iii colóquio de pesquisa neat/lagea

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ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: APROXIMAÇÕES ENTRE A GEOGRAFIA E POPULAÇÕES EM SITUAÇÃO DE DESTERRITORIALIZAÇÃO Ricardo Araujo Leite Universidade Federal de Uberlândia Laboratório de Geografia Agrária – LAGEA Bolsista PIBC-CNPQ email: [email protected] Virna Saldado Barra Universidade Federal de Uberlândia Laboratório de Geografia Agrária – LAGEA Bolsista PROGRAD – UFU email: [email protected] Marcelo Cervo Chelotti Universidade Federal de Uberlândia Laboratório de Geografia Agrária – LAGEA Orientador Prof. Dr. UFU email: [email protected]

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Page 1: III Colóquio de Pesquisa NEAT/LAGEA

ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: APROXIMAÇÕES ENTRE A GEOGRAFIA E POPULAÇÕES EM SITUAÇÃO DE DESTERRITORIALIZAÇÃO

Ricardo Araujo LeiteUniversidade Federal de Uberlândia

Laboratório de Geografia Agrária – LAGEABolsista PIBC-CNPQ email: [email protected]

Virna Saldado BarraUniversidade Federal de Uberlândia

Laboratório de Geografia Agrária – LAGEABolsista PROGRAD – UFU email: [email protected]

Marcelo Cervo Chelotti

Universidade Federal de UberlândiaLaboratório de Geografia Agrária – LAGEA

Orientador Prof. Dr. UFU email: [email protected]

Page 2: III Colóquio de Pesquisa NEAT/LAGEA

OBJETIVOS

Possibilitar a melhoria da formação acadêmica dos futuros licenciados em Geografia, aproximando-os das experiências da Escola Itinerante com alunos do ensino fundamental residentes em acampamento de trabalhadores sem-terra, além de inseri-los nas múltiplas possibilidades do processo de ensino-aprendizagem.

Contribuir para o aprofundamento dos conteúdos e competências do ensino de Geografia com alunos em situação de desterritorialização residentes em acampamento

Aproximar a UFU, enquanto instituição pública, da realidade sócio-espacial encontrada em seu entorno.

Page 3: III Colóquio de Pesquisa NEAT/LAGEA

METODOLOGIA

A metodologia aplicada no projeto de extensão constituiu-se de duas partes:

Concepção e Planejamento: a partir de visitas prévias realizadas ao acampamento, realizamos um levantamento das reais necessidades relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem e, a partir delas, são planejadas as intervenções.

Execução: intervenções periódicas realizadas com as crianças do acampamento. Diagnosticaram-se suas carências em relação ao processo de ensino-aprendizagem no âmbito da Geografia e suas competências.

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I - populações do campo: os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural; e

II - escola do campo: aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda predominantemente a populações do campo. (Decreto 7.352, 2010)

Page 5: III Colóquio de Pesquisa NEAT/LAGEA

EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL: DISCUSSÕES E

PERSPECTIVAS DE UM TEMA EMERGENTE DENTRO DOS MOVIMENTOS

SOCIAIS

Wethein e Bordevane (1985) salientam que na educação rural deve-

se considerar as características socioeconômicas e culturais a fim

de elaborar qualquer estratégia educacional que possa dar respaldo às

necessidades e interesses de tal população. Posição semelhante

mantida por Marta Candido Moreira (2004) que vê na diversidade

sociocultural da população camponesa uma oportunidade de

melhorar a situação de exclusão vivida hoje por esses grupos através

de uma educação inovadora que de respaldo a essa diversidade.

