impacto psicológico das vítimas de trauma em reabilitação

Download Impacto psicológico das vítimas de trauma em reabilitação

If you can't read please download the document

Upload: lamthuan

Post on 09-Jan-2017

220 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRO PRETO

    LUCAS FELIX DE OLIVEIRA

    Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao

    Ribeiro Preto

    2014

  • LUCAS FELIX DE OLIVEIRA

    Impacto psicolgico das vtimas de trauma

    em reabilitao

    Tese apresentada Escola de

    Enfermagem de Ribeiro Preto da

    Universidade de So Paulo, para obteno

    do ttulo de Doutor em Cincias da Sade,

    Programa de Ps-Graduao em

    Enfermagem Fundamental.

    Linha de pesquisa: Processo de cuidar do

    adulto com doenas agudas e crnico-

    degenerativas.

    Orientadora: Maria Clia Barcellos Dalri

    Ribeiro Preto

  • 2014

    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    Felix de Oliveira, Lucas

    Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao.

    Ribeiro Preto, 2014.

    143 p.: il. ; 30cm

    Tese de Doutorado apresentada Escola de Enfermagem de

    Ribeiro Preto/USP. rea de concentrao: Enfermagem

    Fundamental.

    Orientadora: Dalri, Maria Clia Barcellos.

    1. Vtimas de acidentes. 2. Reabilitao. 3. Ansiedade. 4.

    Depresso.

  • FELIX DE OLIVEIRA, Lucas

    Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao

    Tese apresentada Escola de Enfermagem de

    Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo

    para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    da Sade, Programa de Ps-Graduao em

    Enfermagem Fundamental.

    Aprovado em: 05 / 12 / 2014

    Comisso Julgadora

    Profa. Dra. Maria Clia Barcellos Dalri

    Instituio: Presidente - Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto - USP

    Profa. Dra. Adriana Inocenti Miasso

    Instituio: Titular - Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto - USP

    Prof. Dr. Cesar Eduardo Pedersoli

    Instituio: Titular - Externo

    Profa. Dra. Renata Karina Reis

    Instituio: Titular - Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto - USP

    Profa. Dra. Suzel Regina Ribeiro Chavaglia

    Instituio: Suplente - Externo

  • DEDICATRIA

    queles que me amam e que no pouparam esforos para me apoiar neste grande projeto do

    doutorado, e que no so poucos. Para no preencher uma longa lista e correr o risco de deixar

    algum importante de fora, citarei os maiores representantes desta fantstica jornada:

    Aos meus quatro grandes amores:

    Tiozinho, meu querido pai e heri, exemplo de implacabilidade e ternura;

    Dona Yvone, minha queridssima mezinha, cone de fora, lucidez e amor;

    Tata, minha amadssima madrinha, sogrinha, e segunda me, presena de respeito,

    doura e carinho;

    E Paulinha, minha cmplice, amada, companheira, meu todo.

  • AGRADECIMENTOS

    Esta conquista mrito de muitas pessoas. Foram tantos que colaboraram para este

    doutorado que sei de antemo que no conseguirei externar o quanto sou grato por cada um

    que participou desta fantstica jornada.

    Peo que me perdoem aqueles que no virem seu nome aqui, pois por um lapso de

    memria poderei deixar algumas importantes pessoas sem o devido reconhecimento. Porm,

    podem ter certeza que na primeira oportunidade os agradecerei pessoalmente.

    Deus, o grande arquiteto do universo, presenteou-me com o dom da perseverana, do

    extremo esforo e da capacidade de ir alm dos meus limites para fazer sempre algo a mais. O

    Grande Pai o Mrito e o Objetivo desta tese. Que a Sua Paz esteja sempre comigo e com

    aqueles me rodeiam ou que entrarem em contato com este estudo!

    Agradeo minha linda famlia, por sempre acreditarem que eu conseguiria. Pela

    fora, pelo incentivo e pela doao, muito obrigado!

    Meus pais, Tiozinho e D. Yvone, muito obrigado pela vida e pela VIDA!

    Sonia e Joo, Daniel e Mrcia, Marco e Juliana, Elias e Mrcia, Andreza e Halley,

    irmos e amigos, que tanto se esforaram para me apoiar, me ajudar e me dar fora, muito

    obrigado! Sonia, obrigado ainda, pelas dicas e correes propostas que tanto me orientaram

    no estudo; Joo, pelo olhar crtico e certo que me fizeram desfazer incongruncias. Mrcia e

    Mrcia, gratido pelas auspiciosas correes em tempo to restrito e com tanta prontido;

    Mateuzinho, Rafa, Isabela e Jlia, obrigado pela presena alegre e descontrada em

    minha vida;

    Vincius, recm-chegado e motivo de esperana e mais alegria a esta bela famlia;

    Mateuzo, aquele forte abrao, de tio, de amigo e de companheiro. Agradeo

    profundamente as tradues e as correes, que tanto contriburam para a formatao final da

    tese;

    Kin, obrigado de todo corao, pelas madrugadas a fora, elaborando e corrigindo as

    tabelas e os lanamentos dos dados;

    Obrigado, Madrinha Vanete, pelos conselhos e pela boa escuta, nos momentos de

    dificuldades sem fim neste processo de doutoramento;

    Giselle e Fernando, obrigado pela presena constante e efetiva em cada passo da

    caminhada;

    S Conoi, obrigado por participar de maneira tranquila e serena em nossa vida;

    Yuri, obrigado pela alegria contagiante e expressiva nesta afetiva famlia;

    Agradeo aos meus tutores desde o ensino fundamental at o mestrado, que me

    ensinaram o gosto pela pesquisa, pela busca, pela procura de respostas. So muitos e cada um

    agregou mais um pouco na nsia pelo conhecimento e pela cincia. De modo especial

    Trindade, minha professora da segunda srie primria, que com carinho e afeto me recebeu de

    braos abertos na escolinha da Abadia; e ao grande cone de toda minha revoluo intelectual,

    que me convenceu a questionar a verdade, dando um n em minhas convices arbitrrias e

    me mostrando a necessidade de olhar para o mundo de forma mais independente: Paulo

    Roberto Ferreira - O Filsofo -, o meu eterno agradecimento pelo que voc conseguiu fazer

    com minhas frgeis bases intelectuais, me transformando em um eterno buscador;

  • Lucy Penna, Edvaldo Pereira, Rosa Maria Viana e Carlos Brando, obrigado por

    permitirem que eu transformasse minha experincia clnica em uma dissertao de mestrado.

    Foi uma ideia audaciosa e cheia de riscos que vocs acreditaram e apoiaram, dando-me a

    oportunidade de apresentar academia uma viso profunda e de vanguarda da psicologia e

    dos cuidados clnicos em psicoterapia;

    Roberto Crema e Pierre Weil (in memoria), agradeo efusivamente pelos nossos

    encontros e reencontros onde pude constatar que existem muitos outros conspiradores pela

    PAZ;

    Madrinha Alci Cabral, minha terapeuta, professora e mestra que tanto me ensinou a

    viver;

    s psiclogas e amigas Marli Irene e Selma Amui, muito obrigado, por ajudarem a me

    conhecer e a me tornar algum melhor;

    Agradeo a tantos amigos que participaram desta caminhada, me incentivando, me

    apoiando, me desculpando pela ausncia fsica e me dando corda para dar sempre mais um

    passo;

    Aos meus colegas de trabalho da UER, agradeo com muita nfase pelo apoio

    incondicional sem o qual dificilmente alcanaria os resultados deste estudo. Sintam-se

    abraados carinhosamente, pois vocs foram demais!

    Ao professor Iale Bontempo, meu assessor em Estatstica, por tanto trabalho e tantas

    instrues ao longo da tese, o meu reconhecimento e agradecimento;

    Aos funcionrios da Biblioteca Central da USP/Ribeiro, o meu muito obrigado: pelas

    inmeras correes, orientaes e dicas de como elaborar uma tese;

    coautora, professora, orientadora e mestra Maria Celia, o meu mais sincero

    agradecimento por tanto esforo, tanta dedicao, tanto suor nesta difcil tarefa de me orientar

    nesta tese. O tempo era mnimo, a minha preparao acadmica era incompleta e o meu

    conhecimento muito diferente da sua atuao profissional. Por isso o seu desafio foi muito

    maior, muito mais ousado, muito mais complexo. E voc conseguiu! Parabns e muito, muito

    obrigado pela pacincia e coragem;

    Enfim, minha fonte de inspirao, razo de todo meu esforo, sacrifcio e

    superao: Paulinha! Sem voc no teria valido a pena... Um beijo no corao.

  • Para mim s existe percorrer os caminhos que tenham corao,

    qualquer caminho que tenha corao. Ali viajo, e o nico desafio que

    vale atravess-lo em toda sua extenso. E por ali viajo olhando,

    olhando, arquejante. Carlos Castaneda (1968)

  • RESUMO

    FELIX DE OLIVEIRA, L. Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao.

    2014. 123 f. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto, Universidade de

    So Paulo, Ribeiro Preto, 2014.

    O objetivo deste estudo foi avaliar a presena de ansiedade e depresso em vtimas de trauma

    que foram referenciados para reabilitao em unidade especializada. Trata-se de um estudo

    descritivo, de corte transversal e abordagem quantitativa, desenvolvido com 85 participantes

    em Unidade Especializada em Reabilitao, do SUS, localizada no municpio de Uberaba. A

    coleta de dados ocorreu nos meses de outubro de 2013 a janeiro de 2014, aps aprovao do

    Comit de tica em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de

    So Paulo. Foram aplicados trs instrumentos: um questionrio semiestruturado, de autoria do

    pesquisador, com variveis sociodemogrficas e hbitos de vida; Inventrio de Ansiedade de

    Beck e o Inventrio de Depresso de Beck. Aps a coleta, os dados foram inseridos em um

    banco de dados eletrnicos no Microsoft Excel. Foram utilizadas ferramentas de estatstica na

    realizao de anlise exploratria da relao entre os fatores depresso e ansiedade com

    diversas variveis. Como resultado do estudo constatou-se que a idade dos participantes

    variou de 19 a 81 anos, com predomnio do sexo feminino 57,7%, raa branca 54,1%, religio

    catlica 54,1%, renda de dois a quatro salrios mnimos 61,2% e 35,3% de casados. O

    afastamento do trabalho deu-se em 29,4% da amostra e 40,0% no completou o ensino

    fundamental, e 10,6% eram analfabetos. Os dias de tera feira 20,0%, quarta feira 16,5% e

    quinta feira 14,1% representaram os dias de maior ocorrncia de acidentes. O perodo da tarde

    apresentou a maior incidncia dos traumas 45,9%. Declararam-se tabagistas 28,2% dos

    participantes e 30,6% disseram fazer uso de algum tipo de bebida alcolica. A alterao do

    sono se deu em 56,5% e alterao do apetite aps o acidente 24,7% dos participantes.

