imagens médicas entre a arte e a ciência. relações e trocas

16
Imagens médicas entre a arte e a ciência: Relações e trocas Rosana Horio Monteiro Introdução Fig. 1 – Imagem das artérias coronárias de paciente submetido ao cateterismo cardíaco Esse artigo se propõe a examinar as relações entre arte e ciência a partir do estudo de produções artísticas que se apropriam de imagens médicas. Essa pesquisa dá continuidade a um trabalho anterior em que investiguei como o processo de leitura de imagens médicas produzidas através do cateterismo cardíaco (Fig. 1) é construído e

Upload: nuila

Post on 16-Aug-2015

220 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Image. Art, Science

TRANSCRIPT

Imagens mdicas entre a arte e a cincia: Relaes e trocas Rosana Horio Monteiro Introduo Fig. 1 Imagem das artrias coronrias de paciente submetido ao cateterismo cardaco Esseartigosepropeaexaminarasrelaesentrearteecinciaapartirdo estudo de produes artsticas que se apropriamde imagens mdicas. Essa pesquisa d continuidadeaumtrabalhoanterioremqueinvestigueicomooprocessodeleiturade imagensmdicasproduzidasatravsdocateterismocardaco(Fig.1)construdoe 2 comoosmdicosaprendemaatribuirsignificadoaessasimagens,ou,emoutras palavras, como o corpo revelado, lido, ou tornado legvel ao olho do observador.1 Nocontextomdico,assumoqueoprocessodeleituraeinterpretaode imagens socialmente construdo; portanto, os padres de normalidade e anormalidade, apesardelegitimadosaoseremincorporadosliteraturaeaceitoscomopadrodentro doexercciodaprticamdica,soconvenesestabelecidasapartirdeprocessosde negociaoentrediferentesatoressociais.Assim,aleituraconsideradadominantede umaimagemnoanicapossveleasdecisesmdicasbaseadasemtaisleituras refletemprefernciasrelacionadasprticamdica.Oqueomdicovest inseparavelmente ligado e depende de como ele v - l-se o tecido biolgico atravs das lentes do social, mapeando e lendo o social. Ao deslocar-me para o contexto artstico, interessa-me entender de que maneira osabercientficolidoereconfiguradoatravsdaarte.Assim,entendendoaimagem mdicacomoumarepresentaocultural,algumasperguntasorientamessapesquisa: ComoasimagensderaiosX,deendoscopia,ultra-som,tomografias,entreoutras, interagem com umarede de interpretaesculturais e so reutilizadas fora do contexto mdico? Como os conceitos de pblico e privado so (re)significados? Como os corpos cientificamente medicalizados so (re)construdos no contexto artstico? Visualizao mdica e cultura de massa Apopularizaodasimagensmdicasemdiferentescontextosmiditicos (cinema,televiso,propagandaetc)temfornecidoaopblicoleigoumolharque anteriormente era limitado ao olho especializado do mdico, contribuindo para a criao de uma cultura dependente das imagens e das tecnologias que as produzem (Figs. 2 e 3). Osprocessosdeiluminaodointeriordocorpohumano,atransparncia,passama existir, ento, como um produto cultural, um artefato cultural.2 1 Ver Monteiro (2001). 2 Ver Van Dijck (2005). 3 Fig. 2 - To Tom, with all my love, from Mary. Mass radiography (1944)3

Fig. 3 John Heartfield, pster antinazista (1932) 3 Apud Cartwright (1995, p. 158). 4 Domesmomodootrabalhodemuitosartistasvemincorporandotaisimagens, sobretudoapartirdaSegundaGuerraMundial,comapopularizaodasimagensde raiosX.Numprimeiromomento,areflexosobreessemundointeriortransparente representado pelas imagens mdicas que orienta o trabalho de muitos artistas, como o ingls Francis Bacon, nos anos 50. Bacon utilizou um livro de radiologia Positioning inradiology(1934),deKathleenClaraClarkcomoumaespciedemanualparaa produo de algumas de suas obras, como Head Surrounded by sides of beef (1954), em que o artista utiliza as imagens de raios X como referncia para produzir um corpo vivo emformadeumacarcaa.Em2000,aartistaitalianaBenedettaBonichiproduzA FrancisBacon,umaclaracitaoaotrabalhodeBaconde54,utilizandodessavez imagens de raios X de fato.4

