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    PODER JUDICIRIOJUZO DE DIREITO DA QUARTA VARA CRIMINAL

    Comarca de NatalFrum Central Desembargador Miguel Seabra Fagundes

    Rua Dr. Lauro Pinto, 315Lagoa Nova - CEP 59.064-250 - Natal/RNFones (84) 3616-9300 ramal 9574 E-mail [email protected]

    Ainda que os olhos do cidado tenhamenxergado o crime de muitos, as lupas do Julgador s

    podem considerar as provas produzidas!

    Processo n 0214711-50.2007.8.20.0001

    SENTENA:

    EMENTA: Penal e processo penal. Crimes contra aAdministrao Pblica. Corrupo ativa e passiva.Materialidade e autoria comprovadas. Agravante. Majorante.CONDENAO e ABSOLVIO. 1.1. O crime de corrupoativa est alocado dentro da classe de crimes praticados porparticulares contra a administrao pblica. O objeto jurdicoprotegido nesse tipo penal a probidade da administrao, e

    tenta-se evitar que uma ao externa corrompa a administraopblica atravs de seus funcionrios. 1.2. O delito de corrupopassiva consumada reside no fato da solicitao, recebimentoou aceite da promessa ou da vantagem indevida. Vantagemindevida solicitada, oferecida ou dada ao agente poltico ouservidor pblico (nos termos do artigo 327 do Cdigo Penal) qualquer comprometimento de no praticar, retardar ou deixarde praticar algo que deveria em funo do dever funcional. 2.Lavagem de dinheiro. Materialidade inexistente.ABSOLVIO. 2.1. Conceitua-se de lavagem de dinheiro oprocesso pelo qual o criminoso transforma recursos oriundos deatividades ilegais em ativos com origem aparentemente legal.2.2. A existncia do crime de lavagem de dinheiro exige quea origem dos recursos ou bens seja lcita.

    Vistos etc.

    IRELATRIO

    Trata-se de ao penal pblica incondicionada ajuizada peloMINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, atravs daPromotoria de Justia de Defesa do Patrimnio Pblico da Comarca de Natal/RN, embasadoem inqurito policial e nos procedimentos a ele correlatos, em desfavor das pessoas de 1)

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal, observando-se a aplicao da agravante prevista no art. 62, inciso I, do Cdigo Penal); 2) DICKSONRICARDO NASSER DOS SANTOS (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal, observando-sea aplicao da agravante prevista no art. 62, inciso I, do Cdigo Penal); 3) ADO ERIDANDE ANDRADE (art. 317, caput e 1, do Cdigo Penal); 4) GERALDO RAMOS DOSSANTOS NETO (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 5) TIRSO RENATO DANTAS

    (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 6) ADENBIO DE MELO GONZAGA (art. 317,capute 1, do Cdigo Penal); 7) EDSON SIQUEIRA DE LIMA (art. 317, capute 1, doCdigo Penal); 8) ALUISIO MACHADO CUNHA (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal);9) JLIO HENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA (art. 317, capute 1, do CdigoPenal); 10) FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO (art. 317, caput e 1, do CdigoPenal); 11) EDIVAN MARTINS TEIXEIRA (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 12)SALATIEL MACIEL DE SOUZA (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 13) ANTNIOCARLOS JESUS DOS SANTOS (art. 317, caput e 1, do Cdigo Penal); 14) SIDMARQUES FONSECA (art. 317, caput e 1, do Cdigo Penal); 15) KLAUS CHARLIENOGUEIRA SERAFIM DE MELO (art. 317, capute 1 , do Cdigo Penal c/c art. 29 doCdigo Penal, observando-se a causa de aumento de pena prevista no art. 327, 2 do Cdigo

    Penal); 16) FRANCISCO DE ASSIS JORGE SOUSA (art. 317, caput e 1 , do CdigoPenal c/c art. 29 do Cdigo Penal, observando-se a causa de aumento de pena prevista no art.327, 2 do Cdigo Penal); 17) HERMES SOARES FONSECA (art. 317, capute 1 , doCdigo Penal c/c art. 29 do Cdigo Penal, observando-se a causa de aumento de pena previstano art. 327, 2 do Cdigo Penal); 18) RICARDO CABRAL ABREU (Art. 333, caput epargrafo nico, do Cdigo Penal e art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98); 19) JOS CABRALPEREIRA FAGUNDES (art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98); 20) JOSEILTON FONSECADA SILVA (art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98); e 21) JOO FRANCISCO GARCIAHERNANDES (art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98), todos devidamente qualificados nosautos, pelas condutas delituosas consubstanciadas nos fatos narrados na exordial:

    Os denunciados EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, DICKSON RICARDO NASSER DOS SANTOS, GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO, TIRSO RENATO DANTAS, ADO ERIDAN DE ANDRADE, ADENBIO DE MELO GONZAGA, ALUISIO MACHADO CUNHA, ANTNIO CARLOS JESUS DOS SANTOS, JLIO HENRIQUE NUNESPROTSIO DA SILVA, FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO, EDSONSIQUEIRA DE LIMA, SALATIEL MACIEL DE SOUZA e EDVAN MARTINSTEIXEIRA, no curso do processo legislativo de elaborao do novo Plano

    Diretor do Municpio de Natal, durante o primeiro semestre e incio dosegundo semestre do ano de 2007, aceitaram, para si, promessa de vantagemindevida, para que, no exerccio dos mandatos de vereador do municpio de

    Natal, votassem conforme os interesses de um grupo de empresrios do ramoimobilirio e da construo civil, que se formou para corromper, mediante

    pagamento de dinheiro, as conscincias dos representantes do povonatalense (art. 317, caput, do CP). Os denunciados, vereadores do Municpiode Natal, estimulados pelo oferecimento e a promessa da vantagem indevida,em valores iguais ou superiores a trinta mil reais (R$ 30.000,00) para cadaum deles, obedecendo a uma tabela previamente escalonada de valores,

    formaram um grupo coeso que se articulou entre si durante todo o processolegislativo mencionado sob a promoo, organizao e direo dodenunciado EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, que, como EngenheiroCivil, em face das suas relaes pessoais com empresrios dos ramos daconstruo civil e imobilirio, funcionou como elo de ligao entre os edis eos empresrios (art. 62, inciso I, do CP). O denunciado DICKSON

    RICARDO NASSER DOS SANTOS, igualmente, em posio inferior apenas ado denunciado EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, promoveu e organizoua cooperao no crime e dirigiu a atividade dos demais agentes, valendo-se

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    inclusive da qualidade de Presidente da Cmara Municipal de Natal parasustar o pagamento do subsdio do denunciado SID MARQUES FONSECA,

    para obrig-lo a votar conforme os interesses do grupo de vereadoresintegrantes do grupo contratado pelos corruptores (art. 62, inciso I, do CP).Em razo da aceitao da promessa da vantagem indevida, os denunciadosEMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, DICKSON RICARDO NASSER DOSSANTOS, GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO, TIRSO RENATO

    DANTAS, ADENBIO DE MELO GONZAGA, ALUISIO MACHADOCUNHA, ANTNIO CARLOS JESUS DOS SANTOS, JLIO HENRIQUE

    NUNES PROTSIO DA SILVA, FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO,EDSON SIQUEIRA DE LIMA e SALATIEL MACIEL DE SOUZA votaram,com xito, conforme acertado com os empresrios corruptores, pela rejeiodos vetos do Chefe do Executivo s emendas parlamentares ao Plano Diretorde Natal, na sesso da Cmara Municipal do dia 03.07.2007, assim

    praticando ato de ofcio com infrao de dever funcional (art. 317, 1, doCP). O denunciado SID MARQUES FONSECA, por sua vez, nesseinterregno, postulou e aceitou assumir o mandato de vereador, na qualidadede suplente do vereador ADO ERIDAN DE ANDRADE, durante licenamdica deste, sob a condio de votar de acordo com o grupo chefiado porEMILSON MEDEIROS DOS SANTOS durante o processo legislativo de

    elaborao do novo Plano Diretor do Municpio de Natal, de modo aassegurar o pagamento da vantagem indevida prometida pelos empresrios,em dinheiro, no valor de trinta mil reais (R$ 30.000,00) para outrem, otitular do mandato, o denunciado ADO ERIDAN DE ANDRADE, assimcomo postulou diretamente a empresrios integrantes do grupo corruptor,aps a sesso de apreciao dos vetos do Chefe do Executivo ao projeto finalaprovado pela Cmara Municipal, ocorrida no dia 03/07/2007, o pagamentoda vantagem indevida prometida ao denunciado ADO ERIDAN DE

    ANDRADE (art. 317, caput, do CP). Os denunciados KLAUS CHARLIENOGUEIRA SERAFIM DE MELO, FRANCISCO DE ASSIS JORGE SOUSAe HERMES SOARES FONSECA, funcionrios da Cmara Municipal de

    Natal e, respectivamente, assessores dos denunciados EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO e

    DICKSON RICARDO NASSER DOS SANTOS, foram incumbidos pelos seussuperiores hierrquicos de cumprirem a ordem manifestamente ilegal dearrecadao da vantagem indevida e distribuio do dinheiro pago pelosempresrios no dia 03.07.2007 e nos dias que se seguiram, praticando ocrime em co-autoria (art. 317, caput e 1 c/c art. 29 do CP). Osdenunciados KLAUS CHARLIE NOGUEIRA SERAFIM DE MELO,FRANCISCO DE ASSIS JORGE SOUSA e HERMES SOARES FONSECAocupam funes de confiana na Cmara Municipal de Natal, assessorando,respectivamente os denunciados EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS,GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO e DICKSON RICARDO NASSER

    DOS SANTOS (art. 327, 2 do CP). O denunciado RICARDO CABRAL ABREU, empresrio do ramo imobilirio, e sua esposa CRISTIANEBARRETO AMARAL ABREU, ofereceram e pagaram vantagem indevida, no

    dia 03.07.2007, de cem mil reais (R$ 100.000,00) aos vereadoresdenunciados, fazendo-o por meio de dois cheques de cinqenta mil reais (R$50.000,00), ordenados pelo denunciado RICARDO CABRAL ABREU, naqualidade de dirigente da pessoa jurdica ABREU IMVEIS LTDA., eassinados, com pleno conhecimento da sua destinao, pela denunciadaCRISTIANE BARRETO AMARAL ABREU, favorecendo nominalmenteFRANCISCO DE ASSIS JORGE SOUSA, assessor do denunciadoGERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO, destacado para esse fim pelogrupo de vereadores corrompido chefiados pelo denunciado EMILSON

    MEDEIROS DOS SANTOS (art. 333, caput, do CP). Em virtude dooferecimento e pagamento da vantagem indevida pelos denunciados

    RICARDO CABRAL ABREU e CRISTIANE BARRETO AMARAL ABREU eoutros corruptores ainda no identificados, acertada previamente com o

    denunciado EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, este e os denunciados DICKSON RICARDO NASSER DOS SANTOS, GERALDO RAMOS DOS

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    SANTOS NETO, TIRSO RENATO DANTAS, ADENBIO DE MELOGONZAGA, ALUISIO MACHADO CUNHA, ANTNIO CARLOS JESUS

    DOS SANTOS, JLIO HENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA,FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO, EDSON SIQUEIRA DE LIMA eSALATIEL MACIEL DE SOUZA votaram, com xito, conforme acertado comos empresrios corruptores, pela rejeio dos vetos do Chefe do Executivo semendas parlamentares ao Plano Diretor de Natal, na sesso da Cmara

    Municipal do dia 03.07.2007, assim praticando ato de ofcio com infrao dedever funcional (art. 333, pargrafo nico, do CP). Os denunciados JOSCABRAL PEREIRA FAGUNDES, JOO FRANCISCO GARCIA

    HERNANDES e JOSEILTON FONSECA DA SILVA, em co-autoria com odenunciado RICARDO CABRAL ABREU, com o propsito de dissimular amovimentao, a origem, o destino (aos vereadores denunciados) e anatureza da vantagem indevida, em dinheiro, paga pelos denunciados

    RICARDO CABRAL ABREU e CRISTIANE BARRETO AMARAL ABREU,atravs dos dois cheques de cinqenta mil reais (R$ 50.000,00), emitidos em

    favor de FRANCISCO DE ASSIS JORGE SOUSA, decorrente dos crimesantecedentes de corrupo ativa e passiva, contra a administrao pblica,

    forjaram um contrato de compra e venda de imvel, em que o primeiro, odenunciado JOS CABRAL FAGUNDES, figura como vendedor de um

    apartamento no Edifcio Riomar, na Avenida Deodoro da Fonseca, nestacapital. O segundo, o denunciado JOO FRANCISCO GARCIA HERNANDES, juntamente com o denunciado JOSEILTON FONSECA DASILVA, apresentam-se como testemunhas no documento. Por ltimo, odenunciado RICARDO CABRAL ABREU consta no documento comocomprador do imvel (art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98). Em face domencionado documento, apreendido em diligncia de busca e apreenso naresidncia do denunciado RICARDO CABRAL ABREU no dia 27/07/2007,

    firmou-se como libi dos denunciados RICARDO CABRAL ABREU eCRISTIANE BARRETO AMARAL ABREU no inqurito policial a explicaode que os referidos cheques, no valor total de cem mil reais (R$ 100.000,00)significaram a primeira parcela do pagamento da suposta compra doapartamento de JOS CABRAL PEREIRA FAGUNDES, dissimulando, como

    se fora negcio lcito, a movimentao, a origem, a destinao ilcita e anatureza dos valores pagos aos vereadores.

