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IMED ESCOLA DE DIREITO GRADUAÇÃO EM DIREITO ISAURA BUGANÇA PAGNUSSAT O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO E O DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO PASSO FUNDO (RS) 2019

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IMED

ESCOLA DE DIREITO

GRADUAÇÃO EM DIREITO

ISAURA BUGANÇA PAGNUSSAT

O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO E O DIREITO

FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO

PASSO FUNDO (RS)

2019

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ISAURA BUGANÇA PAGNUSSAT

O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO E O DIREITO

FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para obtenção do grau de bacharel no curso de Ciências Jurídicas e Sociais, Escola de Direito, da Faculdade Meridional – IMED. Orientadora: Professora Doutora Tássia Aparecida Gervasoni

PASSO FUNDO (RS)

2019

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ISAURA BUGANÇA PAGNUSSAT

O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO E O DIREITO

FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para obtenção do grau de bacharel no curso de Ciências Jurídicas e Sociais, Escola de Direito, da Faculdade Meridional – IMED, com Linha de Pesquisa em Direito, Democracia e Sustentabilidade.

BANCA EXAMINADORA

Professora Doutora Tássia Aparecida Gervasoni - Orientadora

Professor Doutor Fausto Santos De Morais - Professor avaliador

Professor Doutor Iuri Bolesina - Professor avaliador

Passo Fundo, 2019.

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Aos meus pais.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço às energias positivas da vida por me guiarem e

inspirarem na criação desse trabalho. Agradeço aos meus pais, pois, sem eles, eu

não estaria escrevendo essas palavras. Obrigada pela vida, pelo amor, pelo incentivo

e pelo exemplo de seres humanos que são para mim.

Aos meus amigos e colegas, que ao longo desses cinco anos, se tornaram

suporte e aconchego nos momentos difíceis, e nos felizes, se tornaram amor. Não

posso deixar de agradecer especialmente a Karol, pelo companheirismo nessa

jornada e pelo auxílio na confecção desse trabalho. Obrigada por significar tanto.

Agradeço a todos os professores da graduação, com certeza tiveram

participação nessa conquista. Em especial, à minha orientadora Professora Tássia,

pela paciência e apoio.

Por fim, agradeço todas as pessoas que compartilharam e fizeram parte da

minha jornada acadêmica, gratidão resume meu sentimento e memorável resume

esses cinco anos.

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RESUMO

A presente pesquisa busca analisar conceitualmente o Novo Constitucionalismo

Latino-Americano, bem como a proteção ambiental deferida pela Constituição Federal

do Brasil de 1988, com a finalidade de apresentar uma resposta ao problema de

pesquisa que consiste em como se caracteriza o Novo Constitucionalismo Latino-

Americano e como esse movimento pode contribuir para a consolidação do direito

fundamental a um meio ambiente equilibrado nos termos previstos pela Constituição

Federal de 1988. A pesquisa se utiliza da metodologia de abordagem dedutiva e os

métodos de procedimento histórico e monográfico. A técnica de pesquisa é por

documentação indireta, valendo-se de todos os dados sobre o tema, abrangendo a

pesquisa documental e bibliográfica, além da analise das Constituições dos países

latino-americanos, pesquisas, monografias e teses. Inicialmente o trabalho apresenta

o Novo Constitucionalismo Latino-Americano, seu surgimento, aspectos, ideais e

objetivos. Após, é feita uma análise do contexto dos países latino-americanos,

apresentando como foi e quais são as consequências da colonização. Posteriormente,

analisa-se a proteção que a Constituição Federal de 1988 concede ao meio ambiente,

além da sua classificação como direito fundamental, apresentando seus dispositivos,

além de leis esparsas. Prosseguindo, a pesquisa estuda uma possível influência do

Novo Constitucionalismo Latino-Americano na proteção ambiental brasileira e,

consequentemente, sua aplicação no atual ordenamento jurídico. Finalmente, conclui-

se pela possibilidade de influências do movimento em novas legislações produzidas,

além da possibilidade de aplicação do Novo Constitucionalismo Latino-Americano no

ordenamento jurídico pós 1988, como forma de consolidar o direito fundamental ao

meio ambiente equilibrado, partindo de uma nova relação ser humano e meio

ambiente.

Palavras-chave: Novo Constitucionalismo Latino-Americano. Direito fundamental ao

meio ambiente equilibrado. Constituição Federal de 1988.

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RESUMEN

Esta investigación busca analizar conceptualmente el Nuevo Constitucionalismo

Latinoamericano, así como la protección ambiental diferida por la Constitución Federal

de Brasil de 1988, con el fin de presentar una respuesta al problema de investigación

que se caracteriza como el Nuevo Constitucionalismo Latinoamericano y cómo este

movimiento puede contribuir a la consolidación del derecho fundamental a un

ambiente equilibrado bajo los términos de la Constitución Federal de 1988. La

investigación utiliza la metodología de enfoque deductivo y los métodos de

procedimiento histórico y monográfico. La técnica de investigación es mediante

documentación indirecta, utilizando todos los datos sobre el tema, incluida la

investigación documental y bibliográfica, así como el análisis de las Constituciones de

los países latinoamericanos, investigaciones, monografías y tesis. Inicialmente, el

trabajo presenta el nuevo constitucionalismo latinoamericano, su surgimiento,

aspectos, ideales y objetivos. Luego, se presenta un análisis del contexto de los países

latinoamericanos, que muestra cómo fue y cuáles son las consecuencias de la

colonización. Posteriormente, analizamos la protección que la Constitución Federal de

1988 otorga al medio ambiente, además de su clasificación como un derecho

fundamental, presentando sus disposiciones, además de leyes dispersas.

Continuando, la investigación estudia una posible influencia del Nuevo

Constitucionalismo Latinoamericano en la protección ambiental brasileña y, en

consecuencia, su aplicación en el sistema legal actual. Finalmente, concluye por la

posibilidad de influencias del movimiento en las nuevas legislaciones producidas,

además de la posibilidad de aplicación del nuevo constitucionalismo latinoamericano

en el orden legal posterior a 1988, como una forma de consolidar el derecho

fundamental al ambiente equilibrado, a partir de una nueva relación. ser humano y

medio ambiente.

Palabras clave: Nuevo Constitucionalismo Latinoamericano. Derecho fundamental a

un ambiente equilibrado. Constitución Federal de 1988.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO ................................. 12

2.1 Aspectos conceituais e fundamentos: Pluralismo e o Bem Viver ........................ 12

2.2 O contexto dos países latino-americanos e as Constituições no novo

constitucionalismo ..................................................................................................... 21

3 A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

BRASILEIRA DE 1988.............................................................................................. 33

3.1 A relação meio ambiente/sociedade frente o ordenamento jurídico brasileiro: o

direito ao meio ambiente equilibrado na Constituição de 1988 ................................. 33

3.2 As possibilidades do novo constitucionalismo latino americano no sistema jurídico

brasileiro pós 1988 ....................................................... Erro! Indicador não definido.

4 CONCLUSÃO ............................................................... Erro! Indicador não definido.

5 REFERÊNCIAS ............................................................. Erro! Indicador não definido.

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1 INTRODUÇÃO

Diante da atual crise ambiental, fomentada pelo efeito estufa, poluição e

extinção de espécies, o Novo Constitucionalismo Latino-Americano surgiu como um

movimento com o objetivo de modificar as legislações no que forem pertinentes ao

meio ambiente, à diversidade cultural e ao respeito à vida, em seu mais amplo sentido.

Esse movimento é um constitucionalismo transformador, por trazer uma diferente

óptica a respeito da relação do ser humano para com a natureza, identificando-a como

um sujeito de direitos. Ademais, é um constitucionalismo pluralista por identificar e

proteger a gigantesca diversidade cultural existente na América Latina.

Dessa forma, algumas Constituições de países latino-americanos já foram

alteradas para aplicarem as diretrizes desse novo constitucionalismo, desligando-se

de um modelo legislativo que não condiz com a realidade cultural desses países,

tampouco demonstra resultados satisfatórios de preservação ambiental.

Portanto, indaga-se: como se caracteriza o Novo Constitucionalismo Latino-

Americano e como esse movimento pode contribuir para a consolidação do direito

fundamental a um meio ambiente equilibrado nos termos previstos pela Constituição

Federal de 1988?

A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar como se caracteriza o

Novo Constitucionalismo Latino-Americano e como esse movimento pode contribuir

para a consolidação do direito fundamental a um meio ambiente equilibrado nos

termos previstos pela Constituição Federal de 1988. Possui, por objetivos específicos,

analisar os aspectos conceituais e fundamentos do Novo Constitucionalismo Latino-

Americano, bem como o Pluralismo e o Bem Viver; investigar o contexto dos países

latino-americanos e suas Constituições no novo constitucionalismo; averiguar a

relação meio ambiente/sociedade e o direito fundamental ao meio ambiente

equilibrado na Constituição brasileira de 1988; pesquisar as possibilidades do Novo

Constitucionalismo Latino-Americano no ordenamento jurídico brasileiro pós 1988.

No que tange às hipóteses, o presente trabalho partirá de duas suposições. A

primeira, na possibilidade de os aspectos do Novo Constitucionalismo Latino-

Americano serem capazes de consolidar o direito fundamental garantido na

Constituição Federal do Brasil de 1988 a um meio ambiente equilibrado, uma vez que

reconhece o meio ambiente como um sujeito de direitos, deixando de ser considerado

uma coisa perante o ordenamento jurídico. Dessa forma, a proteção do Estado ao

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meio ambiente pode ser mais ampla e rígida, comparada com a atualidade. Ademais,

abandona-se o antropocentrismo para conquistar uma relação de igualdade para com

todo o meio ambiente. A segunda, por outro lado, será de que os aspectos do Novo

Constitucionalismo Latino-Americano não são capazes de consolidar o direito

fundamental garantido na Constituição Federal do Brasil de 1988 a um meio ambiente

equilibrado, uma vez que não garante a inibição da ação humana que afeta o equilíbrio

ambiental. Ainda, pode resultar em uma instabilidade jurídica se, considerando o meio

ambiente como sujeito de direitos, rios e florestas começarem a postular em juízo,

sem que a cultura e a prática jurídica tenham absorvido adequadamente os

pressupostos desse novo constitucionalismo.

Inicialmente, no primeiro capítulo, o presente trabalho apresentará o Novo

Constitucionalismo Latino-Americano, desde a sua origem por movimentos sociais,

seus objetivos de preservação ambiental e de criar uma nova relação do ser humano

para com o meio ambiente, seus ideais, como o Bem Viver, fundamento do

movimento, que deve ser almejado e somente será conquistado com o perfeito

equilíbrio ambiental, além de demais termos de origem indígena que representam

como deve ser essa relação ser humano/meio ambiente. Posteriormente, no mesmo

capítulo será analisado o Pluralismo, outro fundamento do Novo Constitucionalismo

Latino-Americano, que busca a proteção da cultura originária dos países que se

perdeu na era colonial, bem como fomentar o seu resgate.

Após essa análise conceitual, no segundo capítulo serão analisados os

contextos que os países da América Latina estão inseridos, desde a era colonial,

quando serviram de insumos e mão de obra aos colonizadores, que das suas terras

sugaram as riquezas e vidas, para que fosse possível o desenvolvimento dos seus

países, além da anulação da cultura desses povos, que tiveram que obedecer e servir

os costumes dos colonizadores. A partir disso, analisa-se como a era colonial

influenciou no contexto atual desses países, e quais são seus reflexos, até chegar aos

movimentos sociais que buscaram o afastamento da influência colonial e o retorno às

culturas de origem dos povos locais, a partir do Novo Constitucionalismo Latino-

Americano.

Seguidamente, em um terceiro capítulo, a pesquisa fará uma análise das

Constituições do Equador e da Bolívia, que foram desenvolvidas, após consulta

popular, de acordo com o Novo Constitucionalismo Latino-Americano. Essas

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Constituições dedicam esforços em desenvolver uma sociedade Pluralista, onde os

povos possuem respaldo legal para fomentar e desenvolver suas culturas e modos de

viver. Como prova disso, estabeleceram uma nova forma de resolver os conflitos dos

seus povos, respeitando sua cultura e de acordo com seus ideais, em uma jurisdição

especial.

Posteriormente, será observado neste trabalho a proteção ambiental cedida

pela Constituição Federal do Brasil de 1988, bem como os deveres do Estado e dos

cidadãos de zelar pela sua preservação, bem como os mecanismos de efetivação

dessa obrigação. Além de ser um dever, o meio ambiente equilibrado é classificado

como um direito fundamental ao ser humano, como forma de assegurar a qualidade

de vida necessária para a manutenção das presentes e futuras gerações. A referida

Constituição, quando elaborada, significou um enorme avanço no assunto de proteção

ambiental pois, anterior a ela, nenhuma Constituição Federal do Brasil demonstrou ter

a preservação ambiental como preocupação governamental, além de ser a primeira a

deferir um capítulo especial ao tema. Após essa análise, será estudada a relação

sociedade e meio ambiente a partir da Constituição Federal do Brasil de 1988,

incluindo legislações esparsas, e como essa relação se desenvolve à perspectiva de

o meio ambiente equilibrado ser considerado um direito fundamental ao meio

ambiente.

Por fim, o presente trabalho investigará as possibilidades do Novo

Constitucionalismo Latino-Americano no ordenamento jurídico de 1988, partindo da

análise da atual situação do Brasil no que tange à preservação ambiental, danos e

omissões que estão ocorrendo em território nacional, e suas responsabilizações.

O método de abordagem para a presente pesquisa é o dedutivo, onde sua

conclusão consiste em expor, de forma explicativa, as premissas previamente

apresentadas. Dessa forma, será estudado o Novo Constitucionalismo Latino-

Americano, para ao fim, concluir-se de que forma esse movimento poderia contribuir

para a garantia de um meio ambiente equilibrado no Brasil pós 1988.

Os métodos de procedimento são o histórico e o monográfico. O primeiro,

embasa-se no estudo dos acontecimentos e processos ocorridos ao longo do tempo,

que influenciam a sociedade atualmente. No trabalho em tela, serão analisados os

modelos constitucionais que eram utilizados anteriormente a este novo

constitucionalismo, e quais foram os movimentos sociais que alavancaram o seu

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surgimento. O método monográfico se desenvolve pelo estudo de determinados

indivíduos, com a finalidade de obter generalizações (PRODANOV; FREITAS, 2013,

p. 39). A técnica de pesquisa é por documentação indireta, valendo-se de todos os

dados sobre o tema, abrangendo a pesquisa documental e bibliográfica, além de

análise às Constituições dos países latino-americanos, pesquisas, monografias e

teses.

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2 O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO: PLURALISMO E

BEM VIVER NAS CONSTITUICÕES DA COLÔMBIA E DO EQUADOR

Nesse capítulo serão apresentados os aspectos conceituais do Novo

Constitucionalismo Latino-Americano, como sua origem, objetivos, ideais e

ensinamentos que esse movimento busca propagar e, consequentemente, serão

apresentadas as definições de Bem Viver e de Pluralismo que são os pilares do

movimento.

