ii workshop sobre tecnologias para a produÇÃo … · tecnologias e desafios para a produção...

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I I I I W W O O R R K K S S H H O O P P S S O O B B R R E E T T E E C C N N O O L L O O G G I I A A S S P P A A R R A A A A P P R R O O D D U U Ç Ç Ã Ã O O A A N N I I M M A A L L A A G G R R O O E E C C O O L L Ó Ó G G I I C C A A ANAIS 06 de novembro de 2007 Chapecó, SC

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06 de novembro de 2007Chapecó, SC

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II

Universidade do Estado de SantaCatarina – UDESCCentro Educacional do Oeste – CEORua Benjamin Constant, 164-D - CentroCEP 89801-070, Chapecó -SCFone: 49 99643277E-mail: [email protected]

Embrapa Suínos e AvesBr 153, Km 110Caixa Postal 21CEP 89700-000, Concórdia - SCFone: 49 4410400Fax: 49 4428559E-mail: [email protected]: http://www.cnpsa.embrapa.br

Versão Eletrônica: (2007)

Coordenação Editorial*: Tânia Maria Biavatti Celant

Editoração Eletrônica: Vivian Fracasso

EMBRAPA 2007

*As palestras foram formatadas diretamente dos originais enviadoseletronicamente pelos autores.

Workshop sobre Tecnologias para a Produção AnimalAgroecológica (2.: 2007, Chapecó, SC).Anais do II Workshop sobre Tecnologias para a ProduçãoAnimal Agroecológica, 06 de novembro de 2007,Chapecó, SC. - Concórdia: Embrapa Suínos e Aves,2007.71p.; 29 cm.

1. Animal doméstico - produção - tecnologias - congresso.I. Título.

CDD 636

III

PPRROOMMOOÇÇÃÃOO

CCOO--PPRROOMMOOÇÇÃÃOO

AAPPOOIIOO

IV

PPAATTRROOCCIINNAADDOORREESS

V

CCOOMMIISSSSÃÃOO OORRGGAANNIIZZAADDOORRAA

CCoooorrddeennççããoo GGeerraallTaciana Diesel

AAsssseessssoorriiaa GGeerraallAdriana Florianovicz

Gizelli Salvagni

Indiara Mucelini

AAsssseessssoorriiaa ddee IImmpprreennssaa ee CCoommuunniiccaaççããooTamara Tais Tres

Jean Carlos Palavro

Mateus Pies Giombelli

CCoommiissssããoo ddee OOrrççaammeennttooFilipe Zanferari

Henrique Otávio Guella

Claudia Comunello

Jussara Ferrazza

VII

RREESSUUMMOO

O II Workshop sobre tecnologias para a produção animal agroecológica é um

evento organizado pelo Centro Acadêmico do curso de Zootecnia da UDESC –

Chapecó e que tem como objetivos, contribuir com a disseminação e discussão

de técnicas alternativas e sustentáveis de produção animal, despertar nos

meios técnico, produtivo e científico a preocupação com a necessidade de

mudança nos paradigmas de desenvolvimento e produção e promover a

interação entre os diversos atores da cadeia produtiva.

É sabido que há na sociedade uma preocupação crescente com as questões

ambientais e com a produção de alimentos mais saudáveis, de qualidade, com

melhor sabor, livres de resíduos tóxicos e com certificação de origem,

produzidos de forma mais limpa e com adoção de técnicas que orientem para o

desenvolvimento sustentável.

IX

JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA

Essa preocupação vem provocando um crescimento no mercado de produtos

agroecológicos e orgânicos, tanto que, segundo a FAO (1999), existe um

aumento de 20% ao ano neste mercado, que se mostra entre as dez principais

tendências de consumo do século, sendo que a demanda está crescendo mais

que a produção, em vários países europeus como Suíça, Suécia e Aústria.

Para atender tal demanda, há a necessidade do desenvolvimento de técnicas

que diminuam os efeitos negativos da produção animal sobre o meio ambiente

e a saúde humana, com menor custo de produção e bom rendimento e

produtividade. Neste contexto, o desenvolvimento rural, antes visto

simplesmente como a busca de mais crescimento econômico, passa a

incorporar o conjunto das dimensões da sustentabilidade, com novas noções e

conceitos sobre agropecuária. Assim, a agroecologia apresenta-se como uma

alternativa inovadora que utiliza práticas para conservação do solo, dos

aquíferos e dos recursos naturais, sem a dependência de energias não

renováveis. Mostra-se como uma alternativa viável para as pequenas e médias

propriedades, que são a maioria presente no Oeste Catarinense.

No entanto, é preciso ter presente que a transição agroecológica se refere a

um processo gradual de mudança, através do tempo, nas formas de manejo

dos agroecossistemas. Apesar de parecer utópico, é possível caminhar para a

produção de alimentos de melhor qualidade biológica, livres de agrotóxicos e

produzidos de forma ambientalmente mais amigável, contanto que haja

interesse da sociedade, ou de parte dela, e um amplo apoio técnico e de

políticas públicas.

No Brasil existe uma demanda de pesquisa, produção de técnicas qualificadas

e de difusão das mesmas, levando seu resultado ao produtor. Existe um longo

caminho a ser percorrido para vencer o ceticismo e o preconceito associados a

X

este conceito. Além disto, todo um trabalho de normatização e estrutura do

sistema de certificação precisa ser feito.

É diante destes desafios, e com o intuito de colaborar com a superação dos

mesmos que foi realizado pela Embrapa Suínos e Aves (Concórdia – SC), e a

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), o “I Workshop sobre

Tecnologias para a Produção Animal Agroecológica e Orgânica”. O encontro foi

realizado em Chapecó - SC, nos dias 19 a 21 de setembro de 2005. O evento

contribuiu na atualização de conceitos e na analise de tecnologias para a

produção agroecológica e orgânica na área animal.

É com o mesmo objetivo que os Acadêmicos do Curso de Zootecnia

idealizaram e estão organizando o “II Workshop sobre tecnologias para a

produção animal agroecológica”, promovendo discussões e disseminação de

informações referentes a este tema entre os meios científico, acadêmico e

produtivo.

XI

OOBBJJEETTIIVVOOSS

O objetivo principal do evento é contribuir com a disseminação e discussão de

técnicas alternativas e sustentáveis de produção animal, bem como despertar

nos meios técnico, produtivo e científico a preocupação com a necessidade de

mudança nos paradigmas de desenvolvimento e produção.

Além de promover a interação entre os diversos atores que da cadeia produtiva

e aqueles que podem contribuir no desenvolvimento e na aplicação de

tecnologias voltadas para a produção animal agroecológica e orgânica.

XIII

PPRROOGGRRAAMMAA

Data: 06 de novembro de 2007

Local: Auditório do Sindicato dos Bancários

08:30: Cerimônia de abertura

09:00: Pecuária e Agroecologia no BrasilLuiz Carlos Pinheiro Machado FilhoPós-doutorado em Bem-estar animal - University of British Columbia.Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas - UFSC

10:15: Intervalo para Coffee Break

10:30: Manejo de pastagens na produção agroecológicaLuiz Carlos Pinheiro Machado FilhoPós-doutorado em Bem-estar animal - University of British ColumbiaCoordenador do Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas - UFSC

11:45: Intervalo para almoço

14:30: Tecnologias e desafios para a produção agroecológica de avesAoris da SilvaProdutor e Presidente da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural -ASSESOAR

15:45: Intervalo para Coffee Break

16:00: Tecnologias e desafios para a produção agroecológica de suínosElsio Antonio Pereira de FigueiredoPesquisador e Chefe-Geral da Embrapa Suínos e Aves

17:15: Intervalo

19:00: Mesa redonda sobre os desafios da produção animal agroecológicaMediadora: Maria Luiza Appendino NunesProfessora do curso de Zootecnia, Ênfase em sistemas orgânicos de produção -UDESC/Chapecó

21:30: Cerimônia de encerramento

XV

SSUUMMÁÁRRIIOO

15

18Tecnologias e desafios para a produção agroecológica de aves:melhoramento genético de galinhas caipirasAoris da Silva....................................................................................................................... 17

Principais desafios para a produção agroecológica de suínosElsio Antonio Pereira de Figueiredo................................................................................................... 25

Manejo de pastagens na produção agroecológicaLuiz Carlos Pinheiro Machado Filho................................................................................................... 56

Criação animal agroecológicaLuiz Carlos Pinheiro Machado Filho e Luciana Aparecido Honorato.................................................. 65

II Workshop sobre Tecnologias para a Produção Animal Agroecológica06 de novembro de 2007 - Chapecó, SC

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TECNOLOGIAS E DESAFIOS PARA A PRODUÇÃOAGROECOLÓGICA DE AVES: MELHORAMENTO GENÉTICO DE

GALINHAS CAIPIRAS

Aoris da Silva

Produtor e Presidente da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural - ASSESOARFrancisco Beltrão, PR

Com o objetivo de melhorar geneticamente as galinhas caipiras dasUnidades de Produção e Vida Familiar da Região Sudoeste do Paraná, aAssesoar lançou, na Festa das Sementes de 2006, um Programa deMelhoramento de Galinhas Caipiras.

O Programa iniciou com a distribuição de ovos, pintos e aves adultastrazidas inicialmente de fora da região através da compra e intercâmbio comparceiros como a UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon e oCentro de Apoio aos Agricultores Familiares – CAPA Rondon. O Programaconta também com o apoio dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais, ligadosFetraf, na identificação e acompanhamento das famílias que participam doPrograma.

Até o momento, junho de 2007, já foram distribuídas 185 dúzias de ovos,650 pintinhos e 85 aves adultas de 5 raças (Sussex, Rhode, New Hampshire,Plymouth Rock Barrado – Carijó e Gigante Negro) para 3 famílias em cada umdos 20 municípios da região que participam do Programa.

Como fazer o melhoramento genético

1. Cada família interessada, seleciona as 10 maiores e melhores fêmeas quetem no terreiro, eliminando ou separando as outras.

2. Coloca um galo de raça pura com essas galinhas.

3. Depois de 6 a 8 meses, quando as filhas desse cruzamento estiveremadultas, fazer uma nova seleção das maiores e melhores fêmeas e separá-las novamente, colocando um galo de outra raça pura, conforme o interesseda família. O galo anterior deve ser repassado para outra família para evitara consanguinidade, principal causa da perda genética.

4. Assim, faziam nossos pais e avós quando trocavam ovos, galos e galinhaspara evitar o definhamento pela reprodução contínua entre filhas de ummesmo galo ou galinha.

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5. Assim era e é com os animais e assim é com os seres humanos. Ou porqueserá que evitamos o casamento entre irmãos, primos ou parentespróximos?

Famílias guardiãs das raças

Na mesma velocidade que se reproduzem, as aves perdem a qualidadegenética quando misturadas e soltas nos terreiros.