    Continuando, afirmou o Ministrio Pblico que:

    Em data de 07 de maio de 2007 foi instaurada no mbito desta Promotoriade Justia a Pea de Informao n 081/07, em face de representao

    formulada pelo frum de entidades de Me Luiza, em que solicitada aabertura de investigaes para comprovar a veracidade de dennciasrelativa a um esquema de corrupo de vereadores para aprovao deemendas ao Projeto de Lei do novo Plano Diretor de Natal. A aludidarepresentao, que vem assinada por representantes de entidades ligadas aobairro de Me Luiza, acompanhada por cpia de jornais contendo trechoda coluna do jornalista Woden Madruga, publicada no dirio Tribuna do

    Norte, no qual relatado pelo referido jornalista que, em uma conversa comum advogado, este teria lhe dito que nessa his tria do Plano Diretor de

    Natal, em discusso na Cmara de Vereadores, tem emenda valendoapartamento at de 4 sutes. Instaurado o procedimento em apreo, foi

    juntado aos autos em data de 11 de maio de 2007 o ofcio n 134/2007-OUV,oriundo da Ouvidoria do Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do

    Norte, encaminhando denncia por e-mail, formulada pelo cidado Dimirson Holanda Cavalcante, noticiando a informao publicada na coluna da jornalista Eliana Lima, no Jornal de Hoje, edio de 24 de abril de 2007,insinuando a existncia de dois milhes de motivos que podem levar muitoscarros novos para a Cmara de Vereadores de Natal. As especulaes daimprensa ganharam contornos reais no dia 28.06.2007, quando compareceuespontaneamente, perante a Promotoria de Justia de Defesa do Patrimnio

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    Pblico, a Procuradora do Municpio de Natal MARISE COSTA DE SOUZADUARTE, ocasio em que prestou o seguinte depoimento: QUE na manhde ontem, dia 27.06.2007, por volta das 10:00h, foi procurada no prdio daProcuradoria Geral do Municpio pelo vereador SID FONSECA; QUE sereuniu com o vereador SID FONSECA na sala de Reunies da sede daProcuradoria; QUE o vereador SID FONSECA foi tratar de assuntos do seuinteresse como parlamentar; QUE a estagiria BEATRIZ foi quemcomunicou declarante a chegada do vereador SID FONSECA no prdio daProcuradoria; QUE durante a conversa, o vereador SID FONSECA semostrou muito angustiado com a votao dos vetos do prefeito Municipal semendas feitas pela Cmara Municipal ao Novo Plano Diretor de Natal; QUEo vereador SID FONSECA relatou que atualmente estava substituindo, nacondio de suplente, o vereador ADO ERIDAN, que se encontra em gozode licena mdica com durao de dois meses; que o vereador SIDFONSECA tambm relatou que havia assumido um compromisso denatureza poltica com o vereador ADO ERIDAN de, no perodo em que oestivesse substituindo, votar sob a orientao dele (ADO ERIDAN); QUEdurante as discusses parlamentares, j no exerccio do mandato de vereador,SID FONSECA percebeu que o melhor para a cidade seria a manuteno dosvetos que o Prefeito havia feito s emendas dos vereadores, principalmente

    porque, segundo ele, havia se convencido dos argumentos tcnicosapresentados pelo Ministrio Pblico e pelo Prefeito; QUE SID FONSECA,juntamente com os demais membros da Comisso de Educao e Sade daCmara Municipal, promoveu a realizao de uma audincia pblica naCmara Municipal de Natal especificamente para discutir odesenvolvimento sustentvel da regio norte, em virtude da emenda n 03ao Plano Diretor, considerada a mais polmica das emendas dos vereadores;QUE SID FONSECA tambm promoveu uma discusso em uma comunidadecatlica que ele faz parte para discutir o mesmo assunto, convidando aPromotora de Justia de Defesa do Meio Ambiente, Gilka da Mata Dias parao encontro; QUE durante o encontro, os padres que participaram da discussose convenceram de que o melhor para a cidade seria a manuteno do veto doprefeito emenda n 03; QUE SID FONSECA procurou o vereador ADO

    ERIDAN com o intuito de obter a liberao do compromisso poltico firmadocom ele, pois no tinha a compreenso do alcance desse compromissoquando o mesmo foi firmado; QUE nesse momento ADO ERIDAN,segundo o relato de SID FONSECA, afirmou que estava com dificuldadesfinanceiras e precisava receber os quinze mil reais (R$ 15.000,00) queestavam sendo prometidos pelo voto a favor do compromisso de aprovar asemendas e derrubar os vetos; QUE ADO ERIDAN, ainda segundo o relatode SID FONSECA declarante, mostrou a SID FONSECA documentosrelacionados a pendncias financeiras que possua e disse que precisava dodinheiro para saldar esses compromissos; QUE ADO ERIDAN tambmafirmou SID FONSECA, segundo o relato deste, que o voto dele j era odcimo sexto (16) entre os vereadores de Natal e que ele foi o ltimo a aderir tabela, j que eram necessrios apenas quatorze para aprovao das

    emendas; QUE segundo SID FONSECA, ADO ERIDAN estava cobrandoo compromisso assumido porque o recebimento do dinheiro, ou parte dele,est condicionado aprovao final das emendas, com a derrubada dos vetosdo Prefeito; QUE efetivamente as emendas dos vereadores obtiveramdezesseis votos; QUE os vereadores que votaram a favor das emendas soADO ERIDAN, AQUINO NETO, JLIO PROTSIO, EDVANMARTINS, CARLOS SANTOS, EMILSON MEDEIROS, ADENBIOMELO, PROFESSOR LUIZ CARLOS, ALUIZIO MACHADO, RENATODANTAS, SALATIEL DE SOUZA, SARGENTO SIQUEIRA, DICKSONNASSER, ENILDO ALVES, GERALDO NETO e BISPO FRANCISCO DEASSIS; QUE SID FONSECA no revelou nem a declarante perguntou quemestava financiando o esquema de pagamento aos vereadores de Natal; QUESID FONSECA pediu declarante que conseguisse a interveno de algum

    pudesse interceder junto ao vereador ADO ERIDAN para que o liberassedo compromisso; QUE a declarante se sentiu obrigada a comunicar esse fato,

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    porque uma Procuradora do Municpio de Natal, com o compromisso com alegalidade e a moralidade no trato da coisa pblica, e porque, at mesmofuncionalmente existe a obrigao de que, havendo o conhecimento de fatocriminoso, comunicar a quem de direito. Na mesma data (28.06.2007),tambm prestou depoimento a Promotora de Justia de Defesa do Meio

    Ambiente de Natal GILKA DA MATA DIAS, que declarou: QUE adeclarante Promotora de Justia de Defesa do Meio Ambiente da Comarcade Natal-RN; QUE no exerccio das funes de Promotora de Justia doMeio Ambiente a declarante vem acompanhando a elaborao do Projeto deReviso do Plano Diretor da Cidade de Natal-RN desde 2004; QUE agora noano de 2007 a declarante acompanhou toda a discusso e votao do novoPlano Diretor de Natal-RN; QUE a declarante compareceu s audinciaspblicas realizadas pela Cmara Municipal de Natal-RN, bem como svotaes; QUE em razo de todas estas atuaes a declarante teve muitocontato com a sociedade civil organizada; QUE durante esse processo deacompanhamento da votao do plano diretor, a declarante recebeu vriospedidos para apurao de possvel compra de votos de vereadores durante oprocesso de votao do Plano Diretor de Natal; QUE a declarante orientou aspessoas que procurassem a Promotoria de Justia de Defesa do PatrimnioPblico da Comarca de Natal-RN, que tem atuao especifica para tal

    finalidade; QUE nas audincias em que esteve acompanhando as votaes naCmara Municipal de Natal presenciou o clamor da sociedade que gritou emcoro VENDIDO para os vereadores que votaram pela aprovao dasemendas; QUE a declarante presenciou ainda, nas galerias da CmaraMunicipal de Natal, cartaz com a expresso 30.000 razes, como se fossereferncia ao valor supostamente recebido por algum vereador em troca dovoto. Diante dos graves fatos noticiados, especialmente os relatados pelaProcuradora MARISE COSTA DE SOUZA DUARTE, de que a votao deapreciao dos vetos do Prefeito CARLOS EDUARDO NUNES ALVES semendas ao Plano Diretor de Natal, que ocorreria em 03 de julho de 2007,estava irremediavelmente viciada pela corrupo dos referidos edis, queestariam todos vinculados ao voto pela derrubada do veto, este rgo

    Ministerial expediu imediata requisio de inqurito policial Delegacia de

    Defesa do Patrimnio Pblico e requereu ao Poder Judicirio, no dia29.06.2007, a interceptao de comunicaes telefnicas de dezesseis (16)dos vinte e um (21) vereadores do municpio, indicando os nmerostelefnicos cadastrados junto ao Cerimonial da Prefeitura Municipal de

    Natal. A interceptao das comunicaes telefnicas, por excelncia o meiode prova, seno o nico (art. 2, inciso II, da Lei n 9.296/96), que melhordocumenta as relaes clandestinas de esquemas de corrupo, logroucomprovar amplamente, com uma riqueza de detalhes nunca antes vista em

    provas dessa espcie (somente nesta denncia so reproduzidos 114 dilogosentre os denunciados), o esquema de corrupo relatado Procuradora

    Municipal Marise Costa de Souza Duarte pelo denunciado SID MARQUESFONSECA, que noticiou a ela a existncia de um esquema de corrupoenvolvendo dezesseis vereadores de Natal, os quais aderiram a uma

    tabela de propina para garantir a aprovao final, incluindo a derrubadados vetos do Executivo, das emendas parlamentares ao Plano Diretor,conforme ser demonstrado. A prova amealhada registra conversas queefetivamente comprovam que as emendas parlamentares ao Plano Diretor de

    Natal, que haviam sido vetadas pelo Chefe do Executivo, foram negociadascom os corruptores atravs do denunciado EMILSON MEDEIROS DOSSANTOS, assim como identifica os vereadores que aderiram ao grupocorrompido, conforme havia relatado inicialmente a Procuradora Municipal

    Marise Costa de Souza Duarte.

    Por deciso da colenda Cmara Criminal do Egrgio Tribunal deJustia do Rio Grande do Norte (HC n 2008.006957-2), mantida pelo Superior Tribunal de

    Justia (REsp n 1.107.199) e pelo Supremo Tribunal Federal (RE n 629710), a acusada

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    CRISTIANE BARRETO AMARAL ABREU foi excluda do plo passivo da presentedemanda.

