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!MPAR Bauru como você nunca viu Iniciativa Ong’s e projetos sociais que fazem a diferença em Bauru p. 4 e 5 À Margem Favelas e condomínos fechados disputam espaços na cidade p. 6 a 8 Incógnitas Pessoas “invisíveis”; trabalhadores informais e necessários p. 11 e 12

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Suplemento produzido para a disciplina de Jornalismo Impresso II, 2013, do curso de Jornalismo da Unesp, câmpus Bauru, sob a orientação do Prof. Dr. Angelo Sottovia Aranha

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!MPARBauru como você nunca viu

Iniciativa

Ong’s e projetos sociais

que fazem a diferença em

Bauru

p. 4 e 5

À Margem

Favelas e condomínos

fechados disputam

espaços na cidade

p. 6 a 8

Incógnitas

Pessoas “invisíveis”;

trabalhadores informais e necessários

p. 11 e 12

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ReitorJulio Cezar Durigan

Diretor da FAAC Nilson Ghirardello

Coordenador do Curso de JornalismoFrancisco Rolfsen Belda

Chefe do Departamento de Comunicação SocialJuarez Tadeu de Paula Xavier

Professores OrientadoresÂngelo Sottovia AranhaTássia Caroline ZaniniFrancisco Rolfsen Belda

EndereçoDepartamento de Comunicação SocialAv. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01Vargem Limpa, Bauru-SP

Suplemento produzido pelos alunos do 4º termo do curso de Comunicação Social: Jornalismo do período diurno da UNESP.

Expediente

Lívia LagoMaria Esther CastedoMariana AmudMarina MoiaTania Rita

Agnes Guimarães Amanda Fonseca Bibiana Garrido Giovana Diniz Heloíse Montini

Telefone:(14) 3103-6000 Ramal: 6063

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Ímpar tem como temática central falar sobre os as-

suntos menos abor-dados de Bauru, ou menos conhecidos. A intenção é colocar o que, geralmente, é ex-cluído do cenário mi-diático tradicional.

Incógnitas busca histórias não óbvias, mostrar quem faz a diferença e não tem o merecido reconheci-mento. Pessoas que pa-recem invisíveis para o resto da sociedade e

que, como nós, está em busca de ser diferente.

Iniciativa traz ao lei-tor novas propostas de projetos sociais. Nes-sas páginas todos que buscam novas manei-ras de ajudar encon-trarão seu lugar. Proje-tos pouco conhecidos, mas que estão fazendo grande diferença na vida de muitos. A mu-dança é aqui e agora.

À Margem” deba-te e revela a situação das favelas em Bauru. Através de entrevistas

e pesquisa, conhece-mos um pouco do coti-diano de seus morado-res, suas dificuldades, o sentimento de afeto que os rodeia e suas reivindicações. Foi como sentir que éra-mos mais um membro dessa grande família.

Alternativa C é um retrato do que acontece no carnaval bauruen-se, com foco especial para a escola de samba Acadêmicos da Carto-la, a maior campeã dos desfiles da cidade.

Em Movimento tra-ta do esporte bauruen-se, com foco no futebol amador da cidade. O time Independência, que está completan-do 50 anos agora, foi o personagem principal dessa editoria.

Editorial

Iniciativa“Educar forma cidadãs” Aqui a única regra é ser diferente! A hora da mudança E aí, vamos conhecer?

À MargemUma família chamada favela Onde cabe um, cabem dois

Alternativa CSamba no pé e #partiusambódromo: a Cartola vem aí!

Em MovimentoUm cinquentão de cabelos verde e roxo

IncógnitasIncomuns, Informais e [In]satisfeitas! “Cê ajuda eu, moça?” Eaí, sou Chapa! Mas peixe pode?

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“Educar forma Cidadãs”Entidade bauruense oferece futuro de oportunidades profissionais

para meninas de origem humilde

Fundada em 1972 pelo Lions Clube Bauru Norte e Lions Clube Bauru Sul,

a Legião Feminina de Bauru é uma entidade que oferece pro-gramas de atendimento para garotas pertencentes à famílias de baixo nível socioeconômico que buscam um futuro melhor.

A Legião executa programas que são voltados à educa-ção profissional além de acom-panhamento psicológico e de assistência social. O programa

Lívia Lago

de treinamento dura 12 meses e após seu término

as jovens são encaminhadas para entrevistas de emprego. A entidade atende meninas a partir dos 15 anos até comple-tarem 17 anos e 11 meses.

Entre as atividades pro-gramadas estão curso de in-formática, secretariado, de-senvolvimento pessoal e jovem empreendedor ale de workshops de profissões. Como as garotas passam o dia todo em treinamento para o primeiro emprego, a enti-dade oferece café da manhã, almoço e lanche da tarde.

Com o lema “Educar for-

ma Cidadãs”, a Legião Fe-minina de Bauru já mudou a vida de quase 8 mil mulheres em 42 anos de trabalho. É o caso de Gisele Cristina Qui-nalha e Emily Carolina Perei-ra, mãe e filha cujas vidas fo-ram mudadas pela instituição.

Jovem de família humil-de, Gisele recebeu amparo da instituição há 20 anos. Hoje, com 33 anos de idade, tra-balha como auxiliar de es-critório. A história de Gisele inspirou a filha Emily que en-trou para a Legião em 2009 com 15 anos de idade. Atual-

mente é funcionária efetiva-da de uma escola em Bauru.

É válido ressaltar que as adolescentes inseridas no es-tágio de aprendizagem da Le-gião tem como apoio a Lei do Menor Aprendiz juntamen-te com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e o CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). O programa também tem parceria com a Secretaria do Bem-Estar So-cial, Sebrae/SP, Senac e o projeto Mesas Brasil do Sesc.

Aqui a única regra é ser diferente!Diversão e aprendizado na formação de alunos, que de deficientes não têm nada!

