impactos ambientais decorrentes da produção de alimentos e o

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X ENCONTRO DA ECOECO Setembro de 2013 Vitória - ES - Brasil IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O DILEMA MALTHUSIANO Odair Deters (UCS) - [email protected] Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul e estudante de pós-graduação Maria Carolina Rosa Gullo (UCS) - [email protected] Doutorado em Economia pela UFRGS e Professora na Universidade de Caxias do Sul – RS

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Page 1: impactos ambientais decorrentes da produção de alimentos e o

X ENCONTRO DA ECOECOSetembro de 2013Vitória - ES - Brasil

IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O DILEMAMALTHUSIANO

Odair Deters (UCS) - [email protected] em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul e estudante de pós-graduação

Maria Carolina Rosa Gullo (UCS) - [email protected] em Economia pela UFRGS e Professora na Universidade de Caxias do Sul – RS

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IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E O DILEMA MALTHUSIANO

G) Relações entre economia ecológica, natureza, sociedade.

Consumo, estilos de vida, conscientização e responsabilização.

RESUMO: Analisar-se-á o pensamento malthusiano e os impactos ambientais. Para tanto, a pesquisa apresenta o contexto da Revolução Verde e do aumento da produção de alimentos decorrentes do crescimento da população, argumentos para a exposição das teorias malthusianas. Discutir-se-á; tanto na obra de Thomas Malthus, quando interessado no crescimento populacional e na produção de alimentos, como na de diversos autores contemporâneos, quando trabalham os impactos ambientais ou a visão malthusiana e sua relação com o meio ambiente, objetivando identificar os impactos ambientais decorrentes da produção de alimentos através do crescimento populacional.

Palavras-chave: malthusianismo; meio ambiente; neomalthusianismo; impacto ambiental.

ENVIRONMENTAL IMPACTS FROM THE PRODUCTION OF FOOD AND THE MALTHUSIAN DILEMMA.

ABSTRACT: Analyze will Malthusian thinking and environmental impacts. Therefore, the research presents the context of the Green Revolution and the rise of food procuction resulting from population growth, arguments for the exhibition of Malthusian theories. Discuss it will, both in the work of Thomar Malthus, who was interested in population growth and food production, as in several contemporary authors, when working environmental impacts or the Malthusian vision and its relationship with the environment, aiming to identify the environmental impacts of food production through population growth.

Keywords: environment; malthusianismo; neo-malthusianism; environmental impacts.

Introdução

O economista inglês Thomas Robert Malthus, nascido em 14 de fevereiro de 1766 em

Rookery, e falecido em 23 de dezembro de 1834 em Bath, marcou o pensamento econômico,

e trouxe as primeiras considerações sobre o que viria a ser futuramente a preocupação

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ambiental, escrevendo uma obra essencialmente polêmica ao abordar o crescimento

populacional, conhecida como Ensaio sobre o Princípio da População1. Este ensaio envolveu

dois temas predominantes definindo, basicamente, que o alimento é necessário à existência do

homem e que a paixão entre os sexos é necessária e permanecerá aproximadamente em seu

presente estado. Dessa forma, identificava que a capacidade de crescimento da população é

indefinidamente maior que a capacidade da terra de produzir meios de subsistência para o

homem2.

A resposta mais imediata e óbvia era que a população de qualquer território era

limitada pela quantidade de alimentos. Conforme Malthus, “o alimento é necessário para a

existência do homem”. Embora Malthus entendesse que, com mais trabalho e melhores

métodos de produção de alimentos, os seres humanos poderiam aumentar o nível de produção

de alimentos, afirmava que era quase certo que os aumentos conseguidos em cada geração

seriam cada vez menores, em determinado território. Achava que a produção de alimentos

poderia aumentar em progressão aritmética, quer dizer, cada geração só poderia aumentar a

produção em quantidade mais ou menos equivalente ao aumento conseguido pela geração

anterior3.

Então, se não houvesse qualquer outro controle, a fome acabaria limitando o

crescimento populacional à taxa máxima segundo a qual pudesse ser aumentada a produção

de alimentos.

Passados mais de dois séculos após a primeira apresentação do ponto de vista de

Malthus a respeito do crescimento populacional e da insuficiência de alimentos no mundo, o

problema continua preocupando economistas e cientistas políticos do mundo atual.

1. O rápido crescimento populacional e a enorme pressão sobre os recursos naturais na visão malthusiana.

1 MALTHUS, Thomas Robert. Ensaio sobre a população. Traduções de Regis de Castro Andrade,

Dinah de Abreu Azevedo e Antonio Alves Cury. Editora Nova Cultural Ltda. São Paulo – SP, 1996. 2 HUNT, E.K. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica / E.K. Hunt, Howard J.

Sherman; tradução de José Ricardo Brandão Azevedo e Maria José Cyhlar Monteiro – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 3 FUSFELD, Daniel R.– Era do Economista, A. Tradutor: Waltenberg, Fabio D. , ISBN 8502032771

Saraiva 1ª Edição 2000

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O princípio malthusiano da população tornar-se-ia um dos pilares mais importantes da

economia clássica. Malthus também ajudou os economistas posteriores a esclarecer uma das

regras essenciais para a melhoria da condição humana, afirmando que a produção deveria

crescer em um ritmo superior ao da população.

Nos séculos posteriores, o pensamento pós-Segunda Guerra Mundial, onde o

crescimento populacional acelerado nos países subdesenvolvidos fez despertar os adeptos de

Malthus, chamados de neomalthusianos, principalmente por receber apoio do Clube de

Roma4.