Fig. 3 - Francis Bacon,Fig. 4 Benedetta Bonichi, A Francis Bacon (2000) Head Surrounded by sides of beef (1954) 4 Ver site da exposio To see in the dark http://www.toseeinthedark.it/Pt/index.htm. 5 Nofinaldosanos60(1969),oamericanoRobertRauschenbergproduzuma enorme litografia Booster com imagens de raios X de seu prprio esqueleto (Fig. 5).OartistarecortaaimagemderaioXemcincopedaosparacomporocentroda litografia.Aindaocorpoperfeito,livredequalquerdoena,querepresentado, diferentemente do que se observa a partir de meados dos anos 70, aproveitando-se no to-somentedeimagensradiogrficas,mas,sobretudo,deimagensdigitalizadas, presentes no contexto mdico j a partir dos anos 60 com a unio entre o computador e a tecnologia dos raios X. Fig. 5 - Robert Rauschenberg, Booster (1969). Apartirdeentoaimagemdocorpocosmeticamenteperfeito,difundida sobretudopelamdia,e,emparticular,ocorpodamulher,comeaaserquestionada. Uma produo em sua grande maioria realizada por mulheres prope uma definio de autobiografia que expande as convenes sociais dominantes. No lugar do corpo sadio, entramoscorposdoentes.Umexemplodessetipodeproduootrabalhodaartista americana Laura Ferguson e sua srie The visible skeleton (Fig. 6). 6 Oprojetovisibleskeleton5teveinciohmaisdevinteanos,quandoaartista comeouaexperimentaradeformaofsicaemdecorrnciadeumaescolioseaguda. Astransformaesnocorpoalevaramaexperimentarnovosconceitosdeespaoe gravidade, uma nova conscincia de processos como a respirao e o movimento. Lauraincorporainicialmenteasimagensdeseusregistrosmdicosregularese depoisoutrosproduzidospormdicosespecialmenteparaaproduodesuasobras. Segundo a artista, essa srie conta a histria de sua trajetria e de como ela transformou asexperinciasdeseucorpomedicalizadoemarte.AinglesaSusanAldworthoutra artistaque,apartirdesuaexperinciacomamedicalizaodeseuprpriocorpo, apropria-sedeimagensdocrebro,desenvolvendoseutrabalhoatravsderesidncias artsticas em hospitais na Inglaterra.6 Fig. 5 - Laura Ferguson, The visible skeleton. Nosanos90,aartistalibanesaMonaHatoum,radicadanaInglaterradesdeos anos70,produzovdeoForeignbody(1994),umaviagemendocolonoscpicapelo interiordeseucorpo,comoelamesmaodefine.Avdeo-instalao,produzidacomo 5 Sobre a tcnica desenvolvida por Laura Ferguson, ver o site da artista: www.lauraferguson.net. 6 Considerando que historicamente o corpo da mulher tem sido mais freqentemente medicalizado, talvez issopossaexplicarofatodetantasartistasmulheresseapropriaremdessasimagensmdicasemseu trabalho.Sobreamedicalizaodocorpodamulher,verRiessman(1992).Parasabermaissobreo trabalho de Susan Aldworth ver http://www.susanaldworth.com/html_index.htm. 7 auxlio de um cirurgio, mapeia um auto-retrato interno e externo da artista atravs dos procedimentosmdicosdaendoscopia,colonoscopiaeecografia.Ovdeoprojetado nocho,nointeriordeumacabinecilndrica,eacompanhadopelosomdasbatidasde seucorao.Em1996,MonaproduzDeepthroat,umaprojeodeseutratodigestivo sobre pratos. 8 Fig. 5, 6 e 7 - Mona Hatoum, Foreign body (1994) As refotografias de Monica Mansur No Brasil, mais recentemente, podemos citar os trabalhos de Diana Domingues, comsuainstalaoTrans-e(1995),asrieRetratosntimos(Fotografiatransparente), deCrisBierrenbach,easrefotografiasdacariocaMonicaMansur,comoexemplosde artistasqueexploramoujexploraramasimagensmdicasdediagnsticoemseus trabalhos.Dessastrsartistas,MonicaMansurquemtemsededicadomais regularmenteexploraodeimagensmdicasemseutrabalhocomogravadora,por isso o foco aqui em sua produo. Retratosntimos(2003),deCrisBierrenbach,umasriedecincoampliaes fotogrficasdigitaisderadiografias(dimenses85x60cm)queexibeaartista internamentedaalturadoestmagoatosjoelhos,comcincodiferentesobjetos cortantes e pontiagudos (seringa,garfo, tesoura, faca e frceps) envoltos em vaselina e inseridosemsuavagina(Fig.8).Trans-eumainstalaointerativaemqueos visitantes controlam as imagens projetadas sobre as paredes ao caminharsobre carpete 9 contendosensores7.SegundoDianaDomingues,ainstalaocompostaportrs estgios, que correspondem ao transe xamnico. Fig. 8 Cris Bierrenbach, Retratos ntimos (2003). Desde1995,quandorealizasuaprimeiraexposiocomobrasproduzidasa partir de raios X e impressas sobre esparadrapo e gaze, at mais recentemente com suas paisagenscristais,ourefotografias,comoaartistaaschama,Monicaexploraas possibilidadesdecriaoatravsdaprpriareproduo,discutindoaestticada repetio. Refotografiassoimagensrefotografadasapartirdevriosexamesmdicose depoisimpressas.Aartistafotografaaimagemqueresultadoexame,adigitaliza, retrabalhando-aemseguida.Monicaretirapartes,aumentaoudiminuialuz,distorce, amplia,modificaoespaofsico.Emseguida,asimagenssoimpressassobre diferentessuportesemeios,quevodoesparadrapoeagazedaprimeiraexposio (Fratura, 1995), passando pelos acetatos impressos em grandes formatos (Tomo, 2001), pelafotografiadigital(Fantasmagoria1e2,2002),experimentandoagravura tridimensionalemplacasacrlicas,emVisvel(2003),e,finalmente,chegando impressoserigrficasobreacrlicoseespelhos(Paisagemcristal,2003/2004).Em 7 Ver http://artecno.ucs.br/ 10 1996,Monicaseaproximadovdeo,criandoumainstalaocomimagensem movimento do interior de estmagos e clons humanos (Estrutura da obsesso).8 Fig. 9 Monica Mansur, cubo cristal (esq.) e exame de ecoendoscopia.

