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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental III-062 – INTERVENÇÃO DA PRODUÇÃO MAIS LIMPA NAS INDÚSTRIAS TÊXTEIS DO MUNICÍPIO DE JARDIM DE PIRANHAS Thiago Negreiros Moura (1) Graduando do Curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Carlos Enrique de Medeiros Jerônimo Doutorando em Engenharia Química pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Engenheiro Químico. Consultor em Produção Mais Limpa. E-mail: [email protected] Aristides Felipe Santiago Júnior Doutorando em Engenharia Química pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Engenheiro Químico. E-mail: [email protected] Sérgio Murilo Cortez Engenheiro Civil e Administrador. Consultor em Produção Mais Limpa. E-mail: [email protected] Endereço (1) : Rua Moraes Navarro, 2049, Condomínio Atol das Rocas, Aptº 101 Bl B, Lagoa Nova. Natal – RN. CEP: 59075-770 – Brasil – (84) 9441-2313 – e-mail: [email protected] RESUMO A indústria têxtil possui um elevado potencial de geração de resíduos sólidos. Dentre as etapas de maior potencial de geração desses resíduos, estão as etapas de tecelagem e corte do tecido, gerando um montante significativo de pêlos e buchas (Originam-se: a de fiação, dos fios que não foram tecidos; e a de tecelagem: são das sobras de fio, não aprovadas na produção), e retalhos (Originam-se do corte), para o segundo. Diante da grande produção, visto que existem mais de 5000 teares no município para a produção de artefatos têxteis; a cidade vem sofrendo com o grande impacto da geração desordenada e o despejo em locais inapropriados. Neste trabalho são apresentados os resultados dos diagnósticos realizados, mediante avaliação processual, bem como, as ações de melhorias (a baixo custo) que podem ser adotadas pelas empresas para reduzir os impactos ao meio ambiente, advindos de tal atividade, em especial a taxa de resíduos sólidos gerados. Para realização do estudo seguiu-se das etapas: 1) Diagnostico ambiental das empresas participantes do projeto, quanto a forma de geração e destinação final dos resíduos sólidos; 2) Acompanhamento do fluxograma do processo de tecelagem e acabamento do produto final; 3) Tratamento dos dados, pertinentes aos objetivos de estudo, obtidos das etapas em questão (tecelagem e acabamento); 4) Estruturação de estudos de caso, com a identificação de oportunidades de melhoria. A cadeia produtiva da cidade de Jardim de Piranhas, com o desenvolvimento do projeto, agregou-se de tecnologia, reduzindo custos operacionais e definindo um considerável ganho no aspecto ambiental pela redução na fonte dos resíduos sólidos gerados. A implantação do programa de produção mais limpa agregou uma conscientização para os problemas ambientais e o direcionamento para a melhoria contínua é, hoje, observado nas empresas atendidas pelo projeto. PALAVRAS-CHAVE: Produção mais Limpa, Redução de desperdício, Ganhos econômicos. INTRODUÇÃO A força da indústria têxtil na cidade de Jardim de Piranhas, no interior do Rio Grande do Norte, a 300 Km da capital, está ameaçada. Os motivos passam pela falta de organização do setor, pela falta de qualidade nos produtos, dentre outros mais críticos no que concerne às questões ambientais. A indústria têxtil possui um elevado potencial de geração de resíduos sólidos. Dentre as etapas de maior potencial de geração desses resíduos, estão as etapas de tecelagem e corte do tecido, gerando um montante significativo de pêlos e buchas (Originam-se: a de fiação, dos fios que não foram tecidos; e a de tecelagem: são das sobras de fio, não aprovadas na produção), e retalhos (Originam-se do corte), para o segundo. Diante da grande produção, visto que existem mais de 5000 teares no município para a produção de artefatos têxteis; a cidade vem sofrendo com o grande impacto da geração desordenada e o despejo em locais inapropriados. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