    A denncia foi recebida em 23 de julho de 2008 (fls. 90/95vol. 06),tendo em vista o preenchimento dos requisitos formais previstos nos artigos 41 do Cdigo deProcesso Penal. A pea inaugural contm transcries de udios das interceptaes telefnicas

    judicialmente deferidas, menciona documentos, termos de apreenses e diversos materiaisapreendidos, todos acostados aos autos.

    Citados, os acusados JOSEILTON FONSECA DA SILVA,FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO, JOO FRANCISCO GARCIAHERNANDES, TIRSO RENATO DANTAS, ANTNIO CARLOS JESUS DOSSANTOS, ALUISIO MACHADO CUNHA, ADO ERIDAN DE ANDRADE,DICKSSON RICARDO NASSER DOS SANTOS, RICARDO CABRAL ABREU, JOSCABRAL PEREIRA FAGUNDES, SALATIEL MACIEL DE SOUZA, EDIVANMARTINS TEIXEIRA, JLIO HENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA,GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO, SID MARQUES DA FONSECA, EDSON

    SIQUEIRA DE LIMA, ADENBIO DE MELO GONZAGA, HERMES SOARESFONSECA, FRANCISCO DE ASSIS JORGE SOUZA, KLAUS CHARLIENOGUEIRA SERAFIM DE MELO e EMILSON MEDEIROS DOS SANTOSapresentaram suas defesas iniciais, respectivamente, s fls. 54/73, Vol. 14; 83/95, Vol. 14;169/186, Vol. 14; 28/48, Vol. 15; 78/96, Vol. 15; 104/139, Vol. 15; 06/40, Vol. 17; 79/134,VoU7; 15/31, Vol. 19; 159/165, Vol. 19; 175/191, Vol. 19; fls. 07/40, Vol. 20; 68/98, Vol. 20;122/165, Vol. 20; 187/189, Vol. 20; 53/85, Vol. 21; 82/96, Vol. 23; 99/114, Vol. 23; 197/222,Vol. 23; e 142/224, Vol. 24, sendo requeridas a absolvio sumria, com fundamento naatipicidade de conduta, e argidas preliminares de nulidade absoluta do processo e dedeterminadas provas, alm da incompetncia absoluta do juzo e da falta de justa causa para oregular prosseguimento da presente ao penal.

    Prestigiando-se o princpio do contraditrio, foi dada vista aoMinistrio Pblico, que, por sua vez, contestou individualmente cada um dos pedidospreliminares, tendo, ao final, pugnado pelo indeferimento de todos eles e, requereu, ainda, oprosseguimento do feito com o aprazamento da audincia de instruo e julgamento. Aspreliminares e requerimentos contidos nas defesas foram apreciados, sendo indeferidos, sendodado seguimento instruo.

    Na audincia de instruo e julgamento realizada em 25 de agosto de2009, s 09:00h (fls. 105/106, vol. 33), foram inquiridas as testemunhas Marise Costa de

    Souza Duarte, Rui Cadete, Luciane Alves da Silveira, Fernando Lucena, Maria VirgniaFerreira Lopes, Francisco Elisio Granja e Nivaldo Caravina, todas arroladas na Denncia. AsDefesas dos acusados Adenbio Melo e Dickson Nasser contraditaram a testemunhaFernando Lucena, o que foi deferido pelo juzo, nos termos dos artigos 400, 1, e 401, 1,do Cdigo de Processo Penal.

    Aps a oitiva das testemunhas arroladas pela Acusao, foi aprazada aaudincia de continuao para 25 de agosto de 2009, s 15:00h (fls. 131/132, vol. 33),quando foram inquiridas as testemunhas Stnio Petrovich Pereira, Nio Lcio Archanjo, JosEdilson Bezerra, Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto, Francisco Adalberto Pessoa deCarvalho e Wilson Cardoso, arroladas pela defesa do acusado Emilson Medeiros dos Santos;

    e a testemunha Francisco Gilson Dias Aires de Carvalho, arrolada na defesa do acusado

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    Dickson Ricardo Nasser dos Santos. A Defesa do acusado Geraldo Ramos dos Santos Netorequereu a dispensa das oitivas das testemunhas Joaquim Xavier da Silva Jnior e AdemiresSilva Machado.

    Na audincia de continuao realizada em 26 de agosto de 2009, s09:00h (fls. 134/137, vol. 33), foram inquiridas as testemunhas Irapu Nbrega e Raul Isaac

    Nbrega, ambas arroladas pela Defesa do acusado Renato Tirso Dantas; bem como astestemunhas Joanilson de Paula Rgo e Monsenhor Lucas Batista, arroladas pela Defesa doacusado Sid Fonseca. Contudo, foi requerida a excluso do depoimento da testemunhaJoanilson de Paula Rgo dos autos, sob a alegao de impedimento, o que foi reconhecido edeferido pelo juzo. A testemunha Marinsio Manoel de Freitas, arrolada pela Defesa doacusado Sid Fonseca, foi contraditada, sendo deferida, tomando-se o depoimento em termo dedeclaraes. A Defesa do acusado Antnio Carlos Jesus dos Santos requereu a dispensa dasoitivas das testemunhas Cludio Rgio da Silva Bezerra e Carlos Augusto Tcio. No mesmosentido, a defesa dos rus Adenbio Melo e dson Siqueira de Lima requereu a dispensa dasoitivas das testemunhas Maria Snia Bezerra e Elias Nunes.

    No dia 26 de agosto de 2009, s 15:00 (fls. 139/142, vol. 33), teveseguimento a audincia de continuao, foram inquiridas as testemunhas Antnio GeovaniArajo e Maria de Ftima Arajo de Oliveira, e dispensadas as oitivas das testemunhasValtcio Bento da Silva e Maria Snia Bezerra, todas arroladas pela defesa dos acusadosEDSON SIQUEIRA DE LIMA e ADENBIO DE MELO GONZAGA; foi inquirida atestemunha Francisco Ney Carvalho de Arajo, arrolada pela defesa do acusado SALATIELMACIEL DE SOUZA, e dispensada a oitiva da testemunha Lauro Astrogildo Leite de Souza;e inquiridas as testemunhas Joo Bosco Barreto Duclerc Pinheiro e Carlos Antnio Arajo dePaiva, arroladas pela defesa do acusado EDIVAN MARTINS TEIXEIRA, sendo dispensadasas oitivas das testemunhas Carlos Eduardo Nunes Alves e Eduardo Augusto Pires dos Anjos.Na mesma audincia, a defesa do acusado DICKSON RICARDO NASSER DOS SANTOSrequereu que no fosse exibido durante o ato processual o udio gravado em interceptaotelefnica judicialmente autorizada relativa ao dilogo entre a testemunha Francisco NeyCarvalho de Arajo e o acusado Salatiel Maciel de Souza, sob a alegao da ausncia de autocircunstanciado das gravaes, contudo foi indeferida a irresignao, assentando-se,novamente, que os udios contidos na denncia, formulada atravs de petio eletrnica peloMinistrio Pblico, poderiam ser reproduzidos durante a audincia de instruo, seja para astestemunhas, os declarantes e/ou os prprios acusados.

    Dando prosseguimento instruo criminal, na audincia decontinuao do dia 27 de agosto de 2009, s 09:00h (fls. 146/147, vol. 33), foram ouvidas as

    testemunhas Rosngela Kalina Veloso da Silva, Paulo Csar Ferreira da Costa, Heitor deAndrade Silva e Dimirson de Holanda Cavalcante, arroladas pela Defesa de JLIOHENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA, e dispensada a testemunha Aldo Tinoco Filho,arrolada pela defesa do acusado ALUIZIO MACHADO CUNHA.

    Em seguida, foi realizada audincia de continuao em 27 de agostode 2009, s 15:00h (fls. 151/152, vol. 33), quando foram inquiridas as testemunhas GeorgeTenrio de Noronha e Jos Arno Galvo, arroladas pela Defesa do acusado JOS CABRALPEREIRA FAGUNDES, tendo sido dispensada a oitiva da testemunha Honrio Barbalho deMeirs Grillo; Rozana de Oliveira Anselmo e Digenes Lima de Arajo Filho, arroladas pelaDefesa do acusado JOSEILTON FONSECA DA SILVA; Jos Ailton da Cunha, arrolada na

    Defesa do acusado JOO FRANCISCO GARCIA HERNANDES; alm de Antnio Srgio

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    Fuziama, testemunha arrolada pelas defesas dos mesmos acusados, Joseilton e Hernandes. Porfim, foram dispensadas as oitivas das testemunha Renato Alexandre Maciel Gomes Netto,Waldemir Bezerra de Figueiredo, Lencio Luiz de Carvalho e Luiz Clio Soares, todasarroladas pela Defesa do acusado RICARDO CABRAL ABREU.

    O depoimento da testemunha Slvio Bezerra, arrolada pela Defesa do

    acusado JLIO HENRIQUE NUNES PROTSIO, foi tomado na audincia de continuaoocorrida em 28 de agosto de 2009, s 09:00h (fls. 153/154, vol. 33). NA oportunidade, oMinistrio Pblico requereu a oitiva da testemunha Carlos Eduardo Nunes Alves paraesclarecer fatos declarados no depoimento da testemunha Joo Bosco Duclerc Pinheiro, sendodeferido. Ainda no decorrer da audincia, a defesa do acusado SID MARQUES FONSECAapresentou requerimento para que fosse inquirida a pessoa do delegado de polcia civil JlioAntnio Rocha, com oposio da defesa do acusado ALUSIO MACHADO CUNHA, emdissonncia com o parecer favorvel do Ministrio Pblico, que pugnou pelo deferimento. Opedido foi indeferido por este juzo, conforme deciso de fls. 186/188 (vol. 33).

    Na audincia de continuao realizada em 04 de setembro de 2009, s

    09:00h (fls. 135/136, vol. 34), a testemunha Gilka da Mata (Promotora de Justia) foicontraditada pelo advogado Armando Holanda (OAB/RN 532), juntamente com os advogadosFelipe Cortez (OAB/RN 3640) e Leonardo Palitot (OAB/RN 6250), tendo o MinistrioPblico pugnado pela inquirio da mesma. Entretanto, conforme a deciso contida no finaldo termo de audincia (fls. 135/136, vol. 34), a referida testemunha foi excluda do rolapresentado pela Defesa do acusado SID FONSECA, nos termos dos artigos 213 e 214 doCdigo de Processo Penal

    Prosseguindo-se a instruo criminal, na audincia de continuaorealizada no dia 17 de setembro de 2009, s 09:00h (fls. 200/201, vol. 34), o advogadoArmando Holanda contraditou a testemunha Carlos Eduardo Nunes Alves, nos termosigualmente levantados na audincia anterior, porm a testemunha declarou no ter nenhumimpedimento em depor sobre os fatos constantes nos autos, sendo inquirida, com oindeferimento da contradita.

    Os interrogatrios dos rus comearam na audincia de continuaorealizada em 04 de maro de 2010, s 09:00h (Termo de fls. 151/152, vol. 61), quando foramcolhidos os depoimentos dos acusados JOS CABRAL PEREIRA FAGUNDES, SALATIELMACIEL DE SOUSA, JOSEILTON FONSECA DA SILVA, EDIVAN MARTINSTEIXEIRA, JLIO HENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA e SID MARQUESFONSECA.

    Por fim, na ltima audincia de continuao realizada, em 11 demaro de 2010, s 10:00h (fls. 04/05, vol. 73), foram concludos os interrogatrios dosacusados, sendo inquiridos JOO FRANCISCO GARCIA HERNANDES e RICARDOABREU. Todos os acusados interrogados negaram as acusaes que lhe foram feitas. Osdemais rus renunciaram ao direito de ser ouvidos em juzo.

    Diversos despachos e decises foram proferidos na fase pr-processual e no curso da ao penal, no merecendo transcrio neste relatrio, haja vistaintegrarem os autos e o prprio contexto instrutrio sobejamente explorado pelas partes,sendo desnecessria tal repetio.