    Constatou-se neste estudo que o padro de ansiedade nas formas moderada representa 30,6%

    e na grave pde ser observado em 12,9% dos entrevistados, enquanto 16,5% apresentaram

    nveis moderados e 5,9% graves de depresso. Dos participantes do estudo que foram vtimas

    de acidente de trnsito pde-se observar que 39,3% e 14,3% apresentaram nvel de ansiedade

    moderada e grave, respectivamente. Este percentual de ansiedade significativa decai nos

    acidentes domsticos 26,1% moderada e ansiedade grave 17,4%. Nos acidentes de trabalho a

    ansiedade moderada foi 28,0% e grave 8,0%, e em outros tipos de acidentes 22,2% e 11,1%,

    respectivamente para ansiedade moderada e grave. Quanto aos nveis de depresso, os

    acidentes de trnsito apresentaram 17,9% e 7,1% de vtimas com estado de depresso

    moderada e grave; nos acidentes domsticos 21,7% apresentaram depresso moderada; nos

    acidentes de trabalho observou-se que 12,0% dos participantes apresentaram nvel moderado

    e 12,0% nvel grave de depresso. Estes dados mostram a necessidade de suporte psicolgico,

    com um acompanhamento psicoteraputico voltado necessidade da vtima de trauma, at sua

    reabilitao emocional. Uma situao inusitada, como um acidente, pode desencadear um

    comprometimento da vida do ser humano, tanto fsica quanto psicolgica.

    Palavras-chave: Vtimas de acidentes; Reabilitao; Ansiedade; Depresso.

  • ABSTRACT

    FELIX DE OLIVEIRA, L. Psychological impact on victims of trauma on

    rehabilitation. 2014. 123 f. Dissertation (Doctoral) School of Nursing of Ribeiro Preto,

    University of So Paulo, Ribeiro Preto, 2014.

    The aim of this study was to assess the presence of both anxiety and depression in

    victims of trauma who were conducted to a trauma rehabilitation center. This study

    is descriptive, transversal and quantitative. Whose sample was 85 participants that belonged

    to the Specialized Rehabilitation Unit, of SUS, in Uberaba. The data collection happened

    from October 2013 to January 2014, after being approved by the ethical committee of the

    Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo. Three instruments

    were used: a semi-structured questionnaire made by the author himself, which assessed socio-

    demographic aspects and life habits; Becks Anxiety Questionnaire and Becks Depression

    Questionnaire. After the data being gathered, it was put on an electronic data base in

    Microsoft Excel. Statistical tools were used for the exploratory analysis of the relation

    between depression and anxiety with the others variables. There was an age variation from 19

    to 81 years-old, with prevalence of females 57,7%, Caucasians 54,1%, Catholics 54,1%,

    mensal income two to four minimum salary 61,2% and married is 35,3%. 29,4% of the

    sample had been dismissed due to trauma consequences. 40,0% of the sample did not have the

    basics studies finished and 10,6% are illiterate. Tuesday 20,0%, Wednesday 16,5% and

    Thursday 14,1% were the highest days to accident occurrence. The afternoon period presented

    the highest prevalence of traumatic events 45,9%. 28,2% of the sample is composed by

    smokers and 30,6% say that drink alcohol. Sleep alteration after the accident was present in

    56,5% of the patients and appetite alteration in 24,7% of them. In this study, the anxiety

    pattern for moderate anxiety were 30,6% and severe form 12,9%. For moderate depression

    16,5% and severe depression 5,9%. Among this sample, the victims of traffic trauma 39,3%

    shows moderate anxiety and 14,3% severe. On domestic traumas 26,1% had moderate anxiety

    and 17,4% had severe. On work traumas, 28% had moderate anxiety and 8% severe. In the

    category Other, 22,0% for moderate anxiety and 11,1% for severe. It was found moderate

    17,9% and severe 7,1% levels of depression in trauma related to traffic. On domestic trauma,

    the levels of depression are 21,7% (moderate). On work accidents it was observed 12,0% of

    moderate depression and 12,0% severe. These data show the necessity of psychological

    support to the trauma victims, because, as exposed, an unexpected life event, like an accident

    that may lead to a physical or emotional impairment.

    Keywords: Accidents Victims, Rehabilitation, Anxiety, Depression.

  • RESUMEN

    FELIX DE OLIVEIRA, L. El impacto psicolgico en las vctimas en rehabilitacin del

    trauma. 2014. 123 f. Tesis (Doctorado) - Escuela de Enfermera de Ribeiro Preto,

    Universidad de So Paulo, Ribeiro Preto, 2014.

    El objetivo de este estudio fue evaluar la presencia de ansiedad y depresin en victimas de

    trauma que acudieron a la rehabilitacin en unidad especializada. El estudio es descriptivo,

    transversal, cuantitativo y fue desarrollado con 85 personas en una Unidad Especializada de

    Rehabilitacin, de lo SUS, en la ciudad de Uberaba. La recopilacin de datos fue desde

    octubre 2013 hasta enero 2014, despus de aprobada por el Comit de tica em Investigacin

    da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo. Se utiliz tres

    instrumentos: un cuestionario semiestructurado, hecho por el investigador mismo, con

    variables sociodemogrficas e hbitos de vida; Inventario de Ansiedad de Beck e Inventario

    de Depresin de Beck. Despus de la recopilacin, los datos fueron manipulados en el banco

    de datos electrnicos en el Microsoft Excel. Se utiliz herramientas estadsticas en la

    realizacin del anlisis exploratoria en la relacin de depresin e ansiedad con otras variables.

    Hubo variacin de edad fue de 19 hasta 81 aos de edad, con prevalencia del sexo femenino

    57,7%, blancos 54,1%, religin catlica 54,1% y con un promedio salarial de dos a cuatro

    salarios mnimos 61,2%. 29,4% de la muestra fue despedido por las consecuencias del trauma.

    40,0% de la muestra no haba terminado los estudios bsicos y 10,6% eran analfabetos. Los

    martes 20%, los mircoles 16,5% y los jueves 14,1% fueron los das de mayor ocurrencia de

    accidentes. El perodo vespertino fue el que presento mayor prevalencia de traumas, 45,6%.

    28,2% se declararon fumadores y 30,6% dicen hacer uso de bebidas alcohlicas. La alteracin

    del sueo est presente en 56,5% y hubo tambin alteracin en el apetito para 24,7%. En este

    estudio, 30,6% presentaron ansiedad moderada y 12,6% para ansiedad grave. Para depresin

    los datos fueron 16,5% para el nivel moderado y 5,9% para severo. En las vctimas de

    accidente de trnsito, se puede observar que 39,3% presentan niveles de ansiedad moderada y

    14,3% grave. En los accidentes domsticos, 26,1% de los pacientes presentaron niveles de

    ansiedad moderada y 17,4% grave e en los accidentes en el trabajo, 28,0% de los pacientes

    presentaron niveles de ansiedad moderada y 8,0% grave, e en otros tipos de trauma 22,0% de

    los pacientes presentaron moderada ansiedad y 11,1% grave. En el trauma relativo al trfico,

    se encontr 17,9% nivel de depresin moderada y 7,1% para depresin grave. En los traumas

    domsticos, los niveles de depresin fueron moderados 21,7%. En los accidentes de trabajo,

    se encontr 12,0% de depresin moderada y 12,0% grave. Estos datos subrayan la necesidad

    de un suporte psicolgico a las vctimas de trauma, desde sus necesidades hasta su

    recuperacin psicolgica, pues se observa que una situacin inesperada, como el trauma,

    puede desencadenar un deterioro tanto fsico cuanto emocional.

    Palabras clave: Vctimas de Accidentes, Rehabilitacin, Ansiedad, Depresin.

  • LISTA DE TABELAS E GRFICO

    Tabela 1 - Caracterizao das vtimas de trauma segundo os fatores: sexo, faixa etria, cor/raa, crena religiosa, ocupao atual, renda mensal, situao conjugal,

    escolaridade, dia do trauma, perodo do dia do trauma, tabagismo, tipo de tabaco, aumento do consumo de tabaco, consumo de bebida alcolica, tipo de bebida,

    aumento do consumo de bebida, alterao do sono aps o trauma e alterao do

    apetite aps o trauma. UER de Uberaba (MG), 2013-2014...................................

    81

    Tabela 2 - Distribuio das vtimas de trauma de acordo com as respostas referentes frequncia de indicadores (sinais e sintomas) de ansiedade significativa. UER de

    Uberaba (MG), 2013-2014......................................................................................

    86

    Tabela 3 - Distribuio das vtimas de trauma de acordo com as respostas referentes frequncia de indicadores de depresso significativa. UER de Uberaba (MG),

    2013-2014.......................................................................................................

    87

    Tabela 4 -

    Distribuio dos nveis de ansiedade e depresso das vtimas de trauma conforme os tipos de acidentes UER de Uberaba (MG),

    2013/2014..................................................................................................................

    89

    Tabela 5 -

    Anlise univariada dos fatores associados ansiedade significativa com: sexo,

    faixa etria, cor/raa, crena religiosa, ocupao atual, renda mensal,

    escolaridade, situao conjugal, dia do trauma, perodo do dia do trauma, tabagismo, aumento do consumo de tabaco, consumo de bebida alcolica,

    aumento do consumo de bebida, alteraes do sono e alteraes do apetite, nas

    vtimas de trauma atendidas em unidade especializada em reabilitao (UER).

    Uberaba (MG), 2013-2014................................................................................

    90

    Tabela 6 - Anlise univariada dos fatores associados depresso significativa com: sexo, faixa etria, cor/raa, crena religiosa, ocupao atual, renda mensal, escolaridade, situao conjugal, dia do trauma, perodo do dia do trauma,

    tabagismo, aumento do consumo de tabaco, consumo de bebida alcolica,

    aumento do consumo de bebida, alteraes do sono e alteraes do apetite, nas

    vtimas de trauma atendidas em unidade especializada em reabilitao (UER). Uberaba (MG), 2013-2014.......................................................................................

    93

    Grfico 1 - Apresentao dos transtornos de ansiedade e depresso significativos das vtimas de trauma referenciados a uma unidade especializada em reabilitao.

    UER, Uberaba (MG), 2013-2014...................................................

