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Riscos Ambientais e Formação de Professores (Actas das VI Jornadas Nacionais do Prosepe) 19 Incêndios florestais de 2003 e 2005. Tão perto no tempo e já tão longe na memória! Luciano Lourenço 1 ([email protected]) Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais (www.nicif.pt) Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (www.fl.uc.pt) Resumo A dimensão dos incêndios florestais em Portugal continental é de todos bem conhecida, tanto em termos do número de ocorrências, como, sobretudo, pela extensão das manchas de floresta e de mato anualmente devoradas pelas chamas e que, além da floresta, ameaçam frequentemente vidas e haveres, quando não chegam mesmo a destruí- los. No entanto, não é nossa intenção vir, aqui e agora, dar conta das muitas situações dramáticas que normalmente acompanham o desenrolar dos incêndios florestais, como também não pretendemos escalpelizar as múltiplas causas que ajudam a explicar este fenómeno, tanto no que respeita à sua manifestação como, sobretudo, ao seu desenvolvimento, tanto mais que acabou de ser publicada uma obra que aborda estes temas com uma visão pouco habitual (P. VIEIRA, 2006). 1 O autor deseja deixar aqui bem expresso o seu vivo e reconhecido agradecimento tanto aos alunos do Seminário de Geografia Física, ano lectivo de 2003/04, e da disciplina de Riscos Naturais e Protecção do Ambiente, ano lectivo de 2005/06, que, respectivamente, investigaram os principais grandes incêndios florestais ocorridos nos anos de 2003 e 2005, bem como aos técnicos superiores da, então, Agência de Prevenção de Incêndios Florestais (APIF), que, de forma isenta e independente, investigaram incêndios florestais ocorridos nos anos de 2004 e 2005, e, ainda, aos técnicos superiores do NICIF - Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, que estudaram a erosão hídrica provocada na Serra do Açor, na sequência do grande incêndio florestal nela registado em 2005, trabalhos que, em conjunto, muito contribuíram para a redacção deste artigo.

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Riscos Ambientais e Formação de Professores(Actas das VI Jornadas Nacionais do Prosepe) 19

Incêndios florestais de 2003 e 2005.Tão perto no tempo e já tão longe na memória!

Luciano Lourenço1([email protected])Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais (www.nicif.pt)Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (www.fl.uc.pt)

Resumo

A dimensão dos incêndios florestais em Portugal continental é detodos bem conhecida, tanto em termos do número de ocorrências,como, sobretudo, pela extensão das manchas de floresta e de matoanualmente devoradas pelas chamas e que, além da floresta, ameaçamfrequentemente vidas e haveres, quando não chegam mesmo a destruí-los.

No entanto, não é nossa intenção vir, aqui e agora, dar conta dasmuitas situações dramáticas que normalmente acompanham o desenrolardos incêndios florestais, como também não pretendemos escalpelizaras múltiplas causas que ajudam a explicar este fenómeno, tanto no querespeita à sua manifestação como, sobretudo, ao seu desenvolvimento,tanto mais que acabou de ser publicada uma obra que aborda estestemas com uma visão pouco habitual (P. VIEIRA, 2006).

1O autor deseja deixar aqui bem expresso o seu vivo e reconhecidoagradecimento tanto aos alunos do Seminário de Geografia Física, ano lectivo de2003/04, e da disciplina de Riscos Naturais e Protecção do Ambiente, ano lectivode 2005/06, que, respectivamente, investigaram os principais grandes incêndiosflorestais ocorridos nos anos de 2003 e 2005, bem como aos técnicos superioresda, então, Agência de Prevenção de Incêndios Florestais (APIF), que, de formaisenta e independente, investigaram incêndios florestais ocorridos nos anos de2004 e 2005, e, ainda, aos técnicos superiores do NICIF - Núcleo de InvestigaçãoCientífica de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, que estudaram aerosão hídrica provocada na Serra do Açor, na sequência do grande incêndio florestalnela registado em 2005, trabalhos que, em conjunto, muito contribuíram para aredacção deste artigo.

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Trata-se apenas de esboçar uma abordagem geográfica aos incêndios florestaisregistados em Portugal continental, com base tanto na sua distribuição temporal,como na respectiva dispersão espacial, tendo em consideração quer o númerodas ocorrências de fogos florestais, quer a dimensão das áreas ardidas que,anualmente, são percorridas por incêndios florestais nos diferentes municípiosportugueses.

Deste modo, a análise será feita de modo a mostrar a evolução dofenómeno ao longo do tempo e no espaço municipal, com particularincidência nos anos críticos de 2003 e de 2005, os mais graves dahistória dendrocaustológica portuguesa.

A justificação para todos estes factos é complexa e só poderáencontrar explicação através do somatório de diversas análisesparcelares, umas referentes a aspectos mais ligados à prevenção e,outras, relativas a situações mais relacionados com o combate que, porrazões óbvias não podem ser aqui desenvolvidas.

Com efeito, a análise sistemática de todas elas representaria umtrabalho de grande fôlego e que muito ultrapassa os objectivos destapequena nota. Assim, mais do que uma análise exaustiva, iremos apenasmencionar, sempre que tal se proporcionar e for considerado pertinente,alguns dos aspectos que nos parecem mais relevantes para explicaçãodos factos apontados.

Começamos, pois, por referir a evolução anual dos incêndiosflorestais, praticamente ao longo dos últimos quarenta anos, tanto emtermos de número das ocorrências como dos hectares incinerados.Depois, apresentamos a sua distribuição espacial, também ao nível donúmero das ocorrências e das áreas ardidas, em valores médiosquinquenais dos últimos vinte e cinco anos, para, por fim, nos centrarmosna análise mais detalhada do sucedido nos dois anos mais críticos, osde 2003 e de 2005.

Palavras chave: incêndios florestais; ocorrências; áreas ardidas;evolução temporal; distribuição espacial.

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Introdução

O significativo aumento tanto do número de ocorrências de fogosflorestais como da dimensão das áreas ardidas, registado a partir doúltimo quartel do século passado, terá ficado a dever-se essencialmenteàs profundas transformações que, sobretudo a partir de meados doséculo passado, se começaram a fazer sentir na população residentenas áreas florestais, em especial do interior do país.

Essas transformações, que se intensificaram no último quartel doséculo XX, traduziram-se por uma grande redução dos efectivospopulacionais nos espaços com aptidão florestal, acompanhados desubstanciais mudanças tanto na estrutura (etária, social, económica ecultural) da população que aí se manteve, como nos sectores deactividade por ela desenvolvidos, com significativa redução dos ligadosà agricultura e à floresta, ou seja, dos agro-silvo-pastoris, e comsignificativo incremento das actividades associadas à indústria e aosserviços, como tem sido mencionado por diversos autores, sobretudodepois do estudo de caso de F. CRAVIDAO (1989).

Com efeito, a conjuntura social presente na década de 80 do séculopassado, baseada no despovoamento e envelhecimento da populaçãorural, levou não só à diminuição da mão-de-obra rural mas tambémconduziu ao acréscimo do seu preço, resultante da dita escassez, oque, por sua vez, levou a uma série de outras consequências que, noentanto, não podem ser dissociadas de um conjunto de factores externosque também ajudaram ao seu incentivo.

De entre elas, pelo menos duas merecem ser destacadas. Desdelogo, a progressiva extinção da prática de recolha de matos para as"camas" dos animais, também resultante de uma mais fácil acessibilidadea fertilizantes artificiais, que, assim, passaram a substituir os estrumestradicionais, e, ainda, à redução do consumo de lenhas, também elafruto da electrificação crescente e da divulgação do gás em garrafas,factores que, em associação, contribuíram para o progressivo econtínuo aumento da biomassa disponível na floresta (L. LOURENÇO,2006a, p. 63).

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Por outro lado, a manutenção de uma conjuntura económico-socialdesfavorável, que levou à redução dos preços da resina e, ao mesmotempo, não permitiu passar de um incipiente nível de mecanização, oqual, apesar de tudo, foi insuficiente para substituir a mão de obraperdida e também contribuiu para a acumulação de biomassa nosespaços florestais.

Por sua vez, a pequena dimensão da propriedade, aliada à incorrectagestão dos espaços florestais, foram factores que não só dificultaram adefesa da floresta contra incêndios, mas também contribuíram paraacentuar a desvalorização da utilidade social, económica e ambientalda floresta e dos espaços com aptidão florestal e, por conseguinte,para o aumento de carga combustível na floresta.

Por último, fruto não só de estas mas também de outrascircunstâncias, o crescente aumento do risco de incêndio, a par daagudização da perda de competitividade e de atractividade para oinvestimento no sector florestal, salvo algumas excepções, conduzirama efectivas situações de abandono da floresta, uma vez que esta detinhaum baixo valor económico, apresentava crescentes problemasfitossanitários e estava exposta a um elevado risco de incêndio florestal(L. LOURENÇO et al., 2006, p. 5).

Deste modo, o êxodo rural levou à concentração da populaçãoactiva nas grandes áreas urbanas, sedes de distrito e de município, edeixou, por isso, as áreas florestais com uma população muito rarefeitae idosa. Por outra parte, a rápida modificação na ocupação da populaçãoactiva que continuou a residir nas áreas florestais e que,preferencialmente, se passou a ocupar em actividades dos sectoressecundário e terciário, conduziu ao abandono de muitos camposagrícolas.

Por conseguinte, não só foram criadas muitas áreas de incultos que,progressivamente, foram sendo ocupadas por mato e floresta,aumentando assim significativamente os espaços com aptidão florestal,mas também e concomitantemente foi sendo reduzida a intervençãona floresta, em cujos espaços se passaram a acumular grandes cargasde combustível.

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Ora, estas situações que, intrinsecamente, parece nada terem a ver com osincêndios florestais, por isso lhe chamámos causas indirectas (L. LOURENÇO, 1995,p. 178), não só são as principais responsáveis pela existência dos grandes incêndiosflorestais, mas também são as mais difíceis de eliminar.

Com efeito, ao criarem condições que, a posteriori, acabam por terinterferência directa no comportamento dos incêndios, facilitando aprogressão das frentes de chamas e, por isso, o rápido desenvolvimentodos incêndios, contribuem assim, indirectamente, para uma maiordimensão das áreas incineradas.

1 . Evolução temporal

O já antes referido aumento exponencial do número de ocorrênciasde incêndios florestais, verificado a partir do último quartel do séculopassado e que, felizmente, parece começar a inverter-se no iníciodeste século (fig. 1-A), se admitirmos que o ano de 2005 foi anómalo,a par da importância das áreas ardidas, que, apesar da sua irregularidade,apresenta, sobretudo nos últimos anos, valores impressionantes (fig. 2-A), resultaram, essencialmente, como vimos, das várias transformaçõessofridas pelos espaços florestais.

Ora, se agora analisarmos as tendências dessa evolução no tempo,respectivamente, para as ocorrências e para as áreas ardidas, verificamosque são completamente diferentes (fig.s 1-B e 2-B).

Com efeito, enquanto que o número de ocorrências está intimamenteassociado a causas humanas, dolosas e negligentes, que decorrem dediversos comportamentos e de atitudes há muito identificadas e que éurgente alterar, já a extensão das áreas ardidas está directamenteassociada às condições meteorológicas que se fizeram sentir em cadaum dos diferentes anos, à ausência do ordenamento do território e dagestão florestal e, por último, a alguma falta de eficácia da actuaçãodos meios de combate.

Deste modo, se, por um lado, o brusco aumento do número deocorrências registado em 1981 teve a ver, sobretudo, com a alteraçãodo método de apuramento estatístico dos dados, já o progressivoaumento notado ao longo da década de 90, se ficou a dever à generalização de

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRFFig. 1-B - Tendência da evolução do número anual de ocorrências de fogos

florestais em Portugal Continental.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRFFig. 1-A - Evolução do número anual de ocorrências de fogos florestais em

Portugal Continental.

um maior rigor no tratamento da informação estatística, com os anos de 1995,1998 e 2000, a registarem os maiores valores durante esse período, por tambémcorresponderem a anos em que as condições meteorológicas foram favoráveis àeclosão de fogos, se bem que este facto não seja determinante para a explicaçãodo aumento do número das ocorrências, como se comprova com o sucedido

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRFFig. 2-A - Evolução anual da área ardida em Portugal Continental.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRFFig. 2-B - Tendência da evolução anual da área ardida em Portugal Continental.

em 1991, ano com muito menos ocorrências do que o de 1989 e que,anteriormente a 2003, detinha o máximo valor de área ardida, esse sim, emparte explicado por condições de natureza meteorológica.