Numa tarde de sexta-fei-ra, encon-

tramos alguns dos alunos do Lar Esco-la Santa Luzia Para Cegos fazendo um piquenique. Acom-panhado do violão, um antigo aluno ani-ma o encontro en-quanto seus colegas dançam embaixo da árvore, fugindo do sol. Lá encontramos Leila Romani, de 40 anos. Destes, dez se passaram com o tra-balho de assistente social no Lar. Situ-ada em um bairro afastado de Bauru, perto da Sociedade Hípica, a entidade vai além de seus li-mites físicos para

atender a todos que necessitam de sua estrutura - e que também não podem ou não conseguem chegar até suas dependências. O Lar existe há mais de 40 anos e conta com o total apoio da Prefei-tura de Bauru, especialmente da Secretaria da Educação, que con-tribui com recursos financeiros e também fornece veículos para

o transporte dos alunos. Mesmo assim, Leila afirma que, apesar de todo o apoio, é preciso organi-zar diversos eventos e festas para conseguir cobrir as despesas.

Reabilitação em braille, infor-mática e locomoção com a benga-la são algumas das atividades pro-porcionadas pelo Lar, que apesar do nome, na verdade não é um abrigo, uma vez que os deficien-tes visuais ficam por lá apenas durante o período da tarde, das 13 às 17 horas. As “turmas” são com-postas no máximo por 60 pesso-as, sendo que não há um período específico para a habilitação do deficiente, ou seja, o aluno tem a liberdade de decidir quando - e se - está preparado para deixar o Santa Luzia. “Ninguém quer sair, eles acabam criando uma família aqui. A gente não pode criar pra-zos para os alunos, eles se senti-riam pressionados e não é essa a proposta do nosso trabalho”, compartilha Leila, lembrando-se de vários alunos que, depois de formados, ficaram no Lar como instrutores e/ou professores.

Além das atividades ofereci-nessa categoria é composto ex-clusivamente por alunos do San-ta Luzia, que têm, inclusive, uma parceria com o curso de Educa-ção Física da Unesp de Bauru.

Fotos: Marina Moia

INICIATIVA

das, os deficientes visuais tam-bém são capacitados para mo-nitorar os visitantes no espaço do Jardim Sensorial do Jardim

Botânico, que contém plantas medicinais, placas em braille e piso tátil. Outra atividade extra-curricular também ganha o co-

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Bibiana GarridoMarina Moia

A hora da mudançaEstudantes universitários que trabalham pelo próximo

Estudar em uma universidade pú-blica é o sonho de muitos, mas realiza-do por poucos. A vida acadêmica per-mite aos jovens grandes realizações e oportunidades únicas. Mas, e os ou-tros cidadãos, que garantem a esses poucos jovens ensino de qualidade, o que ganham? Sim, porque são os impostos que mantêm as faculdades públicas. Gabriela Paschoeto pen-sou muito nessa questão e resolveu que apenas pesquisar, para desco-brir novas soluções para a sociedade, não bastaria. Era preciso fazer mais.

Criada em ambiente em que o trabalho voluntário fazia parte da

rotina familiar, a estudante de enge-nharia da Unesp de Bauru cansou de ficar parada. Resolveu procurar um grupo de estudantes que inter-mediava ONGs e voluntários. O Cen-tro de Voluntariado Universitário (CVU) era a resposta que Gabriela estava esperando: o meio pelo qual finalmente poderia fazer a diferença. Então, reuniu alguns amigos, que também queriam fazer a diferença, e deram início ao CVU em Bauru.

Desde 2011, o CVU funciona em Ribeirão Preto. Em Bauru, o gru-po é ainda mais novo: começou em outubro de 2013. Ainda pequeno,

o grupo vem crescendo na Unesp e a ideia é envolver as outras faculda-des da cidade e promover o traba-lho voluntário. O principal objetivo, e também a maior dificuldade, é formar parcerias com ONGs e ins-tituições de Bauru, nas quais ações possam ser feitas pelos jovens.

Em poucos meses, o grupo já ar-recadou mantimentos para o pro-jeto Formiguinha, na Pousada da Esperança, e para o Lar Vila Vicen-tina. Para mostrar que se impor-tam com as crianças e os velhinhos, dedicam um bom tempo a eles.

O começo é sempre complicado.

Poucos se interessam por doar seu tempo, mas isso não desanima os estudantes já engajados. Pelo contrá-rio, os estimula a trabalhar cada vez mais e promover o CVU em Bauru, como conta Gabriela. Ela lembra que é preciso só ter vontade, e não dinheiro. Assim, todos podem fazer sua parte.

Heloise Montini

E ai, vamos conhecer?Um lugar onde se aprende a lutar a favor da vida, não contra uma doença

A Associação de Apoio à Pes-soa com AIDS de Bauru (SAPAB) é uma ONG que

surgiu na década de 1980 para aten-der pacientes portadores do vírus HIV. Na sede da entidade, na vila Falcão, não há nenhuma faixada de destaque ou placa na entrada. É uma casa comum, amarela, como muitas outras da rua, identificável apenas pelo número e por um portão estrei-to. A casa é simples, prática e huma-namente acolhedora - num ambien-te onde predominam gargalhadas, olhos nos olhos e muita serenidade, a sisudez ficou apenas para as má-quinas de escritório.

Ana Paula Ramos Pavão é assis-tente social da ONG. Está lá desde o começo. Ela conta que a ONG foi criada com o intuito de dar apoio aos pacientes do Centro de Referência de Bauru que precisavam permane-cer internados mais por problemas sociais do que clínicos: “Quando aquelas pessoas saíam do hospital, não tinham como retornar a suas casas porque a família estava em choque, tinham medo do contágio”.

No começo, a SAPAB atendia apenas homossexuais, pela grande procura desses pacientes. Depois, abriu espa-ço para heteros e crianças portadoras por transmissão vertical, quando a mãe passa para o filho na gestação, mostrando que a AIDS não se ca-racteriza por gênero, cor, religião ou qualquer outro diferencial.

ração dos alunos do Lar Escola: o esporte. A prática é conhecida como Goalball, esporte criado especialmente para deficientes visuais. O único time bauruense nessa categoria é composto ex-clusivamente por alunos do San-ta Luzia, que têm, inclusive, uma parceria com o curso de Educa-ção Física da Unesp de Bauru.

