imprevisto - e tu que novidade trazes? domingo 17.abril

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A BELEZA DESARMADA JULIÁN CARRÓN PP. 2 A CONSCIÊNCIA DO OUTRO MILLET PP.3 KATNISS UM CAMINHO HUMANO PP.4 17 DE ABRIL DE 2016 - 3º DIA DO MEETING LISBOA // TENDA DO CENTRO CULTURAL DE BELÉM “MAIS UM ENTRE AMIGOS” PATRIARCA DE LISBOA PP.2 IMPREVISTO

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A BELEZA DESARMADA JULIÁN CARRÓN

PP. 2

A CONSCIÊNCIA DO OUTRO

MILLET

PP.3

KATNISS UM CAMINHO

HUMANO

PP.4

17 DE ABRIL DE 2016 - 3º DIA DO MEETING LISBOA // TENDA DO CENTRO CULTURAL DE BELÉM

“MAIS UM ENTRE AMIGOS”

PATRIARCA DE LISBOA

PP.2

IMPREVISTO

O segundo dia do Meeting Lisboa contou com a discreta visita do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Chegou às 15h e, depois de ver com atenção e entusiasmo as exposições, aceitou responder a algumas perguntas do Imprevisto.

PORQUE É QUE VEIO VISITAR O MEET-ING LISBOA ESTE ANO? Pela mesma razão que o visitei o ano passa-do e há dois anos. Porque o Meeting é isso mesmo que a palavra diz, é uma ocasião de encontro de uns com os outros no grande encontro da vida, que é aquilo que concre-tamente o movimento mais desenvolve – a atenção à realidade como tal, sem filtros ideológicos, e com uma grande disponibili-dade para aprender com o real na sua total-idade, e não em parte dela. E mais uma vez, também aqui nestas exposições que já vi, é essa a ideia que surge.

DO QUE VIU, O QUE GOSTOU MAIS? A primeira exposição que vi [Katniss]. Aquelas maneiras erradas de mudar o mundo não se mudando a si. Depois perce-ber que a única porta de saída é encontrar-se a si, encontrando os outros. E isso, é uma ideia muito feliz!

QUE NOVIDADE É QUE O SENHOR PA-TRIARCA NOS TRAZ? Ser mais um, apenas, entre amigos. E por isso, aumentando a realidade, também com a referência eclesial que eu transporto!

DE QUE NOVIDADE É QUE O MUNDO PRECISA? Esta mesma! Que nós conhecemos de há dois mil anos a esta parte a partir de Jesus Cristo e que por um lado resume e, logo a seguir alarga infinitamente a realidade. VAI VOLTAR PARA O ANO? Se cá estivermos, com certeza!

«Nada é mais desarmante do que a beleza, porque a beleza não tem necessidade de outras armas para além da própria beleza, tal como o amor. A gratuidade, com que uma pessoa ama outra, tem uma potência tal, que não tem necessidade de acrescentar nada à própria beleza ou ao próprio amor. O amor tem dentro uma potência que não ne-cessita de mais nenhuma potência para além da potência que a própria beleza encerra. Cristo comunica-se através da beleza, por isso, não é que não falemos de Cristo, mas tantas vezes falar de Cristo parece já óbvio, parece uma palavra já conhecida, ou uma palavra dada por adquirida. Contudo, tantas pessoas que pensam já conhecer Cristo, quando se encontram diante da beleza ou do

amor gratuito, não sabem qual é a sua origem. E isto causa-lhes interesse, espanto, curiosidade e este é o método pelo qual Je-sus começou. Não pôs uma faixa a dizer “Eu Sou o filho de Deus”, ou “Eu sou a Beleza com o B maiúsculo”. Tornei-me homem, despi-me de todo o meu poder divino, para começar aquele percurso, que leva a desco-brir quem sou Eu.»

A BELEZA DESARMADA DECLARAÇÃO DO PADRE JULIÁN CARRÓN, POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DO SEU LIVRO, EM RIMINI (ITÁLIA)