    85

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    APA American Psychological Association

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    BAC Blood Alcohol Concentrations

    BAI Beck Anxiety Inventory

    BDI Beck Depression Inventory

    CID Cdigo Internacional de Doenas

    CNAE Classificao Nacional de Atividade Econmica

    CNPS Conselho Nacional de Previdncia Social

    CNS Conselho Nacional de Sade

    CONTRAN Conselho Nacional de Trnsito

    DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito

    DPVAT Seguro de Danos Pessoais Causados por Veculos Automotores

    de Via Terrestre

    DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

    EERP Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto

    EPI Equipamentos de Proteo Individual

    EUA Estados Unidos da Amrica

    EUROSAFE European Association for Injury Prevention and Safety Promotion

    HAM-D Escala de Depresso de Hamilton

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDH ndice de Desenvolvimento Humano

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    MG Minas Gerais

    MMSE Mini Mental State Examination

    MS Ministrio da Sade

    NHTSA National highway traffic safety administration

    NTEP Nexo Tcnico Epidemiolgico Previdencirio

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    ONSV Observatrio Nacional de Segurana Viria

    ONU Organizao das Naes Unidas

    OPAS Organizao Pan Americana de Sade

    PAV Projeto gua Viva

    PIB Produto Interno Bruto

    PMU Prefeitura Municipal de Uberaba

    RPG Reorganizao Postural Global

    RUE Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias

    SAMU Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

    SBAIT Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado

    SMS Secretaria Municipal de Sade

    SIDA Sndrome da Imunodeficincia Adquirida

    SIM Sistema de Informao de Mortalidade

    SP So Paulo

    SUS Sistema nico de Sade

    TEPT Transtorno de Estresse Ps-Traumtico

    TCC Terapia Cognitivo-Comportamental

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UER Unidade Especializada em Reabilitao

    UFTM Universidade Federal do Tringulo Mineiro

  • UNIC United Nations Information Centres

    USP Universidade de So Paulo

    WHO World Health Organization

  • Sumrio

    APRESENTAO

    1 INTRODUO.................................................................................. 19

    2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS................... 24

    2.1 Tipos de traumas.................................................................................. 26

    2.1.1 Acidente de trnsito............................................................................. 26

    2.1.2 Acidente domstico............................................................................. 31

    2.1.3 Acidente de trabalho............................................................................ 34

    2.2 Avaliao psicolgica.......................................................................... 38

    2.2.1 Escala de avaliao de ansiedade e depresso..................................... 39

    2.3 Ansiedade............................................................................................ 39

    2.4 Depresso............................................................................................. 41

    2.5 Suporte psicolgico na reabilitao de trauma.................................... 43

    3 JUSTIFICATIVA.............................................................................. 46

    4 HIPTESES....................................................................................... 48

    5 OBJETIVOS...................................................................................... 50

    5.1 Objetivo geral...................................................................................... 51

    5.2 Objetivos especficos........................................................................... 51

    6 MTODO........................................................................................... 52

    6.1 Tipo de estudo...................................................................................... 53

    6.2 Local de estudo.................................................................................... 53

    6.2.1 Uberaba................................................................................................ 53

    6.2.2 Unidade Especializada em Reabilitao (UER).................................. 55

    6.3 Amostra do estudo............................................................................... 56

    6.4 Perodo de investigao....................................................................... 57

    6.5 Aspectos ticos.................................................................................... 57

    6.6 Instrumentos para a coleta de dados.................................................... 58

    6.6.1 Questionrio para caracterizao da amostra...................................... 58

    6.6.2 Inventrio de Ansiedade de Beck / Beck Anxiety Inventory (BAI).... 59

    6.6.3 Inventrio de depresso de Beck / Beck Depression Inventory (BDI-I) 60

    6.7 Procedimentos de coleta...................................................................... 61

    6.8 Riscos e benefcios da pesquisa........................................................... 63

    6.9 Anlise dos dados................................................................................ 63

    7 RESULTADOS.................................................................................. 65

    7.1 Validao do questionrio para coleta dos dados................................ 66

    7.2 Caracterizao da amostra e apresentao de resultados.................... 66

    7.3 Relao entre ansiedade, depresso e seus sinais e sintomas............. 71

    7.4 Relao entre ansiedade, depresso e os tipos de trauma................... 74

    7.5 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade

    significativa.........................................................................................

    75

    7.6 Anlise univariada dos fatores associados depresso

    significativa.........................................................................................

    79

    8 DISCUSSO...................................................................................... 82

    8.1 Dados sociodemogrficos gerais......................................................... 84

    8.2 Transtornos psicolgicos..................................................................... 97

    8.2.1 Ansiedade em vtimas de trauma......................................................... 98

    8.2.2 Depresso em vtimas de trauma........................................................ 101

    9 CONCLUSES................................................................................. 105

  • 10 CONSIDERAES FINAIS........................................................... 108

    REFERNCIAS................................................................................ 111 APNDICES..................................................................................... 126

    Apndice A TCLE para participantes.............................................. 127

    Apndice B Questionrio para caracterizao da amostra............... 129

    Apndice C TCLE para juzes........................................................ 131

    Apndice D Formulrio para juzes................................................. 132

    ANEXOS........................................................................................... 134 Anexo A Autorizao do Secretrio de Sade de Uberaba............. 135

    Anexo B Autorizao da Coordenadora da UER............................ 136

    Anexo C Mini-mental...................................................................... 137

    Anexo D Autorizao para uso dos instrumentos BAI e BDI......... 138

    Anexo E BAI.................................................................................... 140

    Anexo F BDI.................................................................................... 141

    Anexo G Aprovao do CEP............................................................ 143

  • APRESENTAO

    Durante toda minha vida identifiquei-me com a busca da compreenso do outro, e neste

    caminhar sempre propus maneiras de facilitar sua expresso de sentimentos, de receios e de

    sonhos. Eu fui diretor de teatro; tcnico de time de futebol; coordenador de grupo de jovens;

    diretor de relaes humanas em grmio estudantil; presidente de centro acadmico na

    universidade; palestrante em eventos religiosos, escolas e creches, empresas e instituies;

    organizador e coordenador de equipe em eventos esportivos; colunista de jornal; e professor

    de ensino fundamental, mdio, universitrio e de ps-graduao.

    Quando ainda era universitrio levava ao meu grupo de jovens de uma Parquia qual

    participava, momentos de recreao e meditao atravs de dinmicas de grupo de grande

    impacto.

    Quando me formei busquei sem demora uma ps-graduao, j que estava ansioso por

    aprender mais sobre o ser humano. Fiz uma ps-graduao latu-senso em sade pblica, mas

    isto no me trouxe a realizao que eu buscava. E depois de muitas tentativas em diversas

    universidades do Brasil, consegui um mestrado em Cincias e Valores Humanos. Foi um

    curso espetacular, no qual me identifiquei desde o incio. Aprofundei o estudo sobre o ser

    humano e propus uma tcnica de interveno teraputica na qual o prprio ser se

    responsabilizaria por sua sade, a partir do autoconhecimento. A apresentao da dissertao

    de mestrado foi aprovada com honra e recomendao, por uma banca de professores doutores

    de qualificao internacional. A minha dissertao transformou-se em livro e est em sua

    segunda edio.

    Findo o mestrado, era a vez de me desafiar em um doutorado. Busquei incessantemente

    o curso, mas minhas limitaes financeiras e at mesmo fsicas (tenho sequela de

    poliomielite) me atrasaram um pouco. Porm, depois de muito procurar, tive a satisfao de

    ser aceito na Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto (EERP), onde iniciei minha trajetria

    at aqui. Foram muitas ideias, muitas idealizaes, muito trabalho, at que fui apresentado a

    minha grande mestra Profa. Maria Clia, que depois de muito deliberar, ajudou-me a formular

    esta tese, em que se v a busca do conhecimento do outro, para ento se propor uma estratgia

    de enfrentamento de sua dificuldade, de sua limitao, de sua inquietude.

    Conhecer o impacto psicolgico de vtimas de trauma pode ser o estopim para a busca

    de uma possvel estratgia de manejo do sistema de sade para enfim fornecer um tratamento

    mais adequado e mais humano para quem se envolveu em um acidente. O ser precisa ser visto

  • no s como uma unidade fsica funcional, mas como um todo, em suas diversas

    caractersticas fsicas, emocionais e psicolgicas.

    Tenho cincia que este trabalho ainda pouco para se conhecer este impacto

    psicolgico, porm minha expectativa de que ele possa contribuir para este processo

    grandioso que trar uma melhor qualidade no cuidado do ser.

  • 1 INTRODUO

  • 20 1 INTRODUO

    Estudos epidemiolgicos revelam que ao longo da vida, estima-se que 51,2% das

    mulheres e 60,7% dos homens tenham vivenciado pelo menos um evento potencialmente

    traumtico: acidentes, violncia, hospitalizao, conflitos interpessoais graves, catstrofes

    naturais ou causadas pelo homem, entre outros (PERES, 2005).

    Dadalt e Eizerik (2013) dizem que se entende por trauma ou traumatismo uma leso de

    extenso, intensidade e gravidade variveis, que pode ser produzida por agentes externos

    diversos (fsicos, qumicos, etc.), de forma acidental. Tambm pode ser agresso emocional

    capaz de desencadear perturbaes psquicas e, em decorrncia, somticas.

    Independente de sua melhor definio, o fato que o trauma, fsico ou emocional,

    um agravo que pode gerar vrias doenas e representa um problema de sade pblica de

    grande magnitude e transcendncia no Brasil, que tem provocado forte impacto na morbidade

    e na mortalidade, com profundas repercusses nas estruturas sociais, econmicas e polticas

    de nossa sociedade (BRASIL, 2012a).

    A American Psychological Association (APA, 2013), apresenta a seguinte definio

    para trauma psicolgico:

    Trauma uma resposta emocional a um evento terrvel como desastre, estupro ou

    desastre natural. Imediatamente aps o evento, choque e negao so tpicos.

    Reaes a longo prazo incluem emoes imprevisveis, flashbacks, relaes tensas e

    at sintomas fsicos, como dores de cabea ou nuseas. Embora esses sentimentos

    sejam normais, algumas pessoas tm dificuldade em seguir em frente com suas

    vidas.

    A Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT, 2013)

    apresenta definio de trauma, como um conjunto das perturbaes causadas subitamente por

    um agente fsico, de etiologia, natureza e extenso muito variadas, podendo estar situadas nos

    diferentes segmentos corpreos. Entre as causas de trauma, incluem-se os acidentes e a

    violncia, que configuram um conjunto de agravos sade, que pode ou no levar a bito, no

    qual fazem parte as causas ditas acidentais e as intencionais. Estes correspondem a acidentes

    de trnsito, suicdios, homicdios, afogamentos, queimaduras, ferimentos de guerra,

    envenenamentos, quedas. Esse conjunto de eventos consta na Classificao Internacional de

    Doenas - CID, sob denominao de causas externas (SBAIT, 2013).