Posteriormente serão analisados os contextos dos países que estão inseridos

no Novo Constitucionalismo Latino-Americano, bem como o estudo de suas

Constituições que foram desenvolvidas de acordo com o movimento, visando alcançar

o Bem Viver e respeitar o Pluralismo presente no respectivo país.

2.1 Aspectos conceituais e fundamentos: Pluralismo e o Bem Viver

O Novo Constitucionalismo Latino-Americano busca uma melhor relação entre

sociedade e natureza, além de garantir uma maior proteção ao pluralismo e ao

multiculturalismo, respeitando as diversas culturas existentes nos países latino-

americanos. Esse movimento teve suas primeiras manifestações no início do século XXI

em alguns países da América Latina, proveniente de anseios sociais, tem como principal

aspecto a reformulação da visão antropocêntrica e utilitarista do ser humano para com o

meio ambiente.

O Bem Viver, fundamento do Novo Constitucionalismo, traz uma nova visão acerca

dessa relação da sociedade para com o meio ambiente. É uma forma de ver a vida, como

um todo, oriunda dos povos indígenas, mas que fora perdida, até agora, pela influência

materialista europeia. Essa visão materialista trata o meio ambiente como um bem de uso

do ser humano, que está disponível para satisfazer as suas necessidades pessoais e

materiais e não carece de proteção e preservação, nem é considerado direito fundamental

ao ser humano.

Essa visão milenar da natureza, o Bem Viver, entende que tudo é vida, que tudo

que habita a terra é relacionado entre si. Que o ser humano não é um ser superior à

natureza e que dela pode se servir, como se seu bem fosse. Mas sim, que o ser humano

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é parte do meio ambiente, como a fauna e a flora, todos fazem parte da vida existente na

Terra.

Ademais, o Bem Viver exige que se recupere as origens encobertas pela ideologia

uniformizadora europeia, resgatando a cultura e a forma de vivência dos povos, é dessa

forma que expõe Céspedes:

Viver bem é recuperar a vivência de nossos povos, recuperar a cultura da vida e recuperar nossa vida em completa harmonia e respeito mútuo com a mãe natureza, com a Pachamama, onde tudo é Vida, onde todos somos uywas, criados da natureza e do cosmos, onde todos somos parte da natureza e não há nada separado, onde o vento, as estrelas, as plantas, as pedras [...]são nossos irmãos, onde a terra é vida em si, bem como o lugar de todos os seres vivos. (CÉSPEDES, 2010, p. 10) [tradução nossa].

Faz-se necessário, também, analisar o termo Pachamama, utilizado pelos povos

indígenas e andinos. Pacha é um termo plurissignificativo, pois, para os povos indígenas e

andinos, é a junção de todas as forças que regem a vida; e Mama se refere à figura

materna. Dessa forma, entende-se que tudo que há na Terra é dotado de vida, seja um rio,

uma floresta ou um animal, e somente com o perfeito equilíbrio e a ideia de

complementariedade, é que se conquistará o Bem Viver. Segundo Zaffaroni (2010, p. 18),

não se trata de um bem comum que se limita ao ser humano, mas sim de um bem que

representa todo o ecossistema, tudo o que vive.

Dessa forma, percebe-se que esse Novo Constitucionalismo tem uma visão para

com o meio ambiente inversa da que existiu até hoje. Um ensinamento milenar dos povos

indígenas que se perdeu para dar lugar à cultura dos países europeus, onde o homem está

acima de todo o ecossistema e pode utilizar-se desse para seu proveito.

Desse ponto, faz sentido se falar da patrimonialização do meio ambiente, ideia de

que o meio ambiente é um bem, um capital, podendo ser utilizado para o proveito de quem

o detém. Até então, utilizou-se do meio ambiente como forma de gerar riquezas, produtos

e confortos ao ser humano.

Contudo, esse uso desenfreado do meio ambiente como meio para produção,

principalmente, ocasionou o desequilíbrio ambiental que atinge o século XXI; geleiras

descongelando, aquecimento global e extinção de espécies, são alguns exemplos dos

resultados da ação humana ao meio ambiente.

A sucessão de catástrofes ecológicas [...] deram lugar a uma conscientização de massa no que toca aos danos do progresso, bem como a um largo consenso em torno da urgência de salvaguardar o ‘patrimônio comum da humanidade’. Multiplicação das associações de proteção da natureza, ‘dia da Terra’, sucessos

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eleitorais dos Verdes – a nossa época assiste ao triunfo dos valores ecológicos, a hora é do ‘contrato natural’ e da cidadania mundial, o ‘nosso país é o Planeta’. [...] Os nossos deveres superiores já não são para com a nação: a defesa do ambiente tornou-se um objetivo de massas [...] (LIPOVETSKY, 1994, p. 243-245, apud SILVA, 2015, p. 08).

Por milênios usou-se do meio ambiente para servir as vontades humanas, sem

medir consequências e, após causar desastres gigantescos e irreversíveis, o ser humano

volta para suas raízes buscando uma forma de corrigir a situação criada.

O Novo Constitucionalismo Latino-Americano surgiu com essa missão, de repensar

o papel do ser humano na Terra e sua relação com os demais seres vivos, como uma

tentativa de reverter danos que até hoje foram causados ao meio ambiente, e que hoje, o

próprio ser humano colhe seus frutos.

Nesse sentido, Trindade (1993, p. 23), destaca a necessidade de aproximação dos

direitos do ser humano e os direitos da natureza, como forma de garantir o bom convívio

de ambos:

Embora tenham os domínios da proteção do ser humano e da proteção ambiental sido tratados até o presente separadamente, é necessário buscar maior aproximação entre eles, porquanto correspondem aos principais desafios de nosso tempo, a afetarem em última análise os rumos e destinos do gênero humano (TRINDADE, 1993, p. 23).

Entre os países que adaptaram suas Constituições conforme esse movimento, cita-

se a Colômbia que reconheceu a Amazônia como sujeito de direitos, um bom exemplo

para esse trabalho.

A Amazônia cubana vinha sendo alvo de uma forte cultura de desmatamento, que

estava afetando todo o ecossistema da região. Dessa forma, como meio de frear os danos

provocados pela ação humana, a Suprema Corte colombiana reconheceu, em sentença

em abril de 2018, a Amazônia como sujeito de direitos, equiparando-a a um cidadão (EL

ESPECTADOR, 2018).

Serão trazidos mais exemplos como esse no decorrer do trabalho, de momento,

faz-se necessário o entendimento dos objetivos que o Novo Constitucionalismo Latino-

Americano possui como forma de garantir o Bem Viver.

Portanto, uma forma encontrada para garantir o Bem Viver é o reconhecimento de

tudo que há na natureza, seres orgânicos e inorgânicos, deva ser um sujeito de direitos

perante o ordenamento jurídico local, tal como fez a Colômbia, no exemplo acima.

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Outro fundamento desse Novo Constitucionalismo é o Pluralismo, indo na

contramão do Estado moderno, que impôs regras homogêneas aos povos.1 Em uma

Constituição Pluralista prevalece o diálogo e o respeito às diferentes culturas existentes no

país, é uma democracia consensual.

Ao contrário da democracia moderna essencialmente representativa, a democracia do estado plurinacional vai além dos mecanismos representativos majoritários. Não quer dizer que estes mecanismos não existam, mas, sim, que devem ceder espaço crescente para os mecanismos institucionalizados de construção de consensos (MAGALHÃES, 2010, p. 96).

Também conforme Magalhães (2010, p. 96), essa democracia pluralista não deve

ser uma competição de argumentos, onde vencerá o melhor ou o mais votado, mas sim,

deverão ser criados novos argumentos a partir dos debatidos, como uma ferramenta que

visa respeitar as diferenças de uma forma que todas sejam valorizadas, sem imposição de

uma sobre a outra.

Portanto, é necessário desprender-se dos conceitos já concretados pelo Estado

moderno, onde não beneficiam a totalidade da população, para dar lugar a um Estado mais

humanizado, com mais respeito às diferenças de cada povo, também como forma de

alcançar o Bem Viver.

Sabe-se que muitos são os povos excluídos na América Latina, povos que foram

descartados pela influência europeia e pelo Estado moderno. Indígenas e negros,

principalmente, sofreram as maiores consequências dessa influência, onde eram, inclusive,

comercializados como produtos.

Dessa forma:

Deste ponto de vista, o novo constitucionalismo reivindica o caráter revolucionário do constitucionalismo democrático, dotando-o dos mecanismos atuais que podem fazê-lo mais útil na emancipação e avanço dos povos através da constituição como um mandato direto do poder constitutivo e, conseqüentemente, fundamento último da razão de ser do poder constituído. Por tudo isso, o novo constitucionalismo procura analisar, a princípio, a exterioridade da constituição; isto é, sua

1 A ação dos colonizadores, que buscavam o desenvolvimento econômico dos países, interferiu não só na cultura dos países latino-americanos, mas também infiltrou na mentalidade dos cidadãos que a sua cultura era inferior à dos colonizadores. Dessa forma, os colonizadores ditaram as novas regras, de forma homogênea, de convivência dos povos, do que era certo ou errado e de como as controvérsias deveriam ser resolvidas, de acordo com os seus princípios e convicções, sem respeitar a cultura dos povos nativos e os seus ideais, pois esses, passaram a acreditar verdadeiramente na sua inferioridade. Portanto, as diferenças culturais ficaram abafadas pela homogeneidade das regras impostas pelos colonizadores, dessa forma, todos deveriam respeitá-las. A colônia era vista pelo colonizador apenas como uma fonte de bens para seu consumo, ditando regras que viabilizavam a extração das riquezas dessas terras, sem qualquer preocupação com os povos que ali viviam, que eram considerados apenas como mão de obra para os colonizadores (BOMFIM, 2008).

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legitimidade, que por sua própria natureza pode ser extralegal (MARTÍNEZ; VICIANO, 2012, p. 20 apud WOLKMER; MACHADO, 2013, p. 338) [tradução nossa].

Diante do modelo europeu até então adotado, perdeu-se uma riqueza dos povos

latino-americanos, a sua cultura, e esse é mais um objetivo do Novo Constitucionalismo

Latino-Americano, o seu resgate.

O Pluralismo é exatamente isso, respeitar as diferenças de cada povo, possuindo

sim um ordenamento jurídico geral, mas que se molde e adeque em conformidade com

cada cultura existente no país, dando voz aos excluídos e oportunidade das tradições se

readequarem ao mundo atual.

Postado em Filosofia Líquida - Instagram em 20 de junho de 2019.

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A imagem acima é uma representação do que o Pluralismo busca combater, a

imposição cultural dos colonizadores que, até então, sobrepuseram sua cultura sobre a

América Latina, transmitindo a ideia de que a sua cultura é a correta e que deve ser

seguida. Os colonizadores, desde o princípio, veem os povos latino-americanos como fonte

de mão de obra para a realização dos seus ideais, como uma raça inferior que deve se

curvar ao seu sucesso econômico.

Dessa forma, o Pluralismo visa desvanecer a homogeneidade cultural impregnada

nos povos latino-americanos, com o objetivo de revivescer as diferenças culturais dos

povos que, até então, foram abafadas pelo colonialismo.

Em seu sentido amplo, o Pluralismo representa:

a existência de mais de uma realidade, de múltiplas formas de ação prática e da diversidade de campos sociais ou culturais com particularidade própria, ou seja, envolve o conjunto de fenômenos autônomos e elementos heterogêneos que não se reduzem entre si (WOLKMER, 2001, p. 172).

No Direito, portanto, o Pluralismo vai em contramão à ideia de que o poder emana

somente do ordenamento jurídico e o povo deve se adequar a ele, de forma homogênea.

Traz, consequentemente, a concepção de que o poder vem da sociedade e que as normas

jurídicas devem se adequar à ela, respeitando as diferenças existentes nessa sociedade,

sendo ela de cunho cultural, racial, étnica ou econômica. “O processo prioriza a riqueza

cultural diversificada, respeitadas as tradições comunitárias históricas e superado o modelo

de política exclusivista, comprometida com as elites dominantes e a serviço do capital

externo” (WOLKMER; FAGUNDES, 2011).

Para que seja possível a concretização de um estado Pluralista, mesmo com a

ferramenta do diálogo, precisa se ter cuidado para um argumento não sobressair aos

demais, senão, retornar-se-á ao mesmo sistema impositor de regras que não respeitam a

singularidade de cada povo que há atualmente.

A Constituição da Bolívia reconheceu a possibilidade da aplicação das regras

indígenas paralelamente à lei estatal.

Em seu artigo 30, a Constituição boliviana2 estabelece um vasto conjunto de direitos dos povos indígenas. É a expressão constitucional da correspondência,

2 “Artículo 30.I.Es nación y pueblo indígena originario campesino toda la colectividad humana que comparta identidade cultural, idioma, tradición histórica, instituciones, territorialidad y cosmovisión, cuya existencia es anteriora la invasión colonial española. II. En el marco de la unidad del Estado y de

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pela primeira vez na história do país, entre a forte presença da população e o protagonismo político dos povos indígenas. Entre os direitos está o direito à jurisdição própria, cujo escopo está definido nos artigos 190, 191 e 192. Na Constituição do Equador também são reconhecidos os direitos dos povos e nacionalidades indígenas (artigo 57) e a jurisdição indígena (art. 171). (SANTOS, 2010, p. 91. apud WOLKMER; FAGUNDES, 2011, p. 400). [tradução nossa].

Dessa forma, os povos indígenas não estão mais obrigados a respeitarem regras

que não condizem com suas crenças e cultura, abriu-se espaço para esses povos

deixarem sua percepção sobre a vida valer perante a percepção imposta como correta.

A concepção teórica do Pluralismo estipula a existência de mais de uma realidade,

de diferentes formas de agir e uma diversidade cultural e social que rege as sociedades.

Dessa forma, a presença do Pluralismo nas Constituições é uma ferramenta essencial para

a manutenção das tradições e a convivência harmônica entre os povos, garantindo um

Bem Viver a todos.

Diante disso, fica clara a intenção da Constituição da Bolívia em possibilitar a

resolução de conflitos pelas regras indígenas em paralelo às impostas pelo ordenamento

jurídico. É uma forma de garantir a sobrevivência cultural desses povos, de não se perder

as raízes e cultivar um modo de viver milenar que tem muito a ensinar sobre como manter

o Bem Viver.

acuerdo con esta Constitución las naciones y pueblos indígena originario campesinos gozan de los siguientes derechos: 1. A existir libremente. 2. A su identidad cultural, creencia religiosa, espiritualidades, prácticas y costumbres, y a su propiacosmovisión. 3. A que la identidad cultural de cada uno de sus miembros, si así lo desea, se inscriba junto a la ciudadanía boliviana en su cédula de identidad, pasaporte u otros documentos de identificacióncon validez legal. 4. A la libre determinación y territorialidad. 5. A que sus instituciones sean parte de la estructura general del Estado. 6. A la titulación colectiva de tierras y territorios. 7. A la protección de sus lugares sagrados. 8. A crear y administrar sistemas, medios y redes de comunicación propios. 9.A que sus saberes y conocimientos tradicionales, su medicina tradicional, sus idiomas, susrituales y sus símbolos y vestimentas sean valorados, respetados y promocionados. 10. A vivir en un medio ambiente sano, con manejo y aprovechamiento adecuado de los ecosistemas. 11. A la propiedad intelectual colectiva de sus saberes, ciencias y conocimientos, así como a suvaloración, uso, promoción y desarrollo. 12. A una educación intracultural, intercultural y plurilingüe en todo el sistema educativo. 13. Al sistema de salud universal y gratuito que respete su cosmovisión y prácticas tradicionales. 14. Al ejercicio de sus sistemas políticos, jurídicos y económicos acorde a su cosmovisión. 15. A ser consultados mediante procedimientos apropiados, y en particular a través de sus instituciones, cada vez que se prevean medidas legislativas o administrativas susceptibles de afectarles. En este marco, se respetará y garantizará el derecho a la consulta previa obligatoria, realizada por el Estado, de buena fe y concertada, respecto a la explotación de los recursos naturales no renovables en el territorio que habitan. 16. A la participación en los beneficios de la explotación de los recursos naturales en sus territorios. 17. A la gestión territorial indígena autónoma, y al uso y aprovechamiento exclusivo de los recursos naturales renovables existentes en su territorio sin perjuicio de los derechos legitimamente adquiridos por terceros. 18. A la participación en los órganos e instituciones del Estado. III. El Estado garantiza, respeta y protege los derechos de las naciones y pueblos indígena originário campesinos consagrados en esta Constitución y la ley.” (BOLÍVIA, 2009).