Fig. 10 Monica Mansur, exame de tomografia (esq.) e detalhe de Tomos (2001). 8 Para a visualizao das obras da artista, visite o site http://www.monicamansur.com. 11 Diferentemente da discusso presente em obras como as de Ferguson e de Mona Hatoum, por exemplo, o que predomina no trabalho de Monica so questes internas ao processo da gravura e impresso. O centro de suas reflexes a reproduo mecnica, soaspossibilidadesdaimagemmediada.Aartistanobuscanasimagensmdicas inspiraoparaoseutrabalho,maspartedeleprprio,numaanalogia,porexemplo, entreoprocessodagravuraeoscortesdosplanostomogrficos.Umexercciode metalinguagem. Adesindividualizaodosujeitocontemporneooutropontopresenteno trabalho da artista. As imagens com as quais Monica trabalha podem ser de seu prprio corpo como de outro qualquer; so no-identidades. Coletadas aleatoriamente9, podem ser imagens de pacientes que j faleceram, de pacientes doentes ou no. o rastro sem nome do exame mdico. O olhar no identifica; o olho s lhe diz que aquilo um ser humano,afirmaMonica.Sehomemoumulher,velhooumoo,semconhecimento mdicoespecializadonopossvelsaber;sovisesmdicasesomenteexistem porque foram imaginadas atravs de uma mquina, seja ela uma cmera de vdeo com fibra tica, um tnel com ondas magnticas ou laser que laminam cortes transversais de rgos e ossos, completa a artista. Aoproduzirrealidadespseudofotogrficas,aartistainstigaaimaginaono contaminadacomovocabulrioimagticoincludonorepertriodoobservador, enfatizando as mudanas na visualidade do homem contemporneo, geradas a partir da reprodutibilidademecnicadasimagens.ComoDidi-Huberman(1998)afirma,aquilo que vemos vale vive apenas por aquilo que nos olha. No h imagens inocentes, nemtampoucoolhosinocentes.Maisdoquealgoparasercontemplado,asimagens mdicassoentendidasaquicomoumtextoaserdecifradooulidopeloespectador; como uma construo e um discurso, cujo acesso realidade mediado. 9 As imagens mdicas usadas por Monica so, em geral, doadas por mdicos que j conhecem o seu trabalho. 12 Imagens mdicas e os dilemas da representao Asmaistradicionaishistriasdavisosugeremqueasinovaestecnolgicas, taiscomoafotografiaeocinema,resultaramnumasupostadocumentao crescentementeobjetivadasimagens.Crary(1990)chamaaatenoparaasuposta neutralidadeatribudaataistecnologiasesugerequeainvenodemuitosartefatos pticosapartirdemeadosdosculo19,comoodiorama,ocaleidoscpioeo estereoscpio,encorajaramoobservadoraverdeumaformacodificadae rigidamentedefinida;ummododevernovoinerentementerelacionado modernidade.ParaCrary,amodernizaodasociedadeteriaencorajadoa transformao da viso humana em algo mensurvel e mutvel10. Na rea mdica, de forma semelhante ao que Crary observa, pode-se considerar queacrescentesubstituiodosexamessensoriaisrealizadospeloprpriomdicopor outros,intermediadosporumamquinaeporprofissionaisespecializados,foi,e continuasendo,encorajadanosomentepelacrenanamaiorobjetividadeepreciso, mastambmpelacapacidadedepadronizaoefacilidadedecomunicaodedados. Osresultadosestatsticosdosexames,processadosporcomputadorereproduzidosem ummonitorparecemserobjetivos,neutros,irrefutveis,equivalentesverdade. Assume-se que a presena ou a futura presena da doena ser revelada de forma mais acurada atravs de exames feitos por mquinas e tcnicas modernas do que atravs dos sintomas ou comportamentos relatados pelo paciente. Comrelaopercepo,maisdoqueproduzirrepresentaesobjetivas,os artefatostecnolgicosdeterminamcomooobservadorv,conformeenfatizaLerner (1992),aoestudaraintroduodosraiosXnaprticamdica.Ograndeapeloinicial dosraiosX,edeoutrastecnologiasvisuais,noerasomentesuahabilidadepara detectarobjetosocultos,comocorposestranhos,massuasupostaobjetividade.Mas, apesardeconsideradascomodefinidaseexatas,asimagensobtidaspelosraiosX comearam a ser formalmente questionadas pelos radiologistas j nas primeiras dcadas 10CRARY,J.