Durante aquela tarde de pi-quenique foi possível perceber a harmonia presente na convivên-cia entre as assistentes sociais, psicólogas, professores e os alu-nos do Lar. É através da socia-lização com as pessoas, com o mundo, com o esporte e com a música que os alunos conseguem romper barreiras e seus próprios

medos. “Muitos demoram para se identificar como cegos, têm a esperança de voltar a enxergar”, reconhece Leila. Os problemas são vários, de fato. Mas, a família construída no Lar Escola, mui-tas vezes, chega a ser até mesmo mais importante do que as que ficam dentro de casa, por esta-rem ali alunos com as mesmas

percepções e vivências no coti-diano. Emocionada, Leila inter-rompe sua própria fala ao olhar seus alunos, logo atrás de nós: “Eu amo isso aqui”, confessa.

Tânia Rita

Reinserção socialAté 2010, a SAPAB atendia ape-

nas pacientes portadores do vírus, quando começou a desenvolver tra-balhos específicos para todo o público engajado na causa. Há três progra-mas básicos de atendimento: O Ser-viço Especial de Proteção Social para Pessoas com Deficiência, Idosos e suas Famílias, que atende diariamen-te 60 pessoas e suas famílias, cerca de 240 pacientes. Também existe uma equipe domiciliar que atende 15 pes-soas em suas próprias casas.

O NAP (A Casa Adulto) atende 12 adultos com o vírus HIV vivendo em situação de enfraquecimento ou rompimento do vínculo familiar. “Na Casa, acompanhamos o atendimen-to, encaminhamos ao médico, minis-

tramos a medicação e reencaminha-mos para o mercado de trabalho”, explica Ana Paula.

O Lar Social Cori atende cerca de 20 crianças e adolescentes portado-res do vírus. As crianças atendidas são encaminhadas pela Vara da In-fância e Juventude e acompanhadas por assistente social, psicóloga e pe-dagoga e depois são reinseridas na comunidadeatravés da saúde, edu-cação, esporte e lazer.Por toda a Vida

A SAPAB promove palestras nas escolas e comunidades, num traba-lho que visa acabar com o precon-ceito. Segundo Ana Paula, “trabalhar o preconceito é muito complicado, principalmente com o portador do vírus, porque ele mesmo não se acei-ta”. Um grupo de apoio psicológico aos portadores ajuda na ministra-ção dos remédios e trabalha contra a ideia da medicação que vai ser to-mada pelo “resto da vida”. Ana Paula explica que o importante é incutir a ideia de “remédios que vão ser toma-dos ‘por toda a vida’, porque a não aceitação quase sempre é recorren-

te”. A troca da expres-são “pelo resto” por “por toda” faz toda a diferença na eficácia do trabalho de apoio aos portadores. São explicados os efeitos colaterais, a questão familiar e a vida pro-fissional. “Algumas vezes, o paciente não consegue seguir sua profissão devido aos efeitos colaterais do coquetel”, lembra Ana.

Outro problema se refere aos portadores que são dependentes químicos. Nesses ca-sos, a família geralmente abandona, não por causa do vírus, mas pelo ví-cio em drogas. Na SAPAB, é desen-volvido um acompanhamento social para que esse paciente consiga se li-vrar do vício e se reinserir na família.

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À

MARGEM

Como reflexo da desigualdade social e crescimento desenfreado da cidade, Bauru está atrás de soluções para conter a expansão de favelas

Uma família chamada favela

deira. Em Bauru não foi dife-rente. Ao todo, são 19 favelas que fazem parte da paisagem da cidade e nelas, segundo um levantamento de 2010 do IBGE, quase 7.000 pessoas se aglomeram. Os motivos para o surgimento são semelhantes ao restante do país. O êxodo rural, a histórica discrimina-ção e segregação racial, o défi-cit habitacional, a especulação imobiliária, a desigualdade social e tantos outros fatores se somaram para o nascimen-

to da vida nos morros. O último censo realizado

pela Secretaria do Bem Estar Social (Sebes) foi em 2009 e no fi-nal do ano passado um novo mapea-mento começou.

As primeiras casa a receberem os agentes da pre-feitura foram da

maior favela de Bau-ru, Ferradura Mirim.

O censo irá pesquisar da-dos sobre os moradores,

se fazem parte de progra-mas sociais, averiguar sobre a situação de as-sentamento, a renda

mensal, se idosos moram no local, etc. Também está incluído no proje-to a reurbanização das áreas, com um remanejamento dos moradores

para novos lares ou se preferirem, no pró-prio bairro, mas após a completa urbaniza-ção e legalmente lo-

calizado. A ideia é ter um pa-norama geral de como está

a situação das favelas na cidade, principalmente como seus moradores vivem e de que maneira

os programas sociais do governo podem ajudá

-los. Um exemplo é a empregada do-

Santa Terezinha, Jar-dim Nicéia, Ilha de Capri, São Manoel,

Jardim Marise ou Parque Ja-raguá. Os nomes podem surgir por uma homenagem, locali-

z a - ção ou apenas uma b r i n c a -

méstica Valéria Silva Donato, 33 anos, que conta com o au-xílio do Bolsa-Família. A mo-radora do Jardim Niceia disse que apesar do recente trabalho feito pela prefeitura, ela ainda sente que as favelas são esque-cidas pelo poder público. “Aqui no Niceia já batalhamos muito para termos o bairro certinho, mas sempre há algum proble-ma e sempre que pedimos a ajuda da prefeitura, ela só en-rola a gente”, lamenta Valéria. E esse é apenas mais um pro-blema que as favelas carregam.

Seguindo os passos do ma-peamento, a Sebes também irá trabalhar firmemente para a regularização das áreas. O instituto SOMA já afirmou no sua última pesquisa que boa parte das favelas podem ter sua situação legalizada, entretanto, o foco princi-pal é realocar as famílias que

se encontram em locais que ofereçam perigos. De acordo com a titular da Sebes, Darlene Tendolo, as famílas tem a op-ção de se mudarem para novas residências durante o período de reurbanização da favela e voltar ou permanecerem no lo-cal após a regularização. Ape-sar da inscrição de algumas famílias em programas como “Minha Casa Minha Vida”, os moradores reclamam da con-corrência para ganharem uma casa. “Das poucos que conse-guiram se inscrever, muitas poucos conseguiram ganhar a casa. Essa disputa desanima a gente, mas fazer o que”, desa-bafa o pintor Ednei Gonçalves, morador da favela São Manoel.