Segundo eles, a pobreza e o subdesenvolvimento seriam gerados pelo grande

crescimento populacional, e em virtude disso seriam necessárias drásticas políticas de

controle de natalidade, que se dariam através do "planejamento familiar". Muitos países

adotaram essas políticas anti-natalistas.

Enquanto que para Malthus o controle populacional dava-se por “Leis Naturais”, para

os neomalthusianos ele decorre de políticas conscientes de redução da

população5.Normalmente, os neomalthusianos têm defendido a tese de que o rápido

crescimento populacional geraria enorme pressão sobre os recursos naturais, criando um

estresse sem precedentes sobre os recursos da Terra, provocando, por exemplo, mudanças

climáticas e a degradação ambiental e, por consequência, sérios riscos para o futuro6.

A abordagem neomalthusiana coloca que o ambiental apresenta-se como produto do

tamanho e do crescimento da população, que determinam uma relação direta com a pressão

sobre os recursos naturais, ocasionado junto à necessidade do controle populacional. Não há

como negar que o crescimento populacional seja um problema ambiental, logo, na relação

4 Clube de Roma: Grupo de ilustres personalidades de diferentes comunidades:

científica, acadêmica, política, empresarial, financeira, religiosa e cultural, que se reúnem para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados à política, economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. http://www.clubofrome.org 5 MARTINE, George. População, meio ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições.

Campinas: UNICAMP, 1993. 6 MALTHUS, Thomas Robert. Princípios de Economia Política e Considerações sobre sua aplicação prática. Traduções de Regis de Castro Andrade, Dinah de Abreu Azevedo e Antonio Alves Cury. Editora Nova Cultural Ltda. São Paulo – SP, 1996.

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população-meio ambiente, a questão da escolha de modelos de desenvolvimento e de tipos de

tecnologia se torna essencial7.

Com isso, a ideia inicialmente tão atraente do “desenvolvimento sustentável” torna-se

um objetivo difícil e complicado, principalmente quando cotejado com as perspectivas de

crescimento econômico.

Neste contexto, onde o problema ambiental obtém a imagem imbricada e de difícil

resolução, Martine8 identifica que:

o diagnóstico neomalthusiano aparece como uma ideia de lucidez extraordinária. Agrada a todos – ou quase todos – porque todos gostam de soluções claras, diretas, com culpados visíveis. Por outro lado, como existem interesses políticos e econômicos profundamente imbricados na questão ambiental em todos os níveis, a dimensão demográfica aparece como a variável mais fácil de ser atacada. Isso, evidentemente, gera contrapressões políticas anti-neomalthusianas, mas a força destas tem sido bem reduzida.

Em contraposição, Singer9, ao abordar a teoria que se pode qualificar de

neomalthusiana, sustenta que sua ênfase não é relacionar população e natureza, mas sim os

efeitos do rápido crescimento demográfico na estrutura da população e no processo de

desenvolvimento econômico. O autor ainda considera que as ideias neomalthusianas

correspondem ao sistema ideológico dos países dominantes do mundo capitalista e aos seus

interesses políticos.

No entanto, existe na bibliografia maior relevância da teoria neomalthusiana ligando a

população e a natureza, enfatizando que o tamanho da população afeta indiscutivelmente o

equilíbrio ambiental. E de fato, a solução do dilema ambiental neomalthusiano adquire uma

forma simples e com eficácia aparente através da sistemática de que reduzindo o crescimento

da população reduzem-se os impactos ambientais e, consequentemente, o número de pobres

famintos.

O crescimento populacional exige maior produção de alimentos e este é um dos

maiores desafios do mundo moderno. O crescimento populacional excessivo tem feito com

que o ser humano consuma quase tudo aquilo que o planeta tem para oferecer, trazendo

7 ÂNTICO, Cláudia. Et al. População e Meio Ambiente. Disponível em:

<http://www.portaldomeioambiente.org.br/indicadores-ambientais/opiniao-dos-jovens/2087.html> acessado em 01 de junho de 2011. 8 MARTINE. População, meio ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições. Pg. 10 9 SINGER, Paul Israel. Dinâmica populacional e desenvolvimento: o papel do crescimento populacional no desenvolvimento econômico. 3ª Ed.– São Paulo:

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imbricados os impactos ambientais. Impacto ambiental deve ser entendido aqui como um

desequilíbrio provocado por um choque, resultante da ação do homem sobre o meio

ambiente10.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA11, através de sua Resolução n.º

001 de 23/01/86, define o impacto ambiental como:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem:(I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população;(II) as atividades sociais e econômicas; (III) a biota; (IV) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; (V) a qualidade dos recursos ambientais.

Para Munn12, que diz que uma alteração ambiental pode ser natural ou induzida pelo

homem, um efeito é uma alteração induzida pelo homem e um impacto inclui um julgamento

do valor da significância de um efeito.

E Horberry13 coloca que o impacto ambiental é a estimativa ou o julgamento do

significado e do valor do efeito ambiental para os receptores natural, sócio-econômico e

humano. Efeito ambiental é a alteração mensurável da produtividade dos sistemas naturais e

da qualidade ambiental, resultante de uma atividade econômica.

Ressalta-se que neste trabalho quando diz-se que o homem é o responsável pelos

desequilíbrios, está-se abordando o sistema produtivo construído pela humanidade ao longo

de sua historia.

