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III Jornada Nacional de Pesquisa na Pós-Graduação em Filosofia da UFSM

Caderno de Resumos da III Jornada Nacional de Pesquisa na Pós-Graduação em Filosofia da UFSM

Editores Prof. Dr. Albertinho Luiz Gallina Félix Flores Pinheiro Gabriel Henrique Dietrich Jonatan Willian Daniel Kariel Antonio Giarolo

SANTA MARIA 2013

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COMITÊ CIENTÍFICO

Presidente Prof. Dr. Albertinho Luiz Gallina Membros Prof. Dr. César Schirmer dos Santos Prof. Dr. Christian Viktor Hamm Prof. Dr. Flávio Williges Prof. Dr. Frank Thomas Sautter Prof. Dr. José Lourenço da Silva Prof. Dr. Marcelo Fabri Prof. Dr. Noeli Dutra Rossato Prof. Dr. Ricardo Bins di Napoli Prof. Dr. Rogério Passos Severo

COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. Dr. Albertinho Luiz Gallina – Presidente da Comissão Adriane da Silva Machado Möbbs Cristina de Moraes Nunes Ésio Francisco Salvetti Gabriel Henrique Dietrich Gilson Olegário da Silva Jonatan Willian Daniel Kariel Antonio Giarolo Lauren de Lacerda Nunes Marcelo Fischborn Mateus Romanini Capa: Félix Flores Pinheiro Projeto gráfico e diagramação: Kariel Antonio Giarolo e Félix Flores Pinheiro Revisão e correção ortográfica: Gabriel Henrique Dietrich Promoção: Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFSM Apoio: Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Centro de Ciências Sociais e Humanas – CCSH, Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFSM, Departamento de Filosofia

Universidade Federal de Santa Maria Departamento de Filosofia

Avenida Roraima, n. 1000, Prédio 74a, Sala 2352 Bairro Camobi, Santa Maria, RS, CEP: 97115-970

Fone: (55) 3220 8132 – Ramal 38

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SUMÁRIO

Adriane da Silva Machado Möbbs (UFSM/UFPel) O mal como escândalo e desafio no pensamento de Paul Ricoeur ........................................................................7 Adriano Bueno Kurle (PUC-RS) O que é a autoconsciência? Uma leitura da apercepção originária da consciência em Kant ...............................7 Alessandra Lessa dos Santos (UFSM) A aprendizagem moral através da arte literária em Iris Murdoch...........................................................................8 Bruno de Prá Michels (UFSM) O relacionalismo ontológico imbricado na fenomenologia-hermenêutica de Heidegger ......................................8 Bruno Ramos Mendonça (UFSM) Conhecimento simbólico na álgebra da lógica e nos diagramas de Venn ..............................................................8 Catarina Alves dos Santos (UFRJ) Cosmopolitismo institucional: uma proposta para eliminação do déficit de Direitos Humanos ..........................9 Claudia Aita Tiellet (UFSM) Interpretação e/ou argumentação jurídica em Paul Ricouer ..................................................................................9 Clodoveo Ghidolin (UFSM/FADISMA) A Função dos Princípios e das Regras na Deliberação Jurídica e Moral: Aproximações e Diferenças ..................10 Cristiano Cerezer (UFSM/UNIFRA) O Despertar Ético na Proximidade Inter-Humana: O Papel da Afetividade na Consciência Moral segundo Emmanuel Lévinas ................................................................................................................................................10 Cristina de Moraes Nunes (UFSM/FAPAS) Responsabilidade Moral e Livre-arbítrio ...............................................................................................................11 Daniel Simão Nascimento (PUC-Rio) Akrasia e tyché no Hipólito de Eurípides ..............................................................................................................11 Denise Borchate (UFSM) A Crítica de Russell a Frege em On Denoting ........................................................................................................12 Diorge Vieira Rosa (UFSM) Uma Leitura Padrão do Tractatus .........................................................................................................................12 Douglas João Orben (PUC-RS) Ulisses como Protótipo do Homem Burguês na Dialética do Esclarecimento (1947) ...........................................12 Édison Martinho da Silva Difante (UFSM/UPF) O Sumo Bem Político em Kant: a ideia de uma sociedade cosmopolita em Paz Perpétua ...................................13 Elton Luiz Rasch (UFSM) Acerca da Negação de Proposições e da Negação de Termos ..............................................................................13 Ésio Francisco Salvetti (UFSM/IFIBE) Paradoxos da Linguagem das Testemunhas Vítimas de Tortura: uma reflexão a partir do pensamento de Giorgio Agamben ...............................................................................................................................................................14 Gabriel Henrique Dietrich (UFSM) A analítica da existência de Heidegger e seu vínculo com o problema da normatividade ...................................14

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Gabriel Garmendia da Trindade (UFSM) O direito negativo pré-legal básico de não ser tratado como propriedade: Corolário do princípio da igual consideração de interesses semelhantes..............................................................................................................15 Gabriela D’Ávila Schüttz (Faculdade Decision de Negócios/FGV/UNISINOS) Os Pressupostos Éticos da Abordagem Seniana das Capabilidades: uma visão Pluralista da Razão ....................15 Gefferson Silva da Silveira (UFSM) O Conceito de Liberdade no Terceiro Conflito das Ideias Transcendentais da Crítica da Razão Pura ..................16 Gilson Olegario da Silva (UFSM) Entre estruturas linguísticas e revoluções: novas leituras de Carnap e Kuhn .......................................................16 Gisele Dalva Secco (PUC-Rio) Os diferentes tipos de a priori e uma aplicação da distinção ...............................................................................16 Guilherme Pinto Ravazi (UFSM) O Método do Elenchos ..........................................................................................................................................17 Jonatan Willian Daniel (UFSM) Sellars e o espaço lógico das razões ......................................................................................................................17 Josiana Hadlich de Oliveira (UFSM) Implicações éticas da percepção do comportamento na experiência antepredicativa ........................................18 Karen Giovana Videla da Cunha Naidon (UFSM) Estímulos proximais e distais: as críticas de Davidson a Quine ............................................................................18 Kariane Marques da Silva (UFSM) Sobre o Caráter Normativo da Epistemologia ......................................................................................................18 Kariel Antonio Giarolo (UFSM) Operadores modais na análise lógica de sentenças em Grice ..............................................................................19 Laura Machado do Nascimento (UFSM) Discussões recentes sobre a tese da impregnação teórica ...................................................................................19 Lauren de Lacerda Nunes (UFSM/UNIPAMPA) Poderiam os sentimentos morais operar na resolução de dilemas morais? ........................................................20 Leila Rosibeli Klaus (UFSM) A insuficiência na base ontológica da Antropologia de acordo com Heidegger em Ser e Tempo.........................20 Luciano Duarte da Silveira (UFSM/UFPel) Observações acerca da tradução da expressão Wissen aufheben na passagem B XXX do prefácio à segunda edição da Kritik der reinen Vernunft .....................................................................................................................21 Marcelo Fischborn (UFSM) Monismo anômalo e epifenomenismo de propriedades ......................................................................................21

Mateus Romanini (UFSM) Entre a Genética e a Cultura: Considerações e Relações entre Jesse Prinz e Karl R. Popper ................................22 Mateus Stein (UFSM) Aprimoramento Humano e a Ética da Autenticidade ...........................................................................................22

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Merynilza Santos de Oliveira (UFPA) Sêneca e a Finitude ...............................................................................................................................................22 Mônica Saldanha Dalcol (UFSM) Schopenhauer: Um não Intelectualista .................................................................................................................23 Nedilso Lauro Brugnera (UFSM/UFFS) O Conceito de Vulnerabilidade em Alasdair Macintyre a partir de Dependent Rational Animals: Why Human Beings Need the Virtues ........................................................................................................................................23 Odirlei Vianei Uavniczak (UFSM) Intertextualidade e Metatextualidade: O Anti-Realismo nas Manifestações Culturais Pós-Modernas ................24 Paulo Gilberto Gubert (UFSM) A fenomenologia da simpatia e a ética do respeito em Ricoeur ..........................................................................24 Paulo Vélez León (Universidad Autónoma de Madrid/ Universidad de Salamanca-ESPANHA) ἐπιστήμη σοφία: Un estudio histórico sobre la diferencia entre las nociones de metafísica y ontologia ...........24 Rachel Souza Martins (UFRJ) Deveres morais para com o meio ambiente .........................................................................................................25 Rafael Lagomarsino Rodriguez (UDELAR-URUGUAI) La Paradoja de la Conciencia de la Muerte em Heidegger y el Budismo ..............................................................26 Ronaldo Palma Guerche (UFSM) O Aristóteles de Heidegger: Interpretação e Influência .......................................................................................26 Silverio Costella (UFSM) Sofrimento Psíquico na Perspectiva de Lévinas ....................................................................................................26 Tamires Dal Magro (UFSM) Revoluções científicas, incomensurabilidade e critérios de escolha entre teorias rivais no Kuhn tardio ............27 Vinicius Oliveira Sanfelice (UFSM) Ricoeur: o status da imaginação entre Kant e Husserl ..........................................................................................27 Vítor Hugo dos Reis Costa (UFSM/FAPAS) Variações sobre a Melancolia - de Lars von Trier à Ernildo Stein .........................................................................28 Waleska Mendes Cardoso (UFSM) A relação entre as noções valor inerente, interesse e direito moral de respeito na teoria de Tom Regan ...........28

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RESUMOS

O MAL COMO ESCÂNDALO E DESAFIO NO PENSAMENTO DE PAUL RICOEUR

Adriane da Silva Machado Möbbs E-mail: [email protected]

Ainda que no sentido pleno da palavra, o mal seja sempre pessoal, ele não está, contudo, restrito ao campo da pessoa. Insere-se nos relacionamentos humanos, invade estruturas e instituições. Desta forma, se cria uma situação de mal compreendido como um conjunto de circunstâncias nas quais uma pessoa vem ao mundo e nele se encontra. Cada pessoa está objetivamente dentro de uma situação de mal, ou seja, uma atmosfera contaminada, preexistente a cada um em particular, a qual lhe exerce influência e o leva ao mal. Com base nisso, Ricoeur prioriza uma abordagem do mal ao nível antropológico e cultural, na busca de evidenciar uma complementariedade teórica e prática, entre o mal cosmológico e o antropológico. Assim, dá um enfoque significativo ao elemento antropológico e cultural, porque as outras abordagens só ganham sentido quando ligadas ao homem e ao seu poder de significar e de resignificar a cultura. Ricoeur defende que a abordagem da questão do mal tem de operar uma dinâmica de alteração nas esferas do pensamento, do sentimento e da ação. Assume, nesse sentido, a incapacidade da razão especulativa de acercar-se do mal, sem, contudo, lhe tirar a sua raiz trágica. Portanto, entendemos ser necessário num primeiro momento deste estudo, tecer a distinção entre mal cometido e mal sofrido, e, num segundo momento, adentrar o conceito de mal sofrido e, por fim, abordaremos o sofrimento do justo e a análise do Livro de Jó da Bíblia, realizada por Ricoeur.

O QUE É AUTOCONSCIÊNCIA? UMA LEITURA DA APERCEPÇÃO ORIGINÁRIA DA CONSCIÊNCIA EM KANT

Adriano Bueno Kurle E-mail: [email protected]

Kant apresenta a noção de unidade sintética originária da consciência, e a distingue da unidade analítica da consciência, no capítulo da dedução transcendental das categorias, na Crítica da Razão Pura. Através do conceito de síntese, enquanto atividade relacionada com a espontaneidade do entendimento, podemos compreender o que, para Kant, significa consciência enquanto capacidade de relacionar representações entre si de acordo com regras a priori, que dão a função da operação que unifica as diversas representações. A unidade a priori de todas as possíveis representações ocorre através da capacidade de sintetizar e acompanhar a síntese destas representações, o que implica na distinção entre unidade sintética e unidade analítica da consciência. Kant aborda assim a necessidade de unificar as representações sinteticamente sob a mesma consciência, para que estas possam ser pensadas juntas e, desta maneira, possibilitar a subsunção e classificação de intuições dadas em conceitos. Focaremos nossa analise agora no que Kant chama, na segunda edição, de síntese intelectual, onde ele apresenta o conceito de apercepção transcendental, buscando apontar o que Kant entende por este conceito e como se pode falar de consciência e consciência de si a partir da passagem dos §§15-21 da dedução transcendental. Defendemos a importância do conceito de síntese e de considerá-la como atividade pré-discursiva, que possibilita a organização do múltiplo da sensibilidade em unidades representacionais (conceitos) e também os juízos discursivos (visto que estes são estruturados de acordo com as mesmas regras de síntese, as categorias), regulando estas sínteses também a unidade suprema da consciência, que estrutura a consciência empírica de acordo com as possibilidades transcendentais de unidade das representações.