Com o objetivo de preservar essas raças puras, o Programa conta com 6famílias guardiãs. Cada uma dessas famílias é guardiã de uma raça (Sussex,Rhode, New Hampshire, Plymouth Rock Barrado – Carijó, Gigante Negro eÍndio Gigante) e serão elas que realimentarão o Programa com as raças puraspreservadas, quando necessário, evitando de sempre ter que buscar fora daregião. A previsão é de que, a partir de abril de 2008, essas famílias guardiãstenham ovos e pintos para fornecer. Divulgaremos isso em tempo.

Em defesa da biodiversidade

O Programa de melhoramento genético de galinhas tem a clara intençãode se contrapor ao modelo da monocultura e fortalecer a autonomia esoberania alimentar das populações do campo além de oferecer aosconsumidores urbanos alimentos de melhor qualidade.

Veja, em fotos, os resultados desse Programa em algumas famílias deagricultores.

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• Na UPVF de José e Noeme Korb - Francisco Beltrão, PR.

• Na UPVF de João e Neli Osório – Marmeleiro, PR.

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• Na UPVF de Gelsi e Maria Dutra - Santa Izabel do Oeste, PR.

• Na UPVF do Gaúcho - Renascença, PR.

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• Na UPVF do Gaúcho - Renascença, PR.

• Na UPVF de Francisco e Ademir Ribeiro – Dois Vizinhos, PR.

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Raças Puras existentes na região sob o cuidado das “FamíliasGuardiãs”

• Plymouth Rock Barrado - Carijo

• Sussex

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• New Hampshire

• Rhode

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• Gigante Negro

• Índio Gigante

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PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A PRODUÇÃOAGROECOLÓGICA DE SUÍNOS

Elsio Antônio Pereira de Figueiredo

Pesquisador da Embrapa Suínos e [email protected]

Introdução

Agroecologia pode ser definida como uma ciência que estuda asrelações entre o meio ambiente e as atividades produtivas no meio ruralenfatizando princípios que proporcionem a sustentabilidade dosagroecossistemas, o bem estar animal e das pessoas. Não confundir comprodução orgânica, biológica, natural, regenerativa, sustentável, que aocontrário de ciência, são formas ou sistemas de produção. Nesta lógica épossível ter , por exemplo, um sistema de produção orgânico ou biológico, masqualquer que seja o sistema estará sob orientações agroecológicas.

Na definição de sistema orgânico de produção considera-se o espaçofísico, isto é área de terras que participam daquele sistema. Todos os produtosproduzidos naquele espaço físico serão orgânicos e não apenas um dosprodutos. Assim sendo não se tem projeto de produção de milho orgânico porexemplo, mas sim projetos de produção orgânica onde todas as culturasenvolvidas na rotação de culturas e fixação do nitrogênio são orgânicas. Omilho, no caso, embora orgânico é apenas uma parcela de produtos do sistemade produção, que normalmente inclui soja, aveia, pastagem, mandioca,tremoço, trevo, feijão, carne, ovos, leite, etc.

A agroecologia se diferencia da agricultura orgânica e da agriculturasustentável, no sentido de que é uma base científica, de princípios que sãoaplicáveis de forma orgânica, ou de outras formas, para se chegar a umaagricultura sustentável. A agricultura orgânica, por outro lado é um sistema deprodução caracterizado por um conjunto de técnicas que se aplicam noprincípio da agroecologia, mas que não seriam ecológicas se utilizaremsubstituição de insumos. Nesse caso, não possuirão base agreocológica. Naopinião de Altieri (2001), há necessidade de se definir os indicadores desustentabilidade, os quais são variáveis de região para região e definidos emconjunto com a comunidade.

A produção agroecológica está normalizada no mundo com base empadrões europeus. Council Regulation No. 2092/91, 1804/299 e IFOAM(2002). No Brasil o MAPA disponibiliza a legislação brasileira e mundial sobreesse assunto. Lei 10831 de 23/12/2003, publicada no DOU em 24/12/2003.

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Sistemas orgânicos de produção animal

A filosofia da produção orgânica enfatiza a necessidade de se produziralimentos em sistemas de produção integrados, sustentáveishumanisticamente, ambientalmente, e economicamente. Entre os princípios aserem observados podem ser citados:

• os sistemas de manejo devem seguir os mais altos padrões de bemestar;

• os animais devem ser alimentados com alimentos adequados às suasfisiologias;

• os alimentos devem ser produzidos principalmente na propriedade;

• a saúde animal deve ser mantida por meio de práticas de manejosaudáveis e preventivas;

• o uso de quimioterapia profilática e vacinações é evitado, mas aceitávelsob circunstâncias especiais;

• homeopatia e outros regimes terapeuticos alternativos são encorajadosnas situações de doenças, mas o uso de quimioterápicos convencionaisé aceitável apenas para evitar sofrimento do animal.

Os princípios acima requerem mudanças substanciais no manejointensivo dos sistemas convencionais. As preocupações tem sido constantessobre o impacto potencial das mudanças sobre a saúde e o bem estar.Entretanto, tem sido também observado que os sistemas orgânicos deprodução oferecem oportunidades para se introduzir práticas melhoradas demanejo já reconhecidas há longo tempo por benefíciarem a saúde e o bemestar animal.

No Brasil ainda não existe carne genuinamente orgânica sendocomercializada. As iniciativas existentes estão ainda em processo deconversão.

Manejo e produtos permitidos na produção orgânica de suínos(Council Regulation -EEC N°. 2092/91)

Específicamente, a norma internacional para produção orgânica e afins(biológica, biodinâmica, natural, regenerativa, sustentável) coloca as seguintesrecomendações para as várias espécies animais.

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Origem dos animais

Na escolha das raças ou linhagens deve se levar em consideração acapacidade dos animais em se adaptarem às condições locais; suasvitalidades, suas respectivas resistências à doenças. As raças ou linhagensdevem ser selecionadas para evitar doenças específicas ou problemas desaúde associados com algumas raças ou linhagens utilizadas no sistemaintensivo de produção (como por exemplo síndrome do estresse, síndromePSE, morte súbita, aborto espontâneo, dificuldade de partos).

Para se comercializar qualquer animal doméstico ou seus produtos sobo selo orgânico, os mesmos devem ser produzidos em unidades orgânicas. Nocaso de suínos os leitões devem ser criados de acordo com as regras daprodução orgânica tão logo sejam desmamados e em qualquer caso devempesar menos de 25 kg.

Alimentação

A alimentação deve ser fornecida com a intenção de garantir produçãode qualidade ao invés de maximizar produção, enquanto atendendo osrequerimentos nutricionais dos animais em suas várias fases dedesenvolvimento. Alimentação forçada é proibida. Todos os animais naunidade de produção devem ser alimentados com alimentos produzidosorganicamente, de preferência na própria unidade de produção. Quandohouver necessidade de aquisição de alimentos, os mesmos devem vir deunidades de produção orgânica. Até 30% dos ingredientes da fórmula da ração,em média, poderão ser de alimentos em conversão. Quando os alimentos emconversão vêm da própria unidade de produção a porcentagem pode seraumentada para até 60%.

A alimentação dos mamíferos jóvens deve ser baseada em leite natural,preferencialmente leite materno. Todos os mamíferos devem ser alimentadoscom leite natural por um período mínimo, que deve ser de 40 dias para suínos.

Será permitido até 24 de agosto de 2005 o uso de uma proporçãolimitada de forragem convencional onde o produtor for incapaz de obteralimentos exclusivamente de origem orgânica. A porcentagem máxima deforragem convencional autorizada por ano é 10% no caso dos herbívoros e de20% no caso das outras espécies. Os números devem ser calculadosanualmente como porcentagem da matéria seca dos alimentos de origemagrícola. A porcentagem máxima de alimentos convencionais na ração diária éde 25% (exceto em animais sendo transportados) calculada com base namatéria seca.

Apenas em casos excepcionais, quando a produção de forragem forperdida por condições climáticas a autoridade competente pode autorizar, por

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um período limitado de tempo, e para uma área específica uma maiorporcentagem de alimentos convencionais.

Para a engorda de aves a fórmula da ração deve conter pelo menos65% de cereais. Alimentos naturais como forragem podem ser oferecidosdiariamente como complemento da ração. Para satisfazer os requerimentosnutricionais dos animais apenas os produtos autorizados podem ser utilizados(alimentos de origem mineral, elementos traços, vitaminas, próvitaminas esubstâncias quimicamente bem definidas tendo efeito semelhante).

Apenas as enzimas, os microorganismos e aditivos autorizados podemser utilizados.

Os alimentos de origem vegetal

1. Cereais, grãos, seus produtos e subprodutos. As seguintes substâncias sãoincluídas nesta categoria: Aveia como grão, flocos, finos, casca e farelo;cevada como grão, proteína e finos; arroz como grão, arroz quebrado, fareloe germe; milheto como grão; centeio como grão, finos e farelo; sorgo comogrão, trigo como grão, finos e farelo, alimento a base de glúten, glúten egerme; invasoras como grão; triticale como grão, milho como grão, farelo,finos, farelo, limpeza do germe e glúten; malte, colmos, grãos de cervejaria.

2. Sementes oleaginosas, frutas oleaginosas, seus produtos e subprodutos.As seguintes substâncias são incluídas nesta categoria: Canola, limpeza ecasca; soja como vagem, tostada, limpeza e cascas; girassol como sementee limpeza, algodão como semente e limpeza da semente, linhaça comosemente e limpeza da semente, sésamo como semente e limpeza dasemente, limpeza dos grãos de palma, semente de nabo forrageiro comolimpeza e caroços, limpeza de semente de abóbora, polpa de oliva daextração física da oliva.

3. Sementes de leguminosas, seus produtos e subprodutos. As seguintessubstâncias são incluídas nesta categoria: Ervilha de pinto como semente,ervilha como semente, ervilha de pinto como semente submetida aoapropriado tratamento térmico, ervilhas como semente, finos e farelos,vagens grandes como semente, finos e farelo, fava de cavalo comosemente, vica como semente e tremoço como semente.

4. Raízes e tubérculos, seus produtos e subprodutos. As seguintessubstâncias são incluídas nesta categoria: Polpa de beterraba açucareirabeterraba seca, batata, batata doce como tubérculo, mandioca como raiz,polpa de batata (subproduto da extração de amido de batata), amido debatata e tapioca.

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5. Outras sementes e frutas, seus produtos e subprodutos. As seguintessubstâncias são incluídas nesta categoria: Polpa de citrus, massa de maçã,polpa de tomate e polpa de uva.

6. Forragens e volumosos. As seguintes substâncias são incluídas nestacategoria: Leucena, farinha de leucena, trevo, farinha de trevo, gramíneas,farinha de gramíneas, fenos, silagem , palha de cereais e raízes vegetais depastoreio.