III-062 – INTERVENÇÃO DA PRODUÇÃO MAIS LIMPA NAS INDÚSTRIAS TÊXTEIS DO MUNICÍPIO DE JARDIM DE PIRANHAS

Thiago Negreiros Moura(1)

Graduando do Curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] Enrique de Medeiros Jerônimo Doutorando em Engenharia Química pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Engenheiro Químico. Consultor em Produção Mais Limpa. E-mail: [email protected] Aristides Felipe Santiago Júnior Doutorando em Engenharia Química pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Engenheiro Químico. E-mail: [email protected] Sérgio Murilo Cortez Engenheiro Civil e Administrador. Consultor em Produção Mais Limpa. E-mail: [email protected] Endereço(1): Rua Moraes Navarro, 2049, Condomínio Atol das Rocas, Aptº 101 Bl B, Lagoa Nova. Natal – RN. CEP: 59075-770 – Brasil – (84) 9441-2313 – e-mail: [email protected] RESUMO

A indústria têxtil possui um elevado potencial de geração de resíduos sólidos. Dentre as etapas de maior potencial de geração desses resíduos, estão as etapas de tecelagem e corte do tecido, gerando um montante significativo de pêlos e buchas (Originam-se: a de fiação, dos fios que não foram tecidos; e a de tecelagem: são das sobras de fio, não aprovadas na produção), e retalhos (Originam-se do corte), para o segundo. Diante da grande produção, visto que existem mais de 5000 teares no município para a produção de artefatos têxteis; a cidade vem sofrendo com o grande impacto da geração desordenada e o despejo em locais inapropriados. Neste trabalho são apresentados os resultados dos diagnósticos realizados, mediante avaliação processual, bem como, as ações de melhorias (a baixo custo) que podem ser adotadas pelas empresas para reduzir os impactos ao meio ambiente, advindos de tal atividade, em especial a taxa de resíduos sólidos gerados. Para realização do estudo seguiu-se das etapas: 1) Diagnostico ambiental das empresas participantes do projeto, quanto a forma de geração e destinação final dos resíduos sólidos; 2) Acompanhamento do fluxograma do processo de tecelagem e acabamento do produto final; 3) Tratamento dos dados, pertinentes aos objetivos de estudo, obtidos das etapas em questão (tecelagem e acabamento); 4) Estruturação de estudos de caso, com a identificação de oportunidades de melhoria. A cadeia produtiva da cidade de Jardim de Piranhas, com o desenvolvimento do projeto, agregou-se de tecnologia, reduzindo custos operacionais e definindo um considerável ganho no aspecto ambiental pela redução na fonte dos resíduos sólidos gerados. A implantação do programa de produção mais limpa agregou uma conscientização para os problemas ambientais e o direcionamento para a melhoria contínua é, hoje, observado nas empresas atendidas pelo projeto. PALAVRAS-CHAVE: Produção mais Limpa, Redução de desperdício, Ganhos econômicos. INTRODUÇÃO

