturas murais (Fig. 3) e
das “escaiolas”, técnica de revestimento interno de paredes de grande valor estético e
desenvolvimento no final do século XIX e início do XX. Ambas as técnicas são um “saber fazer”
perdido, não existem mais artesãos com conhecimento necessário para reproduzi-las, por isso
a necessidade de conservá-las de forma real, além de documental e iconograficamente.
(IRIGON, 2012)
Figura 2: Vaso Alto Ornado em faiança, Fábrica Devezas (Portugal), Casa 8, Pelotas. RS.
Fonte: Representação elaborada por Jeferson Salaberry para Keli Cristina Scolari em 2012.
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Figura 3: Pintura Mural Teatro Guarany. Pelotas. RS.
Fonte: BACHETTINI, A. L.; SALABERRY, J. D.; SCOLARI, K. S.; VASCONCELOS, M. L. C.; HEIDEN, R., 2010.
Metodologia
Além da conservação iconográfica, o ensaio pretende discutir sobre uma possível
representação científica dos bens culturais móveis e dos bens integrados à arquitetura,
especificamente para as atividades do conservador e restaurador. Para isso, a “nova”
representação gráfica deve desvincular-se daquela caracterizada pelo desenho de observação
e tradicionalmente vinculada à representação artística dos objetos da natureza; também deve
se diferenciar do desenho técnico, arquitetônico e industrial, os quais têm como finalidade
principal a construção ou produção de uma obra nova pela indústria.
É importante destacar que a representação científica deverá tratar dos objetos que já existem,
têm importância cultural e exigem, para sua valorização, uma representação digna que
restabeleça sua unidade e singularidade, não podendo seu desenho ser esquemático ou
simplificado.
A representação científica dos bens culturais tem como objetivo principal a representação
objetiva, desprovida de qualquer intenção artística, caracterizada por um levantamento
métrico preciso. Essa modalidade deve constituir-se como a representação científica dos
objetos de arte.
Considerações finais
A metodologia e as ferramentas utilizadas nesta etapa da pesquisa mostraram-se adequadas
para o levantamento dos referidos bens culturais. A utilização da tecnologia permitiu a
documentação dos bens culturais com eficiência e facilidade, tornando seu emprego viável a
laboratórios e entidades de preservação do patrimônio, permitindo a obtenção de vários
produtos visando à preservação, como o levantamento cadastral, o diagnóstico, o projeto de
intervenção.
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Referências
BACHETTINI, A. L., SALABERRY, J. D., SCOLARI, K. S., VASCONCELOS, M. L. C., HEIDEN, R.
Patrimonio e Identidad Cultural: Mapeo Y Documentación de las Pinturas Murales del Teatro
Guarany. NEWSLETTER ICOM-CC, v.2, p.7 - 9, 2010.
CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: UNESP,
2001.
IRIGON, P.; SALABERRY, J. Representação gráfica dos bens culturais através da ferramenta CAD [recurso eletrônico] Pelotas: Editora Universitária/UFPel, 2012.
LEÃO, A. C.; ALMADA, A. N. Procedimentos para a documentação científica por imagem de
bens culturais utilizando luz visível e ajuste cromático: estudo de caso sobre escultura em
madeira – Pináculo. In: 2º Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauração. Anais do
2º Encontro Luso-Brasileiro de Conservação e Restauração. São João Del Rei: PPGA-EBA-
UFMG, p.313 – 321, 2013.
SALABERRY, J. D.; SILVA, A. B. A. Levantamento Fotogramétrico Digital da Antiga Cervejaria Sul
Rio-Grandense. In: 4º Seminário Internacional em Memória Social e Patrimônio Cultural. Anais
do IV SIMP: Memória, Patrimônio e Tradição. Pelotas: Editora e Gráfica Universitária - UFPEL,
v.1. p.687 – 695, 2010.
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Restauro em Taxidermia: mamíferos do acervo do Museu Carlos Ritter
Fernando Gonçalves Duarte19
Palavras-chave: Restauro. Taxidermia de mamíferos. Acervo de história natural.
Introdução
Esse trabalho trata dos procedimentos de restauro empregados em dois exemplares
taxidermizados de mamíferos de pequeno porte. Um exemplar é um Hydrochoerus
hydrochaeris (Capivara) e, o outro um Tayassu tajacu (Cateto), ambos pertencentes à coleção
mastozoológica do acervo do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter da UFPel/RS. A
Taxidermia é a prática de criar uma ilusão ou alusão à vida (LARSEN, 1945). A partir do XVIII o
animal torna-se um objeto de observação, não somente para o olho atento do Naturalista, mas
também para o olho do esteta preocupado em revelar a perfeição de cada espécie.
O objetivo principal do trabalho foi procurar soluções de intervenção técnica e artística que
permitissem uma reconstituição realista na recuperação dos mamíferos. Outro objetivo foi a
das peças recuperaram a possibilidade de reintrodução nas exposições do Museu. Em tais
coleções museológicas, segundo Franco (2002, p. 285), "toda a coleção tem importância
didática, uma vez que a sua utilização sempre implica em atualização e geração de
conhecimento", este tipo de coleção serve de apoio para a identificação da espécie, o que
evidencia a importância de sua aparência para a comunicação.
O Museu possui vasta coleção de animais taxidermizados advindas da coleção particular de
Carlos Ritter, doados em 1926 à antiga Escola de Agronomia e Veterinária Eliseu Maciel, hoje
UFPel, justificando assim todo o esforço para a sua preservação, ou seja, para sua salvaguarda
e comunicação.
Metodologia e resultados
O restauro das peças foi planejado e discutido com o Laboratório de Taxidermia do Instituto de
Biologia da UFPel durante o ano de 2012. O trabalho desenvolvido pode ser descrito conforme
as etapas definidas a seguir.
A primeira etapa de trabalho foi a realização de uma revisão da literatura sobre as técnicas e
procedimentos de taxidermia e de materiais e técnicas de conservação e restauro para esta
prática. Observou-se a pouca literatura especializada e a falta de descrições detalhadas e
precisas.
Na segunda etapa foi realizado um diagnóstico do estado de conservação das peças,
identificando os problemas e o grau de intervenção necessária para que esses objetos
pudessem retomar o seu ciclo museológico.
O diagnóstico geral do estado de conservação está sintetizado a seguir:
19
Graduação em Conservação e Restauro de Bens Móveis, UFPel
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- As condições de armazenamento eram inadequadas, sem controle de iluminação,
temperatura e umidade relativa;
- As bases de apoio, em madeira, estavam em péssimo estado de conservação, gerando
instabilidade e desequilíbrio das peças;
- As condições de conservação eram muito ruins. Havia um desbotamento generalizado da
pelagem, partes do corpo quebradas como orelhas, unhas, etc., suturas diversas aparentes e
rompidas, assim como acabamentos e intervenções artísticas anteriores inadequadas sob o
ponto de vista técnico-artístico.
O processo de restauro foi um desafio técnico, pois se baseou na reconstituição das
características naturais dos animais com apoio na hipótese da viabilidade de utilização de
materiais e técnicas tradicionais do restauro de pinturas e papéis.
Figura 1 - As peças restauradas: a) Hydrochoerus hydrochaeris (Capivara); b) Tayassu tajacu (Cateto).
Fonte: acervo do autor.
Os procedimentos iniciais incluíram a realização de radiografias para a compreensão e registro
da estrutura interna. Foram realizados testes de sutura, colagem, obturação e pintura em
pedaços de couro de Hydrochoerus hydrochaeris. Inicialmente as peças foram lavadas com
espuma de sabão neutro. Optou-se pelo uso da cola Primal B 60A com reforço de borda em
tecido de algodão cru e linha Cordonê da Settanyl para o fechamento da peça. Utilizou-se a
porcelana fria e papel japonês para as obturações, K-Othrini para a desinfecção no interior das
peças e no tingimento da pelagem foi utilizado Holzbeize na Hydrochoerus hydrochaeris e tinta
para pelo na Tayassu tajacu.
Ao longo do processo sempre as ações realizadas tiveram como orientação básica os padrões e
princípios da taxidermia, onde as intervenções necessárias buscam resgatar uma similaridade
com o animal vivo.
Conclusões
Com base no estado de conservação em que as peças foram encontradas, pode-se afirmar que
o resultado final da intervenção foi muito positivo. No entanto, o trabalho realizado conta com
a fragilidade da falta de avaliações prévias da durabilidade e reversibilidade das técnicas
empregadas. Graças às intervenções, os problemas de ordem estética e de informação de
a) b)
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caráter científico foram resolvidos, proporcionando ao observador uma melhor apreciação das
peças. A salvaguarda e a comunicação atingiram plenamente seus objetivos, pautados pelo
restauro dos antigos exemplares taxidermizados e sua reintrodução nas exposições dedicadas
a divulgação da História Natural.
Referências
FRANCO, Francisco Luis. Coleções zoológicas. In: AURICCHIO, Paulo; SALOMÃO, M. G. (org. E
ed.) Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e didáticos. São
Paulo: Arujá - Instituto Pau Brasil de Historia Natural, 2002. Cap.11.
LARSEN, Henry. La taxidermie moderne. Genève: Éditions de La Frégale, 1945.
MEDEIROS, André Luis de Vasconcelos. Parâmetros para a conservação e higienização de
espécimes taxidermizados: estudo de caso da coleção Carlos Ritter-Pelotas, RS, UFPel, 2013.
Monografia.
OLIVEIRA, Eder Ribeiro; DORNELLES, José Eduardo Figueiredo. Estabelecimento de
metodologia científica para análise do estado de conservação de espécimes de taxidermia
artística do Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter. Pelotas: Editora e Gráfica Universitária –
PREC – UFPel, 2010.
SILVA, Mauricio Cândido da; RIVERO, Alexandre Augusto Carvalho; SALLES, Leandro de
Oliveira; Musealização do acervo do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo:
salvaguarda e comunicação de cinco mamíferos taxidermizados da fauna brasileira. Revista
CPC, São Paulo, n. 13, p. 74-106, abr. 2012.
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Dietilditiocarbamato de sódio como alternativa para a limpeza de produtos de corrosão em bens
culturais feitos de ligas de cobre
João Henrique Ribeiro Barbosa 20
João Cura D’Ars Figueiredo Junior21
Palavras-chave: Dietilditiocarbamato de sódio, inibidor de corrosão, limpeza química, metais.
Introdução
Os metais são materiais inorgânicos que tendem a corroer quando em contato com a
atmosfera. Devido a esse processo, surge uma camada composta por produtos de corrosão
chamada de pátina que pode ser passiva ou ativa. Quando é passiva a mesma é estável.
Quando é ativa, ela pode ser reativa e pulverulenta, induzindo processos contínuos de
corrosão, de modo a prejudicar a resistência mecânica do bem cultural e outras características
originais o que torna a sua remoção necessária. Essa remoção pode ser feita através da
decapagem ácida ou por ação de pré-ligantes para formar compostos de coordenação. Os dois
métodos se diferenciam pela maior possibilidade de controle da agressividade do mesmo.
Destaca-se como objetivo geral desse trabalho estudar o uso do composto de coordenação
dietilditiocarbamato de sódio (DTCNa ou NaEt2NCS2) para a remoção de produtos de corrosão
em bens culturais feitos de liga de cobre e avaliar se esse processo é menos agressivo que o
realizado na decapagem ácida.
Metodologia e resultados
Produtos artificiais de corrosão foram obtidos em peças de ligas de cobre através do
aquecimento a 250°C e recobrimento das mesmas com solução 33% de NH4Cl. Os produtos
obtidos foram caracterizados por espectroscopia vibracional no infravermelho (IV) como
atacamita: CuCl2.3Cu(OH)2. As peças com os produtos de corrosão foram imersas em
diferentes temperaturas e concentrações de solução aquosa de NaEt2NCS2 observando-se a
formação de um produto caracterizado por IV como [Cu(Et2NCS2)2]. A maior eficiência na
remoção foi observada na concentração de 0,1 mol.L-1 do pré-ligante a 25°C. A corrosividade
do banho de NaEt2NCS2 foi avaliada por métodos eletroquímicos: curvas de polarização (CP)
e espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS) utilizando uma célula eletroquímica de
três eletrodos: trabalho (cobre 99,9 %), referência (Ag/AgCl com solução saturada de KCl) e
contra eletrodo (platina). As curvas de polarização e as de impedância estão na figura 1 e os
parâmetros de corrosão obtidos destas estão na tabela 1.
20 Graduando em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de Minas Gerais. [email protected].
21 Professor Doutor em Química Inorgânica. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
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FIGURA 1 – CP de cobre metálico para soluções de HCl e NaEt2NCS2 0.1 mol.L-1
; e EIS de Cu em HCl e NaDTC ambos a 0,1 mol.L
-1.
TABELA 1 - Parâmetros de corrosão para HCl e NaEt2NCS2 0.1 mol.L-1
Solução aquosa 0,1
mol.L-1
Potencial de Corrosão (V)
Densidade de Corrente
(x 10-7 A.cm2)
Resist. da 2)
Resist. de transferência de
2) N
HCl -0,086 16,3 5,650 1,509 0,563
NaDTC -0,272 1,99 30,653 2,022 0,652
O menor valor de densidade de corrente para o banho de NaEt2NCS2 0.1 mol.L-1 e o aumento
da resistência de transferência de carga do metal indicam que o mesmo é menos corrosivo
que o banho ácido. O aumento do parâmetro n indica o aumento da heterogeneidade da
superfície do metal resultante da adsorção do NaDTC que ocorre por coordenação de Cu pelos
grupos ditiocarbamatos o que foi verificado pelo espectro IRRAS que indicou a presença de
Cu(NaEt2NCS2)2 na superfície metálica.
Conclusões
Os dados obtidos tornam a remoção de produtos de corrosão com NaEt2NCS2 0.1mol.L-1 em
meio aquoso um procedimento promissor para limpeza de bens culturais feitos de ligas de
cobre.
Referências
K. MARUSIC et al. Comparative studies of chemical and electrochemical preparation of
artificialbronze patinas and their protection by corrosion inhibitor. Electrochimica Acta, n° 54,
2009.
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Preservação Patrimonial e a Cibercultura: mobilização no ciberespaço através da rede social Facebook
Marina Gowert dos Reis22
Renata Ovenhausen Albernaz23
Palavras-chave: Preservação Patrimonial. Cibercultura. Mobilização no ciberespaço. Rede
Social Facebook.
Introdução
O patrimônio cultural se configura, quando se observa a evolução histórica do conceito, como
uma construção política e, desta forma, deve ser mostrado às comunidades (PRATS, 1998),
configurando uma imposição ao povo e, por vezes, não se caracterizando como uma
representação do mesmo, como constituinte de sua memória, identidade, história e tradição.
A própria identificação dos bens que adentram a categoria do patrimônio cultural não tem sido
feita, necessariamente, pelas comunidades a que tais bens advêm, mas sim pelos órgãos
técnicos de governo. Observa-se que, em um contexto de cibercultura, onde a vida social é
permeada pela tecnologia (LEMOS, 2002; LÉVY, 2007), as comunidades estão se mobilizando
na internet em torno de causas identitárias e, assim, também, patrimoniais, fazendo com que
as decisões sobre bens de memória e identidade não fiquem mais restritas ao poder
organizado. Essas afirmações se confirmam, em especial, na observação de grupos que se
organizam na rede social Facebook24 buscando-a como espaço de discussão pela defesa do
patrimônio cultural. Ainda, situam-se essas práticas e fenômenos dentro do conceito de pós-
modernidade, a modernidade líquida, caracterizada pela fluidez e maneira passageira pelas
quais se dão as relações humanas na contemporaneidade (BAUMAN, 2001).
Nesse cenário, esse artigo objetiva visualizar o panorama dos agentes patrimoniais colocada
por Prats (1998) em um contexto de cibercultura, tendo como objeto a observação de grupos
mobilizados na rede social Facebook para a defesa do patrimônio cultural, destacando o caso
do tombamento provisório do Centro Histórico de Santo Ângelo – RS.
Metodologia e resultados
A fim de entender os fenômenos que surgem da relação entre a preservação patrimonial e as
relações sociais em um contexto de cibercultura, inicia-se a pesquisa com um apanhado
teórico que permita compreender: a) a categoria do patrimônio cultural, seguindo a linha
teórica de Prats (1998), pela identificação dos agentes que têm poder para institucionalizá-lo e
a evolução desse conceito; b) defina a cibercultura como um fenômeno da pós-modernidade;
22Bacharel em Design Digital pela Universidade Federal de Pelotas, mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas, e-mail: [email protected]
23 Bacharel em Administração e Direito pela Universidade Estadual de Maringá, mestre em Direito pela Universidade Estadual de Maringá, doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, professora adjunta da Universidade Federal de Pelotas, e-mail: [email protected]
24 http://www.facebook.com/ O Facebook é uma rede social na internet que hoje alcança extensa
popularidade entre os usuários conectados à internet,
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c) caracterize a mobilização no ciberespaço como potencializadora e resignificante de causas
compartilhadas por indivíduos, especialmente na rede social Facebook.
A partir desse levantamento referencial, apresentam-se algumas informações acerca do caso
do tombamento provisório do Centro Histórico da cidade de Santo Ângelo – RS, enquanto caso
em que as redes sociais foram estratégicas para as políticas de sua patrimonialização. Esse
processo de tombamento provisório teve início através de um abaixo-assinado digital
organizado a partir do grupo de discussão Defenda Santo Ângelo! Quero nossa história viva!25,
localizado na rede social Facebook.
Conclusões
Atentando para as questões da cibercultura e da “invasão” do ciberespaço na vida cotidiana,
observa-se a transformação dos paradigmas das relações sociais e da vida humana. Nesse
panorama está englobada a preservação patrimonial, como é possível observar nos casos de
grupos de discussão organizados na internet para tratar de tais questões que inquietam as
comunidades. No tombamento provisório do Centro Histórico de Santo Ângelo, entre outros
possíveis exemplos, percebe-se uma alteração na situação colocada por Prats. Ainda que o
poder de preservação patrimonial esteja com o poder político, formal ou informal, e, em
última instância, nos agentes sociais aportados pelo poder constituído, como Prats (1998)
pontua, observa-se que a comunidade, através do diálogo nas redes sociais, obtêm voz na
discussão do que deve ser institucionalizado, assim protegendo os bens patrimoniais que
representam sua memória coletiva.
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Kahar Editor, 2001.
BOYD, Danah & ELLISON, N. Social network sites: Definition, history, and scholarship. Journal
of Computer Mediated Communication, 13(1), article 11, 2007. Disponível em:
<http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html>. Acesso em 01/08/2013.
LEMOS, André. Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2002.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 2007.
PRATS. Llorenç. El Concepto de Patrimonio Cultural. Política y Sociedad. Nº 27, p. 63-76. 1998.
RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
25
Grupo na rede social Facebook, com necessidade de convite para acesso. Disponível em:
<https://www.facebook.com/groups/211236288937044/>. Acesso em: 01 de agosto de 2013.
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O Patrimônio Fotográfico de Santa Maria em ambiente digital
Dhion Carlos Hedlund26
Daniel Flores27
Palavras-chave: Acesso. Descrição arquivística. Digitalização. Patrimônio documental.
Introdução
O objetivo geral da pesquisa de mestrado intitulada “O Patrimônio Fotográfico de
Santa Maria em ambiente digital” é proporcionar e analisar o acesso ao acervo fotográfico do
AHMSM, por meio do ICA-AtoM, na internet, visando apresentar ao usuário do arquivo todas
as informações arquivísticas necessárias para o entendimento de cada registro fotográfico,
bem como de seu representante digital produzido na etapa de digitalização do acervo,
seguindo as normas arquivísticas nacionais que regem essas funções, colaborando assim para
a difusão do acervo, para o auxílio na preservação dos documentos originais – no momento
em que se evita o manuseio dos mesmos – e contribuindo para manter viva a memória santa-
mariense. O produto final dessa pesquisa será um instrumento de pesquisa on-line do acervo.
A pesquisa teve início no segundo semestre de 2012 e já obteve resultados parciais.
O ICA-AtoM é distribuído sob a política de software livre, inteiramente destinado ao
ambiente web, com suporte a vários idiomas, sendo uma ferramenta para auxiliar as
atividades de descrição arquivística, seguindo os padrões do Conselho Internacional de
Arquivos. Contempla as principais normas de descrição arquivística internacionais: ISAD(G),
ISAAR (CPF), ISDIAH e ISDF.
Com mais de cinquenta anos de existência, o AHMSM constitui-se num importante
local de memória do município. É um lugar onde pesquisadores de diversas áreas do
conhecimento interagem e realizam suas pesquisas. Esse caráter interdisciplinar do arquivo
evidencia a importância dos documentos ali armazenados e enriquece a produção de
conhecimentos, justificando as ações para acesso e preservação do acervo.
Metodologia e resultados
Do ponto de vista da sua natureza, esta pesquisa se caracteriza como uma pesquisa
aplicada, pois “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de
problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.” (SILVA, 2005, p.20). A partir de
uma revisão teórica sobre o conteúdo a ser trabalhado, com o intuito de confrontá-los com os
resultados obtidos pela atividade prática, realizou-se uma pesquisa exploratória.
Esta pesquisa pode ser dividida em cinco etapas: 1) preparação da documentação e
revisão teórica; 2) digitalização das fotografias; 3) preparação dos requisitos técnicos para
26 Graduação em Arquivologia. Mestrando em Patrimônio Cultural – UFSM, [email protected]
27 Graduação em Arquivologia. Mestrado em Engenharia de Produção – UFSM. Doutorado em
Metodologías y Líneas de Investigación en Biblioteconomía y Documentación – Universidad de
Salamanca/España, Professor do Departamento de Documentação da UFSM. [email protected]
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instalação do ICA-AtoM; 4) descrição das fotografias e; 5) análise dos resultados obtidos pelas
atividades práticas anteriores, em confronto com as recomendações levantadas na revisão
teórica. As 4 primeiras etapas foram realizadas com êxito, sendo que a quinta etapa está em
fase de desenvolvimento.
Conclusões
Para atingir o objetivo da pesquisa, foi necessário o estudo de três áreas principais: a descrição
arquivística, a digitalização de documentos, e o acesso por meio de um sistema informatizado
de descrição arquivística.
Num primeiro momento realizou-se o diagnóstico da situação documental e verificou-se que o
acervo fotográfico selecionado estava arranjado, identificado no Quadro de arranjo da
instituição, possuindo alguns dos elementos descritivos mínimo obrigatórios exigidos pela
Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE). Procedeu-se à descrição arquivística
para completar o restante dos elementos obrigatórios, visando proceder à digitalização.
Também, foram estabelecidos os níveis de descrição conforme a NOBRADE: fundo (nível 1),
grupo (nível 2), série (nível 3), dossiê/processo (nível 4) e item documental (nível 5).
Em relação à digitalização, foi necessário procurar um meio alternativo para realizar a captura
digital, em vez de adquirir um equipamento pronto de fábrica. Foi construído um escâner
planetário, utilizando uma câmera digital profissional, uma mesa com bandeja anti-reflexiva e
um conjunto de luzes em cada lado da mesa, seguindo as recomendações para digitalização de
documentos arquivísticos permanentes do Conselho Nacional de Arquivos. Constatou-se que é
possível realizar a captura digital utilizando um custo baixo, pautado pelas recomendações de
preservação digital.
Em relação ao ICA-AtoM, concluiu-se até o momento, que há muitas vantagens em utilizá-lo na
descrição arquivística. É um software livre para modificações, gratuito, utiliza como
dependências outros softwares livres – o que favorece a adoção pelas instituições por não ser
dependente de empresas proprietárias – e contempla as principais normas internacionais de
descrição arquivística. Cada instituição tem suas especificidades em relação à descrição do seu
gênero documental e suas preferências na descrição, no entanto, quando comparado com
soluções comerciais, o ICA-AtoM permite explorar enormes potencialidades por uma fração do
custo das soluções proprietárias, e pautado pelas normas de descrição arquivística. Concluiu-
se também que há muitas funcionalidades que enriquecem e facilitam a atividade e
apresentação da descrição arquivística para o usuário final.
Referências
SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4. ed.
Florianópolis: UFSC, 2005. Disponível em:
<http://www.portaldeconhecimentos.org.br/index.php/por/content/view/full/10232>. Acesso
em: 26 jun. 2013.
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Patrimônio documental digital: políticas de segurança e preservação para o processo judicial
eletrônico
Mateus de Moura Rodrigues28
Daniel Flores29
Palavras-chave: Preservação digital. Segurança da informação. Documento digital. Processo
eletrônico. Arquivologia. Patrimônio documental.
Introdução
O presente trabalho apresenta resultados parciais da dissertação de mestrado do Programa de
Pós Graduação Profissional em Patrimônio Cultural da UFSM, iniciada em 2012 e com
perspectiva de conclusão em 2014. A temática abordada é o processo judicial eletrônico,
objeto que traz consigo problemáticas oriundas do ambiente digital, desde a produção, gestão,
segurança e preservação destes documentos. Cabe à presente produção fornecer, a partir de
conhecimentos específicos, soluções que visam à segurança e preservação digital em
consonância com a teoria arquivística e aos padrões e normativas vigentes. Para tanto, tem-se
como objetivo geral a elaboração de recomendações de segurança e preservação de
documentos digitais oriundos do processo eletrônico. Em termos específicos, busca-se
apresentar o documento digital como meio de prova; analisar, sob a ótica arquivística, a Lei
11.419/2006 que dispõe sobre o processo eletrônico; revisitar os preceitos arquivísticos da
preservação digital; e analisar a norma ISO 27002, a qual apresenta um código de práticas de
segurança da informação. Como aporte teórico para o atingimento dos objetivos, faz-se uso de
autores, como Guimarães (2005), Santos (2005), Innarelli (2008), Marques (2008), Atheniense
(2010) e Rondinelli (2005), além de resoluções e diretrizes da Câmara Técnica de Documentos
Eletrônicos do Conselho Nacional de Arquivos. A justificativa de realização desta pesquisa
reside na necessidade de um conjunto de recomendações de cunho arquivístico que somem-se
à legislação vigente para a gestão do futuro patrimônio digital oriundo dos processos findos,
tendo em vista que a Lei 11.419/2006 por si só não oferece respaldo suficiente para esta
demanda.
Metodologia e resultados
Para a obtenção dos resultados, incorpora-se a visão do profissional arquivista no que diz
respeito à segurança da informação e preservação digital. Neste sentido, de acordo com Silva e
Menezes (2001), a presente pesquisa é bibliográfica, de natureza aplicada, com abordagem
qualitativa e objetivos exploratórios. A obtenção dos resultados parciais deram-se a partir da
28
Graduação em Arquivologia, especialização em Gestão em Arquivos, mestrando em Patrimônio
Cultural, professor auxiliar do curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande - FURG,
29 Graduação em Arquivologia, Doutorado em Metodologías y Líneas de Investigación en
Biblioteconomía y Documentación, professor adjunto do curso de Arquivologia da Universidade Federal
de Santa Maria - UFSM, [email protected]
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revisão da literatura pertinente, além de uma análise aprofundada da normativa e legislação,
fazendo-se o uso de fichamentos para a coleta de dados. Neste cenário, até o momento os
resultados foram a apresentação do documento digital como meio de prova, fundamentando-
se tal decorrência a partir dos fundamentos da Diplomática que, de acordo com Santos (2005)
tem como objeto de estudo a estrutura formal dos documentos, mediante a análise de seus
elementos físicos e conteúdo. Assim, o documento digital pode ser considerado documento
jurídico, amparado por Rodrigues (2008), que postula que os documentos diplomáticos são de
natureza jurídica, pois remetem ao poder de prova que deve acompanhar o documento,
independentemente de seu suporte. Procedeu-se, também à análise da Lei 11.419/2006, da
qual se pôde constatar o quão indispensável é uma infraestrutura de segurança que dê o
devido suporte a todos os requisitos de integridade documental necessários. Também foi
possível perceber que quesitos referentes à fidedignidade dos documentos que tramitam
digitalmente também estão presentes no texto da lei, além da preocupação da preservação
dos documentos originais em suporte físico como precaução quando da digitalização dos
mesmos para a submissão ao processo eletrônico, fato justificado pela fragilidade do meio
digital, como a obsolescência tecnológica, que torna vulnerável todo e qualquer objeto digital.
A partir dos resultados obtidos até aqui, percebe-se a pertinência desta pesquisa e a relevância
do cumprimento dos demais objetivos propostos, os quais visam apontar possíveis soluções
para minimizar as questões de segurança e preservação dos documentos oriundos do processo
eletrônico.
Conclusões
Diante do exposto, ao demonstrar o cunho probatório do documento digital, pôde-se concluir
que o mesmo cumpre papel de manifestar a verdade a partir da representação de um fato
jurídico, pois o Direito não impõe um determinado suporte para que haja comprovação
jurídica, demonstrando, assim, a equivalência entre o documento tradicional e o documento
digital. No que diz respeito à Lei 11.419/2006, pôde-se concluir que o advento da mesma
trouxe reformulação e renovação consciente ao trâmite processual, evidenciando que o
documento digital é uma realidade no âmbito judiciário. A análise da mesma permitiu
vislumbrar a necessidade de adoção de medidas que venham a preencher lacunas no que
concerne à segurança da informação e a preservação digital dos processos eletrônicos
destinados à guarda permanente, cumprindo papel de patrimônio documental digital, ao qual
deve ser garantido o acesso a longo prazo.
Referências
ATHENIENSE, Alexandre. Comentários à Lei 11.419/06 e as práticas processuais por meio
eletrônico nos tribunais brasileiros. Curitiba: Juruá, 2010. 381p.
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Eletrônicos. Disponível em:
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10glossario_v5.1.pdf> Acesso em 17 set. 2013.
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de gestão arquivística de documentos: e-ARQ Brasil. Disponível em:
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<http://www.documentoseletronicos.arquivonacional.gov.br/media/e-arq-brasil-2011-
corrigido.pdf> Acesso em 19 set. 2013.
GUIMARÃES, José Augusto Chaves; NASCIMENTO, Lúcia Maria Barbosa do; NETO, Mário
Furlaneto. Aspectos jurídicos e diplomáticos dos documentos eletrônicos. São Paulo:
Associação de Arquivistas de São Paulo, 2005. 73p.
INNARELLI, Humberto Celeste. Preservação digital e seus dez mandamentos. In: SANTOS,
Vanderlei Batista dos; INNARELLI, Humberto Celeste; Souza, Renato Tarcisio Barbosa dos.
Arquivística: temas contemporâneos. 2.ed. Distrito Federal, 2008. 224p.
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do documento eletrônico. 1.ed. Curitiba: Juruá, 2008. 233p.
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identificação da tipologia documental em arquivos. 2008. 258f. Tese (Doutorado em História
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RONDINELLI, Rosely Curi. Gerenciamento arquivístico de documentos eletrônicos. 2.ed. Rio
de Janeiro: FGV, 2004. 158p.
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2.ed. Brasília: ABARQ, 2005. 223p.
SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração de
dissertação. Florianópolis, 2001. Disponível em:
<http://tccbiblio.paginas.ufsc.br/files/2010/09/024_Metodologia_de_pesquisa_e_elaboracao_
de_teses_e_dissertacoes1.pdf> Acesso em 12 set. 2013.
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O acesso e preservação da memória institucional da FURG através do ICA-AtoM
Andrea Gonçalves dos Santos30
Catia Cinara Clavé Lopes31
Janaine da Silveira Xavier32
Luize Daiane Souza dos Santos33
Rosimeri Lobo Garcia34
Palavras-chave: Acesso. Difusão. Descrição. Preservação. ICA-AtoM. FURG.
Introdução
Este trabalho tem por objetivo a preservação e acesso aos fundos documentais custodiados
pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Para isto, os acervos das faculdades que
deram origem à instituição (Escola de Engenharia Industrial, Faculdade de Medicina do Rio
Grande, Faculdade de Direito Clóvis Bevilaqua, Faculdade Católica de Filosofia de Rio Grande e
a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas) foram descritos de acordo com a Norma
Brasileira de Descrição Arquivística – NOBRADE e disponibilizado através do software para
descrição de documentos arquivísticos ICA-AtoM, vinculado ao website da Coordenação de
Arquivo Geral da instituição.
Metodologia e resultados
Para a organização e acesso às informações os acervos foram reunidos e arranjados, onde
foram observados o Princípio da Proveniência, da Ordem Original e a Teoria dos Fundos que
permitiram identificar o documento ao seu produtor. Considerando as normas ISAD(G),
ISAAR(CPF) e NOBRADE, definiu-se o arranjo dos fundos documentais nos níveis: fundo, série,
dossiê e item documental. Devido ao seu volume, optou-se por dispensar a existência de
grupos, seções e subséries para evitar a “poluição” interna destes. Para Schellenberg (2006, p.
239) “os princípios de arranjo de arquivos dizem respeito, primeiro, à ordenação dos grupos de
documentos, uns em relação aos outros e, em segundo lugar, ao ordenamento das peças
individuais dentro dos grupos”. Assim, após o arranjo, a descrição de documentos arquivísticos
30
Arquivista, mestra em Patrimônio Cultural, Universidade Federal do Rio Grande - FURG,
31 Graduanda do curso de Arquivologia, Universidade Federal do Rio Grande – FURG,
32 Graduanda do curso de Arquivologia, Universidade Federal do Rio Grande – FURG,
33 Graduanda do curso de Arquivologia, Universidade Federal do Rio Grande – FURG,
34 Graduanda do curso de Arquivologia, Universidade Federal do Rio Grande – FURG,
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toma lugar como uma representação do acervo visando a elaboração de instrumentos de
pesquisa. Neste sentido, o software ICA-AtoM está sendo analisado pela Divisão de Suporte,
para sua adoção na FURG. Uma das vantagens na sua utilização se refere a possibilidade de
acesso remoto aos documentos, bem como a visualização, através da estrutura do software,
das hierarquias e das vinculações que os documentos estabeleceram no cumprimento de sua
função. Como se trata de uma versão de teste o acesso como administrador/editor foi limitado
apenas para um usuário com senha, sendo o acesso irrestrito aos consulentes, que podem
obter informações através dos metadados já inseridos, nos níveis fundo e séries.
Conclusões
Em este trabalho salientou-se o tratamento, a descrição documental e a elaboração de
instrumentos de pesquisa, como um marco no âmbito institucional. Acredita-se que a boa
qualidade na descrição de cada fundo arquivístico permitirá que o pesquisador consiga
detectar, preliminarmente, a possível existência e a localização de documentos de seu
interesse, garantindo o pleno acesso aos documentos. Os instrumentos estarão disponíveis no
website da Coordenação de Arquivo Geral em formato PDF e através do ICA-AtoM visando o
acesso à informação, como forma de colaborar com o desenvolvimento, a transmissão, a
preservação e a difusão do conhecimento desenvolvido na instituição. Desta forma, deve-se
destacar, acima de tudo, a relevância da continuidade deste processo nos diversos fundos
documentais da FURG, como forma de preservar o patrimônio documental da Universidade e a
memória do ensino superior na região.
Referências
SCHELLENBERG, Theodore Roosevelt. Arquivos Modernos. Princípios e Técnicas. Rio de
Janeiro: Editora FGV. 2006.
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Livro Digital Comemorativo aos 70 anos do ICBNA: As novas tecnologias preservando a história da
inserção cultural estadunidense em Porto Alegre.
Rodrigo Pinnow35
Palavras-chave: Cultura. Digital. Fonte. Livro. Sociedade.
Introdução
Este trabalho trata do processo criacional do Livro Digital Comemorativo aos 70 anos do
Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano - ICBNA. O resumo tem por objetivo apresentar a
diversidade de fontes que constituem o acervo da instituição e como as mesmas foram
inseridas na “era digital”, através de um processo dividido em três partes: organização, seleção
e digitalização. Dessa forma, tornou-se possível que este importante acervo e toda a história
que o mesmo traz consigo pudesse ser disponibilizado no formato de Livro Digital, tendo como
principal finalidade a propagação da história institucional e sua importância para o
desenvolvimento cultural da capital gaúcha.
Metodologia e resultados
No processo de produção do Livro Digital, percebeu-se que o acervo institucional do ICBNA
contemplaria diversas pesquisas que abordassem os aspectos da evolução cultural da capital
gaúcha. Com isso, inicialmente, seria necessário analisar os setenta anos de história
institucional e elencar as fontes que expressariam a consolidação do ICBNA como parte
integrante da memória cultural e social de Porto Alegre.
Os acervos (artístico e documental) se encontravam dispersos pela instituição, sem qualquer
tipo de inventário mais preciso sobre o volume que existia. Sabia-se, contudo, que se tratava
de materiais de tipos variados, documentos de fundação, tais como atas, livros contábeis,
periódicos de época, periódicos institucionais, fichas de alunos, fitas VHS, fotografias,
materiais de divulgação, quadros, cerâmicas, dobraduras, estátuas e demais formas de
expressão artística. A seleção das fontes foi minuciosa, buscando contemplar a pluralidade do
acervo. Com isso, foram escolhidos aproximadamente 600 itens entre documentos, fotos,
obras de arte, periódicos entre outros acervos para digitalização. Terminada a etapa de
seleção de fontes, iniciou-se o processo de digitalização, dividida em duas partes:
- Digitalização das fontes documentais (atas, documentos de fundação, periódicos e fotos)
utilizando scanner de mesa HP scanjet g4050;
- Digitalização através de registro fotográfico utilizando uma máquina fotográfica modelo
Nikon D3100 com 14.2 megapixel de resolução, adaptada a um tripé ajustável para fotografar
as obras de arte e demais espaços da instituição;
A próxima etapa do processo consistiu no tratamento das imagens, por intermédio da
formatação e diagramação de todo o material coletado, utilizando os recursos do pacote
Adobe, compilando-o no formato de livro digital. Além disso, incluíram-se os arquivos das
35 Mestrando em História pela UFPEL/CAPES – [email protected]
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entrevistas realizadas com alguns dos principais protagonistas da história da instituição. Neste
sentido, somando todas as fontes, o projeto livro digital objetivava dar visibilidade ao acervo
institucional, as vozes dos fundadores e colaboradores, e principalmente, perpetuando
potencialmente o ICBNA na era digital.
O resultado final foi uma obra multimídia que mesclou historiografia, memória, fontes
primárias, acessibilidade ao acervo institucional para fins de pesquisa e principalmente a
preservação de um importante patrimônio cultural da cidade de Porto Alegre.
Considerações Finais:
Ao término do processo de digitalização e organização das fontes no documento multimídia,
ficou evidente que as possibilidades de pesquisa e preservação de acervos, combinadas ao
avanço do aparato tecnológico, são imensuráveis e de certa forma animadoras. O mundo que
se instaura hoje exige o conhecimento e a utilização das mais variadas tecnologias como
ferramentas que permitam o envio e a recepção de qualquer tipo de informação, contribuindo
para o desenvolvimento e estruturação da sociedade. Por isso, torna-se imperativo refletirmos
sobre a aplicabilidade dessa tecnologia no processo de preservação do patrimônio cultural.
Referências
http://www.cultural.org.br/Livro70anos/Default.htm . Acesso em : 29 de Setembro de 2013.
ALBERCH i FUGUERAS, Ramón. Archivos, memoria y conocimiento. In: Archivos y cultura:
manual de dinamización. ALBERCH i FUGUERAS, Ramón et al. Espanha, ediciones Treal, S.L,
2001, p. 13-26.
BERTONCELLO, Ludhiana. Novas tecnologias de informação e comunicação na educação
contemporânea - EaD/ Cesumar- Maringá - PR, 2011.
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Estudo do impacto potencial das mudanças climáticas na biodeterioração de estruturas de madeiras
no patrimônio cultural edificado do Vale Histórico Paulista
Felipe Sousa Neves Andrade36
Alejandra Teresa Fazio37
Andrea Cavicchioli38
Palavras-chave: Patrimônio edificado. Vale Histórico de São Paulo. Estruturas de madeira.
Biodeterioração. Mudanças climáticas. Estratégias de conservação.
Introdução
O presente trabalho está vinculado ao projeto de auxílio à pesquisa “Patrimônio cultural do
Vale Histórico Paulista: análise da vulnerabilidade às mudanças climáticas” (FAPESP-
Condephaat - 2011/51016-9) e aborda a problemática dos impactos das mudanças climáticas
na deterioração do patrimônio edificado em território brasileiro, com enfoque para a
biodeterioração de estruturas de madeira. O recorte geográfico limita-se ao Vale Histórico de
São Paulo (municípios de Areias, Arapeí, Bananal, Queluz, São José do Barreiro e Silveiras). Os
bens edificados do Vale representam um testemunho do ciclo econômico do café na região.
O documento “Previsão e Gestão dos Efeitos das Mudanças Climáticas no Patrimônio Mundial”
adverte para os riscos de degradação do patrimônio cultural gerado pelas mudanças climáticas
globais (UNESCO, 2007). Diante disso, O Noah’s Ark Project (SABBIONI et. al. 2007)
desenvolveu um mapa de risco biodeterioração da madeira devido ao crescimento de fungos
na Europa. O risco de ataque de fungos em objetos e estruturas de madeira outdoor deve
crescer até 50% no norte e no leste da Europa, como consequência de aquecimento com altos
níveis de precipitação.
Estudos GREC-USP prevêem aumentos de temperatura que podem chegar a 6ºC (cenário A2 –
mais pessimista) na região do Vale do Paraíba no fim do século XXI. Também se projeta
mudanças relevantes no regime de chuvas na região. (AMBRIZZI et al., 2007).
A elaboração de estratégias de conservação do patrimônio cultural edificado no Vale Histórico
justifica-se em função da necessidade de manutenção da integridade física do legado de uma
importante fase histórica do país. Para a elaboração dessas estratégias é indispensável a
36
Bacharel em Gestão Ambiental (Universidade de São Paulo). Atualmente mestrando em mudança
social e participação política na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
37 Doutora em ciências biológicas (Universidad de Buenos Aires). Atualmente pós-doutoranda no
Instituto de Química da USP ([email protected]).
38 Bacharel em química industrial (Universidade de Milão), mestre em química analítica ambiental
(Universidade de Londres) e doutor em química analítica (Universidade de São Paulo). Atualmente,
professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, email: [email protected].
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compreensão dos processos de biodeterioração da madeira e da exacerbação desses
processos por conta das mudanças climáticas.
Portanto, o objetivo geral deste projeto é contribuir para a elaboração de estratégias de
conservação dos bens culturais edificados no Vale Histórico de São Paulo com enfoque em
processos de biodeterioração da madeira e atenção para abordagens preventivas, em um
contexto de mudanças climáticas.
Metodologia e resultados
Materiais e Métodos
A abordagem metodológica adotada nesse trabalho envolveu principalmente duas etapas: (i)
Coleta de amostras de madeira no local de estudo, seguida pela análise laboratorial com a
identificação dos fungos, a realização de estatísticas de ocorrência e a averiguação de alguns
padrões metabólicos relacionados à degradação da madeira. O resultado dessa primeira etapa
serviu de base à seleção dos fungos com o maior potencial de agressão, os quais foram
testados na segunda etapa; (ii) Avaliação da resposta dos microrganismos às alterações
climáticas previstas para o século XXI na região de acordo com investigações em andamento.
Essa avaliação foi realizada com a utilização de câmaras de simulação climática - descritas por
Paiva et. al. (2010). Para avaliar a implicação de aumentos de temperatura no
desenvolvimento de fungos que degradam madeira comparou-se o crescimento de duas cepas
de fungos submetidas a duas condições climáticas diferentes: (i) temperatura: 26,55ºC,
umidade relativa: 60% (clima presente); (ii) temperatura: 29,15ºC; umidade relativa: 60%
(clima previsto para o final do século XXI).
Resultados
A partir do procedimento de isolamento dos fungos das amostras de madeira, obtiveram-se
setenta e oito placas com fungos puros. Foram encontradas, por meio dos testes metabólicos,
quinze cepas capazes de degradar madeira. Duas dessas 15 cepas foram utilizadas nos testes
das câmaras climáticas. Essas duas cepas (H1 e H2) foram identificados como pertencentes a
classe Hyphomycetes. Comparando-se o crescimento das cepas nas duas temperaturas
simuladas, observou-se que o aumento de 3 °C na temperatura do ambiente causa na cepa H1,
uma nítida queda na cinética de crescimento e na H2, um leve aumento fase inicial de
crescimento.
GRÁFICO 1: A) Crescimento percentual da cepa H1 a duas temperaturas: 26,5 °C (preto contínuo) e 29,1 °C (vermelho tracejado). B) Crescimento percentual da cepa H2 a duas temperaturas: 26,5 °C (preto
contínuo) e 29,1 °C (vermelho tracejado).
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Conclusões
Os resultados obtidos demonstram que as mudanças climáticas projetadas para o fim do
século XXI podem alterar de forma relevante os processos de biodeterioração das estruturas
de madeira dos bens edificados, confirmando, portanto, a importância do tipo de investigação
desenvolvida nesse estudo. Também se pode concluir que diferentes formas de
microrganismos apresentam comportamentos distintos diante de alterações de temperatura,
o que evidencia a necessidade de se esclarecer tais especificidades de forma mais profunda.
Referências
AMBRIZZI, T., ROCHA; R. P.; MARENGO, J. A.; PISNITCHENKO, I; ALVES, L. M.; FERNANDEZ, J. P.
R. Cenários regionalizados de clima no Brasil e América do Sul para o século XXI: projeções de
clima futuro usando três modelos regionais. São Paulo. IN: Mudanças climáticas globais e
efeitos sobre a biodiversidade: Caracterização do clima atual e definição das alterações
climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. Brasília: MMA, SBF, DCBio, 2007.
Disponível em: <www.grec.iag.usp.br/outros/ambrizzi/sumario_tecnico.pdf.> Acesso em: 08
out. 2011.
PAIVA, R. I.; ROCHA, J. R. C.; CAVICCHIOLI, A.; LOPES, F.S.; FARIA, D. L. A. Câmaras climáticas
para o envelhecimento acelerado: ação de microambientes sobre bens culturais. Química
Nova, v. 33, n. 1, p. 189-194. 2010.
SABBIONI, C.; BRIMBLECOMBE, P.; CASSAR, M. The atlas of climate change: Impact on
European Cultural Heritage. London: EU, 2007. 124 p.
UNESCO. Predicting and managing the impacts of climate change on World Heritage. IN:
Climate Change and World Heritage. World Heritage reports 22: Report on predicting and
managing the impacts of climate change on World Heritage and Strategy to assist States
Parties to implement appropriate management responses. 2007. Publication based on
Document WHC-06/30.COM/7.1 presented to the World Heritage Committee at its 30th
session,Vilnius, Lithuania, 8-16 July 2006. Paris: UNESCO, pp. 19- 38. Disponível
em: <http://whc.unesco.org/documents/publi_wh_papers_22_en.pdf> Acesso em 10 set.
2011
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Aleijadinho 3D: tecnologia na difusão e preservação do patrimônio cultural
José Fernando Rodrigues Jr.39
Mário Alexandre Gazziro40
Natália Martins de Oliveira Gonçalves41
Oscar Neto42
Yvan Fernandes43
Anayã Gimenes44
Caio Alegre45
Rômulo de Souza Assis46
Palavras-chave: Ajeijadinho. Scanner 3D. Realidade Virtual. Divulgação on-line. Extensão
Cultural.
Introdução
39 Bacharelado (2001), Mestrado (2003), Doutorado (2007) e Pós-Doutorado (2009) em Ciências de
Computação e Matemática Computacional (Universidade de São Paulo – USP); participou do programa
de doutorado com estágio no exterior da CAPES, por um período de seis meses (2005-2006), na
Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, PA, EUA; Professor do Instituto de Ciências Matemáticas e
de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC – USP), [email protected].
40 Bacharelado em Informática (Universidade de São Paulo – USP), Especialista em Embedded Software
Development (Toshiba Semiconductors – Japan), Mestre em Ciências da Computação (Universidade de
São Paulo – USP), Doutorado em Física (Universidade de São Paulo – USP/ Instituto Superior de
Engenharia de Lisboa), Professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da
Universidade de São Paulo (ICMC – USP), [email protected].
41 História (Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP), Mestranda em Memória Social e Patrimônio
Cultural (Universidade Federal de Pelotas – UFPel / CAPES), Historiadora do Núcleo de Estudos Oeste de
Minas, da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (NEOM-ABPF), [email protected].
Computação, ICMC-USP, [email protected]
42 Ciências da Computação, Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São
Paulo (ICMC-USP), [email protected]
43 Fisica, IFSC-USP, [email protected]
44 Ciências da Computação, Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São
Paulo (ICMC-USP), [email protected]
45 Artes Plásticas FAAP, pós em produção digital Gnomon/Los Angeles-EUA, [email protected]
46 Eng. Agrimensor (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), Leica Geosystems,
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O projeto “Ajeijadinho 3D” trata-se de uma iniciativa apoiada pela Universidade de São Paulo,
e envolve a digitalização 3D das obras do escultor Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido
como Aleijadinho.
O objetivo do trabalho é divulgar tais obras através da Internet, por meio de técnicas
avançadas de aquisição e tratamento de malhas tridimensionais, porém, gerando como
resultado final um portal na web de simples acesso, de forma que a população leiga tenha a
possibilidade de conhecer em detalhes tais obras, por meio de uma visualização 3D super
detalhada.
As aquisições 3D foram realizadas ao longo de uma semana, no final do mês de julho de 2013.
Cada sessão de aquisição não demorou mais do que algumas horas, porém o aproveitamento
da luz do dia para melhor atribuição das cores reais da obra aos pontos 3D digitalizados pelo
equipamento era desejável para melhores resultados.
Foram digitalizadas as igrejas em Ouro Preto, MG, Francisco de Assis, Nossa Senhora do Carmo
e Nossa Senhora das Mercês, além de todo santuário de Bom Jesus dos Matosinhos e seus
profetas em Congonhas, MG.
Metodologia e resultados
Foi utilizado um scanner modelo PE20 da empresa Leica Geosystems, com capacidade de
adquirir cerca de 1 milhão de pontos por segundo, até uma distância de 120 metros, com
resolução de 0,8 mm por ponto.
Para cada obra, o scanner foi posicionado em diferente pontos, e as aquisições parciais foram
geradas. Na etapa de pós-processamento, cada ponto de vista diferente foi unido aos demais,
para formar a chamada nuvem de pontos completa da obra.
Um trabalho para redução da complexidade (e consequentemente do tamanho) dessas nuvens
foi realizado pelos estudantes envolvidos no projeto. A Figura 1 mostra alguns dos resultados
obtidos no presente trabalho.
(a) (b) (c)
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FIGURA 1 – Modelos 3D do profetas Isaias (a) e Baruc (b) e da frente da igreja de Matosinhos (c).
Os resultados da Figura 1 já apresentam modelos com complexidade reduzida, porém, sem o
acabamento final, como fechamento de buracos, suavização e pintura, trabalhos que estao
andamento, com previsão de término para o inicio de novembro.
Conclusões
Até o momento os objetivos têm sido alcançados com êxito, e esperasse realizar a inauguração
do porta até o mês de novembro.
Agradecimentos
A toda equipe do CCEx/ICMC/USP, em especial a profa. Solange Rezende; a PR-CEU/USP (Pró-
Reitoria de Cultura e Extensão da USP), a empresa Leica Geosystems por ceder pessoal e
equipamentos avançados para realização do projeto, e por fim a equipe da empresa
Imprimate, pela finalização artística dos modelos.
Referências
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Natural and Cultural Assets. In: 2nd eHeritage and Digital Art Preservation Workshop - joint
with ACM Multimedia Conference 2010, Florença. Proceesdings of ACM Multimedia
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MOREIRA, Maria Cristina; ROCHA, José António Oliveira; MARTINS, Joana. História e
tecnologia: preservação do património estatuário como identidade cultural luso-brasileira.
Projeto História, São Paulo, n.34, p. 69-84 , jun. 2007. Disponível em:
http://www.pucsp.br/projetohistoria/downloads/volume34/Projeto_Historia34.pdf. Acesso
em: 30 de agosto de 2013.
MESA 2- Fotografia, cultura material
e patrimônio imaterial
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Fotografia sequencial e colagem: fragmentos espaço-temporais da paisagem do Bairro Laranjal
Fernanda Tomiello47
Eduardo Rocha48
Palavras-chave: Paisagem. Fotografia sequencial. Colagem. Imagem.
Introdução
A paisagem da cidade integra e relaciona aspectos físicos, históricos, culturais e sociais da vida
urbana e, segundo Peixoto (2004, p. 13), também é constituída pelo cruzamento entre
diversos espaços e tempos. Este trabalho faz parte da dissertação de mestrado da autora (que
está em andamento e deve ser concluída ao final de 2014) e tem como foco o estudo da
dinâmica da paisagem urbana, através de diferentes cenas (espaço) e de vários instantes de
cada cena (tempo), representados através de imagens que integram técnicas de fotografia
sequencial e colagem.
Assim, a justificativa desse trabalho se baseia na necessidade de ampliação das formas de se
representar e criar a paisagem urbana, através de imagens que caracterizam colagens
temporais, entendendo que não há maneira única ideal para abordar a representação e
criação da paisagem, mas que a integração entre fotografia sequencial e colagem é uma
possibilidade com potencial que merece ser explorada. Para Peixoto (2004, p. 11), a paisagem
não se esgota naquilo que vemos em um determinado momento, sendo assim, cada leitura
feita a partir dela é um mero fragmento, uma fatia de um universo infinitamente maior. Dessa
forma, o objetivo geral dessa pesquisa é contribuir para um entendimento mais amplo da
paisagem urbana, especialmente da sua dinâmica, considerando variações de caráter
estrutural, funcional e natural (Santos, 1988, p. 24).
Metodologia e resultados
Este trabalho será realizado com o método de pesquisa qualitativa, da qual faz parte a
obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a
situação/objeto de estudo (Neves, 2013) e o recorte empírico dessa pesquisa situa-se no bairro
Laranjal, na cidade de Pelotas/RS.
As três imagens a seguir fazem parte do estudo exploratório e permitem exemplificar a
utilização da fotografia sequencial e da colagem como instrumentos capazes de capturar a
dinâmica da paisagem urbana. A figura 1 é uma composição elaborada através da justaposição
de fragmentos circulares de 30 imagens diferentes, o intervalo entre cada fragmento é de
aproximadamente três minutos e a imagem toda contempla 76 minutos. A figura 2 é
constituída pela sobreposição de sete imagens, capturadas a cada duas horas, num intervalo
total de 12 horas e permite observar o movimento funcional e a concentração de transeuntes.
47 Arquiteta e Urbanista, mestranda no Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Pelotas, [email protected].
48 Arquiteto e Urbanista, Especialista em Artes, Mestre em Educação, Doutor em Arquitetura, Professor
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel, [email protected].
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Por fim, a figura 3 também é uma justaposição, no entanto não é uma única imagem
constituída a partir de fragmentos de fotografias diferentes (como a figura 1) e sim seis
imagens diferentes postas lado a lado. Essa sequência de seis imagens faz parte de um ensaio
que está sendo repetido semanalmente, sempre no mesmo dia da semana e na mesma hora
do dia e pretende contemplar o ciclo de um ano, evidenciando as características de cada
estação com ênfase em variações de caráter natural.
1 2
3
FIGURA 1: 76 minutos (pôr-do-sol, agosto de 2013) Fonte: acervo da autora.
FIGURA 2: 12 horas (dezembro de 2012). Fonte: acervo da autora.
FIGURA 3: 6 semanas (agosto e setembro de 2013). Fonte: acervo da autora.
Conclusões
O estudo experimental realizado nesse trabalho permite observar que as colagens elaboradas
a partir de fotografias sequenciais, ao agregar fatias do tempo, constituem imagens que
podem parecer distantes da visão tradicional de paisagem - que apreendemos num lance de
vista - mas que, por outro lado, se aproximam do que é de fato a paisagem, um somatório de
diversos espaços e tempos Além disso, a integração entre fragmentos espaço-temporais da
paisagem permite representar processos e não apenas estados, relações e não apenas objetos,
ao criar simultaneidade entre coisas que não são simultâneas, ao justapor coisas que não
costumam ser vistas justapostas e ao colocar lado a lado frações espaço-temporais que
normalmente só podem ser observadas em um longo período de tempo.
Referências
GAMA, P., SENDRA, F. A fotografia sequencial de Eadweard Muybridge e o cinema de
animação. Disponível em: <http://www.dad.puc-rio.br/dad07/arquivos_downloads/32.pdf>.
Acesso em: 31 dez. 2012.
MEINIG, Donald W. O olho que observa: dez versões da mesma cena. Espaço e Cultura, n. 13,
p. 35-46, 2002 [1976].
MOHOLY-NAGY, László. Pintura, fotografia, cine. Barcelona: Gustavo Gili, 2005. 270p.
NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa – características, usos e possibilidades. Caderno de pesquisas
em administração. 1996. Disponível em <http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/c03-
art06.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2013.
PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. São Paulo: Senac, 2004.
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SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado, fundamentos teórico e metodológico da
geografia. São Paulo: Hucitec, 1988.
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Bagé sitiada: fotografia e memória da Revolução Federalista de 1893 no sul do Rio Grande do Sul
Aristeu Elisandro Machado Lopes49
Palavras-chave: Revolução Federalista de 1893. Fotografia. Bagé. Memória
Introdução
A Revolução Federalista de 1893 ocorreu a partir das rivalidades políticas que dividiam o
estado do Rio Grande do Sul nos primeiros anos da República. As disputas colocavam em lados
opostos republicanos, chefiados por Julio de Castilhos, e federalistas, liderados por Gaspar
Silveira Martins (FRANCO, 1996). As disputas políticas se transformaram em um conflito
armado que se espalhou por várias localidades no Rio Grande do Sul e nos estados vizinhos. As
batalhas ocorridas no sul do estado, contudo, ainda foram pouco abordadas e, visando
contribuir para a compreensão desse processo político e bélico foi desenvolvido o projeto de
pesquisa “Rememorando Combates: a Revolução Federalista de 1893 através de fontes
textuais, visuais e orais no sul do Rio Grande do Sul”.
A proposta deste trabalho almeja apresentar parte dos resultados alcançados no projeto. O
objetivo é averiguar um grupo de fotografias do fotógrafo José Greco, contemporâneo a
Revolução e morador da cidade de Bagé (BRASIL, 2013). Ao iniciar os conflitos, os republicanos
transformaram a Praça da Matriz em um local fortificado entrincheirando as ruas adjacentes
enquanto os federalistas sitiaram a cidade (FAGUNDES, 2005, p.71). José Greco, dono de um
ateliê fotográfico, caminhou pelas ruas fotografando as trincheiras, os soldados e os citadinos
que observavam a destruição ocasionada pelos enfrentamentos. As fotografias de Greco
exemplificam os resultados imediatos da Revolução em Bagé e são consideradas como parte
importante à compreensão histórica do conflito.
Os cenários urbanos fotografados não apresentam apenas as ruas entrincheiradas; as
fotografias narram um momento da história da cidade. Como aponta Boris Kossoy, sempre há
uma intenção para que elas existissem: “esta pode ter partido do próprio fotógrafo que se viu
motivado a registrar determinado tema do real ou de um terceiro que o incumbiu para a
tarefa” (KOSSOY, 2012, p. 47). Ao lado disso, os registros fotográficos são, igualmente,
elementos integrantes da memória da Revolução. Philippe Dubois enfatiza que “enquanto as
imagens, que na maioria das vezes são signos simbólicos, alegóricos, compósitos, só são
colocadas num lugar por um tempo, os lugares permanecem na memória” (DUBOIS, 1993,
p.315). Assim, enquanto as fotografias permitem visualizar o preparo para o combate entre
republicanos e federalistas, as ruas, as casas e a praça da Matriz – locais dos enfrentamentos –
ainda compõem o espaço urbano e patrimonial de Bagé e relembram a revolução.
Metodologia e resultados
A metodologia se desenvolveu a partir da pesquisa realizada no acervo fotográfico da Fototeca
Túlio Lopes do Museu Dom Diogo de Souza em Bagé. A coleção de fotografias de José Greco é
diversificada. Ela é formada por fotografias posadas de estúdio com famílias, casais, crianças,
49
Graduado em História/UFPel e Mestre e Doutor em História/UFRGS. Professor Adjunto da
Universidade Federal de Pelotas, e-mail: [email protected]
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homens, mulheres e locais públicos. Uma parte importante do acervo é constituída por
fotografias da Revolução Federalista de 1893, as quais foram selecionadas para o
desenvolvimento da proposta deste trabalho. A metodologia também objetivou identificar os
locais (as ruas da cidade) e as lideranças fotografadas. Assim, já foram identificados certos
logradouros e determinados estabelecimentos comerciais avariados pelos combates.
Conclusões
O principal objetivo do projeto de pesquisa – e que pretende ser explanado na proposta desta
comunicação – visava averiguar como se desenvolveram os conflitos ocorridos durante a
Revolução Federalista de 1893 no sul do Rio Grande do Sul. Dentro deste objetivo, surgiu
outro, específico, sobre o sítio imposto pelos federalistas aos republicanos em Bagé. Tal
objetivo foi desenvolvido a partir do estudo das fotografias de José Greco. A análise ainda está
em desenvolvimento, contudo, como principais resultados já obtidos são elencados os
seguintes pontos: 1. As fotografias demonstram que o fotógrafo se interessou pela situação
política e bélica que envolveu a cidade naquele momento. 2. A maioria das fotografias
registraram a preparação para os embates ou os seus resultados posteriores, mas sem
registros de feridos ou cadáveres. 3. O fotógrafo transitava entre os soldados de ambos os
lados, fotografando tanto republicanos como federalistas. 4. As fotografias não tinham
recebido uma atenção especial por parte da historiografia sobre a Revolução que as citavam
apenas para ilustrar o que era narrado/confirmado na parte textual. O resultado alcançado
com a análise desse conjunto fotográfico demonstra que as imagens possuem, em si, um
significado importante para a compreensão da Revolução.
Referências
BRASIL, Luisa Kuhl. Retratos em (Re)vista: Do estúdio à imprensa ilustrada em Bagé, 1890-
1921. Porto Alegre, 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013,
145p.
DUBOIS, Philippe. O Ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Papirus, 1993.
FAGUNDES, Elizabeth Macedo de. Inventário Cultural de Bagé: um passeio pela história. Porto
Alegre: Evangraf, 2005.
FRANCO, Sérgio da Costa. Júlio de Castilhos e sua época. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
1996.
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012.
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As representações fotográficas de São Leopoldo e Taquara na obra “O Rio Grande do Sul” de Alfredo
R. da Costa
Alex Juarez Müller50
Palavras-chave: Vale dos Sinos, representação, fotografia, imprensa, cidade.
Introdução
Esse estudo pretende analisar as fotografias das cidades de São Leopoldo e Taquara a partir da
obra “O Rio Grande do Sul (completo estudo sobre o Estado)”, organizada e editada por
Alfredo Rodrigues da Costa, durante o período da Primeira República.51
A pesquisa justifica-se pelo fato da obra ter como objetivo a realização de um compêndio
econômico, político e cultural dos municípios do Rio Grande do Sul no ano do centenário da
Independência (1922). A escolha do Vale dos Sinos justifica-se por a região ser uma área de
grande importância na produção agrícola do Rio Grande do Sul durante esse período da
história.
O objetivo do estudo é analisar as representações fotográficas urbanas das cidades do Vale
dos Sinos na República Velha para compreender como as essas áreas eram construídas
visualmente. Dessa forma, propomos analisar o que está e o que não está sendo representado
nas fotografias.
A obra de Alfredo Rodrigues da Costa foi realizada em conformidade com o governador
Antônio Augusto Borges de Medeiros. O autor menciona que os dois volumes que compõem
os escritos são de valor histórico, descritivo e ilustrado e como o próprio título menciona um
“completo estudo sobre o Estado”. Essa breve análise identifica, conforme Jacques Le Goff, que
os documentos para os positivistas eram considerados fatos históricos, provas históricas
verdadeiras, inquestionáveis. (LE GOFF, 2003) Assim, a obra caracteriza o aspecto de
veracidade e unidade do Rio Grande do Sul a partir da junção das regionalidades que cada
município representa.
De acordo com Pierre Bourdieu “as representações são enunciados performativos que
pretendem que aconteça aquilo que enunciam” (BOURDIEU, 1989, p.118), assim as fotografias
da obra de Alfredo Costa tem por objetivo ilustrar e afirmar a “verdade” que o texto
(re)apresenta.
As fotografias oficiais das cidades da Primeira República impõem uma visão de mundo social
de diferentes regiões que não representa a realidade. Deste modo, ocorre através da
fotografia o poder performativo do discurso regionalista que impõe como legitimo uma
determinada fronteira, uma visão única de identidade e unidade e a oficialização através das
manifestações ocorrendo a institucionalização de elementos regionais como sendo
verdadeiros. (BOURDIEU, 2009, p.116-117)
50 Mestrando em história – UPF/CAPES. Email: [email protected]
51 Essa pesquisa é parte integrante da dissertação de mestrado do PPG em história da Universidade de
Passo Fundo (UPF), com previsão de defesa para 2015/1, e financiamento da CAPES (2013-2015).
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Maria de Lourdes Eleutério menciona que as fotografias nas revistas do período da Primeira
República eram de fundamental importância, visto que “*...+ os ilustrados foram fundamentais
no quadro de uma população com alto índice de analfabetismo, para a qual imagens
comunicavam mais que texto.” (ELEUTÉRIO, 2008, p.91). Já Ilka Stern Coben discute que os
efeitos da Primeira Guerra Mundial modificaram o foco da imprensa, tornando as edições mais
voltadas para questões políticas e de formação da nacionalidade, principalmente com as
proximidades do centenário da Independência. (COBEN, 2008, p. 108)
A seguir podemos verificar detalhes da metodologia utilizada e resultados preliminares.
Metodologia e resultados
O método de análise das imagens constituiu-se no cruzamento de fontes diversificadas, visto
que além das fotografias “*...+ devem ser localizadas outras fontes que possam transmitir
informações acerca dos assuntos que foram objetos de registro em dado momento histórico
*...+”. (KOSSOY, 2001, p.64) Portanto, além da análise das fotografias também fizemos uso do
texto que compõe a obra e de outros documentos, tais como: relatórios de intendentes e
códigos de posturas dos municípios de Taquara e São Leopoldo (disponíveis nos arquivos
regionais).
Os resultados preliminares identificam que a obra tinha por finalidade realizar propaganda
positiva do Estado do Rio Grande do Sul para o Brasil, enaltecendo sempre os líderes do
Partido Republicano e colocando o poder público como grande promotor do progresso.
Também identificamos que as imagens fotográficas expostas seguiam um padrão de
exposição, por exemplo, representação de líderes políticos, principais casas comerciais e a
ideia de progresso urbano. Assim, observamos que as imagens expostas na obra de Alfredo da
Costa não representam a verdade, pois elas são recortes manipulados por múltiplos interesses.
Dessa forma, as imagens das cidades do Vale dos Sinos na obra “O Rio Grande do Sul”
representam uma área colonial produtiva e próspera ao contrário da realidade que
apresentava cidades acanhadas distantes de serem grandes áreas urbanas, como veremos nas
conclusões.
Conclusões
As fotografias da obra “O Rio Grande do Sul” tinham for finalidade ilustrar para afirmar o que
estava sendo mencionado no texto. Nesse caso, a imagem fotográfica é utilizada como prova
real da verdade, incontestável. Porém, a fotografia é um recorte de um determinado projeto,
assim ela não representa a verdade e muito menos a realidade.
As fotografias de “O Rio Grande do Sul” seguem um padrão fotográfico, evidenciado as
lideranças políticas (principalmente a figura do intendente), os grandes comerciantes, os
passeios públicos organizados e quase sempre uma imagem panorâmica da cidade para dar
ideia de grandeza do espaço.
As cidades de Taquara e São Leopoldo são representadas nas fotografias como símbolo do
progresso da atividade agropecuária e comercial atrelada aos imigrantes alemães e seus
descentes. No texto que acompanha as imagens sempre se caracteriza os municípios de
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população predominantemente de descendentes germânicos e uma minoria dos chamados
nacionais, os quais seriam negros, lusos e índios.
Portanto, as fotografias além de comporem um projeto com a finalidade de produzir um
“completo estudo sobre o Estado” para as comemorações do Centenário da Independência
(1922), existia a intenção maior de representar um padrão de cidade e uma população que não
condiziam com a realidade, pois o Brasil era um país predominantemente de pessoas vivendo
na área rural e não nas cidades, de centros urbanos acanhados sem planejamento e de maioria
populacional descente de negros e não de alemães.
Referências
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
COBEN, Ilka Stern. Diversificação e Segmentação dos Impressos In: LUCA, Tania Regina de &
MARTINS, Ana Luiza (org.). História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.
COSTA, Alfredo Rodrigues da. O Rio Grande do Sul (completo estudo sobre o Estado). Porto
Alegre: Livraria do Globo, 1922. Disponível no Museu Histórico Municipal Adelmo Trott –
Taquara/RS.
ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. Imprensa a Serviço do Progresso. In: LUCA, Tania Regina de &
MARTINS, Ana Luiza (org.). História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.
KOSSOY, Boris. Fotografia e história. 2. ed. São Paulo, SP: Ateliê Editorial, 2001.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5ª ed. Campinas, SP: Ed. UNICAMP, 2003.
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A inserção de acervos fotográficos em repositórios institucionais
Renata Cardozo Padilha52
Palavras-chave: repositórios institucionais, acervos fotográficos, patrimônio cultural, Lume -
Repositório Digital da UFRGS.
Introdução
O trabalho pretende realizar uma reflexão acerca da inserção de acervos fotográficos nos
repositórios institucionais, tendo em vista acrescente valorização da fotografia no âmbito
material, como fonte documental, e em sua dimensão imaterial, enquanto suporte do
intangível ditado pelas interpretações do pesquisador. Busca-se averiguar quantos repositórios
institucionais brasileiros, de nove previamente selecionados, possuem acervo fotográfico
inserido no seu repositório. Com base nisso pretende-se analisar detalhadamente as formas de
busca, descrição, identificação, armazenamento e disseminação dos acervos em questão.
A reflexão teórica aborda a formação dos repositórios institucionais, bem como sua
importância no que diz respeito à disseminação da informação (TOMAÉL e SILVA, 2007;
GUEDÓN, 2009; SAYÃO, 2010; RODRIGUES et al., 2011). Além disso, identifica-se a função dos
acervos fotográficos no campo da pesquisa científica e enfatiza-se a relevância da inserção de
fotografias históricas nos repositórios institucionais. O trabalho visa explorar este assunto no
que se refere à valorização dos bens patrimoniais, a disseminação e preservação deste acervo
(BURGI, 2001; KOSSOY, 2001; MARCONDES, 2002; DODEBEI, 2006; LOPES, 2006; ALVES, 2006;
MANINI, 2008).
Metodologia e resultados
Realizou-se uma pesquisa exploratória nos sites dos nove repositórios institucionais brasileiros,
identificados na pesquisa de Cocco (2012), para averiguar quais desses possuíam acervo
fotográfico. Verificou-se que dos nove repositórios institucionais apenas o Lume Repositório
Digital da UFRGS possuía acervo fotográfico, para tanto se desenvolveu uma análise detalhada
dos procedimentos utilizados na sistemática de busca e descrição das fotografias do seu
acervo.
O Lume utiliza-se do DSpace, um software livre compatível com o Protocolo de Arquivos
Abertos (OAI), sendo assim, permite que os documentos sejam facilmente coletados através
de uma expressão de acesso aberto à informação. Nos casos de livre acesso, a grande maioria,
a página identifica que o item está licenciado na Creative Commons License e pode ser
pesquisado e salvo livremente. Com relação aos metadados, o Lume utiliza para a descrição
dos documentos digitais o padrão Dublin Core e o sistema CNRI Handle, sendo este usado para
designar identificadores permanentes para cada documento disponível no Repositório.
52
Graduada no Bacharelado em Museologia (UFPel), Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (UFSC). [email protected].
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FIGURA 1 – Sem Legenda.
Fonte: Lume Repositório Digital da UFRGS, 2012.
Após entrar na página principal do Lume Repositório Digital da UFRGS, o pesquisador deve
clicar na comunidade Acervos (figura 1) para iniciar o sistema de busca aos acervos
audiovisuais da Universidade. Destaca-se que dentro desta comunidade ainda existem
subcomunidades: CEME – Centro de Memória do Esporte; Instituto de Física; Museu
Universitário; Secretaria de Patrimônio Histórico.
FIGURA 2 – Sem Legenda.
Fonte: Lume Repositório Digital da UFRGS, 2012.
Ao abrir a comunidade “Acervos”, o usuário depara-se com metadados gerais e específicos
(figura 2) para a realização da busca a quaisquer documentos pertencentes aos acervos das
diversas Unidades Acadêmicas e demais órgãos da Universidade. O pesquisador, ao preencher
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os metadados de acordo com suas necessidades, gera variados resultados para comunidade
“Acervos”, portanto cabe ao usuário selecionar a fotografia que melhor atende suas
exigências.
FIGURA 3 – Sem Legenda.
Fonte: Lume Repositório Digital da UFRGS, 2012.
Com relação ao total de acervos fotográficos inseridos no repositório digital, destaca-se: 474
fotografias do Museu Universitário; 258 fotografias do Instituto de Física; 421 fotografias da
Secretaria do Patrimônio Histórico; 816 imagens (fotografias, convites, reportagens) do CEME
– Centro de Memória do Esporte, este que se divide em duas outas subcomunidades: Centro
de Memória do Esporte (contendo 712 imagens na coleção iconográfica) e Memória do
Programa Segundo Tempo (contendo 36 imagens na coleção iconográfica).
Conclusões
A partir do diagnóstico realizado em nove nos repositórios institucionais brasileiros, foi
possível identificar que a maioria dos repositórios analisados não inserem fotografias em suas
bases. Constata-se que essas instituições ainda não reconhecem a imagem fotográfica como
importante fonte documental para pesquisa científica. Esse resultado também se justifica por
estar tratando de repositórios que ainda estão se consolidando como ferramenta de
armazenamento e disponibilização da informação, e por isso ainda estão estabelecendo
métodos e técnicas de inserção de conteúdos.
Por meio da análise do Lume Repositório Digital da UFRGS, puderam-se verificar quais sãos os
métodos empregados para a sistematização dos acervos fotográficos, assim como foi possível
compreender a lógica de busca e descrição das imagens. Pode-se verificar que este se
apresenta como um repositório institucional modelar, uma vez que sua preocupação vai além
das publicações científicas, valorizando, preservando e disponibilizando seu acervo fotográfico.
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Referências
ALVES, Josefa Aparecida. Fotografia: fonte de pesquisa histórica. Olhares e Trilhas. Uberlândia,
Ano VII, n. 7, p.25-34, 2006.
BURGI, Sergio. Organização e Preservação de Acervos Fotográficos. Rio de Janeiro: Instituto
Moreira Salles, 2001.
COCCO, Ana Paula. Repositórios institucionais de acesso aberto: análise do cenário nos países
ibero-americanos. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de
Ciências da Educação. Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Florianópolis,
SC, 2012. 196 p.
DODEBEI, Vera. Patrimônio e memória digital. In: Morpheus: Revista eletrônica em Ciências
Humanas, Rio de Janeiro, ano 4, n. 8, p.1-13, 2006. Disponível em:
<http://www.unirio.br/morpheusonline/numero08-2006/veradodebei.htm>. Acesso em: 10
jun. 2010.
GUÉDON, Jean-Claude. It’s Repository, It’s a Depository, It’s Archive…: open access, digital
collections and value. Arbor Ciencia, Pensamiento y Cultura CLXXXV 737, maio-junio. p. 581-
595. 2009. Avaiable in: arbor.revistas.csic.es/index.php/arbor/article/download/315/316
LOPES, Ilza Leite. Diretrizes para uma política de indexação de fotografias. In: MIRANDA,
Antonio; Simeão, Elmira (org.). Alfabetização Digital e Acesso ao Conhecimento. Brasília:
Universidade de Brasília, Departamento de Ciências da Informação e Documentação, 2006.
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MANINI, Miriam Paula. A fotografia como registro e como documento de arquivo. In:
BARTALO, Linete; MORENO, Nádina Aparecida (org.). Gestão em Arquivologia: abordagens
múltiplas. Londrina: EDUEL, 2008. p.121-183.
MARCONDES, Marli. A importância da conservação fotográfica na reconstrução da memória.
Revista de Educação do Cogeime. Ano 11 - nº. 20 - junho/ 2002.
RODRIGUES, Rosângela ; TAGA, Vitor ; VIEIRA, Eleonora Milano Falcão. Repositórios
Educacionais: estudos preliminares para a Universidade Aberta do Brasil. Perspectivas em
Ciência da Informação (Impresso), v. 16, p. 181-207, 2011.
TOMAÉL, Maria Inês; SILVA, Terezinha Elisabeth da. Repositórios institucionais: diretrizes para
políticas de informação.. In: VIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação -
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Informação. Salvador : UFBA, 2007. v. VIII.
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eletrônicos científicos. Ponto de Acesso, Salvador, v. 4, n. 3, p. 68-94, 2010.
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LUME REPOSITÓRIO DIGITAL DA UFRGS. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/. Acesso
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A revelação do balneário de Cabeçudas,Itajaí/SC, pela fotografia.
Thayse Fagundes53
Gilberto Sarkis Yunes 54
Palavras-chave: Fotografia. Urbanismo. Formação Sócio-espacial. Balneário de Cabeçudas.
Introdução
O presente trabalho é um estudo do significado e conteúdo cultural contidos nas imagens
fotográficas da praia de Cabeçudas (Itajaí/SC) em seu período de formação como balneário.
Esta praia foi uma das primeiras do estado de Santa Catarina a introduzir o banho de mar
como lazer e o turismo de veraneio. O objetivo deste artigo é apresentar as transformações
sócio-espaciais ocorridas na formação do balneário de Cabeçudas através da análise de
fotografias da década de 1910 até 1930. Esses dados fazem parte do tema em
desenvolvimento na pesquisa de dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em
Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade (PGAU-Cidade) de Thayse Fagundes, com
orientação do professor Gilberto Sarkis Yunes, iniciada em 2012.
A utilização da fotografia como fonte documental demonstra as relações entre fotografia,
história e memória, já definidas conceitualmente por Boris Kossoy e Annateresa Fabris. Kossoy
diz que “Toda fotografia tem atrás de si uma história” (KOSSOY, 2007, p.52). Assim este
trabalho se propõe a desvendar as histórias de Cabeçudas contidas em suas fotografias.
A fotografia é uma das melhores fontes para compreender as transformações sócio-espaciais
de Cabeçudas. Pois, através da observação destes registros percebe-se o modo como os
indivíduos ocupavam e frequentavam a praia e as relações que estabeleciam com o mar, com
o veraneio, com os demais moradores e entre si. Além disso, é possível observar as alterações
espaciais com os sucessivos desmatamentos, a abertura de ruas, melhoramentos na
infraestrutura para o turismo e nas arquiteturas presentes em cada período (Figura 01).
Metodologia e resultados
A pesquisa utilizada para este artigo foi realizada em três etapas, sendo a primeira a coleta de
fotografias de Cabeçudas das décadas de 1910 até 1930 no Arquivo Público de Itajaí e com
moradores de Cabeçudas. A segunda etapa foi de pesquisa bibliográfica nos jornais de Itajaí da
primeira metade do século XX e livros de memórias. Na última etapa foram entrevistados dez
moradores de Cabeçudas selecionados previamente por sua significância e apresentadas
fotografias daquele balneário para que discorressem sobre suas memórias. Neste período
53 Graduada em História pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Especialista em História da Arte pela Universidade da Região de Joinville
(UNIVILLE) e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade (PGAU-Cidade) pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected].
54 Graduação em Arquitetura e Urbanismo – UFPel, 1977. Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo –
USP,1995. Professor Adjunto do Curso Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Professor e Pesquisador do Programa
de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade – PGAU/CIDADE. [email protected]
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destaca-se a presença e registro de imagens fotógrafo Imannuel Currlin (1886/1961) do que
vão definir a nova percepção do espaço, agora balneário, reforçando seu caráter pitoresco
(Figura 02). Neste caso, o olhar pela fotografia revela dois sentidos que podem ser atribuídos a
esta palavra: o que é digno de pintar-se e uma imagem em que se retratam as alterações
realizadas pelo homem na natureza em uma relação harmoniosa, o que vem a acentuar o
desejo de usufruir daquele balneário. Kossoy (2007) exalta o estudo destes fotógrafos
anônimos, segundo ele “a investigação desses fotógrafos provoca avanços significativos tanto
na área da fotografia em sua história própria como no que toca à memória histórica e
fotográfica do país, proporcionando, em suma, novos dados para o conhecimento do passado”
(KOSSOY, 2007, p.66).
Ao analisar as imagens de Cabeçudas do início do século XX com auxílio das fontes oral e
escrita pode-se entender o processo de intervenção social e urbana naquele espaço. Percebeu-
se que nas imagens da década de 1910 predominam as arquiteturas das edificações de
madeira, avarandadas e também as de pescadores, não havendo uma clara distinção social
entre elas. A partir da década de 1930, com a maior assimilação do banho de mar ao ideal de
progresso já se observa nas fotografias uma maior distinção social nas arquiteturas locais
ocasionadas pela mudança de material para a alvenaria de tijolo, alterando a tipologia e
dimensões das construções.
Conclusões
Com este artigo busca-se evidenciar o papel que a fotografia desempenhou na pesquisa
histórico-espacial, como uma fonte imagética tão importante para a leitura quanto as fontes
ditas oficiais. O registro do patrimônio material e imaterial pela fotografia, à medida que se
volta para a análise da formação sócio-espacial de um dos primeiros balneários do estado de
Santa Catarina, torna-se um importante estudo e introduz uma metodologia de pesquisa que
permite sua aplicação para a análise do processo de formação e desenvolvimento de outros
balneários do sul do Brasil.
Referências
CANABARRO, Ivo. Fotografia, história e cultura fotográfica: aproximações. Estudos Ibero-
americanos. PUCRS, Porto Alegre, v. , n. 2, p.23-29, 00 dez. 2005. Disponível
FIGURA 1 - Praia de Cabeçudas, década de
1920, primeiras residências. Arquivo Público de
Itajaí.
FIGURA 2 - Homens nas pedras. Cartão Postal
da praia de Cabeçudas, 1917. Fotógrafo
Immanuel Currlin. Arquivo Público de Itajaí.
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em:<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/view/1336>.
Acesso em: 10 set. 2013.
FABRIS, Annateresa (Org.). Fotografia: usos e funções no século XIX. 2. ed. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 1998. 304 p. (Texto & Arte 3).
KOSSOY, Boris. Fotografia e história. São Paulo: Ática, 1989. 110 p.
KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. Cotia: Ateliê Editorial, 2007.
174 p.
KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. 4º São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.
153 p.
POSSAMAI, Zita Rosane. Fotografia, história e vistas urbanas. História: PUCRS, São Paulo, v. 27,
n. 2, jun. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
90742008000200012&script=sci_arttext>. Acesso em: 10 set. 2013.
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O patrimônio imaterial Santamariense em imagens: a Romaria de Nossa Senhora Medianeira de
Todas as Graças
Francielle Moreira Cassol55
Édison M. da S. Difante56
Palavras-chave: Patrimônio imaterial. Representação. Romaria. Religiosidade. Santa Maria.
Introdução
O Patrimônio é um conjunto dos bens, sejam estes materiais ou imateriais, e que, pelo seu
valor subjetivo, são considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da
cultura de um grupo de indivíduos ou uma sociedade. O patrimônio é a nossa herança do
passado, para as próximas gerações, é uma herança com que convivemos hoje, e que
passamos às gerações futuras. O patrimônio material asegurado pelo Decreto-Lei nº 25, de 30
de novembro de 1937 abrange edificações, paiagens e conjuntos histórico-arquitetônicos. Por
su vez, o patrimônio imaterial, que compreende as práticas sociais, e atualmente são
salvaguardados por quatro livros de registro que os dividem saberes, oficicios e modos de
fazer, celebrações, formas de expressão, entre outros, só obtive pesquisa e registro a partir da
Constituição Brasileira de 1988, mais precisamente através dos artigos 215 e 216. Para o
Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), orgão que fiscaliza o patrimônio
no Brasil
nesses artigos da Constituição, reconhece-se a inclusão, no patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade, dos bens culturais que sejam referências dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. O Patrimônio Cultural Imaterial é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. É apropriado por indivíduos e grupos sociais como importantes elementos de sua identidade
57.
Para criar instrumentos legais para a salvaguarda do patrimônio imaterial, na data de 04 de
agosto do ano 2000, o mesmo Iphan organizou os estudos que culminaram no Decreto nº
3.551 que institui o registro destes bens, todavia, essa legislação ainda é nova e poucos são os
bens salvaguardados atualmente. Por isso, tornam-se necessárias pesquisas no incipiente
55 Graduada em História e mestranda em História Regional pela Universidade de Passo Fundo, bolsista capes, [email protected]
56 Graduado, mestre e doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria. Professor da área de ética e conhecimento do curso de Filosofia pela Universidade de Passo Fundo, [email protected]
57 Disponível em
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan. Acesso em 01 de set. de 2013, ás 18h e 22 min.
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campo do patrimônio, em especial tratando-se do imaterial que acreditamos ser o mais
complexo em seu estudo e consequentemente em seu registro.
Metodologia e resultados
Em Santa Maria, interior do RS acontece anualmente o que talvez seja o maior patrimônio
imaterial do Estado, trata-se de um festejo religioso, a saber, a Romaria em homenagem a
Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. O mundo católico Santamariense participará,
hoje, dia de N. S. Medianeira, de diversas e tocantes comemorações religiosas. Assim, o jornal
A Razão noticiava dia 31 de maio de 1935. A devoção a Nossa Senhora Medianeira de Todas
as Graças, que teve seu início na Bélgica, na década de 1920, com o cardeal Desidério José
Mercier, um dos pioneiros da teoria da mediação, na qual Maria é venerada como Mediadora
das graças divinas. A Romaria em homenagem a Nossa Senhora Medianeira acontece em todo
segundo domingo de novembro e mobiliza mais de 250 mil pessoas por ano, sendo a mesma
ainda a padroeira do Estado. Dito isso, o presente estudo tem por finalidade apresentar os
jornais Diário do Interior e A Razão, visto que os mesmos presenciaram a criação do fé e da
Romaria à Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças; bem como em certa medida
auxiliaram na sedimentação da Romaria. Para isso, se utilizará da leitura de imagens de dois
conjuntos de fotografias, a saber, um primeiro, com quatro imagens retiradas dos jornais
Diário do Interior e A Razão e, um segundo, com seis imagens da última Romaria da
Medianeira, a partir do jornal A Razão. Deve-se ressaltar ainda, que a fotografia será utilizada
como fonte histórica do seu tempo, e não como um “espelho de real”. Pois, para Dubois (1993,
p.25), “toda reflexão sobre um meio de expressão (fotografia) deve se colocar a questão
fundamental da relação específica existente entre o referente externo e a mensagem
produzida por este meio”.
Conclusões
Através do estudo da romaria da Medianeira e sua representação concluímos que o uso das
fotografias serviu como auxiliar e difusor do patrimônio imaterial rio-grandense, servindo em
um momento como divulgadora da imagem da Virgem e em outro como difusora das benesses
que este ritual vem trazendo aos milhares de romeiros que dela participam ano a ano,
tratando-se portando do estudo de um dos mais importantes patrimônios do interior do
Estado.
Referências
DALMOLIN, Aline. A Imprensa Santa-mariense nos anos 70: o caso da Revista Santa Maria.
WEBER, Beatriz Teixeira; RIBEIRO, José Iran (org.). Nova História de Santa Maria: contribuições
recentes. Santa Maria: [s. n.], 2010.
DIÁRIO DO INTERIOR. Santa Maria, 16 de maio de 1930.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo:
Campinas: Ed. Papirus, 1993. (Série Oficio de Arte e Forma).
KOSSOY, Boris. Os tempos da Fotografia. São Paulo: Cotia, Ateie Editorial, 2007, p. 129-163.
____, Estética, memória e ideologia fotográficas. São Paulo: Cotia, 2000, p. 19-62.
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MANGUEL, Alberto. Lendo Imagens: uma história de amor e ódio. São Paulo: Companhia das
Letras, 2001, p. 17-106.
MENESES, Ulpiano Bezerra de. O Fogão da Société Anonyme du Gaz sugestões para uma
leitura histórica de imagem publicitária. In: Revista do Programa de estudos pós-graduados em
História e do departamento de História, nº 21, pp. 105-119.
IPHAN. Disponível em
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan.
Acesso em 01 de set. de 2013, ás 18h e 22 min.
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Fotografia como lugar de memória: imagens de matrimônio compartilhadas
Frantieska Huszar Schneid58
Palavras-chave: Fotografia. Lugar de memória. Matrimônio. Compartilhamento.
Introdução
O trabalho tem o objetivo observar sobre conjuntos de fotografias de matrimônio, no período
compreendido entre 1940 e 1969 o fenômeno do compartilhamento e os seus resultados
quanto a integração de pessoas dentro de um grupo. O referencial teórico empregado aborda
o casamento como rito compartilhado, no qual as fotografias do evento assumem um formato
colaborativo e formativo de uma memória familiar. Tudo o que está registrado ou implicado
como informação nestas fotografias como: materiais, fotógrafos, ateliês fotográficos, cenários
em que foram registradas as fotos, poses dos fotografados, objetos que compõem a cena e
indumentária, também são analisados nos seus possíveis significados.
A fotografia aqui é abordada não como ilustração de texto escrito, mas, ela própria, como
evidência histórica e protagonista da história, um instrumento portador de memória. A
fotografia pode ativar a memória e reavivar sentimentos antes esquecidos. Felizardo e
Samaian (2007, p. 217) afirmam que “é incontestável afirmar que a fotografia pode ser
considerada um dos grandes relicários, documento/ monumento, objeto portador de memória
viva e própria”.
Mauad (1998, p. 4) fala da possível relação da fotografia como lugar de memória: “portanto, a
fotografia apresenta, para então, representar – assumir a sua dimensão de mensagem
significativa, de classificação ou, quiçá, de lugar de memória”. A mesma autora ao falar de
objetos de memória afirma também que “a prática de trocar fotografais e de guardá-las em
álbuns, ratificou a padronização da imagem retratada, como forma de garantir a comunicação
entre fotografias, concebidas como objetos de memória” (1998, p. 7).
Metodologia e resultados
A metodologia aplicada estrutura-se em estudo de caso, com pesquisa bibliográfica, pesquisa
historiográfica em periódicos da época e principalmente fontes iconográficas, através das
fotografias fornecidas pelas entrevistadas.
A partir das entrevistas, forma-se um banco de dados com depoimentos, que contribuirá para
a análise das fotografias. Estes depoimentos poderão acrescentar elementos e informações
que significarão as imagens indicando quais são os personagens do passado retratados e em
que contexto foram feitas. Os procedimentos metodológicos adotados empregarão técnicas
utilizadas na história oral, a partir de entrevista semi-estruturada, com perguntas abertas –
permitindo às entrevistadas relembrarem os usos e costumes de uma época distante, mas
ainda presente na memória.
58
Tecnóloga em Moda e Estilo (UCS), Especialista em Docência na Educação Profissional (SENAC-RS),
Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPel). [email protected]
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Conclusões
Sontag (apud Amaral, 1983, p. 118) diz que: “através da fotografia, cada família constrói uma
crônica - retrato de si mesma- uma coleção portátil de imagens que testemunha sua coesão”.
Mitsi e Souza (2008, p. 147) afirmam que “O retrato em si é a prova concreta da união
matrimonial, tornando-a pública, legitimando o casamento e a nova família que aí se inicia,
além de se fixar como memória da mesma”.
O grupo de fotografias do qual parte este estudo é característico das colocações feitas: reúne
imagens que foram produzidas ao longo de três décadas e resultam deste compartilhamento.
As fotografias vão formando o fio da teia, tecendo imagens e recordações que unem o passado
e presente, ascendentes e descendentes. Estes retratos produzem referências para a
rememoração dos fatos passados.
Felizardo e Samain (2007, p. 210) nos dizem que “... memória e fotografia se (con)fundem, são
uníssonas, uma está contida na outra, estão intrinsecamente ligadas, fundamentalmente
‘enamoradas’”. O casamento é um evento que os envolvidos consideram digno de memória, e
dentre as formas de preservação histórica do casamento se destaca a fotografia, graças a sua
capacidade de transformar instantes em imagens.
Registro não só de memória familiar, como também de comportamentos, relações familiares,
vestimentas, ritos de passagem, história da família a fotografia de casamento consegue
apresentar o rito do casamento em uma narrativa visual que consiste em possibilitar ao
espectador em qualquer tempo, perceber os meandros de seus sentidos.
A escolha de utilizar as fotografias neste estudo deu-se por acreditar que é uma categoria de
imagem rica em signos, e que além de se apresentar como memória familiar, permite a leitura
de uma cultura material da época. Pretende-se, por fim, verificar como o registro da imagem
permite que famílias acumulem, durante anos, fragmentos capazes de constituírem-se como
um lugar de memória.
Referências
AMARAL, Aracy. Aspectos da comunicação visual numa coleção de retratos. In: MOURA, Carlos
Eugênio de M. Retratos quase inocentes. São Paulo: Nobel, 1983.
FELIZARDO, Adair; SAMAIAN, Etienne. A fotografia como objeto e recurso de memória. In:
Discursos Fotográficos, Londrina, v.3, n.3, p. 205-220, 2007.
MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: fotografia e história interfaces. Tempo. Rio de
Janeiro, v.1, n.2, p.73-98, 1996.
_________________. Imagens de passagem: fotografia e os ritos da vida católica da elite
brasileira, 1850-1950. In: VIII ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH, 1998, Vassouras. Anais
eletrônicos. Vasssouras: ANPUH, 1998. Disponível em : <
http://www.rj.anpuh.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=307> , Acesso em 19/06/2013.
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MITSI, Márcia Ecléia Manha; SOUZA, Maria Irene Pellegrino de Oliveira. A fotografia como
evidência histórica: retratos da família Mitsi. In: Discursos Fotográficos, Londrina, v.4, n.5, p.
131-158, jul/dez. 2008.
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O instante fotográfico: os lugares de memória da cidade do Rio Grande do período de Juscelino
Kubistchek
Maria Clara Lysakowski Hallal59
Palavras-chave: Brasil. Rio Grande. Juscelino Kubistchek. Imagens. Patrimônio. Memória
Introdução
Este trabalho é fruto da dissertação de mestrado do Programa de Pós Graduação em História
da Universidade Federal de Pelotas e o inicio da pesquisa ocorreu a partir de 2012, com o
ingresso da mestranda no curso. Assim, este trabalho se desenvolve tendo como cenário o
Brasil nos anos 1950, mais precisamente, durante o governo de Juscelino Kubitscheck (1956-
1961).
Os anos 1950 eram marcados pelo desejo e anseio pela urbanização e, consequentemente,
modernização.60 Não existia modernização urbana, nesse período, que não fosse de base
industrial, calcada em um modelo econômico em vigor. Assim, chega-se a cidade do Rio
Grande, localizada no Rio Grande do Sul, e possuindo importância considerável portuária
(variando entre a 1ª a 3ª posição brasileira) e industrial.
Na cidade, durante o período de JK, apesar de várias indústrias têxteis e frigoríficos terem
fechado suas portas na segunda metade da década de 1950, foram abertas, nesse período, em
Rio Grande, três empresas de pescados, somando mais de 1000 operários.
O objetivo principal deste trabalho é compreender como se expressou a visualidade urbana,
consequentemente a modernização e urbanização na cidade do Rio Grande. Para isso, serão
utilizadas fotografias da cidade, oriundas do estúdio Casa Foto Rio Grande e do Jornal Rio
Grande.
Na historiografia brasileira, o tema modernização urbana e desenvolvimentismo já foi
amplamente analisado. Contudo, inexistem estudos sobre como se expressou na visualidade
urbana, a modernização na cidade do Rio Grande. Além da lacuna historiográfica, como
motivação para propor a pesquisa, tem-se o fato de que o País na década de 1950/1960
passava por inúmeras transformações, principalmente, voltado às questões urbanísticas e
industriais. Sabe-se que esses dois fatores podem ser interdependentes ou interligados. Em
virtude das transformações industriais ocorridas no País e a na cidade, é que se justifica este
trabalho.
A fotografia é um produto da cultura material do momento. Assim, este trabalho, sob a
perspectiva da atualidade, é um trabalho de “patrimonialização” daquele instante. As imagens,
configurações e representações do tempo vivido ou imaginado pertencem ao campo da
memória. Utilizando o conceito de Pierre Nora são “lugares, com efeito, nos três sentidos da
59 Graduação em História na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Mestranda em História na Universidade Federal de Pelotas. Email: [email protected]
60 Este trabalho compreende que modernização é o principio organizador das intervenções urbanas, e a
modernidade estaria ligada às questões edificadas. Por isso, a escolha do primeiro termo para este trabalho.
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palavra, material, simbólica, funcional *...+” (NORA, 1993, p.21). A memória está enraizada no
lugar. Os lugares de memória são verdadeiros patrimônios culturais, projetados
simbolicamente e que podem estar entrelaçados a um passado vivo que ainda marca presença
e reforça os lados de identidade com o lugar. Desse modo, o material são as imagens, e o
imaterial são as memórias, usos e significados atribuídos a essas fotografias.
Metodologia e resultados
As imagens foram analisadas sob o prisma da análise qualitativa, e para esse momento
específico, as fotografias do tema “Novos prédios, belas ruas: a presença do traçado moderno”
serão consideradas. Os autores Charles Monteiro (2006) e Zita Possamai (2005), com seus
respectivos trabalhos, fornecem subsídios para a análise dessas imagens. Essas, nesta
pesquisa, são analisadas sob o prisma formal (escolhas técnicas tais como luminosidade,
enquadramento e escolhas estéticas do fotografo) e através do plano de conteúdo (conjunto
de pessoas, lugares, vivências e ideias representadas na fotografia).
Conclusões
Como conclusões para esse momento, observa-se que o expectador, seja através das imagens
oriundas do estúdio e/ou do jornal Rio Grande, irá criar e recriar suas memórias, entrelaçando
a fotografia com o que viveram, no caso de pessoas que viveram na cidade no período
especificado.
A partir da analise das imagens, observa-se a preocupação de focar sempre que possível nos
elementos considerados modernizadores do período. Como por exemplo a questão das ruas:
na mesma fotografia tem-se a preocupação de mostrar como é a rua antiga – estreita,
calçamento ruim e pouco espaço para os carros transitarem – e ao lado tem-se já uma parte
da rua onde o moderno chegou – rua larga, com o devido espaço para os carros mais velozes e
também acomodando os transeuntes.
Referências
GINZBURG, Carlos. Representação: A Palavra, a ideia, a coisa. In: Olhos de madeira: nove
reflexões sobre a distância. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MARTINS, Solismar Fraga. Cidade do Rio Grande: industrialização e urbanidade (1873 – 1990).
Rio Grande: Editora da Furg, 2006.
MONTEIRO, Charles. História, fotografia e cidade: reflexões teórico-metodológicas sobre o
campo de pesquisa. MÉTIS: história & cultura – v. 5, n. 9, p. 11-23, jan./jun. 2006.
NORA, Pierre. Entre memória e história – a problemática dos lugares. São Paulo: PUC. 1993.
POSSAMAI, Zita Rosane. Cidade fotografada: memória e esquecimento nos álbuns fotográficos
– Porto Alegre décadas de 1920-1930. Tese doutorado, UFRGS, Porto Alegre, 2005.
______, Zita. Fotografia e Cidade. ArtCultura, Uberlândia, v. 10, n. 16, p. 67-68 77, jan.-jun.
2008.
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VIVIAN, Diego Luiz. Indústria portuária sul-rio-grandense: portos, transgressões e a formação
da categoria dos vigias de embarcações em porto alegre e rio grande (1956 - 1964).
Dissertação, UFRGS, Porto Alegre, 2008.
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Pensando a fotografia presente na bibliografia sobre ballet
Angélica Bersch Boff61
Palavras-chave: fotografia.ballet.memória.iconografia.história visual
Introdução
Este trabalho é uma reflexão inicial sobre fotografia e história do ballet. Norteados por
historiadores que estudam representações, imagens, história visual, propomos questões sobre
algumas fotografias de ballet na segunda metade do século XIX, constantes em duas obras da
historiografia sobre ballet.
O ballet clássico é uma arte que, semelhante a outras, se desfaz no instante mesmo em que se
faz. De outra parte, é uma arte de grande visualidade e visibilidade – conceitos debatidos por
Ulpiano Bezerra de Meneses. Pensamos que essas duas características - visualidade e
fugacidade – se contrapõem, de certa forma, fomentando então problematizações tanto na
construção da memória e história do ballet, como no próprio desenvolvimento desta arte.
Como manter visível a cena, os bailarinos no palco, as poses e, muito mais difícil, como
perpetuar o movimento?
Mas assim como o ballet é uma prática imaterial, fugaz, também sua memória tem se
construído de forma imaterial. É uma dança de grande tenacidade em sua tradição, no entanto
é transmitida eminentemente por uma forte tradição oral. Ao dizer tradição oral nos referimos
no presente a uma oralidade ampla, envolvendo além da fala e conversação, gestos, toque e
contato físico, prática conjunta, visualização e repetição, audição, enfim, toda forma de
expressão do ser através do corpo e do movimento.
Metodologia e resultados
A partir de um balanço entre vivências/oralidade e visualidade, que se mostraram
fundamentais para o desenvolvimento do ballet ao longo de sua existência, vislumbramos a
necessidade de uma averiguação mais detida na constituição da iconografia sobre ballet.
Tendo por referência Roger Chartier, Ulpiano Bezerra de Meneses e Boris Kossoy, percebemos
a necessidade de se considerar a via entrecruzada entre representações imagéticas, as formas
de produzir e formas de ver, por exemplo, enfim, considerar a imagem e suas relações plurais
na história.
Nos chama atenção a ausência de trabalhos de História Visual ou mesmo, de qualquer análise
iconográfica em toda a historiografia sobre ballet, bem como em grande parte de estudos e
aulas de dança, por parte dos bailarinos e teóricos da dança. Visamos neste trabalho, apontar
questionamentos, possibilidades de pensar a história do ballet junto com o estudo de sua
iconografia (neste texto, a fotografia em particular) e apontar caminhos a serem tomados para
pesquisa, a partir da análise de alguns casos.
Neste artigo, elencamos assim algumas fotografias utilizadas por dois autores acadêmicos de
história do ballet, Jannifer Homans e Ivor Forbes Guest, e fazemos um ensaio de como essas
61 Historiadora Mestre em História pela UFRGS. [email protected]
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fotografias, cruzadas com a própria historiografia existente, podem ser problematizadas e nos
dizer algo mais sobre a história escrita e conhecida de uma dança, um movimento que não foi
visto.
Para escolha e delimitação das imagens determinamos marcos referenciais tanto para a
história do ballet como da produção e usos da fotografia. A década de 1850, marca o registro
das primeiras fotos relativas a ballet, e 1890, os últimos anos antes da invenção do cinema.
Consideramos o surgimento do cinema como um momento de grandes mudanças para os
registros imagéticos com relação à dança, ballet, movimento. O marco espacial é a Europa,
particularmente França, onde nasce e se desenvolve de forma proeminente o ballet clássico
nesta época, e é objeto de estudo central dos autores em questão.
Inicialmente mapeamos os dados de referência sobre as fotos das obras de Homans e Guest:
1) Como essas fotos constam e são citadas nas obras? 2)Quem são os autores delas? Sua
relação com o ballet? 3) Data. 4) Lugar. 5) Arquivamento e proprietários. 6) Condições de
reprodução. 7) Condições técnicas em que foram produzidas essas fotos? 8) Intenção e
contexto. 9) Bailarinos e ballet fotografado?
Conclusões
Após situarmo-nos, podemos iniciar um processo de problematização histórica destas
fotografias de ballet, e reflexões possíveis em torno dessas questões. Perguntamo-nos
inicialmente: 1) Que história essas fotos estão ilustrando? 2) Como a presença e o uso da
fotografia pode ter afetado o meio artístico da dança? 3) Quais as intenções do fotógrafo e do
fotografado? 4) Qual o papel da imagem fotográfica numa época de pós-romantismo? 5) Como
é a receptividade dessas fotografias pelo público? 6) Qual público?
Estas são algumas questões que surgem, considerando sempre as vias entrecruzadas da
complexidade social que permeiam cada uma das perguntas, bem como as particularidades de
tempo e espaço.
Referências
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Paulo, jan/abr. 1991.
GUEST, Ivor. Le Ballet de l’Opéra de Paris. Paris: Flammarion; Opéra de Paris, 2001.
GUINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
HOMANS, Jennifer. Apollo’s Angels: a history of ballet. New York: Random House, 2010.
KOSSOY, Boris. Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo. São Paulo: Ateliê Editorial,
2007.
MENESES, Ulpiano Bezerra de. Rumo a uma História Visual. In.: ECKERT, Cornelia & NOVAES,
Silvia Caiuby (orgs). O Imaginário e o poético nas ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 2005, p.33-
56.
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MENESES, Ulpiano Bezerra de. Fontes visuais, cultura visual, História visual: balanço
provisório, propostas cautelares. In.: Revista Brasileira de História. São Paulo, v.23 n.45, p11-
36 – 2003.
PEREIRA, Roberto. Giselle, o vôo traduzido: da lenda ao balé. Rio de Janeiro: UniverCidade,
2002.
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A Paisagem Real: reflexões sobre fotografia, memória e arte
Janaina Schvambach 62
Caroline Leal Bonilha 63
Palavras-chave: Fotografia. Paisagem. Memória. Patrimônio.
Introdução
O presente trabalho estabelece vínculos entre a produção em artes visuais e os conceitos
apresentados por Anne Cauquelin em seu livro “A Invenção da Paisagem” (2007), relacionando
os dois primeiros elementos a questões levantadas por pesquisas realizadas no âmbito do
patrimônio imaterial. A temática principal é alinhavada a partir da percepção de que a
paisagem constitui-se em elemento da cultural imaterial importante para compreensão dos
complexos processos memoriais e indentitários da contemporaneidade. A UNESCO define
patrimônio imaterial como um conjunto de ”práticas, representações, expressões,
conhecimentos e técnicas (...)64” incluindo, entre outros artefatos os lugares culturais
reconhecidos pela comunidade ou indivíduos, assim, as fotografias do projeto A Paisagem
Real, de Janaina Schvambach, permeiam entre conceitos implícitos a ontologia fotográfica na
perspectiva de registro de uma memória efêmera da paisagem. Os registros propõem a
observação do espaço como percepção de memória individual simbólica e, ao mesmo tempo,
construída como simulacros do real, neste sentido, o real é percebido como uma expansão do
olhar perante o tempo. Nesse cenário a fotografia aparece como dupla articuladora de
significados. De um lado, cumpre o papel de registrar e criar paisagens, tarefa anteriormente
relegada a pintura e, por outro, atua na apreensão de aspectos mutáveis da natureza
colaborando para a documentação do patrimônio imaterial.
O projeto fotográfico em desenvolvimento desde 2012, já foi contemplado pelo Edital Espaços
Visuais – SESC Santa Catarina em 2013, e foram realizadas exposições nas cidades catarinenses
de Jaraguá do Sul, São Bento e Chapecó.
Metodologia e resultados
A pesquisa tem sido desenvolvida a partir de revisão bibliográfica e produção visual. A revisão
bibliográfica tem por objetivo pensar questões relacionadas à paisagem como patrimônio e a
62
Licenciatura em Artes, Habilitação em Desenho e Computação Gráfica (UFPel),Mestrado em Memória
Social e Patrimônio Cultural (UFPel), Professora do curso de Artes Visuais, Arquitetura e Urbanismo,
Pedagogia e Licenciatura Indígena, na Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó,
63 Licenciatura em Artes Visuais (UFPel), Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPel),
Professora Assistente de Arte e Cultura, Centro de Artes/UFPel, [email protected]
64 IPHAN, Patrimônio Imaterial. Disponível em
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan; acesso em
26 de setembro de 2013.
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construção da mesma sob um olhar artístico. Nesse sentido, o já citado livro de Anne Caquelin,
“A Invenção da Paisagem” (2007) constitui a base da pesquisa ao lado de artigos a respeito da
paisagem cultural e dos documentos produzidos sobre o assunto por parte do IPHAN e da
UNESCO65. As imagens produzidas são fotografias de vistas únicas, imóveis e efêmeras. Não se
trata porém, de uma temática ambiental, a discussão recai sim, sobre o olhar permanente e
atento ao nosso meio em contradição a vistas fugidias. Para Anne Cauquelin (2007), é
importante separar o conceito de paisagem da de natureza, percebendo assim, a paisagem
como construção. No caso da fotografia o conceito aparece aliado à possibilidade de
aprisionamento, através da técnica, de memórias transitórias. O diálogo entre paisagem,
fotografia e patrimônio imaterial ocorre através do elemento de criação e estruturação de
referências culturais que passam a constituir memórias e identidades. Aliado a isso, aparece
ainda à ideia de fotografia expandida (Fernandes Jr., 2006), em que as representações
dialogam entre si no espaço da galeria, como também, entre os suportes e técnicas escolhidas.
Os suportes e as técnicas utilizados foram variados, tendo sido utilizados diversos modelos de
câmeras - amadoras, profissionais e instantâneas. Abaixo imagem pertencente ao projeto:
Figura 1. Sem título, 180cm x 150cm, A Paisagem Real, Janaina Schvambach. Fonte: autora.
Conclusões
A relação entre a paisagem, memória fotográfica e arte procura estabelecer conexões que
provoquem um novo olhar que recaia tanto sobre o processo fotográfico, quanto a construção
da paisagem. Sendo assim, conforme o texto desenvolvido para a exposição é “através de um
olhar atento e delicado, essas imagens perenes procuram expandir a mera existência, para se
tornarem parte constituinte de uma lembrança concreta, efetivada pelo olhar. Além da
sensibilidade que contorna pequenos fatos cotidianos, esse olhar procura o infinito, e nele
estabelece uma relação com o real e não com a realidade. Esse real idealizado passa a ser
recodificado e se transforma em um pequeno jardim suspenso. Pairando pela leveza do
natural, pela calma da não representação humana e por, principalmente, falar em pequenas
65 UNESCO, Patrimônio Intangível. Disponível em:
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-heritage/; acesso em 26 de
setembro de 2013.
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doses de silêncio. A linha do horizonte causa uma estabilidade, uma ilusão de beleza plena,
segura, de caminhos traçados e alcançados. A memória implícita pode ser entendida pelo olhar
contemplativo, aquele olhar que só o encantamento pode transformar e fazer renascer
rotineiramente uma busca incessante por pequenas paisagens reais” (SCHVAMBACH, 2013).
Referências
CAUQUELIN, Anne. A invenção da Paisagem. São Paulo: Martins Fontes: 2007.
FERNANDES JR. Rubens. Processos de Criação na Fotografia: apontamentos para o
entendimento dos vetores e das variáveis da produção fotográfica. FACOM - nº 16 - 2º
semestre de 2006.
IPHAN, Patrimônio Imaterial. Disponível em
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan;
acesso em 26 de setembro de 2013.
PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. São Paulo: Editora SENAC SP: Editora Marca d’a
Água, 1996.
UNESCO, Patrimônio Intangível. Disponível em:
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-heritage/; acesso
em 26 de setembro de 2013.
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A fotografia de saberes
Rossanna Prado66
Palavras-chave: fotografia. Saber-fazer. Patrimônio imaterial x cultura material.
Introdução
O estudo aborda os ofícios manuais enquanto técnicas produtivas pré-industriais e sua
permanência em Porto Alegre-RS. A partir do registro fotográfico dos processos produtivos
conforme se apresentam na contemporaneidade, baseado na obra de Richard Sennet, o
registro do trabalho dos artífices através da fotografia colorida ganha uma dimensão de meta-
permanência, ao oferecer imagens de processos vinculados a práticas imemoriais. Numa
equipe composta por Cármen Nunes, arquiteta urbanista, Letícia Nunes, tecnóloga em
fotografia e a autora, as imagens em questão foram realizadas para o projeto do Livro “Ofícios
antigos de Porto Alegre”, vinculado a Bolsa Funarte de Produção Crítica em Culturas Populares
e Tradicionais – Região Sul/2010, publicado em 2011, e levantam discussões referentes à
natureza dos conjuntos obtidos, sua função e uso. Ademais, trazem em si questões
semânticas da natureza da imagem, o processo de captação e a forma de transmissão
impressa. Fruto de um conjunto de escolhas, o tema continua sendo investigado no Programa
de Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional/PROPUR/UFRGS, já sob o enfoque da
relação intrínseca da oferta de bens e serviços acompanhando as transformações da cidade.
Fig. 1 – Sapateiro. Foto: Letícia Nunes.
Metodologia e resultados
O método de captação de imagens vinculou-se à necessidade de registrar 20 ofícios manuais
ainda em atividade em Porto Alegre, o que foi feito com suportes de áudio, entrevistas e
fotografias. As características comuns aos vinte fazeres compuseram o arcabouço das
entrevistas e da roteirização do registro proposto: a autonomia produtiva, o domínio técnico
do processo (início, meio e fim) e a transmissão do conhecimento. As imagens captadas
buscaram as mãos, em seu fazer contínuo, corporificado, as oficinas, registrando os locais e
66
Cientista social (UFRGS), Especialista em Patrimônio Cultural Urbano (PROPUR/UFRGS), Mestranda em
Planejamento Urbano e Regional (PROPUR/UFRGS) – [email protected]
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oficinas de trabalho em suas especificidades, e as ferramentas características de cada fazer.
Entrelaçadas com as falas captadas em áudio, as fotos agregam conteúdos, demonstram a
magnitude de cada saber-fazer e possibilitam a compreensão imaterial conectada à cultura
material associada pelos objetos e serviços prestados. O estudo apresenta resultados obtidos e
perguntas ainda sem resposta efetuadas nos processos de captação, seleção e impressão das
fotos para o Livro.
Fig.2 – Açougueiro. Foto: Letícia Nunes
Conclusões
Os resultados foram satisfatórios, demonstrando a necessidade de complementar tais
registros conforme Benjamin, “pois qual o valor de todo nosso patrimônio cultural, se a
experiência não mais o vincula a nós?” (Benjamin, 1994, p. 115). A dimensão dos valores do
patrimônio, trabalhada segundo Menezes (2009), amplia a possibilidades de conexões entre as
áreas envolvidas nos processos técnicos registrados imageticamente. A continuidade da
pesquisa visual efetuada, no entanto, aguarda a preempção de questões entremeadas nas
dinâmicas cotidianas da cidade, sob foco de investigação no PROPUR/UFRGS. Porém a riqueza
da experiência gerada demonstra a versatilidade que o pesquisador do âmbito do patrimônio
cultural deve manter frente às redes de mosaicos produtivos que se desenvolvem
continuamente em todas as cidades do mundo. Cada qual à sua maneira, cada um com suas
matérias-primas, os ofícios e as ocupações contemporâneas geradas carecem de análises que
captem as especificidades produtivas do trabalho manual, tradicional e ainda invisível. Busca-
se um paralelo entre as habilidades geradas pela repetição de uma prática ao longo dos anos e
a repetição da prática de registros de formas de patrimônio cultural, como geradoras de
habilidades próprias deste saber-fazer.