(1990),Techniquesoftheobserver.OnvisionandmodernityintheNineteenthCentury. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1995, 6th edition, p.17 13 do sculo 20, quando se constatou que as melhorias nas tcnicas no foram capazes de eliminar divergncias na leitura e interpretao das imagens produzidas. NocasodosraiosX,apesardeosradiologistashojenoteremquelidarmais comassombrasmanchadasdoincio,elesprecisamaprendercomodetectar, reconhecer,einterpretarasimagensgeradaspelocomputador.precisoinvestigar comoumobservadorreconheceoquedetectadovisualmente,ecomoesse reconhecimento transformado em uma interpretao da cena visual. Entre a arte e a cincia Assumonessetrabalhoqueasimagenssomultiplamentemediadasatravsda experincia, da memria, e por diversos modos de representao. Como Kassirer (1992) argumenta,aimagemqueselsomenteummodeloderealidade:astomografiasde um tumor so somente representaes de um tumor; as representaes de um ultra-som deumadadaanomaliasoondassonorasconvertidasemimagensdevdeo,noa prpria anomalia. Essadiscussoentreorepresentadoeasuarepresentaocolocaemevidncia umaoutraquesto,queadualidadeentreoqueaimagemeoqueelasignifica.A pergunta que fao como, ento, o corpo revelado, lido, ou tornado legvel ao olho do observador?Hartouni(1998:211)propequesepenseessaquestoapartirdeuma categorizaodastecnologiasvisuais,taiscomoosraiosX,oultra-som, ocateterismo cardaco e tantas outras. Ela vai cham-las de peering technologies, aquelas que pem paraforanosomenteoqueinterno,outornamoopacotransparente,ouampliam nossavisopararevelarossegredosevasivosdanatureza,masacimadetudo constroemoprpriopeering,osinstrumentoseasrelaesque,naverdade,no simplesmente descobrem o significado, mas o inscrevem e o impem. Astecnologiasporimagemsomarcadaspelaslutascontnuassobrea autoridade cultural e a inscrio cultural sobre quem ter a autoridade para definir o papeleosignificadodessastecnologiasedeterminarcomoelassero institucionalizadas.Taislutaschamamaatenoparaoque,precisamente,eno visto, j que uma imagem pode contar pelo que visto e pelo que no visto. Ofilmeassimcomoafotografiaeovdeosoconsideradosimagens perfeitamentesemelhantes,conespuros,aindamaisconfiveisporquesoregistros 14 feitos a partir de ondas emitidas pelas prprias coisas; elas so traos. De acordo com a semiticadePeirce,essasimagenssondicesantesdeseremconesesuaforade persuasoprovmdisso,deseuaspectodendice(trao)enomaisdeseucarter icnico(semelhana),oqueproporcionaimagemaforadaprpriacoisaqueela representa.Noentanto,essasimagenssondicesdegenerados,comodizMachado (2000),transfiguradospelamediaotcnico-cientfica.Aevidnciaindicial imprecisaedistorcidapelamediaotcnica,oquetornaaambigidadeeoerro inevitveis. Por outro lado, se essas representaes cientficas so compreendidas por outras pessoasalmdasqueasfabricamporqueexisteentreelasummnimo deconveno sociocultural,ou,emoutraspalavras,elasdevemboaparceladesuasignificaoaos seus aspectos de smbolo, segundo ainda a definio de