    A WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO, 2014) refere que os traumas

    (acidentes e violncia) so uma ameaa sade em todos os pases do mundo. Eles so

    responsveis por 9% da mortalidade mundial - mais de cinco milhes de mortes todos os

    anos. Oito das 15 principais causas de morte de pessoas entre as idades de 15 e 29 anos so

    devido a leses relacionadas aos traumas.

  • 21 1 INTRODUO

    De acordo com os dados sobre Acidentes na Unio Europeia, EUROPEAN

    ASSOCIATION FOR INJURY PREVENTION AND SAFETY PROMOTION

    (EUROSAFE, 2013), uma mdia anual de 40 milhes de pessoas que vivem na regio,

    necessitam de tratamento hospitalar e 233.000 (mdia anual 2008-2010), morrem por

    resultado da ocorrncia de um acidente, correspondendo a cerca de uma morte a cada dois

    minutos. O estudo ainda revela que, para cada caso de ferimento fatal, 25 pessoas so

    internadas em um hospital e 145 so tratados como pacientes externos ao hospital,

    procurando, por exemplo, mdicos de famlia. O documento ainda cita que as leses por

    trauma, so um grande problema de sade pblica na regio e so a quarta causa mais comum

    de morte, depois das doenas cardiovasculares, cnceres e doenas respiratrias.

    Nos Estados Unidos, Sise et al. (2014) colocam que as mortes relacionadas ao trauma

    entre 2002 a 2010, diminuram 6%. No entanto, as tendncias de mortalidade diferiram por

    mecanismo. Houve uma diminuio de 27% na taxa de mortalidade relacionada aos acidentes

    de trnsito, provavelmente devido a menor gravidade da leso e melhores resultados em

    atendimentos nos centros de trauma. No entanto, a mortalidade por armas de fogo permaneceu

    relativamente inalterada, a mortalidade causada por suicdios aumentou e a mortalidade por

    homicdios diminuiu. Em contraste, a mortalidade relacionada com queda aumentou em 46%.

    Mehmood et al. (2013) dizem que noventa por cento dos traumas e mortes e

    incapacidades relacionadas com acidentes de causas externas ocorrem em pases de renda

    baixa e mdia.

    No Brasil, de acordo com o Ministrio da sade (BRASIL, 2013a), em 2012, as causas

    externas (acidentes e violncia), provocaram 997,4 mil internaes no pas, 2,5% a mais do

    que em 2011, quando os registros chegaram a 973 mil. Em 2010, o nmero foi menor ainda:

    929,2 (8,2%) do total de internaes.

    Deste total de internaes em 2010, 145.920 (15,7%) foram devido a acidentes de

    trnsito terrestre. A faixa etria de 15 a 59 anos concentrou 84,9% das internaes em homens

    e 70,8% das internaes em mulheres. Entre idosos (acima de 60 anos), 6,2% eram homens e

    14,5% eram mulheres. A regio sudeste foi responsvel por 44,9% do total das internaes

    devido a acidente de trnsito (BRASIL, 2013b). A evoluo dos gastos tambm foi crescente:

    R$ 1,076 bilho, em 2012, R$ 1,023 bilho, em 2011, e R$ 940,6 milhes, em 2010

    (BRASIL, 2013a).

    Os dados de mortalidade reforam a dimenso do problema. Em 2004, as causas

    externas foram responsveis por 127.470 bitos, no Brasil. A concentrao dos acidentes e

    das violncias visivelmente mais clara nas reas urbanizadas, que acumulam

  • 22 1 INTRODUO

    aproximadamente 75% do total das mortes por causas violentas, com uma correlao direta

    entre a porcentagem de populao urbana nos estados brasileiros e o coeficiente de

    mortalidade por causas externas por habitante (SBAIT, 2013).

    Em 2010, o Brasil registrou 143.256 bitos por causas externas, os homicdios

    responderam por 52.260 (36,5%), acidentes de trnsito 42.884 (30%) e outras causas 48.112

    (33,5%), o que corresponde a 12,5% do total das mortes registradas no pas (BRASIL,

    2013a). a terceira causa de bitos entre os brasileiros perde apenas para as doenas do

    aparelho circulatrio (29%) e cnceres (16%) (ALVES, 2009; BRASIL, 2013a).

    De Carlo et al. (2007) dizem que as leses traumticas so comumente geradoras de

    deficincias e levam a limitaes na execuo de atividades, como tambm restrio de

    participao deste indivduo em situaes concretas de vida.

    Disfunes psicolgicas prvias ao traumatismo podem atuar como fatores de risco para

    agravos na sade mental e as principais implicaes incluem histria prvia de transtorno

    mental, caractersticas de personalidade e estilos de enfrentamento (SAREEN et al,. 2013).

    Silveira (2011) diz que perceptvel, aps o acidente, os aspectos fsicos e psicolgicos

    serem afetados, concomitantemente s crenas que podem gerar um desconforto maior,

    associadas ao estado de ansiedade, raiva, culpa, medo, impotncia, tristeza, entre outros.

    Sousa Filho, Xavier e Vieira (2008) constataram que as vtimas de trauma atriburam

    suas ansiedades demora na recuperao da sade, ao tratamento hospitalar prolongado, s

    suspenses de cirurgias e ao retardo para agend-las. Segundo os autores, a ansiedade

    manifesta-se no cognitivo (preocupao, obsesso, autoconfiana), no comportamental

    (retraimento, fuga, repetio compulsiva), no afetivo (constrangimento e disforia) e no fsico

    (manifestao e exacerbao de vrios sinais e sintomas, que interferem no restabelecimento

    da sade).

    Wrenger et al. (2008) dizem que o aumento da ateno no episdio traumtico pode

    fomentar outras desordens e sequelas psicolgicas no indivduo acidentado. Esta revivncia

    pode ter um impacto negativo na pessoa e influenci-la em sua capacidade de lidar com o

    evento e de se ajustar s suas consequncias. Doena psiquitrica previamente ao evento foi

    identificada como um preditor ao desenvolvimento de transtornos do EIXO 11. A incidncia

    de doenas desenvolvidas do Eixo I na amostra do estudo foi de 14,2% (6 meses) e 12,3% (12

    1 Critrios Diagnsticos do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV) - Eixo

    I: Descreve transtornos clnicos propriamente ditos, por exemplo: Transtorno de Pnico sem Agarofobia,

    Transtorno Depressivo Recorrente, Ansiedade, Transtorno Delirante, Dependncia do lcool, etc.

  • 23 1 INTRODUO

    meses). Segundo os autores, a depresso outro sintoma encontrado nessas vtimas de trauma

    do estudo.

    Os transtornos psicolgicos decorrentes de um trauma so com frequncia

    subdiagnosticados pela desinformao sobre o possvel impacto que este pode provocar na

    vida do indivduo. As mltiplas expresses secundrias que podem ocorrer aps um trauma,

    como exemplo cefaleia, vertigens, incapacidade fsica, diminuem as chances para o

    diagnstico assertivo ocorrer. Por outro lado, se as causas no forem tratadas de forma

    precoce, as queixas em geral tornam-se crnicas com prejuzos crescentes qualidade de vida.

    O expressivo nmero de pessoas afetadas pelo trauma psicolgico requer tratamento

    especializado (PERES, 2005).

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 25

    O Ministrio da Sade (MS) investe no atendimento s vtimas de trauma (BRASIL,

    2013a). Em informe datado de 18/07/2013 o MS divulga um investimento da ordem de R$

    570 milhes at 2015 para a ateno ao trauma. Um dos objetivos do governo reduzir

    mortes e sequelas provocadas por causas externas, como acidentes de trnsito e violncias.

    Foram publicadas duas portarias para criar a Linha de Cuidado do Trauma na Rede de

    Ateno s Urgncias e Emergncias do Sistema nico de Sade (SUS). Com esta estratgia

    o governo pretende humanizar o atendimento, organizar a rede hospitalar, padronizar e

    agilizar o atendimento s vtimas de traumas.

    Em 2012, o MS lanou a consulta pblica Linha de Cuidado ao Trauma que oferecia a

    ateno domiciliar (Programa Melhor em Casa) como modelo assistencial continuado aos

    pacientes que no podiam se deslocar de suas residncias, alm do aprimoramento s aes de

    reabilitao ambulatorial e hospitalar e a criao de diretrizes clnicas assistenciais para o

    tratamento das vtimas de trauma (BRASIL, 2012b).

    Em 2013, foi publicada a portaria n 1365, de 8 de julho de 2013, do MS que, aprova e

    institui a Linha de Cuidado ao Trauma na Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias.

    Destacam-se os objetivos: estruturar e descrever a Linha de Cuidado ao Trauma desde a cena

    ateno hospitalar e reabilitao, bem como na preveno ao trauma (Art. 2, inciso VII) e

    disseminar o conhecimento de que o trauma um agravo que se tornou um problema de

    sade pblica, sendo hoje uma das principais causas de adoecimento e mortalidade da

    populao brasileira e que pode ser prevenido e evitado (Art. 2, inciso VIII) (BRASIL,

    2013a).

    Estudos internacionais apontam para um decrscimo de 17% na mortalidade das vtimas

    de traumas automobilsticos onde este tipo de estratgia foi utilizado (BRASIL, 2013b).

    Para organizar a rede hospitalar, o Ministrio da Sade estabeleceu critrios para a

    habilitao de Centros de Trauma, que sero unidades de sade especializadas nesse tipo de

    atendimento. A Portaria 1366 traz 148 procedimentos que tero pagamento diferenciado, com

    80% a mais nos valores pagos para o servio profissional e 80% a mais para o servio

    hospitalar (BRASIL, 2013b).

    http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/visualizar_texto.cfm?idtxt=38016&janela=1http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/visualizar_texto.cfm?idtxt=38016&janela=1http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24627

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 26

    2.1 Tipos de traumas

    Os traumas podem ser acidentais (ex. acidentes de trnsito, afogamentos, quedas) ou

    intencionais (ex. agresso fsica, abuso sexual, terrorismo, tortura, assalto, sequestro, guerra).

    De acordo com o MS (BRASIL, 2013a), no grupo de causas externas as mais frequentes

    so os acidentes de trnsito, as quedas (acidentes domsticos) e agresses fsicas, acidente de

    trabalho, afogamentos, entre outras. Essas so a terceira causa de atendimento e de internao

    no SUS. As outras duas, so o infarto do miocrdio e o acidente vascular cerebral (AVC).