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O Pluralismo possui alguns princípios, segundo Wolkmer (2001, p. 177), entre os

quais, destaca-se, como principal, o da tolerância, uma forma de manter o convívio

saudável entre vários povos de diferentes culturas e etnias, um respeitando o outro com

indulgência e moderação.

Outros princípios, também segundo Wolkmer, não menos importantes, são o

localismo, que garante a que o poder local se sobressaia ao poder geral; a autonomia, onde

os diversos grupos tenham o seu poder independentemente do poder geral; a participação

dos grupos nos processos decisórios; a descentralização do poder decisórios para esferas

minoritárias; a diversidade que privilegia a diferença e não à homogeneidade (WOLKMER,

p.144).

Percebe-se que o Pluralismo é uma forma de respeitar as diferenças e valorizar as

minorias, que durante toda a vigência de um modelo constitucional europeu foram

descartadas e obrigadas a se adequarem a um sistema que em nada condizia com sua

cultura e tampouco a respeitava.

Une-se, portanto, o Pluralismo com o Bem Viver anteriormente tratado, ambos são

dependentes um do outro, desde a sua concepção. O Bem Viver, proveniente dos povos

indígenas, ensina um novo modo de viver, um viver no seu mais amplo sentido. Não basta

viver de modo automático esperando o seu fim, mas sim, um viver com significado,

sabendo que o ser humano é parte de todo o sistema que rege a Terra, e não é uma parte

superior, ao contrário, é dependente de todo o restante do ecossistema.

Rege, também, que por vida deve-se pensar em sua totalidade. Tudo que está na

Terra é vida, seja um animal, uma flor, um rio ou o próprio ar, e se é vida, deve ser tratado

com o mesmo respeito e igualdade entre todos.

O sistema europeu imposto pelos colonizadores, com sua visão materialista e

utilitarista para com o meio ambiente, acarretou nos desastres naturais que hoje se

observam, e o próprio ser humano está na lista de prejudicados. Ademais, é necessário

mencionar que mesmo após a era colonial, essa visão que até então foi imposta, continuou

entrelaçada nos países da América Latina, ou seja, houve a absorção e aceitação desse

modelo de relação do ser humano com a natureza. Portanto, percebe-se a necessidade do

Novo Constitucionalismo reinventar todo o sistema constitucional desses países, como

forma de abandonar esses resquícios da era colonial.

Dessa forma, justifica-se mencionar como exemplo a Constituição Federal do Brasil

de 1988, pois mesmo sendo uma Constituição pós colonialismo possui o mesmo viés

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utilitarista para com o meio ambiente. Cita-se, portanto, a regência constitucional de que é

dever do cidadão cuidar da natureza para que as próximas gerações também dela

usufruam e não por considera-la uma forma de vida que merece proteção. Também, a

classificação dada pelo legislador ao meio ambiente é de um bem, não de um ser provido

de vida. Um bem que é de uso do povo e por ele deve ser preservado unicamente como

forma de garantir suas benesses para que as próximas gerações dele também possam

desfrutar.

Portanto, uma vez abandonado esse modelo europeu materialista, abandona-se o

seu padrão hegemônico de sociedade, dando espaço ao Pluralismo e ao Bem Viver. É

necessária uma modificação na mais profunda percepção da relação entre o ser humano

e a natureza, uma nova visão do papel do ser humano na Terra.

Como já dito, o próprio Bem Viver é uma cultura milenar dos povos indígenas que

estava abafada pelo modelo jurídico e social europeu. O Pluralismo, portanto, é uma forma

de retornar a essas culturas que cederam lugar à outra que não corresponde com a

realidade latino-americana. É uma forma de dar voz às minorias e às suas culturas,

baseado em princípios que garantem o bom convívio entre os povos, respeitando as

diferenças e a diversidade de cada povo da América Latina.

Destaca-se, ainda, a inovação constitucional apresentada no Pluralismo que

permite aos povos resolveram seus conflitos conforme sua cultura e entendimento,

respeitando apenas regras gerais impostas pela Constituição, mas não estando

submetidos a regras legais que violem suas convicções culturais. Tal inovação busca

garantir autonomia aos povos nativos latino-americanos, respeitando cada etnia e suas

particularidades.

A Constituição, pelo Novo Constitucionalismo, serve como um norteador das regras

para a boa convivência entre os povos, sem se impor de forma massificadora e

centralizada, dando espaço para a cultura dos povos e respeitando sua forma de ver e

tratar um possível conflito.

Desse modo, percebe-se que o Novo Constitucionalismo Latino-Americano é uma

novidade que volta ao passado para resolver questões que a modernidade não foi capaz,

ou que ela mesma tenha criado. É um sistema baseado no mais amplo respeito entre os

próprios povos e entre o ser humano e o meio ambiente, com o objetivo de alcançar uma

sociedade que privilegia a diversidade e busca uma melhor forma de viver para todos os

seres que habitam a Terra.

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2.2 O contexto dos países latino-americanos e as Constituições da Colômbia e

do Equador

Nesse item, serão analisadas as Constituições da Colômbia e do Equador, por

serem Constituições recentes e elaboradas nos moldes do Novo Constitucionalismo

Latino-Americano.

De início, faz-se necessário contextualizar historicamente os países da América

Latina, a fim de compreender melhor os motivos e fundamentos do movimento

denominado de Novo Constitucionalismo Latino-Americano.

Trata-se de uma história de dominação e destruição sociocultural que ultimou

com uma das mais ricas culturas já conhecidas, em benefício ao desenvolvimento

europeu. Tal destruição não se limitou à cultura da região, mas estendeu-se ao

extermínio físico dos cidadãos intelectivos que possuíam capacidade de produção,

seja material ou intelectualmente; aos sobreviventes, restou o abafamento de suas

oportunidades, com o intuito de se tornarem meros trabalhadores camponeses

dependentes e submissos ao então domínio europeu.

Uma das mais ricas heranças intelectuais e artísticas da espécie não só ficou destruída, mas, sobretudo sua parte mais elaborada, mais desenvolvida e avançada, ficou inacessível para os sobreviventes desse mundo. Daí em diante, e até não há muito, eles não poderiam ter ou produzir signos e símbolos próprios senão nas distorções da clandestinidade ou nessa peculiar dialética entre a imitação e a subversão, característica do conflito cultural, principalmente nas regiões andino amazônica, centro e norte-americanas. (QUIJANO, 2005, p.16).

Segundo Quijano (2005, p.16), os primeiros extermínios das sociedades latino-

americanas ocorreram por volta do século XVI e eliminaram mais da metade da sua

população que, na época, era estimada em mais de cem milhões de pessoas. Tal

aniquilamento da população foi fundado na ideia de imposição de raça superior à raça

inferior que, na época, justificou todos os atos de dominação social. Contudo, tal

dominação não foi relacionada de imediato ao conflito de poder, mas sim, de real

inferioridade racial que, pelas décadas seguintes, foi imposta tão profundamente que

as vítimas de tal domínio acreditaram, verdadeiramente, na inferioridade de seu povo.

Tal classificação social fundada na raça modificou, inclusive, o até então

conceito de superioridade entre pessoas, que era qualificado pelo sexo, onde, até

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então, o homem era sempre superior a mulher, contudo, passou-se a entender que

uma mulher branca era sempre superior a um índio homem (QUIJANO, 2005, p.18).

Os sobreviventes ao genocídio, mais especificamente, maias, astecas e incas,

tiveram sua história e cultura destruídas e, se não bastasse, foram submetidos a uma

única denominação e identidade social-racial, imposta, homogeneamente, de “índios”.

(QUIJANO, 2005, p.17). “A partir daí, a idéia de raça, o produto mental original e

específico da conquista e colonização da América, foi imposta como o critério e o

mecanismo social fundamental de classificação social básica e universal de todos os

membros de nossa espécie” (QUIJANO, 2005, p.18).

A classificação racial teve seus reflexos também no sistema de controle do

trabalho, onde os dominadores, chamados de colonizadores, exploravam a mão de

obra escrava dos negros e índios para a conquista de metais preciosos e vegetais

valiosos e garantiam os bônus da comercialização desses produtos. Trata-se de forma

de trabalho que mantinha esses colonizadores sempre no poder, controlando um

sistema exploratório e garantindo, cada vez mais, o domínio sobre as raças

supostamente inferiores, já que o sistema se consolidou de tal forma que ninguém

poderia estar fora dele.

Mas a região continua trabalhando como serviçal, continua existindo para satisfazer as necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, de cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que, consumindo os, ganham muito mais do que ganha a América Latina ao produzi-los (GALEANO, 1971, p.7).

Dessa forma, a dependência da América Latina para com a Europa estendeu-

se para o âmbito do desenvolvimento econômico, pois se de um lado a Europa

conquistou inúmeros avanços nas mais diversas áreas, a América Latina serviu como

mão de obra e meio de alcançar tais avanços, mas não auferindo nenhum benefício

para tanto.

Portanto, a influência europeia e norte-americana nos países da América

Latina, interferiu, mesmo que indiretamente, na estruturação dos países no âmbito

econômico, além do social.

Desse modo, daí em diante, a dependência histórico-estrutural da América Latina não seria mais somente uma marca da materialidade das relações sociais, mas sim, sobretudo, de suas novas relações subjetivas e

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intersubjetivas com a nova entidade/identidade chamada Europa Ocidental e a de seus descendentes e portadores onde quer que fossem e estivessem (QUIJANO, 2005, p.23).

Ademais, em um segundo momento, após a Europa ser a pioneira, a América

do Norte também passou a exercer sua força sobre a América Latina, como forma de

obter as benesses dessa terra rica e fértil. É possível compreender o quão significativa

foi a influência europeia e norte-americana na América Latina, que se enraizou desde

a época colonial, até a atualidade, onde é visível que tal influência ainda repercute

nos avanços das sociedades latino-americanas, sejam eles de caráter cultural,

monetário ou tecnológico.

Como forma de demonstrar tais repercussões, no âmbito monetário, Galeano

(1971, p. 8) cita que “a renda média de um cidadão norte-americano é sete vezes

maior do que a de um latino-americano, e aumenta num ritmo dez vezes mais intenso”.

Partindo dessa citação, pode-se analisar a relação entre a influência cultural e

econômica que os cidadãos latino-americanos sofreram durante o passar do tempo.

A renda per capita é um considerável dado para exemplificar os atrasos sofridos

pelos povos latino-americanos, pois a condição econômica dos cidadãos está

fortemente relacionada à condição e qualidade de vida das pessoas, além de ser um

reflexo da condição econômica do próprio país.

A correlação entre a influência cultural e a renda dos países encontra-se

pautada, principalmente, nas apropriações de terras e propriedades dos povos latino-

americanos pelos colonizadores europeus e norte-americanos, e da sua utilização e

controle das matérias primas e mão de obra para benefício econômico dos seus

países de origem ou de suas famílias.

E era isto o que se fazia. Fazendas, explorações minerais, havia onde os escravos se contavam por milhares. Camisa e ceroulas de algodão grosseiro, um chapéu de palha – algodão que os próprios escravos plantavam e teciam, chapéu trançado por eles mesmos, uma medida de farinha, um naco de carne, tirado ao trabalho do mísero cativo: eis o preço do trabalho para o colono. E o produto deste trabalho, o ouro, o tabaco, o açúcar, passava todo – tirada a parte do padre, do fisco e do intermediário – para o bolso do senhor (BOMFIM, 2008, p.90).

Consequentemente, justifica-se o atraso do desenvolvimento econômico dos

países latino-americanos em face dos europeus e norte-americanos, pois, se sua

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liberdade econômica foi restringida para atender os desejos de seus colonizadores,

não há o que se contestar que o desenvolvimento natural desses países foi abalado.

A apropriação dos recursos oriundos dos países da América Latina é um

grande exemplo disso: os colonizadores europeus realizaram um verdadeiro saque

aos recursos naturais da América-Latina, utilizando-os no desenvolvimento do

continente europeu e não fornecendo à colônia qualquer contrapartida. Ou seja,

beneficiaram-se da fertilidade das terras latino-americanas, do ouro, de pedras

preciosas e demais recursos para o desenvolvimento de seus países, além de

escravizar a população nativa para a extração destes recursos.

Como consequência da apropriação dos mais diversos bens da América Latina,

valiosos artefatos estão espalhados pelo mundo em museus de arte, como por

exemplo, diversos itens encontrados em Macho Picho, no Peru, há um século e que

estavam no Museu de História Natual Peabody de Yale, nos Estados Unidos. Dentre

os artefatos, estão cerâmicas, ferramentas, joias, ossos humanos e de animais, que

foram devolvidos ao Peru em 2012, após acordo entre o museu norte-americano e o

Peru, e que hoje se encontram em exposição na cidade de Cusco. (GAÚCHAZH,

2014).

Outro exemplo é de um manto têxtil pré-inca, da cultura Paraca, de 2 mil anos

de antiguidade que foi vendido de forma ilegal para a Suécia há quase um século, e

estava em exibição em um museu em Gotemburgo e foi devolvida ao Peru em 2014.

O museu sueco possui outras peças Paracas e acordou com o Peru que serão

devolvidas gradativamente, até o ano de 2021 (G1, 2014).

Portanto, a desproporção de desenvolvimento dos países é o retrato das

consequências de uma sangrenta dominação que, de forma brutal, exterminou

culturas, histórias e uma numerosa porção da população, com o objetivo de subtrair

todas as riquezas existentes nessas terras e, se não bastasse, fazer dos povos

descendentes delas seus escravos, a mão de obra necessária para tal saqueamento.

É nesse contexto que surge o movimento denominado de Novo

Constitucionalismo Latino-Americano, na tentativa de romper com o vínculo europeu

e norte-americano que se infiltrou em todos os aspectos das sociedades latino-

americanas, desde a sua cultura até os modelos constitucionais de seus países.

Decorrente a isso, países como Bolívia e Equador criaram uma nova Constituição,

como tentativa de se desprender das influências dos colonizadores.