Por outro lado, em termos de área ardida, se o sucesso obtido nos anos1977, 1988 e 1997 será de atribuir a condições meteorológicas pouco favoráveis

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à ignição e propagação de incêndios florestais, já o oposto não é totalmenteválido para as catástrofes associadas aos anos de 2003 e 2005, uma vez que estasnão poderão ser imputadas, apenas e exclusivamente, como veremos, à onda decalor do final de Julho e princípio de Agosto, ou às faíscas descarregadas portrovoadas secas nos dias 1 e 2 de Agosto de 2003, e nem sequer ao ano de secaregistado em 2005.

Não há dúvida de que estes aspectos foram importantes, mas parao resultado obtido contribuíram também, decisivamente, não só o estadode abandono a que se encontram votadas muitas das nossas matas eflorestas, mas também a falta de ordenamento e de fiscalização doterritório (L. LOURENÇO, 2006b, p. 73), e, ainda, a falta de coordenaçãoda generalidade dos meios de socorro que actuaram em grandes teatrosde operações, bem como a falta de eficácia dessa actuação, quer devidoà inexistência de formação dos intervenientes, quer ao uso deequipamentos inadequados, para mencionar apenas alguns dos aspectosmais flagrantes e frequentes.

Por sua vez, em contraponto com a lenta evolução do cobertoflorestal ao longo dos séculos, nos últimos anos assistimos a rápidastransformações, devidas sobretudo à grande incidência dos incêndiosflorestais, que, entre outras, tiveram como consequência uma profundaalteração das espécies, sobretudo das autóctones.

Com efeito, na actualidade (QUADRO I), as duas espécies maisrepresentativas da floresta do Norte e Centro de Portugal são o pinheirobravo e o eucalipto, quando, anteriormente, as predominantes eram ocarvalho e o castanheiro.

Por sua vez, no Sul, embora o sobreiro e a azinheira ainda continuema dominar, o eucalipto e o pinheiro manso já começaram a ganharterreno rapidamente e a ocupar áreas cada vez mais significativas,transformação que também contribuiu para o aumento do número deocorrências e, sobretudo, para o dos grandes incêndios verificados nosúltimos anos a Sul do rio Tejo e, em particular, na serra algarvia.

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2.Distribuição espacial

Se a distribuição temporal do número de ocorrências e das áreasqueimadas apresenta comportamentos diversos, também, do mesmo modo, asua repartição espacial assume diferentes padrões de dispersão.

Deste modo, a análise comparativa dos valores médios relativos aoprimeiro quinquénio do período considerado, mostra uma concentraçãodo número de ocorrências nos municípios do litoral e, em particular,junto dos grandes centros urbanos do Porto, de Lisboa e de Viseu,situação que tem tendência a acentuar-se nos anos seguintes, tendoatingido o seu máximo no quinquénio 1996-2000 e prolongando-separa o início do século XXI, com municípios dos distritos do Porto,Aveiro, Braga e Viana do Castelo, a par com alguns da áreametropolitana de Lisboa, a deterem o grosso das ocorrências (fig. 3).

Esta distribuição espacial ficou a dever-se a situações concretasdaqueles contextos geográficos que, de modo geral, se podem relacionarquer com a dispersão das habitações no meio da mancha florestal, quercom a existência, também no interior do espaço florestal, de pequenasunidades industriais de tipo familiar (L. LOURENÇO, 2006b, p. 72).

Por sua vez, os municípios que em 1981-85 apresentavam maioresáreas ardidas situavam-se em áreas montanhosas do interior do Centroe Norte de Portugal.

No Centro, estes municípios distribuem-se pelas áreas montanhosasda Cordilheira Central (serras da Lousã, Açor, Estrela, Alvelos, Cabeço

QUADRO I - Superfície ocupada pelas espécies mais representativas docoberto florestal português.

Fonte:DGRF/IFN, 2001.

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Rainho, Gardunha e Malcata), do maciço marginal de Coimbra, da serra doCaramulo, do maciço da Gralheira (serras da Arada, Freita, Arestal e S. Macário)e, por último, das serras de Montemuro, Nave, Lapa e Marofa, para mencionarapenas as mais importantes.

No Norte, os municípios mais afectados correspondem, essencialmente, àsserras do Marão e Alvão, e, no Sul, mais precisamente no Algarve, as áreasqueimadas correspondem aos municípios que se desenvolvem pelas serras deMonchique e do Caldeirão, o que denota uma associação muito próxima dasmanchas queimadas (fig. 4), às áreas que apresentam um relevo maismovimentado.

Nos quinquénios seguintes, a situação tendeu a agravar-se progressivamente,tendo-se atingido o expoente máximo no quinquénio 2001-2005, em que apenasuma parte substancial do Alentejo e algumas áreas litorais foram poupadas, demodo que, em termos médios, as áreas montanhosas antes mencionadas

Fig. 3.A – Distribuição geográficados valores médios quinquenais das

ocorrências de incêndio florestalregistadas por 100 km2 em cada um

dos municípios de Portugalcontinental.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.Fig. 4.A - Distribuição geográfica dos

valores médios quinquenais, empercentagem, das áreas queimadas em

cada um dos municípios de Portugalcontinental.

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Fig. 3.B – Distribuição geográfica dosvalores médios quinquenais dasocorrências de incêndio florestal

registadas por 100 km2 em cada umdos municípios de Portugal

continental.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.Fig. 4.B - Distribuição geográfica dos

valores médios quinquenais, empercentagem, das áreas queimadas em cada

um dos municípios de Portugalcontinental.

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Fig. 3.C – Distribuição geográfica dosvalores médios quinquenais dasocorrências de incêndio florestalregistadas por 100 km2 em cada um dos municípios de Portugal continental.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 4.C - Distribuição geográfica dosvalores médios quinquenais, em

percentagem, das áreas queimadasem cada um dos municípios de

Portugal continental.

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continuaram a ser as mais afectadas, juntamente com aquelas que as envolvem(fig. 4), confirmando-se assim que o relevo e a interioridade acabam por serdeterminantes para explicar a distribuição geográfica da generalidade dos grandesincêndios florestais em Portugal.

Quando analisamos a situação média correspondente aos últimos 25 anos,ela retrata, como não podia deixar de ser, aquilo que acabámos de descrever, ouseja, uma concentração do número de ocorrências em torno dos grandes centrosurbanos do Porto, a Norte, - alastrando através de semi-círculos concêntricosque se vão esbatendo em direcção a Braga, para Norte, a Aveiro, para Sul, e aVila Real e Viseu, para o interior - e de Lisboa, no Centro-Sul, embora nestecaso se revista de menor importância (fig. 5).

Fig. 5 – Distribuição geográfica dosvalores médios das ocorrências deincêndio florestal registadas por 100 km2em cada um dos municípios de Portugal continental, entre 1981 e 2005.

Fig. 6 – Distribuição geográfica dosvalores médios das áreas queimadas,em percentagem, em cada um dosmunicípios de Portugal continental,

entre 1981 e 2005.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

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Em contrapartida, as áreas mais varridas pelo fogo durante os últimos 25anos, afectaram praticamente todos os municípios do Centro e Norte, commenos significado nos do litoral e em alguns dos raianos, mas com particularincidência nos que se desenvolvem ao longo da Cordilheira Central e na serra deMonchique (fig. 6).

3. O ano crítico de 2003, pela dimensão da área ardida

As situações meteorológicas simultaneamente favoráveis à eclosãoe à propagação do fogo, respectivamente traduzidas por temperaturado ar elevada e humidade relativa do ar reduzida (L. LOURENÇO,1988, p. 262), e por ocorrência de vento, preferencialmente, doquadrante Este e, em particular, quando se manifesta através de rajadasfortes (L. LOURENÇO, 1996, p. 59), correspondem habitualmente àssituações mais críticas em termos de incêndios florestais, como se temverificado com relativa frequência ao longo dos últimos anos. Por isso,não foram novidade no ano de 2003 e, como quase sempre,corresponderam a semanas que registaram um elevado número deocorrências e vastas extensões percorridas pelas chamas (QUADRO II).

a. Condições meteorológicas e risco de incêndio florestal

O ano de 2003, teve a particularidade de registar um númeroanormalmente elevado de trovoadas secas, com uma descargaimpressionante de raios (fig. 7), tendo muitos deles sido responsáveispor uma parte substancial do elevado número de eclosões verificadas.No entanto, convém sublinhá-lo, em termos semanais este valor foisempre inferior ao dos máximos semanais2 registados nos cinco anosimediatamente anteriores.

Com efeito, em termos estatísticos, a pior semana dos cinco anosanteriores foi a de 3 a 9 de Agosto de 1998, com um número deocorrências que quase tinha triplicado (2,7 vezes mais) o número dasregistadas em 2003, mas que, apesar disso, se ficou por uma áreaardida incomparavelmente inferior, cerca de sete (6,8) vezes menordo que a registada em 2003 (QUADRO II).

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

QUADRO II – Número de grandes incêndios florestais registados nas semanas em queo número de ocorrências foi superior a 3 000 ou em que a área ardida foi superior a 12500 hectares, correspondentes a semanas em que as condições meteorológicas foram muito favoráveis à deflagração e propagação de incêndios florestais.

Curiosamente, do ponto de vista meteorológico e ao contrário de que umasimples análise aos quantitativos das áreas ardidas possa fazer supor, o ano de2003 até foi um pouco mais fresco e húmido do que alguns dos anos anteriores,em particular nas regiões tradicionalmente problemáticas do litoral Centro eNorte, ou manteve condições meteorológicas semelhantes às existentes nos anosmais adversos, em particular no final de Julho e princípio de Agosto.

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De facto, as variações locais fizeram com que, por exemplo, em Coimbra,só o dia 6 de Agosto tivesse apresentado risco muito elevado e apenas os dias29, 30 e 31 de Julho, a par com os dias 6 e 8 de Agosto, tivessem registado riscoelevado (fig. 8).

Pelo contrário, nas regiões do interior, sobretudo do Centro e Sul, as situaçõesforam, de modo geral, mais severas do que as habitualmente registadas, peloque foi sobretudo aí que se concentraram as grandes manchas ardidas (fig. 9).

Ora, se a gestão dos meios de combate fosse efectuada com base na tendênciado índice de risco poderia permitir, na véspera, a deslocação dos meios para oslocais mais críticos, do mesmo modo que poderia fazê-los regressar à base,

Fonte: IM, in MENDES, 2003, p. 15.

2Por não dispormos de valores diários, não foi possível fazer a comparação usandointervalos de tempo mais curtos, pelo que admitimos que entre o final da tarde dodia 1 e o início da manhã do dia 2 de Agosto se tenha registado o maior número deocorrências observado num período de tempo inferior a 24 horas, se bem que, aser verdade, não deve ter ficado muito distante do valor máximo diário registadona semana de 3 a 9 de Agosto de 1998, com um número impressionante deignições e uma área ardida proporcionalmente muitíssimo inferior. Um factor que,de certo modo, contribuiu para agravar este resultado, decorreu da circunstânciadestas faíscas terem dado origem a ocorrências em áreas onde, habitualmente, onúmero diário de ignições é relativamente reduzido.

Fig. 7 – Distribuição dasdescargas eléctricas provocadaspor trovoadas nos dias 1 e 2 deAgosto, entre as:

17 e as 21 horas do dia 1;

21 horas do dia 1 eas 5 horas do dia 2;

5 e as 9 horas do dia 2.

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quando as condições meteorológicas assim o determinassem, como sucedeu,com bons resultados, na Região Centro, durante a fase experimental de aferiçãodos índices referidos e que decorreu entre 1992 e 1995 .

Sem pretender entrar em análises exaustivas às condições meteorológicasque se fizeram sentir durante o período estival, não podemos deixar de mencionarque foram diferentes nas várias regiões do continente, com algumas delas a registar,em muitos dos dias considerados como críticos, valores do índice de risco maisbaixos do que os habituais nesta época do ano.