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A APRENDIZAGEM MORAL ATRAVÉS DA ARTE DE IRIS MURDOCH

Alessandra Lessa dos Santos E-mail: [email protected]

Aristóteles, em sua obra Arte Poética, tratou dos principais gêneros literários de sua época - a epopéia, a tragédia e a comédia, mas manteve foco na descrição do teatro trágico, explanando os seus componentes. O mais importante deles, para esta pesquisa, é a catarse – a purgação de emoções que um sujeito experimenta no momento em que o herói passa da boa fortuna para a má fortuna, o que causa terror e remorso. Iris Murdoch (2001), também trata a arte como tendo uma função educativa, e desvincula-se das caracterizações formalistas da ética (como, por exemplo, a concepção veiculada por Rachels, 2006), que expõe que a vida moral deve ter como base o exercício de uma racionalidade imparcial, guiando a escolha das ações certas. A moralidade ou ética, tal como Murdoch pretende caracterizar, não é uma reflexão racional em torno da "ação certa", mas uma reflexão em torno do que é "bom ser" ou em torno de como "podemos nos tornar bons", um propósito do qual participam tanto nossa racionalidade, quanto os monólogos interiores, metáforas libertadoras, parábolas, entre outros aspectos. O texto literário deve ser experienciado; os argumentos dele devem sugerir perspectivas acerca do mundo, e também pessoais para cumprir seu propósito educativo. Nesse sentido, o conceito do Bem é supremo para construir a reflexão moral, e repousa também sobre a arte, uma vez que ela mostra, aos homens, egoístas por natureza, sua real condição. Afinal, o Bem deve estar em tudo que afasta o homem desse egoísmo. Para o início da pesquisa, caracterizamos a concepção de Aristóteles e Murdoch sobre literatura e aprendizagem moral, e estabelecemos as proximidades de ambos. Procuraremos mostrar, em especial, que Murdoch sustenta que a expressão ficcional (especialmente a literatura) oferece lições acerca da natureza da ética, principalmente através das emoções e transformações morais representadas nesses textos.

O RELACIONALISMO ONTOLÓGICO IMBRICADO NA FENOMENOLOGIA-HERMEÊUTICA DE HEIDEGGER

Bruno De Prá Michels E-mail: [email protected]

O relacionalismo ontológico endossa a tese forte de que a identidade dos entes é de cunho relacional. Isto significa que a identidade é constituída, em parte, pelas relações que os entes mantêm entre si, incluídas também as relações temporais. Neste sentido, o relacionalismo implica uma noção de subdeterminação ontológica, de acordo com a qual certas classes de objetos adquirem determinação apenas a partir de suas relações com outros entes. O objetivo do presente trabalho é apresentar o relacionalismo presente na fenomenologia hermenêutica de Martin Heidegger. Segundo a interpretação elaborada por David Webermann, Heidegger subscreveria a tese da subdeterminação relacional dos objetos e por esta razão rejeitaria a ontologia da subsistência (Vorhandenheit) como incompleta e inadequada. Na medida em que a concepção relacional da identidade ontológica baseia-se na distinção entre propriedades intrínsecas e propriedades extrínsecas, assim como no reconhecimento de que as propriedades extrínsecas podem ser metafisicamente determinantes da identidade de objetos, uma das consequências da interpretação relacionalista de Ser e Tempo é a alegação de que Heidegger discrimina dois tipos diferentes de possibilidades brutas de objetos, as que são constitutivas da identidade de objetos e as que não são constitutivas da identidade de objetos. Nesta comunicação não nos deteremos no exame das grandes dificuldades implicadas por uma ontologia relacional e pelos supostos da subdeterminação ontológica dos objetos da compreensão. Nossa meta é explicitar que o relacionalismo imbricado em Ser e Tempo seria responsável, em última instância, pela recusa de Heidegger em admitir a validade irrestrita da ontologia da subsistência, cuja implicação é uma concepção unilateral da identidade ontológica, segundo a qual entes são auto-contidos e não-relacionais.

CONHECIMENTO SIMBÓLICO NA ÁLGEBRA DA LÓGICA E NOS DIAGRAMAS DE VENN

Bruno Ramos Mendonça E-mail: [email protected]

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Nosso trabalho está inserido no debate filosófico recente sobre conhecimento simbólico. O interesse central desse debate consiste em avaliar como os simbolismos cumprem diferentes funções representacionais, para desse modo compreender que valor epistemológico os símbolos possuem na investigação científica. Nesse trabalho apresentamos a concepção de conhecimento simbólico subjacente à lógica simbólica de Venn. Venn, em Symbolic Logic (1894), apresenta uma algebrização da lógica e um sistema diagramático de lógica. Contudo, no desenvolvimento desse projeto, duas questões filosóficas se colocam. Em primeiro lugar, dado que o simbolismo algébrico de que Venn lança mão tem um uso consolidado em matemática, é preciso considerar em que medida a algebrização da lógica está comprometida com a tese de que a lógica é um ramo da matemática. Em segundo lugar, é preciso considerar em que medida a algebrização da lógica modifica noções tradicionais da silogística. A resposta de Venn a essas questões depende de considerar o modo como os símbolos representam. Assim, para responder a primeira questão, Venn aponta como a função subrogativa dos símbolos envolve um componente de arbitrariedade. Além disso, para responder a segunda questão, Venn mostra como o modo estrutural de representação dos símbolos implica em modificações de noções tradicionais da silogística.

COSMOPOLITISMO INSTITUCIONAL: UMA PROPOSTA PARA ELIMINAÇÃO DO DÉFICIT DE DIREITOS HUMANOS

Catarina Alves dos Santos E-mail: [email protected]

Abordaremos de modo breve a proposta de Thomas Pogge para a erradicação da pobreza extrema no mundo apontando alguns aspectos importantes. O discípulo de Rawls, preocupado com uma justiça distributiva internacional, objetou seu mestre por sua teoria não oferecer um equivalente ao princípio da diferença para a esfera internacional, na Sociedade dos Povos. O dever de assistência, do Direito dos Povos, é circunstancial e temporário, voltado para uma prática assistencialista, que não conduz as populações abaixo da linha da pobreza à superação da sua situação de modo definitivo. Para Pogge é necessário implementar uma reforma, em não havendo um correlato ao principio da diferença, que vá ao encontro de medidas garantidoras de um padrão de vida digno, ou seja, do direito a alimentação, moradia, saúde, vestimenta, saneamento, água potável etc. O autor sugere uma reforma institucional global com conteúdo moral, baseado nos Direitos humanos, assegurando assim a eliminação do déficit destes direitos. Isto porque a situação atual de carência absoluta, de algumas populações, resulta da nossa história: das relações econômicas e politicas adotadas tais como o trabalho escravo e a exploração dos recursos naturais para enriquecimento individual ou de um Estado. Estas práticas geraram déficits de Direitos Humanos, com as quais somos responsáveis. Ainda que indiretamente, contribuímos para a manutenção destas práticas ao não agirmos de modo contrário a sua aplicação, quer seja em instâncias deliberativas, quer seja no cotidiano mais imediato, cooperando com instituições geradoras destas privações. Temos o dever negativo de não causar dano a outrem nos torna moralmente responsável pela pobreza extrema no mundo atual, bem como o dever positivo de ajudar pessoas em situações limites. Portanto, a alternativa esta em adotarmos uma prática normativa cujo objetivo esteja em consonância com padrões de uma boa vida a todos os indivíduos.

INTERPRETAÇÃO E/OU ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA EM PAUL RICOEUR

Cláudia Aita Tiellet

E-mail: [email protected]

Nosso escopo é avaliar como se sustenta a oposição entre as teorias da hermenêutica e da argumentação ao nível do direito e pontuar a proposta de resolução encaminhada por Paul Ricoeur à luz de suas teorias do texto, da ação e da história. Partiremos do ponto onde o autor identifica uma posição de antagonismo entre estas duas tendências no interior do pensamento jurídico contemporâneo. De um lado, encontra a posição de Ronald Dworkin e sua proposta de hermenêutica jurídica. De outro, a corrente da argumentação jurídica, com

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Robert Alexy e Manuel Atienza. Mostraremos que o exame de Ricoeur acerca desse suposto antagonismo busca mostrar que as insuficiências internas dessas duas correntes teóricas alicerçam a proposta da dialética entre interpretação/argumentação no debate judiciário, tal como o autor já havia feito em outras obras com o par compreender/explicar nas teorias do texto, da ação e da história. A dialética entre argumentação e interpretação, no plano judiciário e a dialética entre explicação e compreensão, no plano da teoria do texto, da ação e da história seriam semelhantes. Da mesma forma, a tradição hermenêutica filosófica (hermenêutica romântica de Dilthey e outros) que interpreta textos para encontrar intenção do autor, para Ricoeur não seria muito diferente daquela hermenêutica jurídica que busca no texto da lei a intenção do legislador. Por fim, concluiremos, assim como Ricoeur, que o objetivo do texto (literário ou legal) não é, a título primordial, encontrar a intenção do autor (isto é, o aspecto psicológico da hermenêutica romântica). Para ele o que há de se encontrar na obra é a coisa do texto: o tipo de mundo que se abre diante da obra.

A FUNÇÃO DOS PRINCÍPIOS E DAS REGRAS NA DELIBERAÇÃO JURÍDICA E MORAL: APROXIMAÇÕES E DIFERENÇAS

Clodoveo Ghidolin

E-mail: [email protected]

O objetivo desse trabalho é expor a classificação dos princípios e regras do sistema jurídico, analisar suas funções, prováveis conflitos e os métodos de solução. Em seguida, comparar esses mesmos conceitos com a deliberação Moral. Por fim, apresentar aproximações e diferenças na deliberação jurídica e moral. Um sistema jurídico pode ser analisado sob várias perspectivas, mas uma em especial representa a base do Direito contemporâneo e a chave para a solução de vários problemas envolvendo a Dogmática Jurídica, a saber, a distinção entre princípios e regras. Essa classificação não é nova, porém nossa atenção inicia com os escritos de Ronald Dworkin, mais especificamente no segundo capítulo da obra “Levando os direitos a sério”. O autor defende a tese que o Direito deve ser composto não somente por regras, mas também por princípios que servirão, entre outras funções, para auxiliar o raciocínio jurídico diante de casos difíceis e proporcionar soluções para aqueles em que as regras não dão conta. Esse mesmo conjunto de pares (princípios e regras) pode ser analisado na perspectiva da Moral (baseado em um artigo de Marcus Singer “Moral rules and principles”), não apenas para estabelecer uma simples classificação, mas demonstrar como os princípios morais estão envolvidos na justificação e estabelecimento das regras morais. Eles são considerados como dispositivos invariáveis que servem para criar novas regras (morais), mudar as antigas, oferecer soluções mais adequadas, método para preencher lacunas, resolver eventuais antinomias entre regras e auxiliar na solução de dilemas morais. Outra característica comum dos princípios, tanto no Direito quanto na Moral, é jamais estar em conflito ou em contradição em sentido forte (não são incompatíveis entre si), mas poderiam estar em concorrência. Caso isso ocorra, no Direito, utiliza-se o procedimento da “ponderação” dos valores (ou Princípios) em conflito mensurando o peso de cada um deles com o caso concreto (um deles será derrotado nessa circunstância, mas ambos permanecem válidos, distintamente das regras em que o conflito implica a perda da validade). Nossa proposta é que esse mesmo procedimento possa ser adotado, por analogia, em uma provável concorrência de princípios morais (em um dilema) ou ainda em razão da insuficiência da regra na deliberação moral.