Apesar dos obstáculos, há muita gente querendo me-lhorar a vida nesses bairros. A ONG AIESEC Bauru irá re-alizar o projeto, ou jogo como eles dizem, chamado OASIS no Ferradura Mirim. Consiste em revitalizar uma área, criando um ambiente de convivência e aproveitamento da comunida-de, com o objetivo daquilo ser

um agente e símbolo de mu-dança que inspirem a todos. Entre as etapas, estão o plane-jamento, a criação de um vín-culo forte com os residentes, o mão na massa, etc. A previsão é que em março, a comunidade receba os benefícios do proje-to. Enquanto os outros bairros esperam por esses “milagres”, algumas pedras começam a serem tiradas do caminho.

Algumas soluções, novos problemas

Em abril de 2013, quatro-centas famílias se mudaram para o condomínio Três Amé-ricas, obra do projeto Minha Casa Minha Vida. Foi o fim de uma espera de muitos anos pelo ara obterem o benefício do governo federal. Meses de-pois da mudança das famílias, porém, a euforia tinha passa-do. “Muitos aqui ficaram de-cepcionados, pois esperavam uma casa de fato, e não um apartamento”, explica Renata da Costa. Ela e Neide Belíssimo são ex-moradoras do Pousada do Esperança, e assumiram a função de síndicas. “Temos dois grandes problemas: a conscientização do morador e a área de convivência”, lamen-ta Neide. Elas reclamam que os moradores não se acostu-maram com a nova rotina, que envolve regras, como respei-tar o silêncio e colocar o lixo no local escolhido pelas sín-dicas. Além disso, muitos não compreendem a importância do pagamento do condomínio.

“Temos que pagar a água e outros serviços de manu-tenção, algo que o condo-mínio deve cobrir. Nós sa-bemos a melhor maneira de usá-lo, mas nossos morado-res não entendem, e temos alguns casos de inadimplên-cia”, reclama Renata. Mas enquanto os problemas não são resolvidos, é quase unâ-nime, entre os moradores, que o projeto realizou um

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Direitos Humanos

· Comissão dos Assuntos Comu-nitários: Responsável pela regulamentação de associações de bairro, Fábio Simonetti é o coordenador.

· Comissão de Questões Imobiliárias e de Desen-volvimento Urbano: A advogada Mariana De Cam-pos Fattori é a responsável por garantir a manutenção urbana do local onde estão inseridas as comunidades. m encaminhamentos para que os pedidos sejam avaliados pelo setor público.

Agnes Sofia Cruz e Maria Esther Valdiviezo

sonho que parecia impos-sível: “Muitos não teriam condições de ter uma casa própria, e agora o têm, e nos-sa comunidade é uma se-gunda família para cada mo-rador”, comemora Renata.

Pouca oferta, muita pro-cura

O projeto é apenas um pe-queno passo para resolver um dos maiores problemas de Bauru: as condições precá-rias de mais de dois mil e tre-zentos barracos em dezenove pontos de ocupação, segundo dados da Secretaria do Bem-Estar Social (Sebes). Além dessas regiões, há aquelas que não entram no novo conceito de aglomerados subnormais (classificação para as “fave-las”, criada pelo IBGE), mas não garantem a qualidade de vida dos seus moradores, o que justifica as 28 mil inscrições para a segunda fase do progra-ma Minha Casa Minha Vida, da edição de 2013. Há cin-co mil moradias disponíveis.

Mariana De Campos Fatto-ri é advogada e coordenadora da Comissão de Direito Imo-biliário e Urbanístico da OAB de Bauru. Para ela, o projeto do governo federal deveria disponibilizar mais vagas na cidade: “Estamos passando por um momento estranho em Bauru: temos a constru-ção de condomínios de luxo e a chegada de grandes redes hoteleiras, que não possuem tanta demanda quanto a das

moradias populares”, questio-na. A advogada acredita que a cidade possui potencial para mais apartamentos do Minha Casa Minha Vida, mas lembra o problema das comunidades irregulares, que não são pou-cas e ao mesmo tempo contri-buem para a continuação do processo de periferização das famílias mais carentes. “Há casos de condomínios cons-truídos ao redor destas co-munidades, e quando desco-brem que os moradores estão ocupando um terreno que não são deles, além de não pode-rem resolver o impacto social que possam ter com a chega-da do empreendimento, mui-tas vezes eles são obrigados a abandonar suas casas, e pro-curar lugares mais baratos e e também irregulares”, explica.

É um círculo vicioso que aos poucos o setor público tenta resolver. O projeto Ci-dade Legal é uma dessas al-ternativas, mas há casos mais complexos que ainda estão longe de uma solução, como o do Núcleo Fortunato Rocha Lima. Arnaldo Jesus Souza é o representante dos moradores do Núcleo desde o seu início, em meados da década de oi-tenta, quando três proprietá-rios cederam o terreno para a comunidade. Ele explica que a posse das glebas passou a ser da prefeitura e do CDHU, e nestas transações não houve a regularização das casas, e ne-nhum dos moradores pode ser considerado dono de sua pro-

priedade. Sobre o problema, Tendolo diz que ele não pode ser resolvido pela prefeitura, já que se trata de uma situação ilegal. Mas Fattori ques-tiona: “Se o setor público não ajuda, a quem estas famílias recorrem?”. Ela sugere a solução encon-trada pela prefeitura de São Paulo para prédios do Centro da cidade que, abandonados, fo-ram ocupados por moradores em situação de rua: após a de-sapropriação dos imóveis, os apartamentos são reforma-dos e depois vendidos a baixo custo para os ex-moradores.