7. Outras plantas seus produtos e subprodutos. As seguintes substâncias sãoincluídas nesta categoria: Melaço como agente aglutinante na formulaçãode rações, farinha de vegetais marinhos (obtido pela secagem eesmagamento das ervas marinhas e lavados para reduzir o conteúdo deiodo), pó e extrato de plantas, estrato proteico de plantas (fornecido apenaspara animais jovens), temperos e ervas.

Alimentos de origem animal

1. Leite e produtos do leite. As seguintes substâncias se enquadram nessacategoria: Leite in natura, leite em pó, leite desnatado, leite em pódesnatado, creme de leite, creme de leite em pó, soro, soro em pó, soro empó com pouco açúcar, proteina do soro em pó (extraída pelo tratamentofísico), caseina em pó e lactose em pó.

2. Peixe, outros animais marinhos, seus produtos e subprodutos. As seguintessubstâncias são incluídas nessa categoria: Peixe, óleo de peixe e óleo defígado de bacalhau não refinado; autolisados, hidrolisados e proteolisadosde moluscos ou crustáceos, obtidos por ação enzimática, tanto na formasolúvel como não, fornecido apenas para animais jovens.

Alimentos de origem mineral

As seguintes substâncias são incluídas nesta categoria:

• Sódio: sal marinho não refinado, sal grosso em pedra, sulfato de sódio,carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, cloreto de sódio.

• Cálcio: conchas de animais aquáticos (incluindo ossos de peixes),carbonato de cálcio, lactato de cálcio, gluconato de cálcio.

• Fósforo: fosfato bicálcico precipitado de ossos, fosfato bicálcicodefluorinado, fosfato monocálcio defluorinado.

• Magnésio: magnésia anidra, sulfato de magnésio, cloreto de magnésio,carbonato de magnésio.

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• Enxôfre: sulfato de sódio.

Aditivos para alimentos, certas substâncias utilizadas na nutriçãoanimal e procedimentos de processamento utilizados no fabrico derações

Aditivos de ração

1. Elementos traços. As seguintes substâncias são incluídas nesta categoria:

• Ferro: carbonato ferroso, sulfato ferroso monohidratado, óxido de ferro.

• Iodo: iodato de cálcio anidro, iodato de cálcio hexahidratado, iodeto depotássio.

• Cobalto: sulfato de cobalto monohidratado e(ou) heptahidratado,carbonato básico de cobalto monohidratado.

• Cobre: óxido de cobre, carbonato básico de cobre monohidratado, sulfatode cobre pentahidratado.

• Manganês: carbonato de manganês, óxido de manganês e óxidomangânico, sulfato de manganês mono- e(ou) tetrahidratado.

• Zinco: carbonato de zinco, óxido de zinco, sulfato de zinco mono- e(ou)heptahidratado.

• Molibdênio: molibdato de amônio, molibdato natrium.

• Selênio: selenato de sódio, selenito de sódio.

2. Vitaminas, pró-vitaminas e substâncias quimicamente bem definidasapresentando efeito semelhante. As seguintes substâncias são incluídasnesta categoria:

• Vitaminas autorizadas: preferencialmente derivadas de materiais innatura, ocorrendo naturalmente nos ingredientes.

• Vitaminas sintéticas: idênticas às vitaminas naturais apenas para animaismonogástricos.

3. Enzimas. As seguintes substâncias são incluídas nesta categoria:

• Enzimas autorizadas.

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4. Micro-organismos. Os seguintes micro-organismos são incluídos nestacategoria:

• Microorganismos autorizados.

5. Conservantes. As seguintes substâncias são incluídas nessa categoria:

• Ácido fórmico apenas para silagem.

• Ácido acético apenas para silagem.

• Ácido lático apenas para silagem.

• Ácido propionico apenas para silagem.

6. Aglutinantes, agentes anti compactação e coagulantes. As seguintessubstâncias são incluídas nessa categoria:

• Sílica coloidal.

• Kieselgur.

• Sepiolato.

• Bentonita.

• Argila kaolinita.

• Vermiculita.

• Perlita.

Produtos autorizados para limpeza e desinfeção das instalações eedificações (exemplo utensílios e equipamentos)

• Sabão de sódio e de potássio.

• Água e vapor.

• Calcário.

• Cal.

• Hipoclorito de sódio.

• Soda caustica.

• Potassa caustica.

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• Peróxido de hidrogênio.

• Essências naturais de plantas.

• Ácidos cítrico, peracético.

• Fórmico.

• Lático.

• Oxálico e acético.

• Álcool.

• Ácido nítrico (para equipamentos de laticínios).

• Ácido fosfórico (para equipamento de laticínios).

• Formaldeido.

• Carbonato de sódio.

• Produtos para limpeza e desinfecção para tetas e facilidades leiteiras.

Instalações e pastagens

As condições de alojamento dos animais domésticos devem atender asnecessidades biológicas e etológicas, proporcionando acesso livre e fácil aosalimentos e à água. O isolamento, aquecimento e a ventilação das instalaçõesdevem garantir que a circulação de ar, o nível de poeira, a temperatura, aumidade relativa do ar e a concentração de gases sejam mantidas em níveisnão prejudiciais aos animais. As edificações devem permitir ventilação naturaltotal e entrada de luz.

As áreas de exercício a céu aberto, solário e pastoreio devem, senecessário, proporcionar proteção suficiente contra chuva, vento, sol etemperaturas extremas, dependendo do local das condições do tempo e dasraças criadas.

Alojamento não será necessário para animais criados em áreas comcondições climáticas apropriadas para permitir que os animais permaneçam acéu aberto.

As áreas de pastoreio devem ser utilizadas com carga animal baixa osuficiente para evitar compactação do solo, sobra de forragem e superpastoreioda vegetação (Tabela 1).

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Tabela 1. Número máximo de animais por hectare (Classes ou espécies).

Espécie ou classe animal Número máximo de animais/hectare(Classes ou espécies) Equivalente à

170 kg de N/ ha

Equinos com mais de 6 meses de idade 2,0

Bezerros para engorda 5,0

Outros bovinos com menos de um ano de idade 5,0

Bovinos machos entre 1 e 2 anos de idade 3,3

Bovinos fêmeas entre 1 e 2 anos de idade 3,3

Bovinos machos com mais de 2 anos de idade 2,0

Novilhas de reposição 2,5

Novilhas para engorda 2,5

Vacas de leite, em lactação 2,0

Vacas de leite para descarte 2,0

Outras classes de vacas 2,5

Ovelhas 13,3

Cabras 13,3

Leitões 74

Porcas de reprodução 6,5

Suínos para engorda 14

Outras classes de suínos 14

Frangos de corte 580

Galinhas de postura 230

Coelhos, fêmeas de reprodução 100

Fonte: COUNCIL REGULATION (EEC) No. 2092/91.

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A fase final da engorda de suínos para produção de carne pode serestabulada, desde que os períodos de estabulação não excedam um quinto deseus respectivos períodos de vida e por período nunca maior do que trêsmeses, nas lotações recomendadas na Tabela 2.

As instalações para os animais devem ter piso suave, mas nãoescorregadios. Pelo menos metade da área total do piso deve ter piso sólido,isto é, sem piso ripado ou ventilado.

O estábulo deve conter uma área confortável, limpa e seca de tamanhosuficiente para deitar/descansar sem piso ripado. A área de descanso deve serabastecida com fartura de palha seca para formação da cama. Cama esta quepode ser enriquecida com produtos minerais autorizados para uso comofertilizante nas fazendas orgânicas.

As porcas devem ser mantidas em grupos, exceto nos últimos dias degestação e durante o período de amamentação. Os leitões não devem sermantidos em “decks” planos ou em jaulas. Áreas de exercício devem estardisponíveis para formação de piscinas de lama e para o fuçado. Para propósitode fuçados, podem ser utilizados diferentes substratos.

Os piquetes devem ser cobertos com vegetação e dispor de proteção enúmero adequado de comedouros e de bebedouros.

Por razões de biosseguridade as edificações devem sofrer vazios entrecada lote, período no qual deve ser praticada a limpeza e desinfeção. Ospiquetes devem ser mantidos vazios até que a vegetação se recupere.

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Tabela 2. Área mínima de galpão e de piquete para alojamento das diferentes espécies e tiposde produção.

Coberta Ao ar livre, (área deexercício, excluindo

pastagem)Espécie ouclasse animal

Mínimo por pesovivo (kg)

M2/cabeça M2/cabeça

Bovinos e equinopara reproduçãoou engorda

Até 100

Até 200

Até 350

> 350

1,5

2,5

4,0

5,0 (mínimo 1m2/ 100kg)

1,1

1,9

3,0

3,7 (mínimo 0,75 m2/100kg)

Vacas leiteiras 6,0 4,5

Touros parareprodução

10,0 30,0

Ovinos e caprinos 1,5 ovino/caprino

0,35 cordeiro/cabrito

2,5

2,5 (0,5/cordeiro ou cabrito)

Porcas de criacom leitões até 40dias

7,5 porca 2,5

Suínos de engorda Até 50

Até 85

Até 110

0,8

1,1

1,3

0,6

0,8

1,0

Leitões Acima de 40 diasde idade e até 30

kg

0,6 0,4

Leitões de creche 2,5 fêmeas

6,0 machos

1,9

8,0

Fonte: COUNCIL REGULATION (EEC) No. 2092/91.

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Prevenção de doenças e tratamento veterinário

• Escolher linhagens compatíveis e resistentes.

• Aplicar o manejo correto da espécie para fortalecer a higidez e prevenirdoenças.

• Utilizar alimentos de alta qualidade juntamente com exercícios regularese acesso à pastagens com a intenção de encorajar as defesasimunológicas naturais.

• Garantir a densidade apropriada evitando superlotação.

Os princípios mencionados acima devem limitar os problemas de saúdedos animais de maneira que se possa controlá-los com prevenção.

Se mesmo após todas as medidas preventivas o animal ainda adoecerdeverá ser tratado imediatamente, em isolamento, se necessário, e eminstalações apropriadas.

O uso de produtos médico-veterinários na produção orgânica deve estarde acordo com os seguintes princípios:

Fitoterápicos como extratos de plantas (excluindo-se antibióticos)essências; produtos homeopáticos de origem vegetal, animal ou mineral eelementos traços devem ser utilizados em preferência aos produtos médicoveterinários alopáticos sintetizados quimicamente ou antibióticos, desde queseus efeitos terapeuticos sejam efetivos para a espécie animal e para ascondições para as quais o tratamento é pretendido.