A força da indústria têxtil na cidade de Jardim de Piranhas, no interior do Rio Grande do Norte, a 300 Km da capital, está ameaçada. Os motivos passam pela falta de organização do setor, pela falta de qualidade nos produtos, dentre outros mais críticos no que concerne às questões ambientais. A indústria têxtil possui um elevado potencial de geração de resíduos sólidos. Dentre as etapas de maior potencial de geração desses resíduos, estão as etapas de tecelagem e corte do tecido, gerando um montante significativo de pêlos e buchas (Originam-se: a de fiação, dos fios que não foram tecidos; e a de tecelagem: são das sobras de fio, não aprovadas na produção), e retalhos (Originam-se do corte), para o segundo. Diante da grande produção, visto que existem mais de 5000 teares no município para a produção de artefatos têxteis; a cidade vem sofrendo com o grande impacto da geração desordenada e o despejo em locais inapropriados.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Como tentativa de refortalecer o setor têxtil do município, foi criada a ASITEX (Associação das Indústrias Têxteis). Esta é composta por 31 tecelagens de micro e pequeno porte. Desde a fundação da ASITEX, muitos benefícios já foram trazidos, de forma direta, aos associados e, indireta, as centenas de pessoas que são interdependentes das empresas associadas. A fim de solucionar os principais problemas advindos desse segmento, desde julho de 2004 uma parceria realizada entre a associação de indústrias têxteis de Jardim de Piranhas (ASITEX), o SEBRAE e a empresa Qualital Consultoria & Treinamento Ltda; vem buscando alternativas para a minimização desses problemas, a partir da utilização da ferramenta da produção mais limpa (P+L). O Programa de Produção Mais Limpa é uma análise da real eficiência quanto ao emprego de matérias-primas, água e energia nos processos, produtos ou serviços das empresas. Todas as fases do programa são realizadas com o total envolvimento da mesma, a fim de garantir a introdução e assimilação do conceito de Produção Mais Limpa no seu processo de gerenciamento. Seu conceito é a aplicação contínua de uma estratégia técnica, econômica e ambiental integrada aos processos, produtos e serviços, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, pela não geração, minimização ou reciclagem de resíduos e emissões, com benefícios ambientais, de saúde ocupacional e econômicos. Existe uma grande relutância para a prática da Produção Mais Limpa. Os maiores obstáculos ocorrem em função da resistência à mudança; da concepção errônea (falta de informação sobre a técnica e a importância dada ao ambiente natural); a não existência de políticas nacionais que dêem suporte às atividades de produção mais limpa; barreiras econômicas (alocação incorreta dos custos ambientais e investimentos) e barreiras técnicas (novas tecnologias). Segundo a UNIDO/UNEP, as organizações ainda acreditam que sempre necessitariam de novas tecnologias para a implementação do programa de Produção Mais Limpa, quando na realidade, aproximadamente 50% (site da UNIDO) da poluição gerada pelas empresas poderia ser evitada somente com a melhoria em práticas de operação e mudanças simples em processos. Também já foi verificado que toda vez que houve uma legislação obrigando as organizações a mudarem seus processos de produção ou serviços, houve uma maior eficiência e menor custo de produção. Estudos mostram que existem três impedimentos principais que servem como barreiras para a adoção de posturas ambientalmente corretas: as preocupações econômicas, a falta de informações e as atitudes dos gerentes. Essas barreiras impedem a visualização da diversidade de benefícios do programa, tanto para as empresas como para toda a sociedade. Os benefícios mais evidentes são a melhoria da competitividade (por meio da redução de custos ou melhoria da eficiência) e a redução dos encargos ambientais causados pela atividade industrial. Neste trabalho são apresentados os resultados dos diagnósticos realizados, mediante avaliação processual, bem como, as ações de melhorias (a baixo custo) que podem ser adotadas pelas empresas para reduzir os impactos ao meio ambiente, advindos de tal atividade, em especial a taxa de resíduos sólidos gerados. METODOLOGIA

O estudo, em questão, foi realizado em 16 empresas do município de Jardim de Piranhas, estado do Rio Grande do Norte, que tem em seus produtos principais o “pano de prato”, “redes” e “cobertores”. Para realização do estudo seguiu-se das etapas: 1) Formação dos ecotimes das empresas, escolhendo cinco funcionários, de diversos setores da empresa, e que apresentassem um perfil idealizado. Diante dessa escolha foi desenvolvida uma série de capacitações, em turmas de 45 funcionários, ou melhor, oito empresas por módulo. Todos os treinamentos foram realizados na sede da Associação das Indústrias Têxteis de Jardim de Piranhas – RN, em aproximadamente 4 horas por curso.

As capacitações desenvolvidas foram:

• Programa 5S: Guia Passo a Passo para a implantação;

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• Segurança no Trabalho – Parte I: Definição das classificações de risco e direcionamento aos riscos físicos.

• Segurança no Trabalho – Parte II: Riscos Químicos • Segurança no Trabalho – Parte III: Ruídos e Ergonomia • Meio Ambiente: Problemas e Soluções • O que é Produção Mais Limpa?