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Fig. 3 – Padeiro. Foto: Letícia Nunes.
Referências
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1. (7ªed.) São Paulo: Brasiliense.
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14, Recuperado em 22 de abril de 2009, em
http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/rbde14/rbde14_07_luiz_antonio_cunha.pdf, pp. 89-
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Franco, S. (1983). Porto Alegre e seu comércio. Porto Alegre: Assoc. Comercial de Porto Alegre.
Harvey, D. (2007). A Condição pós-moderna (16ªed). São Paulo: Ed. Loyola.
Hobsbawm, E. (2000). Mundos do trabalho: novos estudos sobre historia operária. São Paulo:
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Pesavento, S. (1989). Emergência dos subalternos: trabalho livre e ordem burguesa. Porto
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Pesavento, S. (2002a). O imaginário da cidade: visões literárias do urbano-Paris, Rio de Janeiro
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Moritvri Mortvis – o papel da fotografia na reconstituição da história dos construtores de túmulos
Maurício Silva Gino67
Marcelina das Graças de Almeida68
Palavras-chave: Fotografia. Imagem documental. Cultura material. Construtores de túmulos.
Cemitério patrimonial. Ofícios em Belo Horizonte
Introdução
Este trabalho tem por objetivo analisar o papel da imagem fotográfica na reconstituição da
história dos construtores de túmulos do cemitério patrimonial do Nosso Senhor do Bonfim, em
Belo Horizonte. Para isso, partimos do processo de criação da narrativa do documentário
Moritvri Mortvis – os construtores de túmulos do Bonfim. Esse filme foi produzido entre os
anos de 2012 e 2013 com recursos do Edital Ofícios em Belo Horizonte, lançado pela Fundação
Municipal de Cultura.
Nesse sentido, adotou-se como tema deste trabalho a análise do papel da imagem fotográfica
na construção de uma narrativa sobre os principais representantes do ofício de construção de
túmulos, objeto impregnado de uma cultura material suscetível a grandes mudanças ao longo
da breve história de Belo Horizonte.
No que se refere aos túmulos, ao cemitério e à própria cidade como cultura material, foram
utilizados como referência os livros Arte e Ofício da Marmoraria nos Primórdios de Belo
Horizonte, de Marlette Menezes (2005), e Album de Bello Horizonte: edição fac-similar com
estudos críticos, organizado pelo historiador Rogério Pereira de Arruda (2003).
Quanto ao papel da fotografia como documento histórico utilizado na construção da narrativa,
e da própria realização do filme como uma obra documental, partimos das ideias clássicas
presentes no texto Ontologia da Imagem Fotográfica, de André Bazin, mas porém ampliadas
pelo pensamento de autores ligados à fenomenologia, como Jean-Paul Sartre e Roland
Barthes.
Ressalta-se que as fotografias utilizadas no filme constituem acervo do Museu Histórico Abílio
Barreto, em Belo Horizonte, que gentilmente nos cedeu o direito de uso dessas imagens no
documentário e em todo material de divulgação dele decorrente, como por exemplo no seu
trailer e neste trabalho.
67 Graduação em Comunicação Visual (FUMA, 1989) e Belas Artes, habilitação em Cinema de
Animação (UFMG, 1996). Mestre em Educação Tecnológica (CEFET-MG, 2003) e Doutor em Ciência
Animal (UFMG, 2009). Professor da Escola de Belas Artes da UFMG. [email protected]
68 Graduação em História (1989), Mestrado em História (1993) e Doutorado em História (2007)
pela UFMG. Professora da Escola de Design da UEMG e Faculdade Estácio de Sá.
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Metodologia e resultados
Desde a roteirização do filme, definiu-se que a narrativa do documentário seria construída por
meio de três eixos principais: o primeiro deles é um passeio da câmera pela moderna Belo
Horizonte dos dias atuais, sem qualquer narração oral, evidenciando a inserção do cemitério
no seu espaço urbano; o segundo descreve o momento da inauguração e desenvolvimento da
nova capital mineira, e a criação do cemitério nesse contexto; o terceiro refere-se à história
dos construtores de túmulos, à evolução desse ofício, e às perspectivas para esses
profissionais, o que se dá basicamente por meio de relatos orais.
A estratégia narrativa utilizada no segundo eixo baseou-se na utilização de imagens
fotográficas documentais coletadas em acervos históricos da cidade. Por meio dessas imagens,
foi possível traçar um paralelo entre a cidade e seu cemitério. Assim, evidenciaram-se valores
dessa sociedade ao ter que enterrar todos os seus mortos em um único espaço (FIGURA 1).
Assim como sugerido por Sartre (1996), o registro fotográfico permitiu também que o
espectador possa imaginar como se deu a organização espacial do cemitério por meio de sua
semelhança com a própria ordenação do espaço urbano da cidade planejada, evidenciado pela
Figura 2.
Conclusões
Como resultado do projeto, produziu-se um documentário em curta metragem em que
buscou-se abordar a história dos construtores de túmulos inseridos na própria construção e
evolução da nova capital mineira, bem como traçar as condições atuais desse ofício e suas
perspectivas futuras.
Considerando que Belo Horizonte foi inaugurada em 1897, pode-se dizer que toda sua história
pode ser contada por meio de registros fotográficos, uma vez que é mais nova que a própria
fotografia. Esses registros fotográficos mostraram-se bastante eficazes às opções narrativas
adotadas na construção deste documentário.
Portanto, o uso da fotografia como elemento narrativo mostrou-se oportuno na reconstituição
de um ofício importante para nossa história, tendo surgido com a própria cidade, alcançando
seu apogeu algumas décadas depois, e experimentando profundas modificações até os dias
atuais.
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FIGURA 1 – Túmulo de Padre Eustáquio, que foi um importante ponto de peregrinação no
Cemitério do Bonfim.
Fonte: Acervo do Museu Histórico Abílio Barreto
FIGURA 2 – Traçado geométrico de Belo Horizonte, com grandes avenidas se convergindo para a Praça Raul Soares. Esta configuração assemelha-se à organização do espaço no cemitério do Bonfim.
Fonte: Acervo do Museu Histórico Abílio Barreto
Referências
ARRUDA, Rogério Pereira de (org.). Album de Bello Horizonte: edição fac-similar com estudos
críticos. Belo Horizonte: Autêntica. 2003.
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BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1984
BAZIN, André. Ontologia da Imagem Fotográfica. In XAVIER, Ismail. A Experiência do Cinema.
Rio de Janeiro: Edições Graal / Embrafilme. 1983.
MENEZES, Marlette Aparecida Resende de (org.). Arte o Ofício da Marmoraria nos Primórdios
de Belo Horizonte. Belo Horizonte: IMX. 2005.
SARTRE, Jean-Paul. O imaginário: psicologia fenomenológica da imaginação. São Paulo: Ática.
1996.
Trailer do filme Moritvri Mortvis – os construtores de túmulos do Bonfim. Disponível em
https://vimeo.com/61276527 Consultado em 29/09/2013.
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Feira Livre da Avenida Brasil: o patrimônio cultural que desfila às margens do Paraibuna.
Daniela Maria Alves Pedrosa 69
Palavras-chave: Feira Livre. Patrimônio Cultural Imaterial. Antropologia Visual.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo relatar a história da feira livre que ocorre todos os
domingos na Avenida Brasil, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. A busca por essa
história tem como propósito registrar as relações que são estabelecidas naquele local,
buscando perceber como a feira é capaz de se tornar um espaço que abarca tantas
"dinâmicas" tais como sociabilização, comércio, tradição, cultura e memória. Dessa forma, a
pesquisa, que vem sendo realizada desde 2009, tem como objetivo incitar uma discussão
sobre memória, patrimônio e cultura, a partir da relação estabelecida entre feirantes e
fregueses. Torna-se importante destacar que existe um projeto, em âmbito municipal, para o
tombamento da Feira Livre da Avenida Brasil como patrimônio cultural imaterial.
O município de Juiz de Fora, segundo dados do censo, realizado pelo IBGE no ano de 2010,
conta atualmente com cerca de 500 mil habitantes. Emancipado em 1850, a cidade foi, aos
poucos, se tornando referência econômica e social para o seu próprio desenvolvimento
bem como para as diversas cidades que compõem as mesorregiões denominadas Campos das
Vertentes e Zona da Mata de Minas Gerais. Neste cenário, uma das mais tradicionais formas
de crescimento econômico presente na vida atual de moradores de Juiz de Fora, bem como de
visitantes dos municípios das mesorregiões acima exposta, é a Feira Livre da Avenida Brasil.
Sobrevivendo até hoje, apesar das modificações proporcionadas pela industrialização, pelo
comércio formal, pela tecnologia e pela implementação dos supermercados no Brasil em
meados da década de 1960, a Feira Livre faz parte da vida dos habitantes da cidade,
representando uma experiência de sociabilidade e de uso da rua no meio urbano.
Neste contexto, a Feira Livre da Avenida Brasil, presente desde 1967 na história de Juiz de
Fora, se torna uma tradição para diversos moradores, até mesmo como forma de lazer,
possibilitando encontros entre gerações. Ela faz parte da memória coletiva e do capital
cultural citadino marcado pela presença habitual dos fregueses, que, aos domingos
formam uma clientela cativa.
Metodologia e resultados
O trabalho está sendo desenvolvido a partir da execução de entrevistas semiestruturadas
com feirantes, ex-feirantes, fregueses e funcionários da prefeitura responsáveis pela
fiscalização e controle da feira livre. Além disso, através de uma observação participante,
69 Discente do curso de mestrado do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da
Universidade Federal de Juiz de Fora e Graduada em Ciências Sociais pela mesma instituição.
e-mail: [email protected]
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acompanho o dia-a-dia de alguns feirantes, selecionados por mim, com o intuito de
engrandecer a pesquisa.
No decorrer do trabalho de campo faço uso da fotografia como um instrumento
metodológico. Neste sentido a antropologia visual surgiu, em meu estudo, como forma
de engrandecimento de minha narrativa etnográfica. Ora como fonte documental, ora
proporcionando uma descrição profunda do campo, o uso da imagem fotográfica me auxiliou
na obtenção de informações relevantes para o andamento da pesquisa, bem como fonte de
conhecimento das transformações históricas possibilitando, assim, uma maior credibilidade a
minha etnografia.
A partir de uma investigação guiada por uma visão antropológica, etnográfica,fotográfica,
descritiva, bibliográfica e documental, foi possível compreender, até o presente momento,
como ocorreu a ascensão da feira livre na cidade de Juiz de Fora e a importância desta na
consolidação do comércio local e no cotidiano dos indivíduos que participam direta, ou
indiretamente de sua composição. Acompanhando de perto a dinâmica da feira livre,
procuro perceber as sutilezas que envolvem as relações entre feirantes e fregueses e os
vínculos criados por este ambiente.
Conclusões
A rica história do tema aqui proposto nos leva a fazer uma relação, com a vida dos
feirantes que compõem esta tradicional forma de comercialização. A tradição que é passada
de pai para filho, a criação de relações de amizade entre os comerciantes e fregueses, a feira
livre como um evento semanal, um personagem e um patrimonio juiz-forano são
pontosimportantes percebidos no presente trabalho. Porém, ainda não é possível
apresentar um resultado parcial haja vista que a pesquisa ainda se encontra em andamento.
Referências
AQUINO, Giovanna. Uma discussão a cerca do Patrimônio Cultural Imaterial no Brasil e
Portugal tendo as feiras livres de Caruaru-PE (Brasil) e Barcelos (Portugal) como objeto
de análise.
BONI, Paulo César; MORESCHI, Bruna Maria. Fotoetnografia: a importância da fotografia para
o resgate etnográfico. Doc On-line, n.03, dezembro 2007, p. 137-157.
FONSECA, Walter. Pequena Enciclopédia da Cidade de Juiz de Fora – Gente, Fatos e Coisas. Juiz
de Fora: Ed. Ícone Editora LTDA.
HUBERMAN, Léo. História da Riqueza do Homem. 14.ed. Rio de Janeiro: Ed. Zahar
Editores, 1978.
MALINOWSKI, Bronislaw. Os Argonautas do Pacífico Ocidental in Os Pensadores. São
Paulo: Abril Cultura, 1978.
OLIVEIRA, Paulinho de. História de Juiz de Fora. 2.ed. Juiz de Fora, 1966.
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ROCHA, Gilmar. Cultura popular: do folclore ao patrimônio. Mediações v. 14, n.1, p. 218-236.
2009.
VEDANA, Viviane. Fazer a Feira – dissertação apresentada ao PPGAS da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2004.
VIANNA, Letícia C. R.; TEIXEIRA, João Gabriel L. C. Patrimônio Imaterial e Identidade.
Disponívelem http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14437-02.pdf
Sites consultados
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=313670 último acesso dia 26 de
setembro de 2013.
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O revelar de um acervo: cinquenta anos de produção fotográfica de Arthur Adriano Peruzzo
Patricia Peruzzo Lopes70
Palavras-Chave: Fotografia Catarinense. Fotografia no Século XX. Memória. Acervo
Fotográfico. Leitura de Imagens.
Introdução:
Neste estudo, revelo imagens e objetos fotográficos, procedo à análise das fotografias e dos
demais artefatos sob a perspectiva das distintas coleções que constituem o acervo do
fotógrafo Peruzzo, tangenciando temas como a memória, a história da fotografia e a história
através da fotografia. Parto da seleção, organização e análise de um conjunto de categorias
temáticas e distintas tipologias de fontes de pesquisa, próprias para o estudo do ato
fotográfico. Os materiais que compõem estas categorias e fontes fazem parte de cinquenta
anos da produção fotográfica de Arthur Adriano Peruzzo na região do meio-oeste do Estado de
Santa Catarina. Sua atuação deu-se entre a década de quarenta e a década de noventa do
século XX, sobretudo na cidade de Joaçaba. Importante se faz ressaltar que o estudo não se
refere apenas a um saber-fazer, a técnica, ou a um querer-fazer, a paixão. Suas fotografias,
com seus negativos em chapas de vidro e suas reproduções em papel contam a história da
época em que a fotografia, em seu formato analógico, ainda representava uma novidade nos
meios artísticos, culturais e sociais. Ao abordar os temas história da fotografia e história
através da fotografia, me aproprio das proposições de Boris Kossoy, Annateresa Fabris e
François Soulages. Reconhecendo que há mais de um campo de conhecimento que aborda o
tema memória, assim como existem vários teóricos que tratam desta questão, neste estudo
será dado destaque a alguns autores: Jacques Le Goff, Maurice Halbwachs, Pierre Nora e Lev
Vygotsky. Suas contribuições teóricas colaboraram para que eu compreendesse como este
tema varia de acordo com a área em que está inserida. O estudo é resultado da Dissertação de
Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais ao Centro de Artes da
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC no ano de 2013.
Metodologia:
Esta pesquisa pretendeu investigar o fenômeno fotográfico dentro de uma determinada região
geográfica do país e de um Estado em particular, neste caso, o Estado de Santa Catarina, onde
ocorreu boa parte da produção fotográfica de Arthur Adriano Peruzzo. Algumas das etapas
metodológicas são descritas a seguir:
- rastreamento de imagens, objetos e pertences, relativos à produção fotográfica de Arthur
Adriano Peruzzo;
70 Licenciada em Educação Artística com hab. em Artes Plásticas - FAAP/SP; Mestre em Artes Visuais pelo
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - PPGAV/CEART/UDESC; Arte-educadora no Museu da
Imagem e do Som de Santa Catarina - MIS/SC; e-mail: [email protected].
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- localização, através de contatos e entrevistas informais com os familiares do fotógrafo, do
que foi preservado de sua produção fotográfica original, procedendo à seleção de objetos de
seu metier, seleção de documentos pessoais e profissionais, entre outros possíveis achados;
- exercício de interpretação dessa produção sob um ponto de vista contemporâneo, buscando
ressignificá-la;
Conclusões:
É necessário que pesquisadores se proponham a resgatar os fotógrafos brasileiros que
permaneçam no anonimato, seja, segundo Kossoy (2007), “sob o ângulo da história social e
cultural da fotografia, seja sob a perspectiva da memória histórica”. Nesta pesquisa, procurei
apresentar, entre os nomes de fotógrafos brasileiros já conhecidos por parte do público, o
nome de um fotógrafo ainda desconhecido e que tem parte de sua produção não revelada
integralmente. Busquei compreender como as fotografias feitas por Peruzzo repercutiram no
panorama social, cultural e político da época em que foram produzidas e se as mesmas
alteraram as relações de visualidade na sociedade em que estavam inseridas. Na
contemporaneidade, estamos todo o tempo visualizando imagens, e, nesse sentido, conforme
destaca Kossoy (2009), somos “personagens de uma civilização da imagem - alvos voluntários e
involuntários do bombardeio contínuo de informações visuais de diferentes categorias
emitidas pelos meios de comunicação”. Isto faz com que nem todos nós dispomos de
habilidade para refletir de forma crítica e para analisar e interpretar essas imagens
adequadamente e coerentemente dentro de um contexto. Ao contrário, quanto mais se
produzem e se consomem imagens, mais aceleramos nossos processos de percepção visual, se
é que assim podemos intitular hoje o ato de ver em uma sociedade imagética. Neste sentido,
trazer a produção fotográfica desenvolvida por Arthur Adriano Peruzzo por cerca de cinquenta
anos; realizar leituras das imagens fotográficas produzidas por ele e (re) significá-las sob um
olhar contemporâneo; e também, apresentar os testemunhos a partir das vivências e
memórias dos seus familiares, contribui para que valorizemos as histórias locais e regionais
presentes em nosso Estado, histórias narradas a partir de fotografias e com fotografias.
Figuras:
Fig.01 Fig.02 Fig.03
FIGURA 01 - Fotografia em papel, feita em estúdio, em 1956 na cidade de Joaçaba, Santa Catarina - Primeira Comunhão de um menino.
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Fonte: Arquivo Pessoal - Patricia Peruzzo Lopes
FIGURA 02 - Fotografia em papel, feita em estúdio, em 1950 na cidade de Joaçaba, Santa Catarina - Família reunida.
Fonte: Arquivo Pessoal - Patricia Peruzzo Lopes
FIGURA 03 - Negativo fotográfico feito em chapa de vidro, em um estúdio, em 1945 na cidade de Erechim, Rio Grande do Sul - Noivos fazendo pose para o fotógrafo no dia do casamento.
Fonte: Arquivo Pessoal - Patricia Peruzzo Lopes
Referências:
FABRIS, A. Fotografia e Arredores. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2009.
HALBWACHS, M. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
KOSSOY, B. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no
Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
______. Fotografia & História. 2ª ed. rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.
______. Os Tempos da Fotografia: o efêmero e o perpétuo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.
______. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
LE GOFF, J. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão et. al. 5ª ed. Campinas: Editora da
UNICAMP, 2003.
NORA, P. Les lieux de mémoire. vol. I- vol. III. Paris: Quarto Gallimard, 1997.
SOULAGES, F. Estética da Fotografia: perda e permanência. Tradução Iraci D. Poleti e Regina S.
Campos. São Paulo: Editora SENAC, 2010.
VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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Carnaval de Piratini: a memória da Bicharada do Ari através de fotografias
Gisele Dutra Quevedo71
Jezuina kohls Schwanz 72
Palavras-chave: Festa popular. Manifestação cultural. Memória. Tradição. Cidade. Bicharada.
Introdução
Este trabalho abordará aspectos de uma festa popular que ocorre todos os anos na cidade de
Piratini/RS nas semanas que antecedem a data do carnaval nacional. Surgiu no final da década
de 1940, como o Bloco Carnavalesco da Boa Vontade, criado por Ari Fabião Valente, e se
mantém até os dias atuais, tendo sido rebatizada como A Bicharada do Ari ou Bloco da
Bicharada. Os motivos que despertaram o interesse em produzir este artigo são muitos, entre
eles alguns se destacam, tais como: a forma como esta festa atraía a comunidade, de todos os
grupos sociais (moradores do centro e das vilas) para acompanhar o trajeto. Podemos afirmar
que este processo de convivência coletiva, mantem-se por mais de sete décadas, por estar
presente na memória coletiva dos piratinienses. Consideramos esse hábito um patrimônio
imaterial de grande valor e importância para a cidade e arredores, sendo, portanto
imprescindível à preservação dessa memória. O levantamento de dados sobre essa grande
festa popular de Piratini pretende contribuir para a salvaguarda da memória coletiva da
Bicharada, conhecendo aspectos peculiares de seus participantes e organizadores. Como
referencial teórico metodológico utiliza-se fundamentalmente os pressupostos da História
Cultural, tendo como principais categorias de análise a memória; identidade; patrimônio;
imaginário e representações. Dentre os principais referenciais a serem trabalhados no campo
da História Cultural destaca-se Chartier (1988); Ginzburg (1989); Le Goff (1996); e Burke
(1992). Questões relativas à memória serão analisadas em diálogo com autores como: Candau
(2012); Nora (1993); Halbwachs (1990); bem como, para o trato da História Oral destaca-se a
influência de Thompson (1992); Bosi (1994), (1996), (2003); Alberti (2004); Ferreira e Amado
(1998) e Meihy (2007). No que tange discutir o uso da fotografia como recurso de investigação
de memória visual do passado, foram utilizados os seguintes autores para este embasamento:
Roland Barthes (1984), Philip Dubois (1993) e Boris Kossoy (1999, 2001). Para o trato da
História Oral destaca-se a influência de Thompson (1992), Bosi (1994), (1996), (2003), Alberti
(2004), Ferreira e Amado (1998) e Meihy (2007).
Metodologia e resultados
A presente pesquisa encontra-se em andamento, dentre as fontes utilizadas, pode-se destacar
a história oral, presente nos relatos dos organizadores, participantes e de simpatizantes da
Bicharada. De acordo com Paul Thompson, a história oral é uma história construída em torno
das pessoas. “*...+ Ela lança vida dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação.
71 Graduada em História, Especialista em Gestão Educacional e Abordagens Ludopedagógicas,
72 Pedagoga, Especialista em Memória e Identidade, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural,
Doutoranda em Educação/UFPEL/ [email protected]
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Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo...”
(THOMPSON, 1992, p.44). Portanto, a coleta de dados orais é fundamental para o estudo de
memória e das representações que se tem do passado. A pesquisa iconográfica está sendo
realizada a partir de fotografias antigas, recortes de jornais e cartazes da festa. Os jornais da
cidade e arredores dedicam um espaço bastante significativo para a Festa, o que tem se
constituído em uma fonte bastante profícua. A mídia impressa, quando trabalhada em
conjunto com outras fontes, tem muito a contribuir para a pesquisa através das
representações sociais que estão veiculadas as matérias.
Conclusões
Acredita-se que a investigação proposta servirá para formular um plano de salvaguarda deste
importante patrimônio imaterial e, este irá estimular a comunidade a cobrarem dos
representantes políticos ações em prol da preservação desta festa popular de Piratini, bem
como o reconhecimento formal desta como um bem imaterial fundamental para a memória
coletiva desta cidade.
Referências
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1992.
BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. 7.ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
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Piratini. Piratini, 2005.
CANDAU, Joel. Memória e Identidade. Trad. Maria Letícia Ferreira. São Paulo: Contexto, 2012.
CHARTIER, Roger. A história cultural. Entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1988.
DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e outros ensaios; tradução Marina Appenzeller. Campinas,
SP: Papirus, 1993. KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. Cotia – SP:
Ateliê Editorial, 1999.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio histórico e
cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,2006.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo, Vértice, 1990.
HOBSBAWM, Eric. Introdução: A invenção das Tradições. In: A invenção das tradições.
HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terencer (orgs); trad. de Celina C. Cavalcanti. Rio de Janeiro, Paz
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KOSSOY, Boris. Fotografia & História. 2. ed. ver. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
KOSSOY, Boris. Fotografia. In: Zanini, Walter (Org.) História da Arte no Brasil, 1983, volume 2.
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MICHELON, Francisca Ferreira. Alguma Relação Possível entre Fotografia e Patrimônio. In:
Revista do Pós-Graduação em Artes: EXPOR, Pelotas: Universitária, UFPel, ILA/UFPEL, 1996.
MICHELON, Francisca Ferreira. A Fotojornalística como documento: percursos de uma inserção
atualizada nos catálogos para pesquisa histórica. In: Histórica: Revista da Associação dos Pós
Graduandos em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, nº4, 2000,
Porto Alegre: APGH, PUCRS, 2000.
QUEVEDO, Gisele Dutra. Levantamento Histórico Cultural da Cidade de Piratini (Rs), Pelotas ,
ICH, UFPel, 2007 (Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em
História).
THOMPSON, Paul. A voz do passado. São Paulo, Paz e terra, 1992.
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Patrimônio, fotografia e objetos de memória, uma espécie de colecionismo afetivo.
Daniele Borges Bezerra73
Tatiane Bolivar Lebedeff74
Palavras-chave: Memória. Idosos. Objetos afetivos. Fotografia. Narrativa
Introdução
Este trabalho resulta da pesquisa “Identidade, ambiente e memória: cartografia narrativovisual
da pessoa idosa”, iniciada em setembro de 2012. A pesquisa possibilitou uma reflexão sobre a
categoria patrimônio, entre 13 residentes do Asilo de Mendigos de Pelotas, suas memórias,
objetos de memória e a relação estabelecida entre fotografia e narrativa.
Durante a pesquisa percebeu-se que, na maioria das vezes, a categoria patrimônio é associada
à ideia de herança com uma atribuição de valor econômico, contudo, é interessante observar
que o exercício de um olhar para o passado e a identificação de uma imagem de si “em
velhice” forneceu dados que permitem pensar a categoria patrimônio enquanto algo precioso,
no sentido de raro, selecionado a partir de um ponto de vista afetivo.
A cultura material expressa através de coleções íntimas exerce função afirmativa ao atestar
um duplo temporal: presente e passado impregnados nos objetos. Contudo, é ao aspecto
imaterial transferido aos objetos que se deseja destacar, bem como à importância da
fotografia enquanto método para a construção da narrativa de si próprio.
Ao pensar os objetos como potenciais evocadores de lembranças, Alan Radley (1994) o faz
como pontos de contato entre as lembranças vividas pela pessoa da lembrança e os objetos
que a acompanham no processo de constituição de memórias. Tais objetos de caráter pessoal
ligam-se diretamente a noção de pessoa e a constituição da própria identidade através do
tempo.
É possível averiguar a constituição de uma coleção de objetos que compõem uma narrativa de
função estabilizadora (Cf HALBWACHS, 2004, p. 125) à medida que preserva, também, a
identidade. É possível, ainda, observar a delimitação de espaços íntimos (Cf. BACHELARD,
2000), verdadeiros universos reduzidos, que passam a ser incorporados como um acervo de
curiosidades ou de memórias não vividas. Este é o caso do canto do quarto do Sr. “João mudo”
que apresenta uma variedade de elementos: uma vela de dois anos nunca acesa, capas de
revista, recortes de animais, faixas, caixas, malas, fotografias de revista, balões murchos,
colares havaianos, enfim, um inventário de elementos que compõe o espaço e inventa uma
história que preenche lacunas. É interessante destacar que Hallbwachs (idem) atribui ao
73 Bacharelado em Artes Visuais, Especialização em Saúde Mental Coletiva, Mestranda do Programa de
Pós Graduação em Memória social e Patrimônio cultural, e-mail: [email protected]
74 Doutorado em Psicologia do Desenvolvimento, Docente do Centro de Letras e Comunicação da UFPEL,
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espaço75 e aos objetos materiais de convívio diário uma função estabilizadora. Neste sentido, a
fotografia parece ser o objeto por excelência a tornar material o instante intangível que se
perde no tempo.
Metodologia e resultados
A pesquisa utilizou o método de observação participante, tendo a fotografia como principal
interlocutor e suporte narrativo do processo. Foram realizadas três exposições fotográficas, a
visitação por parte da direção do asilo e dos moradores que participaram da pesquisa na
primeira exposição e o contato com familiares dos participantes, satisfeitos com a proposta. O
material produzido caracteriza-se como um trabalho de fotografia e memória, no qual texto e
imagem constituem uma narrativa memorial que “guarda” e “estabiliza” o patrimônio dos
idosos (material ou imaterial) ao mesmo tempo que provoca a reflexão sobre a identidade do
“velho” na sociedade contemporânea.
Foi possível incluir a pessoa retratada como produtora do seu retrato, ou seja, a fotografia
superou a função de registro e permitiu aos participantes selecionar momentos, requisitar
registros, avaliar resultados e expressar sua opinião sobre a própria imagem, sempre balizados
pelo fio condutor da memória, que foi objetivo central do projeto.
Conclusões
Foi possível observar um caráter de excepcionalidade, buscado pelos moradores do asilo
durante a construção da narrativa de si próprios. Eles compartilharam memórias que os
valoriza no passado como “o melhor corneteiro do exército, a melhor cozinheira, a melhor
costureira, entre outros”.
As narrativas dos idosos participantes ao priorizar memórias da belle époque de suas vidas
salientam o estreitamento dos laços entre memória e identidade em nível individual. Nesse
sentido, sugere-se que as memórias e os poucos objetos preservados ocupam lugar de
tesouros pessoais. Finalmente, observou-se que devido a rara presença de fotografias pessoais
entre os mesmos, o retrato transformou-se em uma solicitação constante e o ato fotográfico
passou a constituir uma espécie de acervo pessoal, um patrimônio, do qual não dispunham.
Referências
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução de: Antonio de Pádua Danesi. São Paulo:
Martins Fontes: 2000.
DEBARY, Octave e TURGEON, Laurier. Objets e Mémoires. Quebéc: Les presses de l’ Université
Laval, 2007.
HALBWACHS, Maurice. Los marcos sociales de la memoria. Traducción: Manuel A. Baeza y
Michel Mujica. Barcelona: Anthropos editorial, 2004.
7575
Cf. Bergson1999, p.169. Bergson afirma que o espaço serve como esquema para o futuro próximo “e
como esse futuro deve escoar-se indefinidamente, o espaço que o simboliza tem a propriedade de
permanecer, em sua imobilidade [...]”. (Grifos nossos).
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RADLEY. Alan. Artefacts, memory and a sense of the past. In Collective remembering: Inquiries
in social construction series. London: Sage Publications, 1994. (p. 46-59).
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O cotidiano e o urbano: um estudo sobre a Belle Époque do Rio Grande através do álbum de família
do Sr. Jorge Ruffier
Andrea Maio Ortigara76
Palavras-chave: cotidiano, urbano, Belle Époque, álbum de família, modernidade, Rio Grande.
Introdução
A presente pesquisa busca estabelecer relações entre a produção do espaço urbano e o
cotidiano no município do Rio Grande, em uma fase da modernidade que compreendeu o
início do século XX. Para tanto, analisamos a presença da cultura francesa no Rio Grande, e a
tendência do município à assimilação de hábitos dessa cultura, identificados na urbanização e
no cotidiano dos sujeitos. Esse panorama revela a cidade como um lugar privilegiado para o
fenômeno das formas comportamentais, resultado de uma construção cultural na qual as suas
transformações são apreendidas como um estado de espírito, conhecido por Belle Époque.
Para abordar o cotidiano e o urbano, adotaremos como referência a obra de Henri Lefèbvre.
Conforme o autor, o cotidiano tem uma significação política relevante, é o centro do modo de
vida da sociedade moderna, e constitui a cotidianidade. Entre fatos aparentemente
insignificantes, a cotidianidade possui algo de essencial, ou seja, ela ordena os fatos da vida,
permitindo conhecer a sociedade. Assim, com referência em Lefèbvre, investigamos como e
por meio de que estratégias teóricas, o autor propõe uma análise da vida cotidiana. Por
conseguinte, nos detemos em alguns elementos metodológicos lefèbvrianos, destacando a
forma dialética com que o autor pensa a cidade e o urbano, e refletirmos sobre os níveis e as
dimensões com que analisa tais fenômenos sociais.
O contexto do estudo está relacionado com a minha descendência francesa, motivo pelo qual
desde a infância convivi com narrativas sobre a cotidianidade da Belle Époque riograndina,
através da atividade profissional do meu bisavô paterno, Sr. Jorge Ruffier, na Cie. Française Du
Port do Rio Grande e, ainda, as leituras que realizei do diário escrito por ele, onde o mesmo
descrevia acontecimentos familiares e processos sociais ocorridos no Rio Grande no início do
século XX, acrescido do álbum de família que reúne um acervo fotográfico e desenhos. Nessa
investigação, também, consideraremos o panorama histórico que marca a produção do
referido documento, e os diferentes momentos de sua elaboração.
A presente pesquisa encontra-se em desenvolvimento, desde março de 2012, sob a orientação
do Prof. Dr. Solismar Martins, no Programa de Pós-Graduação, curso de Mestrado em
Geografia da Universidade Federal do Rio Grande, tendo previsão de defesa final para
dezembro de 2013.
Metodologia e resultados
76 Graduada em Geografia Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande, Mestranda
do Programa de Pós-Graduação em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande,
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Com o objetivo de estabelecer relações entre a produção do espaço urbano e o cotidiano no
Rio Grande de início do século XX , analisaremos o acervo fotográfico reunido no álbum de
família do Sr. Jorge Ruffier, bem como os escritos do diário com vistas à refletir acerca da
crítica da vida cotidiana. Nesse sentido, nosso procedimento metodológico, parte de
realidades concretas, de seres humanos reais, de experiências cotidianas e as tornamos
essência das reflexões teóricas. A abordagem do cotidiano, nesta pesquisa, busca alargar as
possibilidades de compreensão deste modo de vida, de seus sentidos e de suas significações
enquanto experiência social vivida por um determinado grupo de sujeitos – os cidadãos que
residiam no Rio Grande do período Belle Époque.
Conclusões
As imagens e os registros escritos do Sr. Ruffier constituem valioso material de análise desta
pesquisa, dada a relevância desses documentos iconográficos e iconológicos para os estudos
no campo das sociedades e a relação entre fotografia, álbuns de família, narrativa e
representação. A partir desse pressuposto, consideramos como narrativas fotográficas as
imagens concebidas no espaço privado e público do arquivo. As fotografias são um texto
imagético que evoca leitura e entendimento, um discurso visual que revela a representação e
a identidade dessa família num determinado espaço social, devido ao seu papel documental e
narrativo, congregando informação e experiência, representação e imaginário. Pelo exposto,
propomos estabelecer um diálogo entre a materialidade e o campo de significações das
imagens fotográficas e dos escritos do diário com os conceitos de cotidianidade e urbano.
Assim, trataremos o álbum de fotografias de família e o diário como patrimônio simbólico que
assegura um ideal de pertencimento e identidade.
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MESA 3 - Direito, Políticas Públicas
e Justiça na tutela de Bens Culturais.
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El Plan de Gestión del Barrio Histórico de Colonia del Sacramento, un análisis crítico
Laura Ibarlucea Dallona77
Sidney Vieira Gonçalves78
Palavras-chave: Patrimonio cultural. Colonia del Sacramento. Plan de Gestión. Unesco.
Introducción
El trabajo que se propone pretende abordar el análisis crítico del Plan de Gestión para el Barrio
Histórico de Colonia del Sacramento79 (en adelante PG) aprobado por la UNESCO en diciembre
de 2012. Este asunto forma parte de un proyecto de investigación más amplio, cuyo objetivo
es analizar la relación entre las narrativas del patrimonio y la memoria y el turismo cultural en
el caso del Barrio Histórico de Colonia del Sacramento (en adelante BH).
El PG procura definir los mecanismos de gestión sustentable del área ocupada por el
denominado BH y resolver un conjunto de problemas que habían sido detectados por la
UNESCO en el sitio en los años posteriores a su incorporación en la Lista del Patrimonio Mundial
de la Humanidad. El artículo propuesto intenta describir las principales orientaciones del PG y
realizar un análisis crítico de los principios fundamentales que lo rigen, en este sentido se
entiende que tal abordaje puede servir para identificar las fortalezas y debilidades del PG así
como prever algunos de sus efectos . En líneas generales se busca responder a la incógnita de
si ha sido adecuado como método de resolución de los principales problemas que afectaban y
afectan al sitio, en la hipótesis de que el PG no resuelve en su totalidad esa problemática.
Paralelamente cabe proponer una cierta reflexión acerca de qué significado tiene el proceso
concreto del BH, en particular en la resolución de la gestión planificada, en el proceso general
de desarrollo de la noción de patrimonio cultural en el Uruguay.
77
Profesora de Historia, maestranda Memória social e Patrimônio cultural, UFPel. Estudiante en UFPEL y docente y asistente de decanato (en disfrute de licencia) en la Facultad de la Cultura-CLAEH (Uruguay). Becaria CAPES y ANII (Uruguay). E-mail: [email protected].
78 Posdoctor en el Departamento de Geografía de la Universidad de Barcelona, España (CAPES / Fundación Carolina), 2011. Investigador visitante en el Departamento de Geografía de la Universidad de Barcelona, España, 2010/2011. En la actualidad es Director del Instituto de Ciencias Humanas de la Universidad Federal de Pelotas, 2010-2014. Doctor en Geografía, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus Rio Claro, SP, estancia "sandwich" en el Departamento de Geografía de la Facultad de Letras de la Universidad de Lisboa (2003). Master en Planificación Urbana y Regional, PROPUR, Facultad de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul (1997). Especialista en Ciencias Sociales - Sociología de la Universidad Federal de Pelotas (1988). Licenciado en Geografía de la Universidad Federal de Pelotas (1986). Licenciado en Derecho por la Universidad Federal de Pelotas (1986). Profesor Asociado, Departamento de Geografía en el Instituto de Ciencias Humanas de la Universidad Federal de Pelotas. Profesor titular de la Maestría en Geografía de la Universidad Federal de Pelotas. Profesor titular de la Maestría en Memoria Social y Patrimonio Cultural, ICH. Profesor Adjunto en la Maestría en Geografía de la Universidad Federal de Río Grande. Coordinador de Estudios Urbanos y Geografía Regional Docente (LeurEnGeo/ICH/UFPel). Investigador de la investigación en Geografía urbana, con énfasis en los estudios de la regeneración urbana, geografía histórica urbano y comercial urbana. E-mail: [email protected]
79 El PG es el resultado del trabajo conjunto de técnicos de diversos países a lo largo de más de 24 meses. La responsabilidad administrativa del PG recae en las autoridades nacionales (representadas por el MEC a través de la Comisión del Patrimonio cultural de la Nación) y locales (Intendencia de Colonia y Municipio de Colonia del Sacramento).
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El análisis propuesto pretende articular elementos de diversas disciplinas teóricas y un
conjunto amplio de autores, que han permitido definir un grupo de conceptos de análisis. A
efectos de hacer más simple la presentación de las distintas líneas de análisis y los autores
seleccionados, se ha optado por hacerlo en forma separada. Sin embargo, es indispensable
considerar que estos asuntos están fuertemente interrelacionados y no podrán ser
comprendidos en forma cabal si no es considerando esa interrelación.
Así, sobre memoria son centrales los aportes de CANDAU, J. (2011), NORA, P. (2008) y
RICŒUR, P. (2010). En términos genéricos se considera fundamental el concepto de
metamemoria definido por CANDAU (2002, 2011) y desde ese lugar se realiza la lectura de
Nora y Ricœur. En relación al patrimonio, se ha considerado central intentar desnaturalizar el
término, asimismo, se hace indispensable analizar también de qué forma el concepto se
constituye en su carácter universal cuando es definido por los organismos internacionales
asociados a su gestión (UNESCO, ICOM fundamentamentalmente). De este modo, se ha
considerado indispensable incorporar los aportes teóricos de autores como CHOAY, F. (2007),
POULOT, D. (2006 y 2008) y PRATS, L. (1997 y 1998). En cuanto al turismo cultural, en un
intento de definir su singularidad (en caso de que la tenga), a la vez que en la búsqueda de
instrumentos para analizarlo como fenómeno complejo que conjuga aspectos económico-
comerciales con prácticas culturales explícitas o implícitas, se han considerado interesantes los
aportes teóricos de varios autores tales como: BARRETO, M. (2007a y 2007b), COUSIN, S.
(2003), PRATS, L. (2005), PRATS, L. - SANTANA TALAVERA, A. (2011) y SANTANA TALAVERA, A.
(1997).
Metodología y resultados
El análisis propuesto está orientado por la lectura crítica del documento a partir de algunos
conceptos fundamentales que han sido elaborados a partir de los aportes teóricos de diversas
disciplinas. Estos conceptos pueden resumirse en las nociones de patrimonio cultural -
incluyendo el concepto de patrimonio mundial-, memoria y turismo cultural. Las principales
fuentes teóricas que les dan sustrato de esta investigación están asociadas a un abordaje
multidisciplinar, en este sentido, se pretende conjugar los diversos recursos teóricos
considerados.
El PG ha sido analizado en su estructura general, así como en función de las propuestas en
torno a cada uno de los asuntos que pretende resolver. Esta lectura ha sido atenta al análisis
del contexto en el cual se ha desarrollado el PG, así como al proceso general en que se inscribe
el caso del Barrio Histórico en el marco más amplio del proceso de desarrollo de las nociones
de patrimonio, memoria y turismo cultural en Uruguay.
Los resultados de este análisis permiten identificar algunas de las fortalezas y debilidades del
PG así como prever posibles impactos. En primera instancia el PG ha resuelto uno de los
problemas más acuciantes del sitio relacionado a la ausencia, hasta 2012, de planificación que
resultara satisfactoria para UNESCO. Así como tender a resolver problemas de superposición de
responsabilidades en la gestión. Por otro lado es posible reconocer flaquezas y lagunas en el
PG que pueden acarrear efectos no deseados aunque evitables.
Conclusiones
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En cuanto a las hipótesis de partida, ha sido posible responder a ellas de forma
razonablemente satisfactoria. El PG logra resolver algunos de los problemas detectados en el
caso del Barrio Histórico, aunque no alcanza a resolverlos todos. Asimismo, en relación al
proceso general que vive Uruguay respecto del desarrollo del concepto de patrimonio, el PG
puede ser considerado un paso en la maduración del concepto y permite suponer otras
derivaciones que habiliten nuevos procesos de reflexión.
Referencias
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“O instrumento jurídico do inventário e sua eficácia como instrumento de salvaguarda do patrimônio
histórico cultural na cidade do Rio Grande: o sobrado dos azulejos da família Barbosa de Santa Marta”
Alex Sandro Pail Curval80
Renata Barbosa Ferrari Curval81
Introdução
O patrimônio cultural vem ao longo dos séculos sendo subtraído do convívio interpessoal. Tal
acontecimento deve ser analisado sob o enfoque jurídico, visto que existem mecanismos
jurídicos de salvaguarda do patrimônio histórico cultural.
A utilização do azulejo de fachada nas edificações do Brasil colônia desencadeou-se de forma
natural junto às cidades do norte, nordeste e sudeste, sendo poucos os exemplares ainda
existentes no Rio Grande do Sul, sendo apenas dois imóveis na cidade do Rio Grande, um
tombado pelo IPHAN e outro inventariado pelo Município do Rio Grande, sendo que este
necessita de atenção urgente, dada a manifesta perda, pela sua deterioração, pela falta de de
intervenções, roubo e descaracterização do prédio e assim sua história.
Por força de disposição constitucional, cabe ao Poder Público, com a colaboração da
comunidade a promoção e a proteção do patrimônio cultural brasileiro por meio de institutos
jurídicos.Importante ser destacado que Poder Público “não significa só o Poder Executivo, mas
abrange o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, tanto que no artigo 2º esses três Poderes
constam como ‘Poderes da União’” (Machado, 2005. P. 157).
Chamou atenção a forma indiscriminada em que o Município do Rio Grande tratou o instituto
jurídico do inventário, eis que 509 (quinhentos e nove) imóveis possuem esta proteção
municipal. Também chamou a atenção o estado de conservação dos mesmos e a falta de
intervenção dos poderes públicos competentes junto aos proprietários destes imóveis no
intuito de sua salvaguarda.
Diante do número alto de bens inventariados no referido Município, buscou-se a análise de um
imóvel que trás ínsito os costumes construtivos portugueses, mais precisamente o patrimônio
azulejar, material construtivo ou decorativo que expressa um momento histórico, político,
econômico, religioso e artístico dos seus primitivos proprietários, imigrantes portugueses.
O objetivo fulcral do presente trabalho é demonstrar que a ineficácia do instituto jurídico do
inventário, enquanto instrumento de salvaguarda do patrimônio azulejar com as referidas
técnicas construtivas “que permitem compreender a história recente e preservar e valorizar as
práticas sociais”(SOARES, 2009. p.229), tem como ponto de partida o desconhecimento do
referido instrumento legal por parte do Município, a inoperância dos Poderes Públicos
competentes para atuar na fiscalização, e as consequências diretas desta ausência de
aplicabilidade da lei face ao imóvel situado a Rua Benjamim Constant, 247 e 249 no município
do Rio Grande – RS.
80 Rio Grande/RS; [email protected]
81 Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Campus do Vale, Porto Alegre/RS; [email protected]
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Metodologia
O método de pesquisa utilizado foi o indutivo e fora utilizada a técnica de documentação
indireta, ou seja, partiu-se da leitura e análise da legislação federal e municipal do Rio Grande
que tratam da salvaguarda do patrimônio histórico cultural e sua eficácia em face da
salvaguarda do prédio que ostenta a fachada azulejada.
Trata-se de pesquisa qualitativa, na qual, segundo Elizabeth Teixeira, “o pesquisador procura
reduzir a distância entre a teoria e os dados, entre o contexto e a ação, usando a lógica da
análise fenomenológica, isto é, da compreensão dos fenômenos pela sua descrição e
interpretação. As experiências pessoais do pesquisador são elementos importantes na análise
e compreensão dos fenômenos estudados”. (TEIXEIRA, 2002)
A hipótese a ser confirmada foi estabelecida empiricamente pelos autores deste trabalho
quando analisada a legislação local, federal e confrontada com a atual situação do prédio que
encontra-se em estado de má conservação, descaracterizado pela utilização de materiais de
propaganda. Fora observado que grande parte dos azulejos retirados do referido prédio foram
utilizados como material decorativo de outros imóveis do mesmo proprietário.
Conclusão
Chegou-se a conclusão de que proprietários, município e ministério público não afiançam por
si só a efetividade da proteção do referido bem imóvel inventariado pelo município do Rio
Grande, em total desrespeito a legislação e constituição federal, perdendo-se desta feita parte
da história ora retratada pelas peças azulejares portuguesas que em seu contexto mais amplo,
pois os azulejos de fachada retratam de forma simples e ingênua a historicidade do povo
português, sua metodologia de trabalho, suas épocas e padrões construtivos.
Assim, faz-se de extrema necessidade que o instituto jurídico do inventário seja posto em
prática pelo município do Rio Grande e fiscalizado por órgãos competentes para que a história
de toda uma trajetória e arte da pátria-mãe possam ser salvaguardadas no sul do Brasil e para
que se mantenha viva a memória lusitana em terras brasileiras.
Enfim, conforme assevera Nabais(2010), patrimônio cultural constitui um assunto, que não
pode deixar de dizer respeito a todos e a cada um dos membros da comunidade, somente
assim poderemos salvaguardar de modo efetivo nosso patrimônio.
Referências Bibliográficas
MACHADO, Paulo A. Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 21ª Malheiros, página 157
NABAIS, José Casalta. Introdução ao Direito do Patrimônio Cultural. Editora Almedina, 2ª
edição, Coimbra, 2002.
SOARES, Inês Virgínia Prado. Direito ao (do) patrimônio cultural brasileiro. Belo Horizonte:
Fórum, 2009.
TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. 6.ed. –
Petrópoles, RJ: Vozes,2009.203p.
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Tombamento dos modos de fazer a Boneca Karajá: Patrimônio Imaterial do Centro-oeste
Pablo Fabião Lisboa82
Alexandre Melo Soares83
Palavras-chave: Boneca Karajá. Tombamento de Bens Culturais. Patrimônio Imaterial.
Introdução
O povo indígena Karajá situado nos estados de Tocantins e Goiás, tem como um dos elementos
que representam a sua identidade cultural a boneca Karajá. A partir do tombamento dos
modos de fazer a boneca, o IPHAN cumpre um papel jurídico importante na proteção do
patrimônio imaterial brasileiro, o que no aniversário de 10 anos da Convenção do Patrimônio
Imaterial da UNESCO, pactuado em 2003, constitui relevo para a preservação do patrimônio
cultural nacional. O artigo formulado a partir deste resumo vai apresentar os procedimentos
do tombamento da Boneca Karajá, destacando os seus aspectos jurídicos. Tal
empreendimento se torna necessário ao passo que muitos elementos da cultura imaterial do
Brasil ainda precisam ser tombados, e o entendimento e divulgação dos procedimentos de
tombamento podem contribuir nesse contexto.
Entre os conteúdos acadêmicos consultados, além dos documentos colhidos diretamente no
site do IPHAN sobre o processo de tombamento, encontramos: Anna Maria Alves Linhares que
em 2006 publicou o artigo “Bonecas Karajé: formação documental da coleção Natalie Petesch
(1986) do Museu Paraense Emílio Goeldi”; Uma lista de 73 produções acadêmicas entre artigos
científicos, livros, publicações de museus, dissertações de mestrado e teses de doutorado,
disponíveis em http://karajadigital.wordpress.com/lista-de-bibliografia/; Publicações do
projeto de pesquisa desenvolvida pelo Museu Antropológico e vinculado à Rede de Pesquisa
Museus e Expressões do Patrimônio Cultural. Trata-se do projeto intitulado “Bonecas Karajá:
arte, memória e identidade indígena no Araguaia” que objetiva os estudos sobre as bonecas
Karajá, também denominadas licocó, ritxkòò ou litjocô. Tal pesquisa foi o principal pilar teórico
que sustentou o seu registro como patrimônio cultural imaterial brasileiro, junto ao IPHAN.
Dentre os pesquisadores que atuaram nesse processo destacam-se: Rosani Moreira Leitão
(Museu Antropológico da UFG); Cintya Maria Costa Rodrigues, Maria Luiza Rodrigues Sousa,
Isabel Misságia de Mattos (Departamento de Ciências Sociais da UFG); Telma Camargo da Silva
(Pesquisadora Voluntária da UFG); Manuel Ferreira Lima Filho e Marlene Castro Ossami de
Moura (do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia da UCG) e Patrícia Rodrigues de
Mendonça (Vínculo livre).
O presente trabalho foi produzido no âmbito da linha temática 3. Direito, Políticas Públicas e
Justiça na tutela de Bens Culturais, do 7º SIMP da UFPEL.
82 Graduação em Design Gráfico (UFPEL), Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPEL), Professor de Museologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), e-mail <[email protected]>.
83 Graduação em Direito (UFPEL), Maestría en Desarrollo Sutentable (Universidad Nacional de
Lanús/Argentina). Professor de Direito da Universidade Nacional de Brasília (UNB), e-mail <[email protected]>.
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Metodologia e resultados
A metodologia adotada na presente pesquisa, partiu da análise dos arquivos digitais de
domínio público disponíveis no site do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, bem como dos registros sobre o tombamento da boneca Karajá obtido em outras
fontes, como artigos, entrevistas e notícias publicadas online. Adicionado a esses métodos, o
fácil trânsito que os autores têm no Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás
(UFG) e no Museu Zoroastro Artiaga, administrado pelo governo do Estado de Goiás, foi
fundamental para a produção deste estudo, por serem museus que comercializam a boneca
Karajá e, por conseguinte, por serem fortes parceiros na preservação e divulgação da cultura
imaterial do povo Karajá.
Conclusões
Consideramos satisfatória a obtenção dos resultados sobre os procedimentos de tombamento
da boneca Karajá, principalmente pela eficácia dos órgãos governamentais em divulgar por
intermédio dos seus portais na internet os documentos contidos no processo. Outrossim, cabe
ressaltar ainda o alto grau de articulação e de investigação teórica, necessária a constituição
da justificativa para a efetivação de um tombamento.
Referências
IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em:
<portal.iphan.gov.br>.
Karajá Digital. Disponível em: <http://karajadigital.wordpress.com>. Acesso em: 10 set. 2013.
Museu Antropológico. Site do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Disponível em: <www.museu.ufg.br>.
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A construção do patrimônio nas políticas públicas de salvaguarda cultural do Brasil.
Benedito Walderlino de Souza Silva84
Larissa Maria Guimarães85
Lorena Alves Mendes86
Palavras-chave: Patrimônio cultural. Políticas públicas culturais. Gestão cultural participativa.
Introdução
Esta comunicação debate a evolução das políticas públicas de salvaguarda cultural brasileiras,
a partir de instrumentos legais, ação de atores e instituições dedicadas ao assunto. A discussão
se enquadra nos debates de intelectuais, organizações internacionais e nações a elas
associadas em torno da necessidade de diálogo quanto ao reconhecimento da alteridade
cultural humana. Nesse contexto, o Brasil tem participação incisiva e começa a considerar as
vertentes material e imaterial de seu patrimônio cultural. Entretanto, o diálogo entre estes
dois campos ainda não foi efetivamente estabelecido nos planos legal e prático.
No país, essas reflexões começaram com Mário de Andrade problematizando a cultura
nacional e políticas estatais para sua salvaguarda, o que alicerçou a criação do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), primeira instituição pública voltada à
cultura brasileira, hoje atuando como Instituto (IPHAN). Defendendo uma concepção integrada
de cultura, Andrade entendia que a parceria entre Estado e sociedade deveria zelar pela
salvaguarda dos bens de natureza material e imaterial do país. Até os anos 80, essa concepção
foi desconsiderada pelo SPHAN, para quem a sociedade brasileira configurava uma civilização
material, na qual tinha maior influência bens arquitetônicos do período colonial (CHUVA,
2012), concepção sustentada com políticas de salvaguarda, como o Tombamento, voltado
apenas a vertente material do patrimônio e instituído pelo Decreto nº 25 de 1937 (BRASIL,
1937).
Assim, o descompasso entre as duas concepções se manteve até a década de 80, período em
que as concepções de Mário de Andrade se alinhavam com as do Centro Nacional de
Referência Cultural (CNRC). Envolvido com o CNRC, Aloísio Magalhães assume a presidência do
SPHAN. Criando a Fundação Nacional Pró-memória, incorpora ao SPHAN tanto as atividades do
CNRC como de outros órgãos da esfera cultural (CHUVA, 2012). A reestruturação trouxe
mudanças às ações de salvaguarda cultural do país. Atento aos limites do tombamento como
único instrumento de salvaguarda cultural, o CNRC se utiliza da noção de Referência Cultural,
com a qual considerou tanto a diversidade da produção material quanto dos simbolismos que
lhes são atribuídos como fator influente nas opções de salvaguarda. Ao destacar essas
84
Historiador com Especialização em Arqueologia, Historiador na Superintendência Estadual do Iphan no Pará, [email protected];
85 Mestre em Ciências Sociais (UFPA), Doutoranda em Antropologia Social (PPGAS/UFRGS), Antropóloga na Superintendência do Iphan no Pará (IPHAN/PA), [email protected].
86 Bacharel e licenciada em Ciências Sociais (UFPA), Mestrando em Preservação do Patrimônio Cultural, Superintendência Estadual do Iphan no Pará, [email protected].
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dimensões, de uma ação eminentemente técnica e controlada pelo Estado, a salvaguarda
cultural passa a contar também com a participação da sociedade (FONSECA, 2003).
Essas ações são parte do contexto de mudanças na noção de patrimônio cultural a partir da
globalização, o que reconfigurou identidades nacionais e ampliou a aceitação de bens como
elementos de patrimônios, tendo as políticas públicas brasileiras estruturado planos para
nortear a ação do Estado diante dessas mudanças (CHUVA, 2012). Essa releitura foi expressa
na Constituição Federal de 1988 com seus artigos 215 e 216 trazendo a noção de bem cultural
de natureza imaterial e propondo uma gestão participativa entre Estado e sociedade na
salvaguarda da cultural nacional (BRASIL, 1988).
Com essas orientações, nos anos 90, o Iphan discute a execução de políticas de salvaguarda do
patrimônio imaterial e a criação de instrumentos legais que a respaldassem. Assim, em 2004,
cria o Departamento do Patrimônio Imaterial e inicia uma política nacional de salvaguarda de
bens culturais imateriais (IPHAN, 2010), tendo como referência o Decreto n° 3.551/2000, o
qual institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e cria o Programa Nacional do
Patrimônio Imaterial (BRASIL, 2000). Além disso, o Instituto segue diretrizes da política de
salvaguarda do patrimônio imaterial no plano internacional, aderindo à mobilização da
UNESCO para criação de comissões de salvaguarda desse patrimônio como instrumento de paz
e cooperação entre nações, como ocorrido com a Convenção para a Salvaguarda do
Patrimônio Imaterial de 2003 (UNESCO, 2003).
Contudo, apesar desses avanços das políticas públicas de salvaguarda cultural no país, ainda há
a necessidade de agregarem as vertentes material e imaterial do patrimônio em suas ações,
para que, assim, a sociedade possa atribuir ressonância a bens acautelados.
Metodologia e resultados
Para embasar o trabalho, foi realizado levantamento bibliográfico referente à política brasileira
de salvaguarda cultural, contemplando discussões sobre as atuações e diferentes percepções
das principais instituições e atores sociais envolvidos no assunto, bem como, instrumentos
legais resultantes de suas atuações.
Conclusões
O tratamento a bens culturais deve considerar que o patrimônio material tem uma dimensão
imaterial de significação, assim como, o patrimônio imaterial tem uma dimensão material que
lhe permite realizar-se (MENESES, 2012). Nesse contexto, como nota Carsalade (2012), é a
sociedade que estabelece os valores vitais à constituição do patrimônio enquanto elemento de
sua identidade cultural e social. Logo, políticas públicas de salvaguarda devem adotar posturas
éticas, pautadas na garantia de diálogo, negociação, consenso e respeito aos sentidos
atribuídos a bens culturais em espaços de construção da alteridade.
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 set. 2013.
CADERNO DE RESUMOS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp
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_______. Decreto Nº 3.551 de 04 de Agosto de 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm. Acesso em: 12 Set. 2013.
_______. Decreto Nº 25 de 30 de Novembro de 1937. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm. Acesso em: 14 set. 2013.
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CHUVA, Márcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. In: Revista do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Brasília: IPHAN, n. 34, 2011, pp.147-165.
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Acesso em: 15 de setembro de 2013.
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Meios de comunicação no Brasil: uma pluralidade cultural fictícia
Stéfano Nascimento Fonseca 87
Palavras-chave: Meios de comunicação; diversidade cultural; políticas públicas; legislação;
História do Brasil.
Introdução
Este artigo busca analisar o atual modelo de telecomunicações existente no Brasil, entendendo
a pluralidade de informação e de veículos de comunicação como elemento fundamental para o
fortalecimento da democracia e respeito à diversidade cultural, de acordo com a Convenção
para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, da UNESCO. Serão analisados os artigos
da Constituição Federal do Brasil que regulamentam as concessões de canais de TV e rádio; de
que forma o Estado brasileiro contribuiu para a concentração midiática existente; e o papel do
Conselho de Comunicação Social na defesa dos interesses da sociedade.
Segundo Castriota, nesse início de século XXI o patrimônio emerge não apenas como elemento
central nas reflexões sobre cultura, mas também na análise sobre o futuro das cidades e do
meio-ambiente. Se pensarmos o patrimônio como espaço simbólico de disputa de
representações por diversos agentes, podemos perceber uma ampliação do debate para além
dos círculos especializados, gerando mobilização e comoção pública através do mundo. Para o
autor, isso pode ser parcialmente explicado pelo avanço da globalização que, através de certa
“padronização” de valores e comportamentos, surge como uma ameaça às diferenças
regionais e às tradições. (CASTRIOTA, 2009, p, 11)
O patrimônio cultural, segundo Convenção para a salvaguarda do patrimônio cultural
imaterial, assinada em 2003, se manifesta nos seguintes campos:
a) tradições e expressões orais, incluindo o idioma como veículo do patrimônio cultural imaterial; b) expressões artísticas; c) práticas sociais, rituais e atos festivos; d) conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo; e) técnicas artesanais tradicionais.
Com o fim da ditadura militar e a promulgação da nova Constituição Federal, em 1988, ficam
estabelecidas novas políticas em relação às comunicações no país. No capítulo V da
constituição § 5º determina que “Os meios de comunicação social não podem, direta ou
indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.”, já o artigo 221, do mesmo capítulo
estabelece que
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III -
87
Graduação: História – Unimódulo; Especialização: História e Culturas Políticas – UFMG; Cursando:
Relações Internacionais – UFPEL.
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regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família. (CONSTUIÇÃO FEDERAL, 1988)
O artigo 224 estabelece que “Para os efeitos do disposto neste capítulo, o Congresso Nacional
instituirá, como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da lei.”.
Apesar das restrições impostas pela constituição o setor de telecomunicações no Brasil é um
oligopólio formado por seis grandes empresas que não priorizam em suas programações a
cultura nacional e regional, nem os valores éticos e sociais, tal qual exige o artigo 221. Isso,
com a conivência do setor público que só efetivou o Conselho de Comunicação Social em 2002,
mas encerrou sua atuação no final de 2006 após o vencido o mandado dos conselheiros
eleitos.
As informações levantadas até o momento permitem identificar que o Brasil obriga, via leis
constitucionais, que os detentores de canais de TV e rádio disponibilizem em sua programação
conteúdo nacional e regional, educativo e cultural que promova a diversidade cultural
brasileira, tal como é defendida pela Convenção da UNESCO.
Este trabalho buscará analisar os resultados da pesquisa intitulada “Os Donos da Mídia”,
realizada pelo pesquisador Daniel Herz, integrante do Instituto de Estudos e Pesquisas em
Comunicação (Epcom). Através das informações levantadas buscaremos compreender o atual
modelo de comunicação existente no Brasil; como a concentração midiática prejudica o
conhecimento e a promoção do patrimônio cultural nacional, e as responsabilidades do Estado
no cumprimento das leis constitucionais referentes à comunicação.
A atuação da sociedade civil será analisada através das ações do Coletivo Brasil de
Comunicação Social – Intervozes, uma organização formada por ativistas e profissionais com
formação em Comunicação Social e em outras áreas, presente em quinze estados brasileiros e
no Distrito Federal, que defende a criação dos conselhos estaduais de comunicação e a
reativação do Conselho de Comunicação Social.
Referências Bibliográficas
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COELHO. Teixeira. O que é indústria cultural. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
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Apud BOLAÑO, C. Mercado Brasileiro de Televisão. 2. ed. São Paulo/Aracaju: Educ; UFS, 2004.
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vida privado no Brasil. Vol.4: Contrastes da vida contemporânea. NOVAIS. A. F e SCHWARCZ.
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As interferências das transformações legislativas no Patrimônio Cultural
Ivana Morales Peres dos Santos88
Renata Ovenhausen Albernaz89
Palavras-chave: Direito. Legislações. Patrimônio Cultural. Transformações.
Introdução
O presente trabalho pretende demonstrar que as mudanças legislativas, embora necessitem
ocorrer de tempos em tempos, em razão das transformações sociais, nem sempre geram um
saldo positivo para a preservação patrimonial, uma vez que as influências dos que governam,
muitas vezes, colocam em risco a preservação de um bem em prol de interesses particulares.
Uma abordagem sobre as modificações e evoluções das legislações existentes no Brasil acerca
da proteção do patrimônio cultural poderá demonstrar onde se encontram as lacunas
existentes e as falhas do Poder Legislativo e do Judiciário. Aqui se pretende fazer uma breve
demonstração da evolução dessas legislações, especificamente as relacionadas aos
instrumentos de proteção tombamento e inventário, a fim de que se compreenda no que
influenciaram essas transformações para o patrimônio cultural das cidades. Para tanto, serão
abrangidos conceitos sobre o tombamento e inventário, tendo como principais autores, Paulo
Affonso Leme, Ana Maria Moreira Marchesan, Édis MIlaré, Maria Cecília Londres Fonseca,
Carlos Frederico Marés, entre outros.
Por outro lado, também cabe analisar alguns casos que envolveram procedimentos para que
se conquistasse a devida proteção de um bem cultural. Desse modo, se trouxe como exemplo
o caso de um chafariz localizado na Praça Cipriano Barcelos, na cidade de Pelotas/RS e que foi
objeto de ação judicial proposta pelo Ministério Público, bem como o caso do imóvel
localizado na Rua Gonçalves Chaves, 702, em Pelotas/RS, popularmente conhecido como
“Casarão dos Mendonça”, em que se buscou o tombamento deste através de uma ação civil
pública.
Metodologia e Resultados
A metodologia utilizada é a dedutiva, analisando como o conjunto de normativas que
envolvem tanto o tombamento quanto o inventário se evidencia no processo de consolidação
da proteção patrimonial dos bens culturais.
São utilizadas as legislações que envolvem o patrimônio cultural, tanto na esfera estadual
quanto municipal, uma vez que, os casos concretos analisados estão localizados no Município
de Pelotas/RS.
88 Graduação em Direito pela Universidade Católica de Pelotas, Especialista em Direito Processual pela Universidade Católica de Pelotas, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural e Doutoranda em Memória Social e Patrimônio Cultural na Universidade Federal de Pelotas, [email protected].
89 Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Direito pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM) e graduada em Direito e em Administração. Orientadora de Ivana Morales Peres dos Santos.
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Conclusões
Os objetivos alcançados nesse estudo foram obtidos a partir de uma breve análise acerca da
legislação existente sobre o tombamento e inventário e suas modificações. Percebeu-se que
embora modificações legislativas sejam necessárias, nem sempre elas são positivas, pois os
legisladores colocam em jogo seus interesses particulares, podendo influenciar negativamente
na preservação de bens culturais.
Por outro lado, com a demonstração de casos concretos ocorridos no Município de Pelotas foi
possível compreender a forma que os procedimentos administrativos e judiciais são utilizados
para que se obtenha a proteção do patrimônio cultural de uma forma adequada, o que não
significa sempre ser eficaz.
Referências
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Editores, 2010.
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SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
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Política Cultural Comparada entre Brasil e Uruguay
Alan Dutra de Melo90
Paulo Roberto Gomes Santos91
Palavras-chave: Políticas Culturais. Patrimônio Cultural. Brasil. Uruguay.
Introdução
Trata-se de um trabalho em andamento à partir do projeto de pesquisa “Política Cultural
Comparada entre Brasil e Uruguay” e para tal é utilizado referências bibliográficas e
encontros presenciais entre gestores e pesquisadores da área que envolve os temas vinculados
a cultura e sociedade na Fronteira. A primeira etapa do projeto encerra ao final de março de
2014. Dentre outros os autores utilizados estão Marilena Chauí, Pedro Paulo Funari, Enrique
Mazzei, Lia Calabre, Antonio Rubim, Teixeira Coelho, Lúcio Rennó, Leonardo Secchi , Antônio
Joaquim Severino e documentos oficiais editados pelos Ministérios da Cultura do Brasil e do
Uruguay. O projeto está registrado como atividade de pesquisa junto à Universidade Federal
do Pampa no Curso de Bacharelado em Produção e Política Cultural e possui um acadêmico do
curso trabalhando como voluntário. Dentre os objetivos do projeto está a problematização
sobre a importância e a forma que se efetivam as Políticas Culturais no Brasil e no Uruguay;
Compreender as dinâmicas locais nas cidades de Jaguarão e Rio Branco no Uruguay e como
relacionam com os centros nacionais das políticas culturais e regionais, no caso brasileiro Porto
Alegre como capital do Rio Grande do Sul e Melo como capital do Departamento de Cerro
Largo onde está localizada Rio Branco; Relacionar a perspectiva do Patrimônio Cultural como
elemento relevante nas políticas de integração regional do Mercosul tendo em vista a
perspectiva de tombamento binacional da Ponte Internacional Mauá que liga Jaguarão e Rio
Branco; Aprofundar o conhecimento das políticas culturais como objeto de investigação e
formação do curso de Bacharelado em Produção e Política Cultural da Unipampa. A
Justificativa esta relacionada com os seguintes elementos: Produzir conhecimento dentro de um
aspecto que conforma a Universidade Federal do Pampa no contexto da Fronteira entre o Brasil e o
Uruguay; E especificamente no o Curso de Bacharelado em Produção e Política Cultural a temática é
oportuna tendo em vista que o tema também é abordado nos cursos de mesma natureza ofertados em
universidades brasileiras como a Universidade Federal Fluminense e a Universidade Federal da Bahia;
Convém mencionar o Plano Nacional de Cultura como documento elaborado pelo Ministério da Cultura
com apoio da sociedade civil especialmente através das conferências nacionais de cultura que aponta
para a necessidade de ampliação da formação acadêmica e da pesquisa em cultura; No mesmo sentido
convém citar o planejamento da CAPES 2011-2020 que apontou com uma das áreas prioritárias para a
pesquisa a área da cultura.
Metodologia e resultados
90 Graduado em Direito UFPel, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural UFPel, Professor
Assistente da Universidade Federal do Pampa – Jaguarão RS, [email protected].
91 Graduando no Curso de Bacharelado em Produção e Política Cultural, Universidade Federal do Pampa
– Jaguarão RS, [email protected].
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O trabalho inicial envolve pesquisa bibliográfica e contato com os atores sociais que discutam
de forma teórica ou empírica os temas que abarcam as políticas culturais e sociedade entre
Brasil e Uruguay à partir da cidade de Jaguarão na fronteira com o Uruguay. Além do
referencial teórico foram realizadas reuniões de trabalho com pesquisadores uruguaios da
área da sociologia que trabalham no Núcleo de Estudos de Fronteira da Universidade da
República do Uruguay UDELAR, professores Enrique Mazzei e Mauricio de Souza que estão
participando da pesquisa. E após foi realizado no mês de setembro de 2013 um debate
denominado ”Política Cultural no Uruguay” com gestores Uruguaios na Unipampa conforme
convite realizado pelos pesquisadores uruguaios citados e na ocasião estiveram presentes as
coordenadoras dos Centros MEC (Ministério de Educação e Cultura) Isabel Abelar e Mónica
Botti e que atuam na Capital Melo e a Secretária de Cultura Mireya Brochado de Rio Branco.
Optamos por realizar uma conversa que foi aberta inclusive ao público de forma que o debate
fosse mais profícuo. Dentre os resultados alcançados está a disponibilidade dos gestores
mencionados para seguirmos em contato de realizando uma nova reunião agora também com
gestores brasileiros a ser realizada em outubro de 2013. Como os atores sociais em questão
incluindo os pesquisadores já tinham contato prévio realizado em outras ocasiões restou em
aberto a possibilidade da pesquisa ganhar o direcionamento como pesquisa ação.
Conclusões
O objetivo inicial do trabalho que envolve no plano empírico a mobilização de atores sociais foi
alcançado incluindo pesquisadores uruguaios e gestores. Tudo indica que no plano brasileiro
não será diferente. A análise preliminar do trabalho aponta para convergências de interesses e
também de problemas que caracterizam as o foco de atenção das políticas culturais em ambos
os países embora existam particularidades que serão mais bem detalhadas na continuidade do
estudo em questão.
Referências:
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COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural. 2.ed. São Paulo: Iluminúrias, 2012.
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1.ed, 2006
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FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2006.
MAZZEI, Henrique. Fronteras que nos unes y limites que nos separan. Montevideo, Uruguay :
CBA editora, 2013
MAZZEI, Henrique, SOUZA, Mauricio de. La Frontera em Cifras. Montevideo, Uruguay : CBA
editora, 2013;
RENNÓ, Lucio. Org. Coletânea de Políticas Públicas de Cultura: práticas e reflexões. Brasília:
Universidade Católica de Brasília: Ministério da Cultura, 2011;
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SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. São
Paulo: Centage Learning, 2010.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23. Ed. São Paulo: Cortez,
2007.
RUBIM, Antonio Albino Canelas; BAYARDO, Rubens. Orgs. Políticas culturais na Ibero-América.
Salvador: EDUFBA, 2008;
URUGUAY, MINISTÉRIO DE EDUCACIÓN Y CULTURA Proyecto Viví Cultura (Fortalecimento de
las Industrias Culturales y Mejora de Accesibilidade a los Bienes y Servicios Culturales de
Uruguay). Coord. Edição CLAEH (Centro Latino Americano de Economía Humana). Ed. Manuel
Carballa : Montevideo, 2010.
MESA 4 - Arquitetura e Patrimônio
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A identificação de um zoneamento fabril na cidade de Pelotas-RS (1911-1922)
Jeferson Dutra Salaberry92
Palavras-chave: Memória. Bairro do Porto de Pelotas-RS. Industrialização. Patrimônio
agroindustrial. Zoneamento Fabril.
Introdução
O tema do presente paper é as fábricas no bairro do Porto (Pelotas-RS). Este trabalho é parte
da pesquisa que resultou na dissertação de mestrado denominada: A AGROINDÚSTRIA NO
BAIRRO DO PORTO: PELOTAS – RS (1911-1922) apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo (PROGRAU-UFPel), em julho de 2012.
Em Pelotas, no Rio Grande do Sul, parte da antiga estrutura das manufaturas do charque, onde
o porto de Pelotas foi construído, foi aproveitada para a instalação de uma zona fabril, onde a
agroindústria se sobressaiu. Com a opção pelo transporte rodoviário em detrimento do
portuário e ferroviário, como os demais portos brasileiros, o de Pelotas foi sendo desativado e
os prédios das fábricas abandonados.
O objetivo principal deste artigo é demonstrar a importância das fábricas de produtos
agroindustriais e como estes estabelecimentos formaram um distrito industrial no período
estudado. O trabalho tem a justificativa de estar relacionada à emergência da preservação do
patrimônio industrial.
Metodologia e resultados
A pesquisa valeu-se do método comparativo da história. Buscou as semelhanças e as
diferenças que apresentaram as diferentes categorias de agroindústrias em um mesmo meio
social. Por isto, adquiriu cunho monográfico. (BLOCH apud CARDOSO, 1983)
Foram delimitados como recorte temporal os anos compreendidos entre 1911 e 1922. Estas
datas foram escolhidas por neste período existir rica documentação. A presente pesquisa tem
como base documental principal o manuscrito denominado Notícia Descritiva das Fábricas de
Pelotas em 1911, de Alberto Coelho da Cunha. O trabalho se apoia igualmente nos diversos
livros publicados por ocasião da comemoração do centenário da Independência do Brasil e do
aniversário de Pelotas em 1912.
A área do estudo (Fig. 1) teve como limites o encontro do arroio Santa Bárbara, junto a estação
ferroviária, com o Canal São Gonçalo até alcançar o porto e o antigo Passo dos Negros, onde
foi erguido o engenho Pedro Osório.
Baseado nas fontes primárias, principalmente na Notícia Descritiva de Alberto Coelho da
Cunha (1911), foi possível distinguir os estabelecimentos do início do século, comparar as
92 Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Técnico
em Restauro na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), [email protected]
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diferentes categorias de fábricas e verificar a representatividade de cada uma das atividades
fabris.
A indústria em Pelotas era essencialmente agropecuária. O estudo mostrou que, em relação
aos parâmetros estudados – capital, faturamento e número de operários – existiu grande
diferença entre a indústria que utilizava a matéria-prima proveniente da agropecuária e que
usava outras matérias-primas, como minerais, cerâmicas, metais etc., sendo estas últimas
quase inexpressivas na cidade.
Ao comparar os dados das fábricas de alimentos com os das demais agroindústrias, podemos
verificar que estas possuíam um faturamento maior, enquanto que as outras agroindústrias
tinham maior capital investido e número de operários. Portanto, parecia existir certa
equivalência entre elas, sendo ambas de muita importância.
Ao localizar e agrupar por categorias e classes os estabelecimentos, foi possível identificar um
zoneamento fabril. As charqueadas, o frigorífico, as fábricas de conservas e de bebidas, os
engenhos de arroz e o moinho de trigo estavam localizadas principalmente no bairro do Porto.
As fábricas que transformavam os demais produtos agropecuários estavam de forma
equivalente divididas entre o bairro do Porto e os demais bairros periféricos, e poucas se
localizavam no centro da cidade. As têxteis estavam situadas principalmente no bairro do
Porto. Os curtumes estavam localizados de forma mais significativa junto aos arroios Santa
Bárbara e Pepino, no bairro da Luz. As fábricas de sabões e velas estavam nas áreas
suburbanas do perímetro da cidade. As de fumos ficavam distribuídas pelo centro urbano, nas
proximidades da estação férrea e da Praça da Constituição (Praça das Carretas).
As diversas e pequenas fábricas de transformação de outras classes de produção que não a
agroindustrial ficavam em partes da cidade que não o bairro do Porto.
FIGURA 1 – Mapa localizando a área de estudo. Pelotas RS.
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Fonte: Mapa elaborado pelo autor, com base no aerofotogramétrico e Notícia Descritiva (1911), 2013.
Conclusões
Os estabelecimentos agroindustriais do bairro do Porto de Pelotas tiveram importância
histórica, entre 1911 e 1922, pela sua importância econômica, contribuindo para que Pelotas
persistisse como pólo econômico do estado. O conjunto de fábricas localizado no Porto
compõe uma zona fabril, vinculada diretamente à facilidade dos transportes portuários,
ferroviários e também urbanos. O bairro do Porto apresenta grande importância memorial,
sendo portador de valores culturais que devem ser reconhecidos e socializados.
Referências
CARDOSO, Ciro Flamarion. Os métodos da história. 3 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
CUNHA, Alberto Coelho da. Noticia Descritiva das Fábricas de Pelotas. Pelotas: 1911.
(Documento Manuscrito).
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ANTIGOS PRÉDIOS E NOVOS MUNICÍPIOS: Patrimônio Arquitetônico Urbano
Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu e Arroio do Padre - RS
Alexandre Pereira Maciel93
Palavras-chave: Patrimônio Arquitetônico. Morfologia Urbana. Identidade. Emancipação.
Introdução
O presente resumo tem como base a pesquisa apresentada para obtenção do Título de Mestre
em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas, Instituto de
Ciências Humanas no ano de 2009.
Constitui uma abordagem regional envolvendo quatro municípios emancipados de Pelotas:
Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu e Arroio do Padre. O estudo identifica e compara as
alterações ocorridas na arquitetura e morfologia urbana antes e depois das emancipações. A
hipótese central é a de que as mudanças no patrimônio arquitetônico, com a inserção de
prédios construídos após as emancipações, não reforçam as identidades originais das
respectivas áreas urbanas.
Os conceitos de morfologia urbana relacionam-se diretamente à imagem da cidade e à leitura
de seus objetos arquitetônicos e urbanos, como os edifícios, praças, ruas, vazios e cheios das
edificações. Passa também por uma análise interdisciplinar, que relaciona a morfologia com a
arquitetura e o processo de composição espacial da cidade. Segundo Ismael Pescarini “a
arquitetura da cidade estrutura-se em relações ideológicas e culturais onde acontecem
diversos processos de troca e vivência urbanas”. 94 Para José Lamas95 a morfologia urbana é
uma disciplina que estuda o objeto, a forma urbana nas suas características exteriores, físicas,
e na sua evolução no tempo.
A autora Clarissa da Costa Moreira96 desenvolve o conceito de que a cidade
contemporânea é genérica, fruto da aceleração dos processos de produção do espaço urbano,
ou seja, com um “porvir”, mas também com algo que já existe.
Metodologia e resultados
93 Arquiteto e Urbanista, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural, Professor da
Universidade Católica de Pelotas. [email protected]
94 PESCARINI, Ismael Andrade. Revitalização de avenidas em São Paulo. Considerações
morfológicas. Vitruvius ano 3, vol. 9, abr. 2003, São Paulo SP, p. 65. Disponível em:
<www.vitruvius.com.br/arquitextos>.
95 LAMAS, José P. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbentrian, 1992, p. 38.
96 MOREIRA, Clarissa da Costa: A cidade contemporânea entre a tabula rasa e a preservação:
cenários para o porto do Rio de Janeiro. São Paulo. Editora UNESP, 2004. p. 66 - 75.
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A metodologia tem como primeiro passo a definição dos conjuntos arquitetônicos, um em
cada município. Após, inventaria, analisa e compara os prédios dos dois períodos, de antes e
de depois das emancipações.
O objetivo principal é analisar as mudanças ocorridas no conjunto urbano depois do processo
de emancipação. Parte-se da seguinte hipótese: as mudanças no patrimônio arquitetônico
construído após as emancipações não refletem as identidades originais das respectivas áreas
urbanas.
OS DOIS MOMENTOS – MUNICÍPIO DE MORRO REDONDO
Antes Depois
Conclusões
O resultado dessa análise comprovou a hipótese inicial da pesquisa, de que as novas
construções não compactuam com as características formais dos prédios de antes das
emancipações, ou seja, a identidade cultural local, aqui representada pelo patrimônio
arquitetônico, mudou a partir da emancipação dos municípios, com alterações nas áreas
urbanas com novas construções sem a preocupação com a morfologia do período anterior as
emancipações. Foram constatadas novas formas de telhados, inexistência de recuos e tipos de
materiais que divergem, ou seja, a harmonia do espaço urbano que proporciona a identidade
local foi alterada com os novos prédios.
APÓS AS EMANCIPAÇÕES - ANÁLISE CONJUNTA DOS QUATRO MUNICÍPIOS
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Forma do telhado - Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu e Arroio do Padre - RS.
Fonte: gráfico elaborado pelo autor com base no inventário, 2009.
Referências
LAMAS, José P. G. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa: Calouste Gulbentrian,
1992.
MOREIRA, Clarissa da Costa: A cidade contemporânea entre a tabula rasa e a preservação:
cenários para o porto do Rio de Janeiro. São Paulo. Editora UNESP, 2004.
PESCARINI, Ismael Andrade. Revitalização de Avenidas em São Paulo. Considerações
morfológicas. Vitruvius ano 3, vol. 9, abr. 2003, São Paulo SP, 2003. Disponível em:
<www.vitruvius.com.br.> Acesso em: mar. 2008.
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Residências Neocoloniais do Bairro de Nazaré (Belém-PA): um percurso guiado pela Etnografia de Rua.
Felipe Moreira Azevedo97
Cybelle Salvador Miranda 98
Palavras-chave: Arquitetura Neocolonial. Etnografia de Rua. Belém-PA.
Introdução
Na segunda metade de Abril de 2013, demos início à pesquisa de campo para o Mestrado do
Programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo – cuja dissertação se intitula
“Preservação da Arquitetura Neocolonial Brasileira: estudo arquitetônico de Residências
situadas no bairro de Nazaré, em Belém do Pará”. O presente artigo consiste na apresentação
dos dados obtidos do exercício de “Etnografia de rua” realizado na disciplina Método
Etnográfico para Pesquisa em Arquitetura, quando se fez o corte geográfico no Bairro de
Nazaré, em virtude de seu significativo acervo de residências Neocoloniais. Cada incursão em
campo revelou-se uma cena que se pode relacionar a Atos operísticos, de modo que optamos
por identificar os percursos como “O início do risvéglio: a loucura de Carmem” ou “O fechar do
ciclo: o medo de Falstaff”. Utilizamos como “guias” os autores Rocha & Eckert (2001), Novaes
(1998), Darbon (1998) e Geertz, (1957), que nos permitiram “flanar” pelas ruas a fim de
descobrir e analisar elementos, formas, bem como intervenções que, ao atualizar as
construções, resultam em perda de características distintivas do estilo. Neste caminhar,
também, foi possível perceber o espaço urbano ao qual os edifícios se integram, a coexistência
de arquitetura de diversos períodos e formas, a circulação de transeuntes, moradores e
veículos, o clima, além de mobiliário e equipamentos urbanos.
Metodologia e resultados
Propor o contrário do que fazemos, é justamente o objetivo da Etnografia de rua. Quando
estamos nela e a percorremos sem ter definido onde chegar, colocamos em prática nossos
sentidos para perceber o comportamento da cidade, das pessoas, do trânsito, além das
construções. Assim “a cidade acolhe seus passos, e ela passa a existir na existência deste que
vive (...)”. (ROCHA & ECKERT, 2001, p. 03).
Durante as caminhadas identificamos os exemplares, documentando por fotografias e
analisando suas características externas. Concebemos a imagem uma cópia da realidade
(NOVAES,1998), através da qual o olhar do arquiteto muda, pois através do método captamos
da cena aquilo que desejamos destacar, aprimorando o entendimento, como na figura 1, onde
há um exemplar tomado por vegetação e presença de sujidade advindas das intempéries,
demonstrando o descaso de alguns com nossos bens imóveis.
97Discente Mestrado em Arquitetura e Urbanismo do ITEC, UFPA, Belém, PA. E-mail:
98Professora Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do ITEC, UFPA, Belém, PA. E-mail:
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Dessa forma comprovamos, também, que há no bairro de Nazaré uma quantidade de
exemplares Neocoloniais ainda preservados, como mostra a figura 2, onde as pessoas
(moradores) procuram manter nas edificações a essência externa de sua organização.
Conclusões
Ao realizar esta etapa de etnografia de rua obtivemos que as casas Neocoloniais, no bairro de
Nazaré, projetadas em sua maioria para famílias de classe média (como as da Passagem
Joaquim Nabuco), adquirem um significado além do real, tendo a simbologia diante dos olhos
dos moradores e dos outros ainda
preservados.
Todavia, nas cinco incursões presenciamos prédios Neocoloniais que se comportam como um
cenário operístico, que relembra na memória deste observador/pesquisador fatos ou
momentos de óperas como Carmen, Romeu e Julieta e que se entrelaçavam aos obstáculos e
curiosidades vistos, assim como nas formas dos prédios Neocoloniais do Bairro, onde viu-se a
busca por funcionalidade, atendendo as necessidades humanas, mas também com um signo
moralizado que representasse a família que ali residia, conferindo valor de modelo cultural.
Referências
DARBON, Sébastien. O Etnólogo e suas imagens. In: SAMAIN, Etienne (org). O Fotográfico.
Editora HUCITEC, CNPq. São Paulo, 1998.
GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura. In A
Interpretação das Culturas. 1957.
NOVAES, Sylvia Caiuby. O uso da imagem na antropologia. In: SAMAIN, Etienne (org). O
Fotográfico. Editora HUCITEC, CNPq. São Paulo, 1998.
ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornelia. Etnografia de rua: estudo de antropologia
urbana. In: Iluminuras – Banco de imagens e efeitos visuais, PPGAS/UFRGS, 2001.
FIGURA 1 – Casa Neocolonial na Av. José Malcher.
Fonte: AZEVEDO, Felipe Moreira. 2013.
FIGURA 2 – Casa Neocolonial na Av. Alcindo Cacela.
Fonte: AZEVEDO, Felipe Moreira. 2013.
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Theatro Sete de Abril: A fachada e suas transformações visuais a partir do século XIX, aos
dias atuais na cidade de Pelotas, R.S.
Letícia Beck Fonseca99
Profa. Dra. Ana L. C. de Oliveira100
Palavras Chaves: Theatro Sete de Abril. Fachada. Transformações visuais. Século XIX.
Introdução
A pesquisa contempla o estudo das transformações ocorridas na fachada do prédio do Theatro
Sete de Abril desde sua construção em 1834, até os dias atuais. Esse teatro originou-se da
Sociedade Scênica que iniciou em 1831 e conquistou sua autonomia através da venda de
títulos que proporcionou a renda possível de manter a mostra de espetáculos na cidade de
Pelotas. Foi tombado pelo IPHAN, em 1979, municipalizado e, recentemente, foi contemplado
pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades históricas, para a restauração
O objetivo principal desse estudo é mostrar as intervenções sofridas pelo prédio. Analisar as
temáticas das linguagens estéticas pelas quais a fachada se modificou da origem em 1834 para
1916, bem como analisar as técnicas construtivas e os materiais utilizados nas várias
intervenções até os dias atuais, são os objetivos específicos.
A justificativa deste trabalho consiste em preservar o passado e o presente, resgatar a
conservação, divulgação, transmitir conhecimentos, acolher as manifestações contemporâneas
em suas funções de: coleta, estudo, documentação, armazenamento, exposição e ações
educacionais sempre com a conservação. Trabalhando com as informações no trabalho de
salvaguarda da memória.
Como referências bibliográficas serão feitas também relações com correntes de restauro e
historiadores, Viollet-le-Duc, César Brandi e Hanna Levy.
Para Viollet-le-Duc (1996) diz que nos restauros, existe uma regra dominante que é necessária
ter sempre presente: não substituir as partes retiradas senão por outras, executadas com
materiais melhores, mais duráveis e perfeitos. É necessário que, em seguida à operação
efetuada, o edifício restaurado passe ai futuro com uma duração maior do que a que ele teve
até então.
Metodologia e resultados
99 Arquiteta e Urbanista, Aluno do Curso de Patrimônio Cultural em Pós Graduação de Artes Visuais (CEARTE). (2013). E-mail: [email protected].
100Arquiteta e Urbanista, Professora Doutora da Ufpel, (Faurb) e do CEARTE. E-mail:
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A metodologia deverá, inicialmente, estabelecer a cronologia das transformações ocorridas
pelo prédio em material gráfico (fotografias, elevações e cortes de pele) e textual, contendo as
transformações ocorridas na fachada. Abordará também a contextualização das linguagens
formais, sobremaneira a luso-brasileira (1834) e a arte decô (1916).
Os resultados esperados serão a sistematização da cronologia das intervenções, bem como, a
análise dessas ações sobre a mudança da imagem do artefato construído. Com esses
resultados será possível a divulgação da história do prédio que permitirá futuros estudos e
ações de educação patrimonial. Espera-se, com isso, contribuir para a preservação da memória
do Teatro Sete de Abril que abarca em si a memória coletiva da história do teatro em Pelotas.
Conclusões
Com a realização deste trabalho, deseja-se demonstrar que o Theatro, sendo um prédio
tombado, não apenas desempenha o trabalho de salvaguardar testemunhos da história de
Pelotas, mas a preservação de sua memória possibilita investigar, documentar a vida da
população da região, através da sua existência.
Referências
BURDEN, Ernest. Dicionário ilustrado de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 367
p.
MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim. 100 Imagens da Arquitetura Pelotense. Pelotas: Pallotti,
1998. 240 p.
DUVAL, Paulo. “Apontamentos sobre o teatro no Rio Grande do Sul e síntese histórica do
Theatro Sete de Abril de Pelotas, que serviu de Quartel dos Farrapos”. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, n. 97, 38 p., 1°. Trim. 1945.
PELOTAS. GOVERNO MUNICIPAL. Fundação Teatro Sete de Abril. Pelotas. (Folhetos), 199-. 12
p.
SANTOS, Carlos Alberto Ávila. Palestra de Iconologia dos bens integrados as Fachadas Ecléticas
de Pelotas, 1870-1931. Pelotas, 2013.
SANTOS. Klécio. O Teatro do Imperador: Projeto da Quati Produções Editoriais, em parceria
com a Ato Produção Cultural e a Editora Libretos, 2012. 191p.
THEATRO SETE DE ABRIL, Site. Theatro Sete de Abril. Disponível em
<www.teatrosetedeabril.com.br/> Acesso em: 20 de abril de 2013.
PINIweb, Revista. Restauração de painel da fachada do Teatro Cultura Artística, é premiada
pelo Iphan. 24/Outubro/2012.
Disponívelem<http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/restauracao-da-fachada-
do-teatro-cultura-artistica-e-premiada-pelo-272545-1.asp> Acesso em: 24 de abril de 2013.
RESTAURO. Eugène Emannuel Viollet-le-Duc. Apresentação, Tradução e Comentários por
Odete Dourado. 3.ed.rev. e ampl. Salvador: Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. UFBA,
1996, 52P. (PRETEXTOS, Sérieb, Memórias, 1).
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SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 1997. 224 p.
Fontes: http://www.sinpro-rs.org.br/extra/mar98/cultu1.htm
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INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO URBANO: O CASO DA DISCIPLINA DE ATELIÊ DE ARQUITETURA,
URBANISMO E PAISAGISMO IX – CAU/UFSM
Leonora Romano101
Gabriela Quintana de Castro102
Maiara Huber103
Palavras-chave: Patrimônio. Intervenção. Revitalização. Autenticidade.
Introdução
Este artigo propõe apresentar a experiência e resultados da quarta edição da disciplina de
Ateliê de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo IX (DAU 9019), ocorrida no primeiro semestre
de 2013, vinculada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSM/RS. A disciplina, de caráter
prático, tem por objetivo conhecer, analisar e aplicar as variáveis intervenientes na atividade
de projetar e organizar o ambiente construído interior e exterior através do restauro e/ou
reciclagem de ambiente de interesse cultural.
Como referência para a construção de uma consciência crítica, fundamentada na teoria e na
história acerca do patrimônio cultural, são oferecidas ainda, em semestre antecedente, as
disciplinas de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo VIII (DAU 8048) e Técnicas
Retrospectivas (DAU 8050). O aparelhamento teórico das disciplinas conduz ao levantamento
físico cadastral da área, primeira etapa da disciplina prática, onde a atividade de reflexão e
análise percorrem as variáveis físicas, socioculturais e ambientais. Só após esta etapa é que se
elaboraram propostas de revitalização urbana para a área, obedecendo a suas quatro escalas:
cidade, bairro, logradouro e objeto.
Iniciou-se a exploração da área de estudo analisando a cidade como um todo, com o objetivo
de solucionar eventuais problemas relacionados ao trânsito e fluxos, assim como qualificação
de áreas verdes e proposição de zoneamentos, levando à elaboração de um Modelo Territorial
Municipal (Figura 1).
FIGURA 1 – Modelo Territorial Municipal para a cidade de Santa Maria/RS.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2013.
101 Me. PROPAR UFRGS, Departamento de Arquitetura e Urbanismo UFSM, [email protected].
102 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected].
103 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected].
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Vencida a escala cidade, a área de estudo seguinte designada para o trabalho compreendeu o
Bairro Centro, com enfoque para o Centro Histórico - escala logradouro - e por último,
trabalhou-se a pequena escala, objeto, sito à Rua Astrogildo de Azevedo, mais precisamente
ao pequeno conjunto habitacional de quatorze casas, construído para solucionar as demandas
de habitação que foram destinadas aos militares. O empreendimento era pertencente à
família do Dr. Astrogildo de Azevedo.
Metodologia e resultados
A partir de um diagnóstico realizado através de pesquisa, fotos e visitas in loco buscou-se
conhecer, identificar e registrar os problemas e potencialidades da área de intervenção, a fim
de subsidiar a elaboração do projeto. O diagnóstico compreende o registro gráfico e
fotográfico do recorte urbano do centro histórico, através de imagens e mapas esquemáticos,
os quais continham legendas de pavimentação, mobiliário urbano, vegetação, sinalização,
além de perfis dos leitos veiculares e skylines dos quarteirões. Através deste, problemas e
potencialidades locais foram verificados para que pudessem ser solucionados ou explorados.
Partindo da escala cidade, com a proposta de intervenções que valorizem o espaço urbano
como um todo, segue-se para a escala bairro, a qual visava explorar principalmente o bairro
centro (Figura 2), para que se pudesse avaliar conjuntos e edificações importantes para a
cidade.
FIGURA 2 – Delimitações e análises do Bairro Centro da cidade de Santa Maria/RS.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2013.
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Na sequência, foi realizado o levantamento físico da área de intervenção, com enfoque para a
escala logradouro, área delimitada pelas Ruas Astrogildo de Azevedo, Rua Tuiuti, Rua do
Acampamento e Rua Riachuelo, considerado um recinto de valor patrimonial no município.
Este mapeamento permitiu que fossem detectados desde problemas mais pontuais, como as
falhas na acessibilidade e mobilidade, até a falta de disciplinamento para a sinalização e
linguagem publicitária.
Identificados os problemas na escala logradouro (Figura 3), o exercício seguiu na direção da
escala objeto, que consistiu na análise da pavimentação de passeios e vias e no desenho de
mobiliário urbano.
FIGURA 3 – Definição da escala Logradouro e da escala Bairro a partir do Centro Histórico de Santa Maria/RS.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2013.
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A partir das etapas de análise anteriores, o exercício tem continuidade nas propostas
projetuais que perpassam cada uma das escalas analisadas, partindo da macro para a
microescala. Os resultados abrangem alterações no desenho urbano, através do tratamento de
passeios, leitos veiculares, disciplinamento de áreas verdes, proposição e padronização de
mobiliário urbano, entre outros.
Conclusões
O propósito deste trabalho foi o de apresentar estratégias de requalificação do desenho
urbano considerando as preexistências históricas ou de infraestruturas. Através dos estudos e
proposições realizados para a disciplina de Ateliê de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e
Paisagismo IX, com enfoque para o projeto urbanístico, foram propostas diretrizes que visam
qualificar o espaço urbano da cidade de Santa Maria, e que simultaneamente, levam o aluno a
uma profunda reflexão sobre espaço urbano, as possibilidades de intervenção no mesmo,
assim como sua responsabilidade para com a sociedade e com a paisagem cultural
consolidada.
Referências
ALMEIDA, L. G. B. Retratos e Memórias. Santa Maria: Pallotti, 2007. 92p.
BELÉM, J. História do município de Santa Maria 1797-1933. Santa Maria: Ed. UFSM, 2000.
BELTRÃO, R. Cronologia Histórica de Santa Maria. Canoas: Tipografia Editora La Salle, 1979.
CRUZ, A. A história da Viação Férrea em Santa Maria: Memórias de um aposentado. Santa
Maria: Pallotti, 2004. 272p.
FOLETTO, V. T.(org.). Apontamentos sobre a história da arquitetura de Santa Maria. Santa
Maria: Pallotti, 2008. 222p.
MARCHIORI, J. N. C.; MACHADO, P. F. dos S.; NOAL, V. A. Fº. Do céu de Santa Maria. Editora D
Marin, 2008. Santa Maria.
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MORALES, N. C. Santa Maria Memória: 1848 – 2008. Santa Maria: Pallotti, 2008. 280p.
RECHIA, A. A. Santa Maria: Panorama Histórico Cultura. Santa Maria: Associação
Santamariense de Letras, 2006. 336p.
SANTOS, N. R. Z. dos. Arborização de vias públicas: ambiente x vegetação. 1. ed. Porto Alegre:
Pallotti, 2001. v. 1. 135p.
SCHLEE, A. R. (2001) A Mancha Ferroviária de Santa Maria. In Lopes, C. E. J; Müller, S. R.
Seminário Território, Patrimônio e Memória. ICOMOS. Santa Maria, Editora UFSM.
SOUZA, R. F. M. A arquitetura histórica de Santa Maria como referencial de design de
superfície para marcadores de página. 2011. 115f. Dissertação (Monografia de Especialização)
- Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2011.
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Plantas arquitetônicas em papel translúcido industrial custodiadas por acervos patrimoniais.
Metodologia de Caracterização
Aline Abreu Migon dos Santos104
Margarete Regina Freitas Gonçalves105
Silvana de Fátima Bojanoski106
Palavras-chave: Conservação. Metodologia de caracterização. Plantas arquitetônicas. Papel
translúcido. Fiocruz.
Introdução
Esta comunicação tem por objetivo expor e discutir questões do projeto de dissertação
proposto para o título de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e
Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas, que tem como tema a conservação107
de plantas arquitetônicas em papel translúcido108 industrial encontradas em acervos
patrimoniais. O foco principal do projeto é mostrar a aplicabilidade e o entendimento da
metodologia de tratamento da conservadora norte americana Barbara Appelbaum na
caracterização das plantas arquitetônicas em papel translúcido industrial existentes no acervo
do Fundo Presidência da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz.
Barbara Appelbaum observa que, embora a formação do conservador seja baseada nos
materiais, os dilemas em um tratamento de conservação têm pouco a ver com os materiais.
Segundo Appelbaum (2010, p. xviii) um conservador bem treinado tem um grande repertório
de habilidades de tratamento, mas a pergunta mais difícil não é sobre o que podemos fazer,
mas o que devemos fazer. A autora argumenta ainda que as questões éticas enfrentadas por
conservadores são melhor respondidas quando se buscam as ciências sociais e humanas, as
quais são uma rica fonte para obter uma perspectiva entre a relação dos seres humanos com
os objetos. É a partir desse ponto de vista que a conservadora norte americana apresenta uma
104
Artista Plástica, Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural na Universidade Federal de Pelotas, [email protected].
105Engenheira Civil, Doutora em Engenharia de Materiais pela UFRGS, docente na UFpel,
106Historiadora, Mestrado em História pela Universidade Estadual de Maringá, docente na UFpel,
107Segundo o Comitê Internacional de Museus para Conservação (ICOM-CC), a terminologia conservação corresponde a “todas aquelas medidas ou ações que tenham como objetivo a salvaguarda do patrimônio cultural tangível, assegurando sua acessibilidade às gerações atuais e futuras. A conservação compreende a conservação preventiva, a conservação curativa e a restauração. Todas essas medidas e ações deverão respeitar o significado e as propriedades físicas do bem cultural em questão”.
108Popularmente conhecido como papel vegetal, no presente trabalho utilizar-se-á a terminologia papel translúcido, devido às características visuais, pois, embora seja possível visualizar o objeto que se deseja copiar, por exemplo, um desenho, essa atividade só acontece quando o papel é colocado bem próximo ao objeto, e, mesmo assim, não se alcança a transparência absoluta. Ao ser afastado, esse papel apresenta uma característica de translucidez e não de transparência.
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metodologia sistemática projetada para atender de uma forma explícita todas as questões
relevantes para a tomada de decisão em um tratamento de conservação.
Há algum tempo a tomada de decisão é um dos pontos centrais da epistemologia da
conservação-restauração. Medina-González (2011, p.5) caracteriza o profissional conservador-
restaurador pela sua capacidade de processar informações, identificar e analisar um problema,
aplicar a sua experiência e conhecimento, e, com base nisso, determinar um curso de ação.
Portanto, a tomada de decisão é composta pela relação entre teoria, metodologia e prática.
Nesse sentido Oliveira (2011, p. 72) afirma que decisão é a ação tomada com base na avaliação
de informações, ressaltando ainda a importância em considerar que para toda ação existe uma
reação, e, por consequência, a reação é a base da decisão.
Logo, sendo o conservador-restaurador um dos responsáveis pela preservação do patrimônio
cultural, este deve pensar profundamente sobre todo o processo de realização de um
tratamento, incluindo não apenas os procedimentos técnicos, mas, como na metodologia
proposta de Barbara Appelbaum, também a filosofia subjacente, suposições, e juízos de valor,
presentes e futuros, inerentes ao objeto, que podem contribuir em cada decisão durante o
tratamento. Mais que salvaguarda de resquícios do passado, a proteção do patrimônio cultural
é um trabalho de reapropriação, restituição e reabilitação do próprio presente, com vistas a
um futuro de relações sociais mais justas. Por conseguinte, para elaborar uma proposta de
tratamento de conservação, percebe-se uma necessidade inicial em entender os valores
materiais e imateriais109 do objeto que será tratado.
Metodologia e resultados
Tendo como estudo de caso o acervo de plantas arquitetônicas em papel translúcido industrial
do Fundo Presidência da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, Seção Diretoria da Administração
do Campus, que se refere à formação do campus de Manguinhos e de outros dois institutos da
Fiocruz, aplicou-se a metodologia seguiu o que Appelbaum identificada como "grade de
caracterização". A autora enfatiza que uma caracterização completa do objeto vai além de
apenas uma descrição física e inclui informações sobre os aspectos materiais e não-materiais
(intangíveis) de um objeto. Para desenvolver o trabalho foram feitos estudos bibliográficos,
entrevistas com funcionários, exames físicos (exames organolépticos e microscopia digital) e
contato com profissionais da área de conservação de papel.
Considerando que no Brasil a conservação desse tipo de papel especial110 ainda é pouco
divulgada, provavelmente, por ele não ser fabricado no país, além do fato das plantas de
arquitetura em papel translúcido industrial serem de difícil conservação, a aplicação da
metodologia proposta foi de grande valia, pois forneceu um método sistemático para garantir
que questões intelectuais, históricas, culturais e éticas fossem cuidadosamente consideradas e
109 Aqui para o tratamento de conservação não se busca apenas exames físicos, mas também uma investigação sobre os valores do objeto para quem o custodia e outras partes interessadas, baseando-se em uma investigação de informações culturais e sociais.
110 Papéis especiais são fabricados para fins específicos e necessitam de alguns componentes ou processo de fabricação especial para atingir sua finalidade. Alguns exemplos são: papel para cigarro, o papel carbono e papéis para desenhos.
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discutidas com atores envolvidos. O resultado é um diálogo entre: Arquitetura, Arquivologia,
Patrimônio e História.
Conclusões
Esse estudo permitiu verificar, através da importância dos desenhos das plantas arquitetônicas
em papel translúcido industrial na história da Fiocruz e da Arquitetura brasileira, que é possível
escrever sobre arquitetura tendo como base apenas o edifício, mas não é possível escrever
sobre a história da arquitetura sem consultar os desenhos arquitetônicos.
Referências
APPELBAUM, Bárbara. Conservation Treatment Methodology. Oxford: Butterworth-
Heinemann/Elsevier, 2007
MEDINA-GONZÁLEZ, Isabel. Hacia un nuevo centro de gravedad:el proceso de toma de
decisiones en la definición y formación de conservadores-restauradores profesionales.
Conserva, n. 16, p.5-15, 2011.
OLIVEIRA, Djalma, P.R. Sistemas, organização e métodos: uma abordagem gerencial. 15. ed.
São Paulo: Atlas, 2005.
VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoría Contmporánea de la Restauración. Madrid: Editorial Síntese,
2004.
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Estudos acadêmicos de reconfiguração do skyline original das antigas “14 casas” da Rua Astrogildo de
Azevedo, Santa Maria/RS
Maurício Martini111
Ana Júlia Scortegana Socal112
Diego Dilly Both113
Filipe Bassan Marinho Maciel114
Leonora Romano 115
Palavras-chave: Reconfiguração. Skyline original. 14 casas.
Introdução
O trabalho a seguir é resultado de um estudo acadêmico realizado na disciplina de Ateliê de
Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo IX, do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), durante o primeiro semestre de 2013. O tema da disciplina
encaminha-se para intervenções propriamente ditas em edificações de identificado valor
cultural, além de espaços abertos e verdes para uso público. O objeto de estudo consiste no
conjunto de sobrados em fita remanescentes da Rua Astrogildo Cézar de Azevedo, no Centro
Histórico de Santa Maria. Os sobrados possuem importante valor cultural para a cidade,
devido à personagem de seu empreendedor, Dr. Astrogildo Cézar de Azevedo, médico, o qual
empresta seu nome à rua onde se localiza o conjunto e ao principal hospital da cidade. O
conjunto das casas conferiu valor simbólico à paisagem urbana local, pelo menos até o final do
século XX, quando parte deste conjunto foi demolida (restam apenas sete de um conjunto de
quatorze sobrados), mutilada ou descaracterizada. O cenário local que se apresenta é
diversificado, provavelmente devido à crescente expansão e exploração imobiliária, dando
lugar a edificações de diferentes tipologias, volumetrias e proporcionalidades, subtraindo a
ideia de conjunto e depreciando a paisagem urbana preexistente.
Assim, o objetivo primeiro do trabalho foi justamente a liberação destas edificações
descaracterizantes, a reconfiguração do conjunto de quatorze casas e a devolução do skyline
original. O objetivo segundo diz respeito à apropriação de espaço livre e verde no meio do
quarteirão - como suporte à revitalização do conjunto preexistente - visando à melhoria
ambiental local e do uso e fruição do espaço ao imprimir uma nova unidade ao conjunto.
Metodologia e Resultados
111 Autor/Apresentador. Acadêmico de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM,
112 Co-autor. Acadêmica de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected]
113 Co-autor. Acadêmico de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected]
114 Co-autor. Acadêmico de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected]
115 Orientadora. Arquiteta e Urbanista UFSM, Me. Teoria, História e Crítica PROPAR/ UFRGS, Docente DAU/ UFSM
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O trabalho compreendeu duas etapas distintas: o registro material do bem cultural imóvel e
posterior elaboração das propostas de intervenções arquitetônicas. O registro foi feito através
de pesquisa documental e levantamento cadastral. A primeira foi realizada em acervos
públicos e privados, compilando fotografias e plantas executivas de reformas realizadas.
Complementando a pesquisa documental, a neta de Astrogildo de Azevedo, Marina de
Azevedo Klumb Dallasta forneceu um relato memorial com informações relevantes da época
de construção e do processo de ocupação das casas. O levantamento cadastral consistiu na
tomada das medidas planimétricas e altimétricas in loco, para elaboração de uma base de
desenhos técnicos para a realização da etapa de projeto.
Como resultados, ao final da disciplina, foram elaboradas vinte e nove propostas individuais
diferentes, das quais quatro serão apresentadas, em maior detalhamento, no artigo
pretendido. Todas as propostas seguiram a diretriz comum de reconfigurar a ambiência do
conjunto com a inserção de sete novas edificações, cabendo aos alunos a definição dos usos
das casas e do interior do quarteirão.
Conclusões
As cidades são dinâmicas, permanecem em constante mutação através da vivência das pessoas
que nela passam. Devido a esta constante dinâmica, edificações de identificado valor
patrimonial, representativas da cultura e história da cidade acabam sendo desvalorizadas em
troca de edificações descaracterizantes a paisagem urbana. Nesse contexto que o trabalho
realizado na disciplina ganha importância. Ao estabelecer como eixo temático o Patrimônio
Cultural, foi possível qualificar os acadêmicos – através do processo metodológico de pesquisa
e levantamento e prática projetual – para a realização de projetos que visassem à manutenção
da ambiência pré-existente.
Nesse contexto, os objetivos do trabalho realizado na disciplina foram atingidos. Embora as
propostas para a área tivessem usos diferenciados, proporcionando diferentes tipos de
arquiteturas e conceitos, todas seguiram diretrizes semelhantes como conservar edificações
preexistentes investindo em intervenções que primem pelo princípio da reversibilidade;
preservar o patrimônio histórico e cultural da cidade e qualificar o meio do quarteirão, seja na
abertura de vias, proporcionando vivências, seja na manutenção da vegetação existente,
proporcionando um microclima diferenciado no espaço de intervenção.
Referências
DALLASTA. M. de A. K. Sobre a construção das 14 casas. Santa Maria, 17 de abril de 2013.
Relato memorial.
MARCHIORI, J. N C; MACHADO, P. F. dos S; FILHO, V. A. N. (org.) Do céu de Santa Maria. Santa
Maria: D Marin, 2008. 253p.
SOUZA, R. F. M. A arquitetura histórica de Santa Maria como referencial de design de
superfície para marcadores de página. 2011. 115f. Dissertação (Monografia de especialização)
– Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
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VARGAS, H. C; CASTILHO, A. L. H. de. (org.) Intervenções em centros urbanos: objetivos,
estratégias e resultados. 2. ed. Barueri: Manole, 2009. 289p.
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Patrimônio Histórico e Acessibilidade: a busca do equilíbrio entre o respeito pela memória e o
respeito pelas pessoas
Camila Warpechowski116
Palavras-chave: Acessibilidade. Monumento Histórico. Patrimônio Cultural.
Introdução
Os conceitos de patrimônio histórico e acessibilidade sofreram modificações ao longo do
tempo, bem como a evolução da legislação pertinente a esses temas. A preservação do
patrimônio é necessária para a valorização da identidade de um grupo humano, e o
reconhecimento do valor desse bem patrimonial é garantido através do uso que a comunidade
faz dele.
Quanto maior o conhecimento de uma comunidade sobre sua história e seus bens culturais,
mais estes serão respeitados e protegidos. A participação popular tem um papel importante na
preservação do patrimônio cultural, que deve ser incentivada pelo poder público. Para isso é
necessário buscar o acesso universal ao patrimônio edificado para que um maior número de
pessoas possa usufruí-lo e apreciá-lo.
São muitas as dificuldades encontradas na revitalização de edificações e sítios históricos, assim
como em seu entorno e acessos. Os monumentos históricos não foram originalmente
projetados para receber pessoas com necessidades especiais (PNE) e com mobilidade reduzida
(PMR), e principalmente quando tem seu uso reciclado, necessitam de adaptações que devem
incluir os parâmetros de acessibilidade. Nesta pesquisa são abordados os aspectos de inclusão
relacionados com questões arquitetônicas, relacionados com a acessibilidade espacial.
Metodologia e resultados
A metodologia utilizada consistiu basicamente no levantamento, reflexão e análise de dados
coletados em bibliografia existente sobre o tema e no estabelecimento de um diagnóstico de
um estudo de caso a fim de subsidiar a proposta das adequações possíveis em uma edificação
histórica.
A análise técnica da edificação foi feita com levantamentos fotográficos e vistorias, nas quais
foram realizadas medições e identificadas as intervenções necessárias bem como as
possibilidades de adequação. Foram utilizadas como parâmetros a ABNT NBR 9050/2004,
legislação específica vigente e bibliografia sobre patrimônio cultural e acessibilidade.
Através do relato de um estudo de caso em uma edificação histórica tombada, o Palácio
Piratini, podemos exemplificar o que pode ser desenvolvido em termos de projeto de
adequação à acessibilidade, elucidando os requisitos mínimos para sua adaptação.
116 Arquiteta e Urbanista, Pós graduanda em Especialização em Restauração e Reabilitação do
Patrimônio Edificado – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
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Para o equilíbrio dos requisitos de conservação e acessibilidade são necessárias soluções
específicas para cada local. Devem ser evitadas alterações que afetem o caráter especial do
edifício e principalmente os que motivaram a sua proteção. As alterações que forem feitas
devem ser reversíveis e com materiais contemporâneos e sempre buscar medidas que
minimizem essas alterações. Conforme Art. 9° da Carta de Veneza “...todo o trabalho de
complemento que se reconheça indispensável por razões estéticas ou técnicas depende da
composição arquitetônica e possuirá a marca do nosso tempo.”
Os ambientes adequados necessitam de boa iluminação e acústica, com ruído de fundo
reduzido para facilitar a comunicação. As cores utilizadas, principalmente nos obstáculos,
devem ser contrastantes, os ambientes bem sinalizados e desobstruídos.
Os espaços devem ser planejados a receber pessoas com dificuldades de locomoção, sensoriais
e cognitivas. Os projetos de adequação devem dar prioridade à entrada e entorno da
edificação, como estacionamento e recepção; localização e orientação dos usuários; saída de
emergência segura, bem como saúde e segurança dos usuários; e instalação de sanitários
acessíveis.
Conclusões
É importante demonstrar que a inclusão social em bens acautelados é possível respeitando a
legislação de proteção e conservação, bem como de acessibilidade. A discussão sobre o tema é
importante para assegurar a qualidade dos projetos de readequação inclusiva e fomentar a
aplicação da legislação pertinente.
As diretrizes gerais apresentadas no texto, bem como as sugestões de adaptação da edificação
do estudo de caso apresentado, podem auxiliar em outros projetos de adaptações de
edificações históricas, demonstrando que é possível cumprir tanto as legislações existentes de
acessibilidade quanto de proteção do patrimônio edificado.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 9050: Acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004. 104p.