Se o uso dos produtos mencionados não for efetivo no combate àsinjúrias ou doenças e tratamento seja necessário para evitar sofrimento ouestresse, então os produtos médico veterinários alopáticos sintetizadosquimicamente ou antibióticos poderão ser utilizados sob a responsabilidade domédico veterinário;

O uso de produtos médico veterinários alopáticos sintetizadosquimicamente ou antibióticos para tratamento preventivo é proibido.

O uso de substâncias para promover crescimento ou produção e o usode hormônios ou substâncias semelhantes para controlar reprodução ou outrospropósitos é proibido.

Tratamento veterinário aos animais ou às instalações, equipamentos ouutensílios devem ser autorizados quando se tratar de legislação compulsória oucomunitária, incluindo o uso de produtos médicos veterinários imunológicosquando uma doença for reconhecida como presente numa área específicaonde esteja localizada uma unidade de produção.

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Sempre que um produto veterinário necessitar ser utilizado, a data e otipo de produto devem ser anotados juntamente com o diagnóstico, posologia,forma administrada, duração do tratamento, e período legal de retirada.

O período de retirada entre a última administração ao animal de umproduto médico veterinário alopático, sob condições normais de uso e paraprodução orgânica de produtos desse animal, deve ser duas vezes o períodolegal de retirada e quando o período não for especificado deve ser de 48 horas.

Exceto vacinação, tratamentos parasitários e esquemas estabelecidospara erradicação compulsória, sempre que um animal ou grupos de animaisrecebe mais de dois ou um máximo de três cursos de tratamento commedicamentos veterinários alopáticos sintetizados quimicamente ouantibióticos, dentro de um ano, os animais em questão ou os produtosproduzidos por ele não poderão ser produzidos como orgânicos e os animaisdeverão ser submetidos ao período de conversão sob julgamento daautoridade de inspeção.

Certificação

É necessário um mecanismo para garantir que os produtos de fatotenham a qualidade que dizem ter. Na Califórnia, por exemplo, existemagricultores que criaram seu próprio selo orgânico. São agricultoresconscientes que produzem organicamente, mas que as vezes têm que utilizarroundup na forma de tratamento localizado. Também existem outrosagricultores que estão criando seu próprio mercado de confiança, sem selo,mas é necessário que exista algum mecanismo, tipo legislação, que garantaque o produto é orgânico, para, em caso de problemas, levar as pessoasinescrupulosas à justiça.

O rastreamento das informações utilizadas na produção de cada produtoacabado deverá ser efetuado a partir da contabilidade da propriedade emconjunto com o diário de produção. Se o produtor possuir um diário onde foremanotadas todas as tarefa diárias executadas na propriedade (pode ser umaplanilha) e o nome dos executores e dispor de um arquivo de notas fiscais eprescrições técnicas fornecidas pelos profissionais que lhes prestam assitência,será possível, ao inspetor da certificadora, atestar o status do produtoproduzido naquela propriedade. Qualquer projeto de certificação de produtosnecessita dos três tipos de documentos (diário da propriedade, notas fiscais eprescrições médico-veterinárias, agronônicas e zootécnicas).

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Resultados de pesquisa

Embora ainda se tenha poucas informações científicas comprovando opotencial de uso dos sistemas orgânicos na produção comercial de suínos, foiconduzido um experimento para avaliar tipos de dietas nas fases de gestação elactação (Bertol et al 2004). Os tipos avaliados na gestação foram: 1) Dietaconvencional baseada em milho e farelo de soja; 2) Dieta a base de silagem degrão de milho, triticale, grão de soja tostada e caldo de cana e; 3) Dieta a basede silagem de grão de milho, triticale, grão de soja tostada e raíz de mandiocaintegral. Os tipos avaliados na lactação foram: 1) Dieta convencional baseadaem milho e farelo de soja; 2) Dieta a base de silagem de grão de milho, grão desoja tostada e cereais de inverno (trigo e cevada); 3) Dieta a base de silagemde grão de milho, grão de soja tostada e raspa de raíz mandioca seca. Asdietas foram formuladas utilizando como referencial as recomendações doNRC (1998). Nos tipos 2 e 3 os ingredientes úmidos foram misturadosdiariamente à uma pré-mistura dos ingredientes secos. Na gestação aalimentação foi fornecida de forma controlada e dividida em duas porçõesiguais (às 09:00 e às 15:00 horas), proporcionando a mesma quantidade diáriade matéria seca e de nutrientes em todos os tratamentos. Durante a lactação aalimentação das matrizes foi à vontade.

Foram utilizadas 37 porcas, distribuídas em quatro blocos no tempo com12, 13 e 12 porcas, respectivamente, nos sistemas 1, 2 e 3. As porcas, até os110 dias de gestação, foram alojadas individualmente com amplo espaço paralivre movimentação. Após os 110 dias as porcas foram transferidas para amaternidade, onde permaneceram em celas parideiras individuais até odesmame. Os leitões provenientes das porcas que receberam a dietaconvencional (sistema 1) receberam ração pré-inicial convencional, enquantoque os leitões oriundos das porcas que sob dietas alternativas (sistemas 2 e 3)receberam rações a base de farelo de soja, trigo, soja em grão tostada, silagemde grão de milho e leite fervido (2) ou ovos cozidos (3). Os ingredientes úmidos(leite, ovos e silagem) foram misturados diariamente a um concentradocontendo os ingredientes secos. A ração pré-inicial foi fornecida à vontade apartir do 10º dia de idade até o desmame, o qual ocorreu entre 38 e 43 dias deidade.

Os dados de desempenho estão apresentados na Tabela 3. O ganho depeso na gestação foi menor (P<0,02) nas porcas que receberam a dieta commandioca integral, comparado com a dieta convencional, e intermediário nasporcas que receberam a dieta contendo caldo de cana. Estas diferençasprovavelmente estão relacionadas com o consumo de matéria seca, o qual foimais elevado (P<0,01) nas porcas que receberam a dieta convencional, sendoque o menor consumo (P<0,01) foi observado nas porcas que receberam adieta com mandioca. Embora a quantidade de ração fornecida na gestaçãotenha sido calculada para proporcionar o mesmo consumo de matéria seca emtodos os tratamentos, as dietas contendo caldo de cana e raíz de mandiocaapresentaram teor de matéria seca abaixo do esperado, o que reduziu oconsumo de matéria seca nestes dois tratamentos. Nenhuma das outrasvariáveis foi significativamente afetada pelas dietas.

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Apesar do longo período de lactação, a perda de peso das porcasdurante esta fase não foi elevada, o que se deveu, provavelmente, ao fato deque a maioria das porcas estavam entre as ordens de parto 4 e 8.

Tabela 3. Efeito do tipo de dieta sobre os parâmetros de desempenho e avaliação econômicadas fêmeas na gestação e lactação considerando os custos totais das dietas e daalimentação mediante preço de mercado para aquisição ou custo de produção dosingredientes.

Análise de Desempenho

Variáveis avaliadas Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Prob.

Peso na cobrição, kg 221,02 234,83 224,87 NS

Ganho de peso na gestação, kg 46,22a 36,27ab 29,38b 0,02

Variação de peso na lactação, kg -8,07 -10,65 -7,53 NS

Intervalo desmama-cio, d 4,62 4,54 4,50 NS

CDMS na gestação, kg 1,930a 1,790b 1,719c 0,01

CDMS na lactação, kg 5,976 6,283 6,350 NS

N° de leitões nascidos vivos 10,3 10,5 10,5 NS

N° de leitões desmamados 9,58 9,29 9,50 NS

Peso médio leitões ao nascer, kg 1,786 1,730 1,822 NS

Peso médio leitões ao desmame, kg 12,240 12,599 13,155 NS

Ganho peso médio leitões, kg 10,454 10,868 11,333 NS

Ganho peso médio diário leitões, kg 0,254 0,268 0,280 NS

Consumo total MS/leitão, kg 0,601 0,733 0,909 NS

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Continuação....

Análise Econômica

Parâmetro avaliado Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3

Custo das dietas aquisição, R$/kg

Gestação/Gestação MS 0,362 (0,428) 0,338 (0,660) 0,300 (0,610)

Lactação/Lactação MS 0,420 (0,480) 0,514 (0,623) 0,553 (0,663)

Custo total da alimentação aquisição, R$

Gestação 94,84 132,83 117,00

Lactação 117,18 158,31 171,43

Total 212,02 291,15 288,43

Diferença + 37,3 + 36,0

Custo das dietas produção, R$/kg

Gestação/Gestação MS 0,308 (0,364) 0,251 (0,490) 0,230 (0,468)

Lactação/Lactação MS 0,370 (0,423) 0,426 (0,516) 0,429 (0,515)

Custo total da alimentação produção, R$

Gestação 80,70 98,64 89,70

Lactação 96,94 167,42 167,31

Total 177,64 266,06 257,01

Diferença + 49,8 + 44,7

Fonte: (Bertol et al 2004).

MS= matéria seca, CDMS= consumo diário de matéria seca.a, bMédias na mesma linha seguidas por diferentes subscrito diferem estatísticamente (P<0,05).

Durante o aleitamento os leitões apresentaram baixo consumo total deração pré-inicial, ao mesmo tempo em que apresentaram adequado ganho depeso. Estes resultados sugerem que a produção de leite das porcas foisuficiente para garantir crescimento adequado dos leitões e/ou que os mesmosconsumiram ração de lactação. Em ambos os casos a importância da dieta pré-inicial para o ganho de peso dos leitões nesta fase fica reduzida.

Desse trabalho, que ainda não contempla os princípios agroecológicosnem o sistema orgânico, nos fica a informação de que alimentando-se porcasem gestação e lactação com dietas formuladas com ingredientes obtidos napropriedade obtém-se desempenho semelhante a uma dieta convencional

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baseada em milho e farelo de soja. Estes resultados sugerem a possibilidadede produção de suínos em sistemas orgânicos mantendo-se índices deprodutividade comparáveis aos sistemas convencionais.

Em um trabalho posterior também conduzido na Embrapa Suínos e Aves(Ludke et al. 2004) para avaliação de dietas para as fases de aleitamento ecreche de suínos, visando a geração de informações para sistemas orgânicosde produção, foram utilizadas as leitegadas provenientes de 12 porcas, asquais foram criadas em sistema convencional confinado. Durante a gestação elactação as porcas receberam dietas convencionais baseadas em milho efarelo de soja. Após o parto as porcas foram divididas em três grupos de quatroanimais cada e os leitões foram submetidos a uma de três diferentes dietas(Tabela 4): T1 – Dieta contendo silagem de grão de milho e ovos; T2 – Dietacontendo silagem de grão de milho e leite desnatado; T3 - Dieta pré-inicialcomplexa convencional. As dietas foram formuladas para atender ou excederas exigências do NRC (1998) para as fases em estudo (Tabela 4). Para amanufatura das dietas, os ingredientes secos eram misturados previamente,formando um concentrado, e a mistura deste com os ingredientes úmidos (ovo,leite e silagem de milho) era feita diariamente. Os ovos eram cozidos e o leiteera fervido antes do fornecimento aos leitões. O início do arraçoamento se deuentre os 13 e 15 dias de idade dos leitões, e o desmame entre os 39 e 41 diasde idade. Diariamente as sobras eram retiradas e pesadas para avaliação doconsumo. Os leitões foram pesados ao nascer, no início do arraçoamento, nodesmame e no final da fase de creche. Para a fase de creche foramselecionados 24 leitões (12 machos e 12 fêmeas) de cada tratamento, os quaisforam alojados em três do mesmo sexo por baia, durante 23 dias. O resultadodesse trabalho está mostrado nas Tabelas 5 e 6.