A totalização dos treinamentos se perfaz em 24 horas/aula, tendo sido capacitados 33% dos funcionários das empresas associadas, participantes do projeto, e cerca de 1% da população do município de Jardim de Piranhas. 2) Diagnostico ambiental das empresas participantes do projeto, quanto a forma de geração e destinação final dos resíduos sólidos: Para o diagnostico foram realizadas visitas às empresas, para preenchimento de questionários específicos; com a preferência ao levantamento de informações técnicas do processo e aos impactos causados ao meio ambiente. Determinação do balanço de massa dos constituintes envolvidas, para quantificação de algumas variáveis, não respondidas pelos questionários, e difíceis de serem quantificadas fisicamente (tais como a geração de pêlos oriundos do fio). 3) Tratamento dos dados, pertinentes aos objetivos de estudo, obtidos das etapas em questão (tecelagem e acabamento); 4)Estruturação de estudos de caso, com a identificação de oportunidades de melhoria. De posse do diagnóstico e da quantificação da potencialidade de impactos ao meio ambiente, foi realizada a correlação para identificação da linha principal de ação; mediante analise da matriz de aspectos e impactos ambientais. Identificadas as oportunidades de melhorias, estudos de caso, a equipe iniciou em paralelo a por em prática os levantamentos idealizados, necessários, seguindo metodologia pré-definida pela equipe, que serão mais bem discutidas individualmente em linhas posteriores: Para a realização do estudo se fizeram necessários os levantamentos de alguns valores para a partir destes, dispuséssemos de dados suficientes para o cálculo da Massa de pêlo gerada na fabricação de tecido de uma determinada indústria. Dentre esses valores estão: Massa de fio urdido, Massa de fio que entra no processo via espula, Massa de tecido produzido e Massa de bucha gerada durante a fabricação do tecido. Dessa forma, fechando o balanço e podendo-se quantificar a Massa de pêlo gerada pela seguinte equação do balanço de massa:

MPÊLO = MFIO URDIDO + MFIO ESPULA - MTECIDO - MBUCHA. Para se garantir uma maior padronização do peso das espulas, utilizaram-se apenas uma marca de espula, assim como, apenas as cheias por uma única espuladeira. Para a conferência da padronização do peso das espulas, foi realizada uma amostragem de 15 a 20 espulas cheias e vazias. RESULTADOS