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Período entre 1945 e 1964

1. Ações conjuntas entre os Estados Unidos e o Brasil Comissão Brasileiro-Americana de Educação das

Populações Rurais

2. Criação da Associação de credito e assistência rural (ACAR)

3. Campanha Nacional de Educação Rural (CNER)

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4. Chegada da Pedagogia da Alternância

5. Lei de Diretrizes e bases da educação (LDB) de 1961

6. Estatuto do Trabalhador Rural (1963)

Page 8: III Colóquio de Pesquisa NEAT/LAGEA

Período Militar

1. LDB de 1971 Lei n° 5.692

2. Empresa de Assistência e Extensão Rural (1975)

3. Educação Popular de Paulo Freire

4. Plano Setorial da Educação, Cultura e Desporto (PSECD)

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[...] Com isso e fácil deduzir que as políticas sociais destinadas ás populações camponesas, em particular a educação, tiveram maior incremento e volume de recursos quando havia, por parte dos sujeitos do capital, interesses ligados á expropriação da terra e á conseguente proletarização dos agricultores, combinada com a implementação de uma produção agrícola geradora de dependência científica e tecnológica da parte dos trabalhadores do campo. A educação formadora tanto de uma força de trabalho disciplinada quanto de consumidores dos produtos agropecuários, agindo, nesse sentido, para eliminar os saberes acumulados pela experiência sobre o trabalho com a terra (Ribeiro, 2010, p. 172)

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LEI DE DIRETRIZES E BASES DE 1996 Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os

sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias á sua adequação ás peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente:

I – Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades dos alunos das zonas rurais;

II – Organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;

III – Adequação à natureza do trabalho na zona rural. (LDB Nº 9.394/96)

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Escola Intinerante

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[...] Entre os motivos que levaram os trabalhadores rurais sem terra vinculados ao MST a se organizarem na luta pela escola itinerante, destacam-se as dificuldades de acesso á escola convencional por estarem acampados em áreas rurais, geralmente longe das instituições educativas formais e também o questionamento da função social da escola convencional que historicamente tem estado descomprometida com as questões referentes ás desigualdades sociais, econômicas e culturais, e, portanto, desvinculada do projeto Sem Terra. (MEURER; DAVID, 2008, p.46)

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Insuficiência e precariedade das instalações físicas da maioria das escolas;

Dificuldades de acesso dos professores e alunos às escolas, em razão da falta de um sistema adequado de transporte escolar;

Falta de professores habilitados e efetivos, o que provoca constante rotatividade;

Falta de conhecimento especializado sobre políticas de educação básica para o meio rural, com currículos inadequados que privilegiam uma visão urbana de educação e desenvolvimento;

Ausência de assistência pedagógica e supervisão escolar nas escolas rurais;

Predomínio de classes multisseriadas com educação de baixa qualidade;

Falta de atualização das propostas pedagógicas das escolas rurais; Baixo desempenho escolar dos alunos e elevadas taxas de distorção

idade-série; Baixos salários e sobrecargas de trabalho dos professores, quando

comparados com os que atuam na zona urbana; Necessidade de reavaliação das políticas de nucleação das escolas e

de implementação de calendário escolar adequado às necessidades do meio rural. (BRASIL, 2007, p 18)

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Para tentar sanar esses problemas e atualizar a LDB de 1996 (que nunca foi posta em prática) o governo lança em novembro de 2010 o decreto presidencial 7.352

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Entre seus principais pontos, destaca-se como necessário para a Educação do Campo, a formação de profissionais capacitados para atender essa população, a estruturação das escolas adequando-as às novas condições tecnológicas de ensino e prática aliadas a modelos pedagógicos formulados para o campo (sugerindo a pedagogia da alternância), adequação do plano pedagógico e do calendário escolar às peculiaridades do camponês e a formação de alianças com os estados, municípios e universidades para melhorar as condições de infra-estrutura e formação continuada dos profissionais.

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O Triângulo Mineiro vem sendo, desde a década de 1970, um espaço favorável à agricultura moderna, pois o governo federal através de seus incentivos estimulou este quadro Contudo, o aparato desenvolvimentista-capitalista passa por cima de uma articulação muito tradicional: a relação do homem com a natureza.

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Gráfico: Triângulo Mineiro – Assentamentos por municípios Fonte: DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra, 2010.

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SITUAÇÃO DO ACAMPAMENTO ROSELI NUNES

O Roseli Nunes conta hoje com 65 famílias cadastradas, sendo que 19 permanecem constantemente na área de acampamento totalizando 130 manifestantes.