Todavia, no período mais crítico de incêndios florestais, correspondente aosprimeiros dias de Agosto, temos de reconhecer que a simultaneidade de muitosfocos de incêndio, que, como já foi referido e veremos ainda com mais detalhe,se ficou a dever sobretudo a uma quantidade impressionante de faíscasprovenientes de trovoadas secas, criou condições para a fácil propagação daschamas e aumentou a dificuldade do combate, para a qual também contribuiu amanifestação de um certo "histerismo colectivo" que, em parte, resultou doempolamento dado ao assunto pelos meios de comunicação social, com umdestaque que, aliás, não teve qualquer semelhança com situações passadas.

Acresce, sem dúvida, que o estado do tempo em Portugal continental foi,em certas regiões, altamente favorável ao desenvolvimento de incêndios, pois

Fig. 8 – Evolução dos valores diários da temperatura máxima e da humidaderelativa mínima do ar, no Instituto Geofísico da Universidade de Coimbra,

durante os meses de Julho e Agosto de 2003.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Instituto Geofísico daUniversidade de Coimbra.

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estava condicionado por uma massa de ar quente e seco, transportada na circulaçãoconjunta de um anticiclone que se estendia em crista, do Sul dos Açores aoGolfo da Biscaia, e de um vale depressionário que se prolongava do Norte deÁfrica até à Península Ibérica.

Ora, nestas circunstâncias, gerou-se uma importante onda de calor entre 29de Julho e 14 de Agosto de 2003, com naturais consequências também emtermos de incêndios florestais, tanto mais que teve uma duração de 16 a 17 diasem grande parte das estações meteorológicas do interior, sendo a maior desdeque há registos (fig. 10).

As ondas de calor mais significativas, anteriormente registadas, tiveram aduração de 10 dias (Castelo Branco, em Julho de 1954, e Amareleja, em Julho de1991), pelo que esta foi particularmente notória. No entanto, foi na década anterior,de noventa, que este acontecimento ocorreu com maior frequência (anos de1990, 1991, 1992, 1995, 1997, 1998 e 1999) (IM, 2003), com muitos desses anosa registarem apreciáveis áreas ardidas (fig. 2) e que muito contribuíram para oprogressivo aumento do risco histórico-geográfico de incêndio florestal, antesdescrito.

Fonte: EUROPEAN COMMISSIONDIRECTORATE GENERAL JOINT RESEARCHCENTRE INSTITUTE FOR ENVIRONMENTAND SUSTAINABILITY Land Management UnitUpdate to the report "The European ForestFires Information System (EFFIS) results on the2003 fire season in Portugal" (Sept. 15, 2003).

Fig. 9 - Distribuição espacial dos grandesincêndios florestais registados em PortugalContinental durante os períodos críticos de:

30 de Julho a 10 de Agosto;

11 a 13 de Setembro de 2003.

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Regressando a 2003, os três primeiros dias de Agosto foramexcepcionalmente quentes, não só com as temperaturas máximas a ultrapassar40°C, em grande parte do território (fig. 11), mas também com valores muitoelevados da temperatura mínima (fig. 12). Com efeito, os valores da temperaturamínima do ar foram particularmente altos, tendo sido observados valoressuperiores a 25°C em grande parte do território e, até, mesmo superiores a30°C nas estações de Portalegre, Proença-a-Nova e do Caramulo.

Convém, ainda, referir o elevado número de dias consecutivos tanto com valoresdas temperaturas máxima e mínima do ar muito elevados, bem como com reduzidosvalores da humidade relativa do ar, que foram muito baixos, em particular no interiordo País, onde, em alguns locais, chegaram a ser inferiores a 20%.

Ora, se tivermos em conta que os valores da temperatura do ar superiores a30ºC, conjugados com os da humidade relativa do ar inferiores a 30%,correspondem a situações de elevado risco de incêndio florestal, compreende-sebem que, no interior de Portugal continental, houve um número de dias sucessivoscom elevado risco de incêndio florestal, como, aliás, tem sucedido frequentemente

Fig. 10 – Duração da onda decalor que assolou Portugalcontinental entre 29 de Julho e14 de Agosto de 2003.

Fonte: Instituto de Meteorologia.

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ao longo dos anos (L. LOURENÇO, 1991). Deste ponto de vista, não se podeconsiderar que o ano tenha sido anormal.

Todavia, a persistência de valores muito elevados de temperatura e de valoresmuito baixos de humidade relativa do ar teve um impacte significativo no tocanteao número de ocorrências e à dimensão das áreas ardidas, ao ponto de ter sidodecretada situação de calamidade pública.

No entanto, de acordo com o Institute for Environment and Sustainabilitydo Joint Research Centre of the European Commission, o risco de incêndio,mesmo nestas condições, só no dia 4 de Agosto atingiu o seu valor máximo(muito elevado), uma vez que nos dias 2 e 3 de Agosto, os mais críticos doponto de vista dos incêndios florestais, só o interior do território continental seapresentava com risco elevado.

Com efeito, todo o NW de Portugal (Norte do distrito de Aveiro e distritosdo Porto, Braga e Viana do Castelo) esteve com risco muito reduzido e reduzido(fig. 13), o que nos leva a pensar o que é que, em termos de área ardida, poderiamter sido aqueles dias (fig. 14), se no NW, onde o número de ocorrências éhabitualmente maior, o risco de incêndio também tivesse sido elevado e muitoelevado. Se assim foi muito mau, teria sido, com toda a certeza, um problemamuito maior e mais generalizado.

Como se depreende, as consequências não se ficaram a dever tanto ao factodo risco ser máximo, mas antes ao facto das ocorrências se terem registado foradas áreas tradicionalmente mais afectadas, onde, por isso, os dispositivos deprimeira intervenção eram, também, menos abundantes (fig. 8).

Como algumas destas ocorrências não foram controladas na sua fase inicial,rapidamente se transformaram em grandes incêndios, alguns dos quais, por nãoterem sido extintos no próprio dia, passaram para o(s) dia(s) seguinte(s),complicando a gestão dos meios de combate por não deixarem recursosdisponíveis para todas as novas ocorrências (fig. 17), também elas a necessitaremde rápidas intervenções. Por falta destas, em tempo oportuno, muitas dessasnovas ocorrências também acabaram por se transformar em grandes incêndios(fig. 18) como o demonstra a estimativa da área ardida em cada um dessesdias (fig. 19).

Deste modo, o balanço do ano de 2003 não podia ter sido pior, em termosde incêndios florestais. Com efeito só nesse ano, registaram-se 12 dos 20 maioresincêndios florestais desde que há registos e 8 dos 10 maiores incêndios até entãoverificados em Portugal (QUADRO III).

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Contudo, a sua justificação, contrariamente ao que se fez crer, não foi apenasde natureza meteorológica, uma vez que os elevados valores das áreas ardidasnão podem ser justificados exclusivamente pelas situações meteorológicasexcepcionais, tanto mais que, como se comprovou em função dos valores doíndice de risco, elas não se estenderam ao todo do território continental, o quepossibilitava o balanceamento de meios de combate.

Como vimos, apenas nos dias 1 e 2 de Agosto, o número de trovoadassecas foi anormalmente elevado, sobretudo entre as 17 e as 21 horas do dia 1 deAgosto, no distrito de Portalegre e na área situada imediatamente a sul, nos distritosde Évora e Beja, onde os sensores do Instituto de Meteorologia detectarammais de mil descargas eléctricas. Esta situação agudizou-se durante a noite, emparticular nas primeiras horas do dia 2 e, sobretudo, na península de Setúbal.Depois, entre as 5 e as 9 horas, estendeu-se a toda a faixa litoral compreendidaentre Sines e o cabo Carvoeiro, desenvolvendo-se para o interior, particularmenteno distrito de Santarém (fig. 7) (MENDES, 2003, p. 15).

Fig. 11 – Distribuição dos valores datemperatura máxima diária entre 1 e

3 de Agosto de 2003.

Fig. 12 – Distribuição dos valores datemperatura mínima diária entre 1 e 3

de Agosto de 2003.

Fonte: Instituto de Meteorologia

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Fig. 13.A – Distribuição do Risco de Incêndio em Portugal continental entre 27de Julho e 30 de Julho de 2003.

Fonte: Adaptado do Institute for Environment and Sustainability.

27 de Julho 28 de Julho

29 de Julho 30 de Julho

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Fig. 14.A – Estimativa da área ardida em cada um dos distritos afectados porincêndios florestais nos dias 27 de Julho a 30 de Julho de 2003.

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

27 de Julho

28 de Julho

29 de Julho

30 de Julho

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Fig. 13.B – Distribuição do Risco de Incêndio em Portugal continental entre 27de Julho e 7 de Agosto de 2003.

Fonte: Adaptado do Institute for Environment and Sustainability.

31de Julho 01de Agosto

02 de Agosto 03 de Agosto

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Fig. 14.B – Estimativa da área ardida em cada um dos distritos afectados porincêndios florestais nos dias 27 de Julho a 7 de Agosto de 2003.

31de Julho

01de Agosto

02 de Agosto

03 de Agosto

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

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Fig. 13.C – Distribuição do Risco de Incêndio em Portugal continental entre 27de Julho e 7 de Agosto de 2003.

Fonte: Adaptado do Institute for Environment and Sustainability.

04 de Agosto 05 de Agosto

06 de Agosto 07 de Agosto

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Fig. 14.C – Estimativa da área ardida em cada um dos distritos afectados porincêndios florestais nos dias 27 de Julho a 7 de Agosto de 2003.

04 de Agosto

06 de Agosto

07 de Agosto

05 de Agosto

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

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Fig. 13.D – Distribuição do Risco de Incêndio em Portugal continental entre 8e 11 de Agosto de 2003.

08 de Agosto 09 de Agosto

10 de Agosto 11 de AgostoFonte: Adaptado do Institute for Environment and Sustainability.

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Fig. 14.D – Estimativa da área ardida em cada um dos distritos afectados porincêndios florestais nos dias mais críticos de 2003.

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

08 de Agosto

10 de Agosto

11 de Agosto

09 de Agosto

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Fig. 13.E – Distribuição do Risco de Incêndio em Portugal continental entre 12e 15 de Agosto de 2003.

Fonte: Adaptado do Institute for Environment and Sustainability.

12 de Agosto 13 de Agosto

14 de Agosto 15 de Agosto

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Fig. 14.E – Estimativa da área ardida em cada um dos distritos afectados porincêndios florestais nos dias mais críticos de 2003.

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

12 de Agosto

14 de Agosto

15 de Agosto

13 de Agosto

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Fig. 13.F – Distribuição do Risco de Incêndio em Portugal continental em 16Agosto e entre 11 de Setembro a 13 de Setembro.

Fonte: Adaptado do Institute for Environment and Sustainability.

16 de Agosto 11 de Setembro

12 de Setembro 13 de Setembro

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Fig. 14.F – Estimativa da área ardida em cada um dos distritos afectados porincêndios florestais nos dias mais críticos de 2003.

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

16 de Agosto

12 de Setembro

13 de Setembro

11 de Setembro

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b.Distribuição geográfica das ocorrências

Embora se possam encontrar várias justificações para explicar o sucedido,para além dos factores históricos já apontados e das condições locais de risco,um elemento que não deve deixar de ser equacionado tem a ver com o facto deestes incêndios terem atingido algumas áreas, sobretudo as situadas a Sul do rioTejo, em que, tradicionalmente, se tem registado uma menor frequência de grandesincêndios do que aquelas que foram afectadas , por exemplo, em 1998 e onde,por conseguinte, tanto a consciência do risco como a percepção do perigo erammenores.

Este aspecto parece-nos de suma importância, pois as pessoas directamenteenvolvidas não terão tomado algumas medidas preventivas simples, como, porexemplo, a limpeza de matos à volta das habitações, o que, só por si, poderia termitigado alguns dos efeitos da catástrofe, na medida em que teria evitado adispersão dos meios de combate mobilizados para defesa dessas residências,retirando-os do combate directo às frentes de chamas, permitindo que, destemodo, e por muitas vezes, estas pudessem ter progredido sem qualquer resistência.