    Para esta pesquisa foram selecionados trs tipos de traumas mais frequentes

    enquadrados nas categorias acidentais: acidente de trnsito, acidente domstico e acidente de

    trabalho.

    2.1.1 Acidente de trnsito

    As leses por acidentes de trnsito so um grande problema global, diz Franzn et al.

    (2009). Segundo os autores, s na Sucia, 14 em cada mil habitantes sofrem algum tipo de

    leso a cada ano.

    Diniz et al. (2008) dizem que s em 1893, chegou o primeiro automvel ao Brasil, e o

    primeiro acidente aconteceu quatro anos depois, no Rio de Janeiro:

    Em termos histricos, a ocorrncia de acidentes de trnsito no recente. Relatos do conta de que o primeiro automvel teve sua fabricao concluda no dia 2 de

    julho de 1771, sendo capaz de se deslocar a uma velocidade de 4 km/h. Data

    tambm desta poca o primeiro registro de acidente de trnsito no planeta, ocorrido

    na Frana.

    Aps a morte de Zenani Mandela, bisneta de Nelson Mandela, que morreu

    tragicamente em um acidente de automvel, antes da Copa do Mundo de 2010, e apenas

    dois dias depois de seu 13 aniversrio, foi lanada uma campanha internacional para a

    preveno de acidentes de trnsito com crianas. A campanha tem o nome de Zenani

    Mandela e liderada por sua me, Zindzi Mandela, e sua av, Zoleka Mandela. A iniciativa

    consta da pauta da DCADA DE AO PELA SEGURANA NO TRNSITO 2011

    2020 e tem como objetivo melhorar os nveis de proteo das crianas no trnsito,

    principalmente as mais vulnerveis e que vivem em pases em desenvolvimento. A Dcada

    de Ao pela Segurana no Trnsito 2011-2020 foi oficialmente lanada em todo o mundo

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 27

    pelas Naes Unidas em 11 de maio de 2011 (OBSERVATRIO NACIONAL DE

    SEGURANA VIRIA - ONSV, 2012).

    O progressivo agravamento da violncia no trfego das vias pblicas levou as

    Naes Unidas a proclamar a Dcada de Ao pela Segurana no Trnsito

    2011/2020, procurando estabilizar e, posteriormente, reduzir as cifras de vtimas

    previstas, mediante a formulao e implementao de planos nacionais, regionais e

    mundial (WAISELFISZ, 2012).

    No ONSV (2012) consta que, no lanamento da campanha em Nova Iorque, Zindzi

    Mandela disse: Assim como muitas pessoas, eu costumava pensar que a sinistralidade viria era

    apenas um fato trgico da vida, sobre o qual nada poderia ser feito. At que

    aconteceu comigo e descobri que estava errada. Podemos e devemos fazer muito

    mais para proteger nossas crianas. Apoiar a Campanha Zenani, exigindo

    absoluta proteo para as crianas no trnsito a garantia de que, no futuro,

    outras famlias no sofram a dor que minha famlia sofreu.

    Todos os anos quase 1,3 milho de pessoas so mortas e milhes so feridas nas

    estradas do mundo. Ao dia morrem cerca de 3.500 pessoas. As crianas e jovens so os mais

    afetados, tanto que acidentes de trnsito hoje constituem a maior fonte isolada de mortes de

    pessoas na faixa dos 10 a 24 anos de idade em todo o mundo. Em 2004, o ltimo ano para o

    qual h dados abrangentes disponveis, acidentes de trnsito mataram mais crianas de 5 a 14

    anos que a malria, diarreia e da Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (SIDA) (ONSV,

    2012).

    O relatrio, lanado na Campanha pela Segurana Global nas Estradas, diz que a

    segurana rodoviria um dos maiores desafios de desenvolvimento do planeta e prev que,

    se no forem tomadas medidas urgentes, o nmero de mortos no trnsito subir de 1,3 milho

    para dois milhes por ano (ONSV, 2012).

    O Centro de Informaes das Naes Unidas-Rio (ORGANIZAO DAS NAES

    UNIDAS (ONU), 2011), ou United Nations Information Centres (UNIC), em ocasio do Dia

    em Memria das Vtimas de Acidentes de Trnsito e seus Familiares, teve o pronunciamento

    do Secretrio-Geral da ONU, Ban Ki-moon, dizendo que 90% das mortes e leses de trnsito

    ocorrem em pases de baixa e mdia renda sendo a maioria das vtimas pedestres, ciclistas e

    motociclistas. Estimativas da WHO indicam que, sem uma ao urgente, os acidentes de

    trnsito se tornaro a quinta causa de morte em 2030.

    Naumann et al. (2010) dizem que muitos fatores contriburam para as mudanas das

    taxas de mortalidade no trnsito ao longo do tempo, incluindo polticas de segurana nas

    estrada. Os Estados Unidos no esto entre os pases que tiveram os maiores xitos nas

    estratgias de reduo de acidentes, mas comprovadamente j existe um avano neste setor.

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 28

    Em quase todos os pases europeus tm leis que regulamentam o uso do cinto de

    segurana em todos os assentos; o teor de lcool no sangue no pode ultrapassar o limite de

    0,05 (Blood Alcohol Concentrations - BAC), e leis que obrigam o uso do capacete do

    motociclista e de seu acompanhante (NAUMANN et al., 2010). Ainda assim, o estudo de

    Pulido et al. (2014) na Espanha, mostrou que em 2011, a estimativa foi de que o uso de lcool

    foi responsvel por 30% das mortes no trnsito.

    Ban Ki-moon (ONU, 2011) observou que os governos tm tomado medidas positivas

    para enfrentar acidentes de trnsito j que mais de 100 pases se comprometeram no ano

    passado a salvar cinco milhes de vidas por meio de implementao de estratgias de

    segurana nas estradas e campanhas de informao no lanamento da Dcada de Ao pelo

    Trnsito Seguro 2011-2020.

    Os governos esto agindo, disse Ban (ONU, 2011):

    A lei chilena agora exige que as pessoas viajando em nibus interurbanos usem

    cinto de segurana. A China criminalizou beber e dirigir e aumentou as penas para

    os infratores e a Nova Zelndia introduziu controles mais rgidos sobre lcool para

    motoristas mais jovens. Na Turquia, o uso de cinto de segurana aumentou de 8%

    para 50% e no Vietn, o uso de capacete de moto triplicou, passando de 30% para

    90%. Outros pases, como Gana, ndia, Moambique e Paquisto esto melhorando

    o atendimento s pessoas que sofreram acidentes de trnsito.

    Neste Dia em Memria das Vtimas de Acidentes de Trnsito e seus Familiares, vamos

    nos comprometer a minimizar as mortes de trnsito e leses como parte de nossa busca por

    um futuro justo e sustentvel, disse Ban Ki-moon (ONU, 2011).

    Naumann et al. (2010) dizem que possvel montar estratgias de baixo custo que

    visem incrementar o uso do cinto de segurana, o uso do assento de segurana para crianas,

    incentivar o uso do capacete para ciclistas e motociclistas e impedir a conduo de veculos

    por motoristas que tenham ingerido bebida contendo lcool.

    Outras intervenes devem ser feitas no ambiente, na inteno de manter seguros os

    pedestres, incluindo caladas bem cuidadas, meio-fio, aumento do tempo nos semforos,

    declaram Naumann et al. (2010).

    Franzn et al. (2009) disseram que estando de posse da informao de que os acidentes

    de trnsito se tornaram um problema crescente em nvel mundial, importante, investir no s

    na preveno dos acidentes, mas tambm fornecer um bom atendimento e um tratamento

    adequado s pessoas feridas. Os autores indicaram em seu estudo, falhas no tratamento,

    cuidados e reabilitao depois de um acidente no trnsito.

    Em 2005 o nmero de mortes no trnsito, nos Estados Unidos, foi de 43.510 contra

    33.561 em 2012. Neste ano uma estimativa de 2,36 milhes de pessoas ficou ferida em

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 29

    acidentes de trnsito (NATIONAL HIGHWAY TRAFFIC SAFETY ADMINISTRATION,

    NHTSA, 2013).

    Esses nmeros decrescentes de mortes e gravidade de leses por acidentes de trnsito

    nos Estados Unidos, na ltima dcada, apontam para uma melhoria na preveno e no

    atendimento as vtimas de acidentes no trnsito (SISE et al., 2014). Segundo a Eurosafe

    (2013), nos ltimos cinco anos os acidentes relacionados com o trfego rodovirio na Unio

    Europeia tambm mostraram declnio.

    No Brasil, de acordo com o Departamento Nacional de Trnsito (DENATRAN), a frota

    geral de veculos era de 64.817.974, no ano de 2010. Com o objetivo de fortalecer a

    economia, o governo federal diminuiu o Imposto sobre Produto Industrializado, incentivando

    o acesso da populao aos veculos novos, possibilitando, assim, um aumento na produo

    para atender as necessidades das demandas. Proporcionalmente aumentou o nmero de

    acidentes de trnsito (SILVEIRA, 2011).

    Marin e Queiroz (2000) relatam que a Organizao Pan Americana de Sade (OPAS)

    mostra que no mundo 6% das deficincias fsicas so causadas pelos acidentes de trnsito. O

    Brasil est entre os pases que registram as maiores frequncias de indivduos feridos por

    acidentes de trnsito (TREVISOL; BOHM; VINHOLES, 2012). Por ano, so mais de 500 mil

    pessoas envolvidas diretamente em acidentes de trnsito s nas rodovias federais

    (CAVALCANTE; MORITA; HADDA, 2009). A cada 11 acidentes h uma vtima fatal

    (diagnosticada no local do acidente ou aps o acidente) e a cada 1,3 acidentes h um ferido

    (INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (IPEA) e DENATRAN, 2006).

    De acordo com o Sistema de Informaes de Mortalidade do Brasil (SIM), entre 2002 e

    2010, o nmero total de bitos por acidentes com transporte terrestre cresceu 24%: passou de

    32.753 para 40.610 mortes. Entre as regies, o maior percentual de aumento na quantidade de

    bitos (entre 2002 e 2010) foi registrado no Norte (53%), seguido do Nordeste (48%), Centro-

    Oeste (22%), Sul (17%) e Sudeste (10%) (BRASIL, 2011).

    Com relao s internaes hospitalares, o SUS congrega em torno de 70% de todas as

    internaes hospitalares no pas. De nove milhes de internaes hospitalares, 8,1% so

    decorrentes de causas externas; destas, 15% devidas a acidentes de transportes terrestres

    (OPAS, 2005).