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Com esse objetivo, o governo da Bolívia, em 25 de janeiro de 2009, realizou

uma consulta popular sobre o projeto da nova Constituição do país, ocasião em que

cerca de 3,5 milhões de bolivianos, representando mais de 90% da população,

votaram pela mudança ou não da Constituição. O novo texto constitucional foi

aprovado com 61,43% dos votos, contra 38,53% dos votantes não favoráveis à

mudança (ANGELO, 2019).

O novo texto constitucional foi promulgado em 07 de fevereiro de 2009 e

considerado um marco histórico no reconhecimento de um modelo de Estado

Plurinacional e intercultural, em um país onde 70% da população é composta de

indígenas e mestiços que, até então, não possuíam tamanha representatividade e

participação nas esferas políticas do país.

Se o Estado Plurinacional reconhecia 36 nações, estas deviam ter participação no parlamento nacional, modificando, assim, o modelo republicano e liberal clássico de governo que — nas fundamentações do Movimento Al Socialisto — as excluiu desde a fundação da república. (SCHAVELZON, 2010, p. 90).

O Preâmbulo esclarece o modelo da nova Constituição, onde rege que dará

início a um novo Estado Plurinacional, que respeita as diferenças étnicas, culturais e

linguísticas que formam o país, fundado em princípios de soberania, dignidade,

complementaridade, solidariedade, harmonia e equidade entre os povos.

Trata-se, no político, da inclusão de circunscrições legislativas especiais para indígenas; no econômico, do reconhecimento de uma economia plural; no jurídico, da institucionalização da justiça comunitária e do Tribunal Constitucional Plurinacional; no cultural, do respeito autonômico das formas tradicionais e do reconhecimento de direitos coletivos; e no linguístico, da oficialização das línguas (SCHAVELZON, 2010, p. 89).

Faz, igualmente, menção aos termos “Mãe Terra” e “Bem Viver”, expressões

provenientes da cultura indígena, demonstrando presar, além do pluralismo, pelo

saudável convívio entre ser humano e natureza, tal como os povos indígenas

pregavam antes de ter sua cultura abafada pelos interesses dos colonizadores.

(BOLÍVIA, 2009). Ao final do Preâmbulo, a Constituição fala em uma nova Bolívia,

refundada pela força do seu povo, da Pachamama e de Deus, “Cumprindo o mandato

de nossos povos, com a força de nossa Pachamama e graças a Deus, refundamos a

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Bolívia. Honra e glória aos mártires do ato constituinte e libertador, que tornaram

possível essa nova história”3 [tradução nossa] (BOLÍVIA, 2009).

No seu artigo segundo, a Constituição boliviana garante a autonomia dos povos

e proteção de suas culturas e o seu autogoverno, além de, no artigo quarto, garantir

a liberdade religiosa e crenças dos povos: “O Estado respeita e garante a liberdade

de religião e crenças espirituais, de acordo com suas visões de mundo. O estado é

independente da religião”4 [tradução nossa] (BOLÍVIA, 2009).

Ademais, é no artigo oitavo, inciso segundo, que a Constituição boliviana

demonstra quanto revolucionária foi e o porquê faz jus de ser considerada um marco

histórico para o movimento chamado de Novo Constitucionalismo Latino-Americano.

Nesse dispositivo, ela assume como princípios ético-morais de toda a sociedade

legados milenares da cultura indígena, como forma de garantir um Estado

Plurinacional.

Artigo 8 O Estado assume e promove como princípios ético-morais da sociedade plural: amar qhilla, amar llulla, amar suwa (não seja preguiçoso, não seja mentiroso ou ladrão), acrescente qamaña (viva bem), ñandereko (vidaarmoniosa), teko kavi (boa vida), ivi maraei (terra sem maldade) e qhapaj ñan (caminho ou vida nobre) [tradução nossa] (BOLÍVIA, 2009).5

Nota-se que pela primeira vez uma Constituição adotou termos e expressões

culturais de povos ancestrais para definir os princípios de um país e de uma

sociedade. O objetivo disso é a preservação da cultura, retornando às suas

sabedorias como forma de atingir um pleno bem-estar social e de aproximar o Estado,

em todos os seus graus de governo, do povo, de dar ouvidos e voz às suas realidades

e tentar minimizar as lesões provocadas por décadas de domínio europeu.

O capítulo quarto da Constituição da Bolívia denominado de “Direitos das

nações e dos povos indígenas” [tradução nossa]“6 rege todos os direitos dos povos

indígenas, como, por exemplo, garantias de acesso à saúde, educação, liberdade

3 Idioma original: “Cumpliendo el mandato de nuestros pueblos, con la fortaleza de nuestra Pachamama y gracias a Dios, refundamos Bolivia. Honor y gloria a los mártires de la gesta constituyente y liberadora, que han hecho posible esta nueva historia”. 4 Idioma original: “El Estado respeta y garantiza la libertad de religión y de creencias espirituales, de acuerdo con suscosmovisiones. El Estado es independiente de la religión” 5 Idioma original: “Artículo 8.I.El Estado asume y promueve como principios ético-morales de la sociedad plural: ama qhilla, ama llulla,ama suwa (no seas flojo, no seas mentiroso ni seas ladrón), suma qamaña (vivir bien), ñandereko (vidaarmoniosa), teko kavi (vida buena), ivi maraei (tierra sin mal) y qhapaj ñan (camino o vida noble)” 6 “Idioma original: “Derechos de las Naciones y Pueblos Indígena Originario Campesinos”

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religiosa, seus direitos políticos e econômicos, além de participação dos benefícios da

exploração dos recursos naturais presentes em seus territórios. Entre os direitos

listados pela Constituição, há um que merece destaque, que é o direito à jurisdição

própria dos indígenas, onde assim dispõe “14. Para o exercício de seus sistemas

político, jurídico e econômico de acordo com sua visão de mundo”, regularizado no

Título III, Capítulo Quarto, denominado “JURISDIÇÃO INDÍGENA ORIGINAL DA

CAMPESINA” [tradução nossa]”, regularizado no Título III, Capítulo Quarto,

denominado “JURISDIÇÃO INDÍGENA ORIGINAL CAMPESINA” [tradução nossa]

(BOLÍVIA, 2009)7.

Nesse capítulo, a Constituição inova, mais uma vez, por incorporar à jurisdição

do país uma jurisdição própria do povo indígena, de maneira com que seja possível a

resolução dos conflitos relacionados ao seu povo de acordo com suas regras e

convicções, com o objetivo de assegurar que a jurisdição estatal convencional não

ofenda os preceitos culturais indígenas.

Contudo, as decisões e mecanismos utilizados pela jurisdição indígena devem

estar de acordo com a jurisdição estatal, não violando os direitos e garantias que a

Constituição prevê. Assim dispõe em seu artigo 190: “II. A jurisdição indígena

originária campesina respeita o direito à vida, o direito a defesa e demais direitos e

garantias estabelecidos na presente Constituição” (BOLÍVIA, 2009) [tradução nossa].8

Partindo para o capítulo quinto, seção I, denominado de “Direito ao Meio

Ambiente” (“Derecho al Medio Ambiente”) [tradução nossa], a Constituição demonstra

que sua mudança não se limita à instituição de um Estado Plurinacional, mas que

também possui um novo olhar perante a questão ecológica e a responsabilidade dos

cidadãos para com o meio ambiente.

No artigo 33, a Constituição dispõe que:

As pessoas têm direito a um ambiente saudável, protegido e equilibrado. O exercício desse direito deve permitir que os indivíduos e coletividades das gerações presentes e futuras, além de outros seres vivos, se desenvolvam de maneira normal e permanente9 tradução nossa] (BOLÍVIA, 2009).

7 Idioma original: “14. Al ejercicio de sus sistemas políticos, jurídicos y económicos acorde a su cosmovisión. 8 Idioma original: “II.La jurisdicción indígena originaria campesina respeta el derecho a la vida, el derecho a la defensa y demás derechos y garantías establecidos en la presente Constitución.” 9 Idioma original: “Las personas tienen derecho a un medio ambiente saludable, protegido y equilibrado. El ejercicio de este derecho debe permitir a los individuos y colectividades de las presentes yfuturas generaciones, además deotros seres vivos, desarrollarse de manera normal y permanente.”

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Nota-se que, primeiramente, o meio ambiente saudável, protegido e equilibrado

é um direito dos cidadãos bolivianos, portanto, a sua utilização deve ser de maneira

que permita que outros seres vivos, além das futuras gerações possam usufruir desse

direito.

O artigo 34 da referida Constituição inova ainda mais ao referir que qualquer

pessoa, individualmente ou representando uma coletividade, está facultada a exercer

ações em defesa do meio ambiente ou a fim de garantir o direito a ele. Ainda, tal ação

não impede que o poder público instaure as devidas medidas necessárias para a

combater os atentados contra o meio ambiente. Assim:

Qualquer pessoa, individualmente ou em nome de um grupo, tem o direito de exercer ações legais em defesa do direito ao meio ambiente, sem prejuízo da obrigação das instituições públicas de agir ex officio contra ataques ao meio ambiente. 10 [tradução nossa] (BOLÍVIA, 2009).

Percebe-se, portanto, que a Constituição da Bolívia inaugurou importantes

transformações no que tange à organização e composição de seu país, com o objetivo

de fortificar a cultura de seus povos que até então fora abafada pela cultura dominante

europeia, além de trazer um novo olhar na questão ecológica do país, fazendo-se

parte, portanto, do movimento denominado de Novo Constitucionalismo Latino-

Americano.

Não diferente disso, está o Equador, que em 28 de setembro de 2008 aprovou

por referendo popular, com mais de 64% dos votos, a sua nova Constituição, que

inovava ao trazer novas visões sobre o meio ambiente e a inclusão dos povos, em um

Estado Plurinacional (STF, 2008).

Já no Preâmbulo, a Constituição demonstra sua inovação e vontade de se

desprender das amarras dos colonizadores europeus e reviver suas origens e

culturas, como forma de alcançar o bem-estar dos povos.

Decidimos construir uma nova forma de convivência cidadã, em diversidade e harmonia com a natureza, para obter um bom viver, sumak kawsay; Uma

10 Idioma original: “Cualquier persona, a título individual o en representación de una colectividad, está facultada para ejercitar lasacciones legales en defensa del derecho al medio ambiente, sin perjuicio de la obligación de las institucionespúblicas de actuar de oficio frente a los atentados contra el medio ambiente.”

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sociedade que respeite, em todas as suas dimensões, a dignidade das pessoas e comunidades 11 [tradução nossa] (EQUADOR, 2008).

A Constituição do Equador definiu uma nova relação entre ser humano para

com o meio ambiente, partindo do capítulo segundo, seção segunda, artigo 14, onde

garante que é direito de todo cidadão um meio ambiente protegido e equilibrado,

fazendo uso de expressões provenientes dos povos indígenas como “buen vivir” e

“sumak kawsay”, demonstrando visar também um Estado Plurinacional. Essas

expressões indígenas visam uma melhor forma de viver, no seu sentido mais amplo,

com o equilíbrio das relações do ser humano com o meio ambiente e com a sociedade,

como explica Esperanza Martínez: “O bem viver, para eles, é mais do que viver

melhor, ou viver bem: o bem viver é viver em plenitude. De fato, o termo utilizado não

é "alli kawsay" (alli = bem; Kawsani = viver), mas sim "sumak Kawsay" (sumak =

plenitude; kawsani = viver).” (UNISSINOS, 2010).

O Sumak, é a plenitude, o sublime, excelente, magnífico, bonito, superior. Kaw-say é vida, é ser. Mas é dinâmico, está mudando, não é um assunto passivo, portanto, Sumak Kawsay seria a vida em plenitude. Vida em excelência material e espiritual. A magnificência e o sublime são expressos em harmonia, no equilíbrio interno e externo de uma comunidade. Aqui a perspectiva estratégica da comunidade em harmonia é alcançar o superior12. (MACAS, 2010, p.14).

Ademais, o referido artigo declara ser de interesse público a preservação do

meio ambiente, dos ecossistemas, da biodiversidade e do patrimônio genético do país.

Art. 14.- É reconhecido o direito da população a viver em um ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, o que garante sustentabilidade e boa vida, sumak kawsay. A preservação do meio ambiente, a conservação dos ecossistemas, a biodiversidade e a integridade do patrimônio genético do país, a prevenção de danos ambientais e a recuperação de espaços naturais degradados são declaradas de interesse público13. [tradução nossa] (EQUADOR, 2008).

11 Idioma original: “Decidimos construir una nueva forma de convivencia ciudadana, en diversidad y armonía con la naturaleza, para alcanzar el buen vivir, el sumak kawsay; Una sociedad que respeta, en todas sus dimensiones, la dignidad de las personas y las colectividades” 12 Idioma original: “El Sumak, es la plenitud, lo sublime, excelen-te, magnífico, hermoso(a), superior. El Kaw-say, es la vida, es ser estando. Pero es diná-mico, cambiante, no es una cuestión pasiva. Por lo tanto, Sumak Kawsay sería la vida en plenitud. La vida en excelencia material y espiritual. La magnificencia y lo sublime se expresa en la armonía, en el equilibrio interno y externo de una comunidad. Aquí la perspec-tiva estratégica de la comunidad en armonía es alcanzar lo superior.” 13 Idioma original: “Art. 14.- Se reconoce el derecho de la población a vivir en un ambiente sano y ecológicamente equilibrado, que garantice la sostenibilidad y el buen vivir, sumak kawsay. Se declara de interés público la preservación del ambiente, la conservación de los ecosistemas, la biodiversidad y

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No capítulo quarto, “Direitos das comunidades, povos e nacionalidades”14

[tradução nossa], a Constituição definiu os direitos dos povos indígenas, com o fim

de garantir sua proteção, no artigo 57, entre eles o de cultivar sua identidade, tradições

e formas de organização social; participar do uso e conservação dos recursos naturais

renováveis encontrados em suas terras; e, o direito de jurisdição própria dos povos

indígenas, tal como prevê a Constituição da Bolívia, desde que não viole os direitos

concedidos pela Constituição do Equador. (EQUADOR, 2008). O direito de jurisdição

própria dos povos indígenas é tratado especificamente no item 10 do artigo 57,

definindo que os povos têm o direito de criar, desenvolver e praticar seu direito habitual

na resolução de conflitos, desde que não violem os direitos definidos na Constituição,

principalmente no que tange direito das mulheres, crianças e adolescentes: “10. Crie,

desenvolva, aplique e pratique seu próprio direito consuetudinário, que pode não violar

os direitos constitucionais, principalmente de mulheres, meninas, meninos e

adolescentes.”15 [tradução nossa] (EQUADOR, 2008).

Mais uma vez avista-se a tendência provocada pelo Novo Constitucionalismo

Latino-Americano de dar autonomia aos povos para a resolução de seus conflitos de

acordo com suas convicções e regras aceitas culturalmente, de maneira que essa

cultura não se perca por causa de uma imposição estatal homogênea.