O investimento na consciencialização dos riscos e na percepção dos perigosdeles decorrentes parece-nos dever merecer alguma atenção por parte dosgovernantes, em particular dos autarcas (e não só do risco de incêndio florestal,mas também de outros riscos igualmente preocupantes) e ser consideradas comouma das áreas preferenciais de actuação junto de públicos-alvo específicos.

De facto, a dimensão da tragédia verificada em 2003 (425 658 ha ardidos)está, do nosso ponto de vista, directamente ligada com a área de ocorrência,onde, talvez pela deficiente percepção do perigo, não se adequou o dispositivode combate às condições que o risco histórico-geográfico recomendaria (fig.15), uma vez que é calculado em função do número de ocorrências e da área

QUADRO III – Elementos sobre os incêndios florestais de 2003 a 2005.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do SNBPC e DGRF.

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ardida (L. LOURENÇO, 1998, p. 179) e que, em termos médios, resulta docruzamento da informação contida nas fig.s 5 e 6.

Com efeito, nas áreas tradicionalmente mais afectadas por incêndios florestais,do Norte e Centro, mercê de vários factores, nos quais se incluem muitos diascondições meteorológicas pouco favoráveis no ano de 2003, verificou-se umasubstancial redução do número de ocorrências, o que terá contribuído para umamaior eficácia do ataque e algum êxito na redução das áreas ardidas.

No entanto, nas áreas mais interiores, sobretudo do médio Tejo e tambémdo Algarve, onde tradicionalmente as manifestações do risco têm assumidoproporções inferiores, verificou-se a mesma desadequação do dispositivo decombate face ao risco histórico-geográfico e, talvez, também por isso, se tenhamregistado áreas ardidas com algum significado (fig. 16).

Por outro lado, o dispositivo de combate, baseado essencialmente nos gruposde primeira intervenção, não detinha capacidade de balanceamento rápido. Comoos grupos de apoio (fig. 15.B) que, além de se revelarem manifestamenteinsuficientes para as necessidades, sobretudo durante o período mais crítico,tardaram em chegar, os resultados da sua actuação não poderiam ter sido muitodiferentes dos obtidos.

Conscientes de que a maior disponibilidade de recursos humanos existe,naturalmente, nas áreas onde eles são mais abundantes e de que estas nem semprecoincidem com as de maior risco, entendemos que todos esses recursos nelasdisponíveis deveriam ser aproveitados para integrar forças de segunda intervenção,com capacidade de mobilização rápida.

Os grupos assim constituídos deverão ser utilizados para reforço das situaçõesonde se torne difícil controlar e circunscrever incêndios nascentes ou, então, paraantecipadamente serem envolvidos no reforço de algumas áreas pontualmentecarenciadas, em função de condições meteorológicas anormais, previamenteconhecidas com base na previsão meteorológica e que até podem ser integradasem índices que permitem adequar a distribuição geral do dispositivo às condiçõesdiárias do risco, resultante da evolução dessas condições meteorológicas (L.LOURENÇO, 1996, p. 187).

Parece-nos que, alterando alguns dos critérios que têm presidido à distribuiçãodo dispositivo de combate a incêndios florestais, pode melhorar-se um pouco asua adaptação às condições locais (municipais) de risco e, deste modo, facilitar amissão de todos quantos têm por função combater os incêndios florestais.

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Foram estas condições meteorológicas do final do dia 1 e início do dia 2 deAgosto que fizeram disparar não só o número dos fogos activos (fig. 17) e dosgrandes incêndios (fig. 18), mas também e, sobretudo, a dimensão das áreasardidas (fig. 19).

No entanto, dois dias antes desta situação meteorológica especial, convémnão esquecê-lo, em 30 de Julho, já se tinham alcançado valores diários de áreaardida comparáveis aos dos piores dias de todos os anos anteriores,aproximadamente 20 000 ha/dia, que não podem ser justificados apenas pelascondições meteorológicas, situação que, depois, se manteve até ao dia 1 de Agostoe que permaneceu por vários dias após o fatídico dia 2.

Efectivamente, a partir do dia 1 de Agosto, a situação agravou-se de talmodo, que os dias seguintes, 2 e 3, registaram o valor máximo de área ardidadiariamente, cerca de 50 000 ha/dia (uma monstruosidade!), apesar de ainda nãose ter atingido o nível mais elevado do risco de incêndio. Tal facto comprova

Fig. 15.A – Índice de risco histórico-geográfico em 2003 e distribuição dodispositivo de primeira intervenção

(GPI’s) nesse ano.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do SNBPC.

Fig. 15.B – Índice de risco histórico-geográfico em 2003 e distribuição do

dispositivo de reforço (Grupos deApoio) nesse ano.

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que as extensas áreas incineradas não podem ser exclusivamente atribuídas àsituação excepcional do dia 2, pois, a ser assim, teriam ficado confinadas a essedia ou, quando muito, aos seguintes, mas com uma descida muito mais rápidado que a verificada.

Precisamente no dia 4, em que pela primeira vez o risco atinge o valormáximo, foi quando, ao contrário do que o valor do índice faria prever, osincêndios começaram a ser controlados e o valor da área ardida decaiusignificativamente nesse dia e no seguinte, para cerca de 40 000 ha/dia, valor que,apesar de tudo, ainda se manteve demasiado elevado.

Nos dias seguintes, 6 e 7 de Agosto, os valores diários da área ardida voltarama aproximar-se dos 20 000 ha/dia, comparáveis aos dos piores dias de todos osanos anteriores, e a partir daí, continuaram a diminuir paulatinamente. Nos dias8 e 9 de Agosto rondaram cerca de 15 000ha/dia e nos dias seguintes, de 10 a 15de Agosto, situaram-se ligeiramente abaixo dos 10 000 ha/dia, embora no dia

Fonte: DGRF.

Fig. 16 – Área ardida em Portugalcontinental no ano de 2003.

12 se tenha ultrapassado esse valor (fig.s18 e 19).

O retorno à normalidade, nos diasseguintes, já fazia pensar no final dosgrandes incêndios, neste ano de 2003.Contudo, no mês seguinte, as chamasainda voltariam à serra de Monchiquepara, no dia 10 de Setembro e seguintes(fig.s 18 e 19), originar mais um grandeincêndio florestal, com 27 617 ha, e,aparentemente, unir num único incêndio(fig. 9) toda a mancha florestal que, afinal,foi consumida por três incêndiosdiferentes (fig. 11). Também, no dia 12,agora nas proximidades de Lisboa, viriaa ocorrer outro grande incêndio florestal(fig. 11) que, apesar de ter consumido umaárea muito menor, 2 756 ha, por terafectado directamente a Tapada Nacionalde Mafra e se situar nas proximidades deLisboa, foi um dos mais mediatizadosnesse ano de 2003.

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Em síntese, podemos concluir que uma situação particularmente catastróficapermite mostrar as debilidades internas de um sistema, que não transparecemem situações de normalidade, mas não pode nem deve desequilibrar um esforçocontinuado, desenvolvido ao longo de muitos anos, com vista à reformulação emelhoria das estruturas de combate aos incêndios florestais.

Por outro lado, também é certo que as condições meteorológicas,particularmente favoráveis à eclosão e propagação do fogo nalguns dias doVerão do ano de 2003, não podem ser responsabilizadas por toda a área ardidanesses dias.

c.A importância da comunicação do risco, sobretudo nas suasplenas manifestações.

Sendo importante noticiar os acontecimentos e deles dar minuciosainformação ao público, também é importante que ela seja fidedigna e na dosecerta, o que raramente sucedeu.

A "guerra" pela conquista de audiências levou a que se tivessem deslocadomuitos intervenientes para os cenários de crise, com o objectivo de obteremdirectos "dramáticos", capazes de manter os espectadores presos ao pequenoecrã.

Fig. 17 – Número de fogos activos em matos e florestas, entre 27 de Julho e 21de Setembro de 2003.

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

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Nem sequer seria necessário ser-se um observador muito atento para notarque, alguns dos repórteres, detinham uma flagrante falta de preparação notratamento do tema e nas abordagens feitas a assuntos com ele relacionados.

Com frequência, verificou-se existir, por parte de certos repórteres, um totaldesconhecimento do que estavam a tratar, ao ponto de induzirem ostelespectadores a deturpar a realidade, através da introdução de conceitoserróneos, ao ponto de, por vezes, darem a sensação de que a finalidade de certasreportagens não seria informar correctamente, mas sim e apenas demonstrar asdebilidades do sistema, ou, então, forçar os responsáveis a enveredar por soluçõesque, do ponto de vista técnico, não seriam as mais recomendáveis.

Embora o sistema de combate tivesse sido incapaz de responder, em tempoútil e com eficácia, a todas as solicitações, o que, por esse motivo, causou algumnatural alarmismo, esta situação foi, muitas vezes, empolada de forma injustificada.

Fig. 18 – Número de incêndios activos com área superior a 1000 hectares,entre 27 de Julho e 22 de Agosto e entre 10 e 22 de Setembro de 2003.

Fig. 19 – Estimativa da área ardida diariamente entre 27 de Julho e 22 deAgosto e entre 10 e 22 de Setembro de 2003.

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

Fonte: ALMEIDA e LOURENÇO (2004).

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A principal consequência deste alarmismo terá sido a afectação de muitosmeios de combate à defesa das habitações, com o consequentedesguarnecimento das frentes de chamas e das primeiras intervenções, oque, respectivamente, impediu o ataque directo a frentes que "lavravam" emgrandes incêndios, possibilitando que, em muitas circunstâncias, estas tivessemprogredido facilmente, sem qualquer impedimento, tal como impossibilitouo ataque a focos iniciais que, por não serem extintos, rapidamente setransformaram em grandes braseiros.

4. 2004, ano de transição.

O ano de 2004 pode ser considerado como um ano de transiçãoentre 2003, que registou a maior área ardida desde sempre, e o anoseguinte, de 2005, que deteve o maior número de ocorrências desdeque há registos. Apesar de ter começado mal, sobretudo no Sul, o anode 2004 acabou com uma área ardida próxima da média (QUADRO III),em função de condições meteorológicas pouco favoráveis nos mesesde Agosto e Setembro.

Com efeito, logo no dia 30 de Junho, um incêndio varreu 3 690 ha,nos concelhos de Tavira e Vila Real de Santo António. Depois, com início no dia25 de Julho, dois outros incêndios foram responsáveis, respectivamente, por 2654 e 4 087 hectares de área ardida. O primeiro destes consumiu mato e florestanos concelhos de Alcoutim e Castro Marim, enquanto que o segundo teve iníciono concelho de Castro Marim, estendendo-se, depois, aos concelhos vizinhos deTavira e Vila Real de Santo António.

Todavia, o mais grave, só viria a ter início no dia 26 de Julho, no concelho deAlmodôvar, distrito de Beja, tendo consumido 25 717 ha de floresta na serra doCaldeirão, pois estendeu-se aos concelhos de Loulé, Silves e São Brás de Alportel,do distrito de Faro (APIF, 2005a).

Deste modo, só no Sul do país e ainda antes de Agosto,habitualmente o mês mais crítico, a área ardida já totalizava 36 148 ha,praticamente confinados ao Algarve (fig. 20).

Depois, os meses seguintes, de Agosto e Setembro, foram relativamentecalmos, com tipos de tempo pouco favoráveis à propagação do fogo, pelo queas condições meteorológicas foram as principais responsáveis pela reduzida

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extensão da área queimada nesse ano, como aliás, tem sucedido habitualmente,ou seja, em todos os anos em que as áreas queimadas têm sido diminutas, porexemplo 1977, 1988 e 1997, entre outros anos (fig. 2-A), apesar de,proporcionalmente, nesses anos o número de incêndios florestais não ter sidomuito inferior ao da respectiva tendência (fig. 1-B).

5. O ano crítico de 2005, sobretudo pelo número recorde deocorrências, e, ainda, pela extensão da área incinerada

Em termos da distribuição espacial das áreas ardidas, o ano de 2005 foidiferente dos dois anteriores, de 2003 e 2004, tendo retomado o padrão maishabitual, tanto porque as maiores manchas ardidas regressaram ao Centro eNorte de Portugal (fig. 21), como porque foi aí que se concentrou o maiornúmero das ocorrências, preferencialmente junto dos centros urbanos (fig. 22).

a. Incêndios florestais de 2005, comparativamente com osocorridos dois anos anteriores.