No século XVIII Malthus já demonstrava o que seriam as primeiras preocupações teóricas

com relação ao meio ambiente e a economia, muitos séculos antes do nascimento das grandes

preocupações ambientais. Para Malthus14, a escassez relativa de terras férteis, tanto naturais

como artificiais, assim como a qualidade do solo, que era vista como a principal causa do alto

preço dos produtos da terra, sendo esta uma dádiva da Natureza ao homem, e ainda tendo sua

10 ARAÚJO Júnior, Arlindo Matos de. Impactos Ambientais. 2006. Disponível em:

<HTTP://WWW.JULIOBATTISTI.COM.BR/TUTORIAIS/ARLINDOJUNIOR/GEOGRAFIA036.ASP> Acessado em 20 de Agosto de 2011. 11 CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n.º 001 de 23/01/86 Disponível em <

http://www.mma.gov.br/port/conama/ legiabre.cfm?codlegi=23 > Acessado em: 01 de agosto de 2011. P.1 12 MUNN,R.E. Environmental Impact Assessment, SCOPE Chichester ; New York : Published on

behalf of the Scientific Committee on Problems of the Environment of the International Council of Scientific Unions by Wiley, 1979.1975. 13

HORBERRY, J. (1994). Dicionário ambiental. Disponível em: <www.ecolnews.com.br/dicionarioambiental/>, acessado em: 25 de setembro de 2011. 14 MALTHUS. Ensaio sobre a população.

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conexão com o monopólio é forma muito tênue, e ao mesmo tempo sendo tão absolutamente

essencial para a existência da renda que, sem ela, por maior que fosse o grau de escassez ou

de monopólio, não existiria um excedente do preço dos produtos agrícolas sobre o que é

necessário para o pagamento dos salários e dos lucros.

Após a II Guerra Mundial o pacote tecnológico da chamada “Revolução Verde”15

ratificoua colocação acima de Malthus, e este pacote foi difundido no mundo, atingindo,

inclusive alguns países subdesenvolvidos. Conforme Jeffrey Sachs16, todas estas inovações

científicas básicas por trás da Revolução Verde foram financiadas pela Fundação

Rockefeller17. Esta mesma explicação do surgimento da Revolução Verde, também pode ser

encontrada em:

Surgiram do grande capital imperialista monopolista do pós-guerra mundial. Grandes empresários perceberam que um dos caminhos do lucro permanente eram os alimentos. Possuindo grandes sobras de material de guerra (indústria química e mecânica), direcionaram tais sobras para a agricultura. Encarregaram às fundações Ford18 e Rockfeller, o Banco Mundial19, entre outros, para sistematizarem o processo. Estes montaram a rede mundial GCPAI – Grupo Consultivo de Pesquisa Internacional – que é, na realidade, o somatório de centros de pesquisa e treinamento localizados em todo o mundo20.

15 A expressão Revolução Verde foi criada em 1966, em uma conferência em Washington. Porém, o processo de modernização agrícola que desencadeou a Revolução Verde ocorreu no final da década de 1940. Esse programa surgiu com o propósito de aumentar a produção agrícola através do desenvolvimento de pesquisas em sementes, fertilização do solo e utilização de máquinas no campo que aumentassem a produtividade. http://www.brasilescola.com/geografia/revolucao-verde.htm 16 SACHS, Jeffrey. O fim da miséria. Revista Scientific American Brasil. edição 41 - Outubro 2005

17 Fundação Rockefeller - é uma fundação criada em 1913 nos Estados Unidos da América, que define sua missão como sendo a de promover, no exterior, o estímulo à saúde pública, o ensino, a pesquisa e a filantropia. É caracterizada como associação beneficente e não-governamental, que utiliza recursos próprios para realizar suas ações em vários países do mundo. http://www.rockefellerfoundation.org/ Também recebe muitas críticas por possíveis trabalhos envolvendo eugenia e controle populacional. 18 A Fundação Ford foi criada em 1936 e segundo seus instituidores é uma organização privada, sem fins lucrativos, criada nos Estados Unidos para ser uma fonte de apoio a pessoas e instituições inovadoras em todo o mundo, comprometidas com a consolidação da democracia, a redução da pobreza e da injustiça social e com o desenvolvimento humano. http://www.fordfoundation.org/ Também recebe muitas críticas por possíveis atuaçãoes como uma frente para a CIA com o objetivo de interferir em regimes de outros países. 19 Instituição Financeira Internacional que fornece empréstimos alavancados para os países em desenvolvimento para os programas de capital. A sua missão inicial era financiar a reconstrução dos países devastados durante a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, sua missão principal é a luta contra a pobreza através de financiamento e empréstimos aos países em desenvolvimento. Seu funcionamento é garantido por quotizações definidas e reguladas pelos países membros.http://www.worldbank.org/ 20 ZAMBERLAN, Jurandir; FRONCHETI, Alceu: preservação do pequeno agricultor e o meio ambiente.

Petrópolis: Vozes, 2001, p. 17.

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Para Hespanhol21 a modernização da agricultura esteve associada ao modelo de

desenvolvimento produtivista que passou a ser contestado nos anos 1970 e 1980. O autor

ainda salienta que nos países mais avançados da União Européia (França, Alemanha,

Holanda, Bélgica, entre outros), as críticas aos efeitos ambientais negativos decorrentes dessa

produção agrícola intensiva, emergiram nas décadas de 1960 e 1970 e ganharam amplitude e

repercussão em outros países, a partir dos anos 1980.