Já no Capítulo sétimo, “Derechos de la naturaleza”, a Constituição equatoriana

dispõe dos parâmetros que regem a relação dos cidadãos equatorianos para com o

meio ambiente, em uma inovadora forma de proteção da natureza derivada de uma

visão não utilitarista do ecossistema. O ponto que merece maior destaque é o disposto

no artigo 71 da Constituição, onde, de forma pioneira no mundo, o Equador torna o

meio ambiente em um sujeito de direitos, possuindo, portanto, direito de ser respeitado

e preservado.

Nota-se a revolucionária transformação no que tange à proteção ambiental que

a constituinte equatoriana ostentou em defini-lo como um sujeito de direitos, como se

la integridad del patrimonio genético del país, la prevención del daño ambiental y la recuperación de los espacios naturales degradados.” 14 Idioma original: “Derechos de las comunidades, pueblos y nacionalidades” 15 Idioma original: “10. Crear, desarrollar, aplicar y practicar su derecho propio o consuetudinario, que no podrá vulnerar derechos constitucionales, en particular de las mujeres, niñas, niños y adolescentes.”

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um cidadão equatoriano fosse, e não um bem social que deve ser preservado

simplesmente como forma de garantir suas benesses às gerações futuras.

Assim o artigo dispõe: “71.- A natureza ou Pacha Mama, onde a vida é

reproduzida e executada, tem ou é direta ou indireta sua existência e manutenção e

regeneração de seus seis ciclos de vida, estrutura, funções e processos evolutivos

totalmente respeitados”.16 [tradução nossa] (EQUADOR, 2008).

Ainda, a Constituição determina que todo cidadão tem o direito de exigir das

autoridades competentes a devida proteção aos direitos do meio ambiente, como

forma de garantir sua efetividade. Por outro lado, o Estado deverá incentivar os

cidadãos e as pessoas jurídicas a proteger a natureza e respeitar o ecossistema em

todos os seus âmbitos.

Um dos direitos que a Constituição garante à natureza é o direito à sua

restauração em casos de danos ecológicos e, consequentemente, a obrigação do

Estado em adotar os meios mais eficazes de alcançar a restauração do ecossistema,

além de mecanismos para eliminar ou diminuir os impactos ambientais. Ademais, no

artigo 73, o Estado fica obrigado a aplicar medidas de precaução e restrição de

atividades que possam prejudicar as espécies, o ecossistema, ou alterar os ciclos

naturais, proibindo, também, a entrada de organismos e materiais orgânicos e

inorgânicos que possam alterar o patrimônio genético nacional (EQUADOR, 2008).

Dessa forma, a relação entre o ser humano e o meio ambiente restou pautada

em equilíbrio e respeito, com a consciência de que a existência do ser humano é

condicionada a um meio ambiente saudável e equilibrado, que possa proporcionar o

Bem Viver à sociedade, sem prejuízo à Pacha Mama.

Conforme artigo 74, “Pessoas, comunidades, povos e nacionalidades terão o

direito de se beneficiar do meio ambiente e dos recursos naturais que lhes permitam

viver bem.” [tradução nossa] (EQUADOR, 2008).17

Percebe-se, portanto, que ambas as Constituições aqui tratadas são

inovadoras no que tange ao Pluralismo dos povos e à relação do ser humano para

com o meio ambiente. Quanto ao Pluralismo, objetivando alcançar uma maior inclusão

dos povos na sociedade, o respeito à sua cultura e, também, resgatar as raízes da

16 Idioma original: ““Art. 71.- La naturaleza o Pacha Mama, donde la vida se reproduce y se realiza, tiene o es su existencia directa o indirecta y el mantenimiento y la regeneración de sus seis ciclos de vida, estructura, funciones y procesos evolutivos totalmente respetados” 17 Idioma original: “74.- Las personas, comunidades, pueblos y nacionalidades tendrán derecho a beneficiarse del ambiente y de las riquezas naturales que les permitan el buen vivir”

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cultura latino-americana que fora perdida durante a colonização europeia e norte-

americana.

Já no tocante às relações com o meio ambiente, uma modificação na, até então,

maneira de se relacionar com ele, deixando de ser visto como um bem que a

sociedade possui para dele se utilizar e extrair seus benefícios, para uma visão de

igualdade e dependência do ser humano e natureza, baseada no respeito e

preservação de todo o ecossistema, como forma de alcançar o Bem Viver.

Dessa forma, percebe-se a grandiosidade da mudança constitucional dos

países aqui citados como exemplos do Novo Constitucionalismo Latino-Americano, e

como esse movimento busca uma profunda reforma na relação ser humano e meio

ambiente, visando um melhor convívio entre todos os seres vivos que formam o

ecossistema, frisando a relação de dependência entre eles, e com o respeito

norteando todas as relações. Portanto, após apresentados os princípios desse

movimento, será analisada a relação do ser humano para com o meio ambiente a

partir da Constituição Federal do Brasil de 1988 e quais são as medidas de proteção

ambiental determinadas pelo legislador, como forma de comparativo com o tratado

até esse momento do trabalho.

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3 A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E

A POSSÍVEL INFLUÊNCIA DO NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-

AMERICANO NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

Nesse capítulo, serão apresentadas, de forma pontual, previsões da

Constituição Federal de 1988 e de legislações infraconstitucionais que visam a

proteção ambiental, onde definem , por exemplo, como deve se proceder a utilização

dos recursos naturais, a realização de obras e atividades que causem impacto

ambiental, a relação do ser humano com o meio ambiente, a sua responsabilidade na

preservação ambiental, bem como a do Poder Público e a previsão constitucional de

direito fundamental ao meio ambiente equilibrado.

Posteriormente, serão analisadas as possibilidades de uma influência do Novo

Constitucionalismo Latino-Americano na legislação brasileira, a partir da Constituição

Federal de 1988, como por exemplo, novas legislações que visem uma proteção

ambiental que se afaste da patrimonialização do meio ambiente

3.1 A relação meio ambiente/sociedade frente o ordenamento jurídico brasileiro:

o direito ao meio ambiente equilibrado a partir da Constituição de 1988

Logo de início, faz-se necessário citar que a definição de meio ambiente, de

degradação ambiental e de poluição são anteriores à Constituição Federal de 1988,

mas que por ela foram recepcionados juntamente com a lei que os definiu, lei nº

6.938/81, que em seu artigo terceiro determinou que por meio ambiente será

entendido o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,

química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; por

degradação ambiental a alteração das características do meio ambiente, e, por

poluição, a degradação da qualidade ambiental. (BRASIL, 1981).

A Constituição Federal brasileira de 1988, definiu, pela primeira vez, o direito

ao meio ambiente equilibrado como direito fundamental dos cidadãos, direito difuso,

de terceira dimensão, em seu artigo 225, caput: “todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-

lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. (BRASIL, 1988).

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Esse direito também pode ser classificado como transindividual, uma vez não

ser possível definir quem será beneficiado pela preservação ambiental, sendo todo

cidadão brasileiro seu destinatário. Também, o texto constitucional dispõe que a

preservação ambiental é essencial à sadia qualidade de vida dos cidadãos, portanto,

é possível alegar que o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado é

intimamente ligado ao direito à vida garantido pela Constituição.

Ademais, outra peculiaridade da disposição da Constituição Federal é a

simultaneidade dos destinatários do meio ambiente equilibrado e os obrigados da sua

preservação. Nota-se isso no momento que dispõe que “incumbe ao Poder Público e

à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo” (BRASIL, 1988).

Dessa forma, a obrigação de preservação do meio ambiente recai a todos os

cidadãos, de forma pioneira no Brasil, além da obrigação do Poder Público de adotar

medidas que busquem a sua proteção. Como forma de efetivar essa obrigação, o

parágrafo primeiro do mesmo artigo 225 da Constituição Federal, estabelece algumas

ações que o Poder Público passa a ser obrigado a exercer.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (BRASIL, 1988).

Nota-se que o parágrafo acima referido determina em todos os seus incisos

comandos ao Poder Público, que fica obrigado a efetivá-los, como tentativa de

alcançar proteção ambiental estabelecida pelo legislador. Além da proteção à fauna e

flora, aos animais, e ao ecossistema, traz pontos que merecem destaque, como a

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proteção ao material genético do país e a fiscalização das instituições dedicadas à

sua pesquisa e manipulação.

A proteção ao patrimônio genético é um importante avanço na preservação

ambiental do país, segundo o Ministério do Meio Ambiente, “patrimônio Genético (PG)

é o conjunto de informações genéticas contidas nas plantas, nos animais e nos

microrganismos, no todo ou em suas partes (cascas, folhas, raízes, pelos, penas,

peles, etc.) estejam eles vivos ou mortos.” (BRASIL, 2019).

Tais informações genéticas são obtidas e utilizadas para a criação de produtos

das mais diversas finalidades, portanto, a manipulação sem controle desses materiais

causa inúmeros danos à biodiversidade, sendo assim de extrema importância a

proteção constitucional desse patrimônio.

Outro ponto interessante a ser tratado é a definição de espaços de proteção

ambiental, como por exemplo, as áreas de proteção permanente, que são locais que

não podem sofrer alterações pela ação humana e sua exclusiva destinação é a

preservação ambiental.

O texto constitucional também previu que as obras que apresentem algum risco

ambiental devem passar anteriormente por um estudo prévio para analisar o possível

impacto ambiental que tal atividade provocará. É uma forma de prevenção ao possível

dano e, se no estudo não for possível definir quais seriam os danos ambientais, deverá

ser aplicado o princípio da precaução e não realizar a obra ou atividade. Ademais, o

Poder Público restou obrigado a controlar a produção, comercialização e a prática de

técnicas que sejam perigosas à vida e à sua qualidade e ao meio ambiente.

Por fim, a Constituição Federal de 1988 obrigou o Poder Público a desenvolver

educação ambiental em todos os níveis de ensino escolar e a conscientização dos

cidadãos da sua obrigação em proteger o meio ambiente, como forma de aconselhar

a população de como o meio ambiente equilibrado é necessário à garantia do direito

à vida do ser humano.

O artigo 225 prosseguiu nas medidas de proteção ambiental, com os demais

parágrafos. O parágrafo segundo, garante a proteção ao meio ambiente no que tange

a exploração dos recursos minerais. Rege que quem explorar esses recursos, ficará

obrigado a recuperar o dano ambiental causado pela atividade, de acordo com as

soluções técnicas que o órgão público competente julgar necessário.

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No parágrafo terceiro, o texto constitucional trouxe o princípio do poluidor

pagador (que será trabalhado mais adiante nesse trabalho), ou seja, pessoas físicas

ou jurídicas que poluírem o meio ambiente terão de responder pelo dano causado,

independentemente da sua culpa, pois a responsabilidade em esfera ambiental é

objetiva. A responsabilidade do eventual poluidor se estende às penais e

administrativas, contudo, não obstam a responsabilidade de reparar o dano.

Em consoante ao disposto na Constituição, foi promulgada a lei n°9605/98, que

especifica como serão atribuídas as sanções a quem atentar em desfavor ao meio

ambiente. Em seu artigo 2º, como destaque, a lei estabelece que quem sabia da

conduta criminosa e podia evita-la e não o faz, responderá pelas mesmas penas do

crime cometido, de acordo com sua culpabilidade.

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la (BRASIL, 1998).

Ainda, no parágrafo quarto, a Constituição Federal definiu A Floresta

Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e

a Zona Costeira como patrimônio nacional, proibindo sua utilização em desacordo ao

disposto em lei futura que faria sua regulamentação. A lei em questão é a n°13.123,

de 20 de maio de 2015, que regulamenta como deve se dar o uso desses locais sem

que haja a degradação ambiental, respeitando a particularidade de cada um, visando

sua preservação, diante da sua importância no ecossistema brasileiro.

As terras devolutas e arrecadadas pelos Estados, como forma de proteger o

ecossistema da região, tornaram-se indisponíveis pelo texto constitucional, pelo

parágrafo quinto do artigo 225. Ainda como forma de proteção ambiental, a

Constituição Federal, no artigo 225, parágrafo sexto, regulou que para a criação de

usinas nucleares que operem com reatores nucleares, deverão obedecer a

localização para sua instalação disposta em lei federal específica.

Por fim, o parágrafo sétimo faz um adendo à parte final do inciso VII do § 1º do

mesmo artigo 225 da Constituição Federal, onde rege que não serão consideradas

cruéis as práticas culturais com animais, desde que regulamentadas por lei específica

e que garantam o bem-estar dos animais envolvidos na prática, como forma de

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proteger o patrimônio cultural brasileiro. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal

julgou o Recurso Extraordinário 494601, em março de 2019, onde definiu ser

constitucional o sacrifício de animais em práticas religiosas de matriz africana, como

forma de proteção à liberdade religiosa (STF, 2019). Também, em 2016, o STF julgou

em Ação Direta de Inconstitucionalidade 4983, pela inconstitucionalidade da Lei

15.299/2013, do Estado do Ceará, que regulamenta a vaquejada como prática

desportiva e cultural do Estado. Na ação, ajuizada pelo procurador-geral da República,

a maioria dos Ministros acompanhou o Relator Marco Aurélio que alegou haver

“crueldade intrínseca” na prática da vaquejada, indo em desencontro à proteção

ambiental estabelecida no artigo 225 da Constituição Federal (STF, 2016).

Percebe-se que a proteção ambiental definida pela Constituição Federal de

1988 trouxe uma valiosa inovação ao ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que,

anteriormente a esta, nenhuma Constituição brasileira definia uma proteção ao meio

ambiente nesses moldes. Existiram, em Constituições anteriores, certa

regulamentação às caças e cortes de árvores, mas o seu objetivo não era de

preservação ambiental, mas sim, na maioria dos casos, de viés econômico. É o que

fala Barros:

Não me parece que esses momentos históricos possam ser catalogados como marco de nascimento e de desenvolvimento do direito ambiental no Brasil. Primeiramente, porque as medidas ou eram essencialmente econômicas ou de mero prazer, como era o corte de árvores, ou, como a criação do Jardim Botânico, e serviam como pretexto para criação de um grande jardim para satisfazer a curiosidade imperial. Tanto que a importação de grande quantidade de árvores exóticas de vários países e a sua incrustação no ambiente natural então existente modificaram substancialmente a biosfera dominante. Em segundo lugar, porque o meio ambiente como estrutura juridicamente protegível é criação moderna decorrente do crescimento populacional e do mau uso que dele se faz. (BARROS, 2008, P.40).

Contudo, é valido destacar a relação do regimento constitucional acerca da

proteção ambiental com o antropocentrismo. Ora, se é o ser humano que dita as

regras de convivência de sua sociedade, o que é certo ou errado e,

consequentemente, como deve-se dar a proteção ambiental, difícil é o seu

afastamento da visão antropocêntrica.

Nesse sentido, Paulo de Bessa Antunes:

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a questão que se coloca, contudo, é a de não confundir a pretensa superação do antropocentrismo com uma modalidade de irracionalismo, muito em voga atualmente, que, colocando em pé de igualdade o Homem e os demais seres vivos, de fato, rebaixa o valor da vida humana e transforma-a em algo sem valor em si próprio, em perigoso movimento de relativização de valores. O que o DA busca é o reconhecimento do Ser Humano como parte integrante da Natureza. Reconhece, também, como é evidente, que a ação do Homem é, fundamentalmente, modificadora da Natureza, culturalizando-a. O DA estabelece a normatividade da harmonização entre todos os componentes do mundo natural culturalizado, no qual, a todas as luzes, o Ser Humano desempenha o papel essencial (ANTUNES, 2006, p. 20).