“MAIS UM ENTRE AMIGOS” O SENHOR PATRIARCA DE LISBOA NO MEETING INÊS AVELAR

INÊS TEOTÓNIO PEREIRA Encontrámo-la a meio da tarde à saí-da da exposição sobre a obra de Mil-let e a caminho de uma das bancas de livros. Depois de lhes explicarmos que o Meeting agora tinha um jornal e que lhe queríamos roubar uns minutos, riu-se e resolveu alinhar. Passou por cá porque… “queria ouvir o Henrique Leitão, de quem gosto imenso, e ver a exposição. Achei giríssima, surpreendeu-me imenso! Venho todos os anos porque acho sempre giro e variado!” Conta, descontraidamente, que trouxe os filhos, porque “acho óptimo o ambi-ente familiar”. E eles também – entre um que já tinha disparado a caminho da esplanada e outro que ficara atrás empoleirado numa bancada e ten-tando ver os livros. Parecem sentir-se em casa. À pergunta difícil “que novidade traz”, responde timida-mente: “vim para aprender, com hu-mildade”. E de que novidade é que o mundo precisa? “Disso, humildade”. Libertamo-la, porque ainda havia muito para ver.

Meetings do Meeting MOMENTOS (IM)PROVÁVEIS INÊS AVELAR

“Nada é mais desarmante do que a beleza, porque a beleza não tem necessidade de outras armas para além da própria beleza, tal como o amor.”

SEMEAR, INVESTIR, ESPERAR UM RAMO DE FLORES E DUAS CAIXAS DE AFTER-EIGHT MADALENA FONTOURA

A afeição ao trabalho é o mote para uma conversa que desafia a mentalidade contem-porânea, tão contrária a esta possibilidade. Sofia Gouveia Pereira lança uma provocação: se eliminássemos toda a dimensão de gra-tuidade de cada trabalho profissional, tudo o que cada um faz para lá da estrita obrigação, que actividade se manteria de pé? As mães são, para Millet, o paradigma do trabalho. Precisamente pela gratuidade. Este painel, bem como a exposição, não fala do trabalho, mas da pessoa que trabalha. Única e irrepetível. Isabel Sá Luís trabalha num organismo es-tatal que faz gestão de fundos comunitários — com uma equipa que não escolheu e chefes que se sucedem a um ritmo improvável. A tentação é lamentar-se dos chefes e decep-cionar-se com os colaboradores. Só há uma saída humana: acolher os outros porque exis-tem e nos são dados, e trabalhar com todos partindo da novidade que cada um traz. Henrique Leitão lidera uma equipa de inves-tigadores: talentosos, ambiciosos, criativos, escolhidos a dedo… Há dois riscos: excesso de controle ou deixar cada um por si. O de-safio é o da vida em comum, o de construir um lugar onde se trabalhe lado a lado, de modo a que cada um possa ver o outro fazer, porque essa é a aprendizagem mais decisiva.

Uma arte que leva tempo e requer a humil-dade de reconhecer, sem temor, quando o outro é melhor do que eu. Henrique Leitão partira da sua leitura dos quadros de Millet, sublinhando a profundi-dade, que reflecte a verdade sobre o trabalho: o lugar privilegiado de encontro com a vida, onde as fantasias sobre nós dão lugar à mate-rialização do que somos. As figuras pintadas por Millet não estão distraídas, têm uma pos-sessão sobre si próprias, que é a marca da liberdade. No final do encontro começa a ouvir-se um som em surdina, que cresce lentamente e enche a sala. Como se saíssem directamente dos quadros de Millet, 18 homens de um coro de cante alentejano, vestidos a rigor com os trajes tradicionais dos camponeses, entram a cantar. Um uníssono sóbrio, triste e cheio de beleza. Têm a mesma gravidade das figuras do pintor francês. E é como se os campos de Barbizon se enchessem de música. Como é possível cantar assim, pintar assim, trabalhar assim? Isabel Sá Luís e Henrique Leitão têm a mesma resposta: o segredo é a consciência de que são actos feitos diante de outro. O coro vai a sair mas volta para trás. Fora de programa pede para “cantar a Nossa Senhora do Carmo”. Também eles teste-munham que se reconhecem diante de Deus.

A CONSCIÊNCIA DIANTE DO OUTRO O TRABALHO NA PINTURA DE MILLET MADALENA FONTOURA

NÃO SÓ JOÃO NÃO VINHAS NOS MEUS PLANOS

MARTIM FERREIRA

João Só foi o último convidado de sábado que passou no Meeting Lisboa 2016. Uma das perguntas iniciais, “quem é João Só?”, foi o mote para uma conversa ligeira, mas profunda, e como não podia deixar de ser com muita música à mistura. Num ambiente de café-concerto, João Só veio-nos contar, com mui-ta proximidade, um pouco da sua vida e como a tem cantado. Nas suas palavras, à saída da exposição de Millet, “porque é que eu hei-de cantar uma coisa que não é a minha alma?”. Tema a que voltou durante a conversa com Catarina Almeida, quando confrontado com a dicotomia: arriscar comunicar na primeira pessoa o que se vive, ver-sus a tentação de se esconder atrás de estereótipos que “vendem”.