O incremento da produção de alimentos do planeta, conforme dados da FAO22,

superou o extraordinário aumento da própria população humana. De fato, entre 1961 e 2005,

por exemplo, a população global cresceu em 111%. No entanto, no mesmo período, a

produção de cereais (grãos) que correspondem à base da alimentação global, subiu 154%, a

produção total de carne 280%, a de peixes, crustáceos e moluscos capturados nos mares e

criados em cativeiro 227%. Essa elevação espantosa da oferta de comida deve-se à Revolução

Verde, que tem como fundamento o uso de sementes de alto rendimento, fertilizantes,

pesticidas, irrigação e mecanização.

No Brasil, por ocasião da inserção do processo de modernização da agricultura no

período da ditadura militar, muito se discutia de que maneira o Brasil conseguiria aumentar

sua produtividade agrícola. Duas visões distintas predominavam: a que defendia o aumento da

produtividade por meio da reforma agrária, e a que defendia ser necessária a adoção dos

pacotes tecnológicos pelos agricultores, sem tocar na questão fundiária23.

O Governo Militar optou por manter a estrutura do latifúndio assumindo as bases do

modelo da Revolução Verde, via pacotes. Essa postura vai ser muito questionada por seus

críticos que vão chamá-la de modernização conservadora24.

As críticas ambientalistas centralizam-se na crítica à produção industrial. No espaço

rural, esta produção industrial adquiriu a forma dos pacotes tecnológicos da Revolução Verde

e, no Brasil, assumiu marcadamente nos anos 60 e 70, a prioridade do subsídio de créditos

21 HESPANHOL, Antonio Nivaldo. Modernização da agricultura e desenvolvimento territorial.4º

Encontro Nacional de Grupos de Pesquisa – ENGRUP, Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP – Presidente Prudente. São Paulo, 2008. 22 FAO - The Food and Agriculture Organization of the United Nations. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Foi fundada em 1945. Tem como função aumentar os níveis de nutrição e a qualidade de vida, bem como melhorar a produtividade da agricultura e dar melhores condições de vida às populações rurais. https://www.fao.org.br/ 23 ZAMBERLAN. Preservação do pequeno agricultor e o meio ambiente. 24 ROSA, Antônio Vitor. Agricultura e meio ambiente. São Paulo: Atual, 6ª Edição - 1998

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agrícolas para estimular a grande produção agrícola, as esferas agroindustriais, as empresas de

maquinários e de insumos industriais para uso agrícola, a agricultura de exportação, a

produção de processados para a exportação e a diferenciação do consumo25.

Alguns críticos defendem uma linha de pensamento que questiona os efeitos sociais e

econômicos relacionados à revolução verde, dentre estes efeitos, estariam o aumento das

despesas com o cultivo e da lucratividade das grandes empresas de insumos agrícolas, o

agravamento da erosão genética das espécies e a expulsão de agricultores do campo26.

Em contrapartida, ainda segundo o autor, estão as estatísticas que buscam identificar

que o advento da revolução verde permitiu o abastecimento mundial de alimentos diante do

crescimento demográfico.

A polêmica segundo Martine27, no Brasil, tem sido uma constante no tratamento tanto

da questão populacional como da ambiental. A relação entre estes dois temas é muito

complexa e resiste à tentativa de simplificações, prevalecendo assim posturas apaixonadas e

meias-verdades, que podem facilitar a manipulação da opinião pública.

Na atividade agropecuária, a produção e o consumo de agrotóxicos mediante o avanço

permanente da genética e da biotecnologia, atendem o caráter decrescente do valor de uso,

portanto a lógica societal do capital, alterando substancialmente hábitos (metabolismo

orgânico dos indivíduos), provocando uma enormidade de prejuízos ao meio ambiente e,

indiretamente reduzindo o ciclo-produtivo dos cultivos e do próprio solo. A resistência

imunológica das "pragas" e paralelamente o desenvolvimento de novos pesticidas com o

intuito de assegurar a eficiência necessária à manutenção do processo produtivo é a expressão

concreta dessa lógica28.

25 MOREIRA, Roberto J. Críticas ambientalistas à Revolução Verde. X World Congresso f Rural

Sociology – IRSA e no XXXVII Brazilian Congresso f Rural Economic and Sociology – Sober, Workshop n. 38. Greening of agriculture. Rio de Janeiro, 2000. 1999. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso. org.ar/ar/libros/brasil/cpda/estudos/quinze/moreira15.htm.> Acessado em: 10 de agosto de 2011. 26

DOS SANTOS, Durvalina Maria. Revolução Verde. 2006. Disponível em: <http://www.fcav.unesp.br/download/deptos/biologia/durvalina/TEXTO-86.pdf> Acessado em: 27 de agosto de 2011. 27 MARTINE. População, meio ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições. 28 MENDONÇA, Marcelo Rodrigues; THOMAZ JÚNIOR, Antonio e RIBEIRO, Dinalva Donizete. A

modernização da agricultura e os impactos sobre o trabalho (Brasil). 2002. Disponível em <http://br.monografias.com/trabalhos902/impacto-agricultura/impacto-agricultura2.shtml> Acessado em: 13 de setembro de 2011.

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Um impacto ocorrido em escala local pode ter também conseqüências em escala

global. Por exemplo, a devastação de florestas tropicais por queimadas para a introdução de

pastagens pode provocar desequilíbrios nesses ecossistemas naturais. Mas a emissão de gás

carbônico como resultado da combustão das árvores vai colaborar para o aumento da

concentração desse gás na atmosfera, agravando o “efeito estufa”29. Assim, os impactos

localizados, ao se somarem, acabam tendo um efeito também em escala global30.

No Brasil, os impactos ambientais da Revolução Verde, processou-se com a

modernização da agricultura e de forma bastante rápida no Brasil, especialmente nas regiões

sul e sudeste, onde as alterações na base técnica e econômica da agropecuária se deram de

maneira bastante pronunciada a partir dos anos 196031.