Tabela 4. Composição centesimal das dietas experimentais fornecidas nas fases dematernidade e creche.

Ingredientes Aleitamento (Até 41 dias) Creche (42 – 63 dias)

T1 T2 T31 T1 T2 T31

Milho --- --- 8,114 --- --- 47,152

Farelo soja (48,5%) 10,000 9,100 8,418 7,000 4,000 28,240

Trigo 17,000 13,000 --- 17,170 11,480 ---

Soja grão tostada 25,100 25,300 --- 24,000 30,000 ---

Milho pré-gelatinizado --- --- 20,000 --- --- ---

Proteína texturizada soja --- --- 25,066 --- --- 3,000

Soro leite em pó --- --- 5,000 --- --- 3,000

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Continuação...

Ingredientes Aleitamento (Até 41 dias) Creche (42 – 63 dias)

Lactose --- --- 10,714 --- --- ---

Farinha trigo --- --- 10,000 --- --- 10,000

Òleo soja degomado --- --- 4,000 --- --- 4,368

Acúcar --- --- 3,000 --- --- ---

Premix vitamínico 0,070 0,050 0,200 0,070 0,070 0,150

Premix mineral 0,060 0,060 0,150 0,060 0,060 0,100

Calcáreo 1,120 1,020 0,766 1,070 1,000 0,788

Fosfato bicálcico 1,300 1,120 1,826 1,300 1,090 1,864

Sal 0,330 0,350 0,348 0,330 0,300 0,354

Sub-total (concentrado) 54,980 50,000 --- 51,000 48,000 ---

Silagem de grão de milho 32,520 30,000 --- 39,000 42,000 ---

Ovo 12,500 --- --- 10,000 --- ---

Leite --- 20,000 --- --- 10,000 ---

Outros ingredientes1 --- --- 2,398 --- --- 0,984

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Composição (analisada, na matéria natural)

Matéria seca, % 72,83 64,65 89,41 71,24 70,35 86,97

Proteína bruta, % 19,59 17,29 21,07 17,25 19,62 20,74

EM, kcal/kg2 2916 2920 3450 2840 2849 3400

Ca, % 0,66 0,54 0,68 0,58 0,24 0,66

P, % 0,54 0,49 0,69 0,56 0,37 0,68

Lisina, %2 1,18 1,05 1,33 1,05 1,00 1,12

Fonte: (Ludke et al. 2004)1 Na dieta de aleitamento (em %): aroma de leite: 0,050; ácido fumárico: 1,000; antioxidante BHT: 0,015; Cloreto decolina: 0,132; DL-metionina: 0,222; L-lisina: 0,100; L-treonina: 0,168; L-triptofano: 0,008; Desmame plus: 0,500; sulfatode cobre: 0,051; Amoxicilina: 0,015; TM-100: 0,136.

Na dieta de creche (em %): aroma de leite: 0,025; ácido fumárico: 0,500; antioxidante BHT: 0,015; Cloreto de colina:0,064; DL-metionina: 0,041; L-lisina: 0,056; L-treonina: 0,020; Espiramix: 0,020; Olaquindox: 0,005; sulfato de cobre:0,049; Sulfato de colistina: 0,075; Tylan 40: 0,114.2 Calculada.

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Tabela 5. Efeito da dieta sobre o desempenho dos leitões nas fases de aleitamento e creche.

Variável Tratamento Valor P CV, %

T1 T2 T3

Aleitamento

Peso médio nascer, kg 1,67 1,80 1,84 0,69 15,78

Peso médio desmame, kg 11,98 12,05 11,97 1,00 14,83

Ganho de peso diário, g 254 258 256 0,99 16,31

Consumo diário (matéria seca), g 53 45 29 0,19 41,00

Creche

Peso médio inicial, kg 12,25 12,32 11,99 0,72 7,07

Peso médio final, kg 22,75b 22,65b 25,07a 0,04 8,25

Ganho de peso diário, g 464b 449b 569a 0,02 15,87

Consumo diário (matéria seca), g 623b 616b 780a 0,004 14,13

Conversão alimentar 1,39 1,38 1,37 0,91 6,57

a, b Médias com letras diferentes na mesma linha diferem significativamente (P<0,05)

Fonte: (Ludke et al. 2004)

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Tabela 6. Efeito da dieta no custo da alimentação nos períodos de aleitamento e creche.

Tratamento

T1 T2 T3

Aleitamento

Consumo total/leitão (na matéria natural), kg 1,919 1,786 0,810

Custo/kg dieta , R$ 0,872 0,588 1,951

Custo total da dieta/leitão, R$ 1,673 1,050 1,580

Creche

Consumo total/leitão (na matéria natural), kg 20,535 20,146 20,631

Custo/kg dieta, R$ 0,785 0,570 0,888

Custo total da dieta/leitão, R$ 16,120 11,483 18,320

Aleitamento-Creche

Custo total da alimentação/leitão, R$ 17,793 12,533 19,900

Custo alimentação/kg peso ganho, R$ 0,844 0,601 0,857

Fonte: (Ludke et al. 2004)

Não houve efeito (P>0,05) das dietas experimentais sobre odesempenho dos leitões durante o período de aleitamento (Tabela 5).Entretanto, na fase de creche, os leitões que receberam as dietas contendosilagem de milho mais ovos (T1) ou leite (T2), tiveram menor ganho de peso,menor consumo de matéria seca e menor peso médio final do que os leitõesque receberam a dieta convencional (Tabela 5). Considerando-se que nãohouve efeito das dietas sobre a conversão alimentar, a diferença observada noganho de peso dos leitões foi inteiramente devida a diferença no consumodiário de matéria seca, o qual foi reduzido nos leitões que receberam as dietascontendo silagem de milho mais ovo ou leite. É provável que esta redução deconsumo tenha ocorrido em função do menor teor de matéria seca das dietascontendo ingredientes úmidos, o que torna a dieta mais volumosa. Apesar daalta qualidade da dieta convencional (T3), a alta digestibilidade de alguns dosingredientes utilizados nas dietas experimentais, como o leite (Bertol et al.,1999), a silagem de milho e o ovo garantiram uma eficiência alimentarsemelhante entre todas as dietas. Foi observado que a silagem de milhomelhorou o desempenho em leitões na fase inicial quando comparada com omilho seco (Lopes et al., 2001), o que pode ser atribuído a sua altadigestibilidade e baixo pH.

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Ainda que os indicadores zootécnicos apontem para uma menoreficiência técnica das dietas não convencionais, devido ao reduzido consumo,a avaliação econômica mostra que a dieta T2 otimiza o ganho econômico doprodutor, pois apresenta o menor custo de alimentação para produzir 1 kg deleitão (Tabela 6).

Reconhecendo ainda a enorme distância que separa este trabalho deum trabalho agroecológico, o mesmo mostrou que é possível produzir leitõescom dietas baseadas primariamente em ingredientes obtidos nas pequenaspropriedades rurais, livres de aditivos quimioterápicos promotores decrescimento, a um custo compatível com o obtido com dietas convencionais.Este fato decorre do baixo custo destas dietas, ainda que associado a pequenaqueda no desempenho.

Considerações finais

Os produtores de suínos no Brasil, na sua maioria, utilizam o sistemaconfinado dividido em três fases, reprodução, recria e engorda, podendoocorrer todas as fases na mesma granja, como cada fase em uma granjaseparada, isto é, uma granja somente com produção de leitão (UPL), outrasomente com recria (Creche) e outra somente com engorda (Terminadores).No passado o sistema mais comum era o de ciclo completo com produção dealimentos na própria unidade de produção. Nos sistemas especializados muitosprodutores adquirem todos os ingredientes para o fabrico da ração, tornando aatividade uma monocultura sem possibilidade de reciclar os nutrientes. Aespecialização permitiu aumentos exagerados de escala de produção dentrodo mesmo sítio, causando desequilíbrio ambiental pelo excesso de dejetos epela excessiva demanda de água. É muito frequente o alojamento das porcasgestantes em gaiolas, o que tem também recebido críticas severas dos gruposligados ao bem estar animal. Os leitões são cada vez desmamados com menoridade tornando-se dependente de alimentação especializada e com uso demedicação preventiva constante.

Poucos produtores ainda conservam a maneira integrada de produçãode suínos com cereais, tubérculos, fruticultura, horticultura dentro da unidadede produção.

A Embrapa Suínos e Aves, o IAPAR, a EPAGRI e a EMATER-RS têmefetuado esforços no sentido de resgatar algumas práticas mais tradicionais daprodução como o semiconfinamento.

A produção orgânica de suínos com princípios agroecológicos a serpraticada no Brasil pode ser baseada na produção semiconfinada dos animais,incluindo parte em sistemas intensivos ao ar livre- SISCAL (gestação ematernidade) com o uso de creche e terminação confinada sobre cama, outodas as fases ao ar livre, ou todas as fases confinadas sobre cama. Aalimentação deverá vir toda ela da propriedade, sendo variada na sua

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constituição, com inclusão de todos os alimentos e subprodutos da produção eprocessamento na propriedade. É importante integrar todas as atividades paraque na rotação de culturas sejam produzidos aqueles ingredientes maislimitantes no balanceamento das dietas.

Como os suínos apresentam hábitos e comportamento natural eprevisível, as práticas de manejo devem ser para melhorar a qualidade daprodução, da carne e dos índices produtivos sem contudo artificializar a criaçãoe sem torná-la dependente de insumos externos, nem tornando-a umamonocultura. As práticas devem assegurar o bem estar, sem contudo permitir apromiscuidade, proliferação de doenças e sofrimento desnecessário.

É importante comprender que produção agroecológica de suínossomente será possível em propriedades agroecológicas e com o uso desubprodutos da alimentação humana (modelo próximo do modelo Chinês paranão competir com a alimentação humana). Atualmente tanto o milho como sojaorgânicos alcançam altos preços nos mercados internacionais, tornando-osproibitivos para alimentação dos suínos e também das aves. É visível, portanto,a desvantagem dos monogástricos na ótica agroecológica, onde não existirialugar para grandes unidades produtoras e sim para unidades de produção deâmbito familiar, onde apenas poucas toneladas de ingredientes poderão serdestinados às rações dos monogástricos, notadamente aqueles subprodutosda classificação e limpeza do milho, soja, trigo, amendoim, colza, girassol,milho pipoca, feijão, frutas, hortaliças.