Assim, faz-se necessária a distinção do antropocentrismo clássico para o

chamado antropocentrismo alargado, que passa a considerar o ser humano como

parte da natureza, dessa forma, conforme José Rubens Morato Leite, “pela visão

antropocêntrica alargada, tutela-se o meio ambiente pelo seu valor intrínseco e não

apenas pela utilidade que os recursos naturais podem ter para o homem. O homem

passa a figurar como o guardião da biosfera e não mais como o seu dono” (LEITE,

2000, p.79).

Essa visão, contudo, ainda não pode ser relacionada ao biocentrismo, pois, o

que ela determina é a supressão da ideia de que o ser humano é detentor da natureza,

para dar lugar a ideia de que o ser humano faz parte da natureza e é o principal

responsável pela sua preservação.

Portanto, José Rubens Morato Leite determina que a proteção constitucional

dada ao meio ambiente no artigo 225 da Constituição Federal é justamente o

antropocentrismo alargado, pois visa uma maior interação entre ser humano e meio

ambiente, além entrelaçar a ideia de necessidade de um meio ambiente

ecologicamente equilibrado para a qualidade de vida dos cidadãos, inclusive, das

futuras gerações. Assim,

não há como refutar, desta forma, que no sistema jurídico brasileiro, além da proteção à capacidade de aproveitamento do meio ambiente, simultaneamente, visa-se a tutelar o mesmo, para se manter o equilíbrio ecológico e sua capacidade funcional, como proteção específica e autônoma, independente do benefício direto que advenha ao homem (LEITE, 2000, p. 77).

Dessa forma, a proteção ambiental garantida pela Constituição Federal é uma

proteção ao próprio ser humano, que tem sua existência totalmente dependente da

conservação do meio ambiente de todo o planeta, pois, mesmo com toda a evolução

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tecnológica que desenvolveu, não consegue ter a manutenção da sua existência em

um mundo artificial.

Ainda, se faz necessário destacar a expressão “bem” do caput do artigo 225 da

Constituição Federal. Ora, mesmo com a pretensão de assegurar a proteção

ambiental, o legislador não deixou de tratar o meio ambiente como um bem, de uso

do ser humano. Essa expressão é questionável, pois, a partir dela, a relação do ser

humano com o meio ambiente torna-se de posse, de propriedade, em que o mesmo

deverá preservar na medida que garanta sua existência, mas sem obstruir o seu uso

de fim econômico.

A legislação também trouxe alguns princípios do direito e da gestão ambiental,

que serão tratados a seguir: o Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como

direito fundamental da pessoa humana esclarece que “os seres humanos estão no

centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm

direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com o meio ambiente” (ONU,

1992). Há críticas a esse princípio, pois trata-se de uma visão antropocêntrica pura,

onde apenas o ser humano é o destinatário da preservação ambiental. Segundo

Thomé, (2018, p.63), o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado está

profundamente relacionado com o direito fundamental à vida e à proteção da

dignidade da vida humana, como forma de garantir condições apropriadas para a

qualidade de vida dos cidadãos. No julgado do Recurso Especial 1.120.117-AC, sendo

originário de uma Ação Civil Pública que visava a reparação de danos materiais,

morais e ambientais pela invasão de terras indígenas e a extração ilegal de madeiras,

o Superior Tribunal de Justiça definiu como imprescritível a reparação de danos

ambientais, por se tratar de um direito fundamental inerente à vida do ser humano.

No âmbito do desenvolvimento, há o Princípio do Desenvolvimento Sustentável

que busca um ponto de equilíbrio entre desenvolvimento socioeconômico e proteção

ambiental, pois sabendo que os recursos naturais são esgotáveis, é necessário que

as atividades econômicas se desenvolvam às medidas da preservação desses

recursos, com sua utilização de forma racional. Esse princípio busca conciliar a

propriedade econômica, o bem-estar social e a proteção ambiental para as atuais e

futuras gerações (THOMÉ, 2018, p.56).

Segundo a Comissão Mundial Sobre o Meio-Ambiente e Desenvolvimento,

desenvolvimento sustentável significa “um desenvolvimento que faz face as

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necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações

futuras na satisfação de suas próprias necessidades” (THOMÉ, 2018, p.56).

Há, também, o Princípio democrático que garante a participação do cidadão

nas decisões de caráter ambiental, em três esferas. Na esfera legislativa, por meio do

plebiscito, disposto no artigo 14, I, do referendo, disposto no artigo 14, II e da iniciativa

popular, do artigo art. 14, III, todos da Constituição Federal. Na esfera administrativa,

por meio do direito de informação com base no artigo 5º, XXXIII, do direito de petição

apresentado no artigo 5º, XXXIV, “a” e do estudo prévio de impacto ambiental disposto

no artigo 225, §1º, IV, todos da Constituição Federal. Na esfera processual, por meio

da ação civil pública conforme artigo 129, III, da ação popular do artigo 5º, LXXIII, do

mandado de segurança coletivo disposto no artigo 5º, LXX, do mandado de injunção

regido no artigo 5º, LXXI, da ação civil de responsabilidade por improbidade

administrativa disposta no artigo 37, §4º e, por fim, da ação direta de

inconstitucionalidade conforme o artigo 103, todos da Constituição Federal.

Segundo Thomé (2018, p.77), o Princípio democrático decorre do direito dos

cidadãos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e da sua classificação como

um bem de uso comum do povo, que passou a ser seu titular. Dessa forma, a

sociedade passou a obter mecanismos de proteção do meio ambiente, como forma

de participação direta na manutenção dos recursos naturais que garantem sua

qualidade de vida.

Quando a máquina estatal não se apresenta habilitada a atender satisfatoriamente aos anseios da sociedade, incumbe à própria sociedade atuar diretamente. Os cidadãos têm o direito (e o dever) de participar da tomada de decisões que possam vir a afetar o equilíbrio ambiental. Há uma diversidade de mecanismos para proteção do meio ambiente que possibilitam a efetiva aplicação do princípio da participação comunitária (ou princípio democrático) (THOMÉ, 2018, p. 77).

Outro Princípio é o da prevenção e da precaução, que deve ser dividido para

melhor análise. Como muito bem define Thomé (2018, p.64), “evitar a incidência de

danos ambientais é melhor que remediá-los. Essa é a ideia chave dos princípios da

prevenção e da precaução, já que as sequelas de um dano ao meio ambiente muitas

vezes são graves e irreversíveis.” Pretende-se, no princípio da precaução, prevenir

um possível dano ao meio ambiente, quando não há comprovações de quais são os

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riscos que a atividade a ser executada possa causar. É assim que dispõe a Declaração

do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento:

Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. (ONU, 1992).

Conforme Canotilho e Leite (2012, p.70), o Princípio da precaução atua como

uma espécie de “in dubio pro ambiente”, pois, se houver dúvidas sobre os riscos de

certa atividade, deve-se favorecer o meio ambiente e a sua proteção ao invés das

intenções humanas.

Ou seja, se há a intenção de praticar certa atividade, seja de qualquer natureza,

mas não há comprovação científica de quais serão os possíveis danos ambientais que

essa atividade poderá acarretar, deverá ser aplicado esse princípio da precaução e

não executar a ação, conforme dispõe o artigo 1º da Lei 11.105/2005, lei da

biossegurança (BRASIL, 2005). 18 A lei nº 6.938/81 que estabelece a Política Nacional

do Meio Ambiente, mesmo sendo anterior à Constituição Federal de 1988, foi

recepcionada por esta e adotou o princípio da precaução, onde no seu Anexo VIII

estabelece quais são as atividades potencialmente poluidoras.

É de se observar que o princípio da precaução não é exação discricionária do Poder Público. Trata-se de regra a ser definida por lei específica. Assim, é possível afirmar-se que o princípio da precaução se exterioriza pelo princípio da legalidade. A lei, e somente ela, é que definirá qual a instalação ou a atividade potencialmente causadora de significativa degradação ao meio ambiente. (BARROS, 2008, p.68).

Por sua vez, o princípio da prevenção será aplicado a impactos ambientais já

conhecidos e, por meio de estudo de impacto, possíveis de prever. Portanto, a

atividade em questão será executada desde que seguidas normas de segurança que,

18 “Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e SUS derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente.” (BRASIL, 2005).

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comprovadamente e com segurança, sejam capazes de prevenir os danos já

conhecidos da atividade. Esse princípio baseia a obrigatoriedade do Estudo de

Impacto Ambiental (E.I.A.) previsto no artigo 225, parágrafo primeiro, inciso IV, da

Constituição Federal, que deverá ser realizado pelos realizadores da obra ou

atividade, antes de inicia-la, que seja potencialmente degradadora do meio ambiente.

Dessa forma, o Princípio da prevenção, segundo Canotilho e Leite (2012, p.73),

implica na adoção de medidas anteriormente ao início da atividade, que visem evitar

os danos já identificados, e que devem ser custeadas inteiramente pelos poluidores.

Os autores seguem relacionando a preservação ambiental com as futuras gerações e

com o viés econômico:

Mais vale prevenir, porque, mesmo sendo possível a reconstituição in natura, frequentemente ela é de tal modo onerosa que não é razoável exigir um tal esforço ao poluidor. Logo, serão as futuras gerações que mais vão sofrer as consequências daquele dano ambiental que não foi possível evitar. Mais vale prevenir, por fim, porque economicamente é muito mais dispendioso remediar do que prevenir. Com efeito, o custo das medidas necessárias a evitar a ocorrência de poluição é, em geral, muito inferior ao custo das medidas de “despoluição” após a ocorrência do dano (CANOTILHO; LEITE, 2012, p.73).

Conforme Thomé (2018, p.65), “o princípio da prevenção é orientador no Direito

Ambiental, enfatizando a prioridade que deve ser dada às medidas que previnam (e

não simplesmente reparem) a degradação ambiental.”

Ainda, como mecanismo de proteção ambiental, há o Princípio do limite, pelo

qual, por meio do poder de polícia, o Poder Público deve fiscalizar atividades que

afetem o meio ambiente, orientando os interessados das ocasiões, os limites a serem

seguidos no que tange à utilização do meio ambiente e seus recursos naturais e nas

consequências que suas atividades acarretem ao equilíbrio do meio ambiente.

Comanda, também, a necessidade de propagar a conscientização da importância de

preservar o meio ambiente como forma de garantir o bem-estar da comunidade, como

garantia de sua qualidade de vida (THOMÉ, 2018, p.84).

Da mesma forma, há o Princípio do poluidor-pagador que pode ser analisado

de duas formas: caráter preventivo, como forma de inibir a degradação ambiental pela

ação humana; caráter repressivo, quando já ocorrido o dano, o poluidor deverá repará-

lo. Esse princípio é o previsto no artigo 225, § 3º da Constituição Federal. O poluidor

deverá reparar o dano causado de maneira mais abrangente possível, uma vez que a

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culpa é analisada de forma objetiva, independentemente da culpa do causador do

dano.

Conforme Barros (2008, p. 69), devido ao meio ambiente ser definido na

Constituição Federal como um bem de todos e inerente à vida humana e sua

dignidade, a sua preservação deve ser respeitada, punindo quem promover perigo ao

equilíbrio ambiental, mesmo que de forma indireta colaborado com a prática, podendo

responsabilizar, inclusive, o Poder Público.

A expressão “poluidor-pagador” é criticada por alguns doutrinadores, pois daria margem à interpretações errôneas, como a de que “quem paga pode poluir”. Importante frisar que esse princípio não pode, em hipótese alguma, se tornar um instrumento que “autorize a poluição” ou que permita a “compra do direito de poluir”. Vale ressaltar, portanto, que ele não se limita a compensar os danos causados, mas tem como um de seus principais objetivos evitar a concretização do dano ambiental (THOMÉ, 2018, p.73).

No mesmo sentido, há o Princípio do usuário-pagador que, de certa forma,

complementa o princípio do poluidor-pagador, pois estabelece que aquele que usufruir

de recursos naturais deverá pagar pela sua utilização, com o objetivo de racionalizar

seu consumo e evitar desperdícios, tendo em vista ser um bem de uso comum da

coletividade. Importante ressaltar que o fato gerador da cobrança não é o possível

dano ambiental que a atividade possa ter causado, mas sim, a mera utilização dos

recursos naturais que, pela coletividade ser sua titular, o valor monetário respectivo

ao uso, deve ser revertido em benefício dela própria (THOMÉ, 2018).

O meio ambiente, de forma concreta, é um bem público classificado pelo art.225 da Constituição Federal, como de uso comum do povo, conceito clássico que vem desde o direito romano e que significa que o bem assim definido tem como finalidade o uso pelo povo. Esse uso não significa necessariamente que seja gracioso ou não oneroso. No caso do bem meio ambiente seu uso é oneroso o que corresponde a necessidade de contraprestação para que seja usado. Aí reside o princípio do usuário-pagador (BARROS, 2008, p.68).

Por fim, é trazido o Princípio da vedação do retrocesso ecológico, que visa

garantir que os avanços no que tange temas de proteção ambiental, não sofram

retrocessos, tendo em vista que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um

direito fundamental. Esse Princípio tem por objetivo impedir que decisões legislativas

e executivas acarretem em redução de medidas protetivas ao meio ambiente já

consolidadas no sistema jurídico. Dessa forma, como exemplifica Thomé (2018, p.85),

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não se pode revogar uma lei de proteção ambiental sem que essa seja substituída por

outra que ofereça proteção equivalente.

É uma tentativa de proteger o próprio direito fundamental à vida e à dignidade,

pois, em caso de retrocesso em âmbito ecológico, a própria vida humana sofrerá suas

consequências, portanto, o Poder Público deve atuar de forma a sempre buscar

avanços e progressos em assuntos de proteção ambiental, como um patamar

legislativo que deve sempre avançar na tutela da preservação ambiental.

É nesse sentido que se expressa Thomé, “é inadmissível o recuo da

salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores ao já consagrados, a não ser

que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteras” (THOMÉ, 2018, p.87).

No mesmo sentido, para Canotilho e Leite (2012, p.66), esse Princípio é uma

espécie de limitador das normas legislativas, pois não serão aceitas confecção de

normas que afrontem proteções ambientais já alcançadas e definidas no ordenamento

jurídico nacional, de forma a vedar o retrocesso ambiental no âmbito legislativo.

Dessa forma, apresentados os Princípios e alguns comandos de lei que

regulamentam o direito ambiental no Brasil e a sua proteção, percebe-se que houve

uma preocupação do constituinte em garantir maior preservação aos recursos naturais

e a todo o ecossistema brasileiro, além da elaboração de leis que visam complementar

essa proteção. Há de se admitir que a posição constitucional de 1988 perante

assuntos ambientais foi considerada um avanço de grande relevância no

ordenamento jurídico brasileiro, pois além de impor diversos comandos ao próprio

Poder Público, obrigando-o a promover ações com a finalidade de preservação

ambiental, também definiu a comunidade como titular do meio ambiente, possuindo a

obrigação de garantir sua preservação e conscientização dessa necessidade, como

forma de salvaguardar o equilíbrio ambiental essencial para a manutenção do direito

fundamental à vida das futuras gerações. No item a seguir, serão tratadas as

possibilidades de aplicação de regramentos do Novo Constitucionalismo Latino-

Americano no ordenamento jurídico brasileiro, partindo da Constituição Federal de

1988.