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    Nas suas alegaes finais (fls. 01/162 do vol. 78), o MinistrioPblico, considerando provadas as condutas delituosas narradas na denncia, requereu aprocedncia dos pedidos nela deduzidos, condenando-se os rus da seguinte forma: 1)EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal, observando-se a aplicao da agravante prevista no art. 62, inciso I, do Cdigo Penal); 2) DICKSONRICARDO NASSER DOS SANTOS (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal, observando-se

    a aplicao da agravante prevista no art. 62, inciso I, do Cdigo Penal); 3) ADO ERIDANDE ANDRADE (art. 317, caput e 1, do Cdigo Penal); 4) GERALDO RAMOS DOSSANTOS NETO (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 5) TIRSO RENATO DANTAS(art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 6) ADENBIO DE MELO GONZAGA (art. 317,capute 1, do Cdigo Penal); 7) EDSON SIQUEIRA DE LIMA (art. 317, capute 1, doCdigo Penal); 8) ALUISIO MACHADO CUNHA (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal);9) JLIO HENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA (art. 317, capute 1, do CdigoPenal); 10) FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO (art. 317, caput e 1, do CdigoPenal); 11) EDIVAN MARTINS TEIXEIRA (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 12)SALATIEL MACIEL DE SOUZA (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal); 13) ANTNIOCARLOS JESUS DOS SANTOS (art. 317, caput e 1, do Cdigo Penal); 14) KLAUS

    CHARLIE NOGUEIRA SERAFIM DE MELO (art. 317, capute 1 , do Cdigo Penal c/cart. 29 do Cdigo Penal, observando-se a causa de aumento de pena prevista no art. 327, 2do Cdigo Penal); 15) FRANCISCO DE ASSIS JORGE SOUSA (art. 317, capute 1 , doCdigo Penal c/c art. 29 do Cdigo Penal, observando-se a causa de aumento de pena previstano art. 327, 2 do Cdigo Penal); 16) HERMES SOARES FONSECA (art. 317, capute 1, do Cdigo Penal c/c art. 29 do Cdigo Penal, observando-se a causa de aumento de penaprevista no art. 327, 2 do Cdigo Penal); 17) SID MARQUES FONSECA (art. 317, caput,do Cdigo Penal c/c art. 29 do Cdigo Penal); 18) RICARDO CABRAL ABREU (Art. 333,capute pargrafo nico, do Cdigo Penal e art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98); 19) JOSCABRAL PEREIRA FAGUNDES (art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98); 20) JOOFRANCISCO GARCIA HERNANDES (art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98); e 21)JOSEILTON FONSECA DA SILVA (art. 1, inciso V, da Lei n 9.613/98).

    Tambm pugnou, com fulcro no artigo 92, inciso I, alneas a e b,do Cdigo Penal, considerando que as condutas narradas na denncia implicam em violaode dever para com a Administrao Pblica, a decretao da perda do cargo, funo pblicaou mandato eletivo de EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, DICKSON RICARDONASSER DOS SANTOS, GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO, TIRSO RENATODANTAS, ADO ERIDAN DE ANDRADE, ADENBIO DE MELO GONZAGA,ALUISIO MACHADO CUNHA, ANTNIO CARLOS JESUS DOS SANTOS, JLIOHENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA, FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO,

    EDSON SIQUEIRA DE LIMA, SALATIEL MACIEL DE SOUZA, EDVAN MARTINSTEIXEIRA, KLAUS CHARLIE NOGUEIRA SERAFIM DE MELO, FRANCISCO DEASSIS JORGE SOUSA e HERMES SOARES FONSECA.

    Pleiteou, ao final, com fundamento no artigo 91, inciso II, alnea bdo Cdigo Penal, a perda em favor do Estado, do dinheiro apreendido em poder deEMILSON MEDEIROS DOS SANTOS, GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO eEDSON SIQUEIRA DE LIMA, como bem auferido pelos agentes com a prtica do fatocriminoso.

    As alegaes finais dos acusados foram materializadas nos autos naseguinte seqncia, trazendo smulas com os seguintes requerimentos:

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    1) ADO ERIDAN DE ANDRADE, ALUSIO MACHADOCUNHA e FRANCISCO SALES DE AQUINO NETO (fls. 172/226vol. 78): arguiram a(a) preliminar de ilicitude das interceptaes telefnicas (desproporcionalidade),desentranhando-as dos autos, bem como todas as provas dela derivadas; (b) preliminar deilicitude formal das mesmas interceptaes por AUSNCIA DE AUTOCIRCUNSTANCIADO, desentranhando-as dos autos, bem como todas as provas dela

    derivadas; (c) por fim, que seja reconhecida, em face das provas lcitas produzidas nos autos,a inocncia dos acusados, julgando improcedente a Ao Penal e absolvendo os Defendentesde todos os fatos a eles imputados.

    2) HERMES SOARES FONSECA (fls. 02/12 vol. 79): asseverou(a) inexistncia de crime; (b) ausncia de comprovao dos fatos acusatrios; e requereu a sua(c) absolvio (art. 386, incs. V e VII, CP).

    3) KLAUS CHARLIE NOGUEIRA SERAFIM DE MELO (fls.14/42 vol. 79): defendeu a (a) ausncia de dolo (art. 18, CP); (b) ausncia de justa causapara a ao penal; e requereu a (c) improcedncia da ao.

    4) DICKSON RICARDO NASSER DOS SANTOS (fls. 43/99 vol. 79): arguiu (a) preliminar de nulidade das interceptaes telefnicas pela ausncia deauto circunstanciado; e requereu sua (b) absolvio (art. 386, incs. V e VII, CP).

    5) ADENBIO DE MELO GONZAGA, SALATIEL MACIELDE SOUZA e EDSON SIQUEIRA DE LIMA (fls. 100/135vol. 79, com documentos nasfls. 01/200 vol. 80 e 01/71 vol. 81): requereu a (a) absolvio dos acusados quanto aocrime de corrupo passiva qualificada (Artigo 317, 1 do CPB), por no haver prova de queeles tenham concorrido para o cometimento da infrao penal, nos termos do artigo 386,inciso V, do CPP; e a (b) absolvio dos acusados quanto ao crime de corrupo passivaqualificada (Artigo 317, 1 do CPB), por no existir prova suficiente para as suascondenaes, nos termos do artigo 386, inciso VII, do CPP.

    6) JOS PEREIRA CABRAL FAGUNDES (fls. 72/87 vol. 81):alegou que (a) no tinha conhecimento do crime antecedente e (b) a improcedncia dadenncia; requereu a sua (c) absolvio.

    7) EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS (fls. 89/161 vol. 81):argiu a (a) preliminar de pr-questionamento da matria, sob o fundamento da nulidade pelaausncia de auto circunstanciado da degravao e infringncia aos princpios do contraditrio

    e da ampla defesa; defendeu a (b) inexistncia de corrupo; afirmou que a c) renda familiar compatvel com o patrimnio; impugnou a (d) oitiva da testemunha Marise Costa de SouzaDuarte (sic), bem como a (e) transcrio das escutas; requereu a (f) visualizao de todos osCDs (sic), a (g) liberao dos valores apreendidos, a (h) anulao dos depoimentos dastestemunhas arroladas na denncia, por afrontar de forma desonrosa o acusado (sic); requereu,por fim, a (i) improcedncia da denncia.

    8) GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO e FRANCISCO DEASSIS JORGE SOUSA (fls. 164/214vol. 81): arguiram a (a) preliminar de declarao danulidade do processo, a partir do oferecimento da denncia, para que seja oportunizado aosAcusados, aps a transcrio oficial dos dilogos interceptados, um novo oferecimento da

    defesa de que trata os artigos 396 e 396-A do CPP (sic); assim como a (b) preliminar de

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    declarao da nulidade das escutas ambientais realizadas atravs de aparelhos de telefonemvel (sic), bem como das provas que delas decorreram, determinando, via de conseqncia,a excluso do processo, por se constiturem provas ilcitas; a (c) preliminar de declarao danulidade das cintas de papel (sic) que instruem a pea acusatria (11 volume, fls. 152-153),determinando, via de conseqncia, o desentranhamento dos autos da presente ao penal; a(d) preliminar de declarao da nulidade do processo, a partir da fase do art. 402 do CPP, para

    o fim de viabilizar, em favor da defesa, a produo de prova pericial a propsito dainterceptao telefnica (sic); e, superadas as preliminares, props, no mrito, a (e) absolviodos acusados, nos moldes do art. 386, II, do CPP.

    9) RICARDO ABREU (fls. 01/43vol.82): argiu (a) preambular desalvaguarda do art. 155 do CPP, para declarao da nulidade total e absoluta da denncia; a(b) preliminar de nulidade absoluta da denncia (ausncia de contedo tico); a nulidade doprocedimento por (c) violao relao sigilosa cliente/advogado; e a d) inexistncia de dolodireto no crime de lavagem; requerendo a (d) absolvio.

    10) EDIVAN MARTINS TEIXEIRA (fls. 44/77vol. 82): requereu

    a (a) improcedncia da denncia e das alegaes finais do Ministrio Pblico; e a (b)absolvio (art. 386, VII, CPP).

    11) ANTONIO CARLOS JESUS DOS SANTOS (fls. 78/92 vol.82: requereu a (a) improcedncia total da denncia; e a (c) absolvio (art. 386, II, do CPP).

    12) JOSEILTON FONSECA DA SILVA (fls. 93/113 vol. 82):argiu a (a) preliminar de nulidade absoluta do procedimento ministerial por violao inviolabilidade da defesa; a (b) atipicidade da conduta, por inexistncia de crime antecedente lavagem e em face da origem lcita do dinheiro, alm da ausncia de dolo no tipo (objetivo esubjetivo); e requereu a (c) absolvio face a inexistncia do crime de lavagem de dinheiro.

    13) JLIO HENRIQUE NUNES PROTSIO DA SILVA (fls.114/125vol. 82): afirmou a (a) inexistncia de provas do ilcito imputado; e requereu a (b)improcedncia da denncia e a absolvio.

    14) JOO FRANCISCO GRACIA HERNANDES (fls. 126/146 vil. 82): argiu a (a) preliminar de nulidade absoluta do procedimento ministerial por violao inviolabilidade da defesa; a (b) atipicidade da conduta, face a inexistncia de crimeantecedente lavagem, origem lcita do dinheiro, alm da ausncia de dolo no tipo (objetivo esubjetivo); e requereu a (c) absolvio face a inexistncia do crime de lavagem de dinheiro.

    15) TIRSO RENATO DANTAS (fls. 158/200vol. 82): argiu a (a)preliminar de violao do princpio da ampla defesa face a ausncia de transcrio dos udiosoriundos das interceptaes; requereu a (b) inpcia da denncia pela ausncia de descrioindividualizada da conduta (sic); afirmou a (c) ausncia de provas da materialidade e daautoria; e requereu a (d) improcedncia da denncia e a absolvio

    16) SID MARQUES FONSECA (fls. 03/14 vol. 83): alegou a (a)atipicidade da conduta pela inexistncia de corrupo; que (b) mero ato de cogitao oupreparao no configura crime; e requereu a (c) absolvio (art. 386, V, CPP).

    o necessrio relatrio.

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    IIFUNDAMENTAO

    Concluda a instruo processual, estando o feito pronto para julgamento, impe-se, em razo da atual fase procedimental, o exame sobre as provasproduzidas, a fim de serem valoradas as pretenses do Ministrio Pblico e, em contrapartida,as que resultaram da defesa, de modo a ser realizada, diante dos fatos que ensejaram a

    presente persecuo criminal, a prestao jurisdicional do Estado.

    II.1. DAS PRELIMINARES DE DEFESA

    Antes, porm, de passar ao exame do mrito da materialidade e daautoria delitivas imputadas pela acusao, deve ser examinada a matria preliminar suscitadanas defesas dos acusados.