Neste ponto se faz necessário uma reflexão. Não interessa à grandeindústria um grande número de pequenos produtores e com pouca produçãode vários subprodutos. Fica difícil padronizar o sistema de produção e obterníveis uniformes de produtividade entre produtores.

A comercialização de animais e de carne fresca ou de embutidos temsido e pode continuar a ser favorável para os produtores familiares tradicionais,pois os mercados locais e regionais são fiéis como no caso da cultura italiana,alemã e mineira. Produtos como pernil, costeleta salame, linguíça, salsicha,copa, pertences de feijoada e torresmo, produzidos em pequenas fábricasdomésticas e semi-profissionais, desfrutam de mercado cativo, mas que aindapodem ser melhorados, aperfeiçoados e ampliados.

O passo inicial para conversão da propriedade consiste em mapear aárea e o seu entorno, definindo as nascentes e mananciais, florestas nativas eimplantadas e áreas propícias para a agricultura, pastagem nativa, instalaçõesrurais e outros usos de acordo com a legislação.

Da área destinada a agricultura fazer um cronograma de rotação deculturas para a produção de grãos, tubérculos e colmos nas quantidadessuficientes para tornar econômica a cultura e o sistema.

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Pelo fato dos ingredientes certificados agroecológicos alcançarem valorde mercado elevado, esses ingredientes não se viabilizam para o uso emrações animais, sendo estas compostas por subprodutos dessas culturas.

Por outro lado, o limite na aplicação de dejetos ao solo de 170 kg deN/ha/ano limita o tamanho da suinocultura a cerca de 14 terminados/ha/ano.

A quantidade de suínos produzidas em propriedades agroecológicas,portanto, tende ser pequena e nessas condições os animais assim produzidossão melhor remunerados se forem transformados em produtos artesanais dealto valor agregado, ao contrário de serem comercializados vivos.

As raças e cruzamentos destinadas a criação agroecológica, para seremresistentes à doenças necessitam ser rústicas e, portanto, menos melhoradasgeneticamente.

Dentro dessa normalização, todos os ingredientes utilizados naprodução suína devem ser produzidos na propriedade rural.

Para se balancear uma dieta com ingredientes produzidos napropriedade rural essa propriedade deve ter uma agricultura diversificada.

Os ingredientes produzidos nessa diversificação devem servir paraalimentar o homem, restabelecer a fertilidade do solo, restabelecer a harmoniado meio ambiente e alimentar os animais.

Como após cumprido todos esses destinos sobra muito pouco para aalimentação dos animais, estes deverão ser alimentos com ingredientes quenão são diretamente utilizados pelo homem.

O conjunto de figuras/fotos a seguir ilustra a seqüência de fases para aprodução orgânica de suínos. Algumas de apresentações do Dr. Altieri ilustrama visão de um sistema orgânico. Outras ilustram a produção de suínos comouma das atividades integradas da propriedade.

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• Fase 1: Ciclo dos nutrientes no solo.

Ciclo do fósforo no solo

Fonte: Altieri (2001)

Fonte: Altieri (2001)

Pequeno benefício da

micorriza

Grande benefício da

micor riza

A. Planta com sistema radicular fino e pêlos longos

B. Planta com raízes grossas e sem pêlos

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Ciclo do nitrogênio

Fonte: Altieri (2001)

Fonte: Altieri (2001)

Fixação Biológicade N

Rizóbio ativo

Detalhe rizosfera

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Atividade biológica no solo

Fonte: Altieri (2001)

• Fase 2: Culturas.

Fonte: Altieri (2001)

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• Fase 3: Produção animal.

Maternidade

Creche

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Terminação

• Fase 4: Compostagem.

Fonte: Altieri

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• Fase 5: Culturas.

Fonte: Altieri (2001)

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MANEJO DE PASTAGENS NA PRODUÇÃOAGROECOLÓGICA

Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho

Núcleo de Pastoreio Racional Voisin / LETA - Laboratório de Etologia Aplicada,Dep. de Zootecnia e Des. Rural, CCA/UFSC

E-mail: [email protected] www.cca.ufsc.br/leta

Introdução

A produção agroecológica pressupõe a otimização dos recursosendógenos, uso intensivo da energia solar, e uma proposta de “conhecimento-intensivo” em contraposição a sistemas de capital-intensivo (MATHUR, 2007).Portanto, um adequado manejo de pastagens num sistema agroecológico develevar em conta o comportamento de pastoreio dos animais, a fisiologia daspastagens, a biologia do solo de pastos e como os humanos poderão manejaros recursos disponíveis num determinado ambiente.

O sol, através da fotossíntese, é a principal fonte de energia e o principalinsumo no manejo agroecológico das pastagens. O correto manejo daspastagens deve otimizar a ação da fotossíntese e fornecer aos animais a maiorquantidade de pasto possível e da melhor qualidade. Comparativamente àalimentação de bovinos à base de grãos, a eficiência energética (fóssil) daprodução de pasto é até 200 vezes maior. Enquanto para se produzir 1 cal deenergia de grão em lavouras intensivas necessita-se de até 5 cal de E, precisa-se de apenas 1 cal de E fóssil para se produzir 40 cal de energia no pasto(STEINHART & STEINHART, 1974).

Os bovinos, como herbívoros ruminantes, são animais pastadores.Dentre os diversos tipos de ruminantes, os bovinos (bem como os ovinos ebufalinos) são animais consumidores de uma dieta com alta fibra. Para tantopossuem um rúmen altamente desenvolvido, especializado na digestão dafibra, e um ritmo alimentar caracterizado por poucos e longos períodos depastoreio (HOFMANN, 1988). Esta adaptação anatômica, fisiológica ecomportamental, permite a esses ruminantes consumidores de fibra, através daassociação simbiótica com bactérias e protozoários que habitam o rúmen, umaproveitamento eficiente da celulose. Estes microorganismos são capazes dequebrar as ligações β-1,4-glucosídica, que une as moléculas de glicose naestrutura da celulose, principal carboidrato presente no tecido vegetal. Sendo acelulose o produto da fotossíntese, produto da energia solar, a maximização douso do pasto na alimentação desses animais é sugerida como forma deotimizar o processo produtivo. Se a pastagem é a base da alimentação dessesanimais, esta deve ser abundante e de qualidade. O adequado manejo daspastagens é o instrumento através do qual se obtém pasto abundante e dequalidade para os animais.

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O pastoreio faz parte da categoria do comportamento ingestivo, e temtrês fases. Na fase apetitiva, o animal tem grande motivação de pastar, équando busca o alimento. A fase consumatória é quando ocorre a ingestão dealimento, o pastoreio propriamente dito, e finalmente uma fase de saciedade,quando o animal sente-se saciado e pára de pastar. Esta última fase, emanimais em pastoreio, é controlada principalmente pelo enchimento ruminal. Ovolume de pasto ingerido regula a ingestão. Assim, quanto maior adigestibilidade do pasto (e menor o teor de fibra bruta), maior será a ingestãoem matéria seca, visto que pastagens com menor teor de fibra tem maiordensidade. Quer dizer, para um mesmo volume o animal estará ingerindo maismassa.

Os bovinos pastam em grupo, e seguindo ritmos circadianos concentramdois grandes eventos de pastoreio: ao amanhecer e ao entardecer (HAFEZ &BOUISSOU, 1975; ARNOLD, 1981; MACHADO FILHO et al., 1988), compequenos pastoreios durante o dia e um no meio da noite (Figura 1). O iníciodo pastoreio ao amanhecer e ao entardecer é grandemente influenciado pelonascer e pôr do sol. Assim, no verão o espaço entre o pastoreio da manhã e oda tarde é maior. Em latitudes mais extremas, o tempo entre esses doiseventos pode ser tão reduzido que os pequenos eventos de pastoreio ao longodo dia não chegam a ocorrer.

Figura 1. Distribuição temporal da atividade de pastoreio em 24 horas, para a raça Charolês,entre verão (- - -) e inverno (—). Estudo realizado no Planalto Lageano, SC. Horário doamanhecer e entardecer é indicado por setas para o verão (s) e inverno (w).(MACHADO FILHO et al., 1988).

% de Vacas Pastando

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A língua é o principal órgão utilizado pelos bovinos na colheita do pasto.Durante o pastoreio, também utilizam os beiços, pouco móveis. A ausência deincisivos superiores nos ruminantes (possuem uma estrutura chamada palatoduro) e a pouca motilidade dos beiços fazem com que só consiga apreender opasto que esteja a uma altura mínima de 14 mm do solo. Os bovinos utilizamos sentidos da visão, olfato, tato e gosto na seleção de espécies forrageirasdurante o pastoreio. No PRV, logo que entram no piquete estabelecem umaestação de pastoreio, onde realizam a seleção inter-específica (entre espéciesforrageiras) e intra-específica (dentro de uma espécie forrageira). Assim, aopastar estabelecem uma hierarquia da dieta, priorizando algumas plantas e,dentre essas plantas as partes mais novas, tenras e com mais folhas.

Os bovinos são hedifágicos, isto é, animais que comem por prazer,aroma e gosto (ARNOLD, 1981). Em geral preferem os trevos às gramíneas.Uma vez que ocorreu a seleção da planta, ocorre a seleção intra-específica pordesfolhação progressiva. O animal prefere as folhas aos talos, as partes novasàs velhas, e as partes superiores às inferiores da planta. Ou seja, as partesmais novas, que contém maior teor de nitrogênio, fósforo e energia, e menorconteúdo de parede celular são usualmente preferidas. Os bovinos têm umaaversão ao odor de sua fezes frescas. Assim, quanto mais rápida for amineralização da bosta no solo, mais eficiente será a utilização da pastagem(HURNIK et al., 1995).

Entre um pastoreio e outro, ocorrem períodos de ruminação. Aruminação, ou a remastigação do alimento ingerido pode também serconsiderada como parte do comportamento de pastoreio. A ruminação é o atode regurgitação da ingesta, sua remastigação, resalivação e reingestão. Umciclo de ruminação de um bolo leva aproximadamente 60s. Embora os fatoresque promovem o início da ruminação não sejam bem conhecidos, oenvolvimento do sistema nervoso central no controle das contrações do rúmensugere um certo nível de controle do animal sobre o processo de regurgitação.