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Onde cabe um, cabem doisO dia-a-dia da empregada doméstica Eliana revela se ainda existe disputa

de espaço entre as favelas e os condomínios fechados de Bauru

Foto: Amanda Fonseca

Mariana Amud

Alguns me-tros e um portão di-

videm a vida de Eliana e seu tra-balho em um con-domínio de casas de luxo de Bauru. “Dividir” talvez não seja o melhor verbo pra expres-sar a diferença social entre esses dois espaços, até mesmo porque Eliana afirma não perceber diferen-ça. “Pra mim aca-bou sendo bom, eu aprendi mui-to com o pessoal com quem traba-lho.”. Eliana Fer-reira é moradora do Jardim Nicéia, bairro considera-do humilde por muitos anos, tem três filhos e traba-lha como empre-gada doméstica em um condomí-nio fechado.

sa pra os moradores dos con-domínios, não faz diferença a gente estar aqui. Ninguém invade o espaço de ninguém.” A disputa de território entre a comunidade e os condomínios já não é mais enfrentada entre os moradores desses espaços. O muro do condomínio não é mais a divisão entre eles.

O problema estar extinto mostra que ele já esteve por ali, incomodou moradores dos dois lados do muro e ten-tou tirar de suas casas aque-les que tinham menos poder de voz e financeiro. Eliana diz que o problema enfrentado era o “espaço” de um tomado pelo outro, “Antigamente os moradores dos condomínios queriam tirar a favela daqui. Eles queriam ter o espaço de-les e que a gente não deixava ter. Espaço entre aspas, era a respeito de roubo que eles se preocupavam, que aconte-ciam muito logo que os con-domínios chegaram por aqui.”

A “novidade” gerou más impressões aos moradores do Nicéia. A comunidade que já era considerada carente, tam-bém passou a ser violenta, lar de bandidos e insegura para a região. Eliana disse que os moradores dos condomínios, assim que se mudaram para lá, não passavam em frente a comunidade. Davam a volta na cidade só pra não correrem algum perigo naquele cami-nho. “Uma coisa é certa, todo mundo acaba pagando pelos erros dos outros”, diz a mora-dora da comunidade.

Os dois lados da moeda

Por outro lado, essa primei-ra impressão foi passageira. “No começo eles (moradores dos condomínios) pergunta-vam como é morar no Nicéia, se é perigoso, como eu me sin-to lá, eles tem curiosidade. E eu falo que não é perigoso, pra quem é de dentro ou de fora do bairro”, conta Eliana. A curio-sidade foi deixada de lado por seus patrões, que passaram a frequentar a comunidade nos fins de semana, deixam seus filhos na casa de Eliana. O pe-rigo imposto pelos muros de segurança do condomínio não existem como era imaginado.

Entrar em um ambiente desconhecido, interagir com novas pessoas que não tem os mesmo costumes que os de Eliana, também não fez com que o esteriótipo de que “quem mora na favela, é mau elemen-to” desaparecesse. “Ainda tem um certo preconceito. Porque você não tem amizade com o condomínio inteiro, não é todo mundo que sabe o que você faz. Tanto que nem todo mundo tem coragem de peitar e entrar na vila. A mesma coi-sa e se eu sair daqui da vila e não conhecer, eu não vou en-trar. Eu tenho medo, porque Bauru é um lugar perigoso. É a mesma coisa entre eles.”

Mesmo com os pré concei-tos existindo, Eliana disse não ter sofrido com eles. “Todos me cumprimentam, conver-sam comigo, sem ver da onde eu sou. Talvez eu tenha dado

to não seja igual pra todos”. E Eliana é orgulhosa de seu trabalho, do que conquistou a partir dele, diz que não é porque você vem de um lugar considerado carente, que você é carente. “O Jardim Nicéia já não é mais um bairro pobre, era há 17 anos. A partir do mo-mento que você tem água, es-goto, luz, tudo certinho, você se adapta. Mas as pessoas que são acomodadas usam o este-reótipo de “coitado” pra serem ajudadas. Por isso que o bairro ainda é considerado humilde”.

Como todas as histórias, sempre é possível ver o lado bom e o ruim. Ruim foi terem sido tachados por algum tem-po de “bandidos”, “perigosos”. Mas bom foi ter ganhado visi-bilidade, espaço onde já esta-vam. “Aos poucos a prefeitura foi passando asfalto aqui nas ruas, abrindo o mato envolta da favela, construíram praça. Os condomínios acabaram va-lorizando o Nicéia”.

Eliana, assim como muitos outros moradores de comu-nidades, viram uma oportu-nidade em um ambiente fora da realidade em que vivem, e nem por isso sofreram pre-conceito. Como a personagem dessa matéria disse em entre-vista, “o respeito está na ma-neira como você trata o outro. A partir do momento que você invade um espaço que não é seu, você dá liberdade para que o outro faça o mesmo”.

Eliana, inicial-mente, não sabia o que eu queria retratar. Talvez eu não tenha conseguido expressar bem a ideia, ou o problema que eu buscava não existia mais. A segunda opção foi dada como resposta: “pra mim não incomoda em nada os condomínios estarem aqui por perto, eu tenho amigos em

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ALTERNATIVA

C

Samba no pé e #partiusambódromo: a Cartola vem aí!

Começo de ano é sem-pre o mesmo esquema, festas em família e com

amigos, praia, casa da vó, da tia, ou até uma visita ao ex-terior para os mais sortudos. Depois das merecidas férias, a rotina quase volta a se es-tabelecer, para logo dar lugar ao feriadão mais esperado do primeiro semestre: o carnaval. A tradição brasileira se tornou internacionalmente reconhe-cida, e atualmente adquiriu proporções inimagináveis para aquelas pessoas que an-tigamente apenas “pulavam carvanal” nas ruas e nas pra-ças ao som das lendárias mar-chinhas.