BRASIL. Senado Federal. Secretaria-Geral da Mesa. Constituição da República Federativa do
Brasil, 1988. Disponível em :
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 19 ago.
2012.
BRASIL. Senado Federal. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Brasília, DF: Senado,
2008. Disponível em:
<http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm> Acesso em: 28
out. 2012.
BRASIL. Decreto-lei n.° 25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil: Poder
Legislativo, Rio de Janeiro, RJ, 6 dezembro 1937. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm> Acessado em: 14 out. 2012.
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BRASIL. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2000.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/>. Acesso
em: 12 ago. 2012.
BRASIL. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010.
Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/apps/mapa/>. Acesso em: 12 ago. 2012.
BRASIL. Lei n.° 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios
básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou
mobilidade reduzida. Diário Oficial da União: República Federativa do Brasil: Poder Legislativo,
Brasília, DF, 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm>
Acessado em: 12 ago. 2012.
CAMBIAGHI, Silvana. Desenho universal: métodos e técnicas para arquitetos e urbanistas. São
Paulo: SENAC, 2007. 269p.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. 3. Ed – São Paulo: Estação Liberdade: UNESP,
2006. 282p.
ICOMOS. Carta de Veneza. In: II Congresso dos Arquitetos e Técnicos dos Monumentos
Históricos, Veneza, 1966. Disponível em:
<http://www.icomos.org.br/cartas/Carta_de_Veneza_1964.pdf> Acessado em: 28 jul. 2012.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO NACIONAL. Instrução normativa n.° 1, de 25 de
novembro de 2003. Dispõe sobre a acessibilidade aos bens culturais imóveis acautelados em
nível federal, e outras categorias, conforme especifica. Brasília, DF. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=355> Acessado em: 28 jul. 2012.
PORTO ALEGRE. Lei Complementar n.° 678, de 22 de agosto de 2011. Institui o Plano Diretor
de Acessibilidade de Porto Alegre. Diário Oficial de Porto Alegre: Porto Alegre: Poder
Legislativo, Porto Alegre, RS, 24 agosto 2011. Disponível em:
<http://www2.portoalegre.rs.gov.br/cgi-bin/nph-
brs?s1=000031885.DOCN.&l=20&u=%2Fnetahtml%2Fsirel%2Fsimples.html&p=1&r=1&f=G&d=
atos&SECT1=TEXT> Acessado em: 21 ago. 2012.
RIO GRANDE DO SUL . Casa Civil – Assessoria de Arquitetura. Secretaria de Estado da Cultura.
Assessoria de Comunicação Social. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado.
Palácio Piratini: 85 anos; Patrimônio da arquitetura, cenário de história e política /
organização de Flávia Boni Licht; Luiz Antonio Custódio...[et al.]. – 2.ed. rev. – Porto Alegre:
s.ed., 2008.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Bens culturais e proteção jurídica. 2. Ed – Porto
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THE COUNCIL FOR MUSEUMS, ARCHIVES AND LIBRARIES. Acessibilidade/Resource, São Paulo:
Editora Universidade de São Paulo: [Fundação] Vitae, (Série Museologia, 8), 2005. 118p.
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O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da arquitetura popular paraense
Laura Caroline de Carvalho da Costa117
Cybelle Salvador Miranda118
Palavras-chave: Arquitetura popular, raio que o parta, memória, valor afetivo.
Introdução
O artigo apresenta os principais resultados obtidos através da realização do Workshop “O Raio
que o parta na arquitetura modernista paraense” com os alunos da disciplina Estética das
Artes Plásticas, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. O
objetivo da atividade consistiu em voltar o olhar da comunidade acadêmica para a arquitetura
popular paraense, em especial o que se convencionou chamar de “Raio que o parta”. Esse
fenômeno difundiu-se de maneira ostensiva em Belém, como comprovam pesquisas recentes
sobre o assunto (BRAGA, 1995; MIRANDA & CARVALHO, 2009; CARDOSO, 2012), além de
municípios do interior do Estado.
Metodologia e resultados
Os alunos dividiram-se em equipes para analisar exemplares do fenômeno da arquitetura
popular modernista denominado “Raio que o parta” em cinco bairros de Belém: Guamá,
Pedreira, Telégrafo, Cremação e Jurunas, fazendo uso do método etnográfico - elaboração de
diário de campo, registro fotográfico e entrevistas (GEERTZ, 1978; OLIVEIRA, 2000). Ao final da
pesquisa, foi realizado um seminário em que cada grupo apresentou os dados de seu
respectivo bairro.
Nas áreas estudadas, observou-se que muitas residências perderam alguns dos traços
característicos desse estilo, através de reformas empregadas pelo proprietário/morador. Em
obras que permanecem sem alterações significativas, notaram-se duas posturas: a de
manutenção por gosto (preservação da memória familiar) ou por falta de recursos
econômicos.
117 Designer, Arquiteta e Urbanista, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal do Pará, [email protected].
118 Arquiteta e Urbanista, Doutora em Antropologia, Universidade Federal do Pará,
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FIGURA 1 – Residência “raio que o parta” no bairro da Cremação
Fonte: Equipe Cremação (Natanael Cuimar, Emerson Cunha, Divan Rodrigues e Elidelson Souza)
FIGURA 2 – Residência “raio que o parta” no bairro do Telégrafo
Fonte: Equipe Telégrafo (Abílio Modesto, Ana Paula Vasconcelos, Barbara Salgado e Julia Ladeira)
Conclusões
Os alunos levantaram considerações pertinentes sobre a postura do morador em relação à
residência, no que diz respeito ao valor afetivo atribuído por este – quando opta por manter os
traços originais – e ao desejo de modernização, quando realiza ou mostra interesse em alterar
a edificação. Essas conclusões reforçam as idéias propostas por Riegl (2004), quando fala do
valor absoluto e valor relativo: para ele o termo “valor” é tratado como um evento histórico,
não permanente.
Como sugestões para minimizar o apagamento do estilo, os discentes propuseram um plano
de educação patrimonial junto à população, conscientizando sobre a importância do estilo
como elemento formador de identidade cultural do estado. A pesquisa sobre o tema
despertou nos discentes o interesse pela arquitetura popular do “raio que o parta” e sua
manutenção como forma de preservar a identidade arquitetônica de Belém.
Referências
CARVALHO, Ronaldo Marques de; MIRANDA, Cybelle Salvador. Dos mosaicos às curvas: a
estética modernista na Arquitetura residencial de Belém. In: Arquitextos, São Paulo, 10.112,
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Vitruvius, set 2009. Disponível em <http://vitruvius.es/revistas/read/arquitextos/10.112/25>.
Acesso em 15 out. 2012.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
OLIVEIRA, Roberto C. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: O trabalho do
antropólogo. São Paulo: Unesp, 2000.
RIEGL, Aloïs. O Culto dos monumentos: sua essência e sua gênese. Goiânia: Editora da
Universidade Católica de Goiás, 2006.
SANTOS, Ivana B. T. Raio-que-o-parta – Um fragmento entre cultura e sociedade. Monografia
(Especialização). Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará. Belém,
1995.
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PIRENÓPOLIS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE PATRIMÔNIO, MUSEU E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Ingrid Orlandi Meira119
Natasha Mejia Buarque120
Palavras-chave: Pirenópolis. Cidade-Museu. Restauração. Revitalização. Desenvolvimento
sustentável. Patrimônio edificado.
Introdução
Pirenópolis é detentora de um rico patrimônio cultural, de natureza material e imaterial, tendo
bens culturais edificados tombados pelo IPHAN isoladamente (Igreja Matriz de Nossa Senhora
do Rosário, Fazenda Babilônia) ou em conjunto (conjunto arquitetônico, urbanístico e
paisagístico – centro histórico); registrado no Livro das Celebrações do IPHAN como a Festa do
Divino Espírito Santo; e também áreas de preservação ambiental como o Parque Estadual da
Serra dos Pireneus e a Área de Proteção Ambiental dos Pireneus. O propósito desta pesquisa
(Fase 1) é investigar as contribuições que a Museologia pode trazer para a preservação do
patrimônio cultural de Pirenópolis, a partir de estudos de caso.
Pirenópolis foi objeto de visita técnica, atividade programada para o segundo semestre letivo
de 2012, das disciplinas Museologia e Comunicação 1 e Museologia 2, do Curso de Museologia
da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília - UnB. Como resultado
dessa atividade, surgiu o Projeto de Iniciação Científica " Pirenópolis: um estudo de caso sobre
patrimônio, museu e desenvolvimento sustentável", orientado pela Prof.ª Dr.ª Celina
Kuniyoshi, que tem por objetivo realizar um estudo de caso sobre patrimônio, museu e
desenvolvimento sustentável, com foco na cidade de Pirenópolis/GO. Neste presente trabalho
será apresentada a primeira fase do Projeto, assim como os resultados obtidos até então.
Metodologia e resultados
O trabalho foi dividido em duas análises (planos de trabalho), em locais distintos da cidade de
Pirenópolis:
Análise 01: Restauração da Igreja do Bonfim e seu impacto sócio-cultural em Pirenópolis/GO:
um estudo de caso
Este plano de trabalho contempla a análise da restauração de um bem cultural isolado: a Igreja
de Nosso Senhor do Bonfim. Mediante um estudo aprofundado das Cartas Patrimoniais e das
técnicas retrospectivas, busca-se compreender as características peculiares da igreja e
119 Graduada em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário de Brasília - UniCEUB,
estudante de graduação em Museologia na Universidade de Brasília - UnB. e-mail:
120 Estudante de Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário de Brasília - UniCEUB,
estudante de Graduação em Museologia na Universidade de Brasília - UnB. e-mail:
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acompanhar, documentar e analisar a restauração atual e as anteriores. Investiga a relação da
comunidade local com a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, bem como as representações
feitas pelos moradores sobre o bem cultural e as políticas de preservação do patrimônio
cultural em Pirenópolis, e consequentemente, os impactos sócio-culturais na cidade
decorrentes do tombamento pelo IPHAN e das intervenções de preservação do patrimônio
cultural pirenopolino.
Análise 02: Impactos sócio-culturais decorrentes do projeto de Revitalização da Orla Rio das
Almas, Pirenópolis/GO: um estudo de caso
Neste plano de trabalho é contemplada a análise da revitalização de uma área urbana (orla do
Rio das Almas – Projeto Beira-Rio). Investiga-se os estudos de impacto de vizinhança e
consulta-se a comunidade local e os especialistas responsáveis pela obra. Examina-se as
relações entre revitalização de extensa área urbana (tendo como parâmetros as questões
ambientais, as obras de paisagismo, os equipamentos urbanos para turismo e lazer) e o
turismo local, ecomuseu, museu de território, museu integral, chancela de paisagem cultural e
desenvolvimento sustentável.
Metodologia utilizada no projeto:
Execução de revisão bibliográfica e de levantamentos bibliográficos e de fontes (textuais,
iconográficas, vídeos, filmes, processos/estudos de tombamento, projetos de restauração
e revitalização, leis e decretos, cartas de preservação e outros) em arquivos, bibliotecas,
museus e centros de documentação de Brasília/DF, Pirenópolis/GO;
Visitas técnicas à cidade, ao canteiro de obras de restauração em andamento, às áreas
previstas para revitalização do Rio das Almas e respectivas documentações fotográficas,
iconográficas, sonoras e em vídeo;
Aplicação de questionários, entrevistas e gravação de depoimentos;
Elaboração de quadros cronológicos relativos às intervenções de preservação no município
e de seus impactos sócio-culturais;
Criação de base de dados informatizada e cadastramento de informações relevantes;
Redação de relatório final;
Conclusões
O projeto tem previsão de duração de um ano e encontra-se em sua fase inicial. Apesar disso
já podemos observar alguns resultados relevantes para o projeto.
Foram feitas visitas técnicas à cidade de Pirenópolis e aos locais específicos de cada um dos
planos de trabalho já citados. Durante essas visitas foram feitos os levantamentos fotográficos
das áreas em questão assim como a compatibilização dos projetos originais com os que foram
executados (principalmente no projeto de revitalização da Orla do Rio das Almas) como
também foi iniciada a elaboração dos questionários para analisar a percepção dos moradores
locais em relação ao tombamento do centro histórico cidade de Pirenópolis.
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Ao final do projeto esperamos melhorar a percepção e a integração da comunidade nos
trabalhos e intervenções referentes ao patrimônio cultural de Pirenópolis e buscamos como
resultado final a valorização e preservação, por parte da comunidade local, de seu patrimônio
cultural.
Referências
ALMEIDA, Miriam de Lourdes. A cidade de Pirenópolis e o impacto do tombamento.
Dissertação (Mestrado)—Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Brasília, 2006. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10482/3493>. Acesso em: 30 abr. 2013.
BANDUCCI JR. Álvaro. Turismo e antropologia no Brasil: estudo preliminar. Turismo e
identidade local: uma visão antropológica. Campinas, SP: Papirus, 2001, p. 21-47
BARBUY, Heloisa. A conformação dos ecomuseus: elementos para compreensão e análise.
Anais do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, v. 3, p. 205-236, 1999.
BRASIL. Ministério do Turismo. Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. Departamento de
Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico.Coordenação Geral de Regionalização. Os
aspectos da sustentabilidade turística. In: ___. Programa de Regionalização do Turismo -
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CARDOSO, Lourenço. Observando fotografias, enxergando discursos: narrativas fotográficas
sobre a cidade de Pirenópolis (início do século XX e primórdios do século XXI). 2009. 163 f.
Dissertação (Mestrado em Comunicação)-Universidade de Brasília, Brasília, 2009. Disponível
em: <http://hdl.handle.net/10482/5252>. Acesso em: 30 abr. 2013.
CASTRO, Ana Lucia Sianes de. Museu e Turismo: uma relação delicada. In: ENANCIB, 8., 2007,
Salvador. 2007. 1 CD-ROM.
CORRÊA, Alexandre Fernandes. Metamorfoses conceituais do Museu de Magia Negra: primeiro
patrimônio etnográfico do Brasil. In: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA.
Antropologia e patrimônio cultural: diálogos e desafios contemporâneos. Blumenau: Nova
Letra, 2007, p. 287-318.
CURY, Isabelle. Cartas patrimoniais. Rio de Janeiro: IPHAN, MinC, 2000.
GONZÁLEZ, Lucía. Los museos como herramientas de transformación social del territorio. El
caso del Museo de Antioquia. Medellin – Colombia. In: NASCIMENTO JUNIOR, José do (org.).
Economia de Museus. Brasília: MinC/IBRAM, 2010, p. 53-72.
IPHAN, Processo n.° 240-T-41.
IPHAN, Processo n.° 1181-T-41.
KIMURA, Simone. Vestígios da imigração japonesa no Brasil: um patrimônio possível. Bens
tombados pelo IPHAN entre 1985 a 2010. 2013. 118f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e
Urbanismo)-Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Brasília, 2013.
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Unidade de Conservação: o caso da Estrada Parque dos Pireneus (GO). In: ENCONTRO DA
ANPPAS, 3, Brasília, 2006. Anais eletrônicos... Brasília, UnB, 2006. Disponível em
<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro3/arquivos/TA452-03032006-
124319.DOC>. Acesso em: 10 maio 2013.
NASCIMENTO JÚNIOR, José do. Museus como agentes de mudança social e desenvolvimento.
IN: Musas. Revista Brasileira de Museus e Museologia. Rio de Janeiro, IBRAM, ano V, n. 4 , p.
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NASCIMENTO JÚNIOR, José do; COLNAGO, Ena. Economia da cultura. In: NASCIMENTO
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PAIVA, Andréa Lúcia da Silva. Museu dos escravos, museu da abolição: o museu do negro e a
arte de colecionar para patrimoniar. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário de Souza; SANTOS,
Myrian Sepúlveda dos (Orgs.). Museus, coleções e patrimônios: narrativas polifônicas. Rio de
Janeiro: Garamond, MinC/IPHAN/DEMU, 2007, p. 203-228.
RAMÍREZ, Juan Antonio. Cómo escribir sobre arte y arquitectura. 2. ed. Barcelona: Ediciones
del Serbal, 1999.
SANSI-ROCA, Roger. De armas do fetichismo a patrimônio cultural: as transformações do valor
museográfico do candomblé em Salvador da Bahia no século XX. In: ABREU, Regina; CHAGAS,
Mário de Souza; SANTOS, Myrian Sepúlveda dos (Orgs.). Museus, coleções e patrimônios:
narrativas polifônicas. Rio de Janeiro: Garamond, MinC/IPHAN/DEMU, 2007, p. 95-112.
SITE DO IPHAN: Principal: Patrimônio Cultural: Patrimônio Imaterial. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan>.
Acesso em: 9 maio 2013, 20:32h.
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CONFLITOS TEÓRICO-PRÁTICOS NA RESTAURAÇÃO DO GRANDE HOTEL DE PELOTAS
Karen Velleda Caldas121
Carlos Alberto Avila Santos122
Palavras-chave: Restauração. Teoria Contemporânea da Restauração. Patrimônio. Grande
Hotel de Pelotas. Tombamento
Introdução
Pelotas reúne inúmeras edificações inventariadas pela Secretaria Municipal de Cultura,
emblemas do apogeu econômico do ciclo do charque e da atividade industrial que se
desenvolveu durante a segunda metade do século XIX. É nesse contexto que se insere a
construção do Grande Hotel enquanto expressão do “espírito progressista da sociedade
pelotense” (SANTOS: 2007). O imponente prédio em estilo eclético, construído entre os anos
de 1925 e 1928, foi tombado pela municipalidade em 1986 e posteriormente foi alvo de duas
restaurações através do Programa Monumenta.
A primeira delas, executada em 2004, compreendeu intervenção na fachada e cobertura. A
segunda, que readequou o prédio como Hotel-Escola, foi dividida em duas etapas. A primeira,
iniciada em 2009, envolveu a remodelação da estrutura e da redistribuição interna. A segunda,
ainda não executada, realizará a finalização e os acabamentos do interior do prédio.
Alvo de críticas e debates, a segunda restauração é acusada de haver descaracterizado o
prédio internamente e de ter ferido a legislação que regulamenta o tombamento: foram
eliminadas paredes de estuque dos antigos quartos e, devido à nova circulação interna, foi
elevada a cobertura zenital do hall, alterando o espaço do pátio interno do edifício.
Após, fruto de parceria firmada entre a Prefeitura e a Universidade Federal de Pelotas, o
prédio tornou-se sede de uma graduação em Hotelaria. A análise deste estudo prevê
comparação do espaço do pátio interno antes e depois das intervenções, explorando a
dialética entre as teorias de restauro e a prática realizada nas referidas intervenções.
Pretende-se demonstrar que as restaurações resultam de tomadas de decisão não só técnicas,
mas prescindíveis de ações fundamentadas em conceitos teóricos consistentes e acordes com
a contemporaneidade, pois que estão diretamente conectadas com a memória que se deseja
manter.
A discussão está apoiada nos conceitos de Cesare Brandi (1963) e de Salvador Muñoz Viñas
(2004), nos critérios da mínima intervenção, da distinguibilidade e da retratabilidade.
121 Conservadora-Restauradora, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Memória
Social e Patrimônio Cultural da UFPel, Universidade Federal de Pelotas,
122 Doutor em Arquitetura e Urbanismo, área Conservação e Restauro, pela Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, professor adjunto da Universidade
Federal de Pelotas, Coordenador da Pós-Graduação Especialização em Artes do Centro de
Artes/UFPel, [email protected]
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Conjuntamente representam aspectos balizadores que deveriam determinar, a priori, as
escolhas das ações interventivas. Parte-se da premissa de que tais princípios são plenamente
aplicáveis, além de necessários para uma preservação adequada que efetive a fruição aos
grupos de pertencimento atuais e futuros. No caso em tela, trata-se de prédio tombado em
nível municipal e que, apesar da prerrogativa legal, o mesmo poder que lhe atribuiu significado
patrimonial permitiu intervenções que descaracterizaram o edifício de maneira irreversível. A
análise se desenvolve confrontando o antes e o depois das intervenções à luz dos conceitos de
Brandi e Muñoz Viñas, em relação a legislação pertinente, especialmente quanto à lei de
tombamento do município. Além das teorias dos dois especialistas, o debate proposto enfoca
os princípios consolidados no Código de Ética do profissional restaurador, bem como as
orientações das Cartas Patrimoniais.
Metodologia e resultados
O estudo realizou o levantamento e a análise dos dados históricos e estéticos. Com base na
análise da iconografia disponibilizada pela SECULT e produzida pelos autores do texto, as
informações foram sistematizadas graficamente, exemplificando as diferenças (antes e depois
da intervenção). Foram analisadas imagens digitais criadas com software SketchUp, plantas em
AutoCAD disponibilizadas pelo escritório do Programa Monumenta e fotografias executadas
pela SECULT e pelos autores. Para avaliar as alterações a discussão se baseou nos conceitos
teóricos da mínima intervenção e da reversibilidade e/ou retratabilidade. Foram averiguados
os conceitos para o tombamento do Grande Hotel para verificar os limites de intervenção
apresentados e regulamentados pela referida legislação, confrontando-os com a intervenção
propriamente dita.
Conclusões
Em relação aos aspectos históricos e estéticos, a conclusão é de que a percepção do espaço
interno do edifício foi modificada na restauração que reposicionou o teto zenital. As fotos
apresentadas e a simulação em 3D registraram sua posição antes e depois da intervenção. As
transformações verificadas contrariam o critério da mínima intervenção.
O caso em tela evidencia que as regulamentações não foram suficientes para a manutenção
dos valores simbólicos do bem, pois a segunda intervenção também contrariou princípios
determinados nas legislações do município que instituíram o tombamento. A inscrição do
prédio no Livro de Tombo Histórico e Cultural do município conferiu ao Grande Hotel uma
garantia presumida de preservação da totalidade de suas características internas e externas,
contudo a modificação dos espaços internos descaracterizou a edificação estética e
historicamente, ferindo a legislação.
Referências
ALMEIDA, Liciane Machado; BASTOS, Michele de Souza. A experiência da cidade de Pelotas no
processo de preservação patrimonial. Revista CPC, São Paulo, v.1, n.2, p.96-118, maio/out.
2006. p.96
APPELBAUM, Barbara. Criteria for treatment: reversibility. Journal of the American Institute
for Conservation, V. 26, Nº 2: p. 65-73, 1987.
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BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
FRONER, Yacy-Ara; ROSADO, Alessandra. Princípios históricos e filosóficos da conservação
preventiva. Tópicos em conservação preventiva 2. Belo Horizonte: LACICOR. EBA. UFMG, 2008.
GUTIERREZ, Ester J. B. Negros, Charqueadas e Olarias: um estudo sobre o espaço pelotense.
Pelotas: UFPel, 1993.
KÜHL, B. M. História e ética na conservação e na restauração de monumentos históricos.
Revista CPC - USP, São Paulo, n.1, p.16-40, 2006. Disponível em:
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/cpc/n1/a03n1.pdf
Lei 2708/82. Dispõe sobre a proteção do patrimônio histórico e cultural do município de
Pelotas e dá outras providências. Disponível em:
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/497517/lei-2708-82-pelotas-rs Acesso em: 23/06/2012
MAGALHÃES, Mário Osorio. Opulência e cultura na Província de São Pedro do Rio Grande do
Sul: um estudo sobre a história de Pelotas (1860-1890). Pelotas: Mundial: 1993.
MUÑOZ VIÑAS, Salvador. Teoría Contemporánea de la Restauración. Madrid: Sintesis, 2003.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS. Manual do usuário de imóveis inventariados. Pelotas:
SECULT/Edigraf, 2007.
SANTOS, Carlos Alberto Ávila. Ecletismo na fronteira meridional do Brasil: 1870-1931. Tese
(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo – Área de Conservação e Restauro) Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. 2007.
Sistema Oficial de Classificação dos Meios de Hospedagem. Ministério do Turismo. Disponível
em: http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/Entenda?tipo=2
Acesso em: 16/07/2012.
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Projeto Memória em movimento: Campus I Feevale: uma memória a ser contada
Fabrício Locatelli Ribeiro
Maicon José Alves
Palavras-chave: São Jacó. Ernst Seubert. Irmãos Maristas. Feevale.
Introdução
O trabalho “Prédio Campus I Feevale: uma memória a ser contada”, tem como objetivo
pesquisar a memória e a história desse prédio, que além de ser de grande valor histórico, teve
grande representação arquitetônica na cidade de Novo Hamburgo e na região, no inicio do
século XX, e foi utilizado ao longo de sua existência, para fins educacionais, tendo sido sede do
Colégio São Jacó de 1915 a 1969, e da Universidade Feevale de 1970, quando teve sua turma
inaugural até os dias atuais. A pesquisa está sendo desenvolvida no âmbito do projeto de
ensino “Memória em Movimento”, e pretende, além de constituir acervo documental sobre o
tema, realizar, posteriormente ações de Educação Patrimonial.
O projeto justifica-se pela inexistência de trabalhos sistematizados acerca da História e
Memória do Campus I, entendendo que a reconstrução desta memória não é apenas a do
prédio, ou das instituições que ali habitaram, mas também da comunidade que ajudou a
construí-lo e mantê-lo; uma memória tecida pelas lembranças de momentos históricos e
cotidianos e que precisa ser transmitida e contada a partir de processos educativos, para que
possa adquirir significado também para aqueles que fazem parte de sua história no presente.
Metodologia e resultados
As pesquisas do projeto se baseiam em diversos tipos de fontes históricas. Inicialmente,
buscou-se verificar quais fontes históricas e/ou memória constavam no acervo da própria
Instituição. Em seguida, iniciou-se a etapa de entrevistas com depoentes que foram alunos do
Colégio São Jacó, o que nos possibilitou compreender, a partir da memória, os diversos usos
sociais do prédio ao longo de sua existência, e os significados atribuídos por esses sujeitos e
protagonistas de sua história. Contamos também com materiais bibliográficos que contam um
pouco desta trajetória, bem como uma monografia que aborda a historia do arquiteto Ernst
Seubert - que foi o autor do projeto original do prédio – e outros tipos de documentos.
Conclusões
Como resultados parciais, conseguisse identificar as fontes históricas existentes e aqueles que
necessitamos ainda buscar, como as plantas arquitetônicas iniciais. Após estas etapas serão
elaboradas ações de educação patrimonial, para que todos possam conhecer às historias
vividas por este prédio quase centenário, que representa o marco do desenvolvimento
educacional na cidade de Novo Hamburgo.
Referências
MORCHEL, Hélio. 75 anos da presença marista em Novo Hamburgo. Porto Alegre: EDIPUCRS,
1990.
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ENGEL, Daniela. Monografia de Ernst Seubert. 1992. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade do Vale do Rio do Sinos – UNISINOS,
Rio Grande do Sul,1992.
SCHEMES, Cláudia; SILVA Cristina Ennes da. ASPEUR: Uma trajetória comunitária Memórias de
seus colaboradores. ASSOCIAÇÃO PRÓ-ENSINO SUPERIOR em Novo Hamburgo Centro
Universitário Feevale: Editora Feevale RS 2003.
SCHEMES, Cláudia; SILVA Cristina Ennes da. Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior
em Novo Hamburgo: FEEVALE (1969 / 1999). Editora Feevale, 2007.
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Análise da Casa de Máquinas na represa do Arroio Moreira
Carolina Ritter123
Aline Montagna da Silveira124
Sylvio Arnoldo Dick Jantzen125
Palavras-chave: Hydraulica Pelotense. Patrimônio Industrial. Análise Formal.
Introdução
A Escola de Belas Artes francesa disseminou no século XIX princípios arquitetônicos baseados
nas regras estéticas de Vitrúvio. Os três tópicos mais relevantes para uma análise formal são: a
táxe, os gêneros e a comensurabilidade (JANTZEN, 2013). Mediante essas categorias analisou-
se o edifício da Casa de Máquinas da antiga Companhia Hydraulica Pelotense, construído entre
1891 e 1894.
A Companhia foi criada em 1871, municipalizada em 1908 (SILVEIRA, 2009) e é atualmente o
Serviço Autônomo de Abastecimento de Água de Pelotas (SANEP) o proprietário das
instalações junto ao arroio Moreira, no município do Capão do Leão, aproximadamente a 20
km do centro de Pelotas.
O trabalho é um recorte do projeto de pesquisa: “O patrimônio da industrialização em Pelotas
no século XIX: um estudo sobre a Casa de Máquinas localizada junto ao arroio Moreira”. Esse
projeto aprofunda a investigação sobre a Casa de Máquinas, identificando princípios que
orientaram a concepção da obra. Assim, propõe-se uma abordagem estética e histórica da
edificação (FIGURA 1). O objeto de estudo é o projeto do engenheiro Leon Cassan, datado de
1892 (RELATÓRIO, 1892). Ainda não foi identificada a escola de formação do engenheiro. De
qualquer modo, a verificação de princípios compositivos permitirá confirmar uma arquitetura
erudita. O edifício, ainda que industrial, manifesta intenção estética.
As máquinas do final do século XIX, movidas a vapor, mas em bom estado de conservação,
foram substituídas por novas bombas, colocadas dentro do edifício.
O estudo contribui então para a preservação da memória da Companhia Hydraulica Pelotense
e de um de seus principais remanescentes do século XIX: um exemplar do patrimônio
arquitetônico industrial da cidade. Uma compreensão mais detalhada dessa tipologia justifica-
123Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Universidade Federal de Pelotas. Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET-FAUrb).
Email: [email protected].
124 Arquiteta e Urbanista. Doutora em Arquitetura e Urbanismo. Professora do Curso de
Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de
Pelotas. Email: [email protected].
125 Arquiteto e Urbanista. Doutor em Educação. Professor do Curso de Arquitetura e
Urbanismo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Pelotas. Email:
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se pelo “interesse pela preservação do patrimônio industrial *é+ relativamente recente e deve
ser entendido no contexto de ampliação daquilo que é considerado bem cultural”. (KÜHL, s.d.,
p. 1)
Metodologia e resultados
Preliminarmente analisou-se o projeto do edifício, pois constatou-se que existem diferenças
entre o desenho elaborado pelo engenheiro e a obra edificada. O projeto encontrado foi
apenas um conjunto de quatro desenhos: a fachada principal, a fachada lateral, o corte
longitudinal e o corte transversal em uma única prancha. A planta baixa não foi encontrada.
A análise formal foi realizada em três etapas: a) determinação da táxe e da grade geométrica
(o equivalente à coordenação modular entre as partes compositivas); b) identificação de
elementos de ornamentação arquitetônica; c) verificação da comensurabilidade, para
encontrar relações entre o todo e as partes da fachada. Utilizou-se de um proporcionômetro
confeccionado pela autora (FIGURA 2). Confirmou-se que a comensurabilidade segue
retângulos irracionais, que ordenam as partes compositivas e efeitos de paralelismo e
contraste entre os elementos do projeto. Os efeitos são observados pelas posições das
diagonais dos retângulos entre si, que podem ser paralelas ou perpendiculares. Para
reconstruir a planta baixa será feito um levantamento in loco no prosseguimento da pesquisa.
Pelo que já foi estudado, espera-se encontrar táxe e comensurabilidade na projeção
horizontal, correspondendo às fachadas.
FIGURA 1 – Fachada principal da edificação
Fonte: acervo de Carolina Ritter, 2013
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FIGURA 2 – Proporcionomêtro utilizado nas análises.
Fonte: acervo de Carolina Ritter, 2013.
Conclusões
A análise prévia do projeto de Leon Cassan identificou comensurabilidade (simetrias) e
trimorfismo, ou seja, a disposição dos elementos de modo ternário na trama geométrica da
fachada principal da edificação. O estudo de uma das fachadas já confirmou que o edifício foi
projetado e construído com conhecimento e domínio de categorias de composição, estudadas
nas politécnicas e escolas de engenharia e também na École de Ponts et Chaussées de Paris. As
regras estéticas de todas essas escolas seguiam a tradição da Escola de Belas Artes francesa.
Referências
SILVEIRA, Aline Montagna da. De fontes e aguadeiros à penas d’água: reflexões sobre o
sistema de abastecimento de água e as transformações da arquitetura residencial do final do
século XIX em Pelotas – RS. 2009. 340f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.
RELATÓRIO da Companhia Hidráulica Pelotense anno de 1891. Pelotas: Typ. a Vapor da Livraria
Americana, 1892.
KÜHL, Beatriz Mugayar. Algumas questões relativas ao patrimônio industrial e à sua
preservação. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=527.
Acesso em 19 de setembro de 2013.
JANTZEN, Sylvio Arnoldo Dick. Análise Formal de Edificações Isoladas (PROJETO 8), jul. de
2013. 2 folhas. Notas de Aula.
Agradecimentos
Agradecemos ao apoio financeiro da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande
do Sul – FAPERGS, através de Auxílio Récem-Doutor – ARD, Edital FAPERGS nº 003/2012
(Processo SPI nº 0504 12-7).
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O século XIX e o Centro Histórico do Rio Grande
Eliza Furlong Antochevis1
Palavras-chave: Arquitetura, patrimônio cultural, século XIX, Rio Grande.
Introdução
A arquitetura edificada durante o século XIX, no centro histórico da cidade do Rio Grande,
constitui o tema do trabalho proposto. O objeto de estudo são alguns dos conjuntos de
edificações situadas nas ruas Marechal Floriano (antiga Rua da Praia), e Riachuelo (antiga Rua
da Boa Vista).
A cidade foi fundada em 1737, para garantir a defesa de sua região. No começo do século XIX,
sua posição estratégica somada às funções portuária e comercial, possibilitou o surgimento de
uma planta urbana com maior número de ruas e edificações (OLIVEIRA, 2012). Surgiram na
mesma época novos imigrantes que acabaram por influenciar as técnicas construtivas na
cidade (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E DE CULTURA, 2012). Esses fatores fizeram
com que Rio Grande possuísse uma arquitetura rica, que pode ser constatada pelos cartões-
postais e algumas fotografias do período, como o apresentado na figura 1.
Figura 1 - Cartão postal de 1898 retratando a cidade do Rio Grande.
Fonte: TORRES, 2013.
O objetivo geral do trabalho é analisar a arquitetura do centro histórico da cidade no período
escolhido, relacionando-a com as correntes arquitetônicas existentes no Brasil na mesma
época e com as especificidades do local.
Assim, foram buscados os autores Maria Luiza Queiroz (1985), que aborda a história da cidade,
e Luiz Henrique Torres, que apresenta um livro com cartões-postais do Rio Grande. Sobre a
arquitetura brasileira foi consultado o autor Nestor Goulart Reis Filho (2011). Para melhor
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conhecer a arquitetura e urbanismo da cidade foram analisadas uma cartilha informativa da
Secretaria Municipal de Educação e Cultura (2012) e a tese da autora Ana Lúcia Oliveira (2012).
Como justificativa, o trabalho pretende contribuir para o entendimento de uma arquitetura
com publicações acadêmicas escassas, e que muitas vezes é desvalorizada por sua população.
É necessário um estudo aprofundado, baseado em referências seguras, da arquitetura do
centro histórico dessa cidade, que já recebeu o título de Cidade Histórica – Patrimônio do Rio
Grande do Sul.
Metodologia e resultados
A metodologia utilizada no trabalho foi composta primeiramente de pesquisa histórica, que se
dividiu entre bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica visou à busca de dados sobre
a história da cidade e a história da arquitetura no Brasil. Já a pesquisa documental teve em
vista fontes iconográficas, como fotos e cartões postais antigos do Rio Grande. Em um segundo
momento, foi realizada uma saída de campo com levantamento fotográfico, para averiguação
do local atualmente.
Como resultado, observou-se que as edificações representadas nas fontes iconográficas
apresentavam características como aberturas com arcos abatidos, telhado de barro aparente e
pouca ornamentação, tendo sido construídas no alinhamento predial. Alguns poucos
exemplares possuíam platibandas e bandeiras das portas com arcos plenos. Os postais
mostram casas térreas e sobrados de até três pavimentos. O antigo prédio da Alfândega,
edificado em 1874, aparece em muitos deles, por ter sido a maior obra realizada na cidade no
século XIX (TORRES, 2013).
Vários viajantes que passaram por Rio Grande nesse período comentaram em crônicas
algumas dessas características. Segundo Queiroz (1985), o francês Auguste de Saint-Hilaire
escreveu em 1822 que a Rua da Praia concentrava a maioria das casas das famílias abastadas,
sendo essas belas construções, com telhas, tijolos e balcões com grades de ferro.
Conclusões
As edificações existentes no século XIX nas principais ruas da cidade eram, em sua grande
maioria, representantes da corrente arquitetônica colonial brasileira. Alguns poucos edifícios
no final do século possuíam características do ecletismo. A arquitetura riograndina seguiu as
tendências da época para o restante do Brasil. No entanto, alguns prédios peculiares, como o
sobrado com azulejos na fachada e o prédio da antiga Alfândega, com feições neoclássicas, são
diversidades que enriquecem o patrimônio cultural da cidade até os dias de hoje.
Referências
OLIVEIRA, Ana Lúcia Costa. O Portal meridional do Brasil: Rio Grande, São José do Norte e
Pelotas (1737 a 1822). Tese (Doutorado em planejamento urbano e regional). Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012.
Disponível em: <http://www.ufrgs.br/propur/teses_dissertacoes/Ana_L%C3% BAcia_Costa_de
_Oliveira .pdf >. Acesso em: 05 mai. 2013.
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QUEIROZ, Maria Luiza Bertulini. A Vila do Rio Grande de São Pedro (1737-1822). Rio Grande:
FURG, 1987.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2011.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO E DE CULTURA (Rio Grande). Programa de educação
patrimonial. Folheto informativo. Ame Rio Grande - História, identidade e preservação do
patrimônio cultural. Rio Grande, 2012.
___________________ Rio Grande: Patrimônio e cartões-postais na Belle Époque. Rio Grande:
EDFURG, 2013.
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O Complexo Rheingantz: os valores desse Patrimônio
Simone Sola Bobadilho126
Palavras-chave: Patrimônio. Fábrica Rheingantz.Patrimônio Edificado. Valores. Monumento.
Alöis Riegl.
Introdução
O presente trabalho é parte da pesquisa que está sendo desenvolvida no Programa de Pós-
graduação Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de
Pelotas, iniciada em 2012.
O tema é a Fábrica Rheingantz, que foi uma indústria textil de origem alemã, fundada pelo
Carlos Guilherme Rheingantz, em 1873 na cidade do Rio Grande. Essa indústria foi muito
importante para a economia local, como também para o Brasil, além de ter a característica de
pioneirismo e, é um dos poucos exemplares existentes do processo de industrialização do
século XIX .
O Complexo Rheingantz é contituído pelas edificações da antiga Fábrica, as casas que formam
a Vila Operária, as casas dos Mestres, o Cassino dos Mestres, a Escola Comendador
Rheingantz, a Creche, o Clube União Fabril. Esse cojunto arquitetônico foi tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, em julho de 2012.
O objetivo dessa comunicação é trazer a discussão sobre os valores descritos no Parecer
Técnico do Processo de Tombamento do Complexo Rheingantz realizado pelo IPHAE,
comparando com a teoria dos valores atribuídos aos monumentos por Alöis Riegl e Françoise
Choay, tendo como estudo de caso o Complexo Rheingantz.
Metodologia e resultados
A metodologia empregada consiste na leitura dos documentos digitais do processo de
Tombamento do Complexo Rheingantz, obtido após contato com o IPHAE; e a leitura dos
textos de Alöis Riegl – O culto moderno aos monumentos, e de Françoise Choay – A alegoria
do Patrimônio.
A seguir apresentar as informações do Parecer Técnico do IPHAE que trata sobre os valores do
Complexo Rheingantz que embasaram o tombamento, e também as informações
apresentadas na perspectiva de Riegl e Choay sobre os valores dos monumentos e
monumentos históricos .
Finalizando a discussão, a interação da Teoria e da prática sobre a valorização dos
monumentos, tendo como exemplo o complexo Rheingantz.
126 Bibliotecária , formada pela Universidade Federal do Rio Grande (1997), Especialização em
Gestão Estratégica da Qualidade, pela Universidade de Caxias do Sul (2005) e Mestranda em
Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas, Bolsista da CAPES
– Demanda Social, [email protected]
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Resultados
Os resultados obtidos são parciais, destaca-se a leitura do Parecer Técnico do IPHAE, que o
Complexo Rheingantz “é um raro exemplar deste tipo de arquitetura” e a “ volumetria
original” dos edifícios, valor cultural e histórico para a cidade do Rio Grande.
Em relação a Riegl, o autor contribui para a definição moderna do conceito de monumento
histórico e para a análise critica sobre as distintas formas de percepção e recepção desses
monumentos pela sociedade, bem como sobre os valores que esta lhes atribui. A obra de Riegl
oferece ao agente preservador, um repertório de diferentes tipos de valor que podem ser
atribuídos aos monumentos, inaugurando uma fundamentação conceitual para que as
escolhas possam ser feitas com base em um juízo crítico.
Conclusões
As edificações industriais juntamente com outros tipos arquitetônicos, constam na
contemporaneidade como monumentos não intencionais de um tempo não muito distante,
inspirando uma reinterpretação dos feitos humanos, cuja imagem e identidade do lugar
abandonado tente se recuperar. Nesse processo, a percepção dos valores intrínsecos de que
estão imbuídos os monumentos industriais , sejam eles históricos, de antiguidade, ou mesmo
de uso, precisa levar a iniciativas que asseguram sua permanência, que regenerem a
autoestima esmaecida, que façam o espírito do lugar ao local de onde ameaça desvincular-se.
Referências
CHOAY, Françoise. Alegoria do patrimônio. Traduzido por Luciano Vieira Machado.3.ed. São
Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2006. Tradução de: L’allégorie du patrimoine.
IPHAE.Bem tombado: Complexo Rheingantz. Disponível em:<
http://www.iphae.rs.gov.br/Main.php?do=BensTombadosDetalhesAc&item=43405> Acessado
em 28 ago.2013.
RIEGL, Aloïs. O Culto dos monumentos: sua essência e sua gênese. Goiânia: Editora da
Universidade Católica de Goiás, 2006. 120 p.
tos/Manual_normas_UFPel_2006.pdf
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O surgimento dos cemitérios no século XIX - o caso de Pelotas e Jaguarão, Rio Grande do Sul, Brasil.
Anderson Pires Aires127
Aline Montagna da Silveira128
Palavras-chave: Cemitérios. Século XIX. Irmandades. Jaguarão. Pelotas.
Introdução
O trabalho apresentado a seguir busca investigar o surgimento de uma nova tipologia no final
do século XIX: os cemitérios extramuros. Nessa perspectiva, estuda dois exemplos com
características distintas, buscando comparar suas soluções projetuais. Pelotas é uma cidade
plana, às margens da Laguna dos Patos, que tem sua origem ligada à implantação de uma
Capela. Jaguarão apresenta uma topografia acidentada, e surge a partir de um acampamento
militar, caracterizando-se como uma cidade de fronteira. Ambas são fundadas no início do
século XIX e, na segunda metade deste mesmo século, devido à epidemia do Cholera-Morbus,
são palco de discussões para a criação de seus cemitérios públicos.
O estudo deste tema já foi tratado por outros autores, em suas dissertações de mestrado e
monografias, muitas vezes em áreas do conhecimento como a história e a geografia, como os
estudos de Cabaço (2009), Carvalho (2005) e Castro Filho (2007). No âmbito da arquitetura e
do urbanismo, o estudo de Cymbalista foi a referência utilizada neste trabalho. Este autor
debruça-se sobre os cemitérios paulistanos realizando investigações sobre a separação dos
sepultamentos das igrejas, a construção dos cemitérios municipais e uma análise sobre as
formas tumulares, apoiado com um levantamento fotográfico.
Este trabalho é um recorte do projeto de pesquisa Cemitérios – a cidade dos mortos entre a
cidade dos vivos, desenvolvido junto ao Programa de Educação Tutorial da FAUrb-UFPel. A
pesquisa tem como objetivo compreender o processo de formação dos cemitérios municipais
de duas cidades do sul do Rio Grande do Sul, comparando as decisões quanto às suas
localizações e formas de implantação. Neste estudo, o enfoque será o levantamento histórico,
que busca fornecer subsídios para compreensão das origens dessas construções.
Metodologia e resultados
O método de trabalho constou de uma revisão bibliográfica sobre o assunto, buscando
identificar o estado da arte do tema. As obras que subsidiaram este entendimento foram os
trabalhos de Castro Filho (2007), Cymbalista (2002) e Hoebel (1961). A primeira etapa da
pesquisa tratou da compreensão da formação destes locais, investigando, primeiramente,
acervos históricos que pudessem conter informações sobre a temática pesquisada. Foram
consultadas fontes primárias nos acervos da Biblioteca Pública Pelotense (Atas da Câmara de
Vereadores de Pelotas e Antigualhas de Pelotas), do Instituto Histórico e Geográfico de
127 Graduando em Arquitetura e Urbanismo, Programa de Educação Tutorial da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas. [email protected]
128 Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas. [email protected]
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Pelotas, do Instituto Historiográfico de Jaguarão e da Associação do Cemitério das Irmandades
de Jaguarão.
Em 23 de novembro de 1855 foi inaugurado o Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula
(Figura 1a), na Estrada do Fragata (CUNHA, 1978), afastado do centro urbano. Em Jaguarão
observa-se a mesma situação quando, três anos após a criação do cemitério de Pelotas, foi
fundado, em 15 de maio de 1858, o Cemitério das Irmandades (Figura 1b), administrado pelas
Irmandades do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Conceição (SOARES, 2011). A
criação de ambos vincula-se ao surgimento das epidemias que se proliferavam na segunda
metade do século XIX, e que alteravam a prática dos sepultamentos. No Brasil, doenças como
o Cholera-Morbus, fizeram com que as inumações deixassem de ser realizadas no interior das
igrejas e passassem a ser feitas em locais afastados dos centros urbanos. Dessa forma, os
cemitérios municipais extramuros surgiram em meados do século XIX.
Através da pesquisa histórica em documentos primários e secundários, localizados em acervos
de instituições ligadas à preservação da memória e da história das cidades estudadas, pôde-se
observar como se deu a criação dos cemitérios municipais dessas duas cidades do Rio Grande
do Sul.
(a) (b)
FIGURA 1 – Cemitérios municipais: a) Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula – Pelotas; b) Cemitério das Irmandades - Jaguarão.
Fonte: Acervo das Prefeituras Municipais de Pelotas e Jaguarão.
Conclusões
Através da pesquisa, procurou-se identificar como ocorreu a formação dos cemitérios
municipais no século XIX, utilizando como objetos de estudo as cidades de Pelotas e Jaguarão,
localizadas no sul do Rio Grande do Sul.
Foi possível identificar que os cemitérios estudados surgiram na segunda metade do século
XIX; eram administrados por irmandades ligadas às Santas Casas de Pelotas e Jaguarão; seus
terrenos de construção resultaram de compra e/ou desapropriação em local plano e
acidentado; ambos possuíam locais específicos para a inumação de pessoas ligadas às
irmandades.
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Uma das maiores dificuldades encontradas até o momento foi o acesso a algumas fontes
significativas para a compreensão dos objetos estudados, seja pela condição em que se
encontram os acervos (indisponíveis temporariamente para a consulta) ou pela
impossibilidade de consulta ao material original, levando-nos a recorrer, em alguns casos, a
fontes secundárias.
Referências
Bibliografia
CABAÇO, Patrícia Gonçalves. Cemitérios Municipais De Lisboa. Estratégias de Articulação
entre Thanatos e Polis. 2009. Dissertação (Mestrado) – Instituto Superior Técnico,
Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.
CARVALHO, Luiza Fabiana Neitzke de. O Cemitério Da Santa Casa: Contribuições Para História
Da Arte Funerária Em Pelotas. 2005. Monografia (Especialização) – Instituto de Artes e Design,
Universidade Federal de Pelotas.
CASTRO FILHO, Leonel de. Cidade Dos Mortos Ou Lugar Dos Vivos? Estudos das características
das manifestações sociais e suas implicações com a sociedade de União da Vitória a partir do
Cemitério Municipal. 21 de agosto de 2007. 101 folhas. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal do Paraná. Curitiba, 2007.
CYMBALISTA, Renato. Cidade dos Vivos: Arquitetura e atitudes perante a morte nos cemitérios
do estado de São Paulo. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2002.
HOEBEL, E. Adamson. El Hombre en el Mundo Primitivo. Editorial Omega: Barcelona, 1961;
SOARES, Eduardo Alvares de Souza. Igreja Matriz do Divino Espírito Santo da cidade de
Jaguarão. Porto Alegre: Evangraf, 2011.
Fontes
Ata de Inauguração do Cemitério das Irmandades. Acervo: Associação do Cemitério das
Irmandades de Jaguarão.
CUNHA, Carlos Alberto da. Antigualhas de Pelotas. Volume 1. 1978. Acervo: Centro de
Documentação e Obras Valiosas (CDOV) – Bibliotheca Pública Pelotense.
_____________________. Cemitérios de Pelotas. Acervo: Centro de Documentação e Obras
Valiosas (CDOV) – Bibliotheca Pública Pelotense.
Escritura Pública de venda do terreno do Cemitério das Irmandades. Acervo: Associação do
Cemitério das Irmandades de Jaguarão.
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Pelotas no tempo dos chafarizes
Guilherme Pinto de Almeida129
Jeferson Dutra Salaberry130
Francine Morales Tavares Ribeiro131
Palavras-chave: Patrimônio. Arquitetura. Urbanismo. Cidade. Pelotas.
Introdução
Para Pelotas, as últimas quatro décadas do século 19 foram especialmente movimentadas em
acontecimentos urbanísticos e sociais definidores de seu caráter como cidade e sociedade. Em
torno da criação da Companhia Hidráulica Pelotense e da implantação do sistema de
abastecimento de água, questões como o Ensino e a Instrução e a criação da Biblioteca Pública
Pelotense; a escravidão; o problema do transporte público e a Cia. De Ferro Carril e Cais de
Pelotas; a criação e definição de espaços públicos; os espaços de sociabilidades; a
desobstrução da foz do Canal de São Gonçalo e a sua consequente ampliação das perspectivas
econômicas e comerciais. A análise destes assuntos sob a ótica do cotidiano, proporcionada
pela consulta à imprensa de época – é o escopo desta pesquisa, desenvolvida de fevereiro a
setembro de 2012, em Pelotas. Ao recolher as impressões do noticiário de época frente às
citadas transformações, busca uma releitura do cotidiano deste período importante para a
cidade de Pelotas, visando contribuir, assim, para o fortalecimento da historiografia local.
Metodologia e resultados
Em um primeiro momento, foram pesquisados periódicos pelotenses e riograndinos da década
de 1870, momento em que se efetiva a criação da Companhia Hidráulica Pelotense. Foram
consultados exemplares disponíveis e constantes do acervo do Centro de Documentação e
Obras Valiosas (CEDOV) da Biblioteca Pública Pelotense (BPP), bem como do acervo da
Biblioteca Rio-Grandense, de Rio Grande. Posteriormente, a pesquisa foi complementada com
iconografia relativa através de busca realizada parte no acervo do CEDOV-BPP, parte no acervo
digital do Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira (NEAB), da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo (FAUrb) da Universidade Federal de Pelotas. A busca percorreu iconografia
publicada originalmente no recorte da década de 1870 até as primeiras décadas do século 20.
Foram assim obtidas notícias e imagens de maneira a contribuir para a construção de uma
leitura deste momento da cidade, a partir da escrita – no noticiário da imprensa- e do aspecto
visual, pelas imagens da cidade, com seus melhoramentos.
129 Graduando em Arquitetura e Urbanismo, UFPel, [email protected]
130 Arquiteto e Urbanista, Mestre em Conservação e Restauro, Professor Assistente em
Conservação e Restauro, UFPel, [email protected]
131 Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural, UFPel,
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FIGURA 1 – “Os habitues do passeio da Praça Pedro II estão com a paciência esgotada por tanta demora na conclusão do calçamento da mesma, pois estão privados de gozarem as boas noites de luar”.
Fonte: Acervo da Biblioteca da Pública Pelotense.
Conclusões
A partir deste resgate de informações na imprensa do período, e de iconografia, foi possível
traçar um panorama do comportamento da população local frente às transformações
ocorridas na cidade de Pelotas neste fim de século 19. Neste período, o intenso
desenvolvimento urbano é promovido por poucos e abastados pelotenses que, beneficiados
pelo sistema escravista vigente, articulam mudanças notadamente orientadas para a plena
manutenção de seu poderio econômico, ao passo que buscam crescente prestígio em
sociedade. As considerações neste sentido, discutidas nesta pesquisa (já trazidas ao
conhecimento e reflexão da comunidade pelotense na forma de livro, no ano de 2012), foram
neste trabalho lapidadas a ampliadas.
Referências
Acervo do Centro de Documentação e Obras Valiosas (CEDOV), Biblioteca Pública Pelotense.
Acervo da Biblioteca Rio-Grandense (Rio Grande).
Acervo do NEAB – Núcleo de Estudos de Arquitetura e Urbanismo – FAUrb, UFPel.
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Educação Patrimonial e Urbana como Ferramenta de Proteção do Patrimônio Cultural
Tayrine Barcelos de Freitas Gomes132
Humberto Amorim Oliveira Rezende133
Lourenço Lourman Nunes Santana134
Josélia Godoy Portugal135
Luiz Fernando Reis136
Palavras-chave: História da Cidade. Identidade Cultural. Educação Patrimonial. Patrimônio
Cultural. Patrimônio Imaterial.
Introdução
O trabalho a ser apresentado é parte do projeto de extensão “Educação Urbana e Patrimonial:
Construindo Sociabilidade e Cidadania na Microrregião de Viçosa – MG”. Desenvolvido por
professores e alunos dos departamentos de Arquitetura e Urbanismo e de Pedagogia da
Universidade Federal de Viçosa, o projeto visa a formação social de alunos e professores da
rede pública municipal e também de toda comunidade envolvida nas atividades extensionistas.
Tal projeto vem sendo desenvolvido desde 2007, mas ao longo do tempo sofreu alterações em
relação ao grupo desenvolvedor e foi crescendo e criando raízes na região.
Através do presente trabalho pretende-se apresentar as atividades desenvolvidas por
membros do projeto com a comunidade como instrumento de formador da consciência social
e identidade cultural. A utilização da Educação Urbana e Patrimonial como ferramenta para a
conscientização e formação de agentes multiplicadores para uma real proteção de bens
culturais.
Metodologia e resultados
São realizadas reuniões interdisciplinares entre alunos e professores das áreas de Arquitetura
e Urbanismo e Pedagogia, participantes do grupo de Educação Patrimonial e Urbana. As
reuniões interdisciplinares servem para expor leituras de autores que tratam de assuntos
variados como a construção das cidades ao longo do tempo, a preservação de bens materiais e
132
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail:
133 Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail:
134 Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail:
135 Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Mestrado em
Economia Doméstica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: [email protected]
136 Graduação em Licenciatura em Desenho e Plástica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Mestrado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutorado em
Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: [email protected]
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imateriais, questões sobre cultura contemporânea, bem como temas que abordam distintos
processos de aprendizagem e de educação popular, que interessam diretamente ao projeto.
Também se investe em palestras formativas e de capacitação dos alunos envolvidos, a partir
das experiências dos professores da instituição (UFV) que lidam diretamente com essas
questões em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Levantamentos e pesquisas servem como subsídio para as ações que ocorrem nas escolas
públicas municipais com alunos e professores e para as atividades efêmeras realizadas nas
cidades. Semanalmente são ministradas aulas de educação urbana e patrimonial nas escolas
por duplas compostas. Nestas aulas são instigados nas crianças - de forma intuitiva,
progressiva e simples - temas como a identidade de sua cidade e a importância de se valorizar
o espaço e a cultura do local em que se vive. São feitos ainda passeios urbanos com os alunos a
fim de se ressaltar o funcionamento da cidade e o estado em que ela se encontra no que diz
respeito à descaracterização das áreas visitadas e no entendimento dos processos que
poderiam levar essas mesmas áreas a receberem melhorias urbanas.
Realizou-se um curso de capacitação com os professores das escolas públicas municipais que
se inscreveram no evento. Quatro módulos foram desenvolvidos ao longo de um mês, com os
seguintes temas: “Cidades Atuais e a Educação Urbana”, “Meio Ambiente Urbano e
Sustentabilidade”, “Patrimônio Histórico e Cultural” e “Participação Política”.
Conclusões
As políticas de preservação patrimonial são deficientes não só em cidades pequenas como as
que o projeto Educação Urbana e Patrimonial realiza suas atividades, mas em todo o país.
Cidades de pequeno porte são carentes em programas desse gênero, como em muitos outros
sentidos. Então, trabalhar com Educação Patrimonial e Urbana nesses locais faz com que a
população se sinta mais participante e constituinte de sua própria história, identificando-se
mais com sua cultura local.
É necessário cada vez mais que a consciência acerca do patrimônio cultural como direito de
todos cresça. Para isso as atividades de Educação Patrimonial e Urbana devem se desenvolver
de maneira a formar cada vez cidadãos plenos, capazes de exercer sua cidadania e se tornarem
agentes multiplicadores do conhecimento. Além disso, é preciso formar profissionais
capacitados em formar tais agentes, para que seja um processo contínuo e crescente.
O projeto, em andamento desde 2007, já realizou diversas atividades com variados públicos-
alvo. Apesar de ainda estar em andamento o grupo vem recebendo respostas positivas em
relação às atividades já executadas. Como os trabalhos ainda estão em andamento, espera-se
obter um resultado positivo ao final de mais um ano letivo, podendo sempre levar
conhecimento e dar apoio à comunidade em geral para que o retorno seja benéfico para
ambas as partes.
Referências
FONSECA, M. C. L. O Patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no
Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.
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________________. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla do patrimônio
cultural. In: ABREU, R.; CHAGAS, M. Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. 2 ed.
Rio de Janeiro: Lamparina, 2003. p. 56-76
GRUNBERG, E. Educação Patrimonial: trajetórias. In: BARRETO, E; (org). Patrimônio Cultural e
Educação: artigos e resultados. _ Goiânia, 2008. p.37-41
HARVEY, D. Espaços Urbanos na “Aldeia Global”: Reflexos sobre a condição urbana no
capitalismo no final do século XX. Cad. Arquit. Urban. Nº 4. Belo Horizonte, 1996. p. 171-189.
HORTA, M. Educação Patrimonial. In: BARRETO, E; (org). Patrimônio Cultural e Educação:
artigos e resultados. _ Goiânia, 2008. p.15-21
ANI, J. Conservação do patrimônio no contexto da “cultura especulativa”. In: FERNANDES, E. e
RUGANI, J. (orgs.). Cidade, memória e legislação. Belo Horizonte: IAB-MG, 2002, p.159-167.
SANTOS, C. Preservar não é tombar, renovar não é por tudo abaixo. Projeto, n. 86. São Paulo,
1986. p. 59-63.
VASCONCELOS, S. Contribuição para o estudo da arquitetura civil do estado de minas gerais.
Belo Horizonte, 1999. p. 148-163.
MESA 5 - Patrimônio Material: histórias e inventários
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INVENTÁRIO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO PRIVADAS DE PELOTAS-RS CONSTITUÍDO POR MEIO DAS
PROPAGANDAS IMPRESSAS (1872-2011)
Helena de Araujo Neves137
Elomar Callegaro Tambara138
Giana Lange do Amaral139
Palavras-chave: Inventário. História da Educação. Imprensa. Propaganda Impressa.
Introdução
Este artigo tem por objetivo apresentar um inventário das escolas privadas que atuaram em
Pelotas, município localizado ao sul do Rio Grande do Sul, no período de 1872 a 2011. Esse
mapeamento, por sua vez, foi constituído por meio de duas pesquisas – uma de mestrado
(NEVES, 2007) e outra de doutoramento (NEVES, 2012) – ambas já concluídas – desenvolvidas
junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas.
O recorte temporal estabelecido para este artigo compreende um longo período que vai da
segunda metade do século XIX aos primeiros onze anos do século XXI. Essa determinação foi
estabelecida levando-se em consideração três fatores: o primeiro, e provavelmente mais
importante, é que a propaganda impressa torna-se, no final do século XIX, uma das poucas
fontes existentes que hoje contém informações sobre as instituições de ensino que atuaram
em Pelotas – algumas com uma duração efêmera, constituídas por um único professor. Essas
instituições representam um marco para se pensar a educação fora dos domicílios, como uma
prática de ensino particular, para a formação das primeiras instituições de ensino de caráter
privado. Além disso, o período inicial justifica-se pelo expressivo número de escolas que,
naquele tempo, aumentava a cada ano, com a mesma intensidade com que crescia o valor e a
importância atribuídos à instrução.
O segundo motivo está relacionado à possibilidade de acesso ao acervo de jornais existentes
na Bibliotheca Pública Pelotense. São disponibilizados para consulta jornais com publicações a
partir do ano de 1872, por isso a segunda metade do século XIX foi estabelecida neste estudo.
O terceiro fator é que se percebe, na atualidade, que existe uma freqüência das escolas
privadas anunciando nos jornais – deixando claras as suas visões sobre a educação.
Esse estudo longitudinal, portanto, possibilitou observar as disputas desse campo de atuação
em momentos históricos distintos, além de organizar um inventário das escolas existentes.
Metodologia e resultados
137 Graduada em Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda, Doutora e mestre em Educação, Professora Adjunta no Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas atuando nos cursos de Design Gráfico e Design Digital, [email protected]
138 Graduado em Ciências Sociais, Mestre em Sociologia, Doutor e Pós-doutor em Educação, Professor Titular na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
139 Graduada em História, Mestre e Doutora em Educação, Professora Adjunta na Faculdade de
Educação da Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
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Esta investigação foi realizada por meio de uma abordagem sócio-histórica, utilizando a análise
documental – em que as principais fontes consultadas, como já mencionadas, foram
propagandas institucionais, publicadas em distintos periódicos que circulavam na cidade de
Pelotas.
Ao manusear os periódicos observou-se que a cada nova instituição aberta na cidade, a
comunidade era avisada por meio de propagandas. Nestas fontes foram encontradas 101
instituições de ensino privadas anunciando nos jornais, além de 7.148 propagandas.
O procedimento adotado foi o de procurar os anúncios nos jornais e realizar a leitura e
transcrição (grafia original) de todos os que se referiam a instituições de ensino. Isso foi feito
até o ano de 2009. Após este período, dados gerais das propagandas eram anotados, tais como
ano de fundação da escola, qual o foco do texto do anúncio e a quantidade de vezes em que se
repetia. Após, realizou-se a separação dos anúncios por décadas e em categorias; o registro
fotográfico de parte dos anúncios; a contabilização das propagandas e das escolas; e a
elaboração de quadros que pudessem auxiliar a investigação.
Diante de uma quantidade significativa de instituições, optou-se por organizar um inventário
de todas as escolas rastreadas. Esse inventário expõe as instituições de ensino em uma ordem
cronológica de criação destacando, ainda, as seguintes informações: nome da instituição; ano
de inauguração; nível de ensino ofertado; vagas para o sexo feminino ou masculino; anos em
que publicou anúncios; total de anos de atuação rastreados pelos anúncios; localização, seus
diretores, quantidade de anúncios encontrada.
Para a construção teórico-metodológica desta pesquisa utilizou-se dos estudos de Roger
Chartier, Dominique Julia, Viñao Frago, dentre outros, capazes de dar suporte à investigação.
Conclusões
Com esta pesquisa percebeu-se que a propaganda impressa escolar privada se impôs como
uma prática cultural do século XIX tornando-se parte das estratégias de Marketing Educacional
dos séculos XX e XXI. Essa foi, portanto, uma fonte potencial para se obter dados sobre a
trajetória do ensino privado em Pelotas, sendo, assim, testemunha da constituição e da
legitimação dessa esfera de ensino na cidade. Este estudo não tem como pretensão esgotar as
múltiplas leituras que possam ser feitas sobre o ensino privado, mas contribuir com outras
pesquisas que possam utilizar o referido inventário.
Referências
CHARTIER, Roger. A História Cultural – entre práticas e representações. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil S.A., 1990.
JULIA, Dominique. A Cultura Escolar como objeto histórico. In: Revista Brasileira de História da
Educação. Campinas: SBHE; Editora Autores Associados. Nº. 1, p.09-4, Jan./Jun. 2001.
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla
Bassanezi Pinsky. Fontes Históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2005.
MEGGS, Philip B. História do Design Gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
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NEVES, Helena de Araujo. O ensino privado em Pelotas-RS na Propaganda Impressa: séculos
XIX, XX, XXI. 2012. 410f. Tese (Doutorado em Filosofia e História da Educação) – Faculdade de
Educação da UFPEL, Pelotas.
_____________________. A “Alma do Negócio”: Aspectos da educação em Pelotas-RS na
Propaganda Institucional (1875-1910). 2007. 260 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Faculdade de Educação da UFPel, Pelotas.
VIÑAO FRAGO, Antonio. A História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 1995a.
___________________. Historia de la educación e historia cultural. Posibilidades, problemas,
cuestiones. Revista Brasileira de Educação nº0, Set/Out/Nov/Dez, p.63-82, 1995b.
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A obra da atriz Carmen Silva para radioteatro: inventário, preservação e acessibilidade.
Luzia Costa Rodeghiero140
Acevesmoreno Flores Piegaz141
Palavras-chave: atriz Carmen Silva. radioteatro no Brasil. memória e patrimônio da
dramaturgia brasileira. Rádio Record de São Paulo. preservação de acervos teatrais.
informatização e acesso.
Introdução
No Brasil, são raros os acervos de peças ou programas de radioteatro preservados na forma de
antigos originais escritos ou em gravações de áudio. Hoje, essa arte somente é lembrada pelos
ouvintes, já muito idosos, ou por alguns pesquisadores interessados no tema. O projeto
“Resgate e acesso à obra teatral da atriz Carmen Silva” foi contemplado para receber o
financiamento do Fumproarte (Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de
Porto Alegre) da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, através do Concurso
01/2010. Em desenvolvimento entre 2011 e com finalização em 2013, o projeto objetiva
sistematizar e difundir o acervo de peças escritas pela atriz gaúcha, nascida Maria Amália Feijó,
em 1916, em Pelotas. Carmen (Figura 1) faleceu em 2008, aos 92 anos, e deixou seu numeroso
conjunto de peças que foram veiculadas pela Rádio Record, de São Paulo, na década de 1950,
ao final da Era do Rádio no Brasil. Com a realização do projeto, coordenado por Luzia
Rodeghiero, neta da atriz, procura-se contribuir para o estudo e a pesquisa em artes cênicas e
preservar a grande produção intelectual de Carmen que, além do rádio, atuou no teatro, no
cinema e na televisão, projetou-se nacional e internacionalmente, durante uma longeva e
premiada carreira de 68 anos, sendo uma referência cultural em nosso país. Entre os
referenciais teóricos do trabalho, citamos: CASTRIOTA (2009), COSTA (2004), HUYSSEN (2000),
PONTES (2008), SCARPARO (1994), SILVA (2002), SOUZA FILHO (2011), SPRITZER (2005) e
WOLF (2009).
140 Graduada em Artes Visuais e Especialista em Artes – Patrimônio Cultural: Conservação de Artefatos pela UFPel, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural, do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas (PPGMP/ICH/UFPel), [email protected]
141 Graduado em Artes Visuais e Mestre em Educação pela UFPel, Docente do Departamento de Artes, do Instituto de Filosofia, Arte e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (Deart/IFAC/UFOP), [email protected]
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FIGURA 1 – Carmen Silva no Rio de Janeiro, à época do lançamento na cidade, entre 2003-4, do livro “Comédias do Coração e outras peças para rádio e TV”.
Fonte: Acervo pessoal.
Metodologia e resultados
O acervo de mais de 600 programas se constitui, na maior parte, de folhas em formato ofício,
datilografadas e mimeografadas, e esteve armazenado em pastas diversas, guardadas com
muito apreço pela atriz, desde o período em que residiu em São Paulo e depois, quando
retornou ao Sul. Procedeu-se a análise do acervo de peças e o estudo da forma de execução da
sistematização mais adequada. A seguir, houve a realização do inventário do acervo, para
identificação de cada programa e peça de radioteatro, a análise do estado de conservação dos
originais e a digitação dos textos. Simultaneamente, ocorreu a seleção dos textos a serem
publicados nos dois volumes impressos previstos. No momento, ocorre o trabalho de
conservação do acervo, com a higienização e o acondicionamento em embalagens individuais
confeccionadas em papel especial livre de ácidos.
Conclusões
O projeto viabilizou a informatização, a conservação dos originais e a organização de
publicações, que terão parte distribuída gratuitamente para instituições culturais, sociais e
educativas, e reunindo uma obra artística que pôde ser conhecida em seu conjunto. Essa
expressiva produção foi gerada num contexto de grande efervescência cultural paulista, em
uma época na qual o rádio era um meio de entretenimento das famílias, agregando-as em
torno de uma dramaturgia com a qual se identificavam em comédias ou outros gêneros, que
também espelhavam a realidade social do país para todos os públicos. Optou-se pela digitação
de todo o conjunto de peças a fim de prepará-lo para sua inserção em um banco de dados
digital e, também, para uma futura e necessária institucionalização do acervo, considerando a
relevância da obra da atriz Carmen Silva para a memória do radioteatro no Brasil.
Referências
CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo:
Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009.
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COSTA, Marilaine Castro da. Carmen Silva – A dama dos cabelos prateados. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 2004.
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2000.
PONTES, Heloisa. Intérpretes da Metrópole. História social e relações de gênero no teatro e no
campo intelectual, 1940-1968. Tese apresentada ao concurso de livre-docência. Departamento
de Antropologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de
Campinas, Março de 2008.
SCARPARO, Silvana Martos. A voz amiga em seu lar: análise das formas de relacionamento
entre ouvintes e radionovelas em São Paulo nas décadas de 40 e 50. Dissertação apresentada
ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, dezembro de 1994.
SILVA, Carmen. Comédias do Coração e outras peças para rádio e TV / Carmen Silva;
organização Mirna Spritzer e Raquel Grabauska. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro; AGE,
2002.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Bens culturais e sua proteção jurídica. 3ª ed. (ano
2005), 6ª reimp. Curitiba: Juruá, 2011.
SPRITZER, Mirna. O corpo tornado voz: a experiência pedagógica da peça radiofônica. Tese
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, agosto de 2005.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa / Mauro Wolf; tradução Karina Jannini. 4ª
ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
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Educação Patrimonial: uma proposta de metodologia para o ensino de história
Tatiana Carrilho Pastorini Torres142
Carmem G. Burgert Schiavon143
Palavras-chave: Patrimônio. História. Educação patrimonial.
Introdução
A presente proposta, ora desenvolvida como projeto de Dissertação de Mestrado, tem a
finalidade de buscar um novo direcionamento de reflexão e questionamentos na prática de
ensino de História a partir da Educação Patrimonial, metodologia baseada na identificação e
interação com o bem cultural que amplia as possibilidades de aprendizado e facilita a
compreensão da história local e sua relação com os temas históricos mais amplos. Entende-se,
ainda, que a Educação Patrimonial promove a educação do olhar, propiciando uma nova
dimensão para o significado dos bens culturais; nesta direção, constitui uma ferramenta para o
estudo da história das cidades, uma vez que, propicia um aprendizado mais dinâmico e valoriza
a preservação dos bens de valor representativos na formação da identidade individual ou
coletiva da comunidade. Tais considerações foram utilizadas como suportes para a pesquisa
feita com discentes de duas escolas da rede pública do município de Pedro Osório, RS.
Metodologia e resultados
A metodologia de Educação Patrimonial tem se transformado diante de novas possibilidades
para a construção de práticas pedagógicas a partir da troca de conhecimentos gerais e
específicos entre a comunidade e ambientes de ensino/aprendizagem. Entretanto, enfatiza-se
que essas práticas pedagógicas devem orientar “os estudantes e os educadores a identificar
‘signos’ e os significados atribuídos aos bens materiais e imateriais por uma determinada
comunidade” (SCHIAVON; SANTOS, 2013), com o objetivo de se refletir sobre o que tem sido
constituído como memória e patrimônio, bem como alargar as convicções acerca do
Patrimônio Cultural como uma invenção e construção social (PRATS, 1998, p. 63).
Para tanto, em um primeiro lugar, identificou-se o bem cultural a partir do olhar discente,
atividade que foi estimulada pelo estabelecimento de percursos pela cidade, tendo em vista
que a observação leva à capacidade de percepção, aspecto “essencial durante o aprendizado
para o desenvolvimento do processo de pensamento e maturação” (GRUNBERG, 2000, p. 165);
em outras palavras, constitui o momento que de fato se olha o que antes passava
despercebido. A seguir, registrou-se o bem cultural por meio de fotografias, desenhos e relatos
escritos, a fim de se estabelecer a sistematização acerca das informações e relações contidas
no bem cultural no tempo presente (FRAGA, 2010, p. 228). Por fim, a terceira etapa, que
corresponde à valorização do bem cultural, ou seja, o momento da socialização, comunicação
142 Licenciada em História e mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal do Rio Grande (FURG). [email protected]
143 Doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). [email protected]
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e divulgação das percepções do bem estudado (FRAGA, 2010, p. 228), encontra-se em
processo de desenvolvimento.
Ressalta-se, ainda, que a metodologia de trabalho aqui apresentada não é necessariamente
compartimentada, pois uma etapa pode entrar na outra sem prejudicar o objetivo final
(GRUNBERG, 2000, p. 169). Todavia, faz-se necessário planejar as etapas com capacidade de
“intervenções diferenciais que permitam interrogar e levantar o máximo de relações
existentes entre os bens patrimoniais e os textos e contextos da história da cidade a eles
imbricados” (FRAGA, 2010, p. 228), porque a divisão em etapas facilita a aplicação da
metodologia e proporciona uma visão maior das informações a serem coletadas junto ao bem
cultural pesquisado. Dessa maneira, chegou-se aos resultados que permitiram um
mapeamento parcial do patrimônio cultural do município de Pedro Osório e, por outro lado,
apontaram a possibilidade da utilização desses bens culturais como suporte para a
compreensão da complexidade do fazer histórico.
Conclusões
Tendo-se em vista que a pesquisa encontra-se em pleno desenvolvimento considera-se, após
esta breve análise, o patrimônio cultural como fonte de estudo, não apenas da história local
mas, também, do contexto no qual esta realidade encontra-se inserida em escala geral.
Portanto, a experiência proporcionada pela Educação Patrimonial foge ao cotidiano de sala de
aula e promove a dinamização do ensino de História por meio da educação do olhar, não um
olhar direcionado e determinado, mas aquele construído em conjunto com os envolvidos no
processo. Sendo assim, conclui-se que a Educação Patrimonial propicia uma maior dimensão
da compreensão histórica, afinal, promove a participação da sociedade na identificação da sua
identidade e auxilia na construção do conhecimento.
Referências
FRAGA, Hilda Jaqueline. A cidade como documento no ensino de história. In: POSSAMAI, Zita
Rosane (org.). Leituras da cidade. Porto Alegre: Evangraf, 2010.
GRUNBERG, Evelina. Educação patrimonial: utilização dos bens como recursos educacionais.
Cadernos do CEOM, Chapecó, SC, Argos, nº 12, 2000, p. 159-180.
PRATS, Llorenç. El concepto de patrimonio cultural. Política y Sociedad [27], Madrid, 1998, p.
63-76.
SCHIAVON, Carmem G. Burgert; SANTOS, Tiago Fonseca dos. O ambiente teórico-
metodológico da Educação Patrimonial (EP). No prelo.
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Patrimônio Material: design, imagens e inventário do mobiliário do Clube Comercial de Pelotas/RS
Alexandre Vergínio Assunção144
André Noronha Furtado de Mendonça145
Paula Treptow Ribeiro146
Palavras-chave: design do mobiliário; inventário; memória coletiva; patrimônio material;
simbolismo.
Introdução
Este trabalho é vinculado ao projeto "Design, imagens e padrões em inventários do mobiliário
pelotense - Projetos interdisciplinares na área do mobiliário - Clube Comercial (estudo de caso
1)", que iniciou em 2012 e está em andamento, registrado na Pró-reitoria de Pesquisa,
Inovação e Pós-graduação do IFSul/Pelotas, e faz parte da produção do grupo Topos: Grupo de
Estudos, Pesquisa e Extensão em Design, Educação e Imaginário - cadastrado no CNPq e
certificado pela Instituição. O objetivo do projeto é investigar e inventariar o mobiliário do
Clube Comercial de Pelotas, para tentar compreender o fenômeno do patrimônio material e da
memória coletiva desse tipo de artefato. A fundamentação teórica baseia-se, principalmente,
em autores como Gaston Bachelard, Gilbert Durand, Maurice Halbwachs, José Reginaldo
Gonçalves e Cliffort Geertz, que dizem que a interpretação antropológica de um objeto passa
necessariamente pela análise, descrição e compreensão dos usos individuais e coletivos do
mesmo. A interpretação, assim, tem um caráter polissêmico e interdisciplinar, pois se envolve
numa “teia” analítica através de técnicas, percepções, memórias e imaginações. Para estes
autores o patrimônio cultural de um povo tem a ver com a memória coletiva e com a sua
tradição. Halbwachs (2006) estudou os “contextos sociais da memória” (p. 21), nos quais as
relações a serem determinadas já não ficarão submetidas ao mundo do indivíduo, na relação
entre o corpo e o espírito, mas perseguirão a realidade interpessoal das instituições sociais.
Assim, “o móvel” pode atualizar lembranças e estimular sentidos, sendo, por isso, considerado
um patrimônio material. Como outros artefatos materiais e culturais, o móvel circula
significativamente em nossa vida social por intermédio das categorias de análise ou dos
sistemas classificatórios, dentro dos quais os inventariamos, ou seja, os situamos, separamos,
dividimos e hierarquizamos. Gonçalves (2007), diz que cada artefato material tem sua
“biografia cultural”. Sendo assim, sua inserção como “patrimônio material” é apenas um
“momento” na sua vida social. No entanto, esse “momento” é muito importante, pois permite
perceber os processos sociais e simbólicos por meio dos quais esses objetos vêm a ser
transformados em “patrimônios materiais”, ou seja, em ícones legitimadores de ideias, valores
e identidades assumidas por grupos ou categorias sociais. Na medida em que assim são
inventariados e coletivamente reconhecidos, esses objetos desempenham uma função social e
simbólica de mediação entre o passado, o presente e o futuro do grupo, assegurando a sua
continuidade no tempo e a sua integridade no espaço. Um móvel, neste sentido, está
144
Arquitetura e Urbanismo (UFPel), Doutorado em Educação (UFPel), IFSul/Pelotas - [email protected]
145 Desenho Industrial (CUC/RJ), Mestrado em Design (UFRGS), IFSul/Pelotas - [email protected]
146 Estudante - Bacharelado do em Design (IFSul/Pelotas) - [email protected]
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certamente a serviço do conhecimento técnico/científico, do conhecimento histórico e
antropológico, mas ao mesmo tempo, é incontornável a demanda para que o mesmo tenha
ressonância junto a determinados segmentos do público.
Metodologia
Esta investigação é do tipo estudo de caso em que se utilizam registros fotográficos do
mobiliário, fontes documentais (livros e jornais), entrevistas, observação in loco, bem como o
acervo fotográfico do clube onde constam os móveis em seus contextos sociais e originais de
uso. Para a operacionalização da pesquisa adotamos a abordagem qualitativa (MINAYO, 2011;
GIL, 2010; APPOLINÁRIO, 2006) com características antropo-fenomenológicas (GIL, 2010;
APPOLINÁRIO, 2006). Trata-se, pois, de um tipo de pesquisa que busca analisar, descrever e
interpretar os fenômenos em geral. Passo-a-passo metodológico: a) interpretação de todo o
material colhido; b) divisão do material em unidades de significado; c) interpretações e
análises de acordo com referências teóricas; d) tentativa de compreensão geral do fenômeno.
Por último, e) execução da redação do relatório de pesquisa com a elaboração um Catálogo
com imagens e textos, no intuito de constituir um inventário do mobiliário do Clube Comercial
com o objetivo de dar-lhe visibilidade e estatuto.
Resultados Parciais
Síntese: 1) o reconhecimento através de fotos antigas dos cenários originais de uso do
mobiliário, pois atualmente o mobiliário pesquisado encontra-se armazenado fora de seus
cenários originais, 2) as entrevistas com funcionários e membros societários, 3) o
levantamento documental referente à história do clube e de seu mobiliário, 4) a identificação
de bibliografia específica e a produção de desenhos à mão livre dos móveis com suas medidas
principais, e, 5) atualmente estamos executando o tratamento de imagens com software
adequado. Por fim, pode-se dizer que todos os resultados obtidos até o presente momento
indicam a relevância histórica, estilística e social do mobiliário investigado, justificando a
pesquisa.
Referências
ALVES-MAZOTTI, Alda Judith. O Método nas ciências sociais: pesquisa quantitativa e
qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998.
APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2006.
BACHELARD, Gaston. A terra e os devaneios da vontade: ensaio sobre a imaginação das
forças. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CARDOSO DENIS, Rafael. Design, cultura material e o fetichismo dos objetos. ARCOS/PPDESDI,
Rio de Janeiro, ano 01, nº 01, p. 14-39, 1998.
CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São
Paulo: Martins Fontes, 1994.
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COELHO, Luiz Antonio L. (org). Conceitos-chave em Design. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; Novas
Ideias, 2008.
GEERTZ, Cliffort. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Antropologia dos objetos: coleções, museus e
patrimônios. Rio de Janeiro: Coleção, museus, memória e cidadania, 2007.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
MAGALHÃES, Mario Osório. História e Tradições da Cidade de Pelotas. Porto Alegre:
Ardotempo, 2011.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2011.
RIBEIRO, Claudia Campos. O estudo do mobiliário francês do período de 1860 a 1930 como
patrimônio da cidade de Pelotas. 2010, 155p. Dissertação (Mestrado em Memória Social e
Patrimônio Cultural). Instituto de Ciências Sociais. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
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Coleções e História dos Museus: A Coleção Adail Bento Costa e o Museu Municipal Parque da
Baronesa
Talita Corrêa Vieira Silva147
Noris Mara Pacheco Martins Leal148
Palavras-chave: História dos Museus. Coleções. Adail Bento Costa. Museu da Baronesa.
Pelotas.
Introdução
Este texto apresenta os resultados do trabalho de conclusão de curso no Bacharelado em
Museologia na Universidade Federal de Pelotas, no ano de 2012, intitulado "Coleções e
Colecionadores'. O estudo buscou, a partir da história das coleções, refletir acerca dos motivos
pelos quais estas são constituídas, muitas vezes em virtude de gostos pessoais, de presentes
recebidos ou de lembranças de pessoas que gostamos, de viagens, de lugares, de momentos
marcantes.
As coleções sempre foram símbolo de poder, as grandes coleções dos séculos XVI e XVII, as dos
gabinetes de curiosidades, deram início aos primeiros museus. Estas, não possuíam uma
ordem, vagarosamente foram sistematizadas, passaram a existir preocupações com métodos
de conservação tanto física como documental.
Em âmbito regional, foi verificada a Coleção Adail Bento Costa, artista e restaurador pelotense,
atuante nas décadas de 70 e 80, que possuía coleção de objetos diversos. Adail demonstrou
em testamento, vontade de organizar um museu com sua coleção, que foi doada à Prefeitura
Municipal de Pelotas, com este intento. Como não foi realizado o desejo da criação de uma
instituição museológica para esta coleção ela se encontra, desde então, em comodato no
Museu Municipal Parque da Baronesa, que inaugurou no mesmo ano da doação.
Além de importante documento para a preservação da memória da cidade, este trabalho é
pioneiro ao tratar da Coleção de Adail Bento Costa, reconhecendo seus objetos como parte do
patrimônio cultural da cidade de Pelotas.
Metodologia e resultados
A metodologia empregada teve cunho qualitativo, utilizando-se dos seguintes procedimentos:
revisão de bibliografia e pesquisa documental. Foram utilizados documentos, como o que
efetiva a doação das peças pertencentes a Adail à Prefeitura de Pelotas, feita pela irmã do
colecionador, a relação das peças emprestadas ao Museu. Também foram realizadas
atividades durante estágio no Museu da Baronesa, dentre outras, a organização do catálogo da
Coleção Adail Bento Costa, buscando facilitar o acesso as informações.
147 Graduação em Museologia, Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
148 Graduação em Licenciatura em História, Mestrado em História - UFRGS e Doutoranda em
Museologia - ULHT, Professora do Bacharelado em Museologia - UFPel,
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Conclusões
O ato de colecionar pode ser fonte de prazer e elemento de distinção na sociedade. A coleção
fala muito sobre seu proprietário, conferindo prestígio a quem possui, demonstrando sua
riqueza, seus interesses intelectuais, seu poder, e outras particularidades. Transformar estas
coleções em peças de museus, pode construir um conjunto de relíquias, normalmente aliados
a um tema ou imortalizando seu antigo proprietário.
O mundo das coleções particulares e dos museus podem parecer diferentes, mas é possível
identificar características comuns entre elas. Os objetos guardados em uma coleção ou no
acervo de museu já não são avaliados por seu valor de utilidade, seu uso faz parte do passado,
seu objetivo é ser admirado e ordenado. São rodeados de cuidados especiais, protegidos da
ação do tempo. São expostos de maneira que sejam vistos e, na maioria das vezes, para que
não sejam tocados.
Os museus surgem apresentando uma história singular, mostrada e reafirmada pelos objetos,
que se distinguem dos demais devido a uma concepção histórica orientada por eventos,
homens e fatos classificados como importantes, que compõem a história que é contada. Essa
ideia de história única e oficial encontrou no museu sua instituição principal, transformada em
uma plataforma de símbolos, que constroem uma memória única, homogenia.
Em Pelotas, a criação do Museu Municipal Parque da Baronesa veio atender esta demanda.
Até hoje, ele ainda é chamado de “Museu da Cidade”, dando a falsa ideia de que ali
encontram-se objetos referentes a história da cidade, quando na verdade trata-se de um
museu que apresenta parte da história de Pelotas. Como a maioria dos museus, as coleções
provêm de famílias e representantes da elite da cidade, sugerindo um falso histórico,
esquecendo das diversas camadas existentes na sociedade.
Adail foi representante ilustre da sociedade pelotense do século XX, por ter possuído muitos
objetos e vontade de criação de um Museu para abrigá-los, doou os objetos ao seu município
de nascimento. Embora tenham vivido em períodos diferentes, a família que habitou a casa
onde se encontra o museu e o colecionador em questão, fizeram parte da história de Pelotas,
exerceram influência na sociedade em que viveram, possuíram alguns objetos semelhantes
que hoje encontram-se no mesmo espaço, carregados de memória e significados.
Referências
CALVINO, Italo. Collection de Sable. Paris, Éditions du Seuil, 1990, p.11-17.
CLARA, Isabel Santa. Colecções. Episteme, Porto Alegre, n. 20, suplemento especial, p. 167-
171, jan./jun. 2005.
JANEIRA, Ana Luísa. A configuração epistemológica do colecionismo moderno (séculos XV-
XVII). Episteme, Porto Alegre, n.20, jan./jun. 2005.
________. Primórdios do colecionismo moderno em espaços de produção do saber e do gosto. Revista Memorandum, Belo Horizonte, 2006.
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________; PINTO, Paulo Mendes. Andarilhos, comerciantes, espiões naturalistas e outros cientistas em saques, expedições e exposições. Episteme, Porto Alegre, n. 20, jan./jun. 2005.
LEAL, Noris Mara Pacheco Martins. Museu da Baronesa: acordos e conflitos na construção da
narrativa de um museu municipal – 1982 a 2004. Dissertação (Mestrado em História).
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.
MONTONE, Annelise Costa. Representações da vida feminina em um acervo de imagens
fotográficas do Museu da Baronesa, Pelotas/RS: 1880 a 1950. Dissertação (Mestrado em
Memória Social e Patrimônio Cultural) Instituto de Ciências Humanas.
Outras fontes:
Decreto lei de criação do MMPB;
Documentos administrativos do MMPB;
Documento que efetiva a doação das peças que pertenceram ao Prof. Adail Bento Costa à
Prefeitura de Pelotas de 16 de Abril de 1982;
Fichas catalográficas do acervo do MMPB;
Recortes de jornais da Coleção Adail Bento Costa: acervo MMPB;
Recortes de jornais da Coleção Família Antunes Maciel: acervo MMPB;
Relação das peças feita pela administração do Museu da Baronesa, em 25 de outubro de 1983;
Relação registrada em cartório das peças que pertenceram ao Prof. Adail Bento Costa, em 23
de março de 1982;
Testamento de Adail Bento Costa;
Testamento de Aníbal Antunes Maciel.
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Inventário das escariolas pelotenses: Preservação das técnicas decorativas em revestimento de
paredes
Daniele Baltz da Fonseca149
Pedro Luís Machado Sanches150
Jeferson Dutra Salaberry³
Palavras-chave: Escariolas. Stucco-lustro. Estuques lisos. Inventário do Patrimônio Cultural.
Introdução
Este artigo apresenta o trabalho em desenvolvimento que consiste na elaboração de um
inventário das escariolas pelotenses. Através do inventário busca-se conhecer o universo das
escariolas ainda existentes nas paredes das edificações já inventariadas como Patrimônio
Cultural desta cidade. Também se pretende buscar o reconhecimento desses revestimentos
como bem cultural, suscitando discussões acerca das técnicas decorativas das edificações
históricas e, consequentemente, colaborando com a sua preservação. Tal inventário é
promovido através do GEPE, grupo de estudo e pesquisa em estuques do Curso de
Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da UFPel, e é viabilizado através de recursos
do PROEXT 2013, do Ministério da Educação.
Metodologia e resultados
As escariolas são um acabamento de paredes revestidas com argamassa tradicional de cal e
areia. O acabamento escariolado é feito com a aplicação de finas camadas de uma argamassa
de pasta de cal e pó de mármore, denominada marmorino. O marmorino é brunido com colher
ou desempenadeira metálica enquanto é umedecido com sabão dissolvido em água. Tal
técnica deixa o marmorino com aspecto lustroso, como o de mármore polido. Sobre o
marmorino são executadas pinturas afresco buscando simular incrustações de pedras
ornamentais como mármores. Segundo Aguiar (2002, p. 258) o nome correto da técnica seria o
stucco-lustro, enquanto que a verdadeira escaiola deriva do italiano scagliola e consiste em
técnica diferente na qual a simulação do mármore se dá por adição dos pigmentos à massa e
esta é recortada para formar as incrustações. Para Sanches et. al. (2013), em Pelotas seria
utilizada a variação lexical escariola, no lugar de escaiola. No entanto, o termo escaiola é
utilizado no Brasil, Portugal e Espanha para designar qualquer técnica de fingimento de
mármore.
149 Arquiteta e Urbanista, Mestre em Conservação e Restauro de Monumentos, professora da Universidade Federal de Pelotas, [email protected].
² Bacharel em Filosofia, Doutor em Arqueologia, professor da Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
³ Arquiteto e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, técnico em restauração da Universidade Federal de Pelotas, [email protected].
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FIGURA 2 – Escariola no prédio do
instituto João Simões Lopes Neto.
Fonte: acervo do GEPE, 2011.
FIGURA 3 – Escariola no prédio
localizado na Rua Félix da Cunha.
Fonte: acervo do GEPE, 2011.
FIGURA 4 – Escariola do
casarão 06 da praça Coronel
Pedro Osório. Fonte: acervo
do GEPE, 2013.
Inicialmente, identificou-se que as escariolas pelotenses constituem-se em bens culturais
ameaçados, uma vez que os mecanismos de preservação não atingem o interior dos edifícios,
na sua maioria. Nesta cidade, aproximadamente 50 edificações são tombadas ou
inventariadas com nível de preservação 1, enquanto o total de bens inventariados na cidade
soma mais de 2000, isso quer dizer que menos de 3% do total de bens do Patrimônio Cultural
têm a preservação de suas características interiores garantida por algum mecanismo legal.
A partir desta constatação percebeu-se a necessidade de se inventariarem as escariolas
pelotenses. O trabalho proposto constitui-se num registro de todas as escariolas que
pertencem à edificações do Inventário do Patrimônio Cultural Pelotense. Acredita-se que
através do estudo e da pesquisa acerca do bem é possível atribuir-lhe significado e valor
cultural e, com isto, buscar os mecanismos necessários para que sua preservação, baseada no
respeito, na apropriação e apreciação do objeto cultural pela comunidade, possa ser garantida.
Conclusões
Esta etapa do levantamento pretende inventariar os bens que estão inseridos na Zona de
Preservação do Patrimônio Cultural II –ZPPC II. Esta zona contém 811 imóveis inventariados.
Até o presente momento, 312 imóveis foram vistoriados, entre os quais se encontrou um total
de 33 imóveis que possuem pelo menos um ambiente com paredes escarioladas. Também
foram encontrados pelo menos 2 imóveis que possuem paredes escariolas e que, por já terem
sua fachada descaracterizada, não figuram entre os bens inventariados da cidade.
Referências
AGUIAR, José. Cor e Cidade Histórica: Estudos Cromáticos e Preservação do Patrimônio. Porto: FAUP, 2002.
GONZÁLEZ-VARAS, Ignacio. Conservación de bienes culturales: teoria, história, principios y normas. Madrid: Cátedra, 2000.
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MASCARENHAS, Alexandre. Ornatos Restauração e Conservação. In-Fólio, Rio de Janeiro 2008.
SANCHES, Pedro L. M.; ALVES, F. G.; PALLA, F. Fingir e escariolar: variações do léxico e do modo de fazer em Pelotas, RS, Brasil. In: II Congresso de História da Construção Luso-brasileira, 2013, Vitória/ES. Anais.
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O Almanach de Pelotas e os seus reclames: suportes materiais de questões imateriais
Paula Garcia Lima151
Francisca Ferreira Michelon152
Palavras-chave: Almanach de Pelotas, reclames, cultura material.
Introdução
Este trabalho integra estudos que vem sendo desenvolvidos desde 2010 dentro do projeto de
pesquisa “Memória Gráfica de Pelotas: um século de design”, lotado na Universidade Federal
de Pelotas, e estudos que estão em fase inicial para a composição de tese dentro do Programa
de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural, do Instituto de Ciências Humanas,
da mesma citada universidade.
Nas duas pesquisas citadas, tem-se como foco de análise os reclames do Almanach de Pelotas,
periódico veiculado na cidade entre os anos de 1913 e 1935. Os almanaques, de forma geral,
eram produtos de grande apego dentro das sociedades, considerados verdadeiros parceiros
dos leitores, lhes acompanhando dia a dia no decorrer do ano. Para Ferreira (2001, p.20), os
almanaques eram grandes conselheiros, guias das mais diversas áreas, fornecendo receitas e
contendo informações que perpassavam desde a magia até conhecimentos calcados na
medicina, com vistas a auxiliar na superação de dificuldades. Com o Almanach de Pelotas,
percebeu-se que tais características se confirmavam, ou seja, era uma fonte veiculadora deste
tipo de informações.
No entanto, o Almanach de Pelotas configura o objeto de estudo mais geral deste trabalho,
sendo o objeto de estudo mais específico os anúncios encontrados no decorrer desta
publicação, que não eram poucos, tendo em vista que o periódico se intitulava como um
periódico de variedades, informações e propaganda. Mesmo em uma primeira apreciação é
notória a grande quantidade de reclames e isto é perfeitamente compreensível, já que estes
eram responsáveis por sustentar a publicação. O enfoque em anúncios de produtos se justifica
pela compreensão de que estes são elementos que funcionam como importantes integrantes
da cultura material que muito tem a dizer sobre a sociedade na qual foram originados e
circularam. Sobre cultura material os principais autores utilizados são Villas-Boas (2002),
Radley (1992) e Csikszentmihalyi (1993). Ressalta-se que estes suportes materiais, conforme
citado, falam de muitos aspectos imateriais como os hábitos, costumes, formas de vida e
organização desta sociedade.
Metodologia e resultados
151 Design Gráfico, doutoranda em Memória Social e Patrimônio Cultural – UFPel, UFPel, [email protected].
152 Licenciatura Plena Em Educação Artística, Doutora em História – PUC-RS, UFPel,
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O estudo que, em parte se intenta apresentar aqui, inicialmente partiram de uma análise dos
anúncios a partir de um formulário de identificação dos reclames constituído por dados como:
título do periódico, data, página, cota, tipo de produto, estética, tema representado, tipo de
impressão, gráfica, tipógrafo, dimensões, cores, suporte, observações.
A partir deste formulário foi possível se ter um panorama geral dos anúncios, permitindo,
inclusive, que se iniciasse um inventário destes anúncios, através de uma classificação com
base na tipologia do produto que anunciado. No entanto, para a pesquisa que esta sendo
desenvolvida na tese que se encontra em fase inicial, sentiu-se a necessidade de uma análise
de forma mais focada no periódico no qual se encontram os anúncios. Desta forma, partiu-se
para uma leitura detalhada de todo o periódico, para uma melhor compreensão deste suporte
que veicula os anúncios, ou seja, para buscar compreendê-los de forma inserida neste
contexto maior.
Nesta análise do periódico como um todo, foi criado um arquivo de texto denominado
“Fichamento leitura Almanachs”, no qual foram anotadas questões curiosas relacionadas aos
anúncios e ao periódico como um todo. Este arquivo contém 186 páginas de informações,
porém, as mesmas ainda não foram sistematizadas.
Conclusões
Até o presente, reitera-se que se acredita estar a trabalhar importantes integrantes da cultura
material, tanto tomando o objeto de estudo de uma forma global – os Almanachs – quanto os
tomando a partir da especificidade do que se está a observar – os reclames. Já foi possível
perceber o quanto se pode saber, conhecer da sociedade pelotense daquele período, e as
inúmeras vertentes que, a partir destes objetos, pode-se analisar. Por fim, conclui-se indo ao
encontro da afirmação de Douglas Kellner (1995, p. 112), quem considera este tipo de produto
visual como textos culturais multidimensionais cuja análise exige um processo cuidadoso de
decodificação e interpretação que tem muito a revelar sobre nós mesmos e nossa sociedade.
Referências
CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. Why we need things. In: LUBAR, Steven; KINGERY, David W.
(orgs.). The history from things: essays on material culture. Washington: Smithsonian
Institution, 1993. p.20-29.
FERREIRA, Jerusa Pires. Almanaque. In: MEYER, Marlyse (Org.). Do Almanak aos Almanaques.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
KELLNER, Douglas. Lendo Imagens Criticamente: em direção a uma pedagogia Pós-Moderna.
In: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Alienígenas na Sala de Aula. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995, p.
104-131.
RADLEY, Alan. Artefactos, memoria y sentidos del pasado. In: MIDDLETON, David; EDUARDS,
Derek (org.). Memoria compartida: la naturaleza social del recuerdo y Del olvido. Buenos Aires:
Paidós, 1992. p.63-76.
VILLAS-BOAS, André. Identidade e cultura. Rio de Janeiro: 2AB, 2002.
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Patrimônio Material: Usos da Igreja de St Mary e St David em Kilpeck, Herefordshire, como uma fonte
histórica para o passado.
Amanda Basílio Santos153
Palavras-chave: Patrimônio. Fonte. Mísulas. Cultura.
Introdução
O trabalho proposto aborda parte da pesquisa em desenvolvimento que resultará no TCC, que
trata da análise simbólica e artística das mísulas154 da Igreja de St. Mary e St. David em Kilpeck,
Herefordshire, na Inglaterra. A intenção é discutir a importância desta igreja em particular
como patrimônio material para pesquisas que abordam o período medieval.
A Igreja de Kilpeck foi construída no século XII, sendo fruto da invasão normanda na Inglaterra,
tendo o poder normando se consolidado na Batalha de Hastings em 1066. Após o começo do
reinado normando houve muitas construções tanto de prédios religiosos quanto de prédios
temporais, como castelos. A Igreja de Kilpeck foi construída entre 1134 e 1145, tendo como
patrono Hugh of Kilpeck. Ela foi construída em terreno onde já havia previamente uma igreja
desde o século VI, pois a região sempre foi de importância estratégica por ser fronteira com
Gales. (THURLBY, 2002)
Metodologia e resultados
Uma das conseqüências geradas pela Escola dos Annales foi o alargamento de fontes para a
pesquisa histórica deixando de privilegiar os documentos escritos, de cunho oficial, e
agregando elementos visuais, arquitetônicos, arqueológicos, orais, dentre outros (BURKE,
1992), este fato permite a realização deste trabalho cuja fonte principal se trata de elementos
visuais de um patrimônio arquitetônico.
A Igreja se encontra de forma incrivelmente conservada e poucas alterações ou restaurações
foram feitas desde a sua construção. Ela é um patrimônio importante pois é o melhor e mais
bem preservado exemplo de arte românica da Escola de Herefordshire. A Igreja sofreu poucas
alterações, apenas uma janela adaptada ao estilo gótico e a adição de uma proteção de metal
sob o pórtico da porta; não foi depredada na época quando muitas igrejas inglesas perderam
parte ou totalidade de sua iconografia e decoração. As reformas de Thomas Cromwell também
não afetaram a igreja e por fim esta sobreviveu ilesa aos bombardeios da I e II Guerra Mundial.
Tudo isto torna esta igreja um patrimônio arquitetônico e iconográfico importantíssimo do
período medieval inglês.
153 Graduanda em Bacharelado em História; Universidade Federal de Pelotas (UFPel);
154 Mísula: Segundo o dicionário Enciclopédico de Arquitetura “Peça saliente em forma de S
invertido, estreita na parte inferior e mais larga na superior, encostada a uma parede vertical e
servindo de apoio a uma cornija, busto, arco, etc. (PEVSNER et al., 1977).
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Para que fosse possível efetuar a análise destas 80 mísulas foi feito um banco de dados
abordando descrição de cada mísula, paralelo com bestiário quando se tratava de um animal,
bibliografia onde estas mísulas já foram citadas, disposição espacial na Igreja (nave, abside,
etc). À partir do banco de dados foi gerado gráfico de tipologias temáticas ou espécies (ao
lado). Através deste gráfico foi possível visualizar o que é mais recorrente tematicamente para
então poder fazer uma análise temática e posteriormente estilística.
As fontes desta pesquisa estão disponíveis on-line o que permite maior acesso aos
historiadores brasileiros com interesse no período medieval. As fotografias estão disponíveis
no site http://www.crsbi.ac.uk/index.html apresentando o conjunto completo das mísulas.
Conclusões
No decorrer da pesquisa, que ainda é inicial, a Igreja de Kilpeck tem provado ser de inestimável
importância para o entendimento da arquitetura românica de igrejas paroquiais do interior da
Inglaterra medieval, através da análise iconográfica de seu conjunto de mísulas até então ficou
claro a forte presença de um hibridismo cultural havendo elementos estilísticos e temáticos
cristãos e celtas compartilhando espaços importantes da arquitetura eclesiástica como a
abside155.
Referências
ALLEN, J. Romilly. Celtic Art in Pagan and Christian Times. Londres: Methüen & CO, 1904.
p.452.
BURAS, C. Social Influences on Sculpted Romanesque Corbels in the Eleventh and
Twelfth Centuries. 2012. 56f. Tese (Mestrado em Artes) – The School of Art, Louisiana State
University, Louisiana. p.56.
BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. Rio Grande do Sul: UNISSINOS, 2003. p.116.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929 – 1989: A Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Unesp, 1992. p.115.
155 Abside: Segundo o Dicionário Enciclopédico de Arquitetura “Uma extremidade poligonal ou semi-
circular, com abóbada, usualmente de uma capela ou capela-mor”. (PEVSNER et al., 1977)
22; 28%
24; 30%
20; 25%
5; 6%
9; 11%
Gráfico Classificatório das Mísulas
Animais
Rostos Humanos
Bestas/Híbridos
Cenas Específicas
Outros
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FREITAG, Barbara. Sheela-na-Gigs: Unraveling an Enigma. Londres: Routledge, 2004. p.205.
FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2006.
GELDART, Ernest. A Manual of Church Decoration and Symbolism: The Explanation and the
History of the Symbols and Emblems of Religion. Londres: A.R. Mowbray & CO, 1899. p.228.
MAGRILL, B. Figurated Corbels on Romanesque Churches: The Interface of Diverse Social
Patterns Represented on Marginal Spaces. RACAR XXXIV, V.34, Nº2, p. 43 – 54, 2009.
PEVSNER, Nikolaus; FLEMING, John; HONOUR, Hugh. Dicionário Enciclopédico de Arquitetura.
Rio de Janeiro: Editora ArteNova, 1977. 271p.
TAYLOR, Richard. How to Read a Church. New Jersey: Hidden Spring, 2005. p.246.
THURLBY, Malcolm. The Herefordshire School of Romanesque Sculpture. Londres: Logaston
Press, 2002. p.178.
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Um Inventário Material: a experiência do Laboratório de História do livro
Ana Utsch156
Alice Almeida Gontijo157
Palavras-chave: Inventário Material. História do Livro. Codicologia. Restauração. Acervos
Bibliográficos.
Introdução
A presente comunicação pretende apresentar e discutir o processo de produção do Inventário
Material bibliológico inscrito nas atividades do Laboratório de História do Livro. Através da
construção de objetos capazes de ilustrar as diferentes modalidades técnicas, materiais e
gestuais que dão forma e realidade ao livro impresso em diferentes períodos históricos (séc.
XV-XIX), o Laboratório constituiu um inventário que, ao unir patrimônio material e imaterial,
abrange um projeto museológico, pedagógico e editorial.
Dedicado ao estudo da materialidade do objeto-livro ao longo de sua história, o Laboratório de
História do Livro é um dos segmentos do Museu Vivo Memória Gráfica (que conta ainda com
uma oficina tipográfica), projeto de pesquisa e extensão em atividade desde o primeiro
semestre de 2011, coordenado pela Profa Ana Utsch e integrado ao Centro Cultural UFMG.
Imperativamente associada aos suportes tradicionais da cultura escrita, a palavra, manuscrita
e impressa, forjou ao longo de seu longo percurso de inscrição, diferentes modalidades
técnicas e estéticas expressas pelas inúmeras materialidades encarnadas exemplarmente pelo
códice (CHARTIER, 1994). Percebidos como “dispositivos ativos”, os suportes e as formas que
sustentam a textualidade guardam a memória das operações efetivas que os produziram,
suscitando, antecipando ou programando seus modos de circulação e os gestos de apropriação
de seus diferentes destinatários (JACOB, 2010).
A estrutura que constitui o livro como objeto tridimensional – a encadernação – foi, por muito
tempo, negligenciada pela restauração de acervos bibliográficos e com ela os valores
patrimoniais e históricos dos elementos construtores de sua materialidade. Esta negligência
colocou, e ainda coloca, em risco o patrimônio bibliográfico mundial. Ao privilegiar o suporte
bidimensional (os fólios, o papel) em detrimento da encadernação, inúmeros códices
integrantes de importantes acervos bibliográficos foram destituídos de suas características
formais, que, além de serem detentoras de informações precisas sobre a fabricação do livro no
passado, guardam a memória das práticas de difusão e recepção do livro em diferentes
períodos históricos. A História do Livro (aliada à Bibliografia Material), ao exaltar na segunda
metade do século XX os valores patrimoniais e históricos destes elementos, questionou, ainda
que indiretamente, essa negligência. É também com a consciência das funções ativas exercidas
156 Doutorado, professora do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da EBA/UFMG, [email protected]
157 Graduação, estudante do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da EBA/UFMG, [email protected].
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pelas diversas materialidades do livro, que o Laboratório de História do Livro aproxima
efetivamente a História do Livro e a Restauração de Acervos Bibliográficos.
Metodologia e resultados
Como instrumento maior de consolidação dessa aproximação, o Laboratório constrói e divulga
o seu Inventário Material, contemplando diferentes estruturas e formas que contribuíram para
a fixação do livro impresso no Ocidente, em um período que vai do século XV – momento que
marca uma ruptura fundamental com os modelos técnicos próprios do corpus material do livro
medieval – ao século XIX – momento que pontua a “segunda revolução do livro” (BARBIER,
2001), com inúmeras transformações materiais provenientes dos processos de industrialização
e do aumento da produção editorial.
FIGURA 1 – O Laboratório de História do Livro na ocasião de sua inauguração em Agosto de 2011, Centro Cultural UFMG, Belo Horizonte.
Fonte: Arquivo fotográfico do Museu Vivo Memória Gráfica
Após a etapa de organização e aparelhagem do Laboratório, iniciamos a produção do
Inventario de maneira regressiva e elegemos a encadernação tradicional europeia do séc. XIX,
como ponto de partida, seguida por modelos dos séculos XVII, XVI. Cada modalidade foi
construída de maneira a dar a ver os materiais e técnicas utilizadas na elaboração das
diferentes estruturas.
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FIGURAS 2 E 3 – Peças do Inventário da encadernação tradicional do século XIX à esquerda e peça do Inventário da encadernação do século XVII à direita.
Fonte: Arquivo fotográfico do Museu Vivo Memória Gráfica
Conclusões
O Inventário Material constitui hoje uma importante fonte de pesquisa e ensino para a
comunidade da UFMG. Para os estudantes do Curso de Conservação-Restauração de Bens
Culturais Móveis, assim como de Biblioteconomia, Museologia e Letras, o Inventário Material
tem sido fundamental para a ampliação e sistematização de conhecimentos adquiridos através
das disciplinas Restauração de Livros e Documentos, História do Livro, História da
Encadernação e Encadernação. Além dessa dimensão acadêmica, as visitas guiadas ou
espontâneas, oferecem ao público externo a possibilidade de conhecer os diferentes processos
de constituição do livro.
Referências
BARBIER, Fréderic (dir.). Les trois révolutions du livre. Actes du colloque international de
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A Arquitetura Protomoderna no Inventário do Patrimônio Histórico de Pelotas
Alexandra Vaz Viana158
Liciane Machado Almeida159
Daniele Behling Luckow³
Palavras-chave: inventário.arquitetura.protomoderna.patrimônio.histórico
Introdução
A arquitetura urbana de Pelotas chegou aos meados do século XX compondo-se através de
elementos mais geométricos e menos rebuscados, característicos da arquitetura
protomoderna. No campo teórico, esta arquitetura foi alvo de importantes estudos (MOURA,
2004 E 2005; SCHLEE, 1993; GONSALES, 2001; ALMEIDA, 2006). Este estilo, ainda
significativamente remanescente na cidade, em termos de proteção, encontra-se parcialmente
cadastrado no Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural de Pelotas. É esse corpo de bens
protegidos que representa o objeto deste estudo.
A análise deste acervo arquitetônico tem como objetivo o reconhecimento desta produção
edilícia como forma de subsidiar o estudo em andamento sobre a Arquitetura Protomoderna
em Pelotas desenvolvido pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
de Pelotas em parceria com a Prefeitura Municipal. O citado estudo levantou e mapeou todo o
acervo remanescente na malha urbana dos primeiros loteamentos da cidade. Atualmente está
em fase de análise do acervo identificado para definição dos bens passíveis de enquadramento
na lei municipal 4568/2000 (PELOTAS,2000), que regulamenta o inventário. O reconhecimento
dos exemplares protegidos é uma referência para as análises dos prédios atualmente em
estudo, tanto no que se refere à identificação dos significados a eles já atribuídos, como no
que diz respeito ao entendimento dos mecanismos de proteção vigentes.
Metodologia e resultados
A definição da amostra para o estudo tomou por base os 2095 exemplares arquitetônicos
cadastrados no Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural de Pelotas. Os prédios
selecionados apresentam características da arquitetura protomoderna e foram identificados
através do cadastro da Prefeitura existente na Secretaria Municipal de Cultura, com base na
ficha de avaliação dos níveis de preservação. Constatou-se 282 exemplares com características
da arquitetura protomoderna, o que representa 13% do total de imóveis inventariados no
158 Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Católica de Pelotas,
159 Arquiteta e Urbanista, Especialista em Patrimônio Cultural, Mestre em Memória Social e
Patrimônio Cultural, Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas,
³ Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Curso de Arquitetura e
Urbanismo Universidade Católica de Pelotas, [email protected]
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município. A análise desta amostra avaliou a situação atual destes imóveis, considerando suas
descaracterizações e sua localização na malha urbana.
FIGURA 1 – Exemplares da arquitetura protomoderna na cidade de Pelotas.
Fonte: Acervo Secretaria Municipal de Cultura
Os exemplares selecionados foram localizados no mapa da zona urbana permitindo avaliar a
tendência de construção em direção à zona portuária. Os imóveis com descaracterizações
significativas representam 14% dos imóveis mapeados com características protomodernas.
FIGURA 2 – Mapeamento da arquitetura protomoderna na cidade de Pelotas.
Fonte: Produção da autora
Conclusões
A permanência de exemplares da arquitetura protomoderna em Pelotas evidencia a
necessidade de sua manutenção como elemento representativo de uma importante fase da
história de desenvolvimento da cidade. O estudo desta arquitetura permite reconhecer as
transformações e tendências estilísticas empregadas ao longo da história, ressaltando que as
características protomodernas também foram fortemente empregadas na produção edilícia da
cidade. A análise destes 282 prédios caracteriza a sua importância na paisagem urbana, no
contexto histórico da cidade e o fortalecimento da memória de Pelotas.
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Referências
ALMEIDA, Liciane Machado. 2009. “Casas de Renda” – Um Estudo para Reabilitação dos
Conjuntos Residenciais do Patrimônio Edificado Pelotense no Início do Século XX. Dissertação
(Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural) – Instituto de Ciências Humanas,
Universidade Federal de Pelotas, 2006.
GONSALES, Célia Helena Castro. Racionalidade e contingência, uma proposta de leitura da
arquitetura moderna brasileira: o caso de Pelotas. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis-
Editora Ritter dos Reis. 2001. v. 3, p. 173-180
MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim. Ari Marangon - 25 anos de arquitetura. Santa Maria:
Pallotti, 2004. v. 500.105 p
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da UFPel, 2005.v. 300. 200 p.
PELOTAS. Lei 4.568 de 2000. Declara área da cidade como zonas de preservação do Patrimônio
cultural de Pelotas – ZPPCs – lista seus bens integrantes e dá outras providências. Disponível
em: www.pelotas.com.br. Acesso em: 20 set. 2013.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PELOTAS, SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. Manual do
Usuário de Imóveis Inventariados. Pelotas: Nova Prova, 2008.
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Inventário como instrumento de interpretação e planejamento: O plano de preservação do
patrimônio arquitetônico de São Lourenço do Sul-RS.
Daniele Behling Luckow 160
Ana Lúcia Costa de Oliveira 161
Palavras-chave: Inventário. Patrimônio arquitetônico. Preservação. São Lourenço do Sul.
Introdução
No âmbito de atuação do patrimônio cultural a organização de planos de conservação e
gestão integrada tanto em escala local como nacional tem um papel importante na política de
proteção aos bens culturais. Dentro dessa política podem-se estabelecer três instâncias: a
proteção, o conhecimento e a gestão. Nesse sentido os inventários de cadastro do patrimônio
cultural podem ser interpretados a partir do conhecimento (cadastramento), da legislação de
proteção e da gestão. A sua leitura como instrumento de conhecimento e gestão incorpora a
análise da informação ao processo de trabalho configurando assim uma base para planos de
conservação e gestão integrada.