O DESPERTAR ÉTICO NA PROXIMIDADE INTER-HUMANA: O PAPEL DA AFETIVIDADE NA CONSCIÊNCIA MORAL SEGUNDO EMMANUEL LÉVINAS

Cristiano Cerezer

E-mail: [email protected]

O que desperta nossa consciência moral? Desde o que e para o que ela é orientada? Essas questões, dentre outras, estão na base do pensamento de Emmanuel Lévinas (1905-1995), filósofo franco-lituano de origem judaica e filiado à escola fenomenológica. Tais indagações trazem consigo o ímpeto de descobrir a condição – “incondicional”, como dirá Lévinas – da moralidade como sentido que sustenta a vinculação inter-humana. Para Lévinas, mais do que a atualização de alguma propriedade intrínseca no homem ou de uma determinação meramente anônima segundo princípios demasiado formais, trata-se antes de uma “significação individuante”

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que exige a singularidade do sujeito no instante mesmo em que a moralidade é desperta ou inscrita em sua subjetividade. Esse “despertar moral” parte antes de uma heteronomia para só então possibilitar a autonomia e, por ser de gênese heteronômica, tal consciência moral será constituída como resposta afetiva ao outro. O conceito de responsabilidade moral estará, portanto, enraizado no campo da afetividade. O objetivo deste trabalho é analisar o papel da afetividade na gênese da consciência moral segundo Lévinas. Para tal nos interessará a passagem do nível pré-moral para o moral se observando os registros afetivos nos quais a moralização irá revelar seus traços fundamentais e mesmo seus paradoxos. Também nos interessará a relação entre individuação e significação morais desde a base afetiva na qual se inscrevem, isto é: como a proximidade inter-humana traz a orientação moral exigindo cada qual individualmente no seio da relação que os afeta mutuamente?

RESPONSABILIDADE MORAL E LIVRE-ARBÍTRIO

Cristina de Moraes Nunes E-mail: [email protected]

O presente trabalho visa apresentar alguns aspectos relevantes da discussão sobre a questão da responsabilidade moral. Em Freedom and Resentment, Peter F. Strawson apresenta uma nova perspectiva para tratar da responsabilidade moral não mais vinculada a questão de se temos ou não livre-arbítrio. Strawson afirma que com relação ao determinismo existem três posições, a saber: a do pessimista que afirma que se a tese do determinismo for verdadeira a noção de responsabilidade moral perde o seu valor de ser; a dos otimistas que defendem a ideia de que mesmo a tese do determinismo sendo verdadeira a noção de responsabilidade moral não perde o seu valor, pois as pessoas não deixam de ser responsabilizadas pelas suas ações; a outra posição é daqueles que simplesmente não sabe qual é a tese do determinismo. Desse modo, Strawson define-se como aquele que não sabe qual a tese do determinismo, pelo fato de que não precisamos nos preocupar se a tese do determinismo é verdadeira ou falsa, simplesmente porque isso não mudará a maneira como normalmente responsabilizarmos as pessoas pelas suas ações. Segundo o autor, a responsabilidade moral deve ser tratada de acordo com um sistema de sentimentos morais, tais como ressentimento, indignação e culpa, os quais nos permitem avaliar as ações como certas ou erradas. Assim, Strawson trata da questão de responsabilidade moral sem se comprometer em dar uma resposta ao determinista moral e propõe uma naturalização da responsabilidade moral, vinculando-a aos sentimentos morais.

AKRASIA E TYCHÉ NO HIPÓLITO DE EURÍPEDES

Daniel Simão Nascimento E-mail: [email protected]

Eurípides foi, ao longo de nossa história, interpretado das mais diversas maneiras. No que diz respeito ao século XX, é possível constatar a consolidação de uma importante tradição hermenêutica. Seus inventores foram Jaeger, (Paidéia), Bruno Snell (A descoberta do Espírito), e Eric Dodds (Euripides the Irrationalist), mas também contribuíram para sua consolidações especialistas como Albin Lesky, Helen North, Jean Pierre Vernant e Jacqueline de Romilly. Segundo tal paradigma, as peças de Eurípides teriam um caráter psicológico dominante, caráter esse cuja importância se acentua em detrimento do aspecto mitológico da tragédia. Se quisermos entender o que se passa numa obra de Eurípides, nos dizem tais autores, é preciso compreender o que motiva as ações de seus personagens. Essa tarefa, é claro, nos é oferecida pelo próprio texto, na medida em que tais personagens discorrem longamente sobre suas próprias motivações. É sobretudo baseado nesta tradição que Irwin defendeu recentemente uma determinada interpretação de duas das principais obras de Eurípides, Medéia e Hipólito, que reafirma a oposição entre Sócrates e Eurípides, já defendida anteriormente por Dodds, no que diz respeito à questão da incontinência e do chamado ‘intelectualismo socrático’. Neste trabalho, criticarei a interpretação oferecida por Irwin da peça Hipólito, buscando mostrar que ela não dá conta da ação tal como ela é retratada no texto de Eurípides. Termino tecendo algumas considerações sobre o papel dos Deuses na peça, geralmente menosprezado pelos que adotam a tradição hermenêutica supracitada.

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A CRÍTICA DE RUSSELL À FREGE EM ON DENOTING

Denise Borchate E-mail: [email protected]

Simon Blackburn e Alan Code argumentam no artigo The power of Russell’s criticism on Frege (1977) que Russell desenvolveu uma crítica a sua própria teoria da denotação nos Principles of Mathematics (1903) mas também a teoria fregeana no “Sobre o Sentido e a Referência” (1892) em On Denoting (1905). Russell teria abandonado a distinção entre significado e denotação na teoria dos conceitos denotativos ao constatar que não se poderia estar certo quanto ao papel lógico de denotar dos significados. Russell explica a significação de expressões denotativas por meio do postulado de que há um elemento semântico intermediário às palavras e os objetos chamado de conceito denotativo ou significado nos Principles of Mathematics. A teoria dos conceitos denotativos foi fundamentada sob dois pressupostos. O primeiro pressuposto é que conceitos denotativos ou significados têm a propriedade lógica de denotar. O segundo pressuposto é que a habilidade de usar expressões denotativas significativamente explica-se pela acquaintance (relação direta e imediata) com o significado e sua relação lógica com a denotação. Uma teoria que admita o segundo pressuposto, ou seja, que significados relacionem-se a objetos por meio da propriedade lógica de denotar deveria estar errada, pois não há como nomear significados de modo que o significado denote a sua denotação. Isto é, de modo que significados tenham o papel lógico de denotar. Desse modo, Russell também estaria criticando Frege ao fazer uma crítica a teoria dos conceitos denotativos, visto que Frege considera que sentidos tem o papel lógico de denotar.

UMA LEITURA PADRÃO DO TRACTATUS

Diorge Vieira Rosa

E-mail: [email protected]

Segundo Peter Hacker, em seu artigo Was he Trying to Whistle It?, o leitmotiv que percorre todo o Tractatus Logico-Philosophicus é a tese segundo a qual existem coisas que não podem ser descritas com sentido, mas apenas mostradas. A impossibilidade de uma descrição com sentido de tais coisas se deve a certos aspectos representativos da própria linguagem. Se isso é o caso, então é possível afirmar que o Tractatus mostra (e não propriamente descreve) verdades que não podem ser descritas. Para Hacker, Wittgenstein realmente tinha o intuito de acabar com as pretensões filosóficas de se descrever o que não pode ser descrito. Tal objetivo wittgensteiniano é uma consequência da delimitação da linguagem e da tese de que as verdades metafísicas estão além desses limites. Entretanto, na perspectiva de Hacker, Wittgenstein se utiliza da noção de mostrar como uma saída para tratar das verdades metafísicas que estão para além do limites da linguagem. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é analisar o argumento que Hacker fornece para sustentar sua interpretação do Tractatus. Em um primeiro momento, foram analisadas as evidências textuais para se assumir o leitmotiv proposto para o Tractatus. Em um segundo momento, foram analisados os pressupostos desta interpretação

ULISSES COMO PROTÓTIPO DO HOMEM BURGUÊS NA DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO (1947)

Douglas João Orben E-mail: [email protected]

No Excurso I da obra Dialética do Esclarecimento (1947), Theodor W. Adorno e Max Horkheimer apresentam a origem do processo de esclarecimento remontando ao período histórico mítico. Segundo os autores, o mito é o primeiro esboço da racionalidade teórica que se abstrai da contingência natural, procurando estabelecer assim

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uma determinada ordem conceitual. Neste contexto, o presente trabalho pretende abordar, sobretudo, as relações existentes entre mito, esclarecimento e dominação, analisando-as a partir da figura de Ulisses, o herói astucioso da Odisseia de Homero. Após vencer a guerra de Troia, destruir e dominar a cidade por meio de uma astuciosa artimanha, o herói Ulisses depara-se como um novo desafio: retornar à sua pátria, Ítaca, assumir o seu posto de senhor e reencontrar Penélope. A viagem de retorno, contudo, é longa e complicada, marcada por inúmeras dificuldades que a todo o momento desafiam as ambições e a própria existência de Ulisses. O medo, a astúcia, o logro e a dominação, são elementos que constantemente estão presentes nas aventuras do herói errante. Em tal enredo a subjetivada vai sendo firmada e o esclarecimento começa a contrapor-se à natureza que lhe ameaçava. É, pois, em tal confronto que surge a necessidade de uma constante autoafirmação do “eu”, da consciência subjetiva que supera e domina a natureza. Neste sentido, a figura de Ulisses já manifesta algumas das principais características do burguês moderno: a constante necessidade de autoafirmação, a racionalização do sacrifício, a negação dos desejos naturais e a dominação pelo saber, são alguns dos elementos que, desde Ulisses, perpassam toda a história do esclarecimento, sendo potencializados ainda mais na modernidade.

O SUMO BEM POLÍTICO EM KANT: A IDEIA DE UMA SOCIEDADE COSMOPOLITA EM PAZ PERPÉTUA

Édison Martinho da Silva Difante E-mail: [email protected]

Todas as caracterizações referentes ao conceito (ideia) de Sumo Bem, em certa medida, parecem corretas, visto que Kant as declara em diversos pontos, ao longo de sua doutrina filosófica. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo não é entrar no mérito, quanto à importância ou não do Sumo Bem na filosofia kantiana; posto que, partimos do pressuposto que esse conceito não só é importante como também é necessário. Da mesma forma, não se objetiva demonstrar qual das duas concepções, moral (teológica) ou política (laica), tem mais legitimidade no conjunto da obra kantiana, embora a concepção teológica ou moral seja constantemente retomada. Contudo, tomando por base os textos referentes à Filosofia da história e à Filosofia do direito (os escritos políticos), pode-se vislumbrar a concepção política do Sumo Bem como uma ideia realizável no mundo empírico. De alguma forma, ela precederia a realização do Sumo Bem moral. Tomando por referências principais A metafísica dos costumes (1797), mais precisamente “A Doutrina do Direito”, a Ideia de uma história universal com um propósito cosmopolita (1784) e À Paz Perpétua (1795), objetiva-se demonstrar que o Sumo Bem político em Kant consiste na ideia de uma sociedade cosmopolita em paz perpétua baseada no direito constitucional.

ACERCA DA NEGAÇÃO DE PROPOSIÇÕES E DA NEGAÇÃO DE TERMOS

Élton Luiz Rasch E-mail: [email protected]

Na presente comunicação pretende-se investigar, a partir da obra “A Natural History of Negation” de Laurence Horn, por um lado, a vinculação da noção de negação com termos e predicados na lógica de termos e, por outro, as relações entre negação e proposições na lógica proposicional. Nesse sentido, a questão central acerca da negação é a existência de uma suposta assimetria entre proposições negativas e positivas, cujos reflexos de cada posição são sentidos em ambas as lógicas. Para levar esta tarefa a cabo, inicialmente se retomará a classificação em diferentes tipos de oposições em ambas as lógicas. A seguir, farei uma comparação entre as noções de negação proposicional e a contradição do quadrado de proposições, investigando à ligação das proposições do quadrado de oposições com pressupostos existenciais, e destes com a negação, a fim de comparar vantagens e desvantagens de ambas as negações e seus respectivos sistemas. Os resultados apontam na direção de que, mesmo a lógica proposicional contemporânea se utilizando da negação proposicional, em grande medida esta foi influenciada pela negação da lógica de termos, além de haver uma generosa influência da gramática em sua concepção. Ademais, se observa uma naturalidade muito maior da lógica de termos em aceitar duas negações, isto é, a negação de predicado e a negação de termos.