Esse desenvolvimento da agricultura brasileira gerou muitos revezes. Quando

associada aos movimentos ecológicos e ambientalistas no Brasil, a crítica posta ao modelo da

Revolução Verde e à modernização tecnológica socialmente conservadora se desenvolvem,

portanto, com três componentes: Técnico, social e econômico32. Esses componentes

questionam a relação do ser humano com a natureza, levando em conta a poluição, denúncias

de empobrecimento, desemprego, e o próprio processo de elevação de custos do pacote

tecnológico da Revolução Verde.

Essas críticas são muitas vezes apresentadas mescladas entre si e, para Oliveira33, a

história recente da humanidade é marcada por avanços jamais vistos no domínio das técnicas

e dos processos que envolvam a produção de bens materiais, não só capazes de produzir em

quantidades maiores e com melhor qualidade tudo o que até então havia sido produzido, bem

como o acesso a produtos que há alguns anos atrás seriam inimagináveis.

Para Dias34 , na Rio-9235, foi concluído que os modelos de desenvolvimento vigentes ,

impostos pelos sete países mais ricos através de processos e instituições, como o FMI36, o

29 Muitos pesquisadores apresentam uma análise crítica do efeito estufa, onde a principal evidência por estes apresentada é de que não é o homem o agente causador do efeito estufa, e que este processo representa uma alteração natural e recorrente no Planeta. 30 ARAÚJO. Impactos Ambientais. 31 HESPANHOL. Modernização da agricultura e desenvolvimento territorial. 32 MOREIRA. Críticas ambientalistas à Revolução Verde. 33 GREMAUD, Amaury Patrick. et al.; Manual de Economia / organizadores Diva Benevides Pinho,

Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. – 5 ed. – São Paulo: Saraiva, 2005. 34

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas – 9. Ed. – São Paulo: Gaia, 2004.

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Banco Mundial e outros, e principalmente com suas influências nos sistema políticos, de

educação e informação, em praticamente todo o mundo, legaram uma situação socioambiental

insustentável.

Diante desta situação, buscam-se formas de medir o impacto ambiental, dentre estas

formas aparece, a equação desenvolvida na década de 1970 publicada na revista National

Geographic, através da matéria de Elisabeth Kolbert37 .

Esta fórmula IPAT, é uma das primeiras tentativas de descrever o papel de múltiplos

fatores na determinação da degradação ambiental. A equação descreve a contribuição

multiplicativa da população (P), afluência (A) e tecnologia (T) ao impacto ambiental (I).

I = P x A x T

Onde:

I = Impacto humano sobre o meio ambiente

P = Tamanho da População. População Mundial

A = Afluência (Melhoria de vida, representado pelo nível de consumo dessa

população). PIB Mundial

T = Tecnologia, referindo-se aos processos para obtenção de recursos e transformação

deles em bens úteis e resíduos. Registro de Patentes.

A fórmula foi originalmente usada para enfatizar a contribuição de uma população

global crescente sobre o meio ambiente, sendo uma fórmula desenvolvida nos anos de 1970,

levando em conta a população mundial daquele momento, a fórmula continua a ser usada com

referência à política da população, como um modo de avaliar os impactos ambientais e

desenvolver premissas relacionadas à sustentabilidade.

35 Conhecida mundialmente como Rio 92, à II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, teve como principal tema a discussão sobre o desenvolvimento sustentável e sobre como de reverter o atual processo de degradação ambiental. A conferência foi a maior reunião de chefes de Estado da história da humanidade com a presença de cerca de 117 governantes de países 36 Fundo Monetário Internacional (FMI) Foi criado um pouco antes do final da segunda guerra mundial, em julho de 1944. Sediado em Washington - DC, Estados Unidos é uma organização internacional que pretende assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro mundial pelo monitoramento das taxas de câmbio e da balança de pagamentos, através de assistência técnica e financeira. http://www.imf.org 37 KOLBERT, Elisabeth. Começa o Antropoceno. A era do Homen. Revista National Geographic

Brasil . nº 132. Editora Abril. Março de 2011.

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Figura 1: Impacto humano no meio ambiente conforme equação IPAT. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. FDB: Kolbert (2004)/National Geographic

O cálculo P x A x T, segundo Kolbert38 representa o comprimento vezes altura vezes

comprimento de três blocos representando o impacto humano no planeta em 1900, 1950 e

2011, demonstrado na figura 1, identificando que o impacto humano aumentou

exponencialmente após a Segunda Guerra Mundial, numa fase identificada pelos cientistas

como “grande aceleração”.

Porém Veiga39, identifica que a noção de sustentabilidade obrigatoriamente têm raízes

na ecologia e na economia, de forma com que nenhum indicador, por melhor que possa ser,

vai conseguir revelar simultaneamente o grau de sustentabilidade do processo

socioeconômico e o grau de qualidade de vida que dele decorre, ou seja existe a dificuldade

38 KOLBERT. Começa o Antropoceno. A era do Homen. 39 VEIGA, José Eli da. Indicadores de sustentabilidade. 2010. Disponível em: <

http://www.scielo.br/pdf/ea/v24n68/06.pdf> Acessado em: 19 de setembro de 2011.

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de medir a sustentabilidade. E ainda segundo o autor, nada impede que a sustentabilidade

sistêmica da sociedade requeira frequentemente renovadores choques de destruição criativa.