As empresas participantes do projeto produzem em suas atividades industriais: panos de prato, redes, mantas, sacos, estopas etc. Para o atendimento a sua demanda, utiliza-se de teares de diversas marcas e modelos. Para a operação desses teares é disponibilizado um colaborador para, no máximo, quatro máquinas, onde estes são responsáveis pelo abastecimento das espulas e o controle operacional dos teares. Antes de iniciar uma “barcada” o tecelão é responsável pela limpeza e a lubrificação do seu instrumento de trabalho, o tear. Seqüencialmente, se faz necessária a adição do “rolo de urdume” ao tear. O tecelão é responsável pelo pleno funcionamento dos teares, de sua incumbência. Durante a tecelagem são realizadas lubrificações diárias nos mancais de bronze e se necessário nas demais engrenagens do tear.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental As empresas, entretanto, não possuem qualquer tipo de planejamento ou registros de manutenção da limpeza dos teares, ficando a cargo do operador a realização dessas. Em decorrência do descaso do operador e da não severidade do empresário em exigir a obrigatoriedade da limpeza diária dos equipamentos, verificou-se um montante excessivo de sujeira proveniente da geração de buchas e principalmente de pêlos durante a tecelagem (o que são quase que inevitáveis pela qualidade do pêlo utilizado). Além do problema do desperdício total desse subproduto, existem ainda os riscos físicos provenientes dessa falta de limpeza. Dessa forma, a equipe de consultores do programa de produção mais limpa, potencializou ações que visam: - A redução do número de horas de máquina parada, na manutenção corretiva; - A redução na geração de pêlos e buchas na tecelagem; - Reutilização e/ou comercialização dos subprodutos pêlo e bucha gerados; - A minimização dos impactos causados ao meio ambiente, decorrentes do excessivo montante de resíduos sólidos gerados na tecelagem. Para o levantamento dos dados necessários ao estudo, decorrente do processo de tecelagem, foi realizado o preenchimento de planilhas específicas onde, nesta se contempla a pesagem dos itens de entrada e saída do processo de tecelagem. O levantamento foi realizado em triplicata. Para o preenchimento da Planilha foi necessário o monitoramento do tear durante todos os dias, que decorreram a barcada. Antes de se começar a tecer a barcada, a ser monitorada, os tecelões foram orientados a realizar uma completa limpeza e lubrificação dos teares. Além disso, para retenção dos resíduos foi sugerida a organização de recipientes para o armazenamento de buchas geradas no decorrer da barcada, bem como a contagem das espulas utilizadas. Foi sugerido também, o monitoramento de dois teares, de preferência um de responsabilidade de um tecelão que a empresa julgue organizado e cuidadoso, na realização de suas atividades, e um segundo com características contrárias as do primeiro. Para se garantir uma maior padronização do peso das espulas, utilizou-se apenas uma marca de espula, assim como, apenas as cheias por uma única espuladeira. Para a conferência da padronização do peso das espulas, foi realizada uma amostragem de 15 a 20 espulas cheias e vazias. Dessa forma, após o preparo da estrutura, deu-se início a barcada. E conseqüentemente, as medidas a serem tomadas para a coleta dos dados necessários, tais como: o armazenamento de toda a bucha proveniente da barcada, em um mesmo recipiente, e a contagem diária de todas as espulas utilizadas. A partir do valor do número de espulas utilizadas e com a gramatura do fio adicionado, tem-se por diferença a massa de fio que entra ao processo via espula. Para o fechamento e quantificação de pêlo gerado, usou-se a seguinte equação para o balanço de massa:

MPÊLO = MFIO URDIDO + MFIO ESPULA - MTECIDO - MBUCHA

Para execução deste estudo, não se teve custos adicionais, requisitando-se apenas da organização e do interesse por parte do empresário e dos colaboradores.

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Figura 1: Planilha de Levantamento dos dados para a quantificação do montante de pêlos e buchas gerados por empresa.

PESO DO ORGO SECO (Kg) A

PESO DO ORGO CHEIO (Kg) B

C = B - A (Kg) C

PESO DA ESPULA SECA (Kg) D

PESO DA ESPULA CHEIA (Kg) E

F = E - D (Kg) F

NÚMERO DE ESPULAS G

PESO DE FIO VIA ESPOLA H = G x F (Kg) H

PESO DE BUCHA (Kg) I

PESO DA BOBINA SECA (NO INÍCIO DA BARCADA) (Kg) J

PESO DA BOBINA CHEIA (AO FINAL DA BARCADA) (Kg) L

PESO DE TECIDO PRODUZIDO M = L - J (Kg) M

TOTAL DE FIO ALIMENTADO N = C+H (Kg) N

RENDIMENTO DE TECIDO O = (M/W)x100 (Kg / min) O

MASSA DE PÊLO P = (W - M - I) (Kg) P

% DE PÊLO Q = (O/W) x 100 Q

% DE BUCHA R = (I/W) x 100 R

PREÇO DO FIO S

PRODUÇÃO ANUAL (Kg) T

ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE PÊLO ANUAL (Kg) U = Q * T U