3.2 As possibilidades do Novo Constitucionalismo Latino-Americano no sistema

jurídico brasileiro pós 1988

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Após feita a análise no capítulo anterior dos regramentos constitucionais e

infraconstitucionais e os Princípios que regem a proteção ambiental no Brasil, far-se-

á uma relação desses regramentos com o Novo Constitucionalismo Latino-Americano,

a fim de encontrar possibilidades de sua aplicação no ordenamento jurídico brasileiro.

Há de se mencionar que movimentos de proteção ao meio ambiente, são

tendências mundiais19 e que ganham cada vez mais adeptos em diversos países pelo

mundo, seja por necessidade de frear os impactos da ação humana que, por longos

períodos, provocou desordem ao equilíbrio ambiental, como forma de garantir a

sobrevivência digna da espécie humana, ou seja por simples evolução intelectual do

ser humano que, finalmente, tenha percebido que a sua relação para com o meio

ambiente não deve ser vertical, mas sim, horizontal, uma vez que todo o ecossistema

é interligado em um ciclo vicioso.

O desequilíbrio ambiental proveniente da ação humana afetou todas as cadeias

do ecossistema mundial; águas poluídas, espécies extintas, ar contaminado, tudo isso

pelo desenvolvimento econômico almejado. Contudo, a espécie humana começa a

sentir os efeitos do seu descaso com o meio ambiente, na desordem climática, no

aumento do nível dos oceanos e nos desastres ambientais cada vez mais frequentes

e, tenta, de alguma forma, minimizar os danos da sua ação para com o meio ambiente.

O meio ambiente é o endereço do futuro para o qual haverá a maior convergência de demandas entre todas. Não é necessário realizar estudos muito profundos para se concluir que a qualidade da água se encontra for-temente ameaçada; que o clima tende a se transformar no próximo século por conta do efeito estufa e da redução da camada de ozônio e que a biodiver-sidade tende a se reduzir, empobrecendo o patrimônio genético, justamente quando a ciência demonstra a cada dia o monumental manancial de recur-sos para o desenvolvimento científico que a natureza alberga (ZULAUF, 2000, p. 86).

É nesse sentido que surgiu o Novo Constitucionalismo Latino-Americano, por

movimentos sociais não mais contentes com o tratamento patrimonial concedido ao

meio ambiente, que por longos períodos, afetou a riqueza da biodiversidade das suas

19 “Os fatos históricos demonstram que desde o início dos anos 2000 observa-se a diminuição da

ocorrência de desastres ambientais, pelo menos os que são diretamente ligados à ação humana. Poder-se-ia dizer que esse fato é resultado das atitudes tomadas no passado? E que finalmente a espécie humana busca a prevenção dos problemas ambientais? De fato, o modo de pensar e agir da população mundial mudou em parte. Há uma maior consciência ecológica em relação à produção e utilização de energia elétrica, combustíveis e formas de obtenção desses, a redução na produção de resíduos sólidos e sua reciclagem caminha a passos lentos, porém constantes, envolvendo um número cada vez maior de atores nesse processo. ” (POTT, ESTRELA, 2017, p.278).

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regiões, com o intuito de fazer os recursos naturais como insumo para o

desenvolvimento industrial e econômico.

Em capítulo anterior, foram mencionadas as Constituições da Bolívia e do

Equador como exemplos de países que reformularam suas Constituições de acordo

com o Novo Constitucionalismo, trazendo ao seu ordenamento jurídico um outro viés

ambiental, onde busca-se alcançar um total equilíbrio das relações entre o ser humano

e o meio ambiente, objetivando o Bem Viver, uma forma de ver a vida com muito mais

amplitude e reconhecimento de que o ser humano é parte da natureza, e não seu

possuidor.

Nessas Constituições o meio ambiente tornou-se um sujeito de direitos, que

possui proteções equiparadas a um cidadão do país, como exemplo disso, a Colômbia

definiu a sua Amazônia como sujeito de direitos, como forma de garantir uma maior

proteção e preservação do local. Este é um ponto que se pode fazer conexão com o

Brasil através da tragédia de Mariana-MG e a ação movida pelo Rio Doce.

Em 05 de novembro de 2015, uma barragem da propriedade da empresa

Samarco Mineração S/A, conhecida como Barragem do Fundão, localizada em

Mariana – Minas Gerais, se rompeu, liberando, no momento do rompimento,

aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e

sílica, após, mais 16 milhões de metro cúbicos continuaram escoando da barragem

(MPF, 2015). O vazamento desses rejeitos soterrou um subdistrito destruindo

residências e acarretando em 19 mortos e diversas famílias desabrigadas. Os rejeitos

seguiram seu caminho de destruição até alcançar o Rio Doce, cuja bacia hidrográfica

abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos

quais abastecem sua população com a água do rio, até encontrar o mar (LIMA, 2019).

O rejeito de minério de ferro tem pelo menos três impactos ambientais na foz, explica o biólogo Ângelo Fraga Bernardino, que também é professor do departamento de oceanografia da UFES e estuda o impacto do desastre no ecossistema marinho. A parte mais densa soterra o fundo e prejudica a vida dos organismos que vivem ali, como os bentos. A parcela mais fina, que chega a ter a consistência de um gel, diminui a penetração de luz e afeta o processo de fotossíntese do plâncton, ao mesmo tempo em que altera as condições químicas da água (MOTA, 2017).

Nesse sentido, perante toda a destruição que os rejeitos de minério provocaram

à vida existente no Rio Doce, a Bacia Hidrográfica do Rio Doce, de forma inédita no

Brasil, representada pela Associação Pachamama, da cidade de Pelotas – Rio Grande

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do Sul, ajuizou ação em face da União e do Estado de Minas Gerais. A petição se

fundamentou no Novo Constitucionalismo Latino-Americano para requerer a

consideração da personalidade de sujeito de direitos do Rio Doce, onde fala:

Afinal, sou ecossistema (relações de vida), sou oceano (ciclo da água), sou biodiversidade (processos ecológicos), sou inspiração artística (poesias, crônicas, romances e canções) e sou ancestralidade (origem de povos). Sendo tudo isto, sou sujeito de direitos? O Novo Constitucionalismo Latino-americano, que reconhece os direitos da natureza, diz que sim (INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS, 2017).

A petição continua sua narrativa fazendo referências às Constituições do

Equador e da Bolívia como fundamento, além de mencionar que o Brasil ratificou as

mesmas normas internacionais de que a Colômbia se valeu para tornar o Rio Atrato

um sujeito de direitos, são elas, a Convenção 169 da Organização Internacional do

Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais (1989), Convenção da Organização

das Nações Unidas (ONU) sobre a Diversidade Biológica (1992), Declaração da

Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos dos Povos Indígenas

(2007), Declaração da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre os Direitos

dos Povos Indígenas (2016) e Convenção da Organização das Nações Unidas Para

a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre a Proteção do Patrimônio Cultural

Imaterial (2003). Por fim, a petição exige que a União e o Estado de Minas Gerais

cumpram com suas obrigações de prevenção de desastres ambientais, além de

requerer que o Rio Doce seja considerado como sujeito de direitos.

Filósofos antigos já falavam da existência de direitos da natureza como sujeitos,

mesmo sendo um tema que há pouco ganhou discussões de maiores repercussões,

De Platão a Santo Agostinho, passando por São Francisco de Assis, os filósofos vêm asseverando que a natureza tem desígnios e objetivos não relacionados com as finalidades humanas. Coube a John Locke confirmar que todos os homens são titulares de direitos: os biocentristas estenderam tal tese a outras formas de vida; e, indo mais longe, Aldo Leopold desenhou o modelo dos ecossistemas como titulares de direitos. De acordo com essa visão, o homo sapiens abandona sua postura de conquistador e degradador irresistível e assume seu papel de membro pleno e cidadão de uma comunidade ampliada, a Natureza. Tal inovador paradigma, posteriormente, é sofisticado por Arne Naess, no campo filosófico, e por Christopher Stone e Lawrence Tribe, no terreno jurídico (BENJAMIN, 2011, p. 94).

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Contudo, tal posição ainda é muito controversa no Brasil, onde a classificação

de sujeito de direitos ao meio ambiente não é recebida com muito ânimo pelos juristas.

Por exemplo, em sua coluna na Revista Consultor Jurídico (Conjur), Vladimir Passos

de Freitas, em 2017, criticou a ação movida pelo Rio Doce, alegando que há órgãos

suficientes para garantir a proteção ambiental, dispensando que o próprio rio ajuíze a

ação. Também, argumentou que tais ações acarretariam insegurança jurídica para os

empreendedores, que transfeririam suas empresas para os países vizinhos. Ademais,

alegou que uma ação dessa natureza é supérflua comparando com os inúmeros

problemas econômicos e sociais que o país se encontra. Segue trecho da sua fala:

[...] Se não temem o MP, com toda a sua força institucional, temerão um rio, uma praça, os quero-quero que reclamarão que humanos transitem em um parque onde têm os seus ninhos? [...] Diante dos graves problemas enfrentados atualmente pelo Brasil, a busca de temas novos que suscitam apaixonadas discussões e poucos resultados, a mim parece mais um escapismo do que uma proposta de solução para o que quer que seja. Enquanto estudamos e discutidos, acaloradamente, coisas que não terão efetividade, deixamos de lado o que realmente importa para que o país avance social e economicamente (FREITAS, 2017).

Em contraponto a Vladimir Passos de Freitas, Lafayette Garcia Novaes

Sobrinho, advogado do Rio Doce, em artigo publicado pela Organização Não-

Governamental Pachamama, faz uma profunda análise sobre a visão do ser humano

para com o meio ambiente e sobre quem deve ser considerado sujeito de direitos:

Por muitos anos, disseram que eu era um objeto, um recurso. Disseram que eu não podia ser um sujeito porque não era uma pessoa. Mas, o que é uma pessoa? O ser humano é uma pessoa? Dizem que sim. Quando começa o ser humano? Quando nasce. Dizem alguns. Mas, existe nascimento sem embrião? Embrião sem fecundação? Fecundação sem pais? Pais sem avós? Avós sem bisavós? Atualidade sem ancestralidade? Pode o ser humano dizer que está separado de todos os seus ancestrais? Parece que não. Cada ser humano é o elo de uma corrente de vida. Cada ser humano é um “rio de humanidade” que brota da fonte universal misteriosa (ONG PACHAMAMA, 2017).

Essas discussões estão longe do seu fim e demandam um exercício mental

aprofundado no que pese o que é considerado vida, o que é considerado sujeito, e

qual deve ser a relação do ser humano para com esses seres que até então foram

vistos como um bem passivo de exploração.

A Organização Não-Governamental Pachamama, que tem sua sede na cidade

de Pelotas/Rio Grande do Sul, é um grande exemplo de como os ideais do Novo

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Constitucionalismo Latino-Americano já estão presentes no Brasil e como o

desenvolvimento desse novo olhar para com o meio ambiente se alastra pelo mundo

a fora. A ONG é uma instituição jurídica de terceiro setor, fundada em 2006 e que

possui ativistas em vários estados do Brasil e, inclusive, no Peru, Argentina, África e

Austrália. Alguns dos objetivos da ONG é a disseminação da compreensão que a

Terra é um organismo vivo único, sem fronteiras ou divisões; de que o ser humano é

a natureza, e de que se deve alcançar o Bem Viver. Tem como missão, também, a

difusão da cultura e educação ligados a Consciência Pachamama, defendendo a vida

e a complementariedade dos povos (ONG PACHAMAMA, 2019).

Um dos projetos da ONG é o Comunidades Campesinas que visa a construção

de uma mudança no estilo de vida que o ser humano está inserido, resgatando a forma

de viver intrínseca nos povos latino-americanos, fundado na simplicidade, na

complementariedade dos povos como forma de alcançar o Bem Viver e afastar o ser

humano do individualismo e consumismo (ONG PACHAMAMA, 2019).

Dessa forma, a ONG Pachamama é uma instituição de enorme relevância

nacional acerca da inserção dos objetivos no Novo Constitucionalismo Latino-

Americano no Brasil, e de como esses novos olhares a respeito da relação meio

ambiente e ser humano estão se alastrando pelo país em movimentos sociais e,

inclusive, jurídicos, como é o caso da ação movida pelo Rio Doce.

O atual momento que o Brasil encara a respeito das questões ambientais é um

bom exemplo da importância de uma reforma no estilo de vida e visão do ser humano

no que tange ao meio ambiente. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE) demonstram que no mês de setembro de 2019 os níveis de

desmatamento na Amazônia foram 101,35% acima da média constatada no mesmo

mês entre 2015 a 2018. Quando a comparação é entre os meses de 2018 e 2019 o

aumento é alarmante; conforme o Portal G1 (2019), de julho a setembro de 2019 foram

registrados 5.129,21km² de áreas sob alerta de desmate, enquanto no mesmo período

de 2018 foram registrados 1.862,50km², um aumento de 175,39% (OLIVEIRA, 2019)

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(G1, 2019)

Mesmo possuindo uma legislação vasta que implica em punições aos que

causarem danos ao meio ambiente, tais dados demonstram o desdém humano para

com as regras e para com o meio ambiente. A responsabilização pelos danos estende-

se ao Poder Público, que tem o dever de prevenir e combater crimes ambientais,

podendo ser punido pela sua omissão. Consoante a isso, faz-se necessário mencionar

a omissão governamental frente aos atuais casos de queimadas na Amazônia, que

conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), registrou o maior

número de focos desde 2010, tendo um aumento de 19% na média dos últimos 21

anos. As atitudes de combate que posteriormente o Governo Federal tomou, foram

reflexo das pressões sociais e, inclusive, internacionais que o Brasil sofreu, como por

exemplo, a ameaça de corte nas importações de carne bovina e de soja pela União

Europeia do Brasil, divulgada pelo Ministro das Finanças da Finlândia, que detém a

presidência da União Europeia (REUTERS, 2019).

Outro exemplo de responsabilização do Poder Público pela omissão frente a

danos ambientais é o caso de vazamento de óleo em diversas praias no Nordeste do

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país, onde decisão judicial, por pedido do Ministério Público, determinou o prazo de

48 horas para a União, juntamente ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos

Renováveis (IBAMA), instalar barreiras de proteção no mar para impedir novos danos

e, em caso de descumprimento aplicar-se-á a multa de R$100.000,00 (cem mil reais)

por dia de omissão (G1, 2019).

O Brasil faz parte de diversos acordos internacionais de preservação ambiental

e combate à sua degradação. Entre esses acordos está o Programa O Homem e a

Biosfera (MaB), criado pela UNESCO, que busca a cooperação científica internacional

sobre as interações do ser humano com a natureza. O Programa tem as Reservas da

Biosfera como fonte de suas pesquisas e conversação, visando combater os

processos de degradação ambiental, como o desmatamento, a poluição e o efeito

estufa. (UNESCO, 2017)

As Reservas da Biosfera estão presentes na Lei 9.986/2000 em seu artigo 41,

onde ganhou um capítulo especial para a sua definição e especificações. O Brasil

possui sete Reservas da Biosfera, que são: Mata Atlântica, Cinturão Verde de São

Paulo, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Amazônia Central e Serra do Espinhaço

(BRASIL, 2019). Por serem áreas voltadas ao projeto da UNESCO, o desejo em

manter essas áreas preservadas é de todos os países que compõem o Programa,

dessa forma, é possível falar em uma soberania mitigada20 presente no artigo 41 da

referida lei. Se essa visão for válida, seria possível uma intervenção dos países

membros do Programa no controle e recuperação das áreas que estão sofrendo

incêndio e desmate na Amazônia.