Ora, se procedermos a uma análise comparativa dos três anos, notamos, deforma muito clara, as principais diferenças existentes entre eles, mormente noque toca aos mais críticos, 2003 e 2005 (fig.s 23 e 24).

Com efeito, embora, em termos de número de ocorrências, se observe umposicionamento similar dos distritos colocados nos primeiros lugares, Porto,Braga, Lisboa, Viseu, Aveiro e Vila Real, no ano de 2003, e Porto, Braga, Aveiro,Viseu, Lisboa e Vila Real, em 2005, uma vez que Aveiro ocupou o terceiro lugar,em substituição de Lisboa que, nesse ano de 2005, desceu para o quinto lugar,que antes, em 2003, esteve ocupado por Aveiro.

Todavia, não podemos deixar de salientar que, com excepção dos distritosde Porto, Braga e Lisboa, o valor das ocorrências em 2005 quase duplicou o de2003, sendo que, no distrito de Aveiro, essa diferença foi mais notória, poisquase triplicou o número de ocorrências registadas no ano de 2003 (fig. 23-A).

No que respeita à distribuição geográfica das ocorrências dos incêndiosflorestais nos anos de 2003 e 2005, as maiores diferenças observaram-se nos, jámencionados, distritos de Aveiro, Viseu, Vila Real e, ainda, nos de Viana do

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Castelo e Leiria (fig.s 23-A e 23-B).Contudo, em termos percentuais, foi odistrito de Viana do Castelo aquele quemaior diferença apresentou entre os anosde 2003 e 2005, seguido pelos distritos deAveiro, Vila Real, Viseu Coimbra e Guarda(fig. 23-C).

Centrando-nos, apenas, nos trêsdistritos que, em 2005, registaram o maiornúmero de ocorrências, verificamos que sãocontíguos. O distrito do Porto surgedestacado em primeiro lugar, com 7 626ocorrências, e, imediatamente, nos segundoe terceiro lugar, colocam-se os outros doisdistritos litorais que com ele confinam, quera Norte, o distrito de Braga, com 4 827,quer a Sul, o distrito de Aveiro, com 4 486ocorrências.

No entanto, se procedermos à análiseFig. 20 – Área ardida em Portugalcontinental no ano de 2004.

Fonte: DGRF.

dessa distribuição por concelhos, em cada um desses distritos, verificamos queenquanto no de Aveiro a generalidade das ocorrências se concentrou no concelhode Santa Maria da Feira, nos outros dois distritos observou-se uma maiorhomogeneidade na distribuição concelhia, com os municípios urbanos, como éo caso do Porto, ou mais litorais, como sucede com Esposende, por exemplo, aregistarem os valores mais baixos (fig. 25-A, 25-B e 25-C).

Por sua vez, no que toca à área ardida, se, em 2003, o distrito de CasteloBranco foi o mais afectado, com quase 90 253 ha incinerados, já em 2005 foi odistrito de Coimbra aquele que sofreu as maiores consequências, apesar do valorda área ardida se situar em cerca de metade daquele, pois rondou 48 224 ha.

Contudo, comparativamente com 2005, os valores da área ardida em 2003registaram um aumento impressionante nos distritos de Coimbra, Viseu, VilaReal, Leiria e Viana do Castelo, ao contrário da redução abismal observada,sobretudo, nos distritos de Portalegre e Faro, mas importante também nos deBeja, Évora, Lisboa e Setúbal (fig. 24-A e 24-B).

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Efectivamente, em termos de área ardida, o ano de 2003 foi absolutamenteanormal, com os distritos de Portalegre e Faro a posicionarem-se nos primeiroslugares, quando, por norma, têm registado das menores áreas ardidas, como voltoua suceder logo em 2005, em que, respectivamente, ficaram colocados nos 14.º e15.º lugares.

Por sua vez, os distritos de Viseu e Vila Real, por regra com áreas ardidassignificativas, no ano de 2003 ocuparam uma posição modesta, respectivamente13.º e 12.º lugares, tendo voltado a retomar uma posição de destaque no ano de2005, pois colocaram-se em 2.º e 3.º lugar, respectivamente. Por felicidade, nesteano de 2005, a área ardida correspondente aos segundo e terceiro lugares foibem menor do que em 2003, tendo sido pouco superior a metade do valorregistado nessas posições naquele ano.

Deste modo, a distribuição geográfica das áreas ardidas no ano de 2005aproximou-se do padrão médio dessa distribuição, ao contrário do que sucederano fatídico ano de 2003 (fig. 24-B e 24-C).

Fonte: DGRF.Fig. 21 – Área ardida em Portugal

continental no ano de 2005.

Fonte: DGRF.Fig. 22 – Ocorrências em Portugal

continental no ano de 2005.

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No que diz respeito à distribuição por concelhos, o destaque foi, no distritode Aveiro, para o concelho de Arouca, o qual registou cerca de metade da áreaardida nesse distrito no ano de 2005. Em contrapartida, no distrito do Porto,apesar do concelho de Penafiel aparecer destacado, a diferença relativa aos outrosconcelhos foi bem menor do que a observada nos municípios do distrito deAveiro. Todavia, foi no distrito de Braga que, apesar de tudo, as diferenças ficarammais esbatidas, apresentando, por isso, em termos concelhios, uma maiorhomogeneidade das áreas ardidas (fig. 26-A, 26-B e 26-C).

Se bem que, em 2005, o número de grandes incêndios florestais (>500 ha)tivesse sido superior ao registado em 2003, 92 contra 85, (fig. 27), a área por elesconsumida, 207 979 ha, foi pelo contrário, bem menor do que a registada em2003, a qual se cifrou em 355 391 ha (fig. 28), mas que mesmo assim foi bemsuperior ao habitual (fig. 2) pelo que não nos restam quaisquer dúvidas quanto àimportância destes dois anos para a história dendrocaustológica portuguesa.

Comparando o número de ocorrências (fig. 25) com os valores da áreaardida3 (fig. 26) em cada um dos concelhos desses três distritos, confirma-se a jáconhecida não existência de qualquer relação, uma vez que o número deocorrências se relaciona directamente com as causas dos incêndios, enquantoque a extensão das áreas ardidas depende de vários factores, principalmente daausência de gestão do espaço florestal e, quando ela existe, da falta de eficácia daprimeira intervenção. Quando estes dois factores se combinaram, como sucedeucom relativa frequência, estavam criadas condições para a existência de grandesincêndios florestais.

Por vezes, quando a primeira intervenção foi eficaz, descurou-se o rescaldoe a vigilância pós-primeira intervenção, permitindo reacendimentos que, na maiorparte das vezes, se transformaram em grandes incêndios florestais e que, poderiamter sido facilmente evitados, se tivessem sido respeitados e cumpridos osprocedimentos adequados de rescaldo e vigilância pós-incêndio.

É óbvio que os grandes incêndios florestais podem depender de muitosoutros factores e condicionalismos que não cabe aqui enumerar, mas, até porquea primeira das causas apontadas condiciona a segunda, não podemos deixar deinsistir na importância da gestão do espaço florestal, sobretudo se , ainda,ambicionarmos reduzir a frequência e magnitude dos incêndios florestais.3O valor da área ardida em cada incêndio foi toda contabilizada no dia do respectivo início,independentemente da duração do incêndio.

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 23-A – Evolução da área ardida, entre 2003 e 2005, por distritos.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 23-B – Distribuição das áreas ardidas, por distritos.

2003 2004 2005

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 24-A – Distribuição da percentagem de área ardida, por distritos.

2003 2004 2005

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 23-C – Distribuição do número de ocorrências por 100 km2, por distritos.

2003 2004 2005

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 24-B – Evolução do número de ocorrências, entre 2003 e 2005, por distritos.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 24-C – Distribuição do número de ocorrências, por distritos.

2003 2004 2005

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Contudo a análise comparativa entre os três anos (fig.s 27 e 28) mostraclaramente que foi nos dias de maior risco, correspondentes àqueles em que ascondições meteorológicas mais favoreceram a propagação, que se continuarama observar não só o maior número grandes de incêndios, mas também os maioresvalores das áreas ardidas, pelo que o dispositivo operacional deveria criarcondições para reagir com eficácia, também nestes dias mais críticos, pois, emtermos médios, nem sequer são assim tantos por ano, como é conhecido desdehá já algum tempo (L. LOURENÇO, 1991).

b.Grandes incêndios florestais no distrito de Coimbra

Analisando, apenas, o ano de 2005, verificamos que os incêndios apresentarammaior magnitude no distrito de Coimbra. O primeiro deles, embora se tenhainiciado no concelho de Seia, distrito da Guarda, pelas 14 horas do dia 19 deJulho, rapidamente progrediu na direcção do concelho de Oliveira do Hospital,passando depois aos de Arganil e Pampilhosa da Serra, todos estes do distritode Coimbra, e, ainda, aos da Covilhã e do Fundão, do distrito de Castelo Branco,tendo afectado uma área de 15 837 ha, distribuída pelos três distritos.

Além da normal destruição que provocou na floresta e mato de privados,este incêndio também percorreu diversas áreas classificadas de património natural,tanto do Parque Natural da Serra da Estrela, como da Área de Paisagem Protegidada Serra do Açor e, também, da Rede Natura 2000, tendo afectado seriamentea vida de muitas aldeias serranas, designadamente das duas históricas maisconhecidas, Piódão e Fajão. Contudo, acabou por assumir uma maiormediatização cerca de um ano após o incêndio, pois, ao ter permitido a aceleraçãodos processos associados à erosão hídrica, determinou graves consequências aolongo de muitas linhas de água, uma das quais se prendeu com a perda de umavida humana na ribeira do Piódão (L. LOURENÇO et al., 2006a).

Embora as características topográficas bem como a situação sinópticativessem sido favoráveis à propagação deste incêndio, certamente que uma tãovasta área incinerada não poderá ser, apenas, da exclusiva responsabilidade decausas naturais.

Contudo, o maior incêndio desse ano, com 19 433 ha, teve início no dia 13de Agosto, no concelho da Pampilhosa da Serra, também do distrito de Coimbra.

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4A extremidade ocidental desta localidade já se desenvolve no concelho de Coimbra.5Para melhor compreender a dimensão que este incêndio teve, convém recordar que os dias20 e 21 de Agosto corresponderam a um fim de semana (Sábado e Domingo) e que grandeparte dos Bombeiros Sapadores e Voluntários de Coimbra estavam envolvidos em teatrosde operações de incêndios que lavravam fora do concelho, nomeadamente no de Pampilhosada Serra, antes referido, onde faziam vigilância pós-incêndio no sentido de evitarreacendimentos, e no concelho de Soure, onde, também no dia 20, tinham deflagrado doisincêndios na freguesia de Samuel, mais precisamente pelas 12h e 15m no Moinho doAlmoxarife e, pelas 18 h e 15 m, na localidade de Urmar, que viriam a transformar-se emgrandes incêndios uma vez que consumiram, respectivamente 1 126 e 632 ha.

Acresce, ainda, que os bombeiros já regressados da Pampilhosa da Serra seencontravam em situação de descanso e de reposição de folgas, circunstâncias que seconjugaram com as anteriores para que, na madrugada do dia 22, estivessem poucosrecursos humanos disponíveis nos quartéis de bombeiros da cidade de Coimbra etardasse algum tempo a mobilização de outros recursos exteriores à cidade.

Este incêndio consumiu, numa primeira fase, cerca de ¾ da área total, poisfoi considerado circunscrito no dia 17 e extinto no dia 18, para o que muitocontribuiu a alteração das condições meteorológicas que, anteriormente, se faziamsentir. Contudo, no dia 19, verificou-se nova mudança da situação meteorológica,tendo favorecido o reacendimento do incêndio, pelas 18 horas e 20 minutos, oqual só viria a ser definitivamente extinto pelas 14h e 30 m do dia 24 de Agosto,tendo afectado cerca de ¼ da área total reduzida a cinzas.