ESTIMATIVA DE GERAÇÃO DE BUCHA ANUAL (Kg) V = R * T V

ESTIMATIVA DE PREJUÍZO ANUAL COM BUCHA

ESTIMATIVA DE PREJUÍZO ANUAL COM PÊLO

ESTIMATIVA DE PREJUÍZO ANUAL COM PÊLO + BUCHA

VARIÁVEIS ECONÔMICAS

DADOS GERAIS

RENDIMENTO DO TEAR

PLANILHA DE AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO DO TEAR

A fim de se alcançar os objetivos do estudo: A redução do número de horas de máquina parada, na manutenção corretiva; da geração de pêlos e buchas na tecelagem; Reutilização e/ou comercialização dos subprodutos pêlo e bucha gerados; conseqüentemente, a minimização dos impactos causados ao meio ambiente decorrentes do excessivo montante de resíduos sólidos gerados na tecelagem, foram sugeridos os seguintes itens: - Realização da uma limpeza simplificada nos teares, e de todo o piso (vassouras de pêlo) da área de tecelagem diariamente, ao final do expediente, garantindo um ambiente de trabalho limpo e agradável;

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - Realização de uma limpeza geral do ambiente de trabalho, aos sábados, bem como a máxima limpeza possível, dos teares, mesmo que com o rolo do urdume sendo tecido; - Realização de uma limpeza detalhada em todo o tear, sempre que se terminar uma barcada; - Controle da lubrificação simplificada dos teares, diariamente; - Realização de uma lubrificação completa em todo o tear, sempre que se terminar a barcada, logo após a limpeza; - Implantação de alguns programas de boas práticas no manuseio, lubrificação aos tecelões (SEBRAE-RN); - Aquisição de compressores/ aspiradores (Tipo: 140 lbs / pol- 2 cilindros – reservatório 100lts – Motor 2 HP), para realizar a limpeza dos teares diariamente. Na Figura 1, pode-se evidenciar um tear onde se realiza a limpeza diária, bem como de todo o interior da área dos teares. No entanto, não se verifica a existência de aglomerados de pêlos ao óleo do tear, garantindo uma maior eficiência, tanto do próprio equipamento quanto da operação da máquina. Após a implementação dos itens propostos, a equipe visualizou algumas formas de redução de custos do processo, buscando formas de agregar valor aos subprodutos desse processo. As oportunidades visualizadas pela equipe de consultores foram:

Fabricação de enchimento para almofadas; O empacotamento da bucha, e posterior comercialização na forma de estopas para oficinas

mecânicas, em geral; A comercialização da bucha e do pêlo para artesões, como os da Paraíba, que pode ser

verificado na Figura 1;

Figura 1: Bonecos de retalhos de estopas

Divulgação do potencial de geração de buchas, no site da bolsa de resíduos.

Com a finalização do estudo de caso, em questão, verificou-se a existência de um elevado potencial de comercialização dos principais subprodutos do processo fabril da empresa. Podendo esses ser agregados em outras atividades, contrariamente ao destino do lixo, praticado atualmente pela grande maioria das empresas, onde todo esse prejuízo é quantificado a preço de fio. Atribuindo uma maior urgência a minimização do problema. Com o preenchimento das Planilhas, mostrada em páginas anteriores, conseguiu-se estimar o desperdício de fio na etapa de tecelagem das empresas. Assim como, levantar a capacidade de geração de pêlos, 14.513 kg/ano e buchas, 25.383 kg/ano. Com esse montante de resíduos gerados na tecelagem, 39.895 kg/ano, aliada a destinação dada a esses resíduos atualmente, o lixo, as empresas sofrem um prejuízo anual da ordem de R$ 259.320,23 apenas com desperdício de fio nesta etapa do processo. O descritivo das empresas levantadas é mostrado na Tabela 1.

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Tabela 1: Levantamento Anual da Geração de Buchas e Pêlos, por Empresa.

EMPRESA BUCHA GERADA (Kg/ano) PÊLO GERADO (Kg/ano)

1 131 1027

2 604 1143

3 782 1759

4 1805 10291

5 2528 225

6 1447 3700

7 3556 1088

8 91 336

9 151 151

10 91 336

11 726 927

12 693 1492

13 172 1297

14 401 500

15 136 459

16 31 181

TOTAL (kg/ano) 14.513 25.383 Desperdício (R$) R$ 94.332,23 R$ 164.988,01

Com base nesses dados foram direcionados os estudos de viabilidade econômica, tendo sido avaliados os investimentos e os custos necessários a implementação das medidas, bem como, o retorno a ser dado. Nas Tabelas 2 e 3 são apresentadas as sínteses desses.