O comportamento de pastoreio pode variar em função de diversosfatores, como características da pastagem (espécie forrageira, estádio decrescimento, digestibilidade, altura e densidade), condições climáticas(temperatura, umidade, radiação solar, ventos, ocorrência de chuvas) ecaracterísticas do animal (raça, idade, estádio fisiológico). Os componentes docomportamento de pastoreio de um animal, que definem a quantidade ingeridade pasto, são: o tempo total de pastoreio, a taxa de bocadas e o tamanho dabocada.

O tempo diário de pastoreio pode variar de 4,5 a 14 horas (ARNOLD,1981), mas em média esses tempos variam de 5 a 9 horas. Aproximadamenteos mesmos tempos são encontrados para ruminação e o tempo descansandovaria de 4 a 8 horas (HAFEZ & BOUISSOU, 1975). Diferentes raças, idades eestádios fisiológicos do animal podem resultar em diferentes tempos depastoreio e ruminação.

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Há certa correlação entre taxa e tamanho de bocada. Altas taxas debocadas estão normalmente associadas aos tamanhos de bocadas pequenas,e vice-versa. Há, portanto, certa compensação do animal ao pastar. Se apastagem é pouco densa e tem pouca altura, a tendência do bovino éapresentar uma alta taxa de bocadas por minuto, para compensar um tamanhode bocada pequeno. Logo, as características da pastagem determinam ocomportamento de pastoreio do animal, numa tentativa, deste último, demanter uma ingestão de pasto compatível com suas exigências. O exemplo daTabela 1 ilustra bem esta situação.

Tabela 1. Resposta animal à diferentes características da pastagem. Adaptado de Barrett et al.(2003).

Características da pastagem Experimento 11 Experimento 21

Massa de pasto acima de 4cm 1,39 t de MS/ha 1,90 t de MS/ha

Massa de folhas verdes 1,12 t de MS/ha 1,35 t de MS/ha

Altura da pastagem 20 cm 25 cm

Conteúdo de N na pastagem 37 g/kg de MS 28 g/kg de MS

Resposta animal

Tamanho da bocada 0,74 g de MS 1,19 g de MS

Profundidade da bocada 153 mm 146 mm

Taxa de bocada 56 bocadas/min 47 bocadas/min

Taxa de ingestão 2,5 kg de MS/h 3,2 kg de MS/h

1 Média de quatro variedades de Lolium perenne, em dois anos subseqüentes. Experimento 1 foi no ano deimplantação das pastagens, em setembro. Experimento 2 em junho do ano subseqüente. Experimento realizado naIrlanda do Norte. Animais eram vacas Holandês.

Dentre os vários fatores que afetam o comportamento de pastoreio, eespecialmente a ingestão de pasto, os mais decisivos são aqueles que dizemrespeito à pastagem. A ingestão de pasto é função do tamanho da bocada, donúmero de bocadas por minuto e do tempo total de pastoreio. Quanto maisdensa e mais próxima de uma altura de 20 - 30 cm for a pastagem, maior seráo tamanho e a taxa de bocadas. A qualidade da forragem é um fatordeterminante para o tempo de pastoreio e intensidade de ingestão. Baixo teorde fibra e maior digestibilidade do pasto favorece um maior tempo de pastoreio,maior taxa de bocadas e maior consumo. As características da pastagem(composição florística, altura, densidade e valor nutritivo) são a conseqüênciado manejo da pastagem e das condições de clima e solo. As mesmascaracterísticas são os principais fatores que afetam tempo de pastoreio, tempode ruminação, tamanho e taxa de bocadas, e a quantidade de forragemingerida (Tabela 2).

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Tabela 2. Características da pastagem e a resposta animal.

Características dapastagem

Resposta de pastoreio do animal

Conteúdo defibra

Densidadepastagem

Tempo depastoreio

Tempo deruminação

Tamanhobocada

Taxa debocadas

Nívelseleção

Ingestãoforragem

Baixo Alta Médio Médio Grande Média Baixo Alta

Baixo Baixa Longo Curto Pequena Alta Médio Média

Alto Alta Curto Longo Média Baixa Alto Baixa

Alto Baixa Médio Longo Pequena Média Alto Baixa

Fonte: Hurnik et al., 1995.

O Pastoreio Racional Voisin (PRV) tem se mostrado um sistema demanejo de pastagem altamente eficiente em termos de produtividade do pastoe aproveitamento pelos animais. Em linhas gerais, o PRV pode ser definidocomo um método racional de manejo do complexo solo - planta - animal,proposto pelo cientista francês André Voisin, e que consiste no pastoreio diretoe em rotação das pastagens. O PRV baseia-se na aplicação das quatro leisuniversais do pastoreio racional (VOISIN, 1974), a saber:

Lei do repouso

Para que um pasto cortado pelo dente do animal possa dar a suamáxima produtividade, é necessário que, entre dois cortes sucessivos a dente,haja passado o tempo suficiente, que permita ao pasto:

• Armazenar nas suas raízes as reservas necessárias para um início derebrote vigoroso;

• Realizar a sua “Labareda de Crescimento”, ou grande produção de pastopor dia e por hectare.

Lei da ocupação

O tempo global de ocupação de uma parcela deve ser suficientementecurto para que um pasto, cortado a dente no primeiro dia (ou ao começo) dotempo de ocupação, não seja cortado novamente pelo dente dos animais,antes de que estes deixem a parcela. Para a situação do Sul do Brasil, estetempo nunca deve ser superior a três dias no inverno e dois dias na primavera– verão.

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Lei dos rendimentos máximos

É necessário ajudar os animais de exigências alimentícias maiselevadas para que possam colher a maior quantidade de pasto e que este sejada melhor qualidade possível. A aplicação desta lei é a divisão do rebanho emlotes de desnate e repasse, como será exposto a seguir.

Lei dos rendimentos regulares

Para que uma vaca possa dar rendimentos regulares é preciso que nãopermaneça por mais de três dias em uma mesma parcela. Os rendimentosserão máximos, se a vaca não permanecer por mais de um dia numa mesmaparcela. Nossos trabalhos mostram que vacas leiteiras permanecendo 12h nopiquete apresentam rendimentos máximos.

A aplicação das quatro leis universais do pastoreio racional no manejodas pastagens garante produtividades máximas do pasto e do gado. As duasprimeiras leis dizem respeito ao pasto. O respeito à essas leis garantemperenicidade à pastagem, altas produções de pasto por área e predominânciade plantas pratenses na composição florística da pastagem (MACHADO,2004). As duas últimas leis se referem às exigências dos animais. O respeitoàs duas últimas leis garantem máximas produtividades dos animais no lote dedesnate e rendimentos regulares.

Os conhecimentos sobre comportamento de pastoreio dos bovinos nomanejo das pastagens é uma importante ferramenta para se elevar a produçãoforrageira e otimizar o consumo voluntário de pasto. É importante que searticule os conhecimentos em comportamento de pastoreio com as quatro leisdo pastoreio racional. O tempo de pastoreio, a taxa e o tamanho de bocadas, ea seleção de estações de pastoreio se modificam em função da qualidade dapastagem e da eficiência do manejo utilizado (STOOBS, 1973; JAMIESON &HODSON, 1979; GAMMON & ROBERTS, 1980). Tratando-se de pastoreiorotativo com altas cargas instantâneas, há a diminuição do consumo de pasto àmedida que o tempo de ocupação de determinada parcela aumenta (VOISIN,1974; MURPHY, 1994). Quer dizer, o consumo – e portanto a produtividade -será máximo no primeiro dia de ocupação, decrescendo nos diassubseqüentes. Isto deve-se a seletividade de pastoreio via desfolhaçãoprogressiva (HURNIK et al., 1995), onde os animais buscam consumir, dentreas plantas que lhe são mais palatáveis, primeiro as folhas e partes mais novase tenras, depois os talos e partes mais maduras.

Como conseqüência da seletividade acima referida, no (PRV) no inícioda ocupação do piquete os animais irão consumir as partes superiores dasplantas, que tem maior percentual de folhas e, portanto, maior digestibilidade econcentração de nutrientes. Ao final da ocupação restará um material de piorqualidade, com maior percentual de talos, poucas folhas, baixa digestibilidade emenor concentração de nutrientes. Por isso, recomenda-se no manejo da

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pastagem a divisão dos animais em lotes de maiores e menores necessidades(VOISIN, 1974; MACHADO, 2004), por exemplo, vacas em lactação e vacassecas e novilhas. O primeiro grupo tem maiores exigências nutricionais, e irápastar mais e pasto de melhor qualidade, é o grupo chamado de desnate. Osegundo grupo, de menores necessidades, é o grupo chamado de repasse, edeve realizar o pastoreio a fundo. Neste manejo, é o grupo de repasse quedetermina o momento de troca de piquetes, “empurrando” o lote de desnatepara frente.

O planejamento do número e tamanho de piquetes deve ser tal que otempo de permanência do lote de desnate no piquete nunca ultrapasse um dia.As altas cargas instantâneas (acima de 200 UGMs/ha), juntamente comtempos muito curtos de ocupação (12 a 24 horas), resultam em maiorestempos de pastoreio, melhor aproveitamento da pastagem e maior produção demassa no rebrote seguinte, mas sem alterar a produção de leite (SILVEIRA &MACHADO FILHO, 2006).

Para que se obtenham rendimentos máximos, é fundamental a utilizaçãoda pastagem no seu ponto ótimo de corte. O ponto ótimo de corte da pastagemaqui é definido como aquele em que a aceleração da curva de rebrote do pastodeixa de ser positivo (VOISIN, 1974). Este momento coincide com o ponto demáxima acumulação de proteína bruta e nutrientes digestíveis totais no tecidovegetal, e máxima digestibilidade (BLASER, 1982).

A situação ideal de bovinos em pastoreio é aquela em que um animal écapaz de ingerir a máxima quantidade de pasto possível, com a melhorqualidade, e com a menor seletividade possível. E que, entre um pastoreio eoutro, tenha água e sombra acessível e abundante.

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CRIAÇÃO ANIMAL AGROECOLÓGICA

Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho e Luciana Aparecido Honorato

Núcleo de Pastoreio Racional Voisin / LETA – Laboratório de Etologia Aplicada, Dep. de Zootecnia e Des. Rural, CCA/UFSC.

E-mail: [email protected] www.cca.ufsc.br/leta

A agroecologia pressupõe entender a Natureza e trabalhar COM e nãoCONTRA ela. Da mesma forma, na criação animal agroecológica devemosconsiderar a história do processo de melhoria da adaptação das populaçõesatravés da seleção dos genes, ou seja, a teoria da evolução e seleção natural(DARWIN, 1872). A seleção natural requer diversidade e muito dessadiversidade deve ter origem genética. Ainda, para haver seleção, o número deindivíduos que nasce deve ser bem superior aos que chegam à idade adulta,dessa forma, há uma seleção de genes através dos indivíduos mais adaptados.Tal seleção foi uma das primeiras prerrogativas ecológicas a ser deturpadapela Agricultura Moderna com os conceitos de “praga”, “erva-daninha”, etc.