Para Alves40, os humanos não são os donos, mas sim os inquilinos da Terra. Sendo que

a humanidade depende da disponibilidade de terra, água e ar no planeta, e ultrapassar os

limites existentes significa caminhar para o suicídio e o ecocídio. A situação atual é que após

200 anos de intenso desenvolvimento econômico, propiciado pela Revolução Industrial, a

população mundial ganhou com a redução das taxas de mortalidade e o crescimento da

esperança de vida, porém alterou significativamente seus padrões de consumo. O autor ainda

menciona que não há, evidentemente, como manter esse crescimento nos padrões de produção

e consumo atuais.

O modelo de desenvolvimento econômico se fundamenta no lucro, e este está atrelado

à lógica do aumento da produção, mesmo tendo os recursos naturais utilizados sem nenhum

critério. E toda essa produção crescente precisa ser consumida. O consumo é estimulado pela

mídia, e o binômio produção-consumo termina gerando uma maior pressão sobre os recursos

naturais, causando mais degradação ambiental. Essa degradação reflete diretamente na perda

da qualidade de vida, fazendo inclusive em alguns casos com que se recorra a empréstimos de

instituições que lucraram anteriormente com a degradação deste ambiente.

Analisando, assim, Carvalho41 evidencia que a agricultura brasileira, nas três últimas

décadas, experimentou forte processo de transformação. Este processo, conhecido como

modernização conservadora, embora excludente e concentrador, acabou por provocar

expressivos e positivos resultados nos campos de produção e da agroindustrialização, de tal

forma que o padrão extensivo tradicional mudou para um novo padrão intensivo, no qual o

rendimento (produtividade da área) tornou-se a principal fonte de crescimento, superando a

área cultivada.

No entanto Hespanhol42 identifica que apesar do aparente sucesso da modernização da

agricultura, ficou um passivo ambiental dela decorrente muito grande. A expansão de

monoculturas e o uso indiscriminado de máquinas, implementos, fertilizantes químicos e de

40 ALVES, José Eustáquio Diniz. Pegada ecológica e sustentabilidade da população. 2010. Disponível

em: <HTTP://OPENSADORSELVAGEM.ORG/CIENCIA-E-HUMANIDADES/DEMOGRAFIA/PEGADA-ECOLOGICA-E-SUSTENTABILIDADE-DA-POPULACAO> Acessado em: 22 de setembro de 2011. 41 CARVALHO Filho, José Juliano de. A produção de alimentos e o problema da segurança

alimentar. Estudos Avançados 9 . 1995 p. 173 a 193. 42 HESPANHOL. Modernização da agricultura e desenvolvimento territorial.

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biocidas passaram a comprometer a qualidade ambiental de vastas áreas dos países

desenvolvidos e subdesenvolvidos.

As reações ocorridas no meio-ambiente, uma vez que o uso inadequado do solo para

cultivos, sem respeito à sua aptidão agrícola e limitações, tem acelerado em muito os

processos de degradação da capacidade produtiva do solo, modificando, consequentemente, o

meio ambiente43.

Todas estas reações reacendem o ambientalismo, o que significa uma estratégia de

retórica que consiste em recordar o passado como forma de reivindicar uma tradição de

pensamento e isolar o oponente como fruto de um desvio da tradição correta44.

Nos anos 1960 e 1970, as primeiras posições ambientalistas catastrofistas, vieram a

citar Malthus, trazendo suas conclusões pessimistas juntamente com soluções drásticas,

passando a serem conhecidas estas posições como neomalthusianas45.

Para Hogan46, envolvendo o tema população/ambiente, embora exista uma extensa

bibliográfica não se descobriu nenhuma visão que supere a visão malthusiana, embora

existam algumas posições críticas(porém abstratas) e alguns estudos empíricos.

No que Rampasso47, coloca que a exploração ambiental está diretamente ligada ao

avançado desenvolvimento tecnológico, científico e econômico que, muitas vezes, tem

alterado de modo drástico o cenário do planeta e levado a processos degenerativos profundos

da natureza.

E neste sentido o argumento malthusiano se enraizou à preocupação sobre a produção

de alimentos, acrescentando todo o rosário do movimento ambiental, oferecendo um novo

43 BALSAN, Rosane. Impactos decorrentes da Modernização da agricultura brasileira. Campo-

Território. Revista de geografia agrária, v. 1, n. 2, ago. 2006 44 ARIDA, Pérsio. A história do pensamento econômico como teoria e retórica. In: GALA, P.; REGO,

J. M. (Orgs.) A história do pensamento econômico como teoria e retórica: ensaios sobre metodologia em economia. São Paulo: Ed. 34. 2003 45 ARAÚJO, Telma e CORAZZA, Rosana Icassatti. A reinvenção de Malthus no renascimento do

ambientalismo.Revista Economia Ensaios, Vol. 24, nº 1. 2009. 46 HOGAN, Daniel Joseph. Crescimento demográfico e meio ambiente. Revista Bras. Estudos Pop.,

Campinas. 1991 47 RAMPAZZO, S. E. A questão ambiental no contexto do desenvolvimento econômico. In:

BALSAN, Rosane. Impactos decorrentes da Modernização da agricultura brasileira. Campo-Território. Revista de geografia agrária, v. 1, n. 2, ago. 2006.

Page 15: impactos ambientais decorrentes da produção de alimentos e o

conjunto de numeradores para teorizar a opinião pública, e os ambientalistas, os

denominadores necessários para o mesmo fim48.