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Tabela 2: Levantamento Anual da Geração de Buchas e Pêlos, por Empresa.

Empresa Investimento (R$) CT RT Índice de Retorno

(meses)

1 420,00 98,44 393,00 27,00 2 420,00 306,76 2.346,00 3,00 3 420,00 634,12 5.415,00 1,32 4 420,00 865,58 7.584,90 1,00 5 420,00 519,64 4.341,72 2,00 6 420,00 1.994,44 10.688,00 1,00 7 420,00 85,74 273,93 51,00 8 420,00 104,81 452,70 22,00 9 420,00 85,74 273,93 51,00

10 420,00 288,84 2.178,00 3,00 11 420,00 278,30 2.079,18 4,00 12 420,00 111,56 516,00 18,00 13 420,00 184,88 1.203,39 7,00 14 420,00 100,04 408,00 26,00 15 420,00 66,44 93,00 -161,00 16 420,00 4.299,00 3.498,00 2,00

Tabela 3: Levantamento Anual da Geração de Buchas e Pêlos, por Empresa.

Empresa Investimento (R$) CT (R$) RT (R$) Índice de retorno

(meses)

1 420,00 590,56 5.135,00 1,00 2 420,00 971,20 8.795,00 0,80 3 420,00 5.407,84 51.455,00 0,14 4 420,00 173,42 1.124,00 7,00 5 420,00 1.980,00 18.495,00 0,38 6 420,00 622,28 5.440,00 1,00 7 420,00 231,13 1.678,90 4,00 8 420,00 134,99 754,50 11,00 9 420,00 331,13 1.678,90 4,00

10 420,00 538,56 4.635,00 2,00 11 420,00 832,13 7.457,80 0,95 12 420,00 730,96 6.485,00 1,00 13 420,00 316,67 2.501,40 3,00 14 420,00 295,29 2.295,00 3,00 15 420,00 150,64 905,00 9,00 16 420,00 301,96 2.360,00 3,00

Aspectos Ambientais Observados

Os principais aspectos ambientais observados, inerentes à etapa de tecelagem, foram:

Elevada geração de resíduos sólidos; Grande desperdício de matéria-prima; Baixa produtividade, ou seja, subutilização da mão de obra; Desperdício elevado de óleo lubrificante;

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Geração de uma grande quantidade e resíduos (pêlos e buchas sujos de óleo lubrificante), que poderiam ser classificados como inertes, e passam a ser perigoso.

ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA DA FABRICAÇÃO DE ENCHIMENTOS PARA ALMOFADA

Massa de Pêlo por Ano 1.297,00 PREÇO DO FIO

6,00R$ Investimento Unid R$ R$Bombonas 2 100,00R$ 200,00R$ Seladora 1 220,00R$ 220,00R$

TOTAL 420,00R$

Custo Operacional Unid R$ R$Energia Elétrica 2594 0,06R$ 155,64R$ Mão-de-obra 5 11,30R$ 56,52R$ Embalagem 2594 0,20R$ 518,80R$ TOTAL 730,96R$

Receita Unid R$ R$Almofadas 2594 2,50R$ 6.485,00R$

Lucratividade Unid R$ R$CT 730,96R$ RT 6.485,00R$ Depreciação 42,00R$

LUCRO BRUTO 5.712,04R$ IMPOSTOS 1.102,45R$ AMENIZAÇÃO DO DESPERDICIO 4.609,59R$ PELO A PREÇO DE FIO 7.782,00R$ PREJUIZO COM PELO 3.172,41R$ TEMPO DE RETORNO Meses 1

