imagens que passais pela retina dos meus olhos, porque não vos fixais? que passais como a água...

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Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!...

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Page 1: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

Page 2: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina,

Porque ides sem mim, não me levais?

Page 3: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Sem vós o que são os meus olhos abertos?

O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos...

Page 4: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

O Meu Coração DesceO meu coração desce,

Um balão apagado...

Melhor fora que ardesse,

Nas trevas, incendiado.

Na bruma fastidienta.

Como um caixão à cova...

Porque antes não rebenta

De dor violenta e nova?!

Que apego ainda o sustém?

Átomo miserando...

Page 5: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Se o esmagasse o trem Dum comboio

arquejando...

O inane, vil despojo Da alma egoísta e fraca! Trouxesse-o o mar de rojo, Levasse-o a ressaca.

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Simbolismo Brasileiro

Inicia em 1893 com a publicação das obras

“Missal” e “Broqueis”de Cruz e Sousa

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Alphonsus Guimarães (1870-1921) Nome literário de Afonso

Henriques da Costa Guimarães, foi importante expressão do simbolismo brasileiro. Sua poesia é marcada pela espiritualidade, misticismo, atmosfera religiosa, sonho e mistério. Influenciado por Verlaine, também apresenta melancolia e ternura. A morte da amada é tema recorrente.

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Alphonsus Guimarães.

“Ser poeta é cantar chorando,

Entre mágoas celestiais;

É viver, sem saber quando

Terão fim seus ais.”

Alfhonsus Guimarães.

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A Morte da Mulher Amada Marcado pela perda da

mulher amada (Constança), a cosmovisão do poeta ordena-se em torno do...

►Misticismo/Religiosidade. ► Amor (por uma mulher

morta) e pela Virgem Maria),

►Morte.

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São intensas em sua obra as presenças constantes da morte da mulher amada, os tons fúnebres de cemitérios e enterros, a nostalgia de um medievalismo romântico, além do seu famoso marianismo (culto a Virgem Maria).

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TRANSCENDENTALISMO# Doutrina segundo a qual todos os

fenômenos são explicáveis racionalmente sem observação nem análise.

# Transcender – ser superior, muito elevado, que transcende do sujeito para alguma coisa fora dele.

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Espiritualismo

# Crença na vida espiritual.

# Crença no reencontro com a mulher amada num plano transcendente.

# Devoção à Virgem Maria.

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O Lirismo Amoroso O lirismo amoroso de Alfhonsus

Guimarães constitui uma espécie de biografia de seu drama intimo. Na maioria das vezes espiritualizado o amor conduz a deificação da mulher que universalizada com inicial maiúscula se identifica com a Virgem Maria ou tida como Santa, Anjo, ao invés de mulher-matéria, interessa-lhe a mulher espírito que despojada de sua carnalidade surge ao poeta como puro espírito participante do plano da transcendência cristã.

Page 14: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Hão de chorar por ela os cinamomos

Murchando as flores ao tombar do dia

Dos laranjais hão de cair os pomos

Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão: - “Ai, nada somos,

Pois ela se morreu silente* e fria...”

E pondo os olhos nela como pomos,

Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

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A lua que lhe foi mãe carinhosa

Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la

Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...

E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,

Pensando em mim: - “Por que não vieram juntos?”

Silente: silencioso, secreto.

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Morte e Decadentismo“Alfhonsus foi o grande poeta da ausência, da distancia, do além. Via com os olhos da fantasia, ouvia sons irreais, respirava perfumes de flores inexistentes, cantava figuras que tinham com a realidade concreta o mínimo contato real.”

Alceu Amoroso Lima.

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AMOR E MORTE Temática fundamental da obra

do escritor, a morte está relacionada à lembrança da amada (Constança) que transcendeu. Seus poemas de amor são vinculados à idéias fúnebres. Amor e morte, fórmula romântica, mas Alphonsus a trata de maneira diferente, fugindo do patético e alcançando um tom elegíaco, onde predominam a melancolia e a musicalidade.

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Mundo & Dor Em vários momentos, a dor parece mais

uma convenção poética do que propriamente um sentimento real. Seria uma possibilidade de aproximação para alcançar o enlace transcendental. Agregada à temática da morte está a atitude decadentista reconhecida através da visão de mundo concebido como palco de dores, cuja evolução só a morte pode interromper. O mundo é um caos onde tudo degenera e morre.

Page 19: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Nada somos, sabeis, e que seremos

Mais do que duas miseras ossadas?

As loucas ilusões em que vivemos

São estrelas que morrem desmaiadas.

Bem longe dos espíritos blasfemos,

- Pobres crianças a ouvir contos de fadas –

Ao céu nossas almas ergueremos,

Como duas princesas encantadas.

Page 20: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

O silencio agoniza pelas naves...

São trindades que vão morrer no poente,

Baixando mudas como vôo de aves.

Que subam para o céu as nossas almas,

Bailoçando entre os astros suavemente,

Tão oblativas como duas palmas

Page 21: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Hirta e branca... Repousa a sua áurea cabeça

Numa almofada de cetim bordada em lírios.

Ei-la morta afinal como quem adormeça

Aqui para sofrer Além novos martírios.

De mãos postas, num sonho ausente, a sombra espessa

Do seu corpo escurece a luz dos quatro círios:

Ela faz-me pensar numa ancestral Condessa

Da Idade Média, morta em sagrados delírios.

Page 22: Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!

Os poentes sepulcrais do extremo desengano Vão enchendo de luto as paredes vazias, E velam para sempre o seu olhar humano.

Expira, ao longe, o vento, e o luar,

longinquamente Alveja, embalsamando as brancas agonias Na sonolenta paz desta Câmara-ardente...

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Kyriale

• "Kyriale" tem uma atmosfera densa e pesada, remete sempre à morte, ao dia de finados, desde as palavras escolhidas pelo poeta até o tom solene. Este é um traço do Romantismo Gótico, recuperado pelos simbolistas decadentes. Nas obras posteriores é a amada ausente quem aparece com freqüência. Portanto, seus temas preferidos eram amor e morte. Guimarães também foi tradutor de Haine e de poetas chineses, a partir do francês.

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• ISMÁLIA • Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar.

• No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar...

• E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar...

• E como um anjo pendeu

• As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar...

• As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...