    O Relatrio Executivo do IPEA e DENATRAN (2006) descreve que o custo anual dos

    acidentes de trnsito nas rodovias brasileiras alcanou a cifra de R$ 22 milhes, a preos de

    dezembro de 2005 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A maior parte refere-se

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 30

    perda de produo, associada morte das pessoas ou interrupo de suas atividades, seguido

    dos custos de cuidados em sade e os associados aos veculos.

    Em relao s consequncias relacionadas aos traumas, Anjos (2012) constatou que

    17,6% dos familiares tiveram que deixar seus empregos para auxiliar o paciente em sua

    recuperao, o que agravou mais ainda suas dificuldades financeiras. Para Anjos (2012) ficou

    evidente que a questo financeira uma das implicaes sociais mais importantes para as

    vtimas de trauma, pois estes, s vezes, se tornam dependentes da ajuda de terceiros.

    Em 2011 o total de indenizaes pagas entre janeiro e setembro superou a casa de R$

    1,6 bilho. O nmero de vtimas indenizadas aumentou aproximadamente 42% em relao ao

    mesmo perodo do ano de 2010. O Seguro de Danos Pessoais Causados por Veculos

    Automotores de Via Terrestre (DPVAT) indenizou, em mdia, 52.000 sinistros de morte de

    2002 a 2013. O nmero de indenizaes por invalidez permanente cresceu de forma explosiva

    a partir de 2004, chegando a 444.000 em 2013. Segundo a pesquisa do IPEA, o custo mdio

    unitrio de um acidente com morte em rodovia no Brasil de mais de R$ 566 mil. O custo

    anual dos acidentes de trnsito no Brasil de aproximadamente R$ 40 bilhes (BRASIL,

    2012a).

    Sallum e Sousa (2012) destacam que as ocorrncias de trnsito com jovens,

    principalmente do sexo masculino, tem maior predomnio, com destaque para os acidentes

    com motocicleta. relevante apontar para a taxa de mortalidade de motociclistas que

    apresentou grande aumento no perodo de 1996 a 2005: 540%, ao passar de 0,5 para 3,2 por

    cem mil habitantes.

    Nos ltimos anos o governo brasileiro tem investido em polticas de segurana no

    trnsito. Algumas medidas foram tomadas e a fiscalizao est mais rigorosa, sobretudo

    quanto ao ato de beber e dirigir. A lei seca (12.760/2012) imps ao Conselho Nacional de

    Trnsito (CONTRAN) determinar a nova margem de tolerncia, definida agora pela

    Resoluo 432. A medida acaba com a margem de tolerncia de um dcimo de miligrama

    (0,10) de lcool por litro de ar, permitida anteriormente pelo Decreto 6.488/2008, quando o

    condutor assoprava o bafmetro, e de no mximo dois decigramas por litro de sangue, no caso

    de exames. Agora o limite no teste de etilmetro no pode ser igual ou superior a 0,05

    miligrama de lcool por litro de ar alveolar expirado (0,05 mg/L) (BRASIL, 2013d).

    O Pacto Nacional pela Reduo dos Acidentes de Trnsito Pacto pela Vida,

    lanado em 2011, pelos Ministrios da Sade e das Cidades tem como objetivo mobilizar a

    sociedade e reunir aes para reduzir pela metade, at 2020, o nmero de vtimas de acidentes

    de trnsito no Pas. A medida atende ao apelo feito pela ONU, por meio da Resoluo

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 31

    A/64/L44, proclamando o perodo de 2011 a 2020 como a Dcada de Aes para a

    Segurana no Trnsito".

    2.1.2 Acidente domstico

    Nos Estados Unidos de 2002 a 2010, a mortalidade relacionada ao trauma, diminuiu

    6%. Entretanto, as tendncias de mortalidade diferiram conforme o tipo de trauma (SISE et

    al., 2014). Houve diminuio de 27% na taxa de mortalidade por acidentes de trnsito

    associada a uma diminuio de 20% nas colises de veculos a motor. Enquanto a mortalidade

    por armas de fogo permaneceu relativamente inalterada e os suicdios por armas de fogo

    aumentaram, os homicdios diminuram. Por outro lado, a mortalidade relacionada com

    quedas aumentou 46% (SISE et al., 2014).

    Na Unio Europeia, nos ltimos cinco anos, os acidentes relacionados com o trfego

    rodovirio e o trabalho esto em constante declnio, porm o mesmo no se verifica em

    relao aos traumatismos por acidentes domsticos e de lazer, que corresponde a 73% de

    todos os acidentes, afetando particularmente grupos vulnerveis, indivduos com menos

    recursos, como crianas e idosos (EUROSAFE, 2013).

    Turner et al. (2011) dizem que os acidentes domsticos ocorrem como resultado de

    complexas interaes entre os indivduos e o meio ambiente e sempre podem ser consideradas

    de natureza multifatorial. Estes fatores de risco nas residncias devem desempenhar algum

    papel na causa de acidentes domsticos, porm a literatura internacional no destaca o quanto

    uma modificao no ambiente previne uma leso ou minimiza seu efeito (TURNER et al.,

    2011).

    No Brasil, os acidentes domsticos tem se tornado ao longo dos anos, uma das

    principais causas de atendimentos por causas externas em muitas instituies de sade,

    contribuindo significativamente para a crescente taxa de morbidade e mortalidade em vrios

    estados (PESTANA et al., 2013).

    Mascarenhas et al. (2009) dizem que a proporo de acidentes ocorridos no domiclio

    de um tero de todos os tipos de acidentes, pois o ambiente onde a maioria das pessoas

    passa a maior parte do tempo. Ainda segundo Mascarenhas et al. (2009), dentre as causas

    externas, as quedas representam a principal causa de internaes no sistema pblico de sade

    brasileiro.

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 32

    Kent e Pearce (2006) referem que nos acidentes domsticos, o nmero de leses

    decorrentes de quedas est em constante aumento. Kennedy, Grant e Blackwell (2001) dizem

    que as quedas de baixa altura so uma fonte comum de leso, cuja gravidade muitas vezes

    subestimada. Como resultado, os pacientes deste tipo de trauma geralmente no so

    transferidos para centros de trauma (KENNEDY; GRANT; BLACKWELL, 2001). Segundo

    os autores, h surpreendentemente poucos dados sistemticos relativos s exigncias feitas

    aos sistemas de cuidados de trauma por pacientes com quedas de baixa altura.

    De acordo com a EUROSAFE (2013), mais de um quarto de todas as pessoas que

    sofrem uma fratura de quadril devido principalmente s quedas, morrem dentro de um ano,

    outros 50 por cento nunca mais voltam ao seu nvel anterior de mobilidade e independncia.

    Condies mdicas crnicas esto associadas a um aumento da mortalidade e

    permanncia mais prolongada no hospital, aps uma queda de baixa altura (KENNEDY;

    GRANT; BLACKWELL, 2001).

    Helling et al. (1999) referem que quedas de baixa altura, como as domsticas, por

    exemplo, podem causar leses significativas, mais comumente na cabea e coluna vertebral.

    Os autores dizem que baseado no mecanismo de leso por si s, os pacientes feridos em

    quedas de baixa altura, na maioria das vezes, no so levados para centros de trauma. No

    entanto, muitos desses pacientes apresentam leses graves multissistmicas, mesmo que eles

    paream estveis inicialmente.

    Gulati et al. (2012) dizem que queda da prpria altura uma causa potencialmente

    evitvel de leses sseas, como a maioria dos ferimentos sofridos em residncias. De acordo

    com as pesquisadoras a maioria das quedas da prpria altura ocorre em unidades habitacionais

    mais pobres.

    A queda da prpria altura gera prejuzos fsicos e psicolgicos nos idosos, dizem Leite

    et al. (2006), alm de aumentar os custos com os cuidados de sade e provocar mudanas no

    processo familiar.

    Entre os idosos, as quedas possuem um significado muito relevante, pois podem lev-

    los incapacidade, sequelas ou leses permanentes e morte (MASCARENHAS et al., 2009).

    Porm, Pfortmueller et al. (2014) referiram que as quedas na residncia, o ambiente

    principal de quedas de seu estudo, no se correlacionaram com ferimentos graves.

    Segundo Nnodim e Alexander (2005), quedas so responsveis por significativa

    morbidade e mortalidade na populao idosa. Kent e Pearce (2006) dizem que as quedas nas

    residncias tendem a ser mais relacionadas populao de idosos e os riscos de que estes

    traumas sejam mais srios tornam-se mais significativos. Ainda segundo os autores, a

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Kennedy%20RL%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11586165http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Grant%20PT%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11586165http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Blackwell%20D%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11586165

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 33

    possibilidade de uma prolongada hospitalizao considervel. Aproximadamente 30% dos

    adultos mais velhos caem pelo menos uma vez por ano, sendo a queda a principal causa de

    leses fatais e no fatais para as pessoas nessa faixa etria. Por causa do aumento projetado na

    populao idosa, o custo anual de leses relacionadas com quedas fatais e no fatais

    estimado a chegar a 32,4 bilhes de dlares em 2020 (FRAIX, 2012).

    Liu, Chan e Yan (2014) diz que a depresso est associada a quedas em idosos.

    Lojudice et al. (2010) referem que a queda um problema significante na vida dos idosos, que

    pode trazer consequncias nefastas e interferir diretamente na qualidade de vida dessa

    populao.

    Em seu estudo, Lojudice et al. (2010) dizem que indispensvel uma boa avaliao dos

    idosos e do ambiente em que eles vivem, pois uma vez diagnosticados os fatores de risco

    envolvidos, possvel realizar intervenes para corrigir ou para minimizar as chances de

    quedas.

    De acordo com o Ministrio da Sade (PORTUGAL, 2005) os acidentes domsticos so

    muito comuns naquele pas. Mesmo quando a famlia se acerca de cuidados, objetos e

    situaes podem representar riscos e provocar acidentes, principalmente para crianas e

    idosos, em especial, todas as divises da casa podem representar um enorme risco.

    Um tapete que no est devidamente assentado com proteo antiderrapante, uma

    gaveta da cmoda aberta, a porta de um armrio, um fio do telefone solto, podem provocar

    quedas e traumatismos com consequncias muito graves. Por vezes, esses acidentes so to

    graves que podem levar morte (PORTUGAL, 2005). Ainda, os relatos mostram que os

    acidentes com idosos sucedem-se tambm em alojamentos coletivos (casas de repouso, lares e

    outras instituies de acolhimento), no ambiente circundante ou por escorregamento na rua

    (PORTUGAL, 2005).