“Fiz um disco com aquilo que tinha a ver comigo.”

João Só contou-nos que apesar de o terem aconselhado a não fazer este seu último disco sobre o casa-mento, ele — que se casou pouco antes de esse disco ser lançado — queria fazer algo que tivesse a ver consigo e que isso era, certamente, melhor do que rimar com verbos acabados em “-ar”. É isto mesmo que diz tentar trazer como novidade ao Meeting e à cul-tura: continuar a ser genuíno, fazendo chegar à música “os meus valores”. No fundo, quer cantar sobre o que sente. Esta é a liber-dade criativa que tanto caracteriza o João e que tanto nos prende, pois canta algo que é verdadeiro, algo que foi por si experienciado e isso foi evidente quando só ele e a viola puseram toda a plateia a cantar.

“Mas sabes, baby, tu deste-me assunto para autobiografia”

(de Autobiografia)

O Pe. Luís Miguel preferiu chamar-lhe insta-lação, em vez de exposição: pela aposta na experiência crua, sem nenhum embrulho teórico ou descritivo. E foi também assim que lançou a conversa da tarde: um convite à partilha de experiências. Maria João Matos é professora de História. Encontra à sua volta sinais da ferida do sécu-lo XX: a diluição da consciência do bem e do mal, a confusão entre autoridade e autori-tarismo, entre força e violência. Recorda a célebre turma de miúdos difíceis que começou por temer e olhar com desconfi-ança. E o momento decisivo em que se dispôs a amá-los — mudou tudo e no fim do ano deram-lhe um ramo de flores e duas caixas de after-eights. Paulo Santos Monteiro tem sempre miúdos difíceis: trabalha há 20 anos na reinserção de jovens delinquentes. Também ele sublinha a

vinculação como ponto de partida de toda a possibilidade de mudança. Ouvi-lo faz pensar no grande Padre Américo: semear, investir, esperar. Certos de que há um bem em cada um daqueles miúdos, que eles no fundo querem uma nova oportunidade; e não se deixar vencer pelo insucesso e pela rein-cidência. Conta a história daquela rapariga que dizia: “sabe, eu no princípio achava que não era capaz, só era boa a fazer o mal, a bater, a roubar”. Mas quando lhe foi proposto trabalhar numa colónia de férias descobriu capacidades que nem sabia que tinha. Pediu para continuar. Em vez de 15 dias, ficou mais de um mês. A provocação final, que atravessa os dois testemunhos, é resistir a olhar o outro através de análises sociológicas ou pelo elen-co dos erros. Basta a pergunta do Meeting: “E tu, que novidade trazes?”

Ficção científica não é futurologia. As ficções são construídas como análise e extrapolação do presente, quase como se fosse uma cultura de laboratório, permitindo antecipar o que irá acontecer no imediato desenvolvimento dos elementos considerados. As ficções cien-tíficas — “1984”, “Admirável Mundo Novo”, “Fahrenheit 451”, e hoje, “Hunger Games” — são extraordinários instrumentos de diagnós-tico dos factores subliminarmente activos no presente. Em todas estas distopias (utopias negativas) o factor que principalmente se evidencia é o da redução da experiência, da tentativa de anulação, por parte do poder, da experiência de si próprio (Henrique Leitão), quer por meio de um trabalho alienante, quer por uma diversão, também ela alienante. O grande valor de “Hunger Games”, na pers-pectiva de Eduardo Cintra Torres, é ter trazi-do estas problemáticas até ao mundo juvenil. Nada há de especialmente novo nesta saga, disse também, as histórias tendem a repetir-se (o que, contudo, manifesta a consistência dos aspectos decisivos para o Homem). Aqui, estes problemas, adquiriram a capacidade de interpelar criticamente o quotidiano dos ado-lescentes: “para que serve estudar?”, “para que serve trabalhar?”, “para que serve o tem-po livre?”, “para que servem os outros, no trabalho e no tempo livre?”… “A Katniss é a história de cada um de nós”. É assim que o Miguel, que juntamente com um grupo de amigos criou esta exposição, define a personagem principal deste percurso. Kat-niss vive num “lugar concreto onde [...] há uma mentalidade comum que se impõe e que quer dizer de si mesma que é a única coisa que existe”. No entanto, como nos continua a contar o Miguel, ela “resiste a deixar-se redu-zir àquilo que lhe querem fazer crer que a realidade é”, sentindo-se atraída para a bele-za do mistério a que o seu coração aspira. É exactamente o coração de Katniss o ponto de partida para esta exposição. Foi este coração, facilmente desapercebido num primeiro olhar fugaz sobre a trilogia de Suzanne Collins, que cativou a Constança e a Beatriz. Elas perceberam que aquilo tinha a ver com a sua própria vida. Que as extrava-gâncias e futilidades do Capitólio, o macabro dos Jogos da Fome, a conformidade com a vida miserável nos Distritos de Panem têm uma mesma origem: o desejo de fazer um caminho humano. A novidade que a revolta de Katniss nos traz é o verdadeiro desafio que vem depois do tumulto inicial. Há sempre a tentação de substituir um poder que oprime por outro