    Cumpre salientar que esta etapa processual no comporta a anlise da justa causa para o ajuizamento da ao penal, uma vez que, alm deste pressuposto nofigurar no rol do artigo 397 do Cdigo de Processo Penal, tal exame de admissibilidade j foi

    devidamente procedido quando do recebimento da inicial, inexistindo, portanto, razo paranovo pronunciamento sobre a matria.

    Feitas as consideraes introdutrias, e tendo em vista a complexidadedo caso e a multiplicidade de rus, passarei a analisar, de forma individualizada, as questespreliminares levantadas em cada uma das alegaes finais apresentadas, na seguinte ordem:

    1) ADO ERIDAN DE ANDRADE, ALUSIO MACHADO CUNHA e FRANCISCOSALES DE AQUINO NETO (fls. 172/226vol. 78):

    a) preliminar de ilicitude das interceptaes telefnicas (desproporcionalidade),

    desentranhando-as dos autos, bem como todas as provas dela derivadas.

    A preliminar suscitada j foi efetivamente decidida por este julgador.Entretanto, renovo a sua apreciao no sentido de que no houve violao do principio daampla defesa, como alegado, na medida em que a transcrio dos dilogos interceptados noera essencial, e sim o conhecimento da integralidade dos udios produzidos durante asinterceptaes judiciais, que possibilitou o exerccio pleno do direito de defesa. Sobre o tema,ressalto, novamente, que o Egrgio Tribunal de Justia do Rio Grande do Norte julgouprejudicada a ordem de habeas corpus n 2008.009108-1, aduzindo sobre a referidapreliminar que: "No bastasse o aduzido, deve-se considerar que o paciente j possui todos os udios das

    comunicaes interceptadas, uma vez que foi disponibilizado todo o contedo em meio magntico, no se

    justificando o requerimento de transcrio dos dilogos por peritos oficiais". Tambm o SuperiorTribunal de Justia decidiu sobre a matria:

    "HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EXTORSO MEDIANTESEQESTRO QUALIFICADO, RECEPTAO E FORMAO DEQUADRILHA. ALEGAO DE NULIDADE DAS INTERCEPTAESTELEFNICAS DETERMINADAS POR JUZO DIVERSO DOPROCESSANTE E SEM AUTORIZAO DESTE POR MEIO DEALVAR. MATRIA NO EXAMINADA PELO TRIBUNAL QUEINVIABILIZA, NESTE PONTO, A ANLISE DO WRIT, SOB PENA DESUPRESSO DE INSTNCIA. ARGUMENTAO DE TER SIDOJUNTADO AOS AUTOS APENAS PARTE DA DEGRAVAO,

    IMPEDINDO O PACIENTE DE EXERCER SUA AMPLA DEFESA.TRANSCRIO DAS DEGRAVAES ENVOLVENDO O

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    PACIENTE. PREJUZO NO CONFIGURADO, UMA VEZ QUE ORU TEVE ACESSO S FITAS MAGNTICAS ANTES DASENTENA CONDENATRIA E NO APRESENTOU QUALQUERIMPUGNAO OU PEDIDO DE PRODUO DE PROVACOMPLEMENTAR. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E,NESTA EXTENSO, DENEGADA, EM CONFORMIDADE COM OPARECER MINISTERIAL. (...) 2. No h que se falar em cerceamento dedefesa ou ofensa ao princpio do contraditrio se o ru teve acesso sfitas magnticas, bem como oportunidade de impugn-las antes daprolao da sentena condenatria. 3. O art. 90. da Lei 9.296/96 autorizaat mesmo a inutilizao, por deciso judicial, da gravao que no interessarao feito; assim, no configura nulidade a ausncia nos autos de todo contedoda interceptao telefnica, mormente quando se procura resguardar aintimidade de terceiros que no dizem respeito ao processo. 4. Ordemparcialmente conhecida e, nesta extenso, denegada". (HC 88098/RS -Relator(a) Ministro NAPOLEO NUNES MAIA FILHO (1133) - rgoJulgador T5 QUINTA TURMA - Data do Julgamento: 20/11/2008 - Datada Publicao/Fonte: DJ, de 19/12/2008). (Grifei).

    Em razo do exposto, julgo improcedente a preliminar pela

    inexistncia de desproporcionalidade entre a medida e seus efeitos, expurgando a alegao denulidade absoluta pela ausncia de transcrio oficial das interceptaes telefnicas

    judicialmente deferidas, bem como das provas delas derivadas.

    b) preliminar de ilicitude formal das mesmas interceptaes por AUSNCIA DE AUTOCIRCUNSTANCIADO, desentranhando-as dos autos, bem como todas as provas deladerivadas.

    No merece melhor sorte a segunda argio preliminar, pois comodecidido pelo STJ:

    (...) 2. No h que se falar em cerceamento de defesa ou ofensa aoprincpio do contraditrio se o ru teve acesso s fitas magnticas, bemcomo oportunidade de impugn-las antes da prolao da sentenacondenatria. 3. O art. 90. da Lei 9.296/96 autoriza at mesmo ainutilizao, por deciso judicial, da gravao que no interessar aofeito; assim, no configura nulidade a ausncia nos autos de todocontedo da interceptao telefnica, mormente quando se procuraresguardar a intimidade de terceiros que no dizem respeito aoprocesso. (HC 88098/RS - Relator(a) Ministro NAPOLEO NUNESMAIA FILHO (1133) - rgo Julgador T5 QUINTA TURMA - Data doJulgamento: 20/11/2008 - Data da Publicao/Fonte: DJ, de 19/12/2008).

    Todos os acusados tiveram acesso integralidade dos udios oriundosdas interceptaes judicialmente autorizadas, portanto a alegao de nulidade por ausncia deauto circunstanciado das interceptaes se constitui em mera irregularidade formal que nocontamina o conjunto probatrio. elucidativa a lio de NUCCI (2007, p. 657) ao afirmarque:

    Esse auto no deve ser utilizado como prova, pois foi produzido sem ocrivo do contraditrio e da ampla defesa. Cuida-se, to-somente, daformalizao dos atos policiais de interceptao, servindo para darsatisfao ao magistrado que autorizou a diligncia. Seria o equivalenteao relatrio da autoridade policial ao findar um inqurito. O efetivoresultado da interceptao o mais importante, devendo ser constitudo,na maior parte das vezes, das gravaes das conversas. Este ser omaterial a ser usado como meio de prova.

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    Ante o exposto, tambm julgo improcedente a preliminar suscitada deilicitude formal das mesmas interceptaes - bem como todas as provas dela derivadas - porausncia de auto circunstanciado, no sendo caso de desentranhamento dos autos.

    2) DICKSON RICARDO NASSER DOS SANTOS (fls. 43/99vol. 79):

    a) preliminar de nulidade das interceptaes telefnicas pela ausncia de auto circunstanciado.

    A preliminar argida no merece prosperar, pois como decidido peloSTJ:

    (...) 2. No h que se falar em cerceamento de defesa ou ofensa aoprincpio do contraditrio se o ru teve acesso s fitas magnticas, bemcomo oportunidade de impugn-las antes da prolao da sentenacondenatria. 3. O art. 90. da Lei 9.296/96 autoriza at mesmo ainutilizao, por deciso judicial, da gravao que no interessar aofeito; assim, no configura nulidade a ausncia nos autos de todo

    contedo da interceptao telefnica, mormente quando se procuraresguardar a intimidade de terceiros que no dizem respeito aoprocesso. (HC 88098/RS - Relator(a) Ministro NAPOLEO NUNESMAIA FILHO (1133) - rgo Julgador T5 QUINTA TURMA - Data doJulgamento: 20/11/2008 - Data da Publicao/Fonte: DJ, de 19/12/2008).

    Todos os acusados tiveram acesso integralidade dos udios oriundosdas interceptaes judicialmente autorizadas, portanto a alegao de nulidade por ausncia deauto circunstanciado das interceptaes se constitui em mera irregularidade formal que nocontamina o conjunto probatrio. elucidativa a lio de NUCCI (2007, p. 657) ao afirmarque:

    Esse auto no deve ser utilizado como prova, pois foi produzido sem ocrivo do contraditrio e da ampla defesa. Cuida-se, to-somente, daformalizao dos atos policiais de interceptao, servindo para darsatisfao ao magistrado que autorizou a diligncia. Seria o equivalenteao relatrio da autoridade policial ao findar um inqurito. O efetivoresultado da interceptao o mais importante, devendo ser constitudo,na maior parte das vezes, das gravaes das conversas. Este ser omaterial a ser usado como meio de prova.

    Ante o exposto, julgo improcedente a preliminar suscitada deilicitude das interceptaes (bem como todas as provas dela derivadas) por ausncia de autocircunstanciado.

    3) EMILSON MEDEIROS DOS SANTOS (fls. 89/161vol. 81):

    a) preliminar de nulidade do processo pela ausncia de auto circunstanciado da degravao einfringncia aos princpios do contraditrio e da ampla defesa.

    A preliminar argida no merece prosperar, pois como decidido peloSTJ:

    (...) 2. No h que se falar em cerceamento de defesa ou ofensa aoprincpio do contraditrio se o ru teve acesso s fitas magnticas, bemcomo oportunidade de impugn-las antes da prolao da sentenacondenatria. 3. O art. 90. da Lei 9.296/96 autoriza at mesmo a

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    inutilizao, por deciso judicial, da gravao que no interessar aofeito; assim, no configura nulidade a ausncia nos autos de todocontedo da interceptao telefnica, mormente quando se procuraresguardar a intimidade de terceiros que no dizem respeito aoprocesso. (HC 88098/RS - Relator(a) Ministro NAPOLEO NUNESMAIA FILHO (1133) - rgo Julgador T5 QUINTA TURMA - Data doJulgamento: 20/11/2008 - Data da Publicao/Fonte: DJ, de 19/12/2008).

    Todos os acusados tiveram acesso integralidade dos udios oriundosdas interceptaes judicialmente autorizadas, portanto a alegao de nulidade por ausncia deauto circunstanciado das interceptaes se constitui em mera irregularidade formal que nocontamina o conjunto probatrio. elucidativa a lio de NUCCI (2007, p. 657) ao afirmarque:

    Esse auto no deve ser utilizado como prova, pois foi produzido sem ocrivo do contraditrio e da ampla defesa. Cuida-se, to-somente, daformalizao dos atos policiais de interceptao, servindo para darsatisfao ao magistrado que autorizou a diligncia. Seria o equivalenteao relatrio da autoridade policial ao findar um inqurito. O efetivo

    resultado da interceptao o mais importante, devendo ser constitudo,na maior parte das vezes, das gravaes das conversas. Este ser omaterial a ser usado como meio de prova.

    Quanto transcrio e visualizao dos udios (sic) e do contedodos DVDs constantes nos autos, tambm no merece deferimento, porque todo o material audvel e visvel em meio magntico, tendo sido devidamente disponibilizado s partes, noconstituindo qualquer transgresso aos princpios do contraditrio e da ampla defesa.

    Ante o exposto, julgo improcedente a preliminar suscitada denulidade do processo pela ausncia de auto circunstanciado da degravao, infringncia aos

    princpios do contraditrio e da ampla defesa, e ilicitude das interceptaes (bem como todasas provas dela derivadas)por ausncia de auto circunstanciado.

    4) GERALDO RAMOS DOS SANTOS NETO e FRANCISCO DE ASSIS JORGESOUSA (fls. 164/214vol. 81):

    a) preliminar de declarao da nulidade do processo, a partir do oferecimento da denncia,para que seja oportunizado aos Acusados, aps a transcrio oficial dos dilogosinterceptados, um novo oferecimento da defesa de que trata os artigos 396 e 396-A do CPP.