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PARADOXOS DA LINGUAGEM DAS TESTEMUNHAS VÍTIMAS DE TORTURA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO PENSAMENTO DE GIORGIO AGAMBEN

Ésio Francisco Salvetti

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O trabalho objetiva refletir sobre a dimensão ético-política das testemunhas que tiveram a coragem de narrar o horror e a violência praticada, nos Estados de Exceção, contra vidas humanas. Estados que durante décadas assombraram a vida da sociedade brasileira, reduzindo a vida humana, daqueles que se opunham ao regime político, à categoria de parasitas ameaçadores, que por isso deveriam ser eliminados, legitimados pelo argumento da preservação da ordem instituída. Esta é uma problemática ético-política que vem ganhando força, principalmente no contexto de debates sobre direitos humanos, em torno da luta pela criação da comissão nacional da verdade, pela abertura dos arquivos da ditadura e pela justiça das vítimas da violação de direitos humanos. Estaremos nos apoiando e fundamentando a reflexão na obra “O Que Resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha” de Giorgio Agambem dá destaque à testemunha dos campos de extermínio nazistas, conhecidos como “muçulmano”. Figura essa que passou a ser o paradigma da biopolítica contemporânea, uma vida reduzida a pura existência biológica. A existência do muçulmano consistia em si num testemunho mudo da barbárie e do horror. A figura do muçulmano faz sentido neste contexto, porque é perfeitamente possível fazer um paralelo com a figura dos torturados brasileiros pela ditadura. Tanto os torturados nos porões como aqueles torturados nos campos de concentração, trazem o verdadeiro sentido da violência sofrida. Os estudos feitos por Agamben sobre a testemunha mostram que esta é uma categoria filosófica paradoxal. Há um aspecto que devemos enfrentar que é a zona de indizibilidade do sofrimento da violência. A narrativa da tortura não explica nem esgota todos os significados que a tortura provocou nas testemunhas. Por mais que a vítima seja uma testemunha legítima ela permanece na impossibilidade de dizer a totalidade do horror da violência. A linguagem da testemunha vítima da violência é paradoxal, a verdade de seu testemunho é inversamente proporcional à sua incapacidade de dizer o acontecido. Mas por outro lado, Agamben revela que as testemunhas tem um estatuto epistemológico próprio, a sua relação direta com a violência lhe confere uma dimensão ética-política singular. É exatamente essa singularidade peculiar às vítimas que as torna um critério ético-político para uma justiça.

A ANALÍTICA DA EXISTÊNCIA DE HEIDEGGER E SEU VÍNCULO COM O PROBLEMA DA NORMATIVIDADE

Gabriel Henrique Dietrich E-mail: [email protected]

Christine Korsgaard desenvolveu um tratamento ao problema da normatividade para o qual os conceitos de agência, identidade prática e autoconsciência são vitais. O que se compreende por normatividade são as normas ou padrões com os quais os existentes humanos vinculam-se e que determinam seus comportamentos. Para Korsgaard, na medida em que os existentes humanos são agentes autoconscientes, eles precisam oferecer razões para levar a cabo as ações que eles empreendem. Tais razões valem como razões para a ação se forem apresentadas de acordo com aquilo que Korsgaard denomina ‘identidade prática’. Assim, ao vincular-se com determinada identidade prática, o existente humano vincula-se com determinado padrão de acordo com o qual algumas ações serão justificadas e outras, não. Mark Okrent e, mais recentemente, Steven Crowell, identificaram elementos da abordagem de Korsgaard que são compatíveis com a analítica da existência elaborada por Heidegger em Ser e Tempo e que permitem vincular essa mesma analítica com o problema da normatividade. Contudo, tanto Okrent quanto Crowell apontam problemas com relação ao conceito de autoconsciência, conforme apresentado pela autora. Ao apresentarem tais problemas, buscam resolvê-los à luz da analítica da existência do Dasein, conforme Heidegger a elaborou. O objetivo central deste trabalho é reconstruir as críticas de Okrent e Crowell. Para tanto, será preciso uma breve reconstrução da abordagem que ambos criticam. Além disso, dado que ambos tomam a fenomenologia hermenêutica como ponto de partida, será preciso ressaltar os elementos extraídos desta e que orientam seus próprios trabalhos e avaliar em que medida suas abordagens são compatíveis entre si.

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O DIREITO NEGATIVO PRÉ-LEGAL BÁSICO DE NÃO SER TRATADO COMO PROPRIEDADE: COROLÁRIO DO PRINCÍPIO DA IGUAL CONSIDERAÇÃO DE INTERESSES

Gabriel Garmendia da Trindade

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O presente estudo problematiza a relação entre o estatuto de propriedade e a inviabilidade de aplicação do princípio da igual consideração de interesses semelhantes. Para tanto, será discutida a possibilidade de fundamentação de uma plataforma ético-jurídica onde seres humanos e animais não humanos possam se encontrar sob a denominação de “pessoa”. A aceitação de que não humanos sencientes são, de fato, membros da comunidade moral em vigência implicará na rejeição dos principais usos feitos dos animais pelos seres humanos – e.g., alimentação, vestuário, entretenimento, experimentos, etc. Argumentar-se-á que por mais radical que essa perspectiva possa soar, ela na verdade está em consonância com certas intuições morais que os seres humanos em geral mantêm acerca dos não humanos – e.g., a ideia de que crueldade para com animais é moralmente inaceitável. Tendo isso em vista, este trabalho possui quatro propósitos basilares: (A) demonstrar por quais razões o estatuto de propriedade impossibilita a igual consideração dos interesses dos sujeitos morais; (B) definir a noção de pessoa; (C) caracterizar e traçar as origens do direito negativo pré-legal básico de não ser tratado como propriedade; (D) apresentar algumas das implicações-chave da concessão do direito básico de não ser tratado como propriedade aos animais não humanos. A comunicação adveniente deste resumo buscará demonstrar que um ser senciente (humano ou não) somente será adequadamente abarcado à comunidade moral (i.e., que o princípio da igual consideração de interesses será aplicado a ele) se não for considerado um mero recurso econômico – situação que é prevenida a partir da outorga do direito negativo pré-legal básico de não ser tratado como propriedade.

OS PRESSUPOSTOS ÉTICOS DA ABORDAGEM SENIANA DAS CAPABILIDADES: UMAVISÃO PLURALISTA DA RAZÃO

Gabriela D’Ávila Schüttz

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Este trabalho discute alguns pressupostos éticos da abordagem seniana das capabilidades, orientando-se por uma visão pluralista supostamente defendida pelo autor. A crítica de Amartya Sen ao empobrecimento da teoria econômica em decorrência de seu afastamento da ética, assim como a utilização de bases informacionais insuficientes para a avaliação do bem-estar, pobreza e desigualdade, resultou em uma das contribuições contemporâneas mais notáveis para o campo da economia do bem-estar e da teoria da justiça: o enfoque das capabilidades. O sistema moral no qual o enfoque das capabilidades se sustenta, desvia-se da dicotomia objetivismo/subjetismo em ética, através de um projeto conseqüencial de base pluralista que leva em consideração aspectos deontológicos das ações. Nesta visão, a definição e resolução dos problemas morais de natureza distinta (políticos, econômicos, sociais e culturais), baseia-se na argumentação racional, que envolve a avaliação crítica dos fundamentos sobre os quais nossos juízos se apóiam. No entanto, ao negar as pressuposições do comportamento racional como comportamento estritamente auto-interessado, Sen sugere que há uma pluralidade de motivações para o agir humano, que não está limitada a pressupostos transcendentais e tampouco apenas às inclinações decorrentes dos sentimentos morais. Ao apontar para a indispensabilidade da razão, Sen argumenta que a defesa da análise arrazoada “não depende de que esta seja uma via infalível para acertar (tal via pode nem existir), mas de que ela seja tão objetiva quanto for razoavelmente possível”. Embora apresente uma teoria normativa aberta a permanente reformulação, Sen aspira ao cumprimento de certas exigências de objetividade ética e referem-se à condição de imparcialidade e razoabilidade das razões, como requisitos para a obtenção de algum grau de confiança. Apesar de Sen desconfiar da existência de um tipo diferente de razão específica capaz de sustentar os juízos éticos, ele atribui à argumentação racional pública o status de melhor procedimento para esse fim.

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O CONCEITO DE LIBERDADE NO TERCEIRO CONFLITO DAS IDEIAS TRANSCENDENTAIS DA CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Gefferson Silva da Silveira

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Este trabalho pretende reconstruir e analisar os argumentos de Kant expostos no interior da antinomia da razão pura, particularmente, no que se refere ao seu terceiro conflito das ideias transcendentais. A antinomia é um estado da razão em que esta se encontra em conflito consigo mesma, resultado da sua atitude de não se limitar a atuar apenas dentro dos limites da possível experiência. No terceiro conflito das ideias transcendentais encontra-se uma tese que defende que há no mundo causas dotadas de liberdade; e, uma antítese que diz que tudo no mundo acontece em virtude das leis causais da natureza. Desse modo, fica estabelecido um conflito da razão consigo mesma, onde tese e antítese podem ser provadas com a mesma força argumentativa. Segundo as considerações de Kant, a natureza é um todo orgânico, por isso se torna problemático inserir nela uma causalidade por liberdade, pois esta quebra com a lógica da causalidade natural. Entretanto, a razão na ânsia de satisfazer sua necessidade de achar o incondicionado para as condições, insere a ideia da liberdade transcendental, pois somente a causalidade natural não responde seus anseios. A liberdade atua numa lógica diversa daquela da natureza, pois liberdade e natureza não coincidem. O conflito estabelecido não tem solução aparente, pois é possível, e não contraditório, pensar duas formas distintas de causalidade. Contudo, este conflito interno da razão tem de ser resolvido e a resolução deve brotar da mesma fonte onde o problema teve sua origem.

ENTRE ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS E REVOLUÇÕES: NOVAS LEITURAS DE CARNAP E KUHN

Gilson Olegário da Silva E-mail: [email protected]

A literatura recente em filosofia da ciência está manifestando um processo de reavaliação da relação entre obras pós-positivistas e neopositivistas. Ele contém, como uma de suas principais consequências, uma retomada de teses filosóficas neopositivistas diante da revisão das compatibilidades entre as duas escolas, comumente vistas como diametralmente incompatíveis. Friedman, Reisch, Earman, Irzik e Grunberg, advogam a compatibilidade das visões sobre estrutura da ciência por Carnap e Kuhn. Pinto de Oliveira e Psillos, discordam. Earman (1993, p. 11) sustenta que “muitos dos temas da assim chamada filosofia da ciência pós-positivista são extensões das ideias encontradas nos escritos de Carnap e de outros líderes positivistas lógicos e empiristas lógicos”. Friedman (2009, p. 191-192) diz que na “teoria de Kuhn da natureza e caráter das revoluções científicas” encontramos “uma contraparte informal da concepção (...) primeiramente desenvolvida pelos empiristas lógicos”. Por fim, Irzik e Grunberg (1995, p. 293) mantêm que “sem o holismo semântico, a incomensurabilidade semântica seria infundada; sem a impregnação teórica, ela seria severamente restrita aos termos teóricos” e que tais teses comporiam coerentemente a filosofia de Carnap na sua forma tardia, liberalizada. Apresentamos essas leituras comparativas e em seguida descrevemos as perspectivas a partir das quais elas são oferecidas.