O autor ainda coloca que existe uma perspectiva que reconhece o problema ambiental,

mas atribui um papel secundário, procurando situar à questão em termos socioeconômicos,

padrões do acesso a terra e as diferenças ou desigualdades sociais, existindo também

promoções de inverter os termos da equação, atribuindo à pressão sobre recursos o papel

positivo de promover o progresso técnico, mas em todos os casos permeia a existência de um

malthusianismo puro ou moderado.

Para Martine49, no contexto brasileiro, a discussão da relação população-meio

ambiente tem ganho visibilidade, principalmente devido ao interesse mundial na preservação

da floresta tropical, particularmente na região amazônica. Mas a tentativa de relacionar os

problemas à questão demográfica é bastante precária e não tem merecido muito crédito. O

autor ainda identifica que na relação entre a população e meio ambiente predomina a visão

neomalthusiana, por ser atraente, além de conter um elemento fundamental de verdade, por

sugerir uma solução indolor – o controle da população – que não caracteriza uma ameaça as

estruturas, os privilégios ou os interesses dominantes.

No argumento de Araújo e Corazza50, apesar das soluções drásticas e dos pontos de

vista alarmistas, o debate trazido pelos autores neomalthusianos teve a importante missão de

alertar a sociedade sobre a existência do problema do crescimento populacional acelerado e

do conflito no que diz respeito à disponibilidade de recursos naturais.

Os autores ainda sustentam que a escassez de recursos naturais, e aqui pedem que o

conceito de escassez seja interpretado além das contribuições malthusianas e

neomalthusianas, pode sim trazer complicações para o futuro da humanidade. E ainda neste

contexto a relação entre a exploração dos recursos naturais(ambientais) e o

crescimento(desenvolvimento) econômico, tem à lógica de acumulação que move os capitais

ás limitações físicas do planeta.

48 HOGAN. Crescimento demográfico e meio ambiente. 49 MARTINE. População, meio ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições. 50 ARAÚJO e CORAZZA. A reinvenção de Malthus no renascimento do ambientalismo.

Page 16: impactos ambientais decorrentes da produção de alimentos e o

No mesmo sentido Carelli51, menciona que o padrão de consumo de um país é mais

importante do que o tamanho da população no que diz respeito ao impacto ambiental. Pois

com o crescimento econômico, surgem mais ofertas de emprego e elevação da renda da

população, o que vêm a provocar o aumento do consumo.

Ainda nesta linha, identifica-se que áreas desenvolvidas consomem diferentes

proporções de tipos de alimentos em relação àquelas em desenvolvimento. Nas áreas

desenvolvidas são consumidos maiores proporções de alimentos de origem animal, variados

tipos de vegetais, frutos, açucares e bebidas, enquanto naquelas em desenvolvimento

consomem grandes quantidades de cereais52.

Os mesmos autores citam que no Brasil tem ocorrido essa mudança da forma de

alimentação, conduzido pela imitação de padrões de produção e características de consumo de

países ocidentais.

Porém Martine53 relata que a relação entre desenvolvimento e meio ambiente é

confusa e avaliar o fator populacional nessa equação torna-a ainda mais complexa. A

ampliação da consciência ambiental tem se concentrado em problemas típicos da

industrialização, ou focalizado algumas questões específicas, como o desmatamento ou a

desertificação, em países subdesenvolvidos. Não existe ainda a clareza nem quanto à

especificidade da agenda ambiental em países pobres, nem quanto à forma de o

desenvolvimento sustentável se coadunar com as exigências atuais do crescimento

econômico.

Para Abramovay54, mesmo que Malthus tenha subestimado o poder da tecnologia em

enfrentar os limites da natureza e preconizado métodos hoje inadmissíveis para resolver o

problema da fome, ele tocou num ponto central: o crescimento econômico encontra barreiras

naturais, que embora possam ser contornadas, não podem ser suprimidas.

51 CARELLI, Gabriela. Um mundo possível. Revista Veja – Edição especial sustentabilidade. Editora

Abril. Nº2196 Ano 43, dezembro de 2010. 52 ABREU, Edeli Simioni de; VIANA, Isabel Cristina; MORENO, RosymauraBaena; TORRES,

Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva. Alimentação mundial – uma reflexão sobre a história. Saude soc. vol.10 no.2 São Paulo Ago./Dez. 2001. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-1290200100020 0002&script=sci_arttext> Acessado em: 14 de agosto de 2011. 53 MARTINE. População, meio ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições. 54 ABRAMOVAY, Ricardo. Alimentos versus população: está ressurgindo o fantasma

malthusiano? 2010. Disponível em: < http://www.abramovay.pro. br/artigos_cientificos/2010/Fantasma.pdf> Acessado em: 01 de outubro de 2011.

Page 17: impactos ambientais decorrentes da produção de alimentos e o

Malthus errou menos do que se supunha e, acertando em cheio num problema central

que a ciência econômica posterior a ele insiste em ignorar: a elevação da produção material e

a oferta de serviços encontram um claro limite no esgotamento da capacidade de os

ecossistemas continuarem prestando os serviços de que depende a sobrevivência das

sociedades humanas55.

Para Araujo e Corazza56, outros autores que abordaram a questão neomalthusiana, essa

acepção da preservação que sempre caracterizou o discurso elitista do controle populacional

por métodos coercitivos, continua balizando as políticas, como a de planejamento familiar.

Os autores acima, ainda relatam que apesar das soluções drásticas e dos pontos de

vista alarmistas, o debate trazido pelos autores neomalthusianos teve a importante missão de

alertar a sociedade sobre a existência do problema do crescimento populacional acelerado e

dos limites que podem existir no que envolve a disponibilidade de recursos naturais.