    A preliminar suscitada j foi efetivamente decidida por este julgador,

    pois todos os acusados tiveram acesso integralidade dos udios oriundos das interceptaes judicialmente autorizadas. Entretanto, renovo a sua apreciao no sentido de que no houveviolao do principio da ampla defesa, como alegado, na medida em que a transcrio dosdilogos interceptados no era essencial, e sim o conhecimento da integralidade dos udiosproduzidos durante as interceptaes judiciais, possibilitou o exerccio pleno do direito dedefesa. Sobre o tema, ressalto, novamente, que o Egrgio Tribunal de Justia do Rio Grandedo Norte julgou prejudicada a ordem de habeas corpus n2008.009108-1, aduzindo sobre areferida preliminar que: "No bastasse o aduzido, deve-se considerar que o paciente j possui todos os

    udios das comunicaes interceptadas, uma vez que foi disponibilizado todo o contedo em meio magntico,

    no se justificando o requerimento de transcrio dos dilogos por peritos oficiais". Tambm o SuperiorTribunal de Justia decidiu sobre a matria:

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    "HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EXTORSO MEDIANTESEQESTRO QUALIFICADO, RECEPTAO E FORMAO DEQUADRILHA. ALEGAO DE NULIDADE DAS INTERCEPTAESTELEFNICAS DETERMINADAS POR JUZO DIVERSO DOPROCESSANTE E SEM AUTORIZAO DESTE POR MEIO DEALVAR. MATRIA NO EXAMINADA PELO TRIBUNAL QUEINVIABILIZA, NESTE PONTO, A ANLISE DO WRIT, SOB PENA DESUPRESSO DE INSTNCIA. ARGUMENTAO DE TER SIDOJUNTADO AOS AUTOS APENAS PARTE DA DEGRAVAO,IMPEDINDO O PACIENTE DE EXERCER SUA AMPLA DEFESA.TRANSCRIO DAS DEGRAVAES ENVOLVENDO OPACIENTE. PREJUZO NO CONFIGURADO, UMA VEZ QUE ORU TEVE ACESSO S FITAS MAGNTICAS ANTES DASENTENA CONDENATRIA E NO APRESENTOU QUALQUERIMPUGNAO OU PEDIDO DE PRODUO DE PROVACOMPLEMENTAR. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E,NESTA EXTENSO, DENEGADA, EM CONFORMIDADE COM OPARECER MINISTERIAL. (...) 2. No h que se falar em cerceamento dedefesa ou ofensa ao princpio do contraditrio se o ru teve acesso sfitas magnticas, bem como oportunidade de impugn-las antes da

    prolao da sentena condenatria. 3. O art. 90. da Lei 9.296/96 autorizaat mesmo a inutilizao, por deciso judicial, da gravao que no interessarao feito; assim, no configura nulidade a ausncia nos autos de todo contedoda interceptao telefnica, mormente quando se procura resguardar aintimidade de terceiros que no dizem respeito ao processo. 4. Ordemparcialmente conhecida e, nesta extenso, denegada". (HC 88098/RS -Relator(a) Ministro NAPOLEO NUNES MAIA FILHO (1133) - rgoJulgador T5 QUINTA TURMA - Data do Julgamento: 20/11/2008 - Datada Publicao/Fonte: DJ, de 19/12/2008). (Grifei).

    elucidativa a lio de NUCCI (2007, p. 657) ao afirmar que:

    (...) O efetivo resultado da interceptao o mais importante, devendoser constitudo, na maior parte das vezes, das gravaes das conversas.Este ser o material a ser usado como meio de prova.

    Ante o exposto, julgo improcedente a preliminar de declarao danulidade do processo, a partir do oferecimento da denncia, face a inexistncia dedegravaes dos udios das interceptaes judicialmente autorizadas, para que sejaoportunizado aos Acusados, aps a transcrio oficial dos dilogos interceptados, um novooferecimento da defesa de que trata os artigos 396 e 396-A do CPP.

    b) preliminar de declarao da nulidade das escutas ambientais realizadas atravs de aparelhosde telefone mvel, bem como as provas que delas decorreram, determinando, via deconseqncia, a excluso do processo, por se constiturem provas ilcitas.

    Compulsando os autos, nota-se que os dilogos travados entre os rusno foram os nicos elementos utilizados para instruir a acusao, que se fundamentou emvrios outros dilogos, bem como em diversos documentos. importante destacar que todosos dilogos, captados atravs da interceptao telefnica judicialmente autorizada, configuramelementos indicirios autnomos, com existncia prpria. Tal matria foi examinada eafastada quando do julgamento de incidente de falsidade proposto pelo acusado RENATOTIRSO DANTAS, como consta nos autos.

    Assim, verifica-se que o dilogo entre os rus GERALDO RAMOSDOS SANTOS NETO e TlRSO RENATO DANTAS, atravs do telefone 94192855, em

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    03/07/2007, s 21h52m49s, cuja alegao de que teria sido captado por meio de escutaambiental, no o nico elemento probatrio utilizado para instruir a inicial e todo odesenrolar da instruo criminal, ou seja, tanto a denncia apresentada pelo rgoministerial quanto a produo probatria se constitui de vrios outros dilogos interceptados,diversos documentos, depoimentos e laudos tcnicos, sendo o bastante para possibilitar oregular julgamento do presente feito, sem bice de qualquer natureza.

    Assim, julgo improcedente a preliminar de declarao da nulidadedas escutas ambientais, realizadas atravs de aparelhos de telefonia mvel, simplesmenteporque no existiram tais escutas!

    c) preliminar de declarao da nulidade das cintas de papel (sic) que instruem a peaacusatria (11 volume, fls. 152-153), determinando, via de conseqncia, odesentranhamento dos autos da presente ao penal.

    Com relao a preliminar de nulidade das cintas que envolveram odinheiro apreendido na residncia do acusado Geraldo Neto, imperativo registrar que, em se

    tratando de matria probatria, a sua anlise demanda um juzo mais aprofundado, cujoprocedimento se coaduna com o mrito da prpria ao penal. Contudo, no caso, vestibularque a preliminar no se sustenta pois as cintas mencionadas pelo acusado no poderiam estarlistadas no citado Auto de Apreenso, j que envolviam o dinheiro apreendido em suaresidncia e por ele reconhecido como seu, tanto que requereu a sua devoluo, estandotal quantia devidamente relacionada no auto de apreenso acostado ao processo. Portanto, seas cintas envolviam o dinheiro apreendido e reconhecido como de sua propriedade peloprprio acusado, no valor de R$ 77.312,00 (setenta e sete mil e trezentos e doze reais), apreliminar de declarao da nulidade das cintas de papel (sic) que instruem a pea acusatria(11 volume, fls. 152-153), determinando, via de conseqncia, o desentranhamento dos autosda presente ao penal, no merece prosperar, sendo julgada improcedente.

    As cintas objeto do pedido de nulidade no foram as nicasapreendidas com o dinheiro encontrado na casa do acusado em questo, de sorte que, aindaque viessem a ser consideradas ilcitas, no obstariam o regular desenvolvimento nem o

    julgamento da presente ao penal.

    Por outro lado, a alegao de nulidade pela ausncia de autocircunstanciado da busca e apreenso tambm no merece melhor sorte. O acusado noindicou sequer a folha onde estaria o auto de busca e apreenso defeituoso! O procedimentode busca e apreenso, poca, foi materializado em autos apartados dos principais, contandocom relatrio circunstanciado da autoridade policial que presidiu o inqurito originador dapresente demanda penal, passando, aps juntada posterior, a compor os autos da aoprincipal. Neste sentido, colacionados os seguintes julgados:

    APELAO CRIMINAL - BUSCA E APREENSO - AUTOCIRCUNSTANCIADO - AUSNCIA - NULIDADE PROCESSUAL -INCORRNCIA - TRFICO ILCITO DE SUBSTNCIASENTORPECENTES - DESCLASSIFICAO PARA O CRIMETIPIFICADO NO ART. 33, 1, DA LEI ANTIDROGAS - AUTORIA EMATERIALIDADE COMPROVADAS - CONDENAO QUE SE IMPE- POSSE ILEGAL DE OBJETOS DESTINADOS PREPARAO DEDROGAS - DELITO SUBSIDIRIO - PRINCPIO DA CONSUNO -APLICABILIDADE - ASSOCIAO PARA O TRFICO - 'SOCIETAS

    SCELERIS' NO COMPROVADA - ABSOLVIO MANTIDA. 01. Aausncia de auto circunstanciado referente ao cumprimento da ordem

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    judicial de busca e apreenso no constitui nulidade processual, masmera irregularidade administrativa. 02. Comprovado que o agente nopossua substncia entorpecente, mas PRODUTO QUMICO destinado preparao da DROGA, de se desclassificar o crime previsto no art. 33,caput, da Lei n. 11.343/06 para aquele tipificado no primeiro pargrafo domesmo dispositivo legal. 03. Verifica-se a relao consuntiva quando oagente, visando a um fim especial, pratica, mediante uma s conduta, dois oumais delitos distintos. Havendo pluralidade de normas, mas unidade de fato,o crime de trfico absorve a posse ilegal de objeto para preparao de drogas.04. Conquanto a norma insculpida no art. 35 da Lei Antidrogas se refira associao para a execuo reiterada ou no de crimes, de se exigir, para acaracterizao do tipo em testilha, a reunio estvel com finspermanentemente ilcitos, sob pena de se punir a coautoria como se delitoautnomo fosse. No comprovada a 'societas sceleris', mas a mera reunioeventual de dois ou mais agentes, no se os condena pela prtica do crime deassociao para o trfico. (TJMG AP 03424079420088130400 Rel.Fortuna Grion, DJ 02.02.10)

    Alegam os apelantes, ainda, que a busca e apreenso no foi realizada nostermos exigidos pelo 7 do art. 245 do CPP. A ausncia da lavratura do

    termo circunstanciado, aps a busca e apreenso, no entanto, no passa demera irregularidade, pois, alm de todas as pessoas envolvidas na diligncia,inclusive os conduzidos, admitirem a apreenso da droga na casa deFrancisco no dia 07 de novembro de 2006, data do flagrante, o auto deapreenso de fls. 55 descreve todos os bens apreendidos. (Trecho daAPELAO CRIMINAL N 1.0313.06.209702-4/001, TJMG, Relator doAcrdo: Des.(a) MRCIA MILANEZ, Data do Julgamento: 10/07/2007)

    APELAO CRIMINAL - NARCOTRFICO - PRELIMINARES -PRETENDIDA NULIDADE DO PROCESSO - ALEGADA AUSNCIADO AUTO CIRCUNSTANCIADO - FINALIDADE DO ATO ATINGIDA -INEXISTNCIA DE PREJUZO - MATRIA PRECLUSA - REJEITADA -BUSCA E APREENSO DOMICILIAR REALIZADA - POLCIA

    MILITAR - VALIDADE DO PROCEDIMENTO - REJEITADA - PEDIDOPARA APELAR EM LIBERDADE - IMPOSSIBILIDADE -INTELIGNCIA DO ART. 35 DA LEI DE TXICOS - R QUEPERMANECEU PRESA DURANTE TODO O PROCESSO - AFASTADO- MRITO - PRETENDIDA ABSOLVIO POR INSUFICINCIA DEPROVAS - MATERIALIDADE COMPROVADA - AUTORIA -CONFISSO EXTRAJUDICIAL DA R - RETRATAO EM JUZO -IRRELEVNCIA - FIRMES DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS - PROVASUFICIENTE - CONDENAO MANTIDA - REGIME PRISIONAL -ALMEJADA MODIFICAO - CRIME ASSEMELHADO AOHEDIONDO - REGIME INTEGRALMENTE FECHADO - LEGALIDADE- DECISO MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO. A simples ausncia doauto circunstanciado constitui mera irregularidade, no maculando o

    procedimento, mormente quando sua finalidade fora alcanada poroutro meio, no tendo a acusada, em nenhum momento, colocado emdvida o resultado da diligncia. Demais, a alegada nulidade j foialcanada pela precluso, porquanto deveria ter sido argida naprimeira oportunidade ou, quando muito, por ocasio das alegaesfinais. Preliminar afastada. Compete polcia civil os atos de polciajudiciria. Entretanto, o fato de a busca e apreenso domiciliar ter sidorealizada por policial militar, em nada macula o procedimento, visto queno h nenhuma vedao nesse sentido. Preliminar rejeitada. (...)(TJMS, 17810 MS 2005.017810-2, Relator: Des. Jos Augusto de Souza,Data de Julgamento: 15/02/2006, 2 Turma Criminal, Data de Publicao:22/02/2006).