Dentro da gestão de preservação do patrimônio de bens imóveis a Declaração de Amsterdã
destaca o inventário como uma ferramenta apropriada, pois “ [...] fornecerá uma base realista
para conservação, no que diz respeito ao elemento qualitativo fundamental para a
administração dos espaços.” (CONGRESSO DO PATRIMÔNIO EUROPEU, 1975, p.4). Assim como
a Conferência de Nairóbi recomenda que “Deveria ser produzido um documento analítico
destinado a determinar os imóveis ou grupos de imóveis a serem rigorosamente protegidos,
conservados sob certas circunstâncias [...]”(CONFERÊNCIA GERAL DA UNESCO, 1976, p.7). Sob
este enfoque o objetivo do trabalho é pesquisar a aplicabilidade do inventário como subsidio
para a elaboração de um plano de conservação com base no aprimoramento de uma
metodologia de análise, tento como objeto de estudo o Plano de Conservação do Patrimônio
Arquitetônico de São Lourenço do Sul-RS.
Em 2007, a Prefeitura Municipal de São Lourenço do Sul em convênio com a Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas realizou um inventário de
reconhecimento do acervo do patrimônio arquitetônico de seu Centro Histórico. Dando
continuidade à política de preservação para a proteção desta área, o atual executivo
municipal, solicitou, em novo convênio à FAUrb-UFPel, um estudo aprofundado do acervo,
aqui chamado laudo técnico, para viabilizar um plano de conservação e gestão. Este tem como
referencial o inventário de reconhecimento (SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E MEIO
AMBIENTE, 2007) e sua posterior interpretação na dissertação de mestrado “Arquitetura
urbana e inventário: São Lourenço do Sul” (LUCKOW, 2010).
160 Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Curso de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Católica de Pelotas, [email protected]
161 Arquiteta e Urbanista, Doutora em Planejamento Urbano e Regional. Núcleo de Estudos de
Arquitetura Brasileira, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de
Pelotas. [email protected].
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Metodologia e resultados
A partir do inventário de reconhecimento foi possível identificar as edificações relevantes e
caracterizar a área culturalmente representativa da identidade local, focos da atual pesquisa.
A saber, a área do antigo porto, historicamente a da primeira ocupação, com uma
concentração dos remanescentes da linguagem luso-brasileira e eclética em bom estado de
conservação e preservação, cuja paisagem forma “um ambiente pitoresco, com o sítio físico
bastante arborizado, marcado pela sinuosidade do Arroio São Lourenço e por um desnível mais
acentuado na ligação com a área central” (LUCKOW, 2010, p.142-143). (Figura 1)
FIGURA 1 – Mapa com a delimitação da área do antigo porto em vermelho (esquerda) e imagens da ambiência e edificações (direita).
Fonte: Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente, Prefeitura Municipal de São Lourenço do Sul. Editado pela autora.
A estrutura deste trabalho compõe-se de três partes: contextualização histórica e análise da
área do centro histórico; descrição das edificações de relevância cultural, segundo critérios de
análise; plano e recomendações de preservação visando à salvaguarda dos prédios e sua
ambiência. Os critérios de interpretação partem da prerrogativa de que um bem
arquitetônico, enquanto patrimônio apresenta três dimensões: a arquitetura em si, a
ambiência e a situação atual (preservação e conservação). Entendendo que a arquitetura trata
do bem pelo seu valor intrínseco; a ambiência reflete o contexto mais amplo (como entorno,
relações, configurações e significância da edificação) e a situação atual se refere às
intervenções do meio sobre as duas anteriores. A combinação dessas três dimensões procura
atribuir um valor mensurável a atributos de natureza predominantemente qualitativa. Outro
critério relevante é o valor simbólico que ultrapassa o âmbito mensurável, representa o
testemunho físico da identidade e da cultura regional ou local, é passível de ser detectado
através da interpretação do contexto histórico. Essas duas leituras combinadas, mensurável e
simbólica são entendidas aqui como nível de preservação.
Conclusões
O resultado do trabalho até o presente é a caracterização de uma metodologia de
interpretação do patrimônio construído e sua ambiência, gerada na aplicação do inventário
como instrumento de conhecimento, que possibilitará a construção de mecanismos de
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proteção do patrimônio cultural. Amparada na interpretação contemporânea da proteção do
patrimônio busca viabilizar futuras ações de preservação dentro de uma política cultural mais
abrangente por parte da Prefeitura Municipal de São Lourenço do Sul.
Referências
CONFERÊNCIA GERAL DA UNESCO, 19, Nairóbi, 1976. Recomendação de Nairóbi. Paris:
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Européia do Patrimônio Arquitetônico. Estrasburgo: Conselho da Europa, 1975. Disponível em:
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LUCKOW, Daniele Behling. Arquitetura urbana e inventário: São Lourenço do Sul. 2010. 81f.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2010.
SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E MEIO AMBIENTE. Inventário de reconhecimento da
arquitetura urbana de São Lourenço do Sul. 2007. São Lourenço do Sul.
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Estuques artísticos em relevo, conhecer para reconhecer
Cristina Jeannes Rozisky162
Carlos Alberto Ávila Santos 163
Palavras-chave: Patrimônio Arquitetônico, Bens Integrados, Conservação, Inventário.
Introdução
Este trabalho é vinculado à pesquisa intitulada “A arte decorativa de estuques em relevo nos
interiores de edifícios históricos na cidade de Pelotas 1876 | 1911” e trata especificamente da
arte decorativa de estuques164 em relevo, encontrada tradicionalmente ornamentando os
tetos dos ambientes nos interiores dos prédios da arquitetura eclética165 pelotense. Deste
universo, a pesquisa enfoca as seguintes construções: as antigas residências do Conselheiro
Maciel (Casarão 8) e do Barão de São Luis (Casarão 6); o Paço Municipal; o sobrado de
Francisco Alsina. A escolha desses exemplares foi definida, num primeiro momento, pela
qualidade das decorações estucadas e pela facilidade de acesso aos interiores dos casarões,
atualmente todos são de uso público.
162 Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas (1997). Artífice
de Restauração de Bens Culturais, IPHAN/SENAC-RS (1999). Mestre Artífice Especialista em
Conservação e Restauração de Estuques pelo Centro Europeu de Veneza para os Ofícios da
Conservação do Patrimônio Arquitetônico, Itália, convênio Minc-Brasil/Unesco/BID (2001).
Mestranda no Programa de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural no
Instituto de Ciências Humanas/UFPel, [email protected]
163 Graduado em Licenciatura em Educação Artística, pelo Instituto de Letras e Artes da
Universidade Federal de Pelotas (1982). Especialista em Arte e Cultura Barroca, pelo Instituto
de Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto (1991). Mestre em Teoria, Crítica e
História da Arte, pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997).
Doutor em Arquitetura e Urbanismo, área de Conservação e Restauro, pela Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (2007). Professor adjunto da
Universidade Federal de Pelotas/UFPel. Integra o corpo docente do Curso de Especialização
em Artes e do Curso de Mestrado em Artes do Centro de Artes/UFPel, e do Curso de Mestrado
em Memória Social e Patrimônio Cultural, do Instituto de Ciências Humanas/UFPel,
164 Genericamente, o termo estuque se define como “toda argamassa de revestimento que
depois de seca adquire grande dureza e resistência ao tempo” (CORONA e LEMOS, 1972, p.
208). Contudo o conceito é mais amplo e inclui também uma diversidade de técnicas de
suporte e técnicas ligadas às expressões artísticas.
165 Ecletismo, estilo que se apropria de elementos de vários estilos, integrando-os de maneira
uniforme. Refere-se à seleção do que parece melhor em diferentes épocas e de civilizações
distintas, sendo assim, historicista. Na filosofia grega, “eklektikós” definia os filósofos que
absorviam os melhores ensinamentos de escolas conflitantes (SANTOS, 2007).
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Esta investigação tem como objetivos: analisar a produção da estucaria em Pelotas,
ponderando as influências sofridas pelos artífices pelotenses de procedimentos desenvolvidos
na Europa; efetuar leitura formal (WÖLFFLIN, 1989; JONES, 2012), iconográfica e iconológica
(KINDERSLEY, 2012; LURKER, 2003; PANOFSKY, 2004) dessas peças; desenvolver um inventário
dos forros decorados em estuque relevado, baseado em metodologias existentes pesquisadas
(INBMI-IPHAN, 2000; SOARES, 2011), ressaltando as peculiaridades dos estuques decorativos
nos ambientes interiores dos edifícios em estudo; criar uma referência com informações
históricas e plásticas da técnica na Itália, em Portugal, no Brasil e em Pelotas (AGUIAR, 2002;
ALBERTI, 1991; CHEVALIER, 2002; FOGLIATA e SARTOR, 1995; FÜLLER, 1924; LEITE, 2008; LIMA,
2001; MACAMBIRA, 1985; MASCARENHAS, 2008; MENDONÇA, 2009; ROJAS, 1999; SISÍ,1998;
TEIXEIRA, 2004; VIEIRA, 2002; VITRÚVIO, 2007); analisar o estado de conservação desses
elementos na arquitetura pelotense.
O acervo patrimonial de Pelotas, constituído por notáveis exemplos de fundamental
importância para a história da arquitetura brasileira, em sua maioria está listado no inventário
municipal. O Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural está regulamentado pela Lei nº
4568/00, a qual resguarda as fachadas públicas e a volumetria dos bens integrantes do
inventário, sendo permitidas alterações internas (SECULT, 2008). Assim, não há proteção para
os bens integrados que estão nos interiores desse patrimônio arquitetônico.
O inventário é citado como instrumento de preservação desde o primeiro documento
internacional de proteção patrimonial, a Carta de Atenas (1931), da mesma forma na
Recomendação sobre propriedade ilícita, Paris (1964); Recomendação sobre obras públicas ou
privadas, Paris (1968); Compromisso de Brasília (1970); Compromisso de Salvador (1971);
Carta do Restauro, Itália (1972); Resolução de São Domingos (1974); Declaração de Amsterdã
(1975); Recomendação de Nairobi (1976); Carta de Petrópolis (1987); Recomendação sobre
salvaguarda da cultura tradicional e popular, Paris (1989); Carta de Lausanne (1990)(IPHAN,
2004). Ou seja, é consenso mundial que é preciso conhecer para reconhecer.
Metodologia e resultados
Para definir o estado atual do objeto de estudo, se fez necessário o seguimento de um
método, formado por um conjunto de ações que foram desenvolvidas segundo um plano pré-
estabelecido, com o fim de alcançar os objetivos da pesquisa. Primeiramente definido o objeto
da investigação: a técnica tradicional de estuque relevado em sua função decorativa, aplicada
em interiores de edificações históricas, construídas no final do século XIX até a primeira
década do século XX, na cidade de Pelotas, localizada no sul do Brasil. Posteriormente,
definido o problema, foi caracterizada a prática e a tradição do uso do estuque relevado em
suas variantes artísticas, identificando as técnicas e tipologias existentes em Pelotas.
A partir da identificação e definição do objeto e problema que se baseia esta investigação se
buscou obter uma perspectiva completa sobre o conhecimento acumulado sobre o tema da
técnica decorativa dos estuques. O processo começou por uma exaustiva revisão da
bibliografia existente, conhecendo assim, a história da técnica. Com base na informação
analisada, se desenvolveu um marco de referencia em torno do estuque como arte decorativa,
assim para realização dos objetivos desta proposta de estudo, se realizou outro procedimento
metodológico para o conhecimento, na totalidade, do objeto de estudo: o inventário. Este tem
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por finalidade evidenciar as técnicas, tipos e estilos presentes dos estuques em relevo nas
edificações analisadas, com a intenção de caracterizar a arte decorativa de estuques em relevo
aplicada nos interiores dos edifícios históricos de Pelotas.
Conclusões
A realização de um breve inventário permite fazer uma identificação das técnicas decorativas
em relevo mais empregadas no interior dos edifícios históricos. Destacaram-se, dentre os
demais analisados, os relevos executados na Antiga Residência do Conselheiro Maciel.
Também foi possível observar, através da avaliação do estado de conservação dos forros, que
praticamente todas as edificações haviam passado por intervenções recentes, o que
demonstra que o Patrimônio Cultural está, cada vez mais, sendo valorizado. As ações de
preservação são cada vez mais frequentes.
Referências
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Patrimônio Material em Erechim-RS - reconhecimento, divulgação e debate
Leonardo de Carvalho Prozczinski166
Mateus Moreno Subtil dos Anjos167
Mariana Bortoluzzi Bortolini³
Érica Cristina Zanella4
Murad Jorge Mussi Vaz5
Melissa Laus Mattos6
Josicler Orben Alberton7
Daniella Reche8
Palavras-chave: Arquitetura Modernista. Roteiro. Patrimônio Material. Residência. Erechim.
Introdução
Reconhecer artefatos arquitetônicos bem como as paisagens urbanas nas quais estão inseridos
é fundamental para a reconstituição da trajetória socioeconômica, cultural e política de uma
cidade. A história transcrita pelas edificações e sua lógica de localização pode narrar como,
através do tempo, os diversos atores urbanos (cidadãos, administração pública, mercado
imobiliário, entre outros) idealizaram seu espaço de habitação e concretizaram espacialmente
essa idealização. Destarte, buscar a localização desses artefatos e os variados modos de
conceber e construir o espaço habitável, bem como identificar e elencar quais dentre estes
têm sido preconizados como passíveis de serem conservados e quais têm tido seu valor social
e histórico diminuído face às pressões de mercado – contribuiria para o desvelar de parte da
história ainda pouco iluminada no caso da cidade de Erechim-RS: a arquitetura moderna
residencial, e também para valorizar e proteger esses exemplares que compõem a paisagem
urbana local.
166 Acadêmico da oitava fase do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo –
Bacharelado, UFFS – Campus Erechim, [email protected]
167 Acadêmico da quarta fase do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo –
Bacharelado, UFFS – Campus Erechim, [email protected]
3 Acadêmica da sexta fase do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo – Bacharelado,
UFFS – Campus Erechim, [email protected]
4 Acadêmica da oitava fase do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo – Bacharelado,
UFFS – Campus Erechim, [email protected]
5 Orientador do Projeto, Docente da UFFS – Campus Erechim, [email protected]
6 Co-orientadora do Projeto, Docente da UFFS – Campus Erechim, [email protected]
7 Colaboradora do Projeto, Docente da UFSM – Campus Santa Maria, [email protected]
8 Colaboradora do Projeto, Docente da UFFS – Campus Erechim, [email protected]
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Se já se percebem velozes e profundas as transformações da paisagem da cidade - mediante
pressão de mercado e desconhecimento histórico – expressos no abandono e destruição das
arquiteturas da madeira, ecléticas e Art Déco (de forte presença na região), ainda mais
susceptível a esse processo se mostra a arquitetura moderna residencial, vítima de frequente e
recorrente destruição nas últimas décadas.
Isto posto, através de olhar voltado à arquitetura modernista de Erechim/RS, bem como à
lógica de construção do espaço urbano, intenta-se recuperar a memória de artefatos
arquitetônicos edificados em momento da história da arquitetura na cidade que ainda carece
de respaldo para seu reconhecimento como patrimônio, embora tenha tido na região
florescimento profícuo e paralelo à construção e ao desenvolvimento de ideiais modernistas
em âmbito nacional e internacional.
Por meio de discussões com artistas locais, com professores do Curso de Arquitetura e
Urbanismo e com os discentes, surgiu a demanda pelo registro sistemático dessas edificações
residenciais modernas, sua localização e seus autores (arquitetos, engenheiros e/ou
construtores), de modo que essas informações se perpetuem no meio acadêmico e entre a
população em geral, contribuído para sua conservação e valorização. Este projeto conta com
quatro professores, dois alunos bolsistas e dois alunos voluntários do curso de Arquitetura e
Urbanismo, e é parte de projeto de cultura institucionalizado – de mesmo título - na
Universidade Federal da Fronteira Sul em parceria com o Arquivo Histórico de Erechim/RS em
2013.
Metodologia e resultados
O projeto iniciou suas atividades em paralelo ao Projeto de Pesquisa “Arquitetura Residencial
Modernista em Erechim/RS: um inventário“, que busca inventariar as residências modernistas
em Erechim. Têm sido utilizadas como técnicas de pesquisa iconográfica que abrange
documentação histórica e levantamento de acervo fotográfico das casas nos arquivos da
Prefeitura e Arquivo Histórico Municipal, bem como levantamentos de campo para
identificação, reconhecimento e classificação das edificações de modo a compor um roteiro,
levantamento fotográfico atualizado.
Neste projeto algumas atividades foram previstas com intento de fomentar a visualização
dessa arquitetura como importante para a narrativa da história da arquitetura no Brasil.
A primeira, uma mostra de maquetes de casas classificadas como modernistas em âmbito
internacional, sensibilizando para a que a arquitetura desenvolvida no Brasil demonstra tanta
ou mais qualidade projetual que esses exemplares desenvolvidos em outros contextos.
A segunda refere-se a um roteiro, ainda em fase de construção, das casas localizadas na cidade
de Erechim elencadas como modernistas e que apresentem elementos para o reconhecimento
de preceitos da arquitetura moderna. Esse roteiro não pretende conter todos os exemplares,
mas busca sistematizar possibilidades de conhecimento dessa arquitetura que narra tanto a
trajetória de consolidação da cidade quanto da distribuição espacial de seus diversos agentes.
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A terceira ação será uma discussão com artistas e arquitetos locais que desenvolveram, em
algum ponto de sua trajetória, obras ou reflexões cuja temática do patrimônio foi abordada. O
debate acontecerá na Feira do Livro de Erechim, a ser realizada em novembro de 2013.
Conclusões
As conclusões até o presente são sumárias no que tange os produtos previstos no projeto, haja
vista ainda estar em desenvolvimento. Pretende-se, todavia, ampliar as discussões para além
do meio acadêmico, utilizando o roteiro como fonte de sensibilização e, ao mesmo tempo,
material de consulta e estímulo a uma nova postura face à história narrada pela arquitetura
moderna que têm sido cotidianamente banalizada e apagada da memória urbana local.
Referências
ABALOS, Iñaki. A Boa-vida: visita guiada às casas da modernidade. Barcelona: Gustavo Gili.
2008.
BEYEUX, Glória Maria. O debate da arquitetura moderna brasileira nos anos 50. Dissertação
(Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991.
BRAGA, Marcia. Conservação e Restauro. Rio de Janeiro: Rio, 2003.
BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981. 397p.
LEMOS, Carlos. Uma nova abordagem da historia da arquitetura brasileira. [2012]. Disponível
em: www.vitruvius.com.br/arquitextos/ . Acesso em: novembro de 2012.
MAHFUZ, Edson da Cunha. O sentido da arquitetura moderna brasileira. [2002]. 5p. Disponível
em : www.vitruvius.com.br/ arquitextos/. Acesso em: janeiro de 2006.
MCCOY, Esther. Case Study Houses 1945-1962. 2.ed. Santa Monica: Henessey + Ingals, 1977.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 4. ed. São Paulo: Perspectiva,
1978. 211p,
SMITH, Elizabeth. Case Study Houses: the complete CSH Program 1945-1966. New York:
Tashen. 2009.
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Capela São José: espaço de memória e identidade Cristã- Lasallista em Canoas
Carolina Schwaab Marçal168
Patrícia Kayser Vargas Mangan169
Palavras-chave: Memória. Patrimônio Imaterial. Audiodescrição.
Introdução
Este trabalho, realizado no contexto de um projeto em andamento relacionado a
audiodescrição (AD) patrimonial e cujos resultados iniciais já foram publicados (MARÇAL e
VARGAS MANGAN, 2013), se propõe a considerar o Patrimônio Cultural Imaterial que inclui
expressões orais, expressões artísticas e rituais de fé vinculadas à Capela São José em Canoas,
que são significativas para a comunidade lasallista e canoense. A Capela São José que é um
local rico em detalhes físicos e históricos, localizada no campos do Centro Universitário La
Salle, na cidade de Canoas/RS. Há poucos registros específicos, por isso os dados adquiridos
para a construção das AD são de memórias de um dos irmãos lasallistas, principal detentor de
dados e informações sobre a capela. A região ainda pertencia à cidade de Gravataí quando a
capela São José foi erguida em 1910 e logo em seguida a capela passou por três
reformulações. Em 1915 foi construído o Salão de Atos no segundo andar. Em 1939 foi
edificado um novo andar, onde se situa o Auditório Ir. Bruno Rüdell. Em 2000 a capela passou
por uma grande restauração, permanecendo fechada por três anos.
A capela tem trinta e sete vitrais, dos quais efetuou-se a AD dos que se localizam na
parte térrea. Os vitrais na parte térrea da Capela São José são compostos de imagens de
santos, mártires rio-grandenses, símbolos, escudos e educadores que foram importantes na
história da construção do La Salle
A relação da comunidade com a Capela se dá de várias formas com memórias de
alunos que estudavam na rede La Salle, de pessoas que participam dos rituais de fé cristãos.
As autoras Graebin e Penna em seu artigo explica o quão importante e preservar as memórias
do Local. A seguir um relato de um Irmão Lasallista que entrou no Juvenato dos Irmãos
Lassalistas em 13 de fevereiro de 1925, reforçando a importância do patrimônio Imaterial.
“Quando em vinte e cinco cheguei lá [Instituto São José] vi como tava organizado aquilo ali ... as avenidas ... as árvores frutíferas ... parreiras ... tudo organizado ...cinquenta e cinco hectares foram doados para tudo ... [mas foi extinto o curso
agronômico+” (GRAEBIN; PENNA , 2013, p. 122) .
Nesse contexto, apresentamos aqui um recorte de uma pesquisa maior que visa
identificar a melhor forma de construir e ofertar uma audiodescrição de acervos de museus
168
Licenciada em Computação pelo Centro Universitário La Salle. Atualmente aluna especial do
mestrado em Memória Social e Bens Culturais. E-mail [email protected]
169 Doutora em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/Sistemas da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professora do Centro Universitário La Salle desde
2000. Atualmente, é professora do Mestrado Profissional em Memória Social e Bens Culturais
pertencendo a linha de Memória e Linguagens Culturais. E-mail [email protected]
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para pessoas com deficiência visual. Nesse processo, foi identificada também a questão do
patrimônio Cultural Imaterial (UNESCO, 2003, p4), onde percebeu-se que dentro da
comunidade local, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio e
identidade de grupo.
Metodologia e resultados
Dentro da metodologia para a construção das AD relativas aos vitrais da Capela São José, duas
importantes etapas foram a criação do roteiro e o refinamento do conteúdo da
audiodescrição. A segunda etapa, que incluiu a observação direta e dados históricos obtidos
via acervo do Museu e Arquivo Histórico La Salle (MAHLS), contou com uma etapa de coleta de
informações sobre o significado (simbolismo) dos vitrais com apoio de pesquisadora do
Unilasalle e da história do local e dos vitrais com o responsável pela Capela. Pensando em
contribuir com comunidade envolvida, a pesquisa aqui descrita teve como intuito levar o
patrimônio imaterial para o público deficiente visual (DV) utilizando a tecnologia da
audiodescrição (AD) gravada que é um recurso de acessibilidade de descrição de objetos com
ou sem a inserção de dados histórico cultural que proporciona a inclusão. Deste modo, além
da descrição, foram realizados registros em áudio sobre a história e o significado da capela.
Conclusões
A importância do patrimônio imaterial associada a patrimônios culturais edificados não pode
ser ignorada, e esse conhecimento precisa também ser levado também aos DV. A memória
também está ligada aos sons que para o público DV são muito mais evidenciados, podendo um
evento ser relatado das mais diferentes formas. Podendo ainda contribuir para motivar novos
pesquisadores a trabalhar nesta temática gerando produtos que possam ser utilizados pela
comunidade. O conjunto de imagens juntamente com as audiodescrições e relatos históricos
do irmão entrevistado continuarão sendo estudados, e novos dados serão coletados em
entrevistas com a comunidade local.
Referências
GRAEBIN, Cleusa M. G.; PENNA, Rejane S. Desvelando Memórias sobre Escolas e Educação
Lassalista do Início do Século XX. Cadernos de História da Educação – v. 12, n. 1 – jan./jun.
2013
MARÇAL, Carolina S.; VARGAS MANGAN, Patrícia K.; Audiodescrição no Contexto da Educação
Patrimonial. Anais do 2º Seminário Nacional de Inclusão Digital. Passo Fundo . 2013 Disponível
em http://senid.upf.br/download/senid2013/Artigo_Resumido/110993.pdf
UNESCO. Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. 2003.
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O Acervo Benno Mentz: alguns elementos de sua trajetória como patrimônio histórico-cultural da
colonização alemã no Rio Grande do Sul
Rosangela Cristina Ribeiro Ramos170
Palavras-chave: Patrimônio. Memória. Acervo. Imigração. Colonização
O presente trabalho busca identificar e analisar elementos históricos da trajetória do Acervo
Benno Mentz (ABM), desde o século XIX. Tal pesquisa deriva de um projeto de mestrado, em
andamento. Inicialmente é preciso colocar que a preservação de tal corpus documental deve-
se, principalmente, à da biografia do empresário teuto-gaúcho Benno Frederico Mentz, pois,
interessado na genealogia das famílias alemãs e na história destes colonizadores e na condição
de rico empresário e benemérito à causa da identidade germânica - dos descendentes de
alemães no sul do Brasil- Benno Mentz investiu recursos humanos e financeiros na ânsia de
angariar material à sua coleção.
Sabe-se que a imigração alemã contribuiu, não apenas economicamente, mas também
culturalmente para a formação da sociedade rio-grandense, por isso, o desenvolvimento desta
pesquisa visa à contribuição de um novo material teórico para o estudo da colonização alemã,
através do estudo da formação do Acervo Benno Mentz e seu relevante papel, ao abrigar uma
imensidade de fontes materiais, preservadas, em diferentes níveis.
A partir do estudo e análise da história do ABM, será buscado compreender como foram
reunidos e preservados os materiais, dentre os quais: jornais, almanaques, livros,
correspondências e fotografias. Além disso, há uma biblioteca voltada à questões
genealógicas, o que explica a confecção de milhares de fichas sobre famílias de origem alemã,
sob liderança de Benno F. Mentz. Atualmente, o ABM encontra-se em organização, entretanto,
parte dele, em especial a imprensa, já está catalogada e acessível aos pesquisadores.
Atualmente, um vasto contingente de materiais, que possibilita diversas pesquisas se encontra
no Acervo Benno Mentz, de modo que se faz necessário apresentar alguns dos conceitos que
permeiram a abordagem do objetivo principal desta análise. Por exemplo, Patrimônio,
Memória, ambos complexos por envolverem diversos aspectos sócio-culturais, e também, por
se referirem aos bens incomensuráveis. Estes podem ser entendidos com bens a serem
conservados para que todos o apreciem, pois representam a identidade de um povo ou de
uma época. Daí ser considerado Patrimônio Histórico, podendo ainda ser classificado como
Patrimônio Cultural.
O patrimônio cultural se divide ainda em dois segmentos importantes que são chamados de
Patrimônio Material e Patrimônio Imaterial, sendo que para este trabalho, nos cabe utilizar o
primeiro que se define por bem tangível, como uma edificação, ou mesmo um objeto que
tenha sido selecionado por dada população, ou órgão, para representar a cultura de povo,
grupo ou pessoa.
170
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos. Bolsista FAPERGS. E-mail: [email protected]
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Conforme Dominique Poulot o conceito de patrimônio vem se transformando ao se aproximar,
mais intimamente, de outros conceitos como identidade e memória, de modo a legitimar os
imaginários de autenticidade que baseam as políticas patrimoniais, com sua respectiva
institucionalização como herança e registro do passado nacional, pois para Poulot (2009,
p.235) “(...) o patrimônio inscreve-se entre a história e a memória”, visto que o patrimônio é
objeto e instituição de memória, permitindo uma aproximação das sociedades com os seus
passados materiais mesmo que através de representações de modo a ligá-los às relações
sociais do presente. Assim, os patrimônios materiais ou imateriais, classificados como
históricos ou culturais constituem se em fragmentos de memória, ao mesmo tempo, que
permitem observar o que cada sociedade elege como representação de seu passado.
Tratando sobre os lugares da memória Pierre Nora (1993) acredita que o lugar da memória é o
local do registro e seu sentido simbólico. São locais materiais e imateriais onde se pode fixar a
memória de uma sociedade. Lugar de reconhecimento coletivo de povos ou tribo, e local onde
se permite criar um sentimento de pertencimento a um grupo/identidade. A Memória possui
inúmeras definições, mas podemos dizer que esta confere identidade a uma pessoa ou
localidade, é composta por seu presente e passado e não está concentrada em um objeto,
fazendo uma conexão entre a objetividade e a subjetividade do homem. Envolve ainda a
memória coletiva construída socialmente, além da identidade de um povo.
O Acervo Benno Mentz abriga um patrimônio histórico cultural de inestimável valor para a
produção do conhecimento, seja em estudos voltados ao processo de colonização alemã no
Rio Grande do Sul, ou mesmo um panorama sobre a história tanto local quanto mundial, pois é
possível encontrar documentos sobre aspectos políticos e culturais de regiões do estado; e,
ainda, material sobre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Tendo em vista a pluralidade das
fontes que o acervo acolhe, é possível realizar inúmeros estudos de caráter cientifico, sobre as
mais variadas áreas do saber.
Referências
NORA, Pierre. Entre história e memória: a problemática dos lugares. Revista Projeto História.
São Paulo, v. 10, p. 7-28, 1993.
POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente, séculos XVIII-XXI: do
monumento aos valores. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.
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A construção da história da Arquitetura Modernista em Erechim através de recortes de Revistas
Murad Jorge Mussi Vaz 171
Gláucia Aline da Silva Andrade 172
Luís Ranulfo Costa Nunes 173
Josicler Orbem Alberton174
Palavras-chave: Modernismo. Revista. Erechim RS. Memória.
Introdução
O artigo apresenta resultados parciais do Projeto de Pesquisa Arquitetura Modernista em
Erechim – RS: a construção da história a partir de recortes de jornais e revistas, desenvolvida
na Universidade Federal da Fronteira Sul junto ao curso de Arquitetura e Urbanismo, cujo
objetivo é resgatar e compreender a disseminação do Movimento Moderno através de revistas
publicadas no interior do Rio Grande do Sul. Em 2010 o curso de Arquitetura e Urbanismo
iniciou suas atividades em Erechim e dentre as razões que justificaram sua abertura está a
carência da região em trabalhos relativos ao patrimônio e memória locais. Neste sentido, o
campo investigativo é amplo, mas uma revista (Revista Erechim), publicada entre as décadas
50 e 70 do século XX, foi o objeto escolhido por trazer artigos e propagandas relacionados à
arquitetura e urbanismo.
A arquitetura moderna brasileira ganhou o cenário mundial já nos anos trinta do século XX. Le
Corbusier, um dos arquitetos mais polêmicos do último século, já estava no Brasil em 1937
para participar do projeto arquitetônico do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro
junto com Lucio Costa e Oscar Niemeyer. A arquitetura, por vezes, é utilizada como
instrumento político e de poder e no Brasil, a arquitetura modernista passou a ser símbolo de
desenvolvimento e progresso principalmente no Governo de Juscelino Kubitschek (1955|1960)
com Brasília. O centro de diversas cidades brasileiras passaram a ser pontilhados por
edificações construídas sob preceitos modernistas, inclusive o de Erechim. Seguindo um “ideal
progressista” a aparência de uma cidade moderna se fazia indispensável e a arquitetura e o
planejamento da cidade tornaram-se tema destaque nos periódicos que circulavam pelo
município, principalmente na Revista Erechim.
171 Orientador e Professor de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal da Fronteira
Sul- UFFS, campus Erechim/RS. [email protected]
172 Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo e Bolsista do projeto “Arquitetura
modernista em Erechim – RS: a construção da história a partir de recortes de jornais e
revistas”, Edital Nº 093/UFFS/2013. [email protected]
173 Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo e Bolsista voluntário do projeto
“Arquitetura modernista em Erechim – RS: a construção da história a partir de recortes de
jornais e revistas”, Edital Nº 093/UFFS/2013. [email protected].
174 Co-orientadora da pesquisa e Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Santa Maria. Contato:[email protected].
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A arquitetura ilustrada nesta revista trazia o concreto armado e apresentava os “benefícios” da
planta- livre como a ampla flexibilidade ao espaço. Atendendo às questões de funcionalidade e
composição os artigos discutiam inovações. Em 1952 uma reportagem (Revista Erechim, Ano 2,
p. 8) apresentou a obra do arquiteto Gregori Warchavchik tratando da "Arquitetura Social para
Climas Quentes”. Tal fato ilustra o alcance das ideias modernistas por todo país e a
importância da vinculação das cidades do interior com questões inovadoras que aconteciam
nas capitais. Desta maneira, a abordagem sobre a arquitetura de Erechim neste recorte
histórico (décadas de 50 a 70), narrada através de recortes da Revistas Erechim, enriquece o
olhar arquitetônico através de um viés histórico socioeconômico e cultural do local.
Metodologia e resultados
Com o intuito de compreender o cenário em que se deram as construções modernistas em
Erechim, o papel destas edificações como bens patrimoniais, a memória coletiva e os sujeitos
envolvidos parte-se de uma análise criteriosa dos materiais existentes da Revista Erechim das
décadas de 1950 a 1970, disponíveis no Arquivo Histórico Municipal, somado a entrevistas
com personalidades e leitores da época. Para fins de catalogação foram abordadas três linhas
de reportagens: propagandas, discussões sobre arquitetura e questões urbanísticas. Além de
contribuir para discussão acerca de investigações e abordagens para construção da história, a
pesquisa em desenvolvimento contribui para a compreensão da difusão dos ideais advindos
das Capitais para as cidades do interior do Brasil e suas repercussões e desdobramentos.
Também diz respeito ao patrimônio material modernista e colabora para a construção da
história da arquitetura moderna no Rio Grande do Sul e no Brasil, ampliando assim o acervo
sobre o tema, subsidiando a reflexão crítica acerca de questões fundamentais para a
compreensão da história da arquitetura brasileira.
Conclusões
A pesquisa encontra-se em andamento cabendo aqui apresentar apenas alguns resultados
alcançados até o presente momento. Com a catalogação das matérias da revista disponíveis e
somadas as contribuição das entrevistas já realizadas, foi possível construir uma visão mais
apurada do que foi a Revista Erechim no que diz respeito a sua demanda, funcionamento e
público potencial. Além disso, também foi possível criar um breve cenário do contexto social
em que a revista circulava, sendo este o mesmo contexto do surgimento obras modernistas
em Erechim.
Referências
ABALOS, Iñaki. A Boa-vida: visita guiada às casas da modernidade. Barcelona: Gustavo Gili.
2008.
BEYEUX, Glória Maria. O debate da arquitetura moderna brasileira nos anos 50. Dissertação
(Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991.
CAPELLO, Maria Beatriz Camargo. Arquitectura moderna en Brasil y su recepción en los
números especiales de las revistas europeas de arquitectura (1940-1960) De Arquitectura,
Norteamérica, 016 04 2013. Consultado el jun 9, 2013.
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SMITH, Elizabeth. Case Study Houses: the complete CSH Program 1945-1966. New York:
Tashen. 2009.
ALBERTON, Josicler O. Influência modernista na arquitetura residencial de Florianópolis.
Dissertação (Mestrado) – Universidade de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
NEUTRA, Richard. Arquitetura social em países de clima quente. São Paulo: Gerth Todtmann,
1948.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 2. ed. São Paulo: Editora da USP, 2002.
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MEMÓRIA E PATRIMÔNIO MATERIAL: UM ESTUDO DE CASO DOS CINEMAS EM ERECHIM/RS
Paulo Ricardo Muller175
Fernanda Caroline Guasselli176
Palavras-chave: Memória. Patrimônio. Cinema. Erechim
Introdução
O presente trabalho se desenvolve no âmbito do projeto de extensão “Patrimônio material e
imaterial: os cinemas em Erechim/ RS” da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus
Erechim (UFFS-Erechim), iniciado em março de 2013. O projeto tem como objetivo principal
promover o debate sobre questões relativas ao patrimônio material e imaterial na região de
inserção da UFFS por meio da reconstituição da história das casas de cinema em Erechim a
partir de uma abordagem interdisciplinar que busca articular perspectivas oriundas dos
campos da antropologia, da arquitetura, do urbanismo e da história. A pesquisa de fontes
documentais e orais sobre os cinemas vem subsidiando a realização de eventos temáticos
tanto dentro quanto fora da universidade, nos quais se estabelecem interlocuções entre
setores governamentais, entidades da sociedade civil, pesquisadores acadêmicos e não-
acadêmicos, além dos antigos frequentadores dos cinemas de Erechim, com o intuito de “abrir
espaços para a participação da sociedade no processo de construção e de apropriação de seu
patrimônio cultural” (FONSECA 2003)
Os cinemas de Erechim
O primeiro cinema em Erechim foi fundado em 1919, um ano após a emancipação do
município. Construído em madeira e localizado na área central da cidade, o Cine Central
(Figura 1) projetava filmes de cinema mudo ao som de orquestras ao vivo. Posteriormente,
com a chegada do cinema falado, o edifício deixou de abrigar o cinema dando lugar a uma
escola de balé, ginástica, e música, e mais tarde a um ringue de patinação, fazendo que
passasse a ser reconhecido como ‘’casa da cultura’’. O segundo cinema de Erechim foi o Cine
Avenida, fundado ao longo dos anos 1920. Segundo Skowronski (2008), o Cine Avenida foi o
ponto inicial de um grande incêndio, em 1931, que destruiu parte considerável da área central
de Erechim, então formada exclusivamente por edificações em madeira. No contexto da
reconstrução desta área – completamente em alvenaria por força de um decreto-lei que
proibiu construções em madeira – surgiu o Cine Teatro Apollo (década de 1930; Figura 2), um
majestoso edifício em estilo Art Déco – cujo ciclo se iniciou na próprio processo de
175 Graduado em Ciências Sociais, mestre e doutorando em Antropologia Social; professor
coordenador do projeto de extensão “Patrimônio material e imaterial: os cinemas de Erechim/
RS”, Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim; Email:
176 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, bolsista do projeto de extensão “Patrimônio material e
imaterial: os cinemas de Erechim/RS”; Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Erechim. Email:
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reconstrução após o incêndio (PETRY 2009) – que se tornou um espaço central de sociabilidade
da elite erechinense, angariando a alcunha publicitária de “a casa dos grandes espetáculos”.
Nos anos 1950 o Cine Teatro Apollo passou a se chamar Cine Ideal, mesmo período em que foi
construído (1953), em Erechim, um dos primeiros edifícios modernistas do interior do Estado,
que veio a abrigar o Cine Luz (BUENO 2012), cujos anúncios em jornais vinham acompanhados
da frase “o modernoso cinema de Erechim” (Figura 3). Entre os anos 1950 e 1970, o município
contou, assim, com dois cinemas, que se dividiam entre a exibição de franquias de filmes
norte-americanos, pelo Cine Ideal, e de filmes italianos, pelo Cine Luz, motivo pelo qual este
último também ficou conhecido como “Cine Itália”. Ambos os cinemas, juntamente com cafés
e a igreja matriz compunham um circuito de sociabilidade diariamente percorrido por famílias
da elite erechinense, que assim dinamizavam política e economicamente a área central da
cidade.
Com a industrialização vivida pelo município dentro do mesmo intervalo de duas décadas
(1950-1970), bairros e distritos periféricos tiveram um crescimento populacional significativo,
gerando demandas pela descentralização de serviços e recursos e de formas de inserção de
trabalhadores na vida social da cidade. Neste contexto o Serviço Social da Indústria (SESI)
realizou o projeto que ficou conhecido como Cine Ambulante, que levava os filmes exibidos
nos cinemas centrais a dezessete bairros de Erechim, exibindo-os na rua, com acesso gratuito.
Justificado como uma forma de benefício à população “carente” da cidade, o Cine Ambulante
cumpriu, assim, o papel de difusor do ideário modernista e cosmopolita também entre as
classes populares de Erechim, contribuindo para a contenção de possíveis tensões e conflitos
entre centro e periferia.
Considerações finais
Ao longo do século XX o município de Erechim passou por diferentes processos de renovação
urbana que levaram ao desaparecimento de suportes materiais relevantes para a
compreensão de sua história. No que tange à história dos cinemas, dos cinco edifícios que
operaram como salas de projeção restam somente dois, ambos totalmente modificados para
funcionar como lojas. A abordagem a partir da memória de antigos frequentadores,
trabalhadores e proprietários das casas de cinema vem se mostrando, assim, profícua não
somente para a compreensão particular da história dos cinemas em Erechim, mas também
para a compreensão dos valores e ideários que estruturam as relações econômicas, políticas e
culturais que configuram o cenário regional contemporâneo.
REFERÊNCIAS
FONSECA, M. C. L. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio
cultural. In: ABREU, Regina; CHAGAS, Mário (org.). Memória e patrimônio: ensaios
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mestrado, UFBA, Salvador, 2009, 300 p
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renovada pela modernidade. Tese de mestrado, UFRJ, Rio de Janeiro, 2008, 209p.
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TEITELROIT BUENO, Marcos Flávio. A obra do arquiteto Carlos Alberto de Holanda Mendonça.
Tese de mestrado, PROPAR UFRGS, Porto Alegre, 2012, 404 p
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Uma História sobre Educação Patrimonial: a Arqueologia do Lixo
Iloir da Rosa Escoval177
Celina Janete da Conceição Silva 178
Palavras-chave: História. Educação Patrimonial. Arqueologia.
Introdução
O presente trabalho apresenta uma ação de Educação Patrimonial, através de uma oficina
intitulada “Arqueologia do Lixo” que foi desenvolvida pelo projeto de ensino “Memória em
Movimento” da Universidade Feevale em parceria com a Escola de Educação Básica Feevale –
Escola de Aplicação e ocorreu no período de 29 de maio de 2013 a 10 de junho de 2013. A
proposta da oficina era de através da análise interpretativa, construir com os alunos a ideia de
que os “objetos contam uma história” e dão pistas sobre a própria identidade de um sujeito ou
de um povo e também sobre o que procuram os arqueólogos enquanto pesquisadores e como
eles trabalham. A justificativa para se trabalhar essa temática foi à importância que representa
a Educação Patrimonial bem como a valorização da nossa História enquanto sujeitos do
presente através daquilo que fazemos.
Metodologia e resultados
Algumas professoras dos alunos envolvidos trouxeram o lixo seco produzido em suas
residências, esse material foi acondicionado em caixas sendo uma para cada grupo. Separados
em grupos, os alunos tinham a tarefa de analisar, interpretar e quantificar o material
encontrado e a partir disso descobrir a qual professora pertencia aquele lixo. No último
encontro foi mostrado à eles de forma bem simples em PPT o papel do arqueólogo, onde,
como e quais são os objetos de pesquisa e as técnicas utilizadas, foi organizada também uma
tarefa lúdica que consistiu em uma caixa de papelão com tampa onde foram colocados objetos
de uso de um arqueólogo, os alunos deveriam com os olhos vendados pegar uma dessas
peças, tentar descobrir o nome do objeto e depois dizer para que servia. Essa interpretação da
cultura material, no caso, o lixo trazido pelas professoras mostrou aos alunos aspectos
importantes da vida delas, da vivência diária, sua maneira de se alimentar, animais de
estimação, filhos, modo de morar se em casa ou apartamento, enfim, esses objetos falam por
si mesmos, contam uma história de vida dessas pessoas que também fazem parte da rotina
dos próprios alunos. O resultado foi uma maior interação entre alunos e professoras,
momentos de troca de conhecimento e cumplicidade entre os alunos, interesse por aquilo que
estava sendo analisado, tanto o código de barras, a data de validade, o valor, a região de
compra do produto, tudo foi analisado e interpretado.
Conclusões
É de suma importância a diversidade nas formas de praticar a docência, seja ela em qualquer
disciplina. Perceber esses alunos envolvidos na investigação, na catalogação e interpretação
177 Graduanda em História pela Universidade Feevale, [email protected]
178 Graduanda em História pela Universidade Feevale, [email protected]
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dos materiais deixou claro que eles têm interesse em aprender, mas, que é preciso usar o
lúdico, o manuseio de objetos, a descoberta dos significados para que isso faça sentido.
Trabalhar o conceito de Arqueologia usando o lixo produzido pelas professoras é algo simples
e ao mesmo tempo de fácil entendimento, pois estamos falando de coisas próximas a eles, não
que o tema se resuma a isso, mas desperta o interesse para o aprofundamento do tema.
Referências
KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6. ed. São
Paulo: Contexto, 2010.
MAGALHÃES, Leandro Henrique et al. Educação Patrimonial: da teoria à prática. Londrina,
Unifil, 2009.
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http://www.feevale.br/acontece/noticias/arqueologia-e-tema-de-projeto-na-escola-de-
aplicacao. Acesso em: 10 jun. 2013
O que é Arqueologia? Disponível em: http://www.recreio.com.br/licao-de-casa/arqueologos-
os-cacadores-de-historias. Acesso em: 05 jun. 2013.
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Moritvri Mortvis – memória, história e patrimônio – os construtores de túmulos do Bonfim, o
documentário
Marcelina das Graças de Almeida179
Maurício Silva Gino180
Palavras-chave: Documentário. Cemitério. Patrimônio. Marmoristas. História. Belo Horizonte.
Introdução
A Fundação Municipal de Cultura, FMC, de Belo Horizonte, por intermédio da Diretoria de
Políticas Museológicas, DIPM, tornou público o edital 004/2011, cuja proposta era a seleção de
projetos documentários de curta-metragem digital, tendo como tema: Ofícios em Belo
Horizonte. Os projetos a serem apresentados deveriam ser inéditos tanto do ponto de vista da
produção e finalização. A seleção foi estabelecida para duas categorias: diretor estreante e
diretor ou produtora independente não estreante. Dentre os projetos apresentados, 06 (seis)
seriam selecionados, desde que atendessem a todas as exigências definidas no mencionado
edital. Diante desta oportunidade constituiu-se uma equipe, tendo o diretor, professor e
pesquisador Maurício Gino como proponente e foi sugerida a realização de um documentário
tendo como tema o ofício dos construtores de túmulo em Belo Horizonte, tomando como
cenário o Cemitério do Nosso Senhor do Bonfim, situado nesta cidade.
O Cemitério do Bonfim é o mais antigo da cidade e possui uma relação forte e estreita com a
metrópole belorizontina e se no passado já foi lugar de exercício da profissão dos construtores
de túmulos, ainda hoje é um espaço onde este tipo de trabalho se faz presente e a produção
de um documentário sobre este tema é um sinal de sua pertinência. A proposta apresentada
foi aprovada em primeiro lugar, na categoria, não estreante, no processo seletivo e o
documentário foi realizado.
Metodologia e resultados
Para concretização do documentário foi realizada a pesquisa bibliográfica e documental,
consultando arquivos e acervos que guardam a memória histórica da capital belorizontina.
Foram, também, entrevistados marmoristas e outros profissionais que atuaram na cidade e no
cemitério no início do século passado e aqueles que atuam, na contemporaneidade, buscando
179 Graduada em História, mestrado e doutorado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), docente na Universidade do Estado de Minas Gerais, Escola de Design e coordenadora do curso de História da Faculdade Estácio de Sá, Unidade Prado, Belo Horizonte (FESBH). E-mail: [email protected]
180Graduado em Comunicação Visual pela Fundação Mineira de Arte (FUMA), graduado em Belas Artes-Habilitação em Cinema de Animação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mestrado em Tecnologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET) e doutorado pela
Universidade Federal de Minas Gerais, professor adjunto do Departamento de Fotografia, Teatro e
Cinema da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].
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assim o levantamento de fontes, em sua multiplicidade e que pudessem compor o cenário que
o enredo pretendia narrar.
Através do confronto dessa diversidade de fontes foi possível compilar dados que auxiliaram a
realização do roteiro e construção da narrativa do documentário, cujo propósito era permitir a
reflexão sobre o ofício, descrevê-lo, identificar o momento de ápice da profissão e as
transformações sofridas ao longo da história.
Conclusões
Refazer o caminho e recuperar a história, a memória e as lembranças em relação ao ofício foi o
fio condutor da construção narrativa do documentário. A proposta era partir das memórias
construídas no presente, através das recordações dos marmoristas que descendem das
famílias tradicionais que exerceram a atividade e confrontá-las com os profissionais
contemporâneos. O mesmo apresenta uma estrutura narrativa cíclica, através da qual é
identificada a situação contemporânea dos construtores de túmulos do cemitério do Bonfim
em Belo Horizonte. Para se chegar a esta situação foi realizada uma retrospectiva histórica
destacando-se o momento em que oficio encontrava-se em expansão, destacando
representantes do oficio. Finalmente retorna-se à atualidade, apontando-se as perspectivas
para esta atividade.
Com a fundação do cemitério municipal, como inicialmente foi chamado o Bonfim, os serviços
dos construtores de túmulos torna-se uma necessidade no contexto social da cidade recém-
nascida. Através deste oficio é construída uma verdadeira “cidade dos mortos”, carregada de
significados. Por meio de imagens gravadas no próprio cemitério, são mostradas diversas
características da construção tumular presente no Bonfim. Essas imagens são intercaladas com
entrevistas realizadas com pesquisadores ou herdeiros desses artífices. Por fim, retoma-se a
entrevista com o artífice já apresentado no início do documentário. Sua fala agora é conduzida
a projetar o futuro desse importante trabalho no cemitério do Bonfim em Belo Horizonte. E é
assim que se conclui a narrativa.
Referências
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ARIÉS, Philippe. História da Morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1977.
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Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1995.
BORGES, Maria Elizia. Os artistas - artesãos e a Escultura Cemiterial em Ribeirão Preto. R.
Italianística. Ano III, n.º 3 , p. 85 - 92 , 1995.
CAMARATE, Alfredo (pseud. Alfredo Riancho ) Por Montes e Vales. Revista do Arquivo Público
Mineiro. Belo Horizonte, Ano XXXVI.
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CAMPOS, Adalgisa Arantes. A Vivência da Morte na Capitania das Minas. Belo Horizonte:
FAFICH/UFMG, 1986. Dissertação de Mestrado em Filosofia.
Commisssão Constructora da Nova Capital Revista Geral dos Trabalhos sob a direção do
Engenheiro - chefe Francisco Bicalho. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & Cia , agosto de 1895.Vol.
II .
HAROUEL, Jean – Louis. História do Urbanismo. Campinas, São Paulo: Papirus , 1990.
Produção Industrial do Município de Belo Horizonte 1942. Belo Horizonte, Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, 1943.
REIS, João José. O Cotidiano da Morte no Brasil Oitocentista In:História da Vida Privada no
Brasil : Império . Coord. Geral da Coleção Fernando A. Novais; org. do volume Luiz Felipe de
Alencastro. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
Relatório Final de Pesquisa de Inventário do Acervo de Estruturas Arquitetonicas e Bens
Integrados do Cemitério do Bonfim – Belo Horizonte. Belo Horizonte, IEPHA, 2010.
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O Inventário como perspectiva de pesquisa histórica no Museu Joaquim Francisco do Livramento
Amanda Mensch Eltz181
Palavras-chave: Objetos culturais. Inventário. Pesquisa histórica.
Introdução
Com o advento da inauguração do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (CHC), inúmeras ações
estão sendo realizadas em seus acervos. Coube ao Museu Joaquim Francisco do Livramento,
uma das partes que compõem este Centro, realizar as atividades de conservação, inventário e
pesquisa histórica do acervo tridimensional.
Objetivo
O presente trabalho visa apresentar as experiências de inventariação e as perspectivas de
estudo histórico da cultura material no acervo museológico institucional. O inventário
começou a ser desenvolvido em 01 de agosto de 2012 e ainda não foi finalizado até o presente
momento devido a sua complexidade e extensão. Esta ação tem como objetivos o
levantamento dos bens patrimoniais do acervo e a fundamentação da relevância museológica
com o resgate da memória cultural através da pesquisa histórica. Como bases foram utilizadas
tais referenciais: CAMARGO-MORO, CIDOC, CHAGAS, CHARTIER, FERREZ, MARQUES,
POSSAMAI, RAMOS, RICOEUR, VAN MENSCH, VARINE, YASSUDA.
Justificativa
O inventário dos objetos culturais se fez necessário para que houvesse um registro
museológico padrão, seguindo parâmetros nacionais e internacionais, os quais não foram
utilizados em levantamentos anteriores, dentre eles: registro fotográfico, partes componentes,
vocabulário controlado, localização normal/atual, proteção, dados históricos, restaurações,
referências bibliográficas e arquivísticas, cruzamento com outro arquivo do CHC, observação,
nome do documentalista, revisor, descarte.
Metodologia
Primeiramente se constituiu a comissão de acervo, a qual realizou um estudo sobre o histórico
do museu e as necessidades do acervo: os diferentes suportes materiais, as tipologias dos
objetos, as coleções e a documentação existentes. Por seguinte, elaborou-se uma nova ficha
de registro e as ações do fluxo de atividades. O segundo momento foi a capacitação da equipe
para execução da conservação preventiva dos artefatos. Todas as peças, antes de serem
inventariadas, foram conservadas. Após, seguimos para a terceira fase - o inventário - na qual
a equipe priorizou três coleções: Pinacoteca, Arsenal Médico-Cirúrgico e Botica. No entanto,
outras coleções também foram trabalhadas, tais como Administração, Objetos Sacros, Placas,
Nutrição e Dietética, Mobiliário e Artigos Decorativos, de acordo com a demanda da futura
exposição.
181 Graduada em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), Historiadora no Centro
Histórico-Cultural Santa Casa, [email protected]
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Com a atividade de inventário, dificuldades de identificação das peças surgiram, resultando na
pesquisa de identificação dos artefatos, que naturalmente se encaminhou para o resgate dos
históricos dos objetos, qualificando as coleções. Utilizamos como fontes de memória:
entrevistas de história oral visando fundamentar a biografia dos objetos a posteriori do
recebimento no Museu, fotografias históricas, livros e catálogos antigos, dentre outros
documentos do acervo operacional e de outras instituições.
Resultados
Atualmente a atividade de inventário apresenta os seguintes resultados: 2905 objetos
inventariados em nove coleções diferentes, contabilizando-se os desdobramentos dos 1823
registros. As coleções prioritárias estão em fase final de registro.
TABELA 1: Resultados do inventário a partir de 01/08/2012.
Autor: Amanda Eltz/Juliana Marques
Coleção Nome Numeração Qtde.
1 Administração 16 24
2 Botica e Farmácia 681 928
3 Arsenal médico-cirúrgico 686 1363
4 Objetos Sacros 86 112
6 Placas 111 136
9 Nutrição e Dietética 11 11
11 Pinacoteca 190 286
14 Mobiliário 22 25
15 Artigos Decorativos 20 20
TOTAL 1823 2905
Como a pesquisa histórica é efetuada de acordo com a demanda da futura exposição, somente
parte dos objetos inventariados recebeu uma pesquisa histórica aprofundada.
Conclusão
Percebe-se que o inventário dos bens patrimoniais do acervo o viabiliza como objeto
de investigação e pesquisa histórica nos diferentes campos do conhecimento da cultura
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material. A investigação científica propicia respostas quanto à trajetória, contextualização e
significação histórica social dos objetos culturais, qualificando-os como documentos. Desta
forma, os objetos selecionados para a futura exposição, tornam-se “objetos geradores”
(RAMOS, 2004, p. 31), cujas informações motivam reflexões sobre as relações dos sujeitos com
os artefatos, auxiliando na função social que o Museu desempenhará com a exposição.
Referências
CAMARGO-MORO, Fernanda. Museu: Aquisição-Documentação. Rio de Janeiro: Livraria Eça
Editora, 1986.
CIDOC. Diretrizes Internacionais para Informação de Objeto de Museu: As Categorias de
Informação do CIDOC [Subject Depicet Information Group]. Disponível em:
<http://network.icom.museum/fileadmin/user_upload/minisites/cidoc/DocStandards/guidelin
es1995.pdf >. Acesso em 15 ago. 2010.
CHAGAS, Mario. Cultura, patrimônio e memória. Ciências e Letras, Porto Alegre, n. 31, p. 15-
29, jan./jun. 2002.
CHAGAS, Mario; ABREU, Regina. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de
Janeiro: DP&A, 2003.
CHARTIER, Roger. A História ou a leitura do tempo. Tradução: Cristina Antunes. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
FERREZ, Helena Dodd; PEIXOTO, Maria Elizabete Santos. Manual da Catalogação: Pintura,
Escultura, Desenho, Gravura. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 1995.
MARQUES, Lucia. Metodologia para o Cadastramento de Escultura Sacra-Imaginária. Edição
Especial Ilustrada – documento. Bahia, 1981.
MENSCH, Peter van. Objeto de estudo da museologia. Tradução: Débora Bolsabello e Vânia
Dolores Estevam de Oliveira. Rio de Janeiro: UNI-RIO/UGF, 1994.
POSSAMAI, Zita Rosane. A pesquisa no museu. Ciências e Letras, Porto Alegre, n. 31, p. 77-86,
jan./jun. 2002.
RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação do objeto: o museu no ensino de história. Chapecó:
Argos, 2004.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François. São Paulo:
Editora da UNICAMP,2008.
VARINE, Hugues de. As Raízes do Futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local.
Porto Alegre: Medianiz, 2012.
YASSUDA; Silva Nathaly. Documentação museológica: Uma reflexão sobre o tratamento
descritivo do objeto no Museu Paulista. 2009. 113 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação)-Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009.
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HISTÓRIA E MEMÓRIA DA ARTE E DA IMIGRAÇÃO PORTUGUESA DE 1857 A 1910: RETRATOS
IMPERIAIS NAS SOCIEDADES PORTUGUESAS DE BENEFICÊNCIA NO RIO GRANDE DO SUL.
Larissa Patron Chaves182
Introdução
Este trabalho recupera a história de obras de arte encontradas nas Beneficências Portuguesas
das cidades de Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e Bagé, neste estudo, definidas como retratos
reais, parte da pesquisa de tese vinculada ao Programa de Pós Graduação em História da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos e da Universidade do Porto em Portugal, publicado no
ano de 2008. Investiga o contexto de inserção da imagem dos monarcas portugueses por meio
de obras de arte, especificamente dos retratos dos mesmos, encontrados junto às
Beneficências Portuguesas das cidades de Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e Bagé, todas no
Estado do Rio Grande do Sul, como forma de interpretar esse patrimônio cultural que hoje, na
sua maioria, encontra-se pouco valorizado, nas suas respectivas instituições.
As Sociedades Portuguesas de Beneficência são instituições hospitalares criada por imigrantes
portugueses no Brasil e no mundo colonial português, a partir da segunda metade do século
XIX, dependente do pagamento e de doações advindas, normalmente, dos seus associados.
Além de atender aos associados na enfermidade e na morte - objetivo principal dessas
instituições, proporcionava em tempos passados também um considerável suporte cultural e
financeiro, diante da omissão das autoridades governamentais.
Como instituição privada, dependente do pagamento e de doações espontâneas advindas dos
associados, difere das Santas Casas de Misericórdia, fundadas também no Brasil, cujo
atendimento hospitalar é direcionado para a população em geral e as despesas
subvencionadas pelo então Império duante o século XIX. Entretanto, em instituições de
Beneficência Portuguesa, persistem elementos que as situam sob o modelo das Misericórdias
Portuguesas, criadas por Dona Leonor de Lancastre na Portugal do século XV, entre eles as
formas de perspectivar a caridade como elemento de distinção, suporte e projeção social.
A mais antiga associação de Beneficência Portuguesa criada no Brasil é a do Rio de Janeiro,
criada em 1840, seguida por outra em Santos, criada em 1859. Em Porto Alegre, a Sociedade
Portuguesa de Beneficência, da então Província de São Pedro do Rio Grande, foi fundada em
26 de fevereiro de 1854, pelo vice-cônsul honorário de Portugal, Antônio do Amaral Ribeiro.
Ao longo de seu desenvolvimento, a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Porto Alegre
toma a iniciativa da criação de agências beneficentes em outros locais da Província, apêndices
da matriz em Porto Alegre, entidades que após alguns anos de funcionamento reivindicam sua
autonomia: Rio Grande, em 1856, Pelotas, em 1857, e Bagé, em 1871.
Metodologias e Resultados
182 Doutora em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professora
Adjunta da Universidade Federal de Pelotas, atuante na graduação em Artes Visuais e
Mestrado em História. [email protected].
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Durante a pesquisa de tese, os locais de pesquisa permitiram um aprofundamento dos estudos
sobre o trabalho, em especial, dos arquivos encontrados em Portugal e a relação com a
documentação impressa e material das Instituições de Beneficência. Dentre as inúmeras
fontes pesquisadas em diferentes locais de pesquisa, destacam-se: 1. Pesquisa documental na
Biblioteca Nacional em Lisboa (nov. 2005- jan. 2006); b) Arquivos Periódicos e manuscritos, em
especial da Torre do Tombo em Lisboa; c) Os Salões de Honra encontrados nas Instituições de
Beneficência estudadas, em especial os retratos dos monarcas presentes nestas galerias.
A discussão sobre a função social e a categorização dos associados, bem como a escolha da
diretoria das Sociedades em questão, acompanha grande parte do material documental
encontrado sobre as Beneficências Portuguesas, remetendo ao fato de que não existe uma
aplicabilidade rígida das regras administrativas, definidas nos estatutos, para a prática social,
exposta nos relatórios, fazendo do uso da caridade um ato, por vezes, interessado ou
interesseiro, pois a semelhança das Misericórdias portuguesas, as Sociedades Portuguesas de
Beneficência agem na circulação social da caridade tanto como um meio ético, quanto como
forma de promover o favorecimento de determinados grupos e poderes elitários.
Além dos aspectos mencionados acima, existem outras características recorrentes na
configuração das beneficências portuguesas criadas em solo brasileiro, que acabam por
denotar a forma como a cultura portuguesa chega ao país. Em todos os exemplos analisados
por esta pesquisa, por exemplo, é possível observar que as Associações tendem a promover a
devoção régia à monarquia portuguesa. De fato, para que uma instituição dessa ordem possa
existir no Brasil, uma das prerrogativas é obter o “apadrinhamento” de um Monarca
Português, materializado pela presença simbólica do retrato nas galerias dos salões de honra
das Instituições de Beneficência. O lugar central destes retratos adorna um espaço que se
torna efetivamente simbólico, caracterizado por diferetens elementos de poder, tais como
bandeiras de Portugal, da Misericórdia, do poder real.
A imagem do retrato funciona como um substituto do poder, como duplicidade do corpo que,
na relação entre imagem e poder, funciona como uma reprodução da identidade da entidade,
pois o retrato cria a possibilidade de multiplicar a sua presença (Carlo Ginzburg, 2007: 15)
Conclusões
O protetorado se configurava como utilitário para os monarcas que assumiam essa função
frente as Beneficências Portuguesas. Isso porque essas e muitas outras proteções promoviam
frente a diversos tipos de associações em Portugal e no mundo a ampliação do poder
simbólico da regência e também do conteúdo dos próprios cofres públicos. A reciprocidade
entre a monarquia e, neste caso, entre as beneficências portuguesas, estabeleceu-se como
forma de contrato, na medida em que o rei, comprometendo-se como protetor, concedia à
Instituição o privilégio de ostentar o símbolo real, a exemplo da utilização dos retratos do
monarca nos salões dos edifícios-sede.
Neste sentido, os retratos reais que adornam as paredes dessas instituições hoje no estado do
Rio Grande do Sul, alguns descontextualizados, pouco preservados, ou mesmo,
descaracterizados, são resíduos da memória das Beneficências Portuguesas. Constituem, em
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diferentes instâncias, as formas como estas instituições agiram sobre os movimentos de
construção e reconstrução da identidade dos grupos de origem portuguesa, em solo brasileiro.
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Porto Alegre: Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em História.
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Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos. Relatório, Ano 1875. Rio de Janeiro: O
Globo, 1876. p. 45.
Sociedade Portuguesa de Beneficência de Pelotas. Relatório, 1909. Pelotas: Tipografia Diário
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Typografia do Correio do Sul, 1866.p. 46.
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Estradas e Histórias: A imigração alemã e o processo de urbanização de Juiz de Fora – Minas Gerais
Raquel von Randow Portes 183
Palavras-chave: Juiz de Fora. Imigração alemã. Patrimônio cultural.
Introdução
O presente artigo aborda os vestígios da imigração alemã, sob os aspectos histórico, social,
politico e econômico com ênfase para a questão urbanística e o seu reflexo na formação e
expansão de Juiz de Fora. O período histórico abordado tem início em 1836, quando realiza-se
o primeiro traçado urbano da cidade pelas mãos do engenheiro alemão Henrique Guilherme
Halfeld, até meados de 1930, quando temos o declínio do processo de industrialização da
cidade. Destacamos aqui, num primeiro momento de pesquisa, a busca sobre “as outras
versões da história” que envolve a imigração alemã e a crescente urbanização de Juiz de Fora,
desencadeada pela construção da Rodovia União e Indústria, em 1875. Período marcado por
grandes transformações e definidor de um perfil singular da história urbana da cidade, revela
na atualidade um importante papel para o entendimento de sua ocupação e para formação do
patrimônio urbano local.184
Metodologia e resultados
Buscamos uma aproximação do objeto de estudo que parte do geral, sobre os múltiplos
processos de ocupação e formação da cidade, para o particular, com ênfase para as propostas
desenvolvidas a partir da instalação da Companhia União e Indústria e as transformações
desencadeadas neste momento. Como base para a implantação da pesquisa foi realizado um
levantamento bibliográfico sobre a história da cidade, bem como a identificação dos principais
acervos documentais e publicações periódicas locais.
Considerando as fontes utilizadas para remontar a história de Juiz de Fora e, por conseguinte,
a contribuição da imigração alemã a esta, encontramos várias lacunas, assim como a unicidade
183 Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre
em Planejamento e Produção do Espaço Urbano e Doutoranda em Cultura e Espaço pela
Universidade Federal Fluminense. Professora Assistente do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: [email protected]
184 O texto aqui apresentado insere-se no escopo da tese de Doutoramento, em
desenvolvimento, sob o título provisório: Por Caminhos e Estradas: Vestígios da imigração
alemã no processo de urbanização de Juiz de Fora. Cabe citar também as pesquisas realizadas
através da participação no Núcleo de Pesquisa e Extensão Urbanismo em Minas Gerais,
voltadas para a memória da cidade, planos, projetos e urbanistas, como nos seguintes
projetos: “Urbanismo em Minas Gerais: Olhares de engenheiros, arquitetos e outros
profissionais nas idealizações e realizações urbanísticas para as cidades mineiras” (CNPq -
Edital MCT/CNPq 03/2008) e “Pelas Cidades: Jornadas de planejamento municipal pela
proteção da memória e do patrimônio cultural dos municípios” (Edital MinC – 2011).
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de discursos em relação a grandes agentes transformadores do espaço urbano. Neste sentido,
recorremos ao pensamento filosófico e o processo de construção da história, relevantes para a
reflexão quanto à postura, participação e real contribuição dos diversos autores dentro do
estudo proposto.
É necessário pensar historiograficamente, como sugere Carlo Ginzburg, indicando os caminhos
para se refletir sobre o “inextirpável componente artesanal do trabalho do historiador”185. O
atrelamento indissociável entre teoria e história articula as dimensões da prática
historiográfica(pesquisa em arquivos, manuseio de fontes primárias) com a da reflexão sobre o
ofício (a discussão dos métodos ou das abordagens, e mesmo a construção de teorias ou
filosofias da História), especificamente sobre a ocupação da imigração alemã, no sentido de
dar-lhe lugar na história, contribuindo para os processos de memória e preservação.
Conclusões
A abordagem sobre a história teuta em Juiz de Fora, em quase todas as obras estudadas
durante o processo de revisão bibliográfica, fazem uma alusão supervalorizada do perfil
empreendedor do imigrante alemão, sua aptidão para o trabalho e para a disciplina. Assim,
são descritos como agentes do progresso local, implementadores da civilização e do processo
de industrialização do município. Este perfil, poderia ser visto como de grande influência no
processo de urbanização e construção de uma “nova cidade”. Porém tal feito refere-se a
apenas uma parte bem sucedida da grande comunidade alemã, formada em sua maioria por
famílias de camponeses, que, por consequencia das circustâncias, acabaram ingressando ao
mercado de trabalho operário.
O espaço urbano, entendido como local de trajetórias múltiplas, possibilita a existência de
diversos atores/construtores de várias realidades186. Assim, consideramos as várias histórias,
os vários caminhos percorridos, como temas a serem tratados, assim como a história oculta
dos imigrantes operários e sua conexão e interação com e como grandes agentes
transformadores. Recolocar na história da cidade estas diversas trajetórias e suas
contribuições, resgata a memória e a identidade de grande parte da população hoje
“esquecida” e, possibilita o exercício político dentro do espaço urbano.
Referências
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Fora, Juiz de Fora, 1987.
BORGES, Célia Maia(Org.). Solidariedades e conflitos: histórias de vidas e trajetórias de
grupos em Juiz de Fora. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2000.
185 GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das
letras, 2007. P 15.
186 MASSEY, Doreen. Pelo Espaço: uma nova política da espacialidade. Tradução Hilda Pareto
Macial, Rogério Haesbaert. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. P 65.
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A arquitetura moderna em Pelotas: inventário, conhecimento e preservação
Aline Montagna da Silveira187
Daniele Behling Luckow188
Célia Castro Gonsales189
Ana Lúcia Costa de Oliveira190
Palavras-chave: Inventário. Arquitetura art déco. Arquitetura moderna em Pelotas. Patrimônio
Arquitetônico.
Introdução
O início dos anos noventa marcou, no cenário brasileiro, o reconhecimento da importância da
documentação e da preservação da arquitetura, do urbanismo e de outras manifestações
modernas no país. Nesse momento foi criado o núcleo brasileiro do DOCOMOMO
(International Working Party for DOcumentation and COnservation of Buildings, Sites and
Neighbourhoods of the MOdern MOvement). Uma das ações deste núcleo está voltada para o
inventário das obras que integram o patrimônio moderno brasileiro.
Nessa mesma perspectiva, no âmbito local o III Plano Diretor de Pelotas preconiza como uma
das diretrizes para as Áreas Especiais de Interesse do Ambiente Cultural (AEIAC) o
“cadastramento do patrimônio arquitetônico pré-moderno para inclusão no inventário do
Patrimônio Cultural de Pelotas” (Pelotas, 2008, p.21). A convicção da importância do
conhecimento deste acervo foi o motivador do projeto de pesquisa “Inventário de arquitetura
moderna em Pelotas” que propõe a identificação e a sistematização da arquitetura art déco
produzida entre os anos 1930 e 1950.
Esta investigação está sendo desenvolvida por um grupo de professores do Núcleo de Estudos
de Arquitetura Brasileira – NEAB, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Pelotas. A pesquisa pretende contribuir para a reflexão junto aos órgãos de
preservação sobre as formas de salvaguardar os exemplares mais representativos dessa
arquitetura, assim como suas ambiências urbanas.
187 Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas.
188 Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Católica de
Pelotas. [email protected].
189 Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas.
190 Doutora em Planejamento Urbano e Regional. Núcleo de Estudos de Arquitetura Brasileira,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas. [email protected].
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A arquitetura moderna art déco em Pelotas vem sendo estudada por pesquisadores como
Moura (2004 e 2005), Schlee (1993) e Gonsales (2001), cujos estudos formaram o referencial
teórico sobre a produção arquitetônica local. Este trabalho propõe relatar esta experiência do
primeiro inventário de arquitetura moderna realizado na cidade, apresentando os resultados
das análises obtidas após a elaboração dos mapas temáticos da área estudada.
Metodologia e resultados
A proposta de cadastramento do patrimônio arquitetônico art déco (ou pré-moderno, como se
refere o III Plano Diretor de Pelotas) foi pautada em um inventário de reconhecimento. Este
cadastramento foi realizado através de um levantamento de campo, abrangendo o 1º, 2º e 3º
loteamentos de Pelotas. Nesta área foram identificadas, registradas e fotografadas as
edificações construídas no período de 1930 a 1950, que se enquadravam nos critérios
preestabelecidos pela equipe (Figura 1).
FIGURA 1 – Exemplares de diferentes tipologias identificados no levantamento
Fonte: Acervo do inventário da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel
Em paralelo, a revisão bibliográfica serviu para definir os critérios que qualificavam as obras a
serem inventariadas e permitiu conhecer o estado da arte sobre o tema, sistematizando
informações relevantes que foram tabuladas e georeferenciadas.
A utilização de ferramentas de georeferenciamento, especificamente o programa gvSIG
(software livre), para armazenar e organizar os dados coletados foi uma escolha da equipe,
que se fundamentou na possibilidade de gerenciar informações diferentes em uma mesma
base de dados. Os critérios selecionados para a elaboração das fichas de levantamento de
campo basearam-se nas categorias estabelecidas por Moura (2005), priorizando a coleta de
dados das fachadas e do entorno das obras selecionadas. Estes dados foram adaptados para a
sua inserção no gvSIG, e possibilitaram a confecção de mapas temáticos sobre o objeto
estudado (Figura 2).
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FIGURA 2 – Trecho do mapeamento e análise das informações sobre a preservação das obras inventariadas
Fonte: Acervo do inventário da arquitetura moderna da cidade de Pelotas. NEAB, FAUrb-UFPel
Conclusões
A primeira etapa da pesquisa, que consistiu na realização de um inventário de reconhecimento
(ou de varredura) já foi realizada. A ficha de levantamento de campo foi testada em uma ação-
piloto, e a equipe foi treinada para o seu preenchimento. Os critérios foram estabelecidos e as
dúvidas foram constantemente discutidas pela equipe, com o intuito de selecionar as obras
que compreendiam o acervo do patrimônio moderno art déco em Pelotas.
O banco de dados foi gerado com as informações coletadas. Os bens listados no inventário de
reconhecimento da arquitetura moderna em Pelotas totalizaram 887 exemplares na área
pesquisada. Uma das constatações é que apenas 5% dessas obras encontram-se protegidos
por legislação municipal e, a maioria destas obras encontra-se localizada no 1º e 2º
loteamentos da cidade. Nessa perspectiva, as ferramentas de georreferenciamento têm sido
essenciais para armazenamento de dados, possibilitando o cruzamento de informações que
nos ajudam a compreender as particularidades do patrimônio moderno art déco na cidade de
Pelotas.
Referências
GONSALES, Célia Helena Castro. Racionalidade e contingência, uma proposta de leitura da
arquitetura moderna brasileira: o caso de Pelotas. Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis.
Editora Ritter dos Reis. 2001. v. 3, p. 173-180
MOURA, Rosa Maria Garcia Rolim de. Ari Marangon - 25 anos de arquitetura. Santa Maria:
Pallotti, 2004.
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Universitária/UFPel, 2005.
PELOTAS. Lei 5.502 de 2008. Institui o Plano Diretor Municipal e estabelece as diretrizes e
proposições de ordenamento e desenvolvimento territorial no Município de Pelotas, e dá
outras providências. Disponível em: http://www.pelotas.rs.gov.br/. Acesso em: 07 mar. 2013.
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SCHLEE, Andrey Rosenthal. O ecletismo na arquitetura pelotense até as décadas de 30 e 40.
1993. 215p. (Mestrado em Arquitetura). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Agradecimentos
Agradecemos ao apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq, através do Edital CNPq/CAPES nº 007/2011 (Processo 401080/2011-7).
Agradecemos ao apoio financeiro da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande
do Sul – FAPERGS, através do Programa Pesquisador Gaúcho – PqG -, Edital FAPERGS nº
004/2012 (Processo 12/1899-1).
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Estudos das Esculturas em faiança da cidade de Pelotas
Keli Cristina Scolari191
Raíssa Piedade Gará²
Palavras-chave: Faiança. Conservação.Patrimônio Cultural. Pelotas.
Introdução
Este trabalho tem como objetivo apresentar o trabalho de pesquisa que começou a ser
desenvolvido no Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural da UFPel, primeiramente
com os casarões 8, 6, 2, localizados na praça Pedro Osório e posteriormente o estudo expandiu
para outros casarões da cidade.
Assim, o presente trabalho esta buscando a identificação das peças cerâmicas existentes em
edificações tombadas do patrimônio histórico da cidade de Pelotas, identificadas como
cerâmica em faiança originária de Portugal, e com vistas à conservação desse patrimônio e sua
condição de degradação. As edificações pesquisadas são os casarões de números 8, 6 e 2,
localizados na Praça Coronel Pedro Osório.
Imagem dos Casarões Barão de Butuí, Barão de São Luís e Barão de Cacequi, localizados na Praça Coronel Pedro Osór io, Pelotas, RS, s/data.
Fonte: Acervo de Nelson Nobre, Universidade Católica de Pelotas, 2011.
No Brasil colonial, a cerâmica foi instrumento de composição de projetos arquitetônicos com
variados estilos artísticos, principalmente pelo barroco, neoclássico e pelo eclético. Muitas das
cerâmicas constituem-se em um legado histórico, tais como a azulejaria portuguesa, contudo,
os azulejos e ornatos existentes nas fachadas dos prédios, destes estilos, eram importados da
Europa, principalmente de Portugal e da França.
191 Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural/ICH/UFPel, Bacharelado em Artes
Plásticas/IA/UFRGS, Restauradora do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro
ICH/UFPel, e-mail: [email protected]
2Acadêmica em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis UFPel
e-mail: [email protected]
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A conscientização de conservação desses bens, da história brasileira, surgiu no século XX pelo
Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional e, também, de alguns grupos privados, tais
como o Instituto Portucale de Cerâmica Luso-Brasileira, localizado no estado de São Paulo,
com a leitura de cerâmicas artísticas portuguesas como instrumento da memória de nossa
colonização.
Metodologia e Resultados
A cidade de Pelotas é pertencente do grupo das vinte e seis cidades que integram o Projeto
Monumenta do Governo Federal, possui de um dos maiores acervos edificados no estilo
eclético do século XIX, com 4 edificações com tombamento em nível federal, 1 em nível
estadual, 10 em nível municipal e mais de 1700 prédios inventariados, e possuem decoração
em cerâmica de fachada, e em sua maioria, na forma de ornatos e esculturas, que atualmente
estão sendo restaurado ou se encontram em processo de preservação.
Assim, Iniciou-se a pesquisa sobre a origem das esculturas em faiança e a sua tecnologia de
produção, posteriormente, foi realizado a identificação visual, documentada fotograficamente,
o levantamento cadastral, a partir de fichas catalográficas, das peças cerâmicas existentes nos
Casarões. Depois foi comparado os exemplares encontrados nos Casarões com peças
existentes no catálogo da Fábrica de Cerâmica e de Fundição das Devezas, editado em 1910.
(a) (b) (c)
(a) Escultura Europa, existente no frontão do prédio do Casarão Barão de Cacequi, (b) Imagem do catálogo da Fábrica de Cerâmica e de Fundição das Devezas. (c) Vasos em faiança existentes na platibanda do Casarão Barão de Cacequi.
Fonte: Acervo autora, 2011.
Para a análise do estado de conservação das peças cerâmicas foram utilizadas as informações
das fichas catalográficas, fez-se a determinação da composição química da pasta cerâmica e do
vidrado de uma amostra coletada em um vaso Krater, existente no Casarão Barão de Cacequi
(Casarão nº 8). As composições químicas da pasta cerâmica e do vidrado foram comparadas
com análises químicas de peças cerâmicas efetuadas pelo químico francês Charles Lepierre, em
1912. Os levantamentos e estudos feitos possibilitaram a elaboração de uma proposta para
futuras intervenções nas peças cerâmicas em faiança portuguesa existentes nos Casarões, a
partir da sua reconstituição ou substituição por peça original.
Conclusão
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Com a conclusão desta fase da pesquisa vai-se expandir para outros casarões da cidade,
iniciando pela edificação do Museu Municipal parque da Baronesa, onde já estão sendo feito
levantamentos fotográficos e inicio do preenchimento das fichas catalográficas.
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A ESCULTURA DO DEUS MERCÚRIO, DO ALTO DA TORRE DO MERCADO MUNICIPAL DE PELOTAS, RS,
BRASIL: A TRAJETÓRIA DE UM SÍMBOLO DIVINO.
Isabel Halfen da Costa Torino192
Fabio Vergara Cerqueira193
Palavras-chave: Deus Mercúrio. Mercado Público Pelotas. Preservação patrimonial.
Introdução
Desde a antiguidade até a contemporaneidade, podemos observar a prática de diferentes
processos de representação do passado, que ocorrem em tentativas de reafirmar, no
presente, laços que consideramos caros, ou seja, com o propósito de resgatar vínculos
identitários. Uma destas práticas se traduz na reivindicação patrimonial, pela valorização de
bens culturais a partir de valores de percepção que lhe são atribuídos. O conceito de
patrimônio e os valores a ele conferidos evoluíram ao longo da história da humanidade, mas a
sua relação com a memória e a identidade sempre persistiu, tornando-se cada vez mais forte e
íntima, chegando à atualidade com uma necessidade absoluta de manutenção desses laços.
Este trabalho aborda um bem cultural da cidade de Pelotas que esteve desaparecido por longo
tempo, embora esteja presente no imaginário pelotense e seja até hoje reivindicado por parte
da população. Trata-se da escultura em metal representando o deus Mercúrio na mitologia
romana ou Hermes, na mitologia grega. O tema desta pesquisa está delimitado na trajetória
sofrida por esta escultura, desde que foi fixada no alto da torre do Mercado Municipal de
Pelotas, por ocasião da reforma sofrida no prédio entre 1911 e 1914, seu desaparecimento por
motivo desconhecido entre a década de 1950 e 60, até seu reaparecimento posterior no
prédio da Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas e sua recente colocação em uma sala do
Mercado Municipal (figura 1).
Além de não possuir documentação, a história desse bem cultural é cercada de informações
escassas e contraditórias. A escultura de metal passou, também, por algumas intervenções e
tentativas de restauro com material e técnicas desconhecidos.
Figura 1 Escultura do deus Mercúrio na sala do Memorial do Mercado
192 Bacharel em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis/UFPel, pós-graduanda do Curso de Especialização em Memória, Identidade e Cultura Material/UFPel, Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural/UFPel. E-mail: [email protected]
² Doutor em Antropologia Social pela USP. Professor do Curso de Bacharelado e Licenciatura em História e do Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas. Coordenador do LEPAARQ–UFPel. E-mail: [email protected]
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Fonte: Isabel Torino
Metodologia e resultados
Para estudar o percurso patrimonial do Mercúrio pelotense, pretende-se apoiar no
conjunto de documentos e instrumentos de proteção legal aplicáveis aos bens culturais.
Para a pesquisa histórica, será feita busca de informações em fontes documentais e
bibliográficas. Pretende-se investigar em periódicos da Biblioteca Pública pelotense notícias e
relatórios da Intendência Municipal, que eram veiculados naquela época. Também serão
consultados arquivos do executivo e do legislativo municipal de Pelotas e o acervo
bibliográfico do Instituto Geográfico de Histórico pelotense, com o objetivo de obter
informações referentes à origem da escultura de Mercúrio, sua aquisição, instalação na torre,
sua degradação física e estrutural, as intervenções pelas quais passou e o seu percurso
patrimonial até o momento. Para tanto, serão aplicadas entrevistas com pessoas que fizeram
parte desta trajetória traçada pelo “Mercúrio pelotense”.
Conclusões
Tratando-se de uma pesquisa em fase inicial, muitos dos seus objetivos ainda não foram
cumpridos. No entanto, o estudo e a observação da trajetória sofrida pela escultura do deus
Mercúrio, já permitem conduzir a algumas reflexões sobre o seu percurso patrimonial, como o
seu desaparecimento, as intervenções de restauro sofridas e os procedimentos e tentativas de
proteção de órgãos que deveriam ter sido responsáveis pela sua preservação e pelo seu
retorno à comunidade pelotense.
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Ao mesmo tempo, se questiona por que, depois de tanto tempo descontextualizado em uma
sala da Secretaria Municipal de Cultura, foi escolhida justamente a “Semana do Patrimônio”
para a transferência da escultura para o Memorial do Mercado? Sobre essa operação não foi
veiculada qualquer informação, sendo que somente quem compareceu às solenidades de
comemoração desta data pode visualizar o Mercúrio no seu novo local. Pergunta-se, também,
que medidas de proteção foram tomadas e de que maneira esse bem cultural foi transportado,
já que apresenta novas escoriações no braço esquerdo? E, ainda, qual a relação pensada pelos
órgãos de preservação cultural no compromisso em informar a quem exerce a reinvindicação
patrimonial, ou seja, a população?
Consideramos que esta mudança da escultura para o Memorial do Mercado não foi
significativa em termos de resposta aos anseios da população, já que não devolve o Mercúrio
em sua plenitude à comunidade pelotense; ele continua em uma sala fechada, agora um
pouco mais próxima do seu local original, mas ainda longe dos olhares da população.
Estas reflexões não têm o intuito de pura crítica, mas a pretensão de contribuir, por meio da
percepção e entendimento desses problemas ocorridos, para medidas efetivas de uso dos
instrumentos de proteção legal na tutela e salvaguarda dos bens culturais. Estima-se, ainda,
que esta reflexão estimule uma nova concepção de políticas responsáveis de preservação
patrimonial dos bens móveis em nossa cidade.
Referências
CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Editora Contexto, 2011.
Carta de Veneza de 1964.
CARR-GOMM, Sarah. Dicionário de símbolos na arte: guia ilustrado da pintura e da escultura
ocidentais. São Paulo: EDUSC, 2004.
CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. Tradução Luciano Vieira Machado. São Paulo:
Estação Liberdade/Unesp, 2001.
KÜHL, Beatriz Mugayar. História e ética na conservação e na restauração de monumentos
históricos. Rev. CPC, Abr 2006, no.1, p.16-40. ISSN 1980-4466 Disponível em
<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/cpc/n1/a03n1.pdf> acesso em 23/09/2013 às 22h.
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A Exposição Museu Revelado no Museu de Arte da Pampulha: o fardo da história não revelada
Rodrigo Vivas194
Palavras-chave: Museu de Arte da Pampulha, Salões de Arte da Prefeitura de Belo Horizonte,
Arte Moderna, Arte Contemporânea, Museu Revelado
Introdução
A Exposição “Museu Revelado” realizada no Museu de Arte da Pampulha de Belo Horizonte no
ano de 2012 confunde-se com a pesquisa desenvolvida nos últimos anos sobre o acervo da
instituição.195 O interesse parece ter iniciado com indagações óbvias: como a próspera capital
mineira não possuía um acervo permanente exposto ao público? Nenhum registro artístico
sobreviveu nestes últimos 100 anos? Mas o que se produziu nas Escolas de Arte? Como
artistas significativos tiveram sua produção direcionada para Belo Horizonte, mas não
possuíam obras disponíveis para consulta? Não existiria uma história da arte em Belo
Horizonte? Essa curiosidade inaugural me levou a buscar na reserva técnica do Museu de Arte
da Pampulha parte desse acervo “perdido”. Mas encontrar o magnífico acervo foi apenas o
início do problema, pois não existiam fichas técnicas consistentes ou sistema de organização
efetivo daquele conjunto de obras. Além disso, o Museu também não possuía um espaço para
consulta das obras e dos documentos disponíveis. O objetivo passou a ser localizar as obras em
jornais, catálogos de exposição e estabelecer o contato direto com os artistas. Mas por qual
razão desde a sua fundação nenhuma gestão se interessou pelo estudo do acervo? Esse parece
sempre estar submetido ao fardo do antigo Cassino. A suntuosa edificação de traços
modernistas de Oscar Niemeyer, que foi transformado em Museu demonstra nunca
corresponder ou ter correspondido às necessidades de exposição de um acervo museológico
permanente. Nesse caso são dois princípios que se tornaram incongruentes: a estrutura
cristalizada do prédio e as exigências crescentes do museu em acompanhar as modificações do
perfil do próprio acervo e seu público, considerando que as alterações ou convergiriam em
uma descaracterização, ou seriam insuficientes como as já realizadas. Para desenvolvimento
da proposta passamos a construir o conceito da exposição visando caracterizar um “perfil da
coleção”. Não seria possível, com poucos estudos elaborados sobre o acervo, propor uma
mostra que de fato revelasse todo o acervo ou parte representativa do mesmo. O objetivo foi
elaborar uma proposta que demonstrasse as mais diversas produções artísticas que
caracterizam o acervo do Museu. O primeiro passo foi pensar como a coleção foi formada.
Nesse sentido, temos historicamente inúmeras fontes que contribuíram para a criação do
acervo. As principais foram: 1) Salões de Arte da Prefeitura; 2) Doações diversas; 3) Programas
de Arte Contemporânea. Os salões de arte cumpriram uma importante função no processo de
194 Doutor em História da Arte (UNICAMP), Professor de História da Arte da Escola de Belas
Artes da UFMG, Professor da Pós-Graduação em artes da mesma instituição. Líder do Grupo de
Pesquisa: História da Arte, Crítica e Museus Mineiros. Email: [email protected]
195 CF: Vivas, Rodrigo ; ASSIS, Márcia Georgina de . A Academia Imperial de Belas Artes no
Museu Mineiro. 19&20 (Rio de Janeiro), v. VIII, p. 1, 2013. Vivas, Rodrigo . Por uma História da
Arte em Belo Horizonte: artistas, exposições e salões de arte. 1. ed. Belo Horizonte: ComArte,
2012. v. 1. 246p
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divulgação, discussão e formação de público e artistas. Na cidade de Belo Horizonte os salões
foram responsáveis, a partir do prêmio de aquisição, reunir o atual acervo que permitiu a
constituição da coleção. Na presente comunicação apresentaremos a proposta curatorial da
Exposição “Museu Revelado” com o objetivo de discutir questões referentes à constituição do
acervo da instituição e atuais estratégias de estudo e divulgação do mesmo.
Referências:
Vivas, Rodrigo; ASSIS, Márcia Georgina de. A Academia Imperial de Belas Artes no Museu
Mineiro. 19&20 (Rio de Janeiro), v. VIII, p. 1, 2013.
Vivas, Rodrigo. Por uma História da Arte em Belo Horizonte: artistas, exposições e salões de
arte. 1. ed. Belo Horizonte: ComArte, 2012. v. 1. 246p
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Trajetória dos inventários arquitetônicos e urbanos no Rio Grande do Sul
Ana Lúcia G. Meira196
Palavras-chave: valores, inventários, patrimônio cultural, INRC, INCEU.
Introdução
Etimologicamente, inventário deriva do latim inventarium, significando relação, elenco. No
campo do patrimônio cultural, em geral, é definido como o registro de informações técnicas
que constitui a identificação de um acervo para embasar as políticas de preservação do
patrimônio cultural. Especificamente em relação ao patrimônio cultural material, pode ser
definido como um “estudo que vise conhecer o universo de bens culturais de determinada
região (...) ou relacionados com determinado tema (...), que identifique e cadastre as
ocorrências materiais ainda existentes...”. (SICG-IPHAN, 2013). No Rio Grande do Sul, os
projetos institucionais de inventários do patrimônio cultural foram desenvolvidos
principalmente pelo IPHAN e IPHAE, mas não há uma avaliação crítica dessa trajetória. A
comunicação aqui apresentada versa sobre uma pesquisa que, embora não tenha sido
aprofundada, teve por objetivo estabelecer os momentos de inflexão das políticas públicas em
relação ao tema. Inventários são fruto de seleções e de escolhas – geralmente feitas por
técnicos. A partir dessa constatação pode-se formular algumas perguntas. Que olhar deve
prevalecer sobre os bens que compõem o nosso acervo cultural material e imaterial? Quem
tem legitimidade para escolher o que deve ser destacado do cotidiano, passando a se
constituir em patrimônio? E a partir da atribuição de que tipo de valores? A relevância que os
inventários assumiram nas políticas de proteção, atualmente, inclusive se constituindo
em requisito básico para a documentação dos tombamentos de áreas urbanas, como
nos tombamentos dos sítios urbanos de Jaguarão e Bagé, justifica que se busque
entender a trajetória e os diferentes enfoques com a finalidade de aprimorar sua
aplicação. As análises foram realizadas a partir da lista de inventários fornecida pelo
IPHAE com base em seus arquivos, bem como pela pesquisa nos arquivos, no site e na
biblioteca do IPHAN. O marco histórico dos inventários no RS deu-se em Porto Alegre,
com a Lei Orgânica de 1970, que resultou em duas listagens de edificações a serem
preservadas, posteriormente incorporadas do PDDU. Nessa década, houve o
desenvolvimento de importantes inventários regionais no Brasil. A partir dos anos
1980, diversificaram-se (áreas de imigração no RS e SC, estatuária missioneira,
Caminho das Tropas etc.). Os Projetos “Ecclesia" e "Caçapava" antecederam o
desenvolvimento do Inventário dos bens culturais do Rio Grande do Sul - parceria
entre IPHAN e IPHAE, restrito ao patrimônio arquitetônico. A partir de 1990,
desenvolveu-se um planejamento institucional nos inventários do IPHAN, culminando
com o SICG. No RS, intensificaram-se os inventários do patrimônio edificado, com
destaque para o inventário realizado pela EPAHC, em Porto Alegre, e para o Inventário
Participativo de Viamão, legitimando o olhar da população sobre os bens patrimoniais
196 Arquiteta e Urbanista pela UFRGS, Mestrado e Doutorado no PROPUR/UFRGS, IPHAN, [email protected].
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(ORTIZ, 2001). Na virada do século, foi instituído o Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial. Dezenas de inventários de referências culturais foram realizados no Brasil.
No RS, foram seis experiências, que iniciaram pela abordagem de culturas
tradicionalmente excluídas das políticas públicas de patrimônio: a afrodescendente e a
indígena. Algumas universidades e prefeituras, com destaque para os municípios da 4ª
Colônia Italiana, também desenvolveram projetos de inventários, bem como
pesquisadores autônomos. Verificou-se que, nos últimos anos, houve uma grande
diversificação de métodos – especialmente daqueles relacionados ao registro da
configuração urbana e das referências culturais imateriais. A diversidade dos bens
inventariados em Viamão demonstrou a necessidade da diversificação dos olhares
sobre o patrimônio. Bens aos quais foram atribuídos sentidos pela população e que
passariam incólumes nos registros dos técnicos puderam ser registrados. Entre o
técnico e o popular debate-se a legitimação dos inventários hoje em dia.
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A Oficina Metalúrgica de Ernesto Giorgi : artefatos metálicos das primeiras décadas do século XX em
Pelotas/RS
Ana Paula de Andrea Dametto197
Palavras-chave: Inventário. História oral. Memória. Patrimônio.
Introdução
Ao realizar o inventário “Os metais nas fachadas públicas. Pelotas/RS (1870-1931)” (DAMETTO,
2009) observou-se em edificações de interesse cultural placas de identificação de oficinas
metalúrgicas que atuaram nas primeiras décadas do século XX - Jacobs & Tomberg e Ernesto
Giorgi. Estas placas (Figura 1) encontram-se fixadas em cortinas metálicas de edificações
inventariadas de uso misto e comercial da área central da cidade, entorno da Praça Coronel
Pedro Osório. O interesse em aprofundar o conhecimento sobre os artefatos metálicos em
cadastramento levou-nos a procurar informações sobre estas oficinas. A descoberta da origem
destes artefatos confirmou a existência de atividades metalúrgicas na economia local no início
do século XX e indicou que nem todos os componentes arquiteturais metálicos utilizados na
arquitetura desta época eram importados.
FIGURA 1 – Placas das oficinas Tomberg & Filho e Ernesto Giorgi em cortinas metálicas
Fonte: fotos da autora, outubro de 2008.
Materiais e Métodos
Para compreender a trajetória desta oficina metalúrgica do início do século XX e identificar
artefatos confeccionados pela empresa foram realizadas entrevistas com familiares, registros
fotográficos e pesquisa documental e iconográfica.
A oficina de Ernesto Giorgi
Segundo José Ernesto Giorgi, seu pai, Ernesto Giorgi, nasceu em 1893, em Pelotas, RS. Era filho
de italianos que tiveram quatro filhos, sendo um menino e três meninas. Aos oito anos de
idade ficou órfão e mudou-se para a Argentina aos cuidados de um casal de tios na cidade de
Mar Del Plata. Iniciou o aprendizado na arte de trabalhar o ferro ainda criança, provavelmente
com seu tio, ajudando-o no acionamento do “fole” da “forja”, onde era aquecido o metal para
a fabricação de artefatos forjados. Aos 25 anos casou-se com uma argentina, Maria Anglada
197 Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural,
Universidade Federal de Pelotas, [email protected].
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Giorgi, e no mesmo ano, 1918, voltou para o Brasil para trabalhar “no ramo da ferraria” em
sociedade com seu cunhado José Mário Manfrim, casado com uma de suas irmãs chamada
Luiza Giorgi.
Em 1927, após o falecimento de José Mário Manfrim, Ernesto fez o registro de outra firma
chamada Maduel & Giorgi, que atuou até a década de 1930. Em 1937, oficializou sua empresa
individual, denominando-a “Ernesto Giorgi”, oficina metalúrgica conhecida como Serralheria
Central de Ernesto Giorgi. Confeccionavam qualquer tipo de componente arquitetural,
utilizando catálogos estrangeiros e nacionais como modelos para o projeto dos desenhos. Eram
referência na confecção de artefatos metálicos de alto padrão e concorrentes da empresa
Tomberg & Filho Ltda.
Além das cortinas metálicas da área central da cidade, foram identificados componentes
arquiteturais de provável autoria da Serralheria Central Ernesto Giorgi. Foram eles: marquise
(hoje inexistente) do prédio onde funcionava a antiga Confeitaria Nogueira, à rua XV de
Novembro n.559 (Figura 2), porta de edificação localizada à rua Tiradentes esquina Félix da
Cunha (Figura 3); portão entre os prédios da Prefeitura e do Antigo Liceu Riograndense,
localizado à Praça 7 de julho (Figura 4). Há a probabilidade do Balcão central do antigo prédio
da Confeitaria Nogueira também ter sido confeccionado por Ernesto Giorgi. Identificou-se o
gradil da Escola Municipal Joaquim Assumpção, localizada a rua Almirante Barroso n.1679,
esquina com a rua Tiradentes.
Figura 2: Edificação que abrigou a antiga
Confeitaria Nogueira. Marquise e balcão.
Fonte: foto da autora, outubro de 2008.
Figura 3: Porta de edificação situada na rua
Tiradentes esquina Félix da Cunha.
Fonte: foto da autora, outubro de 2008.
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Figura 4: Portão entre a Prefeitura Municipal e a antiga Escola de Agronomia e Veterinária, situado à Praça 7 de julho.
Fonte: foto da autora, outubro de 2008.
Conclusões
Através das entrevistas foi possível identificar a procedência de alguns componentes
arquiteturais metálicos que foram cadastrados no inventário e de outros não menos
relevantes.
O resgate da memória desta oficina metalúrgica valoriza os trabalhos realizados por artesãos
locais do início do século XX e reforça a importância dos inventários como fontes primárias
para pesquisas e estudos científicos.
Referências
DAMETTO, Ana Paula de Andrea. Os metais no patrimônio arquitetônico urbano de Pelotas,
RS - 1870 a 1931. Dissertação (Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural)
Universidade Federal de Pelotas, 2009.
GIORGI, Fernando. Fernando Giorgi. Inédito. Pelotas, RS. Entrevista concedida a Ana Paula de
Andrea Dametto em abril de 2009.
GIORGI, José Ernesto. José Ernesto Giorgi. Inédito. Pelotas, RS. Entrevista concedida a Ana
Paula de Andrea Dametto em março de 2009.
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Repercussões Gráficas da Passagem do Graf Zeppelin pelo Brasil: Anúncios Publicados na Imprensa em
1930
Nadia Miranda Leschko198
Vera Maria Marsicano Damazio199
Edna Lúcia Oliveira da Cunha Lima200
Palavras-chave: Memória Gráfica brasileira. História Gráfica. Repercussão Gráfica. Graf
Zeppelin. Anúncios. 1930.
Introdução
Este trabalho tem por objetivo apresentar alguns resultados com base na análise gráfica dos
anúncios publicados na imprensa do Recife/PE, Rio de Janeiro/RJ e Pelotas/RS por ocasião da
passagem do dirigível “Graf Zeppelin” na década de 1930. O estudo completo das
manifestações gráficas geradas pela passagem do dirigível pelo Brasil encontra-se em
andamento no Programa de Pós-Graduação em Design da PUC-Rio e faz parte do projeto
“Memória Gráfica Brasileira: Estudos comparativos de manifestações gráficas nas cidades do
Recife, Rio de Janeiro e São Paulo”.
A participação neste grupo de pesquisa propiciou a realização de uma missão de estudos em
Recife/PE no qual a passagem do dirigível “Graf Zeppelin” pelo país, destacou-se como evento
que gerou repercussão gráfica merecedora de estudos no campo da memória gráfica
brasileira, como comprovado em pesquisa realizada ao longo de 2013 e que encontra-se nas
etapas finais como bolsista do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca
Nacional.
A passagem do dirigível pelo Brasil na década de 1930 gerou extensa repercussão gráfica,
termo que nesta pesquisa abrange manifestações gráficas tais como reportagens em jornais e
revistas que utilizaram recursos como fotografias, ilustrações, mapas com percurso da
aeronave, plantas dos locais de pouso, diagramas, fotomontagens, caricaturas, charges, além
de cartões postais, selos postais, brindes e os anúncios que são a base para este texto.
O recorte escolhido, anúncios publicados na imprensa, traz a parte mais tangível dos
sentimentos evocados pela passagem do dirigível tratando-se de uma categoria de
manifestação gráfica significativa para a história do design e para a memória gráfica brasileira.
198 Bacharel em Design Gráfico/UFPel, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural/UFPel,
doutoranda em Design/PUC-Rio, bolsista PNAP Fundação Biblioteca Nacional. E-mail:
199 Bacharel em Desenho Industrial e Comunicação Visual/PUC-Rio, Mestre em Design Gráfico,
Universidade de Boston, EUA, Doutora em Ciências Sociais, UERJ, Professora Assistente no
Departamento de Artes & Design - DAD/PUC-Rio. Email: [email protected]
200 Bacharel em Comunicação Visual/UFPE, Mestre em Design/PUC-Rio, Doutora em
Comunicação/UFRJ. Professora adjunta no Departamento de Artes & Design - DAD/PUC-Rio. E-
mail: [email protected]
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Anunciantes procuravam associar seus produtos com valores emanados pela aeronave tais
como inovação, tecnologia, rapidez além de um ideal de futuro.
Esses anúncios, peças gráficas efêmeras, nos trazem um panorama fresco dos hábitos de
consumo da sociedade de 1930, e é nesse ponto que a análise gráfica, atenta aos valores
culturais da época, encontra sua justificativa.
Metodologia e resultados
De início, foi realizada pesquisa bibliográfica para levantar dados sobre a aeronave e seu
percurso pelo país. Nesse aspecto as obras de Lins, Lucchesi, Mendonça e Mooney foram
importantes para essa etapa. Após, de posse das datas e dados da passagem do dirigível,
foram examinados periódicos da década de 1930 dos acervos do Recife/PE, Rio de Janeiro/RJ e
Pelotas/RS com destaque para o acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Esse
inventário foi separado por cidade, por periódico e por categoria. Ao todo foram
documentadas mais de mil ocorrências. Com critérios baseados na relevância gráfica, as
ocorrências foram selecionadas sendo reduzidas a um total de 368. Esse montante foi
separado por categorias gráficas sendo que os anúncios representam 107 ocorrências
documentadas.
Além de categorizar por cidade, os anúncios foram categorizados por afinidade: anúncios do
Sindicato Condor, produtos que se associam ao Zeppelin, empresas e lojas que trazem suas
mercadorias no Zeppelin, produtos automotivos associados ao dirigível, além de uma categoria
de diversos que inclui anúncios de filmes e transporte de ônibus para o campo de pouso do
Zeppelin. Essa categorização facilitou a análise gráfica das peças gerando resultados
consistentes.
Conclusões
Como resultado inicial, foi possível perceber a presença do design nos anúncios analisados. Há
muitos recursos gráficos que os diagramadores utilizaram para chamar a atenção do público-
alvo. Segundo, de fato, a passagem do Zeppelin pelo Brasil causou impacto tão significativo na
sociedade da época que até xampu era anunciado com referência ao dirigível. Outro resultado
significativo diz respeito à troca de informações entre as cidades. Nos anúncios do Sindicato
Condor, responsável pela vinda dirigível ao país e pelas correspondências postais, o mesmo
formato gráfico de anúncio foi mantido nas três cidades sendo que Pelotas utiliza clichê
idêntico ao dos anúncios do Rio de Janeiro. Nesse ponto fica evidente o intercâmbio gráfico
entre as cidades.
Referências
LINS, Fernando Chaves. Por céus nunca d'antes navegados. Recife: Ed. Universitária, UFPE,
2006.
LUCCHESI, Claudio. Loucos e Heróis: Fatos e Curiosidades da História da aviação. São Paulo: C.
Lucchesi, 1996
MENDONÇA, Anna Amelia de Queiroz Carneiro de. Quatro pedaços do Planeta no tempo do
Zeppelin. Rio de Janeiro : Arquimedes, 1976
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MOONEY, Michael Macdonald. Zeppelin, a verdadeira história do desastre do Hindenburg. 2ª
Ed. São Paulo, Melhoramentos, 1973.
Hemeroteca Digital Brasileira da Fundação Biblioteca Nacional. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx> Acesso em 11 set. 2013
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A arte decorativa das superfícies murais dos ambientes internos dos prédios ecléticos Pelotenses
Fabio Galli Alves201
Carlos Alberto Ávila Santos202
Cristina Jeannes Roziski203
Palavras-chave: Inventário, Pinturas Murais, Decoração Mural, Ecletismo, Escaiola, Estêncil
Introdução
A necessidade de produzir inventários é uma premissa para a salvaguarda do patrimônio
cultural. E isso contribui para que se desenvolvam metodologias que englobem diversos
aspectos dos bens a serem inventariados, dentre eles: a investigação, a identificação, a
documentação e a classificação (FONSECA 2005, CASTRIOTA 2009).
O presente trabalho pretende inventariar a arte mural aplicada nas paredes dos ambientes
internos dos prédios ecléticos Pelotenses. Inicialmente, o levantamento foi realizado nas
decorações murais dos casarões do entorno da Praça Coronel Pedro Osório, edificados ou
reformados entre os anos de 1878 e 1880, de propriedade dos Barões de Butuí, de São Luis, e
do Conselheiro Maciel. O conjunto eclético foi tombado 1970 pelo Instituto do Patrimônio
Histórico Artístico Nacional (IPHAN). Os referidos prédios fazem parte do início da pesquisa
para dissertação de mestrado “As decorações de superfícies murais dos ambientes internos
dos prédios ecléticos Pelotenses”, junto ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e
Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas. Os prédios de estilo eclético
relacionados foram edificados no período de apogeu econômico da cidade, no qual a
navegação permitiu a importação de técnicas decorativas e de artífices europeus, que
responderam ao gosto de uma burguesia em ascensão.
A inexistência de inventários deste tipo de bem integrado ao patrimônio edificado e o
desconhecimento das técnicas decorativas aplicadas às paredes, acarreta uma série de
201Mestrando do Programa de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural - Universidade
Federal de Pelotas. PPGMP | UFPel
e-mail: [email protected] fone: 53-9981-2966
202 Doutor em Arquitetura e Urbanismo – Área de Conservação e Restauro – pela Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da UFBA. Docente do Programa de Pós Graduação em Memória Social e
Patrimônio Cultural - Universidade Federal de Pelotas. PPGMP | UFPel
e-mail: [email protected] fone: 53-8115-9955
203 Cristina Jeannes Rozisky
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural - Universidade
Federal de Pelotas. PPGMP | UFPel
e-mail: [email protected] fone: 53-8127-4599
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confusões: confunde-se escaiola com marmoreado, pintura a têmpera com afresco, pintura de
arte com pintura de preenchimento, papel de parede com tecido. Essas diferentes
nomenclaturas e procedimentos serão esclarecidos com esta pesquisa. Metodologia e resultados
A metodologia aplicada foi a pesquisa bibliográfica, iconográfica e de campo, com análise
organoléptica e registro fotográfico para definição e identificação das técnicas e elementos
decorativos internos encontrados nos prédios selecionados. Produção de uma ficha baseada
em autores que tratam de inventários de bens integrados, como apoio para dissertação de
mestrado e de material para desenvolvimento de inventários posteriores deste tipo de bem
cultural.
Conclusões
Os resultados demonstraram a diversidade de técnicas decorativas exploradas num mesmo
ambiente. Apresentam dificuldade para precisar o período em que determinada técnica foi
aplicada, por terem ocorrido sucessivas intervenções e pela falta de registro destas
interferências. Demonstram a necessidade e urgência de inventários das artes decorativas com
o levantamento dos testemunhos que ainda restam.
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Guia de Acervos: a representação dos acervos documentais
Valéria Raquel Bertotti204
Carlos Blaya Perez205
Palavras-chave: Identidade. Memória. Espaços de Memória. Patrimônio Cultural. Descrição.
Guia de Acervos.
Introdução
Este trabalho apresenta o desenvolvimento do Guia de acervos da cidade do Rio Grande.
Compostos por documentos bibliográficos, iconográficos, textuais, cartográficos e
museológicos estes acervos representam uma parte da história da cidade. Inserida na Linha de
Pesquisa Patrimônio Documental, a pesquisa foi desenvolvida no períoido entre março de
2011 e novembro de 2012.
O trabalho constitui-se nos resultados da dissertação apresentada no Programa de Pós-
Graduação Profissional em Patrimônio Cultural (PPGPPC) da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) e tem como tema a identificação, descrição e divulgação dos acervos
documentais e suas instituições custodiadoras denominadas Museus, Bibliotecas, Arquivos,
Centros ou Núcleos de Memória, e Memoriais da cidade do Rio Grande. Dentro da
complexidade de acervos das Instituições, a pergunta que se coloca é como realizar tal
descrição com acervos tão diferentes e possibilitar o entendimento de suas singularidades?
Desta forma a pesquisa estabelece um diálogo com as áreas da arquivologia, biblioteconomia e
museologia na perspectiva da produção de conhecimento e construção de um Guia de Acervos
para Rio Grande, possibilitando a divulgação de uma parte dos acervos da cidade.
Assim, o objetivo geral é analisar a Norma Internacional para Descrição de Instituições com
Acervo Arquivístico (ISDIAH) (CIA, 2008) e outros elementos da arquivologia, biblioteconomia e
museologia, visando a elaboração do Guia de Acervos Documentais da Cidade de Rio Grande,
produto desta pesquisa, possibilitando o intercâmbio de informações dos seus acervos
documentais.
Para tanto, os objetivos específicos constituem-se em:
analisar a Norma Internacional para Descrição de Instituições com Acervo
Arquivístico (ISDIAH) (CIA, 2008) e outros elementos da arquivologia, biblioteconomia e
museologia a fim de construir a descrição das instituições de custódia e seus acervos;
204 Graduação em Arquivologia pela UFRGS, Mestre em Patrimônio Cultural pela UFSM,
Professora do Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande,
205 Bacharel em Arquivologia pela UFSM, Mestre em Multimeios pela UNICAMP e Doutor
em Biblioteconomia e Documentación pela Universidad de Salamanca – Espanha, Professor
adjunto do Departamento de Documentação da Universidade Federal de Santa Maria,
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identificar e descrever os referidos acervos;
ressaltar as fontes relacionadas;
divulgar os acervos documentais da cidade.
O referencial teórico é pautado pelas discussões sobre a construção da(s) identidade(s) dos
indivíduos e grupos sociais, bem como de suas memórias. Os principais autores aqui debatidos
foram: Bauman (2005), Hall (2006), Hobsbawn e Ranger (2008), Le Goff (2003), Pollak (1992) e
Prats (2004). Abordou-se também a relação destas identidades e memórias com o patrimônio
cultural, com autores como Mario Chagas (2002), Pierre Nora (1993) e Zanirato (2006).
Apresenta-se ainda as diferenças e semelhanças entre as instituições arquivos, bibliotecas,
museu e centros de documentação no que tangem seu objeto de trabalho, o documento, e o
tratamento técnico sobre os acervos. Além disso, as áreas correspondentes – arquivologia,
biblioteconomia e museologia – foram debatidas a partir da visão de autores como Bellotto
(2004) que ressalta as diferenças dessas, e Araújo (2010, 2011), Smit (2003) e Malheiros Silva
(1998, 2002) que destacam as suas semelhanças. As questões sobre a representação da
informação foram debatidas a partir dos autores Alberch i Fugueras (2001), Couture e
Rousseau (1998), Heredia Herrera (1993), Mundet (1999).
Metodologia e resultados
A pesquisa foi desenvolvida em cinco etapas: elaboração do instrumento de coleta de dados
(formulário padrão), identificação das instituições de custódia e seus acervos, teste do
formulário padrão, descrição e por fim elaboração do Guia.
Na etapa de descrição das Instituições e respectivos acervos – aplicação do formulário padrão
– primeiramente as informações foram coletadas em sites e outros materiais sobre as
mesmas. A fim de complementar as informações reunidas, foram efetuadas visitas e
entrevistas com funcionários das respectivas instituições.
Conclusões
Os objetivos propostos foram cumpridos a partir do formulário padrão, desenvolvido pela
análise da Norma Internacional para Descrição de Instituições com Acervos Arquivísticos,
outros elementos da área de arquivologia, assim como elementos próprios das áreas de
biblioteconomia, museologia e história. A Identificação foi realizada através do mapeamento
de Instituições denominadas Museus, Bibliotecas, Arquivos, Centros ou Núcleos de Memória, e
Memoriais com endereço na cidade do Rio Grande e que já possuíam referências de
pesquisadores, informações sobre seus acervos em sites e publicações diversas, com acesso ao
público para visitação e/ou pesquisa, ainda que com restrições.
A elaboração do Guia de Acervos permitiu não apenas a difusão destes acervos, como também
apresentou a correlação de fontes dispersas em diferentes instituições possibilitando novas
representações a partir dos quatro índices: Tipologia do acervo, Temas preponderantes,
Gêneros documentais e Períodos de estudos.
Referências
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Hospital Beneficência Portuguesa: Presença e atuação na cotidianidade de Porto Alegre (1854 – 1904)
Éverton Quevedo 206
Palavras-chave: Beneficência Portuguesa. Hospital. Porto Alegre. Saúde Pública.
Introdução
Recuperar e evidenciar a trajetória da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Porto Alegre e
de seu maior investimento, o Hospital Beneficência Portuguesa de Porto Alegre, do ponto de
vista de sua inserção na cotidianidade médico-social da capital do Rio Grande do Sul e, até
mesmo, na comunidade gaúcha de forma mais ampla. Este é o objetivo do Museu de História
da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM) desde sua instalação no prédio histórico da
instituição em outubro de 2007. Assim, neste texto pretendemos evidenciar as questões
teóricas que podem nos ser úteis neste processo.