    Leite et al. (2006) referem que um tero dos atendimentos por leses traumticas nos

    hospitais do nosso pas ocorre em pessoas com mais de 60 anos. E aproximadamente 75% dos

    acidentes acontecem no interior da residncia.

    Mascarenhas et al. (2009) constataram que o fluxo do atendimento de reabilitao foi

    apresentado de forma fragmentada e sem diferenciaes para idosos, vtimas de acidentes e

    violncias. Os autores colocam que o idoso requer mais ateno e tratamento diferenciado

    devido s suas especificidades, e da forma como o segmento realizado, no contribui de

    forma eficaz no tratamento. A reabilitao do idoso aps a ocorrncia do trauma ocorre de

    forma mais sutil do que em um paciente jovem e deveria merecer melhor acolhimento,

    afirmam Leite et al. (2006).

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 34

    A reabilitao da pessoa idosa est relacionada sua motivao, s suas alteraes

    neuro-comportamentais da memria e do estado emocional anteriores ao trauma, bem como

    ao apoio prestado pelos familiares/cuidadores (LEITE et al., 2006).

    Mascarenhas et al. (2009) dizem que na reabilitao a teraputica no pode ser

    finalizada em sesses presenciais, devendo ser um processo contnuo, reforado pelos

    familiares e cuidadores no domiclio.

    Pestana et al. (2013) afirmam que a promoo da sade deve envolver a populao

    como um todo, no contexto da vida cotidiana, em vez de concentrar-se unicamente nas

    pessoas em risco de serem afetadas.

    necessria a realizao de uma avaliao domiciliar, para orientao de familiares e

    cuidadores, preparando-os para a alta do paciente, pois a realidade do idoso em seu ambiente

    domiciliar e social pode exigir adaptaes (MASCARENHAS et al., 2009).

    Alves et al. (2009) referem em seu estudo que a experincia cotidiana indica que as

    abordagens clnicas oferecidas aos pacientes vtimas de trauma na cidade de Ribeiro Preto

    no tm sido suficientes para restabelecer um padro esperado de qualidade de vida.

    De Carlo et al. (2007) colocam que a reabilitao bem-sucedida dever restaurar tanto

    o funcionamento fsico e psicolgico, quanto promover a vida ocupacional e a participao

    social das pessoas no ps trauma.

    A promoo da sade vem apresentando uma evoluo no seu conceito e na sua forma

    de atuao, tornando-se uma grande aliada na reduo dos acidentes no ambiente domiciliar

    (PESTANA et al., 2013).

    Na Europa, segundo dados da Eurosafe (2013), h um projeto de rede de divulgao

    na preveno de quedas. Esse projeto aumenta a conscincia da importncia do problema e

    vai aumentar a disponibilidade de recursos e orientao para atendimento multidisciplinar, e

    realizar diagnstico precoce (avaliao de risco).

    2.1.3 Acidente de trabalho

    No Brasil, o termo acidente de trabalho foi oficializado em 1991 (Lei n. 8.213, de 24

    de julho de 1991). De acordo com a legislao, "acidente de trabalho o que ocorre pelo

    exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho dos segurados

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 35

    referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando leso corporal ou perturbao

    funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade

    para o trabalho" (BRASIL, [201-]).

    O International Labour Organization (2003) aponta que at 10% do Produto Interno

    Bruto dos pases em desenvolvimento so gastos com problemas decorrentes de doenas e

    agravos ocupacionais. No Brasil, dos 376.240 agravos ocupacionais registrados no ano de

    2000, 81% resultaram em incapacidade temporria, 4% em incapacidade permanente, e 1%

    em bitos.

    Achcar (2012) diz que:

    A presena da fatalidade na representao das causas de acidente quase to frequente para o acidente vivido quanto para os acidentes em geral. A presena desta

    "causa" sobre a qual nenhum controle pode ser exercido e que, alm do mais,

    instvel, certamente no benfica para a promoo da segurana na empresa.

    Prochnow et al. (2011) postularam que a instituio deve oferecer os equipamentos de

    proteo individual (EPI) aos funcionrios e tambm capacit-los sobre seu uso, mantendo

    vigilncia constante sobre o uso dos mesmos.

    Hinkka et al. (2013) afirmaram que:

    Respostas frequentes do supervisor, boas oportunidades para o crescimento pessoal,

    bom clima da equipe, e de alta valorizao foram associados a uma diminuio de

    absentesmo por doena no trabalho. Uma boa comunicao no trabalho foi

    associada com uma reduo na violncia por parte do cliente e a presso no trabalho

    foi associada a um aumento do risco de acidentes de trabalho.

    Bezerra e Schumann (2013) comentam em seu estudo sobre a responsabilidade do

    empregador nos acidentes de trabalho, que o acidente acontece no exerccio da funo do

    trabalhador dentro ou a servio da empresa, que pode ocasionar leses leves, graves,

    gravssimas e at o bito do trabalhador, alm das doenas laborativas. Referem que o nmero

    de acidentes de trabalho est aumentando, tornando-se uma questo de sade pblica. Devem

    ser tomadas medidas urgentes por parte do Estado e sociedade, para que sejam minimizadas

    as consequncias fsicas, morais e psicolgicas causadas por este sinistro (BEZERRA;

    SCHUMANN, 2013).

    Em se tratando de programas de preveno de acidentes de trabalho, Van Der Molen et

    al. (2012) constataram em estudo que no h evidncias de que as campanhas de segurana,

    treinamento e inspees reduzam os ferimentos no-fatais entre trabalhadores da construo

    civil. Os autores recomendam que para se ter um efeito a longo prazo na reduo de acidentes

    no trabalho necessrio criar campanhas melhor direcionadas a estes trabalhadores, alm de

    elaborar um programa para reduo de uso de drogas.

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 36

    De acordo com o Ministrio da Previdncia Social (BRASIL, 2013e), em 2011 foram

    registrados 711.164 acidentes e doenas do trabalho, entre os trabalhadores assegurados da

    Previdncia Social. Segundo o documento, este nmero no inclui os trabalhadores

    autnomos (contribuintes individuais) e as empregadas domsticas. E continua: estes eventos

    provocam enorme impacto social, econmico e sobre a sade pblica no Brasil.

    Contabilizou-se ainda 15.083 doenas relacionadas ao trabalho, e parte destes acidentes e

    doenas tiveram como consequncia o afastamento das atividades de 611.576 trabalhadores

    devido incapacidade temporria (309.631 at 15 dias e 301.945 com tempo de afastamento

    superior a 15 dias), 14.811 trabalhadores por incapacidade permanente, e o bito de 2.884

    cidados (BRASIL, 2013e).

    O Brasil ocupa o 4 lugar no mundo e 1 na Amrica Latina no ranking dos acidentes de

    trabalho (SOUSA; MEDEIROS; MEDEIROS, 2014). Com isto, o Brasil perde, por ano, o

    equivalente a 4,0% do PIB por causa dos acidentes de trabalho.

    Oliveira (2007) diz que a sociedade no pode desviar a ateno dos traumas oriundos de

    acidentes de trabalho, comemorando os avanos tecnolgicos. Agir com indiferena, desviar

    o olhar dessa ferida social aberta (acidente de trabalho), ainda mais com tantos dispositivos

    constitucionais e princpios jurdicos entronizando a dignificao do trabalho no mais

    possvel, completa Oliveira (2007).

    De acordo com Oliveira (2007) possvel implementar medidas preventivas simples e

    de baixo custo para reduzir acidentes de trabalho, o que resultar em muitas vidas poupadas.

    Impe-se perceber que o trabalhador, em sede da relao laboral, no se divorcia de

    sua condio humana, razo pela qual, que se confira inalienvel proteo ao obreiro

    tambm em seu mbito pessoal, reconhecendo-lhe direitos que contemplem a sua

    segurana e a sua sade, inclusive a psicolgica, no se mensurando o trabalhador

    esfera patrimonial apenas, uma vez que direitos exorbitam os limites estreitos das

    horas extras, do fundo de garantia e afins (ROSA, 2007).

    Pfortmueller et al. (2014) afirmam que o nmero de quedas atinge 7,0% de todos os

    acidentes no trabalho. Malta et al. (2012a) relatam que quedas em adultos estiveram

    associadas ao local de trabalho, queda de andaimes, telhados, escada/degrau e buracos e uso

    de lcool. Concluem que estratgias para a preveno das quedas devem ser implantadas

    particularmente em residncias, escolas e ambientes de trabalho (MALTA et al., 2012a).

    No somente as quedas podem ser percebidas nos acidentes de trabalho. Amorim et al.

    (2012) sinalizam para as causas de leses ou mesmo de morte nas pessoas no exerccio do seu

    trabalho, sendo acidentados no trnsito, como os moto taxistas. Esta profisso cresce

    vertiginosamente, no Brasil, afirmam os autores, trazendo grande preocupao para as

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 37

    autoridades, pois a informalidade da profisso alta. Com isto estes trabalhadores no

    possuem os benefcios de proteo da legislao trabalhista.

    Estima-se que 30% dos acidentes de trabalho atingem mos, dedos e punhos. Isto

    poderia ser evitado com investimentos em mquinas mais modernas, dispositivos de

    segurana e maior capacitao dos trabalhadores (SOUSA; MEDEIROS; MEDEIROS, 2014).

    Cestari e Carlotto (2012) dizem que possvel observar condies de trabalho que no

    favorecem a preservao e a promoo da sade do trabalhador. Segundo as autoras, ainda

    predomina a viso utilitarista e mecanicista que no respeita os limites fsicos, cognitivos e

    emocionais do trabalhador, o que pode acarretar acidentes ou doenas relacionadas ao

    trabalho.

    Para Jardim (2011) necessrio que se busque respostas ou solues viveis para os:

    Trabalhadores empregados, desempregados, adoecidos, em auxlio-doena,

    aposentados por doena, com risco de perda de emprego, sem acesso reabilitao

    profissional, ou seja, sujeitos marcados pelo ideal do trabalho, mas vivendo num

    mundo em que o estatuto social desse valor est em derriso.

    importante uma avaliao criteriosa sobre a atividade a ser realizada pelo trabalhador,

    anlise que deve avaliar no somente suas condies fsicas, tcnicas e operacionais, mas

    tambm suas condies emocionais (CESTARI; CARLOTTO, 2012).

    Jardim (2011) diz que:

    A articulao entre o que temos assistido nas estatsticas das depresses no mundo e a precarizao das relaes de trabalho quase se coloca por si. Se o trabalho no o

    nosso nico valor, ocupa sem dvida certa centralidade tanto em relao

    subsistncia, quanto insero social e constituio subjetiva, num mesmo lao.