A aliança com o Acampamento 1º de Maio que também reivindica seu projeto de assentamento no município, e está localizado ao lado do Acampamento Roseli Nunes.

O Acampamento 1º de Maio possui 55 famílias, sendo 15 permanentes totalizando 80 pessoas.

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O dado fundamental para a execução do presente projeto é o número de crianças em idade escolar que assistem nesses acampamentos.

Os dois acampamentos abrigam 21 crianças, todas elas matriculadas na Escola Municipal Maria Carolina Mendes localizada no Distrito de Calcário em Uberaba.

Esses dados foram recolhidos no último dia 9 de abril de 2011.

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AULAS DE GEOGRAFIA NO ACAMPAMENTO ROSELI NUNES

No decorrer do projeto, já foram realizadas dez aulas no acampamento Roseli Nunes.

Cuja finalidade foi possibilitar a melhoria do processo de ensino-aprendizagem de Geografia em acampamentos do MST, que por serem de caráter transitório, e pertencerem ao meio rural, necessitam de uma metodologia de ensino adequada aos seus anseios e a sua realidade.

Page 21: III Colóquio de Pesquisa NEAT/LAGEA

Através de aulas de Geografia sistematizadas, planejadas, voltadas e executadas para espaço onde reproduzem seu modo de vida, os alunos sentem-se livres para a execução das atividades propostas de modo que essas últimas atendem o que almeja o estudante da zona rural.

Foto 1: Aula placas tectônicas

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AULA: A RELAÇÃO CAMPO-CIDADE

A primeira intervenção foi realizada com o tema campo-cidade, visando demonstrar para os alunos a importância do rural e do urbano no nosso cotidiano.

Foto 2: Aula campo cidade

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AULA: A PRODUÇÃO DA PAISAGEM E O DIA DO ÍNDIO Neste dia deram-se início às atividades, dividindo

os educandos em duas turmas. Uma com as crianças menores, trabalhando uma atividade relacionada ao dia do índio, demonstrando sua importância e parte de sua cultura. E a outra, com o conceito de paisagem.

Foto 3: Aula dia do índio

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PERSPECTIVAS E EXPECTATIVAS Assim, tentamos fazer reflexões sobre a difusão da

Educação do Campo, na perspectiva de valorizar os modos de vida dos camponeses. A relação de confiança com a comunidade do acampamento é algo gratificante e, através dos temas geradores que competem à Geografia, podemos subsidiar o conhecimento apropriado a esses habitantes do campo.

Assim, tentamos fazer reflexões sobre a difusão da Educação do Campo, na perspectiva de valorizar os modos de vida dos camponeses. A relação de confiança com a comunidade do acampamento é algo gratificante e, através dos temas geradores que competem à Geografia, podemos subsidiar o conhecimento apropriado a esses habitantes do campo.

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As expectativas agora estão na formação continuada dos discentes que, por sua vez, devem estar preparados para este tipo de ensino e realidade.

A dedicação juntamente com a coerência do projeto devem formar a aliança perfeita de modo fixar uma aprendizagem definitiva que possa subsidiar o cotidiano do camponês.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 . Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Casa Civil Subchefia Para Assuntos Jurídicos,

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de educação continuada, alfabetização (SECAD). Educação do Campo: diferenças mudando paradigmas. Brasília (DF), 2007.

BRASIL. Decreto 7.352 Política de Educação do Campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Brasília, DF, 2010.

DATALUTA – Banco de dados de luta pela terra 2009 – Minas Gerais. LAGEA – Laboratório de Geografia Agrária – IG/UFU. Coordenação CLEPS JUNIOR, João. Uberlândia. Dezembro de 2010.

MEURER, A. C.; DAVID, C. (Org.). Espaços-tempos de itinerância: articulações entre universidade e escola itinerante do MST. Santa Maria – RS: Ed. UFSM, 2006.

RIBEIRO, M. Movimento Camponês Trabalho e Educação: liberdade, autonomia, emancipação: princípios/fins da formação humana. São Paulo, SP: Expressão Popular,2010.