Para um melhor entendimento, apresentaremos um breve histórico da instituição em questão:
A ideia da criação de uma Sociedade Portuguesa de Beneficência na capital da Província foi
levada a cabo pelo vice-cônsul de Portugal, Antonio Maria do Amaral Ribeiro. Após várias
reuniões, no dia 26 de fevereiro de 1854, na sala de sessões da Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre, foi fundada a instituição.
A criação de um hospital para a assistência aos sócios sempre foi um dos objetivos de todas as
sociedades desse gênero. Em Porto Alegre, antes da criação deste órgão, os sócios eram
tratados na Santa Casa de Misericórdia, em convênio firmado com a Sociedade. Logo a
Sociedade Portuguesa de Beneficência organizou-se e no ano de 1858 foi comprado um
terreno na Rua da Figueira, atual Rua Coronel Genuíno, e construído o prédio do hospital,
onde os primeiros pacientes puderam ser internados (SPALDING, 1954).
Em 1861, tornou-se iminente a construção de um prédio maior, devido, principalmente, ao
aumento no número de sócios. Com recursos provenientes dos associados, legados e
empréstimos foram comprados outros dois prédios, logo destruídos para dar lugar à
construção do novo hospital. Em 1867, foi lançada a pedra fundamental do edifício no terreno
situado no Caminho da Aldeia, ou Estrada dos Moinhos de Vento, quase na esquina da Rua
União, onde também estava sendo erguida a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Mais
tarde, o Caminho da Aldeia passou a denominar-se Independência. O novo prédio do hospital
foi inaugurado no dia 29 de junho de 1870, e os enfermos do hospital da Rua das Figueiras
foram transferidos (SPALDING, 1954; FRANCO, 1988).
Metodologia e resultados
Apontamos, além do que coloca Roberto Machado (MACHADO, 1978, 28) - uma falta
considerável de ações de assistência à saúde - a questão do ponto de vista de quem não era
mais “colonizador”, ou seja, havia a necessidade de organização da comunidade lusa frente a
206 Doutorando em História - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Diretor Técnico do
Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM).
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uma nação que saíra do jugo de sua terra natal. Temendo ficar sem apoio, sem ter suas
demandas atendidas por parte do Estado, organizam-se a fim de suprir qualquer pendência.
Considerando que a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Porto Alegre é a primeira
sociedade de socorros mútuos criada no Rio Grande do Sul e que seu modelo teria sido
explicitamente o da homônima do Rio de Janeiro, que existia desde 1840. (SILVA, 2004: 112)
Nossa proposta consiste em perceber os atores sociais que participaram da trajetória da
Sociedade Portuguesa de Beneficência de Porto Alegre não como um bloco de pessoas, mas
percebê-las de modo particular dentro da estrutura maior que as significam. Desta forma nos
apropriamos da ideia de Grendi, ao defender que: “um modelo de análisis más modesto que
permitiera reducir el objeto de investigación” (SERNA; PONS, 1993: 104), pois, como diz Fábio
Kuhn citando Revel, a atenção aos “casos particulares está intimamente ligada às questões
mais gerais da sociedade estudada” (KUHN, 2006:18).
Cerutti, em “Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século
XVII”, discorre sobre a necessidade de se individualizar os critérios de descrição e explorar a
imagem que os atores históricos podiam ter de seu próprio universo social. O caminho a seguir
deveria ser o de reconstituir grupos sociais a partir das relações que ligam os indivíduos
(CERUTTI, 1998: 178, 183).
Esta “redescoberta” do indivíduo remete ao estudo do cotidiano, do “homem comum”
(LORIGA, 1998: 229, 244). O mundo cotidiano é passível de ser estudado ou levado em conta
em suas diversas formas de manifestações concretas a fim de espreitarmos a formatação das
leis que regulam a produção de todo o espaço social, pois o seu análise não o considera o lugar
da passividade, mas o espaço de cultura e invenção (LIMA, 2006: 250).
Uma das ideias que se torna para nós transparente é que o cotidiano é o fulcro da existência
do homem por inteiro: o homem do trabalho (intelectual/ físico), da vida privada, dos lazeres,
do descanso, das diversas atividades sociais, dos intercâmbios, do sagrado, da purificação. O
cotidiano é assim a instância onde os homens produzem as coisas, as ideias, valores, símbolos,
representações. Onde produzem, toda a sua vida, no teor de sua completa inteireza: produção
do mundo e produção de si mesmos, num ininterrupto e criador fazer histórico em que o
particular e o genérico, o individual e o universal, a parte e o todo ganham uma existência
eminentemente dialética, plena de conflitos e contradições.
Conclusões
Até o momento o trabalho rumou para a análise biográfica de algumas pessoas ligadas
diretamente a construção da instituição de mútuo socorro, como Antonio Maria do Amaral
Ribeiro, vice-cônsul de Portugal, fundador e primeiro presidente. Entendemos que a história
“desse grandeshomem” pode esclarecer aspectos populares e sociais da comunidade que
representavam e buscavam auxiliar a partir da formação da instituição.
A partir do contato com descendentes de Antonio Maria do Amaral Ribeiro, foi possível
mapearmos alguns aspectos de sua vida. Também localizamos a obra Domingos Joaquim
Pereira, intitulada “Memoria historica da Villa de Barcellos, Barcellinhos, Villa Nova de
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Famelicão”, publicada em Portugal em 1867. Neste livro o autor faz a genealogia de algumas
famílias da cidade de Barcelos, onde nosso personagem nasceu:
... filho legítimo de Joaquim José de Faria e de Maria Magdallena do Amaral, nascido na Rua de
São Francisco da vila de Barcelos em 3 de setembro de 1809, e era proprietário em
Barcellinhos [...] por sua instrução e aptidão serviu no consulado de Portugal em Porto Alegre,
capital da província do Rio Grande de São Pedro, no império do Brasil, desde fevereiro de 1832
até maio de 1859, primeiro como Chancelar, depois como Vice-Consul, e que, por decreto de
20 de agosto de 1860, Sua Majestade lhe conferiu as honras de Consul de Portugal. Que em 9
de março de 1817 foi nomeado sócio correspondente da Sociedade Promotora da Agricultura
Michaelense, na ilha de São Miguel; que por decreto de 10 de dezembro de 1850, foi nomeado
Cavaleiro da Ordem de Cristo; que foi fundador, em março de 1854, na província do Rio
Grande, da Sociedade Portuguesa de Beneficência, de que é o protetor Sua Magestade El-rei o
Sr. D. Fernando, e que tão próspera e opulenta ali se acha; que, em 11 de outubro de 1856,
mereceu o diploma de irmão protetor do Azilo da Infância Desvalida em Ponta Delgada, pelos
valiosos donativos; que em 20 de novembro de 1836 foi nomeado membro titular do Instituto
d’Africa em Paris; que em 23 de agosto de 1857 mereceu o diploma de irmão da Ordem da
Santa Trindade, no Porto; que por decreto de primeiro de abril de 1865 foi nomeado
administrador substituto do seu próprio conselho de Barcelos, cujo cargo exerceu com
dignidade, e do qual foi exonerado, a pedido seu, pelo decreto de 23 de outubro do mesmo
ano *...+ que em 1866 deu a luz a imprensa ‘Notícia Descritiva de Barcelos’” (PEREIRA, 1867:
148,149).
Recentemente, através da leitura da bibliografia “descobrimos” que Amaral Ribeiro, de volta a
Portugal, dedicou-se a escrever memórias sobre o período em que esteve no Brasil. Um
exemplo disso é a obra “Almanach de Lembranças Luso-brasileiro de 1858”, onde analisa a
lenda Negrinho do Pastoreio. Faleceu na mesma cidade em que nasceu, em 1879.
Sendo o biografado exemplo de seu contexto, o mesmo interage com as pessoas a sua volta,
sendo assim apenas um ponto de partida em uma trama social.
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Memória e Patrimônio: as coleções de arte nos museus de Florianópolis - SC
Aline Carmes Krüger207
Palavras-chave: Memória. Patrimônio. Identidade. Museu. Arte.
Introdução
Os artistas exploram o caminho das experiências da memória com eventos do dia a dia,
registrando-os em pinturas, esculturas, desenhos e diversos outros suportes. O objetivo geral
desta pesquisa é analisar o processo de formação das coleções de arte nos museus de
Florianópolis, Santa Catarina, constituídas por obras de um único artista, e a sua relação com o
patrimônio, a memória, e a identidade da cidade.
A relação entre imagem e memória tem sido frequentemente ponto de discussão nos últimos
anos. Podemos citar antecipadamente autores que vem abordando o assunto como Bergson,
Proust, Michael Pollak e Maurice Halbwachs. Ernst Hans Josef Gombrich (2007, p.43) assinala
que o artista não pode transcrever o que vê, “aquilo que o pintor investiga não é a natureza do
mundo físico, mas a natureza das nossas reações a esse mundo”. Assim, as imagens são o
registro da intenção do artista, ou seja, o artista é um produtor de memória.
Percebendo o museu como um espaço no qual a sociedade projeta, repensa e reconstrói
permanentemente as memórias e identidades coletivas, observa-se nas coleções de um único
artista um movimento memorialístico, no qual alguns artistas buscam preservar determinadas
narrativas com os seus trabalhos. Observa-se, nessas memórias formas de pensar e de ver o
mundo pelo artista, pois aquilo que um pintor representa não é o mundo físico, mas a sua
forma de ver e pensar o mundo. Assim, o testemunho material produzido pelo artista vincula o
presente ao passado, construindo a memória, erigindo determinado discurso sobre a
realidade.
A relevância desta pesquisa para os estudos já existentes em Museologia e Patrimônio está no
olhar inédito dado aos museus da cidade de Florianópolis e na singularidade das coleções
estudadas, tendo em vista o fato de sua construção pelos artistas, o que permite aos artistas
nela se reconhecerem.
Metodologia e resultados
Foram identificadas e selecionadas as coleções de artistas em museus na cidade de
Florianópolis. A metodologia desenvolve-se em duas vertentes: pesquisa teórica de
abordagem conceitual, complementada por pesquisa empírica nos fundos da Coleção dos
museus selecionados.
A pesquisa está em andamento e visa analisar a constituição das coleções de arte nos museus
de Florianópolis, Santa Catarina, formadas por um único artista, e a sua relação com a
207 Graduação em História - UFSC, Mestrado em Artes Visuais - UDESC, Doutorado em andamento em
Museologia e Patrimônio – UNIRIO, professora auxiliar do Departamento de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC , [email protected]
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memória e a identidade da cidade. Neste sentido abordaremos os museus como órgãos que
lidam com memórias coletivas e podem ser compreendidos como instituições categóricas na
formação de identidades.
Conclusões
Observa-se, o espaço, o local e o tempo no reconhecimento do patrimônio, bem como a
valorização da memória. Logo, Museu e Patrimônio devem ser apreendidos em multiplicidade.
Em patrimônio está presente o desejo do eterno, do duradouro, mesmas ideias presentes em
Museus. A memória retém do passado somente aquilo que está vivo ou é capaz de viver na
consciência do grupo, muitas vezes justifica-se a memória pelo medo do esquecimento. Por
meio da memória, as identidades se fazem presentes nos museus. A memória pode ser um
recurso metodológico e político de intervenção e de produção de mudanças coletivas nas
identidades locais ou regionais. A memória é estratégica na construção da identidade cultural
e do patrimônio local.
Observando estas características iniciais de memória e patrimônio, podemos identificá-las na
Museologia e repensar a importância das identidades e dos patrimônios, principalmente na
esfera local, a partir do estudo das coleções de arte.
Referências
GOMBRICH, Ernst Hans. Arte e ilusão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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PLANO MUSEOLÓGICO: uma ferramenta dos museus para gestão do patrimônio
Janaina Silva Xavier208
Palavras-chave: Museus. Museologia. Patrimônio. Plano Museológico.
Introdução
Este resumo apresenta os desdobramentos de um estudo que está sendo desenvolvido no
Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia da USP, sob orientação da Prof.ª
Drª. Marília Xavier Cury, e que fará parte da minha dissertação de mestrado, com prazo de
defesa previsto para o segundo semestre de 2015. O objeto desta pesquisa é o Plano
Museológico (PM), implantado pelo IPHAN como ferramenta básica de gestão dos museus
através da Portaria Normativa nº 1, de 05 de julho de 2006. A Portaria que a princípio
determinava que o PM deveria ser adotado apenas pelos museus do IPHAN foi ampliada para
todos os museus em solo brasileiro através da Lei Federal 11.904, de 14 de janeiro de 2009, e
determinou um prazo de dois anos para os museus federais e cinco para os demais museus se
adequarem as suas exigências. O PM é entendido pelo governo federal como um instrumento
de administração dos museus que define a missão e função da instituição, contemplando um
diagnóstico, a identificação da estrutura física, bem como do acervo patrimonial e o seu
público alvo. Além disso, o PM deverá detalhar dez programas: Institucional, Gestão de
Pessoas, Acervos, Exposições, Educativo e Cultural, Pesquisa, Arquitetônico, Segurança,
Financiamento e Fomento e Comunicação. Em novembro de 2004, o Governo Federal criou o
Sistema Brasileiro de Museus (SBM) com o objetivo de formar uma rede integrada entre os
museus brasileiros auxiliando-os no desenvolvimento dos processos museológicos, oferecendo
oficinas de capacitação, entre elas a de PM. Diante desse quadro essa pesquisa pretende
investigar e analisar quais as origens do PM? O que propõe? Como se estrutura? Para que os
museus precisam de um PM? Que benefícios advêm de estruturar um PM para o museu?
Quantos e quais museus brasileiros já possuem seu PM? Quais foram os profissionais
envolvidos na elaboração do Plano? Que mudanças os museus perceberam depois de terem
seus PMs? O objetivo do estudo é analisar a relevância do PM para os museus brasileiros e
mapear a situação atual de sua implantação dado o prazo determinado pela lei que se encerra
em 2014.
Metodologia e resultados
A metodologia a ser empregada na pesquisa será um aprofundamento teórico das ciências
museológicas, visitas, entrevistas e estudos em museus para compreender como o PM pode
servir de auxílio a essas instituições na conservação, investigação e difusão do patrimônio. Será
realizado também um levantamento quantitativo junto ao Sistema Brasileiro de Museus a fim
de verificar quantos museus estão cadastrados no país e quantos deles já possuem PM. Como
208 Janaina Silva Xavier, licenciada em Artes Visuais, especialista em Patrimônio Cultural e Conservação
de Artefatos, mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPEL, mestranda em Museologia
pela USP. Professora do curso de História e curadora do Museu de Arqueologia Bíblica Paulo Bork do
Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP). E-mail: [email protected]
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resultados espera-se perceber mais claramente o cenário museológico brasileiro em relação ao
PM.
Conclusões
O planejamento museológico tem sido uma preocupação crescente dos estudiosos da
museologia. Segundo Serra (2007, p. 13) a gestão dos museus e do patrimônio deve abranger
aspectos administrativos, econômicos, financeiros e de marketing. Porém, para Cândido (2013,
p. 121) “gerir um museu está associado a manter sua credibilidade junto ao público, o que
significa que gerir também envolve conhecimentos e procedimentos museológicos, (...) não
apenas uma boa gestão financeira e de pessoal.” Nas iniciativas do governo federal para os
museus nos últimos anos percebemos que a tônica está no planejamento. Isto porque,
instituições com propósitos vagos, sem compromisso social, depósitos de coleções, sem
iniciativas e sem diálogo com a comunidade não tem mais lugar na sociedade. É necessário,
portanto, que os museus se qualifiquem para lidar com essa nova realidade, buscando se
adaptar às exigências da lei, desenvolvendo suas potencialidades e enfrentando seus desafios.
Referências
CANDIDO, Manuelina Maria Duarte. Gestão de Museus, um desafio contemporâneo:
diagnóstico museológico e planejamento. Porto Alegre: Medianiz, 2013.
SERRA, Felipe Mascarenhas. Práticas de gestão nos museus portugueses. Lisboa: Universidade
Católica Editora, 2007.
Decreto n° 5.264, de 5 de novembro de 2004. Institui o Sistema Brasileiro de Museus e dá
outras providências. Disponível em: http://www.museus.gov.br/sbm/legislacao.htm Acesso
em: 20 de setembro de 2013
Lei Federal 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o Estatuto de Museus e dá outras
providências. Disponível em: http://www.museus.gov.br/sbm/legislacao.htm Acesso em: 20
de setembro de 2013
Portaria Normativa n° 1, de 5 de julho de 2006. Dispõe sobre a elaboração do Plano
Museológico dos museus do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.museus.gov.br/sbm/legislacao.htm Acesso em: 20
de setembro de 2013
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A memória em disputa: o Museu do Algodão de Campina Grande-PB, 1973-2013
Severino Cabral Filho209
Palavras-chave: Museu do Algodão de Campina Grande. Memória. Patrimônio. Campina
Grande. Fotografia.
Introdução
O nosso trabalho objetiva discutir um dado projeto de memória para Campina Grande, na
Paraíba. Tal projeto e tal memória têm se imposto por meio do acervo que constitui o Museu
do Algodão de Campina Grande (MACG), fundado em 1973, composto por fotografias,
utensílios, acessórios e equipamentos que datam do século XIX à década de 1990. Por meio de
algumas dessas imagens fotográficas apresentamos e questionamos o que essa instituição
cristaliza e preserva como sendo uma memória coletiva.
Como é comum a tantas cidades, Campina Grande também tem os seus mitos de fundação, e
um deles é o intenso comércio do algodão que fora realizado a partir dos anos 1920 e cujo
declínio ocorreu por volta dos anos 1950.
Metodologia e resultados
Uma vez que a nossa crítica ao padrão de memória que o MACG institui derivou da análise de
imagens fotográficas que compõem o seu acervo, buscamos nas propostas de Boris Kossoy
(2001), feitas a partir dos conceitos de iconologia e iconografia, as bases metodológicas para
analisar as fotografias. Dialogamos ainda com a proposta metodológica esposada por Carlo
Ginzburg (1990), advinda do paradigma indiciário, que nos permitiu uma abordagem mais
profunda das imagens, na medida em que dispensamos uma maior atenção aos detalhes da
composição fotográfica. No tocante ao conceito de patrimônio, dialogamos com Françoise
Choay (2001); quanto à discussão teórica sobre museus, nos baseamos em Ulpiano Meneses
(1985) e em Marlene Suano (1986), e sobre o conceito de memória refletimos com Le Goff
(1994).
As primeiras impressões, ao analisarmos o conjunto das peças que compõem o acervo do
MACG, permitem constatar que o negócio do algodão foi responsável pelo enriquecimento de
uma parcela da elite local, mas permitiu a elaboração de um imaginário que difundia essa
riqueza como sendo da cidade, legitimando uma irresistível aura de progresso e glória para
Campina Grande. É a preservação de tal aura que o MACG preserva, cristalizando uma
memória celebrativa que se nos apresenta marcada pelas ideias de progresso,
desenvolvimento e modernização lineares e isentas de tensão social; organizada de maneira
cronológica, atesta a importância progressiva do negócio cotonicultor para a cidade.
O local onde o MACG foi instalado é bem significativo: nas dependências da primeira estação
ferroviária de Campina Grande, inaugurada em 1908 – outro símbolo de grandeza ao qual a
209
Graduado em História, pós-graduado em Sociologia (Mestrado e Doutorado), leciona História
Moderna e Contemporânea na Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected]
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cidade é sempre associada. Assim sendo, ligam-se simbolicamente dois símbolos de poder e
modernização que reforçam a instituição de um padrão progressista de memória para a
cidade: o trem e o algodão. Era daquele endereço que, nos tempos gloriosos do “ouro
branco”, os milhares de fardos de algodão eram embarcados para o porto de Recife e, de lá,
para a Europa – particularmente para a Inglaterra, colocando Campina Grande em contato
direto com o mundo. Os organizadores do MACG desejaram legar à cidade um patrimônio
capaz de alegorizar uma narrativa histórica de uma cidade gloriosa e triunfante.
Conclusões
O repertório patrimonial e imagético de um museu pode e deve ser mais diverso no tocante à
memória que este deseja instituir. Reconhecemos que o acervo do MACG pode agregar
objetos que remetam diretamente aos homens e às mulheres pobres que trabalharam e que
contribuíram para a vitoriosa epopeia dos negócios do algodão na cidade; da mesma forma,
pode também dar a conhecer simbolicamente os conflitos havidos no mundo do trabalho. O
MACG tomou o partido da memória dos cotonicultores alijando praticamente os trabalhadores
deste processo. As máquinas, equipamentos e utensílios que ele guarda quase nada dizem
sobre os homens e as mulheres que os manipularam. Portanto, cristaliza-se uma memória
asséptica no que tange às tensões do mundo do trabalho. No caso do MACG a memória dos
trabalhadores é obliterada em benefício quase que exclusivo da memória de uma elite que
toma para si a exclusividade das vitórias e dos sucessos do magnífico “ouro branco”. O lugar de
proeminência ocupado pelos dirigentes empresariais campinenses no plano central das
fotografias sob a guarda do MACG é muito expressivo dos sentidos que se quer dar a tal
memória; os trabalhadores, quando fotografados, ocupam sempre um lugar secundário,
subalterno, naqueles processos produtivos. Assim, concluímos que a existência dos
trabalhadores e dos pobres em geral que viveram no entorno do grande negócio tem sido
relegada ao esquecimento.
Referências
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo,
Estação Liberdade: Editora Unesp, 2001.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. Tradução de Frederico
Carotti. São Paulo, Cia. das Letras, 1980.
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo, Ateliê Editorial, 2001.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução de Suzana Ferreira Borges. Campinas, Editora
da Unicamp, 1994.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra. O museu na cidade X a cidade no museu. In Revista Brasileira de
História. São Paulo, Vol. 5 n° 8-9, Set. 1984/abr. 1985, pp. 197-205.
SUANO, Marlene. O que é museu. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1986.
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Patrimônio, preservação e processo de musealização: interfaces necessárias e um caso concreto de
aplicação no Museu da Cidade de Parambu
Manuelina Maria Duarte Cândido210
Palavras-chave: Patrimônio, museu integrado, processo de musealização
Introdução
Discutimos as interfaces entre patrimônio e museus por meio da apresentação de um caso
concreto, o processo de implantação do Museu da Cidade de Parambu (CE) e aproximando as
noções de processo de musealização e museu. Neste caso, a opção metodológica da
implantação do museu deu ênfase ao aspecto educativo, realizando na primeira etapa a
formulação conceitual, o mapeamento das referências patrimoniais, a mobilização da
comunidade e a capacitação em serviço de equipes locais, em uma contundente afirmação de
que o museu não estará jamais pronto, porque é processo. Esta experiência, realizada em
2008-2009, ainda não foi devidamente analisada em alguns aspectos que serão aprofundados
aqui:
- à luz da discussão sobre patrimônio imaterial, perceber como a preservação do
patrimônio pode ser abordada como processo de musealização;
- o conceito de museu integral (ou integrado) que a Museologia incorporou desde a
Mesa-Redonda de Santiago do Chile;
- abordagem do museu como processo e do processo de musealização como museu;
- desafios da delimitação de conceito gerador museológico e diretrizes para políticas de
acervo na implantação de um museu integrado.
Metodologia e resultados
A origem do processo de implantação de um museu em Parambu, no sertão dos Inhamuns,
Ceará, encontra-se em uma demanda oriunda do próprio município. Na primeira etapa de
implantação foi negociado o estabelecimento de um processo de musealização, a ampliação
das noções de museu e de objeto museológico dos proponentes, o envolvimento de outros
sujeitos nas decisões sobre o que seria preservado. Planejamos musealizar as mais diferentes
referências patrimoniais e não apenas coleções de objetos móveis, promovendo diluição de
fronteiras entre patrimônio e museu, entre preservação e musealização. Após a seleção das
referências, elas ingressam na cadeia operatória (universo de aplicação da Museologia) de
salvaguarda e de comunicação patrimoniais, em equilíbrio (figura 1).
O processo de musealização em Parambu foi iniciado, portanto, não por um ato inaugural, mas
por um diagnóstico museológico do município, para identificar as referências patrimoniais,
210 Licenciada em História, Especialista em Museologia, Mestre em Arqueologia, Doutora em Museologia
– Profa. de Museologia da Universidade Federal de Goiás. E-mail: [email protected]
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potencialidades e desafios para a futura instituição, e pela elaboração dos programas e
projetos complementares. Além disso, apontamos como resultado obtido, a capacitação dos
envolvidos com o processo, e a realização de uma série de ações educativo-culturais, como o
1º Seminário do Projeto Museu da Cidade de Parambu.
Compreendemos, como Varine (2007), que ‘qualquer comunidade é um banco de saberes’ e
que as pessoas são os principais ‘recursos’. Assim, optamos por iniciar o processo de
musealização com um seminário amplamente divulgado em escolas, rádio e outros meios,
convidando a todos que desejassem participar da construção coletiva do museu para a cidade.
Procuramos captar junto à comunidade o que seria importante preservar, sendo um momento
de mapeamento dos saberes e recursos existentes naquele território. Concluímos
conjuntamente211 que as referências mais recorrentes na fala dos participantes eram: os sítios
arqueológicos, o Cococi212 compreendido como um todo (edificações, festa da padroeira,
paisagem e saberes remanescentes), os objetos antigos ligados ao cotidiano sertanejo, as
crendices e tradições populares. Ou seja, estava implícita a ideia de patrimônio integrado,
impedindo o delineamento de um processo de musealização convencional, voltado às
coleções. A apresentação e o texto completo irão aprofundar a metodologia utilizada que nos
permitiu chegar ao conceito gerador: Museu de Parambu - rotas e marcas do homem no
sertão dos Inhamuns.
Conclusões
No formato proposto, nosso trabalho não chegou até a fase de institucionalização de um
museu. O Museu de Parambu que existe hoje não possui relação direta como nosso trabalho e
parece ter como base outras premissas, diferentes das defendidas aqui, como preservação
integrada das diferentes vertentes patrimoniais e construção coletiva do processo. Entretanto,
consideramos que com base nas mesmas, ser possível afirmar que construímos um processo
de musealização denso e participativo, que não gerou um museu municipal porque as forças
do poder local permaneceram interessadas em um modelo de musealização mais imediatista,
centrado no produto-museu e não nos processos. Ainda assim, a primeira etapa do trabalho
caminhou a contento, envolvendo inúmeros sujeitos e utilizando metodologias participativas
para decisões sobre preservação. Para nós da área técnica, um processo de musealização
como este é também uma grande oportunidade de amadurecimento sobre potencialidades e
limitações envolvidas na gestão do patrimônio.
211 O texto completo irá detalhar a metodologia adotada no seminário para captar e dar forma às
diferentes ideias e sugestões apresentadas pelos participantes.
212 Distrito semi-abandonado com características singulares que o tornam um cenário de impacto já
muito apropriado pelo cinema cearense.
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FIGURA 5: Representação do processo de musealização (DUARTE CÂNDIDO, 2013)
Referências
BRUNO, Maria Cristina Oliveira (org.). O ICOM-Brasil e o pensamento museológico brasileiro:
documentos selecionados. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Secretaria de Estado da Cultura:
Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2010
CHAGAS, Mário. Imaginação museal: museu, memória e poder em Gustavo Barroso, Gilberto
Freyre e Darcy Ribeiro. Rio de Janeiro: UERJ, 2003. (Tese de Doutorado)
DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria. Projeto Museu da Cidade de Parambu (etapa 1). Projeto
elaborado a pedido da Prefeitura Municipal de Parambu para apresentação ao Edital Mais
Museus (DEMU/IPHAN/MinC) em 2008, aprovado em 3º lugar nacional. Fortaleza: 2008.
(manuscrito não-publicdo)
DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria. Gestão de museus, um desafio contemporâneo:
diagnóstico museológico e planejamento. Porto Alegre: Editora Medianiz, 2013.
DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria. Ondas do Pensamento Museológico Brasileiro. Lisboa:
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2003. (Cadernos de Sociomuseologia,
21)
VARINE, Hugues de. Património e educação popular. In: O Direito de Aprender.
http://www.direitodeaprender.com.pt/revista02_02.htm, acesso em 29/04/2007
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Interação, novas mídias e tecnologias da informação e comunicação em exposições museológicas.
Michel Platini Fernandes da Silva213
Pablo Fabião Lisboa214
Palavras-chave: Museologia. Comunicação Museológica. Expografia. Interação. Tecnologia.
Introdução
O advento das tecnologias da informação e comunicação (TIC’s), cada vez mais presentes nas
exposições museológicas, proporciona diversas possibilidades de interação entre os conteúdos
e o público. Contudo, em muitas ocasiões, o que ocorre é a ação do visitante sobre uma
interface no qual ele apenas inicia um processo pré-programado que vai se desenrolar a partir
do toque de um botão. Em geral, isso é utilizado em exposições para a demonstração de uma
teoria científica ou apresentação de algum conteúdo. O que o visitante experimenta, nesse
caso, é uma falsa sensação de interatividade, visto que o sistema ação-resposta é de mão
única do usuário para a interface. Os inúmeros instrumentos e ferramentas tecnológicas
utilizadas em Expografia constituem diferentes níveis de interação. A despeito das TIC’s
estarem se voltando para a tentativa de reproduzir para o usuário de computador a mesma
experiência da visita presencial a um museu, nosso entendimento é de que apenas publicar
um website, ou fotografar uma visita em três dimensões e disponibilizá-la online em nada se
compara com a experiência da visita presencial; pois cada visita – a presencial e a “virtual” –
cumpre um diferente papel nos objetivos dos projetos expográficos, na preservação e
comunicação do patrimônio.
Neste trabalho apresentado ao Eixo Temático 6: “Patrimônio e Museus: interfaces
necessárias”, utilizaremos alguns autores como Johnson (2012) e Lévy (1999) para relatar as
primeiras experiências artísticas virtuais, e Cazelli (2003) que aborda o uso dos recursos
tecnológicos nos museus de ciências. Nas reflexões sobre os usos do patrimônio em ambientes
virtuais, dialogaremos com Ulpiano Meneses (2007) e Santiago (2007).
Com base no entendimento apresentado, o presente trabalho objetiva pontuar os níveis de
interação entre os museus e o público a partir de alguns exemplos. Tal proposta se faz
necessária devido ao desconhecimento ou subutilização das TIC’s nas instituições
museológicas.
Metodologia e resultados
Lançando mão de pesquisa dos websites de alguns museus nacionais e estrangeiros,
combinado com revisão de literatura a partir de autores que abordam o tema da
interatividade em museus e espaços culturais, foram encontradas evidências de diversos níveis
de interatividade, desde a simples comunicação eletrônica realizada utilizando endereços de e-
213 Graduação em História (UECE), Mestrado em Museologia e Patrimônio (UNIRIO/MAST), Professor de
Museologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e-mail <[email protected]>.
214 Graduação em Design Gráfico (UFPEL), Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPEL),
Professor de Museologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), e-mail <[email protected]>.
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mail, até processos imersivos tendo a ação do público como peça fundamental no
estabelecimento da interatividade. A pesquisa resultou também na compreensão de que a
interatividade nesses espaços pode acontecer sem necessariamente fazer uso de tecnologias
eletrônicas, como é o caso da intervenção feita nas ruínas romanas Heidentor, no Museu a Céu
Aberto de Petronell, na Áustria. Nesse caso, utilizou-se um painel de acrílico com um desenho
em vinil adesivo recortado do contorno de como seria a edificação caso estivesse preservada;
vista a partir de certo ângulo, ruína e projeção se completam no olhar do visitante que faz a
relação entre os conteúdos apresentados na visita e a ocupação do lugar como forma de
interação entre visitante e espaço.
Conclusões
O artigo tratará do uso de tecnologias da comunicação e interação e conceitos tais como
geotagging, realidade aumentada, QR Code e imersão, visando contribuir para uma melhoria
da experiência de interação nas exposições museológicas.
Referências
CAZELLI, S. MARANDINO, M; STUART, D. Educação e Comunicação em Museus de Ciências.
Aspectos históricos, pesquisa e prática. In: GOUVÊA, G.; MARANDINO, M.; LEAL, M. C. (Org).
Educação e Museu: a construção social do caráter educativo dos museus de ciências. Editora
Access/Faperj, Rio de Janeiro. 2003, p. 83-106.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Edições 34. 1999.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Os museus na era do virtual. In: BITTENCOURT, José Neves et.
al. (org.). Museus, Ciência e Tecnologia. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2007. p. 50-
70.
SANTIAGO, R.P. (2007). Memória e patrimônio cultural em ambientes virtuais. 2007. 150p.
Dissertação (Mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São Carlos, 2007.
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Museu Nacional do Mar: centro de referência do patrimônio naval brasileiro
Andrea de Oliveira¹
Palavras-chave: museu. memória. patrimônio
Introdução
O presente trabalho discute a história da construção naval no Brasil considerando as diferentes
influências culturais, condições aquáticas e sócio-geográficas, apresentando algumas
contribuições para a preservação do patrimônio naval brasileiro, entre elas as experiências
inseridas no contexto do Museu Nacional do Mar.
As referências bibliográficas que embasam tal trabalho são:
Patrimônio Cultural Naval Brasileiro – comissão de arqueoligia, história e etnografia naval
(1990);
Edições Técnicas sobre o Patrimônio Material - Patrimônio Naval Brasileiro (2009);
Barcos do Brasil (2011);
A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. de Milton Santos (2006);
e Diário de Bordo: a história da indústria naval brasileira, de Rodrigo Almeida (2008).
Metodologia
A diversidade dos barcos tradicionais do Brasil está presente nas diferentes regiões do
território, com expressividade plástica e funcionalidade ligadas aos mais extraordinários
contextos das culturas ribeirinhas e litorâneas.
Tal diversidade só foi possível graças a conhecimentos específicos da construção naval,
principalmente os de influência portuguesa, além da configuração do povo brasileiro formado
por culturas como indígena, africana e europeia, as condições aquáticas e os muitos saberes e
técnicas antigas utilizadas nas barrancas dos rios e beiras de praias. Existindo assim um
conjunto de fatores que contribuíram para que aqui tenhamos um contexto único. Muitas
gerações se sucederam nas atividades de navegação e de carpintaria naval. Ainda temos
alguns núcleos onde podemos encontrar embarcações tradicionais e mestres carpinteiros, mas
como contribuir para preservar tal patrimônio ligado tanto ao material como ao imaterial?
No sentido mais claro a primeira providência é de mapear e contextualizar a tipologia das
embarcações tradicionais, unido aos atos de catalogar, conhecer e registrar as especificidades
das embarcações para expandir a base de conhecimento, o que já vem acontecendo por
iniciativa do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com a publicação
das Edições Técnicas Sobre o Patrimônio Material (2009), onde pode-se perceber os contextos
locais onde as principais embarcações tradicionais estão inseridas e o projeto Barcos do Brasil
lançado em 2008 que tem como objetivo central a preservação e valorização do patrimônio
naval por meio de ações de identificação, proteção e conservação de embarcações,
considerando as manifestações correlatas que incorporam os saberes e fazeres como pesca,
culinária, festejos e artesanato. Além da iniciativa do Museu Nacional do Mar com o projeto
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Liceu de Artes e Modelismo Naval que iniciou em 2006 e hoje já está em sua 5ª edição e vem
atuando na pesquisa e salvaguarda do patrimônio naval brasileiro viabilizando em seu
processo educacional agregação de valores identitários, onde as embarcações que fazem
parte do acervo do Museu Nacional do Mar – EB, são reproduzidas e o repasse dos
conhecimentos se dão com base nos estudos dos barcos tradicionais de cada região do país,
partindo do ponto de vista tipológico por meio da divisão de três tipos principais de
embarcações que são: as canoas, as jangadas e os barcos encavernados.
O próprio Museu Nacional do Mar pode ser compreendido como um território para a
salvaguarda do patrimônio naval brasileiro. Criado por decreto estadual no ano de 1991, com o
objetivo de reunir em seu acervo embarcações que representem a diversidade do patrimônio
em questão, está instalado nos antigos armazéns da extinta Empresa de Navegação Cia
Hoepcke.
O prédio foi restaurado e hoje serve de porto seguro para canoas de um pau só, canoas
bordadas do litoral catarinense, canoas do baixo São Francisco, canoas de tolda ou Sergipana,
a canoa Chacreira do Rio Grande do Sul e ainda; as baleeiras de casco liso ou trincado,
traineiras, botes, jangadas, os saveiros da Bahia e o cúter do Maranhão.
No museu pode-se ainda conhecer a coleção Alves Câmara do século XXI que é a reprodução
da coleção original que se encontra no espaço cultural da Marinha com sede no Rio de Janeiro.
A coleção original leva o nome do então ministro da marinha que em comemoração ao
centenário da abertura dos portos, solicitou aos diversos estados brasileiros a doação de
modelos de suas embarcações típicas.
Em 2005 surgiu a ideia, estimulada pelo navegador Amyr Klink de reproduzi-la em escala (1:25)
e foi desta forma que nasceu a Coleção Alves Câmara do sec. XXI que já possui 88 modelos de
embarcações tradicionais de todo o Brasil.
A Coleção Alves Câmara do séc. XXI constitui-se num dos principais elementos do acervo do
Museu Nacional do Mar que é composto ainda por 91 embarcações em tamanho original e
cerca de 150 miniaturas que estão expostas na sala do modelismo, e ainda o acervo
bibliográfico da Biblioteca Kelvin Duarte, que já ultrapassa dois mil volumes de temática naval
incluindo obras raras, fotografias, desenhos e cartas náuticas.
Conclusão
O acervo integral do Museu nacional do Mar é protegido por Lei Federal devido a sua
importância e significado no contexto da preservação da memória do patrimônio naval
atualmente é considerado um centro de referência nessa área.
Referências
Almeida, Rodrigo de. Diário de Bordo: a história da indústria naval brasileira. São Paulo:
Zingara.2008.
Santos, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
EDUSP.2006.
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PATRIMÔNIO Cultural Naval Brasileiro – comissão de arqueoligia, história e etnografia naval –
Ministério da Cultura, SPHAN / Pró-memória, Brasília. 1990.
Edições Técnicas sobre o Patrimônio Material - Patrimônio Naval Brasileiro – IPHAN, orga.
Maria Regina Weissheimer, Brasília. 2009.
Barcos do Brasil – organização do IPHAN, 2011.
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Instrumentos Paradidáticos em Sala de Aula: Aprender (e Viver) História através de Maquetes Físicas
Manuela Ilha Silva215
André Luís Ramos Soares216
Palavras-chave: Educação Patromonial. Maquetes. O Cortiço.
Introdução
A adoção de novas estratégias para estimular e dar suporte ao processo de aprendizagem gera
possibilidade de novas experiências de ensino e de compreensão do conteúdo em discussão.
Através de maquetes, por exemplo, o processo de ensino/aprendizagem torna-se dinâmico e
facilitado, além de estreitar laços entre professores e alunos. Deste modo, o presente trabalho
busca apresentar a construção de maquetes como instrumentos paradidáticos, assim como
problematizar sobre sua utilização e potencial de uso. No entanto, promove-se também a
discussão acerca da função social que este instrumento agrega – através do conhecimento e
observação acerca de diferentes realidades socioculturais, o aluno é capaz de refletir de forma
crítica sobre sua própria realidade e, então, posicionar-se enquanto sujeito dentro de seu
grupo social.
Para Menezes e Santos (2002, s.p), é possível conceituar o produto paradidático como
materiais que “sem serem propriamente didáticos, são utilizados para este fim *...+ podendo
utilizar aspectos mais lúdicos que os didáticos e, dessa forma, serem eficientes do ponto de
vista pedagógico”. A prerrogativa é, então, assumir uma lógica de ensino “produtiva”, em
oposição à possibilidades “reprodutivas” de ensino. Neste sentido, Penteado (2008, p. 232)
destaca a necessidade de propor atividades que estimulem a compreensão da realidade em
detrimento de simples memorização de conteúdos que não tenham significado algum para os
alunos. Além disso, despertar a curiosidade do aluno é ação que coaduna e colabora com uma
pratica docente plena e capaz de garantir resultados mais expressivos.
Neste sentido, coadunam Soares e Lopes (2010, p. 143) ao afirmar que “as maquetes
proporcionam a visualização concreta das representações dos acontecimentos históricos,
tipologias arquitetônicas, acidentes geográficos, fenômenos climáticos e ambientais”. A
adoção de tais materiais se dá de forma paralela aos processos/métodos/produtos
convencionais, vindo a somar com as propostas didáticas vigentes.
Metodologia e Resultados
215 Bacharel em Comunicação – Jornalismo (UFSM), acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo (UFSM) e mestranda do Programa de Pós Graduação Profissionalizante em Patrimônio Cultural (PPGPPC/UFSM). Bolsista do Programa de Licenciaturas 2013 (PROLICEN/UFSM). E-mail: [email protected] 216 Doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo
(MAE/USP). Professor Adjunto do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais (PPGCS/UFSM). Coordenador do Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória
(NEP/UFSM). E-mail: [email protected]
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Esta ação é um subprojeto da edição 2011 do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência (PIBID) – Licenciatura em História, contemplado no Programa de Licenciaturas 2013
(PROLICEN/UFSM). A proposta para a edição deste ano é a construção de modelos
tridimensionais que representem a habitação popular nos meados dos séculos XIX e XX, indo
desde a moradia retratada por Aluísio Azevedo em “O Cortiço” até a expressão
contemporânea do fenômeno da favelização. As maquetes foi desenvolvidas em escala 1:100,
com algumas distorções mantidas para garantir o entendimento e evitar simplificações em
partes importantes como telhados, vestuário e mobiliário. Os passos metodológicos podem ser
divididos em dois momentos: pesquisa indireta (Marconi e Lakatos, 2009, p. 43), promovida
através da revisão bibliográfica e, posteriormente, a produção dos modelos em escala
reduzida. O primeiro passo é a pesquisa bibliográfica, a fim de levantar informações acerca do
projeto a ser executado e referências imagéticas e históricas do período.
Conclusões
Buscar formas para estimular e, por consequência, enriquecer o processo formativo do
cidadão também passa por ações que proporcionem experiências diferenciadas dentro da sala
de aula. A proposta de produtos paradidáticos como maquetes vem ao encontro de tal
premissa e, ao adotar produtos capazes de fomentar melhor compreensão e entendimento, os
modelos proporcionam a conexão entre os fatos de forma mais palpável. Para além de tal
relação, o apelo visual e lúdico proporcionado pelas maquetes é outro fator de importância a
ser considerado.
Esta prática alcança patamares diferenciados, especialmente em relação à construção
identitária do sujeito, do grupo social e de sua importância enquanto agente social. É possível
construir-se como sujeito (indivíduo ou coletivo) dentro de um espaço social onde se é atuante
ou, ao menos, não se é indiferente. As relações daquele sujeito (e, por consequência, seus
pares) com os elementos culturais, patrimoniais, religiosos e históricos do grupo social
cristalizam-se através de ações que estimulam o senso crítico e o conhecimento do outro. O
homem constrói sua identidade para representar as posições e escolhas que faz em suas
práticas.
Referências
DEMO, Pedro. (2009). Participação é Conquista. São Paulo/SP: Cortez, 2009.
HALL, Stuart. (2009). “Quem Precisa da Identidade?” In: SILVA, T. T. (Org.); HALL, Stuart;
WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença – A Perspectiva dos Estudos Culturais.
Petrópolis/RJ: Vozes, 2009.
LOPES, William Molinos; SOARES, André Luis R. “As Maquetes no Ensino Formal:
Dinamicidade nas Aulas de História através do Lúdico”. (2010). In: KLAMT, Sergio; Soares,
André Luis R . (Orgs). Santo Amaro: Arqueologia e Educação Patrimonial. Santa Cruz do
Sul/RS: Edunisc, 2010.
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. (2002). "Paradidáticos"
(verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira – EducaBrasil. Disponível em:
<http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=143>. Acesso em 11/12/2012.
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PENTEADO, Heloísa Dupas. (2008). Metodologia do Ensino de História e Geografia. São
Paulo/SP: Cortez, 2008.
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Reservas Técnicas: Algumas Reflexões Sobre o Espaço de Guarda dos Acervos
Andréa Lacerda Bachettini217
Juliane Conceição Primon Seres218
Palavras-chave: Reserva Técnica; Espaço de Guarda, Acervos, Conservação, Museu.
Introdução
O presente trabalho esta vinculado ao projeto de doutorado intitulado “As Reservas Técnicas
em Museus: Um Estudo sobre os Espaços de guarda dos Acervos” que desenvolvo dentro da
linha de pesquisa “Instituições de memória e gestão de acervos” do Programa de Pós
Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciência Humanas da
Universidade Federal de Pelotas, que tem como orientadora a professora Juliane Serres.
No ano de 2012 estive à frente da organização do III Curso de extensão universitária
Preservação do Patrimônio Cultural: Tecnologias e Conservação, onde tive a oportunidade de
participar das discussões sobre conservação de acervos e das tecnologias utilizadas para sua
manutenção e documentação das coleções, com a participação de profissionais reconhecidos
nacionalmente e internacionalmente. A experiência deste evento aliada ao trabalho que
desenvolvi diretamente com acervos de diversas instituições no Estado do Rio Grande do Sul
foi decisiva para a escolha do tema desse projeto de tese doutoral, pois percebi a necessidade
de ampliar as discusões a respeito das questões ligadas à conservação preventiva nas reservas
técnicas, devido à falta de estudos relativos à viabilização de reservas técnicas e espaços de
guarda de acervos, que sejam realmente viáveis e sustentáveis para as instituições.
As reservas técnicas deveriam ser um dos itens prioritários na política de conservação e
difusão da informação de um museu, por ser o local de guarda e principalmente de cuidados
especiais para a preservação dos objetos patrimoniais que pertencem aos acervos dos museus.
Nota-se que isto na prática não ocorre por falta de conhecimento, por falta de profissionais
capacitados nas instituições ou mesmo por negligência. Importante lembrar que a implantação
da Lei nº 11.904, de 14 de Janeiro de 2009, que instituiu o “Estatuto dos Museus” diz em seu
Artigo 21 que os museus garantirão a conservação e a segurança de seus acervos. Para que
isto, efetivamente ocorra, as instituições museais deverão se organizar e investir na
implementação de reservas técnicas.
217
Bacharel em Gravura e Pintura pela UFPEL, Especialista em Patrimônio Cultural: Conservação de
Artefatos pela UFPEL, Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais pelo
CECOR/EBA/UFMG, Mestre em História pela PUC-RS, Doutoranda em Memória Social e Patrimônio
Cultural pelo ICH/UFPEL, Professora do Departamento de Museologia e Conservação e Restauro do
ICH/UFPEl, [email protected]
218 Licenciada em História pela UFSM, Mestre em Museologia pela Universidad de Granada/ES, Mestre
em História pela UNISINOS, Doutora em História pela UNISINOS, Professora do Departamento de
Museologia e Conservação e Restauro do ICH/UFPEL, [email protected]
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De acordo com os conceitos estabelecidos pelo Conselho Internacional de Museus – Comite de
Conservação, ICOM-CC, as reservas técnicas são tratadas dentro da área da conservação
preventiva. As reservas técnicas são os ambientes de guarda dos acervos, portanto, merecem
atenção especial.
Um dos grandes desafios das instituições museais em nosso país é tentar manter os padrões
de conservação ambientais estabelecidos pelos organismos internacionais que dão as
diretrizes na área da conservação, como o ICOM-CC. Nesse anseio em chegar aos padrões de
conservação a grande maioria das instituições sonha em ter seus ambientes expositivos e de
guarda climatizados.
É preciso refletir sobre as instalações de sistemas de ar condicionado e também sobre a
manutenção destes sistemas, alternativas que podem ter um alto custo, onerando a
instituição, o que poderá ser inviável para algumas instituições.
Não podemos esquecer as dificuldades econômicas que a maioria das instituições passa,
muitas não tem orçamento próprio e acabam sobrevivendo através de projetos realizados por
seus diretores, técnicos e também pelas associações de amigos, buscando recursos na
renúncia fiscal, através das Leis de Incentivo à Cultura, tanto nacional, Lei Rouanet, como
estadual, a LIC, que trabalham com isenção fiscal para empresas privadas, ou buscando
recursos em editais de empresas estatais que frequentemente investem nas linhas de museus
e preservação do patrimônio cultural.
O problema que se apresenta neste projeto de pesquisa é justamente tentar estabelecer
condições eficazes e sustentáveis de conservação nas áreas de guarda dos acervos, que muitas
vezes são esquecidas por não terem a mesma visibilidade que a área expositiva.
As reservas técnicas, em algumas instituições, lembram depósitos desorganizados. Claro que
existem instituições em que as reservas técnicas apresentam as condições ideais estabelecidas
pelos organismos internacionais, mas são muito poucas e, geralmente, estão localizadas em
museus nas grandes capitais.
Metodologia e Resultados
A metodologia empregada no projeto é baseada no levantamento bibliográfico e estudos
relacionados à conservação preventiva, de reservas técnicas e em pesquisa de campo, que
consiste em visitas a reservas técnicas e na elaboração de diagnóstico de conservação nas
instituições selecionadas para fazer parte do projeto.
A coleta de dados feita através da aplicação de uma ferramenta para analisar a conservação
das coleções nas áreas de guarda dos acervos para montagem de um diagnóstico preciso sobre
a conservação.
Existem na literatura alguns exemplares de instrumentos diagnósticos para área da
conservação para aplicação em museus.
Uma das ferramentas que oferece, de forma clara e objetiva, uma serie de referências para
formular um diagnóstico de cada instituição, foi publicada em 2004, sendo revisada e
traduzida para o português por dois profissionais da área da conservação, Dra.Teresa Cristina
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Toledo de Paula e Dr. Gedley Belchior Braga, que tentaram em “Parâmetros para Conservação
de Museus, Arquivos e Bibliotecas” estabelecer um contato com a realidade brasileira já que o
texto original traz referências às normas e padrões ingleses.
Outra ferramenta, desenvolvida pelo Laboratório de Ciência da Conservação (LACICOR) da
Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenado pelo Prof. Dr. Luiz
Antônio Cruz Souza e Ms. Wivian Diniz é o “Manual de Conservação Preventiva do Patrimônio
Cultural”, publicado em 2002, que contém um conjunto de medidas e práticas que visam à
manutenção dos bens culturais.
Deve-se acrescentar outra ferramenta do LACICOR, publicada em 2008, coordenada pelo Prof.
Dr. Luiz Antônio Cruz Souza e pela Dra. Yacy-Ara Froner, “Roteiro de avaliação e diagnóstico de
conservação preventiva” o qual foi traduzido e adaptado do modelo original de diagnóstico
utilizado pelo Getty Conservation Institute (GCI), “The Conservation Assessment: A Proposed
Model for Evaluating Museum Environmental Management Needs” (1999), coordenado por
Kathleen Dardes, que tem o objetivo de diagnosticar e desenvolver soluções apropriadas e
sustentáveis para problemas que afetam as coleções.
A ferramenta desenvolvida pelo programa RE-ORG do ICCROM-UNESCO, para reorganização
de reservas técnicas apresenta quatro áreas de ação: gestão, edificação/espaço, coleção e
mobiliário/equipamentos, visa orientar a intervenção que se pretende realizar em uma
reserva técnica.
Serão ainda realizadas consultas e entrevistas com especialistas da área da conservação de
acervos e com profissionais das instituições museais selecionadas.
E finalmente, será realizada a organização de todo material coletado e os resultados serão
analisados à luz da bibliografia para formação do suporte teórico.
Conclusões
Finalizando, é importante salientar que projeto esta em sua fase inicial, mas já se observa que
as áreas de reserva não têm as condições ideais na maioria dos museus, como aponta a
pesquisa realizada em âmbito internacional pelo programa RE-ORG, que mostra o abandono
progressivo das áreas de armazenamento dos museus, e apresentou resultados
surpreendentes, divulgando que este não é apenas um problema que afeta os países em
desenvolvimento, mas todos os países. A pesquisa apontou ainda que 60% dos museus de
todo o mundo estão enfrentando este problema em particular, e as ferramentas e literatura
sobre estas questões são praticamente inexistentes.
Até final do projeto pretende-se investigar pelo menos três instituições museais diferentes,
para podermos estabelecer parâmetros de comparação e poder identificar problemas e propor
melhorias. As instituições estão sendo escolhidas através da disponibilidade de acesso e pelo
contato estabelecido através de seus diretores e conservadores/restauradores.
Percebe-se a dificuldade em se ter acesso a alguns museus, alguns diretores e profissionais da
área parecem ter receio em permitir o acesso para aplicação de um diagnóstico de
conservação por temor de que o trabalho revele aspectos negativos, mas também, acredita-se
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que o trabalho trará a possibilidade de grandes contribuições para as instituições escolhidas,
como uma avaliação das suas necessidades reais, um diagnóstico aprofundado do seu acervo e
das condições de armazenamento e guarda, um plano de conservação das áreas de guarda. O
projeto trará importante qualificação desses espaços de guarda de objetos patrimoniais dentro
das instituições.
Referências
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eletônico. Número 1, Junho de 2010. Disponível em:
www.abracor.com.br/novosite/boletim/062010/ArtigoICOM-CC.pdf. Acessado em:
16/12/2012 às 11h.
FRONER, Yacy-Ara e SOUZA, Luiz Antônio Cruz. (org.) Roteiro de avaliação e diagnóstico de
conservação preventiva. Tópicos em conservação preventiva 1. Belo Horizonte: LACICOR
/EBA/UFMG, 2008.
FRONER, Yacy-Ara e SOUZA, Luiz Antônio Cruz. (org.) Preservação de bens patrimoniais:
conceitos e critérios. Tópicos em conservação preventiva 3. Belo Horizonte: LACICOR /EBA
/UFMG, 2008.
GUICHEN, Gael de. Uma prioridade na conservação preventiva: a reorganização reservas
técnicas. In: III Curso de Extensão Universitária de Preservação do Patrimônio Cultural:
tecnologias e Conservação. Porto Alegre: ACOR-RS, UFRGS, Prefeitura de PoA, 20/10/2012.
GÜTHS, Saulo. Degradação de Acervos: Parâmetros Ambientais e Métodos de Controle. In: III
Curso de Extensão Universitária de Preservação do Patrimônio Cultural: tecnologias e
Conservação. Porto Alegre: ACOR-RS, UFRGS, Prefeitura de PoA, 30/07/2012.
LEI Nº 11.904, DE 14 DE JANEIRO DE 2009. Institui o Estatuto de Museus e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Lei/L11904.htm. Acessado em: 20/12/12 as 06h:34mim.
MAST Colloquia - Vol. 9. Conservação de Acervos. Rio de Janeiro: MAST, 2007
ONO, Rosaria e MOREIRA, Kátia Beatriz. Segurança em Museus. Cadernos Museológicos.
Volume 1. Brasília: IBRAM, 2011.
RE-ORG. ICCROM-UNESCO. Disponivel em: http://re-org.info/es/items/item/34-storage-
reorganization-methodology. Acessado em: 19/12/12 às 13:49.
Resource: The Council for Museums, Archives and Libreries. Parâmetros para Conservação de
Acervos. Museologia. Roteiros Práticos nº 5. São Paulo: EDUSP e Vitae, 2004.
Resource: The Council for Museums, Archives and Libreries. Segurança de Museus.
Museologia. Roteiros Práticos nº 4. São Paulo: EDUSP e Vitae, 2003.
SOUZA, Luiz Antônio Cruz e DINIZ, Wívian. Manual de Conservação Preventiva do Patrimônio
Cultural. Belo Horizonte: Gráfica LÊ - IEPHA/LACICOR/EBA/UFMG, 2002.
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A Expografia dos Tempos na Cidade Contemporânea
Mariana Garcia Junqueira219
Gilberto Sarkis Yunes220
Palavras-chave: Memória Urbana. Cidade Contemporânea. Expografia. Iluminação Artificial.
Introdução
Este artigo pretende referenciar as relações dos tempos com a interpretação museográfica da
cidade, situando os usuários locais e visitantes no contexto em que encontra-se documentado
o processo histórico, os valores culturais, os aspectos artísticos e naturais. Confome Rolnik
(1992, p.28) “a cidade, por excelência, produz e contém documentos, ordens, inventários”
cuja “arquitetura urbana também cumpre este papel de escrita, de texto que se lê da mesma
maneira que se lê um processo, um relato de um viajante”.
Como num percurso museal, a cidade permite diversas opções de ordenação das informações,
assim como também oferece aos próprios visitantes momentos e fases de informação e
aprofundamento. A articulação do museu com a cidade território forma uma rede material e
imaterial que cria percursos no interior da própria obra, como salas de exposição.
Assim entende-se a cidade como suporte de informações e de registros dos tempos. Portanto,
o território, como superposições de tempos históricos e culturas diversificadas, é reconhecido
por um acervo existente in loco, produto da qualidade da relação do homem com o ambiente.
Os usos, as experiências e as informações geradas por estes acervos nos espaços permitem
que o conjunto de ações defina a identidade do lugar e reforce sua permanência.
Na concepção do museu clássico ou tradicional a museologia se dá considerando o edifício, a
coleção e o público. Já no museu difuso ou ecomuseu, acontece considerando o território, o
patrimônio e a comunidade (YUNES, 2012). Este incorpora o homem e acrescenta ao museu
tradicional a experiência do espaço e do tempo, ou seja, as variações de diversos lugares num
mesmo tempo e de um mesmo lugar em diversos tempos.
Considerando que a expografia tem a meta de relacionar a obra com o espaço, no caso o
urbano, o artigo explora o uso da iluminação artificial como um dos seus componentes. O
219Graduada em Design de Interiores pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Graduada em
Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Especialista em Design de
Interiores e Iluminação pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG), Mestranda no Programa de Pós-
Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade (PGAU-Cidade) pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), [email protected].
220Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), Professor Adjunto do Curso Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade (PGAU-Cidade/UFSC), [email protected].
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estudo da cidade em suas diferentes escalas, introduzindo a iluminação artificial como
elemento auxiliar no planejamento urbano, atua de forma mais eficaz para valorizar e
evidenciar a funcionalidade de seus espaços de acordo com a leitura e organização
pretendidas para revelação de seus tempos.
Além das funções utilitária e de segurança a iluminação, tratada de forma adequada, pode
articular os diferentes elementos constitutivos da cidade, atribuindo-lhes uma personalidade
reconhecível e identificável, para todos os cidadãos. Enquanto fator de coerência e distinção,
ela valoriza as informações contidas no espaço urbano e auxilia na sua compreensão.
Destacam-se como suas principais contribuições: demarcar referenciais espaciais, criar ligações
e percursos, facilitar a leitura do espaço citadino, hierarquizar e organizar a cidade, propiciar a
reapropriação do espaço urbano pelos habitantes e valorizar o patrimônio.
A luz é um instrumento capaz de organizar e modelar o espaço através da escolha dos
elementos tratados, sobretudo pela sua hierarquização – valorização ou atenuação graças às
intensidades luminosas e às nuances de temperatura de cor. O potencial de hierarquização da
iluminação permite reforçar os referenciais espaciais da cidade como num projeto expográfico,
valorizando as melhores vistas e perspectivas, marcando planos visuais, permitindo apreender
a maneira como o espaço da cidade se organiza em seu processo histórico.
Metodologia e resultados
Este artigo corresponde à pesquisa em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em
Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade da Universidade Federal de Santa Catarina cujo
tema é o estudo da função da iluminação artificial como elemento auxiliar da percepção do
processo de construção da cidade contemporânea. Considerando a literatura existente realiza-
se a análise e relação dos conceitos de Cidade, Paisagem, Memória Urbana, Museu e
Iluminação artificial, com o objetivo de fornecer subsídios para o estabelecimento de diretrizes
que coordenem as intervenções dos diversos atores.
Conclusões
Entende-se que ao integrar a função museológica à apreensão e uso da cidade, permite-se que
a leitura dos espaços realizada pelos seus usuários seja materializada como vestígios na
paisagem, ou seja, produtos reconhecidos pela qualidade documental. Por consequência, o
espaço museográfico é considerado como espaço de comunicação, onde a informação
incorpora-se à exposição e ao uso do lugar musealizado. A atuação da iluminação artificial no
projeto expográfico permite oferecer uma diversidade de leituras estruturadas como
revelações dos elementos da cidade, conferindo à sua paisagem as entonações desejadas pela
curadoria, de acordo com os propósitos de preservação, investigação e comunicação.
Referências
CHAGAS, M. Em busca do documento perdido: a problemática da construção teórica na área
da documentação. Cadernos de Museologia, n. 2, 1994, p. 29 / 47.
GASTAL, S. Alegorias urbanas: o passado como subterfúgio. Campinas: Papirus, 2006.
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MENEZES, U. T. B. de. O museu de cidade e a consciência da cidade. In: Museus & Cidades /
Afonso Carlos Marques dos Santos, Carlos Kessel, Cêça Guimaraens (organizadores). Rio de
Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2004. p.255/282.
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Museus e Memória na Contemporaneidade
Mirella de Jesus Honorato221
Palavras-chave: Museus, Memória, Patrimônio Cultural, Contemporaneidade, Indústria
Cultural.
Introdução
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre o Museu na contemporaneidade, considerando-
o como fruto da complexa relação entre a sociedade e a construção de sua memória e levando
em consideração os aspectos políticos envolvidos.
Metodologia e resultados
A contemporaneidade tem sido marcada por uma extrema valorização da memória
(HUYSSEN,2000, pg. 09). Esta valorização pode ser consequência das incertezas causadas pelas
mudanças aceleradas e pelas possibilidades de registros que os avanços tecnológicos
proporcionaram. Trata-se de um paradoxo interessante: os suportes que propiciam o registro
da memória se multiplicaram, ao mesmo tempo em que a fragilidade dos suportes vem sendo
discutida por especialistas da área da Conservação.
“A memória está na ordem do dia” disse Menezes (2007, pg. 20), mas, seu excesso poderia
levar a amnésia? O autor mesmo se questiona se a chamada efervescência da memória levaria
à percepção de que as transformações sociais são frutos da ação humana. Talvez esta
afirmação possa ser relacionada com o esvaziamento da memória enquanto consequência de
seu excesso, que Huyssen (2000, pg.18) também menciona.
O excesso de museus, por exemplo, poderia, então, levar a um excesso de esquecimento? Se
já é lugar comum dizer que os museus são responsáveis pela preservação da memória e do
patrimônio cultural das comunidades onde estão inseridos, não caberia perguntar de que
forma a decisão do que vai ser lembrado ou esquecido está sendo tomada? Cabe aqui
concordar com a pergunta de Gonçalves (2007, pg.29) se não seriam os patrimônios que nos
inventam, partindo da ideia de que nossas identidades também são representadas pela
reunião de objetos em uma exposição museológica.
É preciso também atentar para a instância política, que dá maior complexidade entre as
relações entre museus, memórias e esquecimentos. Huyssen (2000, pg.16), por exemplo,
mesmo entendendo que a memória e o esquecimento são indissociáveis, faz um alerta de que
a disseminação geográfica da cultura da memória é tão ampla quanto é variado seu uso
político. É difícil negar o caráter político da instituição museológica, considerando seus papéis,
ora reforçando sentimentos patrióticos nacionalistas (nos casos dos museus nacionais) ou a
história das pequenas elites locais (nos casos dos museus históricos municipais), ora afirmando
221
Bacharel em museologia pelo UNIBAVE/SC, mestranda em Turismo pelo Programa de Pós Graduação
em Turismo da Universidade de Caxias do Sul/RS, [email protected]
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minorias que lutaram por seu direito de representação (nas experiências de museus que
surgiram a partir da Nova Museologia ou a Museologia Social).
Se as transformações das sociedades vão refletir também na forma como elas se relacionam
com a construção do passado no presente, a principal questão para este trabalho é tentar
entender de que forma o Museu contemporâneo expressa esta sociedade.
Como fruto do seu tempo, do Museu da contemporaneidade é esperado o espetáculo e a
oferta de produtos culturais em um ambiente confortável para seu consumo. Grandes projetos
arquitetônicos, exposições interativas com a predominância de recursos tecnológicos em face
do acervo, lojas, cafés, auditórios... “distração, entretenimento, vivência e espetáculo”,
segundo Gastal (2010, pg.99).
Choay (2001) é incisiva em sua crítica contra a espetacularização do patrimônio. Para ela o
bem patrimonial fica relegado a segundo plano e desloca a atenção do espectador, distraindo-
o, de forma semelhante ao que fazem as estruturas comerciais. Para Gastal (2010), o Museu e
Turismo são fenômenos complexos, interligados, que não podem ser reduzidos à esfera
econômica. As transformações nos Museus e nas formas de se relacionar com o público
estariam intimamente ligadas à transformação que a própria sociedade está passando e a
concepção de tempo, memória e espaço.
Conclusões
Halbwachs (2006) definiu a memória como coletiva partindo da ideia de que, por mais
particular que a lembrança possa parecer, ela sempre remeterá a um ou mais grupos sociais
com o qual o sujeito se relaciona. Entendendo a memória como coletiva, mesmo que em sua
individualidade, o Museu pode ser entendido como o local onde as memórias irão ganhar a
legitimidade de memória histórica. Desde seu surgimento, o Museu é palco de disputa política,
de forma explícita ou não. Há Museus financiados por redes de comunicação, grandes
empresas, entre outras esferas de poder. Mas ele é também um prisma pelo qual podemos
enxergar a sociedade que o produziu. E o Museu contemporâneo foi produzido por uma
sociedade em que a tecnologia e o efêmero tomaram proporções ainda imensuráveis. E ele é
sim, fruto de uma sociedade de consumo, produto da indústria cultural, porém indispensável
para contar a história do presente.
Referências
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Liboa: Edições, 70, 2000.
GASTAL, Susana. Museus e Turismo: a complexa relação com o tempo e a memória. Revista
Eletrônica de Turismo Cultural, São Paulo, v. 4, n. 1, p.85-103, 01 jun. 2010. Semestral.
Disponível em: <http://www.eca.usp.br/turismocultural/07.5SGastal.pdf>. Acesso em: 03 jun.
2013.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Antropologia dos Objetos: coleções, museus e
patrimônios. Rio de Janeiro: MINC/DEMU, 2007.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro,
2006.
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HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela Memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2000. 2ª ed.
MENESES, Upiano Bezerra de. Os Paradoxos da Memória. In: DANILO, Santos de Miranda
(org.). Memória e Cultura: a importância da memória na formação cultural humana. São
Paulo: Edições SESC SP, 2007.
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De prisão clandestina a arquivo de luta pela memória: o caso do Arquivo Provincial da Memória em
Córdoba (ARG)
Janaina Vedoin Lopes222
Glaucia Vieira Ramos Konrad223
Palavras - chave: Ditadura. Memória. Córdoba. Arquivo.
Introdução:
O presente trabalho faz parte de um projeto de pesquisa desenvolvido no ano de 2013 no
curso de Arquivologia da UFSM intitulado “ Ditadura Civil Militar, Acesso à Informação e
Direitos Humanos: os casos brasileiro e argentino” que tem por objetivo identificar as políticas
públicas de acesso aos arquivos da repressão no Brasil e na Argentina e como estes
contribuem na luta pelo direito a memória, verdade e justiça de ambos os países.
Dos anos de 1960 a 1980 ficaram marcados na história recente dos países do Cone Sul pelos
governos civis militares baseados na Doutrina de Segurança Nacional que instalou a cultura do
medo em um Estado caracterizado pela falta de democracia, supressão de direitos
constitucionais, perseguições, censura cultural, torturas, sequestros entre outros crimes que
violam os direitos humanos (PADRÓS, 2009, p. 50). Dentro deste contexto, muitos órgãos
legais e clandestinos ( BAUER, 2012, p. 29) foram criados pelo Estado para que a “ordem social
e política” fossem mantidas.
Com o fim da Ditadura na Argentina em 1984 e a criação da Comissão Nacional sobre a
Desaparição de Pessoas(CONADEP), cerca de 360 lugares de detenção clandestinas foram
identificados, entre eles o extinto Centro Clandestino de Detenção “D2” que durou de 1974 a
1978 , sendo descoberto após a aberturas de paredes que escondiam os locais onde ficavam
os presos políticos e os locais de tortura.
Após essa primeira identificação do espaço como um centro clandestino de detenção, em
maço de 2006 os legisladores da província de Córdoba aprovaram a Lei 9.286 denominada Lei
da Memória ( SANTOS; TELES; TELES, 2009, p. 100) que estabeleceu a criação da Comissão e do
Arquivo da Memória, bem como a preservação dos espaços que foram Centros Clandestinos
de Detenção.
O atual Arquivo da Memória é um espaço aglutinador de informações juntamente com os
demais espaços de memória existentes na província: La Perla e Campo Ribera. Além disso
possui os seguinte objetivos: resgatar o que aconteceu no período da Ditadura Argentina
através da identificação desse espaço físico, promover espaços de discussão através das
atividades como visitação pública, promoção de eventos referentes a temática de direitos
humanos e por fim um espaço de trabalho para a Comissão de Memória de Córdoba.
222 Licenciada em História (UNIFRA), Bacharel em Arquivologia (UFSM) e aluna do curso de
especialização em Gestão em Arquivos. Autora.
223 Professora Doutora do Departamento de Documentação da UFSM. Co-autora.
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O Arquivo da Memória ainda hoje é preservado fisicamente como foi encontrado como uma
forma de manter a memória do que aconteceu naquele espaço no período da repressão na
Argentina. Ainda existem salas destinadas a materiais pessoais dos presos políticos que ali
estiveram como uma forma de garantir a história política e pessoal dos mesmo.
Ainda o seu acervo documental é formado por documentos produzidos pelas forças de
segurança e defesa que existiram na Ditadura. Os mesmos, foram gerados através do trabalho
burocrático desses órgãos ou adquiridos em ações repressivas como documentos pessoais,
livros, cartas, publicações, entre outros.
Metodologia e resultados:
Para a realização desde trabalho foi necessário o uso de bibliografias referentes ao tema de
espaços de memória e a sua importância na construção da memória social e política e como
esses lugares tornam-se precisam ser preservados como um alerta a sociedade para que
crimes de lesa humanidade não voltem a acontecer. Também foi necessário uma visita in loco
ao Arquivo da Memória.
Os resultados obtidos é que é preciso de políticas públicas que auxiliem na identificação desses
centros de detenção e que ainda estes tornam-se centros de memória para que a história
política e social não se perca e ainda que se fortaleça o respeito aos direitos humanos.
Conclusões:
A identificação desses espaços que no passado serviram como centros de detenção
clandestina tem por objetivo despertar o debate sobre o passado social e político não apenas
da Argentina e sim dos demais países do Cone Sul e que ainda estão passando por um
processo de redemocratização.
Referências:
ANJOS, G. C. A arqueologia de repressão no contexto das ditaduras militares da Argentina,
Uruguai e Brasil. Arqueologia Pública, Campinas, n. 5, p. 79-91. 2012.
BAUER, C. S. Brasil e Argentina: ditaduras, desaparecimentos e políticas de memória. Porto
Alegre: Editora Medianiz, 2012.
PADRÓS, E. S. História do tempo presente: ditaduras e segurança nacional e arquivos
repressivos. In: Tempo e Argumentos. Revista do Programa de Pós-Graduação em História.
UDESC, Ed.1 ,2009.
SANTOS, C. M.; TELES, E.; TELES, J. A. (ORG) Desarquivando a Ditadura: memória e justiça no
Brasil. São Paulo: Aderaldo & Rotheschild Editores, 2009. 1v.
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PROGRAMA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DA REGIÃO DO ANGLO: UMA
EXPERIÊNCIA DE APROXIMAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E COMUNIDADE
Noris Mara P. M. Leal -224
Matheus Cruz225
Heron Moreira226
Palavras-chave: Patrimônio Cultural, Museus, Comunidade, Extensão.
Introdução
A Extensão, uma das atividades basilares da universidade é constantemente discutida e alvo
das mais diversas análises em muitos campos do conhecimento. Em se tratando de museus e
o patrimônio cultural não é diferente, o crescimento do número dos cursos de Museologia no
Brasil gerou uma explosão de projetos de extensão relacionados a museus e o patrimônio
cultural, e por compreender este como um fenômeno, abordaremos o caso do Programa de
Preservação do Patrimônio Cultural da Região do Anglo, extensão desenvolvida pelo Curso de
Museologia da UFPel, na região ocupada pelo Campus Anglo. Este programa foi aprovado pelo
ProExt227 (programa de Extensão Universitária) do Governo Federal.
A Região é composta pelos bairros da Balsa, Navegantes e Fátima área de periferia da cidade,
nas margens do canal de São Gonçalo. Local fortemente marcado pela ocupação histórica,
relacionada com a atividade charqueadora que caracterizou a economia pelotense até o inicio
do século XX, e a fabril principalmente dos frigorificos durante o século XX.
Em 1940 se instalou nessa região o Frigorífico Anglo que chegou a empregar cerca de 15000
operários, funcionando como abatedouro até 1985 e fechando suas portas definitivamente em
1991. Ocorrendo a urbanização desta região a partir deste empreendimento. A forte inserção
histórica no desenvolvimento econômico da cidade, não foi acompanhada por políticas
públicas. É uma região caracterizada pela ocupação desregrada das margens do canal, sem a
devida regularização dos terrenos pela administração municipal.
A comunidade ali instalada é composta por operários egressos dos empreendimentos
industriais das cercanias e, mais recentemente, por contingentes de pessoas oriundas de
224 Licenciatura e Mestrado em História - UFRGS - Doutoranda em Museologia - Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologia
225 Bacharelado em Museologia e Mestrando PPG em Memória Social e Patrimônio Cultural - UFPel
226 Bacharelado em Museologia - UFPel
227 O Programa de Extensão Universitária (ProExt) tem o objetivo de apoiar as instituições
públicas de ensino superior no desenvolvimento de programas ou projetos de extensão que
contribuam para a implementação de políticas públicas. Criado em 2003, o ProExt abrange a
extensão universitária com ênfase na inclusão social.
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outras partes da cidade e da metade sul do estado. Ocupam desde as antigas casas dos
trabalhadores do frigorífico até palafitas em total situação de risco.
A instalação de um Campus Univresitário, onde antes estava instalado o frigorifico, trouxe um
impasse, a preocupação com uma possível perda de espaço, e de serem retirados de suas
casas, perdendo a sua identidade e a sua história ligada a este lugar.
O programa de preservação do patrimônio cultural do Anglo surge do anseio da comunidade
em ter sua história e patrimônio valorizados, a qual buscou a UFPEL para ser instrumentalizada
para este processo, através de associações de moradores e da CUFA - Central Única de Favelas.
Este é um trabalho que se desenvolve a mais de quatro anos com a participação de
professores do Bacharelado em Museologia e alunos de diversos cursos de graduação e pós-
graduação.
Metodologia e resultados
O programa conta com uma série de atividades, que vão desde a capacitação dos discentes e
docentes da universidade para tratar o caso dos museus comunitários e a relação das
universidades e comunidades até a capacitação da comunidade, outras ações como o
levantamento das histórias de vida e o inventário participativo serão levadas a cabo.
Através das narrativas das histórias de vida de alguns moradores escolhidos por serem mais
antigos, ou lideres comunitários, religiosos e agentes culturais busca-se observar a
problemática relação entre o espaço e a vida social, intentando compreender como se
constitui a apropriação simbólica do Bairro entre os diferentes sujeitos sociais.
O Inventário Participativo propõe que a comunidade seja chamada a discutir e se pronunciar -
a partir do seu ponto de vista – acerca de seus bens culturais. Desta forma a proposta é
inventariar esses bens com a participação dessas comunidades, objetivando o reconhecimento
desse patrimônio, por conseguinte de sua preservação.
Conclusões
E por fim busca-se impulsionar a expressão da diversidade, fomentando a iniciativa da
produção cultural e a reflexão sobre a realidade específica de cada comunidade. Assim, este
programa realizado na região do Campus Anglo, busca incentivar a apropriação consciente do
patrimônio cultural por parte do grupo de moradores, construindo e reconhecendo a
possibilidade de organização, fortalecendo o espírito de pertencimento e a criatividade de seus
integrantes, para que venham a participar e interferir na sua própria história, transformando-
a, através dos instrumentos necessários, na direção de um futuro melhor.
Referências
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Brasil. Rio de Janeiro: Rocco. 1996.
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CANCLINI, Nestor Garcia O patrimônio Cultural e a Construção imaginária do Nacional. In:
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n 23, Rio de Janeiro: IPHAN. 1994.
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As ambivalências do voluntariado: a comissão de voluntários gestores do Museu Nacional de
Imigração e Colonização de Joinville
Letícia Nedel228
Palavras-chave: Memória – Museu – Etnicidade – Patrimônio – Santa Catarina - Brasil
Introdução
O paper apresenta resultados preliminares do projeto “Colecionamento e Ressignificação de
objetos no Museu Nacional de Imigração e Colonização”, desenvolvido no âmbito das
atividades do Laboratório Acervos Memória e Patrimônio da UFSC e elaborado a partir de uma
experiência de campo, realizada entre agosto e novembro de 2012 como parte do Projeto
“Educação Patrimonial e Acessibilidade”, apresentado pelo MNIC e financiado pelo Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos do Ministério da Justiça.
A pesquisa atualmente em desenvolvimento explora as modalidades de apropriação social da
cultura material encenadas no espaço institucional e discursivo do MINIC, entre as décadas de
1960 e 2000. Seu objetivo é refletir sobre as estratégias de representação material do passado
em suas relações com determinados grupos e regimes de valor localizados no tempo e no
espaço. No caso aqui abordado, tais coordenadas definem-se em torno das práticas de
colecionamento e ressignificação de objetos operados pelos primeiros gestores do Museu, os
membros da Comissão do Museu Nacional de Imigração e Colonização, instalada em Joinville
em 1961.
Dos anos imediatamente seguintes à criação do MNIC procede parte significativa do acervo
reunido pela Comissão. Esta fora instalada pela municipalidade para providenciar o núcleo
inicial das coleções do museu, mas acabou se consolidando por cerca de quatro décadas como
instância administrativa, mantenedora e ideológica da instituição. Neste intervalo, os
comissários realizaram repetidas campanhas junto aos moradores da cidade, das quais
resultou um sistema de trocas solidamente estruturado em torno do MNIC, responsável pelo
acúmulo de um acervo que alcança hoje cerca de 5000 itens. Geograficamente concentrado
sobre Joinville e arredores, o sistema de trocas alcançava desde os habitantes do núcleo
urbano - lideranças políticas, intelectuais e artistas que dele participavam na condição de
mecenas, doadores ou avaliadores de itens colecionáveis – até os operários e agricultores da
periferia e das áreas rurais, que contribuíram com a doação de objetos herdados de familiares.
São essas redes de troca e reconhecimento, assim como os processos de atribuição de sentido
aos objetos nela transacionados que constituem o universo empírico da pesquisa.
Metodologia e Resultados
Elaborada em uma perspectiva de diálogo com os estudos de cultura material (Appadurai
2009; Clifford, 1994; Stocking Jr. 1983; Gonçalves 2007), esta análise histórica funda-se no
pressuposto de que os objetos não possuem significado intrínseco. Eles têm, pelo contrário,
228
Professora Adjunta do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História
Cultural da UFSC
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seus estatutos e funções permanentemente redefinidos à medida que circulam por contextos
significativos variáveis, onde serão reclassificados e hierarquizados segundo os sistemas
classificatórios específicos operados pelos atores sociais. Ao tomarem parte desses sistemas é
que os chamados “patrimônios móveis” têm definidos os seus atributos, do mesmo modo
como incorporando-as aos segmentos físicos da realidade, indivíduos e coletividades instalam
no concreto as categorias sócio-culturais pelas quais expressam suas subjetividades.
(Gonçalves 2007) Neste sentido, as coleções do MNIC interessam-nos como uma chave
apropriada ao estudo das alteridades étnicas produzidas pelo recurso à memória e à
acumulação de objetos fisicamente conectados com o passado em Joinville.
Partindo do presente etnográfico da pesquisa, a análise delineia o projeto de memória
sustentado pelos primeiros gestores, bem como os tempos referenciais do passado eleito para
ser materialmente representado no museu. Primeiramente está o tempo histórico recortado
pelo circuito expositivo, que abrange o desenvolvimento histórico da cidade entre meados do
século XIX e meados do século XX – desde a chegada dos imigrantes até o avançar do processo
de industrialização. Subjacente a esse recorte, está o tempo da memória que orienta a
conduta colecionista dos gestores, e para quem a campanha de nacionalização das colônias
imigrantes durante Estado Novo constituem um marco fundamental. O avesso desse período -
a festa do centenário de fundação de Joinville (1951), quando a identidade teuto-germânica é
reabilitada publicamente, constitui o contexto de origem da própria instituição. Seus quadros
sociais de sustentação serão compostos por indivíduos pertencentes a tradicionais famílias de
origem germânica, a quem, por sua ascendência moral, política e econômica na cidade, o
poder público tradicionalmente delegou a gestão da memória local.
Conclusões
Os resultados preliminares da pesquisa permitem concluir que, se na retórica de valorização
do patrimônio é comum a separação tácita entre a esfera lucrativa das atividades econômicas
e o engajamento cultural “desinteressado”, o caso de Joinville demonstra o contrário: ali onde
a política cultural foi historicamente conduzida nas bases do mecenato e do voluntariado, e
onde os gestores da memória prendem-se, por seus próprios nomes, às linhagens de
empreendedores eleitos como heróis civilizadores da localidade, o que se tem é a
interpenetração e a transferência de recursos e competências de uma esfera a outra.
Referências
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CLIFFORD, James. Colecionando Arte e Cultura. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
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patrimônios. Rio de Janeiro, Minc/IPHAN, 2007.
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STOCKING Jr., George W. “Essays on Museums and material culture”, in: ____(ed.). Objects
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25, 1985.
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Reflexões sobre o processo de musealização dos remanescentes da antiga usina termoelétrica de
Arroio dos Ratos (1985 - 1994)
Tassiane Mélo de Freitas229
Maria de Fátima Bento Ribeiro230
Palavras-chave: Região Carbonífera do Baixo Jacuí. Usina Termoelétrica de Arroio dos Ratos.
Musealização. Museu Estadual do Carvão.
Introdução
Há cerca de duzentos anos o carvão mineral foi descoberto na Região Carbonífera do Baixo
Jacuí - Rio Grande do Sul - Brasil. Ao longo do tempo esta região passou a ter importância na
conjuntura nacional, pelo fato de oferecer meios para o desenvolvimento econômico brasileiro
nos ramos de extração mineral e de geração térmica de energia elétrica. Neste contexto situa-
se a Usina Termoelétrica de Arroio dos Ratos. Propriedade da extinta Companhia Estrada de
Ferro e Minas de São Jerônimo (CEFMSJ), a usina funcionou de 1924 a 1956, sendo
considerada a primeira termoelétrica movida a carvão no país. O objetivo principal desta
pesquisa é compreender o processo de musealização dos remanescentes da antiga usina –
atual Museu Estadual do Carvão – a partir de 1985 até 1994.
Esta pesquisa justifica-se, sobretudo, pela necessidade de investigar as possíveis causas das
dificuldades enfrentadas, em termos de preservação patrimonial, pelo Museu Estadual do
Carvão, confrontando-as desta maneira com o processo de patrimonialização e musealização
dos remanescentes da antiga usina.
Entre as referências principais encontram-se: Françoise Choay (2006), Maria Cecília Londres
Fonseca (2009) e Candau (2011) a fim de pensar as questões sobre a patrimonialização;
Ulpiano B. de Meneses (1992) na discussão acerca do conceito de museu histórico e de
musealização; por fim, destaca-se a dissertação de mestrado de Frinéia Zamin (2006) que
discute a atribuição de valores a uma memória coletiva edificada para o Estado do Rio Grande
do Sul.
Metodologia e resultados
Tendo em vista que este estudo de caso encontra-se em andamento, primeiramente está
sendo realizada a revisão bibliográfica que auxiliará na contextualização histórica da mineração
de carvão no Rio Grande do Sul, mais especificamente atendo-se à formação da Usina
Termoelétrica de Arroio dos Ratos. Da mesma forma acontece uma revisão bibliográfica que
busca a compreensão dos conceitos de patrimônio/patrimonialização e de
museu/musealização.
229 Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural, UFPEL, tassimelo@gmail.
230 Doutora em História. Professora do Programa de Pós Graduação em Memória Social e
Patrimônio Cultural, UFPEL, [email protected].
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Estão sendo levantados documentos administrativos (atas, ofícios, portarias, relatórios e
decretos) sobre o processo de tombamento dos remanescentes da antiga usina (1985 e 1993)
e criação do Museu Estadual do Carvão (1986). Ainda estão sendo coletados dados sobre o
processo de constituição da exposição de longa duração no ano de 1991, através da consulta
ao acervo de clippings do museu (recortes de jornais) e ao seu acervo fotográfico.
Conclusões
Até o momento foram localizadas as documentações referentes aos dois processos de
tombamento (processos de 1986 e 1993) dos remanescentes da antiga usina que estão sendo
analisadas. O acervo fotográfico e de clippings do Museu Estadual do Carvão está auxiliando na
compreensão sobre a constituição da exposição de longa duração no ano de 1991, que em
1994 foi deslocada para o antigo prédio dos geradores da usina, que foi então restaurado.
A dificuldade está na localização de fontes que auxiliarão na compreensão histórica sobre o
funcionamento da antiga usina. As fontes se revelam até o momento escassas, o que faz
concluir, até o presente momento, que o processo de musealização dos remanescentes da
antiga usina partiu de uma vontade política de maneira verticalizada, não foram, portanto,
consideradas a história por detrás das ruínas e nem as memórias da população que constitui os
municípios carboníferos, que por sua vez fizeram parte desta conjuntura.
Referências
CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2011.
CHOAY, Francoise. A alegoria do patrimônio. 3. ed. São Paulo: UNESP, 2006.
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preservação no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009.
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museu histórico. São Paulo: Museu Paulista, 1992.
ZAMIN, Frinéia. O patrimônio cultural do Rio Grande do Sul: atribuição de valores a uma
memória coletiva edificada para o Estado. Dissertação de mestrado. Departamento de
História. IFCH. Porto Alegre: UFRGS, 2006.
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“Museu Sensível e Museu no Feminino : mulheres artistas nas exposições museológicas”
Rebecca Corrêa e Silva231
Ursula Rosa da Silva232
Palavras-chave: Sociomuseologia. Gênero. Mulheres Artistas. Exposições museológicas
Introdução
O texto apresenta uma reflexão sobre o papel dos museus enquanto instituição que reelabora
e transmite valores e significados do patrimônio – devolvendo-os para a sociedade. Dentro
disto, destacamos a exposição museológica enquanto veículo primordial de comunicação com
o público, observando sua contribuição para construção de novas miradas sobre o patrimônio
produzido por mulheres artistas. Partindo de uma perspectiva que integra
Sociomuseologia e Gênero, realizamos uma análise comparativa de duas exposições
museológicas com a duração de três meses, ocorridas durante o período 2011-2012, que
expuseram exclusivamente obras de mulheres artistas: O Museu Sensível – uma visão da
produção de artistas mulheres na coleção do MARGS, que teve lugar no MARGS – Museu de
Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul– Brasil; e a
mostra Museu no Feminino – mulheres artistas na coleção do MFTPJ, apresentada pelo MFTPJ
– Museu Francisco Tavares Proença Júnior, na região da Beira Interior e na cidade de Castelo
Branco– Portugal.
O embasamento teórico sobre gênero, e sobre a mulher artista na história e nos museus, se
deu principalmente através de Michelle Perrot (2007), Ana Paula Cavalcanti Simioni (2011),
Filipa Vicente (2005), e Ana Mae Barbosa (2003, 2008). Na relação conceitual entre
Sociomuseologia e Gênero, tivemos como principal contribuição e fonte de autores a tese de
doutorado da investigadora portuguesa Aida Rechena (2011a), pioneira nesta abordagem. Os
conceitos de memória e poder associado aos museus foram vistos em Mário Chagas (2002,
2005, 2007, 2009, 2010, 2012), já a temática da Sociomuseologia vem também de Mário
Moutinho (1989, 1993, 2007). As questões sobre expografia e comunicação museológica foram
vistas principalmente a partir da museóloga Marília Xavier Cury (2009, 2010).
Metodologia e resultados
A metodologia de investigação recebeu uma abordagem de caráter analítico e comparativo,
através da análise empírica das exposições realizadas no Brasil e em Portugal, baseado nos
dados fornecidos pelo diretor (a) e curador (a) de cada mostra, aliado aos materiais de texto,
vídeo e imagem obtidos via internet e pela visita à exposição do MARGS. Paralelamente
realizaram-se entrevistas com questões semiestruturadas, utilizando o método de análise do
231
Licenciatura em Artes Visuais, pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestrado em Gestão
Cultural pela Universidade do Algarve (UALG), [email protected]
232 Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Professora Associada na UFPEL (desde 1995), Diretora do Centro de Artes da UFPel ( desde 2013), [email protected]
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tipo interpretativo, proposto por Severino (2002). Uma parte da entrevista foi aplicada por e-
mail a Gaudêncio Fidelis e a Aida Rechena, e outro conjunto de questões foi desenvolvido para
o museólogo Mário Chagas – sob o tema da Sociomuseologia e Gênero.
Para produzir uma análise comparativa, apresentaremos quatro tipologias como de análise do
material coletado. Seguimos, em parte, o modelo de análise de exposições proposto por
Cunha (2010). No esquema que apresentamos aqui, reformulamos os três itens, dos quais a
fundamentação corresponde ao item I, que abarca o contexto, o conceito e a curadoria; a
produção e a comunicação articulam-se no item II, que se refere à expografia e a comunicação;
enquanto que o ponto III, que se concentra nos domínios do público e da educação, é visto a
partir da perspectiva da Sociomuseologia.
Observamos que ambas as exposições prezaram o dever social dos museus, na medida em que
tiveram como objetivo promover a visibilidade da obra de mulheres artistas da coleção de seus
museus. No enfoque temático das duas curadorias, a diferença reside em uma mostra
centrada nas obras e a outra nas criadoras, o que também se estende visualmente até a
expografia. Já no tópico sobre públicos e educação, vimos que as duas exposições buscaram
além da visibilidade, o aspecto de inclusão social das mulheres artistas nas exposições. Neste
subitem, os casos estudados diferem nos tipos de público-alvo e na atenção dada aos estudos
de público e aos serviços educativos.
Conclusões
A partir deste estudo, constatamos que somente uma das instituições que nos dispusemos a
analisar trazia de fato uma perspectiva sociomuseológica: o Museu Francisco Tavares Proença
Júnior, que sob a direção de Aida Rechena, assume uma preocupação com o território, a
função social, e a comunicação, aliado a uma perspectiva integrada de gênero. Enquanto que o
Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli demonstra estar ainda mais voltado para a
museologia tradicional, que coloca a ênfase sobre as coleções, embora a atual direção afirme a
necessidade de atualizar o Museu na perspectiva mais contemporânea, ao adotar uma postura
reflexiva e autocrítica.
Referências
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A memória nacional como atrativo turístico: um possível elo entre o Turismo Cultural e os museus
históricos brasileiros
Érica Teixeira Isidoro Pereira233
Palavras-chave: Memória Nacional. Turismo. Identidade. Museus Históricos.
Introdução
Este trabalho se propõe a compreender os motivos que levaram à consolidação e à
perpetuação do imaginário nacional a partir dos acervos dos principais museus históricos e
artísticos do País. Para tanto, analisa-se a concepção da identidade brasileira entre os séculos
XIX e XX, levando em consideração a construção dos mitos e heróis nacionais deste período.
Dentro do Turismo Cultural, pode-se inferir que o interesse em aprofundar os conhecimentos
sobre a história da Nação seria um dos motivadores de visitas a estes espaços museológicos.
O trabalho está vinculado ao projeto “Museus Históricos e Artísticos de Petrópolis e o Turismo
Cultural”, também de autoria de Érica Teixeira Isidoro Pereira e sob orientação da Profa. Dra.
Camila Dazzi. O projeto é financiado pelo programa de Iniciação Científica do CEFET/RJ.
De acordo com as ideias de Hall (2006), parte-se do pressuposto de que o homem moderno,
apesar de se considerar independente e livre de certas pressões e rotulações da sociedade,
prescinde da necessidade de se auto identificar como integrante de um grupo maior que o
enxergue com igualdade. Ainda que essas identificações, metafóricas e figurativas não estejam
“impressas em nossos genes” (HALL, 2006, p. 47), é necessário que nos vejamos pertencentes
a um grupo onde estejamos em situação de igualdade, sem discrepância social, financeira, etc.
Nesse sentido, as identidades nacionais servem para definir quem somos, nos agregando a um
grupo de pessoas que, em comum, sejam pertencentes à nossa Nação e nos diferenciando
daquelas que venham de outros lugares.
As Nações, por sua vez, necessitam associar imagens e símbolos que as caracterizem,
valorizem e as destaquem das demais. Elas buscam encontrar bens, patrimônios, vivências que
possam ser reconhecidas pelas pessoas que nelas vivem formando ricas culturas nacionais e
consolidando a imagem da nação. Esses esforços se justificam uma vez que “não importa quão
diferentes seus membros possam ser em termos de classe, gênero ou raça, uma cultura
nacional busca unifica-los numa identidade cultural, para representa-los todos como
pertencendo à mesma e grande família nacional” (HALL, 2006, p. 59).
No decorrer deste trabalho, são levantados e debatidos os processos que levaram à formação
do imaginário nacional para o Brasil durante os períodos de Império e início República. As artes
plásticas apresentam-se como principal meio de inspiração, ensinamento e divulgação das
identidades nacionais criadas, graças às intencionalidades que carregaram e ao enorme poder
de alcance que obtém ainda hoje.
233
Graduanda em Gestão de Turismo – CEFET/RJ Campus Nova Friburgo, Bolsista de Iniciação Científica
CEFET/RJ, [email protected]
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Finalmente, analisam-se os pontos convergentes na relação entre museus históricos e turismo,
tomando como centro dos debates a transformação da memória nacional em atrativo
turístico. Segundo Barreto (2008), os museus, desde os seus primórdios na Grécia Antiga,
destinam-se ao estudo e proteção das artes e da ciência. Os museus históricos brasileiros,
atualmente, continuam carregando a noção de casas de memória, ao salvaguardar
identidades, vivências, símbolos e feitos marcantes do país. O Turismo Cultural, que
“compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos
significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e
promovendo os bens materiais e imateriais da cultura” (BRASIL, 2010, p.15), apresenta-se um
dos principais veiculares da memória e da identidade nacional e vai ao encontro às funções
socioeducativas do museu.
Metodologia e resultados
A metodologia utilizada correspondeu à seleção, leitura, análise e fichamento da fortuna
crítica disponível sobre cinco segmentos complementares: I. A formação de identidades
nacionais; II. A produção artística do século XIX e sua relação com o cenário político-social da
época; III. A relação entre patrimônio histórico e Turismo cultural; IV. A relação entre Museus
históricos e artísticos e o turismo; V. A transformação da memória nacional em atrativo
turístico.
Conclusões
Conclui-se que o turismo cultural em museus apresenta-se como uma das formas de manter
viva a memória da nação, através dos acervos. Ainda que museus e turismo tenham visões
diferentes a respeito do retorno financeiro de suas atividades, uma vez que o museu possui
caráter não lucrativo ao contrário do turismo, eles possuem muitos pontos em comum.
Entre os pontos convergentes são a procura pelo diferente, a disseminação de culturas e a
salvaguarda do patrimônio, etc. A relevância deste trabalho se dá através da possibilidade da
existência deste ele entre as áreas turística e museológica.
Referências
BARRETO, Margarita. Os museus e a autenticidade no turismo. In: Revista Itinerarium. vol. 1.
pp. 1-24. ISSN: 1983-7666. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008.
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Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloa
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> Acesso em: 21 jul. 2013
Instituições de memória nas Casas-Museu: a produção de conhecimento como ponto chave na
preservação
Micheli Martins Afonso234
Juliane Conceição Primon Serres235
234 Graduada em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis, graduada em Artes Visuais
Licenciatura, mestranda no programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio
Cultural/UFPEL – Bolsista FAPERGS, [email protected].
235 Doutora em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Professora Adjunta da Universidade
Federal de Pelotas, [email protected].
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Palavras-chave: Casa-Museu. Instituição de Memória. Pesquisa. Patrimônio. Preservação.
Introdução
A temática das Casas-Museu ou Museus-Casas é um tópico a parte nas abordagens
museológicas. As argumentações e comunicações desenvolvidas em seminários e congressos
específicos sobre o tema, muitas vezes tendem a conduzir os diálogos para a esfera das ações
praticadas ou praticáveis em museus. Percebe-se que há uma discussão mais específica sobre
o tema, atingindo diretamente esta tipologia de instituição de guarda, em trabalhos que
versam sobre estudos de casos e exemplos de práticas museológicas in situ. É notório que
apenas a palavra Casa não separa totalmente estas duas instituições, pelo contrário, mas é
preciso estar atento às particularidades que as Casas-Museu apresentam para ampliar este
debate.
O presente texto buscará abordar questões relativas à produção de conhecimento dentro das
Casas-Museu, tanto quanto a sua comunicação e interação com a sociedade como fator crucial
para o fortalecimento, consolidação ou instituição de memória nestas instituições de guarda.
Este estudo legitima-se por instigar o aprofundamento das reflexões que permeiam a temática
das Casas-Museu, sobretudo porque promove questões prementes sobre a pesquisa nestas
instituições.
Metodologia e resultados
As Casas-Museu surgem mundialmente no século XIX (PONTE, 2007, p. 167). Esta instituição
que mescla o íntimo com o coletivo, o privado com o público, surgiu da ânsia de uma parcela
da sociedade em salvaguardar os seus bens, expor orgulhosamente o seu legado, manter viva
a memória de um ente querido ou homenagear uma personalidade social. Ainda “no século
XIX, o museu se configura como uma instituição por excelência produtora e difusora de
conhecimento, além de formadora para o exercício dessas atividades” (MENEZES, 2002, p.29).
O suporte metodológico utilizado nesta pesquisa foi uma ampla revisão bibliográfica sobre o
tema e visitas de pesquisa em uma Casa-Museu, localizada na cidade do Porto em Portugal.
A importância da pesquisa no Museu como uma das atribuições inatas a estas instituições não
é nenhuma novidade para os estudiosos do patrimônio cultural. Apesar disto, muitos museus
e, sobretudo, Casas-Museus não praticam esta premissa. O Museu Casa de Rui Barbosa,
exemplifica este discurso, tendo em vista que levou cerca de 30 anos para iniciar as pesquisas
em seu acervo, devido a carência de recursos e graças as mudanças filosóficas da atuação dos
museus com o passar dos anos. Ainda citando o Museu Casa de Rui Barbosa que ao pesquisar
uma escova de dentes do seu patrono possibilitou uma parceria com o Museu de Odontologia
Salles Cunha (REIS, 2002, p. 104) e fez florescer desta aliança diversas atividades que
despertaram a participação do público visitante. Desta forma, evidencia-se a urgência da
pesquisa dentro destas entidades, pois ampliam a sua visibilidade e fortalecem o
entendimento que se tem sobre o seu patrono e os objetos que ele cultivava.
A pesquisa e a difusão destas atividades permite que o discurso museográfico não se
mantenha restrito aos profissionais dos museus, mas atinjam de maneira eficiente os
visitantes das Casas-Museus. Conforme o sociólogo Francês Pierre Bourdieu:
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“Cada indivíduo possui uma capacidade definida e limitada de apreensão da “informação” proposta pela obra, capacidade que depende de seu conhecimento global (por sua vez, depende de sua educação e de seu meio) [...]. Quando a mensagem excede as possibilidades de apreensão do espectador, este não apreende sua “intenção” e desinteressa-se do que lhe parece ser uma confusão sem o menor sentido, ou um jogo de manchas de cores sem qualquer utilidade.” (BOURDIEU, 2007, p.71).
Uma organização museográfica nem sempre faz parte da concepção das Casas-Museus, por
isso muitas vezes não oferecem informações sobre o seu acervo e/ou patrono que satisfaçam
e instiguem o público visitante a terem outros contatos com às suas instituições. Sem a
pesquisa a Casa-Museu não conhece nem transmite a sua própria memória, ao mesmo tempo
em que se afasta do núcleo da sociedade por esgotar em apenas uma visitação as
possibilidades de diálogo com o seu público visitante.
Conclusões
A temática das Casas-Museu merece atenção e dedicação dos pesquisadores. Interessa
igualmente neste ponto o estudo no que diz respeito a instituição em si e não apenas no
tocante a seu espólio. A ausência de pesquisa em uma instituição de guarda compromete a sua
preservação, a difusão da sua memória e a construção de alicerces sólidos deste equipamento
cultural no seio da sociedade.
Referências
BOURDIEU, Pierre. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. Tradução:
Guilherme J. de Freitas Teixeira, 2ª Edição. Porto Alegre: Editora Zouk, 2007.
MENEZES, Upiano Bezerra de. O museu e o problema do conhecimento in Anais do IV
Seminário sobre Museus-Casas: Pesquisa e documentação. Rio de Janeiro: Fundação Casa de
Rui Barbosa, 2002.
PONTE, António M. T. da. Casas-Museu em Portugal: Teorias e Prática. Dissertação de
mestrado em Museologia apresentada na FLUP. Porto, 2007.
REIS, Claudia Barbosa. A pesquisa sobre o acervo in Anais do IV Seminário sobre Museus-Casas:
Pesquisa e documentação. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2002.
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Arqueologia nos Museus em Rio Grande - fronteiras silenciosas
André Dal Bosco Carletto236
Palavras-chave: Arqueologia. Museu. Patrimônio.
Introdução
O presente trabalho pretende analisar a relação entre os museus e o patrimônio arqueológico
na cidade de Rio Grande. Tal problemática surgiu no contexto de uma Arqueologia que busca
um maior envolvimento social (MENEZES, 2010). Para isso, propõe-se a relação com os
museus, pois estes agem de forma permanente tanto na preservação como na comunicação
(CURY, 2006). Esta pesquisa é parte do trabalho de conclusão de curso deste pesquisador e
pretende.
Com relação à arqueologia da cidade de Rio Grande, esta se destaca por ser uma das primeiras
onde foram realizados estudos arqueológicos, desde a década de 60 (SCHMITZ, 2011), com
investigações de Jose Proenza Brochado e Pedro Ignácio Schimitiz. Entre 1968 e 1976 outros
pesquisadores como Naue, La Salvia, Valente, Basile Becker e Abrahão Schorr atuaram. Outras
pesquisas foram realizadas por pesquisadores diversos, entre professores da universidade,
funcionários da prefeitura e outros relacionados á arqueologia de contrato. Destaca-se,
também, a participação do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Arqueologia e Antropologia –
LEPAN – da Universidade Federal do Rio Grande, que, com as pesquisas de Pedro Augusto
Mentz Ribeiro, fez um grande levantamento de sítios históricos e pré-coloniais, realizando,
além disso, coletas superficiais sistemáticas e escavações (THIESEN, 2011: 17).
Conforme o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos – CNSA237 (mantido pelo IPHAN) consta
mais de 100 sítios arqueológicos na área da cidade de Rio Grande. Porém, sobre os museus,
segundo o catálogo do Ibram, existem 14, além de um virtual e um em projeto (IBRAM, 2011).
Além dos listados no catálogo, também há o Museu Náutico, da FURG. Foram visitadas as
instituições e analisadas as que possuíam coleções arqueológicas, segundo suas
nomenclaturas . A partir desta primeira análise surgirão abordagens mais pontuais referentes
à pesquisa.
Metodologia e resultados
Após a visita e/ou entrevistas, além da consulta ao guia do Ibram, nas instituições museais da
cidade, foram identificadas quatro instituições de interesse da pesquisa:
a) O Museu da Natureza (pelo catálogo do Ibram);
b) O Museu da Cidade do Rio Grande (idem);
c) O Núcleo de Pesquisa Arqueologica (NPA) no Centro Municipal de Cultura Inah Emil
Martensen (visitação);
236
Graduando em Arqueologia, FURG, [email protected]
237 http://portal.iphan.gov.br/portal/montaPaginaSGPA.do acesso em 05/03/2013.
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E, por último,:
d) o Museu Náutico da FURG (visitação).
Dos museus citados, o Museu da Natureza ainda não foi encontrado e sua coleção busca ser
rastreada. O Museu da Cidade, por sua vez, doou seu acervo, dito arqueológico, ao já citado
LEPAN. O Centro Municipal de Cultura, atualmente, encontra-se em reforma e, por isso, não é
possível uma análise maior sobre sua exposição. E, no Museu Náutico a Arqueologia
desempenha a função de contar a história pré-colonial da cidade.
Conclusões
Nota-se a evidente estratigrafia do abandono descrita em Bruno,(1999),em que as diferentes
camadas de abandono sufocaram os vestígios arqueológicos. Destacar-se-á, aqui, entre elas, o
Museu da Natureza, que aparenta nunca ter existido na escola onde ele deveria se localizar,
não havia nenhuma informação.
Ao analisar a coleção oriunda do Museu da Cidade, foi possível observar diversos objetos de
origem natural, como uma semente entre os materiais líticos, ou formações geológicas
naturais. Esses dados demonstram a distância das pesquisas arqueológicas com estas
instituições. Novas formas de interação precisam ser pensadas para tal diálogo com a
comunidade, de modo que o trabalho seja concluído com êxito.
Referências
BRUNO, M. C. O. Musealização da Arqueologia. Lisboa: Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologia, 1999.
CURY, M. X. Para saber o que o público pensa sobre arqueologia. Arqueologia Pública, São
Paulo, v. 1, n. 1, p. 31-48, 2006.
FERREIRA, L. M. . Arqueología Comunitaria, Arqueología de Contrato y Educación Patrimonial
en Brasil. Jangwa Pana: Revista del Programa de Antropología de la Universidad del Magdalena
(Colombia), v. 9, p. 95-102, 2010.
SCHMITZ, P.I. Sítios de Pesca Lacustre em Rio Grande, RS Brasil. Erechim: Ed. Habilis, 2011.
THIESEN, B. V. DIAGNÓSTICO ARQUEOLÓGICO NA ÁREA DO ANTIGO JOCKEY CLUB, A SER
DIRETAMENTE IMPACTADA PELA INSTALAÇÃO DE UM COMPLEXO IMOBILIÁRIO MULTIUSO, NO
MUNICÍPIO DO RIO GRANDE, RS. Rio Grande: 2011.
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Museus, Desenvolvimento e Política
Glauber de Lima238
Palavras-chave: Nova Museologia. Transformação Social. Neoliberalismo. Minorias Sociais
Introdução
O protagonismo exercido pelas instituições que se relacionam com o Patrimônio em meio às
políticas culturais na atualidade merece um olhar menos festivo e mais crítico. No caso dos
museus, tão importante quanto ampliar a compreensão acerca do que lhe foi atribuído
enquanto papel social é evidenciar que discursos destoam deste entendimento, tornando
possível percebermos de forma clarividente que existem projetos hegemônicos e contra-
hegemônicos no campo museal.
Somado a isso, o museu acabou por se tornar uma instituição que possui uma associação
direta com os propósitos desenvolvimentistas e transformadores da sociedade. Este último
aspecto é que o torna “útil” e vigoroso na atualidade. Não há como conceber um
entendimento a respeito da identidade dessas instituições em que estas estejam desligadas de
um propósito de metamorfose social.
Contudo, os entendimentos e usos adotados pela museologia acerca do seu propósito
transformador estão longe de ser harmônicos. O campo dos museus trata a mudança social em
grande conta há algum tempo, mas não se deteve em esclarecer suficientemente a existência
de projetos distintos sobre o que deve ser transformado e quais estratégias e objetivos desse
processo.
Na América Latina, a Nova Museologia surge como um movimento que consagra politicamente
um determinado modelo de desenvolvimento que instrumentaliza, em certos termos, o
potencial transformador dos museus. Sua receptividade, em meio aos mais variados
segmentos do campo em questão, nos permite afirmar que é esta a lógica hegemônica do
fazer museológico contemporâneo.
Por conseguinte, projetos que primam por uma atuação transformadora dos museus sob
outros auspícios, que não os da nova museologia, acabam por se situarem em um plano
alternativo, quando não enfraquecidos, silenciados e, mais frequentemente, distorcidos por
meio de construções discursivas que tentam associá-las ao projeto hegemônico.
Sendo assim, a pesquisa a qual está relacionado com este trabalho tem por objetivo evidenciar
os termos em que estes distintos projetos de museus se apresentam, assim como oferecer um
contraponto às diretrizes hegemônicas que fundamentam as políticas públicas que
instrumentalizam os museus por meio da análise das experiências construídas em meio às
iniciativas que se opõem à nova museologia.
Metodologia e Resultados
238
Graduação em História - UFPE, Mestre em História Social – UnB, Professor Assistente do Curso de
Museologia da Universidade Federal de Goiás, [email protected]
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O processo de pesquisa consiste no levantamento dos indícios que ajudem a configurar com
maior clareza os contornos que definem cada um dos projetos existentes em meio ao campo
museal.
No que diz respeito à configuração do projeto hegemônico, as informações são fartas em razão
da própria amplitude alcançada pela nova museologia. Desde a academia até as instâncias que
discutem e deliberam acerca das políticas públicas para os museus, são muitos os registros que
permitem perceber quão pragmática e harmônica é a relação da museologia com o discurso do
desenvolvimentismo cultural.
Quanto às iniciativas contra-hegemônicas, estas possuem menor articulação e são,
naturalmente, mais escassas. Embora plurais, faz parte do método de análise identificar em
cada uma delas possíveis similaridades. Encaixam-se nesta perspectiva, por exemplo, o Museu
Molecular – iniciativa gerada no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, assim como El
Museo do Travesti no Peru.
Conclusões
A natureza desenvolvimentista dos museus é quase que naturalizada pela nova museologia, o
que torna as estratégias de construção desse processo em arranjos que harmonizam o fazer
museológico com os interesses do Capital. Tal condição se estende às relações destas
instituições com conceitos importantes como patrimônio, preservação, comunidade e público.
Estes acabam por terem reduzidos seus usos e sentidos em razão do que se consagrou por
meio da grande receptividade da nova museologia na América Latina.
Nas iniciativas que não se harmonizam com tais propósitos, há uma associação entre ativismo
político, museus e minorias sociais em meio a um projeto que busca enfraquecer as
contradições edificadas pelo capitalismo ao invés de naturalizá-las. Ao construírem uma
relação alternativa em seu fazer museológico, no que diz respeito aos referidos conceitos que
envolvem o campo do Patrimônio e dos Museus, tais iniciativas acabam por colocar em xeque
a legitimidade de cada um deles em sua percepção convencional, o que constitui uma questão
extremamente cara aos objetivos desta pesquisa.
Referências
YÚDICE, George. A conveniência da cultura. Usos da cultura na era global. Belo
Horizonte: UFMG, 2004.
HUYSSEN, Andreas. “Escapando da Amnésia: o museu como cultura de massa”. Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 23 - Cidade, 1994, p. 35-57.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 35. ed, São Paulo: Paz e Terra, 2003
VALENTE, Luiz Fernando. Paulo Freire: desenvolvimento como prática da liberdade. Revista
Alceu, N. 18 - v. 9, jan./jun. 2009, p. 186 a 197
YÚDICE, George. “Museu molecular e desenvolvimento cultural”. In: NASCIMENTO JUNIOR,
José do (org.). Economia de museus. Brasília: MinC/IBRAM, 2010.
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CAMPUZANO, Giuseppe. Andróginos, hombres vestidos de mujer, maricones… el Museo
Travesti del Perú. Revista Bagoas, n. 04, 2009, p. 79-93
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Abordagens e discussões sobre o espaço museal, a patrimonialização e a comunicação cultural: Estudo
comparativo entre o Museu dos Ex-votos e a Sala de Milagres do Santuário do Bomfim, em Salvador,
Bahia.
Genivalda Cândido da Silva239
Shirlene Lavigne Ferreira240
Palavras-chave: Ex-votos. folkcomunicação. Comunicação. Discussões. Santuário do Senhor do
Bomfim. Permanência.
Introdução
A pretensão principal deste trabalho, que advém do Projeto Abordagens e discussões sobre o
espaço museal, a patrimonialização e a comunicação cultural: Estudo comparativo entre o
Museu dos Ex-votos e a Sala de Milagres do Santuário do Bomfim, em Salvador, Bahia, é
abordar as discussões sobre o espaço museal e a sala de milagres na questão da
patrimonialização e da comunicação cultural observada a partir dos objetos ex-votivos
expostos nos respectivos ambientes do Santuário do Bom Senhor Bom Jesus do Bomfim.
Na atualidade a preservação do patrimônio cultural está intrinsecamente ligada à questão da
memória. Isso significa dizer que a preservação se tornou importante não apenas para
resguardar o patrimônio, mas como enfatiza Pollak (1992, p.5): principalmente para valorizar
um elemento que constitui e fortalece o sentimento de identidade, seja ele individual social ou
coletivo, abrindo precedentes para que possamos atribuir à memória a condição de
patrimônio, utilizando como base de estudos e análises, dois ambientes completamente
singulares e um tanto antônimos entre si, a sala de milagres e o museu dos ex-votos.
Se compreendermos os museus como instituições/mídias que tem por objetivos colecionar,
preservar, documentar, pesquisar, comunicar e interpretar culturas, somos estimulados a
pensar e analisar o ambiente museu como suporte/mídia de informação e representação da
cultura, da memória e diversos patrimônios.
Então, podemos observar, portanto, que nesse contexto muitos elementos importantes para a
construção do diálogo que é apresentado neste projeto, um deles a questão museológica,
estão intrinsecamente ligados às questões comunicacionais que envolvem os ambientes
estudados e referidos nesta proposta.
Metodologia e resultados
239
Graduada em Museologia pela Universidade Federal da Bahia, Mestranda em Museologia na
Universidade Federal da Bahia – UFBA. Bolsista do Projeto Ex-votos das Américas: etapa Américas do
Norte e Central. [email protected]
240 Bolsista AT-FAPESB no Projeto Ex-Votos das Américas: Etapa Américas do Norte, Central e Caribe.
CADERNO DE RESUMOS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp
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A abordagem do projeto dar-se-á a partir da observação sistemática do estudo in locus no
santuário do Senhor Bom Jesus do Bomfim, com análise de dados, análise empírica dos
ambientes objetivados, realização de estudos bibliográficos, documentação fotográfica e
videográficas. Para o desenvolvimento da pesquisa serão empregados métodos de
procedimentos e técnicas.
A abordagem analítica procurará estudar como um todo, a questão do patrimônio cultural a
cerca do museu dos ex-votos e da sala de milagres do Santuário do Bomfim. Notadamente o
estudo de cada parte, o museu e a sala de milagres, com direcionamentos comparativos e de
aspectos da museografia nos ambientes expositivos aqui demarcados. Que subdividir-se-ão em
sete etapas; iconográfico; histórico; comparativo; pesquisa bibliográfica; fotografação;
entrevistas e finalizando com a documentação museológica e estudo museográfico.