    O tema preveno e proteo contra os riscos derivados dos ambientes do trabalho e

    aspectos relacionados sade do trabalhador felizmente ganha a cada dia maior visibilidade

    no cenrio mundial e o Governo Brasileiro est sintonizado a esta onda (BRASIL, 2013e). A

    Previdncia Social props ao Conselho Nacional de Previdncia Social (CNPS), rgo de

    natureza quadripartite com representao do Governo, Empresrios, Trabalhadores e

    Associaes de Aposentados e Pensionistas, que se adotasse um mecanismo auxiliar: o Nexo

    Tcnico Epidemiolgico Previdencirio (NTEP) (cruzamento das informaes de cdigo da

    Classificao Internacional de Doenas (CID-10) e de cdigo da Classificao Nacional de

    Atividade Econmica (CNAE) que aponta a existncia de relao entre a leso ou agravo e a

    atividade desenvolvida pelo trabalhador, embasada em estudos cientficos baseados nos

    fundamentos da estatstica e epidemiologia) (BRASIL, 2013e).

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 38

    2.2 Avaliao psicolgica

    Avaliao psicolgica uma das reas mais antigas da psicologia. No princpio foi

    aplicada seleo de soldados nas grandes guerras. Dessa forma, a avaliao foi identificada

    com um segmento particular da psicologia dedicado criao de instrumentos e tcnicas. Isto

    permitiu o desenvolvimento dos testes psicolgicos e da psicometria, o que contribuiu para

    dar um carter mais cientfico a prpria psicologia. Assim, a avaliao psicolgica representa

    uma rea central da psicologia porque permite a objetivao e operacionalizao de teorias

    psicolgicas (PRIMI, 2010).

    Batista (2012) afirma que a avaliao psicolgica dinmica e configura-se fonte de

    informaes de carter explicativo sobre os fenmenos psicolgicos, com o propsito de

    subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuao do psiclogo.

    Segundo Gioia-Martins, Medeiros e Hamzeh (2009), um diagnstico psicolgico

    adequado permite um trabalho preventivo e interventivo eficaz junto aos pacientes e seus

    familiares.

    De acordo com Muniz (2004) apud Primi (2010),

    O processo de validao de instrumentos psicolgicos se constitui em um caso

    particular de um processo mais geral, de validao de hipteses cientficas. Em

    ambos os casos, tenta-se validar explicaes por meio de um processo hipottico-

    dedutivo, no qual se levantam hipteses tericas, planejam-se estudos empricos,

    coletam-se e analisam-se dados, buscando-se testar as hipteses explicativas,

    falseando-as ou corroborando-as. Esse processo interativo teoria-hiptese-

    falseamento encontra-se na base do desenvolvimento do conhecimento e da

    maturidade da psicologia como cincia.

    De acordo com Rodgers (2010) a avaliao psicolgica uma rea de vital importncia

    para a psicologia por aproxim-la e defini-la como cincia. Em primeiro lugar porque envolve

    a objetivao dos conceitos tericos em elementos observveis. Em segundo lugar porque

    requer aplicao de mtodo cientfico baseado no conhecimento sobre quais delineamentos

    (levantamento, correlacional, quase experimental e experimental) so mais adequados ao

    conhecimento que se deseja ter. Em terceiro lugar porque envolve tambm o uso de

    modelagem matemtica na representao dos processos psicolgicos, abordagem que vem

    gradativamente substituindo o modelo clssico de anlise de dados baseado somente no teste

    de significncia da hiptese nula. Ainda, segundo o autor, os instrumentos de medida so

    primordiais para a sustentao da psicologia como cincia. Deste modo, ao se tratar de

    avaliao, de sua histria e do seu desenvolvimento, est-se tratando dos fundamentos bsicos

    da psicologia.

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 39

    2.2.1 Escala de avaliao de ansiedade e depresso

    Mensurao por escala uma forma sistematizada de observao, na qual os

    fenmenos a serem avaliados foram previamente definidos. Mesmo antes do

    surgimento de escalas de avaliao, a observao cuidadosa sempre foi a mais

    valiosa fonte de informao sobre fenmenos psiquitricos (NARDI, 1998).

    O Beck Anxiety Inventory (BAI) foi desenvolvido para avaliar os sintomas de

    ansiedade em pacientes com depresso. Seus itens devem refletir os sintomas afetivos,

    somticos e cognitivos da ansiedade, e no os da depresso (MALUF, 2002).

    Moreno e Moreno (1998), dizem que as escalas de avaliao servem para medir e

    caracterizar o fenmeno, isto , traduzem o fenmeno clnico em informaes objetivas e

    quantitativas.

    O Beck Depression Inventory, o BDI, foi traduzido para o portugus em 1982 e

    validado por Gorenstein e Andrade (1998). Segundo as autoras, o BDI discrimina os

    indivduos com ndice de normalidade daqueles que apresentam depresso.

    Gioia-Martins, Medeiros e Hamzeh (2009) dizem que:

    O BDI, apesar de ter sido criado como instrumento de medida da intensidade da

    depresso, atualmente utilizado tambm como instrumento de avaliao da

    depresso em indivduos que no apresentam um diagnstico psiquitrico prvio

    sua aplicao.

    2.3 Ansiedade

    Na Idade da Pedra, ou perodo Pleistoceno, os perigos eram reais, imediatos e

    constantes, a humanidade enfrentava em seu dia a dia, inundaes, ataque de animais e outras

    adversidades que colocavam sua vida em risco (VIECILI, 2003). A ansiedade uma condio

    natural do ser humano, presente desde os nossos ancestrais e est inexoravelmente ligada a

    nossa sobrevivncia (SILVA, 2012).

    Porm, de acordo com Batista (2012), na atualidade a ansiedade tem se revelado um dos

    grandes problemas do ser humano, pois a vida agitada, a presso e o stress tem se somado

    para gerar um mal-estar que prejudica a qualidade de vida dos indivduos.

    Asmundson et al. (2013) dizem que a ansiedade o mais comum transtorno mental da

    atualidade, e a APA (2013) define ansiedade como uma emoo caracterizada por sentimentos

    de tenso, pensamentos de preocupao e mudanas fsicas, como aumento da presso

    arterial.

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 40

    A ansiedade pode provocar no indivduo uma dificuldade de controlar seus pensamentos

    e elevar sua tenso, criando um sentimento de apreenso que ameaa sua personalidade total,

    diz Menezes Pinto (2011).

    Pessoas com transtornos de ansiedade geralmente tm recorrentes pensamentos ou

    preocupaes intrusivas. Tentam evitar certas situaes de preocupao. Tambm podem

    apresentar sintomas fsicos, como sudorese, tremores, tontura ou um batimento cardaco

    acelerado (APA, 2013).

    De acordo com Batista (2012), a ansiedade no pode ser evitada, mas pode ser reduzida.

    O problema do controle da ansiedade o de reduzi-la a nveis normais e us-la, depois, como

    estimulao para aumentar a conscincia, a vigilncia e o gosto pela vida.

    Os transtornos de ansiedade esto entre os transtornos psiquitricos mais frequentes na

    populao geral, com prevalncias de 12,5% ao longo da vida, 7,6% no ano e 6% no ms

    anterior entrevista (ANDRADE; GORENSTEIN, 1998).

    Sareen et al. (2013) dizem que as leses fsicas, especialmente quando graves, podem

    dificultar o retorno ao trabalho. Segundo os autores, constrangimentos financeiros resultantes

    da renda limitada ou aumento dos custos de cuidados com a sade podem adicionar estresse

    considervel e ansiedade. Estressores pessoais e financeiros adicionais poderiam ser

    associados com litgio em processos ps-trauma, o que poderia aumentar a vulnerabilidade

    psicolgica para temas como transtornos de ansiedade.

    Segundo Soutenho (1999), j em 1999 a ansiedade era apontada, baseado em modelo

    terico, na origem do aumento dos ndices de acidentes.

    Clapp et al. (2011) referem em seu estudo, que o histrico de stress pode conferir risco

    para o comportamento de conduo ansiosa o que poder facilitar o envolvimento com

    acidentes de trnsito.

    Mey-Guillard et al. (2005) salientam que a ansiedade se torna mais evidente em vtimas

    de trauma que estiveram envolvidas com infraes penais, como agresso fsica,

    demonstrando este sintoma na forma de agressividade com os cuidadores.

    Em estudo com vtimas de acidentes graves em Portugal (de trnsito, de trabalho,

    domstico e de lazer), Freitas, Rodrigues e Maia (2009) demostraram que a percepo de

    ameaa do acidente e a dissociao peri-traumtica se relacionam com perturbao atual e que

    o suporte social uma varivel muito importante para a sade mental aps acidentes graves.

    Batista (2012) salienta que muitos especialistas no consideram a ansiedade um

    problema, mas, sim, uma reao normal do organismo. Porm, quando a ansiedade comea a

    prejudicar o cotidiano da pessoa, preciso procurar ajuda profissional.

  • 2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 41

    Garieballa et al. (2006) apontaram em seu estudo que muitos profissionais de sade

    mental sinalizam para a importncia do tratamento de vtimas de experincias traumticas

    com transtornos graves, que inclui a ansiedade e depresso, pois estes sintomas podem levar

    tanto tentativa quanto ao ato suicida.

    Asmundson et al. (2013) sinalizam para a prtica de exerccios fsicos para se combater

    a ansiedade. Segundo os autores h evidncias que corroboram a prescrio de atividade fsica

    em adio ao tratamento farmacolgico e psicolgico no tratamento da ansiedade.

    Corroborando o trabalho de Asmundson et al. (2013), De Moor et al. (2006) dizem que

    a literatura recomenda que a atividade fsica e o acompanhamento psicolgico contribuem

    para o tratamento da ansiedade e da depresso em pacientes vtimas de traumas.

    2.4 Depresso

    A WHO (2012) assinala que a depresso um distrbio mental comum, caracterizado

    por tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimentos de culpa ou baixa autoestima,

    perturbao do sono, apetite alterado, sensao de cansao e falta de concentrao.

    Berrios (2012) diz que a antiga noo de melancolia foi remodelada em significado e

    sua transio para a doena depressiva foi facilitada pelo conceito de lipemania de Esquirol,

    que, pela primeira vez, enfatizou a natureza afetiva primria da doena.

    Cardoso (2011) afirma que a depresso um dos transtornos psiquitricos mais

    prevalentes no mundo. A autora diz que a APA estima que 5% da populao mundial tenha

    algum tipo de depresso.

    De acordo com a WHO (2012) ao menos 350 milhes de pessoas tem depresso. a

    principal c