São Paulo e Rio de Janei-ro são os pólos dos desfiles contemporâneos de escola de samba, uma das vertentes, ou estilos, da famosa festa bra-sileira. Com transmissão em rede nacional, os desfiles ga-

nham o coração das celebri-dades, que festejam em seus camarotes no sambódromo, e também do resto dos brasi-leiros, que acompanham a co-memoração da tevê. Mas para que ficar dentro de casa se o carnaval também acontece na sua cidade? Seja em peque-nos blocos carnavalescos, mi-caretas e outros tipos de festa, sempre tem alguma coisa para fazer!

Em Bauru, o desfile das escolas de samba municipais acontece no sambódromo des-de o ano de 1991. Antes disso, os blocos carnavalescos já ganhavam as ruas na década de 30. Se engana quem pen-sa que uma festa acaba com a outra! No ano passado a cida-de lanche foi palco de diversas atrações além do tradicional desfile no sambódromo, como o bloco Pé de Cachaça, que passou pela Avenida Nações

Unidas arrastando o pessoal, além das baladas em casas no-turnas e micaretas universitá-rias, é claro.

Campeão pela décima vez em 2013, o Grêmio Recreati-vo Escola de Samba Acadêmi-cos da Cartola (ufa!) prepara um desfile cheio de novidades para o carnaval que vem aí, tendo como tema principal Bauru e seus personagens. A Acadêmicos da Cartola marca presença nas comemorações bauruenses desde 1976, e, de acordo com Marcelo Madu-reira, diretor de comunicação da escola, tudo começou com o pequeno bloco carnavalesco chamado Nega Maluca.

Ao lado da Coroa Imperial, Águia de Ouro, Azulão do Mor-ro, Tradição e outras escolas de samba da cidade, a Cartola ainda, e infelizmente, enfren-ta alguns problemas antes da festa começar. “Nossa maior

dificuldade é justamente a fal-ta de apoio na divulgação dos desfiles”, desabafa Marcelo. Dentre as demais programa-ções culturais do feriado, o sambódromo se

No ateliê do barracão as fantasias já estão ficando prontas! Foto: Rodrigo Berni

A tradição está firmada e o desfile das escolas de samba promete animar o feriadão de carnaval dos cidadãos bauruenses

inclui sem ganhar o merecido desta-que, algo que está sendo mudado aos poucos e depende do interesse públi-co antes de mais nada.

O amor pelo carnaval é, sem dúvida, a maior motivação para continuar. “A ro-tina é dura, não sei mais o que é sábado e domin-go faz tempo”, conta animado o diretor, sem tom de reclamação. “Aquela conversa de que sambista é tudo vagabundo anda meio fora de moda”, brinca, em referência à rotina pesada da época.

Com ensaios todos os dias, ou melhor, todas as noites, começan-do sempre às 20h, a Cartola já está no ritmo do samba para o ano de 2014, em meio às fantasias e carros alegóricos que vão ga-nhando novas cores e formas em seu barracão.

Bibiana Garrido

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EM

MOVIMENTO

Um cinquentão de cabelos verde e roxo

Comunidade que apoia e torce o time que apaixona e criou uma identidade para o bairro

Lar de Paulinho, João Ca-reca, Dadá, da Tia, Zé Cotoco, Pezão, Rincon.

Gerações que contam os 50 anos de Independente Fute-bol Clube. É ali, na Vila Santa Inês, na quadra que o faleci-do João Careca descobriu ser da prefeitura e arranjou todo

o necessário para fazer daquele lu-gar o lar o Indepa, e o segundo lar da comunidade Inde-pendência.

O primeiro re-gistro do time como Indepen-dência é datado na ata em 19 de janei-ro de 1964, antes disso o time era conhecido como Tamandaré. Pau-linho, membro de uma das primeiras diretorias do time, não deixa de par-

ticipar do Indepa mesmo do-ente. “Eu ajudo como posso, compro convite de festa e dou pra outra pessoa, ajudo mes-mo sem poder vir pra cá”.

Para a comunidade, o In-depa vai mais além do que ser “o time de futebol amador”. É também o programa de fim de semana, a festa no bairro, a conversa que vai até tarde da noite. A Tia, assim chamada por todos lá na quadra, é uma das diretoras do Indepa, mo-radora da Vila Independên-cia há 54 anos. Muito mais do que isso ela é que todo mun-do cumprimenta e conversa, que faz os salgados em dias de jogo (tendo ou não dinhei-ro), ela é que já largou o ma-rido (mas já voltou) por causa do amor time, ela é que vai à quadra nos dias que não tem jogo e fica sem saber o que fa-zer, porque o fim de semana é sempre reservado pro Indepa.

Tem também o Dadá, ex-

jogador do Independência nos anos 88/89, e que ainda não engoliu o vice campeonato nesses dois anos, que mesmo sem ter vencido mostra com orgulho a foto daquele jogo, com a arquibancada cheia, que o faz encher a boca para dizer que hoje em dia isso não mudou. O envolvimento da comunidade com o time é trabalhado dentro e fora de campo. Nos jogos para tor-cer, apoiar, motivar o time. Na quadra pra comemorar as vitórias, organizar eventos e arrecadar fundos, confraterni-zar, mostrar que o Indepa não acaba dentro de campo.

Tem o Pezão, que venceu com o Indepa no ano de 2002 como jogador, e em 2010 como técnico. Aquele que, agora como diretor, teve diferentes formas de contato com o time. Sofreu emoções diversas, mas todas igualmente apaixonantes. Marcelo entrou faz uns anos

para a diretoria, e de cara, em sua primeira gestão, conquis-tou o título em 2010. A con-quista, para ele, foi a maior conquista do time. O faz ver e rever o DVD do jogo, e derra-mar umas lágrimas com o gri-to de campeão.

Os nomes são muitos, o portão está sempre aberto pra que mais deles apareçam. Afi-nal, o time é do bairro e o que eles mais querem é que todos da comunidade se sintam par-te dali. Espera-se que a histó-ria vá muito além dos 50 anos, que pra serem contados leva-riam uma noite toda, segundo Rincon. Então que muito mais noites sejam necessárias para contar essa história de família apaixonante, sempre regadas à música, uma cervejinha e pela gentileza de estar de bra-ços abertos a quem quiser en-trar, como fui recebida.