No entanto, apesar da grande extensão varrida por este incêndio florestal e,por consequência, de alguma polémica que, normalmente, estas situações sempreacarretam e que, como também é habitual, foi explorada pela comunicaçãosocial, o incêndio que viria a ser mais mediatizado de entre todos os ocorridosno distrito de Coimbra, por ter penetrado no interior do perímetro urbano dacidade de Coimbra, teve início uns dias depois, mais concretamente a 21 de Agosto.Deflagrou a Sul do rio Mondego, nas proximidades do lugar de Soutelo, concelhode Vila Nova de Poiares (fig. 29), a cerca de oito quilómetros do local onde osbombeiros ainda faziam operações de rescaldo (alto de Segade) de um outroincêndio, que tinha tido início às 19 horas do 19 de Agosto, e que, depois deextinto, pelas 20h30, se reacendeu por mais do que uma vez (SMPC/GTF, 2005).

O incêndio com origem nas proximidades de Soutelo, rapidamente ameaçouessa localidade bem como as vizinhas, ainda do concelho de Vila Nova de Poiares:Terreiros de Santo António, Terreiros de Além e Carvalho4 , tendo progredidoem direcção ao concelho de Coimbra, onde entrou por volta das 20h30 do dia21 de Agosto5 , pelas áreas de maior altitude, correspondentes à cumeadadominada pelo vértice geodésico ESCUSA (404 m).

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 25-A – Número de ocorrências, por concelhos, no distrito de Aveiro.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 25-B – Número de ocorrências, por concelhos, no distrito de Porto.

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 26-A – Área ardida, por concelhos, no distrito de Aveiro.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 26-B – Área ardida, por concelhos, no distrito de Porto.

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 27-A – Número diário de grandes incêndios florestais (> 500 ha), em 2003.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 25-C – Número de ocorrências, por concelhos, no distrito de Braga.

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 26-C – Área ardida, por concelhos, no distrito de Braga.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 28-A – Área queimada diariamente por grandes incêndios florestais (> 500ha), em 2003.

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 27-B – Número diário de grandes incêndios florestais (> 500 ha), em 2004.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 27-C – Número diário de grandes incêndios florestais (> 500 ha), em 2005.

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Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 28-B – Área queimada diariamente por grandes incêndios florestais (> 500ha), em 2004.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da DGRF.

Fig. 28-C – Área queimada diariamente por grandes incêndios florestais (> 500ha), em 2005.

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Enquanto o combate se centrava no flanco Norte, três novos focos surgiramquase em simultâneo (fig. 29), pelas 17h10, a Sul: um deles na EN-17, junto a SãoFrutuoso, outro na localidade de Canas (concelho de Miranda do Corvo) e oterceiro no lugar dos Braços (também concelho de Miranda do Corvo).

O novo incêndio de São Frutuoso progrediu rapidamente para Noroeste,favorecido pelos acentuados declives. Pelas 21h30, esta frente de chamasencontrou-se, na área compreendida entre as Lagoas e a Portela do Coimbrão,com a que lavrava a Norte, tendo aumentado de intensidade e, em consequência,originou projecções de material incandescente que, tendo atingido grande altura,foram transportadas a grande distância, algumas delas atingiram mais de umquilómetro, tendo dado, por vezes, origem a novos focos de incêndio.

Esta frente, explorando as linhas de água, continuou a avançar, com grandevelocidade para Norte, em direcção ao rio Mondego.

Entretanto, a frente dos Braços (Miranda do Corvo) tinha alcançado aoriginada nas Canas e, em conjunto, progrediam para Sudoeste.

Face a estes desenvolvimentos, pelas 22h20 estiveram em perigo diversaspovoações, designadamente as aldeias de Canas, Chãs, Carvalheira, Penedo eVendas da Serra, do concelho de Miranda do Corvo, a Sul, bem como as de SãoFrutuoso, Zorro Palheiros e Carvalhosas, do distrito de Coimbra, a Norte. Noentanto, o mais grave ocorreu pelas 22h40, quando arderam casas nas Chãs, ecerca das 23h00, altura em que também ardeu uma casa na localidade dasCarvalhosas.

Entretanto, algumas projecções já tinham originado novos focos a Nortedo rio Mondego. "Uma vez na margem direita, o incêndio progrediu rapidamentepela encosta […] ameaçando as povoações de Torres do Mondego, Vale deCanas e Casal da Misarela. Perante este avanço vertiginoso do incêndio, a MataNacional de Vale de Canas foi engolida por um verdadeiro mar de chamas,tendo desaparecido grande parte do seu património. […] Sem resistência, tocadopelo vento, o fogo ganhou velocidade e dimensão e, com rumos inconstantes,os incêndios dirigiam-se para Coimbra" (SMPC/GTF, 2005, p. 4).

Esta rápida progressão ficou a dever-se, em primeiro lugar, à elevada cargacombustível da biomassa existente, essencialmente constituída por eucaliptos epinheiros, e, por vezes, preenchida também por estrato arbustivo ou herbáceoextremamente denso. Além disso, foi, também, facilitada pelas condiçõesexcepcionais de secura que se fizeram sentir em 2005, com as espécies a

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Fig. 29 – Esboço simplificado da progressão do incêndio florestal de Vila Nova de Poiares, Coimbra, Miranda do Corvo, Condeixa-a-Nova, Penela e Penacova, em Agosto de 2005.

Fonte: Adaptação de SMPC/GTF- CMC (2005, Anexo I)

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apresentarem-se muito secas e, por isso, com teores de inflamabilidade e decombustibilidade muito elevados.

Acrescem, ainda, como elementos favoráveis, o vento moderado que soproudurante a noite e que, associado ao elevado declive das vertentes, facilitou acirculação ascendente das frentes de chamas, bem como as projecções de materialincandescente, que originaram diversos novos incêndios à frente da principallinha de chamas, os quais desempenharam um papel crucial na propagação, aocontribuírem para uma, ainda mais, rápida progressão do incêndio.

Por último, como referimos em anterior nota de rodapé, esta progressão foifacilitada pela dispersão dos meios de combate, da cidade de Coimbra, queestavam envolvidos noutros teatros de operações. Além disso, os recursos queestavam empenhados no combate a Sul do rio Mondego, designadamente nadefesa das localidades das Carvalhosas, Palheiros e Zorro, para poderem serreposicionados na defesa das aldeias situadas a Norte do rio (Torres do Mondego,Vale de Canas, Casal da Misarela, Caneiro,…) tiveram de contornar o vale doMondego, pois só o podiam franquear na ponte da Portela, o que implicou maisalgum tempo na reorganização do dispositivo, onde cada segundo que passavaera de uma importância crucial. Por outro lado, o facto da progressão vertiginosado incêndio se ter desenvolvido durante a noite também não permitiu umareacção tão rápida do dispositivo de reforço, uma vez que muitos elementos seencontrariam a repousar.

Fruto de todos estes condicionalismos, o incêndio rapidamente alcançou otopo da vertente, sublinhe-se que foi durante a noite, o que dificultou mais asoperações, tendo posto em perigo diversas outras aldeias (Picoto dos Barbados,Casal do Lobo, Cova do Ouro,…)

Esta sua marcha para Norte, em direcção à cidade de Coimbra (fig. 30), foide tal modo avassaladora que, rapidamente, atingiu novas localidades, situadas jána periferia urbana, designadamente o Chão do Bispo e os Tovins: de Cima, doMeio e de Baixo, pelo que, às primeiras horas da madrugada do dia 22, o incêndiojá lavrava no interior do perímetro urbano da cidade de Coimbra, sem que, pelosomatório das razões explanadas, os bombeiros tivessem capacidade para darresposta adequada a todas as solicitações para que eram chamados.

Uma das ruas mais afectadas, mas infelizmente não a única, terá sido aBrigadeiro Correia Cardoso, tal como já sucedera dez anos antes, em Agosto de1995 (L. LOURENÇO, 1999, p. 40), onde arderam dois automóveis e umapartamento.

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Nesta fase de combate valeu, sobretudo, o envolvimento dos populares,que sustiveram a progressão das chamas junto das habitações, mas que nãoconseguiram evitar, na interface urbano-florestal da periferia Este, a suapropagação tanto para Sul, em direcção à recente urbanização da Quinta daRomeira e, depois, ao Arieiro, tendo chegado mesmo às imediações do novoParque de Campismo, como para Norte, rumo aos lugares de Vale de Linharese Rocha Nova, e, depois, no dia 23, para Nordeste, ameaçando as aldeias da

Fig. 30 – Imagem de satélite (IKONOS) do dia 24/08/2005, onde não só sepode observar toda a área queimada a nascente da cidade de Coimbra, mas

também como o incêndio penetrou no interior da área urbana.

Fonte: http://www.scrif.igeo.pt/satelites/satelite.htm (por cortesia do EuropeanSpace Imaging).

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Serra da Rocha, Dianteiro, Carapinheira, e, já no concelho de Penacova, aspovoações do Roxo, S. Mamede e Rebordosa, onde esta frente foi dada comoextinta.

Durante esta progressão alucinante, múltiplas projecções, algumas delas commais de 1 200 metros, levaram à deflagração de focos secundários no interiorda cidade, designadamente um entre S. Sebastião e a rua Visconde de MonteSão, vários a nascente da Avenida Dr. Elísio de Moura e, mais a Sudoeste, noPinhal de Marrocos, nas imediações do Pólo II da Universidade de Coimbra,todos eles muito preocupantes, por se encontrarem totalmente confinados emáreas urbanas e, sobretudo, porque, nessa altura, todos os meios de combateestavam empenhados noutros locais.

Deste modo, durante a noite, a proliferação de focos de incêndio colocouum grande número de habitações em risco no interior e nos arredores da cidade.

Entretanto, a frente de Canas (Miranda do Corvo) continuou a sua progressãopara Oeste, envolvendo as povoações do Cabouco e Sobral de Ceira, donde seprojectou para a margem esquerda dos rios Dueça e Ceira, originando novosincêndios nas imediações das localidades da Conraria e Castelo Viegas. O primeirodestes, começou por ameaçar o Hospital Psiquiátrico Sobral Cid (cuja evacuaçãochegou a equacionar-se, entre a 01h00 e as 02h00), tendo consumido a manchaflorestal envolvente, e, depois, rondou a Universidade Vasco da Gama.

O incêndio de Castelo Viegas desdobrou-se em duas frente, uma delasavançou com grande rapidez para Norte, em direcção à Quinta da Urgeiriça e aMarco do Pereiros, favorecida pelos acentuados declives e pela abundantevegetação arbustiva que se encontrava em franco desenvolvimento, ultrapassandocom frequência um metro de altura.

A outra frente dirigiu-se para Sul. Com o decorrer do dia, o vento passou asoprar com maior intensidade e a frente do incêndio complicou-se muito, emresultado das projecções a grandes distâncias, dando origem a diversas frentesde chamas que rodearam as localidades de Vale de Cabras, Carpinteiros, Torrede Bera, Monte de Bera e Anaguéis. Por volta das 17h00 foram evacuados algunsedifícios da povoação de Almalaguês, designadamente a creche infantil e o centrode dia dos idosos.

O incêndio continuou a lavrar para Sul, em direcção aos lugares de Rio deGalinhas e de Monforte, passando depois aos concelhos de Condeixa-a-Nova,

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que afectou ligeiramente a Sueste de Vila Seca, e de Miranda do Corvo, com aspovoações de Lamas, Chão de Lamas e Pousafoles a passarem horas aflitivas.

Cerca das 05h45 do dia 23 de Agosto já lavrava no concelho de Penela, comquatro frentes activas: Outeiro do Viso, Alto Ventoso, Cerro da Nogueira eVendas de Podentes (SMPC/GTF-CMC, 2005, p. 6), tendo inflectido, para Estee transposto, de novo, o rio Dueça, nas imediações do lugar de Fraldeu.

Por volta das 08h00 ainda se mantinham activas quatro frentes nas áreasadjacentes às Cerejeiras, Louçainha, Relvas e Espinhal.

Finalmente, foi dado como extinto por volta das 13 horas do dia 24de Agosto.

Foram cinco longos dias de destruição, não só de floresta e mato,mas também de muitos bens e haveres, sobretudo agrícolas.