É necessário abandonar a ideia de que os danos ambientais apenas

repercutem no local onde ocorrem pois, conforme o Novo Constitucionalismo Latino-

Americano ensina, o Planeta é um organismo vivo único, que tem seus ciclos

20 “Ferrajoli aponta três aporias para o estudo do conceito de soberania: a primeira que se refere ao significado filosófico da soberania, ou seja, a soberania como construção de matriz jusnaturalista, que se constitui de base para a concepção juspositivista do estado e ao direito internacional moderno. Em síntese, a soberania como atributo do Estado e de cunho absoluto. A segunda aporia nos remete para a noção de soberania como um poder supremo, manifestando-se de forma diferenciada no âmbito interno e externo dos estados. Enquanto que na ordem interna a soberania sofre uma progressiva limitação paralelamente à formação dos Estados democráticos de direitos, na ordem interestatal, a história da soberania é de progressiva a absolutização. Já a última aporia diz respeito à soberania a partir da teoria do direito. A tese sustentada pelo autor supramencionado é de uma antinomia entre direito e soberania, tanto no plano interno dos Estados, em que a mesma está em contraste com o Estado Democrático de Direito, quanto no plano do direito internacional, onde a soberania é mitigada pela carta das Nações Unidas (1945) e pela Declaração dos Direitos do Homem (1948)”. (FERRAJOLI, 2003, p.9 apud COLOMBO; SPAREMBERGER, 2016, p.220).

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contínuos e dependentes do bom funcionamento de todos seus sistemas para que

alcance o mais perfeito equilíbrio.

Protegidos pelo princípio da soberania, cada Estado tem suas próprias normas, mas o meio ambiente não está limitado a fronteiras, e por esse motivo é necessário que se tenha uma cooperação entre os Estados para que se atingisse um objetivo, e isso exige do direito ambiental uma interação com as normas do direito internacional, e desta maneira temos o papel do direito internacional ambiental (WEBBER, 2011, p. 154).

As Reservas da Biosfera são, por si só, de grande importância na renúncia da

visão patrimonialista que o ser humano tem para com o meio ambiente pois, tal como

o Novo Constitucionalismo prega, são áreas reservadas à sua preservação

unicamente pela sua relevância ambiental, por manterem riquezas naturais e

organismos importantes para conservar o equilíbrio ambiental necessário para

alcançar o Bem Viver.

No que tange à mudança de relação do ser humano para com os animais, de

um modo que respeite sua existência e importância para alcançar o Bem Viver, o

Senado Federal aprovou, em 07 de agosto de 2019, uma alteração na Lei 9.605/1998,

onde abandona-se a classificação dos animais como coisas, objetos, para a

concepção de que os animais são sujeitos de direitos despersonificáveis, de natureza

jurídica sui generis, e que possuem o direito de gozar e obter tutela jurisdicional em

caso de sofrerem violações. O projeto aguarda votação na Câmara de Deputados.

Embora alguns juristas reconheçam a existência de um direito especial de proteção aos animais, a ideia de considerar o animal não apenas como bem móvel ou coisa, mas como sujeitos de direito, se consolida à medida que se reconhece que os direitos não devem ser atribuídos a um ser somente pela sua capacidade de falar ou pensar mas também pela sua capacidade de sofrer (NOIRTIN, 2010, p.136).

Ademais, tal definição acerca de sua natureza jurídica admite que os animais

são seres sencientes e que possuem sentimentos e são passíveis de sofrimento,

concepção que até então não era aceita pelo ordenamento jurídico brasileiro. Por

serem seres sencientes, entende-se que os animais possuem a percepção do que

está acontecendo com eles, sentem medo, estresse e demais emoções.

Pode-se dizer que é a qualidade de sentir ou (re)conhecer a satisfação ou frustração, exemplificando na dor ou no prazer. A senciência pressupõe que

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o animal: a) tem sensações como dor, fome e frio; b) tem emoções relacionadas com aquilo que sente, como medo, estresse, frustração; c) percebe o que está acontecendo com ele; d) é capaz de aprender com a experiência; e) é capaz de reconhecer seu ambiente; f) tem consciência de suas relações com outros animais e com os seres humanos; g) é capaz de distinguir e escolher entre objetos, outros animais e situações diferentes, mostrando que entende o que está acontecendo em seu meio; h) avalia aquilo que é visto e sentido, e elabora estratégias concretas para lidar com isso. (MOLINARO, MEDEIROS, SARLET, FENSTERSEIFER, 2008, p. 218).

Essa mudança na presente legislação demonstra um grande avanço no

assunto e, novamente, acompanha as ideia propagadas pelo Novo Constitucionalismo

Latino-Americano, onde abandona-se as visões de posse do ser humano para com a

natureza, inclusive para com os animais, que não mais são objetos perante o

ordenamento jurídico, que estão sujeitos ao tratamento dado pelo seu dono, mas sim,

são seres vivos que possuem sentimentos a serem respeitados e protegidos,

garantindo uma punição mais severa para quem o mal tratar e violar seus direitos

intrínsecos a um sujeito de direitos.

No mesmo caminho de proteção aos animais, no estado de São Paulo o

vereador Reginaldo Tripoli, do Partido Verde, apresentou um projeto de lei para a

proibição de abertura de novos zoológicos e aquários na cidade de São Paulo, além

de alteração nos regramentos dos já existentes (SÃO PAULO, 2019). A proposta visa

acabar com o descaso e o sofrimento causado aos animais que, na maioria dos casos,

estão em ambientes muito diferentes de seu habitat natural, além de serem expostos

a um gigantesco estresse com pequenas jaulas e visitações incessantes.

A proposta do vereador não é a única, uma proposta similar tramitou pelo

Senado Federal até dezembro de 2018, quando foi arquivada, mas que propunha o

fechamento dos zoológicos nas cidades do interior do país, sendo permitidos apenas

em capitais estaduais. O projeto também visava a criação do o Sistema Nacional de

Proteção e Defesa do Bem-Estar dos Animais (SINAPRA) e do Conselho Nacional de

Proteção e Defesa do Bem-Estar dos Animais (CONAPRA) (BRASIL, 2019).

No mesmo sentido de proteção animal, onze estados brasileiros proibiram em

seu território o uso de animais em circos, como forma de combater maus tratos e a

exploração que esses animais são submetidos; os estados são: Goiás, Minas Gerais,

Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso do

Sul, Espírito Santo e Rio Grande do Sul (SOAMA, 2018). Em âmbito nacional, tramita

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o Projeto de Lei 7291/2006 que tem o objetivo de proibir a prática em todo o território

brasileiro. A proposta aguarda em pauta na Câmara dos Deputados (BRASIL, 2006).

Propostas como essas demonstram, mais uma vez, como o ordenamento

jurídico brasileiro, incitado pelas ânsias sociais, conquistou avanços no que tange à

relação do ser humano para com o meio ambiente, ganhando um novo olhar a respeito

do seu papel e dos impactos que suas ações causam. Todas essas ações possuem

uma ligação e condizem com as propostas do Novo Constitucionalismo Latino-

Americano, que busca essa mudança nas atitudes do ser humano, abandonando o

antropocentrismo e admitindo que assim como os animais, plantas, rios e todos os

organismos orgânicos e inorgânicos presentes no Planeta, o ser humano faz parte de

todos os processos ecológicos e está inserido no meio ambiente como seu membro,

e não seu possuidor.

Dessa forma, pelos exemplos que foram aqui apresentados, percebe-se que

significativas mudanças legislativas em âmbito nacional e estadual, fomentadas pelas

ânsias sociais, foram feitas, demonstrando um início de mudança de perspectiva da

relação ser humano e meio ambiente por parte da população brasileira, que passa a

incluir o cuidado ambiental em suas preocupações políticas. A ONG Pachamama é

um belo exemplo desses movimentos sociais que buscam a implementação de visões

como a do Novo Constitucionalismo Latino-Americano no Brasil, partindo da ação

movida pelo Rio Doce, ação judicial inédita no país.

Alterações como a da natureza jurídica dos animais, por exemplo, é um passo

gigantesco para a evolução ambiental no Brasil e demonstram a possibilidade de

aplicar os ensinamentos e ideais do Novo Constitucionalismo Latino-Americano no

ordenamento jurídico de 1988, mesmo encontrando possíveis obstáculos em um

momento político tão delicado em questões ambientais.

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4 CONCLUSÃO

A presente pesquisa teve como problema: como se caracteriza o Novo

Constitucionalismo Latino-Americano e como esse movimento pode auxiliar a

consolidar o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado a partir da Constituição

Federal do Brasil de 1988? Com o intuito de apresentar uma resposta ao problema,

se faz necessário reforçar alguns termos que aqui foram desenvolvidos.

O Novo Constitucionalismo Latino-Americano, sendo um movimento

inicialmente social que se estendeu ao ordenamento jurídico de países da América

Latina, caracteriza-se como uma revolução no sistema constitucional de um país, do

qual busca-se pelo Pluralismo retornar e reviver a cultura do local, que foi perdida e

abafada pela era colonial. O Pluralismo representa, acima de tudo, o respeito à

diversidade, a valorização da cultura e dos costumes, em que as regras

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constitucionais deixam de ser singulares e impostas a todos os povos da mesma

maneira, para dar lugar a um ordenamento jurídico adaptável às diferentes culturas.

Outro pilar desse movimento é o Bem Viver, ensinamento proveniente da

cultura indígena e que visa uma profunda mudança na relação do ser humano para

com o meio ambiente, entendendo que tudo que existe na Terra é vida e que possui

o mesmo valor. Dessa forma, o ser humano deixa de ser uma vida superior para tomar

seu posto de parte integrante da natureza, e que só assim, com o perfeito equilíbrio

de todos os ciclos naturais é que se conquistará o Bem Viver, uma forma de ver a vida

no seu mais amplo sentido.

Essa pesquisa analisou todos os pontos do Novo Constitucionalismo Latino-

Americano, desde a sua origem, objetivos, pilares e ideais, bem como os termos acima

frisados, como forma de construir uma base de conhecimento suficiente para o

prosseguimento do trabalho com a observação do contexto dos países latino-

americanos.

Nesse trabalho foi estudada a colonização dos países da América Latina, dada

por maioria europeia, que encontraram nas terras férteis as riquezas e insumos que

seus países careciam, além de mão de obra para tal exploração. A era colonial deixou

grandes marcas nos países latino-americanos, seja pelas vidas aniquiladas, seja

pelas riquezas saqueadas ou seja pela supressão da cultura local, que foi substituída

pela cultura colonial. A imposição cultural dos colonizadores se deu de forma tão

profunda que os povos latino-americanos passaram a acreditar na sua inferioridade e

aceitar as imposições coloniais como corretas, e as consequências disso são visíveis

até os dias de hoje, como esse trabalho apresentou.

E foi devido a esse abafamento da cultura dos países latino-americanos que no

Século XXI surge o Novo Constitucionalismo Latino-Americano, como tentativa de se

desvencilhar das influências coloniais e retornar às origens locais, com seus objetivos

e ideais, revivendo as sabedorias indígenas sobre o meio ambiente, como o Bem Viver

e o respeito e aceitação das diferentes culturas a partir do Pluralismo.

Com a análise das Constituições do Equador e da Bolívia, percebe-se que o

texto constitucional redigido nos moldes do Novo Constitucionalismo Latino-

Americano é uma inovação que define como suas prioridades o respeito e o incentivo

à cultura local, definindo proteções e fomento. Ademais, o legislador dedicou especial

atenção à proteção ambiental, que passa a ser considerada uma prioridade, como

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forma de alcançar o Bem Viver e respeitar todas as formas de vida e organismos

existentes no Planeta.

Após o estudo da proteção ambiental dada pela Constituição Federal de 1988

e pelas legislações, constata-se que o Brasil possui mecanismos de proteção

ambiental, que visam a proteção da fauna, flora e patrimônio genético nacional.

Mesmo que alguns dispositivos apresentem um viés utilitarista e de posse para com

o meio ambiente, este é classificado como um direito fundamental ao ser humano que

tem o direito e o dever de tê-lo preservado. Nesse sentido, analisando legislações

recentes, projetos de leis e movimentos sociais, contatou-se a possibilidade de

aplicação dos preceitos e ideais do Novo Constitucionalismo Latino-Americano no

ordenamento jurídico de 1988 e que, direta ou indiretamente, já é possível mencionar

uma influência do movimento nas novas legislações, como é o exemplo do projeto de

alteração legislativa, mencionada neste trabalho, que objetiva vedar o tratamento de

animais como coisas, concedendo-os a classificação de sujeito de direitos

despersonificados. Também, as legislações estaduais que proibiram o uso de animais

em circos e as tentativas de fechamento dos zoológicos. Importante mencionar a ação

movida pelo Rio Doce contra a União e o Estado de Minas Gerais, movimento

processual inédito no país.

Durante esse trabalho foram mencionados diversos casos de modificação

legislativa que seguem os parâmetros do Novo Constitucionalismo Latino-Americano,

comprovando que, mesmo que esse não seja o objetivo, a legislação brasileira se

desenvolve a alcançar fins semelhantes ao movimento latino-americano no que tange

à revolução da proteção ambiental.

Somente será possível concretizar o direito fundamental de ter um meio

ambiente equilibrado, garantido pela Constituição aos cidadãos, com mecanismos de

preservação eficientes e por uma mudança na perspectiva da relação do ser humano

com o meio ambiente, compreendendo que essa relação não deve se basear em

exploração e satisfação de necessidades materiais, mas sim, que o ser humano faz

parte da natureza como seu membro, e não seu possuidor. E é isso que o Novo

Constitucionalismo Latino-Americano propõe, uma reformulação profunda da visão

humana para com o meio ambiente, como forma de alcançar o perfeito equilíbrio de

todos os ecossistemas, garantindo a manutenção de todas as espécies de vida e

organismos presentes no Planeta, incluindo o ser humano.

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Portanto, constata-se que o Novo Constitucionalismo Latino-Americano, além

de ser uma influência para a elaboração de novas legislações acerca da proteção

ambiental, é um mecanismo que pode servir como ferramenta de consolidação do

direito fundamental ao meio ambiente equilibrado. Dessa forma, o Brasil pode se valer

dos ensinamentos do Novo Constitucionalismo Latino-Americano para fortalecer a

proteção ambiental definida na Constituição Federal de 1988, além da criação de leis

esparsas para essa finalidade.

Diante disso, conclui-se que com a combinação entre as legislações brasileiras

e o Novo Constitucionalismo Latino-Americano é possível fortificar a proteção

ambiental no Brasil, e consolidar o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado

garantido pela Constituição Federal de 1988.

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