Mariana Amud

Fotos, recortes e troféus decoram a quadra do Indepa. Fotos: Mariana Amud

Duas personagens com empregos pouco usuais mostram o prazer por terem seus negócios

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INCÓGNITAS

INCOMUNS,INFORMAIS E [IN]SATISFEITAS!

Duas personagens com empregos pouco usuais mostram o prazer por terem seus negócios

Amanda Fonseca

“No Brasil não sesobrevive sem trabalho”

Aline Dalalio está de fé-rias no Brasil. Férias que, para ela, não

significam descanso. Depois de nove meses sem folga sendo chef de cozinha em um na-vio, o que faz há dois anos, ela voltou ao país para traba-lhar ainda mais. Formada em Gas-tronomia, a chef de 26 anos e seu namora-do, um indiano, veio para o país há dois meses e criou um ser-viço de personal chef, especia-lizado em culinária indiana, em Bauru, interior de São Paulo.

A ideia surgiu com a neces-sidade de ganhar dinheiro du-rante sua estadia no Brasil. Sa-tisfeita e mostrando prazer pelo

seu trabalho, Aline diz que ser personal chef, ou seja, cozinhar na casa das pessoas ou fazer entregas de comida indiana, é o primeiro passo para introdu-zir uma cultura pouco conheci-da na cidade, o que, no futuro poderá render frutos, como seu próprio restaurante indiano.Aliás, antes de navios e comi-das indianas, trabalhou em res-taurantes e hotéis pelo Brasil. Hoje, ao comparar seus anti-

gos empregos com o atual, prefere o de hoje. O

emprego formal, se-gundo ela, não per-mite flexibilidade de horários e não se pode

fazer várias coisas ao mesmo tempo. Ao analisar

as desvantagens da informali-dade, aponta a consequência que o não pagamento do INSS pode ter em sua aposentadoria: “mas acho melhor ser informal.Minha renda pode ser maior que a de um trabalhador for-mal. O dinheiro que seria gasto em impostos, eu aplico em coi-

sas que podem se tornar bene-fícios no futuro”. Aline faz parteda população economicamente ativa que é dona do próprio ne-gócio e está feliz assim.

“100% de importância”

Começou como uma brin-cadeira. É assim que Cristiane do Nascimento, de 28 anos, descreve a atividade que exerce há dois anos com todo o pra-zer e paixão. Cristiane é dona de um carro de telemensa-gens e acorda todos os dias às 6h30. Não tem hora para parar. Era atendente de telemarke-ting quando sofreu um aci-dente e pediu demissão. En-tão, resolveu trabalhar na cobrança de um serviço detelemensagens de seus paren-tes, até que lhe ofereceram o “kit completo de telemensa-gens” e ela criou seu próprio negócio. Das mensagens por te-

lefone até o carro de telemen-sagens, passou-se um mês.

A informalidade também vem da falta de

qualificação profissional.Em 2012, 44,2 milhões eram trabalhadores informais no Brasil.Cerca de 22% da po-

pulação do país. (IBGE) Até 2020, 90 milhões de trabalhadores de baixa qua-lificação serão “desnecessá-rios” no mundo. (Instituto

Global McKinsey)

“O país pode se desenvolver

mais com os trabalhos

informais”Aline Dalalio

“Cê ajuda eu, moça?”Moradores de rua: “encosto” para o poder público, celebridades para a população

Em sua maioria, eles an-dam descalços, não tem residência fixa, conhe-

cem a cidade melhor do que ninguém e tem milhares de história para contar. Acostu-mados a serem ignorados, os moradores de rua aprenderam que as crises conjugais, os ví-cios, os problemas financeiros ou qualquer outra dificulda-de podem resultar em dormir nas ruas. Segundo o IBGE e a Secretaria Municipal de Bem Estar Social, em 2012, eram 120 “marias” e “joãos” que va-gavam pela cidade de Bauru. Dijaulma dos Santos, 37 anos, morador de rua há seis meses. Veio do Paraná em busca de trabalho e já na chegada foi le-vado para os canaviais. “Me ca-taram na rodoviária, um moço

me levou pra cortar cana. No fi-nal da tarde, eles davam quatro pingas. Uma vez teve briga e me machucaram aqui”, Dijaulma conta mostrando as marcas na costela. O salário não dava pra nada, 3 semanas resultavam em 70 reais, as plantações de cana tinham virado o que um dia foi a plantação de café no período escravo. Apesar do salário de-sumano, ele continuou a traba-lhar e seu vício foi aumentando. Um dia resolveu vir pra Bau-ru, exatamente para embai-xo do viaduto da Duque de Caxias que corta a Nações Uni-das. “Vim de bicicleta e come-cei a receber o Bolsa Família. Todo o dinheiro que eu ganho eu gasto com comida e pin-ga. Não uso droga, só pinga.” Outro morador, que não quis

ram a experiência de contar suas his-tórias e serem es-quecidos como um jornal do dia ante-rior. Viraram mais um conto esqueci-do. Pediram ajuda, a todo momento, e, chegaram a me cha-mar de anjo, caso pudesse ajudá-los

se identificar, iremos chamá-lo de Luís. Luís conhece há 21 anos as ruas de Bauru e já esteve em Corumbá, Campo Grande, an-dou pelo mundo, como disse. Em todos os lugares que passou sentiu nos olhares e expressões os sinais de maltratos. “Somos discriminados pela polícia, pe-las pessoas e não podemos ir pra nenhum lugar. Toda nossa ali-mentação é sempre roubada.” Luís é contra as tentativas de reabilitação que a prefeitura propõe em visitas, contou que nenhum de seus amigos que fo-ram ficaram lá e a falta de liber-dade atrapalha. “Tem também o problema do cigarro. Você volta pior por causa da absti-nência.” Muitos deles, ao che-gar para uma entrevista, foram contrários a dar relatos, já tive-

de alguma maneira. Morado-res de rua são personagens sem fala onde o dinheiro dá a voz. E, ainda assim, me chamaram pra uma próxima conversa.