Ao longo do processo de “modernização” da Agricultura, foramselecionados genes de organismos vegetais e animais principalmentebaseados na produtividade dos indivíduos, esquecendo-se de critérios deadaptação. Assim, difundiu-se mundialmente a planta de trigo ou milho maisprodutiva, mas menos resistente a pragas, tanto quanto a vaca que produzmais leite, mas é menos resistente aos parasitas, ao estresse térmico, àmamite.

Atualmente, o sistema de produção baseado nesse modelo deagricultura está sendo colocado em xeque quanto a sua sustentabilidade. Umsistema de produção, além de eficiente, deve ser ambientalmente benéfico,eticamente defensável, socialmente aceitável, e relevante para os objetivos,necessidades e recursos das comunidades para os quais foi desenhado paraservir (TRIBE, 1985).

Acrescentamos as necessidades mais específicas quanto ao bem-estaranimal e ao bem-estar humano, e a integração da produção animal-vegetalcomo fundamentais para o sistema e, finalmente, o sistema produtivo precisaser energeticamente sustentável. Sistemas agrícolas são ABERTOS, logo aenergia fóssil que entra no sistema deve ser menor do que a que sai. Dessaforma, o SOL deve ser o principal insumo a ser otimizado dentro do sistema.

Considerando-se ainda a sustentabilidade energética do sistema, nacriação bovina, por exemplo, o Sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV) é ométodo científico de produção animal cujo insumo fundamental é a energiasolar. Através da fotossíntese, produz-se o pasto, alimento natural do bovino.

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Dentre os sistemas de manejo de pastagem conhecidos, o PRV é o maiseficiente em transformar energia solar em pasto.

O aumento da produção e produtividade animal via o uso intensivo eracional da pastagem, é economicamente viável, ambientalmente sustentável,e social e eticamente justificável. A utilização do pastoreio racional Voisin emgranjas leiteiras americanas durante os meses sem neve resultou em maiorlucratividade e menor trabalho para os produtores, comparativamente aoconfinamento durante os 12 meses do ano (USDA, 1989). O PRV já vem sendoadotado por 10% do total dos produtores de leite dos estados americanos deVermont e Wisconsin (MURPHY, 1994). Já o aumento da produtividade dapastagem às custas de pesadas adubações nitrogenadas, ou o aumento daprodutividade animal via o confinamento intensivo com a conseqüenteconcentração de dejetos, trouxe como resultado a contaminação da água dosubsolo com nitrato a níveis alarmantes (NRC, 1989).

Os insumos atualmente utilizados na agricultura convencional tem umalto custo energético, que também se traduz em alto custo de produção. NaTabela 1, os custos energéticos dos principais insumos utilizados sãoapresentados. Um cálculo a partir de dados apresentados pelo USDA mostraque de 1975 a 2005, nos Estados Unidos, o aumento médio dos preços dosinsumos pagos pelos produtores foi de 180%, enquanto o aumento médio dospreços recebidos pelos agricultores por seu produto foi de 71% (USDA, 2006).Essa série histórica mostra a tendência geral da agricultura, embora possahaver altos e baixos nessas cifras, como o aumento médio de 23% nos preçosrecebidos pelos agricultores norte-americanos no último ano (NASS, 2007).Embora os números sejam dos Estados Unidos, esta tendência se verificamundialmente, o que leva à monopolização da agricultura, com a saída devários agricultores da atividade e a concentração da produção. Em SantaCatarina, no ano de 1985 cerca de 57% do rebanho suíno catarinense eraindustrial (confinado). Em 1996 esse percentual cresceu para 75% (IBGE,1997). Já o número de suinocultores industriais em SC, que em 1985 era de54.176, no ano 2000 ficou reduzido a 17.500 produtores (IBGE, 2001),evidenciando um claro processo de concentração fundiária e da produção.

Custos energéticos (em energia fóssil) e custos econômicos parecemestar estreitamente associados. Na Tabela 2 é mostrada uma comparaçãoentre dois sistemas de produção de leite, a pasto em PRV e semi-confinadocom alimentação no cocho. Os custos de produção do sistema a pasto sãosignificativamente menores, resultando em melhor rentabilidade ainda que comprodutividades similares.

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Tabela 1. Custo energético dos principais insumos industriais utilizados na Agricultura.

Diesel 11.450 kcal/L

Nitrogênio 14.700 kcal/kg

Fósforo 3.000 kcal/kg

Potássio 1.860 kcal/kg

Calcário 295 kcal/kg

Inseticidas 85.680 kcal/kg

Herbicidas 111.070 kcal/kg

Dados de Fluck, 1992.

Tabela 2. Custos de Produção de Leite em SC, comparação entre sistema convencional ePRV.

N° de Matrizes Un. 30 10 PRV (30)

Produção anual / vaca L 5.500 3.700 5.500

Custos Variáveis R$ 57.984 13.430 26.400

Custos Fixos R$ 19.492 7.827 34.650

Custo Total R$ 77.476 21.257 61.050

Custo / L (total) R$ 0,47 0,57 0,37

Custo / L (variável) R$ 0,35 0,36 0,16

Fonte: ICEPA, 2005; Lorenzon & Machado Filho, 2004

A otimização do uso da energia, especialmente a fóssil, nos sistemas deprodução agrícola levam a um melhor resultado econômico, menor impactoambiental, e maior sustentabilidade. Já em 1974 os autores Steinhart &Steinhart (1974) propunham as seguintes medidas para a redução do gastoenergético na agricultura:

• Uso de bosta e urina representam uma economia de 400 Mcal/ha;

• Descentralização e diversificação da produção (integração animal –vegetal);

• Rotação de culturas representa uma economia de 600 Mcal/ha;

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• Métodos biológicos de controle de “pestes”;

• Uso de pesticidas somente quando necessário (35-50% redução no uso);

• Seleção de variedades mais resistentes;

• Abandonar produção com químicos.

Além da questão energética, os grandes desafios da AgriculturaModerna estão na redução do impacto ambiental, na segurança alimentar, e nobem-estar dos animais de produção (ROLLIN, 1995). O bem-estar animal é umpré-requisito para que um sistema seja eticamente defensável e socialmenteaceitável. A sociedade tem debatido as questões da atualidade da agricultura,e cada vez mais questões éticas tem sido levantadas. Alimentos comcertificação de origem e de qualidade tem sido cada vez mais procurados pelosconsumidores. Segundo Warris (2000) as pessoas desejam comer carne com"qualidade ética", isto é, oriunda de animais que foram tratados e abatidos emcondições de bem-estar e que foram criados em sistemas sustentáveis eambientalmente corretos.

Ausência de bem-estar animal e sofrimento não podem ser confundidoscom crueldade animal. A crueldade animal é deliberada, sádica, inútil edesnecessária inflição de dor, sofrimento e negligência contra animais. A éticasocial tradicional condena a crueldade e os maus tratos contra os animais. Odebate sobre bem-estar animal se originou em 1964, quando Ruth Harrisonpublicou o livro Animal Machines, denunciando os maus tratos a que osanimais eram (são) submetidos na criação animal confinada. Essa publicaçãoprovocou um grande impacto na sociedade, e motivou o Parlamento da Grã-Bretanha à criação do Comitê Brambell, no mesmo ano, então formado poragriculturalistas.

Em 1965 o Comitê Brambell apresentou um relatório, no qualrecomendou que todo animal deve ter direito, no mínimo, à cinco liberdadesmínimas: virar-se; cuidar-se corporalmente; levantar-se; deitar-se e estirar seusmembros. Até a presente data ainda existem sistemas criatórios, comopoedeiras em gaiolas de bateria, matrizes suínas em jaulas parideiras ou empresas na gestação, vacas leiteiras em coleiras, onde sequer essas cincoliberdades elementares são permitidas aos animais. Por isso, é opinião desteautor que estes sistemas devem ser banidos da criação animal.

A partir do relatório do Comitê Brabell, começa a ser questionada a visãotradicional da zootecnia, onde o animal zootécnico é considerado como “umaformidável máquina de produção” ou ainda, "máquinas vivas transformadoras evalorizadoras de alimentos" (DOMINGUES, 1960). Na década de 1980, váriostrabalhos científicos do campo da Etologia Aplicada subsidiam uma novaconcepção de animal zootécnico, baseada no fato de que o animal é um sersentiente (FRASER, 1980) e portanto uma entidade psicológica (HURNIK,

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1995). A relação entre o homem e o animal na agricultura é resgatada(ROLLIN, 1995). Uma vez que sabemos que o animal é um ser senciente, quereage, que é capaz de experimentar emoções como ansiedade, frustração,medo, dor e sentimentos, "induzir um animal a um sofrimento calculado oudesnecessário é eticamente reprovável” (FRASER, 1985).

Esta mudança de concepção avançou muito devido a estudos decomportamento animal. Recentemente, estudos sobre avaliação deaprendizado em animais provêm importantes informações acerca do bem-estarmostrando que, a exemplo do que ocorre em humanos, situações de estresseafetam a capacidade cognitiva dos animais. Por exemplo, um estudo ondeleitões desmamados aos 10 dias foram comparados com leitões nãodesmamados, submetidos a isolamento social por 15 minutos aos 12 dias deidade, e imediatamente sacrificados. A combinação de estresse de desmame eisolamento social produziram mudanças na expressão de genes no córtexfrontal, que afeta a memória e o controle emocional (POLETTO et al., 2004).

Tais estudos etológicos nos permitem (e nos levam) a fortes críticas aossistemas de confinamento intensivo. Ora, partindo do pressuposto que adomesticação de animais iniciou entre 6 e 10 mil anos e o confinamento hácerca de 100 anos, e que a adaptação depende de uma combinação entregenética e aprendizagem, fica evidente que aos animais não estão adaptadosao confinamento intensivo. Frente a impossibilidade de adaptação, os animaisredirecionam comportamentos, que podem ser facilmente percebidoscomparando os repertórios comportamentais de animais em confinamento eanimais ao ar livre.

Para propor uma criação animal agroecológica é necessário repensar osistema como um todo. Dos sistemas alternativos que vêm sendo propostos,tanto a avicultura e suinocultura intensiva a campo, quanto a produção de leitee carne a base de pasto devem considerar os seguintes pressupostos: aseleção genética deve ser utilizada para aumentar o bem-estar animal,disseminando genes para resistência às doenças e levem a menorsuscetibilidade ao estresse. A criação animal deve ser integrada a produçãovegetal e, como já mencionado anteriormente, a eficiência energética eeconômica se dará pela otimização da energia solar (gratuita), através daalimentação dos animais a pasto. Enfim, preconizar uma criação ética,promovendo a justiça social e a valorização cultural deve consistir no principalobjetivo do sistema.

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