Contudo, o que mais impressionou foi o pânico que se instalou emdiversas aldeias e no lado nascente da cidade (fig. 30), face à escassezde meios de socorro, tendo levado a que milhares de pessoas tivessempassado horas muito amargas e de grande aflição.

c.Outros grandes incêndios florestais

Além destes três incêndios, com área individual superior a 10 000ha, fora do distrito de Coimbra registaram-se ainda mais seis incêndiosenormes, cada um deles com área superior a 5 000 ha. Três destestiveram início no princípio de Agosto, coincidentes com o primeiro pico degrandes incêndios (> 500 ha), que registou 7 no dia 3, mais 9 no dia 4 e 5 no dia7 (fig. 27). Por sua vez, dois dos registados no dia 3, desenvolveram-se nosconcelhos de Arouca e Pombal, tendo atingido, respectivamente, 8 556 e 7 436ha. Um dos mencionados no dia 7 ocorreu no concelho de Vila Pouca de Aguiare dizimou 6 664 ha. Curiosamente, 3 dos 9 incêndios registados no dia 4 assolaramo concelho de Pombal e a área por eles percorrida totalizou 8 061 ha.

Depois, nos primeiros dias da segunda quinzena do mês de Agosto surgiuum novo pico de grandes incêndios florestais, que começou com 4, logo no dia15 e continuou com mais 5 novos grandes incêndios no dia 18 e outros tantosno dia 19, tendo terminado no dia 20, com 15 grandes novos incêndios (fig. 27).Ora, destes 15 registados no dia 20, dois tiveram área superior a 5 000 ha edeflagraram nos concelhos de Pombal e Viana do Castelo, tendo incinerado,

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respectivamente, 6 761 e 5 537 ha. No dia imediato, 21 de Agosto, teve início, noconcelho de Abrantes, o último dos seis com área superior a 5 000 ha, uma vezque assolou 6 694 ha.

Como se depreende numa rápida análise a estes grandes incêndios, além doconcelho da Pampilhosa da Serra, tradicionalmente um dos mais martirizadospelos incêndios, neste ano de 2005 o município de Pombal foi o que maior áreaardida registou, com cinco grandes incêndios que, só eles, foram responsáveispela destruição de 22 258 ha.

Mas, não foram só estes grandes incêndios que geraram grandeinsegurança na população das áreas afectadas. Como tivemos ensejo dedemonstrar em tempo oportuno (L. LOURENÇO e M. RAINHA, 2006) e não édemais insistir, também alguns incêndios de menor envergadura causaram muitassituações de verdadeiro pânico, à semelhança do registado em Coimbra, sempreque se desenvolveram em situações semelhantes, ou seja, nas áreas de interfaceurbano-florestal.

Tal sucedeu, por exemplo, nos concelhos de Valongo, Paredes eGondomar, do distrito do Porto, entre 4 e 12 de Julho, período duranteo qual se registou um número significativo de ocorrências que, não sóafectaram o normal desenrolar das diversas actividades e a circulaçãorodo e ferroviária, mas também ameaçaram inúmero património edificado,tendo, por isso, afectado intensamente as condições de vida e o tecidosocioeconómico daquela área, além de terem causado muitas horas deverdadeira aflição.

De entre estes incêndios, o mais mediático, tanto pela dimensão da áreaardida, como pela quantidade de recursos envolvidos, foi, sem qualquer dúvida,o que teve início, no dia 4 de Julho, no concelho de Paredes. Depois de extinto,reacendeu-se e passou ao vizinho concelho de Gondomar (freguesia de Melres)onde consumiu 983 ha (a área total foi de 1 550 ha), antes de ser extinto, umasemana depois, a 11 de Julho.

Um outro incêndio que, também no concelho de Gondomar, mobilizougrande quantidade de recursos (meios terrestres e aéreos) para protecção dasvárias centenas de pessoas que aí passavam o fim de semana, foi o que, duranteo dia 10 de Julho, rondou o Parque de Campismo Campidouro. Embora não setenham registado danos de monta, as consequências deste incêndio poderiam tersido trágicas, tendo em conta as características do acesso a esta infra-estrutura e

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dada a ausência de condições de segurança contra incêndios. Acresce, ainda, queos utentes daquele espaço não possuíam conhecimentos de segurança pessoal e,por conseguinte, também não apresentavam comportamentos adequados parafazer face a uma emergência desta natureza.

Todavia, o que mais importa salientar em todos estes incêndios que sedesenvolvem nas interfaces urbano-florestal é, sobretudo, o substancial acréscimode risco que estas interfaces representam para todos aqueles que se empenhamno controlo directo dos incêndios, não só pela dispersão de habitações e depequenas unidades industriais no interior da mancha florestal, mas também eprincipalmente pela elevada carga de combustível normalmente existente nasáreas envolventes onde, com frequência, nesses espaços contíguos às habitações,se acumulam materiais inflamáveis das mais diversas naturezas e procedências,cujos depósitos, quase sempre ilegais, são autênticas lixeiras, constituídas pormateriais de composição variada, que diminuem substancialmente as condiçõesde segurança existentes durante os trabalhos de supressão, tanto pela dispersãodos recursos, como pelo desconhecimento dos materiais existentes no teatro deoperações.

Nestas condições, qualquer foco de incêndio pode vir a dar origem a umcomplexo exercício de protecção civil, dada a imprevisibilidade docomportamento do fogo, face à existência de numerosas edificações e vazadouroscom matérias inflamáveis que se encontram no interior das áreas florestais. Paraagravar a dispersão de recursos antes mencionada, que decorre da hipoteca demeios na defesa das edificações, contribuiu também, a simultaneidade daocorrência de diversos incêndios, como já se referiu a propósito de Coimbra ede Gondomar, situação que, aliás, se repete com demasiada frequência e tambémpode ajudar a explicar a extensão de alguns dos incêndios.

Por isso, a maioria destes hectares incinerados não pode ser atribuídaexclusivamente à movimentação do relevo ou às condições meteorológicas, emparticular às súbitas e tão oportunas (por dificilmente se poderem comprovar)mudanças do rumo do vento.

No entanto, não queremos menosprezar os efeitos das condiçõesmeteorológicas, tanto mais que, desde este ponto de vista, o ano de 2005 foidiferente dos dois anteriores, na medida em que as condições de seca forambastante mais acentuadas, tendo mesmo conduzido, logo nos meses de Janeiro aMarço, à ocorrência de numerosos incêndios, apesar de não lhes ter correspondidouma área ardida significativa.

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O agravamento das condições meteorológicas nos meses seguintes teveconsequências imediatas, com Junho a registar já diversas ocorrências. No entanto,foi, sobretudo, nos meses de Julho e Agosto que se concentraram as grandesáreas ardidas, à semelhança do que sucedera na maior parte dos anos anteriores.

Se, em 2003, os elevados valores das áreas ardidas foram justificados,aparentemente, pelas situações meteorológicas excepcionais, o que,como se comprovou, não correspondeu totalmente à realidade, pois,apenas nos dias 1 e 2 de Agosto o número de trovoadas secas foianormalmente elevado, no ano de 2005, o argumento mais usado parajustificar a extensão das áreas ardidas foi o da seca, apesar de aquelasnão coincidirem com as regiões onde esta se manifestou de forma maissevera (fig. 31).

Com efeito, a ausência de precipitação foi acompanhada de valoresda temperatura do ar acima dos normais para a época, situação que acabou por

Fig. 31 – Distribuição espacial do número demeses consecutivos em seca meteorológica

severa e extrema, no ano hidrológico 2004/05.

Fonte: Instituo de Meteorologia.

originar valores elevados do índicede risco de incêndio, que foramsuperiores aos registados nosúltimos cinco anos, e, como tal,não podiam deixar de terconsequências na gravidade e naextensão dos incêndios, não sópor facilitarem grandemente apropagação do fogo, mastambém por criarem dificuldadesacrescidas ao combate.

No entanto, para justificarestes elevados valores das áreasardidas, além da seca, que foiimportante, mas não explica tudo,contribuíram também diversosoutros factores, que persistemteimosamente, pois derivam deproblemas de vária ordem que,para infortúnio da floresta,continuam a ser sistematicamenteadiados (L. LOURENÇO, 2006a).

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A maior parte deles, está directamente relacionada com a falta deordenamento do território, em particular nas interfaces dos espaços urbano-florestal, ou, então, com dificuldades de gestão da floresta e de fiscalização dosespaços florestais, onde se acumulam não só grandes quantidades de biomassa,mas também todo o tipo de materiais combustíveis, que contribuem para apropagação dos incêndios e chegam a colocar em risco a integridade física dospróprios combatentes, ou, por último, com a prática indevida do uso do fogo,para indicar apenas algumas das situações mais frequentemente identificadas (L.LOURENÇO E M. RAINHA, 2006).

Só assim se pode explicar que incêndios com início no interior de manchasflorestais tenham progredido e ameaçado diversas infra-estruturas dos maisdiversos tipos e, inclusivamente, penetrado no interior de diversos perímetrosurbanos, como sucedeu, frequentemente, no distrito do Porto e também, nacidade de Coimbra, com todas as implicações daí decorrentes, algo que antesera praticamente impensável.

Muitas imagens, algumas delas chocantes, desse triste espectáculo do "belohorrível" em que, para muitos, se transformaram os incêndios florestais,continuam disponíveis na internet. A sua eventual consulta ajudará a esclareceralguns dos aspectos antes apresentados.

Contudo, apesar das consequências dos grandes incêndios florestais e darepetição dos fogachos em certas áreas, para além dos três relatórios de avaliaçãoelaborados pela, ao tempo, APIF - Agência para a Prevenção de IncêndiosFlorestais (2005a, b e c) não são conhecidos outros estudos institucionais relativosa grandes incêndios florestais, elaborados pelas entidades públicas que tutelam aprevenção e o combate aos incêndios florestais, ou por elas encomendados aentidades competentes e independentes, com o intuito de se perceber o que éque correu mal para, depois, poder ser corrigido nas intervenções futuras.

Temos conhecimento da existência de relatórios que, sobretudo ultimamente,passaram a ser produzidos pelos Gabinetes Técnicos Florestais e/ou pelosServiços Municipais de Protecção Civil. No entanto, como, por via de regra, sãoelaborados apenas numa perspectiva técnica e descritiva do incêndio, através dacaracterização da área ardida e do estabelecimento da cronologia dosacontecimentos ao longo duma fita de tempo em que, normalmente, se relata aevolução da progressão do incêndio, se colocam os meios envolvidos e, algumasvezes, se procede ao apuramento de danos, o que sendo importante, sem qualquer

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dúvida, não é, na nossa perspectiva, suficiente, pois não procuram fazer umaanálise crítica, objectiva e circunstanciada, da actuação dos meios de socorro, natentativa de apurar onde é que falharam e perceber porque é que falharam -pois, só por isso os incêndios florestais alcançam grandes proporções - e nãotanto para identificar e punir os responsáveis, mas sim e apenas para eles poderemvir a melhorar a sua eficácia em intervenções futuras.

Todavia, parece que estas instituições, em vez de aprenderem com os errose instituir procedimentos de melhoria contínua, parecem mais interessadas eminsistir na sistemática mudança, sem dar tempo a consolidar os processos iniciadosque, deste modo, raramente são concluídos e, por conseguinte, não podem seravaliados objectivamente. Na realidade, muito do que aconteceu, como tivemosensejo de acompanhar no campo e ficou plasmado nos trabalhos de investigaçãodesenvolvidos pelos alunos em 2004 e 2006, ficou também a dever-se àquiloque podemos designar por procedimentos pouco adequados e que, na falta deavaliação pós-incêndio, se vão institucionalizando (APIF, 2005c).

Conclusão

As vastas áreas percorridas pelos incêndios florestais, normalmente duranteo período estival, ficaram a dever-se à concorrência de um conjunto de factores,de entre os quais podemos mencionar aqueles que se prendem com aspectosfísicos associados às características do relevo, aos combustíveis e, sobretudo, àscondições meteorológicas que se fizeram sentir.

Embora estas, em certos dias, tenham assumido alguma gravidade, nãopodem, no entanto, ser as únicas, nem sequer as principais, responsáveis pelasgrandes manchas queimadas cada ano que passa. A ser assim, em todas as áreasonde se fizeram sentir essas condições meteorológicas teriam ocorrido incêndiose, por isso, estariam incineradas, o que, felizmente, não se verificou.