OS DIFERENTES TIPOS DE A PRIORI E UMA APLICAÇÃO DA DISTINÇÃO

Gisele Dalva Secco E-mail: [email protected]

O presente trabalho está dividido em duas partes. Apresento, primeiramente e de modo sinóptico, a distinção sugerida por Arthur Pap, em artigo de 1944, entre diferentes tipos de a priori (formal/analítico, material e funcional) – aos quais se associam, ademais, diferentes tipos de necessidade (lógica, material/transcendental e funcional). Ainda na primeira parte, indico algumas virtudes da distinção, apontando para o modo como Pap faz uso dela ao analisar alguns procedimentos definicionais em física teórica (o que realiza em sua tese de doutoramento, de 1948). Na segunda parte, concretizo a distinção de Pap com a análise de um dos tópicos do

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debate filosófico acerca da prova do Teorema das Quatro Cores (T4C) – famigerada prova matemática levada a cabo em fins dos anos 1970, que faz uso indispensável e maciço de computadores. O referido tópico trata da tese da introdução da experimentação nas matemáticas através da prova do T4C, para a sustentação da qual o principal argumento pressupõe que o uso de computadores em provas matemáticas eliminaria o caráter a priori das mesmas. Ora, como é bem sabido, há uma longa tradição filosófica que considera a nota do a priori como aquela que melhor caracteriza os procedimentos matemáticos de justificação. Se pudermos mostrar não apenas que a distinção de Pap é legítima, mas que também o é nossa aplicação, ficaria de uma vez por todas solapada aquela pressuposição da tese da introdução da experimentação nas matemáticas, de modo que boa parte do famoso debate acerca daquela prova, igualmente, perderia seu chão.

O MÉTODO DO ELENCHOS

Guilherme Pinto Ravazzi E-mail: [email protected]

O objetivo do trabalho é caracterizar o método da refutação (elenchos) como parte integrante da ética socrática, como conhecida a partir dos primeiros diálogos de Platão. Primeiramente, farei uma breve exposição do chamado Intelectualismo Ético de Sócrates, teoria segundo a qual para ser feliz o homem necessita ser virtuoso e virtude e conhecimento são o mesmo, de modo que ninguém erra deliberadamente, mas por ignorância. Em seguida, evidencio que, para Sócrates, o pior dos males é a ignorância da própria ignorância, haja vista manter o homem afastado do caminho em direção à virtude. Por fim, demonstro que o elenchos, a parte terapêutica da ética socrática, é o método com o qual o filósofo, convicto de que agia segundo ordens divinas, refutava seus interlocutores a fim de explicitar as contradições em seus sistemas de crenças. Seu objetivo era manifestar a ignorância dos interlocutores, assim os libertando da ilusão de saber e os motivando a buscar, por conta própria, a verdadeira sabedoria. Sócrates dedicou a vida à tarefa de examinar a si próprio e seus concidadãos na tentativa de alcançar a arte do bem viver, busca que expressa na asserção “Uma vida sem exame não é digna de ser vivida.”

SELLARS E O ESPAÇO LÓGICO DAS RAZÕES

Jonatan Willian Daniel

E-mail: [email protected]

Em Empirismo e filosofia da mente, parágrafo 36, Wilfrid Sellars afirma que ao caracterizamos “um episódio ou um estado como aquele de saber, não estamos dando uma descrição empírica de tal episódio ou estado; nós o estamos situando no espaço lógico das razões, do justificar e do ser capaz de justificar o que se diz”. Tal compreensão do conhecimento desempenha papel importante na rejeição de Sellars a concepções fundacionistas e naturalistas em epistemologia. Contudo Sellars não se preocupou em deixar claro como o espaço lógico das razões e sua relação com o conhecimento devem ser entendidos, apesar da centralidade de tais questões no seu “sistema filosófico”. O presente trabalho tem como objetivo aclarar tais questões e apontar algumas de suas implicações em epistemologia. Para ele, o conhecimento deve ser entendido como um tipo de jogo, o jogo de dar e pedir razões assim como avaliar tais razões. Essencial ao jogo do conhecimento é o posicionamento no espaço lógico das razões, que consiste no comprometimento com o endosso de determinado conteúdo proposicional. Esses posicionamentos ou comprometimentos no espaço das razões podem ser avaliados quanto a sua correção ou incorreção, validade ou invalidade, o direito ou não que alguém tem de assumi-los. Desse modo, quando atribuímos conhecimento a alguém, estamos atribuindo a ele ou ela um compromisso, o endosso do conteúdo proposicional que dizemos ser conhecido, e avaliando-os como tendo o direito, como estando autorizados a assumirem tal posicionamento, tal compromisso, em suma, compreendendo-os como justificados a endossar tal conteúdo proposicional.

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IMPLICAÇÕES ÉTICAS DA PERCEPÇÃO DO COMPORTAMENTO NA EXPERIÊNCIA ANTEPREDICATIVA

Josiana Hadlich de Oliveira E-mail: [email protected]

É anterior aos juízos predicativos toda a evidência primordial dos objetos dados na experiência antepredicativa. Nela está o originar-se de todo objeto envolvido nas percepções e nos exercícios de passividade e atividade da consciência, bem como, consequentemente, nas predicações. E assim se manifesta a irredutibilidade da experiência à predicação, pois se “todo ato de pensar pressupõe objetos previamente dados” , é preciso que se tenha uma evidência antepredicativa para que se possa ter juízos evidentes. Portanto, o esclarecimento do surgimento à consciência, num misto de passividade e atividade do eu, através da percepção, de pré-objetos originais é fundamental para compreender como se chega à verdade dos juízos na concepção husserliana. Embora não trataremos de juízos predicativos evidentes, é relevante que se saiba que eles se clarificam à luz da evidência da experiência antepredicativa, que é o núcleo principal para podermos chegar a nossa ideia de que não somente objetos físicos e naturais se dão nessa experiência originária, mas sobretudo que nessa experiência, além de haver o anteceder de juízos epistêmicos, há o início da experiência do outro enquanto percepção de um comportamento. A partir da pesquisa sobre a experiência antepredicativa em Husserl, onde se dão todos os pressupostos evidentes para a constituição de juízos predicativos, procura-se a possibilidade de, na fenomenologia de Merleau-Ponty, emergir juízos éticos positivos fundados no âmbito antepredicativo. Para tal objetivo, se tem como pano de fundo a obra husserliana Experiência e Juízo e se faz necessário a procura de implicações éticas no estudo da Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty.

ESTÍMULOS PROXIMAIS E DISTAIS: AS CRÍTICAS DE DAVIDSON A QUINE

Karen Giovana Videla da Cunha Naidon E-mail: [email protected]

Há aproximados trinta anos, iniciou-se um debate entre os filósofos W. V. O. Quine e D. Davidson a respeito de onde deveria ser situado, na cadeia causal mundo-falante, o elemento que determina o significado empírico de frases de observação. De acordo com Quine, que sustenta o que se pode chamar de “concepção proximal”, tal elemento estaria localizado na superfície sensorial do falante, ou seja, em posição próxima a este em referida cadeia causal − estímulo proximal −; Davidson, por outro lado, critica a concepção proximal, pelo fato de que a mesma não seria capaz de explicar a natureza pública da linguagem, e sugere a Quine seu abandono em prol da concepção distal, por ele próprio sustentada, conforme a qual tal elemento estaria situado nos próprios objetos e eventos sobre os quais falam as frases, isto é, em posição mais distante do falante − estímulo distal. A despeito da sugestão de Davidson, Quine insiste até o final de sua obra em não adotar oficialmente a concepção distal, introduzindo, contudo, algumas modificações em sua concepção a fim de escapar às críticas procedidas por aquele autor. Tendo em vista essa divergência entre os dois autores, o presente trabalho objetiva proceder à reconstrução e avaliação desse debate. O trabalho será dividido em duas partes: a primeira delas será reservada à tentativa de situar o problema central que será nele examinado no bojo da filosofia quineana, enquanto a segunda parte será dedicada propriamente à reconstrução do debate. A conclusão obtida é que, por mais que seja possível levantar objeções contra a formulação final da concepção de Quine, ela pode ser considerada a saída mais adequada aos problemas da formulação inicial da concepção proximal quando comparada à sugestão de Davidson, visto que a adoção da concepção distal não seria satisfatória para os propósitos filosóficos de Quine.

SOBRE O CARÁTER NORMATIVO DA EPISTEMOLOGIA

Kariane Marques da Silva E-mail: [email protected]

Em sua Epistemologia Naturalizada Quine afirma que epistemologia é um capítulo da psicologia. Dado que a psicologia como ciência apenas explica e não prescreve normas para o funcionamento cognitivo, a

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epistemologia acabaria tendo também ela uma função descritiva e não prescritiva, isto é, não caberia a epistemologia tratar das questões normativas em relação ao conhecimento. Essa posição afeta sobremaneira o conceito de “justificação”, retirando deste a dimensão avaliativa atribuída pela tradição. Este tipo de acusação aparece no artigo O que é a Epistemologia Naturalizada? de Jaegwon Kim. No referido artigo, Kim crítica o projeto naturalista mediante a defesa do caráter normativo da Epistemologia, designada por ele de “Inquérito Normativo”. No presente trabalho pretendo apresentar uma possível resposta a crítica de Kim ao projeto epistemológico naturalista. Tomarei por base o artigo de Mikael Janvid, intitulado Epistemological Naturalism and Normativity Objection or From Normativity to Constitution. Nele, Janvid afirma que nem o conceito de conhecimento é um conceito intrinsecamente normativo, e sequer a epistemologia clássica pode ser considerada uma disciplina normativa, tal qual a ética normativa. Para Janvid, o estudo da distinção entre as crenças que são justificadas e as que não são justificadas não confere normatividade sobre o domínio da justificação, ou seja, não há normatividade na epistemologia clássica. Nesse sentido, a sua critica ao argumento de Kim mostra que a premissa “a epistemologia tem um caráter essencialmente normativo” não pode servir de base para a conclusão de que a epistemologia naturalizada omite o caráter normativo da epistemologia.

OPERADORES MODAIS NA ANÁLISE LÓGICA DE SENTENÇAS EM GRICE

Kariel Antonio Giarolo E-mail: [email protected]

O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar e discutir alguns aspectos fundamentais relacionados à análise que Grice efetua acerca da relação entre sentenças indicativas, imperativas e interrogativas e o papel que elas desempenham na construção de uma teoria ética. Em Aspects of Reason Grice procura, primeiramente, caracterizar em que consiste o conceito filosófico de razão. Ao sustentar que temos dois tipos de razão, uma razão teórica e uma razão prática, o autor defende que nenhuma delas possui um aspecto de primazia com respeito à outra. Razão teórica e razão prática estão no mesmo nível, elas são desdobramentos de uma única noção fundamental de razão. Grice, como consequência disso, assumirá que existem estruturas análogas nos dois lados da barreira teórico/prática. Verbos como ‘poder’, ‘dever’, termos como ‘necessário’ e outras estruturas linguísticas aparecem tanto em raciocínios teóricos bem como em raciocínios práticos. O problema que surge é se estas estruturas teriam um único significado ou uma pluralidade de significados em cada lado da barreira. Grice, por meio da inserção de operadores modais na análise de sentenças teóricas e práticas, parece assumir a primeira posição. Sentenças teóricas (ou sentenças indicativas) e sentenças práticas (ou sentenças imperativas) seriam caracterizadas como contendo um operador de racionalidade, um operador de modo e um radical. O operador de racionalidade,‘Acc’ pode significar algo como ‘aceitabilidade’ e diz respeito a um ‘pensar que’ no domínio teórico e um ‘querer que’ no domínio prático. Já o radical, ‘r’, diz respeito ao conteúdo das sentenças e, pode ser identificado com a frástica de Hare. Os operados modais, por sua vez, são a única estrutura que se altera na formalização das sentenças. As sentenças teóricas tem o símbolo ‘ ’ como operador de modo e ele indica que o conteúdo do radical está sendo julgado. As sentenças práticas, por outro lado, tem o símbolo ‘!’ como operador de modo e este indica que o conteúdo do radical está sendo imperado. Contudo, preocupado com as diferenças de modo que emergem no discurso, Grice introduz outros elementos em sua análise, como um proferidor (uterrer) e um ouvinte (hearer) e, inclusive, discute como devemos tratar de sentenças interrogativas. Meu texto, portanto, terá como propósito reconstruir de maneira clara essas teses de Grice e as vincular com aspectos mais gerais de seu trabalho.