O artesanato feito de estopa é bastante diversificado. Desta matéria-prima são feitas bonecas, imagens sacras, flores, tapetes, almofadas, passadeiras, bolsas, cintos e vários outros produtos, dependendo da criatividade do artesão. Na Paraíba, o artesanato de estopa mais significativo são as bonecas e as imagens sacras. São feitas a partir de uma armação de arame, que vai sendo coberta com a estopa. A costura é feita com a linha da própria estopa, e para as expressões do rosto (olho, nariz, boca) são utilizados ou o fiapo da estopa ou linhas coloridas. Município que se destaca: Lagoa Seca. Para a divulgação e comercialização de resíduos afins, basta acessar o site: www.sfiec.org.br/bolsaresiduos/Default.asp. Este é o site da Bolsa de resíduos & Negócios, que tem por finalidade possibilitar um intercâmbio de resíduos entre indústrias do Brasil. Para com isso, as empresas conseguirem agregar valor aos seus resíduos, e paralelamente minimizar as agressões que os resíduos industriais provocam ao meio ambiente. Ao acessar a página indicada no primeiro parágrafo, aparecerá na tela do computador a Figura 2, que é a página principal do site da Bolsa de Resíduos e Negócios. Onde nesta tela, se encontra a apresentação da Bolsa, bem como existe um ícone que, ao clicar, dar acesso ao preenchimento da FICHA DE INSCRIÇÃO da empresa, junto a Bolsa de resíduos e Negócios.

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Figura 2: Página inicial da Bolsa de resíduos e Negócios

Após o click em FICHA DE INSCRIÇÃO, aparecerá na tela a imagem representada pela Figura 3, com os campos de CNPJ e senha da empresa, junto a Bolsa de resíduos e negócios. Os locais estão ilustrados e identificados na figura abaixo. Após a digitação dos campos senha e CNPJ, deve-se clicar em ENTRAR, que fica logo abaixo dos campos senha e CNPJ. Confirmando assim o seu cadastro.

Figura 3: Campos de inscrição e cadastramento da empresa junto a Bolsa de resíduos.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Após a realização da inscrição da empresa, deve-se clicar em PROCURA E OFERTA, onde esta indicada pela seta na Figura 4. Nesta etapa da navegação, surgirão várias opções de segmentos. Para os resíduos do segmento têxtil, existe um link específico identificado pela seta na figura abaixo.

Figura 4: Página para seleção do segmento que se deseja comercializar o resíduo.

Ao clicar no link TÊXTIL/CONFECÇÃO, se terá acesso a uma lista de empresas e seus respectivos resíduos desejados ou ofertados, bem como as suas capacidades de comercialização. Para maiores detalhes sobre os resíduos e seus respectivos contatos, deve-se clicar em cima do nome da empresa ou do resíduo. De acordo com a Figura na Figura 5, abaixo.

Figura 5: Página para seleção da empresa a ser contactada.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental CONCLUSÕES

Como perspectivas para a redução do custo do processo e redução da geração de resíduos na forma de lixo, a equipe de consultores conseguiu alguns valores, para as melhorias propostas, que possibilitam a redução do custo, a saber:

• Diferentemente do caso do pêlo, nem toda a bucha gerada é completamente perdida, ou seja, apesar de mínimo esse resíduo tem algum valor agregado. Dessa forma, para se conseguir agregar um maior valor a esse desperdício, com a venda de estopas, se faz necessário um investimento de apenas R$ 6.720,00, podendo esse ser ressarcido em pouco mais de dois meses de trabalho.

• Com os valores levantados, na Planilha – Venda da bucha - estima-se a redução do prejuízo das

empresas, com pêlo, como sendo da ordem de R$ 90.462,28 com a implantação do processamento do pelo para fabricação de enchimento para almofadas.

• A partir dos valores encontrados, pode-se ter idéia do quanto as empresas estão desperdiçando seu

capital, como também traçar metas para alcançar ao máximo as melhorias propostas pela equipe de consultores, como também outras possíveis medidas visualizadas pelas empresas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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