A base para a pesquisa, o estudo teórico sobre os ambientes e a construção epistemológica,
reside do fato de a autora desta proposta ter tido o estágio de dois anos no Projeto Ex-votos
do Brasil, vinculado ao CNPq, FAPESB e UFBA, onde foi bolsista da Iniciação Científica, e passou
a refletir sobre o tema com base nas incursões que fez em dezenas de salas de milagres e
museus do gênero pelo Brasil.
Como resultado, visa-se continuar e expandir a pesquisa que engloba o presente tema,
visualizando o museu e a sala de milagres como fontes potenciais para os estudos
museológicos e as ciências sociais aplicadas, notadamente dirigidas à memória social e
comunicação, é que o presente Projeto se propõe a este Programa de Pós Graduação em
Museologia.
Conclusões
O Projeto Abordagens e discussões sobre o espaço museal, a patrimonialização e a
comunicação cultural: Estudo comparativo entre o Museu dos Ex-votos e a Sala de Milagres do
Santuário do Bomfim, em Salvador, Bahia, está possibilitando o questionamento acerca das
presentes diferenciações comunicacionais e restrições presentes nos respectivos espaços.
Também apresenta possibilidades de ver os espaços como locais ricos em medias
folkcomunicacionais e patrimônio cultural num estágio científico, em que os objetos ex-
votivos, se encontram fora do seu contexto natural.
Referências
POLLAK, Michael. “Memória e Identidade Social”. In: Estudos históricos. Rio de Janeiro, vol.5,
n.10, 1992. p 05.
MESA 7 - Lembrar, esquecer, narrar.
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A memória construída pelo jornal Correio do Sul em torno da figura do ex-presidente Emílio
Garrastazu Médici
Marcelo Pimenta e Silva241
Palavras-chave: Memória, Imprensa, Representações Sociais, Ditadura Militar
Introdução
O presente trabalho busca analisar a construção de uma memória coletiva específica em torno
da figura do ex-presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici. Para identificar os
elementos próprios que formam essa memória, pretende-se verificar o jornal Correio do Sul,
impresso da cidade natal do militar, o município de Bagé, no interior do Rio Grande do Sul. A
pesquisa aborda dois períodos distintos: o mês de outubro de 1969, quando o militar é
escolhido como presidente da República e o mês de dezembro de 2005, quando o mesmo
impresso traz uma série de textos homenageando-o pelo centenário de nascimento. A
investigação tendo como fonte primária o jornal foi realizada no Arquivo Público da cidade e
contou também com a utilização de fontes bibliográficas das áreas do jornalismo, psicologia
social e da história, baseando-se em aspectos teóricos acerca da história do Brasil, história da
imprensa, teoria das representações sociais e do conceito de memória coletiva. O objetivo
desse trabalho é iniciar uma investigação na imprensa escrita e de como ela fundamenta,
através de seus discursos, uma memória coletiva própria para determinados fatos e pessoas ao
longo da história. Dessa forma, o trabalho justifica-se pela importância da imprensa como
agente comunicacional que forma memórias coletivas e também se torna construtora de
“lugares de memória” que consolidam o sentido de pertencimento a uma determinada
comunidade em torno de vínculos identificatórios.
Metodologia e resultados
O trabalho de pesquisa utilizou-se de uma investigação exploratória que buscou através dos
exemplares do jornal Correio do Sul em outubro de 1969 e dezembro de 2005 observar no
processo discursivo da imprensa, elementos que formam representações sociais. Esses
discursos servem para produzir uma subjetividade num processo histórico-dialético de
representações da realidade social que resultam em “verdades inquestionáveis”
(JOVCHELOVITH: 2000). Logo a imprensa acaba fornecendo discursos que irão determinar uma
memória específica, determinando “amnésias” para acontecimentos e enaltecendo valores
distintos do restante da imprensa. Assim, em 1969, Médici quando de sua posse, é visto como
o herói positivista que se “sacrifica” em um momento conturbado para defender e proteger à
Pátria. É o pai de família que mescla duas identidades próprias do homem da fronteira gaúcha:
o militar e produtor rural, mas que também é o fraterno homem de família e que tem sua
figura mesclada a símbolos populares como seu apreço pelo futebol (E SILVA, BRIGNOL: 2010).
Com tais representações no discurso da folha, ocorre a produção de uma memória que
enaltece Médici para a história bageense e gera um esquecimento sobre as ações repressoras
241
Graduado em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha, pós-graduado em Comunicação
Mercadológica pela Fatec SENAC Pelotas.
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do regime que liderava. Em 2005, já no período democrático, o jornal irá utilizar dos mesmos
elementos discursivos para ressaltar a biografia do bageense.
Conclusões
O impresso manterá um discurso positivo à figura do ex-presidente, com a intenção de manter
uma percepção favorável não apenas ao militar, mas à memória de um tempo em que o
discurso positivo de desenvolvimento e segurança era a bandeira ideológica de quem apoiou o
golpe civil-militar de 1964. Dessa forma, diferente de outros veículos de comunicação que no
século XXI, já com o fim da ditadura e, da censura prévia, a ditadura militar será criticada por
seus abusos e autoritarismo, entre outros fatos; no entanto a imprensa de Bagé, no caso
específico, do jornal Correio do Sul, legitima um discurso para produzir uma memória
referente ao período distinta, enaltecendo a figura do general Médici.
Referências
BARRETO, Mário. “Perspectivas alvissareiras” in Jornal Correio do Sul, p. 3, 23 de outubro de
1969. Bagé, Rio Grande do Sul.
COMBLIN, Joseph. A ideologia da segurança nacional. São Paulo. Editora Civilização Brasileira,
1978.
HARTMANN, Heitor. “Pronunciamento de estadista” in Jornal Correio do Sul. P. 3, 10 de
outubro de 1969. Bagé, Rio Grande do Sul.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice 1990
JOVCHELOVITH, Sandra. Representações sociais e esfera pública. Rio de Janeiro. Editora
Vozes, 2000.
Jornal Correio do Sul. “Festividade de aniversário da revolução”, capa, 1° de abril de 1969.
Bagé, Rio Grande do Sul.
Jornal Correio do Sul. “Bageense na presidência”, capa, 08 de outubro de 1969. Bagé, Rio
Grande do Sul.
Jornal Correio do Sul. “Emílio Médici: Democracia e desenvolvimento não se resumem a
iniciativas governamentais”, p. 4, 08 de outubro de 1969. Bagé, Rio Grande do Sul.
Jornal Correio do Sul – Edição Extra. “Espetáculo Maravilhoso”, p.2, 30 de outubro de 1969.
Bagé, Rio Grande do Sul.
Jornal Correio do Sul – Edição Extra. “Entusiasmo e espontaneidade na imponente
homenagem ao Presidente Garrastazu Médici”, capa, 30 de outubro de 1969. Bagé, Rio
Grande do Sul.
MOTTA, Márcia Maria Menedes. “História, memória e tempo presente”. Novos Domínios da
História. Organizadores Ciro Flamarion Cardoso, Ronaldo Vainfas. Rio de Janeiro: Elsevier,
2012.
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E SILVA, Marcelo Pimenta, BRIGNOL, Rafael. “O jornal Correio do Sul e o presidente Médici: a
criação do herói pelas páginas do jornal bageense no ano de 1969”. Revista Cebela.
Disponível em: WWW.cebela.org.br/site/baCMS/files/24421ART4%Marcelo%Pimenta.pdf.
Acesso em: 10 de setembro de 2013.
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Memória e cultura pomerana através do (re)conto Dái zuóvan kláina séicha
Danilo Kuhn da Silva242
Palavras-chave: Memória. Identidade. Pomeranos. Contos. Oralidade. Narrativas.
Introdução
Este trabalho versa sobre a memória e a cultura pomerana expressas no conto Dái zuóvan
kláina séicha, versão do conto O lobo e as crianças (AT 0123) coletada no interior de São
Lourenço do Sul/RS. Inspirado no indiciarismo de Robert Darnton, analiso a versão pomerana
em comparação ao conto original grimmniano, apontando para indícios da memória e da
cultura pomerana na região sul do Rio Grande do Sul cristalizadas em seu (re)contar. Este
conto é parte do acervo recolhido pelo Projeto Pomerando, o qual desenvolvo na escola
Germano Hübner desde 2010 e que visa incentivar a escrita da língua pomerana, partindo de
uma padronização simplificada da escrita, haja vista que se trata de uma língua ágrafa, bem
como registrar músicas, brincadeiras e contos pomeranos junto à comunidade escolar, a fim
de preservar a cultura local, baseada na oralidade. Os resultados destes primeiros dois anos de
trabalho foram registrados em um livro, intitulado Projeto Pomerando: Língua Pomerana na
escola Germano Hübner (SILVA, 2012), o que se intenciona fazer periodicamente.
Metodologia e resultados
Através da aluna Talia Heller Rebeihn, aluna do 6º Ano da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Germano Hübner, onde se desenvolve o Projeto Pomerando, foi recolhido em 16
de abril de 2013, por meio de entrevista com sua avó paterna, Alida Conrad Rebeihn, o conto
Dái zuóvan kláina séicha (Os sete cabritinhos), versão pomerana do conto grimmniano “O lobo
e as crianças” (AT 0123)243, um dos mais populares na Alemanha (DARNTON, 1986, p. 24).
As transcrições do conto em pomerano apresentadas no decorrer do trabalho, tanto do relato
oral quanto de uma versão escrita, estão de acordo com a padronização simplificada da escrita
proposta no livro Projeto Pomerando: língua pomerana na escola Germano Hübner (SILVA,
2012, p. 17-19).
Através do indiciarismo apreendido do livro O grande massacre de gatos e outros episódios da
história francesa, de Robert Darnton (1986), procura-se no (re)conto pomerano indícios de sua
cultura, de sua visão de mundo, comparando-o com o original grimminiano, com a versão
escrita pomerana feita pela neta da entrevistada, e de outras versões encontradas em livros
infantis, bem como realizando uma contextualização cultural a partir de estudos etnográficos
pomeranos.
Conclusões
242 Graduado em Licenciatura em Artes – Habilitação em Música (UFPel/2004), mestre em Teoria e
Criação - Composição Musical (UFPR/2010), [email protected].
243 De acordo com o esquema de classificação padrão elaborado por Antti Aarne e Stith Thompson
(1961).
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Entendendo os contos populares como documentos históricos que sofrem diferentes
transformações em diferentes tradições culturais (DARNTON, 1986, p. 26), e que os
mesmos são a arte de narrar histórias e o contexto no qual isto ocorre (ibid., p. 29),
abre-se a brecha para analisar o (re)conto pomerano e apreender dele elementos
culturais específicos a partir da comparação e da contextualização. Dentre outros
elementos pomeranos encontrados em Dái zuóvan kláina séicha, podem-se ressaltar a
troca do “bosque” pelo “baile” como o local para onde os pais dos cabritinhos vão ao
ausentarem-se de casa, o que revela a relação cultural desta comunidade com os
bailes tradicionais (SALAMONI, 1995, p. 45); a enfatização do “lobo preto” como
elemento antagonista, remetendo à endogamia, i. e., à manutenção de relações com
indivíduos da mesma etnia (schuát, que significa “preto” em pomerano, também é um
termo utilizado pelos pomeranos para designar os brasileiros) (BAHIA, 2011, p. 187); a
utilização de um produto da colônia, a farinha, em vez de tinta branca, utilizada pelo
antagonista para enganar os cabritos ao mudar a cor de suas pernas de preto para
branco, evidenciando seu habitat camponês (ibid., p. 47); e ainda a referência ao
misticismo pomerano na dança ao redor da fonte após o afogamento do lobo, como
comemoração (BAHIA, 2011; THUM, 2009).
Portanto, através da análise dos indícios que a comparação entre as versões do conto
ofereceu, com a devida contextualização cultural, pode-se identificar os elementos pomeranos
característicos atrelados em seu (re)contar.
Referências
AARNE, Antti; THOMPSON, Stith. The Types of the Folktale. A Classification and Bibliography.
F.F. Communications, nº184, Helsinki, Academia Scientiarum Fennica, 1961.
BAHIA, Joana. O tiro da bruxa: identidade, magia e religião na imigração alemã / Joana Bahia.
Rio de Janeiro: Garamond, 2011.
DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos, e outro episódios da história cultural
francesa; tradução de Sônia Coutinho. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
SALAMONI, Giancarla (org.). Os pomeranos. Valores culturais da família de origem pomerana
no Rio Grande do Sul – Pelotas e São Lourenço do Sul. Pelotas: Universitária, 1995.
SILVA, Danilo Kuhn da. Projeto Pomerando: língua pomerana na Escola Germano Hübner. São
Lourenço do Sul: Danilo Kuhn da Silva, 2012.
THUM, Carmo. Educação, história e memória: silêncios e reinvenções pomeranas na Serra
dos Tapes. São Leopoldo, 2009. Tese de doutorado, Instituto de Ciências
Humanas/Universidade do Vale dos Sinos.
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A Memória como Patrimônio: o holocausto a partir da vivência dos povos bálticos
Maurício Signorini Dias244
Gabriela Rocha Rodrigues245
Palavras-chave: Patrimônio. Holocausto. Identidade. Testemunho.
Introdução
Este artigo tem como objetivo a análise da obra "A Vida em Tons de Cinza" de Ruta Sepetys,
escritora americana lituana que relata a história de seus ascendentes, sobreviventes de um
holocausto pouco conhecido. A autora resgata a memória dos remanescentes dos povos
Bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia – que foram anexados pela União Soviética em 1941, e só
reconquistaram sua independência na década de 1990. Por meio da literatura-memorialística
da autora busca-se discutir a questão da identidade e as relações entre história e memória.
Metodologia e resultados
A pesquisa da autora Ruta Sepetys resgata um momento da história pouco conhecido. Stalin,
que buscava reformar a sociedade soviética, elabora um projeto econômico violento. Sua
subida ao poder definitivo, como secretário-geral, marcou o início de uma transformação
radical. Ele criou listas de pessoas que considerava anti-soviéticas, incluindo militares,
professores, advogados, empresários, médicos; e até mesmo padres e crianças foram presos
sem cometer crime algum. Em poucos anos a União Soviética mudara drasticamente pela
coletivização de terras e o rápido crescimento industrial. Fazendo uso da polícia secreta
soviética (NKVD), Stalin, com seu reinado de terror, foi responsável pela morte de mais de
vinte milhões de pessoas.
Para a realização deste artigo, além da obra de Ruta Sepetys, lançada no Brasil pela Editora
Arqueiro em 2011, buscou-se analisar os fatos ali relatados e os próprios testemunhos dos
sobreviventes encontrados em vídeos na internet, produzidos e cedidos pela Domedia
Productions. Buscou-se analisar a identidade dos povos bálticos através destes dados,
compará-los com sua história e memória a fim de resgatar a identidade do povo em questão.
Conclusões
Em sua obra, Ruta descreve os relatos dos sobreviventes e de forma precisa a história dos
povos bálticos, especialmente os que foram mandados para campos de concentração no
extremo norte, no Ártico. Com base no livro de Ruta busca-se analisar a identidade desses
244 Acadêmico do Curso de Letras - Português/Alemão da Universidade Federal de Pelotas (RS). Integrante
do Grupo de Pesquisa: Linguagem, narrativas e identidades no contexto de formação e de atuação de professores de línguas. Email: [email protected]
245 Mestre em Letras pela Universidade Federal de Pelotas (RS). Professora da Universidade Federal de
Pelotas. Integrante do Grupo de Pesquisa Estudos Comparados de Literatura, Cultura e História. Email:
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povos dentro da história deste holocausto. Em meados de 14 de junho de 1941 a polícia
secreta começa a reunir os nomes das famílias que estavam nas listas. Eles invadem suas
casas, obrigando-os a retirar-se sem praticamente levar quase nada, pois tudo agora pertencia
ao governo. As pessoas são levadas e colocadas em vagões de gado, segundo relato minucioso
da sobrevivente Irena Valaityte-Spakauskiene:
Dentro de um dos vagões de gado lotado de homens, alguém me chamou, e ele tirou sua aliança de casamento e passou para mim, por entre as grades. - Vocês vão precisar disso para se alimentar. Dê isso para sua mãe, para ter comida. E diga ao Romas que de agora em diante ele terá de tomar conta da família. Em seguida os soldados me agarraram e me arrastaram de volta para o outro vagão. Foi a última vez que vi meu pai (VALAITYTE-SPAKAUSKIENE in SEPETYS, 2013).
Mesmo sem nenhuma condição mínima de vida, essas pessoas guardaram suas identidades
presas junto de suas histórias. Sem nenhuma liberdade, os deportados foram escravizados e
mantidos como prisioneiros.
Enquanto muitos pesquisadores e estudiosos concentram suas pesquisas no holocausto
alemão, buscasse procurar a identidade e a memória de um povo esquecido, que ainda clama
sua justiça.
Referências
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução: Rosa
Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007.
SEPETYS, Ruta. A Vida Em tons de Cinza. 1ª edição. São Paulo: Editora Arqueiro, 2011.
SILVA, Tomaz Tadeu da Silva. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais /
Tomaz Tadeu da Silva (org.). Stuart Hall, Kathryn Woodward. 9.ed.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
CABRAL, Danilo. O que eram Gulags? Site Mundo Estranho, Editora Abril
Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-eram-os-gulags
Acesso: 20/09/2013
WIKIPÉDIA, wikipédia. Era Stálin (1927-1953). Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_St%C3%A1lin_(1927-1953) Acesso data 20/09/2013
Vídeo. A vida em tons de cinza - Ruta Sepetys - 2013. Site Youtube.
Disponível: http://www.youtube.com/watch?v=e80hAM8bxWY Acesso: 15/09/2013
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Representações do Holocausto nos Quadrinhos
Felipe Radünz Krüger246
Palavras-chave: Representação. Quadrinhos. V for Vendetta
Introdução
Partimos do pressuposto de que a produção cultural sobre o Holocausto é centrada na figura
do judeu. Filmes, literatura, seriados, documentários e HQs247 retratam os horrores causados
pelo Terceiro Reich, na maioria das vezes, exclusivamente relacionados à comunidade judaica.
Obviamente, existem exceções, mas ainda defendemos que, a partir da década de 1960, com o
investimento na memória do Holocausto, as vítimas mais lembradas são os judeus. Mas e as
demais vítimas? Sabemos que o exército nazista também perseguiu e dizimou negros,
homossexuais, ciganos e adeptos de filosofias de esquerda. A esfera cultural não tem interesse
nas memórias desses indivíduos?
Primeiramente apresentaremos alguns exemplos de Graphic Novels248 com temáticas
relacionadas ao antissemitismo e ao holocausto, posteriormente faremos uma breve discussão
sobre a memória do holocausto e como ele é representado. Por fim, analisaremos como o
holocausto foi exposto na obra V for Vendetta.
Esta pesquisa, ligada ao Mestrado em História - PPGH/ UFPEL apresenta por objetivo investigar
a graphic novel V for Vendetta, de autoria de Alan Moore e David Lloyd, a partir de sua
narrativa imagética e textual, considerando os principais aspectos do passado e a forma como
o holocausto foi representado na mesma.
Metodologia e resultados
De acordo com Ankersmit, “the relevant secrets of the nature of historical writing can only be
discerned if we see the historical text as a representation of the past in much the same way
that the works of art is a representation of what it depicts” (ANKERSMIT, 2001, p. 80).249
246
Graduado em História licenciatura pela universidade Federal do Rio Grande, mestrando e bolsista
Capes do PPGH – Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pelotas.
Orientado pela Profª Dra. Larissa Patron Chaves, [email protected].
247 Histórias em Quadrinhos.
248 Termo popularizado por Will Eisner, graphic novel (romance gráfico) é um livro que normalmente
conta uma longa história através de arte sequencial (ou História em Quadrinhos - HQ). Sua utilização se
faz necessária para diferenciar as narrativas mais longas e complexas dos Quadrinhos comerciais e
infantis. Sobre essas questões ver mais em EISNER, W. Quadrinhos e arte Seqüencial. 3 ed.. São Paulo.
Martins Fontes, 2001.
249 “os segredos relevantes da natureza da escrita histórica só podem ser discernidos se vislumbrarmos o
texto histórico como uma representação do passado, da mesma forma que as obras de arte. É uma
representação do que retrata-se” (Tradução do autor).
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Partindo desse apontamento, consideramos historiografia, arte e literatura como construções
de realidades, logo, o conceito de representação é a chave para compreendermos o objeto
que pretendemos estudar.
Nesse sentido, acreditamos que as narrativas gráficas que analisamos no decorrer da pesquisa
possam ser vistas como uma metaficções historiográficas. Segundo Linda Hutcheon:
A metaficção historiográfica refuta os métodos naturais, ou de senso comum, para distinguir entre o fato histórico e a ficção. Ela recusa a visão de que apenas a história tem a pretensão à verdade, por meio de afirmação de que tanto a história como a ficção são discurso, construtos humanos, sistemas de significação, e é a partir dessa identidade que as duas obtém sua principal pretensão à verdade. Esse tipo de ficção pós-moderna também recusa a relegação do passado extratextual ao domínio da historiografia em nome da autonomia da arte (HUTCHEON, 1991, p. 127).
Para tanto, partimos de uma análise de conteúdo, proposta na obra “Análise de Conteúdo”, de
Laurence Bardin (1977). Com o auxílio desse método, foi possível elucidar uma série de
características que o leitor casual de das obras acaba deixando de perceber, encontrando
aspectos do contexto histórico e cultural.
Conclusões
Portanto, acreditamos que o discurso vinculado em V for Vendeta diferencia-se no sentido de
que, enquanto nas outras produções a figura central dos massacres seja a comunidade judaica
e os horrores cometidos contra a mesma, em V for Vendetta os autores se esforçam para
apresentar os perigos que outras minorias étnicas e raciais – negros, homossexuais e ciganos –
estavam sujeitos na Inglaterra, cada vez mais conservadora, de Margareth Thatcher(1979-
1990). Além disso, acreditamos que o conceito de metaficções historiográficas pode levar a
novas reflexões sobre o estatuto de fonte história e as formas de construção do passado na
historiográfia.
Referências
ANKERSMITH, F. R. Historical Representation. Stanford University Press. Stanford, California.
2001.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro.
Edições 70, 1977.
BOOKER, M. KEITH(org.) Encyclopedia of Comic Books and Graphic Novels Vol. 01.
Greenwood. 2010. p. 285)
EISNER, Will.Quadrinhos e Arte Sequencial, Martins Fontes, São Paulo. 2001.
KELLER, J. V for Vendetta as Cultural Pastiche: A Critical Study of the Graphic Novel and Film.
McFarland & Company. 2008.
MOORE, Alan; LLOYD, David. V de Vingança. Panini Comics, Edição Especial, 2006.
_____________________. V for Vendetta (I - X). DC Comics, 1988.
HUTCHEON, LINDA. A Poética do Pós-modernismo. Imago Editora. Rio de Janeiro, 1991.
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A Memória do Lugar e o Estabelecimento da Ordem: Fundamentos Comuns para a Afirmação das
Desigualdades
André Jacques Martins Monteiro250
Palavras-chave: Violência. Processo Civilizador. Memória. Desigualdade.
Introdução
O presente estudo apresenta uma reflexão sobre determinados aspectos relativos à formação
da imagem das cidades fundamentadas em sua memória. A intenção é destacar a violência
inerente à imposição de um modelo civilizatório à diversidade de sujeitos que compõem uma
sociedade em formação, que é naturalizada pelas estratégias, ideais e valores que permeiam a
maneira como foram constituídas as narrativas sobre seu passado, amenizando o próprio
sentido de violência destas dinâmicas. Tais processos permeiam os aspectos materiais e
imaterias das memórias, seja na significação dos espaços ou dos modos de vida que fomentam
sentimentos de pertencimento e referenciais identitários.
Para a elaboração desta análise buscou-se dialogar principalmente com reflexões propostas
pelo filósofo Nietzsche e pelo sociólogo Norbert Elias, além de destacar como objeto de estudo
o município de Vassouras. Localizado no Vale do Paraíba fluminense no Estado do Rio de
Janeiro, o seu centro urbano é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN). As narrativas de memórias que predominam na constituição da imagem
desta cidade reportam ao período de ocupação e desenvolvimento da economia cafeeira em
meados do século XIX, quando o contingente de indivíduos negros e escravizados era superior
à elite predominantemente branca de capitalistas e senhores de terras.
Esta proposta de estudo compõe etapa da elaboração da tese de doutorado intitulada “Um
Passado em Sombras: Memórias Subterrâneas Através de Registros Criminais”. Em linhas
gerais, a pesquisa destaca em registros criminais do século XIX o que os aspectos configurados
como memórias revelam sobre a sociedade de Vassouras neste período.
Metodologia
A metodologia aplicada nesta etapa do estudo é constituída pela análise de duas fontes
primárias referentes ao contexto da cidade de Vassouras em meados do século XIX. A
primeira, intitulada “Memória sobre a Fundação de huma Fazenda na Província do Rio de
Janeiro”, foi um manual que abordava a estrutura e funcionamento de uma fazenda cafeeira,
elaborado pelo Barão de Paty do Alferes, grande proprietário de terras da referida cidade,
destinado inicialmente ao seu filho que retornaria da Europa para assumir uma fazenda. A
segunda fonte primária são as “Instruções para a Comissão Permanente nomeada pelos
fazendeiros do Município de Vassouras”. Sinteticamente, este documento foi elaborado por
membros eleitos da elite local para prescrever aos senhores de terras medidas para conter as
rebeliões de escravos.
250
Graduado em História, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO, na Linha de Memória, Criação e Subjetividade. E-mail: [email protected].
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São utilizados também trabalhos que abordam três instâncias imbricadas das narrativas do
passado de Vassouras: obras produzidas pelos memorialistas; estudos desenvolvidos pelos
profissionais vinculados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e
pesquisas de historiadores que se dedicaram ao contexto desta localidade.
Conclusões
São duas as principais considerações apontadas neste estudo. A primeira destaca aspectos da
forma como a imposição de um processo civilizador inculca valores comuns através da
violência, possibilitando que se institua a manutenção de uma dinâmica social fundamentada
na desigualdade. A segunda é uma reflexão sobre um possível processo de ressignificação
desta violência nos vestígios e narrativas de memórias que constituem a apropriação
atualizada da imagem do lugar.
Referências
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru-SP:
Edusc, 2007.
BARRENECHEA, Miguel Angel de. O aristocrata nietzsniano: para além da dicotomia entre a
civilização/barbárie. In: LINS, Daniel; PELBART, Peter Pál (Orgs.). Nietzsche e Deleuze –
Bárbaros e Civilizados. São Paulo: Annablume, 2004.
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DODEBEI, Vera. (Orgs.). Rio de Janeiro: Contra Capa; Programa de Pós-Graduação em Memória
Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005.
CHARTIER, Roger. “Formação Social e Economia Psíquica: a Sociedade de Corte no Processo
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Jorge Zahar ed., 2001.
ELIAS, Norbert. Introdução à Sociologia. Lisboa: Edições 70, 1970.
______. A Sociedade dos Indivíduos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1994.
______. A Sociedade de Corte. Trad. Pedro Süssekind. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2001.
MUNIZ, Célia Maria Loureiro. Os donos da terra: um estudo sobre a estrutura fundiária do
Vale do Paraíba Fluminense no século XIX. 1979. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências
Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1979.
______. Riqueza fugaz: trajetórias e estratégias de famílias de proprietários de terras de
Vassouras – 1820-1890. Tese (Doutorado) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais,
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POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro,
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212, 1992. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1941/1080>. Acesso em: 28
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ROCHA, Isabel. Arquitetura rural do médio Vale do Paraíba Fluminense no séc. XIX. In: Revista
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Fontes Primárias:
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Vassouras. In: BRAGA, Greenhalgh H. Faria [compilação]. Vassouras: História, Fatos e Gente.
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WERNECK, Luiz Peixoto de Lacerda. Memória sobre a fundação de huma fazenda na Província
do Rio de Janeiro. In: BRAGA, Greenhalgh H. Faria [compilação]. Vassouras: História, Fatos e
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A memória do esquecimento: a reinvenção do passado em Goiás no início da década de 1990
Rildo Bento de Souza251
Palavras-chave: Goiás. Esquecimento. Memória. Césio-137. Tocantins. Identidade.
Introdução
O objetivo desse trabalho é analisar, a partir da revista Goianidade, publicada pela Associação
Goiana de Imprensa, em 1992, a reinvenção do passado de Goiás, a partir de esquecimentos
voluntários, como por exemplo, o acidente com Césio-137, em 1987 e a separação do
território que deu origem ao Estado do Tocantins, em 1988. O início da década de 1990 é,
portanto, um período conturbado da história goiana. A revista Goianidade, por sua vez, visava
contribuir para despertar um sentimento de identidade e valorização do passado e das
tradições locais. O tema dessa pesquisa surgiu em nosso estudo de doutoramento que
estamos realizando sobre a construção mítica de Pedro Ludovico Teixeira, fundador da cidade
de Goiânia, capital do Estado. Ao analisar o discurso da referida revista em relação a este
personagem, percebemos uma clara intenção em construir um sentido histórico para o próprio
Estado, embasado num discurso jornalístico.
Metodologia e resultados
A partir dos estudos de RICOEUR (2007); HALBWACHS (1990); POLLAK (1989) e SARLO (2007)
procuramos evidenciar a construção, dentro do discurso da revista Goianidade, de um discurso
positivo em relação ao Estado e, principalmente, sua capital Goiânia. O processo de
esquecimento voluntário e as zonas de sombra no passado gerados por esse discurso visavam
despertar o orgulho de ser goiano, abalado com os eventos traumáticos no final da década de
1980.
Conclusões
Os dois fatos históricos que estigmatizaram o povo goiano: o acidente com o césio-137 em
setembro de 1987, e a divisão do território dando origem ao Estado do Tocantins, por
intermédio da Constituição de 1988, que veio a se concretizar no ano seguinte, contribuiu para
abalar o sentimento de pertencimento e orgulho em relação ao Estado. A revista Goianidade,
de forma intencional (é o que defendemos) visava resgatar esse orgulho ferido por meio da
reconstrução do passado do Estado, forjado a partir de uma memória oficial e de
esquecimentos voluntários
Referências
BERTRAN, Paulo. “A memória consútil e a Goianidade”. In: Ciências Humanas em Revista, v.5,
nº.1. Goiânia: Editora da UFG, 1994.
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Imprensa e História do Brasil. São Paulo: Contexto/EDUSP,
1988.
251
Doutorando em História/UFG. Professor Assistente do curso de Museologia da Faculdade de Ciências
Sociais da Universidade Federal de Goiás. E-mail: [email protected].
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CHAUL, Nars Fayad. Caminhos de Goiás: da construção da decadência aos limites da
modernidade. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1995 (Dissertação de doutorado em
História – mimeo).
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1990.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Trad: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira
Lopes Louro. 6 ed. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2001.
OLIVEIRA, Eliézer Cardoso de. Imagens e Mudança Cultural em Goiânia. Goiânia: Universidade
Federal de Goiás, 1999 (Dissertação de mestrado em História – mimeo).
POLLAK, Michael. “Memória, esquecimento, silêncio”. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro,
vol. 2, n. 3, 1989.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, SP: Editora da Unicamp,
2007.
SARLO, Beatriz. Tempo Passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo:
Companhia das Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2007
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Compulsão à Identidade: Memória e Esquecimento
Giovane Rodrigues Jardim252
Palavras-chave: Elaboração do Passado. Theodor Adorno. Dialética Negativa. Filosofia Política.
Introdução
A sociedade estabelecida se preocupa com o futuro. Seu passado ainda continua vigente em
sua memória planejada e em seu esquecimento traumático. Entre o passado e o futuro, o
presente da humanidade é uma incerteza, um emblemático problema político. Para Theodor
W. Adorno (1903-1069), a compreensão do passado é fundamental para que ele seja
encerrado, dando lugar para o comprometimento entres os seres humanos. O presente é
negligenciado, pois, sua situação contraria as promessas do passado não realizadas, bem
como, desmascara que os meios empregados não conduzem ao futuro antevisto. Nesse
sentido, para Adorno a memória e o esquecimento podem ser mecanismos de administração
social, de continuum progresso da sociedade repressiva, e isso a partir de uma “compulsão à
identidade” na qual sem distinguir-se do “todo social” os seres humanos se identificam.
A elaboração do passado apaga da memória o que o passado significa para o presente e suas
consequências futuras. Assim, a elaboração nos termos de uma “semi-formação” é o
aplainamento do significado das experiências subjetivas, das particularidades de cada ser
humano, dando lugar a uma versão oficial que passa a ser critério de entendimento. Adorno
discute esta questão a partir do pós-Nazismo e do projeto de reconstrução alemã. O
esquecimento produzido em nome de amenizar o “sofrimento do lembrar” implica na não
proteção dos novos seres frente aos efeitos do que passou, e nesses termos, é a possibilidade
para que ele volte a acontecer. Ao contrário, a compreensão é a possibilidade de evitar que ele
se repita; Adorno tem presente que não se pode mudar o passado, mas é possível a partir da
reflexão evitar que ele continue existindo. Assim, tanto a memória como o pensamento se
tornam condições de possibilidade para a sociedade futura, pois, quando a humanidade não se
aliena da memória não se esgota na adaptação ao existente, e pode refletir sobre suas ações
para além da realidade estabelecida, fazendo do presente o exercício de sua liberdade política.
Metodologia e resultados
A presente investigação objetiva dar as linhas gerais da compreensão política de memória e
esquecimento na acepção do texto de Adorno intitulado O que significa elaborar o passado?
Nesta pesquisa bibliográfica, os conceitos são abordados a partir do método dialético negativo,
e em complemento, procedimentalmente dos métodos monográfico e comparativo. A partir
deste delineamento é possível compreender o significado da crítica de Adorno a memória e ao
esquecimento enquanto veículos para o continuum progresso de uma sociedade repressiva. A
memória e o esquecimento possuem consequências políticas, e por isso torna-se relevante
pensa-las filosoficamente, pois, o que os seres humanos lembram, ou o que eles esquecem,
252 Mestre em Ética e Filosofia Política pelo Instituto de Filosofia, Sociologia e Política da UFPEL;
Especialista em Mídias na Educação pela UAB/UFPel; Bacharel e Licenciado em Filosofia pelo Instituto
Superior de Filosofia da UCPEL; [email protected]
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denunciam ou justificam o presente mesmo que este se encontre ofuscado pela fixação com o
futuro.
Conclusões
Pensar o futuro bem poderia ser uma preocupação com o mundo que se deixará para as
futuras gerações, mas não o é somente. Na sociedade administrada, a preocupação com o
futuro também é um desvio do enfrentamento de questões presentes, da repressão
desnecessária do humano, enfim, de uma sociedade que não compensa aos seres humanos os
sacrifícios infringidos para a sua realização. Nesse horizonte, a crítica de Adorno a elaboração
do passado enquanto projeto de mantê-lo é profícua, e possibilita a compreensão de nossa
situação histórica, por exemplo, na necessidade brasileira de superar em sua história o que
significou a repressão militar, a ditadura, etc. Adorno referia-se a reconstrução da Alemanha
no pós-Nazismo, mas sua assertiva sobre a memória e o esquecimento aponta para um
fenômeno mais amplo da sociedade de massas, ou seja, a uma lembrança compartilhada que é
planejada, bem como, do esquecimento enquanto uma catarse social. A memória
estereotipada e seu consequente esquecimento possuem consequências políticas, dentre elas,
a impossibilidade de sua compreensão, e isso implica em uma semiformação do humano, pois,
progressivamente são aplainadas as suas experiências subjetivas, dando lugar a sua identidade
com o todo. Não mais sendo capaz de se reconhecer, somente neste “todo” o individuo se
identifica, sendo a sua memória e o seu esquecimento uma “compulsão à identidade”.
Referências
ADORNO, Theodor. W. Mínima Moralia. Lisboa: Edições 70, 1951.
_____. Dialética Negativa. Rio de Janeiro: Jorge Zohar, 2009.
_____. Educação e Emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
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Um testemunho do cárcere: o caso Sobrevivente André Du Rap (do massacre do Carandiru)
Isadora Nuñez de Mattos253
Aulus Mandagará-Martins ²
Palavras-chave: Literatura de cárcere. Literatura de testemunho. Testimonio. André Du Rap.
Massacre do Carandiru.
Introdução
O trabalho apresenta os resultados da pesquisa desenvolvida no projeto “Literatura de
cárcere: o testemunho político-histórico e a escrita de si” sob a orientação do professor Dr.
Aulus Mandagará Martins durante a vigência da bolsa PIBIC - CNPq: de setembro de 2012 a
julho de 2013.
O trabalho visou analisar a nova (e ainda não tão discutida) literatura de cárcere brasileira
através do livro Sobrevivente André Du Rap (do massacre do Carandiru) (2002) ³ de autoria do
ex- detento José André e do jornalista Bruno Zeni. Essa nova literatura quebra o paradigma de
representação da experiência do preso político ao trazer à tona a experiência do preso
comum. O principal objetivo da pesquisa foi analisar a aparente familiaridade entre o livro
escolhido em questão e a literatura de testimonio produzida na América Latina durante a
segunda metade do século XX. A familiaridade se dá principalmente devido ao fato de que a
obra estudada apresenta uma autoria híbrida, na qual uma testemunha oral dá seu
depoimento a um “narrador de ofício”. Sendo assim, o trabalho verificou essa familiaridade
analisando e comparando as estratégias discursivas e os pressupostos ideológicos presentes
em SAR e nas obras representativas do testimonio latino americano.
Como referências para a análise do contexto da nova literatura de cárcere brasileira foram
utilizados os trabalhos de: BEVERLEY (1987), GINZBURG (2008), LEITE (2006), MANDAGARÁ
MARTINS (2013), PALMEIRA (2006) e (2011) e SELIGMANN-SILVA (2003) e (2006). No tocante à
literatura de testimonio, as principais referências são: MARCO (2004), RANDALL (1992),
SANCHEZ (s/d), SKLODOWSKA(1993) e YÚDICE (1992).
Metodologia e resultados
Foi realizada, além de uma revisão da fortuna crítica da obra SAR, uma revisão teórica e crítica
sobre o conceito de Literatura de testemunho e suas duas principais correntes: a da Shoah
(testemunhos produzidos a partir da sobrevivência ao Holocausto) e o testimonio latino
americano. Na realização desta pesquisa bibliográfica foram utilizados os procedimentos de
leitura, resumo e fichamento, além de uma análise detalhada da obra, incluindo sua estrutura
e pressupostos ideológicos.
253 Graduanda em Letras Português Espanhol e Respectivas Literaturas. Universidade Federal de Pelotas,
² Professor Doutor. Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
³ Doravante SAR
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Como resultados, foi possível constatar que a literatura de testimonio era fortemente marcada
por um pressuposto ideológico politicamente motivado. Isto é, um narrador de ofício – muitas
vezes jornalista ou etnólogo - teria o compromisso de fazer vir à tona, através do depoimento
de uma testemunha muitas vezes ágrafa, a identidade de um grupo socialmente subalterno e
subjugado pela força estatal. O trabalho desse narrador ou “gestor” consistiria em apagar-se
do relato ou fundir sua identidade com a da testemunha e transcrever seu discurso da maneira
mais fiel possível. O que claramente é um pressuposto problemático, já que inevitavelmente o
gestor interferirá de alguma maneira buscando a inserção do relato nos circuitos culturais.
Aparentemente, Bruno Zeni atua como esse gestor do testimonio ao manter o caráter oral dos
depoimentos de André. Entretanto, ao mesmo tempo em que faz isso, o jornalista admite no
prólogo do livro ter escolhido trechos, suprimido perguntas orientadoras das entrevistas e
alterado a ordem de alguns episódios como quando desloca para o início do livro o relato do
massacre ocorrido em outubro de 1992, além de escrever um artigo acadêmico ao final do
livro.
Conclusões
Conclui-se que os objetivos de análise das estratégias discursivas e dos pressupostos teóricos
tanto do testimonio quanto da obra SAR foram atingidos. Da comparação entre eles, foi
possível constatar que, apesar de utilizar a estratégia discursiva da manutenção do caráter oral
da narrativa de André, Bruno não age exatamente como se esperava de um gestor clássico. Ao
deixar marcado o discurso de André e marcar o seu através do artigo, Bruno resolve a
problemática de impossibilidade de fusão de identidades. Ao declarar que manipulou a
matéria do testemunho, o jornalista deixa margem para que se perceba que o objetivo não é
fazer emergir a identidade de um grupo subalterno, mas sim evocar a memória coletiva do
massacre e, mimetizar na estrutura fragmentada do livro, a estrutura do testemunho prenhe
de trauma que André apresenta.
Referências
BEVERLEY, John. Anatomía del testimonio. Revista de Crítica Literaria Latinoamericana. [s.l.],
Ano 13, Nº 25. 1987, p. 7-16. http://www.jstor.org/stable/4530303 Acesso em: 30/11/2012.
DU RAP, André. Sobrevivente André Du Rap (do massacre do Carandiru). São Paulo:
Labortexto Editorial, 2002.
GINZBURG, Jaime. Linguagem e trauma na escrita do testemunho. Conexão Letras, Porto
Alegre, v. 3, p. 61-66, 2008.
LEITE, Carla Sena. Vozes do Carandiru: estudo comparativo de quatros narrativas do massacre.
Encontro da Ulepicc – Brasil, I, 2006, Niterói.
MANDAGARÁ MARTINS, Aulus. O corpo e a voz da prisão: testemunho e experiência na
literatura de cárcere. Acta Scientiarum. Language and Culture, v. 35, n. 3, p. 193-202, 2013.
< http://eduem.uem.br/ojs/index.php/ActaSciLangCult/article/view/17732 > Acesso em:
30/09/2012
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MARCO, Valeria de. A literatura de testemunho e a violência de estado.[s.l.] Lua Nova. Nº 62.
2004, p. 45-68.
PALMEIRA, Maria Rita. Cada história uma sentença: anotações sobre Sobrevivente André Du
Rap. Estudos de literatura brasileira contemporânea: Literatura e testemunho. Brasília. Nº
27.p.59-77. 2006.
______. “Neste mundo fora do mundo”: estigma e literatura nas escritas prisionais recentes.
Itinerários, Araraquara, n.32. p.75-82. 2011.
RANDALL, Margaret. ¿Qué es y cómo se hace un testimonio? Revista de Crítica Literaria
Latinoamericana. [s.l.], Ano 18, Nº 36, La voz del Outro: Testimonio, Subalternidad y Verdad
Narrativa. 1992, p.23-47. < www.jstor.org/stable/4530621> Acesso em: 30/11/2012
SANCHEZ, Ana Maria Amar. La ficción del testimonio. Buenos Aires: [s.n], [s.d.], p. 447-461.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Novos escritos dos cárceres: uma análise de caso. Luiz Alberto
Mendes, Memórias de um sobrevivente. Estudos de literatura brasileira contemporânea:
Literatura e testemunho. Brasília. n. 27.p. 35-58. 2006
______. Violência, Encarceramento, (In) Justiça: Memórias de histórias reais das prisões
paulistas. Revista Letras, nº 43. São Paulo: UNESP, 2003, p. 29-47.
SKLODOWSKA, Elzbieta. ¿Ventriloquia o heteroglosia? (Barnet/Montejo; Burgos/Menchú).
Revista de Crítica Literaria Latinoamericana. [s.l.], Ano 19, Nº 38. 1993, p.81-90. <
http://www.jstor.org/stable/4530675 > Acesso em: 30/11/2012
YÚDICE, George. Testimonio y concientización. Revista de Crítica Literaria Latinoamericana.
[s.l.], Ano 18, Nº 36, La voz del Outro: Testimonio, Subalternidad y Verdad Narrativa. 1992,
p.211-232. < http://www.jstor.org/stable/4530631>. Acesso em: 30/11/2012.
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Descendência Indígena na Colônia Z-3 – Pelotas, RS
Letícia Nörnberg Maciel 254
Lidorine Gama Crispa255
Palavras-chave: Memória. Narrativa. Colônia Z-3. Dualismo. Descendência. Indígena.
Introdução
O presente trabalho foi inicialmente desenvolvido na disciplina de Etnologia Ameríndia do
curso de Bacharelado em Antropologia no ano de 2010 e retomado no corrente ano. Trata-se
de uma etnografia que teve seu foco nas narrativas apresentada pelo senhor Estale de Souza,
descendente indígena, pescador e morador da Colônia Z3 da cidade de Pelotas-RS. Durante o
desenvolvimento da mesma, foi analisada a construção da identidade a partir do discurso do
indivíduo, o qual partia do presente momento e ia em direção a sua infância no distrito de
Povo Novo-RS, de forma que a sua descendência indígena era utilizada para legitimar ações no
presente, tal como o manejo da horta e os cuidados com o seu jardim.
Durante a narrativa, Estale descreve a localidade em que morava em Povo Novo onde as casas
seriam organizadas de forma circular, sendo a estrada a divisória entre as duas metades desta
organização. De um lado moravam os Souza, descendentes indígenas de acordo com este
senhor e, do outro, os que não eram descendentes. Desta forma, baseando-nos nesta
descrição, utilizamos como principal referência o trabalho do antropólogo Claude Levi-Strauss
sobre organizações dualistas, apresentado no texto “As organizações duaslistas existem?”
presente no livro Antropologia Estrutural, o qual apresenta o dualismo como constituído por
duas metades opostas e não necessariamente simétricas, mas divididas territorialmente (LEVI-
STRAUSS, 1996).
O trabalho justifica-se, portanto, na análise dos usos do passado na construção do presente,
ou seja, a memória oral serviria como base para legitimar valores e hábitos atuais do indivíduo.
Metodologia e resultados
Nesta etapa, de fundamental importância para o resultado final da pesquisa, utilizou-se da
investigação qualitativa, uma vez que a mesma consiste essencialmente em estudar e interagir
com as pessoas em seu terreno, através da sua linguagem, sem recorrer a um distanciamento
que levaria ao emprego de formas simbólicas e estranhas a seu meio. Contudo, durante a
análise do material resultante do campo, utilizamo-nos do modelo interpretativista de
etnografia proposto por Frederick Erickson, no qual a investigação incidirá no modo como os
atores sociais desenvolvem e mantém as suas relações entre comportamento e sistemas de
significados (Lessard-Hébert et al, 2008, p.39-41).
Para a compreensão da construção de identidade do senhor Estale de Souza, baseamo-nos em
Geertz quando ele afirma que a noção de pessoa é explicada por um modelo em espiral,
254
Acadêmica do curso de Bacharelado em Antropologia/Arqueologia, UFPel, [email protected]
255 Acadêmica do curso de Bacharelado em Antropologia/Arqueologia, UFPel, [email protected]
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também chamado de “circulo hermenêutico” por Dilthey, onde utiliza-se da visão da
totalidade através das várias partes que a compõem para compreender a visão das várias
partes da totalidade que são a causa de sua existência, e vice-versa (Geertz, 1997, p.105).
Buscamos compreender como é a maneira de viver do indivíduo de forma geral e quais seriam
os veículos através dos quais esta forma de viver se manifesta.
Além disso, em campo, os materiais utilizados foram gravadores e câmeras fotográficas.
Conclusões
Os resultados alcançados até o momento reforçam as hipóteses iniciais, primeiro sobre os usos
da memória para legitimar o presente e, segundo, sobre a herança indígena no distrito de
Povo Novo – embora este não tenha sido o foco principal quando iniciamos o trabalho com o
senhor Estale. Desta forma, sua narrativa também contribui para a construção da memória
oral do distrito citado, contudo faz-se importante mencionar que não nos deslocamos até Povo
Novo, baseamo-nos apenas na narrativa de Estale e levantamentos arqueológicos e históricos
da localidade.
Tratamos aqui dos levantamentos e resultados alcançados até o presente momento, porém a
pesquisa segue em andamento.
Referências
CARLE, M. B. Investigação Arqueológica em Rio Grande: Uma proposta da ocupação Guarani
pré-histórica no Rio Grande do Sul. 2002. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de
Pós-Graduação em História, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre.
DURKHEIM, E. Representações individuais e representações coletivas. In: Sociologia e filosofia.
São Paulo: Editora Ícone, 2004, p. 9-43.
GOFFMAN, Erving. Estigma e Identidade Social. In: Estigma: Notas sobre a manipulação da
identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982, p.11-50.
GEERTZ, Clifford. “Do ponto de vista do nativo”: A natureza do entendimento antropológicos.
In: O saber local. Petrópolis: Vozes, 1997, p.85-107.
LEMOS, Maria T. T. B.; MORAES, Nilson A. Subjetividade, Alteridade e Memória Social em Ruth
Landes. In: Memória, Identidade e Representação. Rio de Janeiro: Editora 7letras, 2000, p. 40-
58.
LESSARD-HÉBERT, M. et al. Questões de paradigmas e de linguagens. In: Investigação
Qualitativa: fundamentos e práticas. Lisboa: Instituto Piaget, 2008, p. 31-62.
LEVI-STRAUSS, Claude. As Organizações Dualistas Existem? In: Antropologia Estrutural. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996, p. 155-192.
TURANO, Maria R. Memória e Identidade nos Contos de Teixeira de Sousa (para uma
antropologia da literatura). In: Memória, identidade, sincretismo na Diáspora literária
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caboverdiana em Lisboa. Tese (Doutorado em Antropologia) – Unversidade de Lecce. Itália,
2000, p. 224-236.
VENSON, Anamaria M.; Pedro, Maria J. Memória como fonte de pesquisa em história e
antropóloga. História Oral, v.15, n. 2, p. 125-139, jul.-dez. 2012.
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A imigração judaica em Porto Alegre: Memória e Representação através do Pessach, Roshá Shaná e
Iom Kipur.
Daniela Feter¹
Palavras-chave: Imigração judaica. Identidade cultural. Manifestações culturais.
Introdução
O presente estudo teve como objetivo geral investigar com a cultura judaica, através de suas
festas, é mantida na atualidade em Porto Alegre. Ainda, como objetivo especifico, pretendeu i)
averiguar os motivos da imigração judaica para Porto Alegre a partir do principio do século XX,
formando o Bairro Bom Fim, ii) analisar a dificuldades de adaptação que os imigrantes tiveram
no decorrer do tempo na cidade de Porto Alegre e iii) verificar como a cultura, e a identidade
judaica, embasada nas três festividades, é percebida na atualidade em Porto Alegre. Esta
pesquisa se justifica por ser um modo de preservar a memória do povo judeu, através de uma
pesquisa cientifica. Para isso, buscou-se na literatura embasamento teórico sobre o assunto,
onde autores como Durkheim, Ecléa Bosi, Fredrik Barth, Jacques A. Wainder, Gladis Wiener
Blumenthal, entre outros. O estudo iniciou-se em março de 2008 e teve seu término em
dezembro do mesmo ano.
Metodologia
Esta pesquisa apresenta abordagem qualitativa privilegiando estudo de caso. Foram realizadas
analises documentais (certidões, fotos e mapas), material bibliográfico já existente e
entrevistas semiestruturadas com um líder espiritual em Porto Alegre.
Resultados
A pesquisa bibliográfica evidenciou uma gama de dados relevantes sobre a memoria judaica na
literatura estudada. Fatos sobre a história e geopolítica foram uteis na compreensão dos
movimentos imigratórios do povo judeu ao longo dos séculos. Além disso, identificou-se a
primeira colônia judaica no Estado do Rio Grande do Sul, localizada nas terras de Pinhal, no
município de Santa Maria, fundada em 1904. Descobriu-se ainda que, em busca de uma vida
mais estável, seja para os estudos como economicamente, as famílias judias deixaram as
colônias e se mudaram para a capital do Estado, Porto Alegre, onde se alojaram na Avenida
Bom Fim, localizada no Bairro Bom Fim, na década de 1920. Desde então, este se tornou um
local da cidade muito relevante para a cultura judaica, visto que nele estão localizadas as
principais instituições religiosas e culturais. Ainda, através de entrevista semiestruturada, foi
possível buscar informações sobre a liturgia, ou seja, processos que são realizados dentro da
cultura judaica, em datas festivas e importantes que compõem seu calendário, como o Rosh
Hashaná (ano novo judaico), Yom Kipur (Dia do Perdão) e o Pessach (A considerada a páscoa
judaica, por ser geralmente celebrado perto da Páscoa Cristã). Ainda, segunda a entrevista
cedida pelo guia espiritual, é importante o papel do jovem judeu, na tarefa da conservação e
manutenção da memória judaica para as próximas gerações, e isso deve ser feito com o
simples fato de ouvir os idosos, para que assim ocorra a transmissão do conhecimento e
memória da historia e cultura judaica.
Conclusão
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Em síntese, o estudo conclui, com base na pesquisa bibliográfica e na entrevista, que as
dificuldades encontradas pelos imigrantes judeus contribuíram para preservar a cultura e a
religião. Ainda, pode-se perceber que a religião judaica é mantida hoje pela prática religiosa
diária. Percebeu-se também que a festividades que aqui foram estudadas não se modificaram,
o que mudou foi a mensagem que elas passariam a transmitir.
Referências
BARTH, F. Grupos Étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, P. Teorias da etnicidade. Seguido
de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth, Philippe Poutignat, Jocelyne Streiff-
Fenard. Tradução de Elcio Fernandes. São Paulo: UNESP, 1998.
BOSI, Ecleia. Memoria e Sociedade: Lembrança de Velhos. São Paulo, SP: Editora Companhia
das Letras, 1994.
BLUMENTAL, Gladis Wiener ( organizador). Em terras gaúchas – a história da imigração judaica
alemã. Porto Alegre, RS: Ed. Sociedade Israelita Brasileira de Cultura e Beneficência (SIBRA),
2001.
EIZIRIK, Moysés Aspectos da vida judaica no Rio Grande do Sul. Caxias do Sul, RS: Ed da
Universidade de Caxias do Sul, 1984.
EIZIRIK, Moysés. Imigrantes Judeus –Relatos, crônicas e perfil. Caxias do Sul, RS: Ed da
Universidade de Caxias do Sul, 1986.
GILL, Lorena Almeida. Clientelchiks: os judeus da preservação em Pelotas ( RS): 1920-1945.
Pelotas, RS: Ed. Universitária UFPEL, 2001.
GUTFREIND, Ieda. A imigração judaica no Rio Grande do Sul: Da memória para a história. São
Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 2004.
WAINBERG, Jacques. A. Cem anos de amor: A imigração judaica no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, RS: Ed. Federação Israelita do Rio Grande do Sul, 2004.
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“A gente aprendeu brincando”: narrativas sobre o modo de fazer Jurupiga
Helissa Renata Gründemann256
Lorena Almeida Gill257
Palavras-chave: Jurupiga. Ilha dos Marinheiros. Patrimônio Imaterial. História Oral. Rio
Grande.
Introdução
Este trabalho é baseado nas pesquisas feitas para o projeto de mestrado “O modo de fazer
Jurupiga: Memória, identidade e patrimônio na Ilha dos Marinheiros (Rio Grande/RS)”. A
bebida é um patrimônio imaterial do município de Rio Grande e essa comunicação se baseia
na narrativa do produtor Hermes da Silva Dias. Para a apresentação desse trabalho se busca
compreender o impacto que a geração da lei, a qual registra a bebida como patrimônio
imaterial da cidade, teve na comunidade, a fim de continuar a contribuir para a salvaguarda
deste modo de fazer assim como para melhor compreender o caráter de referência cultural e
identitária da bebida para os ilhéus.
A Jurupiga é uma bebida feita a base de uva, sendo produzida na Ilha dos Marinheiros, 2º
distrito de Rio Grande. A bebida quase foi extinta, pois a família Dias em 2010 foi intimada
pelo Ministério da Agricultura, que exigia que a produção se enquadrasse nas normas de
produção de bebida alcoólica industrial, o que significaria a completa descaracterização do
modo de fazer e implicaria em uma carga tributária que acabaria os levando a falência.
Sabendo disto, a partir de um projeto de extensão258 onde as pesquisas revelaram o caráter de
referência cultural da bebida na Ilha, buscou-se junto à prefeitura uma lei que registrasse esta
produção artesanal como Patrimônio Cultural Imaterial do município de Rio Grande,
salvaguardando então esta produção que também é o sustento da família Dias. A lei
6.972/2010 foi concretizada alguns meses depois do primeiro contato com a prefeitura e a
família conseguiu seguir produzindo a bebida.
De forma geral, entende-se por Patrimônio Imaterial “as criações culturais de caráter dinâmico
e processual, fundadas na tradição e manifestadas por indivíduos ou grupos de indivíduos
como expressão de sua identidade cultural e social” (CAVALCANTI; FONSECA, 2008, p.12). Já o
conceito de Referência Cultural é básico para compreender o que é o Patrimônio Imaterial,
pois ele considera que o importante não é o objeto em si, mas sim o modo de fazê-lo,
interpretá-lo, vivenciá-lo; o significado atribuído a ele pelos sujeitos (FONSECA, s/d, p.112).
256
Graduada em História Bacharelado pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG), mestranda e
bolsista CAPES pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pelotas
(UFPel), [email protected]
257 Doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS),
Professora na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), [email protected]
258 Projeto de extensão “O modo de fazer jurupiga:inventario, registro e salvaguarda de uma produção
artesanal”, inserido no programa de extensão Comunidades-FURG (COMUF).
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Assim, também serão utilizados conceitos de memória e identidade, sendo entendido que
“memória e identidade estão indissoluvelmente ligadas” (CANDAU, 2012, p.9-10); e que “*...] a
memória é um fenômeno construído. Quando falo em construção, em nível individual, quero
dizer que os modos de construção podem tanto ser conscientes como inconscientes” (POLLAK,
1992, p.204).
Metodologia e resultados
A metodologia utilizada foi a da História Oral, entendida como “um processo de registro de
experiências que se organizam em projetos que visam formular um entendimento de
determinada situação destacada na vivência social” (HOLANDA&MEIHY, 2011, p.64). A
entrevista com Hermes, 46 anos, deu-se a partir de um roteiro básico com trinta e seis
questões. Hermes é um narrador experiente, pois já tem muita prática em conversar sobre a
jurupiga e explicar o modo de fazer para o público consumidor da bebida. A entrevista durou
cerca de cinqüenta minutos, com as perguntas versando, principalmente, sobre as nuances do
modo de fazer. O que se pode interpretar da entrevista é que o modo de fazer realmente não
possui uma “receita” fixa, sendo importante tratar das diferenças entre cada produtor; que
houve modificações nos materiais utilizados para a produção ao longo das décadas; e que a lei
colaborou tanto no sentido prático, de oferecer alguma segurança para os produtores, assim
como serviu para valorizar a produção, o que estimulou e fortaleceu a produção na Ilha.
Conclusões
Percebe-se pela narrativa de Hermes o caráter identitário que a bebida possui, a seu ver
enquanto referência cultural não só para a Ilha como para o município. A lei apenas
reconheceu e valorizou isto, incentivando os próprios riograndinos a também notarem e
valorizarem. Pode-se perceber que a identidade dos ilhéus, relacionada à jurupiga, também se
fortalece com a lei. Quanto maior for a aceitação e o reconhecimento da sociedade (seja a
Universidade, o poder público, ou o público consumidor), mais ela tem se fortalecido dentro
da Ilha.
Fontes Orais:
- Entrevista realizada pela autora com o senhor Hermes da Silva Dias, em 29/07/2013, no
galpão da casa da família Dias local onde a Jurupiga é produzida.
Referências
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CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro; FONSECA, Maria Cecília Londres. Patrimônio
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10, p.200-215, 1992.
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O centenário da imigração alemã (1924) e suas representações em almanaques
Imgart Grützmann259
Palavras-chave: Comemorações. Representações identitárias. Centenário da imigração alemã.
Almanaques em língua alemã.
Introdução
No ano de 1924 transcorreu o centenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul, o qual
ensejou comemorações e também publicações em língua alemã e portuguesa, entre as quais
se destacam: Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul (Cem anos de germanidade no
Rio Grande do Sul), organizado pelo padre jesuíta Theodor Amstad e publicado em 1924; A
colonização germânica no Rio Grande do Sul, de Ernesto Pellanda, editado em 1925. A
passagem do centenário também foi objeto de reflexão em jornais de língua alemã, entre eles
o Deutsche Post (Correio Alemão) de São Leopoldo e Neue Deutsche Zeitung (Nova Folha
Alemã) de Porto Alegre, por meio da edição de matérias específicas e/ou cadernos temáticos
alusivos à comemoração. O centenário ainda encontrou espaço em almanaques de língua
alemã editados no Brasil e na Argentina, demonstrando, assim, que o centenário era
representativo para editores deste tipo de impresso. Por meio da publicação de diversas
formas simbólicas (THOMPSON, 1999), os editores de almanaques veicularam representações
acerca dos imigrantes e de seus descendentes e do processo imigratório ao longo de cem anos
ao público leitor alvo destes periódicos.
No presente trabalho, pretende-se analisar algumas representações veiculadas pelos
almanaques acerca da imigração e colonização alemã no Brasil e averiguar as razões de seu
acionamento. Para tanto, serão analisadas as formas simbólicas relativas ao centenário
integrantes dos seguintes almanaques: Der Familienfreund. Katholischer Hauskalender und
Wegweiser für das Jahr…(O amigo das famílias. Almanaque católico para o lar e guia para o
ano...), Koseritz’ deutscher Volkskalender für Brasilien (Almanaque popular alemão do Koseritz
para o Brasil), Kalender für die Deutschen in Brasilien (Almanaque para os alemães no Brasil),
Kalender für die deutschen evangelischen Gemeinden in Brasilien (Almanaque para as
comunidades evangélicas alemã no Brasil), Uhle’s Kalender (Almanaque do Uhle), todos
editados no Brasil e Förster’s illustrierter Familien-Kalender für die Deutschen der La Plata-
Staaten (Almanaque familiar ilustrado do Förster para os alemães dos estados de La Plata).
Metodologia e resultados
259
Graduada em Letras – Licenciatura português-inglês/UCPel. Doutora em Letras/PUCRS com estágio-
sandwich (1993-1995) no Institut für Kulturantropologie und europäische Ethnologie da Johann
Wolfgang Goethe – Universität Frankfurt am Main. Estágio pós-doutoral (2004-2006) junto ao Programa
de Pós-Graduação em História da UNISINOS. Estágio pós-doutoral em andamento junto ao Programa de
Pós-Graduação em Letras da UFRGS. Professora-pesquisadora do Centro de Letras e Comunicação da
UFPel. E-mail: [email protected]
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Após o levantamento, leitura, fixação e classificação das formas simbólicas, entre elas
matérias, poemas, contos e histórias de vida, publicadas em cada almanaque efetuou-se a sua
análise a partir de pressupostos teórico-metodológicos da história cultural, especialmente a
questão das representações sociais. As representações, conforme salienta Roger Chartier
(1990, p.17), são construídas a partir de “classificações, divisões e delimitações que organizam
a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de apreciação do
real”, as quais, segundo evidencia Sandra Pesavento (2004, p.39) “não só se colocam no lugar
deste mundo, como fazem com que os homens percebam a realidade e pautem a sua
existência. São matrizes geradoras de condutas e práticas sociais, dotadas de força integradora
e coesiva, bem como explicativa do real.” Na análise das formas simbólicas levou-se também
em consideração a sua inserção na imprensa. Os almanaques eram meios de comunicação,
editados anualmente, com linhas editoriais bem definidas e pautados por intenções didático-
pedagógicas e moralizantes que, por sua vez, decorriam dos ideários a que esses periódicos
estavam vinculados. Questões que remetem à importância do meio de comunicação na
transmissão e na construção de sentidos, conforme salienta Roger Chartier (2002, p.71): “não
há texto fora do suporte que o dá a ler (ouvir) e que não há compreensão de um escrito, seja
qual for, que não dependa das formas nas quais ele chega ao seu leitor.” Por isso, o corpus em
análise nesta comunicação, bem como as representações nela veiculadas, foram analisadas em
seu suporte material, levando-se em consideração a filiação institucional e ideológica e os
propósitos norteadores destes impressos. Outro aspecto observado na análise refere-se ao
fato de que festas e comemorações não são apenas veículos de enquadramento (POLLAK,
1989) de determinadas memórias como forma de assegurar uma continuidade com o passado,
atuando como momentos de afirmação e reiteração de certas identidades, mas também um
momento de reapropriação do passado para uma projeção futura (SILVA, 2002).
Conclusões
Análise da formas simbólicas evidenciou que predominam representações positivas da
imigração centradas no trabalho desbravador do imigrante, de conotações míticas, na sua
fidelidade aos valores dos antepassados e aos marcadores identitários. Visam atuar como
forma de integração interna e diferenciação externa, especialmente no que tange à afirmação
da germanidade (Deutschtum) na década de 1920.
Referências
ASSMANN, Jan. Das kulturelle Gedächtnis. München: Beck, 1999.
CHARTIER, Roger. A história cultural. Entre práticas e representações. Lisboa: Difel; Rio de
Janeiro: Bertrand, 1990.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia. A história entre certezas e inquietudes. Porto Alegre:
Editora da Universidade/UFRGS, 2002.
GEBHARDT, Winfried. Feste, Feier und Alltag. Frankfurt am Main: Peter Lang, s.d.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
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PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, v.2, n. 3, 1989, p.3-15.
POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade. São Paulo : Fundação
Editora da UNESP, 1998.
SILVA, Helenice Rodrigues da. Rememoração/comemoração: as utilizações sociais da memória.
Revista Brasileira de História, v.22, n.44, 2002, p.425-438.
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de
comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1999.
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Cartas ex-votivas: histórias de vidas, memórias social e comunicação
José Cláudio Alves de Oliveira260
Palavras-chave: Ex-votos. História de Vida. Memória Social. Discurso. Comunicação.
Introdução
O intuito do artigo é analisar alguns aspectos dos bilhetes e cartas ex-votivos, encontrados e
documentados em salas de milagres dos santuários do Brasil e México. O trabalho parte de
dados coletados dos Projetos Ex-votos do Brasil e Ex-votos das Américas, em andamento, que
objetivam identificar, catalogar e iconografar a rica tipologia dos ex-votos no Brasil e Américas.
Aqui, o recorte tem por objetivo falar das cartas e bilhetes ex-votivos como fontes para a
informação e a memória social, por serem ricas fontes para o estudo da história local, regional
e nacional, por tratarem, a partir de discursos, de fatos e acontecimentos, íntimos ou coletivos,
narrados por “pagadores de promessas”.
O ex-voto é um objeto colocado através da desobriga em salas de milagres de igrejas e
santuários católicos, em formas variadas de bilhetes, esculturas, quadros pictóricos,
fotografias, mechas de cabelo, CDs, DVDs, monóculos, enfim uma infinidade de objetos que
ficam no espaço denominado “de milagres”, e que também se podem ver em cruzeiros,
cemitérios e, quando coletados e classificados, em museus específicos.
Em um dicionário da língua portuguesa encontra-se a seguinte definição: “Quadro, imagem,
inscrição ou órgão de cera ou madeira etc., que se oferece e se expõe numa igreja ou numa
capela em comemoração a um voto ou promessa cumpridos”. (FERREIRA, Apud OLIVEIRA,
2012).
Metodologia e resultados
O artigo advém de pesquisa que se desenvolve através da observação sistemática, do estudo
tipológico, iconográfico (fotografias e gravuras) e analítico, a partir de pesquisa in locus nos
museus e salas de milagres do Brasil e México; utiliza também do estudo bibliográfico; da
digitalização, que são procedimentos que dão apoio às análises do discurso, da semiótica, da
iconografia e iconologia, assim sendo quando o objeto for escrito, imagético, industrializado
ou abstrato. Aqui, o recorte, buscando o campo metodológico, dar-se-á pelo viés discursivo,
quando se busca a análise das carta e bilhetes ex-votivos.
Conclusões
No curso do texto alguns exemplos que ilustrarão o potencial desse documento, media ou
simplesmente testemunho social, o bilhete ou carta ex-votiva, como no caso do ex-voto da Sra.
Antônia, em Canindé, Ceará, (Figura 1) que narra a sua história de vida sinteticamente ao
mostrar o seu percurso para pagar uma promessa, inclusive se dirigindo “ao leitores”.
260
Professor do PPG Museologia da Universidade Federal da Bahia. Pesquisador do CNPq, CAPES e
FAPESB, Coordenador do Núcleo de Pesquisa dos Ex-votos, da FFCH-UFBA. [email protected]
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Como base, estão autores dos campos da memória, como Bérgson, Vovelle e Jacques Le Goff;
da comunicação, Luiz Beltrão e José Marques de Melo, e da Museologia, a pesquisadora Maria
Augusta da Silva. Orlandi, traz uma base para a argumentação sobre a análise do discurso, que
faz parte das narrativas dos denominados “ex-votos bibliográficos”.
Parnaíba-Pí, 17 de Junho de 1983 QUERIDOS LEITORES:
Aos 3 anos e 5 Meses e 5 Dias que tinha sido operada do Coração, tive uma crise muito forte de dores no coração e desmaios. Fiquei muito doente, e toda a família ficou preocupada. Um dos membros da minha família sentindo-se muito aflita, depois de uma crise muito forte que tive, dirigiu-se ao SÃO FRANCISCO e pediu com muita fé e amor a graça de ‘eu’ ficar boa. Passando aquelas crises que abalava a todos, depois de (3) Três dias que o médico de coração Dr. FRANCISCO XAVIER afirmava-me que o coração estava normal.
Hoje é dia de Meu Aniversário e vim passar com SÃO FRANCISCO e fazer minhas penitências que prometí. Estou acompanhado de minhas duas filhas, sendo uma de (2) Dois Anos e outra de (1) um Aninho. MINHAS PENITÊNCIAS SÃO: Pedir esmola para chegar aqui. Entrar na igreja, ajoelhada e acompanhada por minhas filhas. Rezar (3) Três Terços. Confessar-me e comungar no dia de meu Aniversário passando a parte do dia na Igreja. Agradecer ao meu Santo protetor a todas as graças por mim recebidas. Deixar um coração de madeira na casa dos milagres. ______________________ Antonia Gomes Rodrigues (sic) (
261)
Figura 1. Ex-voto da Sra. Antônia. Documentado em 2007 em Canindé, Ceará, Brasil
Busca-se situar algumas questões relativas à gramática da escrita e aos suportes, que trazem
características marcantes de uma rica tradição latina de longa duração, que almeja a relação
entre o crente e o ente superior, elucidada a partir de cartas e bilhetes documentados em
salas de milagres pelo Brasil e México, que retratam a voz de pessoas que passaram por
diversas situações, e que buscaram o “espaço dos milagres” para se apresentarem, não
somente ao santo padroeiro, mas também ao observador que apreenderá o universo de
histórias advinda do processo comunicacional dos ex-votos.
Referências
BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito.
Tradução de Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 291 p. il.
BÓSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: T.A. Queiroz, 1979. 402
p. il. (Biblioteca Letras e Ciências Humanas)
261 Transcrição ipsis litteris. Grifos do autor deste texto.
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BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: Teoria e Metodologia. São Bernardo do Campo: UMESP,
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LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: UNICAMP, 1996. 546 P.
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VOVELLE, Michel. Ideologia e mentalidades. São Paulo: Brasiliense, 1987. 417
Sites e blogs:
Ex-votos das Américas, no www.ex-votosdasamericas.net
Núcleo de Pesquisa, no www.nucleodepesquisadosex-votos.org
Projeto Ex-votos do Brasil, no http://projetoex-votosdobrasil.net/
Projeto Ex-votos do Brasil, no http://ex-votosdobrasil.blogspot.com
Facebook: http://www.facebook.com/ProjetoExVotos
Flickr: http://www.flickr.com/photos/ex-votosdobrasil/
Twitter, no http://twitter.com/exvotosdobrasil
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Reforma Alfabética e as sobras da passagem humana sobre a Terra
André Winter Noble 262
Renata Azevedo Requião263
Palavras-chave: escritura. gestualidade. perda do gesto. memória e esquecimento. Reforma
Alfabética. graphein.
Introdução
Graphein é palavra de origem grega, essencialmente associada aos atos de escrever e pintar.
Mas se graphein corresponde a esses gestos, marcadamente manuais, é sobretudo como
sinônimo de escritura, palavra referente a toda sorte de rastros deixados pelo homem sobre a
Terra, que ela mais nos interessa aqui. Corpo esse capaz de conquistar, pela mimesis, o
desenho, e, com essa avançada tecnologia, capaz de criar e adquirir a linguagem escrita, num
complexo exercício de abstração da natureza e de construção da cultura. Assim nos parece
esse rastro particular que é a escrita humana. Interessa aqui, a conquista da gestualidade
caligráfica e, devido a sua mutação, a gradativa perda dessa movimentação tão recentemente
adquirida pela espécie humana.
Considerado o Campo da Arte, caberia pois, ao artista, intrometer-se nesse processo de
extinção do gesto, e, na tentativa de subverter a tendência atual, trabalhar em prol do não-
apagamento da prática gestual em um período de escrituras tecladas. Trazemos, pois, para
essa conversa, questões particulares da poética de Cy Twombly, “operador de gestos”, para
pensarmos sobretudo na obra gráfica, caligráfica, intitulada Reforma Alfabética, proposta pelo
artista gaúcho radicado em Pelotas, André Winn.
Tal reflexão se dá, a partir da proposição de Roland Barthes de “distinção entre a mensagem,
que quer produzir uma informação, o signo, que quer produzir uma intelecção, e o gesto, que
produz todo o restante (o “suplemento”) sem querer obrigatoriamente produzir alguma
coisa”, sobre o trabalho de Twombly. Segundo o teórico, o artista é um “operador de gestos”,
e ele “quer e, ao mesmo tempo, não quer produzir um efeito” (BARTHES, 1990, p. 146).
As reflexões aqui apresentadas têm sido desenvolvidas associadas ao projeto de pesquisa de
longa duração, iniciado em 2006, registrado nesta universidade sob o título Poéticas
Contemporâneas: produção de leituras, produção de escrituras, produção de sentidos, e ao
Grupo de pesquisa, registrado também no CNPq, intitulado Artefatos para leitura e construção
do “pequeno território”, ambos coordenados pela profª drª Renata Azevedo Requião. Afora
262 graduação: Licenciatura em Artes Visuais; filiação: mestrando em Artes Visuais e bolsista CAPES /
Processos de Criação e Poéticas do Cotidiano, PPG–Artes Visuais / UFPel; email:
263 graduação: Licenciatura em Letras; Arquitetura e Urbanismo; pós-graduação: mestrado Letras /
Literatura Brasileira; doutorado Letras / Literatura Comparada; pós-doutorado Letras / Poesia no Brasil
Contemporâneo ]1970-2010[; filiação: Professora doutora, PPG–Artes Visuais / UFPel; email:
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isso, são resultado do processo de formação proposto pelo PPG – Artes Visuais, desta
universidade, com ênfase nas poéticas contemporâneas.
Metodologia e resultados
Associado ao trabalho poético em destaque, apresentamos aqui discussão sobre o próprio
gesto, como uma espécie de "complemento de um ato", para citar novamente Roland Barthes,
sendo "a soma indeterminada e inesgotável das razões, das pulsões, das preguiças que
envolvem o ato em uma atmosfera" (BARTHES, 1990, p. 145-146). Particularizado no gesto
caligráfico, no aprendizado da escrita.
Em oposição a esse gesto, Graphein, surge como resultado de toques e apertos de botões que
sequer existem, aproximando-nos, de certo modo dos antigos mesopotâmicos que apertavam
seus carimbos cuneiformes sobre placas de argila. Aqui, porém, vivemos num mundo
superpovoado, em permanentes tensões, no qual o consumo se coloca como um acelerador
do tempo, apagando as possibilidades de permanência de certas tradições e repetições.
Entre a recuperação do gesto e o aprendizado do graphein, o homem vive hoje entre
logomarcas que sobredeterminam nosso desejo. Valendo-se dos tantos brasões comerciais,
sob cujo império vivemos, foi proposto o trabalho Reforma Alfabética. Obra de arte e exercício
de reflexão, que vai ao encontro da perda da gestualidade caligráfica e corporal, motivada
sobretudo pela praticidade e sedentarismo anunciados e ofertados pelas novas tecnologias e
suas corporações promotoras. Hoje, se a “maçã mordida” é marca-símbolo de poder aquisitivo
e intelectual, de atualização de seu proprietário, ela entretanto alimenta nosso mercado de
consumo.
Vê-se na construção de Reforma Alfabética, as marcas e as identidades visuais, cujas imagens
são facilmente encontradas na internet. Elas são então vetorizadas, e assim viram matrizes que
podem ser aplicadas. Esse é uma etapa do jogo de subversão entre assinatura e cópia. Às
novas matrizes recebem o exercício de escrita caligráfica que por sua vez será digitalizada e
fotocopiada. Há um contínuo trabalho com o controle da gestualidade frente aos limites
impostos pelo virtual, permitindo lidar então com questões próximas à perda do gesto original.
Conclusões
Reforma Alfabética, obra composta através de marcas e ícones de propagandas oriundas dos
diversos meios de comunicação, vem a criticar as novas formas de estar no mundo, um mundo
virtual-televisivo, no qual as famílias se dispõem à mercê das informações aí divulgadas e
propaladas, seus modos e conselhos, sua ética e suas configurações. Seu redesenho propõe
um retorno ao gesto caligráfico como forma de apreensão das coisas do mundo. O mundo do
consumo sendo reapropriado por cada homem, em sua própria medida.
Referências
BARTHES, Roland. “Cy Twombly ou Non Multa sed Multum”. In.: O óbvio e o obtuso: ensaios
críticos III. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 143-160
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Questões fundamentais sobre o Esquecimento
Ana Inez Klein264
Palavras-chave: Memória. História. Esquecimento. Literatura.
Introdução
O trabalho corresponde ao aprofundamento de uma questão apresentada na tese de
doutoramento da autora intitulada “Fronteiras de Cristal”, que propõe analisar o tema do
esquecimento, tal como proposto pelo hermeneuta Paul Ricoeur, no texto ficcional de Jorge
Luis Borges intitulado “Funes, o memorioso”.
Trata-se de um exercício teórico que utiliza o texto literário para refletir sobre o conceito de
memória e aprofundar questões ligadas à relação entre a Memória e a História, considerando
uma problemática essencial da memória, que é o esquecimento. Os objetivos gerais da análise
são mostrar a possibilidade de diálogo entre a História e a Literatura e, concomitantemente,
discernir a memória da história. Especificamente, busca-se atentar para a indissociabilidade
entre a Memória e o Esquecimento.
Metodologia e resultados
Para proceder à análise buscou-se compreender as ideias de Paul Ricoeur sobre o tema da
memória e do esquecimento para, então, cotejá-las com o conto do autor argentino Jorge Luis
Borges, cujo protagonista, chamado Funes, é despossuído da capacidade de esquecer.
Conclusões
Como resultado da análise, pode-se aprofundar o estudo da memória e do esquecimento, tão
caros à historiografia contemporânea e atentar para esta característica fundamental da
memória que é o esquecimento, constitutiva do próprio conceito de memória.
Referências
BORGES, Jorge Luis. Funes o Memorioso in Ficções, Jorge Luis Borges, Rio de Janeiro: Editora
Globo, 1989.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução. Alain François et. al.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.
264
Graduada em História pela UFSM, Doutora em História pela UFRGS, Professora do Departamento de
História da UFPEL, [email protected].
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Narrar, lembrar e esquecer : aposentadoria, envelhecimento e memória coletiva entre ferroviários e
policiais militares aposentados
Rojane Nunes265
Régis Brum266
Palavras-chave: aposentadoria; envelhecimento; memória coletiva; narrativa;
Introdução
Ao considerar o processo de aposentadoria enquanto uma ruptura espaço-temporal com o
mundo trabalho, este texto analisará as narrativas e as práticas cotidianas empreendidas por
ferroviários e policiais militares aposentados a fim de restabelecerem a continuidade na ordem
social, apesar das descontinuidades instauradas por essa ruptura.
As reflexões que serão apresentadas nesse texto, revisitam uma dissertação de mestrado,
realizada entre 2009 e 2010, entre ferroviários aposentados da Rede Ferroviária Federal
Sociedade Anônima (RFFSA) e dialogam com dados preliminares do projeto de mestrado a ser
desenvolvido entre policiais militares aposentados.
Metodologia e resultados
O estudo antropológico realizado entre esses atores sociais, a partir de uma pesquisa
etnográfica, com vistas a uma “etnografia da duração” (Eckert e Rocha, 2005) e através de um
diálogo interdisciplinar, aponta a centralidade do fenômeno da memória coletiva no processo
de vivenciar a aposentadoria.
Por outro lado, através da coleta e análise de narrativas biográficas, foi possível perceber as
suas implicações no processo de envelhecimento, que tende a ser vinculado, por diferentes
atores, campos e agentes, ao processo de aposentadoria, que nos termos de Pierre Bourdieu
(2000), pode ser considerado enquanto um “rito de instituição”.
Desse modo, a memória, em sua dimensão tanto individual quanto coletiva (Halbwachs, 2006),
apoiada no ato de narrar, lembrar e esquecer (Pollak,1989), revela-se enquanto o fluxo de um
tempo lacunar, consistindo, desse modo, no esforço de criar a continuidade sobre a
descontinuidade temporal (Bachelard, 1996; Eckert e Rocha, 2005).
Conclusões
Constata-se a partir das narrativas biográficas dos ferroviários e policiais militares
aposentados, a circularidade entre tempo e narrativa (Paul Ricouer, 1991) bem como a
circularidade entre a narrativa e a experiência (Benjamin, 1993).
265 Cientista Social, Mestre e doutoranda em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. [email protected]
266 Fisioterapeuta, Especialista em Terapia Manual, Instituto de Educação Superior de Santo Ângelo.
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Percebe-se por outro lado, a incidência das instituições estatais, nas quais eles traçaram as
suas trajetórias sociais e profissionais, na arte de significar e vivenciar o tempo, na medida em
que estas configuram modelos e estratégias de autodisciplina e controle dos ritmos temporais.
Nesse sentido, as memórias em torno do trabalho, narradas por esses interlocutores —
embora demonstrem que o tempo é “vibração e hesitação” (Bachelard, 1994), assumindo uma
feição lacunar — revelam, nas suas “configurações discursivas”, sobretudo, a representação de
um tempo histórico, linear e diacrônico.
Constata-se desse modo, que o “espaço-tempo do trabalho”, seja em uma fábrica ou em uma
autarquia do Estado, reforça a centralidade do caráter instrumental e regulador do tempo,
tendendo a inscrever no indivíduo uma construção linear da temporalidade, valendo-se de
“modelos sociais de autodisciplina engendrados pelo processo civilizador” (Elias, 1991).
Referências
BACHELARD, Gaston. A dialética da duração. São Paulo: Ática, 1994.
BENJAMIN, Walter. “O Narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. In: Magia e
técnica, arte e política. Obras Escolhidas, Vol. 1, Ensaios sobre Literatura e História da
Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1993, p 197-221.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
ECKERT, Cornelia, ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. O tempo e a cidade. Porto Alegre: Editora
UFRGS, 2005
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
POLLAK, Michel. “Memória, esquecimento e silêncio”. Estudos históricos. Rio de
Janeiro, v.2, n.3. p. 3-15, 1989.
RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa. Campinas: Papirus, 1991.
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Memórias do livro: o Quadro Antigo do Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula nos registros da
família Rojas
Bruna Rajão Frio267
Carla Rodrigues Gastaud268
Palavras-chave: Quando Antigo do Cemitério São Francisco de Paula. Família Rojas. Livro.
Inventário.
Introdução
Esta pesquisa tem um caráter pessoal e inspira-se em Brooks (2012, p. 14), quando questiona:
“mas o que este sujeito fez com o livro quando o teve em mãos”? O objetivo principal deste
trabalho é descobrir o que motiva a “sobrevivência” do livro - criado por Rui Rojas e guardado
durante anos na gaveta de seu irmão, Ricardo Rojas, ex-capataz e ex-morador do local - que
inventaria o Quadro Antigo do Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula em Pelotas (RS), o
que sua produção e sobrevivência nos revelam e assim, entender qual o valor deste
documento. Para tanto, pretende-se, inicialmente, contar um pouco da trajetória da família
Rojas no Quadro Antigo e a partir disso, desvendar como o livro foi constituído, por que foi
escrito, como, quando.
Metodologia e resultados
Este trabalho se baseia em “documentos originais, que ainda não receberam tratamento
analítico por nenhum autor” (MOREIRA, 2005, p. 66) são estudados. Estes documentos podem
ser institucionais conservados em arquivos, institucionais de uso restrito, pessoais como cartas
ou e-mails, fotografias, vídeos e gravações, leis, projetos, regulamentos, registros de cartório,
catálogos, listas, convites, peças de comunicação ou instrumentos de comunicação
institucionais, considerados cientificamente autênticos.
Além da pesquisa documental, a história oral também será utilizada como metodologia, afinal
“a entrevista de história oral permite recuperar aquilo que não encontramos em documentos
de outra natureza: acontecimentos pouco esclarecidos ou nunca evocados, experiências
pessoais, impressões particulares” (ALBERTI, 2005, p. 22). Ricardo Rojas, ex-capaz e ex-
morador do Quadro Antigo será o entrevistado.
Conclusões
Após análise criteriosa do livro, além de várias conversas com o Sr. Ricardo Rojas, entendemos
um pouco mais sobre este documento, guardado por ele a sete chaves. Um livro de atas, de
capa dura bastante mofada, com cinquenta e três folhas amareladas – e algumas já soltas – foi
preservador muito mais por um valor sentimental do que propriamente por seu conteúdo.
267 Bacharel em Turismo, Especialista em Gestão de Eventos e Hotelaria, Mestranda em Memória Social
e Patrimônio Cultural, Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
268 Licenciada em História, Mestre em História, Doutora em Educação, Universidade Federal de Pelotas,
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A intenção de Rui Rojas – irmão já falecido do Sr. Ricardo e “autor” do livro – era, sim,
inventariar o Quadro Antigo. Porém, este inventário serviria simplesmente para auxiliá-los na
localização dos túmulos durante o trabalho. Rui alegou ao Sr. Ricardo que “eles não teriam
uma cabeça tão boa para guardar a localização de todos os túmulos, como fazia seu pai, Sr. Elis
Rojas” (primeiro da família a ser capataz do cemitério).
De acordo com o Sr. Ricardo, durante três anos – iniciados em 1975 -, em seus intervalos de
trabalho no Quadro Antigo, Rui pegava folhas de papel almaço e escrevia. Definiu que cada
espaço do Quadro seria numerado (tendo no livro o Quadro inteiro separado em quatro
quadros) e estes, divididos em fileiras (como alguns dos túmulos/mausoléus/capelas não
formam filas retas, foi feito por aproximação). Após “finalizar” o inventário, Rui Rojas ficou
doente. Pediu, portanto, para que seu irmão, Ricardo, conferisse suas anotações. Este o fez e,
para “melhorar” a apresentação, passou a limpo em um caderno comum (já descartado). Rui,
porém, achou melhor comprar um livro de atas, com folhas numeradas e pedir para que
“Pipa”, um outro trabalhador do cemitério passasse a limpo com letra de imprensa. Em 25 de
janeiro de 1979 Pipa entregou ao Sr. Ricardo a versão finalizada do livro.
Concluímos, com este trabalho que, o livro, através de suas páginas, não nos apresenta apenas
um inventário com a caracterização detalhada de cada túmulo presente no Quadro Antigo. Ele
vai muito além. Ao folheá-lo temos ali narradas a maior parte da história da família Rojas,
grande parte da história do Quadro Antigo do Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula e
um pouco da história da cidade de Pelotas.
Referências
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
BELLOMO, Harry Rodrigues. 2000. Cemitérios do Rio Grande do Sul: arte, sociedade, ideologia.
Porto Alegre, EDIPUCRS.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: Lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.
BROOKS, Geraldini. As memórias do livro. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
MOREIRA, Sonia Virgínia. Análise documental como método e como técnica. In: DUARTE, Jorge;
BARROS, Antonio (org.). Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas,
2005.
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O copiador de cartas: memória e narrativa no texto epistolar
Cristiéle Santos de Souza269
Palavras-chave: Escrita epistolar. Dom Joaquim. Cartas.
Introdução
Joaquim Ferreira de Mello, bispo de Pelotas entre os anos de 1921 e 1940, copiou e organizou
sua correspondência expedida, em “copiadores de cartas”, por mais de vinte anos, compondo,
assim, um conjunto de aproximadamente sete mil cartas escritas entre os anos de 1915 e
1940. Essas cartas que a um primeiro olhar pareciam referir-se apenas às questões
administrativas da diocese, aos poucos foram desvelando um universo de destinatários,
assuntos e contextos diversos. As anotações nas margens, a estrutura do texto, a forma como
foram arquivadas, as sucessivas tentativas de contagem e organização, deixaram marcas que
junto ao texto epistolar, compõem o conjunto de indícios cuja leitura conduz este estudo.
Uma carta expressa mais do que o assunto que ela contém. Seu texto e sua materialidade
denotam as condições de sua redação, a identificação de seus destinatários, a dinâmica que
motivou o trabalho da escrita, os mecanismos de circulação, as influencias estilísticas, dentre
outros elementos que compõe o conjunto de indícios observáveis no texto epistolar. Da
mesma forma, a presença das cartas em um arquivo ou museu indica não apenas a existência
de um gesto em prol de sua conservação, como também parte dos critérios que definiram sua
importância. O objetivo deste texto é analisar o processo de construção e arquivamento do
conjunto epistolar de Dom Joaquim, pensando as possíveis relações com os conceitos de
narrativa e memória.
Metodologia e resultados
Fundamentado nas ideias de Philippe Artières (1998), Priscila Fraiz (1998), Paul Recoeur
(1989), Theodore Schellenberg (1973) e Angela de Castro Gomes (2004), dentre outros
autores, este estudo parte do seguinte questionamento: se a escrita epistolar caracteriza-se
como uma escrita de si, no sentido de incorporar o discurso e a imagem que o remetente
concebe de si e tenciona transmitir para outro, o processo de guarda e sistematização do
conjunto textos produzidos também o faz, como um “arquivamento de si”?
Os indícios deixados ao longo do processo de arquivamento, como as anotações nas margens
ou as páginas destacadas constituíram as bases para uma primeira leitura do processo de
arquivamento do conjunto epistolar de Dom Joaquim. Em um segundo momento analisou-se
os excertos das cartas em que o processo de escrita e de arquivamento é mencionado. A
análise desses excertos evidenciou uma preocupação por parte do escrevente em manter
organizadas em seu acervo pessoal as cartas que não eram arquivadas na cúria diocesana. O
269 Graduação em História pela Universidade Federal de Santa Maria, mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas,
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escrevente mantinha, ainda, um controle de cartas escritas e não enviadas, escritas e enviadas
parcialmente e de cartas reservadas. A análise dos livros “copiadores de cartas” referentes aos
anos de 1920, 1921 e 1922, evidenciou ainda inúmeros diálogos epistolares, nos quais a escrita
e o destino das cartas são assuntos recorrentes.
Conclusões
Muito do que se sabe acerca da escrita de cartas provém do próprio texto epistolar. Nas cartas
é comum encontrar referencias ao universo da escrita no espaço privado e ao destino desses
escritos, seja como papéis acumulados em gavetas ou como documentos em arquivos oficiais.
No entanto, no epistolário de Dom Joaquim há mais do que referencias intrínsecas no texto
epistolar, há uma evidente intenção por parte do correspondente em preservar da ação do
tempo, as cartas que escreve. Da mesma forma, é possível observar no conjunto de anotações
e na ordem como foram arquivadas as cartas, uma preocupação narrativa, no sentido de
tornar inteligível para o leitor, a ordem dos acontecimentos.
A perspectiva de uma leitura da escrita epistolar como um documento multifacetado que
reúne as questões da memória e da narrativa em um mesmo texto amplia as possibilidades de
compreensão do destino que esses documentos têm em diversos contextos, seja como
suportes de discursos sobre uma memória compartilhada, como parece ser o caso do
epistolário de Dom Joaquim, ou mesmo como elementos “comprobatórios” de uma história
que se pretende contar.
Referências
ARTIÉRES, Philippe. Arquivar a própria vida. Revista Estudos Históricos, vol.11, n. 21, 1998.p.9-
34.
FRAIZ, Priscila. A dimensão autobiográfica dos arquivos pessoais: o arquivo de Gustavo
Capanema. Estudos Históricos, nº 21, p. 59-87, 1998.
GOMES, Ângela de Castro. Escrita de si, Escrita da História: a título de prólogo. In: Escrita de Si,
Escrita da História. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2004.
MENDES, Fábio Ranieri da Silva. Dom Joaquim Ferreira de Melo 2º Bispo de Pelotas e a
fundação do Seminário São Francisco de Paula: uma introdução. Pelotas: EDUCAT, 2006.
RICOEUR, Paul. Do texto a ação. Porto: Réis Editora, 1989.
SCHELLENBERG, T.R. Arquivos modernos: princípios e técnicas. Trad. Nilza Teixeira Soares. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1973.
SOUZA, Francisco Silvano de. Dom Joaquim Ferreira de Melo 2º Bispo de Pelotas. Caxias:
Imprimi potest, 1964.
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Patrimônio e memória: as narrativas e a construção do espaço urbano e social de Erechim.
Camila Chaves Rael Laurett270
Daniella Reche271
Micheli Michele K. Zwirtes272
Palavras-chave: História oral. Memória urbana. Patrimônio imaterial. Erechim.
Introdução
O projeto de extensão "Café com Memória", vinculado ao Programa “Erechim para quem
quiser ver, discutir e intervir” da Universidade Federal da Fronteira Sul, tem como objetivo
reconstituir a memória local relativa ao patrimônio histórico e arquitetônico de Erechim
através do estímulo às narrativas de sujeitos sociais que testemunharam o desenvolvimento e
as transformações da arquitetura e do espaço urbano da cidade ao longo de sua história. As
narrativas dos participantes possibilitam um novo olhar sobre a cidade, facilitando a
compreensão de suas transformações, além da troca de conhecimentos entre antigos e novos
moradores. A sistematização destes registros formará um acervo que contribuirá para futuros
estudos sobre a história, cultura e arquitetura da cidade. O projeto tem contemplado a
comunidade acadêmica, mais especificamente dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e
História da Universidade, como também parte da comunidade em geral que se interessa pela
pauta do evento. Essa interação permite, além da recuperação de testemunhos, uma
reconstituição de fatos e iniciativas que interferiram na formação urbana e social da cidade.
Metodologia e resultados
O projeto se desenvolve a partir da estruturação de eventos no formato de ciclo de debates.
Na primeira edição do projeto (2012) houveram cinco eventos distribuídos ao longo do ano e
ocorrerão mais cinco eventos na segunda edição (2013). Os relatos orais apresentados pelos
convidados são filmados, fotografados e transcritos e formam um acervo para futuras
pesquisas, bem como base para a reflexão sobre diversos elementos que hoje compõem a
dinâmica municipal e que muitas vezes não são compreendidos em uma perspectiva histórica.
270
Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS, Campus Erechim/RS e bolsista do Projeto
de Extensão “Café com Memória: as narrativas na construção do espaço urbano e social de Erechim”. E-
mail: [email protected].
271 Coordenadora da Ação de Extensão em 2012, Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
UFFS – Campus Erechim e membro do Projeto de Extensão “Café com Memória: as narrativas na
construção do espaço urbano e social de Erechim”. E-mail: [email protected].
272 Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS, Campus Erechim/RS e bolsista do Projeto
de Extensão “Café com Memória: as narrativas na construção do espaço urbano e social de Erechim”. E-
mail: [email protected].
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Na primeira edição os eventos possuíram temas diferenciados, procurando contemplar os mais
diversos públicos e interesses, sendo eles: “Erechim comentado”, “Memória e construção”,
“Fatos erechinenses”, “Literatura e educação” e “Arquitetura das cidades”.
Com esses cinco eventos realizados, concluímos as atividades que envolviam o público externo
em 2012, concentrando os esforços para o processo de transcrição e sistematização dos
materiais coletados no decorrer do ano. Ao total, foram 13 horas de áudio e,
aproximadamente, 104 horas no processo de transcrição, resultando em cerca de 140 páginas
de depoimento.
Para a segunda edição do “Café com Memória”, em 2013, estão previstos mais cinco eventos
com a mesma configuração de ciclo de debates, contemplando diversas áreas do
conhecimento, que vão da arquitetura e urbanismo, à música, à educação e ao futebol.
Na segunda edição do projeto, os temas abordados serão: “Tramas e traçados do espaço
urbano”, “A música no Alto Uruguai”, “Café Grazziotin”, “Treinando a memória futebolística” e
“A educação e a política erechinense”.
A partir da história oral o projeto tem permitido recuperar as memórias e registrar as
narrativas de sujeitos sociais e suas vivências sobre a história da cidade, além de possibilitar a
aproximação dialógica entre o antigo e o novo morador da cidade estimulando a reflexão, as
trocas e um estreitamento entre as visões possíveis sobre a cidade, sua história, suas
transformações e suas significações enquanto espaço de socialização. Com isso, o projeto
aproxima e estreita os laços entre os acadêmicos, os professores e a comunidade em geral
com o objetivo de resgatar e preservar as narrativas das memórias acerca da história urbana
erechinense.
Conclusões
Através dos eventos programados, o projeto visa à elaboração de um caderno digital com os
relatos transcritos, fotos e demais materiais coletados durante os encontros, destacando a
utilização da oralidade como método de pesquisa, além de proporcionar um novo panorama
histórico e urbano de Erechim.
Para além do registro de uma memória arquitetônica, a construção da cidade registra em seus
sujeitos sociais uma memória subjetiva, singular. É a memória de uma cultura material e
imaterial que, se não for documentada e divulgada, ficará restrita ao narrador ou mesmo
legada ao esquecimento. Assim, registrar a percepção de diferentes sujeitos sociais que
vivenciaram por longo período a história da cidade, sua dinâmica e de seus habitantes, torna-
se extremamente relevante a fim de contribuir para a compreensão de suas transformações.
Dessa forma, o projeto não estimula apenas o registro das narrativas em relação à
transformação arquitetônica e urbana da cidade, mas o debate entre antigos moradores e o
público em geral. Essa aproximação fomenta a reflexão entre as possíveis visões sobre a
cidade, sua história, suas transformações e suas significações enquanto espaço de socialização.
Bibliografia
BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 11 ed. São Paulo: T. A. Queirós, 1983.
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BURKE, Peter. “História como memória social”. In: Variedades de história cultural. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira. 2000, p. 67-89.
HALBWACHS, Maurice. La memoire colletive. Paris: Albin Michel, 1997.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
JODELET, Denise. A Cidade e a Memória. In.: Projeto do lugar – colaboração entre Psicologia,
Arquitetura e Urbanismo. Organizadores Vicente del Rio, Cristiane Rose Duarte, Paulo Afonso
Rheingantz. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria/ Proarq, 2002.
LE GOFF, Jacques. “Memória”. In: História e Memória. Campinas: UNICAMP, 1994, p. 423-483.
LYNCH, K. A Imagem da cidade. São Paulo: M. Fontes, 1982.
POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos Históricos, nº 10, 1992.
RICOEUR, Paul. La lectura del tiempo passado: memória e olvido. Madrid, Arrecife, 1998.
ROUSSO, Henry. “A memória não é mais o que era”. In: AMADO, Janaína & FERREIRA, Marieta.
(Coords.). Usos e abusos de história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 93-101.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
THOMSON, Alistair. “Recompondo a memória: questões sobre a relação entre a história oral e
as memórias”. In: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História do
Departamento de História da PUC/SP. São Paulo, n.15, abr. 1997, p.51-84.
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Memória e Infância: concepções quanto a infância rio-grandina em 1950.
Bruna da Silva Garcia273
Franceles Souza274
Grace Borges275 Silvia Duarte276
Palavras-chave: Memória. História Oral. Infância.
Introdução
Durante muito tempo, as crianças eram descritas pelos adultos. Seguindo essa perspectiva,
esse trabalho tem o intuito de descrevê-las, sob o olhar atento dos idosos que viveram seus
primeiros anos de vida na década de 1950, na cidade de Rio Grande. Brincadeiras, sonhos,
peripécias, o olhar atento aos lugares de memórias, as vivências com os familiares e amigos,
são os principais assuntos abordados nessa pesquisa. O objetivo primordial é observar nuances
do cotidiano citadino bem como analisar o imaginário infantil no ano de 1950, na cidade de Rio
Grande. Usando como principal fundamentação teórica os historiadores Philippe Àries e Mary
Del Priori. Ambos trabalham com essas questões, um trabalha com a infância no período
medieval e moderno. Já a outra, produziu pesquisas em âmbito nacional que exploram a
criança em vários momentos históricos. Sabemos que a criança antes do século XIV era vista
ainda como um adulto em miniatura. Segundo Àries “*...+ No mundo das fórmulas românticas,
e até o fim do século XIII, não existiam crianças caracterizadas por uma expressão particular, e
sim homens de tamanho reduzido." (ÀRIES, 1981) Por fim, este trabalho tem o intuito de
abordar aspectos da infância, sob a perspectiva da memória. Tendo como metodologia
principal a História Oral bem como os teóricos que desenvolveram suas pesquisas nessa área.
Verena Alberti, Eclea Bosi, Phillipe Àries, Maurice Halbwachs, Michel Pollak e Paul Thompson
são alguns dos principais nomes utilizados nesse trabalho.
Metodologia e resultados
Tendo como fonte de pesquisa a memória, esse trabalho usa a metodologia da História Oral
para colher e analisar os testemunhos que foram obtidos. Para o historiador oral Paul
Thompson, “ela foi a primeira espécie de história”. (THOMPSON,1992) E ainda hoje é vista com
273
Pós -Graduanda em História do Rio Grande do Sul: Sociedade, Política e Cultura pela
Universidade Federal do Rio Grande/FURG. [email protected]
274 Graduanda do curso de História Licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande/FURG.
275 Graduanda do curso de História Licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande/FURG.
276 Mestranda em História Profissional pela Universidade Federal do Rio Grande/FURG.
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certo preconceito pela acadêmia. Contudo, sabemos da necessidade da historiografia de
buscar novas fontes de conhecimento acadêmico e é nesse pressuposto que o estudo aqui
apresentado se legitima. Na tentativa de expor novas fontes de pesquisa em História e mais do
que isso, apresenta à academia os testemunhos de vida, vivenciados na década de 1950 em
Rio Grande.
Conclusões
Igrejas, praças, bonecas, casas, cantigas infantis, futebol tudo isso foi perceptível nas
entrevistas e fazia parte da cultura infantil dos anos 1950 em Rio Grande. Foi observado ainda
que o imaginário infantil se construiu diferentemente daquele que encontramos nos escritos
de Phillipe Àries, certamente que o contexto na qual essas crianças estavam inseridas era
outro, e a mentalidade enquanto pequenos e que necessitavam do auxílio dos adultos também
se difere. Todavia, sabemos que não foi assim que aconteceu, e que existem muitas
divergências, e esse trabalho certamente responde algumas delas. Por fim, de acordo com os
dados obtidos com essa pesquisa podemos perceber que existe também uma relação entre a
infância e o mundo do trabalho. Além disso, percebemos a dificuldade socioeconômica muito
presente, onde a criança não era nada além de um “adulto em miniatura”.
Referências
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
BOSI, Eclea. Substância Social da Memória: História e Crônica. IN: BOSI, Eclea. O tempo vivo
da memória. São Paulo: Atêlie Editorial, 2003.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Editora Vértice, 1990.
POLLAK, Michel. Memória, Esquecimento, Silêncio. IN: Estudos Históricos. Rio deJaneiro,
1989, pp. 3-15.
THOMPSON, Paul. A voz do Passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
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Empoderamento do discurso indigenista, a reivindicação da narrativa de si próprios a partir do projeto
“Vídeo nas Aldeias”.
Ariel Ortega277
Daniele Borges Bezerra 278
Palavras-chave: Oralidade. Narrativa. Vídeo nas Aldeias (VNA).
Introdução
Para os povos indígenas é a partir da oralidade que se transmitem os saberes e se mantém viva
a cultura do grupo. Os modos de ser e de fazer, das sociedades tradicionais são
compartilhados em grupo como prática cotidiana da própria identidade e representam um
valioso exponente do patrimônio imaterial.
Segundo a Convenção da UNESCO para Salvaguarda do Patrimônio Imaterial realizado em
2003, “as comunidades, em especial, as indígenas *...+ desempenham um importante papel na
produção, salvaguarda, manutenção e recriação do patrimônio cultural imaterial *...+”
(UNESCO, 2003).
Ao dialogar com os princípios desta Convenção percebe-se que, apesar das alterações sofridas
a partir dos processos de globalização, existem caminhos a favor da preservação e do
compartilhamento do patrimônio imaterial com recursos provenientes da própria
transformação social. A utilização do audiovisual, por exemplo, foi incorporada pelas
comunidades indígenas como recurso utilizado para a transmissão da própria cultura. Em
matéria do jornal Correio do Povo, chama atenção a manchete: “Guaranis exibem seu
autorretrato” (grifo nosso), referindo-se a exibição do primeiro filme do cacique Ariel Ortega,
no Memorial do Rio Grande do Sul.
O projeto VNA foi criado em 1986, tem sua sede em Olinda e tem como objetivo apoiar as
comunidades indígenas a produzir uma narrativa sobre si próprios, fortalecer a identidade
indígena, seus patrimônios culturais e territoriais, auxiliando assim na redução dos estigmas
relacionados aos grupos indígenas. Em um dos vídeos do projeto VNA, Guaranis reproduzem
uma situação de caça. A seguir eles acrescentam: “Então nós temos que mostrar pros brancos
nosso modo de viver, mostrar a verdade [...] Para que não só os brancos falem por nós, mas
que vocês mesmos filmem, o que nos realmente temos para mostrar [...]”. (Duas aldeias uma
caminhada. 0:12:43). Na fala acima fica clara a importância do contar a prática.
277 Cacique da aldeia Tekoa Koenju, cineasta do projeto Vídeo nas Aldeias, e-mail:
278 Bacharelado em Artes Visuais, Especialização em Saúde Mental e em Saúde Pública, Mestranda do
Programa de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural - UFPel, e-
mail:[email protected]
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Para Assmann (2002), “enquanto a memória dos lugares se fixa em um lugar preciso do qual
não pode ser separado, os lugares da memória se caracterizam justamente pela sua
capacidade de transmissão279” (ASSMANN, 2002. p. 348). Assim, a narrativa indígena pode ser
pensada como um lugar de memória, pois exprime um tempo vivo, circular, não condensado e,
portanto, não histórico, o tempo da tradição. Um exemplo importante do lugar dado à
memória entre os Mbyá Guarani é o ritual de passagem que marca a idade de 16 anos dos
jovens da aldeia. Período no qual os homens recebem uma incisão no lábio inferior. Nesse
momento eles não podem falar, mas apenas escutar o que dizem os mais velhos. (Cacique
Ariel In: BEZERRA, 2013).
A utilização do vídeo é uma forma de empoderamento da narrativa de si próprio, pois busca a
redução dos estigmas. Entre os Mbyá um dos preconceitos sofridos decorre da sua circulação
entre países do Mercosul: “*...+ De maneira muito tardia a Fundação Nacional do Índio (FUNAI)
superou o preconceito que acusa serem os Mbyá índios “argentinos” ou “paraguaios” (De
SOUZA, 2009).
Metodologia e resultados
Foram realizadas entrevistas narrativas com o cacique Ariel Ortega que permitiram
compreender a dinâmica de suas ações enquanto cineasta e líder político da comunidade
Mbyá Guarani: Tekoa Koenju no RS, bem como sobre a relação de familiaridade com as aldeias
da Argentina e Paraguai. Destaca-se a importância do audiovisual como mediador do discurso
e recurso patrimonial.
Conclusões
O sentido de verdade dado à narrativa dos grupos através do projeto VNA é também um
caminho na busca pela descriminalização280 da pessoa indígena. Sugere-se que a utilização do
vídeo enquanto suporte narrativo permita a apropriação do direito à palavra e a clarificação da
própria identidade, contribuindo para a valorização da cultura indígena e o fortalecimento da
identidade do grupo, o que enriquece as culturas como um todo.
Referências
ASSMANN. Aleida, Ricordare: forme e mutamenti della memoria culturale. Bologna: Mulino,
2002.
279 “*...+ i luoghi della memoria si caratterizano próprio per la loro capacità di transmissione”. ASSMANN,
2002. p. 348
280 VELHO, Gilberto. Trata da questão do desvio social como uma modalidade de categorização
estigmatizante. Por estigmatização entende-se “uma forma de classificação social pela qual um grupo,
ou indivíduo, identificam outro segundo certos atributos reconhecidos pelo sujeito classificante como
negativos ou desabonadores. (VELHO, 2003. p.30). Erving Goffman também fala sobre isso no livro
Estigma: notas sobre a manipulação da identidade (1988).
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BEZERRA, Daniele Borges. Entrevista com o cacique Ariel Ortega sobre Mbyá Guarani realizada
em 22 de setembro de 2013. Porto alegre, RS.
CANDAU. Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2011.
CORREIO do POVO. Guaranis exibem seu autorretrato. Disponível in:
http://www.correiodopovo.com.br/jornal/A114/N184/html/09GUARAN.htm Acessado em:
16/09/2013.
De SOUZA. José Otávio Catafesto. Os Mbyá Guarani e os impasses das políticas indigenistas no
sul do Brasil. VIII Reunião de Antropologia do Mercosul: “Diversidade e Poder na América
Latina. Buenos Aires, 2009. Disponível em:
http://laced.etc.br/site/indigenismo/arquivos/GT12-Ponencia%5BCatafesto%5D.pdf. Acessado
em 24/09/2013.
ORTEGA, Ariel. Vídeo nas Aldeias: Duas aldeias, uma caminhada. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=RHObX0JQ4Fc. Acessado em 13/09/2013.
ORTEGA, Ariel. Vídeo nas Aldeias: Nós e a cidade. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=o3VljE4NJcY&list=PLFE811B6C9A78287E&index=1
Acessado em: 10/09/2013.
UNESCO. Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. 2003. Disponível em:
http://www.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=3794. Acessado em 25/09/2013.
VELHO, Gilberto. Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. 8ª edição. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar editor, 2003.
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Objetos, memórias e narrativas: a memória de Lyuba Duprat – Rio Grande, RS.
Olivia Silva Nery281
Maria Letícia Mazzucchi Ferreira282
Palavras-chave: Objeto. Narrativas. Memória. Biografia. Lyuba Duprat.
Introdução
Segundo Moles (1972, p. 9) “o objeto é um dos elementos essenciais que nos cercam.
Constitui um dos dados primários do contato do indivíduo com o mundo”. Da mesma maneira
que os objetos fazem parte da construção de cada indivíduo, também são importantes para as
culturas, tradições, manifestações culturais, etc. Os etnólogos, antropólogos e arqueólogos
pesquisam a importância e o papel desses objetos em cada cultura. Os historiadores, por sua
vez, também entram nesse campo de cultura material, utilizando-a como fonte histórica para
suas pesquisas e para compreender também um pouco mais da sociedade e do assunto
estudado. Dessa maneira, os objetos, ou a cultura material, podem ser vistos e entendidos
como documentos
Se o objeto pode ser entendido como um documento, e como fonte de pesquisa para o
historiador, Meneses (1998, p. 92) diz que “o cerne da questão, para o historiador *...+ é,
acredito, que os artefatos estão permanentemente sujeitos a transformações de toda espécie,
em particular de morfologia, função e sentido, isolada, alternada ou cumulativamente. Isto é,
os objetos materiais têm uma trajetória, uma biografia”. Os objetos possuem uma biografia, é
possível fazer então um retrospecto dessa biografia, como apresenta Meneses (1998, p. 93)
posteriormente “a biografia dos objetos introduz um novo problema: a biografia das pessoas
nos objetos”, o que define o conceito de biografia cultural dos objetos criado por Koytoff
(1986).
Nesse caso específico, os objetos que serão analisados como documentos, e como fontes para
narrar histórias e memórias pertenceram à professora de francês Alice Lyuba Duprat (1900-
1994) e fazem parte de três instituições de memória: Museu da Cidade do Rio Grande,
Fototeca Municipal Ricardo Giovanini e Sala de Documentação Lyuba Duprat. Os relatos de ex-
alunos e pessoas que conviveram com a professora, são sempre pautados por dois elementos
que podem ser considerados estruturantes: a forte personalidade e o mundo dos objetos que
caracterizavam o lugar onde vivia e ministrava as aulas, espaço híbrido entre o público e o
privado. Uma de suas ex-alunas, Maria Helena de Souza (2009), escreveu em seu blog um
texto sobre Lyuba e o período em que foi sua aluna:
Andava sempre de saia preta e blusa de cambraia branca. Os cabelos, quando saía de casa, sempre presos por uma rede cinza claro que ela amarrava no coque preso por alfinetes de tartaruga. Seus alunos só a
281 Historiadora. Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural – UFPel. Contato:
282 Doutora em História. Professora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio
Cultural – UFPel. Orientadora do trabalho. Contato: [email protected]
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chamavam de Mademoiselle – sem o nome. [...].Só usava tinta roxa em sua Mont Blanc, quando essa marca não era moda, era apenas a melhor caneta-tinteiro. Os bilhetes, as cartas e os cartões enviados da França eram reconhecidos à distância, pela cor da tinta. Para as correções em nossos cadernos, lápis vermelho grosso. Fecho os olhos e ainda vejo o Répétez!
Essa citação mostra um pouco da importância desses objetos na construção da personalidade
de Lyuba e principalmente a relação que eles tinham na sua vida cotidiana. Tendo em vista a
importância dos objetos para a construção da figura de Lyuba Duprat e para a permanência de
sua memória, e como estes objetos funcionam como suportes e evocadores de memória, a
relevância deste trabalho se dá na contribuição para os estudos da relação entre cultura
material e memória.
Metodologia e resultados
A metodologia utilizada nesta pesquisa baseia-se principalmente na história oral, no entanto,
pelo fato da pesquisa estar em fase inicial, somente algumas conversas com os entrevistados
foram feitas, Os entrevistados escolhidos são ex-alunos, amigos, vizinhos e familiares da
professora. A escolha da história oral para a esta pesquisa baseia-se, principalmente, na
perspectiva que aponta Meihy: “Esses registros podem ser analisados a fim de favorecer
estudos de identidade e memórias coletivas” (2010, p. 18). Além disso, Meneses (1998)
defende que os objetos deixam marcas específicas na memória, e que “daí a importância da
narrativa e dos discursos sobre o objeto para se inferir o discurso do objeto” (MENESES, 1998,
p. 91). Nesse sentido, as narrativas orais podem auxiliar também para compreender outras
informações sobre a sociedade rio-grandina da época, que podem estar inseridos explícita ou
implicitamente nas narrativas.
Conclusões
Por ser uma pesquisa em fase inicial, o trabalho não possui resultados até o momento. No
entanto, pode-se concluir parcialmente que os objetos salvaguardados nestas instituições
funcionam como evocadores e suportes de memórias, de uma memória ligada à Lyuba Duprat
e a sua personalidade. A imagem desta professora de francês está norteada pelos seus
objetos, eles auxiliaram a construir sua personalidade e identidade e, hoje, contribuem para a
permanência e compartilhamento de suas memórias.