DISCUSSÕES RECENTES SOBRE A TESE DA IMPREGNAÇÃO TEÓRICA

Laura Machado do Nascimento E-mail: [email protected]

A tese da impregnação teórica das observações afirma que as observações que fazemos são ao menos em parte moldadas ou afetadas pelas teorias, crenças ou conceitos que adotamos. A partir da década de 1950,

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com as obras de Hanson, Kuhn e Feyerabend, essa tese tornou-se bastante influente. Boa parte da reação às obras desses autores nas décadas seguintes supôs que estavam fortemente comprometidas com concepções relativistas e irracionalistas da ciência, sendo assim, bastante criticados. Algumas dessas críticas ocorreram no âmbito da filosofia da mente, na qual alguns autores, como Fodor e Pylyshyn, comprometeram-se em defender o realismo com base no ataque direto à tese da impregnação teórica, propondo a tese da modularidade da mente. Segundo a concepção modular da mente, existem alguns mecanismos mentais que são modulares, ou seja, possuem uma série de características que permitem, por exemplo, a ocorrência de um tipo de dado neutro cognitivamente. Assim, eles defenderam que há ao menos alguns elementos ou estágios da percepção que não são impregnados por nossas crenças, conceitos ou teorias. Este trabalho analisa alguns argumentos dessa discussão e conclui que mesmo que as considerações de Fodor e Pylyshyn mostrem que há aspectos da observação que são cognitivamente impenetráveis, isso não é suficiente para refutar ao menos um aspecto tese da impregnação tal como foi inicialmente usada por Hanson, Kuhn e Feyerabend, a saber, que a observação como um todo é impregnada, mesmo que partes dela não o sejam.

PODERIAM OS SENTIMENTOS MORAIS OPERAR NA RESOLUÇÃO DE DILEMAS MORAIS?

Lauren de Lacerda Nunes E-mail: [email protected]

O presente trabalho visa abordar a questão dos dilemas morais a partir de uma análise que considera os sentimentos vivenciados pelo agente no momento da tomada de decisão como relevantes para sua abordagem ética. Um dos primeiros autores a problematizar os dilemas morais por este prisma foi Williams (1965), sendo posteriormente criticado por autores de teorias éticas racionalistas, como McConnell (1978) e Hare (1981). As críticas dirigidas a Williams incidem sobre um mesmo ponto: como caracterizar sentimentos como “morais”, ou “adequados” para que possam ser fonte segura de análise sobre a tomada de decisão dos agentes? Williams defende a ideia de que as emoções podem ser fonte segura, pois revelariam o caráter “residual” de determinados dilemas, provando que o dever não seguido em determinadas situações preservaria sua realidade, prestes a ser realizado em outra oportunidade. Sentimentos de culpa e arrependimento seriam indicativos desse fato e considerados sentimentos ou emoções “morais”. No intuito de aprofundar tal discussão, serão consideradas as abordagens dos autores Greene (2003), Prinz (2012) e Churchland (2011), que trabalham o tema da moralidade sob a ótica de pesquisas recentes oferecidas pela área de neurociências. O que grande parte dos experimentos utilizados por estes autores têm mostrado é que as emoções desempenham forte papel na tomada de decisão moral dos agentes. O experimento do trem desgovernado, por exemplo, utilizado por Greene em suas pesquisas, claramente demonstra que os agentes não consideram apenas os números de vidas que podem salvar, mas também, como irão fazer isso. Tais dados revelam que mais do que um cálculo racional opera no raciocínio dos agentes em tomadas de decisão moral. Este trabalho pretende problematizar tais questões no intuito de analisar a moralidade e adequação de determinadas emoções e o papel que podem vir a desempenhar no enriquecimento de uma abordagem e resolução dos dilemas morais.

A INSUFICIÊNCIA NA BASE ONTOLÓGICA DA ANTROPOLOGIA DE ACORDO COM HEIDEGGER EM SER E TEMPO

Leila Rosibeli Klaus E-mail: [email protected]

O presente trabalho possui como objetivo a leitura reconstrutiva do parágrafo 10 de Ser e Tempo (1927), no qual Heidegger apresenta a insuficiência de fundamentos para a questão básica do ser existencial desde a Antropologia cristã da antigüidade até a modernidade. Ainda neste parágrafo Heidegger escreve acerca da delimitação da analítica existencial em relação à Antropologia; segundo Heidegger, esta insuficiência refere-se à questão do fundamento ontológico. Os pressupostos ontológicos encontrados na base da Antropologia permaneceram sem esclarecimentos e respostas precisas. Após essa delimitação, Heidegger constata que a deficiência na base ontológica da Antropologia impede esta ciência de responder a questão do “modo de ser deste ente que nós mesmos somos” (HEIDEGGER, 1927/1929, p. 94). Desse modo, Heidegger defende que a

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análise existencial deveria ser tanto a base quanto a condição para tal Antropologia, pois somente na análise da existência do Dasein se obteria respostas para a questão “o que é o homem?”. Assim, em uma rápida passagem do parágrafo 60 da mesma obra, Heidegger caracteriza a Antropologia como sendo existencialmente possível, ou seja, defendendo a possibilidade da construção de uma Antropologia existencial, embora não a tendo desenvolvido posteriormente. A reconstrução do parágrafo 10 de Ser e Tempo é parte fundamental na elaboração da dissertação intitulada: Significado e limites da crítica heideggeriana ao conceito de Antropologia filosófica.

OBSERVAÇOES ACERCA DA TRADUÇÃO DA EXPRESSÃO WISSEN AUFHEBEN NA PASSAGEM B XXX DO PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO DA KRITIK DER REINEN VERNUNFT

Luciano Duarte da Silveira

E-mail: [email protected]

Na passagem B XXX do prefácio à segunda edição da Kritik der reinen Vernunft (KrV, 1787) Immanuel Kant (1724-1804) afirmou categoricamente: “Ich mußte also das Wissen aufheben, um zum Glauben Platz zu bekommen” (KrV, B XXX). A escolha de tradução para a expressão Wissen aufheben nesta passagem poderá suscitar interpretações confusas, inclusive equivocadas, se a mesma não for estabelecida a partir da análise semântica precisa na qual Kant parece a estar utilizando. Tal dificuldade pode ser exemplificada pela comparação entre duas traduções muito específicas para o português, ambas empreendidas por Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. Confrontando tais edições constatou-se uma variação em relação à tradução da expressão Wissen aufheben que, na primeira edição foi traduzida como “...suprimir o saber…” (1974, p.17), e na edição posterior, foi traduzida por “...elevar o saber…”, (1996, p.45). A partir da constatação desta discrepância, o presente paper pretende apontar para a tradução da expressão Wissen aufheben por “...suprimir o saber...”, como uma escolha de tradução mais correta, mais fiel à proposta do texto crítico kantiano. Bem como, em que sentido a tradução da mesma expressão por “...elevar o saber...”, inclinar-se-ia a uma interpretação prejudicial para uma compreensão exegética do texto kantiano. Primeiramente proceder-se-á a uma comparação entre as traduções mais utilizadas em língua portuguesa, e a seguir, cotejar estas com as traduções mais utilizadas não só em Inglês, mas também confrontando outros idiomas neolatinos. Isto no sentido de apontar um possível aspecto comum entre estas traduções, que possa fornecer razões suficientes para fundamentar da forma mais coesa e justificável possível a proposta de tradução apresentada acima.

MONISMO ANÔMALO E EPIFENOMENISMO DE PROPRIEDADES

Marcelo Fischborn E-mail: [email protected]

Nesta comunicação, quero defender o monismo anômalo da principal crítica que lhe foi feita. De acordo com essa crítica, o monismo anômalo acarreta a tese que podemos chamar de epifenomenismo de propriedades. Essa tese diz que, quando um evento que tem propriedades mentais (como um querer comer um sorvete) é causa de um evento com propriedades físicas (como o movimento corporal de servir sorvete em um copo), essa relação causal não se dá em virtude das propriedades mentais da causa, mas apenas em virtude de suas propriedades físicas. Assim, diz a crítica, o monismo anômalo, por acarretar o epifenomenismo de propriedades, não permite nenhuma eficácia causal às propriedades mentais dos eventos. Como defenderei, isso, por si só, não constitui uma objeção ao monismo anômalo. Para transformar a implicação do epifenomenismo de propriedades em um problema para o monismo anômalo é preciso também dizer o que há de errado com o epifenomenismo de propriedades. Vários dos críticos do monismo anômalo frequentemente aceitaram sem argumentar que há algo errado com a tese do epifenomenismo de propriedades. Nesta comunicação, apresentarei e oferecerei uma resposta ao que foi dito contra o epifenomenismo de propriedades nas poucas vezes em que isso foi feito de maneira explícita.

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ENTRE A GENETICA E A CULTURA: CONSIDERAÇÕES E RELAÇÕES ENTRE JESSE PRINZ E KARL R. POPPER

Mateus Romanini E-mail: [email protected]

Neste trabalho visa-se relacionar duas posições filosóficas distintas de modo a possibilitar uma tentativa de fundamentação de uma teoria moral realista bastante específica. A primeira consiste de uma avaliação da moralidade por Jesse Prinz que, abandonando a ideia de universais biológicos inatos ou de um princípio racional universal, afirma que a moralidade é flexível e contingente. Segundo o autor, não há algo como a verdade moral, a moralidade seria apreendida através do aprendizado no interior de uma cultura muito antes de qualquer reflexão sobre ela. O fato de ela ser contingente não acarreta que ela seja inútil, muito pelo contrário. A moralidade é uma ferramenta extremamente útil e o reconhecimento dessa utilidade permite seu constante melhoramento e aperfeiçoamento, conforme o desenvolvimento da sociedade. A segunda posição filosófica a ser tratada nesse trabalho é a teoria dos três mundos de Karl R. Popper, segundo a qual a realidade humana é constituída por três mundos: o mundo das entidades de natureza física, ou Mundo 1; o mundo das entidades de natureza psicológica ou mental, ou Mundo 2; e, por fim, o mundo das entidades abstratas e autônomas, produto do desenvolvimento humano, ou Mundo 3. Esses três mundos são produtos de processo evolucionário, interagem entre si e modificam-se mutuamente. É no terceiro mundo em que se encontram a cultura e a moralidade humanas. Sugere-se então uma aproximação entre essas duas posições no que atine ao papel da cultura e da biologia no tocante a moralidade, contudo a proposta sugerida nesse trabalho, tendendo mais para a posição popperiana, é a de que a razão exerce um papel mais importante do que as emoções na moralidade humana, distanciando-se um pouco da proposta de Prinz.

APRIMORAMENTO HUMANO E ÉTICA DA AUTENTICIDADE

Mateus Stein E-mail: [email protected]

A utilização de tecnologias de aprimoramento humano (TAH) é um fenômeno recorrente na história humana e foi visto, no mais das vezes, com naturalidade. No entanto, o avanço tecnológico permitiu o surgimento de novas tecnologias altamente sofisticadas, como, por exemplo, as cirurgias estéticas, a nanotecnologia, e os medicamentos que melhoram o nosso desempenho em atividades acadêmicas e nos esportes. Essas tecnologias inovadoras podem, num futuro próximo, alterar radicalmente a fisionomia humana e têm gerado debates e dúvidas quanto aos limites éticos da sua utilização. É justamente por causa desses riscos que nos cabe deliberar acerca das consequências sociais, físicas, econômicas e, no que tange a esse estudo, morais advindas da utilização das TAH. Independentemente do tipo de conflito ético envolvido, consideramos que as TAH não são intrinsecamente boas ou más. A resolução dos conflitos éticos envolvidos na utilização das TAH depende, argumentamos, da consideração do contexto ou das razões pelas quais as TAH são utilizadas ou buscadas pelas pessoas. Também argumentamos que uma resposta alternativa aos conflitos éticos gerados pelas TAH seria buscar outros objetivos de constituição de nós mesmos que não sejam essencialmente dependentes das TAH, como, por exemplo, cultivar uma vida e uma ética pessoal livres de situações que nos levariam, eventualmente, a considerar-nos destinados a atender a uma determinada demanda social, isto é, buscar aquilo que Charles Taylor e outros pensadores contemporâneos chamam de uma ética da autenticidade (EA). Em suma, a EA exige que nos coloquemos a refletir acerca do significado de uma vida moral significativa – uma vida pautada nas eventuais demandas do self (eu). Essas demandas podem ser expressas em termos daquilo que consideramos original ou autonomamente bom, como, por exemplo, escrever um livro, compor uma música ou simplesmente cuidar do jardim de casa.