Dessa forma, Araújo e Corazza57, consideram que Malthus, empregou formalização,

inclusive matemática, e também recorreu a dados estatísticos para sustentar sua teoria,

demonstrando assim que o ritmo do crescimento populacional à época não tardaria à

comprometer, principalmente pela fome, doenças e conflitos violentos, a existência futura da

humanidade.

Vaticinou Krugman58 que, por vivermos num mundo cada vez mais escasso de

recursos naturais, precisaremos mudar gradualmente a maneira como vivemos, adaptando

nossa economia e nossos estilos de vida à realidade. Tal afirmativa resume, com clareza

ímpar, o mantra preservacionista.

Os problemas ambientais conforme Diamond59, como os da África Oriental são

classificados como malthusianos, pois neles existe uma diferença básica entre como a

população cresce e como cresce a produção de alimentos. Pois quando a população cresce, as

pessoas acrescentadas á população inicial também passam a se reproduzirem, seria como os

55 ABRAMOVAY. Alimentos versus população: está ressurgindo o fantasma malthusiano? 56 ARAÚJO e CORAZZA. A reinvenção de Malthus no renascimento do ambientalismo. 57 ARAÚJO e CORAZZA. A reinvenção de Malthus no renascimento do ambientalismo. 58 KRUGMANN, Paul Robin. The Finite World. The New Yok Times. Disponível em: <HTTP://WWW.NYTIMES.COM/2010/12/27/OPINION/27KRUGMAN.HTML?_R=2&REF=OPINION> Acessado em: 08 de outubro de 2011. 59 DIAMOND, Jared M. Colapso – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. 6ª ed. – Rio

de Janeiro: Record, 2009.

Page 18: impactos ambientais decorrentes da produção de alimentos e o

juros compostos, quando o próprio juro rende juros. Gerando assim um crescimento

exponencial.

O autor ainda identifica que a validade do argumento de Malthus tem sido muito

debatido, pois de fato, há países modernos que reduziram drasticamente seu crescimento

populacional por meio do controle de natalidade voluntário (exemplos: Itália e Japão) ou por

ordem do governo (China). No entanto em território africano, como em Ruanda e Burundi60

Malthus parece estar com a razão, permitindo que tanto os defensores de Malthus quanto seus

detratores podem concordar que os problemas relacionados à população e ao meio ambiente

criados por recursos não sustentáveis vão acabar se resolvendo de um modo ou de outro: se

não através de meios agradáveis e escolhidos, por meios desagradáveis e não escolhidos,

como os enumerados por Malthus.

Ao abordar o alcance da validade da teoria malthusiana, observa-se que a teoria

malthusiana pode ocorrer na sua totalidade de forma localizada geograficamente, como o

exposto por Diamond61, ou mesmo fazer emergir novos desdobramentos como o

neomalthusianismo relacionado com a finitude dos recursos naturais.

Resultados Finais

No estudo realizado abordou-se a teoria da população de Malthus que, embora

complexa e com variados pontos de discordância entre autores no transcorrer dos séculos,

mostra a relação do tamanho da população com a economia como um problema de

fundamental importância. A polêmica no tratamento do crescimento populacional relacionado

aos impactos ambientais é muito complexa e resiste o ensaio às simplificações, sendo que o

diagnóstico neomalthusiano aparece como uma boa ideia de lucidez. A ideia, inicialmente tão

atraente do desenvolvimento sustentável, torna-se um objetivo difícil e complicado,

principalmente quando cotejado com as perspectivas de crescimento econômico. De fato, a

60 Nas últimas décadas Ruanda e o Burundi tornaram-se sinônimos de população elevada e genocídio. São os dois países mais densamente povoados da África, e entre os mais densamente povoados do mundo. E os recentes genocídios ocorridos nos dois países estão entre os maiores desde 1950, tanto em números de cadáveres quanto em proporção ao total da população aniquilada. 61 DIAMOND. Colapso – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso.

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solução do dilema ambiental neomalthusiano adquire uma forma simples e com eficácia

aparente através da sistemática de que, reduzindo o crescimento da população, reduz-se os

impactos ambientais e, consequentemente, o número de pobres famintos.

Assim, a resolução malthusiana para as crises obrigatoriamente passa pelo aumento da

mortalidade. Contudo, a constante busca por soluções ao enfrentar os problemas econômicos,

populacionais e do meio ambiente, desenvolve-se em um quadro de aumento da expectativa

de vida e com a continuidade da transição da fecundidade.

Diante disso, observa-se que todo este conflito com a teoria malthusiana dava-se

principalmente no embate entre a produção de alimentos e o crescimento da população, no

entanto a partir do século XX, ele tomou novas dimensões com a inserção da questão

ambiental, recebendo a conotação de neomalthusiano.

A abordagem teórica e empírica que foi aplicada a teoria malthusiana e a

neomalthusiana neste trabalho permite identificar que as ideologias, tanto controlista quanto

pró-natalista relutam com as argumentações como a de que não existe um tamanho ideal de

população, e sim passa a valer o bem-estar dos cidadãos. Permite assim que a dinâmica

populacional esteja a serviço da melhoria da qualidade de vida da população, mas também em

harmonia como meio ambiente e garantindo a manutenção do Planeta.

Este trabalho contribuiu para a discussão sobre a questão do impacto ambiental na

produção de alimentos numa perspectiva malthusiana e neomalthusiana. No entanto, entende-

se que o assunto não se esgota neste estudo e que novos trabalhos devem aprofundar tais

discussões além de abordar novas correntes teóricas que surgirem e que versam sobre o tema.

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