poder igualmente limitador. Há efectivamen-te um desejo de liberdade intrínseco a um coração que está vivo, mas depois perde-se na forma, por não ter nada para onde apon-tar. Katniss vive esta tensão e encontra na companhia dos seus amigos uma forma de constante juízo da sua vida e caminho de conversão pessoal. “O bosque significa este sair: para a Katniss sair do distrito e para nós sair de uma certa maneira de encarar a vida. A Katniss começa a sair desta maneira de encarar a vida graças ao pai dela. Ele leva a Katniss a ver o bosque, a beleza do lago e nesta beleza ela descobre-se a si própria” diz o Pe. Paolo Digennaro, um dos curadores da exposição. O que ela encon-tra depois é a materialização da música de John Denver (Rocky Mountain High) “um lugar que é capaz de despertar o nosso eu, o nosso coração, o nosso desejo”. Outro aspecto relevante é o trabalho sobre a memória que sustenta e vence as fragilidades

e as inconstâncias, diz ainda o Pe. Paolo: “a Katniss tem este livro onde começa a escrever os nomes das pessoas que deram a vida por ela. E fazer memória destes rostos é o que lhe dá alento e esperança para encarar o futuro.”

Ficha Técnica // Associação Cultural Meeting Lisboa - www.meetinglisboa.org, Redacção: Bernardo Cardoso, Inês Avelar, Joana Abecasis Correia, Madalena Fontoura, Madalena Lage, Manuel M.ª Saraiva, Martim Ferreira, Pedro Marques de Abreu. Edição e Grafismo: Manuel M.ª Saraiva. Fotografia: Nicola Clivati. Impressão: Zoomcópia - www.zoomcopia.net

KATNISS, UM CAMINHO HUMANO EXPOSIÇÃO E COLÓQUIO MADALENA LAGE // PEDRO MARQUES DE ABREU

Risos e gargalhadas, um ambiente de alegria contagiante. Apetecia estar ali no palco central. O Yanick sente-se importante, porque aquele espaço onde acontecem os prin-cipais encontros agora é todo deles. O Pe. Rafael domina o palco, e é “top, top, top!” como diz a Filipa, mãe da Maria, “ele diverte-se como as crianças e quanto mais so-mos capazes de expressar alegria a fazer o que fazemos, mais divertidas as crianças estão ali a encontrar as coisas”. Os desafios lançados às quatro equipas eram difíceis, muito difíceis! Procurar pistas por toda a tenda, fazer coreografias – às quais, invari-avelmente, o Pe. Rafael se juntava –, encher a boca com marshmallows e ter que fa-lar, encher a mão com picante e ver quanto tempo aguentam tê-lo na boca. Qualquer um de nós teria desistido a meio, mas não foi o que aconteceu com os nossos Mini Visitantes que, corajosos, lutaram até ao fim pelo primeiro lugar deste concurso. A vitória coube à equipa azul da qual fazia parte a Mónica, que estava contente por ter feito novos amigos e por ter podido brincar com o Pe. Rafael, que é “um bocadinho maluco”. O Tomás, da equipa verde, e o Francisco, da equipa vermelha, não ganha-ram mas gostaram porque o Pe. Rafael “é fixe, muita fixe! E dança mais ou menos!...”. De facto, como diz o Gonçalo, pai do Francisco, “quando os miúdos vêem uma pessoa adulta a ensinar-lhes com alegria a viver, estão a aprender!”. Esta alegria que educa foi a grande novidade introduzida pelo Mini Meeting deste ano.

A ALEGRIA QUE EDUCA O MEETING DE PALMO E MEIO JOANA ABECASIS CORREIA