SÊNECA E A FINITUDE

Merynilza Santos de Oliveira E-mail: [email protected]

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Ao pensarmos na concepção de autor de si alicerçada na compreensão da finitude para o aprendizado da vida, conseguimos ver na morte um tema enfático para lidar com a questão da vivência. Pois, supomos que o homem amparado pela latência desta percepção fará de si o que quiser para viver bem e buscará compor a obra de sua vida de acordo com suas escolhas particulares, se desvinculando da multidão distraída acerca de si mesma. O texto trata-se de uma discussão analítica do tema nos autores da filosofia, principalmente do pensador Sêneca, assessorados por leituras literárias. Tratamos de três tópicos na discussão sobre a temática entrelaçada com nossas assertivas acerca da morte enquanto potencializadora de contribuições no aprendizado da vida. O primeiro falando diretamente da morte e do medo que a sociedade ocidental se impôs. O segundo tratando diretamente do envelhecer e morrer contrastado com o imperativo da juventude. O terceiro, demonstrando como alguns autores trataram do aprendizado da vida tendo os olhos voltados para a morte.

SCHOPENHAUER: UM NÃO INTELECTUALISTA

Mônica Saldanha Dalcol E-mail: [email protected]

Este trabalho tem como objetivo explicitar duas abordagens distintas a respeito da vida moral: a abordagem intelectualista e a não intelectualista. Como ponto de partida temos a concepção mínima de moralidade, fornecida por Rachels, e a doutrina kantiana como um dos exemplos mais conhecido e relevante da chamada abordagem intelectualista; posteriormente, iremos expor a ética da compaixão desenvolvida por Schopenhauer, como exemplo de abordagem não intelectualista. Partiremos da metafísica da vontade, que constitui o essencial do sistema filosófico schopenhauriano e a sua abordagem radicalmente distinta do fundamento da moralidade no interior da tradição moderna. O conteúdo da moral deixa de ser compreendido como a instituição de um mundo racional e governado pelo bem e passa a ser o conflito da afirmação da vontade nos indivíduos. Tal conflito constitui o cerne da moral schopenhaueriana, onde não temos mais presente à racionalidade como fundamento e motivo do agir moral, mas sim uma disposição – “o ver o mundo na perspectiva correta”. Essa perspectiva só é possível mediante a compaixão, o reconhecimento que é única forma de ultrapassarmos o egoísmo da Vontade. Assim, para que as ações sejam dotadas de valor moral é necessário que possamos reconhecer a Vontade nos outros fenômenos - como nos outros seres humanos ou nos animais. Tal capacidade é chamada por Schopenhauer de “consciência sentida”.

O CONCEITO DE VULNERABILIDADE EM ALASDAIR MACINTYRE A PARTIR DE DEPENDENT RATIONAL

ANIMALS: WHY HUMAN BEINGS NEED THE VIRTUES

Nedilso Lauro Brugnera E-mail: [email protected]

Alasdair MacIntyre considera que a sua obra Dependent Rational Animals: Why Human Beings Need the Virtues é uma correção de algumas questões postas em After Virtue, Whose Justice? Wich Rationality? e Three Rival Versions of Moral Enquiry, principalmente a que supõe ser possível uma ética independente da biologia. MacIntyre, então, introduz a biologia como elemento de análise da virtude a partir de duas perguntas centrais: a) Por que é importante estudar e entender o que os seres humanos tem em comum com membros de outras espécies de animais?; b) Por que é importante que os filósofos da moral estudem a vulnerabilidade e a dependência humanas? Deste modo, MacIntyre desenvolve o conceito de vulnerabilidade afirmando, inicialmente, que o ser humano apresenta características semelhantes as dos membros de outras espécies de animais e que as virtudes de atuação racional autônoma podem ser exercitadas se houver o entendimento de que vulnerabilidade e a dependência são próprias do ser humano e de sua condição animal. Assim, as virtudes necessárias ao florescimento do ser humano, desde sua condição animal inicial até ser um raciocinador prático autônomo, pertencem a um conjunto de virtudes próprias dos animais racionais e dependentes, onde vulnerabilidade, dependência, racionalidade e animalidade precisam ser compreendidas numa relação recíproca.

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INTERTEXTUALIDADE E METATEXTUALIDADE: O ANTI-REALISMO NAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS PÓS-MODERNAS

Odirlei Vianei Uavniczak

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Uma característica frequentemente encontrada em produções culturais contemporâneas é a representação simulacrada, isto é, uma representação auto-reflexiva, não mais preocupada especificamente em descrever um objeto do mundo ou em narrar um acontecimento, seja real ou hipotético, trazendo então para o primeiro plano a explicitação da própria criação artística. Na literatura, por exemplo, narrativas desse tipo, denominadas pós-modernas, tendem a mesclar narração ficcional e reflexão ensaística – sobre o fazer criativo do autor e/ou sobre a especificidade do texto escrito -, caracterizando-se, assim, por uma “auto-consciência auto-reflexiva”, nas palavras de Manfred Pfister. Seja rompendo, revendo ou extremando o modernismo, o pós-modernismo põe em questão os princípios que fundamentam o paradigma epistemológico moderno. Embora haja diversas e divergentes concepções do pós-modernismo, todas elas parecem compartilhar de uma teoria comum – a teoria da intertextualidade. Ao estabelecer que um texto, em vez de referir-se à realidade (teoria referencial da linguagem), refere-se a outros textos, e estes a outros tantos e assim sucessivamente, numa semiose infinita, perder-se-ia a referência e, consequentemente, a possibilidade da representação, perder-se-ia igualmente a originalidade individual, a autonomia e completude de um texto, a possibilidade da verdade referencial etc. A intertextualidade estaria, assim, na base das diversas crises, tais como a crise da representação (desreferencialização/anti-realismo), crise do sujeito, descrédito para com as grandes narrativas, a relativização da verdade etc. Diante desse cenário, este trabalho busca refletir sobre o motivo pelo qual teria acontecido essa mudança de foco, do objeto para o sujeito, do referente para a representação/linguagem, da teoria referencial do significado para uma teoria diferencial: qual estado de consciência ou nova sensibilidade estaria sendo expresso através da intertextualidade e dos metatextos decorrentes? O que se resume na pergunta mais ampla: se há uma intertextualidade pós-moderna, qual a sua especificidade?

A FENOMENOLOGIA DA SIMPATIA E A ÉTICA DO RESPEITO EM RICOEUR

Paulo Gilberto Gubert E-mail: [email protected]

O texto de Ricoeur Simpatia e respeito: fenomenologia e ética da segunda pessoa apresenta uma discussão que se situa entre Husserl, Kant e Hegel. A questão central está em abarcar a simpatia e o respeito enquanto partes integrantes de um só e mesmo vivido. De um lado, verifica-se uma decepção com a fenomenologia do ‘aparecer’ do outro. Por outro lado, o formalismo do dever mantém a existência do outro em um mesmo nível de abstração que a moralidade pura. Diante disso, o autor propõe uma complementaridade que envolva simultaneamente a ética do respeito enquanto tomada de posição diante do outro e a fenomenologia da simpatia, que envolve a intimidade das relações humanas, situando o si frente ao outro. Para tanto, será preciso recorrer ao caráter histórico da ação, firmado mediante os conflitos inerentes à luta pelo reconhecimento. A luta assegura simultaneamente o momento dialético à ética do respeito e o momento histórico à fenomenologia da simpatia. Nesse sentido, Ricoeur propõe uma reinterpretação do problema do reconhecimento por meio da ética do respeito. Dessa forma, fica assegurada uma tomada de posição do outro que não seja motivada pela luta ou pela violência. A palavra final não pode ser dada a nenhuma destas alternativas, pois elas representariam duas únicas possibilidades de relação com o outro: ignorá-lo ou eliminá-lo.

ἐπιστήμη σοφία: UN ESTUDIO HISTÓRICO SOBRE LA DIFERNCIA ENTRE LAS NOCIONES DE METAFÍSICA Y ONTOLOGÍA

Paulo Vélez León

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La «metafísica» desde siempre es un tema polémico y espinoso, y al interior de ella, la cuestión relativa a su naturaleza y objeto una de las incógnitas que más apasiona y perturba a los filósofos de todas las épocas. De manera casi unánime se concuerda que este «problema de investigación» da inicio con Aristóteles, sin embargo este acuerdo se termina en el momento de interpretar los resultados de sus investigaciones; exempli gratia, los filósofos medievales ya nos dan dos versiones diferentes sobre este materia. Unas veces caracterizan a la «metafísica» como la «ciencia» que indaga sobre las primeras causas ─léase Dios o el motor inmóvil─, en otras, como la ciencia del ser en cuanto ser. Desde una perspectiva contemporánea se cree que estas caracterizaciones identifican a una y la misma disciplina. Entre los siglos XVII y XVIII las caracterizaciones se diversificaron, lo que invariablemente implico que el alcance de la «metafísica» se «amplíe», así de las investigaciones centradas sólo en la existencia y naturaleza de Dios se amplifico el radio a las indagaciones sobre la distinción mente cuerpo, la inmortalidad del alma, la libertad de la voluntad, entre otras. En este periodo las críticas iban dirigidas a las concepciones racionalistas y aristotélicas, aquellas se enfocaban en que lo que en realidad buscaban estas era transcender los límites del conocimiento, no obstante Kant argüía que puede haber un tipo de legítimo «conocimiento metafísico». El propósito de Kant, como se sabe, es delimitar las estructuras generales que actúan en nuestro pensamiento sobre el mundo, de allí que muchos filósofos contemporáneos insistan que en la «metafísica» tiene como objetivo la caracterización de nuestro «esquema conceptual» o «marco conceptual», esto es describir la estructura del nuestro pensamiento acerca del/este mundo. Precisamente en el primer cuarto del siglo XX, varios filósofos apoyados en este paraguas, consideraron que las preguntas o investigaciones que no están contenidas en esta caracterización o bien son ininteligibles o bien son comprensibles pero inútiles o bien son preguntas triviales que merecen igual respuestas. Más recientemente, en una actitud menos hostil, el interés ha virado hacia la idea de «fundamento», esto es en lugar de tratar de establecer lo que existe establecer los motivos o qué motivó ello. Ahora bien casi todas estas caracterizaciones están asentadas en un presupuesto: ─todo filósofo─ considera y da por supuesto que nosotros entendemos ─implícitamente─ lo que quiere decir con el término «metafísica» u «ontología», pero esto no parece claro, puesto que cuando intentamos «interpretar» sus argumentos y teorías se visibilizan «vacíos» que debilitan la comprensión y la fuerza del argumento o tesis propuestas. En nuestra naturaleza está el querer superar lo dado, pero a veces la incomprensión o poco conocimiento de algo nos induce a practicar un cierto tipo de populismo filosófico, que a la postre es contraproducente, de allí que no me parece adecuado ni fructífero intentar caracterizar una nueva naturaleza de la «ciencia» en cuestión, si antes no hemos entendido bien su naturaleza. En este sentido, no es el propósito de este trabajo hacer un abordaje en profundidad de esta cuestión, sino una revisión histórica sumarísima de las principales concepciones de la noción de «metafísica» y «ontología» y su objeto de estudio, dentro de una lectura apegada al texto aristotélico.

DEVERES MORAIS PARA COM O MEIO AMBIENTE

Rachel Souza Martins E-mail: [email protected]

O trabalho a ser apresentado tem como ponto de partida a discussão acerca dos deveres de agentes morais para com o meio ambiente. A proposta baseia-se numa perspectiva ética ambiental que atribui aos agentes morais deveres diretos para com o meio ambiente, compreendendo-o como parte do escopo das ações morais humanas. A discussão acerca dos deveres de agentes morais vincula deveres prima facie como os de assistência, benevolência, com o reconhecimento de um valor intrínseco aos indivíduos e à natureza, perpassando também a questão do estatuto moral atribuído a humanos e não humanos. Numa abordagem ética global, é possível estabelecer como parâmetros humanitaristas que todos os agentes morais compartilhem dos mesmos deveres em suas comunidades, no entanto, questiona-se de que modo poder-se-ia estender tais deveres ao meio ambiente como uma forma de garantir a sua preservação para as futuras gerações. A questão ambiental se insere na medida em que se pode reconhecer no meio ambiente um tipo de valor intrínseco atrelado ao concernimento humano. É preciso investigar que tipo de valor é este que se atribui à natureza e de que forma pode-se considerá-la parte das decisões morais humanas. Deste modo, o trabalho

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analisará as possibilidades de ação do homem para com o seu entorno, tendo em vista o valor atrelado ao meio ambiente enquanto alvo da moralidade humana.