Peirce. essecartersimblicodaimagemquemeinteressaeapartirdoqualse processa o exerccio de traduo realizado pelo artista. Assim, a imagemmdica, mais doqueprodutodeumatcnicaedeumaao,podeserentendidacomouma experincia de imagem, inseparvel de toda sua enunciao. Ou seja, uma imagem em trabalho,imagem-ato,gestodaproduosomadoaoatoderecepoedesua contemplao. Ao incorporar essas imagens mdicas os artistas vm definindo uma nova noo deretrato,jquetradicionalmenteoretratolidacomafisicalidadeexterioreaqui, mesmoquandoseolhaparaointeriordoscorpos,pode-senosaberoquesev. Documentado em ambientes mdicos e/ou cientficos e transformado por esses artistas, essetipodetrabalhotrazumanovavisodocorpoaopblico,questionandoos significados de identidade. Esses artistas esto, alm disso, visualmente representando e traduzindo questes cientficas para o pblico leigo. Paraconcluir,possodizerqueestudaroprocessodeleituraeinterpretaodas imagensmdicasestudarumapolticadaculturadarepresentaopoltica entendidaaquicomoumprocessodenegociaoentrediferentesmodosde interpretao de imagens. O estudo dessa poltica indica que as pessoas vem o mundo atravsdediferenteslentes,asquaisoferecemdiferentesvisesedefiniesque,por sua vez, so moldadas, entre outros fatores, pela posio social dos atores envolvidos e suas experincias. Essas vises e definies so politicamente significativas porque elas 15 proporcionam a base a partir da qual as pessoas tomam decises sobre o que conta como conhecimento vlido e sobre quem so os legtimos produtores de tal conhecimento.Afinal, como disse anteriormente, o que ns vemos est inseparavelmente ligado edependedecomonsvemos.Assim,aquestoquemeinteressamuitomaiscomo essas imagens mdicas significam o que elas significam em diferentes contextos e no o que essas imagens realmente so. Referncias bibliogrficas BERGER, J. (1972), Modos de ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. CARTWRIGHT,L.Screeningthebody.Tracingmedicinesvisualculture. Minneapolis, USA: University of Minnesota Press, 1995. CRARY,J.(1990),Techniquesoftheobserver.Onvisionandmodernityinthe Nineteenth Century. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1995, 6th edition. DIDI-HUBERMAN, G., O que vemos, o que nos olha. So Paulo: Ed. 34, 1998. DUBOIS, P., O ato fotogrfico. Campinas, SP: Papirus, 1992. HARTOUNI,V.,Fetalexposures.Abortionpoliticsandtheopticsofallusion.In Treichler,P.A.,Cartwright,L.&Penley,C.(ed.),Thevisiblewoman.Imaging technologies,gender,andscience.NewYork:TheNewYorkUniversityPress, 1998, p. 198-216. KASSIRER, J. P., Images in clinical medicine. The New England Journal of Medicine, vol. 326, n. 12, 1992, p. 829-839. LERNER, B. H., The perils of x-rays vision: How radiographic images have historically influenced perception. Perspectives in Biology and Medicine, vol. 35, n.3, 1992, p. 382-397. MACHADO,A.,Afotografiacomoexpressodoconceito.InStudium2, http://www.studium.iar.unicamp.br, 2000. MONTEIRO,R.H.,Videografiasdocorao.Umestudoetnogrficodocateterismo cardaco.Dissertaodedoutorado.Campinas,SP:InstitutodeGeocincias, Unicamp, 2001. RIESSMAN,C.K.,Womenandmedicalization:anewperspective,In:G.Kirkupand L. S. Keller (eds.), Inventing women. Science, technology and gender. Oxford, Polity Press and Open University Press, 1992, p. 123-144. 16 VAN DIJCK, J., The transparent body: A cultural analysis of medical imaging. Seattle, WA: University of Washington Press, 2005.