Com efeito, várias circunstâncias concorreram para que, em determinadosdias, se tivesse verificado uma certa simultaneidade de ocorrências de focos deincêndio, o que levou à dispersão dos meios de combate, que, por vezes, serevelaram insuficientes para ocorrer a todos elas. Essa insuficiência resultou maisda inadequada distribuição desses meios e não tanto da sua falta, como porvezes se quer fazer crer, dado que os seus detentores são os Corpos de Bombeiros,

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que, por razões óbvias, se concentram e, por conseguinte, também os respectivosmeios de socorro, nas áreas mais densamente povoadas e que, nem sempre, sãocoincidentes com aquelas que apresentam o maior risco de incêndio florestal.

Verificaram-se também situações em que, por razões várias, as primeirasintervenções não foram suficientemente eficazes para debelar as chamas, o quepermitiu que alguns desses focos iniciais se tivessem transformado em grandesincêndios. Outras houve em que, após extinções mal consolidadas, se verificaramnumerosos reacendimentos, alguns dos quais também acabaram por setransformar em grandes incêndios e que teriam sido facilmente evitados se osrescaldos tivessem sido convenientemente efectuados.

Nas situações meteorológicas mais críticas, a incapacidade de controlar osgrandes incêndios e de debelar os focos que, entretanto, tiveram início, associadaà pressão criada pelos órgãos de comunicação social sobre o sistema de socorro,levaram a que se tivesse entrado num certo histerismo colectivo, o qual contribuiupara agravar, ainda mais, as situações que, de per si, já eram suficientementecomplicadas.

A incapacidade de muitos dos meios de socorro darem uma respostaadequada, em particular dos meios de combate, resultou da acumulação de muitassituações herdadas de anos anteriores, ou seja, de muitas coisas que não se fizerame que deveriam ter sido feitas antes, tanto ao nível do combate, como, sobretudo,ao nível da prevenção e da pré-supressão.

Com efeito, anos maus como os de 2003 e 2005 põem a descoberto muitasdas falhas do sistema que, em situações de normalidade, são colmatadasinternamente e, por isso, passam despercebidas.

Contudo, uma situação catastrófica não pode desequilibrar o esforço deaperfeiçoamento do sistema que, por vezes, é de muitos anos. Importa, sim,avaliar o que falhou e, num processo de melhoria contínua, corrigir o que estevemal.

Para isso, entendemos que, nos próximos anos, as responsabilidades inerentesao controlo dos procedimentos, bem como à verificação do funcionamentodos sistemas, das estruturas e da organização e, ainda, à fiscalização dos recursoshumanos e materiais, por serem nacionais e, do nosso ponto de vista, indelegáveis,devem passar a ser efectuadas com carácter regular e, sobretudo, devem sercomplementadas por auditorias externas, que sejam isentas e credíveis, a realizaraos sistemas de defesa da floresta contra os incêndios florestais, que, naturalmente,

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incluem o combate, para que, deste modo, possam vir a ter consequências econtribuir, de forma decisiva, para uma rápida e significativa melhoria da eficáciade todo o sistema.

Contudo, as esperadas mudanças tardam em se fazer sentir. Será que osefeitos destes dois anos de grandes incêndios ainda não foram suficientes paraimplementar as necessárias mudanças nas organizações? Certas atitudes fazem-nos pensar que estes incêndios parecem já fazer parte de um passado muitodistante.

Ora, em resultado das avaliações dos incêndios florestais de 2003, surgiuuma série de recomendações, muitas das quais foram vertidas em diversosdiplomas legais que traçaram as principais directrizes da conhecida ReformaEstrutural do Sector Florestal (RESF), cuja necessidade de rápida implementaçãoos incêndios florestais de 2005 vieram, de certo modo, confirmar. Por isso, nãopodemos deixar de achar bizarro que, passado pouco tempo depois, algunsdesses diplomas tenham sido revogados ou substancialmente alterados, semsequer dar tempo para que se pudesse vir a fazer uma avaliação serena dosresultados obtidos, ou não, com a entrada em vigor desses diplomas.

Deste modo, quase parece que os incêndios florestais de 2003 e 2005 foramum incidente, como tal correspondentes a "episódios repentinos que reduziramsignificativamente as margens de segurança sem, contudo, as anularem" (L.LOURENÇO, 2003, p. 95), quando todos temos plena consciência de que, muitosdeles, corresponderam a verdadeiras catástrofes, isto é, a "acidentes gravessusceptíveis de provocarem elevados prejuízos materiais e, eventualmente, vítimas,afectando intensamente as condições de vida e o tecido socioeconómico emáreas do território nacional" (n.º 2, art.º 3.º, capítulo I da Lei n.º 27/2006, Lei deBases da Protecção Civil, de 3 de Julho).

Será que, apesar de tão perto no tempo, os incêndios florestais de 2003 e2005 já estão assim tão longe na memória?

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Referências bibliográficas

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LOURENÇO, Luciano e BENTO, Manuela (1998) - "Tendência do índice derisco de incêndio florestal para o dia seguinte - um precioso auxíliono trabalho do bombeiro", Recolha documental, V Jornadas de Prevençãoe Segurança na Floresta de Betão, Lisboa, p. 114-123 e in Riscometeorológico de incêndio florestal, Colectâneas Cindínicas, II, ColecçãoEstudos, 46, FLUC, Coimbra, 2004, p. 177-188;

LOURENÇO, Luciano e GONÇALVES, António Bento (1998) - "Índice de riscohistórico-geográfico de fogo florestal", ENB - Revista Técnica e Formativada Escola Nacional de Bombeiros, Sintra, 6, p. 14-27 e in Riscodendrocaustológico em mapas, Colectâneas Cindínicas, III, ColecçãoEstudos, 48, FLUC, Coimbra, 2004, p. 177-201;

LOURENÇO, Luciano (Coord.) et al. (2006a) -Paisagens de Socalcos e RiscosNaturais em Vales do rio Alva. Colectâneas Cindínicas VI, Núcleo deInvestigação Científica de Incêndios Florestais da Faculdade de Letrasda Universidade de Coimbra, Coimbra, 192 p.;

LOURENÇO, Luciano (Coord.) et al. (2006b) - Relatório de Actividades 2004-2006. Um legado para o futuro, Agência para a Prevenção de IncêndiosFlorestais, Miranda do Corvo, II vol. (91+265 p.);

MENDES, Carlos (2003) - Incêndios Florestais e Onda de Calor. Análise doperíodo entre 27 de Julho e 15 de Agosto de 2003. Relatório Preliminar.Divisão de Riscos Naturais e Tecnológicos da Direcção de Serviçosde Prevenção e Protecção, Serviço Nacional de Bombeiros eProtecção Civil, Carnaxide, 27 p. (inédito)

SERVIÇO MUNICIPAL DE PROTECÇÃO CIVIL/GABINETE TÉCNICO FLORESTAL (2005)- Relatório dos incêndios florestais dos dias 19 a 24 de Agosto de2005, Câmara Municipal de Coimbra, 13 p. + 5 Anexos (inédito)

VIEIRA, Pedro Almeida (2006) - Portugal: O vermelho e o negro. A verdadeamarga e a dolorosa realidade dos incêndios florestais. Dom Quixote,Lisboa, 469 p.

Relatórios de Seminário (2004) e Trabalhos de Investigação Científica (2006)respectivamente sobre os grandes incêndios florestais de 2003 e 2005,realizados no âmbito académico por alunos de Geografia da Universidadede Coimbra (inéditos);

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Sítios consultados:IM [Instituto de Meteorologia] (2003) - "Onda de calor (29 de Julho a 14

de Agosto de 2003)", http://www.meteo.pt/TemperaturaArMeses/julhoagosto03b.htm [11Out2003];

DGRF [Direcção Geral dos Recursos Florestais] - Estatísticas diversas http://www.dgrf.min-agricultura-pt [13Set2007];

IGP [Instituto Geográfico Português] - Cartografia de incêndios florestaishttp://www.scrif.igeo.pt/satelites/satelite.htm [29Set2005];

Legislação mais relevante, ordenada por data de publicação:Resolução do Conselho de Ministros n.º 178/2003, de 17 de Novembro

- aprovou as grandes linhas orientadoras da RESF;Resolução da Assembleia da República n.º 19/2004, de 16 de Fevereiro -

estabeleceu as medidas prioritárias para a defesa de uma florestasustentável;

Decreto-Lei n.º 63/2004, de 22 de Março - criou o Fundo FlorestalPermanente;

Decreto-Lei n.º 80/2004, de 10 de Abril - criou a Direcção-Geral dosRecursos Florestais, investindo-a nas funções de autoridade florestalnacional, e alterou o Decreto-Lei n.º 74/96, de 18 de Junho, que aprovavaa orgânica do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas;

Decreto Regulamentar n.º 5/2004, de 21 de Abril - criou a Agência paraa Prevenção de Incêndios Florestais;

Lei n.º 14/2004, de 8 de Maio - criou as Comissões Municipais de Defesada Floresta contra Incêndios;

Decreto-Lei n.º 156/2004, de 30 de Junho - estabeleceu as medidas e acçõesa desenvolver no âmbito do Sistema Nacional de Prevenção e Protecçãoda Floresta contra Incêndios.

Portaria n.º 1185/2004, 15 de Setembro - estabeleceu a estrutura tipo doPlano de Defesa da Floresta;

Decreto-Lei n.º 127/2005, de 5 de Agosto - estabeleceu o regime de criaçãode zonas de intervenção florestal (ZIF), bem como os princípiosreguladores da sua constituição, funcionamento e extinção;

Resolução da Assembleia da República n.º 53/2005, de 3 de Outubro -relativa às centrais termoeléctricas de resíduos florestais;

Resolução do Conselho de Ministros n.º 05/2006, de 18 de Janeiro - adoptou

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as Orientações Estratégicas para a Recuperação das Áreas Ardidas,aprovadas pelo Conselho Nacional de Reflorestação em 30 de Junhode 2005;

Decreto-Lei n.º 69/2006, de 23 de Março - extinguiu a Agência para aPrevenção de Incêndios Florestais e operou a transição das respectivasatribuições para a Direcção-Geral dos Recursos Florestais, alterandoo Decreto-Lei n.º 80/2004, de 10 de Abril, e revogando o DecretoRegulamentar n.º 5/2004, de 21 de Abril;

Lei n.º 12/2006, de 4 de Abril - autorizou o Governo a legislar sobre oregime das infracções das normas estabelecidas no âmbito do SistemaNacional de Defesa da Floresta contra Incêndios;

Resolução do Conselho de Ministros n.º 65/2006, de 26 de Maio - aprovouo Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios;

Decreto-Lei n.º 124/2006, de 28 de Junho - estabeleceu as medidas e acçõesa desenvolver no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Florestacontra Incêndios, no uso da autorização legislativa concedida pela Lein.º 12/2006, de 4 de Abril, tendo revogado o

Decreto-Lei n.º 156/2004, de 30 de Junho;Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho - aprovou a Lei de Bases da Protecção

Civil;Portaria n.º 681/2006, de 4 de Julho - definiu o período crítico no âmbito

do Sistema Nacional de Defesa contra Incêndios;Decreto-Lei n.º 7/2006, de 18 de Julho - aprovou o Plano Regional de

Ordenamento Florestal do Dão e Lafões;Decreto-Lei n.º 8/2006, de 19 de Julho - aprovou o Plano Regional de

Ordenamento Florestal do Pinhal Interior Sul;Decreto-Lei n.º 9/2006, de 19 de Julho - aprovou o Plano Regional de

Ordenamento Florestal do Pinhal Interior Norte;Decreto-Lei n.º 10/2006, de 20 de Julho - aprovou o Plano Regional de

Ordenamento Florestal da Beira Interior Sul;Decreto-Lei n.º 11/2006, de 21 de Julho - aprovou o Plano Regional de

Ordenamento Florestal do Centro Litoral;Decreto-Lei n.º 12/2006, de 24 de Julho - aprovou o Plano Regional de

Ordenamento Florestal da Beira Interior Norte;Decreto-Lei n.º 134/2006, de 25 de Julho - criou o Sistema Integrado de

Operações de Protecção e Socorro (SIOPS).

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