Referências
KOPYTOFF, I. A biografia cultural das coisas: a mercantilização como processo. In:
APPADURAI, Arjun. 2008. A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva cultural.
Niterói: EdUFF, 2008.
MEIHY, J. C. S. B. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2010.
MENESES, U. T. B. Memória e cultura material: documentos pessoais no espaço público. In:
Estudos Históricos, 1998.
MOLES, A. A. Objeto e comunicação. In: MOLES, Abrahan; BAUDRILLARD, Jean; et al,.
Semiologia dos objetos. Petrópolis: Vozes Limitada, 1972.
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SOUZA, Maria Helena R. R. 2009. Pessoas, lugares momentos. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/ mariahelena/posts/2009/09/27/pessoas-momentos-
lugares-notas-226963.asp. Acessado em 15 de agosto de 2013.
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Velhice, masculinidade e memória
Alarcon Agra do Ó283
Palavras-chave: Velhice, Masculinidade, Memória
Introdução
O estudo, construído a partir de diálogos com referências capturadas no pensamento de
Michel Foucault, procurou mapear e analisar as formas através das quais a construção de
relatos memorialísticos serviu de estratégia de reconstrução de si por parte de letrados
brasileiros da primeira metade do século vinte, testemunhas, personagens e protagonistas da
invenção história da velhice no país.
Metodologia e Resultados
O primeiro movimento do estudo consistiu no levantamento, em acervos variados, de obras
memorialísticas escritas por letrados brasileiros, na primeira metade do século vinte. O corpus
se revelou, ao final, bastante ampliado, o que nos fez ver a relevância daquela produção no
seu momento histórico. Os textos foram lidos em busca de se entender como, neles, realizava-
se uma escrita de si de homens que se viam e se diziam como velhos, num contexto histórico
em que a cronologização da vida tornava-se elemento central na sociabilidade brasileira. Pode-
se perceber que a experimentação daquela escrita específica, paradoxalmente, sacralizava a
relação entre velhice e memória e a explorava numa chave irônica – isto no sentido de que os
autores lidos afirmavam que lembravam porque haviam chegado à velhice, num momento
histórico em que aos velhos cada vez mais cabia só recuperar o vivido, mas, por outro lado,
eles o faziam reiterando de forma insistente que aquela vinculação entre a idade avançada e a
memória era uma escolha civilizatória que enfraquecia o mundo. Homens ativos durante a
maturidade, eles encontravam outra forma de ação construindo outros passados e outros
presentes na sua escrita de si.
Conclusões
O estudo, no seu termo, oferece uma imagem historicizada das relações entre a velhice e a
memória, a partir da problematização das práticas do lembrar e do esquecer de um seleto
grupo de homens.
Bibliografia
ALBERTI, Verena. Literatura e autobiografia: a questão do sujeito na narrativa. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 7, 1991, p. 66-81.
ALBUQUERQUE Jr, Durval Muniz de. História. A arte de inventar o passado. Bauru, SP: Edusc,
2007.
283 Licenciado em História e Mestre em Educação pela UFPB; Doutor em História pela UFPE. Professor
Adjunto III junto à Graduação e ao Mestrado em História (Linha de Pesquisa em Cultura e Cidades) da
UFCG. Coordenador do Laboratório de Pesquisas em Urbanidades (Laburbs). E-mail: [email protected]
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REZENDE, Antonio Paulo. (Des) Encantos modernos. Histórias da cidade do Recife na década de
vinte. Recife, PE: FUNDARPE, 1997.
REZENDE, Antonio Paulo. Cidade e modernidade. Registros históricos do amor e da solidão no
Recife dos anos 1930. Recife, PE, 2006. Dat.
REZENDE, Antonio Paulo. Freyre: as travessias de um diário e as expectativas da volta. In.
GOMES, Angela de Castro. (org.) Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2004, p. 77-91.
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Notas Introdutórias sobre a História e Biografia de um Pioneiro: Carlos Guilherme Rheingantz, o
Primeiro Industrial Gaúcho
Rogério Piva da Silva284
Márcia Alonso Piva da Silva285
Ronaldo Bernardino Colvero286
Palavras-chave: Rheingantz. Biografia. Pioneirismo.
Introdução
Este trabalho tem como objetivo resgatar parte da história e biografia do pioneiro da
industrialização no estado do Rio grande do sul. Em que pese seu importante feito, Carlos
Guilherme Rheingantz, o fundador da Fábrica Nacional de Tecidos e Panos Rheingantz e Vater
em 1873, primeira indústria gaúcha, é pouco conhecido da maioria. Segundo a Revista Paulista
de Indústria (1955, P. 4), “com essa firma nasceu a indústria de tecidos de lã no Brasil”.
Este estudo se justifica pela importância que Rheingantz teve para a sociedade gaúcha, uma
vez que sua atuação não se resume ao campo empresarial, como também opera em diversos
setores na administração da comunidade, além de ter participação efetiva como benfeitor de
diversas instituições sociais e culturais.
Metodologia e resultados
Visando alcançar o objetivo proposto, utilizou-se de estudos de natureza exploratória,
mediante ampla pesquisa bibliográfica. Segundo Vianna e Júnior (2005), biografia significa
“narrativa, descrição, registro ou história de vida de uma pessoa”.
A pesquisa também se fundamentou em Ferraroti (1983), Eckert (1994-97) e Marre (1991),
numa tentativa de estabelecer uma ligação do indivíduo com seu ambiente sócio histórico,
assim como em Bourdieu (1996), que afirma ser possível a construção da trajetória ocupada
pelo agente através da história de vida.
Carlos Guilherme Rheingantz nasceu em 1849, filho de Jacob Rheingantz, fundador da Colônia
de São Lourenço e de Dona Maria Carolina Von Fella. Com oito anos de idade, viajou sozinho
para Hamburgo, onde cursou as aulas do Professor H. Schleiden até 1865. Buscando
complementar sua educação, percorreu vários países da Europa, antes de retornar ao Brasil.
284
Economista, Mestre e doutorando em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade
Federal de Pelotas - UFPEL, Professor Associado da Universidade Federal do Rio Grande – FURG,
285 Arte-Educadora e Pedagoga, aluna especial do Mestrado em Educação e Ciência – FURG,
286 Graduado em História, Doutor em História pela Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
Professor Efetivo do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural da
Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, [email protected]
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Em março de 1873, casou-se com Maria Francisca de Sá, filha de Miguel Tito de Sá. Em julho
do mesmo ano, Rheingantz, seu sogro e o alemão Herman Vater constituem a firma
Rheingantz e Vater. No ano de 1881, adquire a Fábrica de Chapéus Pelotense. Em 1883,
recebeu das mãos de D. Pedro II a Comenda da Ordem da Rosa, por seu pioneirismo industrial
com a implantação da indústria de lã no Brasil. Sua visão empresarial e a certeza de que
indivíduos mais qualificados poderiam render mais estabeleceu em 1881 uma aula obrigatória
a todos os menores que trabalhavam na fábrica. Em 1886, já com a fábrica no atual endereço,
assume as despesas totais da escola, que tinha duas turmas, e manda construir mais uma sala
ampla para estudos.
Outro fato que evidencia sua capacidade administrativa ocorreu em 1885. O novo prédio da
fábrica ficava bastante afastado da residência dos funcionários, o que dificultava o acesso
destes ao trabalho. Isso levou Carlos Guilherme a fazer uma grande doação de recursos para a
companhia Carris, que enfrentava dificuldades financeiras. Essa companhia era a única que
fazia a ligação do centro da cidade ao local das novas instalações. Essa doação evitou a falência
da Carris e possibilitou o acesso rápido e seguro dos funcionários à fábrica.
Em outros campos, fundou, junto com seu amigo Antônio Correa Leite, o Asylo de Mendigos.
No prédio ainda funciona o asilo de pobres. Da mesma forma, compôs a comissão que
administrou o município do Rio Grande de 1889 - 1891. Além disso, foi por muitos anos um
dos principais benfeitores da Banda Rossini fundada em 1890, da Santa Casa e do Educandário
Coração de Maria.
Conclusões
A busca por resgatar parte da história deste grande empresário gaúcho e as informações
coletadas permitiu concluir que Carlos Rheingantz foi mais do que o pioneiro da
industrialização do Rio Grande do Sul. Na verdade, trata-se de um visionário, um ícone da
sociedade da época que executava ideias de vanguarda. Mesmo que suas atitudes tivessem
como propósito final a ampliação dos lucros do seu empreendimento, afinal estamos falando
de um capitalista, estabeleceu muitos benefícios a seus trabalhadores. Aulas aos funcionários
desde 1881, distribuição de bônus como incentivo à produção, criação de um fundo social em
caso de morte, atendimento médico e aviamento gratuito de receitas, auxílio doença com
pagamento de diária e etc. Também participou de forma efetiva da vida da comunidade,
fundando o asylo de mendigos e fazendo doações a diversas instituições.
Enfim, podemos concluir que o Comendador Rheingantz, além de grande personagem no
processo de desenvolvimento da indústria gaúcha, foi um homem à frente de seu tempo.
Referências
BORDIEU, P. Razões práticas sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
ECKERT, C. Questões em torno do uso de relatos e narrativas biográficas na experiência
etnográfica. Revista Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Porto Alegre, ano 94-97.
FERRAROTI, F. Histoire et histoire de vie: le méthode biografique das les sciences sociales.
Paris: Librarie des Meridiens, 1983.
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MARRE, J. L. História de vida e método biográfico. Cadernos de Sociologia, v. 3, p.55-88, 1991.
REVISTA PAULISTA DE INDÚSTRIA, Nº 41, 1955, ANO V.
VIANNA, Márcia Milton; MARQUES JÚNIOR, Alaôr Messias. Fontes Biográficas. IN: CAMPELLO,
Bernadete; CALDEIRA, Paulo da Terra (Org.). Introdução às fontes de informação. Belo
Horizonte : Autêntica, 2005. p. 43 – 51.
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Narrativas escritas de José Sérgio L. Guimarães: discussões sobre identidade surda na década de 60
Diogo Madeira287
Tatiana Lebedeff288
Palavras-chave: Narrativa. Comunidade Surda. Identidade.
Introdução
Este trabalho propõe analisar e discutir os escritos narrativos do surdo escritor Jorge Sérgio L.
Guimarães, da década de 60 que são praticamente desconhecidos para a atual comunidade
surda. Na época, ele escrevia crônicas para os jornais que circulavam na cidade do Rio de
Janeiro: O Globo, O Jornal das Moças e o Jornal News Shoopings. As crônicas se apresentam
autobiográficas por tratarem da sua vida cotidiana relacionada à Surdez. Questiona-se porque
este autor não ser conhecido da Comunidade Surda. Sabe-se que os escritos que não se
encaixam à ideologia de uma comunidade podem ser vistos como má influência aos valores
culturais e sociais, o que é muito comum, especialmente para comunidades minoritárias. No
caso dos surdos, pensando-se na década de 60, levanta-se como hipótese o estranhamento de
“um escritor surdo”, o que contrariava o perfil majoritário de surdos brasileiros. Autores que
discutem identidade, narrativa e memória são utilizados para a discussão, tais como: Leonor
Arfuch (2010) e Stuart Hall (1996). Ao produzir narrativas individuais, a subjetividade toma o
controle de escrever narrativas em razão da compreensão social. Segundo Arfuch (2010), o
efeito de narrativa surte com a presença do sujeito, ou melhor, da experiência do sujeito. Para
Hall (2006) a identidade é definida historicamente e não biologicamente, o sujeito assume
identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor
de um “eu’’ coerente. Para o autor, dentro de cada pessoa há identidades contraditórias,
empurrando em diferentes direções, de tal modo que as identificações estão sendo
continuamente deslocadas. Nesse sentido, pode-se tentar compreender as dificuldades de
identificação do autor surdo, tanto na comunidade surda como na comunidade ouvinte. Na
comunidade ouvinte ele seria visto como algo exótico, já para a comunidade surda, como um
dissidente, uma identidade flutuante, embaçada ou de transição, de acordo com Perlin (1998),
apresentando comportamentos não usuais para um surdo na época, ou seja, ser cronista de
um jornal.
Metodologia
Os textos analisados fazem parte do livro intitulado “Até onde o surdo vai“ que foi lançado em
1961, buscando diagnosticar efeitos de autobiografia que possibilitem compreender questões
de identidade. Este livro reúne as crônicas publicadas no Jornal O Globo, no Jornal das Moças e
no Rio News Shopping. Foi realizada uma redução temática para organização e análise de
287 Mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural, Professor do IF-Sul,
288 Doutora em Psicologia do Desenvolvimento, Professora do Centro de Letras e Comunicação da
UFPEL, [email protected]
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categorias. A proposta foi analisar as produções do escritor surdo e categorizá-las através de
um procedimento de redução temática (JOVCHELOVITCH e BAUER, 2002, p.109).
Resultados
Foram organizadas seis categorias de análise: Política, Conceito de Surdez, Educação, Oralismo,
Língua de Sinais e Língua Portuguesa. Para fins deste trabalho foram analisadas as categorias
Conceito de Surdez, Oralismo e Língua de Sinais.
Conclusões
Os textos autobiográficos de Sérgio Guimarães utilizam sempre pronomes pessoais de primeira
ou terceira pessoa, indicando que está falando de si mesmo e do coletivo dos surdos. Na
década de 60 iniciaram os primeiros estudos e indicativos de que a Língua utilizada pelos
surdos não eram apenas mímicas, mas, língua constituída. O conceito de surdez, então, era de
uma situação incapacitante e limitadora. Sérgio incita os surdos a aderirem ao uso da Língua
de Sinais utilizando, como exemplo, a Universidade de Gallaudet, nos EUA. Questiona o
impedimento legal dos surdos dirigirem carros, dando exemplos de outros países. Salienta a
importância de que os surdos sejam oralizados para que tenham sucesso escolar e profissional.
Esses e outros dados permitiram compreender o autor em uma situação de identidade
Flutuante, como utiliza Perlin (1998) para falar de uma identidade na qual os surdos estão em
dependência do mundo dos ouvintes, orgulham-se de saber falar corretamente, colocam os
ouvintes acima dos princípios da comunidade surda, entre outras características. É sabido que
o autor não conheceu a Universidade de Gallaudet e o uso fluente da Língua de Sinais. Seu
parâmetro de surdez e língua de sinais é formado pelo contato com surdos brasileiros, pelas
representações de surdez correntes, então, no Brasil e por informações que lhe chegam
através de viajantes e material impresso. De qualquer forma, seus escritos são uma fotografia
de um período no qual os surdos eram vistos como doentes que deveriam ser “normalizados”.
Sua importância para a comunidade surda atual refere-se ao seu papel de divulgador de uma
identidade surda de resistência que germinava nos Estados Unidos, Europa e, timidamente no
Brasil.
Referências bibliográficas
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Janeiro-RJ: Editora ED UERJ, 2010.
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Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 2002. P.90-113.
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Editora, 2002.
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O otimismo e a denúncia: as duas faces das construções poéticas das autoras renascentistas Louïze
Labé e Pernette du Guillet
Luiane Soares Motta289
Palavras-chave: Literatura. Mulheres. Renascimento. Lyon.
Introdução
A presente pesquisa buscou analisar as poesias de duas autoras lionesas renascentistas, Louïze
Labé e Pernette du Guillet, para entender o que nelas apresenta-se da visão do feminino sobre
si mesmo e demais construções sociais que perpassam suas interações.Tais agentes não só são
capazes de, por suas funções intelectuais, demonstrarem o desejo da dissolução dos limites
gerais que atribuem o feminino ao privado e o masculino ao público, como, por suas próprias
falas –intratextualmente-, testemunharem as regulações, transições e interdições que sofrem
e mesclam-se na sociedade em questão.
Metodologia e resultados
Narrar, seja através da exposição que se pretende histórica, seja através da divagação que se
assume literária, é um esforço para organizar, de alguma forma, o caos apresentado na
realidade.Contudo, embora essa realidade esteja cheia do aleatório, do acidental, existe, sim,
uma tentativa concreta de organizar as vivências, que carregam o peso, por sua vez, de um
processo socio-histórico.Ou seja, não é possível nem excluir a arbitrariedade da experiência
humana, nem o esforço racional de existir nela e tentar apreende-la.
As agentes Pernette du Guillet e Louïze Labé, devemos ressaltar, fazem parte de um contexto
específico, que diz respeito a sua região. Habitam, ambas, Lyon, cidade francesa cosmopolita
do século XVI.Esta concorre, junto a Paris, na produção manufatureira e no setor mercantil.
Principalmente: a produção manufatureira de Lyon está ligada não só à fabricação têxtil da
seda, como à indústria livreira ou informacional. Apresenta-se, também, para além dos dados
que advém desse aspecto socio-econômico, que estão atrelados a incentivos culturais de um
poder político que se quer refinado e reconhecido como divulgador da cultura clássica –
através da prática conhecida por mecenato – aumentando a circulação e fabricação da
mercadoria literária, um conhecimento que advém do próprio conjunto de obras
produzidas.Dessa forma, dispomo-nos a analisar a reelaboração do mundo através da fala
poética das duas autoras quinhentistas, utilizando-nos das vinte e oito poesias, canções e
elegias de Du Guillet e dos vinte e quatro sonetos de Louïze Labé.
Ao aceitarmos essas leituras enquanto fontes, entendemos estar lidando com algo que, assim
como a história, não nos reconstrói o real, mas, sendo o vestígio de outro tempo, possui um
referente nele, fruto de uma reelaboração. O certo é que contém o elemento criacional, mas
como oportuniza-nos a reflexão de Jacques Derrida, em a "História da Mentira", a invenção
289
Graduada e mestranda em História, vinculada a Universidade Federal de Pelotas,
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pode ser compreendida como efeito do que se quer melhorar.A partir de tal apontamento,
podemos entender que apresenta-se um vínculo com o real-que-não-pôde-ter-sido, pois a
mentira traz a potencialidade do ser e os contornos do cerceamento sofrido pelas condições
concretas do indivíduo. É o que elucida-nos, de alguma forma, Sandra Pesavento:
É por este patamar epistemológico que a história e a literatura se aproximam: como versões, representações e narrativas do real, portadoras, ambas, do imaginário de uma época. *...+A literatura é a narrativa do que poderia ter sido, do que não foi, do desejado e do temido, do senso comum, do imaginário social que dá coerência e sentido para uma época. (PESAVENTO, 2002, p.18)
É, por isso, necessário compreender que essas poesias são, antes de mais nada, um
testemunho de seu tempo, desprovido de um propósito fechado de narrar “A História”,mas
que referencia os contornos de sua realidade e demonstra-nos o emaranhamento que envolve
essas agentes no complexo universo da Renascença francesa.Complexo, porque o poder
centralizador do Estado, junto a outros elementos políticos que visam se cercar de certo
prestígio, colaboram com as tentativas femininas para que, estas, exerçam uma atividade
intelectual na esfera majoritariamente masculina/masculinizante, todavia, essa mesma
atmosfera está repleta de valores e designações que, introjetados nos indivíduos, não as
deixam escapar ilesas das atribuições morais quanto a tais atitudes nada convencionais às
mulheres.
Trabalhar com um tempo tão distante quantitativamente,foi importante,assim, para
compreendermos tanto os mecanismos persistentes quanto as ousadias infringidas frente a
eles,por grupos antes marginalizados historica/historiograficamente.
Conclusões
Se no universo renascentista existiram precedentes que colaboraram com o tangenciamento
das mulheres ao público, pareceu-nos,contudo,que isso não desvinculou o feminino de um
lugar marginal dentro da produção intelectual e pensado como impróprio pelos demais
membros da sociedade.Tais atitudes literárias,no entanto,demonstraram algo da resistência a
designações hierarquizantes e convidaram a participarem também outras damas na tentativa
de oportunizar maiores modificações.
Referências
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De como a Arte Contemporânea nos propõe a lidar com a ausência (Arthur Bispo do Rosário e Leila
Danziger)
Renata Azevedo Requião290
Palavras-chave: poéticas contemporâneas. palavra escrita. memória e esquecimento.
caligrafias. registros. narrativas autorreferenciadas.
Introdução
Na arte contemporânea, particularmente nas Artes Visuais, desenvolve-se com muita
potência, e de modo particular, certo pensamento, certa discursividade, como contraparte
para além da natural prática poética. Discursividade naturalmente associada ao fazer artístico,
a sua fabricação. Trata-se de pensamento expresso não em verbo, mas em imagens. Neste
tempo de visualidades, e de escrituras, muitas das vezes, como é o caso dos trabalhos aqui
relacionados, as obras das Artes Visuais associam imagens e palavras escritas, imagens do que
é visível e visualizável, às grafias da palavra escrita. Portanto, imagens de coisas que não são
escritura, não são grafias, a imagens da escrita.
Aparece assim, aí redimensionada, a imagem da palavra escrita, em sua pluralidade tipográfica
e caligráfica. Emergem também daí as qualidades comunicativas, informacionais, simbólicas e
expressivas da palavra. Todas postas em questão no encontro com a dimensão visual exigida
pelas Artes Visuais. Há, nessa produção, uma certa indiscernibilidade da palavra escrita, que
comparece nessas obras com outras, digamos assim, funções que não as frequentemente
associadas à presença da palavra: o dizer, o explicitar, o declarar, o identificar, o evidenciar.
A palavra, nas obras aqui destacadas, trabalha num jogo de presença e ausência e não apenas
por sua presença; é signo que tem sua força simbólica redimensionada, alterando sua
legibilidade e mesmo sua capacidade de registrar certas narrativas. Tanto a artista brasileira
contemporânea Leila Danziger quanto Arthur Bispo do Rosário se utilizam, em suas diferentes
configurações poéticas, de jornais e de outros registros escritos mais ou menos institucionais.
Ambos interferem nesses registros tipográficos, alterando-os com sua caligrafia. Para ambos se
trata de escrever, arquivar, registrar, redimensionar a experiência cotidiana; mas também de
lidar com o apagamento, a perda, a rasura, e com a aceleração do tempo.
Tais questões estão vinculadas a meu projeto de pesquisa de longa duração, iniciado em 2006,
registrado nesta universidade sob o título Poéticas Contemporâneas: produção de leituras,
produção de escrituras, produção de sentidos, e a meu grupo de pesquisa, registrado também
290 graduação: Licenciatura em Letras; Arquitetura e Urbanismo;
pós-graduação: mestrado Letras / Literatura Brasileira; doutorado Letras / Literatura Comparada;
pós-doutorado Letras / Poesia no Brasil Contemporâneo ]1970-2010[;
filiação: Professora doutora, PPG–Artes Visuais / UFPel;
email: [email protected]
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no CNPq, intitulado Artefatos para leitura e construção do “pequeno território”. Através deles,
trabalhando a partir de objetos estéticos produzidos na contemporaneidade, tenho pensado
sobre o lugar que habitamos na contemporaneidade, e sobre nossos modos de estar no
mundo.
Leila Danziger, Leituras da melancolia, 2012
Bispo do Rosário, caixa com fichas azuis, sem data
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Bispo do Rosário, carrinho com fichas papelão, sem data
Metodologia e resultados
A aproximação das obras da artista brasileira, Leila Danziger, Leituras da melancolia e Banzo, à
imensa obra de Arthur Bispo do Rosário, me permitiu perceber nuances na expressão poética
de Bispo do Rosário, particularmente no que diz respeito à presença da palavra escrita, às
quais ainda não tinha tido acesso. Em chave comparatista, encontrei nessa aproximação tanto
questões que dizem respeito ao arquivamento e ao registro dos nomes, quanto à própria
incomunicabilidade dos textos institucionais e dos documentos oficiais – os quais gerariam
discursividade distinta daquela promovida pelas obras aqui referidas. Para além de mais uma
vez encontrar procedimentos artístico-poéticos, no trabalho desse homem que, sabemos,
viveu durante cinqüenta anos segregado numa instituição manicomial brasileira.
Meu trabalho, já longevo, em torno da variada obra cosmogônica de Bispo tem se
desenvolvido até aqui, de certo modo, numa prática que é pura repetição de método:
encontro na produção contemporânea, brasileira preferencialmente (o que me permite
trabalhar colocando em perspectiva esses “intérpretes do Brasil”, em contraponto a esse
sujeito apartado do mundo, a contar histórias), artistas cuja obra repliquem modos e
estratégias antevistas no fazer de Bispo do Rosário. Todas essas “leituras comparadas”, à guisa
de produção de sentidos, fomentarão um site criado especificamente para divulgação da obra
de Bispo, intitulado O Jogo do Bispo, projetado com apoio de bolsista pibit/CNPq,
recentemente encerrada.
Conclusões
Através de tais comparações, e na corrente de alguns Críticos e de Historiadores da Arte –
pensadores que vêm se debruçando sobre a obra de Bispo do Rosário, sobre questões
associadas à Arte e à Saúde Mental, a procedimentos comuns e aos objetos estéticos criados –
tem ficado bastante evidente a potência poética de sua expressão (a ponto de sua obra
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merecer lugar de destaque na última Bienal de São Paulo, ano passado). Por suas
características, e dada a especificidade de sua produção, é obra que nos permite pensar,
através dela, a vida que contemporaneamente vivemos. Por outro lado, me interessa
identificar procedimentos, escolhas, e configurações, desenvolvidos por Bispo do Rosário, que,
se foram mapeados pela Área da saúde e pelo Campo da cognição, ainda precisam ser
incorporados pelo Sistema das Artes. Em grande parte porque a ainda imponente categoria do
autor é tensionada por todo o trabalho desse homem cuja obra foi até muito recentemente
apenas incorporada, no Sistema das Artes, pelas Artes do inconsciente.
Referências
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BURROWES, Patrícia. O universo segundo Arthur Bispo do Rosário. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 1996.
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Iberê Camargo, Porto Alegre, 2012.
CATÁLOGO da Trigésima Bienal de São Paulo, A iminência das poéticas. Fundação Bienal, São
Paulo, 2012
DANTAS, Marta. Arthur Bispo do Rosário: a estética do delírio. Tese (Doutorado em
Sociologia), Araraquara, UNESP, 2002.
DANZIGER, Leila. Todos os nomes da melancolia. Rio de Janeiro: FAPERJ; Apicuri, 2012.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006.
SILVA, Jorge Anthonio e. Arthur Bispo do Rosário – Arte e Loucura. São Paulo: XXXX. 2003.
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____________________. “Uma arca para a memória: Leila danziger e videoarte como prática
para descascar o mundo”. IN: DANZIGER, Leila. Todos os nomes da melancolia. Rio de Janeiro:
FAPERJ; Apicuri, 2012.
MESA 8 - O Patrimônio Cultural Imaterial e suas
normativas e instituições patrimoniais na América Latina
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Patrimônio Cultural Imaterial : As Festas de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro
Elis Regina Barbosa Angelo291
Palavras-chave: Festas. Identidade. Patrimônio Cultural Imaterial. Nova Iguaçu.
Introdução
As festas populares da cidade de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, uma região
reconhecidamente marginalizada pela imagem de pobreza, exclusão social e criminalidade foi
escolhida nesta pesquisa favorecendo as comemorações populares enquanto possíveis
representações culturais da cidade, que podem tecer a memória de suas raízes, além de
favorecer o elo de pertencimento com a história e com a sociabilidade popular. Além disso,
merece destaque a carência de estudos que contemplem o universo da cultura popular, das
festas e da própria região. O tema deste trabalho permeia discussões acerca das festas
populares enquanto fontes e formações do universo imaterial, conduzidas por meio do tema
cultura, têm como principais aportes referenciais HALBWACHS (1990), Velho (2006), Abreu
(2005), Gonçalves (2005), Bortolotto (2011), tratando a formação do patrimônio cultural e a
valorização do universo popular. O projeto que deu ênfase à escolha desse artigo se concentra
no mapeamento das manifestações populares de Nova Iguaçu, desenvolvido no PIBIC 2013 da
UFRRJ, cujos objetivos se atrelam à necessidade de articulação entre as atividades turísticas e
os organizadores, como hotéis, restaurantes, atrativos, transportes, entre muitos outros
pontos fundamentais para o uso das potencialidades da região. Inicialmente foi trabalhada a
cidade de Nova Iguaçu, se estendendo posteriormente à Seropédica, Belford Roxo, Duque de
Caxias e demais cidades da baixada.
Metodologia e resultados
Como metodologia foi utilizada a História Oral, partindo dos protagonistas portadores de
tradições culturais específicas, pressupondo a identificação da dinâmica própria desses
personagens em suas respectivas localidades de tradições. Para complementar os dados,
utilizou-se fontes bibliográficas, periódicos, revistas e informações das próprias comunidades
onde as festas ocorrem, além da análise documental e bibliográfica. As entrevistas focalizaram
a historia oral temática, e, eventualmente, as histórias de vida dos entrevistados. Como
produto dessa investigação, almeja-se formar o inventário e análise das manifestações
culturais de Nova Iguaçu e da Baixada Fluminense, formatando um projeto mais amplo criado
a partir das expectativas e perspectivas de formação da memória viva da cidade.
Conclusões
Com o intuito de valorizar a cultura popular das festas, iniciou-se em Agosto de 2012, com a
pesquisa de Iniciação Científica, a proposta de construção de um mapeamento das
291 Graduada em Turismo pela PUCCAMP, Especialista em Administração Hoteleira pelo SENAC-SP,
Mestre em Turismo pelo UNIBERO, Mestre em História pela PUC-SP, Doutora em História pela PUC-SP,
Professora Adjunta na UFRRJ, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Contato:
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manifestações populares formadoras do universo cultural da cidade de Nova Iguaçu. As
construções das histórias dos moradores locais determinaram neste trabalho a formação das
festividades e suas funções sociais, culturais e econômicas. A partir daí, constatou-se a
necessidade de propor por meio do turismo cultural ações que verticalizem a preocupação de
não somente apresentar os aspectos culturais para o visitante, mas fazê-lo de forma a
despertar a interpretação, a proteção, a salvaguarda, e a promoção do patrimônio cultural de
forma responsável, visando à preservação, e a valorização das culturas locais, contribuindo
assim para o fortalecimento das identidades.
As festas têm todo um universo simbólico de construções, pois, o processo das relações sociais
se concentra no modo de representação à comunidade, para homenagear, honrar, cultuar,
preservar seu modus operandi, ao incluir hábitos, valores e costumes. A valorização das
manifestações populares em Nova Iguaçu pode despertar o auto-sentimento de valorização e
de pertencimento do espaço por meio de suas próprias expressões, além de divulgar e criar
perspectivas econômicas. Como resultado dessa investigação se encontra não apenas uma
descrição, mas uma apresentação das festas sob a perspectiva dos seus protagonistas, a fim de
fomentar o turismo cultural como uma alternativa para que Nova Iguaçu seja reconhecida
pelos seus atrativos na Baixada Fluminense e isso possa ser um meio de mudança para sua
imagem no Estado do Rio de Janeiro.
Referências
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nas questões do patrimônio. In: Sociedade e Cultura. Revista de pesquisas e debates em
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O Patrimônio Cultural na Constituinte de 1987/88.
Yussef Daibert Salomão de Campos292
Palavras-chave: Patrimônio Cultural. Constituinte de 1987/88. Agentes políticos e sociais.
Patrimônio Imaterial.
Introdução
A Constituição brasileira de 1988 é um marco jurídico e político da recente história nacional.
Conhecida como a “Constituição Cidadã”, a Carta Política de 1988 nasceu em um momento em
que o país se desvencilhou de mais de duas décadas de dominação autoritária, instituída pelo
golpe militar de 1964, passando a sonhar com dias iluminados pelos faróis da democracia. Mas
o processo de desenvolvimento e criação da nova carta magna brasileira não foi simples e
sumário: arrolou-se durante quase dois anos de debates, disputas e conflitos políticos na
elaboração das novas diretrizes constitucionais. Diversos temas foram discutidos de forma
exaustiva, como a forma de inserção dos direitos e garantias fundamentais do cidadão e da
inclusão de novos instrumentos jurídicos de proteção de bens difusos e coletivos. Entre esses
temas destaca-se o patrimônio cultural e a forma elástica com a qual a lei maior buscou trata-
lo, introduzindo inovações jurídicas (como o registro do patrimônio cultural imaterial) ao lado
de formas tradicionais de preservação (tombamento do patrimônio material).
Todavia, indagamos: quais eram os atores, sociais e políticos, envolvidos no processo de
elaboração das determinações constitucionais de preservação do patrimônio cultural? Quais
os movimentos sociais foram marcantes nesse momento constituinte, nos anos de 1987 e
1988?
Metodologia e resultados
A partir da ideia de que o documento é um vestígio (BLOCH, 2001), a Constituição será
interpretada, nessa proposta que nada mais é do que a pesquisa desenvolvida no Programa de
Pós Graduação em História da UFJF (doutorado), não como um dado rígido, mas como um
material a ser interrogado e interpretado, através da análise de sua elaboração e do estudo
sobre seus atores, políticos e sociais. Observaremos que o patrimônio cultural é uma seara
formada por uma miríade de identidades (POULOT, 2009), minada por campos de conflitos e
interesses econômicos, políticos e simbólicos, inerentes ao próprio patrimônio (CANCLINI,
1994; LOWENTHAL, 1998; 2005). Tais identidades, que constituem o campo patrimonial, são
constituídas por sentimentos de coesão protonacional (HOBSBAWM, 2008), que, em conjunto,
fundamentam o surgimento de comunidades imaginadas (HALL, 2006; ANDERSON, 2008).
Essas construções conceituais poderão pautar a construção das apresentações do presente
trabalho, mostrando como a Constituição de 1988 permitiu a fortificação de uma identidade
nacional, através de diretrizes nascidas de elaborações políticas e sociais.
Como pretendemos adotar a metodologia da história oral para fundamentar os aportes
teóricos dessa pesquisa e sustentar os conceitos adotados, assim como para auxiliar na
292
Graduado em Direito (UFJF), mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPel), doutorando
em História (UFJF), bolsista CAPES, [email protected].
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investigação da identificação dos agentes e de suas condutas e percepção da questão do
patrimônio cultural na construção do texto, mostraremos os resultados parciais de entrevistas
já levantadas. Poderão ser identificadas também a inserção social desses agentes e os grupos
por eles representados.
Conclusões
A escassez de obras e trabalhos em torno da Constituinte de 1987-88, no que tange ao
patrimônio cultural, é a justificativa que mais salta aos olhos. Não existe um trabalho
organizado e direcionado ao momento de elaboração constitucional de diretrizes voltadas ao
patrimônio cultural. Os mais diversos profissionais que se apropriam do patrimônio cultural
como objeto de estudo utilizam, diuturnamente, da Constituição como ponto de apoio jurídico
em suas investigações em torno do tema. Mas inexiste pesquisa aprofundada que responda à
seguinte questão: quais foram as vozes responsáveis pela elaboração do artigo constitucional
que define o patrimônio cultural e dita regras acerca de sua promoção e preservação? Quais
foram os agentes políticos que levaram tais reivindicações para as pautas de discussão da
Assembleia Constituinte? Como se deu a construção política do texto do artigo 216? Quais
foram as reivindicações, atendidas ou não, nesse processo? E quem reivindicou? Ferreira
aponta que o patrimônio cultural “é capaz de mediar relações políticas e sociais, de fortalecer
hierarquias e poderes, legitimando-os por meio de testemunhos materiais que lhes dão
sustentação” (FERREIRA, 2008, p.38).
Referências
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do
nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício de Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/. Acesso em: ago. 2011.
CANCLINI, Nestor Garcia. O patrimônio cultural e a construção imaginária do nacional.
Revista do IPHAN. Brasília: IPHAN, nº 23, 1994, p. 94-115.
FERREIRA, Lúcio Menezes. Patrimônio, pós-colonialismo e repatriação. In: Ponta de lança:
revista eletrônica de história, memória e cultura. Ano I, nº2, 2008. p. 37-62.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. Ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e Nacionalismos desde 1780. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
LOWENTHAL, David. El pasado es un país extraño. Madrid: Ediciones Akal, 1998.
__________. Why Sanctions Seldom Work: Reflections on Cultural Property Nationalism.
International Journal of Cultural Property, (12): 393-423, 2005.
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Inventário de Bens Culturais Imateriais de Piracicaba - SP
Marcelo Cachioni293
Fernando Monteiro Camargo294
Palavras-chave: Patrimônio Imaterial, Piracicaba, Planejamento urbano.
Introdução
A realização do inventário dos bens culturais é o primeiro passo para o mapeamento,
reconhecimento e valorização do patrimônio cultural de uma localidade. O Departamento de
Patrimônio Histórico do Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba (DPH IPPLAP), em
dez anos de funcionamento, realizou diversos inventários relacionados ao patrimônio cultural
material, tais como: Imóveis de interesse para tombamento; Monumentos públicos; Arte
Cemiterial; e Obras de arte do acervo municipal. Em Piracicaba, até 2011, não existia nenhum
mecanismo de valorização dos aspectos imateriais do patrimônio cultural. Dessa forma, o DPH
IPPLAP desenvolveu o ‘Inventário de Bens Culturais Imateriais’ com o objetivo de reconhecer e
documentar informações referentes à cultura imaterial da cidade. O intuito foi identificar esses
bens, avaliar sua historicidade e criar condições para que sejam alvos de registros e de planos
de salvaguarda. Participaram do projeto o arquiteto Marcelo Cachioni, e o então aluno de
Ciências Sociais da PUC Campinas, Fernando Monteiro Camargo, além dos estagiários do curso
de História da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Juliana Cristina Teixeira e
Douglas Pinheiro Graciano. A ideia foi produzir conhecimento sistematizado das práticas
culturais que sirvam de subsídios para que grupos sociais possam garantir a realização de suas
práticas tradicionais.
Metodologia e resultados
O método empregado na realização do inventário foi elaborado com base na metodologia
criada pela antropóloga portuguesa Clara Bertrand Cabral (2009), o qual consiste no
preenchimento de fichas cadastrais que contém os seguintes campos: Identificação do bem
cultural imaterial; Designação do bem cultural imaterial; Tipo de bem cultural imaterial;
Localização de realização; Mapa de localização; Endereço; Outras informações quanto a
designações e localização geográfica do bem cultural imaterial. Domínios: Tradições e
expressões orais; Artes do espetáculo - música, dança, teatro; Práticas sociais - rituais e
eventos festivos; Conhecimentos e práticas relacionados com a natureza e o universo;
Aptidões ligadas ao artesanato tradicional. Descrição do bem cultural imaterial: Praticantes do
bem cultural imaterial; Acesso ao bem cultural imaterial; Contexto Espacial; Contexto
Temporal; Especificação do contexto temporal; Língua Utilizada na prática do bem cultural
imaterial; Registros gráficos, sonoros audiovisuais ou outros; Léxico relacionado com o bem
293 Arquiteto e Urbanista, Especialista em Patrimônio Arquitetônico e Mestre em Urbanismo pela FAU
PUC Campinas e Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP, Diretor do Departamento de
Patrimônio Histórico do Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba, [email protected].
294Cientista Social pela PUC Campinas, Especialista em Gestão Cultural pelo SENAC SP,
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cultural imaterial; História do bem cultural imaterial; Disseminação do bem cultural imaterial -
bens semelhantes; Outras informações. Salvaguarda do Bem Cultural Imaterial: Descrição da
transmissão do bem cultural imaterial; Avaliação dos resultados da transmissão do bem
cultural imaterial; Entidades que promovem ou apoiam o bem cultural imaterial; Descrição das
medidas de salvaguarda existentes; Possibilidade de extinção; Descrição das medidas de
salvaguarda necessárias; Websites de informações sobre o bem cultural imaterial. Informações
complementares sobre o Bem Cultural Imaterial: Trabalhos de pesquisa (publicados ou não
publicados); Patrimônio cultural imóvel classificado relacionado com o bem cultural imaterial;
Patrimônio cultural móvel referenciado relacionado com o bem cultural imaterial; Informações
adicionais; Dados de quem preencheu. O preenchimento das fichas de três páginas foi
realizado por estagiários do DPH IPPLAP que entrevistaram praticantes dos bens, como
também consultada bibliografia especializada nos determinados assuntos. Como resultado,
foram inventariados 16 bens culturais imateriais, entre danças, tradições, festas, práticas e
saberes, entre eles: Festa do Divino Espírito Santo, Batuque de Umbigada, Congada, Cururu,
Samba-lenço e Catira.
Conclusões
Elaborar o inventário dos bens culturais imateriais dentro de uma autarquia de planejamento
foi um desafio, pois geralmente essa atribuição compete a órgãos públicos ligados às áreas
culturais como, cultura e/ou turismo. No entanto, uma vez que os bens culturais imateriais são
considerados com referência direta a determinados grupos sociais e com espaços territoriais
bem definidos, incluir nas atribuições do IPPLAP a sistematização do conhecimento desses
bens por meio do inventário foi um passo importante, no que se refere, ao planejamento
urbano. Assim, significou ampliar a participação de grupos tradicionais e populares nos
processos decisórios de planejamento da cidade e reconhecer as práticas culturais tradicionais
como fundamentais para identidade do povo piracicabano. Desta forma, manifestações
diversas das culturas piracicabanas como, por exemplo, as danças, cantos e saberes podem ser
agora reconhecidos nas elaborações de políticas públicas de planejamento da cidade o que
pode garantir a realização de tais práticas associando ao desenvolvimento sustentável de
Piracicaba.
Referências
ALLEONI, Olívio. Cururu em Piracicaba. Piracicaba: Degáspari, 2006.
BUELONI, Mauricio Tadeu. Os Bonecos do Elias. A Participação desses elementos de folkmídia
na publicidade e propaganda institucional de Piracicaba. Piracicaba: Prefeitura Municipal,
2001.
CABRAL, Clara Maria F. Bertrand. Património Cultural Imaterial. Proposta de uma
Metodologia de Inventariação. Dissertação de Mestrado em Ciências Antropológicas. Lisboa:
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2009.
CAMARGO, F.M. Patrimônio Cultural: A Festa do Divino Espírito Santo de Piracicaba.
Campinas: PUC Campinas, 2011.
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FRASSON, Lauro et al. Tanquinho: seu povo, sua história, sua glória. Piracicaba: Shekinah,
2010.
MACHADO, Iara. Festa do Divino em Piracicaba: Uma proposta de curadoria. São Paulo: USP,
2009.
ROCHA NETO, Delphim Ferreira. A História do XV. 43 anos de futebol profissional. Piracicaba:
Jornal de Piracicaba, 1988.
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Da “carne e osso” à “pedra e cal”: compreendendo a inscrição “imaterial” na Constituição Federal do
Brasil de 1988
Álisson Sousa Castro295
Palavras-chave: Patrimônio Cultural Imaterial . Constituição Federal . Modernismo
Introdução
Passados 10 anos da realização da Convenção para a salvaguarda do Patrimônio Cultural
Imaterial, promovida pela UNESCO296 e também 25 anos da inscrição do termo “imaterial” no
Art. 216 da Constituição da República Federativa do Brasil297, ainda podemos dizer que
vivemos uma “ofensiva patrimonial” (HARTOG, 2013, p. 244).
A ideia de patrimônio teria surgido no processo revolucionário francês de 1789 a partir da
atribuição de valor a bens que - ressemantizados de símbolos da opressão da nobreza para
sinônimos de grau civilizacional – estavam sendo ameaçados de destruição (CAMARGO, 2002,
p. 21; FONSECA, 2009, p. 57; FUNARI e ABREU, 2006, p. 19; OLIVEN, 2009, p. 80).
No Brasil - um dos principais colaboradores para a formulação do patrimônio cultural imaterial
em âmbito internacional (DEFOURNY, 2008, p. 7) - a inscrição do termo “imaterial” na
Constituição Federal é acompanhada de uma referência recorrente à Mário de Andrade
(IPHAN, 2010, p. 11). Porém, esta atribuição parece-nos forçosa na medida em que a proposta
de Mário de Andrade da década de 30 acabou por encontrar outros caminhos de
institucionalização que só se incorporaram ao campo patrimonial após a Convenção da
UNESCO de 2003 e também da incorporação do Centro Nacional de Folclore e Cultural Popular
à estrutura do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional também neste ano.
Como objetivo pretendermos compreender o que motivou a inscrição do termo “imaterial” na
Constituição Federal de 1988. Neste sentido, é importante compreender o contexto e o motivo
da não aceitação do anteprojeto de Mário de Andrade para o Serviço do Patrimônio Artístico
Nacional bem como as implicações do contexto do regime militar de 64-85 na campo
patrimonial que puderam influenciar no alargamento da noção de patrimônio inscrita na
295
Mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade (Univille). Bolsita Prosup/Capes. Integrante do
Grupo de Pesquisa Cidade, Cultura e Diferença (Univille). Historiador da Fundação Cultural de Brusque,
296 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Convenção
para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial. Paris, 17 de outubro de 2003. Tradução Ministério
das Relações Exteriores, Brasília, 2006. Disponível em
<unesdoc.unesco.org/images/0013/001325/132540por.pdf>, acesso em 17 de maio de 2013.
297 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,
Senado, 1998. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>,
acesso em 17 de maio de 2013.
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Constituição Federal a partir de diálogo com o arquiteto Yves Bruand, o historiador François
Hartog, o designer Aloísio Magalhães e a socióloga Maria Cecília Londres da Fonseca.
Metodologia e resultados
A pesquisa compreendeu inicialmente uma revisão bibliográfica em periódicos e livros sobre
Patrimônio Cultural. Também foi elaborada uma análise dos pronunciamentos registrados nas
atas do Conselho Consultivo do Serviços do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – atual
IPHAN.
Conclusões
A inscrição do termo “imaterial” na Constituição Federal de 1988 só foi possível graças ao
trabalho de Aloísio Magalhães frente ao Centro Nacional de Referências Culturais e, também, à
demanda patrimonial assinalada por François Hartog, devido à não correspondência das
retóricas holistas à realidade brasileira na década de 80. Se o contexto do anteprojeto de
Mário de Andrade pretendia afirmar um nacionalismo homogêneo, o contexto de Aloísio
Magalhães e posteriormente da Constituinte pretendia afirmar o nacional a partir do
heterogêneo, da singularidade.
Assim, pudemos perceber que as políticas patrimoniais ganharam destaque nos governos
brasileiros em períodos autoritários, como ferramenta de coesão sob o signo do nacionalismo.
Se no Estado Novo o dirigismo varguista contribui para a formação de uma ideia de patrimônio
a partir de cima (intelectuais nas fileiras do Estado); no regime militar pós 64 é a situação de
inverte: o nacional, e sua singularidade, devem ser buscados nas manifestações populares, o
que faz com que a ideia de patrimônio seja vista a partir de baixo, como patrimônio vivo, em
oposição ao patrimônio morto protegido por intelectuais no primeiro período.
Neste sentido, a compreensão destes períodos nos auxilia a pensar o papel fundamental que
desempenharam os intelectuais Rodrigo Melo Franco de Andrade e Aloísio Magalhães dentro
dos meandros da burocracia estatal e da negociação política com o congresso e com o próprio
regime político do qual estavam inseridos.
Referências
BRASIL. DECRETO Nº 3.551, DE 4 DE AGOSTO DE 2000. Institui o Registro de Bens Culturais de
Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do
Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Disponível em
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm>, acesso em 29 de jul. de 2013.
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberg. São Paulo:
Perspectiva, 2012.
CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio histórico e cultural. São Paulo: Aleph, 2002.
CANDAU, Joël. Memória e identidade. Tradução Maria Leticia Ferreira. 1. ed. São Paulo:
Contexto, 2012.
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DEFOURNY, Vincent. A UNESCO e o Brasil: alinhamento histórico nas proposições para o
Patrimônio Imaterial. Apresentação do livro. In: CASTRO, Maria Laura Viveiros de; e FONSECA,
Maria Cecília Londres. Patrimônio imaterial no Brasil. Brasília: UNESCO, Educarte, 2008. pp. 7-
8.
FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de
preservação no Brasil. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio histórico e
cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
IPHAN. Na pancada do ganzá. In: ______. Os sambas, as rodas, os bumbas, os meus e os bois:
Princípios, ações e resultados da política de salvaguarda do patrimõnio cultural imaterial no
Brasil - 2003-2010. 2. ed. Brasília: IPHAN, 2010.
HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
OLIVEN, Ruben George. Patrimônio Intangível: Considerações iniciais. In: ABREU, Regina;
CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2009. p. 80-82.
WULF, Christoph. Homo pictor: imaginação, ritual e aprendizado mimético no mundo
globalizado. Tradução Vinicius Spricigo. São Paulo: Hedra, 2013.
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Ações de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial em contextos de “hibridismo institucional”
Larissa Maria de Almeida Guimarães298
Lorena Alves Mendes299
Benedito Walderlino de Souza Silva300
Palavras-chave: Patrimônio Cultural; Políticas Públicas; Identidade; Territorialidade;
Referências Culturais; Hibridismo cultural e institucional.
Introdução
Nesta comunicação, pretendemos discorrer acerca das práticas de políticas institucionais de
salvaguarda, no âmbito de atuação do IPHAN301 no estado do Pará (IPHAN/PA), na interface
com outros orgãos da administração pública, tendo em vista os contextos sociais em que essas
políticas são realizadas e as delimitações de atuação institucional, onde o IPHAN apresenta-se
como orgão responsável pela identificação, proteção e preservação do Patrimônio Cultural
Brasileiro. O IPHAN/PA realiza projetos que visam inventariar, identificar, reconhecer, registrar
e salvaguardar o Patrimônio Cultural Brasileiro de Natureza Imaterial, desde a instrução do
processo de registro de bens culturais de natureza imaterial com o Decreto 3551/2000. A
partir deste marco legal, pensar no patrimônio imaterial tem sido um exercício político
contínuo de instrumentalização de políticas públicas, dando margem a diversas interpretações
que, à nível institucional, devem ser pensadas de modo a garantir direitos mínimos aos
detentores do saber.
O Património Cultural Imaterial não é de resto (...) um caso isolado. É um caso particular de processos mais gerais de democratização e institucionalização do conceito antropológico de cultura, de multiplicação dos seus usos políticos. (LEAL, 2013: 7).
Dentro deste prisma, são desenvolvidos no IPHAN/PA dois projetos que têm como perspectiva
operacional as políticas de salvaguarda, pensadas como meios de preservação cultural.
Entretanto, a preservação não pode ser concebida em sentido estrito, é preciso levar em conta
os interesses dos sujeitos sociais envolvidos e a dinamicidade da cultura, enquanto “processo
298
Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais (UFPA), Mestre em Ciências Sociais (UFPA), Doutoranda em
Antropologia Social no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (UFRGS), antropóloga na
Superintendência do Iphan no Pará (IPHAN/PA), [email protected].
299 Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais (UFPA); Mestranda Profissional no Programa de
Especialização em Patrimônio pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(PEP/MP/IPHAN); [email protected].
300 Bacharel e Licenciado em História (UNIFAP); Especialista em Arqueologia (UFPA); Consultor Unesco
na Superintendência do Iphan no Pará; [email protected].
301 Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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permanente de reorganização das representações na prática social, representações estas que
são simultaneamente condição e produto desta prática” (DURHAM, 2004: 231).
No município de Oriximiná, na região do Baixo-Amazonas (Pará), populações remanescentes
de quilombos convivem diariamente com questões ligadas à posse, uso e manejo da terra.
Dentro os principais problemas, o lento processo de delimitação e titulação de terras pelo
Incra302 ou pelo Iterpa303 e a exploração mineral causam um vasto impacto ambiental na área,
interferindo diametralmente na lida com os recursos naturais na área. Já na Terra Indígena
Alto Rio Guamá304 (Pará), os conflitos por terra entre populações indígenas Tembé-Tenetehara
e extrativistas colocam em risco a vida e sociabilidade desta população indígena. Tais situações
problematizam noções como “território” e “territorialidade”, que constituem pontos
importantes de referenciação identitária (HAESBAERT, 1999) e de reconhecimento identitário
(CARDOSO DE OLIVEIRA, 2005). São situações de grande tensão estrutural que, diante das
competências de um orgão ligado à cultura e ao patrimônio, fazem emergir novas formas de
pensar exatamente estas competências e, ante órgãos como Funai305, Fundação Palmares,
Incra, Iterpa, Ibama306, SEMA307 e outros, articular políticas que garantam ações diretas de
salvaguarda. Logo, o patrimônio imaterial aqui emerge não apenas como “bens culturais
acauteladas pelo estado brasileiro”, mas como reconhecimento da diversidade cultural no
Brasil, problematizando a ideia de “identidade nacional” tendo em vista os contextos de
hibridização cultural (BURKE, 2003).
Metodologia e resultados
Nos dois trabalhos citados, foi aplicada a metodologia do INRC308 (MANUAL DE APLICAÇÃO,
2003), com a realização da fase de Levantamento Preliminar, onde foram e estão sendo
inventariados os bens culturais significativos para as populações e comunidades envolvidas.
A partir dos dados inventariados, é possível problematizar os usos dos resultados obtidos e a
aplicabilidade das ferramentas disponíveis. Os dois projetos terão como resultado primário a
elaboração e publicação de livros que tratem das referências culturais das populações
quilombolas e indígenas das duas áreas pesquisadas. Os livros teriam por finalidade a) registrar
os bens culturais através de narrativas que sejam sensíveis aos sujeitos sociais, para assim b)
sistematizar estas informações em livros a serem utilizados nas escolas das áreas.
302 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
303 Instituto de Terras do Pará.
304 Também conhecida/referenciada como TIARG.
305 Fundação Nacional do Índio.
306 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
307 Secretaria Estadual de Meio Ambiente, do estado do Pará.
308 Inventário Nacional de Referências Culturais.
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Coloca-se em pauta uma questão a partir daí: como um livro pode atender às demandas
levantadas? E como este instrumento político legitima a moral do reconhecimento?
Conclusões
O que pretendemos pontuar é que a efetivação de uma política pública na área de patrimônio
em muitos momentos articula ações conjuntas com outros orgãos que, em suas atribuições
institucionais, não têm no “patrimônio” um foco primeiro de reflexão e ação. Entretanto, faz-
se necessário pensar em como os resultados de uma política de salvaguarda pode se mostrar
eficaz e efetiva, quando articulada a outras instâncias que apenas emergem a partir das
reivindicações contextuais das populações envolvidas; e como estas mesmas políticas só fazem
sentido quando evocadas por estes sujeitos sociais a partir da representação de suas
narrativas.
Ao mesmo tempo em que o IPHAN realiza suas ações tendo como perspectiva uma
ideia/definição de patrimônio, desta relação dialética e dialógica emergem reinterpretações de
conceitos basilares como “patrimônio”, “bens culturais” e “referências culturais”.
Referências
BURKE, Peter. Hibridismo cultural. São Leopoldo: Ed. da Unisinos. 2003.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Identidade étnica, reconhecimento e o mundo moral.
Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 9, volume 16(2): 9-40. 2005.
DECRETO 3551 de 4 de agosto de 2000. Disponível em:
http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/101954/decreto-3551-00. Acessado em 26 de
set. de 2013.
DURHAM, Eunice. A dinâmica da cultura: ensaios de antropologia. São Paulo: Editora Cosac
Naify. 2004.
HAESBAERT, Rogério. Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade. Disponível em:
http://www.uff.br/observatoriojovem/sites/default/files/documentos/CONFERENCE_Rogerio_
HAESBAERT.pdf. Acessado em: 26 de set. de 2013.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). INVENTÁRIO
NACIONAL DE REFERÊNCIAS CULTURAIS: manual de aplicação. Apresentação de Célia Maria
Corsino. Introdução de Antônio Augusto Arantes Neto. Brasília: Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, 2000.
LEAL, João. Agitar antes de usar: a antropologia e o património cultural imaterial. Revista
Memória em Rede, Pelotas, v.3, n.9, Jul./Dez. 2013.
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As Políticas de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial no IPHAN a serviço da Identidade Nacional
Brasileira
Lorena Alves Mendes309
Benedito Walderlino Souza Silva310
Larissa Maria de Almeida Guimarães311
Palavras-chave: Estado Nacional. Identidade. IPHAN. Patrimônio Imaterial.
Introdução
O processo histórico de formação da identidade social brasileira está pautado na fábula ou
mito das três raças, onde estão presentes: o branco, o índio e o negro (DAMATTA, 1987). É
inegável a presença desses atores sociais na formação da sociedade brasileira, entretanto, o
modo como suas participações se deram nesse processo é tomado como base de recursos
ideológicos para a construção de uma identidade nacional.
Que os três elementos sociais - branco, negro e indígena - tenham sido importantes entre nós é óbvio, constituindo-se sua afirmativa ou descoberta quase que numa banalidade empírica. É claro que foram! Mas há uma distância significativa entre a presença empírica dos elementos e seu uso como recursos ideológicos na construção da identidade social, como foi o caso brasileiro (DAMATTA, 1987, p. 62-63).
A construção de uma nação precisa estar respaldada, entre outras, pela ideia de um mito
fundador, que para ser absorvido pela coletividade necessita de confirmações e reafirmações
cotidianas, difundidas nos mais variados espaços pelos mais diversos agentes, dentre eles os
institucionais a partir de suas políticas públicas.
Partindo do Decreto Presidencial 3.551 de 04 de Agosto de 2000, que instituí o Registro de
Bens Culturais de Natureza Imaterial como constituintes do patrimônio cultural brasileiro e
ainda, considerando que o conceito moderno de patrimônio parte da necessidade de
reafirmar o passado como a base de afirmação dos Estados Nacionais, propõe-se neste
trabalho discutir, a partir de referenciais antropológicos, de que modo a ideia de identidade
nacional se constitui como fundamental para a formação do Estado Nacional brasileiro e a
partir disso consideramos imprescindível analisar como o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), através de sua Instrução Normativa N.º 001/2009, de 02 de março
309
Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará; Mestranda Profissional
no Programa de Especialização em Patrimônio pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(PEP/MP/IPHAN); [email protected]
310 Historiador com especialização em Arqueologia, historiador na Superintendência Estadual do Iphan
no Pará, [email protected]
311 Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA); Mestre em
Ciências Sociais (UFPA); Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS); Antropóloga na Superintendência do Iphan no Pará; [email protected]
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de 2009, que instrui o processo de Registro de bens culturais, como instrumento de gestão,
contemplando as categorias patrimoniais estabelecidas no Decreto n.º 3.551, de 4 de agosto
de 2000, referentes ao patrimônio cultural imaterial, tem recebido e avaliado os pedidos de
inventário para preservação das inúmeras formas de expressão, saberes, celebrações e lugares
que constituem a identidade nacional brasileira, ou seja, como os conceitos caros à
antropologia como cultura, identidade, memória, saber popular, tradição e modernidade são
trabalhados pelos INRC’s na medida em que institui o registro oficial do que é patrimônio
cultural.
Metodologia e resultados
A partir da experiência no Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural, que
venho cursando no IPHAN/Pará, busco analisar três processos de INRC’s finalizados nesta
Superintendência (INRC Do Círio de Nazaré, INRC do Ver-o-Peso e INRC Cametá). Com o
intuito de compreender em que medida esses elementos da cultura paraense, inventariados,
inscritos em uma dinâmica cultural, que é passível de mudanças, dialoga com um instrumento
metodológico, no caso o INRC, no momento em que se entende essa política de salvaguarda,
em consolidação, como aquela que no âmbito federal registra o patrimônio cultural brasileiro.
Conclusões
A relação entre Antropologia e Patrimônio Cultural há tempos vêm sendo discutida. O espaço
e importância que o conceito de cultura foi ganhando, dentro da perspectiva antropológica, e
com isso o seu uso estendido para os domínios públicos (LEAL, 2013), ou seja, sendo utilizado
como parâmetro para políticas públicas, direcionadas ao patrimônio cultural, servem de
campo interessante para essa discussão.
O percurso construído historicamente na formação do Estado Nacional Brasileiro conta com as
contribuições da também construída identidade nacional brasileira. Se o conceito de
patrimônio dialoga com o passado de uma memória, de uma identidade, de um lugar, seja
lembrando, esquecendo ou narrando essa memória e os elementos que a constroem, torna-se
necessário preservá-lo e colocá-lo em diálogo com os instrumentos institucionais que,
também, podem assegurá-lo.
Referências
DAMATTA, Roberto. Relativizando; uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro:
Editora Rocco. 1987.
BRASIL. Decreto nº 3.551 de 04 de agosto de 2000. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3551.htm. Acessado em: 26 de set. de 2013.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Instrução Normativa
n° 01 de 02 de março de 2009. Autorização de uso do INRC . Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=14318&sigla=Institucional&r
etorno=detalheInstitucional. Acessado em: 26 de set. de 2013.
LEAL, João. Agite antes de usar: a Antropologia e o Patrimônio Cultural Imaterial. Revista
Memória em Rede, Pelotas, v.3, n.9, Jul./Dez.2013–ISSN-2177-4129 – Disponível em:
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http://www.ufpel.edu.br/ich/memoriaemrede/beta-02-
01/index.php/memoriaemrede/article/view/212/157. Acessado em 26 de set. de 2013
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“Compartilhando os bens culturais de Jaguarão-RS-patrimônio imaterial –
proposta de educação patrimonial”
Ângela Mara Bento Ribeiro312
Carlos José de Azevedo Machado313
Juliana Rose Jasper314
Palavras-chave: Jaguarão. Educação Patrimonial, Patrimônio Imaterial, História. Turismo.
Introdução
A cidade de Jaguarão – fronteira com o Uruguai, dotada de carências educacionais315, foi
beneficiada com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID316, a fim de
gerar as transformações indispensáveis no sistema de ensino da região. Neste trabalho nos
propomos a reflexão do papel de professor e a sua relação com Educação Patrimonial através
de ações ambientais e culturais de forma a buscar subsídios para formação do aluno como
cidadão sensível às questões sócio-culturais, possibilitando um trabalho multi e interdisciplinar
no Instituto Estadual de Educação Espírito Santo-IEEES e revelar o Patrimônio imaterial local
como desencadeador de lembranças presente na memória de jovens adolescentes tornando-
os integrantes do processo de discussão do patrimônio cultural da cidade de Jaguarão, que em
realidade, é o entorno do Rio Jaguarão, envolvendo também a cidade de Rio Branco no
Uruguai. É realizado com quinze bolsistas do Curso de História da Universidade Federal do
Pampa (Unipampa) três supervisores e uma coordenadora, no Instituto Estadual de Educação
Espírito Santo e os resultados referem-se ao período de 2013.
Metodologia e resultados
Na divisão de tarefas dos bolsistas além das observações em sala de aula e em reuniões (na
escola) as responsabilidades das duplas incluíram: pesquisar eventos, revistas, periódicos;
312
Prof,.Ms Angela Mara Bento Ribeiro, vinculado ao curso de Turismo da Universidade Federal do
Pampa-campus Jaguarão-RS. Coordenadora PIBID-Educação Patrimonial em 2011 e 2013 email:
313 Prof. Carlos José Azevedo Machado, professor Espírito Santo e supervisor do PIBID-Educação
Patrimonial. Email: [email protected]
314 Prof.. Ms. Juliana Rose Jasper vinculada a Universidade Federal do pampa-Campus Jaguarão. Email:
315 Diagnosticada através dos exames do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Rio Grande do
Sul (SAERS)e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
316 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, ligado a CAPES - Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, tem por finalidade o incentivo a formação de docentes
para a atuação na educação básica. EDITAL-PIBID2011.
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registro de ata em reuniões; alimentação e criação do blog http://epjaguarao.blogspot.com/317
dossiê e portfólio; avisos e emails das reuniões e rodízio mensal das duplas. Dentre as
apresentações do subprojeto para comunidade acadêmica e escolar no auditório da
Unipampa, cabe destacar o que propiciou debruçar-nos no patrimônio imaterial. Na ocasião foi
apresentado pela aluna Ariadne Simões do 2º ano do Ensino Médio (noturno) um relato sobre
o “homem da boneca”, personagem folclórico da cidade o qual despertou nos bolsistas
desenvolver o trabalho de pesquisa com os professores na escola com os alunos para
apresentarem na Feira do Livro da cidade com o projeto de “Contação de Histórias”, que
culminou no programa para 2013. Tendo em vista os “10 anos da Convenção do Patrimônio
Imaterial (2003-2013).”
Foto: 01-Feira do Livro (Acervo Autores)
Foto:02 –Homem da Boneca (Acervo: Carlos José Machado)
Conclusões
317 Publicação das atividades desenvolvidas pelo Pibid-Educação Patrimonial promovendo a sensibilização sobre o tema para professores das mais diversificadas áreas de forma que possam através do Blog identificar elementos para seu trabalho em sala de aula.
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Consideramos que os jovens ao citarem elementos de natureza imaterial no caso “homem da
boneca” como estudada por Certeau na reinvenção do cotidiano. Operam a percepção, os
sentimentos, o imaginário coletivo, o lúdico, enfeixados nos mitos, ritos, arquétipos, crenças e
símbolos da visão e manifestação integradas da real representação e significado social da
comunidade na conservação, veiculação e revelação dos elos entre ambiente, cultura, história
e vida. Os esforços do grupo de envolvidos no trabalho de Educação Patrimonial avançam para
publicação do livro em 2014 financiado pela Capes.
Referências
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Marroni, MELO, Alan Dutra.- Educação patrimonial : perspectivas multidisciplinares- Pelotas,
RS- Instituto de Memória e Patrimônio e Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural-
UFPEL.- Pelotas: Editora da UFPEL, 2008.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis:Vozes, 1994.
HORTA, Maria de Lourdes Parreiras.Fundamentos da Educação Patrimonial. Ciências e Letras,
Porto Alegre, 2000.
FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra. O que é patrimônio cultural imaterial. SP:
Brasiliense, 2008.
JR Caio Prado; Discurso – Revista do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da USP, ano IV, nº 4, PP. 41-78, 1973. MORAES, Maria Lucia;
Turismo transversalidade curricular. Pelotas: EDUCAT, 2004
IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Brasil).Coordenação-Geral de
Pesquisa. Documentação e Referência. Oficina de Pesquisa (1.:2008 : Rio de Janeiro, RJ).
MURTA, Stela Maris; ALBANO Celina, orgs.- Interpretar o patrimônio um exercício do olhar.
Belo Horizonte : Ed. UFMG; território Brasílis, 2002.
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El Payador: desde “Ansina” a Diego Sosa
María Teresa Barbat318
Repentismo. Tradición. Música. Cultura
Introducción
En el Uruguay, así como en parte del Sur del Brasil y el Litoral y Sur Argentino, desde tiempos
remotos, existen personajes –hombres y mujeres- que realizan prácticas de diversas
expresiones artísticas. Una de las más tradicionales es el canto repentista, que por tradición en
muchos lugares se le denomina el canto del payador. Si bien este tema ha sido tratado por
musicólogos importantes en toda América, en esta zona mencionada y especialmente en el
Uruguay cobra una notoria impronta musical y por lo tanto involucra a toda la cultura del país,
sin que haya sido tenido en cuanta por las autoridades , para integrar las listas de Cultura
inmaterial de UNESCO, como sí lo han sido el Candombe y el Tango. PERO, creemos que es de
gran importancia , especialmente por su trayectoria en el tiempo y porque forma parte de
una enorme zona geográfica y de población, compartida por tres países que se mantiene
vigente desde sus inicios hasta el día de hoy. Debe incluirse en las listas de UNESCO.
Metodología y resultados
La metodología seguida para la realización de este Proyecto se basa principalmente en una
investigación primaria sobre pinturas, fotografías, grabaciones, videos, presentaciones en vivo
y entrevistas a los protagonistas. Fueron consultadas fuentes bibliográficas, en archivos,
bibliotecas, públicas y privadas. Diarios, revistas, internet.
Este Proyecto es reciente y pensamos continuar con el trabajo en vías de lograr incluir la
proposición que el canto del payador integre las listas de UNESCO de patrimonio inmaterial.
Partimos de un testimonio literario-poemas- y de la historia de nuestra Patria Vieja, alrededor
de 1800 con el Payador de Artigas, Joaquín Lenzina “Ansina” a través de cuadros, y
semblanzas de otros escritores, hasta llegar a este 2013 con el joven payador Diego Sosa, que
lo vemos y oímos en forma personal. Entre ellos han existido cientos de hombres y mujeres
que han ejercido ese oficio o técnica o arte del payador. Mediante el estudio de fotografías,
grabaciones y videos se conforma un archivo muy importante. También el estudio de campo,
con grabaciones y fotografías . El canto repentista es difícil de atesorar, porque los actores
suelen no tener a mano ni cámaras de fotos ni videos, por lo cual mucho de su material se
pierde y sólo por tradición oral puede rescatarse algo de lo realizado.
Conclusiones
Por lo dicho, el Proyecto está aún en vías de desarrollo y será un buen resultado si se logra
integrar las listas de UNESCO.
318 Egresada del Instituto de Profesores Artigas, estudiante de Tecnicatura en Museología de Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación. Montevideo, URUGUAY. “Grupo Santo Domingo Soriano”-Sociedad Civil, [email protected] . cel. 098 731 750
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Referencias
Bibliografía varia: Texto de Historia Nacional , Americana,-diversos autores-; Historia dela
Música URUGUAYA-varios autores. Archivos privados. Cuadros, fotografías,
grabaciones,videos. Revistas locales.
Figuras
Afiche de espectáculo con el Cuadro denominado “Ansina, el Payador de Artigas”, obra de la
artista plástica Mary Porto Casas. Montevideo
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Afiche acto cultural conmemorativo del Día del Payador-24 de agosto- por ley Nacional.
También luce una obra de Mary Porto Casas que se otorga como DISTINCIÓN “ANSINA”
Cada año.
El payador Diego Sosa- y el payador “Gurí” Rodríguez improvisando en vivo en la Sala Vaz
Ferreira de la Biblioteca Nacional. Montevideo, 2012
MESA 9 - Paisagem e cultura:
patrimônio, turismo e memória.
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Patrimônio Cultural Imaterial : As Festas de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro
Elis Regina Barbosa Angelo319
Palavras-chave: Festas. Identidade. Patrimônio Cultural Imaterial. Nova Iguaçu.
Introdução
As festas populares da cidade de Nova Iguaçu, na baixada fluminense, uma região
reconhecidamente marginalizada pela imagem de pobreza, exclusão social e criminalidade foi
escolhida nesta pesquisa favorecendo as comemorações populares enquanto possíveis
representações culturais da cidade, que podem tecer a memória de suas raízes, além de
favorecer o elo de pertencimento com a história e com a sociabilidade popular. Além disso,
merece destaque a carência de estudos que contemplem o universo da cultura popular, das
festas e da própria região. O tema deste trabalho permeia discussões acerca das festas
populares enquanto fontes e formações do universo imaterial, conduzidas por meio do tema
cultura, têm como principais aportes referenciais HALBWACHS (1990), Velho (2006), Abreu
(2005), Gonçalves (2005), Bortolotto (2011), tratando a formação do patrimônio cultural e a
valorização do universo popular. O projeto que deu ênfase à escolha desse artigo se concentra
no mapeamento das manifestações populares de Nova Iguaçu, desenvolvido no PIBIC 2013 da
UFRRJ, cujos objetivos se atrelam à necessidade de articulação entre as atividades turísticas e
os organizadores, como hotéis, restaurantes, atrativos, transportes, entre muitos outros
pontos fundamentais para o uso das potencialidades da região. Inicialmente foi trabalhada a
cidade de Nova Iguaçu, se estendendo posteriormente à Seropédica, Belford Roxo, Duque de
Caxias e demais cidades da baixada.
Metodologia e resultados
Como metodologia foi utilizada a História Oral, partindo dos protagonistas portadores de
tradições culturais específicas, pressupondo a identificação da dinâmica própria desses
personagens em suas respectivas localidades de tradições. Para complementar os dados,
utilizou-se fontes bibliográficas, periódicos, revistas e informações das próprias comunidades
onde as festas ocorrem, além da análise documental e bibliográfica. As entrevistas focalizaram
a historia oral temática, e, eventualmente, as histórias de vida dos entrevistados. Como
produto dessa investigação, almeja-se formar o inventário e análise das manifestações
culturais de Nova Iguaçu e da Baixada Fluminense, formatando um projeto mais amplo criado
a partir das expectativas e perspectivas de formação da memória viva da cidade.
Conclusões
Com o intuito de valorizar a cultura popular das festas, iniciou-se em Agosto de 2012, com a
pesquisa de Iniciação Científica, a proposta de construção de um mapeamento das
319 Graduada em Turismo pela PUCCAMP, Especialista em Administração Hoteleira pelo SENAC-SP,
Mestre em Turismo pelo UNIBERO, Mestre em História pela PUC-SP, Doutora em História pela PUC-SP,
Professora Adjunta na UFRRJ, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Contato:
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manifestações populares formadoras do universo cultural da cidade de Nova Iguaçu. As
construções das histórias dos moradores locais determinaram neste trabalho a formação das
festividades e suas funções sociais, culturais e econômicas. A partir daí, constatou-se a
necessidade de propor por meio do turismo cultural ações que verticalizem a preocupação de
não somente apresentar os aspectos culturais para o visitante, mas fazê-lo de forma a
despertar a interpretação, a proteção, a salvaguarda, e a promoção do patrimônio cultural de
forma responsável, visando à preservação, e a valorização das culturas locais, contribuindo
assim para o fortalecimento das identidades.
As festas têm todo um universo simbólico de construções, pois, o processo das relações sociais
se concentra no modo de representação à comunidade, para homenagear, honrar, cultuar,
preservar seu modus operandi, ao incluir hábitos, valores e costumes. A valorização das
manifestações populares em Nova Iguaçu pode despertar o auto-sentimento de valorização e
de pertencimento do espaço por meio de suas próprias expressões, além de divulgar e criar
perspectivas econômicas. Como resultado dessa investigação se encontra não apenas uma
descrição, mas uma apresentação das festas sob a perspectiva dos seus protagonistas, a fim de
fomentar o turismo cultural como uma alternativa para que Nova Iguaçu seja reconhecida
pelos seus atrativos na Baixada Fluminense e isso possa ser um meio de mudança para sua
imagem no Estado do Rio de Janeiro.
Referências
ABREU, Regina. Quando o campo é o patrimônio: notas sobre a participação de antropólogos
nas questões do patrimônio. In: Sociedade e Cultura. Revista de pesquisas e debates em
Ciências Sociais. Universidade Federal de Goiás. Vol.8, Nº 2, 2005.
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Estudos em história Oral do departamento de História da FFLCH-USP- Ano 3. N. 5. (jan./jun.
2009). São Paulo: NEHO. 2009.
ANGELO, Elis Regina Barbosa. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo. Rio de Janeiro:
Cecierj. 2012.
BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectiva. 2007.
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BORTOLOTTO, Chiara. (org.). Le patrimoine culturel immatériel: enjeux d’une nouvelle
catégorie. Paris : Maison des Sciences de l’Homme, 2011.
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Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 32, 2005.
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HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1990.
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PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA IGUAÇU. Centro de Memória de Nova Iguaçu. Calendário
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VELHO, Gilberto. Patrimônio, negociação e conflito. Mana, Apr. 2006, Vol.12, No.1, p.237-248.
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Lugares de memória, lembranças e esquecimentos: um novo olhar para o turismo em Nova Xavantina
Natália Araújo de Oliveira320
Maria Stela de Campos França321
Palavras-chave: Lugares de memória. Memoriais. Turismo. Nova Xavantina/MT.
Introdução
Um modo dos grupos sociais externarem sua memória coletiva é por meio dos lugares de
memória, locais destinados à manutenção da memória coletiva (NORA, 1981). Nos lugares de
memória encontram-se os memoriais de um espaço, constituídos por: placas que dão nome a
lugares, estátuas, bustos, elementos da natureza e construções monumentais (FRANÇA, 2004).
Estes revelam a dinâmica de uma sociedade e por meio deles é possível entender o que foi
importante para certo grupo em dado momento de sua história e como esse acontecimento é
interpretado no presente. Esse conhecimento histórico acerca da memória coletiva é captado
a partir da interpretação dos lugares de memória e essa perspectiva está em consonância com
os paradigmas do turismo que acrescem a experiência do visitante informações e
representações que realçam a história e as características do lugar turístico (MARTINS, 2003).
Sob esta perspectiva, o presente trabalho objetiva contar a história de Nova Xavantina/MT por
meio de seus lugares de memória e memoriais, analisando o que eles representam aos
diferentes grupos etnoculturais da cidade, assim como pretende apresentar o turismo como
propulsor da valorização da diversidade etnocultural. Esta cidade, localizada no interior do
Mato Grosso, foi construída por diferentes grupos etnoculturais. Inicialmente estabeleceram-
se os Xavante, posteriormente os Pioneiros, participantes da Marcha para Oeste - projeto
nacionalista do presidente Getúlio Vargas, e em seguida os Gaúchos, que partiram do sul do
país em colonizações agrícolas durante a década de 1970, além de outros estabelecidos
posteriormente.
Metodologia e resultados
A metodologia utilizada na presente pesquisa foi o flânerie, descrito como uma atitude pela
qual se procura entender a vida social a partir de percepções enquanto se cruza a paisagem
urbana (FEATHERSTONE, 2000). Acrescida a observação do flânerie foram realizadas
entrevistas abertas.
320
Bacharel em Turismo pela Universidade do Estado de Mato Grosso, Mestre em Ciências Sociais pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos e doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. E-mail: [email protected]
321 Graduada em Psicologia pela Universidade São Marcos, mestre e doutora em Antropologia Social
pela Universidade de Brasília. Docente na Universidade do Estado de Mato Grosso. E-mail:
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A fim de mostrar os resultados encontrados na pesquisa, cita-se para cada grupo etnocultural
abordado algum lugar de memória significativo ou, ainda, a ausência destes, como é o caso
dos Xavante. Percebeu-se que não há nenhum lugar de memória ou memorial que os lembre.
É como se ocorresse uma velada negação de sua presença, o que acaba por negar o próprio
nome da cidade. Sendo assim a única maneira desses propagarem sua cultura é por meio de
redes das memórias subterrâneas (POLLAK, 1989).
Quanto ao outro grupo citado, os Pioneiros, um lugar de memória significativo é a Praça Cívica,
que está situada no local onde foi estabelecido o primeiro acampamento da cidade em 1944.
Nesta praça realizaram-se os festejos da vinda do presidente da república Getúlio Vargas a
região, em 1945. Na praça existe um marco construído pelos próprios Pioneiros, que dividiram
os custos para confecção do mesmo. A construção desse memorial por seus próprios agentes
mostra a dinâmica dessa memória coletiva, visto que a partir da construção dessa peça urbana
os Pioneiros reafirmam à sociedade sua importância para o município e o fato de construírem
tal marco em espaço público revela a intenção de dar essa mensagem à população.
Por fim, com a migração gaúcha criou-se um Centro de Tradições Gaúchas (CTG) em 1986 na
cidade, que tem por objetivo promover e cultuar tradições, cultura, história, lendas, canções,
danças, usos e costumes do Rio Grande do Sul. O CTG proporciona ao gaúcho a celebração
suas origens, a reafirmação da sua identidade coletiva e o resgate do seu passado assim como
o de sua família, tornando-se dessa maneira um lugar de memória, um local onde esses
migrantes (re)encontram sua identidade gaúcha.
Conclusões
Sendo Nova Xavantina um espaço onde diferentes grupos culturais convivem, é necessário que
propostas para o fortalecimento das identidades culturais da cidade surjam, e neste caso, o
turismo pode nascer como forte propulsor à valorização da memória coletiva dos grupos
culturais, visto que ele aumenta o orgulho da comunidade local que passa a reforçar seus
valores culturais. O turismo cultural também serve de reabilitação as culturas, pois o turista
busca o que é autêntico, reconhecendo na diversidade cultural do município um atrativo
cultural amplo e diversificado. Outro ponto a ser ressaltado é que, com valorização da
diversidade local pelo turismo, o patrimônio histórico da cidade pode ser revitalizado. Logo,
resgatar as memórias coletivas ou revelar memórias subterrâneas do município por meio do
turismo cultural é celebrar a multiculturalidade de Nova Xavantina.
Referências
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PUC, n. 10, pp. 07-28, dezembro de 1981.
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Disponível em: <http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/43.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2007.
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Mercantilização X Identidade: O caso da Oktoberfest de Rolândia.
Tatyana do Nascimento322
Lorena Angélica Mancini323
Palavras- chave: Oktoberfest, Identidade, Patrimônio, Cultura, alemã, Rolândia.
Introdução
O trabalho proposto é de grande importância para Rolândia para expor a perda de identidade
e buscar um resgate dessa cultura, valorizando um bem patrimonial imaterial e sua tradição,
como a Oktoberfest, que traduz a cultura e a tipicidade colonial de Rolândia, que foi perdida
com a mercantilização da mesma.
Metodologia e Resultados
Com o intuito de descobrir como aconteceu e se a população tem consciência da perda de
identidade foi necessário realizar uma pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo
com aplicação de questionários e entrevistas. Obtendo assim a resposta da qual se esperava,
que a festa perdeu sim sua identidade e que a população tem consciência disso, lamentando
pois consideram a mesma como algo identitário, sendo assim esperam uma reestruturação
para voltarem a prestigiar a cultura alemã.
Objeto de estudo
Rolândia é uma cidade de colonização não só alemã, porém, é a que mais se destaca. Esta
cultura está presente na vida das pessoas até hoje, em questões de educação, de saúde, entre
outros resquícios deixados. Dentre eles a Oktoberfest, que foi uma celebração feita em
primeiro momento para comemorar uma boa colheita mas que também teve intuito de
resgatar a cultura. Essa celebração pode ser considerada um patrimônio histórico imaterial do
município, o qual é visto e valorizado pela comunidade como um bem que deve ou pelo menos
deveria transmitir a identidade firmada na memória dos munícipes de Rolândia.
Para melhor compreendersobre os patrimônios imateriais, explica-se que são aqueles que
remetem à cultura de determinado povo, tudo aquilo que se aprende e se firma como
322 Bacharelanda do curso de turismo da Faculdade de Ciências Econômicas de Apucarana – FECEA,
323Graduada em turismo e hotelaria pela UNOPAR, especialista em turismo, políticas públicas e
desenvolvimento local pela PUC-MG e em metodologia da ação docente com ênfase no ensino superior
pela FACCAR, mestre em turismo pela UNIVALI, professor assistente da FECEA,
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caracterização e identidade de determinada sociedade. No Brasil, o Decreto-Lei n
3.551/2000324 distinguem os patrimônios imateriais da seguinte maneira:
a) saberes: conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades. b) formas de expressão: manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas. c) celebrações: rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social. d) lugares: mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas.
A Oktoberfest então se caracteriza como uma celebração, utilizando-se de produtos tangíveis
para suprir o que o público realmente quer, que é vivenciar algo que marcou sua história, ou
algo relevante em sua cultura que foi deixado de lado pela globalização. (LEITE et al. s/a). A
festa oferece produtos gastronômicos, utiliza-se dos trajes típicos, entre outros itens, para
trazer a sensação de estarem presentes naquele devido momento.
A festa de Rolândia há alguns anos vem demonstrando uma descaracterização e
consequentemente uma perda de identidade grande em relação ao seu aspecto cultural. O
comercial tem prevalecido, fazendo que uma festa tradicional de origem alemã se
transformasse em um evento com atrações contemporâneas não ligadas à cultura em si,
havendo discrepância entre o objetivo da festa com o que é de fato encontrado durante sua
realização.
Através de questionários e entrevistas, foi possível perceber que as pessoas se sentem
representadas pelo evento e que a Oktoberfest é uma identidade para o município de
Rolândia, porém ela vem perdendo seu principal fundamento a partir de uma
descaracterização e comercialização. Então, pode-se dizer que os imigrantes alemães fizeram o
município de Rolândia ser o que é hoje, criaram e firmaram sua cultural na cidade, e a
Oktoberfest possui essa cultura vinculada, fazendo parte da identidade dos rolandenses que
querem buscar preservá-la, mesmo a frente ao desenvolvimento constante.
Referências
CAPONERO, M.C; LEITE, E; P, S. Patrimônio Imaterial: A lógica do mercado globalizado e as
festas populares na América Latina. s/a.
CASTRO, M. L. V. Patrimônio imaterial no Brasil: Legislação e Políticas Estaduais. Brasília:
UNESCO, Educarte, 2008, p. 18 Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=12308&sigla=Institucional&r
etorno=detalheInstitucional.
324
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=12308&sigla=Institucional&retorno
=detalheInstitucional
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História, memória e visualidade urbana em álbuns comemorativos
Eduardo Roberto Jordão Knack325
Palavras-chave: Cidades. História. Memória. Imaginário. Visualidade.
Introdução
O presente trabalho é um desdobramento de uma pesquisa em andamento realizada no
doutorado em História na PUCRS com o título “Passo e a construção da capital do planalto em
1957.” Nessa pesquisa objetiva-se estudar a construção da história, da memória e do
imaginário da cidade a partir das comemorações do seu centenário em 1957. Uma das
principais fontes de pesquisa é a publicação Passo Fundo centenário: guia turístico, literário e
comercial, de 1957. Para aprofundar a compreensão do estatuto, dos usos e funções de álbuns
comemorativos, foi necessário observar outros documentos semelhantes. Optou-se em buscar
publicações com características semelhantes, que marcam a comemoração de períodos
“fechados”, como centenários e cinqüentenários. Entre os álbuns analisados estão: Album
comemorativo do cincoentenário da fundação de Ijuí: 1890-1940, o Uruguaiana Um Século de
História de 1943, o Aspectos Gerais de Encruzilhada do Sul 1º Centenário de Municipalização
de 1949, o Passo Fundo centenário: guia turístico, literário e comercial, de 1957, o Alegrete,
Capital Farroupilha 1º Centenário – 1857-1957, o Album Ilustrado Comemorativo do 1º
Centenário da Emancipação Política do Município de Santa Maria (Rio Grande do Sul) 17 de
Maio de 1858 – 17 de Maio de 1958 e o Álbum oficial: cinqüentenário de Erechim, de 1968.
Metodologia e resultados
A partir dessa documentação é possível perceber a relação entre a história, a memória e a
visualidade urbana, elementos que marcam a construção/legitimação de um imaginário de
determinados grupos (essas publicações geralmente possuem vínculos com o poder público
local) sobre as respectivas cidades. As comemorações, como Candau (2012) aponta,
representam uma forma de situar às sociedades no tempo, mas especialmente períodos que
marcam um século, por exemplo, proporcionam momentos de definição/redefinição de
projetos e objetivos dos grupos. No caso das cidades, sua própria imagem passa a ser definida.
Esses álbuns são produzidos para marcar a passagem do tempo, auxiliam na construção de
imaginários que, de acordo com Baczko (1991), fornecem esquemas coletivos para
interpretação de experiências individuais, ou seja, contribuem para que os munícipes situem
suas experiências na memória coletiva definida por Halbwachs (2006). São instrumentos do
processo que Pollak (1992) definiu como enquadramento da memória. Mas esses álbuns
também são distribuídos para visitantes, negociantes e turistas que visitam esses municípios
durante as semanas das festividades. Nesse sentido, usam diferentes recursos para legitimar
sua ideia de cidade e convencer empresários (de diferentes ramos, dependendo da cidade) a
investir nos municípios.
325 Graduado e Mestre em História pela Universidade de Passo Fundo, Doutorando em História pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul sob orientação do Prof. Dr. Charles Monteiro,
bolsista CAPES, e-mail: [email protected]
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Conclusões
Foi possível identificar alguns elementos marcantes e comuns entre as publicações analisadas.
Participam de um enquadramento da memória municipal fornecendo datas, personagens e
acontecimentos marcantes nas localidades. Elas projetam uma determinada visão da história a
partir da definição/redefinição dos projetos políticos e econômicos dos grupos ligados ao
poder público. O elemento visual é um recurso fundamental na produção de séries
fotográficas de alguns municípios, onde alguns espaços e paisagens são monumentalizados. Os
anúncios comerciais também são significativos, caracterizando a entrada desses álbuns (e das
cidades) na economia urbano-industrial brasileira a partir de 1930.
Referências
ABREU, José Pacheco de. Album Ilustrado Comemorativo do 1º Centenário da Emancipação
Política do Município de Santa Maria (Rio Grande do Sul) 17 de Maio de 1858 – 17 de Maio de
1958. Porto Alegre: Metrópole S/A, 1958.
BACZKO, Bronislaw. Los imaginarios sociales memórias y esperanzas colectivas. Buenos Aires:
Nueva Visón, 1991.
CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2012.
CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Coimbra: Quarteto, 2001.
CATROGA, Fernando. Pátria e Nação. In: VII Jornada Setecentista. CEDOPE, 2007.
COMISSARIADO DA GRANDE EXPOSIÇÃO. Album Comemorativo do Cincoentenario da
Fundação de Ijuí. Ijuí: Livraria Serrana, 1940.
COSTA, Israel José da. Album oficial: cinquentenário de Erechim. Porto Alegre: Metropole,
1968.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
HARTOG, François. Tempo e história: “como escrever a história da França hoje?”. In: História
social. Campinas, UNICAMP, nº3, 1996.
LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. Fotografia e cidade: da razão urbana à
lógica do consumo: álbuns da cidade de São Paulo, 1887-1954. Campinas: Mercado de Letras:
São Paulo: Fapesp, 1997.
LOFEGO, Silvio Luiz. IV Centenário da Cidade de São Paulo: uma cidade entre o passado e o
futuro. São Paulo: Annablume, 2004.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra. Rumo a uma “história visual”. In: MARTINS, José de Souza; et. al.
(orgs.). O imaginário e o poético nas Ciências Sociais. São Paulo: Edusc, 2005.
MONTEIRO, Charles. Entre história urbana e história da cidade: questões e debates. In: Oficina
do historiador. Porto Alegre, EDIPUCRS, v.5, n.1, 2012.
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OLIVEIRA, Pery de. Passo Fundo Centenário Guia Turístico, Literário e Comercial. Passo Fundo:
Oficinas Gráficas do Instituto Social Pe. Berthier, 1957.
PIMENTEL, Fortunato. Aspectos gerais de Encruzilhada do Sul 1849-1949. Porto Alegre:
Gundlach, 1949.
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 5, n.10,
1992.
PORTELLA, Victorino de Carvalho. Alegrete, Capital Farroupilha 1º Centenário – 1857-1957.
Alegrete: 1956.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 2004.
SOARES, Manoel Adolpho. Uruguaiana Um Século de História... 1843-1943. Porto Alegre: Of.
Gráf. Da Livraria do Globo, 1942.
WEBER, Max. Conceito e categorias de cidade. In: VELHO, Otávio Guilherme. (org.). O
fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
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Roteiro Experimental de Turismo “Roda D’água”: modos “de viver e de fazer” em Nova Hartz/RS.
Vania Inês Avila Priamo326
Palavras-chave: Patrimônio Cultural- Turismo – Identidade – Nova Hartz/RS
O presente texto é parte da pesquisa de mestrado que está sendo realizado na Universidade
do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, sob a orientação da professora Dra. Eloisa Helena
Capovilla da Luz Ramos, cujo título é “Entre A História e o Turismo: as cidades e seu patrimônio
cultural (Nova Hartz- RS)” e com previsão de defesa para o mês de outubro de 2013.Trata-se
de um estudo acerca da preservação do patrimônio material e imaterial das cidades, tendo
como caso em estudo o município de Nova Hartz/RS, analisando algumas de suas
manifestações culturais e seu papel na preservação da história, da memória e da identidade
dos moradores.
Para tanto, nos valemos do suporte teórico metodológico da nova história cultural, bem como
da micro história e da história oral, ao entender que os depoimentos são essenciais
compreender as representações tecidas pela comunidade acerca do seu patrimônio cultural
material e imaterial.
Servimo-nos, também, da metodologia da pesquisa participante “(...) utilizada como forma de
controle dos dados, ao captar nas situações cotidianas os significados não explicitados, mas
vividos, e as contradições entre as práticas e as representações”. (BAHIA,2011, p.23).
Para desenvolver este trabalho faremos uso de autores como Chartier (1990) Thompson
(1998), Joutard (1999), Catroga (2001), Bahia (2011), Varine (2012), Hobsbawm (2012), Gastal
(2003, 2006), Santos; Micheli; Gastal(2008), Barreto (2010), Gimenes (2008), Montanari
(2009), Montesdeoca (2010), Weber (2006), Maciel (2011), entre outros .
O município de Nova Hartz está situado a 80 km de Porto Alegre, na zona de colonização alemã
do RS, numa “*...+ área de transição entre a borda do Planalto Meridional e a Depressão
Central.” (PRÓ-SINOS – Programa de Educação Ambiental, 2012?) tendo sua zona rural situada
nas escarpas/bordas desse Planalto parcialmente cobertos de Mata Atlântica e sua parte
urbana, em terras baixas. As características culturais e as belezas naturais advindas deste
contexto histórico cultural e geográfico são únicas, conferindo ao local um grande potencial
turístico.
O município de Nova Hartz, na tentativa de revitalizar e divulgar o patrimônio cultural material
e imaterial e incrementar a renda dos proprietários desses bens, promovendo a melhoria da
qualidade de vida dos moradores e o fortalecimento dos laços da comunidade para com a
cidade bem como a preservação e valorização deste bens, desenvolveu o “Roteiro
Experimental de Turismo Roda D’água”, que teve início em 2008. Este Roteiro é nosso objeto
de estudo no presente artigo, onde buscamos discutir e compreender as relações da
326 Graduada em história pela Unisinos, com especialização em Patrimônio Cultural em Centros Urbanos
pelo UFRGS; Mestranda em História- PPGH Unisinos. Diretora do Museu Histórico de Nova Hartz.
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comunidade com o seu patrimônio cultural e as interfaces com o turismo cultural, analisando
as possibilidades, as dificuldades e os riscos que advêm da utilização deste patrimônio cultural
como atrativo turístico, quando não há um planejamento adequado e compartilhado com a
comunidade local.
O roteiro em questão, num trajeto de aproximadamente 13 km, contempla o patrimônio
cultural material e imaterial da cidade. Surge de “dentro”/no seio da própria comunidade, por
isso ela tem para oferecer aquilo que conhece, que lhe é familiar: a cuca, o bolo, o pão de
milho, a schmier caseira/colonial, a linguiça, o beiju, os corais, os grupos de dança alemã, as
bandinhas e suas casas e atafonas. Montanari (2009, p.230, grifo do autor) afirma que “*...+ os
atributos de lugares, pessoas e cidades são definidos normalmente do lado de fora destes,
como imagens que refletem o que os outros pensam deles *...+”. Assim, através da atribuição
de valor à cidade e seus espaços, sua cultura, suas tradições pelo olhar de fora, os moradores
também começam a se ver de outra forma, valorizando suas características culturais que antes
podiam até ser considerados motivos de vergonha.
Este roteiro, conforme pudemos pesquisar, vem fazendo com que de alguma forma a
comunidade de uma maneira geral se “olhe”, se conheça e se reconheça através do seu
patrimônio cultural, promovendo o sentimento de pertença e os laços de afeto da comunidade
para com esses bens.
Referências
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hiperlink não é
válida.bitstream/handle/1884/17775/MARIA%20HENRIQUETA%20GIMENES.pdf;jsessioni
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Os benzedores de São Miguel das Missões e a atividade turística
Juliani Borchardt327
Ronaldo Bernardino Colvero328
Palavras-Chave: Benzedores. Turismo. São Miguel das Missões.
Introdução
Este artigo busca analisar e discutir a utilização da prática dos benzimentos pela atividade
turística no município de São Miguel das Missões e suas possíveis consequências. Como
subsídios do trabalho foram analisados materiais promocionais do município e relatos orais
dos próprios benzedores. Por ser uma prática cultural viva na comunidade, é passível de
interferências e mudanças, tornando necessária uma análise das possíveis mudanças que a
prática de benzimentos sofre ao ter um contato estimulado com os milhares de turistas que
visitam a comunidade onde estão inseridos.
O município de São Miguel das Missões-RS é conhecido pelo seu patrimônio histórico material:
o sítio arqueológico da redução329 de São Miguel Arcanjo, um dos sete povoados
desenvolvidos através das missões da Companhia de Jesus a partir do século XVII na região do
Tape, a qual tinha como objetivos o povoamento e organização do território através da
catequização e evangelização dos índios Guarani, território este pertencente a Coroa
Espanhola pelo Tratado de Tordesilhas (1494), espaço que hoje compreende o Estado do Rio
Grande do Sul. Sua fundação é datada em 1687330 tendo como possível fundador o padre
Jesuíta Cristovam de Mendonça. Seus remanescentes arquitetônicos foram declarados pela
UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade no ano de 1983, sendo o único desta
categoria no sul do Brasil. Por esta ação institucional de patrimonialização passou a atrair
milhares de turistas anualmente, os quais se deslocam a fim de conhecer o munícipio e suas
principais características, destacando-se hoje como um dos principais destinos de turismo
cultural do Estado. Neste contexto, passou-se a explorar este segmento econômico como uma
potencialidade em São Miguel das Missões, atraindo investidores de hotéis, restaurantes e
guias de turismo, estimulando o surgimento de outros atores da sociedade como peça chave
para potencializar o turismo local. Um destes grupos foram os benzedores. Se pretende aqui
327
Bacharel em Administração- Projetos e Empreendimentos Turísticos. Especialista em História,
Cultura, Memória e Patrimônio. Aluna do Programa de Pós Graduação em Memória Social e Patrimônio
Cultural da Universidade Federal de Pelotas, Bolsista CAPES. Email: [email protected]
328 Doutor em História pela PUCRS. Prof.º Adjunto da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA -
Campus São Borja. Professor Efetivo do programa de pós graduação em Memória Social e Patrimônio da
Universidade Federal de Pelotas. Email: [email protected]
329 O vocábulo “Redução” vem do latim “Reducere”, que significa conduzir. “Conduzir a um só local e a
uma só fé” era o objetivo dos missionários jesuítas da época.
330 BAIOTO, Rafael; QUEVEDO, Júlio. São Miguel: A Saga do Povo Missioneiro. 2ªed. Porto Alegre-RS,
Martins Livreiro, 2005, p.23.
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analisar e discutir a utilização da prática dos benzimentos pela atividade turística no município
e suas possíveis consequências.
Metodologia e resultados
Foram utilizadas como metodologia principal entrevistas orais com benzedores de São Miguel
das Missões, análise de materiais publicitários turísticos da cidade e pesquisa bibliográfica
referente ao tema, a fim de analisarmos a forma como os benzedores são utilizados pela
atividade turística na cidade e seus possíveis impactos e influências.
Conclusões
Através do material coletado e analisado, concluiu-se que a atividade turística influencia a
prática dos benzimentos em São Miguel das Missões. Os praticantes se deixam influenciar
pelas ações dos turistas e poder público em virtude de uma legitimação e manutenção de seu
ofício, tendo em vista as ameaças que o cercam, como por exemplo, a globalização, a falta de
interesse das novas gerações pelo ofício de benzer e o elevado surgimento de igrejas
evangélicas contrárias a prática de benzimentos.
Referências
BAIOTO, Rafael; QUEVEDO, Júlio. São Miguel: A Saga do Povo Missioneiro. 2ªed. Porto Alegre:
Martins Livreiro, 2005
BRASIL, Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, 18 set. 2008.
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Valter Braga, 2013.
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Cartilha didática: Quarta Colônia: terra, gente e história
Elaine Binotto Fagan331
Orientadora: Profª Drª Maria Medianeira Padoin332
Resumo
Conhecer a própria história e a própria cultura torna o ser humano mais atento, preocupado e
defensor de seu local de convívio, buscando preservar e valorizar este espaço. Paralelamente,
a escola deve ser um local onde conceitos e valores culturais podem ser despertados e
desenvolvidos de forma a mostrar a importância da preservação da história e da memória.
Portanto, o presente trabalho tem por objetivo contribuir para a preservação, valorização e
disseminação da história e da cultura ítalo-brasileira na Quarta Colônia do Rio Grande do Sul
por meio da elaboração de uma cartilha ilustrativa e didática. Essa cartilha, que será produto
final da Dissertação, tratará sobre a história da imigração italiana no Brasil e Rio Grande do Sul,
seguindo pela formação da Quarta Colônia Imperial, sua fragmentação, o patrimônio histórico,
turístico-cultural e natural de cada município dessa região. Esse material pretende ser
disponibilizado para as escolas municipais e estaduais da Quarta Colônia e irá atender a
carência de recursos didáticos sobre essa temática. A partir dessa cartilha pretende-se
despertar a consciência da importância da preservação do patrimônio, identificando
lugares/espaços de memória e a busca de reconhecimento como bem coletivo tanto no setor
público como privado. Esse trabalho busca levar até a escola discussões de conceitos
relacionados com Lugares de Memória, Políticas de Patrimônio, Educação Patrimonial,
definições de Identidade, Cultura, Pertencimento, Valorização e Preservação, entre outros.
Esta dissertação possui, também, como um de seus objetivos, contribuir para a preservação da
memória local no processo de desenvolvimento e integração dos municípios que compõem a
Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul com a metodologia de Educação
Patrimonial de forma interdisciplinar.
Palavras-chave: Quarta Colônia. Cartilha. História. Educação Patrimonial. Identidade.
Preservação.
331
FAGAN, Elaine Binotto- atua como professora na Rede Estadual de Ensino, 40h na Escola Estadual de
Educação Básica João XXIII. Formada pela UFSM em Filosofia em 1990 e História em 1993. Atualmente
está no Programa de Pós-graduação- Mestrado profissionalizante em patrimônio Cultura, tendo como
tema Quarta Colônia- terra, gente e História. [email protected]
332 PADOIN, Maria Medianeira. Professora Doutora em História Platina e coordenadora do mestrado em
Integração Latino Americana, Núcleo de Pesquisa em História do RS II : imigração e religiosidade.
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Tema e Problema
Tema: Quarta Colônia de Imigração Italiana: Terra, Gente e História.
Problema: Como colaborar , enquanto professora da rede pública do ensino básico, com a
divulgação e valorização do conhecimento sobre a Quarta Colônia Imperial de Imigração
Italiana do Rio Grande do Sul e da preservação do seu patrimônio histórico-cultural?
Introdução e Justificativa
A Quarta Colônia de Imigração Italiana do RS é considerada uma fonte original de pesquisa, em
termos de patrimônio histórico e cultural da imigração italiana do século XIX, devido à
preservação e a continuidade em nível familiar tanto dos costumes quanto dos dialetos
trazidos da Itália.
A escola é o local ideal para despertar a consciência educativa e cultural sobre o patrimônio
presente na região, por isso, através dos projetos, realizo trabalhos em sala de aula sobre a
história da imigração: situação europeia e brasileira na época da imigração e da situação atual.
Após são também realizadas pesquisas sobre a história dos diversos núcleos de colonização e
seus pontos turísticos. Em seguida, fazem-se roteiros com acompanhamento de um guia
turístico, por todos os municípios de origem italiana da Quarta Colônia, conhecendo sua
história e os principais pontos turísticos. Como resultado final desses projetos já realizados, os
alunos confeccionam jornais, elaboram vídeos, blogs, desenhos, textos.
Compreender e explicar a formação da Quarta Colônia, criando conceitos e teorias, por meio
de um estudo comparativo entre o modo de vida da época da colonização e a atual
preservação da cultura italiana, através da elaboração de uma cartilha é a finalidade principal
desta pesquisa, que pretendo desenvolver através do projeto de mestrado, ao qual estou me
propondo. A elaboração desta cartilha terá como objetivo principal servir de guia para orientar
os professores a trabalhar a história e a cultura local em sala de aula, buscando despertar a
consciência na preservação e valorização do Patrimônio Histórico e Cultural deixados pelos
descendentes italianos. A distribuição dessa Cartilha será gratuita nas escolas e também
servirá como material de divulgação para turistas que visitam os municípios que compõem a
Quarta Colônia.
Objetivo
-Produzir, enquanto professora da Rede Pública Estadual de Ensino, um material didático com
propósito de divulgar e valorizar o conhecimento sobre a Quarta Colônia de Imigração Italiana
do Rio Grande do Sul e a preservação de seu Patrimônio Histórico- Cultural e Natural.
Metodologia
Esta pesquisa será realizada por meio de entrevistas e bibliografias disponíveis em arquivos de
bibliotecas, acervos culturais e familiares da Quarta Colônia de Imigração Italiana do RS. As
entrevistas orais ( questionário) serão realizadas com pessoas que estão diretamente ligadas
aos centros históricos, associações culturais e órgãos públicos da Quarta Colônia de Imigração
Italiana e pessoas das comunidades que tenham conhecimento empírico, buscando-se nas
fontes bibliográficas o apoio necessário para referendar as falas dos entrevistados.
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As fontes de pesquisa serão os documentos no centro de Pesquisas Genealógicas de Nova
Palma, livros contando a história da Quarta Colônia de Imigração Italiana, bem como
fotografias, imagens e documentos e acervos familiares. O Estudo terá cunho qualitativo. A
referida cartilha terá como personagens principais o avô Francesco e a neta Isabela e será
elaborada de forma a conter as informações coletadas, tendo como finalidade a divulgação da
história e do patrimônio cultural da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul.
A Cartilha terá aproximadamente 40 páginas.
Conclusões
A dissertação está em andamento. Foi realizada a qualificação em maio de 2013. Neste
momento o foco está na elaboração do livro/cartilha. O Trabalho conta com a parceria de um
cartunista que está realizando as ilustrações através de uma história em quadrinhos, que terá
como personagens principais (menina -Isabela) e seu avó (Francesco) que irão encontrar um
baú antigo repleto de memórias/recordações de seus antepassados e um terceiro personagem
que irá narrar os fatos históricos (texto). Os personagens irão decifrar a história da Quarta
Colônia, buscando entender o passado, compreender o presente e projetar o futuro. O
referido livro terá fotografias de época e atuais, mapas e pontos turísticos dos nove municípios
que compõem atualmente a Quarta Colônia 333e atividades lúdicas/educativas onde o leitor
poderá interagir.
333
Municípios que compõem atualmente a Quarta Colônia: Silveira Martins, Ivorá, Pinhal Grande, Nova
Palma, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, São João do Polêsine, Agudo e Restinga Seca.
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Pelotas, passado e presente: Usos dos espaços do Centro Histórico Pelotense.
Cristiane Bartz Ávila
Maria de Fátima Bento Ribeiro
Palavras-chave: Memória. Patrimônio. Cultura. Espaço. Cidade. Legislação.
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre os usos dados aos espaços do Largo do
Mercado Público e da Praça Coronel Pedro Osório pela população da cidade de Pelotas no
passado e no presente e qual a contribuição desses usos para a memória social desta região. O
Mercado Público, como local de venda de produtos, foi construído em meados do século XIX,
época de trabalho escravo na Cidade. A Praça Coronel Pedro Osório neste período tinha em
seu centro um Pelourinho, conforme aponta GUTIERREZ (1999). Portanto, esse dois espaços
frequentados por múltiplas vozes, teria se constituído de um território de intercâmbio cultural.
Atualmente, nos deparamos com vários trabalhos que estudam e divulgam histórias do ponto
de vista das “minorias”, iniciativas essas muitas vezes fomentadas em função das politicas
públicas que têm sido adotadas a partir das discussões iniciadas com leis, pareceres, decretos
que versam sobre a importância do Patrimônio Cultural Imaterial, cuja expressão de
fundamental importância é a Convenção da UNESCO do Patrimônio Imaterial de 2003. A
Convenção traz em seu primeiro artigo suas finalidades: Salvaguarda, respeito,
conscientização, cooperação e assistência em relação ao Patrimônio Imaterial. Em termos de
Brasil, os estudos avançam, há uma preocupação em conhecer o passado e uma
conscientização da contribuição cultural dos diversos povos que compõem o mosaico
territorial brasileiro. Os espaços citados eram propícios para a venda de doces e quitutes que
as mulheres negras produziam. RIETH et al (2008), ressalta a importância do contato das
escravas e de suas Senhoras esposas dos charqueadores locais, para a criação de um doce que
hoje em dia faz parte da tradição doceira da Cidade: O Quindin. Já no inicio do século XX
encontramos referencias na Revista Princeza do Sul, sobre essas mulheres com a denominação
de “Tias Minas”, que vendiam seus quitutes.
Na atualidade, há uma ressignificação desses dois espaços em relação ao passado. A Praça e o
Mercado Público podem ser considerados Patrimônio Cultural, pois neles ocorre a socialização,
a venda de mercadorias, a troca de conhecimentos. Citamos como exemplo o “Dia do
Patrimônio”, ocorrido nos dias 17 e 18 de agosto do presente ano, o qual ao fazermos um
passeio no entorno da Praça, nos deparamos na frente do mercado com um grupo de teatro
que trabalhava com figuras ilustres pelotenses: Lobo da Costa, Iolanda Pereira e a Tia Mina. A
figura das Tias Minas causava admiração em alguns presentes, pois, talvez estes não
conhecessem ou não estavam acostumados à referência desta que antes anônima e invisível,
circulava pela Cidade, e que atualmente numa clara mudança de paradigma, temos a alusão da
mesma em um evento que tratou de questões patrimoniais e de memória da Cidade.
Figura 1. Tio e Tia “Mina”.
Fonte: http://imperatrizdocesfinos.blogspot.com.br acesso em 24.02.2013
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Figura 2. Mercado Público de Pelotas.
Fonte: http://pelotasdeportasabertas.blogspot.com.br/2012/08/em-pelotas-mercado-central-
tera.html acesso em 16/09/2013.
Figura 3- Quindin- doce tradicional da cidade de Pelotas
Fonte: http://festaesabor.blogspot.com.br/2011/05/receita-de-quindin.html acesso em
16/09/2013.
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Metodologia e resultados
Como metodologia, utilizamos o referencial teórico da historiografia local, bibliografia cujos
temas referem-se a cidades, espaços, territórios, memória e patrimônio bem como
documentos que retratam a Cidade de Pelotas no século XIX e documentos sobre as políticas
públicas em relação ao Patrimônio Cultural e a percepção dos usos que são feitos nestes
espaços na atualidade registrados através da observação, fotos, sites, e depoimentos.
Como resultados pudemos observar que as políticas públicas de salvaguarda do Patrimônio
Imaterial, têm sido trabalhadas por diversos órgãos para que as manifestações culturais dos
diversos segmentos sejam valorizadas. Podemos vislumbrar uma socialização de informações
das mais diversas áreas do conhecimento, tanto do erudito quanto do popular, que hoje se
tornam visíveis através de ações de Educação Patrimonial.
Conclusões
Percebemos que os espaços analisados são permeados de significados atribuídos pelos atores
sociais de suas respectivas épocas. As politicas públicas vêm contribuindo sobremaneira para
que estudos e pesquisas sobre assuntos relacionados aos saberes e fazeres de comunidades e
etnias, consideradas o “outro”1, sejam trabalhados e divulgados, trazendo uma socialização
maior destes temas, numa procura pelo respeito à diversidade cultural. Dessa forma, o
presente trabalho cumpriu com o objetivo de analisar e refletir sobre os usos desses espaços
como espaços públicos onde ocorreram e ainda ocorrem manifestações culturais de cidadãos
(in) visíveis dentro das relações de poder existentes.
Referênciass
APPADURAI, Arjun. 2009. O Medo ao Pequeno Número: ensaio sobre a geografia da raiva. São
Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural.
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Sertanidades criativas
Gustavo Meyer1
Flávia Charão Marques1
Palavras-chave: sertão; patrimônio cultural; Guimarães Rosa; espetacularização, criatividade.
Introdução
Este artigo surgiu a partir de uma pesquisa fundada na problematização das estratégias e
perspectivas de desenvolvimento rural no Brasil associadas à valorização de elementos do
campo artístico-cultural, tal qual o patrimônio cultural. Para além dos relativismos que
acompanham quaisquer estratégias de desenvolvimento, foram buscados, no campo empírico,
processos e contextos que pudessem pautar essa discussão. Assim, identificamos um contexto
“geográfico” particular, caracterizado pela presença de dois municípios (12.000 e 19.000
habitantes; Figura 1) que abrigam Pontos de Cultura e Sistemas Municipais de Patrimônio
Cultural, pela operação de uma rede de organizações locais vinculadas ao artesanato e pela
ocorrência anual de dois encontros de cultura popular. Objetiva-se especificamente com esse
artigo analisar os usos estratégicos do patrimônio cultural e da paisagem literária nesse
contexto.
Metodologia e resultados
A pesquisa, para a qual recorremos ao método etnográfico, faz parte de um projeto de
doutorado, e teve seis meses de duração a campo. Neste processo, valemo-nos dos métodos
de observação participante em eventos artístico-culturais locais, de registro de histórias de
vida de agentes culturais, de conversas informais, de entrevistas junto a informantes chaves e
da pesquisa documental.
Identificamos ali um constante revisitar da paisagem literária de João Guimarães Rosa (1908-
1967), mas um revisitar ativo e reflexivo pela própria incorporação estratégica dessa
perspectiva de paisagem aos discursos. E a incorporação estratégica inclui fazer a literatura
ascender ao status de patrimônio cultural local. Mas não um patrimônio cultural apenas
objetivo, e sim um que também sustenta um dispositivo pensado, de mobilização para o
cultural, para o natural e para o poético. É nesse sentido que os atores sociais, diferenciados
enquanto grupos discursivos, alimentam a perspectiva turística da região, sem que essa
constitua uma estratégia única, dadas a pluralidade de discursos e a necessidade de “negociar”
os vários interesses e significações É possível, no entanto, associar tal dispositivo pensado às
organizações da sociedade civil, cujo conjunto busca fazer um contraponto às estratégias dos
governos municipais, por sua vez fundadas em um discurso populista e no oferecimento de
elementos da cultura de massas.
Se a paisagem literária é um dos pontos a partir do qual foi possível observar a dinâmica
artístico-cultural desse contexto, o discurso da economia criativa constitui outro. Esse é o viés
pelo qual ocorrem os esforços de ressignificar simbolicamente o patrimônio cultural para o
valor econômico. Porém, observa-se uma ressignificação persuasiva onde, em termos de
objetivos últimos, interessa menos estabelecer a vinculação entre patrimônio cultural e
economia, e mais manter uma malha de projetos artístico-culturais e/ou socioambientais. Tal
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malha interfere ou garante recursos para articular atores locais, gerar empregos, constituir
redes e produzir debates e alianças. Paralelamente, a espetacularização é instrumento para
essa negociação.
Se nesse espaço o discurso da economia criativa está formalmente amparado por políticas
públicas, que se justificam segundo um “respaldo científico” e que garantem recursos para
este fim, ocorre ali, simultaneamente, a espoliação desse discurso com finalidades outras. A
espoliação é indicada a partir do distanciamento entre prática e discurso e pela assunção de
que o cenário almejado está “ainda muito distante”. Nesse sentido, os motivos da adesão local
a esse discurso hegemônico estão atrelados à produção de resultados mais imediatos que
aparecem como se despregados da noção de economia criativa (Florida, 2000; Golgher, 2008).
A economia criativa e a paisagem literária são, assim, os principais motes discursivos para o
turismo. Segundo a primeira, conseguir-se-á a atração de pessoas de fora para a visitação
(econômica) da região e para a compra de produtos artesãos. A partir da segunda, justificar-se-
á, no plano hipotético, o turismo, ao passo que, no plano prático, a literatura aparece como
linguagem proposta e como elo entre atores que se organizam em rede segundo um discurso
que tende ao “emancipatório”.