Maria Esther Valdiviezo

Hoje, grávida e com mais filhos para cuidar, Cris não se incomoda de traba-lhar de domingo a domingo. Descansa quando está mui-to cansada, porque é sua própria pa-troa. Em relação ao emprego formal que tinha, não vê nenhuma desvan-tagem trabalhista: “eu pago INSS”.

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E aí, sou Chapa!Uma profissão sem grandes reconhecimentos, mas de

muita importância econômica

Mas peixe pode?Cooperativas e mini empresas trazem opções veganas para Bauru

A grande maioria dos con-sumidores não imagina o caminho que a mer-

cadoria percorre antes de che-gar às prateleiras, ignorando um dos mais importantes per-sonagens da história: o chapa.“Se tirar o chapa, o que fica?

Não dá pra fazer tudo sozinho, precisamos deles” Vagner, cami-nhoneiro, não se intimida, para ele o motorista só dirige, sem al-guém pra retirar a mercadoria, ela jamais chegará às prateleiras.

Esses homens ficam na beira da estrada, próximos a uma das entradas de Bauru, esperan-do para trabalhar. O caminhão para e pede informa-ção, eles indicam. Outras vezes eles montam e se di-rigem ao local da descarga para au-xiliar na retirada da mercadoria.Há também cha-

pas que fazem um ponto fixo, e

nele ficam durante todo o pe-ríodo de chegada de mercado-rias, esvaziando caminhões e empilhando tudo nos depósitos.Tanto um quanto outro, esses

homens praticam um serviço sem o qual a demora e a fila nos pontos de descarga deixariam consumi-dores irados, no mínimo. O cha-pa Reginaldo resume, com uma simples e rotineira analogia, a im-portância do trabalho e o trans-torno que seria se ele não existis-se: “o que afetou no motorista de ônibus quando arrancaram o co-brador? É como o motorista (de caminhão) ficar sem o chapa”.

O trabalho

Uma profissão ignorada pela maior parte da população, mas importante para todos os con-sumidores. Os chapas, como são conhecidos, trabalham, em sua maioria, quando querem e colocam o preço em seu servi-ço. Um trabalho informal em que circula muito dinheiro.

Luiz Carlos largou o emprego, em uma transportadora, e resol-

veu seguir suas próprias ordens. Ele fica em um ponto fixo, em um dos mercados atacadistas de Bauru. Chega cedo, faz seu preço e então descarrega todos os cami-nhões que param em seu ponto. Em um dia fraco, seu trabalho lhe rende R$ 50,00. Para ele esse trabalho é bom, consegue sus-tentar a família e dar condições para que o filho estude. No ramo há cinco anos, ele ganha mais do que com um emprego regular e consegue passar mais tempo com sua família do que com o emprego anterior. O único pro-blema que ele aponta é a humi-lhação que sofre por não ter uma carteira assinada, principalmente por pessoas que não reconhecem a importância de sua profissão.

Informal, mas nem tanto

Paulo trabalha há quatro me-ses como chapa, mas ele e seus colegas, que trabalham no Cea-sa de Bauru, têm um diferencial: carteira assinada. Eles não vão atrás de qualquer caminham, recebem produtos específicos,

têm um chefe, salários e horários fixos. Mas eles consideram isso algopositivo. Para Paulo não há pontos negativos na profissão: ele possui mais liberdade, um horá-rio mais flexível e um salário me-lhor, quando se considera outras empresas da cidade. Ele ainda fala da grande amizade entre os chapas e os caminhoneiros. Vag-ner, que é motorista, confirma isso. Sentados todos juntos, após descarregarem os caminhões, motoristas e chapas conversam e brincam, dando altas gargalha-das, provando a amizade deles.

O trabalho começa cedo, mas antes da 9h a maioria dos chapas já está livre. Foto: Heloise Montini

Heloise Montini

Não é só de salada que eles vivem.

Hoje os vegetari-anos possuem várias opções de alimentação com um mercado cres-cente de produtos feitos especial-mente para eles. Se antes poucas

marcas se preocu-pavam em criar comidas sem ingredientes de origem animal, hoje já existem empresas com uma gama completa de produ-tos e refeições que imitam as versões com esses ingredientes.

Em Bauru, pequenas em-presas e cooperativas autôno-mas tentam preencher a falta de refeições do tipo na cidade.

Elas não possuem sede e sua produção é pequena e geral-mente artesanal, o que faz com que muitas pessoa não saibam de sua existência. A empresa Bilanciare Hambúrguer Veg-etariano, por exemplo, fabrica hambúrgueres vegetarianos à base de soja e trabalha apenas com entregas. Seus produtos são caseiros e sem conservant-es também. Outra cooperativa que atua em Bauru é a recente Bike&Burguer, que vende des-de produtos como queijo de batata e hambúrgueres a re-feições como lanches, pizzas, sushis e marmitex de feijoada. Seu diferencial é sua entrega, que é feita de bicicleta. A coop-erativa é adepta do veganismo - que exclui todos ingredien-tes de origem animal ou que

foram testados em animais. Liu Corte, criador da Bike&Burgu-er, também cozinha para even-tos e festas na casa de clientes.

Outras empresas conseg-uem um pouco de visibilidade. Esse é o caso da Respect Life, mercearia que vende alimen-tos veganos desde 2012. Sua especialidade são os doces e bolos, que são feitos espe-cialmente para encomendas. Como as outras empresas citadas, a Respect Life tam-bém não utiliza conservant-es e sua produção é caseira.

Saiba mais sobre veganis-mo!

O veganismo surgiu como uma filosofia para muitos vege-tarianos estritos – que não con-sumiam nenhum alimento de

Giovanna Diniz

origem animal, excluindo assim carnes, ovos e leite – que que-riam adotar o respeito aos ani-mais em todas esferas da vida, não só como forma de dieta. Os veganos não utilizam nenhum produto que utilize peles e cou-ros. Alguns também boicotam grandes empresas que se utili-zam da exploração animal na forma de patrocínio a rodeios e circos ou fazendo testes em ani-mais. Isso também como forma de valorizar as pequenas coop-erativas e grupos autônomos que são declaradamente vege-tarianas ou veganas.