LA PARADOJA DE LA CONCIENCIA DE LA MUERTE EN HEIDEGGER Y EL BUDISMO

Rafael Lagomarsino Rodriguez E-mail: [email protected]

El planteo fundamental de esta presentación es encontrar vínculos entre el concepto de un ser para la muerte como esencia de la naturaleza humana en Heidegger, tal como es desarrollado en el texto “ser y tiempo” y el concepto de inpermanencia desarrollado como uno de sus principios fundamentales por el budismo y mas específicamente por el budismo mahayana. El ser para la muerte, en tanto que un ser que se dirige hacia la muerte en tanto ser existencialmente dirigido hacia ese hecho irrebasable, puede tender a negar ese hecho i ocultarse fundiéndose en lo que Heidegger denomina el uno del mundo, pero la conciencia del hecho de ser un ser para la muerte será entonces lo que le permitirá el trascender esta situación de abandono en el mundo de los entes para comentar a darle un sentido a su existencia haciéndola así autentica. Es esta conciencia de la propia finitud la que en la consideración de Heidegger va a impulsar al ser humano a una búsqueda del sentido de la propia existencia y por lo tanto un cuidado del ser “sorge”. De manera similar o aparentemente similar como pienso discernir en esta presentación en el budismo mahayana se va a plantear como uno de los principios fundamentales, que impulsan a que la conciencia se desprenda del apego a lo efímero y se dirija a la búsqueda de la verdad, al principio de la impermanencia según el cual todo lo compuesto será finito en su existencia, según el cual todo lo que nace muere.

O ARISTÓTELES DE HEIDEGGER: INTERPRETAÇÃO E INFLUÊNCIA

Ronaldo Palma Guerche E-mail: [email protected]

A relação de Heidegger com a filosofia aristotélica é bastante conhecida e discutida na literatura secundária sobre o autor. Do início dos anos 20 até pelo menos Ser e Tempo, em 1927, Aristóteles é mencionado constantemente na obra do filósofo alemão. O objetivo do presente trabalho é mostrar como a filosofia aristotélica é tratada nesse contexto a partir de duas perspectivas básicas, a saber: como objeto de uma interpretação fenomenológica destrutiva, e como uma influência positiva que é incorporada ao projeto. De início, apresentaremos como a concepção filosófica de Heidegger nos anos 20 implica na realização de um interpretação radical do filósofo grego, ou seja, o projeto heideggeriano prevê como parte do projeto a interpretação de Aristóteles. Essa tarefa é denominada destruição fenomenológica e cumpre um papel metodológico fundamental. Ao lado disso, Aristóteles aparece no horizonte heideggeriano como uma forte influência para o tratamento de determinados temas centrais, como por exemplo, as disposições afetivas. Assim, pretendemos mostrar, através de passagens e comentários, como Heidegger aborda Aristóteles, de um lado, enquanto tarefa necessária de seu projeto e, de outro lado, como uma filosofia que é apropriada em seu projeto hermenêutico fenomenológico.

SOFRIMENTO PSÍQUICO NA PERSPECTIVA DE LEVINAS

Silvério Costella E-mail: [email protected]

Menciona-se o sofrimento psíquico como um mal do ser. Coloca-se um grande desafio para lidar com essa realidade, que se constitui como um certo fracasso no exercício da alteridade. Primeiro pela natureza do sofrimento, que quando muito intenso ou “inútil” não pode ser metabolizado ou sintetizado no sentido

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levinasiano. E segundo porque ao tentar acolher o outro como vitima do “mal psíquico”, dificilmente sai do seu isolamento por não conseguir partilhar sua própria dor e sofrimento. Acolher esse outro impõe um incômodo, pois trás sofrimento. Não é “objeto” imediato do desejo, pois só seria desejo se preenchesse uma falta. Mas este aparece como falta e toma “emprestado” a subjetividade, para tornar possível a troca de vivências na perspectiva da psicologia fenomenológica. Requer convocação ética marcada pela hospitalidade do outro, como suporte do sofrimento. Parte-se de um “princípio ativo” da vitima em sofrimento, que convoca e perturba porque é irredutível ou “transcende” a miserabilidade. Qualquer ilusão que “engane” o sujeito “culpando-o” de algum modo pelo próprio sofrimento, é mais salutar do que se sentir plenamente vítima, pois contribui para certo equilíbrio psíquico. Busca-se responsabilização também da “vitima”. Conclui-se que, não há uma espontaneidade sem um esforço hospitaleiro. É preciso dispor da escuta para esse outro de forma a poder responder ao seu sofrimento, um ser “miserável”, portanto, miséria psíquica, um mal “imposto” desde o nascimento e que se torna um grande problema para o acolhimento. Um trabalho “anterior” ao emergir do desejo metafísico em Lévinas. Pretende-se mencionar o desafio ético na relação acolhedor e acolhido.

REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS, INCOMENSURABILIDADE E CRITÉRIOS DE ESCOLHA ENTRE TEORIAS RIVAIS NO KUHN TARDIO

Tamires Dal Magro

E-mail: [email protected]

Publicado inicialmente em 1962, a Estrutura das revoluções científicas (doravante: Estrutura) pode ser considerado o livro mais influente da filosofia da ciência do século vinte. Além de romper com alguns padrões que predominaram na filosofia da ciência da primeira metade do século passado, que tendiam a privilegiar discussões e abordagens abstratas e metodológicas, o livro mostrou, talvez definitivamente, que qualquer análise adequada da ciência tem de levar em conta também a sua história. A recepção inicial da obra na década de 1960 foi controvertida, e um registro disso pode ser encontrado em A crítica e o desenvolvimento do conhecimento, organizada por Lakatos e Musgrave (1970). Autores como Popper, Lakatos e Laudan acusaram a abordagem kuhniana de ser relativista, psicologista, dogmática e irracionalista, criticando especialmente alguns dos conceitos introduzidos por Kuhn, como os de ‘revolução científica’ e ‘incomensurabilidade’, e também o papel dado pelo autor a elementos não-observacionais – ideologia, comportamento social dos cientistas, capacidade de persuasão, inclinações metafísicas etc. – na escolha entre teorias nos períodos de revolução. Kuhn recusou essas críticas e dedicou boa parte do seu trabalho posterior a responder e reformular seu pensamento à luz dessa recepção inicial. Neste trabalho, mostraremos como Kuhn reformulou seu pensamento de modo a evitar ou responder as críticas, negando a interpretação relativista de suas teses e assumindo, como fica claro nos textos tardios, uma posição realista em ciência. Para tanto, serão destacados textos de Kuhn da coletânea O caminho desde A estrutura (2006) que tratam diretamente de revoluções científicas, incomensurabilidade e os critérios de escolha entre teorias rivais, comparando-os com o pensamento de Kuhn na Estrutura e no artigo “Objetividade, juízo de valor e escolha de teoria”, que faz parte da coletânea A tensão essencial (1977), do mesmo autor.

RICOEUR: O STATUS DA IMAGINAÇÃO ENTRE KANT E HUSSERL

Vinícius Oliveira Sanfelice E-mail: [email protected]

Na tradição filosófica ocidental o conceito de imaginação é considerado em segundo plano, dentro de um paradigma lógico que tem na percepção o ato fundador da realidade. Nessa tradição a imagem é referida à percepção, sendo uma impressão fraca (um vestígio da percepção) ou então a imagem é referida à ausência de uma coisa. Este trabalho pretende apresentar alguns problemas, encontrados pelo filósofo Paul Ricoeur, que se originam nesse paradigma. Pretende também sugerir que a imaginação possui um papel de interpretar o real, não podendo ser considerada de matiz inferior, pois ela é produtora de sentido. Ricoeur aborda a imaginação como produtora de sentido através do uso metafórico da linguagem, especificamente com o fenômeno da inovação semântica. Em princípio essa abordagem busca na doutrina do esquematismo de Kant um suporte

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para o trabalho da imaginação produtora de derivar a imagem da linguagem. Nesse primeiro momento a fenomenologia da imagem é criticada como um recuo diante da mudança que a doutrina kantiana significou para a imaginação, mas com a publicação do tomo XXIII da husserliana, e a articulação que Marc Richir faz entre fantasia, imaginação e imagem, o status da imaginação ganha amplitude fenomenológica (em relação, por exemplo, às Investigações Lógicas). Propomos um breve itinerário desse status e sua relevância nas pesquisas atuais.

VARIAÇÕES SOBRE A MELANCOLIA: DE LARS VON TRIER À ERNILDO STEIN

Vítor Hugo dos Reis Costa E-mail: [email protected]

Em seu filme Melancholia (2011), o cineasta Lars von Trier nos oferece uma imagem contundente da finitude humana: o planeta Terra é destruído e, segundo uma das personagens, isso significa a extinção de toda a vida no universo. Trier encerra o filme em uma cena na qual um gigantesco planeta azul, chamado Melancholia, atinge o nosso, fazendo-o desaparecer para sempre. Diante da constatação de que a história humana seria apenas um breve episódio fortuito no universo, a constatação da falta de sentido da existência humana se torna incontornável. Mais de trinta anos antes do filme de Trier (1976) o filósofo brasileiro Ernildo Stein publicara, sob o título de Melancolia, uma coletânea de ensaios sobre a temática da relação entre as categorias de finitude e de infinito ao longo da história da metafísica. Stein nos apresenta uma interpretação fecunda e original da problemática da crise do fundamento. Em um arco que parte da filosofia grega e culmina em Hegel, vemos o colapso do discurso metafísico. O filósofo brasileiro se refere à uma crise que ganha sua possibilidade de re-significação a partir da ontologia de Heidegger. Se a metafísica não parece mais ser possível, isto não significa a morte da filosofia. É na atmosfera da finitude que o filósofo deve mover-se. Stein esboça a proposta de uma filosofia capaz de pensar a problemática da existência humana e do fazer filosófico a partir do cenário de escombros de uma metafísica devastada. Assim, se o filme de Trier nos abandona à angústia da constatação de nossa finitude, Stein nos devolve a possibilidade de, a partir dessa constatação, repensar o próprio pensamento e sua tarefa, repensar seu fazer autêntico a partir de um compromisso com a finitude.

A RELAÇÃO ENTRE AS NOÇÕES VALOR INERENTE, INTERESSE E DIREITO MORAL DE RESPEITO NA TEORIA DE TOM REGAN

Waleska Mendes Cardoso

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A teoria moral de Tom Regan, primeira teoria a atribuir direitos morais a animais não-humanos, trabalha com algumas noções basilares que fundamentam essa atribuição, em observância ao Princípio de Justiça. O autor, a partir de um método de confrontação com célebres teorias morais como a teoria kantiana, teorias utilitaristas, em especial a preferencial de Peter Singer, e algumas teorias contratualistas como a de John Rawls, desenvolve uma tese que amplia o rol de seres portadores de um valor inerente. De acordo com o autor, possuir valor inerente torna esses seres portadores de direitos morais básicos, sendo o principal e primeiro deles o direito moral de respeito – ou direito a ser respeitado. Primeiramente, nota-se que a noção valor inerente é chave para o desenrolar de sua teoria moral. Dessa forma, é relevante investigar o que é este valor inerente, quais os seres portadores deste valor e porque o são. Outro conceito de grande importância na teoria reganiana é o de interesse, sendo primordial defini-lo, nos termos usados pelo autor, e inferir sua relação com o valor inerente. Em seguida, a fim de compreender o fechamento da teoria dos direitos morais de Tom Regan, deve-se determinar o que o autor entende por direitos morais. Para tanto, é importante relacionar os conceitos de valor inerente e interesse com o intuito de, reconstruindo os argumentos do filósofo, fundamentar esses direitos morais e definir quem são seus possuidores.