    A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impetrado em favor depaciente acusado pela suposta prtica dos delitos do art. 12, 2, III, da Lei

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    6.368/76, c/c art. 2, 1, da Lei 8.072/90, por ter contribudo no transportede quase uma tonelada e meia de maconha. Alegava-se constrangimentoilegal resultante da violao ao inciso LVI do art. 5 da CF, sob o fundamentode que a denncia oferecida contra o paciente estaria baseada em elementosilcitos, posto que colhidos em diligncia realizada margem da ordem

    judicial. No caso, o juzo de primeira instncia, ao deferir a expedio demandado de busca e apreenso domiciliar, determinara que o Delegado dePolcia Federal, ou quem viesse a atuar em substituio, estivesseacompanhado de duas testemunhas estranhas ao quadro da polcia. Essaformalidade, entretanto, no teria sido observada. Entendeu-se que no sepoderia falar em nulidade do mandado de busca e apreenso pelo simples fatode serem policiais as testemunhas que acompanharam a medida, sob pena dese admitir a presuno de parcialidade dos agentes de polcia, o que noestaria em consonncia com princpios basilares da Administrao Pblica,em especial, o da impessoalidade e o da moralidade. Asseverou-se, tambm,que, ainda que a busca e apreenso fosse considerada prova ilcita, elano teria o condo de inquinar de nulidade todo o processo, porquanto oMinistrio Pblico embasara a denncia em outras provas que noteriam sido obtidas por derivao dela, tais como depoimentos edocumentao apreendida em flagrante. Vencidos os Ministros Marco

    Aurlio, relator, e Seplveda Pertence, que deferiam, em parte, o writ aofundamento de que, no tendo sido cumprido o mandado da formadeterminada pela autoridade judicial, as provas colhidas por meio deleseriam ilcitas, devendo ser desentranhadas dos autos. (STF, HC84679/MS, rel. orig. Min. Marco Aurlio, rel. p/ acrdo Min. Eros Grau, j.9.11.2004.)

    Portanto, a alegao descabida e desfundamentada, tambm sendojulgada improcedente.

    d) preliminar de declarao da nulidade do processo, a partir da fase do art. 402 do CPP, parao fim de viabilizar, em favor da defesa, a produo de prova pericial a propsito da

    interceptao telefnica.

    A preliminar suscitada diz respeito ao fato de no haver sidoapreciado o pedido de percia para identificao do instrumento utilizado pelaimplementao da medida. Qual instrumento? As linhas telefnicas interceptadas o foramatravs das operadoras de telefonia fixa e celular, concessionrias de servios pblicos, com autilizao de sistemas prprios, cujos canais so desviados para gravao pelo Sistema deComutao Digital, denominado popularmente de Guardio, da Secretaria de Estado daSegurana Pblica e Defesa Social, do Rio Grande do Norte, ou congnere, se necessrio, nohavendo interferncia do juiz que deferiu a interceptao, do membro do Ministrio Pblicoque a requereu, ou da autoridade policial que presidiu as investigaes, mas, to-somente, dos

    tcnicos da operadoras e dos responsveis pelo referido sistema.

    A alegao de nulidade do processo, a partir da fase do art. 402 doCPP, para o fim de viabilizar, em favor da defesa, a produo de prova pericial a propsito dainterceptao telefnica, pela no apreciao de pedido de percia para identificao doinstrumento utilizado para as interceptaes judicialmente deferidas jocosa e tambm nomerece prosperar, inclusive porque, como afirmou o prprio acusado em suas alegaesfinais, (...) o pedido da realizao de prova pericial, para apurar a existncia de edio dos trechosgravados, foi, de pronto, indeferido.

    Ora, indeferida a realizao da percia - sem recurso provido contra tal

    deciso, resta preclusa a matria -, o pedido de identificao do meio, aparelho, instrumento,

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    por bvio est inserido no contexto da referida deciso. Portanto, julgo improcedente apreliminar de nulidade do processo, a partir da fase do art. 402 do CPP, por ser incabvel, emfavor da defesa, a produo da referida prova pericial.

    5) RICARDO CABRAL ABREU (fls. 01/43vol.82):

    a) preambular: salvaguarda do art. 155 do Cdigo de Processo Penal e nulidade total eabsoluta da denncia.

    Apesar de no mencionada como preliminar, para no correr o riscoda falta de anlise, passo a tecer comentrios sobre a incidncia do contedo do artigo 155 doCPP e sua reflexologia no discernimento do julgador, bem como a decidir sobre a alegao denulidade total e absoluta da denncia.

    O citado artigo 155 do cdigo procedimental assevera que O juiz formar sua convico pela livre apreciao da prova produzida em contraditrio judicial, no podendofundamentar sua deciso exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigao, ressalvadas as

    provas cautelares, no repetveis e antecipadas. Grifei. clara a disposio inserida no Cdigo de Processo Penal pela Lei n

    11.690/2008, ou seja, o julgador no poder, exclusivamente, fundar a sua deciso noselementos colhidos na investigao, restando concluir que permite a incluso de taisinformaes na anlise e formao de sua convico sobre os fatos, principalmente aquelasque sejam frutos de provas cautelares, no repetveis e antecipadas.

    Na realidade, o que o dispositivo em comento probe a utilizaoexclusiva de provas produzidas em procedimento investigativo de natureza inquisitorial eextrajudicial. O termo investigao ali utilizado reflete, portanto, todo o tipo de

    procedimento realizado sem a participao do Poder Judicirio, no englobando osprocedimentos de natureza jurisdicional que tenham eventualmente sido realizados na fasepr-processual.

    Neste contexto, bvio que as provas cautelares produzidas antes dapropositura da ao penal e desde que tenham sido autorizadas judicialmente podem e devemser utilizadas pelo magistrado para formao da sua convico, independentemente de teremsido renovadas durante a instruo processual. Afinal, se no fosse permitido ao julgador sevaler das provas produzidas sob o seu prprio crivoainda que em fase pr-processualqualseria o sentido do Cdigo de Processo Penal e das prprias leis especiais tratarem deprocedimentos de natureza cautelar?

    A prpria redao do artigo 155 cristalina ao preverexcepcionalmente que, nos casos de provas cautelares, no repetveis e antecipadas, no hbice utilizao das mesmas para formao da convico do julgador.

    No caso em anlise, consoante restou suficientemente demonstrado,todas as provas cautelares foram produzidas por autorizao judicial, devidamentefundamentada, quer fossem irrepetveis ou antecipadas, no havendo qualquer delas que notenha sofrido o crivo jurisdicional pr ou ps produo, colheita e insero nos autos.

    Portanto, a salvaguarda do contedo do artigo 155 do Cdigo de

    Processo Penal foi rigorosamente observada pelo juzo, no merecendo reparos de qualquer

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    natureza. Assim, julgo improcedente a alegao de nulidade total e absoluta da denncia,ventilada como preambular (preliminar), pelo fato da utilizao pelo Ministrio Pblico docruzamento das ligaes entre o acusado e seus advogados para embasar a acusao, comoafirmado nas alegaes finais, sendo reapreciada mais detidamente no item c adiante .

    b) preliminar de nulidade absoluta da denncia.

    Efetivamente, a tese desenvolvida pela defesa, em sede preliminar, denulidade absoluta da denncia pela ausncia de contedo tico, ultrapassou o mbito da meraanlise dos requisitos formais e materiais processualmente exigidos da denncia vestibular.

    A alegao de que o Ministrio Pblico teria ultrapassado os limitesao fazer incidir sobre o acusado imputaes de fatos inexistentes no provida defundamento. Porm, a anlise aprofundada da matria somente poder ser realizada quando daapreciao do meritum causae por tratar, rigorosamente, de provas elencadas pela acusao.

    Entretanto, para no omitir uma anlise perfunctria, prpria da

    apreciao de preliminares, assevero que a utilizao pelo Ministrio Pblico do cruzamentodas ligaes entre o acusado e seus advogados para embasar a acusao, no afronta o direitoda defesa, pois em nenhum momento a denncia fez meno ao teor das conversas travadasentre o acusado e os seus advogados, sendo os documentos carreados as autos apenas extratosde ligaes telefnicas, ou seja, no tendo havido interceptao das comunicaes(conversas, dilogos) feitas entre o acusado e os seus respectivos advogados, de sorte que nomerece prosperar a preliminar de nulidade absoluta suscitada, pelo que julgo improcedente aargio.

    c) preliminar de violao da relao sigilosa cliente/advogado.

    A argio preliminar parte do uso, pelo Ministrio Pblico, docruzamento das ligaes entre o acusado e seus advogados para embasar a acusao, tendoconcludo pela afronta ao direito mnimo de defesa. A preliminar de nulidade absoluta, emrazo de violao do sigilo advogado-cliente, no merece acolhida, pois em nenhum momentoa denncia fez meno ao teor das conversas travadas entre o acusado e os seus advogados.

    Os documentos carreados as autos pelo Ministrio pblico apenasvisam demonstrar que, na oportunidade em que prestava depoimento Polcia Civil, oacusado se comunicou, atravs de telefonemas, com uma linha de telefonia registrada emnome do escritrio Erick Pereira Advogados.

    Ao fazer aluso s referidas chamadas, o Parquet objetivou apontaruma suposta orquestrao nos depoimentos prestados pelos acusados Ricardo Abreu,Joseilton Fonseca e Joo Hernandes, a fim de comprovar que os referidos tinham interessescomuns, sendo conhecedores da possvel fraude contratual que ajudaria a encobrir opagamento de propinas aos vereadores acusados.

    Em sendo assim, no tendo havido interceptao das comunicaesfeitas entre o acusado e os seus respectivos advogados, no merece prosperar a preliminar denulidade absoluta anteriormente suscitada.

    Mostra-se oportuno ressaltar que existe uma distino bastante ntidaentre interceptao e quebra de sigilo de dados telefnicos. Enquanto a primeira diz respeito

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    captao de conversas, por intermdio de gravaes ou escutas, a segunda corresponde obteno de registros referentes s chamadas j realizadas.

    Assim, observa-se que a interceptao ocorre em momento situado nopresente, na medida em que se processa durante o curso da ligao, ao contrrio do queacontece com a quebra do sigilo dos dados telefnicos, que diz respeito a eventos passados,

    mais precisamente, s chamadas j realizadas.

    Com efeito, no sendo possvel descobrir qual o teor das conversastravadas entre os interlocutores, no h que se falar em violao da intimidade tida comonecessria ao exerccio da advocacia. Ainda que se admitisse tal possibilidade, trago bailadeciso do Superior Tribunal de Justia, a qual desmistifica a questo da inviolabilidade dosigilo profissional, delineando os contornos da sua abrangncia, in verbis:

    "RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA.SIGILOTELEFNICO. ADVOGADO. QUEBRA. I - Deciso judicialfundamentada, com apoio na Lei no 9.296/96, determinando a interceptaotelefnica, no afronta a Constituio Federal. II - A proteo inviolabilidade das comunicaes telefnicas do advogado noconsubstancia direito absoluto, cedendo passo quando presentescircunstncias que denotem a 10 existncia de um interesse pblicosuperior, especificamente, a fundada suspeita da prtica da infraopenal. Recurso desprovido. (RMS 10.857/SP - ReI. Ministro FELIXFISCHER - QUINTA TURMA - julgado em 16/03/2000, DI 02/05/2000, p.152). (Grifei).

    Na mesma esteira, o Ministro Gilson Dipp (habeas corpus no.20.087/SP, STJ) assim se manifestou:

    "Por outro lado, cabe a ressalva de que, ainda que atuasse comoadvogado - tem-se que as prerrogativas conferidas aos defensores nopodem acobertar a prtica de delitos, sendo certo que o sigiloprofissional do advogado no tem natureza absoluta, podendo serafastado sempre que presentes circunstncias que evidenciem aexistncia de interesse pblico superior".