Conclusões
In situ observamos que a literatura de João Guimarães Rosa vem sendo manejada por grupos
sociais diversos, particularmente nas últimas duas décadas, no sentido de construir uma
imagem de sertão que é utilizada como instrumento político e econômico. Se por um lado
identificam-se práticas visando à espetacularização do patrimônio, por outro se visualiza o
apelo à obra do referido autor enquanto mecanismo propulsor de um discurso dinâmico que
foge aos clichês do evento turístico-cultural per se e aos grilhões da economia criativa.
Referências
FLORIDA, R. The Rise of the Creative Class: And How It’s Transforming Work, Leisure,
Community and Everyday Life. New York: Basic Books. 2002.
GOLGHER, A.B. As cidades e a classe criativa no Brasil: diferenças espaciais na distribuição de
indivíduos qualificados nos municípios brasileiros. Revista Brasileira de Estudos Populacionais,
v. 25, n. 1, p. 109-129, 2008.
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A elaboração de pães caseiros como resgate cultural do patrimônio imaterial, na Região de São
Gotardo / RS
Etiene Meyer Johannsen1
Rachel Mattos Bevilacqua1
Palavras-chave: Patrimônio cultural. Resgate gastronômico. Potencial turístico.
Introdução
A partir de Convenção da UNESCO de 2003, a noção de patrimônio cultural foi ampliada, com
propostas de valorização da expressão de coisas menos tangíveis, como parte desse
arcabouço, onde a língua insere-se naturalmente. Assim, conjuntos de práticas, associadas a
determinados grupos sociais, como receitas e histórias passadas de geração em geração estão
integradas e reconstituem memória abstrata de práticas ancestrais.
Assim, este trabalho, em andamento, visa a recuperar ancestralidade e importância da
valorização das raízes gastronômicas e lingüísticas locais, recriando receitas orais, num resgate
turístico e de patrimônio cultural. Então, buscamos estudar a elaboração de pão artesanal na
atualidade, inserida na linguagem do corpus escolhido. Colocamos em prática etapas de
elaboração deste alimento, abordando o simbolismo do pão, transmitido através das
conversas informais familiares.
Logo, investigamos cultivo e características de cereais utilizados, frequentemente ao longo da
história, técnicas de moagem, tradições populares que acompanham etapas de confecção e
processos de cocção do pão colonial na atualidade, produzidos na região de São Gotardo, no
Rio Grande do Sul.
O levantamento parcial de dados desta pesquisa está sendo realizado no Distrito de Vila Seca –
São Gotardo – Caxias do Sul, junto à família Ballardine Zanette, cujo discurso está diretamente
ligado ao de origem italiana.
Metodologia e Resultados
A ideia geradora desta pesquisa é resgatar memórias gastronômicas e linguísticas da região
como instrumento de turismo cultural. Questionamos a perda da naturalidade no sabor
original dos alimentos produzidos na atualidade e buscamos remontar receitas orais ancienne1
da região em estudo, com latente potencial de turismo e gastronômico. Em conversa com
alunos do Curso de Gastronomia da UCS1, foi sugerida visita a sua avó, que produz pães
caseiros com métodos artesanais, sempre com utilização de fornos a barro - diferencial de
sabor e aroma dos pães de nona. As receitas orais elaboradas pelas moradoras locais podem
tornar-se excelente atrativo turístico na área do turismo gastronômico.
A abordagem qualitativa ampara o presente estudo de observação participante. Este viés
metodológico aproxima teoria e fatos, com interpretação de episódios pontuais, focando
contexto histórico e ação propriamente dita. Ao optar por esta metodologia, sabemos que é
através da subjetividade do pesquisador que a realidade e dinâmica do fato observado são
relatadas, privilegiado aspectos internos e particulares da situação, como o estudo lingüístico
ora proposto.
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Neste viés metodológico e após reunião com a família1 em estudo, inicialmente foram
realizadas oficinas de elaboração de pães caseiros, em sua residência, assim organizadas:
Receituário verbal
Mise en place 1: insumos e utensílios
Elaboração de fermentos e mistura das massas
Sova e levedação
Boleamento e cocção
Nas oficinas, tudo foi realizado informalmente, inclusive as conversas com a nona, contando
da grande dificuldade na produção da farinha. A participante dizia que antes tudo era muito
complicado e hoje ela é mais feliz, pois tudo é mais fácil. Por outro lado, comenta que o trigo
moído a mão tinha mais sabor, com artesanais que tornavam o trigo mais escuro.
Outras participantes das oficinas afirmavam que não há necessidade de grandes tecnologias
para produção do pão, pois criam filhos e netos com a mesma receita da nona, cuja base é
banha e fermento de batata. Isso demonstra que o fator lingüístico também garante a
qualidade do produto, mantendo a tradição familiar.
Conclusões
Mesmo com a pesquisa em andamento, vemos que é possível a resposta às questões ora
levantadas tendem a reafirmar-nos nos caminhos da promoção cultura e turística da região
estudada. Isso se deve à reafirmação do desenvolvimento cultural de uma região por
processos produtivos aliados a uma releitura de processos artesanais vinculados à
gastronomia, podendo fomentar o mercado turístico gastronômico e regional.
Assim, o pão de nona pode ser elaborado, mantendo receitas orais originais, com sabores e
aromas diferenciados, aplicando insumos modernos, sem desconsiderar o patrimônio cultural
local, no resgate gastronômico em busca do desenvolvimento de seu potencial turístico.
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Patrimônio cultural e memória: a Oktoberfest na construção da etnicidade alemã
Valdir Jose Morigi1
Maria Madalena Zambi de Albuquerque1
Luis Fernando Herbert Massoni1
Palavras-chave: Informação e Cultura Popular. Festa Étnica. Oktoberfest. Cultura Midiática.
Patrimônio.
Introdução
O presente artigo aborda as festas étnicas, celebrações comunitárias que dinamizam a
sociabilidade e fazem parte do acervo do patrimônio cultural e da memória dos grupos sociais.
Estuda os festejos a partir das perspectivas teóricas da cultura popular, bem como suas
articulações com a cultura midiática, dialogando com autores como DODEBEI e ABREU (2008),
FLORES (1997), GARCÍA-CANCLINI (1983; 1997), POUTIGNAT e STREIFF-FENART (1998), e
CHOAY (1999). A Oktoberfest é uma festa popular étnica, representativa da história e da
tradição da cultura germânica. É realizada no mês de outubro, com ampla visibilidade nos
meios de comunicação. O trabalho reflete sobre o patrimônio cultural e as construções dos
sentidos étnicos nas celebrações coletivas através das informações que circulam nos sites
oficiais das Oktoberfest realizadas em Blumenau/SC e Santa Cruz do Sul/RS, e os processos que
reforçam a etnização engendrados pelos dispositivos que constituem a cultura midiática.
O estudo faz parte do projeto de pesquisa “Informação, Comunicação e Cultura Popular: um
estudo sobre produção e uso de informações sobre festas comunitárias”, que objetiva verificar
como grupos sociais, através das expressões da cultura popular, interagem com elementos da
indústria cultural, entre os quais as tecnologias da informação e comunicação.
Metodologia e Resultados
Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, realizado no primeiro semestre de 2013,
com a análise de conteúdo das informações veiculadas nos sites de divulgação oficial dos
eventos (OKTOBERFEST BLUMENAU, 2013; OKTOBERFEST SANTA CRUZ DO SUL, 2013). A
análise dos sites considerou as seguintes dimensões da festa: os personagens, os
acontecimentos, o enredo e o cenário. A partir da análise destas quatro dimensões, que se
entrelaçam, foi possível identificar os principais elementos da Oktoberfest, considerados
marcas da cultura germânica, destacados na produção das informações que privilegiam o seu
caráter étnico.
A respeito dos personagens, procurou-se a sua identificação, caracterização (atributos e
funções, as suas vestimentas, adereços, os gestos...) e a rede de relações. A partir daí foi
possível perceber os estereótipos que circulam nessas mídias. Em relação aos acontecimentos,
procurou-se verificar a ordem temporal dos fatos, a história e sua relação com a festa. O
enredo se refere ao tema das festas. O cenário se refere aos lugares onde transcorrem os
fatos, os espaços onde ocorrem as diversas atividades das festas. A identidade do lugar está
impregnada de elementos emblemáticos, que aferem significados à memória individual e
coletiva.
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Através da análise das informações sobre as festas divulgadas pelos sites, percebe-se que os
festejos são espaços híbridos, constituídos de signos e de símbolos associados à cultura alemã,
sendo que os sites evidenciam atividades relacionadas a danças, músicas, indumentárias,
comidas e bebidas da tradição germânica.
Conclusões
É comum nos eventos comemorativos étnicos encontrar aspectos relacionados à exaltação do
“pioneirismo” dos imigrantes, sendo que esta prática promove continuidade da reprodução
das tradições culturais e suas representações e estereótipos, criados em torno da
autorepresentação identitária que os grupos fazem de si. Elas colaboram para a construção da
memória social e do imaginário sobre o fenômeno da imigração. A partir das mediações dos
sites desses eventos, é possível pensar as novas configurações das identidades culturais étnicas
como uma esfera pública interconectada, visibilizando as demandas, o caráter híbrido da festa,
os intercâmbios entre os sujeitos sociais e o compartilhamento de memória.
Através das Oktoberfest, o patrimônio de cada localidade expressa as marcas particulares, que
singularizam as festas em cada cidade, através das quais os patrimônios podem ser
identificados e reconhecidos como conjuntos de traços identitários que se constroem
continuamente, valorizando a identidade e a memória local.
O estudo conclui que as informações veiculadas nos sites das festas étnicas populares
enfatizam as características da tradição da cultura alemã, com expressão nos bens
patrimoniais tangíveis e intangíveis como as comidas típicas, artesanatos locais e danças
folclóricas. Tais elementos auxiliam a fortalecer o sentimento de pertencimento do sujeito ao
grupo social. Esses ambientes virtuais possibilitam a dinamização do patrimônio cultural,
interconectado com a cultura global, o corresponderia a uma nova forma de visibilidade, de
atuação, interação e de percepção do mundo.
Referências
CHOAY, F. A Alegoria do Patrimônio. Lisboa: Edições 70, 1999.
DODEBEI, V.; ABREU, R. (Orgs.). E o Patrimônio? Rio de Janeiro: Programa de Pós-graduação
em Memória Social da Unirio, 2008.
FLORES, M. B. R. Oktoberfest: turismo, festa e cultura na estação do chopp. Florianópolis:
Letras Contemporâneas, 1997.
GARCÍA-CANCLINI, N. As Culturas Populares no Capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
GARCÍA-CANCLINI, N. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São
Paulo: Edusp, 1997.
OKTOBERFEST BLUMENAU. [Site institucional]. Blumenau, 2013. Disponível em:
< http://www.oktoberfestblumenau.com.br >. Acesso em: 23 maio 2013.
OKTOBERFEST SANTA CRUZ DO SUL. [Site institucional]. Santa Cruz do Sul: 2013. Disponível
em: < http://www.oktoberfestsantacruz.com.br >. Acesso em: 24 jun. 2013.
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POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da Etnicidade: seguido de grupos étnicos e suas
fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.
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O inventário de Pelotas em 1983.
Francine Morales Tavares Ribeiro1
Jeferson Dutra Salaberry1
Guilherme Pinto de Almeida1
Sidney Gonçalves Vieira 1
Palavras-chave: Patrimônio edificado. Preservação. Inventário.Políticas Públicas.
Introdução
O presente trabalho trata da importância que o primeiro inventário teve na historiografia da
trajetória da proteção do patrimônio cultural pelotense, no caso dos bens culturais edificados,
inventariar significa coletar dados para o conhecimento de um bem como uma operação de
registros, assim uma ficha de inventário pode conter dados gerais do imóvel, ambiência,
aspectos arquitetônicos, estado de conservação, registros fotográficos, tudo vai depender de
quais informações se objetiva ter conhecimento.
Assim concebido, o inventário poderá ser a base de uma nova política de preservação, que, ao invés de tutelar apenas os bens excepcionais normalmente produzidos pelas elites, buscará administrar o patrimônio amplo e pluralista construído por todos os brasileiros. (AZEVEDO, 1987, p. 82).
Numa parceria da Prefeitura Municipal - Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente-,
Universidade Federal de Pelotas – Curso de Arquitetura e Urbanismo e Fundação Nacional Pró-
Memória em 1983, foram catalogadas vários prédios em Pelotas que consideravam dignos de
permanência no conjunto arquitetônico do município, este registro foi baseado na planta de
1815, que trata do 1° loteamento da cidade.
Figura 3 – Planta da Freguesia de São Francisco de Paula, 1815.
Fonte: Acervo do NEAB - Núcleo de estudos de Arquitetura Brasileira da FAUrb – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel.
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O referido trabalho se fundamenta pela importância de manter no histórico da trajetória de
preservação cultural pelotense, este episódio tão significativo em razão de ser o primeiro
cadastro na cidade com a intenção de resguardar as casas mais simples que se juntavam às
centenas de outras em formas mais expressivas (ROIG & POLIDORI, 1999).
Metodologia e resultados
A coleta de dados se baseou em entrevistas discursivas, com os atores participantes deste
cadastramento na época e análise de documentos e fichas utilizados para o presente registro.
Conclusões
Diante de tais estudos, foi possível verificar que dos imóveis estudados em 1983, a maioria não
foi inventariado naquele período pelo órgão municipal responsável, permanecendo no rol dos
preservados somente os monumentos isolados consagrados da época localizados no centro
histórico da cidade, porém este estudo foi primordial para alertar os gestores públicos na
importância que representa a preservação física da história da cidade. Este cadastramento,
somado aos próximos, constituiu o inventário do patrimônio cultural de Pelotas, documento
fundamental em que consta a relação dos imóveis preservados da cidade, servindo de base
para instrumentos futuros de políticas públicas patrimoniais.
Referências
AZEVEDO, Paulo Ormindo de. Por um inventário do patrimônio cultural brasileiro. Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. n. 22, 1987.
POLIDORI, Maurício Couto; ROIG, Carmen Vera. Patrimônio Cultural, Cidade e Inventário: Um
caminho possível para a preservação. Pelotas: EdUFPel, 1999.
MIRANDA, Marcos Paulo de Souza. O inventário como instrumento constitucional de proteção
ao patrimônio cultural brasileiro. Jus Navigandi, 2008. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/11164>. Acesso em: ago. 2013.
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Trilha Caminhos dos Maniçobeiros: integração da Cultura Imaterial, Turismo e vivência do Patrimônio
Ana Stela de Negreiros Oliveira1
Joseane Pereira Paes Landim1
Rosa Maria Gonçalves1
Palavras-chave: Maniçobeiros; Serra da Capivara, Memória, Patrimônio Cultural.
Introdução
No início do século XX o Estado do Piauí viveu um período de prosperidade econômica com a
exploração da borracha de maniçoba, especialmente em áreas que se encontram hoje
constituindo o Parque Nacional Serra da Capivara.
Pessoas vindas de outros estados e dos municípios da redondeza faziam das tocas encontradas
no local, antes ocupadas por povos pré-históricos, suas moradias, convivendo com vestígios
arqueológicos, reocupando a área e construindo um novo espaço, com novos simbolismos e
adaptações culturais. Toda essa experiência de vida estabelecida desde o plantio até a
comercialização do látex da maniçoba constituiu uma forma de vida única, estabelecida
apenas nessa região, gerando um patrimônio cultural material e imaterial singular, em
concordância com o conceito da UNESCO para Patrimônio Cultural Imaterial: as práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos,
artefatos e lugares que lhes são associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os
indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.
Figura 1 - Toca do João Sabino. A Toca foi utilizada pelo maniçobeiro de mesmo nome, era o local
onde os festejos de São João eram organizados. Fonte: Acervo FUMDHAM
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Figura 2 – Forno de Farinha da Toca do Mulungú III.
Fonte: Acervo FUMDHAM
As atividades previstas nesse projeto estabelecem a ligação entre a memória do período da
extração do látex da maniçoba ao imaginário das pessoas para impedir o desaparecimento dos
vínculos entre descendentes de maniçobeiros e os locais de suas práticas existentes no interior
do Parque Nacional Serra da Capivara e intensificando a valorização do peculiar modo de vida
destas pessoas, ações que expandem a memória social dessa práxis para as novas gerações,
garantindo aos descendentes desse grupo social seu direito à cultura e à memória.
O projeto Trilha Caminhos dos Maniçobeiros foi submetido pela Fundação Museu do Homem
Americano/FUMDHAM ao Edital Petrobras Cultural, sendo selecionado para execução entre
2013/2014 e foi elaborado a partir da dissertação de mestrado “Catingueiros da Borracha: vida
de maniçobeiro no Sudeste do Piauí” de autoria de Ana Stela de Negreiros Oliveira (2001).
Trata-se de ações que incluem a restauração e conservação, e que estão sendo executadas
para a preparação turística dos sítios arqueológicos ocupados por maniçobeiros na Serra
Branca, Parque Nacional Serra da Capivara; a publicação do livro “Os Maniçobeiros do Sudeste
do Piauí” e de um Jogo de Tabuleiro Educativo, baseado nas gravuras rupestres existentes nas
rochas presentes nos Sítios Arqueológicos localizados na Trilha. Já o Programa de Capacitação
habilita os Condutores de Visitantes do Parque para a especificidade da Trilha e outras ações
de educação patrimonial.
Metodologia e resultados
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A partir do levantamento realizado pelo Escritório Técnico do IPHAN em São Raimundo Nonato
no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos/CNSA-IPHAN e no Banco de Dados da
FUMDHAM, foram detectados 43 sítios arqueológicos da região da Serra Branca no Parque
Nacional Serra da Capivara que tiveram ocupação e uso por maniçobeiros. Destes, foram
selecionados os sítios interessantes do ponto de vista histórico, educativo e turístico
(relevância e pertinência) para a preservação dos vestígios materiais da presença dos
maniçobeiros (fornos, moradias, jogos, gravuras e pinturas feitas pelos maniçobeiros) em sua
inter-relação com os vestígios arqueológicos.
As ações de Educação Patrimonial são ministradas por maniçobeiros que revivem as técnicas e
procedimentos da extração do látex da maniçoba junto às novas gerações. A formação dos
Condutores de Visitantes para a Trilha é uma estratégia de divulgação e multiplicação dos
saberes e tradições da Cultura dos Maniçobeiros junto aos turistas que frequentam o Parque
Nacional, garantindo o acesso público a este Patrimônio Imaterial.
Conclusões
Considerado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, O Parque Nacional Serra
da Capivara possui mais de 1343 sítios com registro rupestre, uma das formas de comunicação
de sociedades pretéritas. Para receber o público visitante, a Fundação preparou 172 sítios,
dentre eles, 16 são estão preparados para pessoas com mobilidade reduzida, distribuídos em
10 Circuitos Turísticos, A Trilha Caminhos dos Maniçobeiros facilita a compreensão das
múltiplas características presentes no Parque Nacional, e a ocupação histórica dessa região.
Foi preparada para que tanto o visitante como o morador local conheçam e valorizem os sítios
arqueológicos, pré-históricos e históricos e compreendam as diversas nuances deste
patrimônio cultural.
Os maniçobeiros e seus descendentes são sujeitos do processo de salvaguarda do Patrimônio
presentes na história da exploração do látex da Maniçoba no Piauí e sua presença está
assegurada em todas as etapas do projeto, da interpretação de sua história ao
rememoramento de suas festas e tradições no momento da inauguração da Trilha.
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Figura 3 – Mapa da Trilha Caminhos dos Maniçobeiros.
Fonte: Google/FUMDHAM
Referências
ALCÂNTARA, Tainã Moura. A ocupação maniçobeira dos abrigos sob rocha no Parque
Nacional Serra da Capivara: uma abordagem arqueológica. Monografia (Graduação em
Arqueologia). UNIVASF: Universidade Federal do Vale do São Francisco, 2009.
BUCO, Cristiane de A. Arqueologia do Movimento: Relações entre a Arte Rupestre,
Arqueologia e Meio Ambiente da Pré-história aos dias atuais, no Vale da Serra Branca. Parque
Nacional Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Tese (Doutorado). Universidade de Trás – Os –
Montes e Alto Douro Vila Real, 2012.
BUCO, Elizabete. Turismo Arqueológico Região do Parque Nacional Serra da Capivara.
FUMDHAM: Fundação Museu do Homem Americano, 2011.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008, p.03-21.
GODOI, Emília Pietrafesa de. O Trabalho da Memória: um estudo antropológico de ocupação
camponesa no sertão do Piauí. Campinas. UNICAMP, 1993. (Dissertação de Mestrado)
LE GOFF, Jacques. História e Memória; tradução Bernardo Leitão – 5ª Ed – Campinas, SP:
Editora da Unicamp, 2003.
LUZ, Carolina Francisca Machiori. Sítios Arqueológicos de Registro Rupestre: O Modelo da
Gestão Compartilhada e as Ações de Preservação do Iphan no Parque Nacional Serra da
Capivara e entorno - Piauí, Brasil. Dissertação (Mestrado Profissional em Preservação do
Patrimônio Cultural). IPHAN, 2012.
OLIVEIRA, Ana Stela de N. Catingueiros da Borracha: Vida de Maniçobeiro no Sudeste do Piauí
1900/1960. Dissertação (Mestrado). Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2001.
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QUEIROZ, Teresinha. A Importância da Borracha de Maniçoba na Economia do Piauí: 1900 –
1920. Teresina: UFPI /APL, 1994.
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La deseable injerencia de los patrimonios locales
en los procesos de desarrollo urbano de pequeña escala
Gilda Maria Wolf Amaya334
Palavras-chave: PATRIMONIOS LOCALES.MEMORIA.GESTIÓN PATRIMONIAL.URBANISMO
Introdução
El trabajo es fruto de una investigación que busca hacer de los distintos patrimonios locales
los estructurante del desarrollo urbano.
La primera acción es la de delimitar el lugar, señalando los límites que los habitantes tienen y
que casi nunca coincide con los límites administrativos impuestos desde los Planes de
ordenamiento territorial.
Los límites definen el aquí y el allá y establecen el tamaño del territorio a considerar en la
investigación, esta área se estima como el laboratorio urbano para la pesquisa.
Metodología e resultados
La metodología se fundamenta en tres conceptos, el contexto, la sostenibilidad y la
participación. Con el primero se garantiza que se conoce la información que existe sobre el
lugar. La información se levanta en muy distintos soportes. Relatos, censos, planos,
fotografías, cartografías, historias locales, tesis de grado, noticias de periódicos y literatura.
Esta última es muy precisa en cuanto a las valoraciones que tiene un lugar, así por ejemplo,
cuando se hizo el trabajo con el barrio Boston de Medellín, la novela de Fernando Vallejo,
escritor y cineasta que nació y creció en este entorno, Los días azules, nos proporcionó una
manera poética de entender el lugar e influyó en los análisis y las propuestas que se
esbozaron.
Otra fuente importante para la pesquisa que busca entender el lugar, es la de las tesis de
grado que se han elaborado en las distintas carreras y facultades de la Ciudad, en torno al
lugar de nuestro estudio, tanto las de pre y post grado, porque en ellas están consignados los
problemas y alternativas de solución y los estudiantes que las elaboran, con más pasión que
interés, presentan una visión técnica y científica de ese lugar donde desarrollan su propio
trabajo.
En el entendimiento del lugar se han utilizado distintas técnicas de aproximación y
participación, las fotografías son una fuente importante de datos y sirven para señalar los
334 Arquitecta, magister en estética y candidata a doctora en gestión y conservación del patrimonio de la
Universidad de Granada, España. Docente de planta y tiempo completo de la Facultad de Arquitectura
de la Universidad Nacional de Colombia – Sede Medellín. Correo electrónico. [email protected]
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cambios y transformaciones que tiene el lugar y hablar sobre las imágenes amplía la
comprensión y valoración y es un estímulo para la participación.
La revisión de prensa es otro de los insumos en el trabajo de contexto, la prensa permite
aproximarnos a la percepción que tienen los no residentes del entorno estudiado. Hay sitios
estigmatizados en los medios impresos y las noticias se presentan de manera tendenciosa o
incompleta y esto hace que se modifiquen las visiones que se tienen sobre el lugar.
Cruzando todos estos insumos, emergen los patrimonios tangibles e intangibles, reconocidos
u ocultos. Para obtener los resultados esperados hay que establecer previamente procesos de
participación efectivos que luego en una tercera etapa hagan posible llevar a término los
proyectos más convenientes para lograr un desarrollo urbano adecuado y sostenible.
Conclusões
El proceso se ha aplicado con algún éxito en algunos de los barrios de Medellín-Colombia y en
municipios pequeños cercanos a Medellín que tienen material para elaborar planes de
desarrollo, estrategias, proyectos y programas acordes con las condiciones sociales y
económicas del territorio y afines con los deseos y aspiraciones de los habitantes.
En el trabajo se reconocen a los habitantes como los portadores de la información, la
formación y el interés, por lo que el proceso de participación se da de manera fluida y clara, y
las propuestas que resultan no se imponen sino que se construyen entre todos.
Referências
QUESADA AVENDAÑO Florencia. En el Barrio Amón. Historia del Barrio Amón, el barrio
burgués de San José de Costa Rica desde su construcción hasta hoy. Editorial de la Universidad
de Costa Rica. Colección Nueva Historia.2001
Otras fuentes son: Las Actas Municipales, los datos censales y catastrales, las memorias de
quienes vivieron en determinado lugar, las memorias de algunos arquitectos y los directorios
telefónicos y guías de viaje.
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A mercantilização e espetacularização das cidades:
O desafio em preservar o patrimônio histórico e cultural
Jaqueline Marcos de Araujo1
Palavras-chave: Espetacularização Urbana. Revitalização. Gentrificação. Preservação do
Patrimônio Histórico e Cultural.
Introdução
O presente trabalho apresenta uma breve exposição das atuais intervenções urbanísticas que
acontecem em cidades em que são empenhados investimentos que visam a espetacularização
e revitalização de seus centros históricos, prospectando futuros retornos financeiros,
preferencialmente no turismo, entrando no rol de cidades globalizadas com intuito de servir
ao consumo com seu patrimônio histórico e cultural, podendo aumentar problemas sociais no
desenvolvimento urbano da cidade, tais como a gentrificação, a homogeneização da cultura
local e a museificação do patrimônio histórico edificado.
Metodologia e resultados
O método utilizado para a sustentação do artigo é através da pesquisa qualitativa, com
referencial teórico que aborda temas como: espetacularização, revitalização, patrimônio
histórico e cultural e gentrificação. Os autores: Françoise Choay, Margarita Barreto e Fernanda
Sanchez, que abordam o tema patrimônio cultural e sua mercantilização para o turismo de
consumo. Paola B. Jacques, Beatriz Kara-José, Silvana Rubino, Ermínia Maricato e José Proença
Leite, Carlos Vainer que servirão para o embasamento sobre revitalização, espetacularização e
gentrificação.
O procedimento escolhido foi através de revisões bibliográficas de livros e artigos científicos
que investigam essas intervenções em cidades que tem seu patrimônio histórico e cultural
como chamariz para o consumo e mercantilização de seu espaço. O artigo abordará a temática
9 do Simpósio - Paisagem e cultura: patrimônio, turismo e memória.
Resultados (parciais ou finais): a análise crítica parcial sobre o tema escolhido apresenta que os
investimentos de revitalização de centros históricos que visam desenvolvimento social, muitas
vezes tornam problemas sociais ainda maiores, pois o patrimônio cultural local é tratado como
um bem de consumo, seguindo regras internacionais que diluem e homogeneízam a cultura
local.
Conclusões
O processo contemporâneo que procura executar uma nova imagem para as cidades ficou
conhecido como espetacularização e mercantilização, que transforma as cidades em
mercadoria, visando investimentos financeiros como uma forma de política de
desenvolvimento urbano sociedade. Segundo a autora Fernanda Sánchez:
“nas cidades-espetáculo, as políticas de marketing procuram
fixar hábitos sociais nos espaços renovados e reforçam a
tendência ao consumo de serviços, eventos recreativos e
circuitos culturais. Tanto para os cidadãos quanto para os
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turistas, a experiência da cidade é mediada pelo consumo de
imagens, uma justaposição de espaços-síntese, consagrados
e designados como os espaços mais eloquentes de uma nova
maneira de “fazer cidade” e de “viver na cidade”. (SÁNCHEZ,
2010)
Com o propósito em produzir uma imagem para a cidade, imagem única, algo como uma
marca, há uma clara contradição, já que a cidade de “identidade única” precisa seguir um
modelo internacional fortemente homogeneizador de culturas e identidades, que são
impostos por financiadores dos grandes projetos urbanos mundialmente. Esses projetos
excluem notavelmente o habitante local, com interesse exclusivo no turista internacional, o
“consumidor de cultura”.
Com a pouca da participação popular nestas intervenções, a espetacularização tem o impacto
da gentrificação, já que ocorre a expulsão dos mais pobres nestas áreas, maquiando a
realidade local e os conflitos.
Cidades com grande significância histórica, cultural e imaterial, possuem elementos que
atraem o investimento privado, este território é visto como mercadoria, a estratégia usada
para revitalizar atua em áreas principalmente históricas e com apelo cultural, essas
intervenções são responsáveis para o turismo de uma maneira geral, pois oferecem condições
para a produção e o consumo da cultura. A preservação do patrimônio cultural preservação e
implica com a mercantilização que ocorre devido à indústria do turismo, que transforma certos
lugares e cultura em meros produtos de consumo, os consumidores além de comprar e possuir
bens, querem possuir emoções e sensações, que são produzidos mediante consumo de bens
simbólicos, patrimônios culturais e imateriais.
Referências
BARRETTO, Margarita. Turismo e Legado Cultural. Campinas: Papirus, 2000
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2006.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. São Paulo. Contraponto.
MARICATO, Ermínia. As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias. In: Arantes, O. et al. A
cidade do pensamento único. Petrópolis: Vozes, 2000.
KARA-JOSÉ, Beatriz. Políticas culturais e negócios urbanos, a instrumentalização da cultura na
revalorização do centro de São Paulo. São Paulo: FAPESP, Annablume, 2009.
SANCHEZ, Fernanda. A reinvenção das cidades para o mercado mundial. Santa Catarina.
Argos: 2010.
Site da UNESCO. Disponível em: http://www.unesco.org/pt/brasilia. Acesso em 10 de
setembro de 2013.
VARGAS, Eliana; Castilho, Ana Luiza. Intervenções em centros urbanos: objetivos, estratégias
e resultados. São Paulo: Manole, 2006.
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Usina de Cuñapirú: patrimonialización, turismo y desarrollo local en la frontera rivera – Livramento.
Eduardo R. Palermo1
Palavras chaves: patrimonio material, paisaje patrimonial, turismo histórico, desarrollo local.
Introduçao:
El presente trabajo se inscribe dentro de las iniciativas de desarrollo patrimonial de la
Intendencia Departamental de Rivera con el apoyo de la Comisión Nacional de Patrimonio
Histórico y UTE, ente estatal responsable por la distribución de electricidad en Uruguay. El
proyecto tiende al desarrollo local y regional, planificando con la participación de la comunidad
de Minas de Corrales y la empresa minera allí instalada, una serie de acciones tendientes a la:
recuperación y preservación de la arquitectura industrial y minera de la Usina procesadora de
cuarzo aurífero y represa hidráulica - construidas en 1867 y reconstruida en 1880 - ; creación
de un Museo Histórico y Centro de investigaciones históricas sobre la minería; desarrollo del
turismo a partir de políticas de incentivo turístico-cultural vinculando el desarrollo comercial
de la ciudad de Rivera con los centros de interés históricos y paisajísticos del departamento;
promoción del trabajo local con el desarrollo de cursos de capacitación para guías turísticos y
perfeccionamiento de las artesanías típicas de la región. El proyecto se inscribe en una fuerte
revalorización de la identidad regional fronteriza, pautada por un marcado cosmopolitismo
producto de una fuerte y permanente migración de la fuerza de trabajo a través de la frontera
territorial y las fáciles vinculaciones con el puerto de Montevideo y Salto.
La Usina de Cuñapirú es uno de los principales patrimonios de arqueología industrial existentes
en Uruguay y único en el campo de la minería. El mismo se configura por un proceso temprano
de explotación del oro realizado por hacendados de origen luso-brasileño instalados en la zona
desde 1820, y por la utilización de mano de obra esclavizada traída de Minas Gerais, cuyos
resultados incentivaron la migración de garimpeiros provenientes de RGS, de los distritos
mineros de Caçapava, Camaquá y Cangussu. Hacia mediados del siglo XIX las noticias del oro
extraído llegaron a la prensa montevideana, sucediéndose varias denuncias de minas ante el
Estado uruguayo. Nacía así un largo ciclo de inversiones y especulación bursátil que incluyó a
los principales actores económicos, financieros y políticos del Río de la Plata así como a
personalidades y capitales de Francia, Inglaterra y Estados Unidos. La región es un típico
enclave imperialista, que incorporó alta tecnología para su época y especialmente para las
condiciones socio culturales de una zona netamente de ganadería extensiva, como ser: usina
hidráulica e hidroeléctrica, utilización de máquinas a vapor, ferrocarril de aire comprimido,
puentes de hierro, aerocarril, minas en galería, hospital con médicos formados en el exterior,
energía eléctrica temprana para la región. Desde el punto de vista social aquí ocurrieron las
primeras huelgas obreras del país en 1880 y funcionó el primer teatro de variedades hasta
donde llegaban grupos de actores y bailarinas de Europa y América. En lo arquitectónico hay
un valioso conjunto de construcciones civiles: casa de la dirección de la empresa francesa,
casas de los mineros, galpones de molienda y acopio de minerales, represa de agua,
edificaciones para las turbinas y fuerza motriz. Toda la estructura fue utilizada entre 1880 y
1945 para la producción de oro y hasta 1959 funcionó la usina hidroeléctrica.
A finales del siglo XX (desde 1990) la reactivación de la explotación aurífera ha despertado el
interés y la preocupación por preservar la historia y la identidad cultural en sus pobladores. La
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ausencia de una política clara y sustentable de protección patrimonial en el Uruguay, más allá
de haber sido declarado Patrimonio Histórico Nacional en 1981, ha provocado un deterioro
importante en las instalaciones de la usina y edificios, con caída de techos, rajaduras en las
paredes y el consecuente saqueo de las máquinas. En 2012 se formó una comisión de trabajo
con técnicos, historiadores y representantes de la comunidad que llevó a la conformación de
un proyecto de “Patrimonialización de la Usina de Cuñapirú” por parte del gobierno
departamental, que está en plena ejecución, finalizando su primera etapa en diciembre de
2013 con la preservación arquitectónica del sector de molienda y galpones, iluminación y
accesibilidad pública a todo el espacio histórico y colocación de la cartelería en el sitio.
Bibliografía de referencia:
HERNÁNDEZ, Nidia, CHIRICO, Selva. “Ana Packer, construyendo el saber y hacer enfermero. De
Inglaterra a Cuna pirú Corrales, 1841-1930”.Montevideo, Ed. Trilce, 2004.
LEAL, María M. “El turismo y la sustentabilidad perdida en áreas con valor patrimonial.” En:
Primer Congreso Internacional para la Conservación del Patrimonio Cultural, Comité
Ecuatoriano de ICOMOS, Riobamba, 9-12 de noviembre de 1994.
NORDENFLYCHT, José. “Patrimonio y Desarrollo Local: una práctica social entre el saber y el
poder”. En: Seminario Internacional Patrimonio Intangible: Hombre, Tierra y Patrimonio,
Salvador de Bahía, abril de 2002.
PALERMO, Eduardo; CHIRICO, Selva. De la crónica a la historia. Rivera: Ed. del autor, 1992.
PALERMO, Eduardo. “Banda Norte, una historia de la frontera oriental. De indios, misioneros,
contrabandistas y esclavos”. Rivera, Ed. Del Autor. 2001.
PALERMO, Eduardo. “La quimera del oro”, Historia de la región aurífera de Cuñapirú. Rivera.
2002. (Serie documental para televisión)
Proyecto de patrimonialización y desarrollo turístico de la usina de Cuñapirú. Intendencia
Departamental de Rivera. Dirección General de Promoción y Desarrollo – División Turismo -
2013.
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Casa del Director de la Cía. Francesa de Minas de Oro del Uruguay. Construida en 1879 y
utilizada como tal hasta 1945. Dirección de la obra: Ing. Victor L’Olivier. Foto: E. Palermo -2012
Cuerpo de construcciones de la Usina: zona de molienda a la izquierda y zona motriz a la
derecha, se pueden observar las rejas que protegen las turbinas. Toda la estructura, menos las
rejas, son de 1880 sin modificaciones. Foto: E.Palermo – 2013
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Una de las turbinas existentes, datan de 1890-1900.
Foto: E. Palermo – 2013.
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Pinturas de la pared originales de la casa del Director. Restan muy pocos metros cuadrados
originales, la mayoría se han deteriorado o destruido. Foto: E. Palermo – 2013
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Rua do Porto: um lugar praticante e praticado
Maira Cristina Grigoleto1
Marcelo Cachioni1
Palavras-chave: Rua do Porto. Lugar de memória. Lugar praticado.
Introdução
A proposta deste trabalho é apresentar reflexões resultantes dos estudos desenvolvidos sobre
o bairro Rua do Porto em Piracicaba -SP, tendo como enfoque quatro elementos: a água
(relação do homem com o meio), o peixe (arte do saber/fazer), as olarias (atividade
profissional e característica construtiva) e a pamonha (arte do saber/fazer). Tais análises são
parte integrante das atividades desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisas e Planejamento de
Piracicaba - IPPLAP no processo de Revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento de
Piracicaba, iniciado em 2013.
Por meio de um percurso retrospectivo sobre as vivências às margens do Rio Piracicaba, foi
possível verificar como que, alegórica ou materialmente, esses itens têm ou tiveram suas
existências e representações marcadas pelas características ribeirinhas de ‘ser’ e ‘viver’. Além
disso, percebemos como foram constituídos por meio da organização de uma memória
histórica e afetiva, que foi resultado de um processo de seleção que teve como base as ações
do poder público e dos cidadãos em suas manifestações de ‘contra poder’ (FOUCAULT, 1996;
2005; 2008a, 2008b).
A dinâmica do lugar, em seu aspecto político, cultural e social, foi sem dúvida o principal
‘dispositivo’ (AGAMBEN, 2009) que impulsionou as transformações dos usos e apropriações
desse bairro, instituído como um ‘lugar de memória’ (NORA, 1992), mas que é, acima de tudo,
um ‘espaço’, um ‘lugar praticado’ (CERTEAU, 2004). Esta questão leva-nos também ao
entendimento dessa área como um ‘não lugar’, uma vez que as manifestações temporais,
como a memória, são formas de apropriações e emergências criadas nas fissuras desejadas
pelo exercício de um poder institucional; que se manifesta em diferentes níveis para criar
condições de existência e permanência (materiais ou imateriais) (MURGUIA, 2011).
O que defendemos é que as práticas institucionais pensadas e direcionadas para a Rua do
Porto tiveram como desdobramento a constituição de campos de embate, pautados nos ‘usos
políticos do passado’ (PIMENTA, 2009), nos jogos de poderes e nos agenciamentos
governamentais entre os interesses públicos e privados (individuais e coletivos) (FOUCAULT,
2008c; 2005; 2003). Por fim, é possível destacar o entrelaçamento dos lugares com as
estratégias e os exercícios do poder, uma vez que tais táticas não são espaciais, pelo contrário,
temporais e, por esta razão, se esgotam ou são reinventadas em determinadas historicidades
(MURGUIA, 2011).
Metodologia e resultados
O estudo de caráter teórico e qualitativo está em fase de realização por meio de revisão e
análise bibliográfica, permitindo a verificação da configuração da sua paisagem cultural do
bairro Rua do Porto e a maneira como os elementos da cultura (material e imaterial)
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foram/são utilizados, estrategicamente, como armas no campo de disputa entre os interesses
públicos e privados (individuais e coletivos).
Conclusões
Pensar sobre a história do bairro Rua do Porto e suas transformações é colocar em destaque a
gama de associações - mais fracas e mais fortes - entre instrumentos, ferramentas,
deliberações e toda uma estrutura de apropriações e vivências que se alimentaram e se
retroalimentam pelos desejos e interesses de estar à beira-rio.
Mesmo quando a cidade ‘virou as costas’ para o rio ou utilizou-se de suas margens e paisagem
cultural para finalidades de especulação imobiliária ou turística (historicamente marcadas);
quando algumas atividades profissionais não encontraram mais funcionamento nas antigas
instalações fabris, nas olarias e na pesca, foram os elementos da cultura imaterial que
sustentaram o ‘estar’ e conviver às margens do rio. Foram as características desenvolvidas e
criadas pelo saber/fazer dos pescadores e dos antigos moradores ribeirinhos que mantiveram
ou mantêm o bairro Rua do Porto (‘lugar de memória’), em meio aos vários jogos de poder e
agenciamentos governamentais, como um lugar praticante e praticado.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2004.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Aula Inaugural no Collège de France, pronunciada
em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2003.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Coleção
tópicos).
FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população. Curso dado no Collège de France (1977-
1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008a. (Coleção tópicos).
FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. Curso dado no Collège de France (1978-1979).
São Paulo: Martins Fontes, 2008b. (Coleção tópicos).
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008c.
MURGUIA, Eduardo Ismael. Archivo, memória e historia: cruzamientos e abordajes. Íconos. In:
Revista de Ciencias Sociales, Quito, n. 41, p. 17-37, 2011.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Revista do Programa
de Pós-Graduados em História do Departamento de História da PUC-SP, São Paulo, n. 10, p.
7-28, 1993.
PIMENTA, Ricardo Medeiros. Construindo conhecimento através do espaço sindical francês:
um olhar sobre a informação e o papel do arquivo junto a uma política de memória militante.
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Perspectivas em Ciência da Informação, v. 14, número especial, p. 120-132, 2009. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/pci/v14nspe/a09v14nspe.pdf>. Acesso em: 14 set. 2010.
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"Estações ferroviárias de Campinas (SP): estudo sobre a preservação do patrimônio industrial
ferroviário e turístico industrial".
Priscila Kamilynn Araujo dos Santos1
Eduardo Romero de Oliveira1
Palavras-chave: Patrimônio Industrial. Ferrovias. São Paulo e Turismo Cultural.
Introdução
Este estudo é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica tendo linha de fomento a Fundação
de Àmparo a pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP e possui como bolsista a discente
Priscila Kamilynn Araujo dos Santos do curso de Turismo da Univeridade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”. Quanto ao período de desenvolvimento, estamos no oitavo mês de
pesquisa. Cabe ainda mencionar, que este projeto está vinculado ao projeto Memória
Ferroviária coordenado pelo Dr. Eduardo de Oliveira docente da Universidade.
Tendo como tema principal os usos sociais do patrimônio ferroviário no município de
Campinas, São Paulo-SP, este projeto tem por objetivo geral, propor uma reflexão de como se
deu o processo de reutilização dos bens ferroviários, realizando um estudo de caso a partir das
estações de Campinas. De maneira específica, coletaremos informações sobre os usos atuais
de cada uma delas (estação Guanabara, estação da Companhia Paulista, estação Tanquinho e
Anhumas), tal como seus respectivos responsáveis. Pretende-se verificar se houveram e/ou se
existe algum projeto de reutilização e preservação em relação aos bens estudados. Cabe, além
disso, verificar se nos projetos de reutilização estão previstos usos turísticos dos bens
ferroviários.
Nesta vertente, esta pesquisa justifica-se por possuir um caráter inédito, apesar de haver
bibliografia sobre patrimônio cultural, são pouco estudados os usos sociais de patrimônio
cultural por parte da bibliografia do turismo. Além disso, há poucos estudos sobre usos do
patrimônio ferroviário em particular, com destaque para os estudos arquitetônicos somente.
Assim, este estudo propõe ser uma primeira avaliação dos projetos de reutilização e sua
implantação sob a perspectiva do turismo.
Metodologia e resultados
A metodologia desse trabalho conta com aprofundamento teórico de temas afins a pesquisa
(patrimônio industrial, patrimônio e turismo cultural, preservação do patrimônio ferroviário e
história ferroviária); levantamentos de informações nos órgãos ou entidades atualmente
responsáveis pelos prédios (prefeitura, Unicamp e ABPF); entrevistas com responsáveis por
cada uma das estações; pesquisas documentais no CONDEPAAC, Unicamp, Secretaria de
Cultura e Turismo de Campinas, Estação Guanabara e ABPF; avaliação do estado atual de
preservação através de uma ficha de inventário do patrimônio industrial e avaliação do uso
turístico (in locu: infra-estrutura e do perfil do público visitante - as quais serão executadas por
meio de um questionário fechado).
Para compreendermos e compararmos os tipos de gestão realizamos entrevistas com os
representantes de cada uma das estações por nós estudadas, seguindo um roteiro
previamente elaborado as quais permitiram detalhar: os usos atuais destes bens, atividades
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neles realizadas; projetos (sociais, educativos, turísticos) e/ou plano de implementação em
andamento.
Para avaliação do estado de preservação, foi aplicada em pesquisa de campo uma ficha de
inventário do patrimônio industrial edificado e do conjunto industrial. Desta forma, utilizamos
apenas os tópicos de análise necessários à nossa pesquisa (estado, uso e proteção), com o
objetivo de verificarmos alterações feitas para fins de implementação de usos atuais e/ou
projetos relativos. Realizamos análises documentais no Centro de Memória da UNICAMP -
CMU, Arquivo Municipal de Campinas, consultas ao acervo bibliográfico da ABPF na Estação
Anhumas e Estação Guanabara. Além destas informações, tivemos a oportunidade de realizar
um detalhamento descritivo dos respectivos processos de preservação abertos por órgãos
estaduais e municipais.
Conclusões
Observamos três tipos de gestão com problemáticas e objetivos distintos (Prefeitura, Unicamp
e ABPF), mas ambas se utilizam de espaços com alto valor simbólico e representativo para a
história campineira.
Referências
ABAD, Carlos J. Pardo. Turismo y patrimonio industrial. Madri: Editorial Sintesis, 2008.
KÜHL, Beatriz M. Arquitetura de ferro e arquitetura ferroviária em São Paulo reflexões sobre
a sua preservação. São Paulo: Ateliê editorial/FAPESP, 1998.
POZZER, Guilherme Pinheiro. Arqueologia e Patrimônio Industrial: a Estação Cultura em
Campinas. Anais do XVIII Encontro Regional de História – O historiador e seu tempo.
ANPUH/SP – UNESP/Assis, 24 a 28 de julho de 2006, Cd-rom.
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A composição territorial de Caxias do Sul como oportunidade para a Educação Patrimonial
Pedro de Alcântara Bittencourt César1
Patrícia Pereira Porto1
Palavras-chave: Turismo. Educação Patrimonial. Identidade Cultural.
Introdução
O turismo cria oportunidades para se compreender o patrimônio material e imaterial. Muitas
vezes, a proposta de criação de um determinado roteiro, faz com que a comunidade inserida
nele questione o seu acervo cultural, relacionando as materialidades urbanas e arquitetônicas,
além das manifestações imateriais. Esta questão torna-se pano de fundo para a elaboração do
roteiro cultural.
O projeto “Valores do patrimônio e sua formação como atrativo cultural”, vinculado ao
Programa de Mestrado em Turismo da Universidade de Caxias do Sul, visa retratar a cultura
como objeto de atração turística e, desta forma, reconhecer seu estatuto formador. Têm-se
assim, o objetivo de inventariá-los e reconhecer suas possibilidades. Neste breve artigo, será
apresentado um recorte específico realizado no roteiro denominado Caminhos do Imigrante.
Inicialmente, com o intuito de reconhecer o ambiente por uma perspectiva patrimonial,
aproxima de CHOAY (2000; 2006), e seu entendimento de patrimônio, de Reis Filho (1995), e o
reconhecimento do urbano arquitetônico, além das questões espaciais (CORRÊA e ZENY, 2005)
e a das suas representações (BAILLY, 1993).
Na Educação e Interpretação Patrimonial se trabalha no processo de conservação do
patrimônio cultural, atuando junto à comunidade, colaborando na manutenção e valorização
de seus hábitos culturais, de suas práticas, dos modos de fazer e agir, isto é, de sua identidade.
Compartilhar uma cultura e identificar-se não é apenas compartilhar um espaço geográfico,
mas sim, encontrar sentidos semelhantes no mundo, para estar de forma semelhante neste
mesmo mundo. As tradições, enquanto mantidas, existem como significantes, mas há que se
fazer uma busca constante pelo sentido. Sair em busca do sentido de estar no mundo hoje, ou
seja, sair em busca da cultura e da identidade, leva a construir mapas totalmente diversos
daqueles que encerraram o homem em “países”, “nações”, “estados” - e até mesmo em
“culturas” marcadamente delimitadas.
Um dos objetivos da Interpretação e Educação Patrimonial é atuar junto aos visitantes e
moradores no intuito de conscientizá-los sobre a importância da valorização de suas tradições
e costumes que estão conhecendo, sobre sua responsabilidade no auxílio da conservação
patrimonial e auto-sustentabilidade, colaborando dessa forma, para atribuição de sentidos às
suas tradições.
Metodologia e resultados
Na pesquisa proposta adota-se analise de natureza qualitativa. Espera-se relacionar os hábitos
do cotidiano como referencia da memória patrimonial dos grupos sociais analisados. Como
abordagem metodológica se reconhece o estudo das contradições.
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A migração recente, presente nas memórias das famílias, torna-se marcante a possibilidade de
estudo de observação e por entrevista (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.16; CHIZZOTI, 2005, p.89).
Busca-se assim, inicialmente compreender o papel social dos entrevistados e sua relação com
a formação de hábitos diversos e por experiências sociais e individuais (GODOY, 1980). Tais
valores são relacionados a lógica apresentado por órgãos oficiais na identificação do
Patrimônio local. Finalmente, analisa a utilização e as potencialidades do recurso cultural para
sua utilização como instrumento de Educação e Interpretação Patrimonial.
Conclusões
A pesquisa realizada demonstrou que é possível estabelecer uma relação entre turismo,
Interpretação e a Educação Patrimonial, haja vista que o roteiro Caminhos do Imigrante,
atrativo turístico da Serra Gaúcha, passa a se constituir como uma forma de comunicação
sobre o patrimônio de Imigração Italiana para o visitante que o percorre. Desta forma, o
turismo se estabelece como uma importante “ferramenta” no que tange a valorização e a
preservação dessa cultura, permitindo o desenvolvimento de roteiros envolvidos com valores
memoriais. Tais devem-se remeter como referencias a constituição do patrimônio, servido de
base para o entendimento de identidade e como recurso como atrativo turístico.
Referências
BAILLY, Antoine. La représentation en géographie, In : BAILLY. Antoine, FERRAS, Robert,
PUMAIN, Denise. (org.), Encyclopédie de géographie, Antrhopos, Paris, 1992, p. 371-383.
BOGDAN, R.C., BIKLEN, S.K. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora, 1994.
CANDAU, Joel. Memoria e Identidad. Buenos Aires: Ediciones Del Sol, 2001.
CHIZZOTI, A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 2005.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Lisboa: Edições 70, 2000.
CHOAY, Françoise. Pour une anthropologie de l’ espace. Paris, Ed. Seuil, outubro de 2006.
CORRÊA, Roberto Lobato e ROSENDAHL, Zeny. Geografia cultural: introdução a temática, os
textos e uma agenda. In. CORRÊA, Roberto Lobato e ROSENDAHL, Zeny (orgs). Introdução à
geografia cultural. Rio de Janeiro: Bertrand, 2005, p.9-18.
GODOY, A. S. Introdução à Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades. Revista de
Administração de Empresas, São Paulo, 35(2), 1980.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva.São Paulo: Centauro, 2006.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 9ed. São Paulo: Perspectiva,
2000.
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Proposta de autogestão do patrimônio comunitário pela associação solidária de mulheres de
Quizambú.
Marina Assunção Gois Rodrigues1
Palavras-chave: Narrativas. Testemunhos. Modos de vida. Patrimônio imaterial. Patrimônio
comunitário. Quizambú.
Introdução
Este trabalho tem como tema a articulação em torno da proposta de autogestão do
patrimônio comunitário, pela organização das mulheres da comunidade rural Quizambú, a
Associação Solidária de Mulheres da Zona Rural de Alagoinhas e Região.
Trata da articulação teórica resultante da pesquisa em campo realizada na comunidade rural
de Quizambú, distrito da cidade de Alagoinhas, na região do Agreste baiano. No intento de
responder às questões que surgiram em decorrência da pesquisa – sobre as expressões do
patrimônio imaterial preservado através das narrativas orais, e os modos articulação e
circulação cultural, presentes no território, relatamos aqui algumas atividades realizadas pelas
próprias mulheres da associação, em torno da necessidade de circulação e difusão cultural
local, para, deste modo, conseguirem representação pública de suas manifestações culturais
ancestrais, e conseguirem implantar futuramente um ponto de cultura na comunidade, para o
desenvolvimento de ações culturais voltadas para a formação de público no local, e divulgação
de suas memórias coletivas.
Procuramos de tal modo, perceber as reverberações positivas através das táticas de
articulação comunitária para o desenvolvimento local e a preservação da memória coletiva.
Não obstante, este trabalho está vinculado ao projeto de pesquisa intitulado Narrativas dos
Saberes e Práticas Herbários em Salvador e Quizambú, vinculado ao Programa de Pós-
Graduação em Crítica Cultural da Universidade do Estado da Bahia. Seu desenvolvimento ainda
se encontra em curso, e o período de conclusão do mesmo está previsto apara o mês de
fevereiro de 2014.
A partir da investigação sobre os saberes herbários e das artes de cura na comunidade rural
Quizambú, foi possível conhecer o trabalho das mulheres da região, que se articulam
politicamente na tentativa de se colocarem em lugares de fala representativos em relação à
preservação da memória e de seus patrimônios culturais.
A partir da busca por um maior conhecimento sobre alguns ritos da memória e das tradições
culturais locais, e a sua ligação com a história da comunidade, objetivamos interpretar as suas
ligações com contextos do patrimônio imaterial, e perceber as diversas ligações que as
manifestações culturais estabelecem na vivência do cotidiano.
Por isso, buscamos dar visibilidade às práticas culturais auto gestionadas na comunidade, seus
discursos acerca da preservação da memória e da valorização do patrimônio local como
mecanismo de desenvolvimento local, à luz de ferramentas teóricas conceituais dos principais
autores como Hugues de Varine, As raízes do futuro: patrimônio a serviço do desenvolvimento
local; George Yúdice, Os Zapatistas e a Luta pela Sociedade Civil; e Regina Abreu, “Tesouros
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Humanos Vivos” ou quando as pessoas transformam-se em patrimônio cultural – notas sobre a
experiência francesa de distinção do “Mestres da Arte”.
Metodologia e resultados
O método para a coleta de dados do projeto se configura no procedimento para uma pesquisa
qualitativa, pois, embora haja aplicação de questionários nas entrevistas diretas, a
investigação interpretativa dos dados coletados e a observação das diferenças e semelhanças
entre as variadas práticas mapeadas, ocorrem de forma que o entrevistado discorra sobre o
tema segundo suas próprias perspectivas históricas, religiosas, sociais e comunitárias, sem
uma abordagem de análise fechada sobre os dados. São também de igual relevância os
testemunhos obtidos sobre a história comunitária, que retrata a ancestralidade das tradições
abordadas.
Conclusões
Como metas alcançadas a respeito da proposta de realização do projeto, até o momento
foram feitos mapeamentos de moradores articuladores das ações locais na comunidade, e
levantamentos de dados a respeito das narrativas individuais e comunitárias acerca do
patrimônio local, dos causos, das práticas ancestrais, bem como, das perspectivas de ações
futuras planejadas pelas mulheres filiadas á associação solidária, para que seja possível a
realização do projeto de formação do ponto de cultura na comunidade.
Referências
ABREU, Regina. “Tesouros Humanos Vivos” ou quando as pessoas transformam-se em
patrimônio cultural – notas sobre a experiência francesa de distinção do “Mestres da Arte”. In:
ABREU, Regina; CHAGAS, Mario (Org.). Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio
de Janeiro: Lamparina editora, 2009.
VARINE, Hugues. As raízes do futuro. Patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Porto
Alegre: Editora Medianiz, 2012.
YÚDICE, George. Os Zapatistas e a Luta pela Sociedade Civil. In: A Conveniência da Cultura:
usos da cultura na era global. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.
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Memória e metamorfose da paisagem: análise das narrativas sobre a Avenida Goiás
Danielle do Carmo1
Palavras-chave: Paisagem. Memória. Espaço Urbano.
Introdução
A Avenida Goiás localizada na cidade de Goiânia, atual capital do Estado de Goiás foi projetada
para ser o eixo norte-sul da composição urbana da cidade, sendo concebida inicialmente como
avenida-jardim. Em seus 80 anos de existência, a avenida sofre modificações em sua estrutura
física e seus espaços são apropriados para diversas atividades. A paisagem é liquida, muda de
tempos em tempos. “ A paisagem não é dada para todo o sempre, é objeto de mudança. É um
resultado de adições e subtrações sucessivas. É uma espécie de marca da história do trabalho,
das técnicas” (SANTOS. 1988, p.24 ). Ela se molda de acordo com os simbolos e significados do
tempo e da sociedade que nela está inserida. Mas não totalmente, ela ainda porta vestígios e
significados pertencentes a outros tempos. Para tentar vislumbrar esses vestígios, lançamos a
mão da análise de memórias. Por morar algumas quadras de distância da Avenida Goiás e por
essa avenida ser uma das principais de Goiânia, ela aparece como lugar cotidiano nas
narrativas memoriais de duas gerações de uma mesma famíia. Para Bosi, (2003, p.199-200)
“cada geração tem, de sua cidade, a memória de acontecimentos que são pontos de
amarração de sua história”. Por meio da análise das narrativas podemos notar que a avenida
que lembra Lili não é mais a avenida das lembranças de Cristiana, e a Avenida Goiás de
Cristiana tão pouco se parece com a de hoje. Deste modo podemos ter acesso ás camadas das
paisagens escritas e inscritas podendo revelar etapas desse processo de metamorfose do
espaço, e entender sua configuração atual. Esse estudo é um recorte do projeto de pesquisa
Um Lugar para memória: A Avenida Goiás, que está vinculado ao Programa de Mestrado em
Memória Social e Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Pelotas, e está em fase de
conclusão.
Metodologia e resultados
Além da pesquisa bibliografica e documental, realizamos entrevistas semi-estruturadas com
nove individuos representantes de duas gerações integrantes do mesmo núcleo familiar que
viveram no centro de Goiânia e que vivenciaram as transformações da Avenida Goiás. Em uma
primeira etapa, tentamos realizar entrevistas individuais, mas esse método não se mostrou
produtivo, uma vez que os entrevistados diziam não se lembrar e indicavam outras pessoas
que diziam ter “melhor memória do que eu” (SIC). Então partimos para outra estratégia,
realizamos entrevistas grupais, e finalmente as memórias vinham à tona. Deste modo, as
entrevistas geraram narrativas memoriais dialógicas, pois um entrevistado se apoiava nas
lembranças dos outros para confirmar e preencher a lacuna das próprias lembranças. Após o
registro das narrativas orais foi feita a transcrição e a utilizada a técnica de análise de
conteúdo temático (RICHARDSON, 1989), para a interpretação dos dados.
Conclusões
Com base nas nossas pesquisas documentais, bibliograficas e nas narrativas memóriais
resultantes das entrevistas, podemos concluir que A Avenida Goiás suporta diversas
temporalidades demarcadas, em maior ou menor grau, pelas modificações de seu espaço
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físico e pelas diferentes apropriações de seus espaços. Como consequência dessas diversas
temporalidades, há uma sobreposição de paisagens nas memórias elaboradas pelas diferentes
gerações que vivenciaram esse espaço.
Referências
BOSI, Ecléia. Memórias paulistanas. In: Estudos Avançados. São Paulo: v. 17, p. 198-210, 2003.
RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1989.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado, fundamentos teóricos e metodologicos
da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988.
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Turismo e direito como estratégia na preservação do patrimônio arqueológico.
Anauene Dias Soares1
Filipe Vieira de Oliveira1
Palavras-chave: Patrimônio Arqueológico. Turismo. Direito. Estratégias de Conservação.
Introdução
O presente artigo foi elaborado no âmbito da disciplina “Estratégias de Conservação do
Patrimônio” do Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política da
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - EACH-USP.
Anauene Dias Soares tem como mote investigativo o patrimônio cultural e natural; investiga a
preservação de bens culturais, principalmente na área jurídico-legal sobre a prevenção e
repressão ao comércio e tráfico ilícito destes bens. Filipe Vieira de Oliveira atua nas áreas de
pesquisa em planejamento urbano; turismo e patrimônio. Ambos participam do grupo de
pesquisa em memória, patrimônio cultural, natural e desenvolvimento local na mesma
Instituição.
Os autores, de formações distintas buscaram trazer dentro de suas áreas de conhecimento,
uma discussão acerca de duas estratégias visando à preservação do patrimônio cultural
material, exposto na forma do patrimônio arqueológico identificado na cidade de Santarém –
Pará, devido à significativa dilapidação desse patrimônio. Sendo o turismo como fator de
valorização cultural e de desenvolvimento socioeconômico; e o direito na forma de elaboração
de uma normativa em conformidade com as necessidades da comunidade, bem como para a
repressão ao comércio ilegal, visando à atuação das novas relações entre o bem cultural e o
cidadão, sendo as normas e o turismo um acesso ao patrimônio cultural e de recuperação da
memória coletiva (SOUZA, p. 88 e 89, 2011), visto ser este o maior sítio arqueológico pré-
histórico da Amazônia (FOLHA UOL, 2013), além de contribuir para o conhecimento do modo
de vida dos indígenas Tapajós que habitaram essa região.
Além disso, ao relacionar dispositivos legais internacionais, constitucionais e
infraconstitucionais, pode-se trazer maior difusão desses bens culturais, pois são “suporte de
identidade e formação de uma sociedade” (SOUZA, p. 90, 2011). Nos dizeres de Bastos (2009):
Dentro desta possibilidade invocando a constituição federal que apregoa que o meio ambiente deve ser ecologicamente equilibrado, sendo ele bem comum de uso de todo o povo, assim como o patrimônio cultural bens de alcance social, referência na memória nacional, devemos incorporar de maneira destemida e efetiva a participação e a acessibilidade dos chamados grupos vulneráveis na apropriação do patrimônio arqueológico. (BASTOS, p. 89, 2009).
O turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins, o
conhecimento de monumentos e sítios hitórico-artísticos. Exerce um efeito realmente positivo
sobre estes tanto quanto contribui – para satisfazer seus próprios fins – a sua manutenção e
proteção (ICOMOS, 1976). Corroborando com essa ideia, Morais (2005) ressalta que:
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O turismo, entendido como opção de desenvolvimento social e econômico só pode acontecer sob o respaldo do planejamento previsto nas políticas públicas geradas pela União, pelos estados e municípios. E, em se tratando do uso do patrimônio arqueológico para fins turísticos, há de se considerar dois desdobramentos: as expectativas da comunidade que detém o patrimônio no seu território e a imposição das normas legais vigentes que intervém na interface arqueologia/turismo. (MORAIS,2005).
Metodologia e resultados
O método aplicado na pesquisa é o descritivo exploratório. Buscou-se coletar informações
sobre a problemática que envolve o patrimônio arqueológico e leitura de bibliografia
específica a fim de desenvolver uma discussão sobre essas duas estratégias e suas
singularidades para a preservação desses bens. Verificou-se que há uma grande carência de
uma gestão arqueológica voltada para a preservação dos bens culturais arqueológicos em
Santarém por meio do planejamento da atividade turística e da proteção normativa, assim
como sua efetiva aplicação.
Conclusões
A significativa incidência de comercialização ilegal do patrimônio cultural-arqueológico
Tapajônico na cidade de Santarém se dá em virtude do alto índice das atividades turísticas,
acadêmicas voltadas a pesquisas inadequadas de exploração dos sítios arqueológicos e,
principalmente, pela ausência de informação acerca da importância desse patrimônio como
identidade, memória e coesão social da região e, também, pela falta de esclarecimentos legais
diante da proibição do comércio destes como forma de deteriorização do patrimônio cultural.
Portanto, entende-se que a união de uma normativa e a aplicação adequada desta e o turismo
arqueológico planejado seria uma alternativa de preservação possível, visto que é fonte
permanente de recursos, de empregos e de envolvimento comunitário visando à salvaguarda
do objeto de visitação, colaborando significativamente para o desenvolvimento local de
Santarém e da preservação do patrimônio cultural local.
Referências
BASTOS, Rossano. Turismo, arqueologia e sustentabilidade. In: Turismo e arqueologia:
múltiplos olhares. MUNDET I CERDAN, Luís; SARTI, Antonio Carlos (Orgs.). Piracicaba:
Equilíbrio. 2009.
ICOMOS, Carta de Turismo Cultural, 1976. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br. Acessado
em 20/08/2013.
MORAIS, José Luiz de. Arqueologia e turismo. IN FUNARI, Pedro Paulo e PINSKY, Jaime. (Orgs)
Turismo e Patrimônio Cultural, São Paulo: Contexto, 2005.
SOUZA, Marise C. Arqueologia preventiva como veículo de coesão social IN Patrimônio cultural
arqueológico: diálogos, reflexões e práticas. BASTOS, Rossano; SOUZA, Marise C. São Paulo:
Superintendência do Iphan de São Paulo. 2011.
Direito do patrimônio cultural. MARTINS, João; MIRANDA, Jorge; ALMEIDA, MARTA
(Coords.).Portugal: Instituto Nacional de Administração. 1996
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Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1710200503.htm> Acessado em:
08/09/2013.
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A favela como constructo original brasileiro: pelo seu reconhecimento como paisagem cultural
João Paulo Oliveira Huguenin1
Luciana da Silva Andrade1
Palavras-chave: Paisagem Cultural. Favelas Cariocas. Patrimônio Mundial. Rio de Janeiro.
Introdução
No desenvolvimento de pesquisas do CiHabE(PROURB/FAU/UFRJ) sobre diferentes formas que
os mais pobres encontram para habitar o Rio de Janeiro não raras foram as situações
encontradas em que as questões habitacional e patrimonial entram em conflito.
Com o reconhecimento do Rio de Janeiro como Patrimônio Mundial na categoria de paisagem
cultural pela UNESCO em 2012, novos assuntos envolvendo essa dualidade surgiram. Logo
apareceram posições favoráveis à remoção das favelas para preservação dessa paisagem.
Diante disso a questão que se colocou foi se as favelas não deveriam ser consideradas
integrantes da paisagem cultural carioca. Essa forma de ocupação, que surgiu em fins do
século XIX (ABREU, 1994), aparece em seu território marcando sua geografia.
Assim, o objetivo deste artigo é discutir a favela enquanto uma forma legitima de moradia e,
por isso mesmo, elemento constituinte da paisagem carioca, sem a qual parte do seu valor se
esvai.
Metodologia e resultados
Considerando a paisagem como tudo aquilo que damos significado através da apreensão feita
pelos nossos sentidos, principalmente a visão (SANTOS, 1988), constatamos que as favelas
fazem parte da paisagem carioca.
Como toda paisagem possui interpretações culturais, uma vez que ela é afetada pela
percepção ou ações do homem, buscamos compreender se as favelas poderiam ser
enquadradas na categoria de paisagem cultural1. O conceito de paisagem cultural representa
uma evolução no tratamento da preservação patrimonial uma vez que reconhece as
construções sociais, culturais e a realidade física como resultados das interações entre homem
e natureza.
Para verificar se as favelas se enquadrariam nesse conceito, partimos da análise do documento
da 36ª sessão do Comitê de Patrimônio Mundial da UNESCO (2012). Nesse documento estão
contidas as informações sobre o reconhecimento da paisagem carioca como Patrimônio
Mundial.
É interessante observar que o documento não faz referência a existência das favelas no
perímetro de proteção proposto. No entanto, encontramos na área várias ocupações
informais, como as históricas favelas Santa Marta e Babilônia.
Além disso, o documento deixa claro que as construções existentes na área não representam
ameaça a conservação dessa paisagem. Mas, de forma velada diz que deve se ter cuidado com
as "pressões urbanas". Como o documento não distingue essa forma peculiar de construção,
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deixa implícito que as favelas devem ser mantidas em seus lugares e a sua expansão deve ser
inibida, assim como, ao nosso ver, as demais áreas da cidade formal.
Uma das justificativas para o reconhecimento da paisagem como patrimônio foi a "cultura da
vida ao ar livre da cidade". Nesse sentido, destacamos que a cultura de vida nesses territórios
informais apresentam uma grande riqueza e diversidade, com situações muitas vezes mais
complexas que na cidade formal (ANDRADE, 2002) e, por isso mesmo, deveriam ser protegidas
e estimuladas.
Outra justificativa para a proteção da paisagem da cidade foi a sua celebração em obras de
arte. Assim como o Rio de Janeiro, suas favelas também tem inspirado artistas de diferentes
gêneros e diferentes épocas a exaltarem suas belezas. Desde os anos 1920 as favelas passaram
a ser reconhecidas em pinturas de artistas consagrados, como Tarsila do Amaral e Cândido
Portinari (ABREU, 1994). Por fim, vale destacar que esses territórios passaram a figurar como
importante destino turístico da cidade, particularmente para estrangeiros. (ANDRADE, 2013)
Conclusões
O atual estágio da pesquisa não nos permite fazer uma conclusão, mas sim lançar questões
para a reflexão do assunto.
Conforme apontamos, as mesmas justificativas que deram ao Rio de Janeiro o título de
Patrimônio da Humanidade são aplicáveis ao reconhecimento das favelas como parte
integrante e indispensável da paisagem cultural carioca. Acreditamos que o reconhecimento
formal dessa constatação é necessário.
Esse reconhecimento significaria a proteção do ambiente construído da favela, acabando ou
dando nova conotação às remoções. Porém, é importante deixar claro que não possuímos uma
visão romantizada da favela e reconhecemos a necessidade de melhoria das condições de vida
nesse local. Mas, se é para respeitar a paisagem formada por esse ambiente construído essas
intervenções devem ir contramão da atual tendência de espetacularização que essas parcelas
da cidade vem sofrendo, como aconteceu nos projetos de urbanização do Morro do Alemão,
Rocinha e Morro da Providência (CANEDO, 2012).
Referências
ABREU, Mauricio de Almeida . Reconstruindo uma história esquecida; origem e expansão
inicial das favelas do Rio. Espaço e Debates, São Paulo,v.14,n.37, p 34-46, 1994
ANDRADE, Luciana da Silva. Espaço Público e Favelas: Uma análise da dimensão pública dos
espaços coletivos não edificados na Rocinha. 2002.Tese (Doutorado em Geografia). Programa
de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
ANDRADE, Luciana da Silva. A Pobreza Pitoresca: A Favela da Rocinha no Cenário Turístico
Carioca. In: ANDRADE, Luciana da Silva et alli. Reverso de um espetáculo urbano: desafios e
perspectivas para uma arquitetura habitacional popular. Rio de Janeiro. Casa 8. 2013.
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CANEDO, Juliana. Intervenções urbanas em favelas - o arquiteto no processo coletivo de
construção e transformação das cidades. 2012. Dissertação (Mestrado em Urbanismo).
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
IPHAN. Portaria 127/2009. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 2009.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado - Fundamentos Teórico e Metodológico
da Geografia. Hucitec. São Paulo. 1988.
UNESCO. WORLD HERITAGE COMMITTEE- Thirty-sixth session. United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization. São Petesburgo. 2012.
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O turismo como desenvolvimento de São José do Barreiro-SP
Miriam Francisca Rodrigues Couto1
Palavras-chave: São José do Barreiro. Vale Histórico. Turismo. Desenvolvimento econômico.
Introdução
“Todo esse esplendor, porém, estava destinado a fenecer, a extinguir-se, a tornar-se muito
cedo uma grandeza pretérita” (FERNANDES, 1960, p.235). Essa foi uma das descrições
utilizadas por Florestan Fernandes para descrever o esplendor da economia cafeeira no Vale
do Paraíba. Hoje a região corresponde a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral
Norte e é conhecida por suas indústrias e pelo polo tecnológico de São José dos Campos, mas
algumas cidades ainda conservam o urbanismo característico do período cafeeiro do século
XIX.
São José do Barreiro é uma dessas cidades e também integra o circuito turístico do Vale
Histórico. O município, que é uma estância turística do estado de São Paulo desde 1998, é
estudado por conservar arquiteturas no centro histórico e fazendas centenárias que recebem
visitantes e hóspedes, assim desenvolvendo turismo histórico, turismo rural, e ecoturismo, que
complementam a renda municipal, que possui a agropecuária como a maior atividade
econômica no município.
São José do Barreiro nasceu dos pousos de tropeiros que viajavam entre o interior do Brasil e
os portos na época do tropeirismo que servia a mineração, todavia, São José do Barreiro
consolidou-se como município quando o café já dominava a economia da região entre 1830 a
1900.
O turismo é visto como o grande potencial econômico do município, assim, muito se espera
que com a melhoria das estradas que dão acesso à cidade a atividade turística cresça e se
desenvolva. Deste modo, o objetivo deste trabalho é analisar como o turismo está se
desenvolvendo dentro do núcleo histórico de São José do Barreiro e qual a percepção da
população sobre essa atividade.
Este estudo está relacionado a um projeto de mestrado que busca compreender a produção
do Vale Histórico como um instrumento de planejamento territorial que está modificando o
espaço territorial do município de São José do Barreiro para efetivá-lo como uma estância
turística.
Metodologia e resultados
As análises se baseiam em dados disponibilizados pela prefeitura municipal e pelo governo
estadual como número e distribuição de empregos, dados econômicos e outros que auxiliem
na identificação das mudanças que ocorreram no município antes e depois do início da
atividade turística; com base em entrevistas procura-se conhecer qual é a preocupação da
população local sobre o processo de transformação da cidade ocasionado se houver grande
crescimento do turismo e compreender quais são os interesses e expectativas da população
local para o turismo de São José do Barreiro como: formação profissional e infraestrutura da
cidade. Assim, utilizando os elementos históricos necessários para a análise temporal, o
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método regressivo-progressivo de Lefébvre sustenta o estudo, de tal maneira que a pesquisa
compreenda a atual São José do Barreiro com o entendimento do passado e principalmente os
processos em curso no presente que geram expectativas para o futuro.
Embora São José do Barreiro seja uma estância turística e possua cerca de 38
empreendimentos entre pousadas, hotéis e hotéis fazendas; seis restaurantes; e duas agências
que auxiliam no turismo de aventura, a cidade ainda não possui uma organização e estrutura
que efetivamente corresponda a uma estância turística.
O município possui dois bens tombados sendo o Cemitério dos Escravos, sob responsabilidade
do CONDEPHAAT, e a Fazenda do Pau D’Alho, pelo IPHAN (SÃO PAULO, 2011), ambos
encontrando-se em péssimo estado de conservação, logo, sem uso pelo turismo. As fazendas
recebem turistas que retornam frequentemente, no entanto o acesso a essas fazendas é feito
por estradas mal cuidadas e que muitas vezes dependem de veículos apropriados para tais
circunstâncias. Observa-se que muito desses turistas não visitam a cidade, pois ficam apenas
na fazenda, onde podem ter um turismo rural e/ou histórico. Apenas algumas fazendas
históricas oferecem a visita guiada independente da hospedagem nos antigos casarões,
atrativo que atende ao turista que se hospeda ou passa parte da visita à São José do Barreiro
no centro da cidade.
Conclusões
Constatamos a vontade que a prefeitura e o comércio possuem em desenvolver o turismo,
porém espera-se muito que, primeiramente, a infraestrutura seja implementada, como o
conserto de estradas. São José do Barreiro se encontra em um ciclo vicioso de dependência de
políticas públicas para gerir seus patrimônios e manter a renda da população enquanto o
turismo não se torna efetivamente rentável ao município de modo geral.
Referências
FERNANDES, Florestan. Mudanças Sociais no Brasil. Ed.Difusão Européia do Livro – São Paulo,
1960.
SÃO PAULO (ESTADO). Conselho de DEFESA DO Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico.
Busca de Bens Tombados. Secretaria da Cultura, 2011. Disponível em:
http://www.cultura.sp.gov.br/portal/site/SEC/menuitem.8fc0ff23d63c442aaacf3010e2308ca0
/?vgnextoid=662b7d2fbae72210VgnVCM1000002e03c80aRCRD. Acessado em: 05 de
setembro de 2011.
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Arquitectura, Memoria y Conflicto Armado en Colombia
Alvaro Hernán Acosta Páez1
Palabras-Clave: Memoria. Territorio. Arquitectura. Proyecto. Patrimonio
Introducción
El trabajo se refiere a una indagación sobre los mecanismos de producción y valoración de
memoriales, edificaciones y “monumentos”, asociados a la reparación o conmemoración de
las víctimas del conflicto armado en Colombia; los casos, articulados entre sí, constituyen un
fragmento de la memoria del territorio en tanto configuran, no solamente la
“conmemoración” a hechos recientes, sino además las prácticas discursivas en torno a la
noción de memoria espacial y prácticas disciplinares en torno a la creación de estos objetos;
así mismo, en algunos casos, refiere la problemática relación entre múltiples formas de
apropiación, el “marketing” urbano con fines de promoción turística y la memoria oficial.
Aunque la clásica definición de Alois Riegl referida a estos conceptos es ampliamente
conocida, en realidad, se articula a los trabajos mas recientes de Pierre Nora, en relación a los
registros de la memoria y las distinciones referidas a este ámbito teórico. La indagación
pretende elaborar una cartografía de esa memoria espacial y su relación con el diseño y la
construcción de unas arquitecturas puestas en funcionamiento a través de estos objetos,
asumiendo la existencia de una voluntad para construir un efecto conmemorativo en cada
objeto. En ese sentido, nos referimos a una caja de herramientas útil a indagar esos efectos y a
introducir el ámbito de la valoración de esta relación; la indagación se situa en el contexto de
del semillero de investigación en las asignaturas de historia y teoría de la escuela de
arquitectura de la Universidad Nacional de Colombia, en Medellín.
Metodologia y resultados
El desarrollo de la pesquisa parte de la realización de un inventario de los objetos en cuestión;
la aproximación a su status de carácter simbólico, se realiza a partir de un exámen de su
“anatomía”, privilegiendo la “experiencia” directa, en algunos casos, o mediatizada en otros,
con el propósito de caracterizar su naturaleza conceptual y la valoración del objeto. Asi mismo,
cada caso de estudio, implica el estudio del tipo de intervención y los problemas de contexto
que se desprenden, lo que refiere situaciones singulares por el carácter mismo de constituirse
en referentes de las víctimas en el contexto de la reparación colectiva y su relación con la
naturaleza del objeto propuesto o construído, conformando en ese proceso un catálogo de
imágenes de espacios conmemorativos y una “cartografía”analítica.
Conclusiones
Los resultados, aún parciales, dejan entrever las enormes dificultades que implica el diseño de
objetos “conmemorativos”, la relación entre los imaginarios de la cultura popular y la noción
de memoria oficial; asi mismo, abre un panorama problemático para la concepción de
reparación colectiva y el rol de los objetos conmemorativos en dicho proceso; desde el método
para una intervención espacial de esta naturaleza, en areas de post-conflicto, y claramente
hasta la construcción de la mirada del observador con relación a un paisaje de efectos y
sentidos, donde la patrimonialización intencionada de los lugares contribuye principalmente a
la definición de un paisaje oficial de efectos.
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Referencias
RIEGL, Alois. El culto moderno a los monumentos. Visor, Madrid, 1987
PÉREZ-GÓMEZ, Alberto. Questions of percepction, Phenomenology of architecture,
architecture and Urbanism: July, 1994.
PURINI, Franco. Comporre l’ Architettura. Laterza, Bari. 1999.
NORA, Pierre. Entre Memoria e Historia, la problemática de los lugares. Gallimard, Paris, 1984
TURRI, Eugenio. La conoscenza del territorio. Marsilio, Venezia, 2002
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Fronteira: limite geográfico que separa. Culturas que se unem.
Gabriela Neves Frizzo1
Palavras-chave: Fronteira. Antropologia. Cultura. Idioma.
Introdução
O presente trabalho foi escrito originalmente para contemplar a disciplina de Antropologia II,
do curso de Turismo da Universidade Federal de Pelotas/RS. A pesquisa foi feita na fronteira
entre as cidades de Jaguarão, Brasil, e Rio Branco, Uruguai. Tendo como ponto de partida a
observação da cultura singular que forma-se em uma, nesta fronteira.
O objetivo do trabalho é analisar, na fronteira Jaguarão-Rio Branco, suas peculiaridades, tais
como a língua, costumes, formas de vestir e outros. Para que se possa entrar em uma pesquisa
de campo é preciso deixar as análises e preconceitos prévios de lado. Conforme DA MATTA
(1981, p.162), para que o familiar possa ser percebido antropologicamente, ele tem que ser de
algum modo transformado em exótico. Com isso, percebemos quão profundo é o choque
cultural quando ocorre a exposição da cultura do “eu” com a cultura do “outro”. E para que
isso seja dado é, necessariamente, importante uma aproximação direta com o outro, bem
como sentir as diferenças do “desconhecido” para que esta forma torne-se objeto
fundamental para a constituição de uma futura subjetividade.
A fronteira é um lugar onde povos se cruzam, culturas misturam-se e, com o passar do tempo,
esta frequência vai tomando forma e transformando-se em uma cultura singular e única: a
cultura fronteiriça. Segundo SCHLEE (1998) apud SCHULER (2004):
“Vivia perplexo diante do Uruguai, não propriamente diante do mundo; mas, antes, diante daquele outro mundo: tão perto e tão longe, logo ali do outro lado da risca vermelha no cimento da ponte, muy cerca, cerquita, cercado (a risca vermelha no meio da ponte )... Aquele outro mundo, separado e unido pelo rio: tão diferente e tão igual; tão distinto e tan distinto; tão distinguido e tan distinguido; tão esquisito e tan exquisito...” (in SCHULER, 2004, p. 53)
Com a ida a campo, o lugar foi tornando-se exótico e deixou de ser meramente uma passagem,
passou a ser o foco, onde queríamos nos deter para ganharmos resultados condizentes com o
que estávamos dispostos. Para isso, aquilo que antes era “despercebido”, após a observação,
pode-se então, ter uma noção maior e mais aprofundada do lugar. E, muito se deve ao fato de
deixarmos de lado preconceitos, visões pré-estabelecidas, juízos de valor e suposições, para
então chegar na fronteira e deter uma maior visão do que ela é em si, quais suas
singularidades, suas formas, suas maneiras, entre outros.
Metodologia e resultados
Nas idas a campo, nos deparávamos com a surpresa do exótico em contraposição ao subjetivo
e a identidade como um todo. A heterogeneidade é evidente neste cenário, mas semelhanças
também são compartilhadas. As informações fornecidas pelos nativos da fronteira foram
importantes para o desenvolvimento do trabalho. Algumas situações só foram percebidas
através das declarações feitas por eles.
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O manual de ideias para o diálogo com o nativo foi elaborado com o intuito de encontrar
maior êxito na hora de entrevistar. Este manual trás perguntas-base para qualquer pré-
entendimento daquilo que se busca: fronteira separa ou une? Para tal, acreditou-se ser
necessário traçar um roteiro de perguntas, algumas delas foram:
I) O que você entende por fronteira? É somente uma delimitação geográfica ou cultural
também?
II) Acredita que a comunidade fronteiriça do lado brasileiro, por exemplo, carrega alguma
coisa que lembre os uruguaios?
III) Quando você “atravessa a ponte” (ou seja, cruza a fronteira), o que passa em sua
mente? Há um choque cultural? Tente subtrair o fato de viver na fronteira; imagine como
sendo um visitante analisando as duas partes (Jaguarão/Rio Branco).
Como a fronteira tem suas peculiaridades, pois é um canal que aproxima dois povos, buscou-
se observar, ouvir e tentar entender um pouco do que é viver em meio a duas culturas
diferentes que estão juntas convivendo em forma de “troca simultânea”.
Conclusões
Em campo, procuramos focar em detalhes que, às vezes, passam despercebidos aos olhos de
muitos visitantes. Com as respostas obtidas através das entrevistas, pode-se chegar a uma
conclusão no que diz respeito a mistura da fronteira, se ela une ou separa. Quando se está tão
próximo de um lugar, mas ao mesmo tempo tão longe, é onde se pode constatar que as
culturas não permanecem intactas; Elas evoluem (ou transforma-se), agregam valores,
experiências, convivências, que acabam por se tornarem, para aqueles que acreditam, em uma
outra cultura: aquela que se pode chamar de cultura fronteiriça.
Referências
DA MATTA, R. O Trabalho de Campo como Rito de Passagem. Petrópolis: Vozes, 1981.
RIBEIRO, G.L. Fronteiras da Cultura. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1993.
SCHLEE, A.G. Contos de sempre. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998.
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O Inepac e a proteção da Paisagem Cultural: o caso de Tarituba, Paraty
André Farias Cavaco1
Luciane Barbosa de Souza1
Palavras-chave: Tarituba. Tombamento. Paisagem. Cultural. Comunidade. Caiçara.
Introdução
O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), órgão de preservação e fiscalização do
Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro, vem sendo desde a sua criação, uma
instituição de vanguarda no que diz respeito ao reconhecimento do valor de bens materiais
não necessariamente arquitetônicos. Seus primeiros tombamentos, desde 1965, já
evidenciavam uma preocupação diferente da linha de pensamento do IPHAN, onde eram
priorizadas as obras modernas e coloniais. O período no qual Darcy Ribeiro foi Secretário
Estadual de Ciência e Cultura não foi diferente e tombamentos como a Pedra do Sal e aquele
denominado Litoral Fluminense são exemplos desta preocupação com o patrimônio natural e a
paisagem cultural.
Tarituba é um distrito do município de Paraty e foi uma das praias incluídas no tombamento
do Litoral Fluminense, publicado provisoriamente em 1985 e sancionado definitivamente em
1987. Este tombamento teve como intuito somar-se a outros instrumentos legais já existentes
na busca da preservação ambiental e cultural do litoral fluminense. Teve, portanto, dois
objetivos principais: preservar alguns dos mais belos e importantes ecossistemas naturais da
nossa costa; e garantir a permanência nessas áreas das comunidades tradicionais de
pescadores.
A pequena vila de pescadores preserva as tradições caiçaras, o saber e o fazer dos pescadores,
dos varais e redes de pesca; dos alambiques; da agricultura familiar; da medicina tradicional;
dos mestres cirandeiros, preservando as danças e as músicas tradicionais; e, o calendário de
festejos e devoções. Na pequena enseada, as conchas que quase não existem mais, guardam a
memória dos Beneditos, dos Bulhões, dos Meiras, de Mestre Chiquinho, das mais velhas e dos
mais velhos.
Metodologia e resultados
O INEPAC vem desenvolvendo um trabalho em conjunto entre os seus departamentos do
Patrimônio Cultural e Natural (DPCN) e Patrimônio Imaterial (DPI) visando acompanhar e
fiscalizar essa área tombada assim como registrar as manifestações populares tradicionais
desta comunidade, como é o caso da Ciranda de Tarituba.
A estratégia escolhida têm sido realizar o acompanhamento dos festejos tradicionais, como a
Festa de Santa Cruz e a Procissão de São Pedro. Esta “imersão”, mesmo que temporária, na
vida tradicional da comunidade caiçara tem permitido tanto aos arquitetos como aos outros
profissionais do patrimônio, realizar uma série de observações assim como recolher uma
grande diversidade de depoimentos e impressões sobre como o desenvolvimento vem
impactando na comunidade tradicional.
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Durante as vistorias pudemos perceber que a paisagem tradicional vem sendo
constantemente alterada, tradicionalmente os pescadores utilizavam a faixa de areia para
construírem seus varais e ranchos. Muitos destes foram removidos por “incomodarem” os
supostos proprietários das terras em frente à faixa de areia. Alguns restaram “espremidos”
entre as novas construções e outros passaram a ocupar o espaço em frente à igreja, obrigando
os festejos a serem transferidos de local. A faixa de areia passou, cada vez mais, a ser ocupada
por trailers que vêm sendo ampliados e hoje são verdadeiros restaurantes a beira-mar.
A proposta do Inepac é aproximar a preservação do patrimônio material tombado como
conceito e instrumento de preservação da memória, ou seja, garantir a preservação do
patrimônio imaterial local. Com base nos registros de história oral da comunidade, tarefa que
realizamos periodicamente, montamos a estrutura e ferramentas para a produção de um
inventário de registro do patrimônio cultural imaterial.
Conclusões
O Canto de Itaipu, localidade da Região Oceânica de Niterói-RJ, também é protegida pelo
tombamento Litoral Fluminense e recebeu recentemente um Projeto Urbanístico e
Socioambiental, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e
Pesca – Sedrap, que adotou uma metodologia de participação popular e horizontalidade entre
órgãos governamentais, institucionais e associações. Foram realizadas reuniões de integração,
divulgação, sensibilização e cadastro da população, além de oficinas e grupos de trabalho.
Somente após a conclusão do processo participativo e a validação do projeto iniciou-se de fato
a elaboração do Projeto Urbanístico / Arquitetônico.
Esse artigo tem como objetivo analisar o projeto proposto para a comunidade do Canto de
Itaipu e de que forma a metodologia empregada poderia ser aplicada ao caso de Tarituba.
Dessa forma sugere-se que essa metodologia poderia ser aplicada a todas as comunidades
integrantes ao tombamento de 1985. Criando-se assim um ligação entre patrimônio cultural,
desenvolvimento regional e pesca, que tende a agregar valor a todos os lados, representados
institucionalmente pelo INEPAC e SEDRAP.
Referências
SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA. INEPAC. Processo de Tombamento E-18/300.459/8509
publicado no D.O em 11 de maio de 1987.
SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA. INEPAC. Relatório de Vistoria, trecho Paraty -
Tombamento E-18/300.459/8509. Técnico responsável André F. Cavaco. Acervo Inepac, 2013.
ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. INEPAC - Um perfil dos 25 anos de Preservação do
Patrimônio Cultural no Estado do Rio de Janeiro. Disponível em
http://www.inepac.rj.gov.br/modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=2. Acessado
em 24.09.2013
NASCIMENTO, Antonio Eugenio do e outros. Vamos indo na ciranda. Mestre Chiquinho de
Tarituba: de bailes e histórias. Rio de janeiro: DP&A, 2004.
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INEPAC. Guia do Folclore Fluminense. Rio de Janeiro: Presença Edições, 1985.
http://www.rj.gov.br/web/sedrap/exibeconteudo?generica&acaomenu=menufunc('ProjetoCa
ntodeItaipu');&article-id=1674944
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Vila Evangelista: Planejamento Urbano e Patrimônio
Diandra Maron1
Rosa Maria Locatelli Kalil1
Palavras-chave: Arquitetura. Patrimônio. Revitalização. Urbanismo.
Introdução
A presente pesquisa subsidia o projeto urbanístico/arquitetônico do trabalho final de
graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo/RS. O tema é
uma revitalização urbanística/arquitetônica em sítio histórico no distrito de Evangelista que
pertence ao município de Casca/RS.A proposta tem a própria comunidade de Vila Evangelista
como usuário permanente e fomenta o turismo cultural,rural e ecológico tendo o turista como
usuário de passagem.A proposta busca resgatar e mostrar à comunidade a grande importância
dos bens que eles possuem,e a importância de preservá-los,levando em consideração toda a
paisagem urbana e o contexto natural simples, mas que complementam o conjunto
arquitetônico, também de caráter vernacular, dando charme e visuais diferenciadas ao
lugar.Revitalizar essa localidade será resgatar a identidade de um povo e seus potenciais
arquitetônicos e naturais para serem valorizados e resguardados para essa e futuras gerações.
Metodologia e resultados
Como processos metodológicos foram realizadas entrevistas com a comunidade e com o
turismólogo do distrito de Evangelista, além de pesquisa documental na prefeitura de Casca, e
visitas técnicas para levantamento fotográfico e observação de evidências quanto à situação
do local em 2012 e 2013. A pesquisa analisa referenciais teóricos, apresenta análises da área
de intervenção, do entorno e as diretrizes projetuais da proposta.
Vila Evangelista pertence ao município de Casca que faz parte do roteiro Uva e Vinho, e está
localizada a 230 km de Porto Alegre, entre os municípios de Serafina Correa e Vila Maria, na
Serra Gaúcha. Evangelista foi colonizada por famílias de origem italiana no início do Século XX,
e pertencia como distrito da colônia Guaporé.
As potencialidades da área de intervenção são: as visuais, paisagem, áreas verdes em grande
quantidade, área dentro de um contexto turístico regional, edificações históricas, espaço que
carrega história e identidade de um povo, espaço rural consolidado (diferentes tipos de
atrativos principalmente gastronômicos que ajudam a desenvolver a economia da localidade),
cultura italiana marcante na Vila, além de ser próxima ao município de Casca. As problemáticas
são: Vila caiu no esquecimento, patrimônio histórico sem uso e/ou abandonado, não possui
mobiliário urbano padronizado, não possui áreas de lazer adequadas, falta de acessibilidade,
passeio não existe ou péssimo estado de conservação, produtos locais não são
evidenciados,não possui equipamento urbano cultural,não possui local para refeições nem
hospedagem,placas indicativas precárias,áreas mortas à noite,falta de manutenção nas
vias,trilha ecológica está desativada e as visuais não são potencializadas.
Como equipamentos urbanos possui uma Igreja, uma Escola Estadual de Ensino Fundamental,
um posto de saúde e uma agência dos correios. A vila possui apenas dois estabelecimentos
comerciais: um bar, e um mercado/bazar/vestuário. Muitos lotes e ruas desapareceram desde
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o surgimento da vila, deixando muito vazios urbanos. Como área de lazer possui apenas um
local com campo de futebol e quiosque. A tipologia edilícia é caracterizada pelos sobrados
mistos, com porões de pedra e madeira, pavimento térreo com uso residencial, e um sótão.
Conclusões
Esta pesquisa contribuiu para demonstrar a real necessidade da revitalização desta área e da
importância da preservação desse local com relevância histórica, visando qualificar um espaço
urbano e rural e consequentemente gerar uma melhor qualidade de vida, gerenciando o
histórico e o pré-existente com as novas propostas e novos usos.
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal.
IPHAN.Disponível em <www.iphan.gov.br>,acesso 11/2012.
GUERRA, I; SEIXAS, J; FREITAS, M. J; MOURA, D; AFONSO, J; ALMEIDA, M; CALEIA, N. A
Revitalização Urbana: Contributos para a Definição de um Conceito. Portugal, 2004. Disponível
em<http://www.operativohttp://home.fa.utl.pt/~fs/FCT_2009/URB%20REHABILITATION/PAPE
R%2004%20_%202006_RevitalizacaoUrbana.pdf>, acesso 11/2012.
JORNAL HOJE. Casca. Disponível em <www.clicjh.com.br/verConteudo.php?cod=67>,acesso
08/2012.
MERGEN,Guilherme.Vida há um século. Disponível em <www.overmundo.com.br/guia/vida-
ha-um-seculo> acesso em 08/2012.
PREFEITURA MUNICIPAL DE CASCA.Legislação Municipal.2012.
PCH.Programa Nacional de Reconstrução de Cidades Históricas,1976.
WICKERT,Ana Paula.Linha 15: patrimônio,memória e cultura.Passo Fundo:Ed. Universidade de
Passo Fundo,2004.
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A Serra do Curral na paisagem belorizontina: uma interpretação
Marilene Corrêa Maia1
Mariah Boelsums1
Maria Clara de Assis1
Palavras-chave: Serra do Curral. Educação patrimonial. Preservação. Mediação. Patrimônio
matérias. Patrimônio imaterial.
Introdução
A Serra do Curral Del Rey aparece como elemento de destaque na paisagem natural e urbana
de Belo Horizonte, sendo de extrema importância evidenciar o papel que esta exerceu e
exerce na construção do imaginário coletivo da cidade. Mais que um pano de fundo na
paisagem de Belo Horizonte, ela possui características próprias e peculiares que merecem ser
destacadas.
O projeto 'Serra do Curral – em foco' teve como principal objetivo, estimular o público
participante (visitantes do Museu e transeuntes) a refletir sobre a Serra do Curral como
patrimônio ambiental e cultural, consequentemente na sua concepção material e imaterial, de
maneira a valorizar esta dualidade de valores. Desta forma, também foi discutida a crescente
ameaça sofrida pela Serra em função da especulação imobiliária e da exploração do minério de
ferro.
Esta oficina integrou o Projeto de extensão ‘Oficinas de Interpretação do Patrimônio – uma
parceria com o Museu Histórico Abílio Barreto’, de autoria e orientação da Professora Doutora
Marilene Corrêa Maia, financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG. Duas alunas bolsistas de extensão aplicaram as oficinas três fins de
semana por mês, na área externa do próprio Museu, aos sábados na parte da tarde e
domingos pela manhã.
A Oficina ‘Serra do Curral - em foco’, compreendeu três meses de execução e dois de
montagem/pesquisa.
Metodologia e resultados
Para conceber e organizar esta Oficina de Interpretação do Patrimônio utilizamos como
recursos metodológicos: o estudo da formação geológica, fauna e flora da Serra do Curral Del
Rey; análise de mapas e curvas de nível do relevo de Belo Horizonte; notícias de jornal sobre a
Serra; monografias, dissertações e teses sobre o tema e por fim, fizemos um levantamento de
fotografias dos arquivos do Museu Histórico Abílio Barreto nas quais a Serra aparecia.
Como estratégia de mediação foi concebido uma apresentação power-point com imagens
coletadas, confeccionado um ‘Livro de Recados Para a Serra’, preenchido pelos participantes, e
um cartaz com imagens antigas e atuais, inclusive de sua devastação.
Durante nossas intervenções na entrada do Museu, procuramos sensibilizar o público quanto
ao valor patrimonial deste bem natural e cultural.
Nossa iniciativa foi bem aceita e houve participação de adultos, crianças e jovens, alguns
seduzidos pelo valor nostálgico de imagens antigas, redescobrindo a cidade e sua paisagem
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natural em tempos passados e outros, indignados pelos riscos evidentes de perda deste bem
patrimonial a ser preservado.
Conclusões
O tema de estudo possibilitou trabalhar com um bem cultural onde coexistem os valores
materiais e imateriais, de forma a deixar o público participante conceber as conclusões por
conta própria, a partir do primordial conceito de identificação do/com o bem.
Os participantes reagiram de forma extremamente positiva aos incentivos da mediação,
participando da construção de um pensamento que valoriza a Serra do Curral em seus âmbitos
gerais e específicos.
O Power-point com as fotografias foram, muitas vezes, a ponte que faltava entre o individuo e
a Serra e o ‘Livro de Recados para a Serra’ foi completado pelos apelos e memórias de muitos
participantes e nós, organizadores, realmente chegamos à conclusão de que existem vários
olhares diferentes quando a Serra do Curral Del Rey está em foco.
Referências
CASTRO, Maria Ângela Reis de; OLIVEIRA, Péricles Antônio Mattar de; CARSALADE, Flávio de
Lemos. Guia de bens tombados de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Lastro, 2006. 316 p.
MURTA, Stela Maris.; ALBANO, Celina. Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar. Belo
Horizonte: Editora UFMG: Território Brasilis, 2002. 282 p.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio histórico e
cultural. 2.ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2009. 72p.
QUEIROZ, Moema Nascimento; SOUZA, Luiz Antônio Cruz; PIMENTEL, Lucia Gouvêa
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Rompendo os tapumes: uma proposta de
interação vivenciada através da restauração na comunidade de São Sebastião das Águas
Claras/MG. 2003. 218, [44] f.: Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais,
Escola de Belas Artes.
JÚNIOR, Mauro Quitino do Santos, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Potencial
interpretativo do conjunto paisagístico da Serra do Curral, Monografia de turismo, 2009.
Sites: http://portalpbh.pbh.gov.br
BH Nostalgia
http://curraldelrei.blogspot.com.br
Google Earth
Arquivos: Arquivo Público Mineiro, APM – Belo Horizonte
Arquivo da Cidade de Belo Horizonte, APCBH – Belo Horizonte
Arquivo do Museu Histórico Abílio Barreto
Acervo IBGE
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FIGURA 1 – Fotografia dos anos de 1950 com o Pico Belo Horizonte, Serra do Curral ao fundo.
Fonte: Coleção José Góes, Arquivo Público Mineiro, 1950
FIGURA 2 – Fotografia dos anos 2000 com o complexo urbano de Belo Horizonte, Serra do Curral ao
fundo. Fonte: Arquivo Público Mineiro
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Memória coletiva como suporte para o Turismo cultural : fronteiras porosas nas Folias de Reis em
Nova Friburgo/RJ
Adriana da Rocha Silva Dutra1
Diego Bonan Sanches1
Camila Dazzi1
Palavras-chave: Folia de Reis; Religiosidade Popular;
Introdução
Envolvendo em sua realização dança e música e símbolos quase mágicos como a Bandeira, a
Folia de Reis é uma manifestação cultural de grande complexidade. A encenação do caminho
percorrido pelos Reis Magos até a manjedoura do recém-nascido Menino Jesus, foi, e continua
sendo, uma das histórias bíblicas mais encenadas do Ciclo Natalino. No Brasil, a expressividade
maior de fé da Folia de Reis é durante esse período que se inicia com ensaios, passa pelas
jornadas e finaliza com a festa de arremate, evento que marca o fim do ciclo. A Folia de Reis
atualiza a memória da narrativa bíblica da visita dos Reis Magos ao Menino Jesus que se
apresenta como um ritual itinerante do catolicismo popular.
Tendo a Folia de Reis como uma cultura complexa e polissêmica, observa-se que a mesma é o
“resultado das vivências, das reinterpretações, das ressignificações e das circularidades
culturais” (MENDES, 2007) atrelada a memória e seu valor simbólico atribuído aos bens e suas
razões que motivaram as relações, construções, acontecimentos e saberes (MENESES, 2004).
Portanto, o uso do patrimônio cultural pelo turismo remete à reflexões necessárias à sua
proteção, sendo a memória coletiva que permeia o universo das vivências experienciais e as
trocas ocorridas um arcabouço desse patrimônio.
Atentou-se para as fronteiras porosas e sua relevância que se desvelam através de
especificidades e pontos de intercessão observados durante trabalho de campo realizado para
o projeto de pesquisa “Religiosidade Popular e Turismo Étnico-Cultural: Identificação e
Registro da Folia de Reis em Nova Friburgo/RJ e suas relações com a umbanda”. Nesse sentido,
constatou-se, em alguns Grupos de Folias de Reis uma religiosidade sincrética referenciadas a
partir da Umbanda constituída de “elementos multiculturais que contribuíram para sua
construção. Isto é, a bricolagem de estruturas culturais distintas que permitiram o
amalgamento religioso das etnias ameríndias, europeias e africana” (OLIVEIRA, 2007 p. 21); e
também do Catolicismo que fazem com que os devotos possuam “uma identificação global
com a fé católica” (HIGUET, 1984, p. 24 apud MENDES, 2007).
Logo, observa-se que essa diversidade cultural pode contribuir para a implementação do
Turismo Cultural como oportunidade de salvaguarda do patrimônio através do uso da
memória como atrativo turístico.
Metodologia e resultados
As conclusões se baseiam em resultados preliminares, uma vez que o o projeto de pesquisa
encontra-se em andamento. Para subsidiar os levantamentos furtou-se da “triangulação de
fontes” a partir de registros imagéticos, entrevistas, questionários, documentos revelando-se
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como uma rica fonte de dados, dando apoio ao processo de compreensão da manifestação
cultural, ao exemplificar a imaterialidade da cultura local, o saber fazer.
Conclusões
Os traços percebidos da Umbanda em meio aos Grupos de Folia de Reis de Nova Friburgo
denotam uma vasta diversidade cultural no município que é formada sob a égide de diversas
etnias, onde os Grupos de Folia tornam-se uma referência importante não só como um dos
elementos formadores da identidade local, bem como um atrativo turístico, desde que se
implemente ações adequadas e sustentáveis mediante a prática do Turismo Cultural, que se
vislumbra como mais um gerador de renda e inclusão social dos Grupos e das comunidades.
O Turismo Cultural, se bem pensado, pode ser um modo privilegiado de promover a
valorização das “cerimônias e preservar seu conteúdo religioso” (JURKEVICS, 2007 p.78). A
cultura, portanto, deve ser compreendida não como um ‘bem’ a ser “embalsamado e
mumificado”, mas sim como um “recurso econômico”, tal como preconizado nas Normas de
Quito: “Trata-se de incorporar a um potencial econômico um valor atual, de por em
produtividade uma riqueza inexplorada, mediante um processo de revalorização que, longe de
diminuir sua significação, puramente, histórica ou artística, a enriquece *...+”. (OEA, 2000,
p.111).
Referências
BELEI, R.A. et al. O uso de entrevista, observação e videogravação em pesquisa qualitativa.
Cadernos de Educação | FaE/PPGE/UFPel | Pelotas [30]: 187 - 199, janeiro/junho 2008.
BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo Cultural: orientações básicas. / Ministério do Turismo,
Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e
Ordenamento Turístico, Coordenação-Geral de Segmentação. – 3. ed.- Brasília: Ministério do
Turismo, 2010.
CAVALCANTI, M.L.V.C.&FONSECA, M.C.L. Patrimônio Imaterial no Brasil: Legislação e Políticas
Estaduais. UNESCO, Brasília, 2008. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/
images/0018/001808/18088 4POR.pdf>. Acessado em: 17 de Abr. de 2013.
CUCHE, D. O Conceito de Cultura nas Ciências Sociais. Tradução de Viviane Ribeiro. 1 ed.
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DUTRA, A.R.S.; SANCHES, D.B.& EMERICH, L.M.S. Identidade cultural e turismo – uma proposta
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Disponível em: <http://eventos.uepg.br/ojs2/index.php/conexao/article/view/4556>.
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JURKEVICS, V. I. Festas religiosas: a materialidade da fé. História Questões & Debates, América
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LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. 14 Ed. Zahar ed. Rio de Janeiro,
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MENDES, L.A.S. As folias de Reis em Três Lagoas: a circularidade cultural na religiosidade
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OLIVEIRA, J.H.M. Entre a macumba e o espiritismo: uma análise comparativa das estratégias
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Turismo e patrimônio industrial: memórias, revitalização e (re)significações do complexo ferroviário
em Mariana e Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil
Natália Martins de Oliveira Gonçalves1
Palavras-chave: Patrimônio industrial ferroviário. Turismo. Fontes orais. Memória do trabalho.
Introdução
Em várias cidades ao redor do mundo, o período pós-industrial alterou as nuances da
paisagem urbana, culminando no cenário de ruína e abandono vislumbrado hoje. Fábricas,
vilas operárias e demais estruturas industriais desapareceram, não sem levar consigo registros
identitários e de memória das comunidades envolvidas: modos de fazer, técnicas, histórico de
lutas por direitos trabalhistas, relações sociais. A preocupação com esse passado – não
somente seus resquícios físicos – elevou muitos desses complexos à categoria de patrimônio
industrial. Não obstante a eficácia das restaurações arquitetônicas, o desafio continua para
que as iniciativas de salvaguarda dessa tipologia patrimonial abarquem também as referências
sociais, econômicas e afetivas daqueles que vivenciaram o cotidiano das indústrias em seu
auge (DAUMAS, 2006, p. 13). Dessa forma, as fontes orais figuram como substrato para os
estudos de memória e história dos trabalhadores, cuja polifonia narrativa constitui esses
espaços agora patrimonializados. Para além: suas memórias evocam as diversas nuances
temporais personificadas – e por vezes, suprimidas – nos prédios, praças, ruas; como um
espelho dos esquecimentos, disputas e pertencimentos (DELGADO, 2006, p.21).
No caso de Mariana e Ouro Preto (MG), tal processo (de patrimonialização) consistiu, por
iniciativa privada da Fundação Vale, em parceira com o Santa Rosa Bureau Cultural e a Ferrovia
Centro-Atlântica; na criação de um programa de educação patrimonial, em cujas atividades
figuraram a revitalização do trecho ferroviário entre as cidades de Mariana e Ouro Preto (MG);
a revitalização do espaço das estações, modificadas para atender às atividades do programa e
a constituição de um acervo de entrevistas com a comunidade local acerca de temas (Ferrovia,
Mineração, Clubes sócio esportivos, entre outros) que fizeram/ fazem parte da composição da
cidade.
Como foco para o estudo de caso, busca-se analisar o impacto de patrimonialização de um
espaço industrial, bem como a participação da história local nesse processo.
Metodologia e resultados
A tentativa de responder a essas perguntas se baseou na análise da produção audiovisual do
Programa de Educação Patrimonial Trem da Vale, bem como do acervo História Temática
Ferrovia e História de Vida. Dessa forma, pretende-se verificar qual a representatividade das
memórias ferroviárias no material produzido para fins turísticos e de educação patrimonial.
Conclusões
O trabalho, parte da dissertação de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em
Memória Social e Patrimônio Cultural e financiado pela CAPES, está em desenvolvimento. A
articulação entre memórias, fontes orais, registro audiovisual e turismo é notável, e traz à tona
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as mudanças sofridas pela paisagem, fruto da ação dos homens ao longo do tempo. Para além,
é através desses relatos e sua difusão por recursos didáticos, que as nuances adormecidas por
um passado ligado ao período colonial emergem, e fazem-se valorizar e conhecer.
Referências
CARRIÓN, F. Estudio introductorio: Medio siglo en camino al tercer milenio: los centros
históricos en América Latina. In: _____. (ed.). Centros Históricos de América Latina y el Caribe.
UNESCO/FLACSO: Ecuador, 2001. pp. 29-95.
CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas e instrumentos. Belo
Horizonte: Annablume, 2009.
DAUMAS, Jean-Claude (org.). La mémoire de l’industrie. Besançon: Presses Univ. Franche-
Comté, 2006.
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História Oral: memória, tempos e identidades. Belo
Horizonte: Autêntica, 2006.
FUNDAÇÃO VALE. Trem da Vale: Mariana, Passagem de Mariana, Vitorino Dias, Ouro Preto.
Fundação Vale do Rio Doce. 2006.
GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
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El patrimonio cultural material e inmaterial y sus efectos en la actividad turística de la ciudad de
Taxco, Guerrero en México.
Romelia Gama Avilez1
Palabras Clave: Patrimonio, Cultura, Turismo, Valorización.
Introducción.
La ciudad de Taxco de Alarcón, se ubica al norte del Estado de Guerrero y al sur del territorio
del país de México; es un destino turístico consolidado que cuenta con diversos elementos
correspondientes a patrimonio cultural, dignos de ser conservados, por sus atributos estéticos,
históricos, artísticos, simbólicos y porque además, generan una plusvalía que beneficia a todo
el municipio y al estado de Guerrero.
La investigación aquí presentada forma parte del proyecto de la tesis doctoral de la autora
denominada "Valorización del patrimonio cultural. Producción y consumo del patrimonio en
una comunidad indígena, Tlamacazapa". De la cual, han derivado diversos proyectos paralelos
que tienen como objetivo general, conservar el patrimonio cultural, edificado, inmaterial y
natural en la localidad y en la entidad federativa de Guerrero. Considerando además, que a
través de un grupo de investigación, el cual, la autora coordina, cultivamos una línea de
generación y aplicación del conocimiento denominada "Conservación del Patrimonio cultural
tangible e intangible en zonas y sitios patrimoniales", registrada ante la Subsecretaría de
Educación Pública (SEP), a través del Programa de Mejoramiento del Profesorado (PROMEP),
evaluados y con resultados favorables con vigencia 2012 -2015, lo que nos ha permitido ser
acreedores de financiamiento para elaboración de proyectos.
Método y resultados
La investigación se realiza con la aplicación de dos métodos de principalmente: el
fenomenológico, que dio la pauta para conocer y comprender los valores intangible que brinda
la autenticidad muy peculiar a la población en estudio y tiene que ver con sus costumbres y
tradiciones. Así mismo, la aplicación de la axiología, que permitió identificar la carga valorativa
de los diferentes objetos y sujetos patrimoniales que posee la ciudad, en base a su naturaleza y
fundamento de valor.
Como resultados principales, se identificaron y analizaron a través de la axiología, la naturaleza
y fundamento de valor de los objetos y sujetos que hacen de esta ciudad, un pueblo auténtico
y que imprimen un sello de peculiaridad que motivan la atracción turística al interior y exterior
del país; destacando entre ellos: El templo de Santa Prisca, como objeto arquitectónico que
posee grandes valores culturales, manifiestos en sus antecedentes históricos y artísticos. La
configuración urbana de la ciudad a base de la traza de plato roto que representa elementos
característicos de una ciudad minera, con la topografía accidentada que ofrece una
distribución constructiva escalonada. La arquitectura habitacional que obedece a patrones
arquitectónicos manifiestos en la forma, escala y color y que uniformizan las edificaciones.
Otros elemento que en el presente trabajo se considera como parte del patrimonio1 de esta
ciudad; son la actividad económica destinada a la manufactura y venta de artesanía de plata y
otras artesanías fabricadas en la región. Las costumbres y expresiones culturales propias de la
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población como son: la danza, música, fiestas tradicionales, gastronomía, entre otras. Siendo
cada uno de estos elementos, los motivos por los que la ciudad tenga un reconocimiento
turístico a nivel nacional e internacional.
Conclusiones.
La conservación del patrimonio es una labor que supera las tareas derivadas de la preservación
de las obras hechas por el hombre. El preservar garantiza la permanencia temporal de un
objeto; sin embargo, la valorización del patrimonio, es la consecuencia del proceso de conocer,
comprender, apropiar y actuar en favor del patrimonio que garantiza su conservación para las
generaciones futuras, gracias a que a través de la valorización, podemos relacionar tanto los
aspectos visibles como sensibles, cuantitativos como cualitativos, que percibimos a través de
los objetos y sujetos patrimoniales, derivados de la naturaleza, del ser humano como parte de
la naturaleza misma y las obras producidas por el hombre y que todos, pueden heredarse de
generación en generación de forma objetiva y subjetiva a través de la materia y de la memoria.
Referencias.
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Económica. 1972 3a edición, 2009 XXII reimpresión.
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funciones, en DADU. México, Año 3, No. 6, 2009.
Gama Romelia. Hacia el desarrollo turístico sustentable en sitios patrimoniales. Chile.
Universidad Central e Instituto del Patrimonio Turístico. 2012
Gama Romelia, et al. Valor patrimonial e identidad cultural en el paisaje de la ciudad de
Taxco. Italia. Edición: RIGPAC, Universidad Politécnica de Valencia, Fórum Unesco. 2012.
Gama Romelia, et al. El imacto global en las rutas turísticas en un poblado de origen Minero.
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Jeromé Bindé (Compilador). ¿Hacia dónde se dirigen los valores?. México. Fondo de cultura
económica. 2010.
Paláu María Teresa. Introducción a la semiótica de la arquitectura. México. Universidad
Autónoma de San Luis Potosí. 2009.