    Desta feita, no tendo sido vislumbrada a violao do sigilo existenteentre advogado e cliente, ante a inexistncia de gravaes dos seus respectivos dilogos,

    julgo improcedente a preliminar suscitada de nulidade absoluta do procedimento ministerialpor violao inviolabilidade da defesa.

    6) JOSEILTON FONSECA DA SILVA (fls. 93/113vol. 82):a) preliminar de nulidade absoluta do procedimento ministerial por violao inviolabilidadeda defesa.

    A argio de preliminar de nulidade absoluta, em razo de violaodo sigilo advogado-cliente, no merece acolhida, pois em nenhum momento a denncia fezmeno ao teor das conversas travadas entre o acusado e os seus advogados. Os documentoscarreados as autos pelo Ministrio pblico apenas visavam demonstrar que, na oportunidadeem que prestavam depoimentos Polcia Civil, o acusado se comunicou, atravs detelefonemas, com uma linha de telefonia registrada em nome do escritrio Erick Pereira

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    Advogados, e que o ru RICARDO CABRAL ABREU teria mantido contatos telefnicoscom a mesma linha celular, na mesma data e horrios aproximados.

    Ao fazer aluso s referidas chamadas, o Parquetobjetivou desvendaruma suposta orquestrao nos depoimentos prestados pelos acusados Ricardo Abreu,Joseilton Fonseca e Joo Hernandes, a fim de comprovar que os referidos tinham interesses

    comuns, sendo conhecedores da possvel fraude contratual que ajudaria a encobrir opagamento de propinas aos vereadores acusados.

    Em sendo assim, no tendo havido interceptao das comunicaesfeitas entre o acusado indicado e os seus respectivos advogados, no merece prosperar apreliminar de nulidade absoluta anteriormente suscitada.

    Mostra-se oportuno ressaltar que existe uma distino bastante ntidaentre interceptao e quebra de sigilo de dados telefnicos. Enquanto a primeira diz respeito captao de conversas, por intermdio de gravaes ou escutas, a segunda corresponde obteno de registros referentes s chamadas j realizadas.

    Assim, observa-se que a interceptao ocorre em momento situado nopresente, na medida em que se processa durante o curso da ligao, ao contrrio do queacontece com a quebra do sigilo dos dados telefnicos, que diz respeito a eventos passados,mais precisamente, s chamadas j realizadas.

    Com efeito, no sendo possvel descobrir qual o teor das conversastravadas entre os interlocutores, no h que se falar em violao da intimidade tida comonecessria ao exerccio da advocacia. Ainda que se admitisse tal possibilidade, trago bailadeciso do Superior Tribunal de Justia, a qual desmistifica a questo da inviolabilidade dosigilo profissional, delineando os contornos da sua abrangncia, in verbis:

    "RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA.SIGILOTELEFNICO. ADVOGADO. QUEBRA. I - Deciso judicialfundamentada, com apoio na Lei no 9.296/96, determinando a interceptaotelefnica, no afronta a Constituio Federal. II - A proteo inviolabilidade das comunicaes telefnicas do advogado noconsubstancia direito absoluto, cedendo passo quando presentescircunstncias que denotem a 10 existncia de um interesse pblicosuperior, especificamente, a fundada suspeita da prtica da infraopenal. Recurso desprovido. (RMS 10.857/SP - ReI. Ministro FELIXFISCHER - QUINTA TURMA - julgado em 16/03/2000, DI 02/05/2000, p.152). (Grifei).

    Na mesma esteira, o Ministro Gilson Dipp (habeas corpus no.20.087/SP, STJ) assim se manifestou:

    "Por outro lado, cabe a ressalva de que, ainda que atuasse comoadvogado - tem-se que as prerrogativas conferidas aos defensores nopodem acobertar a prtica de delitos, sendo certo que o sigiloprofissional do advogado no tem natureza absoluta, podendo serafastado sempre que presentes circunstncias que evidenciem aexistncia de interesse pblico superior".

    Desta feita, no tendo sido vislumbrada a violao do sigilo existente

    entre advogado e cliente, ante a inexistncia de gravaes dos seus respectivos dilogos,

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    julgo improcedente a preliminar suscitada de nulidade absoluta do procedimento ministerialpor violao inviolabilidade da defesa.

    7) JOO FRANCISCO GRACIA HERNANDES (fls. 126/146vil. 82):

    a) preliminar de nulidade absoluta do procedimento ministerial por violao inviolabilidade

    da defesa.

    A argio de preliminar de nulidade absoluta, em razo de violaodo sigilo advogado-cliente, no merece acolhida, pois em nenhum momento a denncia fezmeno ao teor das conversas travadas entre o acusado e os seus advogados. Os documentoscarreados as autos pelo Ministrio pblico apenas visavam demonstrar que, na oportunidadeem que prestavam depoimentos Polcia Civil, o acusado se comunicou, atravs detelefonemas, com uma linha de telefonia registrada em nome do escritrio Erick PereiraAdvogados, e que o ru RICARDO CABRAL ABREU teria mantido contatos telefnicoscom a mesma linha celular, na mesma data e horrios aproximados.

    Ao fazer aluso s referidas chamadas, o Parquetobjetivou identificaruma suposta orquestrao nos depoimentos prestados pelos acusados Ricardo Abreu,Joseilton Fonseca e Joo Hernandes, a fim de comprovar que os referidos tinham interessescomuns, sendo conhecedores da possvel fraude contratual que ajudaria a encobrir opagamento de propinas aos vereadores acusados.

    Em sendo assim, no tendo havido interceptao das comunicaesfeitas entre o acusado indicado e os seus respectivos advogados, no merece prosperar apreliminar de nulidade absoluta anteriormente suscitada.

    Mostra-se oportuno ressaltar que existe uma distino bastante ntidaentre interceptao e quebra de sigilo de dados telefnicos. Enquanto a primeira diz respeito captao de conversas, por intermdio de gravaes ou escutas, a segunda corresponde obteno de registros referentes s chamadas j realizadas.

    Assim, observa-se que a interceptao ocorre em momento situado nopresente, na medida em que se processa durante o curso da ligao, ao contrrio do queacontece com a quebra do sigilo dos dados telefnicos, que diz respeito a eventos passados,mais precisamente, s chamadas j realizadas.

    Com efeito, no sendo possvel descobrir qual o teor das conversas

    travadas entre os interlocutores, no h que se falar em violao da intimidade tida comonecessria ao exerccio da advocacia. Ainda que se admitisse tal possibilidade, trago bailadeciso do Superior Tribunal de Justia, a qual desmistifica a questo da inviolabilidade dosigilo profissional, delineando os contornos da sua abrangncia, in verbis:

    "RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DESEGURANA.SIGILO TELEFNICO. ADVOGADO. QUEBRA. I -Deciso judicial fundamentada, com apoio na Lei no 9.296/96, determinandoa interceptao telefnica, no afronta a Constituio Federal. II - Aproteo inviolabilidade das comunicaes telefnicas do advogado noconsubstancia direito absoluto, cedendo passo quando presentescircunstncias que denotem a 10 existncia de um interesse pblicosuperior, especificamente, a fundada suspeita da prtica da infraopenal. Recurso desprovido. (RMS 10.857/SP - ReI. Ministro FELIX

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    formalizao da prova de interceptao telefnica, a transcrio integral de tudo aquilo queseja relevante para esclarecer sobre os fatos da causa sub iudice.

    Ante o exposto, julgo improcedente a preliminar suscitada deilicitude das interceptaes (bem como todas as provas dela derivadas) por ausncia de autocircunstanciado.

    b) preliminar de inpcia da denncia pela ausncia de descrio individualizada da conduta.

    Ora, se a denncia fosse inepta, em face da ausncia de descriopormenorizada da suposta conduta ilcita do acusado, no teria sido recebida! Sim, a dennciadescreve as condutas de cada um dos acusados, porm em crimes tais como os de corrupopassiva, praticados por agente pblico em harmonia com outros, a descrio gira em torno dotipo penal e seu aperfeioamento ao autor, no podendo ser to pormenorizada que impea aapreciao ampla do delito praticado conjuntamente. A denncia ofertada pelo MinistrioPblico no uma mera sopa de letrinhas ou, mesmo, um Lego jurdico, e sim uma pearesponsvel em que foram apontados crimes e seus autores.

    fato que a denncia ser inepta quando no guardar consonnciacom os elementos colacionados no artigo 41 do Cdigo de Processo Penal. No o caso dosautos, conforme deciso proferida quando do recebimento da exordial do Ministrio Pblico,somente podendo ser rejeitada nos casos elencados no artigo 397 do mesmo diplomaprocessual, restando claro, nos termos do artigo 396, que Nos procedimentos ordinrio e sumrio,

    oferecida a denncia ou queixa, o juiz, se no a rejeitar liminarmente, receb-la- e ordenar a citao do

    acusado para responder acusao, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. Ou seja, a ocasio para arejeio da denncia por qualquer defeito precluiu naquela oportunidade, matria sobejamentedecidida nestes autos.

    Assim sendo, julgo improcedente a preliminar de inpcia da dennciapela ausncia de descrio individualizada da conduta do acusado.

    II.2. MATERIALIDADE E AUTORIA

    Superadas as preliminares argidas nas alegaes finais de defesa,segue a anlise do mrito da ao penal em tela, descortinando-se cada um dos delitosapontados na exordial acusatria e seus autores.

    Como deixou claro o Ministrio Pblico, (...) Os crimes de corrupo, notadamente aqueles que envolvem a promessa, aceitao e o pagamento de

    vantagem indevida a funcionrios pblicos, so, via de regra, cometidos de formaclandestina. Ainda est longe o dia em que propinas sero pagas s claras e os interessesinconfessveis de corruptos e corruptores sero expostos de forma desassombrada perante

    a opinio pblica. Embora atualmente a chaga da corrupo fira fundo a alma da nao, ningum ainda veio a pblico para admitir a venalidade do seu comportamento. Esseintrito necessrio para acentuar que a prova dos crimes de corrupo difcil de ser

    produzida.

    Neste ponto, tomo emprestada a anlise procedida pelo MinistrioPblico dos depoimentos, declaraes e interrogatrios colhidos, evitando a transcrio detodos os udios gravados durante as mencionadas audincias de instruo:

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    A primeira testemunha, a Procuradora Municipal MARISE COSTA DESOUZA DUARTE, foi firme em narrar a conversa que havia travado como oru SID MARQUES FONSECA, mantendo em todos os termos o depoimentoque havia prestado na Promotoria de Defesa do Patrimnio no incio dainvestigao, reafirmando que o ru ADO ERIDAN DE ANDRADE era odcimo sexto vereador de uma lista de vereadores que iriam recebervantagem indevida em dinheiro atrelada ao voto a favor das emendas

    parlamentares ao Plano Diretor de Natal. Ou seja, uma lista de votosmediante pagamento, consoante afirmou a testemunha respondendo a uma

    pergunta da defesa. Com muita desenvoltura e segurana, MARISE COSTA DE SOUZA DUARTE, quando indagada especificamente se o voto do ruSID MARQUES FONSECA iria proporcionar ao ru ADO ERIDAN orecebimento de dinheiro, ela afirmou que sim. Ela tambm recordou que oru SID MARQUES FONSECA estava bastante transtornado com essasituao e estava sendo pressionado para votar de acordo com o que seria ovoto de ADO ERIDAN, inclusive disse que tinha conhecimento da retenodo salrio de SID FONSECA como forma indevida de presso. Comconhecimento urbanstico, a Procuradora Municipal relatou que oCOMPLAN fez alteraes indevidas no Plano Diretor de Natal, que foramcombatidas pela Procuradoria do Municpio. Em seguida, narrou que alguns

    membros do COMPLAN ficaram chateados, mas defendeu que cabia Procuradoria do Municpio controlar os aspectos legais das mudanaslegais. E disse que isso j havia acontecido no caso de Lagoinha. A defesatentou, sem sucesso, desqualificar o depoimento, alegando que aProcuradora Municipal assessorou o prefeito municipal durante o processode elaborao do Plano Diretor. Esse argumento